Exercícios - O Cortiço

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Exerccios O Cortio (Alusio Azevedo)

1. (CSPER LBERO-SP-2013) Sobre O cortio, de


Alusio Azevedo, correto afirmar que(,)
a) o autor no abandona a anlise dos temperamentos
individuais, mas prefere acompanhar o mecanismo de fuso
no ambiente coletivo, que conduz perda da singularidade
dos seres, mutuamente entrelaados pela vivncia conjunta.
Seres que integram um todo unificado, um organismo social
devorador, pulsante, no qual as leis da natureza imperam.
b) a reduo das criaturas ao nvel animal compatvel com
o cdigo naturalista da despersonalizao. Entretanto, a
natureza humana em vez de soar como uma selva onde
os fortes comem os fracos, explicando toda sorte de vilanias
e torpezas exaltada por meio de uma idealizao mal
disfarada.
c) na teia da sociedade apresentada pelo romance, tudo se
prende ao prestgio da riqueza, que de fora vem precisar os
contornos das diferenas individuais; na trama da vida
afetiva, as matrizes dos gestos e das palavras so a
agressividade e a libido.
d) o esquema romanesco da obra est fundado na memria
dos episdios mais cruis da vida no cortio, cobrindo de
melancolia e amargura o perfil dos moradores e fazendo as
personagens femininas mergulharem em uma atmosfera de
ressentimento e desiluso.
e) o autor montou um enredo centrado em pessoas, diluindo
o mximo que pde as sequncias de descries muito
precisas, nas quais cenas coletivas e tipos psicologicamente
primrios fazem do cortio a personagem mais convincente
do romance naturalista brasileiro. Logo, das personagens
que deriva o quadro social.
Texto para o teste 2.
O autor pensava estar romanceando o processo brasileiro
de guerra e acomodao entre as raas, em conformidade
com as teorias racistas da poca, mas, na verdade,
conduzido pela lgica da fico, mostrava um processo
primitivo de explorao econmica e formao de classes,
que se encaminhava de um modo passavelmente brbaro e
desmentia as iluses do romancista.
(Roberto Schwarz adaptado)
2. (FUVEST-SP-2013) Este texto crtico refere-se ao livro
a) Memrias de um Sargento de Milcias.
b) Til.
c) O Cortio.
d) Vidas Secas.
e) Capites da Areia.
3. (PUC-SP-2012) O romance O Cortio foi escrito em
1890 por Alusio Azevedo. Nele h destaque especial para
as personagens femininas, entre as quais se inclui a negra
Bertoleza. A respeito dela no se pode afirmar que
a) representou ao lado de Joo Romo, o papel trplice de
caixeiro, de criada e de amante, mas acabou tornando-se
um estorvo da ventura do estalajadeiro, quando este decide
casar-se com Zulmira, filha do comerciante Miranda.
b) integra a trama narrativa do romance e, explorada pela
sanha capitalista de Joo Romo, mostra-se como
instrumento de sua prosperidade e crescimento econmico.
c) teve sua alforria definitiva garantida por ao de Joo
Romo, junto ao antigo senhor, e, assim, deixou de
dispender a quantia de vinte mil-ris que todo ms lhe
remetia.
d) cometeu um trgico suicdio como ato de desespero,
diante da percepo de ter sido enganada por Joo Romo,
que a quis devolver ao antigo cativeiro.

