Scala Philosophorum A Simbolica Dos Instrumentos Na
Scala Philosophorum A Simbolica Dos Instrumentos Na
Scala Philosophorum A Simbolica Dos Instrumentos Na
R. AMBELAIN
Gro-mestre do Rito de Memphis-Misraim
Gro-mestre de Honra do Grande Oriente do Brasil
SCALA PHILOSOPHORUM
ou
A SIMBLICA DOS
INSTRUMENTOS
NA ARTE REAL
A Cincia Manica o esprito informador
das Cincias, ela a Gnose no sentido
exato do termo; no se detm nos
fenmenos, vai at a essncia; dos
atributos e das qualidades ela infere a
natureza prpria dos seres e das coisas...
C. Chevillon: Le Vrai Visage de la Franc-
Maonnerie.
1965
SCALA PHILOSOPHORUM
N D I C E
Introduo (Parte 1) 3
Prefcio 4
A Arte Real 8
A Escada Filosfica 12
As Origens da Franco Maonaria 19
Noes Gerais de Alquimia (Parte 2) 29
Da Alquimia a Androquimia 32
A Escolstica Exotrica (Parte 3) 38
A Escolstica Esotrica 44
OS INSTRUMENTOS DO APRENDIZ (Parte 4) 47
O Avental 47
As Luvas brancas (Parte 5) 53
O Mao (Parte 6) 59
O Cinzel (Parte 7) 66
A Alavanca (Parte 8) 76
OS INSTRUMENTOS DO COMPANHEIRO (Parte 9) 84
O Nvel 85
A Perpendicular (Parte 10) 92
O Esquadro (Parte 11) 100
AO INSTRUMENTOS DO MESTRE (Parte 12) 107
O Compasso 108
A Rgua (Parte 13) 119
A Trolha (Parte 14) 131
O Gnmon (Parte 15) 142
Concluso 144
A Gnose Manica 146
O Tetragrama dos Venerveis 152
Coma Raciocinar Maonicamente (Parte 16) 158
INTRODUO
O presente mtodo de formao manica repousa sobre a Tetractys alqumica dos
Rosa-Cruzes Do Oriente.
Uma primeira vez aplicamos este esquema inicitico na formao moral e espiritual
de Cabalistas operativos
1
.
Urna segunda aplicao, no plano mstico puro,
foi dada em inteno de Martinistas
desejosos de seguir a via Interior de Louis Claude de Saint -Martin, o filsofo
desconhecido
2
.
Damos aqui uma terceira aplicao, unicamente intelectual e moral, destinada aos
Maons das Lojas Simblicas. A via que seguimos aqui muito diferente da precedente.
Na Alquimia Espiritual, a aplicao deste esquema via mstica implicava, de acordo com
o prprio uso alqumico (or et labor), no emprego de uma tcnica de oraco segundo um
mtodo especial.
Na presente obra bem diferente. As virtudes ( do latim virtus: fora) no tm
exatamente o mesmo significado. A franco-manica no a f religiosa! A vida em Loja
faz com que o Maom desenvolva formas e usos diferentes dos da via interior e solitria do
iniciado martinista.
Alm disso, estritamente intelectual e moral, a formao manica comentada nesta
obra se interessa pelas cincias tradicionais e desenvolve faculdades que no tm tanto
interesse para o mstico. Em uma palavra, o carter universal desse quadro se apresenta
de maneira muito diferente nesses trs mtodos.
Contudo, o Maom espiritualista, e crente, poder ulteriormente e de modo til
completar a presente tcnica, estritamente manica, com aquela, ainda que muito
diferente, dada na obra precedente. Particularmente quando ele alcanar o grau da
hierarquia manica escocesa em que surgir a questo da misteriosa Palavra Perdida.
O carter universal desse esquema rosacruciano permite evidentemente aplic-lo
soluo de problemas iniciticos os mais diversos: alquimia material, alquimia espiritual,
formao intelectual, moral, mstica, etc.
justamente nisso que reside o seu profundo valor.
1
La Kabbale Pratique (Niclaus diteur, Paris 1951).
2
LAlchimie Spirituelle (La Difusion Scientifique diteur, Paris 1963)
PREFCIO
A Cincia Manica est totalmente contida no simbolismo
dos Instrumentos...
(J. Corneloup, Grande Comendador de. Honra do Grande
Oriente de Frana.)
Prefaciando a sexta edio de O Homem na Descoberta de sua Alma, do saudoso
C. G. Jung , o doutor Roland Cahen nos diz o seguinte:
Um dos horizontes mais importantes que nos abre esta obra o das projees. A
projeo este fenmeno singular, singular mas original, pelo qual um i ndivduo imprime
sobre um objeto ou um ser do mundo ambiente um contedo ou uma tonalidade psquica
que em si mesma em verdade um trao da sua vida interior. A projeo revelou-se de
uma importncia igual percepo. Hoje em dia necessrio afirmar-se que o indivduo
tem duas ligaes com o mundo: a percepo e a projeo. Estes dois liames, embora se
exercendo em direo inversa, tm igual importncia e tambm igual irracionalidade
Mais adiante ele nos precisa a natureza dos arqutipos estudados por Jung:
Os arqutipos so, no plano das estruturas mentais e das representaes, os
corolrios dinmicos daquilo que so os instintos no plano biolgico, modelos de ao e de
comportamento
3
.
V-se o quanto a tcnica milenar da Franco-maonaria, no domnio da formao
intelectual e moral, vlida em vista da psicologia contempornea e seus modos de
atividade.
Realmente, constituir um instrumental
4
que repouse sobre uma enada emblemtica
(a exemplo dos antigos e tradicionais sistemas agrupados no seio da Gnose) e atribuir-lhes
um simbolismo inicitico to
coerente quanto sutil, confiar a arqutipos a misso de
exprimir de maneira to imprescritvel quanto imutvel, aplicar o mtodo de Jung antes
que ele o definisse, antecipar de muitos sculos a cincia oficial no domnio da psicologia
aplicada.
Dissemos a tcnica milenar. Isto talvez surpreenda os Maons e os profanos
insuficientemente documentados, e para quem a Maonaria Especulativa remonta ao
dcimo oitavo sculo. Ns nos limitaremos a sublinhar alguns fatos e documentos
histricos. Eles nos demonstram, sem contestao possvel, que a antiga Maonaria
Operativa dos Companheiros, carpinteiros e cortadores de pedra, sempre possuiu uma
interpretao inicitica de seus instrumentos. E bem provvel que muitos sculos antes
da nossa era j houvesse Maons Aceitos, assim como no dcimo stimo e dcimo oitavo
sculos, recrutados nos meios intelectuais, e provavelmente condutores ocultos das
corporaes operativas que neles haviam depositado confiana.
Citaremos antes de mais nada esta inscrio iraniana, cuja idade deve estar perto
dos vinte e cinco sculos:
Submete-te ao Esquadro, a fim de servir. Uma pedra que pode encontrar lugar na
parede jamais ficara sem ser usada ...
5
3
C.G.Jung: O Homem na Descoberta de sua Alma (Payot dteur, 1963).
4
Instrumenta: instrumentos, em latim.
5
Cfe. C.W.Leadbeater: O Lado Oculto da Franco Maonaria (Paris 1950).
Em um grande edifcio da ilhota V da primeira regio de Pompia, no curso das
escavaes descobriu-se, no meio do triclnio, um mosaico que apresentava emblemas
manicos e pitagricos. Esse mosaico foi reproduzido na pagina 105 (prancha IX) do
segundo tomo do Nmero de Ouro de Matila G. Ghyka. Ele representa uma roda de seis
raios sobre a qual est pousada uma borboleta. Acima, um crnio descarnado, e coroando
o conjunto, bem no alto, o nvel triangular com seu fio a prumo. Quando lembramos que o
termo grego psykh sinnimo de alma e tambm de borboleta, compreende-se por que a
borboleta est sobre a roda, smbolo das transmigraes. Tanto mais que o termo
psquico era aplicado, no mundo antigo, e sobretudo no seio da Gnose, aos profanos
ligados ao mundo terrestre e material por suas imperfeies e por seus desejos. O
simbolismo desse mosaico evidente: o profano (borboleta) , ligado roda das
transmigraes, s escapar por uma morte total (crnio), morte que o integrar no
Pleroma inicial, simbolizado pelo Nvel, imagem da igualdade original reconquistada e do
Retorno Unidade Primordial.
Nessa mesma poca encontramos esta frase inslita, da pluma de Plato, no Filebo:
O que eu entendo aqui por beleza das formas no o que o profano entende
geralmente por esse nome, mas sim aquilo que reside no sbio e judicioso emprego do
Compasso, do Cordel e do Esquadro ...
Sobre este simbolismo puramente inicitico dos instrumentos Manicos, um
esquadro metlico descoberto perto de Limerick, na Irlanda, e tendo gravada a data de
1517, vai nos esclarecer atravs de uma inscrio que afirma a perenidade de seu
significado:
Eu me esforo por levar uma vida amorosa e sbia, guiando-me pelo Nvel e o
Esquadro...
6
O que pensar ainda deste mesmo Esquadro, sempre de metal, descoberto perto de
Mogncia, tendo gravada a data de 1546, com uma inscrio tambm significativa: Custodi
animam meam, ou seja, Guarda minha alma, segundo versculo do Salmo 86?
Ser necessrio lembrar as tumbas templrias, sobre cuja pedra a cruz habitual
flanqueada, em um dos seus ngulos superiores, por um Esquadro, associando o
Instrumento da salvao e o smbolo da retido moral
7
?
Bernard Fay (o escritor anti-maom que se ilustrou durante a ocupao alem na
Biblioteca Nacional!) afirmava em uma carta a Albert Lantoine, em 1930, ter tido em mos,
nos Estados Unidos, as provas da existncia de uma Maonaria especulativa desde o 15
sculo.
De que a terminologia manica neste terreno (o dos Instrumentos) se refere aos
Arqutipos evocados por C.G.Jung, ns queremos por prova somente as to numerosas
passagens da Bblia, documento cuja antigidade certa ningum negar, e onde esto
mencionados o Arquiteto, o Templo , as Colunas, o Cordel, a Rgua, o Nvel, o Cvado,
etc... , considerados em seus aspectos celestes e no terrestres. Essas passagens so
muito numerosas para serem citadas aqui. O leitor que se interessar as encontrar
facilmente em qualquer Chave Bblica. Elas contm a prova do interesse do simbolismo
manico expresso em seus Instrumentos tradicionais e justificam o presente trabalho
8
.
6
Citado por C.W.Leadbeater em seu livro O Lado Oculto da Franco Maonaria (Adyar diteur, Paris 1930)
7
Citados por Louis Lachat: A Franco Maonaria Operativa (Figuire diteur, Paris 1934).
8
Convm observar que a verso vtero-testamentria que possumos foi estabelecida por Esdras aps o
Cativeiro na Babilnia e de memria. No ser impossvel supor que tenham sido estabelecidos contatos
entre as corporaes judaicas e as da Babilnia. Mas isto implica igualmente em relaes entre a casta
sacerdotal de Israel e essas mesmas corporaes judaicas. E a voltamos possibilidade de existncia de
membros aceitos, j naquela poca, em Israel. O que confirmado pelo fato de que todo israelita, inclusive
os levitas e os doutores da Lei, deviam praticar um ofcio manual, e portanto pertencer a uma corporao.
Para concluir, precisemos ainda o seguinte: este livro de carter estritamente
manico, conforme s nossas tradies, mas sobretudo ao pensamento daqueles que as
codificaram h mais de trs sculos: os Rosa-Cruzes.
Portanto quem procurar nele os elementos do um materialismo cmodo e fcil, ou de
um atesmo tranqilizador fechar o livro, decepcionado. em suas significaes
rosacrucianas, altamente espiritualistas, que os nove Instrumentos da Franco-maonaria
Especulativa so aqui analisados.
Ns ainda nos permitiremos fazer observar a alguns Maons franceses que talvez o
ignorem, que somente em Frana que as Obedincias Manicas de tendncia
racionalista representam maioria considervel. No plano internacional bem diferente. A
Franco-maonaria dita espiritualista constitui imensa e esmagadora maioria. No nos cabe
absolutamente tirar disso concluses ou fazer julgamento. Limitamo-nos a constatar, e isto
implica evidentemente em que esta obra tenha isso em conta na natureza e na escolha das
citaes. Antecipadamente pedimos desculpas aos nossos leitores.
Mas, para sermos eqitativos, devemos frustrar os nossos adversrios permanentes.
Para ser espiritualista um Maom Franco no vai por isso a Canossa, ou a Genebra. Na
poca da grande ofensiva anti-manica em 1934, que preludiava as perseguies,
pilhagens e seqestros de 1940 a 1944 (tornados to fceis em vista da presena do
invasor alemo), um adversrio de nossa Ordem escrevia: A Franco- Maonaria o
homem, livre em seu pensamento e em sua conscincia, que forma para si sua moral e a
impe a si mesmo como um imperativo categrico...
9
Que homenagem mais bela, ainda que involuntria, esta definio to exata vinda de
um adversrio...
Retenhamos apenas desta declarao to ntida que querer ser livre em seu
pensamento e em sua conscincia , aos olhos desse catlico, um erro imperdovel. A
oposio permanece pois, total, irredutvel, entre os que querem a sociedade sob seus
absolutos dogmticos e aqueles que se recusam a impor qualquer entrave introspeco
humana.
Toda organizao religiosa (Igreja, Judasmo, Islam, etc.) se quer e se diz infalvel e
perfeita. Mas, dir o Maom cartesiano, quem me prova que vs sois uma sociedade
infalvel e perfeita?... As santas escrituras, ditadas por Deus a tal profeta, afirmam
isto..., responder a Igreja. Mas enfim, dir o Maom cartesiano, quem me prova que
estas santas escrituras tenham sido de fato ditadas pelo prprio Deus?... Eu mesma,
responde a Igreja, sociedade infalvel e perfeita, eu atesto que assim o foram... E quem
me prova que sois uma sociedade infalvel e perfeita? As santas escrituras, ditadas por
Deus mesmo, o ensinamento... etc., etc.
O clebre Romance de Muguet, que embalou nossa infncia, repousava sobre
silogismos muito prximos destes!
A no ser que o prximo Conclio promulgue sabiamente enfim esta liberdade de
conscincia na ordem do dia de sua prxima sesso, dando assim, e finalmente, um
desmentido s palavras do papa Pio XII: A liberdade de conscincia, esse delrio?...
10
No era Jesus companheiro carpinteiro, e filho de companheiro carpinteiro?
9
Citado por Antnio Cohen e Michel Dumesnil de Grammont, antigos gro-mestres da Grande Loja de
Frana, em A Franco-maonaria Escocesa (Figuire diteur, Paris 1934).
10
Os anticlericais fazem geralmente suas crticas apenas contra a Igreja Romana, mas parecem muito
indulgentes para com o Islam, o Judasmo ou as Igrejas Reformadas. Ns o seremos menos! Por volta de
1950, em Aden, tendo um jornalista rabe rompido, por um dia, o jejum ritual do Ramadan, foi condenado
a vinte e quatro chibatadas, confiscao de seus bens, e a cinco anos de priso. Ele havia comido em
pblico, ao meio dia, um sanduche. Uma condenao to severa equivale praticamente ali a uma
condenao morte. Na Europa ningum se comoveu.
Em alguns estados protestantes (ignoramos a seita exata) dos Estados Unidos, leis arcaicas, redigidas h
trs sculos por imigrantes puritanos, recalcados e pudibundos, pretendem controlar e dirigir a vida
sexual e mais secreta de casais legtimos. Toda infrao a essas leis, revelada, conhecida e
demonstrada, leva justia o homem e a mulher culpados...
Na Gr Bretanha, nos Pases Baixos, toda infrao ao repouso dominical sancionada por leis, leis tendo
em conta o papel privilegiado de uma religio de estado.
A ARTE REAL
No silncio do Templo o malhete do Venervel acaba de bater um golpe.
- Meu irmo, de onde vindes?
- Muito Venervel Mestre, da Loja de So Joo.
- O que se faz na Loja de So Joo?
- Elevam-se Templos Virtude e cavam-se masmorras aos vcios.
- O que vindes fazer aqui?
- Vencer minhas paixes, submeter minha vontade e fazer novos progressos na
Maonaria.
- O que entendeis por Maonaria?
- O estudo das Cincias e a prtica das Virtudes.
Tais so as frases rituais do Catecismo do Aprendiz em um manuscrito clssico
do dcimo oitavo sculo: Compilao da Maonaria Adonhiramita. Frases muito
precisas e claras.
A Maonaria , pois, a arte de construir em si mesmo um novo homem, no qual as
virtudes desabrocharo, e os vcios desaparecero na proporo inversa do
desenvolvimento das primeiras. E a tcnica descrita na presente obra repousa totalmente
sobre este princpio.
Por uma espcie de gerao psquica misteriosa, medida que se expandir a
clssica srie das quatro Virtudes Cardinais da antiga escolstica medieval (Prudncia -
Tolerncia - Justia - Fora) , criar-se- no subconsciente do Maom uma espcie de
clima interior que favorecer a gnese, o desenvolvimento e a expanso das trs
Virtudes Teologais (F, ESPERANA E CARIDADE). E, por sua vez, estas sero as
geratrizes de um clima superior anlogo que, no mesmo Maom, permitir a gnese, o
desenvolvimento e a expanso das duas Virtudes Filosofais: Inteligncia e Sabedoria.
Ambas constituiro o ltimo e real desabrochar da Luz no Maom, que assim ter
atravessado a fronteira misteriosa que separa a Iniciao do Adeptado
11
.
Paralelamente a essas elaboraes sucessivas das faculdades espirituais e morais
no Homem-Interior, tambm misteriosas, nascero faculdades que sero sua
conseqncia prtica. A prpria escolstica medieval lhes dava a denominao de dons.
Esta palavra vem do Latim Donum e tem por sinnimo no prprio latim facultas,
significando capacidade, talento, meio, fora de ao, faculdade. A imprensa catlica fez
predominar, na Idade Mdia, o termo DOM, subentendido do Esprito Santo.
Observemos todavia que a palavra VIRTUDE deriva do latim virtus: fora, poder.
E, ligadas a estas faculdades por um esoterismo secular, nove cincias tradicionais
levaro ao maom a matria prima geral sobre a qual e pela qual ser ele capaz de
utilizar esta arte de construir que o Catecismo do Aprendiz, citado acima, chama to
11
Iniciado deriva do Latim initium comeo, inicio. Adepto deriva de Adeptus - aquele que adquiriu...
O Iniciado o Companheiro, o Adepto o Mestre. O Aprendiz apenas o Aspirante do antigo
Companheirismo.
justamente de maonaria.
Tais so os nove Instrumentos que permitiro ao maom construir em si um
verdadeiro Templo Interior e tornar-se seu prprio rei, segundo a feliz expresso de
Louis-Claude de Saint-Martin, o Filsofo Desconhecido da Tradio Martinista
12
. Por
isso a Maonaria Especulativa foi denominada a Arte Real, o termo real deriva do latim
regalis, que forneceu a velha expresso realengo, outro sinnimo de real. A gua rgia
a gua com que se experimenta o Ouro, o rei dos Metais.
Mas os familiarizados com a misteriosa linguagem dos pssaros, isto , a cabala
fontica utilizada pelos alquimistas rosacrucianos de outrora, observaro imediatamente o
quanto o latim regula est prximo de regalis.... No latim, efetivamente, regula significa
rgua, esquadro, preceito, princpio, lei . (conforme Henri Goelzer: Dicionrio Latino.
Garnier Editora. Paris. 1937). E, de fato, o princpio de um estado, sua lei, so formulados
pelo rei, no mundo antigo.
Assim, pois, praticando a Maonaria, o Homem a sua prpria RGUA, ele se
identifica com o Esquadro. Ele se torna esses instrumentos. por esta razo que as trs
maneiras de entrelaamento do Esquadro (imagem do Homem) e do Compasso (smbolo
do Grande Arquiteto) expressam a trplice etapa da identificao do primeiro com o
segundo. Que os antimaons incorrigveis, que se sobressaltaro quando lerem esta
passagem, se tranqilizem, a teologia catlica conhece uma divinizao progressiva do
Homem (por outro caminho, bem entendido).
Esta Rgua, ns a reencontraremos no decorrer deste estudo da simblica dos
Instrumentos. Compreenderemos por que a Maonaria Especulativa no dcimo oitavo
sculo, e os Rosa-Cruzes, seus codificadores, a substituram por um Livro Sagrado,
compndio de Princpios e de Leis morais.
Mas compreenderemos tambm por que, numa poca em que por seiscentos anos,
do Conclio de Toulouse em 1229 at a Revoluo Francesa (o perodo do dito de
Nantes colocado parte), nenhum leigo podendo ter o antigo ou o novo testamento, os
maons operativos se limitaram a associar a Rgua ao Compasso e ao Esquadro, de
preferncia a um livro...
O que poderiam fazer? E como? A maioria no sabia ler. O Evangelho ou o Antigo
Testamento eram acessveis somente como manuscritos, to raros quanto dispendiosos.
A inveno da imprensa nada lhes deveria facilitar nesse domnio. As Bblias impressas
eram raras, de alto custo, volumosas e incmodas. Se sua posse e sua leitura eram
acessveis s pessoas instrudas e opulentas, isto acontecia somente nos Estados
totalmente afeioados Reforma. As naes catlicas (Frana, Itlia, Espanha,
Alemanha, ustria) eram obrigadas a respeitar a interdio romana, formulada e apoiada
pelo brao secular.
Acrescentemos que a Maonaria Operativa tinha uma dupla razo para preferir a
Rgua Bblia. Antes de mais nada, associada ao Compasso e ao Esquadro, dispostos
os trs de uma determinada maneira, ela permitia as operaes mais secretas do
Mestrado, notadamente aquelas relativas orientao dos monumentos em construo.
E nisto o Livro mais sagrado no teria podido substitu -la. No esqueamos que a
bssola, por mais conhecida que fosse pelas Cruzadas, permaneceu um instrumento raro
e dispendioso durante sculos, e que numa poca em que a instruo no era obrigatria,
no existiam livros, jornais, rdio, nem televiso, o povo, a burguesia e a nobreza ficaram
durante sculos fora do conhecimento cientfico mais elementar. As vsperas da
12
Sabe-se que foi Louis Claude de Saint-Martin, um dos criadores do Martinismo, quem deu Franco-
maonaria do XVIII sculo a clebre divisa: Liberdade, Igualdade, Fraternidade, que. depois se tornou a
da Frana!!
Revoluo, numerosas so as filhas de nobres que no sabiam ler nem escrever no
momento de seu casamento.
Um segundo aspecto do interesse que os Mestres de Obra e os Companheiros
poderiam atribuir Rgua, era o fato de que ela representava, antes de mais nada um
elemento de medida, mas certos significados permaneceram secretos durante quarent a e
cinco sculos aproximadamente, pois algumas dessas medidas esotricas subentendiam
a existncia de conhecimentos, uma boa parte dos quais era apangio de um reduzido
nmero de Iniciados. Em seguida veremos quais eram elas. Mas independente do seu
papel de padro, a Rgua, disposta sobre o Compasso e o Esquadro de determinada
maneira, implicava no conhecimento de elementos de Adivinhao e de Magia, vindos da
China, por intermdio dos hindus, gregos, rabes e persas . Isto implicava em segredo
ainda mais severo se recordarmos as condenaes contra o Companheirismo expressas
por diversas Universidades. No esqueamos que a muito santa Inquisio condenava
sem ouvir, nem mesmo interrogar, salvo pela tortura, e que o brao secular sucedia o
brao sacerdotal quando o interrogatrio estava concludo. A Inquisio nasceu somente
no sculo XI, porm j no sculo IV o imperador Graciano, um dos sucessores de
Constantino, autorizou a pena de morte contra os herticos: Gnsticos, Hermetistas,
Platnicos, Pitagricos, etc.
Mas se admitirmos que do conhecimento destes elementos de Adivinhao e de
Magia, compreendidos por determinado simbolismo da Rgua colocada sobre o
Compasso e o Esquadro, decorria uma doutrina metafsica absolutamente estranha
tradio crist banal, e por este fato justificava a prpria interdio destas cincias,
compreender-se- que os raros iniciados que velavam pela Maonaria Operativa dessas
pocas, foram obrigados a observar o mais rigoroso segredo
13
. Assim, pois, a Rgua
verdadeiramente o emblema desta Arte Real que constitui a Maonaria Especulativa, e
veremos logo que a Alquimia o seu esquema de aplicao no plano espiritual, moral e
intelectual.
A tradio secular do segredo, que constitui o elemento essencial includo no
Juramento Manico, este segredo que tanto irrita nossos adversrios, apia contudo seu
princpio na prpria aplicao da palavra das Escrituras: Se coisa honrosa revelar e
proclamar as obras de Deus, bom manter oculto o segredo real (Tobias XII, 7).
O que quer que pensem os Maons, este segredo existe. Ele tem relao com
diversos aspectos do pensamento e do conhecimento esotrico, e com diversas
aplicaes destes. Foi uma das armas essenciais da Rosa-Cruz no dcimo stimo sculo.
E continua sendo!
Enfim, por que o juramento de Segredo do Maom seria imoral, se o Bispo, no incio
da cerimnia de sua sagrao presta um idntico (juramento cannico) Quanto ao
segredo que eles me teriam confiado (os Papas), por eles mesmos, por seus Nncios, ou
por escrito, no o revelarei conscientemente a ningum em seu prejuzo ... (pargrafo 2
do juramento, que se compe de 12).
13
Uma tradio da Idade Mdia diz que um bispo alemo do Reno, tendo conseguido aprender do filho de
um Mestre de Obra o essencial de alguns ritos e operaes secretos que haviam sido praticados
meia-noite dois dias antes no canteiro de uma nova catedral, pelos Companheiros - Construtores, este
bispo foi misteriosamente executado por eles algumas horas mais tarde. Sem dvida, a sua tagarelice
punha em perigo a liberdade e provavelmente a vida desses Maons Operativos.
A ESCADA FILOSFICA
Antes de subir a enigmtica escada de trs, cinco e sete degraus, no decorrer de
sua vida manica, o profano candidato Iniciao, convidado a descer a uma espcie
de in-pace, denominado Cmara de Reflexes. Observemos de passagem que no se
trata de reflexes no sentido dos verbos refletir, meditar, mas sim de realizar uma espcie
de anlise de si mesmo, de se refletir, reproduzir a imagem como em um espelho.
Convidado a redigir seu testamento filosfico (que nenhuma relao tem com o
testamento profano, nem com suas ltimas vontades), ele se esfora por definir seu
pensamento no que concerne a trs problemas que lhe so apresentados pela Franco-
maonaria de Tradio:
a) quais so seus deveres para com um Ser Supremo, que o mundo profano denomina
Deus, e que a Maonaria qualifica de Grande Arquiteto do Universo,
b) quais so seus deveres para com o Universo, considerado como o conjunto das
criaturas que desenvolvem sua existncia prpria paralelamente sua,
c) quais so seus deveres para consigo mesmo, considerado como um microcosmo que
reflete, de maneira infinitesimal, o Macrocosmo.
Nesse reduto que a sinistra Cmara de Reflexes as paredes so pintadas de
negro. Uma mesa de madeira tosca, espessa e pesada, sobre a qual esto diversos
objetos:
- um Crnio humano, colocado por vezes sobre duas tbias,
- um pedao de po,
- uma vasilha com gua,
- um recipiente contendo sal grosso,
- um recipiente contendo Enxofre,
- uma lanterna acesa,
- uma Ampulheta, que limitar o tempo de sua permanncia e o far perceber,
diante das dificuldades que ter para expressar seus sentimentos quanto s trs
questes, o quanto a vida do Homem curta em vista da tarefa que lhe incumbe,
- material de escrita (caneta, papel)
- um tamborete sem encosto, igualmente de madeira tosca, completa o mobilirio.
Frente mesa, pintados em branco sobre o negro da parede, diversos emblemas
e sentenas:
- um galo,
- uma foice,
- a palavra V.I.T.R.I.O.L.U.M,
- diversas sentenas:
Se a curiosidade te conduziu aqui, vai -te:
Se o teu corao est invadido pelo medo, no vs adiante
Aquele que souber vencer os horrores da Morte, sara vivo do seio da terra e tomar
lugar entre os Deuses
14
Ali, e geralmente sem que ele saiba, o Profano colocado em presena de um
simbolismo vindo das mais distantes idades, simbolismo introduzido na Maonaria
Operativa e, sem que o soubessem, na poca em que os Rosa-Cruzes nela penetraram e
a reformaram, nos sculos XVII e XVIII. Este simbolismo o da Alquimia, tanto operativa
como especulativa.
O Galo, pssaro atribudo a Hermes, a Thot e a Mercrio, todos nomes que
designam a fora misteriosa condutora das almas no mundo dos mortos (a Igreja latina os
substituiu por So Miguel), fora que provavelmente no seno uma vasta corrente
psquica, polarizada pelas prprias ALMAS. Corrente positiva e ascendente, e corrente
negativa e involutiva, o Galo , em Alquimia, a imagem do Fogo Secreto.
O Sal e o Enxofre comuns colocados na Cmara, evocam o Sal e o Sulfur dos
Filsofos, que estudaremos em outros captulos. O crnio o caput -mortum, o resduo,
a terra-danada dos Hermetistas.
Quanto palavra V.I.T.R.I.O.L.U.M., pelo fato de ela tradicionalmente estar
pontuada, nos diz que cada uma das nove letras de sua composio deve ser a letra
inicial de uma palavra. E de fato assim ; a palavra Vitriolum apenas a sigla que
exprime a mxima rosacruciana: Visita Interiora Terrae Rectificando Invenies
Occultum Lapidem Veram Medicinam, ou seja, Visita o interior da terra e retificando,
descobrirs a pedra oculta, verdadeira medicina
15
.
* * *
Quando o candidato tiver sido recebido Aprendiz e depois de ter efetuado as trs
simblicas Viagens de purificao atravs da gua, do Ar e do Fogo, que sucedem a
meditao no seio da Terra, ele ter finalmente recebido o choque da Luz, ele ter sido
colocado em presena dos Quatro Elementos e da Qui nta-essncia que disto resulta.
Ele receber ento, e antes de qualquer outra coisa, um Avental de pele
absolutamente branca, cuja abeta triangular ele dever conservar levantada enquanto for
Aprendiz. E os cinco lados desse Avental lhe lembraro as cinco fases essenciais da sua
Recepo.
A ele sero confiados Instrumentos, dos quais alguns lhe sero simbolicamente
entregues em sua recepo de Aprendiz, outros na de Companheiro. Esses Instrumentos
so em nmero de nove, ou seja, trs vezes trs.
So esses nove Instrumentos que constituem os Smbolos essenciais de sua
Iniciao Manica, e bastante lamentvel que o esquecimento ou a negligncia das
Chaves Esotricas que os Rosa-Cruzes inseriram outrora nos Rituais da Franco-
maonaria Especulativa tenham aos poucos diminudo consideravelmente a profundidade
dessa mesma iniciao.
14
Esta mxima encontra sua explicao na pgina 156, com o comentrio sobre a obteno da Integridade
pstuma.
15
Ou ainda: medicina de verdade.
Aqueles que codificaram, h muitos sculos, os rituais da Franco Maonaria
Especulativa limitaram em nove o nmero dos instrumentos destinados a servir de suporte
s meditaes filosficas do Franco-maom, pois nove o nmero que simboliza a
extrema multiplicidade fazendo retornar unidade o nmero da solidariedade csmica, da
redeno, da reintegrao final..., nos diz o Dr.Allendy em seu Simbolismo dos
Nmeros.
tambm um smbolo de plenitude, pois dez apenas o retorno Unidade
associada ao nada (zero). Sabe que todo nmero, qualquer que seja, nos diz Avicena,
nada mais do que o nmero nove, ou seu mltiplo, mais um excedente. Pois estes
signos que exprimem os nmeros tm somente nove caracteres e valores, com o zero...
por isto que a Franco-maonaria de Tradio fez dele o smbolo da imortalidade
humana, expressa pelos nove Mestres que encontram o tmulo de Hiram e levam-no de
volta vida, pela incorporao do novo iniciado...
Notre-Dame de Paris, maravilhosa jia de arte gtica, mas tambm assombroso
Livro de Pedra, nos oferece a imagem desta necessria enada inicitica, e Fulcanelli a
interpretou magistralmente em seu livro O Mistrio das Catedrais:
Franqueemos o prtico, e comecemos o estudo da fachada pelo grande portal, dito
prtico central ou do Julgamento.
O pilar, que divide em dois o vo da entrada, oferece uma srie de representaes
alegricas das cincias medievais. Frente ao trio, em lugar de honra, a Alquimia est
representada por uma Mulher cuja fronte toca as nuvens. Sentada sobre o trono, ela tem
na mo esquerda um cetro - insgnia da soberania - enquanto que a direita sustenta dois
livros: um fechado (esoterismo) e outro aberto (exoterismo). Mantida sobre os seus
joelhos e apoiada contra seu peito se levanta a Escada de Nove Degraus scala
philosophorum hierglifo da pacincia que devem possuir seus fiis ao longo das nove
operaes sucessivas do labor hermtico
16
...
Assim, pois, com seus nove Instrumentos, a Franco--Maonaria Especulativa
oferece aos seus filiados sua Matria Prima e um Instrumental que devem, judiciosamente
utilizados, lev-los a uma luz interior, de que a luz elementar ofuscante da cerimnia da
sua recepo como Aprendiz foi um plido reflexo.
* * *
Antes de abordarmos o simbolismo tradicional dos Instrumentos (sua significao
superior e esotrica ser abordada nos captulos ulteriores) convm lembrar o do Avental
que, com estes mesmos nove Instrumentos, constitui a Dcada, a partir da qual s existe
a volta para trs, a renovao, a passagem por formas de pensamento anlogas, embora
em pontos diferentes da espiral.
O Avental, que para o Aprendiz tem sua abeta levantada, protege ao mesmo tempo
o baixo-ventre e o epigstrio, isto , a parte do corpo de onde provm os sentimentos e as
emoes (corao) e as paixes e os desejos (rgos genitais). Assim, pois, esse
Avental de pele absorve pouco a pouco e naturalmente, por uma espcie de osmose
simptica, as radiaes fsico-psquicas que poderiam perturbar a harmonia e a paz
16
Fulcanelli, cujo nome verdadeiro era Jean-Julien Champagne (ele acrescentou o prenome Hubert em um
perodo de sua vida) , ilustrador do Mistrio das Catedrais e das Manses Filosofais, tambm o autor.
Foi ele quem redigiu os prefcios iniciais, que foram assi nados por um de seus alunos, M.E.Canseliet. A
vida de Jean-Julien Champagne foi publicada, ilustrada com fotografias, no numero IX dos Cadernos da
Torre Saint-Jacques consagrados parapsicologia, em 1962. Nasceu em 23/01/1877, morreu em
26/8/1932. Seus dois nicos discpulos foram M.E. Canseliet e Jules Boucher (autor da Simblica
Manica e do Manual de Magia Prtica). Possumos uma srie de documentos e de fotografias
atestando a veracidade desta identificao de Fulcanelli e de Champagne, no publ icados.
profundas que devem reinar em um Templo Manico. um condensador e um isolador
ao mesmo tempo.
Neste ltimo aspecto ele um vetor. Ele absorve e igualmente condensa as
radiaes fsico-psquicas que provierem de outros participantes, ele protege seu
portador. O Avental permite assim aos membros de uma Loja permanecerem eles
mesmos, e sem perturbarem as tentativas de expresso dos outros Maons. Convm
observar que as Lojas (ou simplesmente os Maons) que abandonam o uso (que
imprescritvel na Tradio Manica) do Avental de pele ou de seda (igualmente perfeito
isolante) e se contentam simplesmente com o porte do Colar ou Faixa, perdem quase
sempre o sentido inicitico da verdadeira Maonaria. Como diz o antigo adgio : o
Avental que faz o Maom ...
O Avental, primeira alfaia manica conferida ao Iniciado depois de sua passagem
pela Cmara de Reflexes, igual mente o seu primeiro Instrumento. Mas um
Instrumento passivo, uma simples proteo. Praticamente destinado a proteger o talhador
de pedras das lascas que se desprendem no decorrer do corte (eles trabalhavam outrora
com o peito nu, e no mundo antigo quase totalmente nus, apenas com um pedao de
pano ao redor da cintura), o Avental lembra a materialidade terrestre, ele o smbolo do
elemento Terra.
Smbolo insubstituvel da qualidade manica, usado necessariamente tanto pelo
Aprendiz, como pelo Companheiro e pelo Mestre, ele a imagem de um trabalho
permanente.
Sua significao pois: constncia no labor. Deve-se notar ainda que os Maons
que abandonam o uso do Avental para usar simplesmente o Colar ou a Faixa reconhecem
que o fazem por negligncia ou por esquecimento.
O abandono do Avental tem um significado mais profundo do que se possa
imaginar. Provm destes gestos inconscientes, cuja importncia jamais escapou a
psicanalistas do valor de Freud ou de Jung. No menosprezemos os pequenos sinais,
nos diz Freud em sua Introduo Psicanlise, eles podem conduzir -nos a coisas mais
importantes.
O Maom sem avental sempre um Maom exterior...
* * *
O significado classicamente atribudo a cada um dos nove Instrumentos o
seguinte:
MAO - Vontade na aplicao. }
CINZEL - Discernimento na investigao } APRENDIZ
ALAVANCA - Esforo na realizao }
PRUMO - Profundidade na observao }
NVEL - Serenidade na aplicao } COMPANHEIRO
ESQUADRO - Retido na ao }
COMPASSO - Exatido na realizao }
RGUA - Regularidade na aplicao } MESTRE
TROLHA - Perfeio e unificao }
V-se por esta distribuio que cada um dos trs graus da Franco-maonaria
Especulativa tem por smbolos prprios trs Instrumentos.
O Aprendiz desbasta a Pedra Bruta. Para isso ele utiliza o Cinzel, cuja ao
aplicada ou amplificada com o auxlio do Mao. A Alavanca lhe indispensvel se ele
quiser desbastar o bloco informe em suas diferentes superfcies, o que exige vir-la e
revir-la.
O Companheiro trabalha na Pedra assim desbastada pelo Aprendiz. Sua finalidade
a obteno de uma Pedra perfeitamente cbica. Est bem evidente que os mesmos
Instrumentos do Aprendiz lhe so necessrios: Cinzel, Mao e Alavanca, se ele quiser
obter a transformao desse bloco grosseiramente esquadrejado em uma Pedra Cbica
perfeitamente regular. E no menos evidente que a Perpendicular (Fio de Prumo), o
Nvel e o Esquadro lhe sero absolutamente indispensveis, se ele deseja obter faces
regulares e de iguais valores.
O Mestre trabalha, segundo a Tradio Manica, sobre a Prancha de Traar.
Possuindo a arte da geometria, pois que chegou ao Mestrado, s tem de fato necessidade
de dois instrumentos:
- a Rgua, necessria para a obteno de uma linha reta perfeita, e para toda a medio
linear retilnea;
- o Compasso, que lhe permitir obter perpendiculares sobre toda a reta obtida pela
Rgua, realizar toda linha curva de que ele tenha necessidade para a obra qual se
dedica, trasladar toda medida sobre qualquer linha, reta ou curva, e traar toda figura
poligonal. O Compasso, usando-se um de seus braos, servir como ponta de traar e
pode ser usado sobre a Pedra cbica talhada pelo Companheiro, cada uma de suas seis
faces servindo como prancha de traar.
A Trolha tem por significado proteo e unificao. Efetivamente, dela que se
servir o Mestre para unificar e harmonizar o conjunto da sua Loja. Assim como a Trolha
permite desfazer os excessos de cimento, do mesmo modo, por sua benevolncia e por
sua serenidade, o Mestre de Loja poder manter a harmonia entre os membros de sua
Oficina, desfazendo eventuais diferenas e hostilidades. Da a expresso passar a
Trolha, significando retornar harmonia.
A Trolha, nos diz Plantagenet, o smbolo do amor fraternal que deve unir todos os
Maons, nico cimento que os obreiros podem empregar na edificao do Templo...
A Trolha no apenas o smbolo de um apagar de toda irregularidade sobre a face
da Pedra Cbica. Ela ainda a lembrana, a imagem do cimento que une as pedras entre
si, e sabe-se que as pedras do Templo simbolizam os prprios Franco-maons.
E nas mos desse Mestre particular que o Venervel de uma Loja, ela , por sua
forma triangular, a imagem do Delta Luminoso ao Oriente do Templo, smbolo da Causa
Primeira no precisada e indefinida, segundo o verdadeiro costume manico, e que
designada pelo nome de Grande Arquiteto do Universo.
V-se que o Aprendiz trabalha em um mundo informal, simbolizado pela Pedra Bruta.
O Companheiro trabalha em um Universo em parte organizado e que ele colocar em trs
dimenses, mundo simbolizado pela Pedra Cbica. O Mestre trabalha em um Mundo
extraformal, mundo de duas dimenses, simbolizado pela Prancha de Traar. o Mundo
das Imagens, o plano das Idias Eternas de Plato.
Estes trs mundos correspondem ao Corpo (o Soma dos gregos), Alma (Psique) e
ao Esprito (Nous). Remontamos assim do plano da Forma ao da Imagem, refazendo em
sentido inverso a rota que permitiu aos Arqutipos Eternos do Pleroma se refletirem e se
multiplicarem em todos os seus aspectos polimorfos constitutivos do tenebroso Kenoma.
Tal deve ser, cremos ns, e luz das correspondncias analgicas tradicionais, a
repartio dos nove Instrumentos atravs dos trs graus. Todas as divises modernas
destes so to pouco racionais e lgicas que os trs Ritos mais difundidos: Escocs,
Francs e Memphis-Misraim divergem entre si quanto s divises no que diz respeito
recepo ao Grau de Companheiro.
No absolutamente necessrio fazer figurar o que quer que seja dentro do
Tringulo Luminoso (Delta) radiante, ao Oriente da Loja, acima da Cadeira do Venervel.
Ele se basta a si mesmo e diminuir a grandeza deste smbolo acrescentar -lhe as quatro
letras hebraicas do Tetragrama (Jehovah), ou inserir nele um olho. Pois, lembremos aos
Maons ligados a um Rito que impe a presena da Bblia sobre o Altar, a luz a prpria
imagem de DEUS nas Escrituras:, Por tua luz, ns vemos a luz... (Salmo XXXVI, 10),
Eu sou a luz do mundo... (JOO VIII, 12) e a vida era a luz dos homens... (Joo 1: 4).
Quanto palavra God, significando Deus em lngua inglesa, sua transcrio no seio
do Delta tenderia a tomar aquela por uma lngua hiertica e sagrada. Afirmamos, nesta
grande confuso, que nos recusamos a considerar qualquer lngua viva e moderna como
tal. Lembramos simplesmente que estas trs letras G, O e D (em hebraico: Guimel, Vau
e Dalet) so as iniciais das trs palavras hebraicas: Gomer, Hoz e Dabar, que significam
respectivamente Sabedoria, Fora e Beleza, designao das trs Colunas tradicionais do
Templo Manico. , por outro lado, interessante lembrar que estas trs letras, bem como
o Gama grego, representam um Esquadro, sendo o Guimel hebraico completado por um
trao horizontal inferior, evocador do Nvel. Desejando-se efetivamente fazer figurar esta
sigla God dentro do Delta, convm ento transcrev-la em hebraico: Guimel Vau -
Dalet. Acontece a mesma coisa com a palavra INRI, cujas tradues latinas so bastante
numerosas, mas que tendem a fazer esquecer que so as iniciais (ainda aqui uma sigla!)
das quatro palavras hebraicas: Iammim (gua), Nour (Fogo), Ruah (Ar) e Iebeschah
(Terra). A Cruz dos Elementos, sustentando em seu centro a Rosa, imagem da Crisopia,
assim um verdadeiro smbolo alqumico, sem por isto revestir a menor significao
sacrlega em vista do instrumento da Paixo do Cristo. A Cruz , de fato, o smbolo
hermtico do crisol, o qual chamado em latim Crucibulum.
AS ORIGENS DA FRANCO-MAONARIA
O exame dos Rituais do antigo Companheirismo operativo (tal hadores de pedra,
carpinteiros, ferreiros, etc.) mostra que as suas cerimnias e seu simbolismo eram
bastante diferentes dos da Franco-maonaria clssica que, no entanto, sem contestao
possvel saiu desse mesmo Companheirismo. A razo muito simples.
Em 1507, Henri Cornelus Agrippa, cavaleiro da Milcia de Ouro, mdico do
Imperador Carlos V, autor da clebre obra De Occulta Philosophia, constitui segundo os
conselhos de seu mestre e amigo Jehan Trithme, abade de Spanheim e de Wrzburg,
uma organizao que agrupa os hermetistas europeus, chamada Associao da
Comunidade dos Magos. Os membros possuam palavras e sinais de reconhecimento.
Em 1536, Paracelso (Aureolus Phllippus Theophrastus Bombastus von Hohenheim,
dito Paracelso) publica a sua celebre Prognosticao, em que revela, pela primeira vez,
o smbolo da rosa sobre a cruz, e nos fala de Elias Artista
17
.
Em 1570, na Alemanha, aparece uma associao, que provavelmente saiu da
precedente, chamada, nos diz Mchel Maier, os IRMOS DA ROSA-CRUZ DE OURO.
Quatro anos mais tarde, em 1574, o conde de Falkenstein, bispo de Trves, citado
como um dos chefes da Rosa-Cruz. O prestigioso vocbulo comea a se espalhar e
inquietar a Igreja.
Em 1586, em Lunville, cidade ento situada na Alta-Lorena, como feudo da casa de
Vaudmont, tem lugar a primeira assemblia capitular da Milcia Crucfera Evanglica.
A se fala de um Templo Mstico, da Rosa e da Cruz, da Reintegrao do Homem
Csmico, da regenerao do Universo. Em Londres o apogeu do movimento
rosacruciano ingls, que vem de lanar Jacques VI da Esccia (ele no ainda Jacques I
da Inglaterra); a poca das reunies rosacrucianas na taverna A Sereia
18
.
Em 1593, o mesmo Jacques VI de Esccia constitui a Rosa-Cruz Real, com 32
cavaleiros
19
da Ordem do Cardo de Santo Andr, sada primitivamente das
comendadorias templrias desse Estado, em 1314, no final da batalha de Banneckburn.
Em 1598, em Nremberg, Simon Stubion constitui a Milcia Crucfera Evanglica,
que rapidamente se reunir aos Rosa-Cruzes.
Em 1603, Jacques VI da Esccia, tornando-se Jacques I da Inglaterra, deixa o Gr-
mestrado dos maons operativos escoceses, e se torna o gro-mestre dos maons
operativos ingleses. Lord William Sinclair de Roslin o sucede como Gro-Mestre dos
maons operativos do reino de Esccia.
Em 1609, Maurcio de Hesse-Cassel, filho de Guilherme IV, o Sbio, landgrave de
Hesse-Cassel (protetor e amigo de Tycho de Brah e dos hermetistas europeus em geral)
, constitui o famoso Captulo Rosacruciano de Cassel.
Em 1610, no ano seguinte portanto, em Londres, nascimento da Rosae Crucis, que
constituir um pouco mais tarde o Invisvel Colgio, e este ltimo dar nascimento em
seguida Real Sociedade.
Em 1611, em Londres, nascimento da Aurea-Crucis, sada dos Irmos da Cruz de
Ouro, associao rosacruciana da Alemanha.
17
R. Ambelain: Templrios e RosaCruzes (Adyar Editores, Paris 1955).
18
R. Ambelain: Templrios e RosaCruzes (Adyar Editores, Paris 1955).
19
Em relao com as XXXII Vias da Sabedoria, da Cabala.
Em Ratisbona, em 1614, primeira e oficial manifestao dos Rosa-Cruzes, por
intermdio da Fama Fraternitatis e da Confisso Fratrum Rosae Crucis.
Em 1615, Maurcio de Hesse-Cassel modifica a constituio do Captulo
Rosacruciano dessa cidade. Os prncipes e os iniciados ai se renem: prncipe Frederico
Henrique, stadhouder dos PasesBaixos; landgrave Luiz de Hesse-Darmstadt, marqus
de Brandenburg, Eleitor Frederico III, prncipe cristo de Anhalt, Valentim Andreae (autor
das clebres Nolces Chymiques) , Michel Maier (mdico do Imperador Rodolpho II, ele
prprio hermetista e alquimista em Praga) , Raphael Eglinus (de seu verdadeiro nome
Gotz, autor, entre outras obras, da Disquisitio de Helia Artista e de Assertio
Fraternitatis R.C. quam Rosae-Crucis vocant) , Antonio Thys, Jungmann, etc.
No ano seguinte, Mchel Maier, vai tomar contato em Londres com Robert Fludd e sir
Francis Bacon representando os rosacrucianos ingleses (1616)
Em 1622, em Haia, assemblia dos Rosa-cruzes no palcio do prncipe Frederico
Henrique, stadhouder dos Pases Baixos.
Em 1644 morre J. B. Van Helmont, arteso da unio entre os Rosa-cruzes
naturalistas (hermetistas puros de tendncias racionalistas), e os Rosa-cruzes msticos
(de tendncias tergicas, cabalistas cristos em sua maioria)
Ainda em 1644, o clebre Elias Ashmole (autor de diversas obras sobre a Rosa-
Cruz) recebido por William Backhouse no seio da Rosae-Crucis.
Londres em 1645, Boyle, Locke e sir Wren constituem o Invisvel Colgio, sado da
Rosae Crucis como dito acima.
Em 1646, (e no em 1644 como erroneamente escrevemos em nossa obra rosa-
cruzes e Templrios), Elias Ashmole recebido pelos Maons Operativos
(Companheirismo ingls), como Maom Aceito. Ele no o primeiro intelectual admitido
no seio da Franco-maonaria operativa, outros j o haviam precedido. Ele nos diz o
seguinte em seu Jornal, pagina 603:
1646, 16 dia de outubro, 4 horas e 30 minutos aps o meio dia, fui feito Franco-
maom em Warrington, no Lancashire, com o coronel Henry Mainwring, de Karticham
(condado de Chester). Os que se encontravam ento na Loja eram: Sir Rchard Penkett
Warden, Sir James Colher, Sir Richard Stankey, Henry Littler, John Elam e Hugh Brewer .
Alm desses Maons Aceitos, mais antigos que ele, havia um ncleo de Maons
Operativos que havia recebido estes outros? No o sabemos. Mas possvel. Elias
Ashmole de fato toma o cuidado de distinguir as categorias sociais entre aqueles que cita
como seus predecessores na Loja. O Sir que precede os trs primeiros nomes realmente
significa de uma forma particular a polidez inglesa: SENHOR
20
, que Elias Ashmole no
emprega para os ltimos trs Maons Aceitos. Estes eram, sem dvida, plebeus. Tambm
nada h de estranho no fato de que ele no mencione os nomes dos verdadeiros Maons
da Loja primitiva.
Como quer que seja, aproximadamente nessa poca que devemos situar a
penetrao insidiosa e silenciosa das Lojas da Franco-maonaria Operativa inglesa pelos
rosacrucianos.
Discretamente Lojas Manicas exclusivamente especulativas vo se constituir ao
redor dos Stuards, principalmente entre os oficiais e os gentis-homens da casa real. Essa
Maonaria especulativa, a mais antiga, ser, documentos incontestveis o provam, de
obedincia religiosa catlica. O juramento hipoteca a fidelidade do recipiendrio para com
Deus e a Santa Igreja.
20
N.T. Sir ttulo que precede o nome de batismo de baronetes e cavaleiros.
E ser ento, em 1717, a 24 de junho, festa de So Joo de Vero, que quatro Lojas
de Maons Aceitos (excluindo qual quer membro operativo) se reuniro em Londres para
a constituir a Grande Loja de Londres, a qual se tornar mais tarde a Grande Loja da
Inglaterra. Essa Maonaria ser de Obedincia Protestante e, em oposio que a
precedeu, ela no mais ser stuardista, mas orangista
21
. Os rituais sero modificados,
todo alto grau de carter cavaleiresco ser repudiado. Mas o simbolismo inicitico ser,
no entanto, cuidadosamente respeitado em seu conjunto.
* * *
Compreender-se- facilmente que se, desde aproximadamente dois sculos,
hermetistas, alquimistas, cabalistas, gnsticos, adeptos da Magia, da Teurgia, da
Astrologia, reunidos no seio das grandes organizaes rosacrucianas evocadas acima,
tomam o cuidado de penetrar e de se apropriar pacientemente de uma organizao t o
antiga como a Maonaria Operativa, porque tem suas razes.
O que eles querem unir o esquadro e o compasso, o primeiro representando a
Terra e o segundo representando o Cu. Os rosa-cruzes tm uma filiao espiritual: a
filiao apostlica recebida de Bispos que secretamente aderiram s suas idias, desde o
sculo XVI.
