História Comportamento e Uso Dos Aços Patináveis

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HISTRIA, COMPORTAMENTO E USOS DOS AOS PATINVEIS NA ENGENHARIA ESTRUTURAL BRASILEIRA

Fabio Domingos Pannoni, M.Sc., Ph.D.1

INTRODUO

Todos os aos contm pequenas quantidades de elementos de liga, tais como carbono, mangans, silcio, fsforo e enxofre, seja porque estes integravam as matrias-primas (minrios e coque) com que foram fabricados, seja porque lhes foram deliberadamente adicionados, para lhes conferirem determinadas propriedades. De modo geral, as adies so pequenas, de no mximo 0,5 a 0,7% da massa total do metal, proporo em que tais elementos no tem qualquer efeito aprecivel sobre a resistncia deste corroso atmosfrica. As pequenas variaes de composio que inevitavelmente ocorrem durante o processo de fabricao do metal tampouco afetam significativamente suas caractersticas [Pannoni e Wolynec (1989)]. Entretanto, existem excees. Sabe-se h mais de 80 anos, por exemplo, que a adio de pequenas quantidades de cobre, fsforo e outros elementos tem um efeito benfico sobre os aos, reduzindo a velocidade em que so corrodos, quando expostos ao ar. Mas o grande estmulo ao emprego de aos enriquecidos com esses elementos chamados aos de baixa liga foi dado pela companhia norte-americana United States Steel Corporation que, no incio da dcada de 1930, desenvolveu um ao cujo nome comercial era Cor-Ten. O ao Cor-Ten foi desenvolvido originalmente para a indstria ferroviria, e sua grande virtude aparente era permitir a construo de vages mais leves. A propriedade de resistir corroso foi alcanada por casualidade, embora desde o fim do sculo XIX j se conhecessem as influncias benficas do cobre e do fsforo. Em 1958, o arquiteto norte americano Eero Saarinen utilizou-o na construo do edifcio administrativo da Deere & Company, em Moline, no estado de Illinois. O ao foi deixado aparente nessa obra, tendo o arquiteto considerado que a ferrugem que sobre ele se formava constitua por si mesma um revestimento no s aceitvel, como atraente. A partir da, os aos patinveis foram utilizados com sucesso em inmeras obras de arquitetura. Os

Especialista em Engenharia de Proteo Estrutural da Gerdau Aominas S.A.

engenheiros seguiram os passos dos arquitetos e as aplicaes dos aos de alta resistncia e baixa liga resistentes corroso atmosfrica foram se expandindo. Desde o lanamento do Cor-Ten at os nossos dias, desenvolveram-se outros aos com comportamentos semelhantes, que constituem a famlia dos aos conhecidos como patinveis. Enquadrados em diversas normas, dentre as quais as norte-americanas ASTM A242, A-588, A-606 e A-709, que especificam limites de composio qumica e propriedades mecnicas, estes aos tem sido utilizados no mundo todo na construo de edifcios de mltiplos andares, pontes, viadutos, passarelas, defensas, torres de transmisso, edifcios industriais, telhas, etc. Sua grande vantagem, alm de dispensarem a pintura em certos ambientes, possurem uma resistncia mecnica maior que a dos aos estruturais comuns. Em ambientes extremamente agressivos, como regies que apresentam grande poluio por dixido de enxofre ou aquelas prximas da orla martima, a pintura lhes confere uma proteo superior quela conferida aos aos comuns. No Brasil, aos desse tipo encontram tambm grande aceitao entre os arquitetos. Alm de inmeras pontes e viadutos espalhados por todo o pas, formam, por exemplo, a estrutura da catedral de Braslia e do edifcio-sede da Associao Brasileira de Metalurgia e Materiais (ABM), em So Paulo.
DESEMPENHO DOS AOS PATINVEIS

O que distinguia o novo produto dos aos comuns, no que diz respeito resistncia corroso, era o fato de que, sob certas condies ambientais de exposio, ele podia desenvolver em sua superfcie uma pelcula de xidos aderentes e protetores, chamada de ptina, que atuava reduzindo a velocidade do ataque dos agentes corrosivos presentes no meio ambiente. A figura 1 mostra as curvas tpicas de avaliao da resistncia corroso de um ao patinvel e de um ao carbono comum expostos s atmosferas industrial, urbana, rural e marinha [Pannoni et al. (1993)]. Durante os primeiros anos de exposio

atmosfera, a perda de massa metlica por unidade de superfcie cresce segundo uma funo potncia do tipo m = kt 1 n onde m a perda de massa por unidade de superfcie (mg/cm2), k e

n so constantes e t

o tempo de exposio, em meses. A tabela 1 traz os

valores experimentais dessas constantes experimentais.


