[ n u ~ R n INAlAI KHAN

VIII
O MUNDO
MENTAL
TR_o\DUlO DO IXOLl\:B
PELO
PROF . J O.:\ O CABRAL
RIO DB JANEIRO
1 9 4 2
O Mundo Mental
-1

MANUAIS DE CULTURA MORAL
Coleo INAYAT KHAN
VIII
O MUNDO
MENTAL
Traduo do IngUio
pelo prof. Joo Cabral
COBDITORA BRASILICA
(Cooperativa)
OBRAS DA MESMA GOLEO
E DO MESMO AUTiOR
VOLUM>EiS JA PUBLICA'DOS:
I - Fo0rmao do 'arter
II - O Objetivo da Vida
III - A Sade e sua Conservao
IV - A Molestia, suas Cau&as e sua Cura
V - A Educao - t.a parte: A Educao da
Criana.
VI - A Educao - 2 ... :parte: A Educao da Ju-
ventude
VII - A Cultura Moral
VIII - O Mundo Mental
A SEGUIR:
IX - A Vida Interior
X- As Artes
XI - A Linguagem Csmica
XII - O Misticismo do Som
XIII - A Filosofia
X'IV - A klma, de onde vem e para onde vai
XV - O Caminho da Iluminao
XVI - O Jardim das Rosas
XVII - A Unidade das Idias Religiosas
XVLII - Vadan, ou A Sinfonia Divina
XIX - O Gayan, ou a Msica do Silncio.
Pedidos
COE<DITORA BRASfLICA
( coopera.tiva)
RUA 13 DE MAIO, 44-A - TE'L. 42-3112
Rio de Janeiro
INAY AT [{HAN
S
" " penetJaco no rnundo mental
Na fa.se da ',.
fNDICE\
Prefcio da Edio Brasileira . . . . . . . . . . . . . . . . 7
I' - O Palcio dos Espelhos. . . . . . . . . . . . . . . 15
H - A Concentrao e a Reflexo . . . . . . . . 25
III - As Imagens Mentais . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
IV - A Influncia do Sucesso ou Fracasso.. 40
V + O 1Pensar, Desejar e Tornar-se . . . . . . 51
V:E - Os Reflexos do Corao ...... , . . . . . . . . 57
VU - O Devotamento do tCorao . . . . . . . . . . . 64
VIII __.... A 'Natureza da Alma .. .. .. .. .. .. .. .. 70
IX - A Natureza da Alma depois da morte 75
X - As Qualidades herdadas . . . . . . . . . . . . . 88
XI - A Influncia do Mestre . . . . . . . . . . . . . . 94
XH - As Lies da Vida . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102
XIH - A Concepo de Deus . . . . . . . . . . . . . . . 110'
Aqueles que desejarem especiais
maes sob(le o Movimento Stttfi rundado
por lNAYAT KHAN podem se dirigir a
SHABAZ C. BEST
Rua Julio Ottoni, 579
Santa Teresa
Rio de Janeiro
PREFACIO DA EDIO BRASILEIRA
Este mais uma demonstrao da
original e penetrante viso de Inayat Khan, e
segue apropriadamente a publicao das suas
ltimas obras sob1e a Educao da Infncia, do
Menino e da Ju.ventude.
Nesta exposio, fornece o Autor
te prova de que a Mente similhante a um es-
peLho, e diz que por isso que os poetas Sufi tm
chamado ao Mundo Mental "Palcio de Espe-
lhos".
O Processo inconciente da reflexo um
mistrio que apenas se comea a compreender,
mas sua justa aplicao habilita uma pessoa a
conseguir tudo que deseja. Revela-se a
primeiramente nos animais domesticados pelo
homem, porqu.e, pa1ecfJndo que eles manife8ta-
ram a prpria inteligencia, mai8 das vezes
reflex.o dos pensan1-ento8 e desejos daqueles
. que os tm criado e treinado. Uma pessoa que
VIII
tenha desenvolvido sua fora de t.ontade pela
concentrao mental ser .. capaz de dirigir sua
ateno para qualquer assunto em que estiver
profundamente interessado, e. refletindo sobre
a sua mente a imagem desse assunto lembra-se
das suas qualidades e compreende a sua natu-
1eza. Construindo imagem mental,, pode mesmo
transmitir o quadro mente de outra pessoa.
O Autor explica ademais qu,e, do pontfJ de vis-
ta psicolgico, a mente a superfcie do cora-
o, e o corao a profundeza da mente, por-
tanto ambos tm a qualidade refletiva. A voz
de uma pessoa sincera penetra no corao, en-
quanto que um pensamento superficiaJl, vindo da
superfcie, ?o pode convencer nem influen-
ciar outras pessoas profundamente. Nisso est
o mistrio da telepatia, porqu.e dois coraes afi-
nados com simpatia e sinceridade podem comu-
nicar seus pensamentos e sentimentos um a.o ou-
tro, mesmo a uma grande distncia que os se-
pare: Essa transmisso no por meio de pala-
t.ras, mas de idias, as quais podem ser trans-
mitidas na forma de uma pintura, que a mente
traduzir em forma de palavras. Por uma ra-
zo similhante, podemos sentir a gentileza ou
maus sentimentos de uma pessoa, sem que ela
profira u.ma palavra.
IX
Analisa Jnayat Khan o mistrio subjacen-
te na escrita automtica, nas obsesses e comu-
ni.caes com o m o r t o ~ e expl!ica os perigos que
acompanham tais prticas por indivduos des-
treinados ou desqualificados. Mostra tambem
o racional do otimismo e da orao, a;ponta como
pode uma pessoa de corao puro anular maus
pensamentos de. outras, e trazer boas influn
cias prpria vida. Dia ele que os erros pas-
sados podem ser degraus de pedra para o su-
cesso presente e felicidade futu.ra, quando a in-
teldgncia treinada se. torna criadora, e o objeto
desejado se apanha refletido no espelho da
mente.
O axioma familiar "como pensais, assim
vos tornareis" posto em relevo, e segundo a
fora de vossos desejos assim se realizaro t.os
sos desejos. Se um homem de negcios pensar
constantemente em sucesso e nos melhores
meios de wlcan-lo, seguramente ser bem su-
cedido. especiaJmente se for seu desejo manu-
faturar artigos uteis, e prestar bons servios
ao pblico. Se e.le, porm, procwrar proveito
pela destruio ou perda de outrem, esse pen
samento, eventualmente, reagir e refletir so-
bre ele 'mesmo, e assim lhe trar desastre. A
luz da Verdade, e da Beleza, e a da Abundncia,
X
todas vm dos planos mais altos, e passam atrar
vs do corao humano para a mente. Assim,
quando o corao est coberto p@la fria indife-
rena felicidade dos outros, isso impede o
trnsito de tais dons do alto. a expanso do
como por pensamentos delicados e aes ge-
nerosas que abre o caminho para os dons e bernr-
os do Infinito.
O segredo da definido tambem
pelo Autm, que diz as pessoas que pensam em
coisas belas vero e colhero beleza ao redor de
si. Mas o reverso tarnbe1n .e os
pessimistas acharo justificao para sua d-
vida e desespero. Da a necessidade de resguar-
dar noss.os pensamentos e atitude e.m relao
vida. Por exemplo, a associao com pessoas que
esto acostumadas a ter m sorte espalhar suas
condies de infelicidade ao redor deLas, enquan-
to que se um homem de negcios se associar com
parceiros que forem bem s.ucedidos na vida, isso
aumentar sem dvida o sucesso e prosperi-
dade dos seus negcios.
O mstico e o-vidente retiram todas as co-
berturas materialisticas dos seus coraes, e
assim podem focalizar sua l(uz como qu&iram.
Podem perceber, portanto, a naturwa e alma
de outra pessoa, sem esforo, porque isto se
XI
reflete naturalmente no espelho dos seus co-
raes. Ainda mais, o corao humano est de
posse da chave para a solu.o dos maiores mis-
trios da vida, o que da existncia de
Deus, porque o corao o Stacrrio do Te?n-
plo de Deus. Quando o homem compreender
verdadeiramente a sua prpria natureza espi-
ritual como um ser imortal, compr'eendetr
meUwr a natureza divina de Deus.
A alma reflete a dos planos atravs
dos quais ela passa no seu caminho para a in-
carnao. No domnio anglico, se manifesta ela
como anjo, no mundo dos gnios, reflete dos
gnios as qualidades, e no plano fsico do ho-
mem, toma a forma humana, o que demonstra
1nais u1na ve.z o efeito da refle:xo.
inutil lamentar o passado, s o presente
twsso para que faamos dele o que quisermos,
logo o futuro ser como desejarmos. Aqueles
que acreditam em Cu e inferno os experimen-
ta?o sem dvida depois da morte, segundo suas
prprias idias. Se criarmos agora um pu:tf1C1r
trio e um paraso em nossa mente e corao,
os acharemos na outra vida, porque cercamos
a alma de tudo qu.e na terra colhemos. Quo ne-
cessrio ento tJentarmos compreender e achar
a rz,essa matrial aqwi e agora.
XII
Inayat K.han conta-nos tambem que en-
quanto vivemos neste mundo a est cober-
ta pela que no nem perrnar
nente nem esta de separao in-
dura somente at que a se capa-
cite de que parte do Divino, Aquela Suprema
Vida e Fonte de tudo. Esta convico a mta
e destinao da vida humana.
. Explica-nos tambem que herda cada pessoa
qualidades dos seus ancestrais e raa,
tal como de seus pais. Quaflidades tambem traz
a alma, das esferas, atravs das quais passa no
seu caminho para a terra, e isto importa para
o aparecimento de gnios numa sem e.-IJ.i-
dncia anterior de tais qualidades.
Aprende-se de todos os mestres; primeira-
mente dos pais, depois, dos professores na es-
cola, e mais tarde, da vida no mwndo. Entretan-
to maior influncia pode vir de um mestre es-
por meio da reflexo de suas maneiras
e vida, sobre a mente e o corao do dismpulo,
em silncio. As o bras de um artista inspirado
vm da e quando justamente compreen-
didas penetram nas almas dos outros. Grandes
artistas so como e'Spelhos, refletem a verdade
e a beleza das esfttras su.periores; da a influ-
ncia elevadora diL verdadeira arte e cultura
xrn
. . - .
pom que todo mundo tende a refletir as impres-
ses ao seu redor. O nosso Au.tor diz ainda mais
que a disciplina de si mesmo conduz ao controle
e ao domnio de si mesmo, e por meio desta
fora pode a pessoa dirigir e got.ernar sua vida
e evoluo. Neste caminho, o segredo da sere-
'Yifidade ficar "cego e surdo a tudo que for de-
sagradavel", entiio melhor responderemos a tu-
do que for "bom, belo e verdadeiro" .
Grandes chefes e artistas criadoTes tm
&ido inspirados pelo reflexo da vida e obra de
outros que os precederam, sempre em mais al-
tos g'i'aus. As maiores almas, tais com Jesus
Cristo, procuraram fazer a Vontade e refletir
a Natureza Divina de Deus, nesta aspirao
podemos compreender o mistrio de personali-
dades divinas, Mestres e Projetas.
Para explicar como a concincia de Deus
ab'raa todo o universo e ai'i1Jda transcende toda
manifestao, lnayat Khan compara-O com o ho-
mem, . que sente a alegria da saude, ou a pwna
da molstia, e entretanto pode eletar a sua con-
cincia acima dos limites do corpo e da mente,
como um prisioneiro pode ignorar sua cela e
em passadas cenas de deleite. Assim po-
demos ns alcanar a fora para elevar-nos aci-
ma de todas as infl'l!ncias contrrias da vida,
XIV
e ficamos SJenhores do nosso destino. Diz ele
que o sef]lredo fa;zer o corao vivo, pew amor
e a devoo, pela gratido e o servio despido de
egosmo, no caminho da conqu.ista espiritual.
Por meio de tais esforos ficaremos aptos a fo-
calizar a nossa mente e o corao para Deus,
primeiramnte idializarrtdo-0, e depois Reali-
:ro.ndo-0.
Rio de Janeiro, Maro de 1942.
SHABAZ
I
O PAL:CIO DOS ESPELHOS
O mundo mental, na linguagem dos poetas
Sufs, chama-se A,ina Khna, que significa o Pa-
lcio de Espelhos.
Dos fenmenos que encerra esse PaJcio
de Espelhos, muito pouco sabemos. No somen-
te entre os seres humanos, mas tambem na cria-
o inferior, encontramos os fenmenos da re-
flexo. Em primeiro logar, nos admir:amos de
como os pequenos germens e vermes, pequenos
insetos, que vivem noutras pequenas vidas, al-
canam, atraem seu alimento. De fato, a mente
se lhes reflete sobre as pequenas vidas, que se
tornam ento seu alimento .
Dizem os cientistas que os animais no
possuem mente. At um certo ponto, verdade.
Eles no possuem mente, - no o que os cien-
tistas denominam mente, de acrdo com a sua
16
!NAYAT KHAN
terminologia; mas, segundo a m1stica, a mesma
inteligncia que se encontra no homem encon-
trar-se deve, num gru menor, nas criaturas in-
feriores. E1as possuem uma mente, mas no
clara; e da, comparativamente, poder-se-ia di-
zer que no tm mente alguma. Para o mstico,
ao mesmo tempo, embora no parea ela to
clara, um espelho, pois que mente ele chama
um espelho.
A amizade, a hostilidade, as lutas que se
do entre pssaros e animais, seu acasalamen-
to, - tudo isso acontece, n.o como pensamen-
to ou imaginao, ms como reflexo de um es-
pelho para outro. Que mostra isso? Mostra que
a ;linguagem da criao inferior mais natu-
ral do que a linguagem formada pelo homem, e
este se tem distanciado muito daquele modo in-
tuitivo de expresso.
Interrogai a um montador a respeito do
prazer de montar, que ele considera maior e me-
lhor do que outra qualquer forma de esporte
ou divertimento. Ele pode no ser capaz de
explicar a razo di5lso, mas a razo este fe.:.
nomeno da reflexo,- quando o reflexo do seu
pensamento caiu s0bre a mente do Cavalo, quan-
do se focalizaram duas mentes uma na outra, e
o cavalo sabe aonde o cavaleiro deseja ir; e
O 'MUNDO MENTAL
17
existe mais simpatia entre o cavaleiro e o ca-
valo, maior prazer se experimenta em montar.
Depois de montar o cavalo, em vez de sentir-se
cansado, sente-se a pessa exaltada; o prazer
maior do que o cansao. E quanto maior fr
a comunicao entre a mente do cavalo e o
cavaleiro, maior ser o praz,er que o cavaleiro
deriva disso, e assim faz o cavalo. Com o tem-
po, comea o cavalo a ter simpatia com o seu
cavaleiro.
Conta-se uma histria de um cavaleiro ra-
be que sucumbiu no campo de batalha. No ha-
via ninguem para cuidar do seu cadver; e o
cavalo ali ficou de p trs dias sem comer nada
ao sol abrasador, at que chegou gente e
o cadver.
O cavalo esteve a guardar o corpo do seu
senhor contra os abutres.
conhecida a histria de um co que la-
trs dias depois da morte da sua compa-
nheira, e morreu no fim do terceiro dia
O que a vemos a reflexo, pela eles
se comunicaram de um para o outro.
Muitas vezes vemos cavalos e outros ani-
mais trabalhando no circo maravi:lhosamente
de acrdo com a instruo que lhes foi dada
isso a mente deles? Aprenderam eles isso? No,
-2
18
INAYAT KHAN
eles no aprenderam isso, no est isso na sua
mente. que, no instante em que ali se pe de
p o homem com o seu chicote, a reflexo da sua
mente se espalha sobre a mente deles. Se o dei-
xassem ss eles no trabalha:riam, no pensa-
'
ria naquU:o. A razo que, como se diz. no Al-
coro "Fizemos do homem o rei da cria.o".
. '
Significa isto que todos os seres que o rodeiam,
grandes ou pequenos, so todos atrados pelo
seu magnetismo; so todos atrados para ele,
todos o consideram seu superior, porque ele
o representante da Divindade, e eles incon-
cientemente sabem disso e se rendem a isso. Ele-.
fantes em Burma trabalham nas florestas, car-
regando toros de madeira, mas o pensamento do
homem que os treina, se espalha sobre eles,
faz que executem o trabalho. Quando se estuda
isso minudentemente se chega concluso de
. '
que no o treino, a refJexo; o que o homem
pensa, na sua mente, os animais vo fazendo
Tornam-se eles, por assim dizer, as mos e as
pernas dos seus donos. Dois seres se tornam
um no pensamento; como diz um verso na ln-
gua persa, quando se tornam um, dois coraes
abrem caminho atravs de montanhas. Pode-se
estabelecer uma relao entre o homem e um
O MUNDO MENTAL
19
animal; o difcil, porm, estabelecer-se essa
unidade entre .os seres humanos.
1Sahemos a histria de Daniel, que entrou
na caverna dos lees, e logo os lees ficaram
mansos . Quis ele que assim o ficassem? No.