Por meio desses bispos (secretamente herticos do ponto de vista de Roma!),
nossos rosa-cruzes remontam aos Apstolos, por filiaes das quais a Igreja Catlica e a
Igreja Ortodoxa mantm cuidadosamente em dia a seqncia oficial. E pelos Apstolos
esses poderes remontam ao Cristo, que se diz pontfice segundo a ordem de
Melchisedek, unindo assim a iniciao que partiu de Abraham (oferenda do po e do
vinho - Gnesis: 14:18) com a dos sacrifcios sangrentos da Antiga Aliana. Tudo isso
muito importante aos olhos de nossos rosa-cruzes, imbudos do misticismo bblico. E
Abraham se situa, segundo os historiadores e os exegetas, l pela dcima segunda
dinastia, quanto histria do Egito, em pleno Mdio-imprio, e pouco depois da poca
heracleopolitana. Isto nos leva a mais ou menos dezenove sculos antes da nossa era, ou
seja, h quase quatro mil anos...
Mas essa filiao espiritual, to antiga quanto seja, no lhes basta. Se el es tm
objetivos muito ambiciosos: regenerao espiritual do Homem, da Criao toda,
restituio da Matria Universal ao seu estado sutil inicial, etc., tambm tm um problema
poltico muito claramente colocado.
E eles no dissimulam esse programa: destrui o do poder temporal de Roma,
destruio das monarquias hereditrias e absolutas, com a finalidade de constituir um
vasto estado universal, retorno a um cristianismo despojado de suas imagens exotricas e
liberado dos interesses srdidos das oligarquias, tanto religiosas como dinsticas ou
financeiras da poca.
Para a realizao deste plano gigantesco, eles tero o apoio de soberanos
inteligentes, ou interessados em alguma parte do seu programa. Henrique IV, e seu
grande plano, que lhe inspirara o rosacrucano Irineu Filaleto, Jacques VI da Esccia,
ligado a Guilherme IV, o Sbio, landgrave de Hesse-Cassel, e a Tycho de Brah, e
tambm numerosos pequenos prncipes alemes.
Mas o golpe decisivo chegar, rpido como um raio. Ravaillac assassinara Henrique
IV, e os historiadores modernos acabaro por encontrar nesse assassinato a
responsabilidade da Liga do Bem Pblico, da Sociedade de Jesus, e da rainha de Frana:
21
Observaremos aqui que a regularidade manica, to cara Maonaria anglo-saxnica. se perde por
efeito do cisma. Ora, a Grande Loja da Inglaterra, orangista e protestante, um cisma da precedente,
stuardista e catlica... Ela queimou os arqui vos e os rituais da precedente. Sua pseudo regularidade
uma brincadeira...
Maria de Mdicis.
Mas no ser somente aos poderes temporais que os rosa-cruzes pediro
assistncia para a realizao de seu plano gigantesco, com alcance de vrios sculos.
No esqueamos que eles recorrero a todo o conjunto das cincias ditas ocultas:
alquimia, astrologia, magia, etc.
E se os poderes misteriosos da sucesso apostlica os religaram ao Cu,
necessrio que possuam tambm os da Terra... Nossos rosa-cruzes se voltaro para o
que subsiste das antigas iniciaes de carter terrestre; e eles os pediro Maonaria
Operativa. Somente quando tiverem entrado na posse
dessa filiao inicitica que tero
unido o esquadro e o compasso.
De fato, a Maonaria Operativa de sua poca crist, e tem por patrono o prprio
So Joo.
Contudo seria vo supor que sua fonte inicitica o fosse! Mui to antes, a tradio
manica havia sido veiculada pelos Collegia greco-romanos, que repousava sobre o mito
dos Cabires, ou o de Hrcules e de seus trabalhos. E antes destes Collegia, os
depositrios da tradio manica haviam constitudo as clebres e antigas corporaes
fencias de construtores, ento colocadas sob a proteo de Kousor, o Hefaisto de Filon
de Biblos. Muito provavelmente estes deram a iniciao s corporaes judaicas. E ns
reencontramos um eco da presena destas ltimas na clebre viso de Ezequiel
(captulos XL a XLIV), onde se v o Arquiteto Celeste, portador da cana de medir e do
cordel de linho, tomar todas as medidas para a realizao da Jerusalm do Alto. Alis
provvel que o patrono dessas corporaes judaicas fosse o Metatron da Cabala, o
Mediador de quem fala So Paulo, Sar-ha-Olam (Prncipe do Mundo), ainda chamado El
Acher (o Outro Deus).
E todas essas organizaes bem diversas: talhadores de pedra, carpinteiros,
ferreiros, sobretudo, provieram das que se encontram j constitudas em Madian, quinze
sculos antes da nossa era. De fato, os ferreiros e mineiros medianitas haviam se agrupa-
do em torno do Sinai, com as outras tribos de Madian vindas de outras regies. Nos
flancos do monte, ferreiros e artesos de cobre vizinhavam com os cortadores de pedra e
os mineiros das minas de turquesa e de cobre. E, sempre nos flancos do monte, no cume
do qual Moiss, unificador do Israel e seu libertador, evocar Metatron, j nessa poca,
existe um templo, e este templo consagrado a Hator.
De fato, j ento uma mesma repulsa misteriosa do mundo profano e uma tradio
esotrica comum situam ferreiros e mineiros fora das populaes comuns, portanto fora
do dito mundo profano. Conseqentemente nesse tempo (h quase quatro mil e
quinhentos anos), nem So Joo, nem Hrcules, nem os Cabires, nem Kousor, nem
Melkart, nem mesmo Salomo ou Hiram, eram a alma e encobriam o segredo dessas
tradies, e sim Hator, a deusa dos olhos de turquesa, a Dama da Tarde , a Dama do
Poente, com o diadema de cornos de antlope ou de vaca, deusa guerr eira e de rigor
(como Ishtar). Era considerada a me de Horus (assim como a Virgem Maria, me do
Verbo), era a deusa distante e tambm a deusa gata. Portadora da mscara de leo,
era a guerreira, e assentada sobre um leo, ela prefigurava Cibele a Terra-Me. Era por
vezes a Natura Naturata, outras a Natura Naturanda.
Ao amor da deusa pelos humanos responde o amor de seus fiis. Os ttulos mais
doces lhe so dados. Ela a deusa, a dama, a me misericordiosa, a que ouve as
preces, a que intercede junto aos deuses irritados, a que os apazigua, ela a autora
do Universo e da Humanidade. Um profundo sentimento de ternura anima os hinos e as
preces que lhe so dirigidas. Os devotos de ss no encontraram expresses mais
tocantes. Ela exaltada acima de tudo, ela se torna a Deusa das deusas, a Rainha de
todos os deuses, a Soberana do Cu e da Terra. Aqueles que tiverem seguido a
discusso conciliar do Vaticano II sobre a Virgem Maria, Rainha dos Anjos, Mediadora,
Redentora, sabero reencontrar aqui o arqutipo da Me Eterna, guardi dos mortos e
resgatadora dos vivos, que o inconsciente fetal do homem traduz ulteriormente por
Deusa-Me, me dos Iniciados, e que os leva para fora da Caverna (tero), pelas guas
sagradas (guas amniticas), para a Luz esperada (a Vida)...
provavelmente a lembrana, inconsciente mas tenaz, desse avatar da Grande Isis
egpcia, prottipo de nossas Mes gaulesas e das Virgens Negras que as sucederam,
que faz com que inconscientemente o azul seja o termo pelo qual so designados
comumente os trs graus da Maonaria simblica, sobretudo se considerarmos que o azul
tradicionalmente, o azul turquesa, ou o azul celeste (e no o azul-marinho da Maonaria
moderna anglo-saxnia). ainda por uma reminiscncia, qual a Maonaria simblica
no poderia se subtrair, que a Estrela Pentagramtica, chamada flamejante, evocando
tanto a Ishtar assria como a Astart fencia (duas palavras cuja raiz comum significa
estrela), brilha ao Ocidente do Templo para a quinta e ltima viagem do Companheiro,
bem como para guiar a marcha para trs do candidato ao Mestrado... Assim, ao Ocidente
do Templo, est imutavelmente sublinhado seu papel de Stella Vespertina, outro nome
da Dama da Tarde e da Dama do Poente, da Dama das Turquesas, condutora dos
Iniciados. E at mesmo a China antiga conhece Si-Wang-Mo, a Dama Rainha do
Ocidente, que reina em um pas fabuloso, sobre a simblica Montanha de Jade...
Assim sendo (e o leitor nos perdoar esta colocao), por que aureolar com um
ambiente religioso, particular e absoluto, um esoterismo que se apresenta de fato como
um universalismo inicitico? Assim como no poderia existir uma geometria protestante,
uma gramtica catlica, uma matemtica judaica, uma fsica islmica, o esoterismo
manico no poderia ser aprisionado dentro de uma crena particular e codificada.
, alis, bastante estranho constatar que ao longo de tantos sculos humildes
artesos, provenientes de religies to diversas, souberam conservar intuiti vamente, no
esta noo de deus criador comum a todos os povos, mas uma outra, to particular, de
deus construtor, ordenador de um Caos pr-existente; o que muito diferente. De fato,
um deus criador sempre criador ex nihilo, ao passo que o deus construtor ou ordenador
utiliza uma matria prima j existente.
Essa teoria leva a uma outra. Assim como a Alma constri sua morada de carne no
decorrer dos nove meses de gestao, e (talvez...) transmigra de formas em formas,
tambm se pode imaginar que o Esprito Universal, ordenador de sua prpria morada,
este universo, transmigra do mesmo modo de criaes em criaes, e de universo para
universo...
Em resumo, os artesos de todas as raas e de todas as pocas, filiados s
confrarias esotricas, ou acreditavam depender apenas de um Demiurgo, deus secundrio
a servio de um Deus Supremo (e talvez desconhecido do Homem) , ou ento
proclamavam que, em seu sistema metafsico, a Matria era considerada como eterna e
portanto coexistente com seu Ordenador. Isto implica (muito antes de Orgenes), na
crena em uma Criao eterna como seu Ordenador (isto e, seu Criador), na qual os
Universos sucedem aos Universos, com a diferena, todavia, de que a Criao
impermanente enquanto que permanente o Criador, de quem ela seria assim apenas o
Inconsciente. Notar-se- que a Eva bblica, desdobramento de Adam, guardio do den,
significa em hebraico sonho, sono.
Ento somos levados a considerar, subjacente enada dos Instrumentos
emblemticos da Franco-maonaria, os Arqutipos, isto , os smbolos de entidades
metafsicas secundrias, os Demiurgi. Isto nos conduz inevitavelmente s nove Sefiroth
da Cabala, que emanam de Kether, o Umbral da Eternidade, aos nove Coros Anglicos,
mais ou menos densificados devido ao seu afastamento do Criador, aos nove Eons da
Gnose, etc...
O aspecto inferior dos demiurgi em relao ao Demiurgo, o Ordenador supremo,
perpetuou-se na linguagem artesanal com o termo pejorativo de instrumento, que os
bons obreiros aplicam aos aprendizes e aos companheiros tecnicamente insuficientes...
Seja como for, compreende-se agora porque, possuindo a filiao apostlica e de
Melquisedek, os rosa-cruzes quiseram possuir a filiao da Maonaria Operativa. Eles
haviam intuitivamente compreendido que toda iniciao, para ser realmente potencial e
virtual, deveria compor-se de uma dupla polaridade. muito certamente um dos aspectos
iniciticos das duas colunas JAKIN e BOOZ, que flanqueavam a entrada do Templo de
Salomo, em Jerusalm, e que nossos Templos conservaram cuidadosamente.
Mas evidente que tais concepes, to heterodoxas e inquietantes quanto
disciplina catlica e protestante, terminaram por insinuar-se fora dos ncleos estritamente
rosacrucianos. O nmero nunca trouxe qualidade. E pouco a pouco, assim como a
Franco-maonaria Operativa havia sido penetrada pela Rosa-Cruz e havia se tornado a
Franco-maonaria Especulativa, esta ltima foi penetrada por elementos diversos,
estranhos ou hostis ao vasto plano rosacruciano.
Nobres empolgados, ou cansados de sua nobreza, e que vinham para a Maonaria
busca de ttulos e futilidades novas, burgueses ambiciosos, encantados por
estabelecerem relaes com gentis-homens e serem por eles chamados de meu irmo,
todas estas pessoas no desejavam figurar como conspiradores e mgicos. Incapazes
de adivinhar nos altos conhecimentos esotricos vindos do fundo dos sculos as
aplicaes prticas de uma verdadeira fsica transcendental, todas estas cincias
misteriosas, que eles adivinhavam existir nos altos graus dos Cenculos os mais
fechados, faziam com que atrassem sobre si a clera real, a ira romana e, por fim, a
danao de sua alma...
E, claro, a reao veio violenta, intolerante, antifraternal, contrria aos juramentos
de fraternidade e de fidelidade. E foi o Rito Templrio, esquecido de suas origens e de
suas finalidades, que deu o sinal !
Era 1763, na Conveno de Altenberg, perto de Iena, o Regime conhecido sob a
denominao de Retificao do Dresde foi submetido a uma severa reforma e todos os
Maons suspeitos de serem cabalistas, hermetistas, alquimistas, teurgos, etc., foram
excludos. Isso ocorreu por incitao de fidalgotes alemes ignorantes, que acabavam de
tomar em suas mos a organizao templria renovada, e dos quais alguns eram
cavaleiros teutnicos, ordem ento severamente catlica.
Essa excluso turbulenta havia sido precedida de uma outra, mais discreta. Na
Conveno de Kholo, em 1742, uma srie de expulses havia tido lugar, pelos mesmos
motivos.
A hostilidade da Maonaria aristocrtica alem contra as altas cincias esotricas
suscitou de imediato uma reao involuntria. Na Rssia, desde 1741, vemos a Estrita
Observncia Templria servir de antecmara Rosa-Cruz
22
(1) . Em Frana rapidamente
aparecero as Obedincias de um carter inici tico muito marcante: os Elu-Cohen de
Martinez de Pascuallis; os Rosa-Cruzes do Grande Rosrio do Rito Primitivo, fundado
pelo marqus de Chefdebien, cuja fonte eram os Rosa-Cruzes de Praga, e que serviu de
Obedincia de base ao Rito Primitivo de Memphis-Misraim; os Philalthes, de Savalette
de Lange; os Iluminados de Avignon, de Dom Pernety, etc., todas Obedincias
altamente esotricas, e que repousam agora no seio desse Rito de Memphis-Misraim.
Mas ao passo que se desenvolvia e sobretudo que aumentava o recrutamento da
Franco-maonaria Especulativa, na Europa, os segredos iniciticos se diluam, perdiam
sua preciso; os ensinamentos se deformavam, se truncavam, se esqueciam. Por sua vez
a Rosa-Cruz era engolfada na torrente vitalizadora.
Todavia, que seus .membros tenham considerado a Maonaria como uma cincia
real, verdadeiro compendium dos conhecimentos ocultos, e principalmente da alquimia,
22
At o XIX sculo, na Rssia, o Martinismo, a Maonaria Templria, a Rosa-Cruz, constituram a
hierarquia clssica do encaminhamento inicitico tr adicional, em trs etapas principais.
tanto material como espiritual, no coisa de duvidar. Queremos por provas no mais
que extratos do gnero : Os antigos faziam da Medicina Universal um ato de religio,
e a ocultavam sob mistrios sagrados. Eis ai a verdadeira Maonaria... (Conforme o
Diadema dos Sbios, por Filantropos, cidado do mundo ( sic), pagina 148, Paris, 1781).
... era necessrio a muitos homens este vil adorno exterior que, em seguida, levou
verdadeira maonaria toda essa superficialidade que lhe era estranha. Se a verdadeira
Maonaria houvesse subsistido, os Irmos falariam bem alto, e o mistrio teria subsistido
somente na Obra... (Conforme Le Denier du Pauvre, por Etteila,. pgina 55, Paris,
1785).
O tempo desta grande e importante operao de aproximadamente dois anos
comuns. E quando ele termina, o aprendizado de nossa Maonaria, pois no existe seno
esta verdadeiramente, este aprendizado concludo, d lugar ao companheirismo, cujas
provas so muito menos longas e menos rudes...
23
(Recreaes Hermticas, manuscrito
atribudo a Jean Vauquelin des Yvetaux, 1651-1716).
Na verdade bem anterior infiltrao dos Rosa-Cruzes na Maonaria Operativa a
utilizao que faziam de alguns smbolos manicos, tais como o Compasso e o
Esquadro.
No Tripus aureus, hoc est Tres Tractatus chymici selectissimi , publicado em
Frankfurt em 1618, o autor, o monge Baslio Valentin, est representado na pgina do
titulo como um monge com suas vestimentas, e segura contra o peito um livro grande.
Ora, o brao faz o sinal do esquadro.
No Azoth Philosophorum, do mesmo autor, h uma ilustrao repleta de simbolismo
manico. V-se um globo alado, inscrito com um tringulo em um quadrado. Um drago
repousa sobre o globo, e sobre ele se apia uma forma humana tendo duas mos e duas
cabeas. A forma humana est. rodeada pelo sol, a lua e cinco estrelas representando os
sete planetas. Uma das cabeas a de um homem, e a outra a de uma mulher. A mo
que se encontra do lado masculino da figura segura um Compasso, e a que se encontra
do lado feminino segura um Esquadro.
Essa obra anterior em cinco anos precedente, e foi editada em Frankfurt em
1613. Observa-se que o simbolismo tradicional respeitado: o Compasso masculino,
designa o Cu, e o Esquadro feminino e designa a Terra. Eis ai a imagem e a evocao
dessa dupla filiao inicitica que os rosa-cruzes procuraram associar em uma nica
filiao...
Aqui podemos, portanto, entender a formulao lapidar do saudoso Gro-mestre
Chevillon:
A Cincia Manica e o esprito informador das cincias, ela a Gnose no sentido
prprio do termo; ela no se detm nos fenmenos, vai at a essncia; dos atributos e
das qualidades ela infere a prpria natureza dos seres e das coisas... (Conforme C.
Chevillon em O Verdadeiro Rosto da Franco-maonaria, pgina 25, Deram Editores,
Lyon, 1939).
Acrescentemos que ela no est ligada a qualquer mstica religiosa particular, pois
ela as veicula todas: conforma-se Moral absoluta para poder se expressar de acordo
com a Tradio Inicitica Universal , apresentando simplesmente ao Homem os nove
Instrumentos simblicos da Franco-maonaria de Tradio.
23
Encontra-se o texto completo das Recreaes Hermticas na bela obra de Bernard Husson: Dois
Tratados Alqumicos do XIX sculo: Curso de Filosofia Hermtica, por Cambriel, e Hermes
Desvelado, por Cyliani (Omnium Littraire, Paris 1964). As Recreaes Hermticas aparecem como
aditivo, ao fim da obra. As duas primeiras obras, esgotadas, encantaram nossa juventude, e Jules
Boucher, assim como seu mestre Fulcanelli, as tinham em alta estima.
necessrio que essa Tradio Inicitica Universal no seja sistematicamente
atacada e sufocada por sectrios e ignorantes que, tendo orientao intelectual ou
espiritual oposta, nem por isso so menos destruidores e adversrios do Espirito.
Lembremo-nos de que para compreender um interlocutor absolutamente
necessrio conhecer a sua linguagem. Ora, os Rosa-cruzes substituram alguns
elementos da ritualstica operativa por elementos novos, que melhor expressavam a sua
doutrina geral. Sabe-se que eles foram os criadores e os codificadores do grau de Mestre,
pois a Maonaria Operativa conhecia apenas os graus de Aprendiz e de Companheiro.
Foram os Rosa-cruzes que introduziram a Lenda de Hiram, que a Bblia ignora, mas que
certamente de origem oriental (Oriente Mdio). Sabe-se que eles introduziram na
Maonaria Operativa uma simblica que lhe era desconhecida e estranha. Sabe-se o
quanto a Alquimia, material e espiritual, tinha lugar entre eles. Sabe-se que eles usaram
todos os conhecimentos esotricos que possuam (cabala, mstica e prtica, gnose,
magia, teurgia, astrologia, geomancia, espagria, medicina hermtica, arte metlica, etc.)
para sustentar seu combate.
De todas essas coisas fica o essencial, no mais profundo de nossos costumes e de
nossos rituais. Mas se quisermos compreender, se desejarmos chegar herana, ao
tesouro oculto, necessrio traduzirmos o grimrio, necessrio assimilarmos seu
modo de pensar, fazer nossas as suas teorias, ainda que alguns de ns tenham que
abandona-las em seguida. necessrio nos impregnarmos delas...
Em algumas correntes manicas, particularmente suscitadas e inspiradas por
elementos polticos conservadores, mesmo reacionrios, estranhos Ordem em si
mesma, a grande preocupao de sufocar o grande projeto dos Rosa-cruzes. Por isso,
se quisermos nos beneficiar com a indulgncia dessas correntes, inadequado nos
preocuparmos com os interesses da Cidade, da Nao, no seio da Loja. E toda aluso
poltica est interditada. Neutralidade relativa, diremos nos.
Em outras correntes manicas, freqentemente as mesmas, toda aluso aos
problemas religiosos contemporneos est interditada, do mesmo modo que a
precedente. Mas os meios religiosos, to bem protegidos por estas correntes, no se
privam de interferir na vida manica, sem nenhum pudor nem reserva, e por vezes
mesmo de combat-la por diversos meios. No se viu j profanos se permitirem julgar e
censurar determinados rituais manicos?...
Em uma terceira categoria de correntes manicas, oposta s precedentes, s h
preocupaes de ordem poltica e antiespiritualista, confundindo anti -clericalismo e anti-
religio, praticando sectarismo e intolerncia, por medo do sectarismo e da intolerncia. E
nessas mesmas correntes existe o hbito de misturar em uma mesma reprovao aqueles
que h apenas dois sculos pudessem ter sido inquisidores, e aqueles que na mesma
poca possam ter sido vtimas!
Que ningum se assombre, pois, se a Franco-maonaria atual. no se parece em
nada com a do dcimo oitavo sculo. O presente estudo no tem outro objetivo que o de
fazer os maons contemporneos refletirem, e de coloca-los em presena dos Objetos
simblicos que lhes so familiares, sob um ngulo ao qual no esto acostumados. Faz-
los entrever, atravs da prpria banalidade desses Objetos, a possibilidade de alcanar,
pelo manejo de um esoterismo bem codificado, uma viso do Mundo e de si prprios com
a qual no esto habituados.
H muitos maons modernos, espalhados pelo mundo, que no sabem nem ler, nem
escrever, e freqentemente apenas soletrar...
*
* *
NOES GERAIS DE ALQUIMIA
Para compreender um interlocutor necessrio entender sua linguagem. luz da
histria revelamos o papel desempenhado pela Rosa Cruz na gnese da Franco-
maonaria Especulativa. Sabemos a importncia que este movimento atribua, como meio
de ao, aos conhecimentos misteriosos que acompanharam, ao longo das idades, o
desenvolvimento das doutrinas esotricas tradicionais e, entre elas, Alquimia material e
espiritual. importante, pois, dar um apanhado geral, pois toda a evoluo interior do
Maom repousa sobre esses dados.
A terminologia hermtica emprega palavras e expresses que no tm relao
direta com seus equivalentes no mundo profano. ento indispensvel familiarizar -se
com aquilo que se entende por certas palavras essenciais, que so os nomes dos ele-
mentos constitutivos da Matria Prima e de sua evoluo at o estado ltimo: o Ouro,
smbolo da perfeio na vida metlica e naquela qual aspira o Maom.
a) AS QUATRO QUALIDADES ELEMENTARES
O Frio, origem da fixao, se manifesta por uma ausncia total ou parcial da vibrao,
cujo efeito o de coagular ou de cristalizar a Matria, destruindo o princpio de
expanso que est no Quente (conservao), seu oposto. Sua ao , pois,
adstringente, fixadora, frenadora, cristalizadora.
O mido, origem da feminilidade, se traduz por uma vibrao de natureza atrativa,
mutvel, instvel, suavizante, emoliente, relaxante, umectante que, penetrando os
tomos, divide os homogneos e une os heterogneos, provocando assim a evoluo
da Matria, ou a sua desagregao. Sua ao temperante, suavizante, emoliente,
dispersante.
O Seco, seu contrrio, origem da reao, se manifesta por uma vibrao de natureza
retentora, ertil, irritante, que contraria e retm o impulso dado. Sua ao retrativa.
O Quente, origem da masculinidade, se traduz por uma vibrao de natureza
expansiva, dilatante, rarefativa, que provoca a evoluo dos atamos. Sua ao
vitalizante, produz cozimento, estimulante, dinmica.
No Homem estas quatro Qualidades Elementares produzem:
Frio: impassibilidade, ceticismo, egosmo, desejo de absoro.
mido: passividade, variao, assimilao, desejo passivo de submisso.
Seco: reao, oposio, reteno, desejo passivo de dominao.
Quente: expanso, entusiasmo, ao, desejo ativo de persuaso.
b) OS QUATRO ELEMENTOS
Terra: A ao reativa do Seco sobre o Frio divide-o e assim, opondo-se sua total
fixao, transforma-o em elemento Terra, princpio concentrador e receptor.
gua: A ao refrigerante, coaguladora, atmica e fixadora do Frio sobre o mido
espessa-o, torna-o pesado e transforma-o em gua, princpio de circulao.
Ar: A ao expansiva, dilatante e rarefativa do Quente sobre o mido transforma-o
em Ar, princpio da atrao molecular.
Fogo: A ao reagente, retentora, ertil e irritante do Seco sobre o Quente
transforma-o em Fogo, princpio de dinamizao violenta e ativa.
No Homem, estes quatro elementos do:
Terra: inquietude, taciturnidade, reserva, prudncia, ternura contida ou egosmo,
esprito concentrado ou pretensioso, desconfiado, reflexivo, engenhoso, estudioso,
solitrio.
gua: passividade, preguia, desgosto, lassido, indolncia, submisso,
inconsistncia, versatilidade, preguia, inconscincia, incerteza, timidez, temor.
Ar: amabilidade, cortesia, diligncia, habilidade, sutileza, iniciativa, perspiccia,
assimilao, engenhosidade, harmonia.
Fogo: violncia, autoridade, ambio, entusiasmo, presuno, orgulho, irascibilidade,
ardor, fervor, coragem, generosidade, paixo, prodigalidade, impetuosidade, vaidade.
c) OS TRS PRINCPIOS FILOSFICOS
Sulfur Princpio: O Quente contido no Fogo e no Ar gera um princpio de natureza
quente, fecundante, fermentativo, que se chama Sulfur. o princpio masculino de
toda semente, e dele nasce o sabor, a cor fundamental vermelha. No Homem
corresponde ao Esprito.
Mercrio Princpio: O mido contido no Ar e na gua, engendra um princpio de
natureza vaporosa, sutil, mutativa, geradora, que se chama Mercrio. o princpio
feminino de toda semente e dele nasce o odor, a cor fundamental azul. No Homem
corresponde Alma.
Sal Princpio: O Seco contido no Fogo e na Terra, gera um princpio de natureza
seca, coesiva, coaguladora, que se chama Sal. o princpio de unificao do
masculino e do feminino hermticos, bem como o resultante de sua unio. Dele
nascem a forma e o peso, e a cor fundamental amarelo
24
. No Homem corresponde ao
Corpo.
Estes so os trs Princpios que, no vocabulrio da Alquimia tradicional, constituem a
Substncia prxima dos seres e das coisas.
d) OS DOIS METAIS DOS SBIOS
Prata dos Sbios: Tambm denominada Mercrio dos Sbios, por oposio ao
Mercrio Filosfico, que o precede no estado anterior, e que no devemos confundir
com o Mercrio dos Loucos que o argento-vivo (azougue) vulgar. A Prata dos
Sbios tambm denominada Prata Filosfica. Resulta da absoro de uma
determinada quantidade de Sulfur Princpio por uma determinada quantidade de
Mercrio Principio ou, mais facilmente ainda, pela absoro de uma quantidade
proporcional de Ouro Vulgar por uma determinada quantidade de Mercrio Principio.
Este Ouro Vulgar no deve ter sofrido anteriormente nem exaltao (sublimao ou
volatilizao), nem transfuso. Em uma palavra, no deve ter sido refundido ou
ligado a si mesmo, deve ser virgem.
Ouro dos Sbios: Tambm denominado Sulfur dos Sbios, por oposio ao Sulfur dos
Filsofos que o precede no estado anterior, ou ao Enxofre dos Loucos que o
enxofre vulgar. O Ouro dos Sbios tambm chamado de Ouro Filosfico. Resulta da
absoro de uma determinada quantidade de Sal Princpio por uma determinada
quantidade de Sulfur Princpio ou, mais facilmente, por absoro de uma quantidade
proporcional de Prata vulgar por uma quantidade determinada de Sulfur Princpio.
Essa Prata vulgar no deve ter sofrido anteriormente nem exaltao, (sublimao ou
volatilizao), nem transfuso. Em uma palavra, no deve ter sido refundida ou
24
Lembremos que s existem trs cores fundamentais, de onde saem, por combinaes, outras trs cores, ditas
secundrias. So elas o vermelho, o azul e o amarelo, de onde nascem o violeta, o verde e o laranja.
ligada a si mesma, deve ser virgem.
Estas duas Operaes resultam de uma serie de coces sucessivas (multiplicao).
e) A CRISOPIA ou PEDRA FILOSOFAL
Crisopia: obtida pela lenta coco no Ovo Filosfico (matraz), este colocado em
banho de areia, no seio do Athanor (forno alqumico), da mistura e da co-destruio do
Ouro dos Sbios e da Prata dos Sbios.
Observar-se- que estes nove princpios do Hermetismo
correspondem perfeitamente s nove entidades metafsicas s quais aludimos na pagina
16. So as manifestaes tangveis no seio da Matria, assim como o Esprito Universal
dos alquimistas e o Grande Arquiteto dos Maons so provavelmente idnticos. Em todo
caso, para os Maons alquimistas do dcimo oitavo sculo, esta identidade no deixava
qualquer duvida
25
.
Ora, se estas nove potencialidades esto em ao na matria dita inanimada,
como no o estariam igualmente no domnio do esprito, que no seno a prpria
matria em seu aspecto mais sutil?
25
Nossos adversrios exclamaro que pantesmo! Citemos, pois, as Logia Agrapha: Ergue a pedra e ali Me
encontrars... Fende a madeira, pois Eu a estou... Ora, so palavras de Jesus, que referem os papiros de
Oxirrinco, descobertos no sculo l9. E citemos ainda o apstolo Paulo: O Deus Supremo o Arquiteto e o
Fundador... (Hebreus 9:10).
DA ALQUIMIA A ANDROQUIMIA
O Homem, coroamento da Natureza, um Microcosmo, composto exatamente como
o Macrocosmo, do qual ele o reflexo e a sntese. Nele, como em toda a frao da
Matria, se combinam, associando-se ou opondo-se, as quatro Qualidades Elementares
(Frio, mido, Seco, Quente), as quais produzem por essas mesmas combinaes os
quatro Elementos (Terra, gua, Ar, Fogo).
No Homem essas reaes produzem aquilo que se costuma denominar
Temperamentos, que so evidentemente tambm em nmero de quatro: melanclico
(nervoso), linftico, sangneo e o bilioso.
Por sua vez, esses Temperamentos geram no Homem os quatro Humores, que so
de fato as manifestaes dos quatro Elementos. So eles: a Melancolia, a Linfa, o
Sangue, a Bile.
Vamos pass-los em revista um a um.
*
* *
Temperamento Melanclico - (Produto do Seco e do Frio)
No fsico, o Melanclico dbil, a sua musculatura dbil, seu contato seco e
frio, sua pele descorada, sua tez terrosa, seu pulso duro e curto, sua digesto lenta, sua
capilaridade rara, de cor imprecisa, a urina pouco abundante, o ouvido dur o.
O Melanclico anlogo ao Elemento Terra. Ele , portanto, frio e reservado,
modesto, desconfiado, triste, estudioso, reflexivo e circunspecto, prudente, profundo,
meditativo, criador fcil, engenhoso e solitrio.
O Quente e o mido esto nele em propores insuficientes para moderar o Seco e
o Frio, que retardam a circulao, cristalizam os lquidos por adstringncia, e retm os
produtos da combusto orgnica. O Melanclico o oposto do Sangneo; h nele a
hiperproduo de um humor seco, frio e pesado, chamado bile negra. A ditese mrbida
do Melanclico o artritismo e a uremia. Esse humor pesado, seco e frio anti -vital e ele
traz incmodos profundos, que tm uma repercusso direta sobre os nervos e o crebro.
Acontece que o indivduo se torna triste, hipocondraco, histrico, neurastnico,
misantropo, e se cr subestimado ou incompreendido. Por vezes encara a vida com
desgosto e pode ter uma certa propenso ao suicdio.
Ele inativo, inerte, sonhador, indiferente s coisas da vida, nunca satisfeito e
sempre taciturno.
Temperamento Linftico - (Produto do Frio e do mido)
No fsico, o Linftico mais gordo, sua carne mole, seu contato flcido e frio,
seus msculos relaxados, estatura baixa, sua tez plida, lvida, seu pulso fraco, lento e
frouxo, seu hlito freqentemente mau, sua saliva e sua urina abundantes, seus cabelos
so abundantes.
Ele anlogo ao Elemento gua: flutuante, instvel, inconstante, lascivo, relaxado,
verstil, fraco, tmido, submisso, impessoal, sensitivo, sem energia, indeciso, preguioso,
pacfico. Seus rgos fracos so o estmago, a nuca, o cerebelo.
H nele abundncia de lquidos frios, a circulao e lenta, falta de calor, de onde
sobrevm urna superproduo de albumina, de Linfa e de serosidade.
O excesso desse estado conduz anemia e escrofulose. Disto nascem as
afeces purulentas, as doenas da pele, dos gnglios, a psorase, as impigens, as
ulceras, e at a elefantase. Os ossos so por vezes bastante ameaados.
Temperamento Sangneo - (Produto do Quente e do mido)
No fsico o Sangneo tem as carnes firmes, os msculos cheios, as formas
harmoniosas, a pele tpida e branda, a tez clara e florescente, o pulso regular e
normal, os cabelos so abundantes e em geral castanhos. O Sangneo de aparncia
fsica harmoniosa, o seu caminhar leve e gracioso. Tem tendncia notada para a boa
disposio. Sua pessoa e seu organismo so equilibrados, as funes respiratria e
circulatria so normais.
O Sangneo atrado pelos exerccios fsicos, os prazeres sensuais, e os prazeres
da mesa. Sua inteligncia viva, sua memria aberta e sua imaginao frtil. Mas o
Sangneo mais brilhante do que profundo, mais espiritual do que filsofo, seu
julgamento , no entanto, equilibrado.
Anlogo ao Elemento Ar, o Sangneo tem por natureza prpria as particularidades
que lhe confere esse Elemento. Ele generoso, amvel, sagaz, instintivo, mvel, ligeiro,
inconstante, amante dos prazeres, tendo sentimentos altrustas e nobres.
O desequilbrio aparece nele devido ao abuso dos prazeres da mesa e de sua
sensualidade. Sua ditese mrbida a pletora. Quando esse estado se agrava, podem
aparecer males graves dos quais o artritismo e a gota so os mais comuns. As
inflamaes locais devem ser temidas.
Temperamento Bilioso - (Produto do Quente e do Seco)
No fsico, o Bilioso tem os msculos salientes e duros, magro, de tez amarela e
corada, de contato quente e rugoso, os cabelos so marrons. O pulso duro, rpido,
magro. O Bilioso instintivo e irascvel, tem apetites repentinos e impetuosos e em muitos
casos tem sede permanente.
O Bilioso estando sob a influncia do Elemento Fogo partilha de sua natureza,
assume as suas propriedades. Ele est freqentemente em um estado febril muito ntido,
com uma agitao e movimentos irregulares. Suas noites so com freqncia agitadas por
sonhos ou pesadelos. Ele pronto, impaciente, ambicioso, audacioso, temerrio; a
inteligncia mais espontnea do que refletida, mais intuitiva do que profunda, mas
menos equilibrada do que no Sangneo. Os atos do Bilioso so espontneos, violentos,
parciais, irrefletidos e instintivos.
O Bilioso suscetvel de coragem e tambm de sangue frio, de devotamento, de
entusiasmo, mas ele freqentemente parcial e injusto. Sua audcia o expe aos
acidentes e discrdia; sua imprudncia e sua ambio lhe criam inimigos.
O Temperamento Bilioso caraterizado por um excesso de combusto orgnica e
vital; o Frio e o mido so no Bilioso insuficientes para moderar o Seco e o Quente.
Desta falta de um elemento temperante, resulta um excesso de vitalidade, que se
traduz por um exagero de movimento e de motricidade, que a natureza retentiva e
retrativa do Seco torna repentinos, intermitentes e desprovidos de harmonia, e que o
Quente torna impetuosos e violentos.
Esses anlogos se reproduzem no moral. O Bilioso irritvel, orgulhoso, dominador
e irascvel.
A digesto do Bilioso rpida e fcil, e essa funo nele a melhor. Em amor o
Bilioso fiel, mas ciumento, vingativo e sem piedade. A sua ditese mrbida o mal
heptico, as leses do fgado por obstruo ou por clculos so freqentes. Os rins so
igualmente ameaados e os fluxos de bile podem produzir graves desordens em seu
organismo tais como: derramamentos, hipertrofi as, clculos biliares, cirrose, ictercia,
amarelo. A clera no Bilioso pronta e violenta, para ele uma perptua ameaa.
*
* *
1) A BILE NEGRA OU MELANCOLIA - (Natureza: Terra. Qualidades: Seco-Frio)
A Melancolia ou Bile Negra um humor pesado, produto dos resduos funcionais do
organismo. Se estes resduos so abundantes, h no indivduo predominncia da
Melancolia.
Esses excessos de resduos funcionais podem nascer de duas causas:
a) por retardamento na srie dos desdobramentos fermentat ivos que sofre a molcula
albuminide em meio redutor, de onde sobrevm a produo de creatinina, de corpos
ricos e de leucomanas. Da resulta o artritismo;
b) por retardamento das funes eliminatrias, de onde sobrevm a produo de uria.
Da resulta a uremia.
Quase sempre os estados mrbidos gerados pela Melancolia provocam profundos
males nervosos, o que a causa de uma deformao do diagnstico nos autores
modernos, os quais substituram a Melancolia por doenas de nervos.
Esse humor, quando aumenta no organismo, o ltimo termo da evoluo humoral,
e tambm o sinal que prenuncia a velhice.
2) A LINFA - (Natureza: gua. Qualidades: Frio-mido)
A Linfa um humor aquoso e frio, que desempenha um papel importante no
organismo como temperante do Quente e do Seco. Ela tem relao com o aparelho
circulatrio pelos vasos linfticos e com o aparelho digestivo por vasos especiais que
recebem seus produtos, assim com as veias quilferas.
A Linfa tem tambm relaes evidentes com o sistema nervoso. Os vasos linfticos
so muito numerosos nos tecidos serosos e passivos, e alm disso, o sistema linftico
est intimamente associado s funes da pele. Como o tecido dermatide tem estreita
conexo com os tecidos sseos, a Linfa, por ricochete, tem uma grande influncia sobre
os ossos.
3) O SANGUE - (Natureza Ar. Qualidades: mido-Quente)
O Sangue o lquido vital por excelncia; suas relaes com o ar dos pulmes, sua
anastomose atravs das camadas de tecido celular acabam a obra da ci rculao exterior.
Sua ao sobre os nervos, que ele banha e vivifica, pois manifesta.
to verdade que o msculo se nutre do Sangue, que ele reflete exatamente a
plasticidade deste. O prprio corao e apenas um msculo oco. A endocardia e a
pericardia so somente a repercusso das afeces reumticas articulares sobre o
corao.
Alm disso as funes sexuais, sobretudo no homem, tem estreitas relaes com o
aparelho circulatrio, principalmente com o ato eretivo e a secreo espermtica.
4) A BILE - (Natureza: Fogo. Qualidades: Quente-Seco)
A Bile um humor quente e seco, que produto da irritao.
Sua sede est sobretudo no fgado e na vescula biliar. Este humor, facilita as
funes digestivas, dissolvendo as matrias graxas e albuminides. Em suma, um
humor excremental, sobretudo quando est carregado com impurezas tiradas do
estmago. A Bile absorve os cidos e sua abundncia no organismo torna as digestes
alcalinas.
A Bile pode se tornar txica quando est em excesso ou sobrecarregada de
impurezas. Se, neste caso, ela irrompe na circulao, pode trazer graves conseqncias.
O fgado funcionando anormalmente dispe o indivduo s doenas da Bile, at mesmo o
diabete - pois o fgado produz acar.
* * *
bem evidente que o Homem nunca uma manifestao absolutamente pura de
um Temperamento e nem est submetido a um nico Humor. Tudo nele so combinaes
de influncias diversas. E de fato possvel estabelecer uma hierarquia de conjunto,
possvel dar a cada Temperamento e a cada Humor seu lugar em urna classificao
temperamento-humoral, por meio de coeficientes de influncias.
Mas, dir o leitor, eis-nos aqui longe desta Alquimia intelectual e moral, que o autor
nos fazia entrever no incio deste estudo. Chegaremos l .
Cada Temperamento correspondendo analogicamente, como de resto cada Humor,
a um modo de manifestao da personalidade, deve-se poder associar cada um deles de
maneira quaternria a uma das quatro Virtudes Cardinais (Prudncia - Temperana
Justia Fora), assim como aos quatro Vcios Cardinais (Gula - Luxria - Preguia -
Avareza).
E abordamos finalmente o domnio da Arquitetura Filosfica, com a simblica
tradicional dos Instrumentos na Arte Real ...
H muito tempo a evoluo do Homem e a sua espiritualizao progressiva por
intermdio da Via Inicitica tm sido comparadas construo de um verdadeiro Templo
Interior.
por isto que o rosacruciano Robert Fludd, um sculo antes da apario da
Franco-maonaria Especulativa, nos diz:
assim que se construir um Templo Interior, do qual os de Moiss e de Salomo
foram apenas pr-figuraes. Ento, quando esse Templo esteja consagrado, suas
pedras mortas vivero, o metal impuro se transmutar em ouro fino, e o Homem recobrar
seu estado primitivo de pureza e perfeio... (Robert Fludd: Summum Bonum quod est
verum: Magi, Cabala, Alchymi, Fratrum Ros Crucis verotum
26
.
E trs sculos mais tarde, Fulcanelli
27
lhe far eco nestas palavras que no
desiludiro o Maom avisado:
26
Este Templo como o Cu, em todas as suas partes ... (inscrio no templo de Ramss II). O
Templo do Salomo... foi construdo imagem do Homem e imagem do Universo. Estudar o
simbolismo secreto do Templo estudar um e outro... (J.B.Willermoz, manuscrito n 5.475 da
Biblioteca de Lyon, 1778)
27
Fulcanelli: As Manses Filosofais: tomo II. Faremos observar ao leitor que as correspondncias analgicas e as
atribuies da Tetractys alqumica, dadas nesta obra, so as da Tradio esotrica clssica.
Decorrem dos prprios princpios do Hermetismo, e dependem estreitamente umas das outras.
So as da tcnica da Alquimia Espiritual, nada inovamos. Se nos detivemos a justificar algumas relaes e laos
ocultos entre os Instrumentos da Arte Real e as potencialidades intelectuais e morais clssicas, foi porque
temamos que escapassem aos Maons pouco familiarizados com o simbolismo analgico.
No se poderia descrever melhor a dupla natureza do Magistrio, suas cores e o
alto valor desta Pedra Cbica que contm toda a Filosofia... A Filosofia confere quele
que a esposa, um grande poder de investigao. Ela permite penetrar a intima compleio
das coisas, que ela corta como uma espada, descobrindo a a presena do spiritus mundi
de que falam os mestres clssicos...
A ESCOLSTICA EXOTRICA
A Ignorncia um crime quando ela o
resultado da indiferena pela verdade. L, pois,
aproveita, reflete e trabalha...
(Evangelho dos Cortadores de Pedra e Mestres
de Obra, Companheiros Estrangeiros do Dever
de Liberdade. Manuscrito do 18 sc.)
A antiga escolstica medieval dividia o conjunto dos conhecimentos humanos
necessrios a toda vida intelectual em duas categorias: o quadrivium (ou via qudrupla) e
o trivium (ou via trplice). O todo constitua, pois, um setenrio de conhecimentos
perfeitamente profanos, como aquele que os Maons de altos graus que em matria de
anos no contam mais encontraram na noite da iniciao manica, frente guia
joanita de prata e de sable e diante da tradicional scala philosophorum.
De fato, esta ltima era j mais completa do que seu paredro do mundo profano
medieval. Ao setenrio das cincias se acrescentava o das virtudes. Infelizmente no
menos verdade que a atual scala manica est incompleta. Lamentavelmente, em
nenhuma parte mais a Maonaria apresenta a maravilhosa sntese gnstica que os
Cenculos ultra-secretos da Idade Media gtica ofereciam aos iniciados e aos adeptos.
A autntica scala philosophorum est sempre presente diante do Maom. Ela o
acompanha desde o momento em que ele recebe a luz como Aprendiz, atravs das
diferentes viagens que devem lev-lo at o Mestrado e alm. Mas seus maravilhosos
smbolos esto de tal maneira velados que muito poucos so os Maons que podem
descobrir os laos que ligam uns aos outros. Cremos, pois, especialmente til restituir -
lhes todo o relevo, sem o qual o Maom das Lojas simblicas permanecer sempre na
expectativa de uma revelao inicitica que nunca vir.
A escolstica medieval profana voluntariamente ignorava a existncia de uma
escolstica inicitica, detectada, compreendida e codificada pelos Hermetistas dessa
poca. Estes ltimos, alis, eram os herdeiros das antigas gnoses desaparecidas, cujo
bero situava-se ao mesmo tempo no Egito, na Assria e no Ir, h dezenas de sculos.
Essa escolstica medieval exotrica agrupava, pois, os conhecimentos teis em
dois grupos:
1 - Quadrivium: Geometria, Astronomia, Musica, Aritmtica.
2 - Trivium: Dia1tica (ou Lgica), Retrica, Gramtica.
A escolstica medieval esotrica acrescentou um terceiro ter mo, o Bivium, que
englobava a Astrologia e a Alquimia.
Devemos de fato reconhec-lo, a posse destes nove conhecimentos que nos
propiciou tantos pensadores de valor nessa poca, e mesmo durante a Renascena que
se seguiu Idade Mdia e a sufocou.
Lembremos resumidamente, para o leitor a quem suas denominaes no so
muito familiares, as suas antigas definies e em qu consistem.
Q U A D R I V I U M
Geometria
Cincia que tem por finalidade a medida das linhas, das superfcies e dos volumes.
Em geometria s so reconhecidas as definies que os lgicos denomi nam de definies
de nome, isto e, apenas as imposies de nome s coisas claramente designadas, em
termos perfeitamente conhecidos.
Denomina-se geometria elementar aquela que se limita a considerar as
propriedades das linhas retas, das linhas circulares, das figuras e dos slidos que
dependem destes dois tipos de linhas. Denomina-se geometria antiga aquela que
emprega somente a sntese, ao modo de Euclides. A geometria transcendente aquela
que emprega o clculo infinitesimal. A geometria analtica ou geral aquela que, como
fez Descartes em primeiro lugar, emprega o clculo algbrico na analise das propriedades
das curvas e das superfcies e que, desta maneira, resolve de um modo geral as questes
que anteriormente eram resolvidas somente em cada caso particular. A geometria dos
infinitamente pequenos a parte da geometria geral que emprega o clculo diferencial e
integral. A geometria descritiva o conjunto de mtodos que permitem resolver
graficamente, ou sobre um nico plano, os problemas de trs dimenses. Finalmente,
d-se o nome de Geometria do compasso a um mtodo que permite resolver graficamente
alguns problemas com. o auxilio somente do compasso. No seio do Companheirismo de
outrora, ela era o apangio dos Mestre de Obra. Em nossa poca as necessidades de
suas prprias descobertas compeliram Einstein a construir uma geometria no-euclidiana.
Astronomia
Cincia que engloba o estudo do conhecimento que inventaria os
Astros e as leis que regem seus movimentos, e em nossa poca o estudo da sua constituio
fsico-qumica, bem como a do prprio Espao intersideral.
Denomina-se astronomia matemtica aquela que se ocupa em especial do clculo
das foras s quais os Astros obedecem. A astronomia fsica se ocupa mais
particularmente das condies fsicas dos Astros. Finalmente, a astronomia nutica
engloba toda a parte desta cincia que tem por objetivo conduzir qualquer elemento de
navegao, martima ou area.
Msica
No sentido antigo e primitivo, a msica no era urna cincia particular; ela era tudo
aquilo que pertencia s Musas, ou delas dependia. Atualmente denominamos este
conjunto Artes Liberais, em nmero de nove. So elas: a Histria, a Msica, a Comdia, a
Tragdia, a Dana, a Elegia, a Poesia Lrica, a Astronomia, a Eloqncia ou Poesia
Herica.
V-se que se tratava de uma Cincia muito importante, incluindo toda Arte que
pudesse trazer ao esprito do Homem a noo de algo agradvel e bem ordenado.
Para os Egpcios, de acordo com Plato, a Msica consistia no regulamento dos
costumes e no estabelecimento e manuteno dos bons costumes.
Em nossos dias damos o nome de Msica a uma cincia que trata do emprego dos
sons chamados racionais, isto , que entram em uma escala denominada gama. Esta
significao parece ter sido decidida nitidamente j na escola de Aristteles, mas sem
nunca ter em absoluto excludo os outros sentidos na antigidade. Assim, ns definiremos
a Msica como uma aplicao e uma combinao da arte dos ritmos e dos sons.
Aritmtica
A Aritmtica a cincia dos nmeros e do seu emprego. necessrio no
confundir o nmero, que e uma abstrao, com a cifra, que nada mais do que um
smbolo grfico. A Aritmtica e, pois, a arte de calcular.
Atualmente empregamos mais o termo Matemtica para designar esta cincia dos
nmeros e seu manejo. Denomina-se Matemtica pura aquela que s se ocupa da teoria,
sem nenhuma idia de aplicao. Denomina-se Matemtica mista aquela que considera
propriedades de grandeza em alguns corpos ou objetos particulares:.
T R I V I U M
Dialtica (ou Lgica)
A Lgica a cincia que tem corno finalidade as propriedades do raciocnio. ,
pois, uma cincia eminentemente til ao Maom. Pascal entende que a Lgica
possivelmente tomou emprestadas as suas regras Geometria, sem compreender a sua
fora.
Chama-se lgica natural a faculdade de raciocinar que recebemos da natureza,
independente de regras. A Lgica , est visto, uma cincia que tem por objetivo o estudo
dos processos de raciocnio. A Dialtica uma arte que tende a permitir a demonstrao
de alguma coisa em particular. Assim como a Lgica raciocina, a Dialtica argumenta. A
Lgica se aplica em distinguir o verdadeiro do falso; a Dialtica procura apresentar uma
proposio de maneira tal que ela parea verdica e assi m seja admitida pelo interlocutor.
O termo Dialtica aplicado principalmente
nos processos de argumentao, enquanto
que a Lgica aplicada nos processos de raciocnio. assim que se fala da dialtica de
Plato, mas no de sua lgica.
A Lgica indiscutivelmente superior Dialtica, pois sua etimologia o prova.
Esta palavra deriva do grego lgos, que significa razo. Na filosofia platnica, Deus
considerado como a Razo e o Verbo do Mundo, contendo em si as idias eternas, os
arqutipos das coisas. No poderia, ento, haver nele nada de errado ou de
impermanente.
Retrica
A Retrica a arte de bem exprimir a natureza dos senti mentos e das coisas,
de fato a arte de persuadir. Ela se coloca assim ao servio da Dialtica, escrava da
Lgica, e a Retrica tem por auxiliar a Eloqncia. Aproximando-se deste modo
concepo antiga da Msica, isto , da cincia dos ritmos e dos sons.
Um verdadeiro lgico alcana a verdade atravs da Lgica. Se ele for ao mesmo
tempo um excelente dialtico, a Dialtica lhe permitira ser persuasivo, pela escolha dos
melhores argumentos para convencer o interlocutor ou o adversrio. Se ele for ao mesmo
tempo um excelente retrico (dizia-se na antigidade um retor), o valor de seus
argumentos e a excelncia de suas proposies sero colocados ainda mais em
evidncia. Mas se, alm disso tudo, ele possuir a cincia dos ritmos e dos sons, se suas
frases forem harmoniosamente cadenciadas, se as finais (as quedas) se afinarem em
harmoniosos ecos, evocando de algum modo a cadncia potica, ento seu discurso
torna-se uma espcie de encantamento, de carmen (lat. canto, poesia). por esta razo
que na Magia do mundo antigo, as encantaes destinadas a realizar sortilgios deviam
sempre ser recitadas (e no lidas) e compostas em verso, como se fossem poemas.
