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ISSN 1647-3574

ano ii · revista nº07 · jul /ago 2009


350 kwanzas · 4,50 usd · 3,25 euros
Economia & Negócios · Sociedade · Turismo Arquitectura & Construção · Inovação & Desenvolvimento · Luxos · Desporto · Cultura & Lazer · Personalidades

REVISTA Nº07 · JULHO / AGOSTO 2009


CiberguerraUma nova geração de armas online permite sabotar centrais eléctricas,
telecomunicações, sistemas de aviação ou congelar mercados financeiros
de outros países. Num mundo onde já não se aplicam as regras
dos conflitos tradicionais conheça a nova realidade

o chanceler
do progresso
BDA é o grande impulsionador
do sector privado no continente.
Em cada dólar investido consegue,
através de leasing, angariar 3 a 4
dólares suplementares. Um exemplo
de determinação
NOVOS
EXECUTIVOS
bastonário da ordem Descubra as 6
dos arquitectos diferenças
Em Grande Entrevista, António Gameiro tece o retrato do país. que podem fazer
Comentários inéditos daquele que é uma das grandes figuras da de si um Líder do
sociedade. Temas de interesse nacional à lupa em discurso directo Futuro
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Mutamba - Luanda - Angola
Contacto: Ludmila Paixão
E-mail: [email protected]
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in loco

revista bimestral nº07 - jul/ago 2009


http://angolain.blogspot.com · http://twitter.com/angolain
ALDEIA GLOBAL
Direcção Executiva A aldeia global de Marshall Mcluhan está em Porém, nem tudo são más notícias. Em tem-
Daniel Mota Gomes · João Braga Tavares
constante mutação e os seus efeitos nas so- pos de crise, em que as empresas, mesmo as
Direcção Editorial
Manuela Bártolo - [email protected] ciedades modernas têm consequências que mais sólidas, se vêm afectadas pelas oscila-
Redacção ultrapassam as previsões da famosa obra do ções dos principais mercados internacionais,
Patrícia Alves Tavares - [email protected]
Mónica Mendes - [email protected] sociólogo, “O meio é a mensagem”. De facto, a Angola’in revela algumas dicas importan-
Colaborador Especial a globalização converteu o planeta numa al- tes para liderar e alcançar o êxito. Esta edição
João Paulo Jardim - [email protected]
Design Gráfico deia, cuja comunicação em rede é o meio pri- apresenta as palavras-chave do sucesso, para
Bruno Tavares · Patrícia Ferreira vilegiado por todos os escalões da sociedade, que o seu negócio se adapte à modernidade e
[email protected]
Fotografia desde o utilizador doméstico aos líderes mun- às novas exigências do mercado.
Ana Rita Rodrigues · Shutterstock diais. As novas tecnologias assumem-se co-
Serviços Administrativos e Agenda
Maria Sá - [email protected] mo principais difusores de informação, mas António Gameiro, bastonário da Ordem dos
Revisão nem todas as funcionalidades da Internet são Arquitectos, é o grande entrevistado. Num
Marta Gomes
vantajosas para os Estados. momento, em que o país atravessa uma fa-
Direcção de Marketing se de reconstrução e reestruturação profunda
Pedro Posser Brandão
Tel. +351 229 544 259 | Fax.+351 229 520 369 A edição 7 da Angola’in explora os perigos das do território, o representante máximo dos ar-
E-mail - [email protected]
ligações em rede e das trocas via electrónica quitectos aborda os desafios que a região en-
Publicidade
Tel. +351 229 544 259 | Fax.+351 229 520 369
de informações cruciais para a segurança das frenta, as principais necessidades de Luanda e
E-mail - [email protected] nações. Os piratas informáticos são capazes o tema da especulação imobiliária, que preo-
João Tavares - [email protected]
Daniel Gomes - [email protected] de penetrar nas redes mais improváveis, que a cupa compradores e vendedores. A destruição
ASSINATURAS - [email protected] priori se encontram protegidos pelos padrões do património arquitectónico para dar lugar a
Envie o seu pedido para: mais elevadas de segurança. As últimas notí- empreendimentos modernos merece especial
Rua Rainha Ginga, Porta 7
Mutamba - Luanda - Angola cias apontam que nem sistemas como a CIA destaque, com António Gameiro a manifes-
(EUA) estão a salvo da acção dos hackers. tar-se publicamente contra a aniquilação da
Departamento Financeiro
Sílvia Coelho história e identidade do seu povo, defendendo
Departamento Jurídico A ciberguerra é o tema de capa, que preten- a harmonia entre o passado e o futuro.
Nicolau Vieira
Impressão de chamar a atenção para a importância das
Multitema novas tecnologias, enquanto instrumentos Aliás, esta questão serviu de mote para eleger
Distribuição
Africana Distribuidora Expresso de defesa e promoção da segurança interna algumas das maravilhas de Angola. O Cristo
Luanda - Angola de cada potência económica, uma vez que o Rei, a Igreja de Nazaré, o Monumento da In-
Tiragem
10.000 exemplares ataque a um dos pontos cruciais da econo- dependência, a Fortaleza de S. Pedro da Barra,
— mia mundial pode estar à distância de um cli- o Museu das Forças Armadas, o Monumento
ISSN 1647-3574
DEPÓSITO LEGAL Nº 000000/00 ck. Hoje em dia, uma manifestação ou até um da Batalha do Kifandongo e as Ruínas de Mas-

Interdita a reprodução, mesmo que parcial, de textos,
acção terrorista podem ser planeadas, agen- sangeno são os eleitos.
fotografias e ilustrações, sob quaisquer meios e para dadas e difundidas via Web. Daí, muitos es-
quaisquer fins, inclusive comerciais
pecialistas assegurarem que a Terceira Guerra
ASSINE ANGOLA´IN Mundial poderá ter origem na Internet. A Direcção
Contacto Angola - [email protected]
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IN LOCO · ANGOLA’IN |3
58
GRANDE ENTREVISTA

a análise
dos arquitectos
António Gameiro, bastonário da Ordem dos
Arquitectos, faz o balanço da reconstrução
nacional e aponta os principais problemas
territoriais de Angola. O ordenamento,
o planeamento das cidades e o
sobrelotamento de Luanda são algumas
das questões que merecem especial
destaque para o dirigente. Gameiro
aproveita para se manifestar acerca da
polémica gerada em volta da demolição do
património nacional

26 76
ECONOMIA & NEGÓCIOS ARQUITECTURA & CONSTRUÇÃO
o chanceler do progresso actualidade vs tradição
É a força motriz do crescimento africano e o princi- A modernidade é visível em cada esquina. Os shop-
pal motor do desenvolvimento e dos investimentos pings, os hotéis, os empreendimentos habitacionais
no continente. Encarado como o ‘driver’ para o sec- e os espaços de negócios são a imagem de um país
tor privado, o Banco Africano de Desenvolvimento é renovado e actual. Contudo, a harmonia entre o pro-
o principal organismo multilateral do mundo, que gresso e os edifícios históricos é urgente e funda-
tem apostado no progresso regional de África mental. Descubra os monumentos que representam
as maravilhas angolanas

ANGOLA IN PRESENTE
03 IN LOCO 12 INSIDE 64 FOTO REPORTAGEM

10 EDITORIAL 18 MUNDO

6 | ANGOLA’IN · SUMÁRIO
34 ECONOMIA & NEGÓCIOS
rumo ao sucesso
A crise internacional tem batido à porta da maioria das em-
presas. Nesta edição, descubra os pontos-chave para alcan-
çar o êxito. Os especialistas em gestão e finanças revelam
os segredos e dicas importantes para moldar o seu negócio
às exigências dos novos tempos e apontam conselhos im-
portantes para os novos gestores se adaptarem aos desa-
fios da modernidade e dos mercados actuais

44 SOCIEDADE
a arte de negociar
A par do petróleo, da construção civil e da agricultura, o sec-
tor do comércio foi dos mais activos da economia angolana.
O desenvolvimento deste mercado é uma alternativa viável
para incrementar o consumo interno e reduzir as importa-
ções. O Governo implementou medidas, que permitam a au-
to-suficiência alimentar e a aposta no ramo das exportações

50 sangue, precisa-se!
Os progressos ao nível da recolha sanguínea mereceram o
louvor da OMS, mas não satisfazem as carências nacionais.
As ONG’s apelam à colaboração dos dadores de sangue vo-
22
IN FOCO
luntários para suprir as necessidades e alcançar a segurança

70 TURISMO
a ameaça da ciberguerra
As novas tecnologias são uma ferramenta
cultura oriental e sabores exóticos indispensável nas sociedades actuais.
Nesta edição, o Japão é o destino de destaque, que o trans- São responsáveis por aproximar povos distantes.
porta para tradições milenares, costumes únicos e paisagens Os meios informáticos são imprescindíveis,
idílicas. O país dos samurais e budistas oferece uma panóplia mas escondem muitos perigos. Os hackers
de actividades. Se prefere cenários deslumbrantes, com sol e estão cada vez mais especializados e a destruição
mar, o Chile é a opção. A pequena região é um mundo de pos- de um Estado pode estar à distância de um click.
sibilidades, onde encontrará praias, desertos e montanhas Saiba quais os riscos ocultos da Internet

84 INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO


genéricos ou de marca?
124 CULTURA & LAZER

Na altura de comprar um fármaco, surge uma questão per-


diversidade linguística
tinente. Quais as diferenças entre um medicamento paten- O idioma oficial é o Português. No entanto, os dialectos fa-
teado e os produtos genéricos? Os últimos, defendem os zem parte do dia-a-dia da maioria da população. Em áreas
médicos, apresentam a mesma qualidade que os de marca, remotas, estas linguagens dominam e são mais praticadas
mas a preço inferior. Compreenda as vantagens e desvanta- que a língua nacional. Conheça as formas linguísticas que
gens das embalagens ‘brancas’ ainda sobrevivem

90 DESPORTO 128 PERSONALIDADES


venus e serena williams jorge gumbe, artista plástico
São negras e elevam o ténis africano ao mais alto nível. A É um dos ícones do mundo das artes. A sua vasta obra não
modalidade, outrora acessível apenas aos brancos e elites, se resume à pintura. Gumbe divide o seu tempo entre An-
perdeu exclusividade e rendeu-se ao talento dos afro-des- gola, Portugal e Reino Unido. O vencedor do Prémio Nacio-
cendentes, que impõem a sua soberania nos courts. As ir- nal de Cultura e Arte do Governo de Angola revela os seus
mãs Williams são os rostos desta geração projectos e analisa o panorama artístico nacional

94 LUXOS 110 LIVING

104 ESTILOS 116 VINHOS & COMPANHIA

SUMÁRIO · ANGOLA’IN |7
editorial

atchimmm....é só um espirro...!
CENÁRIO DE PANDEMIA DA GRIPE AFECTA LÍDERES MUNDIAIS
Nos últimos meses, algo se propagou em todo o mun- Alguns países da Ásia, os da África Subsaariana e cer-
do muito mais depressa do que o vírus H1N1/Gripe A: tos grupos populacionais da América Latina serão os
as dúvidas, as incógnitas de todo o tipo. Uma delas é mais afectados. A América do Sul é considerada a re-
saber se o mundo está preparado para uma pandemia. gião geográfica mais desigual do mundo, alguns paí-
Em geral, o que poderá acontecer é óbvio: os países ri- ses deram ou podem dar uma resposta rápida e eficaz
[email protected] cos encaram melhor este problema. No entanto, o ca- a uma situação como a vivida, enquanto outros se
so do México e, em menor medida, por enquanto, de encontram completamente desprotegidos. Mesmo
algumas economias poderosas assim, poucos governos divul-
da Ásia, evidenciam que é pre- garam as suas reservas de an-
ciso melhorar muito a cultura A organização Médicos Sem tivirais. A América Central, pela
sanitária nas áreas de maior Fronteiras (MSF) pediu que sua proximidade com o Méxi-
desigualdade, como é o ca-
se dê ênfase às pessoas que co, teme o futuro. Na Nicará-
so do continente africano. Os gua, onde 60% da população
países em desenvolvimento
já sofrem alguma doença - não tem acesso a água potável
não contam com um sistema desnutrição, malária -, pois e muitas famílias vivem isola-
de saúde capaz de enfrentar serão as primeiras afectadas das, os alarmes soaram desde
a pandemia. No último mês, o primeiro momento. O país é
o jornal “The Wall Street Jour- um claro exemplo de como o
nal” afirmou que, em termos materiais, o Reino Uni- vírus pode ser devastador se chegar a lugares pobres.
do é um dos países melhor preparados para enfrentar Em relação a África, é o continente mais vulnerável.
este problema. Em conjunto, conta com antivirais su- Por isso alguns países têm vindo a tomar medidas
ficientes para tratar 33 milhões de pessoas, 54% da preventivas radicais. O Egipto, por exemplo, mandou
população. A França também conta com reservas para sacrificar todos os porcos, uma decisão que acarretou
atender a uma percentagem semelhante da popula- graves distúrbios em cidades como o Cairo. O gabine-
ção. A ministra da Saúde espanhola, Trinidad Jiménez, te regional africano da Organização Mundial de Saú-
confirmou que a Espanha tem uma provisão de 10 mi- de (OMS) conta com aproximadamente um milhão de
lhões de antivirais. Na Ásia, é o Japão, com uma re- tratamentos, embora se dê por certo que, caso che-
serva de medicamentos suficiente para tratar 24% da gue o vírus, será preciso recorrer às reservas dos pa-
população, o país que encabeça a lista. Mesmo assim, íses mais desenvolvidos. A organização Médicos Sem
os especialistas consultados crêem que se a virulên- Fronteiras (MSF) pediu que se dê ênfase às pessoas
cia do vírus for maior, inclusive os sistemas sanitários que já sofrem alguma doença – desnutrição, malária
dos países mais desenvolvidos poderiam ser insufi- -, pois seriam as primeiras afectadas. Que o vírus so-
cientes e ineficazes. A questão não é, portanto, quem fra mutação e tenha uma virulência maior é o pior ce-
tem mais ou menos antivirais. A Índia, por exemplo, nário possível. Razão pela qual, não é momento para
poderia ter uma capacidade económica suficiente para previsões. É preciso trabalhar com diversos cenários,
enfrentar a pandemia, mas carece de infraestruturas mas com precaução e evitando especulações é a men-
para atender os seus milhões de cidadãos. sagem que se exige.

10 | ANGOLA’IN · EDITORIAL
EDITORIAL · ANGOLA’IN | 11
INSIDE | patrícia alves tavares

MOEDA ÚNIC
ÚNICA
A Comunidade
Comunidad Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) promete lançar, até 2020,
única. O roteiro para o programa que define a estratégia global foi aprovado recente-
a moeda únic
mente numa reunião do Conselho de Convergência dos Ministros e Governadores da Zona Mone-
Africana (ZMAO) que agrupa 15 países-membros da CEDEAO. Prevê-se que a União
tária Oeste Af
Monetária dedesta comunidade seja lançada em 2020 com a criação do Banco Central da CEDEAO
e a colocação em circulação da moeda única, alguns anos após a fundação da União Monetá-
ria da ZMAO. Esta região, integrada pela Gâmbia, Gana, Guiné-Conakry, Nigéria e Serra Leoa,
lançar a sua União Monetária em 2015, ou mesmo antes, com a instalação também
tenciona lanç
do seu Banco Central e a introdução da sua moeda comum, o ECO. O lançamento da ZMAO vai
assim o da União Económica e Monetária Oeste Africana (UEMOA), que agrupa oito
completar ass
Estados da ÁfÁfrica Ocidental que têm em comum o franco, CFA. A UEMOA, criada em 1994, pos-
membros o Benin, o Burkina Faso, a Côte d’Ivoire, o Mali, o Níger, o Senegal, o Togo e
sui como mem
Guiné-Bissau. Dois países membros da CEDEAO, designadamente a Libéria e Cabo Verde, não
a Guiné-Bissa
são actualmente
actualme membros de nenhuma das duas uniões monetárias. Entretanto, o Conselho
dee Convergência
d Convergên instou estes países a juntar-se a, pelo menos, uma das zonas monetárias oes-
te-africanas e ao Programa de Cooperação Monetária da CEDEAO. Todos os Estados-membros
manter as políticas fiscais e monetárias apropriadas e a aplicação rigorosa das políticas
devem mante
estruturais e institucionais no quadro do Mecanismo de Controlo Multilateral, a fim de instalar
convergência e uma união monetária duradouras.
uma convergê

CÓDIGO PENAL PODE MUDAR


O apelo surgiu pela voz do Ministro do Interior, Roberto Monteiro
“Ngongo”, que defende a alteração do documento, vigente desde 1886.
De acordo com o governante é “necessário alterar o código penal”, pois
actualmente existem “crimes que podem ser convertidos em multas”
ou “em trabalho social para a comunidade”. Recorde-se que o presiden-
te angolano decretou uma amnistia, em que as penas de prisão maior
que não ultrapassem os 12 anos serão indultadas, bem como as penas
correccionais aplicadas aos cidadãos condenados que tenham cumpri-
do pena de prisão maior até 31 de Março de 2009.

LUANDA ACOLHE PORSEG PROJECTO “CRESCER ANGOLANO”


A empresa portuguesa, líder na produção de portas técnicas vai avançar A ministra da Justiça, Guilhermina Prata, anunciou a criação do pro-
com a criação de uma unidade de produção em Angola, ainda este ano. A jecto “Nascer Angolano”. O intuito é promover o registo imediato
notícia foi avançada pelo director financeiro da Porseg, Nuno Esperguei- das crianças, logo após o nascimento. O plano pretende criar me-
ro, que revelou que a nova fábrica implica um investimento de cinco mi- canismos que assegurem o registo e em simultâneo simplifiquem
lhões de dólares (3,8 milhões de euros). O projecto conta com a parceria e desburocratizem o processo, oferecendo aos cidadãos meios sim-
do grupo Pinto Basto e deverá começar a laborar no segundo semestre ples para o cumprimento de formalidades essenciais à salvaguar-
de 2010, estando prevista a criação de uma unidade fabril, equipamentos da de direitos fundamentais. O mesmo tem ainda como objectivo
sociais e a construção de habitação para os trabalhadores. identificar precocemente a desprotecção social dos pais.

‘MAJI YETO’ SUPRE CARÊNCIAS


A Oleoga, empresa de capitais lusoangolanos, prepara-se para lançar
no mercado a marca de azeite “Maji Yeto” com o objectivo de suprir as
necessidades dos consumidores angolanos. Assim, serão colocados
à venda cerca de 600 mil litros por mês, cujo produto, produzido pela
empresa de origem alentejana, será fabricado a partir essencialmen-
te da azeitona “galega”. A sociedade pretende exportar um quarto do
azeite extra virgem produzido para o Brasil e para a África do Sul e ain-
da uma pequena quantidade para o mercado português.

12 | ANGOLA’IN · INSIDE
INSIDE

ESCOM E OPWAY PARCEIRAS


Os dois grupos, que actuam no mercado da África Sub-
EMPREENDEDORISMO sariana, anunciaram que vão formar uma empresa
Capital acolhe primeiro Centro de Empreendedorismo do país. O conjunta, com o intuito de actuarem nas áreas da cons-
objectivo é formar os cidadãos, de forma a que estes possam de- trução e das obras públicas, ao nível da referida região. A
senvolver as suas capacidades intra e inter empreendedoras, bem futura Escom Opway African Contractors deverá atingir
como formentar uma bolsa de ideias que permita apoiar os uten- um volume de negócios superior a 500 milhões de dóla-
tes na caracterização do negócio que prentedem criar. Facilitar a res, nos próximos três anos. Com esta parceria, as duas
elaboração e concretização dos planos de negócios dos empreen- entidades vão actuar através das marcas Opway Ango-
dedores e promover a transição das micro e pequenas empresas la e Opway Congo. No caso de Angola, o grupo ESCOM
do mercado informal é outras das metas a atingir. A aposta na mantém a sua actividade desde 1991.
formação também será uma realidade.

PORTO DE CABINDA COM NOVA ‘CARA’


O cais da histórica estrutura comercial foi totalmente renovado, apresentando uma
área de 45 mil metros quadrados e uma capacidade de atracagem de cinco navios
em simultâneo. A nova infra-estrutura portuária permitirá a movimentação de um
milhão de toneladas de carga contentorizada/ano. O projecto, avaliado em mais de
50 milhões de dólares, faz parte de um programa conjunto do Governo provincial, do
Porto de Cabinda e do Ministério dos Transportes.

COOPERAÇÃO COM O CONGO


O Primeiro-Ministro da República Democrática do Congo, Adolphe Muzito deslocou-
se a Angola, com o intuito de reunir com o seu homólogo António Paulo Kassoma. Os
dois governantes estiveram em conversações em privado, com o intuito de abordar
questões relativas à cooperação entre os dois países. A visita de Estado visou a conso-
lidação das boas relações e o aprofundamento da parceria económica e política.
N’GOLA APRESENTA CERVEJA PRETA
A fábrica de cerveja, sedeada em Luanda (Huíla), lan-
MÉDICO CANDIDATA-SE À PRESIDÊNCIA çou o seu mais recente produto. Desde 20 de Abril e
Combate à corrupção, à pobreza “extrema” e ao subdesenvolvimento são as pro- sob o slogan “Esta preta é mesmo boa”, a nova cerveja
postas apresentadas pelo novo candidato às eleições presidenciais. Vasco Cristóvão, está a ser comercializada em diversos pontos de re-
antigo militar das extintas FAPLA (Forças Armadas Populares de Angola), é médico venda, como restaurantes e similares. A nova aposta
e lecciona saúde comunitária na Faculdade de Medicina da Universidade Agostinho tem um sabor mais adocicado e deve ser consumida
Neto. O professor de 47 anos explicou à imprensa que a sua candidatura está rela- no tempo mais frio, pois não necessita de estar tão
cionada com a necessidade de apostar na evolução e modernização do país. “Angola gelada como a mais clara. A empresa N’gola conquis-
não tem desenvolvimento. Tem crescimento porque vende mais petróleo”, justificou. tou nos últimos dois anos duas medalhas de ouro,
O médico junta-se aos três candidatos, que já formalizaram a intenção de concorrer à atribuídas pelos grandes centros cervejeiros da Euro-
presidência. São eles: o economista Vicente Pinto de Andrade, a empresária Luisete pa, que analisam a candidatura de diversas marcas, in-
Macedo e João Kambwela. As eleições ainda não têm data agendada. cluindo as mais produzidas mundialmente.

14 | ANGOLA’IN · INSIDE
INSIDE · ANGOLA’IN | 15
INSIDE

ISRAEL APOSTA NA COOPERAÇÃO AUTARQUIAS EM TRÊS ANOS


O embaixador israelita Sangui Karni revelou que o Minis- O país poderá ter autarquias já em 2012. Quem o
tério das Relações Exteriores do país do Médio-Oriente refere é o Ministro da Administração do Território,
está empenhado em consolidar e incrementar o rela- Virgílio de Fontes Pereira, que preferiu não entrar
cionamento com Angola, no âmbito da política no con- em pormenores, ressalvando que actualmente a
tinente africano. As entidades estão empenhadas em prioridade consiste na aprovação da nova Consti-
ajudar no processo de reconstrução nacional, conside- tuição (prevista para este ano). O governante expli-
rando o país angolano como uma prioridade no relacio- cou que o Executivo está a apostar num processo
namento externo. Israel tem apostado na cooperação ao faseado de concentração de competências, encon-
nível das áreas dos diamantes, da educação, da saúde, trando-se empenhado no processo de consolidação
da agricultura e da tecnologia. O embaixador relembrou da estrutura do Estado, especialmente ao nível de
que a parceria entre os dois países tem sido frutífera e infra-estruturas. “Neste momento, a autarquização
tem dinamizado os sectores público e privado. constitui um sonho”, pelo que se efectuaram pro-
gressos na “desconcentração de competências até
à província, ao mesmo tempo que vamos iniciar o
processo piloto de descentralização financeira nos
municípios”, rematou.

CISA NASCE EM LUANDA


O Centro de Investigação em Saúde em Angola (CISA) foi apresenta-
do pelo ministro titular da pasta, José Van-Dúnem, que garantiu que o
projecto oferece um avanço ao nível da pesquisa nacional e é fruto da
cooperação entre os governos de Angola, Portugal e da Fundação “Ca-
louste Gulbenkian”. A infra-estrutura permitirá melhorar a formação
dos recursos humanos e aumentar a capacidade e qualidade da assis-
tência nas unidades públicas. O novo centro de pesquisa está localiza-
do na região do Dande.
PIB EM BAIXA
O FMI (Fundo Monetário Internacional) prevê uma contracção do PIB
(Produto Interno Bruto) angolano na ordem dos 3,6 por cento para o
UNEP DISCUTE AMBIENTE corrente ano. Esta estimativa está aquém da taxa de crescimento
A XXV assembleia do Conselho de Administração do Programa das Na- registada em 2008, que rondava os 14,8 por cento. Contudo, as ex-
ções Unidas para o Ambiente (UNEP) contou com a presença de Ango- pectativas para 2010 são bastante optimistas. O fundo internacional
la, que se fez representar pela Ministra do Ambiente, Fátima Jardim. A prevê a retoma do ciclo de crescimento que se tem registado nos úl-
reunião, que decorreu em Nairobi (Quénia), analisou o projecto de elabo- timos anos, apontando-se uma evolução do PIB na ordem dos 9,3 por
ração de legislação adequada sobre a responsabilização e a criação de cento, enquanto que em relação à Balança de Transacções Correntes
medidas de resposta e indemnizações por danos causados pelas activi- o ano de 2009 registará valores negativos (-8,1 por cento), que reto-
dades perigosas contra o ambiente. O documento em discussão permiti- marão a trajectória positiva em 2010 (0,1 por cento). De acordo com o
rá regulamentar a legislação interna de cada Estado membro, que terá a documento, a economia mundial continuará a regredir durante este
actuação em termos de danos ambientais facilitada. O projecto será bas- ano, registando uma quebra de cerca de 1,3 por cento, situação que
tante útil para as economias em desenvolvimento ou em transacção. não se verificava desde a Segunda Guerra Mundial.

MOÇAMBIQUE É O NOVO PARCEIRO TURÍSTICO


Pedro Mutindi (Angola) e Fernando Sumbula Júnior (Moçambique) assinaram um memo-
rando de acções conjuntas na área do turismo, que englobam os sectores da formação,
ordenamento e cadastro das zonas turísticas. Os acordos são resultado da política de
aproximação entre os dois países, que têm historicamente fortes laços de amizade. Os
dois ministérios do Turismo deram início à preparação destes documentos em 2007, altu-
ra em que uma equipa técnica angolana se deslocou ao país homólogo.

16 | ANGOLA’IN · INSIDE
INSIDE · ANGOLA’IN | 13
MUNDO | patrícia alves tavares

coreia do norte
Produção nuclear retomada
Um dia após a ONU impor sanções pelo recente lançamento de
um foguete de longo alcance, a Coreia do Norte reiniciou o pro-
cesso de extracção de plutónio da principal fábrica. O país voltou a
processar barras de combustível nuclear na central de Yongbyon,
a norte da capital, como forma de rejeição às “forças hostis”. O
reactor da unidade estava inactivo desde 2007, altura em que os
membros de Pyongyang chegaram a acordo e o regime comunis-
ta se comprometeu a desmantelar a infra-estrutura em troca de
ajudas económicas. Desta forma, o Governo coreano inicia o rear-
mamento nuclear, desrespeitando as normas da ONU e a resolu- eua
ção 1718, aprovada em 2006. Dois bancos encerram
Actualmente são 27 o total de instituições bancárias que fecharam
portas nos Estados Unidos, em 2009. O número é superior ao regista-
do no último ano. Recentemente, foi a vez do American Southern Bank
(Estado da Geórgia) e do Michigan Heritage Bank abrirem falência e se
juntarem ao ‘grupo negro’. Por sua vez, o Seguro Federal de Depósitos
dos EUA garantiu que irá assegurar os depósitos dos clientes destas
duas unidades até um valor máximo de 250 mil dólares por conta.

Gestor acusado de fraude


O norte-americano James Nicholson foi formalmente indiciado por
fraude de 150 milhões de dólares, através do recurso a um esquema
de transacções fraudulentas de acções. O gestor de 42 anos foi desco-
berto após ter sido conhecido o caso de Bernard Madoff. O responsável
pela empresa Westgate Capital Management anunciava aos clientes
que a entidade disporia de activos que valiam entre 600 e 900 milhões
de dólares, quando na realidade o verdadeiro valor era inferior. Para
agravar a situação, os investidores confiavam o dinheiro a pensarem
que as contas eram auditadas por uma entidade independente, algo
que não se verificava.

NASA
Crise afecta regresso à Lua
A agência espacial norte-americana não tem dinheiro suficiente
sri lanka
para cumprir o programa Constelação, que deveria enviar astro-
nautas para a Lua em 2020. Quando for lançado o orçamento ONU envia acção humanitária
final será possível confirmar esta informação, que, ao que tudo As vítimas do conflito entre as forças do Governo do Sri Lanka e os re-
indica, adiará o regresso do Homem ao satélite da Terra. O pro- beldes vão receber assistência. Quem garantiu foi o secretário-geral da
jecto foi estruturado em 2004, onde se previa uma derrapagem ONU, Ban Ki-moon, que já ordenou o envio de uma equipa humanitária,
orçamental de 25 por cento. Contudo, um estudo do mesmo ano uma vez que as agências unem esforços para reunir mantimentos e dar
do Gabinete de Orçamentos concluiu que o programa estipulado apoio a mais de 80 mil desabrigados. O organismo internacional tem
até 2025 deverá ultrapassar em mais de 50 por cento o inicial- apelado aos rebeldes tamis para que entreguem as armas e se rendam,
mente previsto. Mike Griffith, ex-administrador da NASA culpa libertando os civis. Por outro lado, pediu ao Governo cingalês que dis-
a Casa Branca e a administração de Bush pelo adiamento, devido ponibilize mais terra e edifícios públicos para os desalojados e que faça
aos cortes na verba prometida para este projecto. sair rapidamente os civis presos na área de combate.

18 | ANGOLA’IN · MUNDO
bolívia e paraguai
Contencioso com fim à vista
Os dois países americanos Bolívia e Paraguai
chegaram a acordo quanto aos limites terri-
toriais, após setenta e quatro anos em confli-
to. Durante a mortífera guerra que envolveu
as duas regiões, La Paz e Assunção dispu-
taram o Chaço Boreal, cruzado pelo rio Pa-
raguai, essencial para ambas as economias.
Com a chegada da paz em 1938, a área foi di-
vidida, mas os países continuavam sem saber
onde começavam e acabavam exactamente.
Após um longo processo de aproximação de-
sencadeado pelo antigo ministro argentino
dos Negócios Estrangeiros, Carlos Saavedra
Lamas, a Bolívia e o Paraguai passam a limi-
fmi e banco mundial tar-se por uma fronteira de 700 quilómetros,
entre o vértice do rio Pilcomayo até ao forma-
Crise é “catástrofe humana”
do pelos rios Negro e Paraguai.
A crise económica mundial transformou-se numa “catástrofe humana e num desastre” para
os países em desenvolvimento, argumentam os técnicos do Banco Mundial e do FMI, que à
saída de uma reunião em Washington anunciaram que a “crise já fez baixar à pobreza extre-
ma 50 milhões de pessoas, sobretudo mulheres e crianças”. Por seu lado, os chefes de Estado
e de Governo do G20 (conjunto dos países mais ricos e dos emergentes) comprometeram-se
em Londres, em Abril passado, a aumentar os recursos das instituições financeiras internacio-
nais em mais de 1.100 milhões de dólares. Entretanto, o presidente do Banco Mundial, Robert
Zoellick afirmou que ainda não é possível prever uma data para o fim da crise, situação que
provavelmente impedirá que se atinjam os objectivos do milénio nos prazos previstos. Os oito
objectivos aprovados em 2000 pelos líderes mundiais para reduzir a pobreza até 2015 incluem
o retrocesso das grandes pandemias, da mortalidade infantil e do analfabetismo, promovendo
a igualdade dos sexos, a melhoria da saúde materna e a protecção do ambiente.

áfrica do sul
ANC vence sem maioria
O Congresso Nacional Africano (ANC) foi o
ciência grande vencedor das eleições gerais, com
65,9 por cento dos votos. Assim, o líder do
Sistema Gliese tem novo planeta partido, Jacob Zuma assegurou a presidência
É o primeiro planeta encontrado fora do Sistema Solar e cuja massa é apenas duas vezes maior da África do Sul, mas sem alcançar a deseja-
que a Terra. Uma equipa internacional de astrónomos fez a descoberta com um espectrógrafo da maioria de dois terços. Embora tenha fica-
e um telescópio de 3,6 metros de diâmetro do Observatório Europeu do Sul (ESO), situado em do abaixo dos 70 por cento, obtidos em 2004,
La Silla, no Chile. Segundo os investigadores, este é o exoplaneta com menos massa jamais de- a ANC conseguiu assumir uma ampla vanta-
tectado (apenas 1,9 vezes a massa da Terra) e será provavelmente muito rochoso. gem sobre o seu principal rival, o partido da
Aliança Democrática, que apenas arrecadou
16.68 por cento dos votos. Em último, fica-
g7 ram os militantes do Congresso do Povo, com
Recuperação ainda em 2009 7,42 por cento. Desta forma, o partido que se
Os países do G7 acreditam que se assistirá à retoma da economia mundial ainda este ano, mes- mantém no poder desde o fim do regime do
mo que os riscos subsistam. Os sete mais ricos do mundo comprometeram-se a tomar “todas apartheid reuniu as condições necessárias
as medidas necessárias” para que seja possível regressar ao panorama de crescimento, evi- para eleger Zuma como presidente, numa ce-
tando as restrições ao comércio internacional, bem como efectuando injecções de “capital nas rimónia que decorreu a 6 de Maio, já com o
instituições financeiras”. O comunicado apresentado pelo grupo revela que “os dados recentes novo parlamento em funções. Em 23 milhões
sugerem que o ritmo de declínio das nossas economias abrandou e que certos sinais de estabi- de eleitores inscritos, registou-se uma taxa
lização começam a aparecer”. de participação de 77,3 por cento.

MUNDO · ANGOLA’IN | 19
MUNDO

china

egipto
Encontrado antepassado do T-Rex
É mais um passo na constituição da linha evolutiva dos mais famoso
Arqueólogos procuram Cleópatra dinossauro carnívoro. Nos estratos geológicos, localizados perto da ci-
Segundo o Conselho Superior de Antiguidades Egípcias, a investiga- dade chinesa de Jiayuguan, foi descoberto um fóssil, que corresponde
ção de três anos do templo de Tasposiris Magna, construído em honra ao Xiongguanlong Baimoensis, que era mais pequeno e viveu milhões
da deusa Ísis pode ser o local onde se encontram as ossadas de Cle- de anos antes do Tyrannosaurus rex. O novo fóssil completa a ligação
ópatra e de Marco António. Uma equipa de arqueólogos descobriu 27 que faltava entre o grupo de dinossauros mais antigo e aquele que
túmulos e dez múmias de nobres e o radar usado aponta para três viveu dez milhões de anos depois. A espécie encontrada revela novas
possíveis locais para a localização dos restos mortais de duas figuras características que se encontram na anatomia do T-rex, como a caixa
míticas da história romana. O grupo de investigadores vai dar início às craniana, que é mais pequena e mais larga, uma estrutura vertebral
escavações onde acredita estarem os corpos do casal lendário. mais alargada e dentes incisivos modificados.

tecnologia
Maior combate a ciber-ataques
Viviane Reding, comissária europeia para a Sociedade de Informa-
ção e dos Media, apelou para que os Estados-membros estejam mais
atentos à questão dos ciber-ataques, pedindo mais empenho e co-
ordenação entre os países, para que tomem medidas eficazes de
protecção às redes electrónicas europeias. A comissária alerta para
a importância das infra-estruturas de informação, que são respon-
sáveis por controlar a distribuição de energia, de água, dos sistemas
financeiros, entre outros e que são vulneráveis a falhas na segurança
e a problemas técnicos. “Uma interrupção nos serviços de Internet na
Europa ou nos EUA com a duração de um mês significaria perdas eco-
nómicas de pelo menos 150 mil milhões de euros”, lembrou Viviane
Reding. Com dados a apontarem para uma probabilidade de dez a 20
por cento de ataques de larga escala nos próximos dez anos a redes de
informação europeia, é prioritário agir de forma a proteger estes me-
canismos. Os representantes discutem uma estratégia e a comissária
reclama um alto representante europeu para o sector.

