Trauma e Sintoma Da Generalização À
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VERA BESSET, SUSANE ZANOTTI, MARINA VIEIRA, LUCIANA COSTA, GABRIELLA SILVA, BRUNA BRITO E ADRIANA MALUF
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RESUMO
Em sua origem grega, a palavra trauma remete a ferida. Para a psicanlise, o trauma a marca do encontro de um sujeito com o sexual. Sendo assim, vivncias traumticas esto na base da formao do sintoma, que rene efeitos positivos e negativos do trauma e em que se observa a expresso preponderante, ora de uma, ora de outra tendncia. Nessa concepo, o sintoma pode ser entendido como o tratamento que cada sujeito confere ao trauma. Em seu tratamento, a clnica psicanaltica opera particularmente sobre tais efeitos, que esto na base da fixao do sujeito em dada posio, num modo singular de satisfao. Essa proposta implica a responsabilidade do sujeito face ao que Freud nomeou escolha da neurose. Em contraponto com isso, observa-se, em nossos dias, a busca de uma certa padronizao do traumtico, remetido a catstrofes mundiais ou individuais, de modo generalizado. Essa abordagem apresenta-se em consonncia com uma psiquiatria orientada pelo DSM-IV, que prope uma descrio objetiva do traumtico, na qual o sintoma concebido como transtorno. Como conseqncia, h uma tendncia des-responsabilizao dos sujeitos face a seu prprio sofrimento e segregao destes em grupos de traumatizados. Nesse contexto, a psicanlise ainda aposta nas ferramentas deixadas por Freud: fazer falar o sujeito sobre aquilo que o faz sofrer. E, em resposta s exigncias de nosso tempo, psicanalistas de inspirao lacaniana no recuam frente ao atendimento de traumatizados, como indicam dados de experincias recentes. Neste artigo, valemo-nos de alguns subsdios terico-clnicos encontrados na obra freudiana para aprofundar a abordagem do trauma na clnica psicanaltica, atualizados pela referncia a autores contemporneos, inspirados no ensino de Lacan. Palavras-chave: trauma, sintoma, psicanlise, traumatizados, tratamento.
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ABSTRACT
In its Greek origin, the word trauma refers to wound. For psychoanalisys, trauma is a mark of the encounter of the subject with the sexual. Therefore, traumatic experiences are on the basis of the symptom formation which gathers positive and negative effects of the trauma and where we can observe the preponderant expression of one or other of these tendencies, alternatively. In this conception, the symptom can be understood as the treatment that each subject gives to the trauma. In its treatment, the psychoanalitic clinic works particularly under these effects that are on the base of subject fixation in a specific position, in a singular mode of satisfaction. This proposal implicates the responsability of the subject face to what Freud named the choice of neurosis. However, in our days, we observe a search in order to standardize the traumatic, which is referred to global or individual catastrophes, in a generalized way. This approach presents itself in consonance with a psychiatry oriented by DSM-IV that proposes an objective description of the traumatic, where the symptom is presented as a disorder. Consequently, there is a tendency to take off the responsability from the subjects on the face of their own suffering and the segregation of themselves in traumatized groups. In this context, psychoanalisys still bets on tools left by Freud: make the subject talk about what makes him suffer. And, by answering the exigences of our time, psychoanalysts of lacanian inspiration do not move back due to attendance of traumatized as data of recent experiences indicate. In this article, we use some theoretical and clinic subsidies found in freudians work to go deep in the approach of trauma on psychonalytic clinic, updated by the reference of contemporary authors, inspired in Lacans teaching. Key-words: traumatized, symptom, psychoanalysis, traumatizeds, treatment.