Tratava-se de fascinar o deus, de encant-lo.
Gramtica
Chama-se Gramtica a arte de expressar os pensamentos pela escrita e pela
palavra, de maneira a estarem conformes s regras estabelecidas pelo uso, repousando
este ltimo sobre uma cincia certa de etimologias vlidas.
A Gramtica, arte de escrever e de falar corretamente, repousa sobre quatro
princpios, que so: a razo, a antigidade, a autoridade e o uso. Se devemos Lgica a
justeza do discurso, Retrica a beleza de seus ritmos e de suas seqncias, devemos
Gramtica a pureza do discurso, a preciso dos termos empregados e sua correo.
Chama-se Alta Gramtica um estudo especial das qualidades que caracterizam o
estilo, considerado no que tem de agradvel ou de desagradvel para o leitor, ou para o
ouvinte. Chama-se Gramtica Geral a cincia racional dos princpios comuns a todas as
lnguas. Designa-se sob o nome de Gramtica Comparada, o estudo comparativo das
diferentes lnguas.
Pode-se dizer que a Gramtica engloba igualmente a arte da Escrita, pois a
primeira tem por etimologia o grego gramma, que significa letra. E a maneira pela qual os
sons so graficamente expressos no e coisa indiferente. Seria desarmnico redigir um
poema moderno em gtico antigo, por outro lado, um texto antigo nada ganharia em ser
transcrito em caracteres ultramodernos.
Chama-se escrita ideogrfica a que expressa diretamente as idias. Assim a escrita
chinesa antiga, ou os signos de pontuao em nossos pases. Chama-se escrita fontica
a que expressa por ideogramas os sons da palavra. So deste gnero os pontos
massorticos do hebreu quadrado. Designa-se sob o nome de escrita silbica aquela que
representa os sons da voz humana por meio das letras do alfabeto. A escrita hieroglfica,
particular ao Egito antigo, representava geralmente, no sons, mas sim, palavras. A
escrita demtica deriva desta ltima, mas sob um aspecto cursivo.
certo, muito bem estabelecido pela experincia, que a escrita expressa
perfeitamente o carter e o temperamento do escritor. A arte de descobrir estes ltimos
recebeu a denominao de grafologia.
A Franco-maonaria possui sua escrita prpria. Estudaremos suas origens e sua
estrutura esotrica (extremamente profunda) em uma obra posterior. Ela deriva do
principio dos Quadrados Mgicos, e mais particularmente do de nove casas, alis do
mesmo modo que o antigo hebraico quadrado
28
.
* * *
A Escolstica Exotrica usava ainda, no mbito da Teologia mais especialmente,
termos e palavras s quais dava um sentido particular e que reservava a esta cincia.
Assim o latim donum, significando dom, faculdade estava reservado ao prpria
do Esprito Santo. Para a Escolstica Exotrica tratava-se de faculdades adormecidas no
Homem, e que o Esprito Santo colocava em ao quando o julgava til para este, tornado
suficientemente dcil pelo exerccio das Virtudes habituais. Essas faculdades, naturais ao
Homem, insistimos neste ponto, somente podiam ser colocadas em ao se o Homem,
por sua docilidade, permitisse ao Esprito Santo gui-lo por uma espcie de instinto
divino, que substitusse o instinto natural:
No decorrer do presente trabalho, empregaremos por vezes a palavra dom, e por
vezes o termo faculdade. Que o leitor saiba que para ns se trata de faculdades naturais,
que ao Iniciado cabe desenvolver, utilizar e ampliar. Por outro lado, no domnio da
Iniciao Manica, no se trata aqui do aspecto sobrenatural destes mesmos dons como
entendidos pela Teologia clssica, mas do seu aspecto natural, O dom das lnguas no
para ns o fato de algum expressar-se em francs e de ser milagrosamente
compreendido por ouvintes que ignoram essa lngua. O Dom de discernimento dos
Espritos no consiste em saber discernir uma manifestao demonaca de uma teofania
anglica. Mas, como alis acontece com todos os outros dons, devemos ver ai faculdades
muito humanas que a Iniciao Manica, bem compreendida e seguida adequadamente,
est em condies de ampliar por uma espcie de ascese moral e intelectual .
Ser o mesmo com os carismas. A Escolstica antiga, e sobre tudo a Teologia, as
via como graas, extraordinrias, transitrias, ocasionais por vezes, e conferidas ao
28
Observemos que a ordem planetria dos Quadrados Mgicos deve ser invertida, isto , o quadrado de
trs casas sobre trs o da Lua, o de 4 x 4 o de Mercrio, o de 5 x 5 de Vnus, o de 6 x 6 do Sol, o
de 7 x 7 de Marte, o de 8 x 8 de Jpiter, o de 9 x 9 de Saturno; pois Saturno e o nmero nove esto
intimamente ligados.
Homem para o bem de seus semelhantes. Ns as vemos tambm como faculdades, que
derivam dos precedentes, dos dons. Este termo, derivado do grego Charits, designa as
trs Graas: Agla (a Brilhante), Talia (a Verdejante) e Eufrosina (a alegria da Alma).
Elas eram as dispensadoras da boa graa, da alegria, da igualdade de humor, das
maneiras agradveis, da liberalidade, da eloqncia, da sabedoria. Elas presidiam
beneficncia e ao reconhecimento. Seus smbolos prprios eram a Rosa, o Dado e a
Mirto. Elas partilhavam, em templos freqentemente comuns, das honras rendidas a
Vnus, a Mercrio e s Musas, todas elas divindades de marcado carter inicitico.
Assim pois, o leitor que nos ver utilizar, por comodidade e por facilidade de uso,
os termos dons, carismas no decorrer do presente trabalho, saiba que para ns estes
vocbulos designam faculdades naturais, que importante fazer brotar no profano no
curso da ascese manica, e atravs dela. Aqui importante lembrar o ensinamento do
rosa-cruz J. B. van Helmont: Uma fora oculta, adormecida pela Queda, est latente rio
Homem. Ela pode ser despertada, pela graa de Deus, ou ainda pela Arte da Kabala...
(J.B. van Helmont em Hortus Medicinae. Leyde, 1667) . Ambicionando apenas os
domnios de ao do plano moral e do plano intelectual a Arte Real pode, sem ambio
insensata, substituir a Cabala para o desenvolvimento natural dos dons latentes em toda
a personalidade profana, e com vistas a estes planos apenas.
Alias, no ilgico pretender reencontrar no Homem, e mais especialmente no
Maom, psiquicamente despertado pelo ritual inicitico, potencialidades anlogas quela
de que dispe o Ordenador Universal para a sua Grande Obra csmica.
Vimos na pagina que os nove Instrumentos podiam muito bem simbolizar, desde
sempre, no esoterismo secreto dos Collegia, as nove Entidades metafsicas auxi liares do
Grande Arquiteto, este considerado corno o ponto culminante desta hierarquia,
transformando, por sua presena, a enada em dcada, e realizando assim a divina
Tetractys.
Vimos que estas nove Entidades podiam ser encontradas na Cabala, com Kether e
suas nove Sefiroth secundrias; nos nove Eons da Gnose, no mito de Apolo e suas nove
filhas, as Musas, etc.
Simples emanaes divinas, entidades-princpio distintas do Criador, cada uma
delas necessariamente imperfeita, pois tudo aquilo que no estritamente ele prprio
lhe assim totalmente estranho. De onde, repetimos, o sentido pejorativo e injurioso dado
no Companheirismo operativo ao termo instrumento, designando o aprendiz (ou o
jovem), e o companheiro, tecnicamente insuficiente, preguioso ou inepto.
Se o Homem um Microcosmo, reproduo e reflexo exato do Macrocosmo, o
mesmo deve ocorrer nele, e das potencialidades csmicas de que dispe o Grande
Arquiteto para ordenar e organizar o Universo, o Homem deve possuir o equivalente, a fim
de ordenar a si prprio, psquica e espiritualmente.
A tradio judaico-crist, exotrica e comum, que influi, mais pesadamente do que
em geral se cr, sobre o pensamento ocidental, s nos deixa a escolha entre o corpo e a
alma, ou (So Paulo), entre o corpo, a alma e o esprito. Segundo ela o homem seria
duplo ou triplo. A tradio oriental mais generosa, ela que provavelmente tem razo
com os seus sete ou nove corpos sutis. E no se diz de um homem que retoma a plena
posse de seus diversos modos de ao, que ele retorna seus espritos
29
?
29
Convm reconhecer aqui que em alguns de seus grandes dicionrios teolgicos, a Igreja Romana define a Alma
segundo a tradio judaica da Kabala: gouph, nephesh, ruah e neshamah. O que d quatro princpios cada vez
mais sutis e prximos do divino, e no mais dois, ou mesmo um.
* * *
A ESCOLSTICA ESOTRICA
O VITRIOL FILOSFICO
Se a lio da Cmara de Reflexes no foi perdida, o Aprendiz sabe que deve em
primeiro lugar, e antes de qualquer coisa, fazer morrer o velho homem, despojar-se de
sua personalidade passada, que era ilusria e imprpria para lhe permitir alcanar os
modos superiores do pensamento. Cremos que aqui ser til citar o grande hermetista
Grillot de Givry, nesta excelente pequena obra A Grande Obra, consagrada Alquimia
Espiritual:
Coordena, pois, todas as tuas aes e todas as tuas impresses, a fim de formar
um conjunto harmnico perfeito. Esfora-te por adquirir a extrema lucidez do teu
entendimento. Desvia-te daquilo que suja a tua vista. No ouas aquilo que polui o
ouvido. Exalta em ti o sentimento da personalidade, para te esforares a seguir em
absorv-la no seio do Absoluto... (Cf. Grillot de Givry, obra citada II).
A exemplo de seus predecessores operativos, o Maom especulativo deve ser
construtor. Mas para construir, conveniente primeiro limpar o lugar destinado a tornar-se
canteiro de obra. necessrio primeiro desbravar, limpar, em uma palavra destruir certas
formas e certos modos de vida, que so obstculos para o edifcio futuro. Nem todas as
manifestaes da personalidade so necessariamente boas e desejveis, como imagina
determinada escola anglo-saxnica. H impulsos e atividades que, apesar de todas as
suas tendncias para se objetivar e passar ao ato, devem permanecer no seu habitat
natural: as profundezas. por meio de uma disciplina de todos os momentos que se
realiza o verdadeiro mestrado que , antes de mais nada, o domnio de si mesmo.
Cada instrumento da enada manica estar revestido de um duplo modo de
utilizao: destruidor e criador, e mesmo de um trplice aspecto:
destruidor... dos maus pendores, em nmero de nove
purificador... dos sentidos fsicos e psquicos, em nmero de nove igualmente,
criador ... das faculdades superiores, em numero de nove tambm, mas que se
subdividem cada um em dois modos de atividade secundria, ou seja vinte e sete ao
todo
30
.
esta vigilncia interior de cada instante, este autocontrole em todas as suas
atividades, que para o Maom constitui o Vitriol Filosfico.
30
O antigo companheirismo medieval tinha o seu Circuito da Frana (Tour de France), que era feito com paradas
em vinte e sete cidades diferentes, de etapa e de parada, onde o Aspirante (Aprendiz) se aperfeioava antes do grau
de Companheiro. O nmero vinte e sete tambm o das estaes dirias da Lua no curso do seu priplo mensal.
igualmente o tempo exigido por Saturno (um dos trs cronocratas - senhores do tempo - celestes), ou seja, vinte e
sete anos para percorrer o Zodaco; e cada uma das casas dirias lunares equivale a um domiclio anual de Saturno.
Eis porque as Escrituras podem afirmar que o dia como um ano.
Sabe-se que na Via mida da Alquimia Operativa por meio de um cido especial,
que em si mesmo um segredo da Arte, que o Alquimista ataca a Matria Prima.
Acontece o mesmo com a Alquimia Especulativa. Corrosivo dos casces psquicos e
morais do Maom, este cido, por abstrato que seja, conserva os mesmos efeitos
dolorosos de um cido material. No renunciamos sem aflio, tanto aos
estupefacientes que so as nossas paixes habituais e muito humanas, quanto s
cadeias que so os hbitos.
* * *
INSTRUMENTOS DO APRENDIZ
1 - O A V E N T A L
A TERRA DOS FILSOFOS
(Constncia no Labor)
O Avental tem numerosas correspondncias analgicas, que so as clssicas do
elemento Terra. Damos a seguir as mais comuns, dentro do quadro da classificao
esotrica medieval, classificao em que ningum deve se admirar (tendo em vista o
modo de pensar na poca) de ver vizinharem com os sentidos os dons do Esprito Santo,
decorrentes das Virtudes Cardinais, Teologais, Filosofais, e em oposio aos Pecados
Capitais. O Maom habituado a esta forma particular de traduo da antiga escolstica
que a analogia (velha regra hermtica), ver logo a relao entre a vi da corrente e a
vida inicitica.
O Avental , em primeiro lugar, o smbolo da Prudncia, especialmente no
exerccio dos sentidos em geral. Outrora se dizia erguer o avental para expressar que
uma donzela se preparava para sacrificar a sua virtude. Chamava-se avental uma espcie
de toalha que se amarrava ao abdmen do carneiro para impedir que cobrisse as ovelhas;
e esse nome era dado a um prolongamento exagerado dos grandes lbios vulvares de
determinadas mulheres negras do Sul da frica.
Era, no antigo Companheirismo, o smbolo da passagem do Aprendiz ao grau de
Companheiro; ele pagava ento o direito do Avental, ou direito de passagem.
Esta palavra designa o tabuleiro de uma ponte levadia ou de uma ponte comum, e
ento a imagem da passagem. Est ligada s trs letras L. D. P., que figuram sobre
determinadas alfaias dos altos graus manicos, associadas ao mito do retorno ao mundo
inicial (abandono do mundo profano) com o simbolismo da reconstruo do Templo por
Zorobabel. Estas trs letras significam Liberdade de Passagem.
Chama-se tabuleiro (tablier) o lado do jogo de damas ou de xadrez sobre o qual se
desenrola a partida, e que dividido em casas pretas e brancas. a lembrana do
Pavimento de Mosaicos da Maonaria Simblica, quadriculado de modo semelhante. O
adgio as brancas jogam e ganham exprime simplesmente a f e a esperana manicas
em um futuro indefinidamente perfectvel, no triunfo final da Luz sobre as Trevas. O
Pavimento de Mosaicos deve ter 108 casas: 9 x 12.
A palavra francesa tablier (avental) deriva do latim tabula: table em francs (mesa),
que encontrada tambm nas palavras tabelio: (latim: tabellio) escriba, escrivo,
notrio, e no rabe tabel: escrivo pblico.
O tabardo era uma espcie de capa, de casula curta, geral mente armoriado, e que
revestiam os arautos de armas como distintivo de sua funo. Portadores do tabardo, os
arautos eram inatacveis, um pouco maneira dos embaixadores. Seu avental (tabardo)
era a sua armadura moral e diplomtica, assim como o Avental Manico para o
Maom.
O Tabernculo (latim taber naculum: armrio sagrado) vem igualmente de table
(mesa), assim como o Tablier (Avental). A esse ttulo o Avental manico exprime
esotericamente um carter sagrado e misterioso. Aproximamo-nos do sentido secreto com
a palavra Tableau (Quadro em francs), que significa imagem, e com o verbo tabular:
embasar, apreciar, fundamentar.
Como o latim tabula significa igualmente prancha, no nos surpreendamos por
encontrar o Avental (Tablier) no incio da hierarquia manica, com o Aprendiz, e
reencontr-lo no fim dessa mesma hierarquia com o Mestre trabalhando sobre a Prancha
de Traar. Ele abre e fecha todo o ciclo do trabalho manico. Mais ainda, sobre um
Tabuleiro (Tablier) sbia e corretamente talhado e cortado, se poder desenvolver traados
e rebatimentos geomtricos do mais alto interesse, e muito significativos dos mistrios da
Ordem
31
.
O Avental do Aprendiz possui cinco lados (abeta levantada). Aqui so enfatizados
os cinco sentidos, fonte de conhecimento material e dos erros que da decorrem.
Tornando-se Companheiro (abeta baixada), ele reproduz no seu avental quatro lados, e
31
H sculos, quando a Maonaria Operativa detinha ainda algumas tradies mgicas, era um Avental
pentagramtico que servia de toalha de altar, de Mesa Operativa.
quatro o nmero denominado poder divino no simbolismo numrico tradicional.
Eis as correspondncias analgicas do Avental:
Sentido .............................. O Tato
Vcio Capital ....................... A Avareza
Cor do Prisma ..................... O ndigo
Forma Asctica ................... O Silncio
32
Virtude Cardinal ................ A Prudncia
Faculdade Espiritual ............. O Dom de Conselho
Carisma Secundrio .............. Dom da Interpretao
Artes Liberais ........................ A Geometria
Elemento ........................... A Terra ( Matria Prima )
Temperamento ................... Melanclico
Humor .................................. A Melancolia ou Blis Negra
Qualidades Elementares ..... Combinao do Frio e do Seco
* * *
O TATO
Mortificao sobre a qual pouco h que dizer. O sentido do Tato, no
domnio profano, s perigoso quando desperta em ns os elementos passionais, ou contatos
suscetveis de alterar nossa sade ou nossa vida. Neste primeiro caso, esto: o contato de uma
arma colocada na mo de um adolescente e que pode despertar nele o desejo de poder, e at
de violncia criminal; na mo de um apaixonado cego de cime, o desejo de se vingar e de
matar. As carcias por vezes constituem apelo volpia dos sentidos, e podem levar a desvarios
degradantes. Observa-se, em alguns avaros, que o contato do ouro, do dinheiro, das cdulas ou
de ttulos financeiros suscita uma espcie de febre de poder, ainda que no empregado. No
segundo caso, o Tato pode levar a imprudentes contatos que, por infeco microbiana, so
suscetveis de alterar gravemente nossa sade. De qualquer maneira, se deve ter cuidado para
no sofrer, sob vagos pretextos iniciticos, toques em determinadas regies do corpo, toques
que possam despertar em ns centros sutis de foras que, ainda muito mal conhecidas, devem,
como medida de prudncia, continuar adormecidas. Nada mais perigoso do que os chamados
despertamentos psquicos, efetuados por ignorantes que no conhecem seu incalculvel
alcance, ou que, dissimuladamente, tomam seu discpulo como objeto de experincias.
A AVAREZA
Sabe-se em que consiste este vcio: no amor desordenado pelos bens aqui de
baixo, bens que se deseja conservar para si s. Ora, importante distinguir entre estes
bens. Uns so necessrios, para o presente e para o futuro. pois, um dever adquiri -los
por meio de trabalho honesto. Outros so teis somente para aumentar gradualmente os
nossos recursos, assegurar o nosso bem-estar e o dos outros, contribuir para o bem
pblico favorecendo as cincias e as artes. Ningum est proibido de adquiri -los, nem
mesmo de desej-los, para uma finalidade beneficente, honesta, e bom que nos
lembremos do pobre e do indigente.
A Avareza existe de trs maneiras:
- na inteno. Deseja-se apaixonadamente as riquezas por si mesmas, como um fim em
si. uma espcie de idolatria, culto do bezerro de ouro; viver em funo do dinheiro.
- na maneira de adquirir os bens materiais. Procura-se com avidez, por quaisquer meios,
em detrimento dos direitos de outrem, s vezes mesmo em detrimento da prpria sade
32
Note-se a relao que a expresso esotrica estabelece entre a abeta (bavette) do Aprendiz, que deve
ficar levantada, e a tagarelice (bavardage) que lhe proibida por sua qualidade... Diz -se tailler une bavette
(conversar) , e a expresso figura nos dicionrios. Tailler une bavette portanto, estar liberado da regra
do silncio. Note-se a analogia com o uso militar da Idade Mdia em que se cortava as duas pontas da
flama que ornava a lana do cavaleiro, quando este passava qualidade de senhor de pendo, cujo
emblema era um estandarte quadrado. De igual modo, tornando-se Companheiro, o Aprendiz adquire o
direito de fazer perguntas aos mestres em Loja aberta, e tambm o de baixar a abeta triangular de seu
Avental.
ou da dos seus.
- na maneira de usar. Gasta-se com remorso, considera-se o seu uso como um
esbanjamento, ignoram-se os pobres, recusa-se o auxlio a outrem. Capitalizar, isto o
que importa
33
.
Mas existe igualmente uma Avareza espiritual. Ela impulsionar o Maom,
embora advertido, a um isolamento total e estril. Desvelar, revelar, ensinar, transmitir tudo o
que ele prprio recebeu ou aprendeu de seus predecessores ser para ele sempre uma coisa
dolorosa e chocante. Ele amontoar livros e manuscritos, documentos e iniciaes, mas jamais
conceber que apenas um instrumento de transmisso, um elo na Cadeia secular. As
filiaes iniciticas extra-manicas s quais ele se tenha ligado, ele as fracionar novamente,
multiplicando as provas, os graus, as classes, com a nica finalidade de retardar o mais possvel
o instante em que ser obrigado a terminar seu prprio papel, e do aluno de ontem fazer o seu
igual de hoje, talvez o seu superior de amanh.
Em Loja ele sistematicamente se recusar a conceder qualquer aumento
de salrio aos seus Irmos. Seus trabalhos sero sempre incompletos, no por ignorncia, mas
por exagero do segredo, argumento muito cmodo para dissimular sua recusa em transmitir, sua
avareza intelectual.
O SILNCIO
Para o Aprendiz, o silncio da lngua consiste evidentemente em no
reclamar presunosamente a palavra (visto que no tem direito a ela), e em escutar
simplesmente as trocas de idias entre seus Irmos mais antigos.
Para todo Maom, isto consiste na absteno de falar inutilmente, pelo simples
prazer de tomar a palavra e de manifestar a sua presena, terminando por nada relatar de
interesse a respeito do assunto tratado. Consiste tambm no silencio do corao, que
fazer calar suas paixes e seus jogos de imaginao, em fazer calar qualquer
pensamento que no esteja relacionado com os seres e as coisas criados, e com o que
lhes seja til. O Silncio o primeiro elemento constitutivo de um conhecimento pessoal.
A PRUDNCIA
O Avental, destinado a proteger o Aprendiz contra as lascas da Pedra que
ele se esfora em desbastar, est legitimamente associado Prudncia.
A Prudncia um princpio de ao moral que aperfeioa a razo prtica do homem
com a finalidade de que, em cada uma de suas aes, ele disponha e ordene as coisas
com convm, impondo-se a si mesmo (ou queles cuja ao est subordinada sua e
que dela dependem) aquilo que convm fazer a cada instante para a realizao perfeita
da tarefa empreendida ou do objetivo procurado.
A Prudncia, em suas aplicaes correntes constituda de diversos
aspectos, a saber:
a) a lembrana atenta das coisas passadas, ou memria,
b) uma clara viso dos princpios de toda ao, geral ou particular, assim como de suas
conseqncias,
c) a reverncia a respeito do que determinaram os Irmos mais sbios, que nos
precederam,
d) a sagacidade para descobrir aquilo que seria impossvel exigir subitamente de algum
outro e que poderia ofend-lo,
33
A Avareza suscitou no sculo passado essa forma odiosa de explorao da mo-de-obra por uma
classe cpida e sem ideal, que permitia legalmente, sob a monarquia orleanista de 1830, fazer
trabalharem crianas de seis anos doze horas por dia nas fiaes, e fazer outras descerem s minas aos
dez anos! Ser sempre um ttulo de honra ao mrito das Lojas do Rito de Memphis-Misraim terem, em
1876, solicitado aos poderes pblicos que limitassem em oito horas a jornada dos trabalhadores.
e) o so exerccio da razo, aplicada a cada ao,
f) a previdncia ou a determinao quanto substncia de um ato exigida no momento da
ao,
g) a circunspeco a respeito de tudo o que acompanha dito ato,
h) a precauo contra tudo o que poderia colocar um obstculo ou comprometer o
resultado.
A Prudncia propriamente a virtude do domnio:
- domnio sobre si mesmo, ou prudncia individual,
- domnio na famlia, ou prudncia familiar,
- domnio na Sociedade, manica ou profana, denominada outrora prudncia real.
O DOM DE CONSELHO
Se negligenciarmos o aspecto particular sobre o qual insistia (no
cristianismo medieval) a antiga escolstica, podemos definir sob este termo uma disposio
superior e transcendente que aperfeioa a razo prtica do homem, em virtude de uma Iniciao
real.
Esta disposio particular a torna ento pronta e dcil para encarar tudo o que
necessrio para a sua iluminao final, que todo verdadeiro Maom considerar como o
nico fim da Arte Real.
Esta disposio vem em socorrer da razo humana sempre que
necessrio. Pois, ainda que provido de todas as virtudes, adquiridas ou infundidas desde o
nascimento, a razo humana continua sempre sujeita ao erro ou surpresa, na infinita
complexidade das circunstncias que afetam sua ao, em si mesma, ou em relao a outrem.
So as armadilhas que a Prudncia freqentemente pode evitar. Como essencial ao
desenvolvimento futuro, ela , pois, a primeira a ser adquirida, e com ela o dom de Conselho.
Ambos so obtidos pela prtica do Silncio, que corresponde Terra Filosfica, e as trs
constituem um dos primeiros Instrumentos do Aprendiz
O DOM DE INTERPRETAO
Respeitador da regra do Silncio que lhe e imposta pela Tradio manica, o
Aprendiz tem o direito de ser socorrido por urna espcie de dom particular, includo na
Iniciao do primeiro grau, e ligado ao choque da Luz. Este dom aquele que a antiga
escolstica medieval religiosa denominava: interpretatio sermonum ou dom de
interpretao.
Consiste na faculdade de compreender intuitivamente, ou por via imaginativa, e
quase instantaneamente, aquilo que os Irmos da Loja e particularmente os Oficiais
exprimem atravs dos Rituais (tanto de Abertura e de Fechamento dos Trabalhos, como
de Iniciao) de um lado, ou pela leitura das Instrues, dos Catecismos ou pelo estudo
dos Sinais e Palavras, que lhe foram ensinados.
Para os Maons que ultrapassaram os dois graus seguintes (Companheiro
e Mestre), esse dom de Interpretao consistir no fato de interpretar exatamente e de acordo
com a Tradio Manica os Rituais, Catecismos, Instrues, etc., e no cometer erros em sua
aplicao. Igualmente em transmitir tudo isso exata e claramente aos Aprendizes que esto a
seu cargo.
A GEOMETRIA
indiscutivelmente a cincia do Aprendiz, mas tambm a de todo o
Maom que quer verdadeira e exatamente se tornar um obreiro do Templo.
Que ningum entre aqui se no for gemetra... tal era a regra imprescritvel
imposta por Pitgoras em seus centros iniciticos. lamentvel constatar o quanto o estudo
desta cincia, essencial para o Maom especulativo, negligenciada em nossos dias nas
diversas Obedincias.
No entanto, nada mais filosoficamente esotrico do que a Geometria, e aquele
que quiser lanar-se ao trabalho de procurar em seus teoremas essenciais a Metafsica
que est secretamente contida neles, descobrir um maravilhoso jardim.
Se duvidarmos, bastar nos lembrarmos que a palavra teorema vem do
grego theoria; este termo deriva oficialmente de threin: examinar, considerar. Mas podemos
observar que esta palavra exprime preferencialmente a idia de teoria. Ora, teoria vem tambm
do grego theoria, que significa procisso de deuses, cortejo religioso.
Assim, o prefixo thes, que significa em grego divino, a raiz do nosso teorema, e
a Geometria ento a cincia do Divino; no sentido platnico da palavra.
O Avental do Aprendiz, cuja silhueta pentagramtica permite, sobre o seu prprio
esquema,
tantos traados secundrios plenos de esoterismo, est assi m intimamente
associado Geometria.
* * *
AS LUVAS BRANCAS
As manoplas, formadas de lamnulas ou de malhas de
ferro que se superpe, protegem as mos do cavaleiro
dos ferimentos, mas sobretudo dos contatos impuros.
Que ele nunca esquea que toda fora vem de Deus, o
Soberano Senhor, e que aps ter deposto suas armas e
tirado suas manoplas (luvas) resta-lhe o imperioso
dever de juntar as mos nuas para render graas, pela
prece, a Aquele que lhe deu a fora para vencer...
Raymundo Lullo
Avental e Luvas Brancas constituem a vestimenta do Maom. As Faixas, ou os
Colares dos Oficiais so decoraes.
Na Simblica Manica nosso saudoso Irmo e amigo Jules Boucher nos diz:
As luvas brancas dos Maons so, preciso dizer, o smbolo da pureza. O
costume de usar luvas brancas ainda no caiu em desuso, e muitos Maons franceses
respeitam essa tradio. Seria desejvel que este costume fosse generalizado. Em alguns
pases estrangeiros isto uma regra estrita, que no sofre qualquer exceo.
Jules Boucher escreveu estas linhas em 1947. A Franco-Maonaria francesa,
acabava de sair do negro perodo que foi o sinistro e vergonhoso Governo de Vichy, e
havia retomado suas tradies seculares. Hoje, dezessete anos mais tarde, h poucas
Lojas manicas bem conduzidas que no respeitam este costume.
As luvas brancas so na Maonaria no apenas um smbolo, mas tambm objetos
rituais. Sabe-se, de maneira certa, que um magnetismo real emana da extremidade dos
dedos, e as mos enluvadas de branco s deixam filtrar um magnetismo transformado e
benfico. Em uma assemblia de Maons onde todos esto com luvas brancas, cria-se
um ambiente muito particular que at o menos avisado sente muito nitidamente. Uma
impresso de apaziguamento, de serenidade, de quietude segue-se muito naturalmente. A
modificao trazida por este signo exterior mais profunda do que se poderia crer.
Ocorre o mesmo com muitos de nossos smbolos, que se tornam eficientes quando
passam do plano mtico para o plano ritual ... (J. Boucher : Simblica Manica)
O exemplar original que Jules Boucher nos ofereceu traz a seguinte dedicatria,
em ouro fino: A meu caro e velho amigo e Irmo Robert Ambelain, que me deu a Luz
Manica em 30 de novembro de 1943, com meus sentimentos afetuosos e cordiais: J.
Boucher.
De nossa parte, agradecemos a Jules Boucher por ter ele deixado aos Maons este
magnfico trabalho que seu livro, e felicitamo-nos por ter conseguido acrescentar
Cadeia milenar de nossa Ordem este elo de alto valor.
Quando de sua recepo nas Obedincias fiis tradio manica secular
conscientes de suas responsabilidades iniciticas, o Aprendiz recebe dois pares de luvas
brancas, um para ele prprio e que usar no decorrer dos trabalhos em Loja, e o segundo
destinado mulher que ele mais estima...
Aqui citaremos Oswald Wirth, discpulo de Stanislas de Guaita, pleno de
esoterismo:
As luvas brancas recebidas no dia de sua iniciao, evocam ao Maom a
lembrana de seus compromissos. A mulher que os apontar quando estiver a ponto de
falhar, lhe aparecer como sua conscincia viva, como a guardi de sua honra. Que
misso mais elevada poderia ser confiada mulher que mais se estima?
O Ritual, contnua Oswald Wirth, faz observar que nem sempre a que mais se
ama, pois o amor, freqentemente cego, pode se enganar a respeito do valor moral desta
que deve ser a inspiradora de todas as obras generosas e grandes... (O livro do
Aprendiz, Oswald Wirth)
De fato, no sculo dezoito, a grande poca da Franco Maonaria, dava-se o nome
de clandestina mulher julgada a mais digna pelo novo Maom. Este termo vem do latim
clandestinus que tem relao com o mesmo latim clam que significa secreto, oculto.
Podemos supor que se tratasse ai da dama do pensamento dos Cursos dAmor dos
trovadores e, portanto, prximo como tradio do Amor Perfeito caro a Dante, aos
Ctaros e a toda a Cavalaria medieval.
Esse gesto da oferenda das Luvas simblicas nos proporciona um novo aspecto
quando Goethe, recebido Aprendiz em Weimar a 23 de junho de 1780, So Joo de
Vero, ofereceu as suas Senhora de Stein e lhe fez observar que, se em aparncia o
presente era muito modesto, ele apresentava o carter peculiar de s poder ser ofertado
por um Maom uma vez em sua vida...
* * *
A Igreja, muito antes da Franco-Maonaria especulativa, sua irm gmea no
universo dos arqutipos, conheceu bem cedo o uso das Luvas.
Seu emprego, sob a denominao latina de Wanti ou Manicae, todavia no
anterior ao fim do nono sculo. No dcimo segundo sculo era to habitual que Honorius
dAutun, bispo dessa cidade, fazia remontar sua origem aos Apstolos. H a apenas urna
adaptao litrgica de uma pea de vestimenta profana, com a finalidade de ornar as
mos do Bispo, como seus ps o eram desde bem antes (ver o cerimonial do lava-ps
considerado como sacramento em determinada poca e em certas regies da
Cristandade.)
Reservado de direito aos Bispos, o uso das luvas como insgnia de dignidade foi
concedido aos Abades desde 1070. Fora de Roma elas eram usadas freqentemente
com a Capa. Do dcimo ou dcimo segundo sculo em diante as luvas eram
ordinariamente de fio. A seda o substituiu pouco a pouco embora at o fim da Idade
Mdia houvesse ainda luvas de fio e tambm de l. Durand de Monde parece conhecer
somente o uso de luvas brancas, mas tambm so encontradas luvas de cor (a da liturgia
do dia) a partir do dcimo segundo sculo.
As luvas litrgicas foram sempre luvas com dedos separados e no mitenes. Cada
dedo, correspondendo a uma simblica planetria particular
34
, devia conservar sua
independncia e, portanto, sua irradiao prpria. A exemplo do Manto Sagrado,
freqentemente exigia-se que a luva fosse tecida em uma s pea, para mostrar que a
diversidade de irradiaes oferecida pelos dedos se ajustava a uma dependncia geral
em vista da finalidade comum: a beno e a vida espiritual. Sua forma se modificou com o
tempo, adaptando-se moda laica.
Freqentemente as luvas eram ornadas, no dorso da mo, com plaquetas de metal
esmaltadas ou no, ou ainda com medalhes bordados, emblemas do papel sacramental
das mos do Oficiante. No fim da Idade Mdia, estes ornamentos mveis foram
substitudos por bordados executados sobre o prprio tecido da luva, a exemplo do que
acontecia com as vestes.
No simbolismo litrgico as luvas episcopais, qualquer que seja seu material (fio,
seda, l), evocam as mos de Jacob, recobertas de pele de cabrito (ver Gnesis 27:16).
Sabe-se que Jacob significa sup1antador. Conhece-se
a viso de Salomo: E eu vi o
segundo Adolescente levantar-se em lugar do Outro (Eclesiastes 4:15) . No uso das
luvas existe a idia de franquia, de sucesso, de substituio. O novo homem suplanta o
velho homem, a luz afasta as Trevas do No Ser, cujos limites ltimos jamais deveriam
ser ultrapassados. O Novo Ado suplanta o tenebroso soberano que ele havia dado a si
mesmo imprudentemente. Tal o ensinamento esotrico do cristianismo realmente
inicitico. Ele pode ser aceito e Interpretado pelo Maom.
Observar-se- a importncia das luvas episcopais no fato de que, no final da
Cerimnia de Sagrao de um Bispo, o Consagrador entrega, ao mesmo tempo, ao novo
Eleito, a Mitra e as Luvas
35
. O Bispo recm sagrado ilustra ento a frase clebre
dos Evangelhos: Eis a hora em que o Prncipe deste Mundo vai ser lanado fora... (Joo
12:31). Como reflexo do Cristo, tambm ele um suplantador.
Talvez o Maom deva reler a Lenda de Hiram, na verso drusa relatada por Grard
de Nerval em sua Viagem ao Oriente, muito particularmente os ltimos pargrafos das
Noites De Ramazan:
Assim se realizou a predio que a sombra de Enoque havia feito, no imprio do
Fogo, a seu filho Adoniram, nestes termos: Tu ests destinado a nos vingar, e este
templo que tu elevas causar a perda de Salomo.
, pois, em memria de Hiram, o suplantador de Salomo junto a Balkis, que os
Filhos da Viva usariam luvas, smbolo dessa misso permanente: destruio de toda
tirania
36
* * *
Maonicamente, a luva se reveste de aspectos mais sutis ainda que os da liturgia
religiosa crist.
A luva simbolizar de fato a doura, a complacncia, a deferncia para com a
Ordem e para com os Irmos da Loja. Em francs se diz tomar as luvas quando se quer
expressar todas estas qualidades.
Expressar igualmente o mrito do Aprendiz que triunfou das provas iniciticas e
34
O indicador: Jpiter O mdio: Saturno O anular: Sol O auricular: Mercrio O polegar: Vnus
A percusso: a Lua.
35
Cf. R.Aigrain: Liturgia, Blond e Gay Editores, Paris 1947.
36
Balkis o smbolo esotrico da misteriosa Noiva do Cntico dos Cnticos, ou seja, a Shekinah divina.
obteve do Venervel da Oficina que lhe conferisse finalmente a Luz. Pois a antigo locuo
francesa dar-se as luvas de tal coisa significa apropriar-se do mrito dessa coisa
37
.
tambm o smbolo da honra e da dignidade. Na Idade Mdia o senhor suzerano,
quando conferia um cargo ou um feudo em arrendamento, era obrigado a dar suas luvas
aos agentes que o haviam assistido, ele e seus vassalos presentes. Isto expressava uma
marca de confiana e de gratido pela guarda assim assegurada.
A luva ainda um smbolo inicitico por excelncia, a iniciao em si, pois para
expressar o fato de ter a primeira idia, o mrito, o proveito, a descoberta de alguma
coisa, dizia-se outrora que se tinha as luvas, isto , a iniciativa primordial. tambm o
smbolo da preciso, da perfeio: isto me cai como uma luva.
Era igualmente a imagem do indito, da revelao, de uma mensagem, pois
outrora eram entregues luvas ao mensageiro portador de uma notcia importante. Esta
locuo ainda existe na Espanha, para guantes de fato o equivalente ibrico (para as
luvas) da expresso francesa gorjeta.
,
A luva ainda smbolo da pureza, da retido, da f. A antiga locuo sobre as moas
que perderam suas luvas, significa que perderam sua virgindade. So conhecidos
os versos de
La Fontaine:
Muitas moas perderam suas luvas
E mulheres em troca se tornaram,
Que no sabem na maioria das vezes
Como esta coisa aconteceu.
* * *
Luva de Nossa Senhora o nome dado aquilgia, tambm denominada aiglantine
(rosa silvestre), e que no outra seno a aquilia. Leonardo da Vinci a colocou
entrada de seu Labirinto.
A aquilia a planta de que se serviam os geomantes taxistas da velha China para
confeccionar as cinqenta varinhas com que interrogavam o I-KING, o livro das
transposies divinatrias estabelecido peio mtico Fo-Hi. o smbolo da prpria
adivinhao
38
.
Esta planta servia alm disto, nos antigos herbrios, depois de colhida e posta em
infuso segundo ritos precisos, para curar os males dos olhos, ampliar a viso. Dai seu
outro nome de aiglantine , pois a guia (aigle em francs) o nico pssaro capaz de,
por causa da sua dupla plpebra, contemplar o Sol de frente.
Assim, pois, colocada por Leonardo da Vinci entrada do seu Labirinto, a luva de
Nossa Senhora a imagem da adivinhao, da clarividncia, suscetvel de conduzir o
Iniciado atravs dos artifcios do Labirinto at a misteriosa Cmara do Meio, e por seu
nome de aiglantine, ela nos sugere o valor da doutrina joanita para esta delicada
operao. Observemos que o Labirinto clssico tinha trs entradas, assim como as
Catedrais gticas construdas pelos Maons construtores. E isto o liga ao simbolismo da
Virgem Celeste, que vai da Isis antiga, me de Horus, o Verbo de Osris, at Maria, me
de Jesus, o Verbo do Pai. Assim, pois, as luvas manicas relacionam-se com o
simbolismo zodiacal do Signo da Virgem
39
.
37
Todas estas locues antigas figuram nos antigos dicionrios franceses de Littr.
38
Ver Adivinhao chinesa pelo I-King, de Yan-Kuang (Paris, 1950, Voga edit.)
39
por sua luva que se diz que Nossa Senhora de So Wandrille (a clebre abadia beneditina) conduz
Observemos igualmente que o mais clebre dos Labirintos antigos era o de
Cnossos em Creta, descoberto em 1902 pelo Doutor Evans, de Oxford. Era denominado
em latim Absolum, palavra bem prxima do nosso Absoluto. Acrescentemos que para os
Alquimistas familiarizados com a celebre cabala solar ou cabala fontica, Cnossos est
bem prximo de Gnosis, que significa Conhecimento. E encontramos novamente a luva
manica com todos os seus precedentes significados esotricos: adivinhao,
clarividncia, conhecimento, iniciao, etc.
Se tomarmos o seu outro nome aiglantine (erva da guia), evocamos a doutrina
joanita pois a guia o pssaro que, no Tetramorfo, corresponde a So Joo. Isto nos
leva aos Templrios, de quem os Maons construtores constituam de algum modo a
ordem terceira, pois que estavam sob a proteo dos senhores do Templo.
E existe ainda material de jogo para a cabala fontica, ou cabala solar, pois as
luvas em latim se chamam manicae (de manus: mos, evidentemente), termo sobre o qual
se pode estabelecer um jogo de palavras com maniqueu, epteto aplicado aos Templrios
e aos Ctaros pelos seus adversrios. E, de fato, se o dualismo no existe no Absoluto,
existe no Relativo. Da o juramento pitagrico: Pelo Cu e pela Terra, pela Luz e pelas
Trevas, pelo Dia e pela Noite, pelo Sol e pela Lua, pelo Fogo e pela gua... Ora, assim
como os Maons, os maniqueus se diziam Filhos Da Luz, e so dois pares de luvas que
o Venervel entrega ao novo Aprendiz
40
...
o Iniciado para a Luz, pois que dita: ... a neqotio perambulante in Tenebris ... ou seja: Aquela que
conduz os que caminham nas trevas... O que significa que pelo conhecimento que o Iniciado assegura
sua salvao pstuma. Se tivssemos de escolher entre a Salvao e a Gnose, nos diz Clemente de
Alexandria, nosso interesse seria escolher a Gnose....
O fato de tirar as luvas , por outro lado, marca de honra, quando nos preparamos para encontrar algum
a quem desejamos manifestar nosso respeito, como quando da apresentao a um Soberano, ou quando
os Maons fazem a cadeia de unio, invocando o Grande Arquiteto do Universo.
Um dos aspectos mais profundos desse uso secular se encontra no ritual da caa (caa com galgos e a
cavalo). No momento em que o chefe da equipe deve servir (abater) a caa nobre, (cabrito monts,
cervo), com a adaga (ou seja, a ferro, como um gentil -homem), e isto em presena dos vassalos (os
membros da equipe) e dos valetes de armas (os ces da matilha) , as trompas soam o halali, em terra.
(Deve-se descer do cavalo).
Neste momento todos tiram as luvas, privilgio do primeiro picador confiscar as luvas
daqueles que esquecem que as honras prestadas ao animal que vai morrer, unem em um mesmo sacrifcio, to
misterioso quanto grandioso, o Homem, o Animal e a Floresta.
40
Eu sou Elohim, o nico Senhor, criador da Luz e criador das Trevas... Isaas 45:6-7. Eu Fao a Paz, e
crio o Mal... Isaas 45:7. No so essas, na Bblia, aluses mani questas?
2 - O M A O
A GUA DOS FILSOFOS
(Vontade na Aplicao)
Assim como para a Alavanca e todos os outros Instrumentos da Arte Real,
encontraremos numerosas correspondncias analgicas para o Mao. A chave dada
pelo Elemento que lhe corresponde. ele que liga misteriosamente todas estas coisas.
Se assim no fosse, no distinguiramos um parentesco esotrico entre elas. O mesmo
acontece com os seres vivos, e sem um elemento imperceptvel, a hereditariedade,
assistido por uma combinao de genes e de cromossomos, como poderamos afirmar
que existe um lao de parentesco entre um indivduo da nossa poca e seu longnquo
ancestral do perodo carolngio?
O Mao tira seu nome do latim malleus: martelo, que deu igualmente o termo
malevel, isto , susceptvel de ser amoleci do. O malleus, ou martelo latino apropriado
para amolecer qualquer coisa. Da sua analogia com a gua, o elemento de amolecimento
por excelncia.
Derivando das analogias esotricas da gua, as do Mao so as seguintes:
Sentido O Gosto
Vicio Capital A Gula
41
, que suscita a mastigao destinada a
amolecer.
Cor do Prisma O Verde
42
Forma Asctica A Solido
Virtude Cardinal A Temperana
Faculdade Espiritual O Dom do Temor
Carisma Secundrio O Dom das Lnguas
Artes Liberais A Aritmtica
Elemento A gua
Temperamento Linftico
43
Humor A Linfa
Qualidades Elementares Combinao do Frio e do mido.
O GOSTO
O Gosto o sentido pelo qual somos levados a distinguir os sabores. Tem por sede
o palato e a lngua. Rege igualmente os pendores que podemos ter por uma certa forma
de beleza, por determinadas formas de harmonia: poesia, literatura, escult ura, pintura ,
msica, etc.
Todavia, o sentido do Gosto deve ser disciplinado, o que, transposto, nos faria dar
muita importncia, e at mesmo gerar a paixo pelas riquezas livrescas, as ricas e belas
encadernaes, os manuscritos ou os textos raros, a qualidade e o nmero de nossos
livros. o Gosto que, bem domado, evitar que nos embeveamos com exposies por
demais sedutoras, onde a doura das palavras vazias, o vu das frases sem contedo, o
ineditismo de teorias assim enunciadas, apenas mascaram o mais completo vazio; coisas
que tenderiam a nos arrastar para pseudo-ensinamentos sem nenhum carter inicitico
real.
O sentido do Gosto correspondendo gua Elementar tambm o domnio da
sensibilidade. Evitaremos, pois, ceder a uma sensibilidade igualmente sem profundidade.
O Amor uma palavra aviltada desde muitos lustros, uma palavra que freqentemente
mascara o mais completo vazio. O verdadeiro Amor construtivo, e o gape dos gregos,
no supe indulgncia ou fraqueza frente ao Erro, mas sim a preocupao com a Justia
e a Verdade.
A G U L A
A Gula o amor desordenado pelos prazeres da mesa, o beber e o comer. A desordem
(que a de grande nmero de gastrnomos) consiste em procurar o prazer da comida por si
mesma, considerando-o explcita ou implicitamente com um fim, ou busc-la em excesso, sem
cuidar as regras que dita a sobriedade, e por vezes mesmo contrariando o que seria bom para a
sade. Por vezes reforada, com o nico objetivo de obter a percepo de sabores
particulares, com atos de crueldade inegveis cometidos contra animais (como quando so
cozidos vivos).
A Gula tem diversos aspectos: do guloso at o gluto, passando pelo comilo,
existem diversas nuances. s vezes se acrescenta o egosmo e a falta de caridade para
com outrem como quando, para satisfazer os seus prprios apetites, o indivduo diminui
ou suprime aquilo que deveria destinar aos pobres.
Pode-se comparar as quantidades espantosas de alimentos raros e custosos
imprudentemente esbanjados nos banquetes reais do Anti go Regime por inumerveis
41
A mastigao decorre da Gula, ela amolece os alimentos.
42
O verde simbolicamente, em seu mau aspecto, a corrupo, que produz um amolecimento.
43
O linftico mole.
parasitas da Corte, com a subalimentao e a misria popular, to bem descritos por
Vauban em sua Memria sobre o Dzimo Real.
O mal da Gula que ela submete o esprito ao corpo carnal, materializa o homem,
enfraquece a sua vida intelectual e moral, e o prepara, tornando-o insensivelmente
indulgente consigo mesmo, para o culto dos sentidos. s vezes ela conduz
intemperana da lngua, e faz violar a discrio, desvelar aquilo que deve ficar oculto,
faltar aos juramentos, e freqentemente, justia e caridade para com outrem por meio
de palavras custicas proferidas aps repastos muito abundantes.
A SOLIDO
A Solido o meio de assegurar o silncio da lngua. Ela consiste em:
a) evitar misturar-se material e inutilmente com multides profanas, com
preocupaes fteis, com reunies sem objetivos vlidos. Esta a primeira via do
Aprendiz;
b) evitar interiormente, por misturarem-se com os jogos de nossa imaginao e de
nossa memria, o contato com imagens que nos lembrem essa multido, os
indivduos que a compem, e que no nos ajudam em nossa caminhada inicitica,
bem como todas as vises suscetveis de nos degradar moral ou
espiritualmente. Esta a via real do Companheiro e do Mestre.
A Solido obedece a trs moveis:
a) evitar o mal que possa provir dos Homens;
b) evitar o mal que se possa fazer ao prximo, a nossos Irmos;
e) permitir ao Esprito Manico manifestar-se plenamente em ns.
S a Solido proporciona o conhecimento do Mundo material.
A TEMPERANA
A Temperana uma virtude que mantm sempre a afetividade sensvel aos
ditames da razo, a fim de que ela no se lance indevidamente aos prazeres que os cinco
sentidos exteriores propiciam.
Ela se manifesta de diversos modos:
a) a continncia, que consiste na deciso de no seguir cegamente os movimentos
violentos da paixo;
b) a clemncia, que consiste, de acordo com a virtude da Caridade, na correo do
mal cometido por outrem, e que a virtude de Justia exige ver mais eqitativamente
corrigido e expiado, coisas fatalmente necessrias;
c) a mansuetude, que consiste em aplacar o movimento interior da paixo pela
eqidade a fim de que no se torne a Clera;
d) a modstia, que consiste em refrear, moderar ou regular a parte afetiva nas coisas
menos difceis que as precedentes, isto , o desejo da sua prpria excelncia, o
desejo de conhecer aquilo que no nos imediatamente til, ou o que e intil para
seguirmos a nossa senda manica e espiritual, as aes e os movimentos
exteriores do nosso corpo carnal, e as atitudes exteriores como a maneira de se
comportar ou de se vestir e ornar. Entre o Maom que vai Loja vestido de maneira
negligente e aquele que quer deslumbrar seus Irmos com sua elegncia
exagerada, h lugar para o Maom temperante. E essa virtude pesar igualmente
no domnio da escolha dos adornos manicos. Entre o Maom que negligencia o
uso das simblicas luvas brancas, (lembrana de sua recepo como Aprendiz) e o
Maom com paramentos sobrecarregados de bordados inteis e caros, h lugar
para o Maom discreto, corretamente vestido e decorado, cujas Luvas, Avental,
Colar ou Faixa ornados com as jias regulamentares, estaro sempre limpos e sem
qualquer mancha;
e) a tolerncia, que consiste em respeitar as opinies e as crenas dos outros como
gostaria que fossem respeitadas as suas prprias.
seguramente um domnio em que a Franco-Maonaria se realiza e se reconhece
melhor. No entanto, nem sempre coisa fcil, pois a Maonaria-Princpo uma coisa, e
a Maonaria-Humana bem outra. Em uma Oficina que seja em sua grande maioria
espiritualista, um Candidato racionalista ser impiedosamente recusado. Em uma outra
Loja, composta de Maons racionalistas, todo profano que fizer profisso de f
espiritualista, ser freqentemente rejeitado. E no poderiam ser recriminados esses
Maons, fiis ao clima inicial de sua Loja, se tais rejeies muito justificadas fossem
completadas pela indicao e recomendao de que esses profanos fossem
encaminhados a uma outra Loja, onde seriam certamente recebidos.
Convm, alis, dirigir a ateno dos Maons anglo-saxes que se pretendem
regulares, para as condies que podem justificar a ruptura das relaes com
determinadas Obedincias europias. Pois este sempre um problema atual.
Que algumas dessas Obedincias se permitam abreviar os Rituais clssicos a
ponto de trunc-los, que os diversos graus da Maonaria simblica (que a Maonaria
essencial, com usos imprescritveis) sejam transmitidos sob formas que no constituem
mais do que uma banal colao por comunicao prpria de certos altos graus
secundrios, em suma, que uma indiferena desdenhosa seja assim manifestada a
respeito de nossas tradies e de nossas formas iniciticas, e estar ento justificada a
ruptura, pois j no existir mais de fato a Maonari a verdadeira nesse meio.
Mas que sejam rompidas as relaes sob o falacioso pretexto de que esta ou
aquela Obedincia se recuse a impor s suas Lojas a crena de que foi o Deus Supremo
que pessoal e realmente ditou o Antigo Testamento, ou o Novo, ou ainda o Alcoro, ou
Bhagavad Gita, ou as leis de Man, ou todo o conjunto, violar o juramento de
fraternidade e desdenhar a tolerncia.
