Ressignificar Ebook Ufg
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APOIO:
Copyright 2013 by: Ana Rita Vidica Fernandes; Lara Lima Satler; Luciene de Oliveira Dias.
FER res
Fernandes, Vidica Ana Rita (org.) Ressignificar as fronteiras da informao e Comunicao / Ana Rita Vidica Fernandes Goinia: Contato Comunicao, 2013. 487 p. 1. Comunicao.2.Satler, Lara Lima.3.Dias, Luciene de Oliveira.I.Ttulo
CDU: 659.3
Direitos Reservados - proibida a reproduo total ou parcial da obra, de qualquer forma ou por qualquer meio sem a autorizao prvia e por escrito do autor. A violao dos Direitos Autorais (Lei n. 9610/98) crime estabelecido pelo artigo 48 do Cdigo Penal.
Apresentao
Qual o sentido de ressignificar as fronteiras da Informao e da Comunicao? A Coordenadoria do Programa de Ps-Graduao strictu senso em Comunicao com seus grupos e linhas de pesquisa em Comunicao e Cultura e Comunicao e Cidadania e a Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia (Facomb) da Universidade Federal de Gois (UFG), realizou trs eventos cientficos unidos em um, de curta durao e de abrangncia regional: V Feicom (Feira de Informao e Comunicao), IV Seminrio Mdia e Cidadania e II Seminrio Mdia e Cultura, de 9 a 12 de novembro de 2010, na referida faculdade. Com a finalidade de unir esforos para realizar um evento compromissado com os cnones da excelncia acadmica e cientfica, no interior do Brasil, o Programa de Ps-Graduao em Comunicao e seus grupos e linhas de pesquisas unem-se Graduao para pensar o tema: Ressignificar as fronteiras da Informao e da Comunicao. Com o nascimento do sculo XXI, as Cincias da Comunicao desafiam os pesquisadores especialmente ante aos crescentes avanos tecnolgicos que a rea vivencia. Nunca antes, na curta histria deste saber, a investigao se fez to necessria, especialmente no que se refere ao rearranjo que as novas tecnologias da comunicao tm provocado nas mediaes massivas, nas relaes inter-humanas, nas identidades e na cultura. Esta dinmica comunicacional que as novas tecnologias possibilitam pode, por um lado, democratizar o acesso informao, promovendo a to sonhada incluso social no pas mais desigual do mundo, segundo a Unesco, como pode, por outro, exigir dos pesquisadores brasileiros o ressignificar dos seus olhares sobre a episteme da Informao e da Comunicao, bem como, sobre o seu ensino. Qual o sentido de ressignificar as fronteiras nas cincias da Informao e da Comunicao? necessrio lembrar-se de que em poucos campos do saber a fascinao do cientfico to viva quanto no da Comunicao (BARBERO, 2004) e, por isso, debater sobre a compreenso da cincia como valor universal e desinteressado a servio da humanidade, acima de qualquer desigualdade ou conflito histrico, torna-se urgente nesta rea do saber. Este livro se prope a isso, portanto, rene os trabalhos debatidos durante a V Feicom, de modo a premiar aos leitores internautas o acesso ao que se produz e reflete sobre o tema na academia do Centro-Oeste brasileiro. Desejamos a voc, boa leitura! As organizadoras.
Sumrio
Apresentao
pg.2
6. Tudo que imaginrio, existe!: Loucura, Transgresso e Esttica da Fome em Estamira Kamyla Faia Maia 7. Projeto Cine Anime Jos Jair Ramirez Bazn, Gabriel Moreira Paiva, Alexandre de Paula Mesquita 8. Anlise iconogrfica de uma realidade Kaiabi Gustavo dos Santos Teles , Lara Lima Satler
pg.38
pg.48
Parte 1
Imagens e Imaginrios
1. Soterrados: O melodrama no programa Fantstico e no filme A Montanha dos sete abutres Caroline Anielle Souza Batista Pires, Lisandro Magalhes Nogueira 2. Sin Fronteras de Documentrios Curta-Metragem CHAVES, Tatiane Assis Co-autores: COELHO, Rafael Franco; DOURADO, Maiara; FIORESE, Bruno; NOMINATO, Milena Peixoto; MARQUES, Gabriela Gonalves; RIBEIRO, Hugo Paiva; ROCHA, Nilton Jos dos Reis; SILVA, Luis Eduardo Rosa; SOARES, Lorena Rodrigues; SOUSA, Ana Lcia Nunes; BATISTA, caro; VIEIRA, Pedro Ive Freire 3. Exposio Fotogrfica Brabo CHAVES, Tatiane Assis Co-autores: COELHO, Rafael Franco; DOURADO, Maiara; FIORESE, Bruno; NOMINATO, Milena Peixoto; MARQUES, Gabriela Gonalves; RIBEIRO, Hugo Paiva; ROCHA, Nilton Jos dos Reis; SILVA, Luis Eduardo Rosa; SOARES, Lorena Rodrigues; SOUSA, Ana Lcia Nunes; BATISTA, caro; VIEIRA, Pedro Ive Freire 4. Filmes Goianos na regio Norte Vitor Santana Reis 5. Bolvia: por um outro olhar Mariza Fernandes dos Santos Co-autores: Renan Nogueira Silva e Joo Daniell Oliveira Orientador: Rafael de Almeida
pg.54 pg.60
pg.9
9. O Poder de Comunicao dos Museus e da Vestimenta Como Documento Pedro Porto Chadud 10.A Indstria Cultural e sua influncia nas imagens Corporais: Buscando o Inalcanvel Gizelly Mendes Antonelli, Amanda Carolina Marinho Cavalcante 11.Todo Dia um Corpo: Intervenes no Corpo em Ensaio Fotogrfico Nathlia Pereira Carneiro, Paulenio de Sousa Albuquerque, Vinicios Kabral Ribeiro 12.Lembrana e Esquecimento: Memrias de Goinia Brunna Stphane Pains Santos, Ana Rita Vidica Fernandes 13. PARArePARA Ana Paula Pereira Ribeiro, Ana Rita Vidica Fernandes
pg.18
pg.64
pg.71
pg.23
pg.29 pg.33
14. A reconstruo de Sento S atravs das imagens Jordana Cristina Alves Barbosa, Lisbeth Oliveira 15. Comunicao e gestos: rpidas consideraes sobre ouvintes filhos de surdos e fala cotidiana de ouvintes Pablo Regis Andrade, Priscila de Macedo
16. Morro Santa Marta Lara Lima Satler, Ana Rita Vidica Fernandes, Adam Henrique Freire Sousa, Gustavo Vieira, Paulo Victor Vieira, Paulo Vitor, Maria Ceia Ferreira Universidade Federal de Gois Ismael dos Santos Movimento Social Telecentro Comunitrio Santa Marta 17. Pra mim, circo ... Camilla Flores Ribeiro, Gilmar Cardoso de Melo Jnior, Moema Marques Machado, Suzany Newbartth 18. Um novo olhar Circo Laheto Marcela Valente Haun, Renan Nogueira Silva, Luciene de Oliveira Dias 19. A Mdia na Construo da Imagem: A transformao da imagem de Collor pela revista Veja Josimar Gonalves da Silva, Lara Lima Satler 20. De perto e de dentro: Povo do Ax tem licena do senhor dos caminhos Ana Rita Vidica, Ceia Ferreira , Luciene de Oliveira Dias, Birke Kruppert, Bruna Mitchel, Carina Tremel, Jakob Bihlmayer, Renan Nogueira (co-autor) , Gabriel Moreira Paiva e Jos Jair Bazn 21. Entre Bodes E Ileana: Visualidades em Rauschenberg Vinicios Kabral Ribeiro 22. Identidades Ambulantes Ana Flvia Oliveira Marinho, Filipe Ferreira de Andrade, Natnia Carvalho Silva, Lusa Pereira Viana, Tallita Guimares de Sousa, Luciene Dias 23. Fazcine Clube Mostra Dia Internacional da Animao Lara Lima Satler, Ana Rita Vidica Fernandes
pg.106
Parte 2
pg.144 pg.153
pg.110
25. A experincia da Inova Publicidade e Propaganda com o Projeto Bibliotecas: divulgao e interao com a comunidade Liessa Comparim Dalla Nora, Gustavo Albernaz Urameshi, Lara Lima Satler 26. PAHPE Com Necessidades Especiais Victor Santana Leal, Lara Lima Satler 27. Fotos e bordados: Experimentao fotogrfica na publicidade Vanessa Rincn de Freitas, Ilana de Oliveira Santos Ferreira 28. Alm dos bancos de imagem Karine do Prado, Isadora Prado, Vivian Youssef Coutinho 29. Empreendedorismo e comunicao: o perfil empreendedor dos profissionais da comunicao em Goinia Riziely Novato Herrera, Tiago Mainieri 30. Ensino do Telejornalismo em Gois: a formao acadmica e qualidade da informao Tatiana Carilly Oliveira Andrade, Ana Carolina R. P. Temer
pg.114
pg.116
pg.124
pg.189 pg.193
pg.128 pg.136
31. Dilogo e Comunicao sob o Controle Miditico da Sociedade do Espetculo Joo da Cruz Gonalves Neto, Heitor Moreira de Oliveira 32. O olhar estrangeiro: um debate da imagem do Brasil em tempos de crise Carolina Martins Duarte 33. Clssico clssico e vice-versa uma anlise da cobertura jornalstica impressa de clssicos de futebol Daniel Mundim
pg.202 pg.209
pg.140
34. O Discurso Sobre Educao no Caderno Cidades de O Popular Diene Batista dos Santos 35. Biblioteca: Mediadora entre a Leitura e a Cidadania Eliana Batista Pires e Silva, Leni Xavier de Oliveira Itala Moreira Alves Co-autora: Maria de Ftima Garbelini 36. O tratamento tcnico da documentao audiovisual da TV UFG Maria Leticia Costa Miranda, Maria de Ftima Garbelini 37. Revista Cerrado Sustentvel: A aplicao do Jornalismo Ambiental na preservao do Cerrado Rhad Costa Ferreira Orientao: Prof. Msc. Lisbeth Oliveria 38. O Buen vivir como resposta desordem do mundo
- a cosmoviso latino-americana em oposio modernidade e seus templos
pg.220 pg.225
41. A Comunicao Boca a Boca e o Gerenciamento de Servios Ms. Adriane Geralda Alves do Nascimento, Co-autor: Luciano Alves Pereira 42. A publicidade em 140 caracteres Letcia Segurado Crtes 43. A nova onda da Era da Informao e o impacto na Comunicao entre empresas e pblicos de interesse: o Marketing 3.0 e a fora da responsabilidade social corporativa Ktia Raquel Bonilha Keller 44. Reflexes sobre comunicao e cooperao como caminho para a construo de saberes Luciene de Oliveira Dias 45. Salas de Imprensa em sites organizacionais: Estratgias contemporneas das assessorias de comunicao Daiana Stasiak e Laira Cristina Machado 46. A Experincia Da Assessoria De Comunicao Da Adao-go Na Promoo De Uma Conscincia Ecolgica Sustentvel, Baseada Nos Princpios Da Economia Solidria E Da Agricultura Orgnica Lisbeth Oliveira e Vvian Cndida Maia 47. Assessoria de Comunicao: do paradigma das Relaes Pblicas ao foco nos profissionais da medicina Lvia Marques Ferrari de Figueiredo, Simone Antoniaci Tuzzo 48. O Papel do Profissional de Relaes Pblicas no Campo da Moda Luciana de Casto Mendona 49. As Relaes Pblicas nas ONGs de Proteo Animal: caso ASPAAN Milena Nominato, Taynara Sanches, Claudomilson Braga
pg.268
pg.276 pg.283
pg.233
pg.243
pg.292
pg.247
pg.301
Ana Clara Gomes, Jssika Morais, Mariana Vale Moura, Nilton Jos dos Reis Rocha
pg.311
39. A chegada da TV a So Paulo: das transmisses experimentais aos primeiros programas Antonio de Andrade e Mnica Rodrigues Nunes 40. Atores e celebridades so formadores de opinio? Ligia Borges Resende, Gergia Cynara Coelho de Souza Santana
pg.253
pg.262
pg.319
pg.327
Parte 3
pg.335
Parte 4
Parte 5
pg.344
58. Metodologias de Pesquisa e Prticas Comunitrias na Construo do Conhecimento: Itinerrio de Trs Projetos de Extenso e Ensino Gabriela Marques Gonalves, Maiara Dourado , Nilton Jos dos Reis Rocha 59. Biblioteca Popular no Shangri-l Thamis Rates de Melo, Sueliton Ribeiro de Sousa, Lorrany Moriely Alves Barbosa , J.Vanderley Gouveia(Prof. Orientador) 60. ECODESIGN E EDUCAO AMBIENTAL: Uma prtica fomentada no Pezinho de Jatob Lorrany Moriely Alves Barbos Co-Autor-Orientador: Lisbeth Oliveira 61. Foto em Foco Gabriel Moreira Paiva, Jos Jair Ramirez Bazan, Evelyn Cardoso, Ana Rita Vidica 62. O Profissional de Relaes Pblicas Como Empreendedor Social: reflexes e perspectivas Riziely Novato Herrera, Claudomilson F. Braga 63. A interrelao comunicao/educao na cultura escolar: a atuao das novas tecnologias da comunicao no cotidiano pedaggico Bruno Pedroso Lima Silva 64. 10 anos dos Doutores da Bola Ione Chagas, Participaram: Vinicius Moura, Guilherme Gonalves, Paula Rezende, Luciana Cabral, Joao Paulo Di Medeiros, Rubens Salomo, Lilian Arruda, Igor Pereira 65. Magnfica (Publicidade + Jornalismo) Mundi Rayssa Santana Guth, Joo Alexandre Salgado Scartezini 66.PUBLICIDADE COMUNITRIA: ISSO POSSVEL? Lara Lima Satler e Pedro Henrique Ribeiro da Silva
pg.413
pg.416
pg.422
pg.383 pg.390
pg.428 pg.441
pg.448
pg.398
pg.451 pg.455
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Parte 1
Imagens e Imaginrios
Parte 1: Imagens e Imaginrios | Soterrados: o melodrama no programa Fantstico e no filme A montanha dos sete abutres
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Soterrados: o melodrama no programa Fantstico e no filme A montanha dos sete abutres Caroline Anielle S. B. Pires Lisandro Magalhes Nogueira Universidade Federal de Gois Resumo: Esse artigo compara, sob a lente do Melodrama, a cobertura jornalstica do Fantstico sobre os 33 mineiros soterrados no Chile e o filme A montanha dos sete abutres, de 1951, de temtica semelhante. Palavras-chave: cinema; jornalismo; melodrama Abstract: This paper compares, through the lens of the melodrama, the news coverage on the Fantastic 33 miners buried in Chile and the movie Ace in the Hole of 1951, which has a very similar theme. Keywords: cinema; journalism; melodrama 1 - INTRODUO Qual o limite de atuao um jornalista? O que uma notcia? O que um filme comercial? A notcia televisionada lana mo de aspectos da fico cinematogrfica? Estas e outras questes so recorrentes nos estudos sobre cinema e jornalismo e impossvel respond-las em um livro, qui em um artigo. Contudo, a reflexo sobre cinema, jornalismo, e os fatores que permitem as duas reas terem estratgias em comum deve ser objeto de constante anlise, especialmente pelo fato de trabalharem com realidade X fico e permitir que, muitas das vezes, elas se confundam. Ora, sabemos que o jornalismo, como construtor social da realidade no deve mesclar realidade e fico na produo de notcias (TRAQUINA, 2005), porm, a utilizao de artifcios da fico visando gerar o envolvimento e a identificao do espectador tem sido recorrente especialmente no jornalismo televisionado. Visando problematizar este fato, nos proporemos a elucidar a presena de caractersticas melodramticas apresentadas tanto no jornalismo de TV, na anlise de uma reportagem do programa Fantstico, da Rede Globo, e no filme A montanha dos sete abutres, do diretor Billy Wilder.
Parte 1: Imagens e Imaginrios | Soterrados: o melodrama no programa Fantstico e no filme A montanha dos sete abutres
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Sabemos que o jornalismo se aproximou do grande pblico no sculo XIX, com a diminuio das taxas de analfabetismo na Europa e a sada dos trabalhadores do campo para as cidades (TRAQUINA, 2005, p. 33) e, desde ento, a necessidade por informao tem se manifestado constante em um pblico cada vez mais crescente. O desenvolvimento das grandes cidades e as primeiras exibies de imagens cinematogrficas colaboraram para a transformao do pblico que at ento participava de atividades culturais menos tecnolgicas. Essa nova era moderna mudou a maneira como o espectador, do final do sculo XIX e incio do XX, passou a sentir/ver/ouvir e participar do mundo a sua volta mediado pelas imagens apresentadas em telas pelo cinema e, aps 1950, pela TV. Essa forma original de enxergar o mundo resultado de uma srie de transformaes que tornaram, e tornam, o sujeito moderno o que ele , segundo alguns autores, hoje: lquido, instvel e de certa forma atormentado em meios as inmeras possibilidades de escolhas e de incertezas que se apresentam a ele (BAUMAN, 2001). Esse homem (ps) moderno, que se relacionar com o tempo e o espao de uma nova maneira, ora hiperestimulado pelas imagens (CHARNEY, SCHWARTZ, 2005), ora confortado por elas diante das instabilidades/angstias que a (ps) modernidade trs. Buscar compreender esse pblico que se formou durante o incio do sculo XX e as produes que colaboraram para isso torna possvel refletir e compreender melhor as razes da permanncia de estratgias melodramticas aplicadas por cinema e, mais tarde, ao jornalismo televisionado. Vejamos um relato que exemplifica as sensaes causadas pelas imagens que j invadiam o sujeito moderno ainda no final do sculo XIX: Nossos botequins e ruas de grandes cidades, nossos escritrios e quartos mobilhados, nossas estaes ferrovirias e fbricas pareciam desesperadamente nos encerrar. A veio o filme e explodiu, de modo que empreendamos, relaxados, viagens aventureiras por entre seus escombros. Sob o close, o espao se estica, sobre a cmera lenta, o movimento . (DUARTE, 2003, p. 26, citando Benjamin. W. Das kunstwerk im Zeitalter seiner technischen Reprocuzier-barkeit, p. 499). Essa realidade (ps) moderna trouxe um terreno frtil para analisar a forma como as imagens alcanam o pblico e os artifcios utilizados nesse processo. Nas ruas, nos lares, na internet, nas televises, no cinema, esse novo indivduo envolvido com imagens e segue ansioso em busca de novas informaes e tecnologias. Interessante perceber a sutil contradio que se coloca com o surgimento de modernas ferramentas para a poca. Com o cinematgrafo e a televiso, cinema e jornalismo aplicaram o antigo gnero do melodrama com seus artifcios para alcanar a identificao e envolvimento do espectador. E visando elucidar, mesmo que superficialmente como o cinema clssico e o jornalismo televisionado, por meio das notcias/filmes de cunho sentimental e de sensaes, tentam (e conseguem) arrebatar esse sujeito moderno, orgulhoso de seu desenvolvimento tecnolgico, que iremos buscar apresentar neste artigo. Nesta tarefa preciso compreender que o cinema, o jornalismo impresso, e mais a frente o jornalismo na televiso, se firmaram cada um com suas particularidades e sua maneira, como mediadores do sujeito moderno com o mundo (THOMPSON, 1998, p. 198), trazendo em sua essncia a ambio de se interporem entre a realidade e o indivduo, informando, transformando, representando e especialmente, no cinema, segundo Ismail Xavier (2003), revelando e enganando o espectador.
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Parte 1: Imagens e Imaginrios | Soterrados: o melodrama no programa Fantstico e no filme A montanha dos sete abutres
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Contudo, nem o jornalismo e tampouco o cinema retratam os fatos como so, sendo impossvel consider-los espelhos ou reflexos da realidade, muito pelo contrrio, sua definio passa longe de aceitar seus produtos, as notcias e os filmes, como retrato fiel do mundo l fora. Quando o espectador vai assistir a um filme comercial, chamado tambm de de estrutura clssica, mesmo que seja baseado em fatos reais, h a compreenso, a priori, de que se ver uma representao, e por isso, um retrato ilusrio da realidade, sabe-se que os atores foram direcionados em suas atuaes e que as msicas foram inseridas com fins especficos. Porm, no jornalismo no assim. O pblico de um programa que se diz jornalstico espera encontrar, em certo nvel, o registro da realidade, e mesmo que esse espectador reproduza a concepo do senso comum de que a TV manipula, inegvel que ele busca encontrar, mesmo que de maneira opaca, um reflexo mais aproximado da vida real do que quando se prope a assistir uma fico cinematogrfica. Assim, o jornalista se interpe entre fato e pblico, e com isso modifica o prprio fato, de uma maneira similar com o que acontece no cinema: a tela se interpe entre fato (simulado) e o espectador, visando a representar o real com fins pr determinados. Alm disso, considerando suas caractersticas mais bvias, o jornalismo hegemnico e o cinema de estrutura clssica4 partilham de uma mesma origem sociocultural: os Estados Unidos. Foi nesse pas que se consolidou tanto o modo de produo de notcias que se imps no mundo quanto o modelo cinematogrfico de Griffith. Essas aproximaes permitem, de certa maneira, a aproximao de pblico que se atrai por caractersticas partilhadas entre o jornalismo e o cinema tais como as narrativas lineares, a oposio entre bem e mal, as lies de morais (implcitas ou no) e a fixao pela regenerao as personagens. Essas caractersticas compartilhadas possuem, entre outras, uma funo que em muito interessa ao nosso estudo: envolver o pblico e lev-lo a dividir, com as personagens da tela, as emoes universais e acolhedoras, como o amor, o medo, a saudade e os prprios sonhos individuais. A estruturao, de notcias e filmes de estrutura clssica, de maneira linear, com personagens bem definidos, cuidados para que as informaes dadas no gerem dvidas de compreenso no pblico e o uso de artifcios, como os closes, para, literalmente, aproximar o pblico, nos remetem, quase que instintivamente, a realizar a associao do jornalismo e do cinema de estrutura clssica atual, oriundo de Griffith, com o antiqussimo melodrama. 2 - MELODRAMA Com suas razes na Itlia do sculo XVI e impulsionado em retomar a tragdia grega (OROZ, 1999, p.17), o melodrama um gnero que vem sendo reinventado ao longo dos sculos. Malevel, moralizante e capaz de fazer o pblico se aconchegar em histrias bem estruturada e de fcil compreenso, o melodrama encontrou, especialmente no cinema de estrutura clssica, um pilar que garante a sua permanncia. D. W. Griffith lanou mo de suas caractersticas como, o maniqueismo, a oposio recorrente entre vcio X virtude e regenerao dos piores sujeitos, para desenvolver, no cinema, narrativas de fcil assimilao, com personagens caricaturados, visando disseminar os valores judaico-cristo moralizantes. Contudo, inegvel que o cinema mudou desde ento. Impulsionado pelas novas tecnologias e as utilizando para envolver, ainda mais, o pblico, alm de aprimorar as sutilezas que tambm colaboram para este envolvimento, ele consolida aquela antiga ambio de ver/viver/sentir as imagens que o sujeito moderno
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buscava quase que compulsivamente. Assim, o cinema de estrutura clssica visa amparar o espectador frente a tela dando a ele todas as indicaes para guiar-se na compreenso do filme indicando os caminhos para que ele alcance, seguindo a narrativa, o prazer que as imagens formadas em narrativas apaziguadoras podem gerar. J o Jornalismo no segue um caminho muito diferente, afinal, o jornalista guia o pblico na compreenso da notcia, averigua um fato de modo a descobrir o seu autor, a sua causa e o seu objetivo, revelando a verdade no final, procedimento que o obriga, muito ao gosto do cinema, a iluminar os picos de ao, a destacar os dados mais importantes, deixando na sombra os elementos secundrios (SENRA, 1997, p. 41). O jornalista investiga e expe situaes-problema, que passaram pelos critrios de noticiabilidade, e as constri como notcias, que so textos cuidadosamente tratados, atendendo a princpios do jornalismo e sendo capaz de manipular e prever as reaes do pblico (ERBOLATO,1985, p. 22). O jornalista faz uso dos conhecidos lead, sublead, e posteriormente sutes, que so as ferramentas utilizadas para gerar essa iluminao dos picos de ao que Senra explica. Da mesma forma, o cinema trata as imagens, assim como tambm atores, som, iluminao, caracterizao de personagens, entre outros elementos, de modo a gerar picos de ao no decorrer da trama. Ao assistir a um filme ou ao ler uma reportagem so claras essas ondulaes que iluminam certos fatos em determinados momentos, trabalhando sempre para que o espectador/leitor esteja cada vez mais interessado em ver/ler o que est na tela ou nas pginas de um jornal. Assim, essencial no cinema e no jornalismo enquadrar fatos direcionando os olhares do espectador. O uso do enquadramento no jornalismo presente tanto em jornais impresso como nos televisionado, abrindo uma nova possibilidade ao jornalista de manipulao da notcia, por meio do uso das imagens para convencer o espectador de uma verossimilhana impossvel de ser alcanada. Ao noticiarem algo trgico, a voz e os gestos do apresentador de um telejornal so cuidadosamente articulados para dividir com o espectador a emoo daquele momento. Assim, o jornalismo apresenta uma grande contradio: ao mesmo tempo em que veste os seus agentes com a couraa da imparcialidade e racionalidade, deposita sobre eles a tarefa de gerar no pblico o envolvimento e, na medida em que faz uso da explorao de temas e sentimentos universais, como o amor, a solido ou o medo, aproxima esse pblico da notcia. Esse artifcio utilizado tambm no cinema de estrutura clssica, com a diferena de que neste a explorao do sentimento no algo mal visto como no jornalismo, mas, necessrio e at buscado pelo pblico. Essas estratgias de apresentao de notcia, seja pelos jornalistas ficcionais ou no, baseiam-se nos antigos princpios do melodrama, e so to fundamentais para aproximarem o espectador das imagens quanto capazes de o gratificar. Esta gratificao se d, em grande parte, pela possibilidade da identificao com personagens que do forma as notcias e filmes de estrutura clssica. Obviamente que jornalismo televisionado no , ou pelo menos no deveria ser, fico, porm ele se incube de reportar/representar fatos, trabalhando tambm com a realidade simulada, assim como os filmes: o cinema narrativo, que trabalha com a realidade simulada, pode, muito mais que a televiso, produzir a experincia dessa viso transcendental, essa viso de um deus que se desloca no meio dos eventos como um corpo imaterial, onividente e destitudos de limites. (MACHADO, 2007, p.27).
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O sujeito ento entronizado em seu espao de conforto e colocado em contato com uma realidade simulada, que tanto no jornalismo televisionado quanto no cinema narrativo so capazes de produzir, neste indivduo criada a possibilidade de acesso a eventos que, como segue dizendo Machado, jamais seriam possvel de se vivenciar fora das telas. Por isso a possibilidade de afirmarmos que ambos tem o potencial de trabalhar com a emoo e gerar sensaes que propiciam o envolvimento do pblico. Interessante perceber que estas caractersticas so extremamente antigas e utilizadas h sculos na literatura, nas novelas de folhetim dos sculos XVIII e XIX (HUPPES, 2000), e no teatro (OROZ, 1999). Identificado com a personagem, de cinema e ou das grandes reportagens de cunho emocional, o pblico se aproxima, se envolve e acompanha, seja em um filme de pouco mais de uma hora e meia ou por sutes no prximo programa, as angstias, sempre universais, partilhadas com essa personagem. Essa caracterstica, fundamental ao melodrama, apropriada pelo cinema e pelo jornalismo televisionado, ao constiturem recorrentemente em suas produes personagens carregados de virtudes, geralmente vitimizados, em oposio a situaes de fora maior, ou pessoas, previamente julgadas culpadas, que as prejudicaram. Nesta construo, so priorizadas caractersticas de narrativas lineares, com comeo, meio e fim, amparando o espectador e guiando-o pela notcia/filme. Agradado, fcil esse indivduo querer consumir sempre mais destas produes, visando a preencher a lacuna de incertezas e instabilidades do mundo (ps) moderno. 2.1 - Era uma vez um mineiro e um jornalista... A montanha dos sete abutres (1951), filme dirigido por Billy Wilder, a representao cinematogrfica de tudo o que o jornalista no deve ser: manipulador, preocupado com seus prprios interesses e que utiliza estratgias pouco louvveis para atrair o espectador. A trama se passa em uma pequena mina no interior dos Estados Unidos, e l que o jornalista fictcio explorar o soterramento de Leo Minosa visando a conquistar os olhares de todo o pas e, assim, conseguir voltar a trabalhar em jornais de grande circulao. Nesta busca Charles Tatum, o jornalista em questo, utilizar elementos, como retratar a esposa de Leo e seu casamento como repleto de amor e considerao, para gerar a simpatia do pblico ficcional que chega em grande nmero para acompanhar o resgate do minerador. Afinal, bem aos moldes do melodrama, o filme trabalha para que o espectador, ficcional ou no, v se emaranhando na narrativa enquanto espera a condenao do malvado jornalista, que prolonga o soterramento do minerador para manter por mais tempo a divulgao de notcias sobre ele, a espera do pblico pela redeno da esposa insensvel e o livramento do homem soterrado. A medida em que a trama se desenrola, mais e mais pessoas vo chegando ao vilarejo, a paisagem pacata d lugar a famlias, e vendedores, que vm, cada um de seu modo, explorar a situao de Leo Minosa. Neste processo natural que o pblico de fora das telas v se identificando com o do representado no filme e sendo envolvido pelos indicativos do final trgico que aguarda o minerador. Estas dicas, que vo sendo dadas pelo filme, em poucas doses, permite ao espectador ter um envolvimento crescente, afinal, o que importa para o pblico do cinema de estrutura clssica no o final de uma produo, quase sempre favorvel para os bons e esforados, mas sim, como ele se dar. Em uma cena emblemtica o filme retrata a personagem de Tatum instruindo um inexperiente jornalista, Herbie, sobre como deve selecionar as notcias que publica. Enquanto Tatum e Herbie entram na mina onde Leo Minosa est soterrado, o experiente jornalista vai introduzindo-o na realidade sombria de sua profisso:
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Parte 1: Imagens e Imaginrios | Soterrados: o melodrama no programa Fantstico e no filme A montanha dos sete abutres
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a de que o jornalismo feito de human interesting, o conhecido interesse humano. Isso significa, por exemplo, que a morte de vrias pessoas de uma s vez no gera a comoo como a de um s homem preso em uma mina, caso de Leo, que pode ter a identidade explorada e montada para aproxim-lo ainda mais do pblico. Afinal, orienta Tatum, mais fcil comover-se com a angstia de uma personagem que conheo bem do que com a de vrias desconhecidas. Irnico perceber que, em busca de alcanar o maior nmero possvel de pessoas, os diretores e roteiristas do cinema de estrutura clssica primam por seguir um modelo previamente estipulado para atingir o sucesso de pblico, assim como os jornais. Dessa forma, em A montanha dos sete abutres, ao mesmo tempo que o pblico levado a divertir-se pela forma como o filme construdo, este mesmo espectador ironizado pelo seu deslumbramento diante do espetculo das notcias. O retrato mximo dessa ridicularizao da inteligncia crtica do pblico representada por uma famlia que chega a Escudero um dia depois de Tatum divulgar pela primeira vez o caso de Leo, um pobre e esforado minerador preso e ferido no interior de uma montanha. O espectador aproxima-se dessa famlia que foi construda com a inteno de ser a representao mxima do pattico comportamento desse prprio pblico diante de situaes parecidas com a de Leo e corriqueiras na imprensa. Considerando a teoria do newsmaking, o jornalismo atua na sociedade e vice-versa, moldando-se mutuamente (TRAQUINA, 2005), assim, o dito interesse humano explorado pelos jornais no caso Leo Minosa, acaba por ser creditado a uma vontade do pblico por notcias inusitadas, carregadas de sentimentos e recheadas por melodrama. Como era de se esperar, pelas insinuaes que o filme d, o mineiro morre, contudo, a culpa pela sua morte repartida entre o jornalista e o pblico, j que ambos, pelo menos na linha de raciocnio de A montanha dos sete abutres, testemunharam um crime e se omitiram. A diferena que o pblico perdoado por ter acompanhado e sofrido junto com Leo, j Tatum no . Mantem-se assim a lgica melodramtica de que quem sofre, mesmo que seja um pblico confortavelmente acomodado em uma poltrona de cinema por uma representao aos moldes do melodrama, perdoado e redimido. Impune, esse espectador mata por procurao, como ensina Ismail Xavier (2003), e usufrui da gratificao que a identificao com as personagens e as imagens grandiosas e cuidadosamente construdas para envolv-lo oferecem. 2.2 - Era uma vez 33 mineiros e 3 jornalistas... O programa jornalstico Fantstico foi criado em 1973 e, desde ento, ocupa grande parte da programao noturna dos domingos da Rede Globo de Televiso. No dia 29 de agosto deste ano, o programa dedicou quase 20 minutos para noticiar o soterramento de 33 mineiros no Chile, envolvendo seus dois apresentados principais, Patrcia Poeta e Zeca Camargo, alm da reprter Snia Bridi. A reportagem5 um claro exemplo da apropriao, pelo jornalismo televisionado, de estratgias do melodrama para atrair o pblico e aproxim-lo da tragdia do soterramento dos mineiros. Contudo, esta cobertura jornalstica contou com um diferencial digno de anlise: a reportagem inicia-se com Zeca Camargo dentro de uma mina. O jornalista sai de seu espao de apresentao do programa e se coloca no lugar dos mineiros, levando o pblico com ele e permitindo, desde a primeira cena o envolvimento, deste espectador moderno e sempre sedento por matrias com interesse humano, bem aos moldes da definio utilizada por Tatum em A montanha dos sete abutres.
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Seguindo a inteno de proporcionar ao espectador o envolvimento na reportagem, a reprter Snia Bridi, afirma que o caso dos mineiros se compara a um reality show, j que uma cmera que os registra, a mais de 700 metros de profundidade, o sofrimento desdes homens. Assim, a curiosidade de um pblico acostumado com Big Brother Brasil e outros realitys fica cada vez mais aguada enquanto o seu olhar curioso espreita as imagens gravadas no interior da mina. Essa possibilidade colabora ainda mais para este envolvimento j que, mais do que saber que os trinta e trs homens esto soterrados, dada a oportunidade de ver/sentir as angstias de estar soterrado. Vrios adjetivos sero dados pela reprter, em voz off, aos mineiros quando igualados em seu sofrimento eles cantam o hino nacional do Chile. Este ser o gancho para ressaltar o envolvimento nacional e lembrar ao pblico que oraes esto sendo feitas pelos mineiros. O apelo para a religio, o reforo do chavo de que o povo unido jamais ser vencido e a presena das famlias que se mudaram para o p da montanha e ficaro l at que o resgate dos homens seja concludo refora ainda mais os ideais melodramticos to recorrentes em notcias jornalsticas. Ao mesmo tempo que o drama dos chilenos narrado, os apresentadores do Fantstico apresentam, dentro de minas no Brasil, como o dia a dia dos mineiros brasileiros, os procedimentos para resgastes de emergncia e a anlise de especialistas sobre o soterramento no Chile. Seguindo a lgica do jornalista do filme de Billy Wilder, de que a tragdia de uma s pessoa pode ser melhor explorada do que a de dezenas, a reportagem do Fantstico opta por narrar individualmente algumas das angstias e das histrias de vidas dos mineiros. Estes homens vo sendo transformados aos poucos em personagens com caractersticas de heris pela reportagem, ao mesmo tempo em que so carregados de arrependimentos, medos e superaes. Alm disso, as histrias so acompanhadas por msicas de fundo, o que colabora, para a criao de uma atmosfera de sentimentalismo e envolvimento. Aos poucos transformados em exemplo de perseverana nacional creditado ao esprito dos mineiros a sua organizao e a luta para sobreviver durante os quatro meses previstos para a concluso do resgaste. Essa afirmao de herosmo humano, apenas sugerida por Snia Bridi em uma entrevista com a enfermeira que cuida dos mineiros, ser diretamente reproduzida por Patrcia Poeta que, ao entrevistar especialistas no assunto, o que algo to comum para legitimao de notcias, consegue a afirmao de que o especialista torce para a sobrevivncia dos mineiros j que sua funo, afirma a fonte, esperar que todos sobrevivam, o clamor do pblico pelo final feliz enquanto a trama se desenrola. No ltimo minuto da reportagem, que tambm utilizou imagens panormicas e grandiosas como em A montanha dos sete abutres, o Fantstico lana mo da mxima melodramtica: envolver o espectador na resoluo de um conflito para que uma relao amorosa seja plena. Trata-se do pedido de casamento feito por um mineiro a sua amanda, Jssica que, literalmente saltitante de alegria, corre para reler sozinha a frase enviada por carta via o duto de comunicao com os mineiros. Alm disso, no s este novo casal tem final feliz, mas tambm, um casamento de nove anos restaurado com uma declarao de amor tambm enviada em forma de bilhete. Ficamos, no final da reportagem, com uma espcie de alvio emocional e, mesmo no sendo dito por nenhum dos reprteres, ecoa em nossas mentes implicitamente que com o resgates dos mineiros todos vivero felizes para sempre. Trata-se ou no de uma narrativa melodramtica? Mas explcito impossvel.
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3 - CONCLUSO Tentar realizar uma notcia pura e totalmente imparcial impossvel na mesma medida em que um filme jamais ser um retrato fiel da realidade. Aceitar isso o primeiro passo para refletir em um estudo que busca aproximar as reas de jornalismo e cinema. Os objetivos de pesquisa, assim como comum as pesquisas na rea das Cincias Sociais Aplicadas devem ser continuamente revistos e atualizados tendo em vista que nossa realidade social assim. Desta forma podermos afirmar que impossvel esgotar as possibilidades de interpretao de reportagens de cunho emocional e dos filmes de jornalista, contudo, e apesar dos propsitos distintos, uma aproximao entre eles aponta os caminhos para a elucidao da forma como o sempre adaptvel melodrama mantem sua permanncia desde o sculo XVIII. Este gnero encontrou tanto no cinema quanto no jornalismo um terreno frtil para cativar a ateno de um sujeito moderno que, apesar de estar sempre disposto a novas tecnologias, ainda as utiliza como fonte de gratificao aos moldes do sculo XVIII, especialmente quando atrelado a imagens grandiosas e capazes de gerar envolvimento e emoes sentidas por esse pblico. O compartilhamento dessas sensaes entre jornalistas, da TV e do cinema, mineiros, e pblico consegue exemplificar a presena do melodrama no s no cinema como tambm no jornalismo televisionado. Por sua plasticidade e capacidade de ser adaptado a contextos histricos variados, o melodrama oferece sempre novas forma de ser reinventado e divulgado, cultivando um pblico que, bem ao gosto do gnero, deve estar indefeso frente as suas estratgias de envolvimento. Essa perspectiva especialmente exemplificada no filme de Billy Wilder, com a representao de um pblico indefeso, que se envolve, que sofre com o mineiro soterrado, mas que ao mesmo tempo, volvel e se esquece rapidamente dos dramas retratados na mdia, para serem novamente envolvidos, e com os mesmos laos frouxos, em outros dramas humanos. Neste constante enlaar-se e desenlaar-se dos dramas apresentados pelo jornalismo televisionado ou cinematogrficos, possvel, apesar de no totalmente mas em grande parte, pelas estratgias melodramticas. A pergunta que ressoa, e continua gerando vrias hipteses, : porque, em um mundo cada vez mais tecnolgico e alavancado por informaes que parecem infinitas, os indivduos permanecem interessados e so, na grande maioria, envolvidos por esquemas de identificao utilizados no sculo XVIII? Resta a ns pesquisadores continuarmos buscando encontrar respostas e maneiras de, tambm como jornalistas, colaborar para um jornalismo mais interessado em problematizar situaes ao invs de tax-las ao moldes melodramticos. Evidente que o melodrama tem a sua importncia como um gnero incorporado, mesmo que de maneira sutil, a nossas prticas sociais e por isso no deve ser apontado como o vilo do jornalismo ou como responsvel pela domesticao do pblico do cinema de estrutura clssica. Contudo, a obrigao tica dos pesquisadores na rea de comunicao realizar estudos que investiguem essas produes, primando sempre por contribuir para o desenvolvimento crtico do indivduo que, antes de ser pblico, deveria ser cidado.
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Referncias Bibliogrficas BAUMAN, Z. Modernidade lquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. CHANEY, L.; SCHWARTZ, V. R. (Org.) O cinema e a inveno da vida moderna. So Paulo : Cosac & Naify, 2004. DUARTE, R. Teoria Crtica da Indstria Cultural. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003 ERBOLATO, M. Tcnicas de codificao em jornalismo: redao, captao e edio no jornal dirio. So Paulo: tica, 1991. HUPPES, I. Melodrama: o gnero e sua permanncia. Cotia: Ateli Editorial, 2000. MACHADO, A . O sujeito na tela: modos de enunciao no cinema e no ciberespao. So Paulo: Paulus, 2007. SENRA, S. O ltimo jornalista: imagens de cinema. So Paulo: Estao liberdade,1997. THOMPSON, J. Midia e modernidade: uma teoria social da mdia. Petrpolis: Vozes, 2004. TRAQUINA, Nelson. Teorias do jornalismo. Florianpolis: Insular, 2005. XAVIER, I. O olhar e a cena: melodrama, Hollywood, cinema novo, Nelson Rodrigues. So Paulo: Cosac & Naify, 2003. Notas: Trabalho apresentado na V FEICOM: ressignificando as fronteiras da comunicao e informao. De 09 a 11 de novembro de 2010, em Goinia GO. Jornalista formada na Universidade Federal de Gois em 2009. Atualmente cursa, como aluna especial, a disciplina Estudos Avanados em Mdia e Cultura II do Programa de Ps-Graduao em Comunicao/UFG. E-mail: [email protected]. 3 Crtico de Cinema e Professor da Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia da UFG. E-mail: [email protected] 4 O chamado cinema clssico corresponde ao modelo cinematogrfico desenvolvido por D. W. Griffith e que foi amplamente utilizado, em sua verso mais tradicional, em filmes norte-americanos at por volta de 1960 nos Estados Unidos. J o dito cinema de estrutura clssica, que ser constantemente referido neste artigo,corresponde produo cinematogrfica herdeira e adaptadora de Griffith e apresenta, entre outras caractersticas que sero abordadas posteriormente, linearidade narrativa, personagens bem definidos e explorao de estratgias que permitem a aproximao e a identificao do pblico. 5 Disponvel em http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL1616210-15605,00 FANTASTICO+ACOMPANHA+OPERACAO+DE+RESGATE+DE+MINEIROS+NO+CHILE.html Acesso em 30 outubro 2010
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Exposio Sin Fronteras de Documentrios Curta-Metragem1 Nome do Autor(a): CHAVES, Tatiane Assis2. Nome do Co-autor(a): COELHO, Rafael Franco3; DOURADO, Maiara4; FIORESE, Bruno5; NOMINATO6, Milena Peixoto; MARQUES7, Gabriela Gonalves; RIBEIRO, Hugo Paiva8; ROCHA, Nilton Jos dos Reis9; SILVA, Luis Eduardo Rosa10; SOARES, Lorena Rodrigues11; SOUSA, Ana Lcia Nunes12; BATISTA, caro13; VIEIRA, Pedro Ive Freire14. Instituio(es) a que est(o) vinculado(s): Universidade Federal de Gois. Palavras-chave: Amrica Latina; Cinema Documentrio; Comunicao; Contra-Hegemonia. 1. Texto Explicativo sobre a exposio pretendida: Filmes so feitos para serem vistos. Estimulados pelo lema cineclubista, o Coletivo Magnfica Mundi prope a realizao da I Exposio Sin Fronteras de Documentrios Curta-Metragem. A Exposio ser composta por 15 vdeos. Estes, produzidos em 2008 e 2009, na Bolvia, no Brasil e no Peru, por estudantes universitrios, representantes de movimentos sociais, remanescentes quilombolas, e indgenas das etnias Aymara, Bororo, Guarani-Kaiow, Kala-Palo, Quetchua, Terena e Xavante. Majoritariamente, os documentrios a serem exibidos foram realizados durante as edies do Curso Internacional de Cinema Documentrio Sin Fronteras. Realizado desde 2008, o Curso figura como uma das atividades promovidas pelo Projeto de Extenso Jornalismo e Culturas de Fronteras, desenvolvido pelo Coletivo Magnfica Mundi, em conjunto com a Escuela de Cine y Artes Audiovisuales de La Paz e o Museu das Culturas Dom Bosco do Mato Grosso do Sul. Apoiado por entidades sindicais e indigenistas, o Curso tem como objetivo a formao de realizadores que enxerguem a obra audiovisual como um instrumento de transformao social, de construo coletiva e que vejam a Amrica Latina como um frtil territrio para descoberta de uma outra linguagem, de outras histrias que no quelas nos enviadas de cima e/ou pelo o outro lado do atlntico. Por crer que esta postura frente ao audiovisual e, nos arriscamos a afirmar, frente vida, vai alm dos documentrios produzidos durante o Curso, a I Exposio Sin Fronteras de Documentrios Curta-Metragem no se configura como um simples desaguadouro de produes de um projeto, mas a exposio de uma viso de comunicao que transcende o perodo e o pas em que o vdeo foi produzido. Por ltimo, um esclarecimento necessrio, compe a mostra tambm obras ditas ficcionais. A insero destas constitui uma tentativa de problematizar a definio do termo documentrio, a fidelidade de registro que tantos realizadores evocam sua obra e exposio das diversas possibilidades de representao de uma cultura e daqueles que dela fazem parte.
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Quanto ao local de realizao e metragem necessria, propomos que a mostra seja feita em 6 m do corredor do pavimento inferior da Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia. O princpio que norteia produo dos vdeos apresentados, que a descontruo da viso do cinema como artigo de luxo, seria incorporada projeo das obras, j que esta aconteceria em um local de interao cotidiana e no em um ambiente prprio, reservado e de alguma forma, de acesso limitado. 2. Justificativa / Base Terica: Em O Poder e a Hegemonia: Apontamentos sobre a Teoria Marxista, Nestor Kohanse prope responder seguinte questo: -De que maneira domina a classe dominante?. Tendo como objetos de anlise o modelo poltico do Manifesto Comunista, do 18 de Brumrio, e os estudos acerca do conceito de Hegemonia produzidos por Lnin e Gramsci, Kohan expe aos leitore o quo complexo decifrar as formas, as quais o capital quotidianamente se reproduz. Da sentenciao feita por Marx, de que a histria da sociedade no mais que a histria da luta de classes e de que estas deveriam ser identificadas como burguesia, classe dominante, e proletariado, classe oprimida; passa-se percepo de que estas classes no poderiam ser vistas como blocos homogneos e que dentro delas, haviam divises, que tornavam a luta de classes mais complexas, caracterizada pela fracionalidade e transversalidade. Da certeza de que a opresso era feita somente atravs da violncia e represso do Estado, considerado por Marx uma maquinaria de guerra do Capital contra o trabalho, passou-se compreenso de que a subjulgao do proletariado orquestrada pela burguesia feita tambm atravs da cultura, da educao. Segundo Kohan, a hegemonia de um grupo social equivale cultura que esse segmento conseguiu generalizar para outros segmentos sociais. Na tentativa de consolidao dessa dominao simblica, que adverte Gramsci, nunca aceita de forma passiva, tendo que se renovar continuamente, afim de neutralizar o adversrio, incorporando suas reivindicaes, so diversos os instrumentos utilizados. A imposio de modelos cultural, as elites so diversas, se faz na reunio de esforos entre instituies escola, igreja- e meios de comunicao rdio, televiso e cinema. Como destaca Jean-Claude Bernadet, a mquina fotogrfica foi desenvolvida no sculo XIX, ao mesmo tempo em que se desenrolava a Revoluo Industrial e a burguesia ascendia. Na tentativa de consolidao do seu domnio, os burgueses desenvolvem mquinas e tcnicas que no s serviro acumulao de capital como serviro ao repasse de seus valores, criao do mundo burgus. Dessa poca, fim do sculo XIX, incio deste, datam a implantao da luz eltrica, a do telefone, do avio, etc., etc., e, no meio dessas mquinas todas, o cinema ser um dos trunfos maiores do universo cultural. A burguesia pratica a literatura, o teatro, a msica, etc., evidentemente, mas estas artes j existiam antes dela. A arte que ela cria o cinema. (BERNADET, 2005, p.7) A narrativa clssica carrega consigo um posicionamento, bem como a montagem que pretende a naturalidade atravs da sucesso de imagens sem solavancos. Por detrs ento, da mais ingnua comdia romntica, podemos afirmar que h uma inteno, h um modelo a ser transmistido, um modelo de amar, de se portar, de
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ser homem e de ser mulher. Os valores repassados, em filmes de narrativa clssica, caracterizados pelo maniquesmo cristo, majoritamente correspondem queles provindos da cultura europia e estadunidense. Desta forma, a representao do indgena e do negro se faz de forma a assegurar o modelo branco-ocidental de viver, se faz, ento de forma, deturpada. Certos de que o reparo no vem de quem h anos o desrespeitam e dos perigos de uma revoluo passiva, atravs da qual, segundo Gramsci segmentos politicamentes hegemnicos promovem transformaes nas relaes de fora, afim de neutralizar os seus inimigos de baixo; movimentos sociais, indgenas e afrodescendentes se apoderam da mquina burguesa a transformado em um instrumento de luta social. A percepo da engenhosidade do mesmo, o domnio da linguagem no s cinematogrfica, mas de outros meios de comunicao, afirma Mirza Seabra Toschi, uma forma de perceber o desejo de manipulao, mas tambm de estimular a reinvidicao de um direito bsico, o direito comunicao. O direito comunicao, como afirma Pedrinho Guareschi, no apenas o direito de ser bem informado, ou de poder trocar de canal ou estao de rdio. Direito humano comunicao o direito de algum dizer sua palavra, expressar sua opinio, manifestar seu pensamento. A exposio, antes que surja o questionamento, no pretende afirmar que somenterealizadores indgenas, por exemplo, devam produzir materiais audiovisuais acerca de seus costumes. Qualquer um pode falar sobre a cultura indgena, sobre a cultura afrodescendente, sobre o Movimento dos Sem Terra, inclusive os indgenas, os afrodescentes e os intergrantes do movimento, que se vem majoritaria e respectivamente, representados como incapazes, corpos sensuais e aproveitadores Ao se propor a apropriao por grupos histricamentes preteridos de ferramentas audiovisuais, o que se busca o florescimento de uma outrasubjetividade, uma reviso simblica e assim, econmica, da sociedade em que vivemos. Se equivocaron hace 500 aos diciendo que nos descubran. Como si hubiera estado perdido el otro mundo que ramos. Se equivocaron llamando civilizar a la accin de destruir, de matar, de humillar, de perseguir, conquistar, someter. Se equivocaron cuando a matar un indio le llamaban evangelizarlo. Se equivocan cuando a este asesinato hoy se le llama modernizarlo. Para ellos, nuestras historias son mitos, nuestras doctrinas son leyendas, nuestra ciencia es magia, nuestras creencias son supersticiones, nuestro arte es artesana, nuestros juegos, danzas y vestidos son folklore, nuestro gobierno es anarqua, nuestra lengua es dialecto, nuestro amor es pecado y bajeza, nuestro andar es arrastrarse, nuestro tamao es pequeo, nuestro fsico es feo, nuestro modo es incomprensible (CCRI-CG del EZLN, 9/03/2001 IN CECEA, 2002, p.1). Reviso simblica que se faz tambm definio do que real, a ideia de que uma cmera no instaura um nova situao quando pessoas comuns e no, atores so filmados, de forma conclusiva diviso entre o que fico e o que documentrio. Segundo Bill Nichols todo filme um documentrio, j que deixa em evidncia a cultura que a produziu e a aparncia das pessoas que fazem parte dela.
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3.Referncias: ACCARDO, A.; A Estranha tica Jornalista. Disponvel em:<http://www.iscafaculdades.com.br/estacaojornalismo/artigo_2.htm>. Acesso em: 29 out.2010. BERNARDET,J.; O Que Cinema. So Paulo: Brasiliense, 1981. CECEA, A.E; Rebeldas Sociales y Movimientos Ciudadanos. Disponvel em:<http://www.hechohistorico.com.ar/Trabajos/Osal/osal/osal6/org/cecena.pdf> . Acesso em:29 out. 2010. GONZLEZ, J.E; Manuel Scorza: Mito, Novela e Histria. Disponvel em:<http://www.scribd.com/doc/39494352/O-Mito-por-Manuel-Scorza>. Acesso em: 29 out.2010. KOHAN, N.; O Poder e a Hegemonia: apontamentos sobre a teoria marxista. Disponvel em: <http://resistir.info/argentina/poder_hegemonia_port.html> Acesso em: 29 out. 2010. NAVARRO, C.; Desinformar-se e Enfrentar a Investida dos Meios de Comunicao Capitalista. Disponvel em: <http://www.ciranda.net/brasil/comunicacao/article/ desinformar-se-e-enfrentar-a> Acesso em: 29 out. 2010. NICHOLS, B.; Introduo ao documentrio. Traduo: Mnica Saddy Martins. Campinas, SP: Papirus, 2005. TOSCHI, M.S.; Educao para as mdias: Conceito, Relao com a Educao e Experincias. In:Todos os Contos, Verificao de um Imaginrio Infanto-Juveni. 1 ed. Goinia: Ayv-Et Comunicao e Projetos, 2004.
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Notas: Trabalho apresentado na V FEICOM: Ressignificar as fronteiras da comunicao e informao, de 08 a 12 de novembro de 2010, em Goinia GO. Estudante do curso de Comunicao Social, habilitao em Jornalismo, da Universidade Federal de Gois (UFG); e-mail: [email protected]. 3 Professor assistente da UFG, mestre em Artes pela Universidade de Campinas (UNICAMP); e-mail: [email protected]. 4 Profissional liberal, graduada em Comunicao Social, habilitao em Jornalismo, pela UFG; e-mail: [email protected]. 5 Estudante do curso de Comunicao Social, habilitao em Jornalismo, da UFG, graduado em Comunicao Social, habilitao em Relaes Pblicas na mesma instituio; e-mail: [email protected]. 6 Estudante do curso de Comunicao Social, habilitao em Relaes Pblicas, da UFG; e-mail:[email protected]. 7 Ps-Graduanda em Gesto Cultuta pelo Instituto de Estudos Scios-Ambientais da UFG; e-mail: [email protected]. 8 Estudante do curso de Comunicao Social, habilitao em Jornalismo,da UFG;e-mail: [email protected]. 9 Professor da UFG e doutorando em Ps-colonialismo e Cidadania Global, no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra; e-mail:[email protected]. 10 Estudante do curso de Comunicao Social, habilitao em Jornalismo, da UFG; e-mail:[email protected]. 11 Estudante do curso de Comunicao Social, habilitao em Jornalismo, da UNB; e-mail: [email protected]. 12 Maestranda em Comunicaco e Cultura pelaUniversidade de Buenos Aires; e-mail: [email protected]. 13 Profissional liberal, graduada em Comunicao Social, habilitao em Jornalismo, pela UFG; e-mail: [email protected]. 14 Mestrando em Informao, Comunicao e Novos Media pela Universidade deCoimbra; email: [email protected].
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Exposio Fotogrfica Brabo1 Nome do Autor(a): CHAVES, Tatiane Assis2. Nome do Co-autor(a): COELHO, Rafael Franco3; DOURADO, Maiara4; FIORESE, Bruno5; NOMINATO6, Milena Peixoto; MARQUES7, Gabriela Gonalves; RIBEIRO, Hugo Paiva8; ROCHA, Nilton Jos dos Reis9; SILVA, Luis Eduardo Rosa10; SOARES, Lorena Rodrigues11; SOUSA, Ana Lcia Nunes12; BATISTA, caro13; VIEIRA, Pedro Ive Freire14. Instituio(es) a que est(o) vinculado(s): Universidade Federal de Gois. Palavras-chave: Amrica Latina; Cinema Documentrio; Comunicao; Contra-Hegemonia. 1. Texto Explicativo Sobre a Exposio Pretendida: A Exposio Fotogrfica Brabo trar quarenta fotografias que tem como temtica crianas, mulheres bolivianas alm das paisagens rurais e urbanas do departamento de La Paz. As impresses registradas nas fotografias foram produzidas em 2008 e 2010, atravs do intercmbio cultural oferecido pela parceria entre a Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia da Universidade Federal de Gois e a Escuela de Cine y Artes Audiovisuales de La Paz, que se d de forma especfica atravs do projeto de extenso Jornalismo e Culturas de Fronteiras. O nome Brabo sinaliza esse o desejo de retomada da relao cultural e no, somente comercial, entre Brasil e Bolvia e mais adiante, com os demais pases latinoamericanos. Nas fotografias, a priori se nota um olhar curioso, muitas vezes estimulado pelo diferente, pelo dito extico; depois de sculos de afastamento, a impresso primeira a de que se est frentea uma cultura diversa, marcada pelos traos indgenas, aqui ocultados via o genocdio orquestrado pelo invasor, pelo colonizador. Com o tempo, em alguns campos, a estranheza desaparece. Nas ruas de La Paz percebido o caos das grandes metrpoles brasileiras. Apesar das cholitas, mulheres camponesas, oferecerem uma nova forma de comunicao atravs de suas vestimentas coloridas e pomposas, visualmente o/a boliviano se parece com brasileiro, ambos povos passaram por um processo de dominao simblica que pode ser notada desde suas vestes at os rostos brancos estampados nos anncios. Cientes ento,da contradio existente na representao do outro, que tambm uma forma de auto-representao, foram selecionadas fotografias que vo desde busca pelo extico procura de traos comuns entre as culturas, que viabilizasse a construo de uma identidade latino-americana, que ultrapassa a barreira do idioma e se estabelece a partir do passado colonizado e hoje, da tentativa do resgate do que se foi perdido.
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2. Justificativa / Base Terica: Em A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Tcnica, BENJAMIN aborda o conceito de aura, para ele este se define pela distncia e reverncia que cada obra de arte, na medida em que nica, impe ao observador.O aparecimento e desenvolvimento da fotografia promove uma transformao da forma de se enxergar a arte, a possibilidade de feitura de cpias acaba por fazer devoo ao original. A arte se torna mais democrtica e contribui para uma politizao esttica, democratizao simblica, o que no quer dizer que estas so levadas cabo. Em seus primrdios, a fotografia ainda serve a uma elite, mais numeros, mais ainda elite, a burguesia. O desejo pelo repasse de seus valores, preconceitos se fazia e ainda se faz presente na representao impressa pela luz. Assim como o cinema, a televiso, ou qualquer outro meio de comunicao, se necessrio na fotografia, o domnio de sua linguagem para se fazer a apropriao e a disputa simblica. Nas fotografias expostas, analogamente ao percurso filmogrfico de Jean- Rouch, o diverso vai se perdendo, das fotos de que documentam diferentes hbitos e feies exticas, passa-se cincia de que sim h muito de diferente, mas tambm muito em comum, e se chega ao sorriso de uma criana, jovens passeando, uma rua cheia de carros, ao caos urbano que acompanha todo o proposital subdesenvolvimento latino-americano. 3. Imagens que comporo a exposio (mnimo 3, mximo 5, em 72 dpi)
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4. Referncias: BENJAMIN, W.; A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Tcnica. In: Obras escolhidas. Magia e Tcnica, Arte e Poltica: ensaios sobre literatura e histria da cultura. So Paulo: Brasiliense, 1985b. p. 165-196. v. 1 GONZLEZ, J.E; Manuel Scorza: Mito, Novela e Histria. Disponvel em: <http://www.scribd.com/doc/39494352/O-Mito-por-Manuel-Scorza>. Acesso em: 29 out. 2010. KOHAN, N.; O Poder e a Hegemonia: apontamentos sobre a teoria marxista. Disponvel em: <http://resistir.info/argentina/poder_hegemonia_port.html> Acesso em: 29 out. 2010. NAVARRO, C.; Desinformar-se e Enfrentar a Investida dos Meios de Comunicao Capitalista. Disponvel em: <http://www.ciranda.net/brasil/comunicacao/article/ desinformar-se-e-enfrentar-a> Acesso em: 29 out. 2010. TOSCHI, M.S.; Educao para as mdias: Conceito, Relao com a Educao e Experincias. In:Todos os Contos, Verificao de um Imaginrio Infanto-Juveni. 1 ed. Goinia: Ayv-Et Comunicao e Projetos, 2004.
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Notas: Trabalho apresentado na V FEICOM: Ressignificar as fronteiras da comunicao e informao, de 08 a 12 de novembro de 2010, em Goinia GO. Estudante do curso de Comunicao Social, habilitao em Jornalismo, da Universidade Federal de Gois (UFG); e-mail: [email protected] . 3 Professor assistente da UFG, mestre em Artes pela Universidade de Campinas (UNICAMP); e-mail: [email protected]. 4 Profissional liberal, graduada em Comunicao Social, habilitao em Jornalismo, pela UFG; e-mail: [email protected]. 5 Estudante do curso de Comunicao Social, habilitao em Jornalismo, da UFG, graduado em Comunicao Social, habilitao em Relaes Pblicas na mesma instituio; e-mail: [email protected]. 6 Estudante do curso de Comunicao Social, habilitao em Relaes Pblicas, da UFG; e-mail: [email protected]. 7 Ps-Graduanda em Gesto Cultuta pelo Instituto de Estudos Scios-Ambientais da UFG; e-mail: [email protected]. 8 Estudante do curso de Comunicao Social, habilitao em Jornalismo,da UFG;e-mail: [email protected]. 9 Professor da UFG e doutorando em Ps-colonialismo e Cidadania Global, no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra; e-mail:[email protected]. 10 Estudante do curso de Comunicao Social, habilitao em Jornalismo, da UFG; e-mail:[email protected]. 11 Estudante do curso de Comunicao Social, habilitao em Jornalismo, da UNB; e-mail: [email protected]. 12 Maestranda em Comunicaco e Cultura pelaUniversidade de Buenos Aires; e-mail: [email protected] 13 Profissional liberal, graduada em Comunicao Social, habilitao em Jornalismo, pela UFG; e-mail: [email protected]. 14 Mestrando em Informao, Comunicao e Novos Media pela Universidade deCoimbra; e-mail: [email protected].
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Filmes Goianos na Regio Norte1 Vitor Santana Reis2 Instituio(es) a que est(o) vinculado(s): Universidade Federal de Gois Palavras-chave: cinema; cultura; goianos; filmes. Introduo: O cinema se constitui em uma das principais formas de levar entretenimento e cultura s pessoas que no tem tanto acesso. Sabemos que a cultura ainda um bem caro para a maioria da populao brasileira. Alm do fator preo, outro problema motivou a criao desse projeto de extenso: o fato de que as produes culturais regionais recebem pouco destaque, inclusive aqui em Goinia. Observando essa realidade que, em parceria com a ONG Crimia Resistncia Comunitria, foi criado o projeto de extenso e cultura Filmes goianos na regio Norte, visando divulgar as produes cinematogrficas goianas e tambm levar cultura de forma gratuita aos moradores dessa regio. Justificativa/Base terica: Nos ltimos dez anos a produo audiovisual goiana vive um momento de crescimento. Essa produo ainda se restringe, com raras excees, ao curta metragem. Existem fatores globais que levam a esse crescimento, como a democratizao do acesso a ferramentas de produo devido a reduo de valores de equipamentos e a possibilidade de veiculao no apenas em emissoras de TV, mas tambm pela internet. Outros aspectos que favoreceram o aumento da produo audiovisual local: o surgimento e continuidade de diversos festivais de filmes em Gois (FICA, Goiania Mostra Curtas, Festcine Goinia, Perro Loco, Miau). Tais eventos incentivam a produo pois servem de janela de exibio para os filmes, alm de terem premiaes substanciais em alguns casos. Os festivais tambm possibilitam aos realizadores locais travar contato com parte representativa da produo nacional de curta metragens. Ainda colaboram para o crescimento da nossa produo flmica, as leis de incentivo culturais estadual e municipal, bem como os editais de produo, que possibilitaram o financiamento de diversos filmes nos ltimos anos. H que se considerar tambm nesse crescimento audiovisual em Gois o aumento de faculdades de comunicao, de onde sai grande parte dos filmes goianos. Porm, apesar de termos um calendrio cheio com trs festivais profissionais e dois festivais universitrios, alm de mostras especficas dos diversos cursos de
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comunicao existentes em Gois, o pblico que no est diretamente relacionado a essas produes ainda desconhece a maioria dos filmes goianos. Objetivos: O foco em se criar um projeto de extenso que leve o cinema goiano para a regio Norte da cidade se divide em duas vertentes. Inicialmente, o objetivo seria levar cultura e entretenimento para o bairro Crimia Leste, que se encontra distante dos grandes plos culturais da cidade. Porm, durante as discusses, percebeu-se que no bastaria simplesmente levar os filmes do circuito comercial, em cartaz nas grandes salas tradicionais. Existem produes goianas suficientes para a realizao dessas mostras e, ao mesmo tempo, no h muita divulgao dessas produes. Os curtas metragens produzidos em Goinia ficam limitados aos festivais de cinema realizados ou alguma mostra temtica realizada eventualmente. Assim, o pblico tambm fica restrito s pessoas que frequentam estes festivais. Com as duas vertentes bem definidas, o projeto Filmes goianos na regio Norte se prope a ser mais uma janela de exibio, visto que existem outras iniciativas semelhantes, para esse pblico exibindo os filmes em um centro cultural em uma regio da cidade para que o pblico goiano conhea um pouco do que feito em Gois. Com uma maior divulgao dos curtas locais, poderemos criar uma familiaridade, um gosto por essas produes e assim propiciar um maior incentivo para que novos filmes sejam produzidos, desenvolvemos o cenrio audiovisual goiano. Metodologia: Para desenvolver esse projeto, primeiramente foi estabelecida uma parceria com a ONG Crimia Resistencia Comunitria, localizada no bairro Crimeia Leste, regio Norte da cidade. Esta parceria era de grande importancia para o andamento do projeto pois a ONG possui um espao prprio, onde poderiam ser realizadas as exibies, alm ter uma grande atuao na regio. O segundo passo foi realizar um levantamento dos filmes goianos j produzidos, para que assim pudessemos fazer a seleo dos curtas e tambm dividilos nas exibies semanais. Para esse levantamento foram usados catlogos de festivais de cinema como o Perro Loco, Goiania Mostra Curtas, FICA, FestCine entre ourtos. Alm desses catlogos foi feita uma busca no site da Associao Brasileira de Documentaristas, seo Gois (ABD-GO) para encontrar a maior quantidade de produtores e assim enriquecer ainda mais as exibies. Com os filmes e os nomes dos realizadores em mo, deu incio um longo processo de contato com esses realizadores para pedir autorizao de exibio das obras e, assim que consedida, obter uma cpia para a exibio. Para finalizar, os filmes foram divididos em sees de uma hora semanal e produzido os materiais de divulgao.
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Resultados, discusso: O projeto ainda est em andamento, tendo durao prevista at o final de dezembro, de tal maneira que no possvel falar em resultados definitivos ainda. At o momento foram realizadas duas exibies na sede da ONG Crimia Resistncia Comunitria, ambas com muito interesse dos moradores da regio, provado pela quantidade de espectadores em cada mostra. Uma das maiores dificuldades encontradas nessas primeiras exibies foi com relao ao pblico extremamente variado. No h uma faixa etria predominante, o que torna as atenes e gostos bem diversificados. A programao feita buscando atender a todos esses gostos, exibindo-se assim, fices, animaes e documentrios em todas as sees. Porm, determinados formatos no agradam a todos, o que gera momentos de inquietao ou desateno do pblico. Isso tonar-se ainda mais claro quando analisamos a reao dos mais novos ante a exibio de um documentrio. Todas essas repercusses e reaes iniciais serve de base para planejar o restante das mostras, sempre melhorando a qualidade e chamando cada vez mais moradores da regio. Alm do mais, o intuito de divulgar as produes goianas est atingindo seu objetivo com grande exito, pois o pblico revela uma grande surpresa em ver produes regionais de boa qualidade, divulgando as mostras atravs do conhecido boca a boca. Concluses: Como dito anteriormente, o projeto ainda est andamento, de forma que seja complicado falar em concluses. O que pode ser dido que o projeto uma eterna construo, pois cada seo uma experincia nova, pois so sempre curta-metragens diferentes, com linguagens e mensagens variadas. Alm do mais, h a questo da rotatividade do pblico que acompanha as mostras. O projeto tambm no visa obter um resultado fechado e sim proporcionar um contato do grande pblico com o cinema goiano, difundindo cada vez mais e consequentemente incentivar ainda mais as produes locais. Fonte financiadora: O projeto de extenso e cultura Filmes goianos na regio Norte recebe uma bolsa no valor de R$ 360,00 para a manuteno de um aluno monitor, responsvel por fazer os contatos com os realizadores, obter as fichas de autorizao de exibio e providenciar as cpias dos curta metragens. Alm do mais, o dinheiro tambm destinado para a confeco de materiais de divulgao como por exemplo flyers e cartazes.
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Referncias: LEO, Beto. Cinema de A a Z: Dicionrio de Audiovisual em Gois, Goinia, Agncia Goiana de Cultura Pedro Ludovico Teixeira, 2002 Notas:
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Trabalho apresentado na V FEICOM: Ressignificar as fronteiras da comunicao e informao, de 08 a 12 de novembro de 2010, em Goinia GO. Graduando em Jornalismo pela Universidade Federal de Gois, bolsista do projeto de extenso e cultura Filmes goianos na regio Norte e membro do Ncleo de Pesquisa de Mdia e Cidadania. Email: [email protected].
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Bolvia: por um outro olhar1 Autora: Mariza Fernandes dos Santos2 Co-autores: Renan Nogueira Silva e Joo Daniell Oliveira4 Orientador: Rafael de Almeida5 Instituio(es) a que est(o) vinculado(s): Universidade Federal de Gois Palavras-chave: Bolvia; Cultura; Vivncia Justificativa/Base terica A viagem Bolvia feita entre os meses de Julho e Agosto de 2010 pelos integrantes do projeto Brabo revelou um pas cheio de diversidade e muito diferente do que a maioria de ns imaginava ou pensava conhecer atravs de revistas e guias de turismo. As perceptveis mudanas pelas quais o pas tem passado aps a posse do presidente Evo Morales e que tem como destaque a nova constituio, que admite a Bolvia como um Estado Plurinacional, esto acontecendo em um tempo em que muito da cultura boliviana j se perdeu ou se adequou forma europia. Mas a necessidade destas mudanas demonstra que ainda h muito da vasta cultura indgena e camponesa a ser preservado. Objetivos A partir dessa nova viso sobre a Bolvia, o presente trabalho busca desconstruir a imagem que se tem desse pas como um lugar de turismo, com grandes qualidades geogrficas e uma populao urbanizada e globalizada, como aponta a reportagem A farsa da nao indgena publicada na edio N 2164 da revista Veja. Metodologia A viagem Bolvia foi feita por estudantes do projeto Brabo entre os meses de Julho e Agosto de 2010. O objetivo da viajem foi discutir a comunicao na
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Amrica Latina atravs do V Colquio Brabo. Antes de partir, fizemos alguns estudos sobre aquele pas que pensvamos conhecer bem com o nosso, e at mesmo que fossem parecidos. A viagem acabou se transformando no que queremos compartilhar atravs deste trabalho, uma ressignificao das relaes que temos com um pas to prximo e ao mesmo tempo to distante, to diferente. Resultados, discusso Um olhar mais atento sobre a Bolvia capaz de surpreender e revelar um pas que vai muito alm de pontos tursticos. A idia de que esse um dos pases mais pobres da Amrica Latina por muitas vezes escapa da mente do turista que se encanta com a elegncia das cholas (mulheres indgenas) e que se rende gula diante da farta comida boliviana. A diversidade cultural ainda bastante presente no pas a marca de uma resistncia uniformizao de valores, principal instrumento para a construo de um Estado nacional, ou Estado moderno, imposto pelos Espanhis. A histria poltica da Bolvia marcada por levantes e revolues populares que enfrentam governos que colocam em questo os direitos do povo. O territrio boliviano foi habitado pelo imprio inca at o sculo XVI, quando os espanhis conquistaram a regio e impuseram um sistema exploratrio de colonizao. A herana cultural dos espanhis ficou registrada em uma das lnguas oficiais, na arquitetura colonial e em algumas tradies. As marcas da dominao espanhola so notveis dentro da sociedade boliviana, o que no significa que os costumes e tradies de uma maioria populacional camponesa e indgena tenham dado lugar homogeneizao cultural e a padronizao do consumo. Apesar disso, no muito difcil encontrar reportagens como a publicada na edio n 2164 da revista Veja com o ttulo A farsa da nao indgena. Com o objetivo claro de criticar o governo de Evo Morales, a reportagem se baseia nos argumentos de que a sociedade boliviana majoritariamente urbana e mestia e que os ndios representam apenas 17% da populao, para tentar ridicularizar o nacionalismo indgena, institucionalizado na Bolvia aps a aprovao da Nova Constituio, em 2007. A nova constituio estabelece que a Bolvia um estado plurinacional constitudo por 36 naes originais de camponeses e indgenas. Apesar da posio da revista em relao nova constituio, muitos pesquisadores vem mais avanos do que prejuzos na implantao do estado plurinacional. No Artigo O estado plurinacional na Amrica Latina (Magalhes, 2010), o professor de direito constitucional e ativista de direitos humanos Jos Luiz Quadro de Magalhes aponta aspectos importantes desse conceito: A idia de Estado Plurinacional pode superar as bases uniformizadoras e intolerantes do Estado nacional, onde todos os grupos sociais devem se conformar aos valores determinados na constituio nacional em termos de direito de famlia, direito de propriedade e sistema econmico entre outros aspectos importantes da vida social. Como vimos anteriormente o Estado nacional nasce a partir da uniformizao de valores com a intolerncia religiosa.(Magalhes,2010, pg.2)
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Concluses Com 500 anos de dominao europia, vivendo na atual globalizao, ser um pas mestio no algo de se estranhar. O que faz o povo boliviano diferente de ns brasileiros, por exemplo, que eles vem a importncia da cultura indgena, a cultura me deles. Eles no voltam as costas para suas razes. E fazem isso de diversas formas. A Wiphala um exemplo disso. Ela uma bandeira que representa as naes que deram origem Bolvia, um dos pases, como gosta de tratar a grande mdia, mais pobres da Amrica Latina. No que o fato de a Bolvia ser pobre seja mentira, a questo a abordagem que se faz sobre isso. A maioria dos veculos de comunicao toma esse fato como o principal, acompanhado do trfico de entorpecentes. Se a abordagem no for esta, os olhares brasileiros s se voltam para a Bolvia se algo totalmente extraordinrio se passa por l. Em um artigo publicado na revista Jus Vigilantibus, o professor Jos Luiz Quadros de Magalhes discorre um sobre o Estado Plurinacional: [...] as revolues da Bolvia e do Equador, seus poderes constituintes democrticos, fundam um novo Estado, capaz de superar a brutalidade dos estados nacionais nas Amricas: o Estado plurinacional, democrtico e popular. Nunca na Amrica, tivemos tantos governos democrticos populares como neste surpreendente sculo XXI. O importante que estes governos no so apenas democrticos representativos, mas, fortemente participativos, dialgicos. (Magalhes, 2010, pg.2) Quando se fala em populao nativa brasileira, praticamente todos vo pensar sobre os mesmos aspectos, pois no se conhece muito da populao indgena que foi base criadora do Brasil. J a Bolvia teve um processo diferenciado. Apesar de ter tido, tambm, uma colonizao de explorao, os bolivianos acreditam veementemente que a Espanha acabou com pas deles. A maioria deles, principalmente os que moram em cidades mais ligadas s naes indgenas, expe o sentimento de averso em relao s atitudes da coroa espanhola naquele pas. Muitos fazem questo de falar que a quantidade de prata retirada de solo boliviano suficiente para fazer um caminho entre Bolvia e Espanha. Um outro smbolo nacional boliviano o prprio presidente Evo Morales. Tido como o nico presidente indgena da Amrica Latina, ele ainda alvo de crticas. A revista Veja, do dia 12 de maio de 2010, abriu uma de suas reportagens com o ttulo: A farsa da Nao Indgena. A reportagem explicitava que o presidente boliviano no passava de uma farsa, pois ele no era indgena, segundo os moldes que a revista apresenta. A revista mostrou depoimentos de alguns bolivianos para reforar o ponto de vista dela. A reportagem ainda expunha dados numricos da verdadeira proporo indgena daquele pas e trazia as manifestaes como algo muito mais recorrente nesse governo, quando se comparado aos anteriores. Ao se lanar na candidatura presidncia, Evo disse ser o representante da maioria boliviana. No nascer em uma tribo indgena ou no falar a lngua, indgena, no faz do presidente menos ndio, a partir do momento em que a cultura originria daquele povo se manifesta nas aes dele.
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Outro smbolo nacional que a Bolvia possui a folha de Coca. Essa folha um produto que garante muita anlise. Eles tm todo um ritual para se fazer uso corretamente dessas folhas sagradas. Entretanto o que veicula que essa planta faz mal e que ela s cultivada para a produo de Cocana. certo que muito a utilizam para fins ilcitos, mas no so todos. Alis, a maioria faz uso da folha para fins medicinais. A Bolvia muito alm daquilo que se pode imaginar ou mesmo descrever. Se algum no foi ao pas, provavelmente vai v-lo pela primeira vez com um preconceito moldado pelo esteretipo disseminado por veculos de informao. Se algum visitou a Bolvia, este vai olhar pra ela com um olhar mais Abrangente. Ainda assim, preciso um olhar bastante curioso e livre de preconceitos para conhecer a diversidade carregada de culturas andinas que habita aquele pas.
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Referncias MAGALHES, Jos Luiz Quadros. O estado plurinacional na Amrica Latina. Jus Vigilantibus. Disponvel em: http://jusvi.com/artigos/38959/1 Acesso em: 28 de Outubro de 2010. TEIXEIRA, Duda (12 de Maio de 2010). A farsa da nao Indgena. Veja p.134 a 138. Disponvel em: http://veja.abril.com.br/120510/farsa-nacao-indigena-p-134.shtml Notas Trabalho apresentado na V FEICOM: Ressignificar as fronteiras da comunicao e informao. De 08 a 12 de novembro de 2010, em Goinia GO. Aluna do 4 perodo de curso de Comunicao Social bacharelado em Jornalismo na Universidade Federal de Gois. Monitora do programa Matria Prima na Rdio Universitria. E-mail: [email protected] 3 Aluno do 2 perodo de graduao em Com. Social bacharelado em Jornalismo pela UFG. E-mail: [email protected] 4 Aluno do 4 perodo de graduao em Com. Social bacharelado em Publicidade e Propaganda pela UFG. E-mail: [email protected] 5 Graduado em Comunicao Social. Mestre em Multimeio, pela UNICAMP. Professor Universitrio. Orientador desse trabalho. E-mail: [email protected]
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Parte 1: Imagens e Imaginrios | Tudo o que imaginrio, existe! Loucura, trangresso e esttica da fome em Estamira
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Tudo o que Imaginrio Existe!: Loucura, Transgresso e Esttica da Fome em Estamira.1 Autora: Kamyla Faia Maia2 Resumo: O presente artigo discute como Estamira torna visvel a transgresso e contestao social presente na loucura e faz um paralelo entre o filme e as intenes estticas e filosficas do Cinema Novo. Palavras Chaves: Documentrio, loucura, Esttica da Fome. Abstract: The present article discuss the manners that Estamira shows the transgression and social contestation in madness and trace a parallel with the esthetical and philosophical intentions of Cinema Novo. Keywords: Documentary, madness, Hungry Estethic. 1 INTRODUO A anlise do filme Estamira3, proposta neste artigo um desdobramento dos estudos desenvolvidos pela autora acerca do cinema brasileiro e visa abarcar as questes tericas a respeito dos filmes documentais, como a representao das minorias e a utilizao do audiovisual como arma para contestao social e incluso. O documentrio em questo se mostrou propcio a anlise pela forma como d voz ao outro e como trata de temas to delicados quanto a sade mental e a pobreza. O documentrio dirigido por Marcos Prado4 e lanado no Brasil em 2004, uma obra de difcil definio e, em muitos sentidos, de difcil assimilao. O filme traz como personagem Estamira5, idosa diagnosticada com esquizofrenia que h mais de 20 anos vive e trabalha no Aterro Sanitrio do Jardim Gramacho, periferia do Rio de Janeiro. Apesar de no ser um tema novo, j que pessoas que vivem em lixes pelo Brasil foram retratadas em diversas reportagens televisivas e filmes, como Boca do Lixo, de Eduardo Coutinho (1992), o documentrio nos traz uma nova abordagem. Neste filme, que levou quatro anos para ser produzido, o que importa a afirmao singular desta nica mulher e de sua realidade inslita. O mote central da trama no a forma precria e na maioria vezes desumana em que ela vive, mas sim o que transcende esta realidade: o mundo prprio criado pela idosa em meio aos seus delrios esquizofrnicos. Toda a narrativa documental gira em torno dos monlogos de Estamira; que conhecida no lixo como a bruxa de Gramacho. Em que suas falas ela analisa sua importncia no mundo, a relao com Deus, a preservao do meio ambiente, os transtornos psicolgicos, etc. Em um discurso mstico e incrivelmente lcido, ela critica e reflete sobre sua condio e sobre a realidade atual de forma surpreendente.
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Parte 1: Imagens e Imaginrios | Tudo o que imaginrio, existe! Loucura, trangresso e esttica da fome em Estamira
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Com narrativa e esttica diferenciada, o documentrio levanta questes ao espectador, dentre elas as que mais interessam ao trabalho a forma como Estamira, apesar de seus transtornos psicolgicos, consegue refletir lucidamente sobre a realidade em que vive e como a loucura pode ser classificada como uma forma de transgresso. Tambm interessante avaliar como, depois de mais de 30 anos do incio do Cinema Novo e da publicao de um artigo sobre Esttica da Fome de Glauber Rocha, a temtica da rebeldia social a partir da misria revisitada em Estamira. 2 DESENVOLVIMENTO 2.1 Documentrio: testemunho e biografia Assim como todos os documentrios, Estamira uma representao do mundo em que vivemos e no uma reproduo direta dele (NICHOLS, 2001, 47), ou como definiria Da-Rin uma fico como outra qualquer: Uma vez que no se pode conhecer uma realidade sem estar mediado por algum sistema significante, qualquer referncia cinematogrfica ao mundo histrico ter que ser construda no interior do filme e contando apenas com os meios que lhe so prprios. Sob este aspecto, o documentrio um constructo, uma fico como outro qualquer. (DA-RIN, 2004, 221) Os fatos mostrados por qualquer documentrio no ocorrem da mesma forma que ocorreriam em situaes normais, sem que uma cmera estivesse ligada. Isto acontece mesmo que o cineasta no interfira nas aes dos personagens. A presena da cmera e de todo o aparato cinematogrfico mediam a apreenso do real e transformam a realidade. Da mesma forma que a escolha da abordagem que ser dada a obra; de quem filmar, de que maneira filmar e de quais imagens iro para a tela na montagem final; tambm interferem nesta apreenso. Apesar de ser o ponto de vista de um cineasta a obra documental necessita tocar a realidade na medida em que se utiliza de situaes, ambientes e pessoas que existem mesmo sem a realizao do filme. Assim ela mostra aspectos ou representaes auditivas e visuais de uma parte do mundo histrico (NICHOLS, 2001, 30), neste caso especfico o mundo histrico da catadora do Aterro do Jardim Gramacho. Esta representao do mundo, ou como Bernardet prefere classificar, a tentativa de dar voz ao outro, uma das principais caractersticas e importncias do documentrio. Este outro geralmente um outro de classe (LINS, 2008, 20), pertencente a uma condio social e econmica diferente daquela do realizador e tambm daqueles que assistem ao filme. Nichols define esta forma de fazer documentrios com eu falo deles para vocs (2001, 46). O cineasta, que no pertence ao mundo retratado, fala deste mundo para outras pessoas que tambm no o conhecem empiricamente. No documentrio brasileiro os cineastas s comearam a se preocupar em dar voz ao outro durante o cinema moderno, escola representada pelos filmes realizados durante as dcadas de 1950 a 1970. Pela primeira vez, os filmes abordaram criticamente os problemas e experincias das classes populares, rurais e
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Parte 1: Imagens e Imaginrios | Tudo o que imaginrio, existe! Loucura, trangresso e esttica da fome em Estamira
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urbanas, e tentaram retratar o outro de classe, os pobres, desvalidos, excludos, marginalizados, (LINS, 2008, 20-21). No entanto a maneira de mostrar a realidade deste outro acabava, muitas vezes, por no dar voz a ele, mas sim por us-lo como amostragem ou tipificao de uma tese construda pelo realizador. Como afirma Bernardet, a maior parte dos filmes documentais realizados no Brasil durante este perodo seguia um modelo chamado de sociolgico (BERNARDET, 2003, 12). Neste modelo o cineasta produzia um discurso a respeito da realidade, tido como universalmente aplicvel, utilizandose geralmente de uma voz off ou voz da verdade, e apenas dando voz ao outro como forma de comprovar este discurso. Este modelo foi aos poucos sendo destronado e j nas dcadas de 1960 e 1970, ainda com o Cinema Novo, vrias obras trouxeram formas de representaes diferentes. Estamira faz parte de outro perodo do cinema brasileiro e se enquadra no que Lins classifica como documentrio contemporneo, etapa iniciada com a retomada do cinema nacional em meados da dcada de 1990. (2008, 10-11) Assim como as escolas anteriores, a contempornea tambm se preocupa em dar voz ao outro, mas de uma forma bem diferente: A recusa do que representativo e o privilgio da afirmao de sujeitos singulares so dois traos marcantes na diferenciao entre o documentrio contemporneo brasileiro e o chamado documentrio moderno, em particular aquele produzido no decorrer dos anos 60 (LINS, 2008, 20) Nesta obra, a personagem principal imprescindvel para a narrativa por ser um exemplo singular, por caractersticas que a tornam um personagem incomum, nico. Suas vivncias no podem ser generalizadas para se tornar um exemplo de um discurso prestabelecido, como ocorria nos documentrios do cinema moderno. Ela no cabe como exemplo nem para representar a vida em um lixo e nem para exemplificar a esquizofrenia. Ela se torna personagem da obra pela juno destas e de vrias caractersticas, que tornam sua vida algo nico. Com esta tentativa de dar voz a Estamira e de mostrar sua histria, o filme se transforma em um testemunho de vida e assim nos leva a conhecer o mundo histrico dela por meio das evidncias reais e da memria dos fatos. A partir do discurso oral dela, que sente na pele os fatos que nos conta, possvel entrar em contato com as experincias vividas por aqueles que vivem no lixo. A bruxa do Gramacho pode ser interpretada segundo as teorias de Benveniste levantadas pelo artigo de Mrcio Seligman-Silva, como uma superstes, ou seja, a testemunha que subsiste alm de, que testemunha e ao mesmo tempo sobrevivente. Ao mesmo tempo em que rememora suas vivncias para nos contar, ela transforma os fatos, ela cita a histria, mas nesse momento mesmo, ela a destri e a recria, dando incio a um processo potencialmente sem fim de escritura e disseminao. (SELIGMANN-SILVA, 2005, 78) Nesta recriao se baseia tambm o objetivo do realizador ao trazer para a tela a histria de Estamira. Marcos Prado faz uma biografia sobre ela, ou talvez, ao dar voz a catadora, possibilita que ela mesma construa uma autobiografia. Ele a escolheu como personagem e invadiu sua vida tanto para deixar que ela falasse sobre si e recriasse sua experincia, quanto para recriar a si mesmo a partir da histria dela, para viver a realidade que ela vivia.
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2.2 Loucura e Resistncia A obra cinematogrfica Estamira no se encontra sozinha nas discusses a respeito do tratamento da loucura e dos loucos. Muito se tem discutido sobre os transtornos psicticos, como a questo da luta antimanicomial e da tentativa de inscrever o psictico como ser pensante e capaz de criar obras. A nova forma de encarar a loucura e seu tratamento se desenvolveu ao longo do ltimo sculo e entra em conflito com a maneira evolucionista de analisar o mundo, muito empregada at o incio do sculo XX. Para a concepo evolucionista o mundo estaria polarizado em dois extremos: a natureza e a civilizao. Ou melhor, o mundo estaria dividido entre os seres civilizados e os primitivos; os bem-adaptados ao meio em que vivemos e os degenerados. Mediante tal concepo, este ltimo termo passou a ser utilizado pela medicina, principalmente por meio da teoria da degenerao, que pretendia explicar anomalias que os mdicos no conseguiam classificar com a anatomopatologia. Esta teoria foi muito utilizada na sade mental, e ento os loucos passaram a ser classificados como degenerados. Esta teoria trouxe tona a idia de loucura como involuo da espcie e como algo hereditrio: A alienao mental que os caracterizava seria um signo irrefutvel dessa degenerao, que evidenciaria certamente uma terrvel involuo do esprito humano. As taras da razo seriam responsveis por tal perda da razo, que por fim degenerava em loucura. (BIRMAN, 2006, 86.) Dentro dos conceitos evolucionistas o termo loucura era diretamente relacionado ao conceito de barbrie e de primitivismo. Os degenerados passaram a representar a camada inferior da sociedade, trazendo consigo todas as significaes morais negativas. Por isso, deveriam ser excludos do campo social, seja de maneira provisria, seja definitiva. (BIRMAN, 2006, 88) Seguindo essas premissas, convencionou-se internar as pessoas com problemas psicolgicos em sanatrios e asilos, separando-as do convvio social e afetivo. Somente com as teorias de Freud no incio do sculo XX o tratamento dado aos psicticos comeou a mudar. Com ele a concepo de degenerao foi superada e foi possvel ver caractersticas positivas nos ditos loucos. A internao deixou de ser a nica sada. No entanto em pases subdesenvolvidos, com suas precrias condies de sade, os pacientes com transtornos psquicos continuaram a ser enclausurados em manicmios. Tais instituies geralmente apresentavam pssimas condies de higiene e tratamento, o qual se baseava principalmente na utilizao de remdios e sedativos e tambm na aplicao de eletrochoques. Com a mudana de paradigma dentro da rea de sade mental, camadas da sociedade mdica e civil passaram a lutar pelo fim dos manicmios e deram origem ao Movimento de Luta Antimanicomial na dcada de 1970. Este movimento propunha a Reforma Psiquitrica, ou seja, a reformulao do modelo de Sade Mental e a reorganizao dos servios da rea; com a criao de equipes multiprofissionais e o atendimento fora do hospital; e a manuteno dos psicticos na sociedade. Depois de dcadas de luta, em 2001, a Reforma passou a ser poltica pblica do Ministrio da Sade. Em paralelo a Luta Antimanicomial, cresceu no pas a tentativa de abordar os portadores de transtornos psquicos como seres pensantes e capazes de criar. A loucura passou a ser vista como fonte de obra. Nesta vertente imprescindvel falar da figura do artista plstico Arthur Bispo do Rosrio6, diagnosticado como
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Parte 1: Imagens e Imaginrios | Tudo o que imaginrio, existe! Loucura, trangresso e esttica da fome em Estamira
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esquizofrnico-paranico e que criou aproximadamente mil peas artsticas a partir de objetos do cotidiano, como roupas e lenis. Segundo Birman a importncia de Arthur Bispo a precariedade de sua obra, j que fazia arte com os restos, o que havia sido descartado. Desta forma ele tentava no sucumbir a sua dura realidade e dizer algo sobre suas brutais condies de vida, sobre a opressiva situao asilar. (BIRMAN, 2006, 282) A partir desta mudana na forma como o louco encarado pela sociedade e por meio da tentativa de inser-lo na sociedade que foi possvel realizar um filme como Estamira. 2.3 Estamira: Fuga ou Contestao? Quando comeam a assistir ao filme, os espectadores, normalmente, se perguntem por que Estamira estaria naquela situao. Porque aquela senhora estaria vivendo do que recolhia no lixo e quais as causas de seus surtos psicticos? Ao longo da narrativa algumas explicaes sobre sua histria so dadas. A trajetria contada revela os sofrimentos vividos pela catadora. A vida dela marcada por abusos sexuais, casamentos frustrados e misria. Depois de conhecer sua histria o mais fcil seria relacionar todo o sofrimento vivido durante a vida e at mesmo uma certa tendncia hereditria aos surtos da bruxa do Gramacho. Este seria um caminho simplificador: uma mulher maltratada pela vida que encontra a loucura como ponto de fuga para sua dor. No entanto com uma anlise mais apurada podemos perceber outros pontos que revelam no apenas a tentativa de fuga, mas sim a contestao social. Em seus discursos ela demonstra sua insatisfao com o mundo em que vive e procura por meio de suas interpretaes singulares da realidade mudar algo, mesmo que seja apenas na mente de seus amigos catadores. O delrio de sua psicose faz com que ela mergulhe profundamente no real e conteste a vida. Mesmo vivendo precariamente em um lixo ou, como diria Oscar Wilde, mergulhada na sarjeta ela olha, admira e critica tudo ao redor. Para Birman (2006, 348) quadros como este, em que o ser quer mudar algo a seu redor, so classificados como transgresso. A experincia da transgresso a busca de expandir as possibilidades existenciais das individualidades com a proposio de outras maneiras de regular as relaes entre as subjetividades entre si e com o mundo. (...) A transgresso seria a maneira pela qual a individualidade poderia resistir ao imperativo da normalizao e da disciplina. Evidentemente, a transgresso implicaria uma ultrapassagem de limites e uma tentativa de traar novas fronteiras para a individualidade, j que existiria sempre no gesto transgressor um questionamento do territrio delineado pelas normas. (BIRMAN, 2006, 349) Como transgressora Estamira reflete e questiona sobre a vida. Vrios temas so tocados pelo pensamento dela, como meio-ambiente, tratamento psiquitrico, e educao. Como ser pensante ela interpreta sua vivncia e age sobre a realidade. Ela assume o lugar de produtora de pensamento e percebe seu carter nico. Por isso, ela queria que sua histria fosse mostrada no cinema, o que pode ser percebido pela entrevista concedida pelo cineasta ao jornalista Lcio Flvio, do Correio Brasiliense, na qual ele contou o que a catadora perguntou ao cineasta antes mesmo que ele comeasse a grav-la: Sabe qual a sua misso? Mostrar a minha misso. E a misso dela seria revelar a verdade, somente a verdade.
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A forma de agir de Estamira gera um certo fascnio nos espectadores. Acabamos por refletir sobre o que ela diz, j que seu discurso bem articulado e incrivelmente lcido. Ela nos faz ver que existe um mundo muito alm daquele cercado pelos nossos portes. Nesta nsia de refletir, criticar e agir sobre o mundo com o qual no concorda, ela cumpre sua misso de revelar, de abrir os olhos das pessoas para sua realidade de misria e lixo e para a possibilidade de um psictico expressar seus pensamentos. Nisto reside sua transgresso e por isso que ela ainda continua vivendo neste mundo. Mesmo que na borda dele e sempre dilatando as bordas dele. 2.4 Representao Esttica da Loucura: Dilogos com a Esttica da Fome De forma potica, mas contundente, o realizador apresenta a loucura e misria de Estamira, em um visvel afastamento de velhos preconceitos e de interpretaes falaciosas. Ele no cria formas de interpretar a realidade dela nem tenta fazer digresses sobre seu estado mental. Ele a retrata de forma a mostrar suas reflexes, sem julgamentos. Assim, parece assumir a misso dada por ela. Como afirmou Glauber Rocha em 1965 em seu manifesto pela Esttica da Fome: (...) nossa [do Cinema Novo] originalidade nossa fome e nossa maior misria que esta fome, sendo sentida, no compreendida. (1981, 30) A fome, a misria, o sofrimento, so pontos chaves para a construo da tradio cinematogrfica nacional. O cinema sempre esteve as voltas com estes temas em diferentes abordagens. Para Glauber era necessrio mostrar no o exotismo que satisfizesse a nostalgia do colonizador e, mas ter compromisso com a verdade e trazer esttica violenta e revolucionria. Esta vertente cinematogrfica, tambm conhecida como a esttica da violncia, pode ser vista como uma maneira de politizar a esttica, de transfigurar as contradies sociais numa forma esttica tambm contraditria. (XAVIER, 1983, 199) No entanto a violncia levantada pelo manifesto de Glauber no incorporada ao dio, mas sim ao amor de ao e transformao. (1981, 30). Mais de 30 anos depois da publicao deste manifesto, as intenes do cineasta Marcos Prado poderiam ser completamente diferentes, mas tocaram em vrios pontos o que propunha a esttica cinemanovista. Sua forma de abordagem do tema e a esttica de sua obra so revolucionrias e violentas, assim como pregava Glauber, e traz o miservel, o faminto, como ente autnomo e contestador, no como ser inferiorizado e desta forma alcana em grande parte as intenes propostas por Glauber Rocha. Marcos Prado parece querer mostrar o mundo riqussimo de Estamira em oposio dureza de sua condio. Mesmo tendo sido feita em um cenrio feio e miservel, a obra no aborda a misria em seu lado grotesco. Claro que ele no se exime de mostrar a realidade do, mas as cenas so utilizadas para representar a brutalidade do meio em contraposio grandiosidade do pensamento de um dos seres que habitam este lugar. A esttica escolhida por Marcos tambm auxilia na representao das idias da catadora. A obra beira ao experimentalismo, ao vdeo arte com a mistura de cores, de granulaes e de sons e dialoga com os conflitos psquicos de Estamira. Para representar os momentos de observao da vida, de seus filhos e do cotidiano do aterro dela so usadas belas imagens granuladas e em preto e branco de uma cmera Super-8. Nos depoimentos e nos monlogos dela so utilizadas imagens coloridas em 35 milmetros. Tudo isto misturado, em momentos chave, a imagens de arquivos e fotos. Na montagem final o realizador cria uma narrativa catica que acompanha o pensamento esquizofrnico dela. As imagens captadas no aterro e na casa dela so
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conduzidas pelo seu discurso mstico. As diferentes intensidades de voz, a mudanas de sentimentos so acompanhadas pelas imagens e pela trilha sonora original composta por Dcio Rocha. Com tudo isto o cineasta, assim como Bispo do Rosrio, faz arte com os restos para mostrar que possvel encontrar saberes e poesia em meio ao lixo. A partir do meio miservel no qual se insere, o cineasta constri um discurso e uma esttica revolucionrios, assim como apregoava a Esttica da Fome. Isto alcanado primeiro com a mistura de diferentes formas de filmar e com a afirmao da voz de Estamira como fio condutor da narrativa. Depois, por meio da forma como ele trata a personagem e por conseguir evidenciar seu poder de crtica e reflexo. Marcos Prado no s representa o outro, mas sim deixa que o outro se represente e fale de si mesmo, como ser autnomo. 3 CONSIDERAES FINAIS Estamira testemunha e sobrevivente da prpria histria, como podemos definir apartir dos estudos de Seligman-Silva (2005, 78). ela quem, ao viver e sobreviver do lixo pode dar o testemunho sobre a sua precria condio de vida e nos fazer refletir sobre nossas vidas e sobre a situao daqueles que diariamente preferimos esquecer. O filme, ao dar voz catadora do Aterro do Gramacho como ser pensante e produtor de conhecimento, traz a tona uma nova maneira de encarar a misria e loucura. A obra cinematogrfica no transforma Estamira em uma caricatura e no faz dela uma mera representao emprica da pobreza e da loucura. Estamira quem discursa e quem d as cartas do jogo dentro do filme. Seu discurso carregado de transgresso, assim como a define Birman (2006, 349), de uma vontade de questionar e de ampliar as fronteiras normatizantes. Apesar de miservel e esquizofrnica, Estamira quer mudar o mundo e por isso, encontra uma possibilidade de se inscrever e agir no meio social. Ao inovar na forma de representar o outro, Marcos Prado faz coro com os cineastas que tem aberto novas perspectivas para o documentrio ao mesmo tempo em que se espelha no manifesto social e cinematogrfico de Glauber Rocha. Com Estamira possvel perceber que o documentrio pode se tornar uma arma na incluso social de camadas descriminadas, como os doentes mentais.
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VIGNOLI, Teresa. Homenagem a uma guerreira da luz. http://www.kplus.com.br/materia.asp? co=34&rv=Literatura . Acesso em 07 de junho de 2010. Xavier, Ismail. Serto- Mar: Glauber Rocha e a Esttica da Fome. So Paulo, Cosac Naify, 1983. Notas Trabalho apresentado no GTX Representaes Sociais do II SEMIC Seminrio Mdia e Cultura, realizado em 11 e 12 de novembro de 2010, em Goinia GO. Bacharel em Comunicao, habilitao Jornalismo, pela Universidade Federal de Gois, especialista em Cinema e Educao pelo Instituto de Filosofia e Teologia de Gois. [email protected] 3 Ficha Tcnica: Ttulo original: Estamira/ Gnero: Documentrio/ Durao: 121 min./ Lanamento(Brasil): 2004/ Direo, Roteiro e Fotografia: Marcos Prado/ Produo: Marcos Prado e Jos Padilha/ Msica: Dcio Rocha/ Edio: Tuco 4 Marcos Prado fotgrafo, produtor e diretor de documentrios. Foi co-produtor de nibus 174, de Jos Padilha, vencedor do prmio da crtica no Festival do Rio de 2002. Em 2000, dirigiu os documentrios Os pantaneiros, Facing the Jaguar e Pantanal Cowboys. Em 1998, co-produziu Os carvoeiros, da Nigel Noble Brasil, inspirado em seu premiado ensaio fotogrfico original e selecionado para o Sundance Film Festival. Possui fotos nos acervos permanentes no MAM do Rio e no MAM de So Paulo. Participou de vrias exposies individuais e coletivas no Brasil e no exterior. 5 Estamira uma mulher de 63 anos de idade que sofre de distrbios mentais. H mais de duas dcadas ela divide sua vida entre um barraco na velha Rio-Santos e o Aterro Sanitrio de Jardim Gramacho, onde trabalha. Tem trs filhos, dois deles criados em parte com o dinheiro conseguido no lixo. Pelo que nos conta no filme, ela nasceu no interior de Gois e foi abusada sexualmente pelo av e levada a prostituio pelas mos dele, aos 12 anos. Aos 17 saiu do prostbulo para casar-se, mas passou a ser trada pelo marido, de quem se separou. Por meio de um novo casamento, foi parar no Rio de Janeiro. O marido, com quem teve o segundo filho, alm de tra-la, a fez internar a prpria me em um hospcio. Depois de intensas brigas com o marido, saiu de casa e sua primeira providncia foi tirar a me do Hospital Pedro II, sanatrio psiquitrico reconhecido pelos maus tratos a seus pacientes. A partir de ento foi trabalhar no lixo e depois em uma fbrica, perodo no qual foi estuprada duas vezes. Depois disso tudo, ela voltou ao lixo e passou a ter seus delrios. Marcos Prado a conheceu fazendo fotos em Gramacho. Em 2000, ano que coincide com o incio das filmagens, ela iniciou tratamento psiquitrico no Centro de Assistncia Psicossocial Jos Miller, em Nova Iguau, Baixada Fluminense. 6 Arthur Bispo do Rosrio nasceu em Japaratuba, Sergipe em 1911. Em 1925, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou na Marinha Brasileira e na companhia de
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eletricidade Light. Em 1938, aps um delrio mstico, apresentou-se a um mosteiro que o enviou para o Hospital dos Alienados na Praia Vermelha. Diagnosticado como esquizofrnico-paranico, internado na Colnia Juliano Moreira, no bairro de Jacarepagu, no Rio de Janeiro. Entre 1940 e 1960, alterna os momentos no hospcio e perodos em que exerce alguns ofcios em residncias cariocas. No comeo da dcada de 1960, trabalhou na Clnica Peditrica Amiu, onde iniciou seus trabalhos, realizando com materiais rudimentares e bordados. Em 1964, regressou Colnia, onde permaneceu at a sua morte em 1989. Criou por volta de 1.000 peas. Em 1980, uma matria de Samuel Wainer Filho para o programa Fantstico, da TV Globo, revelou a produo de Bispo. Dois anos depois, o crtico de arte Frederico Morais incluiu suas obras na exposio Margem da Vida, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
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Projeto Cine Anime Autores Jos Jair Ramirez Bazn1 Gabriel Moreira Paiva2 Alexandre de Paula Mesquita3 Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia Universidade Federal de Gois Palavras-chave: Comunicao de massa; Tendncia informacional; Longa Metragem; cultura Nipnica; Anime. Introduo O projeto cine anime trs ao pblico goianiense um novo conceito de cinema pouco difundido no Pais, Apesar de ser uma tendncia recente, a Animao japonesa ou simplesmente Anime est fortemente presente no mundo Ocidental. O que comeou apenas como como um segmento comercial, hoj, se tornou uma fonte de cultura capaz de educar jovens, tornando assim, uma possivel fonte de estudo para um ambito acadmico. A exposio ira abordar, na forma de longa-metragem, temas que se encaixem no contexto de comunico e informao de forma subjetiva, ou seja, a comunicao poder ser tanto ferramenta para a discusso como o tema discutido. Sero apresentados os seguintes filmes: Perfect Blue do diretor Satoshi Kon, produzido em 1997 pela Madhouse japo. O filme trata de assuntos relacionados a Midia de Expetaculo. Perfect Blue um excepcional anime para adultos, baseado na novela escrita por Yoshikazu Takeuchi. Conta a historia de Mima Kirigoe, Lider de uma banda pop no japo, denominado CHAM que a bandona a carreura de cantora para se tornar atriz. Apesar dos protestos de sua produtora Rika Hidaka, Mima decidi seguir o caminho que, profissionalmente, parece ser o mais adequado, no caso, a carreira de atriz. Ao tomar conhecimento do site O Quarto de Mima, ela percebe que algum sabe demais sobre sua vida e, ainda pior, v que a mudana de rumo na carreira no agradou a todo mundo. No apenas o futuro profissional de Mima que est em risco... sua vida tambm est por um fio.
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Summer War de Mamoru Hosoda, produzido em 2009 pela Madhouse japo. O filme trata de assuntos relacionados ao mundo virtual. A histria centra-se no colegial Koiso Kenji, um garoto prodgio em matemtica que passa o seu tempo trabalhando em OZ, um mundo virtual. Kenji um gnio com nmeros, mas mal adepto socialmente. Ele tem uma paixo secreta pela sua veterana Shinohara Natsuki, mas no tem coragem de dizer a ela. No incio de suas frias de vero, ele convidado por Natsuki para ajudar na celebrao do 90 aniversrio da sua av. Embora Kenji no conhece os detalhes do plano, ele concorda e vai com Natsuki a casa da sua av em Ueda, Nagano. Para grande surpresa de Kenji, ele apresentado na casa da famlia Shinohara como noivo de Natsuki.
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O nosso projeto de Exposio consiste na apresentao de Longa-metragem com durao maxima de 120 minutos cada, dando a possibilidade de apresentar apenas dois Animes no dia. Porm a nossa forma de trabalho vai muito alm da exibio. No final de cada longa-metragem ser realizado um debate sobre o que foi abordado abordado, apresentando a banca e aos jurados a nossa proposta de utilizar uma cultura de massa como a do Anime como um recurso de ensino cultural eficaz. Para a realizao dessa Exibio ser necessario um espao capacitado para realizar exposies de filmes, com todos os equipamentos necessarios como: Audio, Projetor, Camputador, Local para se acomodar e etc.
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Justificativa O Cine Anime uma proposta de englobar dentro do mbito acadmico um novo estudo pouco difundido no Brasil e abrir espao para o que consideramos uma realidade atual: o interesse que a cultura oriental exerce sobre o jovem brasileiro, criando de tal maneira uma ponte pedaggica entre a cultura ocidental e a cultura oriental.
No apenas difundir a ideia de que a animao japonesa no proporciona influncias negativas na vida social dos jovens, mas mostrar que dentro do seu contedo possvel encontrar ensinamentos construtivos, como valores sociais, culturais, polticos e econmicos, alem, de proporcionar entretenimento a um nmero crescente de jovens e adultos que optam por esse tipo de conhecimento. Essa proposta tambm uma tentativa de amenizar o preconceito gerado em nosso Estado por pessoas sem acesso a esse tipo de cultura de massa, e at mesmo pelas instituies de ensino, seja elas pblicas ou particulares. Sabendo que Anime uma abreviatura dada as Animaes japonesas, e que uma forma animada do Mang que tido com obra literria no oriente, procuramos difundir cada vez mais adeso do Anime na sociedade Ocidental, pois apesar de termos uma grande oportunidade de acesso no pas, o Anime ainda no conhecido como cultura.
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Anime cultura no pode ser visto em qualquer outro lugar, mas no Japo. Anime tem se posicionado ao lado de outros elementos culturais, como filmes, televiso e literatura. recebido como uma forma de expresso que no tem substituto para muitas pessoas. Assim como existem algumas nuances que s pode ser expressa atravs da lngua japonesa ou a certos sentimentos que s pode ser retransmitida em Ingls, existem aquelas coisas que s poderia ser contada atravs do Anime. Os japoneses esto familiarizados com a forma como se comunica o Anime. H coisas que podem ser descritas e nuances que podem ser enviados exclusivamente atravs da animao. Enquanto que a funo difcil de substituir, eu acho que importante como uma cultura, e eu tambm sinto que uma animao em estilo japons continuar a ser conseguido ao longo de geraes. (Satoshi Kon, 2005.)
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Referncias GIRON, Aimee C.; HT Talks To ...FilmMaker Satoshi Kon. 2005. Disponvel em: <http://hometheatermaq.com/httalksto/1205talks/> Acesso em: 03 Nov. 2010. NETWORK, Anime News; Anime. Disponvel em: < http://www.animenewnetwork.com> acesso em 03 Nov. 2010. ANIME, Projeto Cine; Sobre Ns. Disponvel em: < http;//cineanime.blogspot.com> acesso em 03 Nov. 2010. SPACE, Asian; Perfect Blue. Disponvel em; < http://Asianspace.blogspot.com> acesso em 03 nov. 2010 SPACE, Asian; Summer war. Disponvel em; < http://Asianspace.blogspot.com> acesso em 03 nov. 2010 Notas Acadmico de Relaes Pblicas cursando o 4 Perodo da Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia/ UFG, Autor do Projeto cine Anime. [email protected] Acadmico de Publicidade e Propaganda cursando o 4 Perodo da Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia/ UFG, Co-Autor do Projeto Cine Anime. [email protected] 3 Acadmico de Publicidade e Propaganda cursando o 4 Perodo da Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia/ UFG, Co-Autor do Projeto Cine Anime. [email protected]
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Anlise iconogrfica de uma realidade Kaiabi 1 Gustavo dos Santos Teles 2 Lara Lima Satler3 Universidade Federal de Gois Resumo: Essa comunicao pretende analisar a reconstruo histrica a cerca da realidade do povo Kaiabi como contribuio para a anlise de uma fotografia tirada na dcada de 60. A partir desse movimento, a proposta pensar as posies tericas de Roland Barthes e Maria Sylvia Porto Alegre no que diz respeito aos procedimentos de conotao e a descontextualizao do objeto como possibilidades de anlise da fotografia. A aproximao dessas posies com as idias de Philippe Dubois nos permitiu relacionar a anlise da fotografia a um conjunto de cdigos especficos, cuja existncia est atrelada a uma interpretao cultural e ideolgica, em outras palavras, a proposta de se pensar a fotografia como dotada de autonomia estrutural no pode estar desvinculada da percepo de cada observador. Palavras-chave: Kaiabi; procedimentos de conotao; realismo na fotografia. Abstract: This communication is to examine the historical reconstruction of reality about the people Kaiabi as a contribution to the analysis of a photograph taken in the 60s. From this moment, the proposal is to think in theoretical positions of Roland Barthes and Sylvia Maria Porto Alegre in respect of procedures and de-connotation of the object as possibilities for analysis of the photograph. The approach of these positions with the ideas of Philippe Dubois has enabled us to relate the analysis of the photo to a set of codes, whose existence is tied to a cultural and ideological interpretation, in other words, the proposal to consider photography as endowed with autonomy structure cant be separated from perception of each observer. Keywords: Kaiabi, connotation procedures; realism in photography. 1 INTRODUO A proposta de orientar a discusso partindo do mtodo de descontextualizao proposto por Maria Sylvia Porto Alegre, ou seja, pensar as possibilidades de atribuio dos significados criados pela prpria imagem, deixando que falem por si, coloca sobre o tema uma dualidade: como realizar essa proposta sem antes construir o referencial a respeito da histria do povo Kaiabi, j que a imagem fotogrfica que nos servir como base de anlise, contm elementos marcantes da
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realidade a qual est inserida. Para que a anlise pretendida tenha bases concretas, acredito que o movimento inverso a descontextualizao seja necessrio enquanto ferramenta metodolgica, e ajudar a compor as categorias explicativas da fotografia em questo. 2 A histria do povo Kaiabi As fontes histricas sobre os primeiros contatos com o povo Kaiabi que habitavam o Vale do Teles Pires e Arinos, conjunto de rios no estado do Mato Grosso, datam da primeira dcada do sculo XX, a partir da um contnuo movimento de encontros e desencontros sucederam essa primeira aproximao. O contexto que busco inserir na anlise da fotografia em questo faz referncia s dcadas de 1940 a 1960 na mesma regio do estado do Mato Grosso, esse perodo marcado pela intensificao do contato com o mundo dos brancos, as frentes de expanso, projeto que se inicia no governo Vargas com objetivo de ocupar os vazios territoriais e consolidar modelos de explorao capitalista na regio. No caso dos Kaiabi, essa expanso vem inicialmente com a explorao de seringais em seu territrio, situao conflituosa que passa a se intensificar com a chegada do modelo agrcola de desenvolvimento. Essa ocupao desastrosa, com utilizao de mo de obra Kaiabi e a grande incidncia de conflitos violentos entre ndios e no-ndios e a atuao deficitria do extinto SPI (Servio de Proteo ao ndio) viria modelar a histria desse povo de modo a imprimir novo significado a regio do Vale do Teles Pires. O modelo de expanso econmica encontra na criao do Parque Nacional do Xing, como um lugar destinado a povos que passavam por situaes conflituosas e impediam o avano das frentes de expanso, esta foi a estratgia adotada pelo governo de Mato Grosso para a venda das terras Kaiabi. Em 1966 aps inmeros conflitos violentos e depois do incidente em que Temeoni, chefe do grupo assiste a sua esposa ser violentada e morta por seringueiros. Os Kaiabi so transferidos para o Parque Nacional do Xng, ficando na regio apenas uma pequena parcela dessa nao indgena. A fotografia no apenas um produto ou um caminho, tambm um objeto, dotado de autonomia estrutural; sem pretender absolutamente separar este objeto de sua finalidade. (BARTHES, 1990, p.78). 2.1. Os procedimentos de conotao A imagem que procuro interpretar data do perodo de transferncia (1966) de uma parcela do povo Kaiabi para o Parque Indgena do Xing uma fotografia revelada em estdio de um rapaz Kaiabi aps a pescaria. Considero como primeiro passo identificar com base nos procedimentos de conotao de Barthes as imposies de sentido elaboradas na produo da fotografia. Dos procedimentos esboados por Barthes, dois deles tem uma proximidade grande fotografia em questo, a pose e os objetos. A pose sugere movimentos de conotao ao elaborar construes em nosso imaginrio de: juventude, fora, o homem, tcnica, esses elementos revestem a figura de um jovem com seus instrumentos de trabalho e seu prmio em mos, o peixe. O que no podemos deixar despercebido que essa significncia s
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existe dentro de um contedo de atitudes estereotipadas, elementos cristalizados dentro de nosso meio social. Ou seja, esses significados se inserem em uma dimenso cultural especfica e fora dela podem no ter as mesmas interpretaes. Na fotografia o rapaz est portando dois objetos repletos de significao, um snorkel equipamento usado em mergulhos e um arpo para pesca. Podemos pensar esses objetos como indutores de associao de idias, smbolos por um lado completos e descontnuos, ou seja, o significante s se torna perceptvel, neste caso, com a associao do arpo e do snorkel a figura de uma pessoa. So verdadeiros smbolos, e se nos colocarmos a pensar segundo a tica da autora Maria Sylvia (1998), podemos vislumbrar a situao de contato a qual est inserido esse rapaz, perceber como instrumentos do mundo ocidental, atuam na vida cotidiana de um indivduo, esse movimento de descontextualizar, de perceber as imagens como unidades fechadas e completas e si mesmas, que retomarei mais adiante. Aps caminhar com os procedimentos de pose e objetos, deixamos de lado a fotogenia, como tcnica de embelezamento da imagem, no caso a utilizao de iluminao adequada para destacar o pequeno sorriso e realar o corpo de um rapaz jovem, que nos remete a sentidos de uma idealizao do ndio brasileiro. De certa forma podemos questionar se essa imagem atua na desconstruo de um imaginrio extico do indgena. 2.2 O sentido obtuso O sentido obtuso est fora da linguagem articulada, podemos enxergar onde a imagem puramente imagem, se d enquanto crtica a estrutura objetiva da imagem, se que podemos falar de objetividade da fotografia, aparece ento, como passagem da linguagem significncia. Na fotografia podemos interpretar o olhar sorridente e a aura de felicidade do rapaz, segundo, pressupostos ideolgicos que atuam na construo de sentido relevantes para ele. Um mesclar de tecnologia ocidental com tradicionalismo Kaiabi, um incremento tcnico capaz de comparar a capacidade de se pescar um peixe dito grande, com as formas de pescar do nondio. Segundo Maria Sylvia: Nesse tipo particular de imagens, emergem as incongruncias as contradies e as ambigidades de interpretao, que revelam, ento, um novo sentido insuspeitado. (PORTO ALEGRE, 1998). A comunicao entre fotografia e observador encena um enigma, que constitui as bases da descontextualizao, considerar o carter irredutvel da imagem, ou seja, consider-la enquanto puramente imagem e que no consegue existir fora desse padro, no pode e no deve ser traduzida em texto. a partir desse enigma que tentamos trabalhar as imagens como notas visuais (PORTO ALEGRE, 1998, p.89), o que podemos perceber a partir da que essa imagem rompe com os laos histricos que esto inseridos, retrata um rapaz feliz e dotado de tcnicas de obteno de alimentos, e cujos nicos traos do perodo que se insere so os aparatos tcnicos, provavelmente doados por algum no-ndio. Da realidade conturbada dos contatos pouco se pode enxergar, mas da mesma forma que o condicionamento da pesca a utenslios ocidentais pode trazer
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alteraes a sua cultura, que no se d como esttica, ou seja, est em constante mudana observamos certas relaes de dependncia aos equipamentos ocidentais que realam a relaes de dependncia entre o mundo ocidental e indgena. 2.3 O realismo na fotografia A reconstruo histrica que empreendemos a cerca da realidade Kaiabi contribuiu para pensar as posies tericas de Roland Barthes e Maria Sylvia a respeito do princpio de realidade da fotografia. Mesmo ao observarmos o sentido obtuso e trabalhar a percepo das imagens enquanto notas visuais, o consenso de que o documento fotogrfico presta conta do mundo com fidelidade, est presente nas indagaes de Barthes e Maria Sylvia, e vai orientar a percepo de Philippe Dubois sobre os modos de representao do real na fotografia. Vrios so os discursos sobre a fotografia como espelho do real, alguns deles tem incio com o nascimento da prtica fotogrfica, outros centram sua justificativa no processo mecnico de produo da imagem. Algumas crticas ao domnio da indstria tcnica da arte separavam as fotografias de obras de arte, e conferia linguagem fotogrfica a misso de servir as cincias naturais, discursos otimistas pensavam na fotografia como mecanismo de transformao das obras de arte, libertando-as da funo mimtica. Essa tmida retomada das teorias sobre o carter mimtico da imagem nos serve de base para pensar duas perspectivas que orientaram os trabalhos de Philippe Dubois: a fotografia como transformao do real e a fotografia como trao de um real, ambas, nos forneceram mecanismos de anlise da imagem em questo. Segundo Philippe Dubois: Qualquer imagem analisada como uma interpretao-transformao do real, como uma formao arbitrria, cultural, ideolgica e perceptualmente codificada... a imagem no pode representar o real emprico (cuja existncia , alias, recolocada em questo pelo pressuposto sustentado por tal concepo: no haveria realidade fora dos discursos que falam dela). (DUBOIS, 1993, p.53). A neutralidade e a objetividade da cmara escura passam a ser contestados, a foto aqui um conjunto de cdigos, um smbolo cuja existncia condicionada a uma interpretao cultural e ideolgica. Segundo essa concepo a imagem no pode representar um real emprico, sua recepo necessita da apreenso de cdigos especficos, a fotografia deixa de aparecer como transparente, realista, no mais um veculo incontestvel. Ao olhar a fotografia do rapaz Kaiabi um conjunto de cdigos que atuam transformando o real, de forma a alterar a percepo de cada indivduo, condiciona a viso. Cada indivduo dotado de bagagem cultural prpria olha, analisa, compreende a imagem segundo seu referencial simblico. O fato de uma imagem da dcada de sessenta, em que um indgena se mostra conhecedor de equipamentos da sociedade ocidental, arpo e snorkel, pode trazer a interpretao de um ndio colonizado, dependente do mundo dos brancos. Podemos tambm interpretar a utilizao desses equipamentos como fruto de uma pose em que o fotgrafo modela as posies e objetos com objetivo de emitir uma mensagem. Dessa maneira, a cultura atua como lente, nos torna capaz de
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alterar as percepes do olhar de forma a naturalizar a imerso nesse universo simblico. no aparato simblico, que tentamos buscar para a compresso da anlise da imagem em questo, que se concentra o ponto central da discusso de Philippe Dubois a respeito da imagem como um ndice. O sentido da imagem assim determinado essencialmente por sua relao efetiva com o objeto, ou seja, a significao que conferimos a imagem em questo exterior a ela, a fotografia existe inseparvel da sua experincia de criao. 3 FIGURAS
Figura 1. Acervo IGPA Instituto Goiano de Pr-Histria e Antropologia, Endereo: Rua 240, Qd. 87, n. 400, Setor Univesitrio 74605-170 - Goinia - GO
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REFERNCIAS BARTHES, Roland. O bvio e o obtuso: ensaios crticos III. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990. DUBOIS, Philippe. O ato fotogrfico. Campinas, SP: Papirus, 1993. PORTO ALEGRE, Maria Sylvia. Reflexes sobre iconografia etnogrfica: por uma hermenutica visual. Cap.5. In. FELDMAN-BIANCO, Bela; LEITE, Miriam L. Moreira. Desafios da imagem: fotografia, iconografia e vdeo nas cincias sociais. Campinas, SP: Papirus, 1998. GRUNBERG, Georg. Os Kaiabi do Brasil Central: Histria e Etnografia / Georg Grnberg; posfcio Klinton V. Senra, Geraldo Mosimann da Silva, Simone Ferreira de Athayde; [traduo Eugnio G. Wenzel; traduo dos mitos Joo Dornstauder]. So Paulo: Instituto Socioambiental, 2004. Notas
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Trabalho apresentado na V FEICOM: Ressignificar as fronteiras da comunicao e informao. De 08 a 12 de novembro de 2010, em Goinia GO. Possui graduao em Comunicao Social Publicidade e Propaganda pela Universidade Federal de Gois (2001), ps-graduao em Filosofia Poltica pela Universidade Graduando em Cincias Sociais, Faculdade de Cincias Sociais/UFG, [email protected]
Catlica de Gois (2005), mestrado em Filosofia pela Universidade Federal de Gois (2007)[email protected]
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Parte 1: Imagens e Imaginrios | O poder de Comunicao dos Museus e da vestimenta como documento
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O Poder de Comunicao dos Museus e da Vestimenta Como Documento Pedro Porto Chadud graduando em Design de Moda pela Faculdade de Artes Visuais UFG e participa do projeto de pesquisa O contedo artstico das formas vestimentrias sob a orientao da professora Doutora Miriam da Costa Manso Moreira de Mendona. Palavras-chave: Museu; Comunicao; Cultura Material; Vestimenta. Justificativa/ Base terica: Este texto resultado das pesquisas que venho desenvolvendo dentro do projeto de pesquisa: O contedo artstico das formas vestimentrias, sob a orientao da professora Doutora Miriam da Costa Manso Moreira de Mendona. Seus objetivos so estudar a criao artsticas das roupas e acessrios de moda, sua interferncia sobre o corpo, a complementaridade de campos e a interpretao de fronteiras entre arte e moda. Sero investigadas as formas principais e as acessrias da construo de indumentria. O texto apresentado um dos resultado da pesquisa que est em andamento, atem-se ao poder de comunicao do vesturio como objeto de necessidade diria e como artefato, documento histrico presente em acervos de museus. Tambm analisando os museus estaduais goianos e a sua relao com suas colees txteis. A histria de um povo pode ser contada atravs das artes plsticas e de sua literatura, mas costumamos nos esquecer que a vestimenta de seus principais representantes tambm consegue nos delinear uma trajetria histrica, como explica Frdrick Monneyron (2007, p.90): Faltou evidentemente uma inverso filosfica necessria. Pois desenvolver uma sociologia de moda implica em primeiro lugar uma inverso de uma atitude filosfica e por conseguinte [...] apresentar a roupa no mais como elemento secundrio, acessrio, mas como elemento principal, fundamental, determinando os comportamentos individuais, bem como as estruturas sociais. No Brasil, existe historicamente uma marginalizao da tecelagem porque ela era [...] uma atividade de escravos e posteriormente, de homens libertos e mulheres pobres, ou seja: uma atividade comum, de gente comum e mesmo considerada como inferior, como diz Paula (2006, p.79). muito importante o fato de museus estaduais goianos terem em seu acervo peas de vesturio e txteis. A vestimenta tem o poder da comunicao. Analisando o vesturio em seu uso cotidiano e aquela que est pertencendo uma coleo em acervo museolgico, percebemos que ambas possuem distintas mensagens. No cotidiano o traje se transforma em signos, sinais, e ele usado pelos indivduos para exprimirem suas identidades, valores individuais. A personificao proporcionada
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pelo vesturio tambm usada para sensvel ou insensivelmente realizar uma desejada interao com os demais membros de seu grupo, transmitindo suas ideias e opes filosficas.Mendona (2006, p.56) Quando analisamos o vesturio em acervo, temos que considerar que o prprio museu tem a capacidade de comunicao, como diz Julio: Como instituies interdisciplinares, os museus atuam em trs campos distintos e complementares, imprescindveis ao seu funcionamento adequado: a preservao, a investigao e a comunicao. [] Para que o acesso a essas informaes se efetive, necessrio que ocorra um processo de comunicao, no qual se estabelece uma relao entre o homem, sujeito que conhece, e o bem cultural, testemunho de uma dada realidade (JULIO 2006, p.94) Essas peas, artefatos, teriam um papel de documentao histrica. Cndido (2006, p.34) nos diz que um museu constitui um espao privilegiado para a produo e reproduo do conhecimento, tendo a cultura material como instrumento de trabalho. Ampliando o sentido do o que corresponderia a um documento, Le Goff inclui esses artefatos e no mais documentos seriam apenas textos:
Objetivos: Os objetivos especficos dessa pesquisa so: analisar teorias sobre a cultura material e a analise de vestimentas como documento; pesquisar o poder de comunicao dos museus. Como objetivos gerais buscamos demonstrar que o vesturio em acervos museolgicos possui um grande poder de comunicao histrico sociocultural, que seria necessrio uma anlise dessas peas pelo vis da cultura material para obtermos importantes informaes sobre elas; Descobrir a relao que os museus estaduais goianos tm com suas colees de peas txteis (vestimentas e tecidos), se a preservao, conservao e comunicao estariam sendo aplicadas nelas.
