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Apontamentos para o exame nacional 2007

Filosofia 10/ 11 anos

I. Iniciao Atividade Filosfica

1. Abordagem introdutria filosofia e ao filosofar


1.3. A dimenso discursiva do trabalho filosfico
Define-se por vezes as disciplinas em termos de objeto e mtodo:
O objeto de estudo da aritmtica elementar as principais propriedades da adio, da
subtrao, etc. O seu mtodo a demonstrao matemtica.
O objeto de estudo da biologia as propriedades dos organismos vivos. O seu
mtodo a observao e a elaborao de teorias que depois so testadas, por vezes em
laboratrios.
Objeto e mtodo da filosofia:
A filosofia tem como objeto os conceitos mais bsicos que usamos nas cincias, nas
artes, nas religies e no dia a dia. A filosofia estuda conceitos como os seguintes: o bem
moral, a arte, o conhecimento, a verdade, a realidade, etc.
O seu mtodo a troca de argumentos, a discusso de ideias.
As definies deste tipo no so muito informativas. Para compreender o que a
filosofia o melhor ver alguns exemplos do que se faz em filosofia.

Exemplos de problemas da filosofia:


Ser que tudo relativo?
Ser que a vida tem sentido? E se tem, qual ?
Como se justifica a existncia do Estado, das Leis, e da Polcia?
Ser que no faz diferena fazer sofrer os animais?
Ser que Deus existe realmente, ou ser que os ateus tm razo e os crentes esto
enganados?

Junho 2007

-Hugo Arajo-

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Filosofia 10/ 11 anos

Estes problemas surgem naturalmente da nossa capacidade para pensar, em contacto


com o mundo. Outros problemas surgem da nossa reflexo sobre as cincias, as
religies e as artes:
O que realmente a arte? E o que a msica?
Como poderemos conciliar a existncia de um Deus bom e sumamente poderoso e
sbio com tanto sofrimento no mundo?
O que realmente uma lei da fsica? E como podemos ter a certeza que essas leis so
verdadeiras?
A filosofia uma reflexo que surge naturalmente.
Mas nem toda a reflexo que surge naturalmente filosfica.

As respostas pessoais s perguntas filosficas no so respostas filosficas.


Podemos e devemos partir das nossas convices pessoais.
Mas s comeamos a fazer filosofia quando exigimos justificaes pblicas para
essas convices.
Caractersticas importantes da filosofia:
A filosofia uma atividade crtica;
A filosofia consequente;
A filosofia um estudo conceptual ou a priori;
A filosofia diferente da histria da filosofia.

O que significa dizer que a filosofia uma atividade crtica? Significa que temos de
justificar as nossas concluses. E justificar concluses apresentar argumentos.

A importncia dos argumentos em filosofia:

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-Hugo Arajo-

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Filosofia 10/ 11 anos

Precisamos de argumentos para mostrar que os problemas que estamos a estudar no


so meras iluses e confuses. Por exemplo, ser que o problema do sentido da vida faz
sentido? Porqu?
Precisamos de argumentos para avaliar as respostas que os filsofos e ns prprios
damos aos problemas da filosofia. Por exemplo, ser que a resposta que Plato d ao
problema da imortalidade da alma boa?
E precisamos de saber avaliar argumentos porque os filsofos passam grande parte
do seu tempo a apresentar argumentos a favor das suas ideias e contra as ideias que eles
acham que esto erradas. Por exemplo, ser que o argumento de Santo Anselmo a favor
da existncia de Deus bom?
Porque a filosofia uma atividade critica, avalia cuidadosamente os nossos
preconceitos mais bsicos.
O objetivo do estudo da filosofia no repetir o que diz o professor ou o manual. O
objetivo aprender a pensar sobre os problemas, as teorias e os argumentos da
filosofia.
Em filosofia, o estudante tem a liberdade de defender o que quiser, mas tem de adotar
uma atitude crtica:
Tem de sustentar o que defende com bons argumentos;
Tem de aceitar discutir os seus argumentos.
Ser crtico no dizer mal. Ser crtico olhar com imparcialidade para todas as
ideias para podermos avaliar se so verdadeiras ou no.
Ser crtico no ser extravagante. Ser crtico no dizer No s para marcar a
diferena. Ser crtico dizer Sim, No, ou at Talvez, mas com base em bons
argumentos.

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Filosofia 10/ 11 anos

A filosofia uma atividade dialogante: consiste em trocar e discutir ideias. A diferena


entre uma discusso filosfica e uma gritaria, por exemplo, esta: em filosofia
discutimos para chegar verdade das coisas, independentemente de saber quem
ganha a discusso; numa gritaria discute-se para ganhar a discusso,
independentemente de saber de que lado est a verdade.
O pensamento filosfico consequente. Ser consequente aceitar as consequncias das
nossas ideias.
Somos livres para defender as posies que queremos; mas teremos de ser
responsveis pelas consequncias do que defendemos. Se defendemos que toda a vida
sagrada e que isso quer dizer que nunca devemos matar um ser vivo, no podemos ao
mesmo tempo defender que se pode comer salada de alface. Se defendemos que tudo
relativo e que no h verdades, no podemos defender que esta ideia verdadeira.
Os trs elementos centrais da filosofia:
Problemas
Teorias
Argumentos
Os filsofos, ao longo dos sculos, tm proposto teorias que tentam resolver os
problemas filosficos. Essas teorias apoiam-se em argumentos.

O nosso papel perante os problemas, as teorias e os argumentos da filosofia duplo:


1. Saber formul-los claramente.
2. Saber discuti-los com rigor.
Os problemas da filosofia no se resolvem olhando para o mundo para recolher
informao. por isso que dizemos que a filosofia um estudo a priori ou conceptual.
Queremos dizer que a filosofia se faz unicamente com o pensamento.

Conhecimento emprico ou a posteriori: baseia-se na experincia.

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Filosofia 10/ 11 anos

Exemplos: para saber se h vida em Marte necessrio enviar sondas e fazer


observaes. Para saber qual a natureza da SIDA necessrio fazer observaes e
experincias laboratoriais.
Conhecimento conceptual ou a priori: baseia-se no pensamento apenas.
Exemplos: para saber se 7 um nmero par basta dividi-lo por dois e ver se o resultado
um nmero inteiro. Para saber se todos os objetos verdes tm cor basta pensar no
conceito de verde e de cor.
O estudo filosfico a priori, mas temos de ter informaes sobre tudo o que for
importante para a soluo dos problemas que estamos a tratar.
A filosofia inevitvel porque no mais do que a procura sistemtica de
justificaes sensatas para as nossas ideias mais bsicas.
A filosofia ope-se ao dogmatismo porque nenhuma ideia tem o direito de suplantar
quaisquer outras ideias, enquanto no mostrar que realmente melhor do que as outras.
A filosofia diferente da sua histria. Em histria da filosofia estudamos o que os
filsofos dizem s para saber o que eles dizem. Na filosofia estudamos o que os
filsofos dizem para discutir as suas ideias.

Estudar filosofia como estudar msica e estudar histria da filosofia como estudar
histria da msica. Num caso, aprendemos a tocar um instrumento ou a compor peas
musicais; no outro, aprendemos apenas a apreciar a msica do passado. Num caso,
aprendemos a discutir ideias e a propor ideias e a defend-las; no outro, aprendemos
apenas a formular as ideias dos outros.
Para que serve a filosofia?
A filosofia serve para alargar a nossa compreenso das coisas, como as cincias, as
artes e as religies.

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A filosofia serve para mudar as nossas vidas, como as cincias, as artes e as


religies.
Exemplos:
John Stuart Mill, A Submisso das Mulheres (1869)
Peter Singer, Libertao Animal (1975).
Comparaes de utilidade:
A religio til porque fornece orientao e conforto espiritual aos seus crentes. A
filosofia fornece orientao a qualquer pessoa.
A cincia til porque nos ensina a curar a tuberculose, por exemplo. A filosofia
ensina-nos a enfrentar os problemas morais levantados pela cincia.
As artes so teis porque produzem obras que nos inspiram e maravilham. A filosofia
produz ideias e argumentos que nos inspiram e maravilham, e pe a descoberto
problemas que nos convidam a dar o nosso melhor para tentar resolv-los.
As razes pelas quais a filosofia serve para alguma coisa so a razes pelas quais as
artes, as cincias e as religies servem para alguma coisa.

Muitos dos problemas, teorias e argumentos da filosofia no tm qualquer utilidade


prtica.
Mas tambm a maior parte do que constitui as religies, as artes e as cincias no tem
qualquer utilidade prtica.
E as coisas sem utilidade prtica podem ter valor porque o conhecimento algo
suficientemente importante para ter valor em si.
Mesmo que s as coisas teis tivessem valor, nunca poderamos saber partida quais
das nossas ideias se viriam a revelar teis.
A filosofia til para a vida pblica de um pas porque nos ensina a pensar melhor
sobre qualquer assunto, desde que se disponha da informao adequada.

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Quem sabe argumentar bem toma melhores decises, porque as decises que tomamos
so baseadas em argumentos. A filosofia ajuda a tomar melhores decises.

Os argumentos
Um argumento um conjunto de proposies organizadas de tal modo que uma
delas a concluso que defendemos com base na outra ou nas outras, a que se chamam
as premissas.
Nem todos os conjuntos de proposies so argumentos. S os conjuntos de proposies
organizadas de tal modo que justifiquem ou defendam a concluso apresentada so
argumentos.

Chama-se entimema a um argumento em que uma ou mais premissas no foram


explicitamente apresentadas. Tentar encontrar as premissas ocultas do nosso
pensamento uma parte importante da discusso filosfica.

Perante um texto que defende ideias devemos fazer o seguinte:


1. Descobrir o que o autor quer defender. Isso a concluso.
2. Descobrir que razes ele d para defender essa concluso. Essas razes so as
premissas.
3. Se o autor omitiu premissas, acrescent-las.
4. Formular o argumento de maneira completamente explcita.
Definio dos conceitos nucleares
Problema: algo que se pretende resolver;
Conceito: uma abstrao elaborada pela razo, a partir dos dados obtidos na
experincia, e que serve para designar toda uma classe de objetos ou seres;
Tese: uma proposio que se apresenta para ser defendida, no caso de impugnao.
Tema, assunto a tratar;
Argumento: um conjunto de proposies organizadas de tal modo que uma delas a
concluso que defendemos com base na outra ou nas outras, a que se chamam
premissas.
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As disciplinas da Filosofia e os problemas de que tratam

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II. A ao humana e os valores

1. A ao humana anlise e compreenso do agir


1.1. A rede conceptual da ao
A Filosofia da Ao uma rea interdisciplinar que colhe contributos da
Metafsica, da Filosofia da Mente, da Psicologia e da moderna Teoria da Deciso.
O objeto de estudo da Filosofia da Ao a justificao da crena na racionalidade
da ao humana.
Distingue-se da tica por no considerar os aspetos morais do agir, analisando
apenas o que est na base da ao crenas, desejos, intenes, motivos e causas.
O seu mtodo consiste na anlise das frases de ao, mediante as quais os agentes
descrevem e explicam o que fazem:
Por que fizeste X? - Fiz X porque __________
O problema central da Filosofia da Ao o de saber:
Como compatibilizar a crena de que somos seres racionais com o facto de agirmos
frequentemente de forma irracional?

Exemplos de problemas discutidos em Filosofia da Ao:


1. O que so aes? Que acontecimentos contam enquanto aes?
2. Como individuar ou distinguir as aes umas das outras?
3. Como explicar a existncia de preferncias irracionais?
4. Como compreender o fenmeno da acrasia?
Para compreender o que est em causa quando perguntamos O que uma ao?,
analisemos o seguinte exemplo:

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1. Joo deseja herdar uma fortuna e cr que o melhor a fazer para satisfazer o seu desejo
matar o seu pai abastado. Mas este pensamento pe-no to nervoso que, ao conduzir
desajeitadamente o seu carro, mata um peo que , afinal, o seu pai! Cometeu ou no
um parricdio?
A atribuio da responsabilidade depende de determinarmos se a morte de seu pai
constitui, ou no, uma ao de Joo.
Temos, ento, de procurar qual o aspeto que nos permite dizer que um
acontecimento uma ao.
Ser a sua associao a um ser humano? Mas h acontecimentos que envolvem
pessoas, mas que claramente no so aes por exemplo, escorregar.
Ser a existncia de movimentos corporais? Mas h aes sem movimento
corporal (estar imvel a estudar) e h movimentos corporais que no so aes
(respirar).
Uma outra resposta a este problema afirmaria que a inteno aquilo que distingue
os acontecimentos que contam como aes:
Um acontecimento uma ao apenas no caso de ser possvel descrev-lo de forma a
exibir a presena de uma inteno no agente.

O que uma inteno? um estado mental mediante o qual se concretiza, se anula


ou se mantm um certo estado de coisas.
Os desejos e as crenas, e o seu discutido papel causal nas aes, so exemplos de
estados mentais intencionais.
No exemplo 1, existe claramente um desejo (herdar uma fortuna) e uma crena, e
parece que custa deles Joo concretiza um acontecimento a morte de seu pai. Tudo
aponta, pois, que se trate de uma ao de Joo. Concordas?
Para compreender o que est em causa quando perguntamos Como distinguir as
aes umas das outras?, analisemos o seguinte exemplo:
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2. Os membros de uma famlia esto sentados mesa a comer uma feijoada. Esto
todos a fazer a mesma ao ou aes diferentes?
Por um lado, podemos dizer que todos os familiares esto a comer a mesma coisa,
no mesmo local e mesma hora;
Por outro lado, cada pessoa poder possuir intenes diferentes ao comer (apenas
matar a fome, regozijar-se com o sabor dos feijes, etc.) e os seus movimentos fsicos
no so inteiramente coincidentes nem no espao nem no tempo.
Existem, ento, duas respostas possveis para aquela pergunta:
1. Diremos sim se considerarmos a ao comer uma feijoada como sendo um ato
genrico definido como ingesto de feijes.
2. Diremos no se considerarmos a ao comer uma feijoada como algo realizado
concretamente por algum, nalgum lugar, a alguma hora e com movimentos fsicos
individualizados.
Cada uma destas respostas traduz duas concees filosficas diferentes da ao:
1. A ao como uma entidade genrica e abstrata; para os filsofos que, como
Jaegwon Kim, a concebem deste modo, uma ao algo meramente ideal (tal como a
ideia de Tringulo) e que pode ser exemplificado cada vez que um agente a perfaz (tal
como exemplificamos a ideia de Tringulo ao desenharmos uma figura triangular);
2. A ao como acontecimento concreto; para filsofos que, como Donald Davidson, a
concebem deste modo, as aes so acontecimentos localizados no espao e no tempo
(tm lugar num certo stio e a uma dada hora) e so individualmente realizados
(feitas por algum);

Qual destas concees consideras correta? Porqu?


Para compreender o que est em causa quando perguntamos Como explicar a
existncia de preferncias irracionais?, analisemos o seguinte exemplo:
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3. Uma pessoa afirma que prefere os Limp Bizkit a Norah Jones e esta cantora a Bach.
No entanto, diz preferir Bach aos Limp Bizkit. Como explicar esta irracionalidade das
suas preferncias?

Dizemos que as suas preferncias so irracionais porque so no transitivas.


O que a transitividade? uma propriedade de relaes: se uma entidade X tem
uma certa relao com uma entidade Y e se esta entidade Y tem o mesmo tipo de relao
com uma entidade Z, ento a entidade X est nesse tipo de relao com a entidade Z.
Exemplos:
1. O Z mais alto do que o Chico; o Chico mais alto do que o Quim. Logo, o Z
mais alto do que o Quim. A relao ser mais alto do que transitiva.
2. O Guilherme o pai do Pedro; o Pedro o pai da Joana. Mas o Guilherme no o
pai da Joana! A relao ser pai de no transitiva.
Ora, as aes so objeto de preferncias e as nossas preferncias, se forem
racionais, devero ser transitivas:
Se preferes comer feijoada a comer filetes de pescada
e se preferes comer filetes de pescada a comer Nestum,
o que ser racional que prefiras feijoada ou Nestum?
legtimo pensar que qualquer comportamento racional ter de se conformar
transitividade das preferncias. Mas os estudos empricos da Psicologia mostram que
isto nem sempre acontece, o que intriga muito os filsofos.

Como explicar a irracionalidade das preferncias?


Chama-se acrasia a uma falta de fora de vontade. Um agente tem falta de fora
de vontade se tiver o desejo de produzir um certo efeito e tiver a crena de que uma
dada ao a melhor forma de produzir esse efeito e, no entanto, no realizar esta ao.

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Para compreender o que est em causa quando perguntamos Como compreender o


fenmeno da acrasia?, analisemos o seguinte exemplo:
Se desejas verdadeiramente respeitar os direitos dos animais e se acreditas que a melhor
maneira de o fazer deixando de comer carne, peixe, leite ou ovos, como compreender
que o continues a comer tudo isto?

Aristteles refletiu sobre a acrasia e pensou que a explicao das aes acrticas s
poderia ser feita se dispusesse de um modelo de explicao de aes racionais. Esse
modelo explicativo ficou conhecido como silogismo prtico:
1. O agente tem o desejo de produzir um efeito E.
2. O agente cr que fazer a ao A o melhor modo de alcanar E.
3. Logo, o agente faz A

Neste modelo as premissas 1 e 2 so a justificao racional da ao enunciada na


concluso, em 3. Se os agentes forem racionais, devero poder explicar as suas aes
com base nos seus desejos e crenas, com os quais as aes devem ser coerentes.
Numa ao acrtica, isto no acontece. Vejamos o exemplo do fumar como
resultado de fraqueza irracional da vontade:
1. O Antnio tem o desejo de ser saudvel.
2. O Antnio acredita que no fumar a melhor maneira de ser saudvel.
3. No entanto, o Antnio fuma.

Assim conclumos que para falar de ao, implica falar de um agente, uma inteno e
uma motivao.

Sendo resumido neste quadro:

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Inteno

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Motivo

Agente

o mesmo que projeto, isto identifica aquilo que explica e

o autor da inteno e da

, aquilo que nos propomos

permite compreender a inteno,

ao ,isto , o que pratica a

fazer ou o propsito da ao

isto , as suas razes;

ao;

(implica

tomada

de refere-se ao porqu da inteno, identifica aquele que, por

conscincia do sentido dos ou seja, o que que levou A a

sua

nossos atos);

voluntariamente),

fazer X;

iniciativa

(livre

o sentido da ao, isto , o distingue-se do conceito de

alteraes

significado atribudo a uma

normal das coisas;

causa, porque ao identificarmos os

no

produz
decorrer

ao, identificado atravs da motivos no podemos considerar

por ser o autor, isto ,

resposta pergunta o qu?;

que existe sempre entre eles e a

aquele que pratica uma ao

o objeto da deciso e a

inteno uma relao necessria; h

intencionalmente, aquele a

estratgia escolhida para o que ter em conta a interveno da

quem

se

atribui

concretizar.

vontade. A causa faria ocorrer a

responsabilidade da ao,

ao independentemente da vontade

isto , aquele que responde

do agente.

por ela.

Definio dos conceitos nucleares


Ao: uma interferncia consciente e voluntria de um ser humano (o agente), dotado
de razo e de vontade, no normal decurso das coisas, que sem a sua inferncia seguiriam
um caminho distinto;
Agente: o ser humano que realiza consciente e voluntariamente uma ao;
Inteno: o para qu, isto , o propsito que o agente quer atingir;
Motivo: a razo pela qual ele age.

II.A ao humana e os valores

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1. A ao humana anlise e compreenso do agir


1.2. Determinismo e liberdade na ao humana
A liberdade de ao um importante tpico discutido em Filosofia. Na tradio
ocidental moral, religiosa e jurdica, conceitos como os de responsabilidade, culpa e
imputabilidade esto vinculados ao de liberdade.
Nessa tradio, um agente responsabilizvel por uma ao apenas no caso de ter
sido livre para agir como agiu. Por exemplo, um indivduo culpado aos olhos de Deus
se tiver pecado quando podia no o ter feito; um criminoso imputvel aos olhos da
Justia se tiver cometido um crime quando podia evit-lo.
Mas se algum forado a agir de uma certa forma, ser legtimo responsabiliz-lo
pela sua ao?
Que foras condicionam as nossas aes? Podemos reconhecer trs tipos de
condicionantes da ao:
1. Fsicas: as aes dependem da estrutura anatmica e fisiolgica do agente e das leis
naturais que regem os fenmenos do mundo;
2. Psicolgicas: a personalidade, o carter, a fora de vontade ou a falta dela, os
estmulos e as motivaes so aspetos que influenciam o tipo de aes que
empreendemos;
3. Culturais: as vivncias, as normas, as tradies, os hbitos e costumes, e todas as
circunstncias polticas, econmicas e sociais que, enquanto agentes, nos relacionam
com outros agentes, condicionam claramente as nossas aes.
Ser que as condicionantes da ao impossibilitam a liberdade de ao? Seremos
realmente livres ou a ser a liberdade apenas uma iluso?
Para compreendermos o significado desta pergunta, teremos de dominar uma noo
essencial a de causalidade.
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Uma cadeia causal uma sucesso de acontecimentos na qual cada um deles causa
do acontecimento que lhe sucede e cada um deles efeito do acontecimento que o
antecede:

Uma conceo determinista da ao salienta que as aes so acontecimentos que


tm lugar no mundo e que, portanto, esto integradas em cadeias causais: ora so
efeitos de acontecimentos anteriores (mentais ou fsicos); ora so causas de
acontecimentos posteriores.
Por outro lado, pensamos que devemos responder por muitos dos nossos atos, de que
somos responsveis em consequncia da nossa liberdade. Esta uma viso no
determinista da ao.
Isto gera um dilema, conhecido como dilema de Hume:
Se o determinismo for verdadeiro, ento as nossas aes so causadas por
acontecimentos remotos que no controlamos, tornando-se inevitveis, no sendo ns
responsabilizveis pelo que fazemos; se o determinismo for falso, ento as nossas
aes so aleatrias, pelo que tambm no somos responsabilizveis por elas.
Concluso: em qualquer caso, no h livre arbtrio nem responsabilidade.

O problema do livre arbtrio pode agora ser precisamente formulado:

Como compatibilizar a crena de que todos os acontecimentos, incluindo as aes, so


causalmente determinados, segundo as leis da natureza, com a crena de que o
Homem livre e responsvel pelas aes?

As respostas tradicionais ao problema do livre-arbtrio podem ser divididas em


teorias compatibilistas e teorias incompatibilistas.

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As primeiras defendem que o livre-arbtrio compatvel com o determinismo; as


segundas defendem que o livre-arbtrio no compatvel com o determinismo.
Teorias que respondem ao problema do livre-arbtrio:

Exemplo do problema do livre-arbtrio


O problema do livre-arbtrio, um dos mais antigos e intratveis da filosofia, comea
com uma certa inadequao terminolgica. A expresso portuguesa "livre-arbtrio",
assim como a expresso "liberdade da vontade", que traduo do ingls "freedom of
the will", so enganosas, pois nem o juzo nem a vontade so os fatores preponderantes.
Menos comprometida seria a expresso "liberdade de deciso" ou "liberdade de
escolha" ou, melhor ainda (posto que mais abrangente), "liberdade de ao".

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Feita essa advertncia terminolgica, passemos exposio do problema. Ele diz


respeito ao conflito existente entre a liberdade que temos ao agir e o determinismo
causal. Podemos introduzi-lo considerando as trs proposies seguintes:
1. Todo o evento causado.
2. As nossas aes so livres.
3. Aes livres no so causadas.
A proposio 1 parece geralmente verdadeira: cremos que no mundo em que vivemos
para todo evento deve haver uma causa. A proposio 2 tambm parece verdadeira:
quando nos observamos a ns mesmos, parece bvio que as nossas decises e aes so
frequentemente livres. Tambm a proposio 3 parece verdadeira: se as nossas aes
fossem causalmente determinadas, elas no poderiam ser livres.
O problema do livre-arbtrio surge quando percebemos que as trs proposies acima
formam um conjunto inconsistente, ou seja: no possvel que todas elas sejam
verdadeiras! Se admitimos que todo evento causado e que a ao livre no
causalmente determinada (que as proposies 1 e 3 so verdadeiras), ento no somos
livres, posto que as nossas aes so eventos (a proposio 2 falsa). Se admitimos que
as nossas aes so livres e que como tais elas no so causalmente determinadas (que 2
e 3 so proposies verdadeiras), ento no verdade que todo o evento seja causado (a
proposio 1 fa1sa). E se admitimos que todo o evento causado e que somos livres
(que as proposies 1 e 2 so verdadeiras), ento deve haver a1go de errado com a ideia
de liberdade expressa na proposio 3.
Cada uma dessas alternativas possui um nome e foi classicamente defendida. A
primeira delas chamada de determinismo; ela consiste em negar a verdade da
proposio 2, ou seja, que somos realmente livres. Ela foi mantida por filsofos como
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Espinosa, Schopenhauer e Henri d'Holbach. A segunda alternativa chama-se libertismo:


ela no tem problemas em admitir que o mundo ao nosso redor causalmente
determinado, mas abre uma exceo para muitas de nossas decises e aes, que sendo
livres escapam determinao causal. Com isso o libertismo rejeita a validade universal
do determinismo expressa pela proposio 1. Essa a posio de Agostinho, Kant e
Fichte. Finalmente h o compatibilismo, que tenta mostrar que a liberdade de ao
perfeitamente compatvel com o determinismo, rejeitando a ideia de liberdade expressa
na proposio 3. Historicamente, Hobbes, Hume e Mill foram famosos defensores do
compatibilismo. No que se segue, quero considerar isoladamente cada uma dessas
solues, argumentando finalmente a favor do compatibilismo.
1. Determinismo
O determinismo parte da considerao de que, da mesma forma que podemos sempre
encontrar causas para os eventos fsicos que nos cercam, podemos sempre encontrar
causas para as nossas aes, sejam elas quais forem. Com efeito, sendo como somos
produtos de um processo de evoluo natural, seria surpreendente se as nossas aes
no fossem causadas do mesmo modo que o so outros eventos biolgicos, tais como a
migrao dos pssaros e o fototropismo das plantas. Mesmo que o princpio da
causalidade no seja garantido e que no mundo da microfsica ele tenha sido inclusive
colocado em dvida, no mundo humano, constitudo pelas nossas aes, pensamentos,
decises, vontades, esse princpio parece manter-se plenamente aceitvel. De facto,
admitimos que as decises ou aes humanas so causadas. Alguns podero dizer que
Napoleo invadiu a Rssia por livre deciso da sua vontade. Mas os historiadores
consideram parte do seu ofcio encontrar as causas, procurando esclarecer as motivaes
e circunstncias que o induziram a tomar essa funesta deciso. Na determinao das
nossas aes, as causas imediatas podem ser externas (algum decide parar o carro
diante de um sinal vermelho) ou internas (algum resolve tomar um refrigerante), sendo
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geralmente mltiplas e por vezes muito difceis de serem rastreadas. No entanto, teorias
biolgicas e psicolgicas (especialmente. a psicanlise) sugerem que as nossas aes
so sempre causadas; "Fiz isso sem nenhuma razo" raramente aceite como desculpa.
Com base em consideraes como essas, a concluso do filsofo determinista a de
que o livre-arbtrio na verdade no existe, posto que se a ao fosse realmente livre ela
no seria determinada por outros fatores independentes dela mesma. A liberdade que
parecemos ter ao tomarmos as nossas decises pura iluso, produzida por uma
insuficiente conscincia das suas causas. Mesmo quando pensamos que poderamos ter
agido de outro modo, o que queremos dizer no que ramos realmente livres para agir
de outro modo, mas simplesmente que teramos agido de outro modo se o sentimento
mais forte tivesse sido outro, se soubssemos aquilo que agora sabemos etc. O
argumento a favor do determinismo pode ser assim esquematizado:
1. Todo o evento causado.
2. As aes humanas so eventos.
3. Portanto, todas as aes humanas so causadas.
4. As aes humanas s so livres quando no so causadas.
5. Portanto, as aes humanas no so livres.
A posio determinista encontra, porm, dificuldades. No s o sentimento de que
somos livres que perde a validade. Tambm o sentimento de arrependimento ou
remorso parece perder o sentido, pois como se justifica que ns possamos arrependernos das nossas aes, se no fomos livres para escolh-las? Tambm a responsabilidade
moral perde a validade. Se nas nossas aes somos to determinados como uma pedra
que cai ao ser solta no ar, faz to pouco sentido responsabilizar uma pessoa pelos seus

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atos quanto faz sentido responsabilizar a pedra por ter cado. Tais dificuldades levamnos a considerar a posio oposta.
2. Libertismo
O libertista rejeita o determinismo por considerar as concluses acima inaceitveis.
Ele tambm rejeita a primeira premissa do argumento determinista. O princpio da
causalidade, enuncivel como "Todo o evento tem uma causa", no parece ter a sua
validade universal garantida. Certamente, esse princpio extremamente til, valendo
em geral para o mundo que nos circunda e mesmo para muitas de nossas aes. Mas
nada nele garante que a sua validade seja universal. No podemos pensar que A = ~A ou
que 1 + 1 = 3, mas podemos perfeitamente conceber um evento no universo surgindo
sem nenhuma causa. A isso o libertarista poder adicionar que ns simplesmente
sabemos que somos livres. H uma grande diferena entre um comportamento reflexo e
um comportamento resultante da deciso da vontade. Ns sentimos que no ltimo caso
somos livres, que podemos decidir sempre de outro modo.
Para justificar essa posio, o libertista costuma lanar mo de uma teoria da ao, tal
como foi defendida por Richard Taylor ou por Roderick Chisholm. Segundo essa teoria
s vezes, ao menos, o agente causa os seus atos sem qualquer mudana essencial em si
mesmo, no necessitando de condies antecedentes que sejam suficientes para
justificar a ao. Isso acontece porque o eu uma entidade peculiar, capaz de iniciar
uma ao sem ser causado por condies antecedentes suficientes! Voc poder
perguntar-se como isso possvel. A resposta geralmente oferecida que no pode
haver explicao. Para responder a uma pergunta como essa teramos de interrogar o
prprio eu, considerando-o objetivamente. Mas, como quem deve considerar
objetivamente o eu s pode ser aqui o prprio eu, isso impossvel. Tentar interrogar o
prprio eu tentar, como o baro de Mnchausen, alar-se sobre si mesmo pondo os ps

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sobre a prpria cabea. O eu da teoria da ao um eu esquivo [...]. Ele um eu


autodeterminador, capaz de iniciar aes sem ser causado. Somos, quando agimos,
semelhantes ao deus aristotlico: somos causas no causadas, motores imveis. O
argumento que conduz teoria da ao tem a forma:
1. No certo que todo o evento causado.
2. Sabemos que as nossas aes so frequentemente livres.
3. As aes humanas livres no podem ser causadas.
4. Portanto, a ao humana no precisa de ser causada.
Embora essa soluo preserve a noo de livre agncia, ela tem o inconveniente de
explicar o obscuro pelo que mais obscuro ainda, que um mistrio a ser aceite sem
questionamento. A pergunta que permanece se no h uma soluo mais satisfatria. A
soluo que veremos a seguir, o compatibilismo, hoje a mais aceite, sendo uma
maneira de tentar preservar as vantagens das outras duas sem as correspondentes
desvantagens.
3. Compatibilismo: definies
Segundo o compatibilismo, tambm chamado de determinismo moderado ou
reconciliatrio, ns permanecemos livres e responsveis, mesmo sendo causalmente
determinados nas nossas aes. O raciocnio que conduz ao compatibilismo tem a
forma:
1. Todo o evento causado.
2. As aes humanas so eventos.
3. Portanto, todas as aes humanas so causadas.
4. Sabemos que as nossas aes so s vezes livres.
5. Portanto, as aes livres so causadas.

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Um bom exemplo de argumento em defesa do compatibilismo o de Walter Stace,


para quem ns confundimos o significado da noo de liberdade na sua conexo com o
determinismo. Segundo Stace, o determinista acredita que a liberdade da vontade o
mesmo que a capacidade de produzir aes sem que elas sejam determinadas por causas.
Mas isso falso. Se assim fosse, uma pessoa que se comportasse arbitrariamente,
mesmo que contra a sua prpria vontade, seria um exemplo de pessoa livre. Mas o
comportamento arbitrrio no visto como um comportamento livre. A diferena entre
a vontade livre e a vontade no-livre no deve residir, pois, no facto de a segunda ser
causalmente determinada e a primeira no. Alm disso, tanto no caso de aes livres
como no caso de aes no-livres, ns costumamos encontrar determinaes causais,
como mostram os seguintes exemplos, os trs primeiros tomados do texto de Stace:

A. Atos livres

B. Atos no-livres

1. Gandi passa fome porque quer

Um homem passa fome num deserto

libertar a ndia.

porque no h comida.

2. Uma pessoa rouba um po porque

Uma pessoa rouba porque o seu patro a

est com fome.

obrigou.

3. Uma pessoa assina uma confisso

Uma pessoa assina uma confisso porque

porque quer dizer a verdade.

foi submetida a tortura.

4. Uma pessoa decide abrir uma garrafa

Uma

de champanhe porque quer brindar ao

aguardente, mesmo contra a sua vontade,

Ano Novo.

porque alcolica.

pessoa

toma

uma

dose

de

Note-se que a palavra "porque", que denota causalidade, comum a ambas as


colunas. Assim, a coluna A no difere da coluna B pelo facto de no podermos encontrar
causas das aes, decises e volies dos agentes. E s causas apresentadas podemos
adicionar ainda outras, como razes psicolgicas e biogrficas de Gandi, o costume de
brindar ao Ano Novo abrindo uma garrafa de champanhe etc. Mesmo nos casos de

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decises arbitrrias (como quando algum decide lanar uma moeda no ar para que a
sorte decida o que deve fazer), a deciso de escolher arbitrariamente tambm possui
alguma causa.
A diferena notada por Stace entre as aes livres da coluna A e as no-livres da
coluna B que as primeiras so voluntrias, enquanto as segundas no. Da que ele
defina a diferena entre a vontade livre e no-livre como residindo no facto de que as
aes derivadas da vontade livre so voluntrias, enquanto as aes derivadas da
vontade no-livre so involuntrias, no sentido de se oporem nossa vontade ou de
serem independentes dela. Se Gandi passa fome para libertar a ndia, se algum rouba
um po por estar com fome, essas so aes livres, posto que voluntrias; mas se uma
pessoa assina uma confisso sob tortura ou toma uma dose de aguardente contra a sua
vontade, essas so aes que se opem vontade dos agentes, por isso mesmo no so
livres.
Embora a explicao de Stace seja geralmente bem-sucedida, ela no se aplica
satisfatoriamente a alguns casos. Considere os seguintes:

A. Atos livres

B. Atos no-livres

5. Uma pessoa abre a janela porque

Uma pessoa abre a janela por efeito de

faz calor.

sugesto ps-hipntica.

6. Um membro de uma equipa de

Um psicopata explode uma bomba porque

cinema explode uma bomba para

ouve vozes que o convenceram a realizar

efeitos de filmagem.

essa ao.

No exemplo B-5 a pessoa abre a janela porque o hipnotizador lhe disse que meia hora
aps ser acordada da hipnose deveria abrir a janela, sem se lembrar de que faz isso por
deciso do hipnotizador (curiosamente, se interrogada, a pessoa submetida a esse tipo de
experincia costuma fornecer uma razo qualquer, como a de que est sentindo calor).
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Nesse caso a pessoa realiza a ao voluntariamente, pensando que o faz por livre e
espontnea vontade, embora na verdade o faa seguindo a instruo de quem a
hipnotizou. No exemplo B-6, o psicopata tambm age voluntariamente, e o mesmo
poderamos dizer de casos de fanticos, de neurticos e, em geral, de pessoas presas a
valores e padres de conduta excessivamente rgidos, que sofrem por isso limitaes na
capacidade de livre deliberao, apesar de agirem voluntariamente. A ao livre deve
aproximar-se de um ideal de racionalidade plena, o que aqui est longe de ser o caso.
Na minha opinio a diferena mais importante entre os casos apresentados, nas
colunas A e B que em B, em que a ao no livre, o agente age sob restrio,
coero ou limitao externa (exemplos 1, 2, 3 e 5) ou interna (exemplos 4 e 6),
enquanto nos casos da coluna A, em que a ao livre, o agente age motivado por
razes no-limitadoras ou "plenas". difcil explicar o que sejam razes nolimitadoras, mas a ideia intuitiva: considere a diferena entre as razes de Gandi e as
razes de quem age por sugesto ps-hipntica, por fora de um delrio psictico ou de
uma crena fantica; mesmo no-admiradores de Gandi admitiriam que as suas razes
so comparativamente menos limitadoras, menos restritivas, mais legtimas. Admitindo
essa distino de grau entre razes limitadoras e no-limitadoras, chegamos a uma
definio inerentemente negativa da ao livre, que mais abrangente do que a de
Stace:
A ao livre aquela em que o agente no restringido fisicamente, nem
coagido na sua vontade, nem limitado na sua racionalidade ao realiz-la.
Livre-arbtrio versus determinismo
O problema do livre-arbtrio versus determinismo surge devido a uma aparente

contradio entre duas ideias plausveis. A primeira a ideia de que os seres humanos

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tm liberdade para fazer ou no fazer o que queiram (obviamente, dentro de certos


limites ningum acredita que possamos voar apenas por querermos faz-lo). Esta a
ideia de que os seres humanos tm vontade livre ou livre-arbtrio. A segunda a
ideia (...) de que tudo o que acontece neste universo causado, ou determinado, por
acontecimentos ou circunstncias anteriores. Diz-se de aqueles que aceitam esta ideia
que acreditam no princpio do determinismo e chama-se-lhes deterministas. (De
aqueles que negam esta segunda ideia diz-se que so indeterministas.)
Pensa-se frequentemente que estas duas ideias conflituam porque parece que no

podemos ter livre-arbtrio as nossas escolhas no podem ser livres se so


determinadas por acontecimentos ou circunstncias anteriores.

Definio dos conceitos nucleares


Determinismo: princpio segundo o qual todo o fenmeno rigorosamente
determinado por aqueles que o precederam ou acompanham, (leis da natureza: fsicas e
biolgicas) ou (plano sobrenatural: vontade de Deus, fora do destino) sendo a sua
ocorrncia necessria e no dependente da vontade do agente;
Liberdade: ter a possibilidade de escolher e de decidir o que fazer de ns prprios,
que tipo de pessoa nos propomos construir tendo em conta todos os fatores e
condicionalismos circunstanciais que o contexto vivencial nos proporciona e que so
simultaneamente limitaes e desafios;
Liberdade humana: capacidade de autodeterminao, ou seja, a possibilidade e a
necessidade de sermos ns a orientar a nossa ao e, desse modo, a definir e a moldar a
nossa personalidade, tendo em conta as condicionantes da ao;
Causalidade: acontecimento que sucede cadeia causal;
Finalidade: acontecimento que antecede cadeia causal.

II.A ao humana e os valores

2. Os valores Analise e compreenso da experincia valorativa


2.1. Valores e valorao a questo dos critrios valorativos
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Os valores so qualidades que se atribuem aos objetos. Estes orientam a nossa ao, isto
, a nossa ao determinada pelos valores; pelo que considerado justo/injusto;
correto/incorreto pelo sujeito.
Os valores no existem efetivamente nos objetos, ou seja, no so caractersticas dos
objetos. Orientam as nossas aes; agimos em funo daquilo que gostamos e achamos
correto.
Caractersticas dos valores
Os valores so:
Subjetivos quando dependem do sujeito, isto , dois sujeitos perante um objeto
podem ter opinies diferentes acerca do mesmo. (Ex.: uma pessoa pode achar o objeto
bonito e outra feio).
No so coisas nem caractersticas sensveis dessas mesmas coisas
So hierarquizveis no tm todos a mesma importncia, cada sujeito tem a sua
prpria hierarquia.
Existem em plos opostos existem valores positivos e valores negativos. (Ex.:
beleza fealdade).
Valor-fim e valores-meio:

Valor-fim so aqueles que valem por si mesmo (encontram-se no topo da


hierarquia);

Valores-meio so aqueles que nos permitem alcanar o valor-fim.

