Nanci Araujo Bento
Nanci Araujo Bento
Nanci Araujo Bento
INSTITUTO DE LETRAS
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM LETRAS E LINGUSTICA
OS PARMETROS FONOLGICOS:
CONFIGURAO DE MOS, PONTO DE ARTICULAO E
MOVIMENTO NA AQUISIO DA LNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
UM ESTUDO DE CASO
Salvador
2010
OS PARMETROS FONOLGICOS:
CONFIGURAO DE MOS, PONTO DE ARTICULAO E
MOVIMENTO NA AQUISIO DA LNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
UM ESTUDO DE CASO
Salvador
2010
1. Lngua brasileira de sinais. 2. Aquisio de linguagem. 3. Lngua portuguesa Fonologia. 4. Crianas surdas - Meios de comunicao. I. Teixeira, Elizabeth Reis. II.
Universidade Federal da Bahia. Instituto de Letras. III. Ttulo.
CDD - 419
CDU - 81221.24
OS PARMETROS FONOLGICOS:
CONFIGURAO DE MOS, PONTO DE ARTICULAO E MOVIMENTO NA
AQUISIO DA LNGUA DE SINAIS BRASILEIRA UM ESTUDO DE CASO
AGRADECIMENTOS
J. Schuyler Long
Diretor da Iowa School for the Deaf
In: SACKS, Oliver (1998)
RESUMO
ABSTRACT
This essay discusses acquisitional aspects of deaf child of deaf parents acquiring sign
language as his mother tongue in a bilingual LIBRAS/Brazilian Portuguese language
environment, from the age of one and a half to two and a half years of age. Methodologically,
the qualitative approach was used, focusing on case study typology through longitudinal
observation. Sessions were recorded with digital camera in monthly meetings of
approximately forty minutes duration, respecting child and parents privacy. The child was
observed interacting with parents / family / caregivers basically in home/ family environment.
Based on phonological processes analysis, substitutions involving handshape, movement and
place of articulation wore investigated. Results demonstrate that the child replaced
phonological traits early in linguistic development, producing phonological substitution of
certain Brazilian Sign Language hand shapes due to the lack of control of fine motor
coordination necessary for producing the adult feature array. Substitutions of Movement and
Point of Articulation features were also found.
Keywords: Language acquisition. LIBRAS (Brazilian Sign Language). Phonological
Parameters.
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE GRFICOS
LISTA DE TABELAS
LISTA DE QUADROS
SUMRIO
INTRODUO ............................................................................................................. 15
2.1
2.2
2.3
A DATILOLOGIA .......................................................................................................... 30
3.1
4.1
4.2
4.4
DESENVOLVIMENTO
DA
COORDENAO
MOTORA
GROSSA
5.1
5.2
5.3
5.4
CONCLUSO.............................................................................................................. 125
INTRODUO
Os estudos culturais atuais sobre surdos nos proporcionam novas concepes acerca do
Ser Surdo. O mesmo deixa de ser visto do ponto de vista audiolgico, como um ser
patolgico, um modelo clnico, para ser encarado sob uma perspectiva antropolgica, social,
cultural, destituindo-se as representaes clnicas da surdez, trazendo novas perspectivas
epistemolgicas. Assim, a discusso dentro de uma viso clnico-patolgica no o objetivo
do nosso trabalho, assim como tambm no esta perspectiva desejada pela maior parte da
Comunidade Surda nem pela maioria dos pesquisadores da rea da surdez na
contemporaneidade.
Strobel (2008) afirma tambm que na Comunidade Surda Brasileira os sujeitos surdos
no se diferenciam um do outro com grau de surdez. Para eles, o mais importante o
pertencimento ao grupo, usando a Lngua Brasileira de Sinais, que ajuda a definir as suas
identidades surdas.
significativo dizer que a histria dos surdos foi marcada por discursos provinciais e
prticas excludentes. Na Antiguidade, as pessoas surdas eram consideradas como indivduos
primitivos, sendo tratados com piedade e compaixo. Segundo Goldfeld (2002, p. 28), a
crena de que o surdo era uma pessoa primitiva fez com que a ideia de que ele no poderia ser
16
educado persistisse at o sculo XV. At aquele momento eles viviam margem da sociedade
e no tinham direito assegurado. A partir do sculo XVI diferentes prticas metodolgicas
acerca da surdez comearam a ser desenvolvidas. Algumas se baseavam nas lnguas oraisauditivas; outras defendiam o uso da lngua de sinais.
S (1999) explana que houve um momento na histria em que os surdos comearam a
se comunicar atravs do Manualismo, tentativa de falar por outro canal que no o udiofonatrio dos ouvintes. Em 1880 ocorreu um grande evento que foi um marco na histria da
educao dos surdos: o Congresso de Milo. A partir da, surgiu uma nova concepo de
comunicao para os surdos: o Oralismo, que visa a capacitar a pessoa surda a utilizar a
lngua da comunidade ouvinte na modalidade oral, de forma que seja possvel o uso da voz e
da leitura labial nas relaes educacionais e sociais. Com o Oralismo, as pessoas surdas eram
consideradas como pessoas que necessitavam ser normalizadas cultura ouvinte. Embora
se constatasse que o mtodo oralista no era eficaz, este continuava a ser recomendado, pois
os pesquisadores da poca acreditavam que essa seria a nica maneira de o surdo integrar-se
sociedade e que, se o surdo fracassasse na comunicao oral, seria considerado como
limitado.
Segundo S (1999, p. 75), o Congresso de Milo imps a superioridade da lngua
falada com respeito lngua de sinais, e decretou, sem fundamentao cientfica alguma, que
a princpio deveria constituir, como se tem dito, o nico objeto de ensino.
S (1999) afirma que o Brasil seguiu as diretrizes internacionais, mas foi somente a
partir da dcada de 50 que a abordagem oralista atingiu seu pice, com a proibio, inclusive
nas escolas especializadas, da lngua de sinais, pois esta era concebida apenas como um
conjunto de gestos sem estrutura gramatical, uma espcie de pantomima.
Anos aps a insero do Oralismo, surgiu uma nova proposta de educao para os
surdos: a da Comunicao Total que, diferentemente do Oralismo, no possui um fato
histrico definido. Sua histria se inicia a partir das insatisfaes manifestadas mundialmente
quanto aos resultados da educao oralista, que, aps haver exposto diversas geraes de
surdos sua orientao, no apresentou resultados satisfatrios.
Comunicao Total foi o nome adotado para uma nova alternativa educacional, na
rea de atendimento s pessoas surdas. Subentende-se como uma defesa da utilizao de todos
os recursos disponveis para estabelecer um contato com pessoas surdas. Nesse aspecto,
percebemos que a relao surdo-ouvinte torna-se prioritria, excluda assim a relao surdo-
17
surdo, pois enfatiza a lngua na modalidade oral como a mais importante para a comunicao,
posto que a lngua de sinais deve ser respeitada em seu status lingustico.
Aps a entrada das ideias da Comunicao Total no Brasil, na dcada de 80, linguistas
brasileiros comearam a se interessar pelo estudo da Lngua Brasileira de Sinais (LIBRAS),
considerada por educadores e pesquisadores como uma lngua natural, importante para o
envolvimento afetivo e cognitivo do surdo. A abordagem educacional com o Bilinguismo
passou a ser, ento, pesquisada. Somente a partir da comearam a ser vistas pesquisas
relacionadas cultura surda.
Por causa da barreira lingstica, o povo surdo ficou margem da sociedade por longos
anos, deixou de ter acesso ao conhecimento e aos bens culturais, veiculados atravs da lngua
majoritria. Agora, configura-se uma nova vertente. Rosa (2009, p. 19), autora surda, afirma
que falar dos surdos na contemporaneidade equivale a desfraldar a bandeira da cultura surda,
de mostrar-se, erguer-se e poder sinalizar em pblico sem ser apontados ou observar risos
zombeteiros e olhares de piedade e curiosidade. Assim, descortinam-se os universalismos
culturais. As identidades surdas passam a ser vistas como mltiplas e no esto mais presas a
modelos indivisveis. No mais modelamos os surdos a partir de representaes hegemnicas
provinciais. A partir do momento que conferimos lngua de sinais o estatuto de lngua, o
padro de normalidade passa a ser visto como diferente. O surdo passa a ser visto como
membro de uma comunidade inteligente que se identifica pelo uso de uma lngua comum aos
membros dessa comunidade.
Se as pessoas so diferentes, utilizam lnguas diferentes para se comunicar e esto
localizadas em diferentes ambientes que exigem delas, para a prpria sobrevivncia, o
desenvolvimento de diversas capacidades, ento o que se pode encontrar no so pessoas com
mais ou menos capacidades de serem bem sucedidas, mas pessoas com menos ou mais
capacidades de serem bem sucedidas em determinadas reas de conhecimento, sejam elas
pessoas surdas ou ouvintes.
A principal motivao para realizao desta dissertao surgiu a partir de inquietaes
particulares acerca do processo aquisicional da Lngua Brasileira de Sinais por crianas
surdas, ao receber uma adolescente surda numa escola estadual pblica do Subrbio
Ferrovirio na cidade de Salvador, matriculada em classe inclusiva, na qual eu lecionava a
disciplina Lngua Portuguesa. Nas atividades pedaggicas desenvolvidas pude perceber que,
na maioria dos casos, o discente surdo sempre norteado pela obrigao de igualar-se
cultura ouvinte, seguindo os fundamentos lingusticos, histricos, polticos e pedaggicos
18
daquela cultura, sem levar em conta que, ao considerar o aluno surdo como um ouvinte, a
escola nega-lhe a singularidade de indivduo surdo. Assim, busquei no ensino da lngua
portuguesa como L2, ou seja, segunda lngua para surdos, fornecer subsdios de ensino da
escrita e da leitura da lngua portuguesa para alunos usurios de uma lngua gestual-visual,
respeitando a sua singularidade do Ser Surdo. Acredito que a Escola um espao poltico,
democrtico, por excelncia, onde todos tm o direito de participar, onde as pessoas se
educam, crescem e participam efetivamente para o processo de construo da cidadania.
Acredito, tambm, que a escola seja um espao onde se deve aprender a conviver com a
diversidade e a diferena cultural, buscando o respeito mtuo em seus processos
aquisicionais. A efetiva realizao do ensino de Lngua Portuguesa como L2 para crianas
surdas leva em considerao as multiformas de aprender, aprendendo-se junto, respeitando-se
os ritmos e possibilidades de cada educando, assegurando-se que todos os alunos tenham
interao em classe, tanto com os objetos a serem apreendidos, quanto com a aprendizagem
pela interao com os professores e colegas, com o objetivo de alcanar aprendizagens
cognitivas, psicomotoras, afetivas e socioculturais, alm do direito de aprender a lngua de
sinais como primeira lngua, instituindo-se assim como lngua materna. Em decorrncia
dessas experincias na rea da surdez e inquietaes acerca do processo aquisicional de
crianas surdas, ingressei no Curso de Mestrado de Letras e Lingustica da Universidade
Federal da Bahia, a fim de aprofundar conhecimentos, a partir da pesquisa sobre os aspectos
tericos e lingusticos da aquisio da Lngua Brasileira de Sinais por uma criana surda. O
convvio com crianas e adolescentes surdos despertou-me grande curiosidade e desejo de
investigar o processo de aquisio da LIBRAS como primeira lngua, i. e., sem a interveno
da instruo formal. A principal importncia da investigao est na possibilidade de
contribuir para os Estudos Lingusticos na rea da surdez, e mais especificamente sobre a
Lngua Brasileira de Sinais.
Acredito que os dados a serem pesquisados serviro como referenciais para novas
propostas psicolingusticas na Lngua Brasileira de Sinais, bem como novas propostas
educativas relacionadas s crianas surdas. Sabemos que diversos so os estudos que tm
focalizado a aquisio da linguagem em lnguas orais, mas ainda h a necessidade da
ampliao de estudos no que se refere modalidade visuoespacial, a qual se configura como
uma dimenso presente na Lngua Brasileira de Sinais. A presente pesquisa pretende
contribuir para descries e anlises fonolgicas da LIBRAS a partir da anlise fonolgica de
19
das
lnguas
sinalizadas,
as
quais
apresentam
certas
Entendemos a expresso sinalizadores pessoas surdas que utilizam as lnguas de sinais como meio de
comunicao.
20
lingustico de sinais, a exposio a dados lingusticos da lngua de sinais a que est exposta, a
far adquirir a LIBRAS2 como lngua natural.
Para esta dissertao, tomamos como questo bsica a seguinte indagao: de que forma
a criana surda, filha de pais surdos, ao adquirir a Lngua Brasileira de Sinais como Lngua
Materna realizar os traos fonolgicos dos primeiros anos de vida, considerando os
parmetros fonolgicos de configurao de mos, ponto de articulao e movimento?
A nossa primeira hiptese era a de que a criana surda, filha de pais surdos, adquirindo
a Lngua Brasileira de Sinais como lngua materna apresentaria substituio de traos
fonolgicos nos primeiros anos de vida, produzindo substituio fonolgica de determinadas
configuraes de mos da Lngua Brasileira de Sinais por no apresentar o necessrio controle
da motricidade da coordenao fina para produzir a matriz de determinada configurao de
mo. A nossa segunda hiptese era a de que a criana surda, filha de pais surdos, apresentaria
um processo de apagamento fonolgico na produo de um sinal realizado com as duas mos
e que envolvesse uma mesma configurao de mos, sem apresentar mudana de significado.
