http://www.glorias.com.br/documentoraro/carta-primeira-guerramundial/#.

VC7_1UldbmI

http://pt.slideshare.net/Douglas_dv3/guer
ra-das-trincheiras
http://literatortura.com/2013/09/palavrasadeus-cartas-soldados-i-guerra-saodisponibilizadas/ - mt bom
http://sotaodeassuntos.blogspot.pt/2011/1
2/carta-de-um-soldado-dastrincheiras.html

http://f5dahistoria.wordpress.com/2011/0
5/27/i-guerra-mundial-a-vida-nastrincheiras/ - inf

https://br.answers.yahoo.com/question/in
dex?qid=20140325182424AAdu241 yahoo
http://www.letraselivros.com.br/livros/204
6-cartas-do-front-andrew-carroll- ver
http://avidanofront.blogspot.pt/2010/07/ca
rtas-de-soldados-alemaes-escritas.htmlotimo para ver
http://www.youtube.com/watch?
v=d5avLt5WHLw- video
http://pt.slideshare.net/marianamonteiro3
78537/carta-de-um-soldado-da-1guerramundial- slide share
http://preimeiragurra.blogspot.pt/2007/09
/cartas-das-trincheiras-na-1-guerra.html

http://mundoestranho.abril.com.br/mater
ia/como-foi-a-luta-de-trincheiras-naprimeira-guerra-mundial. bom
http://pt.slideshare.net/Profernanda/prim
eira-guerra-mundial-depoimentos-desoldados-sobreviventes- top

http://www.fcnoticias.com.br/guerra-dastrincheiras-resumo/. verrrr

TOP- Tem muitas minas com explosivos e ao anoitecer os olhos ardem como fogo
por tentar o dia inteiro adivinhar os passos do inimigo

Querida Julia,
Finalmente consegui um tempo para lhe escrever. A cada dia passado a saudade dobra de
tamanho e hoje j no cabe mais na Via Lactea. A noite, consigo v-la, toca-la e at
mesmo sinto seu cheiro. apenas a vontade e a esperana de ver-te novamente que me
mantm em p.
O homem batalha com seu semelhante desde sempre, mas no consigo entender a loucura
dessa guerra. Vi coisas acontecerem que o prprio diabo se assustaria, e que sero marcas
intrnssecas na minha alma, que dificilmente conseguirei esquecer.
Ficamos por uma semana entrincheirados, cercados pelo exrcito alemo, com cadveres
aos montes. No h palavras para descrever o horror das trincheiras. O cheiro
insuportvel, e os cadveres se amontoavam cada vez mais. J encontrva-mos sem
suprimentos e com pouqussima munio. Foi uma imensa sorte e um jbilo coletivo
quando avistamos a RAF voando junto aos Capronis italianos. Eles bombardearam as
tropas Alems e fomos resgatados por uma brigada russa.
Perdemos diversos homens. Jeremy perdeu a perna em uma mina e ser enviado de volta
ao Reino Unido. Espero v-la em breve doce Jlia, mas em condies melhores que
Jeremy ver Linda. Conto nos dedos os dias que faltam, quando finalmente poderei olhala nos olhos e dizer o quanto amo voc e nossa pequena Mary. Espero que esteja tudo
bem contigo. No deixe de me escrever, so suas doces palavras que me do foras para
continuar.
Amo-te cada dia mais,
John.

Guerra de Trincheiras
A Guerra de Trincheiras foi uma das fases da Primeira Guerra Mundial.
No final do sculo XIX, novas potncias comearam a se formar na Europa. Estes novos
pases que tinham suas economias ligadas s produes industriais necessitavam de
mercados consumidores ao redor do mundo e tambm de fontes de matrias-primas que
sustentassem suas produes. Esse momento conhecido como a fase de expanso do
capitalismo imperialista, no qual os pases mais poderosos econmicos e industrialmente,
pases europeus e os Estados Unidos, buscavam por suas zonas de influncia que
atendiam aos seus anseios capitalistas. A entrada de novos pases europeus na disputa por
tais localidades ocasionou um clima de forte instabilidade no continente europeu.
Em 1914 a paz foi rompida na Europa com a deflagrao da Primeira Guerra Mundial
entre os pases imperialistas, especialmente impulsionada pelos interesses de Alemanha e
Itlia que entraram tardiamente na corrida capitalista. Rapidamente, a Alemanha se
expandiu militarmente por territrios adversrios e montou suas bases de guerra. No
incio, a infantaria foi muito utilizada com o apoio da cavalaria e de peas mveis de
artilharia. Este tipo de combate marcou a primeira fase do conflito, identificado como
guerra de movimento.
http://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2011/01/trincheira.jpg

