Nanci Araujo Bento

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 145

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA UFBA

INSTITUTO DE LETRAS
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM LETRAS E LINGUSTICA

NANCI ARAJO BENTO

OS PARMETROS FONOLGICOS:
CONFIGURAO DE MOS, PONTO DE ARTICULAO E
MOVIMENTO NA AQUISIO DA LNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
UM ESTUDO DE CASO

Salvador
2010

NANCI ARAJO BENTO

OS PARMETROS FONOLGICOS:
CONFIGURAO DE MOS, PONTO DE ARTICULAO E
MOVIMENTO NA AQUISIO DA LNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
UM ESTUDO DE CASO

Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Letras e


Lingustica do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia
UFBA, como requisito final para a obteno do ttulo de Mestre em
Letras e Lingustica.
rea de concentrao: Descrio e Anlise Lingusticas
Linha de pesquisa: Aquisio e Ensino do Portugus
Orientador(a): Prof. Dr. Elizabeth Reis Teixeira

Salvador
2010

Sistema de Bibliotecas - UFBA

Bento, Nanci Arajo.


Os parmetros fonolgicos: configurao de mos, ponto de articulao e movimento
na aquisio da lngua brasileira de sinais - um estudo de caso / Nanci Arajo Bento. - 2010.
143 f. : il.
Inclui anexos e apndices.
Orientadora: Prof Dr Elizabeth Reis Teixeira.
Dissertao (mestrado) - Universidade Federal da Bahia, Instituto de Letras, Salvador,
2010.

1. Lngua brasileira de sinais. 2. Aquisio de linguagem. 3. Lngua portuguesa Fonologia. 4. Crianas surdas - Meios de comunicao. I. Teixeira, Elizabeth Reis. II.
Universidade Federal da Bahia. Instituto de Letras. III. Ttulo.
CDD - 419
CDU - 81221.24

NANCI ARAJO BENTO

OS PARMETROS FONOLGICOS:
CONFIGURAO DE MOS, PONTO DE ARTICULAO E MOVIMENTO NA
AQUISIO DA LNGUA DE SINAIS BRASILEIRA UM ESTUDO DE CASO

Dissertao apresentada Coordenao do Programa de


Ps-Graduao em Letras e Lingustica, do Instituto de
Letras da Universidade Federal da Bahia UFBA, como
requisito final para a obteno do ttulo de Mestre em
Letras e Lingustica.

Data de Aprovao _____/_____/____


Nota___________________________
BANCA EXAMINADORA:
_____________________________________
Prof. Dr. Elizabeth Reis Teixeira (Orientadora)
Universidade Federal da Bahia UFBA
_____________________________________
Prof. Dr. Lodenir Becker Karnopp
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
_____________________________________
Prof. Dr. Carola Rapp
Universidade Federal da Bahia UFBA

A F., em sinal do meu respeito e carinho.

AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, pela minha existncia.


A Josefa de Souza Arajo, me vitoriosa, batalhadora, sempre presente nos momentos
importantes da minha vida.
Professora Elizabeth Teixeira por seu apoio, empenho e pela credibilidade de tornar
possvel a realizao desse trabalho.
A Elaine Figueiredo pela confiana e apoio na pesquisa sobre o desenvolvimento lingustico
do seu filho.
Ao grande e honroso Mestre Roberto Vieira, exemplo de ser humano, educador, pai; modelo
acadmico de inspirao para as minhas pesquisas e trabalhos cientficos.
A Emmanuel Odjo pela pacincia e compreenso nos meus momentos de sumio.
A minha prima Gilfrance Arajo por estar sempre do meu lado incentivando-me nos
momentos de desespero.
Ao meu irmo Jorge Vieira pelo empenho e dedicao.
A Erivaldo Marinho pelo companheirismo, amizade e apoio nas transcries.
Aos amigos e amigas Tio Will, Tia Maura, Neemias, Maurcio, Vien, Vera, Raimunda,
Glria, Simone, Mariclia, Vanessa, Karina, Carol, Jane, Rita, Sheila Mrcia,Vernica,
Emiliana, rika e Alcia pelo carinho, incentivo e compreenso nos momentos de falta.
A Ana Baqueiro e Marcelo Silveira por introduzir-me no mundo dos surdos.
A todos que direta e indiretamente contriburam para a realizao desse trabalho.

lngua de sinais, nas mos de seus mestres,


uma lngua extraordinariamente bela e
expressiva, para a qual, na comunicao
uns com os outros e como um modo de atingir com
facilidade e rapidez a mente dos surdos, nem a
natureza nem a arte lhes concedeu um substituto
altura. Para aqueles que no a entendem,
impossvel perceber suas potencialidades para os
surdos, sua poderosa influncia sobre o moral e a
felicidade social dos que so privados da audio e
seu admirvel poder de levar o pensamento a
intelectos que de outro modo estariam em perptua
escurido. Tampouco so capazes de avaliar o
poder que ela tem sobre os surdos. Enquanto houver
duas pessoas surdas sobre a face da Terra e elas se
encontrarem, sero usados sinais.

J. Schuyler Long
Diretor da Iowa School for the Deaf
In: SACKS, Oliver (1998)

RESUMO

A presente dissertao aborda aspectos aquisicionais da Lngua Brasileira de Sinais de uma


criana surda, filha de pais surdos, adquirindo a lngua de sinais como lngua materna. Tratase de estudo de caso, realizado atravs da observao longitudinal do processo de aquisio da
Lngua Brasileira de Sinais de uma criana surda, exposta a um ambiente bilngue (Lngua
Portuguesa/Lngua Brasileira de Sinais) no perodo que vai de um ano e meio a dois anos e
meio de idade. A criana foi observada em interao com seus pais, familiares e cuidadores
em seu ambiente domstico/familiar. Os registros foram feitos atravs de filmagens com
cmera digital, em encontros mensais de durao em torno de trinta e quarenta minutos cada,
respeitando-se a privacidade e a disposio da criana e dos pais nos momentos das
filmagens. Partindo dos pressupostos da anlise de processos fonolgicos, as substituies dos
parmetros de configurao de mo, movimento e ponto de articulao so investigados. Os
resultados indicam que a criana surda, filha de pais surdos, adquirindo a Lngua Brasileira de
Sinais como lngua materna, apresenta substituio de traos fonolgicos nos primeiros anos
de vida, produzindo substituio fonolgica de determinadas configuraes de mos da
Lngua Brasileira de Sinais por no apresentar o controle da motricidade da coordenao fina
necessrio para produzir a matriz de determinada configurao de mo, alm de haver
tambm substituies dos parmetros Movimento e Ponto de Articulao.
Palavras-chave: Aquisio da linguagem. LIBRAS. Parmetros fonolgicos.

ABSTRACT
This essay discusses acquisitional aspects of deaf child of deaf parents acquiring sign
language as his mother tongue in a bilingual LIBRAS/Brazilian Portuguese language
environment, from the age of one and a half to two and a half years of age. Methodologically,
the qualitative approach was used, focusing on case study typology through longitudinal
observation. Sessions were recorded with digital camera in monthly meetings of
approximately forty minutes duration, respecting child and parents privacy. The child was
observed interacting with parents / family / caregivers basically in home/ family environment.
Based on phonological processes analysis, substitutions involving handshape, movement and
place of articulation wore investigated. Results demonstrate that the child replaced
phonological traits early in linguistic development, producing phonological substitution of
certain Brazilian Sign Language hand shapes due to the lack of control of fine motor
coordination necessary for producing the adult feature array. Substitutions of Movement and
Point of Articulation features were also found.
Keywords: Language acquisition. LIBRAS (Brazilian Sign Language). Phonological
Parameters.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Dedos da mo ............................................................................................................ 27


Figura 2: Alfabeto Manual da LIBRAS ................................................................................... 31
Figura 3: Sinal Nunca da LIBRAS ....................................................................................... 32
Figura 4: Parmetros Bsicos das Lnguas de Sinais ............................................................... 35
Figura 5: Espao de sinalizao das Lnguas de Sinais ............................................................ 37
Figura 6: Variedade Regional do Sinal CULTURA da LIBRAS ......................................... 38
Figura 7: Variedade Regional do Sinal FERIADO da LIBRAS ........................................... 38
Figura 8: Os Parmetros Fonolgicos da Lngua de Sinais ...................................................... 39
Figura 9: Sinais da LIBRAS que se opem ao Parmetro de Movimento ............................... 40
Figura 10: Sinais da LIBRAS que se opem ao Parmetro de CM .......................................... 41
Figura 11: Sinais da LIBRAS que se opem ao Parmetro de Ponto de Articulao ............. 41
Figura 12: Sinais da LIBRAS que apresentam Alofonia. ......................................................... 42
Figura 13: Espao de Realizao dos sinais da LIBRAS/ 1 ..................................................... 45
Figura 14: Espao de Realizao dos Sinais da LIBRAS/ 2 .................................................... 45
Figura 15: Sinais da LIBRAS que no possuem movimento. .................................................. 46
Figura 16: Sinais da LIBRAS que possuem movimento. ......................................................... 46
Figura 17: Exemplo de Sinal da LIBRAS com Movimento Retilneo. .................................... 47
Figura 18: Exemplo de Sinal da LIBRAS com Movimento Helicoidal. .................................. 47
Figura 19: Exemplo de Sinal da LIBRAS com Movimento Circular....................................... 48
Figura 20: Exemplo de Sinal da LIBRAS com Movimento Semicircular. .............................. 48
Figura 21: Exemplo de Sinal da LIBRAS com Movimento Sinuoso ....................................... 49
Figura 22: Exemplo de Sinal da LIBRAS com Movimento Angular....................................... 49
Figura 23: Exemplo de Sinais da LIBRAS que se opem em relao Direcionalidade. ....... 51
Figura 24: Exemplo de Sinais da LIBRAS com Movimento Unidirecional. ........................... 51

Figura 25: Exemplo de Sinais da LIBRAS com Movimento Bidirecional. ............................. 52


Figura 26: Exemplo de Sinais da LIBRAS com Movimento Multidirecional. ........................ 52
Figura 27: Crianas Falantes e Crianas que Sinalizam. .......................................................... 64
Figura 28: Verbo de Negao NUNCA Forma integral .................................................... 73
Figura 29: Verbo de Negao NUNCA Forma reduzida ................................................... 74
Figura 30: Substituio Fonolgica de CM Sinal GUA ................................................... 111
Figura 31: Substituio Fonolgica de CM, M e PA - Sinal OBRIGADO ............................ 112
Figura 32: Substituio Fonolgica de CM Sinal BANHEIRO .......................................... 113
Figura 33: Substituio Fonolgica de CM e PA Sinal CACHORRO ............................... 114
Figura 34: Substituio Fonolgica de CM Sinal BOLA DE SOPRAR ............................. 115
Figura 35: Substituio Fonolgica de M Sinal QUENTE ................................................. 115
Figura 36: Substituio Fonolgica de CM, M - Sinal GOSTOSO/DELICIOSO ................. 116
Figura 37: Substituio Fonolgica de CM, M - Sinal LEITE............................................... 117
Figura 38: Substituio Fonolgica de CM, M e PA - Sinal BEB....................................... 118
Figura 39: Substituio Fonolgica de M - Sinal SINALIZAR ............................................. 118
Figura 40: Substituio Fonolgica de CM - Sinal APANHAR ............................................ 119
Figura 41: Substituio Fonolgica de CM, M - Sinal LARANJA ....................................... 119
Figura 42: Substituio Fonolgica de CM - Sinal COELHO ............................................... 120
Figura 43: Substituio Fonolgica de CM, M - Sinal BORBOLETA .................................. 121
Figura 44: Substituio Fonolgica de CM e M - Sinal TARTARUGA ............................... 122
Figura 45: Substituio Fonolgica de PA - Sinal MACACO ............................................... 122
Figura 46: Substituio Fonolgica de CM, M - Sinal GIRAR (CL) .................................... 123
Figura 47: Substituio Fonolgica de CM - Sinal NANCI................................................... 124

LISTA DE GRFICOS

Grfico 1: Produo do Dia 10/11/2008 ................................................................................... 85


Grfico 2: Produo do Dia 16/04/2009 ................................................................................... 89
Grfico 3: Produo do Dia 20/06/2009 ................................................................................... 92
Grfico 4: Produo do Dia 10/10/2009 ................................................................................... 96
Grfico 5: Produo do Dia 24/10/2009 ................................................................................. 103
Grfico 6: Total de Produes de Sinais Realizados .............................................................. 105
Grfico 7: Produo de Sinais por Categoria Conforme Padro Adulto ............................. 106
Grfico 8: Produo de Sinais por Categoria Com Substituies Fonolgicas ................... 107
Grfico 9: Produo de Sinais com Substituies Fonolgicas Pelos Parmetros de CM, M e
PA ......................................................................................................................... 107
Grfico 10: Produo de Sinais com Substituies Fonolgicas Pelos Parmetros de CM e
M; CM, M e PA; CM e PA................................................................................... 108

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Relao dos Sinais Produzidos no dia 10/11/2008 ................................................... 86


Tabela 2: Relao dos Sinais Produzidos no dia 16/04/2009. .................................................. 89
Tabela 3: Relao dos Sinais Produzidos no dia 20/06/2009. .................................................. 93
Tabela 4: Relao dos Sinais Produzidos no dia 10/10/2009 ................................................... 97
Tabela 5: Relao dos Sinais Produzidos no dia 24/10/2009 ................................................. 103

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Quadro das Configuraes de Mos do Nvel Fontico da LIBRAS / 1 ................. 43


Quadro 2: Configuraes de Mos do Nvel Fontico da LIBRAS / 2 .................................... 44
Quadro 3: Categorias do Parmetro Movimento na LIBRAS .................................................. 50
Quadro 4: Grau de Intensidade na LIBRAS ............................................................................. 54
Quadro 5: Grau de Tamanho na LIBRAS ................................................................................ 55
Quadro 6: Nveis de estruturao lingustica. ........................................................................... 63
Quadro 7: Sinais com Substituies Fonolgicas Pelos Parmetros de CM, M e PA ........ 108
Quadro 8: Sinais com Substituies Fonolgicas Pelos Parmetros de CM e M; CM, M e
PA; CM e PA ........................................................................................................ 109

SUMRIO

INTRODUO ............................................................................................................. 15

PRESSUPOSTOS TERICOS .................................................................................... 22

2.1

A LINGUAGEM E SUA DIMENSO HISTRICO-SOCIAL NO PROCESSO


AQUISICIONAL DA LINGUAGEM............................................................................. 22

2.2

A COMUNICAO COM AS MOS .......................................................................... 26

2.3

A DATILOLOGIA .......................................................................................................... 30

A FONTICA, A FONOLOGIA E A MORFOLOGIA NAS LNGUAS DE SINAIS


...................................................................................................................................... 33

3.1

DISCUSSO SOBRE OS CINCO PARMETROS FONOLGICOS DA LNGUA


BRASILEIRA DE SINAIS ............................................................................................. 42

3.1.1 Parmetro 1 - Configurao de Mos (CM) ............................................................... 43


3.1.2 Parmetro 2 Ponto de Articulao (PA) ................................................................... 44
3.1.3 Parmetro 3 Movimento (M) ..................................................................................... 46
3.1.4 Parmetro 4 Orientao/ Direcionalidade ............................................................... 50
3.1.5 Parmetro 5 Expresso No-Manual........................................................................ 52
3.2

A PROPOSTA DE LIDDELL E JOHNSON .................................................................. 55

ESTGIOS DA AQUISIO DA LINGUAGEM .................................................... 59

4.1

A CONSTITUIO DO LXICO INFANTIL .............................................................. 61

4.2

O PROCESSO AQUISICIONAL DAS CRIANAS OUVINTES E SURDAS ............ 63

4.2.1 O perodo pr-lingustico .............................................................................................. 67


4.2.2 Estgio de um sinal ........................................................................................................ 68
4.2.3 Estgio de dois sinais e estgio das primeiras combinaes ...................................... 70
4.3

TEORIA DOS PROCESSOS FONOLGICOS ............................................................. 72

4.4

DESENVOLVIMENTO

DA

COORDENAO

MOTORA

GROSSA

COORDENAO MOTORA FINA EM CRIANAS SURDAS ................................. 74

ELICIAO DOS DADOS .......................................................................................... 80

5.1

PERFIL DO SUJEITO .................................................................................................... 81

5.2

A COLETA DE DADOS ................................................................................................ 82

5.3

A TRANSCRIO DOS DADOS ................................................................................. 83

5.4

SESSES DE INTERAO .......................................................................................... 84

ANLISE DOS DADOS ............................................................................................. 105

CONCLUSO.............................................................................................................. 125

REFERNCIAS ................................................................................................................... 130


APNDICES ......................................................................................................................... 136
ANEXOS ............................................................................................................................... 143

INTRODUO

Os estudos culturais atuais sobre surdos nos proporcionam novas concepes acerca do
Ser Surdo. O mesmo deixa de ser visto do ponto de vista audiolgico, como um ser
patolgico, um modelo clnico, para ser encarado sob uma perspectiva antropolgica, social,
cultural, destituindo-se as representaes clnicas da surdez, trazendo novas perspectivas
epistemolgicas. Assim, a discusso dentro de uma viso clnico-patolgica no o objetivo
do nosso trabalho, assim como tambm no esta perspectiva desejada pela maior parte da
Comunidade Surda nem pela maioria dos pesquisadores da rea da surdez na
contemporaneidade.

Por sculos o homem tentou definir a palavra Cultura, tornando-se extremamente


complexo escolher uma definio a ser seguida. Escolhemos para a nossa dissertao uma
concepo antropolgica, que reconhece a Cultura como a rede social de significados que do
sentido ao mundo que cerca um indivduo. Essa rede engloba um conjunto de diversos
elementos, como valores, costumes, leis, crenas, lngua, dentre outros.
Strobel (2008), autora surda, afirma que Cultura Surda
o jeito de o sujeito surdo entender o mundo e de modific-lo a fim de se tornlo acessvel e habitvel ajustando-os com suas percepes visuais, que
contribuem para a definio das identidades surdas e das almas das comunidades
surdas. Isto significa que abrange a lngua, as ideias, as crenas, os costumes e
os hbitos de povo surdo. (STROBEL, 2008, p. 24)

Strobel (2008) afirma tambm que na Comunidade Surda Brasileira os sujeitos surdos
no se diferenciam um do outro com grau de surdez. Para eles, o mais importante o
pertencimento ao grupo, usando a Lngua Brasileira de Sinais, que ajuda a definir as suas
identidades surdas.
significativo dizer que a histria dos surdos foi marcada por discursos provinciais e
prticas excludentes. Na Antiguidade, as pessoas surdas eram consideradas como indivduos
primitivos, sendo tratados com piedade e compaixo. Segundo Goldfeld (2002, p. 28), a
crena de que o surdo era uma pessoa primitiva fez com que a ideia de que ele no poderia ser

16

educado persistisse at o sculo XV. At aquele momento eles viviam margem da sociedade
e no tinham direito assegurado. A partir do sculo XVI diferentes prticas metodolgicas
acerca da surdez comearam a ser desenvolvidas. Algumas se baseavam nas lnguas oraisauditivas; outras defendiam o uso da lngua de sinais.
S (1999) explana que houve um momento na histria em que os surdos comearam a
se comunicar atravs do Manualismo, tentativa de falar por outro canal que no o udiofonatrio dos ouvintes. Em 1880 ocorreu um grande evento que foi um marco na histria da
educao dos surdos: o Congresso de Milo. A partir da, surgiu uma nova concepo de
comunicao para os surdos: o Oralismo, que visa a capacitar a pessoa surda a utilizar a
lngua da comunidade ouvinte na modalidade oral, de forma que seja possvel o uso da voz e
da leitura labial nas relaes educacionais e sociais. Com o Oralismo, as pessoas surdas eram
consideradas como pessoas que necessitavam ser normalizadas cultura ouvinte. Embora
se constatasse que o mtodo oralista no era eficaz, este continuava a ser recomendado, pois
os pesquisadores da poca acreditavam que essa seria a nica maneira de o surdo integrar-se
sociedade e que, se o surdo fracassasse na comunicao oral, seria considerado como
limitado.
Segundo S (1999, p. 75), o Congresso de Milo imps a superioridade da lngua
falada com respeito lngua de sinais, e decretou, sem fundamentao cientfica alguma, que
a princpio deveria constituir, como se tem dito, o nico objeto de ensino.
S (1999) afirma que o Brasil seguiu as diretrizes internacionais, mas foi somente a
partir da dcada de 50 que a abordagem oralista atingiu seu pice, com a proibio, inclusive
nas escolas especializadas, da lngua de sinais, pois esta era concebida apenas como um
conjunto de gestos sem estrutura gramatical, uma espcie de pantomima.
Anos aps a insero do Oralismo, surgiu uma nova proposta de educao para os
surdos: a da Comunicao Total que, diferentemente do Oralismo, no possui um fato
histrico definido. Sua histria se inicia a partir das insatisfaes manifestadas mundialmente
quanto aos resultados da educao oralista, que, aps haver exposto diversas geraes de
surdos sua orientao, no apresentou resultados satisfatrios.
Comunicao Total foi o nome adotado para uma nova alternativa educacional, na
rea de atendimento s pessoas surdas. Subentende-se como uma defesa da utilizao de todos
os recursos disponveis para estabelecer um contato com pessoas surdas. Nesse aspecto,
percebemos que a relao surdo-ouvinte torna-se prioritria, excluda assim a relao surdo-

17

surdo, pois enfatiza a lngua na modalidade oral como a mais importante para a comunicao,
posto que a lngua de sinais deve ser respeitada em seu status lingustico.
Aps a entrada das ideias da Comunicao Total no Brasil, na dcada de 80, linguistas
brasileiros comearam a se interessar pelo estudo da Lngua Brasileira de Sinais (LIBRAS),
considerada por educadores e pesquisadores como uma lngua natural, importante para o
envolvimento afetivo e cognitivo do surdo. A abordagem educacional com o Bilinguismo
passou a ser, ento, pesquisada. Somente a partir da comearam a ser vistas pesquisas
relacionadas cultura surda.
Por causa da barreira lingstica, o povo surdo ficou margem da sociedade por longos
anos, deixou de ter acesso ao conhecimento e aos bens culturais, veiculados atravs da lngua
majoritria. Agora, configura-se uma nova vertente. Rosa (2009, p. 19), autora surda, afirma
que falar dos surdos na contemporaneidade equivale a desfraldar a bandeira da cultura surda,
de mostrar-se, erguer-se e poder sinalizar em pblico sem ser apontados ou observar risos
zombeteiros e olhares de piedade e curiosidade. Assim, descortinam-se os universalismos
culturais. As identidades surdas passam a ser vistas como mltiplas e no esto mais presas a
modelos indivisveis. No mais modelamos os surdos a partir de representaes hegemnicas
provinciais. A partir do momento que conferimos lngua de sinais o estatuto de lngua, o
padro de normalidade passa a ser visto como diferente. O surdo passa a ser visto como
membro de uma comunidade inteligente que se identifica pelo uso de uma lngua comum aos
membros dessa comunidade.
Se as pessoas so diferentes, utilizam lnguas diferentes para se comunicar e esto
localizadas em diferentes ambientes que exigem delas, para a prpria sobrevivncia, o
desenvolvimento de diversas capacidades, ento o que se pode encontrar no so pessoas com
mais ou menos capacidades de serem bem sucedidas, mas pessoas com menos ou mais
capacidades de serem bem sucedidas em determinadas reas de conhecimento, sejam elas
pessoas surdas ou ouvintes.
A principal motivao para realizao desta dissertao surgiu a partir de inquietaes
particulares acerca do processo aquisicional da Lngua Brasileira de Sinais por crianas
surdas, ao receber uma adolescente surda numa escola estadual pblica do Subrbio
Ferrovirio na cidade de Salvador, matriculada em classe inclusiva, na qual eu lecionava a
disciplina Lngua Portuguesa. Nas atividades pedaggicas desenvolvidas pude perceber que,
na maioria dos casos, o discente surdo sempre norteado pela obrigao de igualar-se
cultura ouvinte, seguindo os fundamentos lingusticos, histricos, polticos e pedaggicos

18

daquela cultura, sem levar em conta que, ao considerar o aluno surdo como um ouvinte, a
escola nega-lhe a singularidade de indivduo surdo. Assim, busquei no ensino da lngua
portuguesa como L2, ou seja, segunda lngua para surdos, fornecer subsdios de ensino da
escrita e da leitura da lngua portuguesa para alunos usurios de uma lngua gestual-visual,
respeitando a sua singularidade do Ser Surdo. Acredito que a Escola um espao poltico,
democrtico, por excelncia, onde todos tm o direito de participar, onde as pessoas se
educam, crescem e participam efetivamente para o processo de construo da cidadania.
Acredito, tambm, que a escola seja um espao onde se deve aprender a conviver com a
diversidade e a diferena cultural, buscando o respeito mtuo em seus processos
aquisicionais. A efetiva realizao do ensino de Lngua Portuguesa como L2 para crianas
surdas leva em considerao as multiformas de aprender, aprendendo-se junto, respeitando-se
os ritmos e possibilidades de cada educando, assegurando-se que todos os alunos tenham
interao em classe, tanto com os objetos a serem apreendidos, quanto com a aprendizagem
pela interao com os professores e colegas, com o objetivo de alcanar aprendizagens
cognitivas, psicomotoras, afetivas e socioculturais, alm do direito de aprender a lngua de
sinais como primeira lngua, instituindo-se assim como lngua materna. Em decorrncia
dessas experincias na rea da surdez e inquietaes acerca do processo aquisicional de
crianas surdas, ingressei no Curso de Mestrado de Letras e Lingustica da Universidade
Federal da Bahia, a fim de aprofundar conhecimentos, a partir da pesquisa sobre os aspectos
tericos e lingusticos da aquisio da Lngua Brasileira de Sinais por uma criana surda. O
convvio com crianas e adolescentes surdos despertou-me grande curiosidade e desejo de
investigar o processo de aquisio da LIBRAS como primeira lngua, i. e., sem a interveno
da instruo formal. A principal importncia da investigao est na possibilidade de
contribuir para os Estudos Lingusticos na rea da surdez, e mais especificamente sobre a
Lngua Brasileira de Sinais.
Acredito que os dados a serem pesquisados serviro como referenciais para novas
propostas psicolingusticas na Lngua Brasileira de Sinais, bem como novas propostas
educativas relacionadas s crianas surdas. Sabemos que diversos so os estudos que tm
focalizado a aquisio da linguagem em lnguas orais, mas ainda h a necessidade da
ampliao de estudos no que se refere modalidade visuoespacial, a qual se configura como
uma dimenso presente na Lngua Brasileira de Sinais. A presente pesquisa pretende
contribuir para descries e anlises fonolgicas da LIBRAS a partir da anlise fonolgica de

19

produo dos parmetros de configurao de mos, ponto de articulao e movimento de uma


criana surda, filha de pais surdos, na faixa etria de um ano e meio a dois anos e meio.
As lnguas de sinais so atualmente consideradas pela lingustica como lnguas
naturalmente constitudas num sistema lingustico e no mais como um problema do surdo ou
como uma patologia da linguagem. Mas apenas nas ltimas dcadas vm sendo desenvolvidas
pesquisas sobre surdez a partir do ponto de vista de uma comunidade lingustica diferente,
pertencente a uma modalidade de lngua visuoespacial.
O ser humano possui estrutura ou faculdades como uma condio aplicvel s lnguas
orais e visuoespaciais que podero ser estruturadas a partir de elementos gramaticais. Em
alguns ambientes lingsticos, possvel a convivncia de uma ou mais lnguas, sobressaindose uma ou outra, a depender de uma variedade de fatores. Nesse aspecto, toda criana pode,
partindo de sua experincia em duas ou mais lnguas-ambiente, escolher a lngua particular
para sua efetiva comunicao, se a mesma estiver inserida num contexto bilnge ou
multilnge.
Considerando as asseres acima, algumas questes se colocam como condies
norteadoras, a saber: de que forma a Lngua Brasileira de Sinais assume uma proposio de
primeira lngua, num ambiente bilngue? Qual a contribuio de pais surdos na aquisio da
lngua de uma criana surda? Quais fatores interferem e/ou determinam o processo aquisitivo
da linguagem nestes casos?
O processo de aquisio das lnguas de sinais semelhante ao processo de aquisio das
lnguas orais. Os estudos sobre as lnguas de sinais, atravs do processo de
aquisio/desenvolvimento

das

lnguas

sinalizadas,

as

quais

apresentam

certas

particularidades, fornecem novas perspectivas tericas sobre a linguagem humana.


A linguagem vai se desenvolvendo quando cada criana est em plena interao com
um ambiente lingustico. A criana ouvinte, filha de pais brasileiros ouvintes, nasce e cresce
em um ambiente lingustico em que se fala a lngua portuguesa. A partir desse input
lingustico da lngua a que tal criana exposta, ela adquire a lngua portuguesa. Contudo, se
a criana surda, filha de pais brasileiros surdos sinalizadores1, exposta a um ambiente

Entendemos a expresso sinalizadores pessoas surdas que utilizam as lnguas de sinais como meio de
comunicao.

20

lingustico de sinais, a exposio a dados lingusticos da lngua de sinais a que est exposta, a
far adquirir a LIBRAS2 como lngua natural.
Para esta dissertao, tomamos como questo bsica a seguinte indagao: de que forma
a criana surda, filha de pais surdos, ao adquirir a Lngua Brasileira de Sinais como Lngua
Materna realizar os traos fonolgicos dos primeiros anos de vida, considerando os
parmetros fonolgicos de configurao de mos, ponto de articulao e movimento?
A nossa primeira hiptese era a de que a criana surda, filha de pais surdos, adquirindo
a Lngua Brasileira de Sinais como lngua materna apresentaria substituio de traos
fonolgicos nos primeiros anos de vida, produzindo substituio fonolgica de determinadas
configuraes de mos da Lngua Brasileira de Sinais por no apresentar o necessrio controle
da motricidade da coordenao fina para produzir a matriz de determinada configurao de
mo. A nossa segunda hiptese era a de que a criana surda, filha de pais surdos, apresentaria
um processo de apagamento fonolgico na produo de um sinal realizado com as duas mos
e que envolvesse uma mesma configurao de mos, sem apresentar mudana de significado.
Partindo dessas hipteses, nosso objetivo bsico nesta pesquisa foi o de identificar,
durante o processo de aquisio da lngua brasileira de sinais por uma criana surda, filha de
pais surdos, de que forma os parmetros de ponto de articulao e movimento, alm da
configurao de mos, so simplificados no estgio de um sinal, durante os primeiro anos
de idade; verificando de que forma as dimenses fonolgica e lexical esto sendo
estruturadas.
A dissertao est estruturada com a presente Introduo, discutindo brevemente a
temtica de estudo. No captulo 2 abordamos alguns pressupostos tericos referentes
dicotomia lngua/linguagem e sua dimenso histrico-social no processo aquisicional;
consideraes acerca da semitica e da lngua de sinais; a comunicao com as mos e o uso
da datilologia na Lngua Brasileira de Sinais.
O captulo 3 enfoca especificamente a Lngua Brasileira de Sinais, fazendo uma
interface entre a fonologia, a morfologia e, por vezes, a sintaxe da LIBRAS. O captulo 4 traz
questes pertinentes descoberta da identidade surda na sociedade e suas fecundas
possibilidades de fortalecimento, alm da sua participao na comunidade surda, espao onde
o surdo pode desvendar suas capacidades latentes. O captulo 5 enfoca os estgios da
2

a sigla utilizada como supresso dos termos Lngua Brasileira de Sinais, forma de comunicao e
expresso utilizada pela comunidade surda no Brasil, cujo sistema lingustico de natureza visual-motora, com
estrutura gramatical prpria.

21

aquisio da linguagem de crianas ouvintes na modalidade oral e crianas surdas na


modalidade visuoespacial, passando pelas principais etapas de aquisio. O captulo 6
apresenta a metodologia do trabalho, o levantamento e a descrio do corpus da pesquisa, e as
produes referentes ao perodo lingustico da criana.
Na Concluso, ressaltamos o processo aquisicional da lngua de sinais como lngua
materna de uma criana surda, filha de pais surdos, atravs das produes fonolgicas dos
parmetros de configurao de mos, movimento e ponto de articulao da Lngua Brasileira
de Sinais. Acreditamos que os dados pesquisados serviro como referenciais para novas
propostas fonolgicas / psicolingusticas na LIBRAS, bem como novas propostas educativas
relacionadas s crianas surdas.