e) concordou em morar com Joo Romo, pois, como toda


cafuza, no queria sujeitar-se a negros e procurava
instintivamente o homem numa raa superior sua.
Desde que a febre de possuir se apoderou dele totalmente,
todos os seus atos, todos, fosse o mais simples, visavam a
um interesse pecunirio. (...) Aquilo j no era ambio, era
uma molstia nervosa, uma loucura, um desespero de
acumular, de reduzir tudo a moeda.
(Alusio Azevedo, O Cortio)
4. (MACKENZIE-SP) No excerto transcrito, a percepo
do narrador traz marcas do estilo naturalista, pelo fato de
a) caracterizar o modo de ser da personagem como uma
patologia.
b) trazer ao leitor, com objetividade e parcimnia, o lado
cmico do comportamento humano.
c) criar analogia entre homem e animal, imagem resultante
da projeo subjetiva do observador sobre o observado.
d) criticar explicitamente a ambio desmesurada da alta
burguesia.
e) apresentar sintaxe e lxico inovadores e temtica
cientificista.
Texto para os testes de 5 a 7.
Jernimo bebeu um bom trago de parati, mudou de roupa e
deitou-se na cama de Rita.
Vem pra c... disse, um pouco rouco.
Espera! espera! O caf est quase pronto!
E ela s foi ter com ele, levando-lhe a chvena fumegante
da perfumosa bebida que tinha sido a mensageira dos seus
amores (...)
Depois, atirou fora a saia e, s de camisa, lanou-se contra
o seu amado, num frenesi de desejo dodo.
Jernimo, ao senti-la inteira nos seus braos; ao sentir na
sua pele a carne quente daquela brasileira; ao sentir
inundar-se o rosto e as espduas, num eflvio de baunilha e
cumaru1, a onda negra e fria da cabeleira da mulata; ao
sentir esmagarem-se no seu largo e peludo colo de
cavouqueiro2 os dois globos tmidos e macios, e nas suas
coxas as coxas dela; sua alma derreteu-se, fervendo e
borbulhando como um metal ao fogo, e saiu-lhe pela boca,
pelos olhos, por todos os poros do corpo,
escandescente, em brasa, queimando-lhe as prprias
carnes e arrancando-lhe gemidos surdos, soluos
irreprimveis, que lhe sacudiam os membros, fibra por fibra,
numa agonia extrema, sobrenatural, uma agonia de anjos
violentados por diabos, entre a vermelhido cruenta das
labaredas do inferno.
1 Cumaru: fruto do cumaru-verdadeiro, comestvel e odorfico,
usado na medicina, em perfumaria e para extrao de leo.
2 Cavouqueiro: indivduo que trabalha em mina ou pedreira.

5. (UNIFESP-SP) O enlace amoroso, seja na perspectiva


de Rita, seja na de Jernimo,
a) sublimado, o que lhe confere carter grotesco na obra.
b) desejado com intensidade e lhes agua os nimos.
c) reproduz certo incmodo pelo tom de ritual eu impe.
d) representa-lhes o pecado e a degradao como pessoa.
e) de sensualidade suave, pela no explicitao do ato.
6. (UNIFESP-SP) A atrao inicial entre Rita e Jernimo
no acontece na cena descrita. Segundo o texto, pode-se
inferir que ela se relaciona com
a) uma dose de parati.
b) a cama de Rita.
c) uma xcara de caf.
d) o perfume de Rita.
e) o olhar de Rita.

