A Linguagem Na Formação Da Criança
A Linguagem Na Formação Da Criança
A Linguagem Na Formação Da Criança
Poesia de Loris Malaguzzi: Invece il cento c publicada in: Edwards, C., Gandin, L. i Forman, G. I cento
linguaggi dei bambini. Edizione Junior, Italia, 1995 e recente mente publicada em portugus pelas Artes
Mdicas como: As Cem Linguagens da Criana. Com ilustrao de TONUCCI, Francesco. Com olhos de
criana. (trad. Patrcia Chittoni Ramos). Porto. Alegre: Artes Mdicas, 1997.
5.1. INTRODUO
A linguagem permeia o trabalho na educao infantil, junto com a
brincadeira e a interao, constitui os eixos da ao pedaggica junto s crianas.
Por vezes quando falamos em linguagem comum remetermos
linguagem verbal e escrita, igualmente fundamental para o desenvolvimento infantil, no
entanto, algumas professoras acabam priorizando essas duas formas de linguagem na
educao das crianas, em detrimento de outras, privando-as de novas vivncias, novas
experincias que ampliem seus conhecimentos.
Nesse sentido, a educao infantil vem buscando superar esse
entendimento de linguagem e considerando que a criana se comunica e se expressa por
meio de mltiplas linguagens, de cem linguagens como escreve Loris Malaguzzi em sua
poesia.
O contedo do presente artigo visa apresentar e promover a reflexo sobre
algumas das mltiplas linguagens presentes na educao das crianas. Aborda a
importncia e as possibilidades de trabalhar essas formas de comunicaes e expresses
como linguagem na educao das crianas pequenas.
Nosso projeto A Arca de No centrou-se no tema linguagens, pois, em
nossas observaes do cotidiano das crianas e em conversas com as educadoras do grupo
identificamos a necessidade de promover situaes significativas para as crianas que
desencadeassem o desenvolvimento da oralidade.
O grupo 4A como descrevemos anteriormente no captulo trs desse
relatrio tem entre dois anos e cinco meses a trs anos e cinco meses e esto desenvolvendo
a habilidade de falar. Algumas das crianas desse grupo esto num processo mais avanado
de aquisio dessa linguagem, outras num processo inicial.
Por fim, pautadas nas manifestaes, interesses e necessidades das
crianas, priorizamos quatro das mltiplas linguagens presentes no cotidiano da educao
infantil, so elas, a linguagem oral, a contao de histria, a linguagem audiovisual e a
linguagem por meio das artes visuais (pintura, colagem, modelagem).
Esse fragmento de um texto foi passado a nossa turma na 7 fase pela professora Gilka Girardello, na
ocasio est no tinha referncia bibliogrfica, achamos de fundamental importncia descrevermos parte
desse estudo aqui, porm, no ser possvel colocar a referncia.
Como a partir dos dois anos que a criana comea a ter a habilidade de
narrar, importante dar espao e vez s crianas, para que elas comecem a vivenciar
melhor essa prtica, pois esta leva a criana a reorganizar a experincia subjetiva que tem
dela mesma e de sua relao com o outro (Girardello, s.d.).
diversos mundos onde a criana ampliar sua capacidade de imaginar, criar e vivenciar
momentos novos e aprender.
Esperamos que essa prtica seja cada vez mais presente no s no
cotidiano das crianas do grupo 4A, mas, no cotidiano das crianas de toda a creche e de
todas as instituies de educao infantil.
relaes entre as lembranas: e da trama final emerge um novo sentido (PAULA, 2005, p.
40).
Ao assistir e ouvir a uma produo audiovisual a criana pode estabelecer
uma relao com aquilo que conhece e o que novo para ela. Como descrevemos no
fragmento acima, quando comea o clipe da lagarta e da borboleta Andria comea a cantar
a msica da borboletinha, mas, logo que o clipe comea e ela para de cantar por perceber
que a msica do vdeo no a que ela estava cantando. A relao com o velho e o novo se
estabelece e alm da ampliao do seu repertrio cultural, a criana vai ampliando seu
repertrio de linguagem oral.