PRESSUPOSTOS TERICOS

A Lingustica conhecida como a cincia que busca explicar os mecanismos que


regulam o funcionamento das lnguas. A partir desta perspectiva, este trabalho caracterizado
como uma anlise lingustica da Lngua Brasileira de Sinais, aqui vista como um sistema
lingustico natural e independente.
Estudos lingusticos apresentados por Saussure inauguraram uma nova fase na
constituio da Lingustica como Cincia autnoma. Apesar de, no sculo anterior, a
lingustica ter atingido o status de cincia, os estudos apresentados se limitavam a resolver
questes histrico-comparatistas. Nas postulaes de Saussure (1969), h a separao entre
lngua e fala, a lngua equivalendo a um sistema de valores que se opem uns aos outros e que
est depositado como produto social na mente de cada falante de determinada comunidade,
possuindo uma homogeneidade e constitui-se no objeto da lingustica propriamente dita.
Diferentemente, a fala um ato individual e est sujeita a fatores externos, muitos desses no
lingusticos. Perpassando por diferentes abordagens tericas, a dicotomia Lngua/Linguagem
encontra diversos conceitos, por vezes contraditrios. Para nossa dissertao, lngua equivale
a um sistema de signos, uma forma particular da linguagem, estando lngua e linguagem
intrinsecamente ligadas, posto que esto na origem de toda atividade comunicativa do ser
humano.

2.1

A LINGUAGEM E SUA DIMENSO HISTRICO-SOCIAL NO


PROCESSO AQUISICIONAL DA LINGUAGEM

faclimo aceitarmos como natural a lngua, a nossa prpria lngua - talvez seja
preciso encontrarmos outra lngua, ou, melhor dizendo, um outro modo de
linguagem, para nos surpreender, nos maravilhar novamente. (SACKS, 1998, p.
9)

Estamos vivenciando um momento de transformao, de efervescncia no campo


lingustico, mais especificamente nas pesquisas relacionadas s lnguas de sinais. Para

23

Fletcher e MacWhinney (1997), apesar de os pesquisadores da rea aquisicional conservarem


os mtodos desenvolvidos h mais de trs dcadas, ainda continuam a explorar implicaes de
novos modelos no mbito aquisicional, estimulados por discusses tericas, metodolgicas e
por avanos tecnolgicos. Os estudos tericos acerca da aquisio da linguagem so de suma
importncia para anlises contemporneas sobre a lingustica. A linguagem funciona como a
capacidade do homem de comunicar-se por meio de uma lngua, seja ela oral-auditiva ou
gestual-visual. O estado inicial da faculdade da linguagem vai se modificando quando cada
criana exposta a um ambiente lingustico especfico e o pleno desenvolvimento do ser
humano necessita de mecanismos de aprendizado que auxiliem nos processos de
desenvolvimento. Os estudos aquisicionais servem como referencial em questes relacionadas
linguagem com papel decisivo na formao de processos mentais.
Podemos afirmar, com base em Quadros e Karnopp (2004), que a capacidade para
adquirir a linguagem, enquanto estrutura cognitiva, igual em todas as crianas, Contudo, a
criana precisa estar inserida em um meio em que haja pessoas falando ou sinalizando, para
despertar o desenvolvimento da competncia que ela possui de forma inata. Se ela no for
inserida nesse meio, tal capacidade no poder ser desenvolvida.
Nesse sentido, as ideias de Chomsky, sem sombra de dvidas, continuam a representar,
para a Lingustica atual, um aporte terico de grande valia. Desde a antiguidade, muitos
estudiosos da linguagem se interessaram pelas relaes entre lngua e pensamento, mas foi
Chomsky quem, de forma radical, a partir dos anos 50, poca em que as cincias sociais
sofriam influncias do behaviorismo de John Watson e Skinner, que consideravam que o
comportamento humano era explicado atravs das leis de estmulo-resposta, retomou o
percurso que muitos estudiosos antigos j haviam questionado, ressaltando a importncia da
investigao das relaes existentes entre mente e lngua, tornando-se o grande responsvel
pela revoluo na cincia cognitiva e na cincia da linguagem, e dos estudos sobre aquisio.
Segundo Chomsky (1971), a competncia lingustica uma faculdade inata, dada de
antemo ao homem, como um componente particular da mente humana. Acionando sua
competncia, e exposto no momento da aprendizagem a um nmero reduzido de dados, o
homem capaz de gerar sentenas que nunca ouviu, realizando um processo inato de
criatividade. O falante das lnguas orais, e os sinalizantes das lnguas gestuais, tm um
conhecimento inato sobre os itens lexicais de sua lngua, que se organizam para formar
expresses mais e mais complexas, at chegar ao nvel da sentena, uma habilidade de brincar
com as palavras dentro das regras da gramtica de sua lngua materna. Isto quer dizer que a

24

Gramtica Gerativista repele a explicao behaviorista, implcita na Gramtica Estrutural,


segundo a qual aprendemos a falar atravs de um processo de captao, acumulao e
associao de estmulos, processo esse mais de reproduo que de criao. Na Gramtica
Gerativista (GG), a lngua um objeto mental, por isso afirma-se que a GG uma teoria
mentalista, que no se interessa apenas pela anlise das expresses lingusticas consideradas
em si mesmas, separadas das propriedades mentais que esto envolvidas em sua produo e
compreenso, nem se interessa pelo aspecto social que a lngua apresenta, como os
funcionalistas fazem. Seu foco est no aspecto mental da lngua.
Na viso de Chomsky, a lngua um sistema de princpios radicados na mente humana,
e objeto de estudo da gramtica gerativa. Ele afirma que existe um mdulo lingustico em
nossa mente, que tem princpios responsveis pela formao e compreenso das expresses
lingusticas, resultando assim a faculdade da linguagem. Essa faculdade inata e todo ser
humano nasce com ela, parte da dotao gentica da espcie humana. Chomsky, como
Saussure, insiste na homogeneidade do objeto da lingustica, mas, diferentemente dele, vai
entender a estrutura como um conjunto de regras, dando um carter dinmico noo de
estrutura, opondo-se ao carter esttico da estrutura saussuriana.
Newton (2002) apresenta o caso de Genie como exemplificao da afirmao de
Chomsky a respeito da faculdade da linguagem. Segundo aquele autor, Genie no aprendeu a
linguagem, tendo sido uma criana enterrada em silncio. Amarrada a uma cadeira pelo
prprio pai aos catorze meses de idade, foi mantida presa por vrios anos em um quarto
escuro onde no recebia estmulos externos e no escutava vozes.
A descoberta de Genie no ano de 1970 suscitou curiosidade intensa entre psiclogos,
linguistas, neurologistas, e outros que estudavam o desenvolvimento cerebral. Funcionou
como um banco de ensaio para as teorias chomskyanas de aquisio da linguagem. A soluo
para a questo do processo de aquisio da linguagem, a partir de Chomsky, d-se por duas
doutrinas diferentes: o antiempirismo e o inatismo. O antiempirismo extremamente pobre e
no pode se restringir aos mecanismos de aprendizagem (associao e generalizao) que os
empiristas atribuem mente humana. Acredita que necessrio supor que as crianas
possuem, como parte de sua herana gentica, uma teoria lingustica que especifique a
forma da gramtica de uma lngua humana possvel, que permita a essa criana selecionar,
dentre as gramticas possveis, aquela que mais seja adequada aos dados disponveis.
As pesquisas desenvolvidas com Genie demonstraram que ela no conseguiu
desenvolver faculdade da linguagem, que o que distingue os homens dos animais. Ela no

25

podia perceber a diferena entre os vrios pronomes, ou entre verbos ativos e passivos. Genie
tinha palavras, mas no podia fazer frases bem formadas em Ingls:
Father hit arm. Big wood. Genie cry... Not spit. Father. Hit face spit... Father hit big
stick. Father is angry. Father hit Genie big stick. Father take piece wood hit. Cry. Father
make me cry. Father is dead 5.
Se no houver estmulos, a linguagem no se desenvolver. O estado inicial da
faculdade s vai se modificando quando cada criana exposta a um ambiente lingustico. Se
a criana ouvinte, filha de pais ouvintes, nasce e cresce em um ambiente lingustico em que
se fala portugus, por exemplo, a informao gentica que ela traz, que o estado inicial da
faculdade da linguagem, mais os dados lingusticos do portugus, a que ela exposta, faz com
que ela, por fim, adquira a lngua portuguesa. Contudo, se surda, filha de pais surdos
fluentes em lngua de sinais, exposta a um ambiente lingustico de sinais, as informaes
genticas que ela traz, mais os dados lingusticos da lngua de sinais a que ela exposta,
faro, ento que essa criana adquira, no caso de indivduos brasileiros, a LIBRAS.
Assim, percebemos que a linguagem se caracteriza como uma faculdade humana, uma
capacidade que os homens tm para produzir, comunicar, desenvolver, compreender a lngua
e outras manifestaes simblicas semelhantes lngua. , portanto, uma faculdade que
herdamos filogeneticamente. A linguagem heterognea e composta por aspectos fsicos,
fisiolgicos e psquicos e pertence tanto ao domnio individual quanto ao domnio social. Em
acordo com Vigotski (2009), afirmamos que as atividades cognitivas do indivduo ocorrem a
partir da sua histria social, constituindo-se num produto de desenvolvimento histrico-social
de sua comunidade. Concordamos tambm com o mesmo autor quando afirma que as
habilidades cognitivas e as formas de estruturar o pensamento no so determinadas por
fatores congnitos. Na verdade, so resultantes das atividades praticadas de acordo com os
hbitos sociais da cultura em que o indivduo est inserido. Vigotski (2009) declara que,
inicialmente, a criana aparenta usar a lngua como interao superficial no ambiente a que
est exposta, mas, a partir de determinado momento, a linguagem penetra no subconsciente da
criana para se constituir na estrutura do prprio pensamento da criana.

Pai bater no brao. Grande madeira. Genie chorar... No cuspir. Pai. Bater rosto - cuspir... Pai bater grande
pau. Pai raiva. Pai bater Genie grande pau. Pai ter pedao de madeira atingir. Chorar. Pai me fazer chorar.
Pai morto. Traduo da autora.

26

No caso da criana surda, os indivduos que so expostos a uma lngua de sinais tero
vantagem sobre aqueles que interagem em ambientes em que existe apenas uma lngua oralauditiva.
A palavra linguagem, na maioria das vezes, nos remete lngua falada, a todo discurso
verbal, oral ou escrito que cotidianamente expomos em nosso idioma materno. Mas existem
variadas formas de linguagem no exatamente restritas ou sequer ligadas escrita ou
oralidade. A comunicao humana pode ocorrer de diferentes formas. Falantes de uma mesma
lngua podem lanar mo de outros recursos para se fazer entender. Sacks (1998) afirma que a
existncia de uma lngua visual demonstra que o crebro humano rico em potenciais que
nunca teramos imaginado e tambm revela a quase ilimitada flexibilidade e capacidade do
sistema nervoso, do organismo humano, quando se depara com o novo e precisa adaptar-se.

2.2

A COMUNICAO COM AS MOS

Os dedos da mo humana movem-se (com exceo do polegar) por ao de tendes


ligados a msculos no antebrao e de outros pequenos msculos que ligam as falanges. O
polegar move-se ainda por ao dos msculos flexores e rotadores, que se encontram na
palma da mo, ligados ao primeiro metacarpal6. Esto divididos em polegar, dedo indicador,
dedo mdio, anelar e dedo mnimo (WILLIAMS, DYSON, e WARWICK, 1996) (Fig. 1).

O metacarpo equivale a poro mdia da mo, i.e, o conjunto de ossos dos membros anteriores (ou das
extremidades superiores, no homem) que articulam com os ossos do carpo e com as falanges proximais dos
dedos, em todos os vertebrados que apresentam aqueles membros. O metacarpo formado pelos ossos
metacarpais ou metacarpianos, que so em nmero de cinco. Nos vertebrados com 5 dedos, o carpo formado
por 5 ossos alongados. No homem, o metacarpo que suporta a "palma" da mo. (PINHEIRO, 2006, p. 36)

27

Figura 1: Dedos da mo
Fonte: <http://pt.wikipedia.org.wiki/dedos>

Para a maioria da populao a mo tem a funo bsica de prender, de forma correta,


objetos das atividades quotidianas, mas, para a maioria dos surdos, a mo vai alm disso;
serve tambm como canal de comunicao. Entretanto, nem todo surdo sinalizado; muitos
so oralizados e outros no conhecem a LIBRAS, utilizando outras formas de comunicao.
As lnguas de sinais possuem uma modalidade diferente das lnguas orais, pois as informaes
lingusticas ocorridas entre os interlocutores so recebidas pelos olhos e produzidas pelas
mos, diferentemente da modalidade das lnguas orais-auditivas, nas quais a informao
recebida pelos ouvidos e produzida/articulada pelo aparelho fonatrio-articulador e pelo
sistema respiratrio.
MacNeilage (2008) considera a evoluo das mos e da boca paralelas, em vez de
considerar que as mos tivessem fornecido o trabalho inicial para o desenvolvimento da boca
em relao linguagem. Fornece um argumento sobre como as mos acompanham a lngua
falada. Ambas formam uma unidade em que cada uma desempenha uma funo
complementar. A boca envia a mensagem lingustica usando a capacidade lingustica
combinatria-sequencial da modalidade vocal-auditiva, enquanto a mo, simultaneamente,
despacha uma mensagem imagstica. Dessa forma, a comunicao humana pode ocorrer de
diversas maneiras, inclusive com o uso das mos.
Coelho Netto (1999) aponta que a linguagem no deve ser entendida como simples
sistema de sinalizao, mas como matriz do comportamento humano, meio pelo qual o
homem informa seus atos, vontades, sentimentos, emoes e projetos.
Essas informaes podem ser transmitidas atravs de desenhos, pinturas, esculturas ou
quaisquer outros meios pelos quais a comunicao se faa concretizar. possvel, por
exemplo, para qualquer indivduo familiarizado com as regras de trnsito e seus sistemas,
entender quando deve seguir e quando deve parar ao pretender atravessar uma via pblica

28

sinalizada. A maioria das informaes que assimilamos e decodificamos, todos os dias, no


inclui, como elemento principal da mensagem, a palavra escrita ou a falada.
Para Santaella (1983), a comunicao humana tambm se d atravs de imagens,
grficos, sinais, luzes, cores, objetos, sons entre tantas outras possibilidades. Somos uma
espcie animal to complexa, quanto so complexas e plurais, com intrincadas combinaes
de signos, as linguagens que nos constituem como seres simblicos, isto , seres de
linguagem.
Coelho Netto (1999) nos ensina que uma mensagem qualquer composta pelo
falante/emissor a partir de uma seleo promovida num repertrio de signos. Pode-se dizer
que signo tudo aquilo que representa outra coisa, ou melhor, algo que est no lugar de
outra coisa. Assim, um signo aquilo que, sob certo aspecto, representa alguma coisa para
algum. Dirigindo-se a essa pessoa, esse primeiro signo criar na mente desta um signo
equivalente a si mesmo.
Um contedo exposto por algum (emissor) a outrem (receptor) est sempre carregado
de signos que devem ser reconhecveis por quem recebe a informao. Por exemplo: algum
que fale de urso polar para um ndio da Amaznia que nunca viu ou ouviu falar deste tipo de
animal. Existe o emissor e o receptor, porm, mesmo que os dois falem a mesma lngua, se o
signo urso polar no representa algo para o receptor, a mensagem no ser compreendida,
nem mesmo decodificada, porque o ndio no teria na sua estrutura cognitiva a imagem
mental de um urso polar.
Segundo Battro (1976), um dos autores que investigou a fundo a questo das imagens
mentais foi Jean Piaget. Para ele, a percepo, a imitao e a imagem mental so as funes
do imagtico que retratam os estados momentneos ou estticos da realidade. A percepo
pura apenas fotografa o objeto, mas a atividade perceptiva a movimentao cognitiva do
sujeito para entender o que est percebendo. Essa atividade de interpretao imediata se
deflagra na mente para que o indivduo possa produzir respostas e produzir insights. O insight
pode ser estimulado a surgir constantemente atravs das experincias e relaes de troca
direta com o objeto. Essa troca emprica pode ser muito eficaz no estmulo do pensamento,
auxiliando diretamente na compreenso de novos conceitos.
Tais conceitos referentes aos objetos da observao possuem um significante para sua
representao, representante grfico ou sonoro, que o denomina ou referencia, e um conceito
ou significado, construo intelectual que lhe fornece atributos comuns. O conceito no

29

individual e proporciona ao objeto meter-se numa classe, no o indivduo que assim decide,
mas o prprio sistema. J a significao pessoal e intransfervel.
Entende-se por significante, segundo Coelho Netto (1999), a parte material do signo (o
som que o conforma ou os traos pretos sobre o papel branco, formando uma palavra, ou os
traos de um desenho que representa, por exemplo, um co) e por significado, o contedo
veiculado por essa parte material. No h signo sem significado.
A palavra ZOOLGICO o significante daquele local (objeto) onde se pode observar
animais em jaulas separadas por categorias (significado), mas as emoes, impresses e
lembranas que cada um guarda e que so despertadas ao depararem-se com o significante
ZOOLGICO a significao pessoal que cada um d a partir do que foi experienciado.
Nas lnguas de sinais, os sinais so os significantes. E sendo essas lnguas verbais, a
literatura atual as trata neste contexto, por isso temos o termo fonologia da lngua de sinais.
Na verdade, tanto o significante quanto o significado so abstratos. O significante no pode
ser confundido com a realizao concreta dos sons ou gestos. Ao se pensar no signo
ZOOLGICO da Lngua Brasileira de Sinais, no relevante se o sinalizante realiza o sinal
mais rapidamente ou de forma mais lenta; ou se o sinalizante deixa os dedos das mos um
pouco mais fechados e tensos ou mais abertos e relaxados; se os braos formam 70 ou se
formam 85; etc., tudo isso so detalhes fonticos (da realizao concreta do sinal), mas o que
apreendido pela mente so os detalhes fonolgicos (a realizao psquica do sinal
ZOOLGICO). Tendo em vista que o significante no a realizao concreta do signo (mas
sim uma representao mental abstrata), o conceito de significante ou signo pode se aplicar
lngua oral ou lngua de sinais. Trata-se de um fenmeno psquico, que se realiza por meio
de mais do que uma modalidade (sonora ou gestual).
Para Coelho Netto (1999), esta significao conduz, de imediato, questo da
denotao e conotao do signo. De um signo denotativo pode-se dizer que ele veicula o
primeiro significado derivado do relacionamento entre um signo e seu objeto. J o signo
conotativo pe em evidncia outros significados que vm agregar-se ao primeiro naquela
mesma relao signo/objeto.
Todos esses agentes da comunicao (o emissor, o receptor, o objeto e seus significado
e significante, provocando diversas significaes em cada indivduo), ganham novas
personificaes quando colocadas no palco das informaes geradas pela interao homemsociedade.

30

Faz-se importante tambm lembrar a distino entre gesto e sinal. Muitos sinais
apresentam formas icnicas, i. , uma forma lingustica da lngua de sinais que tenta copiar o
referente real das caractersticas visuais. Os sinais das lnguas visuoespaciais, como
detalharemos mais adiante no estudo, pertencem ao conjunto de unidades mnimas que
formam unidades maiores e so formados a partir da combinao dos parmetros fonolgicos
de configurao de mos, locao, movimento, orientao das mos e expresses nomanuais, dessa forma, so convencionais, ou seja, possuem significados combinados por um
grupo social. J os gestos no apresentam correspondncia com os itens lexicais do padro
adulto nas lnguas sinalizadas e no apresentam um contexto lingustico, mas constituem-se
apenas como a arte da imitao.

2.3

A DATILOLOGIA

Quando se ouve falar em Comunicao da pessoa surda, uma grande parte da populao
pensa que a ela se d somente pelo uso da Datilologia, ou seja, na soletrao de uma palavra
usando o alfabeto manual das lnguas sinalizadas.
O alfabeto manual pode ser observado na Figura 2, a seguir:

31

ALFABETO MANUAL DA LNGUA BRASILEIRA DE SINAIS

Figura 2: Alfabeto Manual da LIBRAS


Fonte: PATRCIO, 2004.

O alfabeto manual geralmente usado para expressar nomes prprios, localidades e


outras palavras que no possuem um sinal especfico. Alm do que, da mesma forma como
ocorre nas lnguas orais, temos os emprstimos lingusticos nas lnguas sinalizadas, logo,
algumas vezes uma palavra da lngua portuguesa, que por emprstimo passou a pertencer
LIBRAS, pode ser expressa pelo alfabeto manual com uma incorporao de movimento
prprio desta lngua, sendo ento apresentada pela soletrao ou parte da soletrao, como a
palavra nunca, por exemplo:

32

Figura 3: Sinal Nunca da LIBRAS


Fonte: CAPOVILLA e RAPHAEL, 2008, p. 964.

O alfabeto manual das lnguas de sinais geralmente usado quando no h um sinal


correspondente na lngua de sinais, a exemplo dos nomes prprios. Assim, quando uma
pessoa quer apresentar algum a outrem, primeiro soletrar seu nome em portugus, em se
tratando de Brasil, atravs do alfabeto manual, e se, esta pessoa tiver um nome (sinal) em
LIBRAS, este ser articulado logo em seguida.

Ex.: (C A R L A )

C a r L a

Assim, tendo sido expostas algumas particularidades tericas, passaremos, no captulo


seguinte, a discorrer sobre os aspectos fonticos, fonolgicos e morfolgicos perceptveis nas
Lnguas de Sinais, enquanto lnguas naturais que so.

33

A FONTICA, A FONOLOGIA E A MORFOLOGIA NAS LNGUAS


DE SINAIS

A fonologia o ramo da lingustica que estuda os fonemas de uma lngua levando em


conta sua capacidade distintiva, tomando-os como unidades sonoras capazes de gerar
diferena de significados. O objeto de estudo da fonologia o fonema. Quadros e Karnopp
(2004) afirmam que a principal tarefa da fonologia, no que concerne s lnguas de sinais,
determinar quais unidades mnimas formam os sinais. A segunda tarefa consiste em
estabelecer padres possveis de combinao entre unidades e variaes no ambiente
fonolgico. Em se tratando das lnguas orais-auditivas, a Fontica a cincia que se dedica ao
estudo da realidade fsico-articulatria dos sons produzidos pelo aparelho fonador humano.
Tem, portanto, como interesse, a descrio, classificao e transcrio dos sons da fala. O
objeto de estudo da fontica nas lnguas orais o fone (som). Nas lnguas de sinais, o
principal objetivo da Fontica descrever as unidades mnimas dos sinais. Quanto
Fonologia, presta-se ao estudo dos sons de uma lngua do ponto de vista funcional. Assim,
tem a funo de analisar os sons capazes de opor significados e observar como estes sons se
organizam e se combinam para constituir unidades lingusticas e estabelecer a relao lngua e
mente.
Segundo Karnopp (1999), nas lnguas de sinais, os articuladores primrios so as mos,
que se movimentam no espao em frente ao corpo. Um sinal pode ser articulado com uma ou
duas mos. Um mesmo sinal pode ser articulado tanto com a mo direita quanto com a mo
esquerda sem ocasionar mudana significativa, e portanto, no distintiva. Sinais articulados
com uma mo so produzidos pela mo dominante8, sendo que sinais articulados com duas
mos tambm ocorrem e apresentam restries no que se refere ao tipo de interao entre
ambas as mos.
MacNeilage (2008) demonstra que a diferena bsica entre a fala humana e os sistemas
de outros mamferos se encontra no componente articulatrio. Com exceo de poucas
palavras que consistem em uma nica vogal, quase todos os enunciados de cada falante das
lnguas do mundo envolvem uma alternncia entre as configuraes aberta para a vogal e

Tipicamente direita para destros e esquerda para canhotos.

34

fechada para a consoante do trato vocal. O autor prope a abordagem terica Frame, The
Content correspondente, inicialmente, a uma metfora para descrever os espaos-temporais e
bioqumicos do balbucio. Assim, afirma-se que a fala se distingue de outros tipos de
comunicao animal em termos de movimentos, pelo fato de que h um terceiro nvel
articulatrio de ciclicidade modulada. O autor tece consideraes acerca da origem interna
dos modelos de palavras, afirmando que as primeiras palavras articuladas por falantes das
lnguas orais so preferencialmente CV (Consoante+Vogal). As crianas, inicialmente, ao
desenvolverem a slaba, vo num contnuo de totalmente fechado para totalmente aberto (as
oclusivas e nasais so bsicas; as alveolares so favorecidas, mas as velares so
desfavorecidas).
Alm da anlise evolutiva das primeiras palavras nas lnguas orais, MacNeilage (2008)
tambm tece consideraes acerca das lnguas de sinais. Para ele, o desenvolvimento-chave
da cincia cognitiva a concluso de que as lnguas de sinais para os surdos so lnguas
naturais, assim como as lnguas orais so naturais para os ouvintes, diferindo nas modalidades
fonolgicas. O autor afirma que no h razes para acreditar que a organizao detalhada dos
componentes fonolgicos das lnguas orais e das lnguas de sinais possam ser comparados por
uma srie de razes. A priori, no h motivos para acreditar que o mtodo Frame, The
Content possa ser adaptado pelas lnguas manuais pela forma como essa modalidade de
lngua transmitida. Desta maneira, de acordo com o ponto de vista desse pesquisador, a
organizao bsica dos componentes fonolgicos das lnguas orais e manuais possui
modalidades especficas.
Do ponto de vista da perspectiva da cognio corporal subjacente teoria de
MacNeilage (2008), no h porque acreditar que a organizao detalhada dos componentes
fonolgicos da fala e da lngua de sinais sejam comparveis em termos lingusticos.
MacNeilage props que a evoluo da fala envolveu o aproveitamento de uma ciclicidade prexistente (da mandbula) e o aumento da sua complexidade a fim de potencializar a
capacidade de transmisso da mensagem. Por isso, no existe como imaginar que este mtodo
tivesse ocorrido pelo canal visomanual.
Mesmo existindo diferena de modalidade de percepo e produo das lnguas orais e
das lnguas visuoespaciais, utilizaremos em nossa dissertao o termo Fonologia, consoante
Karnopp (1994). Apesar do termo fonologia pertencer s lnguas orais, a autora apresenta
uma justificativa para seu uso nas lnguas gestuais, pois aps algumas tentativas de atribuir
outras nomenclaturas tais como cheremes e allochers, chegou-se concluso de que uma

35

ao mais apropriada e prtica seria conservar os termos fonemas, fonologia e alofone,


pois j se encontram estabelecidos e convencionalizados na Lingustica aplicada s lnguas
naturais.
[...] da mesma forma que as lnguas orais, as lnguas de sinais apresentam uma
organizao material de constituintes, fechada e convencional, correspondente
s possibilidades da modalidade gestual-visual. Os mecanismos dessa
organizao, denominados fonologia, apesar de no ser o som o material que lhe
serve de base, tm os mesmos princpios sistmicos das lnguas orais.
(KARNOPP, 1994, p. 33)

Quadros e Karnopp (2004) apresentam uma anlise histrica sobre a origem dos estudos
das lnguas na modalidade visuoespacial constitudas como lnguas naturais. Afirmam que os
estudos lingusticos das lnguas de sinais iniciaram com o linguista americano William Stokoe
(1960) na dcada de 60 e suas pesquisas sobre a estrutura da lngua de sinais americana.
Inicialmente, Stokoe props que a lngua de sinais americana possua trs parmetros
fonolgicos que no carregavam significados isoladamente. Concordando com Stokoe,
MacNeilage (2008) afirma que as lnguas de sinais tambm so organizadas com esse trs
parmetros bsicos, constitudas como unidades mnimas nas lnguas gestuais (Fig. 4).

Legenda: CM- Configurao de Mos, L-Locao, M-Movimento.


Figura 4: Parmetros Bsicos das Lnguas de Sinais
Fonte: QUADROS e KARNOPP, 2004, p. 51.

Primeiramente, Stokoe (1960) realizou uma pesquisa de descrio do sistema estrutural


da lngua de sinais americana, demonstrando que a produo dos sinais deveria ser observada
como parte de um todo. Essas anlises influenciaram o ramo da lingustica e proporcionaram
o avano nas pesquisas na rea. Atualmente, as lnguas de sinais so consideradas pelos
linguistas como lnguas naturais que compartilham princpios lingusticos assim como as
lnguas orais, j que possuem um lxico e uma gramtica prpria. Segundo Quadros e

36

Karnopp (2004), h uma diferena fundamental entre as lnguas de sinais e lnguas faladas no
que diz respeito estrutura simultnea de organizao dos elementos das lnguas de sinais:
enquanto as lnguas faladas apresentam uma ordem linear entre os fonemas, as lnguas de
sinais apresentam uma simultaneidade e seqencialidade na articulao dos fonemas.
Durante muitas dcadas, as lnguas de sinais foram caracterizadas como algo
rudimentar, pantommico e primitivo. Stokoe (1960) comprovou que isso era um mito e que a
lngua de sinais poderia expressar pensamentos abstratos. Segundo Quadros e Karnopp (2004)
e Felipe (2004), a lngua de sinais capaz de expressar no s emoo, mas tambm permite a
seus usurios a discusso sobre qualquer tema, seja ele abstrato ou concreto, de modo to
econmico, eficaz e gramatical quanto qualquer lngua falada.
Assim como as lnguas orais apresentam unidades menores do sistema de sons, a lngua
de sinais apresenta um conjunto de unidades menores que so compostas pelas configuraes
de mos, pelas locaes e pelos movimentos. As caractersticas das unidades mnimas das
lnguas faladas so de natureza acstico-sonoras. Um som considerado fonmico nas lnguas
orais quando sua substituio em um lxico causa uma mudana de significado: ["fak], ["fal].
Nas lnguas de sinais, as caractersticas das unidades mnimas dos sinais so espaciais. Dessa
forma, os fonemas da Lngua Brasileira de Sinais so estruturados simultaneamente no espao
de sinalizao, assim, as unidades mnimas das lnguas sinalizadas se organizam a partir dos
parmetros fonolgicos de Configurao de Mos- CM, Ponto de Articulao- PA,
Movimento-M, O (Orientao), ENM (Expresso no-manual). Logo, a principal diferena
estabelecida entre as lnguas orais e as lnguas de sinais a presena linear entre os fonemas
das lnguas orais e a ausncia nas lnguas de sinais, pois os fonemas das lnguas
visuoespaciais so articulados simultaneamente e sequencialmente.
O espao de realizao dos sinais considerado finito (FERREIRA-BRITO, 1990). A
partir desse espao de enunciao, pode-se determinar um nmero finito de pontos, que so
denominados PA (Ponto de Articulao).

37

Figura 5: Espao de sinalizao das Lnguas de Sinais


Fonte: QUADROS e KARNOPP, 2004, p. 52.

Consoante Felipe (2004), afirmamos que a lngua de sinais tem sua prpria estrutura
gramatical e no pode ser confundida com a mmica, possuindo organizao interna que
define seu conjunto de regras prprias, em todos os nveis lingusticos, expressando os
pensamentos mais complexos e as ideias mais abstratas, como todas as outras lnguas
naturais.
Segundo Felipe (2004, p. 22), os sinais em LIBRAS so formados:
[...] a partir da combinao do movimento das mos com um determinado
formato em um determinado lugar, podendo este lugar ser uma parte do corpo
ou um espao em frente ao corpo. Estas articulaes podem ser comparadas aos
fonemas e s vezes aos morfemas, so chamadas de parmetros, portanto, nas
lnguas de sinais podem ser encontrados os seguintes parmetros: configurao
das mos; ponto de articulao; movimento; orientao/direcionalidade;
expresso facial e /ou corporal.

Os sinais so produzidos a partir do movimento das mos com um determinado


formato em um determinado lugar, combinados a uma orientao/direcionalidade e
expresso facial e/ou corporal. Para produzirmos estes sinais, envolvemos praticamente
todo o corpo: cabea (rosto, testa, orelha nariz, boca, olhos, sobrancelhas, bochechas),
mos (dedos), braos (antebraos, cotovelo) tronco (pescoo, ombro, busto, estmago,
cintura).
O lxico tem sido tradicionalmente definido como o conjunto de palavras de uma
lngua (PERINI, 2000, p. 342). Na LIBRAS, as palavras ou itens lexicais so os sinais.

38

Para Felipe (2004), a LIBRAS, como qualquer lngua, tambm apresenta variaes
regionais:
Exemplo de variedades regionais na LIBRAS:

Figura 6: Variedade Regional do Sinal CULTURA da LIBRAS


9
Fonte: MAURCIO DAMASCENO

Figura 7: Variedade Regional do Sinal FERIADO da LIBRAS


Fonte: MAURCIO DAMASCENO10

Na Lngua Brasileira de Sinais, cinco parmetros fonolgicos podem ser efetivamente


tratados e detalhadamente descritos:

Ilustraes confeccionadas por Maurcio Damasceno - Surdo, aluno do Curso de Licenciatura Letras LIBRAS,
Polo UFBA, turma 2006.
10

Idem.