7. (UNIFESP-SP) correto afirmar que em e nas suas


coxas as coxas dela o emprego de dela justifica-se pelo
fato de
a) evitar uma ambiguidade e uma redao confusa, caso
usasse suas em seu lugar.
b) exprimir valor possessivo, o que no aconteceria com o
emprego do pronome suas.
c) ser uma forma culta, ao contrrio do pronome suas.
d) essa forma ser a nica possvel, uma vez que esse termo
complemento do verbo.
e) pretender-se evitar o valor possessivo, o que aconteceria
com o emprego de suas.
Passaram-se semanas. Jernimo tomava agora, todas
as manhs, uma xcara de caf bem grosso, moda da
Ritinha, e tragava dois dedos de parati pra cortar a
friagem.
Uma transformao, lenta e profunda, operava-se nele,
dia a dia, hora a hora, reviscerando-lhe o corpo e alando-lhe
os sentidos, num trabalho misterioso e surdo de crislida. A
sua energia afrouxava lentamente: fazia-se contemplativo e
amoroso. A vida americana e a natureza do Brasil
patenteavam-lhe agora aspectos imprevistos e sedutores
que o comoviam; esquecia-se dos seus primitivos sonhos de
ambio, para idealizar felicidades novas, picantes e
violentas; tornava-se liberal, imprevidente e franco, mais
amigo de gastar que de guardar; adquiria desejos, tomava
gosto aos prazeres, e volvia-se preguioso, resignando-se,
vencido, s imposies do sol e do calor, muralha de fogo
com que o esprito eternamente revoltado do ltimo tamoio
entrincheirou a ptria contra os conquistadores aventureiros.
E assim, pouco a pouco, se foram reformando todos os
seus hbitos singelos de aldeo portugus: e Jernimo
abrasileirou-se. (...)
E o curioso que, quanto mais ia ele caindo nos usos e
costumes brasileiros, tanto mais os seus sentidos se
apuravam, posto que em detrimento das suas foras fsicas.
Tinha agora o ouvido menos grosseiro para a msica,
compreendia at as intenes poticas dos sertanejos,
quando cantam viola os seus amores infelizes; seus olhos,
dantes s voltados para a esperana de tornar terra,
agora, como os olhos de um marujo, que se habituaram aos
largos horizontes de cu e mar, j se no revoltavam com a
turbulenta luz, selvagem e alegre, do Brasil, e abriam-se
amplamente defronte dos maravilhosos despenhadeiros
ilimitados e das cordilheiras sem fim, donde, de espao a
espao, surge um monarca gigante, que o sol veste de ouro
e ricas pedrarias refulgentes e as nuvens toucam de alvos
turbantes de cambraia, num luxo oriental de arbicos
prncipes voluptuosos. (Alusio Azevedo, O cortio.)
8. (FUVEST-SP) Considere as seguintes afirmaes,
relacionadas ao excerto de O cortio:
I. O sol, que, no texto, se associa fortemente ao Brasil e
ptria, um smbolo que percorre o livro como
manifestao da natureza tropical e, em certas passagens,
representa o princpio masculino da fertilidade.
II. A viso do Brasil expressa no texto manifesta a
ambiguidade do
intelectual brasileiro da poca em que a obra foi escrita, o
qual acatava e rejeitava a sua terra, dela se orgulhava e
envergonhava, nela confiava e dela desesperava.
III. O narrador aceita a viso extico-romntica de uma
natureza (brasileira) poderosa e transformadora,
reinterpretando-a em chave naturalista.
Aplica-se ao texto o que se afirma em
a) I, somente.
b) II, somente.
c) II e III, somente.
d) I e III, somente.
e) I, II e III.

9. (FUVEST-SP) Ao comparar Jernimo com uma


crislida, o narrador alude, em linguagem literria, a
fenmenos do desenvolvimento da borboleta, por meio das
seguintes expresses do texto:
I. transformao, lenta e profunda;
II. reviscerando;
III. alando;
IV. trabalho misterioso e surdo.
Tais fenmenos esto corretamente indicados em
a) I, apenas.
b) I e II, apenas.
c) III e IV, apenas.
d) II, III e IV, apenas.
e) I, II, III e IV.
10. (FUVEST-SP) Os costumes a que adere Jernimo em
sua transformao, relatada no excerto, tm como
referncia, na poca em que se passa a histria, o modo de
vida
a) dos degredados portugueses enviados ao Brasil sem a
companhia da famlia.
b) dos escravos domsticos, na regio urbana da Corte,
durante o Segundo Reinado.
c) das elites produtoras de caf, nas fazendas opulentas do
Vale do Paraba fluminense.
d) dos homens livres pobres, particularmente em regio
urbana.
e) dos negros quilombolas, homiziados em refgios isolados
e anrquicos.
11. (FUVEST-SP) Um trao cultural que decorre da
presena da escravido no Brasil e que est implcito nas
consideraes do narrador do excerto a
a) desvalorizao da mestiagem brasileira.
b) promoo da msica e emblema da nao.
c) desconsiderao do valor do trabalho.
d) crena na existncia de um carter nacional brasileiro.
e) tendncia ao antilusitanismo.
12. (FUVEST-SP) No trecho dos maravilhosos
despenhadeiros ilimitados e das cordilheiras sem fim,
donde, de espao a espao, surge um monarca gigante, o
narrador tem como referncia
a) a Chapada dos Guimares, anteriormente coberta por
vegetao de cerrado.
b) os desfiladeiros de Itaimbezinho, outrora revestidos por
exuberante floresta tropical.
c) a Chapada Diamantina, ento coberta por florestas de
araucrias.
d) a Serra do Mar, que abrigava originalmente a densa Mata
Atlntica.
e) a Serra da Borborema, caracterizada, no passado, pela
vegetao da caatinga.