Valores espirituais e valores materiais produzem prazer sensvel

Valores ticos/morais

Valores religiosos

Valores estticos

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produzem prazer espiritual

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So relativos variam de poca para poca; de cultura para cultura, no quer dizer
que uns sejam mais corretos que outros.
So perenes no morrem, apesar da sua subjetividade e da sua relatividade estes
continuaro a determinar a viso que o homem tem do mundo e as suas aes.
Critrio Valorativo: Juzos e Factos
Facto o aspeto da realidade, aspeto esse que pode ser descrito de uma forma
objetiva. Quando queremos descrever objetivamente um facto, elaboramos os juzos de
facto.
Juzo enunciado onde se afirma ou nega uma coisa de outra coisa.
Os Juzos de facto so proposies onde se descrevem objetivamente os aspetos da
realidade (factos). Descrevem a realidade tal como ela , fornecendo assim informao
sobre o mundo. So objetivos pois no dependem da perspetiva do sujeito que os
enuncia, dependendo exclusivamente do objeto ou do facto.
Pelo facto de eles serem objetivos possuem valor de verdade. Quando o contedo do
juzo corresponde verdadeiramente aos factos, verdadeiro; quando, pelo contrrio, no
corresponde, falso.
Os juzos de facto so os nicos que aparecem nas cincias (Ex.: leis cientficas)
Estes so descritivos, descrevendo certos aspetos da realidade.
Os Juzos de valor servem para expressar/traduzir/mostrar a avaliao, positiva ou
negativa, que cada um de ns faz da realidade.
Contrariamente aos juzos de facto que so objetivos, os juzos de valor so subjetivos,
porque dependem exclusivamente da avaliao que cada sujeito faz da realidade.
Ao fazer a sua avaliao, o sujeito pretende influenciar os outros, levando-os a fazer o
mesmo tipo de avaliao de um acontecimento sendo, por isso, parcialmente,
normativos.

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Assim temos:

Exemplos:
Os juzos morais so os juzos de valor mais discutidos pelos filsofos.
Estas so duas questes importantes sobre a natureza desses juzos:
1. Os juzos morais tm valor de verdade?
2. Se tm valor de verdade, so verdadeiros ou falsos independentemente da perspetiva
de quaisquer sujeitos?
As teorias objetivistas respondem afirmativamente a ambas as questes.
Vamos examinar apenas teorias que no so objetivistas.
Subjetivismo
Subjetivismo: Os juzos morais tm valor de verdade, mas o seu valor de verdade
depende da perspetiva do sujeito que faz o juzo.
Existem factos morais, mas estes so subjetivos, pois s dizem respeito s atitudes de
aprovao ou reprovao das pessoas.
Duas razes para ser subjetivista:
Se as distines entre o certo e o errado no forem fruto dos sentimentos de cada
pessoa, ento sero imposies exteriores que limitam as possibilidades de ao de cada
indivduo. O subjetivismo preserva a liberdade individual.

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Quando percebemos que as distines entre o certo e o errado dependem dos


sentimentos de cada pessoa e que os sentimentos de uma no so melhores nem piores
que os de outra, tornamo-nos mais capazes de aceitar as aes contrrias s nossas
preferncias.
O subjetivismo promove a tolerncia entre indivduos.
Objees ao subjetivismo:
O subjetivismo permite que qualquer juzo moral seja verdadeiro.
Por exemplo, se uma pessoa pensa que devemos torturar inocentes, ento para essa
pessoa verdade que devemos torturar inocentes.
O subjetivismo compromete-nos com uma educao moral que consiste apenas em
ensinar que devemos agir de acordo com os nossos sentimentos.
O subjetivismo tira todo o sentido ao debate moral. Torna absurdo qualquer esforo
racional para encontrar os melhores princpios ticos e fundament-los perante os
outros.
Para aprofundar esta ltima objeo, vejamos como o subjetivista entende os casos de
desacordo moral:

Se a traduo do subjetivista correta, ento no h qualquer desacordo genuno


entre o Joo e a Maria. Mas h um desacordo genuno entre o Joo e a Maria. Logo, a
traduo do subjetivista no correta. (Portanto, o subjetivismo falso.)
Emotivismo

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Emotivismo: Os juzos morais so apenas frases em que as pessoas exprimem os


seus sentimentos de aprovao ou reprovao ou tentam suscitar esses mesmos
sentimentos nos outros.
Os juzos morais no tm valor de verdade. No so proposies.
Vantagens do emotivismo sobre o subjetivismo:
No implica que qualquer juzo moral pode ser verdadeiro.
Proporciona um modelo mais aceitvel da educao moral: esta pode ser vista como
a tentativa de influenciar os sentimentos das crianas de vrias maneiras.
No implica que no h desacordos genunos e, portanto, no exclui totalmente a
possibilidade do debate moral.
Duas objees emotivismo:
Os juzos morais nem sempre esto de acordo com os nossos sentimentos de
aprovao ou reprovao.
Os juzos morais nem sempre exprimem emoes.
Definio dos conceitos nucleares
Valor: no uma propriedade dos objetos em si, mas uma propriedade adquirida por
esse objetos graas sua relao dom o Homem como ser social, embora os objetos,
para poderem valer, tenham de possuir realmente certas propriedades objetivas.
Juzo de facto: so juzos que descrevem a realidade, sendo por isso considerados
objetivos, verificveis e suscetveis de serem considerados verdadeiros ou falsos.
Juzo de valor: Expressam uma apreciao de algum a respeito de algo, traduzindo
uma opo de natureza emotiva e afetiva; so subjetivos, discutveis e relativos.

II.A ao humana e os valores

2. Os valores Analise e compreenso da experincia valorativa


2.2. Valores e cultura a diversidade e o dialogo de culturas
Relativismo moral
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Relativismo moral: Os juzos morais tm valor de verdade, ou seja, so verdadeiros


ou falsos. Por isso, existem factos morais.
A verdade ou falsidade dos juzos morais sempre relativa a uma determinada
sociedade.
Um juzo moral verdadeiro numa sociedade quando os seus elementos acreditam
que ele verdadeiro, falso quando acreditam que ele falso.
O certo e o errado, o bem e o mal morais, so convenes estabelecidas dentro de
cada sociedade.
Podemos chamar relativismo cultural ideia de que muitos costumes e prticas que
variam de sociedade para sociedade, como os hbitos alimentares, as cerimnias de
casamento ou o estilo de vesturio, so relativos cultura: no h uma maneira de
comer, casar ou vestir que seja universalmente melhor do que todas as outras.
O relativista moral estende esta ideia quase trivial tica. Aplicada tica, no entanto, a
ideia deixa de ser trivial.

Duas razes para ser relativista moral:


O relativismo promove a coeso social. Esta coeso fundamental para a
sobrevivncia da sociedade e assim para o nosso bem-estar.
O relativismo promove a tolerncia entre sociedades diferentes.
Leva-nos a no ter qualquer impulso violento e destrutivo em relao aos outros povos e
culturas.
Objees ao relativismo moral:
O relativismo moral conduz ao conformismo. Um conformista limita-se a agir de
acordo com as ideias dominantes na sociedade. Na ausncia de algum inconformismo,
no pode haver qualquer progresso moral.
O relativismo moral s aparentemente promove a tolerncia entre culturas diferentes:

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A afirmao do valor universal da tolerncia incompatvel com o relativismo.

Um relativista teria de aprovar atitudes de extrema intolerncia se estas fossem


consideradas boas no interior de uma dada sociedade.

A teoria dos mandamentos divinos


Teoria dos mandamentos divinos: Os juzos morais tm valor de verdade, ou seja,
so verdadeiros ou falsos. Por isso, existem factos morais.
A verdade ou falsidade dos juzos morais depende da vontade de
Deus.
O certo e o errado, o bem e o mal morais, so convenes estabelecidas por Deus.
O dilema de utifron

A relao entre a diversidade cultural, o relativismo e a tolerncia


Os valores so simultaneamente absolutos e relativos. So absolutos porque existem
em todas as sociedades e porque h valores universalmente aceites, tais como os valores
consignados na Declarao Universal dos Direitos do Homem. So relativos porque
variam as qualidades que tm de possuir para poderem ser consideradas bens. De facto,
todas as sociedades distinguem o bem do mal, considerando o bem um valor positivo e
o mal um valor negativo ou contra valor. Porem, o conceito de bem e de mal definido
culturalmente; os valores tm um carter histrico e mudam medida que a sociedade e
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a cultura se transformam (dependem da poca, da geografia, dos regimes polticos, das


classes sociais, da cultura, etc.); por outro lado, a par dos valores universais como o
valor da vida ou da liberdade, h valores em que a subjetividade predominante,
dependendo dos gostos e das preferncias pessoais como o caso dos valores estticos,
por exemplo.
A evoluo e progresso social acarretam o aparecimento de novos problemas e novas
mentalidades e a necessria transformao dos valores. Hoje, o relativismo cultural
um valor positivo e nega-se a existncia de padres axiolgicos absolutos. Isto no
significa que no deva haver valores universais a preservar para alm desse relativismo
como o caso do valor da vida e da dignidade da pessoa, qualquer que seja a sua
condio (cultura que adotou, classe social, sexo, religio, cor da pele, etnia, etc.). A
todos os seres humanos, pelo facto de seres humanos, devida igualdade de direitos e
de deveres, por isso, no podemos tolerar praticas culturais atentatrias da dignidade
humana e devemos usar todos os meios para garantir o respeito pelos direitos humanos
fundamentais em todos os pases do mundo.
Definio dos conceitos nucleares
Absoluto (etnocentrismo): uma tendncia para colocar no centro a nossa cultura,
considerando os seus valores e os seus padres culturais como medida daquilo que
desejvel e estimvel para todos.
Relativo (relativismo): aceita que comportamentos socialmente aprovados e os
sistemas de valores dos povos com os quais se entra em contacto sejam julgados e
avaliados sem referencia a padres absolutos, a necessidade de tolerncia pelas
diferenas (raciais, tnicas, religiosas, sexuais) e o valor do respeito mtuo.
Cultura: em sentido amplo, pode ser definida como os aspetos de ordem material e de
ordem espiritual que, em relao com uma sociedade ou grupo, foram adquiridos com
base em formas de vida ancestrais comuns. Pode-se afirmar Sem homem no h
cultura. Mas sem cultura no h homem.

II.A ao humana e os valores


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3. Dimenses da ao humana e dos valores


3.1. A dimenso tico-politica Anlise e compreenso da experincia vivencial
3.1.1. Inteno tica e norma moral
Os conceitos de tica e moral so usualmente utilizados indiferentemente, para nos
referirmos a um cdigo ou a um conjunto de princpios que as pessoas seguem na sua
vida.
A tica, deriva do grego ethos, que designava os comportamentos habituais, os
costumes, aquilo que permite ao ser humano construir uma segunda natureza, referindose, pois, sua interioridade.
Assim a tica, mantendo o significado mais prximo daquele que o prprio conceito
grego de ethos, remete mais para uma reflexo acerca dos princpios que devem orientar
a ao humana, para uma fundamentao das normas do agir, e tambm para a definio
dos fins orientadores da existncia de cada um, tendo em vista a autoconstruo de si na
prossecuo duma vida boa e feliz. Interroga-se sobre o que d sentido ou valor
existncia humana. A tica remete, portanto, para uma sabedoria de vida, algo que
aponta j para uma certa espiritualidade e realizao pessoal autnoma.
A moral utiliza-se hoje para designar o mbito da formao das normas obrigatrias,
da sua hierarquizao e aplicao a casos concretos no interior duma comunidade
humana.
Assim a Moral constitui, portanto, um conjunto de imperativos e de interditos,
traduzindo o sentido de obrigatoriedade, o conjunto dos deveres do ser humano, isto ,
uma deontologia, as normas validas no interior de um grupo. Desenvolve-se na pratica
social, no contexto de uma cultura, no seio da qual os valores, os hbitos e os costume
geram as leis ou cdigos que definem o que desejvel e o que permitido ou proibido,
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distinguindo o bem do mal. Apresenta-se, portanto, com uma funo normativa, isto ,
de institucionalizao de normas que regulam a conduta. A Moral responde-nos, pois, s
questes: Que devo fazer? Como correto agir em tal circunstncia?
Apesar desta distino, quer a tica quer a Moral so importantes guias da ao
humana, no sentido em que relacionam com uma vida com projetos e ideais a alcanar.
O sentido da palavra desmoralizado ajuda-nos a compreender bem, embora pela
negativa, a sua importncia: diz-se desmoralizado de algum a que perdeu a
orientao e o interesse pela vida ou pelos seus objetivos. E a Moral e a tica apelam
exatamente para a realizao pessoal do indivduo. Apesar desta distino conceptual,
muitos autores continuam a usar os dois conceitos como sinnimos.
Definio dos conceitos nucleares
tica: (do conceito grego ethos) o domnio da reflexo terica sobre esses
princpios e normas tendo em vista a sua definio e, sobretudo, a sua justificao
racional. tica diz ainda respeito a definio dos fins universais que devero orientar a
ao humana na autoconstruo de cada indivduo tendo em vista tornar-se pessoa. A
tica pode ento ser entendida como fundamentao das normas morais do agir ou como
definio dos fins orientadores da existncia de cada um.
Moral: (do latim mores) designa o mbito da formao das normas, da
hierarquizao e aplicao a casos concretos, traduzindo o conjunto dos deveres do ser
humano.

II.A ao humana e os valores

3. Dimenses da ao humana e dos valores


3.1. A dimenso tico-politica Anlise e compreenso da experincia vivencial
3.1.2. A dimenso pessoal e social da tica o si mesmo, o outro e as instituies
A responsabilidade a capacidade de responder e prestar contas pelos atos praticados.
A responsabilidade tem duas vertentes: a responsabilidade civil, prestar contas pelas
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consequncias perante terceiros, e a responsabilidade moral, prestar conta perante a


nossa conscincia pelos atos e intenes dos mesmos.
A responsabilidade exige que se assuma esta autoria dos atos praticados; assumir esta
autoria implica uma reflexo prvia que pode e deve conduzir a uma opo livre de
constrangimentos, isto , autnoma; esta autonomia ou liberdade condio para se ser
pessoa. A responsabilidade implica maturidade moral.
A existncia humana uma existncia partilhada, isto , vivida em coexistncia com
os outros ou, dito de outro modo, o ser humano um ser eminentemente social. Como
nos diz F. Savater ningum chega a tornar-se humano se est s: tornamo-nos humanos
uns aos outros.
Os Gregos foram os primeiros a salientar a importncia desta dimenso social e
politica do ser humano, como vsivel na definio apresentada por Aristteles ao
afirmar o Homem um animal poltico; aquele que vive s ou um deus ou um
louco, sendo por isso que a pena mais cruel infligida a um indivduo era a condenao
ao ostracismo, isto , a condenao a viver isolado dos outros.
Sendo assim, a dimenso tica implica que no se considerem exclusivamente os
interesses individuais e se avaliem as situaes tendo em conta tambm os interesses
dos outros.
A relao eu-outro implica, portanto, que os nossos juzos avaliativos adotem um
ponto de vista no qual considerem igualmente os interesses de todos os que so afetados
pelas nossas aes, isto , implica que nos coloquemos numa perspetiva de
universalidade do agir. A ao tica exige que ultrapassemos o nosso ponto de vista
pessoal e nos coloquemos, na medida do possvel, no lugar do outro (entendendo-se por
outro todos os seres com quem nos relacionamos). Em vez do egosmo a tica valoriza
o altrusmo e a solidariedade. Em vez do benefcio pessoal, a tica promove, elogia e
estimula a considerao de valores comuns aos membros duma comunidade.
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Valorizando os comportamentos comuns, a tica procura assim promover a


realizao da vida social, em que a existncia individual ganha sentido na vivncia
partilhada com os outros.
A relao com os outros coloca-nos perante o desafio da nossa autoconstruo,
evidenciando que a realizao de cada um supe tambm a realizao dos outros, numa
convergncia de vontades particulares tendo em vista a realizao de fins comuns. Mas
o antagonismo e a conflituosidade entre os interesses individuais nem sempre se
conseguem compatibilizar e, por isso, as diferentes formas de relacionamento social
expressas quer em competio/solidariedade, que em cooperao/hostilidade, exigem o
estabelecimento de regras de conduta, de normas e leis que definam os direitos e
deveres de cada um num espao de convivncia.
Esta convivncia com os outros no deve ser determinada por uma fora instintiva ou
biolgica, antes se estabelece no interior duma comunidade, em funo de objetivos,
valores e opes livremente definidos por cada sociedade. esta convergncia de ideais
que procura dar sentido existncia da sociedade e de cada indivduo.
Nesta interao social forma-se em cada um de ns uma instncia interior de
orientao e de critica do nosso agir, a que chamamos conscincia moral.
Para podermos compreender melhor a natureza e o papel da conscincia moral,
costumamos compar-la a uma espcie de juiz interior que julga o que fazemos,
provocando-nos, em certas situaes, aquilo a que chamamos remorsos por termos
praticado uma ao considerada m (ter a conscincia pesada, ou ter um peso na
conscincia), ou dando-nos um sentimento de bem-estar e paz interior quando agimos
bem (estar de conscincia tranquila).
O conceito de conscincia moral inclui, ento:

Um sentido apelativo, para valores e normas ideais a que no devemos renunciar


(uma bssola orientadora do sentido da ao);
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Um sentido imperativo (obrigao), que nos ordena uma ao compatvel com os


valores que defendemos (index);

Um sentido judicativo, pois assume-se como instncia julgadora dos nossos atos e das
prprias intenes do agente, conforme esto ou no de acordo com os valores e ideais
a que aderimos (judex);

Um sentido de censura e de remorso, ou de elogio e satisfao, conforme a nossa


vivncia obedece ou no aos ideais e valores assumidos (vindex).
Embora formando-se e modelando-se no interior do grupo social a que pertencemos,
a conscincia moral constitui-se na conjugao de duas orientaes:

CONSCINCIA MORAL
Por um lado, cresce medida que o Por outro, amadurece e assume-se como
indivduo interioriza as regras e padres

uma dimenso pessoal no sentido em

do grupo (heteronomia).

que cada um se autodetermina por


princpios

racionalmente

justificados

(autonomia).
H pois, uma interao entre as estruturas do indivduo e as influencias do meio
social, uma articulao do querer individual com os padres sociais, que conduz
transformao do indivduo em pessoa.
Noo de pessoa
Por pessoa entende-se o individuo humano que:

Se reconhece como sujeito de direitos e deveres ou obrigaes, para consigo mesmo,


para com os outros e para com as instituies;

Assimilou de forma consciente os ideais e a sua responsabilidade social;

Assume o carter racional da sua autonomia e, portanto, a capacidade de agir livre e


responsavelmente, isto , em nome prprio;

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Tem conscincia do carter inter-relacional da sua autonomia, uma vez que autonomia
no significa autossuficincia nem indiferena pelos outros;

Assume a dignidade como atributo essencial do Homem, dignidade que se expressa


numa exigncia perante si mesmo, perante os outros e perante as instituies.
Podemos dizer ento que ser pessoa exige viver em sociedade, reconhecer e respeitar
princpios universais de relao com os outros, reconhecer-se como sujeito de direitos e
deveres, estar aberto aos outros.
Neste sentido foram fundadas, ao longo dos tempos, instituies polticas e sociais que
visam justamente assegurar ao Homem a possibilidade de se desenvolver como pessoa e
que demonstram a aceitao pelas sociedades da personalidade humana.
Definio dos conceitos nucleares
Responsabilidade: deriva etimologicamente da palavra latina respondere, que
significa responder pelos atos e ter a obrigao de prestar contas pelos atos praticados. A
responsabilidade pode assumir diferentes formas: responsabilidade civil referindo-se
ao compromisso de ter de responder perante a autoridade social; responsabilidade moral
referindo-se obrigao de responder perante a nossa prpria conscincia.

II.A ao humana e os valores

3. Dimenses da ao humana e dos valores


3.1. A dimenso tico-politica Anlise e compreenso da experincia vivencial
3.1.3. A necessidade de fundamentao da moral anlise comparativa de duas
perspetivas filosficas
tica utilitarista de Stuart Mill (1806-1873 d.C)
Filsofo e economista, considerado o mais importante representante do utilitarismo
ingls. Embora mantenha a identificao base do utilitarismo da felicidade com prazer,
Stuart Mill classifica os prazeres segundo um critrio qualitativo, considerando em

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primeiro lugar a dignidade do Homem, e defende que o fim das nossas aes deve ser
uma utilidade altrusta e no meramente egosta.
Duas objees ao utilitarismo
O utilitarismo no funciona na prtica, pois exige que estejamos sempre a calcular as
consequncias das nossas aes.
O utilitarismo, como no leva em conta as normas ou regras morais comuns,
predispe-nos a fazer frequentemente coisas erradas como mentir, roubar ou matar.
Uma resposta s objees
O utilitarismo primariamente uma teoria sobre o que torna as aes certas ou erradas.
O utilitarismo no uma teoria sobre como devemos tomar as nossas decises.

Por isso, o utilitarismo no implica que:


1. Temos de tomar todas as decises calculando as consequncias provveis dos nossos
atos.
2. Temos de ser indiferentes s normas morais comuns quando decidimos o que fazer.
O utilitarista dir que se tomssemos todas as decises calculando as suas
consequncias acabaramos por no promover o bem.
O utilitarista dir que muitas regras morais comuns nos auxiliam a tomar decises que,
de uma maneira geral, sero boas.
Dois nveis de pensamento moral
Nvel intuitivo: Como o nosso conhecimento muito limitado, tomamos as nossas
decises quotidianas segundo as regras morais simples que aceitamos, obedecendo s
inclinaes do nosso carter, sem aplicar o princpio utilitarista.
Nvel crtico: Aplicamos o princpio utilitarista para (1) tomar decises em situaes
em que as regras morais comuns no nos permitem saber o que fazer, (2) avaliar
criticamente essas regras de modo a determinar se elas promovem ou no o bem-estar.

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Duas objees ao utilitarismo que no afetam as teorias deontolgicas:


1) O utilitarismo obriga-nos a realizar certos atos que no so moralmente obrigatrios.
por isso, em certos aspetos, uma teoria moral demasiado exigente.
2) O utilitarismo permite ou consente certos atos que no so moralmente permissveis.
por isso, noutros aspetos, uma teoria moral demasiado permissiva.
Integridade
A excessiva exigncia do utilitarismo ameaa a nossa integridade pessoal: para agir em
conformidade com o utilitarismo, teramos que abdicar de quase todos os nossos
projetos e compromissos pessoais.
Respeito e direitos
A excessiva permissividade do utilitarismo consiste no facto de este ignorar os direitos
morais das pessoas e autorizar que as tratemos como simples meios ao servio do fim
do bem geral.

Dois egosmos
Egosmo psicolgico: As pessoas agem sempre apenas em funo do seu interesse
pessoal.
Egosmo tico: As pessoas devem agir sempre apenas em funo do seu interesse
pessoal.
Somos todos egostas?
Dois argumentos a favor do egosmo psicolgico:
1. Quando agimos voluntariamente, fazemos sempre aquilo que mais desejamos. Por
isso, somos todos egostas.

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2. Sempre que fazemos bem aos outros, isso d-nos prazer. Por isso, s fazemos bem
aos outros para sentirmos prazer. Ora, isso o mesmo que dizer que somos todos
egostas.
Em ambos os argumentos, a premissa no sustenta a concluso:
Mesmo que seja verdade que em todos os atos voluntrios as pessoas se limitam a
fazer aquilo que mais desejam, da no se segue que todos esses atos sejam egostas.
Mesmo que sintamos prazer a fazer bem aos outros, isso no quer dizer que a
expectativa desse prazer tenha sido a causa ou motivo da ao.
Devemos ser egostas?
Trs objees ao egosmo tico:
O egosmo tico tira todo o sentido a uma parte importante da tica, que consiste na
atividade de aconselhar e julgar.
O egosmo tico moralmente inconsistente: no pode ser adotado universalmente.
O egosmo tico derrota-se a si prprio: se uma pessoa optar por agir de forma
egosta, ter uma vida pior do que teria se no fosse egosta.

Utilitarismo
J. S. Mill defendeu o princpio utilitarista da maior felicidade: As aes esto certas
na medida em que tendem a promover a felicidade, erradas na medida em que tendem a
produzir o reverso da felicidade.
O utilitarismo, tal como o egosmo tico, uma perspetiva consequencialista.
Segundo o consequencialismo, agir moralmente apenas uma questo de produzir
bons resultados.
O egosta defende que o agente deve produzir bons resultados apenas para si prprio.
O utilitarista defende que o agente deve produzir bons resultados para todos aqueles
que podero ser afetados pela sua conduta.
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Muitos utilitaristas defendem que o melhor curso de ao aquele que apresentada a


maior utilidade esperada.
Para determinar a utilidade esperada de um curso de ao, temos de pensar nas suas
vrias consequncias possveis e na probabilidade de essas consequncias se
verificarem.
Hedonismo
Em que consiste um bem-estar ou felicidade de uma pessoa?
Hedonismo: O bem-estar consiste unicamente no prazer e na ausncia de dor.
Hedonismo quantitativo de Bentham: Cada um dos diversos prazeres e dores da
vida das pessoas tem um certo valor, que em ltima anlise determinado apenas pela
durao e intensidade.
Hedonismo quantitativo de Mill: Alguns tipos de prazeres so, em virtude da sua
natureza, intrinsecamente superiores a outros. Para vivermos melhor devemos dar uma
forte preferncia aos prazeres superiores, recusando-nos a troc-los por uma quantidade
idntica ou mesmo maior de prazeres inferiores.
O argumento da mquina de experincias contra o hedonismo:
A mquina de experincias um dispositivo de realidade virtual que proporciona uma
vida insuperavelmente aprazvel.
Se o hedonismo verdadeiro, ento seria melhor ligarmo-nos para sempre mquina
de experincias. Mas melhor no nos ligarmos e continuarmos a ter uma vida real.
Logo, o hedonismo falso.
Satisfao de preferncias
Uma perspetiva alternativa ao hedonismo:
O bem-estar consiste unicamente na satisfao dos desejos ou preferncias.

Os utilitaristas de preferncias defendem esta teoria do bem-estar.


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Sustentam que a melhor maneira de agir maximizar a satisfao das preferncias


daqueles que podero ser afetados pela nossa conduta.

O argumento da maioria fantica contra o utilitarismo de preferncias:


Uma maioria fantica deseja intensamente exterminar uma minoria inofensiva.
Se o utilitarismo de preferncias verdadeiro, seria bom exterminar a minoria
inofensiva. Mas profundamente errado exterminar minorias inofensivas. Logo, o
utilitarismo de preferncias falso.
tica deontolgica de Kant
Clebre filsofo alemo, um dos mais importantes filsofos da poca moderna europeia.
As mais notveis das suas obras so a Crtica da Razo Pura (sobre gnoseologia), a
Crtica da Razo Prtica (sobre tica) e a Crtica da Faculdade de Julgar (sobre
esttica).
Teorias deontolgicas
Podemos distinguir utilitarismo das teorias deontolgicas colocando duas questes:
1. O que torna as nossas aes certas ou erradas?
2. Quando que nossas aes so certas ou erradas?
No que diz respeito primeira questo, temos estas respostas:
Utilitarismo: Apenas as consequncias das nossas aes as tornam certas ou erradas.
As nossas aes so certas ou erradas apenas em virtude de promoverem
imparcialmente o bem-estar.
Deontologia: Nem s as consequncias das nossas aes as tornam certas ou erradas.
Muitas aes so intrinsecamente erradas, ou seja, erradas independentemente das suas
consequncias. Podemos dizer, alis, que todos temos de respeitar certos deveres que
probem a realizao dessas aes.
No que diz respeito segunda questo, temos estas respostas:
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Utilitarismo: Uma ao certa apenas quando maximiza o bem-estar, ou seja,


quando promove tanto quanto possvel o bem-estar. Qualquer ao que no maximize o
bem-estar errada.
Deontologia: Uma ao errada quando com ela infringimos intencionalmente
algum dos nossos deveres. Qualquer ao que no seja contrria a esses deveres no tem
nada de errado.
Exemplos de deveres habitualmente reconhecidos pelos deontologistas:
Fidelidade: Mantm as tuas promessas.
Reparao: Compensa os outros por qualquer mal que lhes tenhas feito.
Gratido: Retribui fazendo bem queles que te fizeram bem.
Justia: Ope-te s distribuies de felicidade que no estejam de acordo com o
mrito.
Desenvolvimento pessoal: Desenvolve a tua virtude e o teu conhecimento.
Beneficncia: Faz bem aos outros.
No-maleficncia: No prejudiques os outros.
Deontologia
na Fundamentao da Metafsica dos Costumes e na Crtica da Razo Prtica, que
Kant procura esclarecer as bases tericas em que assenta a ao moral.
Na Fundamentao da Metafsica dos Costumes, Kant afirma a necessidade de se
estabelecer uma filosofia moral pura, isto , estabelecida a partir da anlise da prpria
racionalidade humana e, deste modo, independentemente de tudo o que seja baseado na
experincia. A razo a autoridade final para a moralidade e esta no pode ter
fundamento, isto , no pode ser estabelecida e justificada, na observao dos costumes
ou modos habituais e culturais de agir com os humanos. Todas as aes precisam ser
determinadas por um sentido de dever ditado pela razo, e nenhuma ao realizada por
interesse ou somente por obedincia a uma lei exterior ou costume pode ser considerada
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como moral. A ao moralmente boa a que obedece exclusivamente lei moral em si


mesma. A moral Kantiana , assim concebida como independente de todos os impulsos
e tendncias naturais ou sensveis e est centrada sobre a noo de dever e no na noo
de virtude e felicidade como em Aristteles.
Kant faz distino entre o bem e o agradvel. O bem funo da lei moral, no deve,
pois, ser determinado antes da lei moral, mas s depois dela e mediante ela.
Alm disso, para classificar uma ao como moralmente boa no basta observar o que
o Homem faz efetivamente mas aquilo que ele quer fazer. Por isso, se diz que a moral
Kantiana uma moral de inteno. Assim, nada bom ou mau em si mesmo; Kant
afirma que a nica coisa que verdadeiramente pode ser boa em si mesmo a vontade
humana.
A moral Kantiana parte do pressuposto que o Homem no simplesmente racional.
Ele , simultaneamente, racional e natural/sensvel, esprito e corpo, razo e desejo, por
isso, a vida moral uma luta continua e o agir bem apresenta-se-lhe como uma
obrigao, como uma certa coao, que a sua parte racional ter de exercer sobre a sua
parte sensvel. O dever obriga, fora-nos a fazer o que talvez no quisssemos ou que
pelo menos no nos agradaria, porque o homem no perfeito e sim dual. Assim, a
moralidade aparece na forma de uma lei que exige ser obedecida por si mesma, uma lei
cuja autoridade no est fora do Homem mas representa a voz da razo, a que o sujeito
moral deve obedecer. Ento, para que cumpra integralmente a lei moral, preciso que o
domnio da vontade livre (vontade no submetida a nenhuma lei a no ser a sua prpria)
sobre a vontade psicolgica seja cada vez mais ntegro e completo. Kant chama vontade
santa vontade que dominou por completo toda a influncia e determinao oriunda
dos fenmenos concretos, fsicos, fisiolgicos e psicolgicos, para sujeit-la lei moral.
Para uma vontade desse tipo no haveria distino entre razo e inclinao. Um ser
possudo de uma vontade santa agiria sempre da forma que devia agir e no haveria
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lugar para o conceito de dever e de obrigao moral, os quais somente tm sentido e


existncia porque o Homem dual, razo e desejo, e estes encontram-se em oposio.
por isso que o dever nos surge sob a forma de uma ordem ou de um mandamento um
imperativo categrico (categrico porque ordena incondicionalmente): Age de tal
modo que a mxima da tua vontade possa valer sempre ao mesmo tempo como
princpio de uma legislao universal. Kant reconhece que esta apenas uma
frmula e a nica regra segura para podermos agir.
Como imperativo categrico, Kant forneceu-nos, na prtica, um critrio para o agir
moral.
Se queres agir moralmente, (isto , para Kant, racionalmente) o que alis tu tens de
fazer age ento de uma maneira realmente universalizvel. A universalizao das
nossas mximas (em si subjetivas) o critrio moral. O imperativo categrico afirma a
autonomia da vontade porque fornece o nico princpio de todas as leis morais.
A liberdade condio da moralidade
A condio necessria para que seja possvel apenas a razo determinar a ao a
liberdade. A vida moral somente possvel, para Kant, na medida em que a razo
estabelea, por si s, aquilo a que se deve obedecer no terreno da conduta moral, o que
s possvel pressupondo que o Homem um ser dotado de liberdade.
As ideias ticas de Kant so um resultado lgico da sua crena na liberdade
fundamental do indivduo. Esta liberdade no sinnimo de ausncia de leis ou de
anarquia; significa, antes, autogoverno, a liberdade de poder realizar o que a razo
ordena, isto , obedecer ao imperativo categrico.
Poder realizar significa: causar por vontade prpria um efeito no mundo, tal como as
causas naturais produzem um efeito na natureza. O homem, neste sentido, livre,
legislador e membro de uma sociedade tica: legislador porque ele que determina o
que deve ser feito, e membro ou sbdito porque obedece aos deveres que a sua prpria
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razo frmula. Neste sentido, ele no tem um preo, mas uma dignidade, e por isso
que a segunda frmula do imperativo categrico diz para agirmos de modo a no tratar
jamais a humanidade, em ns ou nos outros, como um meio, mas sempre como um fim
em si. A tica Kantiana uma tica do respeito pessoa. A tica Kantiana moderna
porque confia no homem, na sua razo e na sua liberdade, condena todas as situaes
sociais de instrumentalizao do Homem (a escravatura, a prostituio, o trafico de
pessoas, etc.) e reconhece sociedade civil o direito de estabelecer leis universais que
sejam expresso da lei moral racional.

A felicidade no o bem supremo


Kant tambm reflete sobre a felicidade e a virtude, mas subordina-as ao dever. Para
Kant a felicidade do domnio do sensvel; um desejo que est presente em todos os
seres humanos mas que cada qual concebe a seu modo ou subjetivamente. Ora se a lei
moral tem origem na razo (a condio da sua objetividade e universalidade) e se cada
ser humano no concebe sempre do mesmo modo aquilo que ser feliz, alcanar a
felicidade no pode ser o fim supremo da moralidade nem a sua justificao. A
moralidade auto-justificasse na natureza racional do ser humano e a felicidade e a
virtude so apenas as consequncias do esforo humano para praticar atos moralmente
bons. A felicidade de que Kant fala a da conscincia do dever cumprido, a
tranquilidade da boa conscincia. Temos obrigao de fazermos tudo para sermos
felizes. A nica condio que tudo o que fizermos possa ser universalizvel. No a
felicidade a qualquer preo.
Ser feliz , assim, uma aspirao que o homem concretiza atravs do seu mrito, mas
mesmo que esse aspirao existisse ou a felicidade no fosse concretizvel e atingvel
atravs da moralidade, mesmo assim o ser humano ainda teria a obrigao moral ou o
dever de agir respeitando unicamente a lei moral ou o imperativo categrico.
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Em concluso de Kant:

Alguns deontologistas, como Kant, pensam que os nossos deveres morais podem ser
inferidos de um princpio tico fundamental.
Outros deontologistas, como Ross, pensam que sabemos por simples intuio quais so
os nossos deveres.

Alguns deontologistas, como Kant, pensam que os nossos deveres so absolutos: nunca
podemos desrespeit-los.
Outros deontologistas, como Ross, pensam que os nossos deveres so prima facie: por
vezes podemos desrespeit-los.