39

Figura 8: Os Parmetros Fonolgicos da Lngua de Sinais


Fonte: BENTO (2008)11

Configurao das mos (CM) so as formas das mos e que podem ser da
datilologia (alfabeto manual) ou demais formas feitas manualmente; Locao ou Ponto de
Articulao (PA) lugar onde incide a mo configurada, podendo, at mesmo, tocar parte do
corpo ou estar em um espao neutro vertical; Movimento (M) os sinais podem ter
movimentos ou no, para indicar a sua informao; Orientao / direcionalidade (Or) os
sinais possuem uma direo, relacionados com os demais parmetros; e Expresso nomanual (ENM) extremamente importante para a compreenso da mensagem, pois serve
como diferenciador, atuando como complemento dos sinais manuais, a fim de se ter maior
entendimento da informao a ser passada.
Conforme afirmado anteriormente, as lnguas de sinais apresentam como caracterstica
especfica a simultaneidade na articulao dos fonemas. Assim, uma mesma CM e um mesmo
movimento, com locao diferente, resulta em mudana de significado, formando um par
mnimo. Pizzio (2006) afirma que os pares mnimos nas lnguas de sinais tambm so
encontrados a partir CM e do M, evidenciando a existncia das unidades sem significados na
lngua que implicam mudana de significado da palavra. O valor contrastivo dos parmetros
fonolgicos ilustrado na Figura 9, em que se observa que o contraste de apenas um dos

11

Imagem apresentada por Nanci Bento em folder explicativo na apresentao da Disciplina LET 594
Psicolingustica Aplicada ao Portugus I , Mestrado em Letras e Linguistica da Universidade Federal da Bahia,
sob orientao de Dra. Elizabeth Reis Teixeira, 2008.

40

parmetros altera o significado dos sinais. Na figura, apresentam-se dois sinais distintos, um
verbo e um substantivo, a partir de uma mesma configurao de mo (em

L), diferenciados

pelo ponto de locao e pelo movimento:

SINAL TRABALHAR12: Mo direita e


esquerda na Configurao de Mo L, palmas
para baixo na altura da cintura. Mov-las duas
vezes alternadamente para frente e para trs.

SINAL VDEO: Mo direita e esquerda na


Configurao de Mo em L, palmas para baixo
na altura da caixa torcica. Mov-las uma vez
para frente.

Figura 9: Sinais da LIBRAS que se opem ao Parmetro de Movimento


Fonte: QUADROS e KARNOPP, 2004, p. 52.

Para que haja o parmetro fonolgico Movimento, necessrio haver objeto e espao.
Nas lnguas de sinais, a mo do enunciador representa o objeto, enquanto o espao em que o
movimento se realiza a rea em torno do enunciador. O movimento definido como um
parmetro complexo que pode envolver uma vasta rede de formas e direes, desde o
movimento interno das mos, os movimentos do pulso e os movimentos direcionais no
espao.
O parmetro fonolgico CM considerado por Quadros e Karnopp (2004) como um
articulador primrio das lnguas de sinais, sendo um parmetro mais primitivo, pois no existe
sinal sem configurao de mo. Um sinal na lngua de sinais pode ser articulado com a mo
esquerda e com a mo direita ou com ambas, mas tal mudana no distintiva. Cabe ao
investigador de uma lngua de sinais identificar as configuraes de mos, locaes e

12

As descries das formas ou composies quirmicas dos sinais desta dissertao foram retiradas do
Dicionrio Enciclopdico Ilustrado Trilngue da Lngua de Sinais Brasileira, primeiro dicionrio de LIBRAS do
Brasil, desenvolvido por Capovilla e Raphael (2001). O corpo do dicionrio contm os sinais que correspondem
a 9.500 verbetes em Portugus e Ingls e ilustraes em Signwriting. Signwriting um sistema internacional de
escrita visual para as lnguas de sinais, criado por Valerie Sutton, a partir da dcada de 70. Esse sistema
transcreve os quiremas que compem as unidades bsicas das lnguas de sinais. Alguns sinais transcritos no
corpus do texto no possuem a descrio quirmica no dicionrio. Em decorrncia disso a autora descreveu o
sinal conforme caractersticas semelhantes de Capovilla e Raphael (2001). As descries feitas pela autora
possuem a identificao DQA (Descrio Quirmica realizado pela autora).

41

movimentos que possuem um carter distintivo, pois o valor contrastivo desses parmetros
alterar o significados dos sinais, conforme visto na Figura 10:

SINAL PEDRA: Mo esquerda em A na altura SINAL QUEIJO: Mo direita em L horizontal,


do queixo, bater duas vezes para frente e para trs palma para dentro, indicador apontando para a
(DQA)
esquerda em frente ao queixo. Mov-la em arco
para dentro e para baixo, passando a palma do
indicador na ponta do queixo, duas vezes.
Figura 10: Sinais da LIBRAS que se opem ao Parmetro de CM
Fonte: QUADROS e KARNOPP, 2004, p. 52.

A Figura 11 traz exemplo de sinais que se opem quanto ao parmetro fonolgico de


Ponto de Articulao ou Locao (sinais para SBADO e APRENDER). Ambos apresentam
caractersticas idnticas, distinguindo-se apenas pelo ponto de articulao. O primeiro
articulado na boca e o segundo na testa, sendo diferenciados pelo contexto da sinalizao, a
seguir exemplificadas:

SINAL APRENDER: Mo direita em S vertical, SINAL LARANJA OU SBADO: (a depender


palma para a esquerda, tocando a testa. Abrir e do contexto da sinalizao): Mo direita em S
fechar ligeiramente a mo duas vezes
vertical, palma para a esquerda, diante da boca.
Abrir e fechar ligeiramente a mo.
Figura 11: Sinais da LIBRAS que se opem ao Parmetro de Ponto de Articulao
Fonte: QUADROS e KARNOPP, 2004, p. 52.

Ao realizarmos a produo do sinal REUNIR, configurado por: palmas para frente,


lado a lado. Mover as mos em um arco para os lados opostos e para frente, virando as
palmas para dentro, aproximando-as, utilizando a configurao R ou G, temos um exemplo

42

de alofonia na Lngua Brasileira de Sinais, pois nenhuma dessas alteraes de realizao


causou mudana de significado:

SINAL REUNIR: Mos configuradas em R,


palmas para frente, lado a lado. Mover as
mos em um arco para os lados opostos e
para frente, virando as palmas para dentro,
aproximando-as.

SINAL REUNIO: Mos configuradas em


G, palmas para frente, lado a lado. Mover
as mos em um arco para os lados opostos e
para frente, virando as palmas para dentro,
aproximando-as.
(DQA)

Figura 12: Sinais da LIBRAS que apresentam Alofonia.


Fonte: CAPOVILLA e RAPHAEL, 2008, p. 1144 / A Autora

A Morfologia o estudo da estrutura, da formao e da classificao das palavras de


uma determinada lngua, i. e., cabe Morfologia o estudo da estrutura interna ou das regras
que determinam a formao das palavras nas lnguas orais ou dos sinais nas lnguas
visuoespaciais. A Lngua Brasileira de Sinais apresenta mecanismos especficos para a
organizao e composio dos vocbulos. Os morfemas e sinais so compostos atravs da
combinao dos cinco parmetros fontico-fonolgicos de configurao de mos, movimento,
locao, orientao da mo e expresso no-manual.

3.1

DISCUSSO SOBRE OS CINCO PARMETROS FONOLGICOS


DA LNGUA BRASILEIRA DE SINAIS

A partir dos estudos de Stokoe (1960), novas pesquisas sobre as lnguas de sinais
surgiram. Anlises recentes incorporam aos parmetros de CM, M e L mais dois parmetros:
a orientao de mo e as expresses no-manuais. Assim, a Lngua Brasileira de Sinais possui
cinco parmetros fonolgicos, conforme discutidos a seguir.

43

3.1.1 Parmetro 1 - Configurao de Mos (CM)

Refere-se (s) forma(s) especficas formadas com a(s) mo(s) que so usados em
lnguas de sinais, como a Lngua Brasileira de Sinais, a Lngua Americana de sinais, a Lngua
Francesa de Sinais e assim sucessivamente, i.e, consiste na forma real da mo que estamos
usando para produzir um lxico nas lnguas de sinais. considerado um articulador primrio
das lnguas de sinais, sendo o parmetro mais primitivo, pois no existe sinal sem
configurao de mo. A CM usada com a orientao, o movimento e a localizao (e s
vezes com os marcadores no-manuais) para descrever um sinal. Todo sinal deve ter um
conjunto exclusivo de CM, orientao, localizao e movimento.

Quadro 1: Quadro das Configuraes de Mos do Nvel Fontico da LIBRAS / 1


Fonte: PIMENTA, 2006.

Conforme Ferreira-Brito (1995) e Quadros e Karnopp (2004), a LIBRAS apresenta 46


configuraes de mos, em se tratando de manifestaes do nvel fontico. As configuraes
de mos da Lngua Brasileira de Sinais foram agrupadas verticalmente de acordo com a
semelhana entre elas, mas sem uma identificao enquanto configuraes de mos bsicas ou
configuraes de mos variantes.

44

Quadro 2: Configuraes de Mos do Nvel Fontico da LIBRAS / 2


Fonte: KARNOPP e QUADROS, 2004, p. 53.

Karnopp (2009) afirma que foneticamente no h limites para o levantamento de


quantos fones h nas lnguas de sinais. Assim, de acordo com a percepo de cada um, poder
ser para uns 20, para outros 30, 40, 50 e assim sucessivamente. Isso decorre porque no nvel
fontico que se est tratando. No entanto, no nvel fonolgico, as unidades so limitadas e
ainda no possumos um estudo que defina quais so as unidades que compem o sistema
fonolgico. Karnopp afirma que isso foi tambm deixado de lado na medida em que outras
teorias comearam a aparecer, por exemplo: a teoria dos traos distintivos, a teoria da
dependncia, etc.

3.1.2 Parmetro 2 Ponto de Articulao (PA)

Refere-se ao lugar onde a mo predominante configurada, ou seja, local onde feito o


sinal, podendo tocar alguma parte do corpo ou estar em um espao neutro. Segundo Quadros

45

(1997), as quatro principais regies em que um sinal pode ser articulado so: cabea, mo,
tronco e espao neutro (Fig. 13).

Figura 13: Espao de Realizao dos sinais da LIBRAS/ 1


Fonte: QUADROS, 1997, p. 49.

Karnopp (1994; 1999a) e Quadros (2008) afirmam que na realizao dos sinais da
LIBRAS, envolvemos praticamente todo o corpo, o que significam vrios pontos de
articulao como: tronco (pescoo, ombro, cintura, estmago), cabea (rosto, testa orelha
nariz, boca, olhos, sobrancelhas, bochechas) e mo (dedos).

Figura 14: Espao de Realizao dos Sinais da LIBRAS/ 2


Fonte: XAVIER, 2006 (anexo, p. i).

46

3.1.3 Parmetro 3 Movimento (M)

Os sinais podem ter um movimento ou no. Esse parmetro fonolgico consiste no


deslocamento da Configurao de Mos, durante a realizao de um determinado sinal. Por
exemplo, os sinais PENSAR e EM-P no possuem movimento:

SINAL PENSAR13: Mo direita em 1, SINAL EM-P: Mo esquerda horizontal


palma para a esquerda, ponta do indicador aberta, palma para cima, dedos para direita;
mo direita em V invertido, palma para dentro,
tocando o lado direito da testa.
dedos para baixo, com pontas dos dedos
tocando a palma esquerda.
Figura 15: Sinais da LIBRAS que no possuem movimento.
Fonte: CAPOVILLA e RAPHAEL, 2008, v. 2, p. 1027; v. 1, p. 578.

J os sinais EVITAR e TRABALHAR possuem o parmetro movimento:

SINAL EVITAR: Mo direita em Y, palma


para baixo, dedos apontando para a esquerda,
ponta do polegar tocando o lado direito da testa.
Girar a mo pelo pulso para frente, virando a
palma para frente.

SINAL TRABALHAR: Mo em L
horizontal, palmas para baixo, na altura da
cintura. Mov-las, alternadamente, para
frente e para trs, duas vezes.

Figura 16: Sinais da LIBRAS que possuem movimento.


Fonte: CAPOVILLA e RAPHAEL, 2008, v. 1, p. 635; v. 2, p. 1263

O parmetro fonolgico Movimento subdividido em tipos distintos por Strobel e


Fernandes (1998):
13

Ilustraes da produo dos sinais por Capovilla e Raphael (2008).

47

Movimento14 retilneo

SINAL RESPEITAR: Mos verticais abertas, palma a palma, dedos flexionados, lado dos
indicadores tocando cada lado da testa. Mover as mos para frente.
Figura 17: Exemplo de Sinal da LIBRAS com Movimento Retilneo.
Fonte: CAPOVILLA e RAPHAEL, 2008, v. 2, p. 1138.

Movimento Helicoidal

SINAL ALTO: Brao esquerdo horizontal dobrado, mo horizontal aberta, palma para
baixo; mo direita em 1, palma para a esquerda, cotovelo apoiado no dorso da mo
esquerda. Mover os braos para cima, com movimento espiral.
Figura 18: Exemplo de Sinal da LIBRAS com Movimento Helicoidal.
Fonte: STROBEL e FERNANDES (1998); CAPOVILLA e RAPHAEL, 2008, v. 1, p. 181.

14

Desenhos dos movimentos dos sinais da lngua brasileira de sinais foram retirados de Strobel e Fernandes
(1998) e ilustraes da produo dos sinais de Capovilla e Raphael (2008).

48

Movimento circular

SINAL DOMINGO: Mo direita em D, palma para a esquerda, diante da face. Mover a


mo descrevendo um crculo vertical para a esquerda.
Figura 19: Exemplo de Sinal da LIBRAS com Movimento Circular
Fonte: STROBEL e FERNANDES (1998); CAPOVILLA e RAPHAEL, 2008, v. 1, p. 562.

Movimento semicircular

SINAL SAPO: Brao esquerdo horizontal dobrado em frente ao corpo, mo horizontal


aberta, palma para baixo, apontando para a direita; mo direita horizontal aberta palma para
baixo, dedos para a esquerda, tocando o dorso da mo esquerda. Mover a mo direita em
pequenos arcos para cima e para esquerda, em direo ao cotovelo esquerdo, com as
bochechas infladas.
Figura 20: Exemplo de Sinal da LIBRAS com Movimento Semicircular.
Fonte: STROBEL e FERNANDES (1998); CAPOVILLA e RAPHAEL, 2008, v. 2, p. 1169

49

Movimento sinuoso

SINAL MAR: Fazer o sinal de gua. Em seguida, mo horizontal aberta, palma para baixo,
dedos separados. Mover a mo direita para a direita, com movimentos ondulatrios.
Figura 21: Exemplo de Sinal da LIBRAS com Movimento Sinuoso
Fonte: STROBEL e FERNANDES (1998); CAPOVILLA e RAPHAEL, 2008, v. 2, p. 868

Movimento angular

SINAL PIPA: Mo direita em A, palma para a esquerda, indicador destacado na altura da


cabea. Mov-la para baixo, com movimento ziguezague, duas vezes.
Figura 22: Exemplo de Sinal da LIBRAS com Movimento Angular.
Fonte: STROBEL e FERNANDES (1998); CAPOVILLA e RAPHAEL, 2008, v. 2, p. 1048

Ferreira-Brito (1990) classifica os movimentos de acordo com o tipo, a direcionalidade,


a maneira e a frequncia. Tal classificao tambm exposta por Quadros e Karnopp (2004):

50

Categorias do parmetro movimento na Lngua Brasileira de Sinais


(FERREIRA-BRITO, 1990)
TIPO
Contorno ou forma geomtrica: retilneo, helicoidal, semicircular,
sinuoso, angular, pontual;
Interao: alternado, de aproximao, de separao, de insero,
cruzado;
Contato: de ligao, de agarrar, de deslizamento, de toque, de
esfregar, de riscar, de escovar ou de pincelar;
Torcedura do pulso: rotao, com refreamento;
Dobramento do pulso: para cima, para baixo;
Interno das mos: abertura, fechamento, curvamento e dobramento
(simultneo/gradativo).
DIRECIONALIDADE
Direcional
- Unidirecional: para cima, para baixo, para a direita, para a esquerda, para
dentro, para fora, para o centro, para a lateral inferior esquerda, para a
lateral inferior direita, para a lateral superior esquerda, para a lateral
superior direita, para especfico ponto referencial;
- Bidirecional: para cima e para baixo, para a esquerda e para a direita,
para dentro e para fora, para laterais opostas superior direita e inferior
esquerda.
No-direcional
MANEIRA
Qualidade, tenso e velocidade
- contnuo
- de reteno
- refreado
FREQUNCIA
Repetio
- simples
- repetido
Quadro 3: Categorias do Parmetro Movimento na LIBRAS
Fonte: QUADROS e KARNOPP, 2004, p. 56.

3.1.4 Parmetro 4 Orientao/ Direcionalidade

Os sinais tm uma direo com relao aos parmetros acima. Assim, os verbos IR e
VIR se opem em relao direcionalidade, por exemplo:

51

SINAL IR: Mo direita em 1 invertido,


palma para dentro, indicador apontando
para baixo. Mover a mo para frente,
virando a palma para baixo e dedo
indicador apontando para frente.

SINAL VIR: mo direita l, palma para a


esquerda, brao ligeiramente distendido, na altura
do ombro direito. Mover a mo em um arco para a
esquerda e para baixo, inclinando o indicador para
baixo.

Figura 23: Exemplo de Sinais da LIBRAS que se opem em relao Direcionalidade.


Fonte: CAPOVILLA e RAPHAEL, 2008, v. 1, p. 768; v. 2, p. 1322.

Strobel e Fernandes (1998) afirmam que a lngua de sinais brasileira possui a


direcionalidade do movimento Unidirecional, Bidirecional e Multidirecional. Um parmetro
de configurao de mo que envolve uma direo Unidirecional consiste em um movimento
em uma direo no espao, durante a realizao de um sinal, SENTAR, por exemplo:

SINAL SENTAR: Mo esquerda em U horizontal, palma para baixo; mo direita em U


horizontal, palma para baixo, dedos curvados. Tocar a palma dos dedos direitos no dorso dos
dedos esquerdos.
Figura 24: Exemplo de Sinais da LIBRAS com Movimento Unidirecional.
Fonte: CAPOVILLA e RAPHAEL, 2008, v. 2, p. 1182.

Um sinal que envolve o movimento Bidirecional realizado por uma ou ambas as mos,
em duas direes diferentes, o sinal COMPRIDO, por exemplo:

52

SINAL COMPRIDO: Mos verticais abertas, palmas para frente e inclinadas uma para a outra,
indicadores e polegares unidos pelas pontas, tocando-se. Mover a mo direita para a direita,
balanando-a rapidamente para os lados. Opcionalmente expresso facial de descontentamento.
Figura 25: Exemplo de Sinais da LIBRAS com Movimento Bidirecional.
Fonte: CAPOVILLA e RAPHAEL, 2008, v. 1, p. 440.

O movimento multidirecional o que explora vrias direes no espao, durante a da


configurao de mo, a exemplo do sinal PESQUISAR:

SINAL PESQUISAR: Mo esquerda horizontal aberta, palma para a direita; mo direita em D


horizontal, palma para baixo, indicador apontando para frente, lateral do indicador direito
tocando a base do pulso esquerdo. Mover a mo direita para frente e para trs, com movimentos
curtos.
Figura 26: Exemplo de Sinais da LIBRAS com Movimento Multidirecional.
Fonte: CAPOVILLA e RAPHAEL, 2008, v. 2, p. 1040.

3.1.5 Parmetro 5 Expresso No-Manual

As expresses faciais/corporais ou no-manuais so de fundamental importncia para o


entendimento real do sinal, sendo que a entonao em Lngua de Sinais feita pela expresso
facial. Consoante Quadros, Pizzio e Rezende (2007), as expresses faciais possuem duas
funes distintas nas lnguas gestuais: inicialmente, para expressar emoes, assim como nas

53

lnguas faladas, e, por ltimo, marcar estruturas gramaticais especficas das lnguas de sinais,
como as oraes relativas, servindo para diferenciar funes lingusticas, uma caracterstica
nica das lnguas gestuais. As expresses no-manuais no nvel morfolgico esto
relacionadas ao grau de intensidade; possuem funo adjetiva, posto que podem ser
incorporadas ao substantivo independente da produo de um adjetivo, conforme exemplo nas
Figuras 4 e 5, nas quais so exemplificadas as possibilidades relacionadas ao grau de
intensidade e tamanho na Lngua Brasileira de Sinais. Embora estas sinalizaes estejam
presas a um determinado sinal, Quadros, Pizzio e Rezende (2007) no seccionaram sinais para
serem exemplificados.

GRAU DE INTENSIDADE NA LIBRAS

Pouca intensidade

Normal

Mais intensidade do que o


normal

54

Mais intenso

Quadro 4: Grau de Intensidade na LIBRAS


Fonte: QUADROS, PIZZIO e REZENDE, 2007, p. 4.

GRAU DE TAMANHO

Muito menor do que o


normal

Menor do que o normal

Normal

55

Maior do que o normal

Muito maior do que o


normal

Quadro 5: Grau de Tamanho na LIBRAS


Fonte: QUADROS, PIZZIO e REZENDE, 2007, p. 4.

No nvel da sintaxe, as expresses no-manuais so responsveis por determinados tipos


de construes, tais como sentenas interrogativas, negativas, afirmativas, relativas,
condicionais e construes com tpico e foco. Dentre as expresses faciais utilizadas
gramaticalmente esto os movimentos de cabea para expressar negativamente ou afirmar;
direo do olhar, elevao ou abaixamento de cabea; movimentos com os lbios, indicando
negao, diferenciando os tipos de interrogativas; e o franzir de testa.

3.2

A PROPOSTA DE LIDDELL E JOHNSON

Diferentemente das lnguas orais, as lnguas sinalizadas apresentam uma estrutura


fonolgica que tem como princpio de organizao a simultaneidade, conforme Stokoe
(1960), Battison (1978) e Klima e Bellugi (1979). Contudo, estudos mais recentes afirmam
que as lnguas sinalizadas apresentam uma estrutura fonolgica de simultaneidade e
sequencialidade (KARNOPP, 1999; LIDDEL e JOHNSON, 2000).

56

Dando continuidade aos trabalhos iniciados por Stokoe (1960), os pesquisadores Liddell
e Johnson (2000) acrescentam que os parmetros da Lngua de Sinais Americana, por
exemplo, podem ser descritos em termos de traos distintivos que servem a contrastes
lexicais.
Contrrios s evidncias da anlise proposta por Stokoe (1960), Liddell e Johnson
(2000) explanam que a maior parte dos itens lexicais da Lngua Americana de Sinais no
apresenta, do ponto de vista articulatrio, uma organizao sublexical simultnea. A
sequencialidade pode ser caracterizada distintivamente porque h, nas lnguas visuoespaciais,
pares de sinais que se contrastam pela ordem de um mesmo parmetro realizado.
Xavier (2006) explana que, partindo dos trs parmetros articulados inicialmente por
Stokoe, bem como da incorporao da orientao da palma da mo proposta por outros
linguistas, Liddell e Johnson apresentam uma anlise mais detalhada dos parmetros de CM,
M, PA e orientao da palma da mo, caracterizando-os como feixes de traos: feixe
segmental e feixe articulatrio. Em princpio, o feixe segmental possui a funo de especificar
a atividade da mo dominante na produo de um segmento, determinando se est parada ou
se movendo e de que maneira est se movendo. O feixe articulatrio descreve a postura da
mo, sua localizao e orientao.
O sistema descrito por Liddell e Jonhson (2000) prev uma matriz de traos para a
representao das marcaes no-manuais de movimento (cabea, dorso) e expresses faciais,
mas, dado o pouco conhecimento desses aspectos articulatrios, os autores no chegam a
desenvolver um sistema de notao sobre os mesmos.
Xavier (2006) d o primeiro passo no estudo sistemtico da composio das unidades
fontico-fonolgico da Lngua Brasileira de Sinais. Alicerado no modelo de anlise
sublexical proposto por Liddell e Johnson (2000), afirma que os itens lexicais das lnguas
sinalizadas se assemelham queles das lnguas faladas, por terem como unidade mnima
estruturante o segmento e por apresentarem uma organizao interna para cada um de seus
segmentos. Os pesquisadores apresentam uma descrio detalhada dos processos
articulatrios da produo dos parmetros de CM, M, PA e orientao como subaspectos com
base nos quais contrastes lexicais podem ser estabelecidos.
Apesar de se tentar estabelecer apenas semelhanas entre a modalidade oral e a
modalidade visuoespacial, semelhanas e diferenas podem ser constatadas. MacNeilage
(2008) afirma que a nica semelhana bem estabelecida entre as slabas articuladas e as

57

lnguas sinalizadas que, em alguns momentos, os sinais se portam como unidades rtmicas.
Por exemplo, os parmetros temporais para a implementao de configuraes de mo e
ponto de articulao so coordenados com movimento. Ocorrncias de implementao do que
seria o acento na lngua de sinais so posicionadas em relao aos sinais individuais. Assim, o
sinal difere da slaba articulada em termos de sua relao com nveis mais elevados de
gramtica (morfolexicais). Enquanto slabas articuladas no so isomrficas s palavras, na
lngua de sinais existe uma conspirao para o sinal, i. e., para a palavra em sinal ser
monossilbica (SANDLER, 1990, apud MACNEILAGE, 2008). Dessa forma, verifica-se que
a organizao dos componentes fonolgicos diferente em lnguas faladas e sinalizadas. Mas
ambas tm um nvel em que subcomponentes sem significado so concatenados a servio da
formao do estabelecimento de diferenas de sentido, apresentando aspectos de uma
organizao rtmica.
Ainda segundo MacNeilage (2008), se os traos distintivos so um artefato da descrio
lingustica e, portanto, no tm realidade psicolgica em relao fala, ento tambm no se
pode argumentar que teriam status real em relao s lnguas de sinais. Analogias aos
segmentos tm sido propostas para a lngua de sinais: locaes marcadas como consonantais e
os movimentos como voclicos. Contudo, estudos sobre erros envolvendo sinais demonstram
que no existe equivalncia entre as entidades segmentais propostas em sinal e os elementos
consonantais e voclicos da fala.
O mais importante que erros de fala, ou erros de ordenao serial, como tm sido
descritos na literatura (MACNEILAGE e DAVIES, 1990a e 1990b; TEIXEIRA, 2000 e 2001)
so subsilbicos, envolvendo elementos ordenados em srie dentro da slaba. Estes erros
referem-se a lapsos que o falante comete atravs da permuta entre segmentos que ocupam
posies equivalentes nas slabas contguas em um dado enunciado.
De acordo com Teixeira (2000, p. 244):
Nestes erros, em que h um movimento de consoantes ou vogais, existe
uma limitao imposta pela estrutura silbica atravs da qual consoantes e
vogais nunca ocupam as posies umas das outras no molde silbico. Por
exemplo, enquanto consoantes so trocadas por consoantes (como, por
exemplo, em COCHOLATE por CHOCOLATE) e vogais por vogais
(como, por exemplo, em PERMONOR por PORMENOR), vogais nunca so
trocadas por consoantes e vice-versa (como, por exemplo, ocorreria no caso
hipottico de S por S). Acredita-se que esta limitao exista desde a
origem da programao pr-motora independente de consoantes e vogais,
uma vez que se origine do fato de que consoantes e vogais demandem

58

movimentos mandibulares incompatveis: depresso abertura da boca


para as vogais, e elevao ou fechamento para as consoantes.

difcil lidar com o sistema proposto por Liddell e Johnson (2000) devido a sua imensa
quantidade de detalhes e muitos valores dos parmetros de traos propostos so definidos de
forma bastante arbitrria. Dentre os sinais feitos com movimento, no possvel diferenciar
aqueles que so monossegmentais, ou seja, constitudos apenas por um segmento de
movimento, daqueles que so plurissegmentais, isto , que podem incluir, em sua estrutura
segmental, um ou mais de um segmento de suspenso e/ou movimento. Tentar estabelecer a
estrutura segmental de um sinal diz respeito determinao do momento em que o sinal
comea a ser articulado at o momento em que essa articulao finalizada.

ESTGIOS DA AQUISIO DA LINGUAGEM

inconcebvel que uma lngua altamente abstrata, especfica e estritamente


organizada surja por acidente na mente de uma criana. (CHOMSKY, 1971, p. 36)

O presente captulo objetiva apresentar discusses a respeito do processo aquisicional


da linguagem de crianas surdas e ouvintes, perpassando pelas etapas da aquisio de uma
lngua natural.
Quadros (1997) afirma que a aquisio da linguagem varia de uma criana para outra,
mas o processo aquisicional apresenta um padro comum aos diferentes indivduos nas
diferentes lnguas, sejam elas visuoespaciais ou orais-auditivas. A relao das crianas surdas,
filhas de pais surdos, com a lngua de sinais a mesma da criana ouvinte filha de pais
ouvintes com a lngua materna. Ambas no possuem conscincia das estruturas gramaticais de
sua lngua, mas usam-nas corretamente e adquirem fluncia sem esforo.
Para Teixeira (2009), as pesquisas sobre aquisio tm servido de referncia teoria
lingustica na tentativa de propor modelos para explicar a organizao da Linguagem. Isto
quer dizer que ao observarmos como a criana constri, passo a passo, o seu sistema
lingustico, estamos recapitulando a forma como a linguagem se estrutura e se organiza em
diferentes subsistemas, os chamados Nveis de Estruturao Lingustica (TEIXEIRA, 2009,
p. 3).
Assim, medida que a criana vai desenvolvendo sua lngua materna, ou seja, sem
necessidade de instruo formal, afloram-lhe, instintivamente, as primeiras palavras ou
primeiros gestos de forma natural. A criana comea a construir o seu sistema lingustico,
partindo dos nveis de estruturao lingustica mais bsicos, como o fontico e o fonolgico, e
da vai delineando sua forma de expresso verbal, naturalmente, sem necessidade de instruo
formal, comeando a incorporar a lngua de sua comunidade, atravs da interao social. Cabe
s teorias sobre desenvolvimento da linguagem explicar de que forma ocorre esse processo,
elucidando de que maneira uma criana lida com o material lingustico de que dispe.
Segundo Teixeira (2005), todo indivduo precisa dominar uma lngua, um cdigo
lingustico qualquer que lhe permita interagir com uma comunidade lingustica, no qual se
encontra inserido. Essa interao dever ocorrer atravs de uma lngua natural, ou seja,
adquirida sem necessidade de instruo sistemtica, mas atravs da exposio de um

60

indivduo a um determinado meio lingustico especfico. Atravs da percepo e do feedback


auditivo, a criana atribui significado a estmulos sensoriais, a partir do histrico de vivncias
passadas. A fala uma das manifestaes da linguagem oral, tal como os Sinais15 so formas
de estabelecer a comunicao e a possibilidade de representao do pensamento nas lnguas
gestuais-visuais. Para Teixeira (2009, p. 1):
O SINAL Confluente, Simultneo e Mltiplo, pois os signos gestuais so
resultantes de 3 dimenses espaciais acessveis ao corpo do sinalizador, que
funcionam simultaneamente: a Configurao das Mos do sinalizador (CM), o
Ponto de Articulao (PA) o ponto no corpo do sinalizador ou no espao
circunvizinho em que o sinal feito e o Movimento (M) realizado com uma ou
com as duas mos. Alm disso, os signos gestuais esto tambm afeitos
dimenso do tempo. Assim, devido ao uso lingustico do espao e
complexidade dos padres espaciais (muitas vezes difceis de serem
acompanhados pelo olho normal), constitui-se, portanto, em uma expresso
QUADRIDIMENSIONAL,
com
caractersticas
extraordinariamente
cinematogrficas.

Quadros (2008) afirma que a aquisio da linguagem um processo que apresenta


padres universais que so acessados a partir de um determinado ambiente lingustico. Para
ela, as teorias de aquisio podem:
[...] prever um tipo de comportamento, mas no podem garantir que tal
comportamento v ocorrer de uma determinada forma em toda espcie humana.
O uso criativo da linguagem um aspecto fundamental da essncia humana, e
tal criatividade determina que o ser humano seja capaz de compreender e
produzir uma sentena jamais ouvida anteriormente. Essa capacidade tomaria
por base no somente os sistemas fontico/fonolgico e lexical da lngua em
questo, mas, tambm, princpios da Gramtica Universal. (QUADROS, 2008,
p. 46)

Sendo assim, a autora insiste que a complexidade da linguagem resulta de uma ao de


princpios lingusticos que no podem ser explicados com base em conceitos vagos de
analogias. Para Quadros (2008), as pesquisas tm demonstrado que as crianas
[...] adquirem a sua lngua materna com base em evidncia positiva, ou seja, a
partir da mera exposio a instncias da lngua que a cerca, sem a necessidade
de que exista algum tipo de correo por parte dos que convivem com ela (ou
seja, sem que haja algum tipo de evidncia negativa). Ela ouve ou v a lngua
que est sendo usada no seu ambiente e, a partir dela, com base nos princpios e
parmetros da GU, forma sua gramtica estvel. A lngua ou as lnguas s quais
a criana exposta funcionam como uma espcie de gatilho que desencadeia a
aquisio da linguagem. (QUADROS, 2008, p. 60)

15

SINAIS o que se denomina de palavra ou item lexical nas lnguas orais-auditivas.