20 | ANGOLA’IN · MUNDO
MUNDO · ANGOLA’IN | 21
IN FOCO | manuela bártolo

CIBERGUERRA

A ‘bomba atómica’
da era moderna
Da mesma forma que no passado a bomba atómica mudou a guerra e as estratégias
de dissuasão, uma nova corrida internacional começou a desenvolver verdadeiras armas
cibernéticas e os consecutivos sistemas para proteger-se delas

A questão actual é saber a le- As novas Tecnologias da Informação e Comu- mercados financeiros de outros países. Nos
gitimidade do uso de um tipo nicação (TIC) permitem, hoje, uma nova forma EUA, desde a presidência de G.W. Bush, com
de guerra, com armas ainda mais assustado- algumas experiências efectuadas no Iraque e
de arma e de guerra desigual,
ras do que as armas nucleares ou o terrorismo no Irão, debate-se sobre a possibilidade de de-
dissimulada e que pode pôr – a ciberguerra. Uma nova geração de armas senvolver esse tipo de armas online, com efeito
em risco bens e serviços essen- online, que permitem, por exemplo, sabotar defensivo, na tentativa de construir melhores
ciais, afectando a segurança e e encerrar centrais eléctricas, redes de teleco- defesas contra esses ataques e criar a dita no-
vida de milhões de pessoas municações, sistemas de aviação ou congelar va geração de armas online. As inovações mais

22 | ANGOLA’IN · IN FOCO
sabia que…
Se um único grande banco americano fosse
atacado com sucesso, o impacto teria uma
magnitude maior sobre a economia global do que
modernas que estão a ser estudadas permi-
os atentados de 11 de Setembro em Nova Iorque?
tiriam a um programador do Pentágono en-
trar subrepticiamente num servidor russo ou
chinês, por exemplo, e destruir um botnet
(programa potencialmente destrutivo usa-
do para infectar computadores de uma vasta
rede, que pode ser controlado clandestina-
mente) antes deste software nocivo poder
ser libertado nos EUA. Os serviços secretos
poderiam também activar um código mali-
cioso que é secretamente incorporado em
chips de computador durante o seu fabrico,
permitindo aos Estados Unidos controlar os
computadores dos inimigos por acesso re-
moto activado sobre a internet. Este, claro, nos éticos altamente complexos, sobre a nas quais os serviços secretos do país têm
é precisamente o tipo de ataque que os res- sua política de defesa. Até ao momento, o gasto milhões de dólares. Nos últimos me-
ponsáveis receiam poder ser lançado contra máximo que se sabe é que o Pentágono en- ses, vários responsáveis militares e de inte-
alvos norte-americanos através de chips ou comendou a fornecedores militares o de- ligência, bem como especialistas externos
computadores fabricados na China. Exem- senvolvimento de uma réplica secreta da descrevem um grande aumento na sofisti-
plos de desconfiança e espionagem idên- internet do futuro. O objectivo é simular cação das capacidades de defesas dos EUA
ticos aos que as tropas dos EUA no Iraque o que seria necessário para os adversários contra a ciberguerra. Muitos dos aspectos
fizeram quando quiseram atrair membros fecharem as fábricas de energia, as teleco- desta aposta norte-americana para desen-
da Al Qaeda para uma armadilha, entrando municações ou os sistemas de aviação de volver ciberarmas e definir o seu uso adequa-
nos computadores do grupo e modificando a outros países. A estratégia norte-americana do são confidenciais, facto que faz com que
informação que os dirigia ao alvo de armas consiste, para já, em criar melhores defesas muitos responsáveis se recusem falar publi-
americanas. Ou, quando Bush ordenou novas contra esses ataques, assim como uma no- camente do assunto. A própria Casa Branca
maneiras de desacelerar o programa nuclear va geração de armas online. Em declarações tem recusado diversos pedidos de entrevista
do Irão, em 2008, aprovando um programa recentes, oficiais militares e de inteligência, sobre o tema e nem sequer clarifica a posi-
experimental secreto, embora de resultados assim como especialistas externos, descre- ção de Obama – se é a favor ou contra o re-
incertos, para entrar nos computadores de veram um enorme aumento na sofisticação curso a ciberarmas pelos norte-americanos.
Teerão. Os episódios de utilização destes re- das capacidades de guerra cibernética ame- Claro que a ciberguerra não é considerada tão
cursos têm vindo a amontoar-se. ricana. Actualmente, no entanto, não há mortífera como uma guerra atómica, nem
uma ampla permissão para as forças ame- igualmente visível ou dramática. Porém, em
Os computadores estão ricanas entrarem na ciberguerra. Maio de 2007, Mike McConnell, ex-director
a tornar-se vitais nos dos serviços secretos, informou Bush sobre
conflitos mundiais, não só Num mundo onde já não se a ameaça de uma forma inequívoca. Um só
aplicam as regras dos con- ataque bem sucedido a um grande banco
na espionagem e nas acções
flitos convencionais, os EUA ‘teria um impacto na economia global maior
militares, mas também para
que o 11 de Setembro’. Segundo McConnell,
filtrar a informação que estão na vanguarda de uma
“a capacidade de ameaçar as reservas mo-
chega às pessoas nova dimensão - a ciberguerra
netárias norte-americanas é o equivalente
actual de uma bomba atómica”. Os cenários
No entanto, a questão que se coloca é a de NORTE-AMERICANOS NA DIANTEIRA
desenvolvidos no ano passado para Obama
saber até que ponto será legítimo o uso de Espera-se que o novo presidente dos EUA,
por McConnell e o seu coordenador para a
um tipo de arma e de guerra assustadora- Barack Obama venha a propor, dentro em
cibersegurança, Melissa Hathaway, foram
mente desigual, tentacularmente dissi- breve, um esforço defensivo melhor estrutu-
mais longe. Incluíam diversas vulnerabilida-
mulada e que pode pôr em risco, de modo rado e mais alargado, o que inclui um suporte
des incluindo um ataque a Wall Street e uma
avassalador, bens e serviços essenciais e as- extra avaliado em 17 mil milhões de dólares
operação para deitar abaixo a rede eléctrica
sim afectar a segurança e vida de milhões de (13 mil milhões de euros) para um programa
nacional. E eram na sua maioria extrapola-
pessoas, quando não minar, totalitariamen- de cinco anos, aprovado pelo Congresso em
ções de ataques já tentados no passado. As
te, a liberdade individual de um vasto núme- 2008, que põe fim à guerra burocrática pa-
autoridades militares dos EUA temem que
ro de cidadãos do mundo. A guerra, como ra definição de uma política nacional contra
as leis e as regras dos conflitos armados não
actividade humana, também deve ter regras ciberataques. Um anúncio official inespera-
sejam aplicadas no cibermundo, onde os al-
eticamente determinadas. Depois da prisão do, uma vez que não é previsível que o pre-
vos mais vulneráveis são civis. “A Rússia e
sem julgamento e da tortura em Guantana- sidente faça grandes revelações sobre as
a China têm muitos hackers nacionalistas”,
mo de Bush, os EUA de Obama enfrentam capacidades ofensivas norte-americanas,
lembra uma fonte militar.
agora uma nova problemática, com contor-

IN FOCO · ANGOLA’IN | 23
IN FOCO

AVANÇO DA CENSURA
Uma nova geração
A ciberguerra envolve limites à informação.
Na web, a censura avança em força, mas há de armas online
meios para a contornar. O governo iraniano, permite sabotar e
por exemplo, censura, mais do que qualquer encerrar centrais
outro, o que os seus cidadãos podem ler on- eléctricas, redes de
line, recorrendo a uma tecnologia específica telecomunicações,
para bloquear milhões de sites da internet
sistemas de aviação
com notícias, comentários, vídeos, música e,
até há pouco tempo, o Facebook e o Youtu- ou congelar
be. Em sites muito populares que oferecem mercados financeiros
downloads gratuitos de software surgiu, em de outros países
Julho de 2008, um programa informático que
permite aos iranianos esquivarem-se às li-
mitações censórias do governo. Os primeiros
a descobrir o alçapão foram estudantes uni-
versitários, que passaram a notícia através de
emails e partilha de ficheiros. No fim do Ou-
tono, mais de 400 mil iranianos navegavam
na web sem censura. O software foi criado por
peritos informáticos chineses, voluntários do
Falun Gong, o movimento espiritual que o go-
verno da República Popular suprimiu em 1999.
Os peritos mantêm uma série de computado-
res em centros de dados pelo mundo inteiro
para reencaminhar os pedidos dos utilizado-
res da web de modo a contornar os firewalls
dos censores. A internet já não é apenas um
canal essencial para comércio, entretenimen-
to e informação: tornou-se também o palco
do controlo estatal e da rebelião contra ele.
Os computadores estão a tornar-se cada vez
mais vitais nos conflitos mundiais, não só na
espionagem e nas acções militares, mas tam-
bém para determinar que informação chega
às pessoas no planeta. Existem mais de 20
países a usar sistemas sofisticados para blo-
quear e filtrar conteúdos da internet, revela a gato e do rato, o gato contra-ataca. O sistema aos chineses e sem censura. Os censores do
organização Repórteres Sem Fronteiras, grupo chinês, por exemplo, que os opositores desig- governo censuram sobretudo grupos conside-
sedeado em Paris que promove a liberdade de nam por a Grande Muralha da China, é em par- rados inimigos do Estado. O bloqueio deste de
imprensa. Embora os sistemas de filtragem te construído com tecnologias ocidentais. grupos com esta nomeação é, cada vez mais,
mais agressivos tenham sido instalados por insidioso porque a tecnologia de filtro tornou-
governos autoritários, como o de Irão, China, A internet já não é apenas um se bastante sofisticada. Os governos podem
Paquistão, Arábia Saudita e Síria, algumas de- bloquear palavras ou expressões sem que os
canal essencial para comércio,
mocracias ocidentais começaram também a utilizadores se dêem conta de que as suas
filtrar conteúdos como a pornografia infantil e entretenimento e informação. pesquisas na internet estão a ser censuradas.
material de natureza sexual. Uma amálgama Tornou-se também o palco do Quem apoia os opositores da censura critica
heterogénea de activistas políticos e religio- controlo estatal e da rebelião os sistemas geridos pelo governo, declaran-
sos, defensores das liberdades civis, empre- do-os o equivalente digital do Muro de Berlim.
contra ele
sários da internet, diplomatas, militares e Também vêem no combate anticensura um
agentes de serviços de segurança está agora a Razão pela qual, hoje o governo chinês em- poderoso instrumento político. Todas as se-
combater a crescente censura da internet. Os prega mais de 40 000 censores em dezenas manas, a internet da China recebe 10 milhões
criadores do software usado pelos iranianos de centros regionais e centenas de milhares de mensagens de correio electrónico e 70 mi-
pertencem ao Global Internet Freedom Con- de estudantes recebem dinheiro para inun- lhões de mensagens instantâneas do consór-
sortium, cuja base está sobretudo nos Esta- dar a internet com mensagens do governo pa- cio. Mas, ao contrário do correio não solicitado
dos Unidos e tem estreitos laços com o Falun ra afogar a intervenção dos dissidentes. Isto (o spam), as mensagens oferecem software
Gong. O consórcio é um dos muitos grupos que não quer dizer que a China bloqueie o acesso para contornar os sistemas governamentais
estão a desenvolver sistemas para tornar pos- à maioria dos sites da internet: grande parte que bloqueiam o acesso a sites da web de gru-
sível o acesso à internet aberta. Neste jogo do do material existente na web está disponível pos da oposição.

24 | ANGOLA’IN · IN FOCO
ECONOMIA & NEGÓCIOS | manuela bártolo

banco africano de desenvolvimento

o chanceler
do progresso
É do conhecimento geral que o desenvolvi- tores, sido preponderante no continente afri- débeis estruturas institucionais são tam-
mento do sector privado é driver de susten- cano, tornando-se um exemplo gratificante bém factores que tornam estes países menos
tabilidade, força de crescimento económico para os seus congéneres mundiais. competitivos no mercado global. O relatório
e redução da pobreza nos países. Este é, por- aponta ainda para uma série de histórias de
tanto, um dos principais objectivos do Ban- sucesso na região, que são exemplos do que
O acesso limitado a serviços
co Africano de Desenvolvimento (BAD). Uma os países podem fazer para melhorar o clima
financeiros continua a ser um
instituição que está fortemente empenhada de negócios. Para que todos atinjam um no-
no estabelecimento de parcerias com empre-
dos grandes obstáculos para vo patamar de desenvolvimento, o documen-
sas para o crescimento do sector privado no as empresas africanas to salienta a importância da adopção de uma
continente. Criado em 1964, este é hoje um visão integrada dos desafios políticos que as
dos maiores bancos multilaterais do mun- MAIOR COMPETITIVIDADE nações enfrentam na construção de uma base
do. Enquanto organismo para a promoção As empresas africanas podem tornar-se mais para um crescimento e prosperidade susten-
do progresso económico e social que tem co- competitivas, caso os governos de África e os táveis. O mesmo destaca dois temas políticos
mo metas a luta contra a pobreza, a melhoria seus parceiros internacionais agilizem o aces- de curto prazo e três a mais longo prazo, pa-
das condições de vida da população e a mo- so ao financiamento, resistam a pressões pa- ra melhorar a competitividade das economias
bilização de recursos para o desenvolvimento ra levantar barreiras ao comércio, tornem mais africanas. Os dois temas de curto prazo são: o
económico e social dos seus países membros eficientes as infra-estruturas, melhorem os aumento do acesso ao financiamento através
regionais, o BAD mobiliza recursos destinados serviços de saúde e de educação e consolidem de políticas que favoreçam o mercado e a ma-
a financiar projectos e programas de cresci- as suas instituições. Estas são algumas das nutenção dos mercados abertos ao comércio.
mento. Deste modo, uma das suas grandes conclusões a que o relatório The Africa Com- Os sistemas financeiros de África têm vindo
estratégias é a promoção do investimento petitiveness Report 2009, (Relatório sobre a a crescer e a aprofundar-se em anos recen-
de capitais públicos e privados em projectos e Competitividade em África 2009), faz alusão. tes, mas a presente crise global ameaça in-
programas que possam contribuir para o de- Um trabalho elaborado em conjunto por três verter esta tendência e minar os progressos
senvolvimento económico e social em África, instituições – o Fórum Económico Mundial, o iniciados. Torna-se agora ainda mais impor-
entre os quais é de destacar programas e es- Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) e tante reforçar as estruturas necessárias para
tudos no âmbito do sector agrícola, da saú- o Banco Mundial (BM), em que é salientado o estabelecer sistemas financeiros sólidos, efi-
de, dos transportes, das telecomunicações e, facto do acesso limitado a serviços financei- cientes e abrangentes. Em resposta à crise
como é referido em cima, do sector privado. ros continuar a ser um dos grandes obstácu- económica global estão a surgir forças protec-
A sua intervenção acontece ainda em secto- los para as empresas africanas. No entanto, cionistas. Mas essas medidas só terão como
res como o dos recursos hídricos ou o da luta as infra-estruturas subdesenvolvidas, os ser- resultado diminuir a procura e cercear o cres-
contra a Sida. O seu papel tem, por esses fac- viços limitados de saúde e educativos e as cimento. Os líderes africanos devem resistir

26 | ANGOLA’IN · ECONOMIA & NEGÓCIOS


a saber…

O BAD é um banco de desenvolvimento multinacional composto por 77 membros


– 53 países de África e 24 da Europa, América e Ásia. Foi criado em 1964, mas
as suas actividades começaram em pleno dois anos depois, 1966, na sua sede em
Abidjan, Costa do Marfim. A sua missão é promover o desenvolvimento econó-
mico e progresso social dos seus países membros regionais através de emprésti-
mos, investimentos em diversas áreas e assistência técnica

O GRUPO BAD É COMPOSTO POR TRÊS INSTITUIÇÕES:


- O Banco Africano para o desenvolvimento (BAD);
- O Fundo Africano para o Desenvolvimento (FAD);
- Trust Fund da Nigéria (NTF) / Fundo Fiduciário da Nigéria

O FAD é um financiamento concessional para os países membros regionais que


não têm possibilidades de adquirir um financiamento junto do banco nos seus
termos específicos. Foi criado em 1972 e entrou em plena actividade a partir de
1974. Conta, principalmente com as quotas dos países membros representantes.
De acordo com a sua política de financiamento, este fundo tem como principal
objectivo a redução da pobreza nos países beneficiários.
O BAD é, na actualidade,
um dos principais bancos O Trust Fund da Nigéria foi criado pelo Governo da Nigéria em 1976 para as-
sistir os países membros do grupo mais carenciados. Está sob gestão do BAD,
multilaterais do mundo
prevê financiamento com taxas de juro a 4%, pagamento em 25 anos com 5 anos
de isenção

às pressões políticas internas para levantar São necessários mais exemplos de boa gover- nação, modernizam os mercados de capitais e
barreiras comerciais que viriam a tornar ain- nação e de uma liderança forte e com visão. fazem os investimentos necessários para tirar
da mais difícil a recuperação na região. Os três Um clima institucional forte e transparente partido da enorme capacidade de recursos e
temas a mais longo prazo têm como objectivo é o que mais tem contribuído para o sucesso criatividade da sua gente”. “Para nós, a ques-
ultrapassar o facto das infra-estruturas con- das economias mais competitivas de África. tão mais crítica nesta fase é como estabele-
tinuarem a ser um dos principais obstáculos Muito tem sido feito nos últimos anos para cer um equilíbrio entre uma reacção à crise a
aos negócios em África. Energia e transpor- melhorar estas estruturas, mas em muitas curto prazo mantendo ao mesmo tempo um
tes criam os principais estrangulamentos ao zonas da região é necessário tornar as insti- enfoque nas questões a longo prazo, chave
crescimento da produtividade e da compe- tuições mais abertas aos negócios, para esti- para sustentar o crescimento em África, co-
titividade no continente. O investimento no mular a competitividade. Este factor é agora mo o desenvolvimento de infra-estruturas, e
melhoramento de infra-estruturas colocaria particularmente importante, porque a actual uma força de trabalho qualificada, bem como
a África numa trajectória de crescimento e crise económica global ameaça fazer retro- a integração económica”, referiu Donald Kabe-
simultaneamente serviria de estímulo fiscal ceder as reformas de governação. “O Africa ruka, presidente do BAD. Para além de ava-
nesta altura crítica. Os ineficientes serviços Competitiveness Report deste ano é a segun- liações de competitividade e custo de fazer
básicos de educação e saúde prejudicam o po- da iniciativa das três organizações para colo- negócios no continente, o relatório inclui
tencial produtivo do continente. Esta é talvez car o continente num contexto internacional
a área que carece de mais atenção. A menos mais alargado e fazer luz sobre aspectos im-
que os sistemas educativos e de cuidados de portantes do desenvolvimento na região, tão
saúde sejam melhorados, as empresas conti- particularmente críticos nesta época de crise tome nota…
iveness
nuarão a ver dificultado o seu acesso ascen- global”, diz Klaus Schwab, Fundador e Presi- O Africa Competit
iderado um
dente à cadeia de valor e o desenvolvimento dente Executivo do Fórum Económico Mun- Report 2009 é cons
para os
documento valioso
económico será prejudicado. dial. “O investimento em infra-estruturas
numa óptica regional ajudaria a amortecer o , estrategas
decisores políticos
Em resposta à crise económica impacto da crise e a posicionar África de modo cios e outros
a tirar partido da retoma da economia global, do mundo dos negó
global estão a surgir forças ressados,
quando se verificar”, comentou Obiageli Ka- intervenientes inte
proteccionistas. Mas essas itura
medidas só terão como tryn Ezekwesili, vice-presidente para a Região bem como uma le
todos os
resultado diminuir a procura
África do BM em Washington D.C. “Os países indispensável para
na região
e cercear o crescimento
que colherão os maiores benefícios e limitarão
que têm interesses
o impacto adverso da crise serão aqueles que
sustentam as reformas, consolidam a gover-

ECONOMIA & NEGÓCIOS · ANGOLA’IN | 27


ECONOMIA & NEGÓCIOS
ACTIVIDADES POR SECTORES 2009 - 2011 PROJEC‚ÍES DE INVESTIMENTO 2008 - 2011
ua million
100% 6.000

5.000
80%

4.000
60%

3.000

40%
2.000

20%
1.000

0% 0
2009 2010 2011 total 2009-2011 2008 2009 2010 2011
infrastructure governance industry and finance education agriculture social adb private lending adb public lending adf loan adf grant

INVESTIMENTOS PAêSES AFRICANOS EM INFRA-ESTRUTURAS NECESSIDADES INVESTIMENTO EM INFRA-ESTRUTURAS


% investimento / pib fonte: resultados preliminares aicd 2008 NA çFRICA SUB-SAHARIANA NOS PRîXIMOS 10 ANOS
12% fonte: resultados preliminares aicd 2008

10%
CAPEX OPEX
8%
US $ MILHÕES/ANO % PIB US $ MILHÕES/ANO % PIB
6% t. informação 0.8 0.1 1.1 0.2

4% irrigação 0.7 0.2 - -

2% energia 23.2 4.2 19.4 2.4

transporte 10.7 1.7 9.6 1.5


0%
rwanda
c. d’ivoire
nigeria
cameroon
niger
madagascar
tanzania
chad
uganda
zambia
kenya
senegal
lesotho
benin
ethiopia
mozambique
malawi
ghana

south africa
cape verde
namibia

águas e saneamento 2.7 0.4 7.3 1.2

total 38.1 6.6 37.4 5.3


current capital

também uma análise sobre a profundidade e americanos investidos por esta instituição tir em alguns projectos, retiraram-se devido à
sofisticação dos mercados financeiros regio- em infra-estruturas dos instrumentos de in- crise. Em Março passado, esta entidade ins-
nais, as medidas eficazes que as economias tegração regional em África, permitem mo- taurou um Fundo de Liquidez de Emergência
relativamente mais pequenas do continente bilizar entre 4,5 mil milhões a 6 mil milhões de um capital de 1, 5 mil milhões de dólares
têm introduzido para promover a sua compe- de dólares americanos suplementares, que americanos. O BAD adoptou ainda uma inicia-
titividade e a medida em que os países africa- vêm aumentar o que foi investido. Segundo o tiva de financiamento do comércio num va-
nos têm implementado factores para facilitar mesmo responsável, estes fundos continuam lor de um bilião de dólares americanos para
o comércio transfronteiras. Estão também a ser insuficientes, já que as estimativas pa- colmatar as desistências de algumas insti-
incluídos no relatório perfis detalhados de ra as necessidades de África em investimento tuições financeiras dos projectos em execu-
competitividade e clima de inves- ção em África. Dentro deste quadro,
timento, fornecendo assim um O BAD investe USD 1,5 mil milhões/ano em uma outra medida foi implemen-
sumário dos motores de compe- instituições e operações de integração regio- tada, em princípios de Maio, e que
titividade em cada um dos países nal para infra-estruturas básicas. Em cada consistiu na mobilização de 15 mil
abrangidos pelo relatório. dólar investido consegue, através de leasing, milhões de dólares americanos para
ajudar África a ultrapassar esta fase
levantar 3 a 4 dólares suplementares
INVESTIMENTO EM POTÊNCIA de crise financeira. Lamine Manneh
O BAD investe anualmente cer- indicou que, tendo em conta o custo
ca de 1,5 mil milhões de dólares americanos a nível das infra-estruturas, efectuadas pelo exorbitante dos projectos de infra-estruturas
em instituições e operações de integração Consórcio Africano para as infra-estruturas, básicas, o BAD criou um programa intitulado
regional no continente para infra-estruturas nos próximos 10 anos, atingem entre 40 e “Facilidade de Preparação de Projecto de In-
básicas. De acordo com o responsável do De- 80 mil milhões de dólares americanos des- fra-estrutura”, através do qual o banco con-
partamento de Ligação e Parceria com as Co- tinados ao desenvolvimento das infra-estru- cede, em colaboração com os seus parceiros
munidades Económias Regionais em África turas básicas no continente. O perito do BAD bilaterais e multilaterais, facilidades com a
da instituição bancária, Lamine Manneh, em afi rma que estas enormes necessidades em concessão sob forma de doações de recursos
cada dólar investido o banco consegue, atra- investimentos foram agravadas pela actual aos países para financiar a preparação dos
vés de leasing, levantar três a quatro dólares crise fi nanceira mundial, indicando que al- projectos de infra-estruturas.
suplementares. Os 1,5 mil milhões de dólares guns parceiros fi nanceiros que deviam inves-

28 | ANGOLA’IN · ECONOMIA & NEGÓCIOS


no epicentro da comunicação

NA NOSSA COMPANHIA, NÃO PRECISA DE TEMER AS RÉPLICAS. COMUNICARE, ONDE QUER QUE ESTEJA, ESTAMOS CONSIGO.
COMUNICARE - Comunicação e imagem | Rua do Senhor, 592 - 1º Frente | 4460-417 Sra. da Hora - Portugal | T: +351 229 544 259 | F: +351 229 520 369 | E: [email protected]

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ECONOMIA & NEGÓCIOS | manuela bártolo

líderes do
futuro

A IMPORTÂNCIA DE SE SER UM LÍDER GESTORES COMUNICATIVOS


A expressão que caracteriza os líderes do futuro é “self-starter”. É o executivo que tem inicia- E COOPERANTES
tiva, orientação permanente para os resultados, capacidade de influir de forma efectiva em Os homens e mulheres que mandarão, no fu-
processos de decisão e que tem ainda o dom de ser extremamente motivado. O chamado self- turo, nas organizações serão de fácil acesso e
starter tem uma enorme força de vontade, tenacidade e perseverança. É aquele que aceita os partilharão a informação com as equipas, quer
desafios e procura sempre as melhores alternativas para executar as suas tarefas. Os líderes em reuniões, quer informalmente. Razão pela
do futuro não são, por isso, líderes que esperam. Têm em si um espírito proactivo, precursor qual, o líder do futuro deverá comunicar com
e instinto peremptório. Têm a capacidade de permanentemente inspirar a sua equipa, obten- persuasão, comportar-se com honra, respei-
do resultados para o accionista no curto prazo, mas gerindo com uma visão em mente, asse- tar os outros e saber actuar, ao mesmo tem-
gurando a sustentabilidade a médio e longo prazos. Não há espaço para aversão à mudança. po que gera confiança, certeza, optimismo e
Sabe lidar com diferentes cenários, equipas e mercados. No livro O Líder do Futuro, o guru da convicção, de forma a criar um compromisso.
gestão Peter Drucker deita por terra a teoria de que um indivíduo já nasce líder. E esta inves- Difícil? Sim. Mas não impossível. É preciso ter
tigação confirma que o é talhado no dia-a-dia. A autonomia faz parte das características dos uma mente muito aberta, respeitar os valo-
novos gestores. Os líderes são incentivados a tomar decisões, assumir responsabilidade e a res e ter noção do que a vida custa. No futu-
ter capacidade de se auto-avaliarem. Os homens tenderão a actuar como se fossem conse- ro, tenderão a ser valorizados os profissionais
lheiros. No futuro, pessoas que não forem coaches não serão promovidas. Gestores que forem interessados por áreas que vão além do tra-
coaches serão a regra. Marcará a nova forma de gerir a actuação em equipas multidisciplinares balho, como as artes e que mantenham hob-
e com quem discutem estratégias. Isso dará ao líder uma visão global e não só a que os sub- bies. Tudo isso enriquece o ser humano e com
missos lhe transmitem. Ter uma mente estreita não faz parte da lista de características dos uma mente estimulada é mais fácil analisar
dirigentes promissores. Aliás, o género técnico, que não sai do trilho preestabelecido e estilo qualquer assunto, encarando-o com um todo.
workholic está fora de moda. Os mais atentos já se aperceberam que é preciso ser mais zen. Confirma-se também que quem consegue
Não se trata de nada esotérico, mas puro bom senso na gestão do tempo e das atitudes. O que equilibrar carreira e família é mais feliz, está
conta é ter mais tempo para dedicar às pessoas. mais realizado e apresenta melhores resulta-
dos. São estas pessoas que as empresas ten-
Os líderes terão de ter mais espírito de missionário derão a caçar. Hoje os jovens já manifestam
e menos de mercenário preocupação em ter tempo para a sua vida

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UM SONHO DE LÍDER
A consultora Korn/Ferry International diz que as seguintes
competências são essenciais ao líderes do futuro
› Iniciativa É a capacidade de influir de forma efectiva na decisão, ser
extremamente motivado, o chamado self-starter, ter grande força de vontade
,
tenacidade e perseverança. Quem tem iniciativa e aceita desafios, depois
de fazer
a avaliação dos riscos, e procura sempre novas e melhores alternativas
para
executar as tarefas, sem perder a orientação permanente para os resultad
os;
› Capacidade Intelectual Argumentar com lógica e ser capaz
de correlacionar factores e problemas complexos;
› Competência Funcional Domínio da função, expansão do
conhecimento e o reconhecimento de oportunidades. Quem tem esta
competência mantém um foco permanente na actualização;
› Competência organizacional É a capacidade de observar, definir
e adaptar prioridades, resolver problemas e implementar soluções
e de ter uma postura construtiva em relação à mudança;
› Produtividade e estabilidade Saber administrar o tempo, manter-
se focado no problema e não se deixar levar por assuntos secundários.
Um profissional de alta produtividade preocupa-se em dar feedback sobre
iniciativas anteriores, é resistente ao stress e possui a capacidade de actuar
em
situações críticas, sem perder a vitalidade e a estabilidade emocional;
› Compatibilidade com os outros Esta área pode ser entendida como
a
inteligência emocional. Sabe interagir com superiores, pares e subordin
ados,
estabelece relações construtivas e duradouras. Tem capacidade de
comunicação, inspira, tem carisma e ainda sabe usar a intuição.

pessoal e para a sua futura família. Nota-se relembrar mais tarde. Nos últimos anos criou- Informação já não é poder, mas,
que os interesses não estão só concentrados se uma economia muito virtual, que revelou sim, utilizar e seleccionar
no emprego, mas também no desporto e na todas as suas fraquezas, e faltou uma regu-
intervenção social. Quando todos são muito lação forte e eficaz. Por essa razão, os líde- O futuro vai requerer talento para gerir com
bons é a inteligência emocional que faz a di- res do futuro terão de estar preparados para originalidade, uma via nunca experimentada.
ferença. Hoje já há candidatos a lugares de li- lidar com Estados mais interventivos e com Precisará de obstinação mental e força de ca-
derança que são preteridos por falta de soft reguladores mais fortes. Da crise, emerge a rácter. A salvação dos gestores passará por
skills, por não terem inteligência emocional, necessidade de um melhor aproveitamento adaptar as ideias de acordo com a situação
de interacção e de liderança, não serem bons das equipas, a necessidade de fazer diferen- em que se está a viver e a trabalhar. É preci-
ouvintes ou não saberem ler sinais de equipa te e de pensar em como gerar dinheiro, uma so ser humilde para reaprender; ter vontade
e de mercado. “Os líderes terão de ter mais vez que a liquidez será nos próximos tempos de aprender, perceber as diferentes realidades
espírito de missionário e menos de mercená- o bem mais escasso e mais valorizado em to- e não dar nada como garantido são factores
rio”, explica Fernando Neves de Almeida, ma- das as empresas. Liderar organizações é um chaves para ser um líder do amanhã. Com es-
naging partner da Boyden. jogo cada vez mais rápido e arriscado. Terá ta crise aprendemos que o que não sabemos
Razão pela qual, algumas escolas de Gestão mais oportunidades de ganhar este desafio tem mais importância do que aquilo que já sa-
já se estão a adaptar ao novo paradigma e enquanto gestor se colaborar com o sucesso bemos. O que os gestores precisam de fazer
está preocupada com disciplinas que tratam, da mudança; se conseguir entender como se- é reduzir o que não sabem e o seu respectivo
por exemplo, o impacto da felicidade no tra- rá a empresa no futuro e se conseguir mostrar impacto, aceitando o grau de incerteza em que
balho. aos seus accionistas e aos seus colaboradores lideram e aceitando ser postos à prova, por-
como as suas habilidades podem ser úteis; e que só daí advém a segurança. A capacidade
O futuro vai requerer talento ainda se souber manter as equipas tranquilas analítica também é condição para o sucesso.
para gerir com originalidade e o trabalho sem derrapagens no tempo e no Hoje todos temos acesso a milhões de dados,
custo. Mas isso não basta. Ainda será neces- sobretudo através da internet. No futuro se-
ADEPTOS DA MUDANÇA sário compreender que as prioridades da em- rão mais ainda. Será elogiada a habilidade de
Não lutar contra o inevitável é a lição a retirar presa mudam em momentos complexos. Aos separar o trigo do joio e perceber o que é real-
da crise financeira que o mundo vive e que irá líderes do futuro será exigido gerir à vista. mente importante para o seu negócio. Com-

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ECONOMIA & NEGÓCIOS

pilar a informação é fácil. Difícil é seleccionar, de Davos. De acordo com os dados revelados, acentuada dos centros de produção para os
colocar os dados em perspectiva e, a partir daí, 59% dos jovens que serão líderes globais de mercados emergentes. Por outro lado, há que
retirar novas tendências e padrões de compor- futuro consideram que o aquecimento global ter em conta as novas energias que podem vir
tamento que podem ser úteis para decidir que será o tema chave em 2030, seguido da pro- a traduzir-se numa revolução industrial, com
caminho a empresa que lidera vai escolher. In- blemática da delapidação dos recursos, que um alcance ainda imprevisível. E ainda o in-
formação já não é poder, mas, sim, utilizar e preocupa 37% dos inquiridos. O estudo revela contornável papel que os BRIC (Brasil, Rússia,
seleccionar. Os novos líderes devem mobilizar que sete em cada dez participantes acredita Índia e China) irão ter na economia global. Uma
os recursos e a informação que não estão a que as nações perderão poder, mas continua- questão pertinente, que ainda não se conse-
utilizar dentro da sua própria empresa e criar rão a ser determinantes para resolver os pro- gue prever, pois como dizia o famoso filósofo
um organismo de informação e inteligência blemas globais, enquanto 86% pensam que Sócrates ‘cada pessoa cria a sua verdade de
dentro da organização. É necessária uma ges- as empresas e os indivíduos terão protagonis- acordo com os seus interesses’ e isso reflecte
tão com base na verdade. Já não vai ser pos- mo crescente neste tipo de temas. Não é só o que se vive hoje no mundo empresarial e, so-
sível ocultar informações da maneira como foi o perfil do executivo e as suas preocupações bretudo, na realidade financeira. Daí, o maior
feito até aqui e isso exige uma nova forma de que mudarão com o passar dos anos. Também problema dos líderes actuais foi que a deter-
trabalhar. A informação aliada ao avanço das as fontes onde as empresas passarão a ir bus- minada altura deixaram de experimentar a
tecnologias vai ter um impacto cada vez maior car os novos talentos tenderão a alterar-se. partir da perspectiva do não saber. No futuro,
na vida dos executivos, pois permitirá toma- No último meio século houve consenso sobre não podem, nem devem correr esse risco.
das de posição rápidas sobre os mais varia- o tipo de lugares onde se iam buscar líderes
dos assuntos e a integração das tecnologias eficientes, como as empresas General Electric, SER O NÚMERO 1
Web, telefónica, rádio e de comunicações mó- IBM, Procter, Mckinsey, e as universidades de Para as centenas de líderes e de jovens de
veis está a criar um mundo always on, always Harvard e Wharton. O novo campeonato pas- elevado potencial que existem actualmente,
connected, everyone to everyone, everything sa por encontrar, por vezes em lugares não um conselho: é fundamental o auto-conhe-
to everything (sempre ligado, sempre conec- convencionais, seres humanos com compe- cimento, pois é aí que vai estar a nova forma
tado, todos para todos, tudo para tudo). Uma tências para liderar. As pessoas invisíveis na de pensar. Desta forma, pode-se evoluir de um
frase que espelha a importância do gestor es- organização têm de se tornar visíveis. Como pensamento mais táctico para um estratégico,
tar preparado para ficar sempre on. diz Kant ‘tenha a coragem de se servir da sua aquilo que as empresas exigem, uma vez que
própria inteligência’. uma táctica sem estratégia não é sustentável.
O trio do futuro passa por: No futuro, os executivos vão ter de aprender
lucro, pessoas e ambiente NOVOS MERCADOS, NOVOS TALENTOS a questionar-se. Assumir o que os outros nos
Os gestores que vão liderar as grandes empre- transmitem, não reflectindo por conta própria
Executivos sustentáveis! Sabe o que isso é? sas terão de estar ainda preparados para tra- e ignorando a dúvida é um comportamento
Ter consciência socioambiental será obriga- balhar em novos e improváveis países. Fazer que não pode permanecer. É preciso testar o
tório nos tempos mais próximos. Podemos uma carreira numa organização deslocalizada risco da perda, mesmo que a nível pessoal. To-
arriscar que hoje dificilmente é vetada uma ou em mercados emergentes tornar-se-á ba- da esta mudança mental exige décadas, mas é
candidatura a um emprego de topo por falta nal no futuro. No novo paradigma, a economia um inevitável upgrade (evolução) que é preci-
de envolvimento do candidato neste assunto. vai ter de se adaptar aos novos desafios, uma so fazer na maneira de pensar dos mais jovens
Muito se diz, mas ainda pouco se faz. É sem- vez que a deslocalização será cada vez mais que querem ser o futuro líder das empresas.
pre vista como uma disciplina do futuro. Po-
rém a maioria dos recrutadores acredita que
o tema já é importante e que poderá ser um
factor de exclusão de vários candidatos no fu-
turo. Desenvolver negócios sustentáveis se-
rá a responsabilidade de todos os executivos
sem excepção. O novo tema indissociável da
liderança é realmente o desenvolvimento sus-
tentado, o que significa ter uma estratégia.
O futuro não passa por tomar decisões me-
ramente tácticas e instrumentais, com vista
apenas à remuneração do accionista e para se
reflectir no seu bónus. As feridas provocadas
ao ambiente não serão toleradas doravante.
Por exemplo, numa política de deslocalização
da produção isso terá de ser particularmen-
te tido em conta. O trio do futuro passa por:
lucro, pessoas e ambiente. Os líderes globais
elegem o tema das alterações climáticas como
a principal preocupação por volta de 2030, re-
vela um estudo do Fórum Económico Mundial

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ECONOMIA & NEGÓCIOS | manuela bártolo

genes do sucesso
OS 4 “É’S” PARA VENCER cia de medo por parte de um líder para explo- líderes do futuro precisam de assumir atitu-
Ouvimos falar com frequência deste conceito. rar novas ideias, produtos e mercados, mesmo des diferentes e radicais, pois sem desejo e
Mas, na verdade, do que se trata a “mentali- quando as recompensas não são imediatas. O vontade de vencer não se pode competir no
dade global”? Primeiro, precisa de desvendar “é” seguinte aplica-se a “exemplo”: à medida mundo actual. Nos negócios algumas qualida-
o segredo guardado por alguns dos maiores que as empresas se tornam mais dispersas e des de liderança são imutáveis, no entanto o
gestores da actualidade e conhecer os quatro distantes, os líderes deparam-se, mais fre- território empresarial expandiu-se para novas
“és” da liderança global, ou seja, as qualidades quentemente, com o difícil desafio de cons- áreas e, com ele, também as exigências para
essenciais para o sucesso neste novo mundo truir uma cultura organizacional com valores uma boa liderança.
sem fronteiras. O primeiro “é” surge da pala- partilhados. Facto que faz com que os novos
vra empatia. No moderno contexto empresa- líderes precisem de se impor como modelos Ter uma visão global e res-
rial significa muito mais do que compaixão. a seguir. Nesse sentido, precisam de incorpo- peitar diferentes valores cul-
Traduz na essência a necessidade de conhecer rar os comportamentos que as suas empresas turais são características
suficientemente bem as outras culturas para esperam de todos os colaboradores. Lembre-
cruciais para aqueles que que-
mostrar conscientemente respeito pelos seus se: as acções falam mais alto do que as pa-
rem ter sucesso. Assim como
valores e tradições. No mundo global, é impor- lavras. Finalmente, o quarto “é” deriva, mais
tante dignificar aquilo que os diferentes pa- uma vez, da crescente competitividade do
ter coragem de inovar em tem-
íses valorizam. O segundo “é” diz respeito à mercado global – “entusiasmo” – ou mais es- pos de crise, mesmo que, para
“experimentação”, o que representa a ausên- pecificamente “entusiasmo para ganhar”. Os isso, tenha de...se despedir

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COMO MARCAR A DIFERENÇA 1› SEJA ECLÉTICO Especializar-se é importante, mas, para se dar bem, o profissional precisa
Há mais maus dirigentes do que se possa de ser capaz de lutar em várias frentes. Encare as tarefas diferentes como crescimento e deixe
imaginar, mas um bom gestor pode mudar a o “isto eu não faço” para quando tiver um cargo mais alto e maior poder de influência e decisão.
vida de um profissional. Um bom chefe deve 2› NÃO SE ACOMODE Se você está há mais de dois anos na mesma função e se mesmo com
ser íntegro, bom avaliador, saber criticar e re- um bom salário não procura ou ambiciona nenhum progresso profissional, cuidado. Para o mer-
compensar, não ter favoritos e ser um apoio cado, você pode ser visto como uma pessoa acomodada e, por conseguinte, como alguém que
nos momentos maus. Muitas vezes nos ques- não almeja crescimento. Procure colocações, pesquise, compare os seus métodos com os de ou-
tionamos sobre como “gerir” um mau chefe
tros colegas. Essa ‘investigação’ vai-lhe trazer parâmetros mais exactos, mais acertados do que
– aqueles que manipulam e confundem os co-
aqueles percebidos no seu próprio ambiente.
laboradores. No entanto, sabemos que a dife-
rença entre um bom e um mau líder é que o 3› SEJA ÉTICO É divulgado diariamente nos jornais e na TV: o mercado é corruptível e existem
primeiro pode influenciar positivamente, ins- pessoas que fazem qualquer negócio para conseguir o que querem, inclusive desvendar segre-
pirando tanto profissional, como pessoalmen- dos profissionais para a concorrência ou ‘roubar’ clientes e futuros projectos dos parceiros de
te um colaborador e ajudando-o a vencer os negócio. Esse tipo de atitude é indesculpável e a reacção do mercado a ela é implacável: prova-
desafios em equipa. Mas o que devemos exi- velmente, as oportunidades irão-se fechar para você, bem como poderá perder amizades. Faça
gir dele? Em primeiro lugar, é razoável esperar jus à confiança que recebeu e preserve o seu bom nome a qualquer preço.
que as suas avaliações de desempenho sejam 4› JUNTE-SE À LINHA DE FRENTE Existem basicamente três perfis de pessoas: as que fazem,
justas e que marquem a diferença em relação as que mandam fazer e os denominados ‘engenheiros de obra feita’, que só criticam as acções
aos seus pares e ambições. Um bom chefe po- alheias sem, no entanto, não terem capacidade para fazer melhor. Se você se enquadra neste
derá elogiar a equipa para mostrar resultados último, esqueça e mude de estratégia. Seja um agente da mudança. Seja criativo e solidário. Vá
brilhantes, mas só está a fazer o seu trabalho atrás, observe mais e critique menos. Seja construtivo e aprenda.
correctamente se os colaboradores puderem
contar com as suas críticas construtivas. Em
5› CONHEÇA O SEU AMBIENTE Essa atitude ‘investigadora’ é essencial para avaliar com obje-
segundo lugar, deve-se esperar que um líder tividade as suas possibilidades de ascensão e sucesso, próximas e futuras. Seja mais participati-
não abandone a sua equipa nas horas de ne- vo e curioso. Pense, o que faz o colega para ter tanto êxito? O que é que a sua empresa valoriza
cessidade. Caso contrário, demonstra que se num profissional? Para quem se destina o produto ou serviço? Esse exercício vai ajudá-lo a iden-
sente vulnerável na sua própria posição. Por tificar melhor o caminho a seguir e a orientar o seu crescimento.
último, é aceitável exigir que o mesmo ofere- 6› INVISTA NA SUA CARREIRA Conhecimento não ocupa espaço. Estude idiomas, procu-
ça recompensas pelo bom desempenho. Qual- re cursos, pós-graduação, especializações, reciclagens, workshops. Não espere que a empresa
quer bom chefe sabe o quão é importante é atenda as suas necessidades ou antecipe os seus desejos. Vá à luta. Fale com o seu mentor,
motivar os colaboradores. E muitos bons líde- mostre os benefícios que esse aperfeiçoamento trará e, se for o caso, invista o seu tempo e ta-
res actuais recusam-se a recorrer ao velho ar- lento para obter o resultado desejável. Invista em você mesmo e, se necessário, financie ou ne-
gumento: “Teve um desempenho fantástico, gocie esse custo. Mas muito cuidado, não se endivide. Dê o passo de acordo com o tamanho do
mas isso é a sua obrigação”. É, por isso, igual- seu bolso e interesses. Pese tudo com muita objectividade e honestidade.
mente importante ser-se íntegro. É horrível ir-
se trabalhar todos os dias com a dúvida se o
7› APOSTE EM VOCÊ COMO PESSOA Não há como construir um vencedor se você se vê como
um fracasso pessoal. Procure fazer o que gosta, dentro e fora do trabalho. Você vai-se sentir
seu líder é ético ou se viola os valores e as nor-
mais feliz e lidará melhor com a frustração e aquele sentimento de improdutividade que às ve-
mas da empresa constantemente.
zes bate. Não desanime: olhe à sua volta e alimente- se dos resultados que colheu, por menores
que sejam.
Questione-se! É errado ter
grandes expectativas em 8› INVESTIGUE O MERCADO É preciso ter uma visão abrangente dos rumos que a sua activi-
dade e o mundo estão a tomar, ver o que acontece na sua área de actuação noutros países. É
relação a um chefe em termos
muito comum encontrar pessoas decepcionadas com mercados saturados, que batalham para
de conhecimento, sabedoria e
criar um diferencial quando já deviam estar realizadas. Para evitar decepções, tente conciliar as
integridade? perspectivas com as suas habilidades e desejos para que a sua carreira lhe traga, além de suces-
so e reconhecimento, satisfação pessoal.
SER ÚNICO
Alguma sorte, muito suor, investimentos per- 9› AVALIE AS MUDANÇAS COM OBJECTIVIDADE Se você é aquele tipo de pessoa que procura
manentes na carreira e uma dose reforçada garantias para aceitar uma promoção, por exemplo, a sua carreira tende a estagnar. Assuma os
de autoconhecimento. Estes são os factores riscos das suas decisões, até porque, numa troca de empresa, não há como prever como será a
mais importantes que lhe permitem cons- sua adaptação ao ambiente e cultura novos, por melhores que eles sejam. Lembre-se: como na
truir o sucesso profissional. Para fazer parte lotaria, só tem chance de ganhar quem aposta. Se for o caso, não tenha medo de trocar ou de
da equipa dos vencedores que se conhecem trabalhar em tempo integral, no que realmente fará a diferença na sua vida. Saiba avaliar isso
e tiram o melhor das oportunidades e expe- com precisão e é bom, em alguns casos, procurar orientação junto de quem você confia ou que
riências para abrir novos caminhos, a revista realmente está interessado no seu sucesso sua.
Angola’in publica nesta edição 20 dicas para 10› LEIA MUITO E de tudo. Num mundo globalizado, saber o que acontece à nossa volta é
que esse processo ocorra de uma forma mais obrigatório. Conhecer com desenvoltura passuntos variados e sobre especificidades da sua área
‘consciente’ e ‘consistente’ na sua vida. vai contra muitos pontos a seu favor.