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Metodologia: a) Pesquisa bibliogrfica: Livros, artigos e outros meios de informao (revistas e jornais), encontradas em bibliotecas, sites da internet, etc. b) Pesquisa em textos/documentos pertencentes aos museus estaduais. c) Pesquisa em acervos de museus estaduais que possurem peas txteis, exemplo: Museu Estadual Zoroastro Artiaga, Museu Pedro Ludovico Teixeira, etc. Discusso Interessante a discusso sobre como os museus estariam utilizando o seu acervo, cada um com sua especifidade, para a educao. Se existe uma relao entre esses museus e escolas (sejam elas municipais, estaduais, federais ou particulares). Ser que esse acervo est realmente sendo utilizado pela sociedade e as informaes nele contido esto sendo aproveitadas? Qual seria um meio eficaz de estimular a ida de estudantes aos museus e a utilizao do conhecimento que nele est agregado? Um meio interessante de estimular a ida de estudantes aos museus relacionar os assuntos que esto sendo estudados em sala de aula com os assuntos que esto presentes nos museus. Utilizar os museus como fonte complementar de ensino e assim tornando mais variadas as fontes de informao que o aluno possui. Consideraes finais Conseguimos perceber que as indumentrias, mesmo sendo descriminadas, so fontes de cultura e histria. de estremo valor encontrar em museus estaduais goianos acervos com colees de vesturio. Os museus deveriam se empenhar ao mximo em sua comunicao, afinal, museus sem comunicao so simples depsitos de artefatos, fontes histrico sociocultural que ningum teria acesso.
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Referencias bibliogrficas BARTHES, Roland. Sistema da Moda. Portugal: Edies 70, 1967. CAMPOS, Itanei Francisco. Noticias histricas do bairro de Campinas. Goinia: Prefeitura Municipal, Assessoria Especial de Cultura, 1985. CNDIDO, Maria Inez. Documentao Museolgica. In: NASCIMENTO, Silvanis Souza do; TOLENTINO, tila; CHAGAS, Mrio (Coord.) Caderno de Diretrizes museolgicas. 2 ed. Belo Horizonte: Secretaria de Estado e Cultura/ Superintendncia de Museus, 2006. CHADUD, P. P. A Conservao de Documentos Para Preservar a Histria. In: 4 ENCONTRO CENTRO-OESTE DE DESIGN DE MODA, 2010, Goinia. Anais do 4 Encontro Centro-oeste de Design de Moda. Goinia UFG, 2010. CD-ROM JULIO, Letcia. Pesquisa histrica no Museu In: NASCIMENTO, Silvanis Souza do; TOLENTINO, tila; CHAGAS, Mrio (Coord.) Caderno de Diretrizes museolgicas. 2 ed. Belo Horizonte: Secretaria de Estado e Cultura/ Superintendncia de Museus, 2006. LE GOFF, Jacques. Histria e Memria. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2003. MENDONA, Miriam da Costa Manso Moreira de. O reflexo no espelho: O vesturio e a moda como linguagem artstica e simblica. Goinia: Editora UFG, 2006. MONNEYRON, Frdric. A moda e seus desafios: 50 questes fundamentais. So Paulo: Editora Senac So Paulo, 2007. PAULA, Tereza Cristina Toledo de. A excepcional terra do pau-brasil: um pas sem tecidos. In: PAULA, Tereza Cristina Toledo de [ed]. Tecidos e sua conservao no Brasil: museus e colees. So Paulo: Museu Paulista da USP, 2006.
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Parte 1: Imagens e Imaginrios |A indstria cultural e sua influncia nas imagens corporais: buscando o inalcanvel
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A INDSTRIA CULTURAL E SUA INFLUNCIA NAS IMAGENS CORPORAIS: BUSCANDO O INALCANVEL1 Gizelly Mendes Antonelli2 Amanda Carolina Marinho Cavalcante3 Resumo: Comumente presenciamos em diversos contextos sociais a frentica e obsessiva importncia dada ao corpo e as influencias que a moda tem nesse processo. Essa importncia ganha ainda mais fora tendo a indstria cultural como mola propulsora e forte disseminadora desses ideais de corpo perfeito. A mdia e a publicidade utilizam-se de imagens e outros recursos para difundir esse ideal to perseguido e inalcanvel, pois, com a promoo das aparncias, a cultura visual estabelecida sobre o detalhe anatmico tensionada a se sofisticar. A grande e acessvel repercusso das tcnicas de disseminao miditica atestou o enorme interesse das pessoas pelas imagens corporais, sobretudo na prpria imagem. na estreita desse raciocnio que a beleza esttica ganha afirmao como algo fundamental nos padres de aceitao social e na auto-estima, onde buscando aceitao, os indivduos se lanam arduamente nessa busca. Palavras-chave: Mdia; Moda; Indstria Cultural; Corpo. Abstract: Commonly witnessed in diverse social contexts and the frantic obsessive emphasis on the body and the influences that fashion has in this process. This importance becomes even more strongly with the culture industry as the springboard and disseminator of such strong ideals of perfect body. The media and advertising make use of images and other resources to spread this ideal unattainable so persecuted and therefore the promotion of appearances, the visual culture drawn on the anatomical detail is tensioned to become more sophisticated. The impact of large and accessible media dissemination techniques attested to the enormous interest of people by body images, especially the image itself. It is this reasoning that the narrow aesthetic beauty wins claim as something fundamental in the patterns of social acceptance and self-esteem, where seeking acceptance, individuals are engaging hard in this quest. Keywords: Media, Fashion, Cultural Industry; Body. 1. INTRODUO Como sabemos, ao longo do tempo, o corpo est suscetvel a diversas transformaes vezes imprevisveis e comumente indesejveis. Percebemos que com o passar dos anos, h mudanas quanto forma, peso, funcionamento e ritmos corporais. Consequentemente visvel a preocupao dos indivduos para com essas mudanas, no s preocupao, mas, a no aceitao com seus corpos e com seu natural desenvolvimento. Percebemos que os corpos ganham uma dicotomia, onde
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um mesmo corpo pode parecer dois, em momentos distintos, podendo ir de familiar e concreto a desconhecido e abstrato. O corpo que hoje temos, vivemos e sentimos uniu muito dos valores em voga no perodo de industrializao. Alguns destes valores guardam em ns suas memrias, outros perderam importncia, mas deixaram vestgios. Representaes de sade e beleza, doena, juventude e virilidade, etc., no deixaram de existir; apenas converteram-se, incorporaram outros contornos, produziram outros corpos. (SILVA JNIOR, 2007). Como afirma ainda, Silva Junior (2007), a partir desse raciocnio que a individualizao das aparncias, que so produzidas pela valorizao exagerada da imagem transformada em performance, que os indivduos so levados a acreditar que o corpo o local onde a identidade se manifesta, o lcus a partir do qual cada um diz do seu intimo, da sua personalidade, das suas atitudes e defeitos. Uma das vertentes mais fortes da Indstria Cultural a moda, que apesar de ser recente suas discusses no meio acadmico, se mostram bastante pertinentes, pois, a moda pode ser entendida como um sistema de produo e de comunicao que introduz mudanas de comportamento e de aparncia, de acordo com seus processos culturais e os ideais impostos numa determinada poca. Lipovetsky (1989) afirma que a moda um fenmeno que abrange: a linguagem e as maneiras, os gostos e as idias, os artistas e as obras culturais. Portanto podemos concluir que a moda pode ser compreendida como um importante fator de mudana de comportamentos e de determinao de tendncias, onde os indivduos atravs dessas, manifestam por intermdio de estilos, muito mais que sua simples aparncia, mas sua personalidade, sonhos e objetivos. A indstria cultural abastece um forte mercado atravs de seus ideais, onde, a cada dia mais pessoas a eles recorrem guiados pela incessante busca pela sofisticao das tendncias e tcnicas de melhorias corporais. 2. MODA COMO FATOR DE INSERO SOCIAL As roupas, sapatos acessrios e demais objetos que envolvem o corpo configuram os principais produtos da moda. Segundo Keller (2007), a moda um produto intangvel, imaterial e cultural, enquanto a roupa tangvel, material e concreta. O corpo portanto figura-se como suporte da vestimenta, onde ele habita e ocupa o seu interior. A roupa funciona como uma segunda pele, pois, ela um objeto txtil capaz de fazer o contato fsico do corpo com o meio ambiente, devendo, portanto, cumprir suas funes de proteo, oferecendo segurana e conforto ao usurio. Entretanto a roupa no contexto da moda carrega em si um universo de valores que se distanciam das necessidades prticas do vestir. Castro (2007) afirma ainda que ao atuar como segunda pele, os tecidos, adornos e acessrios reestruturam o corpo, ao omitir ou evidenciar uma ou outra de suas partes; assim como o fitness, os tecidos e acessrios o contornam e o modelam. O corpo figura-se como principal objeto de estudo tanto da Moda quanto da Educao Fsica, pois, tanto vestir-se como malhar, so aes completamente paralelas, onde visam construir um estilo prprio de se apresentar, em que os sujeitos se submetem ao filtro subjetivo de elementos objetivamente inscritos em
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diversas experincias scias e partindo de tal conceito Castro (2007) afirma que malhar e vestir-se so atos de subjetividade social e individual. Onde a partir de desses elementos os indivduos buscam arquitetar uma imagem pessoal baseada nos conceitos em voga e assim, se sentir aceitos e inclusos nas diversas camadas da sociedade que determinam tais padres. Uma das maiores preocupaes da sociedade contempornea a construo da aparncia, onde esta envolve roupas, adornos, acessrios, sapatos, corpo, etc. Essa construo passa a depender cada vez mais das formas e volumes corporais, onde a construo de um corpo perfeito anatomicamente torna-se elemento central na busca por identidades. Gildens (1997) afirma que tanto o planejamento da vida como a adoo de opes de estilo de vida se tornam integrados com regimes corporais, ou seja, diante da complexidade e fragmentao contemporneas, o corpo torna-se elemento central na busca de sentidos e referncias mais estveis, talvez por constituir-se em nico domnio ainda controlvel pelos indivduos. Conceitos de juventude, modernidade e beleza se entrelaam, pois a partir do conceito de civilizao que notamos grande preocupao com a beleza, a moda e o corpo. Nicolau Sevcenko (1992) aponta a preocupao com a corporeidade como uma das mais importantes caractersticas da atmosfera moderna que envolvia a nascente tecnolgica metrpole por ele estudada: So Paulo dos anos 20. Apesar de ser uma obra dos anos 20, e voltada especificamente cidade de So Paulo, ainda se encaixa perfeitamente na atual conjuntura social que tanto se preocupa e vincula sucesso e juventude aos ideais de corpo perfeito. Historicamente, percebemos que assim que So Paulo ganhava feies de grande metrpole, a prtica do culto ao corpo ganha notoriedade ao associar-se idia de modernidade, onde segundo (Castro 2007 p. 23) a filosofia : ser jovem, desportista, vestir-se e saber danar os ritmos da moda ser moderno. O mundo esportivo permeia o social a partir do momento em que carrega a imposio do modelo de corpo esbelto, esguio, capaz de responder aos ideais de leveza e dinamismo presentes no contexto, caracterizado pela proliferao de espaos pblicos como os locais de consumo e lazer que levavam as pessoas a se preocuparem ainda mais com a prprias aparncia. Portanto a preocupao por um corpo esteticamente perfeito na contemporaneidade compreendido como algo que diz respeito condio do individuo na modernidade. 3. A MDIA COMO FATOR DE PROLIFERAO DE IDIAS A mdia nos bombardeia com um modelo ideal de corpo e beleza. Conseqentemente, disseminados por esses ideais, cada vez mais pessoas recorrem s diversas reas que tratam do corpo e suas especificidades, para galgarem um longo caminho em busca dessa incessante busca pelo corpo perfeito. Os atuais investimentos em cincia e tecnologia levam os indivduos a caminharem em busca de um corpo voltado sempre busca de alta performance, seja no campo cultural, intelectual, no mundo do trabalho, da moda, do esporte ou qualquer outro campo em que o corpo atue como sujeito principal da ao. (ANTONELLI & CAVALCANTE, 2010)
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Aps a segunda Guerra Mundial temos no mundo uma exploso publicitria que ajudou a aumentar ainda mais essa busca inalcanvel por um corpo perfeito. A partir da encontramos uma crescente mudana de comportamento onde houve uma difuso de hbitos relativos aos cuidados com o corpo e s praticas de higiene, beleza e esportes. Castro diz que: A atual preocupao com a forma e o volume dos corpos est relacionada importncia que a dimenso esttica e a questo da imagem ocupam, que se reflete nos impressionantes nmeros da indstria de cosmticos e cirurgias plsticas realizadas, bem como na proliferao de academias de ginsticas por todos os centro urbanos. (Castro, p. 26, 1997) Isso faz com que percebamos a forte influencia da mdia e da Indstria Cultural no comportamento social, pois os ideais de beleza por eles impregnados faz com que a cada dia mais pessoas recorram a esses mtodos para se sentirem aceitos e inseridos nas conjunturas sociais. Com isso a indstria cultural ganha ainda mais fora na proliferao de seus ideais, a mdia forte aliada nessa influencia, pois atravs de seus mtodos persuasivos a Cada dia ganha mais adeptos para essa busca. Busca essa que funciona como fator de segregao social, pois em muitos ambientes os indivduos melhores caracterizados segundo as exigncias da mdia, moda e indstria cultural so tidos como mais bem preparados e conseqentemente, mais visados e aceitos segundo os parmetros sociais. A publicidade tem algumas razes para ver seu futuro cor de rosa.Enquanto o volume global das despesas publicitrias est em aumento constante, ela no cessa de invadir novos espaos: televises estatais, colquios manifestaes artsticas e esportivas, filmes, artigos de todos os gneros, das T- Shirts s velas de windsurfe, o nome das marcas exibido um pouco em toda parte em nosso meio cotidiano. (LIPOVETSKY, p. 185, 1989). A surpresa e o inesperado sempre foram uma das mais importantes chaves para o sucesso da publicidade. Os principais conceitos da moda so trabalhados na publicidade onde se presa a originalidade a qualquer preo, a mudana permanente e o efmero so pontos de grande importncia. A moda e a publicidade se encontram em um forte ponto em comum, em que a moda se preocupa primeiramente em individualizar a aparncia dos indivduos, a publicidade tenta a qualquer preo personalizar uma marca. A indstria cultural por sua vez, tenta fazer com que a massa copie os estilos mostrados por ambas. A imagem a principal arma da moda e da mdia, portanto o corpo esta no centro das atenes e o principal alvo dessas duas correntes. A indstria cultural utiliza diversos mtodos para impor suas vontades sobre mdia, corpo e moda. Onde ela no quer passar a idia de imposio, mas como afirma Lipovetsky: Ao invs da coero minuciosa, a comunicao; no lugar da rigidez regulamentar, a seduo; no lugar do adestramento mecnico, o divertimento ldico. Ali onde as disciplinas quadriculam os corpos e barram a iniciativa por meio dos detalhes das regulamentaes, a publicidade abre um espao de ampla indeterminao, deixa sempre a possibilidade de escapar sua ao persuasiva: mudar de canal, virar as paginas do jornal. (LIPOVETSKY, p. 193, 1989)
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A indstria cultural no exerce sua influencia sobre o individuo, mas sim sobre a massa, pois seu poder como afirma Lipovetsky, 1989 no mecnico, mas sim esttico. Portanto, ela necessita das verdades construdas a partir das idias disseminadas pela mdia e publicidade. na estreita desse raciocnio que percebemos a mdia como uma rea que no visa reformar o homem, mas sim em apenas estimular o consumo, que abastece a indstria cultural e suas vertentes. O corpo o mais importante veiculo disseminador das vontades da mdia e da publicidade, a moda a forma pela qual ele submetido a essas vontades. Os indivduos ao perseguirem ideais de corpo perfeito perseguem as tendncias em voga no momento, para se sentirem aceitos e bem vistos pela sociedade. Onde o ideal capitalista rege as relaes humanas. 4. CONSIDERAES Como afirma Lipovetsky, os efeitos da mdia so epidrmicos, a publicidade que de bom grado se lhe empresta, a de aniquilar a reflexo, a busca da verdadeira comparao e a interrogao pessoal; ela s tem poder no tempo efmero da moda. No mximo pode amplificar pseudovalores e retardar por um tempo curto o reconhecimento publico do verdadeiro trabalho intelectual em execuo. (Lipovetsky, p. 196. 1989) Portanto atravs deste estudo pretendemos dar continuidade aos trabalhos que percebem a grande importncia das relaes entre corpo, moda e mdia. Como comportamentos sociais que provocam drsticas mudanas de comportamentos na atualidade. Pois percebemos que assim como o tema corpo, o tema moda tem sido colocado em uma posio marginal nas cincias humanas, sendo negligenciado como objeto de estudo. Alem disso como afirma Castro (2007), as reflexes pontuais existentes sobre estas temticas, a temam, geralmente, como dissociadas. Os tericos que problematizaram a moda excluram o corpo de suas anlises, apontando-a como sistema de comunicao, na viso estruturalista de Barthes (1979); ou como estratgia de distino de uma elite social imitada e constantemente em busca da diferenciao no reinventar de novas modas, como na viso de Simmel (1999), ou ainda, como expresso da cultura pecuniria, assentada na competio pela ostentao e luxo na efemeridade, como na critica de Veblen (1983). Ainda de acordo com Castro (2007), do mesmo modo, a literatura existente sobre o corpo, no leva em conta a forma como a moda se manifesta sobre o mesmo, trabalhando o corpo textual ou discursivo e no o corpo vivo e atuante, que experincia as praticas do vestir. Portanto queremos dar continuidade aos estudos nessa linha de pesquisa, por ser totalmente pertinentes as alteraes scias contemporneas.
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Ao se aproximar as temticas do corpo e da moda como objetos de reflexo podemos estudar e entender questes contemporneas como: quais os limites da mdia? O que representa o corpo para a sociedade? O que ele capaz de produzir? Como a moda pode influenciar essa relao? E como os indivduos se posicionam frente esses eixos. Questes essas. Que, para serem plenamente respondidas impem uma extensa pesquisa que este estudo se prope a se incluir nelas.
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Parte 1: Imagens e Imaginrios | Todo dia um corpo: intervenes no corpo em ensaio fotogrfico
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TODO DIA UM CORPO: INTERVENES NO CORPO EM ENSAIO FOTOGRFICO1 Nathlia Pereira Carneiro2 Paulenio de Sousa Albuquerque3 Vinicios Kabral Ribeiro4 Universidade Federal de Gois UFG Resumo: O ensaio fotogrfico discutido no presente trabalho compe uma das propostas do plano de ensino da disciplina de ncleo livre Comunicao, corpo e consumo do curso de Publicidade e Propaganda na UFG, no semestre 2010/1. Os alunos responsveis por este ensaio procuraram explorar a relao entre corpo e subjetividade no mbito da fotografia, tratando a representao de intervenes dirias no corpo realizadas por cada indivduo para se inscrever como sujeito na sociedade. Palavras-chave: Corpo; Fotografia; Cotidiano; Subjetividade. Abstract: The photo essay discussed in this article composes one of the teaching plans proposals of Advertising courses free discipline Communication, body and consumption at UFG, on 2010/1 semester. Students responsible by the essay tried to explore body and subjectivity connection on photography point of view, dailing with the representation of daily interventions in body by each individual to register himself as subject in society. Keywords: Body; Photography; Quotidian; Subjectivity. 1 INTRODUO Como forma de representar o corpo a partir dos temas trabalhados durante a disciplina, buscou-se abordar no ensaio fotogrfico o corpo em processo de subjetividade. Mais precisamente, o corpo durante uma interveno do seu dono, seja num ritual de beleza, seja no ato de se vestir, seja em prticas esportivas. Diariamente, o corpo obra do sujeito. O objetivo do ensaio justamente mostrar o movimento do corpo de um indivduo enquanto este interfere em sua composio, com toda sua particularidade, para dialogar e se mostrar ao mundo. Sendo assim, o retrato de uma ao corporal cotidiana o enfoque desse registro fotogrfico. Segundo Garcia (2006, p. 9), O corpo na fotografia torna-se escritura de subjetividades. A imagem fotogrfica ser espao de representao de um corpo em constante transformao do indivduo. Passar batom, escovar os
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dentes, malhar, cortar as unhas, etc. Tais rituais buscam estreitar o ato criativo na fotografia (GARCIA, 2006, p. 3) com o ato criativo dirio no corpo. Durante a disciplina de Comunicao, corpo e consumo, ocorreram discusses, muitas vezes acirradas, sobre o impacto de aes cotidianas que intervm na dinmica do corpo. Das mais simples s mais complexas, carregam a individualidade do sujeito em constante processo de sintonia ou no com normas de corporeidade dentro de cada sociedade. Diante dessa instigante reflexo, o foco deste ensaio a obra do sujeito contemporneo em seu corpo que, de to rotineira, faz-se despercebida. 2 RECHEIO DO CORPO Enquanto sujeito, o indivduo constri sua imagem por meio do corpo, empregando-o como artifcio de visibilidade. Objeto socialmente construdo e mantido, o corpo ferramenta de sua interao com o ambiente, por conseguinte, palco de fenmenos sociais, culturais e simblicos. Nesse sentido, o corpo carrega a individualidade de representao de cada ser, isto , reflete as intervenes que este procura projetar. Para ilustrar, Kehl (2005) utiliza a seguinte frase de Arnaldo Antunes: O corpo tem algum como recheio 5. Nesse processo, o corpo no constitui uma entidade acabada, definida ou predefinida, mas em constante construo. (OLIVEIRA; FERNANDES; SILVA, 2009, p. 13). Para Foucault (1998), sua construo no se d por escolhas aleatrias, e sim por um conjunto de cdigos e valores culturais, partilhados no mbito social. Sendo assim, o corpo configura-se no como natureza somente, mas tambm como fenmeno social, cultural, motivo simblico e objeto de representaes e tem seus usos fsicos dependentes de um conjunto de sistemas simblicos. (COSTA, 2009, p. 23). O sujeito contemporneo goza de muitos recursos caractersticos da corporeidade. Basta, (), um olhar de estranhamento sobre muitas prticas atuais relacionadas ao corpo, mesmo as mais cotidianas, para encontrarmos exemplos de extremos a que o comportamento humano pode chegar (GOLDENBERG; RAMOS, 2002, pp. 22 e 23). Cabe aqui o perfil dos Sonacirema6: Um povo que despende uma grande poro dos frutos do seu trabalho e uma considervel parte do dia em atividades rituais que tm como foco o corpo, cuja aparncia e sade constituem sua preocupao dominante. A crena desse grupo a de que o corpo humano feio, sujo e sua tendncia a debilidade e a doena, sendo a ncia esperana nativa evitar caractersticas pelo uso de poderosas influncias do ritual e da cerimnia. (MINNER, 1956 apud GOLDENBERG; RAMOS, 2002, p. 23) Ainda para Goldenberg e Ramos (2002, p. 24), entre o fim do sculo XX e o incio do XXI, o Brasil assiste a uma crescente glorificao do corpo, especialmente nos grandes centros urbanos. Porm, a aparente liberao pblica do corpo na publicidade, na mdia e no cotidiano traz uma nova moralidade, o corpo afetado por um processo civilizador (ELIAS, 1990 apud GOLDENBERG; RAMOS, 2002, p. 25) que preza o autocontrole da aparncia fsica.
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Segundo Kehl (2005, p. 177), o saber da cincia biomdica e farmacutica orienta uma variada indstria do corpo em prol da vida, da felicidade e da sade. O cuidado de si dirige-se produo da aparncia, em outras palavras, o corpo exigido como vestimenta bela e sanitizada. Os rituais envolvendo prticas de sade, higiene e beleza so uma constante no cotidiano do sujeito contemporneo. Kehl (2005) incisiva j no ttulo: Com que corpo eu vou?. 3 TODO DIA UM CORPO: PROCESSO DE CRIAO Baseados nos valores construdos social e culturalmente, os conceitos de beleza e higiene, dentre outros cuidados com o corpo, determinam a maneira de se apresentar, socializar e conviver. Para isso, concebem-se uma srie de dispositivos especficos para embelezar e higienizar os corpos da maneira socialmente conveniente. Pode ser metalingustico, ou mesmo cclico, pensar o corpo criando objetos para interferir no prprio corpo. Rotineiramente, os objetos acompanham o indivduo, do acordar ao adormecer, do interior do lar ao mundo fora da bolha de ar. O texto Circuito Fechado7, de Ricardo Ramos, ilustra o quanto faz-se uso de objetos na construo do dia-a-dia. um tipo de ritual dirio do corpo. O corpo feminino, principalmente, alegorizado por brincos, pulseiras, roupas que formatam, maquiagem que colore. Busca-se a combinao dos elementos por suas cores, texturas e formas para o carro alegrico da escola de samba sair rua. Da mesma forma, o ato de exercitar o corpo em atividades fsicas rotineiras busca a manunteno e a domesticao de suas formas. Na maioria das fotografias capturou-se closes do corpo, focando em partes especficas, fragmentando o corpo em pedaos de significao. Alm de perceber melhor os atributos da parte especfica do corpo, que no notamos muito, pelo fato de usarmos nosso corpo em conjunto, tambm possvel associar os valores que damos a ela. Colorir partes da face, a manuteno de unhas e cabelos e tantos outros hbitos realizado com frequncia sobre nosso corpo. O corpo pode ser entendido aqui como um meio de comunicao mais uma mdia , como afirma Baitello Junior (1999, p. 3). Expresses corporais, tais como articulaes, gestos, movimentos, cdigos, mmica facial, sons, seriam um meio primrio de comunicao diria. Ao passo que as pinturas corporais, as roupas, os adereos e depois os aparatos prolongadores e/ou substitutos do prprio corpo inauguram um quadro de mediao mais complexo, o da mdia secundria. (BAITELLO JUNIOR, 1999, p. 3). Portanto, a comunicao primria e secundria do corpo no cotidiano est presente neste ensaio fotogrfico. A seguir, recortes subjetivos de aes corriqueiras capturados por uma mquina digital de bolso Sony Cyber-shot 7.2 megapixels. Buscou-se expor a subjetividade dos atos numa perspectiva simples, com uma cmera comum, utilizada por muitas pessoas. O movimento da cmera acompanhou o ritmo do movimento das mos em cada ao representada, assim como os disparos sem flash, com o intuito de realizar fotos que evocassem sensaes prximas ao instante do clique. 3.1 Batom Pintar os lbios com uma avermelhada cera em basto deslizando de um canto a outro da boca apenas um de uma srie de componentes da maquiagem.
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Passar batom uma ao inserida no complexo ritual de embelezamento do rosto. E, por que no, parte de um ritual de conquista. A fotografia retrata uma boca revestida de forma abundante por um batom vermelho, cuja soma aos tons alaranjados e amarelados compe um quadro com cores quentes, enrgicas, vibrantes, que procuram causar incmodo e despertar um apelo gustativo, como se o batom fosse ser ingerido. A imagem desfocada remete ao irregular e grotesco. Confronta, enfim, a delicadeza comum aos rituais de embelezamento.
Figura 1. Batom 3.2 Escova Esfregar continuamente fibras presas ponta de uma vareta plstica, lubrificadas por uma pasta solvente que se desfaz em espuma. Higienizar agrupa limpeza, sade e esttica a um s termo. Higienizar os dentes cuidado dirio inserido na sanitizao do corpo. No escovar ou pouco escovar os dentes sinal de m higiene bucal, uma das causas da doena infecto-contagiosa denominada crie8.
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Por outro lado, escovar os dentes representa o cuidado com a cavidade de tantos prazeres e sofrimentos ao corpo. Macerar alimentos e manipul-los com a sensibilidade da lngua nutre o corpo. Contudo, alimentos em demasia e no-saudveis podem deixar o corpo inadequado. Os alimentos doces se enquadram nesse perfil: uma dieta rica em acar acentua o risco da incidncia de cries. Na fotografia, a espuma gerada pelo creme dental deixa a boca assustadora, ainda mais por se dissolver com uma secreo humana a saliva. Seria um monstro? Parece haver uma dissoluo de parte da face em decorrncia das golpeadas da escova com a saponificada pasta de dentes e a saliva. A limpeza desfigura momentaneamente o indivduo, para logo depois, salv-lo.
Figura 2. Escova 3.3 Esteira Se o tempo no suficiente para se fazer uma atividade, acelera-se o ritmo. O correcorre do dia-a-dia assemelha-se ao ato de correr em uma esteira na academia de ginstica. Andar de esteira pode garantir, em pouco tempo, um corpo em forma. Aumenta-se gradativamente a velocidade do exerccio com o intuito de manter, por mais tempo, o corpo em forma.
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A fotografia mostra um ambiente repleto de equipamentos de ginstica, aos quais o indivduo se submete para fins de enrijecimento do corpo. O movimento congelado em alta velocidade proporciona um efeito de fuso entre o corpo humano e o corpo mecnico. O indivduo articula seu corpo com o equipamento, nesse sentido, emprega sua subjetividade por meio desse exerccio fsico, e o resultado do empenho se reflete no corpo esbelto, que j est magro, forte, enfim, padronizado de acordo com os traos comuns em quem pratica atividade fsica.
Figura 3. Esteira 3.4 Trim9 Eis a metonmia popular para o engenhoso cortador de unhas, Trim. Alguns elementos do corpo crescem rapidamente, necessitam, assim, de constante corte. As unhas revestem os extremos dos membros os dedos e ajustam o tato. Alm de cortar, comum pint-las e remover suas clulas protetoras, a cutcula. Trata-se, ento, de um ritual que poda partes orgnicas.
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A disposio dos dedos no campo visual alude famosa poro da obra de Michelangelo na cpula da Capela Sistina, A Criao de Ado10. O Trim seria o instrumento ofertado para a prtica de adequao das unhas, em outras palavras, sua sanitizao.
Figura 4. Trim 3.5 Cabelo Da mesma forma que as unhas necessitam ser cortadas constantemente, os cabelostambm recebem reparos medida que vo crescendo. Molha-os, seca-os, mexe-os, remexeos, at obter o estilo desejado. So as prprias mos agindo para criar a moldura da cabea. Um dos principais padres de embelezamento dos tempos atuais para os cabelos deix-los extremamente lisos, isso implica em vrios dispositivos usados para ajust-los, da a expresso: domar os cabelos. Tal expresso revela o relacionamento com o prprio corpo, da mesma forma que os seres humanos na Pr-histria, no perodo Neoltico, aprenderam a domesticar animais, procura-se reelaborar o que remete ao animalesco em si. Com isso, busca-se transgredir, ou mesmo agredir, a
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natureza capilar e deixar a juba do leo mansa. Alm das citadas, no faltam expresses populares para se referir aos cabelos, como cabelo bandido: se no t preso, t solto ou se t solto t armado remetendo a ser algo criminoso o fato de no estarem disciplinados mais uma vez, eis a disciplina: manter os cabelos sob controle. Nesta fotografia buscou-se dar um tom de encanto, como os contos de fadas, com as princesas que penteiam seus cabelos ou algum penteia por elas, retocando a perfeio nata que tm. Algumas caractersticas dos contos de fadas subjetivamente ainda permeiam na sociedade, como o ideal da mulher bela.
Figura 5. Cabelo 4 CONSIDERAES FINAIS Perceber o corpo como intrumento dirio de subjetividade permite a compreenso de que se trata de um elemento em constante transformao. As intervenes dirias representadas no ensaio fotogrfico parecem simples, todavia, provocam marcas significativas na representao social do indivduo pelo qual so praticadas.
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Num primeiro olhar, cada fotografia pode gerar uma interpretao geral. Com um olhar mais atento, tem-se um leque de interpretaes subjetivas. A subjetividade expressada pelo corpo fotografado salta s impresses do observador, em outras palavras, o corpo fotografado se comunica com o observador. Em suma, ao mesmo tempo em que h um processo de interveno corporal no objeto representado para fins sociais, cosmticos e/ou sanitrios, h uma interveno no prprio ato fotogrfico: a foto intervm no olhar domesticado s vezes despercebido , direcionado s aes rotineiras.
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REFERNCIAS BAITELLO JUNIOR, Norval. A mdia antes da mquina. Jornal do Brasil Online, Rio de Janeiro, 16 out. 1999. Caderno Ideias. COSTA, Deyvisson Pereira da. Corporeidades em tempo de biopoder: o discurso miditico sobre o cuidado com o corpo. 2009. 97 f. Dissertao (Mestrado em Comunicao) Programa de Ps-Graduao em Comunicao, Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia, Universidade Federal de Gois, Goinia, 2009. FOUCAULT, Michael. Vigiar e Punir. Petrpolis, RJ: Vozes, 1998. KEHL, Maria Rita. Com que corpo eu vou?. In: Kehl M, Bucci E, organizadores. Videologias: ensaios sobre a televiso. So Paulo: Bontempo, 2002. GOLDENBERG, M.; RAMOS, M.S. A civilizao das formas: o corpo como valor. In: GOLDENBERG, M. (Org.). Nu e Vestido. Rio de Janeiro: Record, 2002. p. 19-40. GATTO, Patrcia. O corpo na fotografia: representaes somticas do tempo. In: GARCIA, Wilton. (Org.) Corpo & Arte: estudos contemporneos. So Paulo: Nojosa, 2006. p.105-110. OLIVEIRA, Ana Cludia de; FERNANDES, Cntia SanMartin; SILVA, Simone Bueno. A construo do corpo feminino na mdia semanal. In: Comunicao, Mdia e Consumo: Programa de Mestrado em Comunicao e Prticas do Consumo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). So Paulo: ESPM, 2009. Notas Trabalho apresentado na V FEICOM: Ressignificar as fronteiras da comunicao e informao. De 08 a 12 de novembro de 2010, em Goinia GO, tambm apresentado disciplina de ncleo livre Comunicao, Corpo e Consumo do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Federal de Gois UFG, no semestre 2010/1, sob orientao do Professor Vinicios Kabral Ribeiro, como complemento do ensaio fotogrfico Todo dia um corpo, apresentado mesma disciplina. 2 Aluna graduanda do curso de Comunicao Social Hab. Publicidade e Propaganda da UFG ([email protected]). 3 Aluno graduando do curso de Comunicao Social Hab. Publicidade e Propaganda da UFG ([email protected]).
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Aluno mestrando do curso de ps-graduao em Cultura Visual da UFG ([email protected]). Trata-se do tema criado pelo compositor para o grupo Corpo, no ano 2000. 6 O vocbulo Sonacirema de trs para frente indica Americanos. Em Sonacirema, Herace Minner (1956) descreve atividades corriqueiras, inseridas no cotidiano do povo americano, a partir de recursos de linguagem comumente utilizados nas descries de comunidades indgenas, direcionando civilizao um olhar alheio perante suas prticas. 7 Ricardo Ramos construiu a narrativa Circuito Fechado apenas citando uma srie de objetos usados no cotidiano, dando a ideia de ao e compondo uma rotina mecanicista do personagem, do momento em que acorda ao que vai dormir. Disponvel em: http://www.pucrs.br/gpt/substantivos.php. Acesso: 25 jun. 2010. 8 Crie uma doena infecto-contagiosa caracterizada pela presena de bactrias cariognicas, m higiene bucal e dieta rica em acar. Disponvel em: http://www. bucal.com.br/subDoencaCarie.asp. Acesso: 23 jun. 2010. 9 Decidiu-se usar aqui o termo Trim por ser popularmente utilizado para denominar o instrumento apresentado no ensaio fotogrfico. Trim marca registrada da William E Bassett Co., companhia de produtos de higiene pessoal fundada em 1947, no estado de Connecticut, nos Estados Unidos. Disponvel em: http://www.trim. com/?q=aboutus. Acesso: 23 jun. 2010. 10 As pinturas na cpula da Capela Sistina, no Vaticano, Itlia, foram realizadas por Michelangelo entre os anos de 1475 e 1483 em homenagem ao tio do ento Papa Jlio II, Sixtus IV. O artista utilizou a tcnica de pintura em afresco para pintar cenas relacionadas ao livro Gnesis, do Antigo Testamento da Bblia. Grande parte das figuras foram inspiradas em famosas esculturas gregas e romanas. Disponvel em: ttp://www.michelangeloclub.com/capela-sistina.html. Acesso: 25 jun. 2010.
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Lembrana E Esquecimento: Memrias de Goinia1 Brunna Stphane Pains Santos2 Ana Rita Vidica Fernandes3 Universidade Federal de Gois Palavras-chave: fotografia; cidade; memria. A mostra Lembrana E Esquecimento: Memrias de Goinia tem como proposta a exposio de fotografias antigas do centro da capital (cedidas pelo Museu da Imagem e Som de Gois) no ambiente interno de uma sala de estar, recriado a partir de mveis e objetos de decorao. Com a temtica de resgate da memria social, a exposio visa evocar recordaes e incentivar a reflexo sobre a cidade, tendo como ponto de partida a contemplao de imagens de grande valor simblico e histrico para o municpio. No mesmo sentido, a mostra foi realizada no dia 28 de outubro passado, na calada do Grande Hotel de Goinia, se configurando, portanto, como interveno urbana. Na FEICOM, no espao de uma sala de aula, sero expostas, alm das oito fotografias disponibilizadas pelo MIS, outras dez imagens, que documentam as reaes do pblico durante a primeira exposio. Justificativa / Base Terica Cidade e fotografia andam juntas desde o nascimento da segunda. O hbito e a verdadeira paixo dos fotgrafos pelas cidades, citada por Vasquez (2003, p. 109) gerou ao mundo uma infinidade de registros, o que fez da urbe um objeto de idealizao, reflexo e pensamento. Dessa forma, a princpio apenas a ttulo de arquivo e depois por motivos diversos, os fotgrafos conceberam e construram um vasto patrimnio de paisagens urbanas. O conceito refere-se dinmica dos elementos que compem os espaos das cidades, como edifcios, vegetao, veculos, entre outros. Assim, a partir do contato dos retratos com a sociedade, em forma de lbuns, postais e revistas, principalmente, as imagens das cidades foram construdas no imaginrio popular. Em Goinia, os principais retratos urbanos referem-se ao centro da cidade, que mantm uma relao de proximidade e pertencimento com os habitantes. Uma das primeiras reas construdas, a regio abriga e irradia o poder poltico, possuindo um dos maiores acervos em Art Dco do pas. Alm disso, nesta rea esto situados edifcios de grande valor simblico, pelo papel que desempenharam no passado, motivo pelo qual frequente nas fotos a representao de construes importantes, fato exemplificado pela figura 1.
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Figura 1. Carro de boi em frente ao Palcio das Esmeraldas Goinia GO. 1936. Alois Feichtenberger. Fonte: Acervo MIS|GO.
Na figura 2, possvel perceber a tendncia de uso de vistas panormicas, com destaque para a representao de uma das principais avenidas de Goinia.
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Figura 2. Avenida Gois. Goinia GO. 1945. Slvio Berto. Fonte: Acervo MIS|GO
Por conseguinte, a partir destes registros, que no s evidenciam a fisionomia da capital, como tambm destacam sua dinmica, a cidade teve sua imagem edificada na memria da populao. ngelo e Souza expem a capacidade da fotografia de construir discursos e explicam o processo de contemplao da imagem pelo espectador, segundo os quais o indivduo media a informao recebida com suas percepes anteriores para enfim, idealizar, comparar, refletir e repensar a imagem vista, formando sua prpria viso daquele lugar:
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Alm de instrumento para a construo de realidades, a fotografia, como resqucio direto do passado e prova indiscutvel do acontecimento de fatos, um importante recurso para a rememorao. Para Kossoy (1998), a reconstruo de cenas anteriores se d a partir da anlise da fotografia em suas mltiplas faces, em um processo que no se trata apenas do exame visual dos signos que compem seu contedo, mas de uma sequncia de estruturao de impresses mentais. O autor afirma que toda imagem possui duas realidades e que apenas por meio de seu conhecimento tem-se o significado completo da foto. A primeira relaciona-se superficialidade do contedo da fotografia em si, ou seja, realidade transcrita. J a segunda fruto da subjetividade, referindo-se ao contexto em que a foto foi construda, com destaque para a inteno do fotgrafo, a histria pessoal dos personagens e do espao retratado. Pode-se dizer, assim, que a imagem permite ao leitor visualizar todos os detalhes de determinado espao, levando-o recordao e a uma reflexo sobre suas experincias anteriores no mesmo, em uma dinmica na qual sua cultura pessoal possui grande influncia. Sobre estes conceitos, a exposio Lembrana E Esquecimento: Memrias de Goinia foi concebida, intencionando, em primeiro lugar, resgatar as recordaes adormecidas no pblico da regio central. Esta tentativa de incentivar a rememorao pode ser percebida na figura 3, que demonstra o processo de recepo da mensagem fotogrfica.
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Figura 3. Lembrana E Esquecimento: Memrias de Goinia. Goinia GO. 2010. Ana Rita Fernandes Fonte: Acervo particular
A mostra buscou atingir no s aqueles que viveram a realidade representada nas imagens, mas tambm, aos que tiveram proximidade com a histria do local, seja atravs da oralidade ou de outros meios.
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Referncias CARVALHO, Vnia Carneiro; LIMA, Solange Ferraz. Fotografia e cidade: Da razo urbana lgica de consumo - lbuns da cidade de So Paulo, 1887 1954. Campinas, SP: Mercado das Letras, 1997. 272 p. HALLBWACHS, Maurice. Memria Individual e memria coletiva. A memria coletiva. So Paulo: Centauro, 2006. OLIVEIRA, Elizer Cardoso de. As imagens de Goinia na literatura mudancista. As cidades dos sonhos. Goinia: Ed. da UFG, 2004. 255 p. SAMAIN, Etienne (org.). O fotogrfico. KOSSOY, Boris. Fotografia e memria: reconstituio por meio da fotografia. So Paulo: Hucitec, 1998. VASQUEZ, Pedro karp. O Brasil na fotografia oitocentista. So Paulo, 2003. Notas Trabalho apresentado na V FEICOM: Ressignificar as fronteiras da comunicao e informao, de 08 a 12 de novembro de 2010, em Goinia GO. Formanda do curso de Comunicao Social Habilitao em Publicidade e Propaganda da Universidade Federal de Gois, [email protected]. 3 Graduada em Comunicao Social Habilitao em Publicidade e Propaganda pela Universidade Federal de Gois; Mestre em Cultura Visual pela mesma instituio; [email protected].
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PARArePARA1 Ana Paula Pereira Ribeiro2 Ana Rita Vidica Fernandes3 Universidade Federal de Gois Palavras-chave: Praa Cvica; Interveno Urbana; Fotografia; Arte; Publicidade. Introduo: A exposio PARArePARA tem o objetivo de apresentar as fotografias e o material produzido para ao do projeto de interveno urbana que foi realizada dia 25 de outubro de 2010 na Praa Cvica em Goinia, com a entrega de panfletos e com a fixao de cartazes nos pontos de nibus e postes do entorno da referida praa. O projeto faz parte do Trabalho de Concluso de Curso da autora, sob orientao tambm de Ana Rita Vidica, que se intitula Vende-se Galeria As Relaes entre Arte e Publicidade na Contemporaneidade. A exposio tem o apelo da retomada da ateno. As imagens de alguns pontos da Praa ancorados pela inscrio PARArePARA e pelo endereo do blog do projeto (pararepara.blogspot.com) possibilitam ao observador resgatar o olhar perdido na rotina. Foram produzidas vrias fotografias da Praa Cvica das quais onze foram base da criao dos cartazes e panfletos, ambos em seis imagens diferentes. A exposio contar com o resultado final dos materiais, com as fotografias produzidas inicialmente, com os dados do blog e com os registros da percepo das pessoas sobre a ao nas seguintes quantidades: - 6 cartazes A3 (30cm X 42cm) -12 panfletos 14cm X 10cm -50 impresses 14 cm X 10cm - 12 fotografias 40cm X 60 cm Quantidades essas detalhadas a serem expostas em sala da Facomb. A Cidade Como Ateli + No-Lugares = PARArePARA Ateno
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O PARArePARA parte integrante do meu trabalho de concluso de curso intitulado Vende-se Galeria onde eu investigo as relaes entre arte e publicidade. No meu estudo constatei que essas relaes so histricas, mas na contemporaneidade que elas ganharam mais fora e maiores propores. Arte e publicidade ficaram to ligadas que s vezes fica difcil distinguir uma da outra. Temos exemplos como a Pop Art e aes de marketing de guerrilha que muito se assemelham a performances e/ou intervenes urbanas. O espao de atuao da publicidade tanto os meios de comunicao tradicionais quanto as ruas. Tornar-se pblica a inteno maior da publicidade. E, qual lugar mais pblico que as ruas? Que as cidades? Se com a publicidade o estar nas ruas uma caracterstica intrnseca desde os seus primrdios com a arte no foi bem assim. At meados do sculo 19, na arte ocidental, perdurou como principal caracterstica a concepo de arte em que lo artstico es lo museable4 y esto, a su vez, es algo que est ah, con un peso, una forma, un tamao, etc.(RAMIREZ, 1997, p. 259) Isso comeou a mudar quando surgiu a fotografia. A fotografia era tida como uma maneira de representao fiel da realidade, o que confrontava a viso mimtica da arte que teve que se reinventar. As primeiras fotografias destinadas ao documentrio social, as fotografiasdocumento ou a fotografia dos fotgrafos engajada com os movimentos artsticos passou fotografia-expresso ou a fotografia dos fotgrafos- artistas. A fotografia artstica ou a fotografia de autor 5 foi o primeiro passo para a arte na fotografia. E, como enunciou Tavares (2009), coabitada das formas de arte contempornea, a fotografia passou fotografia-matria ou a fotografia dos artistas 6. Assim, a fotografia no apenas a captao da realidade sem carter esttico, subjetivo ou de fruio artstica, pois o resultado final de uma fotografia no estava na mquina, mas sim no olho do fotgrafo que, de forma subjetiva, percepciona determinado momento e o captura. (TAVARES, 2009, p.121) A fotografia percorreu todo um caminho que, em vrias pocas foi apenas o seu, alheada da Histria da Arte, mas que hoje se integra e constitui um verdadeiro ramo da Histria da Arte Contempornea. (TAVARES, 2009, p.125) E no tardou para que a publicidade percebesse isso e quisesse a fotografia como sua melhor amiga. E foi exatamente assim que a histria se sucedeu. A fotografia se firmou na publicidade e o n entre as duas est cada vez mais apertado. Os fotgrafos publicitrios possuem sensibilidade artstica, alm da tcnica apurada. Os equipamentos so cada vez melhores e especializados assim como os profissionais. A utilizao de fotografia na publicidade resulta em peas criativas, inovadoras e com alta qualidade de imagem. Mas para que a arte pudesse sair das galerias e museus e ir para as ruas e para que ela pudesse se libertar do paradigma da mimese e incorporar novos processos e materiais como a fotografia novos perfis de artistas e novos posicionamentos tiveram que surgir. Isso ocorre a partir de 1960, aproximadamente, com a Arte Moderna. O gosto pela novidade, a recusa do passado qualificado como acadmico, a posio ambivalente de uma arte ao mesmo tempo da moda (efmera) e substancial (a eternidade). (CAUQUELIN, 2005, p. 27) se refletiram em Escolas que comearam a incitar e refletir sobre a sociedade como Expressionismo, Fauvismo, Cubismo, Abstracionismo e Futurismo. Mas, foi com o ponta p definitivo do Dadasmo que a arte saiu das galerias e foi para a rua e o ateli do artista passou a ser a cidade. Para Cludia Marinho (2004) o ateli o lugar que o artista se apropria. Os atelis so produto do agenciamento que o artista faz dos diversos discursos e informaes que constituem seu contexto, a partir dos princpios traados por seu processo criativo. Isso demonstra que qualquer poro da cidade pode ser codificada como ateli. Em seu processo
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de produo ocorrem os atelis temporrios, ou seja, canteiros de obras montados para aquela produo. (Marinho, 2004,71) Assim, como o artista rompeu as barreiras fsicas dos atelis, qualquer lugar que ele se aproprie torna-se seu ateli. Na contemporaneidade, um desses espaos de apropriao e criao a cidade. Ao tratar de cidades contemporneas no podemos esquecer que o artista no est individualizado nesse contexto ele dialoga com diversas manifestaes urbanas. Ele acaba tendo que articular sua potica e a dinmica da cidade, exercitando a vivencia do indivduo e do grupo. No cenrio contemporneo, os atelis so espaos de partilhas. Individuais, porque delimitados pelos objetos que guardas as aes do artista e revela uma autoria, e coletivos, porque supe outras aes que no somente a do artista. (Marinho, 2004, p.71) Estando mergulhado nas cidades, o artista se depara com o no-lugar. O no-lugar um termo criado por Aug (1994, p. 73-75) que define como o espao que faz parte das cidades contemporneas, porm no vivenciados. Sua dinmica no se baseia nas relaes, nas identidades. Os espaos de circulao (grandes rodovias, aeroportos, vias areas), juntamente com os espaos de comunicao ( placas de todos os tipos, as ondas e os cabos) e os de consumo (supermercados, centros de servio, quiosques) definiriam os no-lugares . So espaos geralmente com tantos estmulos que no conseguimos dar ateno a nenhum deles suficientemente. Fica muito mais difcil ter e dar ateno. A ateno se torna algo to disputado nas cidades contemporneas que Adler e Firestone (2003) propem uma economia da ateno: como nossa capacidade de produzir e distribuir informaes aumentou, somos bombardeados por milhares delas (...). O mercado est saturado de mensagens, todas competindo por nossa ateno. Nesse ambiente a ateno torna-se uma mercadoria rara. (Adler, Firestone, 2003) O que a informao consome bvio: consome a ateno quem a recebe. Por isso, uma grande riqueza de informaes cria pobreza de ateno e a necessidade de alocar efetivamente a ateno em meio a uma superabundncia de fontes de informao que podem consumi-la. (Hebert A. Simon)7 E foi pensando no dilogo que o artista contemporaneo articula com as diversas manifestaes urbanas quando utiliza a cidade como ateli, na quantidade de no-lugares, isto , de lugares no vinvenciados e na procura incessante de dar e receber ateno que desenvolvi o projeto PARArePARA. O PARArePARA se utiliza de contedo artstico (fotografia e abordagem subjetiva da rotina), de mtodo artstico (interveno urbana), de linguagem publicitria (repetio) e de suporte publicitrio (cartaz e panfleto).
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Figura 1. Cartaz, feito atravs de fotografia da Praa Cvica para o projeto PARArePARA, 30cm X42cm
O local escolhido para a execuo do projeto foi a Praa Cvica. O nome oficial da praa Praa Doutor Pedro Ludovico Teixeira. A Praa Cvica foi escolhida porque alm de ser um local rotineiro para mim um local histrico para Goinia e atualmente possui um fluxo muito grande de circulao de pessoas de diferentes perfis (faixa etria, genero, profisso, escolaridade, ...) Isso porque alm de de abrigar smbolos histricos como o Palcio das Esmeraldas, a sede do governo estadual, o monumento das trs raas, a esttua de Pedro Ludovico e seu cavalo, o Museu da Imagem e do Som, o Museu Zoroastro Artiaga, etc, a praa circundada por paradas de onibus do transporte coletivo urbano que vem e vo para quase todas as regies de Goinia e para alguns pontos de Aparecida de Goinia.
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Em conversas informais com algumas pessoas na praa perguntei sobre a frequncia com que passavam pela Praa Cvica e qual a memria visual que elas tinham quando eu pronunciava o nome do local. Quase todas declararam passar pela praa constantemente. Dessas, todas respoderam algum dos ponto polticohistrico como memria visual da praa. Refletindo sobre minhas motivaes, sobre meus estudos e sobre esse novo dado que consegui com as conversas decidi que o projeto trataria, da forma mais subjetiva quanto possvel, da ateno na rotina e teria como base a fotografia. Tambm foi com esses pensamentos que nomei o projeto de PARArePARA. Como a lembrana das pessoas estavam ligadas aos smbolos polticoa-histrico da praaa optei por exclu-los do enquadramento das fotografias, tanto dos planos mais gerais quanto dos planos mais abertos. Tambm optei pelo vazio anos esquadramento para trabalhar a subjetividade e reforar o incentivo a reparar nos detalhes. Para materializar esse planejamento foram escolhidos o cartaz e o panfleto. O cartaz e o panfleto so duas mdias muito comuns nos arredores na praa. Ambas ainda so muito utilizadas como mdias principais em Goinia. Para adequar a linguagem aos suportes e as imagens usei do prprio nome do projeto como ancoragem verbal. Ele foi colocado em sequncia criando uma inscrio ritmada e repetitiva: PARArePARArePARArePARA ... Tambm foi colocado o endereo do blog do projeto para que o interessados pudessem conhecer mais a respeito.
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Figura 2. Panfleto, feito atravs de fotografia da Praa Cvica para o projeto PARArePARA, 10cm X14cm
No dia 25 ocorreu a colagem dos cartazes. Durante a colagem as pessoas ficavam atentas a movimentao, mas de forma disfarada. Quando nos afastavamos elas olhavam e as reaes foram praticamente as mesmas: o olhar de quem tenta ler de forma lgica a inscrio PARArePARArePARA ... na tentativa de encontra um sentido para a pea como um todo. No dia da panfletagem, dia seguinte ao da colagem, as reaes foram mais diversas: pessoas que no quiseram pegar, pessoas que guardarama, pessoas que jogaram no cho, pessoas que pediram outros, ... Todavia, duas reaes me chamaram mais a ateno. A primeira foi a recorrncia da tentativa de encontrar a explicao verbal no panfleto. Algumas pessoas ao olharem a imagem viravam-na de acordo com o sentido da inscrio verbal mesmo que essa contradizesse a direo da imagem. A maioria delas ao olhar a imagem e no encontrarem um sentido olhavam o verso a
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procura de uma explicao lgica. Essas reaes denunciam como somos alfabetizados apenas para a leitura verbal e que mesmo vivendo num mundo cada vez mais vizual aainda tratamos as imagens como simples ilustrao, e no como o texto em si. A segunda reao que me chamou a ateno foi que quanto mais velhas eram as pessoas mais atenoaa e mais tempo elas dispunham para observar. Motivaes essas que podemos supor, mas que apenas um estudo mais aprofundado e especfico poderia revel-las.
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No cenrio contemporneo Parar e ReParar so atos quase que totalmente perdidos. s vezes, passamos todos os dias na mesma rua, na mesma calada, na frente do mesmo jardim e quase sempre preocupados, com muita pressa e cansados. A leitura objetiva do mundo que estamos acostumados a fazer diariamente acaba deixando muitas coisas ao nosso redor se tornarem invisveis. Mas Para e ReParar vale a pena, pois s assim mantemos uma conscincia viva e ativa do mundo e de ns mesmos. Em um olhar mais demorado a gente descobre muitas coisas e redescobre outras tantas. Ento, hoje, Para e RePara e (re) descubra algo na sua rotina que voc no tinha percebido antes.
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Referncias Bibliogrficas: ADLER, Richard P.; FIRESTONE, Charles M. A conquista da ateno: a publicidade e as novas formas de comunicao. 1 ed. So Paulo: Nobel, 2003. AUG, Marc. No-lugares: introduo a uma antropologia da supermodernidade. 7 ed. Campinas: Papirus, 1994. CAUQUELIN, Anne. Arte contempornea: uma introduo. 1 ed. So Paulo: Martins, 2005. MARINHO, Claudia Teixeira; MEDEIROS, Maria Beatriz de (Org.). Espao e criao. Os atelis das cidades contemporneas. Arte em pesquisa: especificidades. Curadoria; Histria, Teoria e Crtica de Arte; Questes do Corpo e da Cena; Restauro e Conservao de Materiais, Braslia, v. 1, p.70- 75, 2004. RAMIREZ, Juan Antonio. Medios de masas e historia del arte. 5 ed. Madrid: 1997. ROUILL, Andr. TURAZZI, Maria Inez (Org.). Da arte dos fotgrafos fotografia dos artistas. Fotografia Revista do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional, n. 27. P. 304- 314, 1998. TAVARES, Antnio Lus Marques. A fotografia artstica e o seu lugar na arte contempornea. Sapiens: Histria, Patrimnio e Arqueologia, n. 1. jul. 2009 pp. 118-129. Disponvel em: http://www.revistasapiens.org/Biblioteca/numero1/A_fotografia_artistica.pdf Acesso em: 18 abr. 2010. Notas Trabalho apresentado na V FEICOM: Ressignificar as fronteiras da comunicao e informao, de 08 a 12 de novembro de 2010, em Goinia GO. Ana Paula Pereira Ribeiro, cursando 4 ano do curso de Comunicao Social com habilitao em Publicidade e Propaganda na Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia da Universidade Federal de Gois. [email protected] 3 Ana Rita Vidica Fernandes, fotgrafa e professora mestra na Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia da Universidade Federal de Gois. [email protected]
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Museable, termo da lngua espanhola que corresponde na lngua portuguesa a peas de museu, aquilo que se torna de museu, que pode ser transferido para um
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Expresso e conceito criado pelo francs Henri Cartier-Bersson. Os termos deste pargrafo colocados entre aspas so de Andr Rouill em seu texto Da arte dos fotgrafos a fotografia dos artistas. Epgrafe da obra A conquista da ateno: a publicidade e as novas formas de comunicao de Adler e Firestone.
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A reconstruo de Sento S atravs das imagens Jordana Cristina Alves Barbosa, graduanda em Comunicao Social, habilitao em Jornalismo, bolsista permanncia, integrante do Ncleo de Pesquisa em Teoria da Imagem na linha O desafio do registro visual no contexto da comunicao ambiental. [email protected] Lisbeth Oliveira, mestre, professora da Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia da UFG, coordenadora do Ncleo de Pesquisa em Teoria da Imagem, coordenadora do programa de extenso Pezinho de Jatob. [email protected] Facomb/Universidade Federal de Gois Palavras-chave: registro visual; caminhada; educao ambiental; troca de saberes; imagem documental Justificativa/Base terica A cidade de Sento S, que se localiza na regio do Morro do Chapu na Bahia, foi fundada em 1832 e inundada como outras cinco cidades na dcada de 1970 para a construo da barragem de Sobradinho. Reerguida em 1976, teve parte da sua histria levada pelas guas, e seu patrimnio natural e cultural praticamente perdidos. Esta regio, considerada vulnervel por ser formada por cidades muitos novas e com a economia em desenvolvimento, ser alvo da Caminhada da Troca de Saberes 2011. A regio que tem como bioma predominante a caatinga, bioma exclusivamente brasileiro, considerada um paraso ecolgico, porm desconhecido. Com a crescente necessidade de fugir da vida urbana estressante e super-acelerada, um grupo de profissionais de vrias reas do conhecimento se renem para caminhar anualmente em alguma parte do Brasil ou do mundo. A caminhada vista como um refugio alm da oportunidade de servir regies pouco assistidas, como o caso de Sento S. Entre um trecho e outro, os caminhantes oferecem oficinas, minicursos e atendimentos de sade e educao populao local. Um coletivo de imagens formado por documentaristas partir com o grupo de caminhantes em direo Sento S afim de fazer uma documentao visual deste trabalho contextualizando-o na regio e destacando aspectos da populao, arquitetura, ecossistema, cultura e patrimnios. Estes registro tem por finalidade recuperar e (re)construir a historia e memria perdidas na inundao, porqu a imagem, com ou sem acompanhamento de som, oferece um registro restrito mas poderoso das aes temporais e dos acontecimentos reais. (Bauer & Gaskell, 2002, p.137). O coletivo trabalha com a idia de estar realizando um documento que ajudar a contar a histria de seu tempo (Achutti, 1997, p.29). Para Luiz Eduardo Achutti, por trs de um manuseio ideal da tcnica fotogrfica se faz necessria a vivncia antropolgica do trabalho de campo no sentido de buscar interpretar as realidades culturais que se nos apresentam.(Achutti, 1997, p.14). Nesse sentido, tal vivncia justifica a caminhada desses vinte dias de janeiro,
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quando o coletivo estar na comunidade, tempo destinado ao compartilhamento de informaes e conhecimento, ou seja, uma troca de saberes. A emergncia da crise ambiental como problema social vem impondo comunidadede uma forma geral o desafio de uma abordagem e uma prtica que desperte para uma perspectiva de entendimento da situao do Brasil, estimulando a discusso e criao de modelos que se traduzam em vida sustentvel. Dessa forma, o registro visual pode contribuir no s para a memria visual desse povo, mas tambm significar um instrumento de possveis mudanas. Objetivos: registro visual da caminhada que acontecer de 3 a 23 em Janeiro de 2011; sensibilizao das comunidades visitadas com relao educao ambiental em seu sentido mais amplo; promover maior intercambio entre os profissionais do coletivo de imagens no intuito de compor um grupo unido e eficiente de trabalho; traduzir para a linguagem visual aspectos da historia, tradio e cultura das populaes visitadas; devolver Comunidade os registros visuais feitos durante a Caminhada, tanto das comunidades visitadas, quanto das manifestaes culturais da regio, bem como das oficinas que sero oferecidas pelos integrantes da Caminhada da Troca de Saberes 2011; Metodologia A metodologia utilizada se inicia com a partida do coletivo de imagens em companhia dos demais integrantes da Caminhada da Troca de Saberes. A opo por caminhar p uma alternativa ao desaceleramento da vida urbana, que a maioria dos participantes tm. Oficinas e minicursos sero oferecidos s comunidades visitadas no percurso, afim de promover um intercambio de informaes com as pessoas que habitam aquela regio. Destacam-se as oficinas de massoterapia, de alimentao com reaproveitamento de alimentos, de agroecologia, da reciclagem do lixo, entre outras. A partir do registro obtido nas oficinas e na convivncia com os moradores, o grupo viajante organizar um acervo digital com este material visual. A vivncia do coletivo junto comunidade torna o trabalho fotoetnografico1 uma oportunidade de aprender, ensinar, trocar conhecimento, se educar e respeitar outras cultura e a partir dele pode-se construir textos imagticos a respeito da cultura do outro, fazer construes descritivas e narrativas. (Achutti, 1997, p.77). Embora a pesquisa social esteja tipicamente a servio de complexas questes tericas e abstratas, ela pode empregar, como dados primrios, informao visual que no necessita ser nem em forma de palavras escritas, nem em forma de nmeros. (Bauer & Gaskell, 2002, p.137). Este trabalho no quer perder de vista o fato de que toda e qualquer imagem uma obra aberta, sujeita a mltiplas leituras ou interpretaes e que a utilizao de imagens neste contexto tem sim seus limites. Buscase, contudo, formas pelas quais a sua utilizao possa vir a enriquecer o universo cultural, scio-ambiental e histrico daquele povo.
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Resultados, discusso Os resultados ainda so parciais, pois o trabalho fotoetnografico comear em janeiro de 2011. Atualmente os resultados obtidos compem o universo da pesquisas e planejamento realizados a partir da experincia com Caminhadas anteriores do grupo Caminhada da Troca de Saberes, um grupo j existente h mais de 10 anos, que rene participantes de todo o Brasil. Este trabalho consistiu em reunir dados sobre a histria da regio, o modo de vida da populao, o reconhecimento de aspectos culturais daquele povo, tradies religiosas, etc. Os registros visuais e audiovisuais obtidos na Caminhada sero objetos de apresentao e exposies, alm de integrarem um acervo digital permanente de textos e imagens na pgina eletrnica: caminhadadatrocadesaberes.wordpress.com Tal contribuio pretende ainda servir de referencia para futuras pesquisas e investigaes sobre as comunidades daquela regio. Concluses O sucesso da atuao do coletivo de imagens est diretamente relacionado ao desempenho do grupo de caminhantes. A filosofia de troca de saberes, atravs de servios voluntrio por parte de profissionais de diversas reas do conhecimento que naquele perodo se reuniro, pressuposto fundamental para tambm resultar numa documentao significativa. Desta maneira o grupo reitera a idia sistmica e transdisciplinar manifestada por muitos autores, dentre eles Fritjof Capra, que reconhece na Teia da Vida o sentido da existncia de todos os seres vivos: a idia central dessa concepo sistmica e unificada da vida a de que o seu padro bsico de organizao a rede. Em todos os nveis de vida - desde as redes metablicas dentro da clula at as teias alimentares dos ecossistemas e as redes de comunicaes da sociedade humana -, os componentes dos sistemas vivos se interligam sob a forma de rede. (Capra, 2002, p. 258) A necessidade de apoiar grupos vulnerveis, como a comunidade da regio de Sento S que ser visitada, foi percebida e aliada as artes atravs da fotografia e neste trabalho pretende ser vista numa abordagem sistmica.
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Bibliografia ACHUTTI, Luiz Eduardo Robinson. Fotoetnografia. Porto Alegre: Tomo Editorial; Palmarica, 1997 BAUER, Martin W. e GASKELL, George. Pesquisa Qualitativa com texto, imagem e som um manual prtico, 2. edio, Ed. Vozes, Petrpolis/RJ, 2003 CAPRA, Fritjof. Conexes So Paulo: Cultrix, 2002 FREITAS ,Lima de, MORIN, Edgar; NICOLESCU, Barasab. Carta da Transdiciplinalidade. Lisboa: Primeiro Congresso Mundial de Transdisciplinaridade, 1994 Ministrio do Meio Ambiente & Ministrio da Educao. Consumo Sustentavl: Manual de educao. Braslia: IDEC, 2005. www.bahiaemfoco.com.br . Acessado em 28/10/2010 www.prefeituradesentose.com.br. Acessado em 28/10/2010 Notas
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A fotoetnografia uma abordagem descritiva em que a principal forma de narrar o uso de imagens, atravs do exerccio de uma Antropologia Visual utilizando a
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Parte 1: Imagens e Imaginrios | : Comunicao e gestos: rpidas consideraes sobre ouvintes filhos de surdos e fala cotidiana de ouvintes
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Dentro do processo de comunicao, estabelecido entre os indivduos, podemos pensar que nos primeiros anos de vida vo se construindo as referncias lingusticas e a afirmao das crianas como falantes e usurios de uma estrutura inteligvel ao grupo de pertencimento. Independentemente do lugar onde tenham nascido, a aquisio de uma linguagem que expressa significados compartilhados entendida como uma condio para a interao com os indivduos prximos e estranhos ao convvio familiar. A partir disso vemos que a relao cotidiana entre infantes e adultos, no importando a modalidade lingustica, se oral-auditiva ou gesto-visual, prope ao menor a mediao na relao indivduo-sociedade e tambm a construo de marcaes de quem so. Logo, carcias, expresses, contatos, escritas, falas e imagens veem compor os elementos da comunicao que permitem s pessoas trocarem informaes entre si, ao mesmo tempo em que estruturam um modo de reproduo da linguagem compartilhada (MUSSEN et al, 2001; BAGNO, 2008). Em relao a famlias em que pais so surdos e filhos so ouvintes, a comunicao domstica proporcionada pelos adultos atravs da Lngua Brasileira de Sinais (LIBRAS) se torna a primeira referncia para a troca de informaes. Enquanto processo de aquisio da normatividade social, a socializao de seus filhos ouvintes nesta modalidade lingustica nos leva a pensar que a LIBRAS se configura como primeira lngua (L1) e a lngua oral aprendida com outras pessoas a segunda (L2). Utilizando Giddens (2002) podemos dizer que a: disciplina da rotina ajuda a constituir um referencial para a existncia, cultivando um sentido de ser, e sua orientao do no-ser, que um elemento da segurana ontolgica. Inclui orientaes em relao a aspectos do mundo dos objetos que carregam resduos simblicos para a vida posterior do indivduo (p.42). O uso lingustico neste caso expressa uma experincia pessoal vinculado necessidade comunicativa com os pais e com as outras pessoas. Todavia, devemos nos lembrar que a relao entre ambas as lnguas no se d de uma forma traduzvel ou intercambivel entre si de uma forma muito simples. Silva & Nembri (2008) citam o exemplo de uma professora de lngua inglesa que se mostra bastante atenta internalizao de uma lngua, compreenso de seus significados e questes de sua dinmica pelos seus alunos. Enquanto responsvel por informar em Lngua portuguesa (LP) os sentidos presentes na lngua estrangeira a fim de que seus alunos aprendam, ela se dedicou a demonstrar que a compreenso de outro idioma no se configura apenas pela utilizao de determinados fonemas e lxicos, pois: para aprender uma segunda lngua, preciso, tambm, que se aprenda um pouco da cultura do pas onde ela falada, pois falar um lngua tambm falar do povo que a fala (p.9). Como se pode notar, a possibilidade de uso da lngua e do entendimento entre os falantes decorre de um processo mais complexo do que o simples aprendizado dos cdigos lingusticos. Para Silva & Nembri (2008), quando oralizamos ou sinalizamos em uma lngua temos por trs disso todo um capital inerente ao grupo de referncia que faz uso deste sistema de comunicao. Esta noo de estrutura de signos e significados compartilhados atravs da fala tambm est presente em Bagno
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Parte 1: Imagens e Imaginrios | : Comunicao e gestos: rpidas consideraes sobre ouvintes filhos de surdos e fala cotidiana de ouvintes
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(2008), quando analisa criticamente as falas regionalizadas no Brasil e o preconceito quanto a determinados portugueses, por exemplo, o da regio nordeste. Em meio discusso sobre o aprendizado, Mussen et al (2001) afirmam que os indivduos esto sempre aprendendo coisas novas, e diante do uso de uma modalidade lingustica podem nomear tudo ao seu redor. Mas, no s atravs da linguagem oral que surdos ou ouvintes se expressam. Como mencionam, Mussen et al (2001) e Santana (2007), as crianas se valem de significados construdos a partir da gestualidade, ainda que esta comunicao no tenha uma estrutura lingustica. Expresses faciais e indicaes de direes atravs de movimentos com as mos podem, por exemplo, tornar a comunicao mais significativa do ponto de vista da compreenso da informao, no num sentido de completa, mas de inteligvel. O sentido aplicado da reflexo sobre gestualidade e comunicao tem respaldo na anlise lingustica feita por Quadros e Karnopp (2009). Tomar a lngua como referente de comunicao que expressa sentimentos e emoes no significa que estamos negando movimentos corporais e os significados que os contatos fsicos podem adquirem nas interaes. Suponhamos uma cena em que duas pessoas dialogam sobre um tema e que uma delas diga algo no muito agradvel ou esperado, a reao ao fenmeno pode se dar atravs da fala ou de gestos. Se a situao fosse interpretada pelo segundo como uma ofensa, este poderia aplicar fala um gesto que cooperasse com a comunicao eficiente, utilizando uma palavra torpe.
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Parte 1: Imagens e Imaginrios | : Comunicao e gestos: rpidas consideraes sobre ouvintes filhos de surdos e fala cotidiana de ouvintes
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A necessidade de sermos entendidos, a garantia de que a mensagem foi de fato compreendida nos faz usar gestos para fixar, frisar, reforar ideias e informaes. A imagem, no caso da comunicao em LIBRAS, est necessariamente acompanhada de uma informao que os olhos e a expresso facial confirmam (QUADROS e KARNOPP, 2009), e no um sinal manual, pois, enquanto uma modalidade gesto-visual, o uso das mos est estruturado para a prpria comunicao. Outro exemplo de gestos utilizados por ouvintes o de levar o dedo, pedindo a ateno ou a oportunidade para se expressar. Na interao o outro percebe o movimento e, compreendendo o significado, sem que o primeiro precise explicar o porqu do movimento, permite-o um turno de fala. Mas, se tomado isoladamente, o mesmo gesto mo levantada com o dedo indicador para cima, o polegar colado ao indicador e os outros abaixados possui significado diferente na LIBRAS. A imagem formada pela mo pode ser lida como a letra G do alfabeto didactolgico.
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Parte 1: Imagens e Imaginrios | : Comunicao e gestos: rpidas consideraes sobre ouvintes filhos de surdos e fala cotidiana de ouvintes
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No caso de surdos e ouvintes o visual pode ou no se estabelecer o mesmo significado, pois, depende de como percebem a informao. Na percepo do surdo, uma sequncia de gestos que possuam correspondestes lingusticos na LIBRAS tendem a identificar o falante como tambm um surdo ou um intrprete. Deste modo, a lngua utilizada acaba definindo o outro. Tomando as devidas propores, o estudo de Bagno (2008) nos permite pensar esta relao de identidade, pois, quando um indivduo utiliza o R retroflexo na linguagem cotidiana, outros usurios da lngua tendem a reconhec-lo, por exemplo, como nato do Centro-oeste brasileiro. Trata-se de percepo do outro pelo modo como faz uso da LP. De modo anlogo, o uso de LIBRAS gramatical poderia identificar que aquele que comunica um surdo, ou ainda um ouvinte filho de surdos, j que admitimos uma habilidade bilngue e at cultural. Enfim, nesta proposta expomos algumas informaes sobre a comunicao e os gestos de modo que podemos refletir sobre o cotidiano, intencionalidade e mescla entre oralidade e gestualidade. Considerando os dois grupos de pessoas, surdos e ouvintes, em ambos os casos os corpos falam.
Referncias bibliogrficas BAGNO, Marcos. Preconceito lingustico: o que , como se faz. So Paulo: Edies Loyola, 2008. GIDDENS, Anthony. Modernidade e identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2002. MUSSEN, Paul et al. Desenvolvimento e personalidade da criana. So Paulo: Editora HARBRA, 2001. SANTANA, Ana Paula. Surdez e linguagem: aspectos e implicaes neurolingusticas. So Paulo: Plexus, 2007. SILVA, Angela C., NEMBRI, Armando G. Ouvindo o silncio: surdez, linguagem e educao. Porto Alegre: Editora Medio, 2008.
1 Mestrando em sociologia pelo PPGS da FCS-UFG. [email protected] 2 Graduanda em Artes Visuais (licenciatura) pela FAV-UFG. [email protected]
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A exposio Morro Santa Marta, apresenta, por meio de 30 fotografias e um curta, o resultado da Oficina de Fotografia e Produo Cultural, realizada durante o 1o Comtatos, evento de Comunicao Comunitria que aconteceu no Rio de Janeiro-RJ, no ms de junho de 2010, fruto de uma parceria entre as instituies Universidade Federal de Gois (UFG), Universidade Federal Fluminense (UFF) e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Durante as oficinas, foi feita em uma visita ao Morro Santa Marta com o gu ia e morador Ismael dos Santos, representante do Movimento Social Telecentro Comunitrio Santa Marta. As imagens da visita foram feitas coletivamente por grupo de discentes e docentes da Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia (Facomb) da UFG e representam a viso dos mesmos deste primeiro contato pessoal com a favela. Aps a produo das fotografias, foi filmado um curta, que retrata a leitura deste processo, o contato com uma comunidade distante e vista somente por meio dos meios de comunicao de massa, se configurando, ento, neste contraponto entre a realidade vista versus aquela imaginada. Justificativa / Base Terica Em junho de 2010, o mencionado grupo participa do 1 ComTatos Encontro de Comunicao Comunitria, organizado pela Universidade Federal Fluminense (UFF), no Rio de Janeiro, Brasil. Como a proposta do evento foi refletir sobre a Comunicao Comunitria, pensemos que a origem etimolgica de comunicao, que comunis, por em comum e traz a idia de partilha, comunho (GOMES, 1997). Por isso, o autor ressalta que o conceito de comunicao deve compreender a intencionalidade de quem fala, sendo que ela desemboca na comunho. Desse modo, Haver sempre uma intencionalidade que move comunho, partilha, ao pr em comum e, porque no, persuaso. Assim como fenmeno predominantemente humano, j supe a conscincia, a comunicao condio imprescindvel para o desenvolvimento da pessoa humana. (GOMES, 1997, p.13)
Trabalho apresentado na V FEICOM: Ressignificar as fronteiras da comunicao e informao, de 08 a 12 de novembro de 2010, em Goinia GO. Mestre em Filosofia. Professora da Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia (Facomb) da Universidade Federal de Gois. Email: [email protected] 3 Mestre em Cultura Visual. Professora da Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia (Facomb) da Universidade Federal de Gois. Email: [email protected] 4 Representante do Movimento Social Telecentro Comunitrio Santa Marta.
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Ao considerar esse pressuposto o autor vai questionar o paradigma clssico de comunicao, teorizado no sculo XX, que a conceitualiza a partir do funcionamento mecnico de dispositivos eletrnicos de comunicao, cuja simplificao esquemtica se apresenta em: emissor, receptor, mensagem, cdigo, canal. Tratar os interlocutores apenas em termos de emissor e receptor implica em desconsiderar diversas facetas de implcitos que esta relao possui, como exemplo, os lugares sociais de ambos e as escolhas que fazem em funo de habitarem lugares. No momento em que a comunicao requisita o dilogo e significa o inter-relacionamento entre pessoas, Gomes (1997) nos apresenta ainda que o termo comunicao no contexto dos cursos superiores de Comunicao Social tem vinculado o seu sentido s tecnologias de comunicao (de massa) nas quais as prticas ditas comunicativas poderiam ser classificadas mais corretamente por informativas uma vez que representam uma via de mo nica, oposto da partilha e/ou dilogos entre as partes do processo. Por isso, o autor defende que para se precisar o conceito de comunicao necessrio privilegi-lo como fenmeno humano. do bojo de discusses como estas questionadoras do termo comunicao no ambiente dos cursos de Comunicao Social que emergem as prticas de Comunicao Comunitria. Por comunitrio inclui-se a idia de comunicar nem para um pblico-alvo, nem sobre ele, mas com a comunidade. Por isso, Partilhamos do princpio que o deslocar-se do papel de consumidor de informao para o de produtores de comunicao direito humano a ser exercido por todas as pessoas, independente de idade, gnero, origem, condio social, ou qualquer outro tipo de classificao. (LIMA, 2009, p. 28-29). Assim, a emergncia de prticas e reflexes que giram em torno da expresso comunicao comunitrias reflete uma profunda miopia sobre a compreenso do prprio termo comunicao (que j traz o sentido de partilha, em comum) e levanta uma fronteira, pois estaramos vivendo uma poca marcada pela incomunicao, segundo Touraine (1998), para quem o potencial da comunicao comunitria estaria, exatamente, na possibilidade de recomunitarizao das sociedades contemporneas, contribuindo para a recuperao da identidade (LIMA, 2009, p.33) Ou seja, uma vez que no se reconhece o sentido original do termo, criam-se outros termos anexos para reivindicar o que j seria prprio da comunicao. Assim o curta, gerado a partir da experincia e fotografias, finaliza sua locuo com o seguinte provrbio de origem africana: at que os lees tenham seus prprios historiadores, as histrias de caada continuaro glorificando o caador. A produo citada foi fruto de oficinas, dentro do 1 ComTatos, e de muitos imprevistos que a falta de contato entre academia e comunidades organizadas. Inicialmente pensaram-se duas oficinas que aconteceriam durante o evento e prescindiriam da presena de comunidades carentes de aes educativas em produo cultural e elaborao de projetos e fotografia. Como as oficinas foram elaboradas a mais de mil quilmetros de distncia, as oficineiras pediram a organizao do evento o
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contato de comunidades que se interessassem pelas oficinas. Chegando ao evento o contato no fora estabelecido, bem como o interesse dos alunos da Federal Fluminense no trouxe pblico ao mesmo. O resultado que as duas oficinas contavam apenas com trs participantes. Em situaes que envolvem a comunidade necessrio estar pronto para imprevistos e rearticulaes. Por isso, optou-se por unir as duas oficinas e visitar o Morro Santa Marta, com o morador Ismael dos Santos, representante do Movimento Social Telecentro Comunitrio Santa Marta. Este se prontificou a acompanhar os alunos e as oficineiras que com cmeras de fotografia e vdeo que acompanharam o transcorrer de uma manh de domingo, no local. Acontece que fora proposto aos oficineiros que no ltimo dia do evento apresentassem o produto das oficinas, o que contrape o paradigma das metodologias em comunicao comunitria, para as quais o mais valioso processo a no os resultados destes. Por isso, a partir de suas prticas de comunicao comunitria, Lima (2009, p. 25) nos apresenta que Todas as reunies dos grupos so intencionalmente planejadas para a realizao de uma tarefa especfica: a produo coletiva de comunicao. No caso dela no se concretizar (possibilidade prevista e no rara), a ausncia do produto de comunicao deve transformar-se em objeto de entendimento sobre os motivos que impediram sua realizao. Uma vez que a construo coletiva da comunicao tem como objetivo ltimo a educao pelos meios, esta parece ser uma proposta pertinente, pois discutir sobre as dificuldades encontradas para realizao de um produto , por si s, formativo. Desse modo, com imagens digitais sobre uma comunidade que conhecemos pela guia de um morador-lder da favela, o grupo resolveu assumir honestamente que o tinha para apresentar era um trabalho coletivo concebido e executado pelo prprio o grupo, sem a construo coletiva da comunidade visitada. Assim, assumimos a autoria das impresses subjetivas que tivemos do lugar e apresentamos uma performance, com imagens documentais e textos poticos. Na figura 1 o nosso guia Ismael dos Santos ao ter acabado de assistir a performance, a comenta. Figura 1: Ismael, como representante da comunidade, comenta a performance
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Figura 2: Registro fotogrfico durante a visita ao Morro Santa Marta, junho de 2010 Figura 3: Registro fotogrfico durante a visita ao Morro Santa Marta, junho de 2010.
Referncias LIMA, Grcia Lopes. Educao pelos meios de comunicao ou produo coletiva de comunicao, na perspectiva da educomunicao. So Paulo: Instituto Gens de Educao e Cultura, 2009. GOMES, Pedro Gilberto. Comunicao social: filosofia, tica, poltica. So Leopoldo: Ed. Unisinos, 1997.
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Camilla Flores Ribeiro, Gilmar Cardoso de Melo Jnior , Moema Marques Machado , Suzany Newbartth UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIS
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Palavras-chave: Estimulao; Imaginao; Criatividade; Circo. Introduo O Laboratrio Experimental de Publicidade e Propaganda, INOVA, inicia um primeiro contato com seu novo cliente, a Escola de Circo Laheto, conduzindo os alunos participantes, juntamente com as professoras coordenadoras Ana Rita Vidica e Lara Satler, em uma visita s instalaes da Escola para conhecer melhor sua forma de trabalho. Aps essa visita, a designer grfica, formada pela Faculdade de Artes Visuais, Sarah Ottoni, que tambm esteve presente na visita, ministrou uma oficina de ilustrao para os alunos da INOVA, com o tema: Pra mim circo .... Essa oficina foi feita para estimular a viso e a percepo dos alunos sobre o que uma escola de circo e as influncias do universo circense no imaginrio. Depois de uma pequena introduo terica, onde a oficineira apresentou o conceito mais usual de ilustrao: Uma ilustrao uma imagem pictrica, geralmente figurativa, utilizada para acompanhar, explicar, acrescentar informao, sintetizar ou at simplesmente decorar um texto. Mas existem tambm ilustraes independentes de texto, onde a prpria ilustrao a informao principal. Um exemplo seria um livro sem texto, no incomum em quadrinhos ou livros infantis. Os alunos tiveram que adequar sua imaginao ao recorte de papel que lhe foi sorteado aleatoriamente para fazer com que ele se enquadrasse a sua viso do que o Circo. O recorte de papel recebido teve que ser colado em uma folha de papel, e depois o dono do papel disse com o que aquele recorte se parecia, sem necessariamente ter a ver com o tema circo. Dito o significado imaginado, os alunos trocaram aleatoriamente os papis, e puderam comear a desenvolver, a partir do molde do recorte, uma ilustrao dentro do tema circo, ressignificando o recorte. Os alunos puderam utilizar mais recortes, canetinhas, tinha guache e aquarela. O resultado foi um misto de ilustraes que refletem o imaginrio dos alunos, sua diversidade de conhecimentos e suas experincias pessoais com o universo circense. As ilustraes foram levadas aos responsveis do Laheto e apresentadas como resultado de uma produo que tem potencial para ser usada como material publicitrio em uma ao de divulgao do servio do cliente. A partir desse primeiro contato entre a Escola e o Laboratrio Experimental, uma proposta de realizao de outra oficina se faz possvel. Desta vez uma oficina ministrada pelos alunos do Laboratrio s crianas e adolescentes freqentadores da Escola, possivelmente dando continuidade com o tema ilustraes e imaginrio individual.
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Trabalho apresentado na V FEICOM: Ressignificar as fronteiras da comunicao e informao, de 08 a 12 de novembro de 2010, em Goinia GO. Graduandos em Comunicao Social Bacharelado em Publicidade e Propaganda pela Universidade Federal de Gois, atualmente cursando 4 perodo e integrantes da Agncia Experimental Inova. Conceito apresentado por Sarah Ottoni no inicio de sua oficina ministrada no dia 16 de agosto de 2010.
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Camilla Flores Ribeiro, Gilmar Cardoso de Melo Jnior , Moema Marques Machado , Suzany Newbartth UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIS
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Dados Tcnicos A exposio conta com 11 painis no formato de papel A3, dupla face, e esto sobre uma estrutura de papelo revestido por papel carto decorado, tendo o tamanho de 35,7 cm de largura por 48 cm de altura. H somente um painel que contem as informaes sobre a exposio que possui o tamanho maior, 39,7 cm de largura por 52 cm de altura. A exposio em si pequena, mas como temos a inteno de utilizar elementos e instrumentos do trabalho circense na construo de todo um cenrio onde os painis estaro inseridos, ser necessrio o espao de uma sala de aula pequena. Justificativa / Base Terica Todo o processo criativo proposto pela designer Sarah Ottoni teve o objetivo de libertar os alunos participantes da INOVA do mal do sculo em relao criao grfica, os softwares digitais como Photoshop e Illustrador. Partindo da premissa: O ser humano por natureza um ser criativo. No ato de perceber, ele tenta interpretar e, nesse interpretar, j comea a criar (OSTROWER; Pg. 167), ns no precisamos permanecer acorrentados a ferramentas e efeitos digitais. Somos capazes de criar coisas incrivelmente belas e com contedo simplesmente a partir do trabalho do nosso olhar. O exerccio de atribuir um significado a um pedao de papel colorido picado e a partir dele criar uma ilustrao, nos forou a olhar de verdade para o que entediamos por Circo. Tivemos que analisar nossas memrias, buscando lembranas de espaos e experincias. Imagens que so a base da interpretao, e portanto, da nossa expresso. Nas prprias palavras da artista plstica e professora, Fayga Ostrower: Fornecendo as imagens para nossa imaginao, o espao se torna o mediador entre a experincia e a expresso. S podemos mesmo pensar e imaginar mediante imagens de espao. (OSTROWER; Pg. 173). Um exemplo claro desse processo de interpretao e criao a confeco da ilustrao Outubro (Imagem 1). O aluno Rafael Watanabe recebeu uma folha de papel A3 com um papel colorido colado j tenho um significado imaginado pelo antigo dono da folha., mas no decorrer de sua reflexo, observando outros pedaos de papel, esse significado foi transformado. Unindo o pedao antigo (o vermelho) a um novo (o azul), Rafael conseguiu imaginar a roupa da mulher ilustrada, e a partir disso todo o restante foi se desenrolando naturalmente. Outra situao interessante deste exemplo so os problemas em relao tinta guache que o aluno teve que superar. Algumas cores das lonas na parte inferior borraram no decorrer da pintura e tiveram que ser substitudas. O efeito esfumaado no cu da ilustrao tambm fruto de problemas com tintas. O importante disso observarmos a capacidade que o aluno Rafael tem de se adaptar a situaes adversas, ele soube moldar sua criao de acordo com elas. O ser humano cria desde o momento que consegue interpretar o que v. Ele faz comparaes e analises constantes do espao, das experincias e sensaes proporcionadas por ele. Confeccionar as ilustraes que fazem parte da exposio foi um resgate dessa natureza. Em cada uma delas est a alma do artista, um pouco de seu ser, essa a real beleza desses painis.
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Camilla Flores Ribeiro, Gilmar Cardoso de Melo Jnior , Moema Marques Machado , Suzany Newbartth UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIS
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Imagens:
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Camilla Flores Ribeiro, Gilmar Cardoso de Melo Jnior , Moema Marques Machado , Suzany Newbartth UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIS
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Imagens:
Referncias Bibliogrficas OSTROWER, F. A Construo do Olhar. In: O Olhar. Organizao Adauto Novaes. So Paulo, Companhia das Letras, 1988. (Pgs. 167 a 182).
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Parte 1: Imagens e Imaginrios | : Um novo olhar Circo Laheto1 Marcela Valente Haun2 Renan Nogueira Silva3 Luciene de Oliveira Dias4 Universidade Federal de Gois
Palavras-chave: Alteridade; Circo; Laheto; Educao; Cultura.
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Aps a realizao de uma disciplina em contato com o Circo Laheto, em Goinia, formulamos a presente proposta que pode ser sintetizada como uma tentativa de exerccio de alteridade. Trata-se de um vdeo que tenta retratar o cotidiano do circo e, por isso, precisaremos ou de uma televiso com aparelho de DVD ou de um projetor. Quanto necessidade de espao, acreditamos que uma sala de 5m x 4m seja o essencial. Justificativa / Base Terica O trabalho tem como objetivo mostrar sociedade uma forma diferenciada de enxergar a cultura e a dinmica de um dos patrimnios culturais brasileiros o circo. Junto disso, desvendar a realidade de crianas e jovens que realizam atividades teatrais, musicais e circenses dentro desse projeto social que o picadeiro cumpre. A busca da construo conjunta da cidadania, educao e comunho entre educadores e educandos tambm faz parte de uma das funes que o trabalho permite passar para o espectador: a vontade e a importncia da prtica da alteridade, compreendida como formulada por Segato (2007). A viso da arte que se obtm tanto dos alunos, quanto de quem assiste do Circo Laheto de uma revelao da sua multiplicidade de formas, sentidos, cores e tons, unidos da capacidade criativa essencial pessoa humana. Alm disso, h a manifestao do belo, da linguagem, do ldico e lrico, e da traduo da intimidade de um indivduo que estabelece com a prpria natureza interior. Percebe-se, portanto, que as atividades so organizadas para que as crianas e jovens do Circo possam se descobrir como sujeitos criadores e reinventores de sua realidade, redesenhando um novo cenrio para sua vida familiar, social e comunitria. O fato de pensar em viver, criticar, expressar e refletir a realidade circense no acaba por ser uma interveno na prtica jornalstica que fizemos durante a produo do trabalho: a alteridade. Isso houve a partir do momento em que se teve uma valorizao do outro, colocando-se em seu lugar com considerao, valorizao e identificao. Pensamos, portanto, em construir e exercer um jornalismo diferenciado, repleto de tica e dessa pluralidade. Ressaltamos, ento, aqui a importncia dos atos comunicativos para a sociedade: [Os atos comunicativos] (...) passam a ser a expresso que nasce de uma relao priori antagnica, necessariamente complementar e fundamentalmente dialgica, relao estabelecida pelos sujeitos da ao comunicativa: o emissor e o receptor. Os dois sujeitos (...) distinguem-se pela alteridade, qualidade que lhes intrnseca, e complementam-se pelo prprio fato de serem a expresso do mundo que vivem. O dialgico, que desde j nasce dessa juno entre o diferente e o comum, entre o um e o outro, deriva, tambm, da pluralidade que constitui cada um desses sujeitos. Pluralidade que faz com que eles ocupem simultaneamente, alm de vrios outros lugares, o de emissor e receptor. (Resende, 1999, p. 45).
1 Trabalho apresentado na V FEICOM: Ressignificar as fronteiras da comunicao e informao. De 08 a 12 de novembro de 2010, em Goinia GO. 2 Aluna do 2 perodo de graduao em Com. Social bacharelado em Jornalismo pela UFG. e-mail: [email protected] 3 Aluno do 2 perodo de graduao em Com. Social bacharelado em Jornalismo pela UFG. e-mail: [email protected] 4 Antroploga. Jornalista. Mestre em Cincias do Ambiente. Professora da Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia da UFG. Coordenadora da disciplina Tpicos em Comunicao I Diversidade e Prtica Jornalstica. Orientadora da proposta.
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Parte 1: Imagens e Imaginrios | : Um novo olhar Circo Laheto1 Marcela Valente Haun2 Renan Nogueira Silva3 Luciene de Oliveira Dias4 Universidade Federal de Gois
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O Circo Laheto teve seu incio em 1980 na regio do baixo Araguaia, no estado do Mato Grosso. Na realidade, ainda no era um circo. Era um grupo que se articulava e montava peas teatrais que contavam as experincias da populao daquela regio. A inteno do grupo era identificar e fomentar a capacitao de agentes e ncleos culturais. Em 1994, o Grupo de Teatro Laheto foi fundado em Goinia. No incio das atividades na capital, o grupo tinha como objetivo apresentar espetculos teatrais e circenses. Em 1996, o Circo Laheto focalizou seus estudos no atendimento s crianas e adolescente advindas de famlias em situao de vulnerabilidade social. No incio do ano 2000, o Grupo inaugurou o que hoje a Escola de Circo Laheto, no Parque da Criana, no Jardim Gois, em Goinia. Hoje, essa escola referncia nacional pela capacidade de proporcionar uma aprendizagem integrada para o desenvolvimento cultural, cognitivo, emocional, psicosocial e profissional das crianas e adolescentes. E foi por esse destaque educacional do Circo Laheto que procuramos entender a dinmica das atividades desse projeto. Na Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia da UFG, a disciplina Tpicos em Comunicao I Diversidade e Prtica Jornalstica, ministrada durante o primeiro semestre de 2010 para o curso de Comunicao Social Jornalismo, fez com que o interesse por projetos coletivos que respeitam a diversidade cultural, a partir da perspectiva jornalstica, surgisse nos alunos. O nosso mrito se materializou nesse trabalho de vdeo feito com fotos. Mas o que se pode observar ao se fazer presente em meio s crianas e aos jovens que fazem o Circo Laheto totalmente diferente do que se imagina quando s se faz uma leitura sobre. Um acolhimento, mesclado de um estranhamento, foi o que recebemos ao chegar ao espao do Circo. A coordenao do projeto se disps a apresentar todo o espao fsico, onde as crianas j faziam suas atividades. O que sentimos foi uma animao e vontade de fazer parte do nosso trabalho a cada foto que tirvamos. Em meio aos saltos dos pequenos malabaristas e dos sorrisos dos futuros palhaos, a alteridade foi surgindo. O pouco do contato que tivemos com o Grupo Laheto foi suficiente para aprendermos uma lio de vida repleta de cultura. As fotos foram uma tentativa de mostrar o sentimento em imagens. Foram escolhidas justamente para representar cada pedacinho que o Circo feito: fora de vontade, tendas, pernas-de-pau e sorrisos. Depois de tantas fotos, fomos tentar buscar as palavras daqueles jovens. Conhecemos alguns deles, como o Marlon, que ama ler os livros disponveis na biblioteca do Circo, Thaygore, que tem o sonho de ser um palhao, e Leila, que luta para ser uma das melhores malabaristas. O mais interessante que todos eles disseram que o Laheto mudaram as suas histrias, seja por terem aprendido e conhecido um mundo novo ou por ajud-los a enfrentar a vida. Aps termos apresentado o trabalho na aula de Tpicos em Comunicao I, tivemos a necessidade de fazer um retorno do projeto para o Circo Laheto. Fizemos uma cpia do vdeo feito com as fotos dos jovens e revelamos algumas, com caractersticas circenses, e entregamos diretora pedaggica, Seluta Rodrigues. A satisfao estampada no rosto foi gratificante, e at disse que ramos um dos nicos que pensaram em fazer e cumprir o retorno ao Circo. Assim, foi atravs desse trabalho em vdeo, que temos a finalidade de mostrar a necessidade que sentimos em buscar respostas para a realidade do Circo Laheto. E, tambm, relatar que esse projeto com arte, cultura e educao circense do picadeiro que proporciona o envolvimento de todas aquelas crianas e jovens, diminuindo a vulnerabilidade social.
Referncias Bibliogrficas AZEVEDO, Dnya e BARCELOS, Janana. A experincia da alteridade: interveno na prtica jornalstica. Disponvel em: http://www.fnpj.org.br/antigo/grupos_trabalho/extensa o/Natal/dunya.htm. Acesso em 25/10/2010. LAHETO, Grupo Circo. Disponvel em: http://www.circolaheto.org/home/index.php. Acesso em 25/10/2010. RESENDE, Fernando A. O jornal e o jornalista: atores sociais no espao pblico contemporneo. Revista Novos Olhares. So Paulo: ECA/USP, nmero 3, p.36-49, 1 semestre de 1999. SEGATO, Rita. La nacin y sus otros: raza etnicidad y diversidad religiosa em tiempos de polticas de la identidad. Buenos Aires: Prometeo Libros, 2007.
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Parte 1: Imagens e Imaginrios | : A Mdia na Construo da Imagem: A transformao da imagem de Collor pela revista Veja 1
Josimar Gonalves da Silva2 Lara Lima Satler3 Universidade Federal de Gois - UFG
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Resumo O presente artigo tem como tema a candidatura de Fernando Collor de Melo nas eleies presidenciais de 1989. O processo eleitoral deste ano foi um marco brasileiro no sentido de constituir a primeira eleio direta para presidente no Brasil depois de quase trinta anos de regime militar. A imprensa exerceu um papel destacado durante esse processo e nesta investigao, pretende-se fazer uma anlise das fotografias da revista Veja que Collor aparece como tema central. Para esta anlise feito um estudo da montagem feita pela mais antiga revista do pas e examinado como se deu a construo da imagem do candidato. Objetiva-se com este estudo compreender se a mdia realizou um papel manipulador que deu condies para Collor ser o primeiro presidente da Repblica eleito por voto direto aps o regime militar. Nesse momento, a relao entre mdia e poltica configura-se de modo complexa, pois o candidato chega ao segundo turno das eleies daquele ano, sendo vitorioso. Palavras-chave: mdia; imagem; eleio. Abstract The present paper has as subject the candidacy of Fernando Collor de Melo in the presidential elections of 1989. The electoral process of this year was a Brazilian landmark in the direction to constitute the first direct election in Brazil after almost thirty years of military regimen. The press exerted a paper detached during this process and in this inquiry, it is intended to make an analysis of the newspaper article of the magazine Veja that Collor appears as central subject. For this analysis a study of the manipulation of the image made for the oldest magazine of the country is made and is examined as if it gave the construction of its image. With this, the mass media carried through a manipulating paper that direct give to conditions Collor to be the first president of the Republic elect for vote after the military regimen. At this moment, the relation between mass media and politics are configured in complex way, therefore the candidate arrives the second turn of the elections of that year, being victorious. Keywords: mass media; image; election.
1 Trabalho apresentado na V FEICOM: Ressignificando as fronteiras da comunicao e informao. De 08 a 12 de novembro de 2010, em Goinia GO. 2 Josimar Gonalves da Silva | graduando em Cincias Sociais pela Universidade Federal de Gois UFG (Faculdade de Cincias Sociais). Realiza pesquisas na rea de cincia poltica, com nfase em estudos eleitorais, partidos polticos, financiamento partidrio e relaes entre mdia e poltica. E-mail: [email protected] 3 Lara Lima Satler | professora da Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia/UFG e publicitria. Mestre em Filosofia, membro do Grupo de Pesquisa em Teoria da Imagem/CNPq, cujos interesses perpassam pela leitura e produo de imagens no contexto das tecnologias da comunicao. E-mail: [email protected]
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Parte 1: Imagens e Imaginrios | : A Mdia na Construo da Imagem: A transformao da imagem de Collor pela revista Veja 1
Josimar Gonalves da Silva Lara Lima Satler3 Universidade Federal de Gois - UFG
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1. INTRODUO O surgimento do nome de Fernando Collor de Melo na disputa presidencial iniciou com as articulaes para a formao de uma chapa vivel a compensar a fraqueza de sua origem poltica em um dos menores estados da federao, o Alagoas, e nesse contexto, Collor fixou-se na escolha de um candidato a vice-presidente vindo do segundo maior colgio eleitoral do pas, o estado de Minas Gerais, ento foi escolhido o senador Itamar Franco. Entre as promessas de Collor estavam a moralizao da poltica e o fim da inflao. Para as elites, o candidato ofereceu a modernizao econmica do pas. Prometeu a reduo do papel do Estado e a eliminao dos controles burocrticos da poltica econmica. Esta investigao tem como objetivo principal analisar a formao da imagem pblica de Fernando Collor de Melo construda pela revista Veja ao longo de sua candidatura presidncia da Repblica em 1989. Acredita-se que a grande visibilidade que o candidato recebeu da mdia e o crescimento vertiginoso da candidatura de uma figura inexpressiva no cenrio nacional, estava intrinsecantemente relacionado s formas de comunicao miditica e ao poder da mdia de influenciar os rumos da poltica no Brasil. Tendo em vista as imagens, os signos, as cores, as legendas, o modo que o personagem foi veiculado nas capas do peridico possvel considerar que, entre outras funes, a imagem fotografada, desenhada e caricaturada nas capas da revista, tendem a conduzir o olhar do leitor as matrias escritas e elas tendem a argumentar o que foi veiculado na capa. A importncia do tema determinada pela supremacia da mdia como detentora da verdade. Esta supremacia tornou a visibilidade imprescindvel para a legitimao de sujeitos, instituies e fatos polticos principalmente nos anos 1970, com o crescimento da comunicao de massa, a partir dai a mdia se tornou o grande espao pblico de acesso universal e democrtico. Os avanos tecnolgicos adaptaram o formato da comunicao poltica e eleitoral e estabeleceram uma relao de interdependncia entre mdia e poltica. A relao da poltica com a comunicao tem se estabilizado como tema relevante de estudos contemporneos, visto que a mdia tornou-se um espao privilegiado de disputa pelo poder. Estudar a relao de Collor de Melo e a revista Veja , portanto, uma forma de contribuir para o resgate da histria recente e para a compreenso das relaes entre a mdia e poltica no Brasil. 2. MDIA, IMAGEM E ELEIO A exposio feita fundamentalmente atravs dos meios de comunicao de massa uma caracterstica da contemporaneidade, mas a preocupao com a imagem pblica bem mais remota, e pode ser observada em todas as partes do mundo e em diferentes regimes polticos. O caso mais exemplar foi o do monarca francs Luiz XIV, o Rei Sol, que teve a produo de uma imagem pblica transformada numa questo de estado, mesmo dentro de um regime absolutista, em que a manuteno do poder do rei independia da transformao de impresses positivas em votos nas eleies seguintes. Ao herdar o trono com apenas cinco anos, o prncipe primeiramente participa do espetculo poltico da monarquia francesa pela me. Depois de ser coroado, aos 16 anos, vira protagonista de um grande projeto armado para, numa poca em que no se podia contar com a ajuda dos meios de comunicao de massa, porque inexistentes, e a imprensa tinha pouca importncia, e garantir a presena do jovem rei no centro das atenes e da visibilidade, assim como difundir qualidades pessoais que deveriam formar sua imagem pblica (Burke, 1994). Em outro estudo, Burke (2004) com nfase nas fotografias, fala sobre a facilidade em que possvel ser enganado pela impresso de realidade que uma foto proporciona. Pois, por mais que a imagem esteja fielmente retratada, o que visto constitui apenas uma parte do todo, ou seja, a viso do fotgrafo, que pode manipular a cena.
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Josimar Gonalves da Silva2 Lara Lima Satler3 Universidade Federal de Gois - UFG
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Recentemente tem ocorrido um crescente aumento de estudos realizados sobre a imagem no campo social, com isso possvel explicar o impacto dos efeitos das imagens no cotidiano dos indivduos e grupos sociais. Alegre (1998), afirma que os estudos referentes imagem nas cincias sociais so de grande relevncia, principalmente, pelas variedades de enfoques que possibilita a viso de si e do outro no processo de sociabilidade contempornea. Segundo as interpretaes de Barthes (1990), o processo de representao da imagem e os seus contedos de sua mensagem possuem dois aspectos. 1) denotativo: em que a imagem carrega determinado poder de representao do real. 2) conotativo: em que a imagem contm uma codificao ligada a um determinado saber cultural e a um determinado sistema simblico. Assim, as representaes sociais da imagem fotogrfica tm uma relao dialtica entre a realidade e sistema de interpretao, que possui uma identidade da imagem. Em uma fotografia o carter denotativo , para o senso comum, mais presente do que o carter conotativo, e essa distino apenas operacional para Barthes. A estrutura de uma fotografia no isolada, pois um texto sempre acompanha uma fotografia jornalstica. A informao apoiada em duas estruturas que so diferentes e concorrentes, sendo unidades heterogneas e no podem ser confundidas, so elas: 1) texto: a mensagem constituda por palavras; 2) fotografias: constitudo de linhas, superfcies e matizes. Alegre (1998) nos alerta que qualquer significao, mesmo que de maneira simples, culturalmente determinada e as imagens como as palavras no designam sempre os mesmos sentidos. A pesquisa iconogrfica requer ateno s formas de expresso visual, em que assumido ou no a espontaneidade na escolha e associao das imagens. As fontes de materiais de pesquisa sugerem uma ordem visual. Pois, a fotografia capaz de construir um discurso prprio. necessrio considerar, primeiramente, o modo que as imagens, as legendas, como o personagem vinculado nas capas da revista e como a notcia montada, ou seja, como a relao entre tudo que escrito e imagem leva a compreenso de que as fotografias da capa da revista tendem a conduzir o olhar do leitor para a matria escrita, que por sua vez tem como inteno fortalecer o que foi veiculado na capa. As revistas semanais de informao aprofundam-se no debate jornalstico, devido ao prazo que possui para faz-lo. Como costume, os temas abordados nas revistas semanais aparecem nos noticirios televisivos e outros meios de comunicao, o que possibilita ampliar a divulgao. Assim, a revista torna-se um meio eficaz de divulgao de notcias, de debate de idias e emisso de opinio. No papel de atores polticos, os editores e jornalistas participam do processo poltico do mesmo modo que todos os atores polticos. Como atores polticos, eles tentam influenciar a histria e quando chegam s eleies, fazem as suas escolhas. Para muitos o poder da mdia est na posio de um ser poderoso, onipotente e onipresente, que est sempre em vigilncia para guiar condutas. A mdia tem o poder de moldar valores, construir conscincias e, portanto, formar nossas opinies. Assim, nas eleies, a vitria do ganhador atribuda parcialmente mdia. Ento, no processo da histria, a mdia capaz de influenciar em partes o curso da eleio. (Figueiredo, 2000) bem verdade que o candidato do PRN contava com alguns dos controladores dos meios de comunicao e durante o perodo pr-eleitoral passou a contar com a simpatia de outros, que foram seus parceiros na construo do enquadramento da realidade. Mesmo o PT, porm, foi capaz de introduzir alguns assuntos na pauta das emissoras. Em especial, os programas de Lula e tambm os de Collor investiram em denncias contra o governo federal; muitos dos casos de corrupo e desperdcio eram apresentados no horrio da propaganda eleitoral gratuita, que foram em seguida acompanhados pelos telejornais e pela imprensa escrita (Miguel, 2002).
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Josimar Gonalves da Silva Lara Lima Satler3 Universidade Federal de Gois - UFG
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3. ANLISE DAS FOTOGRAFIAS DA REVISTA VEJA A transformao da Revista Veja na publicao semanal de maior vendagem e respeito no Brasil foi um trabalho demorado, que se concretizou com a trade formada por Jos Roberto Guzzo (diretor da Veja), Roberto Civita (presidente da Editora Abril) e Elio Gaspari (diretor adjunto da Veja). Apesar da boa relao entre a famlia Civita (dona da Editora Abril) e de Jos Sarney, o governo dele nunca deixou de ser atacado e, em 1988, Fernando Collor surge nas pginas amarelas da revista sob o ttulo: Vou acabar com os marajs. Com o ttulo Collor de Mello - O Caador de Marajs, a capa estampava uma fotografia do personagem, que havia se lanado numa campanha de caa a alguns funcionrios pblicos alagoanos que recebiam altssimos salrios, deciso que comeava a gerar certa visibilidade na imprensa brasileira. Nesse momento, Collor posou na frente da tela Avanar, do artista alagoano Rosalvo Ribeiro, pintada em Paris no ano de 1894, a qual mostrava um soldado a cavalo com uma espada e gritando. Segundo Conti (1999), o fator decisivo para a escolha de Collor na capa, foi a foto tirada pelo fotgrafo Ubirajara Dettmar, que, alm de ter um enquadramento perfeito, era muito sugestiva quando relacionada com o ttulo Caador de Marajs e com a afirmao de Fernando Collor de que seria candidato Presidncia da Repblica. Alm disso, Collor dizia, na matria que referiu-se capa, que seria presidente como outro alagoano, o Marechal Deodoro da Fonseca, proclamador da Repblica no Brasil em 1889. necessrio considerar que a escolha dessa capa estampando Fernando Collor, no foi to aleatria, e que a polmica notoriedade do personagem em questo, naquele momento, possivelmente determinou a escolha de uma capa pela direo da revista. Collor era notcia e, portanto, sinnimo de vendas para o peridico. A tela, diante a qual Collor foi fotografado, retrata uma representao do Marechal Deodoro da Fonseca durante a Proclamao da Repblica no Brasil em 15 de novembro de 1889. Na foto, Collor apareceu trajando um terno preto, com uma camisa branca e uma gravata azul, braos cruzados, cabelos nem longos nem muito curtos e bem penteados, esboando um discreto sorriso. Ao lado da foto a legenda Collor de Mello escrita em branco e sublinhada em vermelho, mesma cor utilizada para destacar o nome da revista, Veja, que ficava estampado no alto da pgina. Abaixo do nome do personagem, em caixa alta e letras maiores, tambm em branco, observava-se a legenda O Caador de Marajs. No alto, do lado esquerdo, uma chamada secundria, chamada tecnicamente de slash ou tringulo, contendo uma foto pequena de Ulysses Guimares e logo abaixo uma tarjeta amarela, com letras em cor escura e com os dizeres A manobra parlamentarista de Ulysses. Em um primeiro momento, esta imagem seria uma capa de revista como outra qualquer. No entanto, a capa estava repleta de tticas e tcnicas prprias da comunicao profissional e carregada de capital simblico. Sendo uma forma de discurso, cuidadosamente elaborado com o objetivo de chamar a ateno do leitor. Os olhos do leitor ainda eram atrados na medida em que o contexto de redemocratizao do Brasil estava sendo marcado por denncias de corrupo em todas as esferas de poder, inclusive no mbito federal, chegando ao governo do ento presidente Jos Sarney. Com isso, Fernando Collor de Mello surgiu no cenrio nacional em meio a esta crise, encabeando as denncias de corrupo. A foto de Collor, associada legenda, trazia tona uma sensao de verdade, de realidade, pois procurava realar a imagem messinica de algum cujo suposto objetivo era acabar com a corrupo no pas, porm, embasado nos ideais democrticos. A Revista Veja, contribua para a veiculao dessa imagem de salvador, de contestador dos governos corruptos, de caador de marajs. possvel salientar ainda que a utilizao do termo caador, de certa forma, evocava uma sensao de fora, bravura, de coragem, enfim, de poder. O personagem era um caador, com todos os possveis significados que a palavra pudesse ser identificada. A legenda Collor de Mello - O Caador de Marajs, com um soldado a cavalo e em posio de ataque ao fundo, com um personagem jovem, fotografado com uma aparncia serena, porm sria, bem trajado para a ocasio, tudo somado ao contexto nacional de transio de um regime ditatorial democracia e que era marcado por
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incontveis denncias de corrupo, formavam um conjunto atraente, praticamente impossvel de passar despercebido. Era quase inevitvel querer saber mais sobre aquele novo poltico que estava mudando os rumos de seu Estado e que podia tambm mudar os rumos da nao. Os elogios a Collor foram mantidos durante praticamente toda a reportagem referente capa. A revista exaltou, por exemplo, a coragem de Collor em abrir mo de uma vida que poderia ser tranquila, sobretudo devido sua condio familiar e scio-econmica, para dedicar-se poltica. A partir daquela capa as relaes entre Collor e Veja se estreitariam gradativamente, sendo que o grau de aproximao entre o personagem e o peridico aumentaria ainda mais medida que se aproximaram as eleies presidenciais. Entre maro de 1988 e dezembro de 1989, ou seja, do incio do processo eleitoral Presidncia da Repblica at seu resultado final, o personagem foi protagonista em outras seis vezes a capa do peridico. Tempos depois, em agosto de 1989, aproximadamente trs meses antes das eleies presidenciais, em uma foto de perfil do presidencivel e acompanhada do ttulo Collor no Ataque, a imagem, que trazia a sensao de movimento do personagem, era a representao de uma corrida, no sentido denotativo da palavra, com atletas disputando o primeiro lugar, e quem estava na frente era Collor, com a imagem de um vencedor. A impresso era de que o leitor encontrava-se diante de uma disputa monumental, uma corrida, ou mesmo de um jogo de futebol, ou ainda, de uma luta. Collor estava no ataque e era para vencer, era para ganhar a disputa, para superar os demais concorrentes, para chegar presidncia da Repblica, pois fazia estragos nos concorrentes. Em 15 de novembro, dia das eleies em primeiro turno, a Revista Veja publica Chegou a Hora Collor na frente; Lula e Brizola brigam pela vaga; Covas joga a ltima cartada, em uma capa muito sugestiva, principalmente porque o fundo era a representao, mais ou menos caricaturada, da bandeira nacional, a impresso era a de que o Brasil assistia mais uma vez a uma corrida (Collor na frente), ou a uma partida de futebol (Lula e Brizola brigam pela vaga), ou ainda a uma partida de um jogo de cartas (Covas joga a ltima cartada). A ateno do eleitor era atrada a partir de mecanismos que lhe eram familiares, que faziam parte do seu cotidiano e do seu imaginrio: as cores nacionais, associadas a jarges dos meios esportivos. A matria escrita dessa edio tambm chamou a ateno pelos termos escolhidos para anunciar a reportagem, referindo-se ao fato de Collor estar a frente nas pesquisas de opinio com a proximidade das eleies atravs da expresso Chega reta final e ao personagem, especificamente, chamando-o de fenmeno da temporada. A maioria dos termos, frequentemente utilizados em reportagens ou transmisses televisivas relacionadas s corridas de diversas modalidades, como as de Frmula 1, que no perodo eram muito veiculadas no Brasil, graas ascenso de Ayrton Senna, campeo da categoria em 1988, vice-campeo em 1989 (ano eleitoral). Uma semana depois do primeiro turno das eleies, evento em que foi realizada com a mais ampla cobertura da imprensa, culminando com a classificao de Collor (em primeiro) e Lula (em segundo lugar), na reportagem de capa Presidente Collor ou Presidente Lula - agora o combate que decide a sorte do Brasil, Veja mostra uma imagem dos dois presidenciveis cujos rostos, de perfil esto frente-a-frente, em que se olhavam mtua e fixamente, ambos deixando transparecer uma seriedade que beirava a representao de uma fria mtua, parecia que a inteno era encenar a representao de uma verdadeira luta, um embate entre dois gladiadores. Tratava-se de uma fotomontagem, mas isso era praticamente imperceptvel, pois a impresso era de que a fotografia foi realmente tirada por algum observador em um momento real de conflito entre ambos os personagens, ou que os personagens haviam posado para a foto. A mensagem buscava chamar a ateno do leitor para um momento importantssimo da poltica nacional, porm, enfocada sob outros moldes. Aparentemente uma cena era montada, no de uma disputa poltica, mas de uma luta de gigantes a partir do qual o leitor/eleitor decidiria o futuro do pas, ou seja, a sorte do Brasil.
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Josimar Gonalves da Silva Lara Lima Satler3 Universidade Federal de Gois - UFG
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Na reportagem Collor - na reta final, jogo pesado para segurar o voto do povo, publicada em 6 de dezembro de 1989, alm da manuteno da imagem de jovem em Collor, a suposta honestidade do personagem tambm se destacava, j que novamente posou com uma camisa branca, como fez em todas as capas anteriores, exceto na terceira (Collor no Ataque). Porm, mesmo naquela, a cor da camisa fora clareada por um efeito de luz causando uma sensao de brancura, de luminosidade. A impresso era mesmo essa, de que o branco das camisas de Collor buscava causar uma sensao de paz, de tranqilidade, ou ainda trazer o significado (dentre outras inumerveis possibilidades), de limpeza, de transparncia, de verdade, de bem. Na reportagem de capa Collor vitria num pas dividido, tambm publicada em dezembro, logo aps a vitria de Collor nas eleies, o personagem apareceu levemente de perfil, do abdmen para cima, trajando uma camisa azul clara, usando um relgio de pulseira marrom e com um sorriso largo. Seus dois braos estavam erguidos e os punhos fechados, num gesto caracterstico dos lutadores de boxe quando vitoriosos. Como Collor j havia passado a imagem de caador de marajs, pensador, corredor, gladiador, agora transmite a imagem de vencedor, o resultado de todo o empreendimento feito pelo personagem tendo recebido importante auxlio do peridico. Collor tambm teve a sua imagem contraposta a de outros personagens, em associaes que lhe eram positivas, de maneira que, em geral, ficava clara a preferncia pelo candidato do PRN (Partido da Reconstruo Nacional), em oposio a seus concorrentes, sobretudo Lula, do PT (Partido dos Trabalhadores). Na primeira reportagem, intitulada O Caador de Marajs, Ulysses Guimares apareceu na chamada em diagonal, sob o ttulo A manobra parlamentarista de Ulysses. Entretanto, ao se procurar a reportagem que se referia chamada, no se encontra qualquer indcio da mesma. Ao que parece, o objetivo era contrapor ambas as imagens: Collor como jovem e guerreiro (caador) e Ulysses como velho e manobrista. Collor tambm teve a sua imagem contraposta de Lula em duas reportagens (Presidente Collor ou Presidente Lula e A batalha final para mudar o Brasil), sendo que na primeira apareceu como o primeiro/favorito, tanto na legenda quanto na fotomontagem e na segunda capa, teve sua foto estampada direita da capa, com quatro frases que lhe foram associadas de maneira positiva e direcionadas atravs de uma seta azul, em contraposio a Lula, esquerda, com frases negativas e direcionadas por uma seta vermelha, visivelmente associando-o ao comunismo. Alis, Lula foi associado ao comunismo, negativamente, por inmeras vezes, principalmente durante o segundo turno das eleies. Alm do mais, em diversas matrias escritas, Lula foi exacerbadamente desprezado pelo peridico, como em Presidente Collor ou Presidente Lula, momento que procurou-se enfatizar a suposta experincia e a tradio poltica de Collor e de sua famlia, bem como o nvel superior de sua educao formal, em comparao com a inexperincia e ausncia de tradio poltica de Lula, alm de sua precria formao escolar. Na matria que foi feita referncia a Lula, este foi tratado como um operrio em um tom visivelmente depreciativo. 4. CONCLUSES Fernando Collor surge como um agente poltico que por sua experincia pessoal, como empresrio e jornalista reconhece a fundamental importncia dos meios de comunicao, ao mesmo tempo em que conhece sua dinmica, seus jogos, seus mitos, seus rituais e suas fragilidades. Collor constri a imagem do caador de marajs, consolida sua candidatura presidncia da Repblica e garante sua vitria eleitoral, dialeticamente: pautando e sendo pautado pela mdia.
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Josimar Gonalves da Silva2 Lara Lima Satler3 Universidade Federal de Gois - UFG
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Sem dvida, a eleio presidencial de 1989, realizada depois de 29 anos sem eleies diretas para presidente, aparece como acontecimento detonador de um boom imediato e posterior de reflexes sobre a relao mdia e poltica. Pode-se afirmar que este acontecimento eleitoral, ao fazer emergir em toda sua potncia estas novas conexes entre mdia e poltica, comea verdadeiramente a conformar um campo de estudos sobre comunicao e poltica no pas, perpassado por olhares sintonizados com esta nova circunstncia de sociabilidade acentuadamente midiatizada. A ideologia um dos elementos fundamentais que o jornalismo traz junto de si de modo implcito. A sua ideologia manifestada tanto na seleo do que vai ser notcia quanto na escolha das fotos que formam a ilustrao e at mesmo o local de destaque que ser veiculada a matria. A existncia de ideologias implcitas nas reportagens bastante arriscada e pode colaborar para a distoro dos acontecimentos e at a manipulao. Constatando que a imprensa teve um papel destacado durante as eleies diretas para presidente da Repblica em 1989, fato que no acontecia desde 1960. O Brasil ficou marcado pelo posicionamento que a revista Veja, peridico de grande circulao nacional, manteve com o candidato Fernando Collor de Melo no curto espao de tempo que ocorreu a campanha eleitoral. A revista Veja est presente em um campo que exerceu papel predominante no surgimento de Collor no cenrio poltico nacional, o que possibilitou a sua eleio para o cargo de Presidente da Repblica em 1989. Com isso, percebe-se que no perodo entre maro de 1988 e dezembro de 1989, momento eleitoral, a revista Veja no economizou esforos para impulsionar Fernando Collor no cenrio poltico nacional, realizando uma contribuio para a difuso de uma imagem positiva do candidato em oposio aos seus adversrios, ajudando-o a eleger-se Presidente de Repblica. Observa-se que a sociedade contempornea no Brasil tem na mdia sua principal fonte de informao. a partir das mensagens veiculadas nos meios de comunicao e, principalmente, na televiso que grande parte dos cidados brasileiros toma suas decises eleitorais. A concentrao da propriedade de emissoras de rdio e televiso nas mos de polticos e de grupos familiares ligados a interesses polticos intensificou a manipulao das informaes e agravou a interdependncia existente entre mdia e poltica.
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Josimar Gonalves da Silva Lara Lima Satler3 Universidade Federal de Gois - UFG
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Parte 1: Imagens e Imaginrios | : De perto e de dentro: Povo do Ax tem licena do senhor dos caminhos
Ana Rita VIDICA , Ceia FERREIRA , Luciene de Oliveira DIAS 4 Birke KRUPPERT, Bruna MITCHEL, Carina TREMEL, Jakob BIHLMAYER, Renan NOGUEIRA (co-autor) 5, Gabriel Moreira PAIVA e Jos Jair BAZN 6
Palavras-chave: Cultura Afro-brasileira; Fotografia; Caminhada; Candombl.
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Texto sobre a Exposio A exposio, composta por fotografias, vdeo, texto e outros signos, retrata elementos da esttica e religiosidade, observados durante a 2 Caminhada em Homenagem aos Mestres da Tradio Afro-brasileira, realizada em Goinia, no dia 18 de setembro de 2010. Este um dos resultados de trabalho conjunto entre professoras e monitores de fotografia participantes do Ncleo de Pesquisa em Teoria da Imagem e alunos da disciplina Laboratrio orientado WebTV Magnfica Mundi que trazem as cores, os sons, as simbologias, os encantos e as bnos da tradio afro-brasileira. Tudo mostrado em quatro ambientes, Chita (texto e vdeo), Morin (fotografias dos preparativos e o momento da caminhada), Juta (fotografias de espectadores e personagens) e Palha (fotografias de signos da cultura negra). A construo e o dilogo entre estes ambientes proporcionam uma imerso no universo da tradio afro-brasileira, provocando uma sensao de quem v De perto e de dentro. Justificativa / Base Terica O caminho ancestral. Difcil medir o tempo que percorremos para chegar at aqui. Baianas apostando tudo na melhor maquiagem, no melhor figurino, nos melhores acessrios. E elas estavam lindas... Filhas e filhos, pais e mes, avs e avs fixados em suas poderosas guias e contra-eguns que tm garantido a proteo cotidiana. Capoeiras tantos e muitas bem a carter para marcar que a luta negra de fato um percurso ancestral. E a Congada com seus mestres intocavelmente elegantes, altivos, firmes, como o povo negro. Tudo simples demais para ser apreendido pelos desavisados e complexo demais para ser explicado neste espao. Este o clima que marcou os ltimos momentos que antecederam ao humilde pedido ao senhor dos caminhos para que a Segunda Caminhada em Homenagem aos Mestres da Tradio Afro-Brasileira em Goinia, fosse bem sucedida. Lary. E os caminhos se abriram. Dessa forma, centenas de pessoas caminharam pela circular do Setor Pedro Ludovico, em Goinia, na tarde quente de 18 de setembro de 2010, em segurana e com muita dignidade. Um pedido feito com tanto carinho, com tanto ax, por um povo que tirou do mago o seu mais puro branco de Oxal para provar sua coeso e sua articulao, ainda que incompreendido, no nunca negligenciado em sua tradio. O que nos falta no articulao, mas somente apoio externo, sentenciou o mestre Luizinho momentos antes da caminhada, para quem o problema do negro no Brasil no motivado por este mesmo povo negro, mas por um grupo de chamados tomadores
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Trabalho apresentado na V FEICOM: Ressignificar as fronteiras da comunicao e informao, de 09 a 12 de novembro de 2010, em Goinia GO. Mestre em Cultura Visual. Professora da Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia (Facomb) da Universidade Federal de Gois. Email: [email protected] Mestre em Comunicao Social. Professora da Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia (Facomb) da Universidade Federal de Gois. Email: [email protected] Antroploga, Mestre em Cincias do Ambiente, Jornalista. Professora da Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia (Facomb) da Universidade Federal de Gois. Email: [email protected], Bruna Mitchel, Carina Tremel, Jakob Bihlmayer e Renan Nogueira so alunos da disciplina Laboratrio Orientado Web Magnfica Mundi. Gabriel Moreira Paiva e Jos Jair Bazn so monitores de Fotografia e Membros do Ncleo de Pesquisa em Teoria da Imagem (NPTI).
