Universidade Eduardo Mondlane

Faculdade de Economia
Licenciatura em Economia

Disciplina: Histria do Pensamento Econmico




Tema: HISTRIA ECONMICA DE MOAMBIQUE




Discentes:
Daniel, Egas
Picardo, Cndido
Gomes, Alfredo




Maputo, Outubro de 2014

1

ndice
Contedos.pag
1 Introduo ................................................................................................................................ 2
1.1 Objectivo Geral ................................................................................................................ 3
1.2 Objectivos especficos ...................................................................................................... 3
1.3 Metodologia ..................................................................................................................... 3
2 Primeiros habitantes de Moambique...................................................................................... 4
3 Agro-pecuria e metalurgia do ferro aps a expanso e fixao Bantu .................................. 4
3.1 A organizao econmica das sociedades em Moambique aps a fixao Bantu ......... 5
3.1.1 A nvel da produo .................................................................................................. 5
3.1.2 A nvel das relaes de produo .............................................................................. 5
4 Os mercadores asiticos e o comrcio no litoral ..................................................................... 6
5 Os primeiros estados em Moambique .................................................................................... 7
5.1 O Primeiro Estado do Zimbabwe ..................................................................................... 7
5.2 O Imprio dos Mwenemutapas ........................................................................................ 8
5.2.1 Actividades produtivas da comunidade alde ........................................................... 8
6 A chegada dos portugueses a Moambique e o declnio do Imprio dos Mwenemutapas ..... 9
7 O Imprio Marave ................................................................................................................... 9
8 Os Prazos ............................................................................................................................... 10
9 O Estado de Gaza .................................................................................................................. 12
10 As Companhias Majestticas ............................................................................................. 12
11 Companhia do Niassa ........................................................................................................ 13
12 O Estado Novo ................................................................................................................... 14
13 Histria econmica Ps-Independncia ............................................................................. 15
13.1 As nacionalizaes ......................................................................................................... 15
13.2 As Empresas Estatais ..................................................................................................... 15
13.3 O PRE ou incio do neoliberalismo econmico ............................................................. 16
14 Concluso ........................................................................................................................... 17
15 Bibliografia ........................................................................................................................ 18


2

1 Introduo
A Histria do Pensamento Econmico o campo de conhecimento do economista
permanentemente estudada, devido sua relevncia e necessidade (Tolipan, 1989). Torna-se
tambm relevante para um aspirante a economista, enquadrar a evoluo do pensamento
econmico mundial no contexto do seu pas, sendo um instrumento complementar sua
formao, de forma a compreender melhor o passado e presente do desenvolvimento do seu pas
e dai, perspectivar o futuro.
De facto, tanto para outros lugares assim com para Moambique, a organizao econmica e
social foi evoluindo com o tempo, diferindo apenas no ritmo e a forma desta evoluo.
Nas comunidades primitivas, o homem preocupava-se com a caa, a pesca e com a segurana do
lar. A mulher cuidava pessoalmente da casa e dos filhos, ou administrava os servios executados
por serviais. Havia uma diviso do trabalho, que naturalmente variava em parte de uma
comunidade para outra, de acordo com os costumes.
Mais tarde, com a expanso rabe na costa de Moambique, passa-se a desenvolver outras
actividades como a minerao do ouro por parte das comunidades locais para trocas comerciais
com os rabes. Assim, foi seguindo a penetrao mercantil, o imperialismo at o colonialismo
que marcaram de diversas formas a organizao econmica do nosso pas ao longo dos tempos.
neste cerne que o presente trabalho assenta pretendendo descrever a Histria da organizao
econmica de Moambique nas diferentes fases da histria do pensamento econmico, desde as
primeiras comunidades (os khoi-sans) at o perodo da implementao do Programa de
Reabilitao econmica (PRE) que data no perodo ps independncia.






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1.1 Objectivo Geral
Falar da Histria da econmica de Moambique, desde as primeiras comunidades ate o perodo
ps-independncia.
1.2 Objectivos especficos
Caracterizar a organizao econmicas das comunidades moambicanas ao longo do
tempo;
Descrever os principais grupos-tnicos, imprios e estados moambicanos ao longo dos
tempos como ferramenta de compreenso a evoluo da organizao econmica em
Moambique;
Descrever a influncia da expanso rabe, da penetrao mercantil portuguesas e do
colonialismo na organizao econmica ao longo to tempo.
1.3 Metodologia
Considerando-se os objectivos do presente trabalho, usou-se como fontes, segundo o critrio da
origem dos dados as seguintes:
Pesquisa bibliogrfica e de artigos cientficos;
Consulta de websites e informao disponvel na internet.
Posteriormente seguiu-se as etapas de leitura, seleco, cruzamento e sntese das informaes
obtidas nas fontes pesquisadas que fossem de acordo com os objectivos do trabalho.









