O documento apresenta um resumo sobre o totemismo de acordo com a perspectiva do antropólogo Ronaldo Lidório. Discute a origem do termo "totem" e "totemismo" e conceitos desenvolvidos por pensadores como Durkheim e Freud. Segundo Lidório, o totemismo decorre de uma cosmovisão centrada na força da vida e não o precede. O totemismo é visto como um conceito filosófico binário relacional e regulador das práticas sociais, integrando clãs por meio de valores morais e da magia.
O documento apresenta um resumo sobre o totemismo de acordo com a perspectiva do antropólogo Ronaldo Lidório. Discute a origem do termo "totem" e "totemismo" e conceitos desenvolvidos por pensadores como Durkheim e Freud. Segundo Lidório, o totemismo decorre de uma cosmovisão centrada na força da vida e não o precede. O totemismo é visto como um conceito filosófico binário relacional e regulador das práticas sociais, integrando clãs por meio de valores morais e da magia.
O documento apresenta um resumo sobre o totemismo de acordo com a perspectiva do antropólogo Ronaldo Lidório. Discute a origem do termo "totem" e "totemismo" e conceitos desenvolvidos por pensadores como Durkheim e Freud. Segundo Lidório, o totemismo decorre de uma cosmovisão centrada na força da vida e não o precede. O totemismo é visto como um conceito filosófico binário relacional e regulador das práticas sociais, integrando clãs por meio de valores morais e da magia.
O documento apresenta um resumo sobre o totemismo de acordo com a perspectiva do antropólogo Ronaldo Lidório. Discute a origem do termo "totem" e "totemismo" e conceitos desenvolvidos por pensadores como Durkheim e Freud. Segundo Lidório, o totemismo decorre de uma cosmovisão centrada na força da vida e não o precede. O totemismo é visto como um conceito filosófico binário relacional e regulador das práticas sociais, integrando clãs por meio de valores morais e da magia.
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SEMINRIO TEOLGICO PRESBITERIANO
REV. JOS MANOEL DA CONCEIO
PSICOLOGIA DA RELIGIO
TOTEMISMO
Marcos Rogrio Ferreira dos Santos Rodolfo Rodrigues Sales
SO PAULO AGOSTO/2013
SEMINRIO TEOLGICO PRESBITERIANO REV. JOS MANOEL DA CONCEIO PSICOLOGIA DA RELIGIO
TOTEMISMO
Marcos Rogrio Ferreira dos Santos Rodolfo Rodrigues Sales
Trabalho apresentado como avaliao parcial da disciplina de Psicologia da Religio, professora Raquel Mendes Carrer de Castro, do curso de Teologia.
SO PAULO AGOSTO/2013
SUMRIO INTRODUO ............................................................................................................ 1 1 ORIGEM DO TERMO E DIVERSOS CONCEITOS ................................................. 2 1.1 Origem dos termos totem e totemismo .................................................. 2 1.2 Conceitos de totemismo ............................................................................. 2 2 O TOTEMISMO E SUA CORRELAO COM A FORA DA VIDA ....................... 5 2.1 Totemismo no precede uma cosmoviso ................................................. 5 2.2 A religiosidade est centrada na fora da vida ........................................... 5 2.3 Totemismo enquanto um conceito filosfico binrio relacional ................... 6 2.4 Do conceito totmico ao totemismo ............................................................ 7 3 O TOTEMISMO COMO REGULADOR DAS PRTICAS SOCIAIS ........................ 8 3.1 O totemismo como forma de integrao clnica ......................................... 8 3.2 Os valores morais do totemismo................................................................. 9 3.3 Magia manipulao da fora da vida ..................................................... 10 CONCLUSO ........................................................................................................... 11 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ......................................................................... 13 1
INTRODUO Esse trabalho tem em vista apresentar uma perspectiva sobre o totemismo, predominantemente fundamentada na perspectiva do antroplogo e missionrio presbiteriano Ronaldo Lidrio. Para este fim, apresenta primeiramente a origem do termo totem e totemismo e alguns dos conceitos definidos por pensadores de diversas nfases, como o socilogo Durkheim e o psicanalista Freud, dentre outros. Propriamente na perspectiva de Lidrio, considera a correlao do totemismo com a fora da vida, discutindo o lugar da cosmoviso, apresentando a fora da vida como central na religiosidade totmica, trabalhando com o conceito filosfico binrio relacional do totemismo e apresentando o processo de transio entre conceito totmico ao totemismo. Ainda, prope apresentar o totemismo como regulador das prticas sociais. E deste modo, seu papel formador de integrao clnica. Alm de apresentar os valores morais do totemismo e o papel utilitrio da magia como manipulao da fora da vida. Por fim, em termos de concluso, apresentamos uma crtica bblica de alguns aspectos do totemismo, como a fora da vida enquanto uma deidade, o conceito filosfico binrio relacional em contraposio a relao homem e Criador e os valores morais subvertidos presentes no totemismo. Aspectos que distam substancialmente da perspectiva apresentada na Revelao de Deus. Esperamos, deste modo, dar ao leitor uma viso geral do totemismo enquanto um fenmeno religioso e, ao mesmo tempo, apresentar seu antagonismo s Escrituras Sagradas.