Nesse processo de aquisio de novas imagens, sons e novas palavras com
a mediao visual e musical, h um ganho muito significativo no processo de aquisio da
linguagem oral, pois uma funo primordial para o desenvolvimento da criana, j que
alm de promover aspectos relacionados sociabilidade e comunicao, esse processo pode
promover tambm o conhecimento de mundo.
Mencionamos que as crianas gostaram da exibio dos clipes, pois, se
envolveram e identificavam elementos que compe a imagem, reconhecendo os bichos que
apareciam durante a exibio. Expressaram-se de formas variadas: com palmas,
gargalhadas, palavras e olhares. Pretendemos ressaltar, que o recurso audiovisual possibilita
ainda, a ampliao na criana de diferentes formas de expresso de seus sentimentos, de
suas vontades e de seus pensamentos.
Contudo, nossa inteno com essa discusso foi salientar a importncia
desse recurso na educao infantil, no como mera diverso ou passatempo para os dias de
chuva e sim como uma rica fonte de conhecimento e aprendizagens para as crianas e para
as educadoras. Considerando que:
Isso exige da professora, enquanto mediadora, um conhecimento prvio daquilo
que estar trazendo ou oferecendo para as crianas assistirem, e mais, estar junto,
atenta, para poder discutir e muitas vezes se contrapor a determinados valores,
concepes ou falsas verdades que veiculam como verdades. Ou seja, uma
postura crtica e reflexiva diante desta linguagem para que ela possa servir como
instrumento de ampliao de conhecimentos e no de pura alienao3.
Pensamos
que
superar
formas
descompromissadas
sem
Que atravs da apreciao das suas obras e dos outros, por meio da
observao e leitura de alguns dos elementos da linguagem plstica: ponto, linha, forma,
cor, volume, contrastes, luz, texturas, trabalhe a leitura de obras de arte a partir da
observao, narrao, descrio e interpretao de imagens e de objetos.
Entendemos que ao ampliar significativamente o repertrio cultural
das crianas estaremos contribuindo para a ampliao de significados, inclusive para o
estabelecimento de relao das obras com as suas experincias pessoais de forma crtica.
Nesse sentido, encontraremos nos referenciais curriculares nacionais para a educao
infantil (1998) consideraes importantes sobre esse aspecto:
A arte da criana, desde cedo, sofre influncia da cultura, seja por meio de
materiais e suportes com que faz seus trabalhos, seja pelas imagens e atos de
produo artstica que observa na TV, em revistas, em gibis, rtulos, estampas,
obras de arte, trabalhos artsticos de outras crianas etc. Embora seja possvel
identificar espontaneidade e autonomia na explorao e no fazer artstico das
crianas, seus trabalhos revelam: o local e a poca histrica em que vivem; suas
oportunidades de aprendizagem; suas idias ou representaes sobre o trabalho
artstico que realiza e sobre a produo de arte qual tm acesso, assim como seu
potencial para refletir sobre ela.() Tais construes so elaboradas a partir de
suas experincias ao longo da vida, que envolvem a relao com a produo de
arte, com o mundo dos objetos e com seu prprio fazer.
(...) Elas cada uma do seu jeito deram formas, modelaram bichos, corao, bolas
esculpiram, se concentraram, e deram as massas formatos variados utilizando os
instrumentos que fornecemos ou utilizando as mos. A mistura das massas deu
margem tambm para descoberta de novas cores.
(Registro de interveno do dia 05/07/2006)
colocam pouca cola e muitos materiais ou colocam muita cola e pouco material
ou pouca cola e pouco material. Ao final todas as mscaras ganharam
caractersticas de cada criana
(Registro de interveno do dia 03/07/2006).
nvel de
A expresso pares foi utilizada por Sarmento no livro: CERISARA, Ana Beatriz. SARMENTO, Manuel
Jacinto. Crianas e midos: Perspectivas socio-pedaggicas da infncia e educao. Porto: Asa, 2004. Ele se
refere nessa expresso interao ou contato da criana ou das crianas com outra criana ou com outras
crianas nas brincadeiras, nas conversas, ou seja, nas relaes que estabelecem umas com as outras.