Partindo dessas hipteses, nosso objetivo bsico nesta pesquisa foi o de identificar,
durante o processo de aquisio da lngua brasileira de sinais por uma criana surda, filha de
pais surdos, de que forma os parmetros de ponto de articulao e movimento, alm da
configurao de mos, so simplificados no estgio de um sinal, durante os primeiro anos
de idade; verificando de que forma as dimenses fonolgica e lexical esto sendo
estruturadas.
A dissertao est estruturada com a presente Introduo, discutindo brevemente a
temtica de estudo. No captulo 2 abordamos alguns pressupostos tericos referentes
dicotomia lngua/linguagem e sua dimenso histrico-social no processo aquisicional;
consideraes acerca da semitica e da lngua de sinais; a comunicao com as mos e o uso
da datilologia na Lngua Brasileira de Sinais.
O captulo 3 enfoca especificamente a Lngua Brasileira de Sinais, fazendo uma
interface entre a fonologia, a morfologia e, por vezes, a sintaxe da LIBRAS. O captulo 4 traz
questes pertinentes descoberta da identidade surda na sociedade e suas fecundas
possibilidades de fortalecimento, alm da sua participao na comunidade surda, espao onde
o surdo pode desvendar suas capacidades latentes. O captulo 5 enfoca os estgios da
2
a sigla utilizada como supresso dos termos Lngua Brasileira de Sinais, forma de comunicao e
expresso utilizada pela comunidade surda no Brasil, cujo sistema lingustico de natureza visual-motora, com
estrutura gramatical prpria.
21
PRESSUPOSTOS TERICOS
2.1
faclimo aceitarmos como natural a lngua, a nossa prpria lngua - talvez seja
preciso encontrarmos outra lngua, ou, melhor dizendo, um outro modo de
linguagem, para nos surpreender, nos maravilhar novamente. (SACKS, 1998, p.
9)
23
24
25
podia perceber a diferena entre os vrios pronomes, ou entre verbos ativos e passivos. Genie
tinha palavras, mas no podia fazer frases bem formadas em Ingls:
Father hit arm. Big wood. Genie cry... Not spit. Father. Hit face spit... Father hit big
stick. Father is angry. Father hit Genie big stick. Father take piece wood hit. Cry. Father
make me cry. Father is dead 5.
Se no houver estmulos, a linguagem no se desenvolver. O estado inicial da
faculdade s vai se modificando quando cada criana exposta a um ambiente lingustico. Se
a criana ouvinte, filha de pais ouvintes, nasce e cresce em um ambiente lingustico em que
se fala portugus, por exemplo, a informao gentica que ela traz, que o estado inicial da
faculdade da linguagem, mais os dados lingusticos do portugus, a que ela exposta, faz com
que ela, por fim, adquira a lngua portuguesa. Contudo, se surda, filha de pais surdos
fluentes em lngua de sinais, exposta a um ambiente lingustico de sinais, as informaes
genticas que ela traz, mais os dados lingusticos da lngua de sinais a que ela exposta,
faro, ento que essa criana adquira, no caso de indivduos brasileiros, a LIBRAS.
Assim, percebemos que a linguagem se caracteriza como uma faculdade humana, uma
capacidade que os homens tm para produzir, comunicar, desenvolver, compreender a lngua
e outras manifestaes simblicas semelhantes lngua. , portanto, uma faculdade que
herdamos filogeneticamente. A linguagem heterognea e composta por aspectos fsicos,
fisiolgicos e psquicos e pertence tanto ao domnio individual quanto ao domnio social. Em
acordo com Vigotski (2009), afirmamos que as atividades cognitivas do indivduo ocorrem a
partir da sua histria social, constituindo-se num produto de desenvolvimento histrico-social
de sua comunidade. Concordamos tambm com o mesmo autor quando afirma que as
habilidades cognitivas e as formas de estruturar o pensamento no so determinadas por
fatores congnitos. Na verdade, so resultantes das atividades praticadas de acordo com os
hbitos sociais da cultura em que o indivduo est inserido. Vigotski (2009) declara que,
inicialmente, a criana aparenta usar a lngua como interao superficial no ambiente a que
est exposta, mas, a partir de determinado momento, a linguagem penetra no subconsciente da
criana para se constituir na estrutura do prprio pensamento da criana.
Pai bater no brao. Grande madeira. Genie chorar... No cuspir. Pai. Bater rosto - cuspir... Pai bater grande
pau. Pai raiva. Pai bater Genie grande pau. Pai ter pedao de madeira atingir. Chorar. Pai me fazer chorar.
Pai morto. Traduo da autora.
26
No caso da criana surda, os indivduos que so expostos a uma lngua de sinais tero
vantagem sobre aqueles que interagem em ambientes em que existe apenas uma lngua oralauditiva.
A palavra linguagem, na maioria das vezes, nos remete lngua falada, a todo discurso
verbal, oral ou escrito que cotidianamente expomos em nosso idioma materno. Mas existem
variadas formas de linguagem no exatamente restritas ou sequer ligadas escrita ou
oralidade. A comunicao humana pode ocorrer de diferentes formas. Falantes de uma mesma
lngua podem lanar mo de outros recursos para se fazer entender. Sacks (1998) afirma que a
existncia de uma lngua visual demonstra que o crebro humano rico em potenciais que
nunca teramos imaginado e tambm revela a quase ilimitada flexibilidade e capacidade do
sistema nervoso, do organismo humano, quando se depara com o novo e precisa adaptar-se.
2.2
O metacarpo equivale a poro mdia da mo, i.e, o conjunto de ossos dos membros anteriores (ou das
extremidades superiores, no homem) que articulam com os ossos do carpo e com as falanges proximais dos
dedos, em todos os vertebrados que apresentam aqueles membros. O metacarpo formado pelos ossos
metacarpais ou metacarpianos, que so em nmero de cinco. Nos vertebrados com 5 dedos, o carpo formado
por 5 ossos alongados. No homem, o metacarpo que suporta a "palma" da mo. (PINHEIRO, 2006, p. 36)
27
Figura 1: Dedos da mo
Fonte: <http://pt.wikipedia.org.wiki/dedos>
28
29
individual e proporciona ao objeto meter-se numa classe, no o indivduo que assim decide,
mas o prprio sistema. J a significao pessoal e intransfervel.
Entende-se por significante, segundo Coelho Netto (1999), a parte material do signo (o
som que o conforma ou os traos pretos sobre o papel branco, formando uma palavra, ou os
traos de um desenho que representa, por exemplo, um co) e por significado, o contedo
veiculado por essa parte material. No h signo sem significado.
A palavra ZOOLGICO o significante daquele local (objeto) onde se pode observar
animais em jaulas separadas por categorias (significado), mas as emoes, impresses e
lembranas que cada um guarda e que so despertadas ao depararem-se com o significante
ZOOLGICO a significao pessoal que cada um d a partir do que foi experienciado.
Nas lnguas de sinais, os sinais so os significantes. E sendo essas lnguas verbais, a
literatura atual as trata neste contexto, por isso temos o termo fonologia da lngua de sinais.
Na verdade, tanto o significante quanto o significado so abstratos. O significante no pode
ser confundido com a realizao concreta dos sons ou gestos. Ao se pensar no signo
ZOOLGICO da Lngua Brasileira de Sinais, no relevante se o sinalizante realiza o sinal
mais rapidamente ou de forma mais lenta; ou se o sinalizante deixa os dedos das mos um
pouco mais fechados e tensos ou mais abertos e relaxados; se os braos formam 70 ou se
formam 85; etc., tudo isso so detalhes fonticos (da realizao concreta do sinal), mas o que
apreendido pela mente so os detalhes fonolgicos (a realizao psquica do sinal
ZOOLGICO). Tendo em vista que o significante no a realizao concreta do signo (mas
sim uma representao mental abstrata), o conceito de significante ou signo pode se aplicar
lngua oral ou lngua de sinais. Trata-se de um fenmeno psquico, que se realiza por meio
de mais do que uma modalidade (sonora ou gestual).
Para Coelho Netto (1999), esta significao conduz, de imediato, questo da
denotao e conotao do signo. De um signo denotativo pode-se dizer que ele veicula o
primeiro significado derivado do relacionamento entre um signo e seu objeto. J o signo
conotativo pe em evidncia outros significados que vm agregar-se ao primeiro naquela
mesma relao signo/objeto.
Todos esses agentes da comunicao (o emissor, o receptor, o objeto e seus significado
e significante, provocando diversas significaes em cada indivduo), ganham novas
personificaes quando colocadas no palco das informaes geradas pela interao homemsociedade.
30
Faz-se importante tambm lembrar a distino entre gesto e sinal. Muitos sinais
apresentam formas icnicas, i. , uma forma lingustica da lngua de sinais que tenta copiar o
referente real das caractersticas visuais. Os sinais das lnguas visuoespaciais, como
detalharemos mais adiante no estudo, pertencem ao conjunto de unidades mnimas que
formam unidades maiores e so formados a partir da combinao dos parmetros fonolgicos
de configurao de mos, locao, movimento, orientao das mos e expresses nomanuais, dessa forma, so convencionais, ou seja, possuem significados combinados por um
grupo social. J os gestos no apresentam correspondncia com os itens lexicais do padro
adulto nas lnguas sinalizadas e no apresentam um contexto lingustico, mas constituem-se
apenas como a arte da imitao.
2.3
A DATILOLOGIA
Quando se ouve falar em Comunicao da pessoa surda, uma grande parte da populao
pensa que a ela se d somente pelo uso da Datilologia, ou seja, na soletrao de uma palavra
usando o alfabeto manual das lnguas sinalizadas.
O alfabeto manual pode ser observado na Figura 2, a seguir:
31
32
Ex.: (C A R L A )
C a r L a
33
34
fechada para a consoante do trato vocal. O autor prope a abordagem terica Frame, The
Content correspondente, inicialmente, a uma metfora para descrever os espaos-temporais e
bioqumicos do balbucio. Assim, afirma-se que a fala se distingue de outros tipos de
comunicao animal em termos de movimentos, pelo fato de que h um terceiro nvel
articulatrio de ciclicidade modulada. O autor tece consideraes acerca da origem interna
dos modelos de palavras, afirmando que as primeiras palavras articuladas por falantes das
lnguas orais so preferencialmente CV (Consoante+Vogal). As crianas, inicialmente, ao
desenvolverem a slaba, vo num contnuo de totalmente fechado para totalmente aberto (as
oclusivas e nasais so bsicas; as alveolares so favorecidas, mas as velares so
desfavorecidas).
Alm da anlise evolutiva das primeiras palavras nas lnguas orais, MacNeilage (2008)
tambm tece consideraes acerca das lnguas de sinais. Para ele, o desenvolvimento-chave
da cincia cognitiva a concluso de que as lnguas de sinais para os surdos so lnguas
naturais, assim como as lnguas orais so naturais para os ouvintes, diferindo nas modalidades
fonolgicas. O autor afirma que no h razes para acreditar que a organizao detalhada dos
componentes fonolgicos das lnguas orais e das lnguas de sinais possam ser comparados por
uma srie de razes. A priori, no h motivos para acreditar que o mtodo Frame, The
Content possa ser adaptado pelas lnguas manuais pela forma como essa modalidade de
lngua transmitida. Desta maneira, de acordo com o ponto de vista desse pesquisador, a
organizao bsica dos componentes fonolgicos das lnguas orais e manuais possui
modalidades especficas.
Do ponto de vista da perspectiva da cognio corporal subjacente teoria de
MacNeilage (2008), no h porque acreditar que a organizao detalhada dos componentes
fonolgicos da fala e da lngua de sinais sejam comparveis em termos lingusticos.
MacNeilage props que a evoluo da fala envolveu o aproveitamento de uma ciclicidade prexistente (da mandbula) e o aumento da sua complexidade a fim de potencializar a
capacidade de transmisso da mensagem. Por isso, no existe como imaginar que este mtodo
tivesse ocorrido pelo canal visomanual.
Mesmo existindo diferena de modalidade de percepo e produo das lnguas orais e
das lnguas visuoespaciais, utilizaremos em nossa dissertao o termo Fonologia, consoante
Karnopp (1994). Apesar do termo fonologia pertencer s lnguas orais, a autora apresenta
uma justificativa para seu uso nas lnguas gestuais, pois aps algumas tentativas de atribuir
outras nomenclaturas tais como cheremes e allochers, chegou-se concluso de que uma
35
Quadros e Karnopp (2004) apresentam uma anlise histrica sobre a origem dos estudos
das lnguas na modalidade visuoespacial constitudas como lnguas naturais. Afirmam que os
estudos lingusticos das lnguas de sinais iniciaram com o linguista americano William Stokoe
(1960) na dcada de 60 e suas pesquisas sobre a estrutura da lngua de sinais americana.
Inicialmente, Stokoe props que a lngua de sinais americana possua trs parmetros
fonolgicos que no carregavam significados isoladamente. Concordando com Stokoe,
MacNeilage (2008) afirma que as lnguas de sinais tambm so organizadas com esse trs
parmetros bsicos, constitudas como unidades mnimas nas lnguas gestuais (Fig. 4).
36
Karnopp (2004), h uma diferena fundamental entre as lnguas de sinais e lnguas faladas no
que diz respeito estrutura simultnea de organizao dos elementos das lnguas de sinais:
enquanto as lnguas faladas apresentam uma ordem linear entre os fonemas, as lnguas de
sinais apresentam uma simultaneidade e seqencialidade na articulao dos fonemas.
Durante muitas dcadas, as lnguas de sinais foram caracterizadas como algo
rudimentar, pantommico e primitivo. Stokoe (1960) comprovou que isso era um mito e que a
lngua de sinais poderia expressar pensamentos abstratos. Segundo Quadros e Karnopp (2004)
e Felipe (2004), a lngua de sinais capaz de expressar no s emoo, mas tambm permite a
seus usurios a discusso sobre qualquer tema, seja ele abstrato ou concreto, de modo to
econmico, eficaz e gramatical quanto qualquer lngua falada.