http

://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2011/01/trincheira.jpg
Aos poucos passaram a ser utilizadas as trincheiras como estratgia de guerra, o que
causou muitas baixas ao exrcitos que insistiam no deslocamento de tropas. Mesmo
fazendo uso de bombardeio, gases e lana-chamas, o mecanismo das trincheiras, que
utilizavam metralhadoras e eram defendidas por arame farpado, causava o fracasso da
infantaria.
O recurso s trincheiras era uma forma de guerra j conhecida na antiguidade, mas foi
somente na Primeira Guerra Mundial que ocorreu efetivamente uma Guerra de
Trincheiras, muito impulsionada pela inveno da metralhadora. As trincheiras eram
cavadas pelos prprios soldados, possuam cerca de 2,5 metros de profundidade e 2
metros de largura, por onde se movimentavam os combatentes. Em sua parte posterior,
eram protegidas por sacos de areia, que defendiam do impacto dos tiros e dos estilhaos
das bombas. frente desses sacos de areia, estavam longas coberturas de arames
farpados, algumas vezes eletrificados, que impediam a aproximao do inimigo. Devido
profundidade das trincheiras, no era possvel observar o campo de batalha, por isso
construa-se algumas elevaes dentro das trincheiras que permitiam alcanar o nvel de
viso adequado do combate e tambm o acesso s metralhadores, o equipamento bsico
que era capaz de destruir muitos inimigos.
A Guerra de Trincheiras marcou a segunda fase da Primeira Guerra Mundial. Foi a fase
mais sangrenta, onde se verificava as piores condies humanas de sobrevivncia em um
campo de batalha. Milhares de soldados permaneciam durante meses dentro desses tneis
que eram interconectados formando uma rede de defesa dos exrcitos. Apesar das
trincheiras defenderem contra tiros de rifles e metralhadoras, no tinham muito sucesso
contra projteis de artilharia. As condies de sobrevivncia eram as piores possveis.
Quando os soldados cavavam as trincheiras em regies perto do mar, acabavam
encontrando gua no meio do processo, o que deixava o terreno permanentemente
tomado por lama. Em ocasio de chuva, a situao se intensificava, os tneis ficavam
inundados e os soldados tinham que lutar, comer e dormir encharcados. A lama evitava
que se mantivessem aquecidos e o cheiro de mortos era constante. Pela presena de
muitos cadveres em decomposio, apareciam muitos ratos em busca de alimentao e o
quadro geral se tornava muito propcio morte.
Entre trincheiras inimigas havia um espao de aproximadamente 200 metros de distncia,
no qual jaziam muitos mortos ou feridos que esperavam por socorro. Entretanto s era
possvel que as equipes de resgate sassem noite para tentar salvar algum combatente, o
que costumava ser tarde demais. Ainda nas trincheiras, os soldados se alimentavam com
carnes e vegetais enlatados ou biscoitos. Em um momento nico, no primeiro Natal
depois de iniciada a Guerra de Trincheiras, os soldados cessaram os ataques e saram das
trincheiras para se cumprimentarem. Mas o grande nmero de mortos que viria em
seguida e o elevado ndice de estresse causado pelo combate aumentaram o dio entre os
combatentes, impedindo que algo parecido ocorresse novamente.
A Guerra de Trincheiras no foi o motivo pelo qual o lado vencedor venceu a guerra,
ela apenas trouxe mais morte e sofrimento para os combatentes. Foi com o uso de tanques
de guerra seguidos por soldados e avies de combate que, em 1918, foi possvel quebrar
as defesas alems na Frente Ocidental.

