GILPIN Resenha

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GILPIN, Robert. War and Change in World Politics.

Re-impressão Cambridge; New


York: Cambridge University Press, 2001.

* Por Vivian Graça Barcellos Barreira

Publicado pela primeira vez, em 1981, War and Change in World Politics, tem
como pando de fundo o declínio da hegemonia dos Estados Unidos ao mesmo tempo que a
União Soviética ainda se mostrava poderosa, pelo menos, militarmente. A posição realista
de Gilpin deriva da Teoria de Política Internacional de Kenneth Waltz, ou seja, como a
natureza do sistema internacional afeta o comportamento dos estados. A força do lado
econômico em sua teoria para explicar a preponderância de um país sobre outros no
sistema internacional é explicado, ao menos em parte, pela sua trajetória acadêmica. O
autor iniciou seus estudos na Universidade de Vermont e atualmente, é pesquisador em
política econômica internacional e professor emérito de política e relações internacionais
na Woodrow Wilson School of Public and International Affairs na Universidade de
Princeton.
Gilpin argumenta nesse livro que o sistema
internacional muda ciclicamente sempre que um ou
mais países assumem a preponderância, forçando
novas regras de governabilidade. Essa mudança dá-se,
na maioria das vezes, através da guerra, que em se
tratando de uma disputa pela hegemonia, ele chama de
guerra hegemônica. O autor não se concentra no que o
país deve fazer para assumir a preponderância, mas
sim no que ocorre para que o país hoje dominante
passe a declinar. Seu argumento central é de que a lei
do crescimento desigual entre os estados (entenda-se
entre o dominante e os demais e entre os próprios não dominantes) determina uma
redistribuição do poder e, em última instância, o conflito hegemônico e um novo sistema
internacional: “The differential rates of growth of declining and rising states in the system
produce a decisive redistribuition of power and result in disequilibrium in the system” (p.
185).
É a primazia do econômico sobre as outras esferas que determinam o crescimento
e desenvolvimento do estado e, consequentemente, sua ascendência no sistema
internacional. O problema é que, no caso do estado que já é dominante, os custos
econômicos do status quo crescem mais rapidamente que as vantagens advindas dessa
liderança. Do outro lado, o estado desafiante possui as condições e os recursos que o
levarão a um crescimento maior. Gilpin parte da idéia comumente aceita de que tão logo a
sociedade se desenvolva plenamente, torna-se difícil ou mesmo impossível qualquer
crescimento posterior. Isso poderia levar a um pleonasmo inútil se o autor não estivesse
pretendendo atingir um objetivo – que é a análise do dilema que passa todas as sociedades
desenvolvidas: quanto mais se desenvolve, maior a demanda e menores são os recursos.
O autor explica os fatores internos que se ligam às necessidades de proteção,
consumo e investimento produtivo, que são responsáveis pelo próprio declínio do poder do
estado. O primeiro dos fatores é a tendência para o crescimento impulsiona qualquer
inovação a um fim, a Lei do crescimento industrial (Simon Kuznets). O segundo é a
tendência para as técnicas militares mais eficientes aumentarem em custo, a “lei do
incremento dos custos da guerra”. Embora, ele advirta que o “warfare state” é menos uma
tendência hoje do que no passado. Não se gasta tanto com o poder militar porque tem-se a
efetividade das armas modernas e a segurança alcançada entre os estados primeiro na Pax
Britanica, depois na Pax Americana. O terceiro fator é o consumo que cresce mais rápido
do que o produto nacional quando uma sociedade torna-se mais afluente. Mesmo os mais
pobres acabam consumindo tanto quanto a elite. Ou o Estado arca com o consumo dos
mais pobres, a Lei de Wagner – Lei de expandir os gastos do Estado. O quarto é a mudança
estrutural no caráter da economia. A economia de cada sociedade evolui para três
diferentes estágios: começa na agrária, passa pela industrial e permanece na madura, onde
a maior parte das atividades são de serviços. Na sociedade madura, a produtividade é
menor do que as industriais. Por último, a corrupção de afluência. Os interesses públicos e
privados divergem quando se alcança a prosperidade econômica. Os fatores externos são
dois: o aumento dos custos de dominação política e a perda de liderança econômica e
tecnológica.
A guerra hegemônica se diferencia das outras guerras porque “such a war involves
a direct contest between the dominant power or powers in an international system” (tal
guerra involve uma contestação direta entre o poder ou poderes dominantes em um sistema
internacional). Além disso, as guerras de hegemonia são conflitos ilimitados, eles são de
uma vez políticos, econômicos e ideológicos em termos de significados e consequências.
Ainda, a guerra hegemônica se diferencia por conta da sua intensidade, alcance e duração.
O autor indica quais teriam sido as guerras hegemônicas ao longo da história. Foram elas: a
Guerra do Peloponeso, a Segunda Guerra Púnica, a Guerra dos Trinta Anos, as guerras da
Revolução Francesa e de Napoleão e a Primeira e Segunda Guerras Mundiais.
Gilpin ainda confere ao conflito hegemônico pré-condições, como o fechamento
de espaço e oportunidades, ele explica que:

“Marxists and realists share a sense of the importance of contracting


frontiers and their significance for the stability and peace of the system.
As long as expansion is possible, the law of uneven growth (or
development) can operate with little disturbing effect on the overall
stability of the system. In time, however, limits are reached, and the
international system enters a period of crisis” (p. 201).

Embora alguns acadêmicos insistam que mudanças históricas afetaram as relações


no que diz respeito à política internacional, Gilpin crê na permanência da essência dessas
relações. As mudanças históricas que ele se refere são: a nova tecnologia de guerra, as
armas nucleares e de destruição em massa; a interdependência econômica e a noção de
sociedade global. Mas, ele afirma, elas não mudaram o modo como as pessoas resolvem o
problema da política internacional, especialmente o problema da guerra.
Gilpin menciona também que o aparecimento do mundo global do qual se falava
naquele momento, talvez já tivesse aparecido com o surgimento do mundo bipolar e
comungando da tese de Waltz, ele também afirma que o mundo bipolar trouxe certa
estabilidade ao sistema internacional. Embora, ele reitere que num mundo nuclear, é
preciso que se busque por uma ordem internacional mais estável. É possível inferir com
isso, que nenhuma estabilidade é suficiente quando a destruição completa é possível.
Ao vislumbrar a perda de hegemonia pelos Estados Unidos, Gilpin acreditava que
vivia-se num período de “eroding hegemony” (tese de Keohane e Nye). Entretanto, ele erra
ao creditar a União Soviética o título de país desafiante: “The Soviet Union is, of course,
the rising challenger, and it appears to be the one power that in the years to come could
supplant the American dominance over the international system (A União Soviética, é
claro, o desafiante ascendente, aparece para ser o único poder que em anos poderia vir a
suplantar a dominação americana no sistema internacional”. (p. 241)
Sem dúvida, a maior contribuição de Gilpin para a Teoria das Relações
Internacionais foi a controversa “guerra hegemônica”. A crítica ao declínio americano de
Susan Strange e a análise que ela fez sobre as estruturas de poder dos Estados Unidos
desmistificaram as premissas sobre as quais a teoria da guerra hegemônica repousa.
Também o desequilíbrio do sistema é contrariado por Keohane, já que para esse, o
fechamento de regimes e instituições contribuem para a estabilidade internacional.1
Concluindo, Gilpin acredita que existem ciclos de guerra e paz. A guerra, depois
da descoberta das armas nucleares, tornou-se perigosa demais. Mas, ainda é a guerra o
mecanismo básico de mudança sistemática na política mundial, até que a humanidade
descubra outro caminho mais pacífico ou se extermine, finaliza o autor.

Bibliografia:

ARMANDI, Stefano. Reading Suggestions: Robert Gilpin ‘s War and change in


world politics. Disponível em http://www.webasa.org/Pubblicazioni/Armandi_2002_3.pdf
Acessado em 02/05/09.

1
Cf. ARMANDI

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