61

4.1

A CONSTITUIO DO LXICO INFANTIL

A primeira fase do desenvolvimento lexical infantil se inicia por volta dos 10 a 12


meses de idade, mas aprender significados de palavras, , antes de tudo, saber utiliz-las
adequadamente, e um aspecto fundamental do desenvolvimento da linguagem est
relacionado aquisio da sintaxe, da morfologia e da fonologia de determinada lngua. As
primeiras palavras aprendidas surgem a partir do contexto social em que a criana est
inserida. Silva (2003) analisa o processo aquisicional de crianas ouvintes e afirma que o
crescimento do vocabulrio na faixa etria de um ano relativamente lento, apenas com a
adio de 1 a 3 palavras por ms no seu lxico produtivo. A segunda fase, caracterizada como
incio de uso da palavra, inicia-se por volta dos 2 anos de idade e as palavras so apreendidas
mais rapidamente, aproximadamente entre 20 e 50 palavras por ms. A terceira fase
caracterizada pelo crescimento mais rpido do vocabulrio, com a velocidade de 50 ou mais
palavras por ms, a partir dos 3 anos de idade, aproximadamente. As crianas em processo de
aquisio da linguagem, em especial a aquisio lexical, podem cometer alguns desvios
semnticos em funo de ainda no terem bem organizado o conjunto de traos de
significao que ir diferenciar o uso de uma palavra de outra nos diferentes contextos
lingusticos.
Para Silva (2003), o desenvolvimento lexical inicial dirigido pela experincia:
As crianas no aprendem a lngua da mesma forma. Essa diferena no se
refere apenas a qual lngua elas esto adquirindo ou a velocidade de
aquisio. Essa diferena diz respeito tambm aos caminhos utilizados para
se atingir um determinado ponto no processo de aquisio da linguagem,
quer seja no mbito fonolgico, lexical, semntico, morfolgico e/ ou
sinttico. Desta forma, preciso levar em considerao e ter sempre em
mente que as diferenas individuais no ritmo e no estilo existem, e que
algumas crianas podem no corresponder s expectativas propostas pelas
diversas teorias de desenvolvimento cognitivo e lingustico. (SILVA, 2003,
p. 31)

As primeiras palavras faladas e sinalizadas so apresentadas s crianas ouvintes e


surdas de forma diferenciada: para as crianas utentes da modalidade oral, as palavras so
apresentadas de formas audveis, s vezes coordenadas com os referentes percebidos
visualmente. A criana ouvinte pode prestar ateno s palavras e a seus referentes de forma
simultnea, mas o mesmo no ocorre com as crianas surdas, filhas de pais surdos. Para a

62

criana surda, o sinal e seu referente esto disponveis atravs do canal sensorial da viso,
dessa forma, os sinais e seus referentes competem pela ateno visual da criana surda filha
de pais surdos. A literatura afirma que os pais surdos se adaptam com facilidade s demandas
visuais de seus filhos e acabam produzindo um nmero menor de enunciados do que os pais
ouvintes produzem para as crianas ouvintes. Em outras palavras, os pais surdos quase nunca
sinalizam quando sabem que seus bebs no esto olhando. Apesar das diferenas na
quantidade de input lexical, as lnguas de sinais e as lnguas orais so adquiridas em estgios
de desenvolvimento semelhantes.
Barret (1986) prope que as primeiras palavras das crianas ouvintes devem estar presas
em um contexto, i. e., sero produzidas apenas em um contexto considerado como limitado e
em determinadas situaes; a criana aprende a palavra ligada a um contexto, j que ela ainda
no tem o entendimento de que uma palavra pode ser utilizada como um nome de
determinado objeto. Silva (2003) tambm comenta sobre o contexto de uso das palavras, o
qual caracterizado por eventos que, para ela, so perceptualmente salientes e frequentes para
a criana:
Esses eventos particulares nem sempre envolvem a atividade motora da criana
e consistem de uma ao na qual ela regularmente participa no decorrer de um
jogo livre. Pode consistir tambm de um comportamento especfico guiado por
uma atividade de uma rotina socionteracional frequente ou pode envolver um
comportamento que produzido regularmente para expressar desejos,
necessidades e vontades. (SILVA, 2003, p. 32)

Os comportamentos que compem os eventos explanados adquirem formatos


padronizados no perodo das primeiras palavras produzidas. Durante o andamento do
aprendizado dos primeiros itens lexicais, as crianas j adquirem representaes mentais de
certos tipos de eventos. Neste sentido, a sinalizao das mes surdas direcionadas aos seus
bebs pode se adaptar s capacidades atencionais dos filhos, uma das maneiras de as mes se
adaptarem inclinar-se at o campo visual da criana para que a criana observe a
sinalizao. Consequentemente, a me pode sinalizar e saber que os itens lexicais produzidos
por ela esto sendo vistos pela criana.
Em termos gerais, pode-se afirmar que as primeiras palavras ou os primeiros sinais
aparecem entre os 10 meses de idade, a depender da criana. Estudos de aquisio da
linguagem de crianas surdas com pais surdos desenvolvidos por Karnopp (1994; 1999) tm
mostrado que elas inicialmente realizam o balbucio manual, comeam a produzir enunciados
com um nico sinal e, em seguida, combinam sinais formando sentenas simples.

63

4.2

O PROCESSO AQUISICIONAL DAS CRIANAS OUVINTES E


SURDAS

Teixeira (2009) afirma que, de posse de um sistema minimamente organizado em


relao aos nveis de estruturao lingustica, a criana est minimamente municiada para
organizar e estruturar os subsistemas subjacentes a seu sistema lingustico, at consolidar o
nvel discursivo por meio da apropriao do Discurso Narrativo, atravs do que domina a
dimenso macrolingustica do Texto. As formas da organizao lingustica podem ser
diagramaticamente representadas conforme o quadro abaixo:

NVEIS DE
ESTRUTURA
ESTRUTURAO LINGU
LINGUSTICA

S
E
M

N
TI
C
O

NVEL

UNIDADE
MNIMA

EST
ESTGIO DE
DESENVOLVIMENTO

Fon
Fontico

Som

Pr
Pr-Fala
(0 - 1;0)

Fonol
Fonolgico

Segmento
sonoro
distintivo

Primeiras Palavras
(1;0 - 1;6)

Lexical

Palavra

Sint
Sinttico

Frase

Est
Estgio Telegr
Telegrfico
(1;6 - 2;0)

Morfol
Morfolgico

Forma

Organiza
Organizao e Expanso
dos Subsistemas
(a partir de 2;0)

Discursivo

Texto

Narrativo
(a partir de 4 anos)
anos)

EXEMPLO
[ka] , [dadadada
[dadadada]]
[da da]
da]

[ka] = CARRO
[da]
da] = D
D

D CARRO
CARRO PAPAI
FAZI
PICOLERES
J FAZI AMANH
(Protonarrativas)
Protonarrativas)
E.R.TEIXEIRA

Quadro 6: Nveis de estruturao lingustica.


Fonte: TEIXEIRA, 2009, p. 3.

Para Teixeira (1995), as crianas nascem com sensibilidades a padres distribucionais,


rtmicos e temporais especficos estrutura de uma lngua natural, assim, em contato com

64

uma lngua, a criana vai procurar identificar nas mos ou nos sons qual a lngua de que far
uso no estgio das primeiras palavras.

Figura 27: Crianas Falantes e Crianas que Sinalizam.


Fonte: TEIXEIRA, 2009c.

Teixeira (1995) tambm afirma que o perodo de aquisio de linguagem se inicia com a
comunicao Pr-lingustica ou Pr-fala. Esse o primeiro estgio de desenvolvimento
fonolgico das crianas ouvintes, e compreende o perodo que vai do choro at a produo
das primeiras palavras/sinais, que ocorre, aproximadamente, por volta do primeiro ano de vida
das crianas. Alm disso, no perodo da Pr-fala ocorrem o choro e as vocalizaes esparsas,
aproximadamente do 0 aos 0;2 meses de vida do beb:
Os padres reflexivos de choro so todas aquelas vocalizaes iniciais que se
aproximam dos sons voclicos e que variam basicamente em termos de TEMPO,
TIMBRE e INTENSIDADE. Alguns autores classificam os padres de choro em
tipos bsicos de acordo com suas caractersticas acsticas: o choro bsico, o de
"raiva", o de dor, o de fome, etc. Neste perodo, o choro predominantemente
composto por unidades voclicas entrecortadas por, pelo menos, 50 mseg. de
silncio (embora consoantes lquidas e nasais possam ocorrer). Estes padres
ocorrem em sequncias que duram at 5 minutos, com pausas breves.
Vocalizaes Esparsas so padres iniciais que acompanham as atividades
fsicas da criana: (em geral, barulhos e suspiros, ou outros barulhos associados
ingesto de alimentos. (TEIXEIRA, 1995, p. 4)

A partir dos 0;2 meses de vida at os 0;5 meses surgem os Arrulhos, tambm
denominados de gorgoleios ou murmrios, como primeiras vocalizaes do beb, que, ainda
conforme Teixeira (1995), so vocalizaes que transmitem um espcie de bem-estar e
conforto criana. De forma semelhante, Karnopp (1994) no considera que as vocalizaes
dos bebs sejam fruto de estmulo externo e sim interno, apresentando evidncias de que os
bebs surdos emitem as mesmas vocalizaes que os bebs ouvintes.
Dos 0;5 aos 0;7 meses ocorrem os balbucios vocais para as crianas surdas e ouvintes,
alm do balbucio manual para as crianas surdas, sendo ambos destitudos de significados,
pois antes da execuo de um contedo lingustico, a criana produz balbucios vocais e

65

manuais enquadrados em modelos que se repetem, independentemente da regio geogrfica e


das influncias culturais da criana
Para Teixeira (1995):
Findo o perodo do Balbucio, aproximadamente ao sete meses, a criana inicia a
fase do Jargo, caracterizado pela produo de cadeias de trs ou mais slabas
em uma sucesso contnua, porm sem significado. Neste perodo, a criana
comea a ensaiar alguns enunciados semelhantes aos do adulto, embora ainda
destitudos de significado comunicativo. Ex.: [m`"m)m`)], [ Ba Ba Ba
Ba][dadada] [dada], [ @e) @e) @e)]. (TEIXEIRA, 1995 s/p).

Os ltimos meses do primeiro ano de vida da criana, que marcam a transio para o
perodo das Primeiras Palavras, so chamados, conforme Teixeira (1995), de "ECOLALIA"
ou IMITAO. Findo esse perodo, a criana surda, filha de pais surdos16, ou a criana
ouvinte, passar ao estgio das primeiras palavras denominado Perodo Holofrsico, dando
incio a uma organizao do Nvel fonolgico e lexical. No perodo holofrsico, iniciado
aproximadamente com um ano de idade e que vai at um ano e meio, as primeiras palavras
produzidas pela criana constituem-se em formas convencionalizadas em que existe
intencionalidade de estabelecer uma comunicao de interao com o adulto. A partir da
instala-se o sistema lexical e o fonolgico, e uma vez que o vocabulrio vai ampliando
gradualmente, a criana vai expandindo seus enunciados e elaborando gradativamente a sua
gramtica. Em seguida, a criana passa ao estgio telegrfico (TEIXEIRA, 2005) que ocorre
entre 1;6 e 2;0, no qual a criana elabora uma espcie de ensaio das construes sintticas,
atravs da combinao de formas justapostas.
Silva (2003) afirma que as pesquisas relacionadas ao surgimento lexical de bebs se
constituem num processo investigativo de como cada uma dessas palavras utilizada nos
primeiros anos de vida da criana a partir da influncia do meio e da interao na construo
do vocabulrio:
[...] os estudos voltados para o desenvolvimento lexical inicial procuram tentar
explicar a forma como a criana, sem nenhuma instruo formal, torna-se capaz
de utilizar, de forma adequada e eficaz, as palavras que fazem parte da lngua de
sua comunidade. Entretanto, embora existam estudos realizados a respeito dessa
fase inicial em vrias lnguas, a grande maioria que publicada e divulgada
referente a crianas adquirindo a lngua inglesa. (SILVA, 2003, p. 14)

16

As crianas surdas so membros de uma comunidade lingustica diferente da criana ouvinte. Se a criana
natissurda, filha de pais ouvintes, corre o risco de ficar em dficit na compreenso de uma lngua se no for
exposta a aquisio da lngua de sinais o mais cedo possvel.

66

Para Silva (2003), praticamente inexistem estudos e listas desse tipo em portugus. Da
mesma forma, podemos tambm afirmar que quase inexistem pesquisas com esse foco nas
Lnguas de Sinais. Vrios so os estudos que tm focalizado a aquisio da linguagem nas
lnguas orais, e por isso h a necessidade da ampliao de estudos na modalidade
visuoespacial.

Tais

estudos

devem

fornecer

informaes

sobre

processo

de

aquisio/aprendizagem nos primeiros anos, assim como outros dados relevantes para o
desenvolvimento de instrumentos que possam ser utilizados como ferramentas de acesso e
mapeamento da linguagem.
Como afirmado no tpico anterior, o processo de aquisio da linguagem apresenta um
padro comum s crianas nas diferentes lnguas, sejam elas orais ou visuoespaciais. Segundo
Petitto e Marentette (1991), o processo de aquisio de crianas surdas anlogo aos das
crianas ouvintes. importante ressaltar que o objetivo desta seo no realizar
comparaes entre as duas modalidades de lngua. Objetivamos discutir aspectos relacionados
aquisio da Lngua Brasileira de Sinais como lngua materna.
Morgan (2008) sugere que a aquisio em crianas surdas similar entre as duas
modalidades (oral-auditiva e visuoespacial), apesar de haver traos especficos da fala nas
lnguas orais e do sinal nas lnguas visuoespaciais na forma como a aquisio da linguagem
ocorre. Durante o processo aquisicional da linguagem, as crianas surdas e ouvintes cometem
tipos de erros parecidos, tanto na fala quanto na produo dos sinais na tentativa de se
aproximar do sistema adulto. As crianas surdas expostas aquisio das lnguas de sinais
como lngua materna, antes de comearem a produzir sinais, atravessam uma fase de
aquisio que, segundo Morgan (2008, p. 81), parecem refinar formato de mos prprios e
traos de localizao. Esse tipo comportamental conhecido como mabbling ou balbucio
manual.
Ao aprender um sinal, a criana surda, exposta lngua de sinais como primeira lngua,
possivelmente deve formar algum tipo de representao cognitiva de configurao manual do
sinal. Morgan (2008, p. 80) afirma que os sinais localizados no corpo, incluindo os braos e
a cabea, so dominados antes dos sinais feitos fora do corpo. Depois disso, os sinais feitos ao
colocar as mos juntas so mais fceis de produzir.
As lnguas de sinais utilizam articuladores, mais essencialmente face e mos, que so
mais visveis do que os articuladores das lnguas da modalidade oral. A aquisio dos
primeiros sinais de uma criana surda, filha de pais surdos, representa o limite entre os
estgios pr-lingustico e lingustico.

67

4.2.1 O perodo pr-lingustico

Estudos sobre o perodo pr-lingustico de bebs surdos e bebs ouvintes no perodo de


desenvolvimento da linguagem foram encontrados na literatura. Petitto e Marentette (1991)
verificaram que os bebs surdos tambm apresentam o perodo do balbucio, constatando que
essa habilidade inata e manifestada no s atravs de sons como ocorrem nos bebs
surdos, mas tambm atravs de sinais manuais.
Para Karnopp (1994), o balbucio manual de bebs surdos adquirindo a lngua de sinais
precede a produo de seus primeiros itens lexicais, que so os sinais, isto , os bebs surdos
produzem gestos que so fonologicamente semelhantes aos sinais, mas no possuem
significado. Para Petitto e Marentette (1991), os balbucios vocais infantis equivalem a um
discurso de base, fenmeno que reflete o amadurecimento do aparelho articulatrio
responsvel pela linguagem e produo da linguagem falada. Ambas relataram que o
fenmeno ocorre em crianas surdas expostas aos sinais desde o nascimento.
Nos bebs surdos foram detectadas duas formas de balbucio: o manual silbico e a
gesticulao, sendo que o primeiro apresenta combinaes que fazem parte do sistema
lingustico das lnguas de sinais. A gesticulao no apresenta organizao interna. O
balbucio est vinculado estrutura lingustica de linguagem e expressa a capacidade de
processamento de diferentes tipos de sinais (sinalizados ou falados). A opinio predominante
a de que a estrutura do balbucio vocal determinada pelo desenvolvimento da anatomia do
canal vocal e os mecanismos neurais subordinados a um controle motor de produo do
discurso. Assim, verificamos que h um paralelismo entre o balbucio oral e o balbucio
manual. Tanto bebs surdos quanto bebs ouvintes apresentam os dois tipos de balbucio at
um determinado estgio do perodo aquisicional. Assim, as crianas surdas balbuciam
oralmente at determinado perodo. Karnopp (1994) aponta que os balbucios de surdos no se
tornam cannicos, i. e., no incluem sequncias de consoantes e vogais, consiste na produo
de vocalizaes no-ordenadas, vocalizaes semelhantes a vogais; grunhidos, gemidos,
gritos.

68

Segundo Karnopp (1994, p. 56), interessante observar que:


[...] os bebs surdos de pais ouvintes, no expostos lngua dos sinais desde o
nascimento, comeam a desenvolver gestos manuais para expressar seus
pensamentos, desejos e necessidades. Pesquisas revelam que os bebs no
apenas desenvolvem sinais individuais, mas combinam sinais, formando
sentenas com uma ordem sinttica definida e restries sistemticas na
produo de sinais.

4.2.2 Estgio de um sinal

Quadros (2008) afirma que as crianas surdas, filhas de pais surdos, expostas lngua
de sinais como lngua materna, iniciam o estgio de um sinal por volta dos 12 meses. O
estgio de um sinal equivale ao estgio de uma palavra nas lnguas orais. Karnopp (1994) cita
que o incio do estgio de um sinal pode acontecer por volta dos 6 meses em bebs surdos,
filhos de pais surdos adquirindo lngua de sinais.
Karnopp (1994) explana que embora ocorra controvrsia entre os pesquisadores de
lnguas de sinais para se definir o perodo do enunciado de um sinal, normalmente se aceita a
aquisio dos primeiros sinais como sendo o incio da linguagem:
O termo aquisio da palavra (sinal) pode ser entendido de diversas maneiras,
ou seja, pode se referir a qualquer gesto produzido e usado pelo beb em um
contexto consistente ou pode se referir a um sinal da linguagem adulta que
entendido e usado como tal. (KARNOPP, 1994, p. 57)

Quadros (1997) afirma que estudos realizados na lngua de sinais americana, no estgio
de um sinal, observaram que crianas surdas com menos de dois anos de idade no
conseguem fazer uso de dispositivos indicativos que envolvem o sistema pronominal das
lnguas de sinais. Antes do estgio de um sinal, a criana surda est no estgio de apontao,
mas quando entra no estgio de um sinal, o uso da apontao comea a desaparecer, porque,
nesse perodo, a criana inicia uma reorganizao bsica, mudando o conceito de apontao
gestual para visualiz-lo como elemento de um sistema lingstico, realizando a produo de
um item lexical.
Os traos distintivos, unidades que compem segmentos, distinguem os itens lexicais
nas lnguas sinalizadas. Karnopp (1999) afirma que a noo de traos distintivos nas lnguas

69

de sinais d-se no sentido de que cada sinal passa a ser visto como um feixe de elementos
bsicos e simultneos, que formam uma CM, um M e uma L, que por sua vez entram na
formao dos itens lexicais.
Ferreira Brito (1990) prope, para a LIBRAS, um modelo de doze traos para a anlise
de CM, a seguir explicitadas: [compacta], [aberta], [ulnar], [cheia], [cncava], [dual],
[indicadora], [radial], [toque], [separada], [cruzada], [dobrada]. A autora afirma que a CM
pode permanecer a mesma durante a articulao de um sinal, ou pode passar de uma
configurao para outra. Se h mudana na CM, ocorre movimento interno na mo e mudana
na CM dos dedos selecionados.
Na Lngua de Sinais Americana, Boyes-Braem (1973/1990) prope o modelo de oito
traos: [oposio]; [extenso]; [extenso parcial]; [fechada]; [contato da ponta dos dedos com
o polegar]; [contato da junta dos dedos com o polegar]; [insero do polegar entre dois
dedos]; [cruzamento de dedos adjacentes]. Os resultados de Boyes-Braem esto alicerados
em sua pesquisa aquisicional de uma criana surda congnita, com 2;7 anos de idade, filha de
pais surdos, fluentes em ASL. A autora prope, com base nos dados da pesquisa, e em
restries anatmicas, quatro estgios de aquisio do parmetro CM.
Para Boyes-Braem (1973/1990), as CMs produzidas no estgio I envolvem
manipulaes da mo como um todo e da parte radial. Ao final do primeiro ano, todas as
crianas, no importa a que lngua de sinais estejam sendo expostas, possuem o controle fsico
das CMs do primeiro estgio. As CMs de mo produzidas no estgio II envolvem a aquisio
dos traos Aberto (para a CM de mo B); Extenso dos dedos da parte ulnar como um grupo
nico e Contato do polegar com todos os outros dedos.
No estgio III, a criana inicia a distino entre os dedos de forma individualizada,
envolvendo, segundo Karnopp (1999), a manipulao dos dedos separados, inclusive do
grupo ulnar, significando que alguns dgitos so inibidos enquanto outros so ativados.
No ltimo estgio, a criana ativa e inibe, de forma independente, os dedos mdio e
anular fora da ordem serial; adquire os traos [+ cruzado] e [+ insero]. CMs de mos
produzidas no estgio quatro, conforme Boyes-Braem (1973/1990), fazem parte de uma
pequena porcentagem de sinais do vocabulrio infantil e adulto, mas nenhuma destas so
usadas em processos de substituio.
McItire (1977), ao analisar o processo aquisicional de uma criana surda, filha de pais
surdos, adquirindo a Lngua de Sinais Americana, constatou que o desenvolvimento de

70

configurao de mo mostra conformidade com as CMs de mo do estgio I de Boyes-Braem,


e que as mesmas substituem regularmente CMs de estgios posteriores, enquanto as ltimas
no foram completamente adquiridas.

4.2.3 Estgio de dois sinais e estgio das primeiras combinaes

Para Karnopp (1994), ao final do perodo caracterizado pelos enunciados de um sinal,


aproximadamente aos dois anos de idade, surgem, na lngua de sinais, enunciados formados
por dois sinais, consistindo, basicamente, em um agrupamento de dois sinais que formam um
enunciado e so ligados por algum tipo de relao semntica. O incio do estgio de dois
sinais seguido por um perodo em que enunciados de um sinal co-ocorrem com enunciados
de dois sinais. Em sua pesquisa, Petitto (1987) analisou crianas surdas adquirindo a lngua de
sinais americana e assinala que essas crianas comeam a usar o sistema pronominal de
maneira inconsistente: usam a apontao direcionada ao receptor para referirem-se a si
mesmas. Assim, no estgio de dois sinais, por volta dos dois anos de idade ocorrem os
chamados erros de reverso pronominal, exatamente como ocorrem com as crianas ouvintes.
O estgio das primeiras combinaes dos sinais, segundo Quadros (1997), surge a partir
dos dois anos. Karnopp (2005, p. 2) afirma que:
Surdos e ouvintes produzem gestos manuais muito similares durante o primeiro
ano, tornando-se difcil a distino entre o balbucio manual compartilhado entre
bebs surdos e ouvintes, e as produes manuais que so especficas dos bebs
surdos. H situaes em que as crianas produzem gestos que representam ou
referem algum objeto ou evento, tais como abrir e fechar a mo para pedir algo,
mover os braos para indicar um pssaro tais produes so comuns em
crianas surdas e ouvintes. Esse fato torna complexa a distino entre sinais e
gestos, pois ambos so referenciais, comunicativos e produzidos manualmente.
Por isso, a distino desses dois tipos de atividade manual e o status simblico
dos gestos iniciais na aquisio da linguagem uma questo que tem recebido
ateno recentemente. (KARNOPP, 2005, p. 2)

Para Karnopp (1994, p. 57), a aquisio dos primeiros sinais como sendo um incio da
linguagem pode ser entendido de diversas maneiras:

71

[...] pode se referir a qualquer gesto produzido e usado pelo beb em um


contexto consistente ou pode se referir a um sinal da linguagem adulta que
entendido e usado como tal. Em analogia com a definio que Ingram
(1989:139) adota para as lnguas orais, utilizou-se nesta pesquisa a definio de
que o primeiro sinal um sinal da linguagem adulta que entendido com algum
significado, embora varivel.

Afirmamos, consoante Silva (2009, p. 4), que uma vez observados e analisados os
padres de desenvolvimento lexical em crianas surdas adquirindo a Lngua Brasileira de
Sinais, isto servir:
[...] como uma ferramenta para situar, por exemplo, em qual estgio se encontra
um indivduo surdo, fornecendo subsdios para um acompanhamento. Alm
desse propsito, a lista de frequncia das primeiras palavras poder ser utilizada
para fins educacionais (e.g. fornecendo listas de palavras que so mais
frequentes no universo infantil para a confeco, por exemplo, de livros
infantis), podendo servir como base ou como suporte para outros projetos, bem
como para a construo de material de pesquisa, materiais didticos e testes de
lngua.

Quadros e Karnopp (2004) observaram que a LIBRAS apresenta certa flexibilidade na


ordem das palavras, sendo que a ordem das primeiras combinaes de sinais surge por volta
dos 2 anos das crianas surdas. Durante este estgio, a ordem usada pelas crianas ,
geralmente SV (Sujeito/Verbo), VO (Verbo/Objeto) ou, ainda, num perodo subsequente,
SVO (Sujeito/Verbo/Objeto).
Quadros (1997) afirma que, no estgio das primeiras combinaes, crianas comeam a
usar o sistema pronominal, mas de forma inconsistente. De acordo com a autora, estudos
realizados na lngua de sinais americana detectaram que o padro de aquisio das crianas
surdas bastante prximo ao das crianas ouvintes. A princpio, considerava-se que seria
mais fcil para as crianas surdas a aquisio do sistema pronominal. Os pronomes EU e TU
na lngua de sinais americana so identificados atravs da indicao propriamente dita, a si
mesmo e ao outro, respectivamente. Quadros (1997) afirma que parece bvio que uma criana
aprenda essa regra rapidamente e a use sem cometer erros. Mas o que acontece , na verdade,
diferente.
Quadros (1997) observou que, na Lngua Brasileira de Sinais, existem combinaes de
sinais envolvendo de dois a trs sinais. Conforme a autora, o indivduo pesquisado omitiu
referentes presentes somente quando esses eram bvios, perceptveis no contexto do discurso,
mas normalmente sinalizou o sujeito. Afirma, tambm, que no foi observada a omisso do
objeto nesse perodo, e que, possivelmente, o motivo de terem aparecido sujeitos, mas no

72

objetos nulos, pode estar relacionado ao uso sinttico do espao que ainda no observado,
nesse perodo, de forma consistente. Exemplos como:
(1)
a. EU iSAIR. TCHAU!
'Eu estou saindo. Tchau
b. ELEk OLHAR ELEk.
'Elei olhou para elej'. (QUADROS, 1997, p. 73)
mostram que a criana pesquisada j usa o sistema pronominal com referentes presentes
de forma adequada, no estgio das primeiras combinaes.
Por fim, Karnopp (1994) enfatiza que o perodo de maior desenvolvimento lingustico
vai, aproximadamente, at os cinco anos de idade, quando a criana surda ou ouvinte j
demonstra possuir uma capacidade lingustica prxima ao sistema adulto.

4.3

TEORIA DOS PROCESSOS FONOLGICOS

medida que as teorias lingusticas mudam ou se enriquecem, a descrio dos sistemas


fontico/fonolgicos evolui. A evoluo fontica consiste no tipo de evoluo lingustica mais
fcil de se observar e sistematizar em regras. Podemos observar a probabilidade de evoluo
fontica de acordo com os sons ou sinais mais facilmente produzidos do ponto de vista
articulatrio, e, portanto mais muito frequentes; e sinais ou sons mais recorrentes na produo
adulta.
Em nossa pesquisa, defendemos o processo fonolgico como uma estratgia operacional
que, aplicada pelos aprendizes das lnguas orais e visuoespaciais, constitui mudana
sistemtica de sons e de sinais, a partir de padres mais recorrentes e, portanto, mais naturais.
Stampe (1973) props um modelo de desenvolvimento fonolgico tendo como foco os
processos fonolgicos definidos como inatos e universais, que representam respostas naturais
a foras fonticas que j existem na capacidade humana para a fala. De certa forma, Stampe
d continuidade s perspectivas tericas propostas por Chomsky, mas, em vez de tratar de
regras, trata dos processos, buscando determinar caractersticas das regras especficas das
lnguas naturais.

73

Teixeira (1993, p. 82) afirma que os processos da Fonologia Natural so denominados


de naturais, porque so mental e fisiologicamente motivados, i. e., exigem menos esforos
dos mecanismos neural e fisiolgico do homem.
Grunwell (apud TEIXEIRA, 2009b, p. 3) ressalta que
A naturalidade tem a ver com fatores fonticos, que resultam de caractersticas
fisiolgicas/articulatrios e/ ou psicolgicas/ perceptuais dos sons. Assim, como
na teoria da Marcao, alguns sons so mais naturais, mais fceis de pronunciar/
perceber do que os outros. O uso dos sons naturais implica no uso de padres
mais simples de pronncia.

Da mesma forma, podemos afirmar que algumas configuraes de mos so mais fceis
de serem produzidas ao se realizar um sinal nas lnguas visuoespaciais, no perodo
aquisicional da linguagem. Nas lnguas naturais, h uma srie de processos, a exemplo do
apagamento e da substituio. O processo fonolgico classificado de apagamento consiste na
supresso de algum segmento nas lnguas orais e nas lnguas visuoespaciais. Por exemplo, na
Lngua Portuguesa do Brasil temos o verbo ARRANCAR que pode ser reduzido a rancar.
Na Lngua Brasileira de Sinais temos o advrbio de tempo ou negao NUNCA, um
emprstimo lingustico da Lngua Portuguesa:

Figura 28: Verbo de Negao NUNCA Forma integral


Fonte: CAPOVILLA e RAPHAEL, 2008.

que pode ser reduzido a

74

Figura 29: Verbo de Negao NUNCA Forma reduzida


Fonte: CAPOVILLA e RAPHAEL, 2008.

Os exemplos em Lngua Portuguesa do Brasil e em Lngua Brasileira de Sinais descritos


acima apresentam um caso de apagamento, mas no apresentam alterao de significado, no
havendo perda de valor semntico.
No sabemos, de antemo, como cada criana ir lidar com os limites de eliminao
desses processos durante a aquisio da linguagem, embora existam estudos que j
estabelecem os parmetros aquisicionais e faam previses dos perodos etrios em que os
processos deixam de operar e que, pelo menos em Portugus, os processos fonolgicos
desaparecero em algum momento entre 1;6 e 5;0, aproximadamente (TEIXEIRA, 1991;
2009; INGRAM, 1976).
MacNeilage (2008) aponta que analogias aos segmentos tm sido propostas para a
lngua de sinais: locaes marcadas como consonantais e os movimentos como voclicos.
Contudo, estudos sobre erros envolvendo sinais demonstram que no existe equivalncia entre
as entidades segmentais propostas em sinal e os elementos consonantais e voclicos da fala.
Afirma que erros de fala so subsilbicos, envolvendo elementos ordenados em srie dentro
da slaba. Os elementos da possvel slaba sinalizada (locaes, configuraes de mo e
movimento) tendem a ser deslocados como um todo nos erros sinalizados. O autor tece
consideraes acerca do sinal, diferindo-o da slaba articulada em termos de sua relao com
nveis mais elevados de gramtica (morfolexicais). Enquanto slabas articuladas so
isomrficas s palavras, na lngua de sinais existe uma conspirao para o sinal, i. e., para a
palavra em sinal ser monossilbica. Isto se d porque a fala sequencial, enquanto a lngua de
sinais simultnea17.

4.4

O DESENVOLVIMENTO DA COORDENAO MOTORA GROSSA


E COORDENAO MOTORA FINA EM CRIANAS SURDAS

17

importante ressaltar que essa ideia proposta por MacNeilage (2008), mas tanto lnguas de sinais quanto
lnguas orais apresentam a simultaneidade e a sequencialidade, conforme Karnopp (1999).