ECONOMIA & NEGÓCIOS · ANGOLA’IN | 35


ECONOMIA & NEGÓCIOS

11› SAIBA ‘VENDER-SE’ Um bom marketing pessoal abre muitas portas. É importante que
você transmita a importância daquilo que fez e como faz, para si e para o mercado de trabalho,
com confiança. Cuidado apenas para não parecer exibido. Seja objetivo ao salientar os seus pon-
tos “positivos”, conquistas e descobertas. O resto será resultado disso.
12› FOCALIZE OS OBJECTIVOS, NÃO OS PROBLEMAS Quando as coisas se complicarem,
concentre-se no resultado e páre de perder tempo justificando os erros ou percalços do proces-
so. Afinal, eles acontecem com a maioria de nós praticamente o tempo todo. Reclamar é reco-
nhecidamente um modo de perder tempo.
13› MANTENHA-SE MOTIVADO E ESTIMULE OS SEUS COLEGAS Um certo desânimo de vez
em quando é normal, desde que não se torne regra. Muitas vezes, a insatisfação é provocada por
algum processo desgastante que faz o objectivo parecer inexequível. Um conversa competente
ajuda e novos desafios resgatam a sua motivação e estimulam toda a equipa a apontar-lhe no-
vos caminhos.
14› FAÇA UMA AUTO-ANÁLISE Os profissionais que minam as suas possibilidades de suces-
so geralmente não se conhecem, duvidam da própria capacidade e impedem-na de se afirmar
por medo e ansiedade. Se você se sente assim, é o momento de parar e pensar sobre o que a
empresa e aqueles que ‘dependem’ da sua atitude esperam de você e acima de tudo, o que vo-
cê deseja da vida. O auto conhecimento é um processo contínuo, fundamental para construir o
sucesso.
15› ESPELHE-SE NOS VENCEDORES O grupo de pessoas que vivem a comentar os insuces-
sos alheios deve ser evitado, bem como aqueles que têm inveja do real sucesso dos outros.
Espelhe-se no exemplo das pessoas que, mesmo não ocupando cargos de chefia, agem como
vitoriosas e realizam-se a cada conquista. Como resultado disso, ascendem profissionalmente.
Pense sempre grande.
16› NÃO FUJA DOS DESAFIOS Ao deparar com uma tarefa difícil, uma promoção, um novo
“pin”, a tendência da maioria das pessoas é fugir da responsabilidade. Que tal um pouco mais de
autoconfiança? Se a empresa lhe ofereceu a incumbência é porque acredita na sua capacidade.
O mesmo vale para uma nova retomada de decisão, um novo começo: agarre a oportunidade e
mostre o que vale.
17› TRACE UM OBJECTIVO DE VIDA Objectivo é aquilo que pode ser quantificado, tem prazo
para acontecer, envolve planeamento e escolha. Se você ficar apenas no plano do desejo prova-
velmente desperdiçará boas oportunidades e não conseguirá direcionar a sua energia e talento.
Concentre-se na meta e faça sempre uma reavaliação. Reavalie as suas medições e lembre-se
“aquilo que não medimos, não poderemos controlar”.
18› SEJA COMPETITIVO. A FÉ DE QUE TUDO DARÁ CERTO, É FUNDAMENTAL. Profissionais
que se desconectam do mercado acabam vinculando o seu sucesso à permanência na empresa
onde estão. Pessoas bem sucedidas ‘funcionam’ em qualquer lugar e não acreditam a sua ascen-
são apenas a uma única estrutura. Tenha sempre novas estruturas funcionais, nunca dependa
apenas de uma. Capitalize as suas iniciativas e invista na educação contínua. V.V. Rien dizia: “o
aperfeiçoamento é conseqüência do fazer”. Então, não tenha medo, pois essa bagagem ainda
terá validade em novas lutas, em outras situações. Essa é uma óptima táctica para praticar a in-
dependência e a autoconfiança.
19› CONSTRUA UMA BOA REDE DE CONTACTOS Se você não quer passar por interesseiro,
daqueles que só telefonam quando precisam, mantenha-se em contacto com as pessoas. Famí-
lia, amigos, conhecidos do trabalho, etc, e são eles que lhe vão trazer novas referências e abrir
portas inesperadas.
20› ASSUMA O CONTROLO DA SUA CARREIRA Quem quer crescer não entrega o destino
nas mãos de outra pessoa. A estratégia para dominar o crescimento é juntar à sua atividade o
que você quer (deseja) e o que precisa (objectivo) com aquilo que o mercado oferece de melhor.
Dominar esse processo significa mais probabilidades de vencer e, principalmente, menos frus-
tração. Mas nunca desista, dê tempo ao tempo.

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ECONOMIA & NEGÓCIOS | manuela bártolo

risco ou oportunidade
Nas empresas modernas o risco não é eliminado, mas sim administrado

as que não têm um processo de garantia de tendência ou uma moda? Primeiro é importan-
confiabilidade e integridade dos activos críti- te esclarecer alguns pontos:
cos através da inspecção com base nos riscos. 1º. ponto - Você entende que a gestão de ris-
Diversas questões que devem ser acautela- cos é um aspecto amplo da gestão empresarial
das e encaradas como prioritárias, enquanto moderna?
premissa da montagem da gestão de activos. 2º. ponto - Você entende que a continuidade
Problemas a que os gestores devem dar foco dos negócios, segurança da informação, gestão
urgentemente, pois mesmo cientes da exis- das tecnologias da informação, responsabilida-
tência dos riscos e avessos às perdas, a maio- de social corporativa, gestão de riscos ambien-
ria deles ainda não dá a devida atenção e até tais, aspectos legais e direito digital são partes
desconhecem os recursos das modernas ferra- do mesmo universo de disciplinas da gestão de
mentas de gestão nessa área. Alguns poucos, risco empresarial moderna?
ausentes de visão holística, aplicam algumas 3º. ponto - Você entende que a gestão moder-
políticas de gestão de risco apenas com o ob- na é baseada em processos, qualidade e riscos?
jectivo de obterem certificações de qualida- E que medir é necessário para gerir?
de. Desconhecem que existe uma linguagem Se respondeu sim apenas no 1º. ponto, tudo
adequada e sequer sabem da existência de que escreverei a seguir não terá o menor sen-
um instrumento tecnológico adequado. Ao tido para você. Se respondeu sim no 1º. e 2º.
longo dos últimos 15 anos ocorreu um signi- ponto somente, então o que escreverei fará
ficativo avanço nas ferramentas destinadas à sentido, porém, não estará completamente cla-
gestão do risco, de tal modo que a extinção ro a sua aplicabilidade. Se respondeu sim nos 3
de todos riscos apresenta-se hoje como uma pontos, então este artigo ser-lhe-á bastante
composição fantástica e absurda: o risco não útil. De facto, a gestão de riscos é uma grande
é eliminado, mas sim administrado. Temos tendência, sobretudo o conceito de inteligên-
actualmente a identificação e necessidade de, cia de risco, que integra e promove a simbiose
motivado pela demanda mundial de proces- entre os vários sistemas de gestão existentes
sos e procedimentos eficazes de governança numa organização. Pensando em gestão de ris-
corporativa, em razão das séries de colapsos cos apenas, podemos ver a integração e troca
e fraudes, abordar a relação entre a adequada de dados, informações e resultados nos vários
gestão ou administração de riscos e o seu am- processos de continuidade de negócios, segu-
biente de controlo resultante, fundamentais rança da informação, etc. Essa troca de infor-
para uma sólida gestão empresarial. mações estratégicas melhora a capacidade de
trabalho e operacionalização dos processos,
O risco é definido como bem como a qualidade de cada um individu-
A gestão de risco não é um assunto novo nas “tudo aquilo que desvia do almente. Brevemente a segurança da infor-
empresas. Pelo menos para as mais conecta- objectivo”. Tal conceito é o que mação trocará resultados das suas análises
das com os aspectos ligados à perenidade dos de riscos com outros processos. Isso fará uma
estabelece a ligação da gestão
negócios, importância da marca, relevância aproximação natural das forças de gestão de
do risco às metas estratégicas
da continuidade operacional, impactos rela- riscos, transformando risco em oportunidade,
cionados com a QSSM (Qualidade, Saúde, Se-
de uma empresa se bem aproveitados os resultados. A integra-
gurança e Meio Ambiente), entre outros. Mas ção dos processos de gestão de risco permitem
parece que o mundo da gestão ainda navega GESTÃO DE RISCOS INTEGRADA, a criação de fórmulas únicas de cálculo de ris-
um pouco longe destes princípios. Isto por- TENDÊNCIA OU MODA? cos e o entendimento das várias abordagens e
que muitas empresas não têm uma matriz Realizar análises de riscos com totalidade sig- nomenclaturas particulares de cada processo, o
de avaliação de risco para os vários aspectos nifica quebrar alguns paradigmas antigos, um que trará ganhos de produtividade significati-
dos projectos capitais, instalações, unida- deles a integração dos processos de gestão de vos e um melhor entendimento estratégico pe-
des e tipos de equipamentos. Não são raras riscos. Mas, integrar a gestão de riscos é uma la alta administração das empresas.

ECONOMIA & NEGÓCIOS · ANGOLA’IN | 37


ECONOMIA & NEGÓCIOS IN(TO) BUSINESS | manuela bártolo

a força do pecado
O VALOR DA DIFERENCIAÇÃO cionam e nos levam à um novo patamar de gisto de ADN, uma vez que trazem consigo
O que seria de nós, consumidores, se não exis- observação e exigência. E são as marcas que os atributos e características tão necessárias
tissem marcas? O que seria de nós, se na fase muitas vezes criam em nós os reais sentidos para o consumo. Quando entramos no campo
final da tomada de decisão do consumo, não e interpretações. Quando compramos carros, da atividade do luxo, estas exercem fascínio e
existissem as marcas para nos ajudar? Afinal, computadores, leite, iogurte, escova de den- seduzem os consumidores. As marcas do lu-
para que servem? A resposta a estas pergun- tes, cimento, azulejo, lâmpadas... o que for, xo são impregnadas de histórias e tradição; e
tas é básica, mas assertiva: são as marcas são as marcas que exercem a força na tomada ao final, nós consumidores, compramos his-
que realmente geram a segurança no consu- de decisão final. Arriscar no novo, nas novas tórias e não produtos. Acessamos serviços
mo. Quando tomamos decisões por este ou ideias, na tecnologia de ponta, nas novas ex- pela vontade da experiência. Muitas das mar-
aquele produto ou serviço, são as marcas que periências, nas novas marcas... tomam tem- cas do luxo despertam o desejo da exclusivi-
equilibram. E agora surge outra dúvida. Mas po e, nestas horas, é muito importante que dade. A gestão de marcas tornou-se por isso
nem todos têm marcas fortes e nem todos os algo realmente forte de diferenciação exista. um princípio essencial no sucesso empresa-
produtos e/ou serviços excelentes possuem É importante salientar a importância da cria- rial no século XXI. Em períodos de mercados
marcas fortes por detrás? Verdade. Quem tem ção da marca, do seu investimento e gestão. massificados e globalizados, produção exces-
produtos especiais e que possui segurança Imaginem se o iPod, ao invés de ser da Apple, siva, saturação de mercado para alguns pro-
desta diferenciação de qualificação, é impor- tivesse sido lançado por uma empresa africa- dutos, descontos e tantas outras equações
tante que também fortaleçam as marcas ou na de nome também desconhecido? Mudaria de um mercado altamente competitivo, os
que criem. Em algum momento, isso pesará a tecnologia? Uma empresa africana não po- consumidores procuram cada vez mais credi-
na decisão do consumidor. Não há como ima- deria lançar produtos como o IPod? Claro que bilidade, estabilidade e serem surpreendidos.
ginarmos, no actual mercado, a ausência de sim. Mas a marca Apple transforma rapida- As marcas, quando bem construídas e manti-
marcas. Num período, onde já não se discute mente a inovação (neste caso, também dife- das, podem fornecer tudo isso, pois não são
mais a qualidade e as características técnicas renciação tecnológica) em desejo de consumo mais apenas resultados de boas criações de
dos produtos, nós consumidores temos a ex- mundial, sendo que o mais importante é que logos. Elas geram compromisso e apresen-
pectativa de que esta fase já foi ultrapassada a já nos traz uma série de interpretações e na tam características que fazem com o que os
e, por isso, são as experiências que nos posi- maioria das vezes, positivas. Marcas são o re- consumidores se identifiquem. São as mar-
cas que diferenciam os produtos, havendo
estudos que garantem que as empresas que
curiosidade possuem marcas fortes focadas são melhor
A palavra Apple foi escolhida por três razões: o nome iniciava-se com “A”, portanto sucedidas e geralmente o lucro é maior do
apareceria listado à frente da maioria dos concorrentes; ninguém esperaria uma que as demais no mesmo sestor de ativida-
associação de sentidos de uma maçã com computadores, sendo uma aposta no de. Motivo por que se diz que as marcas for-
inusitado; e uma maçã está associada a uma vida saudável (“an apple a day keeps tes ajudam as empresas nos momentos de
the doctor away”). Além do mais, a maçã desenhada com faixas era uma alusão à crise! As marcas neutralizam as percepções
marca listrada da IBM e o pedaço mordido uma clara referência ao pecado bíblico dos consumidores.

38 | ANGOLA’IN · ECONOMIA & NEGÓCIOS


dados corporativos
· Origem: Estados Unidos
· Fundação: 1 de abril de 1976
· Fundador: Steve Jobs, Steve Wozniak e Ronald Wayne
· Sede mundial: Cupertino, Califórnia (1 Infinity Loop)
· Proprietário da marca: Apple Inc.
· Capital aberto: Sim (1979)
· CEO: Steve Jobs (afastado por motivos de saúde)
· CEO interino: Tim Cook
· Facturação: USD 32.47 biliões (2008)
Em época de crise, as · Lucro: USD 4.83 bilIões (2008)
pessoas deixam de · Valor de mercado: USD 73.3 biliões (janeiro/2009)
comprar alguns produtos
· Valor da marca: USD 13.72 biliões (2008)
(comodities) Porém,
· Lojas: 247 (Apple Stores)
procuram sempre a
· Presença global: + 120 países
referência, nunca o
comoditie. Neste caso, · Segmento: Eletrónico
a Microsoft tornou-se o · Principais produtos: iPod, iPhone, iTunes, Quicktime, iMac e Macbook
comoditie e a Apple a líder · Ícones: Steve Jobs, Macintosh, criatividade e design, a maçã, Apple store New York
· Slogan: Think Different (Pensar diferente)
· Website: www.apple.com

marca enfraquecida a ícone de modernidade e atento às inovações teconológicas. Os estudos


O seu público alvo são pessoas sucesso. Isto porque a Apple não procurou lan- de branding dizem que se uma empresa traba-
de gosto refinado, capaz de çar um produto, mas o produto. Hoje em dia lha todo o potencial da sua marca, ela estará
gastar mais dinheiro num ela influencia milhares de pessoas no mundo a plantar valores positivos e isso irá acarretar
através de uma identidade forte e bem defi- uma liderança de segmento e, obviamente,
produto que oferece mais
nida. Com a sua marca ela consegue dar mais maior lucratividade. Mas como será que isso se
status e que acredita que a
significado às pessoas que trabalham nela e aplica na realidade? Não existe momento mais
garantia da loja e o suporte transmitir esse sentimento aos seus clientes. oportuno do que um momento de crise como o
valem o preço Ela cria legiões de fanáticos, une comunidades que vivemos actualmente para testar uma em-
inteiras em torno de um conceito: o da ma- presa e todos os seus pontos positivos e nega-
O QUE FAZ UMA GRANDE MARCA? ça mordida. Razão pela qual, deixou há muito tivos. É exactamente neste momento que se
Para criar uma grande marca é preciso primeiro de ser apenas uma fabricante de computado- testa a força da Microsoft e da Apple e das su-
saber criar um conceito que emita uma sensa- res. Hoje ela é sentimento, um modo de vida. as duas marcas. A Apple é uma marca que tem
ção de excelência em relação ao seu produto. Não tem somente consumidores, mas sim se- vindo a ser trabalhada durante muitos anos. A
Mas o complicado é que só isso não basta! Não guidores. Foi eleita uma das marcas mais in- este trabalho de marca, adiciona-se o lança-
basta fazer uma marca apelativa se o produto fluentes do mundo. Um verdadeiro ícone que mento de produtos como Iphone, Ipod, IMac e
não corresponder em qualidade. Acima de tu- se tornou um exemplo de como tirar o melhor Macbooks. Além disso, a marca também é tra-
do, o produto tem de ser óptimo para ser um proveito da concorrência. O seu público alvo balhada onde quer que a empresa esteja atra-
sucesso. E de preferência algo novo. Ora a úl- são pessoas de gosto refinado, que é capaz de vés das suas lojas, um factor importante a seu
tima grande revolução a que o mundo assistiu gastar mais dinheiro num produto que oferece favor. Agora pensemos na rival Microsoft. Fez
foi no sector da informática e da comunicação. mais status e que acredita que a garantia da o milagre de criar um sistema operacional que
Como exemplo clássico cito a Apple. A vitória loja e o suporte valem o preço. É um público funciona em todo o tipo de computador. Domi-
de Steve Jobs foi ter criado um conceito ‘inova- de classe A, moderno e nou durante anos o segmento de mercado de
dor’ como marca. A Apple é jovem e clássica ao computadores pessoais e da internet. Ganhou
mesmo tempo. Ela causa desejo. Há dez anos milhões de adeptos que adoram competir com
atrás não passava de uma fabricante de com- o seu sistema. Pessoas que foram apelidadas
putadores combalida. Com prejuízos segui- de hackers, crackers, spammers, entre ou-
dos, o seu principal produto, o Macintosh, tros nomes. Responsáveis por espalhar
era vendido apenas a designers ou vicia- os denominados virus, spams, Trojans,
dos em tecnologia. Ao longo de uma craks e adivinhe-se qual o sistema que
década, passou de antiquada/fora ajuda a disseminar essa praga? A Ap-
de moda para a dianteira do merca- ple soube combater este ponto fraco
do. De uma empresa que vendia ape- e torná-lo uma vantagem a ser favor,
nas para um nicho de clientes, para transmitindo a ideia de que é inex-
fabricante de produtos de massa. De pugnável.

ECONOMIA & NEGÓCIOS · ANGOLA’IN | 39


ECONOMIA & NEGÓCIOS IN(TO) BUSINESS

1976-1998 1999 ACTUAL

a evolução visual
1975 O logotipo original da Apple, desenhado por Ron Wayne, mostrava Isaac Newton debaixo
de uma árvore de maçãs. Devido à complexidade e dificuldade de ser reproduzido em
vários tamanhos, Steve Jobs contratou Rob Janoff, em 1976, para redesenhar o logotipo.
O resultado foi o surgimento do famoso logotipo representado por uma maçã colorida
ÍCONE DO DESEJO com uma mordida, relacionando a marca com a história bíblica de Adão e Eva. Em 1999,
Alguém poderia imaginar que uma maçã colo- o logotipo assumiu várias cores para acompanhar as cores do iMac. O logotipo atual
rida se tornaria rapidamente famosa em todo adoptou uma cor cinza cromada,, ppassando uma imagem
g de tecnologia
g e sobriedade
o mundo? Com certeza que não. Em matéria
de maçã como símbolo, a do fabricante de
computadores Apple talvez seja apenas com- Hoje a Apple é
parável à de Adão e Eva. Mas o facto é que, sentimento, um
quando se fala em símbolo e quando este é modo de vida.
uma maçã, o que hoje nos vem imediatamen- Não tem somente
te à cabeça é a marca Apple. Esta traduz aos
consumidores, mas
usuários toda a imagem da criatividade, ino-
sim seguidores e porr
vação, design e originalidade. Razão pela qual,
Steven Paul Jobs, seu fundador, se tornou o
isso foi eleita uma
exemplo de sonho de qualquer profissional das marcas mais
de marketing. Ele personifica como poucos os influentes do mundo
conceitos de audácia e genialidade. Conside-
rado uma espécie de pop-star corporativo do ERA UMA VEZ…
mundo dos negócios, foi o ‘pai do Macintosh’, Tudo começou quando os engenheiros Steven dos de uma maçã com computadores, sendo
computador revolucionário que preconizou to- Wozniak e Steve Jobs, que tinham sido cole- uma aposta no inusitado; e uma maçã está
dos os futuros PCs depois de 1984. Quando gas de turma na faculdade, vislumbraram a associada à uma vida saudável (“an apple a
em 1996, depois de um período onde passou possibilidade de desenvolver e comercializar day keeps the doctor away”). Além do mais,
por outras empresas, retornou à Apple, que computadores pessoais. Ambos eram inte- a maçã desenhada com faixas era uma alusão
estava numa situação financeira frágil, conse- ressados em eletrónica. Após a graduação, à marca listrada da IBM e o pedaço mordido
guiu aumentar as vendas significativamente. continuaram amigos e em contacto directo, uma clara referência ao pecado bíblico. Steve
O segredo? O lançamento de inovações como trabalhando em empresas localizadas no Vale Jobs, não queria somente vencer a concorrên-
o iMac, iPod e o iPhone. Para se ter uma ideia do Silício. Jobs trabalhava na Atari e Woznia- cia no segmento dos computadores pessoais,
do que Steve Jobs é capaz de fazer, basta as- ck na Hewllet-Pachard. Jobs com a sua gran- mas sim mudar uma sociedade, criar uma no-
sistir ou acompanhar as palestras emblemá- de visão futurista insistia que ambos, mais va perspectiva de vida para uma nova geração
ticas (Keynotes) anuais, que ele comanda na Ron Wayne, deveriam tentar vender compu- que estava por vir. A recém-fundada empresa,
MacWorld (feira oficial da Apple), quando di- tadores pessoais. A ideia era desenvolver um resolveu então colocar no mercado o compu-
vulga as suas tão esperadas ideias. Tais apre- microcomputador que pudesse ser menor e tador baptizado de Apple I, criado e desen-
sentações são marcadas pela sua maneira de bem mais acessível que os modelos desenvol- volvido por Wozniack. Porém, o mercado não
se apresentar, sempre de camisa preta, jeans vidos pela lendária PARC. Essa ideia e união levou o Apple I, vendido por USD 666.66, a
e tênis New Balance modelo 991. Tudo muito resultou no nascimento da Apple Computer sério e os computadores só começaram a ser
‘cool’ como dizem os americanos. A Apple não Company em Abril de 1976. O capital inicial da alvo de interesse em 1977, quando o Apple II
seria a mesma sem Steve Jobs. Em 2006, a empresa, com sede na garagem da casa dos foi apresentado numa feira de informática.
Walt Disney comprou a Pixar e tornou Steve pais de Steve Jobs, era originário da venda de Foi o primeiro computador a ter o CPU feito
Jobs o maior acionista individual da empresa, uma Kombi e de uma calculadora HP. A pala- de plástico e com designers gráficos coloridos,
onde ocupa também o cargo de conselheiro vra Apple foi escolhida por três razões: o no- tendo sido considerada uma máquina impres-
executivo. A rivalidade dele com Bill Gates, me iniciava-se com “A”, portanto apareceria sionante. Em meados de 1978, o lançamento
presidente e dono da Microsoft, já é elemento listado na frente da maioria dos concorrentes; do Apple Disk II, o floppy drive mais barato
cultural do sector. ninguém esperaria uma associação de senti- da época, fizeram as vendas da empresa dis-

40 | ANGOLA’IN · ECONOMIA & NEGÓCIOS


ECONOMIA & NEGÓCIOS · ANGOLA’IN | 41
ECONOMIA & NEGÓCIOS IN(TO) BUSINESS

histórico dos produtos apple

grande crise, que culminaria com a saída, e de- o iMac, ambos equipados com o processador
pois volta em 1996, de Steve Jobs da empresa. Intel Core Duo. A frase de campanha comercial
números Nem o estrondoso lançamento do Macintosh para os novos modelos, bastante provocativa,
Segundo a consultora britânica InterBrand, em 1984 foi capaz de contê-la. Em meados era: “O que um chip Intel faria dentro de um
somente a marca Apple está avaliada em da década de 90, quase à beira da falência, a Mac? Muito mais do que já fez em qualquer
mais de USD 13.72 biliões, sendo por isso Apple começaria a lançar dezenas de produ- PC”. Com o lançamento de dois novos pro-
uma das mais valiosas do mundo. A empresa tos e programas, dentre eles o iMac, o iBook dutos, o Apple TV e o iPhone, durante a Ma-
também ocupa a posição de número 103 no e mais recentemente o iPod, que revoluciona- cWorld 2007, a Apple anunciou a mudança do
ranking da revista FORTUNE 500 (empresas riam o mundo dos computadores e acabariam seu nome de Apple Computers Inc. para Ap-
de maior facturação no mercado americano) com as inúmeras crises por qual a empresa ple Inc. Esta mudança ocorreu principalmen-
passou. Durante toda sua história, a Apple te pelo novo posicionamento de mercado que
sempre foi pioneira ao lançar produtos revolu- a empresa passou a adoptar. Com estes dois
cionários como a impressora laser PostScript; novos produtos, juntamente com o iPod e os
pararem. Com o aumento das vendas, veio o Desktop Publishing; a Universal Serial Bus, seus computadores, a Apple passou a actuar
também um aumento significativo da empre- popularmente conhecida como entrada USB não somente no mercado de computadores,
sa e pôr volta de 1980, quando o Apple III foi que substituiu diversas outras, tornando-se mas também no mercado de eletrónicos.
lançado, começaram a vender os seus com- um padrão mundial, e actualmente usada em
putadores para o exterior. No desejo de dar Pen Drives e MP3 Players; os primeiros lap- A marca utilizou génios
continuidade à revolução que iniciou, Jobs co- tops com mouse de série e teclados externos criativos que ainda hoje
meteu o que talvez tenha sido o seu primeiro (série PowerBook 100, introduzidos em 1991); servem de inspiração, como
erro: mandou os seus projectistas eliminarem o abandono do leitor de disquetes (iMac origi-
Albert Einstein, Martin
a ventoinha do Apple III, o que resultou na ne- nal, introduzido em 1998); o primeiro compu-
Luther King, Picasso ou
cessidade de substituir milhares de unidades tador disponível comercialmente a basear-se
danificadas por superaquecimento. Três anos principalmente no USB para a conexão de pe-
Muhammad Ali, para
mais tarde, seria lançada uma versão revista riféricos (iMac original, introduzido em 1998); demonstrar às pessoas que
do Apple III, mas a imagem da máquina já ti- e o primeiro laptop com monitor de tela larga ter um Macintosh é ser-se
nha sido irremediavelmente arranhada pela (PowerBook G4, introduzido em 2000). Em Ju- diferente, logo melhor
falha do projecto do modelo anterior. Em 1981, nho de 2005, Steve Jobs surpreendeu o mun-
a situação começou-se a complicar. Primei- do da informática ao anunciar que a Apple iria A MARCA NO MUNDO
ro, o mercado ficou saturado, dificultando as trocar os processadores PowerPC dos seus A mais criativa e inovadora empresa do mun-
vendas. Depois, Wozniack sofreu um aciden- computadores por processadores da marca In- do está presente em mais de 100 países,
te aéreo ficando ausente da empresa e Steve tel. Os primeiros modelos de Macintosh equi- contando com mais de 200 lojas próprias, lo-
Jobs assumiu o controlo. Para complicar o fra- pados com chips da Intel apareceram à venda calizadas na sua maioria nos Estados Unidos,
casso do computador Lisa. Era o início de uma no começo do ano seguinte: o MacBook Pro e além das unidades que detém na Inglaterra,

42 | ANGOLA’IN · ECONOMIA & NEGÓCIOS


sabia que…
Canadá, Japão e Itália. A sua facturação as- Embora actualmente
cende os USD 32.5 biliões. O sucesso da mar- a Apple ainda detenha
ca pode ser traduzido em números: o iTunes,
exíguos 3.2% do mercado
com mais de 4 milhões de títulos musicais,
mundial de computadores,
250 filmes, 350 programas de TV e mais de
vários analistas dizem
100.000 podcasts, já vendeu mais de 6 biliões
de músicas, mais de 60 milhões de programas que o seu actual sistema
de TV e 1.5 milhões de filmes, desde o seu lan- operacional - MAC OS
çamento; o iPod, que detém cerca de 70% do X - representa, pela
mercado, já vendeu mais de 130 milhões de primeira vez, uma
unidades desde a sua introdução no merca- ameaça real ao poderoso
do; as vendas nas 247 Apple Stores, onde já Windows da Microsoft
passaram quase 195 milhões de pessoas, che-
gam aos USD 6 biliões anuais. Motivo para se
afirmar: a Apple nunca foi tão rica e podero-
sa. Quando iniciou na década de 70 a revolu-
ção dos computadores pessoais, tinha estado
durante os últimos anos a perder grande par-
te desse mercado. Com uma série de produtos
inovadores e campanhas publicitárias geniais,
a empresa começou a recuperar parte do mer-
cado que havia perdido. Em Setembro de 1997,
durante a pré-estreia do filme “Toy Story”, As Apple Store têm um design
foi apresentada a campanha Think Different moderno, limpo, espaçoso e inovador,
(Pensar Diferente). Com peças impressas, pu- onde os consumidores podem saber
tudo sobre Macinstosh e iPod. Em
blicidade externa e um anúncio comercial de
2004, a empresa inaugura uma
um minuto, a campanha celebrava figuras
unidade em Londres, a primeira
históricas que mudaram o mundo por pensa-
loja no continente europeu. No
rem de maneira diferente como Albert Eins- entanto, a loja mais espectacular
tein, Mahatma Gandhi, Martin Luther King, Jr., foi inaugurada em Maio de 2006 na
Pablo Picasso, Maria Callas, Thomas Edson, famosa 5ª Avenida, bem no coração
Miles Davis, Jim Henson, Ted Turner, John Le- de Nova Iorque. Como toda a criação
non & Yoko Ono, Frank Sinatra e Muhammad da empresa, o espaço, que custou
Ali, entre outros, procurou demonstrar porque cerca de USD 9 milhões, tem um
é que as pessoas deveriam ter um Macintosh. visual inovador. À entrada apresenta
Uma homenagem a génios criativos que nos um cubo de vidro de quase 10
metros de altura, decorado com a
servem de inspiração hoje e que despoletou o
imagem prateada da maçã, o que lhe
império que é hoje a marca.
rendeu o apelido de “Cubo de Stebe
Jobs”. Inteiramente desenvolvida no
A marca passa imagem de subterrâneo de Manhattan (mais de
criatividade, inovação, design dois mil m2 construídos no subsolo),
e originalidade oferece mais de 100 computadores
Macintosh e 200 iPods para serem
experimentados antes da compra,
ANO DE AFIRMAÇÃO
bem como a maior diversidade de
2008 foi um ano de afirmação da marca no
acessórios presentes em todas as suas
mercado a todos os níveis. A apresentação em lojas no mundo. Com cerca de 300
Janeiro do MAC BOOK AIR, o mais delgado, le- dentro de um envelope ofício para reforçar as suas funcionários, a loja possui também
ve e irresistível computador portátil da história, proporções. O lançamento, em Junho, da nova ge- a maior equipa de atendimento, com
com apenas 1.9 centímetros de espessura, pe- ração de iPhone chamada 3G fez igualmente parar Mac Specialists, Mac Geniuses e
sando 1.36 quilos e tela de 13,3 polegadas, mar- o mundo. O iPhone 3G é mais fino e maior, além de Mac Creatives para oferecer suporte
cou o ano informático. O novo laptop, que conta ser vendido nas cores brancas e pretas. Nele tam- pessoal, orientação e trabalho em
ainda com uma câmara embutida iSight e não bém foi implantado alguns novos aplicativos, como projectos criativos gratuitamente a
incluiu leitor ou gravador de CD ou DVD, mos- qualquer hora do dia ou da noite, já
o GPS e ferramentas para adeptos dos blogues. O
que a loja funciona 24 horas por dia.
trando que a Apple aposta na transmissão de aparelho começou a ser vendido no dia 11 de Julho
O sucesso das Apple Store espalhou-
dados sem fio, veio revolucionar ainda mais o em 22 países ao preço de USD 199 para o modelo se, marcando presença em países
sector. O produto foi apresentado na Macworld com 8 GB de memória, o equivalente a um terço do como o Canadá, Japão ou Itália
por Steve Jobs que fez questão de tirá-lo de preço inicial da versão anterior.

ECONOMIA & NEGÓCIOS · ANGOLA’IN | 43


SOCIEDADE | patrícia alves tavares

O PODER DE NEGOCIAR

Motor do crescimento económico e da qualidade de vida, o comércio é crucial e envolve todos


os sectores financeiros e sociais. Os hipermercados são uma realidade e vão ganhando terreno
em relação aos mercados de rua. Por outro lado, o Estado pretende reduzir a dependência das
importações de alimentos e contribuir para uma eficaz segurança alimentar das famílias.
A criação de um sistema de compra de excedentes de produção das empresas agrícolas é um
dos compromissos.

Nos últimos 30 anos, o sector sofreu múlti- cando-se um acréscimo da qualidade de vi- de serviços mercantis públicos e privados de
plas metamorfoses e ganhos, culminando da e de consumo das famílias. O ministério grande e pequena dimensão. A expansão do
numa estrutura moderna. “Ao longo desse que tutela esta pasta fez saber recentemen- Presild (Programa de Reestruturação do Sis-
tempo, o comércio sempre foi um elemento te que possui uma estratégia de formação e tema de Logística e de Abastecimento de
fundamental na unidade nacional. informação da população, com o intuito de Bens Essenciais à População) deu maior vi-
É o comércio que, ao longo de todas as vicis- accionar os instrumentos legais da política sibilidade a este nicho económico, devido à
situdes que Angola viveu, nunca sucumbiu, comercial, que já está estabelecida. implementação dos supermercados ‘Nosso
sempre exerceu bem o seu papel, quer eco- Aliás, o Governo tem adoptado mecanismos Super’, à construção de mercados municipais
nómico ou financeiro, quer social”. A opinião é de segurança contra práticas desleais, de mo- e ao apoio ao comércio rural.
do Director Nacional do Comércio (DNCI), Go- do a proteger a saúde pública e a defender os Por outro lado, os incentivos conferidos aos
mes Cardoso, que sustentou que com a en- direitos e interesses dos consumidores. produtores, nomeadamente agrícolas im-
trada no novo milénio, estão a ser concebidos pulsionou o ramo, pois foi garantido o esco-
os três pilares fundamentais da actividade: a DESTAQUE EM 2008 amento da produção agrícola para os grandes
solidificação das infra-estruturas institucio- A par do ramo petrolífero, da construção civil centros de consumo.
nais e comerciais, a aposta na formação e a e da agricultura, o sector do comércio foi dos A reconstrução nacional também foi decisiva.
profissionalização dos comerciantes. mais activos da economia angolana. Afinal, a criação de novas vias de comunica-
A evolução das condições em que os produ- O resultado respeita ao ano anterior e tem ção e recuperação das debilitadas facilitou a
tos são conservados e vendidos reflecte-se como justificação o licenciamento de 4.180 deslocação de pessoas e mercadorias, tendo
no comportamento dos compradores, verifi- estabelecimentos comerciais e a prestação aproximado as aldeias dos centros urbanos.

44 | ANGOLA’IN · SOCIEDADE
:
NOVIDADE ENTO
LICENCIA M
ONLINE modernização,
da
BENEFÍCIOS DO COMÉRCIO RURAL sumidores aos supermercados, que apesar de À luz do quadro ão e
desburocratizaç
O Programa de Desenvolvimento Rural e Com- mais dispendiosos, proporcionam outra quali- simplificação, am ento
po do licenci
bate à Pobreza melhorou a qualidade de vida dade e higiene. Devido a campanhas de sensi- redução do tem
mercial, a
das populações. Entre as diversas medidas es- bilização, os habitantes começam a valorizar a da actividade co
espaço no seu
tá a criação de dois centros de comércio rural. qualidade em detrimento do preço. DNCI criou um ste
ncretização de
Esta é de facto uma das principais apostas do website para co s
, os empres io
ár
Ministério do Comércio não só para dinamizar “CLIENTE TEM SEMPRE RAZÃO” objectivo. Assim ci o
ar o seu negó
a agricultura, mas também os negócios de re- Segundo o artigo quarto da Lei do Consumidor podem legaliz
od a e rápida,
talho e solidificar a “marca” de Angola. Recor- em vigor no país, o consumidor tem direito à de forma cóm
a de um click
de-se que o referido projecto prevê a criação qualidade dos bens e serviços, à informação tudo à distânci
de um milhão e 790 mil empresas familiares, e divulgação sobre o consumo adequado dos
em todo o país, no período de 2009 a 2012. O bens e serviços, à protecção dos interesses
orçamento estimado aponta um gasto de 216 económicos e contra a publicidade enganosa e
milhões de Kwanzas nos próximos três anos. abusiva. O cliente tem ainda direito à efectiva e pedagógica, permitindo que a mensagem
Já a ministra Idalina Valente revelou que o pro- prevenção e reparação dos danos patrimoniais chegue ao consumidor sem nenhuma distor-
grama tem como propósito a reabilitação de e morais, individuais, homogéneos, colectivos ção, atingindo os fins preconizados pelo Es-
todas as lojas no meio rural, esperando criar e difusos, bem como à protecção jurídica, ad- tado que são os da segurança e do bem-estar
sinergias para resolver os problemas comer- ministrativa, técnica e à facilitação da defesa social”, ressalva a ministra Idalina Valente. O
ciais e colocar à disposição da agro-indústria dos seus direitos em juízo. Estas são as pre- órgão apresenta ainda uma função pedagógi-
produtos alimentares. O projecto terá uma missas que levaram à criação do Instituto Na- ca que, de acordo com o vice-ministro do Co-
implementação faseada, contemplando numa cional de Defesa do Consumidor (INADEC), mércio, Gomes Cardoso, deve ser educativa,
primeira fase as províncias de Uíge, Malange, representado nas 18 províncias e que tem co- preventiva e didáctica, no sentido de conscien-
Kwanza Sul, Huambo, Bié, Benguela, Huíla e mo principal objectivo fazer cumprir as nor- cializar o consumidor do seu papel na salva-
Cunene, que foram escolhidas inicialmente mas veiculadas pela lei. guarda da saúde e segurança da população. A
devido às suas potencialidades. Os executo- entidade, que se encontra em fase de reestru-
res do plano são os importadores, grossistas, PREVENIR, EDUCAR, FISCALIZAR turação, tem apreendido e destruído grande
retalhistas e instituições bancárias. Desenvolvido para controlar e aplicar a políti- quantidade de produtos falsificados, com pra-
ca de defesa dos direitos dos consumidores, o zos de validade expirados ou impróprios para
GROSSISTAS CRESCEM EM DOIS ANOS INADEC foi criado pelo Ministério do Comércio consumo humano. A garantia é dada pela di-
O mercado grossista também sofrerá altera-- para proteger, defender e ajudar o comprador, rectora do INADEC, Elsa Barber, que tem ape-
ções nos próximos anos, pelo que será reor-- informando-o sobre os seus direitos. “Espera- lado para que os consumidores estejam mais
ganizado e estruturado em Plataformas dee mos que o INADEC consolide a criação de uma atentos na hora da compra e para que os co-
Logística e Distribuição (Clods). Até 2011, dee linha de orientação uniforme e metodol oollóg
ógic
metodológica, ica,
a, merciantes assumam a sua responsabilidade
acordo com os dados fornecidos pelo coorde-- com uma função prioritariamente pr reevventiva
preventiva social,
social, não vendendo produtos deteriorados.
so
nador da comissão instaladora da rede ‘Nossoo
Super’, Gomes Cardoso, serão construídos novee
centros de logística e distribuição e um merca--
do abastecedor nas províncias de Luanda, Ma--
lange, Benguela, Huambo, Bié, Huíla, Kwanzaa
Sul, Lunda Sul, Uíge e Cunene. Este incorporaa
ainda novos entrepostos comerciais e hiper--
mercados grossistas, centros de conservação e
armazenamento. No total, surgirão 30 mil va--
gas de trabalho, bem como espaços baseadoss
no urbanismo comercial, em que será discipli--
nada a implantação dos estabelecimentos.