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Ana Rita VIDICA , Ceia FERREIRA , Luciene de Oliveira DIAS 4 Birke KRUPPERT, Bruna MITCHEL, Carina TREMEL, Jakob BIHLMAYER, Renan NOGUEIRA (co-autor) 5, Gabriel Moreira PAIVA e Jos Jair BAZN 6
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de deciso que no tm respeitado secularmente a tradio afro-brasileira. Caminhemos juntos e juntas ento para buscar garantir este respeito pelo que somos. Mas no porque no nos respeitam, que no nos respeitaremos e se temos os caminhos abertos pelo nosso senhor, ento rompamos a estrada ao toque de Od, o pai da casa de onde samos. O que buscamos? Perguntariam alguns nesta caminhada. Felicidade o que ecoou a voz fantasticamente registrada do alto do carro de som e replicada carinhosamente por quem caminhava. O segredo dessa tradio muito simples e pode at ser dito porque a compreenso demanda sempre a contextualizao: Nosso segredo muito trabalho e dedicao. Empenhada em manter forte e atuante este segredo de caminhos abertos, Dona Elza (uma das ancis do Il Iba Ibomin) observa o trabalho dos ogans, das is, dos pais e mestres empenhados para que a caminhada seja um sucesso, das crianas que correm de um lado para outro tentando extrair o mximo do presente festivo. Como todo sbio, ela observa desde o passar das saias e anguas no salo agitadssimo, o aquecer dos atabaques brilhantemente conduzidos pelos ogans, o ecoar das lindas vozes dos filhos e filhas, o sambar das pessoas que caminham em homenagem tradio e o compartilhar do encerramento. O povo negro no pode encerrar uma festa dessas sem muito ax. As buscas que antecederam a esta ocasio renderam gua e comida para todos. Ax! A licena foi concedida e os caminhos se abriram. Significa muito numa cidade como Goinia, localizada no Brasil central, observar esta caminhada somente com olhares curiosos. Ainda no temos manifestaes explcitas de apoio, mas pelo menos no derrubam nossos orixs como o fizeram h sete anos, quando atos de intolerncia e desrespeito levaram depredao de smbolos religiosos das Matrizes Africanas no Parque Vaca Brava, em Goinia. Nossa articulao est ganhando expresso fora de nossos muros. Por que ser? Ser que nossas bandeiras de criar um mundo sem intolerncias e aberto s diversidades comeam a ser ostentadas em outros quintais. Que a resposta seja positiva. A julgar pelo motoqueiro curioso que, mesmo podendo furar o bloqueio, parou sua moto, levantou o capacete e assistiu o povo do Ax passar para homenagear os mestres da tradio afro-brasileira, parece que a resposta positiva. Um povo que resistiu a tanto tempo de negao, expropriao, silenciamento e massacre no pode sair de uma grande caminhada dessa sem uma dosagem extraordinria de boas expectativas. Nossa, parece que as pessoas comeam a entender. E comeam mesmo. Comeam a entender que pedir a Exu que nos abra os caminhos, saudar a Oxssi para que nos conduza, lanar olhares e corpos para que nossos orixs nos guiem em nossas escolhas, e fechar tudo isso como manda a tradio afro-brasileira a forma ancestral que temos para dizer quem somos. Dessa forma, a compreenso e o entendimento de todo esse universo cultural e esttico que o candombl exige um olhar mais prximo, mais atento do pesquisador, do fotgrafo, do jornalista, de quem est fora, mas que tenta se colocar dentro dessa outra concepo de vida, dessa cosmoviso africana, reelaborada e recriada por meio do candombl, na qual valores, princpios e smbolos tiveram que ser reinterpretados em um novo continente e uma nova realidade social. Mesmo assim, homens e mulheres africanas foram capazes de manter e de transmitir a seus descendentes sua matriz simblica, na qual tem-se uma concepo de tempo no baseada apenas na cronologia, mas tambm na experincia de vida, por isso os ancios desempenham um papel fundamental; tm-se deuses que assim como os humanos tm paixes, falhas e conflitos, e que so chamados terra por meio da msica e da dana para manifestarem no corpo de seus filhos e compartilharem com os mortais esse momento festivo; e principalmente, tem-se a capacidade de se relacionar com a alteridade, de se abrir para a comunicao com o Outro. E isso s possvel porque no apenas uma religio, uma atitude e um comportamento que remete outra forma de ver o mundo e de se comportar diante dele, que de origem africana em seus valores, suas relaes com as pessoas e sua organizao espacial na comunidade-terreiro, mas que no se limita a essa, se expande, caminha pela religiosidade e pela vida daqueles que ali se encontram e reencontram sua identidade negra.
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Ana Rita VIDICA , Ceia FERREIRA , Luciene de Oliveira DIAS Birke KRUPPERT, Bruna MITCHEL, Carina TREMEL, Jakob BIHLMAYER, Renan NOGUEIRA (co-autor) 5, Gabriel Moreira PAIVA e Jos Jair BAZN 6
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O terreiro (de candombl) afigura-se como a forma social negro-brasileira por excelncia, porque alm da diversidade existencial e cultural que engendram, um lugar originrio de fora ou potncia social para uma etnia que experimenta a cidadania em condies desiguais. Atravs do terreiro e de sua originalidade diante do espao europeu, obtm-se traos fortes da subjetividade histrica das classes subalternas no Brasil. (SODR, 1988, p.19) Nesse mbito se estabelece a importncia e a necessidade de uma nova e diferente postura dentro do campo da representao com relao populao negra, suas expresses culturais e religiosas, visto que predominantemente os meios de comunicao reiteram uma viso hegemnica, na qual se enfatiza a folclorizao da cultura e a desqualificao das religies de matriz africana. Logo, tem-se no caso da prtica documentria, mesmo que laboratorial, o desafio de se colocar perto e dentro dessa cosmoviso, buscando assim confirmar o propsito no apenas esttico, mas tambm social da narrativa documentria, o que pressupe outra forma de envolvimento e de relacionamento com as pessoas, pois, como ressalta Bill Nichols (2005, p. 27), do documentrio, no tiramos apenas prazer, mas uma direo tambm. IMAGENS QUE COMPORO A ExPOSIO:
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Ana Rita VIDICA , Ceia FERREIRA , Luciene de Oliveira DIAS 4 Birke KRUPPERT, Bruna MITCHEL, Carina TREMEL, Jakob BIHLMAYER, Renan NOGUEIRA (co-autor) 5, Gabriel Moreira PAIVA e Jos Jair BAZN 6
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Referncias bibliogrficas SODR, Muniz. O terreiro e a cidade: a forma social negro-brasileira. Petrpolis: Vozes, 1988. 165p. NICHOLS, Bill. Introduo ao documentrio. Traduo: Mnica Saddy Martins. Campinas, SP: Papirus, 2005. 270p.
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RESUMO Este texto constitui apontamentos preliminares de uma pesquisa que discutir algumas obras do artista visual Robert Rauschenberg. Nesta primeira anlise determe-ei em dois de seus trabalhos: Monogram de 1955 e Ileana, da srie Ruminaes de 1999. A partir dos estudos da Sociologia da Comunicao, Cultura visual e da imagem e da aproximao com outras produes poticas, investigarei as contribuies de seu conjunto plstico e sua relao com as sociedades de consumo. A fotografia de famlia, a arte como um dos fragmentos da memria e a efemeridade da imagem so questes problematizadas. Pontuo, tambm, o cotidiano como oferta para a produo artstica contempornea e as visualidades dessas interaes. PALAVRAS-CHAVE: Rauschenberg; cultura visual; fotografia; pop art. ABSTRACT This text consists on first appointements about a research that will discuss some handiworks of the visual artist Robert Rauschenberg. On this first analysis, I will get attached to two of his works: Monogram from 1955 and Ileana, of the serie Ruminaes, from 1999. Based on his studies of Socioloy of Comunication, Visul and image culture and in other poetic productions, I will investigate the contributions of his artistic production his relationshop with the consume society. His photography of family, art as fragments of memory, the sickness of the image are problematized questions. I also point the day-to-day as his ofert to the contemporany artistic production and the visualities of these interactions. KEYWORDS: Rauschenberg; visual culture; photography; pop art. 1 LUGARES DE RAUSCHENBERG O que Exatamente Torna os Lares de Hoje To Diferentes, To Atraentes? 3 Perguntou-nos e deu-nos pistas Richard Hamilton, em 1956, ao ofertar uma colagem a partir dos tentculos da jovial cultura de massas globalizadas. De tudo um pouco: A TV como o novo membro familiar, a publicidade, o design, a comida rpida, o cinema, o corpo como consumo, conquista lua. O que ele nos perguntaria, hoje, frente ao mundo das redes virtuais, das sofisticadas tecnologias de comunicao e da predominncia do visual? As sociedades contemporneas experimentam cada vez mais uma maior interatividade e o desfacelamento de fronteiras, comandadas pela globalizao. Os produtos culturais dos meios de comunicao de abrangncia massiva ocupam um papel central no cotidiano. E ao pensar teoricamente sobre a chamada cultura de massas temos posies fatalistas como da escola de Frankfurt: filsofos e cientistas sociais com fortes influncias marxistas que surgem ao final da dcada de 1920. So
1 Trabalho apresentado na V FEICOM: Ressignificar as fronteiras da comunicao e informao. De 08 a 12 de novembro de 2010, em Goinia GO. 2 Graduado em Comunicao Social: Publicidade e Propaganda. Cursando a habilitao de Relaes Pblicas, pela Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia, mestrando em Cultura Visual, Faculdade de Artes Visuais, da Universidade Federal de Gois. Professor da disciplina Comunicao, Corpo e Cultura da FACOMB UFG, email: [email protected]. 3 Imagem disponvel em: http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=termos_texto&cd_verbete=367. Acesso: 28 set 2010.
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vinculados Teoria Crtica da Sociedade e temos neste conjunto de pensadores a origem de termos cultura de massas e indstria cultural. Os mais notrios so, Theodor Adorno, Herbert Marcuse, Walter Benjamim e Jrgen Habermas. Eles percebem a cultura massificada das mdias que como uma degradao cultural e de gosto inferior. Temos, tambm, anlises mais moderadas como as de Edgar Morin (1977), questionando esta categorizao ao dizer que a mass media no a responsvel pela deteriorao, afirmando que nunca existiu um apogeu artstico-intelectual antes da indstria cultura, onde reinava um conformismo burgus e uma mediocridade nas letras e nas artes. O campo das artes mundial (ocidental) reordenava-se de diversas maneiras, inclusive geograficamente; tornando os Estados Unidos, com a pop art atravs de um de seus grandes cones Andy Warhol, o eixo mundial. Junto a Warhol adicionam-se bodes, pneus, embalagens, ventiladores eltricos, Neodada, assemblages. Terreno frtil. Mos ousadas. Rauschenberg. E falar dele evocar suas combine paintings, aplicando diversos materiais sobre a tela. a reverberao de um certo Duchamp (1887-1968), aquele mesmo da fonte, ou naquele momento R. Mutt ao assinar sua obra A fonte com esse pseudnimo, ao envi-la um concurso de arte nos Estados Unidos em 1917, sendo a mesma naquele momento rejeitada pelo jri.. Estadunidense Robert Rauschenberg, 1925-2008, tem algo de grandioso, discreto, sutil. Tem aquele olhar tanto a frente quanto alm. Sensibilidade, potica, reinveno. E diante de tantos atributos qual o lugar de moderno em seu conjunto plstico? E que traos da contemporaneidade so impressos na madeira, no papel, nas paredes das galerias? Um dos precursores da considerada pop art, seu caminho potico inicia-se em meados da dcada de 1950 e percorre os anos seguintes com uma intensa produo. Sua vasta obra se intercomunica com o cotidiano em constantes dilogos entre tcnicas, conceitos e uma expanso rumo aliana da comunicao e a pintura. Seu compromisso esttico apia-se na comunicabilidade de seus trabalhos, em detrimento de uma aura outrora maculada por Walter Benjamin. Na Obra Monogram, transcende-se as combinaes de tcnicas possveis. No apenas o uso concomitante de pintura, escultura, gravura. a insero de objetos aparentemente alheios ao conjunto de signos poticos usuais. O que um bode com circundado por um pneu, sob uma tela, faz ali? Qual a coerncia do agrupamento de um conjunto de imagens to distintas? a memria e a ironia que permitem a coexistncia desses elementos? Mais ainda, qual o status dos objetos de arte? E onde esto as pesquisas artsticas? So questes a serem investigadas, mas que nos deixam pistas: podem estar no design contemporneo, no cotidiano, na publicidade. E esto fora dos espaos tradicionais de exposio museogrfica, em questionamentos constantes dos cannicos valores estticos arraigado no pensamento moderno da arte. E so essas problematizaes que nos traz Rauschenberg: formas de reconfigurar o tradicionalismo da representao no campo das artes e mergulhar em seu contexto scio-poltico de produo. Figura 1. Robert Rauschenberg: Monogram, 1955-59
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2 POR QUE RAUSCHENBERG ? O contato anterior mais detido que tive com a obra de Rauschenberg deu-se em um trabalho apresentado disciplina de Histria da Arte na graduao em Comunicao Social: Publicidade e Propaganda, no primeiro semestre de 2009. O tema tratado por mim e mais dois colegas era a arte moderna. Entre Andy Warhol, Jasper Johns, Roy Lichtenstein, falamos brevemente sobre seus trabalhos e mostramos sequncias de imagens. Ao imaginar a possibilidade de desenvolver uma anlise aprofundada da obra de Robert Rauschenberg, para o trabalho de concluso de curso da habilitao em Relaes Pblicas, primeiramente escolhi uma imagem integrante do livro lanado poca da exposio das obras do artista em terras brasileiras. Tais produes so do perodo de 1962 a 2008. Segundo informao do Instituto Tomie Ohtake, somam quase uma centena. Entre tantas possibilidades escolhi ao acaso. Decidi por enamorar-me dessa imagem diariamente. Coloquei-a como protetor de tela do meu computador e lancei-me as possibilidades advindas daquela experincia visual. Como tecer linhas que se alinhavem nessa imagem? Que outros artistas posso convidar ao dilogo visual? E apenas uma frgil certeza: trata-se de algo a partir da fotografia. Ao flertar com a escrita da luz no cabe, neste momento, debater suas especificidades tcnicas ou conceituais. Frente gravura escolhida para anlise e os traos imagticos advindos da imagem fotogrfica, filio-me a idia de que as fotos mostram as pessoas incontestavelmente presentes num lugar e numa poca especficas de sua vida; agrupam pessoas e coisas que, um instante depois, se dispersaram, mudaram, seguiram o curso de seus destinos independentes (SONTAG, 2004, p.85). Presena, ausncia e apagamentos so peas entrecruzadas na obra em anlise. Robert Rauschenberg em 1954, pela primeira vez enveredou pelos excertos da memria e as lembranas pessoais, em Combine Untitled. Trouxe para suas gravuras mais que o cotidiano, trouxe o seu cotidiano. Foram visitas aos lbuns de famlia, a busca por recorte de jornais, cartas recebidas. Foram visitas ao seu imaginrio, aos momentos que sejam quais forem os sentimentos despertos, so rememorados. A obra que agora trago Ileana, 1999, da srie Ruminaes. O intaglio com litografia constitui a tcnica empregada e so pululantes as delicadas referncias pessoais, momentos ntimos e confisses sentimentais. As gravuras so retratos das relaes com amigos, familiares e amantes, sendo que o tom da maior parte inescrutvel e pensativo (THOMPSON, 2009, p.24). Concordo com Mimi Thompson ao afirmar que tais imagens evocam uma introspeco, gestos reflexivos, olhares de soslaio. Mas so inexoravelmente impenetrveis, ou nas palavras da autora: inescrutveis? So to confidenciais assim, que se fecha a quem a v? Por certo so confessionais, privadas, contudo, creio que existam brechas a quais se permite travessias. E como dito por Huberman, diante da imagem estamos diante do tempo (2008).
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Figura 3. Detalhe na obra Ileana, Rauschenberg Figura 2. Ileana (Ruminaes) 1999, edio de 46- intaglio com litografia Figura 4. Marc Garanger Mulheres argelinas, 1982
Ileana, em trnsito do spia ao branco e preto, aproxima trs momentos aparentemente distintos. Uma mulher sentada, mo direita toca levemente a face, a esquerda descansa sob o colo. Seu olhar pode ser acolhedor, terno, lnguido. Quem sabe um segredo em sua mirada, ou um bem-querer com quem a fotografa. A imagem no auto-evidente, no nos revela verdades, a senhora que vejo o registro de uma captura momentnea. Um fragmento, fraes de tempo que desliza por tempos e tempos, ofertando-se a uma gravura e reproduzida em livros, encartes, em meu prprio computador.
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Neste primeiro detalhe de Ileana, somos fitados por esse intenso olhar feminino. Uma pose que abdica de movimentos, ou os reduz minimamente. O movimento se apaga, o tempo desaparece. Esse mesmo olhar que nos interpela capaz de denunciar a presena do fotgrafo. A moa registrada por Garanger, alm de confrontar o nossa olhar, carrega em sim a indignao de ser invadida por aquele aparato. Contudo, salutar ressaltar as informaes prvias desse trabalho de Marc Garanger. As fotografias foram feitas na Arglia, nos anos de 1960, quando a servio do exrcito francs, teve que fotografar os habitantes daquele pas para a confeco de um novo documento de identificao. A dor no feminino concentrava-se especialmente em se desnudar do vu. Ao tecer consideraes sobre o trabalho do fotgrafo francs, especialmente a questo da designao pelo olhar frontal na enunciao fotogrfica, Phellipe Dubois percebe essa inverso que s olhar capaz e ainda, Porque focalizam seu olhar na prpria objetiva que as viola e pretende roubar-lhes a identidade, porque em nenhum momento o olhar foge, todas essas mulheres, em sua absoluta retido, no apenas assumem plenamente o olhar que o ocupante faz pesar sobre elas, com tudo que ele veicula de ignomnia , mas sobretudo, elas no-lo mandam de volta, elas devolvem-no a ele (a ns) mesmo(s) (2003, p.184). Se o olhar das mulheres argelianas desvela um contexto fotogrfico limite e seus aspectos documentais contribuem no processo de significao, a mulher em Ileana no fornece pistas histricas. O que no quer dizer que se inviabiliza a construo de narrativas sobre sua presena. No detalhe da face, os traos femininos dissolvemse em apagamentos que podem ser oriundos, tambm, da tcnica de impresso. H uma sugesto de transitoriedade da imagem, da existncia, dos laos afetivos? A fotografia a metfora de algo que puede deteriorarse fcilmente y casi con seguridad, perderse. Es uma ficcin, no uma realidad; es um rastro de lo que fue y de lo que podra haber sido, no una prueba legalmente vinculante (BRAINDOTTI, 2000, pp. 22-23). Esse vestgio e debilidade reforam-se no uso dessa foto na constituio da gravura. Um tom confessional instaura-se, h algo de nostalgia, ou no h nada disso. Na mesma srie Ruminaes figuram os pais de Rauschenberg, batizada de grandes e pequenos tiranos, oferecendo ambigidades, alimentando a idia de que os instantes retratados nem de longe implicam em verdades sumrias. 3.1 In Memoriam Deslizando pela memria, eis que me deparo com as distores extasiantes de Luise Weiss. Nascida em 1953, So Paulo, SP, gravadora, fotgrafa, pintora e professora de artes. Ao entrecruzar gravura, vdeo, pintura e fotografia, os filetes de lembranas se somam em uma potica inquietante. Os arquivos pessoais ou annimos que a artista lana mo bailam em simbiose. Serenidade afetiva e mpeto permeiam essa experincia viva com todo o tempo que passa dos fatos e suas histrias ao objeto esttico e deles consequentemente pelas imposies do gesto, pela densidade da trama e nas iluminaes pela cor (JARDIM, 20104). Os enredos passados, vividos, contemplados hibridizam-se com paisagens, formas e as outras narrativas sobrepostas. Uma aproximao de tempos: pretritos perfeito, imperfeitos, maisque perfeitos.
4 Este trecho de autoria do artista Evandro Carlos Jardim e faz parte da recente exposio de Luise Weiss no MASP. Foi citada em uma matria no Estado do dia 14 de abril de 2010, assinada pela jornalista Camila Molina. Disponvel em: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100414/not_imp537936,0.php Acesso: 29 set 2010.
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Colocados em par, Weiss e Rauschenberg constroem imagens em repetio. Uma sobreposio transcendental. A primeira une dois rostos aparentemente distantes: face contida, lbios semicerrados, lnguida, em um desabrochar; o outro em uma entrega ao momento, dentes mostra. Ao ver esta disperso de contornos e olhares, penso no delicado poema Retrato onde Ceclia Meirelles tece descries de um rosto outro, no aquele refletido. Nos dois rostos imbricados por Luise, esse reflexo , por assim, dizer um dilogo. como se um confrontasse o outro. As damas se percebendo: o que fui... O que serei. Um processo que escapa as mos, implacvel. Um sussurrar de tcitos versos:
Eu no dei por esta mudana To simples, to certa, to fcil: - Em que espelho ficou perdida A minha face? (Ceclia Meireles, 1939)
Figura 6. Detalhe em Ileana, Rauschenberg
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Neste segundo fragmento de Ileana, a justaposio talvez seja um espelho, que ao contrrio de Weiss com a dicotomia jovialidade/envelhecimento, reflete para si um momento terno e duplamente apresentado. A metfora de uma imagem guardada (resguardada) como objeto precioso. O festejo reforado nos abraos que se desdobram. Entre os braos a mulher timidamente desvia seu olhar, enquanto os homens, bonaches, fitam a cmera que os registra. Se forem devaneios que vejo, possivelmente, mas Nunca olhamos apenas uma coisa, estamos sempre olhando para as relaes entre as coisas e ns mesmo (BERGER apud LEITE, 2001, p. 31). Na disposio espacial, este elemento da gravura de Robert est mais prximo da senhora com a mo na face, narrada anteriormente. As imagens se encostam ao ponto do grupo que se abraa cobrir parte do ombro da mulher. Seria um abrao partido que se reconstitui ali, nesta obra? 3.2 Afinidades Um casal retratado. O patriarca com sua calvcie iniciada, um vestgio de bigodes. Sorriso largo. Sustenta em seu colo uma serelepe criana. A mulher, cuja face conquistou outros atributos pela tcnica de impresso, se junta ao homem com um discreto toque. Estariam frente a sua casa? Sbado, domingo? E porque ali, to discretos, em um quase isolamento? A fotografia tem em si um tanto de presente. Uma atestao de que o que est apreendido em seu suporte encontra-se ausente. J disse Alberto Tassinare, ao discorrer sobre o tempo histrico, que Guardar um presente, conceitu-lo, digamos, j coloc-lo na prateleira da memria (2001, p.250). Alguns ou algumas como Rauschenberg, Luise Weiss e tambm Rosangela Renn no se contentam em deixar alguns lbuns esquecidos, empoeirados. Mesmo que os retratos no lhes pertenam de imediato, como faz Renn em alguns de seus trabalhos, as redes de relaes e sentidos construdas possibilitam outras costuras ao olhar. A srie Afinidades eletiva inspirada no romance de mesmo nome do escritor alemo Goeth. A artista utilizou negativos de diferentes casais na montagem de sua obra. A memria , tambm, pblica e ntima concomitantemente. Pode ser conservada, retomada, acionada. Servir ao saudosismo, nostalgia, repulsa. Mas ela nunca absoluta, total. So fragmentos, fraes, gros. Tentativas de promover a comunicabilidade, juntar ou afrouxar laos. As visualidades de Rauschenberg, Luise Weiss, Rosngela Renn circulam diariamente, alimentam-se das distraes da vida. Integram os mltiplos repertrios de nossa sociedade. Eles reiteram que a imagem (memria, gravura, pintura, fotografia...), [...] no apenas parte da vida cotidiana, a vida cotidiana (MIRZOEFF, apud FABRIS, 2007, p.2).
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4 CONSIDERAES PROVISRIAS Ao nos confrontarmos com Monogram e Iliana, de Rauschenberg, posso recorrer a Michael Baxandall e suas anlises sobre a inteno em obras. Para ele A inteno no um estado de esprito reconstrudo, mas uma relao entre o objeto e suas circunstncias (2006, p. 81). Nesse sentido arrisco em dizer que a inteno do artista no se d no sentido de mentalizar a concepo artstica e disp-la aps uma revelao criativa ou inspirao e sim com um intenso processo analtico sobre os objetos possveis ( e impossveis) para suas poticas e uma sntese da sua composio. Tais anlises levam em considerao o momento econmico, poltico e social vivenciado, assim como as relaes que o artista estabelece com seus pares, com as fontes de dilogo e com a recepo do pblico. Rauschenberg capaz de vetorizar, na ironia e nas referncias implcitas e explcitas, uma contundente crtica sociedade de seu tempo. Uma forma de questionar o espao, a forma e a produo da arte e o valor do objeto de arte. E ainda, problematizar os mltilplos fluxos e trnsitos de imagens em nas sociedades da informao e do consumo.
REFERNCIAS BAXANDALL, Michael. Padres de Inteno. A explicao histrica dos quadros. So Paulo: Companhia das Letras, 2006. BRAINDOTTI, Rosi. Sujetos Nmades. Buenos Aires, Paids, 2000. CULTURAL, Itau. Enciclopdia Virtual de Artes Visuais. Disponvel em http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index. Figura 8. Afinidades Rosngela Renn, 1990 cfm?fuseaction=termos_texto&cd_verbete=3465. Acesso: 28 set 2010. Dubois, Philippe. O Ato Fotografico e Outros Ensaios. Campinas: Papirus, 2003. ESTADAO. Luise Weiss e Sua Potica das Memrias. Disponvel em http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100414/not_imp537936,0. php. Acesso 29 set 2010. FABRIS, Annateresa. Fotografia Contempornea. Disponvel em: http://www.fotografiacontemporanea.com.br/v07/artigo. asp?artigoId=3369D5. Acesso: 29 set 2010. HUBERMAN, Georges Didi. Ante El Tiempo: historia del arte y anacronismo de las imagenes. Buenos Aires: Adriana Hidalgo Editora, 2006. LEITE, Mirian. Retratos de Famlia. So Paulo, Edusp, 2001. MEIRELES, Ceclia. Viagem & Vaga Msica. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006. MORIN, Edgar. Cultura de Massas no Sculo XX : (o esprito do tempo) . So Paulo, Forense, 1977. SONTAG, Susan. Sobre Fotografia. So Paulo: Companhia das Letras, 2004. TASSINARI, Alberto. Ns e o Ps in: BASBAUM, Ricardo (org.). Arte Contempornea Brasileira. Rio de Janeiro: Rios Ambiciosos, 2001. THOMPSON, Mimi. Imaginem S in: JOY, Jennifer Benz. Runts: Robert Rauschenbergs new series of paintings from 2007. PW Press Reliase, 2009.
Eletivas,
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Palavras-chave: Grande Reportagem; Camels; Identidades. Justificativa/Base terica A comunicao humana marcada pelo compartilhamento de elementos de significao que, a partir do momento em que ganham mais visibilidade, possibilita que seus agentes se imbuam de poder e contribuam para a construo de um mundo mais equnime. Este pressuposto est sustentado por Geertz (1978), quando afirma A cultura pblica porque o significado o (Geertz, 1978, p.22). Com esta perspectiva, nos envolvemos na escolha do objeto de pesquisa que resultou no presente trabalho. Por onde comear? Para haver essa troca de significao, que a comunicao, necessrio tentar compreender essa teia de significados que amarra o homem, entendida por ns como cultura. Acreditando como Max Weber que o homem um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo essas teias (Geertz, 1978, p.15), buscamos conhecer os elementos que compem a teia de um determinado grupo e, a partir da, estabelecer comunicao. A escolha de um grupo cultural para nos comunicarmos foi difcil, pois a princpio nos interessou um leque extenso de grupos. Resolvemos nos ater aos camels pelo fato de que mantemos com eles intensa relao comercial. Grande parte dos nossos objetos adquirida em bancas de camel. Ao passar pela rodoviria, pelas Avenidas Anhanguera e Paranaba, pelos terminais de nibus e diversos lugares em Goinia-GO nos encontramos com os ambulantes. A vivncia com os camels constante no nosso cotidiano, no entanto poucos sabem sobre eles, sobre o que gostam de fazer, o que eles esperam da sociedade enquanto classe trabalhadora, suas reivindicaes e necessidades, a motivao para seguir tal profisso e o retorno que o trabalho de ambulante lhes traz. Geralmente ouvimos reclamaes dos rgos pblicos sobre os camels ou at mesmo indagaes dos consumidores. Entendemos que cada grupo constri suas identidades. Que devem ser afirmadas pelos integrantes do grupo. Decidimos ento ouvir os camels para que eles nos digam quem so. A partir da afirmao de Geertz Compreender a cultura de um povo expe a sua normalidade sem reduzir sua particularidade (Geertz, 1978, p. 24), compreendemos que buscaramos por meio desse trabalho encontrar variaes significativas do comum que ressaltam o padro de vida na qual os significados so informados. Aps a reflexo e o estudo das teorias e pensamentos que sustentam nosso trabalho, partimos para o segundo passo. Qual a melhor maneira de ouvir os camels? O dilogo uma ferramenta de comunicao que tem se mostrado eficaz, ficou decidido ento realizar entrevistas para elaborar uma grande reportagem que trouxesse a voz dos camels.
1 Trabalho apresentado na V FEICOM: Ressignificar as fronteiras da comunicao e informao, de 08 a 12 de novembro de 2010, em Goinia GO. 2 Alunos do segundo perodo do curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia da Universidade Federal de Gois. E-mail: [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]. 3 Antroploga. Jornalista. Mestre em Cincias do Ambiente. Professora do curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia da Universidade Federal de Gois. Orientadora da proposta.
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Atravs de relatos humanizados (Medina, 2000), que espelham o cotidiano dos camels entrevistados, e do contato com as fontes tentamos pensar a comunicao de um outro modo, a partir da troca de saberes, ou seja, da criao de um dilogo. O jornalista, como mediador da comunicao entre as relaes que experiencia e estuda com a sociedade, deve manter o dilogo com as fontes para tentar exercitar a alteridade. O termo camel tem origem na Frana durante o sculo XII. Nessa poca, transitavam nas ruas de Paris vendedores ambulantes oferecendo aos transeuntes um tipo de tecido feito com pele de camelo, muito apreciado pela populao. Esse tipo de tecido era importado do Oriente Mdio, onde era nomeado como khmalat, entre os parisienses acabou ganhando o nome de camelot, que era atribudo para identificar a mercadoria e o seu vendedor. No sculo XVII as variaes na lngua francesa fizeram surgir o verbo cameloter que significa vender objetos sem valor, ou tratar os outros com pouca educao e cortesia. O vocbulo camel chega ao Brasil no incio do sculo XX, mas esses comerciantes j praticavam seu ofcio h muito tempo em nosso pas. Popularmente o exerccio do camel se confunde com o da ambulante. Esses conceitos so minimamente distinguidos no Cdigo de Postura do Municpio de Goinia, nos Artigos 122 e 137. O ambulante o exerccio do comrcio de porta em porta ou de maneira mvel nos lugares pblicos, sem neles poder estacionar. Ele pode conseguir uma licena da prefeitura para se tornar legal. J o camel, a pessoa que, sem licena para Localizao e Funcionamento, exerce atividade comercial ou de prestao de servio de pequeno porte estacionado sobre logradouro ou em local de acesso ao pblico. proibido o exerccio da atividade de camel. Objetivos Pensar alternativas comunicacionais que respeitem a alteridade e considerem as histrias de vida de diversos agentes de construo social. Tais alternativas transcendem os Direitos dos Entrevistados, alcanando o, ainda utpico, direito de ser ouvido. Isto , o jornalista livre de restries culturais, sociais, econmicas e do prprio veculo em que trabalha, sujeitado por meio das pesquisas de receptividade, para escolher suas fontes. No privilegiando nenhuma camada da sociedade com o direito da fala pblica. Em linhas mais especficas, ns objetivamos com o nosso trabalho a desconstruo das velhas e errneas identidades dos camels e escutar deles o que apenas eles podem dizer: afinal, o que ser camel? Metodologia A grande reportagem foi elaborada em equipe e, como ponto de partida foram feitas entrevistas diretamente com os camels. Entrevistamos um total de 26 trabalhadores, iniciando pelo Mercado Aberto de Goinia, e concluindo no Terminal da Praa Bblia. As perguntas elaboradas eram sobre assuntos formais e pessoais como, por exemplo, grau de escolaridade, nmero de filhos, situao de moradia, pretenses de vida a longo prazo, fontes de renda dentre outros. A conversa e coleta de dados foram executadas em cerca de 4 horas, pela manh, no Mercado Aberto e 3 horas pela tarde no Terminal da Praa da Bblia. Ao chegarmos, podamos ver o comeo de um longo dia de trabalho, j que os camels estavam atentos, concentrados e fadigados ao montarem suas bancas. Mesmo assim, interrompamos seu trabalho e inicivamos uma conversa com eles.
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Outra fonte entrevistada foi a Secretaria de Desenvolvimento Econmico do Municpio de Goinia, a SEDEM. Apesar de termos marcado um horrio, esperamos por 1 hora e 30 minutos pelo diretor de fiscalizao, que, quando presente foi atencioso quanto as nossas indagaes. Durante as entrevistas foram anotadas algumas impresses e constataes nossas em relao aos entrevistados que, em sua maioria, se mostraram bastante receptivos e solidrios, com poucas excees a essa regra. Os incios de dilogos, em certos casos, foram difceis no s por quem respondia, mas tambm para ns, por se tratar de um primeiro contado formal e de uma primeira experincia especificamente jornalstica. Para registrar o momento e divulg-lo posteriormente, houve captao de fotos, que retratavam a movimentao do ambiente e o grande trabalho executado no local. O ato de tirar fotos foi de fcil execuo, devido receptividade e colaborao das fontes. A reportagem elaborada apresentava a proposta de abordar a cultura camel por um cunho mais humanstico, valorizando no s o ponto de vista das autoridades mais tambm o dos trabalhadores. Aspectos gerais como acesso a internet, bibliotecas e cinema foram comentados, mas, alm deles, temas pontuais como filiao sindical e insatisfaes quanto ao ambiente em que foram colocados tambm foram discutidos. Resultados, discusso Ainda Geertz (1978) classifica como descrio densa a busca quase inumana por uma interpretao uma vez que o comumente visto so interpretaes sustentadas na interpretao do outro, ou seja, a interpretao de uma interpretao j concebida. Longe de alcanar o ideal interpretativo proposto por Geertz, o que trazemos aqui um esforo nesta busca, resultado de intenso trabalho, baseado em entrevistas e pesquisas sobre os camels goianienses. Esse resultado chega para ns na forma de um conhecimento diferenciado dessa profisso. Acreditamos que o que temos agora um conhecimento baseado em cada pessoa, em cada indivduo, de acordo com seu ponto de vista e com sua cultura. Ou seja, um conhecimento dele mesmo interpretado de outra forma. Concluses Para concluir, podemos afirmar que o trabalho trouxe realizao para os integrantes do grupo. Isso porque, em nossas cabeas quebramos paradigmas com conceitos pr-estabelecidos. Conseguimos perceber o quo prximo esto os camels de ns, em termos de similitudes musicais e preferncias de lazer, como por exemplo. Alm do retorno pessoal para o grupo, desejamos que os camels tambm tivessem retorno, por isso afixamos o trabalho pronto no Mercado Aberto de Goinia e no Terminal da Praa da Bblia. Acreditamos que os camels ganharam reconhecimento por parte deles mesmos ao se verem inseridos em um contexto de releitura da identidade camel por outras pessoas. Com os depoimentos dos camels pretendemos dar voz a eles, por meio de um meio de comunicao, para que os rgos pblicos e os consumidores os ouam e revisem a viso da identidade camel que cada indivduo constri. Porm, temos conscincia de que, um exemplar fixado no ambiente de trabalho dos ambulantes no suficiente para que os trabalhadores do local e as pessoas que por l transitam tenham acesso ao material produzido. necessrio um estudo de recepo para saber qual a melhor forma do nosso trabalho beneficiar o nosso pblico alvo, os camels, pois no temos certeza se atingimos os nossos objetivos.
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REFERNCIAS AZEVEDO, Dnya e BARCELOS, Janaina. A experincia da alteridade: interveno na prtica jornalstica.Disponvel em: http://www.fnpj.org.br/antigo/grupos_trabalho/ extensao/natal/dunya.htm GEERTZ, Clifford. Uma descrio densa: por uma teoria interpretativa da cultura. In. : A Interpretao das Culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1978. Captulo 1. MEDINA, Cremilda. Entrevista: O dilogo possvel. So Paulo: tica, 2000.
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Parte 1: Imagens e Imaginrios | : FAZCINE CLUBE MOSTRA DIA INTERNACIONAL DA ANIMAO1 Lara Lima SATLER 2 Ana Rita Vidica FERNANDES 3 Universidade Federal de Gois
Texto sobre a Exposio
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A exposio FazCine Clube Mostra Dia Internacional da Animao uma mostra produzida pelo FazCine Clube. A mostra d continuidade a uma srie de ciclos de animaes, exibidas pelo projeto de extenso Fazcine Clube, vinculado ao Ncleo de Pesquisa em Teoria da Imagem (NPTI/UFG/Cnpq), que se destina tanto formao de pblico sobre a histria da linguagem cinematogrfica mundial, quanto experimentao de prticas audiovisuais. Desde o incio letivo de 2010, o Fazcine Clube tem exibido produtos audiovisuais que se pautaram ora pela linha cronolgica da obra Histria do cinema mundial de Fernando Mascarello (2006), ora por ciclos de filmes como O documentrio brasileiro contemporneo, de curadoria de Rafael Almeida. O objetivo da mostra estimular o debate sobre a produo audiovisual na universidade, ampliando os circuitos de exibio. Palavras-chave: Cinema; fotografia; cineclube; experimentao audiovisual. Justificativa / Base Terica O Fazcine Clube um projeto de extenso da Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia vinculada Pr-reitoria de Extenso e Cultura (PROEC), da Universidade Federal de Gois. O projeto se destina tanto formao de pblico sobre a linguagem cinematogrfica mundial e nacional quanto ao fazer e experimentar prticas audiovisuais. Est vinculado ainda Oscip Polivida, dentro do Programa Pezinho de Jatob, tendo as mesmas finalidades mencionadas, contudo agora, com a possibilidade de captar recursos para realizao de projetos como, Fazcine Itinerncias, que se destina a levar exibies itinerantes comunidade goianiense. Desde o incio letivo de 2010, o Fazcine Clube tem se reunido uma vez por semana4 com o objetivo de assistir e debater sobre filmes escolhidos pela linha cronolgica da linguagem cinematogrfica, tendo como fundamentao terica a obra Histria do cinema mundial, organizado por Fernando Mascarello (2006). Adotou-se este texto para responder com ele a pergunta: Como aprender e ensinar, no Brasil, sobre a histria do cinema mundial? A resposta pergunta que interessa a estudantes de graduao em Cinema e Audiovisual, mestrandos e doutorando de diversas reas, seus professores e ao pblico cinfilo de modo geral tm entre seus complicadores o problema de bibliografia. H carncia, em lngua portuguesa, de textos que ofeream uma viso conjunta a um s tempo profunda e operacionalizvel em um perodo relativamente curto. (MASCARELLO, 2006, p. 11)
1 Trabalho apresentado na V FEICOM: Ressignificar as fronteiras da comunicao e informao, de 08 a 12 de novembro de 2010, em Goinia GO. 2 Mestre em Filosofia. Professora da Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia (Facomb) da Universidade Federal de Gois. Email: [email protected] 3 Mestre em Cultura Visual. Professora da Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia (Facomb) da Universidade Federal de Gois. Email: [email protected]
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Parte 1: Imagens e Imaginrios | : FAZCINE CLUBE MOSTRA DIA INTERNACIONAL DA ANIMAO1 Lara Lima SATLER 2 Ana Rita Vidica FERNANDES 3 Universidade Federal de Gois
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Uma vez que o objetivo do grupo de discentes e docentes envolvidos na criao do Fazcine Clube5 se pautou por conhecer a histria do cinema na perspectiva esttica considerando que esta um dos pilares para se perceber (do grego aisthesis significa percepo, sensao) a linguagem cinematogrfica e suas experimentaes ao longo da cronologia histrica (STAM, 2003). Iniciou-se, desse modo, com exibies e o estudo do texto Primeiro cinema de Flvia Cesarino Costa (2006), no qual a autora nos lembra de que, No comeo do sculo XX, o cinema inaugurou uma era de predominncia das imagens. Mas quando apareceu, por volta de 1895, no possua um cdigo prprio e estava misturado a outras formas culturais, como os espetculos de lanterna mgica, o teatro popular, os cartuns, as revistas ilustradas e os cartes-postais. (COSTA, 2006, p.17) Assim, da mesma forma que, Stam (2003, p. 24) argumenta que as discusses envolvendo a inveno cinema e suas imagens em movimento tm como antecedentes a esttica que se baseia na longa histria da esttica em geral e tem como recorte o estudo da beleza artstica e de temas relacionados como o sublime, o grotesco, o cmico e o prazeroso; Costa (2006) sugere que os antecedentes da linguagem cinematogrfica e a prpria histria do cinema esto em aparelhos que nomeamos, em nossos debates, por mquinas de pr-cinema. Se para Costa (2006, p.17-18) a histria do cinema faz parte de uma histria mais ampla, que engloba no apenas a histria das prticas de projeo de imagens, mas tambm a dos divertimentos populares, dos instrumentos ticos e das pesquisas com imagens fotogrficas, o grupo decidiu pesquisar mais aprofundadamente sobre esses divertimentos populares, transformando-os no objeto da primeira realizao audiovisual do Fazcine, a exposio Sai da Caixa. A exposio Sai da Caixa surge como proposta de pensar a construo da linguagem cinematogrfica a partir de mquinas de pr-cinema. Caixa o smbolo que remete a quadro, em ingls frame, elemento atmico de toda linguagem audiovisual (MONACHESI, 2009). A caixa , em outras palavras, o elemento tridimensional do quadro, o volume de um frame. Pensando ironicamente, h de fato uma provocao ao provincianismo, que elogia o pensar em quadros, formatado em caixas hermticas e contrrio ao fluir desenfreado do fluxo criativo. O objetivo da exposio experimentar hoje linguagens j exploradas historicamente. O cinema surge em 1895, oficialmente. A imagem em movimento que os irmos Lumire popularizam so, antes disso, objetos de curiosos brinquedos pticos que reconstrumos para esta exposio. Essa viagem no tempo do que estamos denominando de mquinas de pr-cinema est permeada, em todo momento, por nossas contemporneas linguagens audiovisuais e computacionais. Vimos isso durante o prprio fazer das imagens e nas reconstrues das mquinas. Feitas a partir de sucata, resultado do descarte da nossa sociedade de consumo, reproduzimos algumas mquinas de imagens que antecedem ao cinema e que lhe do o tom para pensar uma linguagem prpria. Assim, o movimento uma categoria que nos interessou pesquisar. Para tanto, os experimentos artsticos do fotgrafo ingls Eadweard Muybridge (1830-1904), considerado padrinho do cinema (STERN), foi uma referncia para pensar o movimento a partir de imagens fotogrficas. Escolheu-se, portanto, a fotografia como ponto de partida para experimentar a linguagem do movimento. A fotografia tal qual os tempos de Muybridge foi
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trabalhada nas pinholes, a sensibilizao do papel fotogrfico sem o uso de cmeras e, portanto, sem os recursos de foco, controle das distncias e do enquadramento. Experimentamos tambm a pinhole de filme, que usa a caixa de uma cmera analgica, mas com as limitaes de foco, pois no lugar da lente, tem-se o orifcio, por onde entra a luz. Os demais experimentos e registros foram digitais. Hoje mais fcil o uso do digital na captao, edio e tratamento das imagens. Estamos na era dos hibridismos de linguagens e tecnologias.
Referncias COSTA, Flvia Cesarino. Primeiro cinema In: MASCARELLO, Fernando (Org.). Histria do cinema mundial. Campinas,SP: Papirus, 2006. MASCARELLO, Fernando (Org.). Histria do cinema mundial. Campinas,SP: Papirus, 2006. MONACHESI, Juliana. A cultura das tags. In: HTTP vdeo, HTTP som, HTTP tags. So Paulo: Instituto Srgio Mota, 2009. STAM, Roberto. Introduo teoria do cinema. Campinas, SP: Papirus, 2003.
4 Data: todas segundas; horrio: 18h s 20h; local: sala 18 - Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia - FACOMB/UFG. Informaes: http://fazcine.blogspot.com/ ou [email protected] 5 A formao do Fazcine Clube, no primeiro semestre de 2010, foi composta por: Ana Rita Vidica, Gustavo Vieira, Lara Satler, Laura Boletti de Castro, Mariana Moura, Pedro Henrique, Rafael Coelho, Rafael Watanabe, Renato Cirino. A partir do segundo semestre do mesmo ano, o Rafael Almeida e Gil Santiago participam do grupo.
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Parte 2
Parte 2: Anlises de Discursos e Prticas de Comunicao e Informao | : Patricia Paula Nascimento2 Patrcia Quitero Rosenzweig3 Pontifcia Universidade Catlica de Gois
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Resumo Comunicao integrada: unio das ferramentas comunicacionais. Alterada a partir do avano tecnolgico, este artigo prope discutir o fazer e o pensar luz da comunicao digital. Palavras-chave: Comunicao integrada; agncia experimental; comunicao digital; informao. Abstract Integrated marketing communications: the union of tools. Amended from the technological advance, this article proposes discussing the make and thinking digital communication. Keywords: Integrated communications; laboratory agency; digital communication; advice. 1 INTRODUO Os anunciantes esto cada vez mais exigindo de suas agncias uma diferenciao nos processos de comunicao que melhor atendam s suas expectativas de investimentos mercadolgicos e que otimize estrategicamente o repasse de suas informaes aos seus pblicos de interesse. Os investimentos em mdia e aes de comunicao tornam-se motivos de preocupao da maioria das empresas devido cobrana de um retorno mensurvel dessa verba investida. O mercado, ento passa a migrar para agncias diferenciadas que melhor manuseiam as ferramentas de comunicao, integrando-as, otimizando os investimentos, melhorando a rentabilidade e, sobretudo que saibam dinamizar eficientemente a propagao da informao. Dentro desta perspectiva v-se a necessidade das agncias tradicionais mudarem seus processos para sobreviverem ao mercado e atender s novas demandas. Nesse aspecto a comunicao integrada mercadolgica surge como o mtodo de teoria e prtica mais eficaz para o setor de comunicao no que tange aos servios prestados pelas agncias de comunicao. A comunicao integrada alm de atender aos requisitos bsicos de uma agncia, tambm foca na prestao de uma comunicao mais planejada e integrada. A idia corresponder os anunciantes e passar a oferecer no apenas as peas publicitrias isoladas, e sim aes inseridas num processo integrado e minucioso de planejamento de comunicao mercadolgica integral que melhor os atendam em seus retornos.
1 Trabalho apresentado na V Feicom Feira de Informao e Comunicao Facomb/UFG, realizado de 08 a 12 de novembro de 2010, em Goinia GO. 2 Professora convidada do curso de Publicidade e Propaganda da Pontifcia Universidade Catlica de Gois. Publicitria (PUCGO), especialista em Gesto de Comunicao e Marketing pelo Instituto Cambury. [email protected] 3 Professora efetiva do curso de Publicidade e Propaganda da Pontifcia Universidade Catlica de Gois. Publicitria (PUCCAMP), especialista em Planejamento Educacional (UNIVERSO) e mestre em Cultura Visual(FAV/UFG). [email protected]
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A combinao das ferramentas do composto de comunicao torna-se mais eficiente tambm devido ao efeito da sinergia conforme explica Troiano: [...] Estamos falando do processo que substitui o uso individual das ferramentas de comunicao. Estamos no mundo das combinaes e articulaes que criam efeitos sinrgicos. A CIM a atitude de humildade na qual uma determinada disciplina de comunicao reconhece a integrao dos resultados como mais eficaz e mais poderosa do que sua interpretao solitria. (TROIANO, 2001, p. 42). Como forma de preparao do discente para esses novos desafios e tendncias do segmento, decidiu-se que a comunicao integrada de marketing dever ser aplicada dentro do contexto da agncia experimental do curso de publicidade e propaganda da Pontifcia Universidade Catlica de Gois, a Emprica Comunicao, visando a ampliao e aperfeioamento do aprendizado acadmico. A agncia experimental Emprica oferecer essa dinmica em sua estrutura organizacional tendo como base uma inovao nos mtodos de gerenciamento da comunicao oferecendo solues mais ordenadas, integradas, coordenadas e mais sistemticas aos seus anunciantes, num ato de distino por meio de um diferencial realmente vivel e competitivo no meio publicitrio. Porm, antes dever ser feita uma rediscusso conceitual na teoria de comunicao integrada mercadolgica no sentido de acrescentar os novos instrumentos tecnolgicos de comunicao surgidos com o avano da web completando o composto com as novas formas do fazer e pensar luz da comunicao digital. 2 POR QUE COMUNICAO INTEGRADA DE MARKETING? A teoria da comunicao integrada de marketing carrega como diferencial o foco na integrao das ferramentas de comunicao do mix de marketing oferecendo servios com maior orientao ao mercado e aos objetivos estratgico-econmicos dos clientes. Ela vista do ponto de vista das agncias para os anunciantes, trabalhando de maneira holstica essas ferramentas e suas diversas variveis visando oferecer uma ampliao do repasse da informao para os clientes que as confiarem seus problemas e desafios mercadolgicos. Para entender melhor, Kitchen e Schultz definem da seguinte maneira: Um conceito do planejamento de comunicao de marketing que reconhece o valor agregado de um plano abrangente que avalia o papel estratgico da variedade das disciplinas de comunicao (por exemplo, propaganda geral, resposta direta, promoo de vendas e relaes pblicas) e combina estas disciplinas para prover clareza, consistncia e o mximo impacto da comunicao (KITCHEN; SCHUTZ apud SOBRINHO, 2006, p.13). Analisando estrategicamente o mundo dos negcios percebe-se nitidamente que o aumento da competitividade, o declnio da eficcia das mdias isoladas, os custos cada vez mais elevados da propaganda, as novas exigncias culturais dos consumidores e a notria evoluo tecnolgica esto levando a comunicao para um caminho de reorganizao de seus paradigmas. Faz-se necessrio, ento, que as agncias de propaganda tambm se reorganizem para no perderem espao ou tornarem-se obsoletas. No d mais para vender apenas publicidade e propaganda. preciso ofertar o arsenal completo de ferramentas de marketing para os anunciantes se as agncias quiserem permanecer como elo de comunicao para seus clientes. E quem perceber essa nova conjuntura dos processos de gerenciamento de comunicao
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sair frente e se lanar no mercado goiano como proponente total dessa convergncia. Porm, a comunicao integrada mercadolgica no utilizada pela maioria das agncias tradicionais goianas e so inmeras as necessidades dos anunciantes. Sabe-se que algumas agncias de Goinia realizam aes tidas como integradas, porm no arriscamse a terem essa vertente como foco de suas atividades. Isso tornar as agncias que aderirem a comunicao integrada em agncias distintas e pioneiras desse novo modelo de comunicao em Gois. Visualizando esse cenrio foi criada uma proposta pedaggica experimental para Agncia Emprica que visa orientar os alunos para o surgimento dessa nova demanda atravs do aprendizado da teoria e da prtica da comunicao integrada mercadolgica. A partir desse reconhecimento pelos alunos, ser possvel tratar o contexto comunicacional de maneira mais holstica e articulada dentro da agncia, visando aperfeioar a mediao e proporcionar resultados mais consolidados aos clientes que tm conta na agncia. As ferramentas que sero integradas pela Emprica so a propaganda, relaes pblicas, promoo de vendas, merchandising e agora a web, ou seja, aquelas inseridas dentro do composto comunicao de marketing. Os departamentos da agncia se orientaro na competncia e eficcia analtica do setor de planejamento, no talento e sensibilidade conceitual da criao, na sagacidade da produo e na capacidade de implementao das aes integradas. Com o bom desempenho, a Emprica Comunicao se conceituar como uma agncia experimental dinamizadora do repasse da informao devido ao carter de integrao que amplia a recepo da mensagem. Gayeski (2001) compreende que a implementao das regras de integrao das ferramentas de comunicao ajuda a melhorar a disseminao, compreenso, aceitao e aplicao da informao de forma que passa a auxiliar ao alcance dos objetivos organizacionais dos anunciantes. Vale ressaltar as vantagens da comunicao integrada que favorece o envolvimento do target com as marcas, orienta para uma melhor percepo da imagem, gera um maior vnculo afetivo, facilita o surgimento de relacionamentos de longo prazo com os consumidores, enfatiza idias, conceitos e posicionamentos. Percebe-se tambm que a utilizao da diversidade de mdias e a manuteno da unicidade do conceito, ou seja, a integrao da temtica em mdias diversas gera um vnculo particular do consumidor com a marca devido identificao nos meios de sua preferncia pessoal. So diversas as definies de comunicao integrada e existem alguns motivos identificados por Hartley e Pickton (1999) como impulsionadores desta abordagem: A noo de integrao tem sido tomada como uma nova e imperativa urgncia nos anos recentes, impulsionada pelo desenvolvimento da tecnologia de comunicao e informao, fragmentao da mdia e mudana no processamento de informao pelos consumidores, mudanas nas estruturas das agncias de comunicao, crescente sofisticao dos varejistas e consumidores, aumento dos custos da propaganda, declnio da eficcia da mdia tradicional, aumento da competitividade global e o declnio dos custos de uso de sistemas de base de dados. (HARTLEY; PICKTON apud SOBRINHO, 2006, p.13). Para Ogden (2002, p.3), a comunicao integrada uma expanso do elemento de promoo do mix de marketing. Ela essencialmente o reconhecimento da importncia de comunicar a mesma mensagem para o mercado alvo.
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Low (apud SOBRINHO, 2006) explica que a busca por uma maior produtividade da comunicao est direcionando esforos para aprimorar a eficincia do mix de comunicao de marketing. Para ele, o crescimento da Internet que uma nova forma de comunicao, tanto complementa como pode substituir a mdia tradicional. Numa afirmao simplista, porm pertinente, v-se que a crescente fragmentao da mdia de massa torna mais difcil a cobertura de toda a audincia-alvo com um simples conjunto de ferramentas promocionais (SCHULTZ; KITCHEN apud SOBRINHO, 2006, p.13). A definio mais clara e metdica de comunicao integrada de marketing foi elaborada em conjunto pelos membros do corpo docente de comunicaes de marketing da Medill School e foi a definio escolhida e usada por Shimp: CIM o processo de desenvolvimento e de implementao de vrias formas de programas de comunicao persuasivos com clientes existentes e potenciais no decorrer do tempo. O objetivo da CIM influenciar ou afetar diretamente o comportamento do pblico-alvo das comunicaes. A CIM considera todas as fontes de marca ou contatos da empresa que um cliente ou prospecto tem com o produto ou servio como um canal potencial para divulgao de mensagens futuras. Alm disso, a CIM faz uso de todas as formas de comunicao que so relevantes para os clientes atuais e potenciais, e s quais eles devem ser receptivos. Em resumo, o processo de CIM comea com o cliente ou prospecto e ento retorna para determinar e definir as formas e mtodos atravs dos quais programas de comunicaes persuasivos podem ser desenvolvidos (SHIMP, 2003, p.40). J outros autores vem dificuldade na exata definio de comunicao integrada pela sua complexidade. Low (apud EWING, 2000) afirma que a definio de comunicao integrada de marketing est longe de ser considerada fcil, porque ela pode ser considerada tanto um conceito (filosofia), segundo Kitchen e Schultz (1988), e ou como um processo, segundo Shimp (2002). Assim, Kitchen e Schultz definem comunicao integrada de marketing da seguinte maneira: Um conceito do planejamento de comunicao de marketing que reconhece o valor agregado de um plano abrangente que avalia o papel estratgico da variedade das disciplinas de comunicao (por exemplo, propaganda geral, resposta direta, promoo de vendas e relaes pblicas) e combina estas disciplinas para prover clareza, consistncia e o mximo impacto da comunicao (KITCHEN; SCHUTZ apud SOBRINHO, 2006, p.13). Boone e Kurtz (1998) defendem a comunicao integrada de marketing devido a necessidade de novas formas de interao com o consumidor: A CIM surgiu como uma resposta s empresas na tentativa de otimizar seus esforos de promoo. A exigncia imposta pelo mercado na implementao de uma promoo unificada e focada no cliente forou os profissionais de marketing e comunicao a buscar novos mtodos, criando a CIM. (BOONE; KURTZ apud SOBRINHO, 2006, p.12).
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Observa-se que apesar dos benefcios prticos e da eficincia conceitual da comunicao integrada os elementos de comunicao ainda so tratados como atividades teoricamente separadas, em agncias diferentes, com oramentos separados, dentro de planos estratgicos distintos. Isso complica o entendimento, diminui a aproximao e compromete a assimilao da marca, uma vez que os consumidores vem a mesma marca divulgada de formas e tipos diferentes ou em meios inadequados. A percepo do consumidor se torna alterada pela falta de uma mensagem unificada: uma agncia de relaes pblicas, uma empresa voltada para rea de promoo, outra focada na propaganda, outra para solues em web e mais uma para promover o merchandising, nenhuma se comunicando entre si, recebendo as informaes estratgicas vindas do anunciante, o qual, na maioria das vezes, no consegue unificar o contedo e o transfere de maneira desigual. A soluo nada mais que a comunicao integrada de marketing, pensada e produzida em um nico local, para que as ideias se unifiquem e tornem-se mais expressivas e comunicativas ao consumidor.Ogden cita a necessidade dos esforos integrados e o conceito de sinergia: As empresas devem se conscientizar de que todas as suas variveis de marketing e de comunicao afetam umas s outras, o consumidor e os comunicadores. Sendo assim, todas as variveis de comunicao tero um efeito no marketing por esse motivo que todos os esforos de comunicao de uma organizao devem ser integrados. O resultado da integrao a criao de uma sinergia. O conceito de sinergia, em situaes de negcios, que os esforos combinados de todas as unidades de negcios tm um efeito maior que a soma dos esforos individuais ou departamentais isoladamente (OGDEN, 2006, p. 12). A filosofia atual de marketing defende a mais absoluta necessidade da integrao para obteno de sucesso: O profissional de marketing [e comunicao] bem-sucedido no novo ambiente ser aquele que coordenar o mix de comunicao de forma to rigorosa que voc pode olhar de veculo para veculo, de evento de programa para evento de programa e ver instantaneamente que a marca est falando uma nica linguagem. A razo bsica para a comunicao integrada de marketing que ela se constituir na nica vantagem competitiva sustentvel das organizaes de marketing nos prximos anos (SHIMP, 2003, p.39). Segundo Pinheiro e Gullo (2005) a integrao das ferramentas de comunicao basicamente a otimizao dos investimentos e destaca a necessidade de integrar adequadamente esses ferramentais. Ressalta que nem sempre deve-se utilizar todas as mdias ou parte delas. Deve-se usar as mdias certas que se integram e complementam para um bom retorno da comunicao e da rentabilidade sobre os investimentos das verbas de comunicao de marketing. Teoricamente to lgico perceber que todo o processo deve transmitir uma nica mensagem ao receptor para favorecer sua percepo, pois essa percepo geral do consumidor em relao marca que o impele deciso. Mas infelizmente os anunciantes brasileiros ainda devem esperar pela generalizao desse processo, uma vez que ele caminha para a transformao e para a adaptao. Isso deve-se grande relutncia das agncias em promover essa abordagem holstica e deixar de tratar os elementos de maneira separada, de sarem da tradicional propaganda para alm de outras funes. Nesse aspecto a Agncia Emprica sai frente com o intuito de viabilizar essa convergncia no mercado publicitrio atravs de seus alunos que levaro para o mercado em suas bagagens esse conhecimento testado atravs da formao acadmica.
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3 A INCLUSO DA COMUNICAO DIGITAL NO COMPOSTO So muitas as ferramentas do mix de comunicao, porm para melhor compreender o processo sinrgico da comunicao integrada mercadolgica foram escolhidas algumas para serem utilizadas pela Agncia Emprica sendo elas: propagada, relaes pblicas, promoo de vendas, merchandising e agora com o avano da tecnologia na era da informao, que vem alterando significativamente o escopo comunicacional, faz-se necessria a incluso dos instrumentos tecnolgicos nessa dinmica atravs das estratgias de comunicao digital via web. O avano tecnolgico, a rapidez da informao, o impacto das mudanas em um mundo simultaneamente global e ao mesmo tempo local, que agregam pessoas e localidades, redimensionando negcios e virtualizando relaes interpessoais, exigem das agncias de comunicao novos entendimentos e prticas nesta esfera virtual. Visualizando como oportunidades mercadolgicas para seus clientes, a Agncia Emprica acrescentar a comunicao digital para seus clientes como prestao de servios unindo s outras ferramentas da comunicao integrada mercadolgica. A web 2.0 tem como principal caracterstica a ampliao das formas de produo cooperada e compartilhamento de informaes online. Isso vem de encontro aos anseios dos anunciantes que esperam a otimizao e a ampliao do repasse de suas informaes aos seus pblicos de interesse. Na viso de OReilly (2005), no h como demarcar precisamente as fronteiras da web 2.0. Trata-se do uso da web como uma plataforma onde so viabilizadas funes online que anteriormente s poderiam ser conduzidas por programas instalados no computador. Porm, mais do que um aperfeioamento focado na usabilidade, o autor enfatiza o desenvolvimento do que chama de arquitetura de participao. Assim, acredita-se que a web 2.0 tenha repercusses sociais importantes, que potencializam processos de trabalho coletivos, a troca afetiva, a produo e circulao de informaes e a construo social, todos importantes para o ambiente mercadolgico. A Web 2.0 refere-se no apenas a uma combinao de tcnicas informticas (servios web, linguagem ajax, web syndication, etc.), mas tambm a um determinado perodo tecnolgico, a um conjunto de novas estratgias mercadolgicas e a processos de comunicao mediados pelo computador. (Primo, 2007) Hoje a web composta no apenas de grandes portais. Uma pequena frao de blogs possui um grande nmero de conexes, mas uma grande maioria possui poucas conexes. o que chamam de poder da longa cauda elucidado por Anderson (2006). Os blogs que renem pequenos grupos com interesses segmentados ganham peso na rede a partir de sua interconexo com outros subsistemas. Assim, o modelo informacional de um grande centro distribuidor de mensagens passa a competir com a lgica sistmica da conexo de microredes. Em outras palavras, enquanto modelo massivo foca-se no centro, a web 2.0 fortalece as bordas da rede. A nova realidade web 2.0 possibilita interao entre o internauta e o meio virtual, permitindo que este altere e disponibilize informaes na rede digital. Isso possibilitou a integrao entre o usurio e a web, fazendo com que ele se torne parte fundamental da rede e no apenas um sujeito passivo ou, em outras palavras, apenas um receptor. Tambm como conseqncia da web 2.0, viu-se o surgimento das conhecidas redes sociais, onde possvel compartilhar informaes e interagir conjuntamente. As pessoas passaram a registrar informaes no meio virtual e compartilh-las com os demais de maneira rpida e eficiente. Notou-se, portanto um aumento gradativo de informaes disponveis no ambiente virtual graas a essa maior interao entre as pessoas e o virtual. A interatividade, produtividade, atualidade, economia e globalidade levam o receptor a ser tambm produtor das mensagens e a interagir com a sua fonte de informao (Cruz, 2000).
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Percebendo isso, as empresas ampliam suas expectativas de marketing passando a integrar e se valer dos benefcios predispostos pelo ambiente virtual para interagir e conhecer melhor seus clientes. Os investimentos no uso da internet cresceram aceleradamente devido a rentabilidade conseguida atravs das tticas de e-commerce. Com tudo isso, cabe s agncias acrescentar solues online no seu composto de comunicao integrada para atender s essas alteraes de consumo e preferncia miditica. Segundo (Kunsch, 1997, p. 116) preciso incorporar a idia de uma comunicao globalizante, que nos ajude a compreender o ritmo acelerado das mudanas [...] uma comunicao parcial e fragmentada nunca conseguir isso. Agora em se tratando da ferramenta propaganda na esfera da comunicao integrada cabem algumas explicaes. Podem ser entendidas como ferramentas usadas pela comunicao de marketing que cria e faz a manuteno da imagem de uma marca e apia o crescimento das vendas (PINHEIRO; GULLO, 2005, p.47). Segundo esses autores o princpio bsico da propaganda passar uma mensagem correta de acordo com seu contedo, para criar ou manter uma imagem e gerar aceitao e preferncia na mente do consumidor. Ento percebe-se atravs dos conceitos expostos que a funo maior da propaganda a de informar os benefcios do produto e os atributos que se quer valorizar e ainda persuadir o receptor da mensagem a ir ao encontro do produto. A ferramenta do mix de comunicao chamada relaes pblicas, segundo Odgen (2002), tem como funo gerar no pblico geral uma boa vontade em relao empresa ou a organizao e se concentra nos relacionamentos entre uma organizao e seus diversos pblicos influenciadores. Relaes pblicas sob o ponto de vista de Pinho (2006) pode ser compreendida como uma administrao estratgica dos contatos e do relacionamento entre uma organizao e os diferentes pblicos que a constituem ou que com ela se relacionam e interagem. Para nomear algumas atividades de relaes pblicas dentro do contexto integrado de marketing, Pinho (2006) destaca como principais a divulgao jornalstica externa ou chamada mdia espontnea, a comunicao entre empresa e seus pblicos especficos, eventos e promoes especiais e a gerncia de assuntos pblicos. Nota-se, portanto, que dentro da comunicao integrada de marketing a rea de relaes pblicas exerce um papel fundamental na implantao, consolidao e preservao da imagem institucional de uma marca. Em se tratando de promoo de vendas, outra ferramenta de CIM usada pela agncia, o autor Las Casas (2000) usa a definio da Associao Americana de Marketing que diz que a promoo de vendas abrange atividades que suplementam vendas pessoais de propaganda, coordenando-as e ajudando a torn-las eficazes, tais como o uso de amostras e exposies, demonstraes e outros esforos que no estejam includos na rotina diria. Relata tambm que ela tida em trs nveis: junto empresa, aos intermedirios e direto com os clientes. Segundo Pinho (2006) as principais tcnicas de promoo de vendas so ofertas promocionais, descontos e redues de preos, degustaes, demonstraes e amostras, oferta de brindes, cuponagem, premiaes, concursos, sorteios e eventos promocionais. A ferramenta de comunicao em marketing denominada merchandising entendida como o o enriquecimento e a valorizao do clima promocional, a nvel de ponto de venda, onde se encontra o produto, com o objetivo de envolvimento do consumidor, levando-o efetivao de compra (PINHEIRO; GULLO, 2005, p.79). Percebe-se atravs do exposto que deve-se usar os recursos de merchandising para fazer a marca melhor se apresentar na rea de vendas e isso se d com uma srie de tcnicas que vo da limpeza a materiais de apoio afixados no ponto-de-venda. Desse modo, a Agncia Emprica, em sua funo principal de formao experimental, se estabelecer como proponente total desse novo conceito e mtodo de gerenciamento de comunicao ensinando a participao ativa de seus alunos para o desenvolvimento de novos negcios e proporcionando acima de tudo, resultados frutferos aos seus clientes.
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3 CONCLUSO O anunciante est cada vez mais buscando agncias destacadas pelo manuseio integrado das ferramentas de comunicao sabendo que esta prtica facilita e otimiza os seus investimentos devido a unio das aes de comunicao em um s fornecedor, alm do retorno mais consistente junto ao seu pblico-alvo. Dentro deste cenrio, foi possvel perceber que as agncias goianas ainda so muito tradicionais e necessitam de mudanas para sobreviverem s novas demandas mercadolgicas. Elucidou-se que a comunicao integrada de marketing, alm de atender aos requisitos bsicos de uma agncia, tambm foca na prestao de uma comunicao mais planejada, no oferecendo apenas peas publicitrias isoladas, e sim aes inseridas num processo integrado e minucioso de planejamento de comunicao mercadolgica correspondendo melhor aos anunciantes. A insero da comunicao integrada de marketing na estrutura organizacional e nos processos de trabalho da agncia experimental Emprica Comunicao foi discutida como a nova prtica do curso de publicidade e propaganda da Pontifcia Universidade Catlica. O propsito dessa iniciativa ressignificar o desenvolvimento da teoria e prtica da comunicao integrada no ambiente acadmico, de modo a esclarecer aos discentes sobre as novas oportunidades de ampliao estratgica da difuso da informao com esse processo que hoje necessariamente se alia aos novos instrumentos da tecnologia da informao. A comunicao integrada foi esclarecida como a unio das ferramentas da comunicao mercadolgica, alterada significativamente com o avano tecnolgico, surgindo a necessidade da incluso das novas formas do fazer e pensar luz da comunicao digital. Com essa ampliao do conceito da comunicao integrada, os alunos da Emprica Comunicao, em um formato vanguardista de experimentao, aprendero tratar o contexto comunicacional de maneira mais holstica e articulada, visando aperfeioar a mediao proporcionando resultados mais consolidados aos anunciantes. REFERNCIAS ANDERSON, Chris. (2006). A cauda longa. Do mercado de massa para o mercado de nicho. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006 CRUZ, Dulce Mrcia. Introduo a Mdia e Conhecimento. Apostila do Curso de Especializao para Gestores de Instituies de Ensino Tcnico do SENAI, Turma 4. Disciplina 1 do Terceiro Mdulo. Florianpolis: PPGEP/LED, 2000. EWING, Michael T.; De BUSSY, Nigel M. e CARUANA, Albert. Perceived agency politics and conflicts of interest as potential barriers to IMC orientation. Journal of Marketing Communication, 6, p. 107 119, 2000. GAYESKI, Diane; PARTNER, OmniCom Associates e WOODWARD, Barbara E. Integrated Communication: From Theory to Performance. Disponvel em <http://www. omnicomassociates.com/omninteg.html> Acesso em: 29 out. 2010. KUNSCH, Margarida M. K. Planejamento das Relaes Pblicas na comunicao integrada. So Paulo: Summus, 1986. KUNSCH, Margarida Maria Krohling. Relaes Pblicas e modernidade: novos paradigmas na comunicao organizacional. So Paulo: Summus, 1997. LAS CASAS, Alexandre Luzzi. Marketing de servios. 2 ed. So Paulo: Atlas, 2000. OGDEN, James. Comunicao integrada de marketing: o modelo prtico para um plano criativo e inovador. Traduo e reviso: Cristina Bacellar. So Paulo: Pearson Prentice Hall, 2002. OREILLY, Tim. What is Web 2.0. Square Web, 2005. Disponvel em: <http://translate.googleusercontent.com/translate_c?hl=pt- BR&langpair=en%7Cpt&u=http://oreilly. com/web2/archive/what-is-web-20.html&rurl=translate.google.com.br&twu=1&usg=ALkJrhiGpLnnIndM7Gz7eOkfsCGq7OHmA> Acesso em: 29 out. 2010.
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Parte 2: Anlises de Discursos e Prticas de Comunicao e Informao | : Patricia Paula Nascimento2 Patrcia Quitero Rosenzweig3 Pontifcia Universidade Catlica de Gois
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PINHEIRO, Duda; GULLO, Jos. Comunicao Integrada de Marketing: Gesto dos elementos de comunicao. Suporte s estratgias de marketing e de negcios da empresa. So Paulo: Atlas, 2005. PINHO, J.B. Comunicao em Marketing: princpios da comunicao mercadolgica. Campinas: Papirus, 2006. PRIMO, Alex. O aspecto relacional das interaes na Web 2.0. E-Comps (Braslia), v. 9, p. 1-21, 2007 SHIMP, Terence A. Propaganda e Promoo: Aspectos complementares da comunicao integrada de marketing. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2002. SOBRINHO, Zaki Akel. Revista de Estudos de Comunicao: Comunicao integrada de marketing - realidade empresarial ou um novo modismo? v.7, n.14, p.11-21, jul./dez. Curitiba:UFPR, 2006. TROIANO, Jaime. Jornal Meio e Mensagem: Auditando o efeito da comunicao integrada. v. 22, n.955, p.e42-e43, abr. So Paulo:2001 VASCONCELOS, Luciene R. Planejamento de comunicao integrada: Manual de sobrevivncia para as organizaes do sculo XXI. Summus Editorial: 2009. YANAZE, Mitsuru H. Gesto de Marketing e Comunicao. So Paulo: Saraiva, 2006.
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Resumo: O pster ilustra a ao social e as produes materiais (cartazes e folders) feitas dentro da Inova, Laboratrio de Agncia Experimental em Publicidade e Propaganda da Universidade Federal de Gois (UFG) para o Projeto Bibliotecas. Esse projeto partiu de alunos e professores do curso de Biblioteconomia da UFG com os objetivos de estimular a leitura na populao de Goinia, divulgando as bibliotecas pblicas da cidade para que os cidados passem a freqent-las com mais assiduidade e de contribuir para a conservao deste patrimnio histrico. O texto apresenta, com fotos e informaes das bibliotecas que participam do projeto, da ao programada para o dia 26/10 na escola municipal de Goinia, Colgio Lyceu, bem como dos cartazes e folders desenvolvidos. Palavras-chave: bibliotecas pblicas; estmulo leitura; ao social; publicidade; interveno urbana. Justificativa/Base terica 1. Discutindo o Projeto O Projeto Bibliotecas de Goinia: divulgao e interao com a comunidade surgiu a partir da vontade de alunos e professores do curso de Biblioteconomia da UFG de trazer para a populao da capital de Gois o apreo leitura e estimular o uso e conservao de sete das bibliotecas pblicas de Goinia, que so: Biblioteca Central da UFG, Municipal Cora Coralina, Estadual Pio Vargas, Municipal Marieta Teles Machado, Estadual Braile e Gibiteca Estadual Jorge Braga. sabido que no s em nossa cidade e Estado as bibliotecas no so destino comum a todos, essa a realidade em todo o pas5 . Esse pouco apreo verificvel, em maior e menor grau, em todas as classes sociais, porm mais evidente nas menos favorecidas. A educao de baixa qualidade afeta a leitura, seja pela falta de livros nas bibliotecas escolares, seja pelo fracasso do ensino pblico brasileiro em se formar leitores nas salas de aula, situaes a que estes esto mais suscetveis6. O pouco ou nenhum acesso a livros um dos sintomas da falta de acesso as variadas formas de cultura nas classes mais baixas7 . Por cultura, entendemos o conceito alemo Kultur que rene os aspectos intelectuais, artsticos, religiosos, tcnicos, morais, sociais e acima de tudo a realizao dos prprios indivduos, pertencentes a esta e que se realizam em existncia atravs da sua manifestao8 . Toda a sociedade, pas, civilizao faz e se submete a uma cultura. No entanto, dentro da cultura, h aquelas tidas como superior e durante a Histria pode-se notar um esforo contnuo de barrar essa cultura s classes mais baixas (nos tempos do capitalismo) ou aos sditos (na Idade Mdia e Moderna).
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A produo cultural da nobreza (Idade Antiga, Mdia e Moderna), alta burguesia (Idade Moderna, pr-capitalismo) e ricos das classes mdia-alta (Idade Moderna e atual capitalismo) foram as legitimadas pelos governos e hoje pela indstria cultural como uma cultura superior, a A Alta-Cultura, digna de entreter o rei, o rico comerciante, o poltica, o dono de fbricas, terras, e atualmente, digna de ser passada na televiso, nas rdios, na mdia de massa. Enquanto isso, na periferia, nas vilas e casebres, a populao pobre, o operrio, os sditos, no deixaram de produzir, de se manifestar como povo, mesmo que essa produo no seja legitimada como arte. O artesanato, a pintura, as cantigas, o samba e o cordel so todas formas de cultura e exemplos de que a maior parte da populao ou no jargo popular, o povo, no s sensvel, mas tambm se interessa por arte, mas tambm a produz 9. Uma forma de arte, a literatura, os livros, foram desde tempos remotos associados a emancipao poltica e social dos povos, pois permitem o acesso direto a informao, livre de secundrios e das provveis deturpaes do sentido original da informao. Tanto que vrios governos, de vrias pocas, proibiam o acesso desses populao, seja taxando a ponto de tornarem sua compra invivel, seja at mesmo queimando-os ou aprisionado-os nos mosteiros. Se hoje temos a acesso a cultura, entre ela, a de livros, de Bibliotecas garantido pela Constituio de 88, no podemos dizer que essa garantia constitucional exercida pela populao em geral. No suficiente ter espaos para leitura gratuita (bibliotecas pblicas), nem melhorar arquitetonicamente os espaos, ou construir mais para se ter leitores assduos nas classes mais baixas. H que se incorporar esse pblico a esses espaos, fazen do-o compreenderr que esses espaos so feitos para eles tambm, que os merecem, que leitura no exerccio da elite, e tambm no difcil, chato como no ensino pblico lhe foi apresentada 10. A entra o papel da comunicao na divulgao desses espaos e da publicidade com a escolha dos meios e formatos a fim de melhor comunicar essa mensagem, ou seja, divulgar a existncia desses espaos e, sobretudo, fazer o que faz melhor: persuadir, no caso, essa parcela da populao de que esse espao bom e pode ser usado por ela. E por que usar a persuaso e no somente tornar pblico o conhecimento no caso, da existncia sobre essas bibliotecas? Sobre persuaso h um interessante embate terico. H aqueles que consideram a persuaso recurso dbio e imoral, subestimadora da capacidade intelectual do receptor da mensagem e que lhe reduz a agente passivo ao lhe conduzir a um jogo obscuro de seduo por meio de cdigos visuais e lingsticos que s o publicitrio tem conhecimento. Nesse sentido, o receptor no teria voz, cabendo somente ser fisgado (ou no) pela mensagem. Essa uma das razes que leva o senso-comum a enxergar a publicidade, prtica que usa da persuaso, como uma comunicao traioeira, detentora de super-poderes, sendo a ovelha-negra das habilitaes dos cursos de Comunicao, enquanto que sua outra rea, o Jornalismo, o mocinho, aquele que se atm verdade e fatos, no apela para a retrica e seduo. Primeiramente, devemos refletir mais sobre o conceito de persuaso, central para a escolha da publicidade para essa ao social. Persuaso, de acordo com Adilson Citeli11 , um procedimento lingstico, cujo objetivo convencer a cerca de algo, e em ltima instncia, formar atitudes, comportamentos, idias. Outra definio vem da etimologia da palavra: de persuadere, per ( de modo completo) + suadere ( aconselhar),ou seja, a palavra persuadir em sua origem, designava o sucesso em se aconselhar. J para o filsofo Aristteles12 , que cunhou a retrica como cincia de estudo, persuaso parte desta, pois a retrica ou o bom discurso, o argumento que convence se utiliza das ferramentas persuasivas para seu sucesso (boa oratria, palavras adequadas, gestual, bom domnio da lngua, entre outras). Persuaso, ento, seria a qualidade de saber convencer.
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Em suas particularidades, percebemos que todas as definies se assemelham ao notar persuaso como capacidade, habilidade em se convencer. Alm de seu uso, a publicidade enquanto como habilitao da Comunicao estuda os mecanismos de persuaso e, provavelmente, por isso que to eficaz ao conseguir convencer. Assim sendo, a publicidade se faz a partir destes, mas no apenas . Seria, sua representante maior, a nica? Se tomarmos as matrias da Cincia sob a perspectiva de Michel Foucault14 , a resposta um categrico no. Isso porque o filsofo francs v tais instncias como discursos do poder, isso , no so manifestaes neutras ideologicamente, abertas a reinterpretaes, mas sim esferas scio-culturais onde o poder as legitima e constri, determina quais saberes podero existir e quais sero jogados marginalidade de conhecimento desprezvel, menor. Mesmo a cincia, tida como apoltica, neutra, um discurso sobre a verdade, assim como a religio , porm, essa utiliza de um verniz argumentativo, enquanto a outra, relatos e casos de f. A cincia procura persuadir com discurso aparentemente neutro e racional sua finalidade, e a religio com a emoo e acolhimento da necessidade humana de explicar os mistrios da humanidade15 . No tocante as profisses, h mais exemplos de uso da persuaso. Um advogado usa-a para convencer sua causa ao juiz, o jornalista para imprimir em seu discurso a aparncia de verdade, a estilista para justificar sua coleo com o status de designer. Estamos at agora, por exemplo, fazendo uso da persuaso para justificar o ponto-de-vista que defendemos para a comunicao e a publicidade. A arte, compreendida como atividade e no como discurso aqui, no recorre a essa ferramenta. Conforme conclui Adilson Citelli na obra referncia, possvel imaginar, contudo, que em certas reas do conhecimento possa imperar uma natureza discursiva menos persuasiva, at mesmo ldica, aberta. o caso dos textos artsticos que, pela sua vocao plurissignificativa, pela ambigidade que promovem, por romperem com normas preestabelecidas, tendem a uma expresso mais livre, menos preocupada com o convencimento, com o fechamento da mensagem.16 Apesar da utilizao da arte na forma na mensagem, a atividade publicitria no deve ser confundida com arte. Nossa atividade detentora de um discurso, fechado, portanto, possui a tentativa de persuaso, diferentemente da arte, pois procura causar um efeito, uma interpretao especfica da mensagem. Em nosso caso, a mensagem que queremos vincular a de que ler uma forma de lazer e conhecimento, que as Bibliotecas Pblicas devem ser aproveitadas, pois so espaos agradveis e um patrimnio da sociedade. No queremos deixar que a concluso sobre as Bibliotecas ou a leitura fique aberta ao pblico, na dvida, pois isso no alcanaria nosso objetivo, que a ida das pessoas de classe mais baixa, a princpio, s Bibliotecas. Precisamos convencer, portanto, fazemos o uso da persuaso.
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Isso no significa, entretanto, que a concluso posterior visita dessas pessoas no ser outra. O discurso persuasivo no o da dominao, ao contrrio. Seu esforo s faz sentido em uma comunicao democrtica, pois, do contrrio, no o necessitaria, a adeso j seria assegurada17 . A natureza dessa ao publicitria tambm deve ser pensada. Encaramos esse trabalho no como um mero exerccio de publicidade para o Terceiro Setor, mas sim uma retomada da funo da Universidade: utilizar a teoria, as informaes e conhecimentos ali produzidos para a sociedade, e no em funo de um mercado, como tem sido pensada o papel do Ensino Superior no Brasil18 . Essa funo da Universidade se faz por meio de seus alunos-agentes, ou o que chamam de intelectuais, pois corroboram para a produo de conhecimento e sua reflexo. Aqui nos identificamos mais uma vez com as definies de Foucault, para o novo papel do intelectual no sculo XXI: Ora, o que os intelectuais descobriram recentemente que as massas no necessitam deles para saber; elas sabem perfeitamente, claramente, muito melhor do que eles; e elas o dizem muito bem. Mas existe um sistema de poder que barra, probe, invalida esse discurso e esse saber sistema. O papel do intelectual no mais o de se colocar um pouco na frente ou um pouco de lado para dizer a muda verdade de todos; antes o de lutar contra as formas de poder exatamente onde ele , ao mesmo tempo, o objeto e o instrumento: na ordem do saber, da verdade, da conscincia, do discurso. Tal intelectual nascer , de acordo com Foucault, do contato com a realidade e poder falar somente sob tais especificidades, no mais um discurso totalizante. A Universidade, nessa perspectiva, um local frtil para a formao de intelectuais assim, no pela repetio de discursos do saber, verdades intituladas que a sociedade lhe atribuiu como fonte, mas pela possibilidade de contato com a realidade mediada pela reflexo e teorizao dos alunos19. Em resumo, esse projeto visa empregar os conhecimentos e mtodos da Comunicao Social, particularmente da Publicidade e Propaganda, para promover o acesso e hbito da leitura na sociedade goianiense s bibliotecas pblicas da cidade e, conseqentemente, o conhecimento, informao e reflexo atravs da literatura. 2. A campanha publicitria O Projeto Bibliotecas de Goinia: divulgao e interao com a comunidade surgiu a partir da vontade de alunos e professores do curso de Biblioteconomia da UFG de trazer para a populao da capital de Gois o apreo leitura e estimular o uso e conservao de sete das bibliotecas pblicas de Goinia, que so: Biblioteca Central da UFG, Municipal Cora Coralina, Estadual Pio Vargas, Municipal Marieta Teles Machado, Estadual Braile e Gibiteca Estadual Jorge Braga. Visando solues para a comunicao das bibliotecas com a populao a fim de estimular a leitura e o uso das mesmas, o Projeto, atravs da professora e coordenadora do mesmo, Maria de Ftima Garbellinni, procurou o Laboratrio de Agncia Experimental em Publicidade e Propaganda - Inova com o objetivo inicialmente de produzir uma exposio fotogrfica em um shopping popular e terminais de nibus sobre as bibliotecas participantes. O projeto foi cadastrado na Pr-reitoria de Extenso e Cultura (PROEC) sob coordenao da referida professora, do curso de Biblioteconomia, e conta na equipe executora com trs (3) professores do mesmo curso da instituio e mais sete (7) alunos, um (1) de Biblioteconomia e seis (6) integrantes da Inova. A equipe que trabalharia com esse projeto foi montada pelas coordenadoras da agncia, Lara Satler e Ana Rita Vidica e conta com a participao de cinco pessoas, entre elas Liessa
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Comparim Dalla Nora, como atendimento, e Gustavo Albernaz Urameshi, como redator. Entendendo o desafio que o projeto ofereceu a agncia, a coordenadora do projeto e a equipe da Inova concordaram que se tratava de um trabalho contnuo e de longo prazo, firmando a parceria por tempo indeterminado. Para a ao publicitria, a equipe da Inova no considerou que a opo da exposio fotogrfica seria a mais eficaz para atingir os objetivos. Aps alguns debates, a equipe chegou ao consenso de que nesse semestre, o pblico prioritrio da campanha seria o das classes mais afetadas por essa falta de acesso s bibliotecas e ensino de qualidade, C e D, da capital do Estado. Posteriormente, pretendemos estender a campanha para as demais classes, adequando as aes e material publicitrio a cada uma em sua especificidade, obviamente. Partindo do pblico-alvo j escolhido, propusemos para esse semestre, ao invs da exposio, uma ao social e a fixao de cartazes em locais visveis a este: escolas pblicas e nibus. A ao se daria em escolas pblicas prximas s bibliotecas com voluntrios contadores de histrias. Estes iriam encenar um livro que tivesse nessa biblioteca e parariam antes do fim do mesmo, omitindo o desfecho para que as crianas e adolescentes, curiosos, procurassem-no nas bibliotecas. Alm da ao, seriam afixados cartazes e folders em diversos locais como interiores de nibus, murais de escolas pblicas e de universidades, prximas s bibliotecas, no Hospital Pblico da Viso, comrcio e shoppings populares, alm das prprias bibliotecas Objetivos: Os objetivos gerais so da campanha so: divulgar a existncia das bibliotecas: Central da UFG, Municipal Cora Coralina, Estadual Pio Vargas, Municipal Marieta Teles Machado, Estadual Braile e Gibiteca Estadual Jorge Braga; aumentar o nmero de usurios/visitantes na populao da cidade de Goinia. A curto prazo, estamos focando essa divulgao nas classes C e D, porm, o planejamento para se alcanar as demais classes a longo prazo. Metodologia: A ao no colgio municipal Lyceu foi feita no dia 26/10, com o auxlio do Grupo Gaya Contadores de Histrias e foram distribudos mais de 2000 livros cedidos pela AGEPEL aos alunos que participaram. Para divulgao, foram feitos anteriormente dois modelos de cartazes manuais e pregados no espao interno do colgio no dia 22/10. Alm destes, foram criados quatro modelos de cartazes: 1Contendo poesia e referncia a um livro parte do acervo de uma das quatro bibliotecas participantes (todas, com exceo da Braile). Foi fixado nas bibliotecas, no interior de nibus, em escolas pblicas prximas s bibliotecas, incluindo Lyceu, Universidades (UFG e PUC-GO), shopping e comrcios populares (pblico classes C e D). 2Contendo informaes sobre a biblioteca que passava prxima ao trajeto de tal linha de nibus. Foi fixado no interior dos nibus. 3Contendo informaes sobre a Biblioteca Braile. Foi fixado nos Hospitais Pblicos da Viso. 4Contendo informaes sobre a Gibiteca. Foi fixado nas escolas pblicas de Goinia. Tambm foi elaborado um folder informativo, com informaes sobre acervo, emprstimo, espao e localizao de todas as bibliotecas participantes. Esse folder foi distribudo nas escolas pblicas, interior dos nibus, Universidades (UFG e PUC-GO), nos comrcios e shoppings populares em dias alternados no ms de novembro.
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Resultados/Discusso: Os resultados do trabalho da Inova com o Projeto Bibliotecas sero sentidos com mais preciso apenas em longo prazo, portanto, ainda no podem ser mensurados. Concluso: A maior parte das aes da Inova com o Projeto Bibliotecas ainda esto em andamento, portanto, no podem ainda serem medidas seu alcance e resultado. Referncias: Um pas de poucos leitores. Disponvel em < http://www.companysul.com.br/edicoes/edicao-23/leitura.html>. Acesso em: 30.out.2010 A baixa qualidade do Ensino Pblico brasileiro pode ser medida no em seu baixo desempenho no Exame Nacional do Ensino Mdio, ENEM. Disponvel em < http:// gazetaonline.globo.com/_conteudo/2010/07/655511maioria+das+escolas+publicas+ficou+abaixo+da+media+no+enem.html.>. Acesso em: 30.out.2010 Brasil alcanar atual ndice chileno de jovens no ensino superior apenas em 2022. Disponvel em< http://aprendiz.uol.com.br/content/drislepoci.mmp>. Acesso em: 31.out.2010 ELIAS, Norbert. Sociognese da diferena entre Kultur e zivilisation no emprego alemo. In: O Processo Civilizador Uma histria dos costumes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, p.23-64. BOTELHO, Isaura. Democratizao cultural: desdobramentos de uma idia. Disponvel em < http://www.blogacesso.com.br/?p=66>. Acesso em: 30.out.2010 SILVA, Flora. Retria Aristotlica. Disponvel em: <http://www.notapositiva.com/trab_estudantes/trab_estudantes/filosofia/filosofia_trabalhos/retoricaaristotelica. htm.> CITELLI, Adilson. Linguagem e Persuaso. 6 ed. So Paulo: tica, 1991. pp. 42-44, 67-70 FOUCAULT, Michel. A Arqueologia do Saber. Editora Forense Universitria, 7 edio, 2007 . pp 34-47 Encontros de Comunicao Comunitria do LECC: comunicao, cidadania e seus
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Ecos na UFRJ. LAIGNIER, Pablo Laignier, Marcello M. Gabbay, Joo, Paulo C. Malerba, Patrcia G. Saldanha. Artigo para XIV Congresso de Cincias da Comunicao (Intercom) Regio Sudeste, Rio de Janeiro, 2009. FOUCAULT, Michel. Microfsica do Poder. Editora Graal. 10 edio. Rio de Janeiro, 2007. Pp. 41-46
1 Trabalho apresentado na V FEICOM: ressignificando as fronteiras da comunicao e informao, de 09 a 11 de novembro de 2010, em Goinia GO. 2 Liessa Comparim Dalla Nora cursa o quarto perodo de Publicidade e Propaganda da Facomb, UFG e participa na agncia experimental Inova Publicidade e Propaganda como atendimento. Email: liessadallanora@ gmail.com 3 Gustavo Albernaz Urameshi cursa o segundo perodo de Publicidade e Propaganda da Facomb, UFG e participa na agncia experimental Inova Publicidade e Propaganda como redator. Email: [email protected] 4 Orientadora. Professora do Curso de Comunicao Social Publicidade e Propaganda da Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia (FACOMB)/UFG. Email: [email protected] 5 Um pas de poucos leitores. Disponvel em < http://www.companysul.com.br/edicoes/edicao-23/leitura.html>. Acesso em: 30.out.2010 6 A baixa qualidade do Ensino Pblico brasileiro pode ser medida no em seu baixo desempenho no Exame Nacional do Ensino Mdio, ENEM. Disponvel em < http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2010/07/65 5511maioria+das+escolas+publicas+ficou+abaixo+da+media+no+enem.html.>. Acesso em: 30.out.2010 7 Brasil alcanar atual ndice chileno de jovens no ensino superior apenas em 2022. Disponvel em< http://aprendiz.uol.com.br/content/drislepoci.mmp>. Acesso em: 31.out.2010 8 ELIAS, Norbert. Sociognese da diferena entre Kultur e zivilisation no emprego alemo. In: O Processo Civilizador Uma histria dos costumes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, p.23-64. 9 BOTELHO, Isaura. Democratizao cultural: desdobramentos de uma idia. Disponvel em < http://www.blogacesso.com.br/?p=66>. Acesso em: 30.out.2010 10 Conforme elucida Isaura Botelho (Idem), em seu artigo Democratizao Cultural: desdobramentos de uma idia, Estudos realizados no intuito de conhecer como de fato a vida cultural da populao mostraram que, ao contrrio do que se esperava, os altos investimentos na construo de espaos culturais voltados para esta Cultura (com C maisculo) e para o rebaixamento de preos de espetculos, por exemplo, no alteraram o quadro de desigualdade de acesso da populao produo cultural legitimada. Como resultado, verificou-se que, na verdade, estas polticas privilegiam aqueles que j so consumidores destas prticas, e que, em funo dos subsdios dados pelos poderes pblicos passam a ir mais ao teatro, compram mais livros, assistem a mais concertos e assim por diante. O aspecto importante aqui que esta poltica no resolveu aquilo que era seu maior objetivo: incorporar novos setores sociais no mundo destas prticas eruditas. 11 CITELLI, Adilson. Linguagem e Persuaso. 6 ed. So Paulo: tica, 1991. p. 68 12 SILVA, Flora. Retria Aristotlica. Disponvel em: <http://www.notapositiva.com/trab_estudantes/trab_estudantes/filosofia/filosofia_trabalhos/retoricaaristotelica.htm.> 13 CITELLI, Adilson. Linguagem e Persuaso. 6 ed. So Paulo: tica, 1991. pp. 42-44 14 FOUCAULT, Michel. A Arqueologia do Saber. Editora Forense Universitria, 7 edio, 2007 . pp 34-47 15 FOUCAULT, Michel. Idem. 16 CITELLI, Adilson. Linguagem e Persuaso. 6 ed. So Paulo: tica, 1991. pp. 67 -70
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Justificativa/Base terica Esta reflexo pretende investigar o processo de criao de uma identidade visual dirigida aos portadores de necessidades especiais, tendo como ponto de partida o desafio de elaborar uma logomarca para o Programa de Ateno Humanizada a Pessoas com Necessidades Especiais (PAHPE), um projeto de extenso da Faculdade de Odontologia. Encomendada ao Laboratrio de Agncia Experimental Inova Publicidade e Propaganda, a equipe4 envolvida optou pela metodologia de trabalho tradicional em criao publicitria, que tem incio na interpretao do briefing, realizao de pesquisa bibliogrfica sobre o tema, pesquisa iconogrfica, escolha do conceito a ser representado, estudo dos modos de como represent-lo visualmente numa identidade, considerando as preferncias expressas pelos autores do PAHPE. O estudo sobre a representao visual da temtica pessoas com necessidades especiais foi feito, respeitando a exigncia do cliente em no vincular sua imagem a um dente, antes a uma proposta mais humanizada de atendimento ao mencionado pblico. O que se objetiva com este texto aprofundar a reflexo sobre os desafios deste processo criativo e seus resultados. O desafio de explorar a iconografia para portadores de necessidades especiais considerando a delicadeza que o tema deve ser tratado levou a discusso sobre o uso dos esteretipos na criao publicitria. Santanna (2006, p. 76) afirma que publicidade um grande meio de comunicao com a massa, por isso sua prdica deve ser ajustada ao tipo mdio que constitui o grupo consumidor visado pelo anunciante. Quando o autor defende uma comunicao ajustada a este tipo mdio, podemos questionar: quem o tipo mdio? Como ele tem sido representado pela criatividade publicitria? Como representar tal tipo mdio quando o pblico da ao publicitria so portadores de necessidades especiais? Segundo Joo Anzanello Carrascoza (2003, p. 41), esteretipos (...) so frmulas j consagradas, tanto nos cdigos visuais (uma mulher bonita, de avental, remete a uma zelosa dona-de-casa), quanto no lingustico (a unio faz a fora, ser me padecer no paraso etc.). Como verdade j aceita pelo pblico, o esteretipo impede o questionamento a respeito do que est sendo comunicado. Se o seu uso puramente comunicativo, apoiando ideias preconcebidas e no necessariamente preconceituosas, por que os a publicidade atual evita representar uma zelosa donade- casa com avental? Ser que o fato de as campanhas atuais de sabo em p, produtos de limpeza domstica e quaisquer outros cujo pblico a zelosa dona-de-casa apresenta, ao contrrio, uma mulher moderna tem como resposta a argumentao de que assim que elas querem ser vistas pelos anunciantes? Se sim, como um portador de necessidades especiais quer ser visto pelo PAHPE?
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O assunto polmico. Durante a prpria produo deste texto notou-se divergncias de pontos de vista sobre o que Carrascoza sugere como a tcnica criativa prpria do fazer publicitrio. Se a equipe de criao da publicidade deve impedir o questionamento sobre sua argumentao e se comunicao etimologicamente pr em partilha, e no apenas informar (GOMES, 1997), possvel comunicar publicitariamente? O ponto de partida tcnico do fazer publicitrio tradicional sugere o uso de esteretipos visuais e verbais a fim de obter como resposta a adeso sem dilogo. Em consequncia disso, o uso do esteretipo est vinculado a uma compreenso da comunicao segundo a esquemtica de Jakobson (GOMES, 1997), em que a fonte emite para a recepo uma mensagem, se utilizando um canal e um cdigo. Desse modo, a reflexo sobre o uso da tcnica criativa deveria ser feita a luz da questo: que comunicao queremos para este sculo XXI? Se ainda compreendemos a comunicao como um processo cuja fonte detentora de toda informao e aprimora suas tcnicas a fim de silenciar os questionamentos da recepo, ento o uso de esteretipos uma escolha plausvel para trabalhos com temticas delicadas, como o desafio de criar uma identidade visual para o PAHPE. Contudo, nota-se que, intuitivamente, o processo criativo caminhou em direo a no abordar as representaes do seu pblico, sob pena de estereotip-lo, antes se optou por encontrar uma imagem que representasse o que o PAHPE oferece ao pblico, de modo genrico. Fazendo uma anlise crtica da identidade criada, pode-se dizer que ela representa qualquer projeto ou programa ou empresa que se prope o atendimento humanizado. Como pode ser visto na logomarca aprovada, na Figura 1, as duas mos representam o conceito de cuidado a qualquer pblico, no deixando claro na imagem, apenas no texto ser destinado aos portadores de necessidades especiais.
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Obviamente, o leitor poderia questionar se a imagem de uma mo sobreposta outra no um esteretipo do conceito de cuidar. Esse seria um timo questionamento, para o qual precisaremos avanar um pouco mais na pesquisa para responder. Contudo, o que podemos afirmar que o questionamento do comunicador e do receptor o propulsor da comunicao. Portanto, se o esteretipo tem a importncia da representatividade, seu uso no deve ser motivado pelo desejo de silenciar o do receptor, e sim ser usado como uma referncia que permita o dilogo e a formao de paradigmas consensuais. Objetivos Como criar uma identidade visual dirigida aos portadores de necessidades especiais? possvel trabalhar com esteretipos sem ferir a delicada representao de portadores de necessidades especiais? Metodologia, Resultados, discusso A metodologia de trabalho se inicia com a elaborao do briefing, a pesquisa bibliogrfica sobre o tema, a pesquisa iconogrfica, bem como a identificao das preferncias subjetivas expressas pelos autores do projeto. Depois dessas etapas concludas, estudos sobre a visualidade da temtica de necessidades especiais foram feitos, respeitando a exigncia do cliente em no se vincular a imagem de dente e reforar a ideia de humanizao do atendimento. O briefing elencou as seguintes informaes sobre o Programa de Ateno Humanizada a Pessoas com Necessidades Especiais (PAHPE): promove aes de extenso que vem sendo desenvolvidas na Universidade Federal de Gois nos ltimos 12 anos, visando capacitar estudantes e profissionais na sade oral de pessoas com necessidades especiais e o cuidado odontolgico educativo, preventivo e curativo. Dentro do PAHPE est o GEPETO (Grupo de Estudos sobre Pacientes Especiais e Tratamento Odontolgico), NESO (Ncleo de Estudos em Sedao Odontolgica), AMAIO (Ateno Materno-Infantil em Odontologia) e Dente So, Corpo So (Realizao de Tratamento Odontolgico Junto ao Leito do Paciente).
O PAHPE primariamente desenvolvido dentro da Faculdade de Odontologia, contando com parcerias dentro da prpria universidade (Faculdade de Medicina e Hospital das Clnicas), prevendo acordos com outras instituies pblicas ou privadas. Esses projetos tm promovido a atuao conjunta de estudantes de graduao, de ps-graduao e de profissionais de diferentes reas de sade nos nveis de ateno adequados. As aes do PAHPE esto em consonncia com as polticas pblicas voltadas integralidade sade, humanizao, promoo da sade e educao permanente. A partir da pesquisa bibliogrfica e do processo de associao de ideias, a equipe de criao percebeu que o tema da necessidade especial era delicado, pois so pessoas que precisam de cuidado, e, por isso, o cuidado foi o conceito fundamental para a construo iconogrfica do PAHPE. No despercebido que portadores de necessidades especiais possam ser capazes de sobreviver sem cuidado de terceiros, mas a ideia imagtica vinda de um centro de tratamento pode explorar esse esteretipo sem nenhuma culpa, pois est contextualizado dentro de um conceito e nenhuma referncia iconogrfica esgotaria todo o universo real que ele representa.
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A logomarca do PAHPE antes de procurar a Inova se baseava em uma roda de ciranda com uma pessoa no centro, mas a elaborao iconogrfica no ficava visualmente interessante e os elementos ficaram muito infantilizados. Entre s vrias referncias de maternidade, paternidade, fraternidade, o poder simblico da mo poderia muito bem se aplicar ao conceito. A mo historicamente usada para representar ao. Em hebraico, a palavra iad significa ao mesmo tempo mo e poder5. Na cultura medieval, a mo divina est vinculada justia e misericrdia6. Para transmitir o conceito de cuidado, usamos a referncia de mos sobrepostas, mas esta forma no poderia se confundir com a logo da igreja Fonte da Vida, ou com a antiga logo da TV Escola. A posio das mos foi crucial para a identidade do PAHPE no cair em uma forma clich. Tentou-se aplicar um rosto construdo na sobreposio com analogia dos polegares opostos como orelhas, mas o rosto em si retornou o problema da infantilidade. A partir da pesquisa iconogrfica, que considerou a logomarca antiga do cliente (Figura 2), foram pensadas opes, com as que seguem abaixo, nas Figuras 3 a 7, sendo reprovadas pelos membros do projeto. A Figura 8 a verso final do processo criativo que obteve aprovao do cliente.
Figura 5
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Figura 6
Figura 7
Figura 8
Concluses A verso final da logomarca criada colorida em azul celeste, remetendo tranquilidade por ser uma cor de pouca excitao visual. A fonte usada para a palavra PAHPE tambm mais arredondada e simples para ser de fcil leitura e que fugisse da severidade das formas retas. A posio e o tamanho das mos se referem ao cuidado, confiana, afinal as palmas se encontram em cumplicidade; alm disso, ambas as mos so direitas, se referindo igualdade, apesar da aparente oposio.
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REFERNCIAS A filosofia medieval. Disponvel em <http://www.trigueiros.com.br/filosofia/medieval.htm>. acesso em: 11.set.2010. BUONFIGLIO, Monica. Conhea o poderoso talism Mo de Ftima. Disponvel em <http://www.terra.com.br/esoterico/monica/colunas/2009/08/06/000.htm>. Acesso em: 11.set.2010. CARRASCOZA, Joo Anzanello. A evoluo do texto publicitrio. So Paulo: Futura, 2003. GOMES, Pedro Gilberto. Comunicao social: filosofia, tica, poltica. So Leopoldo: Ed. Unisinos, 1997. SANTANNA, Armando. Propaganda: teoria, tcnica e prtica. So Paulo: Thomson Learning Edies, 2006.
1 Trabalho apresentado na V FEICOM: Ressignificar as fronteiras da comunicao e informao, de 08 a 12 de novembro de 2010, em Goinia GO. 2Acadmico de Comunicao Social Publicidade e Propaganda, da Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia, na Universidade Federal de Gois. Email: [email protected] 3Mestre em Filosofia. Professora do Curso de Comunicao Social Publicidade e Propaganda, da Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia, na Universidade Federal de Gois. Email: [email protected] 4 O trabalho envolveu a Paula Thas dos Santos, Victor Leal e Gilmar Jnior na criao, Michelle Santos Costa na produo e o Pedro Henrique Ribeiro no atendimento, sob a coordenao de Lara Satler.
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Justificativa/Base terica A experimentao fotogrfica algo que est se tornando cada vez mais freqente nas agncias de publicidade. Normalmente se usa muito os bancos de imagens, com fotos j prontas, de qualidade e que podem at representar a idia da propaganda, mas elas pouco se conectam com o produto, pois no foram feitas baseada nos seus conceitos, no tm especificidade. Quanto maior a ligao da imagem com o produto, maior a eficincia da propaganda, melhor ela . pensando nisso que as agncias comeam a criar equipes de produo, que trabalham em todo o processo da produo das fotografias de acordo com cada conta, cada produto, fazendo com que as imagens se conectem mais com as idias e, assim, agradando mais os clientes. A Inova um laboratrio de agncia experimental da Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia que surgiu em 2004 com o propsito de levar aos alunos do curso de Publicidade e Propaganda a oportunidade de colocar em prtica os conhecimentos adquiridos ao longo do curso. A agncia no s aproxima o aluno do mercado de trabalho, mas, por ser uma agncia experimental, ela incentiva os alunos a participarem de exposies, criarem trabalhos prprios, ministrarem oficinas, ou seja, incentiva os alunos a refletirem sobre o papel do publicitrio e pensar em formas de otimiz-lo, assim como a publicidade e propaganda em geral. Na Inova, que j uma agncia experimental, a experimentao fotogrfica extremamente incentivada. Como todos seus membros so estudantes, ainda com poucos conhecimentos acerca da atividade publicitria em geral, aprende-se tudo na prtica, de acordo com cada com conta, de acordo com o que o cliente pede. Com isso, a equipe de produo logo j tem contato com a fotografia e aprende no s a mexer em cmeras profissionais, mas tambm tcnicas de iluminao, posicionamento, enfim, todo o processo de produo fotogrfica. A necessidade de uma produo fotogrfica mais especfica e elaborada surgiu com a conta da Bordana, uma cooperativa de bordadeiras que est em busca de uma melhor divulgao de seus produtos que sustentam o projeto do Instituto Ana Carol. Nessa conta, foram requisitadas fotos dos produtos vendidos pela Bordana para serem utilizadas em folders, banners, todas as formas de divulgao que foram oferecidas e aceitas pela cooperativa. O Instituto Ana Carol surgiu h trs anos, aps o falecimento de Ana Carolina Oliveira Campos, filha dos idealizadores Celma Grace e Romualdo Pessoa. O Instituto surgiu como uma maneira de extravasar a perda e ao mesmo tempo ajudar as pessoas, em especial moradores do Conjunto Caiara e entorno. Depois de dois anos de gestao, aps oito meses de obras, no dia 20 de maro de 2010 projeto foi inaugurado. Surge ento o Espao Ana Carol, sede do Instituto Ana Carol e da Cooperativa de Bordadeiras e Artesanato Tradicional do Cerrado Goiano, Bordana. A Cooperativa de Bordadeiras e Artesanato Tradicional do Cerrado Goiano, Bordana, um projeto pensado pelo Instituto Ana Carol. Essa Cooperativa recebe esse nome a fim de homenagear a filha da idealizadora Celma Grace. O nome da cooperativa trabalha com a juno de palavras; Bordana a juno de bordado mais Ana (Bord ado +Ana Bordana).
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Esse projeto tem o objetivo a ajudar na capacitao de mulheres,a maioria acima de 30 anos de idade e alguns homens do Conjunto Caiara e entorno tratando das questes de moda,desenho e artesanato. O projeto visa gerar rendas e a valorizao da mulher.Cooperativa pode ser definida como: uma associao autnoma de pessoas que se unem, voluntariamente, para satisfazer aspiraes e necessidades econmicas, sociais e culturais comuns a seus integrantes, e constitui-se numa empresa de propriedade coletiva, a ser democraticamente gerida5. Definio encontrada na Cartilha do Curso Bsico de Cooperativismo. Em maro de 2008, comearam a ocorrer as primeiras reunies com as bordadeiras. Essas reunies envolviam pessoas que ainda no possuam experincias com bordados. A partir dos treinamentos oferecidos atravs das reunies que ocorriam todos os sbados, com a ajuda de alguns professores, essas mulheres foram adquirindo a tcnica do bordado e tambm auto-estima, confiana e independncia. Atravs do programa Incubadora de Empresas6. O Programa Nacional de Incubadora de Cooperativas Populares, financiam a troca de experincias entre cooperativas e universidades. Desenvolvido na Universidade Federal de Gois, foram feitas as orientaes tcnicas para a organizao em cooperativa. Depois de um longo processo de capacitao, tanto do bordado tradicional quanto da filosofia cooperativista, a idia de uma cooperativa de bordadeiras e de produo foi formada. A cooperativa hoje conta com a parceria de entidades, governamentais e no-governamentais, como: o Centro Popular da Mulher do Estado de Gois, a Associao de Moradores do Conjunto Caiara, a Incubadora Social da Universidade Federal de Gois, Senador Marconi Perillo e da CCB Construtora. A Cooperativa confecciona produtos como avental, toalha de mo, pano de prato, puxa-saco, capa de caderno de receita,cobre- jarra,jogo americano,guardanapos avulsos,argolas para guardanapos,kits de guardanapos,passadeiras,tapetes,saches,almofada,quadrinhos,telas,camisetas,batas, ecobag,capa de agenda,capa de culos,marca pgina,carteira,sacolas de feira,porta nquel,entre outros. Ao adquirir um produto da Cooperativa Bordana,as pessoas no levam somente um artesanato,mas todo conceito de uma cooperativa,a realizao de mulheres que esto conseguindo autonomia e independncia financeira,construindo uma auto-estima.So produtos exclusivos e ecolgicos que retratam e abordam a temtica do cerrado goiano representando flores,frutos,plantas ,entre outros.
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Objetivos O trabalho tem como objetivo demonstrar os passos e a construo de uma produo fotogrfica feita pela agncia experimental Inova Publicidade do curso de Publicidade e Propaganda para a conta Bordana. Com isso, demonstrar a importncia da produo fotogrfica dentro de uma agncia e do envolvimento do aluno na criao de uma imagem publicitria, atendendo clientes reais de forma experimental. Ser abordado o processo (formao do cenrio, tcnicas de enquadramento e iluminao) da produo fotogrfica em estdio, bem como mostrar o resultado da produo, a seleo das imagens e a arte finalizada. Metodologia Para a produo fotogrfica, foram utilizados o estdio de fotografia e os equipamentos da prpria Faculdade, inclusive a cmera, que foi uma Nikon D300. Os produtos a serem fotografados foram chaveiros, panos de prato e lenos com bordados manuais de flores e frutos do cerrado, sendo os detalhes desses bordados o foco principal das fotografias. Considerando isso, a objetiva que melhor se encaixou no contexto que a fotografia requeria foi uma Nikkor 18-70mm, que oferece uma grande versatilidade para captar pequenos detalhes. Pelo fato de no haver um briefing, a produo foi feita por base dos produtos expostos. A princpio, se pensou em fotografar os produtos apenas, sem elaborao de cenrio, mas tanto os produtos como o prprio contexto da Bordana exigia algo mais rstico, algo que tivesse uma ligao maior com a natureza. Com isso em mente, utilizou-se uma mesa antiga e manchada que havia no estdio como suporte para colocar os produtos e, de certa forma, como moldura das imagens. Na criao da paisagem, para dar nfase nos produtos, foram utilizados troncos e folhas como representao do cerrado. Na iluminao, pensou-se numa luz que desse um toque natural aos produtos, utilizando-se assim um spot com gelatina amarela para representar a iluminao do sol e dar uma cor tpica do cerrado. Tambm foi utilizado um outro spot com um aparato denominado colmia, para suavizar a imagem e dar traos de sombreamento na fotografia. Para produzir a sensao de plano infinito, foi utilizada uma lmina escavada. O enquadramento utilizado foi fundamental para dar uma sensao de plano infinito e, apesar de algumas dificuldades, as composies do espao e do cenrio foram aproveitadas para que ficassem propores equilibradas que acentuassem a beleza das imagens. Os recursos foram reproduzidos sem nenhuma alterao para tornar a representao mais homognea, dando uma identidade prpria ao produto. A equipe foi composta de uma fotgrafa, a responsvel pela produo nessa conta, Vanessa Rincn, e de um assistente, o monitor de fotografia Jos Jair Ramirez Bazan.
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Resultados, discusso A agncia experimental Inova, a fim de ajudar a solucionar alguns problemas de comunicao que a Cooperativa Bordana enfrentava, sugeriu e formulou algumas propostas: a criao de cartes de visita, a reformulao e uma oficina de blog para as bordadeiras, a criao de um banner e folders, entre outros projetos que dizem respeito comunicao. Segue abaixo algumas das imagens produzidas e selecionadas para utilizao: Concluses Conclui-se que, a agncia, ao produzir ela mesma as fotografias para seus clientes, torna o trabalho final algo muito mais especfico e nico, alm de tornar muito mais provvel a aprovao do cliente, uma vez que busca a maior conexo possvel entre a idia que o cliente quer passar e o produto em si.
Referncias LIMA, Ivan. A fotografia a sua linguagem. Ed. Espao e Tempo. Rio de Janeiro: RJ, 1988.
1 Trabalho apresentado na V FEICOM: Ressignificar as fronteiras da comunicao e informao, de 08 a 12 de novembro de 2010, em Goinia GO. 2 Estudante graduanda do segundo perodo de publicidade e propaganda pela Unversidade Federal de [email protected] 3 Estudante graduanda do segundo perodo de publicidade e propaganda pela Unversidade Federal de Gois. [email protected] 4 Orientadora. Professora do Curso de Comunicao Social Publicidade e Propaganda da Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia (FACOMB)/UFG. Email: [email protected] 5 Definio encontrada na Cartilha do Curso Bsico de Cooperativismo. 6 O Programa Nacional de Incubadora de Cooperativas Populares,financiam a troca de experincias entre cooperativas e universidades.
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Palavras-chave: produo fotogrfica; fotografia em estdio; fotografia publicitria em agncia experimental. Justificativa/Base terica A Inova Publicidade, laboratrio de agncia experimental da Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia, surgiu em 2004 com o intuito de disponibilizar aos alunos do curso de Publicidade e Propaganda um espao dentro da prpria universidade que desse a eles a possibilidade de ter um contato maior e mais prximo com o mercado de trabalho, logo o nome de agncia de publicidade. Dentro dessa agncia, possvel aos alunos desempenhar funes de trabalho como atendimento, redator, diretor de arte e mdia. Porm, a partir do primeiro semestre de 2010, em que uma nova equipe foi estruturada sob a coordenao da Prof Lara Satler, o carter experimental da Inova Publicidade comeou a se fortificar. A partir da, as atividades realizadas pelos alunos envolvidos continuavam sendo as mesmas de uma agncia de publicidade, ou seja, de resolver problemas de clientes reais que viessem procurar solues; entretanto essa agncia tem se estabelecido com algumas modificaes, tais como oferecer aos alunos a oportunidade de se pensar sobre o que se faz, de refletir sobre o seu papel e de seu trabalho como publicitrios e como comunicadores e de disponibilizar chances de experimentar as ferramentas que esto ao alcance. Inspirado nessa experimentao se deu a construo da produo fotogrfica para o Festival Diagnostico da Dana (modelo, produo, fotgrafas) feita pelas prprias alunas no estdio de fotografia da Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia tendo como fim a criao de imagens artisticamente especficas. O Festival Diagnstico tem como filosofia a troca de experincias entre artistas da dana e levar esta ao para a sociedade. Busca trazer para a cidade de Goinia pesquisas atuais de diversos cantos e companhias que fazem a histria da dana mundial. E nos sentimos desafiadas a participar e conduzir a realizao desse projeto. Objetivos O trabalho tem com objetivo demonstrar os passos e a construo de uma produo fotogrfica feita pela agncia experimental Inova Publicidade do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Federal de Gois e assim demonstrar a importncia da produo fotogrfica dentro de uma agncia, do envolvimento do aluno na construo de uma imagem publicitria atendendo experimentalmente clientes reais. Sero abordadas as tcnicas de uso de contra-luz e light-painting da produo fotogrfica em estdio, bem como o resultado da produo, da arte finalizada e a escolha das imagens. Em suma, com a produo fotogrfica experimental das imagens vemos que as agncias publicitrias no precisam ficar dependentes dos bancos de imagens, abrindo-se assim a novas possibilidades de criao e produo. Baseando-se teoricamente nas tcnicas fotogrficas contra-luz e light-painting em estdio, nos empenhamos em produzir fotografias que mostrassem a silhueta de uma modelo e o movimento da luz. Usamos a tcnica light-painting, em que consiste numa tcnica de fotografia que exige longa exposio, ou seja, um tempo de exposio de luz maior. Com essa longa exposio, em que a principal fonte de luz muito fraca no nosso caso uma lanterna, envolta em um papel celofane de cor vermelha foi necessrio que o estdio ficasse completamente escuro. Assim, durante esse tempo de exposio, com a lanterna fizemos o nmero 4, que remete 4 edio do evento Diagnstico de Dana, fazendo aluso aos letreiros luminosos das cidades, mostrando ser algo urbano.
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Para a tcnica contra-luz necessrio colocar a fonte luminosa atrs do motivo da fotografia. Para produzir a luz vermelha, colocamos o papel celofane vermelho no soft-box em direo ao fundo infinito branco para dar o efeito almejado da luz. O contra-luz foi escolhido primeiramente pra que no se prestasse ateno na modelo em si, mas sim no movimento feito pelo seu corpo, j que se tratava de uma pea para um evento de dana contempornea, em que as expresses corporais foram tomadas como referncias. Metodologia Como nosso oramento era de baixo custo a agencia no tinha condio de investir em uma grande produo. Decidimos ento utilizar e usufruir do estdio e equipamentos da prpria faculdade. O estdio possui dois fundos infinitos, um branco e um preto. Foi utilizado um canho de luz suave de flash com um acessrio chamado soft-box e uma Nikon D300 com uma objetiva Nikkor 18-55mm/ 3,6-5,6. O soft-box produz um tipo de luz suave, menos intensa, mais dirigida e as sombras se tornam mais profundas, embora a iluminao geral no deixe de ser bastante suave. J a objetiva utilizada foi a 18-55mm, uma lente grande angular, que alm de aumentar a profundidade de campo, ela tambm expande a rea de foco, conseguindo enquadrar o corpo inteiro da modelo, j que o estdio era pequeno e o campo de trabalho das fotgrafas era limitado. O primeiro passo para a produo nesse trabalho foi conversar com a direo de arte e discutir o que ela realmente queria. Aps a reunio, em que foi explicado que o que realmente deveria ser feito era uma produo original da agncia Inova Publicidade, que remetesse momentos da dana contempornea, reservou-se o estdio e a cmera da Faculdade de Comunicao e Biblioteca. Faramos duas fotos. Em cada foto usaramos tcnicas diferentes, sendo elas o Light-Painting e a outra a Contraluz. Para a primeira foto, escolhemos uma aluna de Publicidade e Propaganda e tambm integrante da produo da conta do Diagnstico, Jordana de Oliveira, para ser nossa modelo. Para isso ela deveria usar uma vestimenta flexvel que permitiria a facilidade de movimento e pesquisar sobre dana contempornea. Como queramos apenas a silhueta da modelo, mostrando apenas os movimentos da dana e para que no prendssemos a ateno ao rosto usamos a tcnica fotogrfica chamada Contraluz, que constitui basicamente em colocar o assunto entre a fonte de luz e a cmera. Assim, o lado do objeto voltado para a cmera ficaria inteiramente sobreposto, reduzido apenas por sua forma plana (chamada de imagem 2D ou imagem chapada). As cores escolhidas para as fotos foram vermelho e preto, e como a silhueta da modelo seria preta, devido a sua sombra, a luz de fundo deveria ser vermelha, pela orientao da direo de arte, para passar a sensao de uma luz quente. O fundo do estdio branco, dessa forma utilizamos gelatina vermelha na luz de flash com bandoor, acessrio que permitiu que o fundo branco se tornasse vermelho. O tempo usado nas fotos foi rpido (tempo indicado pelo fotmetro), pois deveramos assegurar a nitidez da silhueta. Na segunda foto, precisamos de um voluntrio que conseguisse ter uma noo de espao segura, pois nessa usaramos a tcnica de Light- Painting. Essa tcnica baseia-se em pintar com a luz, como o prprio nome diz em um ambiente escuro ou com pouca iluminao. A cmera deve estar no modo de longa exposio e fixa em um trip. As cores dessas imagens tambm seriam vermelhas e pretas, assim a fonte de luz que utilizamos para ser o nosso pincel foi uma lanterna coberta com papel celofane vermelho preso em um elstico. Nessa imagem usamos outra parede do estdio, sendo ela preta.
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A prpria diretora de arte, Karine do Prado, foi a nossa voluntria em escrever o nmero quatro. Para estas fotos foram necessrias vrias tentativas, at acertar e chegarmos ao que queramos. Toda a produo das fotos foi feita pela manh, com sucesso no procedimento.
Resultados, discusso Com a experincia da produo fotogrfica dentro de estdio para o cliente Festival diagnstico da Dana, vrias experincias foram aproveitas para o aprendizado prtico e terico tanto no da fotografia como na parte prtica de lidar com um cliente real para a produo grfica e visual de um evento. Ao produzirmos uma imagem genuna dentro da agncia sem tirarmos de algum banco de imagens permite-se primeiramente colocarmos as teorias fotogrficas em prtica, e assim, aprimorarmos a tcnica. Conscientizou-nos da importncia da produo dentro da agencia para o livre uso e expanso da nossa criatividade em usarmos meios e recursos diferentes para a produo de imagens. A pesquisa da escolha do uso das tcnicas fotogrficas (lighting-painting e contra-luz) nos ensinou a importncia de uma escolha consciente, ou seja, de uma pesquisa de prproduo. Ao decorrer da produo aprendemos tcnicas de como balancear a luz e como trabalhar a direo de uma fotografia usando modelo. O resultado da foto foi satisfatrio, pois conseguimos transmitir com a imagem do cartaz o efeito de movimento com o uso da contra-luz e a caracterizao urbana como o uso do lighting-paintinp. No final do trabalho, apesar de o cliente ter gostado e achado a arte esteticamente bonita, ele no a aprovou, pois no estava de acordo com o que ele realmente queria. O que nos fez refletir quo as pessoas esto acostumadas a tratarem a produo prpria com menos valor do que as que esto a disposio j produzidas. A reflexo, na verdade, feita sobre a especificidade do material publicitrio, que no privilegia a arte, mas a adequao a um plano de comunicao. Segue abaixo alguns exemplos das imagens produzidas:
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Concluses Conclumos com a produo que quem ganha so todas as partes. Dentro de uma agencia a no dependncia dos bancos de imagem faz o trabalho ser mais exclusivo e criativo.Para uma agencia experimental, que o caso da Inova da qual participamos, nos faz colocar em prtica tudo que aprendemos em sala de aula e nos prepara para sermos profissionais mais ousados e inovadores. Para o cliente importante a garantia de qualidade e originalidade que a arte dele vai ter mediante aos seus concorrentes. Fonte financiadora MaisUm Associao Cultural dirigido por Sacha Witkowski.
