Manejo de Açaí PDF

James Ribeiro de Azevedo
SISTEMA DE MANEJO DE ACAIZAIS NATIVOS

PRATICADO POR RIBEIRINHOS

So Lus/MA
2010

Universidade Federal do Maranho
Gabinete da Reitoria - Administrao Natalino Salgado Filho
Diretor da Imprensa Universitria: Ezequiel Antonio Silva Filho
Conselho Editorial para a edio
Osvaldo Ryohei Kato (UFPA)
Laura Anglica Ferreira (UFPA)
Gladys Ferreira de Sousa (EMBRAPA)
Projeto grfico: Jeferson Francisco Selbach
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Capa: Aa natural
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Adaptao da Dissertao de Mestrado Tipologia do sistema de manejo
de aaizais nativos praticado pelos ribeirinhos em Belm, estado do Par,
defendida no Programa de Ps-Graduao em Agriculturas Amaznicas
da Universidade Federal do Par e na Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuria Amaznia Oriental, sob orientao do professor Dr.
Osvaldo Ryohei Kato, em abril de 2005.
Este livro foi autorizado para domnio pblico e est disponvel para
download nos portais Domnio Pblico do MEC e do
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De acordo com a Lei n.10.994, de 14/12/2004,
foi feito depsito legal na Biblioteca Nacional

CDD 630 Agricultura e tecnologias relacionadas

FICHA DE CATALOGAO
AZEVEDO, James Ribeiro de. Sistema de manejo de aaizais
nativos praticado por ribeirinhos. So Lus/MA: EDUFMA,
2010, 98p. il.
ISBN 978-85-7862-095-0

Aos ribeirinhos das ilhas situadas aos redores de Belm,
capital do estado do Par, que manejam aaizal nativo para
produzirem de forma sustentvel o fruto do aa e o palmito para
alimentarem suas famlias e muitas pessoas no Brasil e em outros
pases e ainda contribuem para minimizar os problemas
de aquecimento global com o uso de sistemas agroflorestais.

SUMRIO

Apresentao 7

Introduo 9

Material e mtodos 19

Resultados e discusses 29

Consideraes finais 89

Bibliografia 93

APRESENTAO

Na Amaznia brasileira moram milhares de famlias de ribeirinhos que vivem do
extrativismo. Estas populaes tradicionais vm ao longo de anos desenvolvendo formas de
manejo da floresta como forma de sobrevivncia. Entre vrios produtos manejados da
floresta, o aaizeiro, uma palmeira em que se aproveita o fruto e o palmito, uma importante
fonte de alimentao e renda para os ribeirinhos do esturio amaznico.
O aa, bebida extrada do fruto aaizeiro, um alimento bsico dos ribeirinhos e
da populao de Belm que vem ganhando mercados no Brasil e em vrios pases pelas suas
caractersticas funcionais que possui, da o interesse de vrios rgos de pesquisa e
desenvolvimento em elaborar propostas de interveno com o objetivo de aumentar a
produo de frutos dos aaizais nativos a partir de seu manejo.
Neste sentido, James Ribeiro de Azevedo, apesar de estudar o sistema de manejo
de aaizal nativo em apenas duas ilhas, nos trs reflexes sobre as propostas de
desenvolvimento que se prope a aumentar a produtividade de frutos de aaizal nativo
manejados por ribeirinhos.
Nesta publicao so abordados os aspectos, sociais, econmicos e ambientais
revelando aspectos importantes da vida dos ribeirinhos como exemplo a dificuldade de se
obter gua potvel, mesmo morando ao redor de uma imensa quantidade de gua doce.
Ao identificar diferentes formas e estratgias de manejo de aaizal, o autor
argumenta com base nesta complexidade que propostas nicas de manejo podem ter
dificuldades de serem incorporadas por muitos ribeirinhos.
James Ribeiro de Azevedo faz um importante alerta que a busca permanente por
aumento da produtividade de frutos pode levar ao monocultivo, reduzindo a biodiversidade
o que pode provocar a reduo da produo de frutos.
Sua contribuio est em estudar o sistema de manejo de aaizais nativos realizado
pelos ribeirinhos, identificando as diferentes formas e estratgias, dentro de um sistema de
produo e em consonncia com essa complexidade encontrada, em identificar algumas
propostas que podem auxiliar no desenvolvimento de formas de manejos sustentveis de
aaizais nativos.

Osvaldo Ryohei Kato

INTRODUO

O extrativismo tem desempenhado um grande papel no desenvolvimento
econmico da regio Amaznica brasileira. Dentre os principais produtos extrativos vegetais
oriundos da floresta amaznica que foram economicamente importantes, esto o cacau
(Theobroma cacao) e a seringueira (Hevea brasiliensis), hoje cultivados e outros que ainda
so importantes como a castanha-do-brasil (Bertholettia excelsa), a madeira e o aaizeiro
(Euterpe oleracea Mart.) (HOMMA, 1989, 1993).
Nas ltimas trs dcadas, o aaizeiro vem se destacando por seu impacto positivo
na economia local principalmente para o estado do Par, com a explorao extrativa do
palmito e nos anos 80 com o aumento do consumo do suco ou vinho de aa, uma bebida
feita do fruto. Enquanto o palmito principalmente exportado para fora do pas, o suco do
aa um dos principais produtos da alimentao do povo paraense, com destaque para o
municpio de Belm que constitui o seu principal mercado consumidor (NOGUEIRA, 1997;
GUIMARES et al., 2004).
Nos ltimos anos, o suco do aa est deixando de ser consumido apenas na regio
Amaznica e vem ganhando novos mercados do Brasil e no exterior (ENRQUEZ; SILVA;
CABRAL, 2003). A entrada das indstrias exportadoras de polpa e suco de aa no mercado
local e o aumento da populao de Belm esto provocando um aumento da demanda de
10 James Ribeiro de Azevedo
frutos (ENRQUEZ; SILVA; CABRAL, 2003). A conseqncia direta desse aumento na
demanda dos frutos uma alterao no sistema de produo dos ribeirinhos. Estes situados
prximos ao principal centro consumidor, anteriormente tinham sua explorao orientada para
a extrao de palmito. Atualmente o sistema de manejo direcionado para a produo de
frutos.
Apesar do aaizeiro poder ser aproveitado como palmito e como fruto, e ainda ser
possvel aproveitar os dois produtos, simultaneamente, de uma touceira, a maioria das
indstrias trabalha especializando-se em um ou outro produto. No entanto, os ribeirinhos do
municpio de Belm esto trabalhando em um tipo de sistema de manejo orientado
principalmente para a produo de frutos. O palmito um subproduto. Neste sistema, eles
obtm uma renda maior do que se estivesse explorando apenas um destes produtos.
Esse sistema de manejo de aaizais nativos, praticados por ribeirinhos, j foi
estudado por Anderson et al. (1985), Anderson e Ioris (2001) e Grossmann et al. (2004). Estes
relatam que os ribeirinhos esto realizando um tipo de manejo que permite o aumento da
produo de aa fruto. Segundo Grossmann et al. (2004) esses manejos so realizados de
diferentes formas.
Identificar e caracterizar os diferentes tipos de manejo dos aaizais nativos
realizados pelos ribeirinhos o principal objetivo deste trabalho, o qual pretende alimentar as
reflexes em torno de manejos de aaizais nativos, assim como orientar aes de
desenvolvimento que venham a apoiar esses ribeirinhos.
A rea do esturio do rio Amazonas de 2,5 milhes de hectares (LIMA, 1956),
na qual o aaizeiro pode ser encontrado habitando toda a regio. Considerado uma espcie
componente da floresta nativa, se apresenta em formas de verdadeiros macios naturais
conhecidos como aaizais, com predominncia em reas de vrzeas (NOGUEIRA, 1997).
Neste ecossistema, o aaizeiro uma das espcies mais abundantes, freqentes, e de maior
importncia econmica (LIMA, 1956; CALZAVARA, 1972; SILVA; ALMEIDA, 2004). O
estado do Par possui a maior rea do esturio do rio Amazonas, propiciando uma maior
concentrao de aaizeiro, embora o mesmo possa ser encontrado em todo o Estado. Em
Belm, as suas mais de 39 ilhas fazem parte deste ecossistema de vrzea, onde o aaizeiro
tambm encontrado.

Sistema de manejo de aaizais nativos praticado por ribeirinhos 11
A grande concentrao de aaizeiro faz do Par o maior produtor extrativo de fruto
e do palmito
1
de aa do Brasil (Tabela 01). A produo extrativa do aaizeiro representa uma
renda de R$ 86.774.000,00 para o Estado (Tabela 02).
Tabela 01 - Produo extrativa de palmito e de frutos de aaizeiro no Brasil e no Par no ano
de 2002
Produo de palmito Produo de frutos
Brasil (t) Par (t) Par (%) Brasil (t) Par (t) Par (%)
14.529 13.430 92,4 131.958 122.322 92,7
Fonte: IBGE (2002).

Tabela 02 - Valor da produo extrativa de palmito e frutos de aaizeiro no Brasil e no Par
no ano de 2002
Valor da produo de palmito (R$
1.000,00)
Valor da Produo de frutos (R$
1.000,00)
Brasil Par Brasil Par
11.352 8.234 82.899 78.540
Fonte: IBGE (2002).
A regio produtora de palmito concentra-se nos municpios de Afu, Anajs,
Breves, Bagre, e Muan e a produo de fruto de aaizeiro oriunda dos seguintes
municpios, os quais so os maiores produtores: Camet, Limoeiro do Ajuru, Ponta de Pedras,
Abaetetuba e Igarap - Miri (IBGE, 2002).
Embora possam ser aproveitados os dois produtos: palmito e fruto
simultaneamente em uma mesma planta, a qual formada por vrios estipes (caules de forma
cilndrica tpico das palmeiras), deixando-se alguns para produo de frutos e outros para
extrao dos palmitos. No entanto, a maioria das indstrias est trabalhando com apenas uma
linha de produo.

1
Em relao ao palmito obtido de plantios, o estado do Par representa apenas 0,98% da produo brasileira, que
de 41.119 toneladas (IBGE, 2002).
Para as indstrias que iniciaram a explorao do aaizeiro, com a produo de
palmitos, provvel que no haja interesse em trabalhar com os dois produtos em razo de
diminuir a sua principal matria-prima: o palmito. Muitas destas indstrias, situadas em reas
de grandes concentraes de aaizais, esto longe dos centros consumidores de frutos,
tornando-se invivel sua comercializao (NOGUEIRA, 1997). H pouco registro de
indstrias que trabalham com as duas linhas de produo. Como exemplo, h o caso da
Muan Alimentos, citada por Enrquez, Silva e Cabral (2003). Trabalhar com as duas linhas
de produo requer mais capital, pois se trata de linhas de produes diferentes e exigem
unidades de beneficiamento distintas, uma para cada produto.
No caso dos ribeirinhos
2
, situados prximos aos centros consumidores de frutos de
aaizeiros, eles esto aproveitando simultaneamente os dois produtos: fruto e palmito,
priorizando a produo de frutos para o consumo e o excedente para a comercializao e
obtendo o palmito como subproduto para a comercializao. Tal estratgia permite uma maior
renda anual, a qual para produo de palmito de R$ 0,80 a unidade. Essa renda baseada em
razo de se aproveitar, de cada estipe, um nico palmito, cuja extrao exige-se o seu corte.
No caso da produo de frutos, a renda anual por estipe de R$ 23,28. Levando-se em
considerao que um estipe adulto de aaizeiro produz em mdia 24 kg de frutos maduros por
ano (CALZAVARA, 1972) a preo mdio de R$ 0,97/kg.
Enquanto a produo de palmito exportada para outros pases, o suco voltado
basicamente para o consumo interno, onde o Par o maior mercado consumidor. Nesses
ltimos anos, a polpa de aa foi exportada para outros estados, principalmente para o Rio de
Janeiro (NOGUEIRA, 1997; GUIMARES et al. 2004) e para o mercado internacional como
os Estados Unidos e a Austrlia (ENRQUEZ; SILVA; CABRAL, 2003).

2
Ribeirinho considerado neste trabalho como uma das formas de agricultura familiar. Segundo Vanderley
(1999), a agricultura familiar aquela em que a famlia, ao mesmo tempo em que proprietria dos meios de
produo, assume o trabalho no estabelecimento produtivo. Ribeirinho aquele que mora s margens do rio ou
baa e vive basicamente do aa e da pesca.
Em Belm, municpio maior consumidor de suco de aa, so consumidos mais de
400 mil litros de suco de aa por dia, segundo a Sectam (1996 citado por MOURO, 2004).
Corresponde a um consumo mdio de 0,34 litro por habitante/dia. o prato principal das
refeies dirias das famlias de baixa renda, complementado por farinha dgua, peixe ou
camaro frito, perdendo apenas para a farinha de mandioca (NASCIMENTO, 1992).
Entretanto, deve-se considerar que atualmente, o suco de aa no um produto consumido
apenas pelas classes mais baixas, pois o mesmo foi encontrado nos maiores supermercados a
preo de R$ 5,00 o litro, em novembro de 2004, preo superior ao do frango abatido. O suco,
tambm denominado de vinho ou simplesmente aa, produzido em vrios pontos da
cidade, identificados por placas vermelhas. O aa tambm consumido, em menor
quantidade, na forma de sorvetes e picols.
A crescente demanda por suco de aa, nos grandes centros consumidores, tem
provocado uma mudana no sistema de produo dos ribeirinhos, que esto situados prximos
a estes. O aa fruto, que anteriormente era destinado principalmente para a subsistncia das
suas famlias (NOGUEIRA, 1997), passou a ser uma das suas principais fontes de renda e
tambm o principal alimento consumido (ANDERSON et al. 1985; JARDIM; ANDERSON,
1987; ANDERSON; IORIS, 2001; QUEIROZ; MOCHIUTTI, 2001a; ARZENI; JARDIM,
2004; SIMONIAN, 2004).
Para aumentar a renda familiar, a partir do aa fruto, os ribeirinhos segundo
Anderson et al. (1985), Anderson e Ioris (2001) e Grossmann et al (2004) esto
desenvolvendo prticas que permitem o aumento na produo, como por exemplo, o desbaste
do nmero de estipes (caule do aaizeiro) de aaizeiro por touceira. Nesta prtica so
desbastados alguns estipes, obtendo-se assim, um subproduto: o palmito. Ao mesmo tempo,
h um raleamento da mata, favorecendo o aaizeiro e deixando outras espcies florestais que
tenham alguma utilidade. provvel que alguns ribeirinhos possam, alm do manejo, ter
tambm aumentado o nmero de aaizeiros atravs de enriquecimento com muda ou atravs
de semeio. Entretanto, essa hiptese merece ser melhor investigada.

Estudos realizados por Anderson et al. (1985), Nogueira (1997) e Anderson e Ioris
(2001) relatam que o controle dos estipes e o raleamento da mata tm influncia no aumento
da produo de aa fruto. Anderson et al. (1985) em trabalho realizado na Ilha das Onas,
municpio de Barcarena PA, relatam que na rea, feito um controle das touceiras, ficando
entre 2-3 caules maduros, e segundo os informantes, produzem mais frutos. O restante
cortado para extrao de palmitos.
Em estudo sobre o manejo e explorao de aaizeiro nativo realizado em Igarap
Miri - PA, Nogueira (1997, p. 27) relata que nas reas destinadas produo de frutos,
normalmente, so eliminados os estipes de aaizeiros excedentes das touceiras e tambm
algumas plantas de outras espcies existentes na rea, com vistas a reduzir a grande
concorrncia entre elas.
Anderson e Ioris (2001) descreveram o manejo florestal realizado pelos ribeirinhos
na ilha do Combu, municpio de Acar
3
- PA, onde so eliminadas espcies indesejveis,
atravs do corte seletivo, e realizada a propagao e a introduo de espcies desejveis,
resultando em ganhos econmicos. Segundo os autores, os habitantes dessa ilha e de outras
reas do esturio amaznico conciliam a extrao do aa fruto e do palmito, sendo que o aa
fruto o principal produto. Estudos mais precisos para avaliar a influncia do manejo no
aumento da produo de aa fruto foram realizados por Jardim e Anderson (1987), Hamp
(1991 citado por NOGUEIRA, 1997), Nogueira (1997) e Jardim e Rombold (1994).
Na experincia realizada por Jardim e Anderson (1987, p. 15-17) na Ilha das
Onas, municpio de Barcarena - PA, os autores chegaram s seguintes concluses:

O desbaste na touceira de aaizeiro no produziu efeitos significativos sobre a
produtividade de frutos, embora tenha havido uma tendncia de acrscimo nas
produes em parcelas sujeitas apenas a desbaste, em comparao com as
testemunhas. Isto mostra que a extrao racional de palmitos (equivale ao desbaste
seletivo na touceira realizado no experimento) pode ser feita em populaes nativas
de aa, sem prejudicar a colheita de frutos.

3
. Para outros autores a ilha do Combu faz parte do territrio do municpio de Belm (BELM, 1996;
TEIXEIRA, 2001).
O desbaste seletivo das espcies competidoras da floresta proporcionou um aumento
significativo na produtividade de frutos por estipe. Em combinao com o desbaste
seletivo na touceira de aaizeiro, este tratamento concentrou a produo de frutos em
um nmero menor de estipes, facilitando, assim, a colheita de frutos. O desbaste
seletivo entre espcies serviu, tambm, para melhorar o acesso, facilitando a
obteno de outros produtos da floresta dos quais as populaes ribeirinhas
dependem, tais como madeira, fibras, ltex, frutos comestveis, remdios, etc.