Foi a calma e a paz do corao de Daniel sobre
os lees refletindo-se que os fizeram quietos
como ele. A prpria paz do profeta se tornou a
paz deles ; eles se tornaram pacficos .
Poder-se-ia perguntar: -"Depois que Da-
niel deixou a furna dos -lees, permaneceram
eles assim mesmo?" Ha dvida sobre isso. No
quer isto dizer que algum remanescente l no
ficasse, mas que a predisposio dos lees des-
pertou; logo que Daniel saiu da furna, voltaram
os lees sua qualidade leonina.
- Muitas vez-es passaras e animais do si-
nal de morte na famlia. Poder-se-ia pensar que
eles recebem de alguma parte esse conhecimen-
to, ou que eles tm uma mente que pensa a res-
peito disso. O estado se reflete sobre eles. O
estado da pessa que est morrendo, o pensamen-
to daqueles que cercam aquela pessa, o estado
do cosmo naquele momento, todas as circuns-
tncias, tudo se reflete ali na sua mente. E eles
conhecem, comeam a expressar seus sentimen-
to, e se tornam avisadores da morte, que se a pro-
I
I
20
-INAYAT KHAN
xima. Se um animal de estimao que serve
de espelho, projetam os animais seu pensar e
sentir sobre o ser humano? Reflete o ihomem
0
sentir de um animal? Sim; s vezes os seres
humanos que se acham em simpatia com um
animal de estimao lhe sentem dor, sem ne-
nhuma outra razo. O animal no pode expli-
car sua pena, mas eles a sentem, at que ponto
est sofrendo o animal. Alm disso, a coisa
mais curiosa que, nas fazendas, vemos os pas-
tores sentindo o reflexo dos animaiiS, fazerem
' .
zoada cantarem ou dansarem no mesmo sentido
que animais, e mostrarem de muitos modos
. os traos dos animais.
O mais interessante observar como os fe-
nmenos de reflexo entre animais e o homem
se manifestam vista de quem os observa aten-
tamente; e isso nos explica, ser a linguagem
um meio externo pelo qual nos comunicamos
uns com os outros. Mas a linguagem natural
esta reflexo que se projeta e reflete entre um
e outro. Essa que a linguagem universal; e
uma vez que essa linguagem compreendida,
a pessa pode comunicar-se no somente com os
seres humanos, mas at com as creaturas in-
feriores. No fbula o que o povo conta que
os santos no tempo antigo costumavam falar
O MUNDO MENTAL . . .
21
com animais, com pssaros; a verdade. Ape-
nas, no falavam com eles na linguagem que
usamos ma vida quotidiana; falavam naquela
linguagem natural em que todas as almas se
comunicam umas com as outras.
Ajuntemos a isso as touradas, que tm lo-
gar em Espanha, e as lutas de elefantes conhe-
cidas na ln dia. No que os elefantes por ve-
zes lutem na floresta. A mente dos espectado-
res desejosas de que lutem os elefantes que d
um estimulo a sua natureza lutadora, e esse de-
sejo refletido sobre os amimais os faz inclina-
dos a lutar, assim que se sentem livres. Milha-
res de pessas que observam esses esportes, es-
peram todas que eles lutem, e a espectativa de
tantas mentes sendo refletida sobre esses pobres
animais d-lhes a fora e o desejo para lutarem.
Ha domadores de serpentes que dizem
atrair as serpentes das suas locas. Sim; a
msica da flauta; mas nem sempre a nica,
a mente do feiticeiro refletida sobre as ser-
pentes que atrai as serpentes para fora das suas
locas. A msica fica sendo uma excusa, um
meio.
Ha homens que conhecem um processo m-
gico para afastar certas moscas de uma casa
ou um jardim; e experimentado qqe
.li
INAYAT KH'AN
no espao de um dia uma pessoa foi capaz de
afastar as moscas de um .lugar. a sua mente
refletindo sobre as pequenas mentes daqueles
insetos.
A fora de afetar a mente dos insetos
uma evidencia de fora, no uma peculiaridade.
Sem dvida, a mente humana incomparavel-
mente maior em fora e -concentrao, e natu-
ralmente projeta seu pensamento sobre os
objetos que escolhe para isto. Somente aqueles
que sabem focalizar sua mente podem fazer isso.
Se um homem faz sairem as moscas de um lu-
gar, isso no quer dizer que ele tem na mente
alguma coisa de mosca, mas apenas que ele po-
de focalizar sua mente sobre as moscas, o que
outro homem no seria capaz de fazer, porque,
geralmente, uma pessoa no dirige seu pensa-
mento para isso. Ela no pode imaginar que tal
coisa possa acontecer; e como no acredita nis-
so, no pode concentrar sua mente. E mesmo se
tiver refletido, para experimentar, no ter obti-
do sucesso.
Desenvolve-se o poder da vontade focali-
zando-se o prprio ,pensamento em certo objeto
da propria concentrao ; e portanto, pela pro-
pria fora de vontade, pode uma pessoa desen-
volver a-quela coisa particular, melhor do que ou-
O MONDO MENTAL 23
tra qualquer. Por exemplo, aqueles que tocam
instrumentos de metal numa banda naturalmen-
te desenvolvem a fora de soprar os instrumen-
tos; e sero capazes de tocar instrumentos de
madeira, clarineta ou flauta; mas, ao mesmo
tempo, se praticarem alguma vez a corneta po-
dero tocar corneta melhor do que a flauta; por-
que em ambas se trata de soprar, daquilo mes-
mo a que esto acostumados. Assim com a con-
centrao. Por exemplo, se um domador de ser-
pentes, com toda a sua fora de atrair serpen-
tes, for junto a um banco e quiser atrair uma
carteira, no o poder fazer bem. Ele pode
atrair serpentes, mas no pode atrair uma car-
teira.
Sem dvida, uma vez desenvolvida a fora
de vontade :numa direo, mostrar-se- que
util em todas as coisas que a pessoa . .faz.
Tem havido casos em que os cavalos tm
sido capazes de resolver complicados problemas
de matemtica para os quais aqueles que lhes
propuseram a questo no acharam a soluo.
o reflexo da mente do ensinador projetado so-
bre a mente do cavalo. Pois que o cavalo no
capaz de fazer matemtica, nem isso
Por meio de uma espcie de processo medinico
que uma idia matemtica se projeta sobre
1/
24 INAYAT KHAN
a mente do cavalo. possvel que mesmo a pes-
sa que faz isso no o saiba; mas o mero es-
foro dela por fazer o cavalo resolver problema
de matemtica tenha produzido o sucesso.
A fora de projeo pode ser aumentada
com o aumento da fora da vontade. Pode ser
desenvolvida pelo desenvolvimento da vontade,
do pensamento, do sentir. Ha tanto que apren-
der nas pequenas coisas, o que nos pode revelar
os mais importantes segredos da v i < ~ a , se ape-
nas tivermos os olhos abertos, e estivermos de-
sejosos de observai' os fenmenos,
II
A CONCENTRAO E A RE.FLEXO
O fenmeno da reflexo difere na sua na-
tureza e carater, especialmente pela razo da
natureza das diferentes personalidades.
Em primeiro logar, a pessoa cujo pensa-
mento se faz refletir no corao de outra: pode
ter uma forma concret no seu pensamento,
pode ser capaz de apoderar-se dele como de um
desenho ou pintura. Nesse caso a reflexo cai
no corao de outro homem claramente; mas,
se a mente estiver to dbil que no possa man-
ter um pensamento convenientemente, ento,
o pensamento ser mbil e no poder refletir
a mente de outrem conv.enientemente. Se a men-
te da pessoa no estiver em boas eondies, en-
to a imagem ali no ser clara. Se a mente de
uma pessoa no estiver clara, se estiver trans-
tornada, se estiver Q.emasiado ativa
1
ento ess&
-
li
26 INAYAT KHAN
mente no poder transmitir inteiramente a re-
flexo.
A ref;lexo assimilha-se a um la:go. Se o
vento estiver soprando e agitada estiver a agua,
ento no ser clara a reflexo ; quando, porm,
a agua estiver quieta a reflexo ser clara. As-
sim aeontece com a mente. A mente que se acha
em repouso capaz de receber reflexo. A men-
te forte, capaz de produzir um pensamento, uma
imagem, sustentando um pensamento, seu pen-
samento pode projetar-se alm de quaisquer li-
mites que se lhe possam apresentar para ocul-
t-la.
Pode-se perguntar: O corao reflete a
mente, ou a mente o corao? Em primeiro lu-
gar devemos saber que a mente a superfcie
do corao, e o corao o intimo da mente. A
mente e o corao, portanto, so uma e a mesma
coisa. Se chamamos a isso um espelho, ento
a mente a superfcie do espelho e o corao o
seu ntimo ; no mesmo espelho se reflete isso.
Espelho uma rpalavra muito ba, porque en-
oerra ambos, a mente e o corao . .Se vier a re-
flexo da superfcie do corao,' tocar a su-
perfcie; se vier do ntimo do corao, alcan-
ar o ntimo. Justamente como a voz da pessoa
insjncer?.; Vem da su:perfcje e chega a<m
--
- -
'
0 MUNDO MENTAL
27
ouvidos . A voz da ;pessoa sincera vem do ntimo
e vi at ao ntimo. O que vem do ntimo entra
at ao ntimo, e o que vem da superfcie fica na
superfcie.
Nada pode remover duas mentes que se
acham em fco uma com a outra.
Nenhuma pessoa com um corao afetuoso,
com um terno sentimento, nega:r :que duas al-
mas simpticas se comunicam uma com a ou-
tr. A distncia nunca obstculo a este fe-
nmeno. No vimos na recente guerra (1914-
-918) -as mulheres dos soldados, suas mes, es-
posas e filhos ligados aos seus queridos lutan-
do na frente e sentindo o que eles sentiam e sa-
bendo quando um soldado era ferido ou morto?
Muitos diro que o pensamento que se ex-
tende. Mas, ao mesmo tempo, as vibraes mes-
mas do pensamento nas suas profundezas se
tornam uma pintura, um desenho. Um pensa-
mento, um desenho particular, uma pintura par-
ticular se fez refletir, e sendo assim espelhada
sobre outra pessoa, a sente esta num istante.
A reflexo no igual a uma conversao.
Numa conversao, cada palavra patenteia a
idia, e assim a idia gradualmente se torna
manifesta; na rttJ.exo, porm, toda a ida
se reflete nu;n instante, :porque a idia
I
I
.: .

28 INAYAT KHAN
ali est na forma de uma pintura, e, se espelha
na mente que a recebeu.
Esta teoria que nos desvenda o mist-
rio jacente na conexo entre o vivo e o morto.
A idia da obsesso pode ser assim explicada
que a reflexo do pensamento de alguem do
outro lado bem apanhada por uma criatura vi-
va na terra, se torna uma obsesso. Muitas
veoos pode um jovem anarquista matar alguem;
achar-se- afinal que no houve uma grande
inimizade entre ele e a pessoa que ele matou;
o mistrio estava por trs. Alguem inimigo da
pessoa que matou, l do outro lado, refletiu seu
pensamento nessa mente passiva de um jovem
que atravs do seu entusiasmo e energia se sen-
tiu inclinado a matar alguem, no sabendo ele
mesmo a razo, e causou a morte de alguem.
Especialmente entre anarquistas se encontram
tais casos. Devido aos seus extremados pontos
de vista seu corao est em condies de recep-
tividade, podem eles receber um reflexo bom ou
um mau, e obrar consoantemente.
possivel que uma pessoa vivendo na terra
esteja apta a projetar seus pensamentos e so-
bre aqueles que esto no outro Jado? Gada re-
ligio tem ensinado isso mesmo; porm a evolu-
o intelectu-al da poca p11:esente no c;> tem
O MUNDO MENTAL 29
abraado inteiramente. Por exemplo, entre os
Hinds ha hoje um costume de oferecer ao
lecido tudo que ele amava, na forma de flores
e coloridos, na forma de circunstncias natu-
rais, rio, corrente, montanha, arvore. De tudo
isso de que o seu querido gostava, fazem-lhe eles
uma oferta. Entre alguns :Povos ha um costu-
me de fazer deliciosos pratos, preparar incen-
srios, flores e perfume; e ento, depois de ofe-
rec-los ao morto, participam daqueles pre-
sentes. Porque, se eles participam daquilo -
rea embora extranho - ainda a sua expe-
rincia que se reflete e portanto direito para
eles participar daquilo embora aquilo seja
cido ao morto, !POrque por meio deles que o
morto recebe aquilo; so eles o medium para a
oferta:. Portanto, se elE\91 daquilo,
oferecem aquilo, do aquilo ao morto. o unico
meio pelo qual podem lhe dar aJquilo
Sujere-nos isso uma outra idia: aqueles
que choram a morte das pessoas quer)das cer-
tamente continuam a causar pena aos que parti-
ram; porque deste mundo, em vez de terem uma
experincia melhor e de sobre eles
'
juntam pena e oferecem-na ao seu morto. A coi-
sa mais s;bia que se poderia fazer para aqueles
que se foram projetar-lhes o pensamento de
30 INAYAT KH'AN
alegria e felicidade, de amor e :beleza, de calma
e paz. E' deste modo que se pode melhor aju-
dar o morto.
Perguntar-se-: Pode-se influenciar uma
alma que passou alm deste mundo, a tal ponto
que se possa lev-la a exercer uma ao especial
sobre a mente de outra pessoa na terra? uma
coisa teoricamente possvel, mas porque pertur-
bar aquele esprito? .Se podeis influenciar
Ie esprito, porque no influenciar esta pessoa
que est na terra?
Na epoca atual, de crescente materialis-
mo, muito poucos reconhecem os casos de obses-
so. Muitas vezes os obsedados so mandados
para o asilo dos loucos, onde se lhes do rem-
dios e diferentes tratamentos, pensando os m-
dicos haver alguma coisa desarranjada no c-
lebro, na mente da pessoa, alg;uma perturbao
nos seus l!lervos. Mas em muitos casos assim
no ; sim, uma consequncia disso.
Quando uma pessoa obsedada, natural-
mente perdeu o seu ritmo, o seu tom, e por con-
seguinte no tem sentimento prprio, sente-se
extravagante. Um continuo desconforto causa
uma desordem no seu sistema nervoso, dando
isso causa a diferentes molstias. Mas a raiz
disso est na obsesso. A obsesso pode ser
O MUNDO MENTAL 31
sada no somente pelo morto mais tambem por
pessoa viva; apenas no caso do primeiro se
chama ob.sesrso, no caso da segunda chama-
da impresso. Mas o que geralmente acontece
que as almas pres:as terra so ou agarradas
terra, ou os inspiradores ou protetores da
terra. E esses inspiradores e p:rotetores da
terra, o seu amor vem como se fora uma cor-
rente. No ha dvida que ele poderia vir para
os indivduos, mas ao mesmo tempo vem ele
mais das vezes para a multido. No pode,
portanto, ser isso ol'assificado com aquilo a
que chamamos obsesso; pode chamar-se uma
beno. Mas ento 3/8 outras almas,
das que so terra, quando refletem, o fa-
zem em razo de uma necessidade; e por maior
que seja uma razo, uma necessidade imper-
feio, porque limitada. Alm disto, a criao
um fenmeno em que todo indivduo deve ter
sua liberdade, que por direito lhe compete. Quan-
do privada se v dessa liberdade, por obsesso,
por mais auxiliada que seja, fioo a pessoa mu-
rna condio limitada. passivei, admnais,
que a obsesso se torne mais interessante, e se
a pessoa obsedada se curar da obsesso, n.o che-
gue a sentir. O que ela sente que h uma vi-
I
I
I
I
I
I
I 11
i'

I
'1
li'
I'
I!'
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,.
I
i',
I
32
INAYAT KHAN
da, por cuja experjjncia ela passou durante
um longo tempo, ausente de si mesma.
A inclinao para escrita automtica vem
de uma tendncia medinica. A pessoa com uma
medinica naturalmente inclinada
a escrita automtica. A razo que pela escri-
ta principia ela a em co-
nexao, forma uma conexo com almas flutuan-
tes no ar. No importa com que alma se pe ela
em de que alma comea a receber a
reflexao, e ento comea a lanar aquilo no pa-
pel. ha que, uma vez interessadas nu-
ma no alem, ficam interessadas nesta alma
Forma-se ento uma conexo. De-
: Is,_ e natu_ral que dia e noite, ou vrias vezes
, dia .e noite, s.e abra uma comunicao. Mas
ha perzgo meste jogo. intere'ssante comear
com ele, mas depois muito dificultoso livrar-
se dele.
A conhecida a histria de uma pessoa que
se pos em eomunicao espiritual to profunda-
mente que os espritos no a teriam deixado li-
vre um momento. Era bem como um telefone
a tocar todo dia, a cada momento E .
a COISa
mais curwsa era que ela se acostumou a viver
com eles. A coisa mais curiosa era que ela se
acostn""'ou di"zer . "N- .