REFERNCIAS Revista n 2 Fotografe melhor Tcnica e Prtica. So Paulo, Ed Europa Ltda.. Revista Curso Completo de Fotografia. So Paulo, Ed Escala. Revista Brasileira de fotografia Fotgraphos. N 5. So Paulo, Ed http://www.silvanagoncales.fot.br/dicas_e_truques/grande_angular.htm
1 Trabalho apresentado na V FEICOM: Ressignificar as fronteiras da comunicao e informao, de 08 a 12 de novembro de 2010, em Goinia GO. 2 Karine do Prado, Isadora Prado e Vivian so alunas do 4 perodo de graduao do curso de Publicidade e Propaganda da UFG e trabalham na rea de criao e produo do laboratrio de agncia experimental Inova Publicidade da UFG. E-mail: [email protected] [email protected] [email protected]
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Resumo: O presente artigo tem como objetivo apresentar os resultados da pesquisa de iniciao cientfica sobre A formao de uma cultura empreendedora no mbito da comunicao organizacional. Esta pesquisa teve como finalidade a anlise sobre o perfil empreendedor em profissionais de comunicao proprietrios de suas agncias de comunicao na rea de comunicao organizacional e relaes pblicas da regio Centro-Oeste, com destaque para a cidade de Goinia. O artigo prope portanto, aprofundar e estimular esta linha de pesquisa no mbito da comunicao organizacional. Palavras-chave: comunicao, perfil empreendedor, agncias de comunicao. Abstract This article proposes the formulation and conception of ideas towards the importance of the professional of public relations in the fashion design as a professional that owns the ability of broadcast to the society and to the audience that the fashion design has what is fact and wishes to be understood, accepted. The further analysis happens over the concepts and definitions of the fashion design itself and its functions. Furthermore, how the public relations professional can contribute in the construction of a positive image and its representation towards fashion design in the society. Keywords: communication, entrepreneurial profile, communications agencies 1. Introduo Na era da globalizao, onde o mundo passa por intensas transformaes sociais e econmicas, o empreendedorismo tem se tornado assunto de forte interesse. Segundo a pesquisa GEM3, o empreendedorismo o principal fator de desenvolvimento econmico de um pas. As atividades empreendedoras impulsionam no s a economia, mas trazem importantes transformaes e crescimentos sociais para uma sociedade. Segundo Passos (apud GEM, 2008, p.13) a pesquisa GEM no Brasil constitu-se de um valioso acervo de informaes que revelam detalhes sobre o comportamento empreendedor brasileiro, avaliando o processo de abertura de um empreendimento e suas caractersticas, gerando assim ndices que revelam tendncias econmicas e sociais que podem ser determinantes para tomada de decises. Destaca ainda que a pesquisa sobre o empreendedorismo no Brasil certamente ainda vai revelar dados e informaes e estimular aes concretas a ponto de influenciar at mesmo os rumos da cultura empreendedora do pas, com forte poder de transformao da sociedade como um todo. (GEM, 2008) interessante destacar que o Brasil, em termos absolutos, possui cerca de 33 milhes de pessoas desempenhando alguma atividade empreendedora. (GEM, 2009, p.17- 20). E nesta perspectiva que a pesquisa sobre a formao de uma cultura empreendedora no mbito da comunicao organizacional apresenta um tema que se insere numa problemtica indita na rea da comunicao organizacional e de relaes pblicas, estudando a relao entre empreendedorismo e a rea de comunicao.
1 Aluna do curso de Comunicao Social Hab. em Relaes Pblicas da UFG - Bolsista Pibic/CNPq 2 Orientador e professor Adjunto da FACOMB- Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia da UFG -Universidade Federal de Gois 3 Concebido em 1999, o Global Entrepreneurship Monitor o maior projeto de pesquisa sobre a atividade empreendedora, cobrindo mais de 60 pases consorciados com indiscutvel representatividade em termos econmicos (aproximadamente 95% do PIB mundial) e demogrficos (mais de 2/3 da populao mundial).
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2. Objetivos e justificativa O mercado das agncias de comunicao est em franca expanso no Brasil, vrias pesquisas tm apontado (Abracom, MegaBrasil4) esse crescimento. As perspectivas e o potencial do empreendedorismo justificam por si s a insero dessa discusso no mbito da comunicao. Porm no existem estudos/anlises desses empreendimentos, nem mesmo acerca do perfil dos empreendedores da comunicao. (MAINIERI, 2004) Objetivos: - Entender esse fenmeno, analisando e refletindo o perfil do comunicadorempreendedor e de seus empreendimentos - O impacto dessa atividade na formao de uma cultura empreendedora. Mapeamento das micro e pequenas agncias de comunicao atuantes na regio Centro-Oeste, e demos nfase cidade de Goinia. O estudo foi dividido em duas partes, uma terica e outra emprica. Na reflexo terica tem-se a reviso bibliogrfica sobre as concepes e estudo sobre o tema, e a partir desta reviso um estudo emprico a fim de analisar o perfil empreendedor do profissional de comunicao. Optamos pela tcnica de pesquisa qualitativa na coleta de dados por meio de entrevistas semi-estruturadas para uma amostra de comunicadores empreendedores, que detalharemos mais frente. 3. Conceitos e enfoques Vrias pesquisas sobre o assunto tm surgido, alm de livros, artigos, congressos, entre outros que trazem novos olhares para rea do empreendedorismo. Tal temtica mltipla e enriquecida por diversas reas como a administrao, economia, comunicao, psicologia, entre outras. Para Filion (1999) o empreendedorismo pode ser definido como a rea que estuda os empreendedores. Ela examina suas atividades, caractersticas, efeitos sociais e econmicos e prev o uso de mtodos para facilitar a atividade empreendedora. Portanto, ao nos referirmos ao campo do empreendedorismo encontraremos como figura central o empreendedor e seus desdobramentos. (MAINIERI, 2008) Empreendedorismo um neologismo derivado da livre traduo da palavra entrepreneurship. Apesar de popularizado a partir do ingls, o empreendedorismo originado da palavra francesa entrepreuner, cujo significado no sculo 12 era quele que incentivava brigas. J em meados do sculo 18, tal palavra passa a indicar pessoa que cria e conduz projetos e empreendimentos.
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a raiz da palavra tem cerca de 800 anos, derivado do verbo francs entreprendre o qual significa fazer algo ou empreender. O significado etimolgico representado pela soma do entre, do latim inter, que designa espao que vai de um lugar a outro, ao mtua, reciprocidade e interao, alm do pendre, do latim prehendere, que significa tomar posse, utilizar, empregar, tomar atitude (Bom ngelo apud MARINO; CERICATO; MELO 2007, p.35) A conceituao desse termo possui duas correntes bsicas, a dos economistas e a dos comportamentalistas. Os economistas, considerados pioneiros, associam o empreendedor inovao e criao e desenvolvimento de novos negcios, e os comportamentalistas (ou behavioristas) caractersticas como criatividade e intuio, em suma o comportamento empreendedor.Schumpeter (1928) que deu projeo ao termo, na viso dos economistas, associando o empreendedor ao conceito de inovao e apontando-o como o elemento que dispara e explica o desenvolvimento econmico. A essncia do empreendedorismo est na percepo e no aproveitamento das novas oportunidades no mbito dos negcios (...) sempre tem a ver com criar uma nova forma de uso dos recursos nacionais em que eles sejam deslocados de seu emprego tradicional e sujeitos a novas combinaes (Schumpeter apud FILION, 1999, p.7) No entanto, vamos focar na conceituao dos comportamentalistas. Bom ngelo (apud MARINO, CERICATO e MELO 2007, p.36) destaca que o empreendedorismo como o despertar do indivduo para o aproveitamento integral de suas potencialidades. Diante disto, vemos que o comportamento influencia o processo empreendedor. Reforamos esse olhar atravs de Timmons (1994) que coloca o empreendedorismo como um ato comportamental, humano, de criatividade. Timmons considera os empreendedores exmios identificadores de oportunidades, aqueles que so capazes de criar e construir uma viso sem ter uma referncia prvia, isto , so capazes de partir do nada. [...] Eles assumem riscos calculados, tentam entender seu ambiente e controlar o mximo de fatores possveis para que seu empreendimento d certo. Para isso, os empreendedores utilizam sua habilidade de persuaso para formar uma equipe de pessoas com conhecimentos complementares, as quais buscaro implementar e gerenciar um novo negcio ou projeto empresarial para capitalizar sobre a oportunidade identificada. (DORNELAS, 2004, p.82)
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4. Caractersticas empreendedoras O termo empreendedorismo constantemente associado prtica de negcios, criao ou administrao de uma empresa (empreendimento). Mas empreender vai alm disto. Segundo Dolabela (1999) apenas abrir um negcio e gerenci-lo no ser empreendedor; mas quando se inova de alguma maneira sim, ser empreendedor. Segundo Filion (1999, p.19), um dos principais disseminadores do empreendedorismo, um empreendedor uma pessoa que imagina, desenvolve e realiza vises. algum que inova e assume riscos. Para Julien (apud Schmitz, 2009, p.17) o empreendedor aquele que no perde a capacidade de imaginar, tem uma grande confiana em si mesmo, entusiasta, tenaz, ama resolver problemas, ama dirigir, combate a rotina e evita constrangimentos. Essa idia endossada pela citao de Filion (1999,p.10): O empreendedor uma pessoa criativa,marcada pela capacidade de estabelecer e atingir objetivos e que mantm alto nvel de conscincia do ambiente em que vive, usando-a para detectar oportunidades de negcios O pesquisador Dolabela (1999) frisa que as caractersticas empreendedoras podem ser aprendidas e influenciadas, dentro de um sistema de aprendizagem. Segundo ele este ramo do saber ainda est em fase pr-pragmtica, questes cruciais como se possvel ensinar algum a ser empreendedor, caractersticas empreendedoras determinantes do sucesso e quais so elas no encontraram ainda respostas definitivas, embora a publicao acadmica na rea tenha crescido. Tais pesquisas tm contribudo para o estudo de comportamentos que podem levar o empreendedor ao sucesso, que fonte de novas formas para a compreenso do ser humano em seu processo de criao de riquezas e realizao pessoal. Filion (1999) com base em vrios estudos sistematiza as principais caractersticas empreendedoras traadas por diversos autores: inovao,liderana, independncia, energia,tenacidade,otimismo, criatividade,necessidade de realizao e poder, flexibilidade,capacidade de assumir riscos moderados, iniciativa, entre outras. Para este autor, no campo do empreendedorismo ainda no foi possvel estabelecer um perfil cientfico do empreendedor. Porm, as pesquisas tem sido fonte de vrias linhas mestras para futuros empreendedores, ajudando-os a se situarem melhor. (FILION, 1999, p.10) Apesar da amplitude, podemos destacar algumas caractersticas tendo como referncia a reviso bibliogrfica de quatro autores: Dolabela (1999), Dornelas (2007), Filion (1999) e Mainieri (2005). Na tabela abaixo algumas dessas caractersticas so apresentadas.
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Criam valor para a sociedade (utilizam seu capital intelectual para criar valor para a sociedade) Sabem otimizar seus recursos financeiros Possuem um modelo de referencia (na famlia, empreendedores de sucesso,etc) Buscam scios que complementem suas habilidades So apoiados por seus familiares (ou at mesmo amigos) Buscam satisfao (auto-realizao) So flexveis e dinmicos Tem iniciativa Alta capacidade de aprendizagem So enrgicos e criativos So intuitivos Traduzem seus pensamentos em aes Gostam de usar seus conhecimentos da comunicao no dia-a-dia.
5. O comunicador- empreendedor A partir do estudo do empreendedorismo, principalmente pela vertente behaviorista sobre o comportamento empreendedor, iremos aqui destacar a definio do comunicadorempreendedor. Segundo Mainieri (2005, p.6) o comunicador-empreendedor definido como o profissional de comunicao com forte perfil para inovao que dono de seu prprio negcio ou empregado de uma organizao. Este que, parafraseado com Filion (1999), imagina, desenvolve e realiza solues de comunicao permanente. algum que inova e agente de mudanas.
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Podemos categorizar dois tipos de comunicador-empreendedor: o comunicador-empreendedor: que dono de seu prprio empreendimento em comunicao (agncia, veculo de comunicao, etc); e o comunicadorintraempreendedor: empregado, vinculado a uma organizao. Gerente ou responsvel por um setor/departamento de comunicao que administra a estrutura como se fosse sua prpria empresa (MAINIERI, 2005, p.3) Dornelas (2007, p.1) levanta um dado importante na pesquisa em empreendedorismo, destacando que houve um estudo recente onde foram identificadas mais de 50 caractersticas atribudas aos empreendedores em 25 artigos publicados em peridicos internacionais e em livros de referncia no perodo de 1972 a 2005. Ainda que no seja possvel traar um perfil cientfico do empreendedor, iremos salientar algumas caractersticas adaptando-as para a realidade do comunicadorempreendedor, que podem se alterar de acordo com diversas variveis, como regio, cultura. (MAINIERI, 2005). Tomando como referncia Mainieri (2005) e Dornelas (2007) apresentamos as seguintes caractersticas: Tabela 2: Caractersticas do comunicador-empreendedor Inovao/criatividade elemento essencial ao comunicador-empreendedor a capacidade de inovar constantemente, seja pela insero de produtos e servios novos de comunicao no mercado, como pelo incremento de aes j existentes, tudo isso de forma criativa. O comunicador-empreendedor um indivduo criativo e que sabe aproveitar e otimizar suas oportunidades. Independncia - outra caracterstica recorrentemente atribuda ao empreendedor a necessidade de independncia. Podemos dizer que o comunicadorempreendedor tem essa necessidade de independncia na medida em que quer ser dono de seu prprio negcio, tornando-se independente, livre das amarras caso fosse empregado de uma organizao. Flexibilidade/dinamicidade a flexibilidade para assumir riscos calculados e at mesmo fazer mudanas se for preciso essencial ao comunicador-empreendedor. Um empreendimento na rea de comunicao requer flexibilidade para permitir adaptaes no negcio, diante do ambiente de constantes transformaes. Sabe tomar decises e ser flexvel diante de situaes diante da realidade econmica (como at mesmo a crise mundial) um fator interessante. Iniciativa/dedicao/comprometimento a iniciativa essencial no comunicador-empreendedor, iniciativa para tomar decises e implementar aes. Um empreendimento requer dedicao e comprometimento por parte do comunicadorempreendedor, para que o negcio cresa e se desenvolva de forma consistente. Podemos considerar essas caractersticas como fruto da paixo do mesmo para desenvolver seu trabalho. Liderana a liderana na conduo de um empreendimento de comunicao garante o envolvimento da equipe. O comunicador-empreendedor precisa exercer o papel de lder na conduo do negcio. Aprendizagem/conhecimento/experincia o domnio do negcio determinante para o sucesso do mesmo. O comunicador-empreendedor tem pleno conhecimento do negcio e capacidade de aprendizagem para buscar constantemente aperfeioar seu nvel de nvel de conhecimento do negcio e do mercado.
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Intuio/ realizao pessoal os comunicadores-empreendedores baseados na experincia na rea em vrios aspectos em sua jornada empreendedores so muito intuitivos (principalmente quando pretendem abrir o seu prprio negcio), motivados a se auto-realizar e superar obstculos, concretizando sonhos e em busca de autonomia e oportunidades. Busca por scios a busca por scios/parceiros que complementem suas habilidades, agregando valor ao negcio outra caracterstica importante, principalmente na fase inicial do negcio. Esses scios podem ser amigos da universidade, ou at mesmo algum amigo que se conhecer em um antigo emprego e que motivados juntos abriram seu prprio negcio; alm de parentes (pai, esposas, etc). Networking O comunicador-empreendedor naturalmente uma pessoa bem relacionada e que valoriza o seu networking, por que a partir dele que ele obtem grandes fatores sucesso no andamento do negcio. Aplicam princpios e tcnicas de comunicao O comunicador-empreendedor gosta de aplicar tudo que aprender em sua vivencia acadmica e /ou profissional no seu negcio, mostrando que estes so de suma importncia para o sucesso da agncia. Esta no uma concluso nica dos traos do perfil do comunicadorempreendedor, mas fundamentada em aspectos da rea de comunicao que estruturam essa relao entre comunicao e empreendedorismo. 6. Resultados principais 6.1 Caracterizaes da amostra Foram selecionadas dez agncias de comunicao na cidade de Goinia, tendo como primeiro critrio de seleo ser associada da ABRACOM Associao Brasileira das Agncias de Comunicao, e como segundo critrio ter proprietrio graduado na rea de comunicao, tendo habilitao em relaes pblicas ou jornalismo, ou especializao em alguma rea especfica de comunicao. Foram encontradas trs agncias associadas da ABRACOM, e as demais agncias foram selecionadas a partir do portal COMUNIQUE-se5 que parceiro da ABRACOM. Foram feitas entrevistas em cinco agncias, um total de sete profissionais participaram das entrevistas. 6.2 Metodologia A fim de explorar a temtica com mais profundidade e analisar as informaes de forma mais estruturada, foram feitas entrevistas em profundidade semi-estruturadas com os profissionais proprietrios das agncias.
5 http://www.comunique-se.com.br
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a entrevista em profundidade um recurso metodolgico que busca, com base em teorias e pressupostos definidos pelo investigador, recolher respostas a partir de experincia subjetiva de uma fonte, selecionada por deter informaes que se deseja conhecer (DUARTE, 2006, p.62) [a entrevista semi-aberta] conjuga flexibilidade da questo no-estruturada com um roteiro de controle (...) A entrevista conduzida, em grande medida, pelo entrevistado, valorizando seu conhecimento, mas ajustada ao roteiro do pesquisa (DUARTE, 2006,p. 66) Com apoio de um gravador digital, as entrevistas foram registradas e posteriormente transcritas. A gravao possibilita o registro literal e integral. [...] Ouvir a transcrio ajuda o entrevistador a perceber as nuances, detalhes e questes que o ajudaro [...] (2006 p.76-77) Embora a pesquisa em sua essncia seja qualitativa, utilizou-se, em alguns momentos, um indicador quantitativo para facilitar a compreenso dos dados analisados. As porcentagens apresentadas significam apenas uma aproximao da freqncia com que os elementos analisados apareceram nas entrevistas, dando base a nossa anlise qualitativa. 6.3 Anlise dos dados Os resultados da anlise das entrevistas foram feitos a partir da reviso bibliogrfica j demonstrada ao longo do artigo, e levando em conta alguns pontos principais propostos no roteiro da entrevista semi-estruturada, como por exemplo: -Inovao/criatividade/oportunidades -Independncia -Flexibilidade/dinamicidade -Iniciativa/dedicao/comprometimento -Liderana -Aprendizagem/conhecimento/experincia -Intuio/realizao pessoal -Busca por scios -Networking - Aplicam princpios e tcnicas de comunicao
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Cabe ressaltar que os aspectos analisados so baseados em uma extensa reviso bibliogrfica. Logicamente os itens encontrados na literatura no esgotam as caractersticas empreendedoras. Entretanto, um primeiro passo para se compreender a relao entre aes empreendedoras e o campo da comunicao, e a formao do comunicadorempreendedor. Na anlise, alguns comentrios6 foram extrados das entrevistas de maneira a ressaltar as caractersticas apontadas. A) Inovao/criatividade/oportunidades Quase todos os entrevistados demonstraram ter grande capacidade de inovao, criatividade, e principalmente de saber aproveitar e otimizar oportunidades. A percepo dessas oportunidades e a maneira de conduzi-las um fator gerador da atividade empreendedora. Podemos constatar na afirmao de um dos entrevistados que diz [...] eu estava em busca de novas oportunidades, novos desafios, a eu mandei meu currculo. Eu comecei a focar nas empresas que eu acreditava que tinha a demanda (E6); No tnhamos mveis, a gente arrumou, ns pintamos e montamos uma agncia (E3). Alm de assumir a postura com essas caractersticas, o comunicador-empreendedor tambm tem a conscincia do que este inovar. Pra ser inovador, voc vai ter que fazer o arroz com feijo. como Picasso falou, antes de ser um pintor do Cubismo ele foi um pintor exmio da arte Clssica e depois ele desconstruiu e criou algo totalmente novo E4 B) Independncia Alguns sentiram necessidade de independncia (30%) por diversas circunstncias e assim conduzirem seu prprio negcio. Este aspecto pode vir tanto do desejo de autonomia, realizao pessoal, viso de uma nova oportunidade ou independncia financeira. Percebe-se um desejo de crescer, de conduzir sua maneira seu negcio. Dois entrevistados destacaram isto de maneira interessante: Hoje eu acho isso muito bom, ter cliente e no ter patro, eu amo, adoro ter cliente E7 Ns samos da barra da saia [dos antigos proprietrios] e crescemos E3 C) Flexibilidade/dinamicidade A maioria dos profissionais (60%) declarou ter flexibilidade no trabalho, permitindo adaptaes, sendo profissionais que sabem tomar decises diante de diversas situaes. A partir destes atributos, flexibilidade e dinamicidade, demonstram tambm a capacidade de assumir riscos calculados (80%).
6 Para cada profissional entrevistado atribumos o smbolo E com um respectivo nmero para diferenciar os depoimentos.
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Percebemos muitas afirmaes de que para atender o cliente preciso ter jogo de cintura e o leque de servios deve ser grande para ter mais sobrevivncia. Alm disto, o profissional precisa estar dentro da dinmica das novas redes de comunicao como blogs, Messenger7, Skype8, entre outros. O profissional E1 destacou que H um apelo do mercado para que voc se atualize, no adianta dizer que tenho 20 anos de experincia se eu no souber twittar9. D) Iniciativa/dedicao/comprometimento Tais caractersticas so muito determinantes, principalmente quando o profissional abre seu negcio e como ele d andamento ao mesmo. Constatamos que a maior parte (80%) toma iniciativa, implementa aes, so extremamente dedicados e comprometidos, apaixonados pelo que fazem. Ao iniciar seu negcio se esforam ao mximo dedicando muitas horas de trabalho, como podemos ver na seguinte afirmativa do entrevistado E5: Eu s fui tirar o primeiro dinheiro depois de seis anos de trabalho; trabalhando todos os dias, todas as tardes, final de semana, at ela dar o primeiro lucro. Muitos continuam dedicando muitas horas de trabalho, chegando a no tirar frias regulares, e nem estando em casa desligam o celular, procurando estar sempre a disposio do trabalho da agncia, o que reflete num servio de qualidade para o cliente que hoje deseja tudo com muita dinmica e rapidez. Os outros (20%) apesar de tambm apresentarem algumas caractersticas, no demonstram tanta iniciativa para inovao, otimismo e at sacrifcios para alcanar suas metas. O empreendedor move toda sua dedicao e comprometimento pela sua paixo pelo trabalho, chegando a fazer mais do que o proposto, mostrando que essa uma das principais motivaes. Eu gosto muito do que eu fao, e isso me motiva e me deixa feliz pra aprender sempre, para querer sempre inovar. Eu acho que isso o sentido de voc trabalhar, o que te move;(...) minha energia, minhas emoes, minhas expectativas, elas esto muito aqui! Meus sonhos esto focados aqui E4 Ao serem indagados sobre pontos fortes e fracos, os pontos positivos mais apontados foram: flexibilidade, comprometimento, postura profissional, planejamento, estrutura e fora de vontade.
7 Programa de mensagens instantneas, que permite a um usurio da Internet se relacionar com outro que tenha o mesmo programa em tempo real. 8 Software que permite comunicao pela Internet atravs de conexes de voz, as chamadas so gratuitas; faz tambm chamadas telefnicas, realiza vdeo conferncias entre outras atribuies. 9 Neologismo criado atravs da ao de postar mensagens na rede de comunicao Twitter, com mensagens de at 140 caracteres quantas vezes desejar.
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E) Liderana Embora se presuma que um empreendedor seja um bom lder, menos da metade dos entrevistados assumiram ter esse papel e/ou demonstraram em suas respostas saber exercer bem esse ponto. A liderana exige envolvimento da equipe, e alm de uma boa relao, saber delegar e obter feedback. Muitos chegaram a assegurar que no foram bons lderes, outros disseram refletir nessa questo, mas que no se viam nesse papel de lder. Outra questo interessante foi a admirao por pessoas que para eles teriam liderana exemplar: A gente trabalha com muito empresrios, eu admiro muito... porque a gente olha e pensa esse cara milionrio e no a toa, porque tem liderana,persuaso,argumentao, (...) a gente tem outras caractersticas mas no liderana, eu no consigo olhar dessa forma. E7 F) Aprendizagem/conhecimento/experincia Alm de ter pleno domnio do negcio, a capacidade de aprendizagem desde estgios, at o aperfeioamento de sua profisso so fatores predominantes em todos os entrevistados. A maioria chegou a fazer estgio desde a vida escolar e acadmica (Caixa Econmica, SEBRAE, SENAC, SENAI), sendo estes at uns dos fatores de abrirem mais oportunidades para o negcio e para o processo da escolha de seus scios. Dominam o negcio e sempre buscam aperfeioar o nvel de conhecimento atravs de especializao, ou participando de encontros de agncias regionais, gostam da troca de experincia com outros profissionais da rea. G) Intuio/realizao pessoal Embora ainda haja uma discusso sobre a influncia da intuio nos negcios, pouco mais da metade declararam usar intuio no negcio, sendo este fruto no s de sua experincia profissional, mas tambm algo inerente ao ser humano que pode ser usado no dia-a-dia da empresa, a intuio move o ser humano em todos os sentidos, ela uma ferramenta muito valiosa (E1), quando a gente vai ganhando experincia, voc vai ganhando o feeling. (E6) Alm de intuitivos, os entrevistados so pessoas motivadas a se auto-realizar e superar obstculos em busca de seus sonhos. Eu sempre acreditei que voc s vai prosperar e ser feliz fazendo o que voc gosta e fazendo de preferncia o que ningum faz (E5). H) A Busca por Scios A busca por pessoas que agreguem valor ao negcio e que sejam apoio no incio da jornada percebida na reposta de todos os entrevistados. Foram apontadas sociedades com amigos de universidade, amigo que se conheceu em emprego anterior, cnjuge, filhos, e at mesmo um estagirio que se destacou. E foi a estagiaria que mais se destacou. (...) eu j tinha chamado vrios amigos, e esprito empreendedor no todo mundo que tem. E eu perguntei pra ela, porque ela era boa, ela gostava, e a gente tinha um relacionamento bom, porque isso conta bastante e ela topou E3
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Este ltimo reflete a importncia de um profissional bem preparado para o mercado de trabalho, e nesta perspectiva que destacamos o que vrios autores da rea j abordaram, a importncia do ensino do empreendedorismo desde a escola e principalmente no meio acadmico. Todo esse processo com certeza s ser gerado atravs do esforo da sociedade e do governo, e de verdadeira reorientao nos valores do ensino brasileiro. Dolabela (1999, p.62-65) sugere um projeto sob nove perspectivas: Propagar o ensino de empreendorismo para todos os nveis educacionais; estimular a pesquisa na rea do empreendedorismo; sensibilizar os sistemas de suporte e as foras sociais, polticas e econmicas para a necessidade de apoio s empresas emergentes; implantar polticas pblicas e legislao de apoio; estimular o empreendedor cientfico; estimular a criao de incubadoras e parques tecnolgicos e cientficos; preparar a insero da pequena empresa no mercado mundial; formao de um sistema brasileiro de capital de risco. I) Networking A rede de contatos um fator preponderante para o andamento do negcio, uma rede bem estabelecida. Todos os comunicadores entrevistados se consideram bem relacionados e admitem que esse networking essencial para o andamento do negcio. Muitos apontam at mesmo no precisarem gastar com propaganda, pois a maioria dos clientes vem por indicao J) Aplicam princpios e tcnicas de comunicao Os comunicadores-empreendedores naturalmente so indivduos apaixonados pela sua carreira na rea da comunicao e procuram aplicar princpios da comunicao em suas vidas pessoais e profissionais. Gostam de estar bem informados, atentos s novas ferramentas da comunicao e s novas tecnologias, no poupando esforos para investirem nesta; alm de estarem preocupados com o processo comunicacional que a base de seu negcio. Todos os entrevistados demonstraram essa particularidade de maneira diferenciada, porm predominante. Muitos enfatizam a importncia da comunicao integrada, saber oferecer um planejamento bem estruturado; saber lidar com as redes de relacionamento, e investir em tecnologias (softwares, redes estruturadas, entre outros) que dinamizem o negcio. Um entrevistado ressalta que no adianta experincia se o profissional no estiver atento ao ritmo das novidades da rea de comunicao. 6.4 Outras anlises Alm das anlises destes pontos especficos, foram encontrados outros aspectos interessantes. Quanto ao gnero, foi constatado que a maioria dos profissionais do sexo feminino (60%), refletindo dados j revelados na pesquisa da Global Entrepreneurship Monitor desde 2007 constatando a alta taxa de empreendedorismo feminino no Brasil. (GEM, 2009, p. 56-57)
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Nenhum entrevistado afirmou ter feito qualquer tipo de planejamento formal no incio do negcio, no entanto a maioria afirmou hoje traar metas, porm mais curto do que longo prazo para a empresa. Planejam para o cliente e no para a prpria empresa, essa foi outra particularidade muito arriscada que apareceu em vrias das respostas. Muitos caracterizaram a famlia como fator crucial de apoio e/ou motivao principal no momento da deciso de abrir o negcio. A famlia favorece, estimula, d suporte, afirma E1. Alguns membros da famlia tambm podem significar um modelo de referncia importante para o empreendedor, o que percebemos nas seguintes colocaes: Meu pai j era jornalista, e eu comecei na profisso, colaborando com o jornal, com 14 anos, ele era editor [de um jornal importante na cidade] E5 Abri a [agncia] junto com meu atual marido, na poca namorado, ele tambm da rea de comunicao, radialista (...) [ele disse] eu acho que com o seu perfil a gente d conta de abrir uma empresa e ir adiante (...) ento a gente comeou a pequena empresa juntos (...) E2 Ao longo das entrevistas perguntamos aos profissionais qual a opinio deles sobre o mercado de comunicao em Goinia e constatou-se que mais da metade julga o mercado goiano promissor; apesar do fator de indicao por muitas vezes atrapalhar a maior abertura do mercado, conforme relatou um dos entrevistados citando o fato da maioria da clientela surgir a partir da indicao de outros clientes que j contrataram os servios da agncia. Salientaram tambm que a cidade de Goinia por ser nova se comparada a cidades como So Paulo, tem um mercado com caractersticas diferentes, e que a rea da comunicao se destaca como um diferencial para os servios a oferecer a esse mercado. 7. Consideraes finais A linha de pesquisa em empreendedorismo recente, e tem se demonstrado de forte influncia em aspectos econmicos e at mesmo sociais em muitos pases. uma temtica que estuda principalmente o ser humano. Investir, estudar e pesquisar empreendedorismo fundamental neste contexto. Timmons (1994) escreveu que o empreendedorismo era uma revoluo silenciosa, que seria para o sculo 21 mais do que a revoluo industrial foi para o sculo 20 (apud DOLABELA, 1999, p.29). E temos visto o crescimento da temtica e da amplitude de abordagens como prova disto. Estudar empreendedorismo e comunicao uma forma de analisar como o campo da comunicao pode atuar diante dessa nova revoluo. Por fim, a pesquisa procurou entender a forma como os profissionais da comunicao da cidade de Goinia atuam, e como contribuem na formao de uma cultura empreendedora.
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8. Referncias Bibliogrficas DOLABELA, F. O segredo de Luisa. So Paulo: Cultura Editores Associados, 1999. ____.Oficina do Empreendedor. So Paulo: Cultura Editores Associados, 1999 DORNELAS, J. C. Empreendedorismo Corporativo: conceitos e aplicaes. Revista de Negcios, Blumenau, v.9,n.2,p.81-90, abril/junho 2004 ____.Empreendedorismo na prtica:mitos e verdades do empreendedor de sucesso.Rio de Janeiro: Elsevier,2007 DORNELES, F. R.; MAINIERI, T. Comunicao e mercado: comunicadores-empreendedores atuando no mercado regional. In: UNESCOM 2006 Congresso Multidisciplinar de Comunicao para o Desenvolvimento Regional. So Bernardo do Campo. FILION, L. J. Empreendedorismo: empreendedores e proprietrios-gerentes de pequenos negcios. Revista de Administrao da Universidade de So Paulo. So Paulo, v.34, n.2, p.05-28, abril/junho, 1999. GEM Global Monitor Entrepreneurship. Empreendedorismo no Brasil 2008. Curitiba: Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Paran, 2009. ____. Empreendedorismo no Brasil 2009. Curitiba: Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Paran, 2010. MAINIERI, T. Perfil do Comunicador Empreendedor. In: CELACOM 2005 - IX Colquio Internacional sobre a Escola Latino-Americana de Comunicao. So Bernardo do Campo. Anais do CELACOM. So Paulo: UMESP, 2005. ____. Perspectivas do empreendedorismo em comunicao. In: XXVII Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao, 2004, Porto Alegre. Anais do Congresso INTERCOM. So Paulo: INTERCOM Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares de Comunicao, 2004. ____. Empreendedorismo em comunicao- um estudo comparativo das agncias de relaes pblicas e comunicao no Brasil, Estados Unidos e Espanha. (Tese de doutorado) So Paulo: ECA/USP, 2008 MARINO, A; CERICATO, D; MELO P. A. Empreendedorismo corporativo: uma nova estratgia para a inovao em organizaes contemporneas.Revista de Negcios,Blu menau,v.12,n.4,p.32-43, outubro/dezembro 2007. SCHMITZ, A. A.. Agncia de comunicao: gesto, desafios e oportunidades. Florianpolis : Ed. do autor, 2009.
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Parte 2: Anlises de Discursos e Prticas de Comunicao e Informao | : Tatiana Carilly Oliveira Andrade1 Ana Carolina R. P. Temer2
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Palavras chaves: ensino, telejornalismo Justificativa/Base Terica O jornalismo de TV tem um papel relevante na construo social da realidade. Tuchman (1980) afirma que as notcias organizam a realidade cotidiana, definindo, redefinindo, constituindo e reconstituindo os significados sociais e tambm as maneiras de agir. Vizeu (2005) define o telejornalismo como sendo a nova praa pblica, fazendo referncia gora da grcia antiga onde as pessoas debatiam os assuntos de interesse pblico. Wolton (2004) alerta para a funo de lao social desempenhada pelos noticirios televisivos. Segundo ele, os laos primrios, que se relacionam famlia, religio, solidariedade de classe, esto cada vez mais distantes o que torna as relaes frgeis. Nesse contexto, o telejornalismo funcionaria como lao estruturante e Canclini (1995) acrescenta a hiptese de que ele representaria um lugar de referencia para os brasileiros que se aproximaria ao da famlia, amigos, da escola e at do consumo. Alm disso, o telejornal um produto de prestao de servio inserido obrigatoriamente pela legislao brasileira numa grade de programao de um canal de televiso, cuja concesso pblica. No sculo atual, visto como o mais importante meio de informao da populao brasileira. Porm, h poucos estudos sobre telejornalismo. O nmero de pesquisas e publicaes na rea pequeno, embora apresentem qualidade, como por exemplo: Aprender Telejornalismo (1990) de Sebastio Squirra; O texto na TV (1999), de Vera ris Paternostro; A notcia na TV (2002), de Olga Curado; Ponto Eletrnico (2005),de Flvio Prado; A sociedade do Telejornalismo (2008), O lado Oculto do Telejornalismo (2005), Telejornalismo a nova praa pblico (2006), de Alfredo Vizeu. Mas, em Gois, no h pesquisa na rea e trabalho algum referente ao tema em questo que o ensino do telejornalismo, o que torna essa pesquisa indita no estado. Esse estudo tambm pode contribuir para a discusso e reflexo sobre um tema polmico e atual, que coloca em cheque a educao formal. Segundo Brasil (2007, p. 184), O jornalismo est em crise de valores e de identidade, e, pelo jeito, o seu ensino tambm est sendo questionado e menosprezado(...) Assim como o jornalismo, as escolas de jornalismo tambm esto em crise de identidade e objetivos. Existem, mas no sabem muito bem para que servem ou como ensinar um ofcio em constante evoluo. OBJETIVOS O objetivo principal analisar a formao dos profissionais que vo atuar na rea telejornalstica, verificando at que ponto o conhecimento acadmico influencia na informao veiculada nos telejornais locais. Alm disso, so objetivos secundrios desse trabalho: analisar o ensino do telejornalismo nas instituies de ensino superior da cidade de Goinia e a relao entre o mercado de trabalho na rea de telejornalismo e o meio acadmico, verificar as possveis interferncias e contribuies de um sobre o outro e como isso tem influncia sobre as informaes prestadas nos telejornais, e investigar se a no obrigatoriedade do diploma para o exerccio da profisso do jornalismo pode contribuir para aprofundar a crise do telejornalismo e das escolas que se dedicam a ensinar esse ofcio.
1 Mestranda do Programa de Ps-graduao da Facomb- UFG (WWW.facomb.ufg.br) 2 Coordenadora do Programa de Ps-graduao Facomb- UFG (WWW.facomb.ufg.br)
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Parte 2: Anlises de Discursos e Prticas de Comunicao e Informao | : Tatiana Carilly Oliveira Andrade1 Ana Carolina R. P. Temer2
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METODOLOGIA Nesta pesquisa, pretendo utilizar a metodologia qualitativa, cuja abordagem ser o estudo de caso. Dessa maneira, proponho analisar o ensino do telejornalismo nas instituies goianas tanto particulares Alfa, Araguaia, PUC-GO, Fasam quanto pblica UFG . Pretendo tambm utilizar a pesquisa bibliogrfica e a anlise documental. Dentre os documentos que podero ser verificados esto: projetos de curso de jornalismo e suas respectivas grades curriculares; planos de curso com contedo programtico e bibliografia bsica da disciplina de telejornalismo e outras ligadas rea audiovisual que possam contribuir para a formao do telejornalista; possveis projetos de programas audiovisuais produzidos por alunos. DISCUSSO O telejornalismo tem caractersticas prprias que devem ser levadas em conta no processo de ensino-aprendizado. um produto televisivo que nos ltimos anos vem sofrendo alteraes devido a presso pela busca de audincia e aos avanos tecnolgicos, que possibilitam formatos cada vez mais criativos com utilizao de animaes, edies com formatos mais leves, cenrios virtuais, simulaes da realidade. Enfim, o que se percebe que o telejornalismo sisudo de antigamente, aquele da era do rdio, ganhou e vem ganhando novos traos. A fonte maior de informaes sobre os acontecimentos dirios mistura, atualmente, o gnero jornalstico ao entretenimento. Segundo Bucci, Em muitas ocasies o que ele (jornalismo de televiso) exibe como informao pura promoo de espetculo em assuntos to diversos quanto sade, poltica, meio ambiente ou cincia. O que determina que assim seja no apenas a troca de favores (de influncia, de servido) entre as empresas de televiso e outros ncleos de poder, mas principalmente a necessidade do telejornalismo de proporcionar gozo. Cada dia mais, acima da tarefa de buscar e difundir a informao, o telejornalismo se v forado a produzir e montar o circo. (1998, p.23) Diante dessas mudanas, o ensino de telejornalismo torna-se um grande desafio para as faculdades de comunicao. Com a no obrigatoriedade do diploma de jornalismo para exercer a profisso isso se confirma ainda mais. J no bastasse a prpria crise do produto telejornalstico, agora a academia que legitimava e, de certa forma, impunha respeito ao exerccio profissional dessa rea, tambm se v questionada. Segundo Antonio Brasil (2007), Aps mais de meio sculo de hegemonia e comodismo, o modelo est desgastado, a audincia despenca e o pblico envelhece. Hoje, assistir a um telejornal programa de velho. A TV e os telejornais, na forma como os conhecemos, tm futuro incerto. Se os responsveis pelo seu presente no fizerem nada, a TV no ter futuro. Pode virar rdio. No deixa de existir. Mas deixa de ser o principal meio de comunicao. Em relao ao ensino de jornalismo de TV a situao ainda pior (...). Assim como os telejornais, os cursos de jornalismo precisam mudar para sobreviver.
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Nos ltimos dez anos, Gois foi palco de implantaes e instalaes de Instituies de Ensino Superior (IES), o que culminou na abertura de diversos cursos, dentre eles: o jornalismo. At ento, somente a Universidade Federal de Gois (UFG) o oferecia. Hoje, porm, na capital goiana Goinia - h mais quatro IES que se dedicam ao ensino de jornalismo. So elas: Faculdade Araguaia (FARA), Faculdades Alves Faria (ALFA), Universidade Catlica de Gois (UCG) e Faculdade Sul Americana (FASAM). Essas cinco instituies apresentam na grade curricular a disciplina Telejornalismo, sendo que algumas delas oferecem tambm disciplinas relacionadas rea de udio e vdeo que complementam a formao do futuro profissional que ir atuar na rea telejornalstica. Segundo Antonio Brasil (2007, p.11), Apesar da crise do desemprego no setor, o jornalismo de tev continua na moda. Ainda tem muita gente tentando uma boquinha na telinha. No entanto, para aprender o ofcio, muitos estudantes se matriculam em cursos universitrios duvidosos (...). A maioria desses cursos, tanto os universitrios quanto os milagrosos, sem dvida, muito ruim. Tentam o impossvel. Pretendem ensinar a tocar piano sem ter um piano. muito difcil ensinar jornalismo de tev fora do ambiente de televiso. Alm disso, Squirra (1990, p. 15) aponta tambm para a falta de interesse das escolas em aprofundar o ensino nessa rea, As escolas de Jornalismo, na sua maioria quase absoluta, no tm demonstrado interesse em aprofundar a teoria e muito menos a prtica do uso da expresso eletrnica de forma adequada e atualizada aos dias atuais. Queremos dizer que os cursos superiores de Jornalismo no tm se preocupado em fornecer ao estudante jornalista uma formao suficiente para que ele possa competir em condies de igualdade com outros profissionais do campo do Jornalismo eletrnico. CONCLUSO Sabe-se que a formao do telejornalista est associada teoria e prtica do fazer telejornalstico e de suas interferncias e conseqncias no meio social. Dessa forma, o ensino do telejornalismo deve ser repensado levando em conta o novo contexto scio-cultural, que apresenta constante avano tecnolgico, e o fortalecimento da democracia, no qual o prprio jornalismo tem papel importante, j que informa os cidados e forma as correntes de opinio por meio de um veculo extremamente hegemnico que demonstra grande capacidade de influncia social e poltica, sendo responsvel pela formao da opinio pblica nacional. Para Azevedo (2004, p.58), Os meios de comunicao converteram-se em protagonistas ativos de um sistema social que logo os equiparou aos sistemas de governo, executivo, legislativo e judicirio, passando a ser designado como o quarto poder.
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REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS AZEVEDO, Maria Vernica Rezende de. Telejornalismo educao para a cidadania. So Paulo: Beca Produes Culturais: 2004. BARBOSA, Bia. Como se constri um monoplio. Revista Frum. Ed. 54. So Paulo. Disponvel em: http://www.revistaforum.com.br/sitefinal/EdicaoNoticiaIntegra. asp?id_artigo=934. Acesso em: 24 de maro de 2010. BRASIL, Antnio Cludio. Antimanual do jornalismo e comunicao. Ensaios crticos sobre jornalismo, televiso e novas tecnologias. So Paulo: Senac, 2007. BUCCI, Eugnio. Cinco funes quase ideolgicas na televiso. In: Revista Imagens, Campinas/SP: Unicamp, n 8, maio/agosto 1998, p. 20-25. DUARTE, Jorge e BARROS, Antonio. Mtodos e tcnicas de pesquisa em comunicao. So Paulo: Atlas, 2005.
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RESUMO: Partimos nossa observao do pressuposto de um fenmeno que acomete a sociedade atual: a falncia dos mecanismos de identificao coletiva, acarretada, sobretudo, por uma deformao nas relaes de comunicao, e que se intensifica com o advento da Indstria Cultural. A opinio pblica se torna um meio facilmente manipulvel e abre caminho para o espetculo, o discurso ininterrupto que a ordem faz a respeito de si mesma, seu monlogo laudatrio. auto-retrato do poder na poca de sua gesto totalitria das condies de existncia. A aparncia fetichista de pura objetividade nas relaes espetaculares esconde o seu carter: a sociedade do espetculo a forma que escolhe seu prprio contedo tcnico. Se o espetculo, tomado sob o aspecto restrito dos meios de comunicao de massa, sua manifestao superficial mais esmagadora, d a impresso de invadir a sociedade como simples instrumentao, esta nada tem de neutra: convm ao automovimento total da sociedade. Pretende-se, ento, analisar a dinmica apresentada luz da teoria filosfica do frankfurtiano Jrgen Habermas, apontando a necessidade de reformulao do dilogo e da comunicao de forma geral. ABSTRACT: We start our observation from the assumption of a phenomenon that affects society today: the failure of the mechanisms of collective identification, brought about mainly by a strain in relations of communication, and that intensified with the advent of the Cultural Industry. Public Opinion becomes a means easily manipulated and paves the way for the show, uninterrupted speech that the order makes about itself, its laudatory monologue. Its self-portrait of power in the epoch of its totalitarian management of the conditions of existence. The appearance of pure objectivity fetishist spectacular relations conceals his character: the society of the spectacle is the form which chooses its own technical content. If the show, taken from the aspect of limited mass media, its most glaring superficial manifestation, it looks to invade society as mere equipment, this is anything but neutral: it should be the total self in society. The aim is then to analyze the dynamics presented in the light of philosophical theory of the Frankfurt School Jrgen Habermas, pointing to the need to recast the dialogue and communication in general. 1. INTRODUO A partir do final da dcada de 20 filsofos e socilogos de tendncias marxistas, emergidos do Instituto para Pesquisa Social de Frankfurt, se reuniram e formaram um grupo que ficou conhecido como a Escola de Frankfurt. Dentre seus integrantes podem-se destacar, sobretudo, os nomes de Max Horkheimer, Theodor Adorno, Walter Benjamim, Herbert Marcuse e Erich Fromm. O grupo acabou por discutir uma diversidade importante de questes relacionadas aos paradigmas da modernidade e lanaram importantes conceitos como teoria esttica, indstria cultural e cultura de massa 3.
1Docente Universidade Federal de Gois (UFG) Professor Doutor D.E. e-mail: [email protected] 2 Discente Universidade Federal de Gois (UFG) Graduando. e-mail: [email protected] 3 Para um maior entendimento das idias apregoadas pelos pensadores frankfurtianos aconselha-se: HORKHEIMER, Max. Teoria Crtica. Trad. Hilde Cohn. So Paulo: Perspectiva, 1990; ADORNO, Theodor. Dialtica do Esclarecimento Trad. Guido de Almeida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988 e MARCUSE, Herbert. Ideologia da Sociedade Industrial. Trad. Giasone Rebu. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1978.
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O pensamento-base das discusses empreendidas pelo grupo alemo, contudo, se focalizou na questo da Teoria Crtica da Sociedade. Para tanto, os idelogos retomaram ao pensamento racional dos filsofos do Iluminismo, movimento europeu do final do sculo XVIII. No dizer de Horkheimer e Adorno, o programa do iluminismo consistia no desencantamento do mundo (...) Eles queriam dissolver os mitos e fortalecer as impresses atravs do saber. Assim, se pode entender que o programa iluminista emancipatrio e visa o uso da razo como um instrumento de libertao humana, para a sua autonomia e autoderminao. Entretanto, a sociedade burguesa, herdeira do Iluminismo, privilegiou o desdobramento da razo instrumental em detrimento da razo emancipatria, que ficou reprimida e atrofiada (FREITAG: 2004, p. 48-49), isto , as idias iluministas de libertao foram distorcidas pela gerao subseqente, de acordo com suas aspiraes, e se apresentaram em um corpo instrumental, que acabou por escravizar o homem (subjugao irracional do pensamento humano), e no libert-lo. A razo instrumental subjugou a razo emancipatria. Tal distoro continua, at hoje, com um entendimento bastante confuso, seja pela complexidade do processo ou pela propagao da ideologia burguesa dominante, que a nega veementemente. Na tentativa de compreend-la, Adorno identifica a razo instrumental com o Positivismo: uma doutrina metodolgica, desenvolvida na Europa a partir das idias de Augusto Comte, que propunha a separao entre o sujeito cognoscente e o objeto cognoscvel por meio de uma anlise nexocausal padronizada e exata. O pensamento positivista lanou mo do emprego de preceitos bsicos da lgica formal cartesiana (cujos princpios fundamentais so o procedimento dedutivo, o princpio da identidade, a intersubjetividade e a coerncia interna da teoria) para a formao de um mtodo impessoal, universal, objetivo, legal, preciso, contnuo e calculvel, e a mecanizao das cincias sociais (as Humanidades) com a formulao de leis rigorosas e previsveis. No mbito do Direito destacou-se a conhecida doutrina jurdica pura, desenvolvida pelo jurista austro-americano Hans Kelsen, que defendia a exatido ordenativa do Direito atravs do seu direcionamento a um mtodo lgico formado por um conjunto enorme de leis, normas e regras previsveis, que deveriam ser seguidas risca. Contrapem-se, ento, uma racionalidade libertadora que visava no dizer do filsofo Immanuel Kant, maioridade intelectual do homem (decorrente da necessidade humana de rompimento com uma srie de pensamentos pejorativos que comprimiam o ser humano escravido desde o perodo medieval), a uma racionalidade tcnica (decorrente da organizao das foras produtivas pela burguesia ascendente), que visa gerar o mximo de produtividade para assegurar a sobrevivncia material dos homens que vivem em sociedade, e os mantm em sua menoridade (FREITAG: 2004: p. 61). O andamento dos debates marxistas na Alemanha defrontou-se, a partir da chegada de Adolf Hitler no poder, com o Nazismo 4 . O instituto frankfurtiano acabou migrando para Genebra, depois Paris e, finalmente, Nova Iorque. O Instituto retorna Alemanha em 1948, sob a direo de Horkheimer e, posteriormente, Adorno. Com a morte deste, inicia-se o chamado segundo perodo da Escola de Frankfurt, sob a articulao de Jrgen Habermas, filsofo e socilogo alemo nascido em Dsseldorf, em 1929, assistente de Adorno no Instituto de Frankfurt de 1956 a 1959, e que se torna, posteriormente, um dos seus crticos mais ferrenhos. Habermas retoma a discusso da instrumentalizao burguesa da razo iluminista iniciada por seus antecessores frankfurtianos, mas apresenta uma viso mais otimista e aponta para uma provvel resoluo do problema. Para tanto, parte de uma anlise do mundo em que vivemos caracterizando-o como um universo disjunto: acreditava que este se dividia entre o mundo-da-vida, ou mundo vivido, e o sistema, que entram constantemente em choque.
4 Alm do carter marxista, o Instituto de Frankfurt tinha fortes ligaes com o semitismo, a comear pelo fato de ter sido fundado com o apoio financeiro do mecenas judeu Felix Weil em 1923.
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2. FUNDAMENTAO TERICA Inicialmente condizente com o pensamento multitudinrio a respeito dos diversos acontecimentos, formados a partir da gama diferenciada de posicionamentos livres, a opinio pblica se torna, paulatinamente, um meio de manobra facilmente manipulvel (HABERMAS: 2003, p.53). A opinio pblica se mostra, hoje em dia, como um meio de difuso de idias j pr-postas e constitudas, influenciando a sociedade na formulao errnea de conceitos manipulativos. Isso pode ser visto, claramente, no tocante ao pensamento criminolgico presente em nossa sociedade, exemplificado por idias como bandido bom bandido morto, que mostram como a totalidade analisada de forma superficial, de maneira a limitar uma viso da realidade. Outro exemplo de manipulao da opinio pblica o controle exercido pela mdia jornalstica em nossa sociedade, provocando a chamada deturpao miditica, como bem se v nos programas policiais que incitam a violncia contra os bandidos. A banalizao da opinio pblica se mostrou latente em diversos momentos de nossa histria contempornea. Um dos casos emblemticos diz respeito ao nazismo, doutrina totalitria que se implantou na Alemanha da dcada de 30. Os nazistas acreditavam veementemente que representavam uma raa pura e superior que deveria prevalecer sobre as demais. Tudo o mais que fugisse ao modelo ariano homogeneizado enquadrando aqui judeus, homossexuais e comunistas deveria ser eliminado em campos de extermnio. Nesse contexto a opinio pblica era constante e intensamente aflorada e manipulada: os espetculos de Adolf Hitler, os jogos esportivos, as saudaes e os meios de propaganda (como o rdio) so apenas alguns exemplos. Hitler conseguiu trabalhar em cada alemo o sentimento patritico e de revanchismo pela situao histrica degradante que o pas vivia aps a Primeira Guerra Mundial, de forma que construram na opinio pblica sentimentos que foram meticulosamente trabalhados em prol de seu intento geopoltico de expanso territorial. Assim, fcil perceber o poder que possui a opinio pblica (ADORNO; HORKHEIMER: 1985, p.145). O mundo atual cada vez mais racional e mecanizado: grandes indstrias, com processos automatizados e calculados meticulosamente para se conseguir o mximo de lucro e o mnimo de desperdcio possvel; rotinas controladas segundo a segundo por relgios opressores; universidades passando da lgica de centro de produo de saber voltado comunidade para centro de excelncia para produo de conhecimento tcnico voltado para o mercado (FREITAG: 2004, p.91). A racionalizao do mundo ocorreu simultaneamente a uma burocratizao deste, de forma que o desenvolvimento tcnico foi seguido por um recrudescimento dos valores humansticos: a sociedade evoluiu, mas usou tal evoluo de forma distorcida (como bem mostra eventos como o lanamento das bombas atmicas nas cidades de Hiroshima e Nagaski, no Japo). Ou seja: a humanidade gradativamente desenvolveu a sua razo, aperfeioando a tecnologia, entretanto, passou a empregar esta em intentos opressores.
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O progresso se paga com coisas negativas e aterradoras, entre elas o desaparecimento do sujeito autnomo em um totalitarismo uniformizante (MATOS: 1993, p.32). Observamos, ento, uma dialtica da razo que em sua trajetria, originalmente concebida como processo emancipatrio que conduziria autonomia e autodeterminao, se transforma em seu contrrio: em um crescente processo de instrumentalizao para a dominao e represso do homem (FREITAG: 2004, p.34). Vemos-nos em um mundo em que a lgica bastante individualizada, o que dificulta a acepo de uma identidade coletiva entre a totalidade dos indivduos que esto sob a gide da Indstria Cultural. Encontrar uma noo de reconhecimento de uma totalidade, da coletividade, em um mundo ditado pelas leis egostas do mercado e marcado por uma burocratizao opressora (de lgica excludente e lucrativista) uma grande problemtica, de difcil soluo. sobre tal problemtica, dos laos sociais de interao entre membros de uma coletividade na sociedade do espetculo que compomos, que Habermas se deter em seus estudos. O espetculo o discurso ininterrupto que a ordem atual faz a respeito de si mesma, seu monlogo laudatrio. auto-retrato do poder na poca de sua gesto totalitria das condies de existncia. A aparncia fetichista de pura objetividade nas relaes espetaculares esconde o seu carter de relao entre homens e entre classes: parece que uma segunda natureza domina, com leis fatais, o meio em que vivemos. Mas o espetculo no o produto necessrio do desenvolvimento natural. Ao contrrio, a sociedade do espetculo a forma que escolhe seu prprio contedo tcnico. Se o espetculo, tomado sob o aspecto restrito dos meios de comunicao de massa, que so sua manifestao superficial mais esmagadora, d a impresso de invadir a sociedade como simples instrumentao, tal instrumentao nada tem de neutra: ela convm ao automovimento total da sociedade. Se as necessidades sociais da poca na qual se desenvolvem essas tcnicas s podem encontrar satisfao com sua mediao, se a administrao dessa sociedade e qualquer contato entre os homens s se podem exercer por intermdio dessa fora de comunicao instantnea, porque essa comunicao essencialmente unilateral; sua concentrao equivale a acumular nas mos da administrao do sistema os meios que lhe permitem prosseguir nessa precisa administrao. A ciso generalizada do espetculo inseparvel do Estado moderno, isto , da forma geral da ciso na sociedade, produto da diviso do trabalho social e rgo da dominao de classe. (DEBORD: 2000, p.20) Nada mais difcil do que fazer sentir a realidade em sua banalidade. Flaubert gostava de dizer: preciso pintar bem o medocre. o problema que encontram os socilogos: tornar extraordinrio o ordinrio; evocar o ordinrio de maneira que as pessoas vejam a que ponto extraordinrio. Os perigos polticos inerentes ao uso ordinrio da televiso, por exemplo, como meio miditico, devem-se ao fato de que a imagem tem a particularidade de poder produzir o que os crticos literrios chamam de o efeito real, ela pode fazer ver e fazer crer no que faz ver. Esse poder de evocao tem efeitos de mobilizao. Ela pode fazer existir idias e representaes, mas tambm grupos. As variedade, os incidentes ou os acidentes cotidianos podem estar carregados de implicaes polticas, ticas etc. capazes de desencadear sentimentos fortes, frequentemente negativos, como o racismo, a violncia, a xenofobia, o medo-dio do estrangeiro, e a simples narrao, o fato de relatar, to record, como reprter, implica sempre uma construo social da realidade capaz de exercer efeitos sociais de mobilizao (ou de desmobilizao). (BOURDIEU: 1997, p.27 e 28) A sociedade do espetculo marcada por uma falsa conscincia de autodeterminao e por um individualismo exacerbado. Vivemos acreditando que somos nicos e especiais porque podemos comprar produtos os mais variados e descarregar nossas frustraes profissionais e cotidianas em meios de escape oferecidos aos montes pelo dito capitalismo selvagem. Formamos nossas concepes polticas base de programas dominicais noturnos entalados de alienaes camufladas e nos achamos politicamente crticos: no enxergamos a limitao de nossa formao. A homogeneizao de gostos e pensamentos difundida pelo sistema dominante implanta em nossas mentes o repdio a qualquer forma de diferena: o diferente
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repelido e deve ser excludo. A repulsa ao diferente e a individualizao do sujeito em meio a uma multido de indivduos mostram-se, nesta lgica, como eventos complementares que explicitam a mesma idia: na sociedade contempornea temos que seguir os padres impostos caso queiramos ser aceitos e no descartados pelo sistema. Devemos seguir a risca o tipo ideal do homem moderno: o jovem que estuda como um louco para passar no vestibular de uma universidade pblica, o adulto que trabalha como um louco para conseguir pagar o aluguel de casa e o idoso que abandonado em um asilo por ser visto como um louco. Precisamos nos adequar a uma sociedade de loucos. A partir da fundamentao supra-apresentada, isto , a explanao do fenmeno que inicialmente constatamos acometer a sociedade contempornea, podemos alar caminho para o que pretendemos defender: a necessria maturao da possibilidade apresentada por Habermas para o problema da comunicao em nossa sociedade, por meio do uso da linguagem e do dilogo como espao democrtico de construo coletiva. 3. METODOLOGIA O desenvolvimento dos objetivos e dos problemas sero realizados conforme os seguintes procedimentos: Investigao bibliogrfica das fontes primrias e dos comentadores relevantes para a investigao. Elaborao de fichamentos, tendo em vista um melhor estudo e compreenso dos textos. Produo de textos e artigos a partir do estudo realizado, visando tanto publicao dos resultados parciais como ao desenvolvimento de um trabalho final, no molde de um ensaio. Realizao de estudo de casos e experincias de pensamento (exerccios de possibilidades tericas a casos concretos), com produo de textos e material didtico . 4. RESULTADOS O desvirtuamento da linguagem, na Indstria Cultural, ocorre a partir da Publicidade da Comunicao, quando as palavras tornam-se racionais, exatas, frmulas petrificadas, designaes manejveis e arbitrrias, em sntese, puras e transparentes. Mas, ao mesmo tempo tornam-se cegas, manipulveis, obscuras, uma instncia abstrata, com fora de opresso, positivista, um mero registro de dados. A Indstria Cultural anuncia um produto falando objetivamente (de forma clara e precisa) que bonito, necessrio, etc. No considera, porm, a totalidade contextual e acaba por desconsiderar alguns fatos importantes, como esse tnis belo, mas foi produzido por explorao escrava na frica. O objetivo estereotipar convices e abarcar o maior nmero possvel de fiis que saibam o que est sendo propagado, mas no se ponham a criticar e questionar. Em seus estudos, Habermas compreende o referido desvirtuamento da linguagem e aponta a necessidade de reverter tal processo para restabelecer a subjetividade dos indivduos e a comunicao entre estes, possibilitando, ento, a emancipao desses sujeitos da dominao sistmica veladamente imposta pela Indstria Cultural.
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O que a Indstria Cultural acaba por fazer promover a Dessublimao do sujeito, anulando qualquer forma de criatividade, originalidade e autenticidade (personalidade) no homem, que se enquadra, cada vez mais, a um modelo de homem genrico. A Indstria Cultural dessublima, isto , reitera de forma padronizada um determinado tipo de objeto que pode ser abarcado (leia-se, consumido) e acaba por impor um determinismo que limita qualquer originalidade libidinosa destoante daquilo que quisto pelo sistema (energia libidinosa para fins contrrios) e condiciona a forma como o homem deve usar a sua energia: se uma jovem quer, por exemplo, seguir a carreira de modelo preciso se enquadrar no esteretipo Gisele Bndchen, vendido pela mdia. A Indstria Cultural tem como principal objetivo, portanto, abarcar um nmero mximo de potenciais consumidores e impedir que haja descontentamento, crtica e/ou desvio entre os sujeitos, isto , objetiva uma homogeneizao completa da sociedade. A indstria cultural no sublima, mas reprime. Expondo repetidamente o objeto do desejo, o busto no suter e o torso nu do heri esportivo, ela apenas excita o prazer preliminar no sublimado que o hbito da renncia h muito mutilou e reduziu ao masoquismo. [...] Toda voz de tenor acaba por soar como um disco de Caruso, e os rostos das moas texanas j se assemelham em sua espontaneidade natural aos modelos que fizeram sucesso, seguindo os padres de Hollywood. (ADORNO; HORKHEIMER, 1985: 131) Habermas encontra na reconstruo da capacidade lingstica autntica uma alternativa para romper com a colonizao sistmica e ensejar possibilidades de reconhecimento individual e grupal, proporcionando mecanismos de aproximao e identificao em uma dada coletividade. Os principais estudos de Habermas foram condensados na chamada Teoria da Ao Comunicativa, que passamos agora a expor como possibilidade metodolgica de crtica e redefinio da sociedade. Para desenvolver a Teoria da Ao Comunicativa, Habermas utiliza como substrato o uso comunicativo cotidiano da linguagem por sujeitos que interagem, ou seja, a linguagem como prxis social, o que configura a mais genuna competncia da espcie humana, a fala, cuja unidade elementar o ato de fala. (Habermas, 1990, 1987, 1995) O discurso, forma rigorosa de comunicao que deve atender a determinadas exigncias, conecta-se sempre, ainda que de forma contrafactual, s pressuposies de uma situao ideal de discurso, onde todos participam igualmente, apresentando razes para resgatar ou rejeitar pretenses de validade pelo tempo que julgar necessrio. As decises, ento, remeteriam a um auditrio universal (elas tm ou teriam o acordo de todos que participassem ou viessem a participar do processo de argumentao) onde prevalece nica e exclusivamente a fora do melhor argumento, sem nenhuma outra coero. A, no discurso, reside, portanto, a possibilidade da unificao entre a autonomia e a universalidade e, mais importante, as condies para tanto esto dadas e operantes toda vez que falantes e ouvintes utilizam sua competncia comunicativa a fala para alcanarem o entendimento, por mais simples e provinciano que ele seja: a dupla face de Janus das pretenses de validade, presente na estrutura de toda a fala humana elas surgem num contexto, sim, no mais provinciano e corriqueiro entendimento lingstico, envolvem um saber compartilhado por todos os participantes e produzem a interao normal, mas, dadas as tomadas de posio do ouvinte, elas podem ultrapassar o contexto e ganhar a condio de universalidade (Habermas, 1995). Um acordo racional remete necessariamente ao consentimento de todos os envolvidos, num processo de unidade entre autonomia e universalizao. A interao entre sujeitos, mediada pela linguagem, ocorre sempre dentro de um mundo-da-vida, que o conjunto de saberes pr-tericos, implcitos, inquestionveis
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na sua totalidade e que, compartilhados pelos participantes da interao e colocados s suas costas, servem de horizonte e garantem os recursos utilizados por eles para que se entendam uns com os outros, numa dada situao, e assim, ao estabelecer relaes intersubjetivas mediadas pela linguagem, coordenem as suas aes coletiva e cooperativamente. O mundo-da-vida , ento, o pano de fundo dentro do qual se desenrola a ao comunicativa/discurso. constitudo: pela cultura (objetividade mundo objetivo), isto , o saber disponvel que permite a interpretao dos fatos, normas e vivncias; pela sociedade (intersubjetividade mundo social), engendrada por normas que regulam as interaes e definem prticas sociais conhecidas e exercitadas e so responsveis pela solidariedade entre os membros dos grupos; e pela personalidade (subjetividade mundo subjetivo), vivncias e habilidades individuais que permitem aos atores lidar com as diferentes situaes. Cultura e sociedade comporiam os aspectos do mundo exterior, sendo a primeira vinculada s cincias (a busca pela verdade) e a segunda ligada moral e ao Direito (o uso de correo, metas e atos comunicativos). J a personalidade compe o mundo interior e vincula-se arte (a autenticidade). Esses elementos estruturais do mundo-da-vida, por sua vez, se reproduzem exclusivamente pela ao comunicativa/discurso, para a qual so recursos e o fazem na forma de reproduo cultural continuidade e renovao do saber vlido; de integrao social - manuteno e criao dos laos de solidariedade e de socializao aquisio de competncias que tornam as crianas capazes de agir e de falar. Essa a reproduo simblica da sociedade e de racionalizao do Mundo-da-vida, representando todo o aprendizado social conquistado ao longo da historia, de gerao para gerao, produzindo/transformando a sociedade, os saberes, os sujeitos. Mas, a sociedade, como a concebe Habermas, no pode ser constituda s pelo mundo-da-vida; ela tambm sistema, mbito da sociedade auto-regulado, dentro do qual os indivduos so elementos abstratos, meras partes de uma engrenagem, autonomizada das suas orientaes e motivaes (1987; 1990, 1995). Se no mundo-davida, a integrao social feita pelo compartilhamento comunicativo das normas que orientam as aes dos atores sociais envolvidos, a integrao sistmica feita atravs de mecanismos annimos como dinheiro e poder e depende das conseqncias que o agregado das aes que se desenvolvem no seu interior tem para a sua manuteno. Dessa forma, a evoluo da sociedade ocorreria como aumento da complexidade sistmica, acima da vontade e das possibilidades de interveno dos sujeitos e como racionalizao do mundo-da-vida, em que os atores sociais so ao mesmo tempo, produto e produtores da histria. Nas sociedades modernas, ocorreria uma colonizao do mundo-da-vida pelos imperativos sistmicos, medida que as interaes entre sujeitos que se comunicam tornam-se cada vez mais permeadas, destrudas, e substitudas pelo dinheiro e pelo poder e a linguagem natural pela tecnologia, pela linguagem codificada, sob o domnio dos meios de comunicao, unidirecionais e massificadores. Como reproduo cultural, integrao social e socializao de sujeitos so processos que no podem ser desempenhados por esses meios, essas sociedades so constantemente perpassadas por crises de racionalizao, de motivao, de sentido. (HABERMAS, 1975a e 1975b) A tese da colonizao do mundo-da-vida poderia explicar o dramtico quadro ambiental em que vivemos: se no h regras, valores, comportamento tico, sentimentos de pertinncia e lealdades e impera o jogo do vale-tudo e a lei do levar vantagem, perde-se a noo de pertencimento a uma dinmica global ambiental, fetichizando a natureza, que passa a ser vista como mera produtora de mercadorias, e abre-se o caminho para um ciclo vicioso marcado pelo alarmante crescimento da destruio do meio-ambiente e, consequentemente, do prprio ser humano.
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5. CONCLUSES Desde o sculo XIX temos aquisies tericas que no foram assumidas na vida prtica das sociedades modernas e do direito correspondente. Hegel, Marx, Schopenhauer, Nietszche, Freud, Darwin, Lacan, Foucault e tantos outros, questionaram duramente a forma cultural sobre a qual se erige a nossa vida prtica, sem que houvesse ainda uma passagem amadurecida ao imaginrio pblico. Essa passagem, como pensamos, deve ser motivada pelos problemas polticos, ticos e econmicos atuais, como referidos anteriormente, que so materializadas nos ambientais, nos de representatividade e legitimidade polticas, nos de titularidade e propriedade, nos relativos dignidade da pessoa humana e naqueles que tm na penalidade a parte negada do sujeito na economia. Um esforo terico (de pesquisa e aplicao) seria bem vindo quando se junta a tantas tentativas que hoje se faz em um mundo em profunda mutao. Ao longo do trabalho pretendemos, pois, apontar na teoria da ao comunicativa desenvolvida pelo frankfurtiano da segunda gerao Jrgen Habermas uma possibilidade de (re)construo de um sentimento de pertencimento ao todo social que permita aos sujeitos se desvincularem da tica individualista capitalista e sublimarem seus impulsos criativos e autnticos, estabelecendo uma slida comunicao interssubjetiva, pautada pelo dilogo democrtico e participativo. 6. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ADORNO, Theodor W. Educao e Emancipao. So Paulo: Editora Paz e Terra S/A. 4 edio. 2006. ______. Palavras e Sinais. Modelos Crticos 2. Tempo Livre. Petrpolis: Editora Vozes. 1995. Pgs. 70 a 82. ______. ______. Tabus que pairam sobre a Profisso de Ensinar. Petrpolis: Editora Vozes. 1995. Pgs. 83 a 103. ______. ______. Educao Aps Auschwitz. Petrpolis: Editora Vozes. 1995. Pgs. 104 a 123. ADORNO, Theodor W.; HORKHEIMER, Max. Dialtica do Esclarecimento fragmentos filosficos. O Conceito de Esclarecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor Ltda. 1985. Pgs. 19 a 52. ______. ______. A Indstria Cultural: O esclarecimento como mistificao das massas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor Ltda. 1985. Pgs. 113 a 156. ARAGO, Lcia Maria de Carvalho. Razo Comunicativa e Teoria Social Crtica em Jrgen Habermas. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1992. COHN, Gabriel. A teoria da ao em Habermas. In: CARVALHO, Maria do Carmo Brandt (org.). Teorias da ao em debate. So Paulo: Cortez, FAPESP, Instituto de Estudos Especiais-PUC, 1993.
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Resumo Este artigo pretende refletir a questo da imagem do Brasil na narrativa jornalstica de jornais estrangeiros. Defende-se a ideia que h uma tendncia em tratar o Brasil como sendo um pas com uma postura de ditadura e populismo assim como intervencionista. Para isso, este artigo faz uma anlise de alguns textos jornalsticos sobre as eleies presidenciais de 2010, construindo uma ponte com a questo da imagem dos pases da Amrica Latina. Palavras-chave: Amrica Latina, Brasil, Framing Abstract This article intends to reflect about the brazilian image at foreign newspapers. It supports the idea that there is a tendency to treat Brazil as a country with an attitude of dictatorship and populism as well as interventionist. For that, this article makes an analysis of some newspaper articles about the presidential elections of 2010, building a bridge with the question of the image of Latin American countries. Keywords: Latin America, Brazil, Framing 1 INTRODUO Para comear e apoiar a discusso deste artigo, defende-se ideia de que o Brasil uma nao emergente e, para alm disso, uma ameaa iminente s consolidadas e antes slidas potncias capitalistas, nomeadamente: Japo, Estados Unidos e Europa Ocidental. Mais precisamente este cenrio se fez com o surgimento da crise mundial de 2008 que, se no nova em suas causas, nova em suas consequncias: O mundo que surgiu aps a crise financeira global de 2008 bipolar. De um lado, Estados Unidos, Europa Ocidental e Japo, com consumidores e governos endividados at o pescoo, os empregos e o crdito sumindo. Do outro, os emergentes, liderados por China, ndia e Brasil, onde empregos e crdito nunca foram to fartos e o crescimento econmico bate recordes (AMORIM, 2010, p. 122). Este desenlace poltico e econmico faz com que haja uma nova classificao para os pases emergentes e com potencial de crescimento econmico: os Brics, termo genrico usado para classificar Brasil, Rssia, ndia, China e frica do Sul. Mais do que possibilidades de crescimento alude-se a eles um potencial para mudar o mundo tanto pelas ameaas quanto oportunidades que estes cinco pases representam, do ponto de vista econmico, social e poltico3 Antes da crise de 2008 j se falava sobre o poder dos pases emergentes e da transformao do mundo em uma realidade multipolar. Mas a crise econmica parece estar a acelerar esse processo, com empresas e governos de pases que antes eram considerados subdesenvolvidos a ganhar poder e influncia. Este novo cenrio poltico e econmico coloca o pas em uma nova posio na narrativa jornalstica4. Onde estamos hoje neste cenrio mundial o resultado de uma
1 Trabalho apresentado na V FEICOM: Ressignificar as fronteiras da comunicao e informao. De 08 a 12 de novembro de 2010, em Goinia GO. 2 Estudante de Comunicao Social Habilitao Jornalismo, na Universidade Federal de Gois. [email protected] 3 Informao retirada do Projeto Brics. Disponvelm em: < http :// brics . redesist . ie . ufrj . br /> Acesso em: 29.10.10 4 Ao usar o termo narrativa jornalstica este artigo pressupe que os jornalistas no se limitam descrio dos fatos e que usam da interpretao.
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relao com a histria latino-americana, este artigo se prope, portanto, a ampliar o debate e tratar tambm de aprofundar a compreenso sobre essa questo. O destino da Amrica Latina o destino do Brasil, so similares no mesmo nvel que so nicos, [...] neste continente, que no o mundo europeu, nem o asitico, nem o africano: a Amrica Latina com suas prprias tradies, virtudes e elementos (FREI, 1968, p.21). Assim o Brasil, mal interpretado muitas vezes em suas nuances. Mas onde e como identificar essa latinidade? [...] Devemos voltar os olhos h 500 anos e imagin-la como uma grande nao sob controle ibrico, dividida em dois territrios: um espanhol e outro portugus, ambos sob forte influncia da Igreja (SANTANNA, 2001, p.5). Essa grande nao tem predominantemente lnguas derivadas do latim, principalmente o espanhol e o portugus. Herana da colonizao ibrica. formada por 20 pases: Argentina, Bolvia, Brasil, Chile, Colmbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, Mxico, Nicargua, Panam, Paraguai, Peru, Repblica Dominicana, Uruguai e Venezuela. Segundo SantAnna (2001) ela possui uma raiz cultural comum e tambm um processo poltico-econmico parecido. Esses territrios vivenciaram processos histricos semelhantes: a imposio da cultura europia, a migrao de negros traficados desde a frica; razes indgenas e uma forte migrao europia ocorrida na virada do sculo XIX pro XX (SANTANNA, 2001, p. 5). Portanto, essa construo de uma identidade nica composta desses acontecimentos histricos tambm nicos. Mas ainda que os processos histricos tenham sido semelhantes difcil falar sobre a Amrica Latina. Sendo to iguais seus habitantes, somos diferentes em muitos aspectos e perigoso cair em generalizaes (FREI, 1968, p. 21). Frase esta escrita em um contexto de 1968 e, mesmo depois de 42 anos, ainda pode ser considerada atual. Afinal, essa identidade latino-americana est a ser constantemente construda e continua a ser complexa, contudo, possvel falar de uma identidade criada pelos meios de comunicao de massa, no qual a informao constri realidades, enquadra percepes. Como disse Gabriel Garca Mrquez no discurso proferido em 1982, ao ganhar o Prmio Nobel de Literatura, a Amrica Latina local para o delrio imaginativo de uma Europa por vezes curiosa, por vezes maldosa: En las buenas conciencias de Europa, y a veces tambin en las malas, han irrumpido desde entonces con ms mpetus que nunca las noticias fantasmales de la Amrica Latina, esa patria inmensa de hombres alucinados y mujeres histricas, cuya terquedad sin fin se confunde con la leyenda (GARCA MRQUEZ, 1982). Admite-se que este perfil de notcias fantasmagricas com hombres alucinados, mujeres histricas persiste na cobertura miditica efetuada pelos jornais europeus das Eleies brasileiras Presidenciais de 2010. Isto , at que ponto possvel identificar essa viso do fantstico e da lenda nas notcias referentes s eleies no Brasil? possvel achar indcios de que a imagem de polticos brasileiros reflete uma imagem do pas? Esses questionamentos so importantes porque muito da viso de mundo que conhecemos atravs do que temos acesso nas mais diversas mdias.
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2 NOTCIA E ENQUADRAMENTOS Neste cenrio de crise que se formou a partir de 2008, v-se o Brasil gerar de maneira notvel notcias nos jornais internacionais. Em linhas gerais, pode-se dizer que as notcias agora tendem a chamar a ateno pela negativa ao demonstrar uma viso no mais de uma benevolncia suspeita e sim e, abertamente, um discurso extremamente crtico. Este o debate neste estudo: a imagem brasileira na cobertura miditica da Eleio Presidencial em jornais europeus, mais precisamente pretende-se identificar os enquadramentos utilizados quanto era este o tema. Segundo Traquina (1988) as notcias registram as formas literrias e as narrativas (news frames) utilizadas pelos jornalistas para organizar o acontecimento, embora estas sejam ndice do real. O objetivo aqui no surgir com uma nova definio do que notcia e nem questionar as que a esto, mas ressaltar que se por um lado as notcias continuam sem uma definio definitiva os avanos na rea de telecomunicaes multiplicaram a presena delas na vida das pessoas. Admite-se, portanto, que as tecnologias ampliam o acesso informao e permitem tambm que o pblico seja seletor da sua prpria programao noticiosa (ZANDOMENICO, 2007). Ainda que haja essa seleo do pblico, a teoria do enquadramento (frame analysis ou framing) no qual este artigo se baseia, sustenta que as narrativas jornalsticas so enquadradas em um processo de nfase e excluso. Neste sentido as notcias seriam uma orientao sobre o que pensar e como pensar, ainda que este efeito seja limitado. A frame analysis creditada geralmente ao sociologista Erving Goffman que dizia que as definies de uma determinda situao so contrudas de acordo com princpios de organizao que governam os eventos - e o nosso envolvimento subjetivo neles; o enquadramento , dentro dessa lgica, a palavra que usa-se para referir a tais elementos bsicos como somos capazes de identific-los (GOFFMAN,1986). Dentro da perspectiva das mdias e pesquisa em comunicao h uma viso mais sociolgica do framing, segundo Reese (2001) os enquadramentos so prncipios organizadores que so socialmente compartilhados e persistem ao longo do tempo, que trabalham simbolicamente para dar sentido a estrutura do mundo social. Pode-se dizer que que o framing se sustenta na ideia de que os jornalistas constroem significado de acordo com suas experincia de mundo e vivncias, isto , as notcias so construdas e esquematizadas dando enfoque a um tema e ofuscando outros temas. O enquadramento, portanto, pode atuar definindo questes - determinam o que um agente qualquer est a fazer e quais as consequncias disso em termos de custos e benefcios, que so medidos em valores culturais comuns; diagnostica causas - identifica as foras que esto a criar o problema; faz julgamentos morais - avaliam os agentes causais e os seus efeitos; e sugerem solues - oferecem e justificam tratamentos para os temas e prev seus efeitos provveis. (ENTMAN, 1993, p. 52). O objetivo identificar um destes possveis enquadramentos nas notcias analisadas, sendo que pode-se encontrar mais de um destas quatro possveis funes de enquadramento. Segundo Entman (1993) o texto contm enquadramentos, que so manifestados pela presena ou ausncia de certas palavras-chave, frases que funcionam como suporte, imagens estereotipadas, fontes de informao, e sentenas que reafirmam tematicamente os grupos de fatos e julgamentos. O estudo colocado em prtica aqui busca indcios desses enquadramentos com o objetivo de refletir sobre as notcias veiculadas nos jornais ibricos.
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3 A CONSTRUO DO IMAGINRIO Este artigo ir analisar sete notcias; trs do jornal portugus Pblico5 e quatro do jornal da Catalunha LaVanguardia6. Estes peridicos foram selecionados porque a inteno aqui fazer um recorte que demonstre o pensamento europeu em relao Amrica Latina. Considerando que, conforme citado anteriormente, houve um domnio ibrico nessa regio; este o olhar estrangeiro que este artigo tem interesse em refletir. Ambos peridicos disponibilizam o contedo online. Portanto, fez-se uma busca de notcias sobre as Eleies 2010 no Brasil no perodo pr-propaganda eleitoral - 06 de Julho at 16 de Agosto - e ps-propaganda eleitoral - a partir do dia 17 de Agosto at o dia 04 de Outubro, um dia aps as Eleies do Primeiro Turno. Esta busca foi feita seguindo uma metodologia de semana construda e se restringiu apenas s notcias que abordavam as eleies presidenciais. Os sete contedos noticiosos selecionados de acordo com os critrios citados so; no peridico LaVanguardia: Lula llora en Televisin por un crdito a una cooperativa de reciclaje y su adis a la Presidencia (22.07.10), Roussef se aferra a la victoria en primera volta (27.09.10) e Marina Silva dice que an no ha decidido a quin apoyar en la segunda vuelta (04.10.10), Dilma Rousseff se impone pero no logra evitar la segunda vuelta (04.10.10). No peridico Pblico: Marina sai ao ataque, Dilma e Serra fogem do confronto (27.09.10), Dilma e Serra na segunda volta, por causa de Marina (04.10.10), Brasil: 18 governadores eleitos primeira volta nas federais (04.10.10). Nestas notcias procurou-se por metforas, palavras-chave que pudessem sugerir enquadramentos na narrativa jornalstica. A representao do mundo construda de tal forma, que se estabelecem valores e hierarquias para justificar polticas [...] (CAIRO, 2008, p. 203). Portanto, buscou-se indcios de que demonstrassem a ideia global que se faz hoje do Brasil que, considera-se aqui, consoante com o juzo que se faz hoje da Amrica Latina como subdesenvolvida e politicamente autoritria. Imagem que foi construda durante a Guerra Fria em um contexto de controle de produo de conhecimento (PENNA, 2009). Mas em pleno sculo XXI possvel falar em controle de produo de conhecimento? Talvez no em um sentido absoluto, dado o advento da Internet e suas novas possibilidades de comunicao, mas possvel ainda falar e muito sobre a influncia da mdia na sociedade e como a prpria sociedade molda a mdia atravs de frames. Este estudo observou as expresses e frases utilizadas nas notcias pelos peridicos analisados, a fim de categorizar e descrever para evidenciar os enquadramentos possveis (CUNHA, 2005, p.101). 3.1. Dados sobre a cobertura das Eleies Presidenciais de 2010 Tanto jornal portugus quanto o catalo deram destaque diferenciado para Marina Silva (candidata pelo Partido Verde) nas notcias analisadas, Jos Serra (candidato do PSDB) quando era mencionado era de uma forma neutra ou negativa. Dilma Rousseff (candidata do Partido dos Trabalhadores) tambm recebe uma cobertura ampla, entretanto, muitas vezes relacionada com o Presidente Lula. possvel perceber enquadramentos que indicam que o Brasil tem uma postura populista e intervencionista, sobretudo no jornal catalo.
5 Lanado em Maro de 1990. Desde o incio apostou em edies locais diferenciadas Porto e Lisboa. < http :// www . publico . pt / > 6 Fundado em 1881, em Barcelona, pela famlia God, que continua a ser a sua proprietria. Este dirio de formato berlinense o quarto do pas em termos de divulgao, mas o mais vendido na Catalunha. < http :// www . lavanguardia . es / >
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3.1.1. LaVanguardia.es interessante ressaltar que no peridico LaVanguardia apenas uma notcia assinada por um jornalista (enviado especial). As outras so creditadas agncias, sendo uma delas apenas agncia EFE7. Um destes textos noticiosos tem como foco Marina Silva (04.10.10), a matria do dia 27 de Setembro fala do atual presidente Lula e uma notcia faz um balano mais crtico das eleies presidenciais no Brasil, importante ressaltar que esta que escrita por um jornalista enviado especial, Ricardo Mur (27.09.10). Dilma Rousseff la candidata de Lula, la progresista, la delfin de Lula, ex guerrillera, heredera de Lula. A maioria dos nomes ligados Rousseff fazem relao ao atual presidente ou deixam claro que ela a preferida por Lula. Essa abordagem para alm de indicar os fatos pode tambm sugerir uma atitude populista, afinal, d a entender que Lula est por trs da candidata. A imagem de Dilma Rousseff e Lula se confundem. Por outro lado, em todas as notcias Marina Silva tratada por la ecologista ou la candidata ecologista. Esta constante meno da candidata como ecologista simboliza a mulher histrica mencionada por Gabriel Garcia Marquez (1982). Passa uma ideia de uma candidata com ideais (a candidata verde) que faz o contraponto com os outros candidatos (os candidatos capitalistas). Neste jornal tambm podemos identificar traos de enquandramento que julgam que a poltica desenvolvida por Lula da Silva de populismo: ocho aos de lulismo, (...) la clase baja apoya ciegamente el modelo desarrollista de Lula, una tercera parte de los brasileos votara ciegamente a cualquier candidato apoyado por Lula, el ex gobernador de So Paulo ha tenido que reconocer parte del legado de Lula para araar votos en la clase baja. Sendo que todas essas frases foram escritas na notcia assinada pelo enviado especial. A palavra lulismo, ciegamente, legado de Lula, araar votos en la clase baja deixa implicito duas vises bsicas do jornalista do peridico catalo. A primeira que o atual presidente brasileiro age de forma populista e, para alm de achar que Lula populista, subentende-se uma atitude irracional por parte da dita clase baja ao agir ciegamente. O peridico cita continuamente o nome de Lula como chefe de governo por trs da atual candidata presidncia. Esta construo de enquadramento d a impresso de que l temos um ditador, uma pessoa que rene em si, temporariamente, e em circunstncias excepcionais, todos os poderes pblicos. Tambm podemos destacar o enquadramento que sugere uma posio intervencionista do Brasil no cenrio mundial: as polticas desarrollistas y liberales de Lula. Este arranjo de palavras sugere uma ideia chave que demonstra que o Lula capitalista e, portanto, o Brasil tambm um pas capitalista. 3.1.2. Pblico.pt As matrias que coincidiram para anlise, em sua maioria, buscavam um tom neutro. Duas eram assinadas por jornalistas e uma apenas mencionavam por Pblico. No Pblico as notcias focam na imagem de Marina Silva como fator que est a causar o problema, As expresses sai ao ataque por causa de Marina indicam este enquadramento da notcia e fazem um julgamento moral de sua atitude em um debate poltico televisionado. Quanto aos nomes relacionados candidata em questo, so eles: candidata presidncia do Brasil pelos Verdes, candidata verde. O que sugere uma aproximao na viso que o jornal LaVanguardia possui. Mais uma vez parece haver uma busca do mito na pessoa de Marina Silva: Mas enquanto as sondagens continuavam a dar maioria absoluta a Dilma, pelo interior do Brasil e nas ruas o apoio a Marina crescia claramente. Todas as notcias ao falar da popularidade de Lula citam as porcentagens das pesquisas, essa forma de montar a narrativa parece apoiar uma opinio pessoal de que h uma massa popular que ampara Lula e suas polticas.
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4 CONSIDERAES FINAIS Uma matria noticiosa seleciona alguns aspectos da realidade e do a esses aspectos um destaque maior. So metforas, palavras-chave e conceitos fundamentais salientados durante a narrativa jornalstica. Independente de ser algo pensado ou apenas um reflexo cultural a questo que os frames so possveis de ser encontrados quando o pesquisador prope-se a fazer uma leitura mais atenta dos textos comunicativos. Em algum momento deste novo sculo, o Brasil perdeu a imagem do bom selvagem com papel secundrio na poltica mundial para passar a ser visto como o novo vilo com nuances intervencionistas que reside em uma Amrica Latina pouco conhecida e, muitas vezes, mal interpretada. O objetivo ao analisar essas matrias do jornal Pblico e LaVanguardia era desenvolver essa reflexo. A viso dos nossos polticos e da poltica brasileira reflete o olhar estrangeiro: a construo das notcias sobre a poltica no Brasil feita sob um contexto ibrico que desconsidera as nossas nuances scio-histricas. Portanto, este olhar ibrico sobre questes polticas brasileiras um recorte que importante porque a imagem do pas reflete um posicionamento comum em relao aos pases latino-americanos. [...] a anlise do que ocorre em cada povo mostra algumas constantes fundamentais que o definem (FREI, 1968, p.21). Primeiramente mas, no necessariamente nessa ordem; a importncia de Marina Silva nas notcias estudadas para as eleies presidenciais brasileiras. Apesar de quantitativamente Marina Silva no estar na frente da candidata Dilma Rousseff os textos so enquadrados de uma maneira que d-se nfase candidata. Talvez isso se explique porque: Na Amrica Latina, da Colmbia ao Chile, e agora tambm no Brasil, as questes ecolgicas entram definitivamente na pauta das eleies presidenciais o que j no ocorre na Europa. O Brasil a stima potncia mundial. Nenhum europeu em s conscincia pode se desinteressar pelo que est em jogo para os destinos ecolgicos e sociais do planeta.8 Outra questo a ser colocada a percepo de uma presena aguda do Presidente Lula por trs no s da campanha eleitoral como um todo como tambm de um Brasil que d largos passos a um futuro com polticas cada vez mais desarrollistas y liberales. O surgimento dos Brics e a crise de 2008 so explicaes plausveis para essa viso de um novo posicionamento brasileiro com desenlaces intervencionistas. A responsabilidade por essas polticas colocada na pessoa de Lula da Silva e que ento passa refletir o Brasil como um todo e Dilma Rousseff a continuao de Lula. Nesta lgica, o todo sem a parte no todo9 e o Brasil sem o Lula no Brasil, da o imaginrio do mito. Essa idealizao uma interpretao da nossa realidade com os esquemas ajenos citados por Garca Mrquez. At que ponto esta viso dos nossos polticos e de nossa situao poltica e econmica pode ser considerada livre de julgamentos morais europeus? Essa viso do Brasil uma viso que a Europa Ocidental tem da Amrica Latina como um todo? Seria pretensioso responder em definitivo essas perguntas, mas possvel dizer que a viso de um tambm a viso do outro e estudos mais especficos so necessrios para fundamentar melhor essas questes.
8 Disponvel em: < http :// www . outraspalavras . net /? p =2242> Acesso em 29.10.10 9 Poesia de Gregrio de Matos: O todo sem parte no todo/A parte sem o todo no parte/ Mas se a parte o faz todo, sendo parte/ No se diga que parte, sendo todo.
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CAIRO, H. (2008). A Amrica Latina no Sculo XXI: geopoltica crtica dos Estados e os movimentos sociais, do conhecimento e da representao - Introduo. Caderno CRH, Bahia, v. 21 (53), p. 201-206. CUNHA, K. (2005). Agora Lula: Enquadramentos do Governo do PT pelo Jornal Nacional. Dissertao (Mestrado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicao, Bauru. FREI, E. (1968). O destino da Amrica Latina. Grfica Record: Rio de Janeiro. GARCA MARQUEZ, G. (1982). La Soledad de America Latina. In: THE NOBEL PRIZE IN LITERATURA, Disponvel em < http :// nobelprize . org / nobe l prizes / literature / laureates /1982 / marquez - lecture - sp . htm l > Acesso em 26 Out. 2010. GOFFMAN, E. (1986) Frame Analysis: An Essay on the Organization of Experience. Boston: Northeastern University Press. PENNA, C. (2009) Mignolo, Walter. La idea de Amrica Latina: la herida colonial y la opcin decolonial. Barcelona: Gedisa Editorial, 2007. Revista de Estudos e Pesquisas sobre as Amricas, v. 1. REESE, S. (2001). Prologue--Framing public life. A bridging model for media research. In: REESE, S., GANDY, O., and GRANT, A. Framing Public Life: Perspectives on Media and our Understanding of the Social World.. Mahwah, N.J.: Lawrence Erlbaum. p. 7-31. SANTANNA, F. (2001). Amrica Latina - um tema fora da pauta. In: SEMINRIO INTERNACIONAL COMUNICAO E SOCIEDADE, 5, 2001. Disponvel em < http :// www . bocc . ub i . p t / pag / santanna - francisco - america - latina . pd f > Acesso em: 26 Out. 2010. TRAQUINAS, N. (1988). As Notcias (News). Revista de Comunicao e Linguagens, n. 8. ZANDOMENICO, R. (2007) Critrios de Noticiabilidade: A assessoria de imprensa nos caminhos da notcia. Publicao Acadmica de Estudos sobre Jornalismo e Comunicao, So Paulo, Ano 5, n. 8, jul.
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Parte 2: Anlises de Discursos e Prticas de Comunicao e Informao | : Clssico clssico e vice-versa1 uma anlise da cobertura jornalstica impressa de clssicos de futebol
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Resumo O presente trabalho analisa a cobertura jornalstica impressa de clssicos de futebol. O futebol um dos elementos de maior identificao cultural no Brasil e esses processos de identidade no brasileiro so bastante aflorados com a paixo clubsitica. Nesse contexto, os clssicos, que so os confrontos entre equipes da mesma cidade em que se h uma rivalidade construda ao longo da histria, so essenciais para a anlise de como se d a manifestao essa representao simblica no futebol. Este estudo contextualiza o papel do futebol no imaginrio da sociedade brasileira e qual a presena dos clssicos e a rivalidade entre os clubes nessa conjuntura, e o que tal rivalidade, se acirrada, pode acarretar na sociedade. Para a anlise da cobertura jornalstica de um clssico ser feita uma anlise do caderno de esportes de alguns veculos de mdia impressa do pas. Uma anlise sistmica das notcias veiculadas em dias de clssicos ajudar a traar um perfil da maneira como o jornalismo impresso brasileiro enxerga esse fenmeno dentro do futebol brasileiro e, se de certa forma, estimula a rivalidade histrica entre os clubes e torcidas. Palavras-chaves: Mdia e futebol no Brasil; futebol e rivalidade; futebol e identidade cultural brasileira. Abstract This study analyses the print media coverage of classics games in football. Football is one of the major elements of cultural identification in Brazil and these processes of identity in Brazilian people get higher with the passion for their clubs. In this context, the classics, which are the games with teams in the same city that has a rivalry built throughout history, are essential for the analysis of how it is the manifestation of this symbolic representation in football. This study contextualizes the role of football in the imaginary of Brazilian society and which presence the classics games and the rivalry between the clubs at this conjuncture, and what that rivalry can have on society, if intensified. For the analysis of the journalistic coverage of a classic, an analysis of the sports sections of some print medias of the country will be done. A systemic analysis of news in days of classic games will help to set ac profile of how Brazilian print journalism sees this phenomenon in Brazilian football and if somehow stimulates the historical rivalry between clubs and fans. Key-words: Media and football in Brzil; football and rivalry; football and Brazilian cultural identity Introduo Um dos elementos de maior identificao cultural no Brasil o futebol. Ele supera o que se passa somente dentro de campo, e a relevncia dada ao esporte e a paixo dos torcedores pelo mesmo revela questes sociolgicas e processos simblicos no imaginrio da populao que o aprecia. Essa relao dos brasileiros com o futebol parte integrante da natureza do pas atualmente, relao essa que foi construda ao longo do sculo XX e acompanhou inclusive momentos de definies histricas no Brasil.
1 Famosa frase dita pelo jogador Jardel 2 Aluno de graduao do curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia da Universidade Federal de Gois. Email: [email protected]
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O vnculo do brasileiro com o futebol se d principalmente pela paixo clubstica. A competio, o jogo, a vitria ou derrota do time suscita emoes no torcedor que so responsveis pela consolidao do futebol na cultura brasileira. Nesse cenrio, os chamados clssicos (aqui visto com o confronto entre grandes times da mesma cidade em que se h uma rivalidade construda ao longo da histria) so momentos que trazem consigo caractersticas nicas, onde a relao do torcedor com o time cresce, principalmente pelo desejo de uma vitria diante do rival. Os clssicos muitas vezes definem alguns dolos, partidas histricas, tcnicos consagrados, finais de campeonato marcantes, dentre outros elementos que contribuem para o crescimento da identificao do brasileiro com o futebol. A rivalidade entre dois clubes, valorizada ainda mais em dia de enfrentamento desses times, trazem consigo uma srie de implicaes sociais, dentre elas a violncia entre torcidas. Com esse panorama o jornalismo desempenha um papel essencial. O jornalismo esportivo o principal meio de mediao do torcedor com o seu clube e a forma pela qual a relao se mantm forte. Diante dessa situao o jornalismo tem que cumprir com uma grande responsabilidade social. Estudos sobre recepo do pblico no jornalismo esportivo, a construo de notcias na rea, o tratamento da mdia a certos aspectos no futebol, dentre outros temas, so freqentes na produo acadmica brasileira. Entretanto uma anlise de como o jornalismo trata os clssicos no futebol no comum. Com isto posto, o presente trabalho faz uma breve contextualizao histrica para situar o papel do futebol no imaginrio da sociedade brasileira, qual a presena dos clssicos e a rivalidade entre os clubes nessa conjuntura, e o que tal rivalidade, se acirrada, pode acarretar na sociedade. Para a anlise da cobertura jornalstica de um clssico foi feita uma anlise de contedo e anlise do discurso de cadernos de esportes de alguns veculos de mdia impressa do pas em dias de clssicos, que ajudaram a traar um perfil da maneira como o jornalismo impresso brasileiro enxerga esse fenmeno dentro do futebol brasileiro e, se de certa forma, estimula a rivalidade histrica entre os clubes e torcidas. 2. Base terica 2.1 Futebol, clssicos e rivalidade no Brasil O futebol foi introduzido no Brasil por no final do sculo XIX, mais precisamente no ano de 1894 por Charles Miller, que era filho de pai escocs e me brasileira que, por sua vez, era filha de ingleses. A herana fortemente britnica levou Miller a estudar na Inglaterra e trazer de volta na bagagem o futebol da maneira competitiva como vista hoje. Vale ressaltar que antes o futebol j era praticado por estrangeiros, sobretudo estrangeiros, mesmo que de forma precria, pelo litoral brasileiro. Segundo Guterman (2009), a primeira partida de futebol disputada no Brasil com as regras mais ou menos oficiais foi em So Paulo, em 14 ou 15 de abril de 1895. O jogo foi entre os funcionrios da Companhia do Gs (The Team of Gaz Company) e da So Paulo Railway (GUTERMAN, 2009, p.20). Aos poucos o futebol foi se incorporando na cultura popular do brasileiro, principalmente aps a integrao do negro o que rompeu a elitizao desse esporte. Tal fato teve como grande responsvel o Vasco da Gama, durante os anos 1920, alm do surgimento de dolos como Artthur Friedenreich, que era mulato. O Vasco foi a primeira a aceitar negros em seu grupo de jogadores, e com isso ganhou o campeonato carioca de 1923, mas ainda sofreria grandes restries aps a conquista, pela abertura racial que promoveu. O smbolo de que o futebol estava cada vez mais se democratizando, e com isso se transformando na paixo nacional que viria a ser, dentre outros fatores, foi a construo do estdio do Vasco, o So Janurio, poca o maior do pas, que foi levantado com dinheiro de torcedores de todo o Rio de Janeiro (GUTERMAN, 2009, p.55). Mario Filho descreve bem o perodo:
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Desaparecera a vantagem de ser de boa famlia, de ser estudante, de ser branco. O rapaz de boa famlia, o estudante, o branco, tinha de competir, em igualdade de condies, com o p-rapado, quase analfabeto, o mulato e o preto para ver quem jogava melhor. Era uma verdadeira revoluo que se operava no futebol brasileiro. (FILHO, 2003, p.126) A partir da, o futebol passa por momentos histricos que fortalecem ainda mais seu poder no imaginrio do brasileiro. O terceiro lugar na copa do mundo de 1938, que prestou um servio diplomtico para o Brasil (GUTERMAN, 2009, p.83), a copa sediada pelo Brasil e o maracanazzo3 em 1950 e, finalmente, os ttulos mundiais em 1958, 1962 e 1970. As conquistas internacionais da seleo brasileira, e o fortalecimento dos clubes entre a populao fez com que o futebol se tornasse, aos dizeres de Guterman, no maior fenmeno social do Brasil, e de pura construo histrica, gerado como parte indissocivel dos desdobramentos da vida poltica e econmica do Brasil. O futebol, se lido corretamente, consegue explicar o Brasil (GUTERMAN, 2009, p.9). Helal (1997) aponta que o futebol uma forte manifestao das identificaes do povo brasileiro, e da prpria imprensa. Diz Helal: O que importa aqui perceber como o esporte, de uma forma geral, e o futebol em particular, tambm um fenmeno especfico da comunicao de massa, proporcionando os mesmos debates e sofrendo os mesmos questionamentos suscitados pelo impacto da mdia na modernidade. Mais do que isso, o futebol rico em imagens e mensagens representativas da comunidade, podendo ser entendido como um poderoso sistema de comunicao capaz de unir diferenas e proporcionar um espetculo ritual de grande significado para aqueles que dele participam (HELAL, 1997, p.40) Para Hatje e Carvalho (2001), O futebol tem significado social para o brasileiro. O futebol faz parte de sua cultura e junto com o Carnaval expressa parte dela, construindose ambos nos aspectos que mais identificam o brasileiro, especialmente no exterior. (HATJE; CARVALHO, 2001, P. 66). Essa representatividade conseguida pelo futebol o que mantm o vnculo do torcedor com o seu clube, ou a seleo nacional. O torcedor s vezes enxerga tal relao como algo essencial para o jogo, como bem descreve o escritor uruguaio Eduardo Galeano, em Futebol, ao sol e sombra (2004). raro o torcedor que diz: Meu time joga hoje. Sempre diz: Ns jogamos hoje. (GALEANO, 2004, p.14). Nos clssicos, esses processos de identidade so mais aflorados. Alm da competio entre os dois clubes envolvidos, as torcidas tambm disputam o controle das arquibancadas, com cnticos e bandeiras reforando a auto-afirmao destes grupos, e tambm o repdio torcida rival, assim como escreve Janet Lever (1982): Diversos fatores, alm da dramatizao do conflito entre faces locais, explicam a intensidade das rivalidades entre clubes de uma mesma cidade. H duas batalhas pela supremacia que ocorrem simultaneamente, entre os jogadores no campo e entre as torcidas adversrias nas arquibancadas (LEVER, 1982, p.108).
3 Maracanazzo refere-se derrota do Brasil para o Uruguai na final da Copa de 1950, em pleno Maracan, no Rio de Janeiro, com cerca de 200 mil torcedores presentes.
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A emoo e as reviravoltas provocadas pelo esporte suscitam inmeras reaes nos torcedores, que se envolvem completamente com o a vida do time. Nesse cenrio, freqentemente a rivalidade faz com que um torcedor exprima os sentimentos pelo seu clube com amor, e ao se dirigir a um rival, o faz com dio. (LEVER, 1982, p.22). Sob o ponto de vista histrico, em muitos casos a rivalidade entre dois clubes nasce por uma questo geogrfica que envolve a regio da cidade que cada um dos clubes representa, e as diferenas tnicas e sociais entre tais localidades, que so transportadas para o momento do jogo, e ao longo do tempo ajudou a criar o antagonismo caracterstico de um clssico. Benedito Csar usa esse fator para explicar a rivalidade entre Corinthians e Palmeiras em So Paulo: O Corinthians Paulista se firma, logo de incio, como o time do proletariado e do subproletariado urbano [inclusive uma grande maioria de negros], mas est longe de ser o time de maior torcida. Esta fica por conta do Palestra Itlia que, como bvio, concentra os torcedores da colnia italiana, fornecedora de mo-de-obra especializada e/ou semi-especializada. Desde a estabelece-se uma rivalidade muito grande entre estas duas torcidas, explicada por Anatol Rosenfeld [ROSENFELD, 1974] como uma oposio entre o elemento local, nativo, e o elemento estrangeiro em ascenso que disputavam entre si um mercado de trabalho ainda reduzido. (CSAR, 1982:155;156 apud TOLEDO, 1996, p.18) O valor cultural do futebol para o brasileiro, como no poderia deixar de ser, est presente tambm no jornalismo. A paixo pelo clube ou pela seleo brasileira est presente nos textos e reportagens, que s vezes se aproximam at mesmo do gnero romntico. Isso traz a hiptese de essa prtica contribui para o fortalecimento deste esporte no imaginrio do torcedor, e tambm se encaixa no que este trabalho pretende investigar, que a influncia do jornalismo na rivalidade entre os clubes. A dicotomia romance/jornalismo analisada Coelho (2003) lembra os nomes dos irmos Nelson Rodrigues e Mrio Filho, cronistas esportivos que se destacaram principalmente pela sensibilidade nos textos produzidos. Para exemplificar essa situao, o autor cita o exemplo do clssico Flamengo e Fluminense e como o confronto entre essas duas equipes teve influncia dos dois jornalistas citados anteriormente, sendo que Nelson um torcedor do Fluminense consagrado, assim como Mrio Filho est vinculado ao Flamengo. E no h clssico, em canto nenhum do Brasil, que rena tanta histria. Fruto do jeito carioca de fazer jornalismo. (COELHO, 2003, p.17). 2. 2 Jornalismo esportivo A cobertura dos esportes de elites no final do sculo XIX e incio do sculo XX, principalmente o remo, foi o motor para que o jornalismo esportivo comeasse a atuar no Brasil. O esporte era visto com desdm pelos jornais, que cediam pouco espao ao tema. Essa rea especfica do jornalismo comeou a crescer a partir da consolidao do futebol como um esporte nacional, em 1925. O primeiro dirio exclusivamente de esportes do pas o Jornal dos Sports, do Rio de Janeiro, que pretendia quebrar o preconceito que cercava a cobertura esportiva (COELHO, 2003, p.9). Entretanto, segundo Coelho (2003), o Brasil s entrou no grupo de pases com grande presena de imprensa esportiva a partir da segunda metade dos anos 60. Desde ento alguns questionamentos so feitos a respeito da produo jornalstica no meio esportivo brasileiro. Barbeiro e Rangel (2006) mostram observaes importantes para o presente estudo. Os autores evidenciam situaes triviais no jornalismo esportivo, mas que no combinam com o que seria um jornalismo de credibilidade:
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Quando as reportagens do mundo saem do campo especfico, os jornalistas esportivos, salvo honrosas excees, somem. No atuam, como se no lhes dissesse mais respeito. Alguns consideram que seu trabalho se resume cobertura dos clubes, jogos, departamento mdico etc. e no se preocupam com os desdobramentos econmicos e polticos envolvidos no esporte. como se fosse uma atividade apartada da realidade, do cotidiano da sociedade. O esporte no pode ficar restrito a uma atividade meramente ldica. (BARBEIRO; RANGEL, 2006, p. 119) Nessa mesma linha Coelho (2003) evidencia questes importantes que devem ser consideradas. O que importa saber construir uma boa notcia, priorizar a informao, ter noo exata de qual o lide da matria que est por nascer e o encadeamento de idias para tornar a histria suficientemente atraente. Tudo isso bom jornalismo. a sntese da profisso, que vive de apurar informaes inditas e consumir matrias corretas. (COELHO, 2003, p.41). Costa (2006) contribui para o presente trabalho com uma anlise crtica do jornalismo esportivo brasileiro impresso. Algumas questes so levantadas no artigo e serviram de base para este estudo. O autor questiona, por exemplo, a presena do torcedor na mdia esportiva que, segundo ele, s lembrado quando acontece algo violento como mais uma briga e morte (COSTA, 2006, p.102). O papel do torcedor no ambiente de um clssico um dos objetos de anlise desta pesquisa, e como esse personagem tratado pela mdia impressa. A presena da violncia nas torcidas, especialmente nos grupos nomeados como Torcidas Organizadas, algo tratado por Toledo (1996). O autor faz uma ressalva para o tratamento dado pela mdia violncia entre torcidas, em particular as Torcidas Organizadas, que se faz importante dentro da perspectiva proposta pelo presente trabalho: Concretamente, estes indivduos vivenciam experincias comuns que no podem ser, todavia, reduzidas somente a um discurso normativo sobre violncia, expresso nos jornais como foram criadas para bater. No obstante, a violncia um fenmeno prximo e constante entre os torcedores, sobretudo aqueles oriundos das camadas populares. Violncia enraizada no meio urbano em que vivem, quer seja objetivada nas aes dos rgos repressivos do Estado, nas relaes cotidianas, nas imagens veiculadas pela mdia, nas condutas autoritrias que perpassam as instituies em geral, entre as quais aquelas vinculadas mais diretamente ao futebol (federaes, clubes) e que, sob este aspecto, as Torcidas Organizadas e os indivduos que a elas convergem no esto descolados desta realidade. (TOLEDO, 1996, p.32, grifo do autor) A representatividade que o torcedor tem na mdia tambm problematizada por Camargo (1999), que vincula a questo outra situao recorrente no jornalismo esportivo atualmente: a espetacularizao do futebol. As informaes esportivas desviaram seus olhares para atender as demandas da forte indstria que se tornou este esporte, o que afastou o torcedor dos interesses da mdia especializada (CAMARGO, 1999, p. 73). Com este panorama, os clssicos surgem como um ambiente propcio para uma anlise da prtica jornalstica. Tais jogos so fontes de fenmenos especficos no futebol, e o papel desempenhado pelo jornalismo neste processo de grande responsabilidade social.
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3. Metodologia A partir da fundamentao terica exposta, investigou-se como o jornalismo esportivo impresso no Brasil retrata tais caractersticas do futebol em coberturas de clssicos. Quais so as atitudes e valores ressaltados pela imprensa? De que forma abordada a violncia, a paixo clubstica, a rivalidade entre as torcidas e times? Quais so as pautas priorizadas em clssicos? Para isso foram selecionados alguns veculos que foram submetidos anlise de contedo, com uma abordagem qualitativa a partir de categorias de anlise prestabelecidas que ajudaram na observao da ocorrncia dos fatores procurados. Foram escolhidos os jornais O Estado de So Paulo (So Paulo), para a anlise do clssico Corinthians x Palmeiras e O Globo (Rio de Janeiro), para a anlise de Flamengo x Fluminense. Foi considerado todo tipo de matria ou coluna assinada referente ao clssico analisado nos cadernos de esportes desses peridicos, alm da capa e contracapa do jornal. O estudo das edies dos peridicos citados ser feito durante trs dias: o dia anterior, o dia e o dia posterior ao jogo em todos os veculos. Os jornais escolhidos so os das seguintes datas: 26/05 Flamengo x Fluminense Edies dos dias 25/05, 26/05 e 27/05 de O Globo 01/08 Palmeiras x Corinthians Edies dos dias 31/07, 01/08 e 02/08 de O Estado de So Paulo A anlise de contedo foi realizada a partir de categorias e subcategorias formadas com base principalmente no trabalho de Carvalho e Hatje (2001). Esses autores, somados a Lever (1982), Bezerra (2007), Toledo (1997), Barbeiro e Rangel (2006), Coelho (2003) ajudaram na anlise dos dados levantados, e nas inferncias que tal estudo pde proporcionar. Para uma anlise mais prxima do que foi proposto pela pesquisa, sobre como o jornalismo alimenta e/ou estimula a rivalidade de um clssico, foram adaptadas as categorias de anlise usadas por Carvalho e Hatje (2001), principalmente ao tratar da violncia4. As categorias foram a base da anlise, e as subcategorias serviram como um critrio de definio das categorias escolhidas. Seguem as mesmas: a) Registros relativos s equipes: exaltao de uma equipe, comentrios e valores negativos e/ou positivos, exaltao de uma torcida; b) Registros relativos s individualidades: exaltao de jogadores, tcnicos, dirigentes, torcedores; comentrios e valores negativos dos mesmos; c) Registros relativos ao jogo: exaltao da rivalidade ou da partida; d) Traos de violncia: violncia entre jogadores, tcnicos, dirigentes, torcedores jogadores, tcnicos, dirigentes, torcedores ou meios de comunicao; e) Linguagem: uso do discurso blico; f ) Traos emocionais: Manifestaes emocionais dos treinadores, jogadores, torcedores ou pela imprensa; g) Aspectos adjacentes s partidas: Valorizao de aspectos polticos, publicidade e marketing, histria do clssico ou do futebol
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4. Descrio e anlise dos resultados 4.1 Fla x Flu: e as multides se despertaram!5 Anlise da cobertura de O Globo O clssico entre Flamengo e Fluminense analisado ocorreu no dia 26 de maio de 2010, pelo primeiro turno do Campeonato Brasileiro. poca, a imprensa esportiva se preocupava mais em noticiar a preparao da seleo brasileira de futebol para a Copa do Mundo da frica do Sul, que comearia no dia 11 de junho. No obstante, o Fla-Flu teve espao considervel no perodo pesquisado (25, 26 e 27 de maio). No dia 25 foi utilizada uma pgina inteira do caderno de esportes com reportagens sobre os dois times, alm de o Flamengo ser o assunto da coluna assinada pelo jornalista Fernando Calazans. O mesmo espao foi utilizado nos dias seguintes, sendo que no dia 27, houve meno ao resultado do jogo com uma nota na capa principal do jornal. Dentre as categorias expostas, as mais presentes foram os registros ligados s equipes e individualidade. As subcategorias relativas a comentrios negativos, seja de jogador ou de time, foram as mais vistas. As ocorrncias encontradas esto diretamente ligadas tambm ao resultado da partida. No perodo analisado o Flamengo vivia a indefinio do futuro do atacante Adriano no clube. Uma transferncia para a Roma, time italiano, era a possibilidade mais cogitada. O atacante Vgner Love tambm estava em situao semelhante. Tal conjuntura pautou o jornal nos trs dias analisados, o que gerou a presena das categorias citadas anteriormente. A relao entre Adriano e Flamengo foi tema da coluna do jornalista Fernando Calazans. Percebe-se tons de ironia por parte do colunista ao tratar do assunto, o que pode ser considerado como ridicularizao do atleta e tambm diretoria, como nos trechos a seguir: Enfim isso que importa para os dirigentes do Flamengo e para os inocentezinhos da mdia dos dois pases Adriano poder ser feliz longe do Rio, l em Roma e na Itlia, longe da famlia que o inibe, longe dos amigos do morro que o chateiam, Adriano vestido com as grifes mais modernas de Milo, centro internacional da moda, sem ter que usar bermudas e chinelos pavorosos e, melhor ainda, sem ter que soltar pipa. Chinelinho, s nas horas de treino (...). Ser que to difcil assim assumir a direo do desorientado departamento de futebol do Flamengo. Melhor at que agora no se trata de plano B algum. hora de recomeo. hora de Plano A mesmo, com letra maiscula. (grifo nosso) (CALAZANS, jornal O Globo, 25 de maio de 2010, p. E-2) A cobrana do prprio jornal pela resoluo do impasse envolvendo o jogador Adriano vista na manchete da reportagem sobre o assunto: Hora de definir alguma coisa (O Globo, 25 de maio de 2010, p. E-3). A forma como o assunto foi tratado colocou o Flamengo em uma situao desfavorvel para a o jogo contra o Fluminense, fato ressaltado na reportagem do dia 26 de maio, a data do jogo: Fla e Flu em dois momentos (O Globo, 26 de maio de 2010, p. E-3), que pode ser encaixada na categoria de exaltao de uma equipe em detrimento outra.
4 Estes autores, por sua vez, se basearam em estudos na Inglaterra sobre o tema da violncia no futebol. Na Inglaterra existem muitas pesquisas voltadas violncia no futebol, sobretudo no comportamento dos chamados hooligans. 5 Tal definio vem da consagrada frase de Nelson Rodrigues: O Fla-Flu no tem comeo. O Fla-Flu no tem fim. O Fla-Flu comeou quarenta minutos antes do nada. E a ento as multides despertaram
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A matria, assinada pela reprter Tatiana Furtado, explora a ascenso que o Fluminense vivia na temporada, em contrapartida desconstruo que assolava o Flamengo. O reforo desses momentos dspares entre os dois times, e a nomeao, mesmo que indireta, do Fluminense como favorito para o clssico, cria expectativa em torno do jogo, nas palavras de Carvalho e Hatje (2001), promove o espetculo, o que est diretamente ligado rivalidade entre os clubes. A exaltao do Fluminense foi maior no dia 27 de maio, aps a realizao do jogo, que foi vencido pelo tricolor por 2 a 1: Tricolor manda na despedida6 (O Globo, 27 de maio de 2010, p. E-2), e Conca comanda time na vitria por 2 a 1 sobre rival (O Globo, 27 de maio de 2010, p. E-2). A exaltao e comentrios negativos de tcnicos e jogadores esto mais expostos na seo Atuaes, em que so dadas notas aos atletas e treinadores, dependendo do desempenho que tiveram durante o jogo, baseado na anlise do jornalista. Com relao aos treinadores, h uma particularidade. Rogrio Loureno estava no comando tcnico do Flamengo, embora cercado de desconfiana por ter assumido o cargo interinamente aps a demisso de Andrade, em abril, fato que foi reforado pelo jornal no dia do jogo: Do outro lado, a desconstruo do time campeo brasileiro impacienta a torcida (...). Vai desde a sada de Adriano para a Europa, alm da falta de respostas concretas sobre renovaes de contratos, como o de Vgner Love (...). Alm do prprio comando tcnico e do futebol, pois ningum sabe responder ao certo se Rogrio Loureno efetivo ou no no cargo. Perguntas espera da presidente Patrcia Amorim (O Globo, 26 de maio de 2010, p. E-3). No relato do jogo, o jornal reforou um comportamento da torcida do Fluminense7 relacionado nesse contexto: Contra um adversrio desfalcado e desorganizado, a primeira vitria do Flu em nove clssicos fez a torcida provocar os rivais com o grito de , , , ns temos treinador (O Globo, 27 de maio de 2010, p. E-2). Tal meno ressalta a rivalidade entre os times e, principalmente, entre as torcidas. 4.2 Corinthians x Palmeiras: o derby8 paulista Anlise da cobertura de O Estado de So Paulo O clssico entre Corinthians e Palmeiras analisado ocorreu no dia 1 de agosto de 2010, pelo primeiro turno do Campeonato Brasileiro. A cobertura do evento teve espaos considerveis no perodo estudado (31 de julho, 1 e 02 de agosto). No dia 31 de julho foram destinadas uma pgina e meia para o clssico. Para o dia da partida, alm de ter uma meno na capa do jornal, o jogo ocupou a capa do caderno de esportes e a pgina seguinte, sendo tema da coluna assinada pelo jornalista Antero Greco. Na edio do dia 02 de agosto o clssico tambm ocupou a capa do jornal, inclusive com a nica foto no espao, alm da capa do caderno de esportes, a pgina seguinte mais as colunas assinadas pelos jornalistas Antero Greco e Paulo Calade. A cobertura de O Estado de So Paulo teve carter mais informativo. Novamente as categorias relativas s equipes e s individualidades foram as mais presentes dentre as utilizadas na anlise. Comentrios negativos e exaltao de equipes, treinadores ou jogadores estiveram mais explcitos nas colunas opinativas, embora tambm
6 Despedida aqui refere-se ao ltimo jogo entre Flamengo e Fluminense no Maracan, que a partir de setembro entraria em obras 7 Apesar da referncia torcida, esse trecho no foi enquadrado dentro da subcategoria de exaltao da torcida 8 Tal nome foi dado pelo jornalista Thomaz Mazzoni em referncia ao Derby de Epsom, tradicional corrida de cavalos da Gr-Bretanha
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tenham pautado as reportagens que foram veiculadas sobre o clssico. As matrias foram em sua maioria baseada em personagens escolhidos. Para o dia 31 de julho o goleiro do Corinthians na poca, Felipe, foi tema de uma das reportagens, devido aos problemas de relacionamento que tinha com a diretoria, e o tcnico Luiz Felipe Scolari foi abordado pelo lado palmeirense. Em vsperas de jogos importantes como um clssico, a imprensa tende a insistir em questionamentos aos envolvidos no jogo sobre como os mesmos encaram a partida, como ressaltado no trecho: O treinador palmeirense garante que seu time entrar no Pacaembu com o mesmo esprito e garra dos outros jogos, apesar de os jogadores dizerem que h uma maior motivao numa partida contra o rival (O Estado de So Paulo, 31 de julho de 2010, p.E3). Essa caracterstica da imprensa esportiva pode ser encaixada como uma tentativa de promoo da partida. Para as duas edies seguintes analisadas necessria uma ressalva s fotografias, que foi um recurso bastante explorado pelo jornal, principalmente aquelas que colocam um representante de cada time juntos, e o reforo do duelo entre as duas partes. Nesse sentido, importante lembrar Neto (1995), que aborda a importncia da fotografia no cumprimento das intenes propostas pelo jornal, principalmente aquelas que so limitadas pelo discurso verbal: Atravs da fotografia, alm do seu uso como elemento que completa o aspecto esttico-visual de uma pgina, o jornal busca, de alguma forma, pelo menos naquilo que pode ser mostrado atravs das imagens (emoo, alegria, dor, choro), ultrapassar os limites verbais do discurso indireto, que no consegue transpor literalmente os elementos emocionais e afetivos do discurso. Neste sentido, o jornal tem na visibilidade o fundamento complementar de sua credibilidade (NETO, 1995, p.115 apud BEZERRA, 2007, p.70-71) No dia 1 de agosto, a capa do caderno de esportes veio como uma enorme montagem com as fotos dos dois treinadores, para ilustrar esse confronto parte, na matria intitulada Encontro de velhos amigos9 (O Estado de So Paulo, 1 de agosto de 2010, p.E1). Da mesma forma, na pgina seguinte, o jornal traz outros dois personagens do clssico e com uma montagem de fotos semelhante dos treinadores, na matria Kleber s faz homenagem10 se passar por Chico (O Estado de So Paulo, 1 de agosto de 2010, p.E2). As duas matrias se enquadram nas subcategorias de exaltao de treinadores e exaltao de jogadores. Na seo Para quem vai ao clssico percebe-se o que foi atentado por Toledo (1996), sobre como fica a disposio da cidade por conta do clssico. A seo traz informaes a respeito de quais ruas e estaes de metr cada torcida deve pegar, e em quais portes e quais setores do estdio cada torcida deve entrar. As fotos voltaram a ser importantes na edio do dia 02 de agosto, principalmente para ressaltar como foi disputada a partida, que terminou empatada em 1 a 1. A virilidade, exaltada em lances de disputa de bola, com expresses fortes dos jogadores, foi explorada nas fotos usadas, tanto na capa do jornal, quanto nas matrias sobre o jogo dentro do caderno de esportes, em que houve a exaltao do atacante Kleber: Faltou um gol para premiar o esforo de Kleber (O Estado de So Paulo, 02 de agosto de 2010, p.E2). Ao exaltar desta maneira o jogador, o jornal atribui o merecimento, ou resultado dos jogos, apenas a determinados atletas. Outra subcategoria notada a valorizao da histria do clssico, ou do futebol, principalmente nas colunas assinadas pelo jornalista Antero Greco:
9 Velhos amigos aqui refere-se ao fato de que Adlson Batista, tcnico do Corinthians, e Luiz Felipe Scolari, tcnico do Palmeiras, j trabalharam juntos antes, quando Adlson ainda era jogador, e foi treinado por Scolari no Grmio em 1996, e no Jubilo Iwata, do Japo, no ano seguinte. 10 Caso o atacante fizesse um gol na partida, Kleber havia afirmado que faria uma homenagem filha recm-nascida
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Parte 2: Anlises de Discursos e Prticas de Comunicao e Informao | : Clssico clssico e vice-versa1 uma anlise da cobertura jornalstica impressa de clssicos de futebol
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Palmeiras x Corinthians sempre foi acontecimento especial na cidade. Mesmo que atualmente j no seja o clssico paulista como ocorria at algumas dcadas atrs -, em funo do crescimento extraordinrio da torcida do So Paulo e da importncia do Santos. Mas ostenta fascnio e magia intensos, que emanam da histria de 333 duelos realizados, descontado eventual erro estatstico (...). Mandam a tradio e a prudncia que se releve o momento desses rivais que se encontram com regularidade desde maio de 1917 (...). E no foram poucas as crises que o vencedor empurrou para o desafortunado. (grifo nosso) (O Estado de So Paulo, 1 de agosto de 2010, p.E2) Consideraes finais Diante das categorias observadas nas matrias analisadas, pode-se afirmar que a mdia impressa brasileira usa de artifcios semelhantes para promover o espetculo. Tal constatao se baseia principalmente na exaltao e crticas feitas s equipes, jogadores e tcnicos envolvidos no clssico. Isso refora a rivalidade entre os times e torcidas. O uso de discursos prprios do belicismo, como o termo duelo, ou at mesmo a referncia constante entre os adversrios como rivais, mantm consolidada esse antagonismo histrico entre as duas equipes envolvidas no clssico. As declaraes dos jogadores, os tipos de pautas levantadas e o destaque que se deu para a cobertura destes eventos reforam a ideia de que o clssico um acontecimento nico no futebol. Jogadores e tcnicos assumem essa realidade, que ressaltada pelos jornais. A rivalidade entre os clubes cria um ambiente favorvel para a atuao os veculos, algo prximo do que Bezerra (2007) apontou na teoria do Adversarismo poltico, com o embate entre adversrios polticos. Entretanto, pode-se inferir que os jornais abordam a rivalidade e ressaltam o carter simblico do clssico por este panorama j ser algo consolidado. O jornalismo ajuda na manuteno dessa realidade, assim como ajudou na construo da mesma, como apontado com os irmos Rodrigues, e o Fla-Flu. A crnica esportiva, por ser de caracterstica mais opinativa e dar mais liberdade ao autor, tem peculiaridades que transcendem s vistas nas demais reportagens, que so predominantemente informativas. As colunas assinadas, com um discurso mais prximo do literrio, e valorizao de aspectos histricos do clssico, possuem mais liberdade para retratar o evento, em que a rivalidade sempre reiterada de uma forma pouco usual no jornalismo convencional. Entretanto, pode-se afirmar que o jornalismo esportivo atual est distante do apontado por Coelho (2003), ao se referir sobre o jornalismo romntico. A cobertura de um clssico se aproxima, mesmo que sutilmente, do jornalismo esportivo ideal desenhado por Barbeiro e Rangel (2006), e isso se deve principalmente pela rivalidade entre os clubes, que gera o cenrio propcio para que a prtica jornalstica seja mais elaborada.