Traumatismos
Em sua origem grega, a palavra trauma remete a ferida. Em nossos dias, a noo de trauma veiculada remete-nos s catstrofes
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mundiais ou individuais de modo generalizado, indicando a busca de uma certa padronizao do traumtico. No incio deste sculo XXI, inmeros eventos fazem com que a discusso a respeito desse tema torne-se relevante. Lembramo-nos, especialmente, das cenas dos avies chocando-se contra o World Trade Center, em 11 de setembro de 2002; das do atentado terrorista que resultou na exploso de um vago de trem em Madrid em 11 de maro de 2004; daquelas referentes ao atentado a uma escola de Beslan, na Rssia em setembro do mesmo ano, dentre outras. So fatos que se enquadram na definio de traumatismo, qual a de trauma nos remete, tal como indicada pelo dicionrio de nossa lngua: choque violento capaz de desencadear perturbaes somticas e psquicas (Buarque de Holanda, 1980, p. 1413). Tal configurao leva um autor, recentemente, a caracterizar os tempos atuais como A era do trauma (Veras, 2004). Na psicanlise, a concepo de trauma est referida a experincias precoces e no a fatos atuais, uma vez que a marca do sujeito confunde-se com o infantil. Em um texto tardio de Freud, Moiss y la religin monotesta , encontramos: Chamamos traumas a essas impresses de precoce vivncia, logo esquecidas, s quais atribumos to grande significao para a etiologia das neuroses (Freud,1939/1986a, p. 70). Nesse contexto, os traumas so vivncias no corpo prprio ou bem percepes sensoriais, o mais das vezes do visto e ouvido, vale dizer, lembranas ou impresses (Idem, p. 72). Dentro dessa perspectiva, a suposio de que as vivncias traumticas se encontram na base da formao dos sintomas que autoriza a pensar em um tratamento do trauma: foi preciso render-se evidncia e reconhecer que na raiz de toda a formao de sintoma se achavam impresses traumticas procedentes da vida sexual precoce (Freud, 1923/1989c, p. 239). Essa relao entre os traumas e os sintomas retomada no texto sobre o monotesmo, supracitado: (os sintomas) so conseqncias de certas vivncias e impresses que reconhecemos como traumas etiolgicos (Freud, 1939/1986a, p. 71). Em nossos dias, distante da proposta freudiana, e mesmo em contradio com ela, a psiquiatria orienta-se pelo DSM-IV (Manual Diagnstico e Estatstico de Transtornos Mentais - Quarta edio), no
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qual o sintoma apresentado como transtorno. Segundo o manual, para que algo se classifique como transtorno, requer-se existncia de prejuzo ou sofrimento clinicamente significativos. Dessa forma, o conjunto de critrios estabelecidos para a maior parte dos transtornos inclui aqueles critrios importantes e clinicamente redigidos como causa-sofrimento ou prejuzo clinicamente significativos na rea social, ocupacional ou em outras reas importantes de funcionamento (APA, 2002, p. 7). Esse manual descreve a categoria denominada Transtorno do Estresse PsTraumtico, conhecida pela codificao F43.1 - 309.81, classificada como um transtorno de ansiedade: Os sintomas caractersticos resultantes da exposio a um trauma extremo incluem uma revivncia persistente do evento traumtico (Critrio B), esquiva persistente de estmulos associados com o trauma, embotamento da responsividade geral (Critrio C) e sintomas persistentes de excitao aumentada (Critrio D). O quadro sintomtico completo deve estar presente por mais de 1 ms (Critrio E) e a perturbao deve causar sofrimento ou prejuzo clinicamente significativo no funcionamento social, ocupacional ou em outras reas importantes da vida do indivduo (Critrio F) (op. cit., p. 449). Ainda, segundo o mesmo manual, os traumatizados apresentariam determinadas formas de reviver o trauma: recordaes aflitivas, sonhos aflitivos e recorrentes, sofrimento psicolgico intenso diante de algo que lembre o evento