Assim como as lnguas orais apresentam unidades menores do sistema de sons, a lngua
de sinais apresenta um conjunto de unidades menores que so compostas pelas configuraes
de mos, pelas locaes e pelos movimentos. As caractersticas das unidades mnimas das
lnguas faladas so de natureza acstico-sonoras. Um som considerado fonmico nas lnguas
orais quando sua substituio em um lxico causa uma mudana de significado: ["fak], ["fal].
Nas lnguas de sinais, as caractersticas das unidades mnimas dos sinais so espaciais. Dessa
forma, os fonemas da Lngua Brasileira de Sinais so estruturados simultaneamente no espao
de sinalizao, assim, as unidades mnimas das lnguas sinalizadas se organizam a partir dos
parmetros fonolgicos de Configurao de Mos- CM, Ponto de Articulao- PA,
Movimento-M, O (Orientao), ENM (Expresso no-manual). Logo, a principal diferena
estabelecida entre as lnguas orais e as lnguas de sinais a presena linear entre os fonemas
das lnguas orais e a ausncia nas lnguas de sinais, pois os fonemas das lnguas
visuoespaciais so articulados simultaneamente e sequencialmente.
O espao de realizao dos sinais considerado finito (FERREIRA-BRITO, 1990). A
partir desse espao de enunciao, pode-se determinar um nmero finito de pontos, que so
denominados PA (Ponto de Articulao).
37
Consoante Felipe (2004), afirmamos que a lngua de sinais tem sua prpria estrutura
gramatical e no pode ser confundida com a mmica, possuindo organizao interna que
define seu conjunto de regras prprias, em todos os nveis lingusticos, expressando os
pensamentos mais complexos e as ideias mais abstratas, como todas as outras lnguas
naturais.
Segundo Felipe (2004, p. 22), os sinais em LIBRAS so formados:
[...] a partir da combinao do movimento das mos com um determinado
formato em um determinado lugar, podendo este lugar ser uma parte do corpo
ou um espao em frente ao corpo. Estas articulaes podem ser comparadas aos
fonemas e s vezes aos morfemas, so chamadas de parmetros, portanto, nas
lnguas de sinais podem ser encontrados os seguintes parmetros: configurao
das mos; ponto de articulao; movimento; orientao/direcionalidade;
expresso facial e /ou corporal.
38
Para Felipe (2004), a LIBRAS, como qualquer lngua, tambm apresenta variaes
regionais:
Exemplo de variedades regionais na LIBRAS:
Ilustraes confeccionadas por Maurcio Damasceno - Surdo, aluno do Curso de Licenciatura Letras LIBRAS,
Polo UFBA, turma 2006.
10
Idem.
39
Configurao das mos (CM) so as formas das mos e que podem ser da
datilologia (alfabeto manual) ou demais formas feitas manualmente; Locao ou Ponto de
Articulao (PA) lugar onde incide a mo configurada, podendo, at mesmo, tocar parte do
corpo ou estar em um espao neutro vertical; Movimento (M) os sinais podem ter
movimentos ou no, para indicar a sua informao; Orientao / direcionalidade (Or) os
sinais possuem uma direo, relacionados com os demais parmetros; e Expresso nomanual (ENM) extremamente importante para a compreenso da mensagem, pois serve
como diferenciador, atuando como complemento dos sinais manuais, a fim de se ter maior
entendimento da informao a ser passada.
Conforme afirmado anteriormente, as lnguas de sinais apresentam como caracterstica
especfica a simultaneidade na articulao dos fonemas. Assim, uma mesma CM e um mesmo
movimento, com locao diferente, resulta em mudana de significado, formando um par
mnimo. Pizzio (2006) afirma que os pares mnimos nas lnguas de sinais tambm so
encontrados a partir CM e do M, evidenciando a existncia das unidades sem significados na
lngua que implicam mudana de significado da palavra. O valor contrastivo dos parmetros
fonolgicos ilustrado na Figura 9, em que se observa que o contraste de apenas um dos
11
Imagem apresentada por Nanci Bento em folder explicativo na apresentao da Disciplina LET 594
Psicolingustica Aplicada ao Portugus I , Mestrado em Letras e Linguistica da Universidade Federal da Bahia,
sob orientao de Dra. Elizabeth Reis Teixeira, 2008.
40
parmetros altera o significado dos sinais. Na figura, apresentam-se dois sinais distintos, um
verbo e um substantivo, a partir de uma mesma configurao de mo (em
L), diferenciados
Para que haja o parmetro fonolgico Movimento, necessrio haver objeto e espao.
Nas lnguas de sinais, a mo do enunciador representa o objeto, enquanto o espao em que o
movimento se realiza a rea em torno do enunciador. O movimento definido como um
parmetro complexo que pode envolver uma vasta rede de formas e direes, desde o
movimento interno das mos, os movimentos do pulso e os movimentos direcionais no
espao.
O parmetro fonolgico CM considerado por Quadros e Karnopp (2004) como um
articulador primrio das lnguas de sinais, sendo um parmetro mais primitivo, pois no existe
sinal sem configurao de mo. Um sinal na lngua de sinais pode ser articulado com a mo
esquerda e com a mo direita ou com ambas, mas tal mudana no distintiva. Cabe ao
investigador de uma lngua de sinais identificar as configuraes de mos, locaes e
12
As descries das formas ou composies quirmicas dos sinais desta dissertao foram retiradas do
Dicionrio Enciclopdico Ilustrado Trilngue da Lngua de Sinais Brasileira, primeiro dicionrio de LIBRAS do
Brasil, desenvolvido por Capovilla e Raphael (2001). O corpo do dicionrio contm os sinais que correspondem
a 9.500 verbetes em Portugus e Ingls e ilustraes em Signwriting. Signwriting um sistema internacional de
escrita visual para as lnguas de sinais, criado por Valerie Sutton, a partir da dcada de 70. Esse sistema
transcreve os quiremas que compem as unidades bsicas das lnguas de sinais. Alguns sinais transcritos no
corpus do texto no possuem a descrio quirmica no dicionrio. Em decorrncia disso a autora descreveu o
sinal conforme caractersticas semelhantes de Capovilla e Raphael (2001). As descries feitas pela autora
possuem a identificao DQA (Descrio Quirmica realizado pela autora).
41
movimentos que possuem um carter distintivo, pois o valor contrastivo desses parmetros
alterar o significados dos sinais, conforme visto na Figura 10:
42
3.1
A partir dos estudos de Stokoe (1960), novas pesquisas sobre as lnguas de sinais
surgiram. Anlises recentes incorporam aos parmetros de CM, M e L mais dois parmetros:
a orientao de mo e as expresses no-manuais. Assim, a Lngua Brasileira de Sinais possui
cinco parmetros fonolgicos, conforme discutidos a seguir.
43
Refere-se (s) forma(s) especficas formadas com a(s) mo(s) que so usados em
lnguas de sinais, como a Lngua Brasileira de Sinais, a Lngua Americana de sinais, a Lngua
Francesa de Sinais e assim sucessivamente, i.e, consiste na forma real da mo que estamos
usando para produzir um lxico nas lnguas de sinais. considerado um articulador primrio
das lnguas de sinais, sendo o parmetro mais primitivo, pois no existe sinal sem
configurao de mo. A CM usada com a orientao, o movimento e a localizao (e s
vezes com os marcadores no-manuais) para descrever um sinal. Todo sinal deve ter um
conjunto exclusivo de CM, orientao, localizao e movimento.
44
45
(1997), as quatro principais regies em que um sinal pode ser articulado so: cabea, mo,
tronco e espao neutro (Fig. 13).
Karnopp (1994; 1999a) e Quadros (2008) afirmam que na realizao dos sinais da
LIBRAS, envolvemos praticamente todo o corpo, o que significam vrios pontos de
articulao como: tronco (pescoo, ombro, cintura, estmago), cabea (rosto, testa orelha
nariz, boca, olhos, sobrancelhas, bochechas) e mo (dedos).
46
SINAL TRABALHAR: Mo em L
horizontal, palmas para baixo, na altura da
cintura. Mov-las, alternadamente, para
frente e para trs, duas vezes.
47
Movimento14 retilneo
SINAL RESPEITAR: Mos verticais abertas, palma a palma, dedos flexionados, lado dos
indicadores tocando cada lado da testa. Mover as mos para frente.
Figura 17: Exemplo de Sinal da LIBRAS com Movimento Retilneo.
Fonte: CAPOVILLA e RAPHAEL, 2008, v. 2, p. 1138.
Movimento Helicoidal
SINAL ALTO: Brao esquerdo horizontal dobrado, mo horizontal aberta, palma para
baixo; mo direita em 1, palma para a esquerda, cotovelo apoiado no dorso da mo
esquerda. Mover os braos para cima, com movimento espiral.
Figura 18: Exemplo de Sinal da LIBRAS com Movimento Helicoidal.
Fonte: STROBEL e FERNANDES (1998); CAPOVILLA e RAPHAEL, 2008, v. 1, p. 181.
14
Desenhos dos movimentos dos sinais da lngua brasileira de sinais foram retirados de Strobel e Fernandes
(1998) e ilustraes da produo dos sinais de Capovilla e Raphael (2008).
48
Movimento circular
Movimento semicircular
49
Movimento sinuoso
SINAL MAR: Fazer o sinal de gua. Em seguida, mo horizontal aberta, palma para baixo,
dedos separados. Mover a mo direita para a direita, com movimentos ondulatrios.
Figura 21: Exemplo de Sinal da LIBRAS com Movimento Sinuoso
Fonte: STROBEL e FERNANDES (1998); CAPOVILLA e RAPHAEL, 2008, v. 2, p. 868
Movimento angular
50
Os sinais tm uma direo com relao aos parmetros acima. Assim, os verbos IR e
VIR se opem em relao direcionalidade, por exemplo:
51
Um sinal que envolve o movimento Bidirecional realizado por uma ou ambas as mos,
em duas direes diferentes, o sinal COMPRIDO, por exemplo:
52
SINAL COMPRIDO: Mos verticais abertas, palmas para frente e inclinadas uma para a outra,
indicadores e polegares unidos pelas pontas, tocando-se. Mover a mo direita para a direita,
balanando-a rapidamente para os lados. Opcionalmente expresso facial de descontentamento.
Figura 25: Exemplo de Sinais da LIBRAS com Movimento Bidirecional.
Fonte: CAPOVILLA e RAPHAEL, 2008, v. 1, p. 440.
53
lnguas faladas, e, por ltimo, marcar estruturas gramaticais especficas das lnguas de sinais,
como as oraes relativas, servindo para diferenciar funes lingusticas, uma caracterstica
nica das lnguas gestuais. As expresses no-manuais no nvel morfolgico esto
relacionadas ao grau de intensidade; possuem funo adjetiva, posto que podem ser
incorporadas ao substantivo independente da produo de um adjetivo, conforme exemplo nas
Figuras 4 e 5, nas quais so exemplificadas as possibilidades relacionadas ao grau de
intensidade e tamanho na Lngua Brasileira de Sinais. Embora estas sinalizaes estejam
presas a um determinado sinal, Quadros, Pizzio e Rezende (2007) no seccionaram sinais para
serem exemplificados.
Pouca intensidade
Normal
54
Mais intenso
GRAU DE TAMANHO
Normal
55
3.2
56
Dando continuidade aos trabalhos iniciados por Stokoe (1960), os pesquisadores Liddell
e Johnson (2000) acrescentam que os parmetros da Lngua de Sinais Americana, por
exemplo, podem ser descritos em termos de traos distintivos que servem a contrastes
lexicais.
Contrrios s evidncias da anlise proposta por Stokoe (1960), Liddell e Johnson
(2000) explanam que a maior parte dos itens lexicais da Lngua Americana de Sinais no
apresenta, do ponto de vista articulatrio, uma organizao sublexical simultnea. A
sequencialidade pode ser caracterizada distintivamente porque h, nas lnguas visuoespaciais,
pares de sinais que se contrastam pela ordem de um mesmo parmetro realizado.
Xavier (2006) explana que, partindo dos trs parmetros articulados inicialmente por
Stokoe, bem como da incorporao da orientao da palma da mo proposta por outros
linguistas, Liddell e Johnson apresentam uma anlise mais detalhada dos parmetros de CM,
M, PA e orientao da palma da mo, caracterizando-os como feixes de traos: feixe
segmental e feixe articulatrio. Em princpio, o feixe segmental possui a funo de especificar
a atividade da mo dominante na produo de um segmento, determinando se est parada ou
se movendo e de que maneira est se movendo. O feixe articulatrio descreve a postura da
mo, sua localizao e orientao.
O sistema descrito por Liddell e Jonhson (2000) prev uma matriz de traos para a
representao das marcaes no-manuais de movimento (cabea, dorso) e expresses faciais,
mas, dado o pouco conhecimento desses aspectos articulatrios, os autores no chegam a
desenvolver um sistema de notao sobre os mesmos.
Xavier (2006) d o primeiro passo no estudo sistemtico da composio das unidades
fontico-fonolgico da Lngua Brasileira de Sinais. Alicerado no modelo de anlise
sublexical proposto por Liddell e Johnson (2000), afirma que os itens lexicais das lnguas
sinalizadas se assemelham queles das lnguas faladas, por terem como unidade mnima
estruturante o segmento e por apresentarem uma organizao interna para cada um de seus
segmentos. Os pesquisadores apresentam uma descrio detalhada dos processos
articulatrios da produo dos parmetros de CM, M, PA e orientao como subaspectos com
base nos quais contrastes lexicais podem ser estabelecidos.