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Parte 2: Anlises de Discursos e Prticas de Comunicao e Informao | : Clssico clssico e vice-versa1 uma anlise da cobertura jornalstica impressa de clssicos de futebol
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Referncias bibliogrficas BARBEIRO, Herdoto; RANGEL, Patrcia. Manual do jornalismo esportivo. So Paulo: Contexto, 2006. BEZERRA, Heloisa Dias. Mida e Poltica. Goinia: Editora da UCG, 2007. CAMARGO, Vera Regina Toledo. Elementos para uma concepo de cultura de massa. In: COSTA, Mrcia R. da et al (orgs.). Futebol: Espetculo do sculo. So Paulo: Musa Editora, 1999, p. 70-79. COELHO, Paulo Vincius. Jornalismo Esportivo. So Paulo: Contexto, 2003. COSTA, Jos Augusto de Aguiar. A busca da verdade: a paixo, os valores, a beleza e a humanidade do esporte. In: Revista Conectiva. P. 97-118. Ano III, Vol. 4, n6. Pouso Alegre: Univs, 2006. FILHO, Mrio. O negro no futebol brasileiro. 5 edio. Rio de Janeiro: Mauad, 2003. GALEANO, Eduardo. Futebol, ao sol e sombra. Porto Alegre, L&PM, 2006. GUTERMAN, Marcos. O futebol explica o Brasil: uma histria da maior expresso popular do pas. So Paulo: Contexto, 2009. HATJE, Marli; CARVALHO, Srgio. Grande imprensa: valores e/ou caractersticas veiculadas por jornais brasileiros para descrever a participao da seleo brasileira de futebol na Copa do Mundo de 1998 em Frana. In: Revista Kinesis. P.64-154. Santa Maria. Nov. 2001, n especial. HELAL, Ronaldo. Passes e impasses: futebol e cultura de massa no Brasil. Petrpolis: Vozes, 1997. LEVER, Janet. A loucura do futebol. Rio de Janeiro: Record, 1983. TOLEDO, Luiz Henrique de. Torcidas organizadas de futebol. Campinas: Autores associados, 1996. Jornais O Estado de So Paulo, dias 31 de julho, 1 de agosto, 02 de agosto de 2010 O Globo, dias 25, 26 e 27 de maio de 2010.
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Parte 2: Anlises de Discursos e Prticas de Comunicao e Informao | : O Discurso Sobre Educao no Caderno Cidades de O Popular1
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Palavras-chave: Comunicao; Jornalismo; Educao Justificativa Vrios assuntos dependem da mediao dos jornais para se tornarem conhecidos e debatidos. Nesse processo, as mdias noticiosas e o jornalismo so considerados instncias fundamentais de interpretao da realidade. Assim sendo, torna-se necessrio refletir como os jornais se apropriam do discurso de outras reas, quais so os temas privilegiados. Alm disso, a prpria atividade jornalstica est ligada a outros campos do conhecimento, tanto nas atividades cotidianas da redao quanto na pesquisa em comunicao e na caracterizao da relao imprensa-sociedade. A prtica do jornalismo tambm tem papel educativo. Isso porque a imprensa ajuda a esclarecer a opinio pblica fornecendo alternativas para a sociedade encontrar solues a diversos problemas. O jornalismo tambm desempenha a funo de formao de seu pblico, uma vez que os jornais ajudam o leitor a entender assuntos complexos que afetam diretamente o seu cotidiano. As notcias podem ainda ajudar a propagar idias, valores sociais e a difundir conhecimento. Objetivos A pesquisa procurou verificar como o jornal O Popular se apropria do discurso de educao em duas situaes bastante distintas. No Caderno Cidades e no Suplemento Pensar. No primeiro caso, os textos no so produzidos com o auxlio de especialistas em educao. J no Suplemento as pautas so elaboradas e direcionadas por especialistas. Props-se tambm conhecer a histria do jornalismo e da educao, com nfase nos seus cruzamentos, buscando estabelecer a forma como a imprensa tem tratado os temas da educao, especialmente na poca contempornea. Segundo Lage (2001), at a expanso do comrcio, a partir do sculo XIII, a populao conseguia informaes atravs de quatro vias: decretos, proclamaes, exortaes e sermes das igrejas. O desenvolvimento das atividades comerciais impulsionou o surgimento de novas cidades e junto com as mercadorias tambm chegavam tcnicas e informaes. A acumulao de capital logo teve conseqncias: a organizao mais ampla e atuante da atividade artesanal e alfabetizao. Os avvisi j podiam ser pregados nos muros em cpias manuscritas: dispensava-se o letrado que tempos atrs teria que l-los em voz alta. E, mais importante, no provinham do duque nem do bispo: quem os mandava escrever eram banqueiros e comerciantes. (LAGE, 1998, p.9).
1 Trabalho apresentado na V FEICOM: Ressignificando as fronteiras da comunicao e informao, de 09 a 11 de novembro. 2 Graduanda em Comunicao Social/Jornalismo e aluna de Iniciao Cientfica da Pontifcia Universidade Catlica de Gois. [email protected] 3 Trabalho realizado pelo Ncleo de Pesquisa em Comunicao e Cidadania (SER), da PUC Gois, sob a orientao das professoras Ms. ngela Moraes, Ms. Sabrina Moreira e Ms. Nomia Flix.
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Os primeiros jornais surgem em um contexto de intensa explorao capitalista e foram o golpe final da burguesia sobre os reis. Os peridicos inaugurais sofreram com tentativas de censura da Igreja e do Estado. A Revoluo Industrial acabou derrubando os cerceamentos na ltima metade do sculo XIX. O crescimento do poder simblico da palavra impressa foi um dos fatores que contribuiu para essa queda. De acordo com Lage (2001), os trabalhadores que aprenderam a ler se tornaram formadores de opinio sobre os at ento analfabetos. Para cumprir a misso de socializar esse pblico, os jornais passaram a ampliar sua rea de servios e a investir na literatura novelesca. Os folhetins, alis, foram as grandes vedetes dos jornais do II Imprio no Brasil. Nesse perodo, o jornalismo ficou conhecido como Imprensa da Literatura. Escritores famosos, como Jos de Alencar e Machado de Assis, tambm eram responsveis por escrever notcias e editoriais. O folhetim, via de regra, o melhor atrativo do jornal, o prato mais suculento que podia oferecer, e por isso o mais procurado. Ler o folhetim chegou a ser um hbito familiar, nos seres das provncias e mesmo da Corte, reunidos todos os da casa, permitida a presena das mulheres. A leitura em voz alta atingia os analfabetos, que eram a maioria. (SODR, 1998, p.243). No final do sculo XIX, a imprensa adota uma postura mais ativa e passa a descobrir acontecimentos sociais. De acordo com Alsina (2009), o desenvolvimento do urbanismo e da mecanizao abre espao a novos fatos, como avanos tcnicos e cientficos. Nos pases democrticos liberais, j no sculo XX, que se desenvolve a teoria da responsabilidade social da imprensa. Segundo essas idias, os meios de comunicao tm obrigaes com a sociedade e devem intervir em favor do interesse pblico. Buscou-se ainda identificar os objetos, temas, conceitos e sentidos da educao, dos quais as matrias ordinrias e do Suplemento Pensar do jornal O Popular se ocupam. Procuramos ainda estabelecer as semelhanas e diferenas nos discursos produzidos por esses dois tipos de matrias jornalsticas. A presente anlise refere-se s matrias veiculadas no caderno Cidades do jornal O Popular. Materiais e Mtodos Durante a execuo do Projeto de Pesquisa desenvolvemos pesquisa bibliogrfica e anlise do discurso, uma forma de pesquisa centrada em textos, relacionando-os com os seus contextos de emergncia. Na imprensa escrita possvel aferir o grau de importncia atribudo a um acontecimento atravs de critrios utilizados para a construo do espao redacional icnico. Entre eles, a localizao: primeira pgina ou pgina interna, metade superior ou metade inferior, com ttulo, pr-ttulo e subttulo. Outro critrio a tipografia: dimenso do corpo dos tipos impressos, principalmente do ttulo, alm da quantidade de superfcie utilizada para notcias em relao a outros assuntos, em porcentagem. O acontecimento no jamais transmitido em seu estado bruto, pois, antes de ser transmitido, ele se torna objeto de racionalizaes: pelos critrios de seleo dos fatos e dos atores, pela maneira de encerr-los em categorias de entendimento, pelos modos de visibilidade escolhidos. Assim, a instncia miditica impe ao cidado uma viso de mundo previamente articulada, sendo que tal viso apresentada como se fosse a viso natural do mundo. (CHARADEAU, 2006, p. 151)
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Os dados da pesquisa foram constitudos por textos sobre educao publicados no jornal O Popular durante o ms de outubro de 2009. Esse o perodo de maior concentrao de reportagens sobre o tema, por causa do Dia das Crianas, Dia do Professor e da realizao do congresso e feira Pensar. Analisou-se no Caderno Cidades os critrios de noticiabilidade substantivos e de construo que nortearam a divulgao de matrias referentes ao tema educao, a representao do professor e a universalizao do ensino. Para Nelson Traquina (2005), os critrios de noticiabilidade so o conjunto de valores-notcia que determinam se um acontecimento ou assunto suscetvel de se tornar notcia. Os valores-notcias podem ser agrupados em duas categorias: valores-notcia de seleo e valores-notcia de construo. Os valores notcia de seleo so os critrios que os jornalistas utilizam na deciso de escolher um acontecimento que vai se transformar em notcia. Os critrios substantivos avaliam diretamente um fato em termos de importncia ou interesse. J os critrios contextuais dizem respeito ao contexto de produo da notcia. Os valores-notcia de construo so as linhas-guia que determinam como ser a apresentao do material jornalstico: o que deve ser omitido, realado ou colocado como prioritrio na construo do acontecimento como notcia. So critrios substantivos morte, notoriedade, proximidade, relevncia, novidade, tempo, notabilidade, inesperado, conflito ou controvrsia, infrao e escndalo. Entre os critrios de construo esto: simplificao, amplificao, relevncia, personalizao e dramatizao. Resultados No corpus analisado, verificou-se uma maior ocorrncia dos critrios substantivos relevncia e tempo, principalmente por causa da cobertura dos roubos da prova do Exame Nacional do Ensino Mdio, Enem. O critrio de relevncia, de acordo com Traquina (2005), est relacionado com a capacidade que um acontecimento tem de provocar impacto sobre o pblico. No caso da cobertura do Enem, o fator tempo aparece porque o assunto impactou no apenas a comunidade jornalstica, mas a maioria dos brasileiros. Dessa maneira, ganhou noticiabilidade e permaneceu como valor notcia durante um perodo maior de tempo. Nessas matrias foi possvel constatar ainda que o processo de avaliao dos alunos brasileiros que esto ingressando na Universidade no questionado. O jornal apenas reproduz o consenso de que as avaliaes so importantes para saber como o desempenho dos estudantes e da educao no pas. O roubo das provas simbolizaria um atraso nessa avaliao e um comprometimento do ingresso no ensino superior. A situao vivida pela Universidade Estadual de Gois tambm corrobora para essa posio. A falta de professores efetivos estaria prejudicando a classificao da UEG entre as Universidades pblicas. Ela seria a quarta pior Instituio do pas. O aluno a figura central da temtica educao. ele o maior prejudicado pelos principais problemas que permeiam o ensino do Brasil e de Gois: a falta de estrutura, roubo de provas, impossibilidade de realizar pesquisa em Universidade e a queda da avaliao desta nos parmetros do Ministrio da Educao. A matria Vestibulares e concursos mudam por causa da nova data do Enem exemplifica esse apagamento do professor. A reportagem mostra como o roubo das provas afetou a rotina dos alunos que se preparavam para o exame, mas em nenhum momento aborda como os professores foram afetados principalmente em relao a um possvel o replanejamento das aulas e aumento da jornada de trabalho.
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Candidata faculdade de medicina em seis universidades diferentes, Carolina Brando Grigolli, de 18 anos, afirmou que as mudanas de datas de vestibulares e, ainda, a indefinio de como algumas instituies utilizaro o Enem pioram o estresse dos vestibulandos. Temos de dividir nossa preocupao com essas alteraes, lembrou. (LEITE, 2009, p.3) O professor aparece como um trabalhador que precisa buscar atualizao constante. Esse profissional tambm necessita inovar no ensino mesmo com dificuldades estruturais e salariais, principalmente porque, segundo a viso do veculo analisado, ele responsvel pelo aluno e tem de estar preparado para orient-lo sobre temas da sociedade contempornea. Durante a cobertura do Pensar, o jornal O Popular destaca no Caderno Cidades algumas iniciativas de escolas pblicas, como na matria Diversidade cultural no Pensar. De acordo com a reportagem: As escolas e centros educacionais investiram em criatividade para montar estandes com temas que provam aos visitantes: nossas crianas tm cultura, conhecem problemas sociais, esto preocupadas com o meio ambiente e seus professores as orientam. (ASSUNO, 2009, p.4). A universalizao do ensino infantil tem espao pequeno na cobertura do jornal O Popular. Apenas na cobertura da aprovao da Proposta de Emenda Constituio (PEC) que determinou o fim da Desvinculao de Receitas da Unio (DRU), aumentando em nove bilhes o investimento em educao, o assunto aparece. Uma psicopedagoga destaca aspectos importantes do ingresso da criana escola mais cedo: socializao, desenvolvimento da linguagem e da coordenao motora. No entanto, a fala de uma me que ganha o maior destaque na matria. a foto dela e do filho que ilustra a matria correlata. A universalizao do Ensino Mdio aparece por meio da falta de estrutura, como na reportagem Risco no caminho da escola. A matria revela que no interior do Estado um nibus carrega quase 100 alunos, ao invs dos quarenta recomendados. A lataria est poder, os pneus carecas, os bancos quebrados e um motor que no pode ser desligado at que chegue ao destino, caso contrrio no pega mais. O veculo tem capacidade para transportar sentadas cerca de 40 pessoas, mas leva 108. Superlotao em um veculo caindo aos pedaos onde a maioria viaja em p por cerca de duas horas at chegar ao seu destino final. (SIMAS, 2009, p.3) Mas nenhum professor ouvido pelo jornal para relatar quais seriam os possveis reflexos dessa lotao no aprendizado dos alunos. Eles chegam mais cansados e por isso no conseguem prestar ateno nas aulas? Os alunos assistem s aulas irritados, o que dificultaria o trabalho do docente? A universalizao do ensino superior fica evidente nas matrias que apresentam as reinvidicaes em relao a UEG. Alm do professor, os funcionrios das instituies de ensino tambm so pouco representados quantitativamente no jornal O Popular. Na reportagem UEG em greve por melhor estrutura, do dia trs de outubro, destaca que entre os vrios problemas enfrentados pela instituio est o baixo ndice de funcionrios efetivos. Por sua vez, a matria 236 escolas em situao precria evidencia que a falta de estrutura compromete a segurana de alunos, professores e funcionrios.
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A quantidade equivale a 21,2% de todas as escolas da rede pblica estadual em Gois e, provavelmente, no representa a totalidade de unidades de ensino com problemas estruturais, como reconhece o promotor Everaldo Sebastio de Sousa, coordenador do CAO da Infncia e Juventude. Diante dos riscos reais segurana de alunos, professores e funcionrios, nove escolas chegaram a ser interditadas pela Secretaria Estadual de Educao (SEE) em diferentes cidades. Trs delas - em Quirinpolis, Anpolis e Minau - continuam lacradas. (SASSINE, 2009, p. 4) Discusses e Concluses A pesquisa constatou que no jornal O Popular a educao apresentada seguindo a tendncia miditica de noticiar acontecimentos e no de provocar discusses. Na anlise do caderno Cidades dois critrios de noticiabilidade se sobressaram: tempo e relevncia. O aluno a figura central da cobertura do tema. Professores e funcionrios passam por um processo de apagamento. No so discutidas formas de melhorara as condies de trabalho do professor, seja atravs de qualificao, mas principalmente de investimentos na educao, aumento de salrios e melhoria das condies de trabalho. Assim sendo, o jornal O Popular assume uma postura de manuteno do status quo e reproduo e consensos sociais quando, por exemplo, coloca o professor como um profissional que precisa buscar a atualizao e inovar em sua metodologia, apesar das adversidades para o exerccio da profisso. A pesquisa analisou os critrios substantivos, que avaliam diretamente um acontecimento e a possibilidade deste se tornar uma notcia. Assim sendo, no possvel mensurar com exatido at que ponto os silenciamentos encontrados so propositais ou fruto do contexto em que a matria foi produzida. Referncias ALSINA, Rodrigo Miguel. A construo da notcia. Petrpolis: Vozes, 2009. (Coleo Clssicos da Comunicao) ASSUNO, Marlia. Diversidade cultural no Pensar. O Popular. Goinia, 10 out. 2009. Cidades, p.4. CHARADEAU, Patrick. O Discurso das Mdias. So Paulo: Contexto, 2006. EDITORIAL. Misso: Educar. O Popular. Goinia, 09 out. 2009. Opinio, p.6. GONALVES, Itaney. UEG em greve por melhor estrutura. O Popular. Goinia, 13 out. 2009. Cidades, p.2. LAGE, Nilson. Estrutura da notcia. 4.ed. So Paulo: tica, 1998. LEITE, Adriano Marques. Vestibular e concursos mudam por causa da nova data do Enem. O Popular. Goinia, 07 out. 2009. Cidades, p.3. SASSINE, Vinicius Jorge. 236 escolas em situao precria. O Popular. Goinia, 20 out. 2009. Cidades, p.4. SIMAS, Rogrio. Risco no caminho da escola. O Popular. Goinia, 31 out. 2009. Cidades, p.3. SODR, Nelson Werneck. Histria da Imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Mauad, 1998. TRAQUINA, Nelson. Teorias do jornalismo, porque as notcias so como so. v.1. 2. ed. Florianpolis: Insular: 2005.
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Parte 2: Anlises de Discursos e Prticas de Comunicao e Informao | : BIBLIOTECA: MEDIADORA ENTRE A LEITURA E A CIDADANIA Eliana Batista Pires e Silva1, Leni Xavier de Oliveira Itala Moreira Alves, Maria de Ftima Garbelini (co-autora)2
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RESUMO Biblioteca: mediadora entre a leitura e a cidadania, artigo que pretende apresentar uma reflexo e anlise sobre a importncia da leitura nos processos scio-educativos, a relevncia e o papel das bibliotecas no processo de incentivo leitura. Levantam-se questionamentos e formulam-se hipteses sobre qual o verdadeiro papel do profissional bibliotecrio, sendo este o agente protagonista e responsvel pela democratizao e acessibilidade leitura. Para tanto, apresenta-se aqui o mtodo de reviso de bibliografia de obras e autores que se dedicaram a esse assunto, revelando fatores histricos, sociais e culturais que cerceiam os hbitos de leitura em nossa sociedade. So estudados como referenciais tericos apontamentos feitos por Roger Chartier, assim como outros de igual importncia. Dessa forma, mostram-se situaes questionadoras a respeito do futuro dos livros, mediante a invaso dos computadores, considerando-se a ideia de que possvel utiliz-los como aliados na tarefa de fazer circular os textos escritos, sobretudo entre os jovens. Sob esses aspectos, busca-se, por meio deste, conscientizar a sociedade e comunidade acadmica para a intensificao de aes de incentivo leitura. As reflexes e anlises evidenciam a necessidade de planejamento de projetos e polticas para se estabelecer metodologias para uma educao voltada transformao social atravs da leitura, como tambm na prtica do exerccio da cidadania. PALAVRAS-CHAVE: Leitura. Prticas de leitura. Cultura. Cidadania. ABSTRACT Library: mediating between reading and citizenship, which aims to article to present a reflection and an analysis about the importance of reading in the socioeducational processes; the relevance and the role of libraries in the process of motivating reading. Furthermore, it brings up questions and formulates hypothesis about the true role of the librarian. This professional is the protagonist a gent in charge of democratization and accessibility to reading. For this reason, it is introduced in this paper the revision method of bibliography of works and authors who dedicated to this subject; they reveal historical, social and cultural facts that restrict reading habits in ours o ciety. In addition, notes made by Roger Chartier are used as theoretical back ground, as well as, other authors who are also relevant to this study. Thus, some questioning situations about the books future are shown, as a result of computers invasion. It is important to highlight the idea that is possible to use them as allies in the task to circulate written texts, particularly among young people. Considering these aspects, this article has the goal to makes o ciety and academic community aware, in order to intensify actions which promote reading. The reflections and analysis show the necessity of planning project s and politics to establish approaches to have an education connected to social changing through reading, and also the practice of exercising citizenship. KEY-WORDS: Reading. Reading practices. Culture. Citizenship.
1 Alunas de graduao do 6 perodo do curso de Biblioteconomia da Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia da Universidade Federal de Gois UFG. Eliana B. Pires: [email protected], Itala M. Alves: [email protected], Leni X. de Oliveira: [email protected]. 2 Dr Maria de Ftima Garbelini professoa da Universidade Federal de Gois. E-mail [email protected].
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Parte 2: Anlises de Discursos e Prticas de Comunicao e Informao | : BIBLIOTECA: MEDIADORA ENTRE A LEITURA E A CIDADANIA Eliana Batista Pires e Silva1, Leni Xavier de Oliveira Itala Moreira Alves, Maria de Ftima Garbelini (co-autora)2
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1 INTRODUO A leitura fundamental, pois propicia a obteno de informaes em qualquer contexto e rea do conhecimento, podendo ser tambm uma fonte de divertimento. Partindo disso, o ponto de vista que se mostra neste trabalho refere-se participao das bibliotecas, bem como dos bibliotecrios, na promoo de prticas de leitura, haja vista a relao direta que estes tm com os livros. comprovado que, pela leitura, alargam-se horizontes, integrando-se os conhecimentos e acrescentando ao vocabulrio enriquecimento e facilidade para se comunicar. Pesquisas tambm mostram que o destaque nas atividades e nas carreiras, hoje em dia, tem a ver com o hbito da leitura, pois ela facilita a obteno dos conhecimentos gerados e ordenados historicamente pela humanidade. A leitura deve ser um exerccio dirio que requer aprendizagem mesmo no sendo uma atividade desenvolvida. Ler no significa apenas um ato de leitura simples. Deve ser antes de tudo, um hbito. Mas h a necessidade de se facilitar, incentivar, promover e propiciar espaos para o incentivo dessa atividade. importante perceber que, na formao de cada ser humano, a leitura representa fator importante e primordial, pois se mostra como um largo caminho para o processo de construo do saber e do conhecimento, como origem da informao e formao cultural. Alm de proporcionar a sade mental, um reforo entre as conexes e os neurnios. O modo como se l um exerccio de buscas, de reflexo e de entendimento. Deve ser tambm uma troca, possibilitando as relaes intelectuais e potencializando outras, e levando a construo de conceitos, explicaes e a percepo das realidades que enfrentamos. Leitura e realidade se atam. atravs dela que o professor deve acompanhar e orientar as atividades com os alunos de diferentes formas. A percepo e a produo escrita, produzida pelo aluno, deve lev-lo a compreender sua posio crtica. Bons leitores e escritores de texto prazerosos devem ser apreciados e incentivados, o que justifica a importncia de atividades que envolvam a leitura e a produo de textos. Afinal, para se aprender a escrever necessrio que se escreva, e para aprender a ler necessrio ler. 2 BIBLIOTECAS, BIBLIOTECRIOS E LEITURA Mas leio, leio. Em filosofias tropeo e caio, cavalgo de novo meu verde livro, em cavalarias me perco, medievo; em contos, poemas me vejo viver. Como te devoro, verde pastagem. Ou antes carruagem de fugir de mim e me trazer de volta casa a qualquer hora num fechar de pginas? Carlos Drummond de Andrade Etimologicamente, ler tem origem no latim lego/legere, que significa recolher, apanhar, escolher, captar com os olhos. Luckesi (2003, p. 119) diz que [...] a leitura, para atender o seu pleno sentido e significado, deve intencionalmente, referir-se realidade. Caso contrrio, ela ser um processo mecnico de decodificao de smbolos. Portanto, podemos ser todos capazes de ler. Observa-se que a leitura abre e diversifica as interpretaes do mundo e da vida, estando presente desde o momento em que se comea a compreenso do mundo. Sendo assim, um conflito ao qual se deve ficar alerta, pois a falta da leitura impede e impossibilita a compreenso do indivduo, que acaba por se excluir dos acontecimentos, do entendimento, da imaginao e da fico. A importncia da leitura no significa apenas a decodificao, mas a leitura no mundo contemporneo como um todo. preciso atentar-se para essa questo, pois a ausncia da leitura, para qualquer ser humano, bloqueia a possibilidade e acaba, de certa forma, excluindo-os dos acontecimentos, da interpretao, da imaginao e da fico arquitetada pelo autor, seja num romance ou num artigo; numa crnica ou num conto, numa poesia ou
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num manifesto, num jornal ou num ensaio, num gibi ou numa histria infantil ou infanto-juvenil. No entanto, sabe-se que, para que haja o processamento de qualquer texto, so necessrios conhecimentos prvios, como os lingsticos ou os de mundo. Os leitores, em geral, como afirma Leonardo Boff, participam da criao dos textos, pois, no processo da leitura, cada um l com os olhos que tem. Portanto, preciso saber qual a viso de mundo que se tem para que se possa entender o que se l. So variadas as percepes no mundo das palavras e h apenas uma condio para que a leitura seja de fato prazerosa e vlida: o desejo do leitor. Infelizmente, observa-se j no Ensino Fundamental, que a leitura est se afastando do convvio dirio dos estudantes. Muitos no tm a motivao e exemplo dos pais e visvel que a leitura contempornea tem se transformado em um produto de elitistas, e os que no possuem o acesso, ou apenas no tm o prazer de ler, so deixados de lado. Muitos lem e escrevem para outros fins que estejam ligados ao prazer de faz-los, o que pode explicar a afirmao de que a prtica da leitura e da escrita est ligada s mudanas na vida das pessoas, ao tempo e necessidade. Isso faz com que se perceba a perspectiva social do alfabetismo como um processo mltiplo e no nico. Ele varia conforme o contexto social, cultural e econmico. Sob esses aspectos vale referenciar aqui a obra Leitura e leitores na Frana do Antigo Regime, de Roger Chartier. Nesse livro, ele apresenta a sociedade francesa do Antigo Regime como objeto de anlise cultural e scio-histrica que perpassava por distines, tenses, oposies e divises de classes sociais. O modo como a elite burguesa dominante era detentora de condies propcias leitura, bem como da idia de erudio e superioridade intelectual, em detrimento comunidade rural, que sofria privaes e tinha dificuldades para encontrar tempo disponvel para a leitura, alm da dificuldade tambm de encontrar livros gratuitos. Havia distino entre a leitura clssica, destinada comunidade urbana, e a leitura popular, destinada rural. Na Idade Mdia, as autoridades eclesisticas temiam que a difuso da leitura pudesse trazer um desequilbrio na ordem social e polticas institudas, ensinando novos modelos comportamentais. Dessa forma, desviavam a finalidade das bibliotecas: em vez de fomentar, democratizar e facilitar o acesso leitura ressaltava as elites e as diferenas entre as classes sociais. Na reflexo apresentada abaixo, Chartier (2004, p.94) demonstra este perodo Vrios dados atestam essa condio mediana das bibliotecas mais populares: enquanto a mdia dos livros possudos de 37 para os togados, 33 para os mdicos, 23 para os clrigos, 20 para os nobres, ela de apenas seis para os mercadores e de apenas quatro para as pessoas de ofcio. Entre esses ltimos, a regra a posse de um nico livro (situao encontrada em 53% dos inventrios de artesos que mencionavam livros, mas tambm em 44% dos mercadores). Ainda hoje se percebe uma inverso de valores, em que a privao leitura uma prtica histrica, reforada pela idia de leitores elitistas que se sobrepe a uma disseminao da ignorncia por falta de acesso ao livro e leitura. Contraste e distino, assim como imposies e divises socioculturais ainda revelam a leitura clssica versus a leitura comum dos auditrios populares.
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A linha de pesquisa bsica de Chartier a histria da leitura, das prticas de leitura e escrita, interrogando as teorias da recepo cultural e inovao da sociologia e da cultura. Essa tem sido a preocupao dele e outros estudiosos imbricados com o distanciamento entre livros e leitores, sobretudo com a invaso dos computadores. Apesar disso, Chartier (1999) afirma que estamos vivendo a primeira transformao da tcnica de produo e reproduo de textos e essa mudana na forma e no suporte influencia o prprio hbito de ler. Para ele, a internet pode ser uma poderosa aliada para manter a cultura da escrita, pois auxilia no aprendizado e faz circular os textos de forma intensa, aberta e universal. Diante dessa situao, cabe s escolas incentivar a relao dos alunos com um patrimnio cultural, cujos textos servem de base para pensar a relao consigo mesmo e com o mundo. preciso tirar proveito das novas possibilidades do mundo eletrnico e, ao mesmo tempo, entender a lgica de outro tipo de produo escrita que traz ao leitor instrumentos para pensar e viver melhor. (Chartier, 1999) O texto eletrnico poderia, com o tempo, supor a retomada da leitura no espao domstico e privado ou nos lugares em que a utilizao dos bancos de dados informticos, das redes eletrnicas, a mais importante. (...) A trajetria desse novo meio poderia levar a uma forma de leitura mais privada que aquela que a precedia, por exemplo, na biblioteca. Ter-se-ia a o limite extremo de um percurso que comeou bem antes da informtica e da eletrnica, nas sociedades do Antigo Regime. Na poca, ler em voz alta era uma forma de sociabilidade compartilhada e muito comum. (CHARTIER, 1999, p. 142) Contra essa inverso nos processos de letramento, ou seja, com os usos e funes sociais da leitura e da escrita, sobrepem-se anos de apropriao do sistema de representao alfabtica em sua forma convencional. Soares (2003) prope que se dedique uma ateno maior quanto a isso, priorizando a necessidade de alfabetizar letrando, garantindo ocasies de aprendizado s crianas, desde as sries iniciais, mostrando a escrita e a leitura como objetos sociais, sem se perder de vista a construo da representao alfabtica do nosso sistema de escrita. Apropriar-se desse sistema por meio da leitura e produo de textos um direito de todo cidado e importante fator de incluso social, construo de subjetividade, cidadania e acesso aos bens culturais. Refora-se, ento, a reflexo sobre o papel da escola e das bibliotecas, especialmente as destinadas s camadas populares, na apropriao do habitus de leitura e escrita. Para tanto, necessrio que esses processos tenham um valor bem definido dentro dessas comunidades, pois para que um produto seja consumido preciso que este tenha adquirido um valor social e cultural importante. Portanto, necessrio a necessidade da leitura e da escrita, sobretudo para esses grupos sociais menos favorecidos. Pode-se centrar a um importante elemento: a biblioteca. Aquela popularizada que viabilize projetos e programas a fim de despertar o valor da leitura e da escrita. Paulo Freire foi um dos grandes defensores da biblioteca popular. Para ele, a viso da educao deveria estar na intimidade das conscincias, movida pela bondade dos coraes quando se educa, pois a educao modela as almas e recria coraes. Ela a alavanca das mudanas sociais. Nesse sentido, a biblioteca popular est relacionada prtica democrtica e crtica da leitura da palavra e do mundo, j que ela valorizaria a cultura popular. Relevam-se, ento, os questionamentos sobre como a biblioteca e o bibliotecrio devem atender melhor o usurio e como se pode conseguir aumentar o nmero de
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freqentadores assduos s unidades de informao. Deve-se priorizar a variedade e diversificao de modelos de acervos e suportes. A biblioteca ou o livro no sero totalmente suprimidos pelos textos digitalizados quando se cumprir essencialmente a misso dada ao profissional da biblioteca: socializar o processo de leitura e promover a diminuio das desigualdades, reduzindo tambm as acepes. A humanizao e o afeto traro o leitor leitura. Desde Alexandria, o sonho da biblioteca universal excita as imaginaes ocidentais. Confrontadas com a ambio de uma biblioteca onde estivessem todos os textos e todos s livros, as colees reunidas por prncipes ou por particulares so apenas uma imagem mutilada e decepcionante da ordem do saber. O contraste foi sentido com uma intensa frustrao. Esta levou constituio de acervos imensos, vontade das conquistas e confiscos a paixes biblifilas e herana de pores considerveis do patrimnio escrito. Ela inspirou igualmente, a compilao dessas bibliotecas sem paredes que so os catlogos, as coletneas e colees que se pretendem paliativos impossibilidade da universalidade, oferecendo ao leitor inventrios e antologias. Com o texto eletrnico, a biblioteca universal torna-se imaginvel (seno possvel) sem que, para isso, todos os livros estejam reunidos em um nico. Pela primeira vez, na histria da humanidade, a contradio entre o mundo fechado das colees e o universo infinito escrito perde seu carter inelutvel. (CHARTIER, 1999, p. 117)
A humanizao, o afeto, a boa vontade no exerccio dirio do profissional, bem como a comunicao fraterna proporcionar um marketing humanicista, motivador e capaz de promover a edificao e o aprimoramento do leitor. Assim sendo, necessita-se, dentro das bibliotecas, bibliotecrios, leitores e estudantes que reaprendam o verdadeiro sentido da existncia de livros e bibliotecas. Universalizar o saber e o conhecimento emancipador, a justia e a liberdade, assim como a indestrutibilidade textual para assegurar s geraes vindouras informaes teis preservao da vida. Nos dias atuais, as bibliotecas vm se adaptando ao processo de inovaes tecnolgicas ocorridas com a evoluo da humanidade, sendo que uma das principais caractersticas da biblioteca do futuro refere-se possibilidade de ela apresentar no mudanas em seus acervos. Possivelmente, elas tero a disponibilidade de poder disseminar informaes com outras instituies atravs das novas tecnologias informacionais. Apesar disso, os livros ainda mostram muito flego e compem a maior parte dos acervos das bibliotecas. Atualmente muitas obras sero armazenados em CD-Rom, multimdia, Internet e outros meios de leitura independe do suporte, mas os livros so insubstituveis quando a leitura se d como uma atividade de lazer ou de prazer. Para a manuteno e ratificao da importncia e funo das bibliotecas para as prticas de leitura e escrita, promovendo a cidadania,a IFLA (Federao Internacional das Associaes de Bibliotecrios e de Bibliotecas) apia, defende e promove a liberdade intelectual, tal como est definida na Declarao Universal dos Direitos do Homem, das Naes Unidas. Ela declara que os seres humanos tm o direito fundamental de acender as expresses do conhecimento, do pensamento criativo e da atividade intelectual e de expressar as suas opinies publicamente. O direito ao conhecimento constitui um requisito liberdade do pensamento e da conscincia humana. Por tal razo, a IFLA exorta os seus membros a promoverem a aceitao e a concretizao destes princpios. Nesse sentido, a IFLA afirma que:
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As bibliotecas proporcionam acesso informao, s idias e s obras da imaginao. Servem como portas de acesso ao conhecimento, ao pensamento e cultura; As bibliotecas proporcionam um apoio essencial formao contnua, para a tomada de deciso independente e para o desenvolvimento cultural dos indivduos e dos grupos; As bibliotecas contribuem para o desenvolvimento e a manuteno da liberdade intelectual e ajudam a preservar os valores democrticos fundamentais e os direitos cvicos universais; As bibliotecas tm a responsabilidade de garantir e facilitar o acesso s expresses do conhecimento e da atividade intelectual. Com este fim, as bibliotecas devem adquirir preservar e disponibilizar a mais ampla variedade de documentos, refletindo a pluralidade e a diversidade da sociedade; As bibliotecas devem assegurar que a seleo e a disponibilidade dos documentos e dos servios sejam regidos por consideraes de natureza profissional e no por critrios polticos, morais ou religiosos; As bibliotecas devem adquirir organizar e difundir a informao livremente e oporse a qualquer forma de censura; As bibliotecas devero disponibilizar os seus documentos, instalaes e servios a todos os utilizadores, de forma eqitativa. No deve haver nenhuma discriminao com base na raa, credo, sexo, idade ou em qualquer outro motivo; Os utilizadores das bibliotecas devero ter o direito privacidade e ao anonimato. Os bibliotecrios e o restante pessoal das bibliotecas no devero divulgar a terceiros a identidade dos utilizadores nem identificar os documentos por eles utilizados; As bibliotecas financiadas com fundos pblicos e s quais o pblico tenha acesso devero respeitar os princpios da liberdade intelectual; Os bibliotecrios e outro pessoal das bibliotecas tm o dever de respeitar estes princpios; Os bibliotecrios e outro pessoal das bibliotecas devem assumir as suas responsabilidades tanto perante a entidade patronal como perante os utilizadores. Em caso de conflito entre estas responsabilidades, prevalecer o dever para com o utilizador. (Comit Executivo da IFLA, 1999). Pensar na formao de leitores como um processo eminentemente social exige que o Estado se responsabilize em criar as condies materiais e simblicas para que a construo desse leitor encontre situaes planejadas, tanto no ambiente escolar quanto no familiar e social. Diante disso, a condio de uma Biblioteca Cidad, mediadora, instituio aglutinadora de produo intelectual, a diversidade de pensamentos e teorias a servio da comunidade a fim de possibilitar uma melhor qualidade no jeito de agir dos indivduos; um melhor jeito de viver. 3 CONSIDERAES FINAIS O estudo pretendeu contribuir para uma reflexo dos questionamentos sobre a misso do profissional bibliotecrio e do importante papel da Biblioteca como agente divulgador e disseminador de informaes, conhecimento e educao. As formulaes feitas pelos importantes autores e suas obras supramencionadas contribuem em muito para o conhecimento da histria da biblioteca francesa desde a Idade Mdia at a atualidade, na era digital, assim como da importncia da leitura para que os indivduos ampliem as suas perspectivas e propiciem convivncia
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harmnica e equilibrada entre o saber e o fazer. LEITURA E CIDADANIA, tendo a biblioteca como entidade mediadora. A biblioteca assim, tem como uma das funes ser mediadora da leitura, ou proporcionar a leitura pra uma pratica do exerccio da cidadania. REFERNCIAS BARZOTTO, V. (Org.) Estado de Leitura. Campinas: Mercado de Letras, 1999. BORDINI, M., AGUIAR, V. Literatura: a formao do leitor. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993. CARA, S. A poesia lrica. So Paulo: tica, 1989. CHARTIER, R. A aventura do livro: do leitor ao navegador. So Paulo: Unesp, 1999. ____________. Leituras e leitores na Frana do Antigo Regime. So Paulo: Unesp, 2004. ECO, U. O dilvio da informao. Veja vida digital. n.04. p.11-15, dez.2000. EVANGELISTA, A.; BRANDO, H. (Orgs.). A escolarizao da leitura literria. Belo Horizonte: Autntica, 1999. FREIRE, P. A importncia do ato de ler. So Paulo: Cortez, 1995. ______. O ato da leitura: uma teoria do efeito esttico. v.1. So Paulo : Ed. 34, 1996. KLEIMAN, A. Oficina de leitura. Campinas: Pontes, 1996. KLEIMAN, A.; MORAES, S. Leitura e interdisciplinaridade. Campinas: Mercado de Letras, 1999. KOCH, I. Desvendando os segredos do texto. So Paulo: Cortez, 2002. LAJOLO, M. Literatura: leitores e leitura. So Paulo: Moderna, 2001. LVY, P. Cibercultura. Rio de Janeiro: Editora 34, 1999. MAGNAMI, M. Leitura, literatura e escola. So Paulo: Martins Fontes, 1996. MARCUSCHI, L. A. A. Da fala para a escrita. So Paulo: Cortez, 2001. MARCUSCHI, L.; XAVIER, A. Hipertexto e gneros digitais: novas formas de construo de sentido. Rio de Janeiro: Lucena, 2004. MARINHO, M. (Org.). Ler e navegar: espaos e percursos da leitura. Campinas: Mercado de Letras, 2001. MATENCIOA, M. Leitura, produo de textos e a escola. Campinas: Marcado de Letras, 1994. MORICONI, I. A poesia brasileira do sculo XX. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. POUND, E. ABC da Literatura. So Paulo: Cultrix, 1970. _______. A arte da poesia. So Paulo: Cultrix, 1976. MARINHO, M. (Org.). Ler e navegar: espaos e percursos da leitura. Campinas: Mercado de Letras, 2001. PERRONE-MOISS, L. Altas Literaturas: escolha e valor na obra crtica de escritores modernos. So Paulo: Companhia das Letras, 1998. SILVA, E. A leitura nos oceanos da internet (Coord.). So Paulo: Cortez, 2003.
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_____. Elementos de pedagogia da leitura. So Paulo: Martins Fontes, 1998 a. _____. Criticidade e leitura. Campinas: Mercado de letras, 1998 b. SOARES, M. Novas prticas de leitura e escrita: letramento na cibercultura. Educao e Sociedade, Campinas, v.23, n.81, p.143-160, dez.2002. _______. Letramento: um tema em trs gneros. Belo Horizonte: Autntica, 1998. FEDERAO Internacional das Associaes de Bibliotecrios e de Bibliotecas. Disponvel em: <http://www.ifla.org/faife/policy/iflastat/iflastat_pt.htm>. Acesso em: 22 de nov. de 2008.
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Resumo Atualmente a televiso considerada um meio de grande exploso informacional e o surgimento dela trouxe uma nova etapa na evoluo da documentao audiovisual. Este tipo de documentao vem crescendo consideravelmente em emissoras de televiso muito embora ainda no possuam um tratamento tcnico adequado para este tipo de documentao. A presente pesquisa e trabalho uma proposta e implementao de um tratamento tcnico [catalogao, descrio e indexao] dos documentos audiovisuais da TV UFG fazendo com que a informao seja melhor e mais rapidamente recuperada entres os editores e produtores dos programas da TV UFG e futuramente entre a comunidade em geral, alm de preservar a memria institucional da TV UFG. Palavras-Chave: Documentao Audiovisual; Indexao de imagens em movimento; Tratamento tcnico. Abstract Currently television is considered a medium huge information explosion and the appearance of it, brought a new stage in the evolution of audiovisual documentation. This type of documentation has increased considerably among TV stations even thought TV stations still do not have a technical adequate treatment for it. This work presents a proposal of a technical treatment [cataloging, describing and indexing] for audiovisual documents implemented at TV UFG station so that the information can be better and more quickly recovered by the editors and producers of TV programs and, in the future, by the general community, and the institutional memory of TV UFG station can be preserved. Keywords: Audiovisual documents; indexing images; technical treatment. 1 INTRODUO O interesse pela escolha deste tema surgiu por ocasio dos estgios realizados, primeiramente na rea de conservao e recuperao de imagens fotogrficas do Museu da Imagem e do Som de Gois MIS/GO entre os meses de julho de 2008 e abril de 2010 e, a partir desse mesmo ms, na TV UFG que integra a Fundao Rdio e Televiso Educativa RTVE/UFG. Ao estagiar no MIS/GO, presenciei a dificuldade que se tem ao se fazer uma indexao eficiente da imagem, seja ela em movimento ou no, para que ela seja melhor e mais rapidamente recuperada futuramente pelos usurios em um banco de imagens. J durante o estgio na TV UFG tive a oportunidade de conhecer como os documentos audiovisuais vm crescendo no ambiente televisivo muito embora ainda no possuam um tratamento tcnico adequado para este tipo de documentao. O crescimento da informao audiovisual no ambiente televisivo em nvel geral trouxe a necessidade de desenvolver formas de tratamento para esta documentao, alm do desenvolvimento de ferramentas que suportem uma indexao rpida e eficiente, sendo esta ltima a mais desafiadora, pois ainda existe muita dificuldade
1 Trabalho apresentado na V FEICOM: ressignificando as fronteiras da comunicao e informao. De 09 a 11 de novembro de 2010, em Goinia GO. 2 Estudante de Biblioteconomia pela Universidade Federal de Gois e estagiria da TV UFG / E-mail: [email protected] 3 Professora Doutora do curso de Biblioteconomia da Universidade Federal de Gois. / E-mail: [email protected]
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por ser de natureza peculiar. A partir da identificao desse problema surgiu a necessidade de desenvolver uma proposta de tratamento tcnico para os documentos audiovisuais, em particular as imagens em movimento brutas4 armazenadas no suporte denominado fitas mini-dvs5, existentes na TV UFG, bem como diretrizes para implantao de um banco de imagens permitindo a reutilizao do material em programas futuros, alm de preservar a memria institucional da TV UFG. A TV UFG vinculada Fundao Rdio e Televiso Educativa FRTVE que foi instituda para apoiar a Universidade Federal de Gois (UFG) em aes voltadas para as reas de radiodifuso, comunicao, educao e cultura. Sua atuao pautada nas polticas relativas ao ensino, pesquisa e extenso da UFG, tendo como principal ramo de atividade a radiodifuso. Com essa misso, desenvolve diversas atividades relacionadas comunicao, educao e cultura, apoiando instituies de ensino superior pblicas, especialmente a UFG. Desde 2009 concessionria da TV UFG que em parceria com a TV Brasil, transmitido em sinal aberto pelo Canal 14-E UHF. A identificao da necessidade de organizar os documentos audiovisuais da TV UFG incorporando novos atributos tecnolgicos justifica o desenvolvimento de uma proposta de tratamento para uma recuperao mais rpida e eficiente entre os editores e os produtores dos programas. Sendo assim, o objetivo desta pesquisa e estudo foi de propor e implementar um tratamento tcnico (registro, catalogao, classificao, indexao e preservao) dos documentos audiovisuais, em especial as imagens em movimento, da TV UFG fazendo um levantamento do acervo j existente, identificando o contedo dos documentos para posteriormente implementar o tratamento e construir um banco de imagens deixando-a para consulta entre os funcionrios da TV UFG, mais especificamente os responsveis pela produo e editorao dos programas alm de contribuir para a preservao da memria da instituio. 2 A TV UFG
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2.1 ESTRUTURA ATUAL A TV UFG est situada no terceiro andar do edifcio da FACE Faculdade de Administrao, Cincias Contbeis e Economia. Possui uma ilha de edio, uma de produo e roteiros dos programas.
Figura 3: Fotografia da ilha de edio da TV/UFG Figura 3: Fotografia da Ilha de Produo da TV UFG.
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2.3 RECURSOS HUMANOS No perodo da pesquisa que foi entre Abril a Outubro de 2010, TV UFG possua 28 funcionrios, mas como o objeto de pesquisa foi direcionado para a produo audiovisual, a TV ela possua 15 funcionrios nesta rea, sendo 4 editores (3 de imagem e 1 de multimdia), 4 roteiristas/jornalistas, 1 apresentadora, 2 assistentes de direo (a apresentadora tambm assistente), 1 produtora, 1 coordenador de produo , 1 coordenador de imagem e trs estagirios, sendo um do curso de Biblioteconomia, um do curso de Letras e outro do curso de Publicidade e Propaganda. A maioria dos funcionrios trabalhava na TV a menos de oito meses. Somente o coordenador de imagem e a coordenadora de produo trabalhavam a mais de um ano e a maioria tambm possua o Ensino Mdio completo. Dentre estes quatro funcionrios trabalhavam em outra empresa de comunicao. 2.4 RECURSOS TECNOLGICOS Quanto aos recursos tecnolgicos a TV UFG dispe de seis computadores da marca Apple/IMAC que so utilizados para a edio e captura das imagens armazenadas no suporte denominado fitas mini-dvs; cinco computadores que so utilizados pelos produtores e roteiristas dos programas e documentrios. Alm dos computadores, a TV UFG tambm dispe de dois monitores, conforme mostrado nas fotografias 5 e 6 e dois decks, fotografia 4 que so utilizados para assistir o contedo das fitas e tambm realizar a decupagem das informaes. At o encerramento da pesquisa no tinha adquirido um software adequado para a recuperao de toda a informao audiovisual.
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2.5 OS PROGRAMAS A TV UFG produz um programa que se chama Faz o Qu? no qual voltado para o pblico de Ensino Mdio disponibilizando informaes sobre os cursos existentes no mbito da UFG com possibilidade de expandir para outras universidades do estado de Gois como a Pontifcia Universidade Catlica de Gois PUC/GO e Universidade Estadual de Gois UEG. considerado o carro-chefe, ou seja, aquele que demanda maior tempo na produo e na editorao. Sua exibio feita todas as QuartasFeiras s 19:00h com reprise aos Sbados e aos Domingos s 15h30min. A TV UFG tambm produz os chamados Interprogramas no qual o prprio nome j diz, um pequeno programa de no mximo 2 min. que exibido entre um programa e outro. A TV UFG produz dois Interprogramas, o Conhecendo a UFG com durao de 30s a 40s e tambm o Ei! Se Liga da UFG com durao de 1min e 30s a 2min e 30s. Alm destes que so os que mais demandam a produo, existem ainda os documentrios produzidos, recentemente foi ao ar um Documentrio sobre a Mobilidade Urbana Sustentvel no qual fala sobre a situao do trnsito na grande metrpole. Complementando, a TV UFG tambm produz as chamadas Vinhetas6 e tambm os shows que foram produzidos pelo Projeto Msica no Campus no qual a UFG traz para a universidade vrios cantores renomados no Brasil. 3 METODOLOGIA A presente pesquisa e trabalho foram divididos em trs partes: na primeira buscou-se fazer uma reviso bibliogrfica, sobre o que a imagem, o que a documentao audiovisual e como ela est sendo utilizada e organizada em ambiente televisivo alm do papel do profissional da informao nesse novo campo de trabalho. Para isso, foram utilizados artigos de renomados autores nacionais e internacionais na rea de documentao audiovisual e documentao audiovisual de televiso dentre eles Johanna Smith, Miriam Paula Manini, Paloma Hidalgo, Mabel Gimnez Rayo entre outros. Alm de teses e dissertaes de mestrado, livros, monografias, etc. Na segunda parte do trabalho, buscou-se fazer um diagnstico da TV UFG, incluindo seu histrico, sua estrutura, recursos humanos e tecnolgicos. Para isso foi utilizado o site da Fundao Rdio e Televiso Educativa FRTVE, pois o site da TV UFG est em processo de atualizao, um documentrio institucional da TV e tambm foram aplicados questionrios equipe de profissionais da TV [Apndice A], mais especificamente os da edio e produo dos programas. Na terceira parte do trabalho foi feita uma anlise da documentao audiovisual da TV UFG, como ela est organizada e armazenada, para propor um tratamento tcnico adequado, incluindo a escolha de um software para suprir as necessidades informacionais da equipe responsvel pela produo dos programas alm de contribuir para a preservao da memria da instituio. Nesta fase da pesquisa foram feitas visitas em diversos Centros de Documentao de Televiso, tais como o Banco de Imagens da TV UNB, o Centro de Documentao Multimdia da TV Senado, o CEDOC da Organizao Jaime Cmara, a prtica da bolsa e do estgio que foi realizado no ano de 2010, alm de diversas reunies realizadas com profissionais das reas de Arquivologia, Tecnologia da Informao no mbito da Universidade Federal de Gois.
6 Filme, som ou texto geralmente curtos que identificam uma emissora de rdio, tv. So em geral veculados entre intervalos de programas, no incio ou fim deles.
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4 O TRATAMENTO TCNICO: RESULTADOS O processo de tratamento tcnico da documentao audiovisual, em particular as imagens em movimento brutas do acervo da TV UFG, transcorreu paralelamente com a bolsa-estgio e o estgio obrigatrio no ano de 2010, sendo o ltimo no segundo semestre do ano. Uma anlise de toda a documentao foi feita juntamente com a coordenadora de produo e o coordenador de imagem da TV UFG, alm da professora orientadora M de Ftima Garbelini. A organizao da documentao no estava adequada, necessitando de um tratamento tcnico para que as imagens pudessem ser mais rapidamente recuperadas. As informaes audiovisuais estavam armazenadas em um suporte denominado fitas mini-dvs, conforme mostra a fotografia 7, que por conseguinte estavam armazenadas inicialmente em 2 armrios gaveteiros, tal como mostra a fotografia 8 No havia um documento que contivesse detalhadamente toda a informao que estavam nas fitas, demorando assim muito tempo para se localizar um material. Para comear a o tratamento foi feita uma decupagem7 das fitas, iniciando pelos interprogramas e seguido pelo programa Faz o Qu?, vinhetas e documentrios. Foi assistido fita por fita e colocando o time-code8, no qual foi considerado um item muito importante para a localizao exata da imagem, a descrio da mesma diferenciando-a de entrevista, o tempo de durao de cada cena. Fotografia 7. Fitas Mini-DVs
Fotografia 8. Armrio-Gaveteiro
7 Diviso do filme ou video em partes colocando as principais informaes nela contidas. 8 Sinal gravado na fita no formato de horas, minutos, segundos e frames [quadros] que assinala o ponto do documento em que se localiza a imagem. (RAYO, 2007 p.209)
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Como dados tcnicos foram colocados a data em que foi gravada a cena, o nmero da fita, o formato digital [HDV9 ou DV10], itens que foram acrescentados posteriormente devido necessidade de saber em qual formato digital a imagem foi gravada para realizar a captura [transferncia] das mesmas para o computador. Para comportar toda estas informaes, uma ficha de decupagem foi elaborada no Microsoft Word, conforme mostra na figura 2.
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Feita a decupagens das fitas j existentes, partiu-se para elaborar novas etiquetas para as fitas. Modelos de etiquetas foram elaboradas em um programa chamado Corel Draw Graphics Suite X4, conforme mostra a figura 3.
Figura 4. Modelos de etiquetas feitas no Corel Draw Graphics Suite X4. Depois que a fita passa por este processo, ela armazenada no armrio-gaveteiro, conforme foi mostrado na fotografia 8 e sua organizao est sendo feita seqencialmente pelo nmero da fita. Atravs da fotografia 9, pode-se ver como est armazenada toda a documentao e como cada fita fica com a nova etiqueta produzida. Assim est sendo feita o tratamento tcnico de toda a documentao. No momento que chega uma fita nova, ou seja, aquela que foi gravada imagens, registrada suas informaes. Logo aps feita uma anlise documental para saber qual programa foi gravado e acrescentar as informaes na ficha de decupagem e por ltimo elaborar a etiqueta correspondente e realizar o armazenamento. O tratamento tcnico funciona como um Ciclo Documentrio muito utilizado no meio biblioteconmico. Com este tratamento tcnico espera-se satisfazer a demanda dos editores e produtores da TV UFG se forma a se tornar gil a busca por uma determinada imagem e conseqentemente a produo de um programa.
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REFERNCIAS HIDALGO GOYANES, Paloma. La documentacin audiovisual de las televisiones. La problemtica actual y el reto de la digitalizacin. Documentacin de las Ciencias de la Informacin, s.l, vol.28,p.159-171, 2005. Disponvel em: < http://revistas.ucm.es/inf/02104210/articulos/DCIN0505110159A.PDF > Acesso em: 26 abr.2010. ______. La seleccin de documentos audiovisuals en televisin: la seleccin en TVE. Documentacin de las Ciencias de la Informacin, s.l, vol. 26, p.233-260, 2003. Disponvel em: < http://revistas.ucm.es/inf/02104210/articulos/DCIN0303110233A.PDF > Acesso em: 15 Abr. 2010. _______. Anlisis documental de audiovisuales. In: GUTIRREZ, Antnio Garca (Ed.). Introducin a la Documentacin Informativa y Periodstica. 1. ed. S.l: MAD, 1999. Cap. 11. ______.Documentacin audiovisual. In: GUTIRREZ, Antnio Garca (Ed.). Introducin a la Documentacin Informativa y Periodstica. 1. ed. S.l.: MAD, 1999. Cap. 16. LANCASTER, F.W. Bases de dados de imagens e sons. In:______.Indexao e Resumos: Teoria e Prtica. 2. ed. Braslia,DF: Briquet de Lemos, 2004. Cap. 13. MATTOS, Srgio. Histria da televiso brasileira: uma viso econmica, social e poltica. Ed. Vozes, 2 Ed. 2002.247p. PUJOL, Maria Eullia Fuentes i. Caractersticas generales de la documentacin periodstica y caractersticas especficas de los medios de comunicacin escritos. In:______. Manual de documentacin periodstica. 1. ed. Madrid: Sintesis, 1995. Cap. 7. RAYO, Mabel Gimnez. Documentacin audiovisual de televisin: la seleccin del material. 1. ed. Espanha: Trea, 2007. 214p. RUBIO, Alfonso. La documentacin audiovisual em el centro territorial de TVE en la Rioja. Berceo, s.l, n.144, p.215-233, 2003. Disponvel em: < http://dialnet.unirioja.es/ servlet/articulo?codigo=698051 > Acesso em: 15 Abr. 2010. SANTAMARIA, Alicia Conesa. La documentacin en los medios de comunicacin audiovisuales. In: PUJOL, Maria Eullia Fuentes i. (Editora). Manual de documentacin periodstica. 1. ed. Madrid: Sintesis, 1995. Cap. 8. SERRANO, Jorge Caldera. La documentacin audiovisual en las empresas televisivas. Biblios, vol. 4, n. 15, p. 3-11, Abr.- Jun. 2003. Disponvel em: < http://redalyc. uaemex.mx/pdf/161/16101501.pdf > Acesso em: 26 Abr. 2010.
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Parte 2: Anlises de Discursos e Prticas de Comunicao e Informao | : Revista Cerrado Sustentvel: A aplicao do Jornalismo Ambiental na preservao do Cerrado
Rhad Costa Ferreira Orientao: Prof. Msc. Lisbeth Oliveria Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia (Facomb), UFG
Palavras-chave: Jornalismo Ambiental, Jornalismo de Revista, Impresso, Ecologia, Cerrado
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Justificativa/Base terica A preservao e conservao do meio ambiente, da biodiversidade brasileira e a promoo do desenvolvimento sustentvel; por meio da educao, pesquisa, informao, participao, divulgao e iniciativas pblicas e privadas se mostram emergenciais e em voga. Em sintonia com este contexto de preocupao mundial com o meio ambiente e, principalmente, com a inquietao no que diz respeito a conservao e desenvolvimento de um dos biomas mais importantes para a biodiversidade no Brasil e no mundo - o Cerrado, surge a demanda da criao de veculos de comunicao que explorem a fundo e de forma crtica o tema meio ambiente. A revista Cerrado Sustentvel nasce neste cenrio e se destina mostrar os principais problemas scio-ambientais que agem sobre o Bioma Cerrado, apontando caminhos e possibilidades para que o desenvolvimento seja consonante com a sua preservao ambiental. Trabalha a afirmao de que o jornalismo pode atuar conjuntamente com a responsabilidade social e ambiental. Mais ainda, preocupa-se em explorar este foco sob uma nova perspectiva, que extrapole o tratamento do tema meio ambiente apenas no sentido didtico de sua fauna e flora: uma perspectiva sistmica. A comunicao um instrumento de formao de opinio, impulsiona movimentos sociais, molda valores e dita padres. So vrios os estudos pesquisas sobre a atuao da mdia neste sentido e alguns a consideram o quarto poder. No mbito ambiental, o domnio da informao est ligado ao poder de interferir e orientar as relaes humanas com a natureza. Para o jornalista Efraim Neto (2008) isto possvel. Segundo ele, a partir do momento que compreendemos o meio ambiente como um o lugar determinado ou percebido, a comunicao pode potencialmente auxiliar no processo de orientao de conduta, tomada de deciso, desenho de estratgias e aes em benefcio de uma melhor compreenso do campo cientfico e ambiental; consequentemente, da nossa sociedade. Assim, a comunicao, por meio do Jornalismo Ambiental, pode ser utilizada para atuar na valorizao do Cerrado, atravs da discusso ambiental, promovendo o fortalecimento de uma cultura regional voltada para a conservao de suas riquezas ambientais e sociais e para a manuteno e a melhoria dos servios ambientais disponveis no Bioma. A preservao do Cerrado depende urgentemente do desenvolvimento de uma prtica de jornalismo ambiental que o tenha como temtica central, sob esta nova percepo sistmica. O Cerrado um das savanas mais ricas em termos de biodiversidade do mundo e ocupa mais 24% de todo o territrio nacional. Porm, o processo de ocupao territorial e econmica das ltimas dcadas, focado, sobretudo, num modelo predatrio de agronegcio e na expanso desenfreada da industrializao e da infra-estrutura, causaram sua degradao ambiental. Por outro lado, a partir da dcada de 1990, governos e diversos setores organizados da sociedade debatem como conservar o que restou do Cerrado, com a finalidade de buscar tecnologias embasadas no uso adequado dos recursos hdricos, na extrao de produtos vegetais nativos, no manejo tradicional e outras iniciativas que possibilitem um modelo de desenvolvimento justo. Fatores que lanaram nova luz sobre as discusses de preservao e uso ecologicamente correto do Cerrado.
Rhad Costa Ferreira graduanda do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Gois (UFG), com concluso em dezembro/2010. Pesquisa sobre Jornalismo Ambiental e sua relao com a preservao e divulgao do Bioma Cerrado. [email protected] A Prof. Msc. Lisbeth Oliveira coordenadora do projeto Pezinho de Jatob e do Ncleo de Pesquisa em Teoria da Imagem e ministra a disciplina de Jornalismo Ambiental do Curso de Jornalismo da UFG. lisbeth@ facomb.ufg.br
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Rhad Costa Ferreira Orientao: Prof. Msc. Lisbeth Oliveria Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia (Facomb), UFG
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Mas, mesmo com estes avanos, preocupante observar que estes mltiplos aspectos do Cerrado ainda so desconhecidos por grande parte da populao e ignorados pela mdia global. Neste ponto, o grande desafio para o jornalismo que se debrua sobre qualquer questo ambiental - neste caso o Cerrado - o de trilhar o caminho de uma nova percepo dos fatos e do mundo: uma percepo sistmica e holstica. Para Friotj Capra (1996) em seu livro A Teia da Vida, esta nova percepo assegura no s uma mudana de paradigma, como uma mudana de valores. Se temos a percepo, ou a experincia, ecolgica profunda de sermos parte da teia da vida, ento estaremos (em oposio a deveramos estar) inclinados a cuidar de toda a natureza viva. O jornalista Andr Trigueiro (2008) tambm defende os nortes para a prtica do Jornalismo Ambiental. Segundo ele, o discurso sistmico compatvel como lead jornalstico e est em ascenso: possvel usar a viso sistmica no jornalismo sem prejuzo do lead? A resposta definitivamente, sim. Disseminar no jornalismo esta perspectiva significa agregar substncia a notcia, estabelecendo novos parmetros de cobertura em diferentes editorias. O Cerrado carece destes novos parmetros de cobertura, para que seus diversos aspectos sejam debatidos de forma holstica e a defesa por sua preservao seja uma realidade. Objetivos Ser uma plataforma de divulgao dos temas sobre o Cerrado, com foco nos assuntos relativos a ocupao territorial e econmica e nas propostas de aes para aliar o desenvolvimento e sua preservao; Ajudar a fomentar a discusso ambiental sobre o bioma Cerrado, sua conservao e o uso dos seus recursos; valorizando sua importncia social, ambiental e econmica; Buscar novos caminhos em Jornalismo Ambiental e comunicao, e no apenas a reproduo de publicaes do mercado;
Metodologia A metodologia debrua-se nas tcnicas do planejamento grfico e editorial para a construo do formato e apresentao da Cerrado Sustentvel, observando as especificidades prprias do jornalismo em revista, que oferecem o suporte ideal para a criao de um projeto que vise falar do Cerrado, de forma integrada e profunda. As revistas se diferenciam por reunir os itens: linguagem, reportagem e visual. Para Scalzo (2004), as grandes caractersticas que norteiam o trabalho do jornalista em uma revista so determinadas justamente pela especialidade, formato e a periodicidade. O contedo, pautas e estilo nascem no esteio da teoria sistmica defendida por autores como Capra, supracitado, e nos paradigmas do Jornalismo Ambiental. As etapas de criao da Cerrado envolveram: definio da linha editorial; seleo e apurao das pautas; confeco dos textos; todo processo de edio; definio do formato e pblico alvo; nmero de pginas; editorias especficas; tiragem; criao do projeto grfico, diagramao e impresso; desenvolvimento de estratgias de comercializao; definio de custos bsicos; e anlise da concorrncia.
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Rhad Costa Ferreira Orientao: Prof. Msc. Lisbeth Oliveria Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia (Facomb), UFG
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Resultados, discusso Seguindo todos os paradigmas apresentados, foi possvel a criao da Cerrado Sustentvel, que se configura nas seguintes sees: Artigo: Os assuntos preservao e valorizao do Cerrado (Eguimar Felcio), biotecnologia e agricultura (Manoel Calaa), novas tecnologias sustentveis (Anderson Cleiton Jos) e preservao de Stios Arquelogicos (Pedro Igncio Schmitz) ganharam a anlise de professores e especialistas citados entre parnteses em artigos que trazem a viso cientfica; Entrevista de Abertura: entrevista com professor da Universidade de Braslia - UNB e assessor do Instituto Sociedade, Populao e Natureza -ISPN, Donald Sowyer, sobre polticas pblicas. O tema suma importncia, visto que historicamente o Cerrado ficou relegado ao esquecimento em se tratando de polticas pblicas de preservao ambiental, ao passo, que foi alvo das principais polticas desenvolvimentistas do Pas na ltima dcada; Matria de Capa: investiga a atual situao do bioma, buscando nmeros de seu desmatamento, as riquezas que esto ameaadas, mostrando tambm como o momento crucial para se pensar a gesto e planejamento territorial do Bioma nas prximas dcadas. Desta pauta, nasceu a matria O gargalo da vida; Coluna Trilhas: notas sobre turismo no Cerrado; Coluna Olhares: ensaio fotogrfico sobre o Cerrado com o Fotografo Fbio Olveira (Expedio Chapada dos Veadeiros); Seo Alternativas: traz exemplos de aes sustentveis. Nesta edio, a revista trouxe uma ampla cobertura e discusso sobre o I Forum Goiano de Agroecologia, realizado pela UFG nos dias 13 a 16 de outubro. A Cerrado Sustentvel tambm aproveitou a passagem do grande nome da agroecologia, a professora Ana Maria Primavesi, e traz como correlata uma longa entrevista com esta personalidade da causa ambiental; Seo Comportamento: matrias relacionadas comportamentos que estimulem a preservao ambienal,como o movimento Slow Food de Pirinpolis, escolhido para esta edio; Seo Tecnologias: traz exemplos de tecnologias que surgem na busca de solues mais eficientes e limpas, como as desenvolvidas pelo Instituto de Ecovilas do Cerrado (IPEC), caso escolhido para este nmero. Concluses As concluses so parciais, uma vez que o projeto grfico e o formato ainda esto em processo de definio. Mas, com todas as matrias e sees j definidas e prontas possvel concluir que mergulhar no universo do Cerrado e do Jornalismo Ambiental uma experincia enriquecedora, que traz como grande desafio tecer um mosaico complexo de assuntos e fatos que se interligam em uma relao dinmica. Por isto, a abordagem sistmica to essencial neste processo de criao de um paradigma para o Jornalismo Ambiental. Mas ainda, conclui-se que o jornalismo ambiental traz como caracterstica fundamental romper com o velho dogma no jornalismo da imparcialidade: neste campo preciso sempre tomar partido em prol do desenvolvimento sustentvel, como tentou fazer a revista Cerrado Sustentvel.
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Rhad Costa Ferreira Orientao: Prof. Msc. Lisbeth Oliveria Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia (Facomb), UFG
REFERNCIAS CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida: Uma nova compreenso cientfica dos sistemas vivos. So Paulo: Cultrix, 1996.
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TRIGUEIRO, Andr. Meio Ambiente no Sculo 21: Abrindo espao na mdia par um planeta em transformao. Rio de Janeiro: Sexante, 2005. TRIGUEIRO, Andr. Meio Ambiente no Sculo 21: Especialistas falam da questo ambiental nas suas reas de conhecimento. Rio de Janeiro: Sexante, 2005. NETO, Efraim. Os jovens e o jornalismo ambiental: participao e responsabilidade. Portal do Mercado tico, So Paulo, 2008. Disponvel em: <http://mercadoetico. terra.com.br/ >. Acessado em: 18 de Maio de 2010. SCALZO, Marlia. Jornalismo de revista. 2 ed. So Paulo: Contexto, 2004. TARGINO, Maria das Graas. Informao ambiental: uma prioridade nacional? Revista Informao e Sociedade, Joo Pessoa, v. 4, n. 1, p. 51-84, 1994.
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Parte 2: Anlises de Discursos e Prticas de Comunicao e Informao | : - a cosmoviso latino-americana em oposio modernidade e seus templos Ana Clara Gomes1 , Jssika Morais 2 Mariana Vale Moura3, Nilton Jos dos Reis Rocha4
O Buen vivir como resposta desordem do mundo
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Resumo: Contra a maldicin de Malinche, a memria que no tra e a insubmisso que, antecedendo a revolta, a ordena e a fomenta nos momentos oportunos. ferida metafsica da conquista, o mito e suas esferas organizadoras da utopia, enquanto o no-lugar, e multiplicador dos tempos que, co-habitando com outros tempos, devoram a hora nica sobre a humanidade. A maior subverso, portanto, se processa com o retorno vigoroso do bem viver que, mais que uma filosofia, um projeto de civilizao onde os seres e a natureza se harmonizam na produo e no consumo de suas riquezas.Todas elas. Ou seja: o desafio retomar os mitos e reencantar o mundo, a partir do Sumak Kawsay., Palavras-chave: Cosmoviso; Buen Vivir; Ps-colonialismo; Amrica Latina Resumen: Contra la maldicin de Malinche, la memoria que no traiciona y el incumplimiento que, antecipando la rebelin, la organiza y la fomenta en el momento adecuado. la herida metafsica de la conquista, el mito y sus esferas de los organizadores de la utopa, mientras que el no-lugar, y un multiplicador de los tiempos, que, cohabitando con otros tiempos, devoran la hora nica sobre la humanidad. La subversin mayor , por supuesto, se procesa a la vuelta vigorosa del buen vivir que, ms que una filosofa, es un proyecto de civilizacin donde los seres humanos y la naturaleza estn en armona en la produccin y el consumo de sus riquezas.Todas ellos. Es decir: el reto es retomar los mitos y volver a reencantar el mundo, desde el Sumak Kawsay. Palabras claves: Cosmovisin ; Buen Vivir, Post-colonialismo, Amrica Latina Resum : Contre la maldicin de Malinche, la mmoire qui ne trahit pas et la non-conformit que, avant la rbellion, la organize et stimule la reblion au moment prcis. la plaie mtaphysique de la conqute, le mythe et leurs sphres qui organizent lutopie, tandis que le non-lieu, et un multiplicateur de l'poque, cohabitant avec d'autres moments, ils dvorent l heures unique sur l'humanit.Plus subversion procde donc avec le retour en force de le buen vivir que, plus qu'une philosophie, est un projet de civilisation o l'homme et la nature sont en harmonie dans la production et la consommation de leurs riquezas.Toutels elles C'est dire: le dfi est de reprendre les mythes et les r-enchanter le monde, de Sumak Kawsay. Mots-cls: Vision du monde; Buen Vivir, Post-colonialisme,'Amrique latine
1. Estudante de Jornalismo da UFG, integrante do Projeto BRABO e bolsista do Projeto de Extensao Magnifica Mundi sociedade em redes membro do Coletivo Magnifica. 2. Estudante de Jornalismo da UFG, integrantte do Projeto BRABO e bolsista do Mais Educao na rede Municipal de Ensino e membro do Coletivo Magnifica 3. Estudante de Publicidade e Propaganda da UFG, integrante do Projeto BRABO, bolsista da Agencia INOVA e membro do Coletivo Magnifica 4. Jornalista , professor da UFG , pesquisador/doutorando do Centro deEstudos Sociais-Universidade de Coimbra, Programa Ps-Colonialismo e Cidadania Global e intergrante do Projeto BRAbO e membro do Coletivo Magnifica.
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1. Introduo
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Nictlope v na noite. Nictlope tem cor de abacate, esverdeada. Tempos depois, um reprter da revista Caretas, de Lima, o encontra no povoado de Rancas, a 4.400 metros de altura.Mas Nictlope brota da novela de Manuel Scorza5, um dos mais importantes escritoreslatinoamericanos e passeia , agora, o imaginrio coletivo. Cavalga a cosmoviso dos Andes peruano, revive o massacre6 . A literatura, uma forma de jornalismo, antecipa elementos indispensvel existncia humana. Aos letrados e aos que no-lem estas certas grafias7 O realismo fantstico, portanto, instrumentaliza no a narrar coisas inverossmeis, mas de lhes conferir uma modalidade de concretude, torn-las credveis, v-las ainda que fora da dimenso em que, cmoda ou em peleas, se atrevessa a existncia. Aos que nasceram e tentam narrar a Amrica Latina ou Amerndia no faltaria inspirao, ela nos sobra em demasia. Afinal, refletindo o futuro-passado tais vises so reais, ao contrrio da equao corrente que define o imaginrio como noexistente ( MENESES, 2009:19 ). Algo mais amplo: Uma realidade no de papel, mas que vive dentro de ns e determina cada instante de nossas incontveis mortes de todos os dias, e que nutre uma fonte de criatividade insacivel, cheia de tristeza e beleza, da qual este errante e nostlgico colombiano no passa de mais um, escolhido pelo acaso[...]Poetas e mendigos, msicos e profetas, guerreiros e canalhas, todas as criaturas desta indomvel realidade, temos pedido muito pouco da imaginao, porque nosso problema crucial tem sido a falta de meios concretos para tornar nossas vidas mais reais. Este, meus amigos, o cerne da nossa solido. (MARQUEZ, 1988 )
5 . Preso aos 17 anos por publicar um poema de amor numa revista esquerdista, no dia anterior a um golpe de Estado. 6. Han cercado Rancas! Han cercado Villa de Pasco! Han cercado.Yanacancha! Han cercado Yarusyacn! Encerrarn el cielo y la tierra No habr agua para beber ni cielo para mirar! (SCORZA, 2005, p. 140). El cerco sigui avanzando. Tras engullir cuarenta y dos cerros, ochenta lomas, nueve lagunas y diecinueve cursos de agua, el cerco del este rept al encuentro del cerco del oeste. La pampa no era infinita, el cerco, s (SCORZA, 2005, p.169). La Cerro clausuraba el nico paso libre. Las tres cuartas partes del ganadohaban muerto. La Pampa era un osario colosal (SCORZA, 2005, p. 203 ) apud PINHEIRO, Suely Reis. A polifonia em Garabombo, el invisible, de Manuel Scorza. In JALLA, Jornadas Andinas de Literatura Latinoamericana, em agosto de 2004. Verso pode ser vista em http://www.hispanista.com.br/revista/Polifonia.pdf acesso em 30.09.2010 5. Na mesma linha de raciocinio, vem Saramago, ao receber o prmio Nobel de Literatura, com destaque feito pelos autores deste artigo: O homem mais sbio que conheci em toda a minha vida no sabia ler nem escrever. As quatro da madrugada, quando a promessa de um novo dia ainda vinha em terras de Frana, levantava-se da enxerga e saa para o campo, levando ao pasto a meia dzia de porcas de cuja fertilidade se alimentavam ele e a mulher. Viviam desta escassez os meus avs maternos, da pequena criao de porcos que, depois do desmame, eram vendidos aos vizinhos da aldeia. Azinhaga de seu nome, na provncia do Ribatejo. ( 1988 )
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O Buen vivir como resposta desordem do mundo
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Afinal, somos mais que homens , somos cavalos? Assim, os personagens de o Garabombo so invisveis ou possuem uma visibilidade que no se v. Nesta ironia, como crtica social, a novela andina d humanidade a quem deseja, como maneira da fantasia criar a realidade, onde fatos desmedidos acabam concretos, reais. Homem e cavalos duelam , dialogam ou , simplesmente, se recusam a ser o que lhes foi construdo por um a lgica absurda, a que separa, por razes nunca justificadas, homens e mulheres da natureza que os constitui Desta maneira, cavalos e o ladro de cavalos recusam a vida imposta e traam um destino comum onde todos querem ser a mesma coisa: homens, no! Na recusa, a reinveno ou a recuperao da dianteira, da iniciativa, no processo contraditrio que o viver. De nada valeria a vida se no fosse para ser ns mesmos e em vez do projeto de no-seres que a modernidade e seus templos reprodutores mundo a fora, onde a academia tambm se situa, tentam reproduzir, importa, moer. A razo, parece, vai alm dos limites que, ela prpria, tenta definir: Perdoncito. Fuera! jade Girasol . Anda a morir con tus iguales! En los hombres no se puede confiar insisti Girasol. El Ladrn de Caballos se volvi con un colosal esfuerzo y enterr la cara en el pasto. Quiz algn da t seas hombre y yo caballo! Yo jams ser hombre ! exhal Girasol (G. p. 279). Face aos estragos metafsicos da conquista, surgem o mito e suas esferas organizadoras da utopia, do no-lugar, e como multiplicador dos tempos comem a hora nica8 que a modernidade tenta impor sobre a humanidade, to diversa. O retorno vigoroso do buen vivir, como um outro projeto civilizatrio onde seres e natureza, como totalidade, se harmonizam na gesto e prticas de criao e consumo de suas riquezas materiais e imateriais. O desafio retomar os mitos, todos eles, e reencantar o mundo pelo Sumak Kawsay.
8 . O tempo linear uma criao da modernidade ocidental e capitalista. Todas as sociedades construram o tempo de forma cultural, e nessa forma o tempo estende pontes com seu passado e com seu futuro, de modo que ele circular. Os eventos de agora explicaro e contextualizaro o futuro, porque esses eventos de agora j foram construdos, de certa maneira, no passado. Na modernidade capitalista, fraturou-se essa relao em que o presente estende vasos comunicantes com seu prprio passado e com a forma de construir seu futuro. Essa fragmentao a chave para a valorizao do capital. Somente no tempo linear as taxas de juro e a acumulao financeira tm sentido e coerncia (DVALOS,op.cit ) Gruzinski, por seu turno, fala,partindo da viso amerndia, no passado que se apresenta ao futuro, de maneira cclica ( 2002)
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1.2. Reencantar e reencontrar o mundo
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O desencanto do mundo, le desenchatement du monde , atende imposio de um poder sobre os indivduos e de sua fragmentao, como base da teoria econmica moderna, o homo economicus - que sinaliza Arkonada - orienta, como limite, a idia de consumidor e se transforma em marco analtico para compreender a economia capitalista no seu conjunto, onde o conceito de cidado surge como quem assinou , em branco , um contrato que autoriza a criar o Estado moderno ( e lhe autoriza a legislar contra, quando lhe convm, este mesmo cidado): Tratam-se de metforas fundantes que s tm relao e explicao no interior do projeto burgus de sociedade e de Estado. Nesse projeto, as alteridades como tais no existem. Elas no tm consistncia ontolgica. Ao no existir, as alteridades radicais so invisveis. Para serem visveis, tm de deixar de ser alteridades. Os povos indgenas que esto longe tanto das noes de consumidor quanto das de cidado, para fazer parte do debate atual, tm que ser visualizados e indicados justamente como aquilo que os violenta e os agride, isto , como consumidores e como cidados (ARKONADA apud SBARDELOTTO, 2010 ) Mais que isto. Berten lembra que Weber no o primeiro a enxergar a relao estreita entre cristianimo10 e o capitalismo ( 1995:86), e ,embora admirasse as hipteses de \Marx, compartilha com ele o materialismo e o desprezo pelo que no fosse o mundo industrializado. Afinal, a religio apenas um capitulo de seu livro sobre o esprito do capitalismo. Sob a tese pueblos sin histria11 , Marx no v importnicia no colonialismo; ante-sala para a burguesia nas periferias do mundo, nica capaz de superar a (des) ordem feudal de produo (p.17): [...] la razn por qu ste vio Latinoamerica como un continente incapaz de desarollar una estructura economica y social que le permitiera insertarse , com alguna esperanza de xito, en el proceso revolucionario mundial. Para Marx Latinoamerica era un conjunto de sociedades semi-feudales gobernadas por latifundistas que exercan su poder desptico sobre unas masa carentes de organizacin....( CASTRO-GOMEZ, 2005:16) A esfera do simblico, das idias e do conhecimento, termina por ser a mais longa e mais antiga plataforma dos embates entre a modernidade eurocntrica - que impulsiona as conquistas e determina os modelos de gesto imperial e violenta sobre as colnias - e as dos povos e culturas amerndias, no caso. Neste sentido, a ttulo de exemplo, Hume comparava o poeta Francis Williams, um negro, a um papagaio que diz umas quantas palavras de maneira clara( EZE,2002:79 apud MIGNOLO, 2006:688 ). Mas h ,alm dele, quem siga a mesma rota:
,9 Cest la moralit chrtienne elle-mme, la notion de vracit prise dans un sens de plus em plus regoureux, la subtilit chrtienne dveloppe par le confessional, traduite et sublim en conscience scientifique, jusqu la nettet intellectuelle tout prix ( NIETZSCHE, 1971.). Traduo dos autores: a moral crist em si mesma, a noo de verdade em um sentido mais rigoroso, desenvolvido pela sutileza confessional crist, traduzida e sublimada em conscincia cientfica, at agudeza intelectual a todo o custo 10 . No caso, o protestantismo. 11.O conceito de Hegel: Deixemos assim a frica e no voltemos a mencion-la. que ela no parte do mundo histrico, no revela qualquer movimento ou evoluo, e o que nela, isto , na sua parte norte, possa ter acontecido pertence ao mundo asitico ou europeu. [...] O que verdadeiramente entendemos por frica o a-histrico e o fechado, ainda preso por inteiro no esprito, da natureza [...] ( 1970:129 apud Santos, 2006:270 )
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O Buen vivir como resposta desordem do mundo
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Segundo Kant a existncia dos nativos no tinha qualquer valor para alm do de ovelhas, explicando ele, a propsito dos negros do Tahiti, por exemplo, que s contacto com os europeus brancos os poderia elevar ao nvel humano ( EZE,2002:79) Os Inca, por exemplo, desenvolveram escrita diferente de todas as outras, sequncias de cordas e ns que num cdigo binrio reminiscente das linguagens computacionais de hoje ( 71 ), os khipu. Ou seja, nicos documentos escritos intrinsecamente tridimensionais do mundo, onde um sistema de codificao, a exemplo da linguagem informtica atual, estruturada em um cdigo binrio, onde, pela complexidade da fiao, do filamento e dos cdigos de cor, a informao era posta no fio antes de ser feito o n. ( apud MANN, 2005:170-1) [...] o khipukamayuq o zelador de ns em runa simi analisava gramaticalmente os ns tanto examinandoos visualmente. como correndo os dedos sobre eles, ao estilo Braile, algumas vezes acompanhando o gesto com a manipulao de pedras negras e brancas. Por exemplo , para coligir uma histria do imprio inka, o governador espanhol Cristval Vaca de Castro ordenou que um khipukamayuq lesse as cordas em 1542 ... Posteriormente, os espanhis passaram a ficar to furiosos quando um khipu contradizia a sua verso de acontecimentos que, em 1583, ordenaram que todas as cordas atadas do Peru fossem queimadas como objetos idoltricos.Somente cerca de seiscentos escaparam das chamas (op.cit 167-8 ).. De novo,a teologia, como aliada do poder, investe contra um outro conhecimento fora da lgica da modernidade . Para Mignolo, a cincia a teologia do momento secular do mundo moderno-colonial, trocam-se as letra por nmeros, o novo culto Assim , o elevado grau de sofisticao em matria de nmeros das civilizaes amerndias algo incompreensvel para telogos treinados nas letras vai, no sculo 18, declarado primitivo e fora do jogo na marcha triunfal da razo ocidental que estava a substituir a teologia crist ocidental (( 2004:672).. Santos, no entanto, reconhece que os movimentos populares ou os invisveis da teoria crtica moderna os povos indgenas da Amrica Latina ou, quando muito, visveis enquanto camponeses so as subjetividades individuais e coletivas das lutas mais progressistas das ltimas dcadas (2009a). Os menos civilizados e menos competentes invadem a civilizao, contestam o lugar que a cincia auto-reivindica e , no desconforto da prova, a recusa: vrios saberes em presena (MENESES, 2009:19). Desta maneira, pode-se imaginar o espanto face ao uso do zero nas operaes matemticas - se acredita no uso tambm pelos indianos - e a traduo de obras clssicas do grego pelos Maia ( GRUZINSKI, 2004 );as cirurgias do crebro pelos Astecas; a capacidade potica e filosfica dos Guarani; bem como a cultura e sociedade Boboro que, mesmo pssaros, vo, pela complexidade de sua estrutura, influenciar , de forma profunda , o pensamento de Lvy Strauss, como ele mesmo acabou admitindo:
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O Buen vivir como resposta desordem do mundo
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Mas os Bororo no me ofereciam apenas a contemplao de um espetculo maravilhoso. Todo meu pensamento terico, como se desenvolveu ao longo dos ltimos trinta anos, conserva o cunho daquilo que me pareceu compreender no meio deles: como uma sociedade humana pode tentar unificar em um vasto sistema, ao mesmo tempo social e lgico, o conjunto das relaes de seus membros entre si e das que mantm, em grupo, com as espcies naturais e com o mundo fsico que os envolvem. Com efeito com os Bororo que aprendi que certas formas de pensamento, aparentemente to diferentes das nossas, so, todavia, capazes de analisar e classificar fenmenos, de abstrair suas propriedades comuns e de elaborar uma viso do mundo com alcance verdadeiramente filosfico ( LVI-STRAUS, 1976 ) Razes que reforam o significado da refundao da Bolivia, iniciada com a eleio de Evo Morales e consolidada, de alguma forma, com a morte da velha repblica representativa como nica possibilidade de gesto e convivncia no Estado Moderno, e o surgimento do Estado Plurinacional e suas autonomias regionais, departamentais, municipais e dos povos originrios. Uma perspectiva que leva Santa Cruz, a provncia da autonomia, a se colocar radicalmente contra o modelo porque cria, de fato, um caminho novo a se caminhar. Neste sentido, Mignolo reivindica, de maneira oportuna, um olhar alargado sobre estas questes. Um quadro de mudanas no s de governo, mas de lgicas de se governar e gerir os interesses das pessoas e sua relao com a natureza. Mais que um giro esquerda, trata-se de um giro descolonial en marcha desde hace cinco siglos. Uma guinada sob liderana poltico, intelectual e ideolgico dos movimentos indgenas que no necessitaron ni de Marx ni de Lenin para darse cuenta de que eran explotados (MIGNOLO, 2008). A, talvez, a questo central. 1.1. O que o Sumak Kasway, esse outro projeto civilizatrio?
A noo de Sumak Kawsay (ou Suma Qamaa, em Aimar), para Dvalos, se insere no discurso poltico dos movimentos indgenas do continente e, como tal, compe o seu projeto histrico e poltico. Uma perspectiva que se inspira nas vivncias ancestrais dos povos. Na recuperao dessas formas de convivnciaos povos indgenas encontraram, de um lado, as formas polticas de resistncia ao capitalismo e modernidade e, de outro, as alternativas para esse mesmo sistema capitalista ( DVALOS, 2010:. 5)
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Resumo: O presente artigo traz os primeiros resultados de uma pesquisa sobre o perodo formativo da TV brasileira: das negociaes para a compra do aparato tcnico televisivo da TV Tupi de So Paulo s primeiras transmisses (trs primeiros meses) na capital paulista. Trata-se de pesquisa documental e bibliogrfica. Para o levantamento da programao utilizou-se como fonte a cobertura jornalstica realizada pelo jornal Dirio de S. Paulo e pela revista O Cruzeiro. Palavras-chave: TV Tupi, programao, Dirio de S. Paulo, O Cruzeiro, Assis Chateaubriand Abstract: This article presents the first results from a research done on the formative period of Brazilian television; from purchase negotiations of the TV Tupi television apparatus in So Paulo, to the very first three months of broadcasting that ever took place in So Paulo state capital. It is a documentary and bibliographic research. In order to obtain a program survey, the information sources used were derived from the Dirio de So Paulo newspaper and the O Cruzeiro magazine coverage. Keywords: Brazilian television, TV Tupi, broadcast programming, Dirio de So Paulo, O Cruzeiro. Introduo Atualmente j no conseguimos imaginar a vida sem televiso. Um hbito de tal forma enraizado em nosso cotidiano que parece acompanhar a humanidade desde os primrdios. Porm, a televiso um veculo ainda jovem. Quando a TV foi inaugurada no Brasil em carter definitivo, em 18 de setembro de 1950, alguns pases j contavam com transmisses regulares, entre eles: Estados Unidos, Inglaterra, Frana e Alemanha. Faltou muito pouco para a TV Tupi de So Paulo ficar com o ttulo de pioneira em toda Amrica Latina. Em 1 de setembro de 1950, o Mxico saiu na frente, com a inaugurao do canal 4 na Cidade do Mxico. A pioneira, no Brasil, foi a PRF3- TV Tupi-Difusora, Canal 3, situada na capital paulista, no bairro do Sumar de propriedade de Assis Chateaubriand, dono da rede de veculos de comunicao denominada Dirios Associados. Vista no incio com certo descaso, imaginava-se a televiso como um rdio com imagem ou, o cinema dentro de casa. Coisa para milionrios. No passava na cabea da maioria das pessoas ter em casa um aparelho carssimo igual queles que as lojas colocavam nas vitrines reunindo ao seu redor multides embasbacadas. A verdade que, aos poucos, a televiso foi ocupando espaos, desbancando o reinado do rdio e do cinema, adentrando discretamente no sagrado aconchego do lar, tomando conta do mais nobre dos espaos: a sala de visitas. A mesa de jantar, a cristaleira, a chapeleira e o quadro da Santa-Ceia foram sumindo aos poucos, dando lugar aos indefectveis acessrios da engenhoca eletrnica: poltronas, sofs, almofadas e, um pouco mais tarde, o todo poderoso controle remoto. Apesar do profundo impacto sociocultural que a televiso ocasionou no Brasil, a partir da dcada 1950, sua histria muito pouco conhecida, em especial nos dez primeiros anos, quando ainda no havia videoteipe nas emissoras brasileiras, e os programas eram transmitidos apenas no formato ao vivo.
1 Mestre em Comunicao Social pela Universidade Metodista de S. Paulo e coordenador do curso de Rdio e Televiso desta mesma instituio. E-mail: [email protected]. 2 Doutora em Comunicao Social pela Universidade Metodista de S. Paulo, professora do curso de jornalismo da Universidade Federal de Uberlndia. E-mail: [email protected].
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7 Informaes complementares sobre as experincias anteriores ao surgimento da TV Tupi de So Paulo podem ser encontradas em: XAVIER, Ricardo. Almanaque da TV. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2000.
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Resumo Este trabalho questiona atravs da Teoria Derivada da Pesquisa Emprica se atores e celebridades foram formadores de opinio durantes as campanhas feitas sobre o referendo do desarmamento em 2005. Palavras-chave: referendo, teoria da influncia, campanhas, comunicao. Abstract This work questions through the Theory Derived from the Empirical Research to actors and celebrities are opinion leaders made during the campaigns on the referendum on disarmament in 2005. Keywords: referendum, theory of influence, campaigns, communication. 1 Introduo Segundo o artigo 14 da Constituio Federal Brasileira a soberania popular ser exercida pelo voto direto e secreto, e tambm, nos termos da lei, pelo plebiscito, referendo e pela iniciativa popular. Assim, em 2005, houve a segunda experincia de um referendo no Brasil, uma consulta popular sobre o desarmamento, e este foi o primeiro referendo do mundo em que a populao foi consultada sobre o desarmamento do pas.4 A primeira experincia ocorreu no governo do Joo Goulart, em 1963, quando o Congresso Nacional aprovou a Emenda Constitucional n 4 em 1961, que garantiu a posse do presidente Joo Goulart, mas instituiu o Parlamentarismo. A populao foi consultada sobe a manuteno do regime parlamentarista ou o retorno do regime presidencialista. E a escolha foi o retorno ao Presidencialismo. O referendo , portanto, uma consulta populao sobre qual a melhor opo a ser seguida diante de uma determinada situao. Sendo que os cidados devem analisar a questo e decidir no pelo que melhor para eles individualmente e sim, para o que bom para toda a sociedade e para o futuro do prprio pas. Os cidados so nesta situao os formadores de opinio, tem nas mos o poder de decidir o que certo, e para isso, precisam ter a certeza absoluta da resposta que daro nas urnas.
1 Trabalho apresentado na V FEICOM: ressignificando as fronteiras da comunicao e informao. De 09 a 11 de novembro de 2010, em Goinia GO. 2 Acadmica do terceiro ano do curso Comunicao Social Audiovisual - Universidade Estadual de Gois. Email: [email protected] 3 Professora orientadora do Trabalho, ministrante da disciplina Teorias da Comunicao do curso de Comunicao Social/Audiovisual da Universidade Estadual de Gois (UEG). 4 Dados retirados do site do Tribunal Regional Eleitoral do Estado de Minas Gerais: http://www.tre-mg.gov.br/legislacao_jurisprudencia/referendo/oquee_referendo.htm, acessado em 10 de outubro de 2010, s 14h25min.
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2 Referendo sobre desarmamento: SIM ou NO? Em 23 de outubro de 2005, no referendo sobre o desarmamento os brasileiros foram s urnas decidirem entre o SIM ou NO para a seguinte pergunta O comrcio de armas de fogo e munio deve ser proibido no Brasil?. Como em uma eleio, duas frentes parlamentares foram formadas: uma que defendia o voto do SIM, a favor da proibio, cujo nome era Por um Brasil sem armas; e outra que defendia o voto do NO, a favor da manuteno do comrcio de armas de fogo, intitulada Pela Legtima Defesa. As duas frentes foram compostas por parlamentares e membros da sociedade civil. Realizaram propaganda eleitoral gratuita em rdios e TVs entre os dias 1 e 20 de outubro de 2005. Houve tambm atos pblicos, manifestaes, debates e palestras para um maior esclarecimento da populao. As pesquisas de opinio realizadas na poca no incio dos debates apontavam que a maioria dos brasileiros apoiava a proibio do comrcio de armas. Mas o referendo teve um resultado negativo para aqueles que defendem um maior controle sobre as armas de fogo: 63,94% da populao disse NO proibio da venda de armas, enquanto 36,04% disse SIM.5 A campanha da Frente Parlamentar pelo Direito Legtima Defesa teve sua campanha totalmente financiada pela indstria nacional de armas, como a Taurus e a Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC), e apoiada pela organizao americana NRA (National Rifle Associoation). Tendo uma arrecadao total de R$5.726 milhes e um custo de campanha de R$5.701 milhes. J a campanha da Frente Parlamentar Por Um Brasil Sem Armas, teve R$1.970 milhes arrecadados e um gasto de campanha de R$2.284 milhes. E seus principais financiadores foram AmBev, CSN (Companhia Siderrgica Nacional), CBF (Confederao Brasileira de Futebol), TNL, Contax e Cooperativa de Trabalho Estruturar.6 3 A campanha do SIM A campanha pelo voto SIM, utilizou-se de pessoas j conhecidas da televiso brasileira, pessoas que de certa forma teriam um poder de persuaso maior diante do espectador na hora de decidir seu voto. Nesta situao aplica-se uma das teorias da comunicao, a teoria derivada da pesquisa emprica do campo. Esta teoria, tambm conhecida como Teoria dos Efeitos Limitados, trata da influncia pessoal dentro das relaes sociais. Diz respeito a todos os mass media do ponto de vista de sua capacidade de influncia sobre o pblico e da influncia mais geral das relaes sociais, da qual o mass media so apenas uma parte. (WOLF, 1987) Em tal teoria pode-se falar em lderes de opinio, pessoas que mostram total influncia diante de certo grupo de pessoas. Esta influncia dos lderes de opinio conseguida atravs da persuaso, induo e convencimento. Estes passam a ter o poder de afetar os pensamentos e atitudes de determinadas pessoas. Segundo CORRA 1977,7 o poder social uma fora que influencia na conduta das pessoas. Logo, estes lderes de opinio ditam o deve ser seguido e aplicado.
5 Notcia veiculada no site http://noticias.terra.com.br/brasil/referendodesarmamento/interna/0,,OI725143-EI5475,00.html, cuja matria divulgava o resultado final das apuraes de votos do referendo, feitas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Acesso ao site: 10 de outubro de 2010, s 16h34min. 6 Fonte: TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e Frente Parlamentar pelo Direito da Legtima Defesa. 7 CORRA, J. S. O. O exerccio do poder na administrao. Rio de Janeiro: Documentrio, 1977.
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Os atores dentro da propaganda pelo voto do SIM conseguem maior empatia e maior convencimento diante de grande parte da populao. Por serem astros de novelas e estarem sempre na mdia, passam uma credibilidade do assunto e do que defendem, se estas pessoas pensam que o voto SIM a melhor opo, a populao acredita neles e vota no SIM. Mas convm lembrar que tais atores, atuando como lderes de opinio, apenas atingem os brasileiros que esto sempre atentos mdia televisiva. Aqueles brasileiros que pouco se interessam por TV e principalmente novelas, no se convencem muito sobre o que est sendo mostrado na propaganda. Alis, estes questionam o assunto abordado e possivelmente tero suas prprias opinies, e iro votar com mais conscincia. Por tal aspecto esta teoria da comunicao tida como dos Efeitos Limitados, porque o poder de influncia dos lderes de opinio restrito, no consegue atingir todos ao mesmo tempo. MERTON (1940) 8 chama os lderes de opinio local, que tem total influncia perante as pessoas ao seu redor de polimorfos. Estes lderes polimorfos vivem com o grupo que influenciam e por isso, sabem de todas as necessidades do grupo. Logo o grupo acredita fielmente nele, pois crem que o que ele diz para o bem. J os lderes monomrficos, no tem influncia sobre um grupo especfico, um lder cosmopolita. Sua influncia restrita, ele no tem acesso direto com o grupo de pessoas, no conhece as reais necessidades deste grupo. Os atores nessa propaganda pelo voto SIM, exercem um poder de lderes monomrficos, pois esto longe do acesso do grupo de pessoas que iro influenciar, no esto dizendo que o voto SIM o mais sensato para determinado pessoa ou grupo, diante de suas necessidades e condies. Afirmam que o voto SIM favorecer a todos, independentemente de quem seja. Tais atores conseguem ter uma abrangncia nacional e no local. E tambm, pode-se questionar o fato de que no esto dizendo que o voto SIM o melhor porque acreditam nisso, podem estar fazendo tal propaganda por terem recebido um cach ou para aparecerem na mdia. Ali na propaganda parecem estar mais uma vez interpretando o papel de atores e dizendo um texto escrito por um diretor e no que realmente esto defendendo seus princpios e posies verdadeiras. Assim, a propaganda do SIM feita com atores no convenceu o suficiente, pois os votantes que decidem pelo SIM atravs da propaganda no esto sendo formadores de opinio e decidindo pelo que realmente acreditam ser a melhor opo. Votam porque querem ser como os atores famosos, esto apenas seguindo os passos daqueles que eles admiram e sentem certa simpatia e afeio. A campanha foi praticamente sustentada pela imagem dos artistas e celebridades, que passaram uma imagem de defensores idealistas utpicos, que resumiam a soluo do crnico problema da segurana pblica brasileiro na proibio do comrcio de armas. bastante claro o discurso dentro da campanha que o cidado comum que possui uma arma dentro de casa tido como bandido, sendo esta uma fala bastante persuasiva diante da populao que admira tais celebridades e artistas.
8 Robert Merton colaborou durante 35 anos nos estudos de Paul Lazarsfeld, sobre a Teoria Emprica de Campo. Em 1940, Paul Lazarsfeld, estabeleceu trs processos diferentes para se saber o que um programa significa para o pblico. 1- Anlise de contedo; 2- Caractersticas dos ouvintes e 3- Estudos sobre as satisfaes. A este propsito, Lazarsfeld fala de efeitos pr-seletivos e de efeitos posteriores. Em primeiro lugar, o meio seleciona o seu pblico e s posteriormente exerce a sua influncia sobre esse pblico. Dessa forma, deixa de salientar a relao causal direta entre propaganda de massas e manipulao da audincia para passar a insistir num processo indireto de influncia e formao de opinio, no seio de determinadas comunidades. Na dinmica que gera a formao da opinio pblica, em que participam tambm os mass media, o resultado global no pode ser atribudo aos indivduos considerados isoladamente; deriva da rede de interaes que une as pessoas umas s outras. Portanto, a teoria dos efeitos limitados, em suma, coloca em vantagem a influncia pessoal, em relao eficcia dos mass media, limitando assim, os efeitos destes.
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A Frente do SIM dispunha de inmeros argumentos slidos, capazes de justificar muito bem a proibio do comrcio de armas, mas teria sido mais precisa e eficaz se tivesse escolhido um destes argumentos e explorado ao mximo. Quando durante as pesquisas percebeu-se uma maior inteno de votos para a Frente do NO, a campanha mudou sua linha de comunicao e passou a atacar de forma agressiva, mas muito bem planejada, a indstria blica brasileira como sendo aquela que no se importa de lucrar com as mortes que provocam. 3 A Campanha do NO A campanha da Frente do NO usou sempre a mesma identidade visual e uma linguagem mais popular, conquistando imediatamente a identificao do pblico. No precisando para isso, utilizar-se da imagem de atores e celebridades. A campanha foi melhor realizada, antecipando a publicidade com realizao de pesquisas de opinio e um minucioso planejamento estratgico. Procurou de certa forma, estar mais prxima do cidado que votaria no dia 23 de outubro de 2005, concluindo que este no se mostra um apaixonado por armas, e tampouco manifesta um grande interesse em adquirir uma. Sua proposta foi trabalhar no a apologia s armas, mas enfatizar que o cidado, ao votar pela proibio do comrcio de armas, estaria perdendo um direito: o de comprar ou no uma arma. Uma fala de extrema persuaso diante do pblico. Na campanha pode-se perceber a presena das hipteses de Lazarsfeld sobre o pblico alvo, analisando o contedo da mensagem, as caractersticas deste pblico e a satisfao deste. No apenas se preocupando com a forma como a mensagem seria transmitada, como a Frente do SIM, que pouco se importou em informar seu pblico sobre o assunto. E nota-se que o ataque persuasivo da Frente do NO foi agressivo, com frases como voc pode no querer uma arma hoje, mas ningum sabe o dia de amanh, ou em muitos casos a arma pode ser um instrumento de autodefesa, seno para voc, para um ente querido. E tambm, explorando caractersticas territoriais, em falas como pessoas que moram em regies afastadas precisam de armas, pois no podem contar com a polcia em tempo hbil. E mais agressiva ainda, afirmando que as armas poderiam resolver a problemtica da segurana pblica: se o Estado no garante a segurana, busque voc a sua prpria proteo. Dessa forma, a campanha do NO, transmitia ao cidado informaes sobre o porqu de defender o comrcio das armas. Enquanto a do SIM se preocupava em atacar aqueles que possuem armas ou os que querem possuir, culpando-os de mortes e violncia. A campanha do NO tambm teve um forte aliado durante o processo publicitrio. Enquanto a grande maioria da imprensa tentava ser imparcial, a Revista Veja, principal veculo de informao semanal do pas, lanou em sua edio de 5 de outubro de 2005 uma matria intitulada 7 razes para votar NO A proibio vai desarmar a populao e fortalecer o arsenal dos bandidos. E mesmo ouvindo inmeros especialistas no assunto inclusive o Instituto Sou da Paz a revista optou por no publicar nenhuma outra matria sobre os argumentos defendidos pela Frente do SIM. Um caso de falta de tica na imprensa, mas um fato interessante a ser observado, pois foi mais um meio de comunicao utilizado pela Frente, uma vez que a revista est no ranking de revistas semanais mais vendidas no pas. No se pode afirmar com clareza que a reportagem foi financiada pela Frente do NO, mas se trata de uma hiptese. Isto foi um ataque que provavelmente influenciou vrios cidados, visto que a revista um grande meio de formao de opinio.
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A Frente do NO seguiu risca seu planejamento, a do SIM se perdeu durante a campanha e teve que reformul-la, mas parecia no ter um embasamento que satisfizesse o cidado a optar pelo voto SIM. Como as pesquisas mostravam uma maior aceitao do cidado pelo voto SIM antes de comearem as campanhas, a Frente j se mostrava vitoriosa, tanto que os que votariam NO afirmavam que se desarmaria o cidado, mas no o bandido. Um fato observado durante todo o processo do referendo que jamais se questionou o prprio Estatuto do Desarmamento, que segundo a Unesco fez cair os ndices de homicdios em todo o pas9. Ambas as frentes apenas defendiam este: a do SIM, por ter sido aquela que lutou pela criao, aprovao e implantao da lei; a do NO, por ter se alicerado no rigor e completude da Lei para defender sua argumentao de que pelo fato de o estatuto dificultar a compra de uma arma, no haveria necessidade de proibir seu comrcio. O cidado dessa forma, no tinha grandes informaes sobre o Estatuto em si, apenas sobre o que as Frentes pensavam sobre ele. O estudo das campanhas tanto SIM como NO mostra com clareza a formao de opinio dentro de um processo comunicacional em diferentes grupos e indivduos. Podendo notar os trs efeitos que Lazarsfeld relaciona na Teoria Emprica do Campo. O primeiro o efeito de ativao, que transforma tendncias latentes em opinies efetivas, ou seja, quem j tinha certa afinidade por determinada resposta, continuar com ela. O segundo o efeito de reforo, que preserva as decises tomadas, o cidado e convicto de seu voto. E o terceiro efeito o de converso, no qual os mais informados so menos flexveis e os mais indecisos, so mais influenciados pela mdia. Assim, de acordo com tais efeitos, a campanha do SIM, com seus artistas e celebridades, pretende atingir principalmente aqueles que no tem uma opinio realmente formada e pouco se interessam em ir atrs desta informao. J a campanha do NO atinge exatamente o pblico contrrio a este, um pblico que est mais inteirado do assunto, e defende a prpria opinio e de acordo com a campanha, a busca pelos seus direitos. O referendo nada mais do que uma pesquisa de opinio do governo dirigida sociedade. Uma forma de avaliao sobre determinado assunto feita para que os cidados decidam sobre uma sociedade mais justa. Aqui, os cidados so os formadores de opinio, no devem ser induzidos a algo que uma minoria ou maioria deseja, devem pensar sobre o assunto e tirar suas prprias concluses. Os discursos das campanhas por isso, deveriam apenas dizer quais os reflexos que cada opo traria dentro da sociedade. Buscando a adeso atravs do debate. REFERNCIAS CORRA, J.S.O. O exerccio do poder na administrao. Rio de Janeiro: Documentrio, 1977. MATTERLART, Armand e Michle. Histria das Teorias da Comunicao. So Paulo: Ed. Loyola, 1999. WOLF, Mauro. Teorias da Comunicao: Contextos e Paradigmas. Lisboa: Ed. Presena, 1987. http://www.deolhonoestatuto.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=42&Itemid=32, acessado em 09 de outubro de 2010, s 18h56min. http://www.tre-ms.gov.br/referendo/referendo.html, acessado em 09 de outubro de 2010, s 19h45min.
9 Fonte UNESCO: Vidas poupadas, Impacto do desarmamento no Brasil 2004, MS (Ministrio da Sade) e MJ (Ministrio da Justia).
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Parte 3
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Resumo A comunicao boca a boca (BAB) tem sido considerada elemento fundamental no contexto de gerenciamento das relaes que se estabelecem como os diferentes steakholders que interagem com a organizao. A mesma vista como uma forma no onerosa para empresa e uma fonte de informaes considerada mais segura para os clientes. Assim, o objetivo principal desse artigo mostrar como a satisfao dos consumidores interfere no processo de comunicao BAB. O estudo foi desenvolvido pela aplicao de uma pesquisa quantitativa em um hotel da regio da grande Goinia. Os resultados indicam o quanto essa comunicao disseminada, tendo-se em vista a excelncia na qualidade dos servios prestados por uma organizao Palavras-chave: Comunicao Boca a Boca; Satisfao; Servios. Abstract The communication by word of mouth (WOM) has been considered fundamental approach to managing the relationships that are as different steakholders that interact with the organization. The same is seen as a non-burdensome for business and a source of information considered safer for customers. Thus, the main objective of this paper is to show how customer satisfaction affects the communication process BAB. The study was conducted by applying a quantitative survey in a large hotel in the region of Goiania. The results indicate that when communication is widespread, having in view the excellent quality of services provided by an organization. Key Words: Word of Mouth Communication; Satisfaction; Services. 1 INTRODUO nfase especial na literatura tem sido dada aos estudos da comunicao, principalmente no que tange comunicao boca a boca, mais conhecida como Word-ofMouth nos estudos internacionais (BANSAL; VOYER, 2000; BUTTLE, 1998; GRACE; OCASS, 2004, 2005; HARRISON-WALKER, 2001; MATOS; ROSSI, 2008). O tema boca a boca (BAB), tem assumido uma importncia fundamental nos estudos de comunicao. Essa realidade tem sido evidenciada principalmente no setor de servios, no qual a avaliao por parte do cliente bem mais subjetiva, pela prpria caracterstica que assume o setor: intangibilidade, heterogeneidade e inseparabilidade (PARASURAMAN; ZEITHAML; BERRY, 1996). Empresas tpicas de servios, como bancos, instituies de ensino, servios de sade, consultoria ou a prpria hotelaria em questo, dependero cada vez mais da experincia do consumidor com o servio, seja em funo do que comunicado, do que os clientes falam, ou da prpria experincia obtida pelos consumidores. O objetivo geral desse estudo consistiu em analisar o comportamento BAB positivo no setor de servios hoteleiro, por meio da aplicao de uma pesquisa com 330 consumidores, de um hotel da grande Goinia, classificado como categoria superior luxo.
1 Trabalho apresentado na V Feicom Feira de Informao e Comunicao Facomb/UFG, realizado de 09 a 12 de novembro de 2010, em Goinia GO. 2 Mestre em Administrao (UNISINOS). Professora da Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia (FACOMB) da Universidade Federal de Gois (UFG). email: [email protected] 3 Especialista em Assessoria em Comunicao (UFG). Professor da Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia (FACOMB) da Universidade Federal de Gois (UFG). email: [email protected]
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As empresas desse setor encontram-se em forte processo de aperfeioamento e buscam oferecer melhores servios dentro de uma lgica de mercado que exige cada vez mais o diferencial. A grande competitividade mercadolgica condiciona a busca de um maior padro de qualidade e referncias que, na maioria das vezes, ocorre por fontes informais, ou seja, pela comunicao BAB. 2 COMUNICAO EM SERVIOS Na atual competitividade dos mercados, empresas e profissionais devem atentar-se de que as mensagens que chegam aos consumidores sobre produtos e servios sejam claras, concisas e integradas. Isso se deve principalmente, ao fato de manter a eficcia do processo comunicacional, uma vez que, atrair e reter a ateno dos clientes em um mercado cada vez mais saturado de mensagens comerciais torna-se um desafio. Nesse sentido a comunicao exerce papel importante no que se refere, principalmente, s atividades relacionadas a servios. O setor de servios apresenta, em sua maior parte, caractersticas intangveis e pesquisas na rea tm crescido, no sentido de investigar possibilidades de mensurao desses bens, ditos invisveis, considerando que eles possuem caractersticas que os diferenciam dos produtos. Essas recomendaes inserem um nmero de questes que envolvem a comunicao externa, o BAB, a publicidade e o nome de marca, como elementos fundamentais para gerenciar a comunicao (GRACE; OCASS, 2005). De acordo com Berry (1996), os servios so de difcil avaliao pelos clientes antes da compra, ou seja, eles no experimentam um servio para verificar se serve. O cliente precisa primeiro comprar o servio para depois vivenci-lo realmente. Dentro desse contexto, a comunicao exerce papel essencial, seja na forma de persuadir o consumidor para a compra, ou ento no repasse de informaes informais sobre o servio, como o caso da comunicao BAB. Para Grnroos (2003), quase tudo que uma organizao fala de si prpria, de seu desempenho, tudo que ela faz tem algum efeito sobre o cliente. Desta forma, os vrios meios de comunicao e seus efeitos esto inter-relacionados. Grnroos (2003) afirma que, alm das atividades de comunicao que podem ser facilmente planejadas e implementadas, outros aspectos, representam elementos importantes de comunicao, como por exemplo, o funcionamento do processo de servio, que recursos so usados e que produtos fsicos so utilizados nesse processo. Para Grace; OCass (2005), os efeitos da comunicao influenciam nas escolhas de marcas. Conceitos divergem sobre algumas consideraes relacionadas ao tema. Para alguns, a comunicao controlada, ou seja, a comunicao exercida por gestores da rea, como o caso da propaganda, se revela como uma fonte mais influente na atitude dos consumidores (GRACE; OCASS, 2005). Para outros, a comunicao no controlada ou BAB, definida como fontes informais que se estabelecem de uma pessoa para outra tipicamente mais significante, porque se caracteriza como uma fonte mais confivel de informao (MURRAY, 1991; GRNROOS, 2003).
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3 COMUNICAO BOCA A BOCA (BAB) O estudo do BAB insere-se em um contexto da comunicao, no qual esse comportamento assume importncia cada vez mais preponderante, principalmente pela saturao de estmulos dos canais de comunicao tradicionais recebidos pelos clientes. A comunicao BAB representa uma fonte de informaes isenta de valor comercial para o cliente, e no geradora de custos para a empresa. Thompson (2008) caracteriza a comunicao boca a boca como uma interao social face a face: Os indivduos se relacionavam entre si principalmente na aproximao e no intercmbio de formas simblicas, ou se ocupavam de outros tipos de ao dentro de um ambiente fsico compartilhado. As tradies orais dependiam para sobreviver de um contnuo processo de renovao, atravs de histrias contadas e atividades relatadas, em contextos de interaes face a face. De acordo com Kunsch (2003), o sistema informal de comunicao emerge das relaes sociais entre as pessoas e no requerida e contratada pelas organizaes. Para a autora, a comunicao informal tem de ser canalizada para o lado construtivo, ajudando as organizaes a buscar respostas muito mais rpidas para as inquietudes ambientais. Para Day (1971) e Murray (2001), a comunicao BAB se caracteriza como uma importante fonte de informao e uma fonte no convencional de comunicao para a organizao. Da mesma forma, Grnroos (2003) pontua que: Boca a boca significa mensagens sobre a organizao, sua credibilidade e confiabilidade, seus modos de operao, seus servios e, assim por diante, comunicadas de uma pessoa para outra (GRNROOS, 2003, p. 333). Segundo Grnroos (2003), o impacto da comunicao BAB bem mais forte do que as comunicaes que so planejadas pelos gestores da rea ou ditas planejadas. Como os servios apresentam certo grau de relacionamento contnuo com os clientes, Grnroos (2003) afirma que qualquer experincia vivida pelo cliente, seja boa ou m em relao ao prestador de servio, vai se transformar em uma fonte de informao. De acordo com Brown et al. (2005), a idia bsica do BAB est associada a qualquer informao sobre o objeto designado transferido de um indivduo a outro. Para Arndt (1967, p. 295) o BAB corresponde: uma comunicao oral, pessoa a pessoa, entre o receptor e comunicador, na qual o receptor no percebe uma relao comercial quanto a uma marca, produto ou servio, corroborando com a definio de Harrison-Walker (2001). Em contrapartida, Buttle (1998) argumenta em favor da ampliao do entendimento desse conceito, inserindo a percepo da no necessidade de contato pessoa a pessoa, que o ambiente virtual proporciona. Em considerao sobre a natureza positiva ou negativa do BAB, Buttle (1998) entende que a forma negativa mais influente e tem maior impacto que a forma positiva. A comunicao positiva estaria relacionada a aspectos de recomendaes positivas de uma marca, servio ou produto, enquanto que a negativa compreenderia o inverso. De acordo com Buttle (1998), as empresas passaram a se interessar pelo chamado gerenciamento do BAB, principalmente pelo emergir do paradigma do relacionamento. O autor argumenta que o BAB pode ocorrer de forma espontnea, incentivada e recompensada ou produzida eletronicamente.
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De acordo com Buttle (1998), fazem parte das caractersticas da comunicao BAB: A) Favorabilidade: caracterizada como um carter positivo ou negativo assumido pelos comentrios do comportamento de BAB; B) Foco: ligado aos sujeitos envolvidos no processo; C) Tempo: pode ser anterior ao ato de consumo; neste caso, na perspectiva do receptor ou posterior ao consumo, visto pela perspectiva do emissor. D) Solicitao: parte-se do pressuposto de que, quando a informao solicitada, o receptor opta por buscar opinies de um lder de opinio ou influenciador. E) Interveno: o BAB pode sofrer interveno da organizao para seu incremento no nvel individual ou organizacional. 4 SATISFAO Para Churchill; Surprenent (1982), a satisfao um resultado de comercializao da atividade de marketing e serve para relacionar processos que culminam em compra, consumo, e fenmenos ps compra como a mudana da atitude, repetio de compra e lealdade de marca. A definio esta centrada no prprio conceito de marketing, em que lucros so tambm gerados por meio do atendimento das necessidades e da satisfao do consumidor. Segundo Oliver (1980), o conceito de satisfao est relacionado com o fato de que o consumo responsvel por preencher alguma necessidade ou desejo do consumidor. Trata-se da avaliao de uma caracterstica de um produto ou de um servio, ou o prprio produto ou servio, indicando que com eles se atinge um determinado nvel de prazer proporcionado pelo seu consumo. Nessa perspectiva, a satisfao vista como um estado psicolgico das expectativas do consumidor em relao ao desempenho do produto ou servio. Assim, a satisfao na literatura , em grande parte, interpretada pela perspectiva da desconfirmao de expectativas, ou seja, os consumidores ficam satisfeitos quando os resultados superam suas expectativas e insatisfeitos quando os resultados so inferiores s suas expectativas. 5 METODOLOGIA O estudo foi dividido em duas etapas: uma fase exploratria e outra descritiva (MALHOTRA, 2001). A primeira teve por objetivo uma reviso bibliogrfica relativa ao conceito de BAB e a segunda correspondeu sua mensurao com base na perspectiva do consumidor, levando-se em considerao o contexto hoteleiro. A etapa exploratria desenvolveu-se com foco na compreenso do objeto a ser estudado: a comunicao BAB. De acordo com Malhotra (2001) este tipo de pesquisa visa proporcionar ao pesquisador, aprofundamento no conhecimento do tema que esta sendo trabalhado. A etapa descritiva foi conduzida atravs de uma abordagem quantitativa, que segundo Malhotra (2001) corresponde a um tipo de pesquisa caracterizado pela quantificao na coleta e no tratamento das informaes, utilizando tcnicas estatsticas, considerando a necessidade de medida e representatividade. Para Hair et al. (2009), a elaborao do questionrio corresponde a uma fase importante da pesquisa, sendo uma fase de organizao de um conjunto de perguntas que sero posteriormente respondidas pelo pblico-alvo da pesquisa. As questes utilizaram escala do tipo Likert de 7 pontos. A coleta de dados foi feita durante o perodo de 25 a 29 de janeiro de 2010, das 08h00min as 20h00min, abordando-se os clientes, no momento de seu checkout na recepo do hotel, foram aplicados 350 questionrios, sendo que destes, 330 foram considerados vlidos, j que existiram questionrios no preenchidos completamente. Os questionrios foram tabulados, utilizando-se o software estatstico de pesquisa SPSS.
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6 APRESENTAAO DOS RESULTADOS 6.1 Caracterizao da Amostra Cinco questes do questionrio foram utilizadas para avaliar o perfil da amostra (dados sociodemogrficos). Com base nos resultados pode se caracterizar a amostra em relao idade, gnero, estado civil, renda mdia familiar e primeira hospedagem. Cabe ressaltar que estas questes foram utilizadas apenas para controle da amostra, no tendo sido utilizadas para as anlises. A amostra foi constituda pela maioria de homens que tem idade entre 30 e 35 anos (33.6%) e homens acima de 35 anos (48%). Em relao ao gnero, a amostra foi composta, em sua maioria, por homens (64%), o que fortalece que o turismo de negcios em Goinia mais frequentemente realizado por pessoas do sexo masculino. De acordo com o estado civil a grande maioria do pblico que frequenta o hotel casado (60,4%) e possui renda mensal familiar superior a R$ 4.000,00 (38,7%), seguido pela faixa de renda R$ 3.000,00 at 4.000,00 (34,8%). Em relao primeira hospedagem, os dados mostraram que, a grande maioria do pblico frequentador do hotel j hospedeiro, ou seja, j estiveram no hotel mais de uma vez (87,4%), o que reflete a preocupao do local em manter a fidelizao dos clientes. 6.2 Anlise Descritiva dos Construtos Tabela 1 - Anlise descritiva do construto satisfao. Satisfao: variveis do construto
V1 Honestidade do servio prestado deste hotel V2 tica na prtica dos negcios deste hotel V3 Credibilidade deste hotel V4 Aparncia deste hotel V5 Qualidade do servio prestado deste hotel V6 Tratamento que recebo dos funcionrios deste hotel V7 Administrao deste hotel V8 Prestatividade dos recepcionistas deste hotel V9 Qualidade global deste hotel V10 Resoluo de pequenos problemas pelos funcionrios deste hotel
Fonte: Dados de pesquisa.
Mdia
5,617284 5,604294 5,58104 5,57362 5,54908 5,544343 5,519878 5,506098 5,452888 5,350769
Desvio padro
1,248151 1,357131 1,242121 1,325152 1,307815 1,270554 1,304214 1,276379 1,25177 1,334613
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Considerando-se uma escala de sete pontos, temos que todos os itens do construto satisfao apresentaram valores mdios acima de cinco pontos, o que representa bons ndices das variveis analisadas para esse construto. Isso demonstra que a satisfao dos clientes em relao honestidade, tica, credibilidade, aparncia, tratamento dos funcionrios, administrao, prestatividade dos recepcionistas, qualidade global do hotel e resoluo de pequenos problemas por parte dos funcionrios, foram muito bem avaliados. A mdia mais alta para o construto satisfao ficou com a varivel V1 que representa a honestidade do servio prestado pelo hotel, enquanto que a mdia mais baixa foi a varivel V10 que representa resoluo de pequenos problemas por parte dos funcionrios do hotel. Considerando-se o construto BAB temos que a maior mdia ficou com a varivel V11 (disse coisas positivas sobre o hotel para terceiros) e a menor mdia ficou com a varivel V16 (recomendou o hotel para membros de sua famlia), conforme ilustrado na tabela 2. Isso implica dizer, que as pessoas tm uma tendncia de recomendao maior para terceiros, do que para familiares. De forma geral, pode-se dizer que, existe um bom nvel de satisfao e comportamento BAB, com mdias superiores ao ponto intermedirio da escala, apresentando todos os dois construtos analisados, mdias superiores a quatro. O desvio padro alto expressa a disperso dos dados em torno da mdia, evidenciando que as respostas esto dispersas nos sete pontos da tabela.
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7 CONCLUSES A imagem da organizao est diretamente relacionada percepo e experincia que vivenciada pelo cliente em relao aos seus produtos ou servios. Prestar um atendimento de qualidade, com prestatividade, clareza e transparncia nos negcios, reflete em como o cliente vai perceber determinada organizao e em como ele vai transmitir informaes dela aos outros. Assim, percebe-se que apenas o valor monetrio no mais o elemento determinante de uma compra ou servio. Outras questes relacionadas ao valor agregado passam a ser trabalhadas, como elementos diferenciadores. O desenvolvimento desse trabalho contribui para a teoria do comportamento BAB em servios, avaliando o impacto que algumas variveis apresentam neste comportamento. A importncia que os servios vm recebendo no contexto atual e seu crescimento considervel demonstra a forte tendncia de se dirigir estudos a essa rea. Para o contexto terico, fica o fortalecimento, de que o comportamento BAB positivo forte, quando alguns requisitos essenciais, so bem trabalhados na organizao. Dessa forma, esse estudo contribui para a gesto da comunicao, por trabalhar com uma questo central: um tipo de comunicao no controlada e que influencia consumidores a adquirir, muitas vezes servios ou produtos que so recomendados por outras pessoas. Por se caracterizar como uma fonte de informao no onerosa para empresa e mais segura ou confivel para o cliente, o comportamento BAB vem adquirindo, ao longo do tempo, ateno especial por parte de pesquisadores. Os resultados da pesquisa apresentados em relao ao comportamento BAB reforam indicaes, hora j discutidas, que podem indicar melhores caminhos para que gestores das organizaes fortaleam seu relacionamento com os clientes, buscando, tambm, sua fidelizao. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ARNDT, J. Role of product related conversations in the diffusion of a new product. Journal of Marketing Research, v. 4, p. 291-295, Aug. 1967. BANSAL, H.S.; VOYER, P. A. Word-of-mouth processes within a services purchase decision context. Journal of Service Research, v. 3, n. 2, p. 166-177, 2000. BEARDEN, W. O.; TEEL, J. E. Selected determinants of consumer satisfaction and complaint reports. Journal of Marketing Research, v. 20, n. 1, p. 21-28, 1983. BERRY, L. L. Servios de satisfao mxima: Guia prtico de ao. In: Bazn Tecnologia e Lingustica (Trad.). Rio de Janeiro. Campus, 1996. BROWN, T. J.; BARRY, T. E.; DACIN, P. A. Spreading the word: investigating antecedents of consumers positive word-of-mouth intentions and behaviors in a retailing context. Journal of the Academy of Marketing Science, v. 33, p. 123-138, 2005. BUTTLE, F. A. Word of mouth: understanding and managing referral marketing. Journal of Strategic Marketing, n.6, p. 241-254, 1998. CHURCHILL, G. A.; SURPRENANT, C. An ivestigation into the determinants of customer satisfaction. Journal of Marketing Research, v. 29, p. 491-504, 1982. DAY, G. S. Attitude change, media and word of mouth. Journal Advertising Research, v. 11, n.6, December, 1971.