Nesse trabalho houve um aumento no-significativo de 60,1% de produtividade de
aa fruto (kg/ha/ano) ao fazer o desbaste seletivo entre outras plantas e desbaste nas touceiras
de aa e a rea no manejada. A produtividade em kg/ha/ano foi de 1.491,8 com desbaste
seletivo na touceira de aa; 2.437,60 com desbaste seletivo entre as outras espcies; 1.854,8
com desbaste seletivo na touceira de aa e outras espcies e 1.158,8 na rea no-manejada.
Hamp (1991 citado por NOGUEIRA, 1997) comparou a produo de aa fruto em
reas manejadas (onde foi controlado o nmero de estipes de aaizeiro) e no-manejadas,
localizadas na ilha do Combu, municpio de Acar, onde verificou que a produo trs vezes
maior nas reas onde deixou menor nmero de plantas por touceira, atribuindo esse fato
menor competio das plantas por luz e nutrientes.
Nogueira (1997), em sua experincia realizada no municpio de Igarap-Miri - PA,
com cinco sistemas de explorao de aaizais, sendo dois para extrao de aa fruto
(manejado e no-manejado) e trs para extrao de palmito (manejados com corte trienal,
manejados com corte anual e no-manejado com corte trienal), obteve melhor resultado
econmico obedecendo seqncia acima. A produo de aa fruto manejado com roagem
e desbaste seletivo dos estipes foi 100% maior do que a no-manejada, obtendo uma produo
de 8.400 kg/ha/ano de aa fruto e 200 unidades de palmito. As no-manejadas apresentaram
4.200 kg/ha/ano de aa fruto e 100 unidades de palmito.
Jardim e Rombold (1994) obtiveram na ilha do Combu, municpio de Acar PA,
um aumento de 23% na produo de frutos em relao rea no-manejada ao realizar o
desbaste seletivo em aaizais nativos.

Baseado na possibilidade do manejo de aaizeiro nativo aumentar a produtividade
de aa fruto, Nogueira (1997) prope um modelo de manejo de aaizal na forma de um
sistema agroflorestal, fazendo-se raleamento (eliminao de espcies de baixo valor
comercial) e enriquecimento (plantio de mudas de aaizeiro, essncias florestais e frutferas).
Este modelo constitudo de 400 a 500 plantas adultas de aaizeiro, 100 a 150 plantas de
espcies frutferas, e 50 a 60 rvores de essncias florestais por hectare. Queiroz e Mochiutti
(2001a) propem um manejo semelhante ao de Nogueira (1997), que produz mais aa fruto e
palmitos, madeira e outros produtos com melhor qualidade, deixando-se 400 touceiras de
aaizeiro, 50 palmeiras de outras espcies e 200 rvores.
Apesar dessas propostas aumentarem a produtividade de aa fruto, a possibilidade
de sua implantao pelos ribeirinhos deveria ser melhor investigada, pois os mesmos realizam
diferentes formas de manejo e, portanto, tm diferentes estratgias. Segundo Grossmann et al.
(2004, p. 127-129), em pesquisa realizada no municpio de Abaetetuba - PA, as famlias de
ribeirinhos, para usufruir o aa fruto e o palmito, desenvolveram diferentes prticas de
manejo.

Manejo Intensivo: no manejo intensivo elimina-se toda a vegetao, deixando-se
apenas o aa [...].
Manejo Intermedirio: nesse caso, deixam-se em mdia 3-4 estipes/touceira e
elimina-se a vegetao representada pelas espcies sem valor econmico e preserva-
se no meio do aaizal, as que apresentam algum valor monetrio e/ou utilidade para
as famlias [...].
Manejo Moderado: nesse caso, o agricultor retira apenas algumas espcies da flora,
consideradas indesejveis, [...] para facilitar o trnsito das pessoas pela floresta [...].
Sem Manejo: nesse caso levantamos a hiptese de que o principal responsvel a
falta de garantia da posse da terra.

De acordo com o estudo de Grossmann et al. (2004), no qual existem diferentes
formas de manejo de aaizais nativos realizados pelos ribeirinhos em Abaetetuba, parte-se do
pressuposto de que apesar da aparente homogeneidade dos sistemas de manejo de aaizais
realizados pelos ribeirinhos nas ilhas do esturio amaznico, provvel que as populaes das
ilhas de Paquet e Ilha Grande, do municpio de Belm, realizem tambm diferentes forma de
manejo de aaizais nativos. Segundo Castellanet, Simes e Filho (1994, p. 3, grifo nosso) [...]
j foi observado em todos os trabalhos sobre sistemas de produo, que os agricultores
rurais nunca formam uma categoria homognea, e que importante a diversidade das
situaes para entender porque um agricultor tem uma estratgia diferente do outro.
O entendimento dos diferentes tipos de manejo de aaizais nativos realizados pelos
ribeirinhos e, conseqentemente, das diferentes estratgias pode contribuir para que as
implantaes das propostas de manejo de aaizal nativo possam ter maiores xitos. Man Yu e
Sereia (citado por VILAR et al., 2001) ressaltam que a tipologia dos agricultores permite que
a adequao da tecnologia ao tipo de agricultor reduza os riscos, em termos de apresentao
de propostas iguais para produtores diferentes, pois as proposies genricas so ineficazes,
por no levarem em conta as diferentes estratgias adotadas pelos produtores.
O interesse deste trabalho foi identificar os diferentes tipos de manejo de aaizais
nativos desenvolvidos pelos ribeirinhos e suas diferentes estratgias, avaliar sua influncia na
produo de aa fruto e contribuir para a implantao das propostas de manejo a serem
incorporadas pelos ribeirinhos.
De forma geral, objetivvamos identificar e caracterizar os diferentes tipos de
manejo de aaizais nativos praticados pelos ribeirinhos de duas ilhas do municpio de Belm,
analisando sua influncia na produo e na economia familiar. Especificamente, tivemos por
objetivo: descrever e relacionar as diferentes formas de manejo com as estratgias das
famlias de ribeirinhos, tanto para a produo de frutos como para a de palmito; entender os
fatores que influenciam na diferenciao das formas do sistema de manejo de aaizais;
analisar a influncia dos manejos nas produes obtidas; e avaliar a evoluo dos sistemas de
manejo de aaizais nativos a partir de 1970.

MATERIAL E MTODOS

CARACTERIZAO DA REA DE ESTUDO

Meio Envolvente

A ilha de Paquet e a Ilha Grande pertencem ao municpio de Belm, capital do
estado do Par. Belm e os municpios de Ananindeua, Marituba, Benevides e Santa Brbara
fazem parte da Regio Metropolitana de Belm (BELM, 1996) (Figura 01).
A populao atual de Belm de 1.280.614 habitantes (IBGE, 2004). Sua
superfcie de 505, 8231 km
2
ou 50.582,30 ha. O total das reas das ilhas de 33.203,67 ha e
a rea continental de 17.378,63 ha (BELM, 1996). A rea insular, que compreende mais da
metade do territrio, formada por mais de 39 ilhas. A maioria delas so habitadas. Com
exceo das ilhas de Mosqueiro e Caratateua, os ribeirinhos so a maioria da populao nas
demais ilhas e vivem basicamente do aa e da pesca (BELM, 2001 a).

Localizao da rea de Estudo

O municpio de Belm est localizado a 01 2720 de latitude Sul e 483015 de
longitude W-Gr. A ilha de Paquet ocupa uma rea de 789 ha. Est a 13,8 km a oeste do
municpio de Belm (BELM, 1996), na baa do Guajar, s proximidades da baa do Maraj.
Sua populao estimada em 384 habitantes. O acesso a ilha de Paquet realizado por
barcos de passageiros que partem diariamente do Porto de Icoaraci com destino para a ilha de
Cotijuba. O tempo percorrido entre Icoaraci e Paquet de cerca de 30 minutos.
A Ilha Grande ocupa 929,16 ha. Est situada a 12,2 km, ao sul de Belm (BELM,
1996), margem esquerda do rio Guam (Figura 02). Sua populao estimada em 323
habitantes. O acesso a Ilha Grande realizado por barcos de ribeirinhos da prpria ilha,
quando vem comercializar seus produtos no Porto da Palha (Bairro do Guam). O tempo
percorrido entre o Porto da Palha e a Ilha Grande de cerca de 40 minutos.

Figura 01 Mapa da regio Metropolitana de Belm-PA

Fonte: Belm (1996).

Figura 02 Mapa de localizao geogrfica das ilhas de Paquet e Ilha Grande, municpio de
BelmPA

Fonte: Belm (2001a).

Meio Biofsico - Clima

Segundo a classificao de Kppen, o clima de Belm do tipo Af. Os dados
pluviomtricos de 2003 apresentam mdia anual de 2.749,4 mm, (Figura 03), caracterizando
dois perodos: o mais chuvoso, denominado regionalmente de inverno, que vai de janeiro a
maio, e o menos chuvoso ou vero, que vai de junho a dezembro.
Apresenta variao de temperatura do ar em C mdias das mnimas de 22,0 e
mdias das mximas de 32,3. Umidade relativa do ar em % variando de 84 a 93 (BELM,
1996).
Figura 03 - Dados de precipitao mensal do municpio de Belm-PA, no ano de 2003

Fonte: EMBRAPA (2004).

Meio Biofsico - Vegetao

A vegetao dessas ilhas classificada de floresta densa de plancie e manguezal.
Na floresta densa de plancie na vrzea alta, a vegetao constituda principalmente de
aaizeiro, ucuba (Virola surinamensis) assacu (Hura crepitans), sumaumeira (Ceiba
pentandra), seringueira (Hevea brasiliensis) (BRASIL, 1974). Na vrzea baixa encontram-se
aaizeiro, Astrocaryum murumuru, Pseudobombax munguba e Quaribea guianensis. No
0
100
200
300
400
500
600
j
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(
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meses
manguezal, localizado na parte mais baixa da ilha e freqentemente inundado, a vegetao
composta por mangue vermelho (Rhizophora mangle), siriba (Avicennia ntida) e aninga
(Montrichardia linifera) (BRASIL, 1974).

Meio Biofsico - Regime das Mars

As ilhas de Paquet e Ilha Grande so ilhas de vrzeas, sofrem influncia do
oceano e so banhadas pelas guas das mars diariamente. Apenas nas maiores mars que as
ilhas ficam quase completamente cobertas por guas. Segundo Lima (1956), d-se o nome de
mars aos movimentos alternados de ascenso e abaixamento das guas do mar. Esse
movimento tem durao de 6 horas e 12 minutos e chega altura mxima, denominada de
preamar, a qual permanece parada durante 7 minutos e, em seguida, inicia o refluxo ou
vazante com mesma durao. Esses movimentos so realizados quatro vezes ao dia. As mars,
a cada 24 horas, ocorrem 50 minutos mais tarde em relao ao dia anterior, por influncia da
lua. A cada semana, ocorre uma mar grande de guas vivas (mar de lano, denominao
local) e uma mar pequena de guas mortas (mar de quebra, denominao local). Nos
meses de maro e setembro, ocorrem as maiores mars do ano.
Os ribeirinhos dessas ilhas conhecem muito bem o movimento das mars, pois elas
orientam o seu deslocamento nos rios ou baas e tambm por ocasio da pesca do peixe ou da
captura do camaro.
Nos meses de setembro a dezembro, as guas dos rios diminuem de volume e a
gua do oceano penetra com mais fora, tornando a gua dos rios um pouco salgada, ficando
inapropriada para o consumo.

Meio Biofsico - Relevo

A ilha de Paquet possui rea de vrzea alta e baixa, enquanto que a Ilha Grande
possui reas de vrzea alta, baixa e igap. Vrzea alta a denominao dada aos trechos da
floresta temporariamente inundveis pelas guas dos rios, e igaps so as reas que
permanecem todo o ano inundveis (LIMA, 1956). As guas da preamar, que cobrem a vrzea
alta, no permanecem mais que duas horas sobre o solo. nesse momento em que se
depositam as partculas de limo e argila translocadas pelas mars (LIMA, 1956). Segundo
Sampaio (1988), citado por Jardim (2000), a diferena topogrfica da vrzea alta para a baixa
de aproximadamente 1,5 a 2,0 metros.

Meio Biofsico - Solo

Encontram-se nas ilhas de Paquet e Ilha Grande, solos hidromrficos
indiscriminados eutrficos e distrficos e solos de mangue (solos halomrficos) (BRASIL,
1974). Os solos hidromrficos apresentam perfis de horizonte superficial orgnico e orgnico-
mineral, com grande variao em espessura, nos quais a matria orgnica est total ou
parcialmente decomposta ou em ambas as formas. Segundo Falesi (1986), esses solos so
resultantes do acmulo de sedimentos deixados pelas guas das mars, so mal drenados, com
elevados teores de argila, baixa saturao de bases e pH de 4,5 a 5,0. Os solos de mangue
(solos halomrficos) so constitudos por sedimentos translocados pelas guas das mars no-
consolidados, recentes, geralmente gleyzados, formados por material misto, fino, misturado a
materiais orgnicos provenientes, principalmente da decomposio dos detritos de mangue e
da atividade biolgica provocada por caranguejos (BRASIL, 1974).
Em geral esses solos so quimicamente bons, embora alguns apresentem elevados
teores de alumnio trocvel, mas no so dotados de boas propriedades fsicas, devido s
condies de hidromorfismo (SILVA, 1975). Esses tipos de solos dificultam a produo de
vrios cultivos agrcolas importantes como a mandioca e o milho.

Descries dos Mtodos

O mtodo utilizado neste trabalho foi baseado no diagnstico de sistemas agrrios
(OBANO; MORA, 1992; FILHO, 1999). Segundo Mazoier (1987) citado por Filho (1999, p.
21) um sistema agrrio , antes de tudo, um modo de explorao do meio historicamente
constitudo, um sistema de foras de produo, um sistema tcnico adaptado s condies
bioclimticas de um espao determinado, que responde s condies e s necessidades sociais
do momento.
O ponto de partida foi o levantamento de informaes gerais existentes sobre a
regio Metropolitana e do municpio de Belm abrangendo as ilhas estudadas, atravs de
mapas, dados socioeconmicos e ambientais.
O segundo momento foi realizao de entrevistas com as famlias, buscando
caracterizar o sistema de produo.
No terceiro momento, foram coletadas informaes mais detalhadas sobre o
manejo de aaizais realizado atualmente e as transformaes ocorridas desde 1970. Perodo de
implantao das indstrias de palmito. Aps essa etapa, demarcou-se a unidade de amostra de
aaizal.
O cruzamento do conjunto de variveis (intensidade de mo-de-obra, renda,
consrcio do aaizeiro com o cacaueiro, nmero de essncias florestais preservadas no aaizal
e rendimento de frutos de aa/ha) permitiu a elaborao de uma matriz de indicadores
socioeconmicos, tecnolgicos e ambientais que serviu para identificar as similaridades e
heterogeneidades das prticas (OBANO; MORA, 1992; FILHO, 1999), constituindo a
tipologia dos sistemas de manejo de aaizais nativos. A classificao da tipologia foi baseada
no trabalho de Grossmann et al. (2004), na qual foram identificados os seguintes tipos de
manejo de aaizais nativos: intensivo, intermedirio, moderado e sem manejo. As variveis
utilizadas foram: o nmero de estipes/touceira; o espaamento e a eliminao das outras
espcies.

Elaborao do Questionrio

O questionrio foi elaborado com perguntas abertas e fechadas. Os itens abordados
compreendem: a famlia, a habitao, o patrimnio, a situao fundiria, a renda, o manejo de
aaizal e a comercializao.

Definio da Amostragem das Famlias

As ilhas de Paquet e Ilha Grande foram escolhidas em razo de estarem em duas
regies distintas do municpio de Belm, uma a oeste e outra ao sul, mas com ecossistema
semelhante.
Foram entrevistadas 22 das 63 famlias da Ilha Grande, o equivalente a 35% do
total e 31 das 74 famlias da ilha de Paquet, o que corresponde a 42% do total.
Em cada rea diferente nas ilhas foram entrevistadas algumas famlias, sendo uma
escolhida para cada grupo de trs a cinco.

Teste do Questionrio

O questionrio foi testado anteriormente com quatro famlias, sendo duas por ilha
e no houve necessidade de ajuste do mesmo.

Aplicao dos Questionrios

Foram entrevistadas no mximo quatro famlias por dia, utilizando-se um morador
local como guia.

Definio das Unidades de Amostragem de Aaizais

Foi demarcada uma rea de 10 x 20 m (0,02 ha) nos aaizais de cada famlia para
coletar os dados do sistema de manejo como: nmero de estipes de aaizeiros
jovens
4
/touceira; estipes de aaizeiros adultos
5
/touceira; nmero de touceiras de aaizeiros;
nmero e identificao de outras espcies florestais a partir de 2m de altura, uma vez que
plantas inferiores a essa medida podem ser roadas. As espcies foram identificadas pelo
herbrio IAN da Embrapa. O mtodo utilizado nessas parcelas foi baseado nos trabalhos de
Nogueira (1997), Calzavara (1972) e Silva e Almeida (2004). Essas unidades foram
localizadas em uma rea representativa da floresta de aaizal, que um gradiente entre o
quintal florestal (rea ao redor das habitaes onde geralmente encontram-se plantas
frutferas) e a mata, segundo Anderson et al. (1985) e Anderson e Ioris (2001). Estes dados
foram anotados no momento das entrevistas com as famlias, portanto, no houve
acompanhamento de tais unidades.