75

De acordo com Teixeira (2003), a motricidade controlada por dois sistemas que
envolvem grande nmero de estruturas enceflicas e que so denominadas sistema piramidal e
sistema extrapiramidal. Teixeira (2003, p. 10) afirma que o sistema piramidal tem suas fibras
originadas no crtex cerebral com trajeto direto atravs das pirmides at a medula espinal,
fibras corticospinais ou corticonucleares, sendo responsveis pelos movimentos voluntrios,
ou seja, um sistema responsvel por movimentos deliberados decorrentes a partir de um ato
de vontade e o sistema extrapiramidal tem origem no crtex cerebral e no cerebelo, com
trajeto por vias intermedirias, no passando pelas pirmides, sendo responsvel por
movimentos automticos, regulao de tnus e postura, ou seja, a manuteno do equilbrio e
da postura, a coordenao dos movimentos voluntrios e o controle do tnus muscular so
funes realizadas pelo cerebelo. Por isso, o desenvolvimento motor, assim como o processo
aquisicional da linguagem infantil, tem suas etapas de aquisio.
Oliveira e Oliveira (2006) afirmam que durante os primeiros anos de vida os progressos
de desenvolvimento motor costumam obedecer sequncias ordenadas, Contudo, existe
considervel variabilidade individual, de acordo com cada criana. Ambos constataram que
cada criana apresenta um padro caracterstico de desenvolvimento motor, pela influncia
sofrida em seu meio, varivel a cada criana. Sauron (2003) informa que, a partir da quinta
semana de gestao, os membros superiores e inferiores dos embries humanos aparecem
como brotos. Com o crescimento posterior, a parte terminal desses brotos comea a achatar-se
e separar-se de uma parte proximal mais cilndrica, segmentando-se em consequncia da
formao de constries circulares. De forma precoce, segundo a autora, aparecem quatro
sulcos radiais separando cinco reas espessadas, situadas na poro distal dos brotos,
esboando-se, assim, os membros superiores mos. Esse membro superior apresentar, de
acordo com Sauron (2003, p. 266), funes com perfeio quando o comando que vem desde
o crebro e medula, passando pelo plexo braquial, alcanar o ombro, o brao e o antebrao.
A autora afirma, ainda, que disfunes provenientes da fonte crebro ou que ocorram ao
longo do trajeto, poder acarretar perda temporria ou definitiva da funcionalidade do
membro superior mo como ferramenta de trabalho (motor), instrumento de percepo
(sensibilidade), rgo de comunicao(gesto), termos utilizados pela autora.
Sauron (2003) traz ainda, em seu artigo, importantes asseres acerca do membro
superior mo como acompanhamento ou substitutivo da fala normal ou ainda como um
auxiliar quando falamos em outro idioma, quando no temos total domnio verbal. Para a
autora, os gestos manuais so movimentos que todos ns fazemos como parte integrante de

76

nosso sistema de comunicao. Dessa maneira, a mo no somente o smbolo de poder do


homem e o instrumento de sua percepo; ela tambm o espelho de sua emoo
(SAURON, 2003, p. 277). Sauron (apud NAPIER, 1983) diz que seja como for, o gesto a
linguagem oculta que no tem vocabulrio nem gramtica. Permite que se expressem coisas
que nunca podero ser faladas. Se a linguagem foi concedida aos homens para esconderem
seus pensamentos, ento a finalidade dos gestos foi revel-los.
Coordenao motora fina a coordenao dos ossos musculares e das funes
neurolgicas para produzir pequenos e precisos movimentos. O oposto da coordenao
motora fina a coordenao motora grossa. Um exemplo de coordenao motora fina poder
pegar um pequeno item com o dedo indicador e o polegar. Um exemplo da coordenao
motora grossa: fazer uma saudao com um brao, acenando. Problemas de leses e
disfunes do crebro, cerebelo, medula espinhal, nervos perifricos, msculos ou nas
articulaes podem comprometer a coordenao motora fina. A dificuldade em falar, por
exemplo, comer e escrever causada pela doena de Parkinson devida perda da
coordenao motora fina (GALLAHUE, 2002).
O desenvolvimento da coordenao motora fina consiste num processo de refinamento.
Desenvolve-se com o amadurecimento do sistema neurolgico, sendo que o nvel de
desenvolvimento da coordenao motora fina usado para determinar a idade de
desenvolvimento da criana. As habilidades motoras finas so desenvolvidas atravs do
tempo, experincia e conhecimento. A coordenao motora fina requer conhecimento e
preparo para a execuo de uma determinada tarefa. Exige, tambm, fora muscular e a uma
coordenao motora normal.
Bebs desenvolvem a coordenao motora grossa antes de desenvolver a capacidade de
fazer pequenos movimentos precisos. Assim, uma coordenao motora grossa refere-se aos
movimentos dos grandes msculos do corpo. Um beb comea a desenvolver uma
coordenao motora de controle grossa, comeando com o controle de sua cabea e tronco,
continuando at que ela fique de p e, finalmente, comece a andar, correr, saltar e a fazer uma
gama de atividades que um adulto pode fazer. As crianas aprendem novas habilidades de
coordenao motora grossa praticando (GALLAHUE, 2002). A coordenao motora grossa
inclui:
1) Balano de cabea - a capacidade de manter o equilbrio, a conscincia corporal;
2) Sensibilizao corporal - para controlar a postura;

77

3) Lateralidade - percepo dos lados direito e esquerdo do corpo;


4) Coordenao muscular;
5) Orientao espacial - conscincia da posio do corpo no espao e em relao a
outros objetos ou pessoas.
Quando uma criana desenvolve melhor o controle dos braos e pernas, ela comea a
desenvolver uma habilidade da coordenao motora fina, como agarrar, tocar, alimentar-se,
dentre outras habilidades.
Ao analisar os sinais produzidos por uma criana surda, adquirindo uma lngua de sinais
como lngua materna, podemos observar a coordenao motora dessa criana e, se constatada
alguma no-eficincia motora, recorre-se a prticas que estimulem sua melhoria, como o
caso das atividades fsicas que fazem com que a criana estimule o crebro para que este
equilibre seus movimentos.
Gallahue (2002) alerta para o fato de que no h uma delineao clara entre os termos
coordenao motora grossa e coordenao motora fina, mas os movimentos produzidos
podero ser classificados como um ou outro:
Um movimento de coordenao motora grossa envolve o movimento dos
grandes grupos musculares do corpo. A maioria das habilidades esportivas
classificada como movimentos de coordenao motora grossa, com exceo
talvez do tiro ao alvo, arco e flecha, e alguns outros. Um movimento de
coordenao motora fina envolve movimentos de limitadas partes do corpo no
desempenho de movimentos precisos. Os movimentos manipulativos de
costurar, escrever e digitar geralmente so considerados movimentos de
coordenao motora fina. (GALLAHUE, 2002, p. 2)

Quanto psicomotricidade, Lussac (2008) afirma que a origem do termo se deu a partir
dos discursos mdicos no incio do sculo XIX. Com o desenvolvimento e as descobertas da
neurofisiologia, iniciam-se constataes de diferentes disfunes graves sem que o crebro
humano estivesse lesionado ou sem que a leso estivesse localizada. Distrbios da atividade
gestual so descobertos, alm de distrbios das atividades prxicas. Dessa forma, o esquema
antomo-clnico que determinava para cada sintoma uma correspondente leso focal, no
podia explicar determinados fenmenos patolgicos. justamente a partir da necessidade
mdica de encontrar uma rea que explique certos fenmenos clnicos que surge, pela
primeira vez, o termo Psicomotricidade, na dcada 70. A partir desses estudos clnicos,
verificou-se que o desenvolvimento psicomotor permite criana passar dos movimentos
globais (coordenao motora grossa) aos mais especficos (coordenao motora fina), fazendo

78

com que a criana adquira conscincia do prprio corpo e das possibilidades de expresso por
meio dele.
Guardia e Coelho (1993) informam que o desenvolvimento da coordenao motora tem
incio pela percepo e conhecimento pela criana do seu corpo. H uma sequncia
psicolgica prpria do desenvolvimento infantil, segundo a qual a maturao se faz dos
grandes movimentos para os pequenos movimentos. Dessa forma, compreender a criana
surda em processo de desenvolvimento motor significa estar atento s suas carncias
psicomotoras. O input visual entre me e filho surdos um dos fatores que podem
proporcionar uma melhor maturao do desenvolvimento motor da criana surda. A interao
entre o beb surdo e a me surda, no processo aquisicional da linguagem, discutida por
Karnopp (1994, 1999a, 1999b). A autora salienta que o input visual necessrio para que o
beb surdo passe para etapas posteriores no desenvolvimento da linguagem. O contato visual
entre os interlocutores, o uso de expresses faciais e a ateno que o beb surdo coloca no
meio visual tornam-se essenciais para o desenvolvimento lingustico do beb.
Observamos, assim, que a psicomotricidade favorece, criana surda, uma relao
consigo mesma, com o outro e com o mundo que a cerca, possibilitando-lhe um melhor
conhecimento do seu corpo e de suas possibilidades lingusticas na produo dos primeiros
sinais.
Mann, Marshall e Morgan (2007), estudiosos da lngua de sinais britnica,
desenvolveram um teste de avaliao rpida, especificamente para as crianas surdas e que
estavam aprendendo a Lngua de Sinais Britnica. Neste teste em computador, os
participantes foram apresentados a uma srie de sinais caracterizados como nonsense-sign,
i. e., gestos que poderiam ser sinais reais da Lngua Britnica de Sinais, mas no tinham
nenhum sentido e a criana teria que repeti-los com uma breve demora. Esta tarefa exige
habilidades de percepo e produo dos participantes surdos e habilidades da coordenao
motora fina e grossa. As crianas eram influenciadas a repetir os sinais. Um dos objetivos
dessa pesquisa foi contribuir com uma ferramenta que pudesse se tornar um instrumento de
avaliao til para terapeutas da fala e pesquisadores da lngua de sinais britnica que
trabalham com crianas surdas. Atualmente, existem poucos testes de avaliao de linguagem
que so apropriadas para crianas surdas e quase inexiste um instrumento especfico para o
estudo da fonologia da lngua de sinais. Para a realizao do projeto, foram coletados dados
de cerca de 100 crianas surdas com idades entre 3-10 anos em escolas e instituies com
crianas surdas do Reino Unido. Alm da repetio do nonsense-sign, os pesquisadores

79

administraram duas tarefas de habilidades motoras e compararam os resultados com o intuito


de verificar se a habilidade motora fina prev a habilidade com Lngua Britnica de Sinais.
Cada criana foi testada individualmente, e os testes levaram entre 15 e 20 minutos. Os
primeiros resultados mostraram que as crianas repetiam com mais preciso os sinais
nonsense e, medida que cresciam, repetiam com maior preciso os sense-signs. As
crianas encontraram mais dificuldades para repetir as configuraes de mos do lado interno.
Os resultados sugerem que a aquisio da fonologia da Lngua Britnica de Sinais e o
controle da motricidade fina so importantes para o desenvolvimento fonolgico das crianas
surdas britnicas. No Brasil, no encontramos pesquisas relacionadas psicomotricidade de
crianas surdas adquirindo a lngua de sinais como lngua materna.

ELICIAO DOS DADOS

Este captulo descreve a metodologia desenvolvida para a dissertao. Adotamos, no


nosso trabalho, os aspectos e configuraes da abordagem qualitativa, na tipologia de estudo
de caso, realizado atravs da observao longitudinal do processo de aquisio da linguagem
de uma criana surda, filha de pais surdos, exposta a um ambiente bilngue (Lngua de
Sinais/Lngua Portuguesa), na faixa etria de um ano e meio a dois e meio, aproximadamente.
A coleta de dados foi intencionada pela pesquisadora a partir de encontros e discusses
com alunos regularmente matriculados no curso de Graduao em Letras LIBRAS pela
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), na modalidade distncia, turma 2006. Uma
das alunas do curso surda, instrutora de lngua de sinais, casada com um surdo, me de uma
criana surda, aqui denominado de F. O sujeito de pesquisa ser identificado nominalmente
pela letra F em atendimento s questes ticas da pesquisa.
A pesquisa demandou a utilizao de tcnicas de coleta de dados, pesquisa exploratria
e observao in loco. Adotamos a metodologia qualitativa, com utilizao de entrevistas com
pais da criana e familiares. Foram realizadas observaes in locus a partir de atividades de F
com a participao da me, amigos e familiares.
A criana foi observada em interao com seus pais, familiares e cuidadores, em seu
ambiente domstico/familiar e em interao com alunos do Curso de Licenciatura em Letras LIBRAS, turma 2006. Os pais foram entrevistados em LIBRAS pois os mesmos so surdos e
utentes da Lngua Brasileira de Sinais (cf. Apndice D). Os demais familiares foram
entrevistados em Lngua Portuguesa (cf. Apndice E). A traduo das questes de Lngua
Portuguesa para a LIBRAS foi realizada pela prpria pesquisadora. Os registros foram
realizados a partir de anotaes da pesquisadora e atravs de filmagens com cmera digital,
em encontros mensais com durao em torno de trinta a quarenta minutos, aproximadamente,
durante o perodo de um ano, respeitando-se a privacidade e a disposio da criana e dos pais
em relao ao momento das filmagens. Foram, ao todo, realizados dez encontros, dos quais
cinco sero analisados a seguir. Observe-se, a este respeito, que os primeiros encontros no
foram bem-sucedidos a criana praticamente no produziu nenhum enunciado. Neste
sentido, ainda no havia um estreitamento de laos com o examinado e sua equipe.

81

Antes da realizao das filmagens, a pesquisadora relatou os objetivos do trabalho e


solicitou que os pais assinassem a carta de autorizao permitindo a participao do filho na
pesquisa (cf. Apndice A). No encontro do dia 10 de outubro de 2009 a pesquisadora utilizou
recursos de gravuras, ilustraes (Apndice C) e emborrachados para interagir com a criana
(Anexo A).
A maior parte dos encontros ocorreu na cidade de Feira de Santana-BA, sendo algumas
sesses filmadas em Salvador, conforme ser descrito abaixo. Todas as sesses de interao
estaro sendo apresentadas, em detalhe, mais adiante.

5.1

PERFIL DO SUJEITO

A dificuldade de se coletar informaes sobre o processo aquisicional de crianas


surdas, filhas de pais surdos, adquirindo a lngua de sinais como lngua materna na cidade de
Salvador, conduziu a pesquisa para a cidade de Feira de Santana, municpio onde reside F,
sujeito da nossa pesquisa. Feira de Santana um municpio brasileiro do estado da Bahia,
situado a 107 km de sua capital, Salvador, qual se liga atravs da BR-324. a segunda
cidade mais populosa do estado e a maior cidade do interior nordestino. As observaes se
iniciaram no ano de 2008, no ms de julho. No primeiro encontro, F estava com um ano e
dois meses. Mostrou ser uma criana tmida, calma e pouco se comunicava em sinais, mais
observava do que produzia. F uma criana surda, filho de pais surdos, ambos instrutores de
LIBRAS certificados pelo MEC. A me de F, atualmente, cursa a graduao do Curso de
Licenciatura em Letras LIBRAS, pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em
convnio com a Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Os avs maternos so ouvintes. A av paterna surda. F tem uma irm surda, M, filha
do primeiro casamento do pai, mas a irm reside longe da casa de F e eles tm pouco contato.
M fluente em lngua de sinais e teve acesso LIBRAS como lngua materna. Quando M e F
se encontram s se comunicam em sinais, conforme relato da me de F. F tem uma tia surda,
irm de sua me. A me de F relatou outro caso de surdez na famlia, uma outra irm,
falecida, que F no chegou a conhecer.

82

F tambm tem tios surdos por parte da famlia paterna, sendo um deles fluente em
lngua de sinais, professor de LIBRAS na Universidade Estadual de Feira Santana, tambm
aluno do Curso de Licenciatura em Letras LIBRAS pela UFSC/UFBA.
Nos fundos da casa de F, funciona um pequeno restaurante da famlia, e a maioria dos
frequentadores so ouvintes no-usurios da lngua de sinais. Na frente da casa de F, funciona
uma mercearia pertencente av materna. Ao lado da mercearia, na sada da casa, h um bar
da famlia. Todos os funcionrios so ouvintes e no dominam a Lngua Brasileira de Sinais.
Alguns frequentadores se comunicam com F atravs de gesticulao e mmica, outros tentam
estabelecer comunicao com F atravs da modalidade oral. Na vizinhana, h uma criana
surda, fluente em lngua de sinais, amigo de F. Ambos s se comunicam atravs da lngua
brasileira de sinais. H, ainda, na vizinhana, uma outra criana surda, que no domina lngua
de sinais e se comunica atravs de gesticulao.
F est exposto a um ambiente bilngue. Nas situaes de comunicao e interao com
os pais, com a tia surda, com o tio surdo e com o amigo surdo, a comunicao se d em
LIBRAS; e com outros tios, a av materna e alguns cuidadores, F tenta se comunicar em
Lngua Portuguesa. Inicialmente, F no foi uma criana muito produtiva linguisticamente,
pois, durante os primeiros meses de vida, conforme relato parental, possuiu uma maior
interao com as pessoas ouvintes da casa, j que os pais trabalhavam no perodo diurno e s
conviviam com o filho noite. Durante a fase de pesquisa, conversou-se com a me da
criana, informando a importncia de se manter um maior contato com o filho surdo, bem
como outras pessoas surdas, promovendo maior interao com seus pares surdos. A me de F
demonstrou grande interesse e comeou a participar mais ativamente, interagindo mais com o
filho, e diminuiu suas horas no trabalho.

5.2

A COLETA DE DADOS

As sesses de coleta de dados, inicialmente, ocorreram na cidade de Feira de Santana.


As sesses de filmagem duraram em torno de trinta a quarenta minutos, aproximadamente, e,
na maioria das vezes, foram feitas na prpria casa dos pais. No decorrer da pesquisa, F
tambm foi observado em interao no Curso de Licenciatura em Letras LIBRAS,

83

modalidade semipresencial, turma 2006, pois sua me aluna do curso e o filho acompanhou
a me em algumas aulas. Assim, os dados resultam de uma srie de sesses de filmagens em
locais em que F circulava e observaes realizadas pela pesquisadora. Os nomes das pessoas
que estavam interagindo com F tambm foram registrados e, por questes ticas, esto
expostos aqui por iniciais maisculas em negrito. Durante as sesses de filmagem, utilizamos
blocos de anotaes, cmera digital Olympus e Sony (Hard Disk Drive).
Na maioria dos encontros, procuramos realizar a coleta de dados em situao de
comunicao espontnea e em ambientes informais, usando brinquedos, imagens recortadas
de revistas (cf. Apndice C e Anexo A), objetos de casa e alimentos, a fim de obter um
vocabulrio familiar do cotidiano de F. Todos os sinais selecionados para a transcrio,
descrio fonolgica e anlise dos dados foram produzidos em situao espontnea. De incio,
F mostrou-se inibido com o equipamento de filmagem e com a presena da pesquisadora. E,
em decorrncia disso, a pesquisadora priorizou, nos primeiros encontros, observaes
sistemticas das interaes de F com a me e os outros membros da casa. Quando F comeou
a se acostumar com a presena da pesquisadora, foram inseridas as filmagens com cmara
digital e filmadora. Com o passar do tempo, observamos que a presena do equipamento e da
pesquisadora tornaram-se familiares para a criana. Todas as transcries foram feitas pela
autora, com a mediao de um intrprete de lngua de sinais, a fim de dirimir eventuais
dvidas sobre os sinais produzidos por F. O intrprete atuou como voluntrio da pesquisa e
assinou um termo de autorizao (vide apndice B). A data de transcrio dos sinais no banco
de dados foi realizada no perodo de 27 de outubro de 2008, a 10 de outubro de 2009 e a
reviso ocorreu em outubro, novembro e dezembro de 2009.

5.3

A TRANSCRIO DOS DADOS

As produes de F foram includas em dois bancos de dados distintos: um de produo


de sinais e outro de substituies fonolgicas. O banco de dados que abrangeu os sinais
mostra que, se a criana est exposta a uma lngua natural, medida que vai crescendo,

84

desenvolve-se seu cabedal de conhecimentos, aumentando tanto o leque de aquisies quanto


de quantidade de itens lexicais aprendidos conforme o padro adulto.
Para nossa dissertao, por conta da limitao de tempo de coleta, elegemos os
Parmetros de Configurao de Mos, Movimento e Ponto de Articulao, por serem
significativos no processo da construo da lngua para o Sujeito Surdo e para o
aprofundamento de conhecimentos sob os signos que se estruturam nas bases da Lngua
Brasileira de Sinais.
O banco de dados que abrangeu as substituies fonolgicas produzidas pelo informante
procurou evidenciar a nossa hiptese de que, assim como as crianas ouvintes produzem
substituies de traos fonolgicos no perodo aquisicional, a criana surda, adquirindo a
lngua de sinais como lngua materna apresentar substituio de traos fonolgicos no
primeiro ano de vida, produzindo substituio fonolgica dos parmetros de configurao de
mos, ponto de articulao e movimento da Lngua Brasileira de Sinais por no apresentar o
controle da motricidade da coordenao fina necessria para produzir a matriz de
determinados parmetros adultos, particularmente a configurao de mo. A nossa segunda
hiptese era de que a criana surda, filha de pais surdos, apresentaria um processo de
apagamento fonolgico na produo de um sinal realizado com as duas mos e que
envolvesse uma mesma configurao de mos, sem apresentar mudana de significado.

Por necessidade de trazer mais prximo possvel a realidade pesquisada do cotidiano do


sujeito, as transcries so realizadas de forma descritiva, a fim de reproduzirmos os
contextos lingusticos em que os sinais ocorreram.

5.4

SESSES DE INTERAO

Foram considerados Sinais as produes com um significado interpretvel e uma forma


fonolgica associada ao sinal correspondente ao padro adulto. A produo dos parmetros
fonolgicos analisados nessa dissertao configurao de mos, ponto de articulao e
movimento, constitudos como unidades mnimas bsicas nas lnguas gestuais foram

85

considerados produes fonolgicas corretas quando semelhantes ao modelo dos pais surdos
para aquele parmetro. Os Grficos 1 a 5 referem-se s produes realizadas por F nas
sesses de interaes observadas. As Tabelas 1 a 5 referem-se os nmeros de sinais
produzidos por F em cada sesso de interao, em relao ao type (tipo) e ao token (nmero
de ocorrncias) do item lexical, type e token, respectivamente.
Foram consideradas substituies fonolgicas os sinais produzidos de forma diferente
do padro adulto, a partir da transcrio das filmagens de interao de F com a me.
Transcrevemos aqui apenas as filmagens que apresentaram produes de substituies
fonolgicas do informante. As demais serviram como base para pesquisa. Os sinais
produzidos por F esto destacados em negrito. Os sinais que apresentaram substituio esto
em negrito/itlico. Os sinais repetidos no foram contabilizados para a descrio.
Descrevemos apenas os sinais que tiveram substituies fonolgicas. A relao da quantidade
de sinais produzidos por dia de filmagem, a relao dos nomes (sinais) so encontradas nas
descries a seguir. As descries dos sinais esto em conformidade com Capovilla e Raphael
(2008). Os sinais produzidos por F que apresentam substituies fonolgicas foram descritos
pela pesquisadora.

Data da filmagem: 10/11/2008


Idade: 1;5
Local: Residncia de F - Feira de Santana-BA

Grfico 1: Produo do Dia 10/11/2008

86

A Tabela 1 mostra os nmeros de sinais produzidos por F na sesso de interao


ocorrida em 10/11/2008, em relao ao type e ao token dos itens lexicais OBRIGADO,
CACHORRO, BOLA DE SOPRAR, COMIDA, JOGAR e L.
Tabela 1: Relao dos Sinais Produzidos no dia 10/11/2008

RELAO DOS SINAIS PRODUZIDOS POR F NO DIA 10/11/2008


SINAIS COM
SINAIS CONFORME
N.
N.
SUBSTITUIO
PADRO ADULTO
Token
Token
Types
Types
OBRIGADO
1
COMIDA
1
CACHORRO
1
JOGAR
1
BOLA DE SOPRAR
1
L
1

F anda pela casa, est segurando uma caneca com gua na mo direita. Aponta para a
caneca com a mo esquerda e aponta para a mesa. Coloca a caneca no cho. F encontra uma
caixa de brinquedo. Abre a caixa com a ajuda da me. Retira um cachorro de dentro da caixa.
Comea a interagir com o objeto. O cachorro pula, F observa. Aponta para o cachorro, o
cachorro pula novamente e F se assusta. Observa. Aponta trs vezes para o cachorro. A me
interage com F e pergunta o que o objeto.
Me: aponta para o cachorro. Realiza expresso facial interrogativa: palmas das mos
para cima, ergue a cabea com expresso facial interrogativa, olhando para F. Chama a
ateno do filho balanando as mos. Toca em F. Chama-o vrias vezes tocando-o pelo brao.
F pega a caixa de brinquedo vazia, a me questiona novamente o que o objeto. [O QUE ?]
A me pega o cachorro, coloca-o em p no meio da sala. F observa a cena. Coloca a caixa no
cho. Pega a caneca com gua, bebe, coloca novamente a caneca no sof, olha fixamente.
Oferece a gua para a me. A me responde: [NO, OBRIGADA]. F tenta repetir o ltimo
sinal produzido pela me: [OBRIGADO] / inclina a cabea para a esquerda, mo esquerda em
C na altura da orelha, palma para dentro, ponta dos dedos prximo a orelha esquerda, afasta a
mo esquerda e a cabea ao mesmo tempo cabea para direita e mo para esquerda.
A me olha para o filho, faz o sinal de [GUA]. Aponta para a pesquisadora. F se
aproxima da pesquisadora. Observa a cmera filmadora, olha para a me, olha para o
cachorro, aponta para o brinquedo. Ele se aproxima da me. A me pega a caneca com gua e
aponta para o cachorro e d a F. Ele tenta guardar o cachorro na caixa. A me novamente
pega o animal de brinquedo e d ao filho. F pega a caixa. D a caixa para a me e faz o sinal
cachorro: [CACHORRO = mo direita em D, palma para dentro diante da boca semiaberta.
Move ligeiramente a mo para frente e para trs tocando os dedos na boca].

87

A me faz o sinal [CACHORRO] conforme o padro adulto. Mostra o objeto para F.


Brinca. F sai, a me guarda o brinquedo. F retorna, se aproxima da me, retira o brinquedo da
caixa. F pega o brinquedo com a mo direita para a me, e faz o sinal cachorro [CACHORRO
= mo esquerda vertical aberta, palma para dentro, dedos separados diante da boca, afasta a
mo da boca, aproxima novamente mudando a configurao para D, move ligeiramente para
frente e para trs].
Coloca o cachorro no cho pega a gua, bebe, olha fixamente para a me que est
sinalizando [GUA]. Ele bebe, a me aponta para a caneca e faz o sinal [GUA]. A me pega
a caneca e coloca em cima do sof.
F corre pela casa. A me d a chupeta para o filho. F sorri. A me chama a ateno do
filho. F corre para o quintal. Para na frente da casa, a me d uma bola de soprar ao filho, F
olha para a cmera de filmagem, faz o sinal de [BOLA DE SOPRAR]/mo direita em S, dedo
indicador e polegar esticados e unidos. Toca a ponta dos dedos no lbio. Bochechas infladas/,
tentando encher a bola. Caminha pelo quintal, corre para a mercearia da av materna, sempre
acompanhado pela me. F pega um garrafo vazio de gua. A me aponta para a estante sob a
qual esto algumas bolas, F tenta pegar uma, mas no consegue. F deixa o garrafo no cho e
se dirige para a estante onde esto as bolas, tenta pegar uma, no consegue. A me pega uma
bola, d a F, que interage com o brinquedo.
Chega a prima de F. A me pega o beb no colo, F reclama balanando as mos. A me
estala os lbios simulando um beijo, olhando para o filho que se aproxima do beb. F d um
beijo na criana, mas demonstra irritao com o beb, comea a chorar. Tenta ir para o colo
da me, a me de F sorri e pede para o filho esperar [Realiza o sinal icnico18 de ESPERAR].
F se afasta, volta. A me brinca com o filho que tenta pegar o beb no colo, a me no
permite e sinaliza para que o filho d um beijo no beb, F se irrita e tenta bater na prima. A
me o repreende. F caminha at o carro do beb e sinaliza para que a me coloque a criana
ali, batendo dentro do carro com a mo direita vrias vezes. A me coloca o beb no carrinho,
F tenta empurrar o carro. A me toca na mo do filho, tentando chamar a ateno. F sai.
Retorna. A me sinaliza: [ONDE A BOLA DE SOPRAR?] = [Mos em O, aproximadas,
palma a palma, tocando os dedos levando-os a boca. Bochechas infladas]. F tenta repetir

18

O sinal icnico faz aluso imagem do seu significado, a exemplo da produo do sinal TELEFONE, em
decorrncia de sua natureza lingustica visuoespacial, dessa forma, a realizao de um sinal pode ser motivada
pelas caractersticas de um dado da realidade a que se refere, mas isso no se constitui uma regra. A maioria dos
sinais da Lngua Brasileira de Sinais so arbitrrios, i.e., no mantm relao de semelhana alguma com seu
referente.

88

[BOLA DE SOPRAR] /conforme descrio anterior/. F caminha pela mercearia, olha os


objetos. A me chama a ateno do filho, d uma bola de soprar para ele.
F volta para dentro de casa. Senta-se mesa para almoar. Pessoas ouvintes ao redor se
comunicam em Lngua Portuguesa. F come e olha fixamente para a cmera. A pesquisadora
interage com algumas crianas ouvintes em Lngua Portuguesa. F percebe e observa os
interlocutores. Olha para a pesquisadora e faz o sinal de [COMIDA] quatro vezes.
A me sinaliza para que ele coma com calma. F aponta para a estante que est a sua
frente, levanta e pega o brinquedo (cachorro). Chama a ateno da me. Levanta e pega o
cachorro e coloca-o em cima da mesa junto com a comida. Levanta, pega a chupeta no sof,
coloca na boca. Aponta para o cachorro. A me diz para ele voltar a comer. Retira a chupeta.
A me d comida para o filho, pega a gua e coloca na mesa. F bebe. A me volta a dar
comida ao filho. F pega algo no prato, vai para o quintal, volta e sinaliza para a me:
[JOGAR+ L]. A me faz um sinal de positivo e sinaliza que est sujo. F corre para o
quintal. A me levanta e vai atrs do filho, F j est brincando com uma menina. A me pega
o filho no colo, pede um beijo no rosto e diz para ele voltar a comer. Coloca o filho no cho.
F corre em direo a uma bicicleta, chama a ateno da pesquisadora. F aponta para a
bicicleta, chama a ateno da me, pega a bicicleta. A me traz o prato de comida e tenta dar
ao filho. F encontra, no quintal, um filhote de cachorro, pega-o com as mos, coloca-o no
cho, volta a segurar o filhote. Olha para a pesquisadora. Leva o filhote para dentro da casa.
Pega o cachorro de brinquedo, leva para fora da casa, coloca no cho. A me tentar dar
comida ao filho. F tenta pisar no cachorro de brinquedo, a me o repreende. F pega o
cachorro de brinquedo, coloca em cima de uma cadeira, depois brinca com a cadeira,
empurrando-a. A me toma a cadeira da mo do filho. F caminha em direo aos cachorros
(filhote e de brinquedo), pega o filhote nas mos, joga-o no cho. A me o repreende, F pega
novamente o filhote, se ajoelha no cho e fica ao lado do prato de comida, oferecido pela me.

Data da filmagem: 16/04/2009


Idade: 1;11
Local: Residncia de F - Feira de Santana-BA

89

Grfico 2: Produo do Dia 16/04/2009

A Tabela 2 mostra os nmeros de sinais produzidos por F na sesso de interao


ocorrida em 16/04/2009, em relao ao type e ao token do item lexical:

Tabela 2: Relao dos Sinais Produzidos no dia 16/04/2009.

RELAO DOS SINAIS PRODUZIDOS POR F NO DIA 16/04/2009


SINAIS COM
SINAIS CONFORME
N.
N.
SUBSTITUIO
PADRO ADULTO
Token
Token
Types
Types
QUENTE
2
SINAL DO PAI
1
BANHEIRO
1
ESPERAR
3
DERRUBAR
1
POSITIVO
1
OUTRO
1
NEGATIVO
1
BOLA DE SOPRAR
1
TCHAU
2

F est andando em um triciclo na rua onde mora. A me est do seu lado. Chama a
ateno do filho e sinaliza que ele d a volta. F d a volta, retorna. A me sinaliza que ele
deve brincar prximo da casa e diz que est indo embora. D tchau. F demonstra irritao. A
me chama a ateno do filho, toca nele e sinaliza [VENHA, VAMOS PARA CASA]. A me
sinaliza para a pesquisadora: [QUE MENINO TEIMOSO!].

