Revista Bucho Ruminante 01
Revista Bucho Ruminante 01
Revista Bucho Ruminante 01
As tcnicas do acabado so eminentemente dogmticas, afirmativas sem discusso, credo quia absurdum, e por
isto que a escultura, que por psicologia do material a mais
acabada de todas as artes, foi a mais ensinadora das artes ditatoriais e religiosas de antes da Idade Moderna. Bblias de pedra... Pelo contrrio: o desenho, o teatro, que so as artes mais
inacabadas por natureza as mais abertas e permitem a mancha, o esboo, a aluso, a discusso, o conselho, o convite, e
o teatro ainda essa curiosa vitria final das coisas humanas e
transitrias com o ltimo ato so artes do inacabado, mais
prprias para o intencionismo do combate. E assim como existem artes mais propcias para o combate, h tcnicas que
pela prpria insatifao do inacabado, maltratam, excitam o
espectador e o pem de p.
- Mrio de Andrade
Edio Um
Menu
(se voc acha bvio chamar o ndice de menu, imagine o quo bvio chamar o ndice de ndice)
O modo como a memria se comporta nos sonhos , sem sombra de dvida, da maior
importncia para qualquer teoria da memria em geral. Ele nos ensina que nada que
ndice geral
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Chegamos ao nmero UM. Com jeito de dois. E preo zero.
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Nesta edio, o espao e tempo giraram para outros grupos.Trata-se de uma edio especial. Antes que
Mas cada cabea, uma sentena. Os grupos e artistas tiveram liberdade de expresso em seus registros e
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Dossi da Feira. Convidamos os grupos a ruminarem juntos. O dossi foi escrito a centenas de mos.
impresses sobre a II Feira Paulista de Opinio ou I Feira Antropofgica de Opinio. Ajuntamento tribal dos
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gicos (ou outra alcunha mais ao gosto do fregus: cada cabea, uma sentena). Todo abismo navegvel a
barquinhos de papel.
bida e elaborada especificamente para os atores em formao das Oficinas do Ator Antropofgico e a todos
os jovens iniciantes em teatro), a fbula do Jujuba, o ndice-r (essa pra voc, Oswald!). Na capa, a Torre
de Babel ou a Babelizao: primeiro a barriga, segundo vem amar, terceiro vem a briga...beber em quarto
Aviso: Os textos assinados desta revista so de responsabilidade de seus autores e no necessariamente expressam ou tm concordncia com a opinio
da Antropofgica. Da vem a pergunta: Ento por que vocs publicaram? Uma resposta possvel: Porque o todo mais que a simples soma das partes.
Aviso 2: Nossa escrita pirata. Aviso 3: Esta revista revisada de acordo com a ABNT (Antropofagizao Brasileira de Normas Tcnicas). Aviso 4: Caso
pacem erros de pontuao ...........,,,,,,,;;;;((((()))___----%!!!!?+ ~~ Aviso 4b: Esgotados estes sinais de pontuao, escreva para ns que disponibilizaremos mais pontos gratuitamente na prxima edio. Aviso nmero 6: Caso encontrem problemas de discordncia (verbal, nominal etc.), saibam que
tambm no concordamos com tudo desta revista. Esta revista escrita a muitas mos e sua linha editorial tirada em deciso coletiva da Antropofgica. Obs.: Se voc acha que estes avisos so idnticos ao da Edio Zero, porque no prestou ateno: ns corrigimos um acento circunflexo e
adicionamos alguns pontos como prometemos, portanto no 100 igual. Obs da obs.: ningum escreveu para ns pedindo que disponibilizssemos mais
pontos; fizemo-lo porque quisemo-lo. Nesta revista so permitidos: ensaios, dirios, crnicas panfletos, poemas, objetncia, teses, fichamentos, contos,
artigos, fotonovelas, manifestos, divagaes, depoimentos, romances, cardpios, aforismos, palavras cruzadas, dramas, piadas, fotomontagens, horscopos, agit-prop, roteiros, dicas, letras de msica, resenhas, dossis, cartas, notas, quadrinhos, xingamentos, entrevistas, clichs, figurinhas, grficos etc.
- In Camargo Costa
H ainda as cruzadas, o cartaz de Mahagonny-Marragoni, uma entrevista com o ator Renan Rovida (conce-
materialista em que se desejam bens de consumo, mas t-la organizado de modo a impedir que a maioria tenha acesso aos bens que produz. Ns somos pela
Entrevista
Eu fao teatro desde os 15 anos. Morava em um bairro operrio de Taubat. Meu pai foi professor do Senai,
ento a perspectiva era ou ser mo de obra para a indstria ou dar a sorte de ser jogador de futebol, no tinha
outra coisa. A eu joguei bola, joguei no Taubat, mas
na categoria de base. Quando eu resolvi fazer faculdade,
depois do ensino mdio, eu pensei em uma faculdade que
ganhasse dinheiro. A comecei e o cara da faculdade me
chamou para fazer teatro da faculdade de comunicao.
Quando estreou a pea, eu resolvi sair e depois vim para
So Paulo.
Esses dias eu fiz uma mesa com uns atores e vi que
estar naquela mesa era um privilgio, como estar aqui
dando essa entrevista. um privilgio em que sentido?
Quem vem do lugar de onde eu vim no faz o que quer.
Eu me lembro que eu sempre questionava isso, desde um
estmulo em casa, pelo meu pai, de buscar uma vocao
no sentido grego, que voc pode contribuir para sociedade para mudar, para transformar.
Quando estava em So Caetano, j existiam os grupos
e j circulava nas escolas o Sarrafo, que era o jornal dos
grupos. Eu me lembro que no segundo ou terceiro semestre eles obrigavam a fazer estgio, mas era no fundo
uma grande enganao, porque voc sentia que era legal
trabalhar fora, mas no, eles queriam que voc trabalhasse para a escola para cumprir estgio. A eu peguei o
Sarrafo e peguei o telefone de todos os grupos e liguei
perguntando se algum precisava de estagirio. Ningum
precisava, a eu no entrei em nenhum grupo nessa poca, mas eu liguei para o Lato, eu liguei para o Folias,
para o Vertigem.
Quando eu tinha mais ou menos uns quatorze anos,
eu tinha um amigo cujo pai era vereador, ento ele era
mais rico que a gente e ele tinha uma cmera dessas
Super-V, aquelas grandes de vdeo. Depois ele comprou
uma pequena, uma VHS-C. Um dia a gente foi fazer um
trabalho de escola e fizemos uma ceninha. Gostamos
tanto que em vez de irmos para balada, a gente passava
a madrugada toda no Vale do Paraba, Taubat, Pinda fazendo vdeo na rua. Era um esquema louco. Escolhamos
primeiro um local e depois uma historinha; um operava
a cmera e os outros faziam. A gente fazia tudo e editava
na prpria cmera. Chegava 6 horas, a gente ia para casa
e assistia tudo que tinha filmado, a gente ria. E eu comecei a ver que a gente era muito ruim como ator, a eu
pensei que tinha que estudar mais teatro, importante
isso, porque o teatro e o cinema estavam muito ligados
em vrios aspectos.
que tem muito a ver com a minha histria e com as minhas proposies na sala de ensaio. O Srgio tambm
tem um rastro l e culminou com essa pea que eu gosto
muito tambm. O processo dessa pea foi bem menor
porque j se tinha uma dramaturgia pronta.