4
Estipe jovem aquele que apresenta caule formado, mas que ainda no produziu.
5
Estipe adulto aquele que j produziu
Tabulao e Anlise dos Dados

Os dados quantitativos que no serviram para identificar os diferentes tipos de
manejo foram agrupados por localidade e tabulados com o auxlio de um programa de
planilha eletrnica, o excel.
Com base na combinao dos dados qualitativos e quantitativos, foram agrupados
os diferentes tipos de manejo de aaizais. Aps essa etapa, os dados que serviram para
diferenciar os tipos de manejo foram tabulados com o mesmo programa e analisados.
Os dados estatsticos analisados foram s mdias, os valores mnimos e mximos e
o coeficiente de variao.

RESULTADOS E DISCUSSES

O Processo de Ocupao e a Situao Fundiria

O processo de ocupao nessas ilhas, a partir dos ribeirinhos entrevistados,
comeou provavelmente a partir da dcada de 1930. Inicialmente em Paquet e depois na Ilha
Grande (Tabela 03).

Tabela 03 - Mdia de anos de moradia dos ribeirinhos das ilhas de Paquet e Ilha Grande,
municpio de Belm-PA
Ilha Mdia
de anos

Mnimo
(Mn)
Mximo
(Mx)
Coeficiente
de
Variao
% (CV)
Paquet 29 5 66 47,90
Ilha Grande 16 1 37 77,68
Coeficiente de variao > = a 30% significa que os dados so muitos heterogneos.

As famlias que vieram habitar essas ilhas so originadas principalmente do
municpio de Barcarena (Ilha das Onas e Arapiranga), que corresponde a 33% das famlias
de Paquet e de dois municpios da ilha do Maraj: Muan que corresponde a 10% de Paquet
e 23% da Ilha Grande e So Sebastio da Boa Vista que correspondente a 18% das famlias da
Ilha Grande (Tabela 04 e 05).
Tabela 04 - Origem das famlias da Ilha de Paquet, municpio de Belm-PA
Origem %
Paquet 37
Outras localidades de Belm 17
Barcarena 33
Muan 10
Abaetetuba 3
Total 100

Tabela 05 - Origem das famlias da Ilha Grande, municpio de Belm-PA
Origem %
Ilha Grande 27
Outras localidades de Belm 18
Muan 23
So Sebastio da Boa Vista 18
Bujaru 9
Acar 5
Total 100

Esse fluxo de migrao, no qual todas as pessoas nasceram no estado do Par, e de
ecossistema semelhante, completamente diferente, comparando-se com o processo de
migrao de outras regies do estado do Par como a Sudeste e a regio da Transamaznica,
nas quais muitas pessoas vieram de outros estados do Brasil (VELHO, 1981; HBETTE;
ALVES; QUINTELA, 2002) e de ecossistemas diferentes do amaznico. O que
possivelmente causou dificuldades iniciais de adaptao das famlias migrantes ao novo meio.
A ocupao nos lotes se deu a partir da orla para o interior da ilha. As famlias que
chegavam depois construram suas habitaes, a uma distncia lateral, em concordncia com
as ocupaes mais antigas. Os lotes iniciais eram maiores e depois foram divididos por
herana para garantir a reproduo dos filhos. Isso aconteceu em maior intensidade em
Paquet, onde as famlias so mais antigas (Tabela 06). A compra do direito de posse nos
lotes na Ilha Grande foi menor, em razo da entrada controlada de famlias pelo fazendeiro
que se dizia proprietrio da ilha, o qual obrigava as famlias a venderem, ou mais
precisamente trocarem, suas produes na cantina da fazenda. Por ocasio da troca, os
ribeirinhos pagavam uma taxa que na prtica, era o pagamento da renda da terra para o
fazendeiro. Essa forma de uso da terra tambm foi encontrada por Nugent (1991 citado por
SIMONIAN, 2004) na ilha do Combu.
Tabela 06 - Formas de acesso terra dos ribeirinhos das ilhas de Paquet e Ilha Grande,
municpio de Belm-PA
Tipos Paquet Ilha Grande
Posse 10 68
Herana 57 27
Compra de posse 33 5
Legenda: posse = ocupao inicial de uma rea; Herana = diviso da rea dos pais para os filhos; Compra de
posse = compra de uma rea j ocupada.

Os ribeirinhos pagavam ao fazendeiro a tera parte (1/3) dos seguintes produtos:
aa fruto, palmito, folha de guarum (Ischnosiphon arouma (Aubl.) Krn.) e borracha, e meia
parte (1/2) de cacau e sunos, produtos vendidos em menores quantidades (Tabela 07). H oito
anos, extinguiu-se o pagamento de uso da terra. Essa conquista foi resultado do enfrentamento
ao fazendeiro por uma liderana da ilha, conhecida por Dona Quinha. Ela recebeu a
informao de sua filha, que foi morar na cidade de Belm, onde tomou conhecimento que a
ilha pertencia Unio.
Tabela 07 - Quantitativo do pagamento da renda da produo dos ribeirinhos ao fazendeiro,
Ilha Grande, municpio de Belm-PA
Produto Renda da terra
Aa fruto 1/3
Palmito 1/3
Folha de Guarum 1/3
Borracha 1/3
Cacau 1/2
Suno 1/2

De fato, a Ilha Grande e Paquet pertencem Unio, pois so consideradas
terrenos de marinha
6
, e estes so bens da Unio (BRASIL, 1988). Os ribeirinhos dessas ilhas
tm apenas a posse da rea ocupada, pois at o momento, no procuraram a Secretaria de
Patrimnio da Unio para requererem alguma forma de regularizao de suas posses. Apesar
de estarem em reas no-regularizadas, os ribeirinhos esto h mais de 15 anos nessas ilhas e
acreditam que a Unio no vai retirlos de suas ocupaes. A estabilidade dessas ocupaes,
tida como certa, permitir que eles possam investir mais mo-de-obra no manejo de aaizais.
Segundo Castro (2000) e Grossmann et al. (2004), o coletor de aa no mudar do
extrativismo para um sistema de manejo se no possuir a garantia de ficar em suas terras.
Os lotes de Paquet, que tm em mdia 16 ha, so menores do que os da Ilha
Grande, que tm em mdia 21 ha (Tabela 08), pois muitas famlias de Paquet tm na pesca
uma boa fonte de renda e no necessitam de reas maiores. Outro fator que influenciou a Ilha
Grande a ter lotes maiores foi a menor entrada de famlias para ocupao da terra, que era
controlada pelo fazendeiro.
As delimitaes dos lotes so feitas por picos (abertura realizada na vegetao de
aproximadamente um metro de largura), onde geralmente colocam-se estacas de madeiras e
por igaraps.
Os lotes apresentam uma cobertura vegetal praticamente dividida em aaizal e
mata. O aaizal apresenta-se em duas formas: o nativo e o manejado
7
. As reas ocupadas com
aaizeiro no so contnuas, encontram-se distribudas na mata prxima s habitaes,
ocupando cerca de 0,5 a 1,0 ha em Paquet e 0,5 a 1,5 ha na Ilha Grande (Tabela 09).

6
Terrenos de marinha so todas as terras banhadas pelas guas do mar ou de rios navegveis que sofrem a
influncia da mar, em uma profundidade de 33 m a partir do preamar mdio do ano de 1831 para dentro da
terra, acrescentando-se 33 m (BRASIL, 2004).
7
Aaizal manejado aquele em que o ribeirinho realiza pelos menos uma das seguintes prticas:
enriquecimento, desbaste dos estipes, roagem e raleamento da mata que sero detalhadas a seguir.
Tabela 08 - rea dos lotes de Paquet e Ilha Grande, municpio de Belm-PA

Ilha rea dos
lotes (ha)
Mn. Mx. CV %
Paquet 16 0,48 50 81,66
Ilha Grande 21 3 100 123,08

Tabela 09 rea ocupada com aaizeiros nas ilhas de Paquet e Ilha Grande, municpio de
Belm-PA
Ilha rea com aaizeiros (ha)
Paquet 0,5 a 1,0
Ilha Grande 0,5 a 1,5

Aspectos Sociais

Composio da Populao

Em Paquet, a populao formada principalmente de adultos, (19 a 59 anos)
seguida da categoria de crianas (0 a 12 anos). Os idosos (mais de 60 anos) e os jovens (13 a
18 anos) so, como na Ilha Grande, a minoria da populao. As mulheres so a maioria da
populao de um modo geral e maior na categoria jovem, adulto e idoso (Figura 04).
Figura 04 Composio da populao, por faixa etria, dos ribeirinhos da ilha de Paquet,
municpio de Belm-PA

0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
0 - 6 7 - 12 13 - 18 19 - 59 + 60
%

anos
Masculino
Feminino
A populao da Ilha Grande formada pela maioria da categoria de adultos (19 a
59 anos) e crianas de (0 a 12 anos), ambas com percentuais iguais. Os idosos (com mais de
60 anos) e os jovens (13 a 18 anos) so a minoria da populao. Os homens so a maioria da
populao de um modo geral e nas categorias de crianas de 7 a 12 anos e de jovens (Figura
05).

Figura 05 Composio da populao, por faixa etria, dos ribeirinhos da Ilha Grande,
municpio de Belm-PA

Em relao ao nmero de pessoas por famlia, ambas tm, em mdia, cinco
pessoas (Tabela 10). Essas famlias tm necessidades de serem numerosas em razo de
precisarem de mo-de-obra para as diversas atividades de produo agroextrativista.

Tabela 10 - Nmero mdio de pessoas por famlia de ribeirinhos das ilhas de Paquet e Ilha
Grande, municpio de Belm-PA
Ilha Mdia do n de
pessoas/famlia
Mn. Mx. CV
Paquet 5 1 12 51,04

0
10
20
30
40
50
60
0 - 6 7 - 12 13 - 18 19 - 59 + 60
%

anos
Masculino
Feminino
Educao

Paquet possui trs escolas de 1 4 srie, sendo duas municipais e uma estadual.
Na Ilha Grande h duas escolas municipais de 1 4 srie. Para continuarem seus estudos, a
partir da 5 srie, as pessoas de Paquet freqentam escola na cidade de Belm ou na ilha de
Cotijuba. No caso da Ilha Grande, os estudantes continuam seus estudos na cidade de Belm.
O transporte dos estudantes para Belm era pago pela Prefeitura. Na Ilha de Paquet havia
turma do Movimento de Alfabetizao de Adultos (Mova) da Prefeitura, mas nem todas as
famlias participam, pois ainda existem pessoas no-alfabetizadas. Poucas pessoas concluram
ou estavam cursando o segundo grau e a maioria cursou ou estavam cursando o ensino
fundamental (Figura 06). Foi observada apenas uma pessoa na Ilha de Paquet com o curso
superior.
A possibilidade das famlias matricularem seus filhos para continuarem seus
estudos considerada um fator muito importante para a permanncia dessas famlias nas
localidades.

Figura 06 Grau de escolaridade da populao da ilha de Paquet, municpio de Belm-PA

0
5
10
15
20
25
30
35
40
7 - 12 13 - 18 19 - 59 60 +
n

d
e

p
e
s
s
o
a
s

anos
analfabeto
alfabetizao
1 a 4 srie
5 a 8 srie
2 grau
3 grau
Figura 07 Grau de escolaridade da populao da Ilha Grande, municpio de Belm-PA

Sade

A populao das duas ilhas atendida em suas residncias por agentes
comunitrios de sade, enfermeiros e mdicos e do programa Famlia Saudvel da
Prefeitura
8
. Quando h necessidade de procurar os servios de sade mais especializados, as
pessoas de Paquet vo consultar os mdicos na Unidade de Sade da Ilha de Cotijuba ou no
Distrito de Icoaraci, na cidade de Belm e as da Ilha Grande vo at a Unidade de Sade da
ilha do Combu, ou no Distrito do Guam, situado em Belm.

Infra-Estrutura (gua, energia e transporte)

Apesar dessas ilhas serem banhadas por bastante gua, contraditoriamente, existe
uma grande dificuldade de abastecimento de gua potvel. As famlias de Paquet utilizam
gua na Ilha de Cotijuba e as da Ilha Grande em Belm e no Municpio de Acar. Para
beberem gua gelada e conservar por pouco tempo algum alimento, as famlias compram gelo
de pessoas que vendem diariamente em suas embarcaes, oferecendo o produto nas casas
dos ribeirinhos. Na Ilha Grande foi construda uma cisterna para aproveitar a gua da chuva.

8
O Programa Famlia Saudvel da Secretaria Municipal de Sade (SESMA), da Prefeitura Municipal de Belm,
foi criado em 1998 para realizar preveno e promoo de sade, mudando radicalmente o modelo tradicional de
assistncia mdica que d prioridade apenas s atividades curativas (BELM, 2001 b).
0
5
10
15
20
25
30
35
7 - 12 13 - 18 19 - 59 60 +
n

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e
s
s
o
a
s

anos
analfabeto
alfabetizao
1 a 4 srie
5 a 8 srie
2 grau
3 grau
uma experincia piloto, para tentar diminuir o problema da falta de gua potvel, cuja
experincia bastante difundida no nordeste do Brasil (BRASIL UM PAS DE TODOS,
2004).
Durante o inverno, ou perodo mais chuvoso, algumas vezes, a gua do rio
utilizada para o consumo, mas no perodo do vero, ou perodo menos chuvoso, a gua no
consumida, pois fica salgada.
As residncias das duas ilhas no so servidas por rede de energia eltrica. Durante
a noite, elas so iluminadas com lmpadas fluorescentes atravs de energia fornecida por
bateria de automveis (recarregadas em Belm) ou por pequenos grupos geradores. Estes
equipamentos tambm servem para fornecer energia para os aparelhos de televiso. Em
Paquet, 65% das famlias entrevistadas possuem baterias, 6% possuem grupos geradores e
71% possuem aparelhos de televiso. Na Ilha Grande, 86% das famlias entrevistadas
possuem baterias, 14% possuem grupos geradores e 86% possuem aparelhos de televiso. As
famlias, que no possuem baterias ou grupos geradores, utilizam candeeiros para iluminarem
suas residncias.
Os barcos e as canoas so os principais meios de transporte das famlias e de suas
produes. Aprender a remar tarefa obrigatria desde criana, pois fundamental para o
deslocamento das famlias. Conhecer o regime das mars vital para quem utiliza este tipo de
transporte nas ilhas. O transporte a p, entre as residncias, realizado principalmente no
vero, quando os caminhos esto mais secos.

Tabela 11 Fontes de energia eltrica e aparelhos de TV utilizados pelos ribeirinhos das Ilhas
de Paquet e Ilha Grande, Municpio de Belm-PA
Fonte de
energia e
aparelho de TV
Ilha de Paquet Ilha Grande
N de famlias
que possuem
% N de famlias
que possuem
%
Grupo gerador 2 6 3 14
Bateria 20 65 19 86
Candeeiro 9 29 0 0
Aparelho de TV 22 71 19 86

Moradia

As casas esto situadas em cada lote. So do tipo palafitas
9
, construdas de madeira
e cobertas por telhas de cermicas, palha e fibra de cimento (Tabela 12). Possuem, em mdia,
dois compartimentos em Paquet e trs na Ilha Grande (Tabela 13). As palhas utilizadas para
cobrir as casas so de uma palmeira encontrada nessas ilhas denominada de ubuu (Manicaria
saccifera). As famlias da Ilha Grande esto investindo mais em suas residncias, pois
apresentam um maior nmero de compartimentos e maior percentual de cobertura com telhas
de cermicas (95%), que um tipo de material de valor mais elevado e de melhor qualidade,
pois transmite menos calor em relao telha de fibra de cimento.

Tabela 12 Percentual dos tipos de coberturas das residncias das ilhas de Paquet e Ilha
Tipo de cobertura Paquet (%) Grande (%)
Cermica 35 95
Palha 35 5
Fibra de Cimento 30 0

Tabela 13 - Nmero mdio de compartimentos das residncias das ilhas de Paquet e Ilha
Ilha N mdio de
compartimentos
Mn. Mx. CV%
Paquet 2 1 4 37,72

9
Palafitas so casas construdas sobre estacas para evitar a inundao provocada pela subida das mars.
Evoluo do Sistema de Produo

Segundo Filho (1999), o estudo da evoluo permite compreender as conseqentes
modificaes que acarretaram os sistemas de produo. Para Dufumier (1996 citado por
FILHO, 1999, p. 26) na escala de um estabelecimento agrcola o sistema de produo pode
ser definido como uma combinao (no tempo e no espao) dos recursos disponveis para a
obteno das produes vegetais e animais.
Nesse sentido, alguns produtos como o ltex da seringueira e a folha de guarum
que foram importantes para a reproduo familiar destes ribeirinhos, j perderam sua
importncia devido a vrios fatores. Outro que tinha menor importncia no passado, como o
aa fruto, atualmente est em destaque (Tabela 14).

Tabela 14 - Evoluo dos principais componentes do sistema de produo das ilhas de
Paquet e Ilha Grande, municpio de Belm-PA
Componentes Dcada de
1970
Dcada de
1980
Dcada de
1990
Ano 2004
Cacau ++ ++ - -
Peixe +++ ++ + -
Camaro +++ ++ + -
Ltex da
seringueira
++ + 0 0
Suno +++ ++ - -
Aa fruto - + ++ +++
Palmito +++ ++ + -
Folha de
guarum
+ - 0 0
Legenda: 0 ausncia; - menor produo; + maior produo.

