Adenauer Novaes Religiao Pessoal

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RELIGIO PESSOAL

ADENUER NOVAES

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1 Edio Do 1 ao 5 milheiro

Criao da capa: Objectiva Comunicao Direo de arte: Gabriela Diaz Reviso: Maria Anglica de Mattos Reviso de contedo: Silzen Furtado Editor: Gustavo Metidieri Diagramao: Joseh Caldas

Copyright 2007 by Fundao Lar Harmonia Rua Dep. Paulo Jackson, 560 Piat 41650-020 Salvador Bahia Brasil [email protected] (71) 3375-1570 e 3286-7796 Impresso no Brasil

ISBN 978-85-86492-24-2

Todo o produto da venda desta obra destinado s obras sociais da Fundao Lar Harmonia

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Adenuer Novaes

RELIGIO PESSOAL

CNPJ (MF) 00.405.171/0001-09 Rua Dep. Paulo Jackson, 560 Piat 41650-020 Salvador Bahia Brasil 2007

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CIP Brasil. Catalogao na Publicao Cmara Brasileira do Livro, SP.

Novaes, Adenuer Religio Pessoal Salvador. Fundao Lar Harmonia, 11/2007. 240 p. 1. Espiritismo. I. Novaes, Adenuer, 1955. II. Ttulo

CDD 139.9

ndice para catlogo sistemtico: 1. Espiritismo 139.9 2. Psicologia 154.6 3. Psicologia da religio 200.1

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A Jesus, ser humano e mestre.

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Upanishades Quando o homem sbio reconhece o Atman, o Eu, a vida interior e, como uma abelha, goza a doura das flores dos sentidos, e reconhece o Senhor do que foi e do que h de ser, ento esse homem ultrapassou o medo. Budismo Por mais que, na batalha, se vena um ou mais inimigos, a vitria sobre si mesmo a maior de todas as vitrias. Sakyamuni. Islamismo Eis aqui um aviso inteligvel contra aqueles que fazem da sua religio um mero assunto de convenincia terrena. A verdadeira religio muitssimo mais profunda. Ela transforma a natureza intrnseca do homem. Depois dessa transformao, ser to impossvel, para ele, mudar, como o , para a luz, transformar-se em tenebrosidade. Alcoro, 114 Surata, Versculo 306. Cristianismo Tambm o reino dos cus semelhante a um tesouro escondido num campo, que um homem achou e escondeu; e, pelo gozo dele, vai, vende tudo quanto tem e compra aquele campo. Mateus, 13:44. Allan Kardec (...) o Espiritismo repousa sobre as bases fundamentais da religio e respeita todas as crenas; um de seus efeitos incutir sentimentos religiosos nos que os no possuem e fortaleclos nos que os tenham vacilantes. O Livro dos Mdiuns, Item 24. C. G. Jung No se pode mudar aquilo que interiormente no se aceitou. A condenao moral no liberta; ela oprime e sufoca. A partir do momento em que condeno algum, no sou seu amigo e no compartilho de seus sofrimentos; sou o seu opressor. Obras Completas, Vol. XI, par. 519.
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Sumrio
Prefcio ...................................................................... 11 Iniciao religiosa ..................................................... 15 Consideraes sobre o religioso ............................... 21 O real problema religioso do ser humano................. 27 Religio e religiosidade ............................................. 34 A palavra religio ...................................................... 39 O que religio ......................................................... 49 O que h de comum nas religies ............................. 54 Religies .................................................................... 67 Sntese dos fundamentos das religies formais ........ 73 Religies em pequenas sociedades ........................... 98 Horizonte espiritual ................................................... 103 Religio busca pelo Si-Mesmo ............................... 107 Eros e Religio Pessoal ............................................. 111 O que Religio Pessoal ........................................... 116 Religio formal e Religio Pessoal ........................... 126 Princpios provisrios de uma Religio Pessoal....... 130 Caractersticas de quem adotou uma Religio Pessoal 137 Como construir uma Religio Pessoal ...................... 142 Jung e a Religio Pessoal .......................................... 146 Religio Pessoal e morte ........................................... 160 Religio Pessoal e multirreligiosidade ...................... 163 Alquimia e religio .................................................... 166 Manifestao da funo religiosa na Psiqu ............ 170
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Deus ........................................................................... 178 Representaes do Inconsciente ............................... 185 Religio como norma coletiva .................................. 190 Espiritismo e religio ................................................ 196 Arqutipo paterno ..................................................... 203 Ando a procura de uma religio ................................ 208 Ego e Esprito ............................................................ 210 Religio e poltica ..................................................... 213 Orao da Religio Pessoal ....................................... 216 Glossrio.................................................................... 221

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Prefcio
ontemplando a mente do homem primitivo, quando nada elaborado ali havia, sem uma conscincia madura de seu prprio ego1, mesmo assim, possvel constatar a existncia de um elemento que o impulsionava, alm da necessidade de sobrevivncia. Naquela mente, detentora de pouqussimos e rudimentares elementos conscientes, com um escasso repertrio de habilidades intelectivas para a compreenso de si mesmo, tambm se encontra uma marca indelvel seu, at ento, inconsciente desejo de buscar-se, de entender-se e sua prpria nsia de viver. No sabe ele que, um dia, essa busca se tornar consciente e contar com a conduo da religio formal. Sua mente, apta a captar a realidade, inicialmente atender aquele impulso primal construindo to somente imagens, para depois, quando possuir novos implementos intelectivos, elabor-las no formato de conceitos. Encerrado num corpo, limitado por condies inerentes sua evoluo, ali se encontra o esprito no incio de mais um ciclo existencial. Mesmo enclausurado, no est deriva, pois conta com estruturas psquicas (arqutipos) que o conduziro naturalmente ao encontro mgico e especial consigo mesmo.
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Alguns termos de origem psicolgica podem ter seu significado melhor compreendido ao final do livro, no Glossrio.

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Ser longa, laboriosa e proveitosa a jornada, permeada por incontveis desafios e imprevisveis experincias, as quais, aqueles que lem estas pginas j entenderam a importncia de t-las vivido. O esprito far sua jornada como um heri que se lana ao objetivo sem que tenha a conscincia plena de tudo que enfrentar. Do incio da jornada, desde que adquiriu a conscincia humana, at os dias de hoje, por conta de inmeras e incontveis experincias, reforou sua estrutura psquica, tornando-a apta a novos desafios. Sua organizao mental j o permite escolher, renunciar, ousar e compreender melhor os desgnios divinos. J no se encontra mais na infncia, muito embora ainda se perceba em atitudes imaturas e inconseqentes. Nessa jornada, que vivida dia aps dia, ainda se descobrir projetado no que acreditava ser Deus, para, s depois que amadurecer no sacrifcio do trabalho humano, perceber-se como sendo a prpria natureza divina se realizando. As experincias religiosas ligadas ao sagrado se tornam, ao longo da jornada, forjadoras de importantes paradigmas para a compreenso de sua natureza como esprito e tambm para o entendimento do que supe ser Deus. Sero aquelas experincias que lhe fornecero os dispositivos psquicos capazes de lhe fazer assumir quem o esprito em si mesmo. Nesse sentido, as crenas religiosas e seus cultos, nos quais vivenciou a f e o contato com o sagrado, deram-lhe as bases para a construo de uma psiqu saudvel. Enquanto no corpo, vive experincias de contato com as foras divinas consideradas instintivas; fora dele, realiza sua dimenso espiritual transcendente. Em ambas apreende os princpios das leis de Deus, fundamentais para novos cometimentos.
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No percurso, apega-se a valores que acredita superiores, negocia favores considerados divinos, cria sistemas internos de proteo que, em sua maioria, ao invs de libert-lo, aprisiona-o. Consolida uma f que ter de rever mais tarde. Enrijece sua mente com dogmas oriundos de crenas pueris, tendo depois que flexibiliz-la para prosseguir em seu processo de iluminao pessoal. O ser humano de hoje, mesmo depois de milnios de evoluo, ainda se assemelha ao primitivo, pois cambaleia na direo de Deus, tateando no escuro de suas prprias fantasias religiosas. Ainda reza para Deus e ajoelha-se diante da matria. No entende que a divindade no se ope matria, pois a grande dialtica ele mesmo e Deus, Deus e Esprito, aparentes opostos que necessitam de conciliao na psiqu consciente. O ser humano o mesmo esprito que vem, h milnios, buscando se encontrar. Seu olhar ainda no completo. Seu instrumento para isso, o ego, ainda no est totalmente maduro. Muitos fatores interferem em sua percepo. Ele ainda no aprendeu que no precisa ver tudo, mas apenas o essencial. Deve entender que, para conhecer as coisas, preciso dar a volta sobre si mesmo, olhando para seu prprio mundo interior. No percebe, em sua momentnea cegueira, que Deus se escondeu em seu inconsciente. Acumula muita coisa no seu egosmo e orgulho em excesso. Chegar um tempo em que estar pronto para encontrar e perceber a divindade. Um dia, quando liberto de seus prprios medos e preconceitos, tecidos pela ignorncia em relao ao divino e a si mesmo, alcanar a liberdade de pensar uma Religio Pessoal. O caminho ser longo, mas extremamente valioso para si mesmo. Quando ento iniciar seu processo de vivncia da Religio Pessoal, sofrer reveses
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por conta das prprias armadilhas que criou, medroso de se perder nos labirintos complexos de sua psiqu religiosa. E os reveses acontecero por conta, principalmente, do desejo infantil de salvar-se de algo que idealizou como sendo uma tragdia. Inconscientemente acredita que um grande perigo o ameaa e que o levar a ser banido eternamente. Teme o que ele prprio construiu. Sua mente ainda est estruturada na dialtica bem x mal. Teme o abandono divino, qual criana apegada me, temendo perder-se dela. Uma vez iniciada a jornada, no haver retorno. O caminho inexorvel, ao encontro de si mesmo e da mxima possibilidade de comunho com Deus. Descobrir que a atitude religiosa o ntimo e mais profundo encontro com os limites da essncia humana, percebendo que o sentimento religioso lhe permitir superar as fronteiras do humano, tocando o divino. Convido o leitor a fazer a jornada da religio formal Religio Pessoal, sem receio de se perder de si mesmo. Ao contrrio, ao encontro de sua verdadeira essncia a espiritual. No preconizo uma nova religio, nem seita moderna, nem culto diferente, mas simples conexo, no sentido de ntima ligao, do humano com o divino, sem as regras inconscientemente estabelecidas desde a infncia da humanidade. Este livro apresenta algumas reflexes para a construo de uma Religio Pessoal. O seu ttulo no sugere a constituio de uma religio egosta nem tampouco o desrespeito s existentes. apenas uma proposta pessoal para a internalizao daquilo que o sagrado tem a revelar. A Religio Pessoal aquela adotada por cada pessoa, na vivncia do arqutipo do sagrado, visando sua conexo mais profunda com o princpio Criador da existncia humana.
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Iniciao Religiosa
inha educao religiosa se deve a mltiplas experincias, no provindo de uma nica escola ou de rgida formao domstica. Vim de uma famlia de razes catlicas, porm sem que ningum se aprofundasse nos estudos religiosos, como comum aos seus adeptos. No se fazia grandes investimentos na consolidao da f, pois a cidade em que vivia era pequena e sem instituies e pessoas que se dedicassem aos estudos aprofundados. Naturalmente segui por um caminho pessoal e pela prtica dos fundamentos da f incipiente que possua. Meu pai era militar, mas no era duro com os filhos nem lhes aplicava qualquer disciplina exagerada. Era um homem bom e preocupado com os estudos dos filhos. O que mais o aproximava dos preceitos religiosos era a disciplina. Fora isso, no me lembro de ter ouvido dele qualquer referncia a religio. Minha me era catlica. Vrias vezes a vi rezando o tero ou falando de sua f em Deus. Cuidava para que os filhos fossem batizados; nada alm disso. S nos levava missa em ocasies especiais. Era uma mulher envolvida com o desenvolvimento de seus filhos, preocupada em que eles se tornassem pessoas bem sucedidas. Posso dizer que cresci sem formao religiosa consistente. Religio no era assunto tratado nas reunies de
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famlia, nem se recorria f para a soluo de problemas domsticos. A principal preocupao de meus pais era com a educao intelectual formal. No me lembro de dilogos especficos sobre religio. A cidade onde nasci era um pequeno povoado ao norte da Bahia, cuja cultura religiosa preponderante era a catlica. O que devo ter aprendido a respeito veio das experincias na escola e no meio social. No havia drogas ou violncia. O mal era o sexo e o bem era a prosperidade material. Palavras religiosas no me faziam efeito. Nunca tive medo de diabo, demnio ou de espritos malignos. A palavra Deus me levava a pensar num homem velho e bonacho. No cresci com condicionantes religiosos que pudessem nortear minha busca espiritual. Os que possua eram inconscientes, pr-existentes ou assimilados da conscincia coletiva. Na adolescncia, ingressei em escolas militares, onde aprendi novamente a disciplina. Nelas no tive nenhuma educao religiosa formal. Meus medos no me levavam necessidade de proteo religiosa, mas de ajuda paterna. Como bom militar, meu pai me ensinava a encontrar em mim mesmo a fortaleza para as adversidades. Achava a religio algo pueril e portador de fragilidade. Comecei a me interessar pelo Espiritismo e simultaneamente pelo Cristianismo no final da adolescncia. Isso no se deveu a uma doena ou a uma necessidade consciente de uma religio. Fui levado religio por um impulso inconsciente de querer transcender e por uma imperiosa necessidade de realizar meu prprio destino preconcebido espiritualmente. Isso aconteceu quando tinha dezessete anos e estudava numa escola militar em So Paulo. Fora uma simples passagem por um grupo de estudos espritas, sem me aprofundar nos ensinamentos.
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Isso s veio a acontecer de fato aos vinte e um anos, quando ingressei num Centro Esprita a convite de um amigo, levando a srio e de forma disciplinada os estudos das coisas do esprito. Retornando da escola militar, decidi por uma profisso que exigisse de mim os conhecimentos das cincias exatas, pois me saa muito bem nas disciplinas pertinentes. Minha graduao em Engenharia Civil possibilitou-me um olhar espacial, concreto, topolgico e ordenado das experincias da vida. Sentia-me conectado realidade e bem sucedido profissionalmente. Gostava do reconhecimento de minha competncia e seriedade tcnica. A engenharia me ps em condies de neutralidade para absorver melhor o conhecimento religioso, permitindo-me estruturar matrizes psquicas diferentes das promovidas pelas religies. No teria necessidade de mudar de religio, mas de construir uma pessoal. Em paralelo, fazia minha formao esprita sem seguir nenhum modelo ou lder existente no movimento. Isso me blindou contra a imitao caricatural reinante de um esteretipo religioso, distanciado do bom senso e da capacidade crtica necessrios construo do saber. Minha graduao em Filosofia, poucos anos depois de me iniciar de fato no Espiritismo, permitiu-me uma ampla viso crtica no s das escolas filosficas como tambm de minhas prprias crenas. Cotejava o que aprendia no Espiritismo com os conhecimentos das escolas filosficas gregas. Bebia as idias como quem saciava uma intensa sede. A dialtica Plato x Aristteles me encantava, ao lado dos escritos de Allan Kardec e do esprito Emmanuel, este ltimo pela psicografia de Chico Xavier. Meus conhecimentos de engenharia se associavam aos de filosofia para uma compreenso melhor da realidade
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espiritual. No me contentava com o simples saber, pois j participava de reunies medinicas de contato com o espiritual, alm de me dedicar ao trabalho de promoo social numa comunidade de extrema pobreza material e espiritual. Construa minha religiosidade no trip constitudo pelas cincias exatas, pela Filosofia e pelo Espiritismo. Dentro de mim se forjava uma conscincia do valor do saber, do respeito ao outro e da amplitude da vida espiritual. Vivia com um sentimento ntimo de felicidade e de conexo profunda com algo maior do que tudo que me diziam a respeito de Deus. Meu universo interior era maior do que o externo, incluindo-o. Posteriormente, j entrando na meia-idade, decidi por me graduar em Psicologia, pois ansiava por uma profisso intimista, voltada para o estudo da mente. O Espiritismo me fez ir em busca de algo mais do que a afirmao de que somos todos espritos imortais. Queria saber como funcionava a mente humana. Queria saber o que era o pensamento, a memria, o inconsciente, a vontade, o instinto, a razo, o eu, entre outros elementos que compem a alma humana. Ingressei na universidade e completei meus estudos de psicologia, dedicando-me profissionalmente atividade clnica, ps-graduando-me em Psicologia Analtica. Meus estudos da Psicologia de C. G. Jung2 deram-me o filtro necessrio para uma maior compreenso do que se passava comigo mesmo. Minha formao acadmica e religiosa se ampliava, ganhando o quarto componente que faltava a psicologia junguiana. Por outro lado, queria uma religio que tivesse a serenidade e profundidade do Taosmo, as mltiplas possibilidades de expresso do Hindusmo, a amorosidade e
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Psiquiatra, suo, que viveu de 1875 a 1961.

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solidariedade do Cristianismo, a espiritualidade e harmonia do Espiritismo, mas que tambm me permitisse seguir minha prpria essncia consciente. A essa forma prpria de viver a religiosidade, chamei de Religio Pessoal. No se trata de uma mistura de religies, muito menos de uma nova religio. Tampouco uma crena artificial, construda do melhor das religies. , de fato, uma Religio Pessoal, portanto nica para cada indivduo. Restava agora a construo de minha Religio Pessoal. Isso veio se dar aps alguns anos de exerccio profissional, culminando com a implantao de uma organizao no-governamental dedicada educao de crianas em risco social. No me via mais como um terico nem como um fomentador de idias para os outros. Tinha que viver uma vida que contivesse o que acreditava e o que pregava. Desenvolvi um senso de respeito religio do outro, oriundo da idia de que construa minha prpria forma de viver o Espiritismo. Percebia que praticava uma religio diferente do que chamavam de religio esprita. Agrada-me bastante a possibilidade de manifestao do sagrado atravs de vrios cultos e formas diferentes de sentir o numinoso. O Espiritismo no era uma simples religio de culto semanal, mas uma forma de entender a vida e os mistrios do universo. No desvendava tudo, mas retirava os vus das pseudo-verdades para a compreenso de algo ainda maior que viria. Ao estudar as religies, senti-me na obrigao de desmistificar minha idia de Deus e de desconstruir o que tinha constitudo como fundamentos de minha concepo de Deus. A compreenso do Taosmo foi importante para isso. No me distanciei dos ensinamentos de Allan Kardec nem me coloco acima dos que viviam o Espiritis19

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mo como uma religio formal. Entendo que, para cada conscincia, um culto; para cada indivduo, um sistema; para cada pessoa, uma verdade.

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Consideraes sobre o religioso


onvido o leitor a um estado de conscincia especfico para uma melhor compreenso deste livro. Tal estado exige que se isente momentaneamente da influncia de sua religio formal, tornando-se um livre pensador. Como tratarei de religio, espero que o leitor acompanhe o raciocnio de um ponto de vista no exclusivamente lgico-racional, mas principalmente utilizando sua intuio. Sem defender especificamente qualquer delas, analisarei religio como um fato psquico com conseqncias na vida prtica do ser humano e na sociedade. As religies so dinmicas, obedecem ao movimento da psiqu , sob o influxo de contingncias supraarquetpicas. So acontecimentos que primeiro ocorrem no inconsciente, para depois se manifestarem na conscincia. A atitude religiosa posterior a ambos. Na conscincia se manifesta como um smbolo. As contingncias supra-arquetpicas so aquelas a que o ser humano est obrigatoriamente submetido e que no sabe como mudlas. Submete-se a elas porque est inserido num Universo gerado supra-arquetipicamente. Escrever sobre religio sem estar abrigado em princpios e regras de qualquer delas muito difcil. como acreditar, quando se est envolvido sentimentalmente com
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algum, que se pode atingir a iseno emocional ao se referir pessoa. Mas como analisarei as manifestaes religiosas do ponto de vista psicolgico, correrei menos risco de faz-lo de forma passional. Ademais, como esprita, inclino-me a uma adoo universalista em termos de religio coletiva. Refletir e teorizar sobre religio buscando no se guiar pela prpria experincia religiosa to difcil quanto navegar sem uma carta nutica. Devese faz-lo margeando a costa para no se perder no mar aberto. No fcil abordar temas relacionados religio, no apenas em face da transcendncia inerente ao tema como tambm pelo fato de se estar lidando com algo que se origina na psiqu coletiva, raiz profunda do psiquismo humano. Corre-se o risco de se perder em subjetividades muito distantes da compreenso comum. Tome-se como ponto de partida a construo dos mitos na mente humana. A no compreenso de sua natureza, a ignorncia a respeito de tudo que cercava o ser humano primitivo, a falta de experincias significativas que forjassem protees no mgicas e a ignorncia relativa aos perigos sua volta colocaram o ser humano suscetvel construo do mito. O mito simboliza aspectos psquicos coletivos. No so construes individuais, mas fruto da dimenso coletiva da alma humana. O mito uma construo psquica favorvel manuteno do equilbrio da conscincia. Sem ele, o ser humano estaria merc dos perigos de seu prprio inconsciente. Ele forjado automaticamente para a manuteno da relao entre a conscincia e o inconsciente. Os primeiros mitos que apareceram na conscincia foram palavras ou expresses verbais, que depois foram transformadas em sinais. Posteriormente surgiram os mitos
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cosmognicos e os que tentavam explicar o comportamento humano. Entre todos os mitos, os que representavam aspectos religiosos da psiqu humana so de fato os forjadores das religies coletivas. Muitos ainda permanecem vivos, e outros foram dissolvidos pela compreenso adequada de seus significados. Mitos nascem e morrem cotidianamente. Suas razes se encontram no mistrio, na complexidade e nas profundezas do psiquismo humano. Alguns dogmas religiosos apontam diretamente para eles. So indecifrveis como o a natureza de Deus. O principal mito humano o do encontro com Deus. Antes de se resolver essa questo interna, ter-se- de se entender o problema da idia que se faz a respeito de Deus. Como a idia de Deus se apresenta de mltiplas formas, e de acordo com cada religio, Deus, em si, o grande mistrio. Todos os mitos criados coletivamente decorrem da ignorncia humana a respeito do Universo, portanto, em ltima anlise, de Deus. A psiqu humana constri inconscientemente os mitos, liberando a energia psquica dirigida para a busca do divino. O desejo, condenado por algumas religies como aquilo que impede a iluminao por fortalecer o egosmo, se confunde com a prpria energia psquica. Lutar contra o desejo humano, egico, remar contra a prpria vida e todas as possibilidades de experincia. um equvoco de lesa existncia. bvio assinalar que tudo que ocorre no Universo vem de Deus. Essa afirmao, porm, um limite ao raciocnio humano. preciso pensar mais alm, ou melhor, antes disso, levantem-se questionamentos: A religio algo que vem de Deus, considerado como vindo de fora, portanto, algo externo, ou, ao contrrio, uma criao humana, portanto, que vem de dentro? A religio um fenmeno humano ou divino? As respostas devem consi23

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derar a religio tambm como um fenmeno psicolgico inconsciente. Isso quer dizer que o fenmeno tem propsitos divinos, mas tem seu desenvolvimento e continuidade atravs da conscincia humana. Importa assinalar que o fenmeno religioso tende a se tornar consciente, logo, sujeito a modificaes significativas no decorrer da evoluo do esprito. Esse fenmeno proporcionar a ascenso da Religio Pessoal. O processo psquico que torna a experincia um fenmeno religioso ocorre de forma sutil e imperceptvel conscincia. Quando o ser humano se conecta a algo religioso, em seu ntimo, seja por um pensamento ou por um sentimento, ocorre a aproximao do que existe de mais sensvel e vulnervel em sua psiqu. Naquele momento que se d a conexo com a fronteira entre o conhecido e o desconhecido. Ali h um abismo que necessita ser ultrapassado. Chamo esse momento de conexo experincia essencial. ela que favorece o contato com o numinoso e o transcendente. ela que proporciona os estados alterados de conscincia na ascese mstica. A conscincia desse processo tem sido cada vez maior no mundo moderno, porm ainda imperceptvel s religies formais, que vo lentamente se modificando, mas no o suficiente para alcanar a individualidade de cada um. Seus dogmas demoram muito para se dissolverem, mantendo alguns mistrios. Os princpios ou dogmas que compem as grandes religies apontam para um conjunto de arqutipos. Prestam-se materializao, pela via numinosa, de determinantes do pensamento e comportamento humanos. As dissidncias existentes no seio das grandes religies (O Budismo nasceu do Hindusmo, o Cristianismo e o Islamismo nasceram do Judasmo, o Protestantismo e o
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Catolicismo, do Cristianismo, entre outros) atestam que o conjunto de arqutipos se alternam lentamente, dando lugar a determinantes psquicos mais adequados a cada fase da evoluo humana. O dogma aponta para o desconhecido, para o arquetpico e o supra-arquetpico. Sua preservao uma forma de fuga do significado; a busca transcendente pelo seu significado proporciona crescimento espiritual. A forma de exteriorizao do arqutipo religioso da psiqu mais predominante na atual fase da humanidade a que estimula a vivncia da espiritualidade. Isso significa que o indivduo tende a viver a dimenso espiritual na vida social, principalmente nas dimenses tica e ecolgica, alm de tender a estar inserido em atividades que contribuam para a gerao de prosperidade pessoal e coletiva. A distino entre espiritualidade e religio tem se tornado mais evidente, principalmente em sua prtica. Agir com espiritualidade no requer a adoo de uma atitude religiosa formal, mas de um compromisso pessoal com o seu prprio processo de evoluo e com a responsabilidade social. Quando a atitude religiosa de um indivduo se apresenta a servio do processo de encontro consigo mesmo e do significado da existncia, levando-o a se tornar uma pessoa autnoma, comprometida com o coletivo, torna-se espiritualidade. A prtica religiosa contribui para o estabelecimento do equilbrio psquico. A vivncia da espiritualidade flexibiliza o religioso, reduzindo os riscos da dogmatizao. A religio tem sido considerada uma tentativa de por ordem ao caos interior, povoado pelos demnios inconscientes. Por fora do aparecimento de filosofias e conhecimentos novos, ela convidada a resolver anteci25

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padamente o mistrio do desconhecido aps a morte. Os demnios esto dando lugar necessidade de fundamentar a prpria existncia humana e isso requer muito mais do que manter dogmas. H necessidade de se materializar a unidade interior na crena em um Deus diferente do apresentado pelas religies formais. O novo Deus deve conseguir harmonizar o prprio ser humano e a sociedade. Um novo ser humano nasce com mais compaixo e amor. A religio deve ser capaz de conciliar o bem e o mal internos, criados pela convivncia.

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O real problema religioso do ser humano


coletivas humanas de busca e manifestao do aspecto psquico relacionado ao sagrado. Os dogmas religiosos apontam para o obscuro que a conscincia no conseguiu ainda decifrar. As religies no so criaes individuais, mas a via pela qual o esprito procura entender-se e explicar-se. A busca pelo encontro com Deus to somente o formato do convite que a prpria divindade faz ao ser humano para que ele se encontre consigo mesmo. Nessa busca por Deus, ele conseguir responder dvida sobre quem ele , para que foi criado e como realizar-se a si mesmo. As religies tm sido teis como balizadoras dessa busca, mas no so os nicos meios nem tampouco so suficientes. Seus adeptos, aps algum tempo, esgotam as possibilidades de conexo com o sagrado pelas mesmas vias preconizadas por sua religio. O que um dia foi impulsionador, tornou-se limitante. A cristalizao de prticas religiosas ao longo da vida deixa de alcanar os objetivos numinosos a que se propunham inicialmente. O ritual, com o tempo, j no atender mais necessria conexo transcendente que impulsiona a psiqu, conseqentemente o esprito, para vos maiores.
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As tradies religiosas representam tendncias

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Para alguns, a mudana de religio poder se configurar como alternativa vivel para a continuidade da busca, porm nem sempre isso surte efeito. Outros preferem abandonar suas tradies religiosas, seja por desiluso, seja porque j integraram seus contedos. O problema religioso, o encontro do esprito com sua mxima essncia, se desdobra em outros, como se fossem degraus de uma escada para um patamar superior. Durante a caminhada para o encontro rgio, o esprito conseguir resolver o sentido da prpria existncia, o significado da vida e da morte, o conceito de Deus, quem de fato ele , alm de atender manifestao da funo religiosa da psiqu, para o que a religio deve contribuir a todo momento, oferecendo possibilidades de compreenso do sentido da existncia humana. Afirmar que a existncia, a qualquer tempo, extempornea, isto , no real nem deve ser creditada ao momento presente, o mesmo que negar a conscincia. Transferir a explicao da existncia humana na matria para o Alm obrigar a que se encontre um significado a posteriori para a existncia no mundo espiritual. A existncia a que me refiro a do esprito, tanto no corpo quanto fora dele. A existncia humana, na matria ou fora dela, um dado a priori, condio de partida para o pensar. No um problema, mas uma condio. No possvel o no viver. No h a no existncia. A existncia humana a revelao da prpria divindade. Enquanto experincia, deve ser vivida exaustiva e intensamente. A existncia humana a condio para a aquisio de tudo que possvel ao humano. Cabe a discusso a respeito do para qu a existncia, ou seja, o que fazer dela, tanto no momento presente quanto em relao ao futuro. Essa deve ser a constante interrogao do esprito. Questionar-se sobre o que fazer
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na vida ou como viv-la, de acordo com o que dispe de habilidades e capacidades para tal. Deve ter uma preocupao sobre a funo da vida e no necessariamente sobre sua causa geradora, pois essa inacessvel. Ento, qual a funo da vida? Ser vivida em busca de competncias adquiridas nas diversas experincias, capacitando-se para a compreenso a respeito de si mesmo. Nesse sentido, toda experincia humana, mesmo aquelas moralmente condenveis, deve ser compreendida como eliciadora de conhecimentos e competncias. Isso no significa a pregao do imoral e do vicioso, mas apenas a compreenso de sua ocorrncia como pertencente ao humano. A explicao da existncia humana mediante a afirmao de sua origem divina e de uma destinao que a ela retorne parece evasiva, pouco compreensiva, portanto, incompleta. As religies deveriam oferecer mais subsdios e profundidade questo. A afirmao bsica de que a existncia humana um fenmeno inerente ao absoluto. No existe seu contrrio. Isso no significa que no se possa teorizar sobre a existncia humana. Mas sua explicao no se deduz pela lgica convencional, razo pela qual o pensar no suficiente para justificar sua realidade, mas apenas a do prprio pensar. Cabe ao ser humano realizar sua existncia, atualizando-se a cada experincia, visando sempre uma maior compreenso a respeito de si mesmo. A religio deve oferecer menos respostas e mais incentivos vida no corpo. Em consonncia com o significado da existncia est o da vida e da morte, portanto, do ciclo em que o ser se encontra inserido. A vida e a morte so dois fenmenos que delimitam um campo de concepo psicolgica para a percepo e compreenso das experincias do es29

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prito. So ritos de entrada e sada para a constituio de bases estruturais do esprito. No devem ser encarados como marcos absolutos para o esprito, mas momentos identificadores de etapas de um processo maior pertencente ao ciclo da sua fase reencarnatria. Nascer e morrer so processos repetitivos do existir. Nascer e morrer como o acordar e o dormir a cada ciclo dirio. Deve-se encarar a morte de algum, sobretudo a sua prpria, como um processo natural, necessrio e a ser aguardado como se espera o nascer de uma criana. No lidar com a morte dessa forma encarar a vida de forma pueril. O esprito, ao se perceber identificado nas caractersticas de sua personalidade, deve viver a vida de forma intensa, sem medos, correndo riscos e confiantes na sua imortalidade. A morte no deve ser apontada como vil, contrria vida, mas como passagem para o incio de um novo ego. A religio deve ensinar aos adeptos a encarar a morte dessa forma, no deixando de valorizar a prpria vida. A transcendncia, o xtase religioso, os estados alterados de conscincia devem ser considerados como eventos que sinalizam a transitoriedade da conexo corpo-mente. A vida no corpo a conexo do esprito com as entranhas de Deus. A vida no corpo deve ser encarada como ponto de inflexo com a materialidade divina. A morte deve ser considerada como ponto de inflexo com a espiritualidade divina. Sua proximidade, seja por acidente, doena grave ou velhice, deve ser vivida em meio a certo planejamento de conformidade do eu. O medo, a lamentao e o estresse devem ser substitudos pela tranqilidade da conscincia imortal. Tal estado no decorre de crena, mas de internalizao de paradigmas universais adquiridos nas experincias adredemente buscadas
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na segunda metade da vida no corpo. Essas so as experincias de contato medinico, que devem ser buscadas por todos. Elas favorecem o estado de tranqilidade da alma em relao morte. A vida espiritual apresentada pela religio deve ser considerada, como de fato , como algo futuro a ser vivido, mas tambm como um presente que simultaneamente acontece para outros. uma vida dinmica, que se modifica constantemente como a prpria vida no corpo. Ela acontecer da forma como melhor aprouver evoluo do esprito. As vises ou concepes estticas a respeito do depois da morte estreitam as possibilidades de aprendizado diante da vida no corpo. A atualizao das concepes a respeito da vida espiritual deve se tornar preocupao da religio. Se assim no for, a religio se cristaliza nas formas iniciais de manifestao do arqutipo que a gerou. O conceito de Deus o fator decisivo para a existncia, ou no, do real problema da vida humana. Da concepo que se faa de Deus derivam os demais problemas da religio. Lida-se com Deus como se o concebe, isto , a idia de Deus a questo. inconcebvel que se tenha a mesma idia a respeito de Deus em todas as pocas e nas diferentes culturas. Numa mesma cultura, por fora da evoluo material e moral, pressupem-se modificaes nas concepes a respeito de tudo, principalmente dos assuntos cosmolgicos. Toda concepo humana provisria, tambm a de Deus. As religies devem incorporar novas cosmologias, apresentando-as aos seus adeptos, favorecendo, assim, o livre pensar. Ao afirmar que Deus algo, deve-se ter em mente que se est fazendo uma inferncia conceitual, isto
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, emite-se uma idia, mas no uma realidade concreta. Por exemplo, ao afirmar que Deus imutvel, no se est falando de uma propriedade de Deus, mas de uma caracterstica de idia que dele se faz. Tudo que se diz a respeito de Deus humano porque se afirma sobre a idia que dele feita. As religies devem oferecer concepes menos escravizantes, alienantes e que no favoream um certo enrijecimento psquico. A resposta pergunta Quem sou? est diretamente relacionada ao conceito que tenho de Deus. Sou uma singularidade divina, sombra da idia que fao a respeito de Deus. Sou a parte que concebe o todo, individualidade que inclui a totalidade. Sou a conscincia da essncia que me permite a visibilidade das entranhas de Deus. Vivo para a conscincia suprema realizar-se na minha manifestao. Sou, pelo exclusivo interesse da Divindade, para que me torne agindo para o que fui gerado. Sou para aquele que me criou, nele me percebo. No lhe perteno nem dele me desgarrei, pois sou o que nele se realiza. O outro, meu prximo, meu espelho, cujo polimento e integridade constituem tarefa pessoal que contribui para encontrar-me comigo mesmo. Sou esprito imortal, farol de Deus nas mltiplas dimenses do Universo. Sou mais do que imagino que sou e menos do que minha vaidade e meu orgulho me situam. Sou o poder estruturante da matria, que me cabe quintessenciar. Nela me movo como quem manipula as ferramentas de Deus. Meu poder meu desejo, que me lana aos propsitos divinos. Minhas crenas, valores e concepes so as balizas que construo para o Universo dentro de mim mesmo. Minha mente meu principal instrumento de consecuo dos objetivos a que me proponho. O conhecimento de seu funcionamento uma chave para a evoluo de mim mesmo. Sou um ser
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sem fim, portanto, no necessito de salvao, mas de constante aperfeioamento e crescimento espiritual. Nada me destruir ou me far retroceder na destinao para a qual fui gerado. Minha religio a conexo profunda, misteriosa e inquebrantvel com aquele que me gerou. Definir-me, inserindo-me num contexto divino, estabilizando minha mente num processo dinmico de desenvolvimento espiritual, sentindo-me em conexo comigo mesmo e com o prximo, prepara-me para o encontro da soluo do real problema religioso.

