Artigo - HISTÓRIA E IDENTIDADE DA BIOGEOGRAFIA NO BRASIL
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Ananda Santa Rosa (Graduanda em Geografia, Universidade de Braslia [email protected]) Dante F. C. Reis Jr. (Prof. Adjunto, Depto. de Geografia, Universidade de Braslia [email protected])
Resumo: Biogeografia a disciplina que estuda a distribuio das espcies. No mbito da cincia geogrfica, os estudos biogeogrficos ainda remetem s caractersticas da Geografia Clssica, em que as relaes entre sociedade e natureza, apesar de aventadas, no so de fato exploradas nos estudos. Este trabalho tem como objetivo analisar o desenvolvimento da Biogeografia no especfico mbito da histria do pensamento geogrfico brasileiro sendo que, na perspectiva de um exame da atualidade, fazemos uma apreciao do status da disciplina junto aos cursos de graduao das principais universidades federais brasileiras. A pesquisa foi apoiada na leitura sistemtica de artigos e comentrios bibliogrficos, e na avaliao de currculos de cursos de Geografia no Brasil. Verificou-se que a Biogeografia segue uma tendncia do tipo ecolgica, pela qual o ser humano, como entidade viva e social, no constitui elemento obrigatrio nas explanaes. Sustentamos que seria necessrio conceber um subcampo dentro da Biogeografia, de maneira a que ele viesse a atender efetivamente as necessidades identitrias da perspectiva geogrfica. Tal empreendimento ajudaria a reaver a importncia do gegrafo em prticas profissionais em anlise ambiental; alm de, obviamente, fazer-nos repensar o currculo de formao em Geografia. Palavras-chave: Histria da Biogeografia; Dilemas Identitrios; Caso Nacional; Parmetros Curriculares; Formao Profissional.
1 Introduo As formas de vida dispersas nos ecossistemas da Terra so variadas e espetaculares. ( intrigante como alguns seres vivos conseguem se adaptar, por exemplo, em ambientes sem luz como o fundo do Mar Morto ou em ambientes com
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temperaturas elevadas prximas a de um vulco.). Os seres vivos podem se desenvolver em diversos ecossistemas, todavia, nenhuma espcie capaz de viver em todos os lugares. A explicao da distribuio requer conhecimentos em vrias escalas local, regional, global. Assim se pode responder o porqu de uma determinada espcie se adaptar em determinada regio, e no colonizar outra. Mas uma srie de outras indagaes advm. Quais fatores permitem a sua adaptao? Por que a espcie sofre modificaes evolutivas para se adaptar em outros ambientes? Como ocorre a diversidade de vida no planeta? E estas questes, sem dvida, so objeto de reflexo no campo da Biogeografia. Biogeografia, admite-se, a cincia que estuda a distribuio das espcies. No nvel taxonmico, a principal preocupao a identificao e a classificao dos seres vivos. No nvel ecolgico o estudo das comunidades das plantas e dos animais, em relao ao seu habitat (CAMARGO, 1998). A abordagem biogeogrfica complexa e ampla devido ao interesse que suscita junto a vrios campos disciplinares alm da Geografia, a Biologia, a Ecologia e as engenharias Ambiental, Florestal, Agronmica ; campos estes que possuem mbitos de ao razoavelmente distintos. A Biogeografia, ento, como subcampo de vrias cincias, acaba no detendo um objeto preciso e consensual; posto que seu enquadramento depender fatalmente da orientao dada pela pesquisa do cientista.
What it depends on is whether biogeographers are interested in plants or in animals. If in animals, it depends on whether these creatures are marine or terrestrial. It depends also on the spatial scale studied, whether local, regional, or continental. Further, it depends on the temporal frame a biogeographer considers, whether short-term, Pleistocene, or encompassing distant epochs. Finally it depends on whether a biogeographer is interested in ecological causation (ecological biogeography) or in phylogenetic history (historical biogeography). Regardless of the actual focus, however, what is biogeographers work on are species. (VUILLEUMIER, 1999, p. 4, grifo nosso).
Os estudos atuais de Biogeografia no mbito da cincia geogrfica permanecem remetendo a abordagens tradicionais, ou ento simplesmente replicam tcnicas alheias (caso da estatstica e do mtodo dos quadrados, ou quadrantes, muito comuns na anlise biogeogrfica das cincias biolgicas1, e que servem de apoio ao gegrafo). A abordagem tradicional pressupe pesquisas baseadas no empirismo e indutivismo
1
Felfili e Rezende (2003), autores do manual Tcnicas florestais: conceitos e mtodos em fitossociologia, explicam o uso da Estatstica e do mtodo dos quadrantes para a anlise fitogeogrfica e o estudo da distribuio de plantas.
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(pilares do sistema filosfico positivista). A Geografia se desenvolveu seguindo a ecloso de novas perspectivas, mtodos e conceitos, os quais tenderam a ser mais ou menos incorporados nas pesquisas. Em dado momento da histria desta cincia, o homem (tenha sido quando de uma Geografia Crtico-Radical ou quando de uma Geografia Humanstica) passou a figurar como objeto vital nos trabalhos, apontando para a pertinncia de novos pressupostos tericos. Assim, dadas as alternativas epistemolgicas suplementares (algumas mais sociolgicas; outras mais psicolgicas), pesquisar em Geografia se tornou uma tarefa ainda mais intrincada. Efeito disso, no h hoje um mtodo especialmente definido e consensualmente aceito por todos aqueles pesquisadores que se identificam como gegrafos. Em Biogeografia, como rea de conhecimento da Geografia, ocorre o mesmo problema. Mas agravado, no entanto, pelo fato do subcampo no ter-se adequado s novas perspectivas da cincia como, por exemplo, a inteno de dar maior relevo ao agente humano. Por conseguinte, o gegrafo, sempre que envereda pelos estudos de Biogeografia, procura apoio em estudos de Biologia e de Ecologia. Alguns autores chegam a afirmam que a Biogeografia um ramo da Biologia, e que naturalmente importante conhecer algo sobre Geografia (BROWN; LOMOLINO, 2006, p. 5). Examinar a histria do pensamento geogrfico, dando relevo ao
desenvolvimento em especial da Biogeografia, vem nos parecendo algo inadivel. Por isso, ultimamente temos nos dedicado a uma pesquisa consagrada ao tema sendo que, num plano mais especfico, temos feito, nos ltimos meses, uma anlise dos cursos de Graduao em Geografia. E priorizando: a) entender o histrico da Biogeografia, mediante revista dos currculos de Geografia no Brasil; e b) perceber seus (des)caminhos na cincia geogrfica praticada no pas (diagnosticando, no caso, se o homem aparece contemplado nas pesquisas executadas).