13. (FMABC-SP) Indique, nas alternativas seguintes, a


que apresenta a descrio do cortio, caracterizado como
habitao coletiva em que as marcas do humano e as do
animal se identificam.
a) E naquela terra encharcada e fumegante, naquela
umidade quente e lodosa, comeou a minhocar, a
esfervilhar, a crescer, um mundo, uma coisa viva, uma
gerao, que parecia brotar espontnea, ali mesmo,
daquele lameiro, e multiplicar-se como larvas no esterco.
b) Hoje quatro braas de terra, amanh seis, depois mais
outras, ia o vendeiro conquistando todo o terreno que
estendia pelos fundos da sua bodega; e, proporo que o
conquistava, reproduziam-se os quartos e o nmero de
moradores.
c) Sentia-se naquela fermentao sangunea, naquela gula
viosa de plantas rasteiras que mergulham os ps vigorosos
na lama preta e nutriente da vida, o prazer animal de existir,
a triunfante satisfao de respirar sobre a terra.
d) A roupa lavada, que ficara de vspera nos coradouros,
umedecia o ar e punha-lhe um farto acre de sabo ordinrio.
As pedras do cho, esbranquiadas no lugar da lavagem e
em alguns pontos azulados pelo anil, mostravam uma
palidez grisalha e triste, feita de acumulaes de espumas
secas.
e) Da a pouco, em volta das bicas era um zum-zum
crescente; uma aglomerao tumultuosa de machos e
fmeas. Uns aps outros, lavavam a cara, incomodamente,
debaixo do fio de gua que escorria da altura de uns cinco
palmos. O cho inundava-se. As mulheres precisavam j
prender as saias entre as coxas para no as molhar; via-selhe a tostada nudez dos braos e do pescoo, que elas
despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do casco;
os homens, esses no se preocupavam em no molhar o
pelo, ao contrrio metiam a cabea bem debaixo da gua e
esfregavam com fora as ventas e as barbas, fossando e
fugando contra as palmas da mo.
RESPOSTAS:
1)A 2)C 3)C 4)A 5)B 6)C
7)A 8)E 9)E 10)D 11)C 12)D 13)E

Dissertativos
1. (Fuvest-SP) Considere o seguinte excerto de O Cortio,
de Alusio Azevedo, e responda ao que se pede.
(...) desde que Jernimo propendeu para ela, fascinando-a
com a sua tranquila seriedade de animal bom e forte, o
sangue da mestia reclamou os seus direitos de apurao, e
Rita preferiu no europeu o macho de raa superior. O
cavouqueiro, pelo seu lado, cedendo s imposies
mesolgicas, enfarava a esposa, sua congnere, e queria a
mulata, porque a mulata era o prazer, a volpia, era o fruto
dourado e acre destes sertes americanos, onde a alma de
Jernimo aprendeu lascvias de macaco e onde seu corpo
porejou o cheiro sensual dos bodes. Tendo em vista as
orientaes doutrinrias que predominam na composio de
O Cortio, identifique e explique aquela que se
manifesta no trecho a e a que se manifesta no trecho b, a
seguir:
a) o sangue da mestia reclamou os seus direitos de
apurao;
b) cedendo s imposies mesolgicas.
1.RESOLUO:
a) do Naturalismo a concepo de que o comportamento
humano obedece ao determinismo de raa, ou seja,
gentico, como se demonstraria na propenso da mestia,
determinada por seu sangue, para o macho de raa
superior.

