Poltica Social: Fundamentos E Histria

Apresentao A obra trata de uma anlise e discusso em torno da poltica social, sua gnese e de como esta foi desenvolvendo durante os perodos histricos, bem como a sua relao com a luta de classes e as expresses da questo social. Descrio do Contedo/Anlise Crtica A poltica social sempre suscita hipteses de uma perspectiva terico-metodolgica, que segundo as autoras, se relacionam com perspectivas polticas, bem como as vises sociais de mundo. Alm do mais, todos os debates acerca da poltica social carecem de dimenses instrumentais e tcnicas, configurando-se apenas como descritivos. No texto feito um panorama sobre as grandes matrizes do pensamento social, perpassando os autores e respectivas correntes que contriburam para a anlise da poltica social. A exemplo, temos a perspectiva funcionalista, onde feita uma aluso s idias de Durkheim e, a perspectiva do idealismo, contempla as idias de Weber. A contribuio da tradio Marxista foi de grande importncia para a abordagem das polticas sociais, tendo em vista que, o enfoque dialtico deve considerar sua mltipla causalidade, as conexes internas, as relaes entre suas diversas manifestaes e dimenses.(p.43) As sociedades pr-capitalistas j tinham iniciativas de responsabilidades sociais, mas estas no visavam garantir o bem comum, e sim, legitimar a ordem vigente poca. Essas iniciativas apresentavam sinais de assistencialismo, podendo ser identificadas como as protoformas da poltica social. O texto discorre sobre algumas legislaes, desenvolvidas no perodo anterior Revoluo Industrial, as quais exerciam coero sobre os trabalhadores com o objetivo de proibir a livre circulao da fora de trabalho. Toda essa coero levou ao crescimento do pauperismo, acentuando as expresses da questo social, entendida como o conjunto de expresses derivadas das relaes de explorao do capital sobre o trabalho. Nesse contexto, as massas de trabalhadores, to exploradas pela classe dominante, ao reivindicarem por melhores condies de trabalho, fizeram surgir novas regulamentaes sociais por parte do Estado, o que nos leva a crer que a poltica social surge atrelada s expresses da questo social. Um aspecto importante a ser ressaltado no texto, a legislao fabril no sculo XX, como precursora do papel que cabe ao Estado, no que se refere aos direitos sociais. Posterior a esse perodo, h um predomnio do liberalismo, onde o Estado tende a ausentar-se das suas obrigaes, cumprindo apenas algumas funes bsicas e onde os indivduos deveriam agir pelo seu prprio interesse econmico. Ainda no sculo XX, o Estado foi incorporando princpios sociais democratas, diminuindo a intensidade dos princpios liberais, cedendo espao ao Estado Social, aonde pode ser visto que a organizao e presso por parte da classe trabalhadora foi fundamental para o surgimento das polticas sociais. A fase madura do capitalismo foi marcada nos seus primeiros 30 anos por uma grade expanso, altas taxas de lucros, ganhos de produtividade para as empresas e polticas scias para os trabalhadores. nesse contexto que se ergue o Estado social mos

diferentes formatos histricos que adquiriu. Esse perodo foi denominado de anos gloriosos ou anos de ouro. No final dos anos de 1960 esse perodo comea a dar sinais de esgotamento. Preocupado com a crise de 1929, John Maynard Keynes (1883 1946) defende a interveno Estatal na economia afim d reativar a produo. Keynes rompe parcialmente com os princpios liberalistas e propunha a mudana da relao do Estado com o sistema produtivo. Com o keynesianismo, que sugeria sadas capitalistas para a crise do prprio capitalismo, o Estado torna-se produtor e regulador, sem abandonar o capitalismo e a defesa da socializao dos meios de produo. Defendia a liberdade individual e a economia de mercado. Keynes questionava alguns pressupostos clssicos e neoclssicos da economia poltica. Considerava insuficiente a Lei dos Mercados, segundo a qual a oferta cria a demanda, o que impossibilitava uma crise geral de superproduo e colocava em questo o conceito de equilbrio econmico. Ele dizia que as escolhas individuais entre investir ou entesourar, poupar ou comprar, poderiam gerar situaes de crise em que haveria insuficincia de demanda efetiva e desemprego. Essa demanda efetiva a capacidade de pagamento dos servios e bens. Quando h insuficincia de demanda efetiva pode se gerar uma crise. Diante disso o Estado, atuando como agente externo em nome do bem comum possui legitimidade para intervir, por meio de uma srie de medidas econmicas e sociais, para disponibilizar meios de pagamento, dar garantias ao investimento e restabelecer o equilbrio econmico. No keynesianismo o fundo pblico passa a ter um papel ativo na produo e regulao das relaes econmicas e sociais, intervindo na rea econmica e nas reas sociais, principalmente para pessoas consideradas incapazes para o trabalho, como idosos, crianas e deficientes. Ao keynesianismo se agrega o pacto fordista de produo em massa para o consumo em massa. O fordismo vai alm de uma mudana tcnica com a introduo da eletricidade e da linha de montagem. Foi uma forma de regulao das relaes sociais. Ford trazia uma perspectiva que combinava produo em massa com consumo em massa, o que gerou um novo sistema de reproduo da fora de trabalho e uma nova poltica de controle e gerencia de trabalho, um novo tipo de sociedade democrtica, racionalizada, modernista e populista. A juno do keynesianismo com o fordismo constitui a base do processo de acumulao acelerada de capital no ps-1945, o que permite a economia norte americana sair da guerra sem grandes perdas fsicas e com capacidade de investimento e compra de matrias-primas. O consenso do ps-guerra foi capaz de estabelecer uma aliana entre as classes. Isso se deu devido ao abandono do projeto de socializao da economia, por grande parte da classe trabalhadora. Esse consenso possibilitou o estabelecimento de polticas mais universalizadas, aumento de recursos para os benefcios sociais e a expanso do chamado Welfare State.