Duas distines
Alguns deontologistas, por oposio aos utilitaristas, atribuem relevncia moral s
distines ato/omisso e inteno/previso, defendendo o seguinte:
Atos e omisses: pior provocar um mal que permitir que um mal ocorra. Por
exemplo, pior matar uma pessoa que deix-la morrer.
Inteno e previso: pior dar origem a um mal intencionalmente que dar a origem
a um mal que no pretendemos produzir, ainda que saibamos que o mesmo resultar da
nossa conduta. Por exemplo, pior torturar algum que fazer algo que resulte em
sofrimento como efeito colateral.
Quadro sntese da tica utilitarista de Stuart Mill e a tica deontolgica de Kant
Fundamentao da Moral

Kant (deontolgica)
A felicidade algo exterior razo,

Stuart Mill (utilitarista)


O valor moral das aes est nas suas

subjetiva;

consequncias

A ao moral tem por base a boa

prticos;

vontade;

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Bem

aquilo

nos

que

seus

trouxer

efeitos

mais

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S as aes por dever tm valor moral;

felicidade global;

As aes por dever impem-se-nos pelo

O utilitarismo adota um relativismo

imperativo categrico;

tico face perca de critrios absolutos

O imperativo categrico, ao impor leis

e universais;

universais, constitui o fundamento da

autonomia humana;

tecnicizao da produo e da sociedade

O agir moral autnomo confere-nos

ps moderna.

utilitarismo

um

reflexo

da

dignidade.
II.A ao humana e os valores

3. Dimenses da ao humana e dos valores


3.1. A dimenso tico-politica Anlise e compreenso da experincia vivencial
3.1.4. tica, direito e politica liberdade e justia social; igualdade e diferenas;
justia e equidade
O que legitima a autoridade do estado Respostas de Aristteles e de Locke
A justificao aristotlica do estado
Uma das respostas mais antigas para este problema foi apresentada por Aristteles
(384-322 a. C.) num livro intitulado Poltica. Neste livro, Aristteles estuda os
fundamentos e a organizao da cidade (polis, em grego, que deu origem ao termo
poltica). Naquele tempo, as principais cidades gregas eram estados independentes
tinham os seus prprios governos e exrcitos, alm de leis e tribunais prprios. Por isso
lhes chamamos cidades-estado.
Assim, ao falar da origem da cidade, Aristteles est a falar da origem do estado.
Aristteles defende que a cidade-estado existe por natureza. Os seres humanos sempre
procuraram viver sob um estado porque a vida fora do estado simplesmente

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impensvel. Viver numa sociedade governada pelo poder poltico faz parte da natureza
humana. Quem conseguir viver margem da cidade-estado no um ser humano:
uma besta ou um deus, diz Aristteles. Por isso se diz que a sua teoria da origem e
justificao do estado naturalista.
O argumento central de Aristteles o seguinte:
Faz parte da natureza dos seres humanos desenvolver as suas faculdades.
Essas faculdades s podero ser plenamente desenvolvidas vivendo no seio de uma
comunidade (cidade-estado).
Logo, faz parte da natureza humana viver na cidade-estado.
Fora da cidade-estado seramos, pois, incapazes de desenvolver a nossa natureza. Isso
torna-se claro, pensa Aristteles, quando verificamos que os seres humanos no se
limitaram a formar pares de macho e fmea para procriar, ao contrrio dos outros
animais.
Constituram tambm comunidades de famlias (as aldeias) e estabeleceram a diviso
entre governantes e sbditos, com vista autopreservao. Mas a comunidade mais
completa, que contm todas as outras, a cidade-estado. Esta autossuficiente e no
existe apenas para preservar a vida, mas sobretudo para assegurar a vida boa, que o
desejo de todos os seres racionais. por isso que a cidade-estado a comunidade mais
perfeita e todas as outras comunidades de seres humanos tm tendncia para se
tornarem estados.
Ou seja, a finalidade de todas as comunidades tornarem-se estados.
Este argumento relaciona-se com uma ideia muito importante para Aristteles: que a
natureza de uma coisa a sua finalidade. Assim, a finalidade dos seres humanos viver
na cidade estado porque ao estudarmos a origem destas verificamos que h um impulso
natural dos seres humanos para passar da vida em famlia para a vida em pequenas
comunidades de lares, e destas para a comunidade mais alargada e autossuficiente da
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cidade-estado. Da Aristteles afirmar que o homem , por natureza, um animal


poltico.
Outra ideia importante para Aristteles que o todo anterior parte, no sentido em
que fora do todo orgnico a que pertence, a parte no seria o que . O que o leva a dizer
que a cidade estado por natureza anterior ao indivduo, pois no h indivduos auto-suficientes e, portanto, nem sequer existiriam fora dela. Tal como uma mo no
funciona separada do resto do corpo, tambm no h realmente seres humanos isolados
da comunidade.
Algum que viva fora da sociedade sem estado no chega a ser um ser humano
( uma besta) ou mais do que um ser humano ( um deus).
Assim, submetemo-nos autoridade do estado com a mesma naturalidade que nos
tornamos adultos. Isto equivale a dizer que o estado se justifica por si. Da que, para
Aristteles, o mais importante seja saber que tipo de governo da cidade-estado melhor
para garantir a vida boa.
Crticas ao naturalismo aristotlico
A principal crtica ao naturalismo que a noo aristotlica de natureza
incoerente e enganadora. Aristteles encara a natureza das coisas como uma espcie de
princpio interno de movimento ou repouso que se encontra nelas. Neste sentido, a
natureza da cidade-estado seria comparvel natureza das plantas e de outros
organismos vivos, que se desenvolvem a partir do embrio at atingirem a maturidade.
Este desenvolvimento meramente biolgico, sem qualquer interveno da
racionalidade.
Contudo, a finalidade da vida na cidade permitir uma vida boa. Mas o desejo de ter
uma vida boa um desejo racional, na medida em que uma aspirao de seres
racionais como ns at porque no se verifica nos outros animais. Assim, este desejo

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fruto da deliberao racional dos seres humanos e no simplesmente de um impulso


biolgico ou natural.
A justificao contratualista de Locke
Uma justificao do estado bastante mais influente do que a de Aristteles dada por
John Locke (1632-1704). Este filsofo defende que o estado tem origem numa espcie
de contrato social em que as pessoas aceitam livremente submeter-se autoridade de
um governo civil. Locke considera que esse contrato d origem transio do estado de
natureza para a sociedade civil. Por isso se diz que a teoria da justificao do estado de
Locke contratualista.
Mas o que levou as pessoas a celebrar entre si esse contrato? Vejamos, em primeiro
lugar, como eram as coisas antes do contrato, isto , como eram as coisas antes de haver
estado quando ningum detinha o poder poltico e no havia governo nem tribunais
nem polcias.
A lei natural e o estado de natureza
No estado de natureza as pessoas viviam, segundo Locke, em perfeita liberdade: cada
um era senhor absoluto da sua pessoa e bens, no tendo de prestar contas nem
depender da vontade de seja quem for. As pessoas viviam tambm num estado de
completa igualdade, no havendo qualquer tipo de hierarquia social ou outra. Alm
disso, viviam segundo a lei natural, a qual dispe que ningum infrinja os direitos de
outrem e que as pessoas no se ofendam mutuamente.
Locke defendia que esta lei natural se descobre usando a razo natural, pelo que
comum a todas as pessoas e independente de quaisquer convenes humanas. Deste
modo, Locke distinguia a lei natural das chamadas leis positivas da sociedade civil.
As leis positivas so leis que resultam das convenes humanas; so as leis que
realmente existem nas sociedades organizadas em estados.

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Enquanto no estado de natureza as pessoas nada tm acima de si a no ser a lei natural,


na sociedade civil as pessoas consentem em submeter-se autoridade de um governo. A
nica lei que vigora no estado de natureza , pois, a lei natural. Locke distingue a lei
natural da lei positiva, mas tambm da lei divina:

Locke no encara a lei natural como uma lei cientfica que descreve o funcionamento
efetivo da natureza. Locke defende que a lei natural normativa: determina como as
pessoas racionais devem agir e no como de facto agem. Por outro lado, a lei natural e a
lei divina, apesar de no serem a mesma coisa, no podem ser incompatveis, pois Deus
a origem de ambas.
Dado que no estado de natureza as pessoas vivem de acordo com a lei natural, tm os
direitos decorrentes da aplicao dessa lei. Assim:
1. Todas as pessoas so iguais, pois tm exatamente o mesmo conjunto de direitos
naturais;

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2. Todas as pessoas tm o direito de ajuizar por si que aes esto ou no de acordo com
a lei natural, pois ningum tem acesso privilegiado lei natural nem autoridade especial
para julgar pelos outros;
3. Todas as pessoas tm individualmente o direito de se defender usando a fora, se
necessrio daqueles que tentarem interferir nos seus direitos e violar a lei natural, pois
esta existiria em vo se ningum a fizesse cumprir;
4. Todas as pessoas tm o direito de decidir a pena apropriada para aqueles que violam a
lei natural, assim como direito de aplicar essa pena, dado que num estado de perfeita
igualdade a legitimidade para faz-lo rigorosamente a mesma para todos.
O estado de natureza no s diferente da sociedade civil como, segundo Locke, do
estado de guerra, pois neste no h lei que vigore e as pessoas no tm direitos.
Locke caracteriza o estado de natureza como uma situao de abundncia de recursos e
em que cada pessoa livre de se apropriar das terras e bens disponveis, atravs do seu
trabalho e esforo. Sendo assim, que razes teriam as pessoas para abandonar o estado
de natureza, aceitando limitar a sua liberdade a favor de um governo ao qual tm de se
submeter?
O contrato social e a origem do governo
Locke pensa que qualquer poder exercido sobre as pessoas excetuando os casos de
autodefesa ou de execuo da lei natural s legtimo se tiver o seu consentimento.
Nem outra coisa seria de esperar entre pessoas iguais e com os mesmos direitos
naturais.
Assim, a existncia de um poder poltico s pode ter tido origem num acordo, ou
contrato, entre pessoas livres que decidem unir-se para constituir a sociedade civil. E
esse acordo s faz sentido se aqueles que o aceitam virem alguma vantagem nisso.

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Apesar de parecer que Locke caracteriza o estado de natureza como um estado quase
perfeito, no deixa de reconhecer alguns inconvenientes que, mais cedo ou mais tarde,
iriam tornar a vida demasiado instvel e insegura. Isto porque h sempre quem, movido
pelo interesse, pela ganncia ou pela ignorncia, se recuse a observar a lei natural,
ameaando constantemente os direitos das pessoas e a propriedade alheia. Locke d o
nome genrico de propriedade no apenas aos bens materiais das pessoas, mas a tudo
o que lhes pertence, incluindo as suas vidas e liberdades.
Assim, parece justificar-se o abandono do estado de natureza em troca da proteo e
estabilidade que s o governo pode garantir. Locke torna esta ideia mais precisa
indicando trs coisas importantes que faltam no estado de natureza e que o poder
poltico est em condies de garantir:
1. Falta uma lei estabelecida, conhecida e aceite por consentimento, que sirva de padro
comum para decidir os desacordos sobre aspetos particulares de aplicao da lei natural.
Isto porque, apesar de a lei natural ser clara, as pessoas podem compreend-la mal e
divergir quando se trata da sua aplicao a casos concretos.
2. Falta um juiz imparcial com autoridade para decidir segundo a lei, evitando que haja
juzes em causa prpria. Isto porque quando as pessoas julgam em causa prpria tm
tendncia para ser parciais e injustas.
3. Falta um poder suficientemente forte para executar a lei e fazer cumprir as sentenas
justas, evitando que aqueles que so fisicamente mais fracos ou em menor nmero
sejam injustamente submetidos pelos mais fortes ou em maior nmero.
para fazer frente a estas dificuldades que as pessoas decidem abrir mo dos
privilgios do estado de natureza, cedendo o poder de executar a lei queles que forem
escolhidos segundo as regras da comunidade. E ainda que se possa dizer que ningum
nos perguntou expressamente se aceitamos viver numa sociedade civil, Locke defende
que, a partir do momento em que usufrumos das suas vantagens, estamos a dar o nosso
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consentimento tcito. Caso contrrio, teramos de recusar os benefcios do estado e de


viver margem da sociedade.

Crticas ao contratualismo de Locke


Tm sido feitas vrias crticas ao contratualismo de Locke. Vamos estudar
brevemente algumas das mais importantes.
O consentimento tcito uma fico
Quando Locke fala do contrato social no est a pensar num procedimento formal,
como quando se assina um documento ou se faz um juramento pblico. O contrato a que
se refere revela-se no consentimento tcito das pessoas que, ao usufrurem dos
benefcios do estado, do implicitamente o seu consentimento para que este tenha
poderes sobre elas. Por exemplo, se algum pede proteo polcia quando se sente
ameaado, est tacitamente a consentir que a polcia tenha poder sobre si tambm.
Mas h boas razes para pensar que no h efetivamente qualquer consentimento
tcito das pessoas. Mesmo que tivesse havido inicialmente um acordo original baseado
no consentimento tcito das pessoas dessa altura, isso no inclui as geraes atuais, as
quais no tiveram qualquer palavra a dizer sobre isso. H at pessoas que, apesar de
estarem sujeitas a um dado governo, o combatem e o consideram ilegtimo, pelo que tal
governo no tem seguramente o seu consentimento tcito.
Alm disso, incoerente pensar que podemos consentir em algo sem que o nosso
consentimento seja livre e intencional. Mas para que seja intencional, uma pessoa tem
de ter conscincia daquilo a que est implicitamente a dar o seu acordo. Todavia, parece
claro que muitas pessoas no tm conscincia de terem dado qualquer acordo. De modo
semelhante, h pessoas cujas condies de vida no lhes permitem optar entre aceitar a
autoridade do governo e mudar para um territrio onde essa autoridade no exista.
Assim, no chega a haver verdadeiro consentimento.
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Os contratos podem ser injustos


Outra crtica que h contratos que no so justos, pelo que nem sempre devem ser
cumpridos. Assim, o facto de o estado ter resultado de um acordo entre pessoas livres
no o torna, s por isso, legtimo.
Imagine-se que uma mulher promete viver com o amante na condio de este matar o
seu marido e que o amante concorda com isso. No por ambos terem feito um contrato
que as suas aes se tornam legtimas. Assim, o consentimento inerente a qualquer
contrato , na melhor das hipteses, condio necessria para a sua legitimidade, mas
no suficiente. Analogamente, o facto de o estado ter tido origem num contrato
celebrado entre pessoas livres tambm no suficiente para legitimar a sua autoridade.
O contrato desnecessrio
Locke pensa que, no estado de natureza, cada indivduo tem o direito de fazer
cumprir a lei natural e at de usar a fora para punir quem a violar.
Imagine-se ento que h apenas duas pessoas que vivem no estado de natureza. Se, na
opinio de uma delas, a outra violar a lei natural, no precisa do consentimento do
prevaricador para, com todo o direito, o punir. Suponha-se agora que vrias pessoas
decidem organizar-se para tornar a aplicao da lei natural mais efetiva e que detetado
algum exterior a esse grupo que, em sua opinio, est a violar a lei natural. Mesmo que
a pessoa que viola a lei no tenha dado o seu consentimento e nem sequer pertena ao
grupo, este pode recorrer sua fora coletiva para submeter e punir o prevaricador.
Locke defende precisamente que isso seria ilegtimo, a no ser que o prevaricador
tivesse dado o seu consentimento e que, portanto, estivssemos j no no estado de
natureza mas na sociedade civil. Mas por que razo ilegtimo um grupo organizado de
pessoas impor a sua fora sem o consentimento do visado e no ilegtimo no caso de
ser uma s pessoa a faz-lo?

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Isto sugere que, alm do poder coletivo das pessoas, no necessrio qualquer
consentimento contratual daqueles a quem se aplica a fora. Nesse caso, o contrato no
desempenha qualquer papel na legitimao do uso da fora.
Em concluso:

Como possvel uma sociedade justa a resposta de Rawls


Quando discutimos certas questes relacionadas com a organizao social, muito
comum ouvir expresses como Isso injusto ou Fazer isso no seria justo. De
algum modo, todos temos uma noo do que justo e injusto, e todos queremos viver
numa sociedade justa. Mas o que realmente uma sociedade justa?
Consideremos uma sociedade em que a grande maioria das pessoas muito pobre,
mas em que existe um pequeno grupo de pessoas extremamente ricas. Ser que uma
sociedade assim pode ser justa? Porqu?
Imaginemos agora uma sociedade em que todas as pessoas usufruem da mesma
riqueza.
Uma sociedade como esta ser forosamente justa? Porqu?
Este o problema da justia social. Para responder s questes acima precisamos de
compreender o que uma sociedade justa. Muitos filsofos entendem que isso implica
identificar os princpios da justia corretos. Entre esses filsofos destaca-se John Rawls

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(1921-2002), que desenvolveu a teoria da justia como equidade. essa teoria que
vamos agora apresentar e discutir.
A posio original
Imagine-se que cada um dos membros de uma sociedade, sabendo perfeitamente qual
era o seu estatuto social e quais eram os seus talentos naturais, propunha determinados
princpios da justia. Nesse caso, o mais certo seria no se chegar a qualquer acordo. Os
mais ricos, por exemplo, tenderiam a opor-se a princpios da justia que os forassem a
pagar impostos elevados para benefcio dos mais pobres. E os mais talentosos
favoreceriam uma sociedade que premiasse os seus talentos, sem se preocuparem muito
com os que por natureza so menos talentosos. Nestas circunstncias, como poderamos
descobrir quais so os princpios da justia corretos?
Rawls sugere que, para encontrar os princpios da justia corretos, devemos fazer
uma experincia mental: temos de imaginar uma situao em que os membros de uma
sociedade sejam levados a avaliar princpios da justia sem se favorecerem
indevidamente a si prprios pelo facto de serem ricos, pobres, talentosos ou poderosos.
Ou seja, temos de imaginar que os membros de uma sociedade esto a avaliar
princpios da justia numa situao que garanta a imparcialidade da sua avaliao.
Rawls designa essa situao imaginria por posio original e descreve-a na seguinte
passagem:
Parto do princpio de que as partes esto situadas ao abrigo de um vu de ignorncia.
No sabem como as vrias alternativas vo afetar a sua situao concreta e so
obrigadas a avaliar os princpios apenas com base em consideraes gerais. [] Antes
de mais, ningum conhece o seu lugar na sociedade, a sua posio de classe ou
estatuto social; tambm no conhecida a fortuna ou a distribuio de talentos
naturais ou capacidades, a inteligncia, a fora, etc. Ningum conhece a sua conceo
do bem, os pormenores do seu projeto de vida ou sequer as suas caractersticas
psicolgicas especiais. [] Mais ainda, parto do princpio de que as partes no

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conhecem as circunstncias particulares da prpria sociedade. [] dado adquirido,


no entanto, que conhecem os factos gerais da sociedade humana.
John Rawls, Uma Teoria da Justia, 1971,trad. de Carlos Pinto Correia, p. 121
As partes a que Rawls se refere so pessoas singulares, e no pessoas coletivas,
como associaes ou empresas. Aquilo que as caracteriza na posio original o facto
de estarem sob um vu de ignorncia: sofreram uma espcie de amnsia que as faz
desconhecer quem so na sociedade e quais so as suas peculiaridades individuais. Por
isso, so foradas a avaliar princpios da justia com imparcialidade. Como quem est
na posio original no sabe, por exemplo, se rico ou talentoso, no vai escolher
princpios da justia que favoream indevidamente os ricos ou os talentosos.
Na posio original, as partes no sabem sequer qual o seu projeto de vida. No
sabem, portanto, o que querem fazer na vida para se sentirem realizadas. No entanto,
esto interessadas em escolher o que melhor para si. Por isso, diz-nos Rawls, tm
interesse em obter bens primrios, ou seja, coisas que sejam valiosas seja qual for o
seu projeto de vida especfico. A liberdade, as oportunidades e a riqueza destacam-se
entre os bens primrios.
Os princpios da justia
Os princpios da justia corretos so aqueles que seriam escolhidos na posio
original.
Nessa posio, os membros da sociedade, estando todos sob o mesmo vu de
ignorncia, ficam numa situao equitativa da que Rawls nos esteja a propor uma
teoria da justia como equidade. A questo que se coloca agora saber que princpios
da justia seriam escolhidos na posio original. Rawls defende que esses princpios so
os seguintes:
Primeiro princpio: cada pessoa deve ter um direito igual ao mais amplo sistema total
de liberdades bsicas iguais que seja compatvel com um sistema semelhante de
liberdade para todos.
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Segundo princpio: as desigualdades econmicas e sociais devem ser distribudas de


forma que, simultaneamente:
A. Redundem nos maiores benefcios para os menos beneficiados [];
B. Sejam a consequncia do exerccio de cargos e funes abertos a todos em
circunstncias de igualdade equitativa de oportunidades.
John Rawls, Uma Teoria da Justia, 1971, trad. de Carlos Pinto Correia, p. 239
Dado que o segundo princpio se decompe em dois princpios distintos, a teoria da
justia de Rawls oferece-nos, na verdade, trs princpios da justia. Estes princpios no
tm a mesma importncia, pois Rawls estabelece prioridades entre eles. Apresentandoos em funo da sua prioridade, obtemos a seguinte lista:
1. Princpio da liberdade (primeiro princpio).
2. Princpio da oportunidade justa (segundo princpio B).
3. Princpio da diferena (segundo princpio A).
O princpio da liberdade tem prioridade sobre os restantes. Diz-nos que numa
sociedade justa todos os indivduos beneficiam das mesmas liberdades bsicas. Entre
estas, Rawls inclui a liberdade poltica (que se traduz no direito de votar e de concorrer
a cargos pblicos), a liberdade de expresso e de reunio, a liberdade de conscincia e
de pensamento, e ainda as liberdades da pessoa (que probem, por exemplo, a
agresso e a priso arbitrria).
O direito de possuir escravos, por exemplo, no se pode contar entre as liberdades
bsicas, j que a escravatura incompatvel com uma igual liberdade para todos.
Ao afirmar a prioridade do princpio da liberdade, Rawls defende que no se pode
violar as liberdades bsicas dos indivduos de modo a alcanar vantagens econmicas e
sociais.

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Por exemplo, no se pode suprimir a liberdade de expresso com o objetivo de obter


uma melhor distribuio da riqueza. No entanto, nenhuma das liberdades bsicas
absoluta.
Qualquer uma pode ser limitada para que assim se obtenha uma maior liberdade para
todos. Por exemplo, em algumas circunstncias pode justificar-se limitar a liberdade de
expresso proibindo, suponhamos, a difuso de ideais polticos ou religiosos
extremamente intolerantes de modo a proteger a liberdade poltica.
De acordo com o princpio da oportunidade justa, as desigualdades na distribuio
da riqueza so aceitveis apenas na medida em que resultam de uma igualdade de
oportunidades.
Se numa sociedade h grandes desigualdades que se devem, por exemplo, ao facto de
os mais pobres no terem acesso educao, ento essa sociedade no justa.
Para garantir uma efetiva igualdade de oportunidades, sustenta Rawls, o governo deve
providenciar, entre outras coisas, iguais oportunidades de educao e cultura para todos.
O princpio da diferena favorece tambm uma distribuio equitativa da riqueza.
No entanto, este princpio no afirma que a riqueza deve estar distribuda to
equitativamente quanto possvel. Se as desigualdades na distribuio da riqueza
acabarem por beneficiar todos, especialmente os mais desfavorecidos, ento justificamse.
Para esclarecer o princpio da diferena, imaginemos duas sociedades: na primeira,
todos tm a mesma riqueza, mas todos so muito pobres; na segunda, h desigualdades
na distribuio da riqueza, mas essas desigualdades acabam por beneficiar todos, de tal
forma que nem mesmo os mais desfavorecidos so muito pobres. O princpio da
diferena sugere que a segunda sociedade , apesar das desigualdades que a
caracterizam, prefervel primeira. Isto porque na segunda os mais desfavorecidos
vivem melhor do que os membros da sociedade estritamente igualitria.
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Dado que o princpio da liberdade tem prioridade sobre os outros dois princpios da
justia, numa sociedade justa no se promove a igualdade de oportunidades ou a
distribuio da riqueza custa de um sacrifcio das liberdades bsicas iguais para todos.
No entanto, uma sociedade justa no se caracteriza simplesmente pela existncia de
tais liberdades individuais: tambm uma sociedade em que a riqueza est
equitativamente distribuda, j que as desigualdades socioeconmicas so aceitveis
apenas na medida em que resultam de uma efetiva igualdade de oportunidades e acabam
por beneficiar os mais desfavorecidos.
O princpio maximin
Por que razo pensa Rawls que, na posio original, as partes escolheriam os
princpios da justia por si indicados? Afinal, por que razo no escolheriam antes, por
exemplo, um princpio da justia de carter utilitarista? Se o fizessem, conceberiam uma
sociedade justa simplesmente como aquela em que h um maior total de bem-estar, sem
que interesse o modo como este se distribui pelas diversas pessoas.
Rawls sustenta que as partes prefeririam os seus princpios da justia ao utilitarismo
porque, na posio original, as escolhas devem obedecer ao princpio maximin.
Segundo este princpio de escolha, se no sabemos quais sero os resultados que cada
uma das opes que se nos colocam ter efetivamente, racional jogar pelo seguro,
fazendo a escolha como se o pior nos fosse acontecer. Assim, devemos identificar o pior
resultado possvel de cada alternativa, e depois optar pela alternativa cujo pior resultado
possvel seja melhor do que o pior resultado possvel de cada uma das restantes
alternativas. Veja-se o seguinte cenrio:

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Imaginando-nos na posio original, a coberto do vu de ignorncia, a escolha mais


racional seria optar por C. Apesar de nas opes A e B podermos vir a ser mais ricos,
seria mais seguro optar por C, caso em que o pior que nos poderia acontecer seria a
pobreza moderada.
Em suma, o princpio maximin diz-nos o seguinte:
Cada alternativa tem vrios resultados possveis, sendo uns melhores do que outros.
Entre as alternativas disponveis, deve-se escolher aquela que tenha o melhor pior
resultado possvel.
Imaginemos agora que as partes esto a escolher entre o utilitarismo e os princpios da
justia de Rawls. partida, numa sociedade em conformidade com o utilitarismo
poderiam existir grandes desigualdades na distribuio do bem-estar, j que, sob esta
teoria, a distribuio do bem-estar no intrinsecamente importante. Por exemplo, se a
existncia de alguns escravos resultasse num maior bem-estar social, existiriam
escravos numa sociedade utilitarista. Pelo contrrio, os princpios da justia de Rawls
so, como vimos, incompatveis com a existncia da escravatura.
Nestas circunstncias, uma pessoa raciocinaria do seguinte modo, se estivesse na
posio original:
Se eu escolher o utilitarismo, estarei a optar por uma sociedade na qual poderei vir a ser
um escravo. No entanto, se eu escolher os princpios da justia que Rawls prope, nada
de to mau poder acontecer-me. Mesmo que acabe por ficar na pior situao possvel,
terei garantidamente certas liberdades bsicas que me permitiro desenvolver o meu
projeto de vida, seja ele qual for. Alm disso, dificilmente serei muito pobre, j que
numa sociedade em conformidade com os princpios de Rawls as desigualdades na
distribuio da riqueza s so aceitveis se acabarem por beneficiar os mais
desfavorecidos e resultarem de uma efetiva igualdade de oportunidades. Por isso,
prefiro os princpios de Rawls ao utilitarismo.
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Sob o vu de ignorncia, o pior resultado possvel de se escolher os princpios da


justia de Rawls muito melhor do que o pior resultado possvel de se escolher um
princpio utilitarista. Por esta razo, raciocinando segundo o maximin, as partes
escolheriam os princpios de Rawls em vez do utilitarismo.
Em concluso:

Definio dos conceitos nucleares


Estado: organizao e estrutura de governo de um pas e de uma nao. Conjunto de
instituies que zelam pela administrao do poder numa dada sociedade.
Justia social: conceito tico-politico designa o objetivo genrico que as sociedades
estabelecem de atribuir a cada um o que por direito lhe pertence, traduzindo assim a
vontade da sociedade de harmonizar o bem social (justia legal) com o bem individual
(justia comutativa e distributiva), promovendo o princpio da igualdade.
Liberdade: pode ter dois sentidos:

Sentido relativo, a liberdade a capacidade humana de autodeterminao, pois a


vontade humana, embora condicionada, pode e tem de fazer opes. Refere-se
capacidade/possibilidade de agir num quadro de constrangimentos externos ou
internos.

Em sentido absoluto ou metafsico, expressa a possibilidade ideal de agir na


ausncia de qualquer coao e constrangimentos, isto , a possibilidade de fazer
o que se quer independentemente das circunstancias e das condies concretas
em que decorre a nossa integrao no mundo. Trata-se daquilo a que, numa

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linguagem mais filosfica, se designa o poder de agir independentemente de


quaisquer obstculos ou determinismos, uma conceo designada por alguns
filsofos como livre-arbitrio e que se traduz na possibilidade inerente nossa
natureza humana de poder ou no fazer alguma coisa.
Ao falar de liberdade podemos distinguir liberdade jurdico-poltica ( a
possibilidade de agir no quadro das leis estabelecidas pela sociedade que definem o
conjunto dos direitos e deveres e a responsabilidade civil) e liberdade moral
(manifesta-se na adeso a valores e implica a orientao da conduta pela razo, que
estabelece metas para a prpria existncia).
Sociedade civil: conjunto de pessoas associadas com vista a um fim comum, sinnimo
de comunidade estruturada por laos de interdependncia recproca com vista
realizao desse fim.
Equidade: A equidade uma forma de aplicar o direito, mas sendo o mais prximo
possvel do justo, do razovel. O fim do Direito a justia, alm de valores suplentes
como a liberdade e igualdade. Mas difcil definir o "justo", pois pode existir na
conceo de quem ganhou a causa e no existir na de quem perdeu. necessrio um
ideal de justia universal. Para isso existe a equidade. Ela consiste no estudo do caso em
suas peculiaridades, suas caractersticas prprias, consequentemente originando uma
deciso para aquele caso especificamente, aproximando-se ao mximo possvel do justo
para as duas partes. preciso salientar tambm, que a equidade fonte do direito. Ela
usada para no caso de existirem lacunas na lei. A partir dessa permisso, o juiz pode
utilizar a equidade em suas decises para atingir a justia. Algumas normas se ajustam
inteiramente ao caso prtico, sem a necessidade de qualquer adaptao; outras se
revelam rigorosas para o caso especfico. Nesse momento, surge o papel da equidade,
que o de adaptar a norma jurdica geral e abstrata s condies do caso concreto.
Equidade a justia do caso particular.
II.A ao humana e os valores

3. Dimenses da ao humana e dos valores


3.2. A dimenso esttica Anlise e compreenso da experincia esttica
3.2.1. A experincia e o juzo estticos

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Distino da experincia esttica dos outros tipos de experincia a resposta de


Kant e a noo de desinteresse
Uma das primeiras e mais importantes tentativas para distinguir o que do que no
esttico foi levada a cabo pelo filsofo Immanuel Kant (1724-1804) Este filsofo
comea por referir a experincia esttica para caracterizar o juzo esttico, sendo
impossvel desligar uma noo da outra. Kant defende que um juzo s esttico se for
determinado por um prazer desinteressado. Quando fala de prazer, Kant est a referir
um determinado sentimento de que temos experincia. E quando caracteriza essa
experincia como desinteressada, est a diferenci-la de outros tipos de experincia. O
facto de o juzo esttico se referir a um sentimento e no a um objeto indica-nos que se
trata de um juzo subjetivo.
Assim, Kant pensa que o juzo esttico assenta num determinado tipo de experincia,
que ele identifica como um sentimento de prazer desinteressado. Mas o que
exatamente um prazer desinteressado? Ser um prazer a que no damos importncia ou
a que no prestamos muita ateno?
Para esclarecer melhor a noo de desinteresse, Kant confronta os juzos estticos
com os juzos cognitivos (ou juzos de conhecimento).
Kant defende que os juzos cognitivos, como os expressos pelas frases A relva
verde ou Os metais dilatam quando so aquecidos, resultam da colaborao entre a
sensibilidade e o entendimento com vista ao conhecimento objetivo. A sensibilidade e
o entendimento so as nossas duas principais faculdades cognitivas. Kant defende que,
isoladamente, nenhuma dessas faculdades permite chegar ao conhecimento dos objetos.
A sensibilidade a faculdade que os nossos sentidos tm de receber impresses dos
objetos que nos rodeiam; as impresses recolhidas so as sensaes de cor, brilho,
textura, etc. Por outras palavras, a faculdade da sensibilidade aquilo a que hoje
chamamos de perceo. O entendimento a faculdade racional que organiza essas
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impresses, dando-lhes forma atravs da aplicao de conceitos. Kant defende que os


dados dos sentidos fornecidos pela sensibilidade so a matria-prima do conhecimento;
os conceitos que o entendimento aplica a essa matria so a forma do conhecimento.
Assim, o contedo da nossa experincia s pode referir-se aos objetos por meio de
conceitos. S h conhecimento quando a sensibilidade fornece os seus dados com o
propsito de lhes ser aplicado um conceito, e quando um conceito lhes efetivamente
aplicado.
Por exemplo, o juzo expresso pela frase
Os metais dilatam ao ser aquecidos depende dos dados que os nossos sentidos obtm
do exterior quando tocamos o metal e o sentimos quente, e quando olhamos para ele e
vemos que dilatou. Mas depende tambm de algo que est fora do alcance dos nossos
sentidos: a aplicao do conceito de causalidade para relacionar as sensaes de calor
com a de dilatao dos metais.
Kant defende que os juzos de gosto, como o expresso pela frase O pr do sol
belo, que so um dos tipos de juzos estticos, no se referem existncia dos objetos.
Referem-se sim ao nosso prprio estado subjetivo de prazer ou desprazer acerca do
contedo da experincia.
Kant pensa que o belo no um objeto, pelo que no pode ser referido atravs de
conceitos.
Porm, pensa que as nossas faculdades cognitivas intervm na mesma nos juzos
estticos. A diferena que essas faculdades esto agora livres de qualquer finalidade
cognitiva, dado que no o conhecimento de objetos que est em causa. Referindo-se
apenas ao nosso sentimento de prazer, as faculdades entram numa espcie de jogo
completamente livre, sem qualquer propsito ulterior. Por isso, o entendimento nunca
chega a aplicar qualquer conceito, devolvendo a matria recebida imaginao uma
faculdade intermdia entre a sensibilidade e o entendimento num processo que se
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repete continuamente. Kant pensa que este livre jogo das faculdades, decorrente da
ausncia de qualquer finalidade cognitiva ou outra, que nos coloca perante a simples
representao dos objetos, provocando em ns um sentimento de prazer contemplativo.
Este prazer desinteressado precisamente porque meramente contemplativo. Isto
significa que:

No visa satisfazer qualquer interesse prtico ou propsito ulterior.

No se funda em conceitos.

No depende sequer da existncia real do objeto representado.


Tudo o que conta a simples contemplao da representao em si e o livre
sentimento de prazer que a acompanha. Assim, dizer que algo belo dar voz a um
determinado tipo de experincia ou sentimento de prazer. Ou seja, dizer que algo belo
s dar voz a uma certa experincia e nada mais. Essa experincia no se pode
descrever, ao contrrio da experincia de ver um copo, que podemos descrever atravs
do juzo expresso pela frase Est um copo minha frente. No podemos descrever a
experincia esttica dizendo Est uma beleza minha frente porque o que est
minha frente o objeto que provoca em mim a experincia esttica, e no a experincia
esttica. Ao contrrio do prazer do belo, Kant defende que os outros dois tipos de
prazeres que refere o prazer do bom e o prazer do agradvel no so independentes
de qualquer interesse.

O prazer do bom o prazer que se obtm da satisfao de uma necessidade prtica,


como o prazer que se tem ao resolver um problema domstico.

O prazer do agradvel o que se obtm da satisfao de algum desejo pessoal ou


inclinao natural dos nossos sentidos, como o prazer que temos ao comer doces.

Portanto, ambos so determinados por algum tipo de interesse Kant pensa que a
satisfao de desejos a satisfao de um interesse pessoal.

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Em suma, Kant pensa que a experincia esttica desinteressada, mas no por no ser
importante ou valiosa; desinteressada porque completamente livre e independente
dos nossos desejos, necessidades ou conhecimentos. Tudo o que conta para a
experincia esttica a prpria experincia.
Em concluso:

A justificao do juzo esttico: subjetivismo esttico e objetivismo esttico


O principal problema que os filsofos costumam discutir acerca deste tipo de juzos
a sua justificao. Quando uma pessoa afirma que algo belo, que tipo de razes
apresenta para justificar o que afirma? O que nos faz dizer que algo belo? Na verdade,
este no um problema que ocupe apenas os filsofos. Ouvimos muitas vezes uma
pessoa dizer que algo belo (ou feio) e, surpreendidos, queremos saber porqu.
Por que razo algumas pessoas acham bonitas as canes do Tony Carreira e outras
no? Ser que as pessoas esto todas a falar da mesma coisa quando usam a palavra
belo? Ser que todas as opinies acerca do que ou no belo so corretas? Ser que
quando afirmamos que uma pintura bela estamos a referir algo que est realmente na
pintura, ou apenas uma maneira de manifestar os nossos sentimentos ao ver a pintura?

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Entre os filsofos, este conhecido como o problema da justificao do juzo


esttico.
Em termos mais populares costuma-se formular atravs da seguinte pergunta:
A beleza est nas coisas ou nos olhos de quem a v?
H duas teorias rivais que procuram responder a esse problema: o subjetivismo
esttico e o objetivismo esttico.
Subjetivismo esttico
Para simplificar, pensemos apenas no caso particular do chamado juzo do belo
um dos vrios juzos estticos. O subjetivismo esttico a perspetiva acerca da
justificao do juzo esttico que defende basicamente que a beleza resulta do que
sentimos quando observamos as coisas; ou seja, a beleza est nos olhos de quem a v.

O subjetivismo esttico defende que os objetos so belos em virtude do que


sentimos quando os percecionamos.

Percecionar um objeto obter informao dele atravs dos sentidos.

Achar algo bonito ou feio , segundo esta teoria, uma questo de gostos ou
preferncias pessoais. Um dos heternimos de Fernando Pessoa resume bem esta
perspetiva nos seguintes versos:
A beleza o nome de qualquer coisa que no existe,
Que eu dou s coisas em troca do agrado que elas me do.
Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos, XXVI, 1912
Assim, os objetos so belos ou feios de acordo com os sentimentos de prazer ou
desprazer que fazem surgir em ns. Os juzos estticos no so, neste caso, objetivos.
Ou seja, o que est em causa no so as propriedades dos objetos, mas antes os
sentimentos que tais objetos despertam em ns. Por isso se diz que so juzos de gosto.