CUSTO OU QUALIDADE?
Muitas famílias ainda recorrem ao chamadoo
‘comércio informal’, que é condição de sobre--
vivência para muitos cidadãos. No entanto,, legislação protege ‘o que é nosso’
apesar dos efeitos nefastos para a economiaa
(desobrigação fiscal, lixo, falta de segurança e
“Mais valia” foi o termo usado pela ministra do Comércio
“Mais-valia” Comércio, Idalina Valente
Valente, relativa
relativa-
qualidade), os mercados de rua continuam a mente à intenção governamental de definir uma legislação que proteja a “marca”
ser procurados, devido aos baixos preços dos Angola, salvaguardando a origem dos produtos nacionais, no caso das exportações.
produtos. A venda de alimentos estragados, Segundo a responsável, o aspecto da força de vontade, perseverança, benevolência e
mal conservados e expostos ao sol e à poei- simplicidade dos angolanos são elementos positivos para a criação e estabelecimen-
ra são razões que têm conduzido muitos con- to da marca, que poderá projectar as empresas no mercado internacional

SOCIEDADE · ANGOLA’IN | 45
SOCIEDADE

O GIGANTE
A DNCI atribui-lhe a Chave de Ouro por ter criado em apenas dois anos a maior e melhor
rede comercial a retalho, a nível nacional. Trata-se da cadeia de supermercados ‘Nosso
Super’, que fechou o último ano com 27 lojas, que abrangem regiões desde Cabinda ao
Cunene. Em 2008, inauguraram o primeiro centro de distribuição da rede, em Luanda/
Viana. Com uma facturação de mais de 139 milhões de USD, o grupo atendeu 10.707.600
clientes em 2007. Inseridos no quadro do escoamento e valorização da produção nacio-
nal, cerca de 28,5 por cento dos produtos comercializados são de origem angolana. Estas
superfícies foram igualmente responsáveis por criar sete mil postos de trabalho
lojas de retalho até 2011
O projecto tem como meta a criação de
dez mil estabelecimentos comerciais CASOS DE SUCESSO um hipermercado com duas áreas de serviço
a retalho num prazo de dois anos, que Inúmeras superfícies comerciais têm surgi- (uma para atender consumidores e outra de
do, propondo um conceito inovador em re- venda a grosso aos retalhistas). É o maior do
serão distribuídos por todo o país, no lação às tradicionais feiras de rua, em que a género em Luanda e emprega 480 pessoas.
sentido de aproximar os produtos das qualidade e o correcto aprovisionamento dos A Casa dos Frescos também é muito requisi-
populações. Numa primeira fase, serão alimentos são o slogan mais eficaz. Instala- tada, especialmente na procura de produtos
do em Angola desde 1996, o Jumbo, perten- lácteos e dos chamados ‘frescos’.
desenvolvidas 164 lojas em todos os cente ao grupo francês Auchan, é uma dos
municípios, num investimento avalia- grandes hipermercados nacionais. Em perío- MAIS LOJAS DE PROXIMIDADE
do em 45 milhões de dólares. Os novos do de crescimento, conta com 312 funcioná- Vinte e cinco novas lojas da rede ‘Poupa Lá’
rios e pretende atingir este ano um volume abrirão portas ao longo deste ano, no âmbito
estabelecimentos vão gerar 88 mil em- de negócios de 22 milhões de USD, de forma do Presild. Actualmente, dois estabelecimen-
pregos. Pretendendo desenvolver uma a ultrapassar os 92 milhões de dólares, con- tos já se encontram a funcionar, como é o ca-
rede comercial organizada, esta acção quistados em 2007. A previsão é sustentada so da loja instalada em Luanda (Benfica), que
pelas acções desenvolvidas ao nível de espa- possui uma área de 250 metros quadrados de
vai colocar ao dispor das populações ços de venda e de melhoria dos equipamen- exposição e venda, câmaras frigoríficas e cer-
produtos conservados, a baixo preço e tos que têm sido implementados. Porém, a ca de 400 variedades de produtos. Apenas es-
próximos das localidades. No caso de cadeia de supermercados mais conhecida em te espaço deu emprego a 28 cidadãos. Numa
todo o território e que é caso único de suces- primeira fase, as lojas ‘Poupa Lá’ serão cons-
Bié, este ano vão nascer mais duas lo- so é o ‘Nosso Super’. Apenas em 2008 ba- truídas nos municípios da capital. Para 2009,
jas, que se juntam às cinco existentes teu o record de construir e inaugurar 17 lojas. o programa governamental para o sector co-
e permitem a troca de produtos entre Desde 2007, o espaço vendeu bens a mais de mercial dá continuidade ao trabalho desen-
dez milhões de clientes, que recorreram aos volvido até este ponto, estando na agenda a
os camponeses e a empresa responsá- 28 espaços distribuídos pelas 18 províncias. inauguração de novos mercados e supermer-
vel pelo projecto, a “Nexiwa Lda”. Quem dá os primeiros passos na área do co- cados, dois centros de distribuição e consoli-
mércio grosso e a retalho é o grupo César & dação do comércio rural e das infra-estruturas
Filhos. Recentemente inaugurou o Interpark, e redes de distribuição de bens.

46 | ANGOLA’IN · SOCIEDADE
SOCIEDADE · ANGOLA’IN | 47
SOCIEDADE | patrícia alves tavares

Solo que dá ‘frutos’


É um recurso natural com múltiplas possibilidades. O país possui uma vocação agrícola que é urgente
revitalizar. A agricultura representa actualmente apenas oito por cento do PIB, mas tem potencialidades
para se tornar numa alternativa rentável à quase total dependência da exploração do petróleo e dos
diamantes. Imprescindível para combater a fome, a terra é essencial para garantir a auto-suficiência e
dinamizar as exportações.
O café está no topo das dieta alimentar e são procurados em todas as 79 mil milhões de kwanzas
culturas, seguindo-se a cana- regiões. Desta forma, o Executivo de José Edu- em pólos agro-industriais e
de-açúcar, o milho, a borracha ardo dos Santos tem desenvolvido projectos
350 milhões de dólares em
e o amendoim nesta área, apostando em determinados sec-
tores, que garantam a auto-suficiência do con-
créditos agrícolas, para pro-
Como diz um ditado, o solo angolano é “chão sumo interno. Os números revelam que serão duzirem 18 milhões de tonela-
que tem muitas uvas para dar”. A fertilidade aplicados 79 mil milhões de kwanzas em pólos das de alimentos (67 milhões
das terras recoloca a necessidade de explorar agro-industriais e 350 milhões de dólares em de toneladas em agro-pecuária
as capacidades agrícolas, algo que já foi feito créditos agrícolas, para produzirem 18 milhões e 12 mil toneladas de semen-
com sucesso no passado. A proximidade dos de toneladas de alimentos (67 milhões de to-
tes) é a aposta do Governo
rios contribui para as qualidades deste recurso neladas em agro-pecuária e 12 mil toneladas
natural, que tem merecido injecções de capi- de sementes) e formarem 30 quadros de alto
tal, com o intuito de elevar a produtividade, de nível. A partir deste ano, o Governo vai inves- REVITALIZAR SECTOR
modo a permitir o abastecimento do mercado tir 300 milhões de dólares em programas de É o produto mais cultivado e um pilar deter-
interno (através do apoio à agricultura familiar fomento agrícola por todo o país, numa ac- minante na diversificação da economia. Até
e de uma revolução tecnológica e comercial). ção que estende até 2012 e visa combater a 1975, o café constituía o grosso das exporta-
Actualmente, o café está no topo das cultu- fome e a pobreza. “É necessário anualmente ções. O ministro da Agricultura, Afonso Can-
ras, seguindo-se a cana-de-açúcar, o milho, a aumentarmos a área cultivável, desbravando ga, acredita que esta cultura ocupará a médio
borracha e o amendoim. Angola conta ainda e abrindo novas áreas”, sustentou o ministro prazo um lugar significativo na exportação de
com excelentes áreas de pasto, pelo que es- da Agricultura, a respeito do Programa Execu- produtos agrícolas. Este revelou que o pro-
tá nos planos governamentais a expansão do tivo do Sector Agrário para 2009, em que se cesso de revitalização abrange três objectivos
mercado agro-pecuário. Os cereais, as frutas, espera um aumento da produção e da produ- relacionados com a investigação científica,
os produtos hortícolas e o peixe dominam a tividade. assistência técnica e a extensão rural, não

48 | ANGOLA’IN · SOCIEDADE
esquecendo o lado comercial. “Não pode ha- a criação de novas. Outra das potencialidades forte expansão e é encarada por muitos como
ver agricultura sustentável e uma economia da cana-de-açúcar respeita ao seu aproveita- uma medida eficaz de diversificação da activi-
próspera sem uma base técnica e tecnologia mento enquanto energia renovável. A Com- dade agrícola. Para este ano, o Governo dispo-
sólida”, frisou o ministro. Já o presidente do panhia de Bioenergia de Angola (BIOCOM) nibilizou uma verba de 350 milhões de dólares
Fundo de Desenvolvimento de Café em Ango- pretende implementar, até 2012, uma usina para impulsionar a agro-pecuária. Kwanza-Sul
la confirmou que o programa governamental produtora de açúcar, etanol e bioelectricida- é a província mais apta para esta técnica. De-
abrange o desenvolvimento da produção nas de em Malanje, com o objectivo de reduzir as tentora de terras de boa qualidade e de água
áreas cafeícolas do país. As entidades contam importações da matéria e o consumo de com- em abundância, a região assiste à reconversão
igualmente com a experiência brasileira, no- bustíveis fósseis. da produção agro-pecuária. Recorde-se que es-
meadamente da Embrapa, na reestruturação ta actividade está intimamente ligada ao pro-
do sector, que visa essencialmente os agricul- Assegurar a auto-suficiência jecto social mais importante do país – Aldeia
tores familiares. alimentar é uma das Nova (fomento da produção agrícola e pecuá-
prioridades do Governo ria através da vertente familiar, em que cada
família recebe uma habitação, com cerca de
30 hectares de terra para cultivar e cinco a seis
cabeças de gado). Também no Kwanza-Norte
“Não pode haver agricultura sustentável e uma economia está a ser implementado um Pólo Agro-Indus-
próspera sem uma base técnica e tecnologia sólida”, trial. Estes programas destinam-se a reduzir
Afonso Canga, ministro da Agricultura a curto e médio prazo a importação de carne,
leite e ovos. A inseminação artificial para a re-
produção animal e o melhoramento das raças
nativas também constam das prioridades.

ALIMENTO PRIMORDIAL CULTURA DE BANANAS


SER AUTO-SUFICIENTE
É a base da dieta angolana e, portanto, o Go- A província de Benguela vai acolher o projecto
Afonso Canga explicou recentemente que o
verno pretende alargar de um para dois mi- que visa o relançamento da produção de bana-
assegurar da auto-suficiência alimentar está
lhões de hectares a área de cultivo, com o na em grande escala. O programa será imple-
dependente do trabalho e dos recursos hu-
objectivo de produzir mais de 15 milhões de mentado na região do Dombe Grande, onde,
manos, naturais e financeiros disponíveis.
toneladas de cereais, o que abre as portas à no primeiro semestre serão plantadas as ba-
Para tal, é necessário aumentar a produtivida-
exportação de um produto que é escasso no naneiras. O empreendimento, a ser desenvol-
de, reduzir os custos de produção, melhorar a
país. A medida prende-se com a necessidade vido num terreno de três mil hectares, está
qualidade e preservar o ambiente, através da
de colmatar o défice alimentar que assola o avaliado em 60 milhões de USD e criará 3.500
criação de estruturas sólidas e que suportem o
território angolano. Pedra fundamental no postos de trabalho. O ministério prevê produ-
sector. O programa agrário definido pelo Exe-
combate à fome, o programa inclui protoco- zir banana de qualidade para o mercado local e
cutivo será aplicado até 2013 e prevê auto-su-
los com empresas privadas e dá apoio aos pro- para exportação, tendo inclusive reconvertido
ficiência, especialmente no que toca a área dos
dutores dos diversos tipos de cereais, desde o a Açucareira 4 de Fevereiro para o efeito.
cereais. Por outro lado, é fundamental apostar
arroz ao milho. Desde 2008, está a ser imple-
na organização do sector e na coordenação
mentado um plano de aumento da produção CHAVE DO FUTURO
nacional entre as diversas entidades produ-
de milho, de modo a reduzir a importação de Apenas no planalto sudoeste existem três mi-
toras, para que não aconteçam casos que se
sementes, diminuindo o défice de cereais, que lhões de cabeças de gado. Com as medidas de
verificam com alguma regularidade, em que se
se estima em 500 mil toneladas/ ano. saneamento e o desenvolvimento das técnicas
importam alimentos que são produzidos inter-
de maneio, a criação de bovinos sofreu uma
namente e ficam inutilizados nos solos.
RETOMAR A TRADIÇÃO
Integrada no plano de actuação do ministé-
rio da Agricultura para os próximos quatro
anos, a produção do açúcar será implementa- dieta alimentar angolana
da nas províncias de Malange e Kwanza-Sul, • Zona Norte fuba de bombo, peixe seco e fresco, batata doce e rena, carne fresca
numa área de 55 mil hectares. Nesta última, e seca, feijão, frutas locais
à luz do projecto “ProCana”, vão nascer dez • Zona leste fuba de bombo, cereais, peixe seco e fresco, produtos hortícolas
mil postos de trabalho, responsáveis por gerir
• Zona centro fuba de milho, batata doce e rena, peixe seco e fresco, feijão, produtos
uma plantação de 25 mil hectares, cuja pro-
hortícolas, frutas diversas
dução pode chegar às 120 toneladas por hec-
tare. A iniciativa conta com o apoio brasileiro, • Zona sul farinha de massango, milho e massambala, arroz, feijão, carne fresca,
principal produtor mundial e um dos mais peixe seco e fresco, produtos hortícolas
avançados tecnologicamente neste domínio.
A iniciativa perspectiva o abastecimento do
mercado nacional e a exportação, num perío-
do em que o Executivo recupera as açucarei-
ras paralisadas e proporciona condições para

SOCIEDADE · ANGOLA’IN | 49
SOCIEDADE | patrícia alves tavares

Gesto
que salva
vidas
Dar sangue é o acto cívico de maior grandeza. Em
Angola, os heróis que contribuem para esta causa
não ultrapassam os cinco mil. São necessários 100
mil dadores regulares. As autoridades desdobram-
se em apelos, evocando que um dia pode ser o não
dador a carecer de uma transfusão. Actualmente, o
país consegue colmatar apenas 25 por cento das ne-
cessidades, pelo que seriam precisas mais de 280 mil
unidades de produto para atingir os 100 por cento.

“Doar sangue ajuda a salvar vidas. Nada VOLUNTÁRIOS, PROCURAM-SE! cular na organização da iniciativa que ajudou
é comparável à sensação de salvar uma “Com os cem mil dadores voluntários por ano, a movimentar a sociedade em torno dos ob-
os hospitais teriam sangue suficiente e cada jectivos da OMS. Para o responsável, a dádi-
vida”. A declaração é do vice-ministro
um de nós quando tivesse um familiar a ne- va regular de sangue permite implementar
da Saúde, Carlos Alberto Masseca, que cessitar, não seria teria que estender o braço”, a estratégia de cuidados médicos primários,
aproveitou o Dia Mundial do Dador de explanou Luzia Dias, directora do Centro Na- visto que os serviços de saúde disponibiliza-
Sangue para pedir o contributo de todos, cional de Sangue. Para atingir as metas na- rão de sangue em quantidades suficientes
cionais, é fundamental substituir os dadores para satisfazer situações de risco. Recorde-se
de modo a que seja possível ter quan-
familiares por outros, pelo que a responsável que cerca de 40 por cento das mortes mater-
tidades suficientes para fazer face às defende a criação de estratégias para que o nas são causadas por hemorragias, pelo que
necessidades. Assim que a meta gover- número de voluntários aumente significati- a oferta de sangue seguro é crucial. Por outro
namental for atingida, referiu, será pos- vamente. Assim, os apelos foram redobrados lado, a existência de glóbulos vermelhos em
por ocasião das comemorações do dia mun- quantidade suficiente é muito útil para evitar
sível impedir a morte de recém-nascidos
dial, que este ano teve como mote “Alcançar óbitos por anemia grave, geralmente associa-
por hemorragia materna, de pessoas com 100 por cento de doação de sangue voluntária da a casos de paludismo.
complicações de malária ou anemia e das e não remunerada”. Contudo, médicos e go-
vítimas de acidentes graves. “Cada um vernantes lembram que os dadores são ne- CATIVAR DADORES
cessários todos os dias, não apenas na data Embora exista muito por fazer, o Ministério
de nós pode estar no lugar dessas pesso-
em que se celebra a efeméride. da Saúde tem elogiado o contributo da Igreja,
as, por isso todos somos poucos para es- dos núcleos juvenis e das organizações da so-
sa árdua tarefa”, reiterou. ESFORÇO RECONHECIDO ciedade civil, cujo contributo é reconhecido por
A Organização Mundial de Saúde (OMS) lou- todos. Estes são os principais dinamizadores
vou recentemente o papel das autoridades das colheitas do líquido precioso, organizan-
angolanas no que respeita à mobilização em do acções de recolha, cedendo espaços e sen-
prol da doação de glóbulos vermelhos. O re- sibilizando as populações, nomeadamente os
presentante da entidade da ONU, Abou Gaye mais novos. Luísa Mendes, médica do Centro
destacou o esforço do ministério, em parti- Nacional de Sangue, convida todos os indiví-

50 | ANGOLA’IN · SOCIEDADE
duos saudáveis, a doarem sangue, para sal-
varem vidas em risco, em qualquer ponto do
país. A clínica frisou que é urgente que cada
um perceba a importância deste gesto, sen-
do capaz de afirmar “eu sou a solução!”. Para
a responsável, este acto deve ser espontâneo
e o dador deve sentir-se confortável e inaba-
lável. Esclareceu ainda que o processo só é
concretizado após uma triagem e exames que
comprovem que o cidadão reúne as condições condições para dar sangue:
para se tornar dador.
› Ter entre 18 e 60 anos;
› Pesar mais de 50 kg;
ACESSO A SANGUE SEGURO
› Ter doado há mais de 60 dias, no caso dos homens;
O incremento do número de pessoas que ce-
› Ter doado há mais de 90 dias, no caso das mulheres;
dem parte dos glóbulos vermelhos voluntária
› A mulher não pode estar grávida, nem a amamentar e, em caso de aborto ou parto, terá que esperar 3 meses;
e regularmente é a única forma de assegu-
› Não ter hepatite desde os 10 anos;
rar o acesso universal a sangue seguro. Luís
› Nunca ter tido malária ou visitado regiões de malária nos últimos 6 meses;
Sambo, representante da OMS África argu-
› Não sofrer de epilepsia;
menta que a segurança do líquido precioso
› Não ser diabético;
é garantida através dos dadores não remu-
› Não possuir tatuagens recentes (inferior a um ano);
nerados, que salvaguardam que este possua
› Não receber transfusões de sangue ou hemoderivados nos últimos 10 anos;
qualidade para albergar de forma sustentá-
› Se não teve comportamentos de risco, como não usar preservativos em relações sexuais, ter tido
vel e previsível as necessidades de todos os
mais de dois parceiros sexuais nos últimos 3 meses ou usar drogas injectáveis
segmentos populacionais. A região carece
de dadores para manter a auto-suficiência
do Banco de Sangue. Porém, Angola, tal co-
mo a maioria dos países africanos, enfrenta 80 por cento do sangue que carecem, a partir por parte de familiares e amigos do doente,
elevadas dificuldades ao nível da selecção de da doação voluntária e não remunerada. Mais bem como os dadores remunerados. O minis-
voluntários com baixo risco de infecção, visto de metade dos Estados-Membros já atingiu tro José Van-Dúnem acredita que com esta
que se verifica uma elevada prevalência das o objectivo. A nível nacional, regista-se uma iniciativa será mais fácil sensibilizar a popula-
doenças transmissíveis via transfusão san- recolha de 3,2 milhões de unidades de sangue ção para os benefícios da dádiva de sangue.
guínea. Assim, em 2001, a Região Africana contra os oito milhões necessários. “Vamos trabalhar todos juntos, para que es-
da OMS adoptou uma estratégia regional, no ta realidade seja possível em Angola, fazen-
sentido de atestar a qualidade dos glóbulos PROMESSA PARA A VIDA do com que os jovens, com capacidades para o
vermelhos. Ao longo deste período, tem-se Com o intuito de incentivar a população sau- efeito, adiram ao movimento, em várias pro-
registado progressos na área da formulação dável a doar sangue com regularidade e assim víncias do país”, esclareceu, lembrando que
de políticas, concepção e implementação de alcançar as metas da OMS, o Ministério da estes dadores são os que oferecem maior se-
estratégias, das quais se destacam o recru- Saúde e os seus parceiros estão a planear im- gurança, podendo constituir a base de reser-
tamento de dadores, a colheita e testagem plantar o “Clube 25”. O projecto consiste num vas de sangue nacional. O “Clube 25” foi criado
do sangue. A meta interposta pelo organis- movimento de jovens voluntários, com idades pela Organização Pan-americana de Saúde e
mo máximo de Saúde consiste na adopção de entre os 18 e os 30, que se comprometem a pela Cruz Vermelha nos países africanos, com
estratagemas por parte dos Governos, com oferecer sangue 25 vezes ao longo da sua vi- a missão de incentivar os jovens a adoptar um
o intuito de se alcançar, em 2012, no mínimo da, substituindo progressivamente a doação estilo de vida mais saudável e a doar sangue.

casos de sucesso
A directora do Centro Nacional de Sangue destaca o papel da Odebrecht e do programa que esta desenvolveu em parceria com a Cruz Verme-
lha de Angola, intitulado “Sangue Seguro”. A empresa fornece sangue, mediante a contribuição regular dos seus colaboradores, bem como das
comunidades em que o grupo opera. A Odebrecht tem sido decisiva em situações de emergência, socorrendo as unidades hospitalares sempre
que há a necessidade de um tipo raro de sangue. As autoridades de saúde louvam ainda a colaboração das províncias ao nível de angariação de
dadores. No Moxico, a última acção de sensibilização visou os efectivos da Polícia Nacional, que tomaram conhecimento da importância deste
gesto, que salva vidas. Já no Namibe, mais de uma centena de jovens, que participaram no “Festijovem” iniciaram uma campanha de doação do
precioso líquido, que vai atenuar as carências do Hospital Provincial “Ngola Kimbanda”

SOCIEDADE · ANGOLA’IN | 51
SOCIEDADE | patrícia alves tavares

MOSQUITO
MORTÍFERO
É a principal parasitose tropical e responsável pelas
altas taxas de mortalidade, em que os astronómicos
custos inviabilizam o crescimento económico. O
paludismo, também designado por malária, afecta
em grande escala o continente africano, que apesar
de liderar as estatísticas mundiais da doença, tem
sofrido relevantes progressos na luta contra o
flagelo, levando os especialistas a prever a sua quase
erradicação, dentro de poucos anos.

O novo relatório da UNICEF avança que Áfri- NO BOM CAMINHO RISCO MÁXIMO
ca efectuou inúmeros sucessos no combate “Há esperanças, pois muitos países têm de- A doença é a principal causa de mortalidade
à malária, devido ao suficiente abastecimen- senvolvido esforços consideráveis na luta e em todo o território nacional. Os países endé-
to de mosquiteiros impregnados durante o temos constatado um pouco por todo o la- micos necessitam de uma soma adicional de 13
período 2004-08, permitindo cobrir mais de do uma diminuição exacta da taxa de mor- biliões de dólares e de um vasto apoio dos res-
40 por cento das populações em risco, nos bilidade e mortalidade, aliada ao paludismo”, pectivos parceiros, argumenta a OMS em An-
países africanos endémicos. “Estamos, pela esclareceu recentemente a directora do Insti- gola. O país está incluído nesse leque. Apenas
primeira vez na história, prestes a fazer da tuto de Saúde e de Desenvolvimento (ISED), no último ano, foram registados mais de três
malária uma causa rara de mortes e de inva- Anta Tall Dia. Para viabilizar este objectivo, a milhões de casos, que acabaram em mais de
lidez”, declarou An Veneman, directora exe- região conta recentemente com o apoio da 10 mil óbitos. Com efeito, o país criou o Progra-
cutiva. Dados da agência Malária Foundation entidade internacional de microfinanças Pla- ma Nacional de Controlo da Malária, em 1989 e
International, referem que o paludismo é um Net Finance, que actua no terreno através de comprometeu-se a cumprir as metas da decla-
problema de saúde pública que afecta 40 por uma panóplia de instituições. O organismo ração de Abuja, assinada na Nigéria, em 2000,
cento da população mundial, em que os jo- comprometeu-se a lutar contra a doença e em com a finalidade de reduzir a taxa de mortali-
vens são os mais vulneráveis. Estimativas relançar os programas de sensibilização e pre- dade da doença em 50 por cento até 2010 e a
apontam que a cada 30 segundos, algures venção. Aliás, os africanos contam com ajudas sua erradicação total até 2030. A OMS revela
no mundo, uma criança morre do vírus. No internacionais imprescindíveis no combate ao que o grande surto do paludismo ocorreu em
cômputo das admissões em hospitais africa- mosquito sanguinário. O Programa Nacional 2003, logo após o final da guerra, momento
nos, 60 por cento dos casos são malária. de Combate à Malária conta com mais de 40 em que os casos atingiram o valor mais alto de
parceiros, que financiam acções específicas. sempre, com uma taxa de mortalidade de 1,19.
ÁFRICA NO CENTRO DO FOCO Em 2007 a situação voltou a piorar. Contudo,
É um fardo extremamente pesado para as po- desde 2008 tem vindo a regredir.
pulações dos países atingidos, devido ao im-
À LUPA
pacto e custos. O continente africano é o mais
dizimado, estando apenas poupados o norte A doença mortal surg
iu há 50 000 anos, sen
mil o crescimento po do que nos últimos
e África do Sul. Todos os anos são diagnosti- pulacional fez com qu dez
cados 300 a 500 milhões de casos de paludis- explodissem em núme e os insectos de Anophebes
ro, dando origem à
mo, 90 por cento dos quais na região africana. de vidas no século XX epidemia que dizimou
. África é o berço civ milhares
A maioria tem resolução satisfatória. No en- ilizacional e o foco de
todos os parasitas. Al quase
tanto, mata cerca de dois milhões de pessoas ém do continente, a
afectadas pelo mesm América e Ásia tam
bém são
por ano, em que os mais visados são as crian- o mal. A região medit
sul e oeste american errânica (sul da Europ
ças com menos de cinco anos. o erradicaram o mo a) e o
squito assassino no
século XX

52 | ANGOLA’IN · SOCIEDADE
e q e deve saber:
2. o qu
1. o que é o paludismo se pela picada das fêmeas
ine? - O paludismo transmite-
como se prev s, ocorrendo sobretudo
nas
por de mosquitos Anophele
da ou crónica é causada nas per ife-
Esta doença infecciosa agu um e que regiões rurais e semi-ru
rais e, por vez es,
género Plasmodi
protozoários parasitas, do rias das áreas urbanas.
pic ada do mosquito Anopheles. actividade durante o pe-
são transmitidos via s por - Os mosquitos têm maior
três milhões de pessoa ndo-se que o maior risco
de
Responsável por matar udi smo ríodo da noite, considera
do vírus da Sida, o pal itações .
ano, taxa semelhante à red es con- contaminação ocorre no
interior das hab
. Porém o uso de tomas inespecíficos com
o
não tem uma vacina eficaz ectos e de - O doente apr esenta sin
s repelentes de ins s. Co m o evo -
tra mosquitos, de creme ven ção dores de cabeça, fadiga, feb
re e náusea
e são eficazes na pre afri os e feb res
roupas que cubram a pel luir da doença, surgem per
íodos de cal
em con duz ir à morte
altas, que pod

TRABALHO DE EQUIPA
Angola e Namíbia uniram esforços e traba- probabilidades de contraírem malária e fale- saúde contribuem para um combate defici-
lham em conjunto há alguns anos, com o in- cerem, bem como de provocarem um impac- tário do vírus. Aliás, o esforço governamental
tuito de tornarem as respectivas fronteiras to negativo no desenvolvimento dos fetos. O angolano centra-se no reforço dos meios de
livres de paludismo e de outros vírus. O ob- custo económico e social do paludismo é um diagnóstico. No que concerne ao tratamento,
jectivo consiste em uniformizar as acções, dos principais entraves ao desenvolvimento ecos internacionais revelam que existe um no-
visto que a Namíbia - a par da África do Sul, africano. A erradicação da doença é dificulta- vo medicamento, elaborado pela multinacio-
Botswana e Suazilândia - se encontra em fase da pelo facto de possuírem todas as condições nal suíça Novartis, o “Coartem”. Resta esperar
de eliminação da doença. Enquanto que An- climáticas necessárias à actuação do parasita. pelo futuro para conhecer o grau de eficácia
gola, Moçambique, Zâmbia e Zimbabué as- Por outro lado, as fracas infra-estruturas de das actuais medidas.
sistem a um período de controlo, com largas
possibilidades de se entrar na fase de pré-eli-
minação. “Estamos a fazer esforços para tor-
nar a fronteira entre Angola e Namíbia numa ecos da doença no mundo
zona livre de paludismo”, explicou o ministro • Bill Gates investe 75 mil euros
da Saúde, José Van-Dúnem. Embora, admi- O homem da Microsoft vai financiar através da sua fundação projectos inovadores
novadores e não
ta que os países têm velocidades diferentes, convencionais na área da saúde. Um tomate que liberta medicação antivíralral quando inge-
o responsável ressalva que as regiões mais rido e fungos que actuam como uma constipação em mosquitos portadores e d de paludismo
avançadas difundem as boas práticas e os são alguns dos 81 projectos inseridos na bolsa de investimento, que ronda os 75 mil euros
exemplos de sucesso. De facto, o país já dis- • ONU espera por apoio
põe de medicamentos altamente eficazes, de Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU reiterou a necessidade de todos os Governos unirem
maior acesso ao diagnóstico e testagem rápi- esforços e continuarem a apoiar a luta contra a malária. Apesar da actual crise económica,
da e de qualidade. o responsável salientou que os investimentos na saúde vão garantir que cada indivíduo te-
nha acesso a um mosquiteiro e a possibilidade de utilizá-lo
GRUPOS DE RISCO • Banco Mundial dispõe ajuda
Os mais pequenos são os mais atingidos pelo O Projecto de Apoio ao Desenvolvimento Comunitário e Social (PRADCS) beneficiará de
insecto assassino, visto que uma em cada 20 mais de 15 milhões de dólares americanos. O Banco Mundial concede a avultada verba a um
crianças morre da doença, antes de completa- programa que tem como finalidade contribuir para a concretização dos Objectivos de De-
rem os cinco anos. As grávidas englobam-se senvolvimento do Milénio (ODM), de entre os quais se destacam a luta contra o paludismo
no conjunto de pessoas com sistema imuni-
tário mais desprotegido. Elas têm elevadas

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SOCIEDADE | patrícia alves tavares

Ambiente
em risco de vida
Luanda, conhecida por se tratar da capital de Angola, assume-se como ‘capital’ da poluição.
Esta é uma das cidades mais sujas do país. A ausência de cultura cívica e a densidade
populacional são responsáveis pelo acumular de lixo, que é uma ameaça para as gerações
futuras. Por outro lado, a poluição visual não transmite uma imagem agradável do principal
centro de negócios. As acções dos diversos intervenientes, que usufruem da metrópole
diariamente, comprometem o meio ambiente.

Os problemas de poluição nas cidades angolanas não são recentes. Há muito que se alerta da garganta e do pulmão. A solução, segun-
para os efeitos nefastos a curto prazo desta situação. A capital é apenas um exemplo de uma do o clínico, passa por instalar as fábricas pro-
questão que actualmente atinge as potências mundiais. A circulação automóvel, o sobrepo- dutoras de gases tóxicos fora das localidades
voamento e os diversos serviços (comércio, restauração, indústria, etc) são alguns dos facto- e por obrigar os trabalhadores a usar equipa-
res que têm contribuído para que Luanda continue a registar elevados índices de poluição. O mentos de protecção. Para o especialista em
caso do rio Catintom, na Maianga, personifica a degradação ambiental da metrópole angola- poluição atmosférica, Eugénio Garcia, o incor-
na. As águas há muito que se tornaram impróprias para qualquer uso doméstico. O rio alber- recto aprovisionamento dos resíduos hospita-
ga o maior parque de lavagem de viaturas a céu aberto. Ao longo da sua extensão, lavadores lares tem consequências graves para o meio
improvisados implantaram moto-bombas, que sugam a água do rio para lavar os automóveis. ambiente. Enquanto discursava no II Encontro
No mesmo local, procede-se à lubrificação das viaturas, sendo que o óleo é derramado direc- Técnico-Científico da Universidade Agostinho
tamente no rio. Daí, as associações ambientais apelarem para uma sensibilização das popula- Neto, o perito incitou os responsáveis das uni-
ções, que não se apercebem que os seus actos têm efeitos nocivos para a natureza. dades hospitalares a que procedam a um tra-
tamento responsável dos detritos. O médico
reiterou que a queima dos resíduos por parte
Instalar as fábricas PLANETA SOB AMEAÇA das unidades de saúde constitui um acto peri-
produtoras de gases tóxicos Médicos e especialistas não duvidam que a goso, deixando o alerta ao Ministério da Saú-
degradação do ambiente tem impactos pro- de e à engenharia do ambiente. O responsável
fora das localidades, é
fundos na saúde da população. Matumba Fi- apelou para que os organismos unam esfor-
a solução defendida por lipe, especialista em otorrinolaringologia no ços e desenvolvam uma política de actuação
especialistas Hospital Josina Machel, garante que a polui- comum. Eugénio Garcia lembrou que a maior
ção proveniente das indústrias química, agrí- consequência da contaminação atmosférica
cola, de construção civil e de transportes é é a inversão térmica, em que o aumento da
responsável pelo alastrar de determinadas pa- temperatura durante o dia e o drástico arrefe-
tologias. A degradação atmosférica contribui cimento nocturno provocam problemas respi-
para o aumento de casos como renites alér- ratórios e cardíacos, devida à concentração e
gicas, faringites, laringites, sinusites, cancros inalação de fumos.

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A degradação à perda da audição”, argumentou Filipe Matu- nas o transbordo do recipiente, onde se mistura
atmosférica contribui ba. Já o intendente Eugénio Bernardo admitiu o óleo dos carros com a água. “Seríamos loucos
para o aumento de casos que estão a ser tomar medidas para fazer fa- se despejássemos no esgoto sete ou oito litros
como renites alérgicas, ce a esta problemática, designadamente nos de óleo queimado retirado das viaturas”, con-
aparelhos de som das viaturas. “Uma das trapõe o responsável da estação do Ingombota,
faringites, laringites,
principais causas associadas aos problemas em declarações ao jornal ‘O País’.
sinusites, cancros da
auditivos está na poluição, ou seja, no exagero
garganta e do pulmão do volume ou na sua falta de controlo”, corro- EM PROL DO AMBIENTE
borou o chefe do departamento de prevenção Empenhado em mudar mentalidades, aler-
rodoviária da Polícia Nacional. Relatórios da tando os cidadãos para os efeitos que a po-
Organização Mundial de Saúde (OMS) revelam luição pode provocar a médio e longo prazo,
que a “surdez severa” afecta quatro em cada no que respeita às alterações climáticas e à
mil pessoas nos países subdesenvolvidos. degradação ambiental global, o Ministério do
Ambiente organizou, por ocasião das come-
Os rios, mares e lagos são morações do Dia do Ambiente, um workshop
autênticos caixotes do lixo alusivo ao tema “o teu planeta precisa de ti”.
Durante o encontro, foram discutidos assun-
para os angolanos
tos relacionados com os efeitos das altera-
ções climáticas sobre as cidades costeiras, os
ÁGUAS EM RISCO
gases estufa, os perigos da camada do ozono
Os rios, mares e lagos são autênticos caixotes
e a prevenção dos impactos ambientais. A mi-
do lixo para os angolanos. Por toda a região, as-
nistra do Ambiente, Fátima Jardim espera que
siste-se diariamente a descargas ilegais de to-
as empresas e organizações adoptem temas
do o tipo de resíduos para os lençóis de água,
e solgans, que eduquem e sensibilizem os po-
que inevitavelmente vão poluir os solos e com-
vos para a necessidade de preservar o meio
prometer a sua fertilidade. A poluição do mar
envolvente. Semelhante repto foi lançado às
está a pôr em causa a biodiversidade marinha.
instituições públicas e estabelecimentos de
A exploração petrolífera é uma das responsá-
ensino, para que procedam à realização de pa-
veis pelo desaparecimento das espécies no
lestras e debates.
oceano, devido aos derrames e queima do gás.
A bióloga Carmem Van-Dúnem aponta ainda o As matérias renováveis
transporte marítimo como um dos factores de
são uma alternativa viável
contaminação, devido às águas de lastro e à li-
Calcula-se que milhão e meio bertação de efluentes. As estações de serviço a energias perecíveis e
de angolanos apresentem al- são altamente poluentes, devido às constan- altamente poluentes
gum tipo de perda auditiva e tes descargas de resíduos, óleos e outros lubri-
ALTERNATIVA RENOVÁVEL
que 700 mil pessoas sejam sur- ficantes, que têm como destino as águas dos
A Organização Não Governamental Juventu-
rios e do mar. A maioria dos proprietários dos
das, devido à poluição sonora de Ecológica Angolana (JEA) tem desenvol-
estabelecimentos não se mostra preocupada
vido acções no âmbito da sensibilização das
com os efeitos nocivos deste procedimento, ar-
RUÍDOS PERIGOSOS populações, consciencializando os cidadãos
gumentando que o que chega à natureza é ape-
A poluição sonora tem causado graves proble- para a importância do uso de energias renová-
mas de surdez a muitos habitantes, principal- veis, de modo a evitar a poluição ambiental. O
mente os que vivem nas cidades, pois estão projecto está a ser implementado na província
mais expostos a altos níveis de ruídos. Luan- do Kwanza Sul, contando com a colaboração
da, devido à concentração urbana e ao funcio- de uma ONG internacional. A particularidade
namento de casas nocturnas, é o caso mais deste programa reside no fomento da utili-
preocupante. Calcula-se que milhão e meio de zação da energia solar (não tem danos para
angolanos apresentem algum tipo de perda o ambiente), através de actividades de edu-
auditiva e que 700 mil pessoas sejam surdas. cação ambiental e distribuição de lanternas
Devido ao acréscimo de situações de surdez solares. A JEA dedica-se às questões de pro-
registadas pelas autoridades de saúde, o mé- tecção, recuperação e preservação do meio.
dico Filipe Matuba defende a intervenção da As matérias renováveis são uma alternativa
Polícia Nacional no combate à poluição sono- viável a energias perecíveis e altamente po-
ra. “O som alto é prejudicial para eles e para luentes, pelo que podem assegurar a susten-
a vizinhança. Volumes que variam entre 150 tabilidade do ambiente e a qualidade de vida
e 170 decibéis são uma transgressão à saúde dos humanos. O futuro passa pela rentabiliza-
auditiva. Ao longo do tempo, podem causar ção das energias provenientes das marés, das
uma degeneração do ouvido interno, levando ondas, do sol, dos ventos, entre outras.