2 Procedimentos metodolgicos A pesquisa foi apoiada em leitura analtica de artigos e de comentrios bibliogrficos, e avaliao de currculos de cursos de Geografia no Brasil (com especial ateno s ementas da disciplina de Biogeografia). Procuramos nestas inspees
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verificar os objetivos e tcnicas de ensino, as contribuies e eventuais perspectivas futuras para a Biogeografia no mbito da Geografia. Concomitantemente, examinamos as histrias da Geografia e da Biogeografia em especial, na tentativa de identificar nexos causais e possveis explicaes para o quadro atual. Relaes de dependncia ou influncia podem ser verificadas nas duas histrias, pois diferentes momentos resultaro no predomnio de determinada concretude do pensamento, a qual influi na formao acadmica de nossa cincia, que, por sua vez, consubstancia-se nas obras produzidas (BRAY apud CAMARGO, 1998, p. 11). Para a pesquisa curricular da Geografia no pas, recorremos anlise da legislao pertinente, apoiada que est nas Diretrizes Curriculares Nacionais estabelecidas pelo Ministrio da Educao (MEC, 2001; MEC, 2002). Os elementos da pesquisa terica foram confrontados com os dados colhidos sobre ensino da disciplina de Biogeografia (ou nome equivalente) nas universidades federais. No caso, selecionamos uma universidade para cada estado (mais o Distrito Federal), sendo o seguinte o espectro amostrado: da Regio Norte as universidades federais do Acre (UFAC), do Amap (UNIFAP), do Amazonas (UFAM), do Par (UFPA), de Rondnia (UNIR), do Tocantins (UFT) e de Roraima (UFRR); da Regio Nordeste as universidades federais de Alagoas (UFAL), da Bahia (UFBA), do Cear (UFC), do Maranho (UFMA), da Paraba (UFPB), de Pernambuco (UFPE), do Piau (UFPI), do Rio Grande do Norte (UFRN) e de Sergipe (UFS); da regio Centro-Oeste a Fundao Universidade de Braslia (UnB) e as universidades federais de Gois (UFG), de Mato Grosso (UFMT) e de Mato Grosso do Sul (UFMS); da Regio Sudeste as universidades federais do Esprito Santo (UFES), de Minas Gerais (UFMG), do Rio de Janeiro (UFRJ) e de So Paulo (UNIFESP); por fim, da Regio Sul as universidades federais do Rio Grande do Sul (UFRGS), do Paran (UFPR) e de Santa Catarina (UFSC). A pesquisa foi executada pelos sites das instituies (anexo). Das 27 universidades, uma apenas no possui curso de Geografia, a UNIFESP, e treze (UNIFAP, UFAM, UFPA, UFT, UFRR, UFC, UFMA, UFPB, UFPI, UFS, UFMT, UFMS e UFES) no ofereciam informaes de fato relevantes ao trabalho. Destas, trs no possuam dados substanciais sobre o curso propriamente de Geografia, e o restante (10) no disponibilizava dados sobre a disciplina e sua ementa. Para todas em que no
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foram localizados os elementos de interesse da pesquisa (excetuando a UFAM, UFRR, UFPB, UFPI, UFMT e UFES, em cujos stios virtuais no havia dados de contato) encaminhamos e-mails para as respectivas secretarias de Departamento e/ou Coordenador de Graduao; mas sem sucesso de resposta. Quando, porm, da amostra til, se o curso de Geografia de dada universidade apresentava a disciplina em seu fluxo, extramos a ementa e identificvamos seus eventuais pr-requisitos (isto , prrequisitos para cursar a Biogeografia ou sua disciplina equivalente). Quisemos verificar se nos programas havia frequente meno a tcnicas comumente vinculadas s prticas experimentais da Biologia, da Engenharia Florestal e da Ecologia, e se por ventura havia insinuao de matrias a ver com a interface sociedadenatureza, o objeto por excelncia do gegrafo. Desta forma, houve a necessidade de: a) inventariar as disciplinas do curso de Geografia (Bacharelado e Licenciatura); b) identificar as disciplinas obrigatrias ligadas Botnica, Ecologia e Zoologia; e c) identificar a disciplina de Biogeografia (ou equivalente) para anlise das ementas.
3 A Biogeografia no desenvolvimento da Geografia brasileira Segundo Camargo (1998), um trabalho biogeogrfico, do ponto de vista do gegrafo, tem necessidade de explicar a distribuio dos seres vivos (fauna e flora, por exemplo) no espao, mas relacionando-os sempre com os outros aspectos ambientais (fatores abiticos) e com o prprio homem (fatores culturais), tendo de apresentar, assim, um panorama muito mais amplo e abrangente do que se costuma fazer. Voltando a tempos bastante pretritos, no Brasil, o primeiro conhecimento correlato foi com a carta de Pero Vaz de Caminha, endereada a D. Manuel, em que relatava a riqueza e a pujana da nova terra, no que dizia respeito s suas plantas e animais, com destaque s aves (CAMARGO; TROPPMAIR, 2002). Os missionrios e os cronistas tambm tiveram papel importante no relato da riqueza do pas, mesmo os documentos sendo considerados pr-cientficos2, dado seu cunho meramente descritivista e informacional do novo mundo. Os primeiros trabalhos de levantamento propriamente cientfico surgem durante
Denomina-se pr-cientfico, segundo Camargo e Troppmair (2002), quando no h esprito crtico e h pouca observao direta dos fatos analisados. Ou seja, na maioria das vezes misturavam-se descries fantasiosas e imaginrias, baseadas em lendas e mitos existentes entre os nativos da terra.