DO QUE DEPENDE A FORMAO DA PTINA?

A formao da ptina funo de trs tipos de fatores. Os primeiros a destacar esto ligados composio qumica do prprio ao. Os principais elementos de liga que contribuem para aumentar-lhe a resistncia frente corroso atmosfrica, favorecendo a formao da ptina, so o cobre e o fsforo. O cromo, o nquel e o silcio tambm exercem

efeitos secundrios [Pannoni e Marcondes (1991)]. Cabe observar, no entanto, que o fsforo deve ser mantido em baixos teores (menores que 0,1%), sob pena de prejudicar certas propriedades mecnicas do ao e sua soldabilidade.
Atmosfera Industrial - Cubato, S.P. 160 120 80 40 0 ASTM A36 ASTM A242 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 120 Tempo, meses 160 120 80 40 0 ASTM A36 ASTM A242 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 120 Tempo, meses Atmosfera Marinha - Bertioga, S.P.

Perda de Massa, mg/cm

Atmosfera Urbana - Santo Andr, S.P. 160 120 80 40 0 ASTM A36 ASTM A242 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 120 Tempo, meses 160 120 80 40 0

Perda de Massa, mg/cm

Atmosfera Rural - Itarar, S.P.

Perda de Massa, mg/cm

Perda de Massa, mg/cm

ASTM A36 ASTM A242

10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 120 Tempo, meses

Figura 1. Resistncia corroso de um ao patinvel (ASTM A242) e de um ao carbono comum (ASTM A36) expostos s atmosferas industrial (Cubato, S.P.), marinha (Bertioga, S.P.), urbana (Santo Andr, S.P.) e rural (Itarar, S.P.) [Pannoni et al. (1993)]. A medida feita em termos da perda de massa metlica em funo do tempo de exposio em meses.

Tabela 1. Constantes k e n , obtidas atravs da exposio atmosfrica, por trs anos, de um ao carbono (ASTM A36) e um ao patinvel (ASTM A242) em atmosfera industrial, marinha, urbana e rural [Pannoni et al. (1993)]. Durante os primeiros anos de exposio atmosfera, a perda de massa metlica por unidade de superfcie cresce segundo uma funo potncia do tipo

m = kt 1 n onde m a perda de massa por unidade de superfcie (mg/cm2), k e n

AO ASTM A36 ASTM A36 ASTM A36 ASTM A36 ASTM A242 ASTM A242 ASTM A242 ASTM A242

MEIO industrial marinho urbano rural industrial marinho urbano rural

k 28,991 6,462 11,450 2,038 19,886 9,583 11,257 3,414

n 0,634 0,274 0,513 0,462 0,655 0,512 0,594 0,618

so constantes e

t o tempo de exposio, em meses.

Em segundo lugar vm os fatores ambientais, entre os quais sobressaem a presena de dixido de enxofre e de cloreto de sdio na atmosfera, a temperatura, a fora (direo, velocidade e freqncia) dos ventos, os ciclos de umedecimento e secagem, etc. Assim, enquanto a presena de dixido de enxofre, at certos limites, favorece o desenvolvimento da ptina, o cloreto de sdio em suspenso nas atmosferas martimas prejudica suas propriedades protetoras. No se recomenda a utilizao de aos patinveis no protegidos em ambientes industriais onde a concentrao de dixido de enxofre atmosfrico seja superior a 250g/m3 e em atmosferas marinhas onde a taxa de deposio de cloretos exceda 300mg/m2/dia [Corus (2001)]. As figuras 2 e 3, retiradas de CETESB (2001), mostram os valores mdios anuais medidos de dixido de enxofre atmosfrico na cidade de So Paulo e em algumas localidades do interior do estado. Pode-se observar que os valores encontrados esto bem abaixo do limite de 250g/m3.

Ibirapuera Pinheiros Cerqueira Csar Estaes S. Caetano do Sul Osasco Parque D. Pedro II Centro Congonhas 0 5 10 15 20 25

Concentrao, g/m3

Figura 2. Mdia aritmtica anual (2001) de [SO2] atmosfrico na cidade de So Paulo [CETESB(2001)].