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1 ORIGEM DO TERMO E DIVERSOS CONCEITOS 1.1 Origem dos termos totem e totemismo A palavra totem (dotem) tem sua origem tanto para o antroplogo cultural Roy Wagner 1 como para o filsofo e antroplogo Claude Lvi-Strauss (1908-2009) 2
na lngua algonki dos ndios Ojibwa, oriundos do norte dos Grandes Lagos da Amrica do Norte, para referir-se a um membro do cl. J o termo totemismo, foi usado primeiramente por McLennan (em 1869 e 1870), nos artigos da Fortnightly Review intitulados The Worship of Animals and Plants [A Adorao de Animais e Plantas] 3 , mostrando o totemismo como uma religio por estar cada grupo ou cl associado a uma planta ou animal. 1.2 Conceitos de totemismo Embora Lvi-Strauss tenha estabelecido uma ruptura radical, no apenas terminolgica, mas conceitual, quando considera totemismo uma iluso, por entender que suas bases fundamentais esto equivocadas, ou em suas prprias palavras, aceitar como tema de discusso uma categoria que julgamos falsa implica sempre no risco de alimentarmos, pela ateno que lhe damos, certa iluso sobre a realidade. [...] Talvez fosse mais sbio deixar as teorias obsoletas no esquecimento e no mais acordar os mortos. [E ainda,] desde j nos mostramos cticos quanto realidade do totemismo. 4
Alguns conceitos esto presentes na literatura, de modo que os apresentamos a fim de podermos ver suas nuances e suas perspectivas a partir de seus pressupostos que governavam os estudiosos do tema.
1 WAGNER, 1987 apud ZAZINI, Maria Catarina Chitolina. Totemismo revisitado: perguntas distintas, distintas abordagens. Revista Habitus, v. 4, n.1, jan./jun. 2006, p. 514. 2 LVI-STRAUS, Claude. Totemismo Hoje. Petrpolis: Vozes, 1975, p. 28. 3 ZAZINI, Maria Catarina Chitolina. Totemismo revisitado, p. 514. 4 LVI-STRAUS, Claude. Totemismo Hoje, p. 24,25. 3
Conforme J. G. Frazer (1854-1941), antroplogo, historiador e filsofo da religio, o totemismo seria uma das formas primevas de desenvolvimento humano, uma soluo intelectual para problemas cognitivos colocados por diferentes fenmenos naturais inexplicveis 5 . Entretanto, depois renuncia essa hiptese e formula uma teoria sociolgica do totemismo. Para mile Durkheim (1858-1917), considerado um dos pais da Sociologia, totemismo alm de ser a forma mais elementar da vida religiosa, por ser a mais simples. 6 , tambm uma forma de classificao que revelaria uma hierarquia que [...] exclusivamente uma coisa social. 7 . Sigmund Freud (1856-1939), tambm se preocupou com a origem do totemismo, e esboou aquilo que Van Gennep (1920) chamou de teoria psicoanaltica do totemismo, a qual se baseia numa suposio mitolgica do assassinato do pai e no posterior sentimento de culpa dos filhos pelo crime. Para ele, totemismo e exogamia seriam inseparveis, pois os filhos, antes organizados em hordas, passam a se organizar em cls e, culposos da morte do pai, abdicam sexualmente de suas irms e passam a venerar a figura do Deus-pai na forma de totem e rendendo a ele obedincia pstuma. 8