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o domnio holands, no governo do prncipe Joo Maurcio de Nassau (1637-1644), com Piso e MarcGrave. Guilherme Piso (1611-1678), mdico e naturalista, descreveu o uso de fauna e flora no tratamento de vrias enfermidades no Nordeste brasileiro. Lanou as bases de nossa farmacologia e publicou o Tratado de Medicina Brasileira (SILVA; ALVES; ALMEIDA, 2004). George MarcGrave (1610-1644), astrnomo, geofsico, mdico e naturalista, organizou uma expedio com o objetivo de levantar dados e informaes a respeito da botnica e da zoologia da regio nordestina (podendo esta rea, inclusive, ser considerada como a primeira a ter sido estudada cientificamente do ponto de vista de sua histria natural). Essa expedio partiu para o interior, explorando as terras do Nordeste, abrangendo principalmente os Estados de Pernambuco, Paraba e Rio Grande do Norte (CAMARGO, 2002). Dois brasileiros tambm contriburam bastante para o desenvolvimento das cincias naturais: Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815) e Frei Jos Mariano da Conceio Veloso (1742-1810). Ferreira comandou a Viagem Filosfica, com o objetivo de averiguar a natureza e suas potencialidades nas capitanias do Gro-Par, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiab, entre 1783 e 1792, tornando disponveis todos os produtos e riquezas que O Onipotente espalhou na superfcie do Globo (RAMINELLI, s. d.). Veloso dedicou-se Botnica no Convento de Santo Antonio, no centro da cidade do Rio de Janeiro. Foi professor de Histria Natural, at que o vice-rei Luiz de Vasconcelos e Souza (1742-1809) o designou para liderar um grupo de quarenta pessoas, metade delas escravos, em uma expedio botnica, entre 1779 e 1790, pelo interior do Rio de Janeiro considerada esta a primeira do gnero na poro sul do pas, na mesma poca em que se dera a Viagem Filosfica comandada por Ferreira (LUNA, 2008). Foi s com a vinda do botnico e biogegrafo Pierre Dansereau (1919-2011), em 1945, que de fato passaria a haver desenvolvimento da Biogeografia no mbito da Geografia. Dansereau, agrnomo canadense, com especializao em Biogeografia, deu impulso considervel Ecologia Moderna, por seus estudos sobre a dinmica das florestas e pela construo da ponte entre as cincias naturais e humanas. (Uma novidade introduzida pelos estudos de Dansereau diz respeito, por exemplo, tentativa de incluso do ambiente urbano nas pesquisas sobre ecossistemas.). Durante a permanncia no Brasil, Dansereau produziu trabalhos sobre Biogeografia e formou profissionais como Edgar Kuhlmann e Dora Amarante Romariz (ALMEIDA, 2009).
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Portanto, com a vinda de Dansereau ganhou-se muito tambm no plano propedutico. O pesquisador ministrou o Curso de Biogeografia, no Rio de Janeiro, o qual depois seria transformado na publicao Os Planos da Biogeografia (CAMARGO; TROPPMAIR, 2002). importante ressaltar, no entanto, que Dansereau desenvolveu trabalhos de Biogeografia com carter ecolgico. Dora Romariz e Edgar Kuhlmann, seus discpulos, produziriam estudos nesta direo. Kuhlmann, primeiro professor do curso de Biogeografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, ingressou no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) em 1942, local em que desenvolveu seus primeiros estudos de Biogeografia. Dora Romariz, por sua vez, empreendeu pesquisas importantes sobre a vegetao brasileira, destacando-se as obras Mapa da Vegetao Original do Estado do Paran (1953), A Vegetao Original da Bacia Paran (1951) e Aspectos da Vegetao do Brasil (1974) (CAMARGO; TROPPMAIR, 2002). Os dois discpulos de Dansereau se dedicaram mais Fitogeografia, priorizando estudos descritivos sobre as formaes vegetais (rvores, arbustos e ervas) e a elaborao de mapas a respeito da flora brasileira, relacionando-a sempre a outros fatores fsicos, tais como solo, clima e relevo. Segundo relatos de Almeida (2009) e Camargo e Troppmair (2002), deduz-se que os estudos iniciais em Biogeografia desenvolvidos por gegrafos, foram executados sobretudo por quadros do IBGE e do Conselho Nacional Geografia (CNG). Gegrafo de produo bastante saliente, Aziz Nacib AbSber (1924-2012) realizou tambm pesquisas importantes no mbito. Interessado nos estudos de interface com a Geomorfologia, AbSber se valeria, para tal, de modelos conceituais ento em voga: a Teoria dos Refgios e a chamada Biogeografia de Ilhas. Um detalhe, entretanto, vem tona se analisamos a questo pelo aspecto relacional. A pesquisa em Biogeografia nas universidades brasileiras, se compararmos a outros campos do saber geogrfico (tais como a Geomorfologia e a Climatologia), no praticada na mesma proporo. Camargo e Troppmair (2002, p. 146) apontam alguns embaraos que talvez contribuam para o fato:
a) grande complexidade desse ramo do conhecimento [...], exigindo uma ampla cultura geral e conhecimentos sobre Biologia, Botnica, Zoologia, Taxonomia, Qumica, etc.; b) sua diviso em dois ramos distintos e separados, ou seja, a Fitogeografia (ou a Geografia das Plantas) e Zoogeografia (ou Geografia dos Animais), obrigando assim a uma especializao, com dificuldade para fazer estudos integrados; [...] d)
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historicamente a Biogeografia, ou mais precisamente as suas subdivises Fitogeografia e Zoogeografia tm sido mais desenvolvidas e mais praticadas nos Departamentos de Botnica (Fitogeografia) e de Zoologia (Zoogeografia), com um enfoque e com objetivos bem diferentes dos do gegrafo; e) nos Departamentos de Geografia, mais especificamente na rea de Geografia Fsica, o ramo de conhecimento que sofreu maior desenvolvimento foi a geomorfologia [...] pela grande influncia que exerceram os Mestres Estrangeiros, formando um grande nmero de discpulos aqui, vindo a seguirem-na, por ordem de importncia, a climatologia, a pedologia e outras.