b) As imposies mesolgicas representam o


determinismo do meio, ou seja, do ambiente, fsico e social,
sobre o comportamento humano.
2. (UNICAMP-SP) Leia o seguinte comentrio a respeito
de O Cortio, de Alusio Azevedo.
Com efeito, o que h nO Cortio so formas primitivas de
amealhamento1, a partir de muito pouco ou quase nada,
exigindo uma espcie de rigoroso ascetismo inicial e a
aceitao de modalidades diretas e brutais de explorao,
incluindo o furto (...) como forma de ganho e a
transformao da mulher escrava em companheiramquina.
(...) Alusio foi, salvo erro meu, o primeiro dos nossos
romancistas a descrever minuciosamente o mecanismo de
formao da riqueza individual. (...) NO Cortio [o dinheiro]
se torna implicitamente objeto central da narrativa, cujo
ritmo acaba se ajustando ao ritmo da sua acumulao,
tomada pela primeira vez no Brasil como eixo
da composio ficcional.
1 Amealhar: acumular (riqueza), juntar (dinheiro) aos poucos.

(MELLO E SOUZA, Antonio Candido de.


De Cortio em Cortio. In: O Dicurso e a Cidade.
So Paulo: Duas Cidades, 1993, p. 129-30.)
a) Explique a que se referem o rigoroso ascetismo inicial
da personagem em questo e as modalidades diretas e
brutais de explorao que ela emprega.
b) Identifique a mulher escrava e o modo como se d sua
transformao em companheira-mquina.
2.RESOLUO:
a) O ascetismo a que se refere Antonio Candido o esforo
austero de acmulo de dinheiro a que Joo Romo se
entrega, deixando de lado veleidades de prazer, conforto e
bem-estar.
Em seu af de enriquecimento, ele chegou a dormir no
mesmo balco em que atendia clientes, comia os piores
legumes de sua horta para vender os melhores, no se
preocupava com vesturio, aparncia e amenidades da
vida. Essa febre de acumular, como diz o narrador do
romance, determinar no dono do cortio um
comportamento brutal de explorao da massa animalizada
dos moradores da estalagem. Tal atitude se mostrar mais
cruel em trs momentos: quando rouba a garrafa cheia de
dinheiro do velho Librio, quando lucra com a indenizao
do seguro por causa do incndio que prejudicou
imensamente os inquilinos e, o mais extremo, quando
engana Bertoleza, usurpando suas economias, e mais tarde
a descarta sem remorso em nome de um casamento de
convenincia com Zulmira.
b) A mulher escrava Bertoleza, que se torna
companheiramquina ao viver como amante de Joo
Romo e como instrumento das vontades do vendeiro, j
que ela no s trabalha durante o dia na venda, como sai
noite com o patro para roubar materiais de construo.

3. (Fuvest-SP-adaptada)
Gente que mamou leite romntico pode meter o dente no
rosbife1 naturalista; mas em lhe cheirando a teta gtica e
oriental, deixa logo o melhor pedao de carne para correr
bebida da infncia.
Oh! Meu doce leite romntico!
(Machado de Assis, Crnicas)
1- Rosbife: tipo de assado ou fritura de alcatra ou fil
bovinos, bem tostado externamente e sangrante na parte
central, servido em fatias.
A imagem do rosbife naturalista empregada, com humor,
por Machado de Assis, para evocar determinadas
caractersticas do
Naturalismo poderia ser utilizada tambm para se referir a
certos aspectos do romance O Cortio? Justifique sua
resposta.
3.RESOLUO:
O cortio, como de esperar de uma obra naturalista,
apresenta preocupao de exibir, sem eufemismo, rodeio ou
censura, os aspectos mais degradantes do ser humano, o
que compatvel com a imagem do rosbife, que
sangrento. Eram cinco horas da manh e o cortio
acordava, abrindo, no os olhos, mas a sua infinidade de
portas e janelas alinhadas.
Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma
assentada sete horas de chumbo. Como que se sentiam
ainda na indolncia1 de neblina as derradeiras notas da
ultima guitarra da noite antecedente, dissolvendo-se luz
loura e tenra2 da aurora, que nem um suspiro de saudade
perdido em terra alheia.
A roupa lavada, que ficara de vspera nos coradouros3,
umedecia o ar e punha-lhe um farto acre4 de sabo
ordinrio.
As pedras do cho, esbranquiadas no lugar da lavagem e
em alguns pontos azuladas pelo anil, mostravam uma
palidez grisalha e triste, feita de acumulaes de espumas
secas.
Entretanto, das portas surgiam cabeas congestionadas
de sono; ouviam-se amplos bocejos, fortes como o
marulhar5 das ondas; pigarreava-se grosso por toda a parte;
comeavam as xcaras a tilintar; o cheiro quente do caf
aquecia, suplantando todos os outros; trocavam-se de
janela para janela as primeiras palavras, os bons-dias;
reatavam-se conversas interrompidas noite; a pequenada
c fora traquinava j, e l dentro das casas vinham choros
abafados de crianas que ainda no andam. No confuso
rumor que se formava, destacavam-se risos, sons de vozes
que altercavam6, sem se saber onde, grasnar de marrecos,
cantar de galos, cacarejar de galinhas. De alguns quartos
saiam mulheres que vinham pendurar c fora, na parede, a
gaiola do papagaio, e os louros, semelhana dos donos,
cumprimentavam-se ruidosamente, espanejando-se7 luz
nova do dia. (Alusio Azevedo, O Cortio, cap. III)
1 Indolncia: preguia. 2 Tenro: brando. 3 Coradouro:
lugar onde se pe roupa a corar ao Sol. 4 Farto acre:
cheiro cido. 5 Marulhar: agitar. 6 Altercar: debater. 7
Espanejarse: sacudir-se.
4. Eram cinco horas da manh e o cortio acordava,
abrindo, no os olhos, mas a sua infinidade de portas e
janelas alinhadas.
Que figura de linguagem foi empregada no trecho acima?
Explique.
4.RESOLUO:
Prosopopeia (personificao, pois foram atribudas a um ser
inanimado (o cortio) caractersticas de um ser animado (a
ao de acordar, abrir os olhos)..