E necessrio lembrar a esses Maons que recusam admitir a Maonaria que no
esteja ligada a esta ou aquela forma religiosa particular, quando a prpria Igreja Catlica
em seu conclio Vaticano II reconhece a liberdade de conscincia como um direito
imprescritvel, Deus tendo querido o ser humano livre e responsvel, e tendo em conta
que a frmula adotada definiu essa mesma liberdade de conscincia como o direito que
todo ser humano tem de permanecer na confisso religiosa na qual foi educado, ou se
ligar a qualquer outra confisso de sua escolha, ou ainda no ter nenhuma? Sendo a F
uma graa que Deus dispensa ou recusa, reprovar um homem por no t-la, fazer esta
reprovao a Deus.
Ignoram eles, estes Maons cristos, as palavras de Santo Agostinho: Aquele
que se diz fora da Igreja todavia est em seu seio, e aquele que se cr dentro dela j est
fora? necessrio lembrar-lhes o texto da Declarao dos Direitos do Homem:
Ningum poder
ser molestado por suas opinies, mesmo religiosas...? O que
subentende e inclui as opinies no religiosas.
bem evidente todavia que a tolerncia no poderia ser aplicada aos que querem
destru-la. No h liberdade para aqueles que querem estrangular a liberdade! E praticar
essa mesma tolerncia a respeito de partidos polticos e de jornais que fazem campanha
a favor de uma ditadura, seja ela qual for, a favor de um programa que vise amordaar a
opinio pblica, para instaurar um governo classista, o racismo, as perseguies
ideolgicas contra os cidados, os campos de concentrao pelos delitos de opinio, a
tais programas no poderia ser aplicada a tolerncia. Frente a eles, o Maom deve
colocar-se como adversrio.
f) o liberalismo, que consiste em no obrigar outrem a viver segundo princpios,
crenas, usos, costumes e prescries, s quais ele se recusa a atribuir uma importncia
ou um valor qualquer. O liberalismo sempre prprio dos espritos equilibrados,
generosos e bons. O seu contrrio o sectarismo cujo aspecto mais corrente o
puritanismo. Diz-se de um liberal que ele tem o esprito aberto, e do seu contrrio, que
ele tem o esprito estreito, duas expresses que eloqentes
44
. A Franco-Maonaria
francesa pode orgulhar-se a justo ttulo do progresso realizado em quase trs quartos de
sculo em matria de liberalismo, tanto na sociedade como nos indivduos, e isto graas
aplicao de seus prprios princpios.
O DOM DAS LNGUAS
44
As campanhas contra a escola leiga (escola do diabo), o ostracismo mundano contra os divorciados
(em que a indissolubilidade do casamento apenas amplia os dios srdidos e defende interesses muito
materiais), a verberao contra as segundas npcias dos vivos e das vivas, a pudiccia (pretendendo -se
virtude) freqentemente associada falta de higiene, e asneira, tudo isso origina-se no sectarismo,
quando no em uma banal hipocrisia. Ser necessrio lembrar a histria daquele antigo ministro,
distribuidor oficial dos prmios de virtude na Academia, ou a do parlamentar conser vador (chamado por
seus colegas Pai do Pudor), e que se revelaram um dia, luz de escndalos clebres, como autnticos
depravados sexuais?
O Dom das Lnguas (genera linguarum na velha escolstica medieval)
diversamente interpretado segundo os autores antigos. Corresponde a uma espcie de
facilidade de elocuo, que permite encontrar instantaneamente as palavras e as frases,
assim como os argumentos, mais prprios para se fazer entender por seu interlocutor, e
para convencer e persuadir uma assistncia perante a qual se fale. Consiste ainda em
uma certa facilidade de assimilao das lnguas estrangeiras, que assim permitem
combater e ultrapassar uma das principais fontes de diviso entre os homens, geradora
de sua mtua incompreenso. Pode tambm consistir no fato de ser compreendido
intuitivamente pelo Irmo que se deseja colocar na senda mesmo que falando por
palavras veladas. Duas expresses manicas que exprimem. perfeitamente o dom das
lnguas.
O DOM DO TEMOR
O Dom do Temor consiste em colocar-se, ante a Tradio Manica a mais antiga,
ante seus Usos, seus Ritos, seus Mistrios, seu modo de expresso, seus Smbolos, com
um justo e inteligente respeito, ainda quando nos possam parecer impossveis de decifrar.
Querer suprimir ou modificar aquilo em que no se penetra em seguida, um sinal de
orgulho e de auto-suficincia.
O mesmo Dom do Temor consiste ainda, para o Maom realmente desejoso de
construir em si mesmo um Templo Interior em no considerar as Cerimnias das quais
participa como aes sem qualquer valor. Numerosas so as interferncias que elas
introduzem em nosso psiquismo, e por intermdio deste em nossos estados de
conscincia superiores. Existe uma forma de sugesto inegvel nas iniciaes
manicas, e a esse ttulo, por meio da repetio do seu ritual., elas podem, em outro
domnio, lembrar os famosos exerccios espirituais que Incio de Loyola impunha aos
seus discpulos.
A ARITMTICA
A cincia dos nmeros e de seu manejo, bem como o estudo de seu simbolismo ,
junto com o da Geometria, essencial para o Maom digno deste nome. Os Nmeros
permitem alcanar toda uma filosofia e uma verdadeira metaf sica.
Tudo est ordenado segundo o Nmero..., nos diz Jmblico citando o Iros
Logos de Pitgoras, afirmao retomada por Aristxenes de Tarento.
E em sua Introduo Aritmtica, Nicmaco de Gerase afirma que: Tudo aquilo
que a Natureza ordenou sistematicamente no Universo parece, em suas partes como no
todo, ter sido determinado e colocado em ordem de acordo com o Nmero, pela
previdncia e pelo pensamento dAquele que criou todas as coisas... . O que Theon de
Smirna comentava assim, em seu Expositio Rerum Mathematicorum: Os pitagricos
consideravam todos os termos da srie natural dos Nmeros como princpios, de maneira
que, por exemplo, Trs seja o princpio de todos os Trs entre os objetos sensveis, e
quatro o princpio de todos os quatro nos mesmos....
Theon do Smirna nos revela aqui um aspecto da metafsica pitagrica, fazendo
com que entendamos que os dez primeiros Nmeros ou seja, a clebre Tetractys ,
constituem a classificao inicial de todos os outros nmeros ordinrios e, por
conseguinte, so potncias metafsicas, transcendentes ao Universo. Elas s se tornam
imanentes por intermdio dos nmeros vulgares que dai decorrem. Est a a noo do
Nmero-Idia, ou Nmero-Puro, dos Theologumena Arithmeticae de Nicmaco de
Gerase que, nos mesmos, nos diz que a Dcada o Todo, pois que ela serviu de medida
para o Todo, assim como o Esquadro e o Cordel na mo do Ordenador... .
isto que Salomo, emblemtico gro-mestre da Franco-Maonaria Universal,
expressa quando nos diz: Mas Tu, Eterno, Tu regulas todas as coisas com Medida,
Numero e Peso .... (Sabedoria 11:21).
3 - O CINZEL
O AR DOS FILSOFOS
(Discernimento na Investigao)
Em grego Cinzel se diz kopus, no qual se encontra o prefixo kopa: golpear, cortar.
ainda denominado egkopus e glars, mas este ltimo mais especialmente a marreta
dos cortadores de pedra, espcie de mao pontudo de um lado e afiado do outro.
Em latim Cinzel se diz caelum e designa tanto o cinzel como o buril. Ora, o mesmo
termo caelum significa a atmosfera, o cu, o ar, o clima. V-se que a nossa Scala Philoso-
phorum tem suas correspondncias perfeitamente verificadas. Veremos que elas o so
muito mais ainda pelas combinaes das Cores que so atribudas a cada elemento
dessa Tetractys, combinaes estas que demonstram de maneira rigorosa o fundamento
das analogias. Que o Cinzel seja anlogo ao Elemento Ar fica estabelecido por sua
homonmia com a mesma palavra latina que designa este Elemento. Acrescentemos que
sua traduo grega e tambm muito expressiva, pois se kopus (que deu origem a corte)
significa cortar, temos uma expresso segundo a qual um vento norte seja cortante, diz-se
dos planaltos que so cortados pelos ventos e, inversamente, diz-se fender o vento norte;
e ter o rosto ou a pele cortados pelo vento so expresses correntes.
Derivando das analogias esotricas deste Elemento, as do Cinzel so:
Sentido O Olfato
Vcio Capital A Luxria
Cor do Prisma O Violeta
Forma Actica O Jejum
Virtude Cardinal A Justia
Faculdade Espiritual Piedade ou sentido do Dever
Manico
Carisma Secundrio O Discernimento dos Espritos
Artes Liberais A Msica
Elemento O Ar
Temperamento Sanguneo
Humor O Sangue
Qualidades Elementares Combinao do mido e do Quente
* * *
O O L F A T O
O Olfato o sentido que permite perceber e distinguir os odores. Tem por sede
as mucosas nasais. Metaforicamente est associado a uma expresso usada para definir
algum fazendo-se uma apreciao instintiva. Diz-se s vezes de algum que no tido
em odor de santidade, expressando assim que no uma pessoa apreciada e que esta
impresso puramente intuitiva, ou ainda, que uma situao no nos cheira bem.
O uso imoderado dos perfumes do mundo profano, a influncia que permitimos
que exeram sobre ns, sejam eles industriais, ou naturais, freqentemente so pretextos
para satisfazer nossa sensualidade inferior, ou nos incitar a volpias por vezes
degradantes.
Acontece o mesmo com as combustes aromticas, familiares aos Maons
Ocultistas. As emisses odorficas que sobem das caoletas e dos incensrios so ao
mesmo tempo ondas de apelo destinadas a nos colocar em contato psquico com
planos, mundos ou dimenses ontologicamente diferentes dos nossos. Elas no se
destinam satisfao do nosso olfato, nem do nosso desejo inferior de um ambiente
pseudo-mstico. E muito menos a impressionar o profano, dando-lhe a impresso de que
possumos o segredo de certas fumigaes misteriosas, deixando-o supor que a evoluo
do seu intelecto e da sua espiritualidade dependem de banais impresses olfativas.
Bem ao contrrio, elas devem servir para criar em ns, num instante preciso, um
clima interior que nos permita, microcosmo analogicamente idntico ao Macrocosmo, o
despertar de planos superiores deste ltimo, includos em potncia no primeiro, isto por
uma verdadeira reverso analgica.
Por outro lado, se existem emisses odorferas suscetveis de nos fazer tomar
conscincia desses mundos ou dimenses desconhecidos, tambm h os que so
suscetveis de nos fazer descer a profundezas opostas: odores sui generis que incitam
sexualidade excessiva, perfumes operacionais de carter nitidamente involutivo e que nos
colocam em contato com centros psquicos de foras interiores, igualmente includas em
potncia em ns, mas at ento adormecidas ou neutralizadas.
Todavia, com justa razo que em sua Simblica Manica Jules Boucher
lamenta que as fumigaes estejam em nossos dias negligenciadas ou banidas da
Maonaria Especulativa clssica. Os crios e as fumigaes so, a nosso ver, nos diz ele,
o adjuvante indispensvel das Cerimnias Manicas, s quais elas do uma conotao
sagrada que deve reinar nos Templos. Dissemos um adjuvante, pois evidente que elas
em nada modificam os ritos fundamentais da Ordem Manica... (Obra citada, pginas
122/123)
Acrescentaremos nosso pesar ao seu, e ns o estenderemos principalmente
liturgia dos Altos-Graus, no estudada aqui, liturgia que, todavia, menciona fumigaes de
incenso e de benjoim para muitos graus superiores, dcimo oitavo, trigsimo, trigsimo
terceiro notadamente.
A catarse pitagrica, nos dizeres de Plutarco, em seu De Iside, comportava,
antes do sono do Iniciado, certos acordes de lira e certo perfume, o kuphi
45
, do qual nos
d a receita, e que: ... apaziguam como por encanto a parte sensvel e irracional da alma,
atenuando e desligando, como ns, as preocupaes do dia, polindo e purificando, como
em um espelho, aquilo que, nessa alma, imaginativo e suscetvel de receber os
sonhos.....
O kuphi, nos conta Plutarco em seu De Iside, se compunha de uma mistura de
dezesseis ingredientes: mel, passas de uvas, juna (cipercea dos pases quentes),
resina (de pinho), mirra, pau-rosa (que no madeira de roseira, mas a madeira da
physocalymnia floribunda), sseli (gnero de umbelfera das regies mediterrneas),
lentisco (pistcia cujo suco d lgrimas odorantes chamadas mastique , em rabe
masqueth), betume, junco cheiroso, pacincia (espcie de poligoncea, com razes anti -
escorbticas), grande e pequeno zimbro, cardamomo (espcie de amomo da ndia), e
clamo (trata-se da calamita, espcie de goma-resina odorante).
45
Leia-se cufi.
Algumas Lojas clandestinas do Rito de Memphis-Misraim
46
utilizaram, durante a
ocupao alem ou sob o governo de Vichy, um perfume composto de:
Incenso pulverizado ........................................ 3 partes
Mirra pulverizada ......................................... 2 partes
Benjoim pulverizado ..................................... ...1 parte
Acar em p ................................................. parte
Sal de Nitro .................................................... parte
Total .................7 partes
esta mistura que aconselhamos s Lojas que desejam voltar aos antigos ritos,
mistura facilmente realizvel, de baixo custo. Ela acalma instantaneamente o sistema
nervoso, acalma o mental, leva paz alma, e sobretudo d serenidade a uma assemblia.
A LUXRIA
A Luxria a capitulao, parcial ou total, ante os desejos sexuais, a recusa em
manter uma disciplina racional, em seu prprio comportamento gensico, assim como nos
jogos de imaginao que precedem geralmente o desejo das aproximaes fsicas.
A liberao inconsiderada e anrquica desses impulsos permite que outros,
geralmente latentes nas profundezas do ser, subam tona e se manifestem. A
objetivao destes ltimos muitas vezes facilitada pela Curiosidade, e sob o pretexto de
evitar o recalque, escorrega-se pouco a pouco pela encosta da libertinagem voluntria e
consciente, e por vezes homossexualidade
47
.
46
Notadamente a Alexandria do Egito, cujas sesses ritualsticas se realizaram secretamente, duas
vezes por ms, de 1941 a 1944, em nosso domiclio! Nessa Loja Jules Boucher (autor da Simblica
Manica) foi recebido sucessivamente Aprendiz, Companheiro e depois Mestre. O Gro Mestre da
Grande Loja de Frana, Michel Dumesnil de Grammont, dignou-se presidir a primeira reunio oficial dessa
Loja, pouco depois da Libertao de Paris, em 1944...
47
A suposta liturgia gnstica, falsamente atribuda Igreja gnstica de Lyon por A. Delmas, na Revista
Internacional das Sociedades Secretas (nmero de 1/2/1928) , na realidade, a dos grupos luciferianos do
muito clebre Crowley! Mas os fanticos anti -maons e anti-semitas da R.I.S.S. decidiram atribu-la a Jean
Bricaud, a fim de desacreditar as Organizaes sob sua responsabilidade (Maonaria, Martinismo,
Gnosticismo) .
No o caso de negar a necessidade de uma vida sexual harmoniosa e
perfeitamente normal, onde o corao justifica muitas vezes o violento impulso dos
sentidos. Amar uma coisa natural para todos os seres, e a castidade no a
continncia. Mas o excesso um mal em tudo.
Ento a Luxria, nos far introduzir um certo sensualismo em todos os domnios
iniciticos onde ns, Maons, estivermos trabalhando. Aquele que dela escravo
inconsciente ser sempre a priori hostil s doutrinas e aos ensinamentos espirituais, ou
cuja disciplina, intelectual e moral, lhe parea muito severa. Ele sustentar sempre a
necessidade de se comportar de maneira mais liberal com as exigncias da natureza
humana inferior. As religies e as doutrinas em que a sexualidade desempenha um papel
importante (tantrismo dito de esquerda, gnosticismo licencioso, vintrasismo; magia
sexual, etc.) ter nele sempre um defensor.
Mas esta falha se pronunciar sobretudo no domnio da facilidade: ele
transmitir, sem ponderao, as iniciaes e os ensinamentos dos quais seja depositrio
a impetrantes no adaptados ou estranhos a essa corrente. Ele ceder facilmente os
segredos iniciticos aos indivduos do sexo oposto, em troca de seus favores. Enfim,
assim como para as fornicaes e os adultrios espirituais reprovados em Israel por
seus profetas, ele se tornara sectrio de doutrinas, de iniciaes, de cerimnias com
freqncia diametralmente opostas. Ele no hesitar, por interesse ou prazer, ou incitado
por uma simples curiosidade, em se dirigir para as formas irracionais e involutivas de
iniciao, quando for levado a constatar que, materialmente, os aspectos superiores desta
nada lhe dizem.
O equilbrio sexual, frenador da Luxria, nunca implica, no entanto, na
adeso a princpios e a modos de vida totalmente ultrapassados. O Maom , antes de
mais nada, um homem livre e de bons costumes, a esta toda a medida. A moral manica
no poderia se acomodar ao terrvel rigorismo ctaro de outrora, ao puritanismo
intolerante de certas igrejas protestantes, ao integrismo catlico, ao fanatismo muulmano
prprio de certas seitas. O verdadeiro Maom deve ser um homem perfeitamente
equilibrado, e equilibrado porque razovel. Ora, seria irracional pretender fazer viver,
estrita e integralmente, e contra a sua vontade, os habitantes de uma grande capital
moderna unicamente de acordo com as mltiplas, e muitas vezes estranhas, leis que
Moiss ditou, h trinta e sete sculos para tribos bedunas, pastoris e nmades, com a
finalidade de torn-los um s povo: Israel! No Conclio Vaticano II, um dos padres
conciliares achou til lembrar que nesse domnio ns no estamos mais nos tempos de
So Paulo....
O JEJUM
O Jejum consiste na reduo do alimento, e isto leva reduo natural das
necessidades desse gnero. Ele deve ser feito de maneira racional, para que a sade
fsica e moral no sofram qualquer dano. A questo no que o Maom se prive de uma
alimentao necessria, a palavra Jejum aqui apenas uma expresso conforme aos
dizeres da antiga escolstica, e na presente exposio de maneira alguma significa a
mesma coisa. No entanto, em termos de medicina, constatou-se inegveis e excelentes
resultados em dietas bem conduzidas.
O Jejum no aqui considerado como um modo de penitncia, assim como
acontece nas formas da prtica religiosa clssica, mas como uma dieta destinada a liberar
o esprito por um uso racional, moderado e harmonioso. As faculdades intelectuais e
morais s podero melhorar, a compreenso e a assimilao sero maiores. Por outro
lado, segundo uma tradio muito antiga do Islam inicitico, o Jejum permite o
conhecimento do mal, permite distingui -lo e evit-lo.
A JUSTIA
Vimos que o Cinzel encontra a sua etimologia na palavra grega que significa
trinchar, cortar. No de admirar, pois, que corresponda na Tetractys alqumica Justia
da qual o Gldio tradicionalmente o emblema. O Gldio corta a Injustia, assim como o
Cinzel corta as imperfeies da Pedra Bruta.
A Justia uma virtude que tem por objetivo fazer reinar entre os membros de
uma sociedade uma harmonia de relaes baseada sobre o respeito dos membros entre
si e daquilo que constitu em diversos graus os seus bens prprios, morais ou fsicos,
espirituais ou materiais.
Ela tambm tem por objetivo principal regular nossos deveres estritos a respeito
dos outros seres. Como tal ela se distingue da Caridade, que de esprito diferente e
menos submissa do que a Justia a normas limitativas. Ela faz reinar a paz e a ordem na
vida individual, bem como na coletiva. Ela se aplica tanto aos bens temporais como
reputao e dignidade espiritual e moral do prximo.
Ousaramos dizer que em nenhum caso o Maom digno deste nome poderia se
identificar com o explorador de subrbio, pobre imitador de uma corja que ele admira em
seu inconsciente, mas que sua falta de audcia impede, felizmente, de imitar? Se
efetivamente legtimo, e mesmo desejvel, ver o Maom apelar ao fraternal apoio de
seus Irmos nas dificuldades da vida (pois a fraternidade manica no deve ser uma v
palavra), isto jamais deve ocorrer a expensas de outrem e ningum deve achar -se lesado.
Por outro lado, na participao regular e legitima no governo da cidade, como
cidado, que o Maom poder colocar em prtica a virtude da Justia assim como ela lhe
foi inculcada e expressada em Loja por nossas tradies e nossos princpios.
Um costume, que algumas Obedincias consideram imprescritvel, o de que
toda exposio, e toda discusso que se seguir, sejam interditadas pela Maonaria de
Tradio se abordarem algum assunto poltico ou religioso
No primeiro caso recusar todos os trabalhos histricos, pois eles implicam
freqentemente em uma concluso, explcita ou implcita, que de fato uma tomada de
posio poltica.
No segundo caso, e riscar dos programas de estudos tudo o que tem a ver com
religies comparadas, com a histria das crenas, e renunciar anlise ou exposio de
alguns dos mais profundos sistemas metafsicos concebidos pelo Homem, tais como a
Kabala, a Gnose, etc. deixar estagnar-se o esprito de nossos jovens Irmos numa
mediocridade intelectual, indigna da Franco-Maonaria. E se, por outro lado, ante a
necessidade destes estudos, constituirmos cenculos paralelos para o estudo destas
matrias, estas organizaes que sero iniciticas e a Maonaria se tornar intil.
No caso da recusa obrigatria de todo estudo poltico em Loja se inculca no
inconsciente do jovem Maom, sem que ele se d conta disto, uma espcie de abdicao
inconsciente e progressiva de seus deveres de cidado. Recusar -se- prpria
Maonaria o direito de trabalhar ativamente na edificao do Templo Perfeito que ela
pretende, alis, ter recebido a misso de realizar aqui em baixo. H provavelmente para
este uso uma muito antiga e interesseira razo de ser; no nasceu sozinha no sculo
dcimo oitavo! De fato, a primeira maonaria inglesa era catlica e ligada dinastia dos
Stuards. Jurava-se fidelidade a Deus e Santa Igreja. A segunda maonaria inglesa
(depois da queda dos Stuards) foi protestante, ligada casa de Orange. A atual
anglicana e ligada casa de Hannover (Windsor atualmente).
Ora, num caso como noutro h uma nica orientao poltica, a do soberano, ento
absoluto. No se discute, nem para aprovar, nem para reprovar. O rei reina, seus
ministros governam em seu nome. Falando dele, dizem: O rei meu mestre... No h
discusso religiosa possvel, pelo prprio fato da existncia de uma religio de estado,
apoiando e legitimando o soberano, o qual agradece aplicando seus dogmas ou, sendo
necessrio, impondo-os pela fora. Pois ele ostenta, entre outros ttulos, o de Defensor
da F. E as Lojas esto abundantemente guarnecidas de ministros desta mesma
religio
48
.
No estamos mais nessa poca; os Maons no so mais sditos, mas cidados. Ao
menos em Frana. E concordaremos em que os membros de uma Loja conservam o
direito imprescritvel de abordar, ocasionalmente e quando a necessidade o exigir, desde
que as formas rituais de Abertura dos Trabalhos tenham sido escrupulosamente
observadas (com a finalidade de constituir o clima necessrio a uma ao eficiente do
esprito manico), os grandes problemas polticos ou sociais que a eles se impem. O
reino da Igreja no deste mundo mas isto no impede, convenhamos, que se atente
para a sorte daqueles que sofrem ou para a melhoria da cidade terrestre. Por que seria
diferente na Franco-Maonaria?
Eis porque ns continuamos persuadidos de que a ao inteligente de Maons
que tiverem altamente desenvolvido em si mesmos, e no comportamento coletivo de suas
Lojas, as virtudes de Prudncia, de Temperana, de Justia e de Fora, s poder ser
benfazeja e das mais aproveitveis para a Cidade. Em todo caso, ela no seria mais
perigosa do que a das oligarquias financeiras, ou a das ideologias polticas ou religiosas
do mundo profano... Esta posio a do cristianismo clssico, alis reivindicada pelos
Maons de obedincia anglo-saxnica:
Procurai a paz da cidade na qual Eu vos exilei, e rogai ao Senhor por ela, pois que
vossa paz se encontra na sua.. (Jeremias: 29:7).
Eu vos conjuro mais do que todas as coisas a que sejam feitas splicas, preces,
votos, aes de graas, por todos os homens, pelos reis, por todos aqueles que esto
elevados em dignidade, a fim de que tenhamos uma vida pacfica e tranqila... (1
Epstola de Paulo a Timteo 2:1-2).
V-se que a Bblia, terceira jia na Loja de acordo com a tradio manica
anglo-saxnica, de modo algum ensina que as comunidades devam se desinteressar do
que temporal.
A FACULDADE DE PIEDADE
A palavra Piedade vem do latim pietas, significando no somente a idia de
respeito para com as entidades metafsicas, mas primeiro e antes de tudo, a noo do
dever. Assim, a Piedade manica evocar a ternura, o amor, a afeio, tanto para com o
nosso prximo como para com os nossos Irmos. Este ser tambm o amor, pacfico e
justificado, por nossa cidade natal, nossa ptria, suas tradies e seus ideais.
Igualmente a Piedade manica nos convidar a tratar com todos os outros homens, em
nossas relaes exteriores com eles, no tomando em considerao a sua raa ou
nacionalidade, segundo manda o bem superior que nos une a todos, mais ou menos, por
toda a Terra.
A Piedade seguramente aquilo que coloca o selo mais perfeito nas relaes
exteriores que os homens podem ter e devem ter entre si, tanto no plano familiar como no
plano social. Esta faculdade o coroamento da virtude de Justia e de todas as que se
anexam a ela. Ns a identificaremos com o sentido do Dever Manico.
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No existe atualmente qualquer monarquia que no esteja na obrigao de defender uma religio de
estado. A atual rainha Elizabeth traz, desde a sua sagrao, os ttulos tradicionais de Rainha da Gr-
Bretanha, da Esccia, da Irlanda, dos Territrios de Alm Mar, Condutora da Comunidade, Defensora da
F. Ela o chefe temporal da Igreja Anglicana.
No domnio da Piedade Manica ou sentido do Dever, se situa o problema do
Juramento.
Urna vez que existe em realidade, o que quer que pensem os Maons, um
Segredo Manico, mesmo que este Segredo no seja revelado em Loja ao Maom, pela
interpretao das formas iniciticas tradicionais, vir o tempo em que ele o descobrir,
como conseqncia do seu prprio desenvolvimento interior. , pois, indispensvel
encarar esta eventualidade e assegurar a perpetuao do silncio manico a seu
respeito.
Por outro lado, no de maneira alguma imoral prestar juramento de silncio.
Os bispos catlicos prestam um, solenemente, no dia de sua sagrao. Trata-se a de
numerosas questes, e igualmente do segredo:
Quanto ao segredo que eles (os Papas) me tiverem confiado, por eles prprios,
pelo seu Nncio ou por escrito, conscientemente eu no o revelarei a ningum em seu
prejuzo... (Pontifical: Sagrao do Bispo, juramento cannico, pargrafo 2).
Ainda mais, e neste mesmo captulo do Juramento Manico, Includo algumas
vezes o de fidelidade para com o Chefe de Estado, em alguns Ritos: Emulao, York,
Escocs Retificado. A priori, no h inconveniente, o Maom sempre deve ser um bom
cidado, no participando de nenhum compl polti co. Na aplicao, pode s vezes ser
diferente. Onde comea e onde termina esta fidelidade? Basta que um Chefe de Estado
no persiga a Franco-Maonaria, para que o Maom deva ficar indiferente ante todas as
demais formas de intolerncia? Teria sido o sufici ente que Hitler no tivesse atacado as
Lojas para que os Maons alemes lhe devessem fidelidade, em virtude do seu ju-
ramento? Esta frmula perigosa. Ela fez de todo o episcopado alemo, de 1933 at
1945, o cmplice tcito de Hitler, porque todos os bispos alemes, em conseqncia da
Concordata assinada entre o Vaticano e o Governo Nazista, haviam prestado juramento
de fidelidade ao regime hitleriano. Ora, no esqueamos que desde 1933 os campos de
concentrao foram instaurados na Alemanha com seus sinistros pijamas de uniforme:
vermelhos para os socialistas e para os comunistas, rosa para os homossexuais, azuis
para os judeus. Estes campos, reprteres da grande imprensa internacional (notadamente
franceses, e o do Jour-Echo de Paris em particular) foram convidados a visit-los e
relataram em seus jornais. Ento?
Sem dvida, o Maom verdadeiro deve recusar-se a participar de qualquer
compl que se proponha a modificar pela violncia a forma de um regime poltico. A este
respeito e segundo sua prpria conscincia, deve utilizar as formas regulares e
democrticas de toda consulta popular. Mas se estas formas no existem mais? Se por
intimidao, por astcia, concusso ou violncia, as correntes polticas se apoderaram do
Poder, e se a opinio pblica iludida, ou submetida a uma propaganda intensa? Neste
caso a Franco- Maonaria dever se reportar ao documento mais comovente e o mais
nobre que ela jamais props aos homens, a imortal Declarao dos Direitos do Homem e
do Cidado, promulgada pela Frana em 1789. Poder a ler que: Contra a Tirania e a
Opresso, a Insurreio o mais sagrado dos deveres...
O DISCERNIMENTO DOS ESPRITOS OU PSICOLOGIA
O Discernimento dos Espritos (discretio spiritum na antiga escolstica
medieval) o que se chama igualmente um carisma. Quando esta faculdade secundria
est finalmente desenvolvida no esprito do Maom, ela lhe permite penetrar bem
rapidamente, s vezes quase instantaneamente, no segredo dos coraes, e distinguir o
que corrompido, perverso ou mal orientado daquilo que puro, desinteressado e
benfazejo. Intuitivamente o Maom perceber no jovem Irmo o que o detm na senda
realmente inicitica, ele discernir os obstculos que se opem ao seu avano intelectual
e moral. E pode se admitir que esta faculdade nele se desenvolver paralelamente
Faculdade de Conselho. Ns a identificaremos, em nossa poca e no plano estritamente
intelectual da Maonaria, com a Psicologia.
A MSICA
A Msica esta ligada, por efeito deste estranho simbolismo da Scala
Philosophorum ao Dom de Conselho e ao do Discernimento dos Espritos. Vimos o que
necessrio entender por isto. Em todo caso curioso sublinhar que a expresso
conhecer a msica designa exatamente as particularidades destas duas faculdades!
Prestgio misterioso da linguagem de meias palavras.
Seja como for, vimos precedentemente que a Msica, no clima pitagrico do
mundo antigo, designava no a cincia das harmonias sonoras, mas as nove Cincias
essenciais personificadas pelas nove Musas. inegvel que o Maom deve ser um
homem instrudo, e instrudo ao mximo. Clemente de Alexandria, grande admirador de
Plato, nos diz em seus Stromates que se tivssemos que escolher entre a Salvao e
a Gnose, nosso interesse seria o de escolher a Gnose... (do grego gnosis
conhecimento). A tradio judaica nos enuncia a mesma coisa: Meu povo destrudo
porque lhe falta a Gnose! E, pois que rejeitaste a Gnose, Eu te rejeitarei e tu sers
despojado do Meu Sacerdcio... (Osas 4:6). Acontece o mesmo com o Cristianismo
verdadeiro: Infelizes de vs, doutores da Lei! Vs possueis as chaves da Gnose, e vs
no vos servistes delas para vs mesmos, mas para impedir que os outros entrassem. ...
(Lucas 11:52). Eis-nos aqui, longe de certa mstica, beata e simplista, erigindo a
Ignorncia em virtude salutar. Quanto a determinadas correntes, reacionrias ou
conservadoras, que acham que o povo sempre sabe o bastante, o problema nos parece
resolvido pelas citaes de uma eptome escritural qual estes mesmos meios se
referem!
O termo Msica vem do prprio nome das Musas. Este ltimo originrio do
grego mousa, particpio presente do verbo maomai, forma primitiva de maino: exaltar-se,
pensar, desejar, compreender. O que existe de mais significativo? No se fala da alegria
de conhecer?
Uma outra origem s vezes atribuda ao termo Msica. Mousikos derivaria de
mousa: musa, derivado de muos: fbula, alegoria, esoterismo. Ora, a Alquimia, arte
esotrica por excelncia, veremos em seguida, era chamada na Idade Mdia, a arte da
msica. Fazia-se aluso a aos aspectos tergicos particulares desta Arte, que tinha por
divisa: Or et Labor, trabalhar e orar. E efetivamente, a vida interi or to importante para
o alquimista, como as atividades operativas, de acordo com os velhos autores. por isto
que uma das admirveis lminas do Amphitheatrum Sapientiae Aeternae de Henry
Kunrath (1610) nos mostra, no laboratrio do filsofo, uma mesa coberta de instrumentos
de msica. Aluso ao papel da vibrao sonora, aliada ao verbo humano, nas operaes
da Arte.
Por isso, no esoterismo Islmico dos sufis, o Vinho o smbolo da Gnose, pela
embriaguez (alegria de conhecer) que ele proporciona.. de se notar que o Pentagrama
(Estrela de Cinco Pontas), imagem do Conhecimento (Gnosis), constitu a figura
geomntica chamada Loetitia: a Alegria.
4 - A ALAVANCA
O FOGO DOS FILSOFOS
(Esforo para a realizao)
Sabe-se em que consiste uma Alavanca: uma barra de ferro ou ao, longa,
inflexvel, fixa em um ponto de sua extenso, chamado Ponto de apoio, e destinada a
levantar, mover e sustentar um corpo muito pesado a ser manipulado pelo homem. Seu
nome provm do verbo levantar, que tem vrios significados, dos quais alguns so
aparecer, nascer, comear, emergir. Assim, a Alavanca efetivamente o smbolo do
Mestre futuro que se ergue no Aprendiz.
Levantar tem igualmente o sentido de descobrir, evocar, obrigar a se manifestar.
(Diz-se em jargo de policia: levantar a lebre, e a prostituta levanta um cliente) . A
analogia da Alavanca com o Fogo e a Luz aqui bastante evidente.
Todavia, um instrumento mais perigoso do que os outros, na enada dos
Instrumentos, pois permite manipular pesadas cargas, com as quais convm tomar
cuidado. Se ela pode ampliar consideravelmente a potncia de manipulao do Aprendiz,
o perigo de acidente, e a gravidade deste, esto na razo direta do tamanho da
massa colocada em movimento.
Eis as correspondncias analgicas da Alavanca:
Sentido ................................................ a Vista
Vcio Capital ........................................ a Preguia
Cor do Prisma ..................................... Alaranjado
Forma Asctica ....................................a Viglia
Virtude Cardinal .................................. a Fora
Faculdade Espiritual ............................a Coragem, ou Fora Menor
Carisma Secundrio ..........................a Perspiccia (o Profetismo da antiga
escolstica cannica
Artes Liberais ............................................. a Astronomia
Elemento ............................................. o Fogo
Temperamento .................................... Bilioso
Humor ................................................. a Blis
Qualidade Elementar ........................... Combinao do Quente e do Seco
A V I S O
Correspondendo analogicamente ao Fogo e portanto luz que dele se desprende,
ao calor que dele irradia, a Alavanca tem por correspondncia a Viso. Sabe-se em que
consiste a Viso: na funo sensorial pela qual os olhos colocam o homem e os animais
em relao perceptvel com o mundo exterior por intermdio da luz. No se diz pesar
(avaliar) com o olhar? No se fala de um olhar pesado?
Antes de mais nada so os espetculos que podem despertar o desejo sexual que
devem ser evitados. necessrio no cair em excesso nesse campo. E Clemente de
Alexandria nos diz com razo: No devemos ter vergonha de rgos que a Providncia
no teve vergonha de nos dar ... Mas h em toda parte espetculos mais malsos e
mais grosseiros que o de nudezes mais ou menos harmoniosas. Um belo nu uma viso
de arte, um feio um espetculo degradante. Mas o que dizer daqueles que apelam aos
sentimentos e aos instintos mais perigosos do ser humano, sua violncia e sua
crueldade: rinhas de galos, corridas de touros, caa moderna, em que Joseph
Prudhomme, burgus que se tornou caador, ignorando as velhas tradies
cavalheirescas da caa de outrora, no sabe que existe uma fanfarra que tem o belo
nome de retirada da graa, que as trompas de caa soavam quando o cervo ou o javali
haviam combatido bem; batidas cinegticas que so apenas pretextos para massacres de
animais inocentes, sem qualquer justificao ou desculpas a no ser as bebedeiras que
freqentemente as acompanham; execues capitai s, etc.
Com menor gravidade, as lutas de boxe, de catch, so freqentemente
espetculos pouco elevados para o homem, e o Maom que deseja se elevar moral e
espiritualmente far melhor desinteressando-se desses espetculos.
Para o Maom realmente esoterista a viso de certos livros, bibliotecas,
colees de objetos, quadros, pode excitar a Curiosidade, a Inveja, a Avareza: esquemas
misteriosos, gravuras sabiamente ocultadas, textos enigmticos, etc. Pode-se acrescentar
a viso de certas alfaias e ornamentos mais ou menos sedutores e pomposos, que
incitaro a Inveja e o Orgulho, e certamente um costume muito sbio que exige que
sejam usados nos trabalhos manicos somente as decoraes do Grau em que se
trabalha. Um Maom, digno deste nome evitar, pois, se apresentar com alfaias
manicas excessivamente ricas. Juntar-se- facilmente ascese da Viso determinadas
leituras imprudentes (aspecto da Gula, se se desejar muito em seguida adquirir os textos
em questo). Tomar-se- cuidado para evitar tambm toda leitura que possa fazer surgir
em ns a Clera (se nos opusermos com violncia, interior ou exteriormente, s idias
expressas), ou a Preguia (se a leitura nos incita a um deplorvel quietismo). H jornais e
livros que so verdadeiros venenos psquicos pelas reaes que suscitam violentamente
em ns: imprensa extremista religiosa ou poltica, ou que incite ao dio contra outras
categorias de cidados; campanhas com maior ou menor fundamento que tentam denegrir
outrem; h escritos que so, insidiosamente, verdadeiros apelos ao homicdio.
A PREGUIA
A Preguia convida posio horizontal. Ao contrrio, a atividade subentende o
estar de p, e ns vimos que a Alavanca tira sua etimologia do verbo levantar. A Preguia
ento o vicio contrrio ao simbolismo deste Instrumento que evoca inevitavelmente o
esforo mximo.
A Preguia incitar o Maom tomado por ela, a uma espcie de quietismo que o
far considerar o seu aperfeioamento moral e intelectual como dependente de uma
simples presena aos trabalhos de sua Loja, na inao de seu crebro e na ausncia de
toda obra ativa. Ele achar intil participar ativa e seriamente no estudo dos assuntos
colocados na ordem do dia de sua Loja. Por uma falsa modstia, ele sempre se recusar
a aceitar um cargo, uma incumbncia, deixando aos outros o cuidado de alimentar as
sesses com conferncias ou de assegurar a vida ritualstica da Loja. Ele desempenhar
em sua Oficina o papel do zango na colmia. Suas ausncias sero geralmente
justificadas pelo mau tempo, pelo rigor da estao, ou ento, ao contrrio, pela satisfao
de uma viagem, de maneira muito profana. E como no ousar apresentar estes pretextos
com franqueza, ele praticar, nesta circunstncia, a Mentira, o que agravar a sua
Preguia.
No mundo profano, ele ficar indiferente aos males e s penas dos seres que o
rodeiam ou, se ele os percebe, nada far para os aliviar, achando que as provas que
oprimem os outros so o resultado fatal, eqitativo, de seus prprios erros, no passado.
Por fim, ele se desinteressar de si prprio, entregando ao acaso ou Sociedade a tarefa
de lhe facilitar o acesso a uma perfeio moral que ele acha terrivelmente fatigante
assumir por si mesmo. Se pressionado, lhe ocorrer sustentar que a Ignorncia uma via
to segura quanto o Conhecimento.
A VIGLIA
A Viglia o fruto do Jejum, aquilo que denominamos Dieta, sem consider-la
uma mortificao, mas um regime. De fato, a Dieta afasta o sono pesado e intil,
conseqncia de uma alimentao muito rica, muito pesada, e de refeies muito
abundantes. Em nossa vida moderna, to sobrecarregada, a Viglia permitir ao Maom o
trabalho solitrio, noite, na calma de sua casa quando todos dormirem.
H duas espcies de Viglia:
a) a Viglia do corao, que procura instintivamente a contemplao
interior de imagens mentais que mantero, na alma do Maom digno desse nome, as noes de
ideal, nicas capazes de elev-lo;
b) a Viglia do olho (viso), que a realiza e objetiva no corao do Maom, esse
corao que simultaneamente seu Templo Interior em elaborao permanente e o
Ovo Filosfico onde se gera o novo homem.
S a Viglia proporciona, segundo o esoterismo islmico, o conhecimento da
Alma. Ela tem por objetivo a Meditao. um processo de introspeco de diversos
problemas, particularmente importantes para o Maom, e que se apresentam a ele na
caminhada inicitica.
A Meditao tem como elementos de base a Razo, a considerao dos
elementos do problema e de seus argumentos prprios. Ela repousa necessariamente
sobre um perfeito conhecimento da Via Manica, sobre uma comparao eqitativa e
racional dos argumentos analisados e sobre uma independncia serena a respeito de
todo dogma formulado por Homens. na prtica da Meditao racional que o Maom
devera lembrar-se de que foi admitido no Templo como jovem Aprendiz somente porque
era considerado livre e de bons costumes. A independncia a respeito de todo dogma
formulado por homens no consiste em uma cmoda condescendncia para consigo
mesmo
49
.
A FORA
A Alavanca subentende o esforo mximo, a virtude cardinal correspondente a
Fora. Dai-me uma alavanca, dizia Aristteles, e levantarei o mundo...
A Fora uma virtude que tem por finalidade a perfeio de ordem moral da
parte afetiva e sensvel no Homem. Ela consiste em manter-se contra os maiores
temores, bem como em moderar os movimentos de audcia mais ousados, a f im de que o
Homem, em tais ocasies, no se desvie do seu dever.
Ela se manifesta de diversos modos, que so:
a) a magnanimidade, que consiste em fortalecer a esperana a respeito das obras
grandes e belas que se desejaria realizar;
b) a magnificncia, que consiste na disposio da parte afetiva que afirma ou regula o
movimento da esperana a respeito daquilo que rduo ou difcil de cumprir;
e) a pacincia, que tem a propriedade de suportar com estoicismo as tristezas que
tivermos de enfrentar nesta vida, de suportar mais particularmente a interveno
hostil dos outros homens em suas relaes conosco;
d) a perseverana, que consiste em combater o temor pela durao de um esforo ou
pelo seu insucesso.
A FACULDADE DE FORA
Esta faculdade, que a antiga escolstica medieval denominava o dom de Fora,
na verdade a Coragem.
Esta faculdade volta-se aos males e aos perigos que absolutamente no esto
no poder do Maom evitar, enquanto que a virtude de Fora se dirigia s aes que ele
tinha liberdade do empreender ou no.
Assim, a Coragem lhe permitir suplantar a dor que acompanha a separao de
todos os bens e as alegrias da vida ocasionada pela morte ainda que no oferea um bem
superior que os compense e os supra.
Esta substituio efetiva, fcil e desejvel, que a Coragem (ou Fora da Alma)
permite fazer entre a noo de repouso, de liberao, de fim de um combate e a de
abandono dos bens materiais contingentes na verdade a vitria do Maom sobre a mor-
te e sobre todos os terrores que ela inspira.
49
O Maom deve ser liberal a esse ponto. Parece-nos difcil admitir que um profano intimamente
submetido a um diretor de conscincia possa ser um homem livre e, assim, ser recebido na Maonaria.
Por isso que se usa dizer de um Maom morto, que ele passou para o Oriente
Eterno, pois que durante a sua vida, e mesmo na Ordem Manica, esta expresso
exprime a idia de uma glorificao, da consagrao do mrito. Sabe-se efetivamente que
privilgio dos Mestres que preencheram as funes de Venerveis tomarem lugar ao
oriente de uma Loja, ao lado daqueles que esto em exerccio. E estaremos lembrados
igualmente de que os primeiros tm direito, na Franco-Maonaria de Tradio, ao ttulo de
Mestres Passados, termos que designam os condutores invisveis da Ordem Manica,
na antiga Maonaria do dcimo oitavo sculo, to plena de tradies ocultas e msticas.
A PERSPICCIA
A antiga escolstica medieval religiosa denominava esta faculdade secundria o
carisma de profecia (prophetia). Trata-se de um dom, de uma faculdade que nos permite
perceber no futuro ou no presente, por uma espcie de precognio que repousa sobre a
experincia, o raciocnio e a intuio, fatos que normalmente devem se realizar, ainda que
o vulgo no seja capaz de distinguir os sinais precursores.
A mesma faculdade permite igualmente adivinhar com antecedncia o
comportamento e as reaes de um indivduo ou de uma coletividade, colocada em
presena de uma situao ou de acontecimentos particulares. E tambm encontrar a
gnese oculta ou os motivos secretos de tais acontecimentos passados.
Ainda uma vez, e somente no quadro manico, no se trata aqui de qualquer
magia, mas simplesmente de um sentido superior, a intuio, sustentada pelo raciocnio
e esclarecida pela experincia. um fato bem averiguado e certo que aqueles que, por
uma ascese e por uma grande elevao de alma, souberam se libertar do fardo do mundo
e da escravido das paixes, estes lem facilmente na alma de seus interlocutores.
A ASTRONOMIA
Na linguagem tradicional da Maonaria, os sete Oficiais principais da Loja se
chamam sete luzes. So eles: o Venervel, o Primeiro Vigilante, o Segundo Vigilante, o
Orador, o Secretrio, o Tesoureiro, o Hospitaleiro. Estas sete luzes lembram igualmente
os sete Planetas da antiga Astronomia (antes de ser descoberto Urano, Netuno e Pluto),
as sete estrelas da Grande Ursa, o guardio do Norte de todas as antigas civilizaes.
No perder o norte igualmente no perder a luz. Assim, associada noo de luz, e
esta do Fogo, lgico que a cincia das estrelas seja associada analogicamente
Alavanca, regida pelo elemento Fogo.
A Astronomia, como indica a origem grega de seu nome (aster - astros, e nomos
- lei), a cincia dos movimentos dos corpos celestes. Freqentemente designada
pelos termos de Uranografia e Cosmografia a parte puramente descritiva da Astronomia.
O Maom sempre ter interesse em se manter ao corrente dos diversos
progressos alcanados nesta cincia, a mais bela de todas, pois que ela implica no
conhecimento da maior parte das demais: matemtica, fsica, qumica, tica, etc.
No sem razo que a terminologia manica d s velas rituais acesas em
Loja durante uma sesso, o nome de estrelas. O seu nmero varia com o grau em que a
Loja trabalha no dia. de nove (3x3), ou doze (4x3), ou quinze (5x3), dispostas de
determinada maneira. Algumas so fixas, outras podem tornar-se mveis e preceder a
entrada solene em Loja de um alto dignitrio, levadas por determinados Oficiais, enquanto
os demais Maons presentes constituem a clebre abbada de ao, com o auxlio das
espadas cujas pontas devem estar reunidas trs a trs (e no duas a duas).
A Astronomia Moderna est efetivamente na base dos trabalhos de Einstein,
explicando e conciliando os de seus predecessores imediatos. So estes tr abalhos que
permitem ao Maom fazer uma idia do Universo, um pouco mais precisa do que a que
era a de nossos pais. Ser sempre difcil para um Maom cujo hobby seja a cincia do
Cu se apaixonar por assuntos grosseiros ou totalmente profanos. A viso do f irmamento
estrelado geradora, invariavelmente, dos pensamentos mais elevados.
De todas as cincias a Astronomia a que pode melhor esclarecer -nos
sobre nosso valor relativo, fazer-nos conhecer melhor as relaes que ligam nosso globo
terrestre ao resto do Universo. Sem ela, como testemunha a histria dos sculos passa-
dos, nos seria impossvel saber onde estamos, quem somos, nem estabelecer uma
comparao instrutiva entre o lugar que ocupamos no espao e a totalidade do Universo.
Sem ela ignoramos ao mesmo tempo a extenso real de nossa ptria csmica; sua
natureza e a nebulosa qual ela pertence. Presos nas fraldas tenebrosas da ignorncia,
no podemos fazer a menor idia da
disposio geral do universo. Ento um nevoeiro espesso cobre o horizonte estreito que
nos encerra, e nosso pensamento se torna incapaz de se elevar alm das preocupaes
mesquinhas da nossa vida diria, de franquear a esfera estreita traada pelos limites da
ao de nossos sentidos.
por isto que o Maom, a quem a cincia do Cu ter assim transfigurado,
poder fazer suas as palavras do grande Ptolomeu de Pelusa que, prncipe dos
astrlogos nos dizeres da tradio, foi igualmente o melhor astrnomo da sua poca:
Eu sei que sou mortal e que minha carreira aqui em baixo no poder ser de longa
durao. Mas quando percorro em esprito o caminho dos Astros, ento meus ps no
esto mais ligados Terra! Assentado perto de Zeus como os Deuses o esto, eu me
nutro da ambrosia celeste... (Cf. Ptolomeu de Pelusa: Sintaxe Matemtica ou o
Almagesto).
5 - O N V E L
O SAL DOS FILSOFOS
(Serenidade na aplicao)
A palavra latina que designa o Nvel libella, designando o nvel dgua
(que no o usado pelos Maons operativos), ou ainda libra, que significa uma
balana, um livro, uma unidade de peso, o contrapeso e o equilbrio, ou ainda
qualitas, significando a igualdade. certamente esta palavra latina que
expressa melhor o Instrumento simblico que figura nos Rituais Manicos. E
realmente o Nvel manico outra coisa no que um Esquadro J usto cujo ngulo
superior de 90 graus. Ele composto de um tringulo de madeira, cujo vrtice
constitui um ngulo efetivamente desse valor (90), e do pice pende um fio a prumo
que divide em duas partes iguais a base do tringulo e constitui assim a bissetriz do
ngulo superior do Nvel.
Quando o chumbo pendente da ponta do fio se justape exatamente ao
encaixe que designa o centro da base do tringulo, indica que a base est
perfeitamente horizontal.
A imagem do Nvel Manico, freqentemente encimado por um bon frgio,
muito usada como paradigma da prpria Franco-Maonaria, de um lado por ser
antes de tudo um tringulo, imagem muito popularizada da prpria Ordem, e por
outro lado porque exprime esotericamente a Igualdade, princpio essencial da
Franco-Maonaria Especulativa, e por conseguinte o retorno a uma situao de
base, posies originais, a uma ordem inicial, a uma concluso.
Vimos que a palavra libra, designando o Nvel, significa balana e evoca
assim a idia de J ustia, de retribuio. Era por vezes substitudo pelo Cordel.
Ora, o emprego do Cordel. acessrio de nivelamento empregado sobre as
grandes superfcies em lugar do Nvel, estava ligado no mundo antigo a um ritual
particular, como o ato primeiro (e magicamente perigoso) das escavaes de
fundao. Realmente, o Nvel e o Cordel esto ambos muito prximos de um
simbolismo de destruio daquilo que , de substituio, renovao, retorno a um
estado inicial incondicionado.
por isto que a tradio judaico-crist emprega esse simbolismo no
mesmo sentido:
Eis o que diz o Eterno, o Deus de Israel. Eu farei vir sobre J erusalm e sobre
J ud as desgraas que ensurdecero os ouvidos de qualquer um que ouvir a
descrio. Eu estenderei sobre J erusalm o Cordel de Samaria e o Nvel da casa de
Achad
50
. E eu limparei J erusalm como um prato que se limpa e se vira de baixo
para cima depois de o haver limpado... (II Reis 21:13).
Eis que as torrentes de Edom sero mudadas em pez, e sua poeira em
enxofre. Sua terra ser como a do pez que queima, sem extinguir-se nem de dia nem
de noite. E o fumo se elevar eternamente pois, de poca em poca ser desolada...
Estender-se- a o Cordel da desolao e o Nvel da destruio... (Isaias 34:9-12)
Oswald Wirth soube reencontrar involuntariamente esse simbolismo
espantoso do Nvel em seu Livro do Companheiro:
O Primeiro Vigilante (cujo emblema o Nvel), o guardio desse ardor
laborioso, que ele estimula sempre que diminua. O Segundo Vigilante contrasta com
o Primeiro por sua doura. Ele compreende tudo e sabe desculpar aquilo que
desculpvel. Constrangido a confessar uma falta, o iniciando se dirige a ele com
confiana...
50
Samaria e o reino de Achab eram os adversrios de Israel. Sua vitria sobre Israel era ento
vista como um castigo divino. Nivelavam-se as cidades vencidas.
V-se que o Primeiro Vigilante representa em Loja o Rigor e o Segundo
Vigilante, a Misericrdia.
