Regulação Emocional em Psicoterapia

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REGULAO EMOCIONAL EM PSICOTERAPIA

ROBERT L. LEAHY
DENNIS TIRCH
LISA A. NAPOLITANO

1. POR QUE A REGULAO EMOCIONAL IMPORTANTE
Todos ns vivenciamos emoes de vrios tipos e tentamos lidar com
elas de maneiras tanto eficazes quanto ineficazes. importante entendermos
que emoes compreendem um conjunto de processos como, avaliao,
sensao, intencionalidade (um objeto), sentimento (ou qualia),
comportamento motor e, geralmente um componente interpessoal. Ex: ao ter a
emoo ansiedade, voc reconhece que est preocupado com o fato de que
no conseguir concluir o trabalho a tempo (avaliao), o ritmo cardaco
acelera (sensao), voc se concentra em sua competncia (intencionalidade),
tem sentimentos terrveis em relao vida (sentimento), torna-se fisicamente
agitado e inquieto (comportamento motor) e pode muito bem dizer a seu
parceiro que est em um dia ruim (interpessoal).
A regulao emocional pode envolver reestruturao cognitiva,
relaxamento, ativao comportamental ou estabelecimento de metas,
tolerncia aos esquemas emocionais e afetos, mudanas comportamentais e
modificao das tentativas problemticas de obter validao. Tudo ir
depender de qual o foco do problema do cliente. Se a sensao de que uma
situao insuportvel, por exemplo, o terapeuta pode considerar
reestruturao cognitiva ou resoluo de problemas para colocar as coisas em
perspectiva e considerar possveis modificaes da situao estressante.
Na cultura ocidental as emoes so altamente valorizadas. claro que
existe a gama de filsofos que reverenciam a cognio como sendo o foco de
nossa ao, porm existem aqueles que do primazia s emoes e esta
dicotomia se v explicita nas diversas formas de psicoterapia (um exemplo
disto a clssica distino de tcc de Aaron Beck e da Centered Person
Therapy). J na filosofia oriental o budismo prega a existncia de emoes
construtivas e destrutiva e ainda diz que o homem deve vivenciar ambas sem
se ater a nenhuma.
1.1 O QUE REGULAO EMOCIONAL
Indivduos que vivenciam situaes estressantes lidam com as emoes em
intensidades crescentes. A forma como ele lida com essas emoes ir resultar
em comportamentos problemticos ou adaptativos. medida que o estressor
se torna mais frequente e a emoo mais intensa podem surgir reaes
problemticas que visam diminuir temporariamente a INTENSIDADE destas
emoes, ou seja, neste caso o indivduo estilo problemtico de enfrentamento
(uso abusivo de lcool ou outras drogas). Este mtodo de enfrentamento
bastante eficaz como medida temporria, porm, esta mesma soluo pode se
tornar um problema secundrio. O indivduo pode passar a ruminar a causa de
seus problemas o que o ir levar fatalmente a uma depresso. Ou ainda pode
passar a atacar outras pessoas e isto o afastar de um ambiente social.
Definimos ento desregulao emocional como a dificuldade ou inabilidade
em lidar ou processar emoes. Pode se manifestar como intensificao
excessiva ou desativao excessiva das emoes. Qualquer aumento de uma
emoo que seja sentida pelo indivduo como indesejada pode ser entendida
como intensificao excessiva, so os casos de pnico, terror, trauma e outros.
Neste caso o indivduo se sente sobrecarregado e tende a no tolerar estas
emoes. A desativao emocional, caracterizada pela esquiva, um estilo de
enfrentamento que impede o processamento emocional. Inclui experincias
dissociativas, como despersonalizao e desrealizao, ou ciso ou
entorpecimento emocional em situaes nas quais normalmente se esperaria
que as emoes fossem sentidas em alguma intensidade ou magnitude. Vale
lembrar que em alguns momentos pode ser interessante suprimir ou desativar
a emoo, como o caso de uma reao inicial a um evento catastrfico que
pode ser mais adaptativa pela supresso instantnea do medo, de modo que a
pessoa possa lidar com a situao no momento.
A regulao emocional no problemtica ou adaptativa, apenas uma
forma de enfrentamento. Ela pode ser extrema levando a uma situao quente
demais ou fria demais, o que ir definir o contexto em que usado o
enfrentamento e a situao em si.
O termo adaptao usado para definir uma implementao de estratgias
de enfrentamento adaptativas que incrementam o reconhecimento e
processamento de reaes teis que estimulam, tanto a longo quanto a curto
prazo, um funcionamento mais produtivo, definido por metas e propsitos
valorizados pelo indivduo. Existem ento vrias formas de se lidar com
emoes, em algumas vezes elas levam a comportamentos adaptativos e em
outras leva a comportamentos problemticos como abuso de lcool e
automutilao.
1.2 O PAPEL DA REGULAO EMOCIONAL EM VRIOS
TRANSTORNOS
A regulao emocional vem sendo muito utilizada nos ltimos anos. No
tratamento de fobias ela utilizada atravs da ativao do medo e exposio
para dessensibilizaro do estmulo. bastante fcil de perceber que a
habituao ao sentimento do medo ir diminuir a intensidade com que o
estmulo percebido como desprazeroso. Este novo aprendizado deve levar
em conta que o estmulo temido prev uma ascenso e uma queda, no
devendo assim o estmulo ser to temido. Sentimentos intensos podem ser
tolerados medida que sua intensidade diminui.
Ela tambm est envolvida no tratamento do TAG. Acredita-se que o TAG
seja um transtorno marcado principalmente pela preocupao excessiva e pela
crescente excitao fisiolgica. Apesar de a preocupao excessiva possuir
vrios componentes, descobriu-se que a esquiva emocional um componente
central na ativao e perpetuao da preocupao. Da mesma forma
demonstrou-se que a ruminao (pensamentos negativos repetidos sobre o
passado ou o presente) um estilo cognitivo de alto risco para a depresso e
tambm foi definida como uma estratgia de esquiva emocional ou
experiencial. Hayes acredita que a esquiva experiencial um processo
subjacente a diversas formas de psicopatologias. Porm em alguns estudos foi
comprovada a eficcia da supresso emocional, como no impacto de assistir a
um evento traumtico em vdeo. Alm disso, a supresso emocional no est
associada compulso alimentar. J no caso de pacientes depressivos viu-se
grande melhora nos sintomas com a simples expresso das emoes. Estes
pacientes durante 6 semanas foram orientados a escrever sobre suas emoes
e viu-se um decrscimo dos sintomas. O simples ato de ativar, expressar e
refletir sobre as emoes pode trazer melhora da depresso (catarse).
A regulao emocional pode ajudar em transtornos alimentares com
pacientes que recorrem a comportamentos problemticos (comer
compulsivamente, purgar, beber, multilar-se) por no saber o que fazer para
lidar com as emoes.
No trabalho de controle da raiva a regulao emocional bastante usada.
Estes indivduos apresentam um intenso aumento das sensaes de ativao
(frequncia cardaca, tenso fsica) juntamente com avaliaes, estilos de
comunicao e aes fsicas inadequadas.
Na automutilao existe uma desregulao emocional criada por um estilo
de enfrentamento problemtico. O sujeito se automutila e libera endorfinas, o
que temporariamente suprime a intensidade emocional negativa da ansiedade
e da depresso.
O primeiro e mais abrangente trabalho terico a ressaltar o papel da
desregulao emocional em um transtorno clnico especfico foi o de Linehan
com o Transtorno de Personalidade Boderline (TPB). Linehan conceitua o TPB
como um transtorno de desregulao emocional difusa que resulta da
combinao de vulnerabilidade biolgica s emoes e um ambiente
desfavorvel por parte dos cuidadores. Com um ambiente que no favorea o
desenvolvimento correto emocional o individuo vulnervel emocionalmente
pode recorrer a estratgias mal-adaptativas como forma de escapar ou diminuir
a intensidade das emoes. Para Linehan o centro do TPB seria a esquiva
emocional, e o indivduo seria emocionalmente fbico.
H ampla variedade de estratgias reguladoras de emoes que podem ou
no ser teis. As mais utilizadas em vrios transtornos so ruminao, seguida
por esquiva, resoluo de problemas e supresso: h relativamente menos
nfase na reavaliao e aceitao.
Resumindo, regulao emocional faz parte de diversos transtornos e pode
ser utilizada da mesma forma para trata-los. O indivduo que sofre ao vivenciar
suas emoes pode fazer uso das estratgias adaptativas de regulao
emocional.