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Descrio destas cartas raras

1914-1915. 39 cartas e desenhos do capito do exrcito francs Lon Rohlfs De Sussex
contando seu dia a dia de soldado poilu nas trincheiras durante a Primeira Guerra
Mundial, no nordeste da Frana, perto de Verdun.
O destinatrio a irm dele, Marie. O estado geral dos documentos bom, apenas
algumas cartas esto sem data ou so difceis de decifrar pois o soldado escreveu com
letras muito pequenas.
O lote inclui tambm o anncio de nascimento de Lon redigido pelos pais em 1875, e
duas cartas que ele escreveu quando aluno na prestigiosa escola militar Saint Cyr. Em
francs.
Extratos no traduzidos :
1895 Lon explica a disciplina imposta pela escola militar : Me voil depuis quinze
jours dans cette pension dun nouveau genre (). Il faut faire son lit trs bien, de
manire lui donner la forme dun paralllipipde rectangle, puis cirer ses godillots,
nettoyer le dessus de sa casa habits, bien ranger de manire quon ne voit aucun pli
aucun habit (). On va alors ensuite lexercice ou aux cours (topographie,
fortification, littrature, lgislation) suivan t la semaine.
02/09/1914 Lon pensa que a vitria no vai demorar : Les bavarois sont terrasss.
21/09/1914 Lon pondera : Je vais bien, mais mon bataillon a t bien abm.
16/11/1914 Lon conta a rotina e os combates : Nos hommes sont dans les tranches
jusquau cou le jour et ils travaillent la nuit piocher pour avancer. Cest la guerre de
sige ; nous bombardons les cantonnements allemands et ils rpondent. Hier aprs-midi,
leurs premiers obus ont abattu le clocher du village le plus au nord (Malancourt) et tu 3
hommes du 173.
21/11/1914, a noite Lon sofre pelo frio : Ma chre Marie, je te remercie bien du
passe-montagne que tu mas envoye. () Mais ce sont les pieds qui ne peuvent pas se
chauffer chez moi, tant quon aura pas invent des souliers chauffants. Je gle quand je
ne fais rien, bien que couver comme un Esquimau. Tu as d voir dans les journaux que
les Allemands ont fait sauter les casernes de St Michel et tu 1683 hommes.

25/11/1914 Lon explica, com um desenho (imagem 2), uma misso que ele assumiu :
Hier, je suis all avec le Gnral Berg aux tranches de Bthancourt qui avaient t
attaques dans la nuit. Des Allemands gisaient encore quelques pas.
26/12/1914 De aniversrio, Lon agradece Marie pela carta de parabns e escreve que
est muito ocupado : Mon travail est celui de faire tirer 6 fusils la fois [imagem 3] par
un seul homme sur des points dtermins, carrefours, points deau, etc Cela sappelle
des batteries de fusils et mattire les critiques et peu dgards : le monde nest pas
meilleur en guerre quen paix.
13/01/1915 O moral de Lon est baixo : Le milieu o je vis nest pas gentil, sauf
exceptions et si mon physique est bon, mon moral ne lest pas (). La guerre noffre en
ce moment peu dintrt et beaucoup de stagnations et de marasme. Les froissements ne
se comptent pas, les conversations sont stupides ou mchantes ; il y a peu de calamits
comme celle-l.
13/02/1915 O moral de Lon no melhora : La lassitude gnrale atteint chez moi
plus que de lnervement, ou plutt de la dpression.
25/05/1915 Ferido, Lon escreve uma ltima carta (imagem 4) : Je souffre le marthyr
depuis que tu mas vu ; cela dpasse tout ce que je pouvais imaginer. Les mdecins disent
que ma cuisse va bien mais que jai toujours de la fivre. Les lancements continuels que
je ressens ma plaie me font crier devant nimporte qui.
Comentrio dos especialistas
A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) o momento trgico mais importante da histria
europia. Seu resultado a humilhao da Alemanha motivou em parte a Segunda
Guerra Mundial e, finalmente, a construo da Unio Europeia para por um fim
definitivo rivalidade franco-alem. A batalha de Verdun particularmente emblemtica
dessa guerra horrvel que matou, em ambos lados, milhes de soldados apavorados e
civis inocentes.
Essa troca de cartas entre Lon, o capito, e Marie, sua irm, emocionante e educativa.
Muitos dos sentimentos humanos so expressos pela mo desse soldado : o medo, o
orgulho, a raiva, a tristeza, o amor, a saudade, a amizade, o desprezo, o otimismo, o
pessimismo, a solido, a solidariedade, o sofrimento, a compaixo, etc. Ao ler essas
linhas de Lon nas trincheiras, tentamos imaginar o inferno que esse homem jovem,
brilhante, viveu. Sente-se um homem totalmente impotente diante o clima, a histria e a
natureza humana.
O famoso filsofo brasileiro Antonio Candido foi aluno em 1929 de Marie Rohlfs De
Sussex, irm e principal destinatria das cartas do soldado. Entrei ento em contato com
uma filha do erudito, Marina, professor na USP, que me retornou :
Ol Mathias, telefonei para meu pai agora e ele ficou pasmo! Disse que Madame de
Sussex foi muito importante na vida dele, pessoa por quem ele tem venerao. Ela foi
sua professora em 1929 e tinha um irmo, advogado, que era um grande ferido de
guerra, como eram chamados ento. No se lembra direito, mas cr que ele no tinha
um brao ou uma perna. Que coincidncia! Um abrao, Marina.