Dirigi Entre Ns, Dinheiro mesmo no sabendo direito o que fazer, eu sabia o tipo de cinema que eu no
queria fazer, depois de ter tido essa experincia cinematogrfica com o Estudo de Cena e de criaes anteriores
em So Paulo. Tambm depois de conhecer Cuba e um
outro jeito de se relacionar, diferente do nosso. Ento
resolvi fazer um filme sobre o Brasil, de anotaes que j
tinha e que com o contraste desta outra forma de viver,
me voltaram. O filme mostra as relaes mediadas pelo
dinheiro, ele foi feito em um dia, depois uma cena em
um segundo dia, e se passa no churrasco da firma, que
foi uma coisa que eu tambm vivenciei nesse ambiente
de firma. O patro todo final de ano paga o churrasco e
nesse ano no paga, sendo que os prprios funcionrios
acabam pagando. Nesse dia do churrasco sentamos eu, a
Maria Tereza Urias [Mait] e o Carlinhos [do Lato], e a
gente resolveu continuar fazendo filmes. Foi o processo
que vivi com o Lato que me deu confiana de dirigir um
filme e com isso a gente montou o Tela Suja Filmes.
Quando a gente comeou a participar nos editais, eu comecei a ver filmes novos, o que foi muito bom, mas vi
que no cinema o pensamento hegemnico muito mais
naturalizado do que no teatro, at porque eu convivia no
teatro com grupos e pessoas de esquerda de So Paulo.
Hoje no Tela Suja Filmes estamos com esse ltimo filme que o Coice do Peito, que baseado em um conto
do Tchekhov, Angstia. Dirigi e atuei. Nesse filme, at o
ltimo momento eu no tinha certeza se iria atuar, acho
que s dividi essa dvida com a Mait.
Thiago: possvel pensarmos em algumas referncias
bsicas para atores?
Renan: Acho que a primeira coisa o autoconhecimento. Isso no sai de voc; cada ator vai ter o seu jeito
de fazer. Lembro de uma professora de corpo que foi
muito importante, mas poderia citar o tempo que eu fiquei fazendo tai chi chuan, algo que me faz muito bem,
no sentido de conhecer a mim mesmo. Ou quando eu
joguei bola. Coisas que fazem do meu corpo ser o que eu
sou. E, ao mesmo tempo, ter conscincia de que corpo
esse. Porque uma das coisas que grita num ator a
insegurana com a sua prpria imagem, com seu prprio
corpo. Atuar corpo. Ento o ator ou a atriz no querem
assumir pra si que esto gordos, porque a sociedade
diz que aquele corpo um corpo de gordo. E a tem uma
crise, ele ou ela no gostariam de ter aquele corpo que
tm, e fica uma coisa assim Isso vai pra cena.
Com relao ao autoconhecimento, estou falando de
corpo, mas estou falando de outras coisas tambm. Porque corpo no s pele, msculo e gordura. Acho que
corpo tambm como voc age, determinado jeito, em
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Estopins
Tempo no dinheiro.
Tempo o tecido da vida.
Coelho Antropofgico
Doutor Guillotin
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Sujeito histrico
Cruzadas
VERTICAL
1. Em primeiro vem a (?)
2. Cio, acasalamento
4. Mahagonny (pop.)
5. Braos (?), mquinas paradas
6. Em segundo vem (?)
7. O Lobo do Alasca
8. No pula por boniteza, mas por preciso
10. Em 1968 Aconteceu a 1 Feira Paulista de (?)
11. Beber vem em (?) lugar
13. BB
18. Em terceiro vem a (?)
HORIZONTAL
2. Batida forte com uma cruz
3. Estado civil da Begbick
5. Filme de Ridley Scott
9. Quem controla o tempo
12. Sinais de uma ligao que se misturam
14. Lenhador do Alasca
15. Interseco entre duas ou mais vias
16. Dinheiro em japons
17. Grau de parentesco entre She-Ra e He-Man
19. O grande cartunista
20. Peregrinao, Guerra Santa
21. Jogo de Passatempo
22. Local de Despacho
HORIZONTAL
2.[CRUZADA] 3.[VIVA] 5.[CRUZADA] 9.[COELHO] 12.[LINHA CRUZADA] 14.[PAUL ACKERMANN] 15.[CRUZAMENTO] 16.[TUTO] 17.[IRMOS GMEOS] 19.[ALAN SIQUEIRA]
20.[CRUZADAS] 21.[CRUZADAS] 22.[ENCRUZILHADA]
VERTICAL
1.[BARRIGA] 2.[CRUZA] 4.[CIDADE ARAPUCA] 5.[CRUZADOS] 6.[AMAR] 7.[JOE] 8.[SAPO] 10.[OPINIO] 11.[QUARTO] 13.[BERTOLD BRECHT] 18.[BRIGA]
Alm da II Feira Paulista de Opinio ou I Feira Antropofgica de Opinio, a Cia. Antropofgica produziu o espetculo
Mahagonny Marragoni - Sute Antropofgica n1: Mutato Nomine de the Fabula Narrator, parte de uma pesquisa que
envolve literatura fantstica, contos de terror e horror e teatro de feira.
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O Furo no Casco
(adaptao do texto de Chico de Assis,
por Renata Adrianna)
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Dossi
Augusto Boal
Na pgina ao lado, esquerda, o cartaz da I Feira Paulista de Opinio, organizada pelo Teatro de Arena em
1968 (parte do acervo do Centro Cultural So Paulo). direita, o cartaz da II Feira Paulista de Opinio ou I
Feira Antropofgica de Opinio, organizada pela Cia Antropofgica em 2014.
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Dramaturgia Poltica
da I Feira de Opinio
Mesa de abertura do dia 15/02/2014 na II Feira Paulista de Opinio ou I Feira Antropofgica de Opinio
Agradeo o convite para estar aqui. Vou falar brevemente sobre o Feira Paulista de Opinio, de 1968, um
dos acontecimentos mais importantes da histria do teatro poltico do pas.
Tenho a impresso de que a Feira Paulista (e logo na
sequncia, o Trabalho do Teatro Jornal) representaram
para o Teatro de Arena em particular para Augusto
Boal a ltima grande tentativa de elaborao de uma
crise esttica, poltica e econmica, que tinha sido lanada sobre a produo cultural do pas a partir de 1964.
Uma crise sobre o sentido e a funo do teatro dentro
do mundo da cultura, algo que na avaliao daquela gerao precisaria ser combatido pela construo de uma
nova dramaturgia crtica.
Em 1966, Boal j tinha realizado uma tentativa frustrada de reinstalar o Seminrio de Dramaturgia em
moldes semelhantes quele que funcionou entre 1958 a
1960, e que ajudou a sistematizar o trabalho de tantos
escritores e dramaturgos. Mas, at onde eu sei, apesar
de algumas reunies em maro de 1966, em que participaram pessoas como Anatol Rosenfeld, o segundo
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Ento no vs o que fizeste? Depois do teu sangue derramado, o que resta? Acendeste o rubor da vergonha em
cada face. Deste esperana demais.
(E o hippie bbado atira o copo na imagem).
O Animlia, do Guarnieri, um dos textos mais
contraditrios do conjunto alternando abstraes fceis
com poesia crua, numa espcie de paisagem espectral,
de pesadelo.