4

2 Primeiros habitantes de Moambique
1

Os primeiros habitantes de Moambique foram provavelmente os Khoi-san, que eram caadores-
recolectores. H cerca de 10.000 anos a costa de Moambique j tinha o perfil aproximado do
que apresenta hoje em dia: uma costa baixa, cortada por plancies de aluvio e parcialmente
separada do Oceano ndico por um cordo de dunas. Esta configurao confere regio uma
grande fertilidade, ostentando ainda hoje grandes extenses de savana onde pululam muitos
animais indgenas. Havia portanto condies para a fixao de povos caadores-recolectores e
at de agricultores.
Nos sculos I a IV, a regio comeou a ser invadida pelos Bantu, que eram agricultores e j
conheciam a metalurgia do ferro. A base da economia dos Bantu era a agricultura,
principalmente de cereais locais, como a mapira (sorgo) e a mexoeira; a olaria, tecelagem e
metalurgia encontravam-se tambm desenvolvidas, mas naquela poca a manufactura destinava-
se a suprir as necessidades familiares e o comrcio era efectuado por troca directa. Por essa
razo, a estrutura social era bastante simples - baseada na "famlia alargada" (ou linhagem)
qual era reconhecido um chefe.
3 Agro-pecuria e metalurgia do ferro aps a expanso e fixao Bantu
Substituindo a comunidade primitiva e o predomnio da caa e da pesca, vrios grupos foram
chegando a Moambique desde h cerca de 1700 anos, povoando gradualmente as bacias fluviais
costeiras e, quase ao mesmo tempo, as encostas e os planaltos do interior.
Este processo ficou conhecido como expanso Bantu, ocorrendo como como consequncia do
conhecimento da agro-pecuria.



1
SERRA, Carlos (coord.). Histria de Moambique: Parte I - Primeiras Sociedades sedentrias e impacto dos
mercadores, 200/300- 1885; Parte II - Agresso imperialista, 1886-1930. Vol. 1, 2. edio, Maputo, Livraria
Universitria, Universidade Eduardo Mondlane, 2000.


5

As aldeias dessas primeiras sociedades sedentrias localizavam-se, preferencialmente, junto dos
cursos permanentes de gua. Atingindo dimenses por vezes considerveis. As casas eram
construdas de madeira e, em seguida, maticavam-se paredes de larga espessura. Para alm de
variedades de cereais subtropicais (mapira e mexoeira), algumas dessas aldeias reuniam,
igualmente, pequenas quantidades de cabeas de gado bovino, ovino e caprino
3.1 A organizao econmica das sociedades em Moambique aps a fixao Bantu
Aps a fixao Bantu e antes do impacto colonial mercantil, o qual principiou no sec XVI, as
caractersticas mais gerais das sociedades moambicanas, em termos de organizao econmica,
podem ser indicadas em dois nveis:
3.1.1 A nvel da produo
A base fundamental da economia consistia na agricultura de cereais, principalmente de mapira e
de mexoeira. Em algumas regies a sul do rio Zambeze, essa actividade econmica era
acompanhada pela criao de gado bovino. A recoleco constitua um contributo indispensvel
dieta alimentar. A caa e a pesca, actividades masculinas por excelncia, eram praticadas com
regularidade e desempenhavam um papel importante na obteno da protena animal.
As outras actividades econmicas, como a olaria, a tecelagem e a metalurgia, estavam bem
desenvolvidas, mas s em alguns casos, como por exemplo o Estado do Grande Zimbabwe, os
arteso puderam um grupo social relativamente especializado e independente da agricultura.
Os excedentes agrcolas, quando existiam, e as produes artesanais, ou o marfim, as peles e
minrio eram trocados entre as diferentes unidades de produo, quer a nvel local, quer em
mercados distantes.
3.1.2 A nvel das relaes de produo
A agricultura determinava as relaes de produo permanente. A nvel da comunidade alde, as
unidades de produo constituam em torno de um grupo de parentes consanguneos, definidos
por via paterna no Sul do Zambeze e por via materna a Norte.