Quase um sculo aps o trmino da I Guerra Mundial, os familiares dos soldados ingleses
podero receber as cartas escritas pelos combatentes. Parece at coisa de cinema os
soldados das famosas trincheiras (cuja realidade agora faz parte dos livros de Histria)
escreviam cartas s suas famlias que nunca chegaram.
Por muitos anos tidas como perdidas para as lacunas do tempo, as cartas, na verdade,
acabaram sendo censuradas e arquivadas. Hoje, segundo reportagem do jornal ingls The
Guardian, cerca de 278 000 delas esto guardadas em Birmingham, Inglaterra, em um
centro de segurana. Acredita-se que a censura desse material teria ocorrido por conta de
seu contedo secreto: muitas delas estariam repletas de relatos completos e detalhados
de guerra que, segundo o Exrcito, no poderiam ser divulgados.
Segundo o historiador Jon Cooksey, editor do jornal Stand To!, essas cartas teriam sido
escritas pelas tropas e guardadas junto a seus pertences para que, caso morressem em
combate, fossem enviadas a seus familiares. Cooksey e sua publicao fazem parte da
Western Front Association, a associao responsvel por zelar pela memria dos soldados
que lutaram entre 1914 e 1918. Atravs de textos que perpetuam os ocorridos da guerra e
eventos que relembram a coragem dos combatentes, essa associao mantm as
memrias de guerra vivas.

Todas as cartas foram disponibilizadas recentemente em um site (aqui!) pelo governo

ingls. Basta ter o nome do soldado e o ano de sua morte para que a carta seja encontrada,
sendo seis libras o custo para recebimento de uma cpia dela.
Confira alguns trechos das (quase) seculares cartas, divulgados pelo The Guardian:
Querida, esta guerra ser pior do que imaginei. Alguns acham que no durar mais
que um ms, e outros dizem que vai durar pelo menos trs anos. Nossos oficiais nos
falaram esta manh que ser uma guerra longa e difcil.
Se eu morrer em combate haver uma medalha para mim. Eu espero que voc a pegue
e guarde para nosso menino usar quando ele crescer.
Ns recebemos um pequeno acessrio com nosso nmero, nome e esquadro, que
devemos usar no pescoo para podermos ser reconhecidos se, por acaso, morrermos.
Estou me preparando para lutar e s me arrependo de no ter visto vocs antes de
partir, mas, me querida, no perca a esperana. Eu posso voltar para casa um dia.
Querida Clara, sexta pela manh vamos cercar a costa e partir para a Blgica. Eu no
deveria te contar isso.
Me, seja corajosa, eu vou ficar bem. H milhares de outras mes e relacionamentos
passando pela mesma situao. E se eu morrer, morrerei com um bom corao e todo

seu amor em minha mente.