A pea de Jorge Andrade escrita para Feira Paulista,
A Receita, um exemplo da qualidade dramtica de um
autor que gerava resistncias preconceituosas no Seminrio de Dramaturgia na prpria esquerda. Ali vemos,
entretanto, um momento forte de drama social brasileiro que, na obra desse autor, s encontra paralelo em Vereda da Salvao. Como no texto de Lauro, de um lado
personagens do povo (uma famlia camponesa, s voltas
com um filho moo que v seu p gangrenar aps um
acidente de trabalho) e, de outro, personagens do mundo moderno burgus, no caso um mdico. Contradies
psquicas lado a lado: o jovem mdico acorda para o
carter de classe de seu ofcio (medicina requer dinheiro
para ser aplicada), a me ganha conscincia de sua misria e dependncia do dinheiro da filha prostituta. A
soluo final, ao mesmo tempo alegrica e dramaticamente violenta, dada pela irm aparentemente abobalhada, que, quando todos deixam o casebre, embebeda
o irmo e ergue o machado para amputar a parte podre.
Verde Que Te Quero Verde, de Plnio Marcos, uma
pea curtssima, que mostra nada mais, nada menos do
que um militar macaco que trabalha como chefe do servio de censura. Em sua entrada em cena, com o rabo e
tudo, ele tira o capacete, desce as calas e caga em cena
aberta, dando guinchos de delcia, segundo a rubrica
divertida. A pea basicamente uma scketch cmica em
retorno dessa figura grotesca, escrita como base para os
improvisos do ator Renato Consorte. Quando eles ouvem as escutas gravadas numa assembleia de gente de
teatro, que discute uma possvel greve de fome, algum
diz: acrescenta logo uma proposta porque a turma j
est se mandando para o Gigeto.
A qualidade efmera do Feira Paulista de Opinio
tem a muita a ver com essa capacidade de aludir ao
imediato do tempo histrico, essa tenso para o detalhe
mobilizador em atrito com a recusa a uma ideologizao excessiva.
Na piada de Plnio Marcos sobre a greve de fome, a
verdade de uma estria interditada: 65 pginas de um
texto de 80 tinham sido cortadas pela censura, e a temporada do Feira Paulista s ocorreu porque os artistas
de teatro de So Paulo declararam greve geral e foram
para o Ruth Escobar. Naquela noite, Cacilda Becker subiu ao palco e assumiu a responsabilidade de estar na
frente da Desobedincia Civil de apresentar o espetculo sem alvar. No segundo dia, a polcia estava l,
e o grupo de atores convocou a plateia a segui-los ao
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Dilogos
Antropofgicos
Mesa de abertura do dia 16/02/2014 na II Feira Paulista de Opinio ou I Feira Antropofgica de Opinio
MARIO MASETTI
Faz tempo que tudo isso aconteceu. Quando me convidaram
pra participar dessa mesa, eu fiquei tentando lembrar um pouco
o que foi. Eu trabalhei nesse espetculo, foi o primeiro espetculo que eu trabalhei na vida. Na verdade o [Teatro de] Arena
estava fazendo Arena Conta Tiradentes e ensaiando a Feira Paulista de Opinio, e eu entrei no teatro pra fazer uma espcie de
contra-regragem do [primeiro] espetculo: comprar vela na padaria, fazia uma manuteno ali, coisas que o espetculo precisava,
e tive a sorte de poder acompanhar desde o comeo o processo
de ensaio da Feira Paulista de Opinio.
Desde que me convidaram pra participar dessa mesa, fiquei
pensando o que eu ia falar e me deparei com o ttulo de um livro
l na minha estante. O livro do Rubem Fonseca, um livro de
contos que no tem nada a ver, mas um ttulo que tem tudo a
ver com o que eu sentia na poca: Vastas Emoes e Pensamentos Imperfeitos. Eu acho que naquela poca eu misturava um
pouco a atividade teatral, o que estava sendo feito no teatro,
com o que a gente estava vivendo fora do teatro na exploso da
poltica e tudo isso. Uma confuso muito grande. O espetculo
falava de coisas que s vezes aconteciam de forma at mais pesada e mais grave fora do espetculo. Invaso do CCC [Comando
de Caa aos Comunistas], ameaa de bomba, enfim, um monte
de coisa que, confesso pra vocs, pra um moleque de 15, 16 anos,
estava muito mais ligado ao teatro de aventura do que ao teatro
poltico.
Mas claro que tudo isso deixou muita marca. Se existe uma
forma justa de fazer teatro, apoiada numa idia de que o teatro
deve mostrar a vida social das pessoas, de que o teatro tem uma
funo muito mais importante do que a do simples entretenimento, tudo isso, tenho certeza absoluta, eu aprendi no Teatro
de Arena e com os companheiros do Teatro de Arena. Isso, de
certa forma, criou um norte pra como o teatro deve ser feito. E
acho muito bacana hoje, depois de tanto tempo, ver que tem um
lugar como esse, cheio de gente que eu tenho certeza que faz um
teatro que se preocupa com coisas que as pessoas se preocupavam l atrs.
Mesmo aqui nessa mesa, ver que tem gente como a Dulce
[Muniz]; a gente sempre brinca to perto e to longe. A gente comeou mais ou menos juntos l no Arena, e recentemente
voltei a frequentar o teatro da Dulce depois de muitos anos. Vi
que tem ali uma atividade muito rica, de coisas que so feitas
tambm com essa preocupao, a preocupao que a gente teve
l atrs. No que no tenha se modernizado, mas as coisas continuam com essa preocupao bsica.
Ento eu acho que uma coisa muito mais epidrmica do que
racional. No seria justo querer criar uma histria, querer tentar
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DULCE MUNIZ
Bom, eu tambm tenho a mesma dvida e a mesma indagao do Marinho [Mario Masetti], porque no sei muito bem sobre
o que falar. A nica coisa que eu me impus como disciplina, e
acho que o Mario tambm, que a gente devia ser muito breve.
Porque achamos que j que a gente chamado pra dar um depoimento, pra falar de alguma coisa que a gente fez e continua
fazendo, pra gente conversar. Ento no pode ser uma falao
de muito tempo.
Queria rapidamente dizer que comeo quase ao mesmo tempo que o Mario. A nica coisa que ele fez que eu no fiz: ele
trabalhou como diretor assistente do Boal na Primeira Feira Paulista de Opinio. E eu fiz o curso de interpretao do Arena que
ele no fez. Mas depois dali ns sempre trabalhamos juntos, ele
fez o Teatro Jornal conosco, enfim. Ns somos filhos do mesmo
tero, ns somos filhos do Teatro de Arena de So Paulo, dcada
de 60, o finalzinho de 60 e o incio de 70. Eu sou mais velha que
o Mario quatro anos, ele tem 62 e eu tenho 66, ento ns fomos
apanhados muito jovens quando o golpe militar foi dado em 1
de Abril de 64. Vai fazer 50 anos.
De l pra c, vocs todos sabem, est escrito em tudo que
livro, est escrito na internet, mas penso que estar aqui, com
o meu queridssimo Umberto Magnani, que tambm participou
da pea, tambm trabalhou no Arena, o meu companheirssimo
Izaas Almada, uma satisfao. uma coisa que um blsamo
pro nosso corao, ao ver s vezes nossa vida de trabalhador,
nossa vida de militantes do socialismo e do comunismo, muitas
vezes mais dificultada do que antes. Mas a gente no esmorece,
ns continuamos aqui tentando ser dignos dos garotos e garotas
que ns fomos e, principalmente, ns tentamos ser dignos da herana que o Teatro de Arena nos deixou. Principalmente, dignos
de Augusto Boal, que foi quem mais esteve prximo de ns, porque temos ainda a alegria de ter a Ceclia [Boal] aqui conosco.