Seringueira
O ltex retirado da seringueira j foi um importante componente do sistema de
produo nas duas ilhas, mas o baixo preo (Figura 08) desestimulou a sua extrao, que foi
paralisada nos anos 90 (Tabela 15). O declnio do extrativismo da seringueira, segundo
Homma (1983, 1999), deve-se ao alto custo de extrao, a fabricao sinttica da borracha e
maior produtividade dos plantios racionais.
Apesar das famlias no estarem extraindo o ltex, as seringueiras ainda no foram
derrubadas, elas esto ainda no meio do aaizal. Talvez os ribeirinhos estejam esperando uma
retomada de preos.

Tabela 15 - Evoluo da extrao do ltex da seringueira nas ilhas de Paquet e Ilha Grande,
municpio de Belm-PA
Componente Dcada de
1970
Dcada de
1980
Dcada de
1990
Ano 2004
Ltex da
seringueira
++ + 0 0

Figura 08 - Evoluo do preo do ltex da seringueira na Regio Amaznica

Fonte: FIBGE (1974, 1976, 1982, 1986 citado por Anderson; Ioris, 1992); IBGE (2002),
modificado pelo autor.

0
0,5
1
1,5
2
2,5
1974 1976 1982 1986 2002
P
r
e
o

e
m

U
S
$

(
1
,
0
0
0
)
/
t

anos
ltex coagulado
Cacau
O cacau, encontrado em maior quantidade na Ilha Grande, teve seu declnio de
preo na dcada de 90 (Figura 09) que ocasionou uma queda na produo colhida (Tabela 16).
O preo atual, apesar de estar se recuperando, no tem estimulado a ampliao de seu plantio,
uma vez que no um produto nativo dessas ilhas. Sua produo ainda comercializada,
mesmo a preo pouco satisfatrio pelas famlias. A semente atualmente foi comercializada
verde a R$ 1,20/kg e seca por R$ 4,00/kg.

Tabela 16 - Evoluo da produo de cacau na Ilha Grande, municpio de Belm-PA
Componente Dcada de
1970
Dcada de
1980
Dcada de
1990
Ano 2004
Cacau ++ ++ - -

Figura 09 - Evoluo do preo do cacau no Brasil

Fonte: BRASIL Coopercacau (1980, 1990 citado por CEPLAC, 1994), modificado pelo
autor, com preos corrigidos pelo INPC do IBGE.

0
1
2
3
4
5
6
7
8
1980 1990 2004
P
r
e
o

d
a

s
e
m
e
n
t
e

e
m

R
$
/
k
g

anos
cacau
Peixe e Camaro
O peixe e o camaro esto com suas produes diminuindo a cada dcada (Tabela
17). Segundo as famlias das duas ilhas, as causas do declnio da produo devem-se ao
aumento do nmero de pescadores, a pesca de arrasto realizada pelas indstrias de pesca, a
poluio das guas provocada pelos dejetos de esgotos de Belm e pelas indstrias de alumnio
localizadas em Barcarena. Apesar do declnio, a pesca ainda um dos principais componentes
da renda das famlias de Paquet.

Tabela 17 - Evoluo da produo de peixe e camaro nas ilhas de Paquet e Ilha Grande,
municpio de Belm-PA
1970
Dcada de
1980
Dcada de
1990
Ano 2004
Peixe +++ ++ + -
Camaro +++ ++ + -

Guarum
A folha de guarum, (Ischnosiphon arouma (Aubl.) Krn.), encontrada em maior
quantidade na Ilha Grande, era comercializada para embrulhar produtos comercializados como
farinha, carne, peixes e outros. Teve seu declnio nos anos 80 (Tabela 18) devido o surgimento
de sacolas plsticas. Esse produto seguiu a trajetria da teoria de Homma (1983, 1999), sobre a
substituio de determinados produtos extrativos por sintticos.

Tabela 18 - Evoluo da produo de folha de guarum nas ilhas de Paquet e Ilha Grande,
municpio de Belm-PA
Componente Dcada de
1970
Dcada de
1980
Dcada de
1990
Ano 2004
Folha de
guarum
+ - 0 0

Sunos
A criao de sunos, ainda presente nas duas ilhas, realizada de forma altamente
extensiva. Os animais vo buscar alimentos no aaizal e na mata e ficam quase semi-
selvagens. Com o aumento do nmero de pessoas nas ilhas e como os animais so criados
soltos na mata, muitos deles so furtados, o que est desestimulando a maioria dos ribeirinhos
a continuar com essa criao, que est diminuindo a cada dcada (Tabela 19).

Tabela 19 - Evoluo da criao de sunos nas ilhas de Paquet e Ilha Grande, municpio de
Belm-PA
Componente Dcada de
1970
Dcada de
1980
Dcada de
1990
Ano 2004
Suno +++ ++ - -

Palmito e Fruto de Aaizeiro
No incio da dcada de 70, com a instalao das primeiras indstrias de
beneficiamento de palmito (BRABO, 1979; POLLAK; MATOS; UHL, 1996), os ribeirinhos
comearam a explorar o aaizal existente, realizando corte de todos os estipes das touceiras,
para comercializar o palmito. Essa prtica colocava em risco a manuteno dos aaizais
(BRABO, 1979; POLLAK; MATOS; UHL, 1996; BOVI, 2004; SIMONIAN, 2004). Uma
pequena parte do aaizal era destinado para a produo de aa fruto como complemento da
alimentao, pois naquela poca, havia o peixe e a farinha como os produtos mais
consumidos. As famlias comearam a manejar parte do aaizal para terem maior produo de
aa fruto para o consumo familiar, que naquele momento era insuficiente. O consumo de aa
fruto em Belm era muito pequeno, pois os ribeirinhos relataram que tinham muita
dificuldade para comercializ-los, por falta de compradores.
Nessa dcada, a renda do palmito era mais importante para as famlias do que o
aa fruto (Tabela 20). O palmito era retirado de janeiro a setembro. Nos demais meses, o
trabalho era deslocado para a colheita dos frutos, destinados principalmente para a
alimentao.
Em meados da dcada de 80 e incio dos anos 90, o consumo de aa aumenta em
Belm (Figura 10). Esta alterao no mercado tambm provocou uma alterao no manejo do
aaizal que passou a ser orientado para a produo de aa fruto. Desta forma, o palmito foi
deixando de ser produto principal para ser um subproduto do manejo. A extrao do palmito
passa a ser mais equilibrada, retirando-se apenas o excesso de estipes por touceira, deixando
alguns estipes para produo de frutos. Segundo Anderson e Ioris (1992), em estudo realizado
na ilha do Combu, a produo de aa fruto, por famlia de ribeirinhos, em 1984 passou de
2.634 kg para 16.017 kg em 1988.
Assim, o aa fruto, que nas dcadas anteriores, era considerado um complemento
alimentar, passou a ser o produto principal do aaizeiro, constituindo-se em um dos principais
produtos para o consumo e renda dos ribeirinhos.

Tabela 20 - Evoluo da produo de aa fruto e palmito de aaizeiro nas ilhas de Paquet e
1970
Dcada de
1980
Dcada de
1990
Ano 2004
Aa fruto - + ++ +++
Palmito +++ ++ + -

Figura 10 - Evoluo do consumo de aa em Belm-PA

Fonte: Calzavara [197-]; Sectam (1996 citado por Mouro, 2004); Mouro (2004).

0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
1970 1989 1996
C
o
n
s
u
m
o

d
e

a

e
m

1
0
0
0
l
/
d
i
a

anos
consumo de
litros de aa
De acordo com essas transformaes ocorridas, pode-se afirmar que apesar da
aparente estabilidade do sistema de produo agroextrativista dos ribeirinhos das ilhas de
Paquet e Ilha Grande, houve bastantes modificaes nestes ltimos trinta anos, apesar de
ocorrerem lentamente.

Como se pde observar anteriormente, a seringueira e o guarum seguiram o rumo
traado pela teoria de Homma (1983, 1999) sobre o extrativismo na Amaznia, mas o sistema
de manejo de aaizal nativo desenvolvido pelos ribeirinhos ser superado pelo plantio
racional de aaizeiro e levar ao seu abandono como ocorreu com a seringueira? Apesar de
ser uma anlise superficial, neste caso, provavelmente no! Quatro fatores sero aqui
analisados: a concentrao de plantas/ha, o custo de produo, o rendimento de frutos/ha e o
modelo de produo.

No sistema de manejo realizado pelos ribeirinhos das ilhas de Paquet e Ilha
Grande, o nmero de touceiras adultas/ha observadas foi de 700 em Paquet e 550 na Ilha
Grande (Tabela 21), sendo superior ao do plantio de aaizeiro que de 400 touceira /ha
segundo Queiroz e Mochiutti (2001b) e superior, apenas no caso da ilha de Paquet, proposta
de Calzavara (1987) que de 625 touceira/ha.

Em relao ao custo de produo, aparentemente, o sistema de manejo tem menor
custo. Neste caso, no utilizado fertilizante sinttico. O aaizeiro adubado com a adio de
argila e matria orgnica translocadas pelas guas das mars; pela reciclagem de nutrientes de
folhas e cachos do prprio aaizeiro e de partes vegetais de outras plantas. Segundo trabalho
realizado por Jardim e Rombold (1994), a adubao com fertilizante (N.P.K.) em rea de
vrzea, no influenciou no aumento da produo de frutos. No plantio racional em terra firme
recomendada a adio de fertilizante (CALZAVARA, 1987; QUEIROZ; MOCHIUTTI,
2001b), tornando o custo de produo aparentemente mais elevado.

A comparao do rendimento de frutos bastante dificultada, devido a grande
variao das informaes. O maior rendimento de frutos/ha, observado no sistema manejado
pelos ribeirinhos da Ilha Grande foi estimado em 12.320 kg/ha e 9.660 kg/ha na ilha de
Paquet. Conforme Oliveira, Carvalho e Nascimento (2000), em aaizais nativos manejados
com densidade de 1.500 plantas/ha com cerca de 53% delas em produo, foi registrada
produtividade de at 9.000 kg de frutos/ha. Hamp (1991 citado por NOGUEIRA, 1997)
chegou a uma produo de 24.000 kg/ha/ano em aaizais nativos manejados. No plantio
racional o rendimento tambm bastante diferenciado, com produo de 12.000 kg/ha/ano
segundo Queiroz e Mochiutti (2001b) e de 46.875 kg/ha/ano conforme Calzavara (1987).

Tabela 21 Nmero de touceiras adultas de aaizeiros nas ilhas de Paquet e Ilha Grande,
municpio de Belm-PA
Ilhas Nmero de touceiras
adultas de aaizeiro /ha
Paquet 700
Ilha Grande 550

Um outro fator ainda a ser analisado que a agricultura mundial estaria
comeando a experimentar um novo processo de transio, denominado de ecologizao ou
ambientalizao (CAPORAL; COSTABEBER, 2000). Nesse processo, segundo os autores,
[...] a ecologizao no seria essencialmente orientada para o mercado, mas incorporaria
valores ambientais e uma nova tica de relao do homem com a natureza (CAPORAL;
COSTABEBER, 2000, p. 29). Sendo assim, o manejo de aaizal nativo praticado por esses
ribeirinhos, possivelmente j estaria adiantado nesse novo processo. No manejo praticado por
eles, no se utilizam agrotxicos e nem fertilizantes sintticos j citados anteriormente,
mantm uma certa diversidade de plantas da mata no aaizal, realizam a extrao de palmitos
de forma equilibrada e outras prticas de baixo impacto na natureza.

O fruto e o palmito do aaizeiro, obtidos pelo manejo orgnico
10
do aaizal nativo,
podem ser certificados como produtos orgnicos e terem um bom mercado. Segundo Toledo
(1997), o mercado para produtos orgnicos que comeam a ter espao nas cidades brasileiras,
j um fenmeno consolidado nos pases do chamado Primeiro Mundo.

10
No encontrando uma definio de manejo orgnico, ser utilizado o conceito de agricultura orgnica de
Altieri (2000, p. 68). Segundo o autor, a agricultura orgnica um sistema que sustenta a produo agrcola
evitando ou excluindo em grande parte o uso dos fertilizantes e agrotxicos sintticos.
Composio do Sistema de Produo

Segundo Dufumier (1996 citado por FILHO, 1999, p. 26), o sistema de produo
pode ser concebido, como uma combinao, mais ou menos coerente, de diversos subsistemas
produtivos. Neste sentido, o sistema de produo destes ribeirinhos composto dos seguintes
subsistemas:
- manejo de aaizais (aa fruto) - manejo de aaizais (palmito)
- extrativismo da caa - criao de aves
- criao de sunos - extrativismo do peixe
- extrativismo do camaro - cultivo de frutferas
- extrativismo da mata

Subsistema de Manejo de Aaizais (aa fruto)

Nessas ilhas foram observadas duas variedades de aa: o aa preto, em maior
quantidade, e o aa branco. Essas duas variedades foram encontradas tambm por Jardim
(2000), na ilha do Combu. Segundo Jardim (2000, p. 3), o aa branco uma etnovariedade
por apresentar caractersticas morfolgicas que difere do aa preto, considerado o aa
verdadeiro.
Para aumentar a produo de aa fruto e ainda obter o palmito como subproduto,
os ribeirinhos esto manejando seus aaizais de acordo com as seguintes prticas:
enriquecimento com aaizeiro, roagem, desbaste dos estipes e raleamento da mata.

Enriquecimento

Para obterem maior produo de aa fruto, os ribeirinhos das ilhas de Paquet e
Ilha Grande aumentaram a concentrao de aaizeiro, com o enriquecimento realizado atravs
do semeio a lano ou pelo transplantio de mudas, produzidas naturalmente com a germinao
de sementes, que so depositadas sobre o solo. Enquanto o transplante de mudas realizado
por 97% dos ribeirinhos de Paquet e 100% dos ribeirinhos da Ilha Grande, o semeio
realizado por 90% e 77% dos ribeirinhos da ilhas de Paquet e Ilha Grande respectivamente.
Segundo os ribeirinhos, os frutos escolhidos para o semeio ou para a formao de mudas
apresentam uma boa quantidade de polpa. As mudas medem entre 30 a 50 cm de altura e so
transplantadas com torro para o local definitivo (Figura 11). Elas so plantadas em sua
maioria, sem nenhum alinhamento e com distncias desuniformes, variando entre 2 a 4 m. O
plantio das mudas, que ocorre normalmente no perodo de maior quantidades de chuvas,
realizado em reas selecionadas, com reduzida ou nenhuma ocorrncia de aaizeiro e boa
entrada de raios solares. A muda produzida em saquinho foi observada apenas no caso do aa
branco, que tem preo mais elevado no mercado. Em setembro de 2004, o mesmo foi
comercializado com preo 16% a mais que o aa preto.
O resultado do enriquecimento permitiu observar, nas parcelas de 0,02 ha, uma
densidade estimada em 1.300 touceiras jovens e adultas de aaizeiro por hectare (Tabela 22).
Silva e Almeida (2004) encontraram nmero semelhante em uma floresta de vrzea,
localizada as margens do rio Guam, na regio Metropolitana de Belm, com 1.384 touceiras
por hectare.

Tabela 22 - Nmero mdio de plantas de aaizeiro em 31 e 22 parcelas de 0,02 ha, estimativa
para 1,00 ha, respectivamente nas ilhas de Paquet e Ilha Grande, municpio de Belm-PA
Ilha N de
touceiras
jovens
CV N de
touceiras
adultas
CV% Total 0,02
ha
Estimativa
em 1,0 ha
Paquet 12 69,03 14 43,97 26 1300
Ilha Grande 14 42,92 11 41,26 25 1250

Roagem

Essa forma de manejo realizada por 97% e 100% dos ribeirinhos das ilhas de
Paquet e Ilha Grande respectivamente, no perodo do vero. Na ilha de Paquet, a mesma
realizada em mdia de 4 horas por semana. Na Ilha Grande, a roagem realizada com maior
intensidade de mo-de-obra, sendo utilizada em mdia 6 horas de trabalho por semana. Um
grupo de 17 famlias (77%) dessa ilha faz este trabalho em regime de mutiro.
Os ribeirinhos fazem a roagem com o objetivo de aumentar a produo de aa
fruto e abrir caminhos para facilitar a colheita. Essa prtica tambm foi observada por
Anderson e Ioris (2001) e Grossmann et al. (2004). A influncia da mesma no aumento da
produo de aa fruto, por reduzir a concorrncia entre gua, luz e nutrientes entre o
aaizeiro e outras plantas, foi comprovada pelo trabalho realizado por Jardim e Anderson
(1987).

Figura 11 Muda de aaizeiro com torro, Ilha Grande, municpio de Belm-PA

Desbaste dos Estipes

O desbaste do nmero de estipes foi realizado por 97% e 100% dos ribeirinhos das
ilhas de Paquet e Ilha Grande respectivamente, deixando-se na maioria das touceiras com um
a trs estipes jovens e tambm de um a trs estipes adultos, observadas nas parcelas de 0,02 ha
(Tabela 23). A funo dos estipes jovens a de substituir os estipes adultos ou aproveit-los
para a produo de palmito.
Esse desbaste dos estipes influencia no aumento da produo de frutos. Segundo
Nogueira et al. (2004), quanto maior o nmero de estipes, maior a concorrncia por gua,
luz e nutrientes entre os estipes em uma mesma touceira. Hamp (1991 citado por
NOGUEIRA, 1997), obteve em seu trabalho maior produo de aa frutos deixando menor
nmero de estipes por touceira e atribuiu tal fato menor competio das plantas por luz e
nutrientes. Em trabalho realizado na ilha do Combu, Jardim e Rombold (1994) demonstraram
que o desbaste seletivo de touceira de aaizeiro surtiu efeito no aumento da produo de
frutos. Anderson e Jardim (1987) no encontraram efeitos significativos no aumento de
produo de aa fruto com o desbaste nas touceiras, embora chegasse interessante
concluso de que a extrao racional de palmitos no prejudica a produo de aa frutos.