1.3 O VALOR DAS EMOES

As emoes ajudam-nos a avaliar alternativas e motivando para mudar ou
fazer algo, e revelam nossas necessidades. Indivduos com leso cerebral nas
reas que conectam razo e emoo podem conseguir avaliar racionalmente
prs e contras, mas no ser capazes de tomar decises. De fato comprovado
que a maior parte de nossas decises no so tomadas com base na avaliao
de evidncias e sim na heurstica (regras de experincia) e que as emoes
constituem a heurstica com a qual contamos. Ao contrrio do que se pensava
com base no modelo racionalista, as tomadas de decises viscerais tendem a
ser mais rpidas, eficientes e precisas.
A capacidade de reconhecer e avaliar emoes imprescindvel para um
comportamento social. Os indivduos autistas tm dificuldade nesta rea o que
gera dificuldades no comportamento interpessoal.
Ainda existe a ALEXTIMIA, que a incapacidade de reconhecer,
classificar, diferenciar e fazer conexes entre as emoes. So vrios os
problemas em que ela est presente como TAG, TEPT, abuso de substncias,
transtorno de alimentao e outros. As famlias que no encorajam a livre
expresso de emoes tm maior probabilidade de gerar crianas alextmicas.
A inteligncia emocional compreende quatro fatores:
1. Perceber e classificar emoes;
2. A habilidade de usar as emoes para tomar decises e
esclarecer valores e metas;
3. Compreender a natureza das emoes, descartando
interpretaes negativas acerca delas, e
4. A forma como as emoes podem ser manejadas e controladas.
As tcnicas de regulao emocional reconhecem o papel central da
inteligncia emocional. Este livro oferece uma teoria integrativa e abrangente
que incorpora cada uma dessas tcnicas: a teoria do esquema emocional,
estratgias e metas que podem ser utilizadas para lidar com as emoes. A
Teoria do Esquema Emocional (TEE) utilizada como conceituao de caso.

1.4 NEUROBIOLOGIA DAS EMOES

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