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SOCIEDADE | patrícia alves tavares

Fumo tem dias contados


É considerado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como a principal causa de morte
evitável em todo o mundo. O tabagismo mata em média cinco milhões de pessoas por ano e o
seu combate é prioritário para o organismo da ONU. À semelhança do que ocorre em muitos
Estados, Angola prepara-se para implantar uma lei anti-tabaco, protegendo assim os não
fumadores, que involuntariamente estão expostos aos riscos do tabaco.

Espanha, França, Itália, Portugal e Reino- igualmente abrangidos pela legislação anti- cigarros e produtos derivados. Desencorajar
Unido são alguns dos países europeus em tabágica. As unidades de restauração e es- quem pretende começar a fumar e incenti-
que vigora a legislação anti-fumo, que pro- tabelecimentos de diversão nocturna têm a var quem o faz a largar a nicotina são os ob-
íbe o consumo de tabaco em locais públicos. possibilidade de criar uma área reservada pa- jectivos da inclusão de frases e imagens nos
Angola deve juntar-se brevemente a este lo- ra fumadores. Não existindo a devida sepa- produtos, actuação que tem surtido sucesso
te, tendo inclusive ratificado a convenção 4 ração de espaços, os locais recebem o dístico nos 12 países que recorrem a este método. A
sobre o tabaco, seguindo assim o exemplo para a classe de “não fumadores”. entidade angolana defende a fiscalização da
das nações de primeiro mundo. A lei, que fu- indústria tabaqueira, no que concerne a publi-
turamente impedirá os fumadores de acen- COIMAS PARA PREVARICADORES cidade enganosa. Entretanto, e à semelhança
derem o cigarro em zonas fechadas, está a Os responsáveis pelos estabelecimentos es- de muitas potências mundiais, o Governo de
ser criada. A iniciativa partiu dos ministérios tão sujeitos à aplicação de multas sempre José Eduardo dos Santos aposta em acções
do Ambiente e da Administração Pública, que não delimitem as alas para “fumadores” de sensibilização e pondera aumentar o im-
Emprego e Segurança Social, dirigidos por e “não fumadores” e que permitam o uso de posto sobre a venda de cigarros.
Fátima Jardim e António Pitra Neto, respec- cigarros em área indevida. Os proprietários
tivamente. A proposta pretende desincenti- serão punidos com sanções que oscilam en- COMBATER MALEFÍCIOS
var o hábito do consumo de tabaco e proteger tre os três e oito salários mínimos. Do mes- O tabaco, quando fumado sob qualquer for-
os fumadores passivos. mo modo, os fumadores que desrespeitem o ma, quantidade ou frequência, provoca cerca
decreto serão responsabilizados. Os infracto- de 90 por cento do número total de cancros
res podem pagar coimas que variam entre os do pulmão e constitui um factor de risco sig-
MUDAR HÁBITOS dois e os cinco salários mínimos. As autorida- nificativo para AVC’s e ataques do coração
O novo projecto de lei dita que os angolanos des da Administração Pública vão assegurar mortais, entre outras patologias. O tabagis-
terão que alterar as suas rotinas, nomeada- o cumprimento da medida. Assim, polícias, mo é a segunda causa de morte no mundo e,
mente os fumadores. A proposta sugere a inspectores e fiscais do sector público ad- de acordo com os relatórios da OMS, entre as
proibição do consumo de cigarros, charutos e ministrativo detêm legitimidade para fazer vítimas encontram-se os “fumadores passi-
produtos similares em todos os recintos onde cumprir a lei. vos”, que inalam o fumo expelido por tercei-
funcionam as instituições da administração ros. Ainda segundo a entidade da ONU, os
pública. Os edifícios ocupados por empresas, AGIR GLOBAL países em desenvolvimento são os mais vul-
que se destinam à recepção dos cidadãos, O ministério da Saúde apelou, por ocasião neráveis. Para 2020, estima-se que as mortes
como restaurantes, pastelarias, cafés, dis- do Dia Mundial Sem Tabaco, a que o Estado provocadas por este vício alcancem os 10 mi-
cotecas, centros culturais e hotelaria serão aposte na publicação de avisos nos maços de lhões (um holocausto por ano).

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SOCIEDADE · ANGOLA’IN | 57
GRANDE ENTREVISTA | patrícia alves tavares

cidades
médias:
âncoras
do progresso
“Sistema urbano constitui a verdadeira ossatura do país”

A profissão é recente. Porém, os arquitectos detêm uma grande responsabilidade social, que
vai desde o ordenamento do território, à criação de soluções que melhorem a qualidade habi-
tacional. António Gameiro, Bastonário da Ordem dos Arquitectos (OA) acredita que Luanda
é a cidade que actualmente merece a maior atenção da classe e que o Estado terá que vencer
importantes desafios para levar a bom porto a meta governamental de criar um milhão de ca-
sas até 2012. Em entrevista à Angola’in, o dirigente fala sobre a polémica gerada em torno
da destruição dos monumentos, manifestando publicamente e pela primeira vez a sua posição
acerca desta matéria.

Deficit habitacional estimado em 1.900.000 para 2012

HABITAÇÃO SOCIAL de geração de oportunidades de emprego re- do sistema urbano nacional, passando pela
gular para o maior número de cidadãos. Com correcção da concentração populacional no
Um dos principais desafios do Go- este programa pretende-se mobilizar e fazer litoral e pela estabilização e crescimento das
verno é melhorar, por um lado, as intervir as instituições públicas e os agentes populações no âmbito do processo de desen-
condições de habitabilidade das privados, bem como a sociedade em geral, no volvimento rural integrado. Há que melhorar
populações e, por outro, aumentar sentido da participação activa e sustentada as condições de habitabilidade nos bairros de
a oferta. Que políticas estão a ser na materialização das políticas e estratégias génese ilegal, onde reside cerca de 80% da po-
conduzidas para colmatar o deficit públicas nos domínios do urbanismo e habi- pulação urbana do país. É necessário dinami-
habitacional? tação para, no horizonte de 2009-2012, con- zar e incentivar a participação concorrencial
A consolidação da paz cria um ambiente fa- tribuírem para o esforço de redução gradual da estrutura empresarial nacional nos sec-
vorável à resolução de assimetrias sociais do enorme deficit habitacional (estimado em tores da construção civil e da produção dos
críticas. Estando o governo a implementar 1.900.000 para 2012). respectivos materiais de alta produtividade,
a estratégia global para o combate à fome e bem como a participação do sector bancário
a redução da pobreza no país. O lançamento Que medidas devem ser tomadas pa- nacional na promoção da habitação social.
do Programa Nacional de Urbanismo e Ha- ra atingir a meta governamental? Para concretizar a política nacional da habi-
bitação (PNUH) deverá contribuir, sobrema- Para garantir o êxito, importantes desafios tação é indiscutível a necessidade absoluta
neira, na consecução deste grande objectivo devem ser vencidos, tais como a regulação do da institucionalização do Sistema Financeiro
estratégico, tendo em conta a sua capacidade fenómeno migratório e do desenvolvimento e Fiscal Nacional apropriado.

58 | ANGOLA’IN · GRANDE ENTREVISTA


Em que consiste o Programa ORDENAMENTO
Nacional de Habitação? DO TERRITÓRIO
O PNUH tem, entre outros objectivos, a pros-
secução de uma política habitacional que ga- O crescimento tem sido regular ou
ranta o acesso a habitação condigna para cada ainda há necessidade de se apostar
família, compatível com o seu rendimento, no ordenamento do território?
priorizando o atendimento das necessidades Com a criação da Lei do Ordenamento do Ter-
que tenham repercussões de promoção social ritório e do Urbanismo, em Junho de 2004,
e económica mais sensíveis e imediatas, em pretende-se implantar um sistema que as-
particular as famílias de menores recursos. A senta justamente numa concepção global da
outra meta consiste na prossecução das me- problemática do ordenamento territorial, ou
didas de política públicas complementares, seja, um sistema de normas, princípios e ins- discurso directo
nomeadamente, medidas de política fundiá- trumentos em que avultam os planos territo-
ria, de apoio às empresas de construção civil riais, segundo tipos especializados, em razão • “Temos de reforçar a rede de ci-
e imobiliárias e às empresas de fabrico de ma- do âmbito territorial, do conteúdo material e dades médias. A criação de infra-
teriais de construção, entre outras. dos objectivos visados. A Lei prevê um instru- estruturas e prestação de serviços,
mento de gestão territorial de âmbito nacio- sustentadores da qualidade de vi-
De que forma será nal, o Programa Nacional de Ordenamento da, requerem limiares mínimos de
aplicado o PNUH? do Território e Urbanismo. Enquadra-se nos população. O desenvolvimento faz-
Através de subprogramas. É o caso do pro- objectivos gerais do Esquema de Desenvolvi-
se com pessoas”
jecto de lotes urbanizados para todos os mento do Espaço Territorial Angolano.
escalões sociais, que tem como objectivo
restabelecer mecanismos de ocupação or- • “Constatamos que ocorre uma
Qual o grau de importância
deira dos espaços urbanizáveis. Outro sub- deste plano? destruição e degradação das re-
programa é o da construção de habitação O Programa definirá as grandes opções e di- des de infra-estruturas de suporte
social para famílias de baixa e média renda rectrizes, no âmbito da organização e da va- à reconstrução do país e à norma-
e tem como objectivo específico a produ- lorização do nosso território. Opções que lização dos circuitos económicos e
ção estatal de conjuntos habitacionais, ba- deverão estar ao serviço do nosso futuro, do sociais”
seando-se em modelos de casas com padrão desenvolvimento sustentável do nosso país
económico pré-definido e a realizar-se em e que deverão viabilizar um desenvolvimen- • “A regulação do fenómeno mi-
regime de custos controlados. O subpro- to espacialmente equilibrado, atenuador das gratório, o desenvolvimento do sis-
grama de Habitação de Mercado para famí- assimetrias de desenvolvimento regional. tema urbano nacional, a correcção
lias de renda média e média-alta tem como Será a ponte entre a política de ordenamen-
da concentração populacional no
finalidade a realização de projectos de ha- to do território e a política de ambiente. O
bitação de custos controlados que serão litoral e a estabilização das popu-
Programa consubstanciará necessariamente
executados em regime de parceria público- um modelo, que não deixará de identificar lações no âmbito do processo de
privada. Nestes perímetros serão também as áreas preferenciais de localização de inves- crescimento rural integrado são
dadas as oportunidades de integração dos timentos estruturantes de âmbito regional, desafios que se impõem”
investimentos habitacionais privados e nacional e internacional e que não poderá
das cooperativas, correspondentes às ofer- descurar as preocupações ligadas à sua ade- • “Há que melhorar as condições de
tas de níveis médio, médio alto e alto, des- quada e, mesmo, harmoniosa inserção na habitabilidade nos bairros de géne-
tinados ao mercado livre. O subprograma paisagem. O Programa Nacional configurará se ilegal, onde reside cerca de 80%
de Requalificação ou Renovação Urbana e desenhará, acima de tudo, as macro-estru- da população urbana do país”
promove operações de renovação ou re- turas, os macro-sistemas e as macro-redes.
qualificação dos bairros precários antigos,
• “É necessário incentivar a parti-
visando manter o máximo possível de fa- Qual a tarefa prioritária em termos
cipação concorrencial da estrutura
mílias na respectiva zona de residência. de desenvolvimento e ordenamento
empresarial nacional nos sectores
territorial?
Importa desenhar estraté- Só uma intervenção e, sobretudo, uma visão da construção civil e da produção
gias de desenvolvimento sistémica e estruturante em relação ao terri- de materiais de alta produtividade,
para as áreas em perda, em tório assegurará a continuidade dos seus pro- bem como a participação do sector
desertificação e em risco de cessos biofísicos, sociais e económicos. Não bancário nacional na promoção da
marginalização sendo o território feito de espaços fechados e habitação social”

GRANDE ENTREVISTA · ANGOLA’IN | 59


GRANDE ENTREVISTA

tá-se a trabalhar segundo o estabelecido nas


Principais Opções de Ordenamento do Ter-
ritório Nacional – POOTN (aquilo que pode
ser o Programa Nacional de Ordenamento do
Território e Urbanismo), sendo o quadro de
referência para os demais planos territoriais.

Quais são os problemas de orde-


namento do território angolano
à escala nacional que carecem de
abordagem urgente?
Constatamos que ocorre uma destruição e
degradação das redes de infra-estruturas de
suporte à reconstrução do país e à normali-
zação dos circuitos económicos e sociais. Por
outro lado, a definição da hierarquia da rede
estanques, tornam-se importantes áreas, que tros urbanos da chamada rede complemen- urbana nacional faz chamar a atenção para a
assegurarão a coesão, a sustentabilidade e a tar: as sedes dos nossos municípios. Estes são rede urbana, as infra-estruturas e a estrutura
competitividade do território nacional. As- indispensáveis ao processo de desenvolvi- ecológica primária (Parques e Reservas Na-
sim, será indispensável configurar estraté- mento das áreas em perda, de baixa densidade cionais), bem como para a elaboração de pla-
gias de desenvolvimento para as áreas mais populacional e predominantemente rurais. nos sectoriais individuais.
dinâmicas. Haverá, por outro lado e em con- Demonstradamente, a criação e a manuten-
traponto, que desenhar as estratégias de de- ção de certas infra-estruturas e a prestação de E em relação à escala provincial?
senvolvimento para as áreas em perda, em determinados serviços, que são sustentado- Devemos considerar a escala provincial co-
desertificação e em risco de marginalização. res da qualidade de vida, requerem limiares mo escala estratégica das políticas de or-
Se nas mais dinâmicas, especialmente nas mínimos de população. O desenvolvimento denamento e de suporte às políticas de
metropolitanas, o congestionamento e a so- faz-se com as pessoas. desenvolvimento territorial. Assim, preten-
breocupação comprometem a funcionalida- demos fazer do Plano Provincial (PPOT) o
de, a sustentabilidade e a competitividade, Quais são os desafios instrumento de coordenação de todas as in-
já nas áreas excluídas dos processos de de- que o PNOTU terá de enfrentar? tervenções sectoriais estruturantes do terri-
senvolvimento, o declínio demográfico para O Programa Nacional de Ordenamento do tório provincial, fazendo-o acompanhar de
além de determinados limiares mínimos po- Território e do Urbanismo (PNOTU) não po- um Programa de Investimentos Provincial de
derá comprometer a sua futura regeneração. derá excluir da sua macro-visão territorial, médio-prazo (investimento público vincula-
dos seus macro-cenários, parcelas do país tivo e investimento privado indicativo). Este
A solução passa por descentralizar com dinâmicas e competitividades diversas. programa deverá ser um plano de elaboração
os centros urbanos? Com a efectivação da paz em todo o territó- obrigatória, estabelecendo um prazo tempo-
O modelo e o esquema de desenvolvimento rio nacional, estão criadas as condições para ral para a cobertura integral do território na-
do país destacarão seguramente um dos sis- a materialização do objecto da lei, que é o es- cional por PPOT.
temas mais relevantes na organização ter- tabelecimento do sistema de ordenamento
ritorial, o sistema urbano. Este constitui a do território e urbanismo e da sua acção po- Qual a dimensão
verdadeira ossatura do país, estruturante do lítica. dos Planos Directores Gerais?
nosso território e que se pretende integrado Recomendo colocar o Plano Director Geral
e equilibrado, mas competitivo. Haverá, no RECONSTRUÇÃO das grandes cidades – PDG, no âmbito pro-
entanto, que desenvolver as relações hori- NACIONAL vincial do Sistema de Ordenamento. Atribuir
zontais entre centros urbanos do mesmo ní- ao PDG uma natureza estratégica, com fun-
vel numa lógica de funcionamento em rede Como analisa o processo ções de macro-zonamento (estabelecimento
de complementaridade, em resultado das res- de reconstrução nacional? das grandes linhas de ordenamento da cida-
pectivas especializações funcionais, que per- Actualmente, a reconstrução em curso e a de) e de estabelecimento de orientações a de-
mitirão fazer face à competição crescente. perspectiva da evolução socio-económica senvolver pelos Planos de Nível Inferior. A
do país impõe a necessidade de assegurar as este nível (Provincial), os Planos Sectoriais
As cidades do interior infra-estruturas críticas ao desenvolvimento Provinciais são planos dirigidos às infra-es-
são peça-chave no processo? e, por conseguinte, obriga o Governo a dis- truturas colectivas e com um carácter de ur-
Temos que continuar a reforçar a rede de ci- pensar uma atenção especial ao urbanismo gência (na ausência do PPOT).
dades médias. No interior do país, são as in- e habitação. O sistema de ordenamento do
dispensáveis âncoras dos estabelecimentos território está definido como um instrumen- À escala municipal,
humanos, viabilizando a fixação das popu- to fundamental ao processo de reconstrução o que é mais urgente?
lações e o desenvolvimento dos recursos en- nacional, no que concerne à resolução dos Aqui, devemos centrar o nível municipal nos
dógenos. Quem destaca o seu papel não pode problemas urgentes de organização e funcio- instrumentos com vocação de gestão urba-
deixar de distinguir a função de outros cen- namento do território. A nível nacional, es-

60 | ANGOLA’IN · GRANDE ENTREVISTA


(cont.)
nística e de ordenamento do espaço rural, INFLAÇÃO IMOBILIÁRIA • “Importa implementar uma po-
privilegiando a intervenção de nível muni- lítica habitacional que garanta o
cipal nas parcelas de grandes cidades, sedes Na sua opinião, que factores têm acesso a habitação condigna para
dos municípios, musseques e núcleos urba- levado à especulação imobiliária? cada família, compatível com o seu
nos com forte influência no meio rural. Não Todos os indicadores económicos revelam rendimento”
devemos atribuir um estatuto prioritário ao que Angola tem crescido a um nível mais ele-
PDM, salvo nos casos dos municípios admi- vado do que a média de África e do Mundo,
• “O projecto de lotes urbanizados
nistrativamente mais desenvolvidos. Deve-se o que inevitavelmente implica uma maior
para todos os escalões sociais tem
antes dar prioridade aos planos de urbaniza- “apetência” por parte dos investidores inter-
ção, ao plano de pormenor e ao plano de Or- como objectivo restabelecer meca-
nacionais, que têm valorizado o facto de An-
denamento Rural. gola estar a beneficiar de um bom ambiente nismos de ocupação ordeira dos es-
macroeconómico, traduzido no baixo nível paços urbanizáveis”
NOVA LUANDA da taxa de inflação, bem como na consoli-
dação orçamental expressa em superavits • “A construção de habitação social
Como analisa o desenvolvimento do saldo global das contas fiscais. Ao mes- para famílias de baixa e média ren-
arquitectónico em Luanda? mo tempo que o ambiente macroeconómi- da baseia-se em modelos de casas
Podemos caracterizar Luanda como uma ci- co é favorável, o Governo tem apostado no com padrão económico pré-defini-
dade composta por três áreas perfeitamente lançamento de obras de infra-estruturas es- do e irá realizar-se em regime de
definidas. A cidade consolidada, cujos pro- truturantes para os novos desafios da eco- custos controlados”
blemas se prendem com a descaracterização nomia nacional e que visam dar suporte ao
que vem sofrendo, fruto da sobreocupação e constante dinamismo do país, traduzido no
• “Mais de 70% da população lu-
de novas intervenções que contradizem com crescimento do PIB anual em torno dos 20%,
o existente. Depois temos a cidade que co- no crescimento do investimento privado, andense vive na grande periferia
meçou a ser construída no período colonial que em 2007 atingiu os 45%, representando de Luanda, o que merece a nossa
e não foi concluída, como o bairro da Terra cerca de 2 mil milhões de dólares, e de uma principal atenção”
Nova, da Precol e do Cazenga, que não cons- taxa de inflação interna em torno dos 10%,
tituem uma zona homogénea do ponto de mesmo com o aumento dos produtos bási- • “A solução para a cidade de Lu-
vista urbano. Por último, temos a grande pe- cos a nível internacional. De acordo com o anda passa pela criação de novas
riferia de Luanda, constituída por toda a área enquadramento económico, verifica-se uma centralidades, novas áreas residen-
de expansão, cuja ocupação começou no pe- grande actividade em todo o tecido económi- ciais e novos centros de serviço, no
ríodo pós-independência e dura até aos nos- co angolano, onde o mercado imobiliário não sentido de reduzir fluxos e fixar as
sos dias, e onde arrisco dizer que vive mais de é excepção.
populações à volta desses centros
70% da população de Luanda.
urbanos”
O que pode ser feito
Qual o caminho a seguir para inverter esta tendência?
para requalificar Sendo o problema da habitação uma questão • “O problema da habitação não é
o perímetro urbano da capital? não só de procura e oferta, mas também de só uma questão de oferta e procu-
A periferia de Luanda é sem dúvida aque- rendimentos em relação aos produtos e tipo- ra, mas também de rendimentos
la que merece e merecerá a nossa principal logias, só um programa de oferta habitacio- em relação aos produtos e tipolo-
atenção, uma vez que essa área está carente nal poderá fazer com que haja um melhor e gias. Só um programa de oferta
do maior número de infra-estruturas, tanto mais profícuo controlo da oferta imobiliária. habitacional fará com que haja um
de carácter técnico (vias asfaltadas, água ca- melhor e mais profícuo controlo da
nalizada, energia eléctrica, saneamento bá- oferta imobiliária”
sico, etc.), como social (escolas, centros de
saúde, etc.), com um índice muito baixo de
• “A OA pode influenciar o processo
habitabilidade. Por isso, a requalificação é o
político. Deve contribuir para um
processo de qualificação urbana a ter em con-
ta para essa área. uso mais inteligente do ecosistema
e para uma divisão equitativa das
A cidade está sobrelotada. Qual a qualidades espaciais da cidade”
melhor opção para esta questão?
A solução dos problemas da cidade de Luan- • “Em Angola existem cinco esco-
da passa, entre outros, pela criação e desen- las de arquitectura. Um número
volvimento de novas centralidades, novas muito exíguo para os desafios a ní-
áreas residenciais, centros de serviço, no sen- vel nacional”
tido de reduzir os fluxos e fixar as populações
à volta destes centros urbanos e serviços.

GRANDE ENTREVISTA · ANGOLA’IN | 61


GRANDE ENTREVISTA

PATRIMÓNIO NACIONAL bência do Estado, em colaboração com todos gente do ecosistema, para uma divisão mais
os agentes culturais a promoção, a salvaguar- equitativa das qualidades espaciais da cidade,
Recentemente falou-se muito da da e a valorização do património cultural, tor- para uma relação mais criativa entre o homem
demolição de monumentos classi- nando-o elemento vivificador da identidade e a natureza e para um habitat mais saudável.
ficados para dar lugar a hotéis e cultural comum. A OA de Angola, na qualidade de parceiro do
shoppings. Concorda com esta con- Estado, tem dado os seus subsídios em todas
duta? SUSTENTABILIDADE essas matérias, uma vez que a sua actividade
Muito se tem falado e escrito sobre o patrimó- E IMPACTO AMBIENTAL está de acordo com o preceituado nos seus es-
nio, em especial o cultural. Achei que tam- tatutos, nomeadamente na defesa e promo-
bém tinha chegado a minha vez de fazê-lo, Qual o papel da Ordem ção da arquitectura e do urbanismo.
porque começo a sentir que chegou a hora de dos Arquitectos
uma vez por todas abrirmos um debate públi- na preservação do ecossistema? FORMAÇÃO
co em relação a esta matéria, já que o Decreto A profissão de arquitecto é recente. O modo
nº 80/76 de 3 de Setembro não caracteriza es- como organizamos o espaço urbano ou al- Existem infra-estruturas
te ou aquele edifício. Foi assim que vimos de- teramos a paisagem; o uso que damos aos adequadas para a formação?
saparecer em Luanda, o Palácio de Dona Ana materiais ou a forma como concebemos o Ao nível da formação de arquitectos, em An-
Joaquina, o Mercado do Kinaxixi e mais re- comportamento ambiental e climático dos gola existem cinco escolas de arquitectura,
centemente o edifício que albergou o Centro nossos edifícios; a quantidade de energia que sendo uma pública e quatro privadas. Todos
de Documentação e Informação da Universi- usamos para construir e manter os nossos es- os cursos estão divididos em ciclos de forma-
dade “A. Neto”, em Benguela, para não citar paços habitáveis, iluminados e ventilados; a ção, com resultados muito bons, traduzidos
outros. facilidade de manutenção e durabilidade das pelas excelentes performances em relação às
estruturas que desenhamos; o impacto am- prestações destes na vida profissional. Uma
Portanto, na sua opinião biental da expansão urbana; a poupança ou o das atribuições da Ordem dos Arquitectos de
o património é indestrutível... desperdício de água nos nossos edifícios, tudo Angola é contribuir para a elevação dos pa-
Parece-me ser essencial que tenhamos cons- isto são aspectos da nossa responsabilidade e drões de formação do arquitecto e do urbanis-
ciência que não estamos fora do que inter- preocupações permanentes. ta e pronunciar-se sobre os planos de estudos
nacionalmente se produz em matéria de e funcionamento dos cursos. Mesmo sendo
preservação do património histórico-cultural Qual o papel da OA na sociedade ainda em número muito exíguo para os de-
do povo angolano. Hoje em dia a maior parte enquanto parceiro do Estado? safios a nível nacional, pensamos estar no
dos países no mundo adoptam nas suas cons- Podemos influenciar o processo político e de- caminho certo com a tipologia de formação
tituições, artigos que determinem a “incum- vemos contribuir para um uso mais inteli- adoptada.

tempo de reflexão
Para António Gameiro, as cidades lêem-se como se lêem os livros: na geografia dos seus rostos, no traçado das suas avenidas, na arquitectura das suas
construções. Por isso, elege o livro do amigo Pepetela “Horror ao Vazio” como espelho daquilo que actualmente Luanda vive.

“Queixamo-nos do trânsito na baixa da cidade (não só na baixa, sejamos justos) e nem sempre escapamos de lá cair, porque ali está concentrado mais de metade do
capital financeiro e dos serviços do país. E querem fazer mais torres, para atrair mais gente e mais carros? Que as torres vão ter parques de estacionamento, dizem
os defensores das ideias futuristas. O problema é entrar ou sair dos parques, porque as ruas estão atulhadas de carros. Claro que há uma solução do mesmo estilo:
fazer as ruas da baixa com andares, género auto-estrada em fatias sobrepostas, ou até com viadutos por cima dos prédios, a arranharem as nuvens. Isso seria um
arranhanço útil. E já agora peço, façam um túnel por baixo da baía ou uma ponte a ligar o bairro Miramar à Ilha, assim chegamos à praia em cinco minutos, como
era há vinte anos. Como de todos os modos a ideia geral é dar cabo da baía e da Ilha, também tanto faz, mais ponte menos ponte… Suponho também que já deve haver
negociações para se tirar a Igreja da Nazaré do sítio onde está, a ocupar indevidamente um espaço nobre para mais uma torre. Uma pequena concessão não fica mal,
mantém-se a igreja na cave do edifício. A História que se lixe, não foi a lição da destruição do palácio de D. Ana Joaquina? Então continuemos. Neste afã de ocupar
todos os espaços, proponho também acabar com o prédio dos correios, bem feio e sem valor arquitectónico por sinal, e já agora com a praceta à sua frente, outro desper-
dício de espaço. E aquele compacto e azul edifício que serve a polícia? Um quarteirão inutilizado! A polícia pode ocupar um andar da nova torre. Com menos agentes,
claro, para se fazer encolher o Estado, assim mandam os compêndios do liberalismo económico, nossa nova Bíblia”.

62 | ANGOLA’IN · GRANDE ENTREVISTA


FOTO REPORTAGEM | manuela bártolo

AS QUATRO
MÃES DE
AGOSTINHO
NETO
O poema “Adeus à hora da largada” do
poeta Agostinho Neto retrata na plenitude
algumas das imagens que se seguem. A
Mãe Negra, biológica, a Mãe Pátria, a Mãe
Continente e a Grande Mãe Cristã. Mãe-
África é um recurso simbólico diante da
necessidade do continente desejar uma maior
afirmação racial, cultural, social e política
frente a séculos de luta. Razão pela qual, a
Mãe evocada é ao mesmo tempo a mãe negra
biológica - simbolizando a origem africana
-, a mãe pátria – a terra e nação angolana
-, a mãe continente – a África -, vista como
a progenitora da raça negra -, e também
a Grande Mãe Cristã – a Virgem Maria
-, em razão da formação evangélica e da
assimilação cultural sofrida. Estas crianças
que hoje mostramos encarnam na perfeição
todas estas Mães. Jovens gaiatas, de sorriso
cintilante, leoas que de olhos fechados estão
todos os dias mais perto. Por ti, por mim,
pelos meus irmãos, gazelas que fogem do
ignóbil e mantêm a luz no olhar.

fotografias - Ana Rita Rodrigues - www.lightfragments.com

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FOTO REPORTAGEM · ANGOLA’IN | 65
FOTO REPORTAGEM

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FOTO REPORTAGEM

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FOTO REPORTAGEM · ANGOLA’IN | 69
TURISMO | patrícia alves tavares

cultura ancestral

O Templo Horyuji
e o Templo Todaiji
são essenciais em
qualquer programa
de visita ao Japão.

Múltiplos encantos naturais, população PANÓPLIA DE ATRACÇÕES des são exemplo disso. Há festas quase todos
hospitaleira e uma vasta diversidade de Os santuários e templos são a imagem de os dias em algum lugar do Japão. A culinária
atractivos culturais são apenas algumas marca do Japão. Impecavelmente cuidados, é conhecida além-fronteiras, especialmente
a maioria destes espaços, que possuem uma pelo sushi, sashimi e tempura. Contudo, cada
das muitas razões para visitar o Japão.
história de 2.000 anos, acolhe ainda activida- localidade possui iguarias específicas, que são
As melhorias nas infra-estruturas turís-
des culturais e é fonte de tradições e estilos um verdadeiro desafio aos seus sentidos. Tó-
ticas repercutem-se na crescente procura de vida. Em muitos pontos da região pode quio é a capital. Com mais de 12 milhões de
deste destino para passar férias, em que encontrar bairros seculares de samurais, que habitantes, é a autêntica metrópole. Aqui en-
a harmonia perfeita entre tradição e mo- coexistem com a sociedade moderna. O ar- contra todas as formas de entretenimento ur-
dernidade é responsável pela conquista quipélago detém mais de três mil ilhas, que bano, desde as artes tradicionais japonesas,
crescente dos visitantes estrangeiros. A rodeiam as principais: Hokkaido, Honshu, Shi- como o nô, o kabuki e o bunraku até concer-
koku e Kyushu. Em termos de clima, o turista tos de orquestras mundialmente conhecidas
variedade de alojamento de elevada qua-
depara-se com as quatro estações bem defi- e de artistas populares. Apesar de ultima-
lidade, os restaurantes a preços acessíveis
nidas. A primavera brinda os visitantes com as mente se ter ocidentalizado, conserva ainda
e as ementas em línguas estrangeiras são cerejeiras em flor. As áreas verdejantes são a o seu velho encanto. Nikko é conhecida pelas
o mote para uma estadia despreocupada. imagem do Verão, enquanto o Outono é mar- maravilhas arquitectónicas e o Parque Nacio-
As indústrias de alta tecnologia projec- cado pelas folhagens escarlates. O Inverno é nal Fuji-Hakone-Izu tem como maior atracção
tam a sociedade japonesa na vanguar- caracterizado pelas paisagens brancas, co- o famoso Monte Fuji. Na extremidade norte
da do conhecimento. Porém, apesar de bertas de neve. As estações do ano são mui- do arquipélago, encontra-se Hokkaido, ponto
to importantes para a população, são o ponto de passagem no Japão Setentrional. É a se-
olhos postos no futuro, o Japão preserva
de partida para a inspiração e para as artes ja- gunda maior ilha, abrangendo 21 por cento da
a sua herança de milhares de anos, sendo
ponesas. O clima marca ainda o estilo de vi- área total do país. A região possui uma enor-
capaz de traçar a sua história até às épo- da dos habitantes. As tradições e culturas são me beleza natural, uma flora e fauna invulgar
cas mitológicas. características de cada região e as festivida- e um ambiente social peculiar, que remonta

70 | ANGOLA’IN · TURISMO
ao século XVIII. O Japão tem a capacidade
dade de
agregar as grandes cidades cosmopolitas
itas e as
comunidades regionais, possuidoras de raízes
profundas nas culturas locais. A hospitalida-
pitalida-
de dos habitantes é uma das vantagens
gens pa-
ra quem visita a região. Em muitos pontos
da região, pode encontrar bairros seculares
eculares
de samurais, que coexistem com a sociedade
ociedade
moderna.

SANTUÁRIOS E PAISAGENS espectáculos artísticos tradicionais


DESLUMBRANTES As artes milenares provam que o Japão é um autêntico museu de arte de valor inestimável,
Os templos budistas e os santuários xintoístas que tem sido preservado há mais de dois mil anos. As artes tradicionais mais importantes
detêm igual importância, apesar das gritantes e que estão disponíveis todo o ano são as seguintes:
diferenças. Os primeiros são detentores de · Kabuki: Data do século XVII e é o teatro mais popular do país. Tudo é multicolor, desde as
uma intensa elegância arquitectónica, enquan- danças aos acessórios. A maquilhagem é exagerada para intensificar as emoções e os papéis
to que os outros expressam a mesma beleza, femininos que, nos dramas, são desempenhados por actores.
mas através da ausência de decoração, sur- · Noh: Nesta forma teatral com mais de sete séculos de existência, os actores usam máscaras
gindo no meio dos bosques. As manifestções sofisticadas e roupas pomposas, consistindo numa forma de drama lírico.
de fé são exemplo da diversidade. «Shinto» é · Bunraku: O teatro de marionetas assenta no método «três titeiros»: três manipuladores da
uma religião primitiva, típica do Japão e que marionete principal, que tem cerca de dois terços do tamanho natural do Homem
se baseia na crença nos ancestrais e na har-
monia com o mundo natural. O budismo, por comunicação facilitada
seu lado, foi introduzido na Ásia Continental O idioma oficial é o japonês. Porém, a maioria dos habitantes, nomeadamente nas prin-
há seis séculos e fundamenta-se na ilumina- cipais cidades e centros históricos, fala inglês. No país existem mais de 1550 intérpretes
ção espiritual. Os jardins são igualmente ponto licenciados, falando fluentemente idiomas como o português, inglês ou espanhol. Acres-
de passagem obrigatório. Reconhecidos mun- cente-se que actuam na região mais de oito centenas de guias turísticos profissionais, que
dialmente pelas reproduções subtis da beleza dominam o espanhol e o português. As indicações estão descritas em japonês e inglês, uma
da natureza, estes pequenos espaços são óp- vez que mais de 700 mil americanos visitam anualmente o Japão
timos locais de terapia. As zonas rurais guar-
dam as paisagens mais deslumbrantes, áreas
A NÃO PERDER
bucólicas e tranquilas, ladeadas de exuberan- onsen, as termas quentes
tes montanhas e picos a fundo. As fontes de águas termais proliferam na região asiática. Os spas são muito procurados pe-
los turistas, que anseiam por experimentar estes balneários de água mineral quente. Os ‘on-
ANTIGO E MODERNO EM HARMONIA sen’, como são conhecidos entre os japoneses, são muito populares e procurados por todas
Para os amantes da tradição, o Templo Horyu- as faixas etárias. As tendências são diversas: uns levam as águas de fontes termais pa-
ji e o Templo Todaiji são essenciais em qual- ra o interior das instalações (indoor),
or), enquanto que
quer programa de visita ao Japão. A primeira outros constroem ‘piscinas-ou-
compõe uma das construções de madeira er- tdoors’. Estas estão disponíveis
guidas há mais de 1400 anos. O Templo Todai- todo o ano e são muito procura-
ji nasceu em 1709 e tem 57 metros de altura. das, sobretudo no Inverno, mes--
Ambas são marcadas pelo estilo budista e são mo debaixo de leves quedas dee
tidas como arquitecturas exclusivamente ja- neve. Actualmente, os ryokans co--
ponesas, apesar das fortes influências da Chi- meçam a valorizar a privacidade e
na. Desde o século XIX, o estilo ocidental tem possuem infra-estruturas privadas as
inspirado as construções modernas. No entan- para atendimento a casais ou fa- a-
to, a harmonia com a natureza é uma influên- mílias. O banho de areia quente em m
cia tradicional marcante e que está presente Ibusuki, na província de Kagoshima ma
na maioria das obras contemporâneas. é outra forma de onsen a céu abertorto

TURISMO · ANGOLA’IN | 71
TURISMO

INFORMAÇÕES ÚTEIS
› Para entrar no Japão, basta-lhe transportar consigo o passaporte válido e um
u
visto consular (emitido no consulado ou embaixada do Japão no seu país de d
residência e cuja validade depende do tipo de viagem)
› Não necessita de qualquer vacinação

ão,
› Tóquio, a capital é servida por inúmeras companhias aéreas. Se fôr de avião,
consulte na sua agência de viagens os melhores preços
ro-
› Tóquio e Osaka são as duas grandes portas de entrada para os turistas pro-
cedentes via aérea
› Pode fazer a viagem por mar, através de cruzeiros
dos
› A moeda nacional é o iene. As moedas estrangeiras não são aceites em todos
de
os hotéis, restaurantes e lojas de souvenir. Para cambiar o seu dinheiro pode
na-
recorrer a bancos ou aos balcões de câmbio existentes nos aeroportos interna-
cionais de Tóquio e Osaka
se
› Cartões de crédito internacionais, como o American Express, VISA, Diners
MasterCard são aceites na maioria dos estabelecimentos
› No Japão não se pratica a gorjeta
› Os hotéis de primeira classe em estilo ocidental podem ser comparados aos
io-
melhores dos Estados Unidos e Europa. Dispõe ainda das hospedarias tradicio-
nais japonesas (ryokan)
or-
› A rede de transportes públicos é bastante desenvolvida. O transporte é supor-
tado por comboios, autocarros e metro, que são muito eficientes e económicos.os.
Também encontra serviço de taxis e uma extensa rede de transporte marítimo,mo,
que interliga as ilhas.

MUNDO EM MINIATURA reais espalhadas pelos jardins, está nos cerca da Europa, Estados Unidos e Ásia. No final, o
O Tobu World Square é um parque temático de 140 mil bonecos diferentes, espalhados por visitante pode comprar lembranças.
do Japão, que atrai anualmente milhares de cada sector e que possuem 7 centímetros de
curiosos. Ali pode encontrar cer- SOUVENIRS PARA TODOS OS GOSTOS
ca de mil modelos de localidades No Tobu World Square pode encontrar Todos os turistas gostam de levar uma
mundialmente famosas, reprodu- recordação dos locais que visitaram. No
zidas numa escala reduzida de 1
cerca de mil modelos de localidades país asiático, os souvenirs de reputa-
para 25. No total, são 102 minia- mundialmente famosas, em miniatura ção mundial são as câmaras fotográ-
turas de 21 países da Ásia, África, ficas e artigos ópticos, bem como os
América do Norte e Europa. Localizado em altura. Se adquirir um cartão de activação, os rádio-transistores e equipamentos eléctricos
Nikko (Tochigi), mais de 40 estruturas repre- bonecos ganham vida, dançando e cantando e electrónicos. Relógios, sedas, pérolas, cerâ-
sentam monumentos com a chancela de Pa- para espanto de todos. O espaço possui res- micas, artigos de bambú, bonecas, produtos
trimónio Mundial. Uma das particularidades taurantes com comida japonesa e internacio- damascenos e xilogravuras também são mui-
do lugar, que agrega 20 mil árvores de bonsais nal, incluindo nas ementas pratos originários to populares.