traumtico e reatividade fisiolgica na exposio a indcios internos ou externos que simbolizam ou lembram algum aspecto do evento traumtico. Pode-se dizer, concordando com Laurent (2004), que o trauma, por essa via de abordagem, algo programvel, passvel de categorizao. Ao mesmo tempo, observa-se que a enumerao dos eventos traumticos contempla eventos atuais e no precoces, infantis, diversamente do que postula a psicanlise. Na descrio do DSM-IV, temos: Os eventos traumticos vivenciados diretamente incluem, combate militar, agresso pessoal violenta (ataque sexual, ataque fsico, assalto mo armada, roubo), seqestro, ser tomado como refm, ataque terrorista, tortura, encarceramento como prisioneiro de guerra ou
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em campo de concentrao, desastres naturais ou causados pelo homem, graves acidentes automobilsticos ou receber o diagnstico de uma doena que traz risco de vida (p. 449). Ao mesmo tempo, buscam-se os circuitos neuronais envolvidos nesse transtorno, j que as causas destes seriam falhas do sistema nervoso central na interpretao, sntese e integrao de episdios emocionalmente impactantes e dolorosos que teriam um papel crtico nas vivncias recebidas como traumticas (van der Kolk, 2001, apud Peres & Nasello, 2005). Assim, a falha e a responsabilidade no seriam do sujeito, mas de uma instncia quase que autnoma, o sistema nervoso. O trauma, ento, poderia ser visto atravs de tcnicas de neuroimagem. Essa descrio objetiva do traumtico inclui fatos que marcam nosso contemporneo, contribuindo para a generalizao do que se nomeia traumtico ou trauma e induz crena na possibilidade de controle dos fatos, em nome do bem-estar humano. Graas a esse tipo de generalizao, o sujeito colocado em posio de vtima e segregado em grupos de traumatizados, o que impede qualquer possibilidade de subjetivao desse trauma. Coerentes com essa definio, tanto a psiquiatria quanto algumas formas de psicoterapia procuram atuar diretamente sobre o episdio traumtico como forma de engessar a parte traumatizada. Mas, focalizando apenas o trauma, essas abordagens deixam de lado o sujeito que possui a ferida aberta com ele. Tomando como exemplo os episdios de ataques terroristas, notamos uma preocupao por parte dos governos e de suas polticas pblicas de sade em dar um tratamento ao evento traumtico. Dispositivos de atendimento psicolgico e psiquitrico so construdos com o intuito de acolher aos que vivenciaram os ataques. Trata-se de abordar uma vivncia tida como traumtica no mbito do para todos, generalizao necessria, quando se trata de medidas urgentes frente aos acontecimentos violentos, que por motivos polticos no podem ser negligenciados. Mas o que cabe ao psicanalista ao receber tais pacientes? H uma especificidade no tratamento dado pela psicanlise ao trauma, considerando sempre o
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caso-a-caso. Discutiremos, adiante, o caso clnico de Minna, uma mulher que busca a Rede Assistencial de Madrid para atendimento psicolgico, depois de escapar ilesa ao atentado terrorista, em maro de 2004. Nesse caso, a partir do encontro com uma psicanalista, possvel verificar como da generalizao se faz um espao para o particular que caracteriza um sujeito, para o que emerge como singular. Veremos em Freud, adiante, alguns subsdios terico-clnicos para aprofundar esse debate, atualizado por dados da clnica e autores contemporneos. Nesse texto, interessa-nos destacar que, se possvel propor um tratamento para o trauma, pela via do sintoma que o fazemos. Na psicanlise, o sujeito convocado a responsabilizar-se por suas escolhas frente s demandas da civilizao. Nela no se trata, como em alguns tipos de psicoterapia, de eliminar o que restou de uma experincia traumtica. Sua proposta seria tratar o trauma a partir da fala, concebendo-o como algo que diz respeito ao encontro com o sexual.
