Homilia Sobre A Santa Ceia
Homilia Sobre A Santa Ceia
Homilia Sobre A Santa Ceia
porque “É um nome judeu, uma vez que procede do termo original judai- 2 Ibid., p. 415.
ros Evangelhos. 3 No entanto, a Carta que mais nos explica a prática necessários...”. 8 Neste caso, a Ceia ocorria apenas após a refeição
da Ceia no primeiro século é a primeira do Apóstolo Paulo à Igreja comum. 9
de Corinto, no seu capítulo 11. Mas quem lê esses textos logo per-
6. Sobre quem presidia o rito da Ceia devemos ensinar que e-
cebe que eles não nos dão um panorama completo de como era rea-
ram os ministros regulares de cada região. Talvez na ausência de-
lizada a Ceia naquele tempo. Por isso, o historiador Russel Cham-
plin ensina que “Nossas informações sobre a natureza exata da cerimônia les, algum crente ordinário pudesse presidir a reunião. 10 A idéia de
da ceia do senhor não são muito grandes, pelo que várias coisas permane- que somente os ministros autorizados poderiam presidir a Ceia do
Senhor foi determinada por Clemente de Roma, que teria sido o 4º
cem a respeito que continuam um tanto incertas.” 4
bispo de Roma, no fim do primeiro século. 11 Em sua primeira Carta
5. É possível, em termos de prática, que existia uma múltipa a Igreja de Corinto ele diz que “... é nosso dever cumprir em boa ordem
forma 5 de se celebrar a Ceia, cada uma em certas regiões do mundo tudo aquilo que o Senhor nos ordenou fazer (...) Ele estabeleceu, por sua
cristão primitivo. 6 A que Paulo se refere em I Co. 11 talvez fosse suprema autoridade, onde e por quem devem ser celebradas as funções
uma “... festividade, uma refeição, provavelmente em imitação à celebração litúrgicas] (...) ao sumo sacerdote foram confiadas suas funções litúrgi-
da Páscoa pelos judeus.” 7 O nome que se dava a esta festa era agapae cas próprias (...) o leigo está ligado aos encargos leigos.” 12 Claro que,
que significava “festa do amor”. Esta festa acompanhava a Ceia do onde Clemente diz “sumo sacerdote”, devemos interpretar como
Senhor e nela era comum que “... o povo tr[rouxesse] os ingredientes “ministro autorizado pelo Senhor”, isto é, o líder da Igreja local,
devidamente instalado em seu cargo.
13. Só que o próprio Pascásio teve que assumir que sua posi- 16. O II Concílio de Lião, em 1274 também disse que no sa-
ção era bem misteriosa porque mesmo após a consagração, o que se cramento da Ceia “... o pão é verdadeiramente transubstanciado no corpo
via e sentia era um pedaço de pão e um pouco de vinho. Para os e o vinho no sangue de nosso Senhor Jesus Cristo.” 24 E finalmente, o
que o perguntavam sobre isso ele passou a defender que o símbolo auge desta doutrina na Igreja Medieval foi o Concílio de Trento,
se restringia apenas ao que é externo, isto é, o pão e o vinho. Já a ocorrido entre 1545 a 1563. Ele definiu a transubstanciação assim:
realidade, isto é, o corpo e o sangue, ocorreriam apenas interna- “Ora, porque Cristo, nosso redentor, disse que aquilo que se oferecia sobre
mente, isto é, dentro do homem. 20 a espécie do pão (...) era verdadeiramente o seu corpo, existiu sempre na
Igreja de Deus a persuasão que este santo Concílio novamente declara: pela
14. Mesmo com bastante críticas, os ideais de Pascásio foram
sendo desenvolvida até chegar na concepção medieval da Ceia do
21IV Concílio de Latrão (12º ecumênico): 11 – 30 nov. 1215. In: Heinrich DENZIN-
Senhor que é resumida no termo “transubstanciação” que significa:
GER; Peter HÜNERMANN. (Orgs.). Compêndio dos símbolos, definições e decla-
“mudança da substância.” Esta doutrina é aceita pela Igreja Católi-
rações de fé e moral. Cap. 1. A fé católica: Definição contra os albigenses e cáta-
ca Romana até os dias de hoje. Vejamos de uma maneira breve co- ros, 802, p. 284.
mo os Concílios da Igreja Católica expõe esta doutrina:
22
Cf.: BENTO XVI, Sacramentum Caritatis, Introdução, 1, p. 7.
15. O IV Concílio da cidade de Latrão, em 1215 escreve que o
23
Tomás de Aquino apud CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. 9. ed. [Revisada de
corpo e o sangue de Cristo “... são contidos verdadeiramente no sacra-
acordo com o texto oficial em latim]. São Paulo – SP: Loyola, 2006. Segunda
parte, segunda seção, cap. I, Art. 3, V,1381, p. 381.