72 | ANGOLA’IN · TURISMO
TURISMO · ANGOLA’IN | 73
TURISMO | patrícia alves tavares

chile
tesouro arqueológico
“Os entardeceres de La Paz (Chile) são como incêndios astrais e nas
noites sem lua podem-se ver todas as estrelas, mesmo aquelas que já
morreram há milhões de anos e as que vão nascer amanhã.”
Isabel Allende, in “Paula”

As pequenas dimensões do país são mera- A capital dispõe de centros de Ski, como Valle Nevado
mente ilusórias. Apesar da área territorial Portillo e integra as cidades do litoral como Valparaíso,
reduzida, o Chile agrega diversos tipos de que são muito procuradas pelos turistas
paisagem, desde o Deserto do Atacama, no
Norte à imponente Cordilheira dos Andes, a ILHA DE PÁSCOA ta é considerada a cidade sul-americana com
Sul. A sua variedade geográfica, os diversos O Chile controla o arquipélago de Juan Fernán- melhor qualidade de vida. Esta metrópole, re-
climas, a economia estável, a boa gastrono- dez e as ilhas de Páscoa e Sala-y-Gómez, as pleta de contrastes onde a história e moder-
mia e a excelente qualidade dos vinhos fa- mais orientais da Polinésia, que incorporou nidade convivem juntas, é banhada pelo rio
zem desta nação, localizada na América do em 1888. Lugar místico, famoso pelas está- Mapocho, que atravessa a cidade. Santiago
Sul, o novo destino turístico. O Chile atrai vi- tuas de pedra “Moais”, a ilha de Páscoa pos- detém excelentes infra-estruturas hoteleiras
sitantes de todas as partes do mundo. É uma sui um vasto património arqueológico e vive e uma riqueza gastronómica, capaz de satis-
região de contrastes extremos, que oferece essencialmente do turismo. As gigantescas fazer os mais variados gostos daqueles que a
segurança e estabilidade. figuras humanas de pedra (Moais) encon- visitam. Os grandes centros comerciais ofere-
tram-se espalhadas por todo o arquipélago e cem as marcas mundiais mais badaladas, que
NATUREZA SOBERANA são ponto obrigatório de passagem. Em 1995, competem harmoniosamente com as múlti-
À paisagem espectacular juntam-se as de- foi considerada Património Arquitectónico. plas lojas de artesãos, que oferecem aos vi-
lícias gastronómicas. O vinho chileno é co- Lugares como Tahai, Ahu Akivi, Vinapu, Rano sitantes belíssimas jóias artesanais chilenas.
nhecido internacionalmente pelo seu corpo e Raraku, Anakena, Rano Kau e Orongo são os A capital dispõe de centros de Ski, como Valle
aroma, combinando harmoniosamente com locais mais visitados, devido ao simbolismo Nevado e Portillo e integra as cidades do lito-
as refeições típicas, baseadas em peixes, fru- das suas esculturas. Nesta região, existe ain- ral como Valparaíso, que são muito procura-
tos do mar, carnes, frutas e verduras. Artesa- da a possibilidade de descobrir a ilha Robin- das pelos turistas.
nato original, cultura e tradições únicas são son Crusoe, que serviu de cenário à história de
algumas das muitas razões para visitar o Chi- Daniel Defoe, que deu ao seu livro o mesmo NORTE OFERECE EXTENSOS AREAIS
le. O Deserto do Atacama é para muitos o mais nome da localidade. A sua beleza cénica atrai O Altiplano Andino contrasta com as paisa-
seco do mundo, repleto de tesouros arqueoló- todos os que gostam da natureza, aventura e gens do Sul. Aqui pode encontrar os desertos,
gicos. No coração económico e político do pa- mergulho. Não existem hotéis na ilha. Porém, as extensas praias e os vulcões enormes. A
ís, localiza-se a conhecida cidade de Santiago, as Pousadas são muito confortáveis. De San- capital provincial do Norte é Arica, que é igual-
capital do Chile e berço de escritores famosos tiago até à região, a viagem de avião dura cer- mente o principal porto que serve a Bolívia e
como Isabel Allende e Pablo Neruda. Mais a ca de duas horas a Tacna (Perú), gerando um activo intercâm-
Sul, surge a imponente Cordilheira dos Andes, bio comercial entre os países vizinhos. O Verão
que desce até ao Oceano Pacífico, através dos SANTIAGO: CENTRO COSMOPOLITA atrai muitos estrangeiros, que procuram as
glaciais, canais e fiordes. Aqui está localizada A capital do Chile está certamente no topo da praias. Putre é a entrada principal. Localizada
a Terra do Fogo, no Estreito de Magalhães. agenda de qualquer turista, uma vez que es- a 3500 metros sobre o nível do mar, é o lo-

74 | ANGOLA’IN · TURISMO
Puerto Montt é a
porta de entrada
giões mais belas para uma das re
do país, que tem -
fundo a Cordilhei como paisagem de
ra dos Andes e os
seus vulcões

cal ideal para o visitante se hospedar, tendo a


possibilidade de se habituar à altitude. A par-
tir daí, pode visitar o Parque Nacional Lauca,
declarado reserva da Bioesfera pela UNESCO
e apreciar os vulcões Parinacota, Pomerape,
Guallatire e Acotando.

LAGOS E VULCÕES IMPONENTES


O Sul é rico em florestas e pastagens, pos-
suindo uma série de vulcões e lagos. Puerto
Montt é a porta de entrada para uma das regi-
ões mais belas do país, devido aos seus vales, à lupa
caudalosos rios, enormes e profundos lagos, Capital: Santiago do Chile
tendo como paisagem de fundo a Cordilhei- Língua oficial: Espanhol
ra dos Andes e os seus vulcões. A zona é es- Área: 756 626 km2
sencialmente pesqueira e ao visitá-la poderá População: 16 284 000 (Mestiços: ddescendentes
d t d de europeus e ameríndios
í di - 665%;
%
conhecer o colorido porto, no qual encontrará europeus - 30% e ameríndios - 5%)
uma excelente feira de artesãos e provará os Religião: Católicos (70%) e protestantes (15%)
deliciosos frutos do mar e o salmão chileno,
conhecido mundialmente. Nesta região, o tu- recomendações gerais para os visitantes da ilha de páscoa
rista descobrirá o terceiro maior lago natural O peso máximo permitido para levar no avião é de 10 kg.
da América do Sul. O Lago Llanquihue reflec- A melhor época para visitar a ilha é entre Novembro e Março.
te os vulcões Osorno, Pontiagudo, Calbuco e O clima oscila entre os 15º e 26º graus.
Tronador. A poente surgem as cidades turís- A roupa aconselhável inclui vestuário impermeável e leve, calças curtas, sandálias, ténis e
ticas de Puerto Octay, Frutillar, Puerto Varas e sapatos de trekking.
Llanquihue. Nas proximidades do lago, o visi- Aconselha-se que inclua na sua bagagem protector solar e repelente.
tante pode apreciar a herança, deixada pelos Deve levar os medicamentos pessoais porque não existe farmácia.
imigrantes alemães, que chegaram ao país no A moeda corrente é o Peso chileno.
século XIX e cuja obra na área da construção O fuso horário é o UTC - 4 (Verão UTC - 3)
e gastronomia se mistura com os produtos
autóctones, criando uma identidade muito o mistério dos moais:
própria e característica única do sul chileno. A Constituem a principal atracção da Ilha de Páscoa. Os Moais são estátuas talhadas em pedra
Ilha Grande de Chiloé, a 90 km a Sul de Puerto vulcânica e representam a imagem dos antepassados da população local. A sua altura oscila
Montt, é outro ponto turístico de grande im- entre os três e dez metros e chegam a pesar mais de 50 toneladas. As figuras funcionam co-
portância. A capital é a cidade de Castro, mas mo protectores, responsáveis por zelar os seus habitantes. Existem cerca de mil esculturas
Ancud é a mais famosa, devido às raízes da distribuídas pelo arquipélago. A maior encontra-se nas encostas do vulcão Rano Raraku.
cultura chilota. Para alcançar o arquipélago Foi a partir deste ponto que as restantes foram transportadas para outras zonas. No entanto,
necessita de alugar uma balsa para cruzar o continua por resolver o maior mistério: como é que as imagens, sendo tão pesadas, foram
canal. As numerosas igrejas que se espalham transportadas para áreas tão distantes
pela ilha constituem verdadeiras relíquias ar-
quitectónicas, visto que das 150 que ali se curiosidades
encontram, 16 foram declaradas Património › O Chile oferece quatro principais atracções: a capital Santiago, o deserto do Atacama,
Mundial da Humanidade pela UNESCO. Puerto a Ilha de Páscoa e os Lagos Andinos;
Montt e Puerto Varas dispõem de excelentes › A 40 km de Santiago localizam-se os centros de esqui, que atraem os amantes dos despor
serviços, tanto ao nível de hospedagem como tos de Inverno, que podem desfrutar da paisagem natural, composta por vulcões, rios, lagos
da restauração. Por outro lado, nestas cidades e bosques;
encontra uma série de actividades que podem › Património da Humanidade, a Ilha de Páscoa deve o seu nome ao facto de nela terem de-
ser realizadas ao ar livre. sembarcado os holandeses, num domingo de Páscoa, em 1772.

TURISMO · ANGOLA’IN | 75
ARQUITECTURA & CONSTRUÇÃO | patrícia alves tavares

Os recentes empreendimentos habitacionais


e empresariais surgem por toda a região. As
cidades estão em constante mutação e os
novos complexos da capital reflectem o novo
conceito citadino. As estruturas hoteleiras,
por outro lado, são ainda um bem escasso,
pelo que os preços dos quartos é elevado. Em-
bora o Governo preveja a criação de mais 28
hotéis em todo o país (até 2011), actualmen-

Admirável
te apenas sete unidades actuam em Luanda.
Com a proximidade do CAN, o Executivo esti-
ma que em dois anos a oferta seja alargada a
mais oito espaços (dois mil quartos).

mundo O MAIOR DE ÁFRICA


Considerado o mais inovador e moderno es-

novo
paço empresarial e habitacional, o empreen-
dimento Comandante Gika é o maior projecto
imobiliário criado em Angola e um dos melho-
res de todo o continente. Iniciada em 2007, a
obra, a cargo da Edifer, está a nascer no espa-
ço que albergou a escola militar “Comandante
Luanda fervilha de progresso. Os novos Gika”, no Bairro de Alvalade, ocupando 307 mil
projectos, alguns em fase final de construção, metros quadrados. Orçada em 470 milhões de
são a imagem de uma cidade moderna, que dólares, a estrutura é composta por um hotel
renasce mais cosmopolita e revela um país de 5 estrelas (VIP Grand Luanda); um com-
plexo habitacional (Alvalade Residence), que
empenhado em apanhar o comboio do progresso
disponibilizará mais de 130 apartamentos e
e do desenvolvimento tecnológico.
penthouses; duas torres de escritórios (Gar-
den Towers) e um centro comercial (Luanda
Shopping). Noventa por cento da área foi en-
tretanto adquirida, por valores que rondam os
cinco e os seis mil euros por metro quadrado.
O prazo de execução termina este ano. Porém,
as diversas infra-estruturas abrirão portas
aquando a sua conclusão individual. A inau-
guração do Luanda Shopping está prevista
para 2009. Este será o terceiro centro comer-
cial a nascer no país e comporta mais de duas
dezenas de lojas, um hipermercado, seis salas
de cinema, restaurantes e um parque de es-
tacionamento, que serão distribuídos por três
pisos. Em Janeiro de 2011 será a vez do hotel
VIP Grand Luanda abrir ao público, que se pre-
vê que seja detentor de um elevado poder de
compra. Afinal, o futuro espaço tem a classi-
ficação de 5 estrelas, devido às suas caracte-

76 | ANGOLA’IN · ARQUITECTURA & CONSTRUÇÃO


egipto escolhe angola
“Dream Land” é o nome da cidade que o milionário Ahmed Bahgat Abdel pretende construir no país. O empresário egípcio deseja participar na
reconstrução nacional criando uma localidade semelhante à “Dream Land Egipto”. O detentor do Group Bahgat revelou no final do ano passado
o seu interesse em construir uma das melhores cidades de África em Angola, com infra-estruturas semelhantes às desenvolvidas no Cairo, ou
seja, desde hotéis, prédios de média e alta renda a fábricas e escolas. O projecto aguarda uma resposta do Governo

rísticas, que incluem 300 quartos duplos, 70 A NOVA CIDADE abriu ao público em Fevereiro e é resultado da
suites, um heliporto e vários espaços de lazer. A finalidade consiste em absorver o excesso recuperação de um antigo edifício da rua Ma-
Relativamente às torres, duas destinam-se populacional, que actualmente agrega 5,8 mi- rien Nguabi. A infra-estrutura de três estre-
ao desenvolvimento do principal centro de ne- lhões de habitantes, estimando-se que alcan- las possui 54 quartos, sala de reuniões, duas
gócios de Luanda (21 pisos cada e um parque ce os 15 milhões nos próximos anos. Assim, o suites executivas, um restaurante e um giná-
para 470 viaturas), enquanto que as restantes Governo está a projectar um novo pólo urba- sio. O investimento situou-se nos 16 milhões
estão reservadas para um condomínio fecha- no a norte de Luanda, denominado de “Sassa de dólares. O novo hotel, que será inaugurado
do (25 pisos cada para habitação). Importan- Bengo” e que será criado até 2030. De acordo em Agosto de 2009, ficará localizado nas pro-
te gerador de emprego, o espaço criará 6.500 com o ministro do Urbanismo, Diakumpuna ximidades do Centro de Congressos de Talato-
postos de trabalho. Sita José, a nova infra-estrutura terá capaci- na e a empreitada está ao cargo da empresa
dade para albergar três milhões de habitantes sul-coreana Namkwang e da equipa de arqui-
O MAIS POLÉMICO e será erguida na via entre as áreas da capital, tectos Space-Arch. O futuro espaço disponi-
Avaliada em 2,13 biliões de dólares, a requali- Caxito e Barra do Dande. Esta última será de- bilizará 201 quartos, entre os quais 15 são de
ficação e reordenamento urbano da margi- luxo, cinco são suites e uma VIP.
nal luandense vai gerar dois mil postos
de trabalho, apenas na fase de constru- curiosidade CONCEITO EMPRESARIAL
ção. Após a sua conclusão, agendada INOVADOR
Casa de terra
para dentro de dois anos, serão criados s da Idealizado como centro de negócios,
res, investigadore
2.200 empregos permanentes. O pro- Said Jalali e Rute Ei o Belas Business Park, lançado pe-
fendem que
inho (Portugal) de
jecto da Baía de Luanda tem sido mar- Universidade do M la Odebrecht consiste num comple-
licadas na
ões tecnológicas ap
cado pelas vozes dissonantes, que se “as recentes inovaç xo de 18 edifícios que conjugam a
ser aplicadas
manifestaram inúmeras vezes contra a s em terra” podem vertente de negócios com a habi-
construção de casa
empreitada, alegando que esta implica a ndições”, tacional. O projecto conta com um
nta “excelentes co
destruição do património. Porém, o Go- no país, que aprese investimento de 350 milhões de
matéria-
la sua abundante
verno procedeu à sua aprovação, tendo pelo seu clima e pe dólares e está a ser desenvolvido
ção do
luções de estabiliza
sido concluídas as duas primeiras fases, prima”. Ao criar so na área de Talatona. Sub-dividido
construção
encontrando-se a vertente marítima na -se um material de em quatro etapas, a obra compor-
solo, poderá obter
última etapa de execução, que contempla mecânica ta no total 16 edifícios, em que os
maior resistência
a despoluição e a introdução do sistema mais durável e de residenciais são compostos por 112
de recolha de esgotos. Financiada pela apartamentos (84 duplex e 28 co-
banca, a reestruturação deste espaço é berturas) e os empresariais ofere-
considerada por muitos como inovadora, cem 224 escritórios. A segunda fase termina
pois permitirá escoar parte da procura de áre- terminante para a organização da economia este ano e contempla mais quatro torres (90
as de alto nível, que se situam na capital. Para das regiões de Luanda e Bengo, a partir da por cento está vendido). O área de escritórios
tal, a Avenida da Marginal ganha nova cara, ao transferência do porto de Luanda para aquele possuirá duas lojas comerciais. A terceira fase
ser dotada de uma estrada com seis faixas de local. A actual capital foi construída para al- será concluída em 2010, enquanto que a últi-
rodagem e parques de estacionamento para bergar 700 mil pessoas. Porém, hoje em dia, o ma termina em 2011. A infra-estrutura, que
1.600 viaturas. O plano prevê a recuperação da número de habitantes ronda os seis milhões. beneficia da proximidade do Belas Shopping,
fachada da Avenida 4 de Fevereiro e o respec- A execução do Plano Integrado para a Expan- criou numa primeira etapa dois mil empre-
tivo arranjo urbanístico, incluindo espaços de são Urbana está ao cargo da consultora liba- gos. Após a sua finalização, serão assegura-
lazer. No que concerne ao investimento priva- nesa Dar-Al-Handasah. dos 200 novos postos de trabalho. À margem
do, está agendada a construção de duas tor- da inauguração do primeiro cômputo de qua-
res (uma com 37 pisos e outra com 24) que se MAIS HOTÉIS tro torres, os responsáveis da Odebrecht re-
destinam à instalação de escritórios, comércio A pensar na escassa oferta de unidades hote- velaram que o conceito do mega-projecto se
e habitação. Em paralelo, serão erguidos ainda leiras de referência em Luanda, a petrolífera resume a que “cada vez mais pessoas querem
mais dois edifícios multiusos, destinados para Sonangol prepara-se para inaugurar o segun- morar perto do trabalho e trabalhar perto de
acolher um centro de convenções e um hotel. do empreendimento. A Suite Hotel Maianga casa”.

ARQUITECTURA & CONSTRUÇÃO · ANGOLA’IN | 77


ARQUITECTURA & CONSTRUÇÃO

Passado vs Futuro
A lei do património cultural estipula que monumentos são obras de arquitectura notáveis pelo seu
interesse histórico, arqueológico, artístico, científico, técnico ou social. Num período em que os ci-
dadãos vêem nascer modernos empreendimentos habitacionais, empresariais e turísticos de gran-
de envergadura, surge uma questão pertinente: o ordenamento das cidades salvaguarda a herança
histórica e regula o crescimento urbano em função do património existente?

Os 27 anos do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios foram assi- cristo-rei


nalados envoltos em polémica, uma vez que a demolição do património Localizada no centro geográfico do país, no município de Kamacupa, a es-
histórico e cultural para dar lugar a prédios modernos e projectos que tátua, eternamente associada ao Cristo Redentor brasileiro, está na serra
não aproveitam as estruturas antigas têm causado indignação entre da Chela a mais de 2100 m de altura abraçando a cidade de Lubango. A
os habitantes. De facto, uma panóplia de edifícios classificados já não imagem do Cristo de braços abertos é o patrício da região, sendo ponto de
existe ou está na iminência de desaparecer. Para acalmar os ânimos, visita obrigatório.
o Presidente da República apelou para “que se respeite a combinação
fortaleza de s. pedro da barra
da tradição com a modernidade, de modo a que os registos patrimo-
Edificada sobre as ruínas do Forte Cassondama, esta construção do sé-
niais do passado, desde que seja imprescindível a sua preservação,
culo XVII abraça o estilo da arquitectura militar colonial. Para além da
possam conviver harmoniosamente com as soluções arquitectónicas
função defensiva, a fortaleza serviu de albergue de escravos, que eram
e urbanísticas de vanguarda”. A razão apontada para a demolição de
enviados para a América. A partir de 1961 foi transformada em prisão pa-
tantas construções históricas prende-se com a degradação dos espa-
ra os nacionalistas angolanos.
ços. Os mais emblemáticos estão a ser restaurados. Porém, inúmeros
monumentos, serão arrasados. Muitos defendem que no mínimo de- fortaleza de s. miguel
veria preservar-se os aspectos arquitectónicos, de forma a salvaguar- Erguida em 1576 para defender a cidade, a estrutura alberga actualmen-
dar a história. te o Museu das Forças Armadas, criado em 1975, após a implantação da
Independência. O acervo da galeria é vasto. Nela pode encontrar-se fo-
A Angola’in revela algumas das maravilhas nacionais, tografias, aviões bimotores, armas diversas e artefactos, manuseados
que ainda resistem aos tempos modernos. durante as batalhas travadas pela libertação da colónia, bem como está-
tuas das personalidades Diogo Cão, Paulo de Novais e Agostinho Neto.
monumento da batalha do kifangondo
É o representante dos símbolos de Angola: duas rodas dentadas semi
circulares, uma catana construída como uma fonte com três jactos de
água e uma estrela com luz eterna. O mural possui seis placas em bron-
ze, exibindo as sequências do combate feroz entre as forças coloniais e
os nacionalistas.
ruínas de massangano
O Forte de Nossa Senhora da Vitória de Massangano (Kwanza-Sul) ad-
quiriu valor histórico por nesse local se ter desencadeado a famosa bata-
lha, que em 1580 envolveu as forças portuguesas e o rei Ngola Kiluange.
A fortificação foi criada pelo capitão português Novais para defender o
presídio. Foi refúgio para muitas figuras históricas.
igreja de nazaré
Construído em 1664, quase sobre a água, o edifício foi erguido a pedido do
governador André Vidal de Negreiros como forma de agradecimento por
ter sido salvo de um naufrágio. No local, está sepultada a cabeça do rei do
Congo, Garcia II, capturado na batalha de Ambuíla. No interior da igreja,
que é um santuário e foi recentemente restaurada, destaca-se a imagem
negra da Santa Ifigénia da Etiópia.
monumento da independência
A mais recente obra homenageia a memória do primeiro presidente, Agos-
tinho Neto. Localizado no Largo da Independência, onde a 11 de Novembro
de 1975 foi proclamada a autonomia, o mausoléu e o respectivo arranjo ur-
banístico podem ser apreciados a partir de vários pontos da cidade.

78 | ANGOLA’IN · ARQUITECTURA & CONSTRUÇÃO


ARQUITECTURA & CONSTRUÇÃO · ANGOLA’IN | 79
ARQUITECTURA & CONSTRUÇÃO | patrícia alves tavares

A febre do mercado
imobiliário
A revista brasileira Veja mostr
ou ao mundo o importante mome
tacional angolano ao revelar que nto que se vive no sector habi-
a empresa paulista Camargo Cor
dias a totalidade das casas de um rêa vendeu em apenas seis
projecto de alta renda que será
Angola fosse avaliada pelo ‘ran con struído no Talatona. Se
king’ da Cushman & Wakefield
mais cara do mundo, apenas ult , Luanda seria a quarta cidade
rapassada por Londres, Hong Ko
ng e Tóquio.

A problemática não é recente. Em 2007, CASAS A PREÇOS EXORBITANTES enquanto que uma V4, com 525 metros qua-
Fernando Teles, presidente do Conselho de Luanda é a região mais cara e onde a inflação drados é vendida por 2.400.000 dólares. A
Administração do Banco BIC foi o primeiro dos valores das habitações e escritórios mais discrepância está relacionada com o valor do
a recordar os efeitos nefastos da especula- se faz sentir. De acordo com o estudo Imobili- metro quadrado dos apartamentos, que é de-
ção imobiliária. O gestor mostrou-se pre- ário Luanda 2009, desenvolvido pela empresa masiado alto, uma vez que no Ingombota po-
ocupado pelo facto de vários promotores de consultoria e avaliação imobiliária Propri- de atingir os 5.760 dólares. No que concerne
imobiliários estarem a cobrar o custo total me, na capital, os apartamentos T4 (com 850 a Luanda, o município do Camama é a zona
dos imóveis ainda antes de estes terem si- metros quadrados) chegam a custar cerca mais acessível. O estudo destaca que a situ-
do construídos, o que leva “muita gente a de três milhões de dólares. No município da ação pode inverter-se à medida que as áreas
oferecer valores muito altos por coisas que, Maianga praticam-se os preços mais eleva- de construção forem aumentando.
às vezes, não valem tanto assim”. Os valo- dos, em que um T2 de 165 metros quadrados
res dos terrenos a subirem constantemen- chega aos 774 mil dólares. Na Ingombota, os Em Luanda praticam-se
te, os elevados custos dos materiais e a custos não diferem muito, pois um T4 de 223 rendas mais altas que em
procura superior à oferta disponível são os metros quadrados é vendido por 1.300.000 Nova Iorque
principais factores da inflação do mercado dólares. As zonas de Luanda Sul e Viana pra-
imobiliário, que ultimamente atingiu va- ticam preços semelhantes. O mesmo docu- HABITAÇÃO SOCIAL É ESSENCIAL
lores surreais, levando os cidadãos a exigir mento revela que os apartamentos são bem O êxodo rural dos últimos anos não tem facili-
medidas governamentais para pôr termo à mais dispendiosos que as moradias. Uma vi- tado o desenvolvimento do mercado imobiliá-
escalada dos preços. venda no Talatona, de tipologia V3 com 385 rio. As populações que procuram trabalho nas
metros quadrados custa 2.150.000 dólares, cidades são na sua maioria famílias da classe

80 | ANGOLA’IN · ARQUITECTURA & CONSTRUÇÃO


média e baixa, que não possuem poder eco- flação destes valores resulta essencialmen-
nómico para comprar ou alugar os referidos te do processo de reconstrução nacional, que
apartamentos de luxo. Assim, os cidadãos atraiu entidades dos quatro cantos do plane-
concentram-se nos subúrbios, em bairros ta, que procuraram áreas de qualidade para
construídos ilegalmente e anarquicamente instalarem as empresas. O mesmo estudo
(musseques), que não possuem as mínimas demonstra que existem apenas 603 mil me-
condições de salubridade e chocam com o de- tros quadrados de escritórios, o que equivale
senvolvimento arquitectónico do centro da a uma área para 35 mil pessoas, quando actu-
capital. Esta situação é resultado da pouca almente existem 80 mil pessoas a trabalhar
oferta de habitações para cidadãos com bai- no sector terciário. Para corrigir esta lacuna
xos rendimentos. “A maior parte das constru- serão necessários três a cinco anos, período
ções está dirigida à classe média e de altos em que os projectos em curso estarão con-
rendimentos, aumentando assim o desequi- cluídos. Contudo, o tempo de espera pode ser
líbrio que existe entre a procura e a oferta”, alargado, uma vez que a maior parte das áre-
defende Branca do Espírito Santo, presiden- as em construção já estão arrendadas.
te da Associação de Profissionais Imobiliários
de Angola. Actualmente, a habitação social é PROVIDENCIAR ESTABILIDADE
encarada como um pólo dinamizador do sec- Ciente das consequências económicas e so-
tor da construção, que poderá ser útil na re- ciais a longo prazo, José Eduardo dos Santos
gulação do mercado. Aliás, este segmento é comprometeu-se publicamente a fazer des-
encarado pelos promotores imobiliários como anda é particularmente difícil ou até mesmo cer os preços praticados, de forma a comba-
uma oportunidade de negócio, pelo que se impossível e nem os novos empreendimen- ter a especulação. O Presidente da República
verifica um redireccionamento da oferta de tos chegam para tanta procura. “A falta de admitiu que “o problema habitacional não po-
habitação para os compradores mais desfa- espaços é tão grande que as pessoas alu- de ser negado e é um dos mais difíceis que
vorecidos, que procuram as baixas e médias gam o que aparece”, explicou recentemente o governo enfrenta actualmente”. Nos últi-
rendas. Por outro lado, o Executivo, numa Joaquim Chambel, da consultora Colliers P&I, mos anos tem-se assistido ao nascimento de
tentativa de satisfazer grande parte da po- que fez um estudo de mercado e concluiu que “bairros peri-urbanos”, de modo “espontâneo
pulação, tem apostado na edificação de casas as empresas dividem os escritórios pelos edi- e caótico”. Isto pode conduzir a um incremen-
sociais em Luanda. São exemplos os projec- fícios coloniais e pelos imóveis novos, recor- to do descontentamento social e conse-
tos do Morar e Zango. Em 2008, José Eduar- rendo inúmeras vezes a moradias, nos bairros quentes episódios de violência. “O mercado
do dos Santos assumiu ainda o compromisso ‘chiques’ da cidade. Analisando os números, imobiliário deve ser mais regulado”, finalizou,
de criar um milhão de habitações sociais até facilmente se chega à conclusão que em Lu- numa clara alusão à importância de satisfa-
2012, num investimento que rondará os 50 anda praticam-se rendas mais altas que em zer todos os segmentos de mercado, incluin-
mil milhões de dólares. Nova Iorque. Alugar no centro da capital po- do as habitações de baixo custo, de forma a
de custar entre 34 e 48 euros/ m2 por mês, garantir a estabilidade social.
José Eduardo dos Santos subindo para os 102 euros se se tratar de um
reconheceu que o Estado edifício novo, enquanto que na região ameri- “O problema habitacional não
tem que assumir o papel cana a renda ronda os 61 euros. Para os pou- pode ser negado e é um dos
de fiscalizador para tornar cos que se aventuram a comprar o escritório, mais difíceis que o governo
o sector mais transparente os preços também não são simpáticos. A in- enfrenta actualmente”,
e regulado José Eduardo dos Santos

CLASSE EMPRESARIAL, A MAIS AFECTADA FISCALIZAÇÃO E MAIS APOIO


Trabalhar na capital é uma autêntica dor de Branca do Espírito Santo argumenta que a so-
cabeça. Aliás, os escritórios são bem mais lução para o fim da especulação passa pelo au-
dispendiosos que as habitações. Encontrar mento das acções de fiscalização das obras e
um local para instalar uma empresa em Lu- pela criação de um diploma legal, que regule a

ARQUITECTURA & CONSTRUÇÃO · ANGOLA’IN | 81


ARQUITECTURA & CONSTRUÇÃO

actividade. “Só com estes pressupostos e com


o aumento da oferta das habitações é possível
reduzir os elevados preços que se praticam no Os apartamentos são
sector”, reitera, reconhecendo a existência de al- bem mais dispendiosos
gum oportunismo por parte dos investidores fa-
que as moradias
ce à crescente procura, que tentam obter lucros
superiores aos investimentos aplicados.
A entidade tem o intuito de estabelecer um
acordo com as autoridades governamentais, pa-
ra a criação de fundos imobiliários, sociedades
de hipotecas e cooperativas, que financiem a
habitação social. Por seu lado, durante a primei-
ra Conferência Nacional sobre o Desenvolvimen-
to Urbano e Habitacional, o Executivo condenou
publicamente a especulação no sector imobiliá-
rio, salientando que é fundamental combater a
especulação dos terrenos e facilitar a sua aquisi-
ção, desde que se trate de um projecto estrutu-
rado, sob o ponto de vista técnico. No encontro,
José Eduardo dos Santos reconheceu que o Esta-
do tem que assumir o papel de fiscalizador para
tornar o sector mais transparente e regulado. O
congresso reuniu especialistas das diversas áre-
as, que discutiram soluções para um problema
que parece não ter resolução a curto prazo.

a ‘fina nata’ de luanda


Preços por apartamento

MAIANGA
T4 (850 m2) › três milhões de dólares
T2 (165 m2) › 774 mil dólares
T2 (220 m2) › um milhão de dólares

INGOMBOTA
T4 (223 m2) › 1.300.000 dólares
T1 (64 m2) › 380 mil dólares

LUANDA SUL
O QUE DIZEM OS PROMOTORES IMOBILIÁRIOS
T1 (57 m2) › 249.000 dólares A justificação é simples: os altos preços dos projectos residenciais resultam da falta de indús-
T4 (179 m2) › 1.080.000 dólares tria de materiais de construção e, consequentemente do custo elevado dos mesmos, principal-
mente do cimento. De acordo com as empresas imobiliárias esta é a principal razão (a par dos
VIANA elevados preços dos terrenos) da especulação que se vive no mercado. Os responsáveis suge-
T1 (56 m2) › 206 mil dólares rem assim a redução das tarifas de importação das matérias e uma maior abertura ao nível da
T2 (82 m2) › 285 mil dólares aquisição do produto. Já Nelo Victor, director nacional de materiais de construção explica que
T2 (119 m2) › 378 mil dólares existem apenas 25 indústrias, a nível nacional, num momento em que se estima que a constru-
ção de um milhão de novos fogos em quatro anos exija mais 90 fábricas de cimento. Todavia,
CAMAMA o Governo garante que o projecto está assegurado. Os bancários, principais financiadores das
T1 (60 m2) › 210 mil dólares empresas e particulares também são unânimes ao afirmar que a inflação dos espaços deverá
T2 (85 m2) › 285 mil dólares manter-se por algum tempo. Álvaro Sobrinho, presidente do BESA, reitera que a “solução é
T2 (120 m2) › 365 mil dólares aumentar a oferta”

82 | ANGOLA’IN · ARQUITECTURA & CONSTRUÇÃO


ARQUITECTURA & CONSTRUÇÃO · ANGOLA’IN | 83
INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO | patrícia alves tavares

genéricos
para todos Indústria Farmacêutica

Na hora de adquirir um medicamento, muitos questionam-se sobre a escolha a tomar: genéricos ou produtos de marca? Os pri-
meiros são uma realidade há muito conhecida nos países mais desenvolvidos. Todavia, em vários pontos do mundo começam a
dar os primeiros passos. África é um desses exemplos. Os principais fornecedores do continente africano são a Índia e a China.
No caso particular de Angola, Portugal é o maior parceiro, cujas empresas de renome apostam na distribuição dos fármacos.
Mais baratos e detentores da mesma qualidade, os genéricos têm tudo a seu favor para se implementarem numa região ainda
marcada pela venda ilegal de medicamentos de marca duvidosa.

Genéricos são produtos com a mesma subs- médios tradicionais africanos. Esta indústria lamentação deste tipo de medicamentos.
tância activa, forma farmacêutica e dosagem cria uma série de benefícios para as popula- O modelo foi fundamentado no Hatch-Wa-
e com igual indicação que o medicamento de ções carentes, criando empregos, promoven- xman (The Drug Price Competition and Pa-
marca. A vantagem está no preço, bastante do as exportações e troca de conhecimentos tent Term Restoration Act), o acto legislativo
inferior e na capacidade de intercâmbio em e tecnologias, sendo um passo decisivo para que estruturou os parâmetros exigidos para
relação ao original, ou seja, é possível proce- que as regiões africanas se tornem auto-su- a consolidação deste mercado, que ao longo
der à troca pelo genérico. Analisando os múl- ficientes em matéria de abastecimento me- dos anos foi adquirindo competitividade. O
tiplos estudos clínicos, publicados no Jornal dicamentoso. A generalização do recurso a objectivo que serviu de mote à criação dos
da Associação Médica Americana (JAMA), es- genéricos, substancialmente mais baratos genéricos consistiu na elaboração de uma al-
tes fármacos são clinicamente equivalentes e acessíveis aos escalões mais pobres, po- ternativa legal para reduzir os encargos com
aos medicamentos de marca usados no tra- de contribuir para um decréscimo da venda os tratamentos de saúde e alargar o acesso
tamento de doenças, como é o caso das pato- de medicamentos ilegais, pouco fiáveis e de da população aos medicamentos. Em regi-
logias cardiovasculares. No contexto africano, qualidade duvidosa. ões como os EUA, Alemanha e Inglaterra, os
dada a conjuntura social e económica o re- genéricos detêm em média mais de 30 por
curso a estes produtos tem sido uma mais- União Africana alertou para cento de participação de mercado, em volu-
valia para cuidar de pacientes sem recursos me. Embora os países ditos desenvolvidos
a necessidade dos países
financeiros. A introdução desta alternativa possuam uma estrutura de venda dos referi-
despoletou em 2007, altura em que o conti-
do continente africano dos medicamentos bastante sólida, em mui-
nente tomou medidas no sentido de arran- começarem a produzir os seus tas regiões do globo, apesar das medidas de
car com a produção local de medicamentos próprios genéricos fomento à sua implementação, a quota de
genéricos, essenciais para o combate eficaz mercado ainda é reduzida. Estudos recentes
das múltiplas doenças que devastam o con- ULTRAPASSA FRONTEIRAS revelam que países europeus como o Reino
tinente. O plano de fabrico começou a ser Foi nos EUA, na década de 60 que se ouviu Unido e Dinamarca atingem quotas na or-
estudado há quatro anos, período em que o falar pela primeira vez nos genéricos. No en- dem dos 49 e 60 por cento, respectivamente,
Comité Regional da OMS para África adoptou tanto, só em 1984, os norte-americanos de- enquanto Espanha, Itália, França, Portugal e
duas resoluções que salientam a produção finiram os critérios que seriam adoptados Suécia ainda apresentam relutância na ade-
local de medicamentos fundamentais e re- internacionalmente para o registo e regu- são a estes produtos.

84 | ANGOLA’IN · INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO


curiosidade
Os genéricos são medicamentos
ção e Inspecção das Autoridades Económicas
com a mesma substância
(DNIIAE) e a Direcção Nacional de Medica-
mentos assinaram um protocolo de parce- activa, forma farmacêutica
ria com o Ministério da Saúde português, no e dosagem e com a mesma
sentido de combater a contrafacção, regular e indicação que o medicamento
supervisionar o sector.
GARANTIR A QUALIDADE de marca (original)
A nível nacional, tem-se verificado uma imple-
mentação gradual dos genéricos. No entanto, A Angomédica vai reactivar
há factores mais urgentes, que merecem es- a produção de fármacos de
pecial atenção governamental, como é o caso qualidade a partir do segundo
da qualidade dos medicamentos fornecidos semestre deste ano
às populações. Aliás, de acordo com recen-
tes declarações do ministro da Saúde, José DISTRIBUIÇÃO ESCASSA
Van-Dúnem, uma das principais apostas do Nenhum país africano é auto-suficiente em
Governo relaciona-se com a garantia de aces- produtos farmacêuticos e Angola não é ex-
so a medicamentos de qualidade e a preços cepção. No último ano, estavam registados
competitivos, por parte da população. Empe- 114 técnicos de farmácia. O sistema de arma- DESCUBRA MAIS
nhado em desenvolver acções de fiscalização, zenamento é ainda insuficiente, uma vez que SOBRE OS GENÉRICOS
o dirigente garantiu que o seu ministério pre- o sector público conta apenas com um arma-
tende empenhar-se ainda mais na avaliação zém central funcional em Luanda, um regio- Quais são as principais
das condições de qualidade e de armazena- nal em Benguela e 18 estruturas provinciais
vantagens?
mento de medicamentos, a nível urbano e pe- em cada região. A compra de fármacos – a
Estes medicamentos possuem
riférico. O esforço tem sido reconhecido pela maioria através do Orçamento Geral de Esta-
do (cerca de 90 por cento) – é centralizada e a
a mesma qualidade, eficácia e
OMS, que reiterou o apoio na fiscalização e
distribuição dos referidos produtos a preços recepção regionalizada em três portos (Luan- segurança que um produto original,
baixos, garantindo o prazo de validade e a sua da, Lobito e Namibe). O fornecimento de me- mas a preço inferior (cerca de 35 por
boa composição. dicamentos e outros produtos abrange todo o cento mais barato que os de marca).
sector público e unidades sanitárias sem fins
ENTRAVE: A ILEGALIDADE lucrativos, com total financiamento do Esta- Porque são mais económicos?
A ausência de controlo total das fronteiras do. A somar à ausência de meios para uma Após o período de protecção de
terrestres e dos portos marítimos é a prin- distribuição que cubra na totalidade o territó- patente dos originais, os fabricantes
cipal razão para a entrada de medicamentos rio e de quantidade suficiente para abranger de genéricos não têm os custos
de qualidade duvidosa, que são comercializa- todos os cidadãos, junta-se a falta de serviço inerentes à investigação e descoberta
dos à luz da ilegalidade (mercados informais, de registo de medicamentos e a insuficiência
de novos medicamentos. Assim a
farmácias ilícitas e na rua). Por outro lado, a de espaço de armazenamento dos fármacos
qualidade mantém-se e o preço baixa.
legislação surge como um entrave, pois a lei no sector público. Para colmatar este défice, o
não prevê que os grossistas não façam a sua director nacional de Medicamentos e Equipa-
venda a indivíduos que não estejam devida- mentos do Ministério da Saúde, Boaventura Como se identifica
mente identificados. Daí, a necessidade de Moura, anunciou que será criada uma Central um medicamento genérico?
fiscalização por parte do Estado, em relação de Aprovisionamentos, de forma a aumen- São identificados pela Denominação
ao modo como são vendidos e a quem. Esta é, tar o número de stocks e a garantir o acesso Comum Internacional (DCI) das
aliás, uma das metas do ministro que detém das populações a esses meios. O organismo substâncias activas, seguido do
a pasta da saúde. Apenas no último mês, o vai garantir que cada paciente recebe o me- nome do titular da Autorização de
governo da Província de Luanda proibiu a co- dicamento no local correcto, na hora certa e Introdução no Mercado (AIM) ou de
mercialização de medicamentos, material ci- ao custo mais baixo possível. A entidade tem um nome de fantasia, da dosagem, da
rúrgico e hospitalar nos mercados municipais, autonomia financeira e administrativa, sendo forma farmacêutica e da sigla “MG”,
considerados locais impróprios e inadequados tutelada pelo ministério. A associação vai ga-
inserida na embalagem exterior do
para a venda destes produtos, que carecem rantir que cada medicamento que chegue em
medicamento.
de condições específicas de higiene. No mes- Angola seja detentor do registo prévio de au-
mo período, a Direcção Nacional de Investiga- torização para entrada no mercado.

INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO · ANGOLA’IN | 85


INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO

GENÉRICOS E A SIDA
A doença do HIV/ SIDA é aquela que tem
maior procura de medicamentos genéricos.
Os fármacos são muito usados no trata-
mento desta patologia, situação que levou
a União Africana a pronunciar-se sobre esta
questão, alertando para a necessidade de os
países do continente começarem a produzir
os seus próprios genéricos para continuar a
combater o flagelo durante a crise financeira
e garantir que a economia possa beneficiar da
produção de drogas. A África do Sul é o único
país daquele continente que produz este tipo
de medicamentos para combater a SIDA. Fa- política nacional farmacêutica
ce a isto, o novo director da agência da ONU O Ministério da Saúde, em cooperação com a Direcção Nacional de Medicamentos e
questiona os dirigentes no sentido de conhe- Equipamentos, está a trabalhar no sentido de aprovar uma Política Nacional Farmacêuti-
cer se têm meios para combater a doença,
ca, cuja existência se afigura “imperiosa” e tem como finalidade congregar as estratégias
caso falhem os apoios dos países doadores e
explica que é urgente “mobilizar a produção coerentes e conducentes à resolução dos principais problemas de saúde identificados.
local” para não colocar em causa os progres- Assim, espera-se melhorar a qualidade de vida dos habitantes, através do desenvolvi-
sos desenvolvidos na área da saúde. mento de mecanismos de acesso aos produtos e fixação de preços de referência

PARCERIA COM PORTUGAL


Parte dos medicamentos comercializados no
país, sobretudo ao nível dos genéricos, são META: REDUZIR IMPORTAÇÃO SEXTO MAIOR
oriundos de Portugal. O Infarmed é o orga- Recentemente reaberta, a Angomédica é en-
nismo com maior presença no território an- carada como a saída para a excessiva depen-
FABRICANTE
golano. O instituto e a Direcção Nacional de dência dos fármacos sem marca, oriundos ENTRA EM ANGOLA
Investigação e Inspecção das Actividades do exterior. A fábrica estatal de produção de O grupo farmacêutico esloveno KRKA,
Económicas (DNIIAE) de Angola assinaram há medicamentos genéricos vai reactivar a con- considerado pelos seus responsáveis
cerca de dois meses um acordo de cooperação, cepção de diversos produtos de qualidade a
como “um fabricante da segunda geração
que visa a regulação do sector, a formação de partir do segundo semestre deste ano. Dota-
especialistas e a troca de conhecimentos en- da de equipamentos com tecnologia de pon- de genéricos”, devido à sua experiência
tre os dois países. O mesmo sucede com a ta, a unidade tem capacidade para fabricar de 50 anos no sector, pretende entrar no
PharmaPortugal, que entrou neste mercado entre um a três milhões de medicamentos mercado angolano. A operar em Portugal
em 2006, altura em que firmou um protocolo por minuto, graças às quatro linhas de pro-
desde 2007, a empresa pretende expandir
semelhante com o Hospital Pediátrico de Lu- dução (sólidos orais, líquidos estéreis e não
anda. Também a Laboris Portugal tem traba- estéreis e xaropes). A empresa, que possui a sua área de intervenção e espera chegar
lhado no sentido de assumir-se no mercado uma filial em Benguela, tem como objectivos em breve a Angola e depois a Moçambique,
internacional, onde marca presença com par- a produção, aquisição e comercialização de alargando assim os seus projectos aos Países
ticular incidência em Angola, Moçambique, medicamentos, matérias-primas e controlo
Africanos de Língua Portuguesa (PALOP)
Argentina, Brasil e Espanha. da sua qualidade.

86 | ANGOLA’IN · INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO


DESPORTO | patrícia alves tavares

“CAN
será uma
montra
para os
desportistas”
Saiu de Angola com 16 anos. É natural do Kwanza
Norte, mas considera-se luandense, uma vez que
apenas guarda memórias da capital. Mateus Galiano
da Costa, promessa da selecção nacional, não teve um
percurso profissional fácil, mas conseguiu vencer os
obstáculos e é actualmente um dos avançados mais
requisitados no Nacional da Madeira (Portugal),
clube onde pretende continuar por wmais um ano.
Este jovem talento, de apenas 24 anos é um exemplo
de determinação e força de vencer.

Quando decidiu ingressar meu colega José Fonte recomendou-me aos Teve sempre muita força
no mundo do desporto? dirigentes do Felgueiras e aceitei o desafio. para conseguir atingir os objectivos?
Tive sempre a paixão pelo futebol. Acompa- Contudo, percebi que o clube tinha graves Não foi mesmo nada fácil. Apesar de conside-
nhava os desafios na televisão, sempre que problemas financeiros e acabei por me mu- rar que tive sempre uma estrelinha da sorte.
podia jogava na rua com os amigos e faltava à dar para a formação de uma freguesia pró- Mas acima de tudo lutei para que a sorte tam-
escola algumas vezes para jogar à bola. (risos) xima, o Lixa. A época correu muito bem e o bém me acompanhasse. Não esmoreci quando
Gil Vicente reparou em mim. Consegui provar encontrei dificuldades. Sempre acreditei.
Foi um percurso difícil? o que valia dentro de campo e em Dezembro
Comecei como qualquer miúdo: gostava de de 2006, chegou o interesse de uma equipa Tem algum segredo
futebol e um dia tive a possibilidade de fa- da Roménia, o Dínamo de Bucareste. Estive quando entra em campo?
zer uns treinos de captação no 1º de Agosto. lá apenas um mês, porque os testes físicos Não sou muito supersticioso. Só gosto de re-
Viram as minhas capacidades e o treinador acusaram Hepatite B. Achei que era impossí- zar um bocadinho, de pedir para que Deus me
propôs-me fazer testes no Sporting, em Por- vel, pois fazia exames médicos regularmente proteja no relvado para não ter lesões.
tugal. Nem pensei duas vezes, aceitei logo no clube. Falei com os dirigentes do Gil Vicen-
e cheguei quando estava quase a completar te, que admitiram já conhecer os resultados e O que espera do futuro?
17 anos para jogar com os juniores. Porém, o não terem dito nada para não me preocupar. A minha perspectiva é fazer a próxima épo-
clube já tinha o número de estrangeiros com- Fiquei desiludido e decidi rescindir o contrato. ca no Nacional, ter um desempenho ainda
pleto e fui para o Desportivo de Beja, que ti- Fiquei o resto da época sem jogar. Foi compli- melhor e conquistar uma oportunidade para
nha vagas em aberto. Depois da grande época cado. Mas depois de terminar os tratamentos jogar noutro campeonato. Desejava muito jo-
que fiz, voltei para Alvalade para integrar a apareceu o Boavista. Contudo, o clube acabou gar em Inglaterra ou Espanha, pois são com-
equipa B. O regresso foi muito desejado. Um por ter problemas e nessa altura surgiu o Na- petições que sempre me fascinaram. Queria
ano depois, emprestaram-me ao Casa Pia, cional, com a proposta para ir para a ilha da pôr à prova as minhas capacidades num fute-
por uma temporada. Na época seguinte, o Madeira. Estou lá desde a época 2007/08. bol ainda mais exigente que o português.

88 | ANGOLA’IN · DESPORTO
raio x
Um estilo musical: Semba
Gostava de jogar em Angola? se almeja alguma coisa tem que se ser muito
Se houver a possibilidade de um regresso an- rígido e fazer sacrifícios. Um cantor: Yuri da Cunha
tecipado a casa, se for uma boa proposta, cla- Um filme: Gladiador
ro que via com bons olhos e gostava de jogar Em relação à selecção, esta encontra-se mo- Um destino: Angola
lá pois nunca experimentei a 1ª divisão. tivada, agora que tem um novo técnico?
Um restaurante: Boi na Brasa
Passamos por momentos conturbados. Foi
O futebol europeu é distinto do africano? despedido um treinador a que estávamos ha- Uma paixão: Cinema
É muito diferente. É mais táctico. Não é tão bituados há muitos anos. Penso que o Manuel Um jogador: Fabrício Akwá
fora-da-lei, em que cada um faz o que lhe José é o homem certo para o lugar certo. Com Um treinador: Ulisses Morais
apetece dentro de campo. As pessoas têm um novo seleccionador é incutido outro âni-
Momento mais importante da carreira:
regras e ensinam que o importante é o colec- mo, outro método de trabalho. Renova muito
tivo, nada de processo individual. mais a auto-confiança dos jogadores. Campeonato do Mundo (2006)
Um projecto: Ter uma casa própria e
Como encara a realização Em termos gerais e sociais, fala-se muito um negócio em Angola (a estudar ainda)
do CAN em Angola? na reconstrução de Angola. Sente esse de-
Clube do Coração: 1º de Agosto
O CAN está a ser vivido actualmente com senvolvimento?
muita expectativa por causa do trabalho que Senti na pele essa evolução e essa reconstru- Jogador da selecção: Love
fizemos no último campeonato. Como con- ção. De momento, é tudo complicado, o trân-
seguimos chegar aos quartos-de-final num sito é caótico, mas é um mal necessário pois
país estrangeiro, os adeptos imaginam o que daqui a uns meses, no caso das estradas, a
podemos fazer numa prova a ser organizada circulação será facilitada.
por nós. Ao nível dos atletas, vamos colocar
objectivos e pensar racionalmente. Mas o po- Tem confiança no progresso do país?
vo está eufórico. Para o país é muito impor- Tenho muita confiança e o Governo transmi-
tante. Angola conseguiu organizar-se e fazer te isso ao povo, que acredita cegamente nas
uma boa campanha, que convenceu os or- promessas que os políticos fazem. Têm cum-
ganizadores da CAF. Foi uma grande vitória, prido a maioria delas e a população crê que
uma grande responsabilidade. Acredito que o o futuro está mesmo a começar. Estão mui-
Governo está a completar os objectivos a que to optimistas, pois analisando tudo o que se
se propôs. tem feito, há que esperar que as coisas vão
correr para melhor.
É um ponto de viragem
a todos os níveis?
Sim, será óptimo para modalidade. Vão sur- o caso mateus
gir novos estádios de futebol. Com mais in- Escreveu-se muito sobre o Caso Mateus. O que aconteceu?
fra-estruturas em outras cidades, as equipas O clube de amadores da Lixa viu a minha situação no Felgueiras e fez-me uma
que têm instalações precárias podem usu- proposta. Aceitei por uma época, para não ficar parado. Fizemos um excelente
fruir dessas condições e praticar ainda melhor campeonato e apareceu-me o Gil Vicente, uma formação de Barcelos da 1a divi-
futebol. são e foi algo irrecusável. Quando a direcção foi fazer a minha inscrição, não
deixaram. A federação portuguesa tinha uma lei que referia que quem tinha
O CAN permitirá mostrar um contrato amador não podia ser inscrito no campeonato nacional, só no fi-
os talentos nacionais ao mundo? nal da época. Não fazia ideia dessa lei. O clube, através dos advogados tentou
Será uma montra para os desportistas, so- resolver a situação. Ainda consegui fazer quatro jogos e marquei três golos.
bretudo futebolistas. Muitos olheiros dos No quinto jogo, a liga interpôs um recurso e a juíza teve que alterar a decisão.
grandes clubes europeus vão estar atentos e Como já tinha feito algumas exibições com equipas que lutavam pela manuten-
querem saber realmente o que é que valem os ção, estas recorreram aos tribunais.
jogadores angolanos. Estamos a torcer para
que muitos desses novos talentos possam vir Isso ajudou-o a evidenciar-se?
para a Europa para engrandecer o seu dom. Até diminui um pouco a minha imagem porque apenas falavam da polémica e
não enalteciam o meu lado futebolístico, nem a qualidade do meu trabalho. O
Qual o principal conselho mundial surgiu numa boa altura e isso passou-me à parte, pois apanhou-me fo-
que dá aos jovens? ra de Portugal. O campeonato do mundo foi um momento de muita satisfação e
A todos os miúdos que têm o sonho de jogar só pensava em jogar bem para ter a oportunidade de ir para um grande clube.
à bola, a sugestão que dou é que acreditem
em si e que tentem procurar formação. Em Como terminou o caso?
Angola, existem clubes que têm boas esco- Encerrou o capítulo quando a equipa resolveu voltar aos jogos e provei às pes-
las, mesmo na 1a divisão. No futebol, quando soas que não era só um nome associado a um caso do qual não tinha culpa.

DESPORTO · ANGOLA’IN | 89
DESPORTO | patrícia alves tavares

Genialidade
negra arrasa
nos ‘Courts’
Tradicionalmente associado a um desporto
elitista, acessível apenas às bolsas das classes
média/alta e alta, o ténis esteve durante muitos
anos longe do alcance dos africanos

Apelidada de “desporto branco”, a modali- formação de um pequeno grupo de jogadores angústia que vivenciou. “A raça foi sempre o
dade encontrou-se por muito tempo restri- negros, em 1912, abrindo os courts aos talen- meu maior fardo”, enfatizou. Mesmo no auge
ta a famílias com elevado poder de compra, tos com parcos recursos económicos. Contudo, profissional, Ashe foi constantemente recorda-
que nos finais do século XIX eram compostas a modalidade era muito segregada e a situa- do pela sua cor, especialmente quando enfren-
apenas por brancos. As outras raças, nome- ção apenas se inverteu quase meio século de- tava a ‘fina nata’ da modalidade.
adamente a negra, tiveram que ultrapassar pois. Em 1916, nasceu a Associação Americana Ashe descobriu aquele que viria a ser um dos
inúmeros obstáculos para chegar aos courts de Ténis (ATA), responsável por estender a mo- tenistas mais aclamados em França: Yannick
nacionais e mundiais. Actualmente, tenis- dalidade às comunidades urbanas. Após várias Noah. O jovem descendente de um camaronês,
tas com raízes africanas estão nos tops dos restrições impostas pela United States Lawn deixou os adeptos parisienses eufóricos ao ven-
rankings internacionais e revelam que com Tennis Association (USLTA), que negava a par- cer o Torneio de Roland-Garros, em 1983. Actu-
trabalho e empenho o talento é reconhecido. ticipação de tenistas negros nas competições, almente, o veterano francês assume as funções
As irmãs norte-americanas Venus e Serena o talento excepcional de uma jovem chama- de treinador e dedica-se à música. Lançou na
Williams são exemplo da dedicação africana, da Althea Gibson contrariou as regras. Apesar década de 90 a canção Saga África, mostrando
encontrando-se entre as melhores do mun- das intenções da USLTA, as suas prestações que nunca esqueceu as suas raízes.
do (ocupam a terceira e segunda posição no em campo permitiram o acesso aos torneios
WTA, respectivamente). James Blake e Gäel nacionais, tornando-se na primeira afro-ame-
Monfils elevam as origens da terra natal dos ricana a ganhar o Grand Slam, em 1956. Mais OURO NEGRO EM LONDRES
progenitores ao mais alto nível. Já na região tarde, voltou a conquistar cinco títulos no fa- A final do torneio feminino de Wim-
africana, as actividades desenvolvidas para o moso campeonato, assumindo-se como ins- bledon foi disputada entre duas ne-
fomento da prática do ténis têm contribuído piração para as futuras gerações. Doze anos gras, que curiosamente são irmãs.
para a massificação do desporto. depois, na altura em que Martin Luther King Serena e Vénus Williams são tenis-
foi assassinado, Arthur Ashe foi o primeiro te- tas de renome internacional, sendo
COMBATE PELA IGUALDADE nista negro a sagrar-se vencedor do US Open. consideradas adversárias extrema-
O crescimento da modalidade entre os negros mente temíveis. Na competição lon-
acompanha a evolução dos direitos humanos. O ÍCONE drina, Serena derrotou a irmã mais
Enquanto em África, a maioria da população Ashe personifica a determinação africana. A velha, que era até aí a campeã do
se encontrava subjugada pela escravidão, os sua brilhante carreira é simbólica, não apenas Grand Slam inglês. Vénus perdeu a
seus emigrantes davam os primeiros passos pelo que alcançou, mas especialmente pelo oportunidade de igualar a lendária
na luta pela igualdade do desporto entre ra- modo como o fez e o significado que isso tem americana Billie Jean King, em nú-
ças. Foi nos Estados Unidos da América que para muitos. Numa das últimas entrevistas, o mero de campeonatos. As irmãs já se
surgiram os primeiros tenistas afro-descen- ícone dos tenistas de origem africana surpre- defrontaram no circuito profissional
dentes. Os torneios remontam a 1895. O Chi- endeu a jornalista ao referir que a sua doença mais de 20 vezes, nas quais Serena
cago Prairie Tennis Club iniciou a aposta na (o atleta morreu de Sida) não tinha sido a maior venceu onze contra dez da irmã

90 | ANGOLA’IN · DESPORTO
Actualmente, tenistas com raízes
africanas estão nos tops dos rankings
internacionais e revelam que com trabalho
e empenho o talento é reconhecido

SERENA WILLIAMS
A atleta de 27 anos está incluída na res-
COMPETIÇÃO AO MAIS ALTO NÍVEL ATP NA ÁFRICA DO SUL
trita lista de jogadoras que possuem no
A capital parisiense voltaria a vibrar com a A Association of Tennis Professionals (ATP) tem
seu currículo todos os grandes títulos do
modalidade em 2008, quando Gäel Monfils vindo a apostar nas últimas décadas na mas-
Grand Slam. A tenista possui poucas fra-
alcançou a semi-final do Roland-Garros. Filho sificação da modalidade, particularmente nas
quezas técnicas que possam ser explora-
de pais oriundos da Martinica e de Guadalu- nações mais pobres. O African Júnior Cham-
das facilmente. Serena e a irmã Vénus
pe, o tenista foi número um em juvenis, em pionships consiste na prova mais prestigiada
deram os primeiros passos na modali-
2004, tendo, nesse ano, conquistado o Open do continente, sendo responsável por encorajar
dade pela mão do pai, que cedo reconhe-
da França e da Austrália e o torneio de Wim- o espírito competitivo entre os atletas mais no-
ceu o talento das filhas. A mais nova do
bledon na categoria de juvenis. Monfils ocupa vos, que revelam capacidades para singrar nas
clã Williams tornou-se profissional em
actualmente o 13º lugar no ranking mundial. competições mundiais. Introduzido em 1978, o
1995 e venceu o primeiro torneio em
No mesmo período, os franceses assistiam à evento cresceu substancialmente, contando
1999, o US Open. A tenista norte-ameri-
ascensão de Jo-Wilfried Tsonga, descenden- com a presença de 140 atletas, oriundos de 24
cana arrecadou duas medalhas de ouro
te de um congolês. O jovem evidenciou-se no países africanos. O maior salto em termos de
nas olimpíadas de duplas (com a irmã),
Open da Austrália de 2008 ao ter alcançado a visibilidade no panorama do ténis ocorreu es-
em 2000 e 2008. De momento, encontra-
final, superando alguns dos melhores tenis- te ano, com a realização, pela primeira vez, do
se na segunda posição do ranking mun-
tas, incluindo o então número dois do mundo, Open da África do Sul. O circuito profissional de
dial da WTA
Nadal. O actual número oito da WTA é con- masculinos da ATP passou por Johannesburgo,
siderado herdeiro dos “serve-and-volleyers”, em Fevereiro. Tsonga venceu a prova, que con-
VÉNUS WILLIAMS
estilo que consagrou Pete Sampras e Tim tou com o patrocínio da companhia aérea Sou-
O percurso de Vénus é muito semelhan-
Henmann. O norte-americano James Blake th African Airways. Por seu lado, em Angola, os
te ao da irmã. Iniciou-se nos campos de
é um caso de sucesso em múltiplas verten- atletas mostram preferência pela prática do té-
Los Angeles e causou sensação ao des-
tes. Convidado habitual de talk-shows das nis de mesa, que se assume como o mais popu-
tronar Shaun Stafford da 58ª posição do
televisões americanas, a sua auto-biografia lar. Aliás, Lunda Norte é a província que reúne
ranking da WTA. Profissionalizou-se em
constou da lista de best-sellers do New York mais praticantes de ténis de campo, constituin-
1994 e desde logo atraiu a atenção de to-
Times. A sua carreira ficou marcada por pro- do o segundo desporto de referência. O Sagra-
dos, devido aos seus remates poderosos.
blemas de saúde, responsáveis pela descida da Esperança e o Clube de Ténis do Dundo são
Em 1997, surpreendeu todos ao alcançar
ao 210º posto do ranking. A recuperação foi exemplos a seguir pela Federação Angolana de
a final do US Open, onde perdeu para
épica e o tenista conta actualmente com dez Ténis, que se comprometeu a reactivar a mo-
Martina Hingis. Em 2000, conquistou o
títulos, ocupando a 17ª posição no ranking dalidade em todo o país, bem como a apoiar a
torneio de Wimbledon e o US Open. Ac-
mundial. formação de jogadores e treinadores. Angola
tualmente, com 29 anos ocupa o tercei-
encontra-se aquém das suas potencialidades,
ro lugar no ranking mundial
uma vez que, no passado, já foi campeã africana
de juniores.

DESPORTO · ANGOLA’IN | 91
DESPORTO BREVES | patrícia alves tavares

motociclismo modalidades
Campeão angolano em Portugal Governo forma atletas
O piloto Sandro Carvalho, actual campeão do Supersport de Angola, Até 2012, o Executivo pretende lançar 30 mil novos desportistas nas
espera conseguir participar no campeonato português. O líder do des- diversas modalidades. O programa, intitulado “Despontar” preconiza
porto motorizado está a negociar com o Team Benimoto Suzuki Ce- a massificação desportiva, que numa primeira fase vai dar formação a
telem a sua participação na prova de velocidade, em terras lusas, na seis mil monitores e técnicos desportivos das 18 províncias. O projecto
classe Promomoto 1000. Sandro Carvalho participou no troféu Honda é fruto de uma parceria entre os Ministérios da Juventude e Desportos
entre 2001 e 2003 e venceu o campeonato nacional em 2006. e da Educação e envolve crianças com idades entre os dez e os 14
Não é a primeira vez que o craque passa por Portugal. O anos, que pretendam ingressar em modalidades como o
piloto já disputou as provas de resistência do Esto- futebol, o basquetebol, o andebol, o voleibol, o atle-
ril, nos 500 quilómetros Vodafone, com especial tismo e a ginástica. O objectivo consiste em criar
destaque para o quarto lugar na geral e a se- técnicos, capazes de formar jovens nas suas
gunda posição nas 600cc, em 2007. regiões de origem, multiplicando assim o nú-
mero de quadros nas múltiplas actividades.
Apenas em Huíla, o programa “Despontar”
futebol
prevê criar 180 monitores e técnicos, envol-
Super Bock vendo oito mil crianças.
patrocina torneio
A Unicer, através da marca de cerveja
ginástica
Super Bock prepara-se para a partir de
2010 organizar um torneio de futebol no Aposta na massificação
país, em colaboração com o Futebol Clube A Federação Angolana de Ginástica elegeu em
do Porto e o Sporting Clube de Portugal. A pro- Abril o novo presidente. Auxílio Jacob garantiu,
va é resultado dos acordos de patrocínio que vão durante a tomada de posse, que a sua equipa ambi-
assegurar a inscrição da marca nas camisolas ofi ciais ciona trabalhar arduamente para massificar a modalida-
de jogo das equipas profissionais dos dois clubes portugueses. de no país. A organização está empenhada em criar as condições
O torneio será anual e a Unicer pretende que a selecção nacional de técnicas fulcrais para a implementação da ginástica como um hábito
futebol (Palancas Negras) integre a competição. Para o efeito, a regular nas escolas académicas. “A prática da ginástica é um factor in-
empresa portuguesa, que também patrocina esta formação (atra- dispensável no desenvolvimento da sociedade, por isso vamos procu-
vés da cerveja Cristal) encontra-se em fase de negociações para rar expandi-la em todas as províncias”, garantiu o novo dirigente. No
conseguir a participação da selecção. Esta atitude surge no âmbito plano de actividades, encontra-se a promoção de acções formativas
da estratégia de internacionalização da Unicer, em que o mercado para professores de Educação Física e outros agentes para divulgar e
nacional é dos mais importantes. elevar a modalidade aos patamares internacionais.

92 | ANGOLA’IN · DESPORTO
DESPORTO · ANGOLA’IN | 93
LUXOS | patrícia alves tavares

AUDI R8
É a novidade da Audi. A nova versão do desportivo da empresa alemã possui 525 cavalos de potência e demora apenas
3,9 segundos para atingir os 100 km/hora. Pode alcançar uma velocidade máxima de 316 km/ hora. O recente modelo
apresenta novas entradas de ar laterais, ópticas dianteiras e traseiras com tecnologia LED e duas saídas de escape.

94 | ANGOLA’IN · LUXOS
MASERATI
GRANTURISMO - S
A nova versão do coupé italiano tem como novidade a adopção de uma caixa automática. Com um funciona-
mento mais rápido, o fantástico V8 de 4,7 litros possui 440 cavalos de potência. A caixa automática de seis
velocidades é a principal característica, bem como as novidades introduzidas no interior do veículo.

LUXOS · ANGOLA’IN | 95
LUXOS

INFINITI
FX50 -V8

É o novo modelo da marca de luxo da Nissan. O crossover FX surge com um motor


V8 de cinco litros e caixa automática de sete velocidades com Adaptive Shift Con-
trol. Detentor de um estilo imponente, apresenta algumas características das ver-
sões desportivas. Tem mais de 390 cavalos de potência e tecnologias avançadas,
como o sistema de navegação sustentado em DVD Around View Monitor.

96 | ANGOLA’IN · LUXOS
LUXOS

YAMAHA VMAX
O conhecido modelo V-Max surge com uma nova aparência, após ter sido alvo
de uma série de mudanças. O novo chassis em alumínio é uma das novidades. O
motor tem quatro cilindros em V, com 1679 cm3. Os 200 cavalos de potência má-
xima a 9000 Rpm e os 310 kg são algumas das características desta Yamaha.

KBC VR1X
É a nova versão do capacete mais conhecido da
KBC e que tem feito muito sucesso. Este mo-
delo promete conquistar todos oss admiradores,
desde os mais novos aos mais velhos,
elhos, devido
ao design avançado, específico paraa reduzir os
ruídos do vento. Possui canais duploss de venti-
lação e o revestimento interior é bastante
ante con-
fortável, podendo ser removido ou substituído.
tituído.

Halvarssons
Safety Gloves Lindst
Lindstrands
L ndstrands Graffiti
Estas luvas possuem aperto de segurança e são fabricadas em Textile Motorcycle Jacket
T
napa, proveniente de pele de canguru e cabra. Estee produto da Moderno, de design explosivo, o casaco da Lindstrands está disponível
Halvarssons está disponível apenas na cor preta e cumpre
mpre ttodas em três cores diferentes. Possui bolsos extra a pensar nas suas necessi-
as normas de segurança, aprovadas pela CE. dades, permitindo-lhe o armazenamento das garrafas de água.

98 | ANGOLA’IN · LUXOS
LUXOS · ANGOLA’IN | 99
LUXOS LIV
VE LU
UGGA
AGE
Power assisted Suitcase
Esta mala é composta por um motor em cada roda, que funciona
através de sensores. O usuário fica liberto do peso da mala, uma vez
que 85% do peso está distribuído nas rodas. Cada mala tem um có-
digo único. Em caso de perda, basta introduzi-lo no site da empresa
fabricante e ficará a saber onde esta se encontra.

LEIC
CA M8
Discreta e silenciosa, é a primeira máquina digital clássica.
Funciona com precisão e velocidade, mantendo todas as van-
tagens das Leica M analógicas.

HTC
C
Touch Diamond
É tão bonito co
como fácil de usar. É a combinação perfeita entre
tecnologia, fu
funcionalidade e design atraente. Possui um ecrã
sensitivo de 2.8 polegadas.

MOTION F5
Fino e leve, o Motion F5 é o primeiro puro Tablet PC robusto,
concebido especificamente para o trabalhador no terreno. Com-
bina durabilidade, múltiplas funcionalidades e mobilidade.

100 | ANGOLA’IN · LUXOS


SONY KDL 55-46XBR8
É a novidade na linha de televisores LCD Bravia. O monitor de 55 polega-
das é dotado da tecnologia Triluminos para blacklighting, aumentando as-
sim a faixa de reprodução de cores.

BANG & OLLUFSE


EN
BeoLab 5
A revelação nos sistemas de som apresenta como maioraior particu-
laridade o design, com formas geométricas invulgares, que permi-
tem que este se confunda com uma escultura. O aparelho
ho mede as
ondas sonoras e adapta os sons graves em função do local.
ocal.

BEN
NQ LED GP1
Concebido a pensar nos empresários, o mini
projector possui uma resolução de 858X600,
suficiente para assistir a DVDs, jogar ou fazer
apresentações de negócios. Em termos de voz,
apresenta resoluções de elevada qualidade. É
compatível com PC ou outro formato de vídeo.

LUXOS · ANGOLA’IN | 101


LUXOS

Patek
Philippe
Ref. 5180/1
Skeleton Watch

Este Patek Philippe é uma homenagem à


arte minimalista, pelo conjunto extrava-
gante de detalhes minuciosos que o reló-
gio oferece, permitindo uma perspectiva
metafórica sobre a inflexível passagem
do tempo. Um talento artístico fora do
comum. Só para coleccionadores

Audemars Piguet
Royal Oak Offshore Volcano
Audemars Piguet “Royal Oak Offshore Volcano”
é o primeiro da série. Relógio masculino em aço,
automático, com aproximadamente 60 horas de
reserva de marcha, cronógrafo, com acumuladores Wyler Genève
de 30 minutos e 12 horas, data e taquímetro Code-R chronograph
Com uma aparência deliberadamente ‘low profile’,
este Wyler Genève utiliza um material luminoso
SuperLuminova laranja para os pontos que
marcam as horas, minutos e as inserções dos
ponteiros, fornecendo um agudo contraste em
relação à sobriedade do restante mostrador. Um
pormenor fantástico

Certina
DS Prince
Clássico. Este Certina DS Prince oferece a todos os amantes
de relógios linhas sóbrias, num estilo contemporâneo que destila charme. Tem um carácter
incomparável e é dedicado a todos os apreciadores de um estilo refinado e intenso

102 | ANGOLA’IN · LUXOS


ESTILOS | manuela bártolo

silhueta moderna
O crescimento do mercado de moda masculina na
mostra que os homens estão cada vez mais vai-ai-
dosos e se interessam pelas novidades do mun-
un-
do fashion. A aparência agora está no topo da
lista de prioridades do homem moderno. Os
homens interessam-se pelo que está a aconte- te-
cer no mundo da moda. Procuram-se informarmar
e não têm receio de entrar sozinhos numa lo-
ja de roupa e comprar o que lhes fica bem. As
roupas masculinas cada vez mais arrojadas se
tecnológicas, representam a personalidade e e
o estilo de vida do homem moderno. A maior ior
preocupação dos homens continua a ser com ma
praticidade e o conforto, razão pela qual a in-
dústria da moda tem colaborado e acompanha-ha-
do esta mudança, lançando no mercado roupas as
que seguem as tendências, segmentando esti-sti-
los e acompanhando a vaidade masculina, que ue LEE
na última década cresceu como nunca. blusão perfecto
em pele

MIGUEL
VIEIRA
ténis em pele envernizada
e camurça

LEE
t-shirt em algodão

LEE
cardigan em lã

GANT
necessaire em
poliéster

104 | ANGOLA’IN · ESTILOS


LEE
chapéu com textura
de palhinha

GANT
blusão impermeável

LEE
t-shirt em algodão

LEE
blusão impermeável

Um jeans
modernos com
umas sapatilhas
arrojadas e
uma camisa
desportiva
(para os mais
arrojados uma
tshirt alegre e
divertida) são
a marca desta
estação. Aposte
em opções
despojadas!

LEE
jeans

LACOSTE
ténis

ESTILOS · ANGOLA’IN | 105


ESTILOS

LEE
t-shirt em algodão
LACOSTE
cachecol em lã

Nesta ediç
edição
ção não
n
perca as últim
ú
últimas
mas
novidades.
novi idades.
Reservamos
Reservamo os para
pa
ara
si um conjunto
conjun nto
de blu
blusões
usões e
tshirts
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que
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difer Temos
rença. Tem mos
moda
mod da para todos
a tod
dos
os gosto
os os, q
os
gostos, que
celebra
celeb o espírito
aventureiro
a ureiro e
ousad do homem
ousado
moderno!
oderno!

LEE
jeans GANT
mocassins
em camurça

LEE
Blusão em pele

106 | ANGOLA’IN · ESTILOS


LEE
Blusão Perfecto
em pele
seja ousado!
Chegou a vez dos homens terem atenção. Ago-
ra é hora de pensar no novo. Tente criar um
equilíbrio entre o casual e o formal, compon-
do um estilo mais descontraído. A dica? Um
jeans modernos com umas sapatilhas arroja-
das e uma camisa desportiva (para os mais ar-
rojados uma tshirt alegre e divertida). Aposte
em opções despojadas. Mas tenha sempre em
atenção: é essencial que o homem comporte a
roupa que usa, ou seja, tenha estilo o suficien-
te para usá-la, senão pode ser uma catástrofe.
Também é importante estar atento ao lugar em
que se encontra. A roupa para passear à tar-
de no shopping é diferente da roupa que usa
para sair à noite, que, por sua vez, é diferente
da roupa que se usa para namorar e diferente
da usada no trabalho. Importante é parecer o
mais natural possível porque pode ter a certe-
za que de outra forma irá atrair muitos olha-
res críticos. Para o tiro não sair pela culatra, a
dica é única: seja fiel ao seu estilo!
LEE
camisola em algodão
LEE
saco em pele
metalizada

GANT
Blusão impermeável

MIGUEL VIEIRA
botins em pele
envernizada

ESTILOS · ANGOLA’IN | 107


ESTILOS

chanel
Allure Homme
detentor de notas de bergamota, jasmim, cedro, baunilha,
sândalo e âmbar, esta fragrância é reconhecida pela sua
frescura oriental. recomendado para usar durante o dia,
a chanel apresenta um perfume com uma mistura de frutas
cítricas com um rasto de temperos e pimenta.

escada
Magnetism for Men
pensado para homens exigentes, que
querem sempre o melhor, é magnífico
para o fazer sonhar acordado.
amadeirada, especiada e ambarino,
esta fragrância possui notas de
pimenta de aroeira, açafrão, cedro,
sândalo, couro, âmbar, bálsamo de
tolu e almíscar.

paco rabane
Black XS
amadeirado oriental, este perfume
é indicado para o “bad boy”, homens
livres, independentes, extrovertidos
e sensuais. as notas de cabeça são
energéticas, com aroma de limão da
christian dior
calábria e kalamanzi. possui notas
Fahrenheit Men
de âmbar negro, patchouli, canela,
concebido a pensar em homens que gostam de seduzir, este perfume deixa saudades
cardamomo negro e praline.
por onde passa, uma vez que a dior escolheu as mais raras essências para criar
um produto único. com um toque de flor amadeirada, a fragrância possui notas de
bergamota, lavanda, sândalo e styrax.

bulgary
Aqua Men
esta fragrância revela uma
interpretação única dos seus
ingredientes. possui uma mistura
de folhas de laranjeira misturados
com o aroma delicado e picante da
mandarina. as suas características
marinhas naturais e ricas
conferem uma qualidade distinta
a este perfume, que possui notas
finais da âmbar mineral, com um
tom amadeirado e masculino.

108 | ANGOLA’IN · ESTILOS


LUXOS · ANGOLA’IN | 109
LIVING | joão paulo jardim

Decoração
versus investimento
Tradicionalmente não consideramos a decora- E são nestas épocas em que se conseguem
ção como uma forma de investimento numa efectuar aquisições que noutras alturas se-
perspectiva economicista, é vista apenas e tão riam impensáveis. A instabilidade económica
somente como uma aposta no conforto e bem faz com que entrem no mercado peças muito
estar pessoal. Mas existem vários tipos de raras que alguns coleccionadores se vêem obri-
aquisições, que para além de mais-valias a um gados a pôr em praça e surgem oportunidades
projecto de decoração propriamente dito, são únicas de compra, quer a nível de exclusividade
também investimentos seguros e economi- quer a nível de cotação dos objectos em circu-
camente muito interessantes. Tendo, na sua lação. Esta é, sem dúvida, um boa altura para
maioria das vezes, um elevado grau de retorno compra de todo o tipo de peças únicas. Desde
financeiro a médio e longo prazo. obras de arte, a peças de design exclusivo, pas-
sando pelas antiguidades até aos mais varia-
A aquisição deste tipos de peças pode ser dos objectos de colecção.
quase um hobby. No entanto, como forma de
investimento, sendo esta uma área muito es- Uma forma de investimento emergente, tam-
pecífica e para quem não pretende dedicar o bém nesta área e que já foi aqui abordada é a
seu tempo a investigar novos talentos com aquisição de peças de design exclusivo. Exis-
potencial no mercado de arte ou a percorrer tem algumas marcas de eleição que actual-
galerias, antiquários ou leiloeiras em busca mente se dedicam e editar peças em séries
de boas apostas de aquisição, a solução ideal muito limitadas ou mesmo únicas, de novos
é recorrer aos serviços de um consultor. Uma autores ou de outros já consagrados e que en-
compra bem aconselhada é um investimento tram automaticamente num circuito de colec-
redobradamente garantido e com a colabora- cionadores, tornando-se de imediato objectos
ção do responsável do projecto de interiores é de desejo com valor acrescentado.
também um valor acrescentado à decoração
de qualquer espaço. Seja ele residencial, labo- Seja qual for a opção tomada, um projecto de
ral ou comercial. decoração bem assessorado pode tornar-se as-
sim num excelente investimento económico.
Um projecto de decoração bem assessora- Deixando de ser apenas um deleite para os sen-
do pode tornar-se num excelente investi- tidos e ganhando um carácter mais racional que
mento económico por vezes se sobrepõe ao óbvio prazer material.

Não é também por acaso que nestas alturas João Paulo Jardim - [email protected]
em que os mercados financeiros estão mais
instáveis que grandes leiloeiras internacionais
como a Sotheby’s e a Christie’s fazem especta-
culares vendas com licitações surpreendentes.

110 | ANGOLA’IN · LIVING


FOSCARINI
Define-se como uma colecção de forte personalida-
de, resultante de factores como pesquisa e inovação,
qualidade de produção e design arrojado, que em as-
sociação constituem a identidade desta grande marca
italiana de iluminação.
Com características tão particulares e desenvolvendo
parcerias com grandes mestres do design, assim como
apostando em novos valores emergentes, a Foscarini
apresenta uma colecção em que todos os modelos são
únicos e individualizados, mas em que todos se articu-
lam entre si em harmonia e se regem pelos mesmos
princípios fundamentais de exigência e rigor.

XQW

LIVING · ANGOLA’IN | 111


LIVING

112 | ANGOLA’IN · LUXOS


HAVILAND
Fundada no ano de 1842 por David Haviland, com a ajuda dos
seus dois filhos. Uma família americana que atravessou o
Atlântico para se instalar em Limoges e criar esta empresa que
se tornou um marco incontornável da porcelana a nível mun-
dial. Por esta casa passaram os maiores ceramistas de todos
os tempos, que a enriqueceram com os seus conhecimentos
técnicos e valores estéticos. Assim como consagrados artis-
tas plásticos, desde Cocteau, passando por Kandinsky, até aos
grandes artistas contemporâneos, que se envolveram na aven-
tura da porcelana imprimindo-lhe o seu génio criativo e dando
vida a verdadeiras obras de arte. A Haviland combina a tradição
com a modernidade de forma exímia para aqueles que apre-
ciam a paixão da arte e do luxo.

QW

LIVING · ANGOLA’IN | 113


LIVING

LÚCIA DAVID
Após uma licenciatura em Escultura e Metais, conclui o Mestrado
em Book Arts em 2002, ambos no London Institute, Camberwell
College of Arts, em Londres. Expõem desde 2003, tendo estado
desde então presente em diversas exposições patentes em Fran-
ça, Inglaterra, Portugal e mais recentemente no leste europeu.
O trabalho desta promissora artista desenvolve-se entre escultu-
ra, livro de artista e escrita, integrando técnicas artesanais como
o bordado. Reflectindo sobre questões da condição das mulheres,
Lúcia David constrói histórias visuais sobre um mundo em ruptura
social e política.

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VINHOS & CA. | patrícia alves tavares

Cem Amigos Reserva Tinto 2007


Proveniente de uvas colhidas manualmente, os 75 hectares de vinha, que deram origem a este
néctar, beneficiaram do clima mediterrânico continental. Esta reserva foi envelhecida em barricas.
de carvalho francês e americano durante noves meses. O aroma floral e frutado com notas de
especiarias define este vinho, que se apresenta como um produto elegante e rico. Possui uma boa
estrutura de taninos, o que lhe confere grande longevidade em garrafa. Perfeito para acompanhar
pratos elaborados de cozinha mediterrânica, pastas e queijos, deve ser servido entre os 16 e 18ºC.

Cem Amigos - Tinto 2007


Este néctar destaca-se pelo seu equilíbrio e estrutura suave.
É a escolha ideal para acompanhar refeições de carne branca,
pastas e queijos suaves. Para tal, deverá servir-se a uma
temperatura que oscile entre os 16 e 18ºC. Quanto aos aromas,
no nariz revela notas de frutos vermelhos maduros, enquanto
que no palato é elegante, com uma frescura agradável.