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Resumo Este artigo pretende abordar as denominadas redes sociais/mdias sociais, com um destaque para o Twitter. Em um estudo investigativo inicial, so apresentados conceitos como interao, atores sociais/consumidores, a publicidade no twitter. Palavras-chave: publicidade, redes sociais, mdias sociais, twitter. Abstract This article aims to address the so-called social networking / social media, with an emphasis on Twitter. In an initial investigative study presents concepts such as interaction, social actors / consumers, advertising on twitter. Keywords: advertising, social networking, social media, twitter 1 INTRODUO Este artigo configura-se como uma reviso de conceitos das incipientes e interessantes pesquisas e bibliografia sobre redes sociais, com o enfoque no Twitter, como objeto de estudo pela pesquisadora3. Mas, para tanto, importante contextualizar conceitos como redes sociais, interao, pertencimento, conexo, relacionamento, dentre outros termos que, no ambiente digital, so bastante significativos para se envolver nesse processo. As novas tecnologias da comunicao propiciaram, no sculo XXI, uma mudana na percepo do conceito de redes sociais. Segundo Recuero (2009, p.36), com a Internet, a interao mediada pelo computador se estabelece como geradora e mantenedora de relaes complexas e de tipos de valores que constroem e mantm essas redes. A conexo um fator essencial na interao estabelecida entre os atores e suas relaes (RECUERO, 2009, p.69) e culmina nos processos comunicativos, pois as trocas sociais dependem, essencialmente, das trocas comunicativas4. Essa conexo mediada pelo computador ressignifica as fronteiras da comunicao ao intensificar a troca de mensagens, em que esta troca refora o sentimento de pertencimento entre os atores, como tambm pontua Vaz (2010, p.106), pois conflui na produo e na reproduo de contedos (os mais diversos), possibilitadas pelas diversas ferramentas no ciberespao. O pertencimento supracitado fortalece o relacionamento com uma empresa, em que a mesma busca a personalizao da comunicao, dos produtos, dos servios e busca criar um lao emocional com consumidores de modo que estes escolham sua empresa pelo corao, no pelo produto ou pelo preo, com uma mudana substancial nos 4Ps (VAZ, 2010, p.67).
1 Trabalho apresentado na V FEICOM: Ressignificar as fronteiras da comunicao e informao. De 08 a 12 de novembro de 2010, em Goinia GO. 2 Mestre em Cultura Visual, Professora do Curso de Comunicao Social Habilitao em Publicidade e Propaganda da Universidade Federal de Gois. E-mail: [email protected]. 3 O interesse da pesquisa desse tema iniciou-se ao se observar a recorrncia das empresas terem um perfil nessa rede/mdia social o Twitter. Foi criado um perfil pela prpria pesquisadora (em agosto de 2009), para seguir as instituies que, de alguma forma, esta conhece e/ou admira, e tambm as marcas com as quais se identifica entre vrios segmentos - o perfil criado utilizado, prioritria e inicialmente, para acompanhar o que as empresas postam ou como o utilizam para a publicidade e dar os retweets (postar novamente, nesse perfil, principalmente temas que envolvam redes sociais quase uma metalinguagem digital). Nesse perfil, no se seguem pessoas, perfis pessoais, uma escolha para o estudo. Pretende-se ampliar esse estudo, posteriormente, com a anlise de cases. 4 Ibidem, p. 31.
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De acordo com keller e Kotler (2005, apud PASTORE, 2008, p. 108), no sculo vigente, h uma reconfigurao do marketing clssico que enfoca: produto, pontode-venda, promoo e preo pela tica do mercado para um marketing holstico que privilegia: pessoas, processos, programas e performance. H a mudana de percepo, a partir do comportamento do consumidor, de um novo consumidor, que vem impondo seu modo de pensar, sentir, agir, viver. Nesse momento atual, ento, implica que entender relacionamento, com esse novo consumidor, significa: entender redes sociais. por meio delas que uma empresa consegue lidar com grande quantidade de informaes sobre pessoas e hbitos. As redes sociais so o melhor CRM que surgiu nos ltimos tempos, devido sua possibilidade de atualizao colaborativa e autossegmentao. (VAZ, 2010, p.106). Entretanto, essencial observar como esto sendo construdos esses relacionamentos, pois conforme dados da Deloitte5 (2010, p.5), em relao reputao das empresas, esta "passa a ser definida pelas aes das pessoas, dos clientes e de outros influenciadores online por meio dos fruns de discusso, blogs, sites como Orkut, aplicativos como Twitter e outros canais. O controle dessa reputao foge ao controle de suas lideranas, impactando consideravelmente as organizaes, de forma positiva ou negativa, ao se divulgarem boas e ms notcias sobre produtos, marcas e servios. Com essa percepo crtica, a relao da publicidade (com suas aes e/ou campanhas publicitrias que tm uma propenso a atingir um maior pblico) com as redes sociais, precisa ser construda da melhor forma para que contedos sejam promotores de uma interao mais intensa e/ou verdadeira entre os atores sociais e as empresas. 2 PUBLICIDADE, INTERAO, REDES SOCIAIS, TWITTER A web 2.0 (denominao atual da rede, que conecta pessoas geradoras de contedos diversos, alm de simplesmente conectar computadores) provocou um desenvolvimento espantoso das mdias sociais no mundo, e uma percepo diferenciada da prpria publicidade. Como corrobora Vaz (2010, p.46): na internet, a propaganda d lugar publicidade6, o marketing de interrupo d lugar ao marketing de relacionamento e de permisso, a forma d lugar ao contedo (...). A empresa cede lugar ao consumidor. Pesquisas, como Mdias Sociais nas Empresas, desenvolvida pela Deloitte (2010, p.3), tambm so importantes para redimensionar as mdias sociais como uma plataforma de relacionamento, como forma de aproximao com seu pblico consumidor, no as utilizando somente como um canal de publicidade. H uma interao acontecendo de forma inegvel, pois os consumidores/atores sociais que influenciam o qu pensar, o qu agir; ao se engajarem nas aes publicitrias na web, aos estmulos promocionais desencadeados pelos prmios, por exemplo, participam da sucessiva dinmica das redes sociais, em que essas aes so aprovadas pela maioria desses consumidores, como possvel se observar na figura1:
5 Deloitte uma associao estabelecida na Sua, mas atua no Brasil desde 1911. A pesquisa Mdias Sociais nas Empresas foi desenvolvida por essa instituio entre os meses de fevereiro e maro de 2010. Os dados dessa pesquisa esto disponveis em: http://www.deloitte.com/assets/DcomBrazil/Local%20Assets/Documents/Estudos%20e%20pesquisas/Apresentacao_MidiasSociais.pdf. Acesso em 29 de outubro de 2010. 6 Nesse artigo, entende-se por propaganda a divulgao patrocinada de um produto, marca ou empresa, ou seja, um anncio pago, por exemplo. Publicidade seria o ato de tornar pblico fazer com que seu produto, marca ou empresa seja divulgado de maneira espontnea no mercado. Vaz (2010, p.46).
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Figura 1. A maioria dos consumidores aprova aes nas Redes Sociais Fonte: IBOPE Nielsen online.
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Analisando os dados7 apresentados pelo IBOPE Nielsen online, na figura anterior, possvel identificar que quase 80% dos 8561 entrevistados, em 11 regies metropolitanas brasileiras, tm um nvel de desconforto baixo sobre o fato de as empresas usarem as redes para divulgarem seus produtos e servios, como tambm de as empresas usarem as redes para se comunicarem com seus consumidores.Vaz (2010, p.56) pontua que no novo mundo digital, o institucional e o promocional se misturam. A campanha de lanamento do novo produto influencia na comunicao institucional da empresa e vice-versa. Se h uma aceitabilidade, por parte de uma amostra significativa em uma pesquisa como a descrita anteriormente, as barreiras entre as aes da empresa e sua prpria imagem institucional, podem ser consideradas inexistentes. Concomitante ao descrito, as estratgias desenvolvidas, especificamente, pelo marketing digital, que envolve o marketing de experincia (a forma experiencial de promover o contato com uma marca), o marketing de relacionamento (focado na gesto do relacionamento com o cliente; transpe com as mdias sociais, para uma gesto de capital social), o social media marketing ou marketing de mdias sociais (em que as mensagens de uma marca pela web so repassadas pela recomendao de outros, num engajamento mpar dos atores sociais), tambm so importantes para a divulgao, para as interaes e as promoes entre os consumidores-seguidores das diversas marcas e instituies. Ser seguidor nas mdias sociais, refere-se, principalmente, a uma caracterstica do microblogging Twitter, que considerado por alguns autores como: rede social/ site de criao de microblogs (PENENBERG, 2010, p.212); como um aplicativo/microblog (DELOITTE, 2010); como mdia social (TELLES, 2010); como rede social na Internet (RECUERO, 2009) ou mesmo considerado como uma nova categoria de comunicao, no como um simples blog com 140 caracteres por post (VAZ, 2010, p.126), tem transformado a interao dos consumidores com as marcas, e com a prpria publicidade. O Twitter8, independente de sua denominao (pois tambm classificado como ferramenta social), foi fundado em 2006, e vem apresentando uma maior popularidade -desde 2009 -, principalmente, no Brasil, alavancada pelo uso de redes sociais como Orkut, e pelo prprio entendimento de as empresas perceberem que, hoje, o consumidor se configura como meio - parafraseando o autor renomado Marshall Mcluhan -, ele expressa suas opinies, dissemina contedo na rede. No Orkut9, as pessoas criam seus perfis, tem amigos, participam de comunidades; no Facebook, curtem, por exemplo, o que um amigo posta; no Twitter, em 140 caracteres, enviam mensagens tweets, e so instigadas a responderem sobre o que est acontecendo10 (que, nesse sentido, pode ser considerado um microblog, por muitos), em uma interao constante de infinitos interesses. Estender isso publicidade, a uma campanha publicitria em redes sociais deve ter tambm o intuito de atingir mais comentrios no blog, mais retweets ou seguidores no Twitter, fs no Facebook ou amigos no Orkut. O acesso brasileiro ao Twitter tem sido ampliado, como demonstra na figura 2, disputando a segunda posio com o Facebook (com as devidas ressalvas, pois a amostra reflete a opinio de onze regies metropolitanas brasileiras, apesar de bastante significativas).
7 Dados sobre a pesquisa Redes Sociais POP Estudo Exclusivo sobre o Fenmeno das Redes Sociais no Brasil, realizada entre os dias 02 e 10 de setembro de 2010, pelo IBOPE Mdia / IBOPE Nielsen online, esto disponveis em: http://www.ibope.com.br/maximidia2010/download/Redes_Sociais.pdf. Acesso em 01/11/2010. 8 Site: www.twitter.com. Seus fundadores: Evan Williams, Jack Dorsey e Biz Stone. 9 O Orkut uma rede social, fundado em 2004, e que segundo a pesquisa Redes Sociais POP do IBOPE Mdia, j citada anteriormente, e conforme figura 2, a rede mais acessada do Brasil, entre 91% dos 8561 entrevistados. 10 O Twitter modificou sua pergunta inicial: What are you doing? (O que voc est fazendo?) para Whats happenning? (O que est acontecendo?), alm do layout do site, nesses dois ltimos anos, proporcionando mais interatividade e acessibilidade a recursos como: vdeos disponibilizados no Youtube, imagens, dentre outros.
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Pode-se atestar tambm que os perfis do Twitter mais preferidos so de amigos e pessoas da famlia (74%, o que poderia consider-lo como rede social), com uma porcentagem significativa, pois esses influenciadores vo interferir em experincias anteriores com as marcas, produtos e servios e experincias posteriores ao exporem suas opinies. Por outro lado, os perfis menos acessados so de empresas/produtos, o que deflagra a necessidade de as empresas/marcas serem convidadas a fazer parte do grupo de amigos desses consumidores. Contudo, interessante perceber tambm que, segundo, uma pesquisa Nielsen Global Online Consumer Survey -, de abril de 2009, mostrou que o grau de confiana em publicidade de 90% quando vem de pessoas conhecidas. Opinies postadas on-line a partir de outros consumidores tem grau de confiana de 70%. Matrias de jornal tem grau de confiana de 69%. (VAZ, 2010, p.63). Instaura-se, nesse sentido, o entendimento de que, no twitter, e nas outras redes sociais, para se decidir o que melhor seja como mensagem, seja como produtos ou servios, h uma curadoria coletiva, conjuntamente com o tempo em que os atores sociais interagem com determinado anncio. Penenberg (2010, p.197) complementa que hoje a palavra da moda engajamento. D s pessoas uma razo para interagirem com anncios e promoes na televiso ou clicar ou baix-los via Web. A Motorola (empresa de telefonia mvel) apostou em twitteiros famosos para divulgar o conceito da interatividade, proporcionado pelo servio Motoblur, de seus celulares com plataforma Android. A ao criada pela agncia Ogilvy, ocorreu dos dias 26 a 03 de setembro de 2010, em que os tweets postados por usurios como @OCriador, @HugoGloss e @bomdiaporque tinham a identificao texto enviado a partir do meu Motoblur, aparelho que aparelho que lhes foi oferecido pela fabricante. 11 No era preciso fazer referncia sobre o produto, s essa indicao suscitou essa percepo explcita. O desafio instigante, pois as empresas devem entender que nem sempre sero os meios mais lucrativos que repassaro as mensagens at o consumidor, mas os mais eficientes, adequados a nova economia e, principalmente, a esse novo consumidor (VAZ, 2010, p.53). Nesse contexto, a publicidade tende a se sobressair, como uma divulgao mais espontnea de um produto ou servio. 2.1 Publicidade no Twitter A disposio de as empresas estarem em redes sociais, no ambiente virtual, com sites institucionais, seja utilizando o e-commerce (relaes comerciais online) - o e-mail marketing, provocou mudanas significativas no relacionamento entre as marcas e os consumidores, pois, como explicita Marcelo Coutinho (DELFINI, 2009, p.33): uma marca , antes de tudo, informao e a moeda que circula nas redes sociais digitais informao, seja ela no formato de contedo, msica, aplicativos ou games. Os consumidores no esto nesse tipo de mdia para se relacionar com marcas, esto para se relacionar com pessoas com interesses em comum.
11 Motorola aposta no Twitter. Case disponvel em http://ccsp.com.br/ultimas/noticia.php?id=47608, publicado em 16/08/2010. Acesso em 25/08/2010.
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Conquistar o pblico-alvo com campanhas que permitam uma interao [a linguagem dos ciberanncios (banners, full banners, entre outros) hbrida, por conjugar justamente a possibilidade da interatividade, por imagem, som e movimento no ambiente digital] pertinente nas redes/mdias sociais, para envolver os atores sociais. Em uma campanha publicitria nova, por exemplo, pode-se deixar esses atores fazerem parte de um processo de deciso como a criao de um slogan, deix-los assumirem o controle, de alguma forma. A empresa, consequentemente, deve usar as mdias sociais para gerar valores e servios com esse envolvimento. Mesmo com todas as inmeras possibilidades, ainda preciso que a publicidade esteja mais presente nas redes sociais, apesar de como expe Marcelo Coutinho (DELFINI, 2009, p.36): muito difcil prever qualquer tipo de transformao porque o investimento publicitrio na internet corresponde, de acordo com dados do Nielsen Online, a apenas 4% do oramento total reservado publicidade. Mas esse nmero tende a crescer com o uso dos prommoted tweets (tweets pagos) que so anunciados nos trending topics (tpicos mais debatidos em um determinado momento), como formas sutis de se inserir sem parecer um anncio. 3 CONSIDERAES FINAIS Partindo da premissa de que o consumidor ator social que redefine o cenrio mercadolgico, a publicidade explora o sentimento de pertencimento das redes sociais na Internet, e, vende, segundo Vaz (2010, 107), estilo de vida em vez de produtos, para abarcar os interesses parecidos e o compartilhamento de informaes entre os consumidores. Em contrapartida, preciso que a publicidade seja pensada de forma responsvel por parte das empresas, que se respeitem os perfis de seus clientes. A publicidade tende a expandir-se para o dilogo e relacionamento contnuos. A interao e a publicidade no Twitter tambm precisam alar voos mais altos (aluso ao passarinho, smbolo dessa rede/mdia social) e voos mais ousados, por mais que, s vezes, meninos malvados queiram usar estilingues (como crticas reverenciadas prpria inutilidade dessa rede social). Ento, que sigam os bons! REFERNCIAS DELFINI, L. Mtricas de Mdias Sociais. Localweb. Rio de Janeiro, Ed.19. p.28 a 37, ez.2009. Disponvel em http://www.locaweb.com.br/downloads/Locaweb19.pdf. Acesso em 3.10.010. DELOITTE TOUCHE TOHMATSU. Mdias Sociais nas Empresas. 2010. Disponvel em: http://www.deloitte.com/assets/DcomBrazil/Local%20Assets/Documents/ Estudos%20e%20pesquisas/Apresentacao_MidiasSociais.pdf. Acesso em 30/10/2010. PASTORE, R. O novo marketing no varejo: lojas que reagem com os clientes!.IN: GRACIOSO, F (org). As novas arenas da comunicao com o mercado. So Paulo: Atlas, 2008, p.99-113. PENENBERG, A. Viral loop: como o crescimento viral transformou o Youtube, o Facebook e Twitter em gigantes e converteu audincia em receita. Trad.Edson Furmankiewicz. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. RECUERO, R. Redes sociais na internet. Porto Alegre: Sulina, 2009. TELLES, A. A revoluo das mdias sociais: estratgias de marketing digital para voc e sua empresa terem sucesso nas mdias sociais. So Paulo: Ed. M.Books, 2010. VAZ, Conrado Adolpho. Google Marketing: o guia definitivo de marketing digital. So Paulo: NovaTec Editora, 2010. SITE CONSULTADO: www.ccsp.com.br. Acesso em 25/08/2010.
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Parte 3: Tecnologias e Visualidades Corporativas | : A nova onda da Era da Informao e o impacto na Comunicao entre empresas e pblicos de interesse: o Marketing 3.0 e a fora da responsabilidade social corporativa1 Ktia Raquel Bonilha KELLER2 Universidade Federal de Gois UFG
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RESUMO O presente estudo aborda o Marketing 3.0, entendido como nova filosofia de relacionamento com pblicos de interesse transformados pela globalizao, pela ascenso do mundo digital e pelos impactos ambientais. Na atualidade, os discursos da Propaganda e das Relaes Pblicas ambas ferramentas de Marketing so construdos para novos destinatrios, ativos, interativos, criativos, bem informados e exigentes. Conquistar a lealdade deles por meio da comunicao da integridade e autenticidade das marcas, bem como de sua viso de sustentabilidade, rdua tarefa de um Marketing focado em promover e demonstrar esforos das organizaes em fazer a diferena na construo de um mundo mais justo e melhor. Parte deste trabalho foi dedicada aplicao de conceitos fundamentais desenvolvidos por Philip Kotler no cenrio brasileiro, e anlise da imagem construda pelo Grupo Boticrio por intermdio de seu site, uma das principais ferramentas de relacionamento entre a empresa e seus pblicos. PALAVRAS-CHAVE Marketing 3.0; Comunicao; pblicos; imagem; responsabilidade social. ABSTRACT The present study examines Marketing 3.0 which is understood as a new philosophy regarding the relationship with target audiences changed by globalization, the rising of digital world and environmental impact. Nowadays, what Advertising and Public Relations - both Marketing tools - preach, is aimed at new active, interactive, creative, well informed and demanding recipients. Winning their loyalty by communicating the brand's integrity and authenticity as well as sustainability vision is a hard task inherent to marketing focus on promoting and demonstrating the efforts of organizations to make a difference in building a better and just world. Part of this work was dealt with application of fundamental concepts developed by Philip Kotler in the Brazilian scenario and the analysis of the image built by the Boticario Group through their website, one of the main relationship tools between the company and its target audiences. KEY WORDS Marketing 3.0, communication, target audiences, image, social responsibility. INTRODUO A partir da segunda metade da dcada de 2000, temos acompanhado uma srie de crises e transformaes dos mercados financeiros ao redor do mundo, como, por exemplo, a bolha do setor imobilirio dos Estados Unidos, bem como catstrofes, epidemias, graves danos ambientais e situaes inimaginveis, como a ascenso da China como superpotncia no-democrtica. Sentimos os efeitos de um mundo sem fronteiras, no qual o termo globalizao, para pases menos privilegiados, encobre, muitas vezes, seu verdadeiro sentido de colonizao. A globalizao, na verdade, fortalece os fortes. O panorama macroambiental est mudando as pessoas, consumidoras de marcas, produtos e servios. Para um novo relacionamento com um pblico transformado, tornou-se imperativo, ao Marketing praticado pelas organizaes e s suas estratgias comunicacionais, evoluir e passar a considerar a dimenso espiritual desses consumidores. Surge, ento, o que Kotler (2010) chama de Era do Marketing 3.0.
1 Trabalho apresentado na V Feicom: ressignificando as fronteiras da comunicao e informao. De 9 a 11 de novembro de 2010, em Goinia GO. 2 Professora adjunta I da Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia/Facomb, da Universidade Federal de Gois/UFG, curso de Publicidade e Propaganda. Doutora em Letras, mestre em Comunicao e Mercado; graduada em Comunicao Social e em Direito. E-mail: [email protected]
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Parte 3: Tecnologias e Visualidades Corporativas | : A nova onda da Era da Informao e o impacto na Comunicao entre empresas e pblicos de interesse: o Marketing 3.0 e a fora da responsabilidade social corporativa1 Ktia Raquel Bonilha KELLER2 Universidade Federal de Gois UFG
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Vamos voltar um pouco no tempo para melhor compreenso dos fatos e tambm do impacto da ascenso do mundo digital com fluxo incomensurvel de informaes circulantes na Web nas estratgias da Comunicao das organizaes. Terminada a II Grande Guerra, os Estados Unidos preocuparam-se com o reaquecimento de sua economia e, desse modo, comearam a buscar uma frmula para solucionar essa questo. A pesquisadora ambiental Leonard, em seu didtico filme The story of stuff3, explica que o caminho foi, ento, apontado pelo analista de varejo Victor Lebow e resumia-se, basicamente, em ressignificar o consumo, transformando-o em meio de vida e de realizao humana. Para desencadear um processo de consumo ininterrupto, os sentidos de obsolescncia real e percebida foram amplamente trabalhados. Isso significou projetar, a partir de ento, objetos para um descarte relativamente rpido, seja pela pouca durabilidade, seja pela sensao de envelhecimento que nos causada, principalmente pelos discursos veiculados pela mdia. Tudo se torna ultrapassado em pouco tempo, fazendo com que todos desejem o novo. Para alimentar a frmula de Lebow, a produo tambm passou a acontecer em um ritmo acelerado. As matrias-primas retiradas, muitas vezes, de pases carentes comeam a ser transformadas em bens de consumo com tempo de vida predeterminado, isto , voltados a servir os consumidores durante um prazo relativamente curto para, depois, entrar em um processo de desgaste (real ou de imagem) e consequente descarte. Produzir bens, consumi-los e jog-los fora num ciclo alienante implicam processos nocivos ao planeta, finito em recursos. Confeccionar bens com baixo custo geralmente representa a explorao de mo de obra disponvel em pases nos quais grandes faixas da populao sobrevivem com menos de US$ 1/dia. Essas faixas, inclusive, produzem objetos aos quais jamais tero acesso. A linearidade dessa cadeia, exposta por Leonard em seu filme, composta por extrao nociva, produo de bens e poluio do meio ambiente em diversos nveis, comercializao, uso e descarte (tambm s custas do sacrifcio da natureza), mostrou-se insustentvel. Comearam a emergir presso social e uma urgncia na adoo de posturas empresariais engajadas com o bem-estar das pessoas e do planeta. Afinal, quem usufrui deve cuidar e preservar. Com a globalizao instalada, os avanos tecnolgicos crescentes, o barateamento dos celulares e a popularizao, mesmo que gradual em pases em desenvolvimento, da Internet, os indivduos passaram a ter o mundo na ponta dos dedos. Atualmente, na frente de um computador conectado, buscamos todo tipo de informaes, inclusive, relacionadas a compras on-line. As redes sociais formadas passam a ter maior credibilidade do que a Comunicao institucionalizada das empresas, j que seriam supostamente mais imparciais. Ao cidado, possvel pesquisar, comparar, interagir com outros consumidores, formar uma opinio, comprar pela Web, disseminar suas impresses pessoais em relao s marcas e, em alguns casos, at desempenhar um papel de cocriador de produtos como aconteceu, j h cerca de duas dcadas inclusive, com o Linux, cujo inventor abriu sua ideia sobre um novo sistema operacional para outros internautas, que puderam oferecer suas contribuies espontaneamente.
3 THE story of stuff. Escrito por Annie Leonard. Direo de Louis Fox. EUA: Free Range Studios, 2007. Site (21 min.): son., color. Legendado. Port. Disponvel em: <www.storyofstuff.com/>. Acesso em: 29 set. 2010.
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Na Era da Informao4, cujos capitais so mentes, informao e tecnologia, vemos consumidores sendo redefinidos como neoconsumidores5 e como prosumers (isto , produtores-consumidores, motivados a ofertar ideias s empresas, seja para a criao ou inovao de um produto, seja para a sua divulgao), empresas sendo chamadas efetiva responsabilidade social para sobreviver, e a Comunicao sendo transformada dentro do universo de um novo Marketing, o 3.0, do qual ferramenta. Diante da ascenso do mundo digital, pergunta-se, por exemplo, quais sero os rumos da Propaganda, pois o prprio Kotler (2010) afirma que, com as transformaes atuais, a publicidade mais eficaz ser o boca a boca, a conversa circulante nas comunidades virtuais. De acordo com estudo6, realizado em 17 pases por solicitao da fabricante de softwares McAfee, mais de 90% das empresas do Brasil, da Espanha e ndia adotaram tecnologias da Web 2.0, que incluem redes sociais como o Facebook e o Twitter. No Brasil, 58% das organizaes afirmam que seus consumidores exigem tais aplicativos. Alm disso, nove em cada dez empresas afirmam lucrar com as ferramentas, apesar de haver preocupao com os riscos de segurana e golpes na Internet por meio dos aplicativos. Surge, nesse contexto geral, uma preocupao crescente dos clientes com a imagem das empresas e com o que elas defendem. A imagem sustentvel resulta da ampla comunicao da misso organizacional aos consumidores; dos valores a funcionrios, fornecedores, distribuidores e revendedores da companhia, e da viso aos acionistas. Podemos conceituar misso como o sangue que corre nas veias de uma empresa, a sua verdadeira vocao ou o seu DNA, segundo Kotler (2010). Os valores seriam suas crenas, os norteadores do seu estar no mundo. A viso, por sua vez, seria a projeo de futuro que a empresa faz para si, isto , como ela planeja estar daqui a um determinado espao de tempo. Diante de consumidores mais cautelosos e descrentes (principalmente, os dos mercados maduros, que enfrentaram crises financeiras), de pblicos menos expostos Propaganda, de cidados muito ativos e conectados entre si cujas decises so baseadas em ampla gama de informaes , o Marketing tem, entre tantos desafios, comunicar as personalidades das empresas e suas propostas autnticas, bem como suas preocupaes com o bem-estar social. Em contrapartida, passa a contar com consumidores dispostos a oferecer um feedback til quando desempenham um papel de relaes pblicas da companhia, por acreditar naquela marca com lealdade; quando interagem com a empresa com sugestes e crticas, ou quando do um passo a mais e oferecem uma contribuio criativa a um produto ou sua publicidade. As empresas, desse modo, para deter vantagem competitiva na contemporaneidade, devem produzir bens que antecipem desejos e coloc-los no mercado a preos competitivos; devem oferecer, ao consumidor, uma experincia benfica em todas as etapas do processo da comunicao ao ps-venda , e concentrar esforos em um relacionamento marca/target que gere lealdade, com foco na dimenso espiritual desse consumidor. Devem, enfim, compartilhar do sonho dos consumidores por um mundo mais justo e melhor, e fazer a diferena nas vidas das pessoas verdadeiramente. A grande fonte de vantagem competitiva , agora, a sustentabilidade.
4 Conforme denominao de Alvim Tofler, que divide a civilizao em ondas na economia, com base nos tipos de capitais impulsionadores do sucesso. 5 Denominao em SOUZA, M. G. de (org). Neoconsumidor - digital, multicanal & global. So Paulo: GS&MD, 2009. 6 Empresas do Brasil lideram no uso de redes sociais para negcios, diz estudo. Site BBC Brasil, 27 set. 2010. Disponvel em: < www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/09/100927_redes_sociais_web20_dg.shtml>. Acesso em: 27 set. 2010.
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Podemos oferecer uma conceituao dessa nova era para o Marketing, em que convergem lucro e responsabilidade corporativa; lealdade de parceiros (empregados, distribuidores, revendedores, fornecedores) e compartilhamento de valores para um discurso nico, capaz de conduzir ao alcance das metas organizacionais. Assim, Marketing 3.0 pode ser entendido como a filosofia de relacionamento transparente e autntico com seres humanos, compreendidos em suas trs dimenses: mente, corao e esprito sendo esta ltima a grande novidade na equao. Esses consumidores, agora humanizados, ao perceberem significaes vitais nas marcas, optam por elas, oferecendo, desse modo, a sustentabilidade ao negcio. Com isso, tal marca torna-se devedora desse seu consumidor, que espera dela contraprestaes que superem peas de fcil reposio ou assistncia tcnica de qualidade: sua expectativa a de que haja efetiva responsabilidade social corporativa. Em artigo para o Portal da Propaganda7, Novais fala sobre o esperado comportamento cidado das empresas atuais: Hoje, quanto maior o porte de uma companhia, mais intenso tende a ser o seu comprometimento com a sustentabilidade. Isso ocorre, principalmente, porque o pblico consumidor de bens e servios est mais exigente quanto ao papel social de seus fornecedores, e tambm, mais atento s boas prticas ambientais. As empresas que no se alinham a esse comportamento de referncia perdem espao no mercado, e tendem a ser cada vez menos atraentes para os potenciais investidores [...] (NOVAIS, 2010). Assim, vemos que, mesmo considerada a realidade brasileira na qual, somente em 2016, a misria ter chance de ser erradicada, enquanto a pobreza absoluta, por sua vez, poder ser reduzida a 4%, conforme dados do Comunicado n 58 do Ipea (Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada)8 , os consumidores j se encontram sensibilizados quanto aos problemas que afligem a humanidade como um todo, principalmente os ambientais. Para que entendamos o sentido dos termos misria e pobreza absoluta, vejamos o que diz Novais, com base no documento do Ipea: O relatrio define como misria, ou pobreza extrema, uma renda mensal per capita de at 25% do salrio mnimo de referncia. A pobreza absoluta a renda per capita mensal de at meio salrio mnimo de referncia (NOVAIS, 2010) Exemplos no faltam para ilustrar a movimentao das organizaes no sentido de se posicionarem como empresas que compartilham dos mesmos sonhos dos consumidores e anseiam por um mundo melhor. Para que se tornem cones, atualmente, precisam ser diferentes para fazerem a diferena. Essa a tnica do Marketing 3.0. A Unilever, por exemplo, lanou, em maio de 2010, o amaciante de roupas Fofo Concentrado, norteada, de acordo com divulgao da empresa, pela sua plataforma de sustentabilidade. O investimento de R$ 19 milhes est voltado gerao da economia domstica j que seu contedo de 500ml rende, pela diluio em gua, os mesmos 2 litros do produto tradicional s consumidoras , e a um menor impacto ambiental. De acordo com matria publicada no Portal da Propaganda9,
7 NOVAIS, I. Responsabilidade socioambiental e competitividade. Site Portal da Propaganda, 4 ago. 2010. Disponvel em: <www.portaldapropaganda.com/marketing/2010/07/0005>. Acesso em: 30 set. 2010. 8 Comunicado n 58. Site Ipea (Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada), 13 jul. 2010. Disponvel em: <www.ipea.gov.br>. Acesso em: 30 set. 2010. 9 CENTENARO, G. Plataforma de sustentabilidade norteia mais um lanamento da Unilever: Fofo Concentrado. Site Portal da Propaganda, 20 mai. 2010. Disponvel em: <www.portaldapropaganda.com/ marketing/2010/05/0008>. Acesso em: 30 set. 2010.
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Parte 3: Tecnologias e Visualidades Corporativas | : A nova onda da Era da Informao e o impacto na Comunicao entre empresas e pblicos de interesse: o Marketing 3.0 e a fora da responsabilidade social corporativa1 Ktia Raquel Bonilha KELLER2 Universidade Federal de Gois UFG
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A migrao do produto tradicional para o concentrado representa 78% de reduo no uso de gua na formulao do produto o equivalente a 30,5 piscinas olmpicas por ano; 37% de reduo do consumo de plstico para a produo da embalagem; e 37% de reduo da quantidade de resduo slido no ps-consumo. No transporte, isso significa 63% de reduo do consumo de papel na caixa de papelo utilizada na locomoo do item; menos 67% de pallets; e 71% de reduo das emisses de CO2 atrelados ao transporte do produto. No ponto de venda, representa uma rentabilidade de 60% nos espaos das gndolas. Para a consumidora, os produtos concentrados de 500 ml, que rendem o mesmo que um amaciante tradicional de 2 litros, custam aproximadamente 20% menos (CENTENARO, 2010). A mesma matria reafirma a boa vontade10 do pblico em relao a marcas engajadas na questo da sustentabilidade: Estudos constantes mostram que consumidores brasileiros esto mais conscientes a respeito do tema sustentabilidade. Uma pesquisa da ESPM revelou que 76% das pessoas das classes A, B e C tm interesse em comprar produtos de uma marca que esteja envolvida em questes ambientais. E uma pesquisa realizada pelo Futuro Sustentvel, conduzida pelas agncias de publicidade Media Contacts, Mobext e Z+, revelou que, no Brasil, os consumidores recomendam enfaticamente aos amigos produtos de empresas com iniciativas sustentveis (CENTENARO, 2010). Esse boca a boca mencionado enfatizado por Kotler (2010) e caracteriza um Marketing horizontal, que pressupe a credibilidade entre indivduos conectados. O lucro das empresas, nesse novo contexto de negcios e Comunicao, resulta da valorizao da sua contribuio para o bem-estar social. So muitas as novidades politicamente corretas. Para divulgar o protetor Nivea Sun FPS 30, a marca utilizou a combinao da luz solar com um espelho para projetar, pela cidade de So Paulo, a recomendao do uso do produto. A criatividade da ao de Propaganda, assinada pela agncia LewLara\TBWA, veio ao encontro da lei municipal da Cidade Limpa aprovada em 1 de janeiro de 2007 , no teve nenhum efeito nocivo no meio ambiente, houve impacto no consumidor pela inovao e seu custo certamente foi baixo para a empresa. Essa ao com o uso da ecomdia, como foi chamada pelos seus criadores, pode ser vista a qualquer momento no YouTube (Nivea Case Espelho11), o que gera constante visibilidade marca e, logicamente, agncia. Outra matria do Portal da Propaganda12 traz os resultados de uma sondagem de mercado realizada pela Associao Brasileira de Marketing & Negcios (ABMN). A pesquisa, focada na identificao dos hbitos de consumo e no comportamento dos jovens paulistanos, teve durao de dois meses e abordou 456 indivduos entre 14 e 25 anos, pertencentes s classes A e B. De acordo com o estudo, A Apple foi a marca que teve maior destaque na pesquisa, j que foi relacionada a design, qualidade, tecnologia, modernidade e inovao pelos jovens. [...] Quando se fala em beleza, a Avon foi a mais lembrada e sua concorrente Natura apareceu como marca smbolo de Natureza [...] (RIBEIRO, 2010).
10 Entendida como predisposio favorvel. 11 Nivea Case Espelho. Disponvel em: <www.youtube.com/watch?v=XfvE53N8Oro>. Acesso em: 30 set. 2010. 12 RIBEIRO, C. Mames, apertem os cintos pra continuar incrivelmente no comando dos voos para jovens. Site Portal da Propaganda, 29 set. 2010. Disponvel em: <www.portaldapropaganda.com/ marketing/2010/09/0002>. Acesso: em 30 set. 2010.
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Parte 3: Tecnologias e Visualidades Corporativas | : A nova onda da Era da Informao e o impacto na Comunicao entre empresas e pblicos de interesse: o Marketing 3.0 e a fora da responsabilidade social corporativa1 Ktia Raquel Bonilha KELLER2 Universidade Federal de Gois UFG
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A Apple, importante registrar, a marca que apresentou o maior percentual de ganho em termos de valor em 2010: 37%. Esse resultado consta do relatrio Best Global Brands, divulgado pela Interbrand, que publica, anualmente, o ranking das cem marcas globais mais valiosas do mundo13. Uma das razes para o sucesso da Apple, de acordo com Kotler (2010), est em sua misso simples a de transformar a maneira como as pessoas desfrutam da tecnologia , que permite um escopo de negcios flexvel. Assim, com suas prticas inovadoras, a empresa revolucionou os setores de informtica (Mac, 1984), msica (iPod, 2001), telefonia (iPhone, 2007) e navegao na Internet (iPad, 2010). Alm disso, tambm produz filmes de animao com a Pixar (2006). Essa caracterstica transformadora uma marca do Marketing 3.0, o qual, destaca Kotler, est relacionado a mudar a maneira como os consumidores fazem as coisas na vida (2010, p. 65). As marcas, ante os novos desafios, devem ter, na sustentabilidade, sua fonte de vantagem competitiva, como j dissemos. Kotler (2010) tambm ensina que as empresas devem apresentar uma combinao harmoniosa entre posicionamento (referente a uma ideia plantada na mente do consumidor, como a de inovao da empresa global de tecnologia 3M) e diferenciao (a prova de que a marca cumpre suas promessas e , portanto, ntegra). Dessa somatria emergir a boa imagem da organizao. Os gestores devero, assim, agir com foco na mente e no esprito do consumidor nos quais residem identidade (ou o conceito de quem a marca verdadeiramente) e integridade respectivamente, que resultam na imagem da marca, inserida nos coraes dos consumidores. Kotler afirma que a ao de compra desejada somente ser desencadeada se as aes dos gestores de Marketing alcanarem mentes e espritos simultaneamente, abrindo caminho para seus coraes. Muitssimo mais poderamos dizer a respeito do Marketing 3.0, mas acreditamos que, para o presente estudo, o bsico j foi abordado. Nossa proposta, agora, a de analisar a imagem institucional transmitida pelo uso estratgico do mundo digital do Grupo do segmento de cosmticos e perfumaria O Boticrio, e seu alinhamento com as tendncias de gesto de Marketing e Comunicao esta entendida como rea de convergncia e integrao dos esforos da Propaganda e das Relaes Pblicas, transformados pela nova onda na Era da Informao. FUNDAMENTAO TERICA O alicerce terico do presente trabalho so os estudos de Philip Kotler, principalmente os mais recentes, relacionados nova gerao de Marketing, denominada 3.0. Procuramos trazer, at aqui, conhecimento bsico suficiente para, agora, realizar uma breve anlise de caso, voltada contextualizao dos conceitos de Kotler no cenrio brasileiro. METODOLOGIA A metodologia aplicada para o desenvolvimento do presente trabalho inclui abordagem qualitativa, com coleta de dados secundrios, baseada em pesquisa bibliogrfica; leitura de livros, documentos e peridicos; pesquisas na Internet e anlise do site dO Boticrio14.
13 As mais valiosas de 2010. Meio&Mensagem, 20 set. 2010, p. 40 14 Site Grupo Boticrio <www.oboticario.com.br>. Acesso em: 23 set. 2010.
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RESULTADOS O site do Grupo Boticrio se interliga a hotsites e blogs para incremento de seu relacionamento com pblicos especficos, tais como jovens, gestantes e mes. Com o mesmo objetivo, faz uso do YouTube para divulgao de vdeos com dicas, e de redes sociais como o Twitter e o Formspring.me. Seu blog Mundo mais belo est focado no tema sustentabilidade. Os discursos encontrados no site so coerentes com os preceitos do Marketing 3.0. Falam em atitudes ticas, transparncia, integridade, respeito com toda a sua rede de relaes, conduo de negcios com base no respeito aos seres humanos e ao meio ambiente, e promoo do bem-estar social. Seu relatrio de sustentabilidade pode ser baixado pelo internauta em verso completa ou resumida, e h uma avaliao sobre o documento disponvel a todos. O Grupo mantm diversos projetos, como o Bioconscincia, e uma Fundao de proteo ambiental. Tambm conta com loja virtual, para oferecer comodidade a clientes. O site divulga os valores do Grupo, dos quais destacamos os de criatividade e de entusiasmo pelos desafios e pelas realizaes, pois despontam, no item Pontos Positivos do Guia Voc S/A-Exame15 de 2010, no qual o programa de captao de ideias lembrado. As notas obtidas na publicao, acima de 77,0, traduzem o bom relacionamento do Grupo com seus funcionrios. O Grupo ainda divulga seu Cdigo de Conduta, em busca, provavelmente, de demonstrao de transparncia. Na rea do site sobre sustentabilidade, O Boticrio elenca seus compromissos, como, por exemplo, com o Pacto Global, da ONU, e a erradicao do trabalho infantil, do Instituto Ethos. Afirma manter Programa de Sustentabilidade para Fornecedores e de Gesto de Responsabilidade Social (para franqueados), com visitaes e avaliaes peridicas. O relacionamento virtual dO Boticrio com seus consumidores inclui, alm dos vrios canais virtuais, monitoramento de satisfao e realizao de pesquisas.
CONCLUSES Em uma anlise mais geral, intrigaram algumas percepes. Primeiramente, apesar dos esforos da empresa para aliar a sua imagem sustentabilidade, sua concorrente, a Natura, despontou como marca smbolo de natureza na pesquisa da ABMN junto a jovens paulistanos, conforme citamos anteriormente. Um outro fato que nos causou certa estranheza foi o de que no h declarao de misso em seu site, o que seria fundamental. Foi possvel encontrar, na rea institucional, uma afirmao sob o ttulo Viso, a qual diz: Conectar as pessoas aos ideais de beleza, sendo a marca preferida, com rentabilidade e crescimento acima do mercado. Ora, como projeo de futuro (isto , como viso), no nos parece adequada, pois teria de falar sobre o que a empresa quer alcanar ser em um determinado espao de tempo, funcionando como um norteador, como j salientamos. No Marketing 3.0 inclusive, enfatizase a viso de sustentabilidade, que implica mostrar, a acionistas, que esforos para a conservao de energia e recursos oferecem maior valor marca, alm de lucratividade e retorno a curto e longo prazos respectivamente.
15 Guia Voc S/A-Exame: 150 melhores empresas para voc trabalhar. So Paulo: Editora Globo. Grupo Boticrio, set. 2010, p. 136.
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Em nossa navegao de pesquisa pelo site, no encontramos a misso do Grupo em nenhuma rea. H a misso da Fundao O Boticrio de Proteo Natureza, mas no a do Grupo. No localizamos nenhuma referncia nem em seu Cdigo de Conduta, nem mesmo em seu Relatrio de Sustentabilidade 2009 , arquivos que podem ser baixados para uma leitura completa, em extenso pdf. Se conectar as pessoas aos ideais de beleza for a misso, erroneamente inserida em Viso, podemos dizer que relativamente vaga e no apresenta, em si, potencial transformador, desejvel no Marketing 3.0, no qual fazer efetivamente a diferena na vida das pessoas a ordem. Ressalte-se, tambm, que foi a Avon a marca relacionada beleza na mencionada pesquisa. Sua outra concorrente, a Natura, integrou o rol das dez empresas lderes em negcios com menor impacto no meio ambiente, da revista semanal poca16. Segundo o peridico, a Natura usa embalagens de um plstico feito de cana. A fbrica brasileira usa lcool nas caldeiras e, nas operaes no Mxico e Peru, adota o transporte martimo, que polui 9% menos para cada quilo embarcado. Informaes como essas causam impacto positivo no consumidor, que ainda v alguma credibilidade nas notcias veiculadas pela grande imprensa. O resultado aparece em pesquisas, com as associaes benficas, como a de vinculao entre a marca Natura e a natureza. O Grupo Boticrio, por sua vez, figurou entre as grandes empresas melhores para se trabalhar, conforme o Guia Voc S/A-Exame 2010. A empresa tambm j esteve presente nas edies de 2000, 2003 e 2004. O destaque de 2010 est numa ao alinhada ao Marketing 3.0: o programa de captao de ideias. De acordo com o Guia, por intermdio deste, o Grupo distribuiu, em 2009, R$ 35 mil para 11 funcionrios cujos projetos foram colocados em prtica. Os funcionrios so o pblico prioritrio quando a questo informao: so os primeiros a saber sobre as mudanas na organizao. Segundo o Guia, alm disso, existem diversos programas em prol do bem-estar dos colaboradores, e canais abertos de interao entre eles e a empresa. Mais especificamente com relao imagem da marca construda na Web, nosso foco de anlise, acreditamos que a impresso de um internauta, que se disponha a navegar mais demoradamente pelo site do Grupo, a de que ele demasiadamente extenso e peca pelo excesso. H de se lembrar, sempre, que o internauta naturalmente infiel e, dificilmente, ir percorrer todo o contedo de um site. No caso, a possibilidade de disperso grande, em funo dos desdobramentos de sua arquitetura. O esforo tamanho para mostrar transparncia que d a sensao de diluio da imagem da empresa. O foco em sua atuao cidad tambm gera o mesmo efeito. Incontveis aes, projetos e apoios so divulgados de forma pulverizada, e encontrados s custas de uma extensa navegao. Alguns discursos se repetem desnecessariamente, quando o principal poderia estar em destaque, de forma a dar consistncia imagem, fortalecendo-a e possibilitando uma melhor assimilao do consumidor-internauta. Numa reviso de arquitetura do site, as redundncias poderiam ser eliminadas. Sentimos falta de informaes referentes ao impacto dos projetos do Grupo no valor da marca. Para ilustrar, lembramos Kotler (2010, p. 130), que cita o caso da GE, quinta marca mais valiosa do mundo atualmente, a qual obteve aumento de 25% em seu valor, com o projeto Ecomagination (voltado a solues ambientais). Esse tipo de informao de grande interesse, principalmente, para acionistas. Por fim, cremos que o fato de a empresa afirmar que no realiza testes em animais mereceria algum destaque, apesar de ser uma conduta at esperada atualmente.
16 Revista poca. So Paulo: Editora Abril. Metas mais e mais ambiciosas, 20 set. 2010, p. 114.
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Parte 3: Tecnologias e Visualidades Corporativas | : A nova onda da Era da Informao e o impacto na Comunicao entre empresas e pblicos de interesse: o Marketing 3.0 e a fora da responsabilidade social corporativa1 Ktia Raquel Bonilha KELLER2 Universidade Federal de Gois UFG
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Pensamos que o grande trunfo do Grupo em relao a uma postura alinhada ao Marketing 3.0 esteja em seus valores compartilhados, que parecem contar efetivamente com o apoio dos empregados o que deduzimos em funo do Guia Voc S/A-Exame e no pela navegao no site. Tal fato d sustentao ao negcio. O funcionrio motivado produtivo, vivencia os valores e oferece melhor atendimento aos consumidores. Desse modo, a empresa tem reduo de custos com treinamentos. Conclumos, pois, que a valorizada ferramenta de relacionamento com os pblicos dO Boticrio o seu site deveria ser revista luz das recomendaes do Marketing 3.0, para um melhor alinhamento e, consequentemente, maior eficcia de seus esforos.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS CHIAVENATO, I. Administrao nos novos tempos. 2. ed, Rio de Janeiro: Campus, 1999. KELLER, K. R. B. Comunicao organizacional, sobrevivncia empresarial. 2. ed. So Paulo: Olho Dgua, 2006. KOTLER, P.; KARTAJAYA, H.; SETIAWAN, I. Marketing 3.0: as foras que esto definindo o novo marketing centrado no ser humano. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
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Parte 3: Tecnologias e Visualidades Corporativas | : Reflexes sobre comunicao e cooperao como caminho para a construo de saberes
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Resumo: Quais so os pressupostos da comunicao? A propenso humana pela representao uma possibilidade de resposta aqui apontada. Em tempos de novas tecnologias, temos uma ampliao neste leque capaz de descrever os objetos significativos e construir narrativas. Diante dos movimentos de cooperao, que tambm acessam estas novas tecnologias, como pensar em estratgias comunicacionais eficazes? Nossa aposta na convergncia de interesses, lgica prpria da cooperao, e subordinao da teoria tergiversadora dos tcnicos. Os elementos da humanidade constituidora de saberes e conhecimentos so ento buscados no vivido e a reflexo sobre o fazer aproxima comunicadores e cooperados em um empreendimento que tem como convergncia bsica a comunicao humana. Estes so desafios para o futuro uma vez que a chamada imprensa cooperativa, ainda mantm a apologia modernizao e ignora as vantagens da cooperao. Palavras-Chave: Comunicao; Cooperativismo; Equidade; Solidariedade Introduo A comunicao social parte de um pressuposto sustentado no propenso humana pelos signos dos objetos em detrimento dos prprios objetos. Basta lembrar da sensao de prazer e saudosismo quando vemos nossas fotografias de frias, sentimentos muitas vezes mais fortes do quando vivenciados. Nos emocionamos com a morte de um magnata dono da maior emissora de TV no Brasil2 e no nos sensibilizamos com uma criana que nos suplica uma moeda no sinal de trnsito. Interessante que observao tenha sido feita por Feuerbach ainda no sculo 19 e ainda hoje a postulamos como extremamente contempornea. O que percebemos neste implcito que a tecnologia detm a capacidade de nos fazer ver o mundo no da forma como ele , mas sim da forma como ele representado. Tomamos por verdade o que nos apresentado nos meios de comunicao, j que aciona nossos sentidos, quando deveramos ter a convico de que o que temos diante de ns so representaes. Nesta discusso, chegamos ao que compreendido aqui como tecnologia, um sistema de representaes capaz de descrever um objeto. A partir do momento em que as tecnologias descrevem um objeto, provocam a transformao tanto do objeto quanto da prpria tecnologia. Somos estimulados por histrias, por narrativas. Nos agarramos ento ao fato de no estarmos nunca ss neste impulso de produzir e consumir narrativas. A narrativa algo comum aos seres humanos, talvez algo necessrio e, da mesma forma que o texto, sempre necessita de um leitor. Concordamos que o texto um conjunto de instrues que o leitor individual ou pblico executa de modo passivo ou criador. O texto s se torna obra na interao entre o texto e o receptor (Ricoeur, 1994, p. 118). Dessa forma, se narrativas so parte do campo das significaes, no esto presentes em seus suportes, nem em seus cdigos, mas na relao entre esses e seus operadores e espectadores. Se narrar imprimir sentido vida, como nos ensina Ricoeur (1994), quem so os agentes da construo destes sentidos? No buscamos aqui oferecer respostas definitivas, a no ser fazer a defesa de que a vivncia nos habilita a falarmos da prpria vivncia e, assim, construirmos saberes ou narrativas sempre locais, embora perfeitamente universalizveis.
1 Professora da Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia da Universidade Federal de Gois. Antroploga. Mestre em Cincias do Ambiente. Jornalista. 2 O Jornal Nacional foi carregado de pesares, minuto de silncio e perda da compostura do apresentador William Bonner, em 07 de agosto de 2003, quando foi feita uma edio especial em funo da morte do ento presidente das Organizaes Globo, Roberto Marinho, aos 98 anos de idade.
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Parte 3: Tecnologias e Visualidades Corporativas | : Reflexes sobre comunicao e cooperao como caminho para a construo de saberes
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Inumerveis so as narrativas no mundo. H em primeiro lugar uma variedade prodigiosa de gneros, distribudos entre substncias diferentes, como se toda matria fosse boa para que o homem lhe confiasse suas narrativas: a narrativa pode ser sustentada pela linguagem articulada, oral ou escrita, pela imagem, fixa ou mvel, pelo gesto ou pela mistura ordenada de todas estas substncias; est presente no mito, na lenda, na fbula, no conto, na novela, na epopia, na histria, na tragdia, no drama, na comdia, na pantomima, na pintura (recorde-se de Santa rsula de Carpaccio), no vitral, no cinema, nas histrias em quadrinhos, no fait divers, na conversao. Alm disto, sob estas formas quase infinitas, a narrativa est presente em todas as sociedades; a narrativa comea com a prpria histria da humanidade; no h, no h em parte alguma povo algum sem narrativa, e freqentemente estas narrativas so apreciadas em comum por homens de cultura diferente, e mesmo oposta: a narrativa ridicularizada, a boa e a m literatura: internacional, trans-histrica, transcultural, a narrativa est a, como a vida. (BARTHES, 1971. p. 18) A partir do momento em que percebemos este carter onipresente da narrativa, se torna curioso observar que a cada nova tecnologia que conhecemos, nos comportamos como se estivssemos diante de mediaes to fortes que so capazes de ressignificar processos materiais e simblicos ou, como coloca Canclini (2003) ao analisar o processo de globalizao, nos comportamos como se este fosse o nosso destino inevitvel. Neste sentido, relembramos o deslumbramento despertado pela eletricidade nas mentes do poeta russo Vladimir Maiakvski e do professor canadense de literatura Marshall McLuhan. Para eles, a eletricidade era o incio de uma era de mediaes capazes de realinhar os processos produtivos materiais e simblicos (Machado, 2004, p. 46). Da ser possvel afirmar que as tecnologias, enquanto mediaes em intensa atividade, impactam a forma de ver o mundo e tambm a linguagem dessa viso de mundo, constituindo-se em mais uma narrativa impressa pelos agentes da contemporaneidade principalmente. So essas mediaes, explicitadas at aqui como tecnologias, que nomeamos como meios de comunicao ou mdias. Elas so profundamente abrangentes e vo desde a escrita em papel, msn, chats na web e sites de relacionamento, at os jornais impressos, rdios, televises e outros. Uma das caractersticas mais marcantes destes meios de comunicao ou mdias, conforme Marcondes Filho (2005, p. 9), a sua mutabilidade, o que os categoriza como mero suporte que torna possvel a comunicao. Esta ltima por sua vez, deve ser compreendida como um dos elementos que compem um mosaico de mensagens em meios hbridos que se confundem com o seu objeto ou so o prprio objeto (Pinto, 2002). desta forma que McLuhan (1967) chega afirmao de que o meio a mensagem e aposta na tcnica como descentralizadora, integradora e veloz. a partir desta formulao, que alis pode ser lida por alguns como excessiva, que McLuhan sublinha que o meio um elemento determinante no processo comunicativo e, sendo assim, no pode ser pensado como mero canal de passagem do contedo comunicativo ou simples veculo de transmisso da mensagem. O autor nos lembra que uma mensagem proferida oralmente ou por escrito, transmitida por rdio, TV ou, estendemos aqui, Web, lana superfcie diferentes estruturas significativas capazes de desencadear diferentes mecanismos de compreenso, ganhar diferentes contornos e tonalidades, adquirir diferentes significados. A escolha do meio deve ser, portanto, uma orientao dos grupos, ou indivduos, que pretendem acionar esta possibilidade comunicacional uma vez que so os agentes da vivncia que demanda acionamento de mdias.
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Observamos esta mesma capacidade de ressignificao miditica em Maiakvski, para quem a poesia se expande para alm da voz e se torna grafismo visual, slogan, performance, fotografia, imagem em movimento (Machado, 2004, p. 47). Fechamos aqui com Muniz Sodr (2004) que diagnostica para este incio de sculo o progresso das telecomunicaes e a crescente nfase na interatividade e no que chama de multimidialismo. Para este autor, o movimento que se percebe contemporaneamente o seguinte: hibridizam-se igualmente as velhas formaes discursivas (texto, som, imagem) dando margem ao aparecimento do que tem sindo chamado de hipertexto ou hipermdia (Sodr, 2004, p. 13). Na tentativa de aprofundar nesta reflexo apostamos que o multimidialismo somente possvel por causa da capacidade de ressignificao miditica dos povos ou indivduos que acessam os canais e da compreenso de que o que temos so narrativas circulando. Diante de toda esta discusso, temos um mundo que reapresentado numa espcie de simulao da experincia do vivido. Nesta simulao saber e sentir ingressam num novo registro, que o da possibilidade de sua exteriorizao objetivante, de sua delegao a mquinas (Sodr, 2004, p. 17). Temos assim nos meios de comunicao dois tipos distintos de representao. Um primeiro corresponde a uma construo que nos remete atualidade do momento vivido ou que evoca com nitidez o instante de um passado congelado. Para exemplificar este tipo de representao podemos citar o fotojornalismo, uma notcia ou mesmo os instantneos das ltimas frias, em um domnio em que o objeto se posiciona temporalmente antes do seu signo (Peirce, 1994). Um segundo tipo de representao no tem o objeto anterior, a exemplo de um anncio que usa fotografias de modelos e traz uma imagem que no reencena o passado. Ao contrrio, neste tipo de representao, o espectador movido para o futuro. assim que esta comunicao se constitui em um tipo de simulao de algo que no existe: um trabalhador comum se v dirigindo o carro do ano ou uma mulher se imagina facilmente vestindo a roupa da estonteante modelo. Tudo isso, associado a um tipo de poder designvel como ciberocracia confirma a hiptese, j no to nova, de que a sociedade contempornea (dita psindustrial) rege-se pela midiatizao, quer dizer, pela tendncia virtualizao ou telerrealizao das relaes humanas, presente na articulao do mltiplo funcionamento institucional e de determinadas pautas individuais de conduta com as tecnologias de comunicao. (Sodr, 2004, p. 21). Neste cenrio contemporneo, nossas representaes somente podem ser compreendidas como hibridizadas, como mistura de (im)possibilidades. Ento, como pensar em aes comunicacionais quando lidamos com o cooperativismo popular? Aqui tambm o saber e o vivido esto em uma interao to intensa que no nos possvel dizer qual o campo de um e qual a esfera do outro. Se as mdias so capazes de reproduzir o atual, tambm so capazes de produzir o virtual, compreendido aqui como aquilo que no pode contar com o atual representado. Ao acionar estas mdias, grupos humanos envolvidos em sistemas de cooperao registram o atual e tambm constroem o virtual. Um e outro podem e devem ser lidos como vivncias que desembocam o saber elaborado e capazes de mediar interaes significativas para estes prprios grupos. Nossa compreenso de cooperao est em sintonia com Jos de Souza Martins (1991) que, alis, registra um nvel de tolerncia suportado pelos chamados produtores isolados. Onde a produo permanece em bases artesanais e tecnicamente modestas, a cooperao tolerada se restringe circulao das mercadorias produzidas e no produo e ao trabalho (Martins, 1991, p. 57). Perseguir a autonomia dos grupos cooperados no deve, portanto, ser uma meta somente do processo econmico de insero, mas fundamentalmente a diretriz sem a qual jamais conseguiremos atingir a comunicao efetiva. Garantir esta autonomia permite pensar o cooperativismo como um dos agentes de construo de um universo em que possa ser questionada a hegemonia da tutela do capital. A preocupao deve estar centrada em ganhos coletivos.
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No sculo 20, fomos todos espectadores da chamada revoluo tecnolgica que superou em muito os muros epistemolgicos interpostos pelas diferentes reas. Nunca como agora, para falarmos de ns, necessrio que falemos tambm de Outros. Assim, os meios de comunicao social, tendo na rapidez uma de suas principais caractersticas, permite um impressionante trnsito das principais descobertas das cincias. Isso porque as mdias chegam de forma quase instantnea a casas de leitores, ouvintes, telespectadores e consumidores de informtica. Esta divulgao, amparada na fundamentao cientfica, acaba por instigar a perspectiva de que a ela cabe a soluo dos problemas, alm de passar a impresso de que o conhecimento cientfico acessvel a todos. Definitivamente, no desta coletividade que tratamos aqui, mas sim de possibilidades construdas coletivamente, sem canais entre um suposto emissor e um ideal receptor. Compreendendo que o imaginrio social uma complexa rede de relaes entre discursos e prticas sociais (Daz, 1996, p. 13) e reconhecendo que este se instala nas distintas e diversas instituies sociais, atuando em todas elas, o imaginrio criado e fomentado pelos meios de comunicao de massa supera tanto o geocentrismo quanto o antropocentrismo. Este movimento eleva o conhecimento cientfico a entidade ou instituio capaz de solucionar problemas, sendo em ltima instncia, digno de crena, aceitao e confiana. Torna-se, enfim, modelo, com paradigmas reguladores e produtores de materialidade capazes de produzir efeitos na realidade. Criam-se ento valores compartilhados que funcionam como parmetros das condutas, das palavras e das expectativas e credencia o atual para criar suas estratgias comunicacionais. A mensagem, a partir da compreenso da teoria da informao (Coelho Netto, 1999), deve ser capaz de, mais do que produzir significados, eliminar dvidas. Enquanto base para as construes de informao, estas mensagens devem primar pelo novo e provocar mudanas no comportamento das pessoas que a elas tm acesso. Dessa forma, quanto maior for a taxa de novidade de uma mensagem, maior seu valor informativo, sendo maior a mudana de comportamento provocada (Coelho Netto, 1999, p. 128). Mas a novidade apenas um dos elementos priorizados e grupos humanos organizados devem pinar o que de fato contribui para a manuteno da coeso interna fazendo uso destes elementos de acordo com significaes especficas. Em uma abordagem simples e direta, o pesquisador Juan Diaz Bordenave (2006) nos aponta algumas diretrizes para a compreenso acerca da comunicao humana. Esta confunde-se com a prpria vida, uma vez que a nossa conscincia de que estamos nos comunicando a mesma que temos quando respiramos ou caminhamos, em sintonia com o prprio habitus de Bourdieu (1998, p. 61), para quem o conhecimento adquirido a partir de uma ao ampla capaz de criar identidades e novas categorias. Da que para abordar esta e qualquer outra questo particular h que se buscar uma contextualizao possvel a partir da compreenso de que produzimos conhecimento. Para nos comunicar, lanamos mo de palavras, gestos, olhares, movimentos do corpo, sendo que exatamente estas formas, que representam as ideias e as emoes, constituem os signos comunicacionais. Enquanto elemento capaz de tomar o lugar de outra coisa, usamos os signos pela necessidade que temos de significar nosso olhar para compartilh-lo. Nesse processo de significao atualizada cotidianamente que seguimos nos comunicando. Diante de uma categorizao to aberta, defendemos aqui que a comunicao interpessoal vem ganhando novas configuraes nas ltimas dcadas e sinalizamos para algumas possibilidades de aes que fortalecem este tipo de relao. Se h algum tempo encontrvamos quem pensasse que esta comunicao dita tradicional poderia ser suplantada pela comunicao impessoal dos meios eletrnicos, hoje esta defesa se tornou insustentvel. Investir na comunicao interpessoal em detrimento da impessoal talvez seja uma reao contra a massificao e a comercializao impostas pelas grandes mdias. Esta , alis, o amlgama das relaes cooperadas quando tratamos de pessoas que focam na fora da ao conjunta toda a capacidade de conquista de metas para alm da deteno de meios tecnolgicos ou capital financeiro. Nossa hiptese central ento de que no meio de um processo intenso e irreversvel de digitalizao do mundo, a comunicao, sem deixar de lanar mo de toda a tecnologia disponvel, resgata sua capacidade de fazer com que as pessoas se relacionem, transformem-se a partir destas relaes e compartilhem significaes. Constituindo-se a toda a motivao que mantm a coeso social.
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Na tentativa de anlise do que chamamos de ps-modernidade como um movimento englobante e globalizado, uma das leituras que nos chama a ateno a de que vivenciamos uma condio paradoxal quando lidamos com os campos da cincia e da tecnologia. Em termos cientficos, vivemos ainda no sculo XIX, uma vez que no podemos negar que estamos ainda suspensos pelas teorias desse sculo. Mas, no campo das potencialidades tecnolgicas, cremos estar no limiar da comunicao interativa que nos lana para o sculo XXI (Souza Santos, 1987, p. 6). Cientes desta crise e do vazio produzido a partir da aceitao da supremacia do conhecimento racional, trazemos aqui alguns conceitos com o propsito de nos localizar nesta discusso, para fechar com a proposta de se perguntar sempre pela fora das contribuies, se as h, do conhecimento cientfico em nossas vidas. Ou seja, fechamos com um conhecimento que nos ensine a viver e que possa ser traduzido em um saber prtico. Tergiversando Teorias O saber e o vivido somente fazem sentido no processo de produo coletivo se andarem juntos e um interferindo na forma de existncia do outro. Passamos ento compreenso da comunicao social como um campo das cincias sociais imbudo de um fazer especfico que tem como principais agentes deste fazer, a partir da perspectiva da formao acadmica, jornalistas, publicitrios e relaes pblicas. Sistematizar esta forma de conhecimento traz superfcie da discusso a pergunta nos apresentada por Traquina (2004) sobre por que as notcias so como so?. Na tentativa de oferecer possibilidades de respostas a este problema, este pesquisador formula algumas da principais teorias que orientam o fazer jornalstico. Pela Teoria do Espelho, as notcias so como so porque a realidade assim as determina. Inspirada no Positivismo Comteano, esta teoria representa uma traduo da ideia da fotografia e sua reprodutibilidade tcnica, alm de acreditar e defender a objetividade no processo de produo jornalstica. Para esta corrente, o profissional um comunicador desinteressado que sempre conta a verdade doa a quem doer. Nasce desta concepo, ainda no sculo 19, o jornalismo informativo, que separa opinio e informao. J no sculo 20, apesar de o jornalismo ainda aparecer associado objetividade, esta passa a ser compreendida como mtodo de pesquisa e checagem. Uma outra teoria que busca responder ao questionamento a que percebe o jornalismo como construtor da realidade. Fortemente influenciada pela Psicologia Social, a Teoria do Gatekeeper surgiu nos Estados Unidos, nos anos de 1950, como uma forma de deferncia ao jornalismo e ao seu poder. Aqui, possvel afirmar que a produo da notcia fruto de um processo de escolhas em que o fluxo de informaes deve passar por diversos gates ou portes antes de chegar publicao, em uma ao carregada de intencionalidades. Os principais crticos desta teoria destacam que ela analisa a notcia somente a partir da perspectiva de quem a produz, desconsiderando as estruturas burocrticas e da organizao e se esquecendo das interferncias das normas profissionais em todo o processo, alm de negligenciar completamente os chamados estudos de recepo. Uma outra possibilidade de explicao nos chega atravs da Teoria Organizacional, que trabalha a ideia de Mercado, sendo que as notcias so sempre um produto venda. Filiada ao Funcionalismo, esta teoria defende que a produo jornalstica extrapola o mbito individual e cincunscreve-se organizao jornalstica, compreendida aqui como empresa capaz de atuar sobre os profissionais a partir de um sistema sutil de recompensas e punies. Ento, os profissionais da Comunicao se acomodam poltica editorial por uma espcie de osmose em que esto em jogo autoridade e sanes; hierarquia e referncia superior; promoo profissional; ausncia de conflitos de grupos; prazer pelo trabalho; notcias como valor estimulando a solidariedade (orgnica) entre os jornalistas da direo, conhecidos como editores, e os da redao. Ento, o jornalismo ocupa o espao que sobra da publicidade porque a necessidade de lucro da empresa jornalstica determinante na construo da notcia.
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Tambm a Teoria da Ao Poltica contribui para esta reflexo porque entende que a mdia est a servio de interesse polticos, sempre. Aponta que cinco raes subordinam o Jornalismo aos interesses capitalistas, sendo propriedades dos media; lucratividade; oficialismo; punies e ideologia anticomunista os caracteres dominantes entre jornalistas. Os profissionais da Comunicao no tm considerado sua autonomia na relao aos donos das empresas. Diante do exposto at aqui, o fazer jornalstico lida cotidianamente com uma superabundncia de informaes e necessita organizar estrategicamente seu trabalho sem o que se torna impossvel produzir notcias. Criam-se ento rotinas de produo jornalstica, categorizadas como Newsmaking, marcadas por tarefas como a seleo que consiste em reconhecer entre todos os fatos, aqueles que podem ser notcia; a abordagem ou angulao, que a elaborao de formas de relatar os assuntos; a organizao dos acontecimentos no tempo e espao. Da que, a partir da ao das mdias que o pblico passa a saber ou ignorar informaes, sendo que aqui camos na Teoria do Agendamento ou AgendaSetting, pela qual as pessoas tendem a incluir ou excluir das suas conversas cotidianas o que os mass media incluem ou excluem do seu prprio contedo. Estas observaes nos conduzem a afirmar que o agendamento dos Meios de Comunicao de Massa nos dizem no somente em que pensar, mas tambm em como pensar e, consequentemente, o que pensar. Para alm dessas teorias teis (ou nem tanto assim) nos bancos da universidade, temos que nos perguntar at que ponto podemos nos portar como agentes neste processo de construo comunicacional. As pessoas empenhadas em pesquisas de Comunicao no Brasil hoje se veem diante de uma inquietude, intensificada aps o advento da chamada mdia digital, que conduz impossibilidade de responder a uma pergunta to complexa e tampouco afirmar essas teorias como excludentes e completas. Nossa posio, contudo, a de que tais teorias do conta de sustentar uma prtica somente a partir da apreenso de um passado e no de uma projeo transformadora para o futuro. Afinal de contas, notcias no precisam ser somente o que jornalistas produzem. As chamadas novas tecnologias possibilitam hoje uma dinamicidade na troca de informaes que supera estas explicaes tericas e alimenta uma forma de compreender o mundo que nos envolve em uma espcie de metadiscurso que exclui quase que automaticamente quem no se habilita a compor as chamadas redes sociais, compreendidas como formas de compartilhamento de informaes. Se verdade que antes de toda teoria temos uma prtica que lhe garanta o suporte (Escobar, 1995), o vivido sem o qual as teorias simplesmente tergiversam sobre o nada, o princpio da cooperao, que une agentes em empreendimentos especficos, o movimento que tem garantido a eficcia da iniciativa e no o acesso a esta ou quela nova tecnologia ou recursos financeiros. Pensar ento em quais so as demandas localizadas antes de oferecer ou sugerir iniciativas para os grupos cooperados condio sem a qual no conseguimos sequer acessar estes grupos, uma vez que somente os acessamos se nos colocamos em suspenso pela mesma teia de significaes (Geertz, 1989). Dessa forma, no h agentes mais apropriados para sugerir, gestar e manter iniciativas do que os prprios elementos que constituem o grupo. Mais do que isso, produzir conhecimento cientfico a partir da ao local representa um salto qualitativo rumo construo de um mundo em que as diferenas sejam respeitadas enquanto tais. Isso porque o saber local (Geertz, 1997), corriqueiramente rejeitado pelas discusses sobre o desenvolvimento, deve ser considerado essencial na gesto dos recursos locais, sejam eles naturais, humanos, econmicos ou culturais. Estamos cientes de que quando grupos organizados solicitam assessoria de comunicao, por exemplo, esto impulsionados pela compreenso da comunicao instrumental e, exatamente por isso, capaz de oferecer resultados imediatos para aes especficas. Esta ao estratgica legtima e somente nos mostra que tais grupos esto totalmente absorvidos pelo mesmo tempo histrico que ns. Respeitar estas demandas significa trilhar os caminhos da alteridade histrica e compreender que as narrativas produzidas por povos particulares foram as garantidoras da existncia de grupos
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inteiros. Propor reflexes e aes comunicacionais, ento, significa compreender que tais narrativas so implementadas por sujetos de sus respectivas tramas histricas (Segato, 2007, p. 33). Muito embora saibamos que reproduzir estas narrativas somente possvel a partir da construo e reconstruo de outros enquanto estratgia epistemolgica, admitimos que tais construes so marcadas pela inexistncia de palavra ou forma neutra. Consideraes Que caminhos buscar ento a no ser os que considerem a humanizao dos processos narrativos? A admisso de que esta uma potencialidade humana e que somente poderemos acessla de fato se nos ativermos a elementos da humanidade constituidora de saberes, de conhecimentos. Esta investida implica em ressignificaes de temporalidades e espacialidades na busca para que o tempo torne-se tempo humano na medida em que articulado de um modo narrativo, e que a narrativa atinge seu pleno significado quando se torna uma condio da existncia temporal (Ricoeur, 1994, p. 85). Ento, se narrar mesmo carregar a vida de sentido, no consegue um profissional que no apreenda os sentidos prprios do vivido produzir narrativas aproximadas deste mesmo vivido, se esta uma possibilidade. Narrativas so sim construdas revelia do vivido. Contudo, elas organizam o mundo de uma forma tal que os agentes do vivido no conseguem se perceber nestas construes. Da a sensao de que os acontecimentos ou os fatos trazidos pelos meios de comunicao de massa no nos dizem respeito. Sabemos da impossibilidade de reproduzir o vivido nas mdias, mas nem por isso devemos organizar estes canais com narrativas que no so capazes de colocar seus agentes como elementos da tecitura da trama de significaes locais. Narrar , pensando a partir das perspectivas comunicacionais, procurar os sentidos do vivido e organizar estes sentidos de acordo com os meios escolhidos. Considerando-se sempre que as escolhas devem ser coletivas. Dessa forma, construir narrativas na contemporaneidade implica em adotar estratgias de participao coletiva com leitores/espectadores participantes durante todo o processo comunicacional. A defesa aqui no a da interatividade forada aos moldes do que se v por exemplo nos telejornais, revistas e impressos em que espectadores perguntam e os detentores de conhecimento respondem. O que defendemos um processo coletivo de construo, capaz de reformular meios e mensagens de acordo com o vivido, para alm de estratgias mercadolgicas. Mais ainda, no podemos afirmar que uma narrativa capaz de suplantar outra. O que temos circulando um entrelaamento de narrativas em um processo de criao, desconstruo e reconstruo permanentes. Estas preocupaes devem vir superfcie sempre que os chamados movimentos de economia solidria se habilitam a pensar os processos comunicacionais que os sustm. Crescente em diversos pases do mundo, e tambm no Brasil, a economia solidria ou cooperativismo representa a resistncia de trabalhadoras e trabalhadores a fatores capitalistas como excluso e desemprego. Alterando estas relaes, o movimento consegue chegar a ressignificaes identitrias capazes de apontar resultados positivos a curto, mdio e longo prazos. por esta resistncia que afloram em todo o pas iniciativas como as expostas no escopo deste trabalho e tambm se manifestam nas iniciativas solidrias que tm apontado sistematicamente que o caminho que devemos seguir o da tica, da equidade e da solidariedade. So vrias as provas de que as vias do lucro e do acmulo indiscriminados no conseguem desembocar na garantia de qualidade de vida para os diversos povos. Da mesma forma que nos processos comunicacionais, o conceito de cooperao somente faz sentido se no for pensado abstratamente. Ento, trazer elementos do vivido para pensar e repensar o conceito condio sem a qual jamais conseguiremos criar as pontes essenciais entre ao e reflexo. Trata-se em sntese de uma prtica capaz de trazer superfcie elementos que tradicionalmente encontram-se submersos no mundo da economia. Este, por sua vez, tambm pressupes projetos
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coletivos de mudanas polticas e sociais sustentadas por uma base de interesses convergentes e no excludentes. Comunicao e Cooperao ento compreendem processo produtivo, projeto poltico e convergncia de interesses. A Comunicao, enquanto forte elemento de construo de representao social, capaz de ser apreendida como um possibilidade de reivindicao e ampliao do lugar do Cooperativismo nos sistema econmico. o que demonstram as iniciativas de pensar estratgias comunicacionais para grupos cooperados sustentados pelo pressuposto da convergncia de interesses. Dessa forma, a solidariedade e a equidade que nos impulsionam a pensar a cooperao so tambm elementos constituintes das relaes humanas estrategicamente empreendidas pela Comunicao. Globalizao3, ps-modernidade4, novas tecnologias vm subsidiando as pesquisas em comunicao exatamente porque precisamos nos envolver com estas transformaes para conseguir captar os fenmenos comunicacionais contemporneos. Caminho paralelo vem traando o movimento cooperativista que busca construir significaes luz destas mudanas. A primeira capaz de garantir a insero de cooperativas no mercado globalizado sem perder a perspectivas dos aspectos que diferencias estes grupos de empreendimentos capitalistas convencionais. Contudo, isso somente possvel se os mesmos agentes que se organizam nos movimentos cooperados se habilitarem a pensar os fenmenos comunicacionais e no se limitarem a esperar produtos elaborados por tcnicos, reproduzindo o modelo hegemnico que culminou nos meios massivos de comunicao. Isso porque somente a mesma lgica capaz de promover organizao, informao e conscincia a estes agentes. Enquanto a chamada imprensa cooperativa, que nada mais do que as estratgias comunicacionais pensadas contemporaneamente para as cooperativas, continuar fazendo apologia modernizao e ignorando as vantagens da cooperao fica praticamente impossvel romper a tergiversao das teorias incuas e passar a trilhar os caminhos da equidade social. O saber fazer esta forma nova e eficaz de comunicao somente poder ser alcanado se o vivido for o motor que conduz o prprio fazer e que tambm ofertar subsdios para as reflexes sobre este mesmo fazer.
3 Para Souza Santos (1997, p. 108), a globalizao o processo pelo qual determinada condio ou entidade local consegue estender a sua influncia a todo o globo e, ao faz-lo, desenvolve a capacidade de designar como local outra condio social ou entidade rival. 4 De acordo com Canclini (1999, p. 70), a ps-modernidade no deve ser concebida como uma etapa distinta ou substitutiva da modernidade, mas como um desenvolvimento de tendncias modernas que se reelaboram nos conflitos multiculturais da globalizao.
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Considera-se a rea de Relaes Pblicas responsvel pela visibilidade das organizaes e sabe-se que os meios de comunicao tm papel fundamental para esse reconhecimento no espao pblico. Compreende-se tambm que a transformao de fatos em notcias depende de alguns fatores conforme sinalizam hipteses como newsmaking. Porm, acredita-se que a consolidao da internet como mdia transforma esse panorama, pois torna possvel a disponibilizao de informaes independentes dos meios tradicionais (Tv, rdio e impressos), como ocorre, por exemplo, em sites organizacionais que passaram a empregar estratgias de comunicao e utilizar espaos denominados como salas de imprensa ou media center para valorizar acontecimentos organizacionais e chamar ateno dos jornalistas. Assim, o artigo objetiva refletir sobre as possibilidades advindas com o uso da internet e as mudanas na relao entre as assessorias de comunicao das organizaes e os veculos tradicionais, como subsdio utiliza-se pesquisa emprica em sites de duas empresas brasileiras (Weg e Vale) e analisa-se a relao entre as sees de notcias institucionais veiculadas pelas empresas atravs de seus sites e as matrias publicadas em jornais sobre os mesmos assuntos. Palavras-chave: Relaes Pblicas, internet, newsmaking; visibilidade miditica. Introduo O processo de midiatizao da sociedade evidencia que na atualidade, ocorre um deslocamento da busca da legitimao institucional, e, se antes era necessrio que as organizaes recorressem s mdias lineares para serem representadas e estarem visveis na sociedade atual organizaes, atores sociais e mdia afetam-se continuamente. Desse modo, parece-nos pertinente o estudo da apropriao das tecnologias digitais de comunicao pelas organizaes com vistas a ampliar sua visibilidade diante dos pblicos. Assim, planejar, executar e avaliar aes de comunicao institucional, prticas atribudas s Relaes Pblicas, tornam-se mais complexas devido midiatizao das relaes sociais e as novas formas de relacionamento proporcionadas pelas tecnologias digitais, que proporcionam mais espaos para a divulgao dos acontecimentos. Em trabalhos anteriores discutimos as possibilidades da internet para a construo da visibilidade institucional diante dos pblicos, o portal institucional, por exemplo, um dispositivo no qual a instituio expe-se com suas prprias palavras o que proporciona o acesso direto dos pblicos s estruturas, valores e propsitos construdos ao longo da trajetria organizacional. O site organizacional um tipo de espao que abriga um grande nmero de estratgias de comunicao como, por exemplo: presena de pontos de identidade visual, agenda de eventos, publicaes institucionais, espaos de fale conosco, ouvidoria, pesquisas e enquetes on-line, projetos institucionais, visita virtual, comunicao dirigida, uso de personagens virtuais, presena de canais de TV e Rdio on-line.
1 Professora do curso de Relaes Pblicas da Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia da Universidade Federal de Gois (UFG) - Doutoranda no PPGCOM UNB - [email protected] 2 Acadmica do 2 perodo do curso de Relaes Pblicas da Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia da Universidade Federal de Gois (UFG) - [email protected]
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Alm destas, acredita-se ser imprescindvel o uso de estratgias como a presena de notcias institucionais, um local para informar os pblicos onde so disponibilizadas notcias sobre a organizao e assuntos afins, o clipping virtual que mostra a visibilidade das aes organizacionais nos meios de comunicao tradicionais e o espao para imprensa que apresenta releases e galeria de imagens com informaes para o uso das mdias tradicionais e dos pblicos. A partir destes pressupostos o artigo pretende demonstrar o potencial da internet para o uso de estratgias de comunicao com objetivo da obteno da visibilidade das organizaes nos meios de comunicao. Para tanto se divide em trs partes: a primeira aborda algumas conceituaes sobre o newsmaking, uma hiptese contempornea da comunicao que busca a explicao de alguns fatores envolvidos na transformao dos acontecimentos em notcias nas mdias tradicionais, a segunda apresenta conceitos de Relaes Pblicas relacionados ao contexto da web com vistas a demonstrar que a interdependncia entre estas reas fundamental no cenrio da midiatizao em que atuamos hoje e a terceira que traz a anlise das sees Media Center e Sala de Imprensa das organizaes Weg e Vale. Por fim apresentamos algumas consideraes que apontam para a profissionalizao de um espao institucional bem como a proximidade dos veculos de comunicao aos espaos para a imprensa nos sites organizacionais. 1. Hipteses contemporneas da Comunicao: o Newsmaking Newsmaking significa o fazedor da notcia uma hiptese da comunicao contempornea ligada sociologia do Jornalismo e considerada, por alguns estudiosos, uma Teoria do Jornalismo. Esta abordagem enfatiza a produo de informao, ou seja, a transformao dos acontecimentos em notcias e revela a existncia de normas profissionais no processo de seleo das informaes, uma das figuras abordadas a do gatekeeper, denominado o guardio do porto, que se refere aos editores dos veculos miditicos. Os processos de comunicao tem funo de controle social estabelecido por prticas que ocorrem entre os profissionais de redao, neste caso a funo do escolhedor seria influenciada por alguns pontos como: a autoridade institucional; o sentimento de fidelidade e estima com os superiores; as aspiraes a mobilidade social do profissional; a ausncia de fidelidade do grupo, carter agradvel do trabalho, a notcia ser transformada em valor. Surgiram a partir de estudos feitos por Kurt Lewin em 1947 que pesquisou o fluxo de informao num jornal dos EUA, na chegada de notcias pelos telexes e a publicao na edio seguinte a partir de 1333 releases ele concluiu que: 800 no foram publicadas por falta de espao; 300 por falta de interesse do pblico, 200 por falta de qualidade do material enviado, 33 temas distantes dos leitores do jornal, ou seja, a cada 10 notcias enviadas redao, apenas 1 era publicada. A hiptese presume que existem algumas normas envolvidas na rotina diria da produo das notcias, tais normas geram uma distoro involuntria da informao, atravs da omisso constante ou nfase permanente. O conceito de noticiabilidade significa a aptido potencial que um fato possui de se tornar uma notcia, o que conduz afirmao de que as notcias so aquilo que os jornalistas definem como tal. Para tanto, estes tomam como referncia os valores-notcia, um conjunto de qualidades dos acontecimentos que permitem uma construo narrativa e que os recomendam enquanto informao jornalstica. Segundo Hohlfeldt (2001), essas qualidades so comumente agrupadas em cinco categorias: categorias substantivas (relativas ao fato em si), relativas ao produto ou notcia, relativas aos meios de informao, relativas ao pblico e relativas concorrncia. Apoiando-se nos conceitos de noticiabilidade e valores-notcia, o autor discorre tambm sobre as fases da produo de informao jornalstica (captao, seleo, apresentao e distribuio), dando maior nfase fase de captao de informaes.
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O autor esclarece que o newsmaking exige a pesquisa participante, na qual os pesquisadores convivem com os pesquisados, a fim de observ-los profundamente. Assim como o agendamento, os estudos desta rea sugerem a existncia de uma espcie de hierarquia, um relacionamento permanente e alternativo entre os mais distintos meios de comunicao. Assim, tal hiptese pode comprovar que os processos de comunicao tm em si mesmos uma funo de controle social. Desta maneira, Hohlfeldt conclui: os meios de comunicao de massa devem tornar possvel o reconhecimento de um fato desconhecido como algo notvel de ser noticiado; elaborar relatos capazes de retirar do acontecimento seu nvel de particularidade, tornando-o contextualizado; organizar temporal e espacialmente este conjunto de tarefas transformadoras, de modo que os eventos noticiados fluam e possam ser explorados racional e planificadamente. (2001, p. 207) Atravs das definies apresentadas, observa-se que a perspectiva do newsmaking evidencia uma espcie de auto-suficincia do jornalismo, sugerindo que a comunicao se coloca em absoluta autonomia em relao s demais categorias sociais. Apesar deste equvoco, os estudos deste campo tm um papel de extrema importncia na compreenso de como a informao flui entre fonte e jornalistas. O advento da internet comercial muda, de certa forma o panorama dos fazedores de notcia, uma vez que so alteradas as formas de interao com o pblico-alvo, cada vez mais exigente e com maior poder de influenciar por ter ampliado os meios de acesso informao. As mudanas ocorrem em ritmo acelerado e de modo irreversvel para as rotinas de produo, assim, existe a hiptese de que as organizaes podem agir de forma estratgica em busca da noticiabilidade ao utilizar o site, por exemplo, como um espao de valorizao de suas aes de modo a atrair os jornalistas. Neste sentido, prope-se que a rea de Relaes Pblicas pode ser uma das responsveis pelo processo de construo e manuteno dos contedos informacionais dos sites organizacionais. 2. Relaes Pblicas, internet e sites organizacionais No contexto das novas mdias, necessria a apresentao de informaes essenciais para os pblicos em sua tomada de deciso, quanto mais informados estiverem, maior ser a possibilidade de que a instituio legitime-se. Da mesma forma a organizao precisa preocupar-se com espaos de relacionamento com os veculos de comunicao, para que estes entrem em contato com as aes desenvolvidas pela organizao e as noticiem na busca da visibilidade. A multiplicidade de acesso s informaes amplia espaos de interao e traz novas configuraes s prticas comunicacionais das organizaes; Nesse cenrio, a gesto da comunicao nas organizaes pautada no paradigma clssico/informacional, centrado na emisso e recepo de informaes, torna-se insuficiente para administrar a abundncia dos fluxos e demandas informacionais e a crescente rede de relacionamentos que se estabelece entre organizao e atores sociais (OLIVEIRA e DE PAULA, 2007, p. 6).
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importante ressaltar que consideramos a busca da legitimidade como o princpio norteador da atividade de Relaes Pblicas, pois atravs desse processo as organizaes e instituies conquistam a integralidade que colabora para sua permanncia ao longo do tempo. Conforme Silva e Barichello, o estabelecimento e a manuteno de relaes, acontecimento possibilitado pela comunicao dirigida, atualmente facilitado pelas redes digitais e Internet. Essas materialidades vo alm das tradicionais matrias jornalsticas impressas, releases, malas-direta, folders, anncios e campanhas publicitrias, chegam a interaes, reciprocidades e apropriaes, possibilitadas pelos suportes tecnolgicos e digitais, nos quais os sujeitos destinatrios so atuantes e determinantes da qualidade da comunicao, contribuindo para os processos de representao e reconhecimento da organizao nos diferentes campos da sociedade contempornea. (SILVA E BARICHELLO, 2006, p.10). Para Kunsch (2003, p. 241) pensar estrategicamente requer o conhecimento da organizao e de suas condies, aspiraes e aportes tcnicos e tecnolgicos para aplic-las na prtica e intervir no processo de planejamento e gesto estratgica. Acreditamos que realizar o diagnstico da comunicao de uma instituio na atualidade, implica sobretudo situar-nos diante das possibilidades miditicas que esto disposio. Kunsch (2003) considera ainda que mediante a sua funo estratgica que as Relaes Pblicas abrem canais de comunicao em busca da confiana mtua e constroem a credibilidade. Porm, aponta que essa funo est intrinsecamente ligada ao planejamento e gesto estratgica e deve ser desenvolvida de forma sinrgica em conjunto com as outras reas da comunicao. Nessa perspectiva, o pensamento estratgico institucional configura-se como um composto que envolve conhecimento e criatividade ao promover uma perspectiva integrada dos acontecimentos sendo que, para sua efetivao, necessrio considerar o impacto da cultura da instituio, bem como as polticas internas e a formulao e implementao das estratgias. Baldissera (2001) relata a importncia da estratgia ser abordada como um critrio para que o desempenho institucional seja superior e a comunicao firme-se como um fluxo e no apenas como um sistema que funciona em curto prazo. O autor considera que a internet condiciona uma mudana da mentalidade e do planejamento da instituio em relao s estratgias que ir adotar para seus pblicos, principalmente pelo fator do rompimento das barreiras espao-temporais, no presentes nas demais mdias. Para Castells (1999) as modificaes trazidas pelo advento da rede no ocorrem isoladamente, elas desenvolvem uma reao em cadeia que influencia todos os setores tanto de uma organizao quanto de toda a sociedade. O paradigma da tecnologia da informao baseado na flexibilidade. No apenas os processos so reversveis, mas organizaes e instituies podem ser modificadas, e at mesmo fundamentalmente alteradas, pela reorganizao de seus componentes. (CASTELLS, 1999, p.108 -109)
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A reorganizao pode gerar conseqncias como a prevalncia de relacionamentos virtuais com os pblicos, seja atravs do portal, blogs, comunidades virtuais, chats, fotologs. Essa constatao torna imprescindvel que as organizaes estejam preparadas para atuar neste novo cenrio e utilizar os recursos disponveis de uma forma estratgica. Para Bueno, o relacionamento com os pblicos de interesse deve pautar-se, agora, por agilidade e interatividade, e os comunicadores organizacionais devem ter a capacidade de estabelecer estratgias que levem em conta a potencialidade da Internet. As organizaes ainda encontram dificuldades para se adaptar s novas mdias, com formatos e linguagens ainda insuficientemente explorados, mas, paulatinamente, vo descobrindo formas de conviver com elas (BUENO, 2003, p. 60). Esse panorama trazido pelos desenvolvimentos sociotcnicos afeta as prticas profissionais, pois torna disponvel novos espaos para o uso de aes estratgicas. Os portais organizacionais da internet so um dos principais expoentes de relacionamento com os pblicos na contemporaneidade, conforme Pinho (2003a) o site um dos canais ideais para esta disposio ilimitada de informaes, pois firma-se como uma alternativa de comunicao miditica gerenciada pela prpria organizao. 3. Salas de Imprensa em sites organizacionais: Estratgias contemporneas das assessorias de comunicao Para este artigo foram selecionados os sites de duas reconhecidas organizaes brasileiras a primeira WEG Indstrias uma empresa brasileira com sede em Jaragu do Sul, Santa Catarina, fundada em 1961 a partir da dcada de 1980 passou a fabricar geradores, componentes eletroeletrnicos, produtos para automao industrial, entre outros, uma das nicas empresas brasileiras a aparecer na lista das 100 maiores pequenas empresas globais3. E a segunda Vale fundada em 1942, tornou-se, em 64 anos, a maior empresa de minerao diversificada das Amricas. Em 2008 a Companhia Vale do Rio Doce deixou de usar a sigla CVRD, passando a usar o nome fantasia Vale e se tornou a 33 maior empresa do mundo a maior do Brasil em volume de exportaes. Vale a segunda maior mineradora do mundo e a maior empresa privada do Brasil. a maior produtora de minrio de ferro do mundo e a segunda maior de nquel4. A anlise inicial foi realizada na seo Media Center do site da WEG composta por cinco menus que so: notcias, Weg na imprensa, central de downloads, Weg em revista e boletim Weg. Ao clicar em Notcias o usurio direcionado para a seo onde so apresentadas as notcias institucionais divididas em sees como por exemplo: prmios, resultados e investimentos, produtos e solues, comunidade, corporativo, feiras e eventos e geral. As notcias recentes ficam em destaque na coluna central enquanto as mais antigas esto no arquivo de notcias que possui filtros onde os pblicos podem escolher o assunto por palavra-chave, data e sees por assunto. O objetivo deste artigo visa relacionar as notcias institucionais publicadas no site da organizao com as publicadas na imprensa tradicional, para tanto a anlise tambm foi focada na seo Weg na imprensa que apresenta as notcias relativas a organizao que foram publicadas na mdia em geral, particularmente em jornais e revistas impressos e suas verses on-line.
3 Disponvel em http://pt.wikipedia.org/wiki/WEG_Ind%C3%BAstrias acesso em 10 out 2010. 4 Disponvel em http://pt.wikipedia.org/wiki/Vale_S.A. acesso em 10 out 2010.
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Esta seo apresenta uma coluna central com as publicaes atualizadas diariamente bem como oferece a possibilidade de busca que pode ser relizada por palavrachave e perodo. No final da seo so disponibilizados links com matrias publicadas por veculo, ou seja, ao selecionar um veculo o leitor ser direcionado para uma pgina onde aparecem todas as notcias referentes a organizao que foram publicadas naquele veculo. No caso da organizao Weg foram selecionadas 12 notcias institucionais publicadas no site entre os dias 25 de junho e 06 de outubro. Numa anlise inicial realizou-se o mapeamento nas duas sees Notcias e Weg na imprensa a primeira percepo foi de que as 12 notcias institucionais geraram 26 notcias publicadas na imprensa. A anlise demonstrou que das 12 notcias 5 estavam presentes na seo corporativo que apresenta notcias referentes a prpria organizao como, por exemplo, inovaes da empresa, negociaes de aes, programas de estgio, participao em semanas acadmicas, ampliao, conquistas e incentivos aos diversos segmentos sociais, 4 na seo comunidade com notcias sobre o apoio da empresa a aes culturais, histricas, de responsabilidade social, e 3 na seo produtos e solues que aborda notcias sobre novas tecnologias desenvolvidas nos produtos e sua utilizao. A anlise especfica de algumas notcias institucionais demonstra que as matrias criadas pela organizao e disponibilizadas em seu site possuem valoresnotcia, capazes de gerar como, por exemplo, a matria, Weg no ranking das mais inovadoras repercutiu em notcias veiculadas nos jornais A Noticia e na revista poca Negcios. 10 de Setembro de 2010 / Corporativo WEG no Ranking das mais inovadoras WEG conquista lugar entre as 20 companhias mais inovadoras do Brasil. O ranking encabeado pela Whirlpool tambm contou com empresas como Vale, Embraco e White Martins Tendo a Inovao como uma das prioridades ao longo de sua trajetria, a WEG recebeu no dia 9 de Setembro, em So Paulo, o prmio Empresas mais Inovadoras do Brasil 2010. Promovido pela Revista poca Negcios em parceria da consultoria da A.T Kearney, a premiao contemplou as 20 empresas que compem o ranking da inovao, analisadas por 12 mil consumidores do pas e selecionadas entre as 120 companhias inscritas. A lista, encabeada pela Whirlpool, contou tambm com empresas como Embraco, O Boticrio, Vale e White Martins. A WEG, que possu hoje 75% de seu faturamento originado de produtos lanados nos ltimos trs anos, ficou com a 19a colocao.A inovao uma questo de sobrevivncia para ns, afirma Milton Castella, Diretor de Engenharia da WEG. Nossos diferenciais so essenciais, j que os motores comeam a se tornar commodities no mercado internacional, completa. O principal objetivo da WEG aumentar a eficincia energtica dos produtos. Estamos produzindo motores que precisam de menos matria-prima para serem fabricados e que consomem menos energia. Com isso, conseguimos fazer com que menos CO2 seja gasto em ambas as pontas da cadeia, afirma Sebastio Nau, Gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da WEG.
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A premiao tambm contemplou os destaques de excelncia em relao aos quesitos estratgia para inovao, organizao e cultura e processos inovao, tendo como vencedores Whirlpool, O Boticrio e Dow respectivamente. Na seo em que apresentam a matria publicada na mdia a assessoria disponibiliza dados como o nome do veculos, a seo no qual foi publicado, a localidade, a data e o horrio (no caso de jornais on-line). Conforme ilustrado a seguir.
Veculo: A Notcia Seo: EDIO IMPRESSA Localidade: Joinville/SC Data: Setembro 16, 2010 - Hora: 16:30 Prmio empresarial A WEG recebeu o prmio Empresas mais Inovadoras do Brasil 2010, da revista poca Negcios. Vinte empresas que mais investiram em inovao foram escolhidas entre as 120 inscritas. A WEG, que tem hoje 75% de seu faturamento com produtos lanados nos ltimos trs anos, ficou com a 19 colocao. Veculo: poca Negcios Seo: NOTCIAS Localidade: So Paulo/SP Data: Setembro 10, 2010 - Hora: 8:16 Para a WEG, a inovao uma questo de sobrevivncia por Elisa Campos Cerca de 75% do faturamento da fabricante de motores originado de produtos lanados nos ltimos trs anos Milton Castella, diretor de engenharia da WEG, e Eduardo Leite, diretor de publicidade da Editora Globo Inovar uma das prioridades da fabricante catarinense de motores eltricos WEG. A inovao uma questo de sobrevivncia para ns, afirma Milton Castella, diretor de engenharia da empresa. Com 75% de seu faturamento originado de produtos lanados nos ltimos trs anos, a companhia ficou na 19 colocao no prmio As Empresas Mais Inovadoras do Brasil, uma iniciativa de poca NEGCIOS ...
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Esta notcia serviu como ilustrao das demais, um dado relevante percebido na pesquisa referente as datas de publicao, somente uma notcia, entre as 12, foi publicada primeiro na mdia e depois no site organizacional, Maior refinaria da Petrobrs conta com tintas Weg que foi publicada na Revista TN Petrleo do Rio de Janeiro, as demais foram noticiadas primeiro no site e depois nas mdias. No caso da empresa Weg podemos concluir que o espao de notcias do site pode ser um dos alimentadores das mdias tradicionais, a iniciativa de disponibilizar o clipping de forma virtual pode ser considerado como um agregador para o valor da marca que transforma dados da organizao em notcias e disponibiliza de modo organizado e atualizado o que pode ser um fator que contribui para que os jornalistas insiram e publiquem as matrias em suas pautas. A segunda empresa analisada, conforme descrito acima a Vale, seu site possui o link Sala de Imprensa localizado no menu superior do site, ao clicar encontrase a seguinte definio Na sala de imprensa on-line Vale, voc encontra os nossos ltimos releases, alm de informaes, notcias, udios e vdeos atualizados em tempo real a seo parece ser mais interativa o menu ltimas notcias, que aparece na parte esquerda superior apresenta as notcias da organizao, logo abaixo esto as sees TV Vale e Rdio Vale que disponibilizam as matrias em udio e vdeo que foram veiculadas sobre a organizao. J a seo Releases apresenta notcias institucionais de todos os setores da organizao. Na parte direita est disponvel o sistema de buscas onde se pode encontrar notcias por categoria como: corporativo, cultura, empresas do grupo, energia, informaes financeiras, logstica, entre outros. importante ressaltar que existem notcias institucionais em sees denominadas Destaques nos links Conhea a Vale, O que fazemos e Sustentabilidade. A parte inferior do site possui ainda uma seo de Tags que apresenta uma srie de palavras referentes a sala de imprensa que servem como um atalho de acesso s expresses mais lidas. No caso do site da Vale foram analisadas as sees Releases e Destaques para mapear as notcias institucionais e a seo Vale na Imprensa que possui notcias sobre a organizao veiculadas nas mdias. No total foram 13 notcias institucionais, publicadas entre os dias 15 de abril e 4 de outubro, dentre elas 8 localizadas na seo releases 3 na seo corporativo 3 em fatos relevantes/oficiais 1 na seo meio ambiente e 1 na seo investimentos sociais, as demais se encontram nas sees Destaque duas no links Conhea a Vale, 1 no link Sustentabilidade e 1 no link O que fazemos e outra do link Carreiras, estas geraram 23 notcias na mdia. Dentre algumas podemos destacar a notcia Vale conclui aquisio de ativos da Bunge e Fosfrtil que teve repercusso nos veculos Isto Dinheiro e DCI. Outra notcia relevante Investimento ser de 400 milhes publicada na seo de Releases e tambm da Sustentabilidade virou notcia nos jornais Folha de So Paulo Vale pretende criar MIT brasileiro e tambm no Brasil Econmico Vale investe em parte tecnolgica. A notcia So 1.200 vagas para estudantes publicada no site teve repercusso nos veculos A Tarde do Maranho e Estado de Minas. J a notcia Relatrio de sustentabilidade premiado publicado na seo meio ambiente foi notcia no Jornal o Globo com o ttulo Carbono Controlado
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4 de outubro de 2010 Site da Vale So 1.200 vagas para estudantes Esto abertas as inscries para o Programa de Estgio da Vale. So 1.200 vagas para estudantes do ensino tcnico e superior, dos estados do Rio de Janeiro, So Paulo, Gois, Minas Gerais, Bahia, Sergipe, Par e Maranho. As inscries podem ser feitas at 19 de outubro. H vagas para mais de 40 cursos de diferentes reas para estudantes do ensino tcnico e superior. O valor da bolsa-auxlio, a partir de R$ 400, ir variar de acordo com a carga horria e o grau de escolaridade. Outros benefcios como assistncia mdica, seguro de vida, vale refeio e transporte tambm so oferecidos. 5 de outubro de 2010, Jornal A Tarde MA, e Jornal Estado de Minas - MG
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As referncias bibliogrficas e anlise emprica nos levam a compreender que se configura um novo espao de interao entre os jornalistas das mdias tradicionais e as assessorias de comunicao das organizaes. Tanto o layout quanto os materiais dos locais denominados Media Center no caso da empresa Weg e Sala de imprensa no caso da Vale, nos permitem afirmar que as organizaes utilizam de forma proveitosa seus sites para a busca de relacionamento com a mdia. A anlise das matrias permite-nos entender a existncia da conexo dos jornalistas com os espaos dedicados a imprensa nos sites, um dos fatores que colabora para isso a relao com as datas, a maioria das matrias que aparecem nas sees de clipping so publicadas primeiro no site e tem como base os seus contedos. Percebem-se mudanas nas rotinas de produo, principalmente devido a publicaes on-line, que transformam questes como a deadline das matrias, por exemplo. Por isso imprescindvel que as organizaes mantenham seus sites atualizados para poderem colaborar com pautas constantemente. Nesta pesquisa inicial confirmamos a hiptese de que as organizaes utilizam seus portais de forma estratgica, pois valorizam as aes da organizao diante dos jornalistas bem como geram valores-notcia de assuntos organizacionais que, se no dispostos na rede poderiam no ser aproveitados em sua totalidade. Conforme ilustra a hiptese do newsmaking, existem inmeros fatores que colaboram para a publicao, ou no, de um contedo nos veculos das mdias tradicionais, esta pesquisa nos leva a pensar em mais um item para esta listagem, a presena das notcias na internet que utilizada como fonte de informao para jornalistas, por isso, a presena e manuteno da comunicao organizacional on-line primordial para as empresas na contemporaneidade. Referncias Bibliogrficas BALDISSERA, Rudimar. Estratgia, comunicao e Relaes Pblicas. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CINCIAS DA COMUNICAO, 24, 2001. Campo Grande, MS. Anais...Campo Grande: UFMS. BUENO, Wilson da Costa (2003). Comunicao empresarial: teoria e pesquisa. So Paulo: Manole. CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. So Paulo: Paz e Terra, 1999. HOHLFELDT, A. MARTINO L. e FRANA V. (orgs) Teorias da comunicao: conceitos, escolas e tendncias. Petrpolis: Vozes, 2001. KUNSCH, Margarida M. Krohling. Planejamento em Relaes Pblicas na Comunicao Integrada. 4 ed, So Paulo: Summus, 2003. OLIVEIRA, I. L.; PAULA, C. F. C. de (2006).Comunicao organizacional: processo de interlocuo entre organizao e interlocutores. In: PINTO, J.; SORELLE, M. (orgs) Interaes Miditicas. Belo Horizonte: Autntica. PINHO, J. B (2003). Relaes Pblicas na Internet: tcnicas e estratgias para informar e influenciar pblicos de interesse. So Paulo: Summus. SILVA, J.Q. e BARICHELLO, E.M.R. A representao das organizaes no espao midiatizado. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CINCIAS DA COMUNICAO, 29, 2006. Braslia, DF. Anais....Braslia, UNB.
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Comunicao Da Adao-go Na Promoo De Uma Conscincia Ecolgica Sustentvel, Baseada Nos Princpios Da Economia Solidria E Da Agricultura Orgnica1
Parte 3: Tecnologias e Visualidades Corporativas | : A Experincia Da Assessoria De Lisbeth Oliveira2, Vvian Cndida Maia3 Universidade Federal de Gois
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Resumo A Associao para o Desenvolvimento da Agricultura Orgnica em Gois (Adao-go) uma organizao sem fins lucraticos, constituda por produtores rurais, consumidores e tcnicos, que acreditam no poder da comunicao ambiental na formao de uma conscincia ecolgica sustentvel e transformadora de velhos paradigmas. Este trabalho descreve as aes de comunicao adotadas pela entidade em 2009, quando um estudo realizado pela Adao-go com o pblico de uma feira de Goinia identificou a falta de informaes sobre a produo e a venda dos produtos orgnicos como o principal entrave para a ampliao deste mercado. As estratgias de educao ambiental, relaes pblicas e assessoria de imprensa adotadas desde ento, sempre pautadas no objetivo maior de promover uma viso sistmica da realidade, levaram a benefcios concretos, como a conscientizao de uma parcela mais ampla de consumidores quanto s caractersticas dos orgnicos, o aprimoramento das relaes entre entidade e associados, o fortalecimento dos pequenos produtores e um estmulo para inciativas semelhantes, estruturadas de acordo com os princpios da economia solidria. Palavras-chave: alimentos orgnicos; comunicao; meio ambiente; economia solidria; sustentabilidade Abstract The Association for the Development of Organic Agriculture in Gois (Adao-go) is a nonprofit organization consisting of farmers, consumers and technicians who believe in the power of environmental communication in environmental awareness and sustainable transformation of the old paradigms. This paper describes the communication actions adopted by the entity in 2009 when a study by Adao-go with the public in a fair in Goinia identified the lack of information on production and sale of organic products as the main obstacle to expanding this market. The environmental education strategies, public relations and media relations adopted since then, always grounded in the larger goal of promoting a systemic view of reality led to tangible benefits, such as awareness of a wider section of consumers about the characteristics of organic, the improvement of relationships between the entity and associates, the empowerment of small farmers and a stimulus for similar initiatives, structured according to the principles of social economy. Key-words: organic food; communication; environment; social economy; sustainability
1 Trabalho apresentado na V FEICOM: Ressignificar as fronteiras da comunicao e informao. De 08 a 12 de novembro de 2010, em Goinia GO. 2 Professora da Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia da Universidade Federal de Gois. Pesquisadora vinculada ao Ncleo de Pesquisa em Teoria da Imagem(NPTI)/Facomb/Cnpq, linha de pesquisa O debate ambiental na comunicao. E-mail: [email protected] 3 Jornalista graduada pela Universidade Federal de Gois. Pesquisadora vinculada ao Ncleo de Pesquisa emTeoria da Imagem (NPTI)/Facomb/Cnpq, linha de pesquisa O debate ambiental na comunicao. E-mail: [email protected]
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1 INTRODUO Ainda sobrevive na sociedade atual o mito da abundncia e da inesgotabilidade dos recursos naturais, mito esse responsvel pelo consumismo desenfreado e pela utilizao inadequada dos recursos naturais. A ideia de que a soluo dos problemas ambientais de nosso tempo depende necessariamente do esforo compartilhado entre governos, setor produtivo e sociedade, atuando simultaneamente na esfera da produo e do consumo, em sua dimenso material e simblica, faz-se fundamental para a construo de uma sociedade sustentvel. O consumo est ligado coeso social, a identidades de grupos e reproduo de valores. Portanto, trata-se de uma atividade que jamais pode ser caracterizada como neutra, individual, despolitizada e muito menos desconectada de outros aspectos da vida. Segundo Capra, quanto mais estudamos os principais problemas de nossa poca, mais somos levados a perceber que eles no podem ser entendidos isoladamente. So problemas sistmicos, o que significa que esto interligados e so interdependentes (2002, p.23). A expanso da sociedade de consumo trouxe a expanso da cultura do ter em detrimento da cultura do ser e vem ganhando continuidade atravs da desigualdade na distribuio e apropriao dos bens: 20% da populao mundial, que habita principalmente os pases afluentes do hemisfrio norte, consome 80% dos recursos naturais e energia do planeta e produz mais de 80% da poluio e da degradao dos ecossistemas. Enquanto isso, 80% da populao mundial, que habita principalmente os pases pobres do hemisfrio sul, fica com apenas 20% dos recursos naturais (INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, 2005, p. 17). Para reduzir ou equiparar essas desigualdades, dizem os analistas, seria necessrio pelo menos mais dois planetas Terra. Tal impasse civilizatrio em que a humanidade se encontra - ou se alteram os padres de consumo ou no haver recursos para garantir o direito de todos a uma vida saudvel - impe a necessidade de mudanas. E neste sentido que trabalhou a assessoria de imprensa da Associao para o Desenvolvimento da Agricultutra Orgnica em Gois (Adao-go), ao valorizar o associativismo e aceitar o papel pedaggico da comunicao ambiental, mostrando ao consumidor a relao direta entre consumo e sustentabilidade. 2 A ADAO-GO A Associao para o Desenvolvimento da Agricultura Orgnica em Gois (ADAO/GO) uma entidade composta por produtores e consumidores interessados na difuso de um novo paradigma de vida, que inclui o consumo de alimentos orgnicos, caracterizados pelo cultivo livre de agrotxicos e insumos artificiais. Outra preocupao fundamental da entidade a construo de uma nova relao entre consumidores e produtores, tendo como alicerce uma conscincia ecolgica sustentvel. A associao foi fundada em 1.999, a partir de um modelo bem sucedido em Fortaleza, onde uma parcela da comunidade subsidiou a produo inicial dos agricultores. Acreditando nas qualidades dos alimentos orgnicos antes mesmo de consumi-los, essa clientela pagou mensalidades durante quase um ano, o que permitiu a estruturao das bases financeiras iniciais da entidade, que logo tomou corpo. Em Gois, a iniciativa partiu de produtores orgnicos vindos de cidades como Brazabrantes, Caldazinha e Bela Vista de Gois, todas pertencentes regio metropolitana de Goinia. A Adao-go tem 50 associados e atua com trs feiras semanais, alm de dois entrepostos de comercializao de hortalias e outros alimentos orgnicos.
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Alm disso, faz a entrega em domiclio de cestas orgnicas semanais, atravs das quais o consumidor assume o compromisso de dar sustentao financeira ao produtor, que tem a garantia dessas vendas. J a realizao peridica de Dias de Campo nas propriedades dos produtores visa acima de tudo a aproximao de todos os associados envolvidos na produo e consumo de alimentos organicos. no Dia de Campo que o consumidor v de perto o plantio, cuidados e manipulao do alimento que consome e da que nasce o controle maior de qualidade e o estabelecimento da confiana mtua entre as partes, reforada ainda pelo Sistema Sistema Participativo de Garantia (SGP), mecanismo que, na Lei de Orgnicos (lei n 10.831, de 23 de dezembro de 2003), possibilita a comercializao atravs da venda direta de produtores associados, como os da ADAOGO.
2.1 Economia moderna x Economia solidria Durante muito tempo na histria da humanidade, algumas comunidades conseguiram sobreviver baseadas apenas em atividades de subsistncia. No entanto, a partir das sociedades industrializadas, baseadas na diviso do trabalho, a produo passou a atender a uma demanda externa, com todos os problemas da decorrentes: escassez, abundncia e desigualdades sociais. O comrcio justo, caracterizado por trocas iguais e o estabelecimento de padres sociais e ambientais equilibrados nas cadeias produtivas, representa uma alternativa a esse modelo: O preo justo no s uma questo de igualdade, mas tambm uma questo de equilbrio econmico. Quando o preo est alto demais, em algum momento no se pode mais comprar. Se o preo est muito baixo, em algum momento no se pode mais produzir. Por isso, o preo justo o economicamente correto (STRAWE, 2006, p. 7). O conceito que Rudolf Steiner, em seu livro Economia Viva, tem de verdadeiras associaes est ligado capacidade que produtores, consumidores ou comerciantes, reunidos como tais em associaes, tero mediante todo o processo econmico, ou seja, possibilidade de frear uma formao de capital forte demais ou de incrementar uma formao de capital fraca demais. Ele diz:
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No h outra possibilidade se no a de basearmos o juzo econmico no sobre teorias, mas sobre uma associao viva em que os juzos sensitivos das pessoas atuem efetivamente, empregando as experincias diretas dos associados para a fixao do valor de alguma coisa (STEINER, 1998, p.130). baseada nesta compreenso do universo econmico que a ADAO-GO quer consolidar suas atividades, mantendo um debate permanente em torno de questes relativas a produo e consumo de alimentos orgnicos. 3 A ASSESSORIA DE IMPRENSA Uma pesquisa efetuada pela Adao-go na Feira Agro-ecolgica do Mercado Municipal, em setembro de 2009, identificou os pontos que impedem a expanso do comrcio de produtos orgnicos. Dentre estes pontos, o que mais chamou a ateno foi a dificuldade de acesso dos entrevistados a este tipo de produto. Por meio de um questionrio, ficou claro que eles ainda no sabem onde comprar orgnicos, e possuem uma concepo limitada dessa modalidade de alimentao. Com o intuito de solucionar esse entrave, que teve incio o trabalho de assessoria de imprensa da Adao-go, levado a cabo pela professora Lisbeth Oliveira e alguns alunos das disciplinas Prticas Transdisciplinares em Comunicao e Jornalismo Ambiental, logo aps sabido o resultado da investigao. Considerando os poucos recursos financeiros, materiais e humanos disponveis na instituio, definindo objetivos claros, identificando os pblicos a serem atingidos e determinando a logstica de execuo de cada atividade prevista, o grupo elaborou um programa de comunicao. Programas de relaes pblicas () podem fazer parte de um plano ou de um projeto mais abrangente, bem como ser realizados a partir de uma deciso, uma necessidade detectada e/ou de um problema surgido no mbito da organizao e de seu ambiente. Os programas so, portanto, bastante pontuais e atendem s demandas das organizaes no relacionamento com o seu universo de pblicos, a opinio pblica e a sociedade em geral (KUNSCH, 2003, p. 381) Conforme classificao proposta por Kunsch (2003), as atividades de comunicao que envolveram a Adao-go a partir de ento podem ser agrupadas em trs tipos de finalidades e visam seis objetivos principais. 3.1 Finalidades 3.1.1 Atividades Com Finalidades Institucionais Logotipo; marca e cores da organizao; blog da Adao-go (www.adaogoias.blogspot.com); utilizao dos elementos visuais em correspondncia e publicaes; filmes; vdeos; aes sociais; visitas s propriedades; seminrio.
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3.1.2 Atividades Em Apoio rea De Negcios Relacionamento com a imprensa, feiras e exposies, divulgao da entidade e seus produtos em eventos. 3.1.3 Atividades Em Apoio rea De Recursos Humanos Publicaes internas ( Boletim Informativo4 Adao-go), confraternizaes. 3.2 Objetivos 3.2.1 Conscientizar os consumidores quanto s caractersticas do produto orgnico (principalmente sazonalidade e regionalidade); 3.2.2 Aprimorar as relaes entre entidade e associados (comunicao interna); 3.2.3 Mobilizar os associados para a execuo das atividades; 3.2.4 Divulgar o trabalho/projetos/aes da associao em educao ambiental; 3.2.5 Divulgar os pontos/locais de comercializao; 3.2.6 Promover novos paradigmas, considerando o consumo de alimentos orgnicos como o pontap inicial para uma mudana com vistas ao desenvolvimento sustentvel da humanidade. 3.3 As aes O primeiro veculo implementado - ou melhor, retomado - pela assessoria foi o Boletim Informativo da Adao-go. A publicao foi iniciada em setembro, com periodicidade mensal, contendo seis pginas, no tamanho 15 x 21 cm. Durante o tempo em que circulou, o boletim foi o mais importante meio de propagao dos ideais que aliceram a prtica dos agricultores associados Adao-go, visto que era distribudo nas feiras, universidade e estabelecimentos comerciais. Em reportagens como Dia de Aprender, por exemplo, foi possvel mostrar que o alimento orgnico no apenas aquele sem agrotxico. As prprias fazendas seguem um sistema de funcionamento totalmente diferenciado, que no deixa de aproveitar nem mesmo o que considerado lixo, conforme tambm relatou a reportagem Lixo Orgnico, saiba o que fazer com ele. Como lembra Azevedo (2006), a agricultura orgnica maximiza os benefcios sociais para o agricultor, minimiza a dependncia de energias no renovveis na produo e mantm o incremento da fertilidade e da vida dos solos. Enquanto o Padro Tcnico Moderno faz da agricultura a principal fonte de poluio ambiental e coloca em risco a estabilidade do planeta, a modalidade orgnica se caracteriza pela diversificao e complexidade dos sistemas agrcolas, mais facilmente manejveis com base no trabalho familiar. Essa viso foi embasada em diversas pginas do boletim, nos textos redigidos pelos alunos de Jornalismo. Eles defenderam novos paradigmas para a vida do homem moderno, dando exemplos claros de como vive-los na prtica, e indicaram aos consumidores leituras que rompessem com as chamadas monoculturas da mente (SHIVA, 2003), revelando os problemas causados pela forma de cultivo tradicional nas grandes propriedades. Um trabalho de formao intelectual do pblico consumidor, acima de tudo.
4 Veculo de comunicao interna que privilegia a comunicao imediata, caracterizado por notas e notcias curtas. Tem poucas pginas, visual simples e circula em intervalos curtos.
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Outro veculo de considervel importncia foi o blog, alimentado pelos estudantes com matrias inditas, informaes sobre o sistema de cestas, objetivos da Adaogo, entrevistas e informes internos. Em vista do esperado pequeno nmero de acessos, j que a iniciativa era recente, a assessoria tratou de divulgar o blog nas feiras e em todos os eventos nos quais a associao estava presente. Embora nenhum instrumento concreto de medio de acessos tenha sido utilizado, o veculo comeou a se transformar em uma referncia para o pblico interno da associao e em uma alternativa para divulgao de informaes que ficavam fora do boletim, na maioria das vezes por falta de espao. Alm disso, foi o lugar considerado ideal para manter fotos, histria, dados, estatsticas consolidadas sobre a instituio e e-mail para contato, tanto de jornalistas quanto de qualquer outro interessado em conhecer a produo orgnica de alimentos. Retomando a meta de desenvolver uma comunicao para sensibilizao do consumidor quanto aos benefcios da produo e consumo de alimentos orgnicos e dos malefcios da agricultura convencional, foram realizados dois eventos de mdio porte: a IV Semana dos Alimentos Orgnicos e o V Seminrio de Agricultura Orgnica, ambos coordenados pela Adao-go. O primeiro evento contou com a colaborao dos alunos das duas disciplinas, visto que eles j estavam familiarizados com as feiras e demais atividades da entidade. Durante a Semana, foi realizado o Seminrio de Pesquisas Acadmicas sobre alimentos orgnicos, que contou com a exposio de oito trabalhos desenvolvidos durante a graduao ou ps-graduao dos autores, acerca da viabilizao da produo orgnica, preos que os consumidores esto dispostos a pagar, principais dvidas e a exposio do tema na mdia. Nas atividades realizadas no Mercado Municipal, o evento atraiu quase 200 pessoas, em uma prova de que os goianienses tm interesse em uma alimentao que seja to saudvel quanto gostosa. As oficinas de preparao de sucos e de saladas tiveram todas as vagas preenchidas. Mais de 30 adultos observaram atentamente as dicas das oficineiras sobre como preparar refeies ecologicamente corretas e cerca de 40 crianas puderam saborear alimentos preparados na hora, utilizando mais de uma dezena de produtos tpicos do cerrado. J o V Seminrio de Agricultura Orgnica fazia parte da programao do Agro Centro Oeste feira de negcios e tecnologias rurais, e trouxe a Goinia a engenheira agrnoma Ana Maria Primavesi. Com mais de 80 anos, marcados pela defesa do meio ambiente e a docncia em universidades brasileiras, ela explicou seu conceito de agroecologia. Ao condenar a monocultura, a dependncia de insumos qumicos e a alta mecanizao, a estudiosa defendeu os orgnicos como resultado de uma produo familiar saudvel e ambientalmente correta. Durante o seminrio, ocorrido no ms de outubro, a equipe dos estudantes auxiliou na divulgao da palestra da engenheira agrnoma, e enviou releases5 para diversos meios de comunicao, colocando entrevistados disposio dos jornalistas. O levantamento de pautas para releases foi, alias, tarefa sistemtia da assessoria de imprensa, independente da realizao de eventos como esses. Conforme Jorge Duarte (2002), as reunies de diretoria, de planejamento, encontros informais, documentos setoriais, conversas com empregados e tcnicos so boas ocasies de identificar assuntos interessantes. Por isso, a equipe procurou criar uma rede de
5 Material distribudo imprensa para sugesto de pauta ou veiculao grauita. Tambm conhecido por press release ou comunicado. Pode ser enviado por e-mail, faz, correio, entregue na redao ou pessoalmente e at disponibilizado na Internet.
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Comunicao Da Adao-go Na Promoo De Uma Conscincia Ecolgica Sustentvel, Baseada Nos Princpios Da Economia Solidria E Da Agricultura Orgnica1
Parte 3: Tecnologias e Visualidades Corporativas | : A Experincia Da Assessoria De Lisbeth Oliveira2, Vvian Cndida Maia3 Universidade Federal de Gois
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informantes e um relacionamento de confiana com os dirigentes, que possibilitasse o acompanhamento do dia-a-dia da instituio. No caso especfico da IV Semana dos Alimentos Orgnicos e do V Seminrio de Agricultura Orgnica, o resultado desse trabalho foi bastante satisfatrio, visto que a discusso foi tratada em veculos como Tv Anhanguera, Rdio 730 AM, Rdio RBC FM, Rdio CBN, Tv Serra Dourada, Tv Record e Jornal O Popular, alm de diversos portais na Internet e mdias especializadas no segmento agrcola, como a Revista Produz. E o clipping6 realizado periodicamente pelos assessores revelou ainda que a organizao e a temtica dos alimentos orgnicos em geral continuou presente na mdia, de forma espontnea, por algumas semanas aps a realizao dos eventos. 4 CONCLUSO O trabalho da assessoria de imprensa da Associao para o Desenvolvimento da Agricultura Orgnica (Adao-go) esteve norteado, do incio ao fim, por uma concepo que no percebe a discusso ambiental como uma rea restrita a agricultores, agrnomos e ambientalistas. Nem constituiu meta dos estudantes aumentar as vendas de produtos com base em estratgias de marketing e comunicao deslocadas de um contexto. Pelo contrrio, tentou-se resgatar a viso sistmica referida por Fritjof Capra, em seu livro Teia da Vida (2002). Na obra, o autor deixa claro que o mundo sofre uma grave crise de percepo. Embora boa parte dos lderes polticos, professores de universidades e administradores ainda no reconheam que os problemas ambientais que humanidade sofre decorreram de um mesmo erro, enraizado em uma percepo segmentada e desconexa da realidade, j possvel detectar perspectivas de mudanas no paradigma atual. Com as reportagens produzidas pelos estudantes, as dicas literrias, os seminrios acadmicos, a mostra de vdeos exibidos no Festival Internacional de Cinema e Vdeo Ambiental (Fica), a palestra da professora Ana Maria Primavesi, a assessoria de comunicao tentou exercer essa viso sistmica. Afinal, no h outra maneira de convencer as pessoas sobre os benefcios da alimentao orgnica, se no for revelado a elas que h algo muito maior por trs da compra de alimentos sem agrotxicos. E, por fim, fica claro que o assessor de imprensa de uma entidade como a Adao-go no trabalha como os demais jornalistas, simplesmente porque no enxerga o mundo como eles. No fiel ao tradicional princpio da neutralidade, no se preocupa com isonomia e no imparcial. Pelo contrrio. O jornalista ambiental promove um modo de vida, do qual toma partido e pelo qual luta, movido, quase sempre, por paixo. partidrio, portanto, de tudo aquilo que remeta a um mundo mais saudvel, justo e solidrio. Ainda que esse posicionamento, por no ser bem compreendido, implique em sacrifcios e doses extras de pacincia.
6 Consiste em identificar rotineiramente na imprensa as citaes sobre a organizao ou temas previamente determinados, organiz-las e encaminh-las para conhecimento dos interessados. Geralmente, os recortes so colados em folhas padronizadas acrescidos de informaes sobre o veculo, data e assunto, mas tambm pode ser feito o clipping online.