Por fim, as crianas esto a nos mostrar que existem vrios caminhos,
vrias possibilidades, para estabelecermos uma pedagogia da infncia que trabalhe no
cotidiano das crianas por meio das brincadeiras e das interaes, todas as mltiplas
dimenses: corporal, expressivas, esttica, ldica, sexual, psicolgica, social, afetiva,
cognitiva e as mltiplas linguagens possveis: musical, plstica, corporal, dramtica, oral,
proporcionando as crianas construo de suas identidades da forma mais rica possvel.
Tornando o espao da creche um lugar de pertencimento e de vivncias scio-culturais.
Onde as crianas se sintam vontade para viajar no imaginrio e construir conhecimento,
caminhando para a construo efetiva da cidadania e do bem comum.
5.6. CONSIDERAES FINAIS
Pensamos que todas as formas de linguagens que abordamos neste artigo
so ricas e possveis no trabalho com a educao infantil, possibilitam uma gama de novas
vivncias e de novas experincias que ampliam com veemncia o repertrio cultural das
crianas, oportunizando diversas interaes dela com as obras, com o material utilizado e
com seus pares.
Muitas vezes ns educadoras nos prendemos a rotina idealizada, com
atividades propostas a crianas idealizadas, em um espao idealizado, desconsiderando a
realidade de nosso cotidiano e de nossas crianas. No querendo ver o que visvel. Isso
acarreta em projetar nas crianas aquilo que elas no so e desconstruir isso acaba sendo
um caminho difcil, porm, necessrio.
Uma prtica que respeite os direitos das crianas, que busque conhec-las
melhor para trabalhar com elas. Pensando na criana como um campo frtil para instigar e
desenvolver, consider-la como um ser social que tem muito a nos ensinar, que nos d
pistas a cada segundo de sua especificidade, ao mesmo tempo, de sua multiplicidade, nos
convida a tomar distncia para refletir sobre nossas aes para entender o vai-e-vem
imprevisvel de suas vontades, fundamental para cumprir nosso papel na educao
infantil.
Nos educadoras assumimos um compromisso com a mudana e com a
transformao da realidade, nesse sentido, mudar a organizao do espao, da rotina, nossas
prticas na educao das crianas, mudar a atitude, reconhecer e buscar uma pedagogia
que respeite a condio de ser criana em sua plenitude.
A educao vem avanando e superando desafios no que tange o trabalho
com as mltiplas linguagens presentes na educao das crianas. Esperamos num tempo
no muito distante uma pedagogia que trabalhe no cotidiano das crianas por meio das
brincadeiras e das interaes, todas as mltiplas dimenses: corporal, expressivas, esttica,
ldica, sexual, psicolgica, social, afetiva, cognitiva e as mltiplas linguagens possveis:
musical, plstica, corporal, dramtica, oral, proporcionando as crianas construo de
suas identidades da forma mais rica possvel.
Tornando o espao da creche um lugar de pertencimento e de vivncias
scio-culturais. No qual as crianas se sintam vontade para viajar no imaginrio e
construir conhecimentos, caminhando para a construo efetiva da cidadania e do bem
comum.
REFERNCIA BIBLIOGRFICA
AGOSTINHO, Ktia Adair. Creche e Pr-escola Lugar de Criana? In: _____, Criana
pede Respeito: Temas em Educao Infantil. Porto Alegre: Mediao, 2005.
BONA, Andreza et al. Entrevista: Alessandra Rotta. In: _____, Modelagem enquanto arte
na educao infantil. Florianpolis: UFSC, 2005.
CERISARA, Ana Beatriz. SARMENTO, Manuel Jacinto. Crianas e midos: Perspectivas
sociopedaggicas da infncia e educao. Porto: Asa, 2004.
DOBBIN, Carlos Alberto. A noo do egocentrismo - Piaget (1896 - 1980) vida e obra.
Cabo Frio. Disponvel Em: <http://hps.infolink.com.br/peco/piag_02.htm>. Acesso em 31
de julho de 2006.