Casa dos Zagalos 2005


Vinho Regional Alentejano
De cor granada, este vinho beneficiou do clima mediterrânico
continental. Rico e equilibrado, possui uma óptima acidez,
apresentando aromas complexos de frutos vermelhos, sempre bem
integrado com notas de tostados e especiarias. A boa estrutura de
taninos permite-lhe uma boa evolução em garrafa e um final longo.

116 | ANGOLA’IN · VINHOS & CA.


Gato N
Negro Cabernet Sauvignon
É uma das pérolas do Gato Negro, cuja qualidade é reconhecida. Este Cabernet, de cor
ruby escura, é muito intenso. Apresenta-se cheio de aromas de frutos vermelhos, tais
como aromas, cassis e cerejas, que se fundem na mais completa perfeição com notas
de baunilha e coco. N
Na boca, é encorpado e muito equilibrado, revelando boa frescura,
com ligeiros taninos. O derradeiro paladar consiste num longo e agradável final.

Gato Negro Sauvignon Blanc


Vinho com aroma a ervas e frutos, como folhagem de tomate,
uva, ananás
anan e manga. Este néctar de cor ligeira verde-amarelado
é refrescante
refresca e as suas características equilibram a acidez,
aumentando o paladar frutado, proporcionando ao
que vai au
coonsumid um agradável final.
cconsumidor

Dão Meia Encostaa


Vinho Tinto 2007
7
Este néctar límpido, de cor ruby intensa acompanha na
p eu
perfeição pratos de caça, assados e queijos curados. O seu
arom
aroma vinoso a frutos vermelhos maduros apresenta notas de
espec o,
especiarias. No paladar, o vinho apresenta-se macio e redondo,
te.
com a fruta bem presente num final fresco e persistente.

VINHOS & CA. · ANGOLA’IN | 117


VINHOS & CA.

Quinta do Mouro 2004


Vinho Regional Alentejano
A principa
principal característica é o aroma profundo e complexo de frutos pretos maduros,
com amên
amêndoa torrada e especiarias, evidenciando o cravinho num ambiente
mentolado. De cor granada intensa, este vinho inicia-se no paladar com uma macieza
mentolado
e untuosid
untuosidade, onde se distingue uma riqueza de fruta madura, que é conjugada
com um eqequilíbrio perfeito. Os taninos robustos contribuem para uma sensação
persistente de um final que não chega a acontecer.

Porca de Murça
Este vinho agradável resulta do facto da casta Boal ter sido
fermentada em barricas de carvalho português, pelo que o
produto permaneceu em contacto com os fermentos durante
seis meses. O aroma é complexo, possuindo toques de frutos
tropicais, baunilha e madeira amanteigada. Encorpado, com um
agradável equilíbrio ácido e um final longo e vivo, este néctar
C. Acompanha idealmente
deve ser servido entre os 12 e 14ºC.
pratos de peixe, carnes brancas e refeições de massa.

Esporão Private Selection 2008


8
Originário da região portuguesa alentejana, este produto apresentaa
um aspecto cristalino, cor de palha. De aroma frutado com notass
subtis de madeira de carvalho, fruta exótica, pêssego e baunilha, estee
néctar acompanha bem com múltiplos pratos, desde sopa de peixee
s,
até pratos de caril, fazendo sobressair o gosto exótico das especiarias,
m
tornando a refeição numa fusão de sabores exuberantes. É um
vinho complexo e encorpado, cheio, cremoso, com bom equilíbrio e
C.
persistência na boca. Deve servir-se entre 10 e 12ºC.

118 | ANGOLA’IN · VINHOS & CA.


Royal Oporto 10 anos
Oriundo da região demarcada mais antiga, a do Douro, este néctar consiste numa produção
altamente cuidada dos Vinhos do Porto de elevada qualidade. É um vinho que possui reflexos
aloirados de tonalidade topázio queimado, sendo detentor de um bouquet harmonioso
armonioso e
elegante, característica do envelhecimento em cascos de carvalho. Possui aromas as e sabores
primários, típicos dos vinhos jovens, desenvolvendo um vasto leque de subtis
btis nuances
torrados e complexados, com notas de especiarias, frutos secos (nozes e avelãs), compotas
ompotas de
frutas e finas madeiras. Deve ser consumido
mido a 16ºC.

Herdade Esporão
Vinho Licoroso
A sua particularidade é conferida pelas castas que lhe dão origem, a
éctar
Trincadeira e o Aragonês. Límpido e com uma tonalidade ruby, este néctar
apresenta-se com um aroma complexo e fino, carregado de notas de
compotas. O paladar é intenso, sugerindo sabores de nozes e frutos secos,
com um final prolongado e persistente. É uma óptima sugestão para usar
obremesa, devendo servir-se a 16 ou 18
como aperitivo ou vinho de sobremesa, C.
18ºC.

Marquês de Marialva
a
É um espumante branco, oriundo da Região Demarcada daa
Bairrada. De cor citrina e brilhante, com tons esverdeados,,
bolha fina e cordão persistente, este produto deve serr
servido entre os 6 e 8ºC. O seu aroma a flor de laranjeira,,
ameixa e brioche confere-lhe um toque de mineralidade. Naa
boca possui uma mousse intensa e persistente e uma acidezz
equilibrada, que lhe proporciona um final longo e agradável..
Deve servir-se bem fresco, sendo uma boa escolha paraa
aperitivo ou para frutas e saladas..

VINHOS & CA. · ANGOLA’IN | 119


VINHOS & CA. À CONVERSA COM… Bernardo Gouvêa, Director Geral da Companhia das Quintas | manuela bártolo

a tradição de fazer
a diferença

A Companhia das Quintas ‘VINHOS ÚNICOS DE QUINTAS ÚNICAS’ pedagógico, que procurem associar o convívio
tem sete quintas/adegas “Angola é o nosso segundo maior mercado de e a degustação, ao debate de questões gas-
vinhos. Queremos em três anos ser uma das tronómicas, culturais e técnicas, tendo em
diferentes em várias regiões três marcas de vinho português mais vendi- conta as especificidades do mercado angola-
de Portugal. A empresa é do no país”. A afirmação é de Bernardo Gou- no, Bernardo Gouvêa almeja que a Companhia
também proprietária de vêa, director geral da Companhia das Quintas, das Quintas e os seus vinhos conquistem de-
proprietária da Quinta de Pancas, uma das finitivamente o consumidor nacional, conside-
100% da PortuVinus, uma marcas de vinhos portugueses mais vendida rado pelo mesmo como “um cliente exigente,
das maiores empresas de no país. O objectivo é fazer com que este se- sofisticado e moderno”.
distribuição de vinhos e ja o seu principal mercado, razão pela qual a
empresa tem canalizado, nos últimos cinco Aumentar a percepção de
bebidas espirituosas em
anos, um forte investimento para Angola. As- valor e a relação qualidade/
Portugal. A companhia detém sociada a valores de prestígio e tradição, em preço tem sido uma das
propriedades nas regiões Luanda pode-se encontrar a nova imagem de
grandes aposta da Companhia
marca da Companhia - ‘The Quinta Collection’
de vinhos mais destacadas das Quintas no mercado
-, composta por vinhos produzidos em Portu-
portuguesas: Quinta da gal e provenientes da Quinta do Cardo (Beira
nacional
Fronteira (Douro), Quinta do Interior), da Quinta de Pancas e da Quinta da
Cardo (Beira Interior), Quinta Romeira (ambas da Estremadura). Uma nova “Angola é para nós um mercado de elevado
colecção de vinhos que dá continuidade à es- interesse, cuja experiência até ao momento
de Pancas (Alenquer), Quinta tratégia iniciada com a renovação da imagem tem sido muito positiva”, salienta. Exemplo
da Romeira (Bucelas), Quinta do Prova Régia, cujo o intuito é salientar, cada disso, tem sido o sucesso associado à comer-
de Pegos Claros (Palmela), vez mais, a qualidade de produção à credibi- cialização dos vinhos da Quinta de Pancas,
lidade e notoriedade nacional e internacional que têm tido um crescimento na ordem “dos
Quinta da Farizoa (Alentejo) e conquistada nas últimas décadas. Defensor 50% ao ano”, fruto de uma qualidade de ofer-
Caves Borlido (Bairrada) da realização de eventos de carácter lúdico e ta situada entre a gama média e média/al-

120 | ANGOLA’IN · VINHOS & CA.


CURIOSIDADE
‘O cliente angolano
é um consumidor exigente, A Companhia das Quintas
sofisticado e moderno’
pretende atingir fortes
crescimentos de vendas
por ano quer através de
investimentos em vinhas,
adegas e nas suas marcas,
quer através da aquisição de
empresas existentes ou de
activos seleccionados, para ser
uma das empresas do top 5 do
sector em Portugal

a não perder…
Quinta de Pancas – Alenquer/Estremadura
Esta é uma quinta com grande tradição e
historial, tendo sido fundada pela família
Guimarães em 1945, à qual pertenceu até ter
sido integrada na Companhia das Quintas
em 2006. A Quinta de Pancas é fortemente
marcada pela arquitectura do seu Solar, no-
meadamente o arco de entrada e os painés
de azulejo do século XVI. É rodeada por ser-
ras que a protegem dos ventos do Atlântico,
permitindo o excelente amadurecimento das
ta, com especial destaque para os vinhos de principais regiões produtoras de vinho por- uvas, que inclui as castas Touriga Nacional e
topo, segmento para o qual “estamos voca- tuguesas, detém actualmente cerca de 328 Cabernet Sauvignon. Esta situação, aliada ao
cionados”, refere. A excelência é um factor de hectares de vinha na totalidade, o que a tor- equipamento moderno do processo de vinifi-
diferenciação preponderante para este res- na num dos principais proprietários de vinha cação, tornou a Quinta de Pancas desde início
ponsável, que destaca o facto do cliente na- em Portugal. Um processo de crescimen- uma bandeira da região. A Quinta de Pancas
cional ter já muito enraizada a “percepção de to sustentável que a faz estar entre as dez tem aproximadamente 50ha de vinhas.
valor qualidade/preço” relativamente a este maiores companhias produtoras de vinho lu-
tipo de produto, sendo esta uma mais-valia sas e que é fruto de um forte investimento
para a companhia face à concorrência feroz em infra-estruturas (propriedades, vinhas e quinta da romeira – bucelas
que se tem vindo a sentir em Angola. Actual- adegas). Igualmente importante para o seu Em 1703, o terceiro Conde de Castello Me-
mente, o seu maior desafio é “fazer com que posicionamento no mercado nacional e es- lhor, antigo Primeiro Ministro do Reino, in-
as pessoas experimentem”, para isso tem trangeiro tem sido a aposta na renovação tegrou a Quinta da Romeira no Morgadio de
apostado na formação e acordos com esco- de imagem e identidade institucional, fac- Santa Catherina, uma propriedade de grande
las de hotelaria, de forma a divulgar não só as to que permitiu à empresa agrupar todos os dimensão baptizada em honra de um mem-
particularidades de cada vinho, mas também vinhos da Companhia das Quintas num só, bro distinto da família real – Rainha Cathe-
a forma como eles se adaptam ao gosto de com o objectivo de transmitir aos consumi- rina, esposa de Carlos II, Rei de Inglaterra. O
cada consumidor. O ritmo de crescimento do dores os novos valores da marca sustenta- projecto da Quinta da Romeira começou em
mercado tem sido elevado, o que obriga a ele- dos pelo conceito “Vinhos Únicos de Quintas 1988 e focou-se no restauro do Solar do século
var a qualidade de toda a cadeia de valor. Únicas”. Esta é também a mensagem de tra- XVIII e de uma Capela, na construção de uma
dição, personalidade e prestígio transmiti- adega ‘state-of-the-art’ e na plantação de cer-
da ao consumidor angolano. Diferenciação e ca de 80 hectares de vinhas, na sua maioria da
RETALHOS DA HISTÓRIA qualidade são, por isso, dois factores muito casta de Arinto, originária de Bucelas e gran-
A Companhia das Quintas marca presen- importante para Bernardo Gouvêa. O objec- de responsável pela qualidade dos vinhos des-
ça em seis diferentes regiões de Portugal tivo da companhia para os próximos tempos ta região, a uva mais apropriada para o vinho
- Estremadura, Alentejo, Douro, Palmela, é crescer organicamente em volume e valor de Bucelas, onde beneficia de um clima único
Beiras e Bucelas. Detentora de quintas nas sobretudo a nível internacional. proporcionado pelo vale entre o mar e o rio

VINHOS & CA. · ANGOLA’IN | 121


VINHOS & CA.

122 | ANGOLA’IN · VINHOS & CA.


INFLUÊNCIAS Apresento-vos o meu Filet Mignon
BRASILEIRAS ao molho de fígado e café:
ENVOLTAS NOS
SABORES DAS ingredientes:
- 200 ml de café
ESPECIARIAS - 1 kg de filet mignon
AFRICANAS - 200 ml de vinho branco
- 200 ml de água
Para esta edição, escolhi uma receita que tem - 300 g de fígado de frango
por base um produto originário da América do - 2 colheres de óleo
Sul. As regiões deste continente possuem o - 2 colheres de manteiga
mesmo clima tropical e ingredientes exóticos. - 2 dentes de alho
O Filet Mignon provém do Brasil e consiste - 1 colher de cominhos
num tipo de corte específico da carne bovina. - 1 colher de pimentão doce
É retirado da parte traseira do animal e repre- - 1 tomate
senta menos de três por cento da carcaça. Por - 1 cebola
isso, o filet é o corte mais macio da carne bovi- - 1 colher de sopa de sumo de limão
na e quase que não contém gordura. Durante - 1 colher de sopa de Maizena
as minhas passagens pelo Brasil descobri esta - Hortelã picada
iguaria e fui aprendendo diversas receitas. A
que vos apresento é uma mistura dos sabores modo de preparação:
brasileiros com uma das maiores especialida- Corte o filet mignon em medalhões. Aqueça duas colheres de manteiga numa frigidei-
des angolanas, o café. Nas minhas viagens a ra e passe a carne até ficar dourada. Reserve.
África descobri vários tipos de café, que são
únicos e detentores de um sabor inesquecível. Para o molho, coloque numa frigideira o óleo e refogue o fígado de frango. Acrescente
Como Angola possui uma longa tradição nesta dois copos de água e as especiarias. Deixe cozinhar. Entretanto, bata ligeiramente no
cultura e está a desenvolver esforços no âm- liquidificador a cebola, o alho e o tomate. Junte esta mistura ao fígado e ao café. Deixe
bito da dinamização do sector, incluí no mo- cozinhar. Triture até formar um creme homogéneo. Junte o vinho e uma colher de mai-
lho desta receita o delicioso café africano. Os sena. Tempere com hortelã picada e sumo de limão.
sabores intensos são uma das particularida-
des do menu que vos apresento. O pimentão- Disponha os bifes numa travessa e cubra-os com o molho de fígado e café.
doce, os cominhos e a hortelã conferem um Acompanhe com esparguete ou outro ingrediente a seu gosto.
toque exótico e apimentado, típico da gastro-
nomia africana e brasileira, principais adeptas
dos sabores intensos, característicos dos cli-
mas tropicais. A escolha do vinho branco para
o molho fica ao critério do cozinheiro(a), que
tem total liberdade para optar pelo produto
da sua região ou por uma das muitas varie-
dades que encontra ao seu dispor nas lojas. A
cobertura confere ao prato um toque aveluda-
do e um tempero especial, que torna esta car-
ne ainda mais suculenta. O Filet Mignon com
molho de fígado e café pode ser combinado
com múltiplos produtos. Sugiro que acompa-
nhe com esparguete. Contudo, no Verão po-
de optar por algo mais leve, como uma salada
para contrastar com a espessura do molho.

Se desejarem enviar as vossas receitas


ou comentários a este ou outros pratos,
escrevam para [email protected]

VINHOS & CA. · ANGOLA’IN | 123


| patrícia alves tavares
CULTURA & LAZER | patrícia alves tavares

‘Lingua-mater’
Símbolo da identidade de uma nação e característica intrínseca da história e cultura de um povo, a ques-
tão linguística é uma forma de expressão primordial e, portanto, tem merecido especial atenção por parte
dos ministérios da Cultura e da Educação. O português é a única língua oficial de Angola. Todavia, além
dos numerosos dialectos, o país possui mais de vinte idiomas nacionais.

Com uma população a rondar os 16,8 “Os problemas que temos enfrentado para suprir esta lacuna da utilização das línguas
milhões de habitantes numa superfície nacionais no sistema de ensino têm sido superados, tendo em conta o trabalho que o
Instituto de Línguas Nacionais tem desenvolvido, nomeadamente de quadros e recur-
de 1.246.700 quilómetros quadrados,
sos financeiros”. O balanço foi proferido pela ministra detentora da pasta da Cultura,
Angola apresenta mais de duas dezenas Rosa Cruz e Silva, que, durante o último seminário respeitante à área do kimbundu,
de línguas nacionais. A este número salientou ser fundamental a inclusão das línguas nacionais no sistema de ensino, de
acrescente-se os múltiplos dialectos modo a valorizar e preservar o símbolo da identidade e diversidade cultural. O tema tem

124 | ANGOLA’IN · CULTURA & LAZER


estado no centro da discussão pública, devi- aos seis idiomas nacionais: kikongo, kimbundu, O kikongo é usado no Norte, sobretudo no Uí-
do aos apelos das entidades governamentais umbundu, tchokwe, ngangela e Kuanhama. Em ge e Zaire e detém vários dialectos. Era a lin-
para que haja uma reflexão profunda sobre as 2008, o projecto foi alargado aos alunos do se- guagem do antigo Reino do Congo. Na mesma
múltiplas línguas, sobretudo ao nível da sua gundo ano e conforme as elações retiradas des- região, na província de Cabinda fala-se o fiote
inclusão nos planos escolares, com vista à sua ta experiência, prevê-se que no futuro, o ensino ou ibinda. No Leste, o tchokwe é dominante e
revalorização. O último encontro dedicado a seja alargado a todos os anos. Por outro lado, é responsável pela maior expansão por todo
esta questão, decorreu no final de 2008, que o corpo docente possui professores e super- o território angolano, desde Lunda Norte até
reuniu especialistas nacionais e estrangeiros. visores capazes, que contam com o apoio do ao Cuando Cubango. De origem bantu, no país
Na abertura do III congresso, a ministra da Instituto Nacional de Investigação e Desenvol- recorre-se ainda ao kwanyama, ao nyaneca e
Cultura enalteceu a durabilidade das línguas vimento da Educação (Inide). ao mbunda. Já no Sul, usa-se outras línguas
nacionais, defendendo a sua preservação e do grupo Khoisan, faladas pelos san, também
divulgação. “Se durante a agressão cultural” conhecidos como bosquímanos. Os vocábu-
imposta pelos portugueses, esta herança so- Cerca de 90 por cento da los nacionais assumem primordial importân-
breviveu, hoje, “mais do que nunca, deve-se população é de origem bantu, cia, uma vez que são as línguas maternas da
envidar todos os esforços para a sua valoriza- cujo principal grupo étnico maioria da população.
ção e, consequentemente, para a consolidação é o dos ovimbundo, que se
da identidade cultural angolana”, defendeu a
concentram no centro-sul de A principal batalha do
governante. Por outro lado, a multiplicidade
Angola e se expressam em ministério, em colaboração
linguística permite a inter-comunicação en-
tre as comunidades, assumindo um papel de
umbundu, a língua nacional com a área da Educação,
peso no mosaico sócio-cultural e no desen- com maior número de falantes está relacionada com a
volvimento das respectivas sociedades. Nes- introdução de mecanismos
se sentido, a principal batalha do ministério, LÍNGUAS E DIALECTOS de aprendizagem das línguas
em colaboração com a área da Educação, está Com uma população a rondar os 16,8 milhões
nacionais “não só no sistema
relacionada com a introdução de mecanismos de habitantes numa superfície de 1.246.700
de ensino de base, mas
de aprendizagem das línguas nacionais “não quilómetros quadrados, Angola apresenta
mais de duas dezenas de línguas nacionais. A
também no superior, como
só no sistema de ensino de base, mas tam-
este número acrescente-se os múltiplos dia- forma de permitir que todos
bém no superior, como forma de permitir que
lectos. Contudo, as formas de expressão mais os angolanos possam ter
todos os angolanos possam ter um profundo
domínio das mesmas”. praticadas são o umbundu (Centro), o kim- um profundo domínio das
bundu, o kikongo e o fiote (Norte) e o tchokwe mesmas”
MÚSICA E LITERATURA: (Leste). O português é a língua oficial e com
VEÍCULOS DE TRANSMISSÃO mais falantes. Segue-se o umbundu, proferi- VALORIZAR ETNIAS
Os compositores e os escritores são os veícu- do em muitos meios urbanos e no centro-sul A importância de preservar e divulgar cada
los privilegiados para incutir os valores cultu- da região, consistindo na língua materna de modo de expressão linguística prende-se com
rais e linguísticos na vida social e institucional, 26 por cento da população. a cultura e tradição subjacentes a cada povo.
através da concepção de textos que exaltem As línguas nacionais contam a história de tri-
as raízes nacionais. As entidades estatais têm UMBUNDU É O MAIS EXPRESSIVO bos específicas. Cerca de 90 por cento da po-
procurado ao longo dos anos incentivar os in- Falado em Bié, Huambo e Benguela, o umbun- pulação é de origem bantu, cujo principal grupo
vestigadores, estudiosos, artistas, criadores e du é das línguas Bantas e mesmo nacionais étnico é o dos ovimbundo, que se concentram
principalmente músicos e interpretes a reflec- mais praticadas em todo o país. Aliás, em con- no centro-sul de Angola e se expressam em
tirem sobre o património linguístico angolano, sequência do êxodo para a capital e da emi- umbundu, a língua nacional com maior núme-
pretendendo-se com isto implantar a unidade e gração, é igualmente usado em Luanda e em ro de falantes. Na zona centro-norte, residem
preservar os valores da cultura nacional. Em re- Portugal. Muitas palavras deste idioma foram os ambundo, que falam o kimbundu e na área
lação ao sistema de ensino, os dados referentes transmitidas para a língua portuguesa fora de do Uíge e Zaire concentram-se os bacongos
ao último ano lectivo demonstram que o projec- Angola, sobretudo para o Brasil. Linguagem que comunicam através dos dialectos do ki-
to de implementação gradual das línguas nacio- usada no comércio, é utilizada na Rádio Nacio- kongo. Estas e outras linguagens adquiriram
nais no plano curricular está no bom caminho. nal de Angola e usada em projectos de alfabe- o estatuto de línguas nacionais após a inde-
Iniciado em 2007, em determinadas províncias, tização, possuindo alguma proximidade com o pendência, que actualmente coexistem com
o projecto experimental abrangeu 4500 alunos Nkhumbi, o Ndombe e o Nyaneka. o idioma português como veículos de comu-
na primeira classe e disponibiliza os materiais nicação e expressão. Aliás, o Instituto de Lín-
didácticos necessários. O intuito relaciona-se KIMBUNDU E OUTRAS LÍNGUAS guas Nacionais fixou normas ortográficas dos
com a necessidade de inclusão de todos os ha- É a terceira mais praticada (20 por cento), dialectos para instituir o seu estudo e até os
bitantes na sociedade angolana, de forma a es- especialmente no eixo Luanda-Malanje e no media recorrem a estas formas de comunica-
tarem dotados para comunicar correctamente Kwanza-Sul. Possui particular relevância por ção. É o caso da emissora de rádio Ngola Yetu
na língua oficial (português), bem como na lín- ser a língua da capital e do antigo reino dos (Nossa Angola, na língua kimbundu), que dia-
gua materna, que varia entre regiões. A primei- N’gola, tendo estado na base de muitos dos riamente emite programas e notícias em sete
ra intervenção ocorreu nas províncias veiculadas vocábulos da língua portuguesa e vice-versa. línguas nacionais.

CULTURA & LAZER · ANGOLA’IN | 125


CULTURA & LAZER BREVES | patrícia alves tavares

música
Ary arrasa no
“Road Show Blue 2009”
A revelação do panorama musical foi cabeça de
cartaz de uma série de espectáculos que percor-
reram dez províncias. Ary, a par do DJ Big Renas,
sucede o grupo Kalibrados e Anselmo Ralph, que,
no ano anterior, animaram diversas cidades, atra-
vés da sua participação no “Road Show Blue”. Este
é um projecto cultural promovido pela Refriango,
através da sua marca Blue e que vai na terceira edi-
ção. Este ano, os concertos tiveram início em Maio
teatro e terminaram no final deste mês em Luanda.
Hoji Fortuna em Nova Iorque
Desde Janeiro o destino do actor angolano passa pelos palcos americanos. Hoji Fortuna par-
ticipará nas peças teatrais “The Tale of the Allergist’s Wife” e “Young Pugilist”, da autoria
Liceu Vieira Dias
do dramaturgo Charles Busch. A primeira entrou em cena a 8 de Maio, no Queens Theatre homenageado
in the Park, e conta a história de Marjory Taub, uma mulher judia de meia idade da classe O ex-integrante dos Ngola Ritmos foi recente-
alta de Nova Iorque, na qual o actor angolano desempenha o papel de novo amor da prota- mente homenageado numa gala que decorreu
gonista. “Young Pugilist” estreou em finais de Maio e baseia-se na vida do pugilista pesado em Luanda, no Cine Tropical. O evento ultrapas-
Alonza Knowles. O jovem talento tem vindo a acumular sucessos na televisão portuguesa, sou todas as expectativas, pelo que a agência
onde se lançou em 2001. No início do ano, Hoji Fortuna integrou o elenco de “Two Gentle- Angola África Fashion está a ponderar gravar um
men of Verona”, de William Shakespeare, que esteve em cena em Nova Iorque. disco e um DVD com os principais temas de Liceu
Vieira Dias. O director da empresa, Gil Costa reve-
lou ainda que, além do material fonográfico, a en-
Enigma grava DVD tidade planeia publicar um livro com as memórias
Com o intuito de apresentar ao público a peça vencedora do Prémio de Teatro Cidade de Luanda do “mestre”. “O nosso projecto, no momento, é
(edição 2009), o grupo Enigma Teatro vai gravar “A Grande Questão”, no Cine Atlântico (Luan- ainda extenso a Liceu Vieira Dias. Agora estamos
da). O DVD, que deverá chegar em breve às lojas, foi produzido pela Movie-Produções e contou com a responsabilidade do CD, DVD e livro, onde
com a actuação do grupo ao vivo. “Estamos a produzir cinco mil exemplares para a venda ao vamos relatar a vida e obra dele”, assegurou Gil
público ao preço de dois mil kwanzas”, adiantou Tony Franpênio, director artístico do Enigma Costa, não descartando a hipótese de homena-
Teatro. A peça “A Grande Questão”, que agora estará disponível em formato digital, aborda as- gear outros artistas. No presente, a agência es-
pectos sociais, económicos e históricos de Luanda, em que a componente da sensibilização não tuda a hipótese de levar a França o elenco que
foi esquecida. O grupo teatral está no activo desde 1987 e integra jovens dos 18 aos 38 anos. participou na gala e onde o disco será editado.

exposição
Luanda acolhe galeria de arte
A galeria Kozy Arte, inaugurada em Maio, é já encarada como um ponto de encontro de artis-
tas africanos, especialmente entre os criadores de Angola, Senegal, Lesoto, Burundi e Gabão.
Localizado no município da Ingombota, o novo espaço tem como propósito a exposição e co-
mercialização das obras africanas. O responsável da galeria, Aicha Hakoum, esclareceu que o
organismo valoriza os objectos únicos e as pequenas séries de arte que demonstrem a criativi-
dade dos autores. Por seu lado, o pintor Hildebrando de Melo “HM” recordou que na Kozy Arte
os criadores nacionais têm uma oportunidade única para manter contacto com a arte da África
Meridional, que embora seja similar à angolana ainda é pouco conhecida.

126 | ANGOLA’IN · CULTURA & LAZER


· ANGOLA’IN | 127
PERSONALIDADES | patrícia alves tavares

“Novo Homem
Angolano”
É membro do Conselho Científico do Ministério da
Cultura de Angola e curador da Fundação Eduardo dos
Santos. Jorge Gumbe, artista plástico, possui um vasto
currículo na área das artes. A sua obra não se resume
à pintura. Aos 50 anos, este ícone angolano tem um
percurso diversificado, que abarca cargos em organizações
nacionais e internacionais, actividades de direcção e
de docência, possuindo mais de dez artigos sobre arte
publicados em diferentes revistas, catálogos e jornais em
Angola, Reino Unido e Portugal. Aliás, é entre estes países
que o criador divide o seu tempo. O Prémio Nacional de
Cultura e Arte do Governo de Angola (2005) fez a análise
do mercado artístico nacional, em entrevista à Angola’in.

Como retrata o seu percurso? necessidade de registar o meio envolvente do se sobrepõem numa espécie de palimpsestos
Qual o trabalho que mais o marcou? interior de Angola, na vila do Golungo Alto e no literários e pictográficos.
O meu percurso caracteriza-se em vários mo- Ngongembo, onde o meu pai era enfermeiro.
mentos seguindo a trajectória dos desenvolvi- As suas raízes estão presentes nas criações?
mentos político e social do pós independência Em que se inspiram as suas criações? A minha última exposição é uma espécie de
de Angola. Considero-me um artista que faz Nasci e cresci no interior de Angola, rodeado manifesto. Quero alertar o público para a ur-
parte destes desenvolvimentos. O projecto de animais domésticos e selvagens, flores- gência de Angola não deixar de cultivar os
que mais me marcou foi a minha última ex- tas com magia, rios, cascatas. À noite ouvia seus mitos e sonhos, aspectos importantes
posição “Mitos e Sonhos”, concretizada em provérbios, fábulas e histórias fantásticas da para a sua existência. Desejo contribuir para
2005. Foi fruto de um trabalho sofrido, me- cultura local, em língua kimbundu, à volta de um questionamento da sociedade angolana e
tódico, sistematizado e elaborado ao longo de fogueiras. Reconheço que cresci rodeado de reflectir o seu passado, o património cultural
dez anos, que antes de sair a público foi re- um mundo maravilhoso. Vou procurar inspira- e histórico e poder usá-lo para perspectivar o
flectido com base em discussões em vários ção às memórias da minha infância, das histó- seu enquadramento na sociedade moderna e
espaços (particularmente académicos) em rias sobre seres misteriosos e, nestes últimos contemporânea, afirmando-se com uma iden-
Angola e no exterior. Foi uma experiência mui- anos, tenho pesquisado o significado mítico tidade própria no mundo cada vez mais glo-
to interessante, que me motivou a continuar do embondeiro e da Kyàndà, a divindade das balizado. Utilizando a metáfora, a minha obra,
nesta perspectiva. É necessário que o artista águas, para as populações da Ilha de Luanda apesar de se basear na cultura tradicional, está
africano, como me identifico, assuma as suas e com outras designações no imaginário po- contextualizada aos problemas da sociedade
responsabilidades perante o mundo e dê uma pular angolano. A sua forma convida-me pa- actual. Existe em Angola um rico património
outra visão do artista contemporâneo e, so- ra o fantástico, para uma viagem no espaço, cultural, resultante da interculturalidade que
bretudo, de África. provoca-me a despoletar uma imaginação pa- hoje se confronta com outros desafios, nome-
ra além do real, que me permite criar tempos e adamente com o da integração num mundo
Quando descobriu a vocação temporalidades, recriar mitos que, por vezes, global, determinante na construção da socie-
para o mundo artístico? dade angolana actual e cujos efeitos estão na
Desde criança que sempre manifestei vocação base de muitos debates não pacíficos. Defi-
para as artes. Desenhava com lápis de cera, os
“Defino a minha obra no a minha obra como uma obra feita por um
professores na escola primária e os colegas fi- como uma obra feita por africano com uma visão aberta ao mundo, on-
cavam admirados, pelos traços e pelo conte- um africano com uma de se pode observar um reencontro entre vá-
údo harmónico das cores. Sentia uma grande visão aberta ao mundo” rias culturas, tendo em conta a minha vivência

128 | ANGOLA’IN · PERSONALIDADES


e experiência de vida nos vários continentes: o Como analisa O que pode ser feito no âmbito cultural?
africano, o europeu e o americano. o panorama artístico angolano? Primeiro é preciso aglutinar os agentes, pro-
Se compararmos com alguns países da região dutores e outros, que de alguma forma estão
Tem agendada africana, como na SADC (por exemplo a Áfri- ligados às artes para uma reflexão profunda
alguma exposição em Angola? ca do Sul, o Egipto e o Senegal), o espaço das e avaliar todo o trabalho já desenvolvido. A
Tenho agendado uma exposição para 2010. artes visuais em Angola é ainda muito redu- partir daí, deve traçar-se estratégias para a
Penso que vai dar início a uma nova fase da zido. Circunscreve-se apenas a Luanda, a ca- implementação de projectos concretos ao
minha criação artística. pital. Noutras cidades a prática artística e a nível da extensão do país para o sector da
sua promoção é nula. Não se pode considerar cultura poder auxiliar e promover uma políti-
ainda que exista uma crítica de arte continua ca cultural de apoio às artes, para o incentivo
“Não se pode em Angola, há falta de revistas de arte, bem à formação artística (que deve ser prioritá-
como de espaços em jornais e programas dos rio), à produção artística, à promoção, à cria-
considerar ainda que
media de uma forma periódica. Por outro lado, ção de infra-estruturas para as mesmas e à
exista uma crítica há falta de especialistas para dinamizarem es- internacionalização dos artistas angolanos.
de arte contínua em ta tarefa. Quer dizer que os artistas que vivem
Angola, há falta de em Angola, na sua grande maioria, trabalham Existe dinamização do sector?
revistas de arte, bem ainda para o mercado exterior. Passados trin- O sector da cultura tem desde 1975, o ano
como de espaços em ta e quatro anos, não existe nenhuma esco- da independência de Angola, feito o pos-
la superior de arte. Existe apenas uma escola sível, condicionado aos desenvolvimentos
jornais e programas
de nível médio em Luanda, mas que não cor- político e social. Na minha opinião, a dinami-
dos media de uma responde às demandas dos jovens angolanos, zação da cultura necessita em primeiro lu-
forma periódica” mesmo os da capital que pretendem iniciar-se gar de investimento financeiro, sem o qual
formalmente. não é possível implementar projectos. Outro
Projectos para o futuro… aspecto importante está na formação dos
Estou no final do meu doutoramento e pers- agentes culturais, desde os artistas, ges-
“Passados trinta
pectivo para o próximo ano iniciar uma nova tores, promotores, críticos de arte e outros,
fase da minha vida. Concentrar-me mais na
e quatro anos, não através de um sistema de formação coeren-
família e na área em que me especializei, a in- existe nenhuma escola te e eficaz, de acordo com o contexto sócio-
vestigação científica e a criação artística. superior de arte” cultural de Angola.

PERSONALIDADES · ANGOLA’IN | 129


PERSONALIDADES

metodologias de ensino e tecnologias artísti-


cas. Esta estratégia seria um primeiro passo
para levar a formação ao país inteiro, para de-
pois numa forma faseada se ir instalando esco-
las do nível secundário ao universitário.

Que conselho daria a quem está a iniciar


uma carreira na área cultural?
Há que ter em conta que é uma área em que é
necessário muita paciência. Os resultados não
são imediatos, levam tempo, tem que respei-
tar e cumprir com as etapas e trabalhar muito.
Para tal, deve estar sempre aberto em actuali-
zar-se. Aprendemos todos os dias. Ouvir sem-
pre e ser humilde significa respeitar a ética e a
deontologia profissional.

“A arte, entre outras


Há mercado nacional e internacional tes plásticas, em particular. Tem motivado di-
para a produção angolana? versas reacções positivas, tendo em vista o
qualidades, é um
A partir do período pós 2002, começa a exis- mecenato cultural em Angola. Também a sua vector universal para
tir um mercado de arte composto apenas por acção vem encorajar os artistas a produzirem a compreensão mútua,
instituições oficiais e algumas privadas, como e os coleccionadores nacionais a investirem o intercâmbio e a
empresas de grande porte e bancos. Quanto a mais em arte angolana. Até ao surgimento tolerância”
personalidades individuais, o número é bastan- do ENSA-Arte, na República de Angola, não
te reduzido, não sendo mais do que meia dú- obstante as inúmeras actividades culturais a Como assiste ao desenvolvimento
zia. Mas já é um grande passo se compararmos nível institucional e oficial, desenvolvidas de económico e social dos últimos anos?
com os anos anteriores. Entretanto, existem uma maneira geral para assinalar efemérides Para quem esteve sempre em Angola, par-
poucas galerias, mas nem todas funcionam a nível nacional (tais como espectáculos mu- ticipou e acompanhou todos os desenvolvi-
com o profissionalismo a que se impõem. sicais, de danças “tradicionais” ou de teatro), mentos que o país viveu vê que há de facto
os incentivos oficiais sempre foram escassos crescimento. Embora não no ritmo em que es-
“A dinamização da cultura para a realização de actividades na área das perávamos porque o ser humano quer sempre
artes plásticas. O ENSA-Arte, desde a sua mais, o que é bom no sentido positivo, pois
necessita em primeiro criação, tem mostrado uma boa parte da rica só assim enfrentamos os desafios. Desde o
lugar de investimento diversidade artística e cultural de Angola. Es- ano 2002, há uma grande evolução, tendo em
financeiro, sem o qual não te Prémio evidencia-se como um veículo para conta as prioridades do governo na reconstru-
é possível implementar a promoção e difusão da arte contemporânea ção e reconciliação, na edificação da nação, na
projectos” angolana a nível nacional e internacional e transformação, na coerência social, na rectifi-
surge num momento preciso para dar um im- cação do passado, no desenvolvimento sus-
Ao nível dos jovens, há qualidade para pulso e alento às artes plásticas angolanas. tentável, na provisão de bens básicos (água,
vingarem no plano internacional? abrigo, electricidade, comida) e tem provado
Existem alguns jovens que têm dado mostra “O ENSA-Arte, desde a que a paz veio para ficar. Estamos cansados
de seriedade e capacidades, mas é preciso que sua criação, tem mostrado de guerra. Mas, há ainda muitíssimo trabalho
haja suporte institucional para que os mes- para fazer, sobretudo na mudança das menta-
uma boa parte da rica
mos possam desenvolver o seu talento, dan- lidades e, por outro lado, é preciso um maior
do-lhe oportunidades para melhorar as suas
diversidade artística e investimento na educação, cultura e saúde.
habilidades artísticas. Para tal, é necessário cultural de Angola” A arte pode dar um grande contributo nesse
que se crie uma política de formação artísti- processo de reconstrução do país e ajudar na
ca nos âmbitos formais e informais. Porque Para se tornar num artista excepcional mudança de mentalidades para a formação de
a técnica é importante para a criação de uma basta ter talento ou a formação é indis- um Homem Novo Angolano. Pois, a arte, entre
obra de arte. pensável e decisiva? outras qualidades, é um vector universal para
As duas vertentes são importantes. Uma com- a compreensão mútua, o intercâmbio e a tole-
É comissário do ENSA-Arte. O prémio é im- plementa a outra. A formação não significa que rância. A promoção das suas expressões numa
portante para motivar os futuros artistas? tenha de ser só numa academia de arte. Temos perspectiva endógena permite que as pessoas
O ENSA-Arte, que dura há cerca de 20 anos e vários exemplos, sobretudo em África, de que sejam abertas, compreendam o outro, aceitem
vai já na 10ª edição (que será em 2010), tem pode ser informal, através de workshops, nu- a expressão dos outros em harmonia e que se
revelado ser uma referência na definição de ma forma sistemática e ministrada por espe- predisponham ao diálogo, ao entendimento
políticas de apoio às artes, no geral, e às ar- cialistas com um conhecimento profundo nas humano, social, cultural e económico.

130 | ANGOLA’IN · PERSONALIDADES


ISSN 1647-3574

ano ii · revista nº07 · jul /ago 2009


350 kwanzas · 4,50 usd · 3,25 euros
Economia & Negócios · Sociedade · Turismo Arquitectura & Construção · Inovação & Desenvolvimento · Luxos · Desporto · Cultura & Lazer · Personalidades

REVISTA Nº07 · JULHO / AGOSTO 2009


CiberguerraUma nova geração de armas online permite sabotar centrais eléctricas,
telecomunicações, sistemas de aviação ou congelar mercados financeiros
de outros países. Num mundo onde já não se aplicam as regras
dos conflitos tradicionais conheça a nova realidade

o chanceler
do progresso
BDA é o grande impulsionador
do sector privado no continente.
Em cada dólar investido consegue,
através de leasing, angariar 3 a 4
dólares suplementares. Um exemplo
de determinação
NOVOS
EXECUTIVOS
bastonário da ordem Descubra as 6
dos arquitectos diferenças
Em Grande Entrevista, António Gameiro tece o retrato do país. que podem fazer
Comentários inéditos daquele que é uma das grandes figuras da de si um Líder do
sociedade. Temas de interesse nacional à lupa em discurso directo Futuro

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