Sempre que falo, fao referncia professora e diretora teatral Heleny Guariba que tambm deu aula no Teatro de Arena,
naquele curso de interpretao, deu aula na Escola de Arte Dramtica, ferrenha opositora da Ditadura Militar, militante da Vanguarda Popular Revolucionria, foi duramente, cruelmente torturada na Casa da Morte em Petrpolis e l assassinada, e cujo
UMBETO MAGNANI
Boa tarde. Eu fiz a Feira Paulista de Opinio, no desde o comeo igual o Mario [Masetti], porque na poca eu estava fazendo
outra pea e tambm porque ningum tinha me convidado. Eu
conheci o [Augusto] Boal na Escola de Arte Dramtica de So
Paulo, a EAD. Ele era professor de dramaturgia, e a gente se
encontrava nos intervalos, na hora da sopa e tal. J na Escola de
Arte Dramtica eu virei tiete do Arena - essa palavra nem existia antigamente - e o teatro que eu queria fazer era o Teatro de
Arena. Ento eu assisti Arena Conta Zumbi umas 15 vezes, Arena
Conta Tiradentes, O Inspetor Geral, na poca que eu estava na
escola eu via tudo do Ncleo 2, e queria ir pro Arena. Talvez uns
IZAAS ALMADA
Quando se fala hoje de teatro de grupo em So Paulo parece
uma coisa velha, porque so tantos os grupos, e j tem alguns
anos que isso vem se desenvolvendo. Curiosamente ns quatro,
os quatro mais velhos dessa mesa, participamos da experincia
do Arena que na verdade eu diria que a matriz desse movimento que veio a dar nos anos 80, final de 70, na constituio
de inmeros grupos teatrais na cidade de So Paulo, e com pensamentos e atividades as mais diferentes possveis. Era s um
registro pra abrir aqui essa minha interveno, lembrando que na
nossa poca o teatro de grupo no era esse teatro de grupo que
existe hoje. Se resumia ao Arena, ao Oficina, ao Grupo Opinio
do Rio de Janeiro, ao Grupo Deciso e, se eu no estiver enganado, mais um. E eram grupos com sede prpria, com casa prpria,
que no exatamente isso que vocs vivem hoje. Eu j tive a
oportunidade de participar 7 vezes da comisso do Fomento e
sei como duro analisar aqueles projetos todos, a briga que , os
descontentamentos, mas isso no est em pauta aqui.
Em 2012 eu tive oportunidade de fazer l no atual Teatro Heleny Guariba um ciclo de palestras sobre o Augusto Boal, da qual
participaram o professor Anderson Zanetti, a Dulce, a Ceclia, a
In Camargo, eu. E dessas palestras deve resultar um livro sobre
o Augusto Boal, que uma figura marcante no teatro brasileiro e
inversamente desconhecido importncia que ele tem no teatro
brasileiro e no teatro mundial. Eu costumo dizer e se algum j
me ouviu contar essa histria eu vou repetir rapidamente: uma
vez eu entrei numa livraria em Londres, era uma livraria imensa
e eu pedi pra me levarem a seo de teatro. Quando eu cheguei
na tal seo de teatro havia uma quantidade enorme de livros e
uma prateleira com pelo menos vinte ttulos diferentes de e sobre
o Augusto Boal. Se voc for a uma livraria brasileira hoje em So
Paulo, Rio de Janeiro ou qualquer grande capital, encontrar dois
ttulos sobre Augusto Boal j muito, e l fora voc tem dezenas
de livros. Pra no falar do Teatro do Oprimido que hoje feito em
no sei quantos pases, pra cima de setenta se eu no me engano.
Ento, a propsito desse encontro que ns tivemos l, eu
escrevi uma monografia que a base desse livro que deve sair.
O eplogo dessa monografia, so s quatro pginas, eu peo licena a vocs de ler rapidinho. Eu acho que ela atinge o objetivo
a que vocs se propuseram com a pergunta O que pensa voc
do Brasil de hoje?.
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pintura renascentista, as esculturais coelhinhas da Playboy, ao vivo, porque disto a mscula metade brasileira
sempre foi vida disto o povo gosta, e com apetite.
Outro argumento, falaz como primeiro, diz que a TV
deve mostrar a crua realidade tal como , sem grinaldas nem guirlandas. Para este efeito, proliferam policiais
perseguindo bandidos em alta velocidade; casais acusando-se de caleidoscpicas infidelidades e promovendo
fsicas violncias diante das vidas cmeras; portadores
de exticas deformidades lamentando a sorte ingrata e
o cruel destino. Realidades so: existem! Quem duvida?
Realidades banais, vidas vazias, sem rumo, sem sal.
assim mesmo, dizem, a vida como ela ...
Mas cabe a pergunta a vida de quem? No existem
outras vidas neste Brasil imenso? Seremos todos reles
idiotas?
Nestes ltimos anos, no Brasil, seguindo a trilha de vrios outros pases do mundo, assistimos proliferao do
pior e mais nefasto dos programas que j surgiram nessa
fbrica de vacuidades que a TV: os reality-shows.
Neles, pessoas insossas sem o menor interesse intelectual, sem que se destaquem artstica, poltica ou socialmente, nem sequer pelas tatuagens impregnadas em
seus ombros, costas, ndegas e cccix ficam encerradas
em uma casa sem nada dizer ou fazer, nenhum objetivo
a perseguir a no ser o de permanecer em cena o maior
tempo possvel atraindo a ateno dos camera-men, esperanosos de um close-up.
As telenovelas mesmo de trama inverossmil e flcida,
mesmo superficial e andina mostram relaes humanas estruturadas segundo certos valores morais e polticos... mesmo discutveis. J os reality-shows, ao optarem
pela ausncia (aparente) de qualquer trama preconcebida,
ao deixarem que tudo acontea ao sabor do acaso, e pela
total falta de lucidez de pensamento, nada oferecem a
no ser o despropsito daquelas vidas psiquicamente vegetativas.
Vidas fragmentadas e mopes, sem metas em longo prazo, nas quais a maior preocupao ontolgica dos personagens abrir a geladeira e a reclamar da falta de uma
boa pizza; sua maior angstia, o telefone que no toca.
Essa fragmentao se assemelha ao cotidiano igualmente fragmentado da maioria dos telespectadores que so,
assim, confortados em suas vidas despropositadas.
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Companhia do Feijo
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Livre criao, por Vera Lamy, de um episdio vivido por Macunama, que sendo desde sempre nosso heri sem carter permite que qualquer brasileiro bote as mos nas suas partes.
Na curva do laguinho
Aqui no cu do mundo
Num carro vagabundo
Vagando pelas ruas
Perdendo a direo
Embaixo do viaduto
Respira asfalto um vulto
Se cola na parede
Escorre pelo cho
um homem enegressivo
Saci do nosso tempo
Pitando seu cachimbo
Pedra branca na mo
Pas-periferia
Nao anomalia
Parece Chopin Center
Mas Casas Bahia
Brava Companhia
Refletindo a partir de algumas leituras e da minha experincia como integrante da Brava Companhia, um coletivo de
trabalhadores do teatro que se prope em suas obras abordar
criticamente os problemas da sociedade, e que se movimenta
h mais de uma dcada em um cenrio cultural dominado
pela arte mercadoria, concluo que o artista que entende que
sua arte tem funo social, s tem uma opo, se quiser, de
fato, contribuir de alguma maneira com a transformao da
realidade: tornar sua arte, cada vez mais, crtica e radical.
E para isso, penso que preciso perseguir, refletir e dar
conta, simultaneamente, de: uma tarefa-problema e um problema-tarefa.
Tentarei explicar do que se trata esse duplo desafio.