Tabela 23 - Percentual de plantas jovens e adultas de aaizeiro por touceira em 31 e 22
parcelas de 0,02 ha respectivamente nas ilhas de Paquet e Ilha Grande, municpio de Belm-
PA
Ilha Nmero de estipes por touceira em %
% de estipes jovens/touceira % de estipes adultos/touceira
1 estipe 2 estipes 3 estipes 4 a 9
estipes
1 estipe 2 estipes 3 estipes 4 a 5
estipes
Paquet 46 25 16 13 69 23 5 3
Ilha
Grande
41 33 17 9 73 20 6 1

Raleamento da Mata

O excesso de sombreamento no aaizeiro, segundo os ribeirinhos, reduz a
produo de frutos, diminui o nmero de cachos por planta e o tamanho dos cachos, retardam
o incio da produo de frutos e os estipes ficam altos e finos, aumentando o perigo de
quebrar durante a subida de pessoas para realizar a colheita dos frutos. Tais informaes se
confirmam com as de Calzavara (1972). Segundo o autor, o aaizeiro uma planta helifila e
em condies de sombreamento, o estipe cresce fino e tem baixa produo. Por outro lado,
para os ribeirinhos, o aaizeiro em condies de pouco sombreamento, produz mais rpido,
com estipe de menor porte e com maior dimetro, apresentando cachos em maior nmero e
tamanho.

O raleamento da mata realizado por 97% e 100% dos ribeirinhos das ilhas de
Paquet e Ilha Grande respectivamente, para propiciar o maior aumento da entrada de raios
solares. So derrubadas rvores que tm pouco valor econmico, de uso ou que esto fazendo
muito sombreamento. As mais comumente eliminadas na Ilha Grande so: o mututi
(Pterocarpus amazonicus Huber), o ip (Macrolobium anugustifolium (Benth.) Cowan.) e o
murumuru (Astrocaryum murumuru Mart.). Em Paquet so: o pracaxi (Pentaclethra
macroloba (Willd.) Kuntze.), o anani (Symphonia globulifera L. f.) e o mututi.

O efeito do raleamento da mata na produo de frutos foi comprovado pelo
trabalho realizado por Jardim e Anderson (1987) e foi relatado por Anderson et al. (1985),
Anderson e Ioris (2001) e Grossmann et al. (2004).

A derrubada das rvores realizada com o anelamento
11
(Figura 12) do tronco a
uma altura aproximada de um metro do solo. Essa tcnica, aplicada em rvore com mais de
um metro de D.A.P (dimetro a altura do peito), tem pouco efeito segundo os ribeirinhos. Por
essa razo, ateado fogo no local do anelamento. A vantagem de tal tcnica que a rvore
seca, diminuindo consideravelmente seu peso e quando cai, reduz a quebra de aaizeiros.

11
Anelamento a retirada da casca em torno do tronco das rvores, atingindo at o cerne que a parte mais dura
do tronco. Retira-se um anel de casca de aproximadamente 30 cm de largura. Isto impede a circulao da seiva e,
conseqentemente, provoca a morte da rvore.
Apenas um ribeirinho na Ilha Grande, que possua um motorserra, fazia a derrubada de
rvores com esse equipamento.

Figura 12
rvore com
anelamento,
ilha de
Paquet,
municpio de
Belm-PA
Entre as rvores que no so eliminadas, as mais citadas pelos ribeirinhos nas duas
ilhas foram: virola (Virola michelii Heckel.), andiroba (Carapa guianensis Aubl.), seringueira
(Hevea brasilienis (Willd. ex A. Juss.) Mill. Arg.) e tapereb (Spondias mombin L.).

Nas parcelas, delimitadas de 0,02 ha, foram observadas algumas essncias
florestais com mais de 2m de altura, sendo um nmero maior em Paquet (250 rvores/ha)
devido menor intensidade de manejo (Tabela 24). Na proposta de manejo de aaizais nativos
de Nogueira (1997) que um sistema agroflorestal com aaizeiro, so deixadas entre 50 a 60
rvores por hectare. Queiroz e Mochiutti (2001a) propem um modelo deixando-se 50
palmeiras de outras espcies e 200 rvores, sendo esta ltima, uma proposta semelhante ao
atual estgio dos aaizais destes ribeirinhos.

Tabela 24 - Nmero mdio de essncias florestais em 25 e 19 parcelas de 0,02 ha, estimativa
para 1,00 ha, respectivamente nas ilhas de Paquet e Ilha Grande, municpio de Belm-PA
Ilha N de rvores
(rea 0,02 ha)
CV% N de rvores
(estimativa em
1,00 ha)
Paquet 5 77,64 250
Ilha Grande 4 63,32 200

As essncias florestais observadas nas parcelas que apresentaram o maior nmero
de indivduos foram: seringueira, andiroba, virola, murumuru, jarandeua (Pithecelobium
cauliflorum Aubl.), e maraj (Bactris sp.). No total foram encontradas 18 espcies na Ilha de
Paquet e 19 na Ilha Grande (Tabela 25).

Tabela 25 - Essncias florestais observadas em 26 e 19 parcelas de 0,02 ha respectivamente
nas ilhas de Paquet e Ilha Grande, municpio de Belm-PA
Espcie Nome
Popular
Nmero de
indivduos
Paquet Ilha Grande
Hevea brasiliensis Willd. ex A.
Juss.) Mill. Arg.)
Seringueira 40 4
Carapa guianensis Aubl. Andiroba 13 19
Virola michelii Heckel. Virola 12 7
Pithecellobium cauliplorum
Mart.
Jarandeua 11 0
Bactris sp. Maraj 11 0
Astrocaryum murumuru Mart. Murumuru 10 7
Spondias mombin L. Tapereb 2 9
Symphonia globulifera L. f. Anani 7 1
Pentaclethra macroloba (Willd.)
Kuntze.
Pracaxi 7 2
Inga cinnamomea Spruce ex
Benth.
Ing-batelo 6 0
Pterocarpus amazonicus Huber. Mututi 5 2
Genipa americana L. Jenipapo 3 1
Inga edulis Mart. Ing 2 0
Cedrela odorata L. Cedro 0 2
Swartzia sp. Pitaca 1 0
Chrysophyllum sp. Guajar 1 0
Raphia taedigera (Mart.) Mart. Jupati 1 0
Platymiscium filipes Benth. Macacaba 1 0
Sarcaulus brasiliensis (A. DC.)
Eyma.
Guajara 1 0
Pseudobombax munguba
(Mart.& Zucc) Dugand.
Munguba 0 1
Protium pallidum Cuatrec. Breu-branco 0 1
Ficus maxima Mill. Caxinguba 0 1
Attalea maripa (Aubl.) Mart. Inaj 0 1
Quararibea guianensis Aubl. Inajarana 0 2
Sterculia speciosa K. Schum. Remela-de-
cachorro
0 1
Guazuma ulmifolia Lam. Mutamba 0 1
Trichanthera gigantea (Bonpl.)
Nees
Campo-verde 0 1
Licaria sp. Macucu 0 1
Total de indivduos 133 64
Total de espcies 18 19

As espcies mais preservadas so utilizadas principalmente para madeira e
remdio (Quadro 01).

Quadro 01 - Uso das espcies preservadas nos aaizais das ilhas de Paquet e Ilha Grande,
municpio de Belm-PA
Espcie Nome Popular Uso
Pentaclethra macroloba
(Willd.) Kuntze.
Pracaxi leo para garganta inflamada,
priso de ventre, clica e picada
de inseto
Carapa guianensis Aubl. Andiroba leo para machucado e garganta
inflamada
Symphonia globulifera L. f. Anani Madeira para assoalho e para
construo de casa em geral
Pithecellobium cauliflorum
Mart.
Jarandeua Lenha
Virola michelii Heckel Virola Madeira, e alimento para suno
(semente)
Hevea brasiliensis Willd. ex A.
Juss.) Mill. Arg.)
Seringueira No momento sem uso. Serve
para extrao do ltex, utilizado
na produo de borracha
Cedrela odorata L. Cedro Madeira
Astrocaryum murumuru Mart. Murumuru Alimento para sunos
Spondias mombin L. Tapereb Fruto para comercializao e
alimento para suno

A presena dessas espcies (Tabela 25) significa que esses ribeirinhos no tm, no
momento, a estratgia de transformar o aaizal diversificado em uma monocultura de
aaizeiro como j observado por Grossmann et al. (2004) em Abaetetuba PA. A
monocultura do aaizeiro poder causar desequilbrio ecolgico, observados em diversos
monocultivos como o aumento de pragas e doenas. Essa preocupao tambm
compartilhada por Lopes (2003). A diversidade pode ter uma garantia maior, se for possvel
valorizar os produtos de outras espcies, alm do aaizeiro, como o ltex da seringueira, o
fruto do taperebazeiro, a semente de andiroba, do pracaxi e do cacau, por exemplo.
A combinao das trs prticas de manejo: a roagem, o desbaste dos estipes e o
raleamento da mata, permitiram aos ribeirinhos obterem rendimento de aa fruto estimado
em 12.320 kg/ha/ano, em reas mais intensivas de manejo, que corresponde a um aumento de
67,53% em relao rea no manejada com rendimento estimado em 4.000 kg/ha/ano e
aumento de 21,59% em relao rea com menor intensidade de manejo, cujo rendimento foi
estimado em 9.660 kg/ha/ano (Tabela 26). Jardim e Anderson (1987) realizaram desbaste nos
estipes de aaizeiro e o raleamento na mata e chegaram a uma produo de 1.854,8 kg/ha/ano,
e a rea no manejada, uma produo de 1.158,8 kg/ha/ano, o que corresponde a um aumento
de produo de 37,54%. Hamp (1991), citado por Nogueira (1997), obteve produo em rea
manejada de 24.000kg/ha/ano e em rea no manejada de 8.000 kg/ha/ano, isso correspondeu
a um aumento de 200%. Nogueira (1997) realizou a roagem, o raleamento da mata e o
desbaste dos estipes obtendo uma produo de 8.400 kg/ha/ano em rea manejada e 4.200
kg/ha/ano em rea no manejada, que correspondeu a um aumento de produo de 100% em
relao rea no manejada. Essa variao de resultados deve-se provavelmente a grande
heterogeneidade dos aaizais nativos.

Tabela 26 Rendimento de aa fruto nas ilhas de Paquet e Ilha Grande, municpio de Belm
- PA
Tipo de rea de manejo Rendimento de aa fruto kg/ha/ano
Paquet Ilha Grande
Mais intensiva 0 12.320
Menos intensiva 9.660 9.660
Sem manejo 4.000 0
Legenda: 0 = ausncia.

poca de Produo

A produo de aa fruto, observada no perodo de agosto de 2003 a julho de 2004,
nas duas ilhas maior durante o vero, embora tenha produo o ano todo. Na ilha de
Paquet, 93% da produo distribui-se nos meses de agosto a dezembro e na Ilha Grande, no
mesmo perodo, representou 77% da produo. Dessa forma, na Ilha Grande, a produo
menos concentrada neste perodo e melhor distribuda durante o ano. O pico da produo nas
duas ilhas foi observado nos meses de setembro e outubro. Na Ilha Grande, um grupo de
cinco famlias, que representam 22% da amostra, apresentou um perodo de produo
diferente, com pico de maior produo nos meses de maio a setembro, representando 69% da
produo. Essa diferena poderia ser em razo de estarem localizadas em terreno de vrzea
baixa (Figura 13) em transio para o igap. Essa hiptese tem referncia tambm no estudo
de Hamp (1991), citado por Jardim (2000), em que o tipo de ambiente (vrzea baixa e alta)
influencia a produo de frutos.

Figura 13 - Distribuio da mdia mensal da produo total de aa fruto por famlia nas ilhas
de Paquet e Ilha Grande, municpio de Belm-PA

Legenda: VA = vrzea alta e VB = vrzea baixa.

A maior produo de aa fruto por famlia foi encontrada na Ilha Grande (Tabela
27), haja vista que nessa ilha, os ribeirinhos esto se dedicando mais ao manejo de aa,
realizando maior quantidade de horas de trabalho em roagem (4 horas de trabalho por
semana em Paquet e 6 horas na Ilha Grande) e raleando a mata com maior intensidade, sendo
observado menor nmero de rvore/ha (250 rvores/ha em Paquet e 200 rvores/ha na Ilha
Grande).

No perodo da maior produo, segundo relato dos ribeirinhos, um estipe produz
de trs a dez cachos e no perodo menor cai para dois a trs cachos.

0
500
1000
1500
2000
2500
3000
A

f
r
u
t
o

e
m

k
g

Paquet
Grande VA
Grande VB
Tabela 27 - Produo mdia anual de aa fruto em kg por famlia nas ilhas de Paquet e Ilha
Ilha Aa fruto
kg /ano/famlia
Mn. Mx. CV%
Paquet 6.455 952 13.860 67
Ilha Grande 10.096 1.960 19.964 60

Consumo

O aa fruto consumido pelos ribeirinhos nas duas ilhas na forma de uma bebida.
A qual preparada colocando-se os frutos em gua quente para amolecerem, depois so
batidos com gua em uma mquina manual, em sua grande maioria, ou eltrica, e ainda em
menor escala, com uma garrafa. extrada uma polpa grossa que servida normalmente sem
acar e com farinha, acompanhada de charque, peixe, camaro etc. Outra forma observada
roer os frutos, amolecidos em gua quente e consumidos com farinha. No perodo do inverno,
o consumo por famlia , em mdia, de 7 kg de aa fruto por dia ou a cada dois dias. A
proporo de aa fruto para litros de polpa de 15 kg para 6 a 8 litros. No vero, o consumo
por famlia sobe para 14 kg de aa fruto por dia, fazendo-se trs refeies dirias, o que faz
do aa o principal alimento consumido por esses ribeirinhos.

Pragas e Doenas

Na Ilha de Paquet, 80% dos aaizais esto sendo atacados por uma broca das
palmeiras. Essa praga provocada pela larva do besouro (Rhynchophorus palmarum) que se
alimenta do palmito de estipes jovens, provocando a sua morte. Segundo o relato de um
ribeirinho, o mesmo eliminou no ano de 2004, cerca de 300 estipes atacados.
Segundo Oliveira, Carvalho e Nascimento (2000), essa a principal praga do
aaizeiro e de outras palmeiras cultivadas como o coqueiro (Cocos nucifera) e o dendezeiro
(Elaeis guineensis).
Algumas aves como o papagaio, o sabi e o tucano se alimentam de aa fruto, mas
no chegam a afetar a produo.
At o momento, nenhuma doena foi verificada nos aaizeiros pelos ribeirinhos,
mas um fato que os preocupa a secagem e queda dos frutos que ocorrem sempre no perodo
do vero, mas que no ano de 2004 ocorreram em maior intensidade nas duas ilhas Por
enquanto, ainda no se conhece a causa. Para no perderem a produo, os ribeirinhos
colheram os frutos rapidamente, levaram ao porto uma quantidade maior do que normalmente
levam, e provocaram uma diminuio do preo.

Colheita

O fruto do aa quando est maduro, apresenta uma cor preta ou acinzentada,
denominado localmente de tuira. A colheita realizada subindo-se no estipe do aaizeiro
com o auxlio de uma peconha
12
(Figura 14) e corta-se o cacho com um terado. Algumas
vezes o coletor passa de um estipe para outro, sem descer ao solo.
A colheita de frutos, em estipe fino, ou muito alto e torto, realizada por crianas
ou adolescentes de pouco peso. Essa medida para evitar a quebra do aaizeiro durante a
colheita, pois muitos j se acidentaram caindo do aaizeiro.
O coletor desce com o cacho na mo para no derrubar os frutos. O cacho
debulhado em um pano, onde os frutos so selecionados e depositados em uma rasa
13
. Os
cachos aps a debulha so colocados em montes. Em alguns deles as rquis (ramo central do
cacho) so partidas ao meio. Os ribeirinhos acreditam que estas medidas produziro, no
futuro, cachos maiores. Essa medida pode ser explicada, pois os cachos ao serem amontoados,
passam por um processo de decomposio, tornando-se um adubo para o aaizeiro. Ao partir
ao meio as rquis, facilita-se a entrada de microorganismos, acelerando o processo de
decomposio.