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surgindo somente por meio das chamadas lembranas encobridoras. Referem-se a impresses de natureza sexual e agressiva e por certo tambm a danos temporrios do eu (mortificaes narcisistas) (Idem). Freud tem o cuidado de ressaltar que, nessa poca, as crianas no distinguem as aes sexuais das puramente agressivas. no Projeto, escrito em 1895, que, ao discorrer sobre a proton pseudos2 histrica, Freud (1950/1988a) traz o caso Emma para explicitar a formao do trauma em dois tempos, entre os quais se interpe a puberdade. Vale destacar que, nesse momento embrionrio da psicanlise, Freud esfora-se para explicar o funcionamento do aparelho psquico a partir de uma viso quantitativa, sengundo a qual o prazer estaria ligado descarga e o desprazer ao represamento de energia. Para ele, esse caso tpico para o recalque na histeria. De onde se descobre que recalcada uma recordao que s com efeito retardado ( nachtrglich) tornou-se trauma. A causa desse estado de coisas o retardo da puberdade com respeito ao desenvolvimento restante do indivduo. (p. 403) Vamos ao caso. Emma apresenta uma compulso de no poder entrar em lojas sozinha (Idem, p. 400). Uma recordao atrela-se a esse sintoma. Aos doze anos, logo depois da entrada na puberdade, havia entrado em uma loja para comprar algo e percebeu que os vendedores riam entre eles. Saiu correndo, tomada de um afeto de terror. Sobre isso, lhe sobrevm dois pensamentos: o de que os dois vendedores riam de seu vestido e de que um deles a havia atrado sexualmente. O autor observa que tanto o nexo entre esses fragmentos quanto o efeito que produziram so incompreensveis, j que a maneira como a moa se veste mudou desde ento. No entanto, no curso de seu relato, foi possvel que a paciente associasse essa primeira recordao (cena I) a uma outra, da qual se lembrou posteriormente, ocorrida aos oito anos de idade (cena 2). Nessa ocasio, tinha ido por duas vezes confeitaria comprar guloseimas e o proprietrio beliscou seus genitais atravs de seu vestido. Apesar de esse fato ter ocorrido logo na primeira ida loja, voltou a ela uma segunda vez. Depois, no retornou, mas repreende-se pelo fato de ter
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voltado uma nica vez. Abaixo, reproduzimos o esquema que Freud constri a partir do relato da mocinha. Observe-se que os crculos em branco correspondem a representaes inconscientes e formam um complexo indicado pelas linhas pontilhadas; dele, somente a representao mais inocente acessvel conscincia (Idem, p. 402). Esquema 1
O riso de um dos vendedores fez Emma lembrar-se do sorriso do proprietrio da confeitaria. Foram necessrios, ento, dois tempos para que a primeira cena se tornasse traumtica. Eis sua descrio: Na loja, os dois empregados riem, esse riso evoca (inconscientemente) a recordao do padeiro. A situao apresenta outra semelhana: de novo est sozinha em uma loja. Juntamente com o padeiro recordado o belisco atravs do vestido, porm ela se tornou pbere no intervalo. A recordao desperta (coisa que naquele momento era incapaz de fazer) um estmulo sexual que se transforma em angstia. Com essa angstia, tem medo de que os empregados possam repetir o atentado e escapa (Idem, p. 401). Assim, quando Emma, j na puberdade, lembra dessa primeira cena, o terror que surge de seu prprio desejo. Ter se sentido
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sexualmente atrada por um dos vendedores (cena 1) informa-lhe sobre o que a fez retornar confeitaria, onde fora tocada pelo padeiro (cena 2). , ento, a alterao oriunda da puberdade que permite uma outra compreenso da recordao, despertando um afeto que como vivncia no havia despertado (Idem, p. 403). Ali, onde houve trauma est o sintoma, mas para formar um sintoma histrico tem que estar presente um af defensivo contra uma representao penosa (Freud, 1897/1989b, p. 211-212). Sendo assim, o sintoma seria uma forma de lembrana do trauma: Nossos enfermos padecem de reminiscncias. Seus sintomas so restos e smbolos mnmicos de certas vivncias (traumticas) (Freud, 1910/1988b, p. 13). E, com base no relato dos sujeitos que recebe em tratamento, Freud considera, por algum tempo, que as vivncias traumticas