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Comunicao Da Adao-go Na Promoo De Uma Conscincia Ecolgica Sustentvel, Baseada Nos Princpios Da Economia Solidria E Da Agricultura Orgnica1
Parte 3: Tecnologias e Visualidades Corporativas | : A Experincia Da Assessoria De Lisbeth Oliveira , Vvian Cndida Maia Universidade Federal de Gois
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5 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS AZEVEDO, E. Alimentos Orgnicos: ampliando conceitos de sade humana, social e ambiental. Tubaro: Editora UNISUL, 2005. CAPRA, F. A Teia da Vida. So Paulo: Ed. Cultrix, 2002. INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. Consumo Sustentvel: Manual de Educao. Braslia: Conumers International/MMA/MEC/IDEC, 2005. DUARTE, J. (Org.) Assessoria de imprensa e relacionamento com a mdia Teoria e tcnica. Braslia: Editora Atlas, 2002. KUNSCH, M.M.K. Planejamento de Relaes Pblicas na Comunicao Integrada. So Paulo: Summus, 2003. SHIVA, V. Monocultura da mente: Perspectivas da biodiversidade e da biotecnologia. So Paulo: Gaia, 2003. STEINER, R. Economia Viva o mundo como organismo econmico nico. So Paulo: Ed. Antroposfica, 1998. STRAWE, C. Solidarische konomie. In: Revista Sozialimpulse, 2006, v. 4, p.7 (traduo livre).
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Resumo O presente trabalho tratar da configurao da Comunicao e das Relaes Pblicas, destacando, neste contexto, sua interface com a rea mdica e seus profissionais liberais, visando aproximao com os pblicos a partir da realizao de atividades de Relaes Pbicas em atividade de Assessoria de Comunicao para profissionais liberais. Aes estratgicas, estudadas e analisadas, criaro um elo informacional entre os assessorados e a sociedade. Apresentando o mdico aos pblicos, a assessoria dever eliminar o isolamento proporcionado pelo consultrio. Dessa forma, a imagem positiva do profissional da sade pode ser fomentada e o mdico passar a criar a sua prpria marca. Palavras-chave: assessoria de comunicao; imagem; medicina; profissionais liberais; sade. Abstract This work will focus on setting the Communication and Public Relations, noting, in this context, its interface with the medical field and its professionals, aiming at rapprochement with the public after the realization of public relations activities in the activity of Communication Advice for professionals. Strategic actions, studied and analyzed, will create an informational link between the society and the advised. Introducing the doctor to public, advice should remove the insulation provided by the office. Thus, the positive image of the health professional can be fostered and the doctor will create its own brand. Keywords: communication advice; image; medicine; professionals; health. 1 INTRODUO H alguns anos, com um processo educacional mais restrito, menos profissionais estabeleciam-se no mercado a cada ano, gerando, consequentemente, um menor nmero, por exemplo, de mdicos, para uma determinada populao. Atualmente, porm, essa estatstica inverteu-se, e a cada ano inmeras universidades disponibilizam ao mercado milhares de novos profissionais da medicina, mudando o fluxo que antes era cliente-mdico, para mdico-cliente. Apenas esperar o paciente no consultrio tornou-se insuficiente, sendo necessria a divulgao de seu trabalho a potenciais usurios de seu servio. A informao jamais pode ser imprudente ou inconsequente a ponto de suprimir barreiras ticas ou morais. E o cuidado para que isso no ocorra com o assessorado ser proporcionado pelo Relaes Pblicas que, ciente do Cdigo de tica Mdica e tambm da necessidade de uma credibilidade do profissional da sade, ter cincia de toda legislao vigente e obedecer, logicamente, a critrios essenciais, quanto a uma sensibilidade existente sobre o correto e o incorreto, entre o elegante e o imprprio, entre o tico e o anti-tico. O objetivo desse trabalho apresentar, atravs de um panorama geral, a perspectiva da comunicao, tendo em vista os paradigmas norteadores dos estudos no campo das atividades de Relaes Pblicas e destacando os elementos que constituem os processos que promovem a relao entre essa cincia social
1 Trabalho apresentado na V FEICOM: Ressignificar as fronteiras da comunicao e informao. De 08 a 12 de novembro de 2010, em Goinia GO. 2 Estudante de Graduao 8 semestre do Curso de Comunicao Social - Relaes Pblicas da FACOMB-UFG, email: [email protected]. 3 Orientadora do trabalho. Professora do Curso de Comunicao Social - Relaes Pblicas da FACOMB-UFG, email: [email protected]
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e os profissionais liberais da rea da sade na rede privada brasileira. Ao trazer as dimenses do fenmeno da comunicao, importante pens-la como uma fiao, em que numerosos fios se cruzam para compor o processo como um todo e discutir paradigmas. De acordo com KUHN, paradigmas so (...) as realizaes cientficas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e solues modelares para uma comunidade de praticantes de uma cincia. (KUHN, 1975, p. 13). Comunidades cientficas so regidas por paradigmas. Estes se desenvolvem atravs de metodologias e tcnicas, e concedem os embasamentos das teorias, das disciplinas, dos campos de conhecimento. , portanto, do paradigma das Relaes Pblicas que este trabalho ir propor as assessorias de comunicao para profissionais da medicina. Torna-se necessrio que se pense a comunicao como processo de construo de significados, o que possvel perante o intercmbio de informaes entre sujeitos e objetos, ou seja, entre assessorados e pblicos. Nesta relao o profissional de Relaes Pblicas o estrategista que sabe prever e articular os recursos comunicacionais necessrios para garantir a devida circulao e divulgao de informaes e significados aos diferentes receptores.
2 O DIAGNSTICO DE DEMANDA POR ASSESSORIAS DE COMUNICAO Atravs de observao participante na rea mdica, este artigo foi proposto. Analisando os profissionais liberais da rea da sade, que escrevem artigos publicados em uma revista regional em Gois, percebe-se a enorme necessidade que esses mdicos tm em expressar de forma adequada seus conhecimentos aos pblicos. Por estarem sempre com a agenda cheia de compromissos, no conhecerem o trabalho das assessorias de comunicao e da importncia da transformao do nome em marca, os mdicos sentem que precisam de ajuda neste sentido, mas no sabem a quem recorrer. O diagnstico da importncia de estudos para a estruturao de assessorias de comunicao para profissionais da medicina foi produto, tambm, de histrias orais relativas a mdicos. Analisando o caso de uma jovem que, sofrendo com seu sobrepeso, decidiu procurar ajuda mdica de um endocrinologista. Neste caso, a jovem consultou em seu convnio de sade a listagem de profissionais desta rea e marcou consulta com um destes. Ao chegar no dia e horrio agendados a impresso que ela criou em relao ao profissional foi a pior possvel. Ele atendia sem secretria em um consultrio antigo, que necessitava urgentemente de reforma. Por baixo de seu jaleco amarelado ele vestia jeans e camiseta. A partir da imagem transmitida pelo profissional, a jovem no retornou e no confiou em sua consulta, independentemente do currculo deste mdico. Se a situao fosse diferente, e ela tivesse entrado em um consultrio grande, moderno e limpo, onde uma secretria a atendesse com excelncia em uma recepo confortvel e o endocrinologista usasse jaleco branco e lmpido, com camisa e gravata por baixo, certamente a imagem construda pela paciente seria positiva e ela depositaria credibilidade neste mdico em detrimento do outro, mesmo que possuam currculos iguais. Partindo do pressuposto que a sociedade atual sinaliza o mundo atravs da aparncia, muito antes de analisar a competncia e a inteligncia, a grande maioria da populao teria impresses semelhantes sobre os mdicos aqui descritos.
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Por aspectos como estes serem relevantes detecta-se a necessidade de uma assessoria de comunicao para profissionais da rea mdica, trabalhem eles em clnicas ou que sejam atuantes em hospitais privados. Mediante pesquisa para que os problemas sejam detectados, preciso, ento, definir estratgias para desenvolver no s as competncias comunicacionais, mas toda a forma de comunicao a ser utilizada pelo profissional liberal. Aps as aes e o controle destas, auditorias de imagem so pertinentes para a verificao e avaliao do que pensam os pblicos sobre o mdico, sobre seus servios e sobre o valor de seu nome ou marca. 2.1. Processo de consolidao de imagem O assessor de comunicao, a partir da elaborao de planos estratgicos, deve fazer com que os pblicos reconheam o valor agregado ao profissional liberal e institucionaliz-lo como referncia. Para que as estratgias tenham eficcia, o comuniclogo precisa conhecer e entender profundamente sobre todos os pblicos do mdico e sobre sua especialidade. Dessa forma, a comunicao entre os mdicos e os recebedores de seus servios torna-se passvel de anlises e de proposies de aes que devem alcanar o pblico externo, entre eles os pacientes e a imprensa, e o interno, com destaque para os profissionais que trabalham junto ao profissional da sade. O mdico dever ser apresentado como parte integrante e essencial para o desenvolvimento da sociedade. O processo de consolidao de imagem acontecer a partir de um planejamento comunicacional que leve em conta as filosofias, valores e princpios do profissional, alm do meio ambiente em que est inserido. O profissional de Relaes Pblicas precisar demonstrar sintonia com atuais assuntos, principalmente com aqueles relacionados rea do profissional e sinergia com o cliente e suas metas profissionais. Sua abordagem dever ser eficiente para otimizar a publicao de matrias pela imprensa. O assessor preparar textos de apoio, sinopses, resenhas, smulas e artigos para servir de embasamento ao assessorado, far o clipping de notcias (impressos, Internet e eletrnicos), diariamente, sobre a devida rea mdica e arquivar todo material jornalstico do mdico em questo. Um networking constante com a imprensa para atualizao do mailing indispensvel ao assessor de comunicao. Se e quando necessrio ele organizar coletivas com a imprensa ou eventos. 2.2. Planos estratgicos de imagem A Assessoria ser a responsvel por elaborar e implementar Planos Estratgicos de Imagem em conformidade com os recursos financeiros e materiais disponveis. Nestes sero definidos o que fazer, como fazer e quando fazer. Os planejamentos devero ser avaliados cotidianamente e diretamente pelo relaes pblicas. Para que estes planos de imagem resultem em aes comunicacionais de sucesso, o assessor precisa conhecer amplamente sobre o ramo profissional do mdico e o ambiente de concorrncia. Dever fazer o rastreamento do mercado consumidor e fornecedor de materiais de uso do assessorado, atualizando e completando o cadastro de pacientes e fornecedores. necessrio fazer a incluso de dados, alm de nome completo, endereo e telefone, como tambm e-mail, data de aniversrio e histrico detalhado da sade e tratamentos do paciente. de extrema relevncia a criao de um mailing de empresas, sediadas na localidade de atendimento do mdico, para alguma parceria, como Planos Mdicos ou palestras que o profissional da sade poder ministrar, deste modo mostrar a importncia de seu trabalho e atrair mais pacientes. Com o intuito de explicar toda linha de atuao do profissional, informando de forma diferenciada, exclusiva e detalhada o seu trabalho e o que de positivo pode realizar pela comunidade, prope-se o envio de malas-diretas a empresas, clientes e possveis clientes pr-selecionados. Prope-se a organizao de eventos mdicos como simpsios com coffee breaks sobre temas proeminentes da rea mdica em que o assessorado atue. Neles, ele ir proferir palestras com demonstraes
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do sucesso de seus casos clnicos e interagir com o pblico. Sero convidados profissionais da rea, colegas de profisso da cidade e regio com o intuito de unio de classe, alm de pacientes, possveis pacientes e imprensa. Tem significncia a avaliao da imagem junto a pblicos especficos, mdia, e sociedade em geral atravs do convvio do profissional com as pessoas que trabalham com ele, bem como a comunicao interna e externa da clnica. Tal proposta visa eficcia no direcionamento das informaes circulantes na clnica atravs da comunicao interna e escolha correta dos meios e maneira em se transmitir informaes ao pblico externo. Aes estratgicas de comunicao tambm devero ser desenvolvidas pelo relaes pblicas para solucionar conflitos ou crises internas e externas ou para gerenci-las, caso venham a ocorrer. O ambiente da clnica ou hospital e seus funcionrios devem ser analisados constantemente pelo assessor e avaliados com frequncia pelos pacientes. Os questionrios constituem-se em ferramentas indicadas para um atendimento satisfatrio, uma vez que a opinio dos clientes deve ser considerada. Atuaes voltadas para fidelizao dos clientes e relacionamento com os consumidores criaro a sensao de um relacionamento de proximidade entre o profissional da sade e paciente. Como mdia eficaz destacase o envio semanal ou mensal de boletins virtuais ou impressos de contedo mdico relevante ao cliente (somente aos que manifestarem o interesse em receb-los), estes podero receber a data de retorno por e-mail enviado e assinado pelo seu mdico. Tambm a emisso de cartes de aniversrio e de datas comemorativas mais relevantes, como Natal, Pscoa e Ano Novo. Assim, o profissional mostrar interesse em cada caso que ele assiste, proximidade com o paciente e estar sempre alertando-o sobre os riscos do no cuidado com a sade. O relaes pblicas detalhar o processo operacional dos produtos de Comunicao atravs de projetos, campanhas e produtos elaborados com a finalidade de estreitar o relacionamento com os pblicos interno e externo. A partir, tambm, de trabalhos desenvolvidos objetivando a consolidao do relacionamento com os meios de comunicao de massa e os profissionais de comunicao e, por meio da operacionalizao de atividades de Comunicao e Responsabilidade Social. O nome do mdico dever ser transformado em uma marca, e o assessor o apresentar de forma personalizada sociedade. Assim, haver o conhecimento e fixao do nome vinculado ao atendimento de sua especialidade com excelncia. Todo um trabalho de arte grfica dando valor ao nome dever ser proposto atravs da criao de logomarca do profissional, como carto de visita e cartes de datas comemorativas, para serem enviados aos pacientes a partir de mala-direta. Levando em considerao a utilizao de redes sociais em ascenso no Brasil, vlido que o comuniclogo preocupe-se com a construo e atualizao de um blog para o assessorado. O blog dever conter informaes sobre a vida profissional do mdico, mas no deve ser confundido com publicidade. Para isso, contar com notcias referentes a casos e artigos sobre temas mdicos de interesse pblico. Esta ao possibilitar um contato mais direto e gil entre o profissional liberal da sade e seus pacientes. 3. A IMPRENSA E A CINCIA MDICA Uma assessoria de imprensa dentro de uma assessoria de comunicao fundamental para a eficincia e operacionalizao de um planejamento de imagem. Tratase de um servio que se concentra no envio frequente de informaes para os diversos pblicos de interesse do profissional liberal, a partir de materiais para mdias dirigidas e para os veculos de comunicao de massa, como jornais, revistas, agncias de notcias, sites e portais de notcias. O trabalho permite ao profissional criar um vnculo de confiana com os veculos e sedimentar sua imagem de forma positiva na sociedade. A conquista da confiana entre eles se consolida quando
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o assessorado ganha status de excelente fonte de informao. De acordo com VIEIRA a matria-prima das Relaes Pblicas a informao, e formar opinio no processo que resulta da informao, pois ela um meio e no um fim em si mesma. (VIEIRA, 2002, p. 30 ) Promover melhorias nos servios prestados e aprimorar as tcnicas utilizadas na profisso so fatos de interesse pblico e, portanto, tornam-se notcias. Talvez este seja o melhor caminho para formar ou atrair a opinio pblica. Os pblicos precisam conhecer o real perfil do mdico assessorado, seus resultados nos servios oferecidos, aspectos relacionados carreira, bem como aos casos de sucesso que ele est envolvido direta ou indiretamente, aspectos relacionados ao local de trabalho e a equipe de apoio deste profissional. Dessa maneira, sero depositados credibilidade, reconhecimento, confiana, aceitao, fidelizao e sucesso a este. E, por meio destes fatores positivos, aumentar a quantidade de clientes/ pacientes, elevando, por conseguinte, os lucros do profissional. vlido destacar que o objetivo nem sempre o aumento de pacientes. Em alguns casos a necessidade do mdico pela troca da classe social dos pacientes que atende, ou seja, deixar de atender pacientes das classes C e D a partir de convnios. E passar a atender pacientes das classes A e B em consultas particulares, podendo assim diminuir o nmero de atendimentos dirios e aumentar os ganhos. Para que uma assessoria de comunicao para profissionais da rea da sade produza resultados satisfatrios preciso que o mdico esteja completamente engajado na importncia da comunicao. Para isso, dever criar brechas em sua agenda; atender a imprensa na hora em que ela solicitar entrevista; precaver a secretria para que seja gentil com o representante da imprensa; ouvir as orientaes da Assessoria de Comunicao quanto postura, aos erros de linguagem (os chamados vcios/cacoetes), forma de se trajar. A excelncia no servio prestado pelo profissional da medicina seu maior instrumento de propaganda. O assessor tratar de divulgar os resultados positivos como casos de sucesso, os apresentaro ao pblico externo e criar meios para que o assessorado esteja sempre em contato com colegas de profisso, permitindo a ampliao de tcnicas e de conhecimentos. Com a criao de uma imagem de prestgio e de um nome ou marca, convidar a sociedade a desfrutar daqueles bons servios. 3.1. Relaes Pblicas e Jornalismo Cientfico Na interface do profissional de comunicao com outras reas de produo de conhecimento cientfico, necessrio darmos importncia s Relaes Pblicas e ao jornalismo cientfico. Segundo VIEIRA, coerente que exista uma classe de estudiosos que (...) tenham ampla familiaridade com os fatos, os mtodos e os objetivos da cincia, sendo assim capazes de fazer julgamentos a respeito de polticas cientficas. Este, sem dvida, um grande espao para as Relaes Pblicas se reafirmarem como uma Cincia Social Aplicada, em contribuio ao homem-cidado. (VIEIRA, 2002, p. 61) O relaes pblicas o profissional da Comunicao que possui ampla experincia com as linguagens e tcnicas devidas para que o pblico-alvo do assessorado seja, de fato, alcanado e trabalhado. Uma assessoria de comunicao para mdicos insere-se, certamente, nas relaes das reas da sade com as estruturas econmicas, polticas e ideolgicas das sociedades contemporneas como um ente cooperativo, propalando os profissionais e seus setores de atuao e tornando maior a divulgao de informaes essenciais sociedade. Nesse contexto, o comuniclogo, que atua nesta interconexo entre a cincia mdica e a comunidade exerce uma responsabilidade singular,
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j que informa e forma a opinio de pblicos a respeito de uma cincia salutar. A responsabilidade social de um mdico deve ser compartilhada com seu assessor de comunicao, j que este, expondo a cincia mdica, seus progressos, sua importncia no cotidiano e na melhoria da qualidade de vida das pessoas, contribui para a democratizao do conhecimento. Assim, o profissional de comunicao se coloca a servio da sociedade e do mdico. de valia ressaltar que o assessor deve trabalhar para publicaes com rigores cientficos. As exposies sobre medicina exigem que o profissional da mdia domine a linguagem devida e tenha discernimento em relao s caractersticas, fases, contradies, paradigmas, rupturas, dificuldades e motivaes sociais de tal assunto ou pesquisa mdica. O assessor de comunicao que se dedicar aos profissionais da sade deve conhecer e estudar sobre a histria, progresso, poltica, recursos, tcnicas e metodologias desta cincia no pas e na regio de atendimento do mdico. Para isso necessrio atentar-se para as rotinas, avanos e retrocessos do conhecimento cientfico. De tal modo, atravs de uma divulgao mais prudente e crtica de conhecimentos, sero evitados erros de informao, a mitificao da medicina e a mera reproduo do discurso mdico, sem contextualiz-lo ou coloc-lo em contraposio a outro, quando o assunto polmico. O relaes pblicas ser o mediador entre a opinio pblica e o mdico assessorado atravs do envio de releases, sugestes de pauta e contatos pessoais com a imprensa. Essa atuao fundamental para aproximar a cincia mdica da sociedade. De um modo geral, os escritores de cincia consideram que suas carreiras so arquitetadas a partir da explicao ou traduo do conhecimento cientfico para indivduos que podem ser ou no cientistas. 3.2. Pacientes, cincia mdica e comunicao Ao relacionar a Comunicao Social e a Medicina, e estabelecer um trabalho de Comunicao, uma gama de atividades muito ampla apresentada. Tanto a primeira, quanto a segunda, cada uma em sua rea de abrangncia, trabalha diretamente com o pblico, e sua unio, em um panorama de cooperao, permite uma complementao que viabiliza e maximiza canais e cria condies de um planejamento visando excelncia. De acordo com TEIXEIRA, mdico psiquiatra, a comunicao em sade o estudo e utilizao de estratgias de comunicao para informar e para influenciar as decises dos indivduos e das comunidades no sentido de promoverem a sua sade (TEIXEIRA, 2004). Tal definio bastante ampla, mas pode ser delimitada se adotarmos o critrio de finalidade ou de contexto desta comunicao. Quanto finalidade, a comunicao em sade pode ser trabalhada, por exemplo, para informar sobre doenas, tratamentos, prevenes, novidades em medicamentos ou educao para sade. J se o critrio de contexto for usado, o trabalho de comunicao pode ser no mbito da educao da populao, nas situaes de crise especificamente, na formao de profissionais da sade ou na interao comunicacional entre eles e seus pblicos. A aplicao de boas estratgias de comunicao na rea da sade, principalmente na relao dos profissionais e das pessoas que utilizam seus servios fundamental, j que aqueles geralmente so procurados em um momento em que quem os busca est fragilizado, passando por algum problema. Ainda segundo TEIXEIRA (2004), a comunicao em sade influencia na avaliao que o paciente faz do atendimento que recebe, na sua adaptao psicolgica doena e nos comportamentos de adeso a medicamentos e comportamentos recomendados pelo profissional. Alm disso, os processos de informao e comunicao nesta rea so excelentes analisadores da qualidade dos cuidados e da competncia do profissional da sade, ou seja, fundamental que esses processos sejam eficientes. Quanto ao processo de informao, de acordo com TEIXEIRA (2004), os principais problemas que podem ocorrer so informao insuficiente e imprecisa ou ambgua; informao excessivamente tcnica; escassez do tempo dedicado ao repasse dessa informao. Com relao afetividade da comunicao nota-se um desinteresse pelas preocupaes dos pacientes e a dificuldade de dar apoio emocional a eles. Outro entrave a barreira encontrada por muitos pacientes quanto a entender o que se explica.
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De acordo com o autor, h muitos outros problemas na comunicao entre profissional da sade e paciente que precisam ser trabalhados. O primeiro deles que a agenda (pauta) da conversa entre os dois bastante diferente. Enquanto o profissional quer saber dados tcnicos e prticos, como sintomas e tratamentos, o paciente questiona o porqu da doena, o que a causou e o que isso significar para ele e sua famlia. Alm deste grande problema h o acrscimo de longas esperas para consultas ou intervenes rpidas; entrevistas centradas mais no profissional do que no paciente; ansiedade por parte deste; e atribuio, por parte do profissional, de pouco valor comunicao com o paciente. Ainda pode-se acrescentar a essa lista de dificuldades, segundo SANTOS e SILVA (2006), a gravidade do paciente; dinmica do profissional em servio que s vezes no tem tempo de ter conversas mais duradouras; e dificuldades de personalidade e expresso dos profissionais. Todas essas dificuldades tm consequncias srias, como a insatisfao dos pacientes, erros de avaliao, no adeso dos pacientes ao tratamento e no confronto e adaptao doena. As autoras SANTOS e SILVA (2006) apresentam tambm em sua pesquisa os aspectos que podem facilitar a comunicao com familiares, mas podemos ampliar para pacientes tambm. So eles a aproximao, a empatia, ou seja, colocar-se no lugar do outro, a experincia profissional e o autoconhecimento deste, ou seja, ele entender-se melhor para entender melhor os outros. Elas acreditam que preciso humanizar a relao profissional da sade paciente. Na maioria das vezes, mesmo buscando o cuidado fsico o paciente tambm espera uma ateno ao seu bem-estar psicolgico e emocional. Quando isso no ocorre, ele avalia negativamente a qualidade do servio prestado e fica insatisfeito em relao ao comportamento do profissional da sade. TEIXEIRA (2004) conclui seu artigo dizendo que melhorar a comunicao em sade um imperativo tico para os tcnicos de sade e, ao mesmo tempo, uma responsabilidade de todos. No mesmo sentido, concluem SANTOS e SILVA que pela constncia dos aspectos criadores de entraves na comunicao, ressalta-se a importncia de um suporte e um treinamento para os profissionais da sade desenvolverem uma comunicao mais efetiva. Na sociedade moderna o investimento que um profissional liberal faz para aperfeioar-se, prescinde de um suporte comunicacional para apresentar isso aos seus diversos pblicos. O relaes pblicas o profissional capaz de transformar um comoditie em uma marca.
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REFERNCIAS
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Resumo Pretende-se neste artigo formular algumas ideias acerca da importncia do profissional de relaes pblicas no campo da Moda, como profissional possuidor da capacidade de transmitir sociedade e aos diversos pblicos que a Moda possui o que esta de fato e deseja ser entendida, aceita. Sero abordados conceitos de Moda, tais como seu significado e funes. E ainda, as formas como o profissional de relaes pblicas pode contribuir na formao da imagem e da representao da Moda na sociedade. Palavras-chave: Moda; Sociedade; Relaes Pblicas; Imagem; Linguagem. Abstract This article proposes the formulation and conception of ideas towards the importance of the professional of public relations in the fashion design as a professional that owns the ability of broadcast to the society and to the audience that the fashion design has what is fact and wishes to be understood, accepted. The further analysis happens over the concepts and definitions of the fashion design itself and its functions. Furthermore, how the public relations professional can contribute in the construction of a positive image and its representation towards fashion design in the society. Keywords: Fashion; Design; Public Relations; Image; Language. 1 INTRODUO A histria da moda se faz presente desde o desenvolvimento da humanidade, na construo das sociedades e suas culturas, sendo a roupa ou traje ou ainda, indumentria uma parte da identidade de uma determinada comunidade ou classe, assim como hbitos, costumes etc. Cultura [...] se refere ao conjunto de valores, ideais e outros smbolos significativos que ajudam os indivduos a comunicar, interpretar e avaliar os membros da sociedade. O jeito de se vestir e a aparncia so importantes atitudes e comportamentos influenciados pela cultura. (FEGHALI e DWYER, 2001, p.26) A moda, ento, vai alm de suas ditas funes bsicas, que seriam de proteo e adorno. bvio que o vesturio que no poderia ser reduzido a uma funo protetora ou ornamental um campo semiolgico privilegiado: pode-se dizer que o que faz do vesturio um fato social a sua funo significante. (BARTHES, 2005, p.275) Da, a moda, ganha no s suas funes de proteo e ornamentao, mas mais profundamente, uma funo semiolgica, carregada de significados e significantes, como j formulara Saussure (1995), em sua cincia de significaes. Partindo ento desse pressuposto do traje/indumentria como um sistema de significados, um objeto semitico que produz sentido, O vesturio, na verdade, apenas o significante de um nico significado principal, que o modo ou o grau de participao do usurio (grupo ou indivduo). (BARTHES, 2005, p.278)
1 Trabalho apresentado na V FEICOM: Ressignificar as fronteiras da comunicao e informao. De 08 a 12 de novembro de 2010, em Goinia GO. 2 Estudante do Curso de Comunicao Social da Universidade Federal de Gois UFG, com habilitao em Relaes Pblicas. Email: [email protected]
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Assim, moda: um conjunto atualizvel dos modos de visibilidade que os seres humanos assumem em seu vestir com o intuito de gerenciar a aparncia, mantendo-a ou alterando-a por meio de seus prprios corpos, dos adornos adicionados a eles e da atitude que integra ambos pela gestualidade, de forma a produzir sentido e assim interagir com o outro. (GARCIA e MIRANDA, 2007, p.22) Aglutinando ideia de sistema de significados, a moda trs em suas formas de vestir uma forma de identificao social (GARCIA e MIRANDA, 2007), expressando a personalidade de quem usa ou a identidade do grupo a qual este indivduo pertence. Vestir-se para si e para o outro torna a moda, digamos assim, uma forma de interagir, de comunicar algo a algum(s), de conviver em sociedade, ultrapassando, assim, a noo de moda como apenas futilidade, frivolidade, e at mesmo, mecanismos de manipulao. O artigo em questo objetiva mostrar a moda como um fenmeno cultural de interao social de comunicao e linguagem. E possuindo a moda esse conjunto de caractersticas, se faz necessrio a presena do profissional de relaes pblicas na construo dessa imagem diante da sociedade e dos diversos pblicos no qual a moda visa interagir e se relacionar. 2 MODA, CULTURA E SOCIEDADE Seres humanos so complexos e seus comportamentos so embasados em valores, atitudes e princpios formados dentro da cultura de uma sociedade, ao longo do tempo. Sendo assim, O modo de vestir, como smbolo social, modifica-se em funo das alteraes da estrutura e do estado geral da sociedade [...] (GARCIA e MIRANDA, 2007, p.27) A moda se estabelece como um fenmeno cultural dentro da sociedade, e atravs de seus componentes traje, indumentria, vesturio proporciona uma interao social, onde se fala e se escuta, se dialoga com o outro e consigo mesmo. Damhorst, Miller e Michelman (1999) apud Garcia e Miranda (2007, p.27) admitem que [...] o vestir integrante de nossa interao com o outro, que age, em parte, baseado nas significaes presentes em nossa aparncia. Ainda mais, O eu no desenvolvido a partir de processo pessoal ou individual, mas envolve todo o processo da experincia social. Na aferio das reaes dos outros, o sujeito desenvolve a sua prpria autopercepo [...] (GARCIA e MIRANDA, 2007, p.30) na construo da moda que muitas vezes o indivduo percebe a si a partir de sua percepo do outro, em suas relaes sociais, e uma destas, nada mais que o ato de vestir-se; h, ento, uma interao social construda ao longo de um fenmeno cultural: o vestir-se, ser visto e ver o outro, enfim, a prpria moda em si e seus componentes. [...] a partir de uma perspectiva eminentemente antropolgica [...] a percepo de fenmenos como a moda enquanto frutos de relaes sociais, historicamente constitudas. Ou seja, qualquer anlise feita da moda neste ponto de vista deve atentar para o fato de que os significados atribudos moda so socialmente construdos no interior de um contexto cultural especfico. (MONTEIRO, 2005, p.195)
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Monteiro (2005, p.196) ainda acrescenta que [...] a moda ao mesmo tempo um comentrio cultural a respeito do corpo [...], uma forma de constituir um corpo especfico, uma forma de constituir significados a respeito do prprio corpo, a fim de se relacionar com outros sujeitos sociais etc. Com isso, Willians (1961) apud Barnard (2003, p.62, 63) afirma que a cultura uma descrio de um modo particular de vida que exprime certos significados e valores, no s na arte e no saber, mas tambm nas instituies e no comportamento habitual. Vemos, ento, que atravs da moda, experimenta-se, explora-se, comunica-se e se reproduz uma ordem social. (BARNARD, 2005). Da, podemos ligar a moda e a linguagem numa lgica relacional, onde a moda se postura como linguagem, j que colocada como um sistema de significados. 3 MODA E LINGUAGEM Seguindo a linha proposta por Barthes (2005), vamos aqui fazer uma analogia ao estudo da linguagem humana - colocado por Saussure - em relao moda e seus componentes (traje, indumentria e vesturio). Saussure (1995) estuda a linguagem humana a partir de dois aspectos, que seriam a lngua e a fala. A lngua uma instituio social, independente do indivduo, uma reserva normativa na qual o indivduo haure sua fala, um sistema virtual que s se atualiza na e pela fala. (SAUSSURE ,1949, apud BARTHES, 2005, p.268) A fala, por sua vez, um ato individual, uma manifestao da linguagem. E por fim, linguagem a juno de lngua e fala.Trilhando o mesmo raciocnio saussureano, no campo da moda temos a indumentria que seria referente ao que temos como lngua, a realidade independente do indivduo, que da extrai o seu traje - referente ento fala -, atualizando pessoalmente a indumentria, instituda socialmente. E, a soma de indumentria e traje, chamada ento de vesturio referente linguagem. (BARTHES, 2005) Dessa maneira, fazer moda, ou vestir-se, construir um figurino para si oriundo daquele gerado e/ou proposto pela sociedade uma forma de estabelecer uma comunicao com os outros indivduos da comunidade ou classe social em comum, atravs de uma linguagem denominada vesturio. A moda ento toma a funo de comunicao. Para Lurie (1992) apud Barnard (2003, p.50) h muitas linguagens diferentes de vesturio, cada qual tendo seu prprio vocabulrio e gramtica. Assim, as roupas so utilizadas para falar, entrar em contato, enviar mensagens. Temos que, A pea de roupa, [...], ento o meio pelo qual uma pessoa manda uma mensagem a outra. por meio da roupa que uma pessoa tenciona comunicar suas mensagens a outra. A mensagem, assim, uma inteno da pessoa e isso que transmitido pela roupa no processo de comunicao. A mensagem tambm, naturalmente, aquilo que recebido pelo receptor. O que mais importante nessa descrio de comunicao a inteno do remetente, a eficincia do processo de transmisso, e o efeito em quem a recebe. (BARNARD, 2003, p. 52) O vesturio surge ento, como forma de dilogo, de transmitir aquilo que se anseia, ou mesmo, de omitir aquilo que no se deseja dizer. Se trata de uma comunicao no-verbal, mas no menos eficaz do que a verbal ou a escrita. Antes, a moda passa ao outro muito mais do que palavras, mas sim, conceitos, atitudes, estilos de vida. Usar determinada roupa vai alm de se adornar ou gostar daquele tecido, acessrio; diz respeito aos hbitos musicais, por exemplo, posies polticas, gostos etc. A moda ento se constitui de [...] valores; refletem o poder criador da sociedade sobre si mesma. (BARTHES, 2005, p.281) E estes valores so comunicados a partir de vesturios, acessrios escolhidos e utilizados por um determinado grupo social, que por sua vez, constitudo de indivduos com afinades, hbitos, ideias em comum. Moda, roupa e indumentria so, pois, constitutivas daqueles grupos sociais, e das identidades dos indivduos no interior daqueles grupos, e no meramente os refletem. (BARNARD, 2003, p.64).
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Leite e Guerra (2002) apud Garcia e Miranda (2007, p.117) colocam que [...] o ato de vestir, pura e simplesmente, parte de uma ideia que se materializa pelo objeto roupa e tudo aquilo que se relaciona com a atitude de ornamentar, desde penteados at intervenes feitas diretamente sobre o prprio corpo, constituindo um sistema de representao. Ou seja, mostra-se o que ou o que no pretende ser atravs do sistema da moda, pertencente sociedade, comunicando, estabelecendo relaes entre os indivduos dessa determinada comunidade. 4 IMAGEM DA MODA PARA SOCIEDADE A imagem que a moda passa desde o final do sculo XX nada mais do ambivalente, carregando consigo um status positivo e negativo, ao mesmo tempo. Ao longo dos anos quando se fala acerca de moda, o que se remete com grande facilidade e espontaneidade so palavras como glamour, frivolidade, futilidade e um desejo por se tornar igual, ou pelo menos, semelhante. Segundo Barnard, [...] ser consciente de moda ou estar na moda ainda a condena a ser uma instvel, vazia, tola, efmera (e) fascista (i-D magazine 1985/6). Os diversos modos pelos quais a indumentria, a moda e os tecidos figuram colquios cotidianos refletem essa viso, uma viso bem menos confivel e bem-vinda. Em muitas das expresses do dia-a-dia, a moda, indumentria e os tecidos esto associados a engano e trivialidade. (BARNARD, 2003, p.14) Entende-se, ento, que para muitas pessoas moda relacionada h algo no muito significativo, simplesmente passageiro e no necessariamente uma fonte de valores, mensagens, relaes. Sapir (1931) apud Barnard (2003, p.15) diz que [...] um moralista pode decretar um certo tipo de comportamento como sendo uma moda. Surge a ideia da vtima da moda ou escravo da moda, como bem pontua Barnard (2003), e disso, passa-se a noo de moda como algo prejudicial, ou pelo menos, como algo que no particularmente importante. Falar de frivolidades, sim, totalmente pertinente, mas no so essas as razes de ser do que chamamos moda, essas esto presentes em um pouco de cada rea que formam nosso modo de vida. Sobre isso, temos: claro que as frivolidades no so de maneira alguma ignoradas, pois constituem sentimentos do ser humano que podem nos levar a belas e diversas criaes, inspirando at mesmo a poesia ou a literatura em geral. E as frivolidades mobilizam milhes de pessoas em seu trabalho, alm, claro, de envolverem enormes quantidades de dinheiro. (AVELLAR, 2005, p.154)
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No difcil perceber essa viso, nos permita assim dizer, da sociedade como um todo diante do que chamamos moda. O termo designado no ingls para moda a palavra fashion, que se resgatarmos sua etimologia, assim como Barnard (2003) o fez, chegamos no latim factio, que sigmifica, por sua vez, fazendo ou fabricando. Da, temos que o sentido original de fashion muito mais ligado a realizar atividades, quilo que um indivduo faz, contrastando assim com o que essa palavra hoje representa no sentido de algo que usamos. (BARNARD, 2003) Lidar com essa imagem j construda sobre o sistema de moda, em nossa atualidade, j realidade pelo menos desde o sculo XX, no uma tarefa para qualquer profissional. H um esforo, no pequeno, para trazer tona a verdade de que [...] a moda e a indumentria podem ser as formas mais significativas pelas quais so construdas, experimentadas e compreendidas as relaes sociais entre as pessoas. As coisas que as pessoas vestem do forma e cor s distines e desigualdades. (BARNARD, 2003, p.24) Oferece-se a partir de agora uma reflexo sobre o papel do profissinal de relaes pblicas em uma de suas maiores, e por que no, mais aperfeioada, qualidade, que nada mais que a construo de uma imagem positiva e verdadeira sobre algo, e ainda mais, a capacidade de transformao de imagens negativas e/ou destorcidas diante da sociedade, e mais especificamente, diante dos potenciais pblicos de uma determinada organizao, profissional, ou mesmo, de um sistema. 5 RELAES PBLICAS, LDERES DE OPINIO E MODA Para discorrer aqui sobre o papel do profissional de relaes pblicas dentro do campo da moda tema proposto por este artigo - , se faz vlido considerarmos o seguinte conceito, colocado por Kunsh (1997) apud Tuzzo (2005, p.63) definido pelo Acordo do Mxico de 1978: O exerccio da profisso de relaes pblicas requer ao planejada, com apoio da pesquisa, comunicao sistemtica e participao programada, para elevar o nvel de entendimento, solidariedade e colaborao entre uma entidade, pblica ou privada, e os grupos sociais a ela ligados, em um processo de integrao de interesses legtimos, para promover seu desenvolvimento recproco e da comunidade a que pertencem. TUZZO (2005, p.63) ainda resume que as relaes pblicas existem para [...] criar uma imagem de prestgio [...], ou seja, no apenas para uma determinada instituio ou pessoa existe a possibilidade de se alcanar uma imagem permeada por notoriedade, seriedade e credibilidade, mas tambm ao prprio sistema da moda, colocado aqui neste artigo como algo alm do vestir-se ou proteger-se, mas, sim, uma das ricas formas de comunicao e interao social se permitido e devido refazer sua imagem, ainda vista, muitas vezes, de forma to superficial em relao ao que de fato . No intuito de alcanar essa nova imagem da moda, ou melhor, de reformul-la, o relaes pblicas no s ocupar-se- de suas funes estratgicas para com os pblicos, antes, h a descoberta destes, e ainda, a descoberta daqueles que Garcia e Miranda (2007) denominam de inovadores. Para elas,
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O inovador o primeiro comunicador visual de um dado estilo para os consumidores e influencia-os quando define e endossa padres que ele considera apropriados. [...] Em moda, os lderes de opinio so definidos por busca ativa de informao, exposio social, atividade social, educao, mobilidade fsica, comunicao interpessoal (integrao e independncia social) e capacidade de influenciar enfim, por seu coeficiente de inovao, que nada mais do que a propenso em adotar algo sem ser influenciado por adotadores anteriores. (GARCIA e MIRANDA, 2007, p.72) No s no sentido de estimular o consumo de moda e aqui no vamos nos ater a discutir consumo e consumidores - que os lderes de opinio so extremamente necessrios, ousando dizer at, fundamentais, mas tambm no sentido de gerar nos pblicos a percepo e entedimento do rico sistema de significados denominado moda. O processo de desenvolvimento de uma opinio pblica dentro da moda e dentro de qualquer outra rea - est ligado aos seus lderes de opinio e de que maneira se relacionam e se portam diante dos pblicos (da moda) - que j embasado em muitos dos conceitos discutidos no artigo em questo, constituem-se de indivduos pertencentes aos mais variados grupos sociais. E da, o esforo redobrado em conquistar a sociedade como um todo, no que diz respeito a transmitir o que moda e como esta est arraigada culturalmente na constituio de uma comunidade ou classe social; retomando assim, mais uma vez, moda como fenmeno cultural, interao social, linguagem e comunicao. Para Andrade (1996) apud Tuzzo (2005, p.36) a opinio pblica, [...] caracteriza-se por no ser necessariamente uma opinio unnime, uma opinio da maioria; muitas vezes diferente da opinio de qualquer elemento no pblico; uma opinio composta, soma de vrias opinies divergentes existentes o pblico; est em contnuo processo de formao e em direo a um consenso completo, sem nunca alcan-lo. Partindo ento da importncia de uma opinio pblica esta totalmente influenciada pelos lderes de opinio no fortalecimento da imagem da moda, o relaes pblicas surge como o mediador da imagem que a moda de fato possui e com os diversos pblicos que ela possui, gerando um dilogo consistente e sempre atualizado, e poderoso em firmar os significados nos componentes dos pblicos. Para tanto, voltamos existncia dos inovadores e da destacamos o contato prximo e intenso do relaes pblicas com eles, visto que so os lderes de opinio a importante pea na formao de uma opinio pblica que carregue o real significado da moda e suas funes. Rodrigues e Eir-Gomes (2009, p.14) afirmam que Uma das razes para a grande relevncia que dada s relaes pblicas [...] o facto de estas serem a ferramenta ideal para impactar os lderes de opinio.
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Na busca de costurar essa silhueta, no exata, mas consistente, da moda, o relaes pblicas se mostra ideal nesse processo de moldes, se destacando como profissional que segundo Grunig, Todd Hunt e James E. (1983) apud Rodrigues e Eir-Gomes, (2009, p.12), [...] clarificam os objectivos, misso, direco, valores e planeamento estratgico da organizao, para que esta se apresente de forma consistente. Tuzzo (2005) coloca que dentro dos profissionais da rea de comunicao os relaes pblicas so os que apresentam em maior escala caractersticas de gestores da comunicao. Seguindo essa ideia, o ato de trazer sociedade, dividida nos mais diversos pblicos importa-se aqui ressaltar que estes possuem caractersticas, hbitos, singulares, e portanto, trabalha-se de forma peculiar com cada um; o que chamaramos de uma comunicao dirigida, que no ser por agora, aprofundada aqui neste artigo a noo real de moda, o relaes pblicas, como comuniclogo e gestor da comunicao traz consigo os vrios meios e formas para se fazer isso. E, depois de estruturada e definida a(s) mensagem(s) e tendo se descoberto os potenciais lderes de opinio e pblicos, trabalha-se a relao moda e mdia, descrita por Moreira (2005), [...] a mdia exerce uma funo essencial, pois cabe a ela fazer a comunicao social dos signos para que esses se tornem moda. a comunicao ampla realizada pela mdia que faz da moda um fenmeno social. [...] o processo semitico da moda , acima de tudo, um processo comunicativo. Destarte, o fato da semitica ser tambm uma teoria da comunicao representa uma inestimvel alternativa terica para a investigao das conexes entre moda e mdia. Da, o relaes pblicas como gestor da comunicao e seus meios de comunicar, tendo como de extrema importncia, a prpria mdia e seus muitos veculos, de massa e dirigidos. Nesse trajeto, ento, do encontro entre moda, lderes de opinio, pblicos, sociedade, Os sentimentos so algo que no se v mas que se reflecte nas aces. Se comunicao aco, as relaes pblicas so a melhor forma de levar os indivduos a encontrar as marcas que falam sobre si, num mercado em que nada evidente, estando toda a indstria envolta numa neblina mgica. (RODRIGUES e EIR-GOMES, 2009,p.16) 6 CONSIDERAES FINAIS Conhecendo a complexa e profunda gama de funes que tornam a moda muito mais do que tendncias, vesturios e acessrios, surge a preocupao de se reformular na sociedade (os pblicos diversos que a constitui) esta imagem, apresentada e entendida muitas vezes de forma equivocada e distorcida. E para tal atuao, o profissional de relaes pblicas aparece nesse cenrio como o mediador, a ponte que conduz mensagens, constri ideias, transfere significados, atravs de sua capacidade singular em gerenciar a existente e intensa relao estabelecida (e fundamental) entre indivduos e sistemas: a comunicao.
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Enquanto o homem continuar a ser destruidor impiedoso dos seres animados dos planos inferiores, no conhecer a sade nem a paz. Enquanto os homens massacrarem os animais, eles se mataro uns aos outros. Aquele que semeia a morte e o sofrimento no pode colher a alegria e o amor. (Pythagoras) Resumo O objetivo do presente artigo refletir sobre a atuao das Relaes Pblicas em ONGs de Proteo Animal, mas especificamente na ASPAAN- Associao Protetora e Amiga dos Animais, que luta pelos direitos dos animais qualidade de vida. Prope-se diferenciar o Terceiro Setor dos demais seguimentos (primeiro e segundo setor), a partir do apontamento de suas caractersticas e especificidades, aprofundando-se no trabalho realizado pelas Organizaes No Governamentais- ONGs. Que so entidades que enfrentam grandes dificuldades em se manter visvel na sociedade e consequentemente angariar verbas e novos parceiros. Diante dessa realidade e de uma anlise feita, percebe-se que essa visibilidade almejada pela organizao possvel atravs de uma comunicao eficiente e eficaz, planejada e executada por meio das ferramentas de Relaes Pblicas. Palavras-chave: Terceiro Setor. ONGs. Comunicao. Animais. ASPAAN. Introduo O crescimento das desigualdades sociais e a pouca atuao do governo na busca de justia social, fomenta, cada vez mais, a discusso sobre a nossa funo de cidado na luta e construo da cidadania. A partir dos anos de 1970, nota-se uma crescente conscientizao, desses fatos, por parte da sociedade civil que vem se agrupando em movimentos sociais, ongs, associaes, seja em prol da luta contra desigualdade social, racial, direitos dos animais, enfim, so vinculadas por alguma causa ou problema social, dando fora ao Terceiro Setor. Motivadas pela ideia de procurar novos caminhos para o profissional de Relaes Pblicas, que se distncia da lgica empresarial e mercadolgica e pela luta contra a indiferena do homem sobre os animais, surge o tema do presente artigo: As Relaes Pblicas nas ONGs de Proteo Animal: caso ASPAAN.
1 Aluna do sexto perodo do curso de Comunicao Social Habilitao em Relaes Pblicas da Universidade Federal de Gois. 2 Aluna do sexto perodo do curso de Comunicao Social Habilitao em Relaes Pblicas da Universidade Federal de Gois e monitora da disciplina Teorias da Comunicao I e II. 3 Professor Mestre do curso de Comunicao Social Habilitao Relaes Pblicas da Universidade Federal de Gois
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Terceiro Setor: conceitos e caractersticas Entende-se aqui que o primeiro setor o governo, que cuida das questes da sociedade em prol do povo usando dinheiro pblico pra fins pblicos, o segundo setor o privado que visa o lucro, onde capital utilizado para fins mercadolgicos. O que denomina-se hoje de Terceiro Setor surgiu da necessidade de suprir a carncia e falhas do governo em relao elaborao de projetos, assistncia e resolues de problemas sociais que a priori seriam cargo do governo e das empresas privadas de se mostrarem preocupadas com estas questes, colocando em voga a chamada responsabilidade social. Porm, isso se torna uma caracterstica um tanto negativa, pois cria um distanciamento das responsabilidades do governo em relao sociedade. Carlos Montao (2002, p.23) ressalta que: Retirar do Estado (e do capital) a responsabilidade de interveno na questo social e transferi-la para a esfera do terceiro setor no ocorre por motivos de ineficincia (como se as ONGs fossem, naturalmente mais eficientes que o Estado), nem apenas por razes financeiras: reduzir os custos necessrios para sustentar esta funo estatal. O motivo fundamentalmente polticoideolgico: retirar e esvaziar a dimenso de direito universal do cidado quanto a polticas sociais (estatais) de qualidade; criar uma cultura de auto-culpa pelas mazelas que afetam a populao, e de auto-ajuda e ajuda mtua para seu enfrentamento; desordenar o capital de tais responsabilidades, criando, por outro lado, uma imagem de transparncia de responsabilidade e, por outro, a partir da precarizao e focalizao (no universalizao) da ao social estatal e do terceiro setor, uma nova e abundante demanda lucrativa para o setor empresarial. As organizaes do terceiro setor podem ser consideradas privadas por no serem governamentais, porm, no possuem fins lucrativos, e tem como objetivo gerar servios de carter pblico servindo aos interesses coletivos, ou seja, utilizando o dinheiro privado para fins pblicos. Segundo Fernandes (1997, p.27), Terceiro Setor composto de organizaes sem fins lucrativos criadas e mantidas com nfase na participao voluntria, num mbito no-governamental, dando continuidade s prticas tradicionais de caridade, da filantropia e do mecenato e expandido o seu sentido para outros domnios, graas, sobretudo, incorporao do conceito de cidadania e de suas mltiplas manifestaes na sociedade civil.
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No composto do terceiro setor se encaixam Organizaes no-governamentais (ONGs), Organizaes da Sociedade Civil de Interesse Pblico (OSCIPs), fundaes, associaes comunitrias, movimentos sociais, instituies filantrpicas, entre outras entidades, cujo carter privado sem fins lucrativos e, coordenadas por aes voluntrias prevalecem. Nesse mbito, as Organizaes da Sociedade Civil de Interesse Pblico (OSCIPs) se caracterizam como uma forma de facilitar o aparecimento de parcerias e convnios com todos os nveis de governo e rgos pblicos. OSCIP trata de uma qualificao dada pelo Ministrio da Justia no Brasil, regulamentada pela lei n 9.790, de 23 maro de 1999 e permite que doaes realizadas por empresas possam ser descontadas no imposto de renda. Observa-se que a partir do processo de redemocratizao poltica que se deu aps o perodo da Ditadura Militar (1964- 1985), as organizaes no governamentais e sem fins lucrativos- ONGs ganham fora no Brasil. Segundo pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), em dezembro de 2004 o Pas possua 276 mil instituies privadas sem fins lucrativos, contra 105 mil em 2002, totalizando um crescimento de 157% em dois anos. As fundaes privadas e associaes sem fins lucrativos brasileiras empregam 1,5 milho de pessoas e pagam salrios e remuneraes de 17,5 bilhes de reais. (TERCEIRO..., on-line). ) As ONGs so organizaes formadas pela sociedade civil sem fins lucrativos e que tem como misso a resoluo de algum problema da sociedade, seja ele econmico, racial, ambiental, de proteo animal ou ainda a reivindicao de direitos e melhorias e fiscalizao do poder pblico. As Organizaes No-Governamentais Organizaes no-governamentais (ONGs) so definidas como organizaes privadas sem fins lucrativos que no so estabelecidas por acordos governamentais. Estas entidades nascem, geralmente, de vontades e necessidades coletivas de um determinado grupo desejoso que suas causas, valores e/ou reivindicaes tenham maior representao perante a sociedade. Segundo pesquisa do IBGE, juntamente com a ABONG, h hoje no Brasil 338 mil organizaes sem fins lucrativos divididas em cinco categorias: 1. que so privadas, no integram o aparelho do Estado; 2. que no distribuem eventuais excedentes; 3. que so voluntrias; 4. que possuem capacidade de autogesto; e, 5. que so institucionalizadas. Porm no existem 338 mil ONGs de fato, pois as organizaes do campo da filantropia empresarial tambm se caracterizam entidades de defesa de direitos e do terceiro setor. So vrias as classificaes das ONGs quanto a sua atuao, alguns as subdividem em caritativas (que cuidam de questes que envolvem mulheres, idosos e menores); desenvolvimentistas ( defendendo as intervenes no Meio Ambiente); cidads (voltadas para a reivindicao dos direitos da Cidadania) e as ONGs ambientalistas. J estudiosos da Faculdade de Filosofia e Cincias Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais traaram um perfil mais detalhado das ONGs (apenas das que esto inseridas na Rede), segundo este perfil, as ONGs se subdividem em: caritativas; ambientalistas; minorias; cidads; o menor; direitos humanos; mundo do trabalho; AIDS; pesquisa/organizaes no-governamentais.
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As organizaes que se encaixam no perfil ambientalista so o foco deste texto, mais precisamente organizaes que talvez se encaixem em alguma outra subdiviso deste prprio perfil, as organizaes de proteo animal. Desde o sec. VI a.C. filsofos j discutiam o respeito animal, pois acreditavam nas transmisso de almas. Porm discusses mais profundas sobre este tema ocorreram no sec. XVII, quando o filsofo francs Ren Descartes argumenta que os animais no tm alma e consequentemente no pensam nem sentem dor afirmando, assim, que os maus tratos contra animais no seriam errados. Em resposta, Volteire defende que animais so to sencientes quanto os humanos, seja na dor ou na euforia, dizendo ainda que aquele que acredita na existncia dos animais apenas como mquinas privadas de conhecimento e sentimento algum pobre de esprito. A discusso existe h tempos mas, s na dcada de 70, aps as ideias de Peter Singer em seu livro Animal Liberatio4 a movimentao em defesa dos direitos dos animais tomou forma. A partir da entidades comearam a lutar pela extino das mais variadas prticas de crueldade com os animais, dentre elas, a criao arbitrria de animais para o consumo nas denominadas fazendas industriais, bem como as prticas desportivas em detrimento de qualquer espcie animal, o uso da pele dos animais na confeco de vesturio, a utilizao de cobaias em experimentos cientficos, alm da tortura contra animais domsticos, domesticados, selvagens e exticos. Hoje existem inmeras organizaes que cuidam dos interesses dos animais no humanos. Em 2009 a Sociedade Mundial de Proteo Animal (WSPA) conseguiu o nmero de 1012 organizaes no-governamentais filiadas a ela em 150 pases, algumas dessas organizaes lutam pelo bem-estar dos animais em geral, outras se prendem a preservar determinadas espcies ou condenar prticas que contrariam o direito dos animais qualidade de vida e ainda h aquelas que tem por objetivo acolher e proteger os animais domsticos cujos donos abandonaram prpria sorte. O Brasil o segundo pas que mais abandona seus animais (gatos e cachorros), perdendo somente para os Estados Unidos. Estima-se que no Brasil existam cerca de 20 milhes de cachorros e 10 milhes de gatos. Em So Paulo, segundo estatsticas, h 1 cachorro para cada 7 habitantes e 1 gato para cada 46 pessoas. Ainda segundo essas estatsticas, 20% dos ces e gatos so domiciliados, 70% semidomiciliados (tem donos mas vivem na rua) e 10% so abandonados, sendo que os animais semidomiciliados correm o mesmo risco de acidentes, doenas que os animais abandonados e podem, na maior parte das vezes, acabar mortos ou abandonados. De acordo com o Centro de Zoonoses de Goinia, foram registrados, na capital mais de 4,5 mil animais em estado de abandono s nesse ano. No ano passado, foram 5.622 casos, evidnciando a preocupao que se deve ter com os problemas de abandonos na Capital. Entre as justificatvas aprsentadas para esse ato ais que mais frequentes a falta de tempo, o alto custo, o animal teve cria ou o dono mudou e no tem mais espao para cuidar do bicho. Para evitar que esses animais fiquem sem um lar, muitos so encaminhados para a adoo esse trabalho feito pelo CCZ, por ONGs e por cidados que cuidam e gostam de animais. O animal abandona nas ruas est sujeito a inmeras doenas, que podem ser transmitidas s pessoas, principalmente, as de pele. Esse ano foram encaminhados para adoo 138 ces e 7 gatos, pelo Centro. A adoo uma pratica consciente, que pode salvar vidas. Perante essa triste realidade foram criadas ONGs de proteo a animais abandonados em Goinia, a mais conhecida e atuante delas na cidade a Associao Amiga e Protetora dos Animais (ASPAAN), que possui abrigo prprio e conta com algumas parcerias que contribuem com rao e medicamentos, alm de uma empresa que
4 Animal Liberation um livro publicado originalmente em 1975 pelo filosofo australiano Peter Singer que denuncia contra prticas de crueldade aos animais de um ponto de vista tico.
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criou e mantm gratuitamente o site da organizao. A ASPAAN no recebe ajuda governamental e se sustenta com doaes das poucas empresas e pessoas que aderiram sua causa. Conta tambm com um veterinrio e um caseiro que so remunerados e todas as outras pessoas que cuidam dos mais de 100 animais do abrigo so voluntrios, que alm de contribuir com doaes, fazem resgates de animais acidentados ou que vagam pelas ruas famintos e doentes, e quando so necessrios cuidados especiais com algum deles, os levam para suas casas at que a recuperao esteja completa. Esse tipo de ONG tem ainda mais dificuldades de se manter por tratar de interesses vistos como aqum aos dos humanos que, ainda hoje, veem os animais no humanos como objetos e no como seres sencientes que passam fome e frio e sofrem com doenas assim como eles. A maior dificuldade da ASPAAN, assim como das demais ONGs de proteo a animais abandonados alm de conseguir recursos para cuidar dos animais recolhidos, concientizar as pessoas da adoo e do no abandono. Assim quanto mais animais forem adotados e continuarem domiciliados, mais condies a organizao ter para recolher outros que ainda esto nas ruas, evitando que sejam pegos pelas carrocinhas e sacrificados nos centros de zoonozes. Nesse sentido, o principal meio de uma organizao do terceiro setor que trabalha com causas animais conquistar visibilidade e credibilidade perante a sociedade a comunicao, atravs, mais especificamente, de atividades de Relaes Pblicas. Comunicao e Relaes Pblicas no Terceiro Setor No contexto de lutas sociais, desencadeadas na dcada 1970, que a comunicao comunitria, alternativa e popular se vincula aos movimentos onde a populao est organizada, no mbito do terceiro setor, na busca de ampliar os direitos de cidadania e contribuir na batalha diria de solucionar problemas que afetam a vida e o cotidiano das pessoas. Sempre no intuito de somar foras para fortalecer as lutas sociais, sejam elas de cunho econmico, ambiental ou racial. O terceiro setor indica um espao de participao de novos modos de pensar e agir sobre a realidade social. Rompe a dicotomia entre pblico e privado, dicotomia na qual pblico era sinnimo de estatal e privado de empresarial. V-se o surgimento de uma esfera pblica no- estatal e de iniciativas privadas com sentido pblico (CARDOSO, 1997, p.9). nesse sentido que se deve atentar a atuao do profissional de comunicao dentro dessa esfera do chamado terceiro setor, uma vez que essa se difere nos processos comunicacionais. Podemos dividi-la em trs modalidades: 1- comunicao de empresas com o terceiro setor (nesta modalidade, incluem-se fundaes, institutos e organizaes de carter empresarial que apresentam programas sociais desenvolvidos ou apoiados por empresas a partir da idias de responsabilidade social ou empresa cidad); 2- comunicao dos poderes pblicos com o terceiro setor (entende-se aqui a comunicao de rgos pblicos dos mbitos governamental, parlamentar e jurdico na relao com o terceiro setor); 3- comunicao das aes comunitrias, movimentos sociais e ONGs (neste cenrio entra em questo a comunicao dentro das prprias organizaes, com a sociedade e com os pblicos beneficirios de suas aes, que so os prprios sujeitos ativos).
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Dentro da Associao Amiga e Protetora dos Animais - ASPAAN (e em outras Organizaes no Governamentais), a comunicao acontece em dois nveis: a comunicao dirigida aos pblicos beneficirios/sujeitos, a qual se interliga s atividades concretas de promoo da cidadania, denominada comunicao mobilizadora e por outro lado temos a comunicao institucional, que representa o processo comunicacional da organizao para com os demais pblicos e com a sociedade de modo geral. Nessa ltima envolve a reputao e o conceito de imagem que se deseja construir ou manter como a identidade e carter ideolgico-poltico. Como no mbito do Terceiro Setor a comunicao tem como premissa a emancipao cidad e compromisso com a reduo de desigualdades, e a luta pelos direitos dos animais, sendo a ASPAAN uma ONG, no nvel da comunicao mobilizadora que ela se desenvolve, porque as articulaes feitas ali tm como prioridade a realizao de projetos que se propem a contribuir para a mudana social, onde os animais sejam vistos como seres vivos dignos de direito e ateno, no s por parte do governo, mas tambm da sociedade civil, onde se luta pelo fim da explorao da espcie. Assim sendo, o profissional de comunicao deve se preocupar em desenvolver aes necessrias para construo e consolidao de relaes educomunicativas com seu pblico beneficirio, como processos interpessoais, interativos grupais e confeco de material didtico-pedaggico (programa de televiso, de rdio, campanha educativa, contato face a face, jornalzinho, vdeo, blog, entre outros). J na segunda modalidade, observa-se a comunicao organizacional propriamente dita, onde so criados os canais prprios de comunicao, possibilitando que a ASPAAN se apresente sociedade e que possa expressar sua opinio sobre fatos e acontecimentos, apresentar reivindicaes e difundir informaes e tambm prestar contas comunidade. A comunicao dos movimentos pode ser caracterizada como um problema de relaes pblicas. Como qualquer tipo de organizao contempornea, os movimentos ou projetos mobilizadores necessitam posicionar-se publicamente e entrar no espao de visibilidade definido pelo sistema da mdia, por meio da produo estratgica de enquadramentos (HENRIQUES, 2007, p.101). A comunicao desenvolvida a partir da viso das ONGs e outras organizaes comunitrias, tem suas prticas e conceitos fundamentais, principalmente de Relaes Pblicas, modificados de acordo com a tica dos prprios sujeitos sociais na relao com seu pblico e com a comunidade. Nesse sentido surge a necessidade de se criar um novo segmento de Relaes Pblicas. Relaes Pblicas: uma viso comunitria Nasce nos anos de 1980 as Relaes Pblicas comunitrias, conhecida tambm como popular. Diferenciando-se pela atuao nas comunidades, associaes, organizaes no governamentais e outras entidades que no tem por finalidade o lucro. Nessa esfera no trata do profissional de Relaes Pblicas se posicionar como representante das organizaes no governamentais, mas sim um facilitador de modo a fazer com que seus prprios agentes sociais se representem de forma autnoma. Aqui falamos de um processo comunicacional holstico e multidisciplinar. No desprezando nem dispensando as habilidades desse profissional, mas sim, trabalhando em uma perspectiva onde eles se entrelaam e, principalmente, se completam. Neste universo o que interessa o saber e o querer coletivo, no h um que saiba e outro que ensina ou um que manda e outro que acata, h um(s) objetivo(s) comum e uma construo do saber coletivo. Nesse caso trabalhar no sentido de alertar a sociedade sobre a importncia da posse responsvel, bem como informar sobre os
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direitos dos animais, protegendo-os contra os maus tratos alm de ressaltar a necessidade da castrao. Afinal, essa a bandeira de luta social que a ASPAAN levanta. Quando um profissional de Relaes Pblicas se aventura nesse mundo da comunicao comunitria, deve entender que no cabe a ele tentar adequar a entidade aos interesses empresarias e governamentais. O RP deve entender a dinmica desses movimentos, fazer com que os prprios sujeitos sociais entendam esse funcionamento e atuar em processos que favoream a transformao social, haja vista que essa a estratgia das aes vinculadas ao terceiro setor. Muitos instrumentos e tcnicas tradicionais de comunicao utilizadas no relacionamento empresarial e governamental so tambm ferramentas que aparecem dentro da comunicao popular e podem ser trabalhadas na ASPAAN, porm deve ser pensada de acordo com as dimenses e lgicas do processo de mobilizao social, onde as Relaes Pblicas comunitrias tem muito a contribuir. A comunicao comunitria uma via de mo dupla, pautada na comunho entre sujeitos iguais que participam de seu contexto e o transformam dialeticamente. Esse movimento gera compromisso e amadurecimento do movimento e de seus membros, bem como dos profissionais que atuam nele (CSAR, 2007, p.86). No mbito dos movimentos e das organizaes populares no aconselhvel que haja a transposio de princpios, prticas e processos, pois, o prprio ato de elaborar dinmicas de relacionamentos pblicos j se transforma numa ao educativa (PERUZZO,). Sendo assim, o conjunto de comunicao capaz de atender os objetos da Associao Protetora e Amiga dos Animais - ASPAAN, no sentido de provocar mudanas, solucionar problemas, difundir idias e agregar colaboradores. Consideraes finais Os animais, assim como os homens, tm o direito vida. Sabemos que, tanto no Brasil como em outros pases, este conceito tem sido esquecido e vemos animais mal-tratados, abandonados, comercializados ilegalmente e at mesmo submetidos a prticas dolorosas de esportes nos quais devem lutar pelas suas vidas, apenas para a diverso das pessoas. Infelizmente as ONGs de proteo animal no recebem ajuda e ateno que merecem por parte do governo. Sendo assim, dependem exclusivamente de financiamentos oriundos de iniciativa privada, onde a parece o Terceiro Setor como forma de expresso da sociedade civil, que coletivamente, vem acrescentar a participao da populao nos espaos pblicos como ato de cidadania. Dessa maneira, o profissional de Relaes Pblicas tem uma nova conquista a ser realizada, que trabalhar a comunicao em prol da entidade, respeitando os critrios de uma comunicao comunitria e popular, lutando ao lado das organizaes sem fins lucrativos para que elas consigam mudar pensamentos, difundir conceitos, angaria colaboradores e se tornar, atravs de um processo de educomunicao, uma organizao auto-sustentvel. Construindo uma comunicao eficaz para essas organizaes, utilizando as ferramentas de Relaes Pblicas no intuito de melhorar sua performance perante a opinio pblica e colaborando no processo de conscientizao.
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O Twitter e as imagens: categorias qualitativas de anlise da circulao da imagem pblica poltica em redes sociais na internet
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RESUMO Esse artigo tem natureza terico-metodolgica e traz como objetivo dar fundamentao s categorias de imagem pblica nas modalidades imagem pretendida, imagem negociada e imagem atribuda, como pertinentes para a anlise dos modos de formao, destruio e manuteno de imagem pblica em redes sociais, especificamente o Twitter. Para isso, inicialmente se traz o posicionamento do conceito de imagem pblica, tal como trabalhado em autores referendados, como Goffman, Thompson e Gomes, alm de contribuies mais recentes, que oferecem condies para a vinculao do conceito s noes de esfera pblica, cidadania e circulao, como fizeram Signates, Braga e Freitas. Na sequncia, so explicitados alguns dos resultados preliminares da aplicao das categorias descritas a uma pesquisa emprica em andamento, que estuda o uso poltico do twitter por um dos candidatos a governador de Gois, na Campanha Eleitoral de 2010. PALAVRAS-CHAVES: Imagem pblica; redes sociais na internet; poltica e internet; poltica e Twitter; metodologia da pesquisa. ABSTRACT This article has a teoretical and methodological nature and has as objective to support the categories of public image modalities desired image, negotiated image and image attached, as required for the analysis of modes of formation, destruction and maintenance of public image in social networks, specifically on Twitter. Therefore, initially it brings the position of the concept public image, as worked on referenced authors, as Goffman, Thompson and Gomes, and also in more recent contributions, which provide conditions for linking the concept to the notions of public sphere, citizenship and circulation, as did Signates, Braga and Freitas. In sequence, are explicitated some of the preliminary results of applying the categories described an unfinished empirical research, which examines the political use of Twitter by a candidate for governor of Gois, in the 2010 Election Campaign. KEYWORDS: Public image; social networks on internet; internet and politics; Twitter and politics; research methodology Introduo A noo de imagem pblica constitui hoje uma das categorias centrais para o estudo das condies de circulao simblica nas sociedades contemporneas, capilarizadas pelas tecnologias de comunicao. Para alm disso, com a consolidao da democracia, em pases como o Brasil, e a periodicidade bienal de eleies em todo o pas, movimentando setores expressivos no s da classe poltica, mas do mundo econmico e, forosamente, a sociedade adulta inteira, a noo de imagem pblica poltica se tornou fundamental para a compreenso dos modos de relacionamento dos polticos com a sociedade e a complexa produo de sentido que lhes decorrente. Nesse sentido, a recente emergncia da internet e a crescente presena do debate poltico e eleitoral nas diferentes modalidades das redes sociais tornam pertinente a indagao sobre os modos de circulao da imagem pblica poltica nesses ambientes virtuais. Esta a questo problema sobre a qual se debrua a pesquisa que inspirou este artigo. Este trabalho busca, nesse campo, um debate terico-metodolgico. Ancorado na teoria da imagem pblica e, especificamente, na sua modalidade poltica, busca-se aqui efetuar a construo de categorias de anlise que sejam pertinentes pesquisa emprica da imagem pblica poltica no ambiente virtual do microblog Twitter. Para isso, ser inicialmente feita uma sntese do que seja imagem pblica e a sua modalidade poltica, para, em seguida, trat-la na perspectiva das possibilidades da internet e, de modo especfico, do Twitter, para, enfim, propor trs categorias, referenciadas nas condies de interao demonstradas pelo microblog.
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O Twitter e as imagens: categorias qualitativas de anlise da circulao da imagem pblica poltica em redes sociais na internet
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1. Imagem pblica Denomina-se imagem pblica a um bem simblico dotado de qualidades subjetivas e que adquire condensao de sentido em algum coletivo. Trata-se de um discurso em movimento, que se altera a partir das condies sociais concretas de circulao. A imagem pblica , pois, mutvel, por estar em constante circulao, mas pode assumir aspectos que se cristalizam na opinio pblica e, s vezes de tal forma que alteraes s podem ocorrer a longo prazo ou em condies muito especiais. Uma das questes mais candentes no tratamento que a literatura especializada tem dado problemtica da imagem pblica a das condies de sua administrao. Este, por exemplo, o debate de Thompson ( ), quando se refere administrao da visibilidade. O problema se inicia nas prprias condies de circulao de sentidos da linguagem, na medida em que se compreende que os processos de interpretao no so produzidos externamente, isto , no se tornam mera consequncia da atuao de um emissor sobre um receptor, mas constituem trabalho de produo de significados, para o qual o suposto receptor recorre a um repertrio prprio de experincias e bens simblicos (que Habermas, ancorado na tradio fenomenolgica, denominou mundo da vida). Uma imagem pblica, portanto, no controlvel pelo menos no inteiramente. Por ser um bem simblico efetivado dentro de um processo dinmico de comunicao ou, em outras palavras, por ser um conjunto de caractersticas agregadas e em contnua circulao, a imagem pblica apenas parcialmente pertence a seu detentor original. Quanto mais pblica ou visvel for, mais depender de situaes de alteridade simblica para se configurar, isto , mais depender dos outros e da mdia (ou da atuao pblica das instituies de poder simblico). Evidentemente, trata-se de um processo de formao, manuteno e/ou destruio, que compromete inapelavelmente o sujeito que a imagem se refere. Entretanto, praticamente todas as condies de manipulao esto restritas aos modos e processos de produo simblica, inclusive quando circulam nos meios e instituies de comunicao (que tambm fazem parte daqueles modos e processos). Este trabalho assume, para a discusso terico-metodolgica, a perspectiva de que as imagens pblicas so perceptveis pesquisa qualitativa, em seu processo de circulao, na medida em que se construam categorias de anlise capazes de atender suas especificidades. Eis o que, de fato, constitui uma pretenso fundamental deste trabalho. 2. Circulao da imagem pblica Admitida como bem simblico cujas caractersticas so inteiramente relacionadas aos processos de circulao de sentido, isto , que no podem ser inteiramente determinadas pelo sujeito que lhe serve de referncia, embora dele no escapem, nem por qualquer aparato produtivo por si s, torna-se importante delinear as referncias de anlise que podem estabelecer as especificidades da imagem em circulao. Neste trabalho, as condies de especificidade so distinguidas em trs, relacionadas todas s peculiaridades da situao social da comunicao, e cujas repercusses metodolgicas sero examinadas adiante. Parece trivial que o primeiro campo de estudos o processo de produo da imagem, operado pela origem de seus sentidos, ou aquela situao social que as teorias de informao denominaram o emissor. O sujeito a que a imagem pblica se refere constitui logicamente o ponto de origem do processo, e suas tentativas2de operar sua prpria imagem referem-se s condies de manipulao possvel da imagem, para as quais levar sempre em alta considerao as situaes materiais e simblicas presentes e que lhe so perceptveis.
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O Twitter e as imagens: categorias qualitativas de anlise da circulao da imagem pblica poltica em redes sociais na internet
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O segundo campo de estudos aqui assumido o espao de audincia ou de visibilidade da imagem. Constitui, esse espao, para os termos deste trabalho, um outro campo de produo simblica, e no apenas um espao subsidirio ao primeiro, embora, no processo de circulao da imagem, este se refira obrigatoriamente quele. E, por fim, assume-se um terceiro espao de pesquisa, que se relaciona diretamente ao ambiente de circulao dos sentidos simblicos, isto , ao prprio contexto da interao mediada pelo sistema virtual da internet, o qual, graas s peculiaridades prprias do processo digital em rede, propicia diferentes formas de interao, inclusive o dilogo e a negociao de sentidos e significados. Deste modo, em termos sintticos, pretende-se pesquisar: Aquilo que se diz. Aquilo que se comenta. Aquilo que se conversa. A percepo da imagem pblica constitui hipoteticamente a resultante de todos esses fatores, traduzidos no estudo da linguagem em circulao. Eis o caminho terico, cujas repercusses metodolgicas passam a ser examinadas, a partir de ento. 3. Categorias de anlise da proposta metodolgica Cada um desses fatores redunda numa categoria distinta, cujo resultado de anlise constitui um tipo de imagem pblica. Evidente que esta tipologia no pretende de forma nenhuma exaurir a teorizao possvel, a partir de outros critrios, que no os campos especficos da relao comunicativa. a. Assim, para o estudo do que se diz, isto , da simblica resultante do processo produtivo de origem da imagem, prope-se trabalhar com o conceito de imagem pretendida. Neste caso, preferiu-se a idia de pretenso, por ser a que hipoteticamente melhor se vincula noo de Braga (2010) de comunicao como tentativa. Presume-se, nesse sentido, que o ator social, referncia da imagem pblica em estudo, na busca por instaurar caractersticas especficas de imagem, que o beneficiem no processo de exposio visibilidade pblica, tenta obter sucesso, mobilizando os processos produtivos que lhe esto ao alcance, na dada situao social em que se insere. A sugesto de que a imagem, iniciada por este processo, pretendida elimina a idia de que se trata de uma fabricao de imagem, evitando-se com isso a noo de que a capacidade de produzir imagem constitui uma posse ou um poder do emitente. O autor ou ator social, ante o desafio da prpria imagem, representa um sujeito que se encontra o tempo todo face a face com componentes de circulao de sentidos que ele no capaz de dominar, instaurados tanto na subjetividade dos outros, quanto nas possibilidades e limites da situao social em que se acha envolvido.
1 O conceito de manipulao foi excessivamente valorizado pela primeira gerao da Escola de Frankfurt, especialmente em Adorno e Horkheimer, para quem as rotinas produtivas foram implicitamente consideradas suficientes para fazer inferncias sobre os modos de consumo dos produtos simblicos colocados em circulao pelos meios chamados massivos de comunicao. Em superao dessas condies tericas, este trabalho assume s atribuir esta noo, e com certas restries, aos processos de produo simblica 2 Sobre a aplicao do conceito de tentativa comunicao e aos modos de produo e circulao de sentido, ver Braga (2010).
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O Twitter e as imagens: categorias qualitativas de anlise da circulao da imagem pblica poltica em redes sociais na internet
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b. Para o estudo do que se comenta, isto , da produo de sentidos que parte dos outros posicionados no circuito da linguagem em circulao, prope-se analisar a partir do conceito de imagem atribuda. A idia atribuio, hipoteticamente, consegue ao mesmo tempo escapar de um sentido de recepo como lugar de passividade, dentro de uma viso condutivista da comunicao. Presume-se, neste caso, que os atores outros esto de tal modo relacionados, por aceitao ou por rejeio, ao processo de circulao da imagem pblica, que obrigatoriamente lanam sobre ela sequncias de adjetivos, que podem ou no, conforme a situao e a circulao concreta da imagem, ser colados imagem em circulao. Trata-se deste elemento o primeiro e mais candente desafio do autor ou ator social referncia de imagem: como lidar com o processo, at certo ponto catico, de produo de sentidos a respeito de si prprio. Salvo o caso em que o ator domine todo o processo de comunicao disponvel e mesmo neste caso, em razo do prprio modo de circulao dos sentidos operados na linguagem , as resultantes com que tem que se defrontar so plurais e errticas, embora quase sempre ajustadas de alguma forma aos contedos da imagem pretendida. c. E por fim, h o campo de interao ou de dilogo/disputa possvel, o que, enfim, se conversa, que constitui uma espcie de sntese dos conceitos anteriores. A este elemento, denomina-se aqui imagem negociada. Esta categoria aproxima-se da modalidade conversacional, embora se deva levar em considerao as caractersticas e limitaes que se situam sempre ajustadas s condies do meio tecnolgico e social no qual a interao se d. Esta modalidade, evidentemente, se operada no patamar da racionalidade comunicativa, no sentido habermasiano, o qual exige a efetivao do consenso, no apenas se mostrar um modelo de comunicao rara (Brag, 2010), como pode constituir, em situaes eleitorais de agudizao da disputa, como praticamente inexistente. Considera-se, portanto, que se insere nesta perspectiva toda e qualquer fala do ator referncia ou autor, no qual a fala do outro aparea citada ou referida, independente da formao de concordncias ou discordncias, destacando-se esta modalidade da situao da imagem pretendida, embora de alguma forma o ator ou autor no possa teoricamente ser visto lidando com a prpria imagem sem a referida pretenso ou tentativa. Ao se eleger e relacionar esses tpicos temticos, configura-se de forma sinttica e mais precisa o universo discursivo a partir do qual apreendeu-se as concepes caracterizadoras que configuram as modalidades de imagem pblica poltica aqui levantadas e denominadas pretendida, atribuda e negociada. Resta, ento, neste momento, configurar o objeto da pesquisa em andamento, que se insere como projeto nos estudos aos quais se dedicam ambos os autores deste texto. Primeiramente, em vnculo ao Ncleo de Pesquisas em Comunicao, Cidadania e Poltica da UFG, junto ao Mestrado em Comunicao; e, em segundo lugar, tambm representa um esforo de pesquisa emprica destinado composio de um Trabalho de Concluso de Curso (TCC), na rea de comunicao e poltica.
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4. Bases metodolgicas do Projeto de Pesquisa O projeto de pesquisa em questo busca conhecer os processos de construo de imagem pblica poltica levados a efeito pelo Senador Marconi Perillo, um dos candidatos ao pleito majoritrio estadual, nas eleies de 2010, no Estado de Gois. Nesse sentido, por imagem pretendida foram denominadas as qualidades atribudas a Marconi Perillo por ele mesmo, de forma direta (autoelogio) ou indireta (meno a compromissos, obras etc). Para afer-la, observou-se os tutes enviados pelo candidato de forma indiferenciada ao seus seguidores. Por imagem atribuda designou-se as falas sobre Marconi Perillo feitas por seus interlocutores, sem que se tenha estabelecido uma relao dialgica com o prprio autor, e tambm os tutes que citaram o nome do candidato em suas mensagens. Tais comentrios devero ser encontrados nos tutes em que o nome de Marconi Perillo surgiu citado de forma indiferenciada ou em situao de interao com outros membros, exceto o prprio candidato. E, por fim, denominou-se Imagem Negociada aquelas concepes caracterizadoras resultantes de um processo dialgico conflitante em que, inicialmente, no se estabelea uma equivalncia conceitual entre imagem pretendida, formulada por Marconi Perillo e imagem atribuda pelos seus interlocutores. Para a construo desse trabalho, utilizou-se de um conjunto de ferramentas metodolgicas para melhor conduzir o problema de pesquisa aqui apresentado atravs dos dados construdos, de forma a se poder formular uma sntese terica que possua, ao fim e ao cabo, relevncia para o campo de estudo. Por se tratar de um estudo a cerca da circulao de imagem dentro de um espao de informao e interao virtual, fez-se necessrio o uso de metodologias que amparassem a anlise tanto do meio quanto do contedo. Sendo assim, utilizou-se da observao participativa para se estabelecer interaes dentro do Tuter, cujo objetivo era vivenciar as possveis formas de utilizao dessa mda social. Entretanto, a busca pela compreenso do processo de circulao de imagem do candidato Marconi Perillo dentro do Twitter se deu de forma no participativa. Elegeu-se um perodo de duas semanas, de 16 a 30 de agosto, para recolha de dados. Esse processo aconteceu da seguinte maneira: levantava-se, do dia anterior, todas as mensagens registradas no histrico de Marconi Perillo. Garantindo, assim, dados para uma anlise completa das interaes estabelecidas naquele dia. A partir da, os tutes eram separados pela existncia ou no de um interlocutor determinado. Ou seja, se a mensagem era enviada de forma indiferenciada ao universo de seguidores de Marconi Perillo ou se ela insera-se em um contexto dialgico pela determinao de um interlocutor. Nesse caso, observava-se tambm quais foram as mensagens enviadas pelo interlocutor. Segundo Wilson Gomes, imagens pblicas se constrem, principalmente, com aes e com discursos (Gomes, 2002, p. 252). Indispensvel, portanto, se fez a utilizao dos mtodos da anlise do discurso, no tratamento dos dados levantados, para se tentar delinear as imagens pblicas em constante produo e diferenciao. Por se tratar de uma pesquisa de interesse nomottico, em que os dados construdos so analisados de modo a se elaborar uma sntese terica, tornou-se possvel a construo de tpicos temticos que possibilitassem a ancoragem dessa sntese, que, por sua vez, resultassem na constituio das modalidades de imagens pblicas aqui levantadas e categorizadas. O processo de designao desses tpicos se deu no decorrer da anlise dos contextos dos assuntos abordados nas mensagens de Marconi Perillo no Twitter. Pode-se perceber a existncia de temas caracterizados pela extensa abordagem, contextualizados e divididos das seguintes formas: carreatas, passeatas e reunies; relaes de apoio eleitoral; referncia aos candidatos de oposio; referncia e direcionamento a outras mdias; presena em debates e entrevistas; religiosidade; formao superior. A partir desses, foi possvel elencar tpicos que abarcassem as aes discursivas com potencial caracterizador e, portanto, de formar imagens. Os tpicos temticos levantados foram: apoio, crtica, distino, originalidade, religiosidade, capacitao e abertura.
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a.
Apoio
O tpico designado por apoio emerge extensivamente nas aes discursivas contextualizadas nas temticas carreatas, passeatas, reunies e em referncias a atores polticos da base aliada. A partir dele, foi possvel reunir informaes referentes imagem da campanha formulada por Marconi Perillo e de suas qualidades pessoais associadas esse contexto. b. Crtica O tpico definido como "crtica" rene situaes, dialgicas ou no, em que se evidencia atribuio negativa de conceitos a Marconi Perillo. A partir dele pode-se observar a existncia ou no da negociao de imagens entre candidato/interlocutor e, consequentemente, se houve debate efetivo no Twitter. c. Distino na caracterizao de seus adversrios que Marconi Perillo evidencia, com maior clareza e intensidade, um conjunto de caractersticas pessoais que o apontam como pessoa distinta. Como analisa Gomes, cada vez maior o consenso a respeito do fato de parte considervel da disputa poltica ter sido convertida em luta pela imposio de imagem pblica dos atores polticos (Gomes, 2002, p. 239). Observa-se, nesse sentido, a tentativa do candidato de sustentar concepes caracterizadoras positivas a seu respeito e de adjetivar, negativamente, seus adversrios. Tais aes enquandram-se na chamada poltica de imagem cuja centralidade na poltica contempornea j se evidenciou no primeiro captulo. No quadro discursivo que permitiu a formao desse tpico, pode-se perceber a existncia de atos de fala presentes em todas as temticas elencadas anteriormente. Ser evidenciada a presena dessa categoria quando houver pontos de tangncia com as demais. d. Originalidade O respectivo tpico emerge com maior intensidade nas temticas que envolvem os assuntos debate e apresentao de propostas, em que Marconi Perillo, mais uma vez, apresenta caractersticas pessoais que o torna distinto dos demais candidatos. Esse conceito aparece indissocivel do de cpia, formulado em torno das propostas e aes dos adversrios. e. Religiosidade Conceito emergente dos atos de fala que contextualizam Marconi Perillo numa relao com a instituio Catlica e demais religies. f. Capacitao O ttulo de Bacharel em Direito conferido a Marconi Perillo durante o perodo eleitoral, tambm coincidindo com as datas estipuladas para a formao do corpus da pesquisa, aparece constituindo a temtica da formao superior, paltando interaes dentro do Tuter e conferindo ao candidato a possibilidade de acrescentar mais esse elemento ao conjunto de caractersticas que o torna distindo dos demais.
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g. Abertura O conceito de abertura emerge do prprio modo de utilizao do Tuter por Marconi Perillo. As formas de se relacionar com seus interlocutores, dentro dos diferentes modos de interao,e a proclamada disposio para discusses e debates, possibilitaram visualizar as aes discursivas que formaram base conceitual para a definio dessa categoria. h. Modalidade de Imagem Pblica Poltica Ao se eleger e relacionar esses tpicos temticos, configura-se de forma sinttica e mais precisa o universo discursivo a partir do qual apreendeu-se as concepes caracterizadoras que configuram as modalidades de imagem pblica poltica aqui levantadas e denominadas pretendida, atribuda e negociada. Por imagem pretendida denominou-se as concepes caracterizadoras atribudas a Marconi Perillo por ele mesmo. Para afer-la, observou-se os tutes enviados pelo candidato de forma indiferenciada ao seus seguidores. Por imagem atribuda designou-se os conceitualizaes feitas por seus interlocutores, em caso de se ter estabelecido uma relao dialgica, ou pelas pessoas que citaram o nome do candidato em suas mensagens. Por fim, denominou-se por Imagem Negociada as concepes caracterizadoras resultantes de um processo dialgico conflitante em que, inicialmente, no se estabelea uma equivalncia conceitual entre imagem pretendida, formulada por Marconi Perillo e imagem atribuda pelos seus interlocutores.
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Resumo Tanto as teorias da comunicao de massa quanto as teorias da democracia digital apresentam vantagens e desvantagens que despontam com o advento da internet. Para as comunicaes de massa, a internet uma lupa para ampliar nossas mazelas e, ao mesmo tempo d novas possibilidades ao homem de usufruir de suas capacidades criativas. Para a democracia digital ela , na perspectiva cyberotimista a resposta aos entraves da democracia procedimental, enquanto na perspectiva cyberpessimista, a internet no consegue resolver esses problemas, mas apenas reproduzi-los em outra instncia, a digital. Diante disso, apresentamos um avano na transparncia poltica, que tanto fruto das preocupaes da democracia digital, quanto dos estudos centrados no Estado nas teorias das comunicaes de massa. Palavras-chave: internet, teorias, democratizao, transparncia pblica. Abstract Both the theories of mass communications, as the theories of digital democracy present advantages and disadvantages that are emerging with the advent of the Internet. As for the mass media, internet is a magnifying glass to enlarge our problems at the same time gives new possibilities for man to enjoy their creative capabilities. To digital democracy have two the perspectives, the cyberpessimista and the "cyberotimista". The barriers of the answer to procedural democracy, are the perspective of the "cyberpessimista", where the internet can not solve these problems, but only play them in another instance. For "cyberotimistas", the internet have capacity for promotion of democracy. Here we present an advance in transparency policy, which is the result both of the concerns of digital democracy, as studies theories of mass communications. Keywords: Internet, theories, democratization, transparency policy. 1 INTRODUO Se Marshall McLuhan (2006)4, j parece apontar uma tendncia de maior interesse concentrado para o que chama de meios quentes de comunicao, hoje percebemos o quanto um meio quente, como o caso da internet, faz de ns dependentes dela. Neste trabalho propomos pensar o quanto a internet, em suas possibilidades, pode oferecer. No vamos afirmar ortodoxamente uma reposta, mas traremos ao leitor uma reflexo quanto ao referido tema. O que no entanto podemos afirmar que, a internet tem sido na esfera poltica, especialmente nos contextos democrticos, elemento de fundamental importncia para aumento da transparncia poltica5.
1 Trabalho apresentado na V FEICOM: Ressignificar as fronteiras da comunicao e informao. De 08 a 12 de novembro de 2010, em Goinia GO. 2 Graduando em Cincias Sociais pela Faculdade de Cincias Sociais da UFG. Bolsista de Iniciao Cientfica pelo CNPq. Trabalha com as reas de democracia digital, participao poltica e comunicao poltica. E-mail: [email protected] 3Orientadora. Doutora em Cincia Poltica pelo IUPERJ. Professora da Faculdade de Cincias Sociais da UFG.
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Para desenvolvimento de nosso trabalho concentramos nas teorias da comunicao, que nos oferecem um importante arcabouo terico para refletir a temtica. A partir destas teorias, buscamos as reflexes empreendidas na arena da Cincia Poltica, especialmente no que se refere aos conceitos de accountability e responsividade polticas. Partindo dessas reflexes e na tentativa de embasar nossa assertiva quanto ao aumento da transparncia poltica, buscamos os dados de pesquisas na rea de democracia digital, empreendidas na Cincia Poltica. 2 A INTERNET E SUAS POSSIBILIDADES inegvel a importncia da rede mundial de computadores na nossa vida pessoal, nos nossos grupos, e ela hoje, indispensvel nas grandes empresas e nos rgos governamentais. Partindo disso, abordaremos quatro posicionamentos de compreenso da internet a partir de duas perspectivas de anlise, sendo elas, a anlise feita pelas teorias da comunicao e a anlise feita pela Cincia Poltica. A primeira, posiciona e expe os lados positivos e negativos mecanismos de comunicao e informao no geral, e mais especificamente da internet. A Cincia Poltica, com uma sutil diferena, preocupa em discutir o quanto as TIC's, incluindo ai e com destaque a internet so capazes de promover democratizao. Sendo assim, a Cincia Poltica se posiciona em relao internet como pouco/nada eficiente ou muito eficiente. 2.1 Os posicionamentos da Comunicao: boa ou m? No Seminrio Nacional Cidadania, Mdia e Poltica6, o professor Luiz Martins da Silva7 afirma, partindo do pressuposto da existncia de uma correlao intrnseca, biunvoca, interdependente, constitutiva entre comunicao e democracia, que houve grandes avanos na democracia brasileira, mas estes no ocorreram na democratizao da mdia (CMARA DOS DEPUTADOS, p. 92). Afirma ainda que, onde h democracia pressupostamente h comunicao. E onde h comunicao, se ela no for democrtica, no comunicao, manipulao (). Assim, aponta Luiz Martins da Silva, as duas faces da comunicao, que tanto serve para desenvolvimento do processo de democratizao8, quanto para a manipulao e o jogo de interesses. Esse jogo de interesses contudo no se concentra somente na esfera comunicacional da sociedade civil, mas tambm pode estar, e comumente est, dentro da prpria estrutura governamental. Aqui ela recebe o nome de informao chapa-branca, ou seja, aquela que demonstra ser imparcial devido a estrutura legtima que a emite, mas que tem um vis com intuito de conquistas eleitoreiras, legitimadoras de erros ou um papel com fins de distrao do pblico ante as aes que sejam contrrias a opinio dos representados. Desde a teoria hipodrmica9, passando pelas teorias funcionalista10, a teoria crtica11 e a teoria culturolgica12 chegando at a agenda-setting13 que desponta como uma das novas tendncias h uma preocupao evidente quanto ao real poder da mdia. Neste sentido, fica claro um avano no que tange a profundidade das reflexes sobre a comunicao. Mauro Wolf (2008) trata de todas as teorias acima citadas, e numa perspectiva de elencar as teorias das comunicaes de massa, elabora um panorama que parece partir das primeiras reflexes sobre o processo miditico14 at as mais atuais tendncias.
4 O texto original de McLuhan, Underesting Media: The Extensions of Man, foi publicado em 1964 nos Estados Unidos da Amrica. 5 Transparncia poltica por ns compreendida quanto ao fornecimento de informaes sobre o processo poltico, sobre as atividades dos governantes, as pautas de aes e programas na estrutura governamental.
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A teoria hipodrmica apontava uma inexistncia de reflexividade no indivduo. Na teoria crtica, o indivduo apresentado como um ser massificado, considerado em grandes grupos e com pouco grau de reflexividade, o que parece retomar na agenda-setting. Nesta contudo, o indivduo no inconsciente, tendo certo grau de reflexo, mas ainda no consegue superar a capacidade de influncia da mdia, tendo esta o papel de determinao dos temas em pauta na vida dos indivduos. 2.2 Os posicionamentos da Cincia Poltica: eficiente ou ineficiente? Partindo agora para uma anlise da informao na internet, Bezerra (2008) traz uma anlise clara das posturas cyberotimista e cyberpessimista. Com relao s duas posturas pessimistas e otimistas Bezerra (2008, p. 415), os batiza como cyberpessimista schumpeteriano e cyberotimista rousseanianos, aludindo a dois autores basilares da Cincia Poltica quanto ao tema da participao poltica, Jean Jacques Rousseau e Joseph Schumpeter. Segundo Bezerra, h uma clara diviso em termos de pontos de vista quantos aos reais benefcios das TIC's15 no que tange s possibilidades de interao propositiva dos cidados nas decises dos poderes pblicos. No seu texto, Bezerra denomina os otimistas, como os que concebem a internet como um surpreendente caminho para novos padres de interao em ambientes democrticos, avanos que supostamente poderiam ser observados tanto na postura de polticos e burocratas, quanto nos prprios cidados, fazendo coro, assim, aos ideias do deliberacionismo ou do participativismo (BEZERRA, 2008, p. 415).
6 Cidadania Mdia e Poltica: relacionamento sociedade civil, meios de comunicao e parlamento, foi um seminrio nacional realizado pela Comisso de Legislao Participativa da Cmara dos Deputados em 2006. 7 Jornalista, professor da Faculdade de Comunicao da UnB. 8 Pensamos o conceito de democratizao como pensado em Avritzer (2002), que considera espaos mais ou menos democrticos, e espaos com maior ou menor avanos nas conquistas democrticas. 9 Tambm conhecida como teoria da bala mgica. Segundo essa teoria, o pblico diretamente atacado pela mensagem. Para uma anlise da teoria hipodrmica ver Wolf (2008, p. 4). 10 Esta teoria aponta uma distncia entre as pesquisas sobre comunicao e a teoria social. Para uma anlise da teoria funcionalista consultar Wolf (2008, p. 49). 11 A teoria crtica se caracteriza especialmente pelas ideias de estudiosos da Escola de Frankfurt da teoria social. representada principalmente por forte teor crtico ao papel desempenhado pelas comunicaes de massa. Para uma anlise da teoria crtica, ver Wolf (2008, p. 72). 12 Se baseia nas preocupaes da relao entre o consumidor e o objeto de consumo. trabalhada de forma clara por Wolf (2008, p. 93). 13 A agenda-setting se baseia na postura de que os meios de comunicao no influenciam determinantemente no posicionamento das pessoas como via a teoria hipodrmica, contudo seria capaz de colocar em pauta o que ser objeto de reflexo dos consumidores da informao. Para mais detalhes sobre a teoria. Ver Wolf (2008, p. 143) 14 Consideramos aqui como processo miditico no s a formulao do produto e sua veiculao, mas tambm a reao do pblico ao da mdia no processo de transmisso da informao. 15 Tecnologias da Informao e Comunicao
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Em oposio a estes, como identifica Heloisa Bezerra (2008, p. 415) os cyberpessimistas da linha Schumpeteriana, como os que no acreditam nessa possibilidade incremental das TIC's no que tange participao poltica, seja pela inexistncia de interesse por parte daqueles que esto frente dos poderes pblicos, seja pela apatia quase inerte dos indivduos, que esto interessados mais em suas questes pessoais que nas questes pblicas16. Discordando desta perspectiva e utilizando dados sobre ndices participativos no Brasil, Avritzer (2008, p. 44) afirma que o nosso pas se transformou ao longo do sculo XX de um pas de baixa propenso associativa e poucas formas de participao da populao de baixa renda em um dos pases de maior prtica participativa. Partindo desta anlise feita por Avritzer, no podemos conceber, como o fazia Schumpeter (1961), que temos uma populao totalmente aptica. Mas, tambm faz-se necessrio pensar que no somos altamente participativos e interessados nos temas da agenda pblica, ocorrendo um alto padro participativo que ocorre em locais isolados. Alm disso, como tambm afirmam outros autores, dentre eles Ferreira (2003), um erro pensar que a democratizao da informtica ir levar completa democratizao da informao. A primeira forma representa apenas uma contribuio para a segunda, a qual constitui um processo mais amplo e que envolve no apenas os contedos informacionais disponveis na Internet, mas toda a informao produzida na sociedade, registradas nos mais diferentes suportes e de interesse pblico. (FERREIRA, 2003, p. 39) 3. A ASSERTIVA DA TRANSPARNCIA POLTICA Cabe ao Estado promover a informatizao. Conforme Ferreira (2003, p. 41), h a necessidade de uma tomada de posio do Estado comprometida com a eliminao de entraves ao acesso do cidado informao de qualidade, e prpria informatizao. Tal tomada de posio, deve ser feita por meio de polticas pblicas voltadas para a real incluso do cidado, em um contexto em que a informao preconizada como a fora motriz do desenvolvimento (FERREIRA, 2003, p. 41). Assim entendendo enquanto papel do Estado a informatizao, avaliamos alguns indicadores de qualidade de informacional e de transparncia poltica no contexto brasileiro. Braga (2007, p. 23), em seu estudo sobre a informatizao dos rgos legislativos da Amrica do Sul, nos traz a assertiva de que o Senado Federal e a Cmara dos Deputados apresentam os melhores servios de acompanhamento de proposies legislativas entre todos os sites sul-americanos. Este um forte indicativo de que a internet tem sido eficientemente utilizada para a promoo do que chamamos aqui de transparncia poltica. Segundo anlise conduzida por Braga (2007, p. 23), os portais na internet da Cmara dos Deputados e do Senado Federal brasileiros, apresentam a ntegra de todos os seus dirios legislativos, desde o incio de funcionamento das casas, sendo estes os nicos portais de legislativos da Amrica do Sul a faz-los. Outro dado importante que nos traz Braga (2007, p. 23) que, h dentre os itens analisados, um que chama a ateno pela precariedade da informaes disponveis, o qual o Oramento, () [em que] pouqussimos parlamentos apresentam informaes satisfatrias (quando o fazem) sobre oramento e execuo oramentria, indicando que os legislativos sul-americanos podem avanar muito ainda nesse processo.
16Joseph Schumpeter, inspirador dessa corrente, mais incisivo na sua postura. Segundo Schumpeter (1961), os indivduos tem pouca capacidade reflexiva, e tomam suas decises como no estoura da boiada
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3.1 Exemplificando e analisando a transparncia poltica Segundo modelo proposto por Bezerra et al (2010), em que, ao avaliar os websites dos governos estaduais brasileiros, elenca oito grupos de elementos analticos, elaboramos um comparativo desses grupos de variveis, conforme seus subtemas nos websites dos governos estaduais de Par e Roraima, respectivamente estados de maior e menor Produto Interno Bruto (PIB) da regio norte brasileira, esta com a menor proporo de acesso a internet no contexto brasileiro, conforme dados CETIC17 (BRASIL, 2009). O frame analyse18 que proponho aqui no nada favorvel. Contudo no queremos descrever aqui os baixos resultados obtidos quando analisamos o potencial democratizante que oferece os websites governamentais de Par e Roraima (SILVA, 2010). Avaliamos a partir dos grupos de variveis propostos por Bezerra et al (2010), que so respectivamente: 1) acessibilidade; 2) informaes sobre o poder executivo; 3) informaes sobre os membros do poder executivo; 4) relao com o poder legislativo; 5) relao com o pblico (informao); 6) relao com o pblico e processo decisrio; 7) transparncia administrativa19; 8) links para outros rgos de interesse. Sendo que os Estados de Par e Roraima so considerados representativos da regio norte brasileira em nossa pesquisa20, no fizemos distino entre a pontuao obtida por cada um dos dois estados. Consideramos ento os dados abaixo relacionados como representativos da regio norte brasileira.
Fonte: Banco de dados da pesquisa Democracia e boa governana via websites dos governos estaduais 17Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informao e da Comunicao. 18Quadro de anlise. 19A transparncia administrativa proposta por Bezerra et al (2010), se difere do conceito de transparncia poltica que temos empregado no decorrer deste texto. O conceito de transparncia administrativa empregado pela autora compreende o conjunto de mecanismos de transparncia financeiro-oramentria, enquanto o conceito por ns empregado de transparncia poltica abrange todos os 8 grupos de variveis empregados por Bezerra et al (2010).
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No grfico acima, a coluna R representa o nmero mximo de pontos que cada secretaria poderia conseguir caso possusse informao expandida para cada item analisado. A coluna S representa a quantidade de pontuao adquirida por cada grupo de variveis na anlise da regio norte brasileira.
Portanto, percebemos uma maior quantidade de fornecimento ao cidado nos itens que tangem acessibilidade e informao. Sendo assim, temos um investimento em itens bsicos para facilitar a acessibilidade ao site, como mecanismos de busca, aumento e diminuio de fonte, mapa do site, e-mail ou fale conosco, dentre outros que representam a categoria acessibilidade. Somente estes itens no garante a existncia de democratizao, no garante a existncia de mecanismos participativos para o cidado. A outra categoria em destaque a informao, em se tratando de informao sobre o poder executivo (competncias da instituio, cargos, etc.), com 12,23% do percentual desejado.
20Referimo-nos aqui pesquisa Democracia e boa governana via websites dos governos estaduais, sob orientao e coordenao da Professora Dra. Heloisa Dias Bezerra, tendo como agncia financiadora o Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq), sediada na Faculdade de Cincias Sociais (FCS) da Universidade Federal de Gois (UFG). Nesta pesquisa, trabalhamos com dez governos estaduais, dois de cada regio do pas, tendo eles o maior e o menor PIB de cada regio. Avaliamos, alm do portal principal do governo na internet, o portal das suas respectivas secretarias de governo.
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4. CONSIDERAES FINAIS Os resultados das anlises demonstram que, ainda que haja um investimento e um aparente aumento na transparncia poltica, no caso dos governos dos estados de Par e Roraima, tal fato no tem acontecido, j que os itens prioritrios para democratizao como transparncia administrativa, relao com o pblico e processo decisrio tem percentuais baixssimos de qualidade. E, como tambm apontou nosso texto, informatizao no garante democratizao. REFERNCIAS AVRITZER, L. Sociedade civil, espao pblico e poder local : uma anlise do oramento participativo em Belo Horizonte e Porto Alegre. In: DAGNINO, Evelina. Sociedade Civil e Espaos Publicos no Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002. p 279-301. _________ . Instituies participativas e desenho institucional: algumas consideraes sobre a variao da participao no Brasil democrtico. Opinio Pblica, Campinas, vol. 14, n. 1, Jun. 2008, p. 43-64. BEZERRA. H. D. Atores polticos, informao e democracia. Opinio Pblica, Campinas, vol. 14, n. 2, Nov. 2008, p.414-431. BEZERRA, H. D., et al. Democracia digital e participao poltica no Brasil. In: ENCONTRO DA ASSOCIAO BRASILEIRA DE CINCIA POLTICA, 7., 2010, Recife. Anais do 7 Encontro da Associao Brasileira de Cincia Poltica. Recife: Associao Brasileira de Cincia Poltica, 2010. BRAGA, S. S. Podem as novas tecnologias de informao auxiliar na consolidao das democracias? Um estudo sobre a informatizao dos rgos legislativos da Amrica do Sul. Opinio Pblica, Campinas, vol. 13, n. 1, Jun. 2007, p. 1-50. BRASIL. Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informao e da Comunicao. Pesquisa TIC de domiclios 2009. Disponvel em <http://www.cetic.br/usuarios/ tic/2009-totalbrasil/rel-geral-04.htm> acessado em 06/09/2010. CMARA DOS DEPUTADOS. Cidadania, mdia e poltica: relacionamento sociedade civil, meios de comunicao e parlamento: seminrio nacional. Braslia: Edies Cmara, 2008. 131 p. - (Srie ao parlamentar; n. 342). FERREIRA. R. S. A sociedade da informao no Brasil: um ensaio sobre os desafios do Estado. Ci. Inf., Braslia, v. 32, n. 1, p. 36-41, jan.-abr. 2003. MCLUHAN. M. Os meios de comunicao como extenses do homem. Dcio Pignatari (trad.). So Paulo: Cultrix, 2006. Paveloski, A. Subsidios para uma teoria da Comunicao digital, Revista TEXTOS de la CiberSociedad, vol. 4, 2004. Temtica Variada. Disponvel em http://www.cibersociedad.net .Acessado em 16 de out. 2010. SCHUMPETER. J. Capitalismo Socialismo e Democracia. Rio de Janeiro: Editora Fundo de Cultura, 1961 [1949]. SILVA, J. S. POSSIBILIDADES DEMOCRATIZANTES NA ARENA DIGITAL: um estudo das secretarias de governo de Par e Roraima. In: II SEMINRIO DE PESQUISAS DA UFG. CONPEEX, 2010. Goinia. Anais do Congresso de Ensino Pesquisa e Extenso - CONPEEX 2010. Goinia: Universidade Federal de Gois, 2010. WOLF. M. Teorias das comunicaes de massa. Karina Jannini (Trad.). So Paulo: Martins Fontes: 2008 [1985].
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Narrira Lemos
Resumo A ferramenta de microblogging Twitter se tornou um meio de grande utilidade pblica e privada, pois sua maior funcionalidade se adequa ao sentimento emergente da Era da Internet: informaes sintetizadas e em tempo real. Trata-se, inclusive, de uma ferramenta de enorme repercusso no Brasil, sendo que o portugus a segunda lngua mais falada. Este trabalho intenta a apresentar apropriaes coletivas e debates pblicos nacionais que acontecem em torno do Twitter, usando como exemplo as expresses mais comentadas e colocando-o como um espao miditico. Assim, a ferramenta se torna um motor utilizado por usurios e usurias, grandes e pequenas empresas e pelo governo. Qual importncia essa ferramenta carrega para motivar o envolvimento nessa comunidade? Observando-a como um ciborgue, ela realmente existe ou apenas um mito de coletividade? Palavras-chave: twitter; microblog; cultura; ciborgue; mdia Abstract The microblogging tool Twitter has become a very useful way for public and private, because its increased functionality fits the emerging sense of the Internet Age: synthesised information in real time. It is even a tool of enormous repercussion in Brazil, and portuguese is the second most spoken language. This paper intends to submit national apropriations and public debates happening around Twitter, using as example the terms most talked about and putting Twitter as a media space. Thus, the tool becomes an engine used by users, large and small enterprises and the government. How important is this tool to motivate involvement in the community? Watching it as a cyborg, it actually exists or is only a myth of collectivity? Keywords: twitter; microblog; culture; cyborg; media
1 Trabalho apresentado na V Feicom Feira de Informao e Comunicao Facomb/UFG, realizado de 08 a 12 de novembro de 2010, em Goinia GO. 2 Narrira Lemos de Souza graduanda no Curso de Cincias Sociais da Universidade Federal de Gois e pesquisa mdias sociais. E-mail: [email protected].
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1 INTRODUO Se a Internet marca uma nova Era no espao das comunicaes, o Twitter marca um novo espao nas redes sociais da internet. Isso porque, no por menos, a ferramenta de maior destaque dos ltimos tempos esse microblogging, que surgiu em meados de 2006 e em pouco tempo conquistou o pblico que muitas outras redes sociais ainda almejam conquistar. Essa conquista no representada por uma disputa na internet, na verdade, apenas o resultado da emergncia do ps-modernismo, com a expectativa que todas as novas tecnologias buscam alcanar: fornecer uma ferramenta que a quantidade de possibilidades de uso desconhecida at mesmo por quem criou a ferramenta. Sendo que o resultado dessas possibilidades provm da inteligncia coletiva3, essa que no s usada, como convencida de que sua participao no processo de construo da tecnologia , no s essencial, como a pioneira do meio. No deixa de ser verdade, pois, que os usurios e usurias das ferramentas tecnolgicas sejam pioneiros nas descobertas dos softwares ou mesmo hardwares (atravs de testes, sugestes), o fato mais importante a, no entanto, o desconhecimento do uso de sua inteligncia, cooperao ou mesmo colaborao, para a gerao de lucros, importados pelas grandes empresas (que talvez fossem at a sua descoberta pequenas empresas, ou sequer uma empresa); tal fato componente dessa nova era da Internet, a Web 2.0. Web 2.0 a mudana para uma internet como plataforma, e um entendimento das regras para obter sucesso nesta nova plataforma. Entre outras, a regra mais importante desenvolver aplicativos que aproveitem os efeitos de rede para se tornarem melhores quanto mais so usados pelas pessoas, aproveitando a inteligncia coletiva. (Tim OReilly apud RODRIGUES, 2009) A Web 2.0 , portanto, o espao onde as novas tecnologias tem como caraterstica principal a interao, que aqui pode ser discutida como a participao do usurio final4 no produto a ser vendido posteriormente, seja com testes, sugestes ou propagandas. O Twitter, como produto, sujeito do espao Web 2.0, a que ele se localiza e se transforma, nota-se tambm como sua caracterstica a interao, no somente com a ferramenta como com os outros usurios e usurias do servio. Ele um espao de comunicao, onde alm de ser um blog, pode transmutar-se em notcias jornalsticas, espao para mobilizaes polticas ou contra-polticas5, ou mesmo, um espao para a pesquisa acadmica entre outras funcionalidades que possam estar descobertas ou no. Dessa forma, a ferramenta de microblogging reconhecida como um espao miditico ou mesmo multimiditico6 em que ocorrem debates pblicos, no s polticos, mas que chegam a atingir mbitos internacionais. No presente artigo iremos explorar duas formas de apropriao da ferramenta e dois fatos de repercusso no Brasil, desenvolvidos em debates pblicos, ocorridos no microblogging, um decorrente da Copa do Mundo de Futebol e o outro das Eleies Presidenciais, ambos em 2010.
3 Segundo Pierre Lvy, a inteligncia coletiva nasce da cooperao e da competio. 4 Entende-se como usurio final a pessoa que utiliza o programa desenvolvido com desconhecimento forma como esse produto foi desenvolvido, o interesse somente no uso do mesmo. Ver: http://en.wikipedia. org/wiki/End-user
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A explorao dos acontecimentos dentro do microblog d abertura para a formao de questionamentos a cerca das comunidades virtuais, esse espao realmente uma comunidade ou teia de solidariedade, ou representa-se dentro de uma guerra virtual, um ciborgue, resultado de uma orgia entre usurios, governos e grandes indstrias? 2 APROPRIAES A discusso da terminologia 'apropriaes' pode ser encarada aqui de duas formas: 1) a apropriao do mercado sobre a inteligncia coletiva, no caso do Twitter, sobre os tweets7 na ferramenta; 2) a apropriao dos usurios e usurias da ferramenta para o seu uso mais diverso possvel, fugindo da proposta inicial dos fundadores do microblogging.
2.1 O Mercado Sobre a Inteligncia Coletiva As ferramentas de tecnologia, desde o rdio at a internet, foram desenvolvidas como uma nova forma de comunicao, dispostos transferncia de informaes entre pessoas, comunidades, etc. Mas como toda ferramenta, o seu custo, tal como o seu lucro avaliado e exposto para as grandes empresas e indstrias, que enxergando-a como um lugar de rentabilidade h de se buscar formas de apropriao para negcios. John Downing faz uma avaliao da internet como um espao de comunicao ilimitado, que ainda no incorporado pela indstria. Como as comunicaes estivessem sob o controle da indstria, os produtores de mdia alternativa viram-se obrigados a buscar novos caminhos de comunicao, e a rpida expanso das redes de computadores com a finalidade de comunicao alternativa pode ser vista, em parte, como uma resposta a esses esforos. Enquanto o acesso ao rdio e televiso so limitados, e os custos das chamadas telefnicas de longa distncia e do fax probem interaes prolongadas, as redes de computadores proporcionam meios novos e dinmicos de organizao e solidariedade popular. (DOWNING, p. 272, 2004)
5 O termo contra-poltica foi imposto para diferenciar o espao em que h a poltica partidria (realizada por pessoas reconhecidamente do mbito eleitoral) da poltica como discurso, vinda de pessoas comuns (ou seja, no eleitoreiras), visando o interesse de expor novas possibilidades para a realidade social. 6 O Twitter definido como multimiditico por Marcos Nicolau (2009) em seu artigo A funo multimiditica do Twitter), para mais informaes, ver: http://www.insite.pro.br/2009/Dezembro/nicolau_twitter_ multimidia.pdf 7 Tweets so as postagens feitas dentro da ferramenta de microblogging, a publicao pode ir de 1 caractere at 140 caracteres, podendo compor tambm o uso de hashtags, que so marcadores que identificam de que se trata o post, podendo aglomerar todas as publicaes realizadas com o mesmo marcador/es.
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Excluindo os custos de provedores de internet que pagamos para acessar s redes de computadores, ainda podemos verificar que surgem novos custos, a partir do momento que essa rede vista como um espao de rentabilidade. O Twitter anunciou em abril desse ano que permitiria propagandas8 na pgina de seu website. Assim, empresas ou pessoas podem comprar um espao no Trending Topics da ferramenta para divulgao de seu produto ou mensagem, tal marcador aparece na pgina principal de todo usurio ou usuria da ferramenta, estando l disposto para ser clicado. Alm dessa forma de propaganda, as empresas acharam um outro meio de melhorar seus negcios especialmente localmente no tendo necessidade de comprar um 'espao' dentro do Twitter. Depois de gastar um tempo no Twitter, os empregados da Cordarounds.com, uma pequena confeco americana, notaram que muitas pessoas twitando na sua regio estavam usando bicicletas para ir ao trabalho. Ento, a companhia produziu uma nova linha de calas, chamadas de calas para pedalar para o trabalho (bike-to-work pants), com materiais refletores costurados nelas, que tornavam os usurios mais visveis no trnsito quando pedalavam noite. E, claro, ela usou tweets para espalhar a notcia sobre as suas novas criaes. (GILES, p.33, 2010) Ainda, atravs de uma pesquisa, Martin Giles (2010) afirmou que algumas empresas calcularam que estavam conseguindo economizar at 5 mil libras por ano usando redes sociais como ferramenta de marketing.
2.2 Os Usurios e Usurias Sobre a Ferramenta A apropriao dos usurios e usurias o modo de transformao da inteligncia coletiva, ela est antes, durante e depois da concepo da ferramenta. Se o Twitter, inicialmente, no passava de uma ferramenta de microblogging, ou seja postagens dirias sem inteno alguma, j um meio de usufruir e transmutar espaos virtuais e sociais seja na realidade social vivida como na virtual. A ferramenta j foi usada como espao para mobilizar pessoas para aes polticas no Ir9, para realizar flash mobs10 ou mesmo para driblar leis (em especial a Lei Seca) no Brasil11, entre outras possibilidades de uso. Essas formas de apropriaes no s transformam o uso da ferramenta, como tambm 'd voz' aqueles que no conseguem ser 'ouvidos' em outros espaos. uma mutao, um vrus ciberntico que mesmo estando dentro das redes de sistemas, pode estar incontrolvel aos olhos dos gatekeepers12.
8 Para entender como funciona a propaganda, necessrio explicar o funcionamento da ferramenta. Os marcadores dos tweets (ver nota 6) no so somente formas de aglomerar ou otimizar as buscas, eles tambm formam uma lista dos 'assuntos' mais comentados em todo o website, podendo ser filtrado por localidade. A lista aparece na barra lateral (direita) da ferramenta e chamada de Trending Topics, sendo que o primeiro marcador refere-se ao assunto mais comentado ou no mundo ou na localidade filtrada, todos os assuntos mais comentados so vistos por todas as pessoas que tem conta no microblogging.
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3 DEBATES PBLICOS Se as tecnologias permitem possibilidades criativas jamais sonhadas (LEMOS, p.18, 2005) o resultado de seus usos tambm inimaginvel, tendo consequncias inesperadas. Assim, aconteceram dois fatos histricos no Brasil com relao ao Twitter. Cala Boca Galvo foi o assunto mais comentado durante dias, e esteve no topo dos Trending Topics mundial do Twitter, isso porque, de uma expresso de cunho nacional, passou a se tratar de uma piada interna13. Brasileiros e brasileiras se uniram para divulgar uma expresso que somente quem assiste televiso brasileira poderia entender, mas a divulgao tomou outros paradigmas, inventando-se uma nova espcie de pssaro extinto a ser salvo atravs de tweets. Alguns blogs nacionais encaram esse acontecimento como O dia em que o Brasil enganou o mundo14. Outro acontecimento no pas ficou marcado no Twitter, este, mais recente, tem uma diferente conotao: O dia em que o preconceito tomou conta do Twitter15. Aps as eleies presidenciais, em que Dilma Rousseff foi eleita presidente do Brasil, pessoas insatisfeitas com os resultados passaram a culpar a regio do Nordeste, tal como os nordestinos, por ser uma das regies brasileiras que cedeu mais votos para a candidata. A manifestao no foi simplista, de xingamentos passou a um manifesto16 que exige uma Lei de Migrao para o estado de So Paulo. Tendo em vista que o Brasil compe o segundo grupo mais ativo do microblog, esses acontecimentos refletem a exaltao de um sentimento comum a uma nao e a um estado. Eles esto situados em um ciberespao que por sua vez compe a cibercultura, uma tecnologia de memria: Quanto sua importncia, a cibercultura uma tecnologia de memria. Pode ser a memria de curta durao, como a que acumulada por um grupo em interao. Mas pode ser uma ocasio extraordinria para nos reapropriarmos dela. Para mim, no h qualquer contradio entre a cibercultura e a memria: exatamente o contrrio. (LVY, 2009)
9 Ver http://noticias.terra.com.br/mundo/interna/0,,OI3832861-EI294,00-Apos+censura+no+Ira+Twitter+concentra+protestos+contra+eleicoes.html e http://tecnologia.terra.com.br/interna/0,,OI3825958-EI4802,00Internet+blogs+e+Twitter+informam+sobre+situacao+no+Ira.html Acessados em outubro de 2010. 10 Flash mobs so manifestaes rpidas, geralmente combinadas por algum meio tecnolgico ou virtual. Ver http://pt.wikipedia.org/wiki/Flash_mob Acessado em outubro de 2010. 11 Ver http://info.abril.com.br/noticias/internet/twitter-ajuda-a-driblar-lei-seca-em-sp-01062010-3.shl Acessado em outubro de 2010 12 Gatekeepers, em comunicao, so profissionais de mdia que permitem ou avaliam o valor de uma informao como notcia. Ver http://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_da_comunica%C3%A7%C3%A3o#Gatekeep er Acessado em outubro de 2010. 13 Ver http://blogs.estadao.com.br/link/como-o-cala-boca-galvao-enganou-todo-o-mundo/ - Acessado em outubro de 2010.
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O que aqui pode ser notado que ambos os eventos se multiplicaram e tiveram repercusso nacional, foram motivados e replicados com uma teia ou uma rede de solidariedade: seja para uma piada, seja para um preconceito. Ao mesmo tempo que pessoas se uniam para disseminar sua repulsa ao povo nordestino por terem eleito Dilma Rousseff presidncia, outras pessoas se uniam para manifestar repulsa queles que manifestavam seu preconceito; o Twitter ento se torna um espao para debate pblico, qualquer pessoa pode participar, um espao de discurso da sociedade. onde a sociedade se v, se reconhece e interage, diz Lacerda (2003) sobre as redes sociais. Esse debate pblico afeta a democracia. () Com mais e mais cidados expressando o que pensam, e defendendo isso por escrito, os blogs vo mudar o modo de as pessoas entenderem questes pblicas. fcil estar errado ou enganado em sua cabea. mais difcil para um ser humano ignorar quando algum prova que ele est errado. Escrever ideias, discusses e crticas melhoram a democracia. (LESSIG, p.66, 2005) 4 GUERRA VIRTUAL E CIBORGUE Donna Haraway define o seu mito do ciborgue no contexto ps-guerra (Segunda Guerra Mundial), aplica-o s maquinarias militares, guerra moderna na sigla C3I comando, controle, comunicao e inteligncia. Neste artigo, aplicamos a teoria de Haraway na guerra virtual travada entre usurios e usurias, governos e grandes empresas e indstrias. De tal modo que o ciborgue um organismo ciberntico, um hbrido de mquina e organismo, uma criatura de realidade social e tambm uma criatura de fico (HARAWAY, p.40, 2009) so todos os usurios, independente da esfera em que estejam. A relao entre organismo e mquina no se compe na guerra de fronteira (social vivido e social virtual), j que h a tendncia, talvez necessidade, do organismo se incorporar mquina e fazer uso dela. No entanto, o seu uso compe a relao com as leis e da que pode brotar uma guerra virtual. Essa guerra est tanto refletida no Ir17, quando o sinal de internet da populao cortado e pessoas so presas por manifestarem sua opinio em blogs, quanto no banimento de pessoas em comunidades virtuais18 por comportamento inadequado (ou seja, mensagens contra a poltica do website). As redes sociais virtuais em geral, assim como o Twitter, seguem um poltica de uso e tambm de privacidade. Um dos termos da poltica de uso de muitas delas denunciar aqueles/as que fazem mal uso da ferramenta, assim, o usurio da ferramenta tambm tem papel de vigilante (ou seja, outro uso da coletividade para a melhora da ferramenta) um sujeito dentro de uma guerra virtual. A ferramenta cede ento para o usurio o poder para definir quem pode utiliz-la ou no.
14 Ver http://www.blogonthenet.com.br/2010/06/cala-boca-galvao-o-dia-em-que-o-brasil.html Acessado em outubro de 2010. 15 Ver http://www.mundotecno.info/destaque/o-dia-em-que-o-preconceito-tomou-conta-do-twitter Acessado em novembro de 2010. 16 Veja o manifesto: http://www.manifesto.rg3.net/ - Acessado em novembro de 2010.
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5 CONSIDERAES FINAIS Nota-se que no s a internet o espao da sociedade, a sociedade o espao da internet, sem a sociedade com atividades em rede provavelmente no haveria sentido algum em pensar em interao e solidariedade virtual. Nessa nova era, ps-guerra, tambm no se pode negar que existam novos sujeitos, resultados de uma outra realidade social. Essa realidade, se impe dentro dos indivduos, causando impresses desconcertantes e transformaes entre o corpo e a tecnologia. A indstria tecnolgica, viral e cultural. Os debates pblicos e as apropriaes de repercusso no Twitter tm tamanha notoriedade por serem objetos virais; incorporam-se no sujeito, viciado na maquinaria tecnolgica, que nada pode fazer alm de se transformar em outro sujeito dessa guerra virtual. A necessidade da mutao constante sustenta no s a insaciabilidade do usurio, como tambm a mdia que pareceria entender, pois, um dos aspectos mais transparentes da iniciativa privada, ou seja, a mutabilidade constante do produto a ser vendido (MARTINS, 1993). No final do sculo XX, neste nosso tempo, um tempo mtico, somos todos quimeras, hbridos tericos e fabricados de mquina e organismo; somos, em suma, ciborgues. O ciborgue nossa ontologia; ele determina nossa poltica. O ciborgue uma imagem condensada tanto da imaginao quanto da realidade material: esses dois centros, conjugados, estruturam qualquer possibilidade de transformao histrica. (HARAWAY, p.41, 2009) Ainda nesse encontro de dois hemisfrios, o mercado (livre, por se encontrar em um meio a internet ilimitado) e os debates pblicos, persiste a dvida do sentimento de comunidade que permuta entre as teias da internet; esse sentimento sempre existiu ou fruto de uma indstria cultural? Inclusive, como conceber que esse espao seja constitudo de uma pluralidade de culturas ao invs de um meio hegemnico? Talvez os futuros debates pblicos possam ajudar a responder essas questes, ainda que tardiamente, e mesmo que possamos chegar a uma concluso, enquanto estudamos uma tecnologia outra nasce para nos questionar.
17 Ver http://tecnologia.terra.com.br/interna/0,,OI3825958-EI4802,00- Internet+blogs+e+Twitter+informam+sobre+situacao+no+Ira.html Acessado em outubro de 2010 18 Segundo Pierre Lvy, comunidade virtual um grupo de pessoas se correspondendo mutuamente por meio de computadores interconectados (p.27, 1999)
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REFERNCIAS
DOWNING, John D. H. Mdia Radical Rebeldia nas comunicaes e movimentos sociais. So Paulo: Senac, 2004. GILES, Martin. Uma oportunidade de ouro: Os pequenos negcios esto usando as redes para crescer In: Um mundo de conexes, The Economist, 2010. Disponvel em: <http://economist/specialreports>, traduo Carta Capital. HARAWAY, Donna. Manifesto ciborgue: cincia, tecnologia e feminismo-socialista no final do sculo XX. In: SILVA, Tomaz Tadeu da. (Org). Antropologia do Ciborgue. Belo Horizonte: Autntica, 2009. LACERDA, Juciano. Redes digitais de solidariedade social, 2003: Comunicao, poltica e sociedade. LEMOS, Ronaldo. Prefcio edio brasileira In: LESSIG, Laurence. Cultura Livre: Como a grande mdia usa a tecnologia e a lei para bloquear a cultura e controlar a criatividade, So Paulo: Trama, 2005. LESSIG, Laurence. Cultura Livre: Como a grande mdia usa a tecnologia e a lei para bloquear a cultura e controlar a criatividade, So Paulo: Trama, 2005. LVY, Pierre. Cibercultura. So Paulo: 34, 1999. MARTINS, J. E. A Cultura musical erudita na universidade: refgio, resistncia, expectativas. So Paulo: ECA-USP, 1993. Aula-Magna proferida no Anfiteatro de Convenes e Congressos da USP, em 4/3/1993. NICOLAU, Marcos. A funo multimiditica do Twitter. Trabalho apresentado na Mesa Temtica da seo Redes Sociais, identidade e sociabilidade, do III Simpsio Nacional da ABCiber em So Paulo, 2009. Disponvel em: <http://www.insite.pro.br/2009/Dezembro/nicolau_twitter_multimidia.pdf> - Acessado em outubro, 2010. RODRIGUES, Nickolas Xavier. Percepo dos usurios da rede social Twitter com relao as estratgias de comunicao dos grupos de notcias, 2009. Belo Horizonte.