Os princpios que estruturam o Welfare State, segundo Mishra so: responsabilidade estatal na manuteno das condies de vida dos cidados, universalidade dos servios sociais e implantao de uma rede de segurana de servios de assistncia social. J Johnson define o Welfare State como: introduo e ampliao de servios sociais (seguridade social, servio nacional de sade, servios de educao, habitao, emprego e assistncia ao idoso, a crianas e a deficientes), manuteno do pleno emprego e um programa de nacionalizao. Essas polticas sociais foram expandidas no segundo ps-guerra e teve a interveno estatal nas relaes sociais e econmicas como fator decisivo. O Brasil passava por um momento de efervescncia com a Semana de Arte Moderna. Tambm era um momento de greves e mobilizaes e tambm de insatisfao poltica dos empresrios que no estavam ligados ao caf e que no possuam poder para garantir seus interesses. No Brasil a economia e a poltica foram abaladas pelos acontecimentos ocorridos nas trs primeiras dcadas do sculo XX e ainda mais quando acontece a expanso das relaes capitalistas aps a crise de 1929-1932. Nos anos 80 via-se a taxa de lucros restabelecida e a taxa de crescimento em queda. As polticas keynesianas tiveram grande importncia nesse perodo. Porm, ainda na dcada de 80, j entra um novo perodo onde houve a ascenso dos neoliberais conservadores nos EUA e Inglaterra, com medidas que visavam restaurar o lucro, triunfando nos anos 90, acentuado pela queda do Muro de Berlim. Mas ainda antes de 1995, houve um novo perodo marcado pela diferenciao entre a taxa de lucros e a taxa de crescimento. J a luta de classes inerente essa dinmica e os incio e fins de crise baseiam-se em uma radical historicidade do capitalismo. Husson tambm expe sua viso acerca da misria: para ele, no h superao entre produo e consumo, ou seja, a produo deve adequar-se ao consumo, o que no costuma ocorrer, gerando o problema da realizao, que tem duas alternativas possveis. Uma a promoo de um crescimento da acumulao maior que o do produto social, e a outra seria promover novas sadas para o escoamento de produtos de procura primria. O capitalismo atual tem suas peculiaridades, como a queda da procura por bens fordistas, junto com a no procura por bens fordistas. Assim, a acumulao capitalista deve assegurar condies de reproduo e orientar-se para esferas portadoras de altos ganhos de produtividade. Voltando aos anos 80, houve uma revoluo tecnolgica e organizacional na produo, caracterizada pelo desemprego estrutural, implicando na desorganizao poltica dos operrios, bem como a chamada mundializao da economia, combinada aos fatores anteriormente citados e aos ajustes neoliberais. Os anos de ouro foram marcados por algumas reformas democrticas, porm, o perodo posterior desestruturou tudo o que foi conquistado, especialmente os direitos sociais.