corresponderiam s sedues precoces efetivamente praticadas por adultos, na maioria dos casos, os pais das crianas. Trata-se dos primrdios da teorizao freudiana, quando j possvel verificar, na tentativa de entender a etiologia da neurose, a importncia dada por Freud questo sexual, contrapondo-se a Breuer, que estaria mais inclinado a enfatizar a relevncia dos estados hipnides. A seduo por parte de um adulto traz a idia de uma sexualidade vinda de fora e de uma passividade vivida pela criana. No entanto, a hiptese de uma efetiva seduo sofrida na infncia no tarda a ser rejeitada por Freud, como relatado a Fliess na Carta de N. 693: J no creio mais em minha neurtica. Para considerar as cenas de seduo como reais, Freud teria que admitir que todos os pais so perversos. Assim, supe que as histricas fantasiavam tais cenas de seduo, que no haviam de fato ocorrido. Pondera que no inconsciente no existe um signo de realidade, de sorte que no se pode distinguir a verdade da fico investida de afeto (Freud, 1950/1988b, p. 302). Esse deslocamento do foco de sua investigao, do evento factual para um fato estrutural, leva Freud a colocar a fantasia como fator preponderante na etiologia dos sintomas, o que possibilita, em momentos posteriores, a formulao das noes de sexualidade infantil e de complexo de dipo (Ferrari, 2004). A partir do abandono da teoria da seduo, Freud deixa de lado
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a busca incessante de uma cena traumtica originria, atentando mais para a construo fantasmtica em questo. A relao estabelecida entre o trauma e a formao sintomtica leva-nos a afirmar que o sintoma seria a maneira encontrada pelo inconsciente para trazer de volta o trauma, mesmo que ele pertena ao campo da fantasia. O sintoma seria uma forma de atualizar o trauma, de trazer tona os contedos libidinais do sujeito que, em momento muito anterior, foi esquecido, recalcado.
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funcionamento de energia do organismo todas as medidas defensivas possveis. A inundao de grandes estmulos possvel em razo da permeabilidade do sistema pr-consciente/consciente, o qual capaz de reter percepes tal como uma folha em branco de um bloco mgico. O bloco mgico, popularizado como um brinquedo entre ns, descrito por Freud constitudo de uma prancha de resina ou cera castanha-escura sobre a qual colocada uma folha de papel fina e transparente composta de duas camadas. Para utiliz-lo, devese escrever sobre a parte de celulide da folha com estilete. A fim de apagar o que foi escrito, bastaria levantar a folha. Esse modelo original recebeu variaes em funo dos novos materiais. Trata-se, assim, de algo que recebe percepes, mas no retm traos permanentes (Freud, 1925/1989d). A preservao desses traos ocorre a partir dos sistemas mnmicos que esto por trs do perceptual. Surge, ento, o problema de dominar essa quantidade de estmulo para vincul-las ao funcionamento psquico normal. Dominar quantidades de estmulos uma questo que se impe a Freud a partir dos sonhos das neuroses traumticas , levando-o a postular o mais-alm do princpio do prazer que estaria na base dessa compulso repetio. Assim, se houve na infncia um recalcamento da lembrana traumtica, ele deveria evitar o seu reaparecimento. Mas o que ocorre o retorno dessa lembrana, o fracasso do recalque, convocando o sujeito repetio da cena que traz desprazer. A resposta de Freud ao enigma trazido pela repetio das cenas traumticas supor que a repetio tem por objetivo dominar o estmulo que provoca a dor, conferindo-lhe um sentido (Freud, 1920). Um pouco mais tarde, entende o prprio sintoma como uma tentativa de desfazer a situao traumtica (Freud, 1926/1987c), que podemos entender como uma soluo que cada sujeito constri para dar conta do encontro traumtico com o sexo, do encontro traumtico com seu desejo. Em formulaes tardias da obra freudiana, a questo da repetio em suas relaes com o trauma, a compulso e o sintoma ganha novos contornos. Em seu estudo sobre Moiss y la religin monotesta (1939/1986a), Freud fala dos dois tipos de efeitos que os traumas acarretam ao eu: efeitos positivos e negativos. Ao faz-lo,