90

F anda com o triciclo. A me sinaliza para ele ir para casa. F aponta para um carro
estacionado na calada. A me sinaliza [ DO VOV, A CHAVE EST L DENTRO]. F
caminha com o triciclo. A me chama o filho e sinaliza [CASA]. F caminha com o triciclo e
faz sinal do pai dele [PAI]. A me brinca com o filho e sinaliza que vai para o carro. Sinaliza
[TCHAU]. F volta com o triciclo, corre em direo ao carro, aponta para o carro, sinaliza
[TCHAU] para a me, sai, toca no carro e sinaliza duas vezes [QUENTE] [mo direita em C,
palma para esquerda em frente a boca. Move a mo lentamente para a direita]
A me sinaliza: [MORRER. EST QUENTE L DENTRO]. F corre em direo ao
triciclo. A me caminha atrs do filho. F corre. A me chama a ateno do filho, tocando-o no
brao. F caminha com o triciclo. A me puxa o triciclo para o canto da rua. Faz o sinal de
carro, F demonstra irritao. Um carro passa por ele, enquanto a me sinaliza: [CARRO
PODE BATER!]. F volta a caminhar com o triciclo.
A me sinaliza para a pesquisadora: [ELE J SABE O SINAL QUENTE E GELADO].
Chama a ateno do filho e sinaliza para ele ir para casa, faz o sinal [CANSADA]. F no d
ateno e segue com o triciclo. F encosta-se em um porto, a me sinaliza: [OLHA O
CACHORRO!] e F sai de junto do porto. A me volta a sinalizar para o filho: [OLHA O
CARRO DO SEU TI@19!], apontando para um carro. Um amigo ouvinte passa por F e o
cumprimenta. F sinaliza [TCHAU] para a me e vai em direo ao amigo. F vai para a frente
da mercearia da av, brinca com o triciclo e com a me.
F brinca em frente mercearia da av. A me est do seu lado. A me toca no filho para
chamar a ateno dele e informa para ele no ir para a rua. F caminha em direo a um carro
que est estacionado em frente a mercearia. A me sinaliza que a chave est com o/a ti@ de
F. A me oferece uma moeda para o filho e diz que ele d av. F caminha com o triciclo, a
me toca no brao do filho para chamar a ateno e sinaliza para ele ir buscar a bola de
soprar. F levanta do triciclo e faz o sinal icnico de [ESPERAR]. Aponta para o triciclo
indicando para a me olhar o brinquedo, caminha em direo a mercearia, volta e sinaliza um
sinal classificador20 de [DERRUBAR]/mos abertas, palma para dentro na altura do ombro,
movimento para baixo/, conforme padro adulto.
19

20

O uso da @ significa que a me no especificou o gnero.

Na LIBRAS, os sinais classificadores so configuraes de mos que, relacionadas coisa, pessoa e animal,
funcionam como marcadores de concordncia. No se deve confundir os classificadores, que so algumas
configuraes de mos incorporadas ao movimento de certos tipos de verbos, com os adjetivos descritivos que,
nas lnguas de sinais, por estas serem espao-visuais, representam iconicamente qualidades de objetos. (FELIPE,
2000)

91

F volta, retira o triciclo de cima do degrau e coloca-o no cho. A me novamente toca-o


no brao e faz o sinal de [BOLA DE SOPRAR] quando o filho olha para ela. F aceita o
brinquedo e faz o sinal [BOLA DE SOPRAR] /mo direita em S, dedo indicador e polegar
esticados e unidos. Toca a ponta dos dedos nos lbios. Bochechas infladas/. E novamente faz
o sinal icnico de [ESPERAR]. Caminha at a porta da mercearia e faz o sinal icnico de
[POSITIVO], volta e balana a cabea em sinal de afirmativo para a me e novamente realiza
o sinal icnico [ESPERAR]. Ele retorna, traz um objeto nas mos, um suco de caixa, a me
sinaliza que o outro objeto. F aponta para o objeto e sinaliza [OUTRO?].
F volta para a mercearia e traz um outro tipo de suco de caixinha, d me, que sinaliza
que est fazendo muito sol e calor e pede para o filho ir para sombra. F pega o triciclo com a
ajuda da me e coloca-o na sombra. A me abre a caixinha do suco e d ao filho. F bebe o
suco enquanto caminha novamente com o triciclo.
A me sinaliza para o filho se ele quer biscoito. F no responde. A me olha para a
pesquisadora e sinaliza que est cansada. Chama o filho e sinaliza: [VAMOS PARA CASA
ASSISTIR TELEVISO. NO FEIO, NO FAZ ISSO] enquanto F mastiga a caixa do
suco. F caminha com o triciclo para a frente do bar, junto mercearia. A me o acompanha e
no deixa o filho sair ao sol. Sinaliza: [EST CALOR, O SOL EST FORTE].
F brinca com a caixinha do suco, entrega para a me, caminha em direo a uma
bicicleta e um garoto. Aponta para a bicicleta e a me sinaliza para o filho no mexer, mas
mesmo assim ele o faz. A me sinaliza que o garoto ficar com raiva. Pega o filho no colo, F
chora, a me aponta para a filmadora e F observa.
Na frente do bar, F encontra o av materno, que ouvinte, e comea a brincar com o
neto, dando-lhe a chave do carro. F corre em direo ao carro do av e tenta abri-lo com a
chave, no consegue e realiza o sinal icnico de [NEGATIVO]. A av materna, que est
prxima ao neto, fala para ele em lngua portuguesa: [Ah, t ruim ] e sorri.
F corre em direo ao av, que tenta interagir atravs de gestos21. O av abre a porta do
carro. F chama-o para entrar. F entra no carro e brinca com o volante, tenta fechar a porta,
mas a me informa que ir fazer muito calor com a porta fechada. A me de F chama a
ateno da pesquisadora com a chegada de um garoto, informando que o mesmo surdo.

21

Entendemos GESTOS como movimentos do corpo com o objetivo de exprimir mmica, pantomima, com que
o orador dramatiza um discurso, no se constituindo um SINAL das lnguas visuoespaciais, pois no pertencem
ao conjunto de unidades distintivas caracterstico dos Sinais.

92

O garoto comea a interagir com F atravs da LIBRAS. A pesquisadora sinaliza para o


garoto e pergunta qual o nome dele. O mesmo responde que o nome dele L.
L interage com a me de F. Ambos conversam em lngua de sinais. E pergunta se o
garoto no foi para a escola e ele responde que tem cerca de nove dias que no h aula. E
reclama do Sol forte. L tenta fechar a porta do carro. E diz que o filho sabe abrir a porta do
carro. Pega o filho no colo e informa que est muito quente.
F interage com L. Ambos disputam o triciclo. F reclama com L, censurando-o por
pegar o triciclo. F entra na mercearia da av. L interage com a pesquisadora e chama a
pesquisadora para junto de F. F sinaliza [BANHEIRO] /: Mo esquerda horizontal em C,
palma para a direita; mo direita horizontal em A, fechada, palma para baixo. Toca a mo
direita no brao esquerdo] e aponta para casa. L sorri e interage com a pesquisadora,
informando que F fez o sinal errado de banheiro. F corre para o banheiro.

Data da filmagem: 20/06/2009


Idade: 2;1
Local: Curso de Licenciatura em Letras - LIBRAS - Polo
UFBA Salvador-BA.

Grfico 3: Produo do Dia 20/06/2009

A Tabela 3 mostra os nmeros de sinais produzidos por F na sesso de interao


ocorrida em 20/06/2009, em relao ao type e ao token do item lexical:

93

Tabela 3: Relao dos Sinais Produzidos no dia 20/06/2009.

RELAO DOS SINAIS PRODUZIDOS POR F NO DIA 20/06//2009


SINAIS COM
SINAIS CONFORME
N.
N.
SUBSTITUIO
PADRO ADULTO
Token
Token
Types
Types
GUA
5
BEBER
2
GOSTOSO
1
POSITIVO
1
LEITE
1
CAD?
1
APANHAR
1
TCHAU
1
SINALIZAR
1
CAIR
2
BEB
1
LEVANTAR
2
ESPERAR
2
MEU
2
SINAL F
1
DORMIR
1
SILNCIO
1
LUZ
1
QUEBRAR
1
DOIS
2
TRS
2
J
2
VIR
1
CARRO
1
ACHOCOLATADO
1

F interage com o aluno M, surdo. F faz meno de colocar o dedo na tomada. M finge
colocar o dedo na tomada e levar um choque. F observa, M novamente finge levar um choque
e faz o sinal de [ELETRICIDADE]. Novamente, F faz meno de colocar o dedo na tomada.
M sinaliza [NO]. F aponta para M colocar o dedo na tomada, M sinaliza que no ir colocar
o dedo e diz para F colocar e pergunta se ele est com medo. M o repreende e diz para ele no
colocar o dedo. F caminha pela sala, observa a apresentao de um grupo. O grupo est
apresentando o tema do Uso de espao de sinalizao por surdos e ouvintes, enquanto isso
F est no colo da me, que pede ao filho para observar a apresentao do grupo. F observa
tudo atentamente. O grupo finaliza a apresentao e recebe os cumprimentos dos colegas. F
continua observando.
F vai para o colo da aluna MS. Ela brinca com F. MS chama a ateno de F tocando no
brao dele. MS brinca com F utilizando as mos como forma de interao. Ela mexe os dedos
na cadeira, F imita e mexe na cadeira da frente. A garrafa com gua que est na cadeira cai no
cho. MS sinaliza [ MINHA GUA]. F sinaliza: [BEBER]. Ele desce do colo de MS e pega

94

a garrafa de gua no cho. F mostra a garrafa para MS e sinaliza [BEBER]. MS estende a


mo pedindo a garrafa. F tenta colocar a garrafa embaixo da carteira, a garrafa cai, MS pega a
garrafa e coloca na carteira. F sinaliza [POSITIVO]. MS chama F, ele se abaixa, brinca com
a garrafa, pega o objeto e estende para MS. F sinaliza [GUA]22: /Mo direita aberta, dedos
unidos, palma para a esquerda, ponta do polegar esticado e tocando o queixo. Balana os
dedos para a esquerda/. Ele brinca e finge derramar a gua. MS informa que a gua dela. Ele
tenta colocar a garrafa em cima do brao da carteira, retira e sinaliza: [CAIR]. Pega
novamente, coloca no brao da carteira que MS est sentada. MS segura a garrafa, F bate no
assento da cadeira que est a sua frente, indicando para MS colocar a garrafa no local. MS
deixa a garrafa no assento e pega F no colo. F pega a garrafa e brinca com MS. MS realiza
sinais nonsense-sign23 e F os repete. Ambos brincam com a garrafa. MS finge pegar gua
da garrafa e coloca na cabea de F. F repete a mesma brincadeira. Ambos brincam com o
objeto. F finge dar gua para MS, como se fosse uma mamadeira. F faz o sinal de [GUA].
MS sinaliza [GUA GOSTOSA]. F finge novamente dar gua para MS. F finge beber a gua
na garrafa. F observa os outros alunos. F pega uma sacola de papel, brinca. Observa uma
filmagem que est sendo apresentada no telo. Chama a ateno de MS tocando-a. F sinaliza
[GOSTOSO] /mo direita horizontal aberta, dedos estendidos, polegar e dedo indicador
unidos, palma para o lado. Passa o polegar e o indicador unidos abaixo do lbio inferior, da
esquerda para a direita/, olhando para a garrafa com gua.
Volta a brincar com a garrafa e com MS. Observa os alunos sinalizando. Volta a brincar
com MS. A garrafa cai, F faz o sinal de [GUA]. MS brinca com F e diz que a garrafa
sumiu. F sinaliza [CAD?]. F novamente sinaliza [GUA]. MS brinca de esconder a garrafa
e sinaliza o verbo [ENCONTRAR], apontando para o objeto. Uma outra aluna, J, pega a
garrafa do cho e sinaliza [GUA], d a garrafa para ele e o mesmo joga o objeto no cho. F
continua brincando com o objeto. Sai do colo de MS e sinaliza: [TCHAU]. Pega a sacola e
com o corpo sinaliza [CAIR]. Entrega a sacola para a aluna C. Volta a brincar com MS. Faz o
sinal [LEVANTAR]. Mas as alunas entendem que ele est sinalizando [CALOR]. F caminha
at a aluna Y e interage com ela. Novamente F faz o sinal [LEVANTAR], empurrando as
cadeiras. Brinca. MS pega-o no colo. Coloca-o no cho, ele volta a brincar com a cadeira. MS
pergunta se ele vai brincar de carro e F sinaliza [ESPERAR], volta a brincar com a cadeira e

22

Todas as vezes que F sinalizou GUA ele apresentou o mesmo tipo de substituio: /Mo direita aberta, dedos
unidos, palma para a esquerda, ponta do polegar esticado e tocando o queixo/. Balana os dedos.
23

Ver definio na pgina 78. Essa nomenclatura pode ser aplicada a todas as lnguas de sinais.

95

com livros dos alunos. F brinca de se esconder atrs da cadeira, interagindo com o aluno G. F
volta a interagir com MS, faz o sinal [LEVANTAR] e aponta para outra cadeira, indicando
que MS deve ir para l. MS levanta, mas senta na mesma cadeira. Ele volta a brincar de se
esconder com o aluno G. Brinca com MS que atende ao pedido e senta no cho com ele.
Ambos esto sentados no cho. F interage com ED. ED apresenta uma nova garrafa de
gua para F. Ele diz que a outra dele, fazendo o sinal [MEU] e pede a garrafa de ED.
Aponta para a segunda garrafa e faz o sinal de [GUA]. Faz o sinal de [DORMIR], fechando
os olhos, aponta para um outro beb que est na sala e faz o sinal de [ESPERAR]. Volta a
sentar no cho e pede que MS sente-se junto a ele. Volta a brincar de esconde-esconde com
G. MS aponta para a segunda garrafa de gua e faz o sinal [LEITE]. F repete o sinal:
[LEITE] /mo direita em S horizontal, palma para dentro, move para cima e para baixo com a
mo fechada/.
F levanta, caminha at ED, pega a garrafa que est na mo dela e oferece para a
pesquisadora. Volta a brincar com MS, senta no cho, aponta para a primeira garrafa e
sinaliza [MEU]. F levanta e chama MS para acompanh-lo. Ambos caminham pela sala. MS
pega F no colo e o mesmo interage com P. P faz o sinal de [APANHAR] e F tenta repetir o
sinal [APANHAR] /Mo direita aberta, palma para dentro, balana a mo para cima e para
baixo/. P sinaliza: [MAME CAD?] e F aponta para a frente, desce do colo de MS,
caminha em direo ao beb e faz o sinal de [SILNCIO]. Aponta para o beb e sinaliza:
[BEB] /mo esquerda sobre a mo direita, encostadas ao peito, balana o corpo para
esquerda e para direita/. Faz o sinal novamente de silncio e aponta para o beb. MS pega F
no colo e caminha para fora da sala. MS caminha com F no colo e sinaliza [PERIGOSO],
perto do parapeito. Ambos caminham pela Universidade, F faz apontao para objetos.
Aponta para a luz e sinaliza [LUZ]. Continua caminhando pelo corredor da Universidade.
Entra no banheiro feminino, sai, caminha pelo corredor e MS o pega no colo. Eles voltam
para a sala do Letras LIBRAS. F interage com a pesquisadora que mostra um colar a F, e
ele realiza o sinal [QUEBRAR]. A pesquisadora sinaliza [SIM, QUEBRAR. VOC
QUEBRAR ANTES, LEMBRAR?] depois informa para F prestar ateno s pessoas que
esto apresentando um trabalho em lngua de sinais. F faz o sinal de [SINALIZAR] /mos
horizontais abertas, palma a palma. Move lentamente a mo direita para frente e para trs.
Permanece com a esquerda aberta, movendo-a lentamente aps mover a mo direita/. Desce
do colo de MS, corre pelo corredor.

96

Todos brincam de correr: MS, ED e F. MS sinaliza [UM, DOIS, TRS, J] para que
todos comecem a correr. F sinaliza [DOIS, TRS, J] para comear a correr. F volta para o
local de partida, sinaliza os nmeros cardinais [DOIS, TRS] e logo aps o sinal [J] + sinal
[F] e corre. O aluno MR, tio de F, surdo, aparece no corredor e comea a brincar com o
sobrinho. Eles brincam de correr. F chama ED para brincar, realizando o sinal [VIR]. Todos
brincam. F olha para a cmera e faz o sinal: [POSITIVO]. Todos voltam para a sala de aula.
Os alunos esto reunidos na sala no momento do intervalo. F vai para o colo da me, coloca
as mos nos lbios simbolizando [ACHOCOLATADO]. A aluna J mostra uma caixa de
achocolatado lquido. A me de F pergunta as horas e J responde que so 11h30min. A me
de F repete o sinal que o filho fez para achocolatado e sinaliza [NO, J QUASE MEIO
DIA]. F mexe na mochila, procurando algo para comer. A me sinaliza. [NO, LANCHE
CASA. VOC COMER RESTAURANTE]. J brinca com F e com a me dele, ele se irrita e J
pergunta se ele est com cime da me. F volta a brincar com a mochila. Desce do colo da
me, caminha para fora da sala, v o carro do beb e sinaliza [CARRO].

Data da filmagem: 10/10/2009


Idade: 2;4
Local: Casa de F - Feira de Santana-BA

Grfico 4: Produo do Dia 10/10/2009

A Tabela 4 mostra os nmeros de sinais produzidos por F na sesso de interao


ocorrida em 10/10/2009, em relao ao type e ao token do item lexical:

97

Tabela 4: Relao dos Sinais Produzidos no dia 10/10/2009

RELAO DOS SINAIS PRODUZIDOS POR F NO DIA 10/10/2009


SINAIS
SINAIS COM
N.
CONFORME
N.
SUBSTITUIO
Token
PADRO ADULTO
Token
Types
Types
LARANJA
1
PSSARO
4
MACACO
13
CASA
1
TARTARUGA
1
MULHER
1
BORBOLETA
2
DOCE
2
COELHO
2
PEIXE
1
GIRAR
1
MOTO
1
L
5
EU
1
VER
3
ALI
4
DEFEITO
2
BOM
4
COMER
7
IR EMBORA
2
CAIR (CL)
3
FOCA
1
ELA
1
LARANJA
1
TELEVISO
1
CARRO
2
HOMEM
1
COMPUTADOR
2
URSO
1
MEU
1
CAD?
3
POSITIVO
10
BALEIA
1
BONITO
2
AMASSAR
3
JOGAR FORA
1
BANANA
5
ACABAR
2
CORRER (CL)
1
NO GOSTAR
1
CACHORRO
3

F est na varanda da casa interagindo com o intrprete de lngua de sinais, Sr. ER que
mostra para F uma srie de gravuras em cartolina vermelha, produzidas pela pesquisadora, e
emborrachados EVA com figuras de animais, levados pela pesquisadora. A primeira gravura
um cachorro. ER mostra para F e pergunta o que . F sinaliza [CACHORRO]. A segunda

98

gravura um computador. F observa e sinaliza [TELEVISO]. O intrprete informa para ele


o sinal correto [COMPUTADOR]. A terceira figura um carro e F sinaliza [CARRO]
conforme padro adulto. A quarta figura um pssaro e F sinaliza [PSSARO] corretamente.
A quinta figura a ilustrao de uma casa com um carro na garagem e F sinaliza [CARRO] e
aponta para o telhado da casa. O intrprete sinaliza [CASA] e F repete o sinal: [CASA]
corretamente. F aponta novamente para a figura cachorro e repete o sinal do animal. A sexta
gravura um conjunto de bombons, F observa a gravura, pega um emborrachado com a figura
de um coelho. O intrprete pergunta o que F est segurando nas mos e F no responde. O
intrprete sinaliza [COELHO]. F tenta repetir o sinal [COELHO] /mos abertas, palma para
frente, tocando cada lado da cabea, dedos separados. Balana dedos para cima e para baixo/.
A tia de F chega e comea a interagir com o garoto. Ela surda e s se comunica em
LIBRAS. A stima gravura tem a foto de uma mulher. A tia pega essa gravura e mostra ao
sobrinho. Ele sinaliza [MULHER]. A oitava gravura mostrada pela tia a foto de um
homem. F v e sinaliza [HOMEM]. A tia mostra uma gravura de um copo de suco de laranja,
com uma laranja ao lado do copo, F observa e sinaliza [LARANJA] /Mo direita em A
vertical, palma para dentro diante da boca. Toca ligeiramente a mo nos lbios/. A tia sinaliza
[DOCE] e ele repete o sinal [DOCE].
O intrprete volta a interagir com o garoto e mostra para ele a nona gravura: um
notebook. F sinaliza [COMPUTADOR]. O intrprete volta a mostrar a segunda gravura para
F e o mesmo sinaliza [COMPUTADOR]. F volta a observar a gravura com o suco de laranja,
mostra para o intrprete e sinaliza [DOCE]. O intrprete mostra o desenho da laranja ao lado
do copo e faz [LARANJA]. F observa e sinaliza [LARANJA].
A tia de F entra na casa e retorna com uma srie de gravuras em papelo, mas F rejeita,
afastando-as com a mo, enquanto segura um emborrachado com a figura de um golfinho. F
aponta para o golfinho e faz o sinal [PEIXE].
F brinca com outros emborrachados. Pega a figura de uma baleia e faz o sinal de
[COELHO] como descrito anteriormente. O intrprete faz o sinal correto [BALEIA] e F
repete o sinal observado [BALEIA]. F pega o emborrachado de foca, mostra para o intrprete
e ER sinaliza [FOCA]. F repete o sinal [FOCA]. F voltar a pegar o emborrachado de peixe e
faz o sinal: [BALEIA].
ER mostra para F o emborrachado de urso. F pega da mo do intrprete, aponta para o
emborrachado e olha para o intrprete. ER sinaliza [URSO]. F repete corretamente: [URSO].

99

A outra figura mostrada pelo intrprete uma tartaruga. F sinaliza [TARTARUGA] /mos em
A horizontal, palmas para dentro. Segura o polegar da mo esquerda com o polegar da mo
direita. Balana o polegar direito para cima e para baixo/.
O intrprete mostra o emborrachado de borboleta. F observa e sinaliza [BORBOLETA]
/mo esquerda aberta, palma para frente, dedos semicurvados, polegar distendido. Mo direita
segurando o polegar da mo esquerda. Balana os dedos da mo direita para cima e para
baixo/.
ER mostra um emborrachado de um pssaro para F que sinaliza novamente
[BORBOLETA], conforme a descrio anterior. O intrprete demonstra para F o sinal
correto e F sinaliza [PSSARO]. A tia oferece um copo com gua para F. F coloca os
emborrachados no cho, volta a coloc-los sobre a mesa, brinca. Um rapaz com uma criana
chega ao local. F os observa. Volta a brincar com os emborrachados. O intrprete pergunta a
F de quem o velotrol que est prximo a eles. F sinaliza: [MEU]. F aponta para um
capacete que est na janela e sinaliza [MOTO]. Intrprete e F brincam com o velotrol e com
o capacete. Em determinado momento F aponta para o cu e sinaliza: [L PASSARO EU
POSITIVO VER] e aponta para o emborrachado com o desenho do pssaro e olha para o
cu. F volta a sinalizar para o intrprete: [VER L!], apontando para o cu. O intrprete olha
para o cu. F sinaliza [L VER POSITIVO?], com expresso interrogativa. O intrprete
sinaliza [VER L, PSSARO L]. F responde [PSSARO L!].
Intrprete e F voltam a brincar. Enquanto brincam, surge no varal do quintal, um mico
(sagui), o intrprete mostra o animal para F, que fica surpreso. ER sinaliza [MACACO] para
F, que repete [MACACO] /mos em C, a cada lado da cabea, dedos separados. Movimenta
os dedos simulando coar. Bochechas infladas/. Ele volta a olhar para o local onde o mico
estava, aponta para o local, mas no encontra o animal. Olha para ER pergunta: [CAD?]. F
vai para o quintal procura do mico com ER. ER vai ao encontro do mico na rvore, chama a
ateno de F, tocando no seu brao, sinaliza: [EST ALI]. F observa. ER sinaliza
[MACACO]. F aponta para o mico e sinaliza: [MACACO] /conforme descrio anterior/.
Ambos continuam olhando para o mico, que novamente some. ER sinaliza [CAD
MACACO, CAD?]. F sinaliza: [CAD MACACO?]. F continua a olhar para a rvore, este,
ao encontrar o animal, sinaliza: [ALI, MACACO] e continua a observar o mico. F aponta
para sua prpria camisa que tem uma foto de um polvo e aponta para o mico. Olha para a tia,
aponta para o mico e sinaliza: [BONITO ALI, MACACO] /conforme descrio anterior/. F
olha novamente para a rvore, mas no encontra novamente o mico, este volta para a varanda

100

da casa, ER o acompanha. Chegando varanda, ER sinaliza: [MACACO], F observa e volta


a brincar com os emborrachados. Pega o emborrachado de coelho, entrega para o intrprete,
que segura e sinaliza: [O QUE ISSO?]. F mostra uma figura na cartolina para ER, que
pergunta: [O QU?]. ER pega a figura da mo de F e sinaliza: [O QU?], F observa e pega
uma outra cartolina com uma gravura de um cachorro. ER pega da mo de F e sinaliza: [O
QU?], F sinaliza [CACHORRO]. ER elogia e faz o sinal: [POSITIVO] para F, que pega
outra cartolina com figura de bombons e comea a enrolar a cartolina. Ambos brincam de
binculo. Aps isso, F comea a amassar a cartolina, sua tia o repreende. F desamassa a
cartolina e mostra para ER, que pega da sua mo e sinaliza [DEFEITO]. Mostra para F outra
cartolina lisa e faz o sinal de [POSITIVO]. F aponta para a cartolina amassada, sinaliza:
[AMASSAR, DEFEITO]. ER confirma, sinalizando: [POSITIVO, DEFEITO]. F aponta
para a cartolina lisa e sinaliza: [POSITIVO]. Novamente F aponta para a cartolina amassada,
sinaliza: [AMASSAR, DEFEITO], voltando a ateno para a cartolina lisa, faz o sinal
[POSITIVO]. F aponta novamente para a cartolina amassada e sinaliza: [AMASSAR] e
depois aponta para a cartolina lisa e mostra para ER que sinaliza: [BOM]. F observa e
sinaliza: [BOM, POSITIVO]. Ambos continuam a brincar com as figuras nas cartolinas. F
aponta para os emborrachados, pega alguns e tenta montar.
ER mostra para F a cartolina amassada e sinaliza: [DEFEITO], mostra a cartolina lisa e
sinaliza: [BOM POSITIVO]. F observa, olhando para a cartolina lisa sinaliza: [BOM
POSITIVO]. ER mostra a cartolina amassada e sinaliza para jogar fora. F sinaliza: [JOGAR
FORA]. F observa a pesquisadora filmando, depois volta a brincar com os emborrachados.
Novamente aparece o mico (sagui) e ER mostra-o para F, que observa e pega um
emborrachado, leva este at a boca, indicando que para o mico comer e o estende em
direo ao mico, ER sinaliza: [COMER]. F aponta para o emborrachado e sinaliza:
[COMER]. ER sinaliza: [COMER? NO. BANANA!]. F aponta para dentro da casa e
sinaliza [COMER BANANA] e aponta para o mico. Olha para ER, volta a olhar para o mico
e sinaliza: [COMER]. Olha para ER e sinaliza: [MACACO] /como j descrito anteriormente/,
chama a ateno da pesquisadora e novamente sinaliza [MACACO L]. Olha o mico e para
ER e aponta novamente para o mico, volta a procur-lo. Olha para a pesquisadora e sinaliza:
[CAD MACACO?], volta a procur-lo. Aponta para a rvore, olha para ER e sinaliza
[MACACO]. ER sinaliza [CAD MACACO?]. F volta a brincar com os emborrachados,
pega um e leva at a direo da boca, apontando na direo onde se encontrava o mico. ER
toca no brao de F e sinaliza: [BANANA CAD?]. F sinaliza: [BANANA] e vai para dentro

101

da casa. ER sinaliza para a tia e para outra intrprete que est ao lado que F foi buscar uma
banana.
F volta de dentro da casa, ER sinaliza: [BANANA DAR MACACO]. F sinaliza
[BANANA] e aponta para o local onde o mico estava. ER toca no brao de F e sinaliza:
[COMER ELE MACACO BANANA, COMER-BANANA CAD? (ER usa CL para
descrever COMER-BANANA)]. F sinaliza: [COMER MACACO COMER- BANANA (F
usa CL para descrever COMER-BANANA)]. ER confirma a sinalizao de F e sinaliza
[BANANA]. F volta a olhar para o local onde o mico estava, olha novamente para ER e
sinaliza: [COMER-BANANA (F usa CL para descrever COMER-BANANA). ER sinaliza:
[BANANA CAD] para F, este sinaliza: [COMER]. Aponta para um emborrachado e aponta
para aonde o mico estava. Olha para ER, este sinaliza: [BANANA, COMER-BANANA (ER
usa CL para descrever COMER-BANANA)]. F sinaliza: [COMER BANANA CAD? (F
usa CL para descrever COMER-BANANA)]. F pega um emborrachado leva-o at a direo
da boca e aponta em direo onde se encontrava o mico, sinaliza [MACACO] /conforme
descrito anteriormente/. ER sinaliza para F: [IR EMBORA], F sinaliza: [IR EMBORA,
CAD?].
Uma jovem entrega para a intrprete T o lanche de F. T repassa o lanche para ER, este
pega o lanche e mostra para F, que ao ver fica contente. ER sinaliza [COMER], pega o garfo
e brinca com F de aviozinho. F pega o garfo e coloca na boca. ER pergunta para F o que
ele estava comendo, este olha para o quintal e aponta para o local onde o mico estava, aponta
para o lanche, indicando que para o mico comer. ER informa que o mico foi embora, F
confirma sinalizando: [IR EMBORA]. F come o lanche, ao mesmo tempo em que brinca
com ER. F aponta para os emborrachados e olha para ER, que sinaliza o sinal da figura no
emborrachado. F come o lanche enquanto observa ER montar as figuras nos emborrachados.
F pega o emborrachado montado e realiza o sinal: [POSITIVO]. Pega outro emborrachado
montado na mo de ER e mostra para T, que balana a cabea e faz o sinal [POSITIVO] em
confirmao. F continua a brincar com os emborrachados, desmonta um e mostra para ER,
que lhe ensina como mont-lo. ER pede para F colocar o emborrachado em cima da mesa,
este o faz e consegue encaixar o emborrachado. Aps isso, sinaliza para ER: [POSITIVO].
ER sinaliza para F: [BONITO]. F repete o sinal: [BONITO] e continua a montar outro
emborrachado, ao conseguir, olha para ER e sinaliza: [BOM, POSITIVO]. ER sinaliza
[ACABAR], F sinaliza [ACABAR]. Pega outro emborrachado e continua a montar.

102

Novamente surge o mico numa rvore prximo varanda, ER chama a ateno de F,


tocando no seu brao e o mostra. F caminha at a rvore a aponta para o mico, este pula para
o cho e corre para outra rvore. F fica surpreso com o pulo do mico e o emita. Olha para ER
e sinaliza: [MACACO ALI]. Olha para T e sinaliza [MACACO], T aponta para o local onde
o mico est. F pula, simulando o pulo do mico. F olha para ER que aponta para o mico e
sinaliza: [CAIR (CL)]. F sinaliza: [CAIR (CL)]. O mico corre para outra rvore, ER sinaliza:
[CAIR (CL)]. F olha para ER e sinaliza [MACACO CAIR (CL) ALI, CAIR (CL)]. ER
chama a ateno de F e sinaliza: [VER CAIR (CL), CORRER (CL)]. F sinaliza: [CORRER
(CL)]. F volta montar os emborrachados. Aps terminar de montar um, sinaliza: [BOM,
POSITIVO]. Pega outro, mas encaixa errado. ER sinaliza: [NO, GIRAR (CL)]. F sinaliza
[GIRAR (CL)] /mo em L horizontal, palma para cima. Balana a mo pelo pulso para baixo
e retorna-a para cima/. Volta a montar o emborrachado. Ao terminar, ER sinaliza:
[ACABAR], F repete o sinal e sinaliza: [ACABAR]. F volta a montar outro emborrachado.
F interage com ER, com a pesquisadora, a tia, a av materna e algumas crianas que
chegam ao local. Em determinado momento, F olha para um beb (sua prima) que est no
colo da tia. F aponta para a prima e sinaliza: [NO GOSTAR ELA]. Todos acham graa e
sorriem da espontaneidade de F. Ele volta a interagir com brinquedos, os emborrachados e as
figuras.