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Dizer O Guardador de Rebanhos belo , para o subjetivista, o mesmo que dizer


Gosto dO Guardador de Rebanhos. De maneira que se algum perguntar a um
subjetivista que razes tem para dizer que O Guardador de Rebanhos belo, ele dir
que sente prazer ao l-lo. Ou, mais simplesmente, que gosta desse poema.
Subjetivismo radical
Uma forma extrema de subjetivismo defende que, na medida em que traduzem aquilo
que cada um sente, os gostos no se discutem. Mas esta forma de subjetivismo levanta
quatro problemas bvios. Vejamos quais.
1. Contraria o modo como falamos. De acordo com o subjetivismo radical, as frases
X belo e X no belo s seriam a negao uma da outra se fossem proferidas
pela mesma pessoa. Proferidas por pessoas diferentes digamos, pela Rita e pelo
Carlos, respetivamente apenas querem dizer A Rita gosta de X e O Carlos no
gosta de X; assim, ambas podem ser verdadeiras, no havendo qualquer contradio.
Ora, isto no est de acordo com o modo como falamos.
2. Torna impossvel a comunicao. Se belo for simplesmente aquilo que cada um
acha, ento quando utilizamos a palavra belo numa conversa no chegamos
verdadeiramente a comunicar: a palavra tem um significado diferente para cada pessoa,
o que torna impossvel a comunicao.
3. Torna os juzos estticos autobiogrficos. No seguimento da objeo anterior, se o
subjetivista radical tiver razo, os juzos estticos so autobiogrficos: quando uma
pessoa diz X belo no est, em rigor, a falar de X, mas de si prpria e das suas
preferncias.
Porm, no assim que as coisas so geralmente entendidas.
4. Torna irracional a discusso esttica. Esta forma de subjetivismo parece esvaziar
grande parte das discusses estticas, admitindo implicitamente que qualquer debate
sobre o valor esttico das obras de arte irracional. Mas tanto as conversas mais banais
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como a autoridade que reconhecemos aos crticos de arte e especialistas parecem


contradizer tal coisa.
Objetivismo esttico
A teoria oposta ao subjetivismo esttico o objetivismo. Chama-se por vezes
realismo esttico a esta teoria, mas esta designao enganadora.
O objetivismo esttico defende que os objetos so belos em virtude das suas
propriedades intrnsecas e independentemente do que sentimos quando os observamos.
As propriedades intrnsecas dos objetos so independentes dos sentimentos ou das
reaes de quem os observa.
Por exemplo, o tamanho uma propriedade intrnseca de um morango: o tamanho do
morango independente do modo como o vemos ou saboreamos. Mas o sabor dos
morangos no depende apenas dos morangos: depende tambm de quem os come.
Pessoas com palatos diferentes podem ter diferentes reaes aos morangos, e h at
pessoas que so alrgicas aos morangos.
Os objetivistas no negam que temos certos sentimentos estticos perante a arte; nem
afirmam que tais sentimentos esto nas prprias obras de arte, o que seria absurdo.
Mas defendem que os nossos sentimentos estticos so causados por certas
caractersticas intrnsecas dos objetos.
Assim, o objetivista defende que quando dizemos que um objeto belo, o que
sentimos no determinante. Quer o objeto nos agrade quer no, as propriedades que
esto na base da beleza existem mesmo nele; ns que podemos ou no ser sensveis a
tais propriedades. A beleza no depende, portanto, dos gostos pessoais: um objeto no
bonito ou feio consoante nos agrada ou no. Ainda que as coisas belas nos agradem, no
por isso que so belas. Acontece apenas que h certas caractersticas intrnsecas a
esses objetos que provocam em ns uma sensao agradvel. Em termos populares, isto
equivale a dizer que a beleza est nas coisas e no nos olhos de quem as v.
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O objetivista argumenta que se a beleza (e a fealdade) dependesse apenas dos nossos


gostos pessoais e no das caractersticas dos objetos, seria muito estranho e inexplicvel
haver objetos que quase todas as pessoas acham bonitos (ou feios). Haver algum que
ponha em causa a beleza do Ave Maria, de Schubert?
O objetivista admite que ajuizar um objeto como belo no implica que o objeto seja
considerado belo por todas as pessoas que o avaliem esteticamente; pode haver quem
no o considere belo. Mas isso, pensa o objetivista, apenas significa que essas pessoas
fazem juzos errados porque partem de uma deficiente perceo do objeto. Tambm
um daltnico faz juzos errados se disser que azul aquilo que as outras pessoas dizem
ser verde; o problema est apenas nele e no nos outros, pois algo se passa que o impede
de percecionar corretamente as cores.
Alm disso, o objetivista argumenta que falacioso concluir que as coisas no so em
si belas s porque no h acordo entre as pessoas que as observam. como dizer que no
tempo de Galileu o movimento da Terra era subjetivo s porque as pessoas discordavam
acerca disso. Tem, pois, de haver critrios objetivos que permitam justificar a verdade
dos juzos estticos. Afinal de contas, at mesmo entre os cientistas h desacordo. E no
por isso que deixa de haver critrios objetivos na cincia.
A influncia do objetivismo esttico
O facto de o objetivismo defender a existncia de critrios objetivos acerca dos juzos
estticos torna-o atraente, pois permite resolver muitas das discusses aparentemente
insolveis sobre a arte e a beleza. Pelo menos, permite colocar em termos mais racionais
algumas dessas discusses. Sem critrios objetivos tudo poderia ser afirmado e, nesse
caso, no valeria a pena perder tempo com discusses.
At ao sc. XVIII a maior parte dos filsofos identificavam-se naturalmente com o
objetivismo esttico. Acreditavam que havia critrios ou regras gerais acerca das
caractersticas que os objetos tinham de possuir para terem valor esttico. E at os
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artistas tinham em considerao essas regras a que se dava o nome de cnones


quando criavam as suas obras. Assim, era a prpria arte a conformar-se aos princpios
do objetivismo esttico.
No admira, pois, que o desacordo entre os crticos de arte da altura fosse bastante
reduzido. O objetivismo parecia ser um ponto de vista perfeitamente natural e bastante
razovel para a poca.
Contudo, a arte contempornea muito diferente da arte dos sculos anteriores.
Mesmo assim, o objetivismo esttico no uma doutrina historicamente ultrapassada.
Continua ainda a ser defendido por filsofos contemporneos, como Monroe Beardsley
(1915-1985).
Em concluso:

Definio dos conceitos nucleares


Esttica: disciplina filosfica que procura descobrir os princpios e os critrios gerais
dos chamados objetos estticos (o que belo, o que uma obra de arte, etc.). O termo
esttica procede do grego asthesis, que significava sensao, remetendo, por isso, para
uma experincia sensvel. O objeto torna-se esttico quando capaz de despertar e
estimular a nossa sensibilidade e provocar uma emoo. Assim, contemplar uma

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paisagem, ouvir musica, saborear uma boa refeio ou apreciar um bailado podem ser
experincias estticas.
Experincia esttica: sendo a atitude esttica uma atitude valorativa, a experincia
esttica consiste na capacidade, prpria de qualquer ser humano dotado de uma
sensibilidade, de reagir de um certo modo perante determinadas formas, naturais ou
artsticas (uma paisagem, a leitura de uma poesia, a audio de uma sonata de Chopin, a
contemplao de um bailado, etc.). A dimenso sensorial e emocional desta experincia
sobrepe-se aos elementos cognitivos e racionais, o que no dispensa os elementos
cognitivos, embora haja quem considere desnecessria a sua presena neste tipo de
experincias. Na verdade, se para apreciar uma boa refeio no se exige nenhuma
interveno do intelecto, j para apreciar um quadro de Van Gogh, um poema, ou uma
cantata de Bach, exige-se um certo tipo de conhecimentos e uma compreenso do
significado que se experimenta. Por isso, a experincia esttica no se reduz a uma
vivncia meramente sensorial e emocional. A experincia esttica pode ser
desencadeada pela contemplao de uma obra de arte ou da prpria Natureza, da sua
beleza, do seu poder, grandiosidade e magnificncia, e pode ser experimentada pelo
artista enquanto criador de uma obra de arte. A experincia esttica a que podemos
aceder sempre pessoal e subjetiva, uma verdadeira criao, realizada tanto pelo artista
como por quem contempla.
Juzo esttico: so os que expresso uma apreciao pessoal e subjetiva acerca de um
objeto, considerando o sentimento de prazer e de agrado que ele nos proporciona.
Belo: que agrada aos olhos, que desperta agradavelmente os sentidos; que apraz
inteligncia e ao corao como obra de arte;
Gosto: sentido que nos permite distinguir o sabor das coisas; paladar, sabor;
II.A ao humana e os valores

3. Dimenses da ao humana e dos valores


3.2. A dimenso esttica Anlise e compreenso da experincia esttica
3.2.2. A criao artstica e a obra de arte
O que arte?

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Muitas pessoas que visitam museus de arte contempornea, ou que assistem a


concertos de msica experimental e a espetculos de dana moderna perguntam-se: Mas
isto arte?
Por que razo um urinol colocado num recinto de exposies pelo artista Marcel
Duchamp arte e no so arte os urinis das casas de banho da minha escola?
Este um problema filosfico, dado que no existe qualquer caracterstica emprica
que possa ser diretamente observada nos objetos de arte e que nos permita distingui-los
dos objetos que no so arte.
O que est em causa o prprio conceito de arte. Conceito que deve poder aplicar-se
a todos os objetos que geralmente so classificados como objetos de arte.
Uma dificuldade em definir arte: chamamos arte a coisas to diferentes entre si como
uma cano, um poema, um edifcio, uma escultura, um filme, um quadro, uma
fotografia, etc.
A discusso acerca da definio de arte implica ter algum conhecimento da histria
da arte, principalmente das artes moderna e contempornea.
As teorias da definio de arte so teorias descritivas e no normativas.
Uma boa maneira de testar as teorias propostas procurar contraexemplos (da a
importncia de ter conhecimentos de histria da arte).
Algumas teorias procuram dar definies explcitas de arte. Uma definio explcita
deve apresentar as condies necessrias e suficientes do conceito a definir.
Se as condies apresentadas no so necessrias, ento a definio demasiado
exclusiva, pois exclui coisas que costumam ser consideradas arte.
Se as condies no so suficientes, ento a definio demasiado inclusiva, pois
inclui coisas que no devia incluir.
As teorias da definio de arte que vamos discutir so:

Teoria da imitao
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Teoria da expresso

Teoria formalista

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Teoria da imitao: x um objeto de arte s se uma imitao


Esta no , em bom rigor, uma verdadeira definio explcita, dado que s apresenta
condies necessrias. Se fosse uma definio explcita, em vez da expresso s se
deveria estar se, e s se.
esta expresso que indica que as condies so simultaneamente necessrias e
suficientes.
O que se quer dizer , ento, o seguinte: todas as obras de arte imitam algo, embora
no seja suficiente uma coisa imitar para ser arte.
Exemplos de comentrios (em tom depreciativo) de quem encara a arte do ponto de
vista desta teoria:

No vejo nada neste quadro a no ser riscos e manchas de tinta.

Qual a histria do filme, afinal?

Aquela dana representa o qu?

No consigo ver qualquer significado nesta escultura.


Mas, ao contrrio do que a definio indica, a imitao nem sequer uma condio
necessria. H inmeros casos de obras que todos consideramos arte e no imitam nada.
Houve tempos em que os artistas procuravam sempre imitar algo com as suas obras,
pelo que esta teoria parecia plausvel aos filsofos que apenas encontravam sua volta
obras de arte que imitavam. Foi assim com Plato e Aristteles.
As palavras de um romance, os sons de uma sinfonia e muita da arte abstrata no
imitam nada que se reconhea. Algumas obras podem at evocar certas coisas ou ideias,
mas evocar algo no o mesmo que imitar algo.

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Alguns defensores desta teoria procuraram melhor-la e, em vez de afirmarem que a


arte imita, afirmam que a arte representa. Assim, as pinturas abstratas podem no
imitar nada, mas seguramente representam alguma coisa.
Mesmo assim h contraexemplos: em muitas obras musicais e de arquitetura nada
est a ser representado.
Mas a definio pode ainda ser melhorada: pode-se dizer que algo representa desde
que tenha um assunto, ou refira alguma coisa.
A definio seria ento: x um objeto de arte s se x tem um assunto acerca do
qual diz algo.
A ideia a de que se uma obra pode ser interpretada, ento porque acerca de algo
(tem contedo semntico).
Esta reformulao parece finalmente ser capaz de se aplicar a todas as obras de arte.
Mas ser que todas as obras de arte tm mesmo um assunto?
Tudo indica que isso no verdade: h obras de msica repetitiva em que o que
interessa o mero efeito sonoro, assim como pinturas em que nada mais conta a no ser
o efeito estritamente visual que provocam. No requerem qualquer interpretao.
Concluso: esta teoria parece deixar de fora obras que so consideradas arte, embora
seja verdade que muita da arte imita ou representa algo. Contudo, isso ainda
insatisfatrio.
Teoria da expresso: x arte s se consegue fazer o pblico sentir os mesmos
sentimentos que o artista, de facto, sentiu.

Ao contrrio da teoria da imitao, esta teoria no encara a arte como uma espcie de
espelho colocado diante da natureza, no qual ela se reflete. A teoria da expresso
(fortemente influenciada pelo romantismo) encara a arte como um veculo para exprimir
emoes.

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O que conta no tanto a realidade exterior, mas os sentimentos que se encontram no


interior do artista. Era isso que interessava aos artistas romnticos. Da que a ideia de
imitao j no servisse para explicar o que se passava na arte.
Exemplos de comentrios de quem encara a arte do ponto de vista desta teoria:

" Isto no arte porque no consegue emocionar ningum.

" Uma coisa s arte se mexe com as pessoas.

" Essa obra no arte, pois falta-lhe autenticidade.

" Trata-se de uma obra sem chama, sem qualquer interesse artstico.
H diferentes verses da teoria da expresso, Tolstoi defende uma delas. Para ele a
arte uma forma de comunicao. Mas a diferena entre, por exemplo, uma notcia de
jornal e a arte que esta expressa sentimentos e no outra coisa qualquer.
A arte um meio de unir as pessoas atravs desses sentimentos. Por isso h trs
condies sem as quais uma obra no pode ser arte:
1. o artista
2. o pblico
3. um mesmo sentimento partilhado por ambos
Isto significa que:
a) no h arte se o artista no sente qualquer emoo
b) no h arte se o pblico no sente qualquer emoo
c) no h arte se as emoes do artista e do pblico no so as mesmas
A teoria implica tambm a autenticidade das emoes do artista, pois se assim no
for, no consegue partilhar as mesmas emoes com o pblico.
Mas no suficiente transmitir sentimentos; preciso que os mesmos sentimentos
passem do artista para o pblico de forma intencional e que tais sentimentos no sejam
sentimentos generalizados, mas sentimentos resultantes de experincias individuais.

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Objeo: podemos transmitir intencionalmente sentimentos individualizados e isso


no ser arte. Exemplo: contas tua me a tristeza que sentes por o teu namorado ter
cortado contigo, esperando que ela sinta a tua tristeza. Transmites intencionalmente um
sentimento individualizado, mas ao faz-lo no ests a criar uma obra de arte.
Resposta: ao transmitir intencionalmente sentimentos individualizados, o artista
tambm trabalha, examina e explora os sentimentos de modo a encontrar a forma mais
adequada de os transmitir.
O artista no se limita a apresentar os sentimentos tal como surgem: o seu trabalho
clarificar sentimentos. Por isso se diz que a arte nos ensina algo.
A ideia a de que se a cincia nos d a conhecer o mundo exterior, a arte d-nos a
conhecer o mundo interior, descobrindo o mundo das emoes e das suas variaes. Por
isso atribumos valor arte.
Objeo: se a intencionalidade na transmisso de sentimentos uma condio
necessria (embora no suficiente) para a arte, ento h obras que so consideradas arte
e no transmitem intencionalmente sentimentos. Exemplo: as Cartas Portuguesas de
Mariana Alcoforado nem sequer se destinavam a ser publicadas.
Outra objeo: outra das condies necessrias o artista e o pblico partilharem os
mesmos sentimentos. Mas quando um ator de cinema est prestes a ser morto e isso
transmite angstia ao espectador, ser que ator e espectador experimentam efetivamente
o mesmo sentimento?
Outra objeo: a autenticidade dos sentimentos do artista tambm uma condio
necessria para a arte. Mas h obras de arte que provocam sentimentos no espectador
que o artista no teve realmente. O cinema est cheio de exemplos desses.
Outra objeo: clarificar emoes uma condio necessria para a arte, diz o
expressivista, mas muita arte no clarifica emoes, limitando-se a apresent-las em
estado bruto. Exemplos: msica punk, filmes como Feios, Porcos e Maus.
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Ser que a arte exprime, ao menos, sentimentos? Isso muito duvidoso, por exemplo,
no caso da msica chamada aleatria e em muita da chamada arte minimalista.
Concluso: a teoria da expresso no suficientemente abrangente para incluir obras
que so geralmente consideradas arte. Porm, muita arte exprime sentimentos.
Teoria formalista: x arte se, e s se, tem forma significante.
A exploso da arte moderna, nomeadamente da arte abstrata, veio mostrar que a
diversidade de obras de arte maior do que as teorias da imitao e da expresso
supunham. A teoria formalista tem em vista dar uma definio de arte que no exclua as
obras de arte moderna.
O filsofo e crtico de arte Clive Bell defendeu que as obras de arte so aquelas que
provocam em ns um determinado tipo de experincia pessoal e peculiar, a que d o
nome de emoo esttica.
Em relao emoo esttica h 3 aspetos a esclarecer:
1. Aos objetos que provocam emoes estticas chamamos obras de arte.
2. Diferentes obras de arte podem provocar diferentes emoes, mas essas emoes tm
de ser do mesmo tipo.
3. A emoo esttica apenas o ponto de partida para compreender a arte.
A emoo esttica o ponto de partida porque uma emoo que s temos quando
estamos perante obras de arte.
Mas as obras de arte no provocariam emoes estticas em ns se no houvesse
nelas qualquer caracterstica capaz de despertar tais emoes.
A caracterstica que existe em todas as obras de arte, e s nelas, capaz de provocar
emoes estticas a forma significante.
Exemplos de comentrios caractersticos de quem encara a arte de um ponto de vista
formalista:

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Este quadro revela uma grande unidade e sentido de equilbrio.

um romance bem estruturado, com um fio condutor onde se encaixam


perfeitamente as personagens.

uma dana com grande dinamismo e complexidade, mas consistente.

Esta uma cano com uma melodia simples, sbria e elegante.

Identificar a forma significante exige sensibilidade, mas tambm inteligncia. A


forma significante uma caracterstica essencial e individuadora da arte.
A forma significante na pintura reside numa certa combinao de linhas e cores; na
msica reside numa certa organizao temporal de sons.
Objeo: h objetos que tm forma e a sua forma significante mas no so
considerados arte. Exemplo: as placas de sinalizao de trnsito.
Resposta: Mas a finalidade das placas de sinalizao de trnsito informar-nos de
algo e no exibir a sua forma, como acontece com as obras de arte. As obras de arte so
concebidas apenas para exibir a sua forma.
Para o formalista, mesmo que uma pintura represente algo, tal facto esteticamente
irrelevante.
Uma das vantagens desta teoria que pode incluir todo o tipo de obras de arte. Desde
que provoque emoes estticas, qualquer objeto arte. O carter restritivo das teorias
anteriores ultrapassado.
Dificuldade: mas em que consiste exatamente a forma significante?
Quando que uma forma significante e quando no significante?
Resposta: qualquer pessoa sensvel percebe quando uma obra tem forma significante,
pois sente uma emoo esttica perante elas.
Objeo: dizer que as pessoas que no tm emoes estticas perante certas obras de
arte so insensveis forma significante apenas uma maneira de evitar dificuldades.

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Por exemplo, que diferena existe entre a Caixa de Brillo de Andy Warhol e as caixas
vulgares que ela imita rigorosamente?
Outra objeo: a forma significante na pintura diferente da forma significante na
escultura, na literatura, no cinema, na msica, no teatro, etc. Ora, isso faz com que a
forma significante seja formada por um conjunto de caractersticas to vasto que acaba
por se tornar um conceito vago (dificilmente se imagina o que um contraexemplo).
O formalista pode ainda dizer que a forma significante a propriedade que provoca
em ns emoes estticas. Mas isso levanta o problema de saber o que so emoes
estticas. S que no se pode agora dizer que uma emoo esttica aquele tipo de
experincia provocada pela forma significante. Esta resposta insatisfatria, pois
circular.
Contudo, a forma um dos aspetos importantes de muita da arte moderna.
Definio dos conceitos nucleares
Arte: a arte uma estilizao do real, uma transfigurao enraizada na realidade e que
produz outra realidade, u processo duplamente criador (do artista/criador que produz a
obra e do espectador que a contempla e lhe recria um sentido). A arte pode ser encarada
e abordada como produo humana, autntica e original, reflexo da personalidade do
artista (abordagem psicolgica); como reflexo da sociedade, traduzindo, de certo modo,
a identidade cultural de um povo e de uma cultura (abordagem sociolgica); como
expresso de novos modos de ver e de dar sentido realidade, esclarecendo e
enriquecendo a nossa experincia na medida em que contribui para a desocultao e
revelao do ser das coisas (abordagem ontolgica); como produto da atividade humana
ao qual se confere, para alm de valor esttico, valor econmico e se trata como uma
mercadoria numa sociedade em que a industrializao e o consumo se estenderam
tambm a cultura e, portanto, ao mundo da arte; como uma forma de comunicao ou
como uma linguagem. H uma imensa variedade de obras de arte de diferentes tipos: a
pintura, a escultura, a arquitetura, a literatura, a musica, a dana, a fotografia e o
cinema.

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II.A ao humana e os valores

3. Dimenses da ao humana e dos valores


3.2. A dimenso esttica Anlise e compreenso da experincia esttica
3.2.3. A Arte produo e consumo, comunicao e conhecimento
O que torna a arte valiosa?
um facto que as pessoas de todos os pases e pocas do valor arte. O que tem a
arte de especial, que leva as pessoas a atribuir-lhe tanta importncia?
O problema do valor da arte um problema filosfico, pois no somos capazes de
identificar uma qualquer caracterstica emprica nas obras de arte que lhes confira valor.
O problema do valor da arte no deve ser confundido com o problema da avaliao
das obras de arte.
Os filsofos divergem em relao quilo que torna uma obra de arte valiosa. H dois
tipos de teorias filosficas acerca do valor da arte: esteticismo e funcionalismo.
Esteticismo (ou teoria da arte pela arte): a arte tem valor em si mesma,
independentemente de quaisquer critrios exteriores.
A arte intil e no tem qualquer finalidade ou funo, o que, segundo Oscar Wilde,
a coloca acima de qualquer outra atividade.
Est acima da tica, da poltica, da religio, etc.
certo que muitas obras de arte foram criadas com alguma finalidade (finalidades
religiosas, polticas, etc.), mas no isso que as torna valiosas. Razo pela qual at um
ateu pode valorizar obras de arte religiosa.
Objeo: uma teoria elitista, pois encara a arte como uma espcie de luxo a que s
algumas pessoas se podem dedicar. Mas a arte valorizada por quase todas as pessoas.

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Outra objeo: conduz ao decadentismo, pois a arte torna irrelevantes quaisquer


outros valores, como a verdade, o bem, etc.
Mas no so muitas as pessoas a dar valor arte se, por exemplo, ela for
manifestamente imoral.
A teoria de que a arte tem valor em si mesma parece insatisfatria, pois as pessoas
no do valor algo sem que haja alguma razo para isso.

H vrias teorias que defendem que a arte tem valor porque tem uma funo importante.
Os que as distingue identificarem funes diferentes para a arte. So as teorias
funcionalistas, tambm chamadas instrumentalistas.
Arte e prazer: a arte tem valor porque um meio de nos proporcionar prazer.
Hume considerava que era a sensao de agrado que as obras de arte nos do que as
torna valiosas e desperta o nosso interesse por elas.
Objeo: mas o simples agrado no pode explicar por que razo d-mos tanto valor
arte. H muitas outras coisas que nos agradam e a que no atribumos a mesma
importncia: podemos ficar deliciados com uma tablete de chocolate mas no a
comparamos com Cem Anos de Solido de Gabriel Garcia Marquez.
Resposta: o agrado, ou prazer, devem ser entendidos como divertimento. Comer
chocolate no um divertimento.
Objeo: praticar desporto um divertimento. Contudo no valorizamos o desporto e
a arte da mesma maneira.
Outra objeo: h muitas obras de arte que no proporcionam prazer; algumas
provocam at sensaes contrrias s de prazer, como sucede com os filmes de terror.
Resposta: o prazer proporcionado pelas obras de arte um prazer de tipo superior e
no meramente sensvel.
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Ainda que a arte no tenha valor por proporcionar prazer, um facto que muitas obras
de arte do prazer.
Arte e moral: a arte tem valor porque exprime sentimentos que contribuem para o
progresso moral da humanidade.

J Plato e Aristteles defendiam que a arte tinha importantes implicaes morais.


Plato considerava essas implicaes moralmente nefastas, enquanto Aristteles as
considerava benficas.
Plato considerava que a arte leva a um comportamento pouco racional, na medida
em que apela imitao de emoes. A arte apresenta-nos, pois, falsos modelos,
moralmente reprovveis.
Aristteles considera, pelo contrrio, que a imitao de tais modelos nos oferece a
possibilidade de, por um lado, exaltar os bons sentimentos e de, por outro, libertar os
maus (catarse), contribuindo para um maior equilbrio emocional das pessoas.
Mas uma coisa dizer que muitas obras de arte tm implicaes morais, outra
diferente afirmar que o valor da arte em geral reside na sua funo moral. esta
ltima a teoria defendida por Tolstoi.
Para Tolstoi a arte no tem valor em si mesma, nem tem valor porque proporciona
prazer. A arte tem valor porque o artista apela unio entre as pessoas, contagiando-as
com os seus sentimentos.
Contribui, assim, para uma maior humanidade e harmonia social.
Objeo: como j se viu antes, muitas obras de arte nem sequer procuram exprimir
qualquer sentimento, pelo que tambm no podem ter uma funo moral.
Resposta: essas obras so, de acordo com Tolstoi, obras de arte falhadas.

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Entre as obras de arte falhadas, Tolstoi inclui peras de Wagner e at dois dos seus
mais importantes romances (consideradas por muitos como obras-primas da literatura
universal). Mas isso parece inaceitvel.

Arte e conhecimento: a arte tem valor porque alarga o nosso conhecimento.


Esta teoria conhecida como cognitivismo esttico. Para os cognitivistas, s o facto
de a arte contribuir para aumentar o nosso conhecimento pode explicar o valor que lhe
atribumos, pois o conhecimento algo que valorizamos muito (mais do que o prazer e
do que o eventual contedo moral das obras de arte, o qual nem todas as pessoas
partilham).
O cognitivista considera que podemos aprender com poemas, msicas, pinturas,
peas de dana, etc.
Objeo: mas como pode um poema ou uma melodia ensinar-nos algo, uma vez que
o contedo dos poemas e melodias no verdadeiro nem falso, como o das teorias
cientficas.
Resposta: o contedo das obras de arte no deve ser interpretado em sentido literal. A
arte, argumenta o filsofo Nelson Goodman, funciona de modo simblico, metafrico e
no literal. desse modo que a arte consegue ensinar-nos algo que de outra maneira no
seria fcil de compreender.
Alm disso, a arte pode alargar o nosso conhecimento, pois enriquece muitos aspetos
da experincia humana, os quais acabam, por sua vez, por influenciar a maneira como
olhamos para o mundo.
O conhecimento proporcionado pelas obras de arte pode no ser de tipo proposicional
(como o das teorias cientficas), mas no deixa de ser conhecimento. Em vez de
rivalizarem entre si, arte e cincia complementam-se para aumentar o nosso
conhecimento.
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III. Racionalidade Argumentativa e Filosofia

1. Argumentao e lgica formal


1.1. Distino validade/verdade
A lgica permite avaliar se as afirmaes so ou no corretamente inferidas,
distinguindo os argumentos validos dos invlidos e identificar as regras que permitem
afirmar se so ou no validos. A lgica, ajuda-nos a aprender a construir e a avaliar
argumentos validos, garantindo deste modo que partindo de premissas verdadeiras
consegue-se chegar a uma concluso verdadeira. Ou seja, a lgica investiga as regras de
carncia dos raciocnios e permite a formalizao do pensamento, independentemente
dos seus possveis contedos materiais. Dentro da lgica existe tambm a lgica formal,
que uma cincia que estuda as leis que permitem estruturar corretamente o nosso
pensamento atravs da explicitao das propriedades dos argumentos vlidos.
Um conceito uma representao lgica abstrata que designa na mente, um conjunto
ou uma classe de objetos.
Um termo a expresso verbal do conceito, sendo os conceitos representaes
mentais abstratas dos termos.
Um juzo a ligao mental de um ou mais conceitos. Desta forma, exprime-se por
uma proposio, ou seja, uma expresso verbal, oral ou escrita do juzo.
O raciocnio o encadeamento de juzos em que a verdade de um depende da
verdade e da sua ligao com os outros. No entanto, o raciocnio exprime-se por
argumentos, os quais constituem discursos de trs diferenciados tipo: dedutivo,
indutivo e analgico. Por exemplo, o raciocnio analgico parte, ento, de uma
suposio inicial, que pode ser um pressentimento, uma ideia, uma hiptese, para uma
similaridade de estrutura, enquanto que o indutivo, parte de um certo numero de casos
estudados e induz que o que se verificou nos casos analisados tambm se verificar em
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todos os casos do mesmo gnero. Finalmente, o raciocnio dedutivo uma operao


intelectual mediante a qual o pensamento, a partir de uma ou mais proposies dadas
(premissas) e relacionadas entre si, retira uma concluso que deriva logicamente das
primeiras.
A extenso e compreenso dos conceitos
Extenso (denotao) de um conceito o conjunto de seres, coisas, membros que
so abrangidos por ele, ou seja, so os elementos da classe lgica que definida pelo
conceito.
Ex: o conceito ovo abrange e estende-se a vrios seres, pardais, melros, pintainhos,
guias, falces, andorinhas, periquitos.
Compreenso (intenso) de um conceito o conjunto de qualidades,
propriedades, notas, caractersticas ou atributos que definem esse conceito.
Ex: o conceito de cavalo contm as seguintes caractersticas: ser, animais vertebrados,
mamferos, no racionais.
A Compreenso e a extenso variam na razo inversa ou seja, medida que aumenta
a extenso, diminui a compreenso. medida que a extenso diminui, aumenta a
compreenso. Por outras palavras, quanto maior o numero de elementos a que o
conceito se aplica (extenso), menor a quantidade de caractersticas comuns
(compreenso).
Estes conceitos esto dispostos por ordem decrescente quanto extenso e por ordem
crescente quanto compreenso.

Ser

Extenso

Ser vivo
Animal

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Vertebrado
Compreenso

Mamfero

Co
Ordem decrescente de extenso

- Ordem crescente da compreenso

Assim sendo:
Crescente de extenso: + especfico para o especfico
Decrescente de extenso: - especfico para o + especfico
Crescente de compreenso: - especfico para o + especfico
Decrescente de compreenso: + especfico para o especfico
Proposio
Uma proposio/ juzo uma frase ou enunciado que relaciona conceitos entre si,
afirmando ou negando algo em relao a cada um, possuindo valor de verdade.
Ex: A Fsica uma cincia ( proposio porque relaciona entre si dois conceitos e tem
valor de verdade verdadeiro)
A Biologia no uma cincia ( proposio com valor de verdade falso)

S as frases declarativas podem exprimir proposies. As frases interrogativas,


exclamativas, prescritivas e as promessas no exprimem proposies.

Argumento:
Um argumento/raciocnio um conjunto de proposies organizadas de tal modo
que uma delas a concluso que defendemos com base na outra ou nas outras, a que se
chamam as premissas.
Nem todos os conjuntos de proposies so argumentos. S os conjuntos de
proposies organizadas de tal modo que justifiquem ou defendam a concluso
apresentada so argumentos.

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Chama-se entimema a um argumento em que uma ou mais premissas no foram


explicitamente apresentadas. Tentar encontrar as premissas ocultas do nosso
pensamento uma parte importante da discusso filosfica.

Validade e verdade:
A verdade depende unicamente da matria/contedo das proposies
(premissas/concluso), se so verdadeiras ou falsas.
A validade depende unicamente da forma dos argumentos, se so vlidos ou
invlidos.
O que a argumentao?
A lgica estuda a argumentao. Mas o que argumentar?
Argumentar defender ideias com razes.
De certo modo, a argumentao como a gramtica: est sempre presente no nosso dia
a dia, sempre que pensamos e conversamos, mas no nos damos conta, geralmente, da
sua existncia. S ao estudar lgica somos levados a pensar diretamente em algo que
estamos sempre a usar sem reparar.
Proposies, valor de verdade e frases
Tanto as ideias que queremos defender nos nossos argumentos como as razes que
usamos para as defender so proposies.
Uma proposio o pensamento que uma frase declarativa exprime literalmente.
S as frases declarativas podem exprimir proposies. As frases interrogativas,
exclamativas, prescritivas e as promessas (incluindo as ameaas) no exprimem
proposies. As frases seguintes no exprimem proposies:

Fecha a janela! (Frase imperativa.)

Ser que h gua em Marte? (Frase interrogativa.)

Quem me dera ter boas notas a Filosofia! (Frase exclamativa.)

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Prometo que te devolvo o livro amanh. (Promessa.)


As frases imperativas, interrogativas e exclamativas, assim como as promessas, no
exprimem proposies porque no exprimem pensamentos que possam ter valor de
verdade.
O valor de verdade de uma proposio a verdade ou falsidade dessa proposio.
Como evidente, uma pergunta no pode ser verdadeira nem falsa. E uma exclamao
tambm no pode ser verdadeira nem falsa; nem uma promessa ou uma ordem. Uma
promessa, por exemplo, pode ser cumprida ou no, e pode ser feita com a inteno de a
cumprir ou no; mas no pode ser verdadeira nem falsa. S as frases declarativas podem
exprimir proposies.
No faz sentido dizer que a exclamao Quem me dera ir a Marte! falsa ou
verdadeira, mas faz sentido perguntar se a frase declarativa H gelo em Marte
verdadeira ou falsa.
E o que uma frase?
Uma frase uma sequncia de palavras que podemos usar para fazer uma assero
ou uma pergunta, dar uma ordem ou exprimir um desejo.
Assim, as seguintes sequncias de palavras so frases:

Est a chover.

Emprestas-me o teu carro?

Se no me devolveres a carteira, vou Polcia.


Mas as seguintes sequncias de palavras no so frases:

Se vieres comigo.

Ou te calas ou.

Verde se pimenta ou caderno no.

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Argumentos, premissas e concluses


Para compreender o que um argumento vamos comear por ver o seguinte exemplo:
Joo Este quadro horrvel! s traos e cores! At eu fazia isto!
Adriana Concordo que no muito bonito, mas nem toda a arte tem de ser bela.
Joo No sei por que razo dizes isso?
Adriana Porque nem tudo o que os artistas fazem belo.
Joo E depois? claro que nem tudo o que os artistas fazem belo, mas da no se
segue nada.
Adriana Claro que se segue! Dado que tudo o que os artistas fazem arte, segue-se
que nem toda a arte tem de ser bela.
A Adriana est a argumentar que nem toda a arte bela. Estamos perante um argumento
sempre que algum apresenta um conjunto de razes a favor de uma ideia.
Um argumento um conjunto de proposies em que se pretende que uma delas (a
concluso) seja apoiada pelas outras (as premissas).
O argumento da Adriana percebe-se melhor se o escrevermos assim:
Premissa 1: Nem tudo o que os artistas fazem belo.
Premissa 2: Tudo o que os artistas fazem arte.
Concluso: Nem toda a arte bela.
O argumento da Adriana tem duas premissas e uma concluso. Mas os argumentos
podem ter apenas uma premissa, ou mais de duas; contudo, s podem ter uma
concluso.
Uma premissa uma proposio usada num argumento para defender uma
concluso.
Uma concluso a proposio que se defende, num argumento, recorrendo a
premissas.
Um argumento um conjunto de proposies. Mas nem todos os conjuntos de
proposies so argumentos. Para que um conjunto de proposies seja um argumento
necessrio que essas proposies tenham uma certa estrutura: necessrio que uma
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delas exprima a ideia que se quer defender (a concluso), e que a outra ou outras sejam
apresentadas como razes a favor dessa ideia (a premissa ou premissas).
Se nos limitarmos a apresentar ideias, sem as razes que as apoiam, no estamos a
apresentar argumentos a favor das nossas ideias. E se no apresentarmos argumentos, as
outras pessoas no tero qualquer razo para aceitar as nossas ideias. Argumentar
entrar em dilogo com os outros.
Um raciocnio ou uma inferncia um argumento. Raciocinar ou inferir retirar
concluses de premissas.
Validade dedutiva e forma lgica
A distino validade-verdade
Em lgica e filosofia chama-se vlido a um argumento correto, independentemente de
as suas premissas serem verdadeiras ou falsas. O termo validade no se aplica a
proposies. E os argumentos no podem ser verdadeiros nem falsos.
Os argumentos podem ser vlidos ou invlidos, mas no podem ser verdadeiros nem
falsos.
As proposies podem ser verdadeiras ou falsas, mas no podem ser vlidas nem
invlidas.
Este um uso especializado da palavra validade. Este uso da palavra, que se faz em
lgica e filosofia, diferente do uso popular, que se faz no dia a dia. No dia a dia diz-se
que uma proposio vlida querendo dizer que interessante ou verdadeira. E diz-se
que um argumento verdadeiro quando correto. Mas este uso tem de ser abandonado
em filosofia e lgica, porque confunde duas coisas muito diferentes: a validade e a
verdade.
Como vimos, as premissas e a concluso dos argumentos so proposies.

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Portanto, os argumentos contm proposies, e as proposies podem ser verdadeiras


ou falsas. Mas isto diferente de dizer que o prprio argumento verdadeiro ou falso.
Um argumento no pode ser verdadeiro nem falso.
Do facto de um argumento ser um conjunto de proposies no se segue que o prprio
argumento uma proposio. Um conjunto de pessoas no uma pessoa.
Os argumentos no podem ser verdadeiros nem falsos porque no so proposies; e
no so proposies porque nada afirmam sobre a realidade.
Um argumento limita-se a estabelecer uma relao entre proposies que afirmam
coisas sobre a realidade.
No necessrio definir a noo de verdade. A noo normal, que usamos no dia a dia,
suficiente.
Uma afirmao como S a cincia produz conhecimento s verdadeira se s a
cincia produz conhecimento; uma afirmao como errado torturar crianas
inocentes por prazer s verdadeira se errado torturar crianas inocentes por prazer.
A verdade e a falsidade aplicam-se a proposies, consoante as proposies representam
corretamente ou no a realidade.
Mas temos de definir a validade, pois trata-se de uma noo central da lgica, e uma
noo especializada, diferente do uso normal da palavra. A validade de um argumento
refere-se a um certo aspeto da correo do argumento. H dois tipos de validade: a
dedutiva e a no dedutiva. Para j, vamos falar apenas da validade dedutiva. A
validade no dedutiva ser muito brevemente abordada. (VER ARGUMENTOS E
FALACIAS INFORMAIS)
Consideremos o seguinte argumento:
Plato e Scrates eram gregos.
Logo, Plato era grego.

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No difcil ver que impossvel a premissa ser verdadeira e a concluso falsa, ao


mesmo tempo. isto que a validade dedutiva.
Um argumento dedutivo invlido quando possvel que as suas premissas sejam
verdadeiras e a sua concluso falsa.
Num argumento dedutivamente vlido impossvel as premissas serem verdadeiras
e a concluso falsa.
Consideremos agora outro argumento:
Plato e Scrates eram lisboetas.
Logo, Plato era lisboeta.
Este argumento tambm dedutivamente vlido. No difcil ver que impossvel a
premissa ser verdadeira e a concluso falsa, ao mesmo tempo.
Mas bvio que tanto a premissa como a concluso deste argumento so falsas. Isto no
contraria a definio de validade dedutiva. Pois desde que seja impossvel que as
premissas de um argumento sejam verdadeiras e a sua concluso falsa, o argumento ser
dedutivamente vlido mesmo que todas as suas premissas sejam falsas e mesmo que
a sua concluso seja igualmente falsa.
Quando se diz que um argumento dedutivamente vlido estamos unicamente a excluir
a seguinte possibilidade: que as premissas sejam verdadeiras e a concluso falsa. Isto a
nica coisa que no pode acontecer num argumento dedutivamente vlido.
Se podemos ter argumentos dedutivamente vlidos com concluses falsas, qual o
interesse da validade dedutiva? O interesse que a validade dedutiva um dos
elementos da argumentao dedutiva correta; sem esse elemento no h argumentao
dedutiva correta; mas, s por si, esse elemento insuficiente para a argumentao
dedutiva correta.
Eis uma comparao til: o processo de fazer um bolo, o modo como se misturam os
ingredientes, importante para a qualidade do bolo. Mas s por si no chega, pois por

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melhor que se misturem os ingredientes, se estes forem de m qualidade, o bolo ser


mau. Mas se os ingredientes forem bons e os misturarmos mal, o bolo ser tambm
mau. Por isso, precisamos das duas coisas: bons ingredientes e bons processos de
confeo. Do mesmo modo, na argumentao tanto precisamos de premissas
verdadeiras como de validade:
A validade de um argumento sem a verdade das suas premissas tem como resultado
um mau argumento.
A verdade das premissas de um argumento sem a sua validade tem como resultado
um mau argumento.
O objetivo da argumentao ter as duas coisas: validade e premissas verdadeiras. Mas
um argumento no deixa de ser vlido por no ter premissas verdadeiras. Retomemos os
dois argumentos anteriores:
Plato e Scrates eram gregos.
Logo, Plato era grego.
Plato e Scrates eram lisboetas.
Logo, Plato era lisboeta.
O segundo argumento conclui falsamente que Plato era lisboeta e o primeiro conclui a
verdade; mas ambos so vlidos. O problema do segundo argumento no faltar-lhe a
validade; o que lhe falta a solidez.
Um argumento slido um argumento vlido com premissas verdadeiras.
O segundo argumento no slido, dado que a sua premissa falsa.
Quando um argumento no slido, ainda que seja vlido, a sua concluso tanto pode
ser verdadeira como falsa. Mas se um argumento for slido, a sua concluso
verdadeira.
A validade uma relao entre valores de verdade e a estrutura de um argumento. Se
um argumento tiver uma dada estrutura, ser impossvel ter premissas verdadeiras e

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concluso falsa. Assim, a validade e a verdade so coisas diferentes, mas esto


relacionadas entre si.
Fala-se por vezes de deduo. Uma deduo um argumento cuja validade pode ser
determinada luz da validade dedutiva.
Em suma,

Forma lgica
Retomemos os dois argumentos apresentados na seco anterior:
Plato e Scrates eram gregos.
Logo, Plato era grego.
Plato e Scrates eram lisboetas.
Logo, Plato era lisboeta.
Como vimos, ambos os argumentos so vlidos. No difcil ver que h algo de comum
aos dois argumentos. Na realidade, a nica diferena que o primeiro fala de gregos e o
segundo de lisboetas. parte isso, so iguais.
Alm disso, no difcil ver que tanto faz falar de gregos, lisboetas, franceses ou
qualquer outra coisa: o argumento que obtemos ser sempre vlido.
Plato e Scrates eram ananases.
Logo, Plato era um anans.
Por mais tolas que sejam a premissa e concluso, o argumento vlido desde que tenha
uma certa estrutura ou padro. Vamos descobrir que estrutura essa.
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evidente que dizer Plato e Scrates eram gregos apenas uma forma abreviada e
mais elegante de dizer Plato era grego e Scrates era grego:
Plato era grego e Scrates era grego.
Logo, Plato era grego.
No difcil ver que no temos de estar a falar de Plato nem de Scrates para o
argumento ser vlido:
O Joo alto e a Maria baixa.
Logo, o Joo alto.
Seja o que for que vem antes e depois do e, se a concluso repetir o que vem antes do
e, o argumento vlido:
e __.
Logo, .
(Tambm no difcil ver que se a concluso repetir o que vem depois do e, o
argumento ser igualmente vlido.)
Em vez de assinalarmos os lugares vazios com e __ vamos usar letras do alfabeto:
P e Q,
Logo, P.
As letras maisculas P, Q, R, etc., representam lugares vazios que s podem ser
ocupados por proposies. Se P for a proposio expressa pela frase Plato era grego
e se Q for a proposio expressa pela frase Scrates era grego, obtemos o primeiro
argumento apresentado nesta seco.
Chama-se varivel proposicional s letras P, Q, R, etc., que representam lugares
vazios que s podem ser ocupados por proposies.
Chegmos, assim, estrutura relevante dos argumentos apresentados. A essa estrutura
ou padro chama-se forma lgica. Independentemente de falarem de Plato e Scrates,

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de gregos ou lisboetas, de Joo e Maria, de ser alto ou baixo, todos os argumentos


apresentados so vlidos porque todos tm a mesma forma lgica vlida.
A forma lgica , aproximadamente, a estrutura de um argumento ou proposio
relevante para a validade dedutiva.
Na lgica formal estudam-se os argumentos cuja validade depende exclusivamente da
sua forma lgica; por isso que se chama formal. A lgica informal estuda
argumentos cuja validade no depende exclusivamente da sua forma lgica; por isso
que se chama informal.
Indicadores tpicos de concluso (tese a demonstrar no argumento):

Logo
Ento
Da que
Assim
Portanto
Por isso
Segue-se que
Por consequncia
Por conseguinte
Infere-se que
Consequentemente
por essa razo que
Contudo
Indicadores tpicos de premissa:

Porque
Pois
Ora
Se
Uma vez que
Posto que
Visto que
Tendo em conta que
Em virtude de
Devido a
Considerando que
Dado que
Por causa de
Como
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A razo que
Deduo e Induo
Deduo
A deduo uma operao mental pela qual se conclui de uma ou mais premissas,
tomadas como antecedente uma proposio que delas deriva necessariamente, em
virtude da observncia de regras lgicas.
O valor da deduo esta em ser rigorosa, dado que para alem de obedecer a regras
formais, acaba por dizer na concluso algo, cerca de alguns, que se encontrava j
presente em todos, ou seja, nas premissas. Contudo, a deduo apresenta a desvantagem
de no ampliar conhecimentos visto que aquilo que se afirma na concluso estava j
implcito nas premissas.
Ex: Todos os jogadores de futebol so desportistas
Figo jogador de futebol
Logo, Figo desportista
(Parte do Geral para o Particular)
Induo
A induo a operao mental eu, partindo de um certo nmero de factos
particulares, conclui uma lei geral, aplicvel a todos os casos da mesma espcie.
A induo, na medida em que parte de alguns casos particulares e chega a uma
concluso aplicando a todos os casos, permite ampliar ou aumentar conhecimentos.
Apresenta porem a desvantagem de no ser rigorosa, possibilitando, nesse sentido, o
aparecimento de casos excecionais que ponham em causa a verdade da concluso.
Ex: A Terra, Marte, Vnus, Saturno, Neptuno so planetas.
A Terra, Marte, Vnus, Saturno, Neptuno no brilham com luz prpria.
Logo, todos os planetas no brilham com luz prpria.
(Parte do particular para o plural)

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Definio dos conceitos nucleares


Argumento e proposio

Todos estes conceitos foram


abordados de forma geral ao
longo deste tema, tendo sido
definidos

Forma e contedo
Validade e verdade
Deduo e induo

III. Racionalidade Argumentativa e Filosofia

1. Argumentao e lgica formal


1.2. Formas de interferncia vlida
Lgica Silogstica (Aristotlica)
A lgica aristotlica foi introduzida por Aristteles (384-322 a. C.) e sistematizada na
Idade Mdia. A parte da lgica aristotlica que vou abordar a lgica silogstica, que se
ocupa apenas da validade dedutiva de um certo tipo de argumentos, os chamados
silogismos.
As quatro formas lgicas: A, E, I, O
Na lgica aristotlica reconhecem-se apenas proposies que tenham uma de quatro
formas lgicas:
1. Todos os A so B.
2. Nenhum A B.
3. Alguns A so B.
4. Alguns A no so B.
Estas proposies so classificadas como se segue:

Todos os A so B so as de tipo A ou universais afirmativas.