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indica que o trauma exerce uma fora de atrao efeitos positivos que convive com uma fora de repulso efeitos negativos naquele que dele sofre. Essa formulao, ao postular a existncia de duas formas de reao do sujeito ao trauma, contraria a idia de uma relao com o trauma que seria exclusivamente de submisso e de sofrimento. Isso porque aponta para uma conseqncia que seria da ordem de uma satisfao. Nessa perspectiva, os efeitos positivos do trauma dizem respeito a empenhos para devolver ao trauma sua vigncia, quer dizer, recordar a vivncia esquecida ou, melhor dizendo, faz-la realobjetiva (real), vivenciar de novo uma repetio dela (...) (Freud, 1939/ 1986a, p. 72). Esses esforos para trazer experincia do trauma sua efetividade encontram-se na fixao ao trauma e na compulso de repetio. Os efeitos negativos so reaes de defesa ao trauma que tm por meta que no se recorde nem se repita nada dos traumas esquecidos (Idem, p. 73). Expressam-se nas evitaes que, em alguns casos, transformam-se em inibies e fobias. Todos esses fenmenos neurticos tm como trao comum sua natureza compulsiva. Tanto nos efeitos positivos quanto nos negativos tratase de fixaes ao trauma. Assim, os sintomas da neurose, no sentido mais estrito, so conciliaes em que as tendncias positivas e negativas do trauma se renem, encontrando expresso preponderante ora de uma ora de outra tendncia (Freud, 1939/1986a). Nesse sentido, o sintoma apresenta-se como uma soluo que se constri para conciliar o inconcilivel, ou seja, as duas reaes contraditrias de um sujeito ao trauma. Ele uma formao de compromisso que abriga essas reaes distintas, originando conflitos que geralmente no podem ser resolvidos (Freud, Idem). Como soluo subjetiva para o trauma, o sintoma pode representar ou uma satisfao substitutiva de alguma moo sexual ou uma medida para impedir tal satisfao. Desse modo, a formao do sintoma se d em consonncia com as leis que operam entre contrrios no inconsciente (Freud, 1940/1986b). Por isso mesmo, na abordagem do trauma, indo na direo contrria da generalizao e da vitimizao do sujeito, como nos indica Ferrari
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(2004), a psicanlise trabalha no caso a caso e em busca da responsabilizao subjetiva. Vejamos, abaixo, alguns dados clnicos que destacam a especificidade da proposta da psicanlise, e sua originalidade (Ferrari, 2004) no tratamento de traumatizados.
Da generalizao singularidade
Atualmente, em funo da extenso do sentido clssico de trauma, a considerao do sujeito como vtima alcanou extrema importncia. A cincia avana na descrio objetiva do mundo e do sujeito, assim como em tudo que lhe diz respeito. Igualmente, insiste na descrio da irrupo de uma causa no programvel, que por isso considerada traumtica. Justamente, nos lembra Laurent (2004), o trauma o que escapa a qualquer possibilidade de programao. Nos casos de atentados, por exemplo, o sujeito considerado vitimado e segregado em grupos de traumatizados, o que impede qualquer possibilidade de singularizao e responsabilizao. O atendimento de Minna4, vtima do atentado de 11 de maro de 2004, em Madrid, traz importantes contribuies a esse respeito (Miller, 2005). Ele traz indicaes sobre a contribuio possvel da psicanlise s medidas de interveno, propostas pelas polticas pblicas de sade. Ao comentar esse caso, J.-A. Miller (Idem) considera importantes duas questes a respeito do trauma. A primeira refere-se precipitao da oferta de servio dos terapeutas, imediatamente aps as situaes de perigo ou atentado, fato que implica a idia de que as pessoas estariam supostamente traumatizadas. A segunda diz respeito necessidade de confirmao da existncia de traumatismo no sujeito, o que torna necessria a pergunta: por qu? Esclarece, ento, que nessas duas situaes o que est em jogo a singularidade do sujeito: alguns que se encontravam no atentado de Madri ficaram traumatizados, outros no. preciso escutar o sujeito para saber se h e por que h trauma. assim que opera a responsvel pelo atendimento, Araceli Fuentes, quando afirma que se trata, com Minna, de restituir a trama do sentido e a inscrio do trauma na particularidade inconsciente do sujeito. Sendo assim, nomeia sua apresentao clnica de O fio da vida.