Data da filmagem: 24/10/2009


Idade: 2;5
Local: Curso de Licenciatura em Letras - LIBRAS - Polo
UFBA Salvador BA

103

Grfico 5: Produo do Dia 24/10/2009

A Tabela 5 mostra os nmeros de sinais produzidos por F na sesso de interao


ocorrida em 24/10/2009, em relao ao type e ao token do item lexical:

Tabela 5: Relao dos Sinais Produzidos no dia 24/10/2009

RELAO DOS SINAIS PRODUZIDOS POR F NO DIA 24/10/2009


SINAIS COM
SINAIS CONFORME
N.
N.
SUBSTITUIO
PADRO ADULTO
Token
Token
Types
Types
SINAL NANCI 1
1
PAI
1
SINAL NANCI 2
2
MEU
3
GOSTOSO
1
IR
1
NEGATIVO
1
DOIS
1
EU
1
AMIGO
2
CAD
1
NO
1
CASA
1
POSITIVO
2

Na sala do Curso Letras LIBRAS, F interage com os alunos A, MA. MA pergunta onde
est o pai de F e ele responde [PAI MEU IR]. F anda pela sala, interage com o aluno N. F
empurra uma cadeira e N sinaliza [EMPURRAR NO PODE. EDUCAO! MAME
BATER. EDUCAO PRECISA] e F observa. Brinca com N e o mesmo pede para ele

104

esperar um pouco. F tenta ir para frente da sala, mas N o impede. F tenta chamar a ateno da
me, balanando os dedos e comea a empurrar uma cadeira. N olha para ele e diz pra ele
ficar quieto. Para ir ao encontro da me F tenta passar entre as cadeiras. A me dele sinaliza
que ele d a volta, ele obedece a ordem da me. F brinca. Interage com MR que pergunta
onde est a me dele [Mame, CAD?] e F aponta para a me. MR sinaliza [NO] e aponta
para aluna S. F olha para S e sinaliza [NEGATIVO]. MR confirma fazendo o mesmo sinal
de negativo. F observa todos ao redor. Brinca com MR. A me de F chama-o para mostrar
filmagens do filho feitas pela pesquisadora. F observa as imagens. MR tambm observa as
imagens, toca em F pelo brao e sinaliza [NANCI L]. F olha para a pesquisadora e sinaliza
[MEU], olha para a filmagem e sinaliza [EU]. F olha para a filmagem e faz o sinal [NANCI]
/mos em D, vertical, palma para dentro. Encosta a ponta dos indicadores nas bochechas, duas
vezes/.
F interage com a me. Observa novamente as filmagens. F senta no cho. MM comea
a interagir com F. MM diz para F ficar em p, F atende e MM aplaude. MM sinaliza
[IDADE VOC, IDADE?] e F responde [DOIS]. MM interroga [DOIS?] e diz [VOC
PEQUENO FORTE]. F sinaliza [AMIGO CAD?], MM aponta para a pesquisadora [L?] e
F responde [NO, AMIGO, CAD?] MM aponta para MA, fazendo o sinal. A aluna A
responde [CASA IR] e F repete [CASA]. A d um amendoim para F e ele sinaliza
[POSITIVO]. A sinaliza [GOSTOSO] e F faz [GOSTOSO, POSITIVO, GOSTOSO = /mo
direita horizontal aberta, palma para dentro. Passa o dedo indicador abaixo do lbio inferior,
da direita para esquerda/.
MM sorri. F interage com A, os dois comem amendoim. A manda F jogar o papel do
amendoim no lixo e F obedece.
F tenta pegar o notebook da pesquisadora. MM sinaliza [CUIDADO, CAIR, NO.
QUEBRAR. NANCI] e aponta para a pesquisadora. F olha para a pesquisadora e sinaliza:
[MEU]. MM e F interagem e brincam com o notebook. F olha para uma imagem no
notebook e faz o sinaliza: [NANCI] /Mo esquerda em N, vertical, palma para dentro. Encosta
a ponta dos dedos na bochecha esquerda, duas vezes/. Alguns alunos brincam com F. F sai da
sala com a me.

ANLISE DOS DADOS

A presente anlise utiliza princpios da Fonologia Natural, conforme apresentada


anteriormente. Assim, propomos um modelo de desenvolvimento fonolgico tendo como foco
os processos fonolgicos definidos como inatos e universais, que representam respostas
naturais a foras fonticas que j existem na capacidade humana para a articulao dos sinais.
As anlises das filmagens realizadas em 10/11/2008; 16/04/2009; 20/06/2009;
10/10/2009 e 24/10/2009 somam um total de 96 sinais (Grfico 6), sendo 20 sinais com
produes substituies fonolgicas e 76 produes conforme padro adulto. Esses dados
reafirmam a assertiva de que, a partir da instalao dos sistemas lexical e o fonolgico, a
criana vai ampliando seu legado lexical e, gradativamente, vai adquirindo uma maior
quantidade de traos. Selecionamos uma maior proporo de types de CM, M e PA, a fim de
obter amostras diversificadas das produes realizadas por F. Descartamos da anlise de
nossa pesquisa os sinais no visualizados claramente, em decorrncia de problemas da
qualidade da imagem e sinais repetidos.

Grfico 6: Total de Produes de Sinais Realizados

106

Grfico 7: Produo de Sinais por Categoria Conforme Padro Adulto

Dividimos os sinais produzidos por F em categorias semnticas (cf. Grfico 8),


substantivos (veculos, brinquedos, frutas, nomes prprios etc.); 2) qualidades e atributos; 3)
pronomes; 4) verbos; 5) sinais icnicos, classificadores, advrbios e locues adverbiais,
interjeies. F apresentou um maior nmero de configuraes de mos produzidas conforme o
padro adulto na categoria substantivos (28 produes), seguido dos sinais icnicos/
classificadores/ locues adverbiais/ interjeies/ numerais (17 produes, sendo 5 advrbios,
6 classificadores, 3 interjeies e 3 numerais); verbos (16 produes). Pronomes (7
produes). Qualidades/atributos (8 produes que apresentaram articulaes conforme
padro adulto.
O Grfico 8 apresenta um levantamento dessas mesmas categorias produzidas com
substituies fonolgicas. A categoria substantivos apresentou um nmero elevado de 13
substituies fonolgicas, seguida pela categoria de qualidades/atributos (4) e verbos (3),
sendo apenas duas ocorrncias para cada uma das ltimas categorias. As categorias de
pronomes e sinais icnicos, classificadores, advrbios, locues adverbiais no apresentaram
substituies de nenhum dos parmetros observados. Assim, F produziu um nmero
significativo de substituies fonolgicas dos substantivos, mas no produziu nenhum
pronome, sinal icnico, classificadores e advrbios com substituies fonolgicas.

107

Grfico 8: Produo de Sinais por Categoria Com Substituies Fonolgicas

O Grfico 9 traz as porcentagens de substituies realizadas pelos parmetros de CM, M


e PA:

Grfico 9: Produo de Sinais com Substituies Fonolgicas Pelos Parmetros de CM, M e PA

O Quadro 7 relaciona os sinais que apresentaram substituies fonolgicas dos


parmetros de CM, M e PA:

108

SINAIS COM SUBSTITUIES FONOLGICAS PELOS PARMETROS DE CM,


M E PA
CM
PA
M
GUA
BANHEIRO

MACACO

QUENTE
SINALIZAR

BOLA DE SOPRAR
COELHO
NANCI
Quadro 7: Sinais com Substituies Fonolgicas Pelos Parmetros de CM, M e PA

O Grfico 10 apresenta as porcentagens de substituies realizadas pelos parmetros de


CM e M; CM, M e PA; CM, PA.

Grfico 10: Produo de Sinais com Substituies Fonolgicas Pelos Parmetros de CM e M; CM, M e
PA; CM e PA

O Quadro 8, a seguir, nos fornece informaes sobre quais sinais foram produzidos com
substituies fonolgicas dos parmetros de CM e M; CM, M e PA; CM e PA:

109

SINAIS COM SUBSTITUIES FONOLGICAS PELOS PARMETROS DE CM E M; CM,


M E PA; CM E PA
CM e M
CM, M e PA
CM e PA
GOSTOSO/DELICIOSO

OBRIGADO

LEITE

BEB

CACHORRO

APANHAR
BORBOLETA
TARTARUGA
GIRAR (CL)
LARANJA
Quadro 8: Sinais com Substituies Fonolgicas Pelos Parmetros de CM e M; CM, M e PA; CM e PA

Em nossas anlises, observamos que Me e Filho formam uma dade de interao. Reafirmando Meier (2006), observamos que a me de F quase nunca sinalizou quando seu filho
no estava prestando ateno, i.e, quando no estava olhando para ela. F presta ateno
visualmente aos sinais produzidos pela me, que por sua vez sincroniza sua sinalizao com
os momentos que F est olhando para ela. Assim, a aquisio de sinais por F, durante este
perodo de desenvolvimento infantil at a presente data, tem se mostrado consistente, e
transcorrida de forma semelhante aquisio de uma lngua oral.
A partir dos grficos e tabelas apresentados acima, observamos que F realizou
substituio fonolgica em, no mnimo, um dos parmetros analisados. Afirmamos que uma
maior parte da produo de substituies fonolgicas em lnguas de sinais na faixa etria de
um ano e meio a dois anos e meio, em crianas surdas, filhas de pais surdos, adquirindo
lngua de sinais como primeira lngua, pode estar ligada a fatores motores que emergem das
produes dos primeiros sinais. As crianas surdas geralmente no possuem o controle da
motricidade da coordenao motora fina, necessria para produzir a matriz de determinada
configurao de mo no primeiro ano de vida da criana, assim, a coordenao motora grossa
ser bem desenvolvida antes do primeiro ano de vida. F foi mais preciso no que diz respeito
ao parmetro fonolgico de Ponto de Articulao, porm menos preciso no que diz respeito
aos parmetros fonolgicos de Configurao de Mos e Movimento. Fatores motores podem
oferecer uma explicao para a dificuldade relativa produo do parmetro configurao de
mo.
Seccionamos os sinais que apresentaram substituies fonolgicas com a descrio
qualitativa das substituies e dos traos distintivos alternados. Procuramos evidenciar o

110

inventrio fontico relativo a cada parmetro analisado, identificando as produes realizadas


com omisso ou substituio de, pelo menos, um dos parmetros de CM, M e PA. A descrio
da produo dos sinais produzidos por F ficou a cargo da pesquisadora. A descrio da
produo dos sinais visa a relacion-los com a complexidade de certos atos motores na
produo dos parmetros de CM, M e PA. Os sinais produzidos conforme padro adulto
foram retirados de Capovilla e Raphael (2008).
A descrio/anlise lingustica dos sinais produzidos foi realizada tendo como
parmetros referenciais parte do procedimento adotado em Karnopp (1994), em que a autora
descreve e analisa a aquisio do parmetro sublexical de Configurao de Mos de quatro
crianas surdas, filhas de pais surdos, adquirindo a Lngua Brasileira de Sinais.
Verificamos que a produo do parmetro fonolgico CM requer, por parte da criana
sinalizante, um controle maior da coordenao motora fina. F no apresentou problemas
motores, os quais poderiam interferir na produo dos sinais, mas apresentou no ter a
coordenao motora fina para a produo de determinadas Configuraes de mos. F utilizou
a CM com todos os dedos estendidos para o sinal GUA. Nesse sinal ele substituiu a
Configurao

L pela mo semiaberta. Uma possvel definio para essa produo que a

coordenao motora fina desenvolve-se mais tardiamente do que a coordenao motora


grossa, necessria para a configurao de mo em

L. Por no apresentar a coordenao

motora fina, ainda no consegue realizar alguns sinais com os dedos polegar e indicador
totalmente estendidos. O ponto de articulao e o movimento foram produzidos conforme
padro adulto (Fig. 30).

111

PADRO ADULTO ESPERADO24

SUBSTITUIO FONOLGICA DE CM

SINAL GUA: /Mo direita aberta, dedos


unidos,
palma para a esquerda, ponta do
SINAL GUA: /Mo direita em L, palma para a
esquerda, ponta do polegar tocando o queixo. polegar esticado e tocando o queixo. Balana
25
Balanar o indicador para a esquerda, duas os dedos para a esquerda/. (DQA)
vezes/.
Figura 30: Substituio Fonolgica de CM Sinal GUA
Fontes: CAPOVILLA e RAPHAEL, 2008 / Foto da Autora.

Ao sinalizar [OBRIGAD@], F substitui a CM de mo direita aberta pela configurao


C. Realiza o sinal com a mo no-dominante. Ele no move a mo em arco para frente e para
baixo. Em relao ao movimento, afasta a mo esquerda e a cabea ao mesmo tempo - cabea
para direita e mo para a esquerda, como mostra a Figura 31 a seguir:

24

A partir desta pgina as descries dos sinais conforme padro adulto sero apresentadas conforme
CAPOVILLA e RAPHAEL, v. 1 e v. 2 (2008). As produes de F sero descritas pela autora, sendo
identificadas pela sigla DQA (Descrio Quirmica realizado pela autora).

112

PADRO ADULTO ESPERADO

SUBSTITUIO FONOLGICA
DE CM, M E PA.

SINAL OBRIGAD@:
/Mo direita vertical aberta, palma para dentro, ponta dos
dedos tocando na testa, move a mo em arco para frente e
para baixo virando a palma para cima/.

SINAL OBRIGAD@
/Inclina a cabea para a esquerda, mo
esquerda em C na altura da orelha,
palma para dentro, ponta dos dedos
prximo a orelha esquerda, afasta a mo
esquerda e a cabea ao mesmo tempo cabea para direita e mo para
esquerda/.
(DQA)

Figura 31: Substituio Fonolgica de CM, M e PA - Sinal OBRIGADO


Fonte: CAPOVILLA e RAPHAEL, 2008 / Foto da Autora.

Ao sinalizar [BANHEIRO], verificamos que F substituiu o parmetro Fonolgico de


CM, mas a produo do ponto de articulao e o movimento foram produzidos corretamente.
Isso demonstra que a criana j reconhece, nessa fase inicial, a informao espacial e o
sentido do seu prprio corpo. F substitui a mo esquerda horizontal fechada, palma para baixo
pela mo esquerda horizontal em C, palma para a direita, mas tocou corretamente o ponto de
articulao (Fig. 32).

113

PADRO ADULTO ESPERADO

SINAL BANHEIRO: /Mo esquerda horizontal


fechada, palma para baixo; mo direita
horizontal fechada, palma para baixo, dedos
indicador e mnimo distendidos. Tocar as pontas
dos dedos no brao esquerdo, prximo ao
pulso/.

SUBSTITUIO FONOLGICA DE
CM

SINAL
BANHEIRO:
/Mo
esquerda
horizontal em C, palma para a direita; mo
direita horizontal em A, fechada, palma para
baixo. Toca a mo direita no brao esquerdo/.

(DQA)

Figura 32: Substituio Fonolgica de CM Sinal BANHEIRO


Fonte: CAPOVILLA e RAPHAEL, 2008 / Foto da Autora.

Na produo do sinal [CACHORRO], encontramos, na primeira ocorrncia, a


substituio de uma CM por outra, ampliando o uso de CM. Ocorreu a substituio do
parmetro fonolgico CM e M. Na segunda produo de cachorro, encontramos a mudana do
PA, podendo, de acordo com nossa viso, ser equivalente s distores que ocorrem na lngua
oral, assemelhando a um deslizamento do trao: mo esquerda vertical aberta, palma para
dentro, dedos separados diante da boca, afasta a mo da boca, aproxima novamente da boca,
mudando a configurao para D (Fig. 33).

114

PADRO ADULTO ESPERADO

SUBSTITUIO FONOLGICA
DE CM, PA

SINAL CACHORRO: /Mo direita vertical aberta, 1 SINAL CACHORRO:


palma para dentro, dedos separados e curvados, diante /Mo direita em D, palma para dentro
diante da boca semiaberta. Move
da boca. Mov-la ligeiramente para frente e para trs/.
ligeiramente a mo para frente e para trs
tocando os dedos na boca /.
2 SINAL CACHORRO26
/Mo esquerda vertical aberta, palma para
dentro, dedos separados diante da boca,
afasta a mo da boca, aproxima
novamente mudando a configurao para
D, move ligeiramente para frente e para
trs/.
(DQA)
Figura 33: Substituio Fonolgica de CM e PA Sinal CACHORRO
Fonte: CAPOVILLA e RAPHAEL, 2008 / Foto da Autora.

Na produo do sinal [BOLA DE SOPRAR] verificamos a possibilidade do sistema


lingstico de produzir apagamento da mo, sem interferir no significado. De acordo com o
padro adulto, a CM deve ser articulada com as duas mos, mas F utilizou apenas umas delas
para produzir o sinal (Fig. 34).

26

No apresentamos fotos do segundo sinal de Cachorro em decorrncia de problemas com luminosidade.

115

PADRO ADULTO ESPERADO

SINAL BOLA DE SOPRAR:


/Mos em S, dedo polegar e indicador esticados
e unidos, palma a palma. Encostar ponta dos
dedos nos lbios. Bochechas infladas/.
(DQA)

SUBSTITUIO FONOLGICA DE
CM

SINAL BOLA DE SOPRAR: /Mo direita em


S, dedo indicador e polegar esticados e unidos.
Toca a ponta dos dedos no lbio. Bochechas
infladas/.
(DQA)

Figura 34: Substituio Fonolgica de CM Sinal BOLA DE SOPRAR


Fonte: Fotos da Autora.

Na produo do sinal [QUENTE], F apresentou substituio do parmetro Orientao e


Movimento. No padro adulto deve-se mover a mo lentamente para a esquerda, F move a
mo lentamente para a direita.

PADRO ADULTO ESPERADO

SUBSTITUIO FONOLGICA DE
M

SINAL QUENTE: /Mo direita em C, palma para a SINAL QUENTE: /Mo direita em C, palma
esquerda ao lado direito da boca aberta. Mover a para esquerda em frente a boca. Move a mo
lentamente para a direita/.
mo, lentamente, para a esquerda/.
(DQA)
Figura 35: Substituio Fonolgica de M Sinal QUENTE
Fonte: CAPOVILLA e RAPHAEL, 2008 / Foto da Autora.

116

Ao produzir o sinal [DELICIOSO/GOSTOSO] pela primeira vez, F apresentou


substituio do parmetro Configurao de Mos e Orientao, concomitantemente. Na
segunda ocorrncia, F estende os dedos da forma correta, realiza a substituio do dedo mdio
pelo dedo indicador.

PADRO ADULTO ESPERADO

SUBSTITUIO
FONOLGICA DE CM e M

1 SINAL GOSTOSO/DELICIOSO:
SINAL GOSTOSO/DELICIOSO: /Mo direita horizontal /Mo direita horizontal aberta, dedos
aberta, palma para dentro. Passar o dedo mdio abaixo do estendidos, polegar e dedo indicador
lbio inferior, da direita para a esquerda/.
unidos, palma para o lado. Passa o
polegar e o indicador unidos abaixo do
lbio inferior, da esquerda para a
direita/.
2 SINAL GOSTOSO/DELICIOSO

/Mo direita horizontal aberta, palma


para dentro. Passa o dedo indicador
abaixo do lbio inferior, da direita para
esquerda/.
(DQA)
Figura 36: Substituio Fonolgica de CM, M - Sinal GOSTOSO/DELICIOSO
Fonte: CAPOVILLA e RAPHAEL, 2008 / Foto da Autora.

Observamos que F, ao articular [LEITE], produziu substituio do parmetro S. Ele no


abre e fecha a mo, conforme o esperado. A Figura 37 ilustra o sinal LEITE padro adulto
constitudo de movimento com trajetria, pois h a movimentao das mos abrindo e

117

fechando frente do peito ipsilateral, com suspenso do movimento na altura do abdmen,


mudando a configurao de C para S. F no articula a suspenso do movimento mudando a
configurao C, mas somente a CM em S.

PADRO ADULTO ESPERADO

SUBSTITUIO FONOLGICA
DE CM e M

SINAL LEITE: /Mo direita em S horizontal, palma SINAL LEITE: /Mo direita em S
para dentro. Mov-la para cima e para baixo, abrindo-a e horizontal, palma para dentro, move para
fechando-a, ligeiramente/.
cima e para baixo com a mo fechada/.
(DQA)
Figura 37: Substituio Fonolgica de CM, M - Sinal LEITE
Fonte: CAPOVILLA e RAPHAEL, 2008 / Foto da Autora.

A produo do sinal [BEB] configura-se em um movimento complexo produzido por


F, pois ambas as mos devem mover-se, sendo que a mo dominante deve agir sobre a mo
no-dominante. Mas o que verificamos com essa produo que o movimento que deveria ser
no brao, desliza para o corpo (F no balana os braos e sim o corpo), alm do que, a mo
no-dominante age sobre a mo dominante (Figura 38).

118

SUBSTITUIO FONOLGICA DE

PADRO ADULTO ESPERADO

CM, M e PA

SINAL BEB: /Brao esquerdo horizontal dobrado SINAL BEB: /Mo esquerda sobre a mo
em frente ao corpo, mo horizontal, palma para cima; direita, encostadas ao peito, balanando o corpo
brao direito horizontal, dobrado sobre o brao para esquerda e para direita/.
esquerdo, mo direita horizontal, palma para cima.
(DQA)
Balanar os braos para esquerda e para a direita/.
Figura 38: Substituio Fonolgica de CM, M e PA - Sinal BEB
Fonte: CAPOVILLA e RAPHAEL, 2008 / Foto da Autora.

Ao articular o sinal abaixo (Fig. 39), F deveria faz-lo com a mo dominante e a mo


no-dominante, movimentando-as simultaneamente. Os sinais produzidos com as duas mos
possuem as atividades representadas de maneira independente por meio de uma sequncia de
segmentos. Nesse caso, ocorreu um erro de simetria:

PADRO ADULTO ESPERADO

SUBSTITUIO FONOLGICA DE M

SINAL SINALIZAR: /Mos horizontais


abertas,
palma
a
palma.
Mov-las
alternadamente em crculos verticais para
frente, oscilando os dedos/.

SINAL SINALIZAR: /Mos horizontais


abertas, palma a palma. Move lentamente a mo
direita para frente e para trs. Permanece
com a esquerda aberta, movendo-a lentamente
aps mover a mo direita/.
(DQA)

Figura 39: Substituio Fonolgica de M - Sinal SINALIZAR


Fonte: CAPOVILLA e RAPHAEL, 2008 / Foto da Autora.

119

A sinalizao do verbo [APANHAR] consiste numa configurao de mo difcil para F


sinalizar, em decorrncia de o mesmo ainda no apresentar o controle da motricidade da
coordenao fina necessria para produzir a matriz dessa configurao de mo (Fig. 40) ou
consiste num caso de variao considerando a produo de forma dicionarizada.

PADRO ADULTO ESPERADO

SUBSTITUIO FONOLGICA DE
CM

SINAL APANHAR: /Mo direita e V, palma para SINAL APANHAR: /Mo direita aberta,
dentro. Girar a mo pelo pulso para baixo, batendo palma para dentro, balana a mo para
os dedos, duas vezes, com expresso de raiva/.
cima e para baixo/.
(DQA)
Figura 40: Substituio Fonolgica de CM - Sinal APANHAR
Fonte: CAPOVILLA e RAPHAEL, 2008 / Foto da Autora.

Ao produzir o sinal [LARANJA], novamente encontramos a substituio do parmetro


CM. F troca S por A, mas M e PA so produzidos conforme padro adulto:

PADRO ADULTO ESPERADO

SUBSTITUIO FONOLGICA DE
CM e M

SINAL LARANJA: /Mo direita em S vertical, SINAL [LARANJA]: /Mo direita em A


palma para esquerda diante da boca. Abrir e vertical, palma para dentro diante da boca. Toca
fechar ligeiramente a mo/.
ligeiramente a mo nos lbios/.
(DQA)
Figura 41: Substituio Fonolgica de CM, M - Sinal LARANJA
Fonte: Fonte: CAPOVILLA e RAPHAEL, 2008 / Foto da Autora.

120

Observando a sinalizao de [COELHO], verificamos que a configurao de mos em


U, palmas trs, sofreu um processo de simplificao fonolgica, j que menos complexo
produzir as mos abertas, com as palmas para frente (Fig. 42).

PADRO ADULTO ESPERADO

SUBSTITUIO FONOLGICA DE
CM e Or.27

SINAL COELHO: /Mos em U, palmas para SINAL COELHO: /Mos abertas, palma para
trs, tocando a cada lado da cabea. Balanar os frente, dedos separados, tocando a cada lado da
dedos duas vezes/.
cabea. Balana os dedos duas vezes/.
(DQA)
Figura 42: Substituio Fonolgica de CM - Sinal COELHO
Fonte: CAPOVILLA e RAPHAEL, 2008 / Foto da Autora.

Ao produzir [BORBOLETA], nota-se que F substitui mais uma vez o parmetro CM,
alm de no conseguir realizar o entrelaamento das mos na produo do sinal, conforme o
padro adulto, possivelmente por ainda no apresentar a coordenao motora fina necessria
para a realizao desse entrelaamento de dedos (Fig. 43).

27

Foi verificado que a produo do sinal [COELHO] tambm sofre modificao do parmetro fonolgico de
Orientao de mos, mas o mesmo no se incorpora aos grficos da nossa pesquisa por no se tratar de nosso
objeto de estudo.

121

PADRO ADULTO ESPERADO

SUBSTITUIO FONOLGICA DE
CM e M

SINAL BORBOLETA: /Mos horizontais


SINAL BORBOLETA: /Mo esquerda aberta,
abertas, palmas para dentro, dedos inclinados
palma para frente, dedos semicurvados, polegar
para cima, polegares destacados e entrelaados.
distendido. Mo direita segurando o polegar da
Balanar os dedos para trs e para frente/.
mo esquerda. Balana os dedos da mo direita
para cima e para baixo/.
(DQA)
Figura 43: Substituio Fonolgica de CM, M - Sinal BORBOLETA
Fonte: CAPOVILLA e RAPHAEL, 2008 / Foto da Autora.

A realizao do sinal [TARTARUGA] consiste em um sinal complexo de ser produzido


em decorrncia do estgio de motricidade da criana. Crianas na faixa etria de um a dois
anos, aproximadamente, desenvolvem a coordenao motora grossa antes de desenvolver a
capacidade de fazer pequenos movimentos precisos. Dessa forma, a produo de um sinal que
envolve um movimento interno, dedos curvados, , ainda, complexo para sua produo.
Da mesma forma que F no consegue realizar o entrelaamento dos dedos no sinal
[BORBOLETA], tambm no consegue produzir os dedos curvados apoiado sobre a mo
direita, na produo do sinal [TARTARUGA]. Assim, mais uma vez relacionamos com a
questo da motricidade infantil na faixa etria que F estava ao produzir esse sinal. Em
decorrncia dessa dificuldade de produo dessa matriz de CM, F realiza a substituio
fonolgica de CM e M (Fig. 44).

122

PADRO ADULTO ESPERADO

SINAL TARTARUGA: /Mo direita em A


horizontal, palma para dentro; mo esquerda
horizontal aberta, palma para baixo, dedos
curvados, apoiada sobre a mo direita. Mover a
mo direita, lentamente, para esquerda, distender
o polegar e ento, dobr-lo/.

SUBSTITUIO FONOLGICA DE
CM e M

SINAL TARTARUGA: /Mos em A horizontal,


palmas para dentro. Segura o polegar da mo
esquerda com o polegar da mo direita. Balana
o polegar direito para cima e para baixo/.
(DQA)

Figura 44: Substituio Fonolgica de CM e M - Sinal TARTARUGA


Fonte: CAPOVILLA e RAPHAEL, 2008 / Foto da Autora.

O sinal [MACACO] foi um dos poucos que apresentou mudana no parmetro de Ponto
de Articulao. Por isso, constitui-se no parmetro que apresentou o maior nmero de types e
token conforme o padro adulto (Fig. 45).

PADRO ADULTO ESPERADO

SUBSTITUIO FONOLGICA DE
PA

SINAL MACACO: /Mos em C, separados e SINAL MACACO: /Mos em C, a cada lado


curvados. Colocar mo direita no centro da da cabea, dedos separados. Movimentando os
cabea e mo esquerda ao lado da barriga. dedos simulando coar. Bochechas infladas/.
Mover os dedos simulando coar a cabea e
(DQA)
lateral da barriga.
(DQA)
Figura 45: Substituio Fonolgica de PA - Sinal MACACO
Fonte: Fotos da Autora.

123

Girar o pulso possui uma certa complexidade para a criana produzir. A aquisio do
movimento parte do mais simples para o mais complexo. Assim, menos complexo produzir
o movimento de cima para baixo do que o inverso (Fig. 46).

PADRO ADULTO ESPERADO

SUBSTITUIO FONOLGICA DE
CM e M

SINAL GIRAR: /mo direita em V. Palma para SINAL GIRAR: /mo em L horizontal, palma
baixo. Girar a mo pelo pulso para cima.
para cima. Balana a mo pelo pulso para baixo e
(DQA) retorna-a para cima/.
(DQA)
Figura 46: Substituio Fonolgica de CM, M - Sinal GIRAR (CL)
Fonte: Fotos da Autora.

Ao produzir o sinal [NANCI] /Mo esquerda em N, vertical, palma para dentro. Encosta
a ponta do dedo na bochecha esquerda, duas vezes/, F apresentou um processo fonolgico de
apagamento de uma configurao de mo do sinal realizado, mesmo estando com as mos
desocupadas. Mais uma vez verificamos a possibilidade do sistema lingstico do apagamento
de uma mo, sem interferir no significado. O sinal [NANCI], conforme padro adulto, deveria
ser articulado da seguinte forma: /mos em N, vertical, palma para dentro. Encostar a ponta
dos dedos nas bochechas, duas vezes/. Ao produzir o sinal utilizando apenas a mo esquerda,
F realizou uma espcie de abreviao, mas sem alterao de significado, no havendo perda
de valor semntico. Na segunda produo de [NANCI], F alterou a configurao de mos
(Fig. 47).

124

PADRO ADULTO ESPERADO

SUBSTITUIO FONOLGICA DE
CM.

SINAL NANCI: /mos em N, dedos para cima, SINAL NANCI 1: /Mo esquerda em N,
palma para dentro. Encostar a ponta dos dedos na vertical, palma para dentro. Encosta a ponta dos
bochecha, duas vezes/.
dedos na bochecha esquerda, duas vezes/.

SINAL NANCI 2: /mos em D, vertical, palma


para dentro. Encosta a ponta dos indicadores nas
bochechas, duas vezes/.
(DQA)

(DQA)
Figura 47: Substituio Fonolgica de CM - Sinal NANCI
Fonte: Fotos da Autora.

CONCLUSO

Um dos elementos-chave que identificam o Surdo como um ser pleno o uso da lngua
de sinais. Os sujeitos surdos nascem com as mesmas capacidades bsicas de aprendizagem e
de linguagem como todas as crianas, veem o mundo de maneira diferente, apenas atravs da
experincia visual.
As crianas surdas, filhas de pais surdos, em geral, tm uma vantagem inicial na
aquisio da linguagem e no desenvolvimento da comunicao em relao s crianas surdas,
filhas de pais ouvintes, pois aprendem a lngua de sinais como lngua materna. As crianas
surdas, filhas de pais ouvintes, ficam em desvantagem em termos de acesso aquisio da
lngua de sinais como primeira lngua e correm o risco de enfrentar problemas na aquisio da
linguagem, se no forem expostas aquisio de uma primeira lngua desde a mais tenra
idade.
As lnguas de sinais so completamente independentes das lnguas orais dos pases onde
so produzidas. A diferena entre a organizao fonolgica das lnguas de sinais e das lnguas
orais reside no fato de que a primeira produz os fonemas de forma simultnea; a segunda
produz os fonemas de forma sequencial, consoante Felipe (2004); Karnopp (1994, 1999); e
Quadros e Karnopp (2004).
A nossa pesquisa sobre o processo aquisicional de F apresenta evidncias de que a
Lngua de sinais brasileira, sendo adquirida como uma lngua materna, i. e., sem necessidade
de instruo formal, possui as mesmas restries que se aplicam s lnguas faladas.
As investigaes de nossa pesquisa confirmam as indicaes de que crianas surdas,
filhas de pais surdos, passam por um processo de aquisio da linguagem anlogo aos das
crianas ouvintes filhas de pais ouvintes: vo, cada vez menos, substituindo os padres
adultos medida que vai avanando o processo aquisicional. No final do primeiro ano, F j
demonstrava compreender muitas palavras e ordens dos adultos surdos, por vezes respondia
apontando para um objeto ou algum, buscava o objeto que lhe era pedido atravs da Lngua
de Sinais Brasileira, respondia atravs de interaes com os adultos surdos, demonstrando que
a compreenso dos sinais precedeu sua produo. Dessa forma, a aquisio da linguagem de F
tem transcorrido de forma natural e encantadora.

126

Em nossa pesquisa procurou-se demonstrar o processo aquisicional da lngua de sinais


como lngua materna de uma criana surda, filha de pais surdos, atravs de um estudo
longitudinal, com produes espontneas. A vantagem da utilizao dessas produes poder
realizar observaes longitudinais de uma criana surda adquirindo a lngua de sinais
brasileira como primeira lngua, e, compreender como as observaes e resultados de campo
se configuram a partir de elementos tericos, corroborando com queles j existentes ou
possibilitando novas construes de conhecimentos tericos sobre a temtica. Verificamos, de
maneira acurada, toda a riqueza de detalhes envolvidos na produo lingustica presente em
nosso corpus, organizando detalhadamente as produes.
Observamos que o informante, apesar de estar inserido em um contexto bilngue, est
adquirindo apenas a Lngua de Sinais por questes de input lingustico, posto que a criana
surda, filha de pais surdos sinalizadores, exposta a um ambiente lingustico de sinais. Tanto a
me quanto o pai no misturaram vocalizaes e sinais. Utilizaram e utilizam sinais como
estratgia de chamar a ateno e estabelecer dilogo com o filho.
O estudo apresentado aqui focalizou a observao dos sinais produzidos com os
parmetros de Configuraes de Mos, Movimento e Ponto de Articulao.
As concluses decorrentes de nossa pesquisa so compatveis com os estudos
lingusticos realizados por Karnopp (1994) em relao produo do parmetro CM. Em sua
pesquisa, relata-se que fatores secundrios podem afetar a produo de CMs pelas crianas
surdas. A nossa pesquisa mostra que a questo da motricidade um fator secundrio que afeta
a produo de alguns sinais e, consequentemente, ocasiona substituies fonolgicas dos
parmetros de CM, M e PA.
Embora tenha efetuado algumas substituies dos parmetros de Configurao de Mos,
Movimento e Ponto de Articulao, os padres de sucesso na produo dos primeiros itens
lexicais sugerem que o corpus da pesquisa tem um controle relativamente efetivo do Ponto de
Articulao (13%). Apenas alguns sinais mostram que a criana no representou corretamente
o valor de Ponto de Articulao, a exemplo do sinal [MACACO]. Assim, no que se refere ao
parmetro de PA, a maioria dos sinais articulados mostrou um baixo nvel de substituio
durante o processo de desenvolvimento lexical, com exceo dos sinais produzidos no rosto,
como por exemplo, o sinal [OBRIGADO]. Partindo da constatao de que o parmetro Ponto
de Articulao foi produzido com preciso em quase todos os sinais, interpretamos, em
harmonia com Karnopp (1994), que o parmetro de PA desempenha uma funo central no
processo aquisicional de criana surda adquirindo a lngua de sinais como lngua materna.