As dificuldades aludidas apontam para possveis razes do desinteresse dos gegrafos pela Biogeografia (e os brasileiros, enquanto tributrios do legado francs, em grande medida). Mas provavelmente esta renncia pode ser ainda aditivada por outro fator, complementar: a formao do prprio gegrafo. Noutras palavras, o modo como o ensino conduzido nos Departamentos de Geografia brasileiros.
4 A disciplina de Biogeografia nos cursos de Geografia Um currculo bem estruturado e devidamente cumprido, segundo o Projeto Poltico Pedaggico (PPP) estabelecido por um curso, de fundamental importncia para o processo ensino/aprendizagem. A configurao curricular organizada de forma criativa pode proporcionar melhores resultados para prticas educativas, desde que apresente a definio clara dos objetivos numa perspectiva enquadrada na misso estratgica da instituio de ensino e numa viso moderna e atualizada das mudanas (PETRY, 2002). O curso de Geografia no Brasil pautado pela Lei n 9.394, de 20 de dezembro de 1996, de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (LDB). Os contedos mnimos so dispostos pelo Parecer CNE/CES n 412, de 19 de dezembro de 1962, e as diretrizes curriculares pelo Parecer CNE/CES, n 492, de 3 abril de 2001. O parecer n 412 foi publicado sem considerar o Bacharelado, sob o argumento de que a profisso do gegrafo ainda no estava regulamentada em lei. O contedo mnimo ficou dividido em seis grandes reas, a saber (MORAIS et al., s. d., s. p., grifo nosso):
Art. 1 O currculo mnimo do curso de Geografia ficar assim constitudo: I - Geografia Fsica Geografia Biolgica ou Biogeografia Geografia Humana Geografia Regional Geografia do Brasil Cartografia
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As diretrizes curriculares, por sua vez, definem as competncias e habilidades que os cursos de Geografia devem proporcionar (MEC, 2001, p. 11, grifo nosso):
a. Identificar e explicar a dimenso geogrfica presente nas diversas manifestaes do conhecimentos; b. Articular elementos empricos e conceituais, concernentes ao conhecimento cientfico dos processos espaciais; c. Reconhecer as diferentes escalas de ocorrncias e manifestao dos fatos, fenmenos e eventos geogrficos; d. Planejar e realizar atividades de campo referentes investigao geogrfica; e. Dominar tcnicas laboratoriais concernentes a produo e aplicao do conhecimento geogrfico; f. Propor e elaborar projetos de pesquisa e executivos no mbito de rea de atuao da Geografia; [...] i. Trabalhar de maneira integrada e contributiva em equipes multidisciplinares.
O currculo mnimo e as diretrizes curriculares caracterizam as especificidades fundamentais para a formao em Geografia; contudo, sem deliberar pontos especficos de cada disciplina, como as ementas, os mtodos e as tcnicas. Cada instituio de ensino pode, portanto, planejar autonomamente as disciplinas do curso, de acordo com o PPP estruturado por cada rgo colegiado. Decorre da que, sem uma pr-definio de contedos, o currculo mnimo e as diretrizes curriculares somente apontam as habilidades a serem desenvolvidas na formao, estimando que, ainda assim, o futuro gegrafo possa vir a ser capacitado para identificar, descrever, compreender e analisar o meio social e natural, conforme institudo pela regulamentao da profisso. Pensamos que o curso de Geografia deveria qualificar profissionais3 capacitados a analisar a natureza e a sociedade, numa abordagem do tipo integral. Todavia, no Brasil cada universidade vem tendo a liberdade de direcionar como ser o ensino das disciplinas que compem a grade geral do curso, de acordo com uma viso pedaggica (quando ela existe) subjacente. A Biogeografia, nesta perspectiva normativa, vista como a disciplina que compe os estudos de anlise do meio natural. E devido a sua importncia no entendimento da distribuio e da relao dos seres vivos, espera-se que haja um contato com teorias da Ecologia, da Botnica e da Zoologia, para fins de uma mais
3
Nesta pesquisa, nosso foco so os Bacharis em Geografia; os quais, em tese, podem se credenciar junto ao Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA) rgo de classe que vem sugerindo a carga horria (3600horas) e as competncias tcnicas (topografia, agrimensura, etc.) fundamentais para a concesso do registro profissional. (Fatores em cujo cumprimento rarssimas instituies se empenham).
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5 O ensino de Biogeografia Est evidente que o histrico da Biogeografia traou para ela um destino multidisciplinar. Por conseguinte, no mbito do ensino um efeito veio a ser fatal: a disciplina requer, a rigor, carga horria extensa para uma formao minimamente fiel sua natureza complexa. Logo, esta formao teria de atender um (necessrio) largo embasamento terico proveniente, decerto, de vrias disciplinas-fonte:
[...] no possvel aprofundar em um nico semestre todos os campos da Biogeografia, tais como a Ecologia, Evoluo, Geologia e at mesmo rever contedos da prpria Geografia envolvidos na determinao dos padres e processos responsveis pela distribuio das plantas e dos animais (FURLAN 2005, p. 12).