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Religio e Religiosidade
a essncia dos ensinamentos das religies, existe uma tendncia comum em torno de se alcanar a atitude moral equilibrada. Em todas elas, pode-se observar uma pregao constante na permanente busca pelo inefvel, incognoscvel e transcendente. Nem sempre o caminho a ser percorrido pelos adeptos consegue atingir esse alvo, pois cada ser humano possui seu repertrio de experincias que balizar sua relao com a religio. Fundamental que se perceba, alm do aspecto concreto que existe do divino at o ser humano, o que h psiquicamente, isto , o repertrio de experincias acumuladas no inconsciente humano, que interferem no caminho a ser percorrido. O ser humano constri uma Religio Pessoal, independentemente do que lhe acontece externamente, por conta da percepo prpria a respeito do sagrado. Os termos religio, atitude religiosa, religiosidade, espiritualismo, inquietao mstica, ascese mstica, entre outros, nem sempre se referem aos mesmos objetos de interesse. A criatura humana, mesmo estando consciente de que busca algo superior para a compreenso de si mesmo e do universo que a cerca, nem sempre sabe de fato o que quer. Sofre influncias inconscientes, oriundas de suas prprias experincias pregressas, que a levam a acreditar cada vez mais em algo distinto do que conscientemente
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deseja. Medos e anseios pueris interferem na sua compreenso, levando-a muitas vezes a buscar salvaes mgicas e inconseqentes. A adoo de uma religio parece ser um ato exclusivamente aleatrio de seu livre-arbtrio ou resultante de um chamado divino, neste caso externo. Deve ser tambm considerada uma necessidade psicolgica, portanto, interna. Nesse ltimo aspecto, uma condio coletiva contra a qual no se pode resistir. Uma tendncia humana forjadora da cultura e dos valores. Nesse sentido, de existir um imperativo psicolgico inconsciente, a autoridade religiosa que norteia a busca espiritual do ser humano no deve ser externa (um livro, um lder religioso, um depoimento de algum, um governo etc.), muito embora possa se iniciar dessa maneira. A autoridade real deve ser a prpria conscincia humana, a partir das experincias adquiridas em suas vidas sucessivas, conduzidas pelo sentido que atribui a sua vida atual e futura. Sobre a tendncia inconsciente deve prevalecer uma atitude consciente. Nas organizaes religiosas de pequenas comunidades, as escolhas individuais se estruturam contaminadas pelo arqutipo dominante que atua em seus lderes. S a maturidade do ego pode fazer a conscincia assumir a atitude religiosa. Religiosidade a tendncia ao sagrado, isto , ao que transcende o humano para alm dele mesmo. Necessariamente no obriga o ser humano adoo de uma religio. Quando a religio adotada, a religiosidade adequou-se, podendo resultar, ou no, em estagnao da conscincia que deseja realizar-se. A religio formal tende a permitir um certo alvio da tenso provocada pelo inconsciente, que impulsiona o ego na direo do sagrado. A religiosidade o impulsiona para a compreenso de si mes35

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mo, assimilando os contedos inconscientes, direcionando sua energia para a compreenso da realidade e de sua existncia no mundo. O conhecimento a respeito das coisas do esprito, vindo do Espiritismo ou de outras religies medinicas, do Hindusmo, do Cristianismo ou de crenas esotricas, deve ser utilizado para a formao da Religio Pessoal. Por enquanto ele ainda elemento da curiosidade da conscincia pueril da humanidade, usado como sistema de proteo contra o medo e o desconhecido. Em face da infncia espiritual do ser humano, tal conhecimento misturado com crendices e supersties, que apenas atendem ao anseio coletivo de aliviar as tenses inconscientes. Ainda no esto a servio da religiosidade nem da formao da Religio Pessoal, muito embora sirvam atualizao do arqutipo, necessitando da conscientizao adequada pelo ego para a internalizao do resultante das experincias vividas. importante ressaltar que a religio coletiva no se constituiu num conjunto coeso de normas e regras interpretadas e aceitas integralmente por todos. Tampouco se deve pensar que a totalidade dos adeptos de uma religio tem a mesma conscincia de seus princpios, bem como a praticam da mesma forma. Na realidade, os adeptos das grandes religies vivenciam o sagrado de diferentes formas, mas preferem estar abrigados sob o manto protetor da coletividade a assumir, cada um, sua singularidade. Pode-se dizer que no existe religio uniforme, pois na realidade seus diversos nomes so denominaes oriundas de algum fato gerador numinoso. Foram geradas por um fenmeno mstico e transcendente e se diversificaram quando se confrontaram com o processo de simbolizao da psiqu de cada indivduo. O novo (cli36

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ma, tradies, linguagem, etc.), as experincias coletivas de cada povo e as experincias de vidas passadas so responsveis pela multiplicidade de expresses religiosas. O nmero de religies cresce ao surgimento de cada novo paradigma que se estabelece. Essa tendncia fruto do processo de amadurecimento da psiqu, bem como do distanciamento do mito que deu origem quela religio. Todos possuem sua Religio Pessoal, muito embora no tenham conscincia ou coragem de assumir. Vivem-na na intimidade de sua conscincia, muitas vezes receosa de manifestar autenticamente o que pensa e sente. A religio formal deve favorecer a construo de uma religiosidade madura, capaz de fazer face aos anseios psquicos inconscientes de realizao pessoal, de descoberta do Si-Mesmo e de encontro com Deus. Quanto mais o indivduo assuma sua Religio Pessoal e construa uma religiosidade que suporte todo o mal inerente natureza humana, mais cedo alcanar a compreenso de sua existncia e viver sua essncia. Por no suportar o mal, a religio exclui parte da natureza humana. Uma religio que oferea uma perspectiva de continuidade da existncia do eu, que, por conta disso, impulsione as pessoas comunicao interdimensional (medinica), que reforce a obrigao tica, que pugne pela responsabilidade social pessoal e que convide as pessoas a vivenciar o amor no pode ser vivida simplesmente para uma suposta salvao pessoal ou para encher os templos de adeptos. Uma religio que se fixe em estabelecer o que moral, bem como em condenar uma imoralidade formal, que no compreende o dinamismo do Universo tende a estagnar, falir ou alienar seus adeptos. necessrio que se entenda que o imoral, com o tempo, pode se transformar em moral ou vice-versa.
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preciso viver religiosamente, porm sem se alienar do mundo, sem deixar de considerar que todos esto num mesmo momento evolutivo e que isso os nivela espiritualmente. A Religio Pessoal deve ser capaz de proporcionar uma vida pacfica, harmoniosa e com amorosidade. Uma religio que no resiste mnima imoralidade apenas uma convenincia humana. A religio no para formar crentes, mas para fazer evoluir conscincias. Sua misso libertar as conscincias, tambm de seus prprios egos. Religio sem religiosidade torna-se um movimento intelectual, frio e tendente alienao.

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A palavra religio
star conectado a uma ordem csmica desejo de todo ser humano. A religio se prope a oportunizar essa divina conexo, mas como se dirige ao coletivo, dificilmente seu adepto alcanar esse intento. Muito provavelmente, com o auxlio da religio formal, o indivduo ter de constituir sua Religio Pessoal para que se sinta conectado ao divino. Complexo explicar o que religio quando se trata de algo de difcil traduo em palavras. O que se sente quando se vive uma experincia religiosa no pertence ao intelecto. Mais difcil ainda querer escrever ou falar sobre a manifestao religiosa de outra pessoa. Com dificuldade, ou mesmo parcialmente, consegue-se falar a respeito da prpria religio, isto , do sentimento religioso que se tem. A raiz da experincia religiosa pertence a uma instncia psquica que transcende o campo da conscincia, cuja procedncia se confunde com a gerao do Esprito. O que quer que lhe d origem esconde-se no inconsciente humano, impulsionando-o para um encontro com a Vida, consigo mesmo e com a Divindade. Sua influncia na vida, na cultura e no destino humano inquestionvel. Questionvel a afirmao de que a cultura determina as caractersticas da religio. o mesmo que dizer
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que a religio to somente mais uma das manifestaes culturais produzidas pela conscincia humana. Pe a religio no mesmo patamar de outras manifestaes culturais, tais como o folclore, a arte popular, crendices, comportamentos coletivos etc., deliberadamente criadas. De fato, as manifestaes religiosas fazem parte da cultura de um povo, porm no surgem aleatoriamente nem so livres produtos da conscincia. No so formadas pelo desejo unilateral de algum ou de um grupo. So geradas pelas aspiraes inconscientes, pelos mistrios que cercam o surgimento da vida humana, pelos questionamentos das origens e do destino humano, pelas foras espirituais de cada povo, bem como por influncia divina. Seria mais adequado afirmar que a cultura de um povo recebe forte influncia de suas crenas e ritos religiosos, o que pode ser observado de forma mais evidente nos pases do Oriente Mdio e na sia. Em alguns pases, a autoridade religiosa tambm econmica e poltica. No Brasil, mais acentuadamente no Nordeste, essa influncia acontecia nas populaes mais pobres, nas quais os clrigos se portavam lado a lado com o poder poltico, at mesmo disputando lugar. Pode-se afirmar ento que no h religio sem influncia cultural, e vice-versa, portanto, sem subjetividade. Toda religio ou ritual religioso contm uma manifestao da subjetividade psquica inerente ao humano. Essa subjetividade (leia-se subjetividade igual a impulso inconsciente) permeia toda a cultura humana. O fenmeno do surgimento de uma nova religio, ou da diviso de uma religio em distintos segmentos, est atrelado a fatores culturais, mas com interferncias da religio tradicional. Quando ocorre uma certa tenso social motivada por fatores morais, seja por uma maior
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liberalidade ou por necessidade de retorno ao sagrado, estabelecem-se condies para aquele surgimento ou desmembramento. Independentemente do que influencia a vida humana, seja a economia, as condies climticas ou a cultura, existe, em cada indivduo, um senso ordenador que o impulsiona busca do sentido e do significado da existncia. Esse senso ordenador que o faz querer elevar-se para alm de si mesmo e ao encontro de algo superior tambm conhecido pelo nome de religio. O termo religio pressupe a idia de re-ligao, etimologicamente validada na cultura judaico-crist, pois deriva da idia de que Ado teria se desligado de Deus. Todos, teoricamente seus descendentes, deveriam reatar aquela ligao pela via da religio. Essa idia passou a fazer parte do inconsciente humano na cultura ocidental. Nas religies originrias do Judasmo, isto , que tm a Bblia como referncia maior, o termo encontra respaldo. Nele, tambm est implcita a idia de salvao, pois Ado, que representaria a Humanidade, tendo sido expulso do paraso, precisaria recuperar sua antiga posio. A desobedincia provocou sua derrocada, conseqentemente a de toda a Humanidade. Nas religies, ou caminhos de busca do transcendente, fora do eixo bblico, deve-se ter outra compreenso do significado da palavra religio. Talvez se deva pensar em religio como busca pelo sagrado, como busca pelo Si-Mesmo (individualidade como Esprito imortal), como encontro com o divino ou como ascese mstica. A salvao pelo erro cometido por Ado no se aplica, por exemplo, ao hindu, ao budista ou ao taosta, pois no tm a mesma construo histrico-religiosa. A atitude religiosa dos adeptos dessas trs religies no contempla a culpa
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nem a idia de que devem ser salvos de um perigo subjetivo e relacionado Divindade, ou que devam se redimir de algum erro consciente ou inconscientemente cometido. A idia est mais prxima de alcanar a iluminao do que a salvao. Iluminao compreendida como um processo de aquisio de conhecimentos e experincias para alcanar um estado de elevao divina. No Budismo, por exemplo, deve-se buscar o nirvana no samsara, isto , a iluminao no mundo, e no fora dele. Iluminao e salvao do esprito, pregados pelas religies, so representaes de polaridades psquicas relativas ao Self. O Espiritismo, ao adotar o Cristianismo, mesmo com interpretaes prprias de seus postulados, reforou a idia inconsciente da culpa, da salvao e de religao. A salvao tambm no deve se aplicar ao Espiritismo. Difcil mudar essa concepo, pois ela conta com o apoio inconsciente da tradio judaico-crist, inerente aos que vm reencarnando constantemente no ocidente. O termo religio, para a maioria das religies, guarda relao com a busca do sentido e do significado da vida. Mas as religies, lamentavelmente, no tm alcanado, na prtica, esse objetivo. Equivocadamente parece que a responsabilidade disso se daria pela simples aceitao da religio. Talvez no. Creio que o adepto tem tambm sua responsabilidade. Ele ainda se situa como sofredor que precisa de alvio, culpado que necessita de redeno, crdulo que deseja confirmao de sua prpria imaginao, devoto envolvido pelo complexo messinico, inocente em busca de emoes, temente, ingnuo e ignorante. preciso que ele saia dessa conformidade e caminhe livre para construir os alicerces psquicos de sua evoluo espiritual. Quando o adepto ultrapassar esses estgios, tornando-se consciente de que deve assumir seu
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prprio destino, sendo dono de sua prpria vida, perceber a importncia de constituir sua Religio Pessoal. Entendo como religio o caminho para o encontro consigo mesmo, para a compreenso do sentido e do significado da Vida e de tudo que diz respeito palavra Deus. Portanto, no associo ao conceito de religio a idia de salvao, pecado, fuso com Deus, negao do mundo material, excluso social, imolao, sofrimento, adorao, idolatria etc.. Religio pacto do indivduo com a Vida, como proprietrio de si mesmo. Ao pensar em religio, todo e qualquer ser humano deve reportar-se a um processo de transformao, a uma conexo com o sagrado, visando o encontro consigo mesmo e a descoberta do sentido e do significado da Vida. Prticas sagradas, rituais e cerimnias devem concorrer diretamente para esse processo. T-las como simblicas mera representao, sem possibilidade de consecuo real. preciso sair do simblico para a internalizao concreta do significado do que se vive como sendo sagrado. Todo smbolo deve ser dissolvido a servio da compreenso real de seu significado profundo. Os rituais religiosos no precisam ser destrudos, mas seus significados transcendentes devem ser absorvidos pela conscincia transformada. Cada vez mais, no mundo moderno, os adeptos das religies esto sentindo necessidade de inserir o esforo pessoal na aquisio das promessas que sua religio oferece para seu futuro. A espera de um Deus dispensador eterno de bens quele que segue preceitos automticos e coletivos tem dado lugar ao esforo pessoal pela ascese mstica. O esforo pessoal, a autotransformao, a autodeterminao, a renncia ao egosmo e ao orgulho, o sacrifcio pelo trabalho comum, a vida harmnica e equili43

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brada em sociedade e a dedicao ao prximo tm sido os meios pelos quais se alcana aquela ascese. A idia do sofrimento e da auto-flagelao cede lugar conquista de si mesmo e ao reconhecimento da prpria ignorncia para a busca da auto-realizao. O culto externo cede terreno para a construo pessoal de uma religiosidade operativa em favor da compreenso da vida e de si mesmo. Uma religio que tambm se ocupe do bem coletivo, de causas sociais e, alm de tudo, eleve o ser humano para conquistas maiores, sem retir-lo do mundo, tem sido cada vez mais desejada. Religio vivida como meio de salvao ou de alvio de tenses to somente uma resposta tendncia coletiva arquetpica, reduzindo-se apenas a um primeiro passo para a iniciao e constituio da Religio Pessoal. medida que a religio vivida, seus princpios vo se dogmatizando. O que era puro vai se tornando miscigenado pela agregao de contedos estranhos, oriundos dos complexos humanos. A comunidade de adeptos, temendo a perda da garantia proporcionada pelo conforto na adoo dos princpios religiosos, ferrenhamente os mantm vivos. Isso cristaliza aqueles princpios, dogmatizando-os. um fenmeno coletivo ao que nem o Espiritismo, com todo seu racionalismo, escapou. Isso pode melhor ser observado quando do surgimento de movimentos ou grupos defendendo a pureza doutrinria, o retorno ao Cristianismo primitivo etc.. No se pode esquecer que princpios devem sempre ser contextualizados tendo em vista no se tornarem motivos de sacralizao de livros, de pessoas ou de templos, gerando dogmas. Esse fenmeno, quase impossvel de ser evitado, promove o atraso no desenvolvimento psicolgico de uma comunidade. O retorno religio primitiva,
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ou como os antigos a viviam, representa uma dificuldade de adaptao ao moderno, ao novo e s atualizaes do arqutipo religioso. O medo de perder as garantias e a segurana psquicas responsvel por isso. A religio um caminho e no o retorno ao passado. Sua atualizao um princpio necessrio manuteno de sua vitalidade impulsionadora da busca do Si-Mesmo. Por outro lado, no se deve pensar que a anarquia religiosa ou uma religio sem regras e normas seja a melhor opo. A religio no se sustentaria sem disciplina e sem a manuteno de princpios; as divises internas que nelas ocorrem se devem necessidade de contextualizao adequada para caber a evoluo da psiqu humana. Quando os princpios de uma religio se opem por demais evoluo intelecto-moral da sociedade, d-se uma tenso interna que fatalmente leva ciso. As religies parecem que se cristalizam em dogmas por exigncia coletiva daqueles que ainda no alcanaram a compreenso dos significados dos smbolos gerados pelo inconsciente. Aqueles que envelheceram na culpa, que ignoram a excelncia do Criador, que no arriscam na vida, que permanecem querendo benesses divinas e que se apegam ao egosmo do poder impedem as transformaes na religio. A espiritualidade que convidada pela religio deve ser vivida em todo percurso da evoluo do esprito. Quer esteja encarnado, quer desencarnado. No se deve pregar religio apenas para a vida futura, mas principalmente para a vida presente. Os preceitos religiosos devem se opor vida humana em seu contexto material? No seria uma contradio estar no mundo e neg-lo? No seria adequado pensar que na relao com o mundo que se deve encontrar
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o sentido e o significado da vida humana? Para responder a essas questes, talvez seja adequado inserir-se uma outra idia de mundo. O mundo deveria ser considerado como a unio da sociedade material com a sociedade espiritual. Nessa unio est implcito que uma interfere e influencia na outra, sem primazia de qualquer delas. Deixariam de ser vistas como opostos inconciliveis, mas como uma totalidade na qual o esprito transita. Quando o ser humano nega uma em detrimento da outra, ocorre um vis que reduz a prpria vida. Quando a religio nega uma sociedade em favor da outra, comete o mesmo equvoco do materialista que se afirma sobre os pilares frgeis do que apenas revela seus cinco sentidos. Negar o mundo material deixar de aprender aquilo que s no contato com o corpo fsico e nas relaes interpessoais pertinentes a ele se adquire. A religio deve ser facilitadora da relao do indivduo consigo mesmo e com o mundo, seja ele material ou espiritual. Deve lev-lo a experincias que produzam reflexes, emoes e sentimentos, diferentes das que tem quando tocado por outros arqutipos. A religio surge a partir da existncia de um centro psquico norteador da busca humana pelo sentido e pelo significado da vida, o que tambm pode ser representado no desejo de perfeio, de harmonia e de plenitude, que todo ser humano possui. A religio deve levar o indivduo celebrao da vida e ao encontro consigo mesmo. Quando os rituais religiosos ou a vivncia dos princpios das religies mantm o indivduo conformado, limitado em suas capacidades de vencer desafios e psicologicamente protegido pela f, esto falhando em seus propsitos, estagnando o que foi gerado para incessantemente crescer. As expresses religiosas, atravs dos ritos, devoes e manifestaes tpicas so representaes de esta46

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dos psquicos. Por isso, a palavra deve ser considerada em seu significado amplo e no apenas como uma busca pela religao com Deus. Deve ser entendida como um dos caminhos em meio a amplas possibilidades de encontro com o divino. A aparente liberdade de escolha religiosa encontra obstculos nas poucas possibilidades de expresso, pois as religies formais no se abrem para tal. A religio formal coletiva e no atende singularidade de cada um. Nenhuma religio atende totalidade de cada indivduo. Ele se reduz quando se conforma com ela. A psiqu inconsciente quer se expressar, razo pela qual se proliferam seitas e novas religies que se prestam a atender s necessidades humanas interiores, mas nunca sero suficientes singularidade do indivduo. Ele ter de fazer sua busca pessoal pela religio de sua prpria alma. O conhecimento cientfico trouxe inegveis progressos humanidade. Talvez o maior deles no tenha sido o avano tecnolgico em si. O apaziguamento da conscincia humana no satisfeita e inquieta com a falta de lgica da realidade talvez tenha sido o principal fator de progresso. A cincia tenta aquietar a conscincia, mas tambm a deixa sem inmeras respostas. Facilitar a vida material, liberando o esprito para a criatividade e para a vivncia de sua subjetividade, tem sido a principal contribuio da cincia humana. Por outro lado, as religies tambm tm proporcionado importantes conquistas para o equilbrio psquico. Tradicionalmente as religies so responsveis por trazer consolo e orientao aos seres humanos, principalmente quanto vida futura e vida moral. Sua maior contribuio, porm, foi, e ainda , a expresso do inconsciente humano de forma assimilvel pela conscincia. A oferta de ritualizao do inconsciente
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at uma melhor compreenso dos contedos psquicos para uma maior percepo do Si-Mesmo a grande contribuio das religies. Religio conexo do inconsciente com a conscincia para o equilbrio e plenitude do indivduo. Seu significado mais amplo do que atender necessidades de consolo, de salvao ou de ligao com Deus.

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Religio pessoal

O que religio
ma de crena coletiva em um deus, ou em algo que se assemelhe ao transcendente, e a existncia de rituais que diretamente levem ao seu encontro. A palavra comumente associada crena em Deus, rezar, meditar, cultuar, entrar em transe, negar a vida material, o corpo e o prazer, bem como s experincias msticas e rituais ligados ao sagrado. Muitos vem a religio como manifestao da divindade em que tudo que espiritual religioso. Religio representa a unio de pessoas que tm crenas e prticas comuns relacionadas ao sagrado e que atribuem um mesmo sentido vida futura. Sob seu manto, as pessoas se sentem pertencentes e protegidas por foras superiores e abrigadas dos perigos e da perda da prpria alma. O termo religio usado por mim pobre para expressar o sentido que lhe atribuo interiormente. Seria adequado pensar, no meu caso, que se trata de uma conexo ntima e profunda com Deus, a que tambm atribuo um carter particular, e que promove conseqncias externas significativas em minha vida. , portanto, para mim, mais do que um sistema religioso, pois, alm de transcendncia e imanncia, sinto-me envolvido como se fizesse parte de tudo. No me sinto Deus, nem parte dele, mas como se fosse seu prprio olhar e sua prpria realizao.
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mais comum definir-se religio como um siste-

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A religio coletiva se aproxima sutilmente dos poderes constitudos, pois ambos lidam com a mesma massa coletiva. A proximidade da religio com o Estado revela implicaes ligadas ao poder, portanto, ao domnio do coletivo sobre o pessoal. A promiscuidade entre o poder do Estado e o poder religioso revela a fragilidade humana diante do sagrado, usando-o para objetivos nem sempre moralmente aceitveis. uma proximidade decorrente da estreita relao existente entre o sagrado e o profano. Um a sombra do outro. A contradio ou mesmo oposio entre os termos profano e sagrado define bem o que este ltimo. Sagrado o que totalmente diferente, separado. Profano o que est fora do templo. Eles se encontram, pois so polaridades e uma mesma realidade. A religio deve tambm ser entendida como um fenmeno social, isto , parte constitutiva da formao de toda sociedade. Sociologicamente trata-se de uma manifestao representativa da superioridade do grupo sobre o indivduo, que se submete a um poder culturalmente presumido. A religio uma manifestao natural de todas as sociedades, que sempre esteve e estar presente atravs de diversos simbolismos, revelando a complexidade da psiqu humana. A religio permite ao ser humano unir o maravilhoso, o sobrenatural e o numinoso, enquadrando todos os fenmenos assemelhados como de sua esfera de influncia. Na adoo de uma religio, o poder do arqutipo se revela capaz de cooptar o indivduo em favor do coletivo. Isso no ocorre na Religio Pessoal, pois a diferenciao do indivduo em relao ao coletivo condio para sua constituio. O termo religio deve ser entendido como busca, conexo e encontro com o sagrado. Quando a ela
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se associa um culto externo ou crena em dogmas, passa a ter um carter mstico coletivo, distanciado da essncia da vida, tornando-se mera projeo psquica. Psicologicamente representa o atendimento a um impulso instintivo da psiqu em atualizar o arqutipo da Imago Dei, isto , do Deus interior ou de sua marca no Inconsciente Coletivo. Espiritualmente simboliza a busca do Esprito pelo encontro com sua natureza essencial, pela compreenso do prprio mistrio de suas origens e pelo motivo para o qual foi criado. Os rituais religiosos revelam, pelas imagens arquetpicas exticas, algo pertencente dimenso obscura da estrutura representada, isto , da psiqu humana. Totens com faces agressivas, figuras monstruosas, formas geomtricas descontnuas, formas geomtricas simtricas, animais ferozes, sacrifcios humanos etc., do lugar a movimentos circulares, esculturas angelicais, exaltao beleza, esttica, o que demonstra mudanas nas representaes atualizadoras do arqutipo. A psiqu revela transformao nas escolhas das imagens representativas do arqutipo divino. As mudanas que ocorrem na sociedade, ao mesmo tempo em que alteram as representaes arquetpicas, tambm decorrem das atualizaes nos arqutipos que se verificam a todo momento. Por outro lado, observa-se uma lenta inverso na direo do ritual. Os sacrifcios e as expresses externas do lugar a meditaes e reflexes profundas. O recolhimento que o ser humano fazia em busca da prpria conscincia vai tomando o lugar da adorao externa. Ele antes buscava algo que no entendia em si mesmo, ao olhar exclusivamente para a natureza fenomnica. Sutil e persistentemente, o inconsciente exige ser atendido e observado, pois tem algo importante a revelar. O antigo
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movimento era do inconsciente para a conscincia; um novo movimento surge, sem desprezar o anterior, da conscincia para o inconsciente. Agora, a conscincia do eu desempenha importante papel. Competncias e novas habilidades foram incorporadas ao ego, tornando possvel a conduo do processo. o Esprito que precisa se conhecer para o grande encontro com o divino. Essas mudanas, nas representaes em imagens arquetpicas e na direo do novo movimento, devero ser incorporadas pela religio, o que pode ser observado na grande procura pela Psicologia em paralelo religio. Os consultrios de anlise e terapia tomam o lugar antes exclusivamente ocupado pelo confessionrio. O sacerdote, guru ou lder religioso, conselheiro de seus fiis, atualiza-se qualificando-se como psicoterapeuta. Em certos casos, exige-se deste ltimo o conhecimento espiritual necessrio para lidar com uma nova alma em busca de si mesma. Religio lida com a totalidade da vida, com a morte, com a busca da verdade e com a busca do sentido e do significado da vida. Esses temas so marcados de diferentes formas nas vrias culturas e se alteram no decorrer do tempo. A inexistncia do cu, do inferno, os paradigmas admitidos pela Fsica Quntica, as pesquisas em torno da reencarnao e as revelaes a respeito da continuidade da vida aps a morte puseram em cheque as interpretaes religiosas tradicionais. A linguagem da religio no pode mais ser aquela utilizada na era medieval. Um novo tipo de fiel, esclarecido e questionador, exige uma nova linguagem religiosa. A velocidade de transformao promovida pela religio coletiva muito menor do que aquela conduzida conscientemente pela Religio Pessoal. Muito embora a religio coletiva seja dinmica, sua capacidade de pro52

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mover transformaes no indivduo extremamente fraca. A psiqu humana, impulsionada pelo Esprito imortal, exige maior celeridade para sua evoluo. A religio deve ser um vigoroso instrumento de transformao e atualizao do arqutipo correspondente. Quando no proporciona isso, cristalizando-se em dogmas e teorias ultrapassadas, perde seu papel transformador da alma, sendo apenas um passa-tempo pueril. Enquanto a religio for procurada para cura, seja do corpo ou da alma, ser apenas uma iniciao a algo transcendente. A religio deve ser um instrumento de desenvolvimento para o esprito. A esperana de que a tecnologia transforme o mundo, para que venha a servir ao ser humano. Assim, a religio no ser para a salvao do mundo nem para transcend-lo, mas para que o ser humano se torne seu prprio Deus.

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O que h de comum nas religies


pressupostos tericos da maioria delas, pode-se encontrar algumas semelhanas que servem para o entendimento da questo do arqutipo religioso. Essas semelhanas no esgotam os contedos que trazem em seus princpios. As religies so fenmenos cuja profundidade escapa ao senso comum e simples anlise em um livro. Algumas dessas semelhanas podem fazer parte da Religio Pessoal, pois sua prtica permite o sentimento de irmandade e insero numa religio coletiva, sem perda da conscincia de seu processo interno de transformao. Regra de ouro no fazer aos outros o que no quer que lhe faam. A maioria das religies prega uma regra de procedimento nas relaes interpessoais fazer ao outro o que deseja para si. Isso sugere um certo cuidado para com a vida do outro e com o que se faz para ele. Essa regra no universal, pois pode se desejar para si algo que no adequado ao outro. Deve-se entender que a regra inclui desejar o melhor para o outro, o que lhe traga harmonia,
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O bservando prticas religiosas e analisando os

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paz interior, prosperidade e felicidade. A caridade, a compaixo e o amor ao prximo so atitudes presentes na conscincia coletiva humana que se inserem nessa regra. Busca pelo transcendente. F. A busca do transcendente pela via da f outra caracterstica comum s religies. Os adeptos, convictos da possibilidade de acesso ao divino, se permitem envolver pela f, buscando uma conexo ntima com o que consideram mais sagrado. A f, raciocinada ou no, a via de comunicao utilizada pelos indivduos. F um estado psquico que permite o acesso ou conexo com o arqutipo numinoso, alm de possibilitar a comunicao com as foras superiores da vida. Sem ela, a religio fria, assemelhando-se a uma simples filosofia de vida. A f deve ser desenvolvida pelo indivduo medida que ele se esclarece e compreende melhor os segredos do Universo. Prticas meditativas, exerccios de interiorizao, estados mentais contemplativos, entre outros, relacionam-se a f religiosa. Nova atitude moral. Busca de santidade. A necessidade de transformao moral, presente nas religies, exige de seus adeptos atitudes novas perante velhos hbitos e vcios. Modelos de indivduos so apresentados, servindo de balizadores para o encontro do ideal de personalidade. A maioria das religies prega a satisfao do adepto e o cumprimento de certos preceitos de forma persistente e disciplinada como modo de ingresso ao destino final proposto. Muitas vezes, a exigncia sobre o indivduo to grande que lhe impe uma culpa inconveniente. Quanto mais o adepto imita um modelo idealizado, mais se afasta de si mesmo. Para evitar isso,
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deve-se viver o possvel, almejando-se o ajustamento entre o pensar, o sentir e o agir. Conexo com algo pertencente ao sagrado. Nas religies, o ego deseja conexo com algo sagrado, que lhe retire do estado de conscincia comum e da normalidade cotidiana. Objetos, lugares, certas experincias e pessoas so particularmente sacralizados por conta das projees e transferncias inconscientes, para que se consiga um contato mais intenso com a divindade eleita. Rituais, frmulas mgicas, transes medinicos, substncias alucingenas, bem como sortilgios de vrios tipos so utilizados para obteno daquela conexo. O indivduo deseja realizar instantaneamente o que deveria ocorrer nas experincias comuns de sua vida. Uma passagem se avizinha pela adoo da Religio Pessoal o sagrado algo interno e no externo, o que exige transformao pelo esforo contnuo no sacrifcio e na renncia do egosmo e do orgulho. O indivduo dever descobrir que aquilo que existe de mais sagrado algo que habita nele mesmo. sua prpria existncia, a qual no pode evitar. Harmonia com o todo. tica. Nas religies, observa-se uma necessidade do indivduo se sentir pertencente ao todo e com ele estar em sintonia e harmonia. A vontade dessa harmonizao adveio da conscincia, cada vez mais crescente, sobre a conexo que existe em todas as coisas do universo. Antes que a Fsica moderna (Quntica) afirmasse a interligao de todas as coisas (teoria das super-cordas), as religies, desde sempre, j incentivavam essa idia. Essa interligao, ao mesmo tempo em que conecta cada parte do Universo, o humaniza. necessrio entender que algo
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permeia as coisas, alm delas e alm do humano. Por conta disso, uma tica nica subjaz. a tica do autor, da unidade de todas as coisas. O autor do Universo, sem razes nem explicaes, nos conectou como individualidades vivendo uma conscincia coletiva. As ticas institudas pelas religies derivam da tica divina. Doutrina (Filosofia e Teologia). Toda religio tem sua doutrina filosfica, geralmente calcada na sabedoria da cultura da regio de onde se originou, enxertada pela absoro de ensinamentos deixados por algum lder ou fundador. Em geral, so ensinamentos canalizados, ou mediunicamente recebidos, constituindo-se em revelaes transcendentes que visam a elevao moral e espiritual das pessoas. Na grande maioria dos ensinamentos, o tema central a divindade ou algo que a ela se assemelhe, orientando as pessoas a uma conduta pertinente com aqueles ensinamentos. Ao longo do tempo, tais ensinamentos recebem enxertos e interpretaes que visam preservar a tradio religiosa, muitas vezes distanciadas do efetivo objetivo de elevar ou iluminar o ser humano. Algumas doutrinas religiosas foram utilizadas com a finalidade de atender a necessidades polticas nem sempre a servio da paz e do amor. Toda aplicao de uma doutrina religiosa ou de sua interpretao deve estar a servio da libertao da conscincia e da felicidade do ser humano. Respeito ao prximo. Compaixo. Humildade. A moral contida na maioria das religies inclui o respeito ao prximo, a humildade e a compaixo. So virtudes pregadas que devem levar o indivduo paz consigo mesmo e com o prximo. Toda religio um cdigo
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tico de conduta que inclui uma srie de virtudes, cuja aquisio capacita o indivduo a estar em conexo com uma certa ordem csmica divina. As virtudes mais pregadas so o amor ao prximo, a caridade, a fidelidade e temncia a Deus, a bondade, a compaixo, a f inabalvel, a humildade, a simplicidade, a paz interior e a iluminao espiritual. medida que a sociedade integra tais virtudes, as exigncias com o indivduo so maiores. Quando alguns indivduos integram tais virtudes numa sociedade atrasada, ocorre inevitavelmente uma tenso a ser conciliada. Mrtires, lderes carismticos ou revolucionrios surgem para alvio geral. Explicaes cosmognicas. Busca pela sabedoria. Toda religio possui uma cosmogonia prpria, geralmente dissociada dos fatos histricos. As religies tentam, cada uma com seu sistema de valores, apresentar uma explicao para as origens e o funcionamento do Universo. Essas explicaes geralmente contemplam o surgimento da Terra e do ser humano, seu destino e o que deve fazer no mundo. Essas cosmogonias sempre mereceram ateno das cincias, que, s vezes, derrubava falsas teorias religiosas. Mesmo assim, dificilmente as religies modificam suas cosmogonias, elegendo-as artigos de f (dogmas) sustentados pela ignorncia popular. Embora a cincia nem sempre esteja coesa em suas explicaes e, algumas vezes, tenda a voltar atrs em seus princpios, a manuteno dos dogmas religiosos revela o poder do arqutipo gerador do smbolo contido na afirmao cristalizada. No h religio sem princpios cosmognicos. A melhor cosmogonia a que pode ser reconsiderada a cada momento em que a conscincia humana se amplia no conhecimento a respeito das coisas.
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Relao com a morte. Imortalidade. A morte tema bsico das religies e, talvez, por sua ocorrncia, elas existam. A grande maioria delas aponta para a imortalidade do esprito e, em alguns casos, para aqueles que viveram segundo um cdigo de conduta reta. O contato com os mortos, bem como a possvel situao deles, tema recorrente nas religies. Elas se valem da imponderabilidade do tema e do mistrio que o envolve para lanar suas doutrinas. A morte a mais fiel representao do inconsciente, o que possibilita inmeras ilaes, sentimentos e projees de contedos. Para melhor lidar com o imaginrio sobre o depois da morte apresentado pelas religies, cada ser humano deve imaginar seu prprio destino. Nada deve substituir a imaginria experincia da morte pessoal. Todo indivduo deve avaliar o impacto de sua experincia imaginria de morte em sua psiqu, transferindo suas ilaes para a vida que leva. A morte a renovadora da vida; sem ela, o novo no surge, a sociedade no se transforma nem se recria. A oferta de possibilidades melhores para a pessoa aps a morte se fundamenta no seu temor. As religies no deveriam se ocupar de propor unicamente uma conduta reta como condio para uma vida melhor aps a morte; deveriam tambm fortalecer a imortalidade real aplicada vida presente. A imortalidade no deveria ser apresentada condicionada vida reta, pois j atributo inerente ao Esprito. Deve-se viver o presente considerando a imortalidade do ser humano. Compreenso da natureza humana e da individualidade. As religies parecem pr o ser humano num lugar inferior e como devedor da natureza. Ocorre que o ser
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humano o construtor da histria, o organizador da Natureza e o idealizador, para si mesmo, do que Deus. Ele nunca soube, e talvez nunca venha a saber de fato o que Deus pensa a seu respeito. Ele intui, imagina, supe, sente, porm o que lhe vier sempre ser produto de sua prpria concepo e interpretao. At melhor possibilidade de compreenso, a natureza humana produto especial da Criao e seu mais legtimo representante. O ser humano uma singularidade espiritual que se manifesta biolgica (instintos e sensaes), fsica (expresso corporal), emocional (comportamento afetivo), intelectual (capacidade cognitiva), social (criando grupos sociais) e, acima de tudo, espiritualmente (expresses psquicas e medinicas). A individualidade do Esprito o credita a ser considerado autnomo, autodeterminado e o nico responsvel pelo seu destino. A ajuda divina deve ser compreendida como uma ocorrncia a servio da atualizao de suas experincias na vida e de sua concepo de Deus. Prticas ritualsticas. As religies se alimentam dos rituais que so praticados com o intuito de que seus adeptos alcancem um estado transcendente de conexo com algo superior. Toda religio deve proporcionar, atravs de suas prticas, experincias msticas, transcendentes ou numinosas. Em geral, o ritual se processa na dimenso simblica, cujo domnio pertence ao inconsciente. Ritualizar atender a uma necessidade que se inicia por fora da tendncia inconsciente do arqutipo do Si-Mesmo. A racionalizao da prtica ritualstica, realizando-a de forma consciente, sem qualquer sentimento, tem levado a religio a se tornar tradio conservadora e mero folclore popular. A
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laicizao das manifestaes religiosas, tornando-as, por exemplo, eventos carnavalescos e oportunidade de realizar negcios informais uma demonstrao da perda da energia emanada do inconsciente para a conscincia. O ritual, antes numeroso e ativado pelo Si-Mesmo, passar a obedecer a outros arqutipos. Os rituais so formas de alvio psquico, cuja extino requer a execuo de algum mecanismo substituto. preciso integrar o aspecto religioso que estava sendo simbolizado no ritual. Uma religio que exclua os rituais deve oferecer outros mecanismos de representao para a realizao do arqutipo do Si-Mesmo, que sejam profundamente compensadores e que lhe integrem as qualidades. Templos. Os templos religiosos antigos, em geral, foram erigidos em locais sagrados, nos quais se deram fenmenos numinosos e/ou medinicos. Situavam-se ou se tornaram praas centrais, denotando representar o Self. Outros foram erigidos por indivduos de acordo com o chamado numinoso que experienciaram. Eles so referenciais simblicos onde cabem os postulados reverenciados. Quanto mais suntuosos, maiores so as qualidades do SiMesmo projetadas na divindade ali adorada. So locais considerados sagrados, que servem de projeo do Self de cada um e da coletividade religiosa. No so sagrados em si, apenas recebem as emanaes psquicas dos que assim os consideram. A maioria deles, quando alimentados psiquicamente pelos responsveis por administr-los e pelos adeptos, servem para perpetuao da f e da manuteno da religiosidade popular. So locais que se prestam formao de imagens arquetpicas relacionadas dimenso religiosa da psiqu, bem como s representa61

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es do Si-Mesmo. Espiritualmente, prestam-se ao agrupamento daqueles que se situam na esfera da busca pela realizao pessoal e coletiva. Estrutura organizacional. Divises e escolas. A organizao de uma religio obedece a um intrincado mecanismo de manuteno do poder por parte de seus fundadores. As religies esto a servio do processo de individuao das pessoas, conduzido pelo Self de cada um. Dada a importncia do arqutipo e de sua supremacia no processo, o desejo de poder aparece requerendo o lugar de comando. Ao mesmo tempo em que se presta organicidade da religio, uma estrutura hierarquizada acaba por engessar a possibilidade de transformao das pessoas. Para manter a unidade, criam-se regras, princpios e, s vezes, dogmas que no permitem a flexibilizao e contextualizao das crenas. A religio se torna uma priso ao esprito por conta das hierarquias que atravessam geraes, distanciadas da leveza proposta pelos princpios que defendem. Em geral, as religies se dividem por fora da disputa de poder, das diferentes compreenses a respeito do sagrado, refletindo novos arqutipos a serem atualizados. Tais divises, comuns, por exemplo, no Cristianismo, refletem a riqueza da diversidade como uma caracterstica da complexidade da psiqu humana. Dialtica bem X mal. Essa a questo central das religies, pois a deciso sobre essa contenda sua principal reivindicao como suprema autoridade. As religies se mostram juzes absolutos em determinar o que um e outro, bem como em estabelecer o destino das opes de cada um em ado62