Apesar de se tentar estabelecer apenas semelhanas entre a modalidade oral e a
modalidade visuoespacial, semelhanas e diferenas podem ser constatadas. MacNeilage
(2008) afirma que a nica semelhana bem estabelecida entre as slabas articuladas e as
57
lnguas sinalizadas que, em alguns momentos, os sinais se portam como unidades rtmicas.
Por exemplo, os parmetros temporais para a implementao de configuraes de mo e
ponto de articulao so coordenados com movimento. Ocorrncias de implementao do que
seria o acento na lngua de sinais so posicionadas em relao aos sinais individuais. Assim, o
sinal difere da slaba articulada em termos de sua relao com nveis mais elevados de
gramtica (morfolexicais). Enquanto slabas articuladas no so isomrficas s palavras, na
lngua de sinais existe uma conspirao para o sinal, i. e., para a palavra em sinal ser
monossilbica (SANDLER, 1990, apud MACNEILAGE, 2008). Dessa forma, verifica-se que
a organizao dos componentes fonolgicos diferente em lnguas faladas e sinalizadas. Mas
ambas tm um nvel em que subcomponentes sem significado so concatenados a servio da
formao do estabelecimento de diferenas de sentido, apresentando aspectos de uma
organizao rtmica.
Ainda segundo MacNeilage (2008), se os traos distintivos so um artefato da descrio
lingustica e, portanto, no tm realidade psicolgica em relao fala, ento tambm no se
pode argumentar que teriam status real em relao s lnguas de sinais. Analogias aos
segmentos tm sido propostas para a lngua de sinais: locaes marcadas como consonantais e
os movimentos como voclicos. Contudo, estudos sobre erros envolvendo sinais demonstram
que no existe equivalncia entre as entidades segmentais propostas em sinal e os elementos
consonantais e voclicos da fala.
O mais importante que erros de fala, ou erros de ordenao serial, como tm sido
descritos na literatura (MACNEILAGE e DAVIES, 1990a e 1990b; TEIXEIRA, 2000 e 2001)
so subsilbicos, envolvendo elementos ordenados em srie dentro da slaba. Estes erros
referem-se a lapsos que o falante comete atravs da permuta entre segmentos que ocupam
posies equivalentes nas slabas contguas em um dado enunciado.
De acordo com Teixeira (2000, p. 244):
Nestes erros, em que h um movimento de consoantes ou vogais, existe
uma limitao imposta pela estrutura silbica atravs da qual consoantes e
vogais nunca ocupam as posies umas das outras no molde silbico. Por
exemplo, enquanto consoantes so trocadas por consoantes (como, por
exemplo, em COCHOLATE por CHOCOLATE) e vogais por vogais
(como, por exemplo, em PERMONOR por PORMENOR), vogais nunca so
trocadas por consoantes e vice-versa (como, por exemplo, ocorreria no caso
hipottico de S por S). Acredita-se que esta limitao exista desde a
origem da programao pr-motora independente de consoantes e vogais,
uma vez que se origine do fato de que consoantes e vogais demandem
58
difcil lidar com o sistema proposto por Liddell e Johnson (2000) devido a sua imensa
quantidade de detalhes e muitos valores dos parmetros de traos propostos so definidos de
forma bastante arbitrria. Dentre os sinais feitos com movimento, no possvel diferenciar
aqueles que so monossegmentais, ou seja, constitudos apenas por um segmento de
movimento, daqueles que so plurissegmentais, isto , que podem incluir, em sua estrutura
segmental, um ou mais de um segmento de suspenso e/ou movimento. Tentar estabelecer a
estrutura segmental de um sinal diz respeito determinao do momento em que o sinal
comea a ser articulado at o momento em que essa articulao finalizada.
60
15
61
4.1
62
criana surda, o sinal e seu referente esto disponveis atravs do canal sensorial da viso,
dessa forma, os sinais e seus referentes competem pela ateno visual da criana surda filha
de pais surdos. A literatura afirma que os pais surdos se adaptam com facilidade s demandas
visuais de seus filhos e acabam produzindo um nmero menor de enunciados do que os pais
ouvintes produzem para as crianas ouvintes. Em outras palavras, os pais surdos quase nunca
sinalizam quando sabem que seus bebs no esto olhando. Apesar das diferenas na
quantidade de input lexical, as lnguas de sinais e as lnguas orais so adquiridas em estgios
de desenvolvimento semelhantes.
Barret (1986) prope que as primeiras palavras das crianas ouvintes devem estar presas
em um contexto, i. e., sero produzidas apenas em um contexto considerado como limitado e
em determinadas situaes; a criana aprende a palavra ligada a um contexto, j que ela ainda
no tem o entendimento de que uma palavra pode ser utilizada como um nome de
determinado objeto. Silva (2003) tambm comenta sobre o contexto de uso das palavras, o
qual caracterizado por eventos que, para ela, so perceptualmente salientes e frequentes para
a criana:
Esses eventos particulares nem sempre envolvem a atividade motora da criana
e consistem de uma ao na qual ela regularmente participa no decorrer de um
jogo livre. Pode consistir tambm de um comportamento especfico guiado por
uma atividade de uma rotina socionteracional frequente ou pode envolver um
comportamento que produzido regularmente para expressar desejos,
necessidades e vontades. (SILVA, 2003, p. 32)
63
4.2
NVEIS DE
ESTRUTURA
ESTRUTURAO LINGU
LINGUSTICA
S
E
M
N
TI
C
O
NVEL
UNIDADE
MNIMA
EST
ESTGIO DE
DESENVOLVIMENTO
Fon
Fontico
Som
Pr
Pr-Fala
(0 - 1;0)
Fonol
Fonolgico
Segmento
sonoro
distintivo
Primeiras Palavras
(1;0 - 1;6)
Lexical
Palavra
Sint
Sinttico
Frase
Est
Estgio Telegr
Telegrfico
(1;6 - 2;0)
Morfol
Morfolgico
Forma
Organiza
Organizao e Expanso
dos Subsistemas
(a partir de 2;0)
Discursivo
Texto
Narrativo
(a partir de 4 anos)
anos)
EXEMPLO
[ka] , [dadadada
[dadadada]]
[da da]
da]
[ka] = CARRO
[da]
da] = D
D
D CARRO
CARRO PAPAI
FAZI
PICOLERES
J FAZI AMANH
(Protonarrativas)
Protonarrativas)
E.R.TEIXEIRA
64
uma lngua, a criana vai procurar identificar nas mos ou nos sons qual a lngua de que far
uso no estgio das primeiras palavras.
Teixeira (1995) tambm afirma que o perodo de aquisio de linguagem se inicia com a
comunicao Pr-lingustica ou Pr-fala. Esse o primeiro estgio de desenvolvimento
fonolgico das crianas ouvintes, e compreende o perodo que vai do choro at a produo
das primeiras palavras/sinais, que ocorre, aproximadamente, por volta do primeiro ano de vida
das crianas. Alm disso, no perodo da Pr-fala ocorrem o choro e as vocalizaes esparsas,
aproximadamente do 0 aos 0;2 meses de vida do beb:
Os padres reflexivos de choro so todas aquelas vocalizaes iniciais que se
aproximam dos sons voclicos e que variam basicamente em termos de TEMPO,
TIMBRE e INTENSIDADE. Alguns autores classificam os padres de choro em
tipos bsicos de acordo com suas caractersticas acsticas: o choro bsico, o de
"raiva", o de dor, o de fome, etc. Neste perodo, o choro predominantemente
composto por unidades voclicas entrecortadas por, pelo menos, 50 mseg. de
silncio (embora consoantes lquidas e nasais possam ocorrer). Estes padres
ocorrem em sequncias que duram at 5 minutos, com pausas breves.
Vocalizaes Esparsas so padres iniciais que acompanham as atividades
fsicas da criana: (em geral, barulhos e suspiros, ou outros barulhos associados
ingesto de alimentos. (TEIXEIRA, 1995, p. 4)
A partir dos 0;2 meses de vida at os 0;5 meses surgem os Arrulhos, tambm
denominados de gorgoleios ou murmrios, como primeiras vocalizaes do beb, que, ainda
conforme Teixeira (1995), so vocalizaes que transmitem um espcie de bem-estar e
conforto criana. De forma semelhante, Karnopp (1994) no considera que as vocalizaes
dos bebs sejam fruto de estmulo externo e sim interno, apresentando evidncias de que os
bebs surdos emitem as mesmas vocalizaes que os bebs ouvintes.
Dos 0;5 aos 0;7 meses ocorrem os balbucios vocais para as crianas surdas e ouvintes,
alm do balbucio manual para as crianas surdas, sendo ambos destitudos de significados,
pois antes da execuo de um contedo lingustico, a criana produz balbucios vocais e
65
Os ltimos meses do primeiro ano de vida da criana, que marcam a transio para o
perodo das Primeiras Palavras, so chamados, conforme Teixeira (1995), de "ECOLALIA"
ou IMITAO. Findo esse perodo, a criana surda, filha de pais surdos16, ou a criana
ouvinte, passar ao estgio das primeiras palavras denominado Perodo Holofrsico, dando
incio a uma organizao do Nvel fonolgico e lexical. No perodo holofrsico, iniciado
aproximadamente com um ano de idade e que vai at um ano e meio, as primeiras palavras
produzidas pela criana constituem-se em formas convencionalizadas em que existe
intencionalidade de estabelecer uma comunicao de interao com o adulto. A partir da
instala-se o sistema lexical e o fonolgico, e uma vez que o vocabulrio vai ampliando
gradualmente, a criana vai expandindo seus enunciados e elaborando gradativamente a sua
gramtica. Em seguida, a criana passa ao estgio telegrfico (TEIXEIRA, 2005) que ocorre
entre 1;6 e 2;0, no qual a criana elabora uma espcie de ensaio das construes sintticas,
atravs da combinao de formas justapostas.
Silva (2003) afirma que as pesquisas relacionadas ao surgimento lexical de bebs se
constituem num processo investigativo de como cada uma dessas palavras utilizada nos
primeiros anos de vida da criana a partir da influncia do meio e da interao na construo
do vocabulrio:
[...] os estudos voltados para o desenvolvimento lexical inicial procuram tentar
explicar a forma como a criana, sem nenhuma instruo formal, torna-se capaz
de utilizar, de forma adequada e eficaz, as palavras que fazem parte da lngua de
sua comunidade. Entretanto, embora existam estudos realizados a respeito dessa
fase inicial em vrias lnguas, a grande maioria que publicada e divulgada
referente a crianas adquirindo a lngua inglesa. (SILVA, 2003, p. 14)
16
As crianas surdas so membros de uma comunidade lingustica diferente da criana ouvinte. Se a criana
natissurda, filha de pais ouvintes, corre o risco de ficar em dficit na compreenso de uma lngua se no for
exposta a aquisio da lngua de sinais o mais cedo possvel.
66
Para Silva (2003), praticamente inexistem estudos e listas desse tipo em portugus. Da
mesma forma, podemos tambm afirmar que quase inexistem pesquisas com esse foco nas
Lnguas de Sinais. Vrios so os estudos que tm focalizado a aquisio da linguagem nas
lnguas orais, e por isso h a necessidade da ampliao de estudos na modalidade
visuoespacial.
Tais
estudos
devem
fornecer
informaes
sobre
processo
de
aquisio/aprendizagem nos primeiros anos, assim como outros dados relevantes para o
desenvolvimento de instrumentos que possam ser utilizados como ferramentas de acesso e
mapeamento da linguagem.
Como afirmado no tpico anterior, o processo de aquisio da linguagem apresenta um
padro comum s crianas nas diferentes lnguas, sejam elas orais ou visuoespaciais. Segundo
Petitto e Marentette (1991), o processo de aquisio de crianas surdas anlogo aos das
crianas ouvintes. importante ressaltar que o objetivo desta seo no realizar
comparaes entre as duas modalidades de lngua. Objetivamos discutir aspectos relacionados
aquisio da Lngua Brasileira de Sinais como lngua materna.
Morgan (2008) sugere que a aquisio em crianas surdas similar entre as duas
modalidades (oral-auditiva e visuoespacial), apesar de haver traos especficos da fala nas
lnguas orais e do sinal nas lnguas visuoespaciais na forma como a aquisio da linguagem
ocorre. Durante o processo aquisicional da linguagem, as crianas surdas e ouvintes cometem
tipos de erros parecidos, tanto na fala quanto na produo dos sinais na tentativa de se
aproximar do sistema adulto. As crianas surdas expostas aquisio das lnguas de sinais
como lngua materna, antes de comearem a produzir sinais, atravessam uma fase de
aquisio que, segundo Morgan (2008, p. 81), parecem refinar formato de mos prprios e
traos de localizao. Esse tipo comportamental conhecido como mabbling ou balbucio
manual.
Ao aprender um sinal, a criana surda, exposta lngua de sinais como primeira lngua,
possivelmente deve formar algum tipo de representao cognitiva de configurao manual do
sinal. Morgan (2008, p. 80) afirma que os sinais localizados no corpo, incluindo os braos e
a cabea, so dominados antes dos sinais feitos fora do corpo. Depois disso, os sinais feitos ao
colocar as mos juntas so mais fceis de produzir.
As lnguas de sinais utilizam articuladores, mais essencialmente face e mos, que so
mais visveis do que os articuladores das lnguas da modalidade oral. A aquisio dos
primeiros sinais de uma criana surda, filha de pais surdos, representa o limite entre os
estgios pr-lingustico e lingustico.
67
68
Quadros (2008) afirma que as crianas surdas, filhas de pais surdos, expostas lngua
de sinais como lngua materna, iniciam o estgio de um sinal por volta dos 12 meses. O
estgio de um sinal equivale ao estgio de uma palavra nas lnguas orais. Karnopp (1994) cita
que o incio do estgio de um sinal pode acontecer por volta dos 6 meses em bebs surdos,
filhos de pais surdos adquirindo lngua de sinais.