12
Peconha: crculo formado por saco de aniagem, corda ou folha de aa, onde o ribeirinho coloca seus ps e os
prende no estipe do aaizeiro.
13
Rasa: paneiro confeccionado com fibras de duas espcies vegetais, o guarum (Ischnosiphon arouma (Aubl.)
Krn.) e a jacitara (Desmoncus sp.), com capacidade de duas latas de 15 litros. Pesa em mdia 28 kg de frutos de
aa e tem durabilidade mdia de um ano. Na Ilha Grande, duas famlias confeccionam e comercializam ao preo
de R$ 3,00 as rasas. Em Paquet, as rasas so compradas geralmente fora da ilha, pois h pouco guarum.
Figura 14 Colheita do aa, ilha de Paquet, municpio de Belm-PA

As mulheres normalmente fazem a debulha do aa e a seleo dos frutos, que so
postos na rasa. Frutos imaturos ou paral, como denominam os ribeirinhos, so aproveitados
para a alimentao de sunos.
At o ano de 2002, as famlias que tinham pouca mo-de-obra, realizavam a
colheita na meia, ou seja, a produo era dividida ao meio entre o coletor e o proprietrio do
aaizal. Atualmente, as famlias esto pagando em moeda ao coletor, que recebe entre R$ 2,00
a R$ 5,00 por cada rasa colhida, dependendo do preo no porto. Essa mudana deve-se ao
preo da rasa de aa fruto, que aumenta consideravelmente durante os meses de menor
produo, chegando ao preo de R$ 60,00 em julho de 2004. Desta forma, o coletor ganharia
R$ 30,00 por rasa se colhesse na meia.
Em cada ilha, encontrou-se uma famlia de mulheres vivas com falta de mo-de-
obra para a colheita, a qual era realizada por um filho casado que morava em outra casa e
dividia a produo ao meio com sua me.
A colheita era feita normalmente pela manh, pois o estipe fica muito quente pela
tarde e o coletor pode no suportar a temperatura do estipe devido ao contato com o corpo.
Quando a manh chuvosa no h colheita, pois o estipe fica muito liso, dificultando
subida.
Quando vo fazer a colheita, os ribeirinhos retiram os cachos que tm poucos
frutos (ainda imaturos), isso provoca o deslocamento de nutrientes para outros cachos que tm
maiores quantidades de frutos.

Comercializao

Os frutos, colhidos pela manh, foram vendidos normalmente pela manh do dia
seguinte ou, em menor quantidade, pela tarde do mesmo dia. Os ribeirinhos deslocam-se
ainda de madrugada, por volta de 4 horas da manh, pois os frutos se deterioram rapidamente
e os mais frescos tm melhor preo. Segundo os ribeirinhos, o aa fruto tem que ser
comercializado em no mximo 48 horas, informao tambm confirmada por Rogez (2000).
As pessoas e o aa so transportados em barcos motorizados de propriedade de
ribeirinhos das prprias ilhas. Na ilha de Paquet mais comum pagar a passagem da pessoa
no valor de R$ 1,00 e uma pequena contribuio para o combustvel da embarcao. Na Ilha
Grande paga-se a passagem no valor de R$ 1,00 e o frete da rasa por R$ 1,50.
Os ribeirinhos de Paquet comercializam seus produtos no porto localizado em
Icoaraci e os da Ilha Grande no Porto da Palha, localizado no final da Rua Padre Eutquio com
a Avenida Bernardo Sayo.
Ao chegar ao porto, as rasas so retiradas das embarcaes por carregadores, que
cobram R$ 0,50 por unidade, e so descobertas para exposio do produto. As de Paquet so
cobertas por sacos plsticos (sacos de acondicionar cebolas) e so reaproveitados. Outra
vantagem a maior rapidez para cobrir a rasa. As da Ilha Grande so cobertas com folhas de
aaizeiro e so jogadas no rio, em baixo do trapiche, causando assoreamento. Por esse motivo,
as embarcaes esto ficando ancoradas cada vez mais afastadas do porto, dificultando o
desembarque e embarque.
As rasas expostas servem para avaliao da qualidade do produto e so compradas
vista por dezenas de compradores: maquineiros (aqueles que tm a mquina de despolpar o
aa fruto) e atravessadores que revendem o produto para outros.
A maioria dos ribeirinhos no tem contratos de entrega com os compradores, pois
a variao do preo muito alta, alcanando at 100%. Em observao feita num nico dia do
ms de setembro de 2004, uma rasa foi comercializada por preo de R$ 10,00 (dez reais) a R$
20,00 (vinte reais). Essa alta variao dificulta o estabelecimento de um preo para contrato
de entrega do produto.
A variao do preo do aa determinada principalmente pela oferta e pela
procura ou, em outras palavras, pela quantidade de aa que h no porto e pela quantidade de
compradores. Outro fator que influencia o preo o tempo de ps-colheita, pois quanto mais
fresco for o aa fruto, maior seu preo. Por essa razo, o aa fruto produzido nas
proximidades de Belm tem maior preo. Um fator que tambm diferencia o preo o
rendimento de polpa. O preo do aa fruto produzido nas localidades prximas de Belm
maior do que o preo do aa fruto originado de Muan (Figura 15). Segundo os ribeirinhos,
isto se deve ao fato de que, o aa fruto produzido prximo de Belm tem maior rendimento
de polpa, em relao ao produzido em Muan.

O preo estabelecido diariamente nos portos repassado entre os ribeirinhos
atravs de uma rede de comunicao entre os que vo comercializar o produto e aqueles que
ficam nas ilhas.

Figura 15 - Evoluo do preo mensal do aa fruto em Belm no ano de 2003.

Fonte: SIMA (2004).
H venda durante toda a semana, mas no sbado que os ribeirinhos vo fazer a
feira, ou seja, comprar produtos no-produzidos no estabelecimento e tambm para conversar
e divertir-se com os amigos.

Subsistema de Manejo de Aaizais (Palmito)

Corte dos Estipes para Produo de Palmitos

O aaizeiro, alm do fruto, produz um palmito que comercializado e raramente
consumido pelos ribeirinhos.
A extrao do palmito realizada com o corte do aaizeiro a uma altura
aproximada de 40 cm do solo, utilizando-se o machado e com o auxlio de um terado (faco),
com o qual, corta-se o palmito. A extrao realizada no aaizal de cada famlia, mas na Ilha
Grande, trs famlias retiram palmito no igap, que uma rea coletiva da localidade, situada
no centro da ilha.
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
35,00
40,00
j
a
n

f
e
v

m
a
r

a
b
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m
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i
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P
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R
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2
8

k
g

meses
Localidades
Prximas de
Belm
Muan (Maraj)
H uma seleo de estipes para serem cortados para extrao de palmito. Cortam-
se os estipes adultos e jovens de acordo com alguns critrios (Quadro 02).

Quadro 02 - Critrios de seleo de estipes para extrao de palmito estabelecidos pelos
ribeirinhos das ilhas de Paquet e Ilha Grande, municpio de Belm-PA
Estipe adulto Estipe jovem
Estipe alto e torto Estipe fino
Estipe alto e fino Estipe que pode dificultar a subida em estipe
adulto para colher o fruto
Estipe macho (emitem cachos que no
produzem frutos)
Touceira com muitos estipes jovens

O palmito classificado pelas indstrias em trs categorias (Tabela 28), mas o
comumente mais vendido pelos ribeirinhos das ilhas de Paquet e Ilha Grande o palmito
classificado como de terceira categoria.

Tabela 28 - Medidas das categorias do dimetro do palmito comprado pelas indstrias no Par
Categoria Dimetro do palmito (cm)
1 > 3,0
2 2,5 3,0
3 < 2,5

Fonte: Brabo (1979), modificado pelo autor.

A prtica desenvolvida pelos ribeirinhos permite, previamente, distinguir a
classificao do palmito, fazendo uma relao com a circunferncia do estipe. Essa correlao
foi confirmada pelos trabalhos de Pollak, Matos e Uhl (1996), Bovi (2004) e Nogueira et al.
(2004).

Comercializao

O palmito comercializado nas ilhas para atravessadores que o repassam para as
indstrias de palmito localizadas em Belm. O preo do palmito estabelecido de acordo com
a categoria, variando de R$ 0,05 (cinco centavos de real) a R$ 0,80 (oitenta centavos de real)
a unidade (Tabela 29). Enquanto o aa fruto vendido vista, o pagamento do palmito
somente realizado quando a indstria paga ao atravessador, pois como comercializado
ilegalmente, o atravessador corre o risco de ter o produto apreendido pelo Instituto Brasileiro
de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis (Ibama).

Tabela 29 - Preo do palmito no ano de 2004, de acordo com as categorias, nas ilhas de
Categoria Preo unitrio R$
1 0,60 0,80
2 0,18 0,50
3 0,05 a 0,15

A dificuldade encontrada pelos ribeirinhos que o palmito de terceira categoria,
com medidas inferiores a 1,6 cm de dimetro, tem sua extrao proibida pela portaria do
Ibama de n 02 de 09 de janeiro de 1992 que exige um dimetro mnimo de 2 cm do palmito
na sua parte comestvel, com reduo de at 20% (o que equivale a 1,6 cm) e, para efeito de
manejo florestal, uma rotao mnima de 3 anos (IBAMA, 1992). Para atender a essa portaria,
os ribeirinhos teriam que aguardar por mais tempo o corte dos estipes para que os palmitos
alcancem a medida prevista na mesma. A ilegalidade prejudica tambm os ribeirinhos de
outra forma, pois os mesmos com receio de terem suas produes apreendidas
comercializaram os palmitos por preos mais baixos aos atravessadores.
A portaria do Ibama foi determinada para coibir derrubada indiscriminada de
aaizeiros pela indstria palmiteira, mas atinge os ribeirinhos, uma categoria de produtores de
palmito, que no foi levada em considerao, quando na sua elaborao e que no tem
nenhum interesse em fazer uma derrubada indiscriminada de estipe para extrao de palmito,
pois o manejo prioritrio para a produo de aa fruto, uma vez que apenas uma pequena
parte de palmitos so comercializados (Tabela 30). Por essa razo, essa portaria deveria ser
modificada para atender os ribeirinhos que realizam o manejo de aaizal orientado para a
produo de aa fruto.

Tabela 30 - Nmero mdio de extrao anual de palmito por famlia nas ilhas de Paquet e
Ilha N de palmitos
comercializados
(mdia anual)
Mn. Mx. CV%
Paquet 444 100 800 46,89
Ilha Grande 717 160 2.400 99,01

Apesar da pouca participao na renda familiar, o palmito tem sua importncia por
contribuir com a renda nos meses de janeiro a maro, perodo de pouca produo de aa e
pescado, considerado o mais difcil para os ribeirinhos. Portanto, para eles que extraem o
palmito anualmente e no o reservam para qualquer eventualidade, no deveria ser
considerado como uma poupana como citou Nogueira (1997).

Subsistema de Extrativismo da Caa

A caa pouco importante no sistema de produo nas duas ilhas. O principal
animal caado a mucura. Outros menos caados so: preguia, paca, tatu, capivara e jacar.
A mucura, a preguia, a paca e o tatu so encontrados no aaizal e na mata, enquanto que a
capivara e o jacar so encontrados nas margens dos rios e igaraps.

Subsistema de Criao de Aves

A criao de galinhas a mais importante nessas ilhas, seguida da criao de
patos. Estes, apesar de serem mais adaptados s condies de vrzea, so menos criados, pois
sua criao extensiva, assim, como a de galinhas, mas muitos se deslocam nadando nos
igaraps e so capturados por outras pessoas ou animais. As galinhas so destinadas
principalmente para o consumo. Os patos so comercializados principalmente no perodo do
Crio de Nazar, realizado no ms de outubro na cidade de Belm.
A principal limitao dessas criaes a dificuldade de produzir alimento como o
milho, devido s condies de encharcamento do solo e tambm a dificuldade de alojar os
animais durante a subida das mars. A alimentao dessas aves basicamente o milho, que
comprado na cidade, e complementada com resduo do aa fruto, beneficiado para o consumo
familiar, alm de pequenos insetos, minhocas e capim.
A maior parte das famlias cria aves, cerca de 70% (Tabela 31). A Ilha Grande
apresenta, em mdia, maior nmero de galinhas, por famlia, em razo de ter rea de vrzea
mais alta, que facilita a criao destas aves. As atividades dessa criao so realizadas pelas
mulheres e requer pouca mo-de-obra.

Tabela 31 - Nmero mdio de aves/famlia e percentual de famlias que criam aves na ilhas de
Ilha N mdio
de
aves/famlia
Mn. Mx. CV % Famlias que criam
aves (%)
Paquet 9 2 21 67,17 71
Ilha Grande 16 4 70 109,21 72

Subsistema de Criao de Sunos

A criao de sunos realizada extensivamente. Muitas vezes, os animais vo para
a mata, no retornam (arribam como dizem os ribeirinhos) e so capturados por outras
famlias. Esse o principal fator que leva a maioria dos ribeirinhos a desistir dessa criao. Os
animais, que vo para a mata e no retornam, so capturados com auxlio de cachorros como
se fossem caas.
Trata-se de uma criao de baixo custo, pois a alimentao quase na sua
totalidade obtida na prpria mata ou no aaizal. Os animais se alimentam de frutos de rvores,
que so preservadas no meio do aaizal como o murumuru (Astrocaryum murumuru),
jenipapo (Genipa americana), tapereb (Spondias mombin Urb.), caxinguba (Ficus maxima
Mill), matamat (Eschweilera spp.), atan (Parkia multijuga Benth.) e ing (Inga spp.), alm
de aa fruto e minhoca. Diariamente servido resduo de aa fruto beneficiado para o
consumo familiar. A complementao da alimentao com farelo de trigo realizada apenas
para as fmeas que esto em lactao.
A criao de sunos apresenta duas condies desfavorveis: dificulta a
propagao de plantio de aaizeiro atravs do semeio, uma vez que os animais se alimentam
dos frutos semeados e podem estar contribuindo para a transmisso de verminoses para as
pessoas, atravs do consumo de aa frutos, que caem no solo durante a colheita, e podem ser
contaminados pelas fezes dos sunos.
Essa criao utilizada para o consumo e comercializao, cujo preo varia entre
R$ 40 e R$ 60,00 a unidade. Os animais so mais consumidos durante o inverno, perodo de
menor renda das famlias. Os ribeirinhos tm a estratgia de castrar e comercializar os machos
e consumirem as fmeas, que so mais difceis de serem comercializadas. Os machos
castrados so consumidos pelos ribeirinhos em ocasies especiais, como casamentos,
aniversrios e festas religiosas.
A criao de sunos est mais presente na Ilha Grande, so 68% das famlias,
contra 39% das famlias de Paquet (Tabela 32). Talvez, isso seja em razo da Ilha Grande ter
lotes com maior rea, propiciando uma condio favorvel para a criao extensiva.

Tabela 32 - Nmero mdio de sunos por famlia e percentual de famlias que criam sunos
nas ilhas de Paquet e Ilha Grande, municpio de Belm-PA
Ilha N mdio de
sunos/famlia
Mn. Mx. CV% Famlias que
criam sunos (%)
Paquet 3 1 30 198,00 39
Ilha Grande 9 1 30 110,84 68

Subsistema de Extrativismo do Peixe

Os ribeirinhos da Ilha de Paquet, que tm acesso privilegiado rea de maior
concentrao de pescado, a baa do Guajar e do Maraj, pescam em embarcaes
motorizadas e em menor quantidade em barcos vela, utilizando-se a rede e espinhel
14
. A
tripulao composta, geralmente, por mais de duas pessoas e a pescaria pode durar de um
dia at duas semanas, armazenando-se o pescado no gelo. H casos em que o ribeirinho passa

14
Espinhel uma linha grossa em que so amarradas dezenas de anzis com iscas, que so colocados na gua e
algumas horas depois, so retirados.
at um ms pescando em embarcaes de maior porte de pescadores que moram fora da ilha.
Os ribeirinhos, que possuem canoas ou pequenos barcos, retornam diariamente da pescaria e
colocam o pescado no gelo em suas residncias, sendo vendido a cada trs dias a preo que
varia entre R$ 1,30 a R$ 3,00/kg.
Durante o vero, perodo em que a gua est mais salgada, o perodo de maior
ocorrncia de pescado.
Os ribeirinhos dedicam-se mais pesca no inverno, perodo de menor produo de
aa fruto, e no vero, dedicam-se pesca e ao aa fruto.
A pescaria realizada, principalmente, para a comercializao e o consumo. Em
mdia, os ribeirinhos de Paquet pescam, por famlia, 936 kg/ano de peixe.
Os ribeirinhos da Ilha Grande, que esto situados s margens do rio Guam e mais
distantes da baa do Guajar e do Maraj, tm menor acesso ao pescado. Nessa ilha, a pescaria
realizada com canoas, utilizando-se linhas. Outro tipo de pescaria realizada a represa em
alguns pontos nos igaraps, na qual retira-se a gua e capturam-se os peixes. Esse tipo de
pescaria denominado pelos ribeirinhos de gapuia.
Na Ilha Grande, os ribeirinhos pescam, em mdia, 87 kg/ano de peixe por famlia,
que so destinados basicamente para o consumo familiar (Tabela 33).