5. No confuso rumor que se formava, destacavam-se risos,


sons de vozes que altercavam, sem e saber onde, grasnar
de marrecos, cantar de galos, cacarejar de galinhas.
Grasnar e cacarejar so palavras de sonoridade expressiva,
chamadas onomatopeias. Por qu?
5.RESOLUO:
Essas palavras so chamadas onomatopeias porque seus
sons imitam ou sugerem os sons reais que representam.
Uma aluvio de cenas, que ela [Pombinha] jamais tentara
explicar e que at ali jaziam esquecidas nos meandros do
seu passado, apresentavam-se agora ntidas e
transparentes. Compreendeu como era que certos velhos
respeitveis, cuja fotografia Lonie lhe mostrou no dia que
passaram juntas, deixavam-se vilmente cavalgar
pela loureira, cativos e submissos, pagando a escravido
com a honra, os bens, e at com a prpria vida, se a
prostituta, depois de os ter esgotado, fechava-lhes o corpo.
E continuou a sorrir, desvanecida na sua superioridade
sobre esse outro sexo, vaidoso e fanfarro, que se julgava
senhor e que, no entanto, fora posto no mundo
simplesmente para servir ao feminino; escravo ridculo que,
para gozar um pouco, precisava tirar da sua mesma iluso a
substncia do seu gozo; ao passo que a mulher, a senhora,
a dona dele, ia tranquilamente desfrutando o seu imprio,
endeusada e querida, prodigalizando martrios, que os
miserveis aceitavam contritos, a beijar os ps que os
deprimiam e as implacveis mos que os estrangulavam.
Ah! homens! homens! ... sussurrou ela de envolta com
um suspiro. (Alusio Azevedo, O Cortio, cap. III).
6. (UNIFESP-SP modificado) No texto, os pensamentos
da personagem
a) recuperam o princpio da prosa naturalista, que condena
os assuntos repulsivos e bestiais sem amparo em teorias
cientficas ligados ao homem, que pe em primeiro plano
seus instintos animalescos.
b) elucidam o princpio do determinismo presente na prosa
naturalista, revelando os homens e as mulheres conscientes
dos seus instintos em funo do meio em que vivem e,
sobretudo, capazes de control-los.
c) trazem uma crtica aos aspectos animalescos prprios
dos homens, mas, por outro lado, revelam uma forma de
Pombinha submeter-se a muitos deles para obter
vantagens: eis a um princpio do Realismo rechaado no
Naturalismo.
d) constroem uma viso de mundo e o do homem
idealizada, o que, em certa medida, afronta o referencial em
que se baseia a prosa naturalista, que define o homem
como fruto do meio, marcado pelo apelo dos seus sentidos.
e) consubstanciam a concepo naturalista de que o
homem um animal, preso aos instintos, e, no que diz
respeito sexualidade, v-se que Pombinha considera a
mulher superior ao homem; para ela, ter conscincia dessa
superioridade uma forma de obter vantagens.
6.RESOLUO:
A alternativa e interpreta corretamente os pensamentos da
personagem Pombinha, que reconhece no sexo uma fora
degradante, como o prprio do Naturalismo, capaz de
subjugar velhos respeitveis.
Resposta: E