Karnopp (1994) explana que embora ocorra controvrsia entre os pesquisadores de
lnguas de sinais para se definir o perodo do enunciado de um sinal, normalmente se aceita a
aquisio dos primeiros sinais como sendo o incio da linguagem:
O termo aquisio da palavra (sinal) pode ser entendido de diversas maneiras,
ou seja, pode se referir a qualquer gesto produzido e usado pelo beb em um
contexto consistente ou pode se referir a um sinal da linguagem adulta que
entendido e usado como tal. (KARNOPP, 1994, p. 57)
Quadros (1997) afirma que estudos realizados na lngua de sinais americana, no estgio
de um sinal, observaram que crianas surdas com menos de dois anos de idade no
conseguem fazer uso de dispositivos indicativos que envolvem o sistema pronominal das
lnguas de sinais. Antes do estgio de um sinal, a criana surda est no estgio de apontao,
mas quando entra no estgio de um sinal, o uso da apontao comea a desaparecer, porque,
nesse perodo, a criana inicia uma reorganizao bsica, mudando o conceito de apontao
gestual para visualiz-lo como elemento de um sistema lingstico, realizando a produo de
um item lexical.
Os traos distintivos, unidades que compem segmentos, distinguem os itens lexicais
nas lnguas sinalizadas. Karnopp (1999) afirma que a noo de traos distintivos nas lnguas
69
de sinais d-se no sentido de que cada sinal passa a ser visto como um feixe de elementos
bsicos e simultneos, que formam uma CM, um M e uma L, que por sua vez entram na
formao dos itens lexicais.
Ferreira Brito (1990) prope, para a LIBRAS, um modelo de doze traos para a anlise
de CM, a seguir explicitadas: [compacta], [aberta], [ulnar], [cheia], [cncava], [dual],
[indicadora], [radial], [toque], [separada], [cruzada], [dobrada]. A autora afirma que a CM
pode permanecer a mesma durante a articulao de um sinal, ou pode passar de uma
configurao para outra. Se h mudana na CM, ocorre movimento interno na mo e mudana
na CM dos dedos selecionados.
Na Lngua de Sinais Americana, Boyes-Braem (1973/1990) prope o modelo de oito
traos: [oposio]; [extenso]; [extenso parcial]; [fechada]; [contato da ponta dos dedos com
o polegar]; [contato da junta dos dedos com o polegar]; [insero do polegar entre dois
dedos]; [cruzamento de dedos adjacentes]. Os resultados de Boyes-Braem esto alicerados
em sua pesquisa aquisicional de uma criana surda congnita, com 2;7 anos de idade, filha de
pais surdos, fluentes em ASL. A autora prope, com base nos dados da pesquisa, e em
restries anatmicas, quatro estgios de aquisio do parmetro CM.
Para Boyes-Braem (1973/1990), as CMs produzidas no estgio I envolvem
manipulaes da mo como um todo e da parte radial. Ao final do primeiro ano, todas as
crianas, no importa a que lngua de sinais estejam sendo expostas, possuem o controle fsico
das CMs do primeiro estgio. As CMs de mo produzidas no estgio II envolvem a aquisio
dos traos Aberto (para a CM de mo B); Extenso dos dedos da parte ulnar como um grupo
nico e Contato do polegar com todos os outros dedos.
No estgio III, a criana inicia a distino entre os dedos de forma individualizada,
envolvendo, segundo Karnopp (1999), a manipulao dos dedos separados, inclusive do
grupo ulnar, significando que alguns dgitos so inibidos enquanto outros so ativados.
No ltimo estgio, a criana ativa e inibe, de forma independente, os dedos mdio e
anular fora da ordem serial; adquire os traos [+ cruzado] e [+ insero]. CMs de mos
produzidas no estgio quatro, conforme Boyes-Braem (1973/1990), fazem parte de uma
pequena porcentagem de sinais do vocabulrio infantil e adulto, mas nenhuma destas so
usadas em processos de substituio.
McItire (1977), ao analisar o processo aquisicional de uma criana surda, filha de pais
surdos, adquirindo a Lngua de Sinais Americana, constatou que o desenvolvimento de
70
Para Karnopp (1994, p. 57), a aquisio dos primeiros sinais como sendo um incio da
linguagem pode ser entendido de diversas maneiras:
71
Afirmamos, consoante Silva (2009, p. 4), que uma vez observados e analisados os
padres de desenvolvimento lexical em crianas surdas adquirindo a Lngua Brasileira de
Sinais, isto servir:
[...] como uma ferramenta para situar, por exemplo, em qual estgio se encontra
um indivduo surdo, fornecendo subsdios para um acompanhamento. Alm
desse propsito, a lista de frequncia das primeiras palavras poder ser utilizada
para fins educacionais (e.g. fornecendo listas de palavras que so mais
frequentes no universo infantil para a confeco, por exemplo, de livros
infantis), podendo servir como base ou como suporte para outros projetos, bem
como para a construo de material de pesquisa, materiais didticos e testes de
lngua.
72
objetos nulos, pode estar relacionado ao uso sinttico do espao que ainda no observado,
nesse perodo, de forma consistente. Exemplos como:
(1)
a. EU iSAIR. TCHAU!
'Eu estou saindo. Tchau
b. ELEk OLHAR ELEk.
'Elei olhou para elej'. (QUADROS, 1997, p. 73)
mostram que a criana pesquisada j usa o sistema pronominal com referentes presentes
de forma adequada, no estgio das primeiras combinaes.
Por fim, Karnopp (1994) enfatiza que o perodo de maior desenvolvimento lingustico
vai, aproximadamente, at os cinco anos de idade, quando a criana surda ou ouvinte j
demonstra possuir uma capacidade lingustica prxima ao sistema adulto.
4.3
73
Da mesma forma, podemos afirmar que algumas configuraes de mos so mais fceis
de serem produzidas ao se realizar um sinal nas lnguas visuoespaciais, no perodo
aquisicional da linguagem. Nas lnguas naturais, h uma srie de processos, a exemplo do
apagamento e da substituio. O processo fonolgico classificado de apagamento consiste na
supresso de algum segmento nas lnguas orais e nas lnguas visuoespaciais. Por exemplo, na
Lngua Portuguesa do Brasil temos o verbo ARRANCAR que pode ser reduzido a rancar.
Na Lngua Brasileira de Sinais temos o advrbio de tempo ou negao NUNCA, um
emprstimo lingustico da Lngua Portuguesa:
74
4.4
17
importante ressaltar que essa ideia proposta por MacNeilage (2008), mas tanto lnguas de sinais quanto
lnguas orais apresentam a simultaneidade e a sequencialidade, conforme Karnopp (1999).
75
De acordo com Teixeira (2003), a motricidade controlada por dois sistemas que
envolvem grande nmero de estruturas enceflicas e que so denominadas sistema piramidal e
sistema extrapiramidal. Teixeira (2003, p. 10) afirma que o sistema piramidal tem suas fibras
originadas no crtex cerebral com trajeto direto atravs das pirmides at a medula espinal,
fibras corticospinais ou corticonucleares, sendo responsveis pelos movimentos voluntrios,
ou seja, um sistema responsvel por movimentos deliberados decorrentes a partir de um ato
de vontade e o sistema extrapiramidal tem origem no crtex cerebral e no cerebelo, com
trajeto por vias intermedirias, no passando pelas pirmides, sendo responsvel por
movimentos automticos, regulao de tnus e postura, ou seja, a manuteno do equilbrio e
da postura, a coordenao dos movimentos voluntrios e o controle do tnus muscular so
funes realizadas pelo cerebelo. Por isso, o desenvolvimento motor, assim como o processo
aquisicional da linguagem infantil, tem suas etapas de aquisio.
Oliveira e Oliveira (2006) afirmam que durante os primeiros anos de vida os progressos
de desenvolvimento motor costumam obedecer sequncias ordenadas, Contudo, existe
considervel variabilidade individual, de acordo com cada criana. Ambos constataram que
cada criana apresenta um padro caracterstico de desenvolvimento motor, pela influncia
sofrida em seu meio, varivel a cada criana. Sauron (2003) informa que, a partir da quinta
semana de gestao, os membros superiores e inferiores dos embries humanos aparecem
como brotos. Com o crescimento posterior, a parte terminal desses brotos comea a achatar-se
e separar-se de uma parte proximal mais cilndrica, segmentando-se em consequncia da
formao de constries circulares. De forma precoce, segundo a autora, aparecem quatro
sulcos radiais separando cinco reas espessadas, situadas na poro distal dos brotos,
esboando-se, assim, os membros superiores mos. Esse membro superior apresentar, de
acordo com Sauron (2003, p. 266), funes com perfeio quando o comando que vem desde
o crebro e medula, passando pelo plexo braquial, alcanar o ombro, o brao e o antebrao.
A autora afirma, ainda, que disfunes provenientes da fonte crebro ou que ocorram ao
longo do trajeto, poder acarretar perda temporria ou definitiva da funcionalidade do
membro superior mo como ferramenta de trabalho (motor), instrumento de percepo
(sensibilidade), rgo de comunicao(gesto), termos utilizados pela autora.
Sauron (2003) traz ainda, em seu artigo, importantes asseres acerca do membro
superior mo como acompanhamento ou substitutivo da fala normal ou ainda como um
auxiliar quando falamos em outro idioma, quando no temos total domnio verbal. Para a
autora, os gestos manuais so movimentos que todos ns fazemos como parte integrante de
76
77
Quanto psicomotricidade, Lussac (2008) afirma que a origem do termo se deu a partir
dos discursos mdicos no incio do sculo XIX. Com o desenvolvimento e as descobertas da
neurofisiologia, iniciam-se constataes de diferentes disfunes graves sem que o crebro
humano estivesse lesionado ou sem que a leso estivesse localizada. Distrbios da atividade
gestual so descobertos, alm de distrbios das atividades prxicas. Dessa forma, o esquema
antomo-clnico que determinava para cada sintoma uma correspondente leso focal, no
podia explicar determinados fenmenos patolgicos. justamente a partir da necessidade
mdica de encontrar uma rea que explique certos fenmenos clnicos que surge, pela
primeira vez, o termo Psicomotricidade, na dcada 70. A partir desses estudos clnicos,
verificou-se que o desenvolvimento psicomotor permite criana passar dos movimentos
globais (coordenao motora grossa) aos mais especficos (coordenao motora fina), fazendo
78
com que a criana adquira conscincia do prprio corpo e das possibilidades de expresso por
meio dele.
Guardia e Coelho (1993) informam que o desenvolvimento da coordenao motora tem
incio pela percepo e conhecimento pela criana do seu corpo. H uma sequncia
psicolgica prpria do desenvolvimento infantil, segundo a qual a maturao se faz dos
grandes movimentos para os pequenos movimentos. Dessa forma, compreender a criana
surda em processo de desenvolvimento motor significa estar atento s suas carncias
psicomotoras. O input visual entre me e filho surdos um dos fatores que podem
proporcionar uma melhor maturao do desenvolvimento motor da criana surda. A interao
entre o beb surdo e a me surda, no processo aquisicional da linguagem, discutida por
Karnopp (1994, 1999a, 1999b). A autora salienta que o input visual necessrio para que o
beb surdo passe para etapas posteriores no desenvolvimento da linguagem. O contato visual
entre os interlocutores, o uso de expresses faciais e a ateno que o beb surdo coloca no
meio visual tornam-se essenciais para o desenvolvimento lingustico do beb.
Observamos, assim, que a psicomotricidade favorece, criana surda, uma relao
consigo mesma, com o outro e com o mundo que a cerca, possibilitando-lhe um melhor
conhecimento do seu corpo e de suas possibilidades lingusticas na produo dos primeiros
sinais.
Mann, Marshall e Morgan (2007), estudiosos da lngua de sinais britnica,
desenvolveram um teste de avaliao rpida, especificamente para as crianas surdas e que
estavam aprendendo a Lngua de Sinais Britnica. Neste teste em computador, os
participantes foram apresentados a uma srie de sinais caracterizados como nonsense-sign,
i. e., gestos que poderiam ser sinais reais da Lngua Britnica de Sinais, mas no tinham
nenhum sentido e a criana teria que repeti-los com uma breve demora. Esta tarefa exige
habilidades de percepo e produo dos participantes surdos e habilidades da coordenao
motora fina e grossa. As crianas eram influenciadas a repetir os sinais. Um dos objetivos
dessa pesquisa foi contribuir com uma ferramenta que pudesse se tornar um instrumento de
avaliao til para terapeutas da fala e pesquisadores da lngua de sinais britnica que
trabalham com crianas surdas. Atualmente, existem poucos testes de avaliao de linguagem
que so apropriadas para crianas surdas e quase inexiste um instrumento especfico para o
estudo da fonologia da lngua de sinais. Para a realizao do projeto, foram coletados dados
de cerca de 100 crianas surdas com idades entre 3-10 anos em escolas e instituies com
crianas surdas do Reino Unido. Alm da repetio do nonsense-sign, os pesquisadores
79
81
5.1
PERFIL DO SUJEITO
82
F tambm tem tios surdos por parte da famlia paterna, sendo um deles fluente em
lngua de sinais, professor de LIBRAS na Universidade Estadual de Feira Santana, tambm
aluno do Curso de Licenciatura em Letras LIBRAS pela UFSC/UFBA.