A tarefa-problema se resume em encontrar e abordar assuntos, temas e aspectos da vida que sirvam a uma compreenso da realidade e da experincia local em conexo com a
macro histria e o tempo mundial.
uma tarefa e, ao mesmo tempo, um problema, porque
exige dos seus executores um olhar e uma compreenso ampla e histrica da realidade para selecionar materiais que sejam, de fato, relevantes e eficientes para uma arte que ative
a reflexo crtica. Entretanto, isso muitas vezes exige a superao de uma formao intelectual precria e ideologizada,
que nos imprime justamente o contrrio: uma viso restrita
e individualizada sobre o mundo, que faz enxergar de forma
distorcida e desestoricizada apenas o que est ao nosso redor
e nos limites da vida cotidiana.
30
Martin Eikmeier
Apresentao da cano O grande no! Originalmente composta por Martin Eikmeier para letra
de Srgio de Carvalho e Mrcio Marciano para a
ocasio da marcha nacional pela reforma agrria
do MST em 2005. A mesma cano foi incorporada
na pea A farsa da justia burguesa de Srgio
de Carvalho, que vem sendo encenada pela Companhia Estudo de Cena. Para essa encenao, a letra foi adaptada por Diogo Noventa e apresentada
nessa verso pelo mesmo grupo.
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33
Manifesto Nostlgico
Obs.: Este texto faz parte da dramaturgia da
interveno cnico-carnavalesca que o coletivo
Dolores Boca Aberta realizou na Feira Antropofgica de Opinio. Foi escrito pelo integrante Danilo
Monteiro aps as Jornadas de Junho de 2013 em
So Paulo.
Este manifesto vai para as donas de casa que sonham com centauros trotando
no Parque do Carmo
Este manifesto tambm vai para os sorveteiros que
espetam palitos de fsforo acesos em
gasolina congelada e os arremessam
contra as tropas de choque da melancolia
E para os adolescentes que se vestem de Homem-Aranha para copular com o Hulk enquanto
ele destri o exrcito americano
Enfim, este manifesto dirigido s sujeitas e sujeitos perifricos
O presente / O assalto
(cano de Danilo Monteiro)
1
o presente novamente aberto
plstico, grvido, deserto
o presente novamente aberto
escrito em grego, rosto recoberto
nova casa, velhas chaves, tempo duro
senha do futuro
tempo de tomar partido
tempo sem partidos
tempo de partir
tempo partido
2
o que um assalto a banco
comparado fundao de um banco?
o que um vidro quebrado
comparado a um pas quebrado?
juro, estamos juntos
juro que te pago
juro meu futuro
minha casa, minha vida
dvida fodida
dividendos vis
eis a partida
Obs.: A parte 1 foi escrita para a cena final da pea
Trs Movimentos, da Cia. Ocamorana, em 2012; a
parte 2 foi composta para a interveno conjunta
da Cia. Antropofgica e do Coletivo Dolores Boca
Aberta no projeto O Lugar do Outro do instituto Ita Cultural. A frase entre aspas da autoria
de Bertolt Brecht. Ela est na pea pera dos Trs
Vintns, na qual um bando de ladres decide mudar de ramo e funda um banco.
34
Renato Gama
O show foi uma homenagem ao Z Keti, grande sambista carioca. Montamos uma banda s de negros, com apenas um
branco para cumprir nossa cota racial. O repertrio, alm de
msicas minhas, teve: Comportamento Geral, de Gonzaguinha e Velho Ateu, de Eduardo Gudin. E dividir o palco com
tantos artistas, que admiro, em uma reedio de um festival
que teve grande importncia para esse pas, foi gratificante. E
esse evento trouxe-me a compreenso de participar do coletivo GTO da Garoa.
Podem me prender,
podem me bater,
podem at deixar-me sem comer
que eu no mudo de opinio.
Daqui do morro,
eu no saio, no.
(Z Keti)
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Pombas Urbanas
Um pouco de Mingau
A cena das Buchudas apresentada na II Feira Paulista de
Opinio ou I Feria Antropofgica de Opinio, faz parte do
espetculo de rua Mingau de Concreto, criado pelo grupo
com texto e direo de Lino Rojas (1942-2005), a partir de
uma pesquisa realizada entre 1992 e 1996. Ser ator, alm de
toda tcnica, experincia e conhecimento est o abrir o corpo, a alma, a sensibilidade e inteligncia para o outro, para a
cidade. Na criao do espetculo, os atores se aproximaram
dos tipos do centro da cidade, desde as ruas de So Miguel
Paulista ao miolo da metrpole. Para falar de Mingau, precisamos falar da nossa sede de amar, da purpurina nos corpos, do suor e da cachaa, do afogar as mgoas num copo
de cerveja, da jura de amor no p do ouvido... Para viver
Mingau de Concreto, abraamos o brega com toda paixo,
deixando a emoo mais popular e genuna embalar nossos
corpos de atores e atrizes para seduzir o pblico e convid-lo
para entrar conosco na festa! Durante muito tempo, Mingau
de Concreto era um roteiro de relaes entre os personagens
em situaes da vida cotidiana. Por volta de 1992, os jovens
atores de So Miguel Paulista, entregues ao processo artstico coordenado por Lino Rojas, buscavam aprofundar seus
conhecimentos e expressar a realidade em que viviam. Por
falta de espao para ensaiar, o grupo decidiu ocupar as ruas
e praas do bairro e comeou a mergulhar na potica urbana,
em personagens e situaes presentes no concreto da cidade.
Lino pediu aos atores que trouxessem roupas de casa e uma
36
37
Buraco D`Orculo
Cheguei. Enfim, cheguei. Depois de dura e longa caminhada, cheguei. Eu s num sei pra onde que vou agora.
Perdi o endereo do meu filho, nica coisa que me dava o
caminho nessa cidade. Num sei pra onde vou, to perdido.
Eu s sei que eu tenho que arranjar um emprego pra trabalhar e uma casa pra poder morar.
Mais um que chega!
Chegou pra qu?
Vai pra onde agora?
Tem documento?
RG?
CPF?
PIS/PASEP?
Carteira profissional?
No! Tem nada disso no! nica coisa que tenho o meu
certido de nascimento. O meu nome. Jos Justino Ventura.
Ihhh! Mais um Z!
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Juh Vieira
Engenho Teatral
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41
Nossas OFERENDAS
sobre a participao da Cia dos Inventivos
na bela festa de todos
(...)
Meu corao tem um sereno jeito
E as minhas mos o golpe duro e presto
De tal maneira que, depois de feito
Desencontrado, eu mesmo me contesto
Se trago as mos distantes do meu peito
que h distncia entre inteno e gesto
E se o meu corao nas mos estreito
Me assombra a sbita impresso de incesto
Bando Trapos
Wanderley Martins
Como um exerccio de resgate da nossa memria do Teatro Musical Engajado, realizei uma apresentao de duas
canes da Primeira Feira Paulista de Opinio de 68: Enquanto seu Lobo no vem e Miserere Nobis. Enquanto cantava, comentava com a plateia, detalhes da letra, do arranjo
e dos sub textos das canes.
E de uma forma interativa, alguns dos coros foram pedidos para a plateia, por exemplo a frase Os clarins da Banda
Militar, inserida no arranjo da gravao de 68. Mas para
no contrariar a inteno original da cano, a plateia foi
orientada para no cantar alegremente, mas sim, seguindo
uma levada no sentido do gestus brechtiano, cantar com
fria, desprezo, asco, ou ironia feroz ou mordaz.
Uma forma de homenagem aos compositores e criadores dessa importante Feira de Opinio.