Ainda, conforme o antroplogo Ronaldo Lidrio, totemismo um conjunto de ideias e prticas baseadas na crena da existncia de um parentesco mstico entre seres humanos e objetos naturais, como animais e plantas. 9 . E numa definio enciclopdica, estabelecida pela Encyclopedia Britannica, Totemismo, sistema de crena no qual os seres humanos dizem ter parentesco ou uma relao mstica com um ser espiritual, como um animal ou planta. A entidade, ou totem, pensado para interagir com um dado grupo de parentesco ou de um indivduo e para servir como seu emblema ou smbolo. 10
Dentre outras definies, estas nos mostram que o totemismo uma religio que estabelece uma relao mstica espiritual entre o homem e o totem. E que as
5 ZAZINI, Maria Catarina Chitolina. Totemismo revisitado, p. 514-515. 6 ZAZINI, Maria Catarina Chitolina. Totemismo revisitado, p. 515. 7 ZAZINI, Maria Catarina Chitolina. Totemismo revisitado, p. 517. 8 ZAZINI, Maria Catarina Chitolina. Totemismo revisitado, p. 519. 9 LIDRIO, Ronaldo. Antropologia Missionria: a antropologia aplicada ao desenvolvimento de ideias e comunicao do evangelho em contexto intercultural. So Paulo: Instituto Antropos, 2008, p. 92. Disponvel em <http://juvep.com.br/v2/wp-content/uploads/2012/09/eBook-Antropologia-Missionaria- Ronaldo-Lidorio.pdf>. Acesso em: 22 ago 2013. 10 Totemism. Encyclopdia Britannica. Encyclopdia Britannica Inc., 2013. Disponvel em: <http:// global. britannica.com/EBchecked/topic/600496/totemism>. Acesso em 21 ago 2013. 4
distines fundamentais, excetuando Lvi-Strauss, encontram-se mais na discusso de sua origem. 5
2 O TOTEMISMO E SUA CORRELAO COM A FORA DA VIDA Lidrio, em seu artigo intitulado Totemismo 11 , prope-se a apresentar como um de seus objetivos o totemismo e sua correlao com a fora da vida. Sua abordagem nesse aspecto visa mostrar que o totemismo resultado de uma cosmoviso e no a precede, que a religiosidade est centrada na fora da vida e no no totem, tambm visa formular o totemismo enquanto um conceito filosfico binrio relacional, alm de definir o processo de transio do conceito totmico ao totemismo. Esses aspectos so norteadores de nossa pesquisa. 2.1 Totemismo no precede uma cosmoviso Para Lidrio, o totemismo uma concepo advinda de uma forma de interpretar o mundo ao seu redor, cosmoviso, e no apenas um agrupamento de prticas clnicas. 12 . nesse sentido, conforme o antroplogo, que Goldenweiser aponta ser a caa e a geografia do grupo o desdobramento e no origem do totemismo. Nesse sentido, o totemismo que impe tabus e no os tabus que geram o totemismo. Isso concorda com a perspectiva de que no h nenhuma manifestao cultural e nesse sentido, a religio uma manifestao que no seja direcionada pela viso de mundo de um povo. Embora tambm, perceba-se que as manifestaes culturais, num processo retroalimentativo, reproduzem, autenticam e at modificam a cosmoviso de um povo. 2.2 A religiosidade est centrada na fora da vida