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Minna tem 38 anos de idade, emigrante da Romnia e mora em Madrid h um ano e meio. Ela atendida na Rede assistencial de Madrid, criada aps os atentados de 11 de maro de 2004, que oferece atendimento gratuito. Ela a primeira pessoa, considerada vtima desse atentado, atendida na referida Rede: chega abatida e repleta de culpa. Ela j havia passado por outros lugares de ajuda a traumatizados, inclusive recebera a proposta psiquitrica de ser tratada com medicamentos, mas escolheu um tratamento pela fala5. No dia do atentado, Minna no est em um dos vages em que as bombas explodem, porque demora na estao Atocha, tomando caf com amigos antes do trabalho. Ela escuta a exploso, pensa imediatamente em uma bomba e sai tomada de terror, correndo sem esperar por ningum foge assustada entre os feridos e mortos. Nessa fuga, seu olhar cruza com o olhar de um homem estirado sob o sol, ensangentado. Ela relata esse encontro analista como um Cristo estendido. Desse dia em diante, o olhar presente na imagem do Cristo estendido no pra de olhar para ela todas as noites em seus pesadelos. A paciente, tomada de angstia, fala da culpa que sente por ter sado correndo da estao e no ter ajudado os feridos. Isso porque ela faltou com seu dever, ensinado por seu pai, um homem muito religioso da Igreja Adventista do Stimo Dia. No atendimento dessa paciente, Araceli Fuentes mostra que, ante ao real do trauma, ela tenta dar sentido ao trauma pela via religiosa, mas essa via fracassa e a culpabilidade que ela sentia d lugar ao dio aos terroristas. Esse sentimento completamente desconhecido para ela, com o qual tem que se deparar, f-la comear a contar, pouco a pouco, sua histria. A abertura do inconsciente se produz rapidamente e surge uma srie de sonhos nas sesses. Fuentes, atravs da apresentao e discusso de cada um dos sete sonhos da paciente, demonstra como a sintomatologia pstraumtica desaparece e o sujeito retoma o fio da vida. Ela sublinha que o real da morte aparece como uma ameaa, principalmente, em dois sonhos: no primeiro, o pesadelo ps-traumtico do homem Cristo estendido, e, no penltimo, figura a morte de Carmina Ordez, artista de renome em seu pas. Durante os atendimentos da paciente, essa ameaa se desloca da contingncia do acontecimento
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real traumtico, que se impe fora ao sujeito, para a presena no corpo da paciente de um quisto, que durante meses ela deixara se desenvolver. Araceli Fuentes demonstra como o acontecimento real do atentado de Madrid pde ser para a paciente a oportunidade de tratamento do acontecimento real em seu corpo, o quisto. A srie dos sonhos da paciente produz solues, encontradas pelo trabalho do inconsciente, que culminam em um ponto final que o ltimo sonho inscreve: o homem sem rosto ao p de sua cama, que restitui paciente paz. O efeito teraputico mais importante, afirma Araceli Fuentes, relativo ao real do corpo da paciente, o quisto. A paciente j sabia da presena do quisto, antes mesmo de sofrer o trauma do atentado de Madrid, mas negligencia o real do corpo, que s revela analista nas ltimas sesses. O resultado das vinte sesses que Minna passa a se ocupar do quisto que ela quis fingir ignorar, que ameaava seu corpo, sua vida, e poderia lev-la a terminar como o Cristo estendido de seus pesadelos. Esse caso clnico, atravs da inscrio do trauma na particularidade do sujeito, o que implica a singularidade e a responsabilidade do sujeito, exemplifica o enfoque dado pela psicanlise, na contramo dos manuais, pois parte da generalizao e reala a singularidade.