6

A caa e a pesca, praticadas individualmente ou em grupo, no configuravam relaes de
produo to durveis como a agricultura. Os grupos desfaziam-se no fim da caada ou de
campanha de pesca e produto era dividido pelos participantes, segundo regras consuetudinrias
bem definidas.
A diviso tcnica e social do trabalho fazia-se na base do sexo e da idade. A maioria dos
agricultores (mulheres) era formada por pessoas livres que produziam para a famlia alargada.
Em alguns casos, mas muito raramente, foram utilizados escravos domsticos na produo
agrcola.
Como produtoras, as mulheres detinham uma certa autoridade e controlo sobre os celeiros, mas
estavam geralmente excludas da posse de bens valiosos e duradoiros, como o gado.
Em geral, fazendo uma comparao do estgio de pensamento econmico, podemos facilmente
notar que as caractersticas da organizao econmica em Moambique aps a fixao bantu em
Moambique eram bem menos vigorosas quando comparadas as Cidades-Estado da Grcia
antiga. Por um lado, os gregos tinham o comrcio mais desenvolvido desenvolvidos por
mercadores e aliengenas e por outro as actividades eram desenvolvidas com alguma
especializao entre os gregos.
4 Os mercadores asiticos e o comrcio no litoral
Entre os sculos IX e XIII encontram-se evidncias de uma progressiva e lenta fixao de
populaes provenientes principalmente do Golfo Prsico, o qual era um dos principais centros
de comrcio no ndico no sec.X
Estas populaes estabeleceram-se em toda costa orienta e, particularmente, nas ilhas de
Zanzibar e de Pemba. Aparentemente foi no sculo XIII que o maior nmero de emigrantes se
fixou em entrepostos comerciais ao longo da costa oriental africana.
As actividades comerciais, as migraes por mar, os casamentos e o contacto de outro tipo ente
os grupos locais e os recm-chegados rabes que, no Qunia e Tanzania, deram origem a uma
cultura costeira Swahili. Com a expanso comercial e advento do Islo, estes ncleos
islmicos da costa estruturaam-se em comunidades polticas como xeicados e os sultanatos.

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De qualquer modo, a partir dessas comunidades e da sua actividade mercantil no interior de
Moambique, as sociedades do Norte entraram definitivamente no comrcio internacional.
5 Os primeiros estados em Moambique
Defenderam Marx e Engels a ideia de que sempre o exerccio de funes sociais que d a base
da supremacia poltica. Uma das vias que leva ao aparecimento do poder do Estado consiste na
especializao de um pequeno nmero de indivduos em determinadas funes no directamente
produtivas.
Com o incremento das foras produtivas e a crescente diviso social do trabalho, gera-se a
necessidade de dispor de uma equipa de pessoas capazes de administrar e de organizar a
sociedade no seu conjunto. Nasce, assim, a funo tcnico-administrativa, a qual,
progressivamente, absorvida pela dominao poltica.
5.1 O Primeiro Estado do Zimbabwe
O Estado do Zimbabwe existiu, aproximadamente, entre 1250 e 1450 aproximadamente na
regio da actual Repblica do Zimbabwe. O seu nome deriva dos amuralhados de pedra que
a aristocracia fazia construir volta das suas habitaes e que se chamavam madzimbabwe. O
que parece ter sido a capital deste estado - o actual monumento do Grande Zimbabwe - cobria
uma superfcie considervel (incluindo no s a rea dentro dos amuralhados, mas tambm uma
grande "cidade" de canio, volta daqueles), levando a pensar que tinha uma populao de
vrias centenas, talvez milhares de habitantes, e uma grande actividade comercial.
Alm do Grande Zimbabwe, so conhecidos tambm runas de madzimbabwe, a mais importante
das quais chamada Manyikeni, a cerca de 50 km de Vilankulo, na provncia de Inhambane, e a
cerca de 450 km do Grande Zimbabwe.
Para alm da grande fertilidade da regio onde este estado se estabeleceu, o apogeu do primeiro
estado do Zimbabwe deve estar ligado minerao e metalurgia do ouro, muito procurado
pelos mercadores originrios da zona do Golfo Prsico que j demandavam as "terras de Sofala",
pelo menos desde o sculo XII.