Numa abordagem dissonante de pensadores como Freud e Durkheim, a proposta de Lidrio aponta para a percepo de que o centro da religiosidade no est localizado no totem, ou no homem, na sociedade, etc., mas na fora da vida. Para Durkheim, est na sociedade, pois a sociedade Deus; enquanto que para Freud, o pai Deus. Lidrio apresenta os Chakalis de Gana, como exemplo, que crem que o esprito que d vida ao homem encontra-se enterrado sempre perto de uma grande rvore. Ao nascer um menino Chakali, o esprito ali enterrado se transporta e ocorre o mantiib, que o momento do nascimento, que significa de fato associao, ou seja, o momento em que aquele esprito at ento enterrado se associa a criana. O tipo de esprito (se forte, fraco, em desenvolvimento) coincide com o tipo de rvore que o retm em sua sombra (territrio) coincide com o status do cl. Por isto a mobilidade social impossvel entre cls, sendo que seu esprito humano, carter e fora, so definidos nesta associao logo no nascimento. 13
Essa fora da vida concebida como autoexistente. Assim, as sociedades totmicas creem ser o universo vitalizado por uma nica fora associada seus habitantes quais sejam, animados ou inanimados 14 . 2.3 Totemismo enquanto um conceito filosfico binrio relacional Um aspecto significativo na abordagem de Lidrio est em atribuir ao totemismo o conceito filosfico binrio relacional. Que, compreende estar a centralidade da religio na fora da vida, e porque no contexto animista tem-se amplamente aceito a relao da natureza dar-se de par em par, busca-se reconhecer tais pares, especialmente os que se relacionam com o homem, atravs da sabedoria dos velhos. Assim, essa tarefa seria o reconhecimento de que a fora da vida, por algum motivo, se distribui de par em par na natureza. Assim o par de certa famlia seria o vento enquanto de outra a ona 15 . Esse conceito tambm contribui com sua perspectiva da religiosidade centrada na fora da vida, ao invs de estar no totem seja este um fenmeno, um vegetal ou animal ou no prprio homem. Sendo a relao com este totem, uma
necessidade funcional, encontrar seu par relacional a fim de estabelecer harmonia com a fora da vida por meio dele. 2.4 Do conceito totmico ao totemismo Por conceito totmico refere-se necessidade de uma relao binria com o totem, o par que estabelece a harmonia do grupo com a fora da vida. Enquanto que por totemismo, seu estabelecimento enquanto um sistema de crena elaborada. Lidrio demonstra o processo de transio do conceito totmico para o totemismo, para a elaborao da crena. O ponto de partida desse processo est na observao a fim de identificar o par relacional ou o mesmo tipo de fora daquele grupo ou cl especfico por um velho ou xam, que tem sensibilidade mstica superior. Essas descobertas tornam-se mito presente naquele grupo. Ou, nas palavras do antroplogo, estas descobertas esto presentes nos mitos totmicos. Falam abundantemente sobre momentos em que os velhos observaram uma reao estranha da natureza em relao ao seu povo. Tais descobertas (mencionadas nos mitos, contos e lendas) falam quase sempre sobre atos de resgate ou ajuda de animais ao grupo, em momentos de perigo. Ou sobre um pssaro que cantava mais alto quando tal grupo por ali passava. Ou um vento que soprava mais forte. Um leopardo que andou, manso, ao lado de um velho por toda trilha. A raiz de certa rvore que se assemelha s veias do corpo. Uma mata que serviu de proteo para um grupo perdido, e assim por diante. 16
Tais descobertas so expostas ao grupo, que a normatiza e, ao mesmo tempo, normatizado por elas. Nascendo, ento o sistema totmico, o totemismo.