Convm aqui mencionar que o subcampo teve relevncia quando da institucionalizao do primeiro curso de Geografia no Brasil, nos anos trinta. E que, quando da regulamentao oficial, algumas dcadas depois, foi ainda considerada uma rea-chave integrante do currculo mnimo da Geografia. Situao, sem dvida, bastante diversa do estado atual. As universidades federais, em seus Departamentos de Geografia, apresentam ementas semelhantes para disciplina de Biogeografia. Exceo so as Universidades Federais do Acre (UFAC), do Rio Grande do Norte (UFRN) e de Rondnia (UNIR), que apresentam estudos biogeogrficos relacionados com o meio social, contemplando anlise de impactos ecossistmicos e estudo de uso de recursos naturais. Noutras palavras, seria nestas somente que se verificaria um compromisso com os estudos de interface. As outras universidades possuem nfase em Biogeografia Ecolgica, sendo que a maioria delas tambm apresenta currculo contemplando a perspectiva da Biogeografia Histrica. Quanto aos pr-requisitos especificados em ementa, quando eles so exigidos, costumam ser as disciplinas de Climatologia e/ou de Geomorfologia, conforme o caso:
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FEDERAIS EMENTA DA DISCIPLINA BIOGEOGRAFIA Biogeografia III: Caracterizao da Biogeografia como cincia. Os seres vivos e ciclos biogeoqumicos; Biogeografia IV: Estudo da influncia dos fatores Biogeografia III (sem pr requisito); climticos, topogrficos e edficos na vida dos seres vivos. Associaes vegetais e Biogeografia IV (pr requisito/ Biogeografia III) animais terrestres e aquticos. Ecossistemas e impactos do homem sobre aspectos do ambiente. Biogeografia I: Conceitos Fundamentais de Biogeografia; Biogeografia e ecologia; Fitogeografia e Zoogeografia; Biogeografia Cultural; Anlise Climtica e estruturas Biogeografia I (pr requisito: Pedologia e das funes vegetais. / Biogeografia II: A vegetao natural e ao antrpica. Climatologia) / Biogeografia II: (pr requisito: Anlise ecolgica dos ecossistemas: naturais e criados. Alterao ambiental. Estudo Biogeografia I) da utilizao dos recursos vegetais do Brasil sob a perspectiva da poltica, da economia e da ecologia. O Estado de Rondnia e os recursos vegetais. Biogeografia: Fundamentao terica e procedimentos metodolgicos. Os fatores ambientais e sua influncia na caracterizao fitogeogrfica da paisagem e na distribuio passada e atual dos seres vivos. As classificaes florsticas/faunsticas e fisionmica-ecolgica da vegetao. A Biogeografia no planejamento ambiental na conservao da natureza. Biogeografia: Aspectos terico-metodolgicos da Biogeografia. Aplicao e Tendncias atuais dos estudos de Biogeografia. A Biogeografia no contexto das cincias ambientais. A questo da escala nos estudos biogeogrficos. As interaes bioclimticas no estudo das paisagens naturais. As grandes biocenoses e sua organizao espacial: os grandes domnios biogeogrficos do Globo. Trabalho de campo obrigatrio. DISCIPLINAS
UFAC
UNIR
UFAL
UFBA
Biogeografia
UFPE
Biogeografia Geral: Biogeografia: conceito e diviso; consideraes gerais. A biosfera autoecologia animal e vegetal. Classificao geral dos seres vivos (sistemtica). Consideraes gerais sobre paleontologia, Paleobiogeografia e paleoecologia. Termos e expresses comuns a fitogeografia. Fatores Geoecolgicos Biogeografia Geral (pr requisito: Classificaes que condicionam a distribuio das espcies. Conhecimentos gerais sobre ecologia. Climticas) / Biogeografia Zonal (pr requisito: Sucesso vegetal. Funcionamento e equilbrio dos ecossistemas. / Biogeografia Biogeografia Geral) Zonal: Fatores fitogeogrficos. Zonas de vegetao ou zonas climticas. As grandes biocenoses terrestres: Zonas extratropicais; zonas ridas e zonas intertropicais. Regies fitogeogrficas e zoogeografia do Globo terrestre. Classificao da vegetao. Estudo de cartas fitogeogrficas. Biogeografia: Fornecer ao aluno elementos que permitam compreender as causas, os padres, a evoluo e a dinmica da distribuio dos seres vivos sobre a Terra; Apresentar o carter interdisciplinar da Biogeografia em suas abordagens geogrfica e ecolgica; Transmitir as noes que fundamentam a importncia da biodiversidade Biogeografia e da conservao da Natureza para a sustentabilidade da vida na Terra, para a identificao dos espaos naturais e para o planejamento ambiental; Estreitar os laos entre o Homem e a Natureza. Geografia Biolgica: Demonstrar das causas da distribuio das plantas e dos Geografia Biolgica (pr requisito: Climatologia animais na superficie terrestre. As associaes e formas de interaes entre Geral, Geomorfologia e Geomorfologia organismos. Demonstrar a importncia que os conhecimento biogeogrficos tem na Intertropical) conservao dos recursos naturais. Biogeografia: Noes gerais de Biogeografia. Biogeografia do Brasil. Formao bitica do espao brasileiro. Biogeografia histrica do brasil. As grandes formaes Biogeografia (sem pr requisito - optativa) florsticas brasileiras. Biogeografia do cerrado. Estudo das paisagens antropizadas no bioma cerrado. Biogeografia: Ecossistemas: conceitos, organizao, estruturao, classificao, Biogeografia distribuio e mtodos de anlise. Relaes dos ecossistemas com o meio fsico, cultural e social. Fundamentos de Biogeografia: Relaes ecolgicas, histricas e geogrficas da distribuio espacial e temporal de animais e plantas. As relaes dos organismos com os seus "habitats". Natureza espao-temporal dos padres de distribuio dos Fundamentos de Biogeografia (sem pr organismos. Nvel de organizao do ecossistema: estrutura e processos requisito) fundamentais. Nvel de organizao biolgica das populaes. Interaes ecolgicas entre populaes: populaes em comunidades. Histria geolgica da vida. Biomas do mundo. Paleobiogeografia: Princpios de paleontologia e paleobiogeografia. Biogeografia histrica versus ecolgica. Aspectos da biogeografia histrica. Evoluo das principais provncias biogeogrficas ao longo do tempo geolgico. Aplicaes da Paleobiogeografia (pr requisito: Geomorfologia paleobiogeografia nas reconstrues paleogeogrficas na determinao de eventos e Ambiente I) e Biogeografia (sem pr requisito / geolgicos (climticos, eustticos, geomorfolgicos). Prtica de observao de optativa) campo. / Biogeografia: Fundamentos ecolgicos da distribuio geogrfica de animais e vegetais. Biosfera. Biociclos. Disperso. Zonas e regies zoogeogrficas. Biogeografia das regies alpinas, dos desertos e das regies polares. Distribuio e disperso das plantas cultivadas e dos animais domsticos. Biogeografia: Biogeografia histrica (origem, evoluo e distribuio dos seres vivos), biogeografia ecolgica (fatores limitantes da distribuio dos seres vivos), os grandes biomas terrestres, domnios morfoclimticos e fitogeogrficos, conservao da natureza e mtodos e tcnicas de levantamento de dados em campo. Biogeografia Bsica: Identificao e anlise de reas de distribuio dos seres vivos e interpretao dos fatores geogrficos e ecolgicos do meio em suas inter-relaes / Biogeografia Bsica (pr requisito: Climatologia Biogeografia Aplicada: Reconhecer e localizar os biomas estrangeiros, brasileiros e dinmica e geogrfica) / Biogeografia Aplicada as formaes vegetais da Ilha de Santa Catarina, atravs da perspectiva geogrfica e (pr requisito: Biogeografia Aplicada) biolgica, procurando estabelecer as correlaes e interdependncias entre os meios bitico e abitico. Biogeografia (sem pr requisito)
UFRN
UnB
UFG
UFMG
UFRJ
UFRGS
UFPR
UFSC
Tabela 1 Ementas de Biogeografia das 13 universidades analisadas. [elaborao nossa, a partir de informaes extradas dos sites oficiais das instituies]
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dos conceitos bsicos da Ecologia, alm de algum tpico consagrado histria de formao da prpria disciplina. Porm, a matria, em geral, no costuma exigir os prrequisitos que seriam necessrios para uma compreenso total desta rea do saber. Em vez disso, so exigidos pr-requisitos de uma tpica formao bsica em Geografia (Climatologia, Geomorfologia). Ecologia, Zoologia e Botnica, desta forma, deveriam ser apresentadas como disciplinas do currculo mnimo em Geografia, a fim de favorecer uma mais eficiente compreenso da proposta epistemolgica (essencialmente sistmica, como se depreende) da Biogeografia. Ademais, os conceitos bsicos bem como a aplicao de tcnicas em campo deveriam ser melhor destrinchados por outras disciplinas, anteriores Biogeografia, no intuito de propiciar, de fato, a apreenso terica e a boa desenvoltura tcnica nesta rea de conhecimento. Como exemplos de insuficincia neste quesito, esto a UFAL e a UFRJ. Na primeira, a ementa prev o estudo da classificao florstica/faunstica e fisionmicoecolgica da vegetao; na segunda, a execuo das relaes ecolgicas, histricas e geogrficas da distribuio espacial e temporal de animais e plantas, sem exigncia de quaisquer pr-requisitos. Outra adversidade verifica-se na UFSC, com apenas a disciplina de Climatologia como pr-requisito, e ementa prevendo a identificao e anlise de reas de distribuio dos seres vivos e interpretao dos fatores geogrficos e ecolgicos do meio em suas inter-relaes. Mas como identificar e classificar espcies sem prvio conhecimento morfolgico, seja faunstico ou florstico? Simplesmente considerado a Climatologia como pressuposto suficiente para estas anlises? Por outro lado, mesmo que bastante timidamente, alguns Departamentos tentam incorporar na disciplina de Biogeografia, os novos paradigmas da Geografia. Um ponto de discusso interessante so as ementas propostas pela UFRGS. Ali a disciplina obrigatria chama-se Paleobiogeografia, cujo pr-requisito Geomorfologia e Ambiente 1, na qual estudada a evoluo das principais provncias biogeogrficas ao longo do tempo geolgico. Aparentemente, no so satisfeitos os mtodos que, de hbito, so definidos para uma paleobiogeografia clssica, digamos assim; portanto, pode se tratar de uma nova abordagem/anlise com, quem sabe, mais precisa serventia perspectiva geogrfica. Estranhamente, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul a disciplina de Biogeografia propriamente, optativa e sem pr-requisitos. Oferecendo, inclusive, outra abordagem: anlise da distribuio e disperso das plantas cultivadas e
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dos animais domsticos. Seria uma Biogeografia j bastante distinta dos tradicionais tratamentos, que preveriam o estudo de espcies endmicas, naturais de determinado habitat. Nosso diagnstico preliminar enftico: caso a opo seja a de prosseguir em abordagens tipicamente ecolgicas (como os cursos universitrios brasileiros tm preferido conscientes disto ou no), a Biogeografia simplesmente no vem possuindo a relevncia curricular necessria. As competncias que so atribudas ao profissional, e que, se espera, estejam previstas no ensino universitrio da cincia, requerem uma associao (e no dissociao) dos estudos de natureza e de sociedade. Os estudos biogeogrficos, por sinal, a cada dia vm ganhando mais importncia; e sobretudo por conta da atual realidade ambiental planetria4. Tem-se provado imprescindvel o monitoramento da distribuio e do uso da biodiversidade. Consequentemente, novas ferramentas, tais como o geoprocessamento, so incorporadas para a produo de dados sobre a vida terrestre. Mas o papel do gegrafo diante dos novos desafios da Biogeografia gera incgnitas; e estas, claro, requerem solues diretivas. Resta, por exemplo, uma categrica indagao: a Biogeografia, no Brasil, ainda tem relevncia nos estudos geogrficos?