Os ventos, que carreiam agentes agressivos at o local em que se encontra o metal, tem importante efeito sobre os ciclos de umedecimento e secagem, considerados essenciais no desenvolvimento de pelculas protetoras. O efeito da temperatura, embora provvel, ainda no foi claramente caracterizado. Finalmente, h fatores ligados geometria da pea, que explicam por que diferentes estruturas do mesmo ao dispostas lado a lado podem ser atacadas de maneira distinta. Esse fenmeno atribudo influncia de sees abertas/fechadas, drenagem correta das

guas de chuva e outros fatores que atuam diretamente sobre os ciclos de umedecimento e secagem. Assim, por exemplo, sob condies de contnuo molhamento, determinadas por secagem insatisfatria, a formao da ptina fica gravemente prejudicada. Em muitas destas situaes, a velocidade de corroso do ao patinvel semelhante quela encontrada para os aos carbono comuns. Exemplos incluem aos patinveis imersos em gua, enterrados no solo2 ou recobertos por vegetao.

Sorocaba So Jos dos Campos Estaes Cubato (Centro) Paulnia Cubato (Vila Parisi) 0 5 10 15 20 25 30

Concentrao, g/m3

Figura 3. Mdia aritmtica anual (2001) de [SO2] atmosfrico no interior do Estado de So Paulo [CETESB(2001)].

Regies particulares tais como juntas de expanso, articulaes e regies superpostas tem comportamento crtico quanto corroso, tal como ocorre com os aos carbono tradicionais. Os elementos de ligao (chapas, parafusos, porcas, arruelas, rebites, etc.) devem apresentar no s resistncia mecnica compatvel com o ao patinvel, mas tambm compatibilidade de composio qumica, para evitar a formao de clulas galvnicas. Os cordes de solda produzidos na soldagem dos aos patinveis devem possuir composio qumica semelhante dos aos patinveis, evitando a formao de pares galvnicos. A tabela 2 traz alguns pontos que devem ser observados para a maximizao dos benefcios proporcionados pelos aos patinveis, e sua comparao aos aos estruturais de alta resistncia.

O autor verificou, recentemente, uma situao em que, mesmo na falta de ciclos alternados de umedecimento e secagem (adutora dgua enterrada no solo, bem acima do nvel do lenol fretico) o ao patinvel apresentava desempenho superior ao ao carbono comum [Pannoni(2001)].

Tabela 2: Pontos a serem observados para a maximizao das propriedades dos aos patinveis, e a comparao com os aos estruturais de alta resistncia.

AO PATINVEL (ex. ASTM A588 Grau K)

AO DE ALTA RESISTNCIA (ex. ASTM A572 Grau 50)

ELEMENTOS ENTERRADOS NO SOLO ELEMENTOS DE LIGAO

Devero ser pintados.

Devero ser pintados.

Utilizar, em soldagem com arco eltrico, os Os cordes de solda devem possuir composio qumica semelhante eletrodos E 7018 dos aos patinveis, evitando a formao de pares galvnicos. Utilizar, (eletrodo revestido), ER 70 S6 (Mig/Mag), em soldagem com arco eltrico, os eletrodos E7018 W ou E 7018 G F 7AO EM12K (arco (eletrodo revestido), ER 8018 S-G (Mig/Mag), F 7AO-EW (arco submerso) e E 71T8 Ni1 ou E 80T1 W (eletrodo tubular). Para soldagem submerso) e E 70T-1, de mltiplos passes, pode-se utilizar eletrodos de composio qumica E 71-T1 ou E 70T-4 (eletrodo tubular). especial nos dois ltimos filetes, que ficam, em contato com a atmosfera. Para passe simples (1 cordo), pode-se utilizar eletrodos convencionais (haver diluio na poa de fuso).
PINTURA

Elementos de ligao (chapas, parafusos, porcas, etc.) devem ter compatibilidade qumica com o ao patinvel. Utilizar parafusos do tipo ASTM A325 Tipo 3 Grau A, ou equivalente. Parafusos galvanizados devem ser evitados.