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tar este ou aquele comportamento, o que poderia ter melhor efeito sobre as conscincias se, de fato, conseguisse reduzir a culpa gerada nas opes de escolha comportamental. Em geral, as religies conseguem, mesmo oferecendo horizontes espirituais consoladores, incutir culpas perniciosas. No percebem que os chamados demnios habitam o inconsciente humano. Teimam em tornar absolutos entes subjetivos, criados pela psiqu humana como ncoras flexveis. No aceitam a relatividade do bem e do mal, exigindo de seus adeptos compromissos superlativos sua condio humana. Teimam em querer tornar divino o que ainda no completou sua percepo do humano. Querem esclarecer para libertar, mas oprimem ensinando dogmas de como obter favores divinos. A supervalorizao do Bem faz surgir a fora reativa do Mal. E vice-versa. So polaridades como Yin e Yang. Bem e mal so polaridades psquicas que representam entes imaginrios que compem o Self. Na Religio Pessoal vive-se o possvel, buscando aes que se tornem coerentes com uma tica interna de no prejuzo a si e ao prximo. Datas comemorativas. As religies comemoram datas em que celebram rituais marcadores de eventos histricos para reavivar a f dos seus adeptos. So eventos que vo gradativamente se ampliando e se tornando parte do folclore popular. Saem do privado e passam para o pblico, deixando seu carter sagrado, se que algum dia o tiveram. A comemorao de datas se distancia do contedo do evento originado, transformando-se em mera expresso de divulgao da religio. Sua sacralizao se deve s exigncias do fundamentalismo, cuja origem no se encontra no arqu63

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tipo do Si-Mesmo, mas num complexo coletivo de poder. As datas que evocam eventos significativos deveriam ser aproveitadas na intimidade de cada indivduo, sem os exageros das festas coletivas que esvaziam o significado profundo da religio. Livro sagrado. As religies se perpetuam tambm graas a livros que conservam e divulgam ensinamentos considerados sagrados. O processo de sacralizao dos livros que contm os princpios das religies d-se com a passagem de geraes que lhes transmitem o resultante das experincias numinosas que foram vividas. A conservao de livros, divinizados pela exigncia psquica na gerao de smbolos, contribui para a continuidade da crena religiosa, bem como para a universalidade dos princpios doutrinrios. Equvocos so cometidos quando, sob pretexto de contextualizar a compreenso do que foi escrito, se adultera o contedo, incluindo vrgulas, alterando palavras, adicionando-se notas explicativas, ou com tradues mal feitas. Todo livro, seja religioso ou no, reflete o pensamento de algum ou de um grupo, emitido numa poca envolvida por contextos poltico-histricos. Toda palavra ou expresso humana no absoluta, pois ela a representao da subjetividade psquica, que, como tal, deve ser contextualizada livremente por quem a ouve ou l, sem que as fontes originrias devam ser alteradas. Ao invs de se alterar fontes originrias, deve-se escrever novos livros sobre antigos textos. A sacralizao dos livros contribui para a perpetuao de dogmas. Na Religio Pessoal o livro sagrado aquele que escrito no corao da pessoa com o sentimento de amor que capaz de ser vivido no dia-a-dia. As religies se fundamentam
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em revelaes consignadas em livros, cuja compreenso, nem sempre racional, dever levar seus adeptos evoluo espiritual. A passagem da letra para a efetiva evoluo do esprito requer um sem nmero de experincias, cuja intensidade e qualidade no se encontram nos livros. Fundador, profeta, guru, mestre, mdium, avatar, deuses etc.. As religies tambm costumam sacralizar a vida de seus fundadores. Eles so transformados em profetas, mestres, gurus, grandes mdiuns, avatares, semideuses, s vezes em vida, e, na maioria dos casos, aps a morte. Em certos casos, nem chegam a ser considerados mortos, mas transubstanciados. As religies confundem a mensagem com a pessoa. Ao mitificar o ser humano esto projetando o Self num representante mais prximo de suas qualidades, consideradas divinas. A mitificao do fundador ou lder religioso uma exigncia do Self. Com o tempo, as caractersticas da pessoa desaparecem, dando lugar ao mito, representao do Self coletivo. Tais lderes eram pessoas to comuns como qualquer mortal. As provveis caractersticas especiais demonstradas no os distanciam de suas outras, humanamente reais. Antes de serem mitificados, eram pessoas reais e com todas as necessidades humanas. Quanto mais se mitifica uma pessoa, mais se distancia de sua real personalidade e da possibilidade de se assimilar suas qualidades. Imitar um lder pode ser uma atitude alienadora quando se abdica de viver a prpria natureza. Deve-se viver a prpria vida como o lder viveu a que lhe era pertinente. A Religio Pessoal a da autodeterminao, na qual o indivduo se torna proprietrio de si mesmo sem alienaes ou imitaes de modelos divinizados.
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Desprezo equivocado pelo mundo material. A oposio entre vida material e vida espiritual est presente na grande maioria das religies, reforando o grau de alienao do indivduo ao seu momento presente. O desprezo matria est na razo direta do grau de imaginao fantasiosa a respeito da vida espiritual. Quanto mais se nega a vida material, mais se especula a respeito da vida espiritual. Deve-se entender que a vida material continuidade da vida espiritual, no sendo simplesmente seu reverso; tambm uma no representao da outra. Se assim fosse, a vida material seria um grande teatro e todos seramos tteres. Prticas msticas em favor de uma suposta transcendncia espiritual, que pregue a eliminao do desejo e da vivncia comum que a vida cotidiana nos exige, reprime a totalidade da natureza humana, que duplamente instintiva e espiritual. No se trata de supervalorizar a matria em detrimento do esprito nem tampouco de se desprezar a ascese espiritual pela transcendncia, mas de compreender que a vida material vivida pelo esprito e nela ele tambm apreende as leis de Deus. H semelhanas significativas entre as religies, mas h diferenas em todas elas que atestam a diversidade da psiqu humana, qui do prprio Deus. Mesmo tendo tantas semelhanas, o sectarismo ainda impera no seio da sociedade. O ecumenismo no alcanado. O encontro entre os lderes religiosos torna-se uma utopia, por conta do orgulho e da fora do arqutipo em cada indivduo. A exclusividade ainda a marca da f. A religio formal domina as conscincias, oferecendo-lhes tranqilidade, felicidade e salvao. A Religio Pessoal oferece-lhes esforo, autodeterminao e a propriedade de si mesmas.
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o longo da histria pode-se perceber o surgimento, desenvolvimento, diviso e declnio de religies. A religio um acontecimento cultural coletivo, mas tambm um fato individual psquico. Acontece internamente antes de se tornar um fato externo. Aps longo processo de maturao, algumas religies despontam com o surgimento de um profeta, emissrio ou sbio, ou por causa de uma diviso por descontentamento ou nova interpretao de seus cnones. Tal fenmeno, a diviso, reflete uma insatisfao daquilo que individual. O apelo religioso coletivo j no atende psiqu individual. Sua massificao inibe a manifestao da instncia psquica sagrada, agora mais singularizada. A evoluo do indivduo, caracterizada por uma nova percepo da totalidade da vida, exige nova representao do sagrado. A religio formal no suporta novas possibilidades de representao exigidas pela mente transformada. As ramificaes das religies um fenmeno inexorvel, que pode dar a idia de que a marca divina em cada ser humano pessoal, singular, portanto, nica. H um deus interno exclusivo em cada ser humano. As divises internas existentes nas religies denunciam a existncia de inquietaes na psiqu. Um exemplo claro
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dessas divises pode ser notado no Bramanismo e no Judasmo. Com seus cismas, suas cises, suas alianas com o poder temporal e as dissenses, do mostras de que, gradativamente, h um processo lento de amadurecimento da psiqu a caminho da Religio Pessoal. A religio coletiva uma fora bruta a ser depurada por cada indivduo no seu contato com as experincias numinosas. As religies tradicionais permanecem no nvel arquetpico, no alcanando a individualidade. preciso propor alternativas no nvel da conscincia pessoal. O refinamento ocorre com a Religio Pessoal. Uma expresso religiosa mais prxima para cada indivduo passa a ser necessria. O coletivo vai cedendo lugar ao individual. O surgimento de muitas religies uma demonstrao das exigncias da psiqu individual, no mais limitada ao fenmeno coletivo. As liberdades e garantias individuais de manifestao religiosa permitem o surgimento da religio individual. Lentamente as religies vo se reinventando, refundindo-se com o surgimento de novos paradigmas. A cristalizao do dogma cria uma tenso, favorecendo o surgimento de dissidncias e de novos dogmas. Nesse sentido, Buda est para o Hindusmo como Lutero, para o Catolicismo e Jesus, para o Judasmo. De um lado, o Hindusmo, ao tempo em que estimula a iluminao, inibe a individualidade; do outro, o Judasmo, particularizando a salvao e a relao direta com Deus, contribui para o egocentrismo. A diversidade de religies, bem como as diferentes interpretaes e vivncias de cada uma delas, atestam a complexidade do sagrado na psiqu. Essa complexidade aponta para a ordem divina, representada pelo Self. A pretenso de certas doutrinas de ser a religio da humanida68

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de uma exigncia arquetpica no s do Catolicismo. Os princpios universais encontrados em todas elas possibilitam a idia equivocadamente hegemnica de supremacia. difcil ao cristo, por exemplo, no pensar que Jesus falou para a humanidade, assim como ao mulumano pensar que Allah no o absoluto. As religies sacralizam certos eventos, bem como pessoas e fatos naturais da histria. Criam cosmogonias, englobando tudo e todos. Essa a razo por que se torna difcil aceitar a total dessacralizao da existncia humana quando se tem conscincia e certeza da presena de Deus em todas as coisas. A sociedade, com seus sistemas, obrigada a resolver todos os questionamentos humanos, sanando suas angstias, ou isso tarefa exclusiva da religio? A religio um dos sistemas da sociedade ou deve, por negar o mundo, considerar-se externa a ele, tendo, ento, o papel de responder s questes magnas da humanidade? Esse papel, inicialmente entregue religio, tem sido ocupado tambm pelas cincias, que no lhe substituir o lugar. Cincia e religio no se complementam, pois existem outras possibilidades de percepo da realidade que ambas no alcanam. Enquanto no perceberem que lidam com o Esprito imortal, esto apontando utopias a respeito do espiritual. As religies tratam de questes que, ao longo do tempo, vo perdendo sua funo simblica religiosa. Ocorre um processo natural de dessacralizao. Temas como a morte e a sobrevivncia do esprito esto perdendo fora na religio por conta do amadurecimento da conscincia humana. Sucessivamente a religio tratar de outros temas que tambm, um dia, perdero sua colorao religiosa. Assim se deu com o raio e o trovo, fenmenos antes sacralizados pelo ser humano primitivo e que hoje, por
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ter todo o seu mistrio desvendado, so do domnio da cincia. Esse fenmeno, da dessacralizao, uma espcie de secularizao, se deve ao amadurecimento do esprito, aprendendo a cada experincia reencarnatria. Essa dessacralizao recebeu, aps a idade mdia, a contribuio do racionalismo e do Espiritismo, que desmistificaram muitas teorias absurdas. A psiqu humana, em sua funo religiosa, encontrar outro meio de manifestar sua incessante necessidade de entendimento a respeito do divino, que, em ltima anlise, a busca pelo Si-Mesmo. A secularizao no conta apenas com a razo, mas, principalmente, com a realizao do Si-Mesmo, por via da Religio Pessoal. No se trata de um culto razo nem da anulao da religio coletiva formal, pois esta mobilizadora e impulsionadora na direo da Religio Pessoal. As causas que justificam o surgimento de uma religio podem no mais se apresentar de forma superlativa e maravilhosa como antes. O ser humano de hoje no o mesmo nem passa pelas mesmas tribulaes que aquele de dois ou trs mil anos atrs. Ainda que se perceba o mesmo e que pertena a uma coletividade, no o mesmo individualmente. Por isso, a maioria das religies caducaram em certos princpios e em alguns apelos. O ser humano de hoje muito mais esclarecido, e a sociedade j tem outros nveis de exigncia. O ser humano para quem Buda, Jesus, entre outros, falavam no o mesmo de hoje. Por mais que se queira transpor, Benares ou Jerusalm no so Nova York ou So Paulo. As religies devem contextualizar seus princpios, muito embora a maioria deva manter a essncia. Assim como com Buda, com Jesus tambm se deu a questo da divinizao do homem.
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Da mesma forma, as palavras e ensinamentos originais foram consecutivamente alterados ao longo dos sculos, fazendo surgir, desde a morte deles, diferentes escolas e doutrinas. Essas mudanas ocorrem servio da constituio da Religio Pessoal de cada um. A religio deve pugnar pela liberdade de busca interior, sem necessitar mais de um cnone superior que a determine. Missionrios ascetas do lugar a pessoas comuns vivendo naturalmente, envolvidas com suas famlias, inseridas no mundo sem sair dele. No so mais crucificados ou apedrejados nem fazem exagerados votos de pobreza. O ideal asctico, monstico, distancia o ser humano do mundo, sobrecarregando os demais indivduos, que suprem os esforos que caberiam a eles. sociedade, algum doa a cota de energia que seria dada pelos ascetas. O ascetismo, quando no se pe a servio da sociedade, confunde-se com o egosmo. O ascetismo parece fazer parte das propostas de devoo da maioria das religies formais, como uma espcie de negao do mundo. Na Religio Pessoal, sua prtica est condicionada a uma dedicao intensa melhoria da sociedade e compaixo pelo prximo. Religio um processo de interiorizao, de mergulho e transcendncia do eu. uma procura pelo Si-Mesmo e pelas razes fundamentais da existncia humana. Troc-la pela simples crena em algo ou pela adoo de regras e princpios, sem a preocupao com aquele processo, significa enrijecer a mente e menosprezar sua importncia. Por outro lado, qualquer proposta de ascenso espiritual, reforma ntima, individuao ou realizao pessoal que negue a vida na matria com todos os seus percalos e desejos no estar alimentando o esprito.
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As religies so manifestaes do Si-Mesmo ou ainda representaes do arqutipo sagrado. Surgiram gradativamente ao longo da histria da humanidade numa demonstrao da dinmica psquica coletiva. As religies tribais e das pequenas sociedades deram origem s religies formais. O Hindusmo, o Judasmo, o Zoroastrismo, o Jainismo, o Taosmo, o Budismo, o Confucionismo, o Islamismo, o Cristianismo Paulinista, o Catolicismo Ortodoxo, o Sikhismo, o Luteranismo, o Anglicanismo, as religies Pentecostais e o Espiritismo so faces da manifestao do arqutipo sagrado. Religies ou caminhos so tendncias coletivas que conduzem o ser humano busca de sua prpria identidade essencial. No contm verdades, mas pressupostos tericos e vivenciais que aproximam o ser humano de si mesmo. Religio uma necessidade do inconsciente que precisa da conscincia para acontecer.

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Sntese dos fundamentos das religies formais


irresistvel apelo da religio parece estar relacionado com uma proposio supra-arquetpica, isto , com um projeto divino, alm do ser humano. As religies surgem independentemente do desejo de um lder, em torno do qual se forma todo um mito. Esse mito, forjado pelo inconsciente, se distancia da natureza humana, tornandose caracterstico do arqutipo que o rege, o que pode ser constatado na descrio que se faz da personalidade dos fundadores das religies ou de seus principais fomentadores. Geralmente no se descreve uma pessoa, mas um deus; descreve-se uma imagem arquetpica e no a do indivduo que iniciou a religio ou que desenvolveu algumas idias religiosas diferentes daquelas tradicionais. difcil o adepto aceitar que seu deus nunca deixou de ser humano. A idia de que religio se refere a uma religao pode estar associada existncia da conscincia e do ego. Inicialmente o ser humano mais primitivo vivia inconscientemente, sem uma identidade pessoal, portanto, sem a conscincia do ego, dissociado do meio e da profuso de smbolos automaticamente gerados pela sua psiqu diante das experincias naturais do viver. O inconsciente era
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sua prpria e nica condio legtima de existncia. Com as experincias no tempo e pela existncia de uma individualidade inerente condio de Princpio Espiritual (SiMesmo), formou-se sua representao no campo da conscincia, dando surgimento ao ego. Este, de certa forma, o representante da identidade essencial do indivduo, que, por sua vez, permanece oculta e inacessvel conscincia, o que configura a existncia de uma dualidade. Essa dualidade representa o rompimento natural entre o inconsciente e a conscincia. Pode-se entender, pelo exposto, que religio, no sentido de religao, a conexo que se deseja entre o ego e o Si-Mesmo. o desejo de ligao da conscincia do ego com o sentido e o significado da vida, ou ainda, religao da conscincia com a dimenso espiritual. Esse sentido pode, ento, ser aplicado a todas as religies, que seriam manifestaes da tendncia coletiva em tornar consciente a individualidade humana, que jaz originariamente no inconsciente. Por esse motivo, as religies sempre existiram e talvez nunca venham a desaparecer de fato, pois se configuram como a nsia do Esprito em querer se revelar como , em essncia. A busca do encontro com Deus a mscara dessa nsia. A pregao das religies, sem o querer, levando seus adeptos a buscarem Deus, est a servio da realizao inconsciente daquela nsia. Desde aquelas que se formaram em grupos tribais at as que possuem milhes de adeptos, todas as religies falam de algo inefvel e misterioso que denominam Deus. O concebem fora da essncia humana, atribuindo-lhe o poder de t-la criado, fortalecendo a concepo da individualidade humana. Com isso, ao mesmo tempo, distanciam o ser humano dele mesmo e da assuno de sua autodeterminao.
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Quanto mais o ser humano se aproximar do que de fato Deus, mais prximo estar de iniciar a jornada na direo de si mesmo. Portanto, a religio mais do que uma cosmogonia que tenta explicar a realidade e o indivduo. H algo mais alm do sentido que o indivduo lhe atribui. Ela o veculo para os alicerces morais da psiqu e para a busca do Si-Mesmo. Sua voracidade em deificar as coisas restringe o conhecimento humano. A sacralizao da natureza um fenmeno que limita a percepo do sentido maior da religio. Ao sacralizar as coisas, as religies enrijecem o saber. Religio sem reflexo petrifica o conhecimento, tornando a mente humana prisioneira de conceitos, tolhendo-lhe a liberdade de criar e ampliar suas capacidades intelectivas, o que pode ser observado nos mitos da criao nelas existentes. A psiqu consciente, por no encontrar justificativas para o surgimento da conscincia, resultante da invisibilidade do inconsciente, possibilita a formao do smbolo. Da surgirem os mitos. Em todas as religies encontra-se uma explicao para a criao do mundo e para a gnese humana. Na religio formal os ritos de ascenso humana so coletivos, no havendo lugar para prticas individuais, que, quando ocorrem, so assumidas pelo grupo ou dele derivam. O indivduo desaparece no coletivo por fora do distanciamento do Si-Mesmo, proporcionado pela religio coletiva. O rito perpetua o mito, cooptando a individualidade. A religiosidade humana to antiga quanto a vida em grupo. As manifestaes ligadas ao sagrado pertencem aos primrdios da civilizao e foram a base das grandes religies. O ser humano primitivo, inconscientemen75

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te vivia sua religiosidade atravs de ritos particulares que se estenderam ao grupo por fora da similaridade entre seus pares. A religio do homem primitivo se aproximava muito da imagem arquetpica e de uma representao mais fidedigna do inconsciente. Pode-se enxergar as religies de maior nmero de adeptos como originrias de dois grandes troncos, que, por sua vez, so resultantes de manifestaes religiosas tribais. Sem fazer referncia s crenas africanas nem quelas de longnquas regies do globo, no catalogadas pela histria das religies, pode-se perceber dois grandes troncos que geraram as religies modernas. De um lado o Hindusmo (Bramanismo) e do outro, o Judasmo. So manifestaes do arqutipo do sagrado, que se diferenciam por aspectos culturais e pelas caractersticas da formao do ego em cada sociedade. Hindusmo O Hindusmo um conjunto de cultos e religies da ndia, antes conhecido como Bramanismo ou religio brhmane. Hoje, cerca de oitenta por cento da populao indiana so hindus. No h uma data de incio, mas registram-se eventos ligados ao bramanismo anteriores a cinco mil anos atrs. Segundo o Hindusmo, os seres humanos possuem uma alma imortal (atman), que reencarna (samsara) de acordo com os atos praticados na encarnao anterior (carma), at alcanar a libertao desse ciclo (moksha). O Hindusmo , em sntese, o caminho eterno. Geralmente a histria do Hindusmo dividida em prvdica, vdica, dos puranas, dos upanishades, medieval e moderna. Cada um desses nomes est associado a certas prticas e a perodos da histria da ndia. No Hindusmo no h hierarquias nem sacerdotes, pois a cultura popular
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se mistura prtica religiosa, no havendo uma unidade de culto nem de doutrina. Apresenta-se como monotesmo e como politesmo, a depender da regio da ndia. Brahman o deus supremo, porm no necessariamente tem o mesmo significado do deus cristo. idia de Brahman (absoluto e que engloba tudo e todos), deus supremo, contrape-se a de Atman, que corresponde ao ser individual. Os Vedas, que significa verdade ou sabedoria divina, so as antigas escrituras, que contm textos de onde se extraem as interpretaes das diversas escolas do Hindusmo. Bagavhad-Gita a parte mais conhecida dos Vedas. Contm cnticos que narram a batalha de Krishna atravs de seu guerreiro Arjuna. Alm de Brahma (manifestao humana de Brahman), Vishnu (Krishna preservador do Universo), Shiva (deus da criao e da destruio) e Shakti (Me divina princpio feminino do Universo) formam a trindade ou a quaternidade da divindade Brahman no Hindusmo. Essas deidades representam aspectos psquicos coletivos, bem como estruturas da psiqu humana. O Hindusmo visa a iluminao ou moksha, que tambm significa a libertao dos desejos. A sada da roda do samsara, ou das reencarnaes, representa a maior aquisio na evoluo do indivduo. O Hindusmo respeita imagens e o que elas representam. H oferendas e sacrifcios aos deuses com vistas aquisio de suas qualidades. Os hindus buscam alcanar o Sathiagara ou encontro com a verdade. Praticam o Ahinsa ou no-violncia. H muitos templos sagrados na ndia, alm de ser comum as casas terem altares domsticos. Para os hindus, alguns deuses habitam certos locais sagrados. O Hindusmo uma religio de muitos cultos e rituais, cuja diversidade expressa a riqueza da psiqu humana, que no se amolda a uma nica manifestao, for77

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mando um mosaico incrivelmente belo. Talvez a observao das expresses apresentadas pelos rituais do Hindusmo seja a maneira mais direta de se perceber a sua dinmica psquica, com seus intrincados meandros. O colorido das vestes, as performances, os tipos humanos, a diversidade de simbolismos, a quantidade imensa de significados, a pliade de deuses, entre outros aspectos, tornam o Hindusmo um admirvel e encantador conjunto de crenas. O sistema hindusta, com suas prticas e seus deuses, parece revelar o complexo funcionamento da psiqu; um verdadeiro dilogo do ego com o Si-Mesmo. O dilogo de Arjuna e Krishna, no Bhagavad Gita, expressa muito bem aquela complexidade. Judasmo A histria do Judasmo se confunde com a da religio de Moiss e sua relao com o Egito. Moiss foi educado segundo as crenas egpcias, o que influenciou a forma como conduziu seu povo na peregrinao rumo terra prometida (Cana), bem como os fundamentos do Judasmo. Por volta do Sculo XIII a. C., Moiss recebeu os dez mandamentos, contendo os princpios de uma nova religio, consolidando assim, entre os judeus descendentes da tribo de Judah, sua forma de governar. Inicialmente os judeus formavam tribos com suas crenas e mitologias. Posteriormente, com Moiss, iniciou-se a formao de uma conscincia unificadora. Moiss escreveu os cinco primeiros livros da Bblia, conhecidos como Tor, que relatam a histria do povo hebreu. Como no Hindusmo, no Judasmo cultura e religio se confundem, fenmeno esse que se tornou fundamental para a constituio da identidade judaica. A caracterstica principal do Judasmo, que o distingue das demais religies, o
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monotesmo, cuja crena originria de Abrao. Os judeus acreditam num Deus que os escolheu como responsveis por receber a lei contida nos dez mandamentos e dissemin-la pelo mundo. Desde que formaram uma nao, os judeus foram dominados pelos egpcios, pelos babilnios, pelos persas, pelos gregos, pelos srios e pelos romanos. Hoje, possuem um Estado livre e independente. A vida religiosa judaica envolve cultura, religio e comportamento. Atualmente existem os sefarditas e os ashkenazim, divididos geograficamente e pelos seus costumes locais, mas sem grandes diferenas doutrinrias. O Judasmo, junto com o Cristianismo e o Islamismo formam as principais religies monotestas. O Judasmo apresenta caractersticas de respeito e fidelidade a Deus, alm da obedincia a um rgido cdigo moral de conduta. A saga sofrida pelo povo judeu, migrando do Egito para a Palestina, e as dominaes a que foi submetido, enquanto buscava um lugar para se estabelecer, foram fundamentais para a constituio das matrizes psquicas capazes de abrigar as idias crists. Uma delas a espera permanente por uma redeno, atravs da conduta correta e pela busca de Deus. A culpa do pecado original, cometido por Ado e Eva, tornou-se importante elemento gerador de complexos inconscientes. A crena em um deus nico no parece ser uma evoluo em relao ao politesmo. Religies politestas surgiram antes e depois do Judasmo. O deus monotesta parece ter as mesmas caractersticas do conjunto dos deuses das religies politestas. A idia de um deus nico corresponde necessidade coletiva de fortalecer o ego, ainda fragilizado pelas constantes perdas ao longo da histria do povo hebreu. O monotesmo judaico, caracterizado por um deus que fez um pacto, com o ser humano, de fidelidade e pre79

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gao, contribuiu para a construo do sentimento de exclusividade e de superioridade, prejudicial evoluo dos indivduos. A disciplina, o sentido de famlia e a conscincia da unidade dos indivduos na interdependncia de todos tornaram-se marcas do Judasmo. a psiqu se firmando mais ainda na consolidao de um ego cada vez mais maduro. Zoroastrismo Instituda por Zoroastro ou Zarathustra, cultuava o deus supremo Ahura Mazda (Senhor Sbio). Religio dualista que se disseminou por volta de 700 a. C. no Ir, na ndia e no Paquisto., alis monotesta e dualista, pois considerava a existncia de dois deuses que se digladiavam, um representando o bem ou a luz e o outro, o mal ou as trevas. Seus adeptos deveriam escolher entre o bem e o mal. Surgiu em oposio ao politesmo reinante. Para os zoroastrianos ou mazdestas, existe Deus e um opositor a ele. A tica do Zoroastrismo fazer o bem para mereclo depois. Pregavam a responsabilidade pessoal e eram tolerantes com outras religies. Seus princpios influenciaram o Judasmo e o Cristianismo, principalmente no dualismo maniquesta. O monotesmo zoroastriano, similar ao judaico-cristo, vem a propsito da necessidade de consolidar um ego ainda frgil diante do arqutipo do Self. Jainismo O Jainismo teve como fundador Vardhamara Mahavira, contemporneo de Buda. Surgiu contra o sistema de castas da ndia. So seguidores dos Jinas ou Mestres Elevados. Do nfase ao ascetismo e negam o mundo. Os jainas so adeptos da teoria da auto-salvao
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e acreditam que, para atingir o nirvana e se libertar do ciclo de renascimento, preciso meditar, seguir o ascetismo e os cinco grandes votos ou princpios: da noviolncia (ahimsa) em atos, palavras e pensamentos, sendo terminantemente proibido matar ou fazer mal a qualquer ser vivo, razo por que so vegetarianos; de no roubar e de ser honesto; de no mentir ou injuriar; de cultivar o desapego s pessoas, aos sentimentos e s coisas; da abstinncia sexual. No Jainismo no h um deus criador, nem os deuses so supremos. So puristas e cultuam o jejum. Para os jainistas, os homens morrem e renascem (samsara) at atingir o nirvana, podendo animar a estrutura fsica de animais, vegetais ou seres humanos (metempsicose). Esse ciclo de renascimentos decorre da necessidade de purgao do carma, o qual se origina dos pensamentos, palavras e aes praticadas, que impregnam na alma (jiva) as resultantes da prxima vida. O Jainismo tm poucos adeptos. Prega a mendicncia errante. O Jainismo uma espcie de derivao do Budismo, sendo um pouco mais exigente quanto aos cuidados com o corpo; os fundamentos doutrinrios, porm, so os mesmos. O surgimento do Jainismo denuncia mais uma mudana na manifestao do arqutipo do sagrado, com maior influncia na restrio da realizao dos desejos humanos. A tendncia parece ser a de intensificar a moralizao e a negao do mundo com nfase na restrio dos instintos corporais. A oposio do sagrado s livres exigncias dos instintos humanos se afirma constantemente na proposta jainista. Taosmo Filosofia ou religio constante nos textos do Tao Te Ching, atribudo a Lao Tse ou Tzu. Tao ou Dao igual a
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caminho. Acredita-se que Lao Tse teria sido um contemporneo mais velho de Confcio e que ele se baseou no I Ching para formular seus escritos, que so a base do Taosmo. O Taosmo, ao longo do tempo, recebeu a influncia do Budismo e da cultura chinesa como um todo, formando um certo sincretismo com o Confucionismo. O Tao uma espcie de elemento imutvel de todas as coisas ou a suprema conscincia que permeia tudo no universo. A dinmica dos opostos (O Yin flui naturalmente para o Yang, que flui para o Yin) fundamental para a compreenso do Taosmo, pois o movimento de um para o outro denuncia a existncia de uma unidade essencial na Natureza. O Taosmo prope a busca da ordem natural de todas as coisas, baseando-se na contemplao, na meditao e na simplicidade. Nessa busca, a intuio tem prevalncia sobre a lgica racional, considerada artificial. A atitude adequada para aquela busca Wu wei, ou inao (no ao), que significa estar em harmonia com o Tao, agindo sem artificialismo, em consonncia com a natureza. O Taosmo mstico, pois tem xams e adivinhos, e tambm d nfase fisiologia, farmacologia e acupuntura. Os taostas acreditam nos poderes sobrenaturais, na cura holstica e na imortalidade. Na Antiguidade, havia alquimistas taostas. Os taostas praticam exerccios de Tai Chi (Chi a energia que se move dentro do corpo pelos meridianos). O Taosmo exalta o feminino mais do que o confucionismo, de carter masculino. Podese notar que o Taosmo uma das maneiras de se viver em contato com a totalidade do Self, projetado na essncia que a tudo permeia. Assim como o Confucionismo, o Taosmo deveria ser praticado pelos adeptos de todas as religies, pois so modos complementares de percepo do sagrado em todas as coisas e nas relaes com as pes82

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soas, propondo a harmonia do indivduo com o outro e com o meio que o cerca. Budismo Fundado por Siddhartha Gautama, o Buda (iluminado, desperto), na segunda metade do Sculo VI a. C., na ndia, o Budismo prega a busca pela iluminao. A necessidade de transformao interior, independentemente das explicaes cosmolgicas, a marca do Budismo. H vrios tipos de Budismo, de acordo com a regio da sia, sobretudo no Japo e na China. Como no Hindusmo, de onde se originou, muito embora difira dele, entre outras caractersticas, pela existncia de um fundador, o Budismo prega a reencarnao e a lei do carma, que movida pelo desejo egico. No Budismo, a verdade ver a realidade como ela , propondo, porm, o desligamento do que efmero e ilusrio. Muito embora negue o mundo e os desejos, enfatiza a necessidade de se ter domnio sobre as emoes. Buda significa pessoa iluminada e budhi estar desperto, estar atento. Siddhartha, que pertencia a uma casta nobre e rica da ndia, um dia saiu de sua morada e viu um homem pobre, um doente, um velho e um cadver. Dessa percepo, ele refletiu sobre sua condio diferente daquelas, concluindo que o ser humano passa por diferentes processos, o que lhe permite desenvolver vrios princpios. Passou a pregar quatro deles: o primeiro, que a existncia tem sofrimento; o segundo, que o apego o esforo de possuir algo permanentemente num mundo transitrio; o terceiro, que tudo pode cessar; o quarto, que tudo pode ser alcanado pelo caminho ctuplo (oito verdades). Segundo a doutrina budista, o homem est preso ao ciclo de mortes e renascimentos (denominado de samsara), pois os seus
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pensamentos, sentimentos, desejos, palavras e aes pem em movimento a lei do carma (lei de causa e efeito, de ao e reao) e atraem os sofrimentos nas futuras encarnaes. Somente o prprio homem pode se libertar desse ciclo (auto-salvao) e, para isso, precisa atingir o estado mximo de evoluo espiritual, a plena iluminao (bodhi), o nirvana. A idia de reencarnao no Budismo admite que possvel o indivduo voltar como animal, diferindo da idia de evoluo humana comumente aceita. Buda negava o valor do sistema sacrificial, afirmando o prprio trabalho como forma de ascenso. Para ele, tudo impermanente e transitrio. Trocou o ritual do sacrifcio de animais pelo servio ao prximo. No Budismo, deve-se compreender o sofrimento e aprender a lidar com ele. Para Buda, o eu irreal. Deve-se cultivar a calma, a clareza e a compaixo, alm de se buscar a vida pura em meio a um mundo corrompido. fundamental cultivar a mente para se alcanar estgios superiores. No Budismo, no h incio para o Universo, pois existem sries de ciclos de ressurgimento como num eterno retorno. Nos templos budistas so comuns os rituais, cnticos e a meditao. O equilbrio, a compaixo e a vida reta so destaques no Budismo, juntamente com a busca pela integrao com a unidade da vida. O Budismo se disseminou no mundo com vrias escolas (Hinayana e Mahayana) e prticas. O seu surgimento no seio do Hindusmo denuncia que a manifestao do arqutipo se modificou, sendo direcionada para o interior da alma humana. de se observar uma tendncia maior moralizao, restringindo a liberdade de manifestao simblica do arqutipo religioso pelo culto externo. Essa tendncia pode estar associada a um processo de laicizao, natural e crescente na humanidade. O Budismo apresenta
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uma face do arqutipo religioso extremamente relevante ao ser humano a compaixo. Xintosmo Originria do Japo, a religio xintosta , na realidade, um conjunto de crenas e prticas adotadas na tradio cultural japonesa. Xintosmo significa os caminhos do Cami. Cami aquilo que venerado um ser humano, deuses, natureza etc.. Cami o sagrado. H vrios santurios xintostas sem uniformidade de construo. No tem fundador ou pregao. O Xintosmo se consolidou depois da entrada do Budismo, do Confucionismo, do Taosmo e do Cristianismo no Japo. Xintosmo significa a herana religiosa nativa do Japo. O xintosta mistura as diversas religies sem quaisquer conflitos. Os camis tm as polaridades do bem e do mal. No so sobrenaturais. Para o xintosta h vrias divindades na natureza, e do nfase a nela encontrar o sagrado. No uma religio confessional e privilegia o relacionamento familiar, o culto aos ancestrais e o respeito aos mais velhos. O Xintosmo se aproxima muito da religiosidade natural e do anseio humano de se sentir conectado s foras da natureza. O Xintosmo uma das mais autnticas manifestaes do arqutipo do sagrado sem o esprito sectrio, caracterstico de outras religies. Sua existncia at os dias de hoje revela, pelo seu animismo, que psiqu e natureza se confundem e se conectam naturalmente. Confucionismo Religio ou filosofia voltada para a conduta humana, no que diz respeito moral, poltica, pedagogia e religio. No h sacerdcio nem se refere a Deus ou a imortalidade. O Confucionismo valoriza a disciplina, o
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estudo, o trabalho, a conscincia poltica e o respeito mtuo. Confcio era um conselheiro que viveu no Sculo V a. C.. Reviveu os ensinamentos de Lao Tse. O Confucionismo usa o livro das mutaes I Ching. Fala das polaridades Yin e Yang, como foras interiores humanas e da natureza. Confcio ensinava princpios morais e ticos. Dizia: o que no queres que faam a ti, no faas aos outros. Falava em revelar o absoluto no relativo. Pregava a reciprocidade e solidariedade nas relaes. Ensinava o aprimoramento das sensibilidades morais. Cultuava as virtudes do afeto e do amor. Afirmava a devoo e piedade filial, o respeito ao prximo e aos mais velhos. Pregava a reverncia aos ancestrais, a bondade, a harmonia, a obedincia e o no-confronto. Afirmava a prtica da harmonia e da benevolncia e que o eu aberto transcendncia. No Confucionismo, possvel enxergar, com maior nitidez, as bases da religio da transformao interior. Pode-se perceber, nessa doutrina, o privilgio que dado vivencia do Self na sociedade. A prtica devocional e as representaes simblicas do sagrado so substitudas pela harmonia dos opostos na convivncia com o outro e consigo mesmo. Parece-me que todas as religies deveriam levar seus adeptos aos princpios da prtica confucionista. Cristianismo A data exata do surgimento do Cristianismo como religio talvez improvvel. A morte de seu fundador deixou lacunas doutrinrias, alm da inexistncia de um lder formal. Tudo ainda era novo e confuso para os que ficaram, pois Jesus no pregava a constituio de uma religio formal. Parecia que ele queria apenas disseminar idias entre seus pares, que lhes trouxessem uma noo
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maior a respeito de suas prprias interpretaes dos cdigos religiosos. Formou-se ento, no Judasmo, uma espcie de seita, sem que lhe negasse os fundamentos bsicos, principalmente o da busca por uma redeno e a crena monotesta. Poucos anos depois da morte de Jesus, surge um importante personagem, Saulo de Tarso, posteriormente Paulo, que dar corpo seita, tornando-a mais uniforme, expandindo-a e criando uma rede como uma igreja. Nasce o Cristianismo ou, talvez, o Paulinismo. Por conta de suas interpretaes e das culturas locais, surgem as diferenas doutrinrias que iniciam as divises em uma nova religio. Desde aquela poca at os dias de hoje, surgiram muitas cises no Cristianismo. Tm-se os seguintes seguimentos que se intitulam religio crist: Cristianismo Catlico Apostlico Romano (catlico = universal), Cristianismo Ortodoxo (ortodoxo = verdadeiro), Cristianismo Luterano ou Protestante (contrrio ao catlico), Cristianismo Anglicano, Cristianismo Presbiteriano, Cristianismo Metodista, Cristianismo Batista, Cristianismo Pentecostal, Assemblia de Deus, Deus Amor, Evangelho Quadrangular, Igreja Universal do Reino de Deus, Testemunhas de Jeov, Igreja Adventista, Espiritismo, entre muitos outros. A diviso por princpios doutrinrios parece ser uma marca no Cristianismo, que consegue abrigar mltiplas tendncias, favorecendo mltiplas possibilidades de atualizao do arqutipo religioso. De certa forma, reduz a possibilidade fundamentalista e sectria, e isso favorece a constituio da Religio Pessoal. So muitas religies com a mesma matriz psquica. A adoo do Cristianismo no ocidente pode estar relacionada ao utilitarismo e pragmatismo das sociedades. O Cristianismo tornou-se uma espcie de matriz religiosa, bero de inmeras religies que se forjaram de acordo com o en87

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tendimento e com as culturas que lhes adotaram os princpios. Islamismo O Islamismo uma religio que surgiu na Arbia, no sculo VII, baseada nos ensinamentos de Muhammad ou Maom, que nasceu em 570 d. C.. Maom considerado pelos mulumanos3 como o ltimo e maior profeta. Isl quer dizer submisso a Deus. Maom recebeu uma revelao que o fez comear a pregar as verdades religiosas consideradas como negligenciadas pelo Judasmo e pelo Cristianismo. O Islamismo uma religio monotesta e Deus conhecido pelo nome de Allah. O Alcoro o livro sagrado, escrito por Maom e, em alguns pases, a lei do Estado. O Sufismo o misticismo islmico, em que h o predomnio de rituais msticos de movimento do corpo, de forma rtmica, para se atingir o xtase. Por conta de disputas pela sucesso de Maom, os muulmanos se dividiram em sunitas e xiitas. Os sunitas descendem dos califas (representantes de Maom) e os xiitas, da famlia de Maom. A maioria dos muulmanos sunita. Cinco princpios norteiam os adeptos: declarar sua f em Allah todo dia, rezar cinco vezes ao dia, doar parte de seus lucros mensais aos pobres, jejuar no Ramad e ir uma vez na vida a Meca. No Islamismo, no h distino entre o material e o espiritual, pois deve-se viver sempre para Allah. Trata-se de uma religio de caractersticas populares, cuja exigncia para se tornar adepto a declarao, perante outro muulmano, de sua f. Tem caractersticas continentes, tornando a psiqu voltada para o sagrado como algo permanente na conscincia.
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Muulmano significa aquele que se submeteu a Deus.