...... - ao preciso de vocs. Vo-
MUNDO MENTAL
33
se embora. " Mas eles vinham outra vez. Dia e
noite o pobre homem estava exposto ao tocar do
telefone. No podia livrar-se, uma vez que se
deixara ficar aberto para eles. Deixara-se ficar
em fco para o outro mundo, e ento no po-
dia fechar a porta.
Alm disso, um grande esforo nervoso,
pela razo de que os nervos devem estar afina-
dos para receber uma comunicao. Os
intuitivos do corpo so feitos de nervos delica-
dos, mais delicados do que se pode imaginar .
No so matria, no esprito; fkam entre
uma e outra. Toda vez que estes nervos se tor-
nam sensitivos, est aberta a comunicao com
0
alm. Mas ento a dificuldade que as grossas
vibraes deste globo terrqueo so demasia-
do fortes sobre os nervos e os nervos no po-
. dem responder s chamadas deste mundo gros-
seiro; deste mundo material eles se tornam de-
masiado finos. O resultado que uma doena
nervosa dai nos vem. Minha desaprovao nes-
linhas ao refinamento de alguns
mdiuns usados pelos grandes exploradores do
espiritismo; no a de um descrente nem
de alguns que destas coisas fazem caoada; e
apenas para o bem estar dessas pessoas simples,
de que aquele fazem uso, e cujas vidas so ar-
-3
34
INAYAT KHAN
ruinadas afim de que os outros possam des-
cobrir algum segredo. Mas que segredo afinal
descobrem eles? Nada. No o espectador que
achar de un. jogo o segredo, o prprio ator.
A que a graa est. Se quiserem fazer ex-
perincia, que experimentem eles mesmos e so-
fram as consequncias. Esta maneira, porm,
de tomar um jo.vem medinico, inexperiente,
e tirar proveito de sua ruina, no traz nem a
benaventurana nem o conhecimento que eles
procuram.
Em resumo, quer a comunicao entre se-
res vivos, quer a comunicao entre os vivos e
as almas que tenham passado pela terra, es-
to na reflexo, uma reflexo que d e p e ~ d e da
fora e clareza da mente.
I
III
AS IMAGENS M1ENTAIS
Um <pensamento pode ser .comparado ruo
filme cinematogr.fico projetado numa tla.
No um quadro, so as diversas partes desse
quadro, gue, mudando-se a cada momento, com-
pletam o quadro. D-se o mesmo com o pensa-
mento. No sempre que mantem cada pessoa
um quadro na mente. Em regra, uma pessoa
faz um quadro por um processo gradual de com-
plet-lo.
Por outras palavras, a pintura do pensa-
mento feita por partes, e quando o pensamen-
to est completo as partes se reunem para for-
mar um quadro. E' de acordo com esta teoria
que os msticos fiz,eram Mantra Shastra, a cien-
cia dos fenmenos psicolgicos dias palaV!ras,
a que os sufis deram o nome de ,W asifa, porque
para a concentrao do pensamento, no bas-
36
INAYAT KHAN
ta manter-se uma idia na mente. Em primeiro
lugar, isso no possivel para toda gente; so-
mente para certas pessoas possvel manter
uma idia como um quadro. Se alguma possi-
bilidade existe de completar-se um pensamen-
to, somente pela repetio. E' por isso que
a arte oriental tambem mostra a mesma ttm-
dncia.
Se um canteiro roda de um muro feito
de rosas, uma rosa se repete vinte mil vezes,
de modo que a pintura de uma rosa completa
pode ser feita depoiiS de um lance de vista so"'
bre ela. Se muitos obj.etos se apresentam dian-
te de uma pessoa, ,nenhum objeto pode ser apa-
nhado pelo pensamento. O melhor meio, por-
tanto, que os msticos adotaram, para a con-
templao, repetir uma palavra sugestiva
de c.erto pensamento, uma palavra que produ-
za a pintura de certa idia pela sua repetio.
Entretanto a repetio no pode bastar a es-
te objetivo. Para gravar sobre uma :pedra cer-
ta figura, no basta uma linha traada a la-
pis; temos de esculpi-la .. E assim, para fazer
uma impresso real de uma idia profundamen-
te gravada no subconciente, necessrio se tor-
na uma gravao. Isto se faz pela Tepetio
de uma palavra sugestiva de certa idia. Ne-
O MUNDO MENTAL 37
nhuma repetio perdida; pois que toda re-
petio no somente a completa, mas tambem
a torna profunda, produzindo com isso uma
ntida impresso l!lO subconciente. Fora do
processo mstico, vemos pessoas, na vida quo-
tidiana, que tm repetido na mente o: ,pensa-
mento de magua, de raiva, de saudade e desa-
pontamento, de adimirao e amor, inconcien-
tes da obra que dentro de si mesmas esto fa-
zendo; entretanto uma funda impresso disso
nas profundezas dos seus coraes se ter for-
mado, que se projetar sobre cada pessoa que
elas encontrem. A gente no pode evitar que
seja atrada para uma pessoa amavel; portan-
to, inconcientemente, somos atrados para uma
pessoa a que nos afeioamos; no podemos tapar
os olhos aos sentimentos de dio vindos de al-
guem; no podemos ignorar o sentimento de
magua, partido de uma pessoa, pois que a ma-
gua es.t gravada no seu corao. Este o fen-
meno da reflexo, reflexo de uma mente sobre
outra.
Ha pessoas que podem sentar-se juntas, tra-
balhar juntas, viver juntas por toda a vida,
e entretamto podem estar fechadas uma para
a outra. E' a mesma reflexo. Se o corao de
uma pessoa est fechado, sua influncia para
li
I
38 INAYAT KH,AN
fechar o corao de outra. Uma pessoa com o
corao fechado fechar o corao de outras,
onde quer que ela v. Mesmo a pessoa mais
amavel sentir irremediavelmente fechadas as
portas do corao, com o maior pesar, no sa-
bendo o que aconteceu. E' um fenmeno incon-
ciente.
O prazer e o desprazer, porta!ri..to, a feio
e a irritao, a harmonia e a agitao, sente-se
tudo isso quando se encontram duas pesosas,
sem pronunciarem uma palavra. So as nossas
palavras que ocultam a realidade. Se no exis-
tissem palavras para ns, o fenmeno da terra
do espelho tal que prece como se todo o uni-
verso nada mais fosse do que um palcio de es-
pelhos, m:um espelho refletindo o outro . Se ns
no o vemos, no quer isto dizer tque no o po-
demos ver; signifioa apenas que oo nossos olhos
no esto !!empre abertos ,e assim ficamos 'na
ignorancia da situao. Se isto verdade, no
h nada neste mundo que uma pessoa possa oeul-
ta:r. Como diz o Alcoro, no Dia do julgamento
nossas mos e ps daro testemunho das nossas
aes . Mas cada momento do dia um Dia do
Julgamento. No precisamos esperar at o Dia
do Julgamento para vermos este fenmeno. V-
- -----
-,
O MUNDO MENTAI; 39
mo-lo, experimentmo-lo entretanto
no lhe prestamos ateno suficientemente.
Em qualquer tempo em que tenhamos um
sentimento delicado, um bom desejo para com
uma pessoa, ou uma irritao, uma agitao, uma
inclinao hostil, no podemos
ocult-la de outra. E isto bastante para co-
nhecermos essa verdade mais oculta essa ver-
'
dade absoluta de todo o universo, que a Fonte
Uma, a Meta Uma, a Vida Uma, e muitos
so apem.as os seus vus.

1:
li
li
li.
li
li
ll
li

IV
A INFLUNCIA DO SUCESSO OU
FRA:CASSO
Tem a impresso produzida sobre a mente
um carter diferente da impresso produzida
sobre os objetos. O homem um ser vivo, e por-
tanto criador. Qualquer impresso que sua men-
te apanha ela no somente a recebe como uma pe-
dra recebe uma impresso, mas produz a mesma
vrias vezes num momento, mantendo-a assim
como uma impresso viva. E essa vida da im-
presso mantida na mente que se torna au-
dvel para os ouvidos do corao. E' por isso
que todos ns mais ou menos sentimos, de ou-
trem, seu prazer ou desprazer, sua alegria ou
desapontamento, pois que isso, continuamente,
se lhe repete na mente.
A impresso na mente 1no permanece em
silncio como um quadro, O fenmeno da me-
l
I
0 MUNDO MENTAL 41
mria tal que a pessoa cria tudo que a mem-
ria apreende, no somente as vibraes que a
memria apreende, mas tambem as vibraes
ou formas em resposta a isso. Por exemplo:
uma pessoa tem na mente uma profunda im-
presso de medo. A cons-equncia que a men-
te se acha em trabalho para produzir um objeto
do seu medo. No sonho, na imaginao, num es-
tado de viglia, esse medo se cria; mas como,
no estado de viglia? tudo que est roda de
uma pessoa, seus amigos, seus inimigos, as
condies, as tudo se reveste de
uma forma que aterrar a mente a qual est
nisso alimenta.ndo seu medo. . . Quo maravi-
lhoso, ento, o plano da mente! A mente
a pergunta, e ela mesma a resposta. Por isso,
as . misrias so atraidas especi81Imente por
aqueles que temem as misrias; o desaponta-
mento trazido por 31queles que esperam
um desapontamento; o fracasso causado pela
impresso que nos domima, de um fracasso.
Por vezes, diz a pessoa: Eu nunca obtenho su-
cesso, . eu nunca sou bem sucedido. Sai errado
tudo que eu fao, algl}ma coisa est errada.
muito bom que haja estrelas, pois, s estre-
Ias, atribuem tais pessoas suas misrias. Mas,
verdadeiramente falando, estas lhes perten-
.
I I
IJ
I '
I
i
1
ll
42 INAYAT KHAN
cem, so essas pessoas que as esto sustentan-
do em suas mehtes.
Quando uma pessoa est c0111tinuamente
pensando: "No acontecer nada certo; nada
chegar de bom, o fracasso est antecipado;" en-
to, ainda que todas as estrelas do Cu forem
em seu favor, encontrar-se-. ela com o "fracasso.
Neste caminho o homem o criador da sua
condio, do seu fado. Muitos ha que no vem
diante de si nenhum prospecto na vida. Quer is-
so dizer ;que o mundo, o universo to pobre que
no pode provr a todas as suas necessidades?
;Existe abundncia, mas, pensando conti-
nuamente que, fra disso, no ha meio, fica uma
pessoa com as suas idias fixas e realiza o de-
sespero.
Quando, porm, est o homem pensando ou
sentindo est ao mesmo tempo emitindo o
que pensa ou sente como se fosse uma fragrn-
cia, est criando roda de si uma atmosfra
que expressa isso mesmo. E no s transmite ele
para outrem seu pensar e sentir, mas tambem
cria para ele uma resposta. Por exemplo, uma
pessoa que, antes de deixar a casa, pensa: Eu
vou sofrer um acidente de automovel, est re-
fletindo talvez este pensamento sobre algum
motorista. Seu pensamento atingiu o motoris-
0 MUNDO MENTAL
43
ta, e o acidente se d quando ele se aproxima
daquele motor. Assim acontece com o seu su-
cesso . Quamdo sai pelo mundo e diz : "Neste
negcio eu penso .que vou ser bem sucedido", a
pessoa atrai tudo que necessrio para trazer-
lhe o sucesso.
Em apoio disso, pode citar-se um incidente.
Tinha uma rapariga aprendido uma cano tea-
tral, com estas palavras: "Como pode subita-
mente a sorte haver mudado!" EJa se afeioou
de tal modo a isso que, por onde quer que andas-
se em casa, murmurava aquela melodia e di-
zia-lhe as palavras. Qual o resultado? Estava
ela, a um balcO da casa, a olhar para baixo
e precipitando-se ao cho morreu. Os que
beram disso disseram que estava ela particular-
mant_e feliz trs dias antes cantando aquela
canao.
O Imperador de Delhi, da dinastia
era um grande poeta e um poeta da
mais alta classe, delicado na expresso, um
grande mestre da palavra, de belas e refinadas
imagens . Sua poesia no era mais do que uma
bela pintura, uma obra de arte; e assim era a
pessoa Como, porm, natural que um artis-
ta, um poeta, se interesse mais pela tragedia do
44
INAYAT KHAN
que pela comdia, assim comeou este poeta a
escrever a letra de uma tragdia.
Qual a consequncia? Depois que o livro
ficou acabado comeou a sua tragdia na vida.
Passou ela a declinar e a sua vida toda foi re-
petindo a mesma tragdia; a vida repetiu a
mesma poesia que ele havia escrito.
Algumas vezes recebem as pessoas por esse
meio avisos de acidentes. Mas s vezes tambem
um :anunciador da fortuna nos diz -que tal coisa
vai acontecer-nos, um acidente ou uma doena,
ou tal e tal coisa. Na vida de um sai certo, na
vida de outlo no. E achareis sempre que ma
vida de um, que seja impressionavel, isso acon-
tece, porque ele se meteu no corao que tal e
tal coisa ir suceder. , Especialmente na India,
portanto, onde a cincia da astrologia se acha
to avanada, e por milhares de anos a vida do
do povo dela depende, ha um dito: "No
consultes nunca um astrlogo doido. Ele pode
ser um bom astrlogo, mas se for doido, nUIIlca
o consultes. Ele te dir coisas que te impressio-
naro. E quando se no ensina esta idia, que
acontece? Acontece que uma pessoa facilmente
diz alguma coisa por gracejo. Por exemplo, uma
pessoa diz a outra: "No v l; voc ser morto".
Ela no pensava nada disso. E:' um gracejo;
O MUNDO MENTAL
no sabe ela, porm, que .isso pode fazer uma im-
presso e causar a morte daquela pessoa.
Se o aviso de um acidente parte realmente
do pensamento de outra pessoa, podemos ns
evitar o perigo usando a fora do nosso pensa-
mento para atuar em contrrio ao pensamen-
to da outra pessoa? Podemos, sim, se sabemos
como faz-lo; porque isso a prtica da renn-
cia. Voltamos ao trabalho feito no mtodo Su-
fi - de parte a renncia de si mesmo, renn-
ciar at os pensamentos e impresses que no
desejamos que cheguem a ns. No permi-
tindo ser maculada a nossa mente por essas
impresses que no desejamos se imprimam
em nossa mente, que nos ajuda a evit-las.
Devemos vencer toda a impresso que nos seja
contrria. Apenas, o que preciso saber a
cincia, pois que devemos agir sabiamente em
- '
relaao aos outros. Suponhamos que a vence-
mos, ou ;que no nos incomodamos com ela ou
no acreditamos nela, ainda assim a
outras causar mal. Se formos cuidadosos e con-
cienciosos acrca de que impresso causamos
sobre outros, isso far uma diferena grande
nas vidas de nossos amigos.
P.erguntar-se-: Para que usar a
t
, :.' ,
se es a em nosso poder alcanar sucesso ou
46
INAYAT KHAN
fracasso? Est em nossas prprias mos fazer
uma orao, ou no faze-la; ela est fazendo
nossa obra. A orao uma espcie de traba-
lho. Estamos a execut-lo; se no o fizesse-
mos ele no existiria.
,
A prece do nosso ntimo e a prece apenas
de aparncia so duas preces. Uma pode fazer
aquilo a que chamou Cristo "vs repeties",
o repetir simplesmente a orao; a pessoa
pode no fixar a mente no significado da ora-
o. Se o ntimo -do corao da gente ouviu a
prroe, Deus a escutou; porque Deus ouve atravs
dos ouvidos do homem. Quando o homem re-
za, Deus o escuta atravs dos seus prprios ou-
vidos. Uma pessoa no capaz de orar profun-
damente pode aprender a orar ;profundamen-
te pela prtica. Por exempio, uma pessoa in- _
capaz de traar uma linha reta, traando uma
reta cem vezes, mil vezes, ficar acostumada a
tra-la; e o mesmo acontece com a orao.
Pode-se mudar o estado mental de uma pes-
soa que est a - repetir as mesmas reflexes
continuamente, uma direo
tamente outra, uma direo que lhe interesse
mais.
O que ns primeiro devemos realizar na
vida esclarecer os reflexos do nosso p:rprio
O MUNDO MENTAL
47
corao, reflexos que nos ocultam o-caminho.
Por exemplo, um homem de negcios foi a um
mstico e diss'e : "Ora bem, no pos.so com-
preender. D-se comigo uma espcie de m sor-
te, que me faz sempre falhar, e no posso com-
preender porque falho. Fui a um esprita, fui
a um vidente, fui a uma pessoa que faz hors-
copo do consulente. Este disse uma coisa, aque-
le disse outra; no posso agra saber qual est
certo". Disse-lhe o mstico: "O certo e o erra-
do em voc mesmo. Escute a si mesmo .
Descubra o que se est passando na sua mente.
No -a lembrana do prejuzo que voc sofreu?