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Cerca de 1450, o Grande Zimbabwe foi abandonado pela maior parte dos seus habitantes e no
se conhecendo as razes claras desse abandono mas, pela mesma altura, verificou-se uma grande
invaso de povos tambm de lngua chiShona que deu origem ao Imprio dos Mwenemutapas.
Estes invasores submeteram os povos duma regio que se estendeu at ao Oceano ndico, desde
o rio Zambeze at a actual cidade de Inhambane, pelo que no claro o abandono do Grande
Zimbabwe.
5.2 O Imprio dos Mwenemutapas
A invaso e conquista do norte do planalto zimbabweano pelas tropas de Nhatshimba Mutota,
em 1440-1450, deu origem a um novo estado dominado pela dinastia dosMwenemutapas. Estes
invasores, que tambm falavam a lngua chiShona estabeleceram a sua capital num local
prximo do rio Zambeze, no norte da actual provncia moambicana de Manica.
5.2.1 Actividades produtivas da comunidade alde
A actividade produtiva essencial para as comunidades aldes Chona baseava-se na agricultura.
Os principais cereais cultivados eram a mapira, a mexoerira, o naxemim ou talvez, o milho. Ao
longo dos rios e, sobretudo, na zona costeira, em solos aluvionares, cultivava-se arroz,
usualmente para venda.
Mas ao nvel das forcas produtivas era ainda baixo. Nos trabalhos agrcolas, o principal
instrumento de trabalho era a pequena enxada de cabo curto e a agricultura praticava-se sobre
queimada.
Na pecuria, a pesca e caa, bem como as actividades artesanais, surgiam como apndices
complementares da agricultura, submetendo-se aos imperativos do ciclo agrcola.
O trabalho das minas aparecia como uma imposio do exterior (da aristocracia dominante ou
dos comerciantes estrangeiros), no fazendo, por isso, parte integrante da actividade econmica
normal.
Porm, com o correr do tempo, a penetrao rabe e portuguesa trouxe novas necessidades
(nomeadamente em bens de prestgio), as quais, voluntria e coercivamente , levavam a
populao das comunidades a praticar a minerao do ouro em escala considervel, bem como a
sua comercializao

9

Foi o ouro que determinou a fixao na costa do Oceano ndico, primeiro dos mercadores e
colonos rabes oriundos da regio do Golfo Prsico, ainda no sculo XII, e depois
dos portugueses, no dealbar do sculo XVI.
6 A chegada dos portugueses a Moambique e o declnio do Imprio dos Mwenemutapas
Vasco da Gama chega pela primeira vez a Moambique, em 1498, no contexto da busca do
caminho martimo para ndia, dado que nessa altura comeavam a se firmar na Eupora as base do
mercantilismo. Porm, j existiam entrepostos comerciais rabes e uma grande parte da
populao tinha aderido ao Islo. Os mercadores portugueses, apoiados por exrcitos privados,
foram-se infiltrando no imprio dos Mwenemutapas, umas vezes firmando acordos, noutras
forando-os. Em 1530 foi fundada a povoao portuguesa de Sena, em 1537, de Tete, no rio
Zambeze, e em 1544 de Quelimane, na costa do Oceano ndico, assenhorando-se da rota entre as
minas e o oceano. Em 1607 obtiveram do rei a concesso de todas as minas de ouro do seu
territrio. Mais tarde os portugueses viriam a baptizar o Mwenemutapa Mavura e este declarou-
se vassalo de Portugal, em 1627. Muito embora tenha havido resistncia da dominao, por essa
altura, no entanto, os portugueses controlavam o vale do Zambeze e comearam a interessar-se
mais pelo marfim, empreendimento que levavam a cabo por acordo com os estados Marave.
O imprio dos Mwenemutapa, embora com menos poder econmico, manteve-se at meados do
sculo XIX, altura em que foi desmembrado pelos Estados Militares que se formaram como
resistncia dos prazeiros administrao portuguesa.
Finalmente, a administrao colonial portuguesa e britnica em frica terminou com o poder
poltico dos chefes ento existentes.
7 O Imprio Marave
Os estados Marave foram um conjunto de pequenos reinos formados entre 1220 e 1440 na
margem norte do rio Zambeze e que se tornaram importantes na histria da
penetrao portuguesa nesta regio.