A mundializao do capital um resultado evitvel de fatores econmicos refratveis ao poltica. Logo veio a crise do modelo keynesiano, que s se reergueu com o advento das polticas sociais. J no perodo ps 1970, houve um grande avano das idias neoliberais. O neoliberalismo, segundo Anderson, surgiu aps a Segunda Guerra Mundial, porm, entre 1945 e 1970, devido ao crescimento econmico, surgiram possibilidades para a expanso de idias neoliberais. Segundo Anderson e Navarro, entre 1969 e 1973, houve o avano de tais idias, que passaram a se difundirem em vrios pases como Inglaterra, EUA, Dinamarca e Alemanha, por exemplo. Porm a hegemonia do neoliberalismo, ocorrida nos anos 80, no pde resolver o problema do capitalismo. Ao contrrio: tais medidas destruam as condies de vida da classe trabalhadora. Alm disso, o fracasso do neoliberalismo tambm fica evidente ao analisar o baixo crescimento econmico da dcada de 80. Por outro lado, a inflao diminuiu e houve o aumento da taxa lquida de lucros. Outro problema gerado pelo neoliberalismo foi o aumento do desemprego, devido reduo dos postos de trabalho e a desacelerao na criao de novos empregos. Essas altas taxas de desemprego provocaram desigualdades sociais, agravadas por mudanas no campo do financiamento e dos gastos pblicos, bem como a reduo nas contribuies para a seguridade social. E a partir de 80 que percebe-se a estagnao dos gastos sociais, mesmo com o aumento dos gastos pblicos. Murand tambm concorda com as idias de Navarro, porm acrescenta a retrao na arrecadao de impostos fiscais indiretos. Ambos concordavam que as medidas neoliberais agravavam as desigualdades sociais e a concentrao da riqueza social, tendncias que perduram at a dcada de 90 e incio dos anos 2000. Todos os ltimos fatores citados anteriormente tm provocado alteraes nas polticas sociais, que refletem-se na criao de programas de transferncia de renda. J o sculo XXI inicia-se com significativas alteraes nas polticas sociais dos pases capitalistas centrais, trazendo traos restritivos e focalizados, desviando seu objetivo no ps guerra, tornando seu futuro polmico. Os acontecimentos histricos no Brasil nunca acompanharam os acontecimentos internacionais, apesar de atrelarem-se de alguma maneira: enquanto nos demais pases ocorria a reao burguesa, no Brasil ocorria a ditadura militar e o milagre econmico. Depois, veio a poca de produo em massa, iniciando ainda em 1955, com o Plano de Metas. Os trabalhadores chegavam mais prximo do sonho da casa prpria e do carro, por exemplo, Nesse perodo, expandiu-se o campo das polticas sociais. A Ditadura Militar remodelou a modernizao conservadora, bem como a questo social, que passou a ser tratada atravs do binmio represso/assistncia. Foi nesse perodo que houve um incremento na Poltica Social brasileira, que baseava-se na ampliao e uniformizao da previdncia social, atravs do Instituto Nacional de Previdncia Social (INPS). Em 1974 criou-se o Ministrio da Previdncia e Assistncia Social, que em 1977 transformou-se em Sistema Nacional de Assistncia e Previdncia Social, mais organizado e compreendendo a previdncia, assistncia e

sade, bem como o incentivo industria de medicamentos e equipamentos mdicohospitalares. Ainda em 1974, comeam a aparecer os primeiros sinais de esgotamento do sistema vigente. Assim, os anos seguintes se abriram lenta e gradualmente para a democracia, com aproximao s idias neoliberais, incorporadas tardiamente. J os anos 80 foram marcados pela queda no crescimento econmico e pela conquista de direitos provenientes da Constituio de 1988, apesar de manter elementos conservadores. Porm, essa queda no crescimento econmico dificultou o ingresso do Brasil na 3 Revoluo Industrial. Alm disso, crescia-se a dvida externa e o gasto pblico passou a ficar desequilibrado, restando como sada a emisso de taxas de ttulos de vida, o que elevava os juros e aumentava a inflao. Os efeitos dessa crise tambm refletiram nos pases da Amrica Latina e aps ela, impunha-se o discurso da necessidade dos ajustes e planos de estabilizao, que acabaram sendo pagos pelos pases mais pobres e que no Brasil no foram capazes de reverter a crise. Assim, o pas chegava dcada de 90 destrudo pela inflao. O processo de redemocratizao ocorria com forte contedo reformista, trazendo contribuies democratizantes. Apesar destes avanos, as polticas sociais ainda estavam embutidas de conservadorismo. Com todos os estudos realizados vimos que no sculo XX ocorreram vrias transformaes na sociedade capitalista no mundo todo. Essas mudanas consistiam em novas formas de produzir e se relacionar em sociedade. Com isso o Estado capitalista sofreu tambm grandes transformaes, principoalmente no eu se refere sua a relao com a sociedade, onde mudou para Estado Liberal, Welfare State e o Estado Neoliberal. Nesse contexto, no podemos deixar de entender que as polticas sociais, surgidas como respostas s expresses da questo social, dentro do contexto neoliberalista, tendem focar somente no indivduo e no mais nos direitos sociais. Dessa forma, o Estado favorece mais aos interesses do capital do que aos direitos humanos. Com isso, a questo social se torna objeto de aes meramente filantrpicas, no mais decorrentes do Estado, sendo substitudas por aes de combate pobreza. Recomendao da Obra A obra indicada a todos que desejam conhecer mais sobre as polticas sociais e seus processos histricos; aos alunos de graduao e/ou professores de Servio Social, bem como profissionais de qualquer outra formao, pois o livro abrange no apenas questes sobre poltica social, mas sobre o cotidiano de maneira crtica e atual. Identificao da(s) Autora(s) Elaine Rossetti Behring: professora adjunta do Departamento de Poltica Social da Faculdade de Servio Social da UERJ; doutora em servio social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas do

Oramento Pblico e da Seguridade Social e membro do Centro de Estudos Octvio lanni. Atualmente Diretora da Faculdade de Servio Social da UERJ e autora de livros e diversos artigos na rea da poltica social; Ivanete Boschetti: professora adjunta do Departamento de Servio Social e coordenadora do Programa de Psgraduao em Poltica Social da UNB.