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Catolicismo A aproximao dos princpios cristos com o antigo imprio romano fez surgir o Catolicismo. Contribuiu, para essa aproximao, a forte rejeio que as teses crists encontraram no Judasmo, tornando o paganismo romano um refgio. Aliar-se ao opressor pode tambm ter sido uma estratgia inconsciente para uma maior disseminao. Por outro lado, aos poucos, a nova seita foi sacralizando e mistificando os princpios cristos como uma maneira de obter a adeso popular. Para isso, o sincretismo do paganismo romano com a nova seita foi providencial. Por questes doutrinrias, no incio da nova seita, principalmente relacionadas divindade ou no de Jesus, surgiu a primeira grande diviso. De um lado, a Igreja Catlica Romana, e de outro, em oposio, a Igreja Ortodoxa. Conciliar os ensinamentos de Jesus, a tradio mitolgica politesta romana e as prticas e costumes do Judasmo das classes mais pobres com a formao de uma nova religio foi o grande desafio dos lderes cristoscatlicos. Inevitavelmente se formaram hierarquias bem definidas e concesses doutrinrias distantes da proposta inicial de transformao interior. A aceitao de Jesus como Deus, a canonizao dos escritos pelos quatro evangelistas e pelos apstolos, a consolidao dos bispos como continuadores dos apstolos e o surgimento do papa so alguns dogmas institudos pelo Catolicismo. Esses dogmas so representaes de instncias psquicas no compreendidas pelo ego. a confirmao do que est na psiqu e que precisou ser materializado para se consolidar e ser integrado alma humana. um processo de enraizamento para a compreenso de algo maior. Os smbolos, cuja formao foi forjada pela f, ainda predominam sobre a razo e o pragmatismo. Por esse motivo sur89

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giu o gnosticismo, que se ops ao Cristianismo, pregando o conhecimento atravs do prprio conhecimento e no pela f. Hoje, o Catolicismo ainda possui alguns ritos simblicos que demonstram a necessidade da psiqu se mostrar como de fato . Sikhismo O Sikhismo uma religio monotesta criada no sculo XV, no Punjabe, na ndia. Sikh quer dizer aprendiz ou discpulo, algum que acredita em Deus e nos ensinamentos dos Dez Gurus. Foi criado pelo Guru Nanak (1469-1539). Pregava a vida familiar, o trabalho comunitrio e a ida ao templo. Possui um forte sincretismo do Hindusmo com a parte sufi do Islamismo. Seus seguidores acreditam na reencarnao e pregam que o egocentrismo o motivo do afastamento do homem de Deus. So deveres sikhis: manter constantemente Deus na conscincia, sustentar-se por um trabalho honesto e dividir o que tem com os mais pobres. O Sikhismo combate a luxria, a ganncia, a raiva, a soberba e o apego s coisas materiais. Guru Nanak pregava contra a intolerncia religiosa, afirmando que todos so iguais, no havendo hindus ou muulmanos. O livro sagrado do Sikhismo o Granth Sahib, considerado o Dcimo Guru, que contm principalmente escritos do Guru Nanak. O Sikhismo se apresenta como um sincretismo religioso visando o aperfeioamento da tradio religiosa indiana voltada para a interiorizao e harmonizao do indivduo. o arqutipo em sua expanso nas formas de representaes. Protestantismo O Cristianismo protestante tem origem no Catolicismo. Surgiu por conta de discusses teolgicas, princi90

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palmente por causa das indulgncias e de outras prticas catlicas. O Protestantismo prega a confiana nas escrituras e a f em Jesus. Em 1517, Lutero divulga seus protestos, o que provocou sua excomunho da Igreja Catlica Romana. No mesmo diapaso, Zwingli cria a igreja reformada e Calvino uma outra forma radical contra a Igreja Catlica Romana. Os ingleses criam a Igreja Presbiteriana, com os puritanos. Surgem os Quakers, os Methodistas e a Igreja Episcopal. H uma grande diversidade de igrejas protestantes, sobretudo nos Estados Unidos, pois no h um comando central como no Catolicismo. O surgimento do Protestantismo parece estar sintonizado com um certo pluralismo religioso numa sociedade cansada do obscurantismo religioso, intelectual e poltico. Trata-se de uma adaptao da manifestao do arqutipo s novas exigncias sociais e ao novo momento psquico, que exigia libertao dos condicionamentos da f cega. O que se seguiu ao Protestantismo foi uma multiplicidade de igrejas crists, de acordo com as idias de seus novos lderes e com as culturas em que emergiam. A religiosidade humana exigia maior abertura e novas formas de ser vivida. A prosperidade, em lugar da pobreza, passou a ser a pregao mais coerente com a vida no mundo, como forma de compensao por no se estar pleno na vida espiritual. Mais do que uma revolta contra as indulgncias ou contra o Catolicismo, o Protestantismo era uma possibilidade de se trazer para o mundo o que era pregado para ser vivido no Alm. Em termos psicolgicos, trouxe-se para a conscincia o que estava teimosamente no inconsciente. A iconoclastia protestante inviabilizava a simbolizao ampla e convidativa do Catolicismo. Mortos os smbolos, restou pouco espao para os rituais. O fiel deveria consolidar sua f em Jesus,
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dedicando-se ao trabalho, famlia e s obrigaes para com o Estado. A nova religio era mais uma conformidade do que uma possibilidade de ascenso espiritual efetiva. Ceticismo Em meio ao florescimento do Protestantismo, surge o Ceticismo. Para o Ceticismo, o papel central das religies ser um sistema de compromissos dos fiis, submetendo-os a algo maior. O Ceticismo pregava um predomnio maior da razo pelas cincias. o futuro das religies, libertando os indivduos para aquisio e livre expresso do mais alto saber. O contexto social mais amplo e mais complexo que a existncia humana, portanto, no deve ser desprezado como fazem as religies. Tudo parte de uma estrutura maior, havendo uma ordem csmica. Ceticismo a reao ao excesso de pretenso de certos conhecimentos, principalmente os religiosos. O Ceticismo deu origem ao iluminismo. Para o Ceticismo, as coisas so como se as percebem, sendo a viso de mundo a razo de se ser como se . Nesse sentido, compreender-se mais importante do que compreender o mundo. Ainda sobre a religio, os ceticistas diziam que rezar acreditar que no se tem controle sobre a prpria vida. O Ceticismo contribuiu para o surgimento do Positivismo. A tendncia ceticista existente na mente humana est a servio da construo de uma ascenso espiritual consciente. A humanidade caminha do inconsciente para a conscincia, isto , a individualidade se impe ao coletivo. O Ceticismo tambm est a servio desse propsito, alm de oferecer reflexes s religies no processo de libertao das conscincias. Com o Ceticismo, as manifestaes do arqutipo religioso, na forma de rituais, so encaradas como meros produtos da cultura.
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Religies antigas As religies antigas, na sua maioria, eram politestas e possuam muitos rituais como forma de contato com a divindade. Acreditavam que os deuses poderiam favorecer o ser humano, desde que este lhes oferecesse algum sacrifcio. Em geral, projetavam seus prprios elementos psquicos nos deuses que cultuavam. Por esse motivo, os deuses de culto se assemelhavam, mesmo que as culturas no tivessem qualquer contato. Em geral, eram religies tribais. Religio egpcia. Admitia a crena na imortalidade, era politesta, tendo como principais divindades Isis, Osires, R, Set e Hrus. A morte tinha um significado profundo e no assinalava a extino da vida, mas mera passagem para outro mundo. Como em certos reinados e no papado, os faras, ou reis do Egito, eram considerados divindades, o que simboliza a representao do arqutipo do Self numa figura humana. Religio greco-romana. Era politesta, tendo muitos templos, rituais, e oferecia sacrifcios aos deuses. Os deuses eram bons e maus, encarnando aspectos da personalidade humana. A religio e a vida pblica se misturavam. Cultuava Lares e Penates, dois dos seus principais deuses. Religio nrdica. Era politesta, cultuando o deus Wotan ou Odin. Seus adeptos realizavam rituais e acreditavam na imortalidade. Religio celta. Era politesta. Seus adeptos inclinavam-se para o sagrado com forte tendncia mstica e com muitos rituais de iniciao. Os sacerdotes eram chamados de druidas. Consideraes As religies apresentam possibilidades de manifestao do arqutipo sagrado ou religioso de acordo com a
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cultura de cada coletividade ou indivduo. Suas crenas, que excluem e condenam os que no as professam, denotam a fragilidade da verdade que afirmam. Nada mais so do que direcionadores do ego para a percepo do SiMesmo. Demonstram a fora do arqutipo direcionador da busca do ego pelo prprio significado de sua existncia real. Quando conceituam Deus, descrevem a vida futura, definem felicidade e estabelecem os princpios do encontro com a totalidade, se referindo indiretamente aos aspectos inconscientes da dinmica psquica. Definem mais estruturas da mente, processos psquicos e os fatores que interferem na percepo da realidade do que de fato o que Deus. A religio que se firma exclusivamente num livro sagrado, desprezando quaisquer outras formas de anlise da f e dos preceitos doutrinrios, auto-intitulando-se a verdadeira ou a que descende diretamente de Deus, tem tendncia ao fundamentalismo. Incluem-se como tal aquelas que prometem melhores condies aps a morte exclusivamente aos seus adeptos, condenando os outros. Aqueles que propem seguir literalmente os preceitos deixados pelo seu fundador correm risco semelhante, pois a maioria deles no intencionou criar uma religio. Religio um movimento dinmico da mente humana coletiva, cujo propsito autoconhecer-se. O fundamentalismo religioso prejudica o processo de auto-determinao necessrio ao ego. Fundamentalismo quer dizer que no h fundamentos religiosos a serem negociados. No h possibilidade de sincretismo. Os fundamentalistas esquecem o significado e ficam nas palavras. O radicalismo, fanatismo ou fundamentalismo so manifestaes da psiqu carente de unidade, sntese e harmonia. Da mesma forma, a negao do mundo corresponde absolutizao do
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Alm. So expresses nefastas do fundamentalismo. Negar o mundo, construdo por Deus, querer ser mais religioso que o prprio. Na sua maioria, as religies se pem em oposio vida material, pois conceituam o espiritual exatamente na direo oposta. Ora, no a vida um fenmeno nico? Por acaso, o que fez um no fez o outro? A f no deve excluir a experincia que lhe possibilita a realizao. Deus no pode ser um futuro, mas um real presente, posto que sua existncia para o ser humano est delimitada pelo seu prprio inconsciente. claro que, por detrs dos ensinamentos oferecidos pelas religies, h algo precioso, poderoso e fundamental existncia humana. Esse algo no a concepo (humana) a respeito de Deus, tampouco uma promessa de vida futura desligada do que se vive no presente. A vida mais do que o ensinado pelas religies e menos do que aquilo que o egosmo humano lhe atribui. As religies no comeam com a grandiosidade, nem seus fundadores tm o poder mstico que a histria lhes atribui. Com o tempo, a tradio popular religiosa vai mitificando tudo que envolveu o incio, principalmente a vida do principal fundador e seus ditados. A religio vai se aproximando do arqutipo, distanciando-se do indivduo. Esse seu segredo de crescimento e aceitao. Sua penetrao popular comea nas classes menos favorecidas, sofridas e ansiosas por uma salvao, para depois alcanar as outras. No Cristianismo temos Jesus, o cidado judeu, ser humano comum; Jesus, o cristo pregador de uma nova mensagem; Jesus, o mito criado pela tradio popular que se revelou como representao do arqutipo do Si-Mesmo. H uma certa presso, at no prprio Cristianismo,
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para sua aproximao maior do Jesus homem em lugar do mito. Com o tempo, as religies formais, manifestaes coletivas naturais do arqutipo religioso, vo se subdividindo no curso do atendimento psiqu individual. Por exemplo, no Judasmo ocorreu o que j foi dito sobre o movimento natural ou passagem coletiva da religio formal para a pessoal. O povo hebreu vivia no Egito como uma subsociedade. Uniu-se, tomou conscincia de seus costumes diferenciados e se constituiu como povo. Escravizados, os hebreus se fortaleceram na necessidade de se libertar da opresso. Comearam a adotar uma religio monotesta, dentro de uma sociedade politesta. Essa ocorrncia reafirma psiquicamente a supremacia do indivduo sobre o coletivo, fortalecendo a percepo do Self de cada um. Em sua peregrinao em busca da terra prometida, formaram uma nao constituda de vrios subgrupos. Liderados por Judah, se constituram nos Judeus, monotestas e salvacionistas. Muitos anos depois, com sua f baseada nos escritos do Tor (pentateuco bblico), assistiram ao surgimento da primeira grande diviso o Cristianismo. Era a psiqu individual insatisfeita com a coletiva. Os anos se passaram e o prprio Cristianismo comeou a se dividir em Catlico, de influncia romana, e em ortodoxo, de influncia grega. Com forte influncia judaica conservadora, surge o Islamismo, como nova diviso, mas se apresentando como algo diferenciado do Judasmo. Novamente a psiqu coletiva dava lugar a outra forma de manifestao do sagrado. Mas as divises no pararam a. O Catolicismo romano sofre novo golpe a reforma protestante. Uma nova forma de manifestao do sagrado. O que era coletivo, tornava-se individual, para se transformar, de novo, em fenmeno cole96

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tivo. O Protestantismo se afirma, sobretudo na Europa, gerando conflitos dentro do Catolicismo. Quase quinhentos anos depois do surgimento do Protestantismo, podese perceber a grande variao de manifestaes em seu sistema. A grande variedade de religies pentecostais um testemunho da imposio da psiqu individual sobre a coletiva. A Religio Pessoal se impe diante da coletivizao religiosa por influncia do arqutipo religioso. Ainda sobre a questo politesta x monotesta, difcil afirmar categoricamente que se trata de uma evoluo de uma a outra. So polaridades que representam dimenses psquicas da compreenso do arqutipo divino. Deus unidade e multiplicidade. O monotesmo torna-se importante na medida em que consolida a idia do Self e da individualidade. O politesmo contribui para a percepo da pluralidade divina no psiquismo. O avano notrio das religies monotestas em detrimento das politestas parece significar uma necessidade maior da religio continente em lugar da livre expanso das idias, o que provocar uma distenso futura de propores incomensurveis e de agradveis efeitos sobre a sociedade. As religies do mundo no se referem s mesmas coisas, no propem o mesmo objetivo. Isso pode ser constatado, por exemplo, nas diferenas entre o Taosmo e o Cristianismo. O primeiro prope uma harmonia aqui e agora, uma ordem que perpassa cada coisa e cada experincia humana. O segundo prope uma possibilidade futura, uma sada do mundo e uma supra ordem chamada Deus. A constituio da Religio Pessoal a sada para todos que j se beneficiaram e se conscientizaram da religio formal e esto em busca do Si-Mesmo e de Deus, sem as exigncias externas e as obrigaes infantis.
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Religies em pequenas sociedades


m todas as sociedades primitivas, as hierofanias estiveram presentes. Hierofanias so manifestaes do sagrado, tais como canibalismo, holocaustos (queima total do animal de sacrifcio), totemismo, danas ritualsticas, reunies circulares em torno do fogo, vestes ornamentais ligadas ao sagrado, altares, ritos de iniciao ao sagrado, amuletos, pores miraculosas, objetos numinosos, livros sagrados etc.. Isso corrobora a idia de uma tendncia psquica coletiva em contraste com a afirmao de uma escolha pessoal. Todas essas manifestaes representam aspectos psquicos que carecem de desenvolvimento adequado, visando o autoconhecimento, isto , o encontro com o Si-Mesmo. O homem primitivo no dava nome s coisas. Simplesmente via imagens que lhe suscitavam emoes. No havia materialismo nem espiritualismo. Suas imagens, sensaes e emoes eram os principais ingredientes para a formao de idias. Suas manifestaes religiosas eram expresses puras do inconsciente. A ignorncia em face da realidade, completamente desconhecida da razo incipiente, fez surgir a simbolizao e a gerao de rituais, fazendo face tenso gerada. A religio atende a ne98

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cessidade do ser humano de apreenso do significado das coisas, da vida e de si mesmo. A ignorncia a respeito da morte e da finitude da vida no corpo contribuiu para o surgimento da religiosidade humana. Talvez tenha sido a conscincia da morte que contribuiu decisivamente para a instalao da funo religiosa na psiqu. difcil aceitar que as sociedades primitivas, sem uma estrutura social organizada, sem uma ordem bem definida, possam ter dado, por escolha consciente, origem religio. Isso fortalece a idia de uma psiqu religiosa inconsciente ou em de Deus que d origem religio. Como exemplo de religio de pequenas sociedades tem-se o Xamanismo, um tipo de religio tribal, caracterizada pela cura dos males fsicos e espirituais e pelo respeito Natureza. Era professada pelo Xam (No Brasil, Paj), que tinha o poder de se comunicar com os mortos e com as divindades da Natureza. Em seus rituais utilizava ervas, danas, cnticos, transes medinicos, bem como amuletos e trajes especficos que simbolizavam seu domnio sobre os mistrios da vida. O poder divino era atribudo ao indivduo iniciado no conhecimento mstico e na arte de cura. Ele era a garantia da segurana contra a fria e a insatisfao dos deuses e da Natureza. Tal instabilidade atribuda aos deuses e Natureza nada mais era do que fenmenos psquicos ainda inconscientes e sem controle do ego. O xam (profeta, curandeiro, advinho, sacerdote, bruxo) era algum ligado ao espiritual, a poderes sobrenaturais, com sonhos significativos para o destino do grupo, com poderes sobre a morte, com magia, com orculos, psicopompos etc.. Os xams so a ponte de comunicao entre os deuses e os homens, entre os espritos e as
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pessoas, entre o ser humano e seus ancestrais. Desempenhavam um papel extremamente relevante em momentos de crise e de ameaa coletiva. Quando algum adoecia, eram chamados para afastar o mal da pessoa ou da tribo. Em geral, usavam o mal, ou o bem para combater o mal. Geralmente eram do sexo masculino. Suas roupas e mscaras eram representaes dos espritos ou das foras que os guiavam nos rituais. Aqueles indivduos tomavam o lugar da imagem arquetpica do Self para garantia da ordem coletiva. Sua existncia se impunha cultura e ao poder do chefe. Determinavam a necessidade, ou no, do sacrifcio pessoal e coletivo em favor da continuidade da sociedade. Sacrificavam animais, o prprio corpo ou os prazeres possveis em favor de alguma divindade, para obter vantagem pessoal ou coletiva. O sacrifcio era a soluo para a transgresso ou a quebra de tabu. Algumas culturas praticavam o canibalismo para receber os poderes do morto. As religies tribais tm grande nmero de rituais e poucos escritos sobre seus princpios. So mais prticas e vivenciais do que tericas. Em sua maioria, seus praticantes acreditavam que os espritos controlavam a realidade e que deveriam lhes obedecer ou agradar. Os animais estavam ou esto presentes nos rituais e crenas primitivas por serem representaes de aspectos psquicos instintivos. O totemismo era outra forma de tentar materializar e controlar a manifestao da divindade. Cultuavam o sol, o fogo, animais sagrados, espritos diversos etc.. Os espritos eram considerados seres que habitavam um reino celestial, indiferentes aos humanos e possuam fora. As religies tribais davam explicaes cosmognicas (mito da criao) baseadas na prpria natureza, apro100

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ximando-se muito do mito, sem base lgica. Em geral, a crena firme na vida aps a morte era comum, sem as exigncias de provas ou manifestaes explcitas. Nelas, h uma aproximao maior com o mediunismo natural. So manifestaes da religiosidade natural que envolviam a vida e a manuteno da comunidade. Seus ritos, em geral, eram ligados fertilidade. As religies tribais apresentam manifestaes da psiqu primitiva, movida pelo desejo inconsciente de conexo com o divino e o transcendente, transferido para a Natureza. No so fenmenos individuais ou promovidos simplesmente pela cultura, mas ocorrncias geradas pelo automatismo psquico, que surgem a partir da nsia do esprito imortal em encontrar sua mais ntima essncia e de manter contato com seu Criador e fonte de vida. s vezes, por conta do vis racional, dito cientfico, as prticas das religies tribais so vistas como fruto da ignorncia do homem primitivo em face de um mundo novo e complexo para ele. No h diferena na intencionalidade do cristo de hoje quando faz o sinal da cruz e do paj tribal em suas danas, pois ambos desejam manter contato com as foras superiores do Universo. Por acaso, os acontecimentos que culminaram no ataque s torres gmeas, no corao da cidade de New York, nos Estados Unidos, no atestam a ingenuidade do ser humano em acreditar em tais meios para alcanar fins nem sempre coerentes com a cincia? O ser humano de hoje, em certos casos, to ou mais primitivo quanto o foi no passado. Nas crenas primitivas a religio diria, vivida como um pensamento coletivo. Sua tradio oral, seus ritos so musicais e apresentam diferentes formas de poderes espirituais. So frgeis em doutrinas e na especula101

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o filosfica. As pessoas se sentem vivendo um nico mito, contribuindo para a integridade do Universo em que acreditam. No h uma Religio Pessoal nem tampouco uma conscincia do eu definida fora dos limites do coletivo. Cada um til na manuteno de cada um dos outros. Nas sociedades primitivas, como em algumas sociedades teocrticas de hoje, a cultura a prpria religiosidade. As experincias dos indivduos se do no seio da religio. No h cultura fora da religio nem possibilidade de compreenso do mundo fora de seus limites. A religio submete o indivduo Natureza para que, no contato com ela, se estruture, reconhecendo e desenvolvendo sua prpria fora. A diversidade de religies primitivas, mesmo quando em comunidades prximas umas das outras, reflete a complexidade, no s da psiqu como tambm da prpria divindade. Psiqu e Divindade apresentam seu aspecto plural na diversidade religiosa. Enxergar, procurando compreender os diversos ritos religiosos como manifestaes da divindade contribui para entend-la. Da mesma forma que as religies tribais, pela sua grande diversidade e por conta de caractersticas culturais especficas de cada regio, representam a pluralidade da psiqu humana, a miscigenao e o sincretismo religioso, principalmente entre dominados e dominadores, refletem o carter flexvel de sua face religiosa, que permite o surgimento de reinterpretaes do sagrado. A divindade se revela sutilmente nas manifestaes religiosas da psiqu.

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Horizonte espiritual
psiqu humana naturalmente constri horizontes, nos quais projetam suas aspiraes futuras de gozo, de fruio ou de habitao (estado mental). Quando, por exemplo, algum decide fazer uma viagem a algum lugar, imagina antecipadamente o local, alm de se preocupar onde e como vai repousar. Assim, projeta tudo que lhe acontecer a cada minuto, na expectativa inconsciente, ou consciente, que assim acontea. Da mesma forma, no que diz respeito vida aps a morte, isto , ao futuro humano, a vida alm-tmulo tambm imaginada. As religies oferecem possibilidades, consideradas reais, subsidiando a imaginao de seus fis. Muitas vezes, aquelas possibilidades se tornam o nico horizonte possvel mente pouco acostumada a reflexes profundas. No campo do Espiritismo, essas possibilidades recebem o contributo de inmeras mensagens psicografadas, bem como de livros de autores encarnados, alm de consistentes experincias cientficas levadas a efeito em diversos pases e oferecem horizontes espirituais modelados pelas perspectivas psiquicamente idealizadas pelos praticantes. O horizonte apresentado conhecido como Mundo Espiritual ou Espiritualidade, e seus habitantes vivem em um estado que Allan Kardec chamou de erraticidade.
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O Mundo Espiritual apresentado (ou formado pelo imaginrio da maioria dos espritas) se mostra, de certa maneira, estereotipado por situaes, paisagens, linguagem e personagens convencionais. Esteretipos que geralmente no saem da dialtica do bem e do mal, do feliz e do infeliz, do luminoso ou obscurecido, do evanglico ou distanciado dos valores cristos etc.. Aquilo que, de fato, pertencente quele mundo no descrito e, quando se tenta faz-lo, surge o problema da linguagem, que dificulta a compreenso. Parece haver uma comunidade de espritos espritas que contracenam com infelizes e doentes, como se aquele mundo espiritual fosse to somente constitudo de mentores, guias, mdicos, benfeitores etc. e de doentes abrigados sob a proteo de instituies por aqueles dirigidas. A imagem construda no brota do nada. Ela surge da existncia real de projetos de nobres espritos que se interessaram por reduzira misria humana, moral e intelectual, melhorando a sociedade. Esse horizonte, porm, necessita ser ampliado. A complexidade do Universo alm da matria inimaginvel, no s mente humana encarnada como tambm ao esprito, encarnado ou no, no estgio atual de sua evoluo. No mundo espiritual existem complexas habitaes, uma grande diversidade de relaes, mltiplas possibilidades de aparncia, num universo amplo e ilimitado, disponvel concepo do imaginrio humano. Ampliar horizontes espirituais permitir o surgimento de conscincias mais livres e capacitadas ao exerccio de sua individualidade. A mente livre permitir o exerccio do amor em plenitude. Assim, o horizonte esprita tornar-se- a dimenso do ser humano novo, livre e criativo para a realizao efetiva do plano de Deus para
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ele constitudo. Paisagens, idias, conceitos e imagens construdas com o auxilio da literatura esprita devem ser consideradas to somente pontos de apoio, no mais do que ncoras psquicas iniciais. Plasmar na prpria mente um horizonte novo, construdo pelos ideais de beleza, leveza, liberdade, arte e amor tarefa de todos ns, sobretudo daqueles que se propem a conduzir almas, enquanto aprimora a prpria. Aprision-las em horizontes pequenos em que prepondera o maniquesmo crime de lesa liberdade. Com isso no quero parecer um iconoclasta vulgar, mas algum que deseja ampliar a percepo humana a respeito da vida espiritual. Considerando a complexidade da vida na matria e compreendendo a fora sutil com que a divindade se pe ante o humano, busco uma maior visibilidade da vida no Alm. Impossvel dissociar religio de vida espiritual e de mediunidade. A mediunidade a faculdade humana que permite a comunicao com espritos desencarnados. Seu surgimento pertence aos primrdios da constituio psquica humana. Via de regra, as religies se desenvolveram em meio a fatos medinicos considerados sobrenaturais, cujos protagonistas foram tidos como deuses ou possudos por eles. O horizonte espiritual, por mais que se imagine algo utpico ou surreal, ser muito mais complexo e exuberante do que jamais se sonhou. O que plasmou a Natureza com toda a sua diversidade, utilizando-se de uma criatividade superlativa, no reserva ao humano algo que ele prprio poderia ter concebido ou mesmo ter construdo. Enquanto o ser humano permanecer submetido ao dogma, tendncia arquetpica que o aprisiona no coletivo, vai querer um cu maravilhoso, destinando, aos que a
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ele no se assemelham, o inferno dantesco que ele prprio tenta lhes esconder. Seus horizontes espirituais devem ser outros, diferentes do primitivo, que se via aps a morte como um forte guerreiro lutando contra as feras monstruosas que, sem ele saber, habitavam em seu inconsciente. Todos so seres criados pela luz e para ela se dirigem.

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Religio busca pelo Si-Mesmo.


palavra religio aplicada para diferentes experincias de f, de culto, de ritual, de numinosidade e de relao com o sagrado. Seu sentido est de fato ligado ao sagrado, isto , quilo que transcende conscincia, quilo que retira o ego do controle racional. Sua vivncia tem representado a busca do ser humano pelo que lhe considerado a finalidade e o sentido da vida. No ato religioso, a imaginao do ser humano tem estado a servio de conexes com divindades e com sentimentos de transcendncia. E a sua conscincia, em relativo estado alterado, vibrando numa freqncia diferente da habitual, tenta se conectar a algo que lhe retire do foco pessoal para alcanar limiares superiores, onde supe encontrar algo que lhe propicie elevao, poder e felicidade. O movimento da conscincia na direo do culto externo, quando exclusivamente feito para o encontro com algo fora da realidade possvel ao humano, se d na direo contrria busca por uma compreenso da prpria natureza e identidade essencial. Quanto mais o ser humano busca a divindade exterior ou o que parece estar prximo dela, mais se afasta da sua natureza essencial. O movimento de busca deve ser na direo do Si-Mesmo,
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isto , da individualidade para o encontro com a divindade. O ser humano se conhece muito pouco e isso o leva a querer preencher o vazio da ignorncia pela qualificao superlativa de uma divindade. Esse desvio de si mesmo para o deus que ele concebe atrasa sua evoluo, bem como seu verdadeiro encontro consigo mesmo e com Deus. Mesmo fazendo de diferentes maneiras, as religies se esforam para consolidar elementos morais na vida humana. As religies tm favorecido o melhoramento da sociedade, seja validando antigos e importantes valores, seja propiciando o surgimento de uma tica superior para a vida humana. Caminha-se para uma tica global, assumida pelas naes, por todas as religies e filosofias, graas conscincia cada vez maior da unidade da espcie humana. H uma crescente percepo coletiva de que todos fazem parte de uma mesma famlia de espritos, submetidos a idnticos processos evolutivos, e de que esto num mesmo plano de realizaes. A busca pelo Deus externo tem fomentado uma certa identificao coletiva inconsciente. Mesmo considerando que as religies apresentam diferentes propostas e que nem sempre propem o mesmo fim para o indivduo, elas se tornam responsveis pela possibilidade de manifestao do arqutipo religioso. Por esse motivo, se prestam mesma finalidade na vida humana. No propsito de levar o ser humano sua mxima realizao, as religies se perpetuam afirmando princpios envolvidos por antigos mistrios. Muitas vezes, esses princpios so afirmados em encclicas, ditos, livros sacralizados, congressos e encontros de lderes, porm, na prtica, no costumam alcanar a grande maioria de adeptos que vive cotidianamente a religio. No dia-a-dia
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da pregao religiosa, costuma-se ser mais tolerante com vistas a uma difuso mais rpida e uma maior cooptao de adeptos. Uma religio tolerante e mais prxima dos costumes sociais se difunde mais rapidamente, contribuindo para um maior nmero de seguidores. Decises distanciadas da vivncia comum das pessoas contribuem para uma menor possibilidade do ser humano alcanar sua mxima essncia. Quando o ser humano se encontra no limite de sua misria e de suas condies de subsistncia, num estado de inferioridade, costuma aceitar propostas religiosas que magicamente o tirem daquelas situaes. As converses religiosas costumam ocorrer em situaes limtrofes entre o bem e o mal, entre o certo e o errado, quando as foras esto nas ltimas. Isso justifica um elevado nmero de adeptos em religies extremamente castradoras, que obrigam a aceitao cega de princpios, o que dificulta a percepo do Si-Mesmo. Toda religio tem um ou mais princpios afirmativos, como se fosse dogma. Tais dogmas esto relacionados com a psiqu humana e seus processos. Em ltima anlise, esto referenciados com o Si-Mesmo. Quando so cuidadosa e profundamente analisados, so percebidos como smbolos que representam os mistrios a respeito da natureza espiritual do ser humano. Sua decodificao tem sido tentada, por longos anos, por estudiosos das cincias e por msticos de vrias ordens religiosas, sem sucesso. Uma maior aproximao com o Si-Mesmo levar o ser humano compreenso melhor do significado daqueles smbolos. A existncia de um grande nmero de religies resultante da infncia da humanidade no que diz respeito ao conhecimento da natureza essencial humana e a res109

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peito de Deus. A unio das religies acontecer com o preenchimento de experincias na psiqu de cada ser humano que o levem ao encontro com o Si-Mesmo, o que exigir um trato maior com o espiritual, com a mediunidade e com a reencarnao. Viver experincias ligadas a questes relacionadas a esses temas capacita o esprito ao entendimento maior de si mesmo. Quanto mais o ser humano penetrar no mistrio que envolve sua prpria essncia, na percepo precisa de sua individualidade, na compreenso de sua natureza essencial, mais prximo ele chegar ao encontro do significado de Deus. A Psicologia, com seus estudos a respeito da psiqu, oferecer novos subsdios religio para que o ser humano alcance melhor aquele intento. A Religio Pessoal tambm dever levar o indivduo ao estado psquico de receptividade e de conexo com o sagrado. Sua construo, dentro ou fora da religio formal, ser um grande passo para o processo evolutivo do esprito imortal.

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Eros e Religio Pessoal


onstruo minha Religio Pessoal por fora do desejo ntimo de encontrar-me, de compreender-me e de me sentir com o outro. Tenho a coragem de estabelecer os novos limites minha prpria mente, antes acrisolada pelo temor de um deus opressivo. Arrisco-me em reconstrula por ver-me desejoso de ir mais alm de mim mesmo, de alar vo na direo do que no compreendo e que sei ser necessrio ultrapassar. Minha deciso fundamentada num convite interno do Criador da Vida, que me d a certeza de que se trata da conquista de um novo patamar na minha existncia. No temo me perder. Nada a perder nem temer, pois o interesse em me conhecer e, em seguida, revelar aquele que me gerou, mtuo. Se devo me tornar perfeito, ser feliz, encontrar-me, realizar-me, ou qualquer que seja a finalidade para a qual fui criado, para a glria daquele que me fez. Portanto, nesse sentido, Deus e Criatura esto no mesmo propsito. S os tmidos no se arriscam, protegendo-se demasiadamente do viver, escudando-se por detrs de um deus que substitui sua segurana. S os fracos no se exigem mais do que a cultura e a religio formal oferecem em matria de desenvolvimento e crescimento espiritual. A Religio Pessoal o oceano onde desaguam os rios que representam as religies formais. Alcanar uma
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Religio Pessoal a decorrncia principal de uma profunda vivncia, coerente e determinada, nas fileiras de uma religio formal. Todo crente sincero, consciente da magnitude de sua prpria existncia, sabe que deve prosseguir na busca de algo acima dos muros da religio que lhe obriga a limitar-se, sob pena de ser anatematizado. Uma religio cujo Deus obriga seus adeptos a temlo, a ador-lo e a observar princpios que lhes neguem a prpria vida humana em favor dele prprio no os levar alm da prpria sobrevivncia, semelhana de um ncleo feudal medieval, h muito ultrapassado, que cria fortalezas para indivduos cada vez mais medrosos. Uma religio cujo profeta, missionrio, pastor ou sacerdote, humano como qualquer criatura, transforma-se em mito a ser adorado, tal qual o prprio Deus que idolatra, no elevar seu adepto para alm da condio servil em que vive. Uma religio cujo templo restringe seu uso queles que se condicionaram aos rituais e atitudes que enrijecem a mente humana no levar um s crente ao encontro com a essncia da vida. Uma religio cuja histria contemple demasiadamente o passado, justificando exclusivamente neste o futuro, excluindo qualquer possibilidade de reflexo e contextualizao no avanar no equacionamento dos enigmas do Universo. Uma religio cuja fonte de saber tenha se cristalizado em palavras e smbolos, sem a possibilidade de penetrar nos significados profundos que eles representam, no oportunizar que se alcance a sabedoria universal. Uma religio que se utilize de seus postulados para fomentar a discrdia e o desamor, tornando-se instrumento do poder, no proporcionar a igualdade e a fraternidade entre as criaturas. Uma religio cujo adepto seja conduzido ao individualismo, sem a mnima percepo da condio de ser coletivo, espiritualizado e
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de estar inserido no meio em que vive, torna-se apenas um movimento intelectual e egocntrico. Uma religio que exclua as demais como caminhos para o encontro com a finalidade da vida no poder construir a paz entre as naes. Quando as religies propem rejeitar o mundo, excluindo o necessrio contato com a realidade, se opem ao processo de evoluo humana. Nesse sentido, a religio formal contraditria, dogmtica e negativista. A cincia toma o lugar da religio na medida em que esta no apresenta referenciais no mundo para a realizao do indivduo; tenta mostr-los fora dele. Por outro lado, a obstinao dos que se arvoram em detentores do saber, negando a experincia mstica como porta de acesso ao conhecimento, leva o ser humano ao emburrecimento. A religio sobrevive graas ao eros humano, isto , ao desejo e nsia pelo encontro real com o divino. Sem o intenso desejo de se conectar ao divino, a religio no sobrevive. Dialeticamente, o eros tem se aplicado ao mundo ou se dedicado a Deus. Em ambas as direes, seja pelo pecado ou pela devoo, eros sustenta a necessidade de amplitude. Esse desejo, que pode ser dirigido s duas dimenses, deve se voltar para a construo da Religio Pessoal. Na dimenso religiosa, eros voltado exclusivamente para a religio formal mantm o ser humano na inconscincia. Quanto mais o ser humano inconsciente de si mesmo, mais sua religio apresentar elementos dogmticos, cuja compreenso permanecer inacessvel. A presena de eros em seu psiquismo se deve sua condio de filho da Natureza. O ser humano no gerado dissociado da Natureza. Ela me dos corpos e dos instintos. Eros pertence prpria essncia do ser humano.
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O ser humano vem descobrindo que a Natureza um ente vivo que segue leis prprias, o que o destitui do lugar de poder sobre ela. Dar nomes aos fenmenos naturais mera forma de burlar essa verdade. O culto Natureza deve se transformar em respeito. Aprender com ela o melhor caminho. E a Natureza, mesmo que venha a ser dominada pela inteligncia humana, revela aspectos obscuros em seu funcionamento. Assim tambm se d com a psiqu, cujo funcionamento escapa compreenso da lgica humana. A religio no poder dispensar gratuitamente o poder de eros, sob pena de excluir a prpria divindade. A maioria dos problemas ecolgicos mundiais apontam para um agente nico o prprio ser humano. No se pode mais acusar foras ocultas, inconscientes, deuses mitolgicos, Deus ou o demnio. A culpa foi materializada, e ela chama a conscincia humana para uma soluo. No mais o mal o responsvel, mas a prpria liberdade de escolha, a razo humana. A religio no pode separar a Natureza do esprito. Causas ecolgicas so tambm causas religiosas. A Religio Pessoal, diferentemente da religio formal, inclui o respeito Natureza e a preocupao com o meio ambiente como parte de seu cdigo de princpios. A religio promovida por eros em complementao ao logos mais do que uma proposta de cura para a alma. Considerar que religio apenas a recuperao de algo perdido ou corrompido tentativa de retorno infncia. A religio deveria ser considerada como a possibilidade de se tornar o fator catalisador da alma, para que ela se torne alm do que ela . Uma entrega religiosa dominando a psiqu promove a sensao de que algo est escapando de ser vivido. A vida fica incompleta.
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A religio parece querer tirar o ser humano da Terra. Isso apenas um convite para que ele observe as estrelas. Esse convite no poder retir-lo da Terra, na qual ele foi gerado. Em suas entranhas pulsa o corao do Criador de todas as coisas. Sem eros, o logos vazio. Sem logos, eros apenas paixo. O Self ama o mundo, envolvido pela energia de eros, mas o ego se depara com a dura realidade dele, analisada pelo logos. A Religio Pessoal conduz construo de uma conscincia aberta, livre e flexvel ao que vier. O que de fato vier a acontecer com ela ser fruto de sua prpria criatividade, conduzida por eros. Uma proposta racional no suficiente para despertar a psiqu religiosa, conduzindo-a percepo do divino. S uma idia permeada por eros, ou um sentimento prximo ao Self, poder despertar a psiqu religiosa. Numa das muitas genealogias de Eros, deus do amor, ele filho de Nix (noite). Nix ps um ovo, cujas metades partidas deram origem a Urano e Gia (Cu e Terra). Eros o elemento conectivo dessas duas metades, fora coesiva do Universo. Eros o convite para que a religio siga o caminho do amor, pois ele que conecta o ser humano ao outro, a Deus e a si prprio.