Nenhum A B so as de tipo E ou universais negativas.

Alguns A so B so as de tipo I ou particulares afirmativas.

Alguns A no so B so as de tipo O ou particulares negativas.


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As proposies destes tipos incluem sempre dois termos. O termo sujeito aquele que
ocupa o lugar de A. O termo predicado aquele que ocupa o lugar de B. E diz-se que
um juzo a atribuio de um termo predicado a um termo sujeito, segundo a estrutura
S P (Sujeito Predicado). Por exemplo, o termo sujeito em Todos os animais so
seres vivos animais e o termo predicado seres vivos.
A classificao das proposies
A classificao das proposies realiza-se tendo em conta dois fatores: a quantidade
e a qualidade. A quantidade refere-se extenso do termo sujeito da proposio.
A proposio universal quando abrange a totalidade da extenso do termo sujeito.
Exemplos: Todos os lisboetas so portugueses. Tipo A
Nenhum alentejano lisboeta. Tipo E
Uma proposio particular quando abrange apenas uma parte da extenso do termo
sujeito.
Exemplos: Alguns comerciantes so honestos. Tipo I
Alguns alunos no so estudiosos. Tipo O
A qualidade de uma proposio refere-se ao seu carter afirmativo ou negativo.
Afirmando, declara-se que determinado termo predicado se aplica a determinado termo
sujeito; negando, declara-se que determinado termo predicado no se aplica a
determinado termo sujeito. As proposies podem ser afirmativas (as de tipo A e de tipo
I) ou negativas (as de tipo E e de tipo O).

A forma cannica das proposies


Nem sempre as proposies aparecem na sua forma cannica. Por exemplo, a frase
H homens mortais exprime uma proposio de tipo I, mas no est na forma

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cannica. De modo a coloc-la na forma cannica das proposies de tipo I (Alguns A


so B), teramos de a exprimir atravs da frase Alguns homens so mortais.
A tabela que se segue mostra algumas formas de exprimir proposies de tipo A, E, I
O, indicando a sua transformao na forma cannica.

Teoria do silogismo
Um silogismo uma forma particular de raciocnio (argumento) dedutivo, constituda
por trs proposies categricas (que afirmar ou negam algo de forma absoluta e
incondicional): duas premissas e uma concluso
Todos os portugueses so sbios.
Todos os minhotos so portugueses.
Logo, Todos os minhotos so sbios.

Alm de terem duas premissas e unicamente proposies de uma das quatro formas
silogsticas, os silogismos tm de obedecer a uma certa configurao:

O termo maior o termo predicado da concluso e ocorre uma nica vez na


primeira premissa (premissa maior).

O termo menor o termo sujeito da concluso e ocorre uma nica vez na segunda
premissa (premissa menor).

O termo mdio o termo que surge em ambas as premissas, mas no na concluso.

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Assim,
Termo Mdio
Premissa maior
Premissa menor
Concluso

Termo Maior

Termo Menor

Por exemplo, no argumento acima o termo maior sbios, o menor minhotos e o


mdio portugueses.
Nem sempre os argumentos surgem na sua forma silogstica (a que tambm se
chama forma padro). Para colocar um argumento na forma silogstica, preciso
apresentar as premissas pela ordem correta. A premissa maior deve estar sempre acima
da premissa menor. O argumento No h filsofos dogmticos, visto que qualquer
filsofo crtico; mas nenhum dogmtico crtico no se encontra na forma
silogstica.
Na forma silogstica este argumento teria de ser apresentado do seguinte modo:
Nenhum dogmtico crtico. (Premissa maior.)
Todos os filsofos so crticos. (Premissa menor.)
Logo, nenhum filsofo dogmtico. (Concluso.)
Os silogismos tm uma dada forma lgica. Para representar essa forma lgica, temos
de usar smbolos. Para compreendermos melhor a noo de forma lgica vamos
comparar dois silogismos:
1.

2.

Todos os anfbios so vertebrados.

Todos os portugueses so europeus.

Todas as rs so anfbios.

Todos os vimaranenses so portugueses.

Logo, todas as rs so vertebrados.

Logo, todos vimaranenses so europeus.

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No que respeita ao contedo, estes silogismos em nada se assemelham, pois as


proposies que os constituem so acerca de assuntos completamente diferentes. Mas
tm exatamente a mesma forma lgica. Essa forma a seguinte:
Todos os A so B.
Todos os C so A.
Logo, todos os C so B.
Obteremos os argumentos 1 e 2 se substituirmos A, B e C pelos termos
apropriados. importante distinguir o contedo dos argumentos da sua forma lgica,
porque a validade dedutiva depende exclusivamente da forma lgica. Ou seja, para
determinar se um argumento dedutivamente vlido, podemos ignorar o seu contedo e
examinar apenas a sua forma. Os argumentos 1 e 2 tm uma forma silogstica vlida,
mas outros tm formas invlidas. Assim, podemos dizer o seguinte:

A forma lgica de um argumento a sua estrutura relevante para a validade


dedutiva.

Regras do silogismo vlido


Um silogismo vlido se, e apenas se, satisfaz todas as regras da validade silogstica.
As regras da validade silogstica distribuem-se por dois grupos: as regras para termos
(trs regras) e as regras para proposies (quatro regras). Comecemos com as regras
para termos:
Regra 1: Um silogismo tem de ter exatamente trs termos: termo maior, menor e
mdio.
Por vezes, um silogismo tem disfaradamente mais de trs termos, quando um dos
termos ambguo e est a ser usado com dois significados diferentes:
As margaridas so flores
Algumas mulheres so Margaridas.
Logo, algumas mulheres so flores.
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Neste caso, o termo margaridas usado em dois sentidos diferentes (valendo por
dois termos): no sentido de nome de flor e de nome prprio de algumas mulheres.
Assim, o silogismo no vlido porque tem quatro e no trs termos.
Regra 2: O termo mdio tem de estar distribudo pelo menos uma vez.

Um termo est distribudo quando refere todos os membros da classe.


Por exemplo, na afirmao todos os ces so carnvoros, o termo ces est
distribudo pois estamos a referir-nos a todos os ces. Mas o termo carnvoros no
est distribudo j que no estamos a referir-nos a todos os carnvoros. Podemos
concluir que nas proposies de tipo A o termo sujeito est distribudo mas o termo
predicado no.
Para sabermos se, numa das proposies reconhecidas pela lgica aristotlica, o termo
sujeito ou o termo predicado esto distribudos basta reter o seguinte:

O termo sujeito s est distribudo nas proposies universais.

O termo predicado s est distribudo nas proposies negativas.


A distribuio dos termos pode representar-se na seguinte tabela:

Vejamos o seguinte exemplo:


Todos os romances so obras literrias.
Todos os poemas so obras literrias.
Logo, todos os poemas so romances.
Este silogismo invlido, porque o termo mdio obras literrias, nunca est
distribudo, pois em ambas as premissas predicado numa proposio de tipo A.

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Regra 3: Se um termo ocorre distribudo na concluso, tem de estar distribudo


nas premissas.
Os espanhis so ibricos.
Os portugueses no so espanhis.
Logo, os portugueses no so ibricos.
O argumento anterior um silogismo invlido porque o termo ibricos est
distribudo na concluso, mas no na premissa.
Consideremos agora as regras para as proposies:
Regra 4: Nenhuma concluso se segue de duas premissas negativas.
Nenhum crocodilo tem guelras.
Nenhum crocodilo um peixe.
Logo, alguns peixes no tm guelras.
Este argumento invlido porque tem duas premissas negativas.
Regra 5: Nenhuma concluso se segue de duas premissas particulares.
Alguns jovens so homens.
Alguns jovens so mulheres.
Logo, algumas mulheres so homens.
Este silogismo invlido porque tem duas premissas particulares.
Regra 6: Se as duas premissas forem afirmativas, a concluso no pode ser
negativa.
Todos os melros so animais.
Alguns pssaros so melros.
Logo, alguns pssaros no so animais.
Este argumento invlido j que a concluso negativa, mas as premissas so
afirmativas.

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Regra 7: A concluso tem de seguir a parte ou premissa mais fraca. A parte mais
fraca a negativa e/ou a particular. Se uma premissa for negativa, a concluso tem
de ser negativa; se uma premissa for particular, a concluso tem de ser particular.
Se houver uma premissa particular e outra negativa, a concluso ser particular e
negativa.
Todos os atenienses so gregos.
Alguns atenienses so filsofos.
Logo, todos os filsofos so gregos.
Este silogismo invlido porque a concluso universal, mas uma das premissas
particular.

Convm nunca esquecer que na lgica aristotlica no se pode usar classes vazias.
Assim, quaisquer argumentos que contenham termos como lobisomens, mulheres
com mais de 10 metros de altura, marcianos, etc., no podem ser analisados
recorrendo lgica aristotlica. Nos casos em que no sabemos se uma classe vazia ou
no (como a classe dos extraterrestres inteligentes) tambm no podemos usar a lgica
aristotlica. Caso usemos classes vazias, a lgica aristotlica apresenta resultados
errados. Consideremos o seguinte silogismo:
Todos os portugueses so ibricos.
Todos os marcianos so portugueses.
Logo, h marcianos ibricos.
O silogismo anterior, vlido segundo a teoria do silogismo, de facto invlido. A
verdade da universal afirmativa Todos os marcianos so portugueses no nos obriga a
concluir que alguma vez tenham existido seres da classe dos marcianos. Deste modo,
temos um silogismo constitudo por premissas verdadeiras e concluso falsa o que
contraria a noo de validade dedutiva.
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Figuras do Silogismo
Silogismo da 1 figura
O termo maior sempre o predicado da premissa maior e da concluso e o termo menor
sujeito da premissa menor e da concluso. O termo mdio o sujeito da premissa
maior e predicado da premissa menor.
Ex: Todo o homem mortal SUJEITO na premissa maior
Ora Scrates homem PREDICADO na premissa menor
Logo, Scrates mortal.
Silogismo da 2 figura
O termo mdio predicado em ambas as premissas.
Ex: Nenhum americano europeu PREDICADO na premissa maior
Todo o francs europeu PREDICADO na premissa menor
Nenhum francs americano.
Silogismo da 3 figura
O termo mdio sujeito em ambas as premissas.
Ex: Todo o filsofo sbio SUJEITO na premissa maior
Todo o filsofo homem SUJEITO na premissa menor
Algum homem sbio.
Silogismo da 4 figura
Premissa

OPremissa
termo
Maior mdio predicado da premissa maior e sujeito da menor.
Maior

Ex: Nenhum europeu canadiano PREDICADO na premissa maior


Todo o canadiano norte-americano SUJEITO na premissa menor
Algum norte-americano no europeu.
De forma mais fcil dos silogismos das figuras
Figuras segundo SOFIA DANA COM ZE

4 F.
3 F.

2 F.
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1 F.
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[ Z

Subentenda-se que M TERMO MDIO.


Formas vlidas do silogismo
Esquema das figuras e modos validos do silogismo:

Formas vlidas do silogismo


Modos

1
Figura
2
Figura
3
Figura
4
Figura

AA
A

AII
AEE
AAI

AO
O

EAE

EIO

EAE

EIO

AII

AAI AEE

EA
O
EA
O

EIO

IAI

EIO

IAI

OAO

III. Racionalidade Argumentativa e Filosofia

1. Argumentao e lgica formal


1.3. Principais Falcias
Falcias silogsticas
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Uma falcia um argumento mau que parece bom.


Existem quatro falcias associadas s regras de validade silogstica para termos e
que so as seguintes:
1. Falcia dos quatro termos: falcia que ocorre quando um silogismo tem mais de
trs termos, geralmente disfaradamente (por exemplo, um dos termos ambguo).
2. Falcia do mdio no distribudo: esta falcia ocorre num silogismo cujo termo
mdio no est distribudo.
3. Falcia da ilcita maior: ocorre num silogismo quando o termo maior est
distribudo na concluso mas no na premissa.
4. Falcia da ilcita menor: ocorre num silogismo quando o termo menor est
distribudo na concluso mas no na premissa.
III. Racionalidade Argumentativa e Filosofia

2. Argumentao e retrica
2.1. O domnio do discurso argumentativo: a procura de adeso do auditrio
Demonstrao e argumentao
Comparemos os seguintes argumentos:
1) Se o Mar Mediterrneo for gua, H2O.
O Mar Mediterrneo gua.
Logo, H2O.
2) Se os animais no tm deveres, no tm direitos.
Os animais no tm deveres.
Logo, no tm direitos.

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Ambos os argumentos so dedutivamente vlidos; logo, impossvel, em qualquer dos


casos, que as premissas sejam verdadeiras e a concluso falsa.
Contudo, as premissas dos dois argumentos so muito diferentes. No argumento 1, tratase de verdades estabelecidas, que ningum pe em causa. Mas a primeira premissa do
argumento 2 muitssimo disputvel. At pode ser verdadeira, mas no uma verdade
solidamente estabelecida e amplamente reconhecida como tal.
Aristteles chama demonstrao ao primeiro tipo de argumentos dedutivos, e
deduo dialtica ao segundo:
Uma deduo um argumento que, dadas certas coisas, algo alm dessas coisas
necessariamente se segue delas. uma demonstrao quando as premissas das quais a
deduo parte so verdadeiras e primitivas, ou so tais que o nosso conhecimento delas
teve originalmente origem em premissas que so primitivas e verdadeiras; e uma
deduo dialtica se raciocina a partir de opinies respeitveis.
Aristteles, Tpicos, p. 100a

Uma demonstrao um argumento dedutivo vlido cujas premissas so verdades


estabelecidas e indisputveis.
Uma deduo dialtica um argumento dedutivo vlido cujas premissas so
plausveis mas no so verdades estabelecidas e indisputveis.
Quando temos uma demonstrao, no sentido de Aristteles, nada mais h para discutir:
a concluso constringente, ou seja, estamos racionalmente constrangidos a aceitar
a concluso.
O mesmo no acontece no argumento 2. perfeitamente racional no aceitar a
concluso desse argumento basta recusar a primeira premissa, que muitssimo
discutvel, ainda que seja uma opinio respeitvel.
Claro que o ideal seria encontrar sempre premissas indisputveis para os nossos
argumentos; mas isso nem sempre possvel. E quando no possvel, temos de nos

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contentar com as premissas mais plausveis, verosmeis ou preferveis que


conseguirmos encontrar.
Isto, por sua vez, significa que esses argumentos no so conclusivos. sempre possvel
disputar racionalmente as concluses de argumentos vlidos baseados em premissas
meramente plausveis basta disputar pelo menos uma das premissas.
Por exemplo, uma pessoa poderia disputar o argumento 2 defendendo
(com outros argumentos) que a primeira premissa falsa. A esta troca de argumentos
chama-se argumentao.
A argumentao uma sequncia de argumentos.
Assim, a argumentao difere da demonstrao, no sentido aristotlico.
Uma demonstrao, neste sentido, o ponto final da argumentao. Mas no podemos
esquecer que o que est demonstrado foi originalmente estabelecido por argumentao;
pura e simplesmente, essa argumentao foi conclusiva e chegou ao fim.
Em concluso:
Argumentao

Utiliza a retrica e a dialtica;

pessoal, dirige-se a indivduos para obter a sua adeso;

necessariamente situada, j que o orador depende do auditrio;

Persuadir outrem exige: reconhec-lo como interlocutor, agir sobre ele


intelectualmente e no pela fora, tem de ter em conta as reaes para adaptar o
discurso;

No um monlogo mas um dilogo;


Pretende um efeito imediato ou, no mnimo, predispor a uma ao eventual;

Utiliza uma linguagem natural que pode levar a equvocos;

Ao pretender a adeso a uma tese por parte do auditrio, torna-se varivel, da que a
intensidade da adeso possa ser acrescida;

O valor e a quantidade de uma argumentao no pode medir-se unicamente pelos


resultados, depende igualmente da qualidade do auditrio que se ganha pelo
discurso.

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Demonstrao

um clculo formal;

Diz respeito verdade de uma concluso a partir das premissas com que
necessariamente se relaciona;

A prova demonstrativa impessoal;

A sua validade depende das dedues efetuadas;

insulado do contexto;

impessoal

Utiliza uma linguagem artificial;

A sua linguagem, porque formal, no conduz a equvocos;

A verdade uma propriedade da proposio e da que no haja variao de


intensidade.

Nota: complementam-se no discurso argumentativo.


O auditrio e as premissas
Vejamos o seguinte argumento:
Se o assassnio indiscriminado de inocentes for permissvel, a vida no sagrada.
Mas a vida sagrada.
Logo, o assassnio indiscriminado de inocentes no permissvel.
Este um argumento vlido. Mas ser slido? No sabemos, porque pelo menos a
segunda premissa disputvel. Imaginemos, contudo, que as premissas do argumento
so realmente verdadeiras, apesar de ns no o sabermos.
Ser o argumento nesse caso bom? No. O argumento no bom porque no tem em
conta o estado cognitivo do auditrio.
O auditrio so as pessoas com quem estamos a falar, ou para quem estamos a
escrever.
O estado cognitivo de um auditrio o conjunto de conhecimentos e crenas ou
convices que o auditrio tem.

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O argumento no tem em conta o estado cognitivo do auditrio porque a sua concluso


mais evidente e menos disputvel, para qualquer pessoa, do que as suas premissas.
Mesmo partindo da hiptese de que as premissas do argumento so verdadeiras, o
argumento mau porque as premissas no so mais plausveis, seja para quem for, do
que a concluso. Mesmo que sejamos religiosos e aceitemos as duas premissas,
muitssimo mais evidente que o assassnio indiscriminado de inocentes no
permissvel do que qualquer uma das premissas.
Diz-se, assim, que o argumento fraco ou no bom porque as suas premissas no so
mais evidentes ou mais plausveis do que a sua concluso.
Um argumento bom ou forte um argumento slido cujas premissas so mais
plausveis do que a sua concluso.
Um argumento mau ou fraco um argumento que no slido ou cujas premissas
no so mais plausveis do que a sua concluso.
A fora de um argumento vlido exatamente igual plausibilidade da sua premissa
menos plausvel. Argumentar bem implica descobrir bons argumentos a favor de uma
ideia baseados em premissas que quem contra essa ideia est disposto a aceitar.
Alguns argumentos so maus ou bons para quaisquer pessoas, como o argumento acima.
Mas outros argumentos podero ser bons para certas pessoas e maus para outras.
A plausibilidade das proposies relativa ao estado cognitivo dos auditrios.
Por exemplo:
Se o Papa defende que no devemos tomar a plula, no devemos tomar a plula.
O Papa defende que no devemos tomar a plula.
Logo, no devemos tomar a plula.

A segunda premissa uma verdade estabelecida. Mas a primeira disputvel.


Contudo, para um catlico este argumento bom, desde que ele aceite a primeira
premissa e a ache mais plausvel do que a concluso. Mas para uma pessoa que no
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partilhe as suas crenas religiosas, o argumento fraco, pois essa pessoa no aceita a
primeira premissa (apesar de ser possvel que essa premissa seja verdadeira, sem que ela
o saiba).
A solidez de um argumento independente do estado cognitivo do auditrio; nem a
validade nem a verdade dependem do que as pessoas pensam. Mas a fora ou
plausibilidade de um argumento relativa aos estados cognitivos das pessoas: depende
do que as pessoas pensam que verdade, aceitvel ou plausvel.
A um argumento fraco chama-se tambm inferncia no informativa ou inferncia
irrelevante. Assim, uma inferncia como Est a chover; logo, est a chover, apesar
de vlida, no informativa. E uma inferncia que parte de proposies menos
plausveis do que a concluso irrelevante.
Em concluso:
Lgica Formal/Dedutiva/Demonstrativa:
- Objetivo: estudo da validade dos argumentos segundo a sua forma;
- Distingue argumentos vlidos de invlidos;
- H uma relao de necessidade entre as premissas e concluso. Se a forma do
argumento vlida e se as suas premissas so verdadeiras, a concluso tem de ser
verdadeira;
- Um argumento slido (vlido com premissas verdadeiras) no pode ser refutado;
- O estudo da validade prescinde de referncias ao contedo das proposies e ao
contexto da argumentao (na qual um orador tenta persuadir um auditrio);
- Procura argumentos vlidos, mas sobretudo slidos (com premissas verdadeiras)
- As regras derivam de sistemas formais.
Lgica Informal/Indutiva/Argumentativa:
- Objetivo: estudo dos argumentos fortes (argumentos que, apesar de invlidos, do
algum sustento concluso) e dos seus graus;
- Distingue graus de fora dos argumentos;
- Um argumento forte com premissas verdadeiras justifica, mas no garante a verdade
da concluso;

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- A concluso do argumento forte apenas provvel ou plausvel. Est sempre aberta a


possibilidade de ser refutada;
- O estudo da fora dos argumentos no prescinde de referncias ao contedo das
proposies e ao contexto da argumentao (em que um orador tenta persuadir um
auditrio);
- Procura a adeso do auditrio, mas sobretudo no discurso argumentativo filosfico,
preocupa-se com a questo da verdade para l da adeso;
- As regras no derivam de sistemas formais e pode haver argumentos com a mesma
forma e graus de fora diferentes.
Ethos, pathos e logos
Na sua obra sobre a retrica, Aristteles distinguiu trs formas de argumentao:
1. A argumentao baseada no carter (ethos) do orador; (ligao ao auditrio)
O orador deve ser uma pessoa:

Integra

Honesta

Responsvel

No basta uma pessoa possuir


estas caractersticas, mas deve
mostrar que as possui.

Para conquistar a confiana do publico e, consequentemente, obter a crena do


pblico no seu discurso.
Segundo Aristteles, o orador necessita de dar a impresso de uma pessoa que integra
3 caractersticas essenciais:
Racionalidade pois s uma pessoa de raciocnio desenvolvido capaz de descobrir
solues ideais para os problemas dos cidados;
Excelncia e benevolncia estas devem associar-se razo para mostrar que o orador
no deturpa os acontecimentos, no tem ideias reservadas ou segundas intenes, nem
se dispe a enganar os ouvintes.
2. A argumentao baseada no estado emocional (pathos) do auditrio; (ligao ao
auditrio)

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Refere-se s emoes despertadas nos ouvintes, pelo orador.


o modo como o orador provoca a adeso (entoao, repeties, figuras de estilo,
gestos, questes para refletir, suspenses frsicas)
3. A argumentao baseada no argumento (logos) propriamente dito.(elemento mais
racional)
Refere-se quilo que dito, ao discurso argumentativo, aos argumentos que o orador
utiliza na defesa das opinies.
o aspeto mais desenvolvido por Aristteles (segundo ele, o que deve prevalecer
num discurso).
Eis como Aristteles explica esta distino:
Os argumentos convincentes fornecidos atravs do discurso so de trs espcies: 1)
Alguns fundam-se no carter de quem fala; 2) alguns, na condio de quem ouve; 3)
alguns, no prprio discurso, atravs de prova ou aparncia de prova.
Os argumentos so abonados pelo carter sempre que o discurso apresentado de forma
a fazer quem fala merecer a nossa confiana. Pois temos mais confiana, e temo-la com
maior prontido, em pessoas decentes[] Isto, contudo, tem de resultar do prprio
discurso, e no das perspetivas prvias do auditrio quanto ao carter do orador. A
convico assegurada atravs dos ouvintes sempre que o discurso desperta neles
alguma emoo. Pois no damos os mesmos veredictos quando sentimos angstia e
quando sentimos alegria, ou quando estamos numa disposio favorvel e numa
disposio hostil [].As pessoas so convencidas pelo prprio discurso sempre que
provamos o que verdade ou parece verdade a partir de seja o que for que
convincente em cada tpico.

Aristteles, Retrica, p. 1356a

III. Racionalidade Argumentativa e Filosofia

2. Argumentao e retrica
2.2. O discurso argumentativo: principais tipos de argumentos e falcias informais
Argumentos e falcias informais

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A diferena fundamental entre os argumentos informais e os formais esta: nos


argumentos formais, a validade depende exclusivamente da sua forma lgica, ao passo
que nos informais a sua validade no depende exclusivamente da sua forma lgica.
Fala-se por vezes de argumentos dedutivos ou de deduo e de argumentos no
dedutivos (que incluem a induo). No Captulo Distino validade/verdade
estudmos alguns tipos de argumentos dedutivos formais.
A diferena fundamental entre os argumentos dedutivos e os no dedutivos a
seguinte: Num argumento dedutivo vlido impossvel as suas premissas serem
verdadeiras e a sua concluso falsa. Mas nos argumentos no dedutivos vlidos no
impossveis as suas premissas serem verdadeiras e a sua concluso falsa; apenas muito
improvvel.
Assim, um argumento dedutivo vlido com premissas verdadeiras garante a verdade
da sua concluso. Mas um argumento no dedutivo vlido com premissas verdadeiras
torna provvel, mas no garante, a verdade da sua concluso.
Todos os argumentos no dedutivos so informais.
Alguns argumentos dedutivos so informais, mas outros so formais. Os argumentos
dedutivos que estudmos no Captulo Distino validade/verdade so formais.
Argumentos no dedutivos
Vamos estudar brevemente os seguintes tipos de argumentos no dedutivos:
1. Indues;
2. Argumentos por analogia;
3. Argumentos de autoridade.
Geralmente usa-se o termo induo para falar de dois tipos diferentes de
argumentos: as generalizaes e as previses. Uma generalizao um argumento do
seguinte gnero:
Todos os corvos observados at hoje so pretos.
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Logo, todos os corvos so pretos.


Para que uma generalizao seja vlida tem de obedecer a algumas regras. Por
exemplo, os casos em que se baseia tm de ser representativos e no pode haver
contraexemplos. Defender que todos os portugueses vo regularmente ao cinema porque
os meus amigos vo regularmente ao cinema viola estas duas regras: os meus amigos
no so representativos dos portugueses em geral e h portugueses que no gostam de
cinema. A falcia da generalizao precipitada ocorre quando os casos em que nos
apoiamos no so representativos.
Numa previso as premissas baseiam-se no passado e a concluso um caso
particular. Por exemplo:
Todos os corvos observados at hoje so pretos.
Logo, o prximo corvo que observarmos ser preto.
Num argumento por analogia pretende-se concluir que algo de certo modo porque
esse algo anlogo a outra coisa que desse modo. Por exemplo:
Os filsofos so como os cientistas.
Os cientistas procuram compreender melhor o mundo.
Logo, os filsofos procuram compreender melhor o mundo.
No se deve confundir os argumentos por analogia com as analogias propriamente
ditas. Uma analogia apenas uma semelhana entre coisas; os argumentos por analogia
baseiam-se nesta desejada semelhana, mas no so, eles mesmos, analogias. Como se
pode ver, nos argumentos por analogia uma das premissas uma analogia.
Vejamos outro argumento por analogia:
O mundo como uma casa.
Todas as casas tm um arquiteto.
Logo, o mundo tambm tem um Arquiteto Deus.
Este argumento problemtico, pois a analogia entre casas e o mundo no mais
plausvel do que a prpria concluso. Um argumento por analogia tem de se basear
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numa analogia mais plausvel do que a hiptese de a concluso ser verdadeira. Contestase um argumento por analogia tentando mostrar que h diferenas entre as duas coisas
comparadas que derrotam a concluso.
A falcia da falsa analogia ocorre quando h diferenas entre as duas coisas
comparadas que derrotam a concluso.
Num argumento de autoridade usa-se a opinio de um especialista, como no
exemplo seguinte:
Hegel disse que a realidade espiritual.
Logo, a realidade espiritual.
Para que um argumento de autoridade seja bom necessrio que o especialista ou
especialistas invocados sejam realmente especialistas da matria em causa e que os
outros especialistas no discordem dele. Por isso, em filosofia os argumentos de
autoridade so quase sempre falaciosos, dado que os filsofos discordam quase sempre
uns dos outros relativamente a questes substanciais. S podemos usar argumentos de
autoridade em filosofia caso os outros filsofos, quanto questo em causa, no
discordem do filsofo que estamos a invocar.
Chama-se entimema a um argumento em que uma ou mais premissas no foram
explicitamente apresentadas. Tentar encontrar as premissas ocultas do nosso
pensamento uma parte importante da discusso filosfica.
Em concluso:
Diferena fundamental entre os argumentos formais e informais:
Nos argumentos formais, a validade depende exclusivamente da sua forma lgica,
enquanto que nos argumentos informais a sua validade no depende exclusivamente da
sua forma.
Deduo/Induo:

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Deduo e induo so procedimentos racionais que nos levam do j conhecido ao


ainda no conhecido, isto , permitem que adquiramos conhecimentos novos graas a
conhecimentos j adquiridos.
Deduo:
- raciocnio com base formal que, se for vlido, o pela sua forma, e se as suas
premissas forem verdadeiras, a concluso tambm o necessariamente, porque esta se
segue necessariamente delas
- parte-se de uma verdade j conhecida para demonstrar que ela se aplica a todos os
casos particulares iguais. Por isso tambm se diz que a deduo vai do geral ao
particular ou do universal ao individual
- ponto de partida: ideia verdadeira ou teoria verdadeira
- costuma-se representar a deduo pela seguinte frmula:
Todos os A so B (definio ou teoria geral);
x A (caso particular);
Portanto, x B (deduo).
Ex.:
Todos os homens (A) so mortais (B);
Scrates (x) homem (A);
Portanto, Scrates (x) mortal (B).
- A razo oferece regras especiais para realizar uma deduo e, se tais regras no forem
respeitadas, a deduo ser considerada invlida.
Induo:
- raciocnio lgica e formalmente invlido (sendo a sua fundamentao um problema
clssico da filosofia)
- partimos de casos particulares iguais ou semelhantes e procuramos a lei geral, a
definio geral ou a teoria geral que explica e subordina todos esses casos particulares.
- a verdade das premissas no garante a verdade da concluso, mas to s esta pode ser
dita provvel ou plausvel
- a sua aceitao depende do grau de fora do argumento
- pode haver argumentos com formas idnticas e fora argumentativa diferente
Ex.:
1 Todos os ces que eu vi so mamferos.
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Logo, todos os ces so mamferos.


2 Todos os ces que eu vi foi em Portugal.
Logo, todos os ces esto em Portugal.
- pode ter premissas singulares, particulares (Alguns) ou gerais (Todos)
- o mbito e extenso da concluso sempre maior que o das premissas
- pode ser encarado de duas perspetivas: generalizao e previso
- a razo tambm oferece um conjunto de regras precisas para guiar a induo; se tais
regras no forem respeitadas, a induo ser considerada falsa.
Generalizao:
Consiste em atribuir a todos os casos possveis de certo tipo aquilo que se verificou em
alguns casos desse tipo. A generalizao justifica, portanto, uma concluso universal a
partir de premissas menos gerais. As premissas so menos abrangentes que a concluso.
Ex.:
Todos os corvos observados at hoje so pretos.
Logo, todos os corvos so pretos.
A generalizao no garante a verdade da concluso, pois a concluso mais geral do
que a premissa. S podemos consider-la muito provvel.
Regras:

A amostra deve ser relevante.

A relao entre o contedo das premissas e o contedo da concluso deve ser


representativa de toda a classe.
- a amostra deve representar toda a classe e no apenas algumas das suas espcies
- a concluso no pode esquecer aspetos significativos e j conhecidos da classe

A amostra deve ser ampla.


- Quanto maior for a amostra observada, mais forte o argumento ser

No omitir informao relevante


- Um argumento, mesmo sendo baseado numa amostra grande e relevante, ser mau
se omitir informao relevante.
Consequncias:

Devemos avaliar uma generalizao, tendo em conta o conjunto do nosso


conhecimento.

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A generalizao deve ser rejeitada se j forem conhecidos contraexemplos


Falcias:

Falcia da generalizao precipitada ou amostra insuficiente:


Ocorre quando os casos em que nos apoiamos no so representativos, ou seja, baseiase num nmero muito limitado de casos.
uma violao da regra: a amostra deve ser ampla

Falcia da amostra tendenciosa:


Uma amostra tendenciosa ou parcial e, por isso, de fraca relevncia, se no abranger
as variedades de objetos ou situaes a que se aplica a sua concluso.
Mesmo sendo muito grande, uma amostra pode ser tendenciosa ou parcial.
Previso:
As premissas baseiam-se no passado e a concluso um caso particular.
Ex.:
Todos os corvos observados at hoje so pretos.
Logo, o prximo corvo que observarmos ser preto.
Diferena fundamental entre os argumentos dedutivos e no dedutivos:
Num argumento dedutivo vlido impossvel que as suas premissas sejam verdadeiras e
a concluso falsa. Num argumento no dedutivo vlido no impossvel que as suas
premissas sejam verdadeiras e a concluso falsa; apenas muito improvvel. Assim, um
argumento dedutivo vlido com premissas verdadeiras garante a verdade da sua
concluso, enquanto que um argumento no dedutivo vlido com premissas verdadeiras
torna provvel, mas no garante, a verdade da sua concluso. Todos os argumentos no
dedutivos so informais.
Algumas falcias informais
As falcias formais so erros de raciocnio que resultam exclusivamente da forma
lgica. As falcias informais so erros de raciocnio que no resultam exclusivamente
da forma lgica. O nmero de falcias informais muito elevado. Vamos estudar
brevemente algumas das mais comuns.
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A falcia do falso dilema est associada a argumentos baseados em disjunes


(afirmaes da forma P ou Q). Por exemplo:
As verdades so relativas ou absolutas.
falso que sejam absolutas.
Logo, so relativas.
Este argumento dedutivamente vlido, mas esconde uma falcia: a primeira premissa
um falso dilema, pois no esgota todas as possibilidades.
Sem dvida que alm de as verdades serem relativas ou absolutas h outras
possibilidades: talvez algumas verdades sejam relativas e outras no.
A falcia do apelo ignorncia ocorre sempre que confundimos as coisas e
pensamos que a inexistncia de prova prova de inexistncia:
Nunca ningum provou que h extraterrestres.
Logo, no h extraterrestres.
Como evidente, do facto de nunca se ter provado que h extraterrestres nada se segue:
no se segue que h nem que no h extraterrestres. Uma forma menos bvia de
cometer esta falcia a seguinte:
Os filsofos nunca conseguiram provar que Deus existe nem que no existe.
Logo, no se pode provar que Deus existe nem que no existe.

Devia ser bvio que se trata de uma falcia. Na vspera da descoberta da cura da
tuberculose as pessoas tambm poderiam ter dito que era impossvel curar a
tuberculose, com o mesmo tipo de argumento. Podero existir outros argumentos a
favor da ideia de que impossvel provar que Deus existe ou que no existe. Mas este
falacioso.