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Uma caracterstica importante que todos os povos da regio, embora apresentem hoje uma
grande diversidade de lnguas (do grupo de Bantu sul-central, das famlias
ciNyanja, ciYao e eMakuwa) tem como forma de organizao da sociedade a matrilineariedade
2

Segundo SERRA,C. (1986; 74), so muito escassos os testemunhos escritos sobre a actividade
produtiva Marave antes do sec. XIX. Mas pela inferncia de dados colhidos, pode se aceitar que
a mapira era o cereal mais cultivado. Semeava-se milhos em terras altas. Tambm se cultivava
mexoeira, amendoim, leguminosas, etc. A agricultura era itinerante sobre queimada, sendo a
enxada de cabo curto praticamente o nico instrumento utilizado.
8 Os Prazos
Por volta de 1600, Portugal comeou a enviar para Moambique colonos, muitos de
origem indiana, que queriam fixar-se naquele territrio. Esses colonos, muitas vezes casavam
com as filhas de chefes locais e estabeleciam linhagens que, entre o comrcio e a agricultura,
podiam tornar-se poderosas.
Em meados do sculo XVII, o governo portugus decide que as terras ocupadas por portugueses
em Moambique pertenciam coroa e estes passavam a ter o dever de arrend-las a prazos que
eram definidos por 3 geraes e transmitidos por via feminina. Esta tentativa de assegurar a
soberania na colnia recente, no foi muito exitosa porque, de facto, os chefes locais j tinham
bastante poder, mesmo militar, com os seus exrcitos de "xicundas", e muitas vezes se opunham
administrao colonial, que era obrigada a responder igualmente pela fora das armas.
No s estes senhores feudais no pagavam renda ao Estado portugus, como organizaram um
sistema de cobrar o "mussoco" (um imposto individual em espcie, devido por todos os homens
vlidos, maiores de 16 anos) aos camponeses que cultivavam nas suas terras. Alm disso,
mineravam ouro, marfim e escravos, que comerciavam em troca de panos e missangas que
recebiam da ndia e de Lisboa. At 1850, Cuba foi o principal destino dos escravos provenientes
da Zambzia.

2
Matrilineariedade, ou seja, a transmisso dos poderes "mgicos" e da propriedade - do prprio "poder" - feita por
casamento com a mulher da linhagem que o detm.


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Em 1870, comearam a estabelecer-se em Quelimane vrias companhias europeias, j no
interessadas em escravos, nem em marfim, mas sim em oleaginosas,
amendoim, gergelim e copra - muito procuradas nas indstrias recm-criadas
de leo alimentar, sabes e outras. No princpio, comercializando com os prazeiros, induziram-
nos a forarem os seus camponeses a cultivar estes produtos.
Mas a agricultura familiar no produzia as quantidades desejadas, era necessrio
organizar plantaes. nessa altura que o governador da "provncia ultramarina", Augusto de
Castilho, cuja administrao estava desejosa de ter uma base tributria para manter a ocupao
do territrio, emite em 1886 uma "portaria provincial" regulando a cobrana do "mussoco" nos
Prazos (que tinham sido "extintos" pela terceira vez seis anos antes), que inclua a
obrigatoriedade dos homens vlidos pagarem aquele imposto, se no em produtos, ento
em trabalho; dessa forma que comeam a organizar-se as grandes plantaes de coqueiros e,
mais tarde, de sisal e cana sacarina.
Em 1890, o futuro "Comissrio Rgio" Antnio Enes decreta, numa reviso do Cdigo de
Trabalho Rural de 1875 (que estabelecia apenas a obrigao "moral" dos colonos de produzirem
bens para comercializao), que o campons j no tem a opo de pagar o "mussoco" em
gneros: "O arrendatrio fica obrigado a cobrar dos colonos em trabalho rural, pelo menos
metade da capitao de 800 ris, pagando esse trabalho aos adultos na razo de 400 ris por
semana e aos menores na de 200 ris."
Esse decreto impunha ainda aos prazeiros a ocupao efectiva das terras arrendadas e o
pagamento autoridade colonial da respectiva renda. Mas os prazeiros no tinham conseguido
converter a sua actividade de simples fornecedores de escravos ou de pequenas quantidades de
produtos na de organizao das plantaes, no s por falta de preparao (ou de vocao), mas
tambm por falta de capital. O resultado foi terem sido obrigados a subarrendar ou vender os
seus prazos, terminando assim a fase feudaldesta poro de Moambique.