6 Que fim dar Biogeografia? A Biogeografia uma disciplina que nasceu da tentativa de entender a distribuio dos elementos biticos na Terra. Por todo seu histrico de desenvolvimento e pelas diversas teorias que surgiram neste longo lapso, ela sofreu mudanas e vrios subcampos foram gerados. Atualmente, as pesquisas condizem com o enunciado que Lacoste e Robert (1981, p. 15, traduo nossa) propuseram, definindo-a como cincia de sntese e estudo da distribuio dos seres vivos na superfcie do globo e a demonstrao das causas que regem a distribuio. Uma vez atuando na rea, conforme o que estabelece o enunciado, espera-se que busquemos entender o porqu de determinado elemento florstico (ou faunstico) encontrar-se em determinado lugar e relacionando-se com demais elementos fisiogrficos.
O acelerado desmatamento dos grandes biomas, o gradativo aumento de espcies em extino e o aquecimento global esto reorganizando o pensamento ecolgico frente preservao dos recursos naturais do planeta.
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Com a evoluo da disciplina, subcampos foram se aprimorando. Tcnicas e modelos interpretativos para o estudo, por exemplo, da distribuio dos seres vivos a partir de conceitos estatsticos, paleontolgicos, botnicos, zoolgicos5 foram incorporados disciplina. A Geografia, quando de seu estabelecimento como cincia, concedeu Biogeografia certo status de relevncia. Alexander von Humboldt (1769-1859), incontestavelmente, jogaria papel-chave na demarcao deste mbito de estudo junto cincia geogrfica. Afinal, os seres vivos integravam/integram as paisagens; logo, a rigor, jamais poderamos pensar em Geografia excluindo o elemento bitico. E a gradativa tendncia a dissociar a sociedade dos elementos da natureza viria inclusive a ser exacerbada (segundo certa literatura) diante das caractersticas de um emergente capitalismo:
Em sntese, torna-se cada vez mais claro que, enquanto a separao entre sociedade e natureza bastante antiga, no capitalismo, juntamente com os sistemas de conhecimento associados sua emergncia, tornou-se mais aguda essa separao, estabelecendo tendncias a uma ruptura. (CIDADE, 2001, p. 117).
A consequncia deste isolamento naturezasociedade apontada, tambm, pelo prprio Humboldt em suas Consideraes Sobre os Diferentes Graus de Prazer que Oferecem o Aspecto da Natureza e o Estudo de suas Leis, de 1862:
A tentativa de decompor em seus diversos elementos a magia de um mundo fsico est cheia de riscos, porque o carter fundamental de uma paisagem e de qualquer cenrio importante da Natureza deriva da simultaneidade de ideias e de sentimentos que suscita no observador. O poder da Natureza se manifesta, por assim dizer, na conexo de impresses, na unidade de emoes e sentimentos que se produzem, de certo modo, de uma s vez. (HUMBOLDT, 2004, p. 137).
Desta forma, a separao dos estudos da natureza, de um lado, e da sociedade, de outro, no pode redundar na melhor forma de interpretar um espao geogrfico integral. Entretanto, aparentemente, isto um problema mal resolvido desde a consolidao da Geografia como cincia. Mas acontece, ademais, da Biogeografia ser considerada por muitos pesquisadores uma disciplina integrante da Geografia Fsica6. Por esse motivo, acaba sendo espontneo um alinhamento com tendncias ecolgicas, nas quais o ser humano, como entidade viva e social, no constitui elemento obrigatrio nos estudos por mais
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No foram localizados estudos, tcnicas e mtodos referentes a estudos zoogeogrficos no mbito da Geografia. 6 Por outro lado, curiosamente, no currculo mnimo dos cursos de Geografia no Brasil, ela no tratada como integrante da Geografia Fsica, e muito menos da Geografia Humana. Consta nele como um ramo independente.
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que alguns, tais como Camargo e Troppmair (2002), j tenham ressaltado a importncia da sociedade nos estudos biogeogrficos. Albuquerque et al. (2004, p. 19) tenta identificar novas variveis de estudos na Biogeografia que poderiam se aproximar mais dos estudos da Geografia a partir, por exemplo, de uma viso ratzeliana. Ratzel em sua Antropogeografia (1882) busca uma integrao dos elementos biogeogrfico e social; no entanto, a proposta teria sido fraca ou nulamente ouvida pelos biogegrafos. Deste modo, a Biogeografia foi reduzida a uma pura descrio de reas de distribuio (SCHAFER apud ALBUQUERQUE et al., 2004, p. 19). Na Geografia, o principal alinhamento dos estudos biogeogrficos d-se com uma Biogeografia Ecolgica, que divide os estudos em Fitogeografia e Zoogeografia. Esta subdiviso requer um alto conhecimento em Ecologia Vegetal e Animal; saberes que, contraditoriamente, no so pr-requisitos obrigatrios nos cursos de Geografia, segundo o que constatamos nos programas das universidades analisadas. No Brasil, os gegrafos interessados pelo tema adaptam suas pesquisas quilo que propem a Biologia, a Zoologia e a Ecologia. Ou seja, reproduzem no mbito da cincia geogrfica prottipos metodolgicos aliengenas. Neste contexto de reproduo, um grande personagem teve um papel fundamental na proliferao do conhecimento biogeogrfico (mas de fato geogrfico?). O j mencionado Pierre Dansereau apresentou os Planos da Biogeografia7, em 1946, que so definidos pelo prprio autor como representaes para as vrias limitaes que o meio impe sucessivamente aos seres vivos, no tempo e no espao. Os planos so divididos em Paleo-Ecologia, BioClimatologia, Auto-Ecologia, Sinecologia e Sociologia, seguindo uma linha de pensamento ecolgico. Para que sejam entendidos em toda sua amplitude, os planos requerem pr-conhecimento sobre teorias e tcnicas da Ecologia. No plano da Sinecologia8, por exemplo, marcada notoriamente a necessidade de se conhecer os conceitos de habitat, competio, vitalidade, sucesso e clmax. O plano da Sociologia tambm merece respaldo para anlise. Segundo Dansereau (1946, p. 26, grifo do autor), a Sociologia vegetal e animal estuda a composio quantitativa, a estrutura e o
Os planos representam uma srie de cinco aulas dadas na ento chamada Diviso de Caa e Pesca do Ministrio da Agricultura. 8 A Sinecologia estuda o prprio meio sem escolha prvia de qualquer organismo, considerando todos os seres vivos dentro dos limites de um determinado habitat (DANSEREAU, 1946, p. 23, grifo do autor).