Ha uma espcie de voz continuamente soando
no seu corao. Os astrlogos diro que al-
guma coisa que se acha em redor de voc ; os
espritas diro que algum fantasma ou esprito
se acha atrs disso. O verdadeiro que - haja
ou no fantasmas - uma voz est no seu cora-
o a dizer: "Voc falhou, voc falhou, voc
falhou". Pode voc faz.-la aquietar-se, ficar si-
lenciosa?
Assim que a pessoa se v livre deste
xo, tudo lhe correr bem. Diz ela : "Que devo
fazer? Como posso faz-lo?" Diz o mstico:
"Determi,nao. Prometa-me que dagora em
diante voc jamais dar um pensamento aos
48
NAYAT KHAN
seus anteriores fracassos. O passado passa-
do; o presente presente. Prossiga com espe-
rana e coragem; tudo correr bem. " - Voc
encontrar sempre os que dizem: "Tudo me
corre mal"; estar ouvindo-lhes a voz alta;
o prprio fracasso que est falando por eles.
Logo que eles estejam aptos a fazer calar essa
voz, terminar o fracasso; uma norva pgina
voltou-se-lhes no livro da vida, e eles podem
olhar avante para a sua vida com mais coragem
e maior esperama.
Brava a pessoa que, em face de mil insu-
cessos, pode ficar de p e dizer : "Agora no
vou fracassar. O fracasso foi apenas uma pre-
parao para meu Este o esprito
correto.
Como pode uma pessoa apagar todas as pin-
turas sem nmero 'que a encobrem? Todo o
processo do mtodo Sufi consiste nisto, fazer
com que a chapa da sua mente se limpe.
Isto pode ser feito pela prtica da con-
centrao. Os cavalos na no viro
simplesmente ao nosso chamado, nem marcha-
ro s porque desejais que eles marchem, por-
que s.o cavalos destreinados. D-se o mesmo
com os nossos pensamentos e imaginaes; gi-
ro eles na mente sem arnezes, sem rdeas.
O MUNDO MENTAL 49
E quando se tomam estas em mo, acontece
to justamente como os treinadores de um Clr-
co ao mandarem ,que o cavalo venha, e o cava-lo
verri, e depois, que o cavalo se afaste, e o cavalo
se afasta; ordena ele que o cavalo corra, _e o
cavalo corre; diz-lhe que pre, e o cavalo para.
Trabalhar com o pensamento precisamente
como faz o treinador do circo.
Esta a primeira e mais importante lio
que tereis de aprender na obra Sufi; o alicer-
ce de . todo o misticismo e a prtica da filosofia
est ni,sto : podeis jogar com os vossos pensa-
mentos como quiserdes que eles se movam.
Quando uma pessoa pensar numa rosa, um l-
rio no h de ocorrer ao seu pensamento;
do pensar num cavalo, um elefante no ha de
aparecer diante dela; ficar dela afastado.
Isto ensina a pessa a criar um pensamento e
mant-lo, a expelir todo pensamento que
no deseja ter. Desta maneira vos tornare1s
senhor dos vossos pensamentos; os treinareis,
os controlareis; e .ento deles fareis isso em
vosso benefcio.
No nos prova isto que este um campo de
espelhos? Um campo de espelhos com um fen-
meno vivo, de vida, porque os espelhos esto
vivos. No somente projeo e reflexo o que
-4
50 lNAYAT KHAN
tem lugar nos espelhos, mas um fenmeno d
- pois que tudo projetado e refletido,
e ao mesmo tempo criado, materializado, mais
cedo ou mais tarde .
nisso que o Sufi encontra o segredo da
sua superioridade; que alm de toda idia de
sorte de influncias mundiais e de influncias
'
do Co, ha no homem uma fora criadora que
se acha em ao . Numa pessoa, talvez, a facul-
dade criadora do seu ser est em ao como um
grau, e como noventa e 'nove graus opera a fo-r-
a mecnica do seu ser. Noutra pessoa mais
evoluda, talvez noventa e nove grus da fora
criadora estejam em ao, e ta:lvez um gru na
parte mecnica do seu ser .
A parte mecnica do ser de uma pessoa
a 'que est .sujeita s condies, circunstncias,
e que importante; a parte criadora do ser de
uma pessoa a que produz fenmeno; e l!leste
aspecto deve ser achada a essncia divina.
v
O PENSAR, DE.SE.JAR E TORNJR-SE
O fenmeno da reflexo tal que toda ao,
todo pensamento se reflete na prpria pessoa,
e a nasce uma produo. Produz ela alguma
coisa, alguma coisa que forma uma direo na
vida da pessoa, e que .se torna uma bateria
atrs de cada coisa que a pessoa faz, uma ba-
teria de fora e de pensamento. Ha um ditado:
O verdadeiro ser do Homem fala mais alto do
que aquilo que ele diz. Isto mostra que nesse fe-
nmeno da reflexo cada pessoa se expe a to-
dos os espelhos, e que no ha nada no mundo
que se oculte. O que a pessoa no diz a pessoa
Teflete. Alssim, consequentemente, no existe
segredo algum.
As palavras usadas por Salomo - "de-
baixo do .sol" - aplicam-se tanto ao dia como
noite. O verdadeiro .sol a inteligncia; e
52 INAYAT KHAN
luz deste sol todos os espelhos, que so os cora-
es humanos, refletem tudo que diante deles
se expi, sem esforo algum da parte do ho-
mem. a razo ponque o desejo de uma
pessoa, s'e fr uma verda..deira v;ontade, mais
cedo ou mais tarde, se tornar satisfeito; por-
que refletido, e atravs dessa reflexo se
torna vivo. A reflexo lhe d uma vida; por-
que no .est ele no espelho da morte; est num
espelho vivo, que um corao humano.
No isso de surpreender, pois, se o dono
de uma casa desejar peixe, a cosinheira
sentir desejo de servi-lo. natural. No cau-
sar surpresa si voc tiver pensado num ami-
go e acontecer que esse amigo venha ao seu en-
contro enquanto voc se encaminhar para fazer
outra coisa. Inesperado ser isrso exteriormen-
te; intimamente, porm, ter sido arranjado;
porque a sua reflexo, surgindo na mente de
seu amigo, ter arranjado vosso
.Alguem perguntou a um sbio: "Encon-
trar-me-ei I no alem com os que agora nos cer-
cam?" E 'b" d " . o sa 10 respon .eu: .Sim encontrar-
, '
nos-emos la no alem com aqueles que amamos e
com aqueles que odiamos. "A pessoa ficou mui-
to contente com a primeira parte, porm muito
descontente com a segunda. O sbio depois ex-
0 MUNDQ MENTAL 53
plicou: "Voc pensa em duas pessoas, a pessoa
que voc mais ama, e a pessoa que voc mais
odeia; voc no pode fugir de pensar nelas. Ou
a pes,soa orando pelo amigo, ou praguejan-
do contra o inimigo, mas estar por vezes pen-
sando em 'ambos.
E o mais admiravel que voc encontra
inesperadamente aqueles que voc ama, ou que
voc odeia na vida; sem nenhuma inteno de
sua parte, voc os atrai. "
Ptlrguntou a pessoa: "Que faremos ento?"
Respondeu o sbio: "O melhor no odiar nin-
gum, amar somente. a nica sada. Logo que
voc perdoou aqueles que voc odeia, voc se
livrou deles. Ento voc no tem razo nenhu-
ma para odi-los, voc esquece precisamente."
.Esta a ref'lexo que vemos no sucesso e
no fracasso dos neg-cios. Quando uma pessoa
vai a outra, sobre um negocio, reflete. Se tem
na mente o fracasso, rdJete o f r acasso na ou-
tra pes,soa. De tudo que a cerca, o que decorre
a ,condio de produzir para ela um fracasso.
Se uma pessoa vai com o sucesso na mente,
reflete o sucesso no corao de todos que ela
encontre, e disso decorre apenas sucesso. Aque-
les, portanto, que esto obsedados pelo fra-
asso, 'Colhem fracassos i
54 INAYAT K:H'AN
aqueles que tm a impresso do sucesso obtm
sucesso. Lemos na Histria que tem havido he-
ris, generais, reis, que obtiveram sucesso apoo
sucessos; e muitos exemplos :encontraremos na
vida quotidiana que resultam em fracasso aps
fracasso. Tudo que tocado por eles se despe-
daa. Porque? Porque a destruio ali est.
Eles a trarem consigo; apenas a refletem eles
em tudo que tocam.
Diz o grande poeta industnico Amir :
"Olhos meus, tendes a luz :do .Ser Perfeito, e no
podeis ver. No por' falta da luz em vs;
porque vos conservais :cobertos".
O homem est continuamente procuTa
de uma viso clara, querendo ver a luz, e en-
tretanto cobre os prprios qlhos; tapapdo o
corao, cobre a vista, que tem consigo a luz
Divina.
Nenhum pode ensinar ao outro, nem pode
alguem adquirir essa fora de ver claramente.
O hom-em naturalmente um vidente. Causa
surpresa quando eie no v. Os videntes no
vem smente um indivduo quando o indiv-
duo se apresenta diante deles; so capazes de
ver, se dez mil pessoas se puserem diante de-
les todos como uma multido, e cada um co-
ITIO um indivduo, A razo est em que um
O MUNDO MENTAL 55
espelho 1quanto mais amplo se torna mais re-
flexos acomoda em si, e portanto numa pessoa
ppde-se refletir uma multido, a um s tempo,
os coraes, as almas, as mentes, e tudo. Sem
dvida, comea isso por ver-se . o reflexo de
um; mas, assim que se expande, toma o corao
o reflexo da multido.
Nisso que est o mistrio da herarquia
espiritual; apenas a expanso do corao.
No vemos ns em nossa vida quotidiana
haver pessoa que diz: "Sim, eu posso gostar
de uma pessoa que eu ame; mas ento suportar
no posso as outras? "Isso apenas limita-
o do corao .
Outra pessoa existe que diz.: "Sim, eu
posso gostar dos meus amigos ; mas !no se
d o mesmo com os extranhos ; no os posso
amar; daqueles com os qua,is conviv(o, <estou
em contacto; para eles estou fechado". E es-
t ele realmente fechado ante os extranhos.
' Pode ele ser uma pessoa amavel, mas na pre-
sena de extranhos seu amor est fechado. E,
em proporo, quanto mais o corao fica li-
vre desta limitao, naturalmente, mais lar-
go fica ; porque a extenso do corao, como
disse Asaf no seu verso
1
inimag-inavelmente
~ r a n d e ,
56 INAYAT KHAN
Diz Asaf que se o corao do homem fos-
se ampliado, acomodaria todo o universo nele
como se fosse uma gota no oceano. O corao
pode ser to grande que possa apreender o
universo - todo. E o corao que pode apreen-
der tudo, pode ver o reflexo de tudo; porque
todo o processo da evoluo vai ficando mais
amplo. Ficar mais amplo quer dizer ficar
mais livre das limitaes, e a consequncia des-
se estado que a viso se torna mais clara.
Como podem as mentes da multido refle-
tir-se no corao? Pela mesma forma que o
retrato de um grupo tomado na placa foto-
grfica. Pode haver uma multido de pessoas,
a chapa fotogrfica as apanhar todas; se no
as apanha porque, ento, no bastante
grande. O corao capaz, como uma chapa
fotogrfica, de apanhar a reflexo; se no
pode apanh-la, quer isso dizer que est tll-
mitado, est pequeno.
A vida toda uma i'nteligncia absoluta,
um campo de espelhos, nos quais tudo se refle-
te. Quando pensamos nisto profundamente,
achamos que, luz do dia, fechamos os olhos e
(lormimos.
VI
RE.FLE:X::OS DO CORAO
O corao, que na linguagem Sufi se chama
um espelho, tem duas aes diferentes a exe-
cutar. Tudo aquilo que se reflete no corao
no permanece apenas um reflexo mas taro-
bem uma fora criadora, produtora de um fen-
meno de si mi'! ar natureza. Por exemplo, um
corao que em si mesmo contm e reflete rosa,
rosas achar em toda parte. Rosas sero atra-
das para esse corao, rosas so produzidas por
ele e para ele. Quanto mais forte se tornar
esta reflexo, mais criadora se tornar do fe-
nmeno das rosas. O corao que contm e re-
flete uma ferida, achar feridas em toda par-
te, estar atraindo feridas, estar criando fe-
ridas; pois essa a natureza do fenmeno da :re-
flexo.
Muitas vezes o povo tem supersties acer-
a de uma pessoa qe sorte ou asarosa vir a
58 INAYAT KHAN
nossa casa: uma pessoa de sorte traz felicida-
des, e uma pessoa asarosa traz m sorte.
Que isso? somente que produz azar
aquele que reflete azar. Aonde quer que v
produz azar aquele que reflete azar. Aonde
quer que v produz m sorte ao redor de s:i.
A dona de uma casa disse a um sbio: "De-
pois que esta empregada chegou em minha
casa todo dia se quebram copos, se quebram mo-
lheiras, e as so estragadas e destrudas.
Pde o sbio ver a razo disso. "Enquanto ela
morar em sua casa disse ele - isso cDnti-
nuar sempre".
-Muitos exemplos h em que vemos asso-
ciar-se uma pessoa a um negcio, a uma em-
presa industrial, e talvez sem muitos recursos
levando apenas a prpria pessoa; e desde que
ela se lhe juntou comeou aquele negcio, aquela
indstria, a ter sucesso dia a dia maior. Quan-
to mais pensamos neste fenmeno, mais acha-
mos 1que se alguma coisa ha que se nos refIete
na mente, ns a refletimos sobre a vida exte-
rior, e cada esfera a que o nosso corao conse-
guir chegar ele a carregar desses r.eflexos.
A melhor explicao da palavra reflexo es-
taria na projeo de uma pintura, de uma
terna m&"ica sol;>re tela
1
pois &
0 MUNDO MENTAL 59
flete a pintura que a lanterna mgica projetou
sobre ela. Assim a vida toda est cheia de
reflexos . Da manh noite, estamos sob r.efle-
xos. A associao oom os que no tm socego
traz-nos desssocego. Pode aquela pessoa Jilo
falar conosco, mas o nosso corao reflete a in-
quietude em que ele se acha.
Assim o contacto com uma pessoa alegre
faz-nos refletir alegria. Durante o dia todo vai
se dando isso conosco, e no o notamos. Algu-
ma.s vezes a pessoa de quem ref,Jetimos j saiu
da noosa vista, mas estamos ainda refletindo
aquela pessoa.
Essa a razo que podemos dar para a ten-
dncia que sentimos alguma vez para o ml, o
riso ou o choro sem razo; tudo isso vem da re-
flexo. Um homem cujo corao est refletin-
do :;tlegri, onde quer que v far outros feli-
zes. Os pesarosos, os perturbadDs, os desapon-
tados, os de corao partido, todos comearo
a sentir vida, alimento ser dado s suas almas,
porque tal pessoa est alegria. E
aquela que reflete pesar e depresso espalha-
r o mesmo ao redor de si, e dar pena e triste-
za aDs outros. A vida tal que no tem fim
o pesar, a tristeza e a aflio; e o de que pre-
isams silo as 1:\-lmas que refletem alegria
1
afim
60 INAYAT KHAN
de libertar os que se acham em aflio, tristeza
e pena.
Agora, outro aspecto existe desta refle-
xo, e : a pessoa a ser aquilo que ela pen-
sa. Fica identificada com aquilo; portanto, o
objeto que lhe est no pensamento, esse objeto
se torna sua propriedade, sua particular quali-
dade.
Observando uma pessoa este fenmeno de
reflexo, fez uma divertida indo
ver um lacaio do rei. Em chegando casa do
lacaio do rei, ficou muito surpreendido por en- .
contr-la arranjada segundo o modelo do pa:l-
cio. A maneira de chegar o lacaio, a maneira
pel:a qual o recebeu ele em casa, a maneira por-
que o fez sentar-se, todo modo, toda palavra
que ele expressava ,era de um rei. Que signi-
ficava aquilo? Estando o dia todo na presena
do rei, estava ele refletindo o rei.
Uma criana que se impressiona pelos sol-
dados desde a infncia como soldado; quan-
do crescida se torna soldado. De soldado a qua-
lidade nela se desenvolveu. O menino que pen-
sou 1num artista 'e se impressionou por um ar-
tista, por sua arte, por sua personalidade, tal
reflexo se desenvolve nele; e uma vez que se
ela desenvolve nele, aquela qualidade de
O MUNDO MENTAL 61
fica desenvolvida, e ele se torna um artista.
Quando lemos a histria de grandes poetas, fi-
lsofos, musicistas, de seu mrito, provm
isso apenas de seus estudos, de suas prticas, de
um dom neles exista? Muitas vezes proveio
da impresso que eles de alguem.
Um reflexo que se lhes desenvolveu gradualmen-
te no corao produziu-Ihes na alma as qualida-
des pertencentes ao objeto do qual receberam
impresso.
Inmeros exemplos disso podem-se encon-
trar na histria do mundo, mas especialmente
na obra espiritual, obra que no pode con-
cluda pelo estudo de uma vida inteira, nem
pode ser acabada pela meditao de uma cen-
tena de anos na solido .