Nos fundos da casa de F, funciona um pequeno restaurante da famlia, e a maioria dos
frequentadores so ouvintes no-usurios da lngua de sinais. Na frente da casa de F, funciona
uma mercearia pertencente av materna. Ao lado da mercearia, na sada da casa, h um bar
da famlia. Todos os funcionrios so ouvintes e no dominam a Lngua Brasileira de Sinais.
Alguns frequentadores se comunicam com F atravs de gesticulao e mmica, outros tentam
estabelecer comunicao com F atravs da modalidade oral. Na vizinhana, h uma criana
surda, fluente em lngua de sinais, amigo de F. Ambos s se comunicam atravs da lngua
brasileira de sinais. H, ainda, na vizinhana, uma outra criana surda, que no domina lngua
de sinais e se comunica atravs de gesticulao.
F est exposto a um ambiente bilngue. Nas situaes de comunicao e interao com
os pais, com a tia surda, com o tio surdo e com o amigo surdo, a comunicao se d em
LIBRAS; e com outros tios, a av materna e alguns cuidadores, F tenta se comunicar em
Lngua Portuguesa. Inicialmente, F no foi uma criana muito produtiva linguisticamente,
pois, durante os primeiros meses de vida, conforme relato parental, possuiu uma maior
interao com as pessoas ouvintes da casa, j que os pais trabalhavam no perodo diurno e s
conviviam com o filho noite. Durante a fase de pesquisa, conversou-se com a me da
criana, informando a importncia de se manter um maior contato com o filho surdo, bem
como outras pessoas surdas, promovendo maior interao com seus pares surdos. A me de F
demonstrou grande interesse e comeou a participar mais ativamente, interagindo mais com o
filho, e diminuiu suas horas no trabalho.
5.2
A COLETA DE DADOS
83
modalidade semipresencial, turma 2006, pois sua me aluna do curso e o filho acompanhou
a me em algumas aulas. Assim, os dados resultam de uma srie de sesses de filmagens em
locais em que F circulava e observaes realizadas pela pesquisadora. Os nomes das pessoas
que estavam interagindo com F tambm foram registrados e, por questes ticas, esto
expostos aqui por iniciais maisculas em negrito. Durante as sesses de filmagem, utilizamos
blocos de anotaes, cmera digital Olympus e Sony (Hard Disk Drive).
Na maioria dos encontros, procuramos realizar a coleta de dados em situao de
comunicao espontnea e em ambientes informais, usando brinquedos, imagens recortadas
de revistas (cf. Apndice C e Anexo A), objetos de casa e alimentos, a fim de obter um
vocabulrio familiar do cotidiano de F. Todos os sinais selecionados para a transcrio,
descrio fonolgica e anlise dos dados foram produzidos em situao espontnea. De incio,
F mostrou-se inibido com o equipamento de filmagem e com a presena da pesquisadora. E,
em decorrncia disso, a pesquisadora priorizou, nos primeiros encontros, observaes
sistemticas das interaes de F com a me e os outros membros da casa. Quando F comeou
a se acostumar com a presena da pesquisadora, foram inseridas as filmagens com cmara
digital e filmadora. Com o passar do tempo, observamos que a presena do equipamento e da
pesquisadora tornaram-se familiares para a criana. Todas as transcries foram feitas pela
autora, com a mediao de um intrprete de lngua de sinais, a fim de dirimir eventuais
dvidas sobre os sinais produzidos por F. O intrprete atuou como voluntrio da pesquisa e
assinou um termo de autorizao (vide apndice B). A data de transcrio dos sinais no banco
de dados foi realizada no perodo de 27 de outubro de 2008, a 10 de outubro de 2009 e a
reviso ocorreu em outubro, novembro e dezembro de 2009.
5.3
84
5.4
SESSES DE INTERAO
85
considerados produes fonolgicas corretas quando semelhantes ao modelo dos pais surdos
para aquele parmetro. Os Grficos 1 a 5 referem-se s produes realizadas por F nas
sesses de interaes observadas. As Tabelas 1 a 5 referem-se os nmeros de sinais
produzidos por F em cada sesso de interao, em relao ao type (tipo) e ao token (nmero
de ocorrncias) do item lexical, type e token, respectivamente.
Foram consideradas substituies fonolgicas os sinais produzidos de forma diferente
do padro adulto, a partir da transcrio das filmagens de interao de F com a me.
Transcrevemos aqui apenas as filmagens que apresentaram produes de substituies
fonolgicas do informante. As demais serviram como base para pesquisa. Os sinais
produzidos por F esto destacados em negrito. Os sinais que apresentaram substituio esto
em negrito/itlico. Os sinais repetidos no foram contabilizados para a descrio.
Descrevemos apenas os sinais que tiveram substituies fonolgicas. A relao da quantidade
de sinais produzidos por dia de filmagem, a relao dos nomes (sinais) so encontradas nas
descries a seguir. As descries dos sinais esto em conformidade com Capovilla e Raphael
(2008). Os sinais produzidos por F que apresentam substituies fonolgicas foram descritos
pela pesquisadora.
86
F anda pela casa, est segurando uma caneca com gua na mo direita. Aponta para a
caneca com a mo esquerda e aponta para a mesa. Coloca a caneca no cho. F encontra uma
caixa de brinquedo. Abre a caixa com a ajuda da me. Retira um cachorro de dentro da caixa.
Comea a interagir com o objeto. O cachorro pula, F observa. Aponta para o cachorro, o
cachorro pula novamente e F se assusta. Observa. Aponta trs vezes para o cachorro. A me
interage com F e pergunta o que o objeto.
Me: aponta para o cachorro. Realiza expresso facial interrogativa: palmas das mos
para cima, ergue a cabea com expresso facial interrogativa, olhando para F. Chama a
ateno do filho balanando as mos. Toca em F. Chama-o vrias vezes tocando-o pelo brao.
F pega a caixa de brinquedo vazia, a me questiona novamente o que o objeto. [O QUE ?]
A me pega o cachorro, coloca-o em p no meio da sala. F observa a cena. Coloca a caixa no
cho. Pega a caneca com gua, bebe, coloca novamente a caneca no sof, olha fixamente.
Oferece a gua para a me. A me responde: [NO, OBRIGADA]. F tenta repetir o ltimo
sinal produzido pela me: [OBRIGADO] / inclina a cabea para a esquerda, mo esquerda em
C na altura da orelha, palma para dentro, ponta dos dedos prximo a orelha esquerda, afasta a
mo esquerda e a cabea ao mesmo tempo cabea para direita e mo para esquerda.
A me olha para o filho, faz o sinal de [GUA]. Aponta para a pesquisadora. F se
aproxima da pesquisadora. Observa a cmera filmadora, olha para a me, olha para o
cachorro, aponta para o brinquedo. Ele se aproxima da me. A me pega a caneca com gua e
aponta para o cachorro e d a F. Ele tenta guardar o cachorro na caixa. A me novamente
pega o animal de brinquedo e d ao filho. F pega a caixa. D a caixa para a me e faz o sinal
cachorro: [CACHORRO = mo direita em D, palma para dentro diante da boca semiaberta.
Move ligeiramente a mo para frente e para trs tocando os dedos na boca].
87
18
O sinal icnico faz aluso imagem do seu significado, a exemplo da produo do sinal TELEFONE, em
decorrncia de sua natureza lingustica visuoespacial, dessa forma, a realizao de um sinal pode ser motivada
pelas caractersticas de um dado da realidade a que se refere, mas isso no se constitui uma regra. A maioria dos
sinais da Lngua Brasileira de Sinais so arbitrrios, i.e., no mantm relao de semelhana alguma com seu
referente.
88
89
F est andando em um triciclo na rua onde mora. A me est do seu lado. Chama a
ateno do filho e sinaliza que ele d a volta. F d a volta, retorna. A me sinaliza que ele
deve brincar prximo da casa e diz que est indo embora. D tchau. F demonstra irritao. A
me chama a ateno do filho, toca nele e sinaliza [VENHA, VAMOS PARA CASA]. A me
sinaliza para a pesquisadora: [QUE MENINO TEIMOSO!].
90
F anda com o triciclo. A me sinaliza para ele ir para casa. F aponta para um carro
estacionado na calada. A me sinaliza [ DO VOV, A CHAVE EST L DENTRO]. F
caminha com o triciclo. A me chama o filho e sinaliza [CASA]. F caminha com o triciclo e
faz sinal do pai dele [PAI]. A me brinca com o filho e sinaliza que vai para o carro. Sinaliza
[TCHAU]. F volta com o triciclo, corre em direo ao carro, aponta para o carro, sinaliza
[TCHAU] para a me, sai, toca no carro e sinaliza duas vezes [QUENTE] [mo direita em C,
palma para esquerda em frente a boca. Move a mo lentamente para a direita]
A me sinaliza: [MORRER. EST QUENTE L DENTRO]. F corre em direo ao
triciclo. A me caminha atrs do filho. F corre. A me chama a ateno do filho, tocando-o no
brao. F caminha com o triciclo. A me puxa o triciclo para o canto da rua. Faz o sinal de
carro, F demonstra irritao. Um carro passa por ele, enquanto a me sinaliza: [CARRO
PODE BATER!]. F volta a caminhar com o triciclo.
A me sinaliza para a pesquisadora: [ELE J SABE O SINAL QUENTE E GELADO].
Chama a ateno do filho e sinaliza para ele ir para casa, faz o sinal [CANSADA]. F no d
ateno e segue com o triciclo. F encosta-se em um porto, a me sinaliza: [OLHA O
CACHORRO!] e F sai de junto do porto. A me volta a sinalizar para o filho: [OLHA O
CARRO DO SEU TI@19!], apontando para um carro. Um amigo ouvinte passa por F e o
cumprimenta. F sinaliza [TCHAU] para a me e vai em direo ao amigo. F vai para a frente
da mercearia da av, brinca com o triciclo e com a me.
F brinca em frente mercearia da av. A me est do seu lado. A me toca no filho para
chamar a ateno dele e informa para ele no ir para a rua. F caminha em direo a um carro
que est estacionado em frente a mercearia. A me sinaliza que a chave est com o/a ti@ de
F. A me oferece uma moeda para o filho e diz que ele d av. F caminha com o triciclo, a
me toca no brao do filho para chamar a ateno e sinaliza para ele ir buscar a bola de
soprar. F levanta do triciclo e faz o sinal icnico de [ESPERAR]. Aponta para o triciclo
indicando para a me olhar o brinquedo, caminha em direo a mercearia, volta e sinaliza um
sinal classificador20 de [DERRUBAR]/mos abertas, palma para dentro na altura do ombro,
movimento para baixo/, conforme padro adulto.
19
20
Na LIBRAS, os sinais classificadores so configuraes de mos que, relacionadas coisa, pessoa e animal,
funcionam como marcadores de concordncia. No se deve confundir os classificadores, que so algumas
configuraes de mos incorporadas ao movimento de certos tipos de verbos, com os adjetivos descritivos que,
nas lnguas de sinais, por estas serem espao-visuais, representam iconicamente qualidades de objetos. (FELIPE,
2000)
91
21
Entendemos GESTOS como movimentos do corpo com o objetivo de exprimir mmica, pantomima, com que
o orador dramatiza um discurso, no se constituindo um SINAL das lnguas visuoespaciais, pois no pertencem
ao conjunto de unidades distintivas caracterstico dos Sinais.
92
93
F interage com o aluno M, surdo. F faz meno de colocar o dedo na tomada. M finge
colocar o dedo na tomada e levar um choque. F observa, M novamente finge levar um choque
e faz o sinal de [ELETRICIDADE]. Novamente, F faz meno de colocar o dedo na tomada.
M sinaliza [NO]. F aponta para M colocar o dedo na tomada, M sinaliza que no ir colocar
o dedo e diz para F colocar e pergunta se ele est com medo. M o repreende e diz para ele no
colocar o dedo. F caminha pela sala, observa a apresentao de um grupo. O grupo est
apresentando o tema do Uso de espao de sinalizao por surdos e ouvintes, enquanto isso
F est no colo da me, que pede ao filho para observar a apresentao do grupo. F observa
tudo atentamente. O grupo finaliza a apresentao e recebe os cumprimentos dos colegas. F
continua observando.
F vai para o colo da aluna MS. Ela brinca com F. MS chama a ateno de F tocando no
brao dele. MS brinca com F utilizando as mos como forma de interao. Ela mexe os dedos
na cadeira, F imita e mexe na cadeira da frente. A garrafa com gua que est na cadeira cai no
cho. MS sinaliza [ MINHA GUA]. F sinaliza: [BEBER]. Ele desce do colo de MS e pega
94
22
Todas as vezes que F sinalizou GUA ele apresentou o mesmo tipo de substituio: /Mo direita aberta, dedos
unidos, palma para a esquerda, ponta do polegar esticado e tocando o queixo/. Balana os dedos.
23
Ver definio na pgina 78. Essa nomenclatura pode ser aplicada a todas as lnguas de sinais.
95
com livros dos alunos. F brinca de se esconder atrs da cadeira, interagindo com o aluno G. F
volta a interagir com MS, faz o sinal [LEVANTAR] e aponta para outra cadeira, indicando
que MS deve ir para l. MS levanta, mas senta na mesma cadeira. Ele volta a brincar de se
esconder com o aluno G. Brinca com MS que atende ao pedido e senta no cho com ele.
Ambos esto sentados no cho. F interage com ED. ED apresenta uma nova garrafa de
gua para F. Ele diz que a outra dele, fazendo o sinal [MEU] e pede a garrafa de ED.
Aponta para a segunda garrafa e faz o sinal de [GUA]. Faz o sinal de [DORMIR], fechando
os olhos, aponta para um outro beb que est na sala e faz o sinal de [ESPERAR]. Volta a
sentar no cho e pede que MS sente-se junto a ele. Volta a brincar de esconde-esconde com
G. MS aponta para a segunda garrafa de gua e faz o sinal [LEITE]. F repete o sinal:
[LEITE] /mo direita em S horizontal, palma para dentro, move para cima e para baixo com a
mo fechada/.