A falcia da petio de princpio ocorre sempre que se admite nas premissas o que se
deseja concluir. O caso mais bvio a mera repetio:
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Deus existe.
Logo, Deus existe.
Este tipo de argumento sempre falacioso, apesar de dedutivamente vlido, dado que a
premissa nunca mais plausvel do que a concluso.
Normalmente, esta falcia no formulada de forma to evidente. Em vez disso, a
premissa falaciosa surge disfarada com variaes gramaticais da concluso ou
misturada com outras premissas:
Tudo o que a Bblia diz verdade porque a
Bblia foi escrita por Deus.
A Bblia diz que Deus existe.
Logo, Deus existe.
Chama-se tambm raciocnio circular petio de princpio.
A falcia de apelo fora, o argumento que recorre a foras de ameaa como meio
de fazer aceitar uma afirmao:
Quando as autoridades de trnsito depois de terem esgotado os demais recursos
persuasivos para levar os condutores a no ultrapassarem os limites de velocidade
estabelecidos, lhes recordam que as multas a pagar pelas infraes so elevadas. (ex:
opresso psicolgica, ameaas)
A falcia do apelo misericrdia (argumentum ad misercordiam) consiste
habitualmente em tentar convencer algum a fazer algo com base no estado lastimoso
do autor do argumento. O argumento falacioso quando o estado lastimoso do autor do
argumento no tem qualquer relevncia relativamente ao que est em causa. Por
exemplo:
Eu estudei desalmadamente durante as duas ltimas semanas.
Logo, o professor deve dar-me uma boa nota.
Este argumento um apelo ilegtimo misericrdia porque as notas so atribudas no
em funo do esforo do estudante mas sim dos resultados, tal como numa prova
desportiva.
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A falcia de ad hominem uma falcia contra a pessoa, sendo o argumento que


pretende mostrar que uma afirmao falsa atacando e desacreditando a pessoa que a
emite.
O Roberto disse que amanh no h aulas, mas de certeza que h porque ele mal
criado e um grande preguioso.
A falcia Post hoc, consite em ver uma relao de sequencia causal (causa/efeito)
onde s existe uma relao temporal.
Francisco diz: - Acho que hoje me vai correr mal o teste de Filosofia.
Ana diz: - Porqu?
Francisco diz: - Porque fui ao futebol e o meu clube perder.

III. Racionalidade Argumentativa e Filosofia

3. Argumentao e Filosofia
3.1. Filosofia, retrica e democracia
A Plis grega
A Grcia antiga possua um regime poltico em que o governo e a administrao
pblica se encontravam nas mos dos cidados. No entanto, o conceito de cidado no
era to vasto como hoje em dia, sendo que apenas um dcimo da populao era
considerado cidado. Para se obter o estatuto de cidado no se podia ser mulher,
escravo ou meteco, e tinha que se obedecer a um conjunto de regras.
Nessa sociedade fazer parte da vida poltica era uma espcie de obrigao para qualquer
cidado. Todos os cidados reuniam-se em assembleia popular para decidirem por eles
mesmos os assuntos pblicos. A retrica era assim um instrumento fundamental na
democracia negra, na medida em que permitia aos cidados apresentarem, esclarecer e
resolver os problemas.

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A democracia grega apresenta-se como uma base para as democracias atuais, embora
com algumas diferenas significativas. Podemos assim estabelecer as igualdades e
diferenas destas duas democracias.
Ao contrrio do que acontece atualmente:

A democracia grega era uma democracia direta;

Os escravos eram a base da economia e eram deixados margem da vida poltico,


evitando-se assim antagonismos de classes;

No existia qualquer diferena entre governantes e governados;

A vida pessoal dos cidados e a sua vida poltica estavam estritamente ligadas.

Tal como hoje em dia:

A argumentao racional, logos, era a chave da autoridade, sendo que quem exercia
o poder poltico necessitava sempre apresentar razes aceitveis;

Existia uma relao intrnseca entre cidadania e participao,

Havia a submisso lei e no a uma pessoa;

Dava-se grande importncia educao cvica e solidariedade.


A disputa entre filsofos e retores
Ao longo da histria, a convivncia entre retores e filsofos nem sempre foi fcil,
lutando ambos pela prioridade na formao dos cidados gregos.
A retrica foi descoberta pelos gregos como forma democrtica de resolver os
problemas da cidade.
A via da filosofia
Parmnides e Plato tinham uma abordagem ontolgica da retrica (ontos=ser).
Consideravam que a nica via para a verdade era o ser.
Parmnides segue a via abstrata da reflexo pura. Investe e confia no poder que a razo
tem de, por si s, especular e atingir a verdade das coisas.
Indiferente poltica, desvalorizava as opinies humanas e ignorava a importncia de se
chegar a consensos e o poder convincente da palavra.
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A via da retrica
Grgias e Demcrito, sofistas, tinham uma abordagem antropolgica da retrica
(antrophos = homem). Consideravam que a nica via para a verdade era a investigao
pela argumentao interpessoal.
Nesta altura a retrica vista como uma prtica ajustada s necessidades do tempo.
Os sofistas apareceram no final do sc. V a.C., numa poca em que a vida democrtica
reclamava a participao dos cidados que se mostrassem aptos a faz-lo. Vinham de
vrios pontos da Grcia ou at do estrangeiro, apresentando tendncia para relativizar os
hbitos e instituies atenienses e para pr em causa a autoridade das tradies
enraizadas.
Os sofistas so pois um conjunto de livres-pensadores que se propem a ensinar a
arte da poltica e as qualidades que os homens devem possuir para serem bons cidados.
Andam de cidade em cidade proporcionando aos jovens que desejam alargar os seus
horizontes intelectuais uma aprendizagem eficiente, habilitando-os para o ingresso na
vida poltica. Voltavam-se para a formao prtica dos homens, tentando torn-los bons
cidados e polticos eficientes, ensinando temas relativos moral, poltica, economia,
retrica e filosofia.
Os sofistas pem de lado a procura da verdade em si mesma para insistirem na arte de
expor, argumentar e convencer. A verdade torna-se assim subjetiva e relativa a cada um.
A insistncia neste subjetivismo e relativismo fomenta a liberdade intelectual que leva
as pessoas a questionar os conceitos e valores do passado e, simultaneamente, a
estabelecer novos tipos de crenas e ideais. A retrica apresenta-se assim como um
poderosa tcnica de persuaso.
No entanto, este reduzir o carter absoluto e universal da verdade a meras opinies
relativas, faz com que os sofistas comecem a ser expulsos do grupo dos filsofos.
Apesar de tudo, hoje em dia considera-se que o mrito dos sofistas reside na sua
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reflexo centrada no homem, formao cultural do homem, vocao pedaggica,


radicalidade argumentativa, desenvolvimentos da eloquncia e questionamento da
tradio.
A retrica, serva da filosofia
Com Plato a retrica sujeita-se ao papel de escrava da filosofia. Este v na retrica
uma forma de manipular as tcnicas argumentativas, postas ao servio de interesses
particulares, desrespeitando a verdade.
Plato ope-se o verdadeiro conhecimento, procurado pelo filsofo, ao pseudo- saber da
retrica sofista, que atravs do recurso lisonja da palavra, negligencia a verdade.
Apesar de tudo, Plato serve-se da dialtica, atribuindo-lhe efeitos persuasivos para
banir a contradio dos interlocutores, e da retrica, utilizando como mtodo de
comunicao e explicao da verdade. A retrica platnica est assim ao servio da
verdade e no das opinies humanas, como a retrica sofista.
A retrica ao lado de outros saberes
A retrica no tida s como a arte de bem falar, mas tambm como a teoria dessa
mesma arte. Aristteles classifica os saberes em t rs grupos, de acordo com a sua
finalidade:

Cincias Teorticas, saber explicar (atual conhecimento cientfico):


-Metafsica, Teologia, Fsica, Geometria e Astronomia

Cincias Prticas, saber agir (atuais campos da ao humana):


-tica, Economia e Poltica

Cincias Poiticas, saber fazer (ligados produo e tcnica):


-Poitica, Dialtica, Retrica, Medicina, Msica, Ginstica, Estaturia
O conhecimento e explicao do mundo, e a ao ou prtica humana tm mtodos e
meios de prova especficos. Nas cincias teorticas utiliza-se a intuio para a deduo
lgica de afirmaes, e nas cincias prticas usa-se a retrica. Sendo assim, o campo da

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ao no se pode reger por verdades cientficas demonstrveis, recorrendo-se a


raciocnios dialticos e discursos retricos para se comprovarem as opinies.
Retrica e oratria
Aps a morte de Plato e Aristteles d-se na Grcia uma decadncia poltica e social
que se reflete na filosofia. Esta abandona os grandes problemas tericos e passa a
centrar-se na reflexo sobre os problemas relativos ao bem-estar e felicidade das
pessoas.
Com a decadncia poltica e social dos gregos e a sua anexao ao Imprio Romano,
a retrica passa a ser cultivada como oratria, a arte de bem orar e discursar, sendo
utilizada pela sua organizao formal e recursos estilsticos que embelezam o discurso.
Esta orientao da retrica confere-lhe um sentido negativo, na medida em que o
discurso retrico prima pela beleza e forma em detrimento da riqueza do contedo.
Na idade moderna, com o privilgio do modelo demonstrativo lgico-matemtico, h o
desprezo pelo que tratado a nvel das opinies humanas.
Retrica e Democracia na atualidade
Uma vez que na democracia todos os homens devem tomar parte ativa na resoluo
dos problemas postos pela vida em comum, a argumentao t ida como o processo
mais favorvel descoberta de solues. A retrica torna-se num modelo de resoluo
das questes prioritrias e a argumentao apresenta os seguintes aspetos formativo.
Repudia o dogmatismo, ope-se aceitao de verdades nicas, promove o exerccio do
dilogo, valoriza a racionalidade inter subjetiva e instiga ao dever da participao.
Em concluso:
H uma ligao natural entre o nascimento da filosofia e um clima social e poltico que
favorecia a discusso pblica de ideias. Contudo, ao longo da histria, tanto a filosofia
como as cincias foram cultivadas em regimes contrrios liberdade de estudo e
pensamento.

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Os especialistas em retrica, os retricos ou retores, eram professores que ensinavam


os jovens gregos a discursar em pblico: formavam oradores.
Plato e Aristteles acusavam os retricos, a que chamavam sofistas, de desonestidade
intelectual.
Acusavam-nos de desprezar a razo e a tica, ensinando a manipular a opinio pblica
consoante fosse mais conveniente.

III. Racionalidade Argumentativa e Filosofia

3. Argumentao e Filosofia
3.2. Persuaso e manipulao ou os dois usos da retrica
Persuaso e Manipulao ou os dois usos da retrica
A retrica pode ser utilizada devida ou indevidamente, sendo considerados o bom e o
mau uso da retrica.
O bom uso da retrica consiste em permitir ao auditrio decidir por ele mesmo de um
modo consciente e crtico. Est relacionado com a persuaso.
O mau uso da retrica quando o auditrio no deixado a decidir livremente, mas
sim em funo dos interesses do orador. Est relacionado com a manipulao.
Persuaso
Persuadir consiste em convencer algum a aceitar ou a decidir-se por algo sem que
isso implique a diminuio das suas aptides cognitivas ou comportamentais. O
objetivo da persuaso apenas provocar a adeso, apelando a fatores racionais e
emocionais.
Na persuaso pressupe-se que quem persuadido conhece o objeto sobre o qual
incide a argumentao, est a par de todas as solues possveis sobre as quais

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chamado a optar e est consciente das consequncias positivas e negativas decorrentes


de cada uma das escolhas.
A aceitao de uma doutrina passa, por vezes, no s por aquilo que consideramos
verdadeiro mas tambm pelo que do nosso agrado. Para isso, o orador serve-se do
logos, ethos e pathos. Apoia-se na fora dos seus argumentos logos, na credibilidade da
sua pessoa ethos, e nos sentimentos que desperta ao auditrio pathos.
O fenmeno da persuaso d-se por 6 etapas, que no seu conjunto formam um todo
indivisvel:
Receo e compreenso da mensagem:
1. Exposio mensagem: necessrio que a pessoa tenha contacto com a mensagem,
que pode ser apresentada numa conferncia, revista,
televiso,...
2. Ateno mensagem: a ateno seletiva. No basta ser exposto mensagem para
que ele capte a nossa ateno.
3. Compreenso da mensagem: cada pessoa extrai e constri significaes da mensagem
que lhe so prprias.
4. Aceitao ou rejeio: a pessoa elabora um juzo em termos de acordo ou desacordo
com as propostas e, eventualmente, pode mudar de atitude.
Aceitao da mensagem:
5. Persistncia da mudana: Se a mensagem provocar uma nova atitude esta deve
permanecer, para que se verifique se se efetuou realmente a persuaso.
6. Ao: a nova atitude concretiza-se atravs de novos comportamentos baseados na
nova opinio.
Manipulao
Manipular o uso indevido da argumentao com o intuito de levar os interlocutores
a aderir involuntariamente s propostas do orador. Na manipulao existe uma inteno

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deliberada de desvalorizar os fatores racionais, apelando a uma adeso emocional. O


prprio discurso baseado em falcias, onde patente a inteno de confundir o
auditrio.
Do ponto de vista filosfico, manipular corresponde ao uso abusivo da retrica, onde
o orador, munido de ideia que no apresenta a discusso, concentra os seus esforos no
desenvolvimento de tcnicas adequadas sua imposio. Faz dos seus pontos de vista
autnticos dogmas.
A relao entre o orador e o auditrio no de igualdade mas sim de domnio.
Para melhor perceber a manipulao h que definir corretamente os conceitos de
erro, mentira e engano:
Erro: o erro factual. Errar dizer uma falsidade sem se ter conscincia disso, estarse convencido de que a nossa afirmao verdadeira. Deve-se ao desconhecimento ou
incapacidade, mas no nunca a m-f. No constitui assim manipulao.
Mentira: a mentira psicolgica. Mentir consiste em dizer uma falsidade com inteno
de tal. Implica m-f e uma tentativa de manipulao.
Engano: o engano psicolgico e factual. Enganar pressupe mentir e que essa mentira
seja aceite pelo auditrio, ou seja, ele adire falsidade apresentada. O engano j
pressupe manipulao.
Princpios ticos da retrica
A participao correta na atividade argumentativa pressupe que se age de boa f.
Para isso deve respeitar-se certos princpios que foram sendo enunciados por diversos
filsofos ao longo da histria:
Princpio da cooperao: todos os participantes devem comprometer-se a respeitar os
objetivos ou finalidades comuns do dilogo, evitando intervenes que se afastem dessa
direo.

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Princpio da quantidade: todos devem contribuir com informaes necessrias ao


andamento do dilogo, no omitindo possveis informaes teis mas evitando a
apresentao de informaes excessivas.
Princpio da qualidade: as informaes apresentadas devem ser fundamentadas e os
participantes devem ser sinceros quanto aos argumentos que apresentam.
Princpio da preciso: nenhum interveniente pode distorcer as afirmaes feitas pelos
outros, deformando-lhes o sentido.
Princpio da coerncia: os participantes devem manter-se fiis aos pontos de vista que
apresentam, rejeitando qualquer tipo de informaes contraditrias.
Princpio do modo: os intervenientes devem expor claramente os seus pontos de vista,
evitando discursos ambguos, longos e desordenados que confundam o que se pretende
dizer.
Princpio da livre expresso: os participantes no podem impedir a opinio ou o
questionamento de pontos de vista expressos por qualquer outro interveniente da
discusso.
Princpio da prova: todos os intervenientes so obrigados a fundamentar as afirmaes
que fazem se isso assim lhes for exigido.
Em concluso:
Persuadir algum fazer essa pessoa mudar de ideias.
A persuaso irracional ou manipulao um tipo de argumentao que viola a
autonomia das pessoas e procura impedi-las de pensar.
A persuaso racional um tipo de argumentao que respeita a autonomia das
pessoas e se dirige sua inteligncia.
Na persuaso irracional procura-se fechar o debate; por contraste, a persuaso racional
um convite ao debate e reflexo. Na persuaso racional argumentamos para chegar
verdade das coisas, independentemente de saber quem ganha o debate; na persuaso

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irracional discute-se para ganhar o debate, independentemente de saber de que lado


est a verdade.

III. Racionalidade Argumentativa e Filosofia

3. Argumentao e Filosofia
3.3. Argumentao, verdade e ser
Plato afirma que h dois usos distintos da retrica, um bom e um mau uso e se o
bom uso consiste em usar a capacidade persuasiva do discurso para dizer o que
verdade. Temos que perguntar: o que a verdade? Haver uma verdade?
So diferentes as perspetivas assumidas pelos sofistas e por Plato.
O pressuposto de que Plato parte que h de facto uma verdade e que ela a
expresso de uma realidade imutvel e perfeita o mundo do ser de que a realidade
que continuamente captamos atravs dos nossos sentidos e da experincia quotidiana
apenas um reflexo ou uma cpia. Para Plato existe uma verdade universal e absoluta a
respeito de cada assunto, quando o nosso discurso traduz adequadamente essa realidade
ideal. Neste contexto a retrica s ser legtima quando o orador colocar a sua
capacidade oratria ao servio da descoberta e da partilha do conhecimento dessa
verdade universal.
Os sofistas, pelo contrrio, partem do pressuposto de que, pelo menos no que se
refere aos valores morais e polticos, no existe verdade segura e unvoca; existem
unicamente opinies e argumentos mais ou menos convincentes. Assim sendo, o dever e
direito de quem est convencido da qualidade da sua perspetiva so usar uma
argumentao convincente para conquistar a aceitao das outras pessoas. Para os

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sofistas a verdade filosfica mltipla pois, sendo humana nunca certa seno para
aquele que a possui e enuncia e para os que nela acreditam.
Estas questes da natureza da realidade e da possibilidade ou impossibilidade de a
conhecermos tal como ela , tem interessado os filsofos desde os gregos e continua em
aberto e a suscitar inmeras discusses e diferentes perspetivas de resposta. As questes
de saber o que verdade ou o conhecimento da realidade no esto ainda
resolvidas e continuam a desafiar a capacidade racional e argumentativa dos filsofos e
de todos ns.
Se qualquer filsofo:

Aspira a partilha a verdade em que acredita, a torn-la acessvel e admitida pelas


outras pessoas, se possvel por todos os seres humanos (auditrio universal);

No pode impor as suas ideias aos outros nem pela fora ou pela violncia;

Ento ele no pode pr de lado a retrica, pois o que ele pode fazer por
interpretaes, isto , opinies ou teses, e usar a argumentao para justificar essas
opinies, procurando persuadir o seu auditrio da verdade dessas teses ou, pelo
menos, da sua razoabilidade.
A retrica um instrumento indispensvel para justificar as nossas opinies e
permitir o esclarecimento mtuo das pessoas que honesta e sinceramente procuram a
verdade e o verdadeiro conhecimento da realidade ou do ser. Ela permitir, a todos os
que possuem curiosidade e desejo de aceder verdade, uma averiguao conjunta do
conhecimento no pressuposto de que a verdade tem de ser reconhecida por todos
(universalmente) com base num acordo inter subjetivo.
Claro que nada nos garante que a habilidade retrica no seja usada para manipular
e enganar. Porm, contra esse perigo, o melhor remdio , justamente, a posse de um
apurado sentido crtico e de uma capacidade argumentativa que nos permita conhecer

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os meios para nos defendermos de qualquer tipo de manipulao: a capacidade de


decompor os raciocnios, analisar as intenes e o alcance dos discursos, ponderar a
pertinncia dos argumentos, de modo a podermos assumir uma posio crtica,
esclarecida e ativa face seja a que discurso for.
Em concluso:
Se o estudo for livre e as capacidades crticas das pessoas forem estimuladas e bemvindas, os argumentos falaciosos, por mais atraentes que sejam, acabaro por ser
denunciados, no processo de avaliao crtica de ideias.
Se o estudo for inicitico, se os estudantes e os professores forem encorajados a
seguir Gurus e Mestres, mas no a pensar por si, quaisquer ideias sero aceites como
Verdades Absolutas, dado que ningum ter coragem de as criticar por mais que os
argumentos que as sustentam sejam maus.

IV. O conhecimento e a racionalidade cientifica e tecnolgica

1. Descrio e interpretao da atividade cognoscitiva


1.1. Estrutura do ato de conhecer

Tipos de conhecimento
Que tipos de conhecimento h? Saber tocar piano, por exemplo, no como saber que
os pianos tm teclas. Nesta seco, vamos distinguir alguns tipos de conhecimento.
Saber andar de bicicleta diferente de saber que andar de bicicleta saudvel. Mas
existe algo em comum entre estes tipos de conhecimento: nos dois casos h um sujeito
(que conhece) e um objeto (o que conhecido).
Por exemplo:
a. O Joo sabe andar de bicicleta.
b. O Joo sabe que andar de bicicleta saudvel.
Ambas as frases exprimem uma relao de conhecimento entre o Joo e as coisas que
ele sabe. No primeiro caso, o objeto de conhecimento andar de bicicleta; no segundo,
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a ideia de que andar de bicicleta saudvel. Diz-se que o Joo o sujeito do


conhecimento ou o agente cognitivo. Por vezes, o objeto e o sujeito de conhecimento
coincidem, pois o Joo tambm sabe que ele prprio existe, por exemplo, ou que se
chama Joo.
Mas que tipo de coisas sabemos? Vejamos os seguintes exemplos:
1. O Joo sabe andar de bicicleta.
2. O Joo conhece Lus Figo.
Reparemos nos objetos do conhecimento do Joo. Em 1, o objeto do conhecimento
uma atividade (andar de bicicleta). Este o tipo de conhecimento a que os filsofos
chamam saber-fazer.
Saber andar de bicicleta no como conhecer Lus Figo. O objeto de conhecimento no
caso 2 um objeto concreto (Lus Figo) e em 1 uma atividade. Alm disso, conhecer
Lus Figo ter algum tipo de contacto direto com ele, conhec-lo pessoalmente.
Podemos saber muitas coisas sobre Lus Figo, mas se no o conhecermos pessoalmente
no dizemos que o conhecemos. O mesmo acontece com o conhecimento de uma
cidade, por exemplo. Podemos saber muitas coisas sobre Paris, mas se nunca l fomos,
no dizemos que conhecemos Paris. A este tipo de conhecimento que temos quando
conhecemos uma pessoa, uma cidade, etc., chama-se conhecimento por contacto.
Alguns filsofos, como Bertrand Russell, defendem que no conhecemos realmente
por contacto uma cidade ou uma pessoa, mas apenas as sensaes que temos de uma
cidade ou de uma pessoa. Contudo, hoje em dia, os filsofos usam a noo de
conhecimento por contacto num sentido menos restrito.
Vejamos mais alguns exemplos:
3. O Joo sabe que Lus Figo um jogador de futebol.
4. O Joo sabe que Londres uma cidade.

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Os filsofos chamam saber-que ao tipo de conhecimento expresso em 3 e 4. No caso


do saber-fazer, o objeto do conhecimento uma atividade. No caso do conhecimento
por contacto, o objeto uma pessoa ou lugar (um objeto concreto). No caso do saberque, o objeto do conhecimento uma proposio. Como vimos no uma proposio
aquilo que expresso por uma frase declarativa.
Quando dizemos que o Joo sabe que Londres uma cidade, o que o Joo sabe que a
proposio expressa pela frase que est depois da palavra que (Londres uma
cidade) verdadeira. Por outras palavras, saber que Londres uma cidade ou que Lus
Figo um jogador de futebol saber que verdade que Londres uma cidade ou que
Lus Figo um jogador de futebol.
A este tipo de conhecimento tambm se chama conhecimento de verdades ou
conhecimento proposicional, pois o seu objeto uma proposio verdadeira.

Praticamente tudo aquilo que aprendemos na escola do tipo saber-que.


Aprendemos que qualquer nmero multiplicado por zero d zero, que D. Afonso
Henriques foi o primeiro rei de Portugal, que o Sol uma estrela, que Portugal fica no
continente europeu, etc. Praticamente todo o nosso conhecimento cientfico, histrico,
matemtico, literrio, etc. deste tipo.
No portanto de estranhar que os filsofos tenham centrado a sua ateno nesta noo
de conhecimento. Por este motivo, iremos tambm centrar a nossa ateno neste tipo de
conhecimento.
A definio de conhecimento
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Conhecimento e crena
Para responder questo de saber o que o conhecimento temos de refletir sobre as
coisas que conhecemos para identificarmos o que h de comum entre elas. A primeira
coisa que podemos constatar que o conhecimento uma relao entre o sujeito do
conhecimento e o objeto do conhecimento.
Uma crena (ou convico ou opinio) tambm uma relao entre o sujeito que tem a
crena e o objeto dessa crena. Por crena os filsofos no querem dizer unicamente
a f religiosa, mas sim qualquer tipo de convico que uma pessoa possa ter. Por
exemplo, podemos acreditar que Aristteles foi um filsofo, ou podemos acreditar que a
Terra maior do que a Lua.
Dado que tanto a crena como o conhecimento relacionam um agente cognitivo com
uma proposio, que relaes existem entre a crena e o conhecimento?
Muitos filsofos defendem que todo o conhecimento envolve uma crena.
Por outras palavras, quando sabemos algo, acreditamos nesse algo. Uma razo para
dizer isto que as afirmaes do gnero das seguintes so contraditrias, num certo
sentido:
Sei que a Terra redonda, mas no acredito nisso.
No acredito em bruxas, mas que as h, h!
Estas afirmaes so contraditrias num certo sentido porque no parece possvel saber
algo sem acreditar no que se sabe. Assim, diz-se que a crena uma condio
necessria para o conhecimento: sem crena no h conhecimento.
G uma condio necessria para F quando tudo o que F G.
G uma condio suficiente para F quando tudo o que G F.
Por exemplo, viver em Portugal uma condio necessria para viver em Lisboa porque
todas as pessoas que vivem em Lisboa vivem em Portugal. E viver em Portugal uma

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condio suficiente para viver na Europa porque todas as pessoas que vivem em
Portugal vivem na Europa.
Eis ento aquilo que descobrimos at agora acerca da natureza do conhecimento:
A crena uma condio necessria para o conhecimento.
Por exemplo, se o Joo souber que a neve branca, ento acredita que a neve branca.
Mas ser a crena uma condio suficiente para o conhecimento? Evidentemente que
no, dado que as pessoas podem acreditar em coisas que no podem saber,
nomeadamente falsidades. Uma pessoa pode acreditar que existem fadas, por exemplo,
mas no pode saber que existem fadas porque no h fadas.
A crena no uma condio suficiente para o conhecimento.
Como a crena uma condio necessria mas no suficiente para o conhecimento, a
crena e o conhecimento no so equivalentes.
Saber e acreditar so coisas distintas.
Ao tentar definir uma coisa, procuramos as condies necessrias e suficientes dessa
coisa. Se tivermos descoberto uma condio necessria mas no suficiente, continuamos
a procurar outras condies necessrias porque em muitos casos um conjunto de
condies necessrias acaba por ser uma condio suficiente.
Por exemplo, uma condio necessria para ser um ser humano ser um homindeo.
Mas no uma condio suficiente, dado que muitos homindeos no so seres
humanos. Outra condio necessria para ser um ser humano ser racional; mas
tambm no suficiente, dado que podero existir seres racionais extraterrestres, por
exemplo, e eles no sero seres humanos. Mas se juntarmos as duas condies
necessrias, obtemos uma condio suficiente, pois basta ser racional e um homindeo
para ser um ser humano.
isso que iremos fazer em relao definio de conhecimento. Dado que ser uma
crena uma condio necessria mas no suficiente de conhecimento, vamos ver se
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haver outras condies necessrias para o conhecimento que em conjunto sejam uma
condio suficiente.
Conhecimento e verdade
Vimos que a crena necessria para o conhecimento, mas no suficiente.
Ser que h outras condies necessrias para o conhecimento?
Alguns termos da linguagem so factivos. Por exemplo, o termo ver factivo. Isto
quer dizer que se o Joo viu a Maria na praia, a Maria estava efetivamente na praia. Se a
Maria no estava na praia, o Joo no a viu l apenas pensou que a viu l, mas
enganou-se.
O mesmo acontece com o conhecimento. Se o Joo sabe que a Maria est na praia, a
Maria est na praia. Se a Maria no est na praia, o Joo no pode saber que a Maria
est na praia pode pensar, erradamente, que a Maria est na praia, mas isso ser
apenas uma crena falsa. Como bvio, nenhuma crena falsa pode ser conhecimento,
mesmo que a pessoa que tem essa crena pense, erradamente, que conhecimento.
O conhecimento factivo, ou seja, no se pode conhecer falsidades.
Dizer que no se pode conhecer falsidades no o mesmo que dizer que no se pode
saber que algo falso. As duas coisas so distintas. Vejamos os seguintes exemplos:
1. A Mariana sabe que falso que o cu verde.
2. A Mariana sabe que o cu verde.
1 e 2 so muito diferentes. O exemplo 1 no viola a factividade do conhecimento. Mas a
afirmao 2 viola a factividade do conhecimento: a Mariana no pode saber que o cu
verde, pois o cu no verde.
Dizer que o conhecimento factivo apenas dizer que sem verdade no h
conhecimento.
A verdade uma condio necessria para o conhecimento.

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No se deve confundir as seguintes duas coisas: pensar que se sabe algo e saber
realmente algo. Se de facto soubermos algo, ento temos a garantia de que isso que
sabemos verdade. Mas podemos pensar que sabemos algo sem o sabermos de facto.
Por exemplo, no tempo de Ptolomeu pensava-se que a Terra estava imvel no centro do
universo. E as pessoas estavam to seguras disso que pensavam que sabiam que a Terra
estava imvel no centro do universo.
Contudo, mais tarde descobriu-se que essas pessoas estavam enganadas: elas no
sabiam tal coisa, apenas pensavam que sabiam. Claro que quando hoje pensamos que
sabemos que essas pessoas estavam enganadas, podemos tambm estar enganados.
Ser que basta que uma crena seja verdadeira para ser conhecimento?
Por outras palavras, ser que uma crena verdadeira suficiente para o conhecimento?
Vejamos o seguinte dilogo:
Catarina: Acabei de jogar no totoloto, e algo me diz que desta que vou ganhar.
Joo: Espero que sim!
Alguns dias depois...
Catarina: Joo, ganhei o totoloto! No te disse que sabia que ia ganhar o totoloto?
Joo: Parabns Catarina! Mas como podias saber tal coisa? No querers antes dizer
que tinhas uma forte convico de que ias ganhar?
Catarina: Bom, saber, saber, no sabia. Mas achava que sim, e a verdade que isso
acabou por se verificar.
Joo: Mas isso s quer dizer que tinhas uma crena verdadeira. Mas ser que tinhas de
facto conhecimento? Sabias mesmo que ias ganhar o totoloto? que se soubesses, no
precisavas de estar com esperana nisso, e nem sequer precisavas de verificar os
nmeros do sorteio.
Catarina: Como assim?
Joo: Por exemplo, se sabes quando nasceste, no precisas de consultar o teu bilhete de
identidade para verificar o ano. Do mesmo modo, se soubesses que ias ganhar o
totoloto, no precisavas verificar que nmeros saram: j sabias que nmeros eram
esses.

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Catarina: Sim, tens razo: o facto de as nossas crenas se revelarem verdadeiras no


implica que tivssemos conhecimento prvio dessas coisas.

Do facto de a crena da Catarina se ter revelado verdadeira no se segue que ela


soubesse que ia ganhar o totoloto. Crenas que por acaso se revelam verdadeiras no
so conhecimento. O conhecimento no pode ser obtido ao acaso.
Vejamos outro exemplo: Imagine-se que a professora de matemtica do
Joo lhe perguntava qual a raiz quadrada de quatro. Imagine-se que ele achava que era
dois, mas no tinha a certeza. Ser que ele sabia qual raiz quadrada de quatro, ou ser
que ele apenas teve sorte ao acertar na resposta? Para haver conhecimento uma pessoa
no pode apenas ter sorte em acreditar no que efetivamente verdade; tem de haver
algo mais que distinga o conhecimento da mera crena verdadeira. Para haver
conhecimento, aquilo em que acreditamos tem de ser verdade, mas podemos acreditar
em coisas verdadeiras sem saber realmente que so verdadeiras.
Portanto, nem todas as crenas verdadeiras so conhecimento. Por outras palavras:
A crena verdadeira no suficiente para o conhecimento.
Conhecimento e justificao
Plato foi um dos primeiros filsofos a distinguir a crena do conhecimento. O Teeteto
um dos seus dilogos mais importantes. nele que se encontra a definio clssica de
conhecimento, que vamos agora estudar.
Scrates: Diz-me, ento, qual a melhor definio que poderamos dar de conhecimento,
para no nos contradizermos?
[...]
Teeteto: A de que a crena verdadeira conhecimento? Certamente que a crena
verdadeira infalvel e tudo o que dela resulta belo e bom.
[...]

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Scrates: O problema no exige um estudo prolongado, pois h uma profisso que


mostra bem como a crena verdadeira no conhecimento.
Teeteto: Como possvel? Que profisso essa?
Scrates: A desses modelos de sabedoria a que se d o nome de oradores e advogados.
Tais indivduos, com a sua arte, produzem convico, no ensinando mas fazendo as
pessoas acreditar no que quer que seja que eles queiram que elas acreditem. Ou julgas tu
que h mestres to habilidosos que, no pouco tempo concebido pela clepsidra sejam
capazes de ensinar devidamente a verdade acerca de um roubo ou qualquer outro crime
a ouvintes que no foram testemunhas do crime?
Teeteto: No creio, de forma nenhuma. Eles no fazem seno persuadi-los.
Scrates: Mas para ti persuadir algum no ser lev-lo a acreditar em algo?
Teeteto: Sem dvida.
Scrates: Ento, quando h juzes que se acham justamente persuadidos de factos que
s uma testemunha ocular, e mais ningum, pode saber, no verdade que, ao julgarem
esses factos por ouvir dizer, depois de terem formado deles uma crena verdadeira,
pronunciam um juzo desprovido de conhecimento, embora tendo uma convico justa,
se deram uma sentena correta?
Teeteto: Com certeza.
Scrates: Mas, meu amigo, se a crena verdadeira e o conhecimento fossem a mesma
coisa, nunca o melhor dos juzes teria uma crena verdadeira sem conhecimento. A
verdade, porm, que se trata de duas coisas distintas.
Teeteto: Eu mesmo j ouvi algum fazer essa distino, Scrates; tinha-me esquecido
dela, mas voltei a lembrar-me. Dizia essa pessoa que a crena verdadeira acompanhada
de razo (logos) conhecimento e que desprovida de razo (logos), a crena est fora do
conhecimento [...].
Plato, Teeteto, 201a-c.
Aquilo que Plato designa por logos o que tradicionalmente se passou a designar
justificao. Assim, alm de verdadeira, diz-nos Plato, a crena tem de ser
justificada, para que possa haver conhecimento. Mas o que significa isto?
Vimos que o facto de algum ter uma crena verdadeira no significa que tenha
conhecimento. Por exemplo, do facto de a crena do Antnio de que vai passar de ano

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ser verdadeira no se segue que ele saiba realmente que vai passar de ano. Mas se, alm
de possuir uma crena verdadeira, o Antnio tiver razes que suportem a sua crena, ele
sabe-o. Por exemplo, se ele acreditar que vai passar de ano porque tem boas notas a
todas as disciplinas, ento a sua crena verdadeira no mero fruto do acaso, mas est
justificada por boas razes: a sua crena conhecimento. Eis, portanto, a terceira
condio para o conhecimento:
A justificao uma condio necessria para o conhecimento.
Mas ser a crena justificada suficiente para o conhecimento? Se acreditarmos em algo
justificadamente, teremos a garantia de que sabemos esse algo? Se pensarmos em
Ptolomeu, vemos que ter uma justificao para acreditar numa coisa no significa que se
tenha conhecimento dessa coisa. Ptolomeu tinha boas justificaes para pensar que a
Terra estava parada no centro do universo. Mas no sabia que a Terra estava parada no
centro do universo.
Como vimos diferentes pessoas esto em diferentes estados cognitivos. No estado
cognitivo em que se encontrava Ptolomeu, havia justificao para pensar que a Terra
estava parada no centro do universo. Mas os estados cognitivos das pessoas no so
perfeitos e por isso as pessoas podem ter justificao para acreditar em falsidades.
Por exemplo, antes de na Europa se descobrir a Austrlia, todos os cisnes conhecidos na
Europa eram brancos. Os europeus tinham por isso uma justificao para pensar que
todos os cisnes do mundo eram brancos.
Mas depois descobriu-se cisnes negros na Austrlia. Logo, podemos ter crenas
justificadas sem ter conhecimento.
Por outras palavras:
A crena justificada no suficiente para o conhecimento.

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Note-se que para que a crena de algum esteja justificada no necessrio que essa
pessoa saiba justificar a sua crena. Isso seria absurdo, dado que a justificao mais
profunda para pensar que est uma rvore minha frente inclui complexos mecanismos
da viso que a maior parte das pessoas desconhece. E mesmo para justificar a crena de
que todos os corvos so negros muitas pessoas sero incapazes de articular
explicitamente um argumento indutivo.
A crena de algum pode estar justificada sem que essa pessoa a consiga justificar
explicitamente. O que importa que a sua crena esteja justificada e no que ela saiba
justificar explicitamente a sua crena. Vejamos mais um exemplo: o Pedro uma
criana de 7 anos e tem uma crena justificada de que o irmo est a beber leite com
chocolate. Mas o Pedro no consegue justificar explicitamente a sua crena. O que
importa que h uma justificao que legitima a crena do Pedro: nomeadamente, o
Pedro est justificado a acreditar que o irmo est a beber leite com chocolate porque
est a v-lo beber leite com chocolate e nada h de errado com a sua viso.
Vimos at agora trs condies necessrias para algo ser conhecimento: ser uma crena,
ser verdadeira e ser justificada. E vimos tambm que, separadamente, nenhuma dessas
condies era suficiente. Mas se juntarmos as trs condies, obtemos a seguinte
definio de conhecimento, em que S uma pessoa qualquer:
S sabe que P se, e s se,
a. S acredita que P.
b. P verdadeira.
c. H uma justificao para S acreditar que P.
Esta a definio tradicional de conhecimento. Uma condio necessria e suficiente
para ter conhecimento ter uma crena verdadeira justificada.
Apesar de, separadamente, nenhuma das condies ser suficiente para o conhecimento,
tomadas conjuntamente parecem suficientes. Se algum tiver uma crena, se essa crena

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for verdadeira e se alm disso essa crena estiver justificada, parece impossvel que essa
pessoa no tenha conhecimento.
Conhecimento e crena verdadeira justificada
A definio tradicional de conhecimento foi aceite durante mais de dois mil anos tendo
sido disputada em 1963 pelo filsofo americano Edmund Gettier (n. 1927). Gettier
forneceu um conjunto de contraexemplos que mostram que podemos ter uma crena
verdadeira justificada sem que essa crena seja conhecimento. Vejamos ento o tipo de
contraexemplos em causa.
Imaginemos que o Joo vai a uma festa onde se encontrava a Ana.
Imaginemos ainda o seguinte:
1. O Joo acredita que a Ana tem a A Arte de Pensar na mochila.
Imaginemos tambm que a crena do Joo est justificada. Por exemplo, suponhamos
que a Ana lhe tinha dito que ia levar o manual para a festa porque a Rita lho tinha
pedido emprestado. Portanto, o Joo no s acredita que a Ana tem A Arte de Pensar na
Mochila como a sua crena est justificada:
2. A crena do Joo de que a Ana tem a A Arte de Pensar na mochila est justificada.
At aqui tudo bem. Agora vem a parte substancial do argumento:
Imaginemos que a Rita tinha telefonado Ana para lhe dizer que afinal j no precisava
que ela lhe emprestasse o manual. Suponhamos agora que o Antnio tinha encontrado a
Ana antes da festa e lhe tinha pedido para levar o manual para a festa para tirar umas
dvidas com ela. Portanto, a Ana tinha de facto A Arte de Pensar na mochila, mas no o
tinha por causa da Rita, mas por causa do Antnio.
3. A Ana tem A Arte de Pensar na mochila.
Isto significa que, dado 1, 2 e 3, o Joo tem uma crena verdadeira justificada. E, logo,
de acordo com a definio tradicional de conhecimento, o Joo sabe que a Ana tem A
Arte de Pensar na mochila. Mas ser que o Joo sabe tal coisa?
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No! O Joo no pode saber tal coisa. Aquilo que justifica a crena do Joo no o
levou Ana a levar A Arte de Pensar para a festa. por mera sorte que a crena do Joo
verdadeira. Por outras palavras, a razo pela qual o Joo acredita que a Ana tem A Arte
de Pensar na mochila no a razo que levou a Ana a levar o manual para a festa.
Assim, temos um caso em que algum tem uma crena verdadeira justificada mas em
que essa crena no constitui conhecimento. E isto contradiz a definio tradicional de
conhecimento. Logo, a definio tradicional de conhecimento est errada. Ou seja:
A crena verdadeira justificada no suficiente para o conhecimento.
H muitas propostas de soluo do problema levantado pelos contraexemplos de Gettier.
Em geral, todas aceitam os mritos da definio tradicional de conhecimento, e
procuram apenas fortalecer a noo de justificao, para bloquear os contra exemplos.
Mas este um tema para um estudo mais aprofundado.
Em concluso:
Que tipos de conhecimento h?
O que o conhecimento?
A crena uma condio necessria para o conhecimento.
O conhecimento factivo, ou seja, no se pode conhecer falsidades.
A verdade uma condio necessria para o conhecimento.