Temos que lutar como tigres e pegar nossa comida o mais rpido que pudermos quando
ela chega. Alguns conseguem pegar muito, outros no conseguem nada. Quando temos
dinheiro muito difcil gast-lo. Se voc for cantina tem que esperar cerca de duas
horas para ser servido.
Em uma mistura de relatos de realidade de guerra, importantssimos para a construo
histrica dos acontecimentos daquele perodo, e despedidas emocionantes, a divulgao
dessas cartas certamente um prato cheio para historiadores e um conforto para as
famlias que, mesmo aps 95 anos, ainda procuravam algum conforto pela perda dos
homens nas trincheiras.

Querida Margarida,
Se soubesses o quanto anseio por voltar a ver o teu sorriso, se soubesses o quanto sinto a
falta do teu amor, se soubesses o quanto desejo sair deste inferno e voltar a ver - te! As
minhas memrias contigo so a nica alegria e esperana que me mantm vivo e a
escrever estas linhas que, provavelmente, quando chegarem a ti, j no estarei ao teu
lado...
J vo nove meses de batalha, nove meses de sofrimento, de angstia e saudade... A
batalha iniciou-se em Verdun, em Fevereiro e estamos quase em Dezembro e no vejo um
fim prximo.
Como sabes combato pela Frana contra a Alemanha, na frente Ocidental. Tenho tido
notcias de colegas e amigos que combatem na frente Leste e Balcnica e a sua situao
semelhante ou mais grave que a minha.
Esta guerra est a ser travada no mar, no ar e na Terra e as naes esto todas envolvidas.

Nesta guerra mundial, os interesses econmicos e a posse de territrios sobrepuseram-se

aos valores humanos. Existem rivalidades polticas e econmicas com as quais se
justificam esta guerra, por exemplo entre a minha ptria e a Alemanha, o que cria um
clima de dio, tenso e cobia entre os pases.
Tenho a sensao que o mundo est dividido: de um lado o meu pas, a Inglaterra e o
Imprio Russo, por outro lado a Alemanha, o Imprio Austro-hngaro e o Imprio
Otomano. Como vs a batalha que travo em Verdun apenas uma amostra, bem fiel, do
que se passa no resto do mundo! Quanto tempo mais durar esta guerra entre Aliados e
Potncias Centrais? Quanto tempo durar esta batalha injusta entre a Frana e a
Alemanha em Verdun? Quanto tempo durar at os grandes lderes perceberem o grande
erro que esto a cometer?
Lembras-te da nossa despedida? Estvamos confiantes da vitria, pensvamos que o
afastamento ia ser por pouco tempo, que iramos vencer rapidamente. Iluses... Iluses
em que nos fizeram acreditar, iluses que espalharam em cartazes de mobilizao de
pessoas para a guerra. Esta guerra est longe de ser fcil e curta! Estes nove meses, para
mim esto a ser nove anos! J no aguento viver, ou melhor, sobreviver nesta horrvel e
desumana trincheira.
J que no nos vemos h muito tempo e j que h a possibilidade de no nos voltarmos a
ver, vou contar-te como tenho passado os meus dias. Ao leres esta descrio que te vou
fazer, no quero que chores, mesmo que o que te vou contar seja triste. Desculpa estar a
escrever estas linhas tristes, mas encara-o como uma grande prova de amor, porque tudo
o que passei s o consegui por ti, pela esperana de voltar a vislumbrar o teu sorriso,
voltar a ouvir a tua voz, de voltar a cruzar o meu olhar com o teu. Graas a estas
esperanas tenho conseguido manter-me vivo, por isso no derrames nem uma nica
lgrima ao leres como tem sido a minha vida aqui. Vou contar-te como a trincheira, pois
s a minha nica e eterna confidente.
A trincheira onde estou tem diversas divises: a enfermaria, onde se cuidam dos feridos;
o quartel-general da companhia, o posto de observao, a trincheira de tiro, a cozinha e a
trincheira de comunicao. Estamos cercados e protegidos pelo arame farpado e entre ns
e o inimigo existe a Terra de ningum.
Tudo minha volta negro, desolador, assustador e sufocante. Enfim, tudo o que te vier
cabea e que te faa lembrar a guerra. Este o cenrio, um pano preto, escuro com
pequenas divises onde os actores (soldados) tentam desempenhar o seu papel sem se
esquecerem do texto.
Agora vou descrever-te o que ouo: barulhos de morteiros, de metralhadoras, gritos, tiros,
explosivos; passos apressados e discretos, por vezes no discretos o suficiente, e o
barulho dos corpos a tombarem na Terra de ningum.
Para agravar, para tornar ainda a pea mais difcil, as condies de vida so horrveis. Por
vezes, quando chove ficamos com gua at zona das coxas e lama nas fardas. O frio
entra-nos pelas entranhas, os insectos, como os mosquitos, incomodam o dia inteiro e os
bichos comem a nossa comida. Por vezes chego a colocar jornais dentro da minha farda e
nas costas e peito para combater o frio. noite, no escuro da trincheira, tenho um fiel
companheiro que passa por mim e prova a minha comida todos os dias: o rato. Este no
vem s, muitos outros passeiam por c.

