Texto Sobre Desmatamento Zero

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Curso 5- Meio Ambiente

Meio ambiente e desmatamento zero


Texto I - Julho de 2009 Aos produtores rurais, mais do que a ningum, interessa a proteo do meio ambiente e a cessao dos fatores que acarretam as mudanas climticas. A Agricultura e a pecuria so os setores que primeiro sofrem as conseqncias das alteraes do clima, na regularidade das estaes e das chuvas, no regime dos rios e no aumento das pragas e doenas. A produo rural nas reas onde hoje se encontram consolidadas explorando terras j dedicadas h muito produo agrcola ou pecuria no fonte relevante de emisses de CO2, de forma como o so a produo industrial, o transporte, a produo de energia e a vida urbana em geral. Muitas das atividades rurais, ao contrrio, atuam no sequestro de carbono. No entanto, concordamos que a misso de reverter as mudanas climticas deve ser tarefa de todos. Os produtores rurais defendem a modificao de algumas regras do atual Cdigo Florestal. As alteraes que propomos, por si s, no traro efeitos sobre a mudana do clima, porque no implicam na derrubada de uma s rvore de matas as florestas. As regras que desejamos mudar so irrealistas, injustas, contraproducentes e, quando postas em execuo, vo acarretar enormes redues na produo agrcolas nos principais estados produtores.A principal regra que desejamos alterar a que determina, em relao s propriedades atualmente exploradas h tempos, a recomposio florestal das reas de reserva legal e de proteo permanente, o que significa em mdia 30% das reas das propriedades. Esta recomposio irrealista porque busca mudar situaes longamente consolidadas e porque coloca de uma vez na ilegalidade a quase totalidade dos produtores rurais, do Rio Grande do Sul ao Oiapoque, tornando-os criminosos ambientais. A tarefa de fiscalizar e punir nessa escala centenas de milhares de produtores vai demandar toda a estrutura do Estado brasileiro, ou at mais, numa extenso indita no Brasil e no exterior. injusta porque em nome de um benefcio coletivo, imputa exclusivamente ao proprietrio da terra a obrigao e o custo de eliminar a produo e no mais produzir em grande parte dela. contraproducente porque esterilizando parte da fronteira agrcola j explorada e consolidada, vai canalizar as presses por mais produo para reas ainda intocadas e que ainda podero ser desmatadas, nos prprios termos da lei ainda em vigor. E, finalmente, ao reduzir de uma vez a produo em reas onde a eliminao de cobertura florestal se deu h muito tempo, vai afetar severamente a produo atual, com efeitos diretos na reduo do PIB, no aumento da inflao, e no volume das exportaes e dos saldos comerciais, sem falar na desvalorizao da vida de milhes de pessoas ocupadas em toda cadeia produtiva. Consideramos que a proteo do meio ambiente se far mais efetivamente e sem resistncias importantes olhando-se para o futuro e no procurando recriar artificialmente o passado. Nenhum pas do mundo fez isso e nem pretende faz-lo. O que os produtores rurais desejam uma mudana na lei que conserve a produo nas reas j consolidadas, ao mesmo tempo proibindo inteiramente novos desmatamentos na Amaznia e na Mata Atlntica e Pantanal e restringindo severamente, at o limite recomendado por cientistas e tcnicos de conceito, novas exploraes nos demais biomas. Com isso, o balano ambiental do produtor rural ser positivo. Com o fim completo do desmatamento, esperamos que as autoridades ambientais passem a tratar das inmeras outras fonte de emisso de poluentes e dos gases responsveis pelo aquecimento do planeta.

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Meio ambiente e desmatamento zero