Eis as correspondncias analgicas do Nvel:
Sentido ..................................... a Audio
Vcio Capital ........................... ..a Inveja
51
Cor do Prisma ......................... .o Amarelo
Forma Actica ........................ ..a Pobreza
Virtude Teologal ..................... ..a Caridade
Faculdade Espiritual ............... .o Dom da Sabedoria
Carisma Secundrio ................ o Dom da F (ou da Persuaso)
Artes Liberais .......................... .a Gramtica
Elemento da Obra .................... o Sal dos Filsofos
A AUDIO
A Audio e aquele dos nossos cinco sentidos pelo qual ns recebemos os
sons. No quadro da ascese espiritual, intelectual e moral prpria da iniciao
manica, a disciplina deste sentido nos incitar a nada dizer nem ouvir que seja
contrrio Caridade, virtude qual este sentido est ligado dentro da Tetractys
alqumica rosacruciana, Dignidade dos costumes, Modstia. Ainda mais, dentro
do quadro da Caridade, nada dizer nem fazer que desperte em outrem, ou em ns
mesmos, qualquer eco que possa suscitar um desfalecimento moral.
Evitar-se-, pois, relatar com detalhes fatos que possam desencadear em
outrem a Clera, o Rancor, a Inveja e a Luxria.
H ainda um aspecto particular da disciplina da Audio sobre o qual temos
que chamar a ateno de Irmos que tenham recentemente entrado na Franco-
Maonaria. a necessidade, imperiosa, absoluta, na qual se encontram, pelo
prprio fato de terem entrado na senda inicitica, de ouvirem expor opinies,
teorias, hipteses que possam ofender suas antigas opinies e crenas, com total e
sincera serenidade. Ns nos dirigimos aqui muito particularmente a alguns Maons
jovens que, tendo pertencido ou freqentado anteriormente ambientes de uma
orientao filosfica ou religiosa particular, bem como queles que, ligados a uma
das grandes religies contemporneas, so levados a encontrar em Loja Irmos de
crenas ou de opinies diametralmente opostas. Ns conhecemos um jovem
ocultista desejoso de tomar-se Maom que se indignou porque foi colocada em
dvida a historicidade do Cristo! Ns lhe respondemos que ns mesmo, Maom
espiritualista e cristo, achvamos que sua indignao no podia ter manifestao
em Loja, pois que ele poderia chocar do mesmo modo a outrem por sua opinio
nesse terreno e que ele deveria escutar com a mesma serenidade uma exposio a
favor e uma exposio contra esta mesma historicidade. realmente prprio de um
Maom digno deste nome expor cortesmente, sem chocar nenhum de seus Irmos, o
que ele cr ser verdico, e ouvir em seguida a refutao de sua exposio (refutao
que deve igualmente ser corts e fraternal) e admitir em seguida o valor (se valor
houver) com toda a objetividade.
Enfim, e sempre no terreno da Audio, o Maom banir o tumulto em geral,
ambiente no qual a alma no poderia se encontrar, nem se conhecer; igualmente, as
msicas de dana discordantes e inarmnicas ligadas a uma determinada moda,
particularmente excitadoras do el da sexualidade animal; ou aquelas por demais
51
Observa-se, alis, que o Amarelo tradicionalmente atribudo, na Simblica das Cores, ao
Cime e Inveja, e que certas formas de reivindicaes excessivamente igualitrias so suscitadas,
no pela noo de Equidade e de Justia, mas, muito egoisticamente, pela simples Inveja.
marciais, dissolventes de toda espiritualidade apaziguante: marchas militares,
canes polticas, etc.
A INVEJA
O Nvel subentendendo igualdade e nivelamento (no sentido de destruio
e renovao), o que implica em abaixamento do Orgulho desejoso de se elevar
acima do conjunto
52
, o defeito que lhe est intimamente ligado a Inveja.
A Inveja levar o Maom, insuficientemente iniciado, a faze-lo desejar no
somente os primeiros lugares e as pseudo-honras ligadas aos cargos em Loja, mas
ainda e muito rapidamente o acesso aos graus superiores. Para tanto, s vezes, ele
no hesitar em retardar, e mesmo impedir, o avano de outros Irmos, quando
percebe em alguns deles uma superioridade que possa eclipsar a sua.
Ele calar sobre as tradies, os ensinamentos, os livros e os documentos
que possam favorecer os outros ou diminuir suas prprias chances de acesso aos
cargos e aos graus superiores e assim retarda a sua ascenso.
Ele far por possuir tudo aquilo que os outros Irmos possuem,
considerando corno ofensa e injustia que possa haver alguma coisa que ele
prprio ainda no possua, ainda que de antemo saiba com certeza que nunca se
servir daquilo, at mesmo por estar intelectualmente em oposio a ele. assim
que as vezes podem ser encontrados em certas Lojas, Maons de um real valor
intelectual e moral, e que so literalmente mantidos, alm do prazo normal de
espera, nos graus de Aprendiz ou de Companheiro unicamente pela inveja de
alguns pseudo-Irmos.
Que eles se consolem, considerando que o mesmo acontece nas
grandes Igrejas, em toda parte neste Mundo muito imperfeito o mal ladei a o bem, o
vcio acompanha a virtude, e em toda parte os maus reprimem os bons.
A C A R I D A D E:
O Nvel, subentendendo igualdade e nivelamento, implica em partilha,
primeiro aspecto da Caridade. Aqui nos voltamos para os nossos adversrios
habituais, os integristas anti-maons, e lhe colocaremos sob os olhos as palavras
que cuidadosamente evitam citar:
Pois se trata no de vos expor angstia para aliviar os outros, mas de
seguir uma regra de igualdade. Vosso suprfluo prover as suas necessidades, a
fim de que o seu suprfluo possa prover paralelamente as vossas, de maneira que
haja igualdade segundo esta escrito: Aquele que tiver juntado muito, no ter
demais, e quele que tiver juntado pouco, nada lhe faltar. (So Paulo, 2 Epstola
aos Corntios 8:13-14).
A Caridade (em latim Caritas) um termo que exprime amor, ternura,
afeio.
52
Em certas Obedincias usual que o Venervel, quando seu mandato trienal concludo, se
torne ipso facto o Trolhador da Loja. Esse uso repousa alis em um simbolismo profundo: durante
trs anos, o Venervel teve assento ao oriente do Templo, e quando chega o momento de seu
declnio, ele toma lugar no mais profundo do ocidente, entre as Colunas que enquadram o Umbral
do Templo, como o Sol de que era a imagem. Mas para ele a esperana permanece, pois sua
esquerda, a noroeste por conseguinte, e precedendo-o em seu retorno ao oriente, se situa a Estrela
Flamgera, que o antecede no caminho da Aurora, como a estrela matutina precede a volta do Sol...
Ela comporta, alm de seus aspectos teolgicos superiores, que no sero
abordados aqui, os aspectos clssicos, conhecidos, mas que sempre til abordar:
1 ) a Misericrdia, que faz com que a gente se apiede da misria e do
sofrimento dos outros seres, em todos os aspectos ontolgicos da Vida, e que
tenhamos essa misria e esse sofrimento como nosso, a ponto de sofrer em ns
mesmos, realmente e intimamente. Se no experimentamos muito naturalmente esse
sofrimento, ser porque em ns a Caridade ainda no despertou.
H iniciados para quem o acesso aos conhecimentos que lhe foram
benevolamente comunicados, seja oralmente, seja atravs de livros, alou ao cume
da suficincia, e que fazem ostentao do seu menosprezo condescendente pelos
seres que eles chamam de animais. Estes esto fora de qualquer encaminhamento
incitico vlido, e marcham com certeza para o Obscurantismo.
O sinal de partida foi dado, outrora, infelizmente pelos cultos judaico-
cristos e seus dogmas mal assentados. A, por uma vez, a Igreja e a Sinagoga
associaram-se, ignorando sem dvida, os prprios textos do seu corpus sagrado:
Quem sabe se o sopro do homem sobe para o Alto, e o sopro da besta
desce para as Profundezas?... (Eclesiastes 3:22).
O homem e a besta, realmente, o Senhor os salva... (David Salmos
26:3)
E Jerusalm no ser mais rodeada de muralhas, por causa da multido de
homens e de animais que estaro no meio delas... (Zacarias 2:4)
Por outro lado, chegado a um certo nvel espiritual, o verdadeiro Adepto
ser levado a constatar que ele sofre premonies, dolorosas e angustiantes, que
geralmente se traduzem por sufocaes de tipo cardaco, na vspera e durante as
grandes catstrofes que afligem a Humanidade. E isto antes que a notcia tenha
chegado ao seu conhecimento consciente. Isto para esse Adepto o indcio
de que ele finalmente realizou o contato com o Universal. Que os Maons que nos
lem, que tiverem atingido a idade de trinta e trs anos, e viajaram para encontrar a
palavra perdida, tomem conscincia da importncia do estudo e da prtica desta
virtude se quiserem realmente ser regenerados pelo Fogo.
2) A Beneficncia que faz com que sejamos imediatamente e sempre
levados a impedir o Mal e facilitar o Bem, tanto no domnio espiritual e moral, como
no domnio material. O Homem, ser dotado de uma conscincia que por si no
participa de seus prprios compromissos, no poderia nem ignorar efetivamente o
Mal e o Bem, nem, conhecendo um e outro, pretender situar-se alm de um e de
outro, isto , eludir suas prprias responsabilidades! E tais teorias somente
serviram para velar o amoralismo latente daqueles que as adotaram. Um exemplo
nos far compreender melhor esta questo.
Eu ando na floresta e no caminho minha frente h um pssaro ferido. Eu
posso junt-lo, cuid-lo, nutri-lo e depois de curado dar-lhe a liberdade em sua
floresta natal. Este o amor desinteressado, superior. Eu posso ainda fazer o
mesmo porm conserv-lo na gaiola, para minha prpria satisfao. o amor
egosta e o bem incompleto. Eu posso ainda passar por cima do pssaro e seguir,
indiferente sua misria. Isto j a ausncia de amor, e o Mal muito prximo. Eu
posso ainda me recusar a modificar minha marcha e esmag-lo com indiferena.
Isto a perversidade e a ausncia total do amor, da caridade. Eu posso ainda junt-
lo, furar-lhe os olhos com uma agulha em brasa, quebrar-lhe as asas e as patas,
faze-lo morrer lentamente assando-o em fogo lento. Isto ser o mal em estado puro,
a perversidade e a crueldade elevada ao mximo.
Que no nos venham portanto sustentar a teoria especiosa de que o Mal
a ausncia de Bem, sem mais! O Mal existe, ele potencialidade espiritual,
intelectual, fsico. Assim como o Bem.
A concluso que se impe que, se necessrio para chegar a uma
perfeio relativa, multiplicar os atos de Caridade, de amor, de misericrdia, de
benevolncia, no menos necessrio multiplicar os atos de sacrifcio, pois que
no se pode amar sem sacrificar-se. Pode-se por outro lado sustentar que todas as
nossas aes boas so ao mesmo tempo atos de amor e atos de sacrifcio.
Enquanto nos separam das coisas materiais, das criaturas, de ns mesmos, eles
so sacrifcios. Enquanto nos unem ao Universo, ao Absoluto, eles so atos de
amor.
A Caridade corresponde, na vida inicitica cotidiana, ao voto de Pobreza
das diversas religies, e este o seu primei ro postulado. Para o Maom, submetido
somente disciplina moral, a Pobreza consistir no menosprezo das honras, dos
prazeres grosseiros e das riquezas adquiridas sem que elas sejam realmente
justificadas pela necessidade. a prtica da Pobreza um dos melhores elementos
constitutivos do dom de sabedoria, o se o termo choca, substituamo-lo pelo de
desinteresse.
A FACULDADE DE SABEDORIA
Aquilo que se entende tradicionalmente na antiga escolstica medieval e
crist sob esta denominao no a Sabedoria, virtude filosofal e que estudaremos
em seguida ligada ao simbolismo da Rgua . simplesmente uma faculdade que faz
com que o homem (e mais particularmente o Maom digno desse nome) julgue todas
as coisas com sua inteligncia, tomando por norma ou por regra prpria de seus
julgamentos e de suas apreciaes a mais alta e a mais sublime das Causas, aquela
que ele observa em obra no Universo, aquela que leva o Mundo para a sua
finalidade, ordenando o caos das origens, simbolizado pelo Sulfur dos Filsofos e
pelo Esquadro.
A faculdade da Sabedoria est assim ligada sutilmente virtude de F, pois
ela ser exercida em funo daquilo que dissemos desta ltima no que diz respeito
F Manica, e pela F Esperana, esta virtude inerente Franco-Maonaria, a
sua F em um porvir sempre melhor, qualquer que seja o tempo vindouro. Isto ,
alias, esotericamente demonstrvel em funo dessa equao filosfica que
constitui nossa Tetractys alqumica. Efetivamente, para a Alquimia operativa e
material, o Sal dos Filsofos o produto, a combinao do Mercrio e do Enxofre.
Quer dizer que esse dom de Sabedoria o resultado dos dons de Inteligncia (F) e
de Cincia (Esperana) .
CARISMA DA F (OU DA PERSUASO)
Aquilo que a antiga escolstica medieval entendia sob esta denominao
evidentemente no tem nenhuma relao com a F, virtude teologal. Trata-se
simplesmente de uma facilidade, inerente a todo homem, como j o dissemos, que
suscetvel de ser desenvolvida pela ascese religiosa, pela via filosfica ou pela
iniciao e pelas tcnicas dela decorrentes, quer se trate de iniciao manica ou
de qualquer outra, se for vlida.
Tratar-se- a da aquisio de uma segurana real, de uma certeza pessoal
tal que, quando desenvolvida em ns, ela capaz de produzir resultados
espantosos, mesmo prodigiosos, de modo persuasivo. Este dom no somente
capaz de permitir que persuadamos outrem, mas ainda que impulsionemos
correntes de massas populares muito numerosas, e infelizmente no podemos fazer
melhor do que citar o exemplo de Adolf Hitler, seu domnio sobre o povo alemo e
(o fato de sublinhar, pois ele foi relatado por numerosos diplomatas e jornalistas)
sobre toda individualidade que dele se aproximava.
V-se, o dom de f o da persuaso, o misterioso poder de persuadir
outrem e de restabelecer nele uma f (certeza, opinio solidamente assentada, etc.)
totalmente nova e imposta inconscientemente por aquele que a tiver judiciosamente
desenvolvido, em si
53
.
A GRAMTICA
A Gramtica em seu aspecto exotrico j foi suficientemente estudada e
no voltarmos a ela aqui. Mas chamamos a ateno do Maom para a importncia da
Gramtica manica.
Esta consiste na observao escrupulosa:
- da linguagem e da terminologia manica, em Loja,
- das prescries rituais (abertura e fechamento dos Trabalhos, cerimnias
iniciticas)
- do uso das vestes tradicionais, exatas, completas,
- dos gestos e das atitudes.
Tudo isto so coisas que pouco a pouco penetram o novo Maom, l he
insuflam o esprito manico e fazem com que ele se torne insensivelmente o
veculo deste ltimo, sua expresso vivente, nos planos intelectual e moral.
A qualidade de uma Loja se reconhece pela observncia atenta de todos
estes elementos e assim que se pode dizer que seus membros se expressam
Maonicamente, de acordo com a gramtica esotrica da Ordem...
OS ALFABETOS , TROLHAMENTOS E PALAVRAS DE PASSE
Gramtica Manica podemos ligar tudo aquilo que concerne
criptografia da Ordem. Quantos Maons se encontram muitas vezes em suas
pesquisas nas bibliotecas e nos arquivos das Lojas e das Obedincias em presena
de documentos ou de esquemas cujas inscries, transcritas em alfabetos
convencionais, lhes ficam totalmente incompreensveis?
As diversas subdivises hierrquicas nas quais se distribuem os Altos
Graus tm igualmente os seus alfabetos particulares. necessrio lembrar que um
documento de base essencial da Alta Maonaria Templria do dcimo oitavo sculo
redigido em diversas lnguas mortas, transcritas com o auxlio de um muito
grande nmero de alfabetos esotricos, todos diferentes? A este respeito, e para
aqueles a quem os documentos antigos interessam, aconselhamos o estudo da
Virga Aurea, coletnea de doze grandes pranchas iniciticas, compostas pelo
monge Jacques Boaventura Hepburn, bibliotecrio do Papa Paulo V e verdadeiro
compndio de Magia cabalstica. Essa obra considervel permitiu a de Mly
constatar que as faixas decorativas de algumas obras de arte antigas eram em
realidade inscries secretas que os setenta e dois alfabetos mgicos da Virga
Aurea permitiam decifrar. O Calendrio Mgico, de Tycho de Brah, o de
53
Algum nos dir que, se Hitler possuiu o dom da f, ou da persuaso, fez dele uso voltado
para o Mal. Retorquiremos que ele o havia adquirido em cenculos esotricos e ocultisantes,
segundo tcnicas certamente muito vlidas, que estas foram estranhas ao emprego ulterior de seu
objetivo e que, apesar de tudo, no se poder negar a Hitler um amor extremo, total, embora
moralmente desviado, do povo alemo, e deste apenas. Havia a, no entanto, matria para a
obteno de resultado. E convm meditar sobre a profundidade imensa desta reflexo de So
Francisco de Sales: A pureza total s se encontra no Paraso, ou no Inferno... A Adolfo Hitler,
missionrio do Mal, no se poder recusar esse dom!
Duchanteau (maom clebre, membro dos Filaletes), so documentos muito
prximos da Virga Aurea, e muito ricos em ensinamentos esotricos.
Acrescentemos que o estudo paciente e perseverante das Palavras
Sagradas e das Palavras de Passe dos diversos altos graus da Franco Maonaria e
de sua criptografia
54
(5) colocar, pouco a pouco e insensivelmente, o Maom
perseverante na posio de aproximar-se intelectualmente de determinadas formas
do Segredo Manico.
6 - A PERPENDICULAR
O MERCRIO DOS FILSOFOS
(Profundidade na Observao)
Em Maonaria aquilo que ns denominamos Perpendicular nada mais do que o
Fio a Prumo. Sabe-se que o que assim designado consiste em uma massa pesada de
volume bem pequeno, presa na extremidade de um cordo, indicando a direo da
gravidade, isto , da vertical, e servindo assim para colocar a prumo as obras de
vigamento de maonaria. O termo aprumo designa igualmente o fato de se apresentar ou
de falar com segurana, sem temor, e o sinnimo de audcia, por vezes, pelo fato de
evocar ainda um estado, uma posio, perfeitamente reta (vertical), sem servilismo nem
humildade.
Em seu Dicionrio Ra, a Ir Amlie-Andr Gedalge diz que o Fio a Prumo o
emblema da pesquisa, em profundidade, da verdade, do aprumo, do equilbrio: parece
mostrar o caminho que leva Cmara do Meio.
Ela nos diz alm disso que pode ser vista a Perpendicular esculpida abaixo do
Olho Divino e acima da efgie de Viswakarma, deus dos ferreiros e arquiteto dos deuses,
no Templo subterrneo de Ellora (ndia).
Esta noo de pesquisa realada por diversas locues populares: no se diz
encontrar o fio, seguir o fio, para expressar o fato de estar sobre o caminho certo, de se
aproximar da soluo?
Conseqentemente, estudando os ltimos arcanos do Instrumental manico,
veremos que efetivamente o Fio a Prumo permite construir um Gnomon, isto , orientar-se
corretamente. Sabe-se que quando ainda no havia bssola nem cartas geogrficas, no
era possvel se orientar de dia a no ser pel o Sol, e sendo necessria uma orientao
muito precisa, era preciso um Gnmon. Conhecido dos babilnios, dos caldeus, o gnmon
permitiu a orientao precisa das Pirmides do Egito e de nossas Catedrais gticas, que
ainda hoje causam admirao aos sbios contemporneos. Ora, sem Fio a Prumo, no h
gnmon.
Eis as correspondncias analgicas da Perpendicular:
Sentido...................................................................a Imaginao
Vcio Capital................................................ ... a Clera
Cor do Prisma..................................................o Azul
55
Forma Actica ................................................ a Castidade
56
54
Fazemos aqui aluso aos alfabetos ditos Athbash, Albam e Atbakh, que os cabalistas hebreus utilizam
para decodificar a Tora.
55
Diz-se azul de clera.
56
Alcanado este estgio, ele deixa de ser. Procura-se uma combinao dos quatro precedentes: Silncio,
Viglia, Jejum, Solido.
Virtude Teologal.............................................. a Esperana
Faculdade Espiritual.........................................a Cincia
Carisma Secundrio.........................................os Prodgios
57
Artes Liberais .............................................a Dialtica (ou Lgica)
Elemento da Obra ......................................o Mercrio dos Filsofos.
*
* *
A IMAGINAO
Existe uma relao evidente entre o Mercrio dos Filsofos, isto , a
Perpendicular ou Fio a Prumo, e a Imaginao, ou Folle du Logis. Os loucos, ou bobos
do rei, outrora, possuam e usavam realmente atributos bem mercurianos, como a marota
(basto com uma cabea de boneco e guarnecido de guizos, smbolo da loucura), que
lhes era entregue em uma cerimnia muito especial. Ora, a marota significa a idia fixa,
ou seja, o excesso de imaginao. Os portugueses tiram a etimologia do termo maroto do
rabe maruto: insolente, o que designa o bobo ou louco, e a insolncia muitas vezes
punida pela expulso e pela queda.
A Imaginao , com a Memria, um de nossos dois Sentidos interiores. A
Imaginao corresponde ao Mercrio dos Filsofos e ns encontraremos novamente a
segunda quando estudarmos o Esquadro e o Enxofre dos Filsofos.
A Imaginao uma faculdade que nos permite lembrar vivamente e ver de
algum modo objetivados aos nossos olhos cenas e objetos que no mais pertencem ao
presente, ou que ainda no chegaram a ele. incontestavelmente uma faculdade criadora
quando se trata de coisas novas, mas ela provm e depende da Memria, quando se trata
do passado.
Ambas so, pois, faculdades preciosas que fornecem Inteligncia (que
estudaremos em seguida) os materiais de que necessita para se exercer e trabalhar. No
devemos atrofiar essa faculdade, mas disciplin-la e de subordinar a sua atividade ao
imprio da razo e da vontade. Seno, deixada a si mesma, ela inundar a alma de uma
multido de lembranas, de imagens que a dissiparo e desgastaro suas energias,
fazendo-a perder um tempo precioso e lhe suscitaro mil tentaes e recadas.
Que a Perpendicular ou Fio a Prumo se encontre associada, pela Tetractys
alqumica, Imaginao no coisa de espantar. Para disciplinar dita Imaginao no
necessrioter chumbo na Cabea?...
, pois, absolutamente necessrio submet-la e coloc-la ao servio da
Inteligncia, procurando-se, antes de mais nada, eliminar do nosso consciente e desde o
incio de suas manifestaes, as imagens e lembranas perigosas, que nos possam
lembrar possveis (futuros) e realidades (passadas) que, nos transportando para o meio
de tentaes do presente, do passado e do porvir, seriam ipso facto uma fonte de
desfalecimentos e de quedas intelectuais e morais.
Mas, como existe freqentemente uma espcie de determinismo psicolgico, que
nos faz passar dos sonhos sem importncia aos jogos perigosos da Imaginao
parcialmente invadida, nos devemos premunir contra esse perigo rejeitando,
imediatamente e de maneira incessante, os pensamentos inteis. Eles nos fazem per der
um tempo precioso e abrem o caminho, preparando-o, para outros pensamentos
infinitamente mais perigosos.
57
Virtute prodigiorum da antiga escolstica.
O melhor mtodo para sermos bem sucedidos nesta espcie de filtragem,
seguramente nos aplicarmos de maneira total ao dever do momento, por banal que seja,
isto , ao nosso trabalho, aos nossos estudos, s ocupaes habituais, por modestas e
materiais que sejam. esta, por outro lado, a melhor maneira de fazer bem feito o que se
tem que fazer, concentrando toda a nossa inteligncia e atividade necessidade
presente.
A CLERA
A Perpendicular ou Fio a Prumo une simbolicamente o Znite e o Nadir, o Alto e
o Baixo. curioso constatar o carter universal do gesto pelo qual o homem exprime seu
furor, lanando ao solo um objeto com a finalidade de quebr-lo, ou batendo com o p no
cho, como se tivesse a inteno de evocar, de chamar, de despertar as potncias do
Baixo. Nas diversas teogonias, alis, os deuses ou os anjos rebeldes so precipitados do
Cu para as profundezas da Terra, pelo Deus Supremo. A Perpendicular tem muito
precisamente como vcio analgico a Clera.
A Clera um movimento desordenado da alma que se acredita ofendida, e ela
se manifesta por uma viva irritao, expressa por gestos ou pel a palavra, revestindo por
vezes uma violncia extrema.
Observemos, todavia, que h uma clera legtima, que somente um desejo
ardente mais razovel e equilibrado de impedir uma ao m ou de infligir ao culpado um
castigo justo, obrigando-o a reparar o malfeito. Trata-se a de uma sano ao mesmo
tempo de purga e reequilibrante, destinada a retirar-lhe, por sua prpria deciso, o
interesse e o desejo de reiterar sua m ao.
Em seu aspecto ilegtimo, a Clera faz com que o indivduo perca o controle de
si mesmo. Seu autoritarismo e sua atividade desbordante, desenvolvidos com a nica
finalidade de afirmar sua vontade ou de destruir aquilo que se lhe ope, no lhe
permitiro admitir que tal ou qual de seus semelhantes seja menos bem dotado do que
ele. Seus julgamentos sero to precipitados quanto definitivos, e sua impacincia o
levar a maltratar os fracos, os ignorantes. E se ele tiver a m sorte de se encher de dio
(forma ainda mais tenebrosa do que a Inveja), ento seus pseudo conhecimentos faro
dele um iniciado negro.
As conseqncias da Clera, quando no reprimida de maneira
permanente, so muitas vezes terrveis em sua maleficncia. Sneca as descreveu em
termos expressivos: ele lhes atribui traies, assassinatos, envenenamentos, divises
intestinas nas famlias e nas sociedades humanas, guerras, com todas as suas funestas
conseqncias. Ela nos faz perder, se no a reprimirmos: a sabedoria, ou ponderao; a
amabilidade, que faz o encanto das relaes sociais e sobretudo dos encontros com
Irmos; o cuidado da justia, porque a paixo impede de reconhecer os direitos do
prximo; o recolhimento interior, base de toda evoluo humana, e sobretudo do Maom.
O Maom deve pois se acostumar a refletir antes de agir, de replicar ou de
contra-atacar; trabalho de flego, mas muito eficaz.
A ESPERANA
A Perpendicular ou Fio a Prumo une o Cu e a Terra, o Znite e o Nadir. O
homem que formula uma esperana, um desejo, e faz para isto um apelo ao Di vino,
levanta os olhos para o Cu, para o Znite. Ao contrrio, o homem desesperado marcha
com a cabea baixa, olhando o cho (Nadir). Isto justifica que na Tetractys alqumica, a
Perpendicular esteja associada Esperana
A Esperana a prpria alma da Franco-Maonaria. O que realmente caracteriza
esta ltima a sua f inabalvel em um futuro melhor; sua certeza de que, o que quer
que advenha, a Humanidade marcha para uma expanso do ser-melhor, para uma
realizao indefinida e ilimitada de todo ideal.
queles que pem a sua confiana em uma revoluo nica, sangrenta e brutal,
mesmo legitima, ela adverte que a revoluo antes de mais nada a re-evoluo, isto ,
uma evoluo ininterrupta. Ainda que algumas doutrinas queir am que o Homem de hoje
curve a cabea diante da falta cometida por um genitor nico, presente na aurora dos
tempos, ela faz sua a palavra de Moiss: No se far morrer os filhos pelos pais, cada
um no morrer seno por seu prprio pecado... (Deuteronmio 24:l6). E os melhores
agentes do Progresso so ainda o descontentamento e a insatisfao. Sem eles o Homem
atual, vestido com uma pele de urso, ainda estaria de guarda na entrada da caverna natal.
Esta f manica no futuro perfeitamente expressa por duas das clebres Trades da
Ilha de Bretanha:
- Trs coisas vo crescendo sem cessar no Universo. Elas so: a Luz, a
Verdade e a Vida.
- Trs coisas vo decrescendo sem cessar no Universo. Elas so: a
Ignorncia, o Erro e a Morte.
Pode-se, sem medo de errar, afirmar que a tradio manica, passando pela
Esccia, impregnou-se de numerosos elementos drudicos, e portanto clticos: ternrio
(trades), colunas (menires), oriente (sol levante) , delta (Deus com trs aspectos e trs
raios), culto da luz, esperana no porvir, etc.
Na alma do Maom, a Esperana , pois, uma virtude que faz com que a sua
vontade, apoiada na Iniciao recebida, sobre a sua f na Franco Maonaria, em seus
ideais e em seus princpios, se dirija para os ensinamentos iniciticos, assim como nosso
Simbolismo lhe revelou, como aquilo que um dia pode e deve ser a sua iluminao total.
Esta virtude absolutamente inacessvel sem a F Manica, a qual ela
pressupe necessariamente, pois somente esta F Manica que d Esperana o seu
objetivo e o motivo sobre o qual ela se apia.
A Esperana corresponde, na vida inicitica cotidiana, ao voto de Castidade das
diversas religies, que no para a maioria delas o voto de Continncia sexual. O voto de
Castidade a justa moderao do desejo dos sentidos, para o indivduo normalmente
constitudo. este justo equilbrio que permite ao Iniciado libertar -se pouco a pouco das
servides grosseiras da vida sexual, da atrao to freqent e pela devassido, e para o
casal humano normal o agir de maneira natural e legtima na perpetuao das formas
da espcie, sem decair nem se depravar mutuamente. inegvel que a funo sexual
equilibrante do psiquismo, e que as permutas hormonais entre homens e mulheres so
necessrias pela mesma razo no plano fisiolgico. Mas isto nunca justificou o excesso, e
muito menos os desvios. E se o termo Castidade choca alguns, digamos que se trata ai
de equilbrio sexual.
A FACULDADE DE CINCIA
Sob a ao da iniciao manica, a Cincia para o Maom uma faculdade que
lhe permite julgar com uma certeza quase absoluta e uma verdade raramente falvel, sem
usar um procedimento sobrenatural de raciocnio mas instintivamente, de maneira
absolutamente intuitiva, o verdadeiro carter das coisas criadas, em suas relaes com as
da Esperana, segundo elas devam ser admitidas e professadas, ou elas devam servir de
finalidade e objetivo sua conduta, percebendo imediatamente aquilo que no mundo
material e contingente est em harmonia com os princpios da Franco-Maonaria ou, pelo
contrrio, lhe est oposto. Ela implica em ter compreendido definitivamente a significao
da palavra Progresso.
OS PRODGIOS
Trata-se ai de uma faculdade que nos permite executar as coisas no habituais,
fora das normas mdias da vida corrente e das possibilidades clssicas do indivduo
profano.
Entre os diversos aspectos desta faculdade, podemos citar:
- o desenvolvimento da fora do trabalho, seja no plano manico ou no domnio inicitico;
- o dom de cura, teraputico, psquico ou moral, que permite exercer sobre outrem uma
influncia tal que, fora dos tratamentos materiais da medicina clssica, se obtenha uma
melhora certa do estado do paciente. Se uma grande parte dos assim chamados
curandeiros constituda de charlates, muitas vezes perigosos, h tambm seres
excepcionais que, por meio de um magnetismo pessoal, uma influncia psquica sobre o
paciente, ou por qualquer outro dom misterioso, so capazes de exercer uma influncia
benfazeja sobre o seu estado. E possvel separar nitidamente estes seres excepcionais
de qualquer curandeiro que se permite, sem qualquer qualificao mdica, fazer um
diagnstico, liberar uma receita e, sobretudo, tem a pretenso de afastar e de substituir o
mdico titulado. O verdadeiro curador nunca afasta o mdico autntico, nem procura
substitui-lo nunca, e s trata pelo verbo ou pelo gesto. (Ver especialmente, do
inesquecvel Oswald Wirth, o seu livro A imposio das mos e a medicina filosfica).
- o autodidatismo intenso; prprio de certos seres que incontestavelmente tm o
dom de aprender fora das possibilidades normais do indivduo mdio. Nestes
constatada uma facilidade e uma rapidez de assimilao absolutamente
surpreendente;
- as faculdades fsicas, evidenciadas por qualificao esportiva ou por sua
permanncia at uma idade avanada.
A LGICA
Vimos que a cincia do Trivium da escolstica medieval que corresponde
nossa Perpendicular a Dialtica, mas que em realidade a Lgica. E efetivamente a
Lgica um dos Instrumentos do Maom, mais do que a arte de discorrer.
J vimos que ela a cincia que permite distinguir o verdadeiro do falso e,
como tal, a Lgica a arma essencial da Razo. a este ttulo que nos vamos estender
um pouco mais sobre esta cincia.
A Lgica a arte de regular o uso das faculdades do entendimento e de ligar
metodicamente as nossas idias. Perceber de maneira exata, comparar, julgar com
conhecimento e justeza, discorrer com nitidez so as condies essenciais de uma boa
lgica. A retido, a fora do raciocnio em cada um de ns, so proporcionais s
possibilidades de perceber, de comparar, de refletir que nos foram transmitidas pelo
nascimento, por nossa herana, pela nossa educao. A cultura pode fazer muito por esta
cincia, mas ela no pode suprir a falta das faculdades inatas. por isto, sem dvida, que
h to poucos lgicos, e que a Lgica vem sendo h tanto tempo a cincia das vs
disputas, sob o nome de Dialtica! E ,desde o mundo antigo, foi necessrio esperar o
dcimo stimo sculo e Francis Bacon para que se abrissem novos caminhos, mais
amplos, ao esprito humano. Em sua obra Novum Organum ele no hesita em proclamar
que s a experincia apoiada pela induo, pode conduzir verdadeira cincia, a
verdade. Ele oferece um novo mtodo de experimentao e de deduo, nico meio,
segundo ele, para aumentar o conhecimento humano. Ele no hesita em dizer, nesta
obra principal, que: O homem somente sabe quando descobre a ordem da natureza,
atravs de fatos e dedues. A Lgica atual incapaz de aumentar a cincia.
necessrio ter cuidado para no passar rpido demais dos fatos particulares s idias
gerais, recusar qualquer conhecimento antecipado, e submeter as coisas prematuramente
conhecidas a um novo exame...
Aps Bacon, Descartes, cuja influncia se sabe que foi imensa, depois de se ter
desembaraado, como ele, de todos os erros chamados por Franois Bacon de err os da
espcie, erros do indivduo, erros da linguagem, erros da escola, etc. ( idola tribus,
specus, fori, theatri), faz pelo entendimento aquilo que Bacon havia feito pela Natureza.
Admitir uma coisa como verdica somente quando ela assim nos parecer
incontestavelmente; ver as dificuldades por todas as suas faces, sem nada dissimular;
dividi-las em suas menores partes, a fim de submeter tudo ao exame para chegar a uma
base slida, a uma soluo rigorosamente vlida; subir dos objetos mais simples, cujo
conhecimento fcil, aos objetos mais complexos; dedicar uma ateno especial sua
enumerao, a fim de que nada seja omitido no inventrio que feito. Estas so as
condies que Descartes prescreve em sou clebre Discurso do Mtodo.
No se pode negar o imenso caminho aberto a todas as investigaes por este
mesmo mtodo, nem a sua superioridade sobre os diversos sistemas que o precederam.
Mas Descartes, tomando por nico ponto do partida as faculdades do
entendimento, parece no tomar em conta os sentidos nem as faculdades sensitivas, to
diferentes em seus efeitos e em suas repercusses, de um ser humano a outro.
Descartes, sem o dizer, ps em princpio um verdadeiro postulado de partida, saber que o
Homem sempre e em tudo igual a si prprio, ele peca por excesso de espiritualismo, por
estranho que isto parea no primeiro momento. Reconheamos todavia que o seu
Mtodo , procedendo pela anlise e pela sntese, sem contradio o melhor meio de
formular um julgamento com segurana, preciso e clareza.
O Maom no poderia admitir o Inexplicvel porm, ainda que para ele no
exista o Incognoscvel, pode ainda haver um tempo do Desconhecido, mesmo em nossa
poca
58
.
58
Toda a fenomenologia parapsquica e metapsquica, sobre a qual na Maonaria s poderamos reter as explicaes
dadas pelas diversas religies ou o ocultismo clssico, toda esta fenomenologia, dizemos, reserva introspeco
Os progressos cientficos, assim como os progressos sociais, o obrigam a crer
na Evoluo, e diante dela nada h de imutvel, de fixo. At h pouco tempo, a Cincia
se considerava como absoluta e infalvel, ela pretendia ser facilmente dogmtica. Sua
atitude mudou porque ela estendeu suas ambies com seu domnio, porque ela aborda
fatos que outrora lhe pareciam inacessveis. Em sua audcia, ela no mais se limita
deduo, cada vez mais se permite ser experimental, tem agora todas as audcias. H
pouco tempo impessoal por ser dogmtica, a Cincia autoriza hoje em dia a interveno
individual na manifestao dos fenmenos, tomando assim uma orientao que a dirige
para as preocupaes prprias do esprito religioso. Mas aqum de seus limites, ela deixa
o Homem estabelecer seu Ideal.
Visto que o objetivo que a Franco-Maonaria procura antes de tudo: a Verdade,
parece pertencer inteiramente a uma pesquisa cientfica no limitada em nossos dias,
indo da fsica e da qumica mais materiais, psicologia, parapsicologia, e mesmo
metapsquica, esta Cincia que j no quer ser dogmtica se esfora por tornar -se uma
induo indefinidamente perfectvel, deixando livre o campo inteligncia e liberdade
humana, parece bem indicado que o ideal manico encontre seus alicerces em um
sincretismo ao mesmo tempo espiritualista e racional. Ento, no sculo vindouro, ou no
seguinte, a Humanidade poder formular os princpios de um ecumenismo em que o
humano e o universal encontraro cada um o seu lugar, verdadeiro cri sol onde viro se
fundir a Cincia e a F.
Mas ento ser conveniente ter a cabea a prumo, este mesmo prumo da
nossa Perpendicular.
7 - O ESQUADRO
O ENXOFRE DOS FILSOFOS
(Retido na ao)
Esquadro se diz em latim norma, que significa regra, modelo, exemplo, tipo. Este
mesmo termo Esquadro tem a sua origem no latim quadrare, com o prefixo e, significando
tornar quadrado. Nos velhos tratados de medicina chinesa, muitos sculos antes da nossa
era, o Homem-Arqutipo, anlogo ao Adam Kadmon da Cabala, era representado tendo o
Compasso na mo esquerda e o Esquadro na mo direita. Ora, para o esoterismo da
velha China, Esquadro e Quadrado so tidos como significadores do espao e da ordem
terrestre, e o carter que os designa (tcheou) exprime a Cincia e os sbios: astrnomos,
astrlogos, geomantes, mestres do calendrio, etc.
Marcel Granet, em seu livro O Pensamento Chins, nos mostra o Demiurgo da
velha China sob o mesmo aspecto de Adam Kadmon:
humana, cientificamente conduzida, domnios ainda mais surpreendentes do que o inventrio da Lua, atualmente na
ordem do dia. Mas preciso que os homens de cincia que se dedicarem a isso um dia, se livrem totalmente dos
postulados de partida emitidos pelas diversas religies! Em uma palavra, preciso comear do zero.
O Esquadro o smbolo de todas as artes, e sobretudo das artes religiosas e
mgicas. Ele a insgnia de Fo-Hi, primeiro soberano, primeiro adivinho. Fo-Hi o
esposo ou o irmo de Niu-Koua, cuja insgnia o Compasso. Este Casal Primordial
inventou o casamento. Tambm, para dizer-se bons costumes, se diz compasso e
esquadro. Os gravadores representam Fo-Hi e Niu-Koua enlaados pela parte baixa do
corpo. Niu-Koua, que ocupa a direita, tem o Compasso na mo direita, Fo-Hi, esquerda,
tem o Esquadro na mo esquerda. O Esquadro, que produz o quadrado, emblema da
Terra, s pode ser a insgnia do Masculino aps a permuta hierogmica de atributos. Mas
como o Quadrado produz o Redondo (que ele contm), o Esquadro merece ser
conseqentemente o emblema do feiticeiro, que yin-yang (andrgino), e sobretudo de
Fo-Hi, conhecedor das coisas do Cu e da Terra. Fo-Hi pode, pois, segurar o Esquadro
na mo esquerda e com a mo esquerda (com o Esquadro) evocar a Obra Real, a
hierogamia primeira, a atividade mgico-religiosa...
Em sua Simblica Manica, Jules Boucher observa com toda razo que no
esoterismo pitagrico, o Esquadro era o signo do Gnmon, palavra grega que possui
sentidos bem diversos. Como substantivo, significava regulador ou regra, designava a
agulha do quadrante solar ou o prprio quadrante, mas como adjetivo significava aquele
que conhece, que compreende. V-se ento que o Esquadro bem o smbolo da Gnose,
do Conhecimento e efetivamente no alfabeto grego a clebre letra G, expressando este
mesmo Conhecimento, representada por um gama, ou seja, um Esquadro.
Vimos que o Esquadro simbolizava igualmente o Homem, o Compasso
representando o Grande Arquiteto, o primeiro sendo a Terra, o segundo sendo o Cu. A
tradio egpcia antiga nos diz que Atem ou Atoum, o deus vermelho, feito de terra e de
gua. A tradio judaica v seu Adam (palavra prxima de Atem ou Atoum) feito de terra
e de gua, a palavra significando terra vermelha. Ora, na Cabala, tradio esotrica do
Gnesis, o Homem-Total, feito de todas as almas, igualmente o regulador, o guardio e
o segundo ordenador do plano terrestre, ele a Terra, Malchut, em hebraico o Rei.
Eis as correspondncias analgicas do Esquadro:
Sentido........................................................ a Memria
Vcio Capital............................................... o Orgulho
59
Cor do Prisma............................................. o Vermelho
60
Forma Asctica........................................... a Obedincia
Virtude Teologal.......................................... a F
Faculdade Espiritual................................... o Dom da Inteligncia
Carisma Secundrio................................ ..... o Dom de Curar
Artes Liberais............................................... a Retrica
Elemento da Obra..........................................o Enxofre dos Filsofos.
*
* *
59
A lenda diz que Lcifer, prncipe do Conhecimento, se transformou, desviando-se espiritualmente, no do
Orgulho. H, portanto, uma relao sutil entre estas duas coisas.
60
Os potentados do mundo antigo, os patrcios romanos, os prncipes de sangue da Idade Mdia se
vestiam de vermelho ou de prpura. E F. Portal, em seu livro Das Cores Simblicas nos mostra que o
vermelho tambm a cor da falsa sabedoria e do erro (op. cit. pg. 83).
A M E M R I A
A Memria a faculdade e que possui o esprito humano para representar os
objetos ausentes ou os fatos passados como se estivessem presentes e faz-los reviver
em nossa Imaginao com suas circunstncias e seus detalhes.
A Memria deve ser considerada como um dos modos de exerccio, uma das
sub-faculdades da inteligncia humana. Na Memria distinguimos duas espcies de
manifestaes:
1. memria espontnea ou passiva, que se exerce fatalmente e sem o socorro da
vontade; geralmente chamada de reminiscncia;
2. memria livre e ativa, que se exerce com o concurso e pelo esforo da vontade.
Esta a Memria propriamente dita.
A Mitologia, esse vasto tratado de esoterismo inicitico, vai nos dar preciosas
indicaes. Mnemsine, nome da deusa da Memria, era a me das nove Musas. Isto
quer dizer que sem esta faculdade no existe instruo e educao possveis ao esprito
humano.
O que dissemos anteriormente da Imaginao, aplica-se em sua totalidade
Memria, remetemos o leitor quela referncia. No entant o acrescentaremos alguns
conselhos de ordem prtica, destinados aos Maons que poderiam temer que esta
faculdade no esteja neles ao nvel de suas necessidades ou de suas exigncias
intelectuais.
Contrariamente s afirmaes de seus adversrios, a Franco-Maonaria no manda
assassinar aqueles que a traem! A violao de seu juramento inicial, a auto-execrao
sobre si mesmos que ele contm, os condena por antecipao, so condenados por si
prprios. No existe qualquer exemplo de Maons que tenham trado a Ordem e que
tenham escapado a uma sorte miservel, e s vezes mesmo a uma morte infamante.
Quanto Franco-Maonaria, ela se contenta em esquec-los, seus membros no falam
mais dos renegados. Para as faltas menos graves, ela coloca os faltosos em
adormecimento. Existe a uma misteriosa lembrana da tradio da Cabala que diz que,
alm das esferas involutivas (quliphot), antes do ltimo desaparecimento do ser, vem
primeiro: o Vale do Sono (Gehenne), depois o Vale do Esquecimento (Gehenum), e
finalmente o Vale da Morte (Gehenomoth). Os Maons, leitores deste livro, que tenham
cem anos e mais, ou ainda que no contem mais, percebero a relao do seu Grau
com a Gnose, pois que se renem em um Vale
61
!
Como quer que seja, o Maom desejoso de consagrar sua Memria
conservao somente de conceitos teis sua vida profana ou sua evoluo intelectual
e moral, dever, Microcosmo imitador do Macrocosmo, fazer o mesmo. As coisas
perigosas ou inteis, sero por ele esquecidas sistematicamente; fazendo isto, ele as
destruir em si mesmo.
Todo pensamento intil ou degradante, ele se esforar por sufocar no momento
que aparea no plano mental. Assim limpara os seus arquivos cerebrais, far lugar, e os
dados teis e necessrios se armazenaro muito mais facilmente.
O ORGULHO
Diz-se de um homem que vive fcil, que ele franco e decidido ( rond en
affaires). Isso que implica em que um homem intransigente (e portanto orgulhoso) possa
ser chamado quadrado, ou de um esprito anguloso. Assim, pois, o Esquadro (em latim
61
Em hebraico, vale se diz gehena.
quadrare) est ligado analogicamente, em seu mau aspecto, ao Orgulho. O Orgulho
chamado o pai de todos os vcios, com justa razo.
No se tem visto, e com freqncia, no curso da historia, famlias orgulhosas de
seu passado e de seus escudos darmas, levar secretamente suas filhas aos leitos dos
prncipes, com a nica esperana de obterem, em troca, um novo ttulo ou funes
compensadoras na corte?
Quanto ao jovem Maom, sobretudo no estgio de Aprendiz, o Orgulho o levar
a se imaginar superior moralmente, e sobretudo maonicamente, a alguns Irmos de sua
Loja, porque intelectualmente ele est mais enriquecido do que eles em alguns setores.
Se ele tiver um pouco de lgica, examinando bem a questo, constatar que as reas que
ele domina so freqentemente bem estranhas quilo que se entende por iniciao e
formao manica. Ignorando quais as vias tradicionais pelas quais aqueles que
fraternalmente o tomaram a seu cargo e se propem a fazer dele aquilo que ele lhes
pediu: ser um Maom, tem a inteno de faz-lo passar, ele considerar com certo
menosprezo uma tcnica secular e que d suas provas indiscutivelmente.
No decorrer das trocas de idias que se desenvolvem ao longo dos Trabalhos,
ele ter muita dificuldade em conservar o silncio prescrito aos Aprendizes. Toda
exposio contrria s suas prprias concepes, ele a considerar como um erro que
vicia a Tradio Manica. Se ele for espiritualista, ficar chocado com qualquer
exposio de princpios racionalista e, se for racionalista, todo desenvolvimento de ordem
espiritualista excitar nele a ironia ou a hostilidade. Ele esquecer que a verdadeira
tolerncia (e no dizemos aqui tolerncia manica!) exige que escutemos uma exposio
contrria s nossas idias com calma e serenidade, e que apresentemos a contraposio
muito cortesmente e sem ferir nosso interlocutor. Por este motivo, o uso manico que
exige que, para usar da palavra, seja necessrio pedi-la em primeiro lugar ao Vigilante da
sua Coluna, e que este tenha transmitido o pedido ao Venervel, que este a tenha
concedido, e que o Maom s a use quando estiver de p e ordem, uma coisa
excelente. Nos gritos e no tumulto de uma reuni o eleitoral, no meio dos excessos de
linguagem habituais em tais lugares, o observador, ainda que pouco perspicaz,
reconhecer facilmente um Maom pela maneira corts e pacfica que usar perante seus
interlocutores.
Com o Maom mais antigo acontecer o mesmo. Encontram-se s vezes nas
Lojas Irmos que, embora estejam revestidos do Avental de Mestre j h um certo tempo,
nem por isto se despojaram de seus metais profanos, e no fazem seno alimentar e
desenvolver os defeitos que eram seus antes da iniciao. Neles o Orgulho os levar a
ambicionar ttulos, ornamentos, funes, honras. necessrio dizer que, se legtimo
que os Franco-Maons rendam honras manicas a uma funo, aqueles que so apenas
os veculos e os responsveis momentneos pela funo imaginam freqentemente que
glria de seus mritos pessoais que as chamas se elevam e os precedem, que as
espadas se alam para constituir a clssica abobada de ao, e que os malhetes batem
em cadncia, ritmando a marcha ritual de sua entrada solene em Loja. por isto que o
Maom digno desse nome, evitar sempre pedir a palavra inutilmente, s pelo prazer de
dizer alguma coisa. E o alto dignitrio demonstrar sem contestao possvel sua real
qualificao inicitica evitando o mximo possvel demonstraes que, embora sejam
tradicionais e regularmente usadas, nem por isto so menos perigosas para a sua prpria
modstia
62
.
A F
Por sua etimologia (norma, quadrare), o Esquadro o rigoroso smbolo daquilo
que deve ser imprescritivelmente. Nada h de surpreendente, pois, que a Tetractys
alqumica o associe a F.
A F manica no pretende superpor-se F religiosa, e o Maom espiritualista
deve saber fazer a diferena entre a confiana que ele deposita em sua doutrina religiosa
assumida com plena conscincia e liberdade (o que o seu mais absoluto direito), e a
confiana que ele deposita em uma tcnica inicitica que no pretende ultrapassar os
planos moral e intelectual.
No entanto, os princpios do desenvolvimento de uma F religiosa e de uma F
em uma doutrina filosfica ou poltica so exatamente os mesmos.
A F uma virtude (do latim virtus: potncia, isto , uma potencialidade) que faz
com que nossa inteligncia aceite muito firmemente o sem temor de se enganar, ainda
que no perceba sempre de maneira inteligvel, tudo aquilo que lhe chega pela via de um
ensinamento tradicional.
a que se pode, no sem espanto, ver um jesuta sbio como o R. P. Teilhard
de Chardin chegar a esta magnfica esperana manica seguindo o caminho rduo da
Cincia:
Se, em conseqncia de uma confuso interior, eu viesse a perder
sucessivamente minha f no Cristo, minha f em um Deus pessoal, minha f no Esp rito,
parece-me que eu continuaria a crer no Mundo. O Mundo (o valor, a infalibilidade e a
bondade do Mundo), esta , em ltima anlise, a primeira e a nica coisa em que creio.
por esta f que eu vivo, e a esta f, eu sinto, que no momento de morrer, acima de
todas as dvidas, eu me entregarei. A f confusa em um Mundo, Uno e Infalvel, eu me
entrego, para onde quer que ela me conduza. (Teilhard de Chardin: Como Eu Creio).
Palavras terrivelmente herticas quanto tradio crist e sobretudo gnstica,
mas que o sbio jesuta teria bem depressa modificado se tivesse tido contato com outras
tradies iniciticas, alm do simples dogma romano.
No caso, e para o Maom a F manica consiste nesta Esperana em um
Progresso indefinido, no limitado, nesta certeza de que o Homem, livrando-se
62
O que dizemos aqui, de modo geral, acerca das honras manicas, se aplica tambm a certas
presunes eclesisticas!
penosamente, no decorrer dos milnios, do envolvimento original em uma animalidade
terrena, alcanar pouco a pouco um estado intelectual e moral que faro da sociedade
humana uma sociedade quase perfeita.
Se ele for de boa f, se possuir conhecimentos bastantes em paleontologia e em
histria, ele ser levado aos poucos a esta certeza. Se verdade que o embrio humano
passa, no tero materno e durante a gestao de nove longos meses, pelos diferentes
estados atravessados pela Humanidade ao longo dos milnios, o Maom observador ser
levado a admitir que na sociedade contempornea acontece o mesmo. Alguns indivduos
se conservaram como bestas, instintivos e cruis, que nos revelam as pesquisas dos
primeiros habitantes humanos. Outros indivduos, por sua extrema elevao moral e
espiritual, por algumas faculdades desconhecidas da grande massa, fazem pressentir
aquilo que o Porvir reserva ao Homem digno desse nome.