Tabela 33 - Produo mdia anual de peixe por famlia nas ilhas de Paquet e Ilha Grande,
municpio de Belm-PA
Ilha Peixe
kg/ano/famlia
Mn. Mx. CV%
Paquet 936 64 4.800 61
Ilha Grande 87 20 200 46

Subsistema de Extrativismo do Camaro

A captura de camaro regional de gua doce, o Macrobrachium amazonicum,
realizada com uma armadilha, um cilindro com duas aberturas que vo afunilando para o seu
interior, confeccionado artesanalmente por fibras de jupati (Raphia taedigera Mart.),
denominada de matapi. No seu interior, colocada uma isca, que recebe o nome de puqueca,
contendo farelo de babau (Orbignya pharelata), o qual enrolado por folha de guarum
(Ischnosiphon arouma (Aubl.) Krn.). O farelo de babau comprado na cidade de Belm por
R$ 0,60/kg, visto que o babau no uma planta encontrada nessas ilhas.
Os matapis so colocados durante a noite e coletados pela manh do dia seguinte,
nas mars de guas mortas. Nas mars de guas vivas, os matapis so retirados, pois a fora
das mars pode destru-los. Os camares, capturados diariamente, so transferidos para
viveiros, confeccionados tambm de fibras vegetais e so colocados no rio para manterem os
camares vivos, por no mximo uma semana, at serem comercializados por preo de R$ 1,00
a R$ 2,00/kg. Maio e junho so os meses de maior captura. Trata-se do perodo de maior
reproduo dessa espcie.
Em Paquet, o camaro destinado para a comercializao e o consumo. Esse
recurso mais abundante em Paquet do que na Ilha Grande, talvez por ser Paquet uma ilha
com maior ocorrncia de mangue, uma vegetao muito importante para a alimentao e
reproduo de crustceos (BARBIERI; TOMASINO 1998; MENEZES; PEIXOTO, 2000).
Nessa ilha so capturados, em mdia, 255 kg/ano de camaro por famlia e na Ilha Grande,
apenas 79 kg/ano por famlia (Tabela 34).
Essa tarefa realizada por homens, mulheres ou crianas, pois exige pouca fora
fsica, porm em algumas famlias, ela realizada exclusivamente por mulheres.

Tabela 34 - Produo mdia anual de camaro por famlia nas ilhas de Paquet e Ilha Grande,
municpio de Belm-PA
Ilha Camaro
kg /ano/famlia
Mn. Mx. CV%
Paquet 345 120 750 25
Ilha Grande 94 24 180 27

Subsistema de Cultivo e Extrativismo de Frutferas

As frutferas esto plantadas prximas s habitaes. A mais importante delas,
para a renda familiar na Ilha Grande, o cacau, que apresentou mdia de 261 plantas por
famlia, mas oito famlias tiveram em mdia 575 plantas e comercializaram, em mdia, 357 kg
de semente/ano, obtendo renda de R$ 771,00. Resultando um rendimento de 0,62 kg/planta. O
espaamento utilizado fica em torno de 4 m entre plantas, consorciado com algumas plantas
de aaizeiros utilizadas como sombreamento. Aps a colheita dos frutos, as sementes so
depositadas em lonas plsticas e secas ao sol. As sementes so comercializadas verdes a R$
1,20/kg e secas por R$ 4,00/kg. Seu preo no considerado satisfatrio pelas famlias, por
isso nem toda a produo colhida.
Outra frutfera que tem um bom mercado e adaptada as condies de vrzea o
cupuau, porm pouco cultivado. Uma famlia da Ilha Grande, que tem 50 plantas, obteve
uma produo de 1.000 frutos por ano, propiciando uma renda anual de R$ 500,00.
O fruto do taperebazeiro, nativo na mata das duas ilhas, foi comercializado em
pequena escala. O baixo preo (R$ 0,30/kg) no tem incentivado sua comercializao.
Em mdia, foram observadas 21 plantas por famlia em Paquet e 369 plantas na
Ilha Grande (Tabela 35), onde tem maior poro de vrzea alta, que mais favorvel ao
cultivo dessas frutferas.
As frutas mais comuns encontradas na ilha de Paquet so: cacau, jambo e manga.
Na Ilha Grande, as mais importantes so: cacau, cupuau e birib.

Tabela 35 - Nmero mdio de frutferas por famlia de ribeirinhos das ilhas de Paquet e Ilha
Nome
Popular
Espcie Nmero Mdio/Famlia
Paquet Ilha Grande
Cacau Thebroma cacao 8 261
Cupuau Theobroma grandiflorum 3 28
Birib Rollinia mucosa 0 26
Banana Musa spp 3 16
Pupunha Bactris gasipaes 0 12
Limo Citrus limonia 2 6
Manga Mangifera indica 4 5
Coco Cocos nucifera 1 5
Jambo Eugenia malaccensis 4 3
Goiaba Psidium guayava 0 3
Caju Anacardium ocidentale 0 3
Ajuru Chysobalanus icaco 0 1
Total 29 369

Subsistema de Extrativismo da Mata

Esse subsistema compreende a mata, de onde se extrai madeira para uso de
construo de habitaes, embarcaes e abrigo para criaes de animais. Serve tambm para
comercializao da madeira, mas neste perodo esta prtica foi raramente utilizada. utilizada
como abrigo e fonte de alimentao para animais silvestres e sunos. Os ribeirinhos ainda
utilizam a mata para obteno de frutas e remdios.

Tipologia do Sistema de Manejo de Aaizais Nativos

Os diferentes tipos de manejo de aaizais foram estabelecidos de acordo com o
mtodo descrito por Obano e Mora (1992), Filho (1999) e Grossmann et al (2004), fazendo-se
o cruzamento de alguns indicadores econmicos e ambientais como: o nmero de essncias
florestais/ha, a intensidade de mo-de-obra aplicada na roagem do aaizal, a composio da
renda familiar, o rendimento de aa fruto e o consrcio do aaizeiro com o cacaueiro.
Tipo Intensivo

aquele que est intensificando o uso da mo-de-obra na roagem do aaizal e
vive basicamente do aa fruto. O aa fruto a sua principal fonte de renda, contribuindo
com mais de 60%. Faz as seguintes prticas de manejo: enriquecimento com aaizeiro
(semeio e mudas), roagem (em mutiro), desbaste dos estipes e raleamento da mata. Tem
rendimento de aa fruto estimado em 12.320 kg/ha/ano. O aaizal contm, em mdia, 200
essncias florestais/ha e apresenta um ambiente de boa entrada de luz solar, provocada pelo
raleamento da mata e pela roagem do sub-bosque (Figura 16).

Figura 16 Aaizal do tipo intensivo, Ilha Grande, municpio de Belm-PA

Esse tipo est intensificando o uso de mo-de-obra, na roagem do aaizal, para
aumentar a produo de aa fruto. Realiza esse trabalho em regime de mutiro, iniciado h
seis anos, no qual trabalham, no mximo, dez pessoas por grupo. No dia do mutiro, sempre
realizado em um dia por semana, anotada a freqncia de seus membros por uma pessoa
eleita, denominada de presidente. Quando uma pessoa falta um dia no mutiro, o trabalho no
seu lote ser realizado por ltimo. Para iniciar o trabalho no ano, normalmente no ms de
julho, aps o perodo mais chuvoso, eles sorteiam o lote no qual deve iniciar a roagem. Caso
uma pessoa decida entrar no mutiro, aps seu incio, o trabalho no seu lote ser por ltimo. O
trabalho dura de 8 at s 14 horas e cada pessoa leva a sua alimentao. Dessa forma, eles
esto dedicando seis horas de trabalho semanal nesta atividade, nos meses de julho a
dezembro.
O mutiro ao envolver o grupo social, fortalece os laos de solidariedade entre os
ribeirinhos, propiciando uma coeso social muito forte. Analisando-se sobre o aspecto do
rendimento do trabalho, o trabalho em mutiro tem melhor resultado. O rendimento do
trabalho de duas pessoas realizado separadamente inferior se realizado por duas pessoas
trabalhando juntas. Ao estarem trabalhando em grupo e conversando ao mesmo tempo,
diminui o desestmulo quando estiverem cansados.
Este tipo tem renda anual concentrada principalmente nos meses do vero, perodo
de maior produo de aa fruto (Tabela 36). No inverno, perodo de menor renda familiar,
consome e comercializa os animais (sunos e galinhas) em maior quantidade, comercializa o
palmito, a semente de cacau e pescam com mais freqncia. As atividades extralotes e os
benefcios sociais, ainda que pequenos, tm uma importante contribuio na renda nesse
perodo do ano.
Em sntese, este tipo apresenta uma estratgia de aumentar a renda familiar,
principalmente, a partir do aumento da produo de aa fruto, por isso esto intensificando
mais mo-de-obra na roagem do aaizal e fazendo um razovel raleamento da mata, pois tem
limitao na renda com outros subsistemas, principalmente com o peixe e camaro e no tem
outras fontes de renda satisfatria.

Tabela 36 Distribuio mensal dos componentes da renda dos ribeirinhos do tipo intensivo,
Itens Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.
Aa fruto - - - - - - + +++ +++ +++ +++ ++
palmito - - - - - 0 0 0 0 0 0 0
Camaro - - - + + + + - - - - -
Cacau + + + - - - - 0 0 0 0 0
Peixe + + + + + + - - - - - -
Animais + + + + + - - - - - - -
Extralote - - - - - - - - - - - -
Benefcio - - - - - - - - - - - -
Outras
rendas
- - - - - - - - - - - -
Legenda: benefcio = aposentadorias, bolsa escola e bolsa famlia; animais = sunos, galinhas e patos; extralote =
atividades assalariadas (frete de barco, agente de sade, professor, merendeira etc.); outras rendas = madeira,
frutas (jambo, cupuau e graviola), confeco de rasa e comrcio de compra e venda de semente de cacau; 0 =
ausncia; - menor quantidade; + maior quantidade.

O sistema de manejo intensivo encontra-se apenas na Ilha Grande e representa 17
famlias (77%). dividido em dois subtipos: o subtipo intensivo com extralote e o subtipo
intensivo com cacau.

Subtipo Intensivo com Extralote

Este o principal subtipo, representando 14 (63%) famlias da Ilha Grande. Possui,
em mdia, apenas 52 ps de cacau. O aa fruto contribui com 67,48% da renda bruta anual,
que , em mdia, de R$ 8.372,20 por famlia (Tabela 37). A atividade extralote participa com
12,35% da renda, mas no requer muita mo-de-obra. O peixe e o camaro so destinados
basicamente para o consumo familiar.

Tabela 37 Composio mdia anual da renda bruta do tipo intensivo extralote na Ilha
Itens Unidade Quantidade Valor R$ % Renda
Unitrio Total
Aa fruto Kg 9.740 0,58 5.649,20 67,48
Palmito cabea 258 0,45 116,10 1,39
Camaro l 78 2,00 156,00 1,86
Cacau Kg 65 1,20 78,00 0,93
Peixe Kg 118 1,20 141,60 1,69
Animais 329,50 3,94
Extralote 1.034,00 12,35
Benefcios 512,50 6,12
Outras rendas 355,00 4,24
Total 8.372,20 100,00
Legenda: benefcios = aposentadorias, bolsa escola e bolsa famlia; animais = sunos, galinhas e patos; extralote
= atividades assalariadas (frete de barco, agente de sade, professor, merendeira, roagem de aaizal etc.); outras
rendas = madeira, frutas (jambo, cupuau e graviola), confeco de rasa e comrcio de compra e venda de
semente de cacau.

Subtipo Intensivo com Cacau

Este subtipo representa trs famlias (14%), foi observado apenas na Ilha Grande.
O aaizal apresenta, no geral, as mesmas caractersticas, diferenciando-se por apresentar parte
dele, uma rea com consrcio de aaizeiro com o cacaueiro (Figura 17), com mdia de 785
ps de cacau por famlia, que chega a participar com 14,91% da renda bruta anual, que , em
mdia, de R$ 10.797,30 por famlia (Tabela 38). O aa fruto a principal fonte de renda e
participa com 65,86%.
Na rea em que se encontra o consrcio de aaizeiro com o cacaueiro, os
ribeirinhos diminuem a concentrao de aaizeiro para reduzir a concorrncia por nutrientes e
permitir uma pequena entrada de luz para o cacaueiro. Como o preo do cacau no est sendo
compensatrio, o mesmo no est sendo bem manejado pelos ribeirinhos, mas uma melhoria
do preo pode transformar este subtipo em um tipo.

Figura 17 Aaizal do subtipo intensivo com cacau, Ilha Grande, municpio de Belm-PA

Tabela 38 Composio mdia anual da renda bruta do subtipo intensivo com cacau na Ilha
Unitrio Total
Aa fruto Kg 12.260 0,58 7.110,80 65,86
Palmito cabea 400 0,20 80,00 0,74
Camaro l 192 2,00 384,00 3,56
Cacau Kg 1.238 1,30 1.610,00 14,91
Peixe Kg 325 1,30 422,50 3,91
Animais 440,00 4,08
Extralote 200,00 1,85
Outras rendas 460,00 4,26
Total 10.797,30 100,00
semente de cacau.

Tipo Moderado
aquele que aplica pouca mo-de-obra na roagem do aaizal e tem outras
importantes fontes de renda. Completa sua renda, alm do aa fruto que representa no
mximo 40,75%, com peixe e camaro, trabalho assalariado ou recebimento de benefcios
sociais (aposentadoria). Faz as seguintes prticas de manejo: enriquecimento com aaizeiro
(semeio e mudas), roagem (individual ou de forma contratada), desbaste dos estipes e
raleamento da mata. Tem rendimento de aa fruto estimado em 9.660 kg/ha/ano. O aaizal
contm em mdia 250 essncias florestais/ha e apresenta um ambiente de razovel entrada de
luz solar, provocada pelo pouco raleamento da mata e pela pouca roagem do sub-bosque.
Em sntese, este tipo apresenta uma estratgia de aplicar menos mo-de-obra,
obtendo uma menor produo de aa fruto, em razo de trabalhar com outras atividades que
propiciam renda complementar, ou at maior que a renda com o aa fruto, ou porque tem
limitao de mo-de-obra.
Para reduzir a necessidade de fazer roagens, o ribeirinho deixa o aaizal com
maior quantidade de sombra (Figura 18). Com isso, evita o crescimento de plantas do sub-
bosque, estratgia tambm identificada por Anderson et al. (1985), mas que em contrapartida
reduz a produo de aa fruto.
O sistema de manejo moderado encontra-se principalmente em Paquet,
representando 31 (97%) famlias. Na Ilha Grande representa cinco famlias (23%). dividido
em trs subtipos: o subtipo moderado com peixe e camaro, o subtipo moderado com
extralote e o subtipo moderado com cacau.

Figura 18 Aaizal do tipo moderado na ilha de Paquet, municpio de Belm-PA

Subtipo Moderado com Peixe e Camaro
Esse subtipo representa 31 (97%) famlias da Ilha de Paquet, tornando-se o
principal subtipo dessa ilha. Possui, em mdia, apenas oito ps de cacau por famlia. Contm
300 essncias florestais por hectare. O aa fruto participa com menos de 40,75% da renda
bruta anual que de R$ 8.392,28 por famlia (Tabela 39). A complementao da renda
realizada, principalmente, com peixe e camaro. Somados, eles contribuem com 34,39%, que
so destinados para a comercializao e o consumo. Os benefcios complementam a renda
para aqueles que tm limitaes de mo-de-obra.
Em mdia, trabalham 4 horas por semana nos meses de vero para roar o aaizal.
Alguns realizam a roagem, abrindo apenas caminho, para realizar a colheita do aa fruto.
A estratgia deste subtipo de complementar a renda familiar com o peixe e o
camaro, por essa razo, est aplicando menos mo-de-obra na roagem do aaizal e fazendo
pouco raleamento da mata.

Tabela 39 Composio mdia anual da renda bruta do subtipo moderado com peixe e
camaro na ilha de Paquet, municpio de Belm-PA
Unitrio Total
Aa fruto Kg 5.897 0,58 3.420,26 40,75
Palmito cabea 311 0,25 77,75 0,93
Camaro l 273 2,00 546,00 6,51
Peixe Kg 936 2,50 2.340,00 27,88
Animais 150,00 1,79
Benefcios 1.290,19 15,37
Total 8.392,28 100,00
semente de cacau.

Esse tipo tem uma renda anual concentrada principalmente nos meses do vero
(Tabela 40), perodo de maior produo de aa fruto e pescado. No inverno, perodo de
menor renda familiar, consome e comercializa os animais (sunos e galinhas) em maior
quantidade e comercializa o palmito. Os benefcios sociais e a pesca tm uma grande
contribuio na renda neste perodo do ano.

Tabela 40 Distribuio mensal dos componentes da renda dos ribeirinhos do subtipo
moderado com peixe e camaro na ilha de Paquet, municpio de Belm-PA
Aa fruto - - - - - - + +++ +++ +++ +++ +
Palmito - - - - - 0 0 0 0 0 0 0
Camaro - - - ++ ++ ++ ++ - - - - -
Cacau 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Peixe + + + + + + ++ ++ ++ ++ ++ ++
Animais + + + + + - - - - - - -
Extralote - - - - - - - - - - - -
Benefcio + + + + + + + + + + + +
semente de cacau; 0 = ausncia; - menor quantidade; + maior quantidade.

Subtipo Moderado com Extralote

Esse subtipo encontra-se apenas na Ilha Grande, representa apenas 3 famlias
(14%). No aaizal encontram-se 300 rvores/ha de essncias florestais. Contm, em mdia,
160 ps de cacau por famlia. O peixe apenas para o consumo familiar, pois est situado em
rea de pouco recurso pesqueiro. A atividade extralote com trabalho assalariado sua maior
fonte de renda que correspondem a 58,47% da renda bruta anual por famlia, que , em mdia,
de R$ 15.119,24 (Tabela 41). So realizadas as seguintes atividades: frete de barco para o
transporte escolar, servio de roagens de aaizal, colheita de aa fruto, carpintaria naval,
estiva e de professor. Duas dessas famlias pagam para roar o aaizal e aplicam por ano 4
homens/dia nesta atividade.
moderado com extralote na ilha de Paquet, municpio de Belm-PA
Unitrio Total
Aa fruto Kg 9.248 0,58 5.363,84 35,48
Palmito cabea 1.120 0,25 280,00 1,85
Camaro l 24 2,00 48,00 0,32
Cacau Kg 207 1,20 248,40 1,64
Peixe Kg 20 1,20 24,00 0,16
Animais 90,00 0,6
Extralote 8.840,00 58,47
Total 15.119,24 100,00
semente de cacau.