18 Cf.: Louis BERKHOF, Teologia sistemática, p. 596. 24
II Concílio de Lião (14º ecumênico): 7 mai. – 17 jul. 1274. In: Heinrich DENZIN-
19 GER; Peter HÜNERMANN. (Orgs.). Compêndio dos símbolos, definições e decla-
Bengt HAGGLUND, História da Teologia, p. 131.
rações de fé e moral. 4ª sesão, 6 jul. 1274: Carta do imperador Miguel ao Papa
20 Cf.: Ibid., p. 132. Gregório: Profissão de fé do imperador Miguel Paleólogo, 860, p. 303.
consagração do pão e do vinho realiza-se uma mudança de toda a substân- localmente presente na Ceia, está, contudo, presente, e é desfrutado em sua
cia do pão na substância do corpo de Cristo, nosso senhor, e de toda a subs- presença completa, corpo e sangue.” 27 Esta presença de Cristo seria
tância do vinho na substância de seu sangue. Esta mudança foi denomina- então, espiritual, e isso significa que o pão e o cálice quando distri-
da, convenientemente e com propriedade, pela santa Igreja católica, tran- buídos na Ceia do Senhor, continuam sendo o que são em essência,
substanciação.” 25 isto é: pão e vinho ou suco de uva.
17. Percebemos neste anunciado que o seu primeiro erro está 19. É interessante sabermos que toda a teologia da Ceia de
na referência de que a doutrina romana da transubstanciação foi Calvino é pautada pelo ensino bíblico da união mística que o cristão
sempre presente na vida da Igreja. O Concílio de Trento se esque- tem com Cristo. “Ele dá ênfase à união mística dos crentes com a pessoa
ceu gravemente que Agostinho, um dos principais teólogos antigos, completa do Redentor. (...) [Calvino] parece querer dizer que o sangue e
conforme já vimos, jamais defendeu a doutrina da transubstancia- o corpo de Cristo, embora ausentes e localmente presentes só no céu, co-
ção. E o segundo erro, vai ser respondido pela nossa visão calvinis- municam uma influência vivificante ao crente, quando ele está no ato de
ta sobre os elementos da Ceia do Senhor. Este será o nosso último receber os elementos.” 28
ponto.
20. Por isso o ato em si da Ceia é importantíssimo para os cris-
tãos, mesmo quando cremos que Cristo não está presente de forma
IV – A CEIA PARA O REFORMADOR JOÃO CALVINO real ou transubstancial nos elementos dela. Cristo está verdadeira-
mente presente na ceia e nos edifica quando dela participamos. De-
vemos então nos preparar para ela em santidade de vida diante de
18. João Calvino ao falar da Ceia na história diz que “’Pouco Deus para que ele nos vivifique mediante a Ceia. Calvino ainda diz
tempo depois da era apostólica, a Ceia do Senhor ficou como que enferruja- que “Abençoamos o alimento que comemos para a nutrição de nosso corpo
da por causa das invenções humanas.’” 26 Ele negava que a presença de a fim de o recebermos legitimamente e sem qualquer impureza; mas consa-
Cristo fosse transubstancial conforme ensinava a Igreja Católica. Ao gramos o pão e o vinho na Ceia do Senhor, de uma forma muitíssimo mais
invés disso, ele defendeu a presença espiritual de Cristo nos ele- solene, para que sejam nossos penhores do corpo e do sangue de Cristo.” 29
mentos da Ceia ensinando que “... Cristo, embora não corporal nem
21. Sendo assim sigamos o conselho de Calvino e nos prepa-
remos da melhor maneira possível da Ceia do Senhor sabendo de
25 Concílio de Trento (19º ecumênico): 13 dez. 1545 – 4 dez. 1563. In: Heinrich
DENZINGER; Peter HÜNERMANN. (Orgs.). Compêndio dos símbolos, definições
e declarações de fé e moral. 13ª sessão, 11 out. 1551: Decreto sobre o sacramento 27 Louis BERKHOF, Teologia sistemática, p. 603.
da eucaristia. Cap. 4 – A transubstanciação, 1642, p. 422.
28 Ibid., p. 603.
26Santa Ceia. In: COSTA, Hermisten M. P. da. Calvino de A a Z. São Paulo – SP:
29 Santa Ceia. In: Hermisten M. P. da COSTA, Calvino de A a Z, p. 259.
Vida, 2006. p. 259. (Coleção “Pensadores Cristãos”).
que tipo de alimento nós participamos. Encerramos esta mensagem
com a advertência de Paulo aos Coríntios quando ele afirma: “27 …
aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente,
será réu do corpo e do sangue do Senhor. 28 Examine-se, pois, o ho-
mem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice; 29 pois
quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si.”
(I Co. 11: 27 – 29).
CONCLUSÃO