Se ele estiver bastante impregnado de esoterismo, o Maom ser levado a
constatar que as regras e os costumes da Ordem Manica fazem da vida em Loja a
imagem, o reflexo, daquilo que deve ser uma Sociedade humana perfeita. E se o Homem
possui assim o plano da Cidade Ideal, que ele alcanou sua imagem, no sentido
platnico da palavra. Ele j tomou contato com o arqutipo dessa cidade, no sutil mundo
da Essncia, e cabe-lhe realizar esse plano no mundo da Substncia. E esta F no Porvir,
outro aspecto da Esperana, ele a estender excelncia da formao manica, de sua
iniciao, pois que seus princpios sero realizados, desenvolvidos e manifestados na
Cidade Futura.
A F corresponde, na vida inicitica, ao voto de Obedincia, comum s diversas
religies, e este voto seu primeiro postulado. Para o Maom consistir na observncia
absoluta de seus Juramentos iniciticos, no fato de submeter-se escrupulosamente aos
costumes e s leis da Franco-Maonaria tradicional, aos seus Ritos, ao seu Cdigo, bem
como aos regulamentos particulares da sua Obedincia e da sua Loja. Se a palavra
desagrada, substituamo-la pela expresso disciplina manica.
A FACULDADE DE INTELIGNCIA
O dom de Inteligncia (que no a Virtude Filosofal desse nome) assiste a F
no conhecimento da Verdade Manica, fazendo com que o esprito do Maom, sob a
prpria ao do Esprito Manico, lentamente adquirido na Loja, penetre o sentido dos
termos que comportam as diferentes fases da Iniciao Manica, as diversas formas
rituais dos trs Graus Simblicos, o esoterismo dos elementos didticos prprios daquela
e destes. A Inteligncia, como faculdade, ou como dom natural, permite ainda ao Maom
penetrar amplamente o sentido das diversas proposies filosficas que se possam
relacionar com a doutrina manica em sua totalidade, de maneira a plenamente
compreend-las, ou pelo menos, no caso de um esoterismo muito profundo, poder
aproximar-se deles intuitivamente, apanhar sua importncia esotrica e desta maneira,
embora sem os assimilar em sua totalidade, ao menos respeitar e observar tanto a sua
forma como as suas modalidades de transmisso.
O CARISMA DA CURA
O poder de Curar est misteriosa e esotericamente ligado ao simbolismo do
Esquadro, ao Enxofre dos Filsofos, Virtude da F, ao dom da Inteligncia. De fato, a
analogia com o famoso Enxofre dos Filsofos que faz compreender e justifica esta relao
comum. a prpria base da misteriosa e simblica Veram Medicinam.
Este dom particularmente desejvel para o Maom que na vida profana exerce
as funes de mdico ou de cirurgio. Ele acompanhar maravilhosamente o
conhecimento humano da Medicina, que permite desenvolver a intuio inteligente que
a base de uma necessria segurana de diagnstico, bem como a elaborao de um
tratamento eficiente.
No Maom no-mdico, e sem que ele se aperceba, uma vez adquirido e
desenvolvido, lhe permitir inconscientemente aconselhar a qualquer pessoa doente que
se confiar a ele, tanto na escolha do mdico consciencioso como na rejeio de todo
tratamento charlatanesco.
Enfim, ele poder exercitar-se no plano psquico e moral pela excelncia dos
conselhos e dos diversos modos de conforto, assim como em matria de magnetismo
curativo, com respeito aos animais.
A RETRICA
Ligada forma inicitica simbolizada pelo Esquadro, smbolo da retido, das
normas racionais, e do sentido do dever, a Retrica permitir ao Maom expressar
elegante e claramente aquilo que deva transmitir a outra pessoa. E como aquilo que se
concebe bem, se enuncia claramente, aos poucos ele experimentar a necessidade,
antes de usar a palavra para se expressar sobre o comportamento de outrem, ou para
retificar o seu modo de pensar, a necessidade de colocar em ordem instantnea e
antecipadamente suas prprias idias. E assim ter observado a velha divisa manica:
Ordo ab chao.
No entanto, que ele se lembre daquilo que dissemos acerca da Retrica. Agora
ele compreender a necessidade, para convencer outra pessoa, de adquirir a arte do
ritmo no enunciado de suas idias, a cincia das quedas em matria de prosa, assim
como ocorre no terreno potico. Ele compreender intuitivamente a razo pela qual a Loja
Manica pode to bem simbolizar o prprio tempo consagrado ao Logos criador, a este
poder do verbo to bem expresso para os Maons ditos de So Joo pelos primeiros
versculos do evangelho desse nome, e porqu Loja e Logos tm uma raiz lingstica
comum.
8 - O COMPASSO
A PRATA DOS SBIOS
(Exatido na Realizao)
O Compasso corresponde esotericamente ao Mercrio Filosofal, chamado
ainda Prata dos Sbios, que no se deve confundir com o Mercrio dos Filsofos. Diz-se
em latim Circinus ,de Circen: crculo, O Circitor latino aquele que faz a roda, que
descreve um crculo. Vemos a o grande arquiteto agindo em um campo submetido a
limites, isto , o Demiurgo platnico.
por isto que o esoterismo cristo ortodoxo faz do Cristo o Verdadeiro e Santo
Demiurgo (de acordo com a palavra de Clemente de Alexandria), pois que ele ao
mesmo tempo o nico Mediador entre o Homem e Deus (So Paulo, Hebreus 12:24).
O significado simblico do Compasso a Exatido na realizao, quer dizer a
preciso nas relaes de medida. Por isto no estgio do Instrumental magistral ele o
gmeo da Rgua , que estudaremos em seguida.
Vimos, quando estudamos o Esquadro que, se este simbolizava a Terra (parte
material do Cosmos), o Compasso simbolizava o Cu, por isto o Homem-Primeiro, o
Andrgino primitivo, tanto nas gravuras da velha China, como no Rebis de Baslio
Valentim, monge alquimista dos sculos XIV e XV (conforme seu Tratado do Azot) ,
segura o Compasso na mo direita e o Esquadro na mo esquerda
63
.
Na Maonaria Simblica dos trs primeiros graus o Compasso deve ser aberto
em 45 graus, sendo a abertura do Esquadro naturalmente de 90 graus. No primeiro grau
(Aprendiz) o Esquadro posto sobre o Compasso. No segundo grau (Companheiro) o
brao esquerdo do Compasso colocado por cima da parte esquerda do Esquadro, as
duas jias da Loja se entrelaam assim harmoniosamente. No terceiro grau ( Mestre), o
Compasso repousa complemente sobre o Esquadro.
O significado esotrico facilmente dedutvel destas representaes
sucessivas. Para o Aprendiz a Matria (Esquadro) domina o Esprito (Compasso). Para o
Companheiro Matria e Esprito esto harmoniosamente inseridos um no outro. a antiga
tradio ocidental das religies chamadas abrahamitas (judasmo, cristianismo,
islamismo), segundo a qual o Homem inicial e definitivamente um ser composto de um
esprito e de uma forma, enquanto que para as mesmas tradies, o Anjo somente
esprito informal. No estagio de Mestre o Esprito domina completamente a Matria, que
se apaga. Ora, ritualmente o Mestre est morto, ele ultrapassou o Limiar a Matria
desaparece, pois o cadver j est em decomposio, de onde nos vem a resposta: M...
B....
Porque o Compasso deve ser aberto em 45 graus? Aqueles de nossos leitores
que leram a obra de Marcel Granet.: O Pensamento Chins e a do Coronel B. Favre: As
Sociedades Secretas na China tero tido a oportunidade de constatar que o simbolismo
manico tem ligaes mais remotas com a tradio chinesa, muito antes da tradio
mediterrnea. Ora, se colocarmos o ngulo de 45 graus do nosso Compasso a partir do
ponto vernal (0 de ries), estaremos sobre uma das vinte e oito divises celestes do
Zodaco chins chamada Tse (a Cabea de Orion), significando a independncia do
Pensamento. Se fizermos o mesmo com o Esquadro, cairemos sobre a diviso ou sieou,
denominada Sing pelos astrnomos chineses e que, segundo eles, o indicador da
caridade, da necessidade de se devotar e mesmo de se sacrificar pelo prximo e por um
63
Vimos, no entanto, que na China h inverso de mos.
ideal. Ora, o astrlogo Andr Volguine, em seu livro A Astrologia Lunar afirma ter
observado que todas as pessoas que no nascimento tm a Lua colocada nesta casa
celeste possuem tendncia filantrpica inegvel.
Que no se considere esta explicao fantasista. Lembremos que em outros
graus manicos o Compasso representado sobre um fragmento de Crculo, graduado
ou no. Ele a representa o Cu, e o Zodaco representado pelo Crculo graduado, curso
solar anual, caminho percorrido pelo Compasso emblemtico, imagem do Sol.
Assim, pois, o Compasso, apto a aumentar seu percurso pelo artifcio da
marcha espiroidal e pelo afastamento progressivo e regular da sua haste exterior,
simboliza o esprito, lanado na incansvel e permanente conquista do desconhecido, do
ignorado. Ele , por isso, a Liberdade. E a partir da fcil admitir, em vista do
simbolismo celeste do Esquadro, que ele evoca a noo de Fraternidade, assim como o
Nvel implica a Igualdade.
Eis as correspondncias analgicas do Compasso:
Sentido..........................................a Clarividncia
Vcio Capital...................................a Cegueira
Cor do Prisma.................................o Violeta
Forma Asctica...............................a Austeridade
Virtude Sublimal..............................a Inteligncia
64
Faculdade Espiritual........................o Dom de Integridade
Carisma Secundrio........................a Palavra de Cincia
Cincia Me....................................a Astrologia
Elemento da Obra ..........................o Mercrio Filosofal (Prata
dos Sbios)
A CLARIVIDNCIA
Intuies, premonies, sagacidade, adivinhao, todos os fenmenos que
podem ser classificados sob termos to diversos, podem, de um modo geral, ser definidos
pelo vocbulo genrico de vidncia ou clarividncia e incluir todos os modos de
premonio.
A Clarividncia natural, isto , despojada de todos os procedimentos irracionais
provenientes do Ocultismo prtico pode ser definida assim: o conhecimento de
pensamentos, de coisas e de fatos sensveis, que o esprito no poderia perceber em seu
procedimento habitual, e que so percebidos de maneira pouco precisa pelos sentidos
normais, que ocorre com o auxlio de uma faculdade que oferece todas as aparncias de
um sexto sentido.
Os sbios que esto voltados com interesse para esses fenmenos lhes deram
64
A escolstica medieval catlica (e igualmente aquela ligada Ortodoxia, no Oriente) s conhece quatro
Virtudes Cardinais (Prudncia, Temperana, Fora e Justia) e trs Virtudes Teologais (F, Esperana,
Caridade), que so a prpria base de um dos principais Altos Graus da Franco-Maonaria. Mas a Igreja
jamais ignorou as duas Virtudes Sublimais, que so a Inteligncia e a Sabedoria, constituindo assim a
enada completa daqui lo que ela chama a divinizao progressiva do Homem. Se duvidarmos, basta
nos reportarmos s Escrituras, que a escolstica considera como sua prpria titulao primazia
espiritual. Veremos a que estas duas Virtudes (potencialidades latentes no Homem) so ento
freqentemente evocadas, e geralmente ambas, em muito numerosas passagens do Antigo e do Novo
Testamento. Citaremos simplesmente duas passagens que, por seu assunto, esto particularmente ligadas
ao Simbolismo manico: E Deus disse a Salomo: Eis que agirei segundo a Tua palavra, e Te darei a
Sabedoria e a Inteligncia, de tal modo que antes de ti igual no houve e nunca se ver depois de ti (I
Reis 3:12).
Hiram era cheio de Sabedoria e de Inteligncia... (I Reis 7:14). Observemos que na Cabala, Binah (a
Inteligncia) e Hokmah (a Sabedoria) constituem as duas ltimas Sefirot, antes de Kether (a Coroa ou o
Umbral da Eternidade) e que elas so geminadas sobre a rvore Sefirtica, Otz Chiim.
nomes de carter cientfico bastante diversos: Myers desejava chamar esta faculdade de
Telestesia, ou de Telepatia, Richet falava de Criptestesia, Wasielewski falava de
Panestesia, enquanto que Boirac e Ren Sudre preferiam o termo Metagnomia.
Roger Heim, diretor do Museu de Histria Natural, e R. Gordon Wasson
descreveram a matria em uma enorme obra a respeito das propriedades dos cogumelos
alucingenos do Mxico e suas relaes com o desenvolvimento da clarividncia no
homem. Eles do exemplos espantosos e relatam experincias das quais eles foram
protagonistas. Uma misso do mesmo professor Heim em Nova Guin permitiu estudar as
propriedades dos boletos e dos russais (cogumelos) dessas regies. Mas essa
Clarividncia est ligada ingesto desses cogumelos e a formas ritualsticas oriundas do
velho fundo mgico primitivo.
Bem outra a Clarividncia desenvolvida no psiquismo de um ser naturalmente
intuitivo e que, pela via inicitica, uma formao altamente espiritualista e moral, um
modo de raciocnio lcido e um perfeito conhecimento simbolstico universal, poder
alcanar o sentido interior e profundo dos clichs emblemticos que seu inconsciente tiver
detectado e lhe tiver transmitido. Pois nos diz o doutor Carrel em O homem, esse
desconhecido:
Dir-se-ia que o pensamento se transmite de um a outro ponto do espao como
ondas eletromagnticas. Ns no sabemos com que rapi dez. No foi possvel, at o
presente momento, medir a velocidade das comunicaes telepticas. Os fsicos e os
astrnomos no tm em conta o fenmenos metapsquicos. A telepatia, no entanto, um
dado imediato da observao. Se se demonstrar um dia que o pensamento se propaga no
espao como a luz, nossas idias a respeito do Universo podero ser modificadas. ...
tambm permitido supor que uma comunicao teleptica consista em um encontro, fora
das quatro dimenses do nosso Universo, de partes imateriai s de duas conscincias...
Estas linhas, escritas pelo doutor Carrel e bem antes de 1935, receberam
confirmao da prpria cincia experimental. De fato, em 1961 experincias cientficas
permitiram demonstrar que o pensamento humano, isto , uma emisso estritamente
mental, era bastante potente para, a alguns metros, fazer acender ou apagar uma
lmpada-testemunha de um aparelho especial.
Ora, esta Clarividncia, feita de intuio, de sagacidade, e s vezes de
manifestaes repentinas, que permite ao Maom alcanar o sentido ltimo e profundo da
Simblica Manica. E sem este sexto sentido, racionalmente desenvolvido e controlado,
o Maom permanecer incapaz de penetrar at os ltimos arcanos da Franco-Maonaria
de Tradio. Ento, assim como o assinala muito justamente Jules Boucher na introduo
ao seu livro A Simblica Manica, o iniciado deve poder quebrar o casco mental, isto
, evadir-se do racionalismo esterilizante, para chegar finalmente transcendncia. E
somente quebrando esse casco que lhe ser possvel alcanar a verdadeira iniciao.
Todos os smbolos abrem portas, sob a condio de que no nos detenhamos, como
geralmente o caso, na definio moral!
A Clarividncia e os fenmenos semelhantes foram longamente estudados
pelos sbios soviticos em Moscou. Eles os definiram assim: Sobrevivncia de uma
adaptao biolgica, que remonta a um estado pr-histrico. Uma tal definio implica a
noo da queda inicial, isto , da regresso psquica sucedendo a um estado inicial
privilegiado. estranho ver a cincia materialista chegar involuntariamente a uma tal
concluso, at agora prpria das tradies iniciticas que ela desejava ignorar...
A CEGUEIRA
s duas Virtudes Sublimais Inteligncia e Sabedoria, da antiga escolstica
esotrica, se opem duas Virtudes Tenebrosas, que so a Cegueira e o Erro.
A Cegueira consiste na perda (s vezes progressiva) do discernimento do
Bem e do Mal, da Luz e das Trevas, e na impossibilidade de perceber, sob as espcies e
sob os objetos materiais, tanto quanto nos prprios seres vivos, o que os religa a esses
dois plos opostos.
Ela consiste igualmente na recusa das realidades objetivas. Encarar a vida de
frente, perceber a iminncia de um perigo, a ameaa de uma guerra, o aparecimento de
uma ideologia destruidora dos ideais tradicionais, tudo isto ser imutavelmente penoso e
desagradvel para aquele que for acometido de Cegueira. Ele se persuadir de que a
destruio desses perigos ocorrer com a simples negao da sua existncia. Certo
pacifismo mistaggico do perodo 1930-1938 leva em parte a marca da Cegueira e a
responsabilidade parcial de um dos maiores massacres da Histria.
Para o Maom esta degradao espiritual consistir na obturao do sentido
oculto das palavras, ela lhe velar irremediavelmente o esoterismo dos ritos e dos
smbolos, o sentido superior dos rituais e das expresses, o contedo intelectual e moral
dos catecismos e das instrues manicas.
Far com que ele prefira a letra que mata ao esprito que vivifica, ela o afastar
pouco a pouco do sentido, superior, permanente e verdadeiro da Franco-Maonaria. O
Maom ser levado a submeter esta a ideais momentneos e impermanentes, ele perder
de vista o objetivo supremo da Ordem Manica que o de unir os seres humanos e fazer
com que se amem. As preocupaes polticas de cada um, a defesa de interesses
materiais tero maior relevo do que estes objetivos seculares. E ele progressivamente
vir a negar a importncia dos prprios elementos da iniciao manica que so os ritos
e os smbolos. E para ele a Ordem Manica se rebaixar insensivelmente ao nvel de um
crculo onde se trocam Idias sem grande convico.
A INTELIGNCIA
A Inteligncia, primeira Virtude Filosofal, o atributo daquilo que corresponde
viso, intuio, percepo e informao dos seres e das coisas. Compreende-se
que esteja associada ao simbolismo do Compasso investigador, o qual engloba j a
Clarividncia. Como tal, a Inteligncia ento o conhecimento (em grego: gnosis) dos
princpios eternos, dos aspectos pleromticos do Absoluto, a cincia do Bem e do Mal,
mas no que diz respeito sua percepo relativamente confusa, e at mesmo imprecisa
65
.
ela que nos d, ao contrrio da Cegueira, a possibilidade de perceber sob as
espcies, os objetos ou os seres materiais aquilo que os religa aos plos opostos do Bem
e do Mal, da Luz e das Trevas. Ela nos faz conhecer quase que instantaneamente o valor
real de uma doutrina poltica, social ou filosfica e sua compatibilidade ou sua oposio
com a Tradio Manica. A Inteligncia faz com que penetremos no sentido profundo
dos termos, no esoterismo dos textos, em sua significao superior, no papel real de um
rito ou de um smbolo no ritualismo manico.
Ela faz com que apanhemos sob as aparncias, as realidades espirituais e nos
reflexos imperfeitos aqui de baixo as realidades transcendentes assim deformadas ou
veladas. Assim como, em Hiram, arquiteto do templo de Salomo, uma Imagem: o Grande
Arquiteto do Universo, o Logos Criador do sistema platnico. Depois, no assassinato do
mesmo Hiram pelos trs maus Companheiros, a sanha das Potncias do Erro por sufocar
a Verdade, a perseguio ao homem justo pelos trs flagelos que so o Fanatismo, a
65
Orgenes nos mostra o FILHO, tirando sua eternidade prpria da contemplao exttica deste Abismo
metafsico que o PAI. A tese curiosa por mais de um motivo, pois ela sublinha a excelncia das
relaes analgicas entre o Verbo-Demiurgo, o Compasso (circitor) e a Inteligncia, virtude filosofal.
Tambm a a noo gnstica tradicional associa o Conhecimento e a Salvao. Igualmente, ela nos mostra
a aplicao da palavra dos Evangelhos: Ningum vai ao Pai seno por Mim..., pois da sua integrao
no Filho que o Homem alcanar a sua compreenso do Pai, segundo a doutrina crist.
Tirania e a Ignorncia. Finalmente, na ressurreio do mesmo Hiram, a ltima esperana
de que a Humanidade, involuda no nmero e na matria, chegaria um dia a reencontrar a
sua unidade original e todos os atributos do esprito. E muitas outras imagens paralelas,
muitas outras analogias que no nos permitido abordar aqui, porque constituem o
misterioso jardim que o Maom deve limpar, cultivar e proteger, a exemplo do Ado
bblico, e que a prpria essncia do muito real segredo manico...
A Inteligncia nos apresenta as Realidades eternas alcanadas pela F
manica sob uma luz tal que, embora sem aproximar-se delas e atingi-las totalmente,
nos reafirma em nossa certeza, no mais intuitivamente como pela F, mas por uma
espcie de viso intuitiva e subconsciente das coisas. Este o motivo pelo qual ainda aqui
a encontramos associada Clarividncia.
Em um grau superior ela nos dar uma viso parcial do que se pode chamar o
Grande Arquiteto do Universo, no no-lo revelando totalmente, o que impossvel, no
estgio atual de nosso conheci mento, mas fazendo com que compreendamos com uma
certeza absoluta aquilo que no se poderia classificar sob um vocbulo.
A Inteligncia corresponde, na vida inicitica cotidiana, ao voto de Austeridade
das diversas religies, Austeridade que de nenhum modo o puritanismo estreito de
algumas formas exotricas da vida religiosa profana.
A palavra deriva do grego austeros, que significa severo, rude, dessecado. Em
Atenas, a festa de Ceres ou Demter, que era denominada Tesmoforia, era a festa mais
severa e a mais austera do ano. A Austeridade consiste em um modo de viver
rigorosamente para si mesmo, e no para outrem, como tantos puritanos hipcritas a
concebem. necessrio lembrar aqui que a Austeridade tem um sentido mais restrito do
que a Severidade. Ele a Severidade nos costumes daquele que a pratica, enquanto que
esta ltima sobretudo ativa nos costumes de outrem! A Austeridade consistir no fato de
menosprezar todo luxo intil e chamativo, no fato de limitar os prazeres da mesa a um
mnimo, bem como os dos sentidos em geral, e procurar os espetculos e as leituras
suscetveis de trazer proveito inteligncia e ao corao, preferindo-os s inpcias to
freqentemente procuradas pelo mundo profano. uma palavra muito raramente
compreendida pela Mulher, devemos admitir! Esta rigorosa, puritana, ou o oposto,
frvola, leviana, vaidosa, tanto do seu interior como de suas vestimentas, mas
raramente est no justo meio.
A FACULDADE DE INTEGRIDADE
Sob a denominao de dom da Integridade, a antiga escolstica medieval
entendia um trplice privilgio: a cincia infusa, o domnio das paixes, a incorruptibilidade
corporal. Estas trs coisas foram de resto reivindicadas pelos Rosa+Cruzes do sculo
dezessete como sendo os elementos probatrios absolutos de uma real participao em
sua fraternidade e a assinatura inicitica por excelncia.
evidente que uma vida sabiamente preenchida, na observao regular dos
princpios iniciticos essenciais, que no hesitaremos em definir sob o nome de ascese
manica, esta vida est, mais do que qualquer outra, apta a permitir o desenvolvimento
destas faculdades transcendentais que aqui estudamos, ligadas ao simbolismo de
humildes Instrumentos. A partir disto, intuio, clarividncia, inteligncia das coisas, tudo
isto nos facilitar o manejo das cincias constitutivas do Quadrivium, do Trivium e do
Bivium, precedentemente analisadas. E conhecimento e Intuio, assim associadas, esto
muito perto de constituir esta cincia infusa, primeiro privilgio da Integridade.
A mesma ascese manica, tendo levado o Maom at o Mestrado, deve logicamente
permitir-lhe que vena e domine as suas paixes. insensato, ento, falar no domnio das
paixes? Um indiscutvel desprendimento das coisas do mundo profano, a certeza de que as
manifestaes superiores do Homem digno deste nome no seriam capazes de se desenvolver
ao nvel dos elementos grosseiros constitutivos do mundo profano, e o Maom est ento bem
perto de alcanar este domnio das paixes....
Resta um ponto delicado e aparentemente impossvel de abordar, se no nos
afastarmos de certas posies materialistas. Trata-se da incorruptibilidade corporal, e
sobretudo pstuma.
Em uma obra de alto contedo cientfico, o doutor Larcher abordou este
problema: Pode o sangue vencer a morte?
66
, verdadeiro ensaio de tanatologia. Por outro
lado, autnticos documentos atestam a surpreendente conservao de corpos cujos
possuidores, em vida, foram sempre ascetas, no bem ou no mal. Atestam que s vezes
subsistem, aps a morte, determinadas caractersticas inexplicveis da vida. E
sensacionais e recentes operaes cirrgicas conduziram as mais altas autoridades
mdicas a admitirem que a definio da morte legal, que at agora repousava sobre a
constatao da parada absoluta do corao e da respirao, deve agora ser revisar em
vista das concluses decorrentes dessas operaes. Por outro lado, sbios soviticos
descobriram que as ltimas lutas da agonia suscitam, no corpo humano, o nascimento de
anticorpos dotados de propriedades vitais particulares .
Ora, o que dizer da imputrescibilidade do corpo e do sangue, das vsceras
essenciais, por secreo dos leos necessrios a uma espcie de auto-embalsamento, da
manuteno de urna temperatura muitas vezes muito prxima da dos vivos, da
flexibilidade dos membros, e i sto depois de muitos anos decorridos aps o sepultamento?
Alguns casos remontam a aproximadamente dezoito sculos
67
.
Todos estes casos apresentam estranhos problemas. Se acrescentarmos o
exsudato sangneo em determinados cadveres assim anormalmente conservados,
exsudato que implica uma renovao hormonal do sangue e, por outro lado, uma certa e
misteriosa circulao sangnea (hemorragia ininterrupta na sepultura), todas estas
coisas observadas em indivduos que pertencem a ideologias totalmente opostas, todas
estas coisas espantosas implicam a presena de um elemento psquico anlogo ao duplo
do antigo Egito. Pois no se poderia atribuir natureza do solo com o qual o corpo em
questo no tem nenhum contato (devido ao caixo e ao tmulo) uma tal misteriosa
conservao, tanto mais quando nas sepulturas vizinhas os demais cadveres esto
sempre normalmente decompostos.
por isto que o doutor Larcher, em sua obra: Pode o Sangue vencer a morte?
se permite avanar esta hiptese, decorrente de sua longa e altamente cientfica
pesquisa:
Uma morte que seria puramente fisiolgica, sem a menor alterao orgnica,
ainda seria a morte, ou seria ela antes um grande xtase irreversvel, como o
nirvikalpasamdhi, um sono particular, uma dormio negada natureza doente, mas
permitida totalmente natureza imaculada e parcialmente natureza regenerada?
Pensemos tambm na virtude iluminadora da conscincia, que Milosz atribua ao
contraveneno anticorruptor....
E aqui tornamos a encontrar o smbolo essencial do Mest rado manico, a
misteriosa Accia. Pois segundo a nossa tradio secular, um ramo de Accia que d
sombra ao tmulo de Hiram. Ora, se analisarmos esta palavra segundo a cabala solar, ou
cabala fontica
68
, constatamos que apenas a deformao verbal da palavra snscrita
Akasha, que designa o ter, quinto elemento e representando o estado primordial de
equilbrio indiferenciado, nos diz Ren Gunon
69
, ou seja, o Eterno Presente ou o
Pleroma dos antigos gnsticos.
Que o leitor releia a frase citada algumas linhas acima e tirada da obra do Dr.
66
Paris 1957, Gallimard editores.
67
Possumos copioso arquivo sobre esses fatos extraordinrios.
68
Cf. Fulcanelli: O Mistrio das Catedrais.
69
Cf. Ren Gunon: O Homem e seu Futuro segundo o Vedanta.
Larcher. E toda a virtude misteriosa do to belo ritual de Mestre Maom se torna claro!
Compreende-se, ento, que a ascese manica, bem conduzida, pacientemente
sustentada ao longo de toda uma vida, pode assegurar ao Iniciado o retorno ao Oriente
Eterno evocado por nossas Cerimnias Fnebres. E que a nossa Tradio no poderia
admitir a negao da alma imortal, em virtude da prpria salmodia que acompanha estas
mesmas Cerimnias Fnebres: Gemamos, meus Irmos! Gemamos! Gemamos! Mas
esperemos...
Alis, bastante curioso constatar que este termo (gemamos...) repetido
trs vezes. Ora, a sua inicial, a letra G, quer seja um gama grego ou de ghimel hebraico,
vale como nmero ao trs nesses alfabetos. O que, pela repetio (3x3: gemamos...
gemamos... gemamos...) d nove, o nmero da morte e da ressurreio de Hiram, o
nmero dos Mestres, o nmero de Saturno, a Foice, a Fome, o Fim...
Henri Bergson
70
nos diz:A Humanidade geme esmagada sob o peso dos
progressos que fez. Ela no sabe que seu futuro depende dela. Cabe a ela ver primeiro
se quer continuar a viver! Depois tem de perguntar a si prpria se somente quer, ou se
quer fazer o esforo necessrio para que se cumpra, at mesmo sobre nosso planeta
refratrio, a funo essencial do Universo, que a de ser uma maquina de fazer
deuses...
A PALAVRA DE CINCIA
A Palavra de Cincia uma faculdade, um dom (sermo scientiae) que nos
permite utilizar os conhecimentos e as cincias clssicas a fim de fazer melhor
compreender aos nossos Irmos as verdades essenciais da nossa Tradio.
Ela nos permite distinguir (fruto da Inteligncia) e fazer os outros distinguirem a
presena de uma Inteligncia misteriosa agindo em todo o Universo, e sobretudo
demonstrar a sua existncia pelo fato de que necessria. Eddington, em sua obra O
Universo em Expanso, manipulando a moderna mecnica quntica ondulatria, no
hesita em nos dizer que: A noo de um esprito ou logos universal , assim creio, uma
inferncia bastante plausvel a fazer do estado atual das teorias fsicas, ou ao menos no
est em contradio com elas. Mas se assim , tudo o que a nossa investigao nos
permite afirmar com razo puro pantesmo sem cor. A Cincia no pode dizer se o
esprito do mundo bom ou mau! E seu argumento capenga em favor da existncia de
Deus poderia igualmente transformar-se em argumento em favor da existncia de um
Demnio!...
A Palavra de Cincia implica evidentemente a posse perfeita do Quadrivium e
do Trivium: Aritmtica, Msica, Astronomia, Geometria, Dialtica, Retrica, Gramtica.
A ASTROLOGIA
Vimos que na antiga escolstica medieval exotrica o Quadrivium compreendia
a Geometria, a Astronomia, a Msica e a Aritmtica, e acima, o Trivium englobava a
Lgica (ou Dialtica), a Retrica e a Gramtica. A escolstica esotrica medieval
compreendia mais duas cincias que todos os Hermetistas, tanto da Idade Mdia como da
Renascena, e os Rosacruzes dos sculos XVII e XVIII estudaram e praticaram, cincias
que constituram o Bivium, isto , a Astrologia e a Alquimia, constitutivas, com a ltima
cincia que coroava esta dupla via, de um ternrio inicitico completo, que ns chamamos
a Mstica.
O Compasso, imagem perfeita do curso dos Astros, e do Universo no qual eles
70
Cf. Henri Bergson: As duas Fontes da Moral e da Religio.
se movem, dceis a leis aparentemente eternas, est em nossa classificao inicitica
associado analogamente Astrologia. Tomando em considerao a repulsa de
determinados meios a respeito desta ltima, repulsa geralmente ligada a uma absoluta
ignorncia do problema, e que associa espritos profundamente religiosos como tambm
espritos ferozmente racionalistas, parece-nos indispensvel apresentarmos de maneira
exata aquilo que a Astrologia moderna, denominada Astrologia cientfica.
A Astrologia, esta cincia florescente no Egito, na Caldia e na Europa
medieval, e que parecia abandonada h mais de um sculo, renasce lentamente em
nossos dias. Mas, por vezes, ela to depreciada na opinio pblica profana que quase
necessrio, para tornar-se o advogado defensor de sua causa, justificar-se antes de
defend-la
71
.
Se
considerarmos que ela contava entre seus adeptos os espritos mais
eminentes dos tempos antigos, tais como Ptolomeu, Cassini, Kepler, Cardan, Newton,
Gerson, Toms de Aquino, Lutero, e centenas de outros sbios, filsofos, telogos de
primeira ordem, e que, por outro lado, seria talvez muito difcil encontrar entre seus
detratores um nico que se tivesse dedicado seriamente a estud-la, parece que a
tentativa de pr prova seriamente os seus ensinamentos tradicionais com o uso de
nossos mtodos positivos de investigao moderna, deve escapar censura de no
encontra justificativa, e que seja ento permiti da sem ser ridicularizada.
Alm disto, se as pesquisas assim dirigidas produzissem a prova de que os
Astros mveis que ns vemos luzir no firmamento em um instante determinado sobre um
dado horizonte exercem, tal como o afirma a Astrologia, uma ao determinante sobre o
temperamento, sobre as faculdades e sobre a evoluo dos seres que vem vida nesse
instante e sob o horizonte dado, esse fato teria incontestavelmente um interesse se e uma
importncia considerveis.
Ora, todos os que tiveram a perseverana necessria para se iniciarem nos
ensinamentos dos antigos mestres dessa cincia e para verific-los pela experincia e
pelas estatsticas, todos esses se convenceram da influncia astral.
No sentido mais positivo, a Astrologia ,
pois, a cincia experimental das
potencialidades latentes do carter humano e das causas determinantes dos
fenmenos
72
.
Porm duas questes fundamentais se impe :
1 - Existe realmente uma relao entre as tendncias inatas no
homem e a posio dos Astros no momento preciso do seu nascimento? Quais so as
provas?
2 - Esse aspecto do Cu no momento do nascimento d as indicaes
sobre o destino humano, e as pocas podem ser conhecidas previamente?
Ns responderemos que numerosos sbios dos tempos modernos admitiram a
influncia planetria:
Transon, em sua Enciclopdia declara que a idia da influencia dos Astros
pode muito bem ser reconhecida pela razo. Flammarion, o grande Flammarion, estava
convencido disso. Lembremos as observaes do abade Moreux a respeito da influncia
das manchas solares sobre a recrudescncia dos suicdios e sobre a turbulncia dos
estudantes! Todos os seres na Natureza tm uma existncia intimamente ligada s
variaes do aspecto solar. A poca de florao para a planta, de reproduo para o
animal, de doena crnica para o homem, no estranha aos diferentes aspectos do sol,
71
J. Bricaud: Elementos de Astrologia, Paris, Libr.du Magntisme.
72
P. Choisnard: Langage Astral, Paris, Chacornac diteur.
s suas estaes.
Ora, o astrlogo reconhece que, no somente o homem submetido aos
influxos celestes de essncia solar e anlogos, mas ainda afirma que o sol no o nico
astro cuja influncia sofremos, mas que todos os elementos do nosso sistema solar nos
influenciam igualmente.
Acontece que se acabou de descobrir corpos celestes, situados a milhes de
anos-luz de nossa Terra. So to grandes como milhes de sis; ultrapassam em brilho
mais de cem vezes o brilho da nossa galxia inteira. Eles se assemelham a estrelas, mas
seu prprio gigantismo impede que se lhes d esse nome. Dir-se-ia que so a
aglomerao de um plasma de luz. Nenhuma teoria astrofsica permite explicar sua
existncia, nem definir sua natureza, eles so um desafio ao raciocnio cientfico. Emitem
ondas rdio com uma profuso equivalente a milhes de vezes aquilo que poderia emitir
uma galxia composta de milhes de estrelas. E se quer que o crebro humano seja
insensvel a tais emissores? Que ridculo...
73
Todos conhecem a banal experincia que consiste, nas observaes
astronmicas, em transformar as radiaes luminosas vindas dos astros mais distantes
em radiaes sonoras. E atualmente, em Nanay, perto de Vierzon, o laboratrio de rdio
astronomia registra diretamente raios siderais de ondas diversas, pode dizer-se que se
ouve cantarem as estrelas... Mas que homem de cincia ter a audcia de construir um
rob ciberntico munido das possibilidades humanas clssicas: deslocamento,
movimento, manipulao autnoma, e sobretudo memria registradora, e eletronicamente
determinante (existem muitos dotados desta memria artificial), e de submet-lo, como
agente motor, somente s radiaes siderais luminosas, tornadas radiaes sonoras
dentro do laboratrio? Qual seria o comportamento desse rob ciberntico? E, de
qualquer maneira, que triunfo para a Astrologia...
Acrescentemos que os sbios soviticos acabam de estabelecer (1964) que
radiaes invisveis so emitidas pelos Astros, radiaes totalmente diferentes em sua
natureza daquelas que ns conhecemos. A mesma experincia, aplicada a esses influxos
misteriosos, que resultado produziria?
No daremos aqui um curso de Astrologia. H muitas obras sobre esta cincia.
Seu aspecto cientfico foi superabundantemente demonst rado pela estatstica, pela
observao. Isto no uma cincia oculta que se trate de admitir a priori. uma cincia
conjetural, do mesmo modo que a Meteorologia (que era outrora apenas um ramo desta).
Seu estudo complexo repousa sobre clculos matemt icos, sobre a observao de regras,
baseadas sobre a experincia. Dela podem ser exigidos fatos, provas. uma cincia
experimental e de observao.
9 - A RGUA
O OURO DOS SBIOS
(Regularidade na Aplicao)
A Rgua corresponde esotericamente ao Enxofre Filosofal, tambm chamado
Ouro dos Sbios e que necessrio no confundir com o Enxofre dos Filsofos. Em latim
se diz regula, norma, praeceptum, ou seja: regra, norma, preceito. Evoca tambm o cetro,
73
Lembraremos aqui a bem pertinente nota do Grande Comendador de Honra do Grande Or iente de
Frana, o Muito Ilustre Irmo Jean Corneloup, em uma cerimnia solene das Lojas tradicionalistas dessa
Obedincia, em fevereiro de 1964: O homem recebe, sem seu conhecimento, os impulsos que lhe chegam
do fundo do universo...
pois o latim regulus quer dizer pequeno rei, reizinho. Com os termos norma e praeceptum
(norma o preceito) ela justifica o fato de que a Franco-Maonaria a tenha freqentemente
substitudo pelo Livro Sagrado: Bblia, Evangelho Joanita, Alcoro, Vedas, etc., segundo a
regio e a religio local. Mas o inverso igualmente verdadeiro. E o Livro Sagrado pode
do mesmo modo ser representado por uma Rgua, imagem da lei eterna, daquilo que
autenticamente o bom, o belo e o verdico. Se estas coisas so susceptveis de mil
nuances, segundo as raas e as pocas, no menos verdade que certos princpios so
absolutamente incontestveis quanto ao seu valor absoluto.
A Rgua significa, para o Maom, a regularidade na aplicao dos princpios
manicos vida corrente, tanto inicitica como profana. Para o Mestre suficientemente
informado das altas correspondncias esotricas dos nossos Smbolos, revela muitas
chaves desconhecidas. Ela possui primeiro a significao de medida, em latim mensura, e
numerus (nmero) . tambm o smbolo da Autoridade.
A Rgua o Cetro do Professor, dela que ele vai servir-se como pedagogo
quando ele bater na sua ctedra a fim de obter de seus alunos o silncio que deve
acolher sua palavra. E acontecer, por vezes, que ela lhe sirva igualmente de
instrumento de correo tanto quanto de afirmao de sua autoridade legtima...
pela ligao que tem com a noo de realeza que se pode unir termos
aparentemente sem relaes:
1) rgio (do latim regalis; real): direito real sobre a vacncia de um episcopado;
2) realengo (direitos realengos), direitos ligados soberania real;
3) regalo, regalar, alimentao ou festim digno de um rei.
Ora, se o latim regula significa Rgua, deriva do verbo regere, dirigir, prximo de
regnare; reinar.
A Rgua era outrora, na Compagnonnage, das dimenses de um cvado. Mas
havia muitos cvados no antigo Egito:
cvado natural : de 0,45m de comprimento
cvado real : de 0,525m de comprimento
cvado sagrado: de 0,635 m de comprimento.
Este ltimo, que tambm era chamado de cvado piramidal porque havia
servido de medida durante a construo da grande pirmide, monumento misterioso entre
todos, tornou-se em seguida aquilo que o mundo rabe denominou de o cvado
haschmico (0,640 m)
74
. O cvado piramidal serviu igualmente de norma para a
construo do Templo de Salomo, em Jerusalm.
O cvado piramidal se dividia em duas partes, valendo cada uma um p real, ou
seja doze polegadas cada uma, vinte e quatro ao todo. A Maonaria inglesa possui uma
Rgua, dividida em vinte e quatro subdivises e ela atribui cada uma destas a uma hora
do dia, sendo a Rgua a imagem da jornada. V-se que a significao prtica parece ter
sido esquecida...
Pois o nosso cvado sagrado ou cvado piramidal muito mais misterioso do
que se pensaria de incio. Seu comprimento, de fato, nada mais do que a seco urea
do metro, com aproximao de alguns milmetros. Realmente, a seco urea do metro,
calculada de maneira precisa, de 0,618m, ou seja, aproximadamente 0,62m. E o
cvado sagrado de 0,63m. A diferena de 1,7 por 100, o que irrisrio tendo em
conta a variao dos instrumentos de medida material no decorrer dos sculos. De fato,
um Compasso rombudo de talhador de pedra (compasso muitas vezes de um metro de
altura), um Cordel de quinze metros (o comprimento do Cordel antigo era exatamente de
74
De hakim: mestre, em rabe. Era o cvado dos mestres.
15,24 m) so instrumentos suscetveis de dar diferenas de medida que importam em
muitos milmetros em cada operao.
isto que explica que em certas regies do Oriente Mdio o cvado
haschmico, que o sucedeu, seja de 0,640 m em l ugar de 0,635m e que o p real (1/2
cvado piramidal) tenha tido o valor de 0,324m aps a Idade Mdia, no Ocidente, em
lugar de 0,317m como no Egito antigo. Ou seja, uma diferena de sete milmetros, o que,
convenhamos, bem pouco.
Mas o mistrio aumenta se, considerando que o cvado piramidal, ou
cvado sagrado, nada mais do que a seco urea do metro, se perceber que isto
implica o conhecimento deste ltimo pelos arquitetos e os sacerdotes do Egito
antigo. Pois isto subentende o conhecimento da esfericidade da Terra e da medida
de seu meridiano...
75
V-se que os sacerdotes do Egito antigo no eram ignorantes e que as
descobertas estupendas feitas pela decomposio das medidas dos elementos
constitutivos da grande pirmide, o segredo da sua mist eriosa orientao provam, por sua
vez, o perfeito conhecimento da Letra G, da arte da Geometria.
A Rgua da Maonaria , pois, igualmente um dos smbolos do Saber esotrico,
e no dos menores, o que veremos em seguida.
Eis as correspondncias analgicas da Rgua:
Sentido .....................................................a Clariaudincia
Vcio Capital..............................................o Erro
Cor do Prisma ..........................................o Alaranjado
Forma Asctica.........................................a Meditao
Virtude Sublimal....................................... a Sabedoria
Faculdade Espiritual................................. o Dom da Graa
Carisma Secundrio................................. a Palavra de Sabedoria
Cincia Me .............................................a Alquimia
Elemento da Obra ....................................o Enxofre Filosofal
(Ouro dos Sbios)
A CLARIAUDINCIA
A Clariaudincia , no campo auditivo, aquilo que a Clarividncia no campo
visual, ou paravisual se ela se exerce no estado onrico. Notemos, pois, que existe uma
Clariaudincia de modo onrico como existe no estado de viglia.
75
Denomina-se Nmero ureo ou Seco urea uma relao particular, de tal
modo que a menor parte, em relao maior, ser como a maior em relao
ao todo. a isto que se chama, em geometria clssica, a diviso da l inha
reta em mdia e extrema razo. Encontra-se em O Nmero de Ouro, de
Matila C. Ghyka, obra fundamental em dois grandes volumes (Gallimard
editor) um muito vasto estudo sobre o assunto, desde a Antigidade at
nossos dias, na Arte, no Oculto, etc. Por outro lado, em sua Simblica
Manica, Jules Boucher consagrou quatro pginas ao estudo das
demonstraes prticas deste mesmo Nmero de Ouro, notadamente a
respeito do Quadrilongo (Pavimento de Mosaicos) da Franco-Maonaria.
Diversas outras obras abordaram o estudo desta mesma Seco urea na
Arte em diversas pocas.
Parece que em Israel antigo as faculdades superiores dos profetas se
manifestavam sobretudo neste ltimo modo de percepo, e menos em modo visual ou
paravisual. s vezes, em seus aspectos mais elevados, elas se manifestavam
simultaneamente de modo visual e auditivo. o caso do profeta Jeremias, o caso de
Ezequiel, de Osias, de Joel, de Jonas, de Mi quias, de Sofonias, de Ageu, de Zacarias,
nos quais se encontra imutavelmente este modo de apresentao: A palavra do Eterno
me foi dirigida nestes ternos... Ao contrrio, em Joo de Patmos, o Apocalipse
recebido de maneira simultaneamente visual e auditiva.
No falaremos aqui das vozes de Joana dArc. Historiadores de valor, que
pesquisaram suas verdadeiras origens
76
, pensaram poder concluir que essas vozes eram
as dos conselheiros que vigiavam sua juventude, em sua famlia adotiva, que lhe haviam
ensinado a tcnica das armas da poca e sua estratgia! Remetemos o leitor aos
estudos sbios de Jean Jacoby e de Grard Pesme. Se o interesse pelo maravilhoso
perde, a Histria ganha!
Os Maons ocultistas podero documentar-se a respeito de todos estes
fenmenos psquicos por meio de srias e numerosas obras, e principalmente pela grande
obra que o doutor Paul Joire, professor do Instituto Psico-Fisiolgico de Paris, publicou
em 1909 (em Vigot Irmos, livraria muito sria) e intitulado Os Fenmenos Psquicos e
Supranormais. Ele a se antecipa aos trabalhos do saudoso doutor Osty em seu Instituto
de Pesquisas Metapsquicas. Deve-se notar que em toda a fenomenologia relatada neste
campo, no se trata de previso do futuro. Estudam-se a os fenmenos de audio
psquica provocados. E, em sua simplicidade e em sua banalidade mesmo, eles so
extremamente curiosos e abrem horizontes insuspeitos sobre as possibilidades do
personagem que o doutor Carrel designava e estudava em sua clebre obra: O
Homem, este Desconhecido. Melhor ainda, eles permitem encarar as modalidades de
criao do clima psquico favorvel premonio auditiva.
O ERRO
A Rgua sendo a prpria imagem da exatido, tambm a da Verdade. ento
lgico que o vcio, que se lhe ope, seja o Erro.
O sujeito que vir desenvolver-se em si mesmo uma das duas faculdades estudadas
acima, Clarividncia e Clariaudincia, dever, antes de tudo, encouraar-se com uma
capa de desconfiana. De maneira alguma dever colocar as mesmas em ao para os
problemas sem contedo inicitico. Que ele deixe a percepo do futuro aos gabinetes
de cartomantes e aos videntes que se consideram extralcidos. Tais aplicaes
absolutamente no so dignas de um Maom. Mas que ele se contente em faz-las
servas da sua Intuio, no domnio da introspeco inicitica, na percepo dos aspectos
interiores do esoterismo manico. Quantos pontos de histria obscuros em nossa
Ordem, quantos rituais que ficaram obscuros, quantos smbolos mudos que a ele caber
76
Segundo toda uma escola histrica sobre a qual no foi possvel organizar
totalmente a conspirao do silncio e sufocar a voz, Joana dArc seria a filha
ilegtima do duque Louis de Orleans e de Isabel da Baviera, esposa de Carlos
VI, e portanto meia-irm do Bastardo de Orleans, filho de Louis de Orleans e
de Mathide de Enghien. Pesquisas pessoais foram feitas por ns mesmo
durante cinco anos, o que nos permite aderir a esta tese, extremamente
vlida. Documentos da poca, particularmente perturbadores, fazem justia
em todo caso pastorinha ignorante e ingnua. Joana era uma filha
extremamente inteligente, altiva, sabendo levar os homens, e conhecia,
quando chegou a Chinon, a estratgia da poca, a equitao e a esgrima
daquele tempo...
fazer falar e despojar de seus segredos seculares.
Sobretudo ele no dever, se pertencer s correntes da Maonaria
espiritualista, se alm disto for membro de organizaes mais ou menos prximas do
Ocultismo, imaginar que esteja em relaes psquicas com Deus, com a Vir gem Maria ou
com o Apstolo Joo! Ele dever lembrar-se de que toda manifestao inferior de foras
desconhecidas, no homem, est imutavelmente e em um ponto qualquer marcada pelo
grotesco, inconseqente, o irracional, e traz em si os germes de anarquia. Se os
perodos de manifestao destas manifestaes aberrantes coincidirem com um clima
geral interior imoral ou amoral, se a sexualidade se revela mais exigente, s vezes
marcada de depravao oculta, se as teorias de facilidade acompanham estes
fenmenos, que o Maom saiba que ele abriu em si as portaspor onde escapam,
subindo superfcie, e a se espalham em seu consciente foras desconhecidas at a
presas nas profundezas do seu ser.
Com muito maior razo se ele cr que foi chamado a completar ou a modificar
um corpus religioso ou filosfico qualquer, ou a alterar ensinamentos tradicionais,
conhecidos por sua excelncia e por seu alto nvel moral.
Neste caso ele est sendo vtima do Erro, esta potncia tenebrosa, oposta
Sabedoria, que rapidamente nos tira o senso do bem e do Mal, do Justo e do Injusto, do
Belo e do Feio, do Bom e do Mau. Nesse domnio, para o Maom prisioneiro do Erro,
toda discriminao se apaga de pouco a pouco. Ela se torna mais grave ainda, quando
nos obnubila o senso do verdico e do autntico em matria de filosofia.
O Maom desencaminhado no est mais em estado de perceber aquilo que lhe
realmente til no domnio inicitico. Os velhos smbolos tornam-se letra morta para ele,
quando no acontece que ele os inverta conscientemente. Quando o Maom chegar to
longe na descida para as trevas espirituais, dificilmente pode imaginar -se uma subida por
seus prprios meios.
A SABEDORIA
A Sabedoria s poderia fazer aceder, revelar ou exprimir a verdade absoluta.
No de admirar ento que tenha por smbolo a Rgua.
A Sabedoria consiste na escolha e na adoo do melhor entre os dados
acessveis Inteligncia. Ela pressupe ento a Inteligncia, ela opera em seu seio
somente por eliminao. a submisso espontnea, i nteligente e compreensiva a um
bem que ela percebe como se a dominasse a ela mesma. Como tal, ela uma
discriminao entre o Bem e o Mal, a cincia destes dois opostos.
Ela figura como primeira luz da Ordem Manica, com a Fora e a Beleza, suas
acompanhantes e suas irms, ao mesmo tempo. Na Maonaria de Tradio, a luminria
que a representa em um dos ngulos do Quadrilongo tem o privilgio de ser acendida
pela mo do prprio Venervel da Loja, e a apario de sua chama saudada em alta voz
por ele com esta frmula secular: Que a Sabedoria presida os nossos Trabalhos... Ele
se contenta em acender em silncio as duas outras luminrias, e suas chamas so ento
saudadas pela voz somente do Primeiro e Segundo Vigilantes, quando estes vem acender
suas prprias velas: Que a Beleza os orne... Que a Fora os complete....
Se, para o Maom, a Inteligncia o Conhecimento total, a Gnose evocada pela
celebre letra G, a Sabedoria ento o uso que dela se faz. de algum modo o aspecto
superior, pois que o resultado da ao da F e da Caridade, do Mercrio e do Sal
Princpios na prpria alma do Iniciado.
A Sabedoria faz com que julguemos todas as coisas apreciando-as segundo as
normas da Razo pura, da qual todas as outras dependem, porm ela prpria no
depende de nenhuma outra. Um exemplo nos far compreender melhor. banal e muito
conhecido. Todavia, perfeitamente adequado ao caso.
1) Se Deus existe, ele necessariamente perfeito, pois um Deus que no fosse perfeito
no seria Deus, e um Deus imperfeito no poderia existir. Este nada mais seria do que
uma criatura imperfeita e o Criador perfeito ficaria por descobrir.
2) Se Deus existe e ento necessariamente perfeito, ele no teria podido, sadicamente,
tirar do No-Ser e criar ex-nihilo criaturas que ele sabe, em sua prescincia e em sua
oniscincia perfeitas, deverem se perder e se danar eternamente. Sua bondade, sua
justia, seu amor se opem a isto.
3) Se, portanto, Deus existe, e necessariamente perfeito, o inferno eterno no existe,
nem pode existir.
Este um raciocnio manico, a sacrossanta Razo manica diro nossos
adversrios clericais. Nos responderemos que, manica ou no, isto que a razo
humana considera como um raciocino lgico, e como no possumos qualquer outro, este
nos basta. E todos os raciocnios farisaicos de certos telogos nada mudaro a.
ento pela Sabedoria que o Maom pode atingir o mais alto grau de
conhecimento acessvel. ao ser humano aqui, pois que este conhecimento no reside em
um fenmeno de percepo geral, (como na Inteligncia, cincia do Bem do Mal), mas em
um fenmeno de percepo particular, que a cincia do Bem e do Mal, do seu
conhecimento absoluto.