Texto II Julho de 2009 Viso Econmica Qual produtor atualmente cumpre integralmente a Legislao ambiental vigente? Quantos hectares de mata teremos que reflorestar? Essa discusso est na mesa e para o setor isto muito bom. Com o desenvolvimento das novas tecnologias, o nvel de produtividade em muito vem aumentando. Inmeros pesquisadores de instituies pblicas estaduais e federais, alm de empresas privadas nacionais e multinacionais, trabalham, diariamente, para o desenvolvimento de novas tecnologias objetivando o aumento de produtividade, por intermdio do uso de defensivos, fertilizantes, equipamentos, variedades e etc. Esse arsenal tecnolgico encontra-se disponvel para os produtores rurais do Brasil. Muitas dessas munies encontram-se paradas nas prateleiras de instituies como a Embrapa, em forma de peridicos, teses e publicaes, espera de oportunidades de serem viabilizadas na aplicao em funo de limitaes financeiras. Com a aplicao de toda tecnologia disponvel, certamente no seria necessrio o desmatamento de nenhum centmetro de mata ou floresta. Por intermdio da ampliao de tecnologia adequada e j disponvel, a rea utilizada atualmente, certamente seria suficiente para a produo de alimentos destinados ao consumo interno e externo, de modo a saciar a fome de toda a populao do Brasil, gerar excedentes para a exportao e supervit da balana comercial nacional e, ainda, auxiliar na reduo da fome de pases do mundo, que so ainda, incapazes de proverem as suas populaes de alimentos em quantidade e qualidade adequadas. Entretanto, para que essa situao se torne realidade, o uso da tecnologia disponvel e adequada para a melhor situao de produtividade, deve corresponder melhor situao de rentabilidade para o setor. A propriedade rural deve ser tratada como uma empresa rural. O alimento produzido resultado do negcio do setor rural e, como tal, realizado para gerar renda e lucro para quem produz e a tecnologia aplicada se d em funo do resultado financeiro esperado e a disponibilidade financeira do empresrio. Independente de ser a mais atualizada e produtiva, mas sim a possvel e mais rentvel. Isto posto, cabe ressaltar que o Brasil no precisa de desmatamento para atingir seus objetivos econmicos. possvel atender a demanda de alimentos interna e externa, com a mesma rea usada para a produo na atualidade. Porm, necessrio, para tal, que o uso da melhor tecnologia disponvel, seja economicamente vivel para o empresrio rural.

Viso Estratgica A legislao ambiental aplicada ao setor rural coloca a maior parte dos produtores rurais na condio de criminosos ambientais. Qual o percentual de produtores rurais que possuem Reserva Legal averbada? Qual o percentual de produtores rurais que fazem adequadamente o Ato Declaratrio Ambiental? Quantas propriedades no pas possuem sua mata ciliar conservada, seja de qual tamanho for? Qual o percentual de propriedades rurais que mantm seu topo de morro intacto?

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Ser que existem meios de produzir, gerar riqueza, pagar impostos e garantir lucro nessas condies? De que forma os produtores brasileiros podero se sentir tranqilos para tomar decises acertadas, usar tcnicas agrcolas adequadas, disputar o mercado internacional e ainda, prever as instabilidades climticas, ou seja, gerenciar os seus negcios, com esta espada sempre apontada para suas cabeas. Resolver esse imbrglio legal ambiental deve ser a prioridade de todos, dos menos aos mais eficientes, dos menos aos mais preparados, dos menos aos mais conscientes, do mini fundio a grande propriedade. Todos esto afetados pela atual legislao ambiental. Ser que precisamos de mais problemas? Desmatamento Zero sim, pelo menos at resolvermos os problemas atuais.

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Artigo I Publicado no Jornal O Estado de So Paulo em 30 de janeiro de 2009.

A insensatez ao metro quadrado


Por Ktia Abreu

A questo florestal no pode ser reduzida a conflito ideolgico. Nem desligada da preservao ambiental. A definio de uma lei eficaz de modelos de zoneamento ecolgico-econmico no pode ocorrer em clima de provocao e irracionalidade. A vantagem que, desta vez, a demagogia no ter interlocutores. Os produtores rurais, visados tradicionalmente pela maioria das propostas sobre reservas legais, recusam a carapua odiosa de inimigos pblicos que sempre lhes foi pespegada. Este um dos pontos em que est sendo mais vigorosa a ruptura da agropecuria brasileira com sua antiga imagem, posto que a defesa intransigente do meio ambiente se tornou a premissa de todas as suas posies. Alis, antes de mais nada, os produtores rurais no aceitam ser tratados como especuladores imobilirios. So agentes econmicos - reais contribuintes do desenvolvimento nacional -, que utilizam a terra como um dos seus insumos. Ou seja, a propriedade legtima no um fim ou instrumento de dominao, mas um meio essencial do processo de produo. Portanto, como tal exige ser considerada, sem fetichismos ou demonizaes. Outra preliminar importante que a agropecuria no quer, no pleiteia, no aceita permisses ou regalias que comprometam o ambiente. A agropecuria brasileira tanto est comprometida com os programas definidos pela ONU para que se atinja a meta de extinguir a fome no mundo at 2015, como est empenhada em reclamar o reconhecimento dos seus servios ambientais, especialmente na reduo das emisses de gs carbnico (CO2). No apenas assume a causa ambientalista, como pretende ver reconhecida como valor econmico - isto , quantificada e avaliada a preos em moeda corrente - sua contribuio aos programas mundiais de preservao. O papel ecolgico dos cultivos reconhecido em pelo menos trs importantes aspectos. Primeiro, pelos efeitos da fotossntese das plantaes. Lavouras de soja, por exemplo, sequestram CO2 tal como ocorre com as coberturas florestais. Segundo, os estabelecimentos rurais, tanto para a defesa do solo quanto para a irrigao, desenvolvem importante papel de gesto dos recursos hdricos, protegendo mananciais e matas ciliares. Em terceiro, finalmente, preserva a biodiversidade por meio da manuteno das reservas legais. Jogados mesa tais argumentos e declaraes de princpios, discutamos objetivamente o problema do dimensionamento da reserva legal, uma questo que se arrasta desde 1934 e agora atinge o paroxismo com a fixao do ndice de 80% de reserva legal para as reas de floresta situadas na Amaznia, estabelecido sem qualquer critrio. Um absurdo na contramo de estudos tcnico-cientficos. A insensatez de se tentar dimensionar por metro quadrado fixo as reas de preservao precisa ser enfrentada com bom senso e no como confronto poltico estril, jogo de arquibancada de radicais. As regras sobre reserva legal so cabalisticamente fixadas com nmeros mgicos. S no Brasil elas existem e sem previso de remunerao ao proprietrio.