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comportamento das populaes dentro dos limites de seus habitats. Esta definio, mesmo datada dos anos quarenta, se torna recorrente e frequentemente empregada at os dias atuais na anlise da Biogeografia Ecolgica; por consequncia, influi nas ementas de Biogeografia da UFPE, UFRN, UFRJ, UFRGS, UFPR e UFSC. De toda forma, os Planos, apesar de decisivos na disseminao do conhecimento biogeogrfico dentro da Geografia, no o foram o suficiente para que a rea conquistasse o status que outros subcampos obtiveram notadamente, a Geomorfologia. Talvez, como observado por Camargo e Troppmair (2002), os problemas para o desenvolvimento da disciplina residam mesmo na grande complexidade causal que ela subentende; haja vista sua prpria deliberada diviso em Fitogeografia e Zoogeografia, alm das especificaes sofridas no seio de outras cincias. Contudo, a histria do pensamento geogrfico revela outros senes. Desde seu surgimento institucional no Brasil, a Geografia moldada de acordo com as indagaes coetneas da cincia. E pelo que apontam trs especiais ausncias (de pesquisa cientfica de ponta, de perspectivas profissionais no mercado de trabalho, e de relevncia da disciplina junto aos cursos de graduao em Geografia), a Biogeografia parece nunca ter sido realmente protagonista na cincia geogrfica brasileira. Em contrapartida, parece-nos que seria uma grande falcia afirmar que a Biogeografia no interessa ao gegrafo. A Biogeografia de fato no possui relevncia nos cursos de Geografia; no entanto, entendemos que a forma como ela foi (e ) conduzida e ensinada, redundou na impresso (ao final, errnea) de que a disciplina um capricho curricular. O gegrafo no se atm mais a meras descries de patrimnios ou belezas naturais, como criticou Yves Lacoste em sua obra A Geografia: isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra (1976). A anlise e a incorporao de novos paradigmas, para os quais a organizao espacial das sociedades e suas sequelas ambientais tornam-se elementos imprescindveis, exigem novas formas de estudar o fenmeno biogeogrfico. No nos ocorre perceber, mas a disciplina, como Camargo e Troppmair (2002, p. 149) j sustentaram, tem um notvel potencial para diminuir antigas dicotomias: dela poderia advir uma, enfim, Geografia Integrada. Provavelmente, enveredando por essa trilha, os estudos derivados ajudariam a minimizar efeitos de impacto, j que os meios fsico e social, no intuito de estabelecer-lhes o elo harmnico, seriam entendidos como
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um todo. O gegrafo um dos poucos cientistas cujo histrico disciplinar lhe habilita (ou diz habilitar) a viso integradora. Da natureza e da sociedade. No entanto, com a incontida dicotomia fsicohumano, perdeu-se o objeto genuno da cincia: o espao (integral) geogrfico. O que nos resta como pesquisadores defender nossas reas de interesse e adequ-las s atuais perspectivas da cincia e s urgentes demandas da sociedade. Mas isso, sem que deixemos de nos indagar sobre aquilo que ns, enquanto gegrafos, podemos/devemos realmente investigar. S assim garantiramos um melhor enquadramento dos estudos no mbito da Geografia. E o gegrafo poderia reencontrarse com uma Biogeografia de fato geogrfica.
7 Concluses Se a ao da sociedade no merece obrigatria ateno da disciplina, e se os gegrafos, por isso, agem de acordo com os seus interesses (se preocupando mais com um elemento apenas da interface socit-nature), esta Biogeografia que vem sendo trabalhada no seio da Geografia s pode mesmo dar margem noo geral de impacto. E isso porque quando o quadro fsico priorizado nos estudos, ele tende a ser visto essencialmente como recurso legitimando, ento, naturalmente, um raciocnio do tipo externalista. Isto : 1) o elemento bitico tem um funcionamento autnomo; 2) ele pode, por isso, ser estudado numa abordagem exclusivista; e 3) embora correndo o risco de sofrer impactos, sua transfigurao no estar necessariamente contemplada nas explanaes do pesquisador. Como notamos nas ementas da disciplina, estudam-se a distribuio e classificao dos seres vivos (o meio natural, enfim) sem levar em considerao o meio social. Mas o estudo do elemento bitico no deveria iluminar o panorama fenomnico que est alm de uma mera descrio da vida? Seria necessrio conceber um subcampo dentro da prpria Biogeografia, de maneira a que ele viesse a atender efetivamente as necessidades identitrias do gegrafo. Pensamos que isso ajudaria a reaver a importncia deste cientista nas prticas profissionais em anlise ambiental; alm de, obviamente, fazer-nos repensar o currculo de formao em Geografia. Apesar da inteno do trabalho ter sido alcanada (a da diagnose preliminar de
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uma situao nacional), o estudo ainda bastante precoce. A pesquisa se restringiu somente a uma amostra das 27 universidades federais; sendo que nossas dedues ficaram refns de alguns dados omissos (ao final, s foram realmente analisadas 13 instituies). importante ter claro que, apesar das ementas terem sido extradas de sites oficiais, os programas de execuo da disciplina que tendem a ser definidos, variavelmente, por cada professor, em cada circunstncia podem ser distintos das ementas protocolares. Alm disso, os cursos de Geografia tambm esto disseminados, por exemplo, em universidades pblicas estaduais e numa srie de instituies de ensino particulares. Valeria a pena conferir a atuao/situao delas com respeito Biogeografia. Entendemos que o gegrafo o profissional que poderia ser capaz de pensar o meio como um todo; e que disto no deveramos apenas usufruir em teoria. A Biogeografia a disciplina que detm o potencial de reinventar uma Geografia sem dicotomias; de repensar o objeto da Geografia. A enxergamos como podendo ser o caminho para uma Geografia Integrada, uma Geografia Ambiental.
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