43
Companhia Ocamorana
44
partir de nossos estudos sobre a revoluo de 1924; durante um ms, os tenentistas tomaram a cidade de So Paulo, que
na poca j tinha por volta de 600.000 habitantes e crescia
muito rapidamente. A atitude do Governo Federal foi a mais
inesperada pelos revoltosos: o presidente Arthur Bernardes
mandou arrasar a cidade de So Paulo, com artilharia pesada
e avies atacando a populao civil uma atitude covarde,
que dificilmente ocorreria mesmo em uma guerra, s em momentos extremos. A histria mostra que a classe dominante
brasileira faz qualquer coisa para permanecer no poder. Isso
era verdade em 1924 e verdade hoje.
Foi muito importante para ns mostrarmos as primeiras
experincias desse nosso novo trabalho na Feira e ver que,
mesmo com diferenas, os outros participantes so parceiros.
Assim como ns, eles optaram por dirigir na contramo.
um caminho mais difcil e no esperado, mas o nico
caminho que acreditamos que deva ser seguido: o caminho
da busca por uma sociedade justa.
Quando um historiador escreve um livro historiando o seu teatro, em geral comea dizendo: eu fiz isto e fiz aquilo. Poucas
vezes diz por que e para quem aquilo e isto foram feitos. Como se
o teatro existisse fora do tempo e lugar, sem destinatrio. Csar
Vieira, ao contrrio, comea falando do seu pblico, da sua plateia, do seu povo pois essa a razo de existir como artista. Em
quase seu meio sculo de teatro, Csar fez o que nenhum entre
ns conseguiu fazer: durante mais de quarenta anos esteve e est
frente de um grupo, Unio e Olho Vivo, sempre vivo, ativo, escrevendo jamais hibernando, mesmo nos piores momentos da
ditadura que assolou nosso pas, mesmo na priso.
(Augusto Boal. Arte e dignidade no TUOV, dezembro de 2006.)
H muito tempo acompanho a trajetria de Csar Vieira e tambm a de Idibal Pivetta, intimamente entrelaadas, porque ambas so as duas
partes da mesma luta contra a injustia, a discriminao, a desigualdade, ora nos tribunais e
no limiar das prises, ora na pgina escrita e na
ao dramtica. Uma completa o outro, pois ambos so o mesmo, e mais uma prova dessa unidade indissolvel da inteligncia e da atuao;
mais uma prova da disposio muito humana,
mas nem sempre cultivada, de operar a fuso de
arte e poltica.
(Antonio Candido, A ao do Teatro Unio e Olho
Vivo, 2003.)
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Teatro de Narradores
PRLOGO
Cano: Angelus Novus
Minhas asas esto prontas para o voo
Se eu pudesse
Eu retrocederia
3x
I.
RENAN - So Paulo, 16 de fevereiro de 2014. 2a. Feira Paulista
de Opinio ou 1a. Feira Antropofgica de Opinio. Teatro de
Narradores: Olhar no olho da tragdia, no para imit-la, mas
para interceptar o seu movimento.
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VITOR - Mas eis que o tempo de inquietude e de melancolia; de entusiasmos nervosos que se gastam por nada; de
desesperos bruscos que quebram uma vida. (...) Porque h
para todos ns um problema srio, to srio que nos leva s
vezes a procurar meio afoitamente uma soluo: a buscar
uma regra de conduta, custe o que custar. Este problema
o medo... (...) O combate a todas as formas de Reao... nos
ajudaria a ficar livres dele... (Plataforma de uma gerao, Antonio Candido)
TETH - Mas aqui, onde o encontro era como uma clareira no
asfalto... aqui, onde nossos corpos no substituem outros
corpos, era de outra ordem o vnculo que imaginvamos: era
mais que vnculo poderamos dizer: era uma aliana. Levamos tempo demais para entender que a cena era um apelo.
Levamos tempo demais ensaiando aproximaes, com medo
das distncias, e sequer percebemos a converso do tempo
e essa presena to intimamente odiada do medo. Adiamos
como quem desafia o acaso, como se a cada abrir de olhos
pudssemos reordenar os fatos. Com um mpeto infantil de
encurtar caminhos, desviando sempre. Mas no h desvio
que no nos devolva quilo que somos. No se trata de falar
como quem desenha labirintos, mas forjar, no choque das palavras, outros encontros: com quantas vozes se faz um coro?
No h, no tempo que nosso, mais do que somos. No h,
nas esperas que vivemos, mais do que queremos. No h, no
tempo que vir, mais do que fizemos...
LUCIENNE - Uma operao ideolgica sem precedentes est
ocorrendo no Brasil, uma espcie de mutao social e mesmo
antropolgica e cultural. A julgar pelos jornais e uma certa
crtica, toda uma classe, em menos de uma dcada, desapareceu.
ANA - Operrios, trabalhadores das mais diversas categorias
e seus filhos foram, por assim dizer, abduzidos nova classe mdia brasileira, e esta seria a grande novidade de uma
sociedade sempre espera do futuro.
LUCIENNE - O fundo falso dessa operao a prpria nota
estatstica, que revela o absurdo da conta. O fato que uma
espcie de converso imaginativa se opera no seio da sociedade brasileira. Vivemos um tempo de reao. Estamos todos
em perigo.
KLARAH - Em meio a tudo isso, o oxi do otimismo social
entorpece o sentido do combate, e uma espcie de pesadelo
abarca a vida social do pas. Para o teatro dos grupos, a questo no sem importncia, tanto mais que sua tendncia tem
sido ir de encontro a este movimento.
RENAN - Para alm do consumo de formas ou da vivncia
mstica do outro, o teatro se impe como uma espcie de
comunidade imaginada que se quer efetiva.
VITOR Ok. Mas no se trata de retomar o mito da comunidade perdida; longe de qualquer utopia regressiva, a expresso aqui designa antes um tipo de aliana, ou mesmo, a
capacidade de imagin-la.
TETH - A cena dos grupos fez nos ltimos 15 anos a crnica
do desmanche sociopoltico-econmico-cultural empreendido de maneira programtica desde o final dos anos 1980.
Paralelamente a isso, a sociedade fazia uma espcie de converso.
RENAN - O primeiro movimento levou os grupos a projetarem um vnculo de imaginao com a parte da sociedade
interessada na transformao social, em muitos casos, pressupondo esse campo sem ter dele a experincia efetiva.
ANA - Dos grupos ento se exigia clareza de posio, uma
vez que o passo seguinte deveria implicar radicalizao.
KLARAH - Ocorre que precisamente a um dado surpreendente e talvez novo se produziu. Nossos grupos, que por
susto ou inrcia, ou as duas coisas, pareciam estar um passo
atrs em parte recuo, em parte compasso de espera , os
grupos veem converter essa posio numa plataforma insuspeitada de trabalho.
ANA - E em que consiste essa plataforma?
II.
VITOR - Ali, onde a cena dos grupos parece ir na contramo
do estado geral da sociedade integrada felicidade a crdito;
ali, onde a cena dos grupos continua a desenhar a fisionomia
mrbida de um processo em fim de linha e a contabilizar as
promessas no cumpridas precisamente ali que o teatro
de grupo preserva sua atualidade. E isso porque essa cena
permanece descrevendo a realidade como um sonho ruim do
qual precisamos acordar.
ANA - O resultado, portanto, um desencontro histrico entre a cena e o pblico.
TETH - J em 1974, Vianinha falava da necessidade de olhar
no olho da tragdia e domin-la. A sua fala vinha como uma
reviso crtica do empenho dos anos imediatamente anteriores ao golpe, em particular a ao de ncleos como o
Centro Popular de Cultura, o CPC. Mesmo em divergncia
prtica e terica em relao quela reviso, no se pode negar a fora da intuio de Vianinha: se no perodo pr-golpe
de 1964 o encontro ou o contato entre as classes definia o
campo prprio de ao e a potncia da imaginao poltica,
os dez primeiros anos da ditadura militar fizeram j esvaziar
o sentido de ideias como o povo, ou o popular, de modo
que ao artista era colocada a tarefa de redirecionar sua ao.