127

Os dados de produo espontnea foram itens coletados sistematicamente com ateno


especial s produes de sinais com substituies fonolgicas. Nosso informante produziu
mais substituies fonolgicas no parmetro CM (62%), a exemplo da produo dos sinais:
[GUA]; [OBRIGAD@]; [BANHEIRO]; [CACHORRO], [DELICIOSO/GOSTOSO];
[LEITE]; [BEB]; [LARANJA]; [COELHO]; [BORBOLETA]; [TARTARUGA] etc.
O segundo parmetro em que ocorreu mais substituio foi o Movimento (25%), a
exemplo de [OBRIGAD@]; [QUENTE]; [BEB]; [SINALIZAR].
Observamos que sinais produzidos com as duas mos e que apresentam uma mesma
configurao de mos, tanto para a mo dominante, quanto para a mo no-dominante,
apresentam um grau elevado de produes corretas; verificamos que ocorreu a omisso de
uma das mos, mesmo estando desocupadas, a exemplos dos sinais [BOLA DE SOPRAR] e
[NANCI]. Compatvel com os estudos de Karnopp (1994), verificamos que o movimento de
GIRAR O PULSO possui uma certa complexidade para a criana produzir, a exemplo da
produo do verbo [GIRAR]. A aquisio do parmetro Movimento parte do mais simples
para o mais complexo. Assim, observamos que, para a criana analisada, menos complexo
produzir o movimento de cima para baixo do que o inverso.
Percebemos tambm que alguns sinais apresentaram mais de um tipo de substituio
fonolgica: CM e M (70%); CM, M e PA (20%); CM e PA (10%). Exemplo: os sinais
[GOSTOSO], [LEITE] e [APANHAR] apresentaram, respectivamente, substituio dos
parmetros de CM e M. Os sinais [OBRIGADO] e [BEB] apresentaram mudanas nos
parmetros de CM, M e PA.
De acordo com Meier (2000) e Morgan (2008), que analisaram crianas surdas
adquirindo a Lngua de Sinais Americana e a Lngua Britnica de Sinais, respectivamente, o
desenvolvimento do controle motor uma influncia no crescimento lexical inicial. Os
movimentos de articulaes prximas do corpo, tais como cotovelos e ombros so mais fceis
de produzir quando comparados com articulaes distantes, tais como ns dos dedos e pulsos,
entrelaamento dos dedos etc.
O Movimento constitui-se num parmetro difcil de se descrever pois, na maioria das
produes, encontrou-se imbricado com os parmetros de Ponto de Articulao e
Configurao de Mos. Conforme Karnopp (1994), verificamos que h uma certa ordem no
processo aquisicional do movimento (do mais simples ao mais complexo), e que h
substituies regulares em relao a alguns movimentos.

128

Nesta pesquisa, por questes de limitao de tempo, no seccionamos os movimentos


em componentes menores para uma descrio detalhada mais adequada. Analisamos como
um todo. Contudo, observamos que os movimentos direcionais foram produzidos mais
frequentemente e os movimentos sinuosos no foram articulados.
Verificamos que F, ao receber uma gravura ou emborrachado, quando sabia o sinal do
objeto, automaticamente sinalizava, ou seja, o sujeito cognoscente, no nvel representacional,
j correlaciona o objeto com seu significante, o que pode ser verificado no exemplo a seguir:
[VER L!], apontando para o cu. O intrprete olha para o cu. F sinaliza [L VER
POSITIVO?], com expresso interrogativa. O intrprete sinaliza [VER L, PSSARO L]. F
responde [PSSARO L!] (10/10/2009).
Verifica-se que F apresentou dois tipos de apontao: quando no sabia o sinal, F
apontava para a gravura e olhava para a pessoa que interagia com ele naquele momento. Essa
apontao sugere que F desejava saber qual era o sinal do objeto mostrado, a exemplo: ER
mostra para F o emborrachado de urso. F pega da mo do intrprete, aponta para o
emborrachado e olha para o intrprete. ER sinaliza [URSO]. F tenta repetir corretamente
[URSO] (10/10/2009). Ou por vezes apontava para um objeto e articulava o sinal
correspondente ao que estava sendo apontado.
Observamos que cada parmetro substitudo por nosso corpus apresenta, a priori, uma
relao com a questo da motricidade, a exemplo de [GUA], [BEB], [APANHAR],
[TARTARUGA], [BORBOLETA], comprovando nossa hiptese de que a criana surda, filha
de pais surdos, adquirindo a Lngua Brasileira de Sinais como lngua materna, apresenta
substituio de traos fonolgicos nos primeiros anos de vida, produzindo substituio
fonolgica de determinadas configuraes de mos da Lngua Brasileira de Sinais, por no
apresentar o controle da motricidade da coordenao fina necessria para produzir a matriz de
determinada configurao de mo, a exemplo do entrelaamento de dedos no sinal
[BORBOLETA], ou do sinal [TARTARUGA], em que a criana analisada no consegue
produzir os dedos curvados apoiados sobre a mo direita. Dessa forma, o desenvolvimento
motor das crianas sugere que fatores extralingusticos podem desempenhar um papel na
assinatura de articulao das crianas em diferentes tipos de sinais. Mas, medida que o
desenvolvimento motor evolui, a criana especifica traos que antes no estavam presentes na
representao inicial. Assim, o desenvolvimento da Coordenao Motora Fina consiste num
processo de refinao e evoluo como o amadurecimento do sistema neurolgico, atravs do
tempo, da experincia e do conhecimento. Verificamos tambm que a criana surda, filha de

129

pais surdos, apresentou um processo de apagamento fonolgico na produo de sinais


realizados com as duas mos e que envolvem uma mesma configurao de mos, sem
apresentar mudana de significado, a exemplo de [BOLA DE SOPRAR] e [NANCI].
Quando a criana desenvolve melhor o controle dos braos e pernas, ela comea a
desenvolver a habilidade da coordenao motora fina, como agarrar, tocar, alimentar-se e
articular sinais mais complexos, e este ltimo refere-se especialmente s crianas surdas.
Assim, pode, de forma eficiente e precisa, articular os pequenos msculos, produzindo
movimentos mais delicados, especficos e configuraes de mos mais complexas.
Para finalizar, no podemos deixar de expor aqui a nossa impresso sobre as lnguas
sinalizadas. atravs da Lngua de Sinais que a comunidade surda se comunica e partilha
experincias, histrias, vida, poesia, etc. Toda criana tem o direito de se identificar com a sua
lngua materna, seus pares lingusticos e ter esta identificao aceita e respeitada pelos outros.
Salientamos que nossas observaes nesta pesquisa no se constituem como
conclusivas. Pesquisas futuras sero necessrias para corroborar os aspectos relacionados aos
parmetros fonolgicos da Lngua Brasileira de Sinais. Ressaltamos, aqui, a importncia da
efetivao da aquisio da Lngua Brasileira de Sinais como lngua materna, pois pela
interao com seus pares que o surdo ter chance de se descobrir e descobrir o mundo que o
rodeia.

REFERNCIAS
BARRET, M. Early semantic representation and early word-usage. In: KUCZAJ, S.;
BARRET, M. (Eds.) The development of word meaning: progress in cognitive delelopmente
research. New York: Springer Verlag, 1986.
BATTISON, R. Lexical Borrowing in American Sign Language. Silver Springs, MD: Linstok,
1978.
BATTRO, Antnio M. O Pensamento de Jean Piaget Psicologia e Epistemologia. Rio de
Janeiro: Forense Universitria, 1976.
BENTO, Nanci A. Os cinco parmetros fonolgicos. Folder explicativo na apresentao da
Disciplina Let 594 Psicolingustica Aplicada ao Portugus I. Salvador: Universidade
Federal da Bahia, 2008. No publicado.
BOYES-BRAEM, P. Acquisition of handshape in Americam Sign Language: A preliminary
analysis. In: VOLTERRA, V.; ERTING, C. J. (Eds.). From gesture to language in hearing
and deaf children. Heidelberg: Springer-Verlag, 1973/1990. p. 107-27.
CAPOVILLA, Fernando Cesar; RAPHAEL, Walkiria Duarte. Dicionrio Enciclopdico
Ilustrado Trilngue - Lngua de Sinais Brasileira. v. 1 e 2. 3. ed. So Paulo: EDUSP, 2008.
CHOMSKY, Noam. Novas perspectivas lingsticas. Petrpolis: Vozes, 1971.
COELHO NETTO, J. Teixeira. Semitica, informao e Comunicao Diagrama da Teoria
do Signo. So Paulo: Perspectiva, 1999.
DAMSIO, Antnio; DAMSIO, Hanna. O crebro e a linguagem. In: Viver Mente &
Crebro Scientific Amrica, ano XIII, n. 143, 2004. Disponvel em: <http://
www.psiquiatriageral.com.br/cerebro/cerebro_e_a_linguagem.htm>. Acesso em: 12 ago.
2008.
FELIPE, Tanya Amaral. Libras em contexto: Curso bsico: Livro do estudante. 4. ed.
Braslia: Ministrio da Educao, Secretaria de Educao Especial, 2004.
______. Introduo Gramtica da LIBRAS. Atualidades Pedaggicas. Braslia:
MEC/SEESP, 2000. Disponvel em:
<http://www.ines.gov.br/ines_livros/37/37_PRINCIPAL.HTM>. Acesso em: 23 nov. 2010.
FERREIRA BRITO, L. Uma abordagem fonolgica dos sinais da LSCB. Espao: Informativo
Tcnico-Cientfico do INES, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, p. 20-43, 1990.
______. Lngua Brasileira de Sinais. In: FERREIRA-BRITO, Lucinda et. al. Lngua
Brasileira de Sinais. v. III. Braslia: SEESP, 1997, p. 15-37. (Srie Atualidades Pedaggicas,
n. 4)
______. Por uma Gramtica das Lnguas de Sinais. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,1995.

131

______. Uma Abordagem Fonolgica dos Sinais da LSCB. Espao Informativo Tcnico do
INES, Rio de Janeiro, v.1. n.1. p. 20-43, 1990.
FLETCHER, P.; MACWHINNEY, B. Compndio da linguagem da criana. Porto Alegre:
Artes Mdicas, 1997.
GALLAHUE, David L. A classificao das habilidades de movimento: um caso para modelos
multidimensionais. Revista de Educao Fsica, Maring, v.13, n. 2 p.105-111, 2. sem, 2002.
GOLDFELD, Mrcia. A criana surda: linguagem e cognio numa perspectiva
sociointeracionista. 2. ed. So Paulo: Plexus, 2002.
GUARDIA, Berenice C.; COELHO, Maria M. desenvolvimento da coordenao motora fina:
sugesto de estratgias. Educao: teoria e prtica, Rio Claro, v. 1, n. 1, p. 22-27, 1993.
INGRAM, D. Phonological disability in children. Londres: Edward Arnold, 1976.
KARNOPP, Lodenir B. Aquisio da Linguagem de Sinais: uma entrevista com Lodenir
Karnopp. ReVEL Revista Virtual de Estudos da Linguagem. v. 3, n. 5, agosto de 2005.
Disponvel em:
<http://www.revel.inf.br/site2007/_pdf/5/entrevistas/revel_5_entrevista_lodenir_karnopp.pdf
>. Acesso em: 23 set. 2008.
______. Aquisio do parmetro configurao de mo na Lngua Brasileira de Sinais
(LIBRAS): um estudo sobre quatro crianas surdas, filhas de pais surdos. 1994. Dissertao
(Mestrado em Letras) Instituto de Letras e Artes, Pontifcia Universidade Catlica do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre.
______. Aquisio fonolgica na Lngua Brasileira de sinais: estudo longitudinal de uma
criana surda. 1999. Tese (Doutorado em Letras) Instituto de Letras e Artes, Pontifcia
Universidade Catlica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
______. Tabela fontica de configurao de mos dvida. [mensagem pessoal]. Mensagem
recebida por <[email protected]> em 9 nov. 2009.
______. Produes do perodo pr-lingustico. In: SKLIAR, Carlos. Atualidade da educao
Bilngue para surdos: interfaces entre pedagogia e lingstica. 2. ed. Porto Alegre: Mediao,
1999(b).
KLIMA, E.; BELLUGI, U. The Signs of language. Cambridge: Harvard University Press,
1979.
LIDDEL, S. K.; JOHNSON, R. E. American Sign Language: the phonological base. In:
VALLI, Clayton; LUCAS, Ceil; MULROONEY, Kristin. Linguistics of American Sign
Language: An Introduction, 4th ed. Washington, D. C.: Clerc Books; Gallaudet University,
2000.
LUSSAC, Ricardo Martins Porto. Psicomotricidade: histria, desenvolvimento, conceitos,
definies e interveno Professional. Revista Digital, Buenos Aires, ao 13, n. 126, nov.

132

2008. Disponvel em: <http://www.efdeportes.com/efd126/psicomotricidade-historia-eintervencao-profissional.htm>. Acesso em: 12 dez. 2008.


MACNEILAGE, Peter F. The Origin of speech. New York: Oxford University Press, 2008.
MACNEILAGE, Peter.; DAVIES, B. Acquisition of speech production: The achievement of
segmental independence. In: HARDCASTLE W.; MARSHAL, A. (Orgs.). Speech
Production and Speech Modeling. Dordrecht: Kluwer, 1990(a), p. 55-68.
______. Acquisition of Speech Production: Frames, Then Content. In: JEANNEROD, M.
(Org.). Attention and performance: Motor Representation and Control. Hillsdale, NJ.:
Lawrence Erlbaum Associates, 1990(b) p. 453-475.
MANN, Wolfgang; MARSHALL, Chloe; MORGAN, Gary: How do deaf children make
signs? The nonsense Sigh repetition project. SignMatters, London, p. 16, 17, sept. 2007.
Disponvel em:
<http://www.staff.city.ac.uk/g.morgan/Mann_Marshall_Morgan_SM_article_2007.pdf>.
Acesso em: 12 dez. 2009.
MCITIRE, M. The acquisition of American Sign Language hand configurations. Sign
Language Studies Washington, D.C., n. 16. p. 247-66, aut., 1977.
MEIER, Richard P. Modalidade e Aquisio da Lngua: estratgias e restries na
aprendizagem dos primeiros sinais. In: QUADROS, Ronice Muller de; VASCONCELOS,
Maria Lcia B. (Orgs.). Questes tericas das pesquisas em lnguas de sinais TISLR 9 9th
Theoretical Issues in sign language research conference. Florianpolis: Arara Azul, 2006.
______. Shared motoric factors in the acquisition of sigh and speech. In: EMMOREY, K.;
LANE, H. (Eds.) The signs of Language Revisited. Mahwah, NJ: Lawrence Erlbaum
Associates, 2000.
MORGAN, Gary. Os sinais da Aquisio da Lngua. In: MOURA, Maria Cecilia de;
VERGAMINI, Sabine A. R.; LEITE, Sandra Regina (Org.). Educao para surdos: prticas
e perspectivas. Congresso Internacional sobre Educao para surdos Bilingismo. Cap. 5.
So Paulo: Santos, 2008.
NAPIER, J. A mo do Homem: Anatomia, Funo, Evoluo. Rio de Janeiro: Zahar, 1983.
NEWTON, Michael. Savage girls and wild boys: a history of feral children. London: Faber
and Faber, 2002.
OLIVEIRA, Octvio Roberto Franco de; OLIVEIRA, Ktia Cristina Correa Franco de.
Desenvolvimento motor da criana e estimulao precoce. FisioWeb Wgate. 24 ago. 2006.
Disponvel em:
<http://www.wgate.com.br/conteudo/medicinaesaude/fisioterapia/neuro/desenv_motor_octavi
o.htm>. Acesso em: 12 dez. 2008.
PATRCIO, Leandro. Lngua Brasileira de Sinais LIBRAS. Apresentao de Slides em
Power Point for Windows. Material de aula do Curso de Extenso em LIBRAS. Salvador:
Secretria de Educao do Governo do Estado da Bahia, 2004.

133

PERINI, Mrio. O Lxico. Gramtica Descritiva do Portugus. So Paulo: tica, 2000, p.


342-349.
PERLIN, Gladis T. T. Identidades Surdas. In: SKLIAR, C. A surdez: um olhar sobre as
diferenas. 2. ed. Porto Alegre: Mediao, 2005.
PETITTO, L. On the Autonomy of language and gesture: evidence from the acquisition of
personal pronouns in american sign language. Cognition, New York, v. 27, n. 1, p. 1-52. oct.
1987.
PETITTO, L. A.; MARENTETTE, P. F. Babbling in the manual mode: Evidence for the
ontogeny of language. Science Reports, Washington D. C., v. 251, p. 1493-1496. 22 mar.
1991.
PIMENTA, Nelson et al. Configuraes de Mos em LSB. Pster tamanho A4, papel sulfite
90g plastificado. Rio de Janeiro: LSB Vdeo, 2006.
PINHEIRO, Rodrigo Falson. Coletnea de exerccios para o desenvolvimento da leitura e da
reduo ao piano de partituras corais. 191 f. 2006. Dissertao (Mestrado em Msica) Instituto de Artes, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP. Orientador: Eduardo
Augusto Ostergren.
PIZZIO, Aline Lemos. A variabilidade da origem das palavras na aquisio da lngua de
sinais brasileira: construo de tpico e foco. 2006. 129 f. Dissertao (Mestrado em
Lingustica) Programa de Ps-Graduao em Lingstica, Universidade Federal de Santa
Catarina, Florianpolis.
QUADROS, Ronice Muller de. Aquisio da linguagem por crianas surdas. In: RINALDI,
Giuseppe (Org.). Educao Especial: Lngua Brasileira de Sinais. Braslia: MEC, 1997, v. III,
p. 63-80.
______. Aquisio das Lnguas de Sinais. In: FINGER, Ingrid; QUADROS, Ronice Muller
de. (Orgs.). Teorias de aquisio da linguagem. v. 1. Florianpolis: Editora da UFSC, 2008.
______. Educao de surdos: a aquisio da linguagem. v. 1. Porto Alegre: Artes Mdicas,
1997 (a).
QUADROS, Ronice M; KARNOPP, Lodenir Becker. Lngua de Sinais Brasileira: Estudos
Lingsticos. v. 1. Porto Alegre: Artmed, 2004.
QUADROS, Ronice Muller de; PIZZIO, Aline Lemos; REZENDE, Patrcia Luiza Ferreira.
Lngua de Sinais Brasileira II. Curso de Licenciatura em Letras/LIBRAS na Modalidade a
Distncia. Florianpolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2007.
ROSA, Emiliana Faria. Olhares sobre si: a busca pelo fortalecimento das identidades surdas.
2009. Dissertao (Mestrado em Educao) Faculdade de Educao, Universidade Federal
da Bahia, Salvador.
S, Ndia Regina Limeira de. Educao de surdos: a caminho do bilingismo. v. 1. Rio de
Janeiro: Editora da Universidade Federal Fluminense, 1999.

134

SACKS, Oliver. Vendo vozes: uma viagem ao mundo dos surdos. Traduo Laura Teixeira
Mota. So Paulo: Companhia das Letras, 1998.
SANTAELLA, Lcia. O Que Semitica. So Paulo: Brasiliense, 1983.
SANTOS, Fernanda Maria Almeida dos. Marcas da Libras na Escrita Inicial de Surdos.
2009. Dissertao (Mestrado em Letras e Lingustica) Programa de Ps-Graduao em
Letras e Lingstica. Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia, Salvador.
SAURON, Franoise Nicole. rteses para membros superiores. In: SAURON, F. N.;
SANTOS, L. S. B.; OLIVEIRA, M. C.; TEIXEIRA, E. Terapia ocupacional na reabilitao
fsica. So Paulo: Roca, 2003.
SAUSSURE, F. de. Curso de Lingstica Geral. Trad. de A. Chelini; Jos P. Paes e I.
Blikstein. So Paulo: Cultrix; USP, 1969.
SILVA, Cludia Tereza S. O desenvolvimento lexical inicial dos 8 aos 16 meses de idade a
partir do Inventrio MacArthur de Desenvolvimento Comunicativo Protocolo Palavras e
Gestos. 2003. Dissertao (Mestrado em Letras e Lingstica) Programa de Ps-Graduao
em Letras e Lingstica, Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia, Salvador.
______. Adaptao do protocolo Palavras e Gestos para a Lngua Brasileira de Sinais.
Projeto de Pesquisa do PROAEP Programa de Estudos sobre Aquisio e Ensino do
Portugus. Salvador: Programa de Ps-Graduao em Letras e Lingstica, Instituto de Letras
da Universidade Federal da Bahia, 2009.
STAMPE, David. A dissertation on natural phonology. 1973. Tese de doutorado. Chicago
University, Illinois.
STOKOE, W. C. Sign Language Structure. Silver Spring: Iinstok Press, 1960.
STROBEL, Karin. As imagens do outro sobre a cultura surda. Florianpolis: Ed. da UFSC,
2008. 118p.
STROBEL, Karin; FERNANDES, Sueli. Aspectos lingsticos da Lngua Brasileira de sinais.
Curitiba: Secretaria da Educao. Superintendncia de Educao. Departamento de Educao
Especial, 1998.
TEIXEIRA, Eliana Pitombo. Qu Arco, Tarco Ou Qu Qui Mi? Sitientibus, Feira de
Santana, n. 11, p. 81-85, jan./jun. 1993.
TEIXEIRA, Elizabeth Reis. Aspectos fono-articulatrios e fonolgicos do portugus.
Salvador: Programa de Ps-Graduao em Letras e Lingstica. Instituto de Letras da
Universidade Federal da Bahia, 2005. No publicado.
______. Da natureza dos padres recorrentes nos erros de ordenao serial. Boletim da
Associao Brasileira de Lingstica (ABRALIN), Fortaleza, n. 26, p. 488-489, 2001.
______. Erros de ordenao serial e permutao segmental inter-silbica. JORNADA DE
ESTUDOS LINGSTICOS DO NORDESTE (GELNE), 18. Programas e Resumos...

135

Salvador; Fortaleza: Universidade Federal da Bahia; Universidade Federal do Cear, 2000, p.


243-248.
______. Nveis de estruturao e modalidades lingsticas em relao aos tipos de disfunes
e atipicidades lingsticas diferenciadas. Salvador: Programa de Ps-Graduao em Letras e
Lingstica. Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia, 2009(a). No publicado.
______. O Processo de Aquisio da Lngua Materna. Apresentao de Slides em Power
Point for Windows. Material de aula da disciplina LET 594, do Programa de Ps-Graduao
em Letras e Lingustica do Instituto de Letras da UFBA. Salvador: Universidade Federal da
Bahia, 2009(c). No publicado.
______. O processo de aquisio da linguagem pela criana. Revista Ns, Salvador: Espao
Mebius, Ano 2, n. 3, out., 1995.
______. Perfil do Desenvolvimento Fonolgico em Portugus (P.D.F.P.). Estudos
Lingusticos e Literrios, Salvador, v. 12, p. 64-73, 1991.
______. Um Estudo Sobre Processos de Simplificao Fonolgica na Aquisio do
Portugus. Salvador: Programa de Ps-Graduao em Letras e Lingstica. Instituto de Letras
da Universidade Federal da Bahia, 2009(b). No publicado.
TEIXEIRA, rika et al. Terapia ocupacional na reabilitao fsica. So Paulo: Roca, 2003.
VIGOTSKY, L. S. A construo do pensamento e da linguagem. Trad. Paulo Bezerra. 2. ed.
So Paulo: WMF Martins, 2009.
WILLIAMS, Peter L.; DYSON, Mary; WARWICK, Roger. Gray Anatomia. 37. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 1996.
XAVIER, Andre Nogueira. Descrio fontico-fonolgica dos sinais da Lngua de Sinais
Brasileira (LIBRAS). 2006. Dissertao (Mestrado em Letras) Faculdade de Filosofia,
Letras e Cincias Humanas, Universidade de So Paulo, So Paulo.

APNDICES
APNDICE A - Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Eu,

_____________________________,

residente

domiciliada

no

endereo:__________________________- Feira de SantanaBahia, permito a participao do menor


F.F.V.S, meu filho, na pesquisa intitulada A Aquisio da Lngua de Sinais (LS)-Um Estudo
Fonolgico sobre os parmetros: configurao de mos, ponto e articulao e movimento, sob a
orientao da Professora Dr Elizabeth Reis Teixeira, desenvolvida pela aluna do Mestrado em
Lingustica da Universidade Federal da Bahia, Nanci Arajo Bento, RG 4068155-69; CPF.
775889915-34, residente e domiciliada na Rua Irnio Moreira, 59 A - Loteamento So Judas Tadeu Itinga - Lauro de Freitas-BA; Telefone (71) 3378-5962, e-mail: nanci_libras@hotmail.
Recebi a informao de que esse trabalho tem como propsito observar e coletar dados sobre o
processo de aquisio da Lngua Brasileira de Sinais, no caso de uma criana surda, filha de pais
surdos, e que para isso a pesquisadora precisa participar de atividades no contexto familiar da
criana, utilizando, quando preciso, filmadora e mquina fotogrfica para registro dos dados.
Fui informada que o presente estudo no apresenta riscos integridade fsica, moral e mental da
criana. Fui previamente orientada a respeito do estudo a ser feito e a criana somente participou
depois do meu consentimento. Fui informada tambm de que, se eu desejar, poderei ter acesso ao
resultado da pesquisa efetuada, bem como informaes sobre a evoluo da pesquisa.
Permito ser submetida a entrevistas e ser filmada ou fotografada quando for preciso. Autorizo a
pesquisadora a conservar sob sua guarda as informaes que vou oferecer, assim como minha
imagem videogravada ou fotografada para que sejam utilizadas para fins analticos. Autorizo ainda a
utilizao dessas informaes videogravadas ou fotografadas sobre o menor, em reunies,
congressos, palestras e publicaes cientficas, desde que a minha identidade e do menor sejam
preservadas.
Este termo de consentimento me foi apresentado e eu entendi o seu contedo. Estou ciente de que
poderei recusar ou retirar meu consentimento, em qualquer momento da investigao, sem qualquer
penalizao.
Feira de Santana, Bahia, 12 de agosto de 2008.
________________________________________________
Assinatura da responsvel pela criana

137

APNDICE B - Autorizao

AUTORIZAO
Eu_________________________________________ RG _________________; CPF
n._______________, intrprete de lngua de sinais, aceito participar como voluntrio no
projeto

de

pesquisa

intitulado

OS

PARMETROS

FONOLGICOS:

CONFIGURAO DE MOS, PONTO DE ARTICULAO E MOVIMENTO NA


AQUISIO DA LNGUA BRASILEIRA DE SINAIS UM ESTUDO DE CASO, sob
a orientao da Professora Dr Elizabeth Reis Teixeira, desenvolvido pela aluna do Mestrado
em Letras e Lingustica da Universidade Federal da Bahia, Nanci Arajo Bento, residente e
domiciliada na cidade de Salvador, e-mail: nanci_libras@hotmail; ficando esclarecido que
esta participao no ser remunerada sob nenhuma hiptese.
Permito-me ser submetido a entrevistas e ser filmado ou fotografado, caso seja
necessrio, para fins de anlises da pesquisadora. Autorizo ainda a utilizao dessas
informaes videogravadas ou fotografadas em reunies, congressos, palestras e publicaes
cientficas, desde que a minha identidade seja preservada.
Entendo que os registros gerados sero utilizados estritamente para fins de pesquisa
acadmica e que a aluna pesquisadora far esforos a fim de assegurar o sigilo dos registros,
no sentido de proteger a identidade dos participantes.

________________________________________________
Assinatura do voluntrio

138

APNDICE C - Figuras utilizadas nas sesses de interao em 10/10/2009

139

APNDICE D - Questionrio com os pais


QUESTIONRIO COM OS PAIS
(Conversao em LIBRAS)

OS PARMETROS FONOLGICOS DE CONFIGURAO DE MO,


PONTO DE ARTICULAO E MOVIMENTO NA AQUISIO DA LNGUA DE
SINAIS BRASILEIRA UM ESTUDO DE CASO
Nanci Arajo Bento
Orientadora: Prof. Dr. Elizabeth Reis Teixeira

Local:
Data:___/___/___
Nome:
Profisso:

Idade: Escolaridade:
1. Voc : ( ) Surdo

( ) Ouvinte

( ) Deficiente auditivo (DA)

Em caso de surdez, qual o tipo de surdez? ( ) Adquirida

( ) Congnita

Em caso de ter assinalado surdez Adquirida:


( ) De acidente

( ) Desenvolvimento natural

2. Voc conhece a Lngua Brasileira de Sinais? ( ) Sim

( ) No

3. Voc se comunica atravs de:


( ) LIBRAS

( ) Dialeto

( ) Gestos Domsticos

4. Voc possui familiares surdos?

( ) Oralizao (LP)28

( ) Sim ( ) No

Em caso afirmativo, quantos? _____________


Qual o grau de parentesco? ______________________________________________
5. Em sua famlia h algum que utiliza a Lngua de Sinais?
( ) Sim

( ) No

Em caso afirmativo, quem?_______________________________________


6. Voc tem filhos?
( ) Sim
28

( ) No

LP Lngua Portuguesa

140

Em caso afirmativo quantos? (

) Surdos

) Ouvintes

7. Como realizado o processo de comunicao e interao com seus filhos?


( ) LIBRAS

( ) Dialeto

( ) Gestos Domsticos

( ) Oralizao (LP)

8. Voc tem contato com pessoas surdas?


( ) Sim

( ) No

Em caso afirmativo, como realizado o processo de comunicao e interao com esses surdos:
( ) LIBRAS ( ) Dialeto

( ) Gestos Domsticos

( ) Oralizao (LP)

141

APNDICE E - Questionrio com os familiares e interlocutores


QUESTIONRIO COM OS FAMILIARES E INTERLOCUTORES
(Conversao em LIBRAS ou LP29)
OS PARMETROS FONOLGICOS DE CONFIGURAO DE MO,
PONTO DE ARTICULAO E MOVIMENTO NA AQUISIO DA LNGUA DE
SINAIS BRASILEIRA UM ESTUDO DE CASO
Nanci Arajo Bento
Orientadora: Prof. Dr. Elizabeth Reis Teixeira

QUESTIONRIO COM OS FAMILIARES E INTERLOCUTORES


(Conversao em LIBRAS ou LP)

Local:
Data:___/___/___
Nome:
Profisso:

Idade: Escolaridade:
1. Qual a sua lngua materna:
( ) Lngua Portuguesa

( ) Lngua de Sinais

2. Voc : ( ) Surdo

( ) Ouvinte

( ) Outras _____________
( ) Deficiente auditivo (DA)

Em caso de surdez, qual o tipo de surdez? ( ) Adquirida

( ) Congnita

Em caso de ter assinalado surdez Adquirida:


( ) De acidente

( ) Desenvolvimento natural

4.Voc possui familiares surdos?

( ) Sim

( ) No

Em caso afirmativo, quantos? _____________


Qual o grau de parentesco? ______________________________________________
5. Voc conhece a Lngua Brasileira de Sinais? ( ) Sim( ) No
6. Como voc se comunica e interage com pessoas ouvintes?
( ) LIBRAS
29

Lngua Portuguesa

( ) Dialeto ( ) Gestos Domsticos

( ) Oralizao (LP)

142

( ) No se aplica, no conheo pessoas ouvintes.


7. Como voc se comunica e interage com pessoas surdas?
( ) LIBRAS

( ) Dialeto

( ) Gestos Domsticos

( ) Oralizao (LP)

( ) No se aplica, no conheo pessoas surdas.

8. Em sua famlia h algum que utiliza a Lngua de Sinais?


( ) Sim

( ) No

Em caso afirmativo, quem?_______________________________________

143

ANEXOS

Anexo A - Emborrachados utilizados nas sesses de interao

Você também pode gostar