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O zoneamento estabelecido pela MP 2166/67-2001 est longe de ser uma ferramenta eficaz para o planejamento de uso e das potencialidades agronmicas das terras. Para se ter uma idia da irracionalidade, basta um fato: com a consolidao do Zoneamento Ecolgico-Econmico (as chamadas ZEEs) da Amaznia Legal, sobrariam apenas 4% da regio para atividades agropecurias - ou 10% da sua superfcie. Expresses aritmticas se tornam absurdas abstraes se forem manejadas com ignorncia ou com m f. Por exemplo, no absurdo falar em desmatamento zero - ou seja, mais do que um quarto, 50% ou 80% discutidos at agora e que so marcas arbitrrias. Numa discusso sria, em que se considere uma regulao das reas j ocupadas, algumas h dcadas, se pode perfeitamente chegar proibio total de desmatamentos. A agropecuria j no precisa de expanso territorial, mas da consolidao e manejo eficazes da rea atualmente ocupada. Os produtores rurais assumem a vanguarda da questo ambiental. Uma posio sem plano de recuo.

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Artigo II Publicado no Jornal Folha de So Paulo em 23 de junho de 2009.

A caixa dos grilos e o olho do satlite


Por Ktia Abreu

MAL COMPARANDO (como se dizia antigamente), como se a polcia recebesse a foto de uma cena de crime sem a identificao do criminoso e do local, registrando apenas a hora do flagrante e a rea a ser investigada. No caso, um territrio de 5,1 milhes de quilmetros quadrados de florestas. Esse precisamente o caso: as fotos de satlites mostrando a cada dia os desmatamentos e as queimadas da Amaznia revelam o crime, mas no precisam o criminoso. Ou seja, desafiam quem as interpreta a localiz-los numa rea de 5,1 milhes de km2. Uma agulha no palheiro. Para tornar automtica essa localizao, a vigilncia dos satlites precisa dos dados do georreferenciamento, ou seja, a identificao precisa, no solo, das coordenadas geogrficas das propriedades da rea. Sem esse dado, as fotos de satlites escandalizam genericamente, mas no localizam precisamente onde ocorrem os crimes ambientais, bem como no identificam os responsveis por tais crimes. O georreferenciamento um levantamento topogrfico com a especificao da latitude e da longitude que os proprietrios precisam obrigatoriamente apresentar para a obteno do registro em cartrio das suas terras na Amaznia. Uma das exigncias da legislao aprovada pelo Congresso Nacional a partir da medida provisria 458. Para saber precisamente quem est desmatando ou incendiando, basta pegar a foto do satlite e ir ao cartrio conferir o endereo, ou seja, o georreferenciamento. Se no fosse por outras mil razes que apareceram nas discusses, s esse benefcio otimizao da represso ao desmatamento j justificaria a nova legislao. No entanto, o interesse pessoal de notrias lideranas ambientalistas, que criam propositalmente tigres de papel para se apresentarem como gladiadores heroicos, ignorou propositalmente esse importante avano da legislao. sempre mais fcil, especialmente na questo ecolgica, propor metas utpicas e solues igualmente inatingveis. Ou criar propositalmente confuses, como a alegao de que a regularizao de terras em discusso beneficiar grileiros. Ora, grileiros -que so criminosos comuns, falsrios cnicosesto foram desse jogo. Eles no tm posse de boa-f, pelo contrrio, apresentam ttulos e registros falsificados em cartrio, documentos fajutos, papis envelhecidos artificialmente, como me revelaram outro dia, e tenho repetido, pelo preo da fatura, para delcia da imaginao de alguns interlocutores. A etimologia da expresso derivaria de grilo, o inseto: o grileiro seria aquele que, para amarelecer e dar a aparncia de envelhecimento ao papel guardava certides falsas em caixas cheias de grilos... Grileiros fogem do georreferenciamento porque teriam que renunciar sua documentao falsificada. Nesse sentido, a regularizao fundiria o primeiro passo para a regularizao ambiental.