Interrupo Silncio.
RENAN - Bertolt Brecht luz de Jos Antonio Pasta.
III.
LUCIENNE - No campo da poltica, trata-se de um programa antimimtico ou, se quisermos, de um programa de esquerda. Como escreve Beatriz Sarlo: Uma esquerda , por
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EPLOGO
VITOR - No escuta o coro? Que encontro secreto este
marcado nesta hora entre aqueles esperavam e estes que
chegam? Percebe, nas vozes que escutamos, ecos de vozes
que emudeceram? Desse coro antigo ainda ouvimos palavras
roucas. Vozes que trazem o corao boca. Eu, aprendiz de
Corifeu, escutei de um Corifeu antigo, em tom de profecia, as
seguintes palavras: ... cada gerao julga-se predestinada a
refazer o mundo. A minha, no entanto, sabe que no poder
faz-lo, mas sua tarefa talvez maior: consiste em impedir
que o mundo se desfaa. E no entanto eu, aprendiz de Corifeu, vou procura de um Coro que se faa agora; e procuro porque entendi que o mundo no acabou; e que o nosso
tempo no se levanta como uma profecia do passado. Nosso
trabalho consiste em cavar em meio s runas que so este
tempo, algo que ainda possamos chamar futuro.
CORO - Quais so as histrias que ainda no sabemos ouvir?
Que olhos so esses que nossos olhos ocultam? um apelo
esse que lanamos. E haver quem escute antes que a rouquido engula tudo o que ainda se quer pensamento? Voc nos
acompanha? Quantos prlogos so necessrios para que algo
acontea? como se esperssemos sempre por esse instante
depois do qual a vida se torna inteiramente outra. Mas no
h, no tempo que nosso, mais do que somos. No h, nas
esperas que vivemos, mais do que queremos. No h, no tempo que vir, mais do que fizemos. A poltica ou uma histria
de amor? E haver o tempo em que no estar a a alternativa? Corao na boca, cada palavra deveria soar um desafio
ao medo; uma forma de por em movimento o corpo, porque
mesmo numa rua de mo nica h a opo de interromper o
fluxo, h a opo de se fazer fluxo.
TEATRO DE NARRADORES Em memria de Reinaldo Maia.
Interrupo. Silncio.
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Alpio Freire
Chico de Assis
Texto indito de Chico de Assis para a II Feira Paulista de Opinio ou I Feira Antropofgica de Opinio. 2014.
14 horas
o sangue
A multido tenta mais uma vez invadir e depredar o Clube Militar.
Um carro de choque da PM
posta-se diante do Clube.
O povo presente vaia os soldados.
Mais tarde
choques do Exrcito
chamados pelo marechal Magersi
presidente do Clube Militar
dispersam os agitadores
que voltam recarga
Pouco depois
(para sua infelicidade)
repelidos a bala
deixam em campo feridos vrios manifestantes
entre eles Labibe Abduch.
Naquele momento
Labibe apenas caminhava pela Cinelndia.
Gravemente ferida
Labibe foi levada para o Hospital Souza Aguiar onde faleceu.
Antes do corpo ser localizado pela famlia
as novas autoridades j haviam ordenado seu enterro como indigente.
Os filhos genros e netos no entanto inteiraram-se a tempo
reivindicaram o corpo
e providenciaram o funeral.
PALAVRAS FINAIS
Radiografia
No Hospital das Clnicas de So Paulo
deitaram-me sobre a cama de metal
completamente despido. Nu
barriga para cima
o brao direito algemado numa barra de ferro atrs da
[ cabea
direita da minha cabeceira
um tira
com uma automtica engatilhada e apontada
ora para o cho
ora para minha tmpora.
Do lado de fora da porta da sala de radiologia
(no corredor)
dois policiais com metralhadoras em posio de
[ combate.
Marcianos?
Marciais?
Tanto fez
tanto faz.
Na hora de aplicar a injeo
(30 centmetros cbicos de contraste)
o jovem enfermeiro tremia e transpirava.
Tive de acalma-lo
Sugeri que pegasse uma veia da mo.
NB
No fosse ainda noviciado dos senhores no poder
No fosse ainda a razovel desorganizao dos golpistas
No fosse a rapidez com que a famlia pode descobrir seu paradeiro
Labibe seria mais uma desaparecida da ditadura.
O tira esbravejou.
Eu estava proibido de falar com quem quer que fosse.
PS
O enfermeiro ouviu meu conselho
A radiografia pde ser feita com sucesso:
Eu havia sido devidamente arrebentado.
(Diga-se de passagem
apenas como dezenas de milhares de outros homens e
[ mulheres por todo o Pas).
Balano
Algumas costelas fraturadas
Cicatriz ssea no malar direito
Um pr-molar destrudo
Leso lombar na coluna
Tmpano esquerdo perfurado.
NB
Viver deixa seqelas.
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bis e finis
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CINEASTA DO ESTABLISHMENT
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Artigos
Mantenho-me faminta.
Cheia de vida, em condies precrias.
Tenho fome de justia e amor.
Carolina Abreu
Um acontecimento vivido finito, ou pelo menos
encerrado na esfera do vivido, ao passo que o acontecimento lembrado sem limites, porque apenas uma
chave para tudo que veio antes e depois.
(Walter Benjamin)
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As Feiras e os Jujubas
Mei Hua Soares
Memria!
Convoca aos sales do crebro
Um renque inumervel de amadas.
Verte o riso de pupila em pupila,
Veste a noite de npcias passadas.
De corpo a corpo verta a alegria.
Esta noite ficar na Histria.
Vladmir Maiakvski
Mas o Jujuba era companheiro dos seus amigos de
rua! Na hora da bia aparecia trazendo dois, trs.
Oswald de Andrade
Passagem fundamental da literatura teatral brasileira, a estria do cachorro Jujuba, narrada pelo personagem Abelardo
I, no ltimo ato da pea O rei da vela, de Oswald de Andrade,
d subsdios para discorrer sobre questes referentes ao teatro
de grupo contemporneo. Ao morrer, Abelardo I, em tom confessional filosfico, conta a Abelardo II, seu alter-ego e sucessor, o porqu que ambos smbolos burgueses da usura, da
propriedade e da explorao selvagem no so como Jujuba:
o co de rua, ao ser acolhido por soldados de um quartel que
lhe do comida e abrigo, resolve trazer tambm a cachorrada
amiga para compartilhar as benesses. No entanto, so escorraados, no podem ficar. Apenas concedida a permanncia
ao mascote do quartel. Jujuba, no entanto, prefere ir com seus
amigos cachorros para a rua e nuca mais retorna: solidrio
sua classe. Oswald-Abelardo chama-o de cachorro idealista.