Tentar e alcanar o conhecimento espiri-
tual pela meditao, ou somente aprendendo,
como dizer: "Farei uma lngua perfeita duran-
te a minha vida. "
M:as ninguem tem sido capaz de fazer uma
Ungua perfeita durante a sua vida; a tradi-
o que faz uma lngua, durante sculos que
o povo tem desenvolvido a linguagem. Ela no
pode ser feita por uma pessoa s, uma coisa
que cada pessoa tem herdado, adquirido. E as-
sim, na reflexo, que uma .pessoa desenvolve
62 INAYAT KHAN
o atributo perteneente ao objeto que lhe est
no pensamento.
Podem ser encontrados 1110 mundo exemplos
de pessoas que, retendo um pensamento, cria-
ram no plano fsico sua manifestao, seu fen-
meno. A rrazo que o fenmeno no somen-
te um quadro produzido 1no espelho, mas aquele
ref1exo no corao a coisa mais potente. a
propria vida, e creadora. A pessoa, portanto,
que chegou a compreender o segredo da refle-
xo, compreendido ter o mistrio da vida.
a reflexo um ato conciente da parte do
refletor, ou age ela subconcientemente? Em am-
bos os casos, ela age. Algumas vezes opera por
ao conciente da parte do refletor, e sempre
trabalha subconcientemente. Agora, por exem-
plo, uma pessoa com a mente piedosa, pensa-
mento bom, esprito pacfico, - seu esprito
o que procum refietir-se. E' ele refletido na-
queles que em contacto se pem com ele, e es-
sas pessoas o tomam consigo.
Alguns o absorv.em e o conservam; outros
o perdem. A idia, Porm, a seguinte: Quan-
do uma pessoa no est conciente com o reflexo
a conservar e com o reflexo a passar adiante,
uma apanhar talvez um reflexo de tristeza ou
pesar, e todos os reflexos indesejaveis. e pode
/
0 MUNDO MENTA.L 63
conserv-los dentro de si, porque os recebe. De-
vei_nos, pois, saber que a vida toda uma vida
de reflexos; de manh noite, recebemos re-
flexos . Daqueles que nos esto prximos e nos
so caros, daqueles que no gostam de ns e 11100
odeiam, e daqueles que passaram, que se aham
do outro lado. Estamos sempre expostos aos rre-
flexos.
Poder-se-ia, porm, diz.er: " bom rece-
b-los? "Mas ninguem pode evitar re'oeb-los.
Podeis considerar que isso uma coisa ba, ou
uma coisa ruim ; mas o que . Se o nosso
corao est lmpido, recebemos isso concien-
ciosamente, e a reflexo distinta. Se no est
lmpido, recebmo-la inconcientemente, e a rre-
flexo no clara; mas no podemos evitar re-
ceb-la.
Por exenplo, se houver um gongo e uma
pe.a de madeira, ambos receberam vibraes.
Mas um sonoro e ressoar, a outra no ressoa-
r. Porm, ao mesmo tempo, ambos so afe-
tados por ela precisamente da mesma forma.
Se o :corao est bastante lmpido para receber
reflexos em cheio e claramente, a pessoa pode
escolher para si qual dev;e ele reter e qual de-
Ve repe'lir.
VII
O DEVOTAMENTO DO CORAO
Uma v1sao clara depende de um corao
claro, aberto reflexo. Jelal-ul-Din Rumi
principia o seu livro Masnavi falando sobr.e a
qualidade que tem o corao, de obrar como o
espelho, dizendo tambem que essa qualidade
espelho algumas vezes desaparece, quando uma
espcie de f.errugem cobre o corao. E prosse-
gue ento a dizer-nos que, limpando o corao
dessa ferrugem, torna a pessoa claro esse es-
pelho de corao, para receber reflexos. - Um
mstico, diz .ele, perguntou uma vez a seu
shid acerca da cincia da telepatia. Disse o
Murshid: "E' a reflexo. Esteja limpo vosso
corao, deveis apenas focaliz-lo, e nada mais
precisareis fazer. Ele um espelho, e tudo
que estiver diante dele nele ser refletido.''
No , portanto, de surpreender se os vi-
dentes vem a alma de cada pessoa to clara-
65
mente como numa carta aberta; pois que esta
a natureza da vista. Se a vista se acha per-
feita deve enxergar seja o que for que se lhe
'
ponha diante, no pode evit-lo. No que a
vista deseje vr; natural que, se os olhos es-
to abertos, tudo que est diante deles neles se
reflete. Assim, o vidente no pode fugir de
ver a alma de outrem, de perceber os pensamen-
tos e os sentimentos que tenha uma pessoa. Fi-
zesse ele uma em tal sentido, isso no
seria correto da sua parte. O corao da al-
ma a cmara privada; ninguem deve introdu-
zir-se nos apos.entos privados de alguem, nin-
guem ter direito de tentar descobrir os pensa-
mentos e sentimentos de outra pessoa. Mas,
assim como os olhos no podem fugir de ver
o que se pe diante deles, o corao, uma vez
que se tol'lna limpo puro da ferrugem, ento v
como os olhos vem. Os olhos, porm, podem
ver at um certo ponto, e no mais adiante; a
dimenso, que est em frente dos olhos, dife-
rente. Diante do corao existe outra dimenso
e ta:l o corao do homem. Enquanto os olhos
vem a superfcie, o corao v o ntimo da
pessoa. Nunca penseis, portanto, que um ver-
dadeiro mstico no veja fundo na vida de uma
pessoa; nunca penseis que um mstico seja in-
-5
'
66 INAYAT KHAN
capaz de ver certo lado da natureza de uma
pessoa. No, ele tudo v, desde que tenha, ape-
na.s, o corao limpo.
Mas agora a questo : Que a ferrugem?
De que feita ela? A ferrugem feita da gros-
seira emanao da prpria mente; a sua parte
grosseira, que vem superfcie, e por esse meio
a cobre, ao mesmo tempo cobrindo a sua quali-
dade - espelho. Fica o corao coberto pela
confuso pelo temor e a depresso, por todas as
forma.s do excitamento, que perturba o ritmo
do seu mecanismo. Assim como depende a saude
do corpo do seu tom e ritmo, assim tambem a
saude do corao depende da regul,aridade do
seu tom e ritmo. Pode um homem ser vir-
tuoso em suas aes, puro em seus pensamen-
tos delicado em seus sentimentos; ao mesmo
t e ~ p o , ,se ele tiver altos e baixos, ento, que
o ritmo no se mantm direito. Ento, no
pode ele ver claramente o reflexo; porque o
espelho est mpo, mas, quando a mente est
constantemente em movimento, o reflexo
obscurecido, .no pode mostrar-se claro.
Uma vez que pensmos nisso, comemos a
pensar nesse maravilhoso instrumento, que
a personalidade humana, para perceber a vida
e experimentar a vida por completo. Se h ou-
MUNDO MENTAL 67
vesse um espelho vendido por um milho de d61a-
res, que mostrasse o estado de pensamento e
sentimento de cada indivduo, haveria uma
grande procura dele. O homem que tivesse
tal espelho certamente r.eceberia inmeros pe-
di dos, mesmo por um milho de dlares, relati-
vos a uma tal inveno. E, o homem aqui o
tem e est descuidoso dele o No acredita nele,
por conseguinte negligencia. E como neie no
acredita, antes gastaria aquela grande quantia
na compra de um tespelho, do que ens,a:iaria
e cultivaria uma coisa em que no acredita.
Ele no acredita em si mesmo; e como no acre-
dita em si mesmo, .no acredita em Deus o Sua
crena em Deus por demais superficial. In-
meras almas acreditam em Deus, e no entan-
to no sabem se ele realmente existe. Acre-
ditam apenas porque outros acreditam em
Deus. No tm prova alguma, e vivem toda
sua vida sem uma prova da c11ena em Deus
E outro meio no h de obter a prova da
exi.stncia de Deus, exceto um. Este tornar-
se a pessoa familiarizada consigo mesma, ex-
perimentar os fenmenos :q;ue se encontram
dentro de .si mesma, e o maior fenmeno
que a pessoa pode experimentar, que o pr-
prio corao. Haver, portanto, a:lguma coi-
68 NAYAT KHAN
sa mais importante na vida, mais preciosa,
qual se dedique a vida, do que o pensar que
podemos ser um instrumento para conhecer-
se tudo que est na pessoa que se encontra
nossa fr.ente, sua lllatureza, seu Ca(l'lter,
estado, seu passado, seu presente, seu futuro,
seus pontos fracos, e seus pontos fortes ?
Nada no mundo seria mais interessante
e mais precioso do que chega,r-se a esse grau,
do que experimentar-se isso, mais precioso do
que a riqueza, o poder, a posio, ou qualquer
coisa no mundo. E isso uma coisa que se
obtem sem custo; mesmo sem o duro trabalho
que o homem faz pela prpria existncia.
Quando nisto pensamos, sentimos que o homem
tem sede, anceia por agua, junto da corrente.
Emto, a sede que o homem sente dentro de si
mesmo ; e o que o preserva disso a falta de
crena em si mesmo, na Verdade, em Deus.
O povo ensaia estudar a parte exterior da
vida. Mas para o estudo vista deve ser a pri-
meira coisa. Esta vista exterior pode mostrar
a superfcie das coi&as; a vista do interior
anceio da ,a;lma. A cincia, como ns a conhece-
mos, C<Jnstruida sobre o estudo que a pessoa
tem feito das coisas visveis, que esto na su-
perfcie; e o estudo , portanto, incompleto. E;s-
0 MUNDO MENTAL 69
se estudo pode ser completado por meio da
vista sobre a parte interna das coisas. Pois
que mesmo o comeo da cincia pode ser tra-
ado como produto da intuio. Os antigos
mdicos costumavam seguir os animais
gens, tais como o urso e outros, que
diferentes hervas quando precisam curar-se a
si mesmo de alguma doena; porque a intui-
o deles era clara. Os mdioos usavam viver
a vida solitria, a vida meditativa, usavam vi-
ver a vida pura; e disso apamharam a inspi-
rao ; e dess;a inspirao chegaram a saber o
que havia de dar para curar diferentes mols-
tias. A cincia, . que hoje temos, emprestada
por aquilo que aprendemos com eles, todavi'a no
era claramente cincia naquele tempo. uma
he11an_a dos antigos o que denominamos cin-
cia; mas seu comeo estava na intuio. E se
jamais um cientista hoje de,s.cohre a;lguma coi-
sa de ITIOVO, alguma coisa admiravel, est ele
ainda .em divida, no aos estudos externos, mas
intuio. Se isto verdade, ento a faculdade
intuitiva deve ser desenvolvida, o corao deve
ser limpado, pois que, mesmo se a pessoa no
for uma pessoa espiritual, se for um homem de
cincia, poder ser beneficiada no seu estudo
e prtioo da .vida ..
VJII
A NATUREZA DA ALMA
A alma assimHha-se lagarta. Assim co-
mo a largata reflete toda a beleza das cores que
ela v, e for.a disso transforma-se numa bor-
boleta, assim a alma. Quando no mundo an-
glico, reflete ela a beleza anglica, manifestan-
do-se na forma de um anjo; quando no mundo
dos gnios, reflete as qualidades do gnio, co-
brindo-se por isso com a foNTia de gnio; quarn-
do no mundo do homem, reflete as qualidades
humanas, manifestando-se por tanto na forma
do homem . .Se a lagarta sofre a impresso de
uma forma ou de um n
1
mero de formas das fo-
lhas, flores .e coloridos, que os reflete, e vem
a ficar como eles. Muitas vezes vereis que tem
a la:garta a cor daquilo que a cerca, das folhas
ou flores, ou de qualquer coisa que se ache dean-
te dela; nisso transforma-se ela; no partilha
O MUNDO M,ENTAL 71
da cor e da forma das rvores e flores que se
acham distantes, que ,no so por ela tocadas.
Tal a condio da alma. De tudo aquilo com
que se p ela em contacto, partilha ela as qua-
lidades, a cor e o perfume, refletindo-o a seu
tempo e tornando-se wquilo que reflete.
Isto nos prova que a qualidade - espelho
mostrada pelo corao, este no a mostra so-
mente quando a alma est na terra, mas sim
desde o comeo da aventura da alma no rumo
da manifestao. O cativeiro e a liberdade da
alma, portanto, vm ambas de si mesma.
Kudsi, o grande poeta persa, disse: "s Tu
Mesmo que Te fazes cativo, e ainda s Tu Mes-
mo que Te livras do cativeiro". Ambas essas
coisas, o cativeiro neste corpo de argila, e a li-
bertao desta pesada esfera terrquea, as rea-
liza a prpria alma; e as realiza por uma 1ei,
que a lei da reflexo. Pode haver diferentes
idias, como dogmas e especulaes, expr essas
por diferentes sbios, a respeito da vinda da al-
ma terra, e do seu regresso daqui. Mas negar
no podem, por um momento, as almas pen-
santes, embora diferentes se}am as suas con-
cepes da lei divina da Natureza, esta lei prin-
cipal operando como o fator mais poderoso na
72 INAYAT KHAN
viagem da alma em rumo da manifestao e
no regresso da mesma alma sua mta.
Um mistico, portanto, pensa naturalmen-
te: "O que se passou est passado, o que foi fei-
to est feito; no tenho que me perturbar com
isso. O que me importa fazer o presente mo-
mento como desejo que ele seja, e fazer facil
para mim a estrada que vai ter ao meu destino".
O misticismo todo tem se baseado neste prin-
cpio O Sufi pouco se importa com o que acon-
teceu ontem. Sim, se o conhecimento do que se
passou ntem alguma relao tem com as coi-
sas de hoje, se esse conhecimento pode ajud-lo
a fazer a vida melhor, somente nesse caso con-
sulta ele o passado, mas no por amor ao pas-
sado. Como diz Omar Khayyam.
Amanh? Mas porque? Sete mil anos, Ama-
nh, posso estar eu mesmo de ntem.
Isto significa: "Se eu estivesse vivendo ha
sete mil anos, que valeria isso para mim ago-
ra?" o maior problema que se apresenta ao ho-
mem : "Hoje, agora mesmo, como possq fazer
minha vida melhor para mim mesmo, e para os
outros?" Ocupe-se ele com esta cincia, e no
ter um s momento de folga. Ela ocupar sua
0 MUNDO MENTA.L 73
vida toda no fazer melhor o agora megmo. Afi-
nal de contas o agora mesmo que se repete ,e
o agora que faz o futuro.
Alm disso, a cincia da reflexo, o
tudo .e a prtica do que traz uma pessoa para es-
sa consecuo o que procura cada alma. Como
diz a poetisa persa: "Se pensa-
res na roseira florida tornar-te-s uma rosa; e
se pensares no romdnol canoro, tornar-te-s um
rouxinol. . Tal o mistrio da vida. Se pensa-
res, pois, n Divino Espirito, refleti-lo-s e tor-
nar-te-s o Divino Espirito.
Poder-se-ia perguntar: "Porque no se
transforma um mosquito numa borboleta: pois
que um mosquito, algumas vezes, tambem mora
entri belas plantas e flores?" E a resposta
que o mosquito no se interessa em ouvir, in-
teressa-se em falar. Ele no aprende, ensina.
Assim ele o que ele . A lagarta, ao
contrrio, silenciosa. Silenciosamente medita,
move-se delicadamente, assenta-se e medita quie-
tamente. Eis ai porque afinal se transforma
ela em borboleta.
Pode-se perguntar: "Porque que uma ,
alma reflete as propriedades de um assassino
e outra as de um santo, sendo ambas igualmen-
te divinas?" A alma assimilha-se a uma 'lagar-
74 INAYAT KHAN
ta, que primeiro reflete e depois se transforma
naquilo que ela reflete. D-se o mesmo com o
assassino e o santo. Pensa uma pessoa, porem:
"Um assassino reflete sobre um assassino?"
Sim, ele gradualmente se afi.no'u para essa re-
flexo. Tentando fazer uma injria, um dano
aqui e ali, tentando obliterar do corao aquela
simpatia, delicadeza, ternura, tentando ser cego
a esse aspecto do seu prprio ser, e tentando
causar dano e injria a outrem, ele se desen-
volve gradualmente. E muitas vezes um jovem
assassino est refletindo o pensamento de al-
guem, ou neste lado u noutro. Muitas vezes
vemos presas como anarquistas pessoas intei-
ramente inocentes, que 'no tm nenhuma ini-
mizade para com a pessoa que eles mataram.
Apenas lhe chegou sobre a mente como um re-
flexo, projetada por alguem que era um inimi-
go, e essa pes,soa se tornou apenas um instru-
mento. Mas alguem ptrgunta: "No ela res-
p'onsavel por isso? Sim, porque ela preparou
sua mente para aquela reflexo.
