Atrito Seco
Atrito Seco
Atrito Seco
Disciplina Atrito
Introduzir o conceito de atrito seco e mostrar como analisar a equao de equilbrio de corpos rgidos sujeitos a foras dessa natureza. Objetivo Apresentar aplicaes especficas da anlise de foras de atrito em correias e mancais. Investigar o conceito de resistncia ao rolamento. 1. Caractersticas do atrito seco Atrito pode ser definido como uma fora de resistncia atuante sobre um corpo que evita ou retarda seu deslizamento em relao a um segundo corpo ou superfcie com o qual mantm contato. Esta fora atua sempre tangente superfcie nos pontos de contato entre os corpos e tem um sentido contrrio ao possvel movimento que um corpo possa ter ou tem em relao a outro. Em geral, dois tipos de atrito podem ocorrer entre superfcies. O atrito fluido ocorre quando as superfcies so separadas por uma lmina fluida (gs ou lquido). O atrito seco frequentemente denominado atrito de Coulomb e ocorre entre superfcies de corpos em contato sem a presena de um fluido lubrificante.
Pode-se observar o calor gerado pela ao abrasiva do atrito na utilizao de um esmeril ao afiar uma lmina
1.1. Teoria do atrito seco - pode ser mais bem explicada considerando que seus efeitos aparecem ao puxarmos horizontalmente um bloco de peso uniforme W que repousa sobre uma superfcie horizontal rugosa, figura 1a. Para conseguirmos um completo entendimento da natureza do atrito, necessrio considerar as superfcies de contato norgidas ou deformveis. O restante do bloco, entretanto, ser considerado rgido. Conforme mostrado no diagrama de corpo livre do bloco, figura 1b, o piso exerce tanto uma fora normal distribuda, Nn como uma fora de atrito distribuda, Fn, entre as superfcies em contato. Na condio de equilbrio, as foras normais devem atuar para cima para balancear o peso W do bloco, enquanto as foras de atrito atuam para a esquerda para evitar que a fora P movimente o bloco para a direita. Um exame cuidadoso das superfcies de contato entre o piso e o bloco revela como essas foras de atrito e normal se desenvolvem figura 1c. Podemos perceber que existem muitas irregularidades microscpicas entre as duas superfcies, e, em resultado, foras reativas Rn, se desenvolvem em cada uma das salincias. Essas foras atuam em todos os pontos em contato, e, conforme mostrado, cada fora reativa contribui tanto para a componente de atrito, Fn, como para a componente normal, Nn.
Disciplina Atrito
Alm das interaes mecnicas aqui discutidas, referentes a uma abordagem clssica, um tratamento mais detalhado da natureza das foras de atrito deve incluir tambm os efeitos de temperatura, densidade, limpeza e atraes atmicas ou moleculares entre as superfcies em contato.
Superfcie rugosa
Figura 1a
Figura 1b
Figura 1c
Figura 1d
Figura 1e
1.2. Equilbrio. Para simplicidade das anlises a seguir, os efeitos das foras normais distribuda e as cargas devido ao atrito sero indicadas por suas resultantes N e F, que so representadas no diagrama de corpo livre conforme mostrado na figura 1d. Claramente, a distribuio de Fn na figura 1b indica que F atua sempre tangente superfcie de contato, oposta ao sentido de P. Por outro lado, a fora normal N determinada a partir da distribuio de Nn, na figura 1b e direcionada para cima para balancear o peso W do bloco. Note que N atua a uma distncia x direita da linha de ao de W, figura 1d. Esta localizao, que coincide com o centride ou centro geomtrico do diagrama de carregamento mostrado na figura 1b, necessria tendo em vista o balano do efeito de tombamento causado por P. Por exemplo, se P aplicado a uma altura h acima da superfcie, figura 1d,o equilbrio de momentos em relao ao ponto O satisfeito se:
Wx = Ph ou x =
Ph W
Disciplina Atrito
1.3. Movimento iminente. Nos casos em que h pequeno ou as superfcies em contato so muito escorregadias, a fora de atrito F pode no ser alta o suficiente para balancear P e conseqentemente o bloco tender a deslizar antes da condio de tombamento. Em outras palavras, quando P gradualmente aumentada, F apresenta um aumento correspondente at atingir certo valor mximo Fe. A fora de atrito nesta condio mxima denominada fora de atrito esttico limite, figura 1e. Ao atingir este valor, o bloco estar na condio de equilbrio instvel, pois qualquer incremento em P causar deformaes e fraturas nos pontos das superfcies em contato e, conseqentemente o bloco comear a movimentar-se. A fora de atrito esttico limite Fe tem sido determinada experimentalmente, e os resultados mostram que ela diretamente proporcional fora normal resultante N. Essa proporcionalidade pode ser expressa matematicamente como:
Fe = e N
Onde a constante de proporcionalidade e chamada de coeficiente de atrito esttico. Assim, quando o bloco est na iminncia de deslizar, a fora normal N e a fora de atrito Fe se combinam, gerando uma resultante Re, figura 1e. O ngulo formado entre Re e N chamado de ngulo de atrito esttico. Pela figura podemos escrever:
e = tg 1
Fe 1 e N 1 = tg = tg e N N
Valores tabelados de e a tabela 1 apresenta alguns valores tpicos encontrados em vrios manuais de engenharia. Embora este coeficiente seja geralmente menor do que 1 devemos ficar atentos, pois em alguns casos, como alumnio sobre alumnio, possvel encontrar valores de superiores a 1. Fisicamente, isto significa que neste caso a fora de atrito maior do que a correspondente fora normal. Alm disso, deve ser notado que e adimensional e depende apenas das caractersticas das duas superfcies em contato. Uma larga faixa de valores fornecida para cada valor de e pois ensaios experimentais foram feitos sob condies variveis de rugosidade e limpeza das superfcies em contato.