E a Caridade que est na base do nascimento da Sabedoria em ns, e
tambm a F na validade dos ensinamentos manicos, assim como o esquema anterior
o demonstra. A Caridade um ato do amor total, universal, pelo qual o Maom quer, para
todos os seres, este Bem absoluto que a F lhe deu a conhecer e que ele deseja
legitimamente tanto para si mesmo como para todos os outros seres.
A partir da, procurando somente este Bem, tendo-o compreendido, definido, ele
no mais poder confundi-lo com o seu contrrio. E tudo aquilo que recolhe esta rede de
rocegar que a sua inteligncia das coisas, a sua viso de todos os possveis, este
ato de amor universal que lhe servir de pedra de toque para experimentar a pureza do
seu ouro. A Sabedoria ser o filtro depurador dos conceitos evocados nele pela
Inteligncia.
A Sabedoria tem por corolrio, na vida inicitica cotidiana, a Meditao, ou o
Estudo. A Meditao a aplicao do esprito a um assunto que se deseja ntrojetar.
necessrio encar-la como se fizesse com toda realidade parte da ascese manica, pois
o primeiro ensinamento que a Ordem confia ao Prof ano. A Meditao est inteiramente
nos smbolos da Cmara de Reflexes. Ela pode ser exercida sobre tudo aquilo que ai
est figurado, pode ser aplicada igualmente a cada um dos elementos da enada dos
Instrumentos da Franco-Maonaria, s relaes que ligam entre si todos os smbolos que
ai esto reunidos.
Eis, em nossa opinio, o melhor mtodo de Meditao, para o Maom:
I. Preldio Lembrana rpida do tema da Meditao
Construo da imagem mental.
Projeo do desejo de introspeco
II. Corpo de Meditao: Exercita-se em seguida sucessivamente:
a) a Memria: representar para si mesmo o tema, dentro do esprito e das
circunstncias do seu emprego ritualstico,
b) o Entendimento: Examinar aquilo que deve ser considerado sobre o tema, que
concluses tirar, seus motivos, como se tirou partido
anteriormente, como fazer melhor no futuro, quais so os
obstculos a afastar, quais os meios para obter bons
resultados,
e) a Vontade: determinar as resolues que permitem chegar a isso, desenvolver
o entusiasmo inicitico e a f manica nos Ideais da Ordem,
estabelecer a concluso em algumas palavras simples, fceis
de reter.
O DOM DA GRAA
Para o mstico cristo, o dom da Graa equivale descida de Deus nele, fuso
com o Divino. Transmutado pelo jogo sutil destas potencialidades que ele sabiamente
esmerou em si, tendo pouco a pouco, e na ordem legtima da sua apario, despertado
estas faculdades latentes que dormiam no mais profundo de seu ser, o mstico tornou-se
um vaso de eleio. Ele criou um vazio, e nesse vazio no mais possvel que esta fora
misteriosa que se convencionou chamar de o Divino deixe de se expandir.
Mas no plano estritamente intelectual e moral, onde a Franco-Maonaria procura se
acantonar, o que se deve entender por Graa? Se, por si mesma, a Franco-Maonaria se
limita em suas ambies espirituais, se o Compasso, que simboliza para ela a Inteligncia
das coisas, fica aberto de acordo com um ngulo imutvel, ela no poderia alcanar os
domnios superiores do pensamento humano.
Ns no pensamos que estes limites existam verdadeiramente. Para ns esse dom
misterioso que se vai desenvolver no Iniciado, essa faculdade latente que finalmente se
vai abrir, fruto de todas as outras, ela se manifestar em um aspecto de sntese. Nele, ela
ser a manifestao, permanente, coletiva, geral, sinttica de todas as outras faculdades.
Ser a dinamizao de todo este organismo, psquico e suprapsquico, seu desabrochar e
seu exerccio, natural e ininterrupto, que permiti r ao Iniciado ser colocado entre os
Adeptos. Iniciado, ele estava no caminho, no comeo (initium); adepto (do latim adeptus:
aquele que adquiriu) ele possui a plenitude de todas as faculdades, ordinrias e
transcendentes.
A PALAVRA DE SABEDORIA
Entende-se, sob esta denominao, utilizada sobretudo na escolstica
medieval crist, uma faculdade que ajudar o Maom a extrair as verdades essenciais,
consideradas como princpios, das concluses que enriquecem a Tradio e o Esoterismo
manicos. Igualmente, esta faculdade lhe permitir evitar todo erro quando abordar o
estudo de tradies diferentes, de diversas Religies. Em uma palavra, a Palavra de
Sabedoria (sermo sapientiae) a faculdade que permite ao Maom a discriminao e a
compreenso dos princpios, filosficos e religiosos.
A ALQUIMIA
Integrada na trilogia tradicional, expressa pelos construtores, mestres do obras e
cortadores de pedra medievais no trplice portal de nossas grandes metrpoles gticas de
enigmticos baixos-relevos, a Alquimia e suas irms, a Astrologia e a Mstica, so
conhecimentos tradicionais e no cincias suscetveis de decantao, de evoluo e de
progresso.
Elas constituem, pois, completa, total, absoluta, esta soma que se denomina as
doutrinas de Hermes. Imutveis em seus princpios (mesmo no o sendo sempre em
suas aplicaes) foi com sabedoria que aqueles que, espiritual e misteriosamente,
guiaram a mo dos Construtores medievais, as associaram, misteriosos guardies do
Umbral, ao simbolismo esotrico da trplice entrada nas Catedrais. Talvez mais do que
suas irms, a Alquimia dissimula sob seu vocbulo algo bem diferente daquilo que o
profano v geralmente. J as aluses ambguas e cheias de subentendidos, encontradas
nas obras de velhos mestres, nos fizeram suspei tar:
L. Grassot: em A Luz Tirada do Caos, Amsterdam (Lyon) 1784, nos diz:
A Grande Obra dos Sbios tem o primeiro lugar entre as mais belas coisas; a
Natureza, sem a Arte, no pode alcanar a concluso, e a Arte sem a Natureza no ousa
comear. uma obra-prima que limita a fora de ambas. Seus efeitos so to miraculosos
que a sade que ela proporciona e conserva nos vivos, a perfeio que ela d a todos os
compostos da Natureza e as grandes riquezas que ela produz de uma maneira totalmente
qumica no so suas mais altas maravilhas.
Se o Grande Arquiteto Do Universo fez dela o mais perfeito Agente da
Natureza, pode se dizer sem temor, que recebeu o mesmo poder do Cu para a Moral. Se
ela purifica o corpo, ela ilumina os espritos. Se ela conduz os mi stos
77
ao mais elevado
ponto de sua perfeio, ela pode elevar nossos entendimentos at os mais altos
conhecimentos. Ela o salvador do grande Mundo, (macrocosmo), porque ela purga
todas as coisas das impurezas originais e repara por sua virtude a desordem de seu
temperamento. Ela subsiste em um perfeito ternrio de trs princpios puros, realmente
distintos, que perfazem, todavia, uma mesma natureza. originalmente o Esprito
Universal do Mundo, corporificado em uma terra virgem, sendo a primeira produo, ou a
primeira mistura dos elementos no primeiro ponto de seu nascimento. Ela trabalhada em
sua primeira preparao, ela verte seu sangue, morre, entrega seu esprito, sepultada
em seu vaso, e sobe ao Cu, em quintessncia, para examinar os sos, e os doentes,
destruindo a impureza central de uns, exaltando os princpios de outros; de maneira que
no sem motivo que ela chamada pelos Sbios o Salvador do Grande Mundo
(macrocosmo), e a figura daquele de nossas almas. Com justia pode-se dizer que, se ela
produz maravilhas na Natureza, introduzindo nos corpos uma pureza muito grande, faz
tambm milagres na moral, iluminando nossos espritos com as mais brilhantes luzes...
Tambm Serge Hutin faz esta pergunta sagaz: No seria possvel distinguir, no
Imponente edifcio que a Alquimia, andares hierrquicos, como os escales
sucessivos na Grande Obra?
78
Desde logo somos levados a supor a existncia de uma metafsica e de uma
filosofia da Alquimia, associadas a conhecimentos prticos materiais, operativos,
criao de substncias misteriosas para finalidades bem definidas, tudo terminando,por
analogia, em uma doutrina poltica evidente, que foi aquela, bem entendido, dos
Rosa+Cruzes do dcimo stimo sculo.
Ento agora, como Serge Hutin o fez em sua obra j citada, podemos dividir o
estudo da Alquimia em quatro etapas:
1) A Gnose Alqumica
Para o historiador da Alquimia todos os adeptos desta Arte procuraram a
Iluminao antes que a obteno dos assim chamados poderes ocultos. Todos se
declararam detentores de uma filosofia secreta, transmitida de mestre a discpulo, e que
cada Adepto real pode redescobrir apesar de tudo, em si mesmo, por si mesmo, por uma
77
Chama-se misto, em Alquimia, toda espcie de corpos compostos, oriundos dos corpos simples.
78
Cf. Serge Hutin: Os Segredos da Grande Obra Alqumica, na revista A
Iniciao, 1957, n 2.
espcie de revelao intuitiva, por um ato de conhecimento suscetvel de proporcionar
aquilo que os antigos gnsticos chamavam salvao ao feliz beneficirio.
Existe de fato, uma Gnose alqumica, e em todos os tratados antigos se poder
encontrar, quando se sabe ler nas entrelinhas, as especulaes tradicionais das antigas
escolas gnsticas sobre o princpio luminoso, aprisionado na matria tenebrosa, sobre a
Me Csmica, sobre a interdependncia e o paralelismo estreito do que chamamos
Macrocosmo (o Universo) e o Microcosmo (o Homem).
2) A Grande Obra Transmutatria
A Gnose alqumica provinha incontestavelmente de uma das trs cincias me, a
Mstica. (Ns veremos o que o Maom deve entender por este nome, que habitualmente
designa bem outra coisa no mundo profano) . Assim, expressa antes de tudo em
postulados oriundos dos flancos fecundos desta, a Alquimia operativa exige do Iniciado
que ele primeiro entre na escola da Natureza, antes de lhe confiar as chaves do
Adeptado. assim que ditos postulados sero aplicados materialmente e
experimentalmente no segredo do laboratrio do hermetista. E isto de acordo com
procedimentos arcaicos e meios materiais rigorosamente os mesmos usados nas
longnquas origens da Arte Real, no Egito, aplicados a uma matria prima metlica cujo
nome, imutavelmente mantido em segredo, j constitui um primeiro arcano.
Todavia, aparentemente desprovido de bases racionais, e sem qualquer
possibilidade de aplicaes industriais, o processo utilizado nem por isso deixar de
constituir um verdadeiro enriquecimento espiritual do hermetista, pois que a Vida lhe ter
liberado enfim um de seus maiores segredos. E, transmutado ele mesmo por esta
segunda Revelao, o Iniciado, enfim tornado Adepto, poder ento transpor, no plano da
sua espiritualidade interior, o Arcano finalmente conquistado, para se tornar e permanecer
para sempre: o Iluminado.
E como a misteriosa Pedra se gera e se multiplica por si mesma em progresses
matemticas contnuas, o Iluminado, por sua vez, transmitir a sua prpria luz espiritual
queles que tiverem sabido, eles prprios matria prima inteligente e dcil, aceitar
morrerem como chumbo para melhor renascerem ouro...
Esta teoria da iluminao do alquimista operativo, consecutiva s operaes
materiais da Arte e s atividades espirituais que devem necessariamente acompanh-las,
foi ressaltada, com seu agnosticismo marcado, por C. G. Jung em sua Psicologia da
Alquimia, e Ren Alleau, em seu estudo Aspectos da Alquimia Tradicional , condensou-
a muito bem:
Os esforos incessantes que exigia a elaborao da Grande Obra
parecem ter sido destinados a produzir, por um lado a projeo da conscincia, do
estado de viglia para o plano de um estado transracional de acordar e, por outro
lado a ascenso da matria at a luz gnea que constitui seu limite.
3) O Elixir da Longa Vida
Ns ignoramos completamente se a cincia chegar um dia a vencer a morte
em suas manifestaes fsicas. Isto no uma coisa impossvel a priori. Ns remetemos
o leitor obra do doutor Hubert Larcher: O Sangue vencer a morte? Mas est fora de
dvida que os alquimistas antigos, aqueles que conseguiram obter o famoso p,
composto de cristais de um vermelho rubi, levemente fosforescentes na escurido,
encaravam esta imortalidade sob um outro aspecto que no aquele procurado pela
cincia moderna, e mais particularmente pelos sbios soviticos.
Para os antigos hermetistas, a imortalidade consistia primeiro em uma
incorruptibilidade corporal absoluta, aps a morte fsica, e isto, no tmulo. Sucedendo a
esta primeira vitria sobre a morte, vinha em seguida uma associao definitiva dos
elementos superiores do ser, impedindo, assim, a lenta disperso destes, sua
desagregao progressiva; em urna palavra, suprimindo a segunda morte de todas as
tradies. Vinha, ento, a manuteno da conscincia, e de todas as atividades sensoriais
pelo intermdio desse duplo de que os laboratrios modernos de metapsquica nos
demonstraram cientificamente a existncia.
De onde esta frase de um bem antigo tratado: Turbae Philosophorum, frase cheia
de mistrio mas que se esclarecer melhor agora:
E sabei que o fim no seno o comeo. E que a morte causa da vida e o
comeo do fim. Vede ento negro, vede branco, vede vermelho, tudo. Pois esta morte
vida eterna depois da morte, vida gloriosa, vida perfeita...
79
.
De maneira alguma irracional, em nossa poca, admitir que esta
incorruptibilidade corporal pstuma possa estar ligada absoro regular de um produto
secreto, elemento bem material, associado a um regime alimentar particular (observao
relativa ao papel dos alimentos azotados), tanto quanto uma espiritualizao
progressiva mais intensa do Adepto, e isto de acordo com uma tcnica inicitica apropria-
da.
No esqueamos, que para o mundo antigo: Iniciar-se aprender a morrer.
4) A Reintegrao Universal
Se esta Reintegrao Universal nada mais do que o restabelecimento do universo
material, imperfeito, grosseiro, nesse pleroma to caro aos platnicos, mundo perfeito,
sutil, porque constitudo de elementos que retornaram perfeio primitiva, ela deve vir
acompanhada, por urna verdadeira reversibilidade preliminar, de uma melhora da cidade
terrestre. este o ambicioso plano da Rosa+Cruz.
Esta cidade terrestre, cuja perfeio relativa o reflexo prenunciador daquela que
se constri em um plano mais sutil, a Franco-Maonaria trabalha em sua realizao desde
h quase trs sculos. Nisto a Ordem Manica de fato o Instrumento da Rosa+Cruz.
Um dos adeptos da Arte, dos mais clebres, e conhecido sob seu nome inicitico
Philalthe (o verdadeiro nome desconhecido, supe-se que se trate de Thomas de
Vanghan), fala disso desde o dcimo stimo sculo e isto numa poca em que todos os
postulados deste plano rosacruciano estavam em oposio aos conceitos polticos e
sociais habituais. Em termos apocalpticos, ele anuncia uma repblica universal, isto , o
desaparecimento das monarquias, existentes por toda parte na poca, que se baseavam
sobre o assim chamado direito divino. Ele anuncia o desaparecimento do reino do
dinheiro, isto , o desaparecimento dos privilgios decorrentes do nascimento e da
herana, bem como da fortuna adquirida. Ele finalmente anuncia uma reviravolta total do
mundo pelas conquistas cientficas.
Pode-se representar melhor, com trs sculos de antecipao, as grandes
conquistas das revolues sucessivas que tiveram lugar no mundo e de que a Inglaterra e
a Frana, primeiros estados onde a Franco Maonaria se desenvolveu livremente, foram
os promotores?
Eu anuncio, nos diz ele, todas estas coisas aos homens como um predicador, a fim
de que antes da morrer, pelo menos no seja intil ao mundo. Sede, meu livro, sede o
precursor de Elias, preparai o caminho do Senhor...
Vs no tendes por que me acusar de inveja, porque escrevo com coragem,
por um estilo pouco comum, em honra a Deus, e para a utilidade do prximo, para faz-lo
79
Negro, branco, vermelho so as etapas essenciais da Obra.
menosprezar o mundo e suas riquezas. E isto, porque j Elias Artista nasceu
80
, e se
dizem coisas admirveis da Cidade de Deus... (Philalthe: Introitus, Cap. XIII).
Sabe-se que este Elias Artista, predestinado a cumprir a mais feliz, bem como a
mais radical de todas as revolues, nos diz Louis Figuier em seu livro: A Alquimia e os
Alquimistas, no somente no mundo hermtico, mas por toda a Natureza, moral e
material, era, segundo a pretenso dos Rosa+Cruzes, um Messias coletivo, que havia
tomado para corpo mstico a sua prpria confraria. A Cidade de Deus era o universo,
transformado por este Elias, de quem Philalthe fala em termos magnficos:
Alguns anos ainda, e eu espero que o dinheiro ser to menosprezado como a
escria, e que se ver cair em runas esta besta contrria ao esprito de Jesus Cristo. O
povo est louco por ele, e as naes insensatas adoram como uma divindade este intil e
pesado metal. isto o que deve servir nossa prxima redeno e s nossas esperanas
futuras? ... Eu prevejo que meus escritos sero to estimados quanto o ouro e a prata
pura e que, graas s minhas obras, esses metais sero to menosprezados quanto o
estrume. Crede-me, jovens homens, e vs, ancios, o tempo vir sem demora. Eu no o
digo por uma imaginao ilusria, mas vejo em esprito que todos, tantos quantos somos,
vamos nos reunir dos quatro cantos do mundo. Ento no mais temeremos as ciladas que
foram armadas contra a nossa vida
81
e daremos graas a Deus. Meu corao me faz
pressentir maravilhas desconhecidas. Meu esprito me faz estremecer pelo sentimento do
bem que logo chegar para todo Israel, o povo de Deus... (Obra citada, Cap. XIII)
Um sculo e meio mais tarde, como se fosse uma bomba explodindo em um mundo
corrompido, e chegado a seu fim, a Frana promulgava a Declarao dos Direitos do
Homem. De suas palavras imortais, todas as revolues futuras iriam nascer, com a
unidade da Europa, bem prxima, e prefigurada pela Organizao (muito imperfeita) das
Naes Unidas, a do Mundo Inteiro...
*
* *
Devemos convir em que toda esta exposio, to reveladora dos planos ocultos
esotricos da Alquimia, ultrapassa consideravelmente o quadro habitual da banal
iniciao manica, tal como encarada por alguns Maons, insuficientemente
documentados a respeito dos fins e dos meios verdadeiros da Ordem toda. E no se
poderia negar que, para certas formas (no de todo antigas...) da mentalidade religiosa, a
Alquimia assim desvelada no tem qualquer cheiro a enxofre, segundo a sua
correspondncia.
Nada podemos fazer. A Rgua possui outras, ainda mais comprometedoras! E
nossos Irmos anglo-saxes, que pem em evidncia uma Rgua de vinte e quatro
divises, que eles acreditam com toda a cndida boa f ser a imagem das vinte e quatro
horas do dia (o que lhes parece ser uma revelao inicitica essencial!), podero
descobrir o que se dissimula atrs destas vinte e quatro horas, examinando atentamente
o Relgio Mgico e Planetrio que figura na clebre Virga Aurea de R. P. J. B.Hepburn,
monge escocs, secretrio e bibliotecrio do Papa Paulo V. Ns o reproduzimos na
pgina 47, figura 2, de nosso Tratado das Interrogaes Celestes, tomo primeiro. No se
duvide que nossos Irmos ingleses, geralmente muito conformistas em matria de
80
Sobre o profundo mistrio de Elias Artista, ver o captulo que ns lhe
consagramos em nossa obra Templrios e Rosa+Cruzes (pgs. 99 a 117),
assim como as passagens relativas a Metatrn ou Kether Elyon, em Noo
Gnstica do Demiurgo (pgs. 41 e seguintes). Parece que para os
Rosa+Cruzes do 17 sculo, muito evangelistas, Elias Artista seja a
manifestao superior do Esprito Santo, do Paracleto, que se ope ao
Prncipe do Mundo, Sar-Ha-Olam.
81
Um hermetista no mais temer ento a intolerncia e o despotismo.
religio, fechem essas pranchas, horrorizados.
*
* *
No nos alongamos tanto sobre o qudruplo aspecto da Alquimia, ligada ao
simbolismo da Rgua
82
, se no para melhor alertar o Maom avisado acerca da
importncia dos smbolos, que nossa tradio secul ar lhe colocou sob os olhos, na
Cmara de Reflexes:
- crnio humano, smbolo da necessria Putrefao,
- Sal, imagem velada do Sal Filosofal,
- Enxofre, imagem velada do Enxofre dos Sbios,
- Galo mural, imagem muito esotrica do Mercrio Filosofal,
- a celebre divisa alqumica V.I.T.R.I.O.L. e sua significao lapidar: Visita o interior
da Terra, retifica, e tu encontrars a pedra oculta...
Que ele saiba, pois, que alm das palavras comuns, alm da cincia
aparentemente limitada ao mundo metlico e s suas experincias, a Alquimia dissimula
alguma coisa mais profunda.
Pois ela a Arte de desenvolver no Iniciado as potencialidades que, embora sejam
puramente fisiolgicas em suas razes, so suscetveis de se tornarem psquicas, para
eclodir e desabrochar finalmente em sua espiritualidade interior, e fazerem dele o Adepto
esperado.
10 - A T R O L H A
A C R I S O P I A
(Perfeio e Unificao)
Com a Trolha, ltimo Instrumento do Mestre e particularmente do Venervel
(ela figura necessariamente sobre o Altar), ns chegamos ao ltimo arcano dos
Instrumentos manicos.
Significando Perfeio e Unificao, ela impe ao Mestre de Loja
83
o
principal de seus deveres: aperfeioar seus Irmos, uni -los em um mesmo amor
fraternal, mas tambm em um mesmo conhecimento, uma igual iniciao. Como o
Instrumento material deste nome, a Trolha permite, ao ser passada, retirar os excessos
da argamassa; igualmente ela significa a unificao dos Irmos.
82
Observe-se quanto a Rgua pode, muito judiciosamente, ser substituda
pelo Livro Sagrado, quer se trate para os Maons judeu-cristos dos Dez
Mandamentos, ou para os Maons racionalistas, desta mesma Declarao
dos Direitos do Homem. Toda regra moral pode substituir, em Maonaria
Especulativa a rgua linear da Maonaria Operativa.
Acontece, alis, o mesmo com o antigo Cordel da Maonaria operativa, citado
por Plato com o Compasso
e o Esquadro como um elemento essencial da
Beleza, que se tornou a nossa Corda de Ns, e cujos ns so chamados
laos de amor, e evocam a Cadeia de Unio.
83
Termo que designava no 18 sculo o Mestre Maom fundador e condutor ad vitam de uma Loja
Simblica.
Sem ela, nada de construo ou de agregao durvel das pedras de um
Templo. O latim truella, que designa este Instrumento, tambm sinnimo de trulla, que
designa uma espcie de bolsa para pr o vinho no crater (taa romana de servir vinho e
gua) e da coloc-lo nas taas dos convivas...
Ora, como j dissemos, no sufismo, que o depositrio do esoterismo
islmico, o Vinho a imagem do Conhecimento (gnosis) e a embriagus que ele
proporciona a da alegria de conhecer. No Cristianismo acontece o mesmo. O Cristo
a Vinha, os Discpulos so as vides e o Pai o Vinhateiro.
J abordamos o simbolismo particular da Trolha. Retomemos aquela
passagem, e constataremos que o Instrumento deste nome evoca curiosamente a noo
de Reintegrao, cara a Robert Fludd e aos Rosa+Cruzes do sculo XVII. Sabe-se em
qu ela consiste.
O universo material duplicado por um universo espiritual, sutil, infinitamente
menos denso, que constitui de algum modo esta misteriosa quarta dimenso, cara
cincia moderna. Nesse universo (tipicamente platnico), as inteligncias vivem uma
vida livre e quase perfeita. Por razes mal definidas pelos filsofos antigos mas que
consistiriam sobretudo no desejo de transformao, elas se corporizam e descem
progressivamente ao universo material. A elas perdem a noo da sua unidade original,
suas altas faculdades espirituais a se obscurecem pouco a pouco, e o amor, que era o
cimento deste ser coletivo, se desfaz nelas insensivelmente.
A progresso em modo inverso, sua liberao para fora das emboscadas deste
mundo imperfeito e grosseiro, sua re-espiritualizao progressiva, seu novo nascimento
em um universo sutil, espcie de biosfera, constituiro aquilo que os Rosacruzes
chamavam a Reintegrao. disperso, ao isolamento individual nos despojos carnais,
suceder ento a reconstituio do ser coletivo nico, constitudo primitivamente por
estas inteligncias e que cimentava-se em um comum e total amor. Esta lei
metapsquica, a Rosa+Cruz queria aplicar aqui em baixo, da seu plano de um vasto
estado universal e de uma unificao dos mltiplos povos em uma nica nao terrestre.
Realizar isto, no mundo material, era facilitar e acelerar a realizao no universo sutil.
Cara ao Martinismo, a Reintegrao pode ser definida como uma tomada
superior de conscincia pela Humanidade Total, o famoso Adam-Primeiro, este acesso
a um modo superior de pensar que lhe permite alcanar as faculdades espirituais e
psquicas absolutamente ignoradas pela humanidade em geral, individualizada e
dispersa, que temos sob nossos olhos a cada dia. Por sua vez, estas faculdades
transcendentes so suscetveis de modificar sensivelmente a Humanidade f sica por
uma espcie de reversibilidade do espiritual sobre o psquico e do psquico sobre o
fsico, o superhomem. o santo, refletindo-se finalmente na Massa.
interessante notar que esta noo de uma Humanidade Total, constituda de
um nico ser coletivo, no estranha ao pensamento de Karl Marx, nem ao do Padre
de Chardin.
Mas a expresso Manica passar a trolha, significando
simultaneamente perdo e esquecimento, evoca ainda uma curiosa tradio
gnstica. Segundo a Gnose, de fato, este vasto movimento filosfico contra o qual a
Igreja nascente lutou quase cinco sculos, o esquecimento a condio essencial
do carter definitivo do Pleroma
84
. Ora, a embriaguez evocada pela Trolha implica
no Esquecimento...
Esta noo de um estado universal, constitudo por uma raa humana, no seio
84
Pois Eu criarei um novo Cu e uma nova Terra, e no haver mais lembrana das coisas passadas,
nem mais voltaro ao esprito... Isaas 65:17.
da qual as noes perigosas de raas, de naes, de interesses particulares, de cor da
pele, j fizeram correr tanto sangue inocente, se ela choca os elementos reacionrios,
est implcita e explicitamente exposta nas escrituras judeu-crists. Neste caso um
Maom que se faz campeo de tais idias , mesmo que seja racionalista, mais cristo
do que um devoto intolerante! Demos estas referencias escritursticas em outra obra e
cremos intil acrescent-las aqui.
Se a divisa hermtica tirada da clebre Tbua de Esmeralda: O que est em
cima como o que est em baixo, e o que est em baixo, como o que est em
cima..., no um ensinamento vo, nenhum Maom espiritualista e esoterista poderia
negar que a restaurao do Homem-Indivduo no implica na do Homem-Coletivo.
A construo do Templo Interior deve duplicar-se na do Templo Exterior. Tal
o ensinamento inicitico includo na clebre lenda de Zorobabel, segundo arquiteto e
restaurador do Templo, e portanto sucessor de Hiram:
Aqueles que construam a muralha tinham a trolha numa das mos e sua
espada na outra... (Nehemias 4:17).
A Trolha na mo direita significa pois construo, misericrdia; a sefira
Hochmah (Misericrdia) da Cabala. A Espada na mo esquerda significa destruio,
rigor, a sefira Geburah (Rigor) da Cabala.
Assim, pois, a Trolha na mo do Maom, uma das mais al tas imagens de sua
doutrina: unidade na perfectibilidade, amor, perdo, esquecimento das coisas vs,
transcendncia do esprito sobre a matria.
Mas o Maom que se interessa pelo esoterismo dos Smbolos no deixar de
observar que a Trolha evoca curiosamente o Deita Luminoso que irradia ao Oriente do
Templo. E se ele tiver sido admitido nos altos graus, ele se lembrar da misteriosa
lmina de ouro triangular de que se trata s vezes em alguns deles.
O esquema da Tetractys alqumica tradicional que ilustra esta obra
exatamente esta misteriosa lmina de ouro...
Nesta obra, limitada ao estudo dos Instrumentos manicos no estudaremos
o Delta nem a lmina de ouro. Diremos simplesmente que, se o Delta
85
exprime a
existncia e a presena do Grande Arquiteto do Universo, em seu aspecto esttico, de
ser imanente, permanente, intransitrio, existente por si e em si. Ao contrrio, a Trolha o
exprime em seu aspecto dinmico, de ser transcendente, providencial, de manifestaes
mltiplas e ilimitadas.
Eis as correspondncias analgicas da Trolha:
Sentido ............................ a Iluminao
Vcio Capital .................... o Entenebrecimento ou Loucura
Cor do Prisma .................. Prpura ou Jacinto
Forma Asctica ................ a Confiana ou Abandono
Virtude Sublimal ................a Divinizao ou Transelementao
86
Faculdade Espiritual ......... a Luz
Carisma Secundrio ..........a Palavra de Paz
Cincia Me...................... a Mstica ou Teurgia
Elemento da Obra .............a Crisopia
85
Sobre o estudo do Delta, indicamos a Simblica Manica, de J. Boucher, pg. 86 a 94.
86
Este termo era usado pel os protestantes, em lugar de transubstanciao. No no seu significado
teolgico habitual que a utili zamos aqui. Trata-se da transmutao do Iniciado em um verdadeira
Adepto, este ltimo termo tomada em seu significado antigo de Iluminado, isto , de depositrio da luz.
Igualmente, a transelementao inicitica designa o fato de ver desenvolvidas e ampliadas todas as
faculdades naturais, em potncia no ser humano, e que foram analisadas nos captulos precedentes,
com relao a cada um dos Instrumentos Manicos.
A ILUMINAO
normal, que a Trolha, imagem da embriagus proporcionada pelo
Conhecimento (gnosis), seja o smbolo de Iluminao.
A Iluminao consiste em uma harmoniosa e perfeita sntese das duas
Virtudes Sublimais precedentes, a Inteligncia e a Sabedoria.
No por nada que a tradio manica com tanta freqncia estabelece um
paralelo entre a imagem do Venervel de uma Loja e o clebre rei Salomo. Sabe-se
que o Venervel chamado Mestre Instalado quando passou por um Ritual inicitico
especfico, exclusivamente na presena de Venerveis que tiverem passado pelo
mesmo Ritual. Ele ento instalado numa cadeira (stalle) chamada cadeira de
Salomo. Considra-se que da em diante possua as duas Virtudes Sublimais que a
lenda diz haverem sido conferidas a essa rei por Iaveh, deus de Israel, a saber a
Inteligncia e a Sabedoria:
E Deus disse a Salomo: pois que no me pediste uma longa vida, riquezas,
ou a morte de teus inimigos, e que tu Me pediste a Inteligncia e a Sabedoria, a fim de
agir com justia, ento agirei segundo a tua palavra e te darei um corao cheio de
Sabedoria e de Inteligncia... (I Reis 3:10-12, verso protestante).
Para que se realize esta ltima manifestao superior, que a Iluminao,
necessrio que o exerccio destas duas Virtudes Sublimais seja perfeitamente
sincronizado. Em uma palavra, nunca deve haver hesitao, nunca alguma dvida,
nunca uma suspenso em seu exerccio. Trata-se de fato da Infalibilidade espiritual.
Bem entendido est que esta Infalibilidade espiritual no poderia se exercer
nos domnios puramente materiais. Nunca ela far do seu beneficirio um campeo em
lanamento de disco, ou um virtuose musical ou um rival dos crebros eletrnicos. Mas
se exercer sempre com conhecimento de causa no domnio da metafsica, da filosofia;
ela ser realmente a Razo Pura e a Compreenso Perfeita.
Por este duplo exerccio, o Iluminado aceder facilmente e sem dificuldade s
grandes verdades cientficas, filosficas, metafsicas, e tirar as concluses
necessrias em uma harmoniosa sntese. No mais arriscar errar nestes
domnios, no arriscar desviar seus Irmos. De uma s introspeo do Universo
e de suas leis aparentes, ele saber extrair as concluses cientficas ou morais
que acompanham suas leis. Jamais cair nas mistagogias sem merecimento; nele
a observao ser exata, a concluso ser racional. Tendo sabido libertar-se dos
entraves do exoterismo, tanto religioso como manico, ele saber mergulhar til
e duradouramente em seu esoterismo, preferindo assim o esprito que vivifica
letra que mata.
O ENTENEBRECIMENTO OU LOUCURA ESPIRITUAL
A Trolha e o smbolo da Embriaguez Exttica do Iniciado, proporcionada pelo
Conhecimento. No de admirar que, em seu mau aspecto, seja ela o da prpria
Loucura. O bbedo no semelhante a um louco?
Este Vcio Capital consiste, pois, no exato contrrio da Iluminao, quer
dizer, na manifestao conjunta, sincronizada, da Cegueira e do Erro. Por ele, o
Entenebrecido acede ipso facto a pseudo leis cientficas, a pseudo verdades
morais, a conceitos ilusrios. Quando por acaso ele chega a apanhar alguma
Verdade transcendental, ele a considera com menosprezo como um erro de sua
imaginao. Em uma palavra, a Falibilidade seu estado permanente.
Quanto a tudo que ultrapassa suas prprias possibilidades de compreenso ou
de acesso, ele o nega, simplesmente. Em lugar de procurar a soluo do enigma, ele
suprime o problema. E se algum colocar sob seus olhos algum argumento suscetvel de
esclarec-lo, por pouco que seja, ele pender invariavelmente para a soluo falsa.
Um dos aspectos do Entenebrecimento, ou Loucura, reside no fato de se
apaixonar pelas formas pseudo msticas inferiores, com pleno conhecimento de causa.
Como ressaltou muito bem Ren Gunon, nada mai s perigoso, psiquicamente falando,
do que a inverso dos Smbolos.
O Satanismo reside essencialmente na profanao ou no sentido oposto
consciente de toda forma espiritual ou religiosa, e no somente nas tomadas de posio
especificamente anticrists. Em relao a isto, o incndio da Biblioteca de Alexandria
pelo Califa Ornar, o da Biblioteca Imperial de Pequim pelas tropas inglesas, as
destruies pelo fogo de livros, tanto pela Inquisio como pelo Nazismo, so outras
tantas manifestaes satnicas, outras tantas marcas da Besta. E o ato de pilhagem
sistemtica dos Templos Manicos pela milcia do Governo de Vichy, em 1940-1941,
sob a benevolente proteo da Alemanha nazista, foi mais um exemplo.
A DIVINIZAO OU TRANSELEMENTAO
O entrelaamento do Compasso (o Arquiteto) e do Esquadro (o Homem)
exprime a divinizao do segundo por incorporao progressi va da essncia do primeiro,
ou na essncia do primeiro, como vimos anteriormente. Este o grande arcano, o ltimo
segredo, veiculado esotericamente por este smbolo-tipo da Franco-Maonaria, nessa
Jia to comum, que orna com seu ouro brilhante o azul da Faixa dos Mestres, O ramo
de Accia completa este ensinamento, lembrando-nos o tmulo de Hiram e a obrigao
de morrer para melhor renascer...
Se o Iniciado um homem que procura a Verdade, a Perfeio, o Adepto
aquele que j as alcanou. A partir da ele no mais um homem como os outros. Se
fizermos o inventrio dos dons e das faculdades intelectuais, morais, espirituais que so
suscetveis de serem atingidos e conservados pela Via Inicitica da Maonaria, e se as
imaginarmos atingidas e conservadas por um Adepto, evidente que nos encontramos
em presena de um ser que se tornou sobre-humano, aquilo que os meios religiosos
designariam pelo termo de santo.
Maonicamente no nos poderamos ater a esta definio. A tcnica
manica no faz intervir outra coisa alm do processos de ordem psquica ou
parapsquica naquilo que ela entende remodelar ou restabelecer.
Por observaes cientficas indi scutveis, sabemos que certas formas das
faculdades superiores podem ser suscitadas pela ingesto de diversos produtos, sem
que por isto ocorra a evoluo moral ou espiritual do experimentador .
Assim, as faculdades de Clarividncia e de Clariaudincia, estudadas nos
captulos anteriores, podem ser suscitadas peja ingesto de determinados alcalides
vegetais. Citaremos: a Coca, o Ololihuqui, o Huanto, a Huachuma, a Ayahuasca, o Yaj
e o Peyotl. Todas essas plantas so evidentemente alucingenas, mas todas so
igualmente (e a est seu interesse) metagnomgenas
87
.
Paralelamente a eses vegetais da Amrica Central e da Amrica do Sul, ns
temos criptogmicas, e toda uma srie de cogumelos que tambm so alucingenos e
metagnomgenos.
87
Cf. Dr. A. Rouhier: As Plantas Divinatrias.
R. Gordon Wasson e Reger Heim (este ltimo diretor do Museu da Histria
Natural de Paris), estudaram os cogumelos mexicanos chamados teonanacatl, Eles
descreveram a matria em um denso livro: Os Cogumelos Alucingenos. Ora, estes
dois sbios chegaram a espantosas concluses:
a) - as vaticinaes do curandeiro (adivinho) que operou diante deles, foram
reconhecidas logo como absolutamente verdicas em seus menores detalhes.
Isto a respeito de fatos sobre os quais os dois sbios no possuam qualquer
informao prvia;
b) - o valor metagnomgeno dos cogumelos inseparvel dos ritos que codificam o
seu emprego desde h sculos. Sem esses ritos, no passam de cogumelos
comuns.
Em seguida, Roger Heim prosseguiu em sua pesquisa sobre os cogumelos
divinatrios estudando aqueles que os i ndgenas usam na Nova Guin. L tambm as
criptogmicas usadas so muito levemente txicas: so apenas vulgares bolotas e
russais. Tambm l a sua ao amplificada pelo rito, oriundo do velho fundo de magia
primitiva indgena.
Mas a ao do mundo vegetal sobre o homem no se limita ao domnio
da Clarividncia e da Clariaudincia. Os estados msticos superiores tambm so
influenciados por ela.
Da revista Religions Education, pela pena de Timothy Leary e Walter H.
Clark, da Escola de Teologia de Endower Newton (EUA), retiramos estas linhas:
A eletrnica permite estimular, graas a uma droga, chamada psilocibina, a
sensibilidade religiosa em indivduos submetidos sua ao. at mesmo possvel,
graas a ela, provocar xtases msticos, que desapareceram desde as primeiras pocas
do Cristianismo, aos quais misteriosamente feita aluso na Bblia.. . (citado pela
revista Arts, n 968, junho de 1964).
Esclarecemos que a psilocibina o alcalide extrado da Psilocyba, cogumelo
da famlia das Agaricneas, da qual faz parte a Girolle. E isto lana um raio de luz
sobre as misteriosas escolas de profetas, citadas pela Bblia, no primeiro livro de
Samuel, versculos de 1 a 13. Pois quem diz escola, diz ensinamento, e certamente
ensinamento secreto no caso
88
.
Assim pois, estados de alma de forma particular (misticismo, profecia,
xtase, etc.) podem ser obtidos pela ingesto de produtos vegetais dinamizados e
amplificados em seus efeitos naturais por ritos apropriados. Experincias
cientficas, extremamente srias foram feitas em Frana, em 1962, que
estabeleceram que o vegetal era sensvel a formas particulares de magnetismo
animal.
Paralelamente, estados de alma de formas passionais, tais como a clera,
dio, podem suscitar a criao e a projeo, no organismo, de substncias autogeradas
que, por sua vez, sero capazes de modificar ou de perturbar o comportamento dos
indivduos. A adrenalina, por exemplo. Inversamente, a autogerao de certas
substncias pode criar estados de alma passionais. Citaremos simplesmente o esperma,
gerador do desejo sexual, e cujo acmulo nos rgos genitais pode criar, a longo prazo,
climas psquicos s vezes degradantes, outras vezes perigosos. A eliminao de tais
substncias implica ipso facto, no retorno ao equilbrio psquico.
Sbios soviticos descobriram recentemente que o moribundo, nos combates
que acompanham sua agonia, gera em si anticorpos que so poderosos revitalizantes, e
que somente em tais circunstncias podem ser gerados. A milenar tcnica do tantrismo
chins conhece procedimentos de rejuvenescimento que utilizam secrees hormonais
88
Quando Nostradamus fala da sua misteriosa faculdade proftica, que est no seu estmago
encerrada, talvez esteja fazendo aluso absoro de determinadas substncias metagnomgenas
somente geradas no ato sexual, e somente utilizveis no decorrer do ato, tanto para o
homem, como para a mulher
89
.
Assim, pois, a prtica de certas Virtudes, criadora de certos estados de alma,
capaz de suscitar no homem a autogerao de determinadas substncias capazes de
provocar o desenvolvimento de certas faculdades transcendentais.
Mas ao contrrio dos produtos vegetais, exteriores e estranhos natureza
humana, e que so capazes de despertar essas faculdades, apenas acidentalmente e
por um espao de tempo muito curto, a via inicitica que tiver desenvolvido essas
mesmas faculdades, saber inevitavelmente perpetu-las.
Paralelamente, a mesma tcnica, no decorrer do tempo, ter criado no Adepto
o clima fisiolgico e psicolgico necessrios para a gerao dessas substncias
misteriosas, capaz de permitir a incorruptibilidade pstuma, a conscincia alm da morte
fsica, que estudamos com a Faculdade de Integridade no captulo referente ao
Compasso.
Por esta projeo misteriosa em todos os aspectos do ser, por esta exploso
luminosa na psique do Adepto de todas as faculdades analisadas uma a uma, mas que
se manifestaro necessariamente como uma verdadeira exploso espiritual, total, nica,
a Transelementao finalmente realizada.
A Divinizao ou a Transelementao corresponde, na vida inicitica cotidiana,
Confiana, o que alguns chamam de Abandono. A palavra Confiana vem do latim
confidentia, significando uma f comum, partilhada com os companheiros ou irmos.
Mas tambm , e sobretudo, a certeza de que aquilo que nos usamos at esse dia da
em diante ser intil, e constitui somente uma bagagem pesada.
No estado precedente, o Iniciado ainda perscrutava atentamente os
smbolos que decoram a Cmara de Reflexes. No ltimo umbral o Adepto estabelece
sua permanncia definitiva. Um nico smbolo torna-se para ele a regra: o Caput
mortum , rindo com escrneo por suas rbitas vazias e por sua boca desdentada.
Realmente, o termo Renncia seria de melhor escolha. Primeiramente ele
consiste na renncia aos bens exteriores, aos ttulos, s possesses, o que
igualmente uma renncia de si mesmo, e convm agora desligar -se de si, do terrvel
instinto de conservao. Sacrificar-se por outro ento uma coisa que deve parecer
totalmente natural ao Adepto, a menos que este sacrifcio no esteja em proporo com
o seu objeto e beneficirio. Pois a Razo deve permanecer a Regra sacrossanta do
Maom. E, efetivamente, o desaparecimento do inocente da cidade menos prejudicial
Coletividade do que o desaparecimento definitivo do mdico da cidade. Enfim, esta
Renuncia, a morte do velho homem, um ato que fere irremediavelmente a natureza
inferior e atrofia as suas ms tendncias; o Adepto est ento maduro para sacrificar-se
pelo Ideal Comum.
Nada melhor podemos fazer do que descrever o estado de alma do Adepto
que chegou a este ponto, que para ele a significao misteriosa da rosa, depositada no
centra da cruz, expressa todo o seu valor:
A existncia dos Rosa-Cruz, ainda que historicamente incerta, cercada de
um tal prestgio, que fora a assentimento e conquista a admirao. Eles falam da
Humanidade como infinitamente abaixo deles; sua nobreza dalma grande, ainda que
seu exterior seja modesto. Eles amam a pobreza e declaram que ela para eles uma
obrigao, ainda que eles possam dispor de imensas riquezas. Eles se recusam s
afeies humanas, ou se submetem somente como obrigaes de convenincia, que so
89
Infelizmente, nos estados civilizados, o etnlogo que se arriscasse tratar em detalhe de semelhantes
mtodos, se veria logo levado justia por pornografia.
necessrias para a sua estada no mundo. Eles se comportam muito cortesmente na
saciedade das mulheres, ainda que sejam incapazes de ternura e que eles as
considerem como seres inferiores. Eles so simples e deferentes no exterior, mas sua
confiana em si mesmos, inflando seus coraes, s deixa de se irradiar ante o infinito
dos Cus. Estas so as pessoas mais sinceras da mundo, mas o granito tenro em
comparao com sua impenetrabilidade. Perante estes Adeptos, os monarcas so
pobres; frente a estes tesofos, os mais sbios so estpidos. Nunca buscam a
reputao, porque eles a desdenham, e quando se tornam clebres, independente da
sua vontade. No procuram honras, porque nenhuma gloria humana conveniente a
seus olhos. Seu grande desejo o de viajar incgnito pelo mundo. Assim eles so
negativos para com a humanidade e positivos para com todas as outras coisas; auto-
impulsionados e auto-iluminados em tudo, eles esto prontos a fazer o bem o quanto is-
to for possvel aqui em baixo. Que medida pode ser aplicada a esta imensa exaltao?
Os conceitos crticos se desvanecem diante dela. O estado destes filsofos o sublime
ou o absurdo. No podemos compreender nem sua alma, nem sua finalidade, o mundo
declara que um e outro so fteis. Todavia, os tratados destes escritores profundos
abundam em discursos suts sobre os assuntos mais ridos, e contm pginas
magnificas sobre todos os assuntos: sobre os metais, sobre as propriedades dos
simples, sobre a teologia e a ontologia, e em todas estas matrias eles alargam ao
infinito o horizonte intelectual. (Cf. Hargrave Jennings: The Rosicrucians, their rifes
and mysteries. Londres, 1870)
A LUZ OU CONTEMPLAO DA SABEDORIA ETERNA
Se o Adepto pe sua alma em um perfeito estado passivo deixando suas
faculdades superiores aptas para serem livremente penetradas pelo Absoluto, indefinido
e incomunicvel, bem como intraduzvel, ele est apto a ser inundado pela Luz Interior.
Entendemos por estas palavras aquilo que h de mais elevado na Inteligncia
e na vontade. a Inteligncia, no enquanto raciocina, mas enquanto percebe a
verdade por um simples olhar, sob a influncia das Virtudes Sublimais: a Inteligncia e a
Sabedoria. igualmente a vontade, em seu ato mais simples, que o de amar e de
gostar das coisas relacionadas com o Infinito.
Ento, no centro da alma do Adepto, l onde as faculdades superiores se
fundem em uma coisa nica, l reina ento uma soberana tranqilidade e um perfeito
silncio, pois jamais qualquer imagem perturbadora consegue a chegar
90
.
nesse centro da alma do , onde se dissimula a imagem do Absoluto, como
o santo dos santos do Templo de Salomo e sua obscuridade total abrigavam a
misteriosa Arca do Testemunho, l que aos poucos o Adepto realizar a sua prpria
divinizao
91
. E nada melhor poderamos fazer, para terminar, do que citar o maom e
rosacruciano notrio que foi Charles dEckhartshausen (1752-1803), em seu livro A
Nuvem sobre o Santurio:
Agora, como para um homem que no tem rgos, no tem olhos para a luz,
a luz ento no existe realmente, quando todos aqueles que tm este rgo
usufruem dela, assim muitos homens no podem gozar de alguma coisa da qual
outros todavia podem. Quero dizer que um homem poderia ser organizado de tal
maneira que ele sentisse, ouvisse, visse, degustasse coisas que um outro no
poderia nem sentir, nem ouvir, nem ver, nem degustar, porque lhe faltasse o rgo
necessrio...
Assim, neste caso, todas as explicaes seriam infrutferas, pois misturaria
90
curioso observar como estes termos: Perfeito Silncio so freqentemente tomados como nomes de
Captulos Rosacruz, 18 grau da Maonaria Escocesa.
91
Se o termo divinizao pode espantar alguns Maons cristos que nos lerem, tranqilizemo-los!
perfeitamente ortodoxo, em matria de teologia crist.
sempre as idias que tivesse recebido por seu rgo particular com as idias do outro, e
no poderia degustar e compreender alguma coisa a no ser que isto se aproximasse
das suas prprias sensaes. E como ns recebemos todas as nossas idias pelas
sentidos, e como todas as operaes ae nossa razo so abstraes de impresses
sensveis, assim no podemos fazer qualquer idia de muitas coisas, porque ainda no
temos sensaes destas coisas. Somente aquilo para que tivermos um rgo, se torna
sensvel para ns...
Especificamos ainda que, por vezes, as tcnicas da Iluminao clssica levam
a diversos fenmenos luminescentes, de ordem particular. Citaremos, para memria, o
da fosforescncia dos olhos do Adepto no decorrer de um sono profundo, no qual ele
conserva os olhos abertos; ou, ento, no inst ante do seu despertar, na obscuridade total
e no decorrer de uma noite das mais escuras, uma luminescncia ocular suficiente para
lhe permitir distinguir os objetos prximos ao seu redor, num raio de muitas metros.
A PALAVRA DE PAZ
A Palavra de Paz constitui o carisma secundrio associado ao simbolismo da
Trolha. Da a expresso manica: passar a Trolha.
Ela consiste principalmente na faculdade de perdoar nossos inimigos, quando
estes nos causarem sofrimento ou dano e, em conseqncia do Amor que ir radia
naturalmente da alma do Adepto. Ela eqivale Crisopia alqumica, pois transmuta o
dio em amor, absorvendo o Mal para transmut-lo em Bem.
De fato, a perfeio implica em multiplicao dos atos de amor. No menos
necessrio multiplicar os atos de sacrifcio, no mundo material, porque nele no
podemos amar sem nos desfazermos do nosso egosmo. Alias, lgico considerar
nossas abras boas ao mesmo tempo como atos de amor e atos de sacrifcio. Enquanto
essas obras boas nos desligam dos interesses materiais baixos, e das coisas vs daqui
de baixo, tanto como de ns prprios, elas so sacrifcios. E enquanto elas nos unem a
todos os seres, elas so atos de amor.
Este ltimo carisma, que a Palavra de Paz (sermo pacis) , pois, anlogo
Crisopia, pois ela permite atingir o adversrio l onde necessrio, com os termos que
convm.
Todavia, a Palavra de Paz jamais deve ter por efeito a supresso da ao da
Virtude de Justia. Devemos lembrar que todo castigo deve ser corretivo, e no
destrutivo. Depois de ter vencido o mau, devemos transmut-lo por sua vez. E l, a
Justia e a Fora, aliadas e vitoriosas, cedem o passa Palavra do Paz.
A MSTICA OU TEURGIA
Mstico e Mistagogo so palavras que saram do grego musts, designando o
Iniciado.
Em Mistagogo encontramos ainda o grego aggos: condutor. Era de fato o
sacerdote iniciador nos mistrios gregos, o condutor dos iniciados. Em nossos dias ele
tomou o sentido pejorativo de ingnuo com o termo de gria simplrio (gogo).
A palavra mistrio vem do prprio grego musterion (de mustes: iniciado) e
designava o conjunto das doutrinas e das prticas que s os iniciados podiam conhecer.
Assim a Mstica, terceira Cincia-Me, com a Astrologia e a Alquimia, para os
Companheiros construtores que as expressaram to bem nos tmpanos de nossas
velhas catedrais gticas, a Mstica o conjunto de tudo aquilo que vem de ser tratado
nestas pginas.
s vezes associada a Teurgia, alis com alguma razo.
Observaremos que sua significao deriva do grego theos: deus, e do mesmo
grego ergon: trabalho.
Em primeiro lugar lhe dada a significao de magia superior, de tcnica, de
arte, que permite ao Adepto se colocar, pela ao da magia cerimonial, em relao com
as Inteligncias que povoam a biosfera constituda pela quarta dimenso. Esta a sua
significao profana e vulgar.
Ns preferimos a que os no-platnicos lhe conferiam. Para eles, a Teurgia
era o conjunto de tcnicas iniciticas pelas quais o homem podia realizar esse ato de
transferncia do divino sobre si prprio, esta transelementao pela qual o Adepto se
divinizava progressivamente. E aqui, ns nos limitaremos a citar o pitagrico Jmblico:
Considera, se quizeres, a ltima das essncias divinas, a alma pura de corpo. Que
necessidade tem da gnese na volpia, ou da regresso natureza que nela se faz, pois
que ela sobrenatural e animada de uma vida que em nada depende do nascimento?