IX
A NATUREZA DA ALMA DEPOIS DA
:MORT.E.
encontrar muitos ensinamentos
'
doutrinas, especulaes e idias a respeito do
alm tmulo; mas se alguma coisa h que pos-
sa explicar a e o carter do alm t-
mulo, resume-se numa palavra, e esta palavra
reflexo. De qualquer ponto de vi,sta donde se
olhe para isso, uma coisa se acha- a reflexo,
seja do ponto de vista daquele 1q_ue acredita no
Ou e Inferno depois da morte, ou. do ponto de
vista do que acredita na reincarnao em seguida
morte. Porque no ha um Iugar feito simi-
lhana de uma cidade para aqueles que tenham
praticado atos bons, afim de que todas as pes-
soas boas devessem estar numa cidade chamada
Cu ou Paraizo, e outra cidade para as pessoas
que tenham sido sentenciadas para outro s-
76 INAYAT KH.AN
tio. Em primeiro lugar, cada indvduo tem sua
maneira prpria de encarar a vida, e de acordo
com a sua atitude para com a vida, consoamte a
sua observao da vida, existe o seu alm-t-
mulo. E portanto o Cu de uma pessoa no po-
de ser o Cu de outra, nem o inferno de uma
ser o inferno de outra. AISsim como exis.tem di-
ferentes ideais de pessoas diferentes, um mundo
peculiar existe, de cada pessoa. E qual esse
mundo? Esse mundo o seu E que con-
tm esse mundo? Esse mundo contm tudo que
o :espkito contm. A alma similhante a uma
chapa fotogrfca. Uma chapa fotogr.fica pode
conter o reflexo de uma pessoa, ou pode con-
ter o ref1exo de um grupo, ou uma vista de
milhares de a'lmas. capaz de acomodar em si
mesma o reflexo de um mundo que se lhe ponha
diante. Assim a alma. ento:
"Que o alm-tmulo?" O alm-tumulo de cada
pessoa o que a sua alma contm. Se a sua alma
contm um Gu, o alm-tmulo Cu; se a alma
contm alguma coisa mais, ento o alm-tmulo
isso.
Pode-se, ento, perguntar: "No a alma
que vem como reincarnao ?" Sim, a alma; a
alma vem, certamente. Mas que alma, que sorte
de alma? Uma alma 1que tem em si uma reflexo.
<) MUNDO. MENT At:
77
Essa reflexo que a sua reincarnao. Mas,
ento, poder-se-ia fazer uma pergunta: "No
faz irsso cada coisa to irreal, precisamente como
o jogo das sombras?" Mas n.o isso? Se no
o jogo das sombras, que , ento? .Se a gente
acha realidade na irrealidade, se isso d con-
oolo gente, podemos consolar-nos por uns pou-
cos dias . Mas irrealidade irrealidade. A ir-
realidade no dar resultado satisfatrio afinal,
porque a satisfao reside no conhecimento da
Verdade. Por isso que, se a irrealidade certas
vezes satisfaz a pessoa, pensando ela que isso
deve ela continuar a pensar da mesma
maneira. Mas dizer-se pode que isso, afinal, se
demonstrar no ser real. Afim de evitar o
futuro desapontamento, a pessoa deve descobrir
mais cedo na vida a Verdade final, se for capaz
de apanh-la e assimil-la.
Qual a condio da alma que experimenta
as condies do Cu ou Inferno depois da mor-
te :! a condio de quem se acha rodeado por
aquilo de que faz colheita. "
Como disse Cristo, "Onde estiver o vosso
tesouro, a estar tambm o vosso corao;"
assim, tudo que a alma tiver entesourado nesta
vida, ser isso o futuro dessa alma.
78 INAYAT KHAN
Que diferena existe entre estas duas
idias, uma de que a alma prossegue na rotina
da reincarnao, passando de uma coisa para ou-
tra, e a outra de que, depois da morte, experi-
menta a alma o Gu ou o Inferno, e assim vai
subindo no rumo de Deus? H somente a dife-
rena de duas .maneiras difer.entes de olhar pa-
ra essa alma particular. Quem chama alma
personalidade v essa personalidade continuan-
do de um estado a outro, - pois que a perso-
nalidade que uma vez a pe8soa viu no cessou
de existir no mundo, mas est prosseguindo com
suas reflexes r.epetidamente, uma aps outra.
Quando se v essa .pel'lsonalidade como alma,
chama a isso a cadeia de vrias reincarnaes,
uma aps outra. Outra pessoa, que v a alma
como independente da persona1idade, que con-
sidera a personalidade como vestimenta da al-
ma, porm no como a pr6pria alma, v ento
o estado atual daqueie raio da Inteligncia Di-
vina, que veiu ao mundo como alma. V sua pro-
jeo para o exterior, e a sua volta para o in-
terior. Compreende tal projeo como manifes-
tao, e a retirada como volta ao goal.
Poder-se-i'a pergumtar: "Nada ficou, dessa
alma, para prosseguir? "A alma que se dirigiu
para o goal certamente deixou alguma coisa
' 0 MUNDO MENTAL 79
atrs de s. Do corpo que se enterra, alguma
corsa fica fra. Ou esse corpo foi comido por
um animal e o ser desse animal com esse corpo
se unificou, ou os instos o comeram e atravs
dos instos ele se manifestou. De uma forma
ou doutra algum resultado alcanou esse corpo.
Mas, ao mesmo tempo, no consideramos esse
corpo como se fosse aquela pessoa. Dizemos:
este foi o corpo daquela pessoa; aquela pessoa
se foi embora. Ns, portanto, 'no levamos em
conta aquele corpo. Mas, se estudarmos e ana-
lisarmos os diferentes estados por que tem pas-
sado o corpo, acharemos que le se tornou ali-
mento para diferentes criaturas e difeTentes
obj.etos, adubo para flores, frutos e plantas., e
direta ou chega ele aos animais,
aos pssaros. Alm disso, as pequenas vidas,
que se criaram dele, soprad3is :pelo vento, alcan-
aram longe e foram respiradas por muitos, e
foram absorvidas por muitos seres, no ar ou na
agua. Se olharmos para isso deste modo ll!Cha-
'
remos que, uma vez nascida, coisa alguma se
perdeu inteiramente. O que fez foi justamente
mudar; e essa mudana a colocou numa outra
vida. Por conseguinte, a morte do corpo no foi
mais do que uma espcie de iluso aos nossos
iNAYAT KHAN
olhos e atrs dessa iluso alguma coisa se rea-
'
lizou no sentido da continuao da vida.
cada alma um raio individual, ou tem
um raio mais do que uma alma em si, a simi-
lhana de um grupo de almas? At a individua-
lidade ordinria tem certa iluso sobre isto. O
homem, por exemplo, julga seu corpo separado
de todos os demais corpos. Diz que o corpo mes-
mo o sinal da individualidade; e, ao mesmo
tempo, cada tomo do seu corpo tem uma vida
individual exclusiva, cada clula sangunea tem
sua vida exclusiva; tem suas molstias, sua mor-
te e seu nascimento. muito interessante ver,
no exame do sangue, como toda clula sangu-
nea um ser vivo, e que pode morrer, pode fi-
car doente, e tambem causar a morte a outras
clulas do sangue.
N ~ h dvida que este envlucro do cor-
po o esconde nossa vista; e, at onde podemos
ver, vemos que isto individual. Mas quantos
indivduos existem dentro de ns?
Ainda mais uma famlia tambem tem uma
'
es,pcie de significao individual; um pais,
uma nao tem uma aparncia individual; o
mundo, um planeta, uma espcie de individuo.
Entretanto, como clula do corpo, todo ele faz
parte do corpo ; e assim ns todos fazemos par-
-- - - - ' .
O MUNDO MENTAL 81
te do pas, somos uma parte do mundo, e o pla-
neta uma parte do cosmos.
Que o indivduo? Existe um indivduo: e
tudo mais que parece no momento um indivduo,
podemos chamar um indivduo. Ele como ns
o vemos. Quando no mais o vemos, podemos
no mais cham-lo assim. Quando vemos uma
entidade, estacionando ao longe, exclusiva, se-
parada, chammo-la um indivduo. Mas de-
vido a nossos olhos que a vemos separada. H
tempo em que no a vemos como entidade se-
parada, a vemos ligada, a tudo mais que existe.
O Sufi, portanto, naturalmente, depois de obser-
var a vida a fundo, chega idia de um Indiv-
duo, e v todo o ser refletido num Indivduo.
Na direo dessa idia que havemos de nos
desenvolver.
E chegamos ento ao que chamamos o
mundo da mente, da personalidade. A persona-
lidade uma pintura que a alma reflete afim
de manifestar-se naquele desgnio, alguma coi-
sa de que a alma partilha. Por exemplo, uma
pessoa estava fazendo uma viagem, e no meio
do caminho encontrou neve, e coberto de neve
ficou; ento chegou num lugar que estava seco,
mas ao msmo tempo ela havia trazido neve con-
sigo. Assim acontece com a alma que se manifes-
-6
82
INAYAT KHAN
ta. A alma que se est manifestando consigo
trouxe a personalidade. Essa personalidade
que est agora, neste mundo fsico, desenhan-
do seu destino, que est agora construindo su,a
forma neste mundo fsico. Portanto, se a pes-
soa tem de dar um nome a alguma coisa que a
alma j trouxe consigo, pode d-lo, mas a al-
ma, rio parte com personali-
dade, parte como um raio divino.
Pode-se dizer: "Logo, no verdadeira a
expresso uma alma velha, quando a alma
nova?"
O que realmente acontece que, em vez
de cham-la "velha personallidad.e", chamam-
na "velha alma". Devemos porem compreen-
der sempre - uma "velha
pois que a alma, como a conhecemos, est com
a veste da personalidade, e portanto, no seu
sentido ordinrio, a personalidade que ns
geralmente chamamos alma. Neste sentido, po-
- demos dizer "a alma velha"; verdadeiramente
falando, o que h "velha personalidade" .
A personalidade uma outra vestimenta
da a1tna. Esta caminha tambem, justamnte
como caminha o corpo. A personalidade tarrt-
bem ou tomada por um ou partilhada por mui-
tos passageiros vindos da Fonte, chegando
- ------------ -- -----
--- .,.._r
O MUNDO. MENTAL 83
manifestao, demonstrando ao mesmo tempo a
mesma 1personalidade, pois que ela a mesma
personalidade. A lagarta representante da
flor, da rvore, da planta, que ela absorveu em
si; a lagarta a reincarnao daquilo que ela
meteu em si; e a 'lagarta, entretanto, ela mes-
ma uma entidade conhecida por ns, como tem
a aparncia de ser. Uma personalidade rep.re-
sentando uma pessoa acabada certamente nela
tem absorvido aquilo que ela .est refletindo,
noutras palavras, aquilo que ela meteu em si,
que sobre ela se projetou, que ela tomou de em-
prstimo ; e dessa personalidade que ela pode
se arrogar ser a reincarnao.
O que feito do corpo depois da morte di-
ferente do que feito da persona:lidade que so-
brevive. Sendo o corpo uma substncia co-
mido e absorvido; mas sendo a
uma pintura, se reflete no mundo mental. Por
conseguinte, assim como o reflexo de uma pessoa
sobre uma chapa fotogrfica no rouba da per-
sonalidade a sua existncia, assim tambem o re-
flexo de uma alma lanado sobre uma alma no
rouba da alma a sua personalidade. A persona-
lidade continua a viajar no rumo da meta atra-
vs do necessrio processo. Aquilo que conhe-
84
INAYAT KHAN
cido eomo o reflexo que constroi
outfia personalidade sobre o desenho.
Surge ento a questo, alguma co-
nexo entre essas duas personalidades que so
similhantes? Certamente, o similhante atrai o
similhante. Se no piamo dos gnios se estabele-
ceu um }ao entre duas almas, ela continua a
existir. Desta maneira, natural que o esp-
rito de Shakespeare continui a inspirar a per-
sonalidade de Shakespeare na terra. questo
se pode haver ao mesmo tempo mais de uma in-
carnao da mesma pessoa pode se responder:
Sim, uma pessoa pode ter muitos retratos, as-
sim tambem podem se ma,nifestar muitos refle-
xos de uma personalidade na terra .
Poder-se-ia perguntar: "A personalidade
a mesma como sentimento e pensamento, a qual
continua depois da morte?" Certamente ; mas,
ao mesmo tempo, a gente pode olhar para isso
de um ponto de vista diferente. H dois pon-
tos de vista: um que um corpo conosco perma-
nece enquanto vivemos; e o outro que uma
parte do corpo se separa quando cortamos as
unhas e o cabelo. Essa parte, que se separa,
no se perde, no se destroi; mas a pessoa no
pensa a respeito dela, do lugar para onde foi e
do que foi feito dela. E assim eada pensamen-
0 MUNDO MENTAL 85
to e cada sentimento. As vezes os pensamen-
tos se tornam elementares; se tornam seres vi-
vos; se tornam criaturas vivas. Trabalham
por ns ou contra ns. E se isso verdade en-
to o mesmo que acontece s diferentes
do corpo de uma pessoa. s vezes, nos casos de
feridos na guerra, de mos e dedos amputados a
pessoa 'no est pensando nessa parte que se 'ti-
rou fora; mas essa parte foi tamhem utilizada
pela natureza, est existindo nalgum lugar. O
mundo um lugar onde nada se perde; apenas
se muda. Um dedo ou perna cortada fra vai
andando para deante; e assim tudo que se se-
parou da mente de uma pessoa. Foi-se para as
esferas, mas est continuando a sua vida E
assim como os pais acham que seus filhos.
depois deles, continuando a propria vida, cada
pensamento e sentimento continuando tambem
est a propria vida na esfem Mas, ao
mesmo tempo, havendo perdido um dedo ou per-
na. do corpo, ns ainda vivemos ; assim 0 pensa-
mento e o sentimento prosseguem como indiv-
duos vivos. O homem no perde sua individua-
lidade aps a morte. Essa personalidade fazen-
do est o seu alm-tmulo.
. 'Quando, porem, chegamos alma, da qual
fol Q corpo um jnvlucro, e a personalidade mm-
86
INAYAT KHAN
bem, a temos precisamente um raio divino, eis
que entendemos o raio como uma alma, o que
difcil para cada mente apreender. Porem, se
a intuio, a inspirao permite a uma mente
apreende-lo claramente, o que ela viu uma al-
ma, no uma personalidade ; no um corpo, mas
-uma alma; uma entidade independente por si .
mesma, como um anjo, um gnio, e mesmo pas-
sando atravs daqueles estados, alguma coisa
que est chegando a sua origem, rque o nico
objetivo que est no fundo do seu corao.
Cada encarnao, a um novo raio, se vivi-
fica; porque a ao da alma no sair e voltar
de meio caminho, e daqui partir-outra vez. Nem
isso a ao do respirar . A ao da alma a
mesma que a do respirar. Sai completamente
e completamente se introduz. Cada respirao
deve tocar o mais intimo do ser de uma pessoa
afim de que esta exista, -pois a vida
vel sem que a pessoa receba a cada momento a
carga do mais profundo esprito. Cada
rao que uma pessoa toma toca profundeza
mesma do seu esprito; e mo seria possvel a
ninguem viver se a respirao no tocasse pro-
fundeza da vida. Portanto, verdadeiramente
falando, pensamos que a nutrio, que o ali-
ou -que so ois3-S de ns
1
o
O MUNDO MENTAL 87
vivos; mas a vida de Deus que adqui-
rimos a cada momento com a respirao.
Como diz o vidente, esta manifestao to--
da diante de ns um jogo de sombras; conti
na dur-ante a noite, de manh desaparece tudo.
:ode-se perguntar: "Se essa a condio, que
e
1
que se supe ns fazemos? Considerando isso
irreal no .parec que chegamos a alguma coisa,
mas, ao mesmo tempo, no isso
irr-eal, paramos no irreal, e no abrimos os olhos
para o real." A idia, portanto faz-ermos
0
melhor deste mundo, que irreal ; e ao mesmo
tempo segura-rmos firme, com ambas as mos o
conhecimento da realidade, que somente ele o
salvador. no qua1 encontramos, nossa libertao.
Verdadeiramente, a Verdade inspiradora, e so-
mente Verdade salvar.
X
AS QUALIDADES HERDADAS
Ner;ta poca da evoluo do mundo, pouca
a considerao prestada ao que podemos cha-
mar qualidades herdadas. Em parte, porque o
progresso individual est faltando, e em par-
te pelo crescimento, dia a dia maior, do materia
lismo. Quando se trata de comprar um co,
adquirir um cavalo, nosso pensamento se volta
para os seus ancestrais, porque se d valor ao
co ou ao cavalo de acordo com a sua origem;
em relao ao homem, estamos prontos
a esquecer tal coisa. medida que passam os
dias, menos e menos considerao a isto se pres-
ta. No ha dvida que tem isto suas V3intagens.