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O que Religio Pessoal


eligio Pessoal a religio construda pela prpria pessoa a partir dos paradigmas de sua religio de origem ou de suas experincias relacionadas ao sagrado. Deve ser gradativamente construda ao longo da vida do indivduo, aps reflexes sobre si mesmo, quando em seus embates com o sagrado e pelas experincias numinosas que vive. No uma religio coletiva nem tampouco se ope s religies tradicionais. fruto de uma certa insatisfao interna, e surge da tentativa de preencher lacunas deixadas pelo simbolismo pouco esclarecedor da religio de bero. Pode tambm ser construda na ausncia de uma educao religiosa formal. A Religio Pessoal pode receber contribuio dos paradigmas de todas as religies, at mesmo da Religio Pessoal de outros indivduos. Sua vivncia proporciona um estado de equilbrio interno, que se reflete no externo, em face da eliminao das tenses entre a conscincia e o inconsciente no que diz respeito s necessidades de expresso do arqutipo religioso. Nela no cabem culpas morais, deus punitivo, obrigaes redentoras, penitncias aflitivas, atitudes sacerdotais, disputas religiosas, comparaes com as crenas alheias nem necessidade de afirmao nesse campo. Na Religio Pessoal, h sim, autenticidade do indivduo consigo mesmo, comprometimento para com seu desenvolvimento espiritual e cumplicidade com o crescimento do outro.
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Sua vivncia admite a assuno de qualquer outra religio ou mesmo de nenhuma delas, pois nasce das necessidades interiores do prprio indivduo visando atender-lhe anseios ntimos. No caso de se assumir outra religio alm da pessoal, isso se d de forma consciente, sem sectarismo nem fundamentalismo. Portanto, assumir uma religio ou professar a prpria no exigir um embate teolgico externo, mas uma procura por algo que asserene a prpria alma na direo do equilbrio psquico e do desenvolvimento da personalidade integral. Um dos princpios capazes de auxiliar na construo de uma Religio Pessoal a no-subservincia ao conceito de um deus todo poderoso, entronizado pela maioria das religies, o que no significa a negao daquele poder, mas apenas a iniciativa de se libertar do jugo de uma priso psquica de difcil sada. Um deus todo poderoso implica numa criatura insignificante, que nada pode fazer. A mudana desse paradigma significa tambm a gradativa compreenso de que esse poder se realiza atravs do humano. Tal compreenso dever levar a pessoa percepo de seu prprio poder na realizao de sua vida e na construo de seu destino. Na prtica, uma gradual transferncia do poder externo para a conscincia do poder interno. Para construir a Religio Pessoal necessrio entender que se trata de uma empreitada difcil e laboriosa. Exigir sacrifcios, mas sem sofrimentos e renncias exageradas. H que se mexer com a prpria mente, na prpria forma de pensar, isto , com princpios cuidadosamente plantados, que garantem a estabilidade da conscincia. Princpios religiosos sempre serviram para o equilbrio psquico nos momentos de insegurana. H que se alcanar estruturas psquicas, at ento consideradas se117

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guras. preciso reconhecer que as matrizes psquicas existentes consolidaram uma forma de entender a religio como instrumento de levar a pessoa ao medo, crena no sofrimento como meio de elevao, a crer no sobrenatural, ao sentimento de inferioridade pessoal diante da vida, ao no reconhecimento de sua capacidade, ao medo da morte etc.. Incluem-se nessas matrizes a forma de troca de favores ao lidar com a divindade, a espera de milagres e a distoro da vida futura. H que se desconstruir as antigas matrizes psquicas forjadas pela religio coletiva. H que se abandonar uma certa segurana proporcionada por elas, retirar o medo do desconhecido e do que vir, alm de se desmistificar a idia de um deus externo e julgador. Os componentes das matrizes psquicas so direcionadores da vida cotidiana, pois so forjadores da moral, das virtudes, dos excessos e das aspiraes pessoais. Nem todos devero ser modificados, mas tero de ser reavaliados de forma gradual e segura. Seu incio se d com uma ateno sria a um anseio interior de mudana, que aponta para algo profundo e importante para o indivduo. O vazio e a angstia, normalmente existentes na criatura humana, tero a devida ateno do ego, pois so representaes da vida real, interior e misteriosa, requisitando a considerao necessria. preciso coragem e cuidado para romper padres psquicos construdos ao longo de vrias encarnaes. A segurana construda, sutil ou conscientemente, muito forte para ser desfeita de forma simples e rpida. trabalho que exige tempo, determinao e construo de algo ainda mais consistente, que preencha a conscincia e fortalea a identidade do eu. No haver mais lugar para protees externas, mas para novas estruturas na perso118

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nalidade que favoream a existncia autnoma e que tragam realizao pessoal, alm de um significado existencial profundo. Esse algo pode ser a Religio Pessoal, que proporcionar autodeterminao ao esprito. As palavras religio e salvao, de tradio judaica, tm forte influncia no entendimento da busca humana pelo significado da vida o encontro com Deus, realizao espiritual, transcendncia, imortalidade etc.. No entanto, a palavra religio, usada na Religio Pessoal, ultrapassa o sentido aplicado originalmente pelo Judasmo. Por isso, no haver realizao de perfeio em uma encarnao nem necessidade de salvao de coisa alguma. As religies formais so formas provisrias e iniciais da Religio Pessoal. Religio Pessoal um Caminho Pessoal, ou, como diriam os orientais, um Tao Pessoal. a assuno da Conscincia Divina Pessoal. Religio Pessoal no se preocupar com a salvao, mas com o propsito do desejo da existncia. Isso porque o mundo espiritual apenas um mundo e no o mundo. Ele no negado, mas compreendido como uma passagem efmera de algo maior a livre expresso do esprito no Universo. Dois princpios precisam ficar bem claros na construo da Religio Pessoal: a continuidade do eu e a conectividade. So os dois pilares bsicos que fundamentam o pensar, o agir e o existir. O primeiro representa a imortalidade do esprito, e o segundo, a exigncia da evoluo no contato com outra pessoa. Em resumo, todos os seres humanos so imortais e ningum evolui sozinho. Continuidade do eu A constituio da Religio Pessoal parte do princpio da continuidade do eu em todos os pensamentos e
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atos. Isso significa que a pessoa deve ter em mente que, o que quer que acontea sua vida e ao seu corpo, tambm a morte fsica, seu eu continuar existindo tal qual hoje. No se trata apenas de acreditar na vida aps a morte, mas de se ter conscincia da continuidade de si mesmo, como pensa, sente e age. Uma continuidade um pouco diferente da idia da crena na imortalidade, que apenas oferece uma esperana de uma situao futura proporcional ao que o indivduo fez enquanto encarnado. A continuidade do eu significa a no existncia de um hiato avaliatrio entre a vida no corpo e a vida aps sua morte. Esse momento avaliatrio, que de fato pode existir para o prprio indivduo, ocorre principalmente para aqueles que psicologicamente o concebem. Estes, aps a morte, iro atravess-lo por acreditarem em sua realidade e por se inserirem em um sistema que o inclui. No se trata de um mundo virtual ou imaginrio, mas de uma sociedade dos que se incluem nesse sistema de crenas, e as crenas formam o arcabouo e o tecido sobre o qual a realidade se forja e acontece. O conceito de continuidade do eu deve se tornar um estado de esprito capaz de retirar a criao mental, pr-formada, de uma vida futura idealizada pelos paradigmas religiosos, mesmo que eles de fato sejam reais. Isso no quer dizer que as informaes que, porventura, sejam recebidas do Mundo Espiritual, pela mediunidade ou atravs dos sonhos, sejam incorretas. Porm, para certas pessoas, tais informaes podem induzir a uma vida material calcada na esperana de um futuro idealizado, afastando-as da construo de uma personalidade auto-determinada e transferindo para o Alm sua autntica existncia. A continuidade do eu a permanente responsabilidade pelos prprios atos, bem como a segurana de si
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mesmo em relao ao que vive e faz. uma espcie de destemor e firmeza de esprito para o enfrentamento dos desafios da vida. A preocupao com a vida futura deixa de existir na medida em que o esprito se sente seguro de si e responsvel pelo seu prprio destino. Aquele que vive consciente da continuidade do eu sabe que sua situao aps a morte ser mero prosseguimento de seu estado de conscincia e da conscincia do eu que tenha construdo. A continuidade do eu um fenmeno cotidiano. A assuno e manifestao do eu um fenmeno quase biolgico, tendo em vista seu automatismo. Por vezes, fruto de repeties constantes, o fenmeno pode se tornar de propriedade do eu. No ser surpresa aps a morte seu ressurgimento natural. A conscincia do eu brota inesperadamente na vida consciente, oriundo da vida inconsciente, que nunca cessa de acontecer. O movimento do eu entre a conscincia e o inconsciente se assemelha ao pendular. O eu oscila entre a conscincia e o inconsciente de forma intensa, automtica, clere e constante. A idia de um eu esttico contribui para a no percepo de seu dinamismo e de sua impermanncia. A Religio Pessoal admite esse movimento pendular como base para uma busca constante pela assertividade na vida, considerando tambm seu aspecto inconsciente. O movimento pendular do eu gera um campo natural de atrao que proporciona ao eu a capacidade de aglutinar e associar contedos, alm de lhe conferir a competncia de estabelecer sintonia com o Si-Mesmo. O campo formado lhe confere a funo de ser o centro aglutinador da conscincia, de acessar simultaneamente o inconsciente e de ser a identidade representativa do esprito. A Religio Pessoal , portanto, uma auto-conscincia oriunda da certeza de que se um esprito gerado para
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se tornar autnomo, comprometido consigo mesmo e conectado ao Universo. No uma religio para templos, sacerdotes, paramentos, rituais, adoraes, amuletos, salvao ou libertao prometeica. compromisso com o uso do fogo sagrado, doao divina interior e singular, que se possui em si mesmo. Conectividade A continuidade do eu um dos princpios da vida que se deseja realizar e atribuir significado. Sua conscincia fundamental na constituio da Religio Pessoal. O outro princpio a possibilidade de conectividade. o que legitima a existncia, pois o outro ser sempre o referencial necessrio ao esprito para a realizao de experincias. O esprito sem o outro, mas no realiza sua existncia sem o contato com ele. A conectividade o princpio da relao com o outro. Toda realizao humana parece conter a necessidade de um certo compartilhamento, com algum, daquilo que se faz. Mesmo aqueles que gostam de realizar suas experincias de vida sozinhos, esto, consciente ou inconscientemente, esperando ser observados e avaliados. Como a conscincia do ser humano dual, um outro sempre presente como um interlocutor, numa espcie de relao virtual com um alter ego. Todos os sentimentos humanos, que antes eram emoes instintivas, nascem da capacidade inata no ser humano de estabelecer conectividade. Numa dimenso mais profunda, a conectividade promove a capacidade, que o ser humano possui, de amar. S ama quem se conecta ao outro. As experincias humanas que contenham, em sua base, o desejo de conexo com algum, ou que se realizem objetivando a conectividade, so geradoras de
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crescimento e desenvolvimento ao esprito. A conectividade o desejo permanente de, no contato com o outro, o ser humano encontrar-se consigo mesmo. No possvel evoluir sem se conectar. O princpio da conectividade significa a necessidade da relao afetiva com algum. Realizar trocas afetivas nutre o esprito de motivao e entusiasmo. A afetividade a atualizao do instinto do prazer numa dimenso que ultrapassa os limites da emoo, alcanando a sensibilidade do esprito. O excesso de racionalidade priva o ser humano do desenvolvimento de sua conectividade. Encontrar respostas lgicas, oriundas de conexes racionais e simplistas referentes complexidade da vida, pode distanciar o ser humano de sua sensibilidade e capacidade conectiva. Na mitologia grega, numa das genealogias dos deuses, o sentido correspondente conectividade encontrado em Eros, filho de Afrodite e Ares. Ele o princpio unificador e coordenador dos elementos. Afrodite a deusa do desejo, do amor e do prazer sensual e Ares o deus da guerra, cuja caracterstica principal era a agressividade e violncia. Pois bem, Eros filho desse casamento de foras bastante antagnicas, razo pela qual pode-se suspeitar que a unio entre duas pessoas contm um misto de repulso e, simultaneamente, de atrao. No h unio sem o desafio da possibilidade de rejeio pelo outro e de rejeio ao outro. A conectividade uma das necessidades humanas para a evoluo do esprito. Graas a ela combate-se a solido e o isolamento afetivo. Os dois princpios, continuidade do eu e conectividade, impulsionam o esprito para a realizao do significado de sua existncia, bem como para o encontro do sentido da vida. So duas alavancas psquicas que justificam
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a individualidade humana. Todos so impulsionados por esses dois princpios que nunca cessam de existir. A conscincia deve mover-se a partir desses dois princpios. Uma vez que se tome conscincia deles, no se conceber a vida como uma puerilidade ou como uma simples manifestao gentica. Eles correspondem aos arqutipos do Si-Mesmo e da nima/nimus.4 preciso alcanar-se a conscientizao da imortalidade do Si-Mesmo e da mortalidade do ego para se iniciar a construo da Religio Pessoal. Essa mortalidade corresponde conscincia da impermanncia das coisas, pois nada ser como antes nem o momento futuro ser vivido como foi idealizado. Sentir-se imortal e conectado no temer a morte do corpo nem a perda da alma. A Religio Pessoal permite a resoluo do enigma do abismo porventura existente entre a criatura e o Criador, sem inverter os papis. A conectividade com o outro se torna possvel pela conscincia da inquebrantvel ligao existente entre Criador e criatura. Uma pergunta pode surgir: A que ficariam entregues aqueles que precisam de consolo ao assumirem sua Religio Pessoal? O consolo para eles vir da conscincia dessa forte ligao Criador-criatura , bem como da certeza da continuidade do eu. A Religio Pessoal tem como objetivos: promover a autocompreenso e a autodeterminao da pessoa, tornando-a consciente da propriedade de si mesma; fazer o ser humano alcanar a mxima compreenso do funcionamento do Universo e sua responsabilidade neste;
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Optei por acentuar as palavras nima, nimus e psiqu em funo da pronncia que normalmente se utiliza. Conservei a grafia original nas transcries.

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levar o ser humano ao estado de felicidade permanente, sem esquecimento de sua participao na realizao do outro; atualizar o arqutipo da psiqu religiosa, arqutipo da Imago Dei, para o encontro com o Si-Mesmo; tornar o ser humano o principal agente de transformao e desenvolvimento da sociedade em que vive; levar o ser humano a compreender o sentido e o significado da vida e da razo ltima de sua existncia pessoal. A esses objetivos se juntam aqueles que sero descobertos no decorrer da construo da Religio Pessoal, bem como aps sua definitiva instalao.

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Religio formal e Religio Pessoal


a religio formal, adota-se, por tradio e continuidade, os valores familiares. Em relao aos valores religiosos, os filhos os herdam geneticamente dos pais, recebem pela educao por eles transmitida, sofrem as influncias do meio social, so contaminados pelo zeitgeist, alm de construrem seus prprios conceitos sobre religio. Mesmo que no o queiram, possuem uma religiosidade por assimilao inconsciente. Aqueles que, porventura, dizem no ter uma religio, no esto se referindo a esse contedo, que representa um rudimento de sua religio formal. A adoo dessa religio imposta por herana e pela convivncia. A Religio Pessoal no adotada, mas construda. Na Religio Pessoal, no se toma emprestada uma crena, tampouco se se converte a ela. Sua construo decorre de um longo processo de maturao de convices a respeito do sagrado e do religioso, oriundas de experincias numinosas. A religio formal sofre forte influncia da sombra coletiva, pois impe sobre a conscincia o medo do pecado. Nela, todos so naturalmente pecadores. Demnios e entidades aversivas fazem parte do cenrio que compe o universo dialtico da religio formal. Ou se seguem os
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seus preceitos ou se se torna escravo deles. O bem e o mal so oferecidos como opo ao adepto. Sua escolha ser decisiva para seu destino. Ou o cu ou o inferno. Em geral, os adeptos das outras religies, que no a do prprio crente formal, estaro sumariamente no inferno. O contrrio ocorre com os adeptos da Religio Pessoal, que, alm de estimularem a adoo de uma crena, seja formal ou pessoal, consideram que todos os indivduos so livres para exercitar sua f. Na Religio Pessoal, bem e mal so conceitos relativos que representam dimenses psquicas relacionadas ao valor das aes. Esse valor diz respeito relao consigo mesmo e com a norma social. Na Religio Pessoal, no h temor do mal nem sano sumria ps-morte para a eventual ao considerada vinculada ao mal. As conseqncias dessa eventual ao se daro considerando-se inmeros fatores, entre eles, a necessidade de educao do indivduo. A conscincia da assuno da responsabilidade pelas aes, quaisquer que sejam, facilmente assimilvel na Religio Pessoal; portanto, no h temor do futuro ou do destino decorrente da vida atual. A sombra pessoal considerada inerente a todo ser humano, no sendo uma ofensa a Deus. Na Religio Pessoal, no h afirmao de punio, castigo ou sofrimento por qualquer ao considerada m. Isso no implica que o mal seja estimulado ou considerado um bem. A prpria conscincia do indivduo, cotejada pela norma social, ser importante para que ele assuma a responsabilidade por aprender como fazer o bem. As virtudes no so assimiladas por causa das sanes a serem aplicadas quando o indivduo se comporta contrariamente a elas, mas porque adquiri-las implica em capacitar-se para uma maior compreenso do Universo e das Leis de Deus.
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Alm do combate s imperfeies e da rejeio aos vcios, na Religio Pessoal prioritariamente se trabalha para integrar, personalidade, competncias adequadas evoluo do esprito, o que implica em no se ocupar tanto em apenas combater o mal, mas em compreend-lo como inerente ao sistema psquico constitutivo do humano. O mais importante viver experincias atualizadoras das tendncias humanas comuns, adquirindo capacidades psquicas para novos desafios que a Vida impe. Na Religio Pessoal, o indivduo deve gradativamente integrar sua sombra como parte de sua personalidade, gerada em suas relaes com a norma social. Portanto, no advm de sua relao com Deus. A Religio Pessoal no uma busca individual de salvao, mas de realizao do arqutipo que conduz ao encontro do Si-Mesmo. um processo maduro de percepo do Universo como campo de realizao do esprito imortal. No uma religio dominical nem adequao a um grupo referencial para insero na sociedade. Na Religio Pessoal no h necessidade de redeno, pois no h pecado a ser expiado. Redimir-se significa assumir as conseqncias da prpria ignorncia, que merece educao, no expiao. importante absorver a idia de que a necessidade de uma redeno implica inconscientemente em acatar uma culpa, o que induz ao pensamento de uma punio. Nesse aspecto, a religio no deve ser considerada mero veculo para a redeno das criaturas, mas, principalmente, a manifestao do arqutipo religioso. Tal manifestao naturalmente se dar, como tudo que tendncia humana, isto , a atitude religiosa conseqncia de uma instncia psquica a priori. No uma criao deliberada da conscincia, mas uma imposio da Vida que quer se tornar conscientemente
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conhecida. A aceitao de um Deus pronto e acabado, a que se deve obedecer sob pena de se perder a prpria existncia ou destitu-la de sentido, faz parte da entrada do adepto na religio formal. O Deus da religio formal admitido e o da Religio Pessoal deve ser sentido. Essa diferena implica uma relao mais madura com Deus e uma maior percepo do significado psicolgico de Deus.

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Princpios provisrios de uma Religio Pessoal


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s princpios que a seguir esboo foram extrados a partir de minhas experincias numinosas, vividas no contato com o Espiritismo, do conhecimento adquirido sobre a Psicologia Analtica e do estudo das diversas religies formais conhecidas. No so princpios rgidos nem coletivos. So balizadores de uma busca pessoal para o encontro comigo mesmo. Tendo sido til a mim, muito embora possam no ter ressonncia para outras pessoas, podem oferecer um caminho inicial. O primeiro diz respeito concepo de Deus, o segundo se refere a um modelo de ser humano a ser alcanado, o terceiro prope um lema de vida, o quarto oferece uma forma de insero do ser humano numa conexo ntima com o Universo e o ltimo aborda a utilidade da prpria Religio Pessoal. 1. Construo de uma idia pessoal de Deus, independentemente do que de fato seja e do que afirmado pelas religies. Uma concepo pessoal de Deus deve excluir a antropomorfizao de seus atributos em qualquer dimen5

Este tema um desdobramento do captulo As religies e a constituio da religio pessoal, do livro Mito Pessoal e Destino Humano , do autor.

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so. Inclui a idia de uma fora ou de uma vontade que permeia tudo, no individualizada ou redutvel a qualquer forma. Aquela fora se apresenta na exploso telrica descomunal de uma erupo vulcnica, na luta cruel e desigual do mais forte contra o mais fraco pela sobrevivncia entre as espcies animais na natureza, tanto quanto nas sutis expresses do amor entre seres humanos que permutam energias afetivas. Todas as percepes humanas vistas como polaridades nada mais so do que expresses da divindade que tudo inclui e que em tudo se impregna. Essa concepo, mesmo que provisria, implica na construo de uma relao com a divindade sem temor, sem subservincia, sem venerao, buscando a auto-conscincia de Deus. No sou Deus, tampouco ele est em mim ou fora de mim, mas tenho conscincia de que minhas concepes sobre Deus so representaes possveis ao meu nvel de compreenso da realidade do Universo. Num nvel bem concreto, correndo o risco de resvalar para uma antropomorfizao, a relao com Deus se assemelha que se pode ter com um amigo-conselheiro, guia luminoso a todo instante. Nessa relao no h espao para medo ou expectativa de avaliao da existncia. 2. Escolha de um modelo de personalidade que possa ser provisoriamente seguido enquanto no se alcana a percepo da prpria singularidade. A escolha do ser humano ideal pessoal, consciente de que se trata de um modelo para servir de projeo das qualidades que se deseja integrar a si mesmo. No se trata de adorao ou subservincia ao modelo escolhido. Tal modelo ser gradativamente abandonado medida que se percebe a existncia daquelas qualidades em si mesmo, o que implica em no se seguir ad eterno idola131

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trando uma figura humana do passado da histria da religio, pois se adquire a conscincia de que foram indivduos que serviram de referencial para a atualizao do arqutipo religioso. Isso no significa a desvalorizao ou desrespeito ao modelo escolhido, to til s pessoas, mas o reforo auto-conscincia de sua prpria individualidade. A adorao, que uma projeo do Self , gradativamente, com as experincias que so vividas, d lugar integrao do que era atribudo ao mito. No se trata de retirar as qualidades antes atribudas s figuras religiosas, caractersticas tpicas da formao de um mito, pois so patrimnio das religies que se criaram em torno delas. A finalidade da escolha de um modelo provisrio se deve dificuldade inicial de se perceber a prpria individualidade (Si-Mesmo). Enquanto no chega a ela conscientemente, projeta-se o ideal em uma personalidade adorada que reflita as melhores qualidades almejadas pelo prprio indivduo. 3. Constituio de um princpio impulsionador como um lema pessoal, norteador da prpria vida. Esse princpio uma espcie de mantra a ser lembrado quando surgirem dvidas, desafios, escolhas ou situaes difceis a serem enfrentadas. No se trata apenas de repetir internamente as palavras, mas de integrar o sentido delas prpria vida. O maior deles, penso eu, sou uma individualidade imortal, indestrutvel, gerada para alcanar a felicidade. Este o que uso na constituio de minha Religio Pessoal. No algo a se pr o tempo todo na conscincia, mas para os momentos em que se necessite de algum estmulo impulsionador para a continuidade do que se pretende alcanar. Dele podem se derivar
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uma srie de conceitos e dedues teis vida da pessoa. Com ele, aumenta-se a tolerncia, renovam-se propsitos, distanciando-se do que no adequado felicidade do indivduo. Cada palavra do enunciado tem uma fora especfica e aponta para dimenses distintas, tornando-se pertinente para vrias situaes. Explicando-me: sou (implica numa propriedade e estado de esprito permanente) uma individualidade (unidade e singularidade total) imortal (continuidade do eu), indestrutvel (eterno), gerada (concebido por Deus) para alcanar (sentido evolutivo) a felicidade (estado pleno de encontro consigo mesmo e de compreenso do sentido e do significado da Vida). Cada um deve constituir o seu lema, de acordo com a sua Religio Pessoal. 4. Conectar-se de forma constante e natural com o que o criou. Esse propsito diz respeito ao sentimento de pertencimento e conexo que devemos ter para com o que tudo permeia e que nos criou. No algo a ser feito de forma totalmente lgica, controlada ou consciente, pois nasce de um desejo, de uma inteno sutil de conexo interior com o impondervel e impulsionador da vida. Essa comunicao tem tambm o objetivo de pr a pessoa em estado de disponibilidade psquica para a divindade. uma espcie de orao permanente. A orao que o crente faz com o intuito de obter favores, d lugar a um estado de ligao permanente para tornar-se disponvel ao Criador. Orar vibrar no ritmo do Universo, sentindo Deus em si mesmo, na evocao da prpria criatividade. Tal conexo ou tentativa, conduz a uma sensao de leveza e participao em algo maior do que a prpria vida que se tem. Assemelha-se sensao de alegria e, simultaneamente, de xtase mstico experimentado nos momentos de profunda conexo com
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o Criador da Vida. Esse contato no retira a pessoa da conscincia nem a exclui da natural comunicao com os outros. Trata-se, portanto, de um estado natural e espontneo de ser e estar, vivendo sua mais real experincia. Possibilita a sensao de bem-estar e de se sentir em companhia de algo muito ntimo e forte. 5. Encontrar uma utilidade prtica para sua Religio Pessoal, tornando-a mais do que um estado interno, colocando-a a servio da sociedade. Religio Pessoal no devocional nem serve exclusivamente a si mesmo. H uma utilidade prtica para a religio, pois no serve apenas para a elevao da pessoa, mas tambm para que a vida social se torne melhor. O desenvolvimento da Religio Pessoal favorece o alcance da percepo da importncia de uma sociedade melhor, na qual o indivduo a representa e cuja atuao visa este objetivo. O outro, enquanto co-participante do mesmo meio, corresponde imagem de Deus que no cabe em mim mesmo. V-lo to bem como eu mesmo representa uma responsabilidade cotidiana e um desafio a ser vencido para a realizao pessoal. A incluso do outro decorre da percepo de sua individualidade e tambm da alma coletiva (Inconsciente Coletivo) que todos possuem. A Religio Pessoal deve estar a servio da pessoa no mundo, independentemente da necessidade de se transcender ao mundo. Ter uma participao ativa na manuteno dos valores e no desenvolvimento da sociedade faz parte da construo da Religio Pessoal. Religio Pessoal no introduz culpa, mas responsabilidade pessoal compartilhada com o Universo e com Deus. Eleva o ser humano condio de um ser consci134

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entemente portador de responsabilidade para com os destinos do Universo sua volta. Sua Religio Pessoal o levar para um novo patamar em sua evoluo, ampliando seus limites, aumentando sua capacidade criativa, elevando-o alm dos horizontes estabelecidos pelas religies formais e situando-o no lugar mais alto da Criao. Seguir os princpios provisrios de sua Religio Pessoal, substituindo-os gradativamente por paradigmas cada vez mais robustos, o caminho natural de todo crente ocupado com sua ascenso espiritual. A deciso de encarar a mudana de uma religio formal para a Religio Pessoal custar esforo e exigir coragem, pois ter de se enfrentar o temporrio sentimento de orfandade. Sem este, no se descobre a real paternidade do ser humano, pois ela se encontra ainda no terreno do mito de um Deus salvacionista e com potenciais atributos humanos. O propsito da constituio da Religio Pessoal no exclui o ser humano de seu necessrio convvio com a sociedade. A busca real a transcendncia para nveis cada vez mais quintessenciados, sem negar a capacidade de viver nos nveis inferiores. Aquele que constituiu sua Religio Pessoal adota alguns comportamentos como conseqncia da elaborao de seus princpios religiosos. Sua atitude religiosa inclui: pausas para meditao em meio a sua vida natural de trabalho e obrigaes sociais; busca pela simplicidade sem negao do moderno nem excluso do mnimo conforto material; auto-conscincia de Deus sem fanatismos ou religiosidade exterior; dessacralizao das coisas sem negao da religiosidade alheia nem do valor sagrado do que consideram como tal;
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dedicao ao prximo sem profissionalismo da caridade; realizao de servios voluntrios em benefcio da sociedade; ampliao de sua espiritualidade, buscando estudos mais profundos sobre a prpria mediunidade; exerccio da serenidade, sem passividade, nas diversas atitudes da vida cotidiana. So simples lembretes que ampliam a dimenso religiosa pessoal, favorecendo um melhor convvio social e uma maior possibilidade de realizao no coletivo.

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Caractersticas de quem adotou uma Religio Pessoal


Religio Pessoal um cido penetrante que destri a blindagem promovida pela continncia forjada psiqu com a complacncia da religio formal. Quem no estiver preparado para construir suas prprias estruturas psquicas de sustentao contra a fora avassaladora do inconsciente no deve adot-la. Essa adoo s deve ocorrer em um ego maduro e disposto ao risco do contato com a real fora da vida. A construo da Religio Pessoal, passada a fase de turbulncia, vazio e solido, permite um estado permanente de leveza, de segurana interna, de compreenso dinmica dos processos humanos e de constante conexo com o que permeia todas as coisas. Na Religio Pessoal, o indivduo no teme afirmar suas dvidas em matria de religio, pois a f, em qualquer grau, sempre a crena em algo inefvel, passvel de equvoco. Simultaneamente, a Religio Pessoal pode levar a pessoa a um profundo sentimento de pequenez diante da complexidade da vida e do Universo, como tambm conscincia, s vezes inflada, de que seu principal agente de transformao das coisas. Quanto a isso, necessrio o cuidado, tanto com a inflao do ego quanto com sua
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excessiva inferioridade. O desligamento das normas institudas pelas religies formais pode levar os mais apressados a enveredar pela anarquia de valores morais ou pela confuso sem princpios. Para a maioria, uma Religio Pessoal uma ameaa ao sistema religioso formalmente adotado, que lhe tem trazido harmonia, paz interior e salvao. Para outros, ainda que seja pessoal, poder lhe subtrair o que j conquistou. De fato, nesse sentido, ser uma ameaa muito sria. Digo que no possvel fugir disto porque, em algum dia, a prpria psiqu promover uma ruptura a fim de que o Si-Mesmo se revele. Nesse momento, o aparente caos tomar lugar ordem para que o senhor da prpria existncia, o Si-Mesmo, se instale definitivamente na conscincia, impondo um novo reino. A Religio Pessoal, pela leveza e ausncia de culpa que proporciona ao indivduo, favorece e facilita a conexo com a dimenso religiosa. O trao caracterstico da personalidade que encontrou sua Religio Pessoal a grande disposio para a vida, para o enfrentamento sereno da complexidade que ela apresenta e para a conquista da autodeterminao do esprito. Em quem j a elaborou, nota-se um apurado senso crtico na anlise de questes ligadas ao sagrado, bem como a seriedade e tranqilidade no trato com a religiosidade prpria e a alheia. O carter de respeito ao sagrado permeado pela alegria e pela amorosidade no trato com a questo religiosa, principalmente quando se refere de outrem. Observa-se uma capacidade maior em escutar o outro sem se opor, cotejando opinies e explicitando melhor suas prprias idias. A escuta atenta e, antes da emisso de uma opinio prpria, acrescenta-se algo que demonstre a compreenso da fala do outro. A nfase na
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escuta ao outro se justifica pela necessidade que se tem de ser melhor compreendido e de obter do outro a mxima ateno, alcanada pelo estado em que se encontra todo aquele que sente ter sido compreendido. Alcanar uma Religio Pessoal pe o indivduo num estado natural de conscincia moral constante. Sua moral pessoal ser igual ou melhor que a coletiva, levando-o ao desejo permanente de melhoria da tica social coletiva. Sem julgamento do outro, em qualquer circunstncia, as atitudes de quem alcanou a Religio Pessoal passam a ser percebidas como adequadas e pertinentes, sendo ento consideradas dignas de exemplo. A coerncia com os propsitos superiores da prpria vida favorece a construo de uma tica mais adequada ao seu desenvolvimento espiritual e ao progresso da sociedade. O estado de conexo sempre presente com sua essncia dota-o de singular percepo da totalidade, o que amplia sua capacidade de anlise e de compreenso da realidade. Isso favorece o encontro com sua prpria singularidade, desidentificando-se com o coletivo. O ego se posiciona afinado com o Self . Sua espiritualidade deixa de ser adgio, tornando-se atuante em favor de si e do meio em que transita. Seu olhar passa a ser preponderantemente pela perspectiva espiritual, isto , pela conscincia permanente de que algo transcendente permeia a vida. Sua vida material estar sempre conectada ao espiritual, sem perda de continuidade, sem posturas sacerdotais, sem afetao, sem ares de superioridade do saber e sem atitudes de pretenso solucionador de enigmas alheios. O respeito e o cuidado com o prximo no ultrapassam os limites naturalmente existentes entre a singularidade do outro e sua capacidade de alcanar o que se espera dele. Sua admirao ao prximo est fundamentada na conscincia de que uma pessoa representa Deus, isto , de que o
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ser humano, por se auto-referenciar, Sua obra prima, e sua psiqu o veculo dessa percepo. Por conta de seu constante aperfeioamento e de sua busca pelo saber, no se vincula ao medo. O conhecimento de si mesmo reduz sua ignorncia, permitindo-lhe um domnio maior sobre o medo natural ante os desafios da vida e de tudo que possa parecer ameaador. A ausncia de medos fortalece a conscincia da propriedade de si mesmo. Sua conexo com as foras superiores da vida lhe permite admitir que o processo de construo da Religio Pessoal um propsito conjunto seu e do que lhe criou. Sentindo-se conectado divindade, sua conscincia ecolgica fortemente aflorada, permitindo o engajamento em causas de proteo natureza. Sua percepo da existncia de um organismo terrestre o mantm interligado Natureza e conectado s suas foras vitais, sentindo-se parte integrante dela. Sua forte coerncia interna e o comprometimento com seus propsitos, institudos em consonncia com a tica da Vida, fortalecem sua tica pessoal e para com o outro. Com isso, consegue construir em torno de si uma sensao de segurana e de bem estar, contaminando tudo a sua volta com a energia da felicidade. Sua tica se estende ao contato com os espritos, estabelecendo um lao permanente e pessoal com as personalidades daqueles que j se encontram na dimenso espiritual, o que significa uma continuidade das relaes interpessoais, independentemente da morte do corpo. A descontinuidade aparente e temporria. Sua Religio Pessoal e seu profundo senso de responsabilidade para com a existncia dota-o de autodeterminao, isto , da capacidade de fazer escolhas conscientes, de se autoreferenciar, da liberdade de viver sua prpria essncia e de viver com autenticidade.
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A Religio Pessoal conduz a um estado de tranqilidade ativa, de estar desperto para tudo que se passa interna e externamente. Leva a um ponto no qual a pessoa desejava estar, mas que no sabia de fato como se sentiria. O ego adquire a maturidade de se conduzir em meio escurido do incognoscvel. um ponto a partir do qual no se poder mais voltar. Nesse ponto, a noo de responsabilidade se instala como uma forte impregnao na personalidade. A alteridade na conduta para com o outro definitivamente se afirma, surgindo uma sutil, suave e permanente compaixo, s restando ao indivduo amar e amar sempre.