F levanta, caminha at ED, pega a garrafa que est na mo dela e oferece para a
pesquisadora. Volta a brincar com MS, senta no cho, aponta para a primeira garrafa e
sinaliza [MEU]. F levanta e chama MS para acompanh-lo. Ambos caminham pela sala. MS
pega F no colo e o mesmo interage com P. P faz o sinal de [APANHAR] e F tenta repetir o
sinal [APANHAR] /Mo direita aberta, palma para dentro, balana a mo para cima e para
baixo/. P sinaliza: [MAME CAD?] e F aponta para a frente, desce do colo de MS,
caminha em direo ao beb e faz o sinal de [SILNCIO]. Aponta para o beb e sinaliza:
[BEB] /mo esquerda sobre a mo direita, encostadas ao peito, balana o corpo para
esquerda e para direita/. Faz o sinal novamente de silncio e aponta para o beb. MS pega F
no colo e caminha para fora da sala. MS caminha com F no colo e sinaliza [PERIGOSO],
perto do parapeito. Ambos caminham pela Universidade, F faz apontao para objetos.
Aponta para a luz e sinaliza [LUZ]. Continua caminhando pelo corredor da Universidade.
Entra no banheiro feminino, sai, caminha pelo corredor e MS o pega no colo. Eles voltam
para a sala do Letras LIBRAS. F interage com a pesquisadora que mostra um colar a F, e
ele realiza o sinal [QUEBRAR]. A pesquisadora sinaliza [SIM, QUEBRAR. VOC
QUEBRAR ANTES, LEMBRAR?] depois informa para F prestar ateno s pessoas que
esto apresentando um trabalho em lngua de sinais. F faz o sinal de [SINALIZAR] /mos
horizontais abertas, palma a palma. Move lentamente a mo direita para frente e para trs.
Permanece com a esquerda aberta, movendo-a lentamente aps mover a mo direita/. Desce
do colo de MS, corre pelo corredor.
96
Todos brincam de correr: MS, ED e F. MS sinaliza [UM, DOIS, TRS, J] para que
todos comecem a correr. F sinaliza [DOIS, TRS, J] para comear a correr. F volta para o
local de partida, sinaliza os nmeros cardinais [DOIS, TRS] e logo aps o sinal [J] + sinal
[F] e corre. O aluno MR, tio de F, surdo, aparece no corredor e comea a brincar com o
sobrinho. Eles brincam de correr. F chama ED para brincar, realizando o sinal [VIR]. Todos
brincam. F olha para a cmera e faz o sinal: [POSITIVO]. Todos voltam para a sala de aula.
Os alunos esto reunidos na sala no momento do intervalo. F vai para o colo da me, coloca
as mos nos lbios simbolizando [ACHOCOLATADO]. A aluna J mostra uma caixa de
achocolatado lquido. A me de F pergunta as horas e J responde que so 11h30min. A me
de F repete o sinal que o filho fez para achocolatado e sinaliza [NO, J QUASE MEIO
DIA]. F mexe na mochila, procurando algo para comer. A me sinaliza. [NO, LANCHE
CASA. VOC COMER RESTAURANTE]. J brinca com F e com a me dele, ele se irrita e J
pergunta se ele est com cime da me. F volta a brincar com a mochila. Desce do colo da
me, caminha para fora da sala, v o carro do beb e sinaliza [CARRO].
97
F est na varanda da casa interagindo com o intrprete de lngua de sinais, Sr. ER que
mostra para F uma srie de gravuras em cartolina vermelha, produzidas pela pesquisadora, e
emborrachados EVA com figuras de animais, levados pela pesquisadora. A primeira gravura
um cachorro. ER mostra para F e pergunta o que . F sinaliza [CACHORRO]. A segunda
98
99
A outra figura mostrada pelo intrprete uma tartaruga. F sinaliza [TARTARUGA] /mos em
A horizontal, palmas para dentro. Segura o polegar da mo esquerda com o polegar da mo
direita. Balana o polegar direito para cima e para baixo/.
O intrprete mostra o emborrachado de borboleta. F observa e sinaliza [BORBOLETA]
/mo esquerda aberta, palma para frente, dedos semicurvados, polegar distendido. Mo direita
segurando o polegar da mo esquerda. Balana os dedos da mo direita para cima e para
baixo/.
ER mostra um emborrachado de um pssaro para F que sinaliza novamente
[BORBOLETA], conforme a descrio anterior. O intrprete demonstra para F o sinal
correto e F sinaliza [PSSARO]. A tia oferece um copo com gua para F. F coloca os
emborrachados no cho, volta a coloc-los sobre a mesa, brinca. Um rapaz com uma criana
chega ao local. F os observa. Volta a brincar com os emborrachados. O intrprete pergunta a
F de quem o velotrol que est prximo a eles. F sinaliza: [MEU]. F aponta para um
capacete que est na janela e sinaliza [MOTO]. Intrprete e F brincam com o velotrol e com
o capacete. Em determinado momento F aponta para o cu e sinaliza: [L PASSARO EU
POSITIVO VER] e aponta para o emborrachado com o desenho do pssaro e olha para o
cu. F volta a sinalizar para o intrprete: [VER L!], apontando para o cu. O intrprete olha
para o cu. F sinaliza [L VER POSITIVO?], com expresso interrogativa. O intrprete
sinaliza [VER L, PSSARO L]. F responde [PSSARO L!].
Intrprete e F voltam a brincar. Enquanto brincam, surge no varal do quintal, um mico
(sagui), o intrprete mostra o animal para F, que fica surpreso. ER sinaliza [MACACO] para
F, que repete [MACACO] /mos em C, a cada lado da cabea, dedos separados. Movimenta
os dedos simulando coar. Bochechas infladas/. Ele volta a olhar para o local onde o mico
estava, aponta para o local, mas no encontra o animal. Olha para ER pergunta: [CAD?]. F
vai para o quintal procura do mico com ER. ER vai ao encontro do mico na rvore, chama a
ateno de F, tocando no seu brao, sinaliza: [EST ALI]. F observa. ER sinaliza
[MACACO]. F aponta para o mico e sinaliza: [MACACO] /conforme descrio anterior/.
Ambos continuam olhando para o mico, que novamente some. ER sinaliza [CAD
MACACO, CAD?]. F sinaliza: [CAD MACACO?]. F continua a olhar para a rvore, este,
ao encontrar o animal, sinaliza: [ALI, MACACO] e continua a observar o mico. F aponta
para sua prpria camisa que tem uma foto de um polvo e aponta para o mico. Olha para a tia,
aponta para o mico e sinaliza: [BONITO ALI, MACACO] /conforme descrio anterior/. F
olha novamente para a rvore, mas no encontra novamente o mico, este volta para a varanda
100
101
da casa. ER sinaliza para a tia e para outra intrprete que est ao lado que F foi buscar uma
banana.
F volta de dentro da casa, ER sinaliza: [BANANA DAR MACACO]. F sinaliza
[BANANA] e aponta para o local onde o mico estava. ER toca no brao de F e sinaliza:
[COMER ELE MACACO BANANA, COMER-BANANA CAD? (ER usa CL para
descrever COMER-BANANA)]. F sinaliza: [COMER MACACO COMER- BANANA (F
usa CL para descrever COMER-BANANA)]. ER confirma a sinalizao de F e sinaliza
[BANANA]. F volta a olhar para o local onde o mico estava, olha novamente para ER e
sinaliza: [COMER-BANANA (F usa CL para descrever COMER-BANANA). ER sinaliza:
[BANANA CAD] para F, este sinaliza: [COMER]. Aponta para um emborrachado e aponta
para aonde o mico estava. Olha para ER, este sinaliza: [BANANA, COMER-BANANA (ER
usa CL para descrever COMER-BANANA)]. F sinaliza: [COMER BANANA CAD? (F
usa CL para descrever COMER-BANANA)]. F pega um emborrachado leva-o at a direo
da boca e aponta em direo onde se encontrava o mico, sinaliza [MACACO] /conforme
descrito anteriormente/. ER sinaliza para F: [IR EMBORA], F sinaliza: [IR EMBORA,
CAD?].
Uma jovem entrega para a intrprete T o lanche de F. T repassa o lanche para ER, este
pega o lanche e mostra para F, que ao ver fica contente. ER sinaliza [COMER], pega o garfo
e brinca com F de aviozinho. F pega o garfo e coloca na boca. ER pergunta para F o que
ele estava comendo, este olha para o quintal e aponta para o local onde o mico estava, aponta
para o lanche, indicando que para o mico comer. ER informa que o mico foi embora, F
confirma sinalizando: [IR EMBORA]. F come o lanche, ao mesmo tempo em que brinca
com ER. F aponta para os emborrachados e olha para ER, que sinaliza o sinal da figura no
emborrachado. F come o lanche enquanto observa ER montar as figuras nos emborrachados.
F pega o emborrachado montado e realiza o sinal: [POSITIVO]. Pega outro emborrachado
montado na mo de ER e mostra para T, que balana a cabea e faz o sinal [POSITIVO] em
confirmao. F continua a brincar com os emborrachados, desmonta um e mostra para ER,
que lhe ensina como mont-lo. ER pede para F colocar o emborrachado em cima da mesa,
este o faz e consegue encaixar o emborrachado. Aps isso, sinaliza para ER: [POSITIVO].
ER sinaliza para F: [BONITO]. F repete o sinal: [BONITO] e continua a montar outro
emborrachado, ao conseguir, olha para ER e sinaliza: [BOM, POSITIVO]. ER sinaliza
[ACABAR], F sinaliza [ACABAR]. Pega outro emborrachado e continua a montar.
102
103
Na sala do Curso Letras LIBRAS, F interage com os alunos A, MA. MA pergunta onde
est o pai de F e ele responde [PAI MEU IR]. F anda pela sala, interage com o aluno N. F
empurra uma cadeira e N sinaliza [EMPURRAR NO PODE. EDUCAO! MAME
BATER. EDUCAO PRECISA] e F observa. Brinca com N e o mesmo pede para ele
104
esperar um pouco. F tenta ir para frente da sala, mas N o impede. F tenta chamar a ateno da
me, balanando os dedos e comea a empurrar uma cadeira. N olha para ele e diz pra ele
ficar quieto. Para ir ao encontro da me F tenta passar entre as cadeiras. A me dele sinaliza
que ele d a volta, ele obedece a ordem da me. F brinca. Interage com MR que pergunta
onde est a me dele [Mame, CAD?] e F aponta para a me. MR sinaliza [NO] e aponta
para aluna S. F olha para S e sinaliza [NEGATIVO]. MR confirma fazendo o mesmo sinal
de negativo. F observa todos ao redor. Brinca com MR. A me de F chama-o para mostrar
filmagens do filho feitas pela pesquisadora. F observa as imagens. MR tambm observa as
imagens, toca em F pelo brao e sinaliza [NANCI L]. F olha para a pesquisadora e sinaliza
[MEU], olha para a filmagem e sinaliza [EU]. F olha para a filmagem e faz o sinal [NANCI]
/mos em D, vertical, palma para dentro. Encosta a ponta dos indicadores nas bochechas, duas
vezes/.
F interage com a me. Observa novamente as filmagens. F senta no cho. MM comea
a interagir com F. MM diz para F ficar em p, F atende e MM aplaude. MM sinaliza
[IDADE VOC, IDADE?] e F responde [DOIS]. MM interroga [DOIS?] e diz [VOC
PEQUENO FORTE]. F sinaliza [AMIGO CAD?], MM aponta para a pesquisadora [L?] e
F responde [NO, AMIGO, CAD?] MM aponta para MA, fazendo o sinal. A aluna A
responde [CASA IR] e F repete [CASA]. A d um amendoim para F e ele sinaliza
[POSITIVO]. A sinaliza [GOSTOSO] e F faz [GOSTOSO, POSITIVO, GOSTOSO = /mo
direita horizontal aberta, palma para dentro. Passa o dedo indicador abaixo do lbio inferior,
da direita para esquerda/.
MM sorri. F interage com A, os dois comem amendoim. A manda F jogar o papel do
amendoim no lixo e F obedece.
F tenta pegar o notebook da pesquisadora. MM sinaliza [CUIDADO, CAIR, NO.
QUEBRAR. NANCI] e aponta para a pesquisadora. F olha para a pesquisadora e sinaliza:
[MEU]. MM e F interagem e brincam com o notebook. F olha para uma imagem no
notebook e faz o sinaliza: [NANCI] /Mo esquerda em N, vertical, palma para dentro. Encosta
a ponta dos dedos na bochecha esquerda, duas vezes/. Alguns alunos brincam com F. F sai da
sala com a me.
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108
MACACO
QUENTE
SINALIZAR
BOLA DE SOPRAR
COELHO
NANCI
Quadro 7: Sinais com Substituies Fonolgicas Pelos Parmetros de CM, M e PA
Grfico 10: Produo de Sinais com Substituies Fonolgicas Pelos Parmetros de CM e M; CM, M e
PA; CM e PA
O Quadro 8, a seguir, nos fornece informaes sobre quais sinais foram produzidos com
substituies fonolgicas dos parmetros de CM e M; CM, M e PA; CM e PA:
109
OBRIGADO
LEITE
BEB
CACHORRO
APANHAR
BORBOLETA
TARTARUGA
GIRAR (CL)
LARANJA
Quadro 8: Sinais com Substituies Fonolgicas Pelos Parmetros de CM e M; CM, M e PA; CM e PA
Em nossas anlises, observamos que Me e Filho formam uma dade de interao. Reafirmando Meier (2006), observamos que a me de F quase nunca sinalizou quando seu filho
no estava prestando ateno, i.e, quando no estava olhando para ela. F presta ateno
visualmente aos sinais produzidos pela me, que por sua vez sincroniza sua sinalizao com
os momentos que F est olhando para ela. Assim, a aquisio de sinais por F, durante este
perodo de desenvolvimento infantil at a presente data, tem se mostrado consistente, e
transcorrida de forma semelhante aquisio de uma lngua oral.