No obstante, a est o fato de que as qualida-
des dos ancestrais se manifestam de ambos os
lados na criana. Portanto, sobre o que a crian-
a herda de seus pais e de seus avs
1
est colQ
O MUNDO MENTAL
89
cado o edifcio da sua vida e da carreira da sua
vida ; esse o alicerce da sua vida. E se um
grande edifcio for levantado sobre um fraco
alicerce, este alicerce afinal se mostrar no ser
bastante forte para sustentar o edifcio; e se
um edifcio for levantado sobre um bom ali-
cerce, podereis ficar certo de que ele estar se-
guro.
'Como sucede isso num menino? Sim, se
um menino . parecido com um dos seus pais,
ou com um os seus parentes do lado materno,
ou paterno, a gente v a razo disso; mas em
relao mente da crana estamos prontos
a esquec-lo, a negli:g.enciar a 1questo de como
pode chegar numa criana a qualidade mental.
Mas compreender-se deve que o corpo a ex-
presso da alma ; e se o corpo expressa o.s pais
e os ancestrais, tambem a mente os represen-
ta; pois que o corpo o produto da essnda
menta1. Alm disso, a imagem que uma crian-
a apresenta dos seus .pais e ancestrais no
fsica, mental. Se a imagem mental se n-;.a-
nifesta exteriormente no rosto do menh10, cer-
tamente as qualidades paternas e ancestrais
tambem se lhe refletem na mente.
Que dizer das qualidades que uma criana
inteiramente diversas das qualida4e::?
90 INAYAT XHAN
possuidas -por seus pais e ancestrais? Em pri-
meiro lugar, a gente conhece to pouco acerca
da prpria genealogia, at onde se pode ras-
trear para trs, siquer com dificuldade, cinco
geraes. Pouca gente conhece mais do que cin-
co geraes da sua famlia. E uma criana po-
de herdar dos seus antepassados qualidades seis
ou sete geraes para trs no conhecidas pela
famlia; e tais qualidades se podem manifestar
de uma forma inteiramente concreta. Nenhuma
outra maneira existe de herdar uma alma quali-
dades no pertencentes aos seus pais e ances-
trais? Sim; e essa maneira o reflexo que uma
alma trouxe consigo antes de ter vindo para
este :plano fsico . Essas qualidades podem ser
at mais dal"tas na vida de uma 'alma do que as
qualidades que ela herdou dos seus pais e ances-
trais. Acontece portanto que s vezes se encon-
tra um heri, um rei, um poeta, um general,
um grande poltico tendo nascido em famlia
das mais ordinrias, e que nenhum trao de tal
saber achar-se- entre os seus ancestrais, ou nos
s-eus pais. No obstante, pode ele ser um repre-
sentante de Shakespeare, ou de Alexandre o
Grande, procedente da mais alta esfera, mais
ainda tem ele no corpo e na mente al-guma pro-
pr!edadfil herdada de seus pais e


O MUNDO MENTAL 91
tambem permanece como um reflexo lanado
sobre a sua alma.
Qual a maior qualidade na alma, a quali-
dade dos ancestrais e dos pais, ou a qualidade
que a alma trouxe consigo das esferas mais al-
tas? Nas profundezas daquela alma, se encon-
tra a qualidade que ela trouxe consigo, na su-
perfcie est a qualidade que lhe deram os an-
cestrais. Se aquela qualidade inata maior, en:-
to, pode tambem manifestar-se na superfcie,
cobrindo a qualidade que ihe deram os pais e
ancestrais. Mas, se aquela qualidade no for
bastante profunda, ento as qualidades exter-
nas, que Se manifestam na superfcie, sero as
qualidades principais, brilharndo como as cara-
ctersticas de uma pessoa.
Como que muitas vezes um menino mui-
to parecido com a me, no rosto, e similhante
ao pai no carter? Ha muitas razes psicolgicas.
Eim resumo, pode se dizer que uma criana
um produto dos reflexos de ambos, do pai e da
me. E' do maior ou menor grau de concretis-
mo dos reflexos, e tambem do maior e menor
grau de concepo des1se.s reflexos, que depen-
de a face da criana.
Escolhe a a:1ma conciente e intencional-
mente seus pais? Sim, confo:rme se\l esta.do ele
92 INAYAT KHAN
conc1encia nesse tempo. Entra ela conciente-
mente num fogo aceso? Sim, ela faz isso con-
cientemente, mas ainda no est conciente do
seu resultado; essa concincia vem depois.
So os filhos responsaveis pelo& pecados de seus
pais? Absolutamente no. Suponha-se, porm,
que um filho tem direito a herdar a fortuna do
seu pai; se assim , tambem lhe cabem as dvi-
das deixadas pelo pai; tem de pag-las .
Crianas que vivem separadas de seus pais
e so educadas por guardies espirituais, esto
livres da influncia de um pai, cuja natureza
no boa? A influncia espiritual ilimitada.
Pode produzir alguns resultados desejados, po-
de fazer de um espinho uma flor. Porque to-
das estas influncias dos pais, ou ancestrais, ou
influncias internas, que uma alma trouxe con-
sigo, so por igual reflexos e sombras. O rea:1
est no fundo de cada alma, seja elevado ou in-
ferior; e se uma alma verdadeira se encontrar
com estas crianas ou se elas forem postas em
contacto com uma alma verdadeira, essa alma
verdadeira penetrar mais cedo ou mais tarde
atravs de todos os reflexos que cobrem o real
existente em cada alma. Essa, a significao de
Cristo apontar, todo o tempo, humanidade que
Deus tem a paternidade, que ela veja em DelJIS
O MUNDO MENTAL
93
o Pai, e assim herde as qua:lidades de Deus, que
so grandes, superiores, reais e nobres, so di-
vinas, ninguem no mundo, ou daqueles que en-
contramos no caminho, as possui.
Os Sufis chamam estas qualidades Akhlak
Allah, que significa a maneira de Deus, ou a ma-
neira divina. Um prescrutador da verdade, um
adorador de Deus precisa de racreditar somente
num Pai, e esse Deus. No somente acreditar,
mas conhecer e estar conciente de Um, e herdar
dessa Fonte perfeita, aperfeioando com isso
a prpria vida ; e essa hemna que se chama
divina.
XI
A DO MESTRE
Uma alma herda qualidades dos pais e an-
cestrais bem como qualidades que ela trouxe
consigo 'Q.as esferas mais altas . Mas uma alma
tambem herda as qua:lidades do mestre, espe-
cialmente na cultura espiritual, e sendo assim,
de todos os diferentes mestres a pessoa herda
certas qualidades. Msmo quando um menino
vai para uma escola elementar, ali aprende
do mestre alguma coisa, no somente aquilo que
ensinado nos livros de que usa o mestre, mas
tambem do esprito do mestre. Muitas vezes se
verifica nas escO'las aonde vo aprender os me-
ninos que a influncia de certo mestre produz
tal impresso .no carater deles e no seu pro-
gresso.
Uma vez que a orientao espiritual no
necessariamente um estudo, o ensino que vem
O MUNDO MENTAL 95
do mestre para o discpulo, vem na forma de re-
flexo . Este ensino se chama em linguagem
Sufi Ta;wajjeh. O que a pessoa aprende apren-
dido em livros; mas o que a pessoa aprende do
esprito, da alma, aprendi.do de uma fonte vi-
va. Por exemplo, a mesma coisa H da num livro
no atinge to profundamente como se fosse fa-
lada. E quando falada pelo mestre vai ainda
mais adiante .Ouvir de um mestre uma re- .
flexo direta. , no somente a palavra que
um mestre pronuncia, mas o prprio silncio que
uma reflexo ainda maior.
Algumas vezes, as palavras escritas no pa-
pel pelo mesmo mestre, si vieram do fundo,
tambem produzem um reflexo; mas se as mes-
mas palavras forem pronunciadas pelo mesmo
mestre, essa reflexo ser ainda maior.
Quando Tagore recita, ele mesmo, sua poe-
sia vinte vezes maiiS efetivo. As palavras de
Rumi, por exemplo, do Masnavi, tm ainda um
vivo encanto. Faz muito tempo que o mestre
desapareceu; mas as palavras lhe surgiram da
l:J.lma, e seu efeito to grande que, se uma pes-
soa lr as palavras de Rumi, elas penetram na
a:lma . por isso que os msticos usam dar no-
rnes aos seus discpulos. No somente uma
projeo sirnilhante de um cinema sobre a te-
96 INAYAT KHAN
la; uma projeo sobre a alma, projeo pro-
dutiva creativa, projeo que viva. Na pa-
. '
lavra falada a impresso maior, porque uma
'
palavra falada ilumina, inspira a pessoa; a mes-
ma palavra lida num livro no tem essa in-
fluncia.
Conta um mstico recordar-se de ter ouvido
pela primeira vez na sua vida uma sentena que
lhe causou to viva impresso que ele no poude
esquec-la semanas e semanas depois. E cada
vez <que ele pondera sobre aquela sentena traz
ela uma nova luz. Quando ele ouvia aquela sen-
tena, :parecia que era pronunciada por sua pr-
pria alma, que a sua alma a conhecia, que nun-
ca era nova, mas era a mais cara e prxima
d-ele. Era um verso, uma copia; ei-la aqui- uma
bolha a dizer .ao mar - "Comquanto eu seja
uma bolha e tu sejas o mar, ainda assim eu e
1ru no somos diferentes". uma simples sen-
tena, mas penetrou no seu corao tal como se-
mente lanada em terreno fertil. Desde esse
tempo ela sempre cresceu, e cada vez que ele
nisso pensava lhe trazia ela um novo reflexo.
- Esse mstico mesmo tev:e as mais interessan-
tes experincias nesta questo.
Um iniciado havia lido certa idia, certo
ensinamento num ~ i v r o , quatro ou cinco vezes,
O MUNDO MENTAL 97
mas s a compreendeu mais inteiramente quan-
do o mstico lhe disse. Dizer-lhe uma vez foi
mais util para ele do que se ele tivesse lido a
mesma idia mais de cincoenta vezes. As letras
no papel s vezes alcanam at aos olhos, mas a
palavra vindo da alma alcana a alma. Portan-
to, aquilo que se aprende pelo fenmeno da re-
flexo de um valor maior do que o aprender
por outra forma, especialmente na linha espi-
ritual.
Houve uma vez uma conferncia de religio-
sos em Calcut, e representantes de todas as
escolas msticas foram convidados para esse
congresso. Shankara Charya foi o principal re-
presentante do Bramanismo ali presente. De-
pois da mais impressionante conferncia pro-
nunciada por Shankara perante a assemblia,
quis ele sentar-se em silncio, mas desejaram da
parte do auditrio que fossem respondidas al-
gumas das suas questes. Shankara Gharya
olhou para um lado e outro dos seus discpulos
e pediu a um discpulo que respondesse as ques-
tes. Que discpulo era este? Era alguem que no
era conhecido nem pelos discpulos de Shankara
Charya, pois se ocupava mais das vezes com o
jantar de Shankara Charya, ou com a limpeza
do quarto e a sua arrumao. Assim, a gente
-7
9S ,
1NAYAT KHAN
que se s'abia ser coisa no era chamada;
aquele homem, de cuja existncia ninguem sa-
bia, era chamado. E a resposta que ele deu a cada
pergunta - coisa que ele nunca havia feito em
toda sua vida, ali estando somente porque o cha-
maram, sem pensar se teria capacidade para dar
a resposta ou no, cada resposta foi como
se o fra pelo :prprio Shankara Charya. Os
discpulos de Shankara Charya estavam cheios
de admirao, e perplexos ao mesmo tempo,
no tendo visto a:quele homem entre eles.
isto o que os Sufis como Tawajjeh, reconhe-
cem como reflexo. No era aquele discpulo,
era
0
mestre mesmo que ali estava falando.
A reflexo vem do mestre, e tambem de
longe. A distncia no faz diferena. O disc-
pulo que est perto do seu mestre, embora es-
teja do outro lado do mundo, est mais perto
do que uma pessoa que no est distante, que
pode estar todo tempo ao seu lado; todavia,
no caminho do progresso espiritual uma reu-
nio no plano fsico s vezes necessria, um
contacto tem !Seu valor. justamente simi-
lhante a dar corda a um relgio.
possvel que alguem fale por reflexo
sem compreender ele mesmo o que est dizen-
do? Sim, ao mesmo \tempo uma reflexo da
b MUNDO MENTAL
99
mente no como uma reflexo numa chapa
fotogrfica. Uma reflexo numa chapa foto-
grfica permanece, mas no vive; a reflexo
sobre a mente, porem, vive, e portanto crea-
dora.
Isto nos leva questo da mediurnidade.
As vezes as pessoas podem cantar cantigas que
no lhes pertencem, que nunca aprenderam,
que no se supe que elas conheam. Hiouve
uma rapariga em Bombaim :que no conhe-
cia a Iingua persa, mas havia em que ela
falava essa lingua; e o Persiano que falava
era to bom que estudantes persas adiantados
costumavam vir discutir com ela, e ela costu-
mava discutir sobre pontos de metafsica, fi-
cando sempre firme nos sel!ls rur.gumerntos e
. . '
os ImpressiOnando com isso; e depois, outras
vezes, no o sabia ela. Mais das vezes porm
. ' '
assim acontece com os poetas, especialmente
com os .poetas msticos . Escrevem eles coisas,
por vezes, que eles mesmos no conhecem. As
vezes podem interpretar ou compreender me-
lhor suas poesias anos depois. Um ami-go de
um mstico escreveu poesia, usando termos co-
nhecidos apenas dos altos iniciados. O mstico
ficou muito admirado e perguntou-lhe: "'Que en-
tende voc por isto?" Foi ento que o poeta
100 INAYAT KHAN
compreendeu que no sabia o que significava
aq:uela parte. Mas nenhum poeta pode ser um
grande poeta se no for por natureza medium-
mstico. Porque a Fonte Perfeita est no n-
timo, e a reflexo que vem do ntimo mais
perfeita do que aquilo que uma pessoa apren.,
deu aqui.
Alm disso, aquilo que se chama a cadeia
de M:urshids - o que significa de uma alma
outra alma recebeu, e de outra alma outra al-
ma recebe, e assim por diante - tambem
uma reflexo . Um tesouro que no pode ser
ganho pela meditao, ou pelo estudo, se ga-
nha pela reflexo. Sem dvida o estudo faz uma
pessoa isto compreender; a meditao prepara
o corao para melhor receber o reflexo. Mas a
admirao que o -reflexo da mente produz
muito maior do que outra qualquer impresso
feita na linha espiritual, pelos estudos . En-
contram-se experincias admiraveis nas anti-
gas escolas de misticismo, entre os Sufis, entre
os Yogis, tambem entre os Budistas, de que o
conhecimento adquirido talvez quatro mil anos
passados posto em linguagem mais clara e me-
lhor explanado, e entretanto mantem a beleza
e caracterstica de toda a tradio. E a beleza
do conhecimento mstico esta, que seja qual
0 MUNDO MENTAL
101
for a escola, e venha de onde vier no mundo,
o tema central do conhecimento da Verdade
sempre um e o mesmo. Pessoas que tenham
obtido conhecimento de diferentes aspectos da
vida podem diferir em sua expresso, podem dis-
putar sobre isso, podem no concordar sobre
c-ertas coisas ; mas aqueles que tocaram a Ver-
dade ltima, alca.nanam a mesma Verdade.
A evoluo, ou involuo, no a diminui nem
. ,
a aumenta de nada. Ela o que ; e melhor se
atinge por via 'da reflexo.
.
...... .---
:'
XII
AS LIES DA VIDA
Tudo que a gente aprende e expressa quo-
tidianamente na vida se tem aprendido por
meio da reflexo, e isto pode ser bem estudado
se a gente observar as vidas dos moos que es-
to crescendo, porque o modo de andar, de sen-
tar-se, de falar, que um moo mostra, sempre
um reflexo, uma impresso que lhe caiu no co-
rao, e ele apanhou e expressa como se fosse
maneira prpria dele, seu prprio movimento e
modo de expresso. Difcil no para os pais
cuidadosos chegar convico de como um jo-
vem subitamente muda a maneira de seus mo-
vimentos, subitamente adquire um tique para
certa palavra que ele apanhou l!lalguma parte,
subitamente muda a maneira de po:rtar-se. E
moos h, em cujas vidas veremos cada dia
nova mudana - mudana na voz, na pala-vra.
-......---
O MUNDO MENTAL 103
e nos movimentos. Nem ele prprio sabe de on-
de lhe veio aquilo; e entretanto aquilo veiu de
alguma parte. A voz, a palavra ou o movimen-
to, 'a maneira ou atitude, que se imprimiram
no seu corao, mudam-se ma sua vida quoti-
diana. Sem dvida, quando a pessoa vai fi-
cando velha, menores so as mudanas; por-
que, ento, o tempo do aparecimento, em
tudo que .eia diz ou :faz, das- impresses
coligidrus. Urna cria:na, porm,; um moo
especialmente impressionavel; e tudo que ele
expressa o que ele colheu de outros. No Orien-
te houve um costume de no se permitir a nin-
guem ver uma criana recemnascida, exceto s
pessoas estimadas na familia, e cujas impresses
eram consideradas capazes, inspiradoras de uma
ba influncia. Tem se verificado que uma
criana herdou qualidades de sua me de cria-
o, no somente elementos fsicos, mas taro-
bem qualidades mentais. E frequentemente se
tem provado serem as da me de
criao mais pronunciadas na criana do que
mesmo as qualidades da propria me. Isto no
quer dizer que a criana no possui as qualida-
des maternas mais do que as da me de cria-
o. Acontece apenas que as qualidades da me
de criao se encontram na superfcie e so
"'!'