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Como construir a Religio Pessoal


escondicionar-se lenta, consistente e gradativamente. Na busca pela Religio Pessoal, no criar qualquer expectativa ou ansiedade pela sua imediata construo. No se esquecer de que no se trata da simples adoo de um credo ou da admisso de uma teoria logicamente crvel e intelectualmente aceitvel. Escolher alguns temas relacionados religio, passando a tecer profundas reflexes sobre seus significados, independentemente das consagradas e tradicionais interpretaes religiosas. So importantes os temas: Religio, Deus, F, Pecado, Castigo Divino, Imortalidade, Culpa, Sentido da Vida, entre outros. Para subsidiar as reflexes, considerar: religio como compromisso tico consigo mesmo, caminho para a realizao do significado da vida, busca do encontro com o divino em si mesmo e transcendncia da vida material, vivendo-a plenamente; Deus como Criador e colaborador do processo de evoluo do ser humano, pelo que ele se torna consciente e livre para realiz-lo;
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f como um sentimento que estabelece o grau de conexo, de consistncia e de coerncia do ser humano com o que o criou; pecado como aquilo que o ser humano comete quando trai sua tica superior, passvel de ajuste imediato por ele mesmo; castigo divino como uma crena pertencente ao imaginrio popular, considerando que os processos vivenciais, aversivos ou no, so educativos ao esprito, tendo um tempo limite para se conclurem; imortalidade como uma condio sine qua non para a existncia humana, sendo inseparvel do conceito de vida; culpa como uma dinmica psquica equivocada e nefasta construo de um processo educativo sem sofrimento, devendo ser abolida sumariamente, assumindo-se todas as conseqncias dos atos cometidos; sentido da vida como algo que comea com o simples viver e que possibilita a realizao de todas as melhores qualidades do ser humano. Nos momentos de reflexo, procurar atentar para as recomendaes que se seguem. Desconstruir velhos conceitos religiosos sem perder a noo da ntima conexo com a fora criadora do Universo. Construir gradativamente novas concepes religiosas, firmemente convicto de que a fora que impulsiona o ser humano nele quer se tornar consciente. Reformular o relacionamento com o Deus das religies formais, no mais se submetendo ao poder a ele atribudo. Lembrar-se de que Deus uma singularidade, cuja percepo se d de forma pessoal.
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Nada imaginar sobre o que acontecer aps a morte; deixar isso para depois. Em princpio, at conceber algo mais prximo do real, deixar para quando acontecer. O que quer que venha a ocorrer aps a morte, encarar com determinao. A morte inclui a sada deste mundo ou sociedade; portanto, viver a vida intensa e responsavelmente, capacitando-se para o que advier. No alimentar qualquer idia de sofrimento em relao a erros cometidos no passado. Pensar sempre na possibilidade de aprender com eles. Os desafios e reveses fazem parte da conscincia que se atualiza para a transcendncia. No alimentar culpa nem se crer devedor de algum. Apenas se sentir responsvel pelas conseqncias do ato cometido, considerado mal, e ponderar que assim agiu por conta da prpria ignorncia. Conscientizar-se de que a realizao pessoal passa tambm pelo bem-estar proporcionado ao outro. Portanto, vincular-se afetivamente s pessoas, ampliando, cada vez mais, a capacidade de amar. Muito embora se possa fazer reflexes sem se afastar da prpria vida que se leva, sempre oportuno fazer uma pausa, desfrutar um perodo sabtico, para adquirir maior tranqilidade. Tambm compartilh-las com pessoas que possam subsidi-las e que saibam escutar a alma humana. Evitar a tomada de decises sem o amadurecimento necessrio e no se esquecer de que se trata de um mundo ntimo, lugar sagrado onde mora a essncia do ser humano. Contextualizar as mudanas que desejar fazer em na prpria vida, evitando medidas extemporneas e no vinculadas ao progresso j alcanado. Lembrar-se de
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que o Universo caminha na direo do aperfeioamento do esprito, calcando a evoluo no que possibilite a felicidade. A Religio Pessoal jamais dever proporcionar isolamento, idia de superioridade, sentimento de grandeza, desejos salvacionistas nem tampouco tentativas de converso alheia. Aquele que encontrou a sua Religio Pessoal no envergar a capa de santo nem apresentar uma face mascarada de bondade, falsificada pela vaidade ou pelo orgulho. No caminho dos que desejam crescer, h pedras e limos, que devero ser desgastados pelos ps que aprenderam a fincar-se nas foras telricas para alar vos mais altos.

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Jung e a Religio Pessoal


uito embora fosse um homem profundamente religioso, Jung soube escrever criticamente sobre f. Sua obra psicolgica trata com relevncia da alma religiosa, sem qualquer tendncia sectria. Fez anlises psicolgicas sobre temas religiosos sem que fosse sacerdote, mstico ou telogo. Ele via a religio como uma espcie de instinto, afirmando a necessidade de cada um construir sua Religio Pessoal. Mesmo tendo sido um homem religioso, no o era como os homens de seu tempo nem, talvez, como os de hoje. Sua religiosidade estava presente na forma sria, respeitosa e independente com que tratava tudo o que dizia respeito religio. Questes religiosas eram por ele tratadas como fenmenos psicolgicos. Sua conscincia sobre a existncia de Deus era to forte, que mandou insculpir no portal de pedra de sua casa a frase vocatus atque non vocatus, Deus aderit 6. Quando lhe foi perguntado, aos 84 anos, se ainda acreditava em Deus, ele respondeu: Eu sei. No necessito crer, porque sei.7 Psiquiatra de formao, interessou-se pelo estudo da mente humana, em particular por tudo o que se referisse sua dinmica e a sua estrutura. Seu conceito sobre
6 7

Invocado ou no, Deus estar presente. McGuire, William e Hull, R. F. C.. C. G. Jung: entrevistas e encontros. So Paulo: Cultrix, 1982. p. 375.

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Religio pessoal

religio ultrapassa o senso comum, relacionando-a com a transcendncia.


Eu gostaria de deixar bem claro que, com o termo religio, no me refiro a uma determinada profisso de f religiosa. A verdade, porm, que toda confisso religiosa, por um lado, se funda originalmente na experincia do numinoso, e, por outro, na pistis, na fidelidade (lealdade), na f e na confiana em relao a uma determinada experincia de carter numinoso e na mudana de conscincia que da resulta. Um dos exemplos mais frisantes, neste sentido, a converso de Paulo. Poderamos, portanto, dizer que o termo religio designa a atitude particular de uma conscincia transformada pela experincia do numinoso.8

Para ele, a religio poderia ser um substitutivo perigoso da experincia de vida, necessria a todo ser humano. Ela poderia se prestar s projees do inconsciente como uma representao do que ainda no poderia ser assumido pelo prprio indivduo. A proposta de uma vida religiosa no poderia substituir a vida comum, na qual as experincias interpessoais conscientes devem ser intensamente vividas.
Tudo o que o homem deveria, mas ainda no pode viver em sentido positivo ou negativo, vive como figura e antecipao mitolgica ao lado de sua conscincia, seja como projeo religiosa ou o que mais perigoso contedos do inconsciente que se projetam ento espontaneamente em objetos incongruentes, como por exemplo em doutrinas e prticas higinicas e outras que prometem salvao.9
8

Jung, C. G. Obras Completas . 2 ed. Petrpolis-RJ: Vozes, 1983. v. XI, par. 9, p. 4. Idem, Obras Completas. Petrpolis-RJ: Vozes, 2000. v. IX/1, par. 287, p. 169.

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Seu conceito de individualidade ou de eu interior inclui o aspecto religioso quando o relaciona com Deus, mesmo que de forma figurada. No se trata de uma deificao teolgica do ser humano, pois sua busca era por uma compreenso do psiquismo sem transferir o problema para a religio.
Dei a este ponto central o nome de si-mesmo (Selbst). Intelectualmente, ele no passa de um conceito psicolgico, de uma construo que serve para exprimir o incognoscvel que, obviamente, ultrapassa os limites da nossa capacidade de compreender. O si-mesmo tambm pode ser chamado o Deus em ns. Os primrdios de toda nossa vida psquica parecem surgir inextricavelmente deste ponto e as metas mais altas e derradeiras parecem dirigir-se para ele. Tal paradoxo inevitvel como sempre que tentamos definir o que ultrapassa os limites de nossa compreenso.10

Ele acreditava que havia uma natural funo religiosa, de carter divino, no interior da alma humana, atribuindo Psicologia o papel de mostrar ao ser humano como chegar at essa percepo. Isso corrobora a idia de que a religio a manifestao de algo inconsciente, no forjado pela cultura ou por uma escolha exclusivamente consciente. Sobre isso, ele afirma:
Todavia, quando demonstro que a alma possui uma funo religiosa natural, e quando reafirmo que a tarefa mais nobre de toda a educao (do adulto) a de transpor para a conscincia o arqutipo da imagem de Deus, suas irradiaes e efeitos, so justamente os telogos que me atacam e me acusam de psicologismo.
10

Jung, C. G. Obras Completas. 2 ed. Petrpolis-RJ: Vozes, 1981. v. VII, par. 399, p. 226.

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(...) Ela contm e corresponde a tudo quanto o dogma formulou a seu respeito e mais ainda, aquilo que torna a alma capaz de ser um olho destinado a contemplar a luz. Isto requer, de sua parte, uma extenso ilimitada e uma profundidade insondvel. J fui acusado de deificar a alma. Isto falso, no fui eu, mas o prprio Deus quem a deificou! No fui eu que atribu uma funo religiosa alma; simplesmente apresentei os fatos que provam ser a alma naturaliter religiosa, isto , dotada de uma funo religiosa: funo esta que no inventei, nem coloquei arbitrariamente nela, mas que ela produz por si mesma, sem ser influenciada por qualquer idia ou sugesto. Numa trgica cegueira, esses telogos ignoram que no se trata de provar a existncia da luz, e sim de que h cegos incapazes de saber que seus olhos poderiam enxergar. Seria muito mais importante ensinar ao homem a arte de enxergar. obvio que a maioria das pessoas incapaz de estabelecer uma relao entre as imagens sagradas e sua prpria alma, isto , no conseguem perceber a que ponto tais imagens dormitam em seu prprio inconsciente. Para tornar possvel esta viso interior, preciso desimpedir o caminho que possibilita essa faculdade de ver. Sinceramente, no posso imaginar como isso seria exeqvel sem a psicologia, isto , sem tocar a alma.11

Para ele, o conceito de Deus, que cada ser humano tem, interfere decisivamente na vida humana, na liberdade e na capacidade de julgamento. O conceito de tica est atrelado tambm ao de Deus.
A doutrina que ensina que o indivduo depende de Deus representa uma exigncia to grande sobre ele quanto a do mundo. Pode at acontecer que o homem
11

Jung, C. G. Obras Completas . 4 ed. Petrpolis-RJ: Vozes, 1991. v. XII, par. 14, p. 25.

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acate essa exigncia de maneira to absoluta a ponto de se alienar do mundo da mesma forma que o indivduo se aliena de si mesmo quando sucumbe mentalidade coletiva. Tanto num caso quanto no outro, o indivduo pode perder sua capacidade de julgar e decidir-se livremente. A isto tendem, manifestamente, as religies quando no se comprometem com o Estado. Neste caso, prefiro falar, de acordo com o uso corrente, de confisso e no de religio. A confisso admite uma certa convico coletiva, ao passo que a religio exprime uma relao subjetiva com fatores metafsicos, ou seja, extramundanos. A confisso compreende, sobretudo, um credo voltado para o mundo em geral, constituindo, assim, uma questo intramundana. J o sentido e a finalidade da religio consistem na relao do indivduo com Deus (cristianismo, judasmo, islamismo) ou no caminho da redeno (budismo). Esta a base fundamental de suas respectivas ticas que, sem a responsabilidade individual perante Deus, no passariam de moral e conveno.12

Reconhece a fora do arqutipo religioso, colocando-o como detentor de uma energia especfica, cuja nopercepo pela conscincia no apaga sua existncia no inconsciente. No seu entender, a negao de todos os postulados religiosos por uma pessoa requer algo de consistente e possuidor da mesma fora energtica do arqutipo. O atesmo no a negao da religiosidade inata, mas de um Deus que no mais corresponde ao desenvolvimento da psiqu. Consciente da existncia do arqutipo religioso, ele afirma:
O arqutipo das idias religiosas possui, como todo instinto, a sua energia especifica, que ele no perde ainda que sua conscincia o ignore. Assim como pode
12

Jung, C. G.. Obras Completas. Petrpolis-RJ: Vozes, 1993. v. X, par. 507, p. 241.

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ser afirmado com a maior probabilidade que todo ser humano possui todas as funes e qualidades humanas mdias, podemos supor a presena de fatores religiosos normais, isto , de arqutipos, e essa expectativa no falha como fcil reconhecer. Quem consegue descartar um manto de f, s pode faz-lo graas convico de ter um outro mo plus a change, plus a reste la mme chose! [Quanto mais se transforma, mais permanece a mesma.] Ningum escapa do preconceito da condio humana.13

Mostrou a importncia que o ser humano atribui religio como um sustentculo s suas decises. Sua funo reguladora do equilbrio psquico, dando-lhe segurana, ao menos aparente ou provisria, contra as foras inconscientes que teimam em se manifestar sem a devida conscincia do ego.
Dessa maneira, o homem sempre cuidou para que toda deciso grave fosse, de certo modo, sustentada por medidas religiosas. Nascem, assim, os sacrifcios para honrar as foras invisveis, as bnos e demais gestos rituais. Sempre, e em toda parte, existiram rites dentre et de sortie (ritos de entrada e de sada) que, para os racionalistas distantes da psicologia, no passam de superstio e magia. No entanto, a magia , em seu fundamento, um efeito psicolgico que no deve ser subestimado. A realizao de um ato mgico proporciona ao homem uma sensao de segurana, extremamente importante para uma tomada de deciso. Toda deciso e resoluo necessitam dessa segurana, pois elas sempre pressupem uma certa unilateralidade e exposio.14

13

14

Jung, C. G. Obras Completas . Petrpolis-RJ: Vozes, 2000. v. IX/1, par. 129, p. 75. Idem, Obras Completas. Petrpolis-RJ: Vozes, 1993. v. X, par. 512, p. 244.

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A segurana proporcionada pela religio comparvel quela que o ser humano atribui ao Estado. Trata-se de uma certa transposio de projeo. A segurana que se tem quando se percebe protegido pelo Estado externa e a que se obtm com a religio interna. Ambas se referem a contedos psquicos que deveriam ser tornados conscientes. Justificando o poder do arqutipo, Jung compara a devoo religiosa militncia poltica.
O prprio ditador, para executar seus atos, no pode se valer apenas das ameaas, precisando encenar o poder com grande pompa. Nesse sentido, as marchas militares, as bandeiras, faixas, paradas e comcios no diferem muito das procisses, tiros e fogos de artifcio usados para expulsar os demnios. A diferena entre essas representaes religiosas e os aparatos do Estado reside no fato de que a sugestiva encenao do poder estatal cria uma sensao de segurana coletiva que, no entanto, no oferece ao indivduo nenhum tipo de proteo contra os demnios internos. Quanto mais o indivduo se enfraquece, mais se agarra ao poder estatal, isto , mais se entrega espiritualmente massa. E do mesmo modo que a Igreja, o Estado ditatorial exige entusiasmo, abnegao e amor, cultivando o necessrio terror semelhana do temor de Deus que as religies exigem ou pressupem.15

Respondendo aos questionamentos do filsofo judeu-austraco Martin Buber, Jung justifica sua anlise psicolgica a respeito do conceito de Deus. No texto a seguir, reafirma a ligao entre Deus e criatura, forjada na intimidade da psiqu, sem qualquer participao humana. Ele situa o ser humano como refm do que Deus implantou em seu inconsciente.
15

Jung, C. G. Obras Completas. Petrpolis-RJ: Vozes, 1993. v. X, par. 512, p. 244.

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estranho que BUBER se escandalize com a minha afirmao de que Deus no pode existir sem uma ligao com o homem, e a considere como uma proposio de carter transcendente. Mas eu digo expressamente que tudo, absolutamente tudo o que dizemos a respeito de Deus uma afirmao humana, isto , psquica. Mas ser que a noo que temos ou formamos de Deus nunca est desligada do homem? Poder BUBER informar-me onde foi que Deus criou sua prpria imagem, sem ligao com o homem? Como e por quem semelhante coisa pode ser constatada? Vou especular ou fabular aqui excepcionalmente em termos transcendentes. Deus, na realidade, formou uma imagem sua, ao mesmo tempo incrivelmente esplndida e sinistramente contraditria, sem a ajuda do homem, e a implantou no inconsciente do homem como um arqutipo, um (...), no para que os telogos de todos os tempos e de todas as religies se digladiassem por causa dela, mas sim para que o homem despretensioso pudesse olhar, no silncio de sua alma, para dentro desta imagem que lhe aparentada, construda com a substncia de sua prpria psique, encerrando tudo quanto ele viesse, um dia, a imaginar a respeito de seus deuses e das razes de sua prpria psique.16

Em termos de capacidade para julgar o mundo e entender de religio, Jung afiana que a mente humana est impregnada de valores e paradigmas cristos, o que dificulta muito a possibilidade de uma iseno. Isso contribui para um estilo de vida e uma forma particular de compreenso da realidade. No se pode excluir os princpios religiosos, sejam adquiridos naturalmente pela cultura dominante ou conscientemente adotados, do sentido que se atribui vida e forma que vivida.
16

Jung, C. G. Obras Completas. Petrpolis-RJ: Vozes, 2000. v. XVIII/2, par. 1508, p. 245.

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Nossa conscincia est impregnada de cristianismo e quase inteiramente por ele formada; por isso a posio inconsciente dos contrrios no pode ser aceita, simplesmente porque parece excessiva a contradio com as concepes fundamentais dominantes. Quanto mais unilateral, rgida e incondicional for a defesa de um ponto de vista, tanto mais agressivo, hostil e incompatvel se tornar o outro, de modo que a princpio a reconciliao tem poucas perspectivas de sucesso. Mas, se o consciente pelo menos reconhecer a relativa validade de todas as opinies humanas, o contrrio tambm perde algo de sua incompatibilidade. Entretanto, esse contrrio procura uma expresso adequada, por exemplo, nas religies orientais, no budismo, no hindusmo e no taosmo. O sincretismo (mistura e combinao) da teosofia vem amplamente ao encontro dessa necessidade e explica o seu elevado nmero de adeptos.17

Novamente Jung vincula a noo de individualidade ao conceito de Deus, afirmando que o Si-Mesmo uma imagem divina no interior da alma humana. O processo de realizao do ser humano comparvel a uma experincia religiosa de longo curso, na qual o ego se lana ao encontro com a totalidade do Si-Mesmo, para a unidade transcendente.
A finalidade da evoluo psicolgica tal, como na evoluo biolgica, a auto-realizao, ou seja, a individuao. Visto que o homem s se percebe a si prprio como um ego, e o Si-mesmo como totalidade, algo indescritvel, no se distinguindo de uma imagem de Deus, a auto-realizao no outra coisa em linguagem metafsica e religiosa, do que a encarnao divina. isto precisamente que vem expresso na
17

Jung, C. G. Obras Completas. 2 ed. Petrpolis-RJ: Vozes, 1981. v. VII, par. 118, p. 70.

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filiao de Cristo. Como a individuao significa uma tarefa herica ou trgica, isto , uma misso dificlima, ela implica o sofrimento, a paixo do ego, ou seja, do homem emprico, do homem comum, atual, quando entregue a um domnio mais amplo e despojado de sua prpria vontade, que se julga livre de qualquer coao. Ele como que violentado pelo Si-mesmo.18

No texto a seguir, possvel perceber o que pode significar, para o processo de individuao humano, o lugar atribudo religio. A relevncia a ser dada poder custar o tempo em que ela se dar. A segurana que se pretende ter na adoo de uma religio poder alienar o ser humano de si mesmo, alm de exclu-lo de uma real relao com o divino.
Uma projeo exclusivamente religiosa pode privar a alma de seus valores, torn-la incapaz de prosseguir em seu desenvolvimento, por inanio, retendo-a num estado inconsciente. Ela pode tambm cair vtima da iluso de que a causa de todo o mal provm de fora, sem que lhe ocorra indagar como e em que medida ela mesma contribui para isso. A alma parece assim to insignificante a ponto de ser considerada incapaz do mal e muito menos do bem. Entretanto, se a alma no desempenha papel algum, a vida religiosa se congela em pura exterioridade e formalismo. Como quer que imaginemos a relao entre Deus e a alma, uma coisa certa: impossvel considerar a alma como nada mais do que. Pelo contrrio, ela possui a dignidade de um ser que tem o dom da relao consciente com a divindade. Mesmo que se tratasse apenas da relao de uma gota de gua com o mar, este ltimo deixaria de existir sem a pluralidade das gotas.19

18 19

Jung, C. G. Obras Completas. 2 ed. Petrpolis-RJ: Vozes, 1983. v. XI, par. 233, p. 156. Idem, Obras Completas. 4 ed. Petrpolis-RJ: Vozes, 1991. v. XII, par. 11, p. 22.

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Jung considera ainda que s possvel um vnculo entre o ser humano e Deus se existir na psiqu algo efetivamente divino, posto por Deus para que no houvesse possibilidade de desligamento e para que fosse de fato percebido pelo ser humano.
Seria uma blasfmia afirmar que Deus pode manifestar-se em toda a parte, menos na alma humana. Ora, a intimidade da relao entre Deus e a alma exclui de antemo toda e qualquer depreciao desta ltima. Seria talvez excessivo falar de uma relao de parentesco; mas, de qualquer modo, deve haver na alma uma possibilidade de relao, isto , forosamente ela deve ter em si algo que corresponda ao ser de Deus, pois de outra forma jamais se estabeleceria uma conexo entre ambos. Esta correspondncia, formulada psicologicamente, o arqutipo da imagem de Deus.20

Percebia a religiosidade latente em todas as experincias humanas, como se tudo refletisse a vontade divina. O ser humano, quer em seus atos virtuosos ou em seus vcios, espelha uma busca por um entendimento da vontade divina.
(...) trata-se de uma atitude humana profundamente respeitosa em relao ao fato, em relao ao homem que sofre esse fato e em relao ao enigma que a vida desse homem implica. O homem autenticamente religioso assume precisamente tal atitude. Ele sabe que Deus criou todas as espcies de estranhezas e coisas incompreensveis, e que procurar atingir o corao humano pelos caminhos mais obscuros possveis. por isso que a alma religiosa sente a presena obscura da vontade divina em todas as coisas.21
20 21

Jung, C. G.. Obras Completas. 4 ed. Petrpolis-RJ: Vozes, 1991. v. XII, par. 11, p. 23. Idem, Obras Completas. 2 ed. Petrpolis-RJ: Vozes, 1983. v. XI, par. 519, p. 340.

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A ritualizao da experincia numinosa ou de contato com o sagrado, no seu entender, ao mesmo tempo que oportuniza a manifestao da psiqu religiosa, aliviando a tendncia do inconsciente em tensionar a conscincia, dificulta o acesso ao significado profundo que encerra.
As confisses de f so formas codificadas e dogmatizadas de experincias religiosas originrias. Os contedos da experincia foram sacralizados e, via de regra, enrijeceram dentro de uma construo mental inflexvel e, freqentemente, complexa. O exerccio e a repetio da experincia original transformaram-se em rito e em instituio imutvel. Isto no significa necessariamente que se trata de uma petrificao sem vida. Pelo contrrio, ela pode representar uma forma de experincia religiosa para inmeras pessoas, durante sculos, sem que haja necessidade de modific-la.22

Sobre a culpa, muitas vezes reforada pela religio formal, Jung ressalta o prejuzo em se alimentar qualquer sentimento correspondente na conscincia, reafirmando o propsito da individuao como uma meta que no despreza os contributos da atitude religiosa.
O problema da cura um problema religioso. Uma das imagens que ilustram o sofrimento neurtico no interior de cada um a da guerra civil no plano das relaes sociais que regulam a vida das naes. pela virtude crist que nos impele a amar e a perdoar o inimigo que os homens curam o estado de sofrimento entre as pessoas. Aquilo que por convico crist recomendamos exteriormente, preciso que o apliquemos internamente no plano da terapia das neuroses. por isso que os homens modernos no querem mais

22

Jung, C. G.. Obras Completas. 2 ed. Petrpolis-RJ: Vozes, 1983. v. XI, par. 10, p. 4.

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ouvir falar em culpa ou pecado. Cada um j tem muito o que fazer com a prpria conscincia j bastante carregada e o que todos desejam saber e aprender como conseguir reconciliar-se com as prprias falhas, como amar o inimigo que se tem dentro do prprio corao e como chamar de irmo ao lobo que nos quer devorar.23

Criticando as imitaes religiosas ou aqueles que pregam uma petrificao de propostas arcaicas de comportamento, reafirma a necessidade de uma atitude singular no processo de desenvolvimento da personalidade. Sua afirmao se alinha com a proposta de constituio de uma Religio Pessoal quando admite que:
O homem moderno tambm no est mais interessado em saber como poderia imitar a Cristo. O que quer, antes de tudo, saber como conseguir viver em funo de seu prprio tipo vital, por mais pobre ou banal que seja. Tudo o que lhe lembra imitao se lhe afigura contrrio ao impulso vital, contrrio vida, e por isso que ele se rebela contra a histria que gostaria de ret-lo em caminhos previamente traados. Ora, para ele todos esses caminhos conduzem ao erro. Ele est mergulhado na ignorncia, mas se comporta como se sua vida individual constitusse a expresso de uma vontade particular divina, que deveria ser cumprida antes e acima de tudo da o seu egosmo, que um dos defeitos mais perceptveis do estado neurtico. Mas quem disser ao homem moderno que ele demasiado egosta perdeu irremediavelmente a partida com ele. O que se entende perfeitamente, pois, agindo assim, no faz seno empurr-lo cada vez mais para a neurose.24
23

24

Jung, C. G. Obras Completas. 2 ed. Petrpolis-RJ: Vozes, 1983. v. XI, par. 523, p. 343. Ibidem, par. 524, p. 343.

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Pelos textos selecionados, pode-se observar uma tendncia de Jung em querer aproximar o ser humano cada vez mais de uma religiosidade verdadeira, coerente e tica, alm de querer inseri-lo em uma filiao divina direta. Fica claro, ao menos pela perspectiva da Religio Pessoal, que a posio de Jung no a de um iconoclasta vulgar nem a de um anarquista contra a religio formal, mas a de quem est comprometido com o processo de desenvolvimento do ser humano, propondo uma compreenso isenta da tradio religiosa petrificada. Sua religiosidade foi atestada pelos princpios deixados, pelas propostas de compreenso da psiqu humana, pelas consideraes a respeito da alma e pela postulao a respeito do Inconsciente Coletivo, fator de irmandade entre as criaturas. A psiqu a matria prima de Deus, e por onde ele se apresenta. Jung soube muito bem entender e retratar ambos.

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Religio Pessoal e morte


mundo moderno, com a tecnologia, a informtica e a internet, impe novas formas de comportamento, bem como diferentes percepes da realidade. Refletir sobre a vida, a morte, o destino, o sentido da existncia humana deixa de ser privilgio dos filsofos, tornandose uma necessidade cotidiana de todos. A fsica newtoniana cedeu espao Relatividade, que, por sua vez, teve de conviver com a Mecnica Quntica. Hoje, novas teorias explicativas da realidade surgem na tentativa de encontrar uma sada lgica para a compreenso do universo. A teoria das cordas (strings theory) e a multidimensional (eleven dimension) tentam preencher o vazio deixado pelas teorias clssicas anteriores. Ainda no surgiu, porm, uma teoria que justifique a necessidade humana de entender a sua essncia, a morte do corpo e de se encontrar com seu Criador, o que pertence ao supra-humano. A conscincia, por mais que se amplie e que se arvore em ser o farol do Esprito, ainda incipiente para penetrar em certos mistrios que envolvem a gnese e o destino humano. Por mais que a fsica tente enxergar e explicar a matria e suas relaes, no consegue penetrar em sua gnese. Se assim com o palpvel, que dir com o que s se pode conhecer indiretamente, isto , pelas represen160

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taes. As razes para que assim seja no so cognoscveis. um problema insolvel. A questo da morte tem sido objeto de ateno cientfica numa clara invaso do que era apenas do domnio da religio. Ou a cincia est se aproximando da religio, assumindo sua face religiosa, ou a morte deixou de ser, de fato, um mistrio obscuro. A mudana na reduo do mistrio da morte pode ser constatada pela experincia do luto. O tempo em que se ficava de luto se reduziu drasticamente. As pessoas choram menos pelos seus mortos, ocupando-se mais com suas obrigaes cotidianas. A depresso provocada pela morte de algum prximo ou no se instala ou demora menos. O prolongamento do tempo de vida, as melhores condies de sade e o retardamento do envelhecimento favorecem uma expectativa menos exigente da vida aps a morte, pois a vida bem vivida deixa pouco espao para que, s na morte, a felicidade se realize. A morte est se tornando uma condio no s aceitvel para todos como um portal de acesso a novas possibilidades de experincias. No mais algo to fbico quanto antes. Sua ocorrncia passa a ser, algumas vezes, ansiada por aqueles que perderam o rumo e a esperana de mudar externamente sua vida. Nesse caso, mesmo sendo uma fuga, e um acontecimento que dificultar futuras experincias reencarnatrias, passa a ocupar um lugar menos obscuro na psiqu. Como a viso do mundo e das coisas se amplia para aqueles que j construram sua Religio Pessoal, a morte ser um dos tantos eventos do processo de desenvolvimento espiritual da pessoa. Jamais ser encarada com pesar ou como fim ltimo da pessoa humana. No h expectativa ou qualquer ansiedade pela possibilidade de
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ocorrncia imediata. Ante a ameaa de acontecer, por conta do preparo da Religio Pessoal, poucas mudanas sero necessrias e nenhum desespero tomar conta da conscincia. A morte, mesmo no desejada, pela necessidade de se fechar ciclos ainda em aberto, no temida nem considerada como uma tragdia. Mortes de entes queridos so recebidas com tranqilidade, graas conscincia da continuidade da vida, bem como da possibilidade concreta de comunicabilidade. As mortes coletivas so encaradas como simples ajustes promovidos pela Conscincia Divina para o equilbrio da sociedade material e da espiritual.

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Religio Pessoal e multirreligiosidade


s diferentes religies se devem s distintas culturas, que so mltiplas expresses do inconsciente, que plural e constantemente se encontra em mutao. A religio do outro uma das muitas possibilidades de manifestao da psiqu religiosa, no sendo a verdade, tampouco algo que deva ser contestado como errado ou equivocado. Tal atitude seria como querer uma uniformidade psquica, sem correlato na natureza. Os conflitos entre grupos que apresentam diferentes expresses religiosas decorrem de particularidades antes culturais do que doutrinrias. Nenhuma doutrina nasce do absurdo, pois no h origem distinta para o fenmeno religioso na psiqu. Todas so expresses legtimas que merecem respeito. As diversas culturas dos diferentes povos revelam a complexidade do inconsciente. So, em seu conjunto, manifestaes arquetpicas da estrutura psquica humana. O conjunto das manifestaes relacionadas ao sagrado forma a representao da psiqu religiosa em suas ricas nuances e nos aspectos que representam a divindade. As dissenses, que, por um lado, atestam a imaturidade humana, por outro, favorecem a observao da
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multiplicidade de percepes de uma mesma funo psquica. Elas podem tambm significar que a idia de uma divindade una pode ser apenas a representao da individualidade humana projetada. As divises que ocorreram nas religies, e que ainda ocorrem, sobretudo no Hindusmo e no Cristianismo, enfatizam o movimento na direo da Religio Pessoal, o que quer dizer que a religio coletiva vai cedendo lugar Religio Pessoal pela fora do prprio arqutipo religioso. Se a multiplicidade de religies, as dissenses religiosas e as divises no seio das religies se referem diversidade e complexidade da individualidade, ou ainda, ao mistrio que a prpria Divindade, ento a intolerncia religiosa um sinal da infncia em que se encontra a humanidade. Face perversa do fundamentalismo religioso, a intolerncia religiosa tem sido responsvel pela permanncia da humanidade num estado de desequilbrio que impede seu progresso moral. No holocausto, ocorrido antes e durante a Segunda Guerra Mundial, pode-se perceber a perseguio de cristos contra judeus. O Cristianismo passou de perseguido a perseguidor num movimento cclico absurdo, revelando a que ponto chega a intolerncia religiosa. A intolerncia religiosa, sobretudo a observada contra os judeus e, mais recentemente, contra os mulumanos, demonstra que o ser humano, em matria de religio, lida mais com a idia de Deus do que com o prprio Deus. Sua religio formal tem sido utilizada para manifestar sua barbrie. A construo da Religio Pessoal evitaria essa intolerncia. As excessivas regras e proibies das religies formais, algumas medievais, engessam as possibilidades de manifestao da rica psiqu humana. Resumir uma religio em algumas regras restringir as possibilidades de
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manifestao da psiqu humana na direo da realizao pessoal. Represso religiosa combina com religio formal, com procrastinao da realizao do sentido e do significado da existncia humana. Compreender e aprender com a diversidade de religies significa avanar na direo da construo de sua Religio Pessoal. A multiplicidade de religies evita a hegemonia religiosa ainda existente em algumas sociedades, bem como favorece a criatividade na manifestao da psiqu religiosa.

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Alquimia e religio
s alquimistas estavam procura da essncia da vida na intimidade da matria, que cada vez mais desaparecia dos seus olhos devido aos processos aos quais a submetiam. Seu olhar, ao contemplar o vazio da intimidade da matria, o levavam ao contato com seu mundo inconsciente, percepo do Si-Mesmo. O que no viam na matria no encontravam na conscincia, mas lhes apontava para algo no inconsciente que precisava ser visto. Naquela busca pela matria quintessenciada, eles constatavam sua ignorncia a respeito da prpria mente. O mstico alqumico, tal qual o ego em busca do Si-Mesmo, tateava a escura e misteriosa dimenso inconsciente. Suas operaes no forno quente, alimentadas pelo fogo intenso que refundia a matria, denunciavam a trajetria a ser seguida pelo ego em sua jornada e em meio s exigncias da vida cotidiana. A alquimia antiga fez surgir a Qumica, a Farmacologia e outras atividades humanas ligadas aos processos industriais. Mas a principal atividade fomentada pelos alquimistas a clnica psicoterpica de hoje. O psicoterapeuta, com seus estudos e sua prtica clnica, analisando e intervindo na alma do outro e na sua prpria, executa operaes alqumicas de alto valor teraputico. Seu trabalho envolve a conscincia e o inconsciente, o logos e o
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sentimento, numa alquimia constante de poderosas foras intervenientes no processo de cura da alma. O alquimista era uma espcie de sacerdote procura de Deus, que operava nas entranhas da matria numa dimenso no humana. Seu microscpio e suas teorias qumicas alcanavam a compreenso do que era oculto aos sbios e religiosos de seu tempo. Suas concluses sobre operaes qumicas e suas descobertas sobre as propriedades da matria revelavam os sutis processos psquicos e o dinamismo da mente humana. Buscavam uma coisa e encontravam outra. Mesmo aqueles que buscavam transformar a matria em ouro, com fome de riqueza, estavam, sem o querer consciente, envolvidos na busca do verdadeiro tesouro interior a essncia da individualidade ou o Si-Mesmo. Eram levados, por desejos inadequados, ao acesso ao inconsciente, rico em contedos a serem elaborados. Alquimia uma das formas mais concretas da busca inconsciente pelo Si-Mesmo. Os trabalhos alqumicos contriburam para o desenvolvimento das chamadas cincias ocultas e para o avano dos estudos a respeito da religio. No silncio de madrugadas interminveis, os alquimistas, em consonncia com nobres espritos, promoviam experincias psquicas e medinicas to importantes quanto as que hoje se fazem em nome da cincia. Suas operaes, muitas vezes, eram precedidas de rituais e de invocaes de natureza mstica, visando comunho do fsico com o sagrado para a consecuo de seus objetivos. Eles sabiam que estavam lidando com algo extremamente importante, e por que no dizer, divino. As operaes alqumicas Nigredo (enegrecimento), Albedo (brancura) e Rubedo (enrubecimento) nada mais eram do que representaes de experincias a serem vividas pelo ego em seu processo de amadurecimento.
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Hoje, semelhana dos alquimistas, agem aqueles que se dedicam ao estudo da mente humana, buscando, em seus espaos teraputicos, entend-la enquanto auxiliam o prximo a se compreender. So arquelogos da alma humana, praticantes da religio que prope a ligao do ego com o Si-Mesmo e o transcendente encontro com o divino. Seu trabalho silencioso, oculto e persistente. Sua tarefa rdua e pouco compreendida principalmente pelos que j se bastam e que se envolvem demasiadamente com o externo. Seu forno sua prpria mente. Seu fogo sua energia psquica motivadora da vida, agora sob seu prprio domnio. Quanto mais se aprofundam, mais desconstroem conceitos e mais encontraro a si mesmos, compreendendo melhor o sentido da vida. Suas observaes e intervenes nos processos psquicos lhes promovero transformaes, conectando-os aos princpios da vida e essncia das coisas. Certamente encontraro, no desconhecido que enfrentam, a prpria mensagem do Criador da Vida. Os alquimistas eram indivduos que buscavam uma prtica religiosa no convencional. Suas vidas, dedicadas descoberta dos mistrios das coisas, no sacrifcio de suas energias e de seu tempo, propiciaram que a chama do sagrado permanecesse acesa, independentemente das religies. O alquimista projetava seus processos psquicos nas combinaes qumicas que realizava, visando alcanar a pedra filosofal, que nada mais era do que o Si-Mesmo, em seu inconsciente. As religies tambm passam por processos alqumicos ao longo do tempo. No s por interveno de congressos, conclaves e outros meios de se estabelecerem novas regras ou reafirmao de antigas, mas tambm pelo surgimento de clamores populares, s vezes,
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capitaneados por figuras revolucionrias. Verdadeiros alquimistas, esses indivduos contribuem sobremaneira para o favorecimento de mudanas na atualizao das representaes do arqutipo religioso. Graas a essas intervenes, a religio formal se atualiza, favorecendo a construo da Religio Pessoal. Algumas baixas no nmero de adeptos no ocorrem somente porque eles mudam de religio, mas tambm pela passagem para a Religio Pessoal. Com o tempo e o choque com a cultura globalizada, a religio formal vai dando lugar, num processo alqumico de miscigenao, Religio Pessoal. Aquele que j construiu sua Religio Pessoal sabe que continuar alquimicamente a promover mudanas profundas em sua alma, a fim de que ela se torne aquilo para que foi designada. O processo constante e as transformaes no cessam. O desconhecido no temido nem tampouco minimizado. O resultado, o encontro com o SiMesmo, a mxima obra humana e, simultaneamente, divina.