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E como uma coisa puxa outra, vejamos essa campanha aodada de criminalizao indiscriminada da produo de carne, que, em vez de penalizar o desmatamento da Amaznia, ameaa, para comeo de conversa, inviabilizar exportaes nacionais de 5,5 bilhes de dlares (sem falar dos 2,5 bilhes de couros). A questo comea pela impossibilidade de determinar precisamente a origem da carne, pois boa parte do rebanho nasce numa regio, engorda noutra e abatida numa terceira. Nunca esqueamos que est se brincando com a reputao do produto brasileiro que representa 30% das exportaes mundiais: de cada 3 kg da carne exportada no mundo, 1 kg do Brasil. S na Amaznia so 500 mil produtores e 38 milhes de cabeas, o que representa 20% do rebanho brasileiro. Por esse motivo, estamos defendendo o desmatamento zero, a consolidao das reas de produo de alimentos e a atualizao da legislao ambiental, sob pena de gerar desemprego e o caos na economia. Os ambientalistas sensatos, sensveis realidade e cada dia mais numerosos, engajam-se cada dez numa linha de combate sistemtico ao desmatamento, mas operando uma estratgia de avanos pragmticos que preservam a produo ecologicamente correta. Tanto atentos impostura dos grileiros quanto preocupao de otimizar a vigilncia dos satlites. No mais, conformar-se, como o professor de melancolia do aplogo de Machado de Assis, concluindo ironicamente: Tambm j servi de agulha para muita linha ordinria.

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Artigo III Publicado no Jornal Estado de So Paulo em 03 de junho de 2009.

Desmatamento no, Produo sim


Por Ktia Abreu

Proponho que o artigo 1 do novo Cdigo Florestal seja explcito e taxativo: No ser permitida nenhuma derrubada florestal em todo o territrio nacional, sendo garantida a preservao das matas ciliares (margens dos rios, crregos, nascentes e lagoas) nos limites fixados por laudos geolgicos, contra os riscos de eroso e prejuzos aos aquferos. Naturalmente, essa redao improvisada e o texto adotado dever atender a exigncias tanto ambientais quanto de tcnica jurdica, mas o esprito esse. Que seja uma declarao prvia do compromisso da agropecuria com a defesa do meio ambiente e, ao mesmo tempo, a garantia de segurana jurdica para quem produz no campo. Antigamente, quando as leis eram mais eficazes e literariamente enxutas, essas afirmaes peremptrias constavam dos famosos pargrafos que radicalizam a inteno dos legisladores. Ou algum neste pas j esqueceu o professor Sobral Pinto no inesquecvel comcio das DiretasJ, em 1984, no Rio - 1 milho de pessoas na Candelria! -, recitando solenemente o 1 do artigo 1 da Constituio: Todo poder emana do povo e em seu nome ser exercido? Citando um s pargrafo, o notvel advogado liberal derrotava, com o argumento moral, a arrogncia do regime militar, que depois de 20 anos de poder absoluto se rendia fora da citao singela e suficiente. Pois procuro algo semelhante. Um artigo 1 para o futuro Cdigo Florestal que no deixe dvidas, seja taxativo, satisfaa todas as exigncias, dirima todas as suspeitas, desarme os nimos mais exaltados. Mas, ao mesmo tempo, possibilite uma afirmao da conscincia ecolgica do povo brasileiro, solidria com o clamor de toda a humanidade. Sem, naturalmente, perder-se no labirinto de utopias que se desviam da realidade econmica e social, perseguindo propostas irrealistas. No sei se sou pouco original nessa discusso nem quero reviver antigos desencontros pelos quais no fui responsvel, mas parto de trs entendimentos que se harmonizam e se completam para ajudar a construir uma soluo de compromisso nova na forma e no contedo, em nome da agropecuria brasileira. O primeiro princpio bvio: a defesa intransigente do meio ambiente, considerando que a civilizao acordou com bastante atraso para sua preservao, quase no limite do risco irreversvel. Portanto, temos uma questo de salvao pblica, um imperativo da condio humana. O segundo a realidade histrica, prtica milenar na vida do planeta, quando o homem se comportou perdulariamente com relao natureza, substituindo sua cobertura natural, irreversivelmente, como se fosse um bem inesgotvel. Imagine-se que na velha Europa desapareceram 99,7% das florestas, 92,2% na pobre frica, 94,4% na sia, 92,3% na Amrica Central. No caso brasileiro, o desmatamento de 25% a 30% das florestas, restando ainda aproximadamente 470 milhes de hectares de matas, criou um estoque de terras para plantio e criao de 383 milhes de hectares suficientes, dispensando definitivamente novos desmatamentos.