!I
104 INAYAT KHAN
mais pronunciadas. Poucos sabem ou pensam
acerca desta questo, da grande influncia que
tem uma ama, uma governante sobre uma crian-
a que est crescendo . So as faculdades da
ama que se desenvolvem desconhecidamente
na criana. E nesse tempo de vida artificial os
pais, que negligenciam seus filhos a ponto de
entreg-los absolutamente nas mos de outra
pessoa, no sabem de que esto privando a crian-
a. Privam-na talvez daquela influncia dos pr-
prios pais, que seria mais aconselhavel. Sem d-
vida, e;m alguns casos a influncia da governan-
te melhor do que a influncia dos pais. Todavia,
a criana recebe profundamente impresses e re-
flexos, quando se trata de uma impresso que pri-
meiro lhe tenha caldo em cima na sua infncia,
quer proveniente da me de criao, ou recebi-
da da ama ou de uma governante que dela tenha
cuidado.
Recebemos reflexos apenas se amamOfl ou
admiramos, ou tambem no caso contrrio? Apa-
nhamos reflexos de ambos ,de quem admiramos,
. e de quem odiamos. "Mas ento existe repulsa",
poder-se- dizer. Sim; mas a repulsa vem de-
pois que j temos recebido o reflexo. Antes de
vermos a feiura, j se refletiu a feiura em nos-
sos olhos. A mente como os olhos, precisamen-
O MUNDO MENTAL
lOS
te. Ns dizemos : "Isto feio", mas antes que
digamos: "Isto feio", j se refletiu a feiura em
nossos olhos.
A pessoa pode se abrir aos reflexos da bele-
za sendo senhora de si mesma em tudo que faz,
sendo senhora de sua vida; e isso acontece pela
auto disciplina. Por mais alto que uma pessoa se
eleve ou evolua, entretanto, se estiver sem con-
trole, no dar crdito sua evoluo; o crdito
na prpria evoluo tem a pessoa que evolui in-
tencionalmente. Ela evolui porque deseja evo-
luir, quer dizer - tem o domnio de ai mes-
ma. O crdito, portanto, est no domnio.
Por exemplo, um devoto estava sentado
num navio com uma pessoa ordinria. E esta
pessoa disse: "Oh! como terriv"'el este baru-
lho contnuo. Isto me arrebenta os nervos.
Terrvel, terrvel, terriveJ! Dia e noite, dia e
noite, ouvindo isso continuamente. Isto quase
me pe louco"! O devoto disse : "Eu no ouvi
tal barulho at que voc me !chamou a ateno
para ele. Eu o ouo quando quero ouvi-lo; e
no o ouo quando no quero ouvi-lo". Esta
a idia. Ambos tinham o sentido auditivo,
mas um tinha o poder de fechar e abrir os ou-
vidos; o outro tinha as portas do sentido audi.
tivo abertas, e no podia fech-Ias.
106
INAYAT KHAN
As vidas consideremos agora das grancles
personalidades do mundo. A maior parte das
grandes almas, os poetas, msicos, escritores,
compositores, inventores, tm sofrido o refle-
xo de alguma personalidade. Eles o conser-
vam conciente ou inconcientemente, at que ele
cresce de modo a culminar numa grande per-
sonaHdade. Por que torna esse reflexo uma
,semente d flores e frutos de acordo tcom a sua
e carter. AJs rosas do bem nas visi-
nhanas de .rosas, e os cardos, nos logares de car-
dos . As sombras das grandes
produzem :grwndes PorqueA se da
tudo isso? tudo isso uma reflexao, o fenomeno
todo de reflexes ; e portanto a reflexo que
tem algum valor deve dar resultados valiosos.
Pode um reflexo de uma grande persona-
nidade alcanar uma pessoa atravs de suas
obras, por exemplo, a de um poeta, de um pin-
tor? Certamente. Em tais ocasies que ela
produz a maior das obr81s que jamais produ-
ziu na vida, um trabalho diante do qual a pes-
soa ;fica maravilhada, pois no pode compreen-
der como foi feito.
No caso dos sbios da fndia, conhecidos co-
mo :Klrishna, Rama e Mahadeva, e
como avatares ou incarnaes de personahdooes
O MUNDO MENTAL 107
divinas, que foi isso? A Divina Personalidade
se refletiu neles. Os grandes a v atares, acerca
dos quais lemos nas tradies dos Hinds, tm
sido manifestaes dessa reflexo. No caso das
personalidades similhana de Cristo, que en-
contramos nos santos dos tempos antigos, que
foi isso? Foi Cristo manifestado nos seus cora-
es. A inspirao dos doze Apstolos, o Espri-
to Santo desoendo sobre eles, que foi isso?
No foi o reflexo me.smo de Cristo? No preci-
. samos de ir longe a busca de suporte para este
argumento. Os Califas imitao do Profeta
Maom, Osmar, Sadik, Ali, Utsman, mostraram
no seu carter, na sua natureza, a fragrncia
da existncia do Profeta.
Chegamos ento linha dos grandes Mur-
shids na Hniha Sufi, e vemos o reflexo de
Shamsi Tabriz mo seu discpulo ( murel!Ad) Je-
lal-ud-Din Rumi, autor do Ma.Snavi.
Especialmente na escola de Ohishtis, que
dos Sufis dos antigos tempos, a melhor es-
cala conhecida, encontramos talvez mais de dez
grandes personalidades, em diversas pocas,
provando serem os exemplos das almas que ven-
ceram o mundo pela maneira divina de sua per-
sonalidade,
108
INAYAT KHAN
Agora trataremos de experincia pes-
soal quotidiana . Cada pequena mudana que
encontramos em' ns em nosso pensar
e sentir, em nossa fala e movimento, tamhem
por ns a,panhada inconcientemente de alguma
outra pessoa. A pessoa mais inteligente, a pes-
so'a que mais viva mais susceptvel a refle-
xes; e, se acontece que pessoa mais
espiritual, ento recebe reflexos de ambos
lados, da terra e do outro 1ado. Nela achareis
uma mudana cada dia e cada momento, certa
mudana que , ainda, o fenmeno da reflexo.
Uma pessoa num estado anormal negativo
tamhem recebe reflexos do mundo interior; por-
que se encontram no asilo de alienados muitos
casos de medi unidade. .So mdio.s; os mdicos
podem no conhec-lo, e podem chamar a isso
alguma forma de alucinao; mas, na verdade,
se trata de uma alma medirnica, aberta a uma
outra reflexo vinda do outro lado . Omar
Khayyam, porm, disse:
"A espessura de uni cabelo
Divide o erro da verdade."
Tal a condio entre o norma:! e o anor-
mal. Justamente a espessura de um cabelo.
a mesma bculdade, o mesmo estado de esprito
O MUNDO MtNTAL 109
que faria um iluminado, e justamente uma pe-
, quena diferena pode fazer uma pessoa insana.
No carter de cada pessoa existe certa ca-
racteristica mantida por ela atravs da sua vi-
da, a despeito de todos os reflexos que a muda
continuamente? Ninguem tem seus caracters-
ticos peculiares, embora cada um pense : "Eu
tenho certo carter", e todo mundo sente pra-
zer em diz-lo. Estas coisas no pertencem a
ninguem. A alma vem pura -de todM essas coi-
sas; toma-as quando vem. Mas o que perten-
ceu a uma pessoa ntem seu carter prprio
como o conhecemos; e o que ela mostra hoje ns
pensamos que ela parti'lhou de outrem. Por con-
seguinte, a melhor maneira de saber o que per-
tence a ms saber que tudo que sabemos nos
_pertence.
XIII
A . CONCE:PO DE DEUS
Tem Deus concincia de toda a criao,
alem da concincia que EIe tem dos sereS em
separado? Isto pode ser explicado assim : cada
parte do nosso corpo conciente da dor que ela
sente, se dor est ela sofrendo, - uma espora-
dela ou qualquer outra coisa; - mas, ao mes-
mo tempo, no apenas essa parte particular
que tem concincia disso . Toda a
homem a est a partilhar aquela sensaao. 8'1-
gnifica isto que toda a concincia do homem
tambem experimenta a mesma dor que uma par-
te do seu corpo experimenta ; e s vezes uma
doena numa parte do corpo tem um efeito sobre
todo o corpo. .Sem dvida, a parte do corpo
por molstia pode ali mostrar o sinal
disso no mostrando outra parte do corpo o si-
nal da molstia . . No em certa medida,
0 MUNDO MENTAL 11i
afetada e sofre por isso. Se Deus tudo e est
em tudo, ento experimenta Ele a vida no so-
mente atravs de todas as formas e atravs de
todas as entidades, separadamente, mas tarnbem
coietivamente, quando a dor de um orgo
sentida por todo o corpo.
Vemos que nossa vida cheia de impres-
ses, que recebemos conciente ou inconciente-
mente, e disso derivamos benefcio ou temos a
Aprendemos com isto que, se
estivesse em nossas mos receber ou regeitar
r.eflexos, ficariamos senhores da vida.
Agora, a questo como aprender isso,
como .podemos arranjar para receber impres-
ses que sejam benficas, e como regeitar as
que no quisermos receber.
A primeira coisa, e a mais essencial fa-
zer do corao um corao vivo, purificando-o
de todas as impresses indesejaveis, fazendo-o
limpo de idias e crena;s fixas., e ento lhe
dando uma vida; vida que est dentro dele mes-
mo, e que o amor.
Quando_ o corao estiver assim preparado,
ento, ,por meio da concentrao, aprender como
focaliz-lo porque nem todo mundo sabe como
focalizar o corao para receber certo reflexo.
Sim, um poeta, um musicista, um escritor, um
112
lN A Y AT lti.AN
pensador, inconcientemente focaliza a mente
para o trabalho de a1guem que viva diante dele;
e, focalizando a mente para a obra da grande
personalidade, pe-se ele em contacto com aque-
la personalidade, e deriva disso benefcio, mui-
tas vezes no conhecendo o segredo. Um musi-
cista pode estar pensando em Bach? Beethoven,
ou Wagner. Pondo a mente para aquela . obra
particular deriva ele, sem o saber, aqueles re-
flexos do espirita de Wagner ou Beethoven, que
so grandes ajudas para sua obra; e na sua obra
expressa ele os reflexos que recebe.
Mas isto nos ensina, ento, que, medi-
da que avanarmos no caminho da conquista
do espiritual, chegaremos ao grau em que es-
taremos aptos a focalizar nossa mente, ou o
corao, em Deus.. E a receberemos, no so-
mente o reflexo de uma personalidade, mas os
reflexos de todas as personalidades. No ve-
remos ento em forma de uma gota, mas na
forma de um oceano . Ai teremos a reflexo
perfeita, desde que possamos focalizar somen-
te em Deus nosso corao.
Porque que entre a gente simples e ile-
trada se encontra uma crena em Deus, e en-
tre os mais intelectuais parece existir uma fal-
ta dessa crena? A res.posta que os intele-
o MUNDO MENTAL 113
tm sua -
razao Eles no crem -1
que eles no vem. E , . naqUI o
esses das antigas f, ' se metodos tais como
tos, de adorar a D es edcrenas eram prescri-
eus a orando o ol ,
vore sagraa . s , uma ar-
rar a Deus d, out um ammal sagrado, ou ado-
ean e de uma ar 1
uma imagem d . , . ca, um a ta r ou
je em dia pod e_ aldg.um Ideial, o intelectual ho
ena Izer "I t ,
eu fiz isto , . s
0
e uma coisa que
objeto' - e, uma COisa que eu conheci,. um
' nao e uma pesso . d
pessoa intelectual a ' e esta maneira a
las no estar perdida. Aque-
e ai f' . - - em sua crena em Deus
Icam, nao vao m - .
l1eficiadas por sua , ais a<1Iante, nem so be-
crena.
Mas o processo 'que o sbio tom
melhor para
0
a como o
rem o s que buscam a verdade adota-
Deus e l'e . primeiramente ideializar
' rea IZar Deus Po t
lavras prim r .ou ras pa-
. eiramente fazer Deus D
far. Como se leA G ' e eus n'os
no Ullyan d
uma realidade . ' L' aze e Deus
Isto d ' e Deus vos far a Verdade"
po e ser compreendido . . .
pequena histria F . por mew de uma
. OI uma vez uma t' t
esta artista era d t d ar 1s a ;
. evo a a a sua arto. d
maiS no mundo tinh t - . . v' na a
ela um estd' . a a.raao para ela. Tinha
w' e quando quer d'
de um momento o . . que Ispuzesse
' seu pruneno pensamento era
.
I'
I
114
INAYAT KfiAN
ir pa:ta o estdio e trabalhar na _esttua que
tava faz-endo. O povo no pod1a compreende-
Ia bem, pois nem todo mundo devotado a uma
coisa como esta. Uma pessoa certa vez se in-
teressa pela arte, outras vezes pelo seu lar, ou-
tras pelo teatro. Ela, entretanto, no se impor-
tava; ia diariamente para o seu estdio e em-
pregava a maior parte do seu tempo em
esta obra de arte, a nica obra de arte que ela
fez na sua vida. E quanto mais acabada estava
a obra, mais comeava a artista a sentir-se de-
leitada com eia, atrada por ela, para aquela
beleza qual estava devotando seu tempo.
Aquilo comeou a manifestar-se aos seus olhos,
e ela comeou a comunicar-se com aquela bele-
za. P-ara la no era mais uma esttua, era
tlm ser vivo. No momento em que a esttua fi-
cou acabada, no pde ela acreditar em seus
olhos, que aquiio tudo havia sido feito por ela.
Esqueceu o trabalho que havia posto naquela
esttug, o tempo que aquela esttua lhe tinha
tom2,do: a idia, o entusiasmo . A esttua absor-
veu-a na sua beleza. O mundo no existia para
ela; o que se apresentava diante dela era aque-
la beleza. No podia acreditar por um momento
que aquilo fosse uma esttua. Ali, o que ela via
era uma beleza viva, mais viva do que qualqtter
l
O MUNDO MENTAL 115
outra coisa no mundo, inspirando, revelando.
Sentia-se exaltada na beleza daquela esttua . .
E to vencida pela impress.o que lhe produziu
aquela esttua que se ajoelhou diante daquela
perfeita. viso de beleza, com toda humildade,
e pediu que a esttua falasse, esquecendo-se in-
teimmente de que aquilo era sua obra, de que
' aquilo era a esttua que ela havia feito. E como
Deus est em todas as coisas, como Deus Mesmo
toda beleza que existe, e como Deus. de qualquer
parte responde, se o corao estiver pronto a
escutar essa resposta, e como Deus est :pronto
a comunicar-se com a alma. que estiver desper-
ta para a beleza de Deus, veio da esttua uma
voz: "Se tu me amas, uma condio apena-s se
impe; a de tomar este copo de veneno da mi-
nha mo. S.e me !qui,seres viva, no mais vi-
vers. Aceitas?" "Sim", respondeu ela. "Sois be-
la, sois a bem amada, sois aquela a quem eu dei
todo o meu pensar, minha admirao, rninha
adorao; at 'a minha vida vos darei". "Toma
este copo de veneno", disse a esttua, "que no
mais possas viver". Para el.a, isso era como
um ntar: "Ver-me-ei livre de viver. Essa be-
leza viver, a beleza que eu tenho adorado e
admirado permanecer. Eu no preciso viver
mais tempo." Tomou o copo de veneno e caiu
t
I 'i

116
INAYAT KHAN'
morta. A esttua levantou-a e beijou-a dan
do-lhe a prpria vida, a vida do que belo e
sagrado a vida, que dura sempre, eternamente.
Esta histria uma aleg<lria da adora(}o de
Deus. Deus feito primeiro; e os artistas que
tm feito Deus foram os profetas, os mestres,
que chegam de tempos em tempos. Tm sido
eles os artistas que tm feito Deus. Quando o
mundo no estava bastante desenvolvido, faziam
eles Deus de pedra; quando o mundo estava um
pouco mais adiantado, davam eles a Deus a pa-
lavra. Em louvor de Deus, pintavam a imagem
de Deus e davam humanidade a alta concepo
de Deus fazendo um trono para Ele. Em vez de
faz-lo de pedra, o faziam no corao-do homem.
Quando este reflexo de Deus, Que , toda a be-
leza, magestada e excelncia for
refletido numa pessoa, ento, naturalmente es-
.tar ela focalizada para Deus. E desse fenme-
no, o que surge do corao do adorador o amor
e a 1u:z, a beleza e a fora que a Deus perten-
cem. por isto que se ,procura Deus na reve-
rncia a Deus .
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