Consideraes finais
A psicanlise opera particularmente sobre o sintoma, em que se condensam os efeitos positivos e negativos do trauma, base da fixao do sujeito num modo singular de satisfao. Esse estudo nos indica que, mesmo em uma poca que se pode caracterizar como era do trauma, diferente do contexto histrico e cultural do incio da psicanlise, os fundamentos tericos freudianos demonstram sua fecundidade quando se trata de abordar o que no sujeito se apresenta como sofrimento. Se um sujeito se queixa de seu sintoma, condio para que possa comear um tratamento, tambm resiste a abandonar a satisfao que a ele se atrela e que a compulso presentifica. A aposta em um tratamento de responsabilizao por seu sintoma contrapeREVISTA MAL-ESTAR E SUBJETIVIDADE / FORTALEZA / V. VI / N. 2 / P. 311 - 331 / SET. 2006
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se generalizao do trauma, em que o sujeito colocado em posio de vtima e segregado em grupos de traumatizados. Nesses casos, o resultado o impedimento de qualquer possibilidade de subjetivao do trauma. Nesse texto, sublinhamos a possibilidade de tratamento para o trauma pela via do sintoma, especificidade da clnica psicanaltica. Nela, o analista atua como intrprete sem fazer uma oferta de sentidos, j que o objetivo no fornecer uma significao que acomode o sujeito, mas nele promover uma modificao no mesmo capaz de faz-lo mudar de lugar, sair da sua posio de vtima e reclamante. Isso implica na absteno em oferecer sentidos padronizados e prvios, mas supe, paradoxalmente, o acolhimento da demanda de sentido num momento em que o sem-sentido prevalece. Para tanto, possvel recorrer dimenso do malentendido, no intuito de provocar a fala do sujeito. Desse modo, abrese para o sujeito a oferta de um relato sobre o que lhe particular. Separada das classificaes universalizantes, sua fala poder apontar para o particular de seu desejo, ao mesmo tempo que indica seu modo singular de satisfao. Tratar o sintoma, dentro dessa perspectiva, implica considerar a responsabilidade do sujeito face ao que Freud nomeou escolha da neurose. O atendimento aos traumatizados de nossa era indica a pertinncia e o alcance da proposta clnica de uma psicanlise que, afinada com as demandas de sua poca, mantm-se fiel da tradio freudiana, no fio da inspirao lacaniana.
Notas
1 Esse texto refere-se pesquisa em andamento Sintoma, Fala, Interpretao: alcance e limites da ao analtica, coordenada por Vera Lopes Besset, com apoio do CNPq, da UFRJ e da FAPERJ, desenvolvida no mbito da Ps-Graduao em Psicologia do IPUFRJ; inserida no NIPIAC (Ncleo Interdisciplinar de Pesquisa e Intercmbio para a Infncia e a Adolescncia Contemporneas) e na Associao Universitria de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental. Reflete o trabalho desenvolvido no Grupo de Pesquisa coordenado pela autora, do qual participam seus co-autores.
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2 O editor explicita que a proton pseudos uma premissa maior, falsa, em um silogismo que, como conseqncia, leva a uma concluso falsa. 3 Datada de 21 de setembro de 1897. 4 Esse caso clnico foi apresentado por Araceli Fuentes na Conversao de Barcelona, organizada por JA Miller. Cf. Fuentes, A . Premier Chapitre Minna. In Miller, J.A.(org.). (2005). Effets thrapeutiques rapides en psychanalyse. La conversation de Barcelone. Collection du Paon. Paris: Navarin diteur, 2005, p. 13-40. 5 Guguen, P-G na discusso do referido caso quem enfatiza esse aspecto. Op. cit. Fuentes, A (2005).
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Recebido em 09 de janeiro de 2006 Aceito em 24 de janeiro de 2006 Revisado em 20 de junho de 2006 REVISTA MAL-ESTAR E SUBJETIVIDADE / FORTALEZA / V. VI / N. 2 / P. 311 - 331 / SET. 2006
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