Tabela 1- Valores tpicos para (e)
Madeira sobre madeira Couro sobre madeira Couro sobre meta Alumnio sobre alumnio
1.4. Movimento. Se o mdulo da fora P atuante sobre o bloco aumentado de modo a se tornar maior do que Fe, a fora de atrito nas superfcies de contato diminui ligeiramente para um valor menor Fd. A fora de atrito com este novo valor denominada fora de atrito dinmico coeficiente de atrito cintico. Nesta situao, o bloco no mais se manter na condio de equilbrio esttico (P > Fd). Ao contrrio, ele comear a deslizar com velocidade crescente, figura 2a. A queda apresentada na fora de atrito, de Fe (esttica) para Fd (dinmica), pode ser explicada pela anlise das superfcies em contato, figura 2b. Neste caso, podemos perceber que quando P > Fe a fora aplicada tem a capacidade de provocar o cisalhamento por sobre os picos das irregularidades das superfcies em contato, proporcionando ao bloco uma elevao para fora de sua posio de assentamento sobre a superfcie, permitindo que este deslize sobre os topos desses picos. Uma vez que o bloco comea a deslizar, as altas temperaturas locais nos pontos de contato causam momentneas adeses desses pontos (soldagem). O contnuo processo desta soldagem constitui-se no mecanismo dominante da gerao do atrito. Estando as resultantes das foras de contato Rn ligeiramente mais alinhadas com a direo vertical do que no caso anterior, elas contribuem menos para as componentes de atrito, do que quando as irregularidades esto interligadas.
Figura 2a
Figura 2b
Os experimentos com blocos deslizantes indicam que o mdulo da resultante da fora de atrito Fd diretamente proporcional ao mdulo da resultante da fora normal N. Isto pode ser expresso matematicamente como:
Fd = d N
Neste caso, a constante de proporcionalidade, d, denominada coeficiente de atrito
Disciplina Atrito
dinmico. Valores tpicos para d so aproximadamente 25 por cento menores do que aqueles listados na tabela 1 para e. Conforme mostrado na figura 2a, neste caso a fora resultante Rd tem sua linha de ao definida pelo ngulo d. Este ngulo referenciado como ngulo de atrito dinmico, onde:
d = tg 1
Fd 1 d N 1 = tg = tg d N N
Os efeitos discutidos anteriormente a respeito do atrito podem ser resumidos no grfico apresentado na figura 3, que mostra a variao da fora de atrito F em funo da carga P aplicada. Neste caso, a fora de atrito caracterizada de trs diferentes formas, quais sejam: Figura 3 A fora F uma fora de atrito esttico se o equilbrio esttico for mantido; A fora F uma fora de atrito esttico limite Fe quando atinge o valor mximo que garanta o equilbrio esttico; F denominada fora de atrito dinmico Fd quando ocorre o deslizamento entre as superfcies em contato. Observe tambm pelo grfico que para valores muito altos de P ou para altas velocidades F e d comeam a decrescer devido aos efeitos aerodinmicos. 1.5. Caractersticas do atrito seco. A partir dos resultados de experimentos relacionados s discusses anteriores, podemos estabelecer as regras a seguir, aplicadas a corpos sujeitos ao efeito do atrito seco.