Como deves perceber a falta de higiene aliada a estas condies levam a doenas
pulmonares e mentais. Levam tambm a que muitos soldados se suicidem e a que outros
simulem a loucura para se verem livres deste inferno. Alguns decidem fazer o trabalho
dos morteiros ou dos explosivos e metralhadoras, acabando com a sua prpria vida.
E no s o medo de morrer, tambm o sentimento de culpa, o peso na conscincia de
matar algum, que me atormenta. Matar seres humanos aleatoriamente, sem d nem
piedade, destruir vidas, famlias e sonhos... Custa-me muito, a srio que sim, mas a
guerra assim. Um soldado h que ser forte e s vezes frio.
Deves estar a perguntar o que aconteceu aos teus dois irmos. Tenho pena de te revelar a
verdade, mas melhor saberes por mim do que alimentares falsas esperanas. Tenho uma
boa e uma m notcia, qual queres ler primeiro? Vou contar-te primeiro a boa notcia, pois
sempre foste uma pessoa optimista, acabando por me contagiares com essa boa energia.
Ento a boa notcia que o teu irmo mais novo est so e salvo (dentro do possvel) e
trabalha na cozinha; a m notcia que o teu outro irmo mais velho... O teu irmo mais
velho... Morreu de asfixia, devido ao gs que os alemes lanaram. O gs outro
problema, por vezes no conseguimos colocar as mscaras de gs correctamente e
acabamos por ser asfixiados pela incorreco da posio em que est a mscara. Sei que
difcil receber uma notcia destas, mas por favor no desanimes, s forte pelo teu irmo
mais novo!
Alm do mais, agora sem os homens a no pas, as mulheres tm de assegurar a economia
do pas. De certo que j espalharam cartazes para a mobilizao da mo-de-obra
feminina. Vs, tens mais um motivo para lutar! Tu que s to a favor dos direitos das
mulheres! Pode ser que assim a sociedade perceba que as mulheres so iguais, em
direitos, aos homens, conseguindo desempenhar as tarefas que estes faziam.
Mas diz-me, esquece por momentos a vida triste e horrvel que te descrevi e diz-me como
vai a minha famlia, a tua famlia e como vais tu? Manda muitos beijos ao meu pai e
minha me, tambm minha irm, diz-lhes que os amo muito.
E tu? De certeza que ainda tens os mesmos dourados caracis, os reluzentes olhos verdes,
a figura esbelta e curvilnea e a face meiga e delicada de sempre. Quero que saibas que
quando disparo penso em ti; quando estou cheio de frio e coberto de lama, o teu corao
aquece-me, quando na minha mente me lembro das mortes e dos companheiros que perdi,
afasto esses pensamentos com a tua alegria e com o verde dos teus olhos; quando sinto
medo ou fraqueza a tua fora faz-me vencer e ter coragem para enfrentar o inimigo.
Quando tiver de correr pela Terra de ningum, tu estars a dar-me a mo e estars no meu
pensamento. Quando chegar o momento de partir, estars para sempre comigo e quando
chegar o momento de morrer f-lo-ei por ti e pelo nosso amor...