A estratgia desse subtipo dedicar a maior parte de sua mo-de-obra para as
atividades extralotes, que representam a maior parte na renda familiar, por isso realiza o
manejo de aaizal com menor intensidade, tendo o aa fruto como complemento da renda.
Esse subtipo tem uma renda anual melhor distribuda durante o ano, pois o seu
maior componente, a atividade extralote, ocorre durante todo os meses (Tabela 42). No
inverno, perodo em que a renda um pouco menor, consome e comercializa os animais
(sunos e galinhas) em maior quantidade, comercializa o palmito, a semente de cacau e pratica
a pesca em pouqussima quantidade.

moderado com extralote na Ilha Grande, municpio de Belm-PA
Aa fruto - - - - - - + +++ +++ +++ +++ ++
Palmito - - - - - 0 0 0 0 0 0 0
Camaro - - - + + + + - - - - -
Cacau + + + - - - - 0 0 0 0 0
Peixe + + + + + + - - - - - -
Animais + + + + + - - - - - - -
Extralote +++ +++ +++ +++ +++ +++ +++ +++ +++ +++ +++ +++
Benefcio - - - - - - - - - - - -

Subtipo Moderado com Cacau

O subtipo moderado com cacau representa duas famlias da Ilha Grande (9%). No
aaizal encontram-se 250 rvores/ha de essncias florestais. Possui, em uma parte do aaizal,
um consrcio de aaizeiro e cacaueiro com mais de 750 ps de cacau, que chega a participar
com 4% da renda bruta anual cujo valor , em mdia, de R$ 10.298,10 por famlia (Tabela
43). Recebe benefcio social (aposentadoria), que contribui com 41,95% da renda bruta anual,
sendo o mais importante componente da renda. A pesca realizada apenas para o consumo.
Este subtipo aplica pouca mo-de-obra para roar o aaizal, em torno de 6
homens/dia/ano, em razo de serem idosos e tem pouca mo-de-obra disponvel.
Sua renda anual melhor distribuda durante o ano, pois o seu maior componente,
o benefcio social, ocorre durante todo os meses (Tabela 44). No inverno, perodo de renda
um pouco menor, consome e comercializa os animais (sunos e galinhas) em maior
quantidade, comercializa o palmito, a semente de cacau e pratica a pesca em maior
intensidade, porm consegue pouca produo.

Tabela 43 - Composio mdia anual da renda bruta do subtipo moderado com cacau na Ilha
Unitrio Total
Aa fruto Kg 7.070 0,58 4.100,60 39,82
Palmito Cabea 350 0,20 70,00 0,68
Camaro L 120 2,00 240,00 2,33
Cacau Kg 337 1,30 438,10 4,25
Peixe Kg 48 1,30 62,40 0,61
Animais 692,00 6,72
Benefcios 4.320,00 41,95
Total 10.298,10 100,00
semente de cacau.

moderado com cacau na Ilha Grande, municpio de Belm-PA
Aa fruto - - - - - - + +++ +++ +++ +++ +
Palmito - - - - - 0 0 0 0 0 0 0
Camaro - - - + + + + - - - - -
Cacau + + + - - - - 0 0 0 0 0
Peixe + + + + + + - - - - - -
Animais + + + + + - - - - - - -
Extralote - - - - - - - - - - - -
Benefcio +++ +++ +++ +++ +++ +++ +++ +++ +++ +++ +++ +++

Tipo Sem Manejo

aquele que faz apenas a colheita do aa fruto e vive basicamente da atividade
extralote. Compra o aa fruto de outros ribeirinhos, beneficia o fruto e comercializa a polpa,
que contribui com 81,57% da renda familiar (Tabela 45). O aa fruto, produzido no lote,
participa com apenas 8,91% da renda. Tem rendimento de aa fruto estimado em 4.000
kg/ha/ano. O aaizal contm em mdia 350 essncias florestais/ha, bastante sombreado,
apresentando aaizeiros altos e finos, pois no faz manejo. Contm apenas cinco cacaueiros.
Essa famlia apesar de ter acesso a recurso pesqueiro, no pratica a pesca. Captura
o camaro, pois exige pouca mo-de-obra.
H quatro anos, a famlia decidiu trabalhar com uma mquina eltrica de despolpar
aa fruto na Ilha de Cotijuba, que est localizada ao lado de Paquet. Para obter matria-
prima durante todo o ano, alm da produo de seu lote, o aa fruto comprado de outros
ribeirinhos de Paquet e tambm no Porto de Icoaraci. O trabalho com o beneficiamento do
aa fruto para produo de polpa menos penoso e permite obter renda satisfatria para a
famlia.

Tabela 45 - Composio mdia anual da renda bruta do tipo sem manejo na ilha de Paquet,
municpio de Belm-PA
Unitrio Total
Aa fruto Kg 1.173 0,58 680,34 8,91
Camaro L 240 2,00 480,00 6,28
Animais 240,00 3,14
Extralote 6.240,00 81,67
Total 7.640,34 100,00
semente de cacau.

Esse tipo tem uma renda anual melhor distribuda durante o ano, pois o seu maior
componente, a atividade extralote, ocorre em todos os meses (Tabela 46). No inverno, perodo
de renda um pouco menor, consome e comercializa os animais (sunos e galinhas) em maior
quantidade e captura o camaro.

Tabela 46 Distribuio mensal dos componentes da renda dos ribeirinhos do tipo sem
manejo na ilha de Paquet, municpio de Belm-PA
Aa fruto - - - - - - + ++ ++ ++ ++ -
Camaro - - - ++ ++ ++ ++ - - - - -
Animais + + + + + - - - - - - -
Extralote +++ +++ +++ +++ +++ +++ +++ +++ +++ +++ +++ +++

Este tipo no representativo em nenhuma das duas ilhas, sendo encontrado
apenas na ilha de Paquet e representa simplesmente uma famlia (3%).
Comparando-se os trs tipos de manejo, o tipo intensivo apresenta o menor
nmero de essncias florestais 200 rvores/ha, aplica mais mo-de-obra na roagem do
aaizal 18 homens/dia/ano, o aa fruto apresenta-se com maior percentual (66.67%) na renda
familiar e com maior rendimento 12.320 kg/ha/ano (Tabela 47).
O tipo sem manejo apresenta a menor renda (R$ 7.640,34) (Tabela 48). O tipo
moderado apresenta uma renda maior (R$ 11.269,87), mas no superior a 15% ao tipo
intensivo. A pouca presena de peixe e camaro no tipo intensivo compensado pelo aumento
da produo de aa fruto. O subtipo moderado extralote, que tem trabalho assalariado, foi o
que apresentou a maior renda (R$ 15.119,24). Com essa exceo, a renda entre os tipos foi
semelhante.

Em relao renda com aa fruto, o tipo intensivo tem, em mdia, uma renda
maior (R$ 6.380,00), em razo de ter maior rendimento de aa fruto (12.320 kg/ha/ano) e
maior rea de aaizeiro (0,5 1,5 ha). A maior renda com aa fruto foi verificada no subtipo
intensivo com cacau (R$ 10.797,30). So famlias antigas no lote (30 anos de ocupao) e tem
maior rea de aaizal (1,0 - 1,5 ha). O tipo sem manejo tem menor renda (R$ 680,34), pois
tem menor rea (0,5 ha) e tem menor rendimento (4.000 kg/ha/ano), visto que no faz manejo.

Tabela 47 Sntese comparativa dos tipos de manejo de aaizal nativo realizado pelos
ribeirinhos das ilhas de Paquet e Ilha Grande, municpio de Belm-PA
Manejo N de
essncias
florestais/ha
Mo-de-obra
p/ roagem no
aaizal em
h/d/ano
Participao
dos principais
componentes na
renda familiar
Rendimento
de aa fruto
em
kg/ha/ano
N de
ps de
cacau
Tipo intensivo
200

18
aa fruto = 66,67%
12.320

Subtipo
intensivo
extralote

200

18
aa fruto = 67,48%
extralote = 12,35%

52
Subtipo
intensivo com
cacau

200

18
aa fruto = 65,86%
cacau = 14,91%

785
Tipo moderado
250

7
aa fruto = 38,68%
9.660

Subtipo
moderado com
peixe e camaro

250

12

aa fruto = 40,75%
peixe = 27,88%

8
Subtipo
moderado
extralote

300

4
aa fruto = 35,48%
extralote = 58,47%

160
Subtipo
moderado com
cacau

250

6
aa fruto = 39,82%
benefcio = 41,95%

750
Tipo sem
manejo

350

0
aa fruto = 8,91%
extralote = 81,67%

4.000

5
Legenda: h/d/ano = homem/dia/ano, benefcios sociais = aposentadorias, bolsa escola e bolsa famlia; extralote =
atividades assalariadas (frete de barco, agente de sade, professor, merendeira, roagem de aaizal etc.).

Tabela 48 Sntese comparativa da renda bruta anual dos tipos de manejo nativo realizado
pelos ribeirinhos das ilhas de Paquet e Ilha Grande, municpio de Belm-PA
Tipo Ilha Renda
bruta
mdia
anual R$
Renda bruta
mdia anual
com aa
fruto R$
Rendimento
aa fruto
kg/ha/ano
rea com
aaizeiro
em ha
Intensivo Ilha Grande 9.584,75 6.380,00 12.320 0,5 1,5
Subtipo intensivo extralote Ilha Grande 8.372,20 5.649,20 0,5 1,0
Subtipo intensivo com cacau Ilha Grande 10.797,30 7.111,80 1,0 1,5
Moderado Ilha Grande
e Paquet
11.269,87 4.294,49 9.660 0,5 1,0
Subtipo moderado com peixe
e camaro
Paquet 8.392,28 3.420,26 0,5 1,0
Subtipo moderado extralote Ilha Grande 15.119,24 5.363,84 1,0
Subtipo moderado com cacau Ilha Grande 10.298,10 4.100,60 0,5 - 1,0
Sem manejo Paquet 7.640,34 680,34 4.000 0,5

CONSIDERAOES FINAIS

O aaizeiro economicamente um dos mais importantes recursos naturais do
esturio amaznico (LIMA, 1956; CALZAVARA, 1972; SILVA; ALMEIDA, 2004). Tem
uma significativa contribuio na economia do estado do Par, com seus dois produtos: o
palmito e o fruto (IBGE, 2002). O aa (fruto) um produto que faz parte da cultura do povo
paraense, principalmente na alimentao.
Nos ltimos anos, o aa deixou de ser consumido na Amaznia, para ganhar
outros mercados no Brasil e no exterior (ENRQUEZ; SILVA; CABRAL, 2003). A elevao
da demanda por frutos tem provocado uma alterao no sistema de manejo dos aaizais
praticados por ribeirinhos, que esto situados prximos aos centros consumidores de aa.
Esse sistema, na dcada de 70, era direcionado principalmente para a explorao do palmito.
Atualmente, estes ribeirinhos esto manejando os aaizais para a produo de frutos para a
comercializao e o consumo, atribuindo ao palmito um complemento da renda.
Pesquisas tm comprovado o efeito do manejo no aumento da produo de frutos
(JARDIM; ANDERSON, 1987; HAMP, 1991 citado por NOGUEIRA, 1997; NOGUEIRA,
1997), contribuindo na elaborao de propostas de manejo que esto sendo difundidas por
rgos de desenvolvimento.
Os ribeirinhos das ilhas de Paquet e Ilha Grande realizam as seguintes formas de
manejo de aaizal com objetivo de aumentar a produo e a produtividade de aa fruto:
enriquecimento com semeio e mudas de aaizeiro, desbaste dos estipes, roagem e raleamento
da mata.
Os tipos de manejos realizados pelos ribeirinhos foram classificados em trs:
intensivo, moderado e sem manejo.
A estratgia de quem realiza o manejo intensivo de aumentar a renda familiar,
principalmente, com o aumento da produo de aa fruto, pois as outras fontes de renda
apresentam limitaes como no caso da Ilha Grande, em que no h peixe e camaro em
abundncia. No manejo moderado utilizada pouca mo-de-obra no manejo do aaizal, pois
so aproveitadas outras fontes, que complementam a renda, alm do aa fruto, como a pesca
do peixe e da captura do camaro, ambos abundantes em Paquet, e rendas maiores como o
trabalho extralote assalariado e benefcio social (aposentadoria), estes dois ltimos, presentes
na Ilha Grande. No tipo sem manejo realizada no aaizal apenas a colheita do aa fruto,
tendo como principal fonte de renda a atividade extralote (compra de aa fruto de outros
ribeirinhos, beneficia e comercializa a polpa).
Levando-se em considerao que esses ribeirinhos realizam diferentes tipos de
manejo de aaizal, resultado tambm encontrado por Grossmann et al. (2004), as propostas
genricas de manejo, oriundas das agncias de desenvolvimento, dificilmente sero
incorporadas pela maioria dos ribeirinhos, pois os mesmos tm diferentes estratgias.
Conforme Man Yu e Sereia citado por Vilar et al. (2001), as propostas para terem maiores
xitos, deveriam ser adequadas para cada tipo. Segundo Filho (1999, p. 51), [...] um
agricultor s implementa um determinado sistema produtivo se ele corresponder ao seu
interesse ou s suas estratgias.
Um ponto importante a ser levado em considerao para os ribeirinhos que ainda
esto praticando o extrativismo do aa de mudarem para um sistema de manejo, que requer
maior intensidade de mo-de-obra, a garantia de estabilidade nas terras ocupadas,
considerao tambm compartilhada por Castro (2000) e Grossmann et al. (2004). Os
ribeirinhos decidem em investir seus recursos quando tm garantia de permanecerem em seus
lotes. Outro fator necessrio a quantidade de mo-de-obra familiar disponvel, a ser aplicada
no aaizal. Por ltimo, o ribeirinho decidir em aumentar cada vez mais a sua renda com o
aa fruto, se a renda total no for satisfatria para atender as necessidades da famlia e as
outras atividades apresentarem limitaes.

O atual sistema de manejo desenvolvido pelos ribeirinhos mantm uma
considervel diversidade nos aaizais, mas a possvel intensificao do manejo para aumentar
a produo de frutos, poder levar a sua reduo e se transformar em um monocultivo de
aaizeiro. Concordando com Lopes (2003), o desequilbrio ecolgico poder advir como o
aumento de pragas e doenas e uma possvel reduo da produtividade, pois poder reduzir a
reciclagem de nutrientes. Uma das alternativas para se ter um sistema mais equilibrado seria a
valorizao de outros produtos como a andiroba, o tapereb e o consrcio com o cacaueiro,
como exemplo, ou valorizar outros subsistemas de produo, at porque, o aa no ainda
um produto consolidado no mercado externo (GUIMARES et al., 2004) e caso no seja,
poder causar uma diminuio do seu preo no mercado local e afetar consideravelmente a
renda dos ribeirinhos, que um dos seus mais importantes componentes.

Para concluir. O manejo de aaizais nativos, praticado por esses ribeirinhos,
passou por trs fases: o extrativismo de coleta de aa frutos para consumo familiar; a
extrao de palmito para a comercializao e o manejo de aa fruto para comercializao e
consumo familiar.

As alteraes ocorridas no sistema de manejo, para aumentar a produo de aa
fruto, foram provocadas pelo mercado e para atender o consumo familiar.

Os fatores que determinam a intensidade de mo-de-obra, a ser aplicada pelos
ribeirinhos no aaizal, para aumentar a produo de aa fruto so: a estabilidade na terra
ocupada, a quantidade de mo-de-obra familiar disponvel e as limitaes de renda das outras
atividades.
Para aumentar o rendimento de aa fruto, os ribeirinhos esto enriquecendo os
aaizais atravs do semeio e de transplantes de mudas de aaizeiro, raleando a mata, fazendo
o desbaste dos estipes e intensificando a mo-de-obra na roagem.
Considerando que o tipo intensivo est em uma estratgia de intensificao de
mo-de-obra, as propostas de manejo de aaizal para aumentar a produo de aa fruto so
bem-vindas. Das prticas recomendadas para aumentar a produo de frutos, faltaria apenas
fazer o desbaste de algumas touceiras jovens para se ter em torno de 400 a 600 touceiras
adultas/ha. Entretanto, deve-se ter o cuidado de propiciar outra fonte de renda, com os
recursos j existentes e subutilizados como a extrao do leo da semente da andiroba e do
pracaxi, como exemplo. Ou aumentar as outras rendas j existentes como o consrcio com o
cacaueiro, utilizando-se espaamento maior do que os 4 metros entre plantas para diminuir a
concorrncia com o aaizeiro e instalando-se unidades de secagem de semente do cacau para
obter um produto com melhor qualidade. Outro consrcio com o aaizeiro pode ser com o
cupuauzeiro. uma planta bem adaptada a condio da vrzea, pode ficar no extrato arbreo
inferior ao aaizeiro, utilizando-se o mesmo espaamento indicado ao cacaueiro.
Para o tipo moderado, que no est em uma estratgia de intensificao de mo-
de-obra para obter uma maior produo de aa fruto, uma vez que tem outras importantes
fontes de renda, proposta de manejo de aaizal que requer maior quantidade de mo-de-obra,
pode ser pouco incorporada. A possibilidade de extrao do leo da andiroba e do pracaxi
pode ser tambm uma boa alternativa para as famlias desse tipo.

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