Objees: Os contraexemplos de Gettier. Estes mostram que podemos ter uma


justificao para acreditar em algo verdadeiro sem que esse algo seja conhecimento.

Conhecimento a priori e a posteriori


Quais so as fontes ou origens do conhecimento? Aparentemente, a fonte do nosso
conhecimento de que 2 + 2 = 4 diferente da fonte do conhecimento de que a neve
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branca. Para sabermos que 2 + 2 = 4 basta pensarmos sobre isso. Mas para sabermos
que a neve branca temos de ver neve. Isto significa que a justificao do nosso
conhecimento de que 2 + 2 = 4 diferente da justificao do nosso conhecimento de
que a neve branca.
No primeiro caso, parece que estamos justificados a acreditar que 2 + 2 = 4 pelo
pensamento apenas, ou pela razo. No segundo caso, estamos justificados a acreditar
que a neve branca pela experincia, ou atravs dos nossos sentidos.
D-se tradicionalmente os nomes de conhecimento a priori e conhecimento a
posteriori ou conhecimento emprico a estes dois tipos de conhecimento:
Um sujeito sabe que P a priori se, e s se, sabe que P pelo pensamento apenas.
Um sujeito sabe que P a posteriori se, e s se, sabe que P atravs da experincia.
A distino entre conhecimento a priori e a posteriori encontra-se implcita em muito
filsofos, mas foi com Immanuel Kant (1724-1804) que se tornou mais clara:
[] designaremos, doravante por juzos a priori, no aqueles que no dependem desta
ou daquela experincia, mas aqueles em que se verifica absoluta independncia de toda
e qualquer experincia. A estes opem-se o conhecimento emprico, o qual
conhecimento apenas possvel a posteriori, isto , atravs da experincia.
Immanuel Kant, Crtica da Razo Pura, 1787, B2-B3.
Vejamos agora o seguinte caso:
1. Um objeto totalmente azul no vermelho.
No precisamos de recorrer experincia para saber que 1 verdade: basta pensar. Mas
o prprio conceito de azul, de vermelho e de cor teve de ser adquirido pela experincia,
vendo cores. Apesar de adquirirmos o conceito de azul e vermelho pela experincia, no
precisamos de recorrer experincia para saber que um objeto todo azul no pode ser
vermelho. A partir do momento em que temos os conceitos de azul, vermelho e cor,
sabemos que 1 verdadeira. Possuir os conceitos necessrios no mais do que um pr-

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requisito para o nosso conhecimento proposicional. Mas apesar de possuirmos os


conceitos de cu e de azul, no possvel saber que o cu azul sem olhar para o cu.
Tal como h conhecimento a priori e conhecimento a posteriori, tambm h argumentos
a priori e argumentos a posteriori.
Um argumento a posteriori se, e s se, pelo menos uma das sua premissas a
posteriori.
Um argumento a priori se, e s se, todas as suas premissas so a priori.

Em concluso:
Um sujeito sabe que P a priori se, e s se, sabe que P pelo pensamento apenas.
Um sujeito sabe que P a posteriori se, e s se, sabe que P atravs da experincia.
Um argumento a priori se, e s se, todas as suas premissas so a priori.
Um argumento a posteriori se, e s se, pelo menos uma das suas premissas for a
posteriori.
Conhecemos algo inferencialmente quando conhecemos atravs de argumentos ou
razes.
Conhecemos algo no inferencialmente quando conhecemos diretamente (por
exemplo, atravs dos sentidos).

IV. O conhecimento e a racionalidade cientifica e tecnolgica

1. Descrio e interpretao da atividade cognoscitiva


1.2. Anlise comparativa de duas teorias explicativas do conhecimento
Estrutura do ato de Conhecer
A perceo atravs dos sentidos no depende exclusivamente dos atributos fisiolgicos
imediatos do olho ou do ouvido. Depende, sim, de um contexto muito mais vasto, que
envolve a disposio global do indivduo. No caso da viso isso foi investigado segundo
numerosas e diferentes perspetivas, tendo os cientistas demonstrado que a viso requer

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o movimento ativo tanto do corpo como da mente. A perceo visual , portanto, um ato
intencional e no passivo.
Um exemplo claro de como a viso opera sempre num contexto vasto e geral o da
pessoa que nasceu cega e, mediante uma operao, adquire subitamente a capacidade de
ver. Em tais circunstncias, a viso clara no um processo instantneo, porque tanto o
paciente como o mdico tm de realizar um rduo trabalho, at que a confuso de
impresses visuais desprovidas de significado possa ser integrada numa viso
verdadeira. Este trabalho implica, entre outras coisas, a explorao dos efeitos dos
movimentos do corpo nas experincias visuais ainda frescas e a aprendizagem do
relacionamento das impresses visuais de um objeto com as sensaes tcteis que foram
previamente associadas a ele. Em particular, o que o paciente aprendeu por outras vias
afeta fortemente o que ele v. A disposio global da mente para apreender objetos por
vias particulares desempenha um papel no ato de selecionar e de dar forma ao que
visto.
Estas concluses so confirmadas pela anlise neurolgica do sistema nervoso. Para se
ver algo em absoluto, o lho tem de se lanar em movimentos rpidos que o ajudam a
extrair da cena alguns elementos de informao. Sabe-se que o modo pelo qual estes
elementos se integram depois numa imagem global, conscientemente percebida,
depende em grande parte dos conhecimentos e hipteses gerais, por parte de quem v,
acerca da natureza da realidade. Diversas experincias incisivas revelaram que o fluxo
de informao proveniente dos nveis cerebrais elevados para as reas de formao de
imagens excede, na realidade, a quantidade de informao que chega dos olhos. Isto ,
aquilo que se v resulta tanto dos conhecimentos previamente adquiridos como dos
dados visuais acabados de receber.
A perceo dos sentidos , portanto, fortemente determinada pela disposio total da
mente e do corpo. Mas, por sua vez, esta disposio relaciona-se, de maneira
significativa com a cultura geral e a estrutura social. Do mesmo modo, a perceo
atravs da mente tambm governada por todos estes fatores. Por exemplo, um grupo
de pessoas a passear numa floresta v e responde de maneira diversa ao ambiente. O
lenhador v a floresta como uma fonte de madeira, o artista como algo digno de ser
pintado, o caador como um esconderijo para a caa.
Em cada caso, o bosque e as suas rvores individuais so percebidos de modo muito
diferente, na dependncia da formao e expectativas dos passeantes.
David Bohm e David Peat
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A experincia do conhecimento comum a todos os seres humanos. Mas, afinal, o que


conhecer?
Quem que conhece? O que que se conhece? Como se conhece?
No texto encontramos tentativas de resposta para estas questes. Todos os seres vivos
so dotados de sentidos, isto , de rgos que lhes permitem captar, interpretar esses
sinais e responder-lhes adequadamente. O conhecimento faz parte dos mecanismos de
sobrevivncia e adaptao ao meio.
No homem o processo de conhecer no muito diferente dos outros animais mas atinge
nveis de maior complexidade, permitindo alcanar conhecimentos abstratos, pensar a
realidade e manipul-la.
O que que nos diz o texto? (vejamos uma perspetiva a respeito do conhecimento,
talvez a mais vulgar e mais fcil de entender, a partir da anlise do texto)
1. Afirma que o conhecimento possvel dependendo, em primeiro lugar, da estrutura
fisiolgica dos nossos sentidos das sensaes. Os nossos sentidos recebem e do
significado a determinados estmulos, ignorando outros. Todo o conhecimento tem
origem ou constitui-se a partir da sensao.

2. As sensaes, ou dados dos sentidos, so interpretado por cada indivduo - o sujeito


do conhecimento. Esta interpretao implica uma organizao das sensaes num todo
significativo que o conhecimento percetivo. Assim, o conhecimento percetivo traduz
um primeiro nvel de apreenso da realidade. Esta apreenso permite reproduzir na
mente do sujeito a realidade em si mesma.
3. O conhecimento percetivo implica um sujeito (aquele que conhece) e um objeto
(aquilo que conhecido e representado na mente). O sujeito, atravs dos sentidos,

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apreende um conjunto de dados a que confere significado, construindo assim uma


representao mental ou objeto (em sentido gnoseolgico).
4. O objeto construdo pelo sujeito no uma mera soma dos dados sensoriais
apreendidos num dado momento; como se diz no texto aquilo que se v resulta tanto
dos conhecimentos previamente adquiridos como dos dados visuais acabados de
receber. Quer isto dizer que o sujeito que conhece atribui um significado aos dados
recebidos em funo da sua prpria estrutura, das experincias j vividas, dos
conhecimentos anteriormente adquiridos, dos interesses pessoais, etc.
5. So todos estes fatores (fatores de significao percetiva) que explicam que cada
sujeito possa ter uma viso diferente da mesma realidade.

O ser humano no se limita a conhecer perceptivamente a realidade, desta forma


imediata e vivencial. Tambm somo capazes de pensar sobre o vivido, elaborando
conhecimentos abstratos que provm justamente da capacidade de refletir sobre o que
percecionamos. Assim, construmos leis gerais e teorias acerca da realidade. Com base
neste conhecimento abstrato e racional, elaboramos modelos explicativos e
interpretativos da realidade.
este nvel racional do conhecimento, que especificamente humano, que tornou
possvel a construo da cincia e da filosofia e a evoluo tecnolgica.
Para alguns autores, h uma estrutura invariante no sujeito que determina a construo,
a configurao e o sentido do objeto. Para outros autores, esta estrutura da mente que
conhece (sujeito gnoseolgico) vai-se constituindo ao longo da vida a partir das
caractersticas biolgicas.
Para outros ainda, o objeto que determina a sua prpria representao, reservando para
o sujeito o papel de mero recetor considerando o conhecimento como uma tomada de
conscincia das determinaes do objeto.
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Em concluso, conhecer construir representaes mentais da realidade; o sujeito que


conhece; aquilo que conhecido o objeto. Por objeto de conhecimento no se entende
a realidade em si mesma mas a sua representao na conscincia. O processo de
construo do conhecimento exige capacidade de captao sensorial dos dados,
capacidade de interpretao e de organizao e capacidade de elaborao racional, no
sentido de constituir conceitos, leis gerais e teorias explicativas acerca da realidade
(conhecimento racional).
Anlise Comparativa de duas Teorias Explicativas do Conhecimento
Ao longo da histria da filosofia houve vrias tentativas para explicar o modo como o
homem conhece e as coisas (tipos de objetos) que capaz de conhecer; os filsofos
tambm se preocuparam com o alcance, os limites e a validade desse conhecimento.
Desde o inicio que os filsofos se perguntam: qual a origem ou fundamento do
conhecimento? At onde podemos conhecer? Podemos conhecer tudo ou h limites e
limitaes do conhecimento? Conhecemos a realidade tal como em si mesma ou o
nosso conhecimento nossa medida, moldado pelo modo como o sujeito
constitudo?
Estas questes expressam preocupaes de natureza gnosiolgica e so constantes ao
longo da histria da filosofia. O modo como se tem respondido a estas questes
conduziu existncia de mltiplas teorias explicativas do conhecimento: empirismo,
racionalismo, apriorismo, construtivismo, positivismo, idealismo, materialismo,
dogmatismo, ceticismo, relativismo
Vamos explorar apenas duas dessas perspetivas: racionalismo e empirismo.
O racionalismo cartesiano
Da dvida ao cogito
Assim, porque os nossos sentidos nos enganam algumas vezes, quis supor que nada h
que seja tal como eles o fazem imaginar. E, porque h homens que se enganam ao
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raciocinar, at nos mais simples temas de geometria, e neles cometem paralogismos,


rejeitei como falsas, visto estar sujeito a enganar-me como qualquer outro todas as
razoes de que at ento me servia nas demonstraes. Finalmente, considerando que os
pensamentos que temos quando acordados nos podem ocorrer tambm quando
dormimos, se que neste caso nenhum seja verdadeiro, resolvi supor que tudo o que at
ento encontrara acolhimento no meu esprito no era mais verdadeiro que as iluses
dos meus sonhos.
Mas, logo em seguida, notei que, enquanto assim queria pensar que tudo era falso, eu,
que assim o pensava, necessariamente era alguma coisa. E notando que esta verdade
eu penso, logo existo, era to firme e to certa que todas as extravagantes suposies
dos cticos seriam impotentes para a abalar, julguei que podia aceitar, sem escrpulo,
para primeiro princpio da filosofia que procurava.
Depois, examinando atentamente que coisa eu era, e vendo que podia supor que no
tinha corpo e que no havia qualquer mundo ou qualquer lugar onde eu existisse; mas
que, apesar disso, no podia admitir que no existia; e que antes, pelo contrario, por isso
mesmo que pensava, ao duvidar da verdade das outras coisas, tinha de admitir como
muito evidente muito certo que existia; ao passo que bastava que tivesse deixado de
pensar para no ter j nenhuma razo para crer que existia, ainda que tudo o que tinha
imaginado fosse verdadeiro; por isso, compreendi que era uma substncia, cuja essncia
ou natureza apenas o pensamento, que para existir no tem necessidade de nenhum
lugar nem depende de nenhuma coisa material. De maneira que esse eu, isto , a alma
pela qual sou o que sou, inteiramente distinta do corpo, mais fcil mesmo de conhecer
que este, o qual, embora no existisse, no impediria que ela fosse o que .
Depois disso, considerei duma maneira geral o que indispensvel a uma proposio
para ser verdadeira e certa; porque, como acabava de encontrar uma com esses
requisitos, pensei que devia saber tambm em que consiste essa certeza. E tendo notado
que nada h no que eu penso, logo existo, que me garanta que digo a verdade, a no ser
que vejo muito claramente que, para pensar, preciso existir, julguei que podia admitir
como regra geral que verdadeiro tudo aquilo que concebemos muito claramente e
muito distintamente; havendo apenas alguma dificuldade em notar quais so as coisas
que concebemos distintamente.
Ren Descartes, Discurso do Mtodo

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O texto foi escrito por um filsofo francs do sculo XVII que se dedicou ao estudo
dos problemas do conhecimento e construiu um sistema de ndole racionalista. Vivia-se
ento numa poca de crise e de incerteza que se refletia nas posies cticas adotadas
pelos contemporneos de Descartes. Ora Descartes tinha uma formao matemtica e
desejava garantir a existncia de um conhecimento verdadeiro.
No texto, extrado do Discurso do Mtodo, uma das suas obras mais divulgadas:
1. Comea precisamente por levantar o problema da dvida em trs domnios
fundamentais:

Dvida acerca do conhecimento sensorial;

Dvida acerca da capacidade da razo humana;

Dvida quanto possibilidade de distinguir sonho de realidade.


2. Refere a deciso de no aceitar nada como verdadeiro ate encontrar uma verdade que
resista a toda e qualquer dvida (um conhecimento indubitvel).
Esta atitude de Descartes uma forma de garantir a validade absoluta de um
conhecimento capaz de resistir dvida mais exagerada. Por isso se considera que a
dvida cartesiana metdica, universal (abrange todos os conhecimentos) e voluntria.
3. Enuncia a primeira verdade a que Descartes chegou: o cogito ou a existncia de um
ser pensante (penso, logo existo).
Esta primeira verdade vai ser aceite por Descartes que sobre ela assentar o seu
sistema filosfico.
Trata-se de uma verdade de natureza puramente racional, ou seja, que depende
unicamente do uso da razo humana e na sua descoberta no foi necessria a
contribuio dos sentidos. A existncia do cogito a primeira informao segura a que
Descartes chegou depois de deliberadamente ter posto tudo em dvida e encerra o

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sujeito que conhece em si mesmo, reduzindo-o a ser uma coisa que pensa (res
cogitans).
Duvida ainda da existncia dos outros seres humanos e das coisas materiais, incluindo o
seu prprio corpo.
O objetivo cartesiano de alcanar a verdade comea a cumprir-se no momento da
dvida, no momento em que se rompe com o sensvel e com o conhecimento at ento
constitudo e se procura a verdade na prpria razo.
4. Seguidamente o texto de Descartes define a natureza do cogito afirmando a sua
independncia em relao ao corpo e a sua natureza de puro pensamento.
Contrariamente ao nosso conhecimento vulgar que nos leva a acreditar mais facilmente
na existncia das coisas e do corpo do que na existncia da mente, Descartes conclui
que o conhecimento desta mais acessvel e anterior ao conhecimento das coisas
corpreas; o corpo no faz parte da mente e de outra natureza.
5. Apresenta, finalmente, o critrio de verdade vlido para Descartes. Sero aceites
como verdadeiras unicamente aquelas ideias que se apresentem razo como sendo
claras e distintas, caractersticas que Descartes encontra na apreenso intuitiva e
racional da ideia do cogito. A apreenso do cogito fornece o critrio de verdade das
ideias.
Como verificamos Descartes parte da dvida e alcana uma primeira verdade por via
unicamente racional. Neste momento da construo do sistema cartesiano Descartes s
admite a existncia de um eu cuja natureza se resume a produzir pensamento. Ser que
existe alguma coisa fora e para alm do seu eu? Como vai conseguir sair para fora do
cogito e demonstrar a existncia da realidade material?
Descartes no pode basear-se nos sentidos uma vez que os exclura como fonte fivel
de conhecimento.

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S lhe resta refletir sobre si mesmo e procurar na mente, no cogito, a possibilidade de


provar a existncia de algo para alm do seu prprio pensamento. O que que esta
reflexo lhe vai permitir descobrir?
Diferentes tipos de ideias: ideias que nasceram comigo (ideias inatas); outras que
vieram de fora (ideias adventcias); outras que foram feitas e inventadas por mim (ideias
factcias).
Ao examinar a natureza das ideias, Descartes valoriza as que so inatas e entre elas
descobre a ideia de Deus como ser perfeito e como o homem um ser imperfeito, que
no pode por si s criar a ideia de perfeio, esta ideia inata e s pode ter origem no
prprio Deus que a colocou na nossa mente. Esta ideia ao fazer-nos conceber Deus
como um ser perfeito, incapaz de nos enganar, passa a ser garantia de que o
conhecimento construdo pela razo verdadeiro. Assim, alem da existncia do cogito,
Descartes passa a admitir a existncia de Deus e a existncia do mundo.
No texto que se segue podemos avaliar a importncia da perspetiva racionalista:
O racionalismo
A posio epistemolgica v no pensamento, na razo, a fonte principal do
conhecimento humano chama-se racionalismo. Segundo ele, o conhecimento s merece
na realidade este nome quando logicamente necessrio e universalmente vlido.
Quando a nossa razo julga que uma coisa tem que ser assim e no pode ser de outro
modo, que tem de ser assim, portanto, sempre e em todas as partes, ento, e s ento,
nos encontramos ante um verdadeiro conhecimento, na opinio dos racionalistas. ()
Uma forma determinada do conhecimento serviu evidentemente de modelo
interpretao racionalista do conhecimento. No difcil dizer qual : o conhecimento
matemtico. Este , com efeito, um conhecimento predominantemente conceptual e
dedutivo. () O pensamento impera com absoluta independncia de toda a experincia,
seguindo somente as suas prprias leis. Todos os juzos que formula distinguem-se,
alm disso, pelas caractersticas da necessidade lgica e da validade universal. () O
racionalismo alcanou maior importncia na Idade Moderna em Descartes. Segundo ele
so inatos um certo nmero de conceitos, justamente os mais importantes, os conceitos
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fundamentais do conhecimento. Estes conceitos no procedem da experincia, mas


representam um patrimnio originrio da razo. ( a teoria das ideias inatas).
()
O mrito do racionalismo consiste em ter visto e feito sobressair o significado do fator
racional no conhecimento humano mas exclusivista ao fazer do pensamento a fonte
nica ou prpria do conhecimento. Alm disso, o racionalismo deriva de princpios
formais proposies materiais; deduz de meros conceitos conhecimentos. (Penso na
inteno de derivar do conceito de Deus a sua existncia; ou de definir, partindo do
conceito de substancia a essncia da alma). Apresenta assim um esprito dogmtico que
provocou reaes opostas como, por exemplo, o empirismo

Como se pode concluir:


1. O racionalismo toma a razo como nica fonte de conhecimento.
2. Pressupe a existncia de ideias inatas, descobertas por intuio racional, de
conhecimento das quais deduz todos os outros conhecimentos que devem ser
logicamente necessrios e universalmente vlidos.
3. Para conferir ao conhecimento esse carter de universalidade e necessidade, toma
a matemtica como modelo a seguir para todos os tipos de conhecimento.
4. Rejeita a experincia como fonte de conhecimento por considerar que ela
enganadora e conduz a conhecimentos particulares e contingentes (por oposio
universalidade e necessidade prprias do conhecimento racional construdo a
partir do modelo matemtico do conhecimento).
5. Apesar de ter sido importante a valorizao da razo como fonte de conhecimento,
os racionalistas tm tendncia para um certo exclusivismo (apenas admitindo uma
nica fonte de conhecimento) e dogmatismo (ao considerar a possibilidade de
construirmos um conhecimento absolutamente verdadeiro e ao derivar as ideias a
existncia das coisas).
O empirismo
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O empirismo ope ao racionalismo a tese de que todo o conhecimento, incluindo o


mais geral e abstrato, tem origem e deriva da experincia. A razo no contm nenhum
princpio ou ideia que no derive da experincia, ou seja, no h ideias inatas.
A origem do conhecimento
Podemos, pois, dividir todas as percees da mente em duas classes ou tipos, que se
distinguem pelos seus diferentes graus de fora e de vivacidade. As menos intensas e
vivas so comummente designadas pensamentos ou ideias. Ao outro tipo ()
chamemos-lhe impresses (). Pelo termo impresso significo todas as nossas
percees mais vivas, quando ouvimos, vemos, sentimos, amamos, odiamos, desejamos
ou queremos. E as impresses distinguem-se das ideias, que so as impresses menos
intensas, das quais somos conscientes quando refletimos sobre qualquer das sensaes
ou movimentos acima mencionados.
D. Hume, Investigao sobre o entendimento humano

Assim sendo todas as nossas ideias tm que encontrar uma impresso que lhes
corresponda e s possvel a existncia de um conhecimento verdadeiro do que
observvel, todos os conhecimentos que ultrapassem o observvel so abusivos ou
ilusrios.
A induo uma operao da mente que faz parte de factos observveis e alcana um
conhecimento mais geral; esta a nica operao da razo que permite superar o
particular e o contingente mas que, ao faz-lo, s pode alcanar um conhecimento
provvel. Podemos encontrar, num empirista do sculo XX, Bertrand Russell, um
exemplo disto mesmo: O homem que regularmente alimenta o frango acaba por um dia
lhe torcer o pescoo, mostrando quo til seria ao frango lanar-se a teorias de maior
subtileza acerca das uniformidades do universo (B. Russell, Os Problemas da filosofia,
pg. 109)
A verdade , para o empirismo, a confrontao dos juzos com os factos observveis
que traduzem. Os juzos universais obtidos por induo no podem ser confrontados
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com os factos, uma vez que a observao nunca permite verificar todos os casos, pelo
que a sua verdade no necessria nem universal.
Os princpios que, para os racionalistas, esto contidos na razo humana no existem
para os empiristas que tm dificuldade em explicar, por exemplo, a existncia de um
nexo causal necessrio entre dois fenmenos que acontecem um depois do outro.
O empirismo de David Hume
Para os empiristas como David Hume, todos os nossos conhecimentos provm da
experincia e a razo no possui princpios inatos anteriores experincia.
Mas preciso, ento, explicar porque a todo o momento o nosso esprito se projeta alm
da experincia imediata. Ao colocarmos leite no fogo, por exemplo, dizemos: o leite vai
ferver. A todo o momento, ns fazemos previses anlogas e os nossos juzos excedem a
esfera restrita dos nossos sentidos. Se tomamos a experincia, o dado, por guia nico,
temos o direito de dizer o leite ferve no momento em que o vemos ferver, mas nada
nos autoriza anteciparmo-nos ao curso das coisas, a exceder o que nos dado no
momento e a fazer previses do tipo: o leite vai ferver.
Se prevemos alguma coisa, porque vamos alm da experincia presente, em nome de
um princpio da razo: o princpio de causalidade. O aquecimento a causa da ebulio;
supomos, entre aquecimento e ebulio, uma relao necessria de tal modo que, ao
aquecermos o leite, possamos prever que ele vai ferver passados alguns instantes. pelo
facto de admitirmos esta relao necessria que pensamos que o aquecimento
necessariamente produzir a ebulio, que ultrapassamos audaciosamente a experincia
presente: o leite vai ferver.
Portanto, David Hume, para justificar o seu empirismo integral, depara-se com um
problema difcil. -lhe necessrio demonstrar que os prprios princpios da razo, por
exemplo, o princpio de causalidade, provm da experincia.
primeira vista, no se depreende como o princpio de causalidade pode ter origem na
experincia.
certo que verificamos que o leite ferve, aps ter sido levado ao fogo. Comprovamos
que ele aquece e depois ferve. Mas no podemos afirmar que ele ferve porque foi
aquecido. verdade que diariamente podemos fazer a mesma comprovao. O
aquecimento sempre seguido de ebulio. Mas o que verificamos uma conjuno
constante e no uma conexo necessria, no vemos a ao causal, o porqu. (...)
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E, no entanto, no nos limitamos a dizer que os acontecimentos se sucedem, mas


afirmamos que eles se produzem e se determinam uns aos outros, que existem causas e
efeitos. Qual ser, ento, a origem do princpio de causalidade?
Hume explica-o a partir do hbito e da associao de ideias. Porque esperamos ver a
gua a ferver quando a aquecemos? porque, responde Hume, aquecimento e ebulio
sempre estiveram associados na nossa experincia passada. Formou-se um hbito deste
modo. Quando levamos um lquido ao fogo aguardamos a ebulio porque a nossa
experincia passada habituou-nos a isto. Ao dizermos que o leite vai ferver, tiramos
uma concluso que excede, no futuro, os casos passados de que j tivemos
experincia; que a imaginao, irresistivelmente arrastada pela fora do hbito, passa
de um acontecimento dado quele de ordinrio o acompanha. Assim, o passado
impulsiona a imaginao que, como uma galera acionada pelos remos, desliza sem
necessidade de novo impulso. A experincia passada orienta a imaginao e esta,
adestrada pelo hbito, projeta-a sobre o acontecimento que est para vir, quando em face
do aquecimento. O leite vai ferver. Ao afirmar isto, aparentamos ultrapassar a
experincia, mas o que fazemos na realidade seguir uma tendncia criada pelo hbito.
Somente o hbito nos faz imaginar uma ligao necessria entre o aquecimento e a
dilatao.
Tal explicao puramente psicolgica e no traz ideia de causalidade qualquer
garantia objetiva; por outras palavras, Hume explica porque acreditamos na causalidade,
mas no mostra a razo pela qual acreditamos. Ele mostra porque esperamos
irresistivelmente que se produza a ebulio, quando assistimos ao aquecimento. Mas
no demonstra que temos razo em faz-lo, no justifica logicamente a nossa
expectativa. Teoricamente, diz ele, poderia acontecer que o leite no fervesse. Pois nada
prova que a experincia de amanh confirmar a de ontem e a de hoje. Teoricamente,
nada prova que o leite levado ao fogo no se congelar!
Efetivamente, segundo a teoria de Hume, no podemos falar de causas e efeitos, mas
apenas de factos que, na nossa experincia passada, se sucederam uns aos outros.
Consequentemente, se o princpio de causalidade apenas um resumo dos nossos
hbitos, ele poder ser desmentido pela experincia futura. Em rigor, ele no passa de
uma iluso explicvel pela psicologia do hbito e da expectativa. No estamos mais
certos de coisa alguma e o empirismo de Hume desemboca num verdadeiro ceticismo.
Huisman & Vergez, O conhecimento

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Podemos agora inventariar as seguintes ideias:


1. Para o empirismo a origem do conhecimento a experincia.
2. Na razo no existe nada que no tenha a sua origem nas impresses.
3. Todo o conhecimento absolutamente verdadeiro tem como limite o observvel.
4. Como todos os nossos conhecimentos gerais partem da experincia que nos d
sempre um conhecimento do particular, o processo indutivo de inferncia que
permite alcanar conhecimento universal. Como h uma generalizao a todos os
casos daquilo que foi observado apenas em parte, no temos garantia lgica de que
as verdades gerais sejam necessrias e universais. Assim, todo o conhecimento
universal apenas uma probabilidade no sendo impossvel que se venha a revelar
falso no confronto com a observao de novos dados (experincias futuras).
5. Com base na observao e na experincia apenas podemos afirmar que dois
fenmenos se sucedem habitualmente um ao outro. Por isso, Hume conclui ser
impossvel afirmar que exista uma relao necessria de causa efeito entre esses dois
fenmenos, isto , nega a existncia do princpio de causalidade por no haver uma
impresso que lhe corresponda.
6. Do mesmo modo que retira fundamento lgico ao princpio de causalidade, David
Hume tambm exclui do mbito do conhecimento verdadeiro (justificado
logicamente) a afirmao de objetos que no sejam dados na experincia, de Deus,
por exemplo.
7. Ao negar o carter de verdade aos conhecimentos gerais e ao estabelecer a
experincia como nica fonte do conhecimento, o empirismo estabelece limites ao
conhecimento, desembocando num ceticismo. O ceticismo uma posio
gnoseolgica acerca da validade e do alcance do nosso conhecimento que dvida da
possibilidade da razo humana construir um conhecimento verdadeiro.

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Em concluso:
Descartes:

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Objetivo Reformar os princpios do conhecimento (pretende reformar o conhecimento


(criar novos mtodos que se querem cientficos)
Como?

Procurando um princpio evidente incondicionado

Deste decorre o conhecimento de tudo o mais, mas no reciprocamente


Mtodo Dvida (metdica)
Como se chega a algo evidente? Duvidando
Na dvida como mtodo rumo evidncia (racional):

Considera falso o que for, por mnimo, duvidoso (e obviamente o que for falso);

Considera enganador aquilo que alguma vez nos enganou.


Caractersticas da dvida cartesiana:

metdica apenas um mtodo para chegar a algo evidente;

provisria porque apenas corresponde a uma suspenso temporria dos


conhecimentos;

hiperblica porque h uma anlise radical e total dos conhecimentos possveis


(excessiva).

Na poca de Descartes surge a cincia moderna.


A dvida aplica-se a:
conhecimento sensvel
A dvida vai aplicar-se, em primeiro lugar, s informaes dos sentidos. Os sentidos
enganam-nos algumas vezes. Aplicando o principio hiperblico que orienta a aplicao
da dvida: se devemos considerar enganador aquilo que alguma vez nos enganou, ento
os sentidos no merecem qualquer confiana.
existncia do mundo
Descartes pe em causa outros dos fundamentos essenciais do saber tradicional: a
convico ou crena imediata na existncia das realidades fsicas ou sensveis. Mas
como encontrar uma razo para duvidar daquilo que parece ser to evidente? Como
duvidar da existncia das realidades sensveis ou corpreas?
Descartes inventa um argumento engenhoso que se baseia na impossibilidade de
encontra um critrio absolutamente convincente que nos permita distinguir o sonho da
realidade. H acontecimentos que, vividos durante o sonho, so vividos com tanta
intensidade como quando estamos acordados.

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Se assim , no havendo uma maneira clara de diferenciar o sonho da realidade, pode


surgir a suspeita de que aquilo que consideramos real no passe de um sonho. Deste
modo, posso supor que os acontecimentos e as coisas que julgo reais nada mais so do
que figurantes de um sonho. Basta esta suspeita, basta esta mnima dvida, para
transformar os acontecimentos e as coisas que eu julgava absolutamente reais em
realidades meramente imaginrias: todas as coisas sensveis podem no passar de
realidades que s existem em sonho (incluindo o meu corpo).
Se os sonhos so ilusrios por que que o mundo exterior no tambm? pe em causa
a existncia do mundo.
conhecimento das matemticas e existncia de Deus como um ser bom e no
enganador
As matemticas so produtos da atividade do entendimento e por isso constituem a
dimenso dos objetos inteligveis. Sendo estas realidades inteligveis consideradas as
mais evidentes, se as pudermos pr em causa, todos os outros produtos do entendimento
sero postos em dvida. A estratgia simples e sempre a mesma: devemos encontrar
um motivo, uma razo, um argumento, para suspeitar, por muito pouco que seja, da
validade dos conhecimentos matemticos. Se essa suspeita, essa dvida, for possvel,
esses conhecimentos sero considerados falsos, como manda o princpio hiperblico
que rege o exerccio da dvida.
O argumento que vai abalar a confiana depositada nas noes e demonstraes
matemticas baseia-se numa hiptese ou numa suposio: a de que Deus, que
supostamente me criou, criando ao mesmo tempo o meu entendimento, sendo um ser
omnipotente, pode fazer tudo, mesmo criar o meu entendimento, ao depositar nele as
verdades matemticas, pode t-lo criado virado do avesso sem disso me informar. Por
outras palavras, logo partida, o meu entendimento pode estar radicalmente pervertido,
tomando como verdadeiro o que falso e por falso o que verdadeiro.
Enquanto a hiptese de Deus enganar no for rejeitada, no podemos ter a certeza de
que as mais elementares verdades matemticas so realmente verdadeiras. Se isso
vale para as verdades mais elementares e simples, mais se aplica ainda s mais
complexas.
Parece que chegamos ao ceticismo radical, em que no h um princpio racional no
mundo para chegar primeira verdade:

Se h dvidas, h algum que duvida

Se algum que dvida, algum pensa (no pode duvidar que o sujeito da dvida)
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Se pensa, tem conscincia de si enquanto ser que pensa

Logo, h um 1 princpio indubitvel e evidente

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O eu que pensa a primeira evidncia racional


EU PENSO, LOGO EXISTO 1 verdade epistemolgica
(sou um ser que pensa)
Cogito, Ergo Sum (latim) Penso logo sou
No plano ontolgico, Descartes comea por duvidar de tudo quanto existe, para ver se
h alguma verdade clara e distinta que se apresente ao esprito com evidncia tal que
no possa ser negada (intuio). O mtodo racionalista porque a evidncia de que
Descartes parte no , de modo algum, a evidncia sensvel e emprica. Os sentidos
enganam-nos, as suas indicaes so confusas e obscuras, s as ideias da razo so
claras e distintas. O ato da razo que percebe diretamente os primeiros princpios a
intuio. A deduo limita-se a veicular, ao longo das belas cadeias da razo, a
evidncia intuitiva das "naturezas simples". A deduo nada mais do que uma intuio
continuada.
A dvida de Descartes hiperblica e metdica. Existe, porm, uma coisa de que
no posso duvidar, mesmo que o demnio me queira sempre enganar. Mesmo que tudo
o que penso seja falso, resta a certeza de que eu penso. Nenhum objeto de pensamento
resiste dvida, mas o prprio ato de duvidar indubitvel. "Penso, logo existo. No
um raciocnio (apesar do logo) mas uma intuio.
Assim, a primeira verdade cartesiana o cogito (penso, logo existo) em que conclui
que existe enquanto substncia pensante. Mas preciso garantir a o fundamento da
existncia do homem. O fundamento ontolgico Deus, que garante a nossa existncia
e a prpria veracidade da sua existncia. Esta a prova ou argumento ontolgico ao
qual se segue um apelo ao raciocnio categrico-demonstrativo.
No plano ontolgico, Descartes comea por pr em dvida o plano dos
conhecimentos. O cogito a garantia da evidncia das coisas, mas Deus o fundamento
epistemolgico que garante a veracidade dos nossos conhecimentos.
Nos Princpios da Filosofia, Descartes deteta a ideia de um ser omnisciente, todopoderoso e extremamente perfeito. Aps ter chegado verdade do Cogito, conclui que
existe em ns a ideia de um Ser todo perfeito, e no podendo ser o homem, como ser
imperfeito que , a causa desta ideia, afirma que o Ser que causa desta ideia deve ter
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mais perfeio do que a sua representao (a Ideia). Logo, Deus existe porque existe em
ns a sua ideia. Este o argumento da causalidade ou princpio de adequao causal.
Descartes, considera, assim, que s um ser perfeito pode ter posto em ns, seres
imperfeitos, esta ideia de perfeio, pois o efeito no pode ser maior do que a causa.
Deus a causa das ideias inatas que colocou no homem.
O eu (alma) Corpo
(substncia imaterial e racional) (substncia material)
Esta verdade, Eu penso, logo, existo, vai ser o critrio ou o modelo de toda e
qualquer verdade ou evidncia posterior.