A fora de atrito age tangente s superfcies de contato no sentido oposto ao movimento relativo (ou tendncia de movimento) de uma superfcie em relao outra. A fora de atrito esttico mxima F que pode ser desenvolvida independente da rea de contato, uma vez que a presso normal entre as superfcies no nem muito baixa nem alta o suficiente para deformar acentuadamente ou danificar as superfcies de contato dos corpos. A fora de atrito esttico mxima geralmente maior do que a fora de atrito dinmico para quaisquer duas superfcie em contato. Entretanto, se um dos corpos est se
Disciplina Atrito
movendo com uma velocidade muito baixa sobre a superfcie de outro, Fd ser aproximadamente igual a Fe, isto , d d. Quando o deslizamento sobre a superfcie de contato est prestes a ocorrer, a fora de atrito esttico mxima proporcional fora normal, de forma que:
Fe = e N
Quando o deslizamento sobre a superfcie de contato est ocorrendo, a fora de atrito dinmico proporcional fora normal, de forma que:
Fd = d N
2. Problemas envolvendo atrito seco Se um corpo rgido est em equilbrio esttico quando sujeito a um sistema de foras que inclui o efeito de atrito, o sistema de foras deve satisfazer no apenas as equaes de equilbrio, mas tambm as leis que regem as foras de atrito. 2.1. Tipos de problemas com atrito. Em geral, existem trs tipos de problemas mecnicos envolvendo o atrito seco. Eles podem ser facilmente classificados desde que os diagramas de corpo livre sejam construdos e o nmero total de incgnitas seja identificado e comparado com o nmero total de equaes de equilbrio disponveis
Figura 4a
Figura 4b
2.2. Equilbrio. Problemas desta categoria so estritamente problemas de equilbrio em que o nmero total de incgnitas deve ser igual ao nmero total de equaes de equilbrio disponveis. Entretanto, uma vez que as foras de atrito so determinadas a partir da soluo, seus valores numricos devem ser verificados para nos certificarmos de satisfazer a desigualdade;
Disciplina Atrito
Fe e N
Caso contrrio, ocorrer deslizamento e o corpo no mais permanecer em equilbrio esttico. Um problema deste tipo mostrado na figura 4a. Neste caso, devemos determinar as foras de atrito em A e C para verificar se a posio de equilbrio dos dois elementos de barra pode ser mantida. Se as barras so uniformes e tm pesos conhecidos de 100 N cada, ento os diagramas de corpo livre so os indicados na figura 4b. Existem seis componentes de foras incgnitas que podem ser determinadas rigorosamente a partir das seis equaes de equilbrio (trs para cada elemento). Uma vez que FA, NA, FC e NC so determinadas, podemos mostrar que as barras permanecem em equilbrio, pois as condies FA 0,3 NA e FC 0,5 NC so satisfeitas. 2.3. Movimento iminente em todos os pontos. Neste caso, o nmero total de incgnitas ser igual ao nmero total de equaes de equilbrio disponveis mais o nmero total de equaes de atrito disponveis, F = N Em particular, se o movimento iminente nos pontos de contato, ento:
Fe = e N
Ao passo que se o corpo est deslizando, ento:
Fd d N
Figura 5a
Figura 5b
Por exemplo, considere o problema de calcularmos o menor ngulo para o qual a barra de 100 N mostrada na figura 5a pode ser colocada contra uma parede sem deslizar. O diagrama de corpo livre mostrado na figura 5b. Neste caso, existem cinco incgnitas: FA, NA, FB, NB e . Para a soluo existem trs equaes de equilbrio e duas equaes de atrito esttico que devem ser aplicadas a ambos os pontos de contato na forma FA 0,3 NA e FB 0,4 NB
Disciplina Atrito
2.4. Movimento iminente de alguns pontos - neste caso o nmero total de incgnitas ser menor do que o nmero de equaes de equilbrio disponveis mais o nmero total de equaes de atrito ou equaes condicionantes para o tombamento. Em resultado, existiro vrias possibilidades de movimento ou iminncia de movimento, e o problema envolve a determinao do tipo de movimento que ocorrer. Por exemplo, considere a estrutura com dois elementos mostrada na figura 6a. Neste problema, desejamos determinar a fora horizontal P necessria para causar o movimento da estrutura. O diagrama de corpo livre mostrado na figura 6b considera um peso de 100 N para cada elemento. Existem sete incgnitas: NA, FA, NC, FC, Bx, By e P. Para uma soluo nica, devemos satisfazer as seis equaes de equilbrio esttico (trs para cada elemento) e apenas uma das duas possveis equaes de atrito esttico. Isto significa que quando a fora P aumenta, ela tanto pode causar deslizamento em A e nenhum deslizamento em C, no caso em que FA = 0,3NA e Fc 0,5NC, como deslizamento em C e nenhum deslizamento em A, neste caso, FC = 0,5Nc e FA O,3NA. A situao real pode ser determinada pelo clculo de P para cada um dos casos, escolhendo-se o caso em que P seja menor. Se para ambos os casos P apresentar o mesmo resultado, o que na prtica muito pouco provvel, ocorrer o deslizamento em ambos os pontos simultaneamente; isto , as sete incgnitas atendero s oito equaes.