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Manifestao da funo religiosa na Psiqu


que de fato move o ser humano? Seus instintos? Sua libido sexual, como queria Freud? O desejo de poder e sua condio de criatura, consoante Adler? O desejo de realizao pessoal, pelo Processo de Individuao, conforme Jung? A busca pela integrao com o Criador devido funo religiosa na psiqu? A idia de que a fome o instinto primrio no ser humano reduz seu significado a um corpo. Pode-se afirmar que no h escolha a subsistncia no um instinto, mas condio absoluta para a existncia humana num corpo fsico. Ambos se confundem, isto , o corpo com a sua manuteno. A necessidade de manter o organismo vivo no uma escolha, sequer inconsciente. Escolhas so tendncias inconscientes ou conscientes que podem ser evitadas sem prejuzo significativo existncia. Podese descartar os instintos primrios como motivadores, dada a obrigatoriedade de seu atendimento. Por outro lado, ignorar o Esprito no entender que o princpio organizador e o organismo que lhe suporta surgem simultaneamente como antpodas de uma formulao transcendental. Enquanto o corpo necessita de manuteno fsica, o instinto bsico do Esprito a busca pela conscincia do significado da existncia.
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Pensar que o mvel central do ser humano sua necessidade de alimentar-se ou mesmo a busca imperativa do prazer pelo sexo enxergar parcialmente a questo. Para uma melhor anlise e compreenso da humanidade de hoje, o ser humano primitivo deve ser nosso referencial de observao. Conceitue-se o primitivo como aquele ser humano de linguagem rudimentar, isto , poucos verbos e substantivos, de baixa capacidade afetiva, com expectativa de vida abaixo dos 40 anos, alta quantidade de doenas originrias da absoro pelos ps, vida sedentria, pouca quantidade de utenslios fabricados, habitao rupestre, agricultura itinerante, sem nome prprio, ocupado basicamente com sua manuteno no mundo etc.. Mover-se apenas para se alimentar e explorar novas reas de subsistncia coletiva no parece ser causa suficiente para justificar a atual saga humana na direo das estrelas. Da mesma forma, o princpio do prazer parece pouco relevante, considerando a grande quantidade de problemas pertinentes. No ser humano primitivo, predominava a motivao inconsciente, pois as motivaes conscientes estavam relacionadas ao alimentar-se e garantia de segurana pessoal e coletiva. O medo motivado pelo instinto de sobrevivncia nele imperava. A noite escura do homem das cavernas era me do desconhecido. Seu pensamento girava em torno da natureza e do que ela poderia oferecer para garantir o alimento e a segurana. O abrigo e o alimento eram tesouros inestimveis. As relaes do ser humano com a natureza para a obteno de alimentos e segurana, aliadas baixa qualidade de linguagem implicam em baixa complexidade psquica. Essa baixa complexidade significa a existncia de um ego frgil, fixado em princpios rudimentares, inconscientemente pressionado pelo temor e pela luta instintiva
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de sobrevivncia. Os arqutipos se expressavam em pouqussimas imagens correspondentes. A vida humana era a vida instintiva. Algo inconsciente a movia. A funo religiosa poderia ento ser o fator motivador e impulsionador de sua busca por um significado e pela compreenso de si mesmo. O que leva inicialmente uma pessoa (o ser humano mais primitivo, aquele do tempo das cavernas) ao sagrado? Um instinto tpico? Culpa? Morte? Medo? Jung afirmava a existncia de uma funo religiosa na psiqu, que age como um instinto, uma tendncia inata, o que situa a questo da vivncia religiosa como uma obrigatoriedade. No uma escolha, pois se trata de uma tendncia psquica a ser atualizada sob presso do inconsciente. A evoluo do esprito implica na passagem da atualizao da vida inconsciente para a consciente. A forma de atualizao ditada pela conscincia fator representativo da evoluo do esprito. No se trata de um processo de racionalizao de algum segredo, mas de conexo consciente e profunda com a divindade. A experincia religiosa transcendente, que emociona e toca em profundidade o que existe de mais sagrado no indivduo, intransfervel, independe da conscincia racional, mesmo tendo de ser por ela compreendida. A religio deve ser compreensiva multiplicidade de manifestaes, pois estas no s revelam a diversidade do inconsciente humano como tambm salientam a relatividade das assertivas e dogmas pregados. Cada religio se depara com o desafio de explicar seu Deus, que intolerante ao Deus da outra; sua f, que condena a da outra; o destino futuro de seus adeptos, que renegam o da outra; suas prticas ritualsticas, que ridicularizam as da outra. Beira a incoerncia, se no se tra172

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tasse de algo que representa a complexidade da psiqu religiosa. A soluo harmoniosa e coerente do problema religioso a constituio da Religio Pessoal. As religies formais devem enxergar a diversidade religiosa como algo inevitvel, por conta da funo religiosa inerente psiqu humana. A Religio Pessoal no exclui a importncia da religio formal, que deveria levar o ser humano quela. O futuro das religies conduzir seus adeptos Religio Pessoal. A Religio Pessoal no a unio de todas as religies, mas algo que decorre do exerccio de cada uma delas. Portanto, algo conseqente e fruto da vivncia coerente e sria do sagrado na vida cotidiana. A razo bsica pela qual existe a funo religiosa a imperativa busca pelo Si-Mesmo. Essa busca proporcionar, ao ser humano, a habilidade para lidar com questes misteriosas que atraem o ego desde sua gerao divina. Religio diz respeito totalidade da vida, morte, ao espiritual e ao transcendente. O ser humano est sempre atrs de algo indefinvel, que as religies chamam de Deus, como se buscasse a si mesmo, sua essncia, sua alma. Parece haver uma garantia ntima ou certeza de que encontrar esse Algo. A chamada busca religiosa decorrente de uma funo psquica primitiva e natural, originariamente constituda a priori. Ela que direciona o indivduo para o motivo da vida. o norte da vida espiritual. Ela responsvel pela cultura, pelas religies, pelas artes e pelos grandes desafios humanos. A religio no apenas algo decorrente do arqutipo paterno nem alternativa para sublimao da energia sexual. Sua linguagem cheia de smbolos e imagens transcendentes. Aponta para a continuidade da conscin173

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cia, para o alm do aqum. A represso da funo religiosa ou sua exclusiva realizao para glorificao divina torna-a pequena e de reduzida utilidade. As religies trazem, em seus dogmas, representaes de contedos obscuros e ocultos que jazem nas profundezas do inconsciente, ali misteriosamente instalados. Seu sentido encontrar a individualidade, a singularidade de todo ser humano. No devem ser apenas fenmenos a serem vividos dominicalmente ou para entretenimento de sacerdotes. A existncia de uma funo psquica atesta, por si s, a seriedade de seus propsitos. A partir da segunda metade da vida, a atitude religiosa de uma pessoa se configura como uma resposta ao significado mais profundo de sua existncia. O encontro com uma Religio Pessoal torna-se a soluo mais adequada ao dilema de seu significado. A Religio Pessoal uma experincia viva, conscientemente assumida em resposta s exigncias da funo que a gerou. Ela a espiritualidade da pessoa. A religio deve, antes de apresentar a face de Deus, como pretendem algumas, conectar o consciente ao inconsciente. No inconsciente est o numinoso, o misterioso e estremecedor produto da divindade. Oculto, pela impossibilidade de estar na conscincia em face de sua poderosa fora. a experincia de contato com o numinoso que faz surgir a religio. A religio um movimento coletivo, cujo surgimento no pertence a individualidade nem nasce pelo querer de algum. produto da coletividade, como um fenmeno de massa, que corresponde a algo que se processa na psiqu de cada pessoa. Os rituais religiosos so formas inferiores de contato com o divino. O contato direto fulminante. A Religio Pessoal amadurece o ego para o contato necessrio e maduro com o divino.
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A funo religiosa pode e deve ser estimulada. O trabalho consiste em depurar os princpios apresentados pelas religies, buscando perceber seus significados ocultos; retirar das normas religiosas o que pode ser identificado pela conscincia como sendo acessrio; conhecer e se envolver em experincias relacionadas ao sagrado, desenvolvendo percepes eliciadoras de idias transcendentes. A funo religiosa deve ser constantemente atualizada em experincias de contato com o numinoso, espiritual ou sagrado. A experincia religiosa um sentimento ntimo e intransfervel. A espiritualidade vivenciada atualiza, renova e revitaliza a religio. Deve-se descobrir o que de fato sagrado para si mesmo, pois isso uma representao da imagem arquetpica correspondente, gerada pela funo religiosa. O sagrado o Si-Mesmo em cada ser humano. As imagens religiosas, os rituais tradicionais e as lies regularmente apresentadas pelas religies formais nem sempre conseguem evocar o sentimento de conexo profunda com a divindade ou com o Si-Mesmo . Cada pessoa deve redescobrir o que lhe toca a alma. Os cultos e adoraes a certos cones atuais so manifestaes inconscientes da funo religiosa. A modernidade tem apresentado novos modelos no lugar de antigas figuras sacras, o que quer dizer que as imagens arquetpicas tm sido projetadas em novos moldes, em busca de outros significados. No mundo de hoje, a funo religiosa da psiqu exige novas formas de atualizao. No mais possvel, diante dos avanos cientficos e da nova conscincia, sustentar-se uma idia religiosa dogmtica. O dogma aliena e paralisa o processo de aquisio do saber. prefervel acreditar provisoriamente no mistrio. O mistrio leva o ser humano Religio Pessoal, bem como espiritualidade.
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A religio uma autntica manifestao da psiqu coletiva, que deseja ser conhecida. algo que se impe e que precisa de respostas. Sua atualizao responsvel pelo desenvolvimento da espiritualidade no ser humano. A espiritualidade se conquista e se apresenta naturalmente nas experincias religiosas. Quando a religio no conduz ao desenvolvimento da espiritualidade, no cumpre sua funo. A marca de Deus um componente estrutural a priori da psiqu, equivalente ao Si-Mesmo, isto , individualidade. A funo religiosa da psiqu contm e impulsionada por esses dois elementos, que, num certo sentido, se confundem. O Si-Mesmo o equivalente humano de Deus. Todos esto em busca do Si-Mesmo. Chamam-no de Deus, pois o identificam mais com o ego do que com o Si-Mesmo. A busca religiosa uma etapa, consignada como encontro com o divino, que visa o conhecimento de si mesmo. a forma mais agradvel e consistente de se chegar essncia de si mesmo. Se Deus no tivesse posto, no inconsciente do ser humano, a idia de que deveria busc-lo, dificilmente ele procuraria primeiro conhecer-se. Buscar Deus uma estratgia Dele mesmo, para que o ser humano se conhea. O ser humano acredita que, seguindo preceitos religiosos, estar com Deus. No entanto, quando sentir que isso est prximo, descobrir que est comeando a se conhecer. Tudo quanto se teorizar sobre o que as religies buscam, e afirmam que se pode encontrar aps a morte, pode ser tomado como suposio. Como se trata de representao dos contedos psquicos inconscientes, no passam de material simblico, portanto, passvel de compreenso de acordo com o estado da conscincia. Sobre
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tudo que pertence dimenso espiritual, s se pode falar de forma simblica. A psiqu religiosa sacraliza objetos quando eles remetem o ego a uma instncia desconhecida e de difcil explicao. Locais, fenmenos da natureza, objetos etc., so deificados pela psiqu religiosa.

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Deus
lm de qualquer considerao de ordem metafsica ou teolgica, Deus uma necessidade psicolgica. um princpio constitutivo da estrutura psquica humana, cujo nome foi adotado em consonncia existncia real de um ente transcendente. Por outro lado, do ponto de vista psicolgico, por conta da moral religiosa, sem Deus no h transgresso. Esta surge devido ignorncia e possibilidade de se exercer o livre-arbtrio. Sem a transgresso no se progride. A relao entre Deus e transgresso muito tnue, o que pode ser percebido no mito de Ado e Eva quando se se depara com a presena da serpente no paraso, sem que tenha sido o ser humano quem a colocara ali. A que Deus as religies se reportam? Particularmente escrevo sobre um conceito, sobre uma determinada idia, mas no sobre o ser que elas pretendem afirmar. Seria pretenso demais querer falar do no-humano. Querer alcanar isso pode alienar as conscincias mais lcidas. No se trata de discutir a respeito da natureza de Deus, mas da idia de Deus construda em minha conscincia, j que no inconsciente esta s possvel indiretamente. Conceituar Deus no o mesmo que compreender sua existncia. Deus, tal qual se postula, no est dentro nem fora, muito menos entre, pois so palavras que expressam situ178

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aes ou aspectos dimensionais da psiqu. Qualquer descrio espao-temporal se torna pobre. Melhor seria, para uma compreenso de Deus, referir-se ao sentimento, cuja descrio em palavras meramente figurativo, e no o que verdadeiramente se sente. Mais adequado do que descrever ou conceituar Deus senti-lo. Quando o ser humano experimenta uma angstia inexplicvel, um aperto no corao ou uma saudade de algo indefinvel, muito provavelmente se trata da falta do sentimento de Deus. um convite de Deus para ser notado. Por motivos imponderveis, a pessoa se distanciou de uma essncia que a convida ao encontro. Esse distanciamento, muito embora sentido, no de fato uma separao. No possvel separar o que no se conecta na dimenso fsica. Deus fez a criatura humana, que busca incessantemente encontr-lo, para que ela se conhea e o realize. No seria mais adequado que ele se revelasse sem rodeios? Que sasse do inconsciente para a conscincia? Melhor seria que se apresentasse desde o ato da criao. Talvez assim seja. Talvez no o tenhamos procurado onde ele de fato se encontra. Por isso, Deus uma realidade inacessvel a mim. Mas, h algo que constantemente teimo em lhe atribuir, que percebo pertencer a mim mesmo e que devo considerar um fator individual o poder. Sua principal caracterstica querer assumir um lugar eterno de poder sobre mim mesmo. A favor desse poder que se erguem as tradies religiosas, retirando-o do ser humano. O Deus descrito, cultuado e buscado pelas religies um complexo primitivo a ser dissolvido e atualizado. Em torno de seu nome, o ser humano agregou seus medos, conflitos, anseios e perspectivas, tornando-o objeto representativo do que no nem pode ser vivido.
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Divindades (Deus, Allah, Vishnu, Krishna, Afrodite, Exu, Omolu etc.) so potencialidades psquicas, poderosas estruturas sustentadoras da mente humana. Sua permanncia na conscincia no s inibe a soluo dos conflitos em seu entorno como tambm a manifestao real da divindade. Tendo ou no esse propsito, o Deus do Judasmo e do Cristianismo se tornou ameaador e no foi capaz de levar seus adeptos felicidade. O ser humano no se justifica como uma unidade sem seu criador. Tudo o que nele h no produto exclusivo de si mesmo, e ele no tem autonomia sobre o que lhe inconsciente. H algo nele, de que ele tenta se apossar, que no lhe pertence legitimamente. Esse movimento a vida. A busca da Unidade ou a idia de um Deus nico, que a tentativa do encontro com a prpria individualidade, reflete a face mltipla do Criador. Uma religio nica depe contra a chamada inteligncia divina. A vida muito diversa para caber uma nica idia a respeito de qualquer coisa. Paradoxalmente, um Deus Salvador e responsvel pelo ser humano o pe sempre em perigo. Tudo de bom que se afirma sobre Deus contribui para que se radicalize a existncia de um grande e poderoso mal. Melhor ser sair do maniquesmo da conscincia para uma percepo de totalidade e multiplicidade sobre o Criador da Vida. O culto interior ou a liberdade interna do entendimento a respeito de Deus e de religio algo inexprimvel. O culto externo ou a adoo de uma religio sua mera e simplria representao. Por muito tempo, a conscincia estar envolvida naquela percepo dicotmica, dissociada da totalidade divina. Uma das solues passar da adorao para a devoo. A primeira se assemelha contemplao, e a segunda deve ser aqui entendida como comunho ou
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integrao. Trata-se de um novo relacionamento com o que quer que seja Deus. Uma outra, a adoo da Religio Pessoal, cujo Deus tem caractersticas diferentes daquelas descritas pelas religies formais. O Deus das religies formais precisa de um novo manto, de uma nova luz sobre a humanidade para despejar sua claridade nas conscincias. O novo manto cultivar o sentimento ntimo de conexo com Deus, atravs da relao com outra pessoa. As disputas hegemnicas protagonizadas pelas religies formais dificultam aquele sentimento. Conexes humanas de disputas so desperdcios ntimos de energia criativa. A Religio Pessoal poder abrigar o novo manto. Quanto maior o nmero de atributos e qualificaes superlativas humanas dadas a Deus, maior a sombra no inconsciente humano, o que pode soar como uma desqualificao ou negao do significado humano de Deus. Na realidade, uma tentativa de aproximar o que seja Deus de algo que o ser humano intui e sente sem precisar de uma descrio lgica. Se, por um lado, o culto a Deus promove a reduo do caos na mente humana, por outro, impede no ser humano sua autonomia e a apreenso do saber. Sua autodeterminao acontecer aps o equilbrio interno, quando j tenha alcanado o domnio sobre si mesmo. Quanto maior o poder de Deus, menor a autonomia e a autodeterminao para senti-lo em si mesmo. H que se construir uma ntima ligao com a causa maggiore na essncia de si mesmo. Trata-se de uma conexo de natureza no-linear, sutil e no dirigida. Por isso o risco de uma inflao egica ou da assuno de um complexo muito grande. Quando a conexo entre criatura e Criador se estabelece de forma harmnica e equilibrada, os rituais se tornam mais conscientes.
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A conscincia de um Deus nico representa, de um lado, um avano no processo de conscientizao da prpria individualidade; por outro lado, representa um sistema de auto-defesa contra a fora da multiplicidade das representaes do sagrado. A idia de um Deus nico lgica e, ao mesmo tempo, contraditria, pois representa uma negao da unidade de cada ser humano. Um Deus nico que fez singularidades e nico no fez uma nica coisa, mas a multiplicidade delas. Dois questionamentos simples, mas embaraosos, atribudos a Einstein e a Jung, pela impossibilidade de respostas precisas e isentas do esprito sectrio, merecem destaque. O primeiro, o que fez Deus aps ter criado o universo; o segundo, por que Deus preferiu estar no inconsciente ao invs de se por na conscincia humana. Esses questionamentos decorrem da lgica humana em buscar uma causalidade linear para o Universo e da idia da obscuridade de Deus. Deus inicialmente se apresenta como uma imagem primordial, propositadamente oculta no inconsciente do ser humano, surgindo gradativamente na sua conscincia, entre outros formatos, como uma idia numinosa e transcendente. Posteriormente, quando sob o domnio de elementos civilizatrios, quando a lgica causal vier a se implantar em sua mente, o ser humano admitir a idia de Deus como Causa Primeira. Aquela imagem, tanto quanto a idia que o ser humano fez e faz de Deus, menos ainda pelo formato adotado, nem de longe se aproxima daquilo que de fato a Fonte Geradora da Vida. Apresentar novos e velhos formatos, refundir antigas formas de concepo ou opor-se a outras tem sido a maneira mais comum do ser humano apresentar a idia que ele tem de Deus.
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O escuro e infinitamente pequeno lugar em que o ser humano se pe, procura da potente luz na qual acredita se encontre aquela Fonte Geradora, o distancia cada vez mais da condio precpua para atingi-la. Tal condio a percepo de si mesmo como sendo a prpria Fonte Geradora se realizando. Longe dos holofotes da conscincia, jaz um imenso mundo inconsciente no qual o esprito habita. Naquele mundo, Deus se mostrou como uma imagem suficientemente potente, qual um arqutipo, para impulsionar o ser humano a buscar-se, acreditando encontr-lo. Deus, pela lgica humana, criou uma srie de contradies que necessitam de compreenso e de integrao para o necessrio desenvolvimento espiritual do ser humano. A forma como o ser humano lida com a divindade ou com o poder que supe ser responsvel por sua criao decorre apenas da relao que ele tem com a idia de Deus, e no com o prprio. Isso mais evidente nos cultos primitivos, em alguns dos quais, os elementos da natureza eram considerados o prprio Deus. Para o primitivo, no o simbolizavam, pois acreditavam estar lidando com o prprio Deus. Isso tambm ocorre na atualidade, pois nada garante ao crente que seu entendimento sobre Deus de fato real. Independentemente de ser real ou no, de lidar com Deus ou com uma idia pessoal dele, essa idia que se torna norteadora da busca de um sentido e de um significado para a vida. Essa idia parece ser fundamental existncia humana, porque maior do que qualquer outra que possa vir de sua mente consciente. Quando o ser humano atribui qualidades, evidentemente humanas, a Deus, ele admite, sem o querer, a existncia de opostos. Um Deus justo promover justia e injustia; um Deus de amor promover amorosidade e
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dio; um Deus bom promover bem e mal; um Deus poderoso promover poder e fragilidade; um Deus inteligente promover sabedoria e ignorncia. As qualidades humanas atribudas a Deus devem ser entendidas como metforas simblicas a respeito do que seja a divindade em relao ao humano. O que Deus de fato no pertence razo humana. A Teoria da Relatividade e a Teoria Quntica enfatizam a relao entre observador e objeto observado. Sempre que o objeto observado, sofre algum tipo de modificao. Transpondo isso para a percepo de Deus, pode-se afirmar que uma melhor observao deve alterar essa concepo. A Teoria Quntica provoca a religio. O Deus das religies, agora melhor observado, modifica-se no interior da psiqu humana. Sempre que o ser humano se modificar, semelhante movimento ocorrer com o Deus em que ele acredita. A Religio Pessoal no exclui o ser humano disso, pois certamente o levar a uma concepo a respeito de Deus muito mais prxima de sua verdadeira essncia.

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Representaes do Inconsciente
s representaes do inconsciente atravs dos rituais religiosos so tentativas de reduzir a tenso provocada pela busca do significado da existncia e pelo encontro com a singularidade do Si-Mesmo. A gama variada de rituais religiosos em todas as culturas e em todas as pocas atesta que o fator desencadeador possui uma natureza complexa, mltipla e diferente da que a conscincia imagina. A no-acessibilidade imediata da conscincia a esse fator representa um imenso abismo a ser transposto pelo ego. A conscincia, mesmo sendo uma aquisio recente na evoluo humana, no permite a presena imediata das aquisies nas experincias do passado. Ela as enterra, deixando, nos subterrneos de sua estrutura, milnios de histria com todas as experincias que formam sua prpria natureza. Resta tornar-se veculo de representao do que se encontra sob seus ps. Seu movimento, suas aspiraes e seu presente se devem ao dinamismo que se agita em suas entranhas. Coletivamente, nos subterrneos do inconsciente humano, persiste a tendncia de cada indivduo a movimentar-se em meio ignorncia sobre o Si-Mesmo. As representaes so as pistas para a compreenso do que se esconde teimosamente no interior de cada ser humano. Paradoxalmente, por mais consciente que seja de si mes185

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mo, ele no se auto-explica. Carregar sempre sua prpria ignorncia. Por mais sbio que seja, no alcana diretamente quem ele prprio . Sua arrogncia esbarra na dificuldade em aceitar a ignorncia como parte estrutural de seu ser. Em vrias tribos indgenas, encontram-se os chamados rituais de iniciao, que visam introduzir o nefito no mundo adulto ou em contato com o sagrado. Nada mais so do que representaes de processos psicolgicos visando autotransformao. So dinamismos psquicos que se atualizam nos rituais. Suas manifestaes atendem aos anseios arquetpicos do esprito imortal. Os rituais ligados fertilidade do solo para uma melhor colheita em tempos de escassez so atualizaes do arqutipo da deusa Me-Terra (fertilidade, capacidade criadora etc.), que foi parcialmente esquecida pela predominncia seguinte do arqutipo do DeusPai (civilizao, logos, cincia etc.). Ao longo da histria da Humanidade, como hoje ainda acontece em algumas culturas, o arqutipo que mobiliza o ser humano para a realizao de rituais esteve representado em vrios cultos. Foram projees inicialmente coletivas, que depois, com o aparecimento da cincia, se modificaram, aproximando-se da conscincia e perdendo seu poder transcendente. Segue-se uma relao resumida das principais projees do referido arqutipo. 1. Projeo do arqutipo em fenmenos da natureza (raios, trovo, chuva, rios etc.). A conscincia ainda preenchida exclusivamente pelo inexplicvel, pelos fenmenos que se apresentavam de forma destrutiva ao corpo fsico, isto , quilo que extenso de seu prprio ser, colocava-os como superiores e geradores de tudo que era sentido. O que era ameaador tornava-se divino. A
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nascia o medo de Deus e o embrio da idia de um ser Todo Poderoso. 2. Da Natureza, prxima e ameaadora, quela distante e incomensurvel, o ser humano passou a projetar o Si-Mesmo nos objetos celestes (sol, lua, estrelas, planetas, cometas, fenmenos astronmicos etc.). O olhar para as estrelas simboliza a razo humana em contraposio ao animal, que se volta para a terra onde encontra seu alimento. O sol, representando ou sendo considerado o prprio Deus, ou smbolo do Si-Mesmo, est presente em vrias culturas. 3. Do impondervel e distante para o palpvel e conhecido, o ser humano passou a projetar o arqutipo em objetos materiais (montanhas, amuletos, pedras, totens, ervas, rvores etc.) ou animais (urso, elefante, cobra, entre outros). Os objetos ou animais escolhidos eram tidos como possuidores de poderes mgicos, numa clara projeo do poder inconsciente do Si-Mesmo. Ador-los poderia permitir a absoro de tais poderes. 4. Quando o ego se apresentou mais maduro, o arqutipo pde se projetar em seres humanos dotados de poderes sobrenaturais (lderes msticos, pajs, mdiuns etc.). Essa forma de projeo permitiu uma maior conscincia dos valores disseminados pelas religies. Seres humanos visveis, no apenas o inconsciente, passaram a ensinar, divulgar e dirigir a conscincia para a compreenso do sagrado. 5. Quando o ego se apresentou inflacionado e o medo ainda dominava as conscincias, a projeo do arqutipo transportou-se para figuras humanas dotadas de cargos ou de poder estatal (reis, imperadores, senhores feudais, coronis etc.), que eram entronizados como se divinos fossem, numa demonstrao clara da flexibilidade de representaes inerentes ao arqutipo.
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6. Esgotando-se as projees no que era conhecido ou passvel de verificao direta, a representao externa do arqutipo passou a ocorrer em entidades sobrenaturais (santos, espritos protetores, divindades domsticas etc.). No alcanando o divino, a psiqu humana aceitou algo que se aproximasse do inconsciente. So intermedirios entre o ser humano e Deus, que passaram a ter os mesmos atributos e poderes da divindade. 7. Ainda vinculado pelo dinamismo inconsciente, a projeo do arqutipo passou a acontecer em deuses mticos (Zeus, Hera, Apolo, Atena, Afrodite, Oxal etc.). A psiqu humana, sem alcanar de fato a conscincia do Si-Mesmo, passa a projetar seus atributos nas representaes de processos inconscientes. Pode-se dizer que no h sociedade sem rituais. No me refiro apenas aos rituais chamados de religiosos, pois muitos comportamentos humanos repetitivos so representaes da funo religiosa da psiqu. Por exemplo, o hbito de se banhar no mar, presente sobretudo nos pases tropicais, possui correspondncia ao ritual de purificao de algumas religies, numa espcie de batismo. Os antigos faziam rituais com sacrifcios e oferendas visando manter sob controle as foras sobrenaturais dominantes em seu inconsciente, oriundas da psiqu religiosa. Os rituais atualizam e do movimento energia psquica pertinente. Hoje, requerem conscincia, senso de propsito e sentimento de conectividade. No devem se tornar meros movimentos repetitivos e afastados de um sentido transcendente. Devem mobilizar a energia psquica, que jaz no inconsciente, a servio do processo de autoconhecimento. Experincias criativas, tentativas de visualizar diferentes percepes da realidade, conspi188

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raes ntimas para ocorrncia de certos fenmenos comuns da vida cotidiana, planos que culminam em benefcios coletivos, eventuais contemplaes da Imago Dei de algum, sentir-se plenamente conectado ao Criador sem qualquer demonstrao externa, so tentativas de transcender em meio vida cotidiana. As religies, na sociedade moderna, distanciaramse da Natureza, dos deuses tribais, das oferendas, aproximando-se cada vez mais do Si-Mesmo. No meio do caminho, elas se encontraram com a mediunidade nas pessoas comuns. No mais nos santos nem nos deuses, mas nas pessoas como um atributo coletivo. Os rituais esto contando com presenas espirituais fora dos templos religiosos, numa desmistificao do sagrado associado a um lugar. O ser humano tornou-se seu prprio templo, aproximando-se cada vez mais do Si-Mesmo.

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Religio como norma coletiva


or detrs das normas sociais, institudas legal e formalmente, h uma conscincia superior que norteia as aes humanas como se fosse uma constante idia diretora da vida psquica. Paira, principalmente no inconsciente humano, um sistema religioso balizador e condutor da psiqu, levando-a at um ponto ideal. Ao mesmo tempo em que oferece garantias coletivas de um futuro ideal, estreita a criatividade natural e prope uma divindade limitadora de qualquer expanso fora de seus princpios. O sentimento religioso um fenmeno transcendente que ocorre no interior da psiqu humana e que se revela em um formato irracional, ilgico e aceitvel a priori . A descrio do fenmeno religioso, como hierofania, acontece com o colorido humano. Tudo que ocorre, nesse particular, tem a participao da conscincia e, antes de tudo, do inconsciente humano. Mesmo considerando que so manifestaes que se originam no inconsciente, seu reconhecimento passa pela conscincia, adotando um formato racionalmente acessvel. A utilizao da religio tem buscado disciplinar, orientar e conduzir a psiqu humana para um ordenamento, em princpio, transcendente. Conseqentemente, o ego absorve esse molde como norma de conduta ou comportamento social aceitvel e idealizado.
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A religio conduz a mente humana em uma certa ordem e a um destino que parecem ser os melhores e os mais seguros para o indivduo. Contraditoriamente, ela aponta para a individualidade com normas coletivas, muitas vezes cristalizando a prpria mente em formas e clichs mentais de difcil mudana. As religies conduzem ou caminham para um ou mais dos seguintes processos: Esoterismo (para iniciados) Penetra em questes que visam desvendar o que pertence tradio religiosa e que se encontra oculto. Esse caminho se destina a poucos estudiosos e dedicados sinceros. Em geral, leva os indivduos estagnao e ao apego letra de livros sagrados. Praticidade Oferece modos de conduta que facilitam a vida prtica sem ferir princpios e normas religiosas. A necessria transcendncia conscientemente adiada. Visa facilitar a vida cotidiana dos adeptos, pretendendo torn-los felizes e exemplos dignos de imitao. Espiritualizao Visa orientar seus adeptos a alcanar um estgio de transcendncia, valorizando a vida no Alm em detrimento da vida material. Prioriza o aperfeioamento moral, concitando as pessoas aquisio de virtudes que as aproximem do divino. Santificao Prope a negao da vida material em favor da beatitude e da vida monstica. A vida mundana condenada e o ser humano comum impuro e pecador por natureza. Por esse motivo, o mais importante trabalho de todos livrar-se do mal e das tentaes. Devoo Conclama as pessoas a se unirem em torno de uma f ou de uma crena em um Deus protetor que lhes trar paz e harmonia. Pretende mostrar um caminho de suprema ventura a partir de certas prticas
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ascticas. Seus adeptos vivem no mundo, mas proclamam um outro melhor; voltam-se para seus prprios muros, mantendo uma hierarquia interna. Racionalizao Tenta explicar tudo, valorizando a razo e a cincia. Nega a necessidade de rituais e de realizao fora de seus princpios. Seus adeptos so espiritualistas, mas no se afastam da vida comum. Prope a realizao pessoal em detrimento da coletiva. mais tolerante s crenas alheias. Ritualizao Serve para a cristalizao de dogmas e princpios. Oferece um mundo parte, no qual a divindade ocupa um papel relevante como suprema autoridade, dispensadora de protees e garantia de imortalidade. Assemelha-se a crenas tribais, colocando-se como de origem divina. mantenedora de crenas arcaicas e extemporneas. As religies formam um sistema de defesa individual e coletivo, contribuindo para a manuteno de um determinado grupo social. Alm de valorizar a transcendncia e a espiritualidade, a religio um sistema cultural de grande importncia para a formao da conscincia coletiva. Difcil sair do abrigo de uma religio. reconfortante sentir-se pertencente a uma comunidade espiritual. A norma religiosa coletiva se transforma na principal estrutura psquica de proteo e garantia de uma ordem que evitaria um possvel caos no mundo. A norma coletiva passa a ser a nica possibilidade da existncia de um campo no qual tudo se cria e se busca. O divino pregado e institudo pela religio torna-se o mximo, tomando o lugar do universo criativo, natural e acessvel a todos. Ao invs de um processo natural, pessoal, de encontro com o mximo de si mesmo, restou ao ser humano
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uma idia refreadora. Sua desdita encontra alvio e soluo na esperana redentora da religio, que passou a ter outro nome, uma espcie de sinnimo esperana. Esperana um outro nome que se d religio; o caminho que a psiqu encontrou para legitimar sua imortalidade. Nos escaninhos mais profundos da psiqu humana, no inconsciente, subjaz uma sutil certeza a realidade material o reverso de algo muito precioso. Esse algo ora percebido como a individualidade, ora como o prprio Deus. A realidade um conduto para as realizaes do esprito, uma espcie de estao redutora de algo potencialmente maior. Esperar que a norma religiosa conduza a esse algo ser to tedioso e doloroso quanto o acorrentamento de Prometeu. Embora convidativa, pois emula um ideal de pessoa, a religio mobiliza foras internas condutoras da busca pelo significado da vida. Torna-se, porm, limitadora do universo possvel psiqu em face de suas normas rgidas e excessivamente humanas. exatamente essa influncia humana que reduz o alcance da religio, porquanto a necessidade de conteno da prpria psiqu limita a transcendncia necessria evoluo. Os livros sagrados (Vedas, Tor, Bblia, Alcoro, I Ching etc.) refletem a religiosidade coletiva das diversas sociedades, mas no alcanam a totalidade do arqutipo religioso na psiqu. So patrimnios da inteligncia humana, livros que encerram verdadeiros tesouros para a alma, mas se perdem no labirinto de normas e princpios ainda muito humanos. No que devam ser alterados. Um livro considerado sagrado perpetua ensinamentos, no devendo ser modificado com o tempo. Seu contedo que deve ser sempre contextualizado a cada poca e de acordo com a cultura daquele que o l. As religies, atra193

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vs de seus livros, atualizam o divino no humano enquanto veiculam mensagens subliminares com os paradigmas das leis de Deus. O arqutipo uma estrutura psquica que leva o ser humano a uma forma coletiva de ser e viver. Serve como forma inicial ante a ignorncia natural do ser humano. As experincias vividas, influenciadas pelos arqutipos, devem levar o ser humano a fazer escolhas individuais, no mais premido pelo inconsciente. O arqutipo religioso leva religio coletiva, que dever conduzir o ser humano Religio Pessoal. Ele aprende com a norma coletiva para depois constituir sua norma pessoal, superior e mais adequada que a primeira. Os lderes e fundadores das religies estabelecem o que consideram uma nova forma de lidar com o sagrado. Instituem a norma coletiva. Com o tempo e o alcance popular, tornam-se algo coletivo, miscigenam-se com crenas e cultos populares, e se aproximam de algo pertencente dimenso coletiva da psiqu. A religio se coletiviza para depois se dividir, fragmentando-se ao encontro da Religio Pessoal. o que ocorre com o sincretismo religioso, que demonstra o fenmeno comum da existncia de uma dimenso coletiva na psiqu. A passagem da norma coletiva da religio formal para a constituio de uma tica pessoal superior pode ser percebida na formao das Organizaes No-Governamentais (ONGs). Elas se constituem substituindo, em seus deveres, o Estado, propondo-se a uma tica superior, livres de interesses menores. De alguma forma, elas tambm ocupam um lugar aparentemente exclusivo das religies. A religio formal se mostra como norma coletiva, necessria para o desenvolvimento da humanidade. Quan194

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do percebida como fator de busca pessoal, d um passo importante para a constituio da Religio Pessoal. Em matria de religio, tudo que misterioso atrai a mente ainda incipiente em relao ao sentido e ao significado da vida. Essa atrao dever levar o ser humano ao que existe de mais profundo e maravilhoso na alma humana.

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Espiritismo e religio
rigor, o Espiritismo no deveria ser considerado uma religio. No pelo fato de seu fundador, Allan Kardec, no t-lo caracterizado explicitamente como tal, mas, principalmente, por ele ter adotado uma religio j constituda como referencial. Em seus escritos, no h uma proposta de reviso do Cristianismo, nem ele se props a ser um reformador religioso. O Espiritismo no surgiu para reformular ou consertar o Cristianismo. Sua proposta tratar das relaes do mundo material com o espiritual e de revelar as leis do mundo dos espritos. O Cristianismo foi a religio em que o Espiritismo se amparou, adequando-se, durante sua histria e translado para o Brasil, a uma legitimao social mais ampla. Sem isso, isto , sem se apresentar como uma religio, poderia no haver possibilidade de nele se projetarem as imagens arquetpicas exigidas pela psiqu religiosa. Tornar-se uma religio configura-se como uma estratgia para uma melhor assimilao de seus princpios. Por outro lado, se considerado como religio crist, como assim denominou Allan Kardec25 ao afirmar sua bandeira, o Espiritismo seria, ento, mais uma das dissidncias que ocorreram no Cristianismo. Dificilmente, porm, se aceitaria essa
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O Livro dos Mdiuns , 52 ed. Rio de Janeiro: FEB, 1985, item 350.

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tese, pois os adeptos do Espiritismo no seguem orientaes papais nem realizam rituais presentes na grande maioria do atos litrgicos das igrejas crists. O Cristianismo primitivo se dividiu em Catlico Romano e em Ortodoxo. Aps essa diviso surgiu o Protestantismo do Catlico Romano. Em seguida, a Igreja Anglicana. No Protestantismo, surgiram muitas dissidncias, que podem ser percebidas pelo crescimento do nmero de religies pentecostais, principalmente nos Estados Unidos e no Brasil. A diviso do Cristianismo em vrias escolas, ou religies, (Catlica Romana, Ortodoxa, Protestante, Luterana, Metodista, Anglicana, Adventista, Pentecostal etc.) parece ocorrer por fora da necessidade de ampliao da conscincia divina no ser humano. O Espiritismo cristo surgiu principalmente entre aqueles que professavam o Cristianismo Catlico Romano, o que no significa ter havido uma dissidncia religiosa. De fato, houve a assimilao de novos contedos, de natureza medinica e relativos reencarnao. O Cristianismo, em seus valores morais, no difere, no Espiritismo, daquele apresentado no Catolicismo nem nas demais religies crists. A escolha do Cristianismo como veculo para disseminao do Espiritismo tem sido eficaz na propagao de conceitos bsicos a respeito da vida espiritual. Assim, em contato com uma religio, a coletividade humana pode ser melhor e mais eficazmente conduzida a entender uma nova idia. Em face do avano do conhecimento cientfico em detrimento do saber emprico, o que reduziu o conhecimento religioso apenas a uma f, o Espiritismo tornou-se a opo mais adequada transcendncia espiritual.
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Independentemente da veracidade dos princpios espritas, sua adoo aos princpios religiosos judaicocristos, adaptando-os cultura brasileira, deixa muitas lacunas ou vazios ao adepto esclarecido. Por exemplo, exclui as propostas das religies orientais, no restando ao adepto a possibilidade de aderir a uma religio universalista ou holstica. Os princpios espritas no se restringem a questes de f ou a virtudes a serem adquiridas pelos adeptos, pois visam, sobretudo, o esclarecimento a respeito das questes de natureza espiritual. O espiritual aqui referido independe das correlaes religiosas que possam ser feitas. O Espiritismo brasileiro se transformou numa religio sincrtica com fortes traos oriundos do Cristianismo Catlico. O sincretismo incorporou tambm conceitos orientais, aceitos por grande parte dos brasileiros. Um deles a noo de carma, associada idia de causalidade absoluta, que, como uma lei de ao e reao, engessa a criatividade e a inteligncia humana. Em alguma dimenso, ou circunstncia, pode ocorrer sua existncia, mesmo assim, outras possibilidades podem determinar sua no ocorrncia. O carma no absoluto. O ato humano no pode ser aceito como irrevogvel. A religio cultuada no Espiritismo contm os seguintes princpios: l existncia de Deus como Criador de tudo que existe; l existncia, individualidade e imortalidade do Esprito, independente do corpo fsico; l os espritos desencarnados habitam o mundo espiritual, pr-existente ao mundo material; l o homem constitudo de uma trade Esprito, Perisprito e Corpo Fsico;
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os espritos evoluem visando a perfeio moral; a reencarnao o meio pelo qual os espritos retornam a um novo corpo para processarem sua evoluo espiritual; no Universo h diferentes mundos habitados por espritos de variados graus de evoluo; os espritos se comunicam com os encarnados pela mediunidade, havendo influncia mtua; a moral crist a moral esprita; a maior das virtudes a prtica da Caridade; incentivo ao amor ao prximo, tolerncia, pacincia e humildade, combatendo o egosmo e o orgulho; revelao das leis do mundo espiritual.