Sujeito que pensa subjetividade


(o saber tem que ser objetivo se no no passa de uma crena, e a definio de
crena insuficiente)

preciso um princpio objetivo, que garanta a validade dos conhecimentos e a


existncia dos objetos fora do sujeito

Se duvido, sou imperfeito


(se no tivssemos em ns a ideia de perfeio, no sabamos que ramos
imperfeitos)
Porqu? Porque duvidar ser menos perfeito do que ser sabedor

S sei que sou imperfeito por referncia ideia de perfeio que possumos.
Como que tenho a ideia de perfeio?
No pode ter sido criada por mim porque do menos perfeito no pode surgir o mais
perfeito. Logo, a ideia de perfeio foi-me colocada por um ser mais perfeito (o mais
perfeito) DEUS
Deus a perfeio absoluta tem de ser a causa da minha ideia de perfeio
Logo, Deus existe.
Caractersticas de um ser perfeito:

Omnisciente

Omnipotente

Existncia necessria e eterna no apenas possvel, necessrio


A existncia de Deus necessria porque, para um ser ser perfeito tem que
existir, logo, a existncia necessria tem que ser atribuda ao perfeito
Ordem do conhecer Ordem do ser
Ordem do conhecer:
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1 Verdade Eu penso
2 Verdade Deus como existncia necessria
Ordem do ser:
1 Verdade Deus existente necessrio
2 Verdade Eu penso existncia possvel
Objetos correspondentes s outras ideias inatas (evidentes)
Se Deus existe, est refutada a hiptese de Deus enganador
Temos ideias inatas (nascem connosco, so a marca de Deus)
Deus
Eu Alma
Verdades da matemtica, geometria, ideia de causalidade

As ideias evidentes, claras e distintas puramente racionais

O que conhecemos do mundo so as suas caractersticas racionais


O que que garante a objetividade/validade deste conhecimento?
Deus a primeira verdade metafsica, a fonte, origem ou raiz do conhecimento. Ele
garante a objetividade, certeza e evidencia dos conhecimentos racionais, assim como a
sua validade universal.
Garante a correspondncia permanente entre as nossas ideias e os objetos a que
correspondem, independentes de ns.
Garante a existncia continuada do mundo, mesmo depois de no pensarmos nele
David Hume:
Origem do conhecimento experincia sensvel imediata ( daqui que deriva todo o
nosso conhecimento)
(no h ideias inatas, porque tudo o que conhecemos no mundo baseado no
contacto/experincia sensvel)

Percees:

Impresses sensaes que temos ao observar um objeto; emoes; extramos de


um contacto mais imediato so a base em que assenta todo o conhecimento (por
contacto)

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Aparncia

Percees:

Ideias so imagens mais fracas das impresses, pois so resultados das impresses;
marcas deixadas pelas impresses, uma vez estas desaparecidas; representao/cpia
da impresso

As ideias so mais fracas que as impresses (a diferena entre impresses e

ideias simplesmente de grau e no de natureza)

Corre o risco de ser errada qualquer proposio que enunciemos acerca do que a
experincia imediata nos leva realmente a conhecer
Percees (elementos do conhecimento):
Impresses

simples

complexas
Ideias

simples

complexas
Proposies:

Estou a ter uma sensao de castanho

A mesa castanha (supe-se que a mesa tem uma existncia independente de ns)

No quer dizer que a mesa seja castanha ou at mesmo que ela

exista

Porque pessoas diferentes e o mesmo sujeito tm perspetivas diferentes sobre o


sensaes (cor, som,forma)

suposto mesmo objeto

que no garantido por elas no h razo para que uma das perspetivas seja mais
correta do que outra
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Conhecimento proposicional (remete para as percees):

Conhecimento de ideias:
No preciso recorrer experincia sensvel para saber se algo verdade ou no;
basta recorrer razo
Ex.: O tringulo tem 3 lados (proposio analtica predicado faz anlise do sujeito)

Verdades de razo (a razo fundamenta a afirmao sendo uma

verdade de razo a sua contraditria falsa (Ex.: O tringulo no tem 3 lados))


A razo opera naquilo que baseado na experincia (s se adquirem ideias das
impresses)

No h necessidade de recorrer experincia para avaliar a verdade da proposio


Partimos da experincia sensvel para ter as ideias; mas existem certos conceitos que,
quando falamos deles, no preciso recorrer experincia para avaliar a sua verdade
O conhecimento de ideias no diz nada de novo sobre o mundo
Conhecimento de factos:
So proposies cujo valor de verdade tem que ser analisado pela experincia
Ex.: O martelo pesado (proposio sinttica o predicado acrescenta algo ao
sujeito)
S pelos conhecimentos de facto podemos acrescentar algum conhecimento do
mundo

permite ter algum conhecimento do mundo

A experincia no nos d um conhecimento universal

Todo o conhecimento de factos (conhecimento emprico) meramente provvel, se


entendido que a experincia no fornece universalidade e que o contrrio de uma
verdade de facto sempre logicamente possvel)
Hume o problema da causalidade:
Conhecimento (origem):
Impresso sensvel Ideia Conhecimento
1- Tacada na bola A (impresso sensvel)
2- Acompanhamento do trajeto da bola A (impresso sensvel)
3- Bola A toca em B
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4- Bola B desloca-se

Aps a sucesso de impresses podemos concluir:

A causa B De que impresso sensvel resulta a causa?


No h impresso sensvel de causa h uma sucesso de movimentos
H uma relao necessria entre A e B, de modo a que, sempre que surge A,
esperamos que B lhe suceda
Causa:
H uma causa quando um objeto sucede a outro e entendemos que isso acontece de
forma necessria
Sempre acontecer o futuro assemelha-se ao passado
Como adquirimos a ideia de causa?
H uma conexo necessria entre dois ou mais eventos
Problema:
No h nenhuma impresso sensvel da qual derive a ideia de causa
Contudo, observamos:
a) a contiguidade espacial (espao onde a bola A toca na bola B)
ESPAO
b) sucesso temporal (A sempre anterior a B)
TEMPO
c) conjuno constante e regular entre A e B (quando surge A e B, A desloca-se e
toca em B, que se desloca)

Chamamos causa ai que precede e efeito ao que sucede


> Da observao desta constante conjuno como formamos a ideia de causa?
a) haver algum poder concreto na causa que fez com que o efeito lhe suceda?
Talvez, mas no o podemos observar (pois s vemos a impresso sensvel e no
conhecemos a verdadeira natureza das coisas)
Vemos s o movimento e no o que est por trs deste
b) a memria s nos d informao sobre os acontecimentos particulares que
recordamos
S a memria por si, no nos diz nada em relao ao futuro (s em relao ao
passado)
c) No contraditrio, dedutivamente, que B no suceda a A
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d) Indutivamente, no podemos afirmar que o futuro ser como o passado


utilizando o raciocnio indutivo porque este assume que o futuro ser como o passado.
Seria dizer que o futuro ser como o passado, porque no passado o futuro era como o
passado.
A ideia de causa no deriva da observao de algo nos fenmenos, mas do
desenvolvimento de um costume ou de um hbito mental (desenvolvemos o hbito de
esperar que B acontea mal vemos A acontecer)
1

=
=

Nada muda nos fenmenos; muda aquilo que ns pensamos que vemos (ao observar
repetidamente os fenmenos muda a nossa mente, que vai criando a ideia de
causalidade)
Surge um novo sentimento ou emoo que a mente cria por ela mesma imaginao
impresso interna
Como surge a ideia de causa?
Resulta de uma impresso interna ou de reflexo, a partir da repetio observada
cuja base a imaginao.

Desenvolvimento do hbito ou costume mental que est relacionado com a ideia


de causa
Qual para Hume a impresso original de onde surge a ideia de causalidade?
Impresso original imaginao
Porque no pode a noo de causalidade ser considerada conhecimento? Qual ento
o seu estatuto?

No um produto da razo

No resulta de uma impresso sensvel


Estatuto da noo de causalidade fico da imaginao
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O conceito de causa no adquirido empiricamente pois no h uma impresso


sensvel responsvel pela ideia de causa. A nossa imaginao devido observao da
conjuno regular e repetida entre os fenmenos formula um sentimento interno
responsvel pela ideia de causalidade.
Segundo Hume a causalidade e a necessidade existem mais na mente do que nas
coisas porque:
No temos maneira de saber o que acontece na realidade
No temos a ideia de causa

A ideia de causa produto da nossa mente porque no temos acesso essncia das
coisas
Vemos os fenmenos apenas no seu exterior/movimento

Ser que o conhecimento possvel? Este um dos problemas centrais da


epistemologia.
Os cticos consideram que no, argumentando da seguinte maneira:
1. Se h conhecimento, as nossas crenas esto justificadas.
2. Mas as nossas crenas no esto justificadas.
3. Logo, no h conhecimento.
Este argumento vlido e a primeira premissa geralmente aceite como verdadeira.
Se a segunda premissa for verdadeira, ento a concluso tambm ter de o ser. Nesse
caso, os cticos esto certos.
Mas por que razo dizem os cticos que as nossas crenas no esto justificadas?
H um argumento que os cticos apresentam precisamente para mostrar isso. o
argumento da regresso infinita da justificao:
1. Toda a justificao se infere de outras crenas.
2. Se toda a justificao se infere de outras crenas, ento d-se uma regresso infinita.
3. Se h uma regresso infinita, as nossas crenas no esto justificadas.
4. Logo, as nossas crenas no esto justificadas.
Este argumento tambm vlido. Mas ser slido?
A primeira premissa diz que justificamos umas crenas a partir de outras crenas.
Mas se assim, diz-se na segunda premissa, o processo de justificao no tem fim,
recuando sucessivamente de umas crenas para outras.
Nesse caso, as nossas justificaes sero sempre insuficientes, sugere-se na terceira
premissa.

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Existir alguma falha no argumento da regresso infinita da justificao ou os cticos


tm mesmo razo?
Fundacionistas e coerentistas acham que os cticos esto errados, mas por razes
opostas.
VALIDADE
(ALCANCE/LIMITES)

ORIGEM/FUNDAMENTO

Racionalismo

O fundamento a razo h qual se atribui um poder


superior, o qual, aliado a um mtodo adequado permitir o
conhecimento do todo (cincia);
Parte de princpios evidentes, claros e distintos, de onde
se deduzem, necessariamente, todas as verdades sobre o
mundo, segundo o rigor das matemticas;
Desvaloriza por completo o papel da sensibilidade, porque
os sentidos so confusos;
O conhecimento sensvel considerado enganador. Por
isso, as representaes da razo so as mais certas, e as
nicas que podem conduzir ao conhecimento logicamente
necessrio e universalmente vlido.

O saber tem uma valida


UNIVERSAL

Empirismo

O fundamento do conhecimento a experincia sensvel,


que fornece o material bsico (ideias e impresses);
A razo opera intelectualmente, mas opera apenas sobre
aquilo que a experincia fornece, pois no tem um poder
absoluto;
A base do conhecimento no segura, certa e indubitvel,
chega apenas a conhecimentos provveis;
> Remete para induo
causalidade
Os empiristas negam a existncia de ideias inatas;
A mente est vazia antes de receber qualquer tipo de
informao proveniente dos sentidos. Todo o conhecimento
sobre as coisas, mesmo aquele em que se elabora leis
universais, provm da experincia, por isso mesmo, s vlido
dentro dos limites do observvel.

O saber tem uma valida


relativa e limitada ao que s
pode conhecer empiricamen

Modelos explicativos do conhecimento:

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IV. O conhecimento e a racionalidade cientifica e tecnolgica

2. Estatuto do conhecimento cientifico


2.1. Conhecimento vulgar e conhecimento cientifico
Conhecimento vulgar e Conhecimento cientfico
O que tenho a dizer sobre a cincia pode ser formulado, muito abreviadamente, do
seguinte modo: a cincia no a digesto dos dados sensoriais que recebemos atravs
dos nossos olhos, ouvidos, etc., e que combinamos de um modo ou de outro, que
ligamos atravs de associaes e depois transformamos em teorias. A cincia
constituda por teorias, que so obra nossa. Ns fabricamos as teorias, samos com elas
pelo mundo, analisamos o mundo ativamente e vemos qual a informao que podemos
extrair, arrancar do mundo. O universo no nos d qualquer informao se no
partirmos para ele com esta atitude interrogativa: ns perguntamos ao universo se esta
ou aquela teoria verdadeira ou falsa.
Karl Popper
O texto de Popper refere-se a um tipo particular de conhecimento: a cincia. Chama a
ateno para o facto de o cientista no poder partir da observao vulgar para elaborar
as teorias. Estas tm de resultar da imaginao criador do cientista e s num segundo
momento que se processa a sua validao emprica. A atitude do cientista sempre
ativa e de interrogao da realidade procurando que ela responda s questes tericas de
modo a permitir concluir se a teoria verdadeira ou falsa.
Alm da cincia h tambm o conhecimento vulgar ou senso comum. Vamos agora
caracterizar cada um destes nveis de conhecimento:
O Senso Comum
O senso comum um diabinho que tem mau aspeto. A tirania que exerce sobre o nosso
juzo dissimulada, discreta e annima. Regularmente diverte-se a enganar-nos.
verdade que a nossa ingenuidade tem poucas desculpas. Numerosos filsofos puseram-

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nos na defensiva contra as insuficincias do senso comum, revelando a sua natureza


demasiado rudimentar e denunciando os seus estratagemas. (...)
Desde o poema de Parmnides (sculo V antes da nossa era), (...) que a opinio comum
submetida a julgamento e pesadamente condenada: nada h nela que seja verdadeiro
ou digno de crdito, foi assim um dos primeiros a dizer que preciso no acreditar
demasiado nas crenas; a opinio no a verdade e os nossos sentidos esto repletos de
inexatides. (...)
O senso comum necessariamente insidioso. Ningum lhe escapa completamente.
alis o que o define.
Certamente seria ridculo negar que o senso comum nos quotidianamente de uma
grande utilidade prtica. Alis a vida corrente encarrega-se de chamar ordem quem
dele seja desprovido, por vezes com uma certa crueza. Ele tem tambm uma utilidade
funcional que nos essencial. Que seria da atividade do pensamento se no tivssemos,
partida, uma pequena proviso de preconceitos para alimentar? Que faria o nosso
crebro se no tivesse gro para moer? Sem dvida, nada de grandioso, mas foros
reconhecer que o domnio de validade do senso comum muito limitado.
Etienne Klein

Quais so ento as caractersticas do senso comum? Podemos defini-lo como o modo


comum, corrente e espontneo de conhecer adquirido na nossa vivncia quotidiana.
Permite ao homem resolver os problemas com que se depara no dia a dia, adaptar-se o
sobreviver. Caractersticas:
Resulta de experincias pessoais e influenciado pela cultura sendo transmitido de
pais para filhos. um conhecimento emprico e superficial que depende da experincia
quotidiana. Conforma-se com a aparncia, com aquilo que se pode comprovar
observando sensorialmente as coisas.
ametdico, assistemtico e fragmentrio. Adquire-se sem o haver procurado ou
estudado, sem a aplicao de um mtodo e sem reflexo.
um conhecimento ingnuo porque no crtico, no problematiza nem questiona.
um conhecimento subjetivo, depende do sujeito que conhece, uma mera opinio
particular.
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Segundo alguns autores, o conhecimento cientfico pode partir do senso comum


criticado e, segundo outros, tem mesmo de operar uma rutura pois so duas formas de
conhecer totalmente distintas podendo o senso comum constituir-se como um obstculo
ao desenvolvimento da cincia. A cincia um conjunto de teorias construdas para
compreender e explicar a realidade. Que caractersticas deve ter este conhecimento para
ser considerado vlido?
Caractersticas da Cincia
O enorme prestgio da cincia explica-se facilmente: deve-se prpria natureza da
inteligibilidade cientfica. Efetivamente, no seio do desejo de verdade e de certeza que
obceca o nosso esprito, h como uma tripla exigncia, um triplo voto, a que a cincia
positiva consegue responder de um modo surpreendente. Em primeiro lugar, uma
exigncia de objetividade: precisamos de um saber objetivo, que alcance as coisas tal
como so e no como gostaramos que fossem (...), dizendo de outro modo, o saber
verdadeiro ultrapassa a opinio. O que quer dizer que se pretende universal: que a
segunda exigncia de que falmos. Precisamos de um saber universalmente vlido,
capaz de criar o acordo entre os espritos, suscetvel de ser verificado e controlado por
outrem. Ao que se acrescenta, em terceiro lugar, uma exigncia de clareza e
racionalidade. O esprito humano no se contente com a simples constatao, com um
armazenar e amontoar de dados. A sua inteno ltima clarificar os factos, captar o
seu como e o seu porqu, explicar e compreender. Compreender sempre, de uma
certa maneira, considerar em conjunto, descortinar relaes, reduzir a diversidade de
dados unidade de uma ideia ou de uma lei, ou de um simples sistema de ideias e de
leis logicamente coerente; em resumo, sempre introduzir a ordem, unidade, clareza
intelgvel, na infinita complexidade dos acontecimentos que compem o universo.
Dondeyenne

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Contrariamente ao senso comum, a cincia procura compreender e explicar a


realidade, como se diz no texto, o como e o porqu dos factos atravs da construo
de leis, princpios e teorias que devem ser objetivas, isto , capazes de dizer

adequadamente como as coisas que acontecem e serem vlidas para todos; deve ainda
ser um conhecimento claro e racional, construdo atravs de um mtodo rigoroso e
adequado ao seu objeto, constituindo um sistema de conhecimentos coerente e
articulado.
Em concluso:
Cincia atividade desenvolvida pela comunidade cientfica, num dado contexto
histrico, em laboratrios de universidades e outros centros de investigao.
Elabora teorias ou hipteses para explicar de forma racional/justificada/provada
experimentalmente e objetiva os fenmenos que estuda. (a cincia deve eliminar tudo
aquilo que subjetivo)
uma construo do homem Resulta da sua imaginao para pensar respostas.

Objeto: encontrar respostas para questes sobre o ser humano e o mundo, atravs
do uso de mtodos de prova e de justificao que sejam racionais, objetivos e
pblicos.

Resultados: leis e teorias. Estas teorias ou leis podem sempre sofrer reviso uma
vez que no so incontestveis, ou seja, dogmas. A cincia no cria verdades
absolutas ou teorias definitivas.

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Leis cientficas: hipteses que no foram desmentidas por facto algum. So


proposies gerais (vlidas para todos os casos do mesmo gnero) que descrevem e
explicam por que algo acontece. Elas apenas verificam a ocorrncia dos factos,
analisando as causas e os efeitos relacionados com o evento. Se uma lei cientfica
verdadeira, ento nada no universo lhe desobedece. So, por isso, universais. As leis
cientficas no so, contudo, verdadeiras; so sempre suscetveis de reviso, pois a
cincia baseia-se no pensamento crtico. Por vezes, as leis cientficas no so
verdadeiras, mas so as maias adequadas para o fenmeno.

Teorias cientficas: conjuntos organizados e sistemticos de leis que explicam um


determinado tipo de fenmenos. Na Cincia, uma teoria o ponto mximo a que
pode chegar uma hiptese. Se uma proposio se tornou uma teoria, explica
suficientemente um fenmeno e, nas tentativas de false-la, no foi possvel refutla.

O que torna cientfica uma teoria ou uma lei?


1.Uma teoria cientfica se, no negada pelos factos, tem valor explicativo e preditivo,
isto , permite predizer novos fenmenos e factos dando conta deles.
2.Tem de ser testvel. Deve ser possvel confirm-la ou refut-la. (se no for testvel
ser, por exemplo, metafsica)
Senso comum:
Conhecimento relativamente superficial e acentuadamente prtico que partilhado por
uma certa cultura e transmitido de forma acrtica, de gerao em gerao, ou seja, este
tipo de conhecimento est estreitamente ligado s atividades quotidianas, resultando de
generalizaes que se baseiam na experincia e na prtica.
Como se formam as crenas, tcnicas e costumes caractersticos do senso
comum?
1. experincia pessoal
2. por meio de testemunho dos outros
Uma pessoa transmite-nos uma coisa confiando no seu testemunho, podemos
beneficiar das observaes e generalizaes empricas por eles realizadas tradio
transmisso
3. popularizao dos conhecimentos cientficos

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Atravs dos meios de comunicao muitos conhecimentos cientficos podem


incorporar-se no conhecimento comum, formando-se assim, conhecimentos mais ou
menos vagos sobre gentica, astronomia, etc.
Caractersticas do senso comum:
1. Carter relativamente acrtico o senso comum tende a aceitar a correo dos
conhecimentos tal qual como foram transmitidos.
2. Predomnio da descrio sobre a explicao prprio do senso comum indicar ou
descrever o que acontece e no o motivo por que acontece ou ento as explicaes
oferecidas so incompletas e por vezes fantasiosas.
3. Falta de sistematizao os seus contedos no esto relacionados entre si, no
formam um conjunto organizado e coerente.
4. um conhecimento essencialmente prtico, tratando principalmente de como temos
de agir, o que fazer para construir algo, que regras de comportamento devemos cumprir
na relao com os outros.
IV. O conhecimento e a racionalidade cientifica e tecnolgica

2. Estatuto do conhecimento cientifico


2.2. Cincia e construo validade e verificalidade das hipteses

Podem as hipteses cientficas ser verificadas


Na sua tentativa de explicar e prever alguns aspetos daquilo que acontece no mundo,
os cientistas formulam hipteses, isto , proposies e teorias que talvez sejam
verdadeiras. (As teorias, alis, consistem em vrias proposies organizadas
sistematicamente.) Para avaliar uma hiptese cientificamente, preciso recorrer
observao ou experincia. E uma hiptese pode ser validada ou invalidada pela
experincia ou, como se costuma dizer para evitar confuses com a noo de
validade que encontramos na lgica, pode ser confirmada ou refutada pela
observao.
Mtodo Cientifico

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Induo
A cincia utiliza o raciocnio indutivo
Parte-se da observao de uma caracterstica em casos particulares e generaliza-se
concluindo-se que todos os casos desse tipo tm a caracterstica observada.
Por que h induo na cincia?
Ex.: Sndroma de Down
Os pacientes com Sindroma de Down tm um cromossoma a mais. Chegou-se a esta
concluso porque os geneticistas examinaram um vasto nmero de pacientes com
Sndroma de Down e verificaram que todos eles tinham um cromossoma a mais.

Ex.: Teoria de Newton Teoria da gravitao


Observou apenas alguns corpos e inferiu que acontecia em todos os corpos.

Anlise de David Hume sobre a induo:

Ser que o Sol se vai levantar amanh?

Diremos que sim, porque at agora o Sol sempre apareceu no horizonte

baseado no passado, diremos que o futuro ser igual ao passado

Hume dir que no tem fundamentao/sustentao o facto de ter nascido no passado


no quer dizer que ir nascer amanh (nada nos garante que o futuro ser como o
passado).
Por que acreditamos to firmemente que ser assim?
Porque acreditamos que o futuro ser como o passado, isto , que a natureza se
comporta sempre do mesmo modo.

Princpio da Uniformidade da Natureza Segundo este princpio, a

natureza ter princpios uniformes (foi e sempre ser) a natureza comporta-se sempre
da mesma maneira

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No vlido porque baseado na induo

No serve de justificao para o raciocnio indutivo (s tivemos experincia de casos


particulares)

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Se a experincia no pode justificar a nossa crena na induo ser que a nossa razo
o consegue?

Existe um princpio racional priori que prove que os raciocnios


indutivos so vlidos?
No Concluso: No h nenhum princpio racional nem emprico seguro
que fundamente o conhecimento baseado na induo.
Situao No h nada que justifique a induo
Problema fundamental no tem fundamentao lgica
As observaes empricas so pensadas como se no houvesse nada por trs. S havia
induo se a mente fosse uma tbua-rasa.
Mtodo Hipottico-Dedutivo
Uma das primeiras perspetivas sobre o mtodo foi a de Francis Bacon, no sculo XVII,
que teorizou o mtodo cientfico partindo da ideia de que no haveria cincia sem
observao, uma vez que esta era o prprio ponto de partida tanto para a formulao das
teorias como para a sua verificao posterior. Assim se deu origem a uma perspetiva
sobre o mtodo cientfico de inspirao empirista e que podemos resumir nas seguintes
regras:
1. Observao
Uma observao torna-se problemtica quando revela as fragilidades de uma teoria,
quando a contradiz, isto , pe em causa a sua capacidade explicativa vai contra o que
acontece numa teoria prvia
Ex.:
1. Em 1643, os encarregados do servio de abastecimento de gua em Florena foram
surpreendidos por um facto inesperado. Ao usarem uma bomba construda para
extrarem gua de uma cisterna sucedeu que, enquanto se mantinha a cisterna a nvel de
certo modo elevado, a gua saa abundantemente. Contudo, ao descer a cisterna a um
nvel de 10,33 m, a gua deixava de subir no interior da bomba vazia.

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Contraria a teoria de Aristteles: a natureza tem horror ao vazio

Surge ento uma hiptese Presso atmosfrica


2. Lavoisier observa que o chumbo depois de queimado pesa mais do que o chumbo
inicial
Trata-se de um facto polmico porque, segundo um dos qumicos da poca, a combusto
de um corpo metlico faz com que seja libertada uma substncia chamada flogstico.

Surge uma hiptese existncia do oxignio a combusto de um corpo implica a fixao


do oxignio do ar e, por isso, o corpo fica mais pesado.
Esta observao problemtica nunca pura/ingnua; enquadra-se sempre numa teoria
prvia
2. Formulao de hipteses;
Hiptese enunciado que se prope como base para explicar por que motivo ou como se
produz um fenmeno ou um conjunto de fenmenos interligados
necessrio explicar por que motivo ou como se produz um fenmeno ou um conjunto
de fenmenos interligados
Podemos usar a induo na cincia, mas na formulao de hipteses a induo no
desempenha um papel fundamental a induo no tem carter explicativo
Para formular a hiptese preciso pensar papel importante da imaginao/criatividade
do cientista, mais do que a observao emprica (observao mais imediata)
Atualmente, pensa-se que o papel da experincia na formulao das hipteses bem
menor do que os filsofos empiristas julgavam a ideia de que a experincia muito
importante para clarificar o conhecimento cientfico algo que no assim to claro e
ntido.

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Para explicar os fenmenos so utilizadas suposies, analogias, imaginao


Capacidade criativa e inteligncia do cientista na formulao de hipteses
3. Verificao experimental das hipteses;
Uma vez estabelecida provisoriamente a hiptese, o passo imediatamente seguinte
consiste em deduzir dela determinadas consequncias.
A deduo de consequncias tem a ver com a necessidade de testar teorias. As
consequncias so testadas para averiguar o grau explicativo da hiptese.
Quanto mais abrangente, maior ser o nmero de consequncias e maior probabilidade
ter em ser falsa
A hiptese pode ser rejeitada se as consequncias no passarem no teste
Umas passam, outras so refutadas

Se so refutadas arranja-se outra teoria para que as consequncias passem

todas no teste

rejeita-se a teoria na sua totalidade (a teoria defendida como uma

totalidade)
4. Lei (caso as hipteses sejam verificadas).
A teoria passa os testes e aceite a teoria foi verificada/aceite/confirmada, mas no
podemos dizer que verdadeira porque ela pode vir a ser refutada
A teoria no passa os testes e refutada

reformula-se essa mesma teoria

formula-se uma nova teoria

Verificabilidade ideia de que possvel tentar provar que uma teoria verdadeira
Como claro, neste tipo de mtodo valoriza-se a induo como a operao da razo que
permite passar de um certo nmero de casos observado para uma lei universal.

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Outras perspetivas sobre o mtodo cientfico valorizavam a deduo. Nestas se inclui o


pensamento de Descartes que, ao considerar as ideias como produo da razo sem
necessidade da contribuio dos sentidos, defende poder deduzir das ideias todos os
outros conhecimentos.
Com o aparecimento da fsica de Galileu (um pouco antes de Descartes), surge uma
nova forma de conceber o mtodo cientfico, valorizando o papel da hiptese e da
deduo matemtica das consequncias da hiptese. D-se grande relevncia
teorizao que deve preceder a formulao da hiptese e ao carter terico da prpria
hiptese. Reala-se o carter ideal e abstrato da lei cientfica.
As leis da fsica galilaica so, com efeito, leis abstratas, que sem mais no tm
validade para os corpos reais. Sem dvida que respeitam a uma realidade; mas essa
realidade no a experincia quotidiana; uma realidade ideal e abstrata. Ns no
precisamos que nos lembrem isto; estamos demasiado habituados a essa abstrao.
Precisamos at do contrrio: de que nos recordem que o mundo ideal da fsica
matemtica no , para falar verdade, o mundo real.
A. Koyr
O papel da observao em cincia ento criticado e suplantado pelo da teorizao que
deu origem a uma nova perspetiva sobre este tipo de conhecimento e sobre o mtodo da
sua construo.
Podemos ento considerar que a cincia contempornea, na sequncia da proposta
originariamente apresentada por Galileu, inclina-se mais para considerar que o mtodo
indutivo no permite alcanar as finalidades que a cincia pretende atingir e prope, em
alternativa, aquilo que se pode designar por mtodo hipottico-dedutivo. Este, como
vimos no texto anterior, considera no se poder partir da observao emprica mas de
um facto problema surgido no seio de uma teoria.
Assim, podemos dizer que o mtodo hipottico-dedutivo contm os seguintes
momentos:
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1. Formulao de um problema;
2. Enunciao de uma hiptese;
3. Deduo das consequncias a partir da hiptese;
4. Verificao da hiptese;
5. Refutao ou confirmao da hiptese.
Em concluso:
O modelo nomolgico-dedutivo

As explicaes cientficas de acontecimentos so argumentos dedutivamente


vlidos cuja concluso o explanandum e cujas premissas so o explanans.
O explanans de uma explicao cientfica indica pelo menos uma regularidade ou lei
da natureza e pelo menos uma proposio que descreve condies iniciais.

Explicar um acontecimento mostrar que, em virtude de certas regularidades ou


leis da natureza, este tinha de ocorrer dada a realizao de certas condies iniciais.
Explicar uma lei deduzi-la de leis mais gerais.
O modelo estatstico-indutivo
Explicar um acontecimento mostrar que, em virtude de certas regularidades ou leis,
este tinha uma probabilidade elevada de ocorrer dada a realizao de certas condies
iniciais.
(Pelo menos uma das regularidades ou leis tem uma carter estatstico.)
O Falsificacionismo de Karl Popper
Mtodo falsificacionista o cientista deve tentar refutar a sua teoria e no tentar
confirm-la porque por mais vezes que a teoria passe no teste no pode ser considerada
verdade.
Contra a verificabilidade
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Partimos de hipteses/teorias/conjeturas

A hiptese ou teoria sempre universal explica como a natureza/mundo se


comporta agora, no passado e no futuro (para sempre) mas como o confronto com a
experincia ou verificao um caso particular, no nos diz que ser vlida para
sempre

Como no podem ser verificadas, implicaria que se observassem todos os

casos particulares passados, presentes e futuros, o que impossvel.


universal mas cada experincia/teste sempre realizada num espao e tempo
particulares, ou seja, qualquer verificao particular
Como no sabemos como o Mundo , formulamos hipteses para chegar verdade, mas
nunca temos a certeza de que verdadeira

Sendo a hiptese universal, nunca h verificao universal


No podemos querer dizer que uma teoria verdadeira (nem provavelmente verdadeira)
s podemos dizer que falsa
Verificabilidade
TC
C

Falcia da afirmao do consequente o esquema da verificabilidade

falacioso
Logo, T
Proposta Falsificabilidade possibilidade de mostrar que uma hiptese falsa
TC
NC
Logo, NT

Modus Tolens

Devemos sempre tentar refutar a hiptese

Se no podemos refutar uma teoria Teoria no refutada


Corroborada
(maior esprito crtico pois procura-se os erros da sua teoria procura-se mostrar
que a sua teoria uma m teoria)
Segundo Popper no h verificabilidade
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Consequncias da falsificabilidade
a) Altera a relao cincia/verdade de uma teoria
Nunca se pode dizer que uma teoria verdadeira:

ou e falsa

ou corroborada
O cientista j no deve procurar a verdade da teoria mas sim tentar falsific-la. S pode
dizer que uma teoria falsa. Se uma teoria resiste aos testes, diz-se- corroborada (ainda
no refutada), mas nunca verdadeira nem possivelmente verdadeira.
b) Permite distinguir teorias cientficas de no cientficas (critrio de demarcao de
cincia/no cincia)
Porque uma teoria s cientfica se for falsificvel (testvel experimentalmente)
Como que a cincia progride?
A cincia desenvolve-se/avana segundo conjeturas para resolver problemas e
refutaes ou por ensaio/tentativa e erro quando mostramos que as nossas teorias no
so assim to boas formulao de novas teorias ou melhoramento

por ensaio e erro (conjeturas e refutaes)

Quando h uma refutao a cincia avana


Quanto mais as teorias resistirem, mais fortes so, mas no temos a certeza que seja
verdadeira e que corresponda realidade
A cincia parte de problemas os problemas exigem respostas hipotticas (teorias)
Devemos procurar erros na nossa teoria
Qual o papel do erro na cincia?
aprender para evoluir, o que s possvel com uma atitude crtica (a atitude crtica
essencial na cincia segundo Popper, porque s conseguimos encontrar erros se
assumirmos uma atitude crtica)
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Como que Popper caracteriza a cincia quanto verdade?


A cincia avana numa crescente e progressiva aproximao verdade/crescente
objetividade
O cientista procura falsificar
As teorias que no so falsificadas so corroboradas (no h diferentes nveis)
Ex.:
Teoria de Newton
Segundo Newton, a rbita de Mercrio deveria comportar-se de certo modo, mas foi
verificado que a rbita era outra
Problema: Desvio na rbita do planeta Mercrio
Teoria de Einstein
O problema resolvido pela teoria de Einstein (que a teoria de Newton no explicava)
Ao ser resolvido o problema podemos dizer que a cincia avana numa crescente e
progressiva aproximao verdade? preciso que a teoria de Einstein resolva o
problema que a teoria de Newton no explicava e que explique tudo o que a teoria de
Newton j explicava
Como pode evoluir a cincia se ela avana apenas pela negativa?

crescente aproximao da realidade

crescente aproximao da objetividade no mundo


As novas teorias tm que dar conta dos erros que a outra dava e tem que explicar o que
a antiga j explicava

s assim h um progresso em relao verdade

Alarga o campo do conhecimento em relao ao mundo mais objetivo


Aproximao verdade maior objetividade (melhor representao do mundo)
No acrescenta por mera acumulao acrescenta atravs de uma perspetiva crtica
Crtica induo:

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No h induo porque no h observao pura toda a observao tem por trs sempre
uma expectativa/perspetiva/teoria/hiptese
Temos sempre alguma carga que nasce connosco que vai condicionar a maneira como
nos relacionamos com o mundo.
Na cincia sobrevivem as teorias mais aptas
Acontece desde o plano mais bsico (biolgico) at cincia. A cincia, como os
indivduos, partem de problemas.
O indivduo adapta-se biologicamente, de forma crescente ao mundo, e a cincia
aproxima-se gradual e progressivamente verdade tentativa e erro (h sempre uma
tentativa de adaptao ao mundo. S se aprende se se errar).
A primeira teoria quando nascemos (carga biolgica com que nascemos)
Cincia modo mais elaborado de nos relacionarmos com o mundo. Funciona em
continuidade com uma viso pr-cientfica do mundo
H medida que se aproxima da verdade vai tendo uma viso mais objetiva do mundo (a
cincia)
Por que h relao entre a verificao e lgica indutiva?
Induo:

Observao emprica (pura) generalizao

Quantas mais observaes parece mais verdadeira a concluso confirma a


generalizao

sempre inconclusivo pode ser sempre refutado


Mtodo hipottico-dedutivo

Hiptese Consequncias experimentao (observao conforme a hiptese prev)


confirmar/verificar

O que h de comum?

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a ideia de que a experincia que dita a ltima palavra sobre a verdade ou validade
das hipteses
Assim sendo:

Em concluso:
Uma teoria do mtodo cientfico procura responder s seguintes questes:
1) Qual o ponto de partida das teorias cientficas?
2) Como se chega formulao das teorias cientficas?
3) O que se faz s teorias cientficas depois de terem sido formuladas?

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Objees ao indutivismo
No possvel registar e classificar factos empricos sem atender a qualquer
perspetiva terica.
As leis cientficas que dizem respeito ao inobservvel no podem resultar de simples
generalizaes indutivas baseadas na observao.
Objees ao falsificacionismo
Muitas vezes os cientistas trabalham sobretudo com o objetivo de confirmar as teorias
e continuam a defend-las mesmo quando as previses empricas delas deduzidas no
ocorreram.
No fcil refutar conclusivamente uma teoria. Dado que as previses empricas so
deduzidas de um vasto conjunto de hipteses, se estas fracassarem podemos apenas
concluir que pelo menos uma dessas hipteses (que pode nem pertencer teoria) falsa.

IV. O conhecimento e a racionalidade cientifica e tecnolgica

2. Estatuto do conhecimento cientifico


2.3. A racionalidade cientifica e a questo da objetividade
Possibilidade do que seja o mundo confrontada com a crtica e experimentao para
chegar realidade e objetividade corresponde eliminao de todos os elementos
subjetivos (pela negativa); corresponde a uma representao do mundo que corresponda
ao que as coisas so, realidade (pela positiva)
O cientista tem que afastar tudo o que sonho/devaneio (texto de Jacob)
Objetividade na cincia depende dos meios (tecnolgicos, por exemplo)

A objetividade mutvel, mas a finalidade da cincia

A cincia objetiva critrio para a objetividade: formulada em linguagem


matemtica e rigorosa (a linguagem matemtica universal)
A cincia ser um processo de desenvolvimento contnuo (em que a nova teoria
prolonga a anterior) ou descontnuo (em que a nova teoria no comparvel com a
anterior)
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A objetividade absoluta ideia apenas, tal como uma cincia acabada

Questo: no estar a realidade sempre para l da representao que a cincia constri?


Problema: h continuidade/descontinuidade na cincia?
A perspetiva de Kuhn sobre a objetividade da cincia
Perspetiva descontinuista do desenvolvimento da cincia
A atividade cientfica tem 3 conceitos fundamentais:

paradigma

cincia normal e cincia extraordinria

revoluo cientfica

Tem uma viso mais realista


Os cientistas investigam baseados no paradigma
O paradigma uma viso do mundo que engloba:

a teoria dominante

princpios filosficos

conceo metodolgica

procedimentos tcnicos, etc.

Cincia normal:
Perodo de vigncia de um paradigma perodo em que os cientistas investigam
segundo o que diz o paradigma
Durante este perodo podem surgir anomalias comeam a haver desvios no que a
teoria devia dar conta

Se no houverem muitas h uma desvalorizao dessas mesmas

anomalias (1 reao)

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Quando h anomalias em grande nmero entra-se num perodo de

crise/momentos crticos

Instabilidade na prtica cientfica conflito/ausncia de consenso

Perodo de cincia extraordinria


Cincia extraordinria Quando os cientistas se apercebem que necessrio outro tipo
de respostas
O paradigma utilizado comea a ser posto em causa, mas ainda no h um novo
modelo; esse modelo vai ser formulado no perodo de cincia extraordinria
Revoluo cientfica passagem de um paradigma para outro
Paradigma 1 substitudo pelo paradigma 2
O paradigma 2 no possui as mesmas caractersticas que o paradigma 1 os
pressupostos vo ser completamente diferentes baseado em princpios diferentes
P1 e P2 so incomensurveis no podem ser comparados porque partem de
pressupostos completamente diferentes

Surgimento da descontinuidade (incomensurabilidade)


Consequncias:

cai-se numa perspetiva relativista (as respostas que um paradigma d so relativas a


esse mesmo paradigma)

O paradigma 2 no melhor que o paradigma 1; apenas diferente

a cincia no procura a verdade

a realidade depende do paradigma vigente

o conceito de objetividade muito matizado (muito relativo)

Critrios para a aceitao de um paradigma:


capacidade para explicar factos polmicos persistentes
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utilidade na resoluo de problemas

realizao de previses adequadas

aura e prestgio dos cientistas que inventam uma nova teoria e a defendem

O conceito de objetividade acaba por se diluir em parte porque alguns dos critrios so
subjetivos
Kuhn esquema complexo mas mais prximo da realidade
Em concluso
O modelo da evoluo da cincia de Thomas Kuhn
No perodo da pr-cincia vrias escolas rivais discutem incessantemente os
fundamentos da disciplina em questo.
Esse perodo termina quando uma teoria bem sucedida institui um paradigma.

Institudo um paradigma, inicia-se um perodo de cincia normal.


A cincia normal uma atividade de resoluo de enigmas, tanto tericos como
experimentais, governada pelas leis, regras e princpios do paradigma.
Durante este perodo surgem anomalias. Uma anomalia um enigma, terico ou
experimental, que no encontra soluo no mbito do paradigma vigente.
Devido acumulao de anomalias, irrompe uma crise: a confiana num paradigma
abalada.
Surge assim um perodo de cincia extraordinria, marcado pela contestao do
paradigma e pela procura de alternativas.
Ocorre uma revoluo cientfica quando o paradigma substitudo por um novo
paradigma, luz do qual se retoma a atividade da cincia normal.
Os paradigmas so incomensurveis. A incomensurabilidade dos paradigmas a
impossibilidade de compar-los objetivamente de maneira a concluir que um melhor
do que o outro.
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Assim, a cincia no progride em direo verdade.

APONTAMENTOS REVISTOS POR UMA PROFESSORA DA REA, DR


PAULA DA ESCOLA SECNDARIA PADRE BENJAMIM SALGADO, EM
JOANE.
TODOS OS ITENS FORAM RETIRADOS DAS ORIENTAOES PARA EXAME
NACIONAL 2007/2008 DO GAVE.

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