16 LIDRIO, Ronaldo. Totemismo. 8
3 O TOTEMISMO COMO REGULADOR DAS PRTICAS SOCIAIS Alm de propor o totemismo e sua correlao com a fora da vida, Lidrio, em sua abordagem 17 vista aqui, tambm o apresenta como regulador das prticas sociais. E embora, vimos que a cosmoviso fundamentada no conceito filosfico binrio relacional que precede o totemismo e no este quela, uma vez estabelecido, todo produto cultural assume um papel alimentador da cosmoviso de um povo. No caso do totemismo, nada difere. Assim, pode-se perceber que, uma vez o conceito totmico estabelecido enquanto um sistema, o totemismo, este ento torna-se fora reguladora das prticas sociais. Deste modo, discutiremos como se d o totemismo enquanto forma de integrao clnica, veremos os valores morais do totemismo e, ainda, a relao da magia como mecanismo de manipulao da fora da vida. 3.1 O totemismo como forma de integrao clnica Para Lidrio, devido relao de associao estabelecida entre o totem e o cl, os membros deste cl devem consider-lo de modo especial. Assim, na cosmoviso Konkomba, por exemplo, onde percebe-se que estes se associam com animais, a respeito dos quais no se pode caar, comer e usar sua pele em nenhuma aplicao 18 .Entretanto, o totem especfico de um cl somente tem valor para seus membros e no para os de outro. Tanto que, em caso extremo de ataques de leopardo de forma constante em uma rea Binaliib [que o adota como seu totem], pede-se a um membro de outro cl que possa ca-lo 19 , pois para o outro grupo no h valor sagrado no totem, sendo este apenas um animal. Segundo o cientista social britnico Alfred Radcliffe-Brown (1881-1955), que voltou sua ateno no para a origem, mas para o funcionamento do totemismo 20 , tal percepo do universo pode ser o maior fator de coeso do grupo animista
totmico, tornando-se essa crena reguladora dos relacionamentos e at a definidora da hierarquia social. Ele ainda sustenta que as espcies naturais so escolhidas como representantes de grupos sociais, tais como cl, porque so j objeto de comportamento ritual. E os rituais teriam por funo exprimir e manter viva a solidariedade do grupo social, bem como individualizar e separar o grupo em relao aos demais, ou seja, salientar a sua especificidade. 21
Radcliffe-Brown ainda contribui, quando na perspectiva de Zazini questiona o que impulsionaria uma sociedade ao totemismo. Duas respostas so apresentadas: a primeira a dependncia total ou parcial sobre produes naturais para subsistncia, e a segunda a existncia de organizao segmentria em cls ou em outras unidades sociais semelhantes (RADCLIFFEBROWN, 1973). 22 . Assim, ao mesmo tempo, o totemismo um fator de integrao dos membros do cl, e funciona como um recurso para distinguir um grupo de outro, autenticando tal unidade clnica pela relao com a alteridade. 3.2 Os valores morais do totemismo Quais so os valores presentes no totemismo? Lidrio identifica e apresenta alguns deles: primeiramente, no h morte final ou nascimento inicial, pois tudo se resume em ciclo infinito; em segundo lugar, o universo no bom ou mal, de modo que o senso de moral de grupos totmicos menos dialtico, tendo uma diviso moral entre o bem e o mal mais diluda, deste modo os habitantes do universo so quase sempre aticos 23 ; um terceiro aspecto que o totemismo uma crena fundamentada no fatalismo, e ainda que haja alguma manipulao da natureza pela magia, como veremos em seguida, esta no foge do escopo pr-estabelecido, antes, atua apenas como minimizadora do sofrimento. Em suma, os valores morais
21 ZAZINI, Maria Catarina Chitolina. Totemismo revisitado, p. 523. 22 ZAZINI, Maria Catarina Chitolina. Totemismo revisitado, p. 523. 23 Diferentemente, para Durkheim, a distino entre o sagrado e o profano vital [concebendo-os] como de natureza diferenciada, como mundos separados, hostis e rivais um do outro (ZAZINI, Maria Catarina Chitolina. Totemismo revisitado, p. 516). 10
presentes na cosmoviso totmica na perspectiva de Lidrio so o ciclo infinito, a amoralidade e o fatalismo 24 . 3.3 Magia manipulao da fora da vida Embora um dos valores do totemismo seja o fatalismo, este ainda se utiliza da magia, que a manipulao da fora da vida atravs dos elementos naturais. E devido a esse fatalismo predominar no pensamento totmico, a magia sempre uma manipulao limitada, que atua sobre uma verdade predefinida, pr-associada, na cosmoviso de um grupo totmico. 25 . Tal magia resultante do descobrimento dos segredos da fora da vida, segredos mantidos pela tradio atravs da manuteno das prticas, tabus e crenas de relao msticas entre elementos da natureza sem que se consiga explicar tal relao 26 . E, uma vez que o homem possui maior conscincia das foras da vida, se encontra no centro do universo. A fora da vida quase sempre boa, porm imperfeita 27 . Entretanto, a manipulao dessa fora tem papel utilitrio, pois sendo o universo predefinido, as ligaes msticas de associao podem ou no ser identificadas pelos velhos. [E] manipular a natureza, magia, uma forma de minimizar o sofrimento ao qual a humanidade est destinada. 28 .
CONCLUSO Depois de apresentarmos uma perspectiva do totemismo fundamentada na abordagem do antroplogo e missionrio presbiteriano Ronaldo Lidrio, na qual foi discutida a correlao do totemismo com a fora da vida e tambm seu papel como regulador das prticas sociais, propomos uma breve crtica bblica a alguns dos aspectos presentes no totemismo. Primeiramente, percebe-se que a fora da vida que atua como uma deidade. Diferentemente do que prope Freud, a centralidade no sentimento de culpa do homem em relao seu deus-pai, ou da perspectiva de Durkheim, com o deus-sociedade, Lidrio nos apresenta que a religiosidade est centrada nessa fora, fazendo-a assim o ponto de referncia ltimo do homem. Nesse sentido, equivoca-se quem considera ser o totemismo resumido a adorao de totem, antes, o totem atua apenas como um vnculo entre o cl e a fora da vida, a qual prope ao homem harmonia. Por isso, conclumos que para uma sociedade totmica, tal fora da vida seu deus. Em contraste, as Escrituras apresentam Deus como criador dos cus e da terra, em quem est nosso socorro (Sl 124.8), assim a fora do homem est no criador de todas as coisas, e no numa fora impessoal da vida. Tambm, outro aspecto antagnico s Escrituras est no conceito filosfico binrio relacional, que compreende ser possvel o homem experimentar a harmonia com a fora da vida atravs do encontro com seu par do mesmo tipo, o totem. De fato, a necessidade de o homem encontrar harmonia um anseio real, mas somente pode ser suprido no encontro pessoal com o Filho de Deus, Jesus Cristo. E esse encontro, proporciona no meramente uma harmonia com a criao, mas sobretudo com o criador, em quem estamos separados pelos nossos pecados (Rm 5.10, 2Co 5.18). E por fim, os valores morais subvertidos presentes no totemismo ciclo infinito, a amoralidade e o fatalismo so claramente contrrios perspectiva crist. Especificamente em relao aos apresentados, quanto ao ciclo infinito, a Palavra de Deus afirma que ao homem est destinado morrer apenas uma vez (Hb 9.27); quanto a moralidade, a Bblia tanto apresenta Deus com um ser moral como nos chama a uma moralidade fundamentada Nele (1Pe 3.14-16); e em relao ao 12
fatalismo, nas Escrituras de fato h um Deus criador e sustentador de todas as coisas, mas que nos fez seres responsveis e atuantes, alm Dele mesmo intervir na histria pelo seu poder, no sendo de modo algum a soberania de Deus uma perspectiva fatalista, como ensinou o Desta no passado. Assim, esses aspectos no apresentamos aqui diversos outros que seguem na mesma direo distanciam-se da perspectiva revelada nas Escrituras, seja em relao a Deus, ao homem ou a natureza.
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REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS LVI-STRAUS, Claude. Totemismo Hoje. Petrpolis: Vozes, 1975. LIDRIO, Ronaldo. Antropologia Missionria: a antropologia aplicada ao desenvolvimento de ideias e comunicao do evangelho em contexto intercultural. So Paulo: Instituto Antropos, 2008. Disponvel em <http://juvep.com.br/v2/wp- content/uploads/2012/09/eBook-Antropologia-Missionaria-Ronaldo-Lidorio.pdf>. Acesso em: 22 ago 2013. LIDRIO, Ronaldo. Totemismo. Instituto Antropos, 2008. Acesso em: <http://insti- tuto.antropos.com.br/v3/index.php?option=com_content&view=article&id=448&catid= 35&Itemid=3>. Acesso em: 15 ago 2008. Totemism. Encyclopdia Britannica. Encyclopdia Britannica Inc., 2013. Disponvel em: <http://global. britannica.com/EBchecked/topic/600496/totemism>. Acesso em 21 ago 2013. ZAZINI, Maria Catarina Chitolina. Totemismo revisitado: perguntas distintas, distintas abordagens. Revista Habitus, v. 4, n.1, jan./jun. 2006, p. 513-533.