Porque participaria ela das penas que conduzem destruio e dissolvem a harmonia
corporal, pois que est to bem fora de todo corpo e de toda natureza inerente ao corpo,
absolutamente separada da harmonia que desce para o corpo daquela que se encontra na
alma? Ela no tem necessidade das paixes que precedem a sensao, pois no est de
um todo contida num corpo, e no estando ai presa, ela no tem nenhuma necessidade
de rgos corporais para se colocar em relao com os outros corpos que so exteriores.
Assim, para os seres vivos gerados e corruptveis, a alma a primeira
geradora, ficando ela prpria sempre no-gerada e incorruptvel. E enquanto o que
participa da alma e no possui plenamente a vida e a existncia, est ligado ao
indefinido, e diferena da matria, ela prpria continua sendo imutvel... (Jmblico,
em Os Mistrios Egpcios).
Assim pois, a Teurgia e a Mstica, nesta tradio da Franco-Maonaria Operativa
medieval, nada mais so do que a cincia da alma, o conhecimento de tcnicas pelas
quais esta mesma alma opera simultaneamente a sua prpria sublimao e a de seu
envoltrio corporal.
O GNMON
Na linguagem comum, o termo orientar s exprime o fato de dispor alguma
coisa, um edifcio, um navio, etc., em relao aos trs outros pontos cardeais. De fato,
esta palavra deriva de oriente, em latim oriens, significando o que se levanta. Trat a-se
ento do fato do situar a coisa em questo em relao ao leste, ngulo do cu onde o
Sol parece levantar-se, no fim das trevas da noite.
isto que explica que o oriente, como ngulo cardeal, tenha desempenhado
um papel na orientao dos monumentos antigos, quase todos orientados face ao leste.
No ocidente cristo, as igrejas, e sobretudo as catedrais, so orientadas para leste
quanto ao seu altarmor, e seu eixo maior assim situado na direo leste-oeste.
A orientao no apresenta mais problemas desde o aparecimento da bssola.
A vulgarizao do relgio igualmente permitiu aperfeioar uma frmula de orientao
muito satisfatria. O relgio estando colocado no plano, dirige-se o ponteiro pequeno
para o Sol. A linha que une as horas O - XII e o pequeno ponteiro, formam ento um
ngulo cuja bissetriz d a direo Norte Sul. O Sul estando orientado para o Sol, bem
entendido, evidente que se ter que ter em conta nesta frmula o desvio da hora de
vero.
De noite, e em tempo claro, a Estrela Polar, e no inverno particularmente a
constelao de Orion, permitem localizar aproximadamente a direo Norte. Por outro
lado, quando a Lua crescente, suas pontas esto orientadas para o Leste. Ao
contrrio, quando ela decrescente, as pontas esto orientadas para o Ocidente. No
dcimo quinto dia de seu curso, a Lua se levanta ao Leste, no mesmo momento em que
o Sol se pe a Oeste. Quando a gente se coloca de maneira a ter a Lua sua esquerda
e o Sol sua direita, o Norte est exatamente atrs e o Sul frent e do observador. Esta
observao s se pode fazer no momento do pr do sol, evidentemente.
Mas nos longnquos tempos em que a bssola ainda era desconhecida, e onde
o relgio ainda era mais desconhecido, as corporaes de construtores da bacia do
Mediterrneo utilizavam o gnmon.
O gnmon dos antigos era uma espcie de obelisco, encabeado por uma
bola. As observaes da sombra do gnmon permitiram conhecer a diminuio
progressiva da obliqidade da Eclptica. A tradio quer que tenha sido Anaximandro
quem, na Lacedemnia, erigiu um gnmon por meio do qual observou os equincios e
os solstcios. Eis o modo como os antigos usavam o gnmon.
Seguindo o curso dos Astros, eles so vistos quando se levantarem acima do
horizonte e depois descem abaixo do horizonte. Para determinar o ponto em que o Astro
deixa de subir, os astrnomos utilizaram diversos mtodos, entre os quais o dito
gnmon, tirado das corporaes de construtores do mundo antigo.
Sobre a rea essencial do seu futuro canteiro de construo, estes
comeavam por determinar uma superfcie absolutamente plana, com o auxlio do
Cordel e do Nvel. Traavam, com o auxlio do primeiro, uma vasta circunferncia, cujo
raio era igual ao comprimento do Cordel. No centro exato dessa circunferncia era
cravada uma haste vertical de cuja ponta pendia o Fio a Prumo, a fim de controlar
cuidadosamente essa verticalidade. A haste podia at mesmo ser um dos dois braos do
muito grande Compasso dos construtores e dos cortadores de pedras.
Tomando essa haste como eixo, e sempre com o Cordel, traavam ento diversas
circunferncias concntricas inclusas na primeira.
Marcavam, em seguida, cuidadosamente sobre cada uma delas os pontos que
correspondiam s extremidades das sombras projetadas pelo Sol, em diversas alturas,
antes e depois do meio-dia.
Em seguida dividiam em duas partes iguais o arco compreendido entre os dois
pontos que haviam sido traados pela sombra sobre cada circunferncia, e assim
obtinham uma linha reta que passava pelo prprio p da haste e determinava o plano no
qual o Sol se encontrava quando ele atingia o ponto mais alto do seu curso cotidiano.
Este plano era o Meridiano. Ele passava, pois, pelo Znite do lugar e pelos plos
terrestres, cortando o horizonte segundo uma reta qual foi dado o nome de Meridiano.
Tinha-se desse modo a linha Norte-Sul.
Quem inventou o gnmon? um mistrio. Cita-se Anaxmenes de Mileto, outros
o atribuem a Anaximandro, e outros ainda a Thales. Vitrvio nos fala do um gnmon que
construiu o sacerdote e astrlogo caldeu Berose, e que ele colocou sobre um plano quase
paralelo ao equador. O gnmon de Aristarco era uma espcie de quadrante horizontal
com o limbo levantado ao redor a fim de Impedir que a sombra lanada fosse mais longe.
Quanto aos gnmons de que os hebreus se serviam na poca de Achaz, eles j eram
comuns na Grcia na poca de Eudxio. Os romanos s mais tarde se utilizaram deles.
V-se que no traado de um gnmon, os membros das corporaes antigas
utilizavam necessariamente o Cordel, o Fio a Prumo, o Compasso, o Esquadro (sendo
este freqentemente denominado gnmon diretamente) . No caso de um gnmon de
pequenas dimenses, o Cordel era substitudo pela Rgua
92
.
A Rgua foi em seguida substituda, pelos Maons Especulativos, pelo Livro
Sagrado, que serve para orientar o Templo Interior do Homem, assim como a Rgua ou
o Cordel serviam para orientar os Templos materiais. por isto que se deu o nome de
gnomnicos aos poemas que so chamados igualmente gnmons, assim como seus
autores. A poesia gnomnica, espcie de colees de versos de preceitos morais,
anterior, em todos os povos, apario da Filosofia. Podem ser classificados neste
gnero primitivo da literatura e da moral os Provrbios de Salomo, as obras de
Hesodo, de Slon, de Pitgoras, de Theogni s, de Focilides, etc. Assim como o Aplogo,
a poesia gnomnica tinha por objetivo a instruo religiosa, e tambm a instruo moral,
do povo. Geralmente ela ensinava uma sabedoria prtica, recomendava as virtudes
usuais e tudo o que pode melhorar o bem-estar do homem ou aperfeioar a vida social.
O Maom avisado perceber imediatamente as relaes estranhas entre esta
denominao, a natureza daquilo que ela designa, e a Rgua ou o Cordel, e o Livro
Sagrado que os substituiu.
Desejamos, pois, que as Obedincias manicas que ignoram voluntariamente
o simbolismo profundo deste uso, retornem a ele sem demora e que um Livro de alto valor
moral, de sua escolha, venha a preencher este vazio sobre seus Altares ou, na falta
deste, a Rgua graduada dos arquitetos do antigo Egito. O ternrio rege toda a
Maonaria, e esta deve oferecer aos olhos dos Maons esses trs objetos que so
chamados muito justamente as Trs Jias e que so: o Compasso, o Esquadro e a
Rgua.
Desta maneira, aos poucos, na Franco-Maonaria e em seus Templos
primeiramente, depois na Cidade profana que ela deve proteger e logo conduzir, ser
realizada a palavra proftica:
Por isto assim fala o Senhor, o Eterno: Eis que eu coloquei por fundamento
em Sio uma pedra, uma pedra angular de valor, solidamente colocada. Aquele que a
tomar por apoio, no ter pressa de fugir, pois Eu farei da Equidade uma Rgua e da
Justia, um Nvel... (Isaas 28I:16-17).
CONCLUSO
A Franco-Maonaria uma sociedade inicitica, indiscutivelmente. No se
conclui da que seus membros devam se desinteressar dos assuntos da Cidade. Eles
continuaro, o que quer que alcancem no plano da iniciao, sempre cidados. E a
Franco-Maonaria, convm no esquecer, recebeu no dcimo oitavo sculo, dos
Rosa+Cruzes, a misso de trabalhar pela realizao do seu vasto plano universal,
imaginado e aperfeioado por seus promotores.
De fato, e em primeiro lugar, a Maonaria deve formar individualidades de
valor no plano inicitico e conduzi -los, sbia e metodicamente, pelo acesso aos
conhecimentos essenciais, para o Adeptado. Ela deve despertar em seus membros as
potencialidades intelectuais, morais, psquicas, neles adormecidas. Deve orient-los
92
A Astrologia divide o dia em parte diurna (da meia-noite ao meio-dia), e
noturna (do meio-dia meia-noite). para se situar fora do tempo e para o
retorno a um estado inicial incondicionado que os Maons abrem
simbolicamente seus Trabalhos ao meio-dia.
para o estudo das cincias tradicionais correlatas ao seu programa inicitico e que, sem
elas, permaneceriam desconhecidas ou negligenciadas pelos Maons deixados sua
prpria sorte.
A fim de despertar essas foras misteriosas, ela deve criar neles um clima
interior que levar o Mestre Maom a uma indiscutvel Sabedoria, que implica o domnio
de suas paixes e o desenvolvimento de suas virtudes.
Fora disto, a tcnica manica ser uma pratica vazia. E os Maons que, por
serem refratrios a toda pesquisa filosfica ou metafsica, se acantonarem em estudos
didticos dignos no mximo dos crculos usuais de estudos especializados do mundo
profano, no seriam muito melhor orientados.
Por outro lado, apenas a poltica no deve ser a finalidade dos trabalhos
manicos. Para abordar seus mltiplos aspectos, no haveria necessidade de
submeter-se a ritos complicados, de receber ensinamentos sabiamente velados e
revestir emblemas esotricos para isto; o clube local seria suficiente, ou ento o crculo
do chefe da comarca, ou em grau superior o partido. A poltica, em Maonaria, deve ser
seguida e orientada unicamente em funo desta herana, planificada pela Rosa+Cruz e
confiada Ordem Manica inteira h bem dois sculos e meio, e deve sempre ceder o
passo aos interesses superiores, o que implica uma perpetuao inicitica de
importncia indiscutvel.
A pseudo regularidade manica, que consiste no reconhecimento epistolar
de uma Obedincia por uma outra, no justifica a existncia e o comportamento desta
mesma Obedincia. E por outro lado, a ruptura geral com todas ainda menos a prova
de seu real valor e de sua independncia em relao outra.
ento no valor individual de seus membros que as Obedincias apiam a
justificao de sua prpria existncia, no no seu nmero. A membros fteis ou vos,
superficiais, correspondem Obedincias sem valor inicitico. Esta a verdadeira
concluso. Elas esto no mesmo nvel de tantas grandes igrejas, cuja maioria dos fiis,
por sua tibiez ou por sua mediocridade intelectual, j no refletem mais de maneira
alguma a mensagem inicial. So corpos mortos e sem alma.
para lembrar aos Maons que lerem esta obra, os prprios princpios da sua
herana secular, que estas pginas foram escritas.
Possam eles ao menos conceder ao seu autor o benefcio do zelo, do
devotamento Ordem Manica e, finalmente, do desejo de trazerem mais uma pedra
ao Templo Ideal em perptua gnese, pois:
Ns quisemos esboar esta imagem em um esquema rpido e fiel, no
segundo os homens alistados sob sua bandeira, mas de acordo com a
Tradio da qual a Franco-Maonaria se entende detentora...
(C.Chevillon: O Verdadeiro Rosto da Franco- Maonaria).
A GNOSE MANICA
Para quem quer que v explorar alguma Terra incgnita, imprudente traar
antecipadamente os mapas e a descrever. A aventura de Cristvo Colombo a prova
peremptria disso. Ocorre o mesmo com a Gnose Manica.
Sabemos que, segundo a Tradio, a Letra G que irradia no centro da
Estrela Flamejante significa Gnose, Gerao, Geometria. E isto nos leva a formular o
postulado de que a Franco-Maonaria possui efetivamente uma Gnose. Mas esta Gnose,
qual ? Eis o problema! Pois em nenhuma parte, em nenhum dos documentos mais
antigos, est indicado que se trate da Gnose clssica, ou da de Valentino, de Cerinto,
de Marcion, ou de Simo.
No entanto, e por estas trs palavras exatamente, sabemos que se trata de um
Conhecimento (Gnose), relativo a uma Gerao, e a uma Gerao Harmoniosa
(Geometria).
Observemos, porm, (e isto ser til mais adiante), que se trata de uma
Gerao, e no de uma Re-Generao. O Esquadro manico , alis, a chamada, pois
o G do nosso Pentagrama o gama grego, ou seja, um Esquadro:
Formularemos ento um certo nmero de concluses.
*
* *
Querer que a Maonaria transmita o que esta ou aquela religio ensina um
erro fundamental. Pois dogmatizar, o que antimanico antes de mais nada.
Devemos abandonar nossos metais porta do Templo. E este foi o erro dos
reformadores clericais da Conveno de Lyon, em 1778, e da de Wilhelmsbad em 1782,
o de afirmar que nossa Ordem crist. A Maonaria de obedincia anglo-saxnica,
que exige que a Bblia no apenas figure sobre o altar de toda Loja regular, mas ainda
seja considerada como um Livro Revelado, se contradiz quando, para agradar suas
Obedincias de alm-mar, ela coloca um Coro, um Bhagavad-Gita, ou um Cnon Pali,
sobre o altar, em lugar da Bblia, dita insubstituvel.
De fato, a Maonaria no nem crist, nem anticrist, ela possui sua prpria
crena, e no tem necessidade de a tomar emprestada s religies do mundo profano,
que no nos oferecem seno um conjunto de contradies, como se Deus mudasse de
opinio mudando de profeta.
A Gnose Manica, aquela que lhe prpria repetimos, no lhe poderia vir do
mundo profano, mas extrada e explicada em funo dos seus Smbolos, de seus
prprios Ritos, e apenas deles: Colunas Jakin e Booz, Colunas Sabedoria, Fora,
Beleza, Pavimento de Mosaicos, Cerimnias Rituais e usos prprios dos trs graus
azuis: Aprendiz, Companheiro, Mestre.
Jamais devemos perder de vista que o leigo, ou o doutor de no importa qual
religio, , e permanece para ns um profano, uma vez que no foi recebido Maom.
Pode-se comparar o esprito manico, em seus efeitos e suas repercusses no
psiquismo, ao do esprito-santo dos Cristos no plano espiritual. Isto no deveria
chocar ningum: um doutor em teologia nem por isso o em medicina. Para
compreender a Maonaria preciso tornar-se maom.
*
* *
Voltando Gnose Manica, constataremos que todas as gnoses anteriores
atualmente nossa disposio, repousam sobre um dado revelado de bases judaico
crists. Ora, para a Franco-Maonaria no existe dado revelado , e nada deveria ser
interditado introspeco do Homem.
Considerar, com nossos Irmos anglo-saxes ou de obedincia anglo-
saxnica, que a Bblia foi revelada por Deus a Moiss, em todos os textos anteriores
morte deste, desdenhar das descobertas modernas relativas aos velhos poemas
cosmognicos da Babilnia. ignorar que nenhum texto manuscrito existe anterior ao
Cativeiro na Babilnia, e que foi Esdras, inspirado pelo Esprito-Santo, que os
reconstituiu ... na Babilnia, e graas, justamente, sua descoberta desses mesmos
poemas babilnicos.
*
* *
Todas essas Gnoses, alis, partem de um postulado inicial, colocando em
princpio que a Alma humana se degradou, e que ela deve retornar ao seu habitat
ontolgico primeiro.
A Maonaria no nos ensina isto! Ela toma, no Mundo Profano, um ser que
ela considera como incompleto, adormecido, no estabilizado, e ela o acorda,
transmitindo-lhe a Luz. Esta mesma Luz que, ao fazer aparecerem os seres e as coisas,
lhes d realmente existncia.
Ora, a este ser incompleto, adormecido, ela no diz que lhe restitui a Luz, mas
que ela a confere. E segundo sua formula prpria, que analisaremos em seguida, ela o
cria, o recebe, o constitui.
*
* *
Pode-se ento admitir que a Gnose Manica considera o Homem Profano
como o resultado de um longo caminho ontolgico, que ele tenha chegado diante de um
umbral, que ele tenha batido a uma porta, e que no possa franque-la sem receber,
daqueles que a franquearam bem antes dele, a Chave necessria para a sua abertura.
H a um postulado manico inicial conforme s mais modernas concluses
cientficas, e que alegraro os admiradores de Teilhard de Chardin. De onde a
expresso manica ritual quando da iniciao de um Aprendiz: Eu vos crio, recebo, e
constituo Aprendiz Maom...
Ora, o latim constituere significa criar a essncia de uma coisa. Criar vem do
latim creare: produzir, que (producere) significa engendrar. Esta ltima palavra significa
dar a existncia. Quanto a receber, vem do latim recipere: aceitar, admitir.
V-se que no h, na frmula tradicional e sacramental da Franco-Maonaria,
nenhuma aluso a um pecado original, a uma degradao inicial, a uma restituio a um
estado anterior. Bem ao contrrio, h uma idia de criao. E nos Smbolos tradicionais
colocados sob os olhos do Impetrante na Cmara de Reflexes tambm no. O Crnio
ali a imagem do Nada, da Morte, do No-Ser, to bem evocado pela tese manica. E
o Galo (quando a figura) a imagem clssica dos antigos gnsticos, do deus inferior e
imperfeito que o demiurgo de baixo, e tambm nos grimrios mgicos do Princpio do
Mal.
*
* *
Do Nada, da Morte, do No-Ser, a Maonaria extrai uma matria prima que
ela vai empenhar-se por seu Ritual e, ao termo dessa Cerimnia, em tornar um ser
realmente vivo, livre e pensante. Melhor ainda, em fazendo dela um Maom, isto , um
construtor, ela vai guind-lo ao nvel dos demiurgii de que fala Empdocles de
Agrigento: O Demiurgo e os demiurgii unem o Criado e o Incriado....
O Incriado... Pode-se melhor sublinhar esta diferena em relao ao Mundo
Manico, fechado, abrigado, refugiado, neste Templo ao qual tem acesso apenas
aqueles que, graas Luz, vivem realmente.
*
* *
Esta criao pneumatolgica, a Maonaria a realiza em conformidade com
um Plano, que lhe confiado justamente por este Princpio Supremo que ela chama o
Grande Arquiteto do Universo. E ela executa este Plano por Amor, pois a frmula
usual diz: Glria do Grande Arquiteto do Universo....
Ela o executa igualmente por Obedincia, pois a mesma frmula evoca uma
ordem recebida: Em nome de... (este ou aquele Rito) ....
Ela o executa legitimamente: Em virtude dos Poderes que me foram
conferidos....
Pois atrs dessas palavras sacramentais do Mestre de Loja, a Maonaria
inteira que fala, pois que dela, da sua Tradio, que ele tem estas frmulas assim
transmitidas, sem alterao, por sculos.
*
* *
O que a Gnose Manica tem em comum com as Gnoses Clssicas e
conhecidas, esta noo de umbrais intermedirios, de portas a franquear, e que o
Ritual afirma serem extremamente baixas. Pois umbrais e por tas so tradicionalmente
guardados por Arcontes, isto , Princpios, e esses Princpios, preciso franque-los.
Tais so essas fases impropriamente chamadas batismos em nossos Rituais.
Pois no se entende como um Elemento (gua, Ar, Fogo) do qual se libera o
Impetrante, poderia, por esse fato, purific-lo. Seria o mesmo que dizer de uma
pessoa com tifo que a arte da medicina tivesse curado, que ele foi purificado pelo
tifo.
Uma tal hiptese equivaleria, alis, a sustentar que, passando pela Cmara
de Reflexes, o Profano foi purificado pela Terra. Isto seria conferir-lhe de imediato,
pelo fato de ter passado pela Cmara de Reflexes, um carter e uma qualidade que
o fizessem, antes da prpria Iniciao, um ser diferente dos Profanos comuns.
Ora, a Tradio Manica no sustenta esta hiptese, e o texto de diversos
Rituais (francs, escocs, egpcio), a contradiz certamente.
*
* *
Uma outra diferena entre as Gnoses clssicas e a Gnose Manica (alm da
noo da Preexistncia das Almas, que ela ignora deliberadamente, como vimos de
constatar), a ausncia de qualquer aluso, quanto Vida Futura do Maom, dessas
hipteses que so a metempsicose ou a metensomatose (reencarnao).
Para a Tradio Manica, a morte carnal conduz o Maom ao Oriente Eterno.
tudo. Desamos ao plano dos Smbolos e vejamos se eles nos precisam alguma coisa
a este respeito.
*
* *
No Templo h um lugar chamado Oriente, elevado por trs degraus, que se
ope ao e domina o Ocidente. Este sendo o umbral do Mundo Prof ano, isto , do No-
Ser, da Morte, e das Trevas, o Oriente ser, por oposio, o lugar do Ser (em sua
plenitude, portanto a imagem do Pleroma dos gnsticos), da Vida (Verdadeira), e da
Luz.
Eis porque ele dominado pelo smbolo da Causa Primeira, smbolo muito
iluminado, e que ou o Delta Luminoso, ou a Estrela Flamejante.
Tomaro lugar no Oriente, cedo ou tarde, e pelo jogo das instituies
manicas, todos os Irmos que o tenham merecido, por seu zelo, seu conhecimento da
Maonaria, seu elevado val or moral.
E se no desmerecerem, eles a permanecero. Se um dia forem afastados
da, ser para franquear as Colunas do Ocidente, e assim retornar ao Mundo Profano,
quer dizer, ao No-Ser, Norte, s Trevas. Por um tempo estaro adormecidos e, se
rejeitados para sempre, eles se tornaro esquecidos. Pode-se expressar melhor este
retorno s Trevas, Noite?
*
* *
Podero objetar o uso, muito recente alis, de certas Lojas, de que o
Venervel da Oficina, ao final de seu mandato, v, no umbral do Templo, preencher o
cargo de Cobridor, ou de Guardio do Umbral. Mas, alm de ser este um uso recente,
no nenhuma desgraa, bem ao contrario! Pois bem antes do Venervel, o Irmo
Cobridor aquele que permite o acesso ao Templo, isto , Luz, Vida, ao Ser.
Alm disso, essa funo no definitiva, e no o priva de modo algum,
como Past Master (antigo Venervel), de ter, em toda parte, acesso ao Oriente em
qualquer outra Loja.
*
* *
Pode-se bem considerar a existncia da hierarquia dos Altos graus, acima dos
trs graus azuis da Maonaria Simblica, como probatria em modo esotrico da
crena em uma evoluo em Planos Superiores, simbolizada pelos Altos Graus.
A estes Planos Superiores acenderiam, em funo de uma necessria
evoluo pstuma, varivel de acordo com cada individualidade psquica, todos aqueles
Mestres que tivessem a possibilidade de ir alm do simples acesso ao Oriente Eterno,
isto , imortalidade pura e simples.
E desde logo, com suas Palavras de Passe, verdadeiras Palavras de Poder,
com seus Sinais Probatrios, suas Marchas diferentes, podemos adivinhar nesses
mesmos Altos Graus, e no simbolismo material dos Templos que lhes so prprios, o
dos Umbrais de que falamos no incio deste estudo, Umbrais guardados por um
Arconte em todas as escolas gnsticas antigas, e que preciso franquear, graas a
Nomes de Poder, e a Selos, para poder ir mais longe.
E se os ttulos surpreendentes que acompanham os Altos Graus: Muito Ilustre,
Muito Poderoso, Muito Sublime, infelizmente nem sempre parecem se aplicar a seus
detentores humanos oficiais, talvez no esteja interditado crer que se aplicam, e muito
realmente, a detentores que pertencem a essa Comunidade psquica que se chama
justamente o Oriente Eterno.
*
* *
Observa-se, alis, que esses termos possuem, para quem sabe analis-los,
uma verdadeira ressonncia esotrica.
Ilustre vem do latim illustris, expressando aquilo que luminoso, e portanto
suscetvel de dar a luz, de iluminar. E para isso necessrio t-la em si mesmo. De
onde a divisa de um alto-grau muito oculto: Lux Inens Nos Agit... , ou seja, a Luz que
est em ns nos move. .
Poderoso deriva do latim potentis, significando o poder supremo, e o fato de
haver obtido aquilo que se deseja. Qualificando um Grande Comendador de Trs Vezes
Poderoso... se evoca o Hermes Trismegisto (trs vezes grande) do mudo antigo. Ora,
esse deus era o Condutor das Almas no alm, da o seu qualificativo de Psicopompo. O
Grande Comendador est assim testa de uma corgia ocult a, e o seu Mistagogo
(condutor dos iniciados), ainda um termo antigo designando Hermes.
Sublime vem do latim sublimis, significando aquilo que elevado, mas
tambm, em qumica, a ao de separar em uma retorta os elementos volteis de uma
substncia seca, e recolh-los. Ocultamente, um ser sublimado , portanto, aquele no
qual se efetuou uma separao, uma ruptura, ou ainda um ser no qual desceu uma
substncia previamente sublimada. Em uma palavra, este ser se tornou o veculo de
uma entidade ou de uma fora oculta, que age por seu intermdio.
*
* *
Dir-se-ia que a Gnose Manica ignora as noes de pluralidade das formas
vitais no Mundo Profano? Em uma palavra, a Maonaria ignora a metempsicose e a
metensomatose?
Parece que ela conservou a esse respeito a tradio pitagrica, tradio que
afirmava que os Iniciados recebem, como primeiro benefcio de sua iniciao, o
privilgio de escapar roda das vidas. Apenas os profanos permaneceriam sujeitos a
ela.
Esta noo era a da Gnose crist clssica, o cristo tendo recebido os batismos
da gua e do fogo, livrava-se por isso do Prncipe deste Mundo, e no dependia mais
seno do Cristo. E j muito antes deles, Plato afirmava que aqueles que se
aproximaram das santas iniciaes e aqueles que as ignoraram, no tero, no reino das
Sombras, destinos semelhantes....
Ora, o Mundo Profano, votado ao Nada, ao No-Ser, s Trevas, simbolizado
pela Cmara de Reflexes. E o que que se pe, nesse reduto sinistro, sob os olhos
do recipiendrio? Emblemas alqumicos, evocando ipso facto as mltiplas
transmutaes que opera nesse Mundo material aquilo que impropriamente chamamos a
Vida.
De fato, o recipiente com sal, o recipiente com enxofre, o outro em que treme
o mercrio vulgar, o crnio descarnado, no so eles smbolos do Sal, do Enxofre, do
Mercrio Filosofal, do Vitriol Filosfico? E transposto ao plano humano, essas
transmutaes, assim discretamente evocadas, no lembram as vidas sucessivas
desfilando diante dos olhos do Profano? Ao tir-lo da Cmara de Reflexes para lhe
dar acesso ao Templo o Luz, a Maonaria no lhe faz compreender, por meias
palavras, que ela pretende liber-lo dessas formas mltiplas, transitrias e dolorosas,
que so as Vidas sucessivas?
*
* *
Tais so as noes preliminares de uma Gnose, exclusivamente manica, e
que se pode depreender de nossas Tradies e de nossos Smbolos.
Enquanto guardies e defensores de tudo isso, cabe aos Oradores das Lojas
Manicas lembr-lo e confirm-lo periodicamente
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.
E se acontecesse que Irmos, incompletamente penetrados do esprito
manico, inconscientemente submetidos a disciplinas confessionais estranhas prpria
Ordem, tentassem conciliar sua submisso a essas disciplinas com o desejo de se
tornarem (nos no dizemos permanecerem, por isso mesmo...), bons e legtimos
maons, lhes restaria meditar sobre esta copla, tirada dos cantos manicos do sculo
dezoito, e conhecida desde 1737:
Para o pblico, o Franco-Maom
Ser sempre um verdadeiro problema!
Que ele no conseguiria resolver a fundo
a no ser tornando-se ele prprio Maom...
*
* *
O TETRAGRAMA DOS VENERVEIS
As invocaes onde predominam as sries aaa, eee, iii, etc., so verdadeiras evocaes feitas apenas com
a voz, e onde o som opera sem o auxlio das palavras.
G.Maspero: Sobre a Enada
Nesse estudo o grande egiptlogo nos demonstra como a Cincia das
vibraes sonoras tinha importncia na teurgia egpcia antiga.
um fato curioso, a ser lembrados aos que esto ativos da Maonaria
francesa, a presena do tetragrama IHVH no centro do Deita luminoso, assim como a
sua presena, desde h bem dois sculos, na ponta dos colares de bom nmero de
venerveis do rito francs e do rito escocs antigo e aceito.
Observemos antes de mais nada que ele est inscrito em um Deita, e no em
um banal tringulo, segundo a definio muito precisa da tradio manica. E um deita,
uma letra, a quarta do alfabeto grego. a inicial da palavra grega demiurgos,
significando a inteligncia criadora na antiga filosofia platnica. V-se que no tem
qualquer relao com a santa trindade, e com essa noo esotrica discretamente
formulada vemos aparecer a Gnose, essa gnose expressa pela nossa letra G, que em
grego se expressa por um gama, isto , por um esquadro . E a mesma Gnose clssica
diz que o deus dos judeus no o Deus Supremo, mas apenas o seu auxiliar no plano
da criao, pois o Deus Supremo necessariamente incognoscvel por essncia.
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Entre os dez Oficiais encarregados de administrar uma Loja, o Orador ,
antes de tudo, o guardio da Lei Manica, das Constituies e
Regulamentos Gerais, e das Tradies da Ordem Manica. S ele tem o
direito e o dever de lembrar ordem o Venervel, se este comete um erro ou
uma omisso.
Esta noo essencial da filosofia gnstica por longo tempo impediu de dormir
os padres da Igreja. Celso, em seu terrvel Discurso da Verdade, nos demonstrou como
o nvel intelectual dos primeiros cristos era insuficiente, exceo feita a algumas belas
inteligncias como Clemente de Alexandria, Orgenes Adamantius e o conjunto de seus
discpulos. Tambm, cedendo lgica dos pais da Gnose, os pais da Igreja procuraram
para si um demiurgo que fosse apresentvel, um Obreiro Divino ( o significado do
termo demiurgo). Voltando-se para Filon de Alexandria, tomaram dele por emprstimo
seu Logos, que batizaram de Verbo. E progressivamente os conclios de Nicia,
Constantinopla, feso, Calcednia, definiram ex cathedra o que o grande Orgenes j
chamava o santo demiurgo e que, no seio do cristianismo, toma o lugar ant eriormente
ocupado por Metatrn-saar-ha-panim no judasmo.
E chegamos assim ao estudo do nome misterioso por essncia, o
Tetragrama impronuncivel, que era substitudo, em Israel, por Adonai, senhor.
Em sua obra A Magia no Egito Antigo, F. Lexa nos diz: Os Egpcios supunham
que os nomes usuais dos deuses no eram seus verdadeiros nomes, mas apenas
pseudnimos, e que os deuses dissimulavam seus verdadeiros nomes a fim de no ser
obrigados a se submeter a uma vontade estranha.
bem evidente que a diversidade de lnguas humanas conduz a diferenas
considerveis de pronncia de uma mesma palavra. E para nossos vizinhos alemes, a
palavra egpcio se dir como toda naturalidade hibzio, a palavra pelica se tornar
belika, e da frmula tanto pior, eles faro dand biorr. Como os franceses
pronunciam o alemo? Melhor ser no se deter nisso, claro!
Isto se deve em boa parte a que os sons vocalizados no correspondem ao
nmero de letras que os exprimem nos inmeros alfabetos imaginados pelo homem.
Possumos em nossos arquivos os caracteres de 76 alfabetos, esotricos, o que eleva a
aproximadamente 152 o nmero das sries de letras utilizadas pelos homens para
exprimir suas idias.
De fato, tudo isso pode se resumir em oito sonoridades de base:
B P exemplo: bato, pato, pasto, basto
C G X Q capa, gaba, kapote, quepe
D T doma, toma, tono, dono
F V foi, vou
L R rumar, lunar
M Margarida Argarida (com freqncia no pronunciado)
N Nestor: Estor
S X Z Suzana, Susana, Zuzana,
Xavier, Savier, Zavier, etc.
Trata-se evidentemente de consoantes. A vocalizao exigir outros sinais.
No hebraico dito quadrado, proveniente do cativeiro na Babilnia, so os clebres
pontos voclicos que permitem silabar uma seqncia de consoantes. Possumos em
francs um exemplo tradicional com o clebre ba-be-bi-bo-bu dos pequenos oradores
ainda em fraldas.
Esses pontos voclicos, que apareceram nos primeiros sculos de nossa era,
permitiram suprir uma tradio, oral e portanto frgil, que pretendia transmitir o
verdadeiro significado das palavras que compunham a Tor. assim que, segundo a
sua pontuao, as letras que compem a palavra Hiram significaro ou o rei de Tiro ou a
palavra nobre, ou a palavra livre.
Se o hebraico possu cinco vocalizaes essenciais, repartidas em seis signos,
h apenas quatro sonoridades principais: A, E, I, O, pois U apenas uma acentuao
particular do O.
Percebe-se que em francs supe o chu equivale a uma soupe aux choux
(sopa de repolho), e que a palavra kusmugoni designa a cosmogonie.
Podemos concluir que a linguagem humana exige apenas oito sinais-
consoantes e quatro sinais-vogais para se expressar por escrito, ou seja, doze ao todo.
Algum poderia objetar a ausncia da letra H. Mas para que ela serve?
Hnurme... exclamava Flaubert quando queria exprimir um exagero. Poderia ter escrito
Enorme... e todos teriam compreendido, a deformao ortogrfica tinha por finalidade
sublinhar um sentido particular da palavra habitual.
A adjuno da letra H letra P, para dar um exemplo, a palavra physico
intil no plano puramente fontico. Transcrevendo o Ph por um F, se obtm o mesmo
resultado: fsico. Se desejarmos falar de um amigo que se chame Charles Dumont a
pronuncia Jarles Dumont cumprir a funo, e a palavra chapu pode ser pronunciada
japu.
Ora, o clebre Nome Divino do povo hebreu se compe apenas de vogais, as
quatro vogais essenciais que enfatizamos acima, porm, dispostas de uma certa
maneira:
I E O A
Retenhamos este dado, pois j se delineia em nosso pensamento a hiptese
de que este Nome Divino seja um mantra, um encantamento, uma palavra de poder, no
sentido mgico destes termos. E, em caso afirmativo, est amos na obrigao de lhe dar
uma sonorizao particular, verdadeira vocalizao no sentido absoluto da palavra. De
fato, muito provvel que este Nome Divino no se pronuncie, mas se module, se cante
de um certo modo.
Demetrius de Falera nos diz, no III sculo de nossa era: No Egito, os
sacerdotes cantam louvores aos deuses servindo-se das sete vogais, que eles repetem
sucessivamente, e a agradvel eufonia do som dessas letras pode soar como flautas e
ctara. (Cf. Demetrius de Falera: Pri ermneias)
Tratava-se a evidentemente de uma invocao aos sete deuses planetrios,
de onde sete e no quatro vocalizaes diferentes. Em seu pequeno opsculo O Canto
das Vogais, Edmond Bailly havia dado a reconstituio, segundo ele, da msica para
harpas e flautas doces dessa invocao sonora.
No segundo sculo da nossa era, o matemtico Nicmaco de Gerase nos diz
que: .. o som possui aqui o mesmo valor que a unidade em aritmtica, o ponto em
geometria, a letra em gramtica. Eis porque os tergos, quando adoram a Divindade, a
invocam simbolicamente de modo sibilante, seja estridente seja suave, com sons
inarticulados e sem consoantes. (Cf. Nicmaco de Gerase: Manual de Harmonia, 5
fragmento).
No quarto sculo, Eusbio de Cesrea reconhece que: Quanto ao que se diz
das sete vogais, que reunidas constituem um nome, um som misterioso que os filhos
dos hebreus transcrevem em quatro letras, e que eles referem ao supremo poder de
Deus, uma tradio transmiti da de pais a filhos, e interditado multido proferi -lo,
pois um mistrio. (Cf. Eusbio de Cesrea: Preparao evanglica, V, XIV).
A transmisso de pais a filhos se justifica pelo fato de que o sacerdcio
judaico era hereditrio, pois apenas a descendncia carnal a possua de direito, desde
Aaro e seus filhos. (Cf. Levtico: 8:1 a 36; 21:1, 16 a 24; 22:1 a 9).
Quais eram as correspondncias desse setenrio astrovocal? Ei -las aqui
resumidas, segundo a tica do mundo antigo:
1 cu Saturno Omega Si
2 Jpiter Ipsilon u D
3 Marte microm o R
4 Sol Iota i Mi
5 Vnus Eta F
6 Mercrio Epsilon e Sol
7 Lua Alfa a L
Este conjunto harmnico se reduzia do setenrio ao quaternrio por uma
operao da qual ns ignoramos a chave, mas que tinha estas correspondncias:
I E O A
mi sol r l
ou ainda:
Sol.......................mi..........................I
Mercrio..............sol.........................E
Marte....................r..........................O
Lua.......................l................ ..........A
Uma tal formao esotrica implicava, para que fosse utilizada, em conhecer
perfeitamente o domnio misterioso dos sons; no esqueamos que a cincia moderna
se volta para o estudo, para fins no pacficos, bem entendido, do misterioso poder dos
ultra-sons, que so no domnio sonoro o que so os infravermelhos e os ultravioletas no
domnio das radiaes e da cromtica. At o presente, se conseguiu matar
camundongos em laboratrio, mas a muito curta distncia, com os ultra-sons. Quanto
aos infra-sons...
Conhecer o nome de uma divindade, era ter poder sobre ela. Mas no se
tratava apenas de conhecer seu nome, era preciso saber pronunci-lo corretamente,
pois o mnimo erro tornaria a invocao nula. Teria mesmo sido considerado perigoso
pronunciar incorretamente o nome de uma divindade. Est dito em uma inscrio
egpcia: Tende cuidado em relao a Ptah, o mestre da Verdade, e temei pronunciar o
nome de Ptah falsamente, pois certamente ele atingir aquele que o pronunciar
falsamente, e o arruinar. (Cf. W.Groff: Estudos sobre a Feitiaria ou o papel da Bblia
para
os Feiticeiros).
provvel que o nome tetragramtico IEOA estivesse muito prximo de nomes
semelhantes usados para as divindades caldaico-assrias. Sabe-se que eram dele feitas
contraes em quatro fases, formando o clebre Grande Nome de setenta e duas
letras:
IO.................. Iod.....................................10 = ...10
IAH...................Iod-H............................10+5 = ...15
IOAH...................Iod-H-Vaw.................10+5+6 = ...21
IEOAH...................Iod-H-Vaw-H.......10+5+6+6 = ...26
total : ... 72
Os nmeros utilizados so aqueles atribudos como valor numeral s letras do
alfabeto hebraico.
Ora, nas inscries caldaico-assrias, notadamente nas de Borsippa,
encontram-se as duas formas Houh, Haoh, aspectos semticos do assrio Ao, formas que
designam o deus da Sabedoria: Aquele que conhece todas as coisas. Houh, Haouh,
Haoh (ou Ha), o deus da Inteligncia e da Sabedoria, um dos trs grandes deuses
dos caldeus: Anou, Bel, Houh.
Observa-se como as sobrevivncias calcaico-assrias eram vivas ento no seio
de Israel, constatando o papel que desempenham os deuses pilares: Inteligncia e
Sabedoria, no Livro de Reis:
E Deus disse a Salomo: Eis que agirei segundo a tua palavra, e te darei a
Sabedoria e a Inteligncia, de tal sorte que no haver ningum antes de ti, e jamais se
ver algum semelhante a ti. (I Reis 3:12).
Hiram estava cheio de Sabedoria e de Inteligncia... (I Reis 7:14).
Entre os Instrumentos manicos, a Inteligncia corresponde ao Compasso e a
Sabedoria Rgua. E quando o Compasso mede o comprimento da Rgua entre suas
duas pontas, ele desenha um Deita, inicial do nome do Obreiro Divino: o Demiurgo.
No que concerne ao aspecto inefvel do Nome Divino, este princpio era
originrio do Egito, como se v em Herdoto (II, 86, 132, 170). Esse historiador se
recusa a pronunciar o nome do deus egpcio pois que ele no poderia faz-lo sem
impiedade. Se Herdoto se tivesse convertido religio egpcia, esse escrpulo se
justificaria por um temor puramente mstico. Mas no o caso. Herdoto no sabe como
pronunciar exatamente esse nome, com o tom exato que segredo dos sacerdotes, de
Mnfis como de Tebas, de Karnak como de Hierpolis. , portanto, por prudncia
justificada pelo mistrio dos sons, e que ele pressente, que Herdoto se abstm de faz-
lo...
Ccero nos confirmar o testemunho de Herdoto: O deus de que os egpcios
no crem poder, sem cometer um crime, pronunciar o nome... (Cf. Ccero: De natura
Deorum, III, 22). Esse nome no era outro seno Hamoun, de que os gregos fizeram
Amon.
Em uma obra a ser editada, e que existe como manuscrito terminado, ns
apresentaremos as provas de que a religio judaica, assim como nos apresenta a Bblia,
s apareceu sob o reinado do jovem rei Josias, e que ela se imps definitivamente
quando do retorno do cativeiro da Babilnia. Antes disso Israel conheceu apenas os
cultos cananeus clssicos, com o sacrifcio dos primognitos, as prostituies sagradas
e o culto dos baalim locais. Iav era um entre eles. Era o deus dos cananeus desde
sempre, nos revela o Targum. Ora, acontece que Moiss era o genro de um deles:
Heber, o cananeu, se havia separado dos cananeus, dos filhos de Hobab,
sogro de Moiss... (Juzes 4:11).
Ora, foi do nome desse Heber que os hebreus tiraram seu nome nacional. V-
se que Moiss simplesmente se converteu ao culto de Iav, deus dos cananeus, para
desposar Sfora, filha desse Hobah, que o xodo denomina Jetro, (op.cit. III, 1).
Como se chamava esse deus? Na realidade, no sabemos. s vezes
chamado Eheyeh (Eu sou), s vezes Iav (Ele ), s vezes Shaddai (Todo Poderoso),
etc. suficiente reler o xodo para se convencer pelo prprio texto hebraico.
O que certo que o assrio e o acadiano s possuam quatro vogais para
dezenove consoantes. As vogais eram: A I U E (cf. M.Rutten: Elementos de acadiano,
assrio-babilnico. Noes de Gramtica).
No necessrio ser grande conhecedor para constatar que as quatro vogais
reproduzem exatamente o Tetragrama I E U A, e o clebre Nome Divino. No se pode
afirmar ento o que dito acima, que o Nome tetragrama s apareceu em Israel aps o
cativeiro na Babilnia?
E que esse Nome misterioso tem a ver com um conhecimento secreto agora
perdido, o da cincia dos sons?
Jovem Venervel, meu muito querido Irmo, tu que ests to orgulhoso desse
belo colar ricamente bordado a ouro, sabias que levas sobre o peito o eco deformado e
diminudo de um tal saber?...
COMO RACIOCINAR MAONICAMENTE
Na Maonaria convm raciocinar ao invs de se expressar instintivamente? A
resposta evidentemente afirmativa. Nada pode ser retido que no tenha, antes, sido
submetido ao controle da razo. Pois esta retm as concluses, enquanto o instinto no
emite seno opinies, e a priori.
Ora, se todas as opinies so respeitveis quando so sinceras, nem por isso
so todas vlidas. Pois sobre dez opinies expressas a respeito de um dado assunto,
uma apenas ser provavelmente exata, e nove outras sero, mais ou menos, erradas. E
o erro no poderia se beneficiar do mesmo privilgio que a Verdade, evidente.
Assim, posso sustentar a necessidade de suprimir a polcia, os tribunais, as
prises, em um Estado e isto em nome do perdo das ofensas e da misericrdia erigidas
em princpio. Mas enquanto houver assassinos, sdicos e ladres, esta opinio ser
totalmente errada, e o dever daqueles que esto encarregados do Estado ser de
proteger as pessoas pacficas contra os criminosos e os anti -sociais.
Concluamos que, nem todas as opinies sendo necessariamente boas,
importante pass-las todas pelo crivo da razo antes de concluir por sua adoo.
E justamente isso que a Franco-Maonaria impe a todos os seus membros.
Convm igualmente definir os mtodos gerais que permitem faz-lo.
Sabemos que a letra G que desempenha um papel to grande em nossa
Ordem, significa Geometria e Gnose, este ltimo termo significando Conhecimento, em
grego.
Assim, a Geometria e o Conhecimento podem estar associados. E Pascal tem
razo quando afirma que a Lgica tomou emprestadas as suas regras da Geometria...
(Cf. Do Esprito da Geometria).
Que , pois, a lgica? a cincia que tem por objeto os processos e as
frmulas do raciocnio, aplicando-se em distinguir o verdadeiro do falso, o exato do
inexato. a primeira das trs cincias que constituem o clebre trivium da escolstica
medieval, e seu elemento principal de trabalho o silogismo. De fato, a lgica a
prpria expresso, estruturada e verificada, da razo. Mas o que a razo, esta
perptua razo que a Maonaria latina coloca bem frente da f da maonaria anglo-
saxnica?
A razo e a faculdade pela qual o homem distingue aquilo que est conforme
com a verdade, o bom senso, o real. E a razo tem por modo de introspeco a
lgica.
Ora, esta ltima possui, no trivium da escolstica medieval, trs irms
menores. So:
a) a retrica, que a arte de falar de maneira a persuadir o interlocutor.
a dialtica do que verossmil, a exposio daquilo que exprime uma verdade, uma
evidncia, uma coisa exata. Dependendo da lgica, ela deve, pois, estar conforme com
a razo, sendo sua decorrncia.
b) a gramtica, que e a arte de expressar seu pensamento, pela
palavra ou pela escrita, de maneira conforme s regras estabelecidas pelo bom uso. Ela
repousa sobre quatro princpios que so: a razo, a Antigidade, a autoridade, o uso.
Assim pois, a lgica corresponde ao pensamento, a retrica palavra, a gramtica
ao ato.
Mas o que esta geometria de que a lgica tira suas frmulas, segundo Pascal?
a cincia que tem por objeto a definio e a medida das linhas, das superfcies e dos
volumes. E uma analogia evidente nos permite estabelecer correspondncias entre essas
duas cincias, aparentemente to diferentes:
- lgica corresponde o pensamento; ao pensamento, a medida das linhas;
- retrica corresponde a palavra: palavra, a medida das superfcies;
- gramtica corresponde a ao: ao, a medida dos volumes.
Constata-se por este paralelismo, como se efetua uma certa densificao, do
domnio da linha ao do volume, passando pela superfcie, densificao anloga ocorre
indo do pensamento ao ato, passando pela palavra, que profere a inteno.
o que permitiu a tantos fundadores de religies estabelecer uma teoria sobre
o trplice aspecto da unidade divina, e o papel mediato de um Logos, de um Verbo, entre
o Deus supremo e o Demiurgo, criador mat erial.
Vimos que a lgica tomou suas frmulas da geometria, e que seu principal
argumento, que permite concluir segundo a razo, o silogismo.
Ora, o silogismo tira sua justificao matemtica dos princpios do tringulo retngulo,
e no se poderia negar ou contradizer o que repousa sobre uma demonstrao matemtica.
E o que um tringulo, pois teremos necessidade em segui da de sua
definio precisa? urna figura da geometria plana possuindo trs lados e trs ngulos.
Pode ser eqiltero, issceles, escaleno, retngulo, obtusngulo, acutngulo, plano,
esfrico, ou seja, oito tipos de tringulos ao todo. Mas todos devem corresponder
definio geral, e no se poderia admitir qualquer definio de fantasia a seu respeito.
Assim, absolutamente impossvel considerar como aceitvel a hiptese
de que haja um tringulo entre as duas colunas J e B e o Quadrilongo (Pavimento de
Mosaicos) no centro do Templo. Pois se unirmos essas colunas e o segundo, obtemos
um hexgono irregular e no um tringulo...
Ora, a regra do silogismo evocada acima repousa sobre as propriedades do
tringulo retngulo. E um tringulo retngulo um tringulo que comporta um ngulo reto.
Assim, visvel que o nosso Quadrilongo constitudo pela associao
estreita de dois tringulos retngulos, unidos por uma hipotenusa nica, comum aos
dois. E aquele que desejar sondar o esoterismo do desenvolvimento completo dessa
figura, cair em um domnio dos mais enriquecedores quanto ao oculto da geometria.
Mas o que , pois, esse silogismo, frmula imperativa de todo raciocnio
vlido?
um argumento constitudo de trs afirmaes, de modo que a concluso
est contida em uma das duas primeiras, a outra demonstrando que ela est contida ali.
O silogismo se estabelece,
pois, em trs afirmaes:
1) a maior
2) a menor
3) a conseqncia ou concluso.
Constata-se que quando a maior e a menor so demonstradas e
incontestveis, a concluso ou conseqncia tambm o . Um exemplo far melhor
compreender o processo de todo silogismo:
1) Maior: todos os ndios tem a pele cobreada
2) Menor: Jernimo, o chefe apache, era um ndio
3) Concluso: Jernimo tinha a pele cobreada.
Cada uma destas trs afirmaes sendo incontestavelmente exata.
Lembraremos agora as clebres propriedades do tringulo retngulo, que os
estudantes de antigamente chamavam ponte dos asnos, os parvos estando na
impossibilidade de fazer a respectiva demonstrao. Ei -las: O quadrado erguido sobre a
hipotenusa de um tringulo retngulo igual em superfcie soma dos quadrados
construdos sobre os lados do ngulo reto.
Constata-se a analogia evidente entre esta regra e as do silogismo:
a) a altura do tringulo retngulo corresponde maior do silogismo,
b) a base do tringulo retngulo corresponde menor do mesmo,
c) a hipotenusa do tringulo retngulo corresponde a sua concluso.
Tomemos agora um exemplo de raciocnio manico e coloquemos uma questo:
de qu servem as trs colunas que enquadram o quadrilongo?
Pode-se evidentemente admitir que servem para suportar o teto do Templo,
embora uma quarta coluna fosse necessria para evitar que ficasse perigosamente em
falso. Ora, nunca houve, mesmo nos altos graus da Maonaria, uma quarta coluna em
qualquer Templo. Alm disso, constatemos que em todos os ritos manicos onde elas
figuram, essas trs colunas servem para sustentar luminrias com chamas visveis, e
que elas constituem assim verdadeiros tocheiros.
Coloquemos agora os trs termos do nosso silogismo:
a) maior: so chamados tocheiros todo candelabro, lampadrio, estrela ou coluna,
sustentando no importa qual tipo de luminria gnea, e isto indiscutvel.
b) menor: nenhum tocheiro poderia sustentar o que quer que fosse pesado e opaco, e
que apagaria a chama da luminria, e isto indiscutvel,
c) concluso: as trs colunas que enquadram o quadrilongo so tocheiros por seu
aspecto e sua funo e, em conseqncia, no suportam o teto de um Templo material,
nem de um Templo emblemtico.
Uma outra questo vai agora se delinear: por qu, no curso do ritual, se
utilizam tocheiros para materializar trs princpios metafsicos, a saber:
- a Sabedoria, correspondendo lgica, ao pensamento e linha,
- a Fora, correspondendo retrica, palavra e a superfcie,
- a Beleza, correspondendo gramtica, ao e ao volume.
A resposta, tambm aqui, vai nos ser fornecida pelo processo do silogismo:
a) maior: Sabedoria, Fora e Beleza so princpios metafsicos oriundos da teoria das
Idias Eternas de Plato, e isto uma evidncia,
b) menor: o Fogo o elemento mais imaterial e mais puro entre os quatro elementos
do Hermetismo, pois que no tolera praticamente nada de grosseiro em seu
seio, e o purificador por excelncia, e isto tambm uma evidncia,
e) concluso: os trs tocheiros enquadrando o quadrilongo constituem por suas
flamas a mais alta forma de representao desses trs princpios metafsicos:
Sabedoria, Fora, Beleza.
CORRESPONDNCIAS ANALGICAS DE UM SILOGISMO
Maior Sabedoria Pensamento Lgica Linha Um
Menor Fora Palavra Retrica Superfcie Dois
Concluso Beleza Ao Gramtica Volume Trs