Utilizar parafusos do tipo ASTM A 325.

aconselhavel o jateamento da superfcie (mnimo Sa 2), independente Requer tratamento de superfcie e pintura da utilizao ou no de pintura. adequadas cada A pintura dispensvel em atmosferas pouco agressivas, onde a ptina tipo de ambiente. formada com facilidade. A pintura indispensvel onde a concentrao de dixido de enxfre atmosfrico superior a 250 g/m3, onde a taxa de deposio de cloretos superior a 300 mg/m2/dia, ou onde houver acmulo permanente de lquidos.

COMO A PTINA FORMADA? A INICIAO DO PROCESSO DE CORROSO OXIDAO BAIXA TEMPERATURA

O produto de oxidao ao ar e temperatura ambiente do ferro monocristalino, policristalino ou de aos carbono estruturais consiste de duas camadas, uma, interna, contendo Fe2+ e outra, externa, contendo Fe3. interessante observar que os aos patinveis desenvolvem, j nos primeiros estgios de oxidao, pelculas mais espessas, de composio distinta daquelas formadas sobre os aos estruturais comuns [Pannoni (1990)] .

ROOSENDAAL (1999) mostra que a oxidao do ferro, quando feita em presena de vapor de gua, acontece muito mais lentamente do que em atmosfera de oxignio puro, provavelmente devido baixa dissociao das molculas de gua adsorvidas. Baseado na mudana de entalpia que acompanha a adsoro dissociativa ou a adsoro molecular do vapor dgua, PANNONI (2002) prope que a adio de cobre e nquel (e molibdnio) ao ao carbono estrutural acarreta alteraes sensveis na dinmica de quimissoro dissociativa da molcula de gua. Desse modo, no somente somente o decrscimo do efeito tnel retarda o crescimento da pelcula, mas tambm a formao de misturas de Fe2+/Fe3+ na camada de xido. Os resultados sugerem que, aps a quimissoro do oxignio, h a formao de uma camada de FeO que recobre toda a superfcie. Aps este estgio, um outro xido cresce sobre o xido original, e contm Fe3+, mas, possivelmente, algum Fe2+. A estequiometria que melhor se ajusta aos dados experimentais corresponde formao, na camada superior, de uma mistura de -Fe2O3 com FeO. Como resultado, a incorporao de fragmentos de molculas de gua na pelcula de xido pode fornecer o potencial termodinmico para o aumento da corrente inica, levando ao aumento da velocidade de oxidao dos aos patinveis em seus primeiros estgios de exposio.
O MECANISMO MACROSCPICO DA CORROSO ATMOSFRICA DOS AOS PATINVEIS

A etapa seguinte formao das pelculas finas, isto , o seu crescimento e transformao em camadas macroscpicas no tem sido um campo muito estudado, talvez em funo das inmeras dificuldades experimentais encontradas. Alguns autores julgam que as pelculas formadas sejam catdicas em relao ao metalbase. Desse modo, uma trinca na pelcula iniciaria o processo eletroqumico da corroso. Outra possibilidade, seria a existncia de regies catdicas superficiais, tais como certas incluses ou partculas carbonceas, que provocariam a dissoluo andica do metal. Embora haja grande falta de informao sobre a transio microscpico - macroscpico, a formulao de mecanismos que pudessem explicar satisfatriamente os fatos observados na corroso atmosfrica de aos no um fato recente. J no incio do sculo, BUCK (1913) anunciava o efeito benfico do cobre adicionado aos aos e, em um seu trabalho posterior, BUCK (1919) atribuiu ao cobre a funo de combinar-se com o enxfre do ao, tornando-o incuo. Basicamente, a ferrugem constituda por cinco diferentes compostos de ferro: -FeOOH (goethita), -FeOOH (akaganeta), -FeOOH (lepidocrocita), -FeOOH e Fe3O4 (magnetita).

Os xidos predominantes costumam ser - e -FeOOH, e suas quantidades relativas dependem do tipo de atmosfera e do tempo de exposio do espcime. Nas ferrugens formadas recentemente sobre aos expostos a atmosferas que contm dixido de enxofre, o xido predominante a lepidocrocita. medida que a exposio se prolonga, a razo / decresce. Em atmosferas marinhas, em que o eletrlito contm cloretos, est presente a akaganeta, que pode conter na sua constituio mais de 5% em peso de ons cloreto. Alm destes, outros produtos de corroso tem sido encontrados na ferrugem, como gis solveis e insolveis, sulfatos e outros. A ferrugem que se produz sobre a superfcie dos aos comuns compe-se, de modo geral, de duas regies distintas: uma interna, prxima interface ao/ferrugem, constituda principalmente de FeOOH denso, e outra externa, que apresenta cristais pouco agregados de lepidocrocita, de goethita ou de ambas.