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A terceira questo que se apresenta a produo agropecuria, especialmente de alimentos, item to importante quanto a preservao ambiental, desde que a terra seja trabalhada com conscincia ecolgica e obedecendo aos padres cientficos e tecnolgicos da preservao. Como no caso, por exemplo, das reas de preservao permanente das margens dos rios, que devem ter a largura determinada pelo declive e pela profundidade da cobertura arenosa ou argilosa do solo. Pela legislao atual, sem nenhum fundamento pedolgico, est estabelecida por uma tabela rgida e irrealista (tanto que teve suspensa sua aplicao, por inaplicvel) de 100, 200 e 500 metros s margens dos cursos d?gua em que proibido plantar, em todo territrio nacional. O critrio desse espao definido pela largura do espelho d?gua, sem considerar a questo essencial do solo e declive, como ensinam os pesquisadores da Embrapa. Ou a Embrapa pode ser acusada de conspirao contra o meio ambiente? Assumindo a responsabilidade de 24% do PIB e, alm de abastecer o mercado interno, gerar 36% das exportaes totais (US$ 58,4 bilhes), a agropecuria nacional no uma aventura marginal nem uma fora reacionria no processo social brasileiro, tem um papel de vanguarda na economia. Assim, deve ser reconhecida como protagonista essencial num debate que tem que ver com alguns de seus temas fundamentais - a preservao e vitalidade do solo, bem como da qualidade das guas -, que certamente nenhum outro grupo debatedor tem mais motivaes para defender. Um estatuto ambiental equilibrado, eficiente e prtico indispensvel segurana jurdica da atividade agropecuria e sua prpria responsabilizao perante a sociedade. Tal segurana e responsabilizao, porm, tornam-se inviveis se mantida a legislao vigente, impossvel de ser cumprida, pois impede a produo de alimentos em 71% do territrio nacional. Isso num pas onde, infelizmente, 23 milhes de pessoas ainda passam fome, segundo dados da ONU. A sada, portanto, ao alcance de um gesto de boa vontade geral, sem ranhetices, preconceitos ou radicalismos, buscar o consenso e a aplicao de solues simples, como a do artigo 24 da Constituio, que estabelece a competncia da Unio para fixar as normas gerais (e a aprovao de um novo Cdigo Florestal moderno e vigoroso a oportunidade perfeita para isso) e os Estados se encarregaro de aplic-lo conforme as situaes regionais especficas. Alis, hora de quebrar o monoplio usurpado por um grupo de falsos anjos da natureza que pretende decidir o que pode e no pode em matria de meio ambiente, recusando verdades cientficas e laudos insuspeitos da Embrapa, referncia essencial do desenvolvimento sustentado da agropecuria brasileira. A Confederao da Agricultura e Pecuria (CNA), que presido, dispensa quem investe no confronto e insiste no dilogo para ajudar a construir um Brasil com mais comida, meio ambiente, diverso e arte.

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Meio ambiente e desmatamento zero


Artigo IV Publicado no Jornal O Globo em 16 de julho de 2009.