7. Ao apresentar Botelho, escreve o autor:


E agora, coitado, j velho, comido de desiluses, cheio de
hemorroidas, via-se totalmente sem recursos e vegetava
sombra do Miranda...
H, nesse trecho, dois traos de estilo que so muito
frequentes nos escritores naturalistas: a associao do
psicolgico (ou emocional) com o fsico (ou material) e o
recurso a notaes consideradas baixas, notaes de
vileza, de degradao ou de algo indecoroso. Exemplifique
esses dois traos de estilo com elementos da frase citada.
7.RESOLUO:
Associao de emocional com fsico: comido de desiluses,
cheio de hemorroidas. Notao baixa: cheio de
hemorroidas.
8. De incio, pode notar-se um grande contraste entre a vida
do sobrado de Miranda e a do cortio: os habitantes do
primeiro vivem isolados, fechados em si e seus interesses
individualistas; ao contrrio, os habitantes do cortio
parecem viver de forma intensamente comunitria,
participando uns das vidas dos outros.
Exemplifique esse contraste entre os dois estilos de vida.
8.RESOLUO:
Na casa de Miranda, nem os interesses do marido e da
mulher parecem ser partilhados, pois o casal se detesta e
um no participa da vida do outro. O mesmo pode-se dizer
relativamente filha, Zulmira, ao parasita Botelho e ao
hspede Henriquinho, todos fechados em seus mundos
individuais. No cortio, a prpria precariedade faz que as
pessoas tenham uma vida mais partilhada; assim, as
mulheres trabalham juntas, numa atividade
comum e num local comum, e conversam sobre o que se
passa com os vizinhos; os homens comem reunidos no
estabelecimento de Joo Romo.
9. Meio-dia em ponto. O sol estava a pino; tudo reverberava
luz irreconcilivel de dezembro, num dia sem nuvens. A
pedreira, em que ela batia de chapa em cima, cegava
olhada de frente. Era preciso martirizar a vista para
descobrir as nuanas da pedra...
No trecho acima, que inicia uma das descries muito
precisas que se encontram em O Cortio, o autor utilizou
duas fortes metforas: o adjetivo irreconcilivel e o verbo
martirizar. Comente essas metforas, explicando seu efeito
descritivo.
9.RESOLUO:
Irreconcilivel um adjetivo que atribui luz uma qualidade
dura, agressiva, muito prpria de um dia de sol forte no Rio
de Janeiro, em pleno meio-dia. A expresso martirizar a
vista uma hiprbole (exagero) que, metaforicamente,
sugere quanto o brilho refletido pela pedra era intenso, de
forma a ser necessrio forar muito, como que torturar,
martirizar os olhos para poder distinguir alguma diferena
naquele bloco de pedra. Essas duas metforas personificam
seres inanimados (por isso so chamadas prosopopeias) e,
com isso, tornam muito viva a descrio.
10. Por que o narrador diz que Pombinha ia acumulando no
seu corao de donzela toda a smula daquelas paixes e
daqueles ressentimentos, s vezes mais ftidos do que a
evaporao de um lameiro em dias de grande calor?
10.RESOLUO:
Porque Pombinha, embora fosse uma jovenzinha inocente,
conhecia os mais ntimos sentimentos os amores, os
dios, ostemores de muitos moradores do cortio, que,
sendo analfabetos, ditavam a ela as cartas que queriam
enviar a seus entes queridos.

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