Figura 4: A morfologia da ferrugem formada sobre um ao patinvel (ASTM A242) diferente daquela formada sobre um ao carbono comum (ASTM A36). A figura mostra, em corte, ferrugens formadas sobre os dois aos. Os aos patinveis desenvolvem, aps alguns anos de exposio, uma fase amorfa rica em cobre, fsforo, cromo e silcio que isola de modo eficiente o substrato metlico do ingresso de oxignio e da gua, constituintes necessrios manuteno da corroso. A ferrugem formada sobre o ao carbono comum possui trincas macroscpicas, que no impedem a entrada dos constituintes mantenedores do processo corrosivo.

A composio e a estrutura cristalogrfica da ferrugem que se forma sobre os aos patinveis so similares s da ferrugem gerada sobre o ao carbono. A goethita e a lepidocrocita esto presentes em ambos, em propores similares. Nos primeiros, contudo, constata-se a presena, na interface metal/ferrugem, de uma nova fase, amorfa, rica daqueles elementos de liga neles presentes, como o cobre, o fsforo e outros. justamente essa camada que, limitando o suprimento de gua, oxignio e estimuladores de corroso superfcie metlica, inibe a dissoluo desta, reduzindo drasticamente a velocidade com que

sua corroso se processa. Segundo vrios autores, -FeOOH o principal constituinte da pelcula interna, que se forma ao longo de exposies prolongadas do material atmosfera. O mecanismo de corroso dos aos patinveis ainda objeto de intensas pesquisas no mundo todo e tambm no Brasil. Uma teoria proposta por um pesquisador brasileiro, bem aceita sobre esse processo, que encontrou grande receptividade [Miranda (1974)] admite que, quando o ao patinvel exposto uma atmosfera sulfurosa, a ciclos de umedecimento/secagem e temperaturas relativamente baixas (aproximadamente 20oC), a camada de ferrugem constituda esencialmente de lepidocrocita. A exposio a temperaturas mais elevadas (35 60oC) favorece a formao, sob a camada de lepidocrocita, de uma camada interna isotrpica, constituda essencialmente de -FeOOH amorfo. Quando submetido a essas temperaturas, os elementos de liga (notadamente o cobre) comeam a se dissolver no interior das clulas de corroso. Esses elementos inibem a formao da magnetita, que no protetora, ao mesmo tempo em que catalizam a formao do xido amorfo, protetor, na interface metal/ferrugem. Essa camada, muito pouco porosa, isola o metal dos constituintes agressivos existentes na atmosfera, como a gua, o oxignio e ons exgenos. Portanto, quando os elementos de liga no podem penetrar na ferrugem (isto , sob temperaturas baixas), ou quando o ao no os contm caso do ao carbono comum ocorre a formao da magnetita, e no do -FeOOH protetor, e a corroso prossegue.
A PINTURA DOS AOS PATINVEIS

O desempenho de um sistema de pintura aplicado sobre o ao patinvel costuma ser superior ao mesmo sistema aplicado sobre os aos carbono estruturais tradicionais, desde que o ambiente promova a formao da ptina. A durabilidade desse sistema costuma ser superior soma das durabilidades propiciadas isoladamente pela proteo do revestimento e pela natureza do material, isto , h sinergia dos mecanismos. Uma eventual falha no revestimento levar formao de produtos de corroso bem menos volumosos do que aqueles formados sobre os aos comuns, o que diminui em muito o problema do destacamento da pelcula de pintura, aumentando a durabilidade do revestimento. A figura abaixo mostra dois espcimes de ao laminados a quente, um ASTM A36 e um ASTM A242 expostos por 48 meses em atmosfera industrial de Cubato, S.P.. Estes aos foram jateados com granalha de ao (padro Sa 3) e pintados com duas demos de tinta epximastic (300m de espessura); aps a secagem, foi feito o entalhe na tinta e subseqente exposio atmosfrica.