Pensando no idealismo como um conceito ambguo um
ideal surge quase sempre como algo inatingvel, utpico, passvel de controvrsias e de romantizaes, o que, dependendo
do contexto, pode sugerir frouxido ou servir desmobilizao de aes concretas ou organizadas. Porm, o idealismo
mencionado por Oswald de Andrade na figura de Jujuba pode
personificar, em alguma medida, o sentimento de ao ou de
organizao coletiva. Nesse sentido, a idealizao conjunta de
algo pode consistir em dispositivo de mobilizao. Sonho que
se sonha s s um sonho que se sonha s, mas sonho que
se sonha junto realidade. Para alm do sentimento raso que
a mxima possa envolver, tamanho desgaste e apropriao
mercadolgica do conceito de sonho, talvez um pensamento como esse de Raul Seixas tenha sido a tnica da II Feira
de Opinio ou I Feira Antropofgica de Opinio. O evento,
organizado pela Cia. Antropofgica e ocorrido em maro de
2014, consistiu em referncia direta I Feira Paulista de Opinio, organizada pelo Teatro de Arena, em 1968, cuja pergunta
motriz era: O que pensa voc do Brasil hoje?. A reunio
de diferentes grupos, coletivos e artistas, da dcada de 1960
ou contemporneos, se deu por dois dias seguidos no Espao
Cultural Tendal da Lapa.
Alguns pontos marcadamente chamaram a ateno. Dentre
eles o mais fulcral talvez seja a retomada de elementos despontados e no digeridos em poca imediatamente anterior
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Feira de 68
Um ato de coragem e resistncia cultural
Ceclia Boal
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Cia Antropofgica
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Algumas referncias
A histria da Primeira Feira Paulista de Opinio contada de forma mais expressiva na autobiografia de Augusto Boal,
Hamlet e o Filho do Padeiro. O pequeno espao ocupado no livro pela Feira j que ela apenas uma entre as tantas memrias imaginadas do autor compensado pela significao histria que Boal atribui a ela. O esquema de articulao poltica confrontado com o isolamento em que o teatro era colocado pela Ditadura aprofundado, conforme Boal analisaria anos depois, pela aposta na guerrilha. Anlises histrico-crticas da Feira e do contexto poltico em
que ela foi realizada podem ser encontradas em Zumbi, Tiradentes (e outras histrias contadas pelo Teatro de Arena de
So Paulo), de Cludia de Arruda Campos, A Poltica Cultural dos Comunistas, de Celso Frederico (captulo do volume 3
da coleo Histria do Marxismo no Brasil, organizada por Joo Quartim de Moraes) e em Teatro e Resistncia, de Maria Slvia Betti (captulo de Histria do Teatro Brasileiro, volume 2, organizada por Joo Roberto Faria). O texto de Boal
para o programa da Feira, Que pensa voc da arte de esquerda?, pode ser acessado no blog do Instituto Augusto Boal
(institutoaugustoboal.org)
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Cia Ocamorana
Sinopse: A Cia Ocamorana realizar uma cena que trata sobre os bombardeios (avies) que So Paulo sofreu em 1924 (faz 90 anos em julho) e
em que morreram 5.000 pessoas, fato praticamente apagado da histria
do Brasil e que demonstra como o ento presidente Artur Bernardes no
exitou em mandar um ataque fulminante contra os bairros operrios da
cidade e o fez com apoio da classe dominante paulista, Washington Lus
e Jlio Prestes apoiaram o ato. Este episdio demonstra claramente que
sempre existiu um corte brusco entre a classe dominante paulistana e a
periferia, uma das matrizes da arrogncia da classe mdia paulista, que
se afirma aceitando os valores da aristocracia quatrocentona e negando sua origem.
Texto e Direo: Mrcio Boaro
Elenco: Cia Ocamorana
Trupe Olho da Rua
Sinopse: A Tropa Olho da Rua coloca em prtica o experimento batizado como Blitz, fruto de pesquisas realizadas em torno do controle
miditico e do uso da fora pelo estado como garantia de soberania.
Graas a feira de opinio realizada pela Cia Antropofgica, este batalho
ldico cataclsmico teve a oportunidade de dividir as cenas recm criadas
com os colegas de ofcio, o que nos deixou vontade para experimentar
algumas situaes inusitadas, como por exemplo, a presena das foras
do estado dentro das instalaes no banheiro da feira, que procuraram
garantir o controle e higienizao de quem se aventurava em adentrar os
sanitrios.
Direo: Caio Martinez Pacheco
Elenco: Bruna Telly, Caio Martinez Pacheco, Daniel Meirelles, Fbio Ibaf,
Joo Paulo T.Pires, Joo Luiz Pereira Junior, Victor Fortes e Wendell Medeiros
Produo: Caio Martinez Pacheco e Raquel Rollo
Chico de Assis
Leitura cnica do texto Que pas este?.
Texto: Chico de Assis
Direo: Thiago Reis Vasconcelos
Elenco: Cia Antropofgica
Elenco: Dara Freire, Elton Maioli, Igor Giangrossi, Danilo Villa, Mrio
Viana, Maria Gabriela D`Ambrozio e Natlia Siufi.
Ficha Tcnica
Elenco: Aysha Nascimento, Flvio Rodrigues e Marcos di Ferreira
Engenho Teatral
Sinopse: O Engenho sempre tenta pensar esteticamente o homem e
suas relaes no Brasil e no mundo. E faz isso em condies diferentes
do circuito tradicional do teatro: seu pblico e os espaos fsicos, geogrficos e sociais que frequenta so outros e exigem outras respostas
estticas. Da um trabalho permanente de experincias. Na Feira de
Opinio, o grupo pretende mostrar 3 cenas, 3 experincias de aproximadamente 10 minutos cada.
Ncleo Artstico: Beto Nunes, Dbora Miranda, Dinho Prado, Hiles Moraes, Irac Tomiatto, Juh Vieira e Luiz Carlos Moreira.
Kiwi Cia de Teatro
Sinopse: Herclito (enquanto o dia no vem)
Dois astronautas fajutos, vestidos de apicultores por falta de recursos,
chegam ao Brasil em 2014 depois de uma longussima viagem. Por algum estranho motivo eles no retiram seus trajes e tentam compreender
o que aconteceu nos ltimos quinhentos anos nesta parte do planeta
Terra. Para isso, dispem apenas de algumas msicas, uma certa derriso e a convico ou seria aposta? de que tudo est em movimento.
Astronautas/Apicultores: Fernanda Azevedo e Luiz Nunes
Roteiro e Direo: Fernando Kinas
Assessoria Musical: Eduardo Contrera
Produo: Daniela Embn
Juh Vieira
Sinopse: Leitura do texto escrito especialmente para a Feira de Opinio,
O DIABO COME CRIANCINHAS, seguido da msica SANTA CEIA.
Voz e Violo: Juh Vieira
Percusso: Hiles Moraes
Cia do Feijo
Sinopse: Emplastrobras (Vira e Mexe)
Colagem de cenas e msicas de espetculos da companhia, abordadas
de um ponto de vista jeca-lrico-lenitivo.
Ncleo Artstico: Fernanda Haucke, Fernanda Rapisarda, Flvio Pires,
Guto Togniazzolo, Pedro Pires, Vera Lamy e Zernesto Pessoa
* na ordem da programao
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tibor
Fazyo
Agradecemos a todos que tiveram saco
para contribuir na fazyo da revista.
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Fotos
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tel.: (11) 3871-0373
Espao Pyndorama
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Expediente
Conselho Editorial
Eduardo Campos
Mei Hua Soares
Thiago Reis Vasconcelos
Reviso
Mei Hua Soares
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Alan Siqueira
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Danilo Santos
Flvia Ulha
Karina Pra
Litta Mogoff
Maria Tereza Urias
Pablo Pamplona
Rafael Frederico
Renata Adrianna
Design e montagem
Pablo Pamplona
Desenhos
Alan Siqueira
Capa
Thiago Reis Vasconcelos
Realizao
Apoio
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Esta publicao faz parte do projeto Desterrados em Nossa Prpria Terra da Cia. Antropofgica
contemplado pelo Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de So Paulo.