Desmatamento zero no olho do satlite


Por Ktia Abreu

A produo de alimentos expressamente proibida em 71% do territrio brasileiro, de acordo com o Cdigo Florestal que est em vigor. isso mesmo que voc leu: pela letra da lei sobra a fatia de 29% do pas para as cidades, a infra-estrutura e a produo. Voc duvida? V pgina da Embrapa na internet e clique no estudo do professor Evaristo Miranda. Confira os nmeros. Captados pelo olho do satlite, os dados so insuspeitos, embora paream inacreditveis. Ao manter uma legislao que transforma 71% do pas em rea de preservao, sem infraestrutura e sem capacidade de produo, o Brasil no estaria abrindo mo de sua maior vocao econmica? Tamanha restrio ao uso do territrio, regra que jamais foi adotada, aceita ou sequer cogitada por outros pases, no ir dar marcha r no nosso desenvolvimento e condenar pobreza milhes de brasileiros? Conscientes da necessidade de reafirmar nossos compromissos com a preservao ambiental e, ao mesmo tempo, com a produo de alimentos, ns, produtores rurais, estamos propondo ao pas um debate srio e responsvel sobre o Cdigo Florestal em vigor, assunto que consideramos questo de Estado. Para ns, do mesmo modo que importante preservar o meio ambiente, fundamental diminuir o nmero de pessoas que passam fome, aumentar e baratear a produo de alimentos, melhorar a infraestrutura e reduzir a pobreza. No novo Cdigo Florestal consideramos indispensvel estabelecer, no artigo primeiro, a proibio explcita e taxativa de derrubada florestal em toda a extenso territorial do pas. Alm do desmatamento zero, queremos incluir, como o segundo ponto da nova lei, a preservao e a eventual recomposio das matas ciliares (margens dos rios, crregos, nascentes e lagoas) nos limites fixados e sustentados pela pesquisa cientfica. Para fazer justia a quem preservou no passado, e seguir preservando no futuro, o terceiro ponto da proposta a implantao dos servios ambientais, modalidade de compensao financeira para produtores que deixam de explorar parte de suas propriedades. O quarto item a regularizao e legalizao das atuais reas de plantio de alimentos que ocupam 41% do territrio, enquanto 53% so reas de preservao e 6% esto destinados para as cidades e a infra-estrutura do pas. A consolidao da realidade que existe hoje essencial para impedir que a maioria dos produtores rurais continue na ilegalidade e sob risco de criminalizao. Fatos como o ocorrido no Par, onde o Ministrio Pblico Federal suspendeu a comercializao da carne bovina, alegando descumprimento das leis ambientais, podem se repetir em todos os estados provocando prejuzos incalculveis no s ao setor primrio, mas tambm indstria e ao comrcio, sem contar o impacto negativo nos nveis do emprego e no dia a dia dos consumidores. Os quatro pontos do novo Cdigo Florestal representam, com o pas, um compromisso de honra da CNA, Confederao da Agricultura e Pecuria do Brasil, entidade que rene 27 federaes estaduais, 2.142 sindicatos rurais e mais de um milho de produtores sindicalizados.

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Acreditamos que nosso papel de vanguarda na economia - representamos 24% do Produto Interno Bruto (PIB), empregamos 37% da fora de trabalho e geramos 36% das exportaes - nos permite reivindicar o reconhecimento como protagonistas desta discusso, relacionada diretamente nossa atividade econmica. O atual Cdigo no defende o meio ambiente, como deveria. No caso das reas de preservao permanente (as APPs) das margens dos rios, por exemplo, que deveriam ter a largura determinada pelo declive e profundidade da cobertura arenosa ou argilosa do solo, prevalecem regras que nada tm a ver com o equilbrio ecolgico. Feito h quatro dcadas, o Cdigo passou por mudanas, mas no foram levadas em conta as sugestes do setor produtivo, as pesquisas da Embrapa ou mesmo as circunstncias da nossa histria. O Brasil sempre manteve elevado padro de conservao ambiental. Nossa cobertura florestal nativa, que guarda a maior diversidade da terra, a segunda maior do mundo. Nosso estoque de terras para plantio e criao soma 383 milhes de hectares, cho suficiente para dobrar ou triplicar a atual produo de alimentos, dispensando definitivamente novos desmatamentos. No momento em que a comunidade internacional defende solidariedade e o fim da pobreza extrema, o Brasil o nico pas que pode oferecer soluo de fato para o flagelo da fome no mundo. Com disponibilidade de recursos, podemos garantir os alimentos usando apenas a tecnologia existente e sem desmatar uma s rvore da floresta. Acredito que em futuro muito prximo esta ser, alis, nossa mais grandiosa contribuio ao avano social e humano do planeta.

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