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Resumo Buscando gerar discusses construtivas acerca das reas de comunicao e tecnologia, criamos um espao virtual procurando tambm estimular a troca de idias e o fluxo de informao. Palavras-chave: comunicao digital; interao; weblog; tecnologia. Abstract Aiming to stimulate constructive reflections and discussions about issues like technology and communication, we created a virtual space to exchange this kind of information. Keyboards: digital communication; technology; weblog; interactivity
1. INTRODUO A blogosfera configurou-se como uma das maiores redes dentro do mundo virtual. Atingindo um sem-nmero de internautas ao redor de todo mundo, ela pode ser utilizada com diversos fins, atravs de outras tantas formulas. Num salto de incluso digital e modernizao, o blog deixou de ser utilizado primordialmente como dirio pessoal e se tornou tambm uma forma de propagao de informao e conhecimento. Variando de humor a poltica, games a cinema, tutoriais a downloads, pginas pessoais a corporativas, essa ferramenta se consolida cada dia mais no mundo virtual como referncia e suporte para as mais variadas funes. A palavra blog uma contrao dos termos web e log, sendo a palavra log empregada para designar um sistema de registro de dados gerado por programas de computador, no caso, uma seqncia de textos, imagens ou mesmo de vdeos publicados de forma rpida e simples na Internet. As publicaes podem ser dirias e ficam dispostas em ordem cronolgica inversa, com incio pela postagem mais recente. O universo da Comunicao Social no pode ignorar essa dinmica ou isol-la. As redes sociais apresentam novas funes a cada dia, novos aplicativos. Novas plataformas surgem, as formas de propagao do conhecimento mudam e preciso repensar a dinmica comunicacional ligada a esse meio. Publicitrios, marketeiros, jornalistas, relaes pblicas, administradores, engenheiros e todos os demais profissionais ligados ao mundo corporativo e acadmico precisam atentar-se para as formas de no ficarem para trs no processo de mudana. E os blogs podem ser uma ferramenta muito til nesse processo de reinveno.
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2. OBJETIVOS A idia inicial do blog Timing Media (www.timingmedia.blogspot.com) era servir como trabalho final das alunas Nathlia Bariani e Tasa Moreira para a matria de Comunicao e Novas Tecnologias, do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Federal de Gois. Pensando em trabalhar essencialmente com posts sobre tecnologia e internet aplicadas ao meio publicitrio, o nome surgiu da idia de mdia pontual, ou seja, uma mdia planejada, eficaz e direcionada. Contudo, aps uma reflexo sobre a amplitude do contedo trabalhado e a possibilidade de desenvolver uma plataforma realmente til, que extrapolasse o direcionamento do trabalho de classe, o objetivo passou a ser criar um espao de discusso, aprendizado, fluxo de informao e produo de conhecimento que atingisse no s os estudantes e profissionais de Comunicao Social, mas todo o segmento universitrio e de profissionais ligados dinmica do mundo contemporneo. 3. JUSTIFICATIVA O debate e o fluxo de informao so fundamentais para o raciocnio, para o desenvolvimento da argumentao e do conseqente poder de produo de conhecimento embasado. O blog uma plataforma adequada para esse tipo de desenvolvimento. De fcil acesso e com diversas possibilidades como o compartilhamento de imagens, texto, udio e vdeos-, ela d abertura expresso pessoal pela prpria rede em que se encontra inserido - menos formal e composta por um pblico expressivo e virtualmente autnomo, a blogosfera d ao internauta infinitas opes de conexo e postagem. Muitos blogueiros so conhecidos a nvel nacional e at mundial pela quantidade/qualidade de informaes que disponibilizam ou feedback que recebem isso variando de blogs de humor cincias polticas. Ignorar a lgica dessas referncias seria inconseqente para qualquer profissional. Especialmente para os comuniclogos, acompanhar e participar desse processo de construo da informao fundamental e produtivo; tendo em vista que, independente de rea especfica, trabalham com a dinmica dos veculos e com a repercusso da mdia, estar por dentro do meio digital e de uma das redes que mais influencia o fluxo comunicacional e a troca de informao um pr-requisito. O grande nmero de eventos voltados para blogueiros que ocorrem no Brasil, tais como o NOB (Nerds on Beer), o Caf com Blogueiros e o EBP Encontro de Blogueiros Publicitrios, a nvel nacional, comprovam o crescimento e a abrangncia desse setor. A internet mudou todo o conceito de comunicao. Especialmente no jornalismo, a interferncia do pblico na propagao das notcias, hoje principalmente atravs do microblogging (Twitter), uma quebra nos antigos padres estabelecidos. Para no ser descartado pela lgica virtual, necessrio estar inserido nela. Da a importncia da participao em algumas redes sociais, conhecimento de sites, e insero, se no total, ao menos significativa em canais de comunicao online como o YouTube a Blogosfera. Pensando em tudo isso, e tambm na possibilidade de provocar realmente uma reflexo significativa em colegas e profissionais da rea, surgiu a nova proposta do Timing Media. Os comentrios se tornaram pea fundamental do novo conceito porque atravs deles que se d a discusso, o debate e o compartilhamento de dados. Sendo abertos a qualquer pessoa tanto para simples leitura quanto para compartilhamento da opinio , eles so o grande foco do trabalho e tambm o desafio. A grande maioria das pessoas que l os posts no divide, atravs da pgina, o que pensa ou alguma coisa semelhante que ocorre e da qual ela tem conhecimento.
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Geralmente, essas consideraes so sucintas e divulgadas no Twitter de cada pessoa, com um link reduzido que indica a pgina da discusso, para que seus followers possam entender a respeito do que ela fala. uma forma de interao, mas simplista. O internauta diz se gostou ou no, se concorda ou discorda, mas o 140 caracteres de espao do microblogging no permitem uma discusso mais aprofundada acerca dos motivos que leva o leitor a ter essa ou aquela opinio. Tendo em vista que sem a interao no h debate, nem descoberta de mais material, o desafio fazer com que comentar no espao virtual seja algo habitual, prazeroso e construtivo. 4. TCNICAS E MTODOS APLICADOS A primeira postagem foi efetuada no dia 15 de setembro de 2010. Fala um pouco sobre a proposta do blog e do perfil das blogueiras. Contudo, foi a partir da primeira quinzena de outubro que a divulgao comeou. O ritmo da pgina tambm foi modificado: os posts passaram a ser dirios, e hoje as postagens ocorrem no mnimo duas vezes por dia. A divulgao dos novos post feita primordialmente atravs das redes sociais. O Twitter o campeo de origem de fluxo, seguido pelo Orkut e Facebook - o que compreensvel, visto que no primeiro so divulgados os links de cada postagem efetuada, enquanto nos ltimos dois disponibilizado apenas o link da pgina inicial. A forma de abordagem desses links muito relevante para as visitaes pgina; necessrio que a chamada de pauta inspire os internautas. De acordo com anlise de fluxo feita entre os dias 15 e 25 de outubro, os melhores horrios para divulgao dos posts, durante a semana, so: 09h, 11h40, 19h, 21h. Aos sbados, o horrio indicado por volta da 16h e no domingo, tambm, alm de 21h. Dentro das postagens sempre h hiperlinks, em cores diferentes, que levam a pginas do prprio blog, assim como a outras que sejam interessantes dentro do texto. Esse ltimo est sempre justificado para facilitar a leitura e a compreenso. As referncias esto presentes todas as vezes em que so julgadas necessrias. A linguagem do texto relativamente informal sendo, assim, alinhada com o princpio do blog e com o pblico-alvo. Muitas novas propostas surgiram para a composio do blog, dentre elas uma campanha de pesquisa entre os internautas acerca de assuntos como: porque o Twitter viciante, os novos aplicativos do Facebook e seu carter comercial, tica nas aes publicitrias, vantagens e desvantagens da tecnologia e afins. Tambm est sendo trabalhada a hiptese de desenvolver postagens quinzenais com convidados especiais professores, alunos, empresrio, etc. para a discusso de temas prdefinidos. Alm disso, considera-se a possibilidade de promover mesas-redondas e debates ao vivo na Twitcam com profissionais e participao direta dos internautas. 5. DESCRIO DO PRODUTO OU PROCESSO Fugindo um pouco ao mtodo tradicional, utilizado por sites como Brainstorm 9, Meio&Mensagem, CCSP e afins referncia e fonte de pautas para as autoras , os posts do Timing Media tem um carter mais de reflexo do que informativo. A idia levantar discusses acerca de temas relevantes e/ou interessantes na vida dos internautas. Muitas das pautas so sugeridas pelos prprios leitores, potencializando a interatividade. 5. DESCRIO DO PRODUTO OU PROCESSO Fugindo um pouco ao mtodo tradicional, utilizado por sites como Brainstorm 9, Meio&Mensagem, CCSP e afins referncia e fonte de pautas para as autoras , os posts do Timing Media tem um carter mais de reflexo do que informativo. A idia levantar discusses acerca de temas relevantes e/ou interessantes na vida dos internautas. Muitas das pautas so sugeridas pelos prprios leitores, potencializando a interatividade.
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Figura 1. Viso geral dos acessos ao blog desde sua criao (15 de setembro de 2010). A imagem do dia 23 de outubro de 2010.
Figura 2. Referente ao fluxo de origem das visitas feitas ao blog, referente semana de 16 a 23 de outubro de 2010.
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Figura 3. ndice de acesso s diversas postagens do blog, de 15 de setembro de 2010 a 23 de outubro de 2010.
Figura 4. Origem das IPs registradas no acesso ao blog, de 15 de setembro a 23 de outubro de 2010.
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6. CONSIDERAES Da proposta inicial de criao do trabalho reelaborao do conceito e desenvolvimento efetivo do projeto por um ms e meio, a melhora efetiva e perceptvel. O contedo est muito mais bem trabalhado, em harmonia com o layout e o briefing estabelecido para o blog. A interatividade proposta comea a ser efetivada, atravs de algumas discusses relativas tica na propaganda, a campanhas bem elaboradas, censura da imprensa e outras mais. Alguns internautas esto sugerindo pautas, como ocorreu com as postagens sobre flash mobs, percepo de valor para o cliente e algumas outras. Pautas para a coluna de msica tambm comeam a chegar, e a expectativa que isso s aumente. Algumas idias esto em processo de desenvolvimento. Um dos projetos promover rodas de discusso ao vivo na internet, atravs de dispositivos como a Twitcam, com profissionais de diversas reas, a respeito de temas pr-determinados e com relao direta com a proposta do blog e que fale diretamente aos internautas como, por exemplo, uma discusso sobre o mercado publicitrio em Gois, com os diretores de uma agncia de propaganda -. A idia que os internautas possam enviar dvidas, comentrios e consideraes em tempo real. O vdeo seria postado posteriormente no blog e a partir dele discutiramos assuntos relacionados. O blog j proporcionou muita reflexo acerca dos temas propostos e de outros tantos que ainda esto por ser lanados dentro da linha de postagem. A pesquisa se tornou parte de nossa rotina e atravs dela que melhoramos a cada dia. O compromisso com a plataforma fez com que a busca por novidades e contedos interessantes se tornasse algo diariamente necessrio. O feedback que recebemos extremamente gratificante e nos estimula a continuar nessa busca, alm de nos proporcionar timas reflexes acerca de temas que tem influncia direta na nossa rea. O debate fundamental para o exerccio da comunicao, seja de forma acadmica ou profissional. H ainda um longo caminho a percorrer. Precisamos fazer com que os internautas queiram comentar e participar das discusses ativas, de forma a aumentar o fluxo de informao e a explicitao de diversos pontos de vista, como estmulo do raciocnio. Melhoras estruturais, como horrio definido para as postagens dirias, esto em fase de adaptao. Os projetos, como o das rodas de discusso, j esto sendo formalmente redigidos pela equipe para serem colocados em prtica. A perspectiva sair da FEICOM com idias novas e crticas construtivas para o desenvolvimento de um trabalho cada vez melhor. 7. REFERNCIAS AMARAL, A.; MONTARDO, S.; RECUERA.R. Blogs.com Estudo sobre blogs e comunicao. So Paulo. Momento Editorial, 2008. Disponvel em <http://www.sobreblogs. com.br/> BIONDO,G.; GOMES,A. Revoluo Invisvel. Reportagem da HSM Management, 2008. MOESSA,G.; COELHO,A.; MIRANDA,H.; BARBOSA JNIOR,A.; COSTA,A. FocAia Focas do Araguaia (Blog da Agncia Jnior de Jornalismo). Trabalho submetido ao XVII Prmio Expocom 2010, na Categoria Produo Editorial e Produo Transdisciplinar em Comunicao, modalidade Blog. RECUERO, R. Redes Sociais na Internet. Porto Alegre. Editora Sulina, 2009.
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A Microfsica da Rede - o fenmeno do twitter analisado sob a tica das teorias de poder de Michel Foucault
Liessa Comparin Dalla Nora, Maurcio Pessoa Peccin Camila Craveiro 4 Universidade Federal de Gois
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Resumo A discusso que este artigo prope a da relao de semelhana entre os usos e as conseqncias nas relaes sociais mediadas pelo Twitter, servio de microblogs da internet que dissemina informaes de maneira rpida e concisa, com as chamadas teorias de poder do filsofo Michel Foucault, mais especificamente as contidas em seu livro, A Microfsica do Poder, 1979. luz dos conceitos do panptico, da instrumentalizao da verdade, do poder e seu exerccio e da organizao do trabalho presentes na obra, ser analisado como se d o uso dessa ferramenta, quais seus efeitos nos indivduos e grupos sociais e os reflexos na sociedade como um todo desse tipo de comunicao. Conclui-se atestando que os conceitos presentes em A Microfsica do Poder so verificveis na prtica social do fenmeno Twitter e que as conseqncias desta o so, igualmente, no mbito do poder organizado na sociedade contempornea, entendidas a partir dos conceitos foucaultianos de poder. Palavras-Chave: Microfsica do Poder; Twitter; Foucault, Panptico Abstract The discussion this paper proposes is the relation of similarity between the uses and consequences in social relations mediated by Twitter, the microblogging internet service that spreads information quickly and concisely, with the so-called "theories of power," studied by the philosopher Michel Foucault, specifically those contained in his book, "The Microphysics of Power", 1979. In the light of concepts such as the panopticon, the instrumentalization of truth, the exercise of power and the organization of work present in the book, we are going to analyze the uses of this tool, its effects on individuals and social groups and the effects on society as a whole this type of communication causes. It concludes stating that the concepts presented in The Microphysics of Power are verifiable in the practice of Twitter`s social phenomenon and that the consequences of this are also within the organized power in contemporary society, seen from the Foucaultian concepts of power. Keywords: Microphisics of Power; Twitter; Foucault, Panopticon
2 Filiao: Universidade Federal de Gois - UFG Titulao: Graduanda email: [email protected] 3 Filiao: Universidade Federal de Gois UFG Titulao: Graduando email: [email protected] 4 Filiao: Universidade Federal de Gois Titulao: Professora Mestre
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1 Introduo poca do lanamento da obra "Microfsica do Poder", 1979, Michel Foucault j havia se debruado diversas vezes sobre o tema que marcaria sua produo acadmica: o poder. Este livro, especificamente, composto por vrias palestras e entrevistas ministradas/concedidas pelo filsofo que apresentam este tema como linha mestra, podendo ser encarado, pois, como um resumo de sua teoria, ampliado, ainda, pelos novos questionamentos de seus interlocutores. Sem entrar em definies especficas j trabalhadas em outras obras, como Vigiar e Punir, 1975, ou A Arqueologia do Saber, 1965, Foucault utiliza-se destes elementos conceituais que abarcam o conceito de seu complexo objeto, talvez to difcil de se definir quanto a liberdade, e explicita as condies e os mecanismos para a sua existncia, denunciando de forma clara e despida de formalidade os discursos que no s o justificam como deturpam sua finalidade e sentido. Em sua anlise sobre o poder, Foucault mostra ntida a sua manifestao em instituies como hospitais, escolas, presdios, sanatrios e fbricas, assim como nas instncias da Justia e governo e at mesmo em reas ditas de domnio particular, como o cuidado com o corpo e a expresso da sexualidade. A comunicao, entendida como processo social, no aparece diretamente como objeto de estudo, sendo analisada apenas rapidamente em Vigiar e Punir, 1975, e Microfsica do Poder, 1979, como apoio para outros temas. Compreende-se que, poca, Foucault poderia analisar, assim como seus contemporneos e antecessores, apenas fenmenos miditicos como o cinema, a televiso, o rdio e a publicidade, ficando de fora, obviamente, qualquer percepo, mesmo previso, sobre os meios da comunicao virtual. Partindo-se, porm, de suas reflexes acerca do poder, das implicaes destas e, principalmente, de um conselho dado pelo prprio autor em entrevista concedida Magazine Littraire sobre as prises (transcrita em A Microfsica do Poder, 1979) onde Foucault diz que o importante usar, deformar, fazer ranger e gritar os pensamentos daqueles que se admira (ele refere-se a Nietzche, em seu caso particular), buscamos usar e deformar os temas trabalhados na obra do filsofo no sentido de encontrar uma correlao vlida com as experincias percebidas recentemente nos usos e consequncias de uso das chamadas redes sociais, em especial o Twitter. Nossa inteno , ao longo deste artigo, conceituar este servio de micro-blogs, destacar na obra de Foucault conceitos correlatos ao que percebe-se na experincia cotidiana do mesmo e, a partir disso, elaborar uma anlise acerca do fenmeno que v de encontro ao tema proposto: Ressignificando as fronteiras da Comunicao e Informao. Como metodologia, utilizamos, basicamente, o pensar sobre as leituras descritas na bibliografia e a extrapolao terica dos temas propostos por Michel Foucault na obra Microfsica do Poder, 1979, visando aproximar semelhanas percebidas anteriormente em conversas informais com a teoria de fato. Tendo lido alguns livros centrais da obra do filsofo e sempre discutindo as implicaes em nosso meio e pessoas prximas do uso cada vez mais preponderante das redes sociais, percebemos haver um ponto de convergncia, algo de interesse a ser pesquisado no mbito da comunicao. Para apoiar tal percepo, utilizamo-nos de vrios artigos sobre o assunto redes sociais publicados por veculos como o jornal The New York Times e as revistas Time e Newsweek, entre outros, o que apontou, a princpio, alguma validade em nossa tese. Num momento seguinte, relendo a Microfsica do Poder, 1979, encontramos ainda mais elementos que suscitavam uma natureza prxima entre o poder como descrito por Foucault e os mecanismos invisveis das redes sociais. No sendo usurios do servio Twitter, nenhum dos autores apresenta opinies motivadas por experincias prprias, sejam elas positivas ou frustrantes, a respeito do tema, valendo-se como principal meio de contato com o objeto de entrevistas informais realizadas com pessoas prximas. Estas vo desde usurios pouco ativos (preguiosos, no jargo) aos chamados heavy users, pessoas que postam vrias vezes por dia, em geral atravs de aparelhos com conexo internet via celular. Tambm nos valemos da leitura do FAQ do site, em especial no referente s questes de privacidade e controle de contedo, de textos descritivos de vrios dos aplicativos usados na plataforma e de tutoriais online acerca do uso da mesma para que pudssemos, mesmo sem uma experincia emprica, compreender ao menos teoricamente os processos do fenmeno.
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2 Os Conceitos de Foucault A obra de Foucault extensa e aborda muitos temas alm dos que sero selecionados e discutidos aqui. No bastasse isso, o prprio filsofo no manteve uma coerncia draconiana com seus prprios conceitos ao longo dos anos, ora sendo bastante rigoroso quanto s terminologias que empregava, evocando uma herana metodolgica kantiana, ora sendo mais informal, deixando o raciocnio fluir sem atravancar o processo com elaboraes discursivas. O que ser levado em conta neste artigo o que est na obra Microfsica do Poder, 1979, na qual ele explica algumas das mudanas, assume posturas diferentes das obras originais no que se refere a determinados temas, como a nova importncia da Geografia no estudo do poder, e, inclusive, formula idias novas para temas j abordados, como a do papel do intelectual contemporneo. Dada a complexidade de alguns conceitos, eles sero aqui apresentados de maneira sinttica e dirigida para a argumentao que propomos acerca da similaridade de suas estruturas com os processos comunicativos evocados pelo advento da comunicao virtual e das redes sociais. Referncias ao corpo original de texto sero feitas para maiores explanaes e, quando possvel, deixaremos que o autor fale por si atravs de citaes, as quais analisaremos e contextualizaremos dentro do espectro visado. 2.1 O Poder para Foucault Para Foucault, o poder no algo que existe por si s, no algo que se possa obter, cultivar ou transmitir. O poder seria um fenmeno, algo possvel de ser exercido, observvel apenas em sua manifestao, obrigatoriamente fruto de uma relao, em geral desigual, que tenderia, em seu prprio exerccio, ao equilbrio posterior via resistncia. O poder no seria exercido apenas de cima para baixo ou numa estrutura piramidal, ele estaria incrustado na vida social, envolvendo todas as relaes legais ou interpessoais da sociedade, de maneira capilar. O poder manifesto apenas pela fora da lei ou da violncia, da represso e do interdito, seria frgil, sem capacidade real de promover ou manter mudanas. O real potencial do poder o de modificar de maneira positiva (no confundir com benfica) os comportamentos e as dinmicas sociais nas quais se manifesta. Por exemplo: para Foucault a burguesia no demonstrou seu poder no momento em que tomou a governana para si pela fora das armas e criou as Constituies, ela o fez muito antes, quando comeou a adestrar as populaes, tanto a burguesa quanto as inferiores e superiores hierarquicamente, com descobertas cientficas acerca da necessidade da higiene e do urbanismo, da diviso dos espaos dentro das casas e da excluso dos loucos e sua internao nos asilos. Todos estes so mecanismos de produo de verdade, processos, logo, positivos, que so e culminam no exerccio do poder. Neste sentido, o poder mostra-se no ensino de novas preocupaes e prticas cotidianas, pela sugesto, e posterior adoo, de novos padres gestuais e de indumentria, de novas prticas de cuidado com o corpo e com a mente. Invisvel e sutil, o poder primeiro conquista e produz, de novos comportamentos a novos modos de enxergar a realidade, depois mantm-se em circulao produzindo verdades e ritos que o legitimem. Mais do que isso, o poder constitui os sujeitos quando por eles perpassa, modificando-os sem neles permanecer. Nas palavras do autor:
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O poder deve ser analisado como algo que circula, ou melhor, como algo que s funciona em cadeia. Nunca est localizado aqui ou ali, nunca est nas mos de alguns, nunca apropriado como uma riqueza ou um bem. O poder funciona e se exerce em rede. Nas suas malhas os indivduos no s circulam mas esto sempre em posio de exercer este poder e de sofrer sua ao; nunca so o alvo inerte ou consentido do poder, so sempre centros de transmisso. Em outros termos, o poder no se aplica aos indivduos, passa por eles o indivduo no o outro do poder: um de seus primeiros efeitos. 1 Podemos perceber que o poder no uma forma de governar nem um discurso, tampouco alguma autoridade ou destino. Ele configura-se como um dispositivo terico-prtico posto em funcionamento por aqueles com os mais diversos interesses (polticos, econmicos, afetivos) atravs de uma srie de ferramentas, as chamadas tecnologias do poder, para provocar efeitos desejveis, qui duradouros, em vrios nveis da sociedade, desde os globais at os imediatamente privados. Estas ferramentas sero apresentadas logo a seguir para que possamos ter uma noo um pouco mais clara do fenmenos e de seus modos de ocorrncia. 2.2 O Saber, o Poder e a Instrumentalizao da Verdade Foucault trata da questo do saber - seja ele cientfico, tcnico, mtico ou moral numa profunda articulao com os mecanismos de seu exerccio, praticamente vinculando a existncia de um do outro. Em suas prprias palavras. Ora, tenho a impresso de que existe, e tentei fazla aparecer, uma perptua articulao do poder com o saber e do saber com o poder. No podemos nos contentar em dizer que o poder tem necessidade de tal ou tal descoberta, desta ou daquela forma de saber, mas que exercer o poder cria objetos de saber, os faz emergir, acumula informaes e as utiliza O exerccio do poder cria perpetuamente saber e, inversamente, o saber acarreta efeitos de poder O humanismo moderno se engana, assim, ao estabelecer a separao entre saber e poder No possvel que o poder se exera sem saber, no possvel que o saber no engendre poder.2
Fica bastante clara a posio de Foucault a partir deste excerto. Qualquer conhecimento surgido-criado gera relaes de poder, quem o detm pode adquirir a capacidade de exerc-lo sobre os que no o detm e implementar suas intenes. Da mesma forma, algum que exerce um poder sobre o outro adquire saberes de como continuar exercendo, como exercer melhor ou conseguir outros resultados. Saber, seja de qual forma se conceitue, significa potencial de poder.
1 FOUCAULT, Michel. Microfsica do Poder. So Paulo, 1979, p.103. 2 FOUCAULT, Michel. Microfsica do Poder. So Paulo, 1979, p.80-81.
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Aqueles em posio de autoridade, logo mais aptos a exercer poder, precisam o tempo todo de novos saberes para manter esta posio ou para usufruir maiores benefcios dela. Da mesma maneira funciona a produo de Verdade. A Verdade nada mais do que um saber formatado como discurso e usado para justificarlegitimar algo, em geral o exerccio ou as conseqncias do exerccio do poder. A Histria uma narrativa, saber produzido e encarado como verdade; o discurso cientfico uma verdade metodolgica de utilidade confirmada por valores econmicos e pelo discurso da melhoria das condies de vida. A aceitao das verdades permite o exerccio do poder, o exerccio deste poder promove a, e precisa da, criao de mais saberes que promovero ainda mais tal exerccio. A isto chamamos de instrumentalizao da Verdade, um processo intrinsecamente ligado ao fenmeno do poder e, como veremos mais frente, tambm intimamente relacionado realidade contempornea da comunicao. 2.3 A Tripla Funo do Trabalho Tratada apenas tangencialmente na obra aqui discutida, a funo tripla do trabalho nos oferece um elemento bastante interessante para analisarmos nossa tese a respeito das redes sociais. A funo tripla do trabalho est sempre presente: funo produtiva, funo simblica e funo de adestramento, ou funo disciplinar. A funo produtiva sensivelmente igual a zero nas categorias de que me ocupo, enquanto que as funes simblica e disciplinar so muito importantes. Mas o mais freqente que os trs componentes coabitem.3
As categorias das quais o autor diz ocupar-se so os excludos da sociedade: os loucos, os delinqentes e as crianas. Por isso ele diz que sua funo produtiva igual a zero, pois eles esto trancafiados (nos dois primeiros casos) ou sendo ainda poupados/treinados, no terceiro. salutar expandir este raciocnio no tocante s funes que ele considera importantes para estes grupos, a simblica e a disciplinar. Podemos perceber claramente no instituto das redes sociais tais funes sendo exercidas de maneira poderosa, uma vez que estas redes constituem parte importante da identidade e das relaes simblicas de seus usurios, seja atravs da elaborao e manuteno de perfis com descritores discursivamente precisos, seja na obteno de contedos em quantidade massiva que interferiro, em maior ou menor escala, na bacia semntica dos receptores. Da mesma maneira, elas exercem um forte fator disciplinador nestes mesmos usurios ao exigirem a adoo de padres de comportamento, de questionamento acerca de contedo (Repassar ou no? Ser verdadeiro?), de linguagem, mesmo de controle de horrios e seleo de vnculos interpessoais. Manter-se conectado e relevante no mundo virtual parece ser uma forma compulsria de trabalho na sociedade contempornea, inclusive quanto funo de produo, aqui caracterizada por contedos e informao. O valor social de algum neste meio virtual est diretamente ligado sua capacidade de gerar e retransmitir contedos, de fazer-se seguido/popular.
3 FOUCAULT, Michel. Microfsica do Poder. So Paulo, 1979, p.124.
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2.4 Panptico: Reino de Opinio Chegamos ao ltimo dos conceitos trabalhados na obra que nos interessa para o prosseguimento do artigo, a instituio do Panptico, o olho do poder. Este instrumento no foi criado por Foucault e sim por Jeremy Bentham, em obra editada no fim do sculo XVIII que pretendia responder questo do controle social atravs da vigilncia perene, uma vez que o antigo sistema da punio exemplar, possvel apenas na decadente figura do Rei, mostrava-se cada vez menos eficiente. Analisando o esprito humano, a arquitetura e as relaes de visibilidade, Bentham sugere uma estrutura, fsica, descrita por Foucault: na periferia, uma construo em anel; no centro, uma torre; esta possui grandes janelas que se abrem para a parte interior do anel. A construo perifrica dividida em celas, cada uma ocupando toda a largura da construo. Estas celas tm duas janelas: uma abrindose para o interior, correspondendo s janelas da torre; outra, dando para o exterior, permite que a luz atravesse a cela de um lado a outro. Basta ento colocar um vigia na torre central e em cada cela trancafiar um louco, um doente, um condenado, um operrio ou um estudante. Devido ao efeito de contraluz, podese perceber da torre, recortandose na luminosidade, as pequenas silhuetas prisioneiras nas celas da periferia. Em suma, invertese o princpio da masmorra; a luz e o olhar de um vigia captam melhor que o escuro que, no fundo, protegia.4 O mais interessante, porm, no se ater estrutura fsica, que idealizada, e sim aos desdobramentos tericos da idia. A sugesto que se crie um sistema de vigilncia gratuito e eficaz, baseado na coao do olhar, em que no se saiba quem est vigiando, possivelmente todos e ningum, em que o medo, a parania e a delao faam as vezes de instrumentos de controle. Complementando a idia, Foucault diz sobre Bentham: Ele coloca o problema da visibilidade, mas pensando em uma visibilidade organizada inteiramente em torno de um olhar dominador e vigilante. Ele faz funcionar o projeto de uma visibilidade universal, que agiria em proveito de um poder rigoroso e meticuloso a idia tcnica do exerccio de um poder "omnividente"5 Chegamos, portanto, numa tecnologia de vigilncia engenhosa, exercida por todos a partir do simples ato do olhar. Um olhar que produz saber, ftico, sobre os outros, conhecimento que pode ser usado para um exerccio de poder. Todos se vigiam, todos se temem. Instaura-se, idealmente, um reino de opinio, onde os comportamentos passam a se controlar pelas Verdades produzidas. Quem foge do adestramento pode ser julgado pelos prprios pares atravs de uma claridade nunca experimentada. O mecanismo circunda a todos, mostrando que o poder no encontra-se num ponto central, circulante. Antecipando a discusso que seguir, essa a estrutura que podemos identificar nas redes sociais, especialmente as com menor possibilidade de privacidade e maior rotatividade de informaes, como o Twitter. Este um reino de extrema claridade, de fatos momentneos que fogem ao controle. Algo postado pode ser retransmitido
4 FOUCAULT, Michel. Microfsica do Poder. So Paulo, 1979, p.115. 5 FOUCAULT, Michel. Microfsica do Poder. So Paulo, 1979, p.118.
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com alcance praticamente infinito e todos os usurios podem ter acesso informao. Os comportamentos passam a ser calculados, como se um superego gigante e impessoal existisse na confuso de bytes, desvirtuando o objetivo primordial da ferramenta. Some-se a esse meio de vigilncia e visibilidade um eficiente sistema de produo de Verdades (contedos) capaz de viabilizar o exerccio do poder, virtualmente quanto ou no mundo fsico, e as j discutidas implicaes do Trabalho e sua tripla funo e podemos vislumbrar uma definio, talvez pessimista, mas apurada do Twitter. 3 O Twitter Tambm conhecido como o SMS de internet, o Twitter uma rede social gratuita na forma de um servio de microblog que habilita seus usurios a enviar e receber atualizaes textuais (tweets) e links com outros contedos, como vdeos e imagens, com facilidade. O texto pode ter no mximo 140 caracteres, tornando o sistema bastante simples (simplrio para alguns). Esta limitao no impediu que ele se tornasse um verdadeiro fenmeno de adeso e uso, sendo percebida por muitos como sua grande fora, quando no um desafio instigante por si s. O texto Twitter: Is Brevity The Next Big Thing?6, publicado no site da revista Newsweek, aborda o assunto ao afirmar que a isca para o Twitter, assim como seu ponto fraco, a simplicidade, aludindo, inclusive, a uma comunicao pautada por este valor. Criado em 2006 por Jack Dorsey (@Jack), Biz Stone (@Biz) e Evan Willians (@Ev), programadores em uma companhia de podcasts situada em So Francisco - CA chamada Odeo Inc. como uma proposta para solucionar problemas de comunicao em empresas, o sistema passou por vrias verses, sendo as principais Alpha (fechada a funcionrios da Odeo e pessoas prximas) e Beta (pouco mais aberta e com vrias implementaes de funes e correes quanto segurana feitas) antes de anotar sua primeira apario impactante no evento de comunicao e informtica SxSW, onde foi um grande sucesso e recebeu o prmio na categoria Blogs. Vrias aparies impactantes sucederam este primeiro momento, como as ocorridas na MTV e no Apple WWDC 2007, e a popularidade do servio s fez crescer com a adeso de personalidades como a apresentadora Oprah Winfrey, o poca candidato presidncia dos EUA Barack Obama e artistas como o comediante Ashton Kutcher. Com o sucesso da verso Beta veio a independncia. Em outubro de 2006, Biz Stone, Evan Williams e Jack Dorsey compraram a empresa Odeo, incluindo o domnio twitter.com e, em 2007, o Twitter tornou-se uma empresa prpria. Alguns dos criadores saram, incluindo o prprio Jack Dorsey, que comprou o domnio e formatou o modelo vigente na plataforma Ruby. Hoje o servio conta com aproximadamente 200 milhes de usurio, a maioria norte-americanos, postando perto 65 milhes de tweets por dia.7 Mesmo explorando pouco o potencial financeiro da rede at agora, estima-se que ele seja enorme, atravs da venda de licenas e publicidade.
6 LEVY, Steven. Twitter: Is Brevity The Next Big Thing?. Disponvel em: <http://www.newsweek.com/2007/04/29/twitter-is-brevity-the-nextbig- thing.html>. 2007. ltimo acesso em 25/10/2010 s 15:42. 7 SCHONFELD, Erick. Costolo: Twitter Now Has 190 Million Users Tweeting 65 Million Times A Day. Disponvel em <http://techcrunch.com/2010/06/08/twitter-190-million-users/>. 2010. ltimo acesso em 25/10/10 s 16:34
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3.1 Definies dos componentes Twitter e seu uso Existe uma enorme quantidade de ferramentas para se usar no ambiente do Twitter que no sero discutidas aqui, uma vez que focaremos apenas nos conceitos bsicos para o entendimento e funcionamento da rede, justamente os que traro subsdios para a discusso por serem essenciais experincia. So eles: - Usurio: Indicado por @usurio. Poder publicar mensagens, fotos e videos em tempo real, permitir que outros vejam, comentem e republiquem e vice-versa atravs de uma pgina de perfil sediada no site Twitter. Tudo isso gratuitamente. - Tweet: Mensagens postadas pelos usurios (@usurio) contendo no mximo 140 caracteres. Quando so fotos, so em forma de link, que abrem em outra pgina (Twitpic); outros sites abrem em outra aba, fora do Twitter. Essas mensagens so transmitidas em tempo real para todos os Followers e podem ser reenviadas atravs do recurso Retweet, comentadas (reply) ou adicionadas pasta de tweets favoritos (favorite). - RT - Retweet: O retweet uma funo que consiste em republicar uma determinada mensagem de um usurio, dando crdito a seu autor original ao colocar RT+nome do usurio na frente (RT@usurio). Atualmente, isso pode ser feito atravs do boto retweet, que faz o envio automtico. - Trending Topics: Os Trending Topics (TTs) so uma lista em tempo real dos nomes, expresses ou frases curtas mais postados no Twitter pelo mundo todo. - Marcadores: O smbolo #, conhecido como marcador, foi criado pelos prprios usurios do Twitter inicialmente como uma forma de categorizar as mensagens em grupos. Atualmente, tambm utilizado para incorporar expresses da moda e assuntos aos trending topics (exemplo: #dilmano, #comofas?). Tambm conhecido como tag. Existem ainda os conceitos de Seguir e Seguidores. A maneira de se vincular a pessoas no Twitter no atravs de amigos, como em outras redes sociais, mas sim atravs do seguir. Quando voc segue um usurio, sempre por escolha, receber todas os tweets que ele postar. Da mesma maneira, tudo o que postar ser recebido por todas as pessoas que te seguem, no existe meio de selecionar, como em outras redes, quem receber o qu. Todos recebem tudo. possvel escolher visualizar na sua pgina de Feed, onde os tweets de todos os que voc segue aparecem, apenas aqueles que interessam mais no momento, selecionando-os a partir do smbolo #. Por exemplo, se voc deseja ler tweets relacionados apenas morte do cantor Michael Jackson, basta selecionar a opo de visualizao como #michaeljackson, ou alguma outra tag que voc saiba ser relacionada ao assunto. Um tweet uma vez postado cai na nuvem de informao e poder ser re-enviado por todos os seus seguidores, sem apelao, por isso seria prudente ponderar muito bem o que postado. Algo que a prpria natureza do servio (os 140 caracteres, o ar informal e simples, as perguntas antes O que voc est fazendo? e agora O que est acontecendo?) desestimula. O processo quase instintivo, favorecendo o princpio da claridade extrema.
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4 A Microfsica da Rede Anlise Definidos, portanto, os conceitos e elementos necessrios anlise proposta, podemos partir para as teses. J adiantamos, nos locais especficos, a relao dos conceitos de Foucault com a experincia observada no Twitter, agora fecharemos a idia. Consideramos a estrutura, a entender no espacial, desta rede como uma manifestao bastante realizada do idealizado panptico de Bentham, estando todos, simultaneamente, na torre central e nas celas, capazes de vigiar o tempo todo e passveis de viglia eterna sem nunca saber-se de fato controlados. Na realidade, sabe-se vigiado, ou seguido, mas no exatamente por quem e em qual extenso. Da mesma forma, pode-se tornar o olhar para qualquer um de seus seguidores, ou seguidores de seguidores, ou qualquer pessoa que possua uma conta e um perfil, sem que ela se saiba vigiada ou tenha a certeza de ser vigiada quando seguida. O reino de opinio, desejado pelos Iluministas, que se apossaram do conceito terico do panptico, onde a lei se daria pela certeza do olhar de desaprovao do outro, mostra uma face possvel. Por mais naturais que sejam os tweets, eles no so jamais inocentes, puros de sentido ou forma, pois sabe-se, de antemo, do julgamento externo inescapvel. Todos esto plenamente visveis, todos esto plenamente escondidos por inteno, todos tentam exercer poder e produzir saber. Consideramos a experincia do Twitter, no s dele mas esta destacada pelo tema do artigo, muito ligada noo de Foucault acerca da tripla funo do trabalho. Como supracitado, o Twitter necessita de uma linguagem e mtodos prprios para ser exercido (adestramento), contribui com freqncia e potncia para a constituio das relaes simblicas dos usurios (criando, at mesmo, um novo padro de comunicao baseado em assuntos extremamente especificados e de contedo simplificado ao extremo) e tem uma clara funo produtiva numa sociedade onde a informao e os contedos miditicos so valiosos econmica e politicamente. O adestramento de mtodos e preocupaes pode ser facilmente descrito como exerccio de poder, assim como o remanejar do simblico coletivo. Quanto funo de produo, ela liga-se claramente ao prximo ponto analisado, o de produo de Verdades, sendo parte fundamental do exerccio do poder uma vez que produzir contedo interessante e post-lo tornou-se quase uma obrigao contempornea. Consideramos, por fim, o sistema de produo de contedos presente no Twitter, amplificado pelo seu poder de disseminao, uma clara manifestao do poder capilar e dinmico denunciado por Foucault. Nesta rede, a produo de Verdades um fenmeno constante, suscitando uma crise de legitimao talvez nunca experimentada. A prtica do retweet faz com que as informaes, simultaneamente, percam sua origem, logo possibilidade de verificao e valor factual, e ganhem peso de discurso, pois quanto mais se dissemina um contedo desta forma mais alcance e aspecto de Verdade ele adquire. Os diversos links postados, encaminhando para textos mais aprofundados e creditados, no ajudam nesta questo, uma vez que a escolha dos mesmos igualmente discursiva e arbitrria e sua disseminao no necessariamente vinculada a qualquer senso de valor. Ainda por cima, o conceito dos Trending Topics, os assuntos mais discutidos em tempo real, a materializao mais premente do conceito comunicativo do agenda-setting, em seu sentido inverso, verificada, podendo fazer as discusses penderem para uma posio ou outra de maneira no natural em outros meios. Logo, por concentrar em sua prxis tantos conceitos cruciais para a noo de Poder apresentada por Foucault, consideramos o Twitter uma clara manifestao, observvel e mensurvel, das dinmicas de poder na sociedade, transportadas para um ambiente simblico movido por signos e contedos. Seu estudo aprofundado, luz de dados estatsticos, extrapolaes polticas, sociais e filosficas pode ser de grande valia para compreendermos melhor o papel da comunicao neste novo tempo. Se informao poder, a ressignificao promovida pelo advento do Twitter , sem dvida, um fenmeno que precisa ser estudado.
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A Microfsica da Rede - o fenmeno do twitter analisado sob a tica das teorias de poder de Michel Foucault
Liessa Comparin Dalla Nora, Maurcio Pessoa Peccin Camila Craveiro 4 Universidade Federal de Gois
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5 Concluso A partir do exposto, conclumos haver uma relao bastante clara entre os mecanismos observados na rede de micro-blogs Twitter e os conceitos trabalhados por Michel Foucault na obra Microfsica do Poder, 1979. As relaes de poder, obviamente, no so intencionais ou implementadas, sendo interessante reparar como se manifestaram de forma bastante especfica num fenmeno que o filsofo no podia prever. Tais relaes esto em toda parte, ocorrendo a todo momento entre praticamente todas as pessoas, facilitadas pelo veculo e sua tecnologia baseada em alcance e simplicidade. So pouco articuladas e sempre apresentam suas contrapartes, as resistncias, que so, invariavelmente, to inventivas quanto as aes. No caso do Twitter, as resistncias se manifestam na mais baixa taxa de reteno dentre as redes sociais (80% dos usurios abandonam seus perfis antes de um ms de uso) e nas justificativas, em especial dos mais jovens, para no fazer parte do meio. muito exposto, parece algo profissional, exige dedicao demais, no faz sentido para mim, so afirmaes comuns de adolescentes usurios de outras redes que no se empolgam com a novidade, cujo pblico preferencial est entre jovens adultos (entre 25 e 35 anos) em ambientes profissionais competitivos e pessoas mais velhas que nunca lidaram com redes sociais. A discusso muito ampla e muitos aspectos foram deixados de lado, como o conceito de ambiental awareness existente nas redes como o Twitter (ligado ao panptico por revelar a intimidade de maneira metdica, quase impessoal, constitudo pela sensao de familiaridade que se adquire para com as rotinas das pessoas seguidas ao se receber os pequenos pedaos de informao sobre elas o tempo todo) e a discusso acerca da mudana que est acontecendo na nossa prioridade de relaes, uma vez que passamos a dar mais valor a laos fracos (movidos por interesse e esttica) do que a laos fortes (originados em experincias mais profundas). Este segundo, em especial, poderia trazer uma luz interessante ao conceito de ressignificao, uma vez que interagimos mais com informao do que com pessoas no mundo atual, nosso prazer e nosso sustento so cada vez mais manifestos em contedos miditicos, nossa viso de mundo, posio poltica e filosfica cada vez mais dependem de nossas interaes virtuais. A primeira mostra tambm um aspecto interessante ao trabalhar com a questo da visibilidade social, uma vez que queremos informar pouco sobre ns mesmos, mas transmitir idias de uma narrativa aprovada pela nossa idia do que exercer poder sobre outros. Ser visvel no ambiente do Twitter quase como ser percebido de uma classe superior no mundo fsico. Estas, porm, por mais interessantes que sejam, no so discusses pertinentes ao tema por ns pretendido e fecham o artigo apenas como uma idia para futuros estudos. De concreto, gostaramos de deixar que a impresso do fenmeno no foi to pessimista como prevamos ou podemos ter deixado transparecer. Apesar das criticas, muito mais ligadas maneira como as pessoas usam e se importam com a tecnologia, enxergamos no Twitter e em outras redes similares um caminho que, bem trabalhado, pode ser valioso para a mudana da economia de poder nas relaes polticas e humanas. O Twitter, mais do que qualquer outro meio, d voz ao ltimo conceito de Foucault que abordaremos, o dos saberes dominados, aqueles mais ligados ao esprito e vivncia. Menos totalizantes, mais particulares, especficos e sufocados por uma sociedade que descobriu-se, ou inventou-se, repentinamente puramente racional e literalmente enterrou prticas que, mesmo no to eficazes, no deixavam de ter sua importncia e despertar afeto. A erupo e conseqente ascenso destes aos tpicos discutidos em mbito global podem ser muito vlidas para o reencontro do homem consigo mesmo. Nada pode ser mais prximo de ressignificar do que isso.
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Liessa Comparin Dalla Nora, Maurcio Pessoa Peccin Camila Craveiro 4 Universidade Federal de Gois
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Bibliografia FOUCAULT, Michel. Microfsica do Poder, 23 ed. So Paulo, SP: Graal, 1979 FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: Nascimento da Priso. 20 ed. Petrpolis, RJ: Vozes, 1999 PAPERCLIQ. E-book: #Mdias Sociais: Perspectivas, Tendncias e Reflexes, 2010. Disponvel em: <http://api.ning.com/files ZoxL6vVJBpLAHjhmKoTdOeVa5ptiN5JsZmWVpr5gwghG7IgKMUEpYXs2nTT 3FvAObBiOsAzHzhap7Dl3zrRTXQP08YK7MjTe/Ebook_MidiasSociais1.pdf>. ltimo acesso em 28/10/2010 s 23:16. LEVY, Steven. Twitter: Is Brevity The Next Big Thing?. Disponvel em: <http://www.newsweek.com/2007/04/29/twitter-is-brevity-the-next-big-thing.html>. 2007. ltimo acesso em 25/10/2010 s 15:42. HOFFMAN, Stefania. Twitter Quitters Outnumber Those Who Stay, Report Finds. Disponvel em: <http://www.crn.com/blogs-op-ed/the-channel-wire/217200834/ twitter-quitters-outnumberthose-who-stay-report-finds.htm;jsessionid=ffldgEgTDglZ5W0NXUMG2Q**.ecappj02>. 2009. ltimo acesso em 28/10/2010 s 23:44. MILLER, Claire Cain. Whos Driving Twitters Popularity? Not Teens. Disponvel em: < http://www.nytimes.com/2009/08/26/technology/internet/26twitter.html?_r=2>. 2009. ltimo acesso em 25/10/2010 s 23:48. JOHNSON, Steven. How Twitter Will Change the Way We Live. Disponvel em: <http://www.time.com/time/printout/0,8816,1902604,00.html>. 2009. ltimo acesso em 28/10/2010 s 23:51. THOMPSON, Clive9.Brave NewWorld of Digital Intimacy. Disponvel em: <http://www.nytimes.com/2008/09/07/magazine/07awareness-t.html?_r=1&pagewanted=all>. 2008. ltimoacesso em 28/10/2010 s 23:54.
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Resumo Este texto trabalha a maneira como se deu a aproximao do jornalismo com a cincia e quando surgiu a preocupao de tornar os textos cientficos legveis para a populao em geral. Desta forma, mostra-se a evoluo do jornalismo como divulgao cientfica. Alm disso, utiliza-se a obra da filsofa Hannah Arendt acerca do julgamento de Eichmann para questionar a prtica da irreflexo observada nesse exerccio, a qual no se restringe aos profissionais, pois transmitida aos receptores. Atualmente, veculos de comunicao que se dizem divulgadores de cincia tm exemplificado perfeitamente a ideia de banalidade do mal, apresentada por Arendt. Por meio da anlise de como tem sido a circulao do saber cientfico em meio comunidade, pretende-se chegar a um consenso sobre qual deve ser a postura do comunicador que atua neste campo e sobre como a atividade de pensar pode contribuir para garantir a todos o acesso informao e acima de tudo, ao conhecimento. Palavras-chave: Jornalismo cientfico; conduta; reflexo; divulgao cientfica; cincia Abstract This text works the way we took the approach to science journalism and when there was a concern to make scientific texts readable for the general population. Thus, it shows the evolution of journalism as a scientific publication. In addition, it uses the work of the philosopher Hannah Arendt on Eichmann's trial to question the practice of thoughtlessness observed in this exercise, which is not restricted to professionals as it is transmitted to recipients. Currently, the media who say they are popularizers of science are perfectly exemplified the idea of the banality of evil by Arendt. Through the analysis as has been the movement of scientific knowledge within the community, aims to reach a consensus about what should be the posture of a communicator who works in this field and how the activity of thinking can help to ensure all access to information and above all, knowledge. Keywords: Science journalism, conduct, reflection, science communication, science ingls. 1. INTRODUO O jornalismo cientfico nasceu na segunda dcada do sculo XX como consequncia do crescimento do interesse pblico pelo assunto. Isso foi possvel graas s descobertas tcnico-cientficas do perodo, destacando-se o desenvolvimento de armas para a Primeira e Segunda Guerras Mundiais. Dessa maneira, as empresas jornalsticas, pela primeira vez, passaram a contratar profissionais especificamente para esta rea. A partir deste momento, os jornalistas assumiram a funo de promover a divulgao cientfica, tornando as novidades da cincia conhecidas pela populao, at ento, distante da comunidade cientfica. Estes profissionais deveriam reproduzir o que acontecia nos grandes centros de produo de conhecimento, ainda concentrados nas universidades, de forma clara para os chamados leigos no assunto.
1 Trabalho apresentado na V FEICOM: Ressignificar as fronteiras da comunicao e informao. De 08 a 12 de novembro de 2010, em Goinia GO. Estudante de Graduao do 2 semestre do Curso de Jornalismo da FACOMB-UFG, email: [email protected]
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Este artigo prope-se a tratar exatamente da maneira como se d a circulao do saber cientfico no nosso cotidiano, das dificuldades encontradas pelo jornalista cientfico para tornar o tema atrativo e das deficincias observadas nessas prticas. O trabalho tambm traz sugestes para que se melhore essa especializao jornalstica a partir das crticas feitas conduta observada atualmente. Como embasamento terico, utilizaremos o pensamento arendtiano expresso em duas obras da autora, sendo elas, respectivamente, Eichmann em Jerusalm(1999) e A Vida do Esprito(1999), tendo mais destaque para a primeira. Partiremos da anlise que a autora faz da banalidade do mal a partir do julgamento de Eichmann, um dos subordinados de Adolf Hitler e participante da soluo final. Apesar da crueldade e violncia dos atos cometidos, em momento algum ele colocava-se como assassino, justificando apenas ser um homem que atuava sob ordens. A partir disso, Hannah Arendt levantar uma discusso sobre o que ela chama de irreflexo e contestar os momentos em que muitos preferem simplesmente obedecer ao invs de refletir sobre o certo e o errado. Ao final, ao entendermos a relao das obras de Hannah Arendt com o jornalismo cientfico, pensaremos at que ponto este profissional limita-se a apenas ser submisso verdade cientfica ou se ele pratica o ato de refletir sobre aquilo que lhe apresentado e deve reproduzir. Alm disso, discutiremos como ele v a si prprio em relao responsabilidade pelas publicaes, descobrindo se o jornalista atua como um ator ativo ou apenas como engrenagem de uma complexa mquina. O objetivo deste trabalho , portanto, levar os profissionais da comunicao na rea da divulgao cientfica a refletirem sobre a importncia do seu papel na sociedade e se eles tm desenvolvido essa misso com qualidade. Uma vez que, o mercado de trabalho exerce tal presso sobre o jornalista que muitas vezes, at mesmo sem inteno, alguns 2. O CASO EICHMANN Em 1961, Hannah Arendt foi a Jerusalm para fazer a cobertura do julgamento de Adolf Eichmann enviada pela revista The New Yorker. Ele, que estava vivendo fora da Alemanha desde 1946, era muito esperado por todos para que fosse julgado pela violncia e monstruosidade de seus atos. Eichmann no tinha nenhuma origem que merecesse destaque ou que lhe desse prestgio. Nasceu em Solingen, na Alemanha e em novembro de 1932, juntou-se organizao de elite do partido nazista, a SS (Schutzstaffel). Ele era responsvel por organizar a identificao e o transporte dos judeus para os campos de concentrao e extermnio. Em 1960, foi encontrado em Buenos Aires, na Argentina, utilizando um nome falso e o seqestraram para que fosse julgado em Israel. A expectativa com que esperavam o importante integrante da Soluo Final chamou a ateno de Hannah Arendt, a qual esperava uma pessoa que de fato expressasse tamanha frieza quanto a que expressavam seus atos. No entanto, ao encontr-lo, deparou-se com um homem medocre, que diante de toda a retrica utilizada para acus-lo, tornava-se cada vez menor. Possua uma pequenez que se manifestava na sua pouca inteligncia e na sua incapacidade de discernir se seus atos eram bons ou ruins. Como ela mesma declara Aquilo com que me defrontei, entretanto, era inteiramente diferente e, no entanto, inegavelmente factual. O que me deixou aturdida foi que a conspcua superficialidade do agente tornava impossvel retraar o mal incontestvel de seus atos, em suas razes ou motivos, em quaisquer nveis mais profundos. Os atos eram monstruosos, mas o agente ao menos aquele que estava agora em julgamento era bastante comum, banal, e no demonaco ou monstruoso. (Arendt,1971,p.14)
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Diante das acusaes de crimes contra judeus e at mesmo, contra a humanidade, Eichmann afirmava que era inocente no sentido da acusao, pois ao praticar tais atos, ele estava sendo apenas obediente s ordens de Hitler, porque as ordens de Hitler(...) possuam fora de lei no Terceiro Reich(Arendt,1963,p.35). Hannah Arendt observou que Eichmann sempre recorria a comportamentos padronizados e expressava-se usando clichs e frases feitas. Ao falarem sobre algo com o qual ele era familiarizado, no apresentava nenhuma dificuldade para se expressar. Todavia, diante de algo novo, via-se sem saber como agir. Diante daquela situao, a autora pde perceber que a postura assumida pelo acusado no era algo particularmente ligado a ele, mas tratava-se de uma prtica assumida pela sociedade alem. Toda a populao obedecia s ordens do Fhrer sem refletir se elas realmente estavam certas ou no. Eichmann agia apenas como mais uma engrenagem de uma mquina, a qual sustentava o governo totalitrio vigente (no caso, nazista) e transformava os homens em meros funcionrios, desumanizando-os. Hannah Arendt denunciar isso como a anulao da individualidade e da espontaneidade, de forma que a capacidade humana de iniciar algo novo com seus prprios recursos eliminada. Chamar essa atitude de irreflexo, o que ela deixa claro ser bem diferente de burrice. (...)Nele no se encontrava sinal de firmes convices ideolgicas ou de motivaes especificamente ms, e a nica caracterstica notria que se podia perceber, tanto em seu comportamento anterior quanto durante o prprio julgamento e o sumrio da culpa que o antecedeu, era algo de inteira mente negativo: no era estupidez, mas irreflexo. (Arendt,1971,p.14) Em meio a esse cenrio, duas questes chamaram a ateno da autora: as atividades de pensar e julgar. Ao ler este livro-reportagem, o leitor depara-se com o Eichmann existente dentro de cada um de ns. A falta de tempo que permeia os dias atuais, a necessidade de trabalhar visando o sustento, faz com que o homem se interesse por atividades que no sejam excessivamente cansativas e que lhe tomem o menor tempo possvel. Esse apego ao imediatismo torna o ato de refletir uma prtica totalmente descabida dentro desse contexto. (...)Essa supremacia da obedincia pressupe a abolio da espontaneidade do pensamento. E nessa ausncia de pensamento, nessa expresso humana opaca, nessa rarefao das conscincias aparece a tragdia, batizada por Hannah Arendt de a "banalidade do mal".(SOUKI, 1998) Ao usar o termo banalidade do mal como subttulo de sua obra, Arendt no pretendia coloc-lo como uma teoria filosfica. Na realidade, ela o utilizou devido ao choque diante da imagem de Eichmann, que apesar de toda a monstruosidade de seus atos, revelava um tamanho vazio de pensamento. Ele no apresentava nenhuma grandeza extraordinria em si e sequer possua alguma caracterstica peculiar que o diferenciasse dos demais.
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H em nossa sociedade aqueles monstros, que sempre praticaram o mal, atrocidades, mas sempre tiveram em sua personalidade caractersticas que mostrassem sua capacidade de praticar o mal.[...] Mas h ainda aqueles que nunca se propuseram a praticar nem o bem, nem o mal. Essas pessoas so aquelas que nunca suspeitamos que viro a praticar algum crime, aquelas que vivem suas vidas medianas e que, ingenuamente, no tememos. Porm basta um contexto, uma oportunidade para que essas pessoas pratiquem o mal por algum motivo ou por alguma inclinao. Na maioria dos casos o mal praticado por esse tipo de pessoas. (RIBEIRO, 2010) Sendo assim, 'Parar-para-pensar' o primeiro ato de resistncia a uma imposio externa, a uma exigncia de obedincia(Souki, 1998, p.124). exatamente esta idia que Hannah Arendt (1999) ir defender: a necessidade de cada um exercitar a faculdade de pensar que possui. Para ela, pensar uma necessidade natural da vida humana e que no limita-se como privilgio de alguns poucos, sendo uma faculdade pertencente a todos. Nesse sentido, o parar-para-pensar imprescindvel para o exerccio dessa respectiva faculdade, sendo fundamental compreender o valor da conscincia quanto ao que certo ou errado, pois ela d a capacidade de discernir as aes antes de obedec-las ou no, limitando assim, a possibilidade de manipulao. 2. O JORNALISMO CIENTFICO COMO DIVULGAO CIENTFICA O jornalismo cientfico teve o seu surgimento na segunda dcada do sculo XX. A abertura para a cincia e tecnologia na poca, com o aumento de descobertas e avanos tecnolgicos permitiu um crescimento do interesse pblico pelo assunto. Com o passar dos anos, percebeu-se a necessidade de melhor informar a sociedade a respeito da cincia e de seus impactos. O aumento contnuo dessa demanda trouxe para o jornalismo a responsabilidade de traduzir o que os cientistas e estudiosos da rea diziam. Nesse contexto, o jornalismo cientfico passa a exercer a funo de divulgao cientfica, por meio da qual, a populao poderia ter acesso aos avanos tecnolgicos de maneira inteligvel. Alguns pases como os Estados Unidos chegaram a demonstrar sua preocupao com a qualidade deste exerccio. Segundo Martha San Juan Frana (2005), em 1919, o The New York Times revelou essa preocupao e frisou que a ausncia da divulgao cientfica poderia ameaar a democracia se as atividades intelectuais importantes se limitassem s minorias de um pas. Como h um consenso em relao linguagem jornalstica quanto clareza, objetividade, veracidade e preciso, os jornalistas tornaram-se os responsveis por fazer esta contextualizao, esta simplificao do discurso cientfico. Para isso, assumiram certas caractersticas deste discurso como a impessoalidade e a objetividade visando um carter de inquestionabilidade tambm para o discurso de divulgao cientfica. Todavia, o jornalista cientfico tem que lidar com a dificuldade de tornar o assunto atrativo. Surgiram, ento, algumas estratgias como destacar os aspectos sensacionalistas da cincia e dessa forma, criar a imagem do cientista como um feiticeiro moderno, segundo Fabola de Oliveira (2002). As matrias no seriam longas e haveria destaque para os aspectos superlativos da cincia. Alm disso, o fato de um grupo de gnios que realizam descobertas dentro de um laboratrio poderia no ser muito interessante, por isso, convencionou-se transformar esses cientistas em grandes nomes, uma vez que a populao gosta de heris e apega-se facilmente a eles.
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Tais ideias contriburam para que o contato dos cientistas com a imprensa aumentasse, apesar do esforo destes profissionais para se adaptarem, pois muitos no acreditavam que os reprteres eram capazes de entender o que eles diziam. Todavia, este contato era indispensvel, uma vez que dependiam do investimento pblico e para tanto, precisavam mostrar os resultados de seus trabalhos. Dessa maneira, o jornalismo cientfico foi sendo aprimorado e aos poucos, artigos mais claros eram publicados sobre a divulgao cientfica. Essa evoluo tambm contribuiu para torn-lo mais atrativo. No entanto, uma grande dificuldade surgiu com essa aproximao do jornalismo e da comunidade cientfica. O mito da neutralidade da cincia e da busca da verdade acima de tudo faz com que essa rea seja tratada de maneira diferente na prtica jornalstica. Como cita Martha San Juan Frana, os jornalistas cientficos so os nicos que submetem suas entrevistas aprovao dos entrevistados antes de publicarem. Isso ocorre devido a alguns termos de difcil entendimento, ou at mesmo devido desconfiana no profissional de comunicao quanto sua capacidade intelectual. Alm disso, h tambm uma pecualiaridade na relao com as fontes, o jornalista cientfico dispe de horas de seus entrevistados, podendo at trocar e-mails (FRANA, 2005), enquanto jornalistas polticos, por exemplo, devem sempre manter distncia das autoridades com quem convivem diariamente em sua rotina profissional para evitar o risco de parcialidade em seus posicionamentos. Todavia, muitos divulgadores cientficos limitam-se apenas s fontes primrias, submetem-se apenas ao que dizem os especialistas no assunto. Ao agirem dessa maneira, dificultam a contextualizao que mostraria populao como tal informao se aplicaria em seu cotidiano. Muitos, inclusive, sentem-se privilegiados por trabalharem com pessoas to importantes e com tamanha capacidade intelectual, caracterstica esta que os distinguem da maioria da populao. Dessa forma, o jornalismo cientfico torna-se um meio cmodo para se trabalhar, pois como sua fonte detentora da verdade absoluta no h necessidade de preocupar-se com a cobrana dos superiores ou com a necessidade de apresentar uma viso contraditria sobre o assunto, como normalmente ocorre no jornalismo poltico e econmico. Aceitam a ideologia da cincia como uma autoridade neutra, um juiz objetivo da verdade. Sentem-se confiantes por trabalhar em uma reaem que aparentemente no existem conflitos e na qual no tero de prestar contas ao pblico e at mesmo aos seus chefes pelo que escreveram. (FRANA, 2005, pp.41). Todavia, este comodismo constitui-se como o maior perigo para o jornalismo cientfico. O costume de no apresentar uma outra via diante do que foi publicado pelo cientista, faz com que o receptor, diante da matria jornalstica, entenda aquela como a nica verso possvel. Apesar de a cada dia serem publicadas notcias diferentes, todas so colocadas como verdadeiras. Sendo assim, o receptor no estimulado a refletir sobre o tema e sobre as condies em que se deu. Esse estmulo reflexo do receptor no acontece porque, na maioria dos casos, os prprios jornalistas no refletem sobre o que escrevem devido s prticas j citadas anteriormente. Posicionam-se apenas como mais uma engrenagem da mquina miditica e se isentam da culpa por qualquer publicao. No aquele jornalista que transmite aquela informao, aquela explicao e que produz eventualmente aquele efeito emocional, o conjunto da mquina com suas condies de realizao e seus procedimentos de encenao da informao (CHARAUDEAU, 2006, pp. 241).
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3. A NECESSIDADE DA REFLExO NA PRTICA DA DIVULGAO CIENTFICA Segundo Orlandi (2001), o discurso de divulgao cientfica no se trata de uma soma de discursos, mas de uma articulao especfica. Portanto, para ela, ele no uma traduo, como muitos defendem, mas um jogo complexo de interpretaes. O jornalista l o discurso cientfico e produz outro, originando assim um duplo movimento de interpretao, segundo a autora. Assim sendo, necessrio que o jornalista reflita sobre o que escreve, pois haver um efeito-leitor para cada produo, o qual depender das intenes e interpretaes de quem transmite a mensagem. Dessa maneira, ao apenas repetir o que dizem os cientistas e de fato, apenas traduzir o discurso cientfico, o profissional deixa de exercer sua real funo e retira do receptor o direito de, a partir de gestos de interpretao expostos na divulgao cientfica por excelncia, estabelecer suas prprias reflexes sobre o tema. Nessas condies, o jornalista cientfico assemelha-se muito com Eichmann, pois observa-se em ambos, a prtica da irreflexo, a qual, no caso do jornalista, passada adiante para o receptor. Ao leitor no cabe opinar sobre o que est sendo dito, no h participao ativa, mas apenas reproduo do contedo. Assim, a divulgao do conhecimento cientfico no o torna necessariamente democrtico, mas busca, em ltima instncia, persuadir os indivduos leigos da legitimidade do conhecimento veiculado. (LIMA, 2006) Descobre-se assim um paradoxo em meio ao jornalismo cientfico. No se trata de um meio cmodo, sem conflitos e sem cobranas, como alguns pensam. Pelo contrrio, trata-se de um meio onde imprescindvel a apurao dos fatos e o aprimoramento do senso crtico do profissional. necessrio no apenas publicar os resultados pesquisados, mas as condies em que se deram e com quais objetivos se deram. importante refletir sobre o assunto e se necessrio, question-lo, colocando em xeque a soberania da cincia. Alm disso, por se tratar de uma verso do texto cientfico, o leitor tem a impresso de ter acesso direto cincia quando na verdade, tem contato com aquilo que o jornalista interpretou. Logo, torna-se ainda maior a necessidade do profissional refletir sobre o que ir divulgar sobre cincia. Essa situao traz de volta a discusso de Hannah Arendt sobre a banalidade do mal. Muitos veculos de divulgao cientfica realizam grandes produes para explicar algum sistema do corpo humano, por exemplo, e aps poucos minutos fazem com que o receptor tenha a sensao de que sabe de cincia, quando na verdade, ele sabe sobre cincia. Portanto, assim como Eichmann, o jornalista cientfico deveria parar de repetir o que lhe dizem a todo tempo e pensar mais sobre o que escreve, lembrando-se do seu compromisso maior com o receptor e a veracidade dos fatos a serem transmitidos. Lembrando-se que o seu papel como divulgador cientfico aproximar o cidado da comunidade cientfica para que vivam, de fato, uma democracia, na qual todos desfrutem das mesmas informaes e consequentemente dos mesmo direitos. E no submeter a populao aos interesses daqueles que financiam as pesquisas ao publicar apenas os dados autorizados por estes. necessrio compreender que, de fato, existe uma mquina de informar, a qual complexa por estar repleta de fatores organizacionais. Todavia, trata-se de uma mquina humana e como j dizia Hannah Arendt(1999), a faculdade de pensar humana e portanto, no deve ser privilgio de alguns poucos. No se trata de uma mquina passiva. Cabe ao jornalista cientfico assumir sua responsabilidade nesse processo de divulgao de informaes e ter conscincia de que muito melhor que obedecer verdade absoluta da cincia refletir e estabelecer juzos sobre o que se escreve.
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fundamental que o jornalismo como divulgao cientfica entenda que no basta transmitir informao populao. Sua grande conquista de aproximar este pblico, tido como leigo, da comunidade cientfica permitiu que houvesse tambm uma transmisso de conhecimento, mas que infelizmente tem sido pouco observada na prtica. Este conhecimento s ser transmitido e absorvido pelos receptores, diante da atividade de pensar e julgar, a qual deve ser estimulada durante a produo do discurso. Ou seja, a reflexo por parte de quem escreve essencial. Apenas dessa maneira o contato com a cincia pode vir a ser verdadeiramente um smbolo da democracia para a populao. REFERNCIAS ARENDT, Hannah. Eichmann em Jerusalm. Um relato sobre a banalidade do mal. Traduo de Jos Rubens Siqueira. So Paulo: Companhia das Letras, 1999. _______. A Vida do Esprito. V.1 Pensar. Portugal. Coleo Pensamento e Filosofia. Instituto Piaget,1999. CHARAUDEAU, Patrick. Discurso das mdias. So Paulo: Contexto, 2006. CHIAPPINI, Lgia. Gneros do discurso na escola: mito, conto, cordel, discurso poltico,divulgao cientfica. 4.ed. So Paulo: Cortez, 2003. FRANA, Martha San Juan. Divulgao ou Jornalismo? Duas formas diferentes de abordar o mesmo assunto. In: VILAS BOAS, Sergio (Org.). Formao e Informao Cientfica; jornalismo para iniciados e leigos. So Paulo: Summus, 2005. LIMA, Josiane dos Santos. Texto de divulgao cientfica: uma operao em outra ordem. In: Signtica. n.2, v. especial, 2006. p. 103-112 OLIVEIRA, Fabola. Jornalismo Cientfico. So Paulo: Contexto, 2002. ORLANDI, E. P. Divulgao cientfica e efeito-leitor: uma poltica social urbana. In: Guimares, E. (Org.). Produo e circulao do conhecimento: estado, mdia e sociedade. Campinas: Pontes, 2001, p. 21-30. RIBEIRO, Ndia Junqueira. A bananalidade do mal nos noticirios: uma reflexo acerca da conduta jornalstica a partir do termo arendtiano. 2010. [Texto cedido pela autora] SOUKI, Ndia. Hannah Arendt e a banalidade do mal. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998. TUFFANI, Maurcio. Cincia e interesses: as regras do jogo acima do mtodo e da razo. In: VILAS BOAS, Sergio (Org.). Formao e Informao Cientfica; jornalismo para iniciados e leigos. So Paulo: Summus, 2005.
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Resumo Das montanhas de Chiapas as vozes de centenas de indgenas reverberaram no ano de 1994. A Primeira Declarao da Selva Lancadona seria lida e os zapatistas tentariam agora explicar ao corao as idias da cabea. Utilizando variados canais de comunicao com a sociaedade civil mexicana e internacional, sobretudo a internet, o Exrcito Zapatista de Libertao Nacional transps os limites que lhes foram impostos pela selva, dando a conhecer sua insubmisso diante dos problemas comuns a toda Amrica Latina. O rompimento do silncio estava posto, desobedecendo e contrariando todo o sistema comuunicacional que se emudece diante das causas e sujeitos sociais. A poscolonialidade do saber comea a tecer seus enredos. Qual o papel dos intelectuais nessa jornada? a pergunta que o presente artigo se faz. Palavras-chave: Zapatistas; ps colonialidade; cibercultura; Amrica Latina Abstract From the mountains of Chiapas to the voices of hundreds of indigenous reverberated in the year 1994. The First Declaration from the Lacandon Forest would be read and the Zapatistas now try to explain the ideas to the heart of the head. Using various channels of communication with the Mexican and international civil sociaedade, especially the Internet, the Zapatista National Liberation Army crossed the limits that were imposed by the jungle, making known his insubordination on the problems common to Latin America. The breaking of the silence went down, breaking and defeating the whole system that mutes comuunicacional on the causes and social subjects. The postcolonial knowledge begins to weave his plots. What is the role of intellectuals in this journey? It's the question that this article does. Key words : Zapatistas, post coloniality; cyberculture, Latin America 1. INTRODUO Como um alerta Do que temos de pedir perdo? Do que vo nos perdoar? De no morrer de fome? De no nos calarmos diante de nossa misria? De no termos aceitado humildemente a gigantesca carga histrica de desprezo e abandono? De levantarmos em armas quando encontramos fechados os outros caminhos? () De termos demonstrado ao resto do pas e ao mundo inteiro que a dignidade humana ainda vive e est em seus habitantes mais pobres?(...) De termos ido ao combate armados de fuzis no lugar de arcos e flechas? () De convocarmos todo o povo mexicano a lutar de todas as formas possveis por aquilo que lhe pertence? () Quem tem de pedir perdo e quem pode outorglo? Os que, por longos anos, saciavam sua fome sentados a uma mesa farta enquanto ns sentvamos ao lado da morte, to cotidiana e to nossa que aprendemos a no ter medo dela? Os que encheram nossos bolsos e nossas almas de declaraes e promessas? () Os nosso mortos, que so a maioria, que morreram, democraticamente entre os sofrimentos j que ningum nunca fez nada, porque todos os mortos, nossos mortos, partiam de repente sem que ningum se desse conta, sem que ningum disse finalmente o , 'Basta!'(...)? Quem tem que pedir perdo e quem pode outorg-lo? (Texto extrado do comunicado do EZLN de 18/1/1994)
1 Estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Gois e de Cinema no Curso Internacional de Documentrio Sin Fronteras, promovida pela UFG e Escuela de Cine y Artes Audiovisuales -ECA/ La Paz. [email protected] 2 Participaram tambm da construo do texto, como co-autores: BATISTA, caro; CHAVES, Tatiane de Assis; CIRINO, Renato; COELHO, Rafael Franco; DOURADO, Maiara; FIORESE, Bruno; GONALVES, Gabriela Marques; MAIA, Kamyla; NOMINATO, Milena; RIBEIRO, Huho Paiva; SILVA, Luis Eduardo Rosa; SOUSA,Ana Lcia Nunes; VIEIRA,Pedro Ivo Freire.
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2. CRONOLOGIA DO MOVIMENTO OU RUPTURAS TEMPORAIS NAHISTRIA Falar em profunda contradies sociais, de uma poltica alicerada na diviso classista da sociedade ou em leis que servem ao domnio de uma elite talvez parea panfletrio, chato ou simplesmente fora de contexto. Talvez se o muro de Berlim ainda existisse, faria sentindo, mas como ele foi derrubado h mais de 20 anos, tudo isso j no cabe. Na verdade, este artigo no trata sobre nenhuma dessas questes de forma direta, mas preciso relembr-las para tratar dessa que , atualmente, a guerrilha popular mais importante da Amrica Latina, desde o meu ponto de vista. O Exrcito Zapatista de Libertao Nacional EZLN reconhecido no apenas pelo fato de ser uma guerrilha, e nem todos os esforos do Estado mexicano em associar o movimento exclusivamente com o tema violncia foi suficiente para tal. Em janeiro do ano de 1994, quando o NAFTA, to penoso ao Mxico, entrava em vigor, das montanhas de Chiapas ecoavam centenas de vozes indgenas roucas pelo cansao de tanto haver gritado. Foram ocupadas as cidades de San Cristbal de las Casas, Altamiro, Las Margaritas, Oxchuc, Huixtn, Chanal e Ocosingo, todas elas faziam parte agora doComit Clandestino Revolucionrio Indgena, que declarava guerra ao exrcito mexicano e ao mesmo tempo solicitava aos demais poderes que restaurassem a paz e a estabilidade da nao. Acusando o Executivo de ser um desgoverno a primeira Declarao da Selva Lacandona j deixava claro desde aquele momento a fora poltica, a dimenso rebelde, insubmissa dos zapatistas e a potica do Subcomandante Marcos. Mas as origens do Exrcito Zapatista de Libertao Nacional ainda tem outras nuances, que confundem-se com a histria mesma da esquerda no Mxico. O comeo marcado pela gerao que participa dos movimentos que marcaram a dcada de 1960. Pressionada pelas demandas expressas pelos estudantes e pelas bases da sociedade mexicana, a elite responde com a represso policial que atinge o seu ponto mais alto no massacre de 2 de outubro de 1968, na Praa das Trs Culturas, na cidade de Tlatelolco. O assassinato de centenas de pessoas que participavam daquela manifestao de protesto cria uma espcie de divisor de guas no interior da esquerda e dos setores progressistas. (GENNARI,2006,p.19) A Amrica Latina sempre foi alvo, vtima ou cmplice a Histria se encarregar de compreender desse processo de fortalecimento do neoliberalismo, e ao mesmo tempo, como no poderia deixar de ser, um espao de insubmisso e subverso desses valores. Emiliano Zapata, que inspira o prprio nome do EZLN, no nos deixa mentir, junto a seu exrcito indgena do incio do sculo XX, bem como Tupac Amaru ou a mineira boliviana Domitila, pedindo espao para a sua voz, para o seu discurso sobre si mesma e suas experincias. El neoliberalismo, esa fase exterma de la lucha capitalista por la dominacin de todo tipo de vida em el planeta, por el sometimiento de cuerpos y mentes a la implacable y desquicida maquinaria de expropriacin, sustentada em la apropriacin de la ciencia y de sus condiciones de despliegue, est inevitablemente generando su propria negacin.(CECEA,2002,p.x)
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A explorao passa ser sobretudo a do pensamento, criando o mito da separao entre trabalho intelectual e sensvel, do trabalho braal ou manual. A construo da subjetividade passa a ser o alvo (e elemento crucial) para a conquista e os espaos de socializao antes prprios, a construo do imaginrio e da identidade aos poucos comeam a desaparecer. Isso vai aos poucos criando as condies de articulao das rebeldias e lutas pela liberdade, pela autonomia e autodeterminao, pela diferena, pela subjetividade e, sobretudo, pela intersubjetividade (...) (CECEA,2002,p.y). A elite pensadora viu-se ento surpreendida por esse grupo indgena que reivindica uma recriao terica Hace mucho que elegieron sus modelos para 'interpretar' esta realidad. Terca como es, la realidad constantemente salta y escapa a sus sesudas profecas. (BECERRA, CAMACHO, MONTOYA, 2010,p.38). E que, junto a tantos outros, j que o zapatismo desde o seu comeo assume um carter transfronteirio, proclama (quase que de forma proftica) a criao de um mundo em que caibam todos os mundos, um governo e no o desgoverno que os considere, no segundo suas categorias, e sim de conhecimentos que se baseiem nos conceitos que emanem, seno deles prprios. Ainda em 1994 o EZLN elabora e mostra a pblico a segunda Declarao da Selva Lacandona. O movimento vinha realizando esforos de dilogo direto com a sociedade civil, buscando seu apoio e sua compreenso quanto ao fato de que toda aquela luta, armada ou desarmada, deveria ser realizada de forma coletiva. Desde janeiro daquele mesmo ano, quando do primeiro grito vindo de Chiapas, Subcomandante Insurgente Marcos ressalta a importncia de explicar ao corao as idias da cabea. No entanto, demonstrar constantemente a inteno de dialogar com os vrios setores sociais e em construir a paz no significava, nesse caso o abandono das armas. A segunda Declarao essa reafirmao da luta armada como medida limite de soldados que lutam para que no mais sejam necessrios. Reafirmando que dialogar no significa abrir mo da prpria identidade, mas sim ouvir e falar a partir dela(GENNARI, 2006, p. 50), o EZLN afirma-se em p de guerra contra o mau governo, sem desconsiderar a necessidade de construir os princpios da revoluo/insurreio popular por meio de outras instncias pacficas de dilogo. Pensando nisso, nasce em agosto de 94 a Conveno Nacional Democrtica, em San Cristbal de Las Casas, smbolo da resistncia zapatista, onde fundado o primeiro Aguascalientes( que depois se tornaria Los Caracoles), lugar de encontro permanente com a sociedade civil. Participaram desse encontro que ocorreu entre os dias 5 e 9 de agosto, cerca de 7 mil mexicanos de todos os estados da federao, alm de observadores internacionais e jornalistas. Com isso, os Municpios Autnomos em Rebeldia, sob a gide das leis Revolucionrias Zapatistas, sobretudo a das mulheres, se fortalecem enquanto embries de um outro modelo possvel de sociedade, no tendo pretenses de tomar poder para s ento estabelecer ou impor a coletividade uma nova ordem. No decorrer desses 16 anos de movimento foram muitas idas e vindas nas negociaes com o governo e poucos tempos de paz para essas comunidades indgenas. Foram mais 4 Declaraes da Selva Lacandona, que insistiu em no se calar. Os anos foram 1995, 1996, 1998 e 2005. O mau governo por vezes fez promessas de paz e cercou povoados com seus soldados, outras vezes no quis o dilogo e muitas outras tentou usar da posio dos zapatistas junto a sociedade civil como medida eleitoreira. Por toda essa dramtica relao que em 1996 os dilogos com o Estado Mexicano foram encerrados e s seriam retomados no ano de 2001, quando da ascenso de Vicente Fox a presidncia, no Mxico. O ato pblico realizado ficou conhecido internacionalmente. Indgenas, camponeses, mulheres, crianas, apoiadores, dentre outras caminharam junto aos zapatistas em suas duas semanas percorrendo mais de trs mil quilmetros at a Cidade do Mxico, onde se encontraram no Parlamento com o Presidente Fox. O anncio da retirada das tropas do estado de Chiapas relanaram as esperanas de dilogo entre o movimento zapatista e o poder pblico, mas infelizmente a euforia no duraria muito e outros ataques por parte do governo (ou desgoverno) voltariam a acontecer. De qualquer maneira, a marcha rebelde pelas ruas do Mxico DF cercada por um dispositivo de segurana que continha 400 policiais mulheres e 700 outras civis, alm dos helicpteros e dos olhares estupefatos diante de tantos homens e mulheres ali dispostos a se mascarar e acreditar no zapatismo, aponta mais uma vez para a resistncia que todavia
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sobrevive nas montanhas, resistncia essa que seria provada mais uma vez no ano de 2006. O EZLN afirma que necessrio ir alm do patamar to necessrio da rebeldia, articulando-se com outros grupos, para construir assim um espao de contestao no institucional e que possa reconstruir o sentido dessa insubmisso, cada vez mais atacada por grupos paramilitares com apoio do mau governo. 3. O PENSAMENTO PS COLONIAL E O EZLN: AS PEDRAS NO CAMINHO Eu disse aqui que completa-se agora 16 anos da existncia do EZLN? Bem, ento acho que menti, ou melhor, omiti parte de sua histria (intencionalmente, como se deve esperar). Antes descer de seus esconderijos nas montanhas da selva Lacandona, de Chiapas, os zapatistas passaram dez anos se preparando. Estiveram embrenhados na mata (que tornou-se parte deles mesmos) treinando tticas de guerrilha, adquirido armas e intercambiando informaes, sobretudo com Cuba e Nicargua, que viviam, desde o final da dcada de 1960 momentos de profundas transformaes sociais. Enquanto isso o Mxico ainda vivia sob o jugo do PRI e de sua, seno monstruosa, no mnimo considervel, contradio. Quando decidiram mostrar suas mscaras negras ao mundo, os zapatistas no tinham apenas construdo um vasto conhecimento sobre a selva e sobre tticas de guerrilha, mas tambm um conhecimento sobre si. A consistncia terica e poltica, que pode, por vezes parecer-nos intrinsecamente dura, apresentada por eles desde a primeira Declarao da Selva Lacandona, no s impressiona como comove, j que nos envolve e envolvida por uma potica do cotidiano, da esperana e da crena na justia e na liberdade. Talvez por tudo isso ( o que aqui me proponho a mostrar) uma das primeiras reas ocupadas ou tomadas, junto com as prefeituras e alguns outros prdios representativos, foram as rdios locais. Parte-se do princpio, portanto, que os meios de comunicao so de suma importncia para qualquer tipo de transformao social e, por isso, so, muitas vezes guarda espaldas teoricos del Principe (...).(BECERRA, CAMACHO, MONTOYA, 2010, p.40). No pense, no entanto que esse era um mecanismo opressor, em termos polticos, ou que o diabo verde da censura estaria pairando pelo ar, o que nascia nesse momento era uma perspectiva de dilogo direto com a populao, sem a interveno ou intermediao desses que eram smbolo do poder at ento, porque a elite detentora do poder financeiro tambm sabia da importncia em deter o capital intelectual, em conquistar os imaginrios. 3.1. As categorias da Amrica: a raa e o subdesenvolvimento A justificativa para tal tais argumentos e categorias remonta o perodo colonial, afinal, como falar da histria moderna e contempornea das Amricas sem tratar desse passado ainda pouco resolvido? Para Anbal Quijano, toda a justificao do poder colonial e toda sua naturalizao advm da criao da categoria raa. Essa construo mental nasce no contato dos europeus com a Amrica e ser ela a base de toda a experincia e expresso da dominao colonial, que criou novas identidades histricas. Atravs dessas novas identidades criou-se um sistema de distribuio de trabalho bastante delimitada, apontando todas as diferenas fenotpicas como determinantes para que uns fossem mais merecedores do que outros em relao a bens materiais, a trabalhos remunerados ou at mesmo ao mundo divino ( aqui altamente relacionado a esttica do belo).
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En America, la idea de raza fue un modo de otorgar legitimidad a las relaciones de dominacin impuestas por la conquista. La posterior constitucin de Europa como neuva id-entidade despus de Amrica y la expansin del colonialismo europeo sobre el resto del mundo, llevaron a la elaboracin de la perspectiva eurocntrica de conocimiento y con ella a la elaboracin terica de la raza como naturalizacin de esas relaciones coloniales de dominacin entre europeos y no-europeos. Histricamente, eso signific una nueva manera de legitimar las antiguas ideas y prcticas de relaciones de suprioridad/inferioridad entre dominados y dominantes. (QUIJANO,2000,p.203) Essa nova maneira de legitimar as antigas relaes de opresso dos sujeitos encontra seu lugar mais privilegiado com o neoliberalismo, que imposto a Amrica do Sul e Central, vem reafirmar o abismo existente entre estes e os pases do velho mundo e agora tambm, os da Amrica do norte. Uma nova categoria histrica ento criada: o subdesenvolvido, categoria esse que ser delegada a todos os lugares que insistiram (ou foram obrigados pela rebeldia que se imps) em no simplesmente esquecer seu passado no-europeu. Nesse perodo, portanto, acentua-se fortemente a imposio do poder atravs do conhecimento e da informao. Ainda centrados na categoria raa e no Etnocentrismo (leia-se eurocentrismo) oriunda da mesma, o que se faz acentuar as relaes de poder baseadas na colonialidade do saber e na dominao cognitiva. La incorporacin de tan diversas y heterogneas historias culturales a un nico mundo dominado por Europa, signific para esse mundo uma configuracin cultural, intelectual, em suma intersubjetiva, equivalente a la articulacin de todas las formas de control del trabajo em torno del capital, para establecer el capitalismo mundial. () En otros trminos, como parte del nuevo patrn de poder mundial, Europa tambien concentro bajo su hegemonia el control de todas las formas de la subjetividad, de la cultura, y em especial del conocimiento, de la produccin del conocimiento. () Todo esse accidentado proceso implic a largo plazo uma colonizacin de las perspectivas cognitivas, de los modelos de produciru otorgar sentido a los resultados de la experiencia material o intersubjetiva, del imaginario, del universo de relaciones intersubjetivas del mundo, de la cultura, em suma. (QUIJANO,2000, p.209) 3.2 O retorno a selva Lacandona Desde as montanhas os zapatistas esto a pensar, pensar e encontram talvez o bvio e por isso, seguramente o mais corajoso: tempo de dizer Basta! O caminho das armas o escolhido, lutando como soldados que do suas vidas por uma idia de sociedade em que eles no sejam mais necessrios, e exatamente em funo disso preciso reinventar-se teoricamente, necessrio se apropriar de seu prprio imaginrio, por mais contraditrio e difcil que parea, diante de tal contexto histrico. Depois de tantos sculos de opresso, seja ela econmica, social, fsica, metafsica, racial ou intelectual, de tantas categorias distorcidas para caracterizar o que ou ser a Amrica Latina es tiempo de aprender a liberarnos del espejo eurocntrico donde nuestra imagen es siempre, necesariamente, distorsionada. Es tiempo, en fin, de dejar de ser lo que no somos. (QUIJANO, 2000, p.248). O EZLN sempre compreendeu bem a necessidade de transformar sua raiva em rebeldia, sua impotncia em esperana e seu conhecimento em palavras (o contrrio tambm pode ser verdadeiro), que sejam a prpria ao da caminhada. Nosostros creemos que un movimiento debe producir su propria reflexin teorica (ojo: no su apologia). (BECERRA, CAMACHO, MONTOYA,2010, p.40)
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4. O CIBERESPAO E O COMPARTILHAMENTO DE SABERES Situando com clareza em seu perodo histrico, o EZLN rapidamente compreende a necessidade de ocupar (mesmo que virtualmente) o ciberespao, j que esse seria o mais adequado para romper a barreira de silncio dos meios de comunicao visto aqui como um dos primeiros espaos possveis para a reconstruo ou re-apropriao de um imaginrio. Esse espao, ou melhor, essa cultura espacial, nasce na dcada de 50, conforme resgata Andr Lemos, com a informtica e a ciberntica, tornando-se mais popular na dcada de 70, com o surgimento do microcomputador e se estabelece definitivamente nas dcadas de 80, com a informtica de massa e 90, com as redes telemticas e o boom da internet. As novas tecnologias parecem caminhar para uma forma de onipresena, misturando-se de maneira radical e quase imperceptvel ao nosso ambiente cultural atravs do devir micro (tornar-se invisvel) e do devir esttico (tornar-se belo) Este movimento vai () aproximar a tecnologia contempornea do prazer esttico e do compartilhamento social.( LEMOS, 2008,p.35) A rede, o ciberespao a internet ou qualquer que seja a denominao, torna-se ento o lugar possvel para todos os mundos, sem dissoluo entre mal ou bem ou entre bom e mau. Mas sem partir para as idias apocalpticas, como nomeia Umberto Eco, parto aqui da perspectiva vitalista de Pierre Lvy, entendendo a cibercultura como uma linguagem e mesmo que esse no seja o foco especfico desse trabalho, desejo e creio ser importante explicita-lo. Ento, descobrimos que a realidade uma criao compartilhada. Estamos todos pensando na mesma rede. Tal nossa condio desde sempre, mas o ciberespao a apresenta diante de nossos olhos com tamanha fora que no podemos mais dissimul-la. chegado o tempo da responsabilidade. (LVY, 2008,p.13) Nasce ento a Revista Chiapas e posteriormente a Revista Rebeldia, que seriam os principais canais de comunicao com a sociedade civil e com a academia (por que no?). So publicados informes sobre as comunidades zapatistas, denncias acerca de temas de direitos humanos e tambm artigos acadmicos, seja sobre o conhecimento produzido durante as prticas sociais cotidianas ou sobre temas relacionados as mesmas. travada ento uma guerrilha semntica e semitica e em que cada significado ou significante est em jogo, na busca pela identidade. O pensamento ps colonial e a eminente possibilidade do ciberespao em 'acata-lo' (por assim dizer) ganham tamanha importncia porque: A questo do poder ou para ser mais exato, a questo do no-poder, tm feito do zapatismo algo hertico aos olhos das esquerdas histricas, radicais ou socialdemocratas. Trata-se da passagem da figura do revolucionrio (ou sua verso dbil, soft, o reformista), que quer tomar o poder para mudar o mundo, a figura do rebelde que, pelo contrrio, quer por em discusso o poder e corroer seus fundamentos, para dar vida a formas de participao paralelas, alternativas e auto-organizadas da sociedade civil. ( WU MING, 2003, p.1)
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Mas nem s de euforia vive o ciberespao e toda essa contestao em relao aos fluxos de conhecimento que ela incita justamente um dos pontos de maior conflito. O intelectual e o ciberespao vem h muito tentando compreender-se mutuamente, mas talvez no seja assim to fcil, j que o primeiro geralmente tem suas bases de conhecimento assentadas nos conceitos e instituies Modernas, enquanto o segundo (intencionalmente ou no) rompe a unidirecionalidade do saber, reivindicando espaos mais coletivos. E mais vez, como o foi no princpio da Modernidade, a separao entre os modos de fazer das instituies cientficas e acadmica e a cultura das ruas, do povo ocupam espao-tempo distintos, mantendo-se, dessa forma, mais afastadas de qualquer relao de reciprocidade. O acordo tcito que mantm os intelectuais margem das linguagens, dos meios e dos processos de comunicao como narradores, crticos, divulgadores e jamais como operadores permite, mais que a continuidade de um modelo centralizado de produo e controle do conhecimento, um modelo retrico e institucional que 'autoriza' uma desigualdade baseada no tipo de cultura e/ou conhecimento e, portanto, a continuidade do lugar dos intelectuais enquanto elite. (LEMOS, WINK, DIMANTA, 2004) 5. CONCLUSO Com isso depreende-se a razo pela qual os zapatistas desejam tanto dizer as mentes o que pensa o corao e o porque da escolha do ciberespao para essa empreitada to sinuosa. Os meios de comunicao tradicionais (mesmo os que j esto presentes na internet), tal qual qualquer outra estrutura de poder intelectual, pauta-se pelo poder econmico, ou seja, como guarda espaldas teorico del Principe.(BECERRA, CAMACHO, MONTOYA,2010,p.40) Esses poderiam ser chamados, de acordo com os trabalhos de Antonio Gramsci, como intelectuais orgnicos do poder, aderindo-se a ele e retroalimentando sua capacidade de influncia. O que a experincia zapatista nos ensina, no entanto, que para alm da dominao existe a rebeldia e a insubordinao, e que so ambas dotadas de uma potica muito forte que confunde-se com histria mesma da Amrica Latina e de seus povos. Como ressalta Anibal Quijano, de olhar em outros espelhos e construir novos reflexos acerca de nossa prpria imagem. A rede, como um dos poucos espaos anrquicos que sobrevivem a todos os intentos, mostra muitos caminhos humanos e tcnicos para tornar isso possvel, e os zapatistas bem o sabem, j que foi atravs dessa ferramenta, que suas vozes atravessaram as rvores altas, o rudo de suas armas e dos avies do exrcito e todo o silncio imposto pela mdia mexicana e pelo governo e alcanaram outros lugares e no-lugares dispostos a ouvi-los. A concluso sobre isto? A segurana de que a resposta concreta ainda no existe e provavelmente tarde em chegar. Subverter um conhecimento colonial, enquanto intento de dominao, exige pacincia para observar e compreender os processos enquanto o caminho percorrido. Nesses 26 anos de caminhada, conhecida ou desconhecida, o EZLN aponta para muitos conceitos insubmissos, que teimam em mirar sem comprometimento poltico e econmico relaes sociais autnomas e efetivamente democrticas. A hora, portanto, de pensar!
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REFERNCIAS BECERRA, Benjamn; Camacho, Edmundo; MONTOYA,Sofa Estel. La funcin Del intelectual de arriba: razonando fuera de la bacinica. in: Revista Rebeldia,ano 8 n 69, p. 35-40, Mxico: Arte Grfica Z, 2010. http://revistarebeldia.org/ DIMANTAS, Hernandi; LEMOS, Maria Alzira Brum; WINCK, Joo Baptista. Os intelectuais e a Cibercultura: alm de apocalpticos e integrados. in: Revista Espao Acadmico, n33, Universidade Estadual de Maring, 2004. GENNARI, Emilio. EZLN: Passos de uma rebeldia. 1 Ed., So Paulo: Expresso Popular, 2005. LEMOS, Andr. Cibercultura: tecnologia e vida social na cultura contempornea. 4 Ed., Porto Alegre: Sulina, 2008 MING, Wu. Zapatismo ou Barbarie. In: Revista Carta, ano 5, n 28. Roma: Primegraf, julho, 2003. QUIJANO, Anbal. Colonialidad del Poder, eurocentirsmo y America Latina. in: Edgard Lander, comp. Colonialidad Del Saber, Eurocentrismo y Ciencias Sociales,p. 201 246.Buenos Aires, Argentina: CLACSO UNESCO, 2000. http://enlacezapatista.ezln.org.mx/http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_ id=12749
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A COLEO AMIDICIS TOCANTINS DA BIBLIOTECA CENTRAL DA UFMT: relatos da situao atual do acervo histrico1
Admeire da Silva Santos2 Ana Cristina Albuquerque3 UFMT
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Resumo Neste artigo ser relatado o processo de aquisio da coleo Amidicis Tocantins na Universidade Federal de Mato Grosso, discorrendo sobre sua importncia e relevncia para a universidade e para o estado de Mato Grosso. Prosseguiremos relatando a situao atual do acervo referente a sua conservao e preservao, chamando a ateno para o estado do acervo que se encontra em degradao, finalizando com propostas de medidas simples e eficazes de higienizao condizentes realidade da UFMT, afim de prolongar a vida til do material e ressaltar a importncia que esse material possui do ponto de vista patrimonial, pois o acervo um item que faz parte do acervo cultural bibliogrfico do estado do Mato Grosso. Palavras-chave: Higienizao de acervo ;UFMT ;Amidicis Tocantins ; preservao e conservao ; acervo histrico Abstract This article will report the process of acquiring the collection Amidicis Tocantins at the Federal University of Mato Grosso, discussing its importance and relevance to the university and the state of Mato Grosso. We will continue reporting the current situation regarding the collection for preservation and conservation, drawing attention to the status of the collection that is in decay, concluding with proposals for simple and effective measures of hygiene UFMT consistent to reality in order to prolong the life the material and emphasize the importance that this material has the financial point of view since the collection is an item that is part of the cultural heritage bibliography of Mato Grosso. Keywords: Sanitation of collection - UFMT - Amidicis Tocantins - preservation and conservation 1 INTRODUO Neste presente artigo ser relatada o processo de aquisio das obras do colecionador Amidicis Diogo Tocantins para a Biblioteca Central da Universidade Federal de Mato Grosso. Apresentando ento, o acervo histrico bibliogrfico pertencente Biblioteca Central da Universidade Federal de Mato Grosso. Para iniciar a conversa, apresentaremos Amidicis Diogo Tocantins, cantando um pouco de sua histria e passando a relatar a importncia de sua coleo, reunida durante toda a sua vida. Ser relatada a situao atual das obras, que se encontra em estado de degradao devido a ausncia de medidas para sua preservao, a justificativa para a inexistncia de cuidados a falta de recursos para tal feito. Partindo desse problema, sentiu-se a necessidade de elaborar medidas que condizem com a realidade da instituio para um melhor tratamento dessa obras, dessa foram as obras teriam os cuidados bsicos e o alerta de que as obras tm importncia e precisam de cuidado estaria acionado, para que medidas mais especializadas sejam tomadas em um futuro prximo.
1 Trabalho apresentado na V FEICOM: Ressignificar as fronteiras da comunicao e informao. De 08 a 12 de novembro de 2010, em Goinia GO. 2 Graduando em Biblioteconomia pela UFMT/CURMinicurrculo. [email protected] 3 Professora da UFMT/CUR. [email protected]
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A COLEO AMIDICIS TOCANTINS DA BIBLIOTECA CENTRAL DA UFMT: relatos da situao atual do acervo histrico1
Admeire da Silva Santos2 Ana Cristina Albuquerque3 UFMT
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Nesse contexto sero apresentadas aqui, proposta de medidas simples e eficazes para um tratamento inicial da Coleo Amidicis Diogo Tocantins, afim de contribuir com a preservao da memria do Estado de Mato Grosso. 2 QUEM FOI AMIDICIS As informaes que compe este captulos foram retiradas de entrevista, observaes elaboradas na instituio em questo, e principalmente, de um texto redigido e fornecido pela professora Elizabeth Madureira juntamente com um livro da qual ela prpria organizou que fora escrito pelo Amidicis Tocantins. Nascido em Cuiab no dia 13 de agosto de 1918, Amidiscis Diogo Tocantins era filho de Sr. Odorico Ribeiro dos Santos Tocantins e de D. Alice Borges Tocantins. Cursou suas sries iniciais e se formou em Cuiab, no decorrer de sua vida se tornou funcionrio publico trabalhando no banco do Brasil, Amidicis era um homem religioso, fiel da Igreja Catlica Apostlica Romana, onde participava de vrias congregaes, nunca deixou a leitura e os livros, sendo usurio assduo da Biblioteca do Estado de Mato Grosso. Amidicis estava constantemente procurando se envolver com instituies ligadas literatura e a histria, pois era um homem que dedicava parte de seu tempo literatura. Por ser um homem que se dedicada literatura, passou tambm a escrever, iniciou escrevendo crnicas e poesias para jornais de repercusso regional e nacional, sendo premiado por sua monografia referente a Historia de Campo Grande. Sua dedicao aos livros fez com que Amidicis reunisse ao longo de sua vida uma coleo espetacular. Ele era um homem que possua contato com diversos livreiros, tanto no Brasil como no exterior, afinal de contas, nesse perodo no contvamos com a comodidade e facilidade proporcionada pela tecnologia, onde hoje podemos efetuar buscas e compras em catlogos online de livros raros apenas navegando na internet. Fato que fez com que Amidicis estivessem constantemente adquirindo obras de diversas reas para seu acervo e nunca deixando claro as obras que tratavam de Mato Grosso. Amidicis Tocantins faleceu no dia XX de outubro de 1987, desde ento as obras passaram a pertencer a seus filhos, para que as obras fossem bem acomodadas a famlia alugava um apartamento s para que essas obras fossem mantidas. Partindo disso os seus filhos, Dr. dicis Tocantins e Dra. Margareth Tocantins, juntamente com a viva Edi Miguis Tocantins resolveram doar a coleo para a Biblioteca Central da Universidade Federal de Mato Grosso. A doao ocorreu no dia 20 de janeiro de 1993. O contato se deu atravs do Professor Aecim Tocantins, irmo de Amidicis e que lecionava na instituio, perodo de Gesto da ento Reitora Luzia Guimares. Quando essas obras chegaram na instituio, a Reitora Luzia Guimares indicou a Professora Elizabeth Madureira Siqueira, pois de acordo com a atual Gerente da Biblioteca Central, a bibliotecria Olga Figueiredo, a biblioteca no possua pessoal qualificado para o tratamento dessas obras, naquele tempo a instituio contava com poucos bibliotecrios e alm disso a professora Elizabeth historiadora capacitada suficientemente para tratar das obras. Por 15 meses a professora Elizabeth tratou de 17.200 ttulos, num total, aproximado, de 22.300 volumes, onde a professora fez toda a catalogao e identificao das obras por numerao crescente e classificou as como raras e preciosas.
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A COLEO AMIDICIS TOCANTINS DA BIBLIOTECA CENTRAL DA UFMT: relatos da situao atual do acervo histrico1
Admeire da Silva Santos2 Ana Cristina Albuquerque3 UFMT
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A sala dedicada especificamente para essas obras foi inaugurada no dia 9 de maio de 1996 contendo um retrato de Amidicis Diogo Tocantins, apresentado assim, uma imagem singela do ex-proprietrio de uma coleo to espetacular aos possveis usuros. Aps o tratamento observou que o acervo era constitudo por obras de diversas reas do conhecimento, com nfase em Cincias humanas e sociais, o acervo possua tambm obras de diversas lnguas, dentre essas obras, a professora Elizabeth considerou raras e preciosas os exemplares de primeiras edies de obras que haviam sidos esgotados a mais de 30 anos. O acervo ainda possua obras que tratavam de assuntos relacionados a Mato Grosso, nas reas de Histria, Antropologia, Letras, etc. Amidicis, possua um arquivo particular com documentos pessoais e materiais escrito por ele, sua famlia decidiu doar esse material para a Casa Baro de Melgao novamente a professora Elizabeth Madureira tratou dos materiais deixados por Amidicis, dentre 3.000 documentos a professora percebeu a existncia de um material que Amidicis estava trabalhando para uma futura publicao. Esse material continha poesia e prosa e outros escritos elaborados por Amidicis. Notando a importncia, a professora organizou esse material tentando deixa o mais prximo possvel do formato encontrado e publicou pelas Editoras da UFMT em parceria com Aroe. Os documentos originais encontram disponvel na Casa Baro do Melgao, aberta a consulta para pesquisadores. 2.1 A importncia da Coleo Amidicis Diogo Tocantins para a UFMT As obras que pertenciam Amidicis Tocantins, relatam as preferncias do colecionador, e tambm preservam a memria de uma sociedade. no entanto comprova-se a importncia dessas obras para a sociedade mato grossense, principalmente acadmica. Cabe a Universidade Federal de Mato Grosso preservar a memria da sociedade, e atravs da Coleo Amidicis Tocantins, que foi reunida durante uma vida, poder ser preservado a memria existente nesse material bibliogrfico, possibilitando descobertas que se estende muito alm da histria do Estado, ampliando assim o universo de diferentes pesquisas em diferentes reas. Fazem parte dessa coleo, 17.200 exemplares, a relevncia da coleo se mostra presente na instituio onde as mesmas so consideradas raras, presentes entre as obras livros nas diversas reas do conhecimento, como Filosofia, Geogrfia, Histria de Mato Grosso, Literatura Brasileira e estrangeira. Alguns em primeira edio esgotadas a mais de 30 anos. Entre os livros de literatura presentes na coleo aqui tratada, nota-se a presena destacada das obras de Visconde de Taunay contendo todos os exemplares j publicados pelo autor sendo todos os livros de primeira edio4. E a falta de tratamento dessas obras no resultar somente em uma perda material, mas tambm em todo um patrimnio histrico bibliogrfico do Estado de Mato Grosso que detm a memria da regio.
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3 PRESERVAO E CONSERVAO E A IMPORTANCIA DESSA PRTICA Os livros so compostos por matrias orgnicos, e sabe-se que tudo que orgnico possui tempo de vida limitado. O tempo algo indiscutvel com fator contribuinte para deteriorao de livros, porm existe outros fatores responsveis pela deteriorao de matrias bibliogrficos, que so diversos, de acordo com Corad & EggerSteindel,2008 esses fatores podem ser classificados como fatores internos e externos. Os fatores internos so aqueles que dizem respeito a sua fabricao, por exemplo: a) Tipos de fibras utilizadas; b)Processo mal realizado de cozimento das fibras; c) Emprego excessivo de alguns produtos qumicos; d) Depsito de partculas metlicas na polpa, ocasionando a oxidao do papel, e) Uso de tintas cidas. (Corad & Eggert-Steindel,2008 p. 350) Na composio do papel encontra-se a lignina causadora do amarelamento no papel, essa substancia composta por um polmero de cido de natureza orgnica ela aplicada nas fibras de celulose e diminui a resistncia do papel.5 Novamente citando Corad & Eggert-Steindel,2008 as autoras expem os fatores externos dividindo-os em trs agentes, o fsico, qumico e biolgico. De acordo com as mencionadas autoras, os agentes fsicos relacionado a temperatura, umidade, iluminao e ventilao do ambiente. Os fatores qumicos dizem respeitos a cidos existentes na cola utilizada para confeco da brochura, no material utilizado para a encadernao, e tambm na composio das tintas. Esses fatores podem ser agravados tambm em exposio em excesso a luminosidade. Os gases contendo toxinas tambm danificam o acervo. E fatores biolgicos, os causadores aqui presentes so os insetos, microorganismos, os roedores e o prprio homem Corad & Eggert-Steindel,2008 p 352. Essas ameaas aos bens bibliogrficos fizeram com que o homem procurasse maneira de contornar tudo isso, dessa forma surge a preservao com o objetivo de prevenir os materiais dos fatores ameaadores, propondo medidas preventivas e a restaurao,que vem reverter os danos j existente, apresentando tcnica de reparo aos itens. Ambas tm como objetivo, retardar o processo de deteriorao ou pelo menos prolongar um pouco mais a vida til dos materiais bibliogrfico. De acordo com CASTRO, 2008: A preservao, conservao e restaurao do patrimnio constitui-se como impedimentos culturais direcionados a prolongar a vida til dos documentos materiais e, assim, possibilitar a relao dialgica com estes bens culturais portanto de mltiplas significaes. (P 12.) O autor defini preservao do ponto de vista cultural, argumentando que a preservao uma maneira de se prolongar a vida til dos matrias e proporciona a relao entre homem- material.A preservao vai tratar o documento fisicamente, afim de proteger o seu intelecto, o seu contedo, preservar sua idia, para que geraes futuras usufruam da informao contidas nesse tipo de suporte.
4 Essa informao se deu graas ao tratamento feito pela professora Elizabeth Madureira professora aposentada da UFMT, durante o perodo em que a mesma classificou e catalogou todas as obras pertencentes a coleo. A partir do contato inicial com as obras, a Professora encontrou manuscritos do jornalista que tambm era poeta, dessa forma Elizabeth organizou seus escritos para que um livro sobre o assunto fosse publicado. TOCANTINS, Amidicis. Prosa & Verso. Cuiab,MT: Edies Areo: EdUFMT,2009. 5 Maria Solange P. Rodrigues, 2007 , p. 07
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De acordo com XX apud XVII Congresso Anual da ABPC (1988) preservao foi definida como sendo a utilizao de todas as tcnicas cientificas disponveis para assegurar a manuteno dos artefatos e das colees artsticas e histricas de acordo com os critrios que buscam as melhores condies para um acondicionamento adequado. (P 21) Como se pode observar, preservar e restaurar uma busca de tcnicas eficazes para prolongar o acesso com qualidade as obras. As vantagens presentes em matrias bem conservados e preservados so fcil de se observar e existe inmeras vantagens, porm pensamos ser suficientes citar somente trs, sendo o primeiro, a obra ter mais tempo disponvel para consulta, logo resultara no Segundo ponto relevante uma boa conservao, que se trata da preservao para geraes futuras, que podem entender como se deu determinada pesquisa atravs de registros histricos bem salvaguardados e promover possveis novas descobertas e a Terceira e ultima, a preservao da herana cultural quanto seres humanos, a histria da humanidade em grande maioria est presente nos suportes bibliogrficos. Aps as consideraes comentadas acima, ser proposto a seguir, tcnicas simples de higienizao para o acervo da UFMT. 3.1 Diagnstico do acervo, medidas e propostas de conservao. Aps visitas para observaes no acervo, observou-se que o mesmo se encontra em processo de deteriorao, causada por fatores externos e, observe abaixo os indcios de deteriorao do acervo e medidas simples que podem ser aplicadas. Deteriorao causada por agentes fsicos: o acervo encontra-se em instalao completamente inadequada onde as obras so expostas a poluentes nocivos aos livros, como poeira e a luz solar constantemente, no h como controlar a umidade do ar na sala da qual os livros se encontram. A ventilao da sala dada atravs de corrente de ar natural, trazida pela janela que fica aberta, dessa forma contribui para a proliferao de fungos. Alguns exemplares ainda contem clipe, fita adesiva e furos causados por grampeadores.
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Deteriorao causada por agentes qumicos: existem papeis que possui elementos cidos em sua composio, apesar desse item ser um fator interno ele causado por fatores externos, como o caso de acervo aqui estudado, que possui Luminosidade excessiva causando a acides em alguns exemplares devido a composio do papel.
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Deteriorao causada por agentes biolgicos: ainda seguindo os exemplos dado por Corad & Eggert-Steindel,2008, iremos agora observar o mais fator mais danoso aos livros dentre todos os trs fatores externos aqui citados. O fator biolgico tem como agentes causadores os microrganismos, os roedores e o homem. No acervo, esta evidente a presena de microrganismo, manuseio inadequado dos usurios. O que pode e deve ser feito: O processo simples e emergencial que pode ser aplicado na UFMT a Higienizao do acervo. Dessa forma as obras tero um tratamento inicial para que futuramente possa-se ser aplicado um tratamento mais especializado. A sujeira um fator que mais afeta os documentos. A sujidade no incua e, quando encontra fatores ambientais inadequadas, provoca destruio de todos os suportes num acervos. Portanto a higienizao das colees devem ser um hbito de rotina na manuteno de acervos. Rodrigues, 2008 p. 21 As propostas que sero aqui apresentadas, evidenciaro resultados se forem adotadas como um processo continuo, como argumenta Rodrigues, 2008 a sujeira danifica o material e para evitar a sujeira preciso uma monitoria constante da limpeza do local. Inicialmente, ser necessrio um treinamento com os funcionrios da biblioteca para o manuseio adequado das obras e a apresentao das tcnicas que sero utilizadas durante as etapas da higienizao. O equipamento utilizado para a ezecuo da higienizao de baixo custo, citemos a seguir os matrias bsicos, sendo: Pincis Luvas Mascaras Balco para limpeza (pode ser confeccionado artesanalmente) Flanela Aspirador de p
Antes de iniciar a higienizao do livro, necessria uma avaliao dos livros antes de iniciar a limpeza, pois alguns podem ser frgeis e no suportar alguns procedimentos, dessa forma recomendado cuidado especial, devido o seu estagio de degradao, at mesmo uma simples pincelada pode danificar ainda mais o item. Aps a anlise do diagnstico do livro, inicia-se a limpeza na mesa de higienizao. Na capa, utiliza-se trincha e flanela macia, e aspirador de p. Para manusear o livro necessrio cuidado, recomenda-se segurar sempre pela lombada e utilizao da trincha s caso o livro esteja em condies precrias de limpeza que se recomenda o uso do aspirador de p, porm em uma baixa potncia. Pincelar as primeiras pginas sempre com muito cuidado para no danificar o material. Essas pinceladas serviro como uma vassoura do livro, retirando toda sujeira na direo oposta quem esteja executando o processo. A limpeza do espao fsico tambm um fator relevante no momento de conservao dos matrias, sendo necessrio um cuidado e recomendaes para os funcionrios responsveis pela limpeza.
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Para a limpeza das estantes no deve ser utilizado os tradicionais espanadores e sim o aspirador de p, que reter toda a sujeira e no simplesmente espalh-la. O aspirador tambm pode ser usado na limpeza do piso. Na limpeza do piso e da estante, no se recomenda a utilizao de produtos qumicos, como cera, lustra moveis entre outros, pois esses produtos exalam vapores. Essas medidas, podem ser adotadas por qualquer instituio, so sugestes emergenciais de higienizao do acervo. 4 CONCLUSO As propostas aqui foram apresentadas, fazem parte de uma proposio de manualiazao para os critrios de raridade bibliogrfica que ser entregue Biblioteca Central na UFMT, intitulada ESTUDO DO TRATAMENTO TCNICO DAS OBRAS RARAS DA UFMT: uma proposta de manualizao para os critrios de raridade bibliogrfica, sendo desenvolvida pela Discente do Curso de Biblioteconomia Admeire da Silva Santos e orientado pela Prof. Ms. Ana Cristina Albuquerque. Essas medidas sero entregues Biblioteca Central da UFMT com o intuito de preservar a memria local. Ao observar o acervo e perceber o nvel de degradao no qual o mesmo se encontra recomenda-se uma medida emergencial para o tratamento do acervo, afinal de contas quanto mais se demorar tomar uma providncia, maior ser os danos causados, logo, maior ser o investimento financeiro aplicado na recuperao do acervo. Podendo tambm, correr o srio risco de perder algum material devido aos fatores degradantes citados acima. At ento no existia polticas nem normas adotadas na instituio para o tratamento para a preservao dessas obras, pretende-se ento que as medidas aqui propostas sejam acatadas pela instituio, a fim de prolongar o tempo de vida til dos materiais que compem o acervo, preservando assim a memria de uma sociedade. REFERNCIAS ANDRADE, Rosa Maria Nunes. BIBLIOTECAS: LUGAR DE MEMRIA E DE PRESERVAO - O CASO DA BIBLIOTECA NACIONAL DO BRASIL. UNESP FCLAs CEDAP, v.4, n.2, p. 1-18 jun. 2009. Patrimonio e memria ISSN- 1808-1967. CORADI, Joana Paula; EGGERT-STEINDEL, Gisela. Tcnicas Bsicas de conservao e preservao de acervos bibliogrficos. Revista Abc: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianpolis, v. 13, n. 2, p.347-363, No um ms valido! 2008. Semestral. Disponvel em: <http://revista.acbsc.org.br/index.php/racb/article/download/588/693>. Acesso em: 05 mar. 2010. COSTA, Luiz Artur. As colees da loucura e seus espao: Do esquadrilhamento nosogrfico ao acervo de imagens. Episteme, Porto Alegre, n. 20, p. 93 a 99. Jan./jun. 2005. RODRIGUES, Maria Solange P. Preservao e conservao de acervos bibliogrficos. IX Encontro Nacional dos Usurios da rede Pergamum de 18 a 20 de Abril de 2007. Curitiba: Pontifcia Universidade Catlica do Paran. Sistema Integrado de Bibliotecas. SIBI, 2007. TOCANTINS, Amidicis Diogo. Prosa e Verso. Cuiab,MT: Edies Areo: EdUFMT,2009. YAMASHITA, Marina Mayumi e PALETTA, Ftima Aparecida Colombo. Preservao do patrimnio documental e bibliogrfico com nfase na higienizao de livros e documentos textuais. Arquivistica.net. Rio de Janeiro, v.2 , n.2 , p.172-184 , ago./dez. 2006.
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Resumo Este artigo busca refletir as metodologias de pesquisa e prtica na aprendizagem da comunicao, compreendendo como a escolha dos procedimentos de trabalho influencia a construo do conhecimento. Palavras-chave: Pesquisa; Metodologia; Comunicao. Abstract This article aims to reflect the research and practice methodologies in learning communication, including choice of working procedures influences the construction of knowledge. Keywords: Research; Methodologies; Communication
1 DANDO INCIO TRILHA DO CONHECIMENTO Superar o conhecimento fragmentado se tornou uma necessidade da cincia contempornea e esse objetivo vem sendo buscado por muitos autores, desde Guatari e Deleuze, passando por Morin, at Brando e Freire. Assim, os primeiros constroem um pensamento atravs do modelo de rizoma, em que os conceitos so postos de forma no hierarquizada, mas sim da perspectiva do encontro (HAESBAERT, 2009, p. 113). J Morin (2004), prope que o conhecimento seja construdo por meio do conceito do complexo, no qual as relaes so mtuas e recprocas5. Romper com o modelo positivista de construo de conhecimento um desafio, por transpor barreiras consolidadas h tanto tempo. Desafio este que se torna o incentivo para propor, praticar e refletir modelos de pesquisa diferentes. Assim, este artigo uma proposta de se debater a pesquisa e suas metodologias, entendidas de forma indissociveis, dentro do campo da Comunicao. Para isto preciso compreender que a escolha dos procedimentos de trabalho influencia diretamente na construo do conhecimento.
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Trabalho apresentado na V FEICOM: Ressignificar as fronteiras da comunicao e informao. De 08 a 12 de novembro de 2010, em Goinia GO. Graduada em Comunicao Social Habilitao em Jornalismo pela UFG, ps-graduanda em Produo e Gesto de Projetos Culturais pela UFG. Jornalista da Fundao RTVE. Email: [email protected] Graduada em Comunicao Social Habilitao em Jornalismo pela UFG. Jornalista da Fundao RTVE. Email: [email protected] Professor Adjunto do curso de Jornalismo da UFG, doutorando no Programa Ps-colonialismos e Cidadania Global no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Email: [email protected]
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Gabriela Marques Gonalves , Maiara Dourado Nilton Jos dos Reis Rocha4 Universidade Federal de Gois
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Prope-se aqui uma pesquisa construda a partir da insero do pesquisador no universo social pesquisado, de forma no a confirmar informaes, mas compreender o contexto e a lgica do pensamento dos sujeitos sociais ali inseridos. Tal tentativa vem sendo feita em trs projetos de extenso da Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia (Facomb) da Universidade Federal de Gois (UFG) que se relacionam de maneira articulada e se complementam nesse processo: Magnfica Mundi6 , Jornalismo e Cultura de Fronteiras 7 e Trombas e Formoso: a vitria dos camponeses 8. Segundo Sousa (2010), as atividades realizadas nestes trs projetos permitem pensar a teoria, analisar a prtica e, assim, reinventar tanto uma como a outra. Alm dessa perspectiva no dissociada, possvel compreender tambm, durante o processo de pesquisa, que o conhecimento no uma via de mo nica e que as vivncias e os testemunhos se tornam importantes ferramentas na percepo dos universos sociais.Longe de uma cultura cientfica que demarca o terreno da elite intelectual e, portanto, o lugar social da fala e do pensamento, tais projetos vislumbram a descentralizao de produo e controle do conhecimento e partem da concepo do protagonismo intelectual dos sujeitos socias e de suas capacidades reflexivas. Ainda nesta linha de raciocnio, Visvanathan alerta que ... a noo de justia cognitiva visualiza um espao comunal de conhecimento a que os cidados, especialmente em culturas de subsistncia desejam participar dos processos na sociedade enquanto consumidores, crticos, praticantes e filsofos (2004:769-70). Estes projetos podem se diferenciar em abordagens de trabalho, mas se aproximam, por sua articulao, e sobretudo, pela prtica solidria de construo compartilhada do conhecimento. Antes de uma metodologia prtica cientfica, so uma postura diante do outro e da outra pessoa. (Brando, 2005). Com iniciativas ousadas, arriscam-se em novas formas de conhecimento e partem da ideia de que tal conhecimento somente se cria atravs do dilogo e a servio do diologo, entre sujeitos diferentes, mas nunca desiguais, situados um do lado do outro, mas em frente a um mesmo horizonte de humanizao do mundo e da vida social, atravs, tambm, disto a que damos em geral o nome de pesquisa cientfica (BRANDO, 2005).
5 Segundo Morin, h complexidade quando elementos diferentes so inseparveis constitutivos do todo [...], e h um tecido interdependente, interativo e inter-retroativo entre o objeto de conhecimento e seu contexto, as partes e o todo, o todo e as partes, as partes entre si. Por isso, a complexidade a unio entre a unidade e a multiplicidade. 6 Projeto que h dez anos desenvolve prticas de comunicao comunitria atravs dos mais diversos meios. Para saber mais sobre a Magnfica Mundi ver: Web TV Magnfica Mundi: Novas Tecnologias pelo Direito Comunicao e Complexo Magnfica Mundi: uma dcada de comunicao popular e comunitria. 7 Este projeto existe oficialmente h cinco anos, tendo como principal objetivo refletir a Amrica Latina atravs de uma parceria com a Escuela de Cine y Artes Audiovisuales (ECA) de La Paz, Bolvia. As atividades principais so as vivncias dos alunos da ECA e da UFG nos dois pases e o curso de cinema documentrio para a formao de cineastas populares, com a participao de indgenas e integrantes dos movimentos sociais. 8 Projeto que teve incio em 2008 e trabalha a Revolta camponesa de Trombas e Formoso, com o objetivo de valorizar a memria de seus sobreviventes. Para saber mais acesse: www.trombaseformoso.com ou veja Multimeios e Memria: criao de uma plataforma multimeiros para a preservao da memria coletiva da Revolta de Trombas e Formoso.
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Percebe-se ento a importncia de se destacar a pesquisa qualitativa como uma metodologia que se adequa melhor aos objetivos de pesquisas aqui propostos, j que a entendemos como um processo dinmico, que se reconstri e est em permanente produo. Segundo Gonzlez Rey, a Epistemologia Qualitativa defende o carter construtivo interpretativo do conhecimento, o que de fato implica compreender o conhecimento como produo e no como apropriao linear de uma realidade que se nos apresenta [itlicos do autor]. A criao conjunta ento a base da pesquisa qualitativa, que tem como ferramenta a subjetividade dos sujeitos que so parte do universo pesquisado. A subjetividade importante neste processo por influenciar as novas bases tericas e metodolgicas que esto inseridas em um contexto, no qual as categorias de anlise devem sempre ser submetidas a uma reviso, j que elas no so eternas. Assim, ... todo objeto ou fenmeno est ligado a outros e determinado por eles. E, por isso mesmo, est sujeito mudana e ao acaso. Impermanncia geral das coisas, de certo modo (MAFFESOLI, 2004). 2 TRILHANDO CAMINHOS EM BUSCA DE VIVNCIAS Velhos esquemas e sistemas de pensamento e de pesquisa, em suas mais diversas variantes do positivismo cientfico estabelecem a dissimetria entre pesquisadores e pesquisados. Esta disssimetria redobrada por uma dissimetria social todas as vezes que o pesquisador ocupa uma posio superior ao pesquisado na hierarquia das diferentes espcies de capital, especialmente o capital cultural. (BOURDIE, 2001, p.695) No campo da cincia, e talvez, principalmente nele (onde se prega compreenso) tambm se propala a violncia simblica, j que quem decide o rumo do pensamento o pesquisador. Nesse sentido, partindo do entendimento de que o abandono essas concepes positivistas se torna cada vez mais irreversvel, que se criam novas experimentaes em torno da construo do saber. E este caminhar direcionado construo lenta, diferenciada e progressiva de uma transdiciplinaridade, em nada significa o sonho (um pesadelo, na verdade) de uma cincia nica, panunificadora. (BRANDO, 2005). Mas a busca por uma postura de escuta ativa e metdica, [] associada disponibilidade total em relao ao sujeitos, a submisso singularidade de sua histria particular, que pode conduzir, por uma espcie de mimetismo mais ou menos controlado, a adotar sua linguagem e a entrar em seus pontos de vistas, em seus sentimentos, em seus pensamentos, com a construo metdica, forte, do conhecimento das condies objetivas, comuns a toda uma categoria(BOURDIEU, 2001, p.695) A Magnfica Mundi, por exemplo, em uma dcada de pesquisa compartilhada com o outro, prope um novo olhar cientfico baseado em prticas sociais de rompimento com estruturas hegemmicas, Uma experincia da cibercultura - e, antes dela, das culturas populares - o que pode permitir o rompimento das estruturas burocrticas e autoritrias vigentes nas nossas melhores democracias( LEMOS et al, 2004). A atitude de subverso s rgidas prticas de pesquisa vigentes, resultaram em iniciativas como a Vaza TV 9, abrangendo uma prtica, at ento, restrita elite intelectual, ao domnio de crianas da rede de ensino pblico da Cidade de Gois, que entrevistaram a secretria estadual de cultura do estado, Linda Monteiro. O cuidado est, tambm, em se evitar os riscos na escolha de uma metodologia que no venha depois dos acontecimentos, como na anlise de custos e benefcios, mas que seja
9 WebTV montada juntamente com crianas da Escola Estadual Manoel Caiado, da Cidade de Gois com intuito de contrapor a programao do IX Festival Internacional de Cinema e Vdeo Ambiental, em 2007, j que o evento pouco integrava a populao vila-boense s suas atividades. O nome Vaza TV se deve ao jogo de palavras que se forma entre Vaza e Fica, tendo at um slogan O FICA vaza e a VAZA fica.
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capaz de lidar com conexes sistmicas, num sentido mais amplo. (VISVANATHAM, p