A partir dos grficos e tabelas apresentados acima, observamos que F realizou
substituio fonolgica em, no mnimo, um dos parmetros analisados. Afirmamos que uma
maior parte da produo de substituies fonolgicas em lnguas de sinais na faixa etria de
um ano e meio a dois anos e meio, em crianas surdas, filhas de pais surdos, adquirindo
lngua de sinais como primeira lngua, pode estar ligada a fatores motores que emergem das
produes dos primeiros sinais. As crianas surdas geralmente no possuem o controle da
motricidade da coordenao motora fina, necessria para produzir a matriz de determinada
configurao de mo no primeiro ano de vida da criana, assim, a coordenao motora grossa
ser bem desenvolvida antes do primeiro ano de vida. F foi mais preciso no que diz respeito
ao parmetro fonolgico de Ponto de Articulao, porm menos preciso no que diz respeito
aos parmetros fonolgicos de Configurao de Mos e Movimento. Fatores motores podem
oferecer uma explicao para a dificuldade relativa produo do parmetro configurao de
mo.
Seccionamos os sinais que apresentaram substituies fonolgicas com a descrio
qualitativa das substituies e dos traos distintivos alternados. Procuramos evidenciar o
110
motora fina, ainda no consegue realizar alguns sinais com os dedos polegar e indicador
totalmente estendidos. O ponto de articulao e o movimento foram produzidos conforme
padro adulto (Fig. 30).
111
SUBSTITUIO FONOLGICA DE CM
24
A partir desta pgina as descries dos sinais conforme padro adulto sero apresentadas conforme
CAPOVILLA e RAPHAEL, v. 1 e v. 2 (2008). As produes de F sero descritas pela autora, sendo
identificadas pela sigla DQA (Descrio Quirmica realizado pela autora).
112
SUBSTITUIO FONOLGICA
DE CM, M E PA.
SINAL OBRIGAD@:
/Mo direita vertical aberta, palma para dentro, ponta dos
dedos tocando na testa, move a mo em arco para frente e
para baixo virando a palma para cima/.
SINAL OBRIGAD@
/Inclina a cabea para a esquerda, mo
esquerda em C na altura da orelha,
palma para dentro, ponta dos dedos
prximo a orelha esquerda, afasta a mo
esquerda e a cabea ao mesmo tempo cabea para direita e mo para
esquerda/.
(DQA)
113
SUBSTITUIO FONOLGICA DE
CM
SINAL
BANHEIRO:
/Mo
esquerda
horizontal em C, palma para a direita; mo
direita horizontal em A, fechada, palma para
baixo. Toca a mo direita no brao esquerdo/.
(DQA)
114
SUBSTITUIO FONOLGICA
DE CM, PA
26
115
SUBSTITUIO FONOLGICA DE
CM
SUBSTITUIO FONOLGICA DE
M
SINAL QUENTE: /Mo direita em C, palma para a SINAL QUENTE: /Mo direita em C, palma
esquerda ao lado direito da boca aberta. Mover a para esquerda em frente a boca. Move a mo
lentamente para a direita/.
mo, lentamente, para a esquerda/.
(DQA)
Figura 35: Substituio Fonolgica de M Sinal QUENTE
Fonte: CAPOVILLA e RAPHAEL, 2008 / Foto da Autora.
116
SUBSTITUIO
FONOLGICA DE CM e M
1 SINAL GOSTOSO/DELICIOSO:
SINAL GOSTOSO/DELICIOSO: /Mo direita horizontal /Mo direita horizontal aberta, dedos
aberta, palma para dentro. Passar o dedo mdio abaixo do estendidos, polegar e dedo indicador
lbio inferior, da direita para a esquerda/.
unidos, palma para o lado. Passa o
polegar e o indicador unidos abaixo do
lbio inferior, da esquerda para a
direita/.
2 SINAL GOSTOSO/DELICIOSO
117
SUBSTITUIO FONOLGICA
DE CM e M
SINAL LEITE: /Mo direita em S horizontal, palma SINAL LEITE: /Mo direita em S
para dentro. Mov-la para cima e para baixo, abrindo-a e horizontal, palma para dentro, move para
fechando-a, ligeiramente/.
cima e para baixo com a mo fechada/.
(DQA)
Figura 37: Substituio Fonolgica de CM, M - Sinal LEITE
Fonte: CAPOVILLA e RAPHAEL, 2008 / Foto da Autora.
118
SUBSTITUIO FONOLGICA DE
CM, M e PA
SINAL BEB: /Brao esquerdo horizontal dobrado SINAL BEB: /Mo esquerda sobre a mo
em frente ao corpo, mo horizontal, palma para cima; direita, encostadas ao peito, balanando o corpo
brao direito horizontal, dobrado sobre o brao para esquerda e para direita/.
esquerdo, mo direita horizontal, palma para cima.
(DQA)
Balanar os braos para esquerda e para a direita/.
Figura 38: Substituio Fonolgica de CM, M e PA - Sinal BEB
Fonte: CAPOVILLA e RAPHAEL, 2008 / Foto da Autora.
SUBSTITUIO FONOLGICA DE M
119
SUBSTITUIO FONOLGICA DE
CM
SINAL APANHAR: /Mo direita e V, palma para SINAL APANHAR: /Mo direita aberta,
dentro. Girar a mo pelo pulso para baixo, batendo palma para dentro, balana a mo para
os dedos, duas vezes, com expresso de raiva/.
cima e para baixo/.
(DQA)
Figura 40: Substituio Fonolgica de CM - Sinal APANHAR
Fonte: CAPOVILLA e RAPHAEL, 2008 / Foto da Autora.
SUBSTITUIO FONOLGICA DE
CM e M
120
SUBSTITUIO FONOLGICA DE
CM e Or.27
SINAL COELHO: /Mos em U, palmas para SINAL COELHO: /Mos abertas, palma para
trs, tocando a cada lado da cabea. Balanar os frente, dedos separados, tocando a cada lado da
dedos duas vezes/.
cabea. Balana os dedos duas vezes/.
(DQA)
Figura 42: Substituio Fonolgica de CM - Sinal COELHO
Fonte: CAPOVILLA e RAPHAEL, 2008 / Foto da Autora.
Ao produzir [BORBOLETA], nota-se que F substitui mais uma vez o parmetro CM,
alm de no conseguir realizar o entrelaamento das mos na produo do sinal, conforme o
padro adulto, possivelmente por ainda no apresentar a coordenao motora fina necessria
para a realizao desse entrelaamento de dedos (Fig. 43).
27
Foi verificado que a produo do sinal [COELHO] tambm sofre modificao do parmetro fonolgico de
Orientao de mos, mas o mesmo no se incorpora aos grficos da nossa pesquisa por no se tratar de nosso
objeto de estudo.
121
SUBSTITUIO FONOLGICA DE
CM e M
122
SUBSTITUIO FONOLGICA DE
CM e M
O sinal [MACACO] foi um dos poucos que apresentou mudana no parmetro de Ponto
de Articulao. Por isso, constitui-se no parmetro que apresentou o maior nmero de types e
token conforme o padro adulto (Fig. 45).
SUBSTITUIO FONOLGICA DE
PA
123
Girar o pulso possui uma certa complexidade para a criana produzir. A aquisio do
movimento parte do mais simples para o mais complexo. Assim, menos complexo produzir
o movimento de cima para baixo do que o inverso (Fig. 46).
SUBSTITUIO FONOLGICA DE
CM e M
SINAL GIRAR: /mo direita em V. Palma para SINAL GIRAR: /mo em L horizontal, palma
baixo. Girar a mo pelo pulso para cima.
para cima. Balana a mo pelo pulso para baixo e
(DQA) retorna-a para cima/.
(DQA)
Figura 46: Substituio Fonolgica de CM, M - Sinal GIRAR (CL)
Fonte: Fotos da Autora.
Ao produzir o sinal [NANCI] /Mo esquerda em N, vertical, palma para dentro. Encosta
a ponta do dedo na bochecha esquerda, duas vezes/, F apresentou um processo fonolgico de
apagamento de uma configurao de mo do sinal realizado, mesmo estando com as mos
desocupadas. Mais uma vez verificamos a possibilidade do sistema lingstico do apagamento
de uma mo, sem interferir no significado. O sinal [NANCI], conforme padro adulto, deveria
ser articulado da seguinte forma: /mos em N, vertical, palma para dentro. Encostar a ponta
dos dedos nas bochechas, duas vezes/. Ao produzir o sinal utilizando apenas a mo esquerda,
F realizou uma espcie de abreviao, mas sem alterao de significado, no havendo perda
de valor semntico. Na segunda produo de [NANCI], F alterou a configurao de mos
(Fig. 47).
124
SUBSTITUIO FONOLGICA DE
CM.
SINAL NANCI: /mos em N, dedos para cima, SINAL NANCI 1: /Mo esquerda em N,
palma para dentro. Encostar a ponta dos dedos na vertical, palma para dentro. Encosta a ponta dos
bochecha, duas vezes/.
dedos na bochecha esquerda, duas vezes/.
(DQA)
Figura 47: Substituio Fonolgica de CM - Sinal NANCI
Fonte: Fotos da Autora.
CONCLUSO
Um dos elementos-chave que identificam o Surdo como um ser pleno o uso da lngua
de sinais. Os sujeitos surdos nascem com as mesmas capacidades bsicas de aprendizagem e
de linguagem como todas as crianas, veem o mundo de maneira diferente, apenas atravs da
experincia visual.
As crianas surdas, filhas de pais surdos, em geral, tm uma vantagem inicial na
aquisio da linguagem e no desenvolvimento da comunicao em relao s crianas surdas,
filhas de pais ouvintes, pois aprendem a lngua de sinais como lngua materna. As crianas
surdas, filhas de pais ouvintes, ficam em desvantagem em termos de acesso aquisio da
lngua de sinais como primeira lngua e correm o risco de enfrentar problemas na aquisio da
linguagem, se no forem expostas aquisio de uma primeira lngua desde a mais tenra
idade.
As lnguas de sinais so completamente independentes das lnguas orais dos pases onde
so produzidas. A diferena entre a organizao fonolgica das lnguas de sinais e das lnguas
orais reside no fato de que a primeira produz os fonemas de forma simultnea; a segunda
produz os fonemas de forma sequencial, consoante Felipe (2004); Karnopp (1994, 1999); e
Quadros e Karnopp (2004).
A nossa pesquisa sobre o processo aquisicional de F apresenta evidncias de que a
Lngua de sinais brasileira, sendo adquirida como uma lngua materna, i. e., sem necessidade
de instruo formal, possui as mesmas restries que se aplicam s lnguas faladas.
As investigaes de nossa pesquisa confirmam as indicaes de que crianas surdas,
filhas de pais surdos, passam por um processo de aquisio da linguagem anlogo aos das
crianas ouvintes filhas de pais ouvintes: vo, cada vez menos, substituindo os padres
adultos medida que vai avanando o processo aquisicional. No final do primeiro ano, F j
demonstrava compreender muitas palavras e ordens dos adultos surdos, por vezes respondia
apontando para um objeto ou algum, buscava o objeto que lhe era pedido atravs da Lngua
de Sinais Brasileira, respondia atravs de interaes com os adultos surdos, demonstrando que
a compreenso dos sinais precedeu sua produo. Dessa forma, a aquisio da linguagem de F
tem transcorrido de forma natural e encantadora.
126
127
128
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ESTUDOS LINGSTICOS DO NORDESTE (GELNE), 18. Programas e Resumos...
135
APNDICES
APNDICE A - Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Eu,
_____________________________,
residente
domiciliada
no
137
APNDICE B - Autorizao
AUTORIZAO
Eu_________________________________________ RG _________________; CPF
n._______________, intrprete de lngua de sinais, aceito participar como voluntrio no
projeto
de
pesquisa
intitulado
OS
PARMETROS
FONOLGICOS:
________________________________________________
Assinatura do voluntrio
138
139
Local:
Data:___/___/___
Nome:
Profisso:
Idade: Escolaridade:
1. Voc : ( ) Surdo
( ) Ouvinte
( ) Congnita
( ) Desenvolvimento natural
( ) No
( ) Dialeto
( ) Gestos Domsticos
( ) Oralizao (LP)28
( ) Sim ( ) No
( ) No
( ) No
LP Lngua Portuguesa
140
) Surdos
) Ouvintes
( ) Dialeto
( ) Gestos Domsticos
( ) Oralizao (LP)
( ) No
Em caso afirmativo, como realizado o processo de comunicao e interao com esses surdos:
( ) LIBRAS ( ) Dialeto
( ) Gestos Domsticos
( ) Oralizao (LP)
141
Local:
Data:___/___/___
Nome:
Profisso:
Idade: Escolaridade:
1. Qual a sua lngua materna:
( ) Lngua Portuguesa
( ) Lngua de Sinais
2. Voc : ( ) Surdo
( ) Ouvinte
( ) Outras _____________
( ) Deficiente auditivo (DA)
( ) Congnita
( ) Desenvolvimento natural
( ) Sim
( ) No
Lngua Portuguesa
( ) Oralizao (LP)
142
( ) Dialeto
( ) Gestos Domsticos
( ) Oralizao (LP)
( ) No
143
ANEXOS