Podemos observar que o ao carbono comum produziu um grande volume de produtos de corroso e danificou a pintura. J o ao patinvel, no mesmo perodo, produziu menor volume. A tinta est ntegra e continua a oferecer proteo contra a corroso. O ao protegido pela tinta e, mesmo quando alcanado pelo oxignio e gua

atmosfricos (por difuso), acaba por produzir um volume de xidos consideravelmente menor do que o gerado sobre o ao carbono, e que no chega a destruir a pelcula. Por esse motivo, mesmo formando xidos, a durabilidade da proteo maior do que no caso do ao carbono. A corroso no ao patinvel ficou circunscrita regio dos cortes.
CONDIES PARA A FORMAO DA PTINA PROTETORA

Conforme dito anteriormente, a formao da ptina protetora funo de vrios fatores tais como os parmetros climticos e nveis de poluio do local onde a estrutura est exposta, do grau de abrigo de uma dado componente estrutural e da prpria composio qumica do ao. De modo geral, a velocidade de corroso dos aos patinveis estabilizada na maior parte das atmosferas aps trs ou quatro anos de exposio. Uma condio importante para a formao da ptina protetora a existncia de perodos de umedecimento e secagem alternados. Em reas abrigadas da chuva, a ptina marrom escura avermelhada no normalmente obtida e a superfcie metlica fica recoberta por uma camada de ferrugem de colorao marrom amarelada que, menos protetora do que a ptina bem formada, mas mais compacta e aderente do que aquela formada sobre o ao carbono comum na mesma condio. Quando mencionamos os aos carbono, referimo-nos aos aos carbono estruturais de alta resistncia (por exemplo, o ASTM A572) equivalentes aos aos patinveis em resistncia mecnica, usados para a mesma finalidade Em exposies internas (tais como aquelas existentes no interior de uma edificao), nenhuma diferena sistemtica tem sido observada entre os aos patinveis e os aos carbono estruturais comuns. As baixas velocidades de corroso observadas em ensaios comparativos entre aos patinveis e aos estruturais comuns so devidas primordialmente baixa corrosividade do meio e no devido composio qumica diferenciada do ao. Em reas rurais a velocidade de corroso tambm normalmente pequena tanto para os aos

carbono estruturais quanto para os aos patinveis e o perodo de tempo necessrio para o desenvolvimento de uma ptina protetora e de boa aparncia pode ser muito longo. Em reas urbanas onde os teores de dixido de enxofre no excedem cerca de
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g/m , os aos patinveis apresentam, muitas vezes, velocidades de corroso estabilizadas em valores muito prximas daquelas observadas para estes aos quando expostos em atmosferas rurais. Nesta condio, os aos carbono estruturais apresentam velocidades de corroso significativamente maiores do que aquela observada para os aos patinveis. Em reas industriais mais poludas com os xidos de enxofre (isto , em regies contendo mais do que 250 g/m3), podemos observar velocidades de corroso significativamente maiores para os aos patinveis, indicando que a pelcula formada j no mais protetora. Embora a superfcie possa ter uma aparncia agradvel, marrom escura, de aparncia semelhante quela formada sobre o ao patinvel, ela pode no ser considerada uma ptina verdadeira, pois no isola de modo eficiente o metal do meio. Segundo GULLMAN et al. (1985), atmosferas marinhas so consideradas crticas para o desenvolvimento de boas ptinas protetoras. A ptina no plenamente desenvolvida em ambientes marinhos agressivos, onde a velocidade de corroso pode ser bastante alta. Isto especialmente vlido quando a estrutura se encontra prxima da praia e tambm para superfcies abrigadas da chuva, onde o acmulo de cloretos (que nunca so lavados pela chuva) acaba promovendo um grande ataque. A experincia prtica sueca mostra que, a partir de 1 km da praia, a deposio de cloretos j no afeta de modo significativo a formao da ptina. Esta condio tem sido verificada no Brasil pelo autor. Sob condies de longos tempos de umedecimento (ou umedecimento permanente), como na exposio ao solo ou gua, a velocidade de corroso dos aos patinveis aproximadamente a mesma daquela encontrada para o ao carbono estrutural. Como regra geral, aos patinveis tem sido utilizados em seu estado natural, isto , sem pintura, em ambientes que propiciem o aparecimento da ptina protetora. Excees acontecem quando, por motivos estticos, o ao deva apresentar certa colorao desejada ou nas condies em que o ao no pode desenvolver a ptina, como j visto

anteriormente. Em resumo, podemos afirmar que em situaes onde a formao da ptina no adequada, exigindo o uso de sistemas de proteo (p.ex., a pintura), os aos patinveis e os aos carbono tornam-se praticamente equivalentes na sua aplicao.

BIBLIOGRAFIA

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