Figura 6a
Figura 6b
2.5. Equaes de Equilbrio versus Equaes de Atrito. Foi estabelecido anteriormente que a fora de atrito atua sempre de modo a se opor ao movimento relativo ou impede o movimento de um corpo sobre sua superfcie de contato. Lembre-se, entretanto, de que podemos presumir o sentido de uma fora de atrito em problemas onde a fora F seja uma fora de equilbrio e deva satisfazer a desigualdade F < eN. Seu sentido correto s ser conhecido aps a soluo das equaes de equilbrio para F. Por exemplo, se F um escalar negativo, o sentido de F ser contrrio quele que foi presumido. Esta convenincia de presumirmos o sentido de F possvel porque as equaes de equilbrio igualam a zero
Disciplina Atrito
as componentes de vetores atuantes em uma mesma direo. Entretanto, nos casos em que a equao de atrito F = N utilizada na soluo do problema, a convenincia de presumirmos o sentido de F perdida, pois a equao de atrito relaciona apenas os mdulos de dois vetores perpendiculares. Conseqentemente, F deve ser sempre mostrada com seu sentido correto no diagrama de corpo livre quando a equao de equilbrio for utilizada para a soluo de um problema. Considere a situao de empurramos um engradado uniforme com peso W apoiado sobre uma superfcie rugosa. Conforme mostrado no primeiro diagrama de corpo livre, se o mdulo de P pequeno, o engradado permanecer em equilbrio. medida que P aumenta o engradado ou estar na iminncia de deslizar sobre a superfcie (F = eN) ou, se a superfcie muito rugosa (grande ), a fora normal resultante se deslocara para a quina, x = b/2, conforme mostrado no segundo diagrama de corpo livre, e o engradado tombar. O engradado tem uma grande chance de tombar se P for aplicada a uma grande altura h acima da superfcie, ou se a largura b do engradado for pequena.
Disciplina Atrito
3. Exerccios resolvidos 3.1. Determine a faixa de valores que a massa m0 pede ter de modo que o bloco de 100kg mostrado na figura nem comear a ao mover para cima nem deslizar para baixo no plano. O coeficiente de atrito esttico para as superfcies de contato vale 0,30. Soluo. O valor mximo de m0 ser dado pela condio de iminncia do movimenta para cima no plano. A fora de atrito sobre o bloco atua, portanto, para baixa no plano, como mostrado no diagrama de corpo livre do bloco para o Caso I da figura. Com o peso mg = 100(9,81) = 981 N, as equaes de equilbrio daro:
O valor mnimo de m0 determinado quando o movimento para baixo no plano iminente. A fora de atrito sobre o bloco atuar para cima, no plano, para se opor tendncia de movimento, como mostrado no diagrama do corpo livro para o caso II. O equilbrio na direo x requer:
Assim, m0 pode ter qualquer valor desde 5,96 kg at 62,4 kg e o bloco permanecer em repouso. Em ambos os casas, o equilbrio requer que a resultante de Fmax e de N seja concorrente com o peso de 981 N e com a fora trativa T.
Disciplina Atrito
3.2. Determine o mdulo e a direo da fora de atrito atuando no bloco de 100 kg mostrado se, primeiro, P = 500 N e, segundo, P = 100 N. O coeficiente de atrito esttico vale 0,20 e o coeficiente de atrito dinmico vale 0,17. As foras so aplicadas com o bloco inicialmente em repouso. Soluo. No existe maneira de decidir, a partir do enunciado do problema, se o bloco permanecer em equilbrio ou se ele comear a se mover aps a aplicao de P. , portanto, necessrio criar uma hiptese. Assim, consideraremos a fora de atrito direcionada para cima no plano, como mostrado pela seta slida. A partir do diagrama de corpo livre, um equilbrio de foras nas direes x e y fornecem:
F F
O sinal negativo nos diz que se o bloco est em equilbrio, a fora de atrito atuando nele est na direo oposta considerada e, portanto, est direcionada para baixo, como representado pela seta tracejada. Entretanto, no podemos tirar uma concluso sobre o mdulo de F at que verifiquemos que as superfcies so capazes de sustentar 134,3 N de fora de atrito. Isso pode ser feito substituindo P = 500 N na segunda equao, o que d:
Como essa fora maior do que a necessria para equilbrio, conclumos que a hiptese de equilbrio estava correta. A resposta , portanto:
Disciplina Atrito
Conseqentemente, 241,6 N de atrito no podem ser suportados. Assim sendo, no pode existir equilbrio e obtemos o valor correto da fora de atrito usando o coeficiente de atrito dinmico que acompanha o movimento para baixo no plano. Portanto, a resposta :
F = d .N = 0 ,17 x 956 N = 162 ,5 N direcionada para cima