Espiritismo e Cristianismo so inseparveis. Entretanto, preciso afirmar o que de fato o Espiritismo acrescenta ao Cristianismo e o que apresenta independente dele. A confluncia dos dois se situa no campo da moral. Nenhuma das religies oriundas das divises no Cristianismo exercita a mediunidade tal como estudada e praticada no Espiritismo. Tampouco a descrio do mundo espiritual feita pelo Espiritismo comum a qualquer outra religio. A maior freqncia aos centros espritas ocorre nas chamadas reunies doutrinrias, em que as pessoas recebem os ensinamentos espritas. Essas reunies correspondem s reunies de culto semanal nas outras religies, e tm sido a maneira mais eficaz de se divulgar o Espiritismo. Ser esprita no simplesmente ser cristo. O Espiritismo incorpora, em seus princpios, alguns conceitos do Cristianismo, o que, muito embora situe o Espiritismo como religio crist, no delimita o alcance de sua dou199

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trina nem esgota seu saber. Ser esprita no implica numa atitude exclusivamente religiosa. Embora cristo, o esprita vive sua f de maneira pessoal. Quando muito, adota uma outra interpretao das parbolas do Cristianismo. O Espiritismo no adota os rituais do Cristianismo Catlico e do Ortodoxo nem se concentra exclusivamente na f em Cristo, como no Protestantismo. O Cristianismo se apresenta como uma representao do mito do salvador e do redentor. A fora do Cristianismo, presente nos acontecimentos que marcaram sua histria, reside na aproximao das classes menos favorecidas e na apresentao de princpios muito prximos da essncia divina em cada ser humano. Nesse aspecto, o Judasmo fez o trabalho de base. Na histria do Cristianismo viram-se sacrifcios, divulgao ampla, adoo indiscriminada, consolidao dos dogmas, perseguies, divises, relao de poder com o Estado, centralizao, perda de adeptos e sincretismo. Pode-se dizer que o Cristianismo foi tentando se amoldar, ao longo da histria da humanidade, ao desenvolvimento do ser humano e da sociedade em que ele vive. Algum sucesso obteve, pois seu grande nmero de adeptos e sua longa vida atestam isso. O Espiritismo migrou da Frana para o Brasil, adaptando-se cultura brasileira. Tem tido pouca modificao desde sua implantao, ocorrida no final do Sculo XIX. No incio do Sculo XX, em seu seio, por questes relacionadas a divergncias quanto prtica medinica, surgiu a Umbanda, proporcionando o nascimento de uma outra religio. Por conta da prtica medinica, o Espiritismo, a Umbanda e o Candombl, este ltimo de origem africana, tm sido confundidos e sofrem preconceitos por parte das demais religies crists. O nmero de adeptos
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que migram do Catolicismo para essas religies tem aumentado muito, sobretudo nas classes mais favorecidas materialmente. Uma das foras atrativas de uma religio sua capacidade de oferecer elementos para projeo do Self. A maioria dos carismticos lderes religiosos conseguia essa funo pelo que falavam, pelo comportamento tendente ao mtico e mgico e pelo que transpareciam. O Cristo uma das representaes do Self mais conhecidas. Jesus conseguiu fazer com que as pessoas nele projetassem o prprio Self. Jesus pode ter sido incompreendido e at considerado controvertido, mas ele encarnou a representao do Self coletivo. Em matria de religio, principalmente a Crist, quanto mais as pessoas se distanciam dos fatos, mais se aproximam do mito. Ao longo da histria, Jesus foi se tornando o Cristo. No Espiritismo, o Self tambm projetado em Jesus. Em relao ao modo como o Cristianismo passou a ser vivido, pode-se observar uma certa tendncia ao ascetismo, prtica que no era dos doze apstolos, muito menos de Jesus. A personalidade do apstolo Paulo pode ter feito a diferena. Sua vida monstica pode ter influenciado a conduta e as normas do Cristianismo. No Espiritismo brasileiro, h uma certa tendncia de seus adeptos em propagar uma vida quase monstica, por influncia do Cristianismo. Felizmente o xito tem sido pequeno. Mesmo que no se encontre assumidamente em Allan Kardec o registro de que o Espiritismo uma religio, ele se tornou de fato uma religio. No Brasil, os dispositivos legais garantem tal afirmao. Sua prtica, seus postulados e sua conexo com o Cristianismo atestam isso. O Espiritismo no deixa de ser uma religio diferente, pois no se observam altares, culto a imagens,
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liturgias, votos de castidade ou de pobreza, paramentos nem hierarquias de comando em seus templos ou organizaes. Sua religio se fundamenta na busca constante pelo aperfeioamento moral dos adeptos e por sua constante busca pela unidade com Deus. A discusso que existe entre alguns adeptos do Espiritismo sobre sua identidade religiosa, tentando negla, incua, pois no se trata de uma designao da conscincia. Naturalmente, o contato com o espiritual assume um carter religioso. As propostas espritas so comuns grande maioria das religies. A prtica esprita tem sido executada no seio da grande maioria das religies. No h como fugir da tendncia arquetpica, pois os elementos projetivos esto presentes. O carter medinico, a crena e a pregao consistente sobre a reencarnao, o forte apelo caridade pessoal, alm do trabalho de combate s obsesses espirituais, fazem do Espiritismo uma religio diferente e encantadoramente atraente.

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Arqutipo paterno
ser humano no foi criado com a condio inata de determinar instantaneamente seus limites. Ao longo de sua evoluo, duramente, ele tem aprendido a estabelecer seus prprios limites. Teve de entender que no podia tudo nem devia abusar de seus potenciais vitais. Teve de construir uma moral a partir do resultante de suas experincias, vividas com sacrifcios e renncias. Os processos geradores de limites tm um centro direcionador comum o arqutipo paterno. Aquele que conduz o ego dentro de certos limites, estabelecendo a necessidade de escolhas, mostrando o sim e o no, o certo e o errado, o adequado e o no adequado. Um dos instrumentos atualizadores desse arqutipo a religio. Sua utilidade est a servio do amadurecimento do esprito, no que diz respeito tambm aquisio da noo de limites. Os abusos cometidos em nome da religio decorrem da natureza desse arqutipo, o que justifica as grandes religies nascerem em decorrncia de ensinamentos trazidos por homens. O carter masculino, paterno e refreador, est presente em toda religio. A excluso do feminino nas origens e desenvolvimento dos paradigmas das religies reflete o predomnio do arqutipo paterno. As religies exercem controle, como o pai sobre seus filhos, o que talvez decorra da intensa
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fora gerada no contato com o sagrado, que necessita da devida educao. A excluso do feminino enviesou a religio do indivduo enquanto homem e enquanto mulher, estereotipando condutas e estabelecendo hierarquias. Por ter sido escolhida como representao do pecado, a mulher, como smbolo do feminino, foi reprimida e estigmatizada. Pela possibilidade de aplicao de uma sano moral, sugerida pelas religies, a presso se exerce nas conscincias humanas, limitando sua natural condio de liberdade. Como nem sempre prevalece o que diz a conscincia, pois a natureza do inconsciente, anterior e reprimida, a de se realizar para que a vida acontea, ocorrem as transgresses. Inevitavelmente advm a culpa. Religio e culpa Difcil dissociar uma da outra. um desafio de todo ser humano, a caminho da constituio da Religio Pessoal, viver sua religiosidade sem culpa. Isto requer coragem e senso de propsito. Sem medo e sem receio de castigo algum, pois quem fez a criatura s a puniria se fosse mau educador. Religio sem culpa, sem pecado e sem castigo praticamente impossvel. Salvo se seus paradigmas preconizassem que toda transgresso merece reconsiderao e escolha compartilhada do processo educativo necessrio ao aprendizado. Mesmo assim, toda experincia educativa a ser vivida deve ser acompanhada de elementos favorecedores de auto-compreenso. Com a Religio Pessoal, o ser humano caminha para a eliminao total da culpa. Aquele que se realizou, ou se encontra a caminho, no possui culpa de qualquer natureza. A culpa um poderoso mecanismo de desequilbrio
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psquico, requerendo processos de redeno pela dor. A ignorncia dos adeptos, o medo de estar fora do abrigo oferecido pela religio, o temor de um destino aversivo aps a morte, a forte tradio religiosa, o receio de encarar o desconhecido so fatores responsveis pelo excesso de culpa que campeia na conscincia da criatura humana. Religies que sacralizam livros, dificultando seu acesso aos adeptos, que pregam exclusividade no contato com Deus, que disseminam o medo de um futuro de sofrimento para o pecador so obstculos libertao das conscincias. Desvincular-se de religies opressoras torna-se fundamental para a adoo da Religio Pessoal. O discurso dos lderes religiosos, geralmente carregado de admoestaes sobre os perigos do ser humano se aventurar para fora dos cnones por eles pregados, dessa forma, atesta o mtodo para instalar a culpa nos adeptos. A religio que deveria libertar, aprisiona pelo medo e pela culpa. Quando o olhar dos lderes das religies na direo de seus adeptos estiver impregnado pelo amor semelhante quele que o Deus, to citado em suas pregaes, tinha para com suas criaturas, no haver espao para advertncias de carter intimidador. Tais admoestaes so feitas como se oferecessem salvao mediante barganha, barateando aquilo que deveria ser considerado sagrado, em troca da permanncia do expectador, crente fervoroso do imaginrio de seus lderes. No h religio que satisfaa, quando seus lderes fogem do dever de conduzir seus liderados ao caminho da felicidade e da alegria de serem chamados de filhos de Deus. Religio no tribunal nem tem jurisdio sobre as conscincias humanas para lhes impingir qualquer destino futuro.
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Religio e transgresso Transgresso e norma so elementos que se aproximam muito. Uma vive em funo da outra. No por acaso que se tornam comuns os escndalos envolvendo lderes religiosos. Vm pblico apenas aqueles que so descobertos, em meio a uma quantidade no disponvel de transgresses intra-muros. Isso no de se estranhar, pois os lderes so tambm adeptos de suas prprias pregaes. Por se reprimirem mais do que os outros, esto mais sujeitos a transgredir. Vivem sob uma culpa maior por conta da aceitao da vocao religiosa, que lhes impe regras a serem cumpridas sob pena de resvalarem para o destino nefasto pregado em suas prprias admoestaes. O rompimento com a norma ou preceito religioso torna-se uma instigante tentao, quase uma compulso psicolgica a martelar a conscincia. Todo desejo proibido que no vivido, ou compreendido, ou convertido conscientemente, torna-se um convite a ser realizado de forma inconsciente, com prejuzo ao desenvolvimento da personalidade. Quando a represso ocorre, instala-se a neurose. O indivduo adoece por conta de sua recusa a viver algo que nasce de sua nsia pela vida. A transgresso no significa necessariamente a realizao do ilcito ou do pecaminoso, pois nem sempre o que lcito moral, ou o que ilcito imoral. Trata-se de aferir o que estaria de acordo com uma moral superior e que deveria ser vivido. uma espcie de rompimento com uma pieguice e inocncia pueril, proporcionada pela aceitao de uma religio exclusivamente protetora e intimidadora. As normas religiosas geralmente se estabeleceram em torno do dogma, que funciona como uma barreira
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descoberta dos significados ocultos relacionados com os fenmenos numinosos. Os dogmas tratam de colocar ncoras psicolgicas de apoio ao que no pode ser assimilado pela conscincia. A religio arquetpica dever dar lugar Religio Pessoal. A amorosidade dever prevalecer sobre a hegemonia do arqutipo paterno. A religio do amor dever imperar sobre toda sano.

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Ando a procura de uma religio...


uero uma religio que no me proba, mas que me eduque; que no me incrimine, mas que me oferea solues; que no me reprima, mas que me ensine a encontrar melhores formas de expresso; que no me condene, mas que oferea um adequado senso de justia; que no me inferiorize, mas que me aproxime do Criador da Vida. Quero uma religio que me deixe sorrir nas manhs de domingo, permitindo que minha prece seja o olhar para a natureza. Quero uma religio que, nos dias mais escuros do meu viver, dela no me lembre quando sentir medo e nela no me abrigue feito criana em consolaes pueris. Quero uma religio que me incentive a oferecer rosas aos doentes e a levar alegria aos enterros, e a s chorar quando souber que a dor foi compreendida e que o morto vive e est bem. Quero uma religio que me oriente a reverenciar a inocncia e a aplaudir de p os que respeitam a sabedoria dos mais velhos. Quero uma religio que possa encontr-la com quem estiver, por onde for, tambm no corao dos que ferem e gritam achando ter razo.
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Quero uma religio que abrigue aqueles que se arriscam em viver e abenoe os que se perdem nos labirintos escuros da prpria ignorncia. Quero uma religio que possa senti-la na compaixo, seja com a abundncia dos perdulrios ou com a misria dos aparentemente incapazes, sem que me falte a necessria solidariedade. Quero uma religio que me faa sentir irmo de quem me contraria ou me rouba a esperana, tambm dos que me reverenciam inocentemente. Quero uma religio que retire a venda de minha cegueira, sem me tirar a ignorncia completa, educandome para a continuidade do aprendizado. Quero uma religio que no exclua nem estigmatize nenhuma criatura, nem crie castas de eleitos ou de salvos pela adoo de princpios lgicos. Quero uma religio cujo cntico e cuja liturgia incluam a voz da alma e o pulsar dos coraes, para que um dia, quando no mais precisar de nada, eu encontre a mim mesmo.

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Ego e Esprito
eu no o senhor da personalidade, muito embora como centro da conscincia ocupe temporariamente aquele lugar. semelhana do ponto eletrnico, utilizado pelos apresentadores de televiso, que serve para comunicao entre eles e o diretor do programa, o ego assimila os contedos do inconsciente e do que vem da individualidade do Esprito. A idia da existncia de um Eu Superior apenas estabelece uma hierarquia absoluta, na qual um deles se torna obediente ao outro, mesmo que parea autnomo. No h nada que garanta a existncia dessa autonomia, o que, se assim fosse, conferiria um carter de gnese aleatria ao ego. H, alm de uma relao de interdependncia entre o ego e o Esprito, pois este representado por aquele, uma causalidade deste para com o primeiro. O Esprito gera o ego, que lhe serve de identidade consciente. O ego uma funo, entre outras definies, que representa a parte consciente do Esprito no aparelho psquico e adquire outra configurao aps a morte do corpo fsico. As experincias vividas pelo ego so assimiladas e filtradas pelo aparelho psquico, alcanando o Esprito. Este apreende aquilo que resulta das experincias e que serve de constituio para a consolidao das leis de Deus.
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Um ego frgil, inseguro, que no tenha vivido experincias promotoras do amadurecimento e da conexo profunda com o Si-Mesmo, tende a abrigar-se sob poderosas defesas internas e externas. A adoo de uma religio ou crena a primeira e primordial dessas defesas, ainda na infncia, sob influncias dos pais e do meio social. Na fase infantil a ancoragem se estabelece nas figuras parentais. Na adolescncia se transfere para os grupos sociais de referncia. O amadurecimento do ego no se d apenas pela adoo de princpios religiosos, mas principalmente pela coragem de viver a vida enfrentando os desafios que ela apresenta, consolidando em si mesmo o aprendizado. Essa consolidao deve conter a conscincia de sua prpria capacidade e a aquisio da liberdade de escolha do prprio destino. Quanto mais livre a conscincia e quanto mais amadurecido o ego, profundamente conectado essncia do Si-Mesmo, mais se poder admitir uma Religio Pessoal. preciso se despir de todo medo, de todo o receio de Deus e de todas as honras para se iniciar o processo de construo da Religio Pessoal. Sem isso, ser um arremedo de individuao ou de evoluo da personalidade. Um ego maduro dever aprender a enfrentar todas as possibilidades arquetpicas que se apresentem em sua existncia, compreendendo que uma psiqu racional, uma psiqu religiosa, uma psiqu poltica, uma psiqu masculina/feminina etc., so faces presentes em uma mesma individualidade. No h hierarquia na origem e na atualizao delas. Viv-las, atualizando a prpria vida, algo a que ningum poder se furtar. So convites naturais da Vida. Por detrs dos estados psquicos, encontra-se o Esprito, ou a individualidade no que lhe singular. Os de211

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safios da vida no so apenas aqueles que se mostram externamente, mas tambm as configuraes psquicas que, invariavelmente, surgem como cenrios internos a serem atualizados. A atitude religiosa deve acontecer no uso da totalidade das funes psquicas, qualquer que seja a psiqu que esteja sendo atualizada. A religio formal permanece vinculada ao ego, dosando-lhe o grau de profundidade de suas reflexes, nem sempre permitindo sua aproximao ao Si-Mesmo. A Religio Pessoal, inevitavelmente, o obrigar a alcanar o Esprito, sob pena de novamente mascarar sua evoluo.

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Religio e poltica
mundo, ou melhor, a humanidade, um organismo vivo, com conexes em vrias dimenses. Conexes comerciais, educacionais, eltricas, eletrnicas, virias, aeronuticas, virtuais, afetivas, religiosas, polticas, entre outras, que ligam as pessoas instantaneamente, formando uma grande rede. Poltica, alm de ser a arte de governar tambm a ao do indivduo visando a resultados timos para a sociedade. Mnimas tentativas de interveno social constituem aes polticas. Nesse sentido, a ao de uma pessoa investida de um carter religioso ou em nome de uma religio tambm uma ao poltica. Um ato religioso visando melhoria da sociedade um ato poltico. Nesse mesmo sentido, a ao poltica que vise ao desenvolvimento espiritual das pessoas , em si, uma atitude religiosa. Atitude poltica e atitude religiosa se confundem na prtica da Religio Pessoal, pois nesta no h espao para a ao egocntrica. A educao poltica de uma pessoa se inicia muito cedo. Pais e educadores, e o prprio meio social no qual a pessoa criada, contribuem para a formao poltica de forma sutil e interna. J dizia Aristteles que o homem um animal poltico. Portanto, a poltica parte integrante da personalidade da pessoa. Todos agem consoante uma
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ideologia. O mesmo se d em matria religiosa. Todos so influenciados pela religio e influenciam, recorrendo a valores nela adquiridos, quer se identifiquem ou no como adeptos de alguma delas. As primeiras experincias da criana que a levaram percepo de uma sociedade dividida em classes (ricos e pobres, pretos e brancos, cultos e no cultos, nacionais e estrangeiros etc.) e que a fizeram se perceber integrante de alguma, tornam-se marcantes para uma escolha poltica futura. O mesmo ocorre no que se refere religio da classe dominante. Os valores pertencentes quela classe sero importantes para a definio dos prprios valores, contra ou a favor daqueles. A atitude poltica do futuro adulto certamente sofrer a influncia da projeo escolhida na infncia. Da mesma forma, as primeiras experincias ligadas ao sagrado e ao religioso provocam projees e atitudes pertinentes. Pais que ensinam religio aos seus filhos quando crianas, iro, de maneira quase determinante, direcionar a atitude religiosa no futuro. A doutrinao dos filhos deve ser gradativamente substituda pela educao de princpios gerais pertencentes essncia de todas as religies. Isso facilitar a futura constituio da Religio Pessoal. Por outro lado, poltica e poder sempre estiveram prximos da religio. Governantes se aproximaram da religio com o intuito de dominar; lderes religiosos assumiram o poder utilizando-se de seus carismas. Religio e Poltica nunca se separaram, pois tm processos comuns e, s vezes, o mesmo objetivo a conduo das massas. Diferentemente da religio formal, a Religio Pessoal no se relaciona ao poder, pois sua ao poltica tem objetivos especficos, mtodos e aes muito claras. Sua
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participao poltica, mesmo quando em mandato, tem um carter estritamente espiritual. A religio formal quando toma o lugar de um governo laico, normatizando, interferindo em todas as dimenses da vida cotidiana, torna-se apenas um poder civil. Quando o Estado exclui a religio da participao na disseminao de valores, torna-se frio e estagnante. A unio dos dois, favorecendo a constituio da Religio Pessoal, possibilitar a aquisio da felicidade das pessoas.

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Orao da Religio Pessoal


Auxilia-me a encontrar em mim mesmo sua essncia, que me identifica como criatura singular. Percebendo quanta dor e misria enfrenta a criatura humana, ajuda-me a contribuir para a erradicao do que a atormenta. Diante de tanta violncia e desagregao que assolam nossa sociedade, possibilita-me ser um elemento de unio e fraternidade entre os seres humanos. Quando vejo o sofrimento e o desespero que grassam no seio de inmeras comunidades, deixa-me ser um que socorre e asserena as almas aflitas. Ante aqueles que agridem e usurpam os direitos dos outros, faz-me capaz de restabelecer a justia e o equilbrio com amorosidade nas mentes dos que assim procedem. Vendo a discriminao e o fanatismo que se instalam nos agrupamentos humanos, concede-me a condio de ser humilde, testemunhando o valor da simplicidade. Assistindo prevalncia de pessoas ms e inconseqentes sobre ingnuos, permite-me a condio de pessoa comum que exalta o amor entre as criaturas, intermediando conflitos. Enfim, orienta-me para enxergar em mim mesmo aquilo que vejo no outro e que condeno, tornando-me aquilo para o qual fui designado. Ensina-me, sobretudo, a amar em todos os atos.
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Criador da Vida.

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Invocao Senhor da Vida! Para onde estamos indo, ns criaturas humanas? Aonde eu mesmo chegarei com o que busco? Sei que minhas convices a teu respeito tm me melhorado e prpria humanidade, levando as pessoas a uma condio melhor. Sei, entretanto, que muito ainda precisa ser feito. Mesmo considerando a grande diversidade religiosa, e percebendo as divergncias considerveis existentes, sua importncia no pode ser desprezada. Ainda pouco o que fao? Mas angustia-me a espera de que todos melhorem para que eu mesmo merea algo melhor. E aqueles que j alcanaram, em seu saber, em seu corao, a semente do amor, que j se ocupam naturalmente em auxiliar os demais, devem ficar espera de todos? Da-lhes algo mais. Oferea-lhes, enquanto assim agem, um encontro especial que reservas para aqueles que ti conhecem, respeitam e colaboram contigo. Mesmo no sendo um modelo de bondade e de perfeio, no me canso de perdoar, de auxiliar e de amar meus semelhantes. Assim fao por mim e pelo prximo, percebendo ainda, dentro de mim mesmo, o mal que tanto procuro eliminar. Mas, quero ir mais alm enquanto assim ajo. Com essa proposta, no me sinto algum orgulhoso, acima dos limites admitidos minha condio de esprito imperfeito. Quero apenas uma luz, um conselho, uma orientao maior, para que no me fixe no caminho, enquanto a estrada me pede para continuar. No me deixes acreditar que j alcancei a finalidade da vida ou, ao contrrio, que me situo apenas como servo fiel. Ainda que me veja como seguidor fidedigno
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de teus ensinamentos, destitui-me de qualquer idia de superioridade ou de merecimento exclusivo. Lana-me novos desafios, enquanto ultrapasso os que me competem vencer. Enquanto veno a mim mesmo e ajudo a meu prximo, deixa-me perceb-lo melhor. Ajuda-me na construo da minha Religio Pessoal para que eu e tu mesmo nos encontremos onde e como previstes. Sou o que busco ser e quero estar onde possvel alcanar, pelos teus desgnios. Dilogo ntimo Deus, ser supremo que me criou, Divina fora que me gerou, Olha-me e v como me sinto. Ciente de tudo que me tens revelado direta e indiretamente, ciente de tudo o que significa tua criao. Em minha mente, espelho do teu ser, tudo indica tua presena, tua criao e teu ser. Sou o que quiseste que eu fosse. Tudo fao visando realizar o que queres que me torne. Vivo consciente de que estou imerso em teu ser. Que queres de mim? Que devo fazer em face de teu ser? No me incomodo com as dores, provas e sofrimentos a mim impostos. Comove-me, e me movimento no auxlio, quando lido com a dor e o sofrimento do outro. s vezes, pergunto-me at onde vais com isso tudo, principalmente quando percebo que o sofrimento do outro nem eu mesmo suportaria. Faz-me senti-lo em cada ato que realizo. Acorda-me para a compreenso de minha prpria essncia.
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Realiza-te em mim, tornando-me consciente de tua presena em minha individualidade. Alimenta em mim a construo de minha auto-determinao. Contribui para uma maior empatia em minhas relaes com os outros, reconhecendo-te neles. S comigo um s. Sentindo Deus em si mesmo Perceber-se, identificar-se e apropriar-se constantemente da ntima conexo com aquilo que o constituiu. Persistir em querer aproximar as polaridades Eu x Deus, percebendo um fluxo contnuo na unidade Eu-Deus. Mesmo exercendo as atividades cotidianas, manter a conscincia do eu, permanecer naquela ntima conexo. Ouvir a Grande Voz que ressoa nos ntimos pensamentos. A individualidade que se vibra constantemente, representando-se no ego. Em tudo que se fizer e em qualquer coisa que se pensar, Deus se faz acontecer. Lembretes Enfrentar os desafios da vida com determinao, coragem e discernimento; mesmo assim, saber os momentos em que se deve recuar ou abandonar algum objetivo. A vida ensina as mesmas coisas em diferentes experincias. Uma outra direo, bem como uma outra estratgia, pode ser a medida adequada a ser tomada. J que nem sempre se poder evit-la, descobrir as verdadeiras razes da raiva quando ela ocorrer. Procurar no repres-la definitivamente, buscando direcion-la a alguma atividade produtiva e coerente com a prpria personalidade. Fazer da raiva uma aliada, visando a capacidade de realizao e o crescimento pessoal.
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Procurar compreender as razes ltimas dos prprios segredos, pois eles revelam certas fragilidades inconscientes na personalidade. Sempre que possvel, compartilhar os segredos pessoais com algum. Evitar comentar os segredos alheios que se venha conhecer. A pacincia est diretamente relacionada sabedoria. A hora de intervir e agir em determinados momentos deve estar a servio de propsitos maiores que contribuam para a prpria evoluo e a do outro. A senha da vida o amor, que resulta no surgimento do amor no outro. No ntimo de cada ser existe uma eterna e inesgotvel fonte de amor e de fora propulsora para todas as realizaes da vida. Pr conscientemente essa fonte em movimento constante. A Religio Pessoal o passaporte para a transcendncia a qualquer dimenso, sobretudo para aquela em que o ser humano pe o seu futuro.

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Glossrio

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nima. O aspecto feminino interior do homem. Representa o somatrio das experincias do homem com mulheres (me, irm, amiga, esposa, amante etc.). a imagem feminina perseguida pelo homem. Sua projeo inicial estabelece-se primeiramente na me e, depois, sobre outras mulheres. uma espcie de imago materna que acompanha e influencia o homem por toda sua vida. O homem tende a, inconscientemente, comparar toda mulher, que se apresente a ele, com sua nima. Jung considerava importante o confronto com a nima/nimus para o desenvolvimento do ser humano. nimus. O aspecto masculino interior de toda mulher. Representa o somatrio das experincias da mulher com homens (pai, irmo, esposo, amigo, amante etc.). a imagem masculina perseguida pela mulher. Jung dizia que Como a anima corresponde ao Eros materno, o animus corresponde ao Logos paterno.27 O animus uma espcie de sedimento de todas as experincias ancestrais da mulher em relao ao homem, e mais ainda, um ser criativo e engendrador, no na forma da criao
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Adaptado do livro Mito Pessoal e Destino Humano, do autor. Jung, C. G. Obras Completas. Petrpolis-RJ: Vozes, 1982. v. IX/2, par. 29, p. 12.

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masculina.28 Da mesma forma que com a nima, desejvel a integrao parcial do nimus a fim de auxiliar o indivduo a lidar com a complexidade das relaes interpessoais, assim como consigo mesmo. Arqutipo . Estruturas virtuais, primordiais da psiqu, responsveis por padres e tendncias de comportamentos comuns. So anteriores vida consciente. No so passveis de materializao, mas de representao simblica. Para Jung, so hereditrios e representam o aspecto psquico do crebro. So universais, comuns a todos os seres humanos e ordenam imagens reconhecveis pelos efeitos que produzem. Pode-se perceb-los pelos complexos que todos tm, pelas imagens arquetpicas que geram, assim como pelas tendncias culturais coletivas. Complexo. Contedos psquicos carregados de afetividade, agrupados pelo tom emocional comum. So temas emocionais reprimidos capazes de provocar distrbios psicolgicos permanentes, e que reagem mais rapidamente aos estmulos externos. So manifestaes vitais da psiqu, feixes de foras contendo potencialidades evolutivas que, todavia, ainda no alcanaram o limiar da conscincia e, irrealizadas, exercem presso para vir tona.29 So unidades vivas dentro da psiqu inconsciente e que gozam de relativa autonomia. Eles se formam no inconsciente, de forma involuntria e a partir das vrias experincias da vida. Por vezes se dirigido pelos complexos. Eles no so elementos patolgicos, salvo quan28

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Jung, C. G. Obras Completas. 2 ed. Petrpolis-RJ: Vozes, 1981. v. VII, par. 336, p. 198. Silveira, Nise. Jung Vida e Obra. 14 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1994. p. 37

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do atraem para si excessiva quantidade de energia psquica, manifestando-se como conflito perturbador da personalidade. Os complexos tm a facilidade de alterar o estado de esprito, sem que se aperceba de sua presena constelada na conscincia. semelhana de um campo magntico, no so passveis de ser observados diretamente, mas por meio da aglutinao de contedos que lhes constituem. No mago de um complexo, sempre se encontra um ncleo arquetpico. Os complexos so elementos presentes nas obsesses espirituais. Ego. O sujeito da ao consciente. Num certo sentido, o primeiro complexo a se formar na conscincia, sendo seu centro. Estrutura-se a partir do inconsciente e , muitas vezes, confundido com o centro organizador e diretor do aparelho psquico, o Self. Conhecer a si mesmo no conhecer o eu ou ego, que s conhece seus prprios contedos, mas, tambm, conhecer aquele centro organizador. O processo de desenvolvimento da personalidade, a individuao, consiste em diferenciar o ego de suas estruturas arquetpicas auxiliares. O ego, o Self (centro organizador da psiqu) e o ego onrico (o eu dos sonhos) so instncias psquicas diferentes. O ego se baseia no arqutipo do Si-Mesmo, sendo, de certa forma, seu agente no mundo da conscincia. Energia psquica. A energia vital que impulsiona o ser humano em seu processo de individuao. Atravs dela, existente na psiqu de cada ser humano, vivem-se as experincias necessrias para o desenvolvimento da personalidade. a energia que promove a vida e faz com que ela acontea. Palavras como desejo, impulso, vontade e instinto esto diretamente relacionadas ao conceito de energia psquica.
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Extroverso. Movimento promovido pela energia psquica na direo do objeto externo. O sujeito mobilizado pelo objeto externo, atribuindo-lhe um valor maior do que o que ele tem. Na extroverso, o indivduo est alienado de si em funo do objeto e de toda a subjetividade que o compe. Na extroverso, o indivduo se volta para fora, em direo a seu desejo, subordinando-se s solicitaes oriundas do objeto. Funo transcendente. Funo psquica que permite a gerao de um smbolo entre contedos inconscientes e conscientes, pela confrontao de opostos. Essa funo permite que os contedos do inconsciente possam vir conscincia na forma de smbolos e fantasias. Imago Dei. Engrama psquico representado pelas imagens sagradas de Deus. Tudo que, para o ser humano, representa Deus, gerado pela Imago Dei presente em seu psiquismo. Todos os adjetivos, figuras, representaes simblicas, sentimentos e concepes lgicas ou subjetivas a respeito de Deus so originrios da marca impressa no psiquismo humano, denominada Imago Dei. Individuao. Um dos conceitos centrais da Psicologia Analtica de Jung. o processo de desenvolvimento da personalidade pela diferenciao psicolgica do eu. um processo no qual o ego visa tornar-se diferenciado da coletividade, embora nela vivendo, ampliando suas relaes. Para se alcanar a individuao necessrio evitar as tendncias coletivas inconscientes. A individuao respeita as normas coletivas e o individualismo as combate. O contrrio individuao ceder s tendncias egocntricas e narcisistas ou identificao com pa224

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pis coletivos. A individuao leva realizao do Self, e no simplesmente satisfao do ego. um processo dinmico que passa pela compreenso da finitude da existncia material, objetiva, face inevitabilidade da morte fsica. Introverso. Movimento da energia psquica na direo de contedos internos da psiqu. uma espcie de regresso da libido no psiquismo humano. Na introverso, a pessoa d mais valor ao seu prprio mundo subjetivo, dando pouca ateno realidade, isto , o objeto tem pouco valor em relao ao sujeito. Persona. Complexo funcional que permite ao ego apresentar-se e adaptar-se a situaes externas ligadas convivncia. O termo persona deriva das mscaras que os atores gregos usavam para os diversos papis ou personalidades que interpretavam. o aspecto ideal do eu que se apresenta ao mundo e que se forma pela necessidade de adaptao e convivncia pessoal. o que se pensa que . Muitas vezes a persona influenciada pela psiqu coletiva, confundindo as aes como se fossem individuais. Ela representa um pacto entre o indivduo e a sociedade, sendo um conjunto de personalidades ou uma multiplicidade de pessoas numa s. A identificao do ego com a persona provoca o afastamento da identidade pessoal, isto , correse o risco de no se saber quem realmente se . Todos so, ao mesmo tempo, seres individuais e coletivos, pois, alm de terem uma natureza singular tambm tm atitudes que os confundem com a coletividade. Personalidade. Atitude externa de uma pessoa, em determinado ambiente, que envolve seu carter, seus prin225

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cpios, valores, sentimentos e demais aspectos acessrios, caractersticos da individualidade. Na personalidade de um indivduo, esto includos seus processos conscientes e inconscientes, bem como tudo que envolve sua vida de relaes. A personalidade de uma pessoa inclui sua individualidade, isto , o Esprito que ela . A personalidade no a individualidade. Enquanto esta evolui, desenvolvendo-se ao encontro do Si-Mesmo, aquela mutvel a cada nova existncia. Psiqu. O mesmo que aparelho psquico. Representa a totalidade das funes psquicas e todos os processos que envolvem o deslocamento de energia a servio do processo de individuao. Engloba no s os processos conscientes e inconscientes como tambm aqueles que fogem ao domnio imediato da realidade. Nele se encontram os opostos que anseiam em se completar. Jung dizia que a psiqu o princpio e o fim de todo conhecimento, o objeto e o sujeito da cincia. So quatro os nveis da psiqu: conscincia pessoal, inconsciente pessoal, conscincia coletiva e Inconsciente Coletivo. Self. Arqutipo da totalidade, isto , tendncia existente no inconsciente de todo ser humano busca do mximo de si mesmo e de encontro com Deus. o centro organizador da psiqu. o centro do aparelho psquico, englobando o consciente e o inconsciente. Como arqutipo, se apresenta nos sonhos, mitos e contos de fadas como uma personalidade superior, como um rei, um salvador ou um redentor. uma dimenso da qual o ego evolui e se constitui. O Self o arqutipo central da ordem, da organizao. So numerosos os smbolos onricos do Self, a maioria deles aparecendo como figura central no sonho.
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Si-Mesmo.30 A individualidade humana, completamente desvestida dos aspectos coletivos inerentes personalidade. o Esprito, enquanto essncia, princpio inteligente individualizado. O Si-Mesmo se realiza atravs do ego, isto , na conscincia, atualizando o arqutipo do Self. O Si-Mesmo a essncia do ser humano, princpio divino que se manifesta atravs da personalidade. Sincronicidade. Conceito usado por Jung para designar dois ou mais eventos que parecem ter uma correlao, sem que se encontre um nexo causal entre eles. um princpio de conexes acausais. Na ocorrncia de fenmenos sincronsticos, o tempo e o espao so reduzidos a vetores secundrios, no quantificveis. Tais eventos so chamados de fenmenos da coincidncia significativa. Jung dizia que os fenmenos da sincronicidade mostram que o no-psquico pode se comportar como o psquico, e vice-versa, sem a presena de um nexo causal entre eles.31 Os eventos ligados aos fenmenos da percepo extra-sensorial so considerados por Jung como sendo da sincronicidade. Sombra. Representa o que no se sabe ou se nega a respeito de si mesmo. A sombra o arqutipo que representa os aspectos obscuros da personalidade e desconhecidos da conscincia e que esto mais acessveis ao ego. Normalmente tem-se resistncia em reconhecer e integrar a prpria sombra, o que leva o indivduo, inconscientemente, s projees. Essa integrao geralmente feita com relativo esforo moral. A sombra representa o
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Para Jung, Self o si-mesmo (selbst). Jung, C. G. Obras Completas. 2 ed. Petrpolis-RJ: Vozes, 1991. v. VIII, par. 418, p. 220.

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que se considera mal, e o que o ser humano no se d conta de que lhe pertence, fazendo parte dele tanto quanto o bem. A sombra contm o bem e o mal desconhecidos ou negados no ser humano, ou que no foram conscientizados. Portanto, acertado dizer-se que a sombra contm tambm qualidades boas. Ela d lugar persona por uma necessidade de adaptao social. Sua exposio torna o indivduo inadequado e inviabiliza sua convivncia harmnica. Nos sonhos, a sombra costuma aparecer como personagens do mesmo sexo do sonhador, muitas vezes em atitudes aversivas ou como algum conhecido e antipatizado por ele. Tem-se uma tendncia a projetar as caractersticas pessoais da sombra nos outros, considerando-os moralmente inferiores. Reconhecer a prpria sombra um grande passo no processo de individuao. A sombra se ope ao ego e ambos se relacionam num regime mtuo de compensao. Supra-arquetpico. Tendncias divinas a que todo ser humano est sujeito, alm daquelas internas, direcionadas pelos arqutipos. aquilo que obedece a leis universais, por enquanto, sem qualquer possibilidade de manipulao pelo humano. O supra-arquetpico aquilo que limita o ser humano, impossibilitando-o de fazer ou ser diferente. O supra-arquetpico o Divino que a tudo permeia.

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