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9 O Estado de Gaza
O Estado de Gaza foi fundado por Sochangane (tambm conhecido por Manicusse, 1821-1858)
como resultado do Mfecane, um grande conflito despoletado entre os Zulu por consequncia do
assassinato de Chaca (ou Shaka) em 1828, que culminou com a invaso de grandes reas
da frica Austral por exrcitos Nguni. O Imprio de Gaza, no seu apogeu, abrangia toda a rea
costeira entre os riosZambeze e Maputo e tinha a sua capital em Manjacaze, na actual
provncia moambicana de Gaza.
Aparentemente, Sochangane no fazia comrcio de escravos - os seus guerreiros eram
principalmente da sua linhagem -, nem devolvia aos portugueses os escravos que fugiam para a
sua guarda. Aps sucedeu-lhe o seu filho Mawewe que decidiu, em 1859, atacar os seus irmos
para ganhar mais poder. Apenas um irmo, Mzila (ou Muzila) conseguiu fugir para o Transvaal,
onde organizou um exrcito para atacar o seu irmo. A guerra durou at 1864 e, entretanto, a
capital do reino mudou-se do vale do rio Limpopo para Mossurize, a norte do rio Save, na actual
provncia moambicana deManica.
Em Mossurize, em 1884, ascendeu ao trono Nguni, eGungunhane, filho de Muzila. Gungunhane
regressa a Manjacaze em 1889, aparentemente pressionado pelos exploradores de ouro de
Manicae falta de apoios locais. Em Gaza, Gungunhane prosseguiu a poltica de seu pai de
assimilao dos reinos locais, os "Tonga" e de resistncia dominao portuguesa, mas essa
resistncia no durou mais de seis anos. Gungunhana foi preso e Gaza finalmente submetida
administrao colonial.
10 As Companhias Majestticas
Em 1878, Portugal decide fazer a concesso de grandes parcelas do territrio de Moambique a
companhias privadas que passaram a explorar a colnia, as companhias majestticas, assim
chamadas, porque tinham direitos quase soberanos sobre essas parcelas de territrio e seus
habitantes. As principais foram a Companhia do Niassa e aCompanhia de Moambique.
Como Portugal tinha sido obrigado a ilegalizar o comrcio de escravos em 1842, apesar de
fechar os olhos ao comrcio clandestino, e no tinha condies para administrar todo o territrio,
deu a estas companhias poderes para instituir e cobrar impostos. Foi nessa altura que foi

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introduzido o "imposto de palhota", ou seja, a obrigatoriedade de cadafamlia pagar um imposto
em dinheiro; como a populao nativa no estava habituada s trocas por dinheiro (para alm de
produzir para a prpria sobrevivncia), eram obrigados a trabalhar sob priso - o trabalho
forado, chamado em Moambique "chibalo"; mais tarde, as famlias nativas foram obrigadas a
cultivar produtos de rendimento, como algodo ou tabaco, que eram comercializados por aquelas
companhias.
11 Companhia do Niassa
A Companhia do Niassa foi formada por alvar rgio de 1890, com poderes para administrar as
actuais provncias de Cabo Delgado e Niassa, desde o rio Rovuma ao rio Lrio e do Oceano
ndico ao Lago Niassa, numa extenso de mais de 160 mil km. Com o apoio dum
pequeno exrcito fornecido pela administrao colonial, formado por 300 "soldados regulares"
(leia-se portugueses) e 2800 "sipaios" (indgenas recrutados noutras regies de Moambique), a
Companhia tentou ocupar militarmente o territrio a partir de 1899. Teve imediato xito na
conquista das terras do Chefe Mataca (ver Os Estados Ajaua, acima), que tinha abandonado a sua
sede, e assegurar uma posio militar em Metarica, no Niassa. Em 1900 e 1902, tomou
Messumba e Metangula, nas margens do Lago Niassa.
Durante a Primeira Guerra Mundial, o territrio da Companhia foi palco de vrias operaes de
resistncia por parte dos chefes locais e invadido pelos alemes (ver Tringulo de Quionga). Para
resistir a essa invaso, foi aberta uma estrada de mais de 300 km, entre Mocmboa do Rovuma e
Porto Amlia (actual Pemba), o que significou a ocupao efectiva do planalto de Mueda; no
entanto, s em 1920 a Companhia conseguiu assegurar essa ocupao, depois de vrias
operaes militares contra os macondes, fortemente armados. Como se ver mais tarde, esta tribo
foi um dos primeiros e principais suportes da Luta Armada de Libertao Nacional.
Em 1929 extingue-se a Companhia do Niassa, passando o territrio para a administrao directa
do governo colonial. No entanto, as estruturas administrativas, na forma de circunscries e
regulados, asseguradas por agentes do Estado, j tinham sido implantadas em grande parte do
territrio.

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12 O Estado Novo
Depois da eleio de scar Carmona, em 1928, que chamou Salazar para seu ministro das
finanas, a administrao das colnias como fonte de matrias primas para a indstria da
"metrpole" tornou-se mais eficiente. Em 1930 foi publicado o Acto Colonial, legislao que
organizava o papel do Estado nas colnias portuguesas:
A nomeao de administradores para as circunscries "indgenas", que passaram a
organizar os seus pequenos exrcitos de sipaios;
Os recenseamentos que determinavam a cobrana de impostos e a "venda" de mo-de-obra
para as minas sul-africanas;
A criao de "Tribunais Privativos dos Indgenas";
A definio da Igreja Catlica como principal fora "civilizadora" dos indgenas, passando a
ser a principal forma de educao.
Na dcada de 1950, o governo colonial lanou os Planos de Fomento para as colnias, incluindo
o financiamento construo de infraestruturas (principalmente as que estavam relacionadas
com o comrcio regional, como os portos e caminhos de ferro) e fixao de colonos. O I Plano
de Fomento, relativo aos anos 1953-1958, previa um investimento em Moambique de 1.848.500
contos, com 63% destinados s infraestrutura e 34% ao "aproveitamento de recursos
e povoamento". Ao abrigo deste investimento, em 1960 j tinham sido instaladas
no colonato do Limpopo 1400 famlias. Apenas na dcada de 1960 deu-se incio a
alguma industrializao.





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13 Histria econmica Ps-Independncia
Moambique tornou-se independente de Portugal em 25 de Junho de 1975. O primeiro governo,
dirigido por Samora Machel, foi formado pela FRELIMO, a organizao poltica que tinha
negociado a independncia com Portugal.
13.1 As nacionalizaes
O mandato deste primeiro governo de Moambique independente era o de restituir ao povo
moambicano os direitos que lhe tinham sido negados pelas autoridades coloniais.
Com esse fim, em 24 de Julho de 1975, o governo declarou a nacionalizao da Sade,
da Educao e da Justia e, em 1976, das casas de rendimento,etc. O governo assumiu a gesto
das casas que estavam arrendadas nessa altura, formando para isso uma empresa
denominada Administrao do Parque Imobilirio do Estado ou APIE.
Estas nacionalizaes foram a causa prxima para uma vaga de abandono do pas de muitos
indivduos que eram proprietrios daqueles servios sociais ou simplesmente se encontravam
habituados aos servios de determinados especialistas ou ao atendimento exclusivo; como esses
indivduos, na maioria portugueses, eram muitas vezes igualmente proprietrios de fbricas,
barcos de pesca ou outros meios de produo, o governo viu-se obrigado a assumir a gesto
dessas unidades de produo. Numa primeira fase, organizou-se, para as unidades mais
pequenas, um sistema de auto-gesto em que comits de trabalhadores, normalmente
organizados pelas clulas da FRELIMO, tambm chamadas Grupos Dinamizadores, assumiam a
gesto de facto.
Mais tarde, em face da falta de capacidade de gesto e das dificuldades econmicas
prevalecentes, o governo comeou a aglutinar pequenas empresas do mesmo ramo, primeiro
em Unidades de Direco e depois em Empresas Estatais.
13.2 As Empresas Estatais
As primeiras Empresas Estatais (EE) foram formadas ainda dentro do mesmo esprito de que o
Estado deveria assegurar ao Povo os bens de primeira necessidade "livres" da
explorao mercantilista. Uma destas empresas foi uma "importao" das zonas libertadas: a EE
das Lojas do Povo, uma empresa de grandes supermercados de comrcio geral.

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Outras EE do ramo comercial foram a PESCOM, que assegurava a importao e distribuio
de carapau, que era a base proteica mais facilmente disponvel e, mais tarde, da exportao
do camaro e outros mariscos das EE de pesca; a ENACOMO que era uma importadora e
exportadora de produtos principalmente agrcolas; a MEDIMOC, ainda hoje existente, que
assegurava a importao de medicamentos e material hospitalar.
13.3 O PRE ou incio do neoliberalismo econmico
Com o objectivo de proteger o poder de compra da maioria da populao, o estado tinha fixado
os preos dos produtos de primeira necessidade e as taxas de cmbio. Como os termos de troca
se foram deteriorando e, entretanto, a guerra de desestabilizao tinha j comeado a fazer sentir
os seus efeitos, o pas viu-se sem divisas para importar osbens de consumo e as matrias
primas necessrias para o funcionamento da economia. O mercado negro, tanto de bens de
consumo, como de divisas, tinha tomado conta desta.
O governo de Moambique viu-se ento obrigado a assinar acordos com o Banco
Mundial e FMI e lanar, em 1987, um "Programa de Reestruturao Econmica", mais
conhecido pela sigla PRE, que deveria modificar a poltica econmica de Moambique e relanar
a economia. A primeira medida que o governo tomou foi a desvalorizao do Metical que, em
cerca de dois anos atingiu mais de 1000%. Ao mesmo tempo, desindexou os preos dos bens de
consumo, com excepo dos combustveis (continuam at hoje, a ser indexados pelo governo) e
do pescado, considerados produtos estratgicos de consumo e exportao (o camaro).
Em breve se seguiu o programa de privatizao das empresas estatais e intervencionadas. Uma
das medidas tendentes a evitar o empobrecimento generalizado foi a transformao de algumas
empresas estatais e bancos em sociedades annimas, atravs da atribuio de quotas aos
seus gestores, ou mesmo a nmeros maiores de funcionrios. No entanto, a maior parte das
empresas foram privatizadas segundo as regras do Banco Mundial, que era a instituio mentora
deste programa.





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14 Concluso
A histria de Moambique encontra-se documentada pelo menos a partir do sculo X, mas
antes deste perodo acredita-se que tenham vivido no territrio que hoje Moambique, os
Khoisans que tinham a base da sua economia a recoleco e a caa, situao que tornava-os
nmadas, obrigados a deslocar-se de regio para regio, aos sabores da imposio total da
natureza.
Mais tarde, deu-se o evento mais importante da pr-histria de Moambique que influenciou a
forma da organizao econmica - a fixao nesta regio dos povos Bantu que, no s
eram agricultores, mas introduziram aqui a metalurgia do ferro, entre os sculos I a IV. Deste
modo, a vida passa a ser sedentria, com diviso social do trabalho e partilha de excedentes de
produo. Com a expanso rabe desenvolve-se o comrcio, o qual envolvia trocas comerciais de
especiarias preciosas dos rabes por ouro da comunidade local.
A penetrao portuguesa em Moambique, iniciada no incio do sculo XVI, s em 1885 - com a
partilha de frica pelas potncias europeias durante a Conferncia de Berlim - se transformou
numa ocupao militar, ou seja, na submisso total dos estados ali existentes, que levou, nos
incios do sculo XX a uma verdadeira administrao colonial.
Depois de uma guerra de libertao que durou cerca de 10 anos, Moambique tornou-se
independente em 25 de Junho de 1975.
A independncia teve seguidamente como um dos aspectos as nacionalizaes, e a gesto
centralizada da economia inspirada do socialismo. Muitas empresas reduziram a sua eficincia
produtiva e algumas acabaram falindo, devido a fraca capacidade do novo corpo de gesto aps o
abandono por parte dos portugueses, sob decreto do governo vigente (a FRELIMO). Ao mesmo
tempo, instaurava-se uma guerra civil entre homens da RENAMO e a FRELIMO que aumentou
a m+isria dos moambicanos, chegando a ser considerado Moambique como o pas mais pobre
do mundo, na dcada 80.
Neste todo cenrio, o governo de Moambique viu-se ento obrigado a assinar acordos com
o Banco Mundial e FMI e lanar, em 1987, um "Programa de Reestruturao Econmica", mais
conhecido pela sigla PRE, que deveria modificar a poltica econmica de Moambique e relanar
a economia.

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15 Bibliografia
1 HEDGES, David (coord.). Histria de Moambique: Moambique no auge do colonialismo
1930-1961. Vol.2, 2. edio, Maputo, Livraria Universitria, Universidade Eduardo
Mondlane, 1999.
2 LAMBERT, Jean-Marie Lambert. Histria da frica Negra, Ed. Kelps, 2001.
3 NEWITT, Malyn. Histria de Moambique. Mem-Martins, Publicaes Europa-Amrica,
1997.
4 PLISSIER, Ren. Histria de Moambique: formao e oposio: 1854-1918. 2 vols.,
Lisboa, Editorial Estampa, 1987-1988
5 SERRA, Carlos (coord.). Histria de Moambique: Parte I - Primeiras Sociedades
sedentrias e impacto dos mercadores, 200/300- 1885; Parte II - Agresso imperialista,
1886-1930. Vol. 1, 2. edio, Maputo, Livraria Universitria, Universidade Eduardo
Mondlane, 2000.
6 TOLIPAN, R. (2002), Anotaes sobre a histria do pensamento econmico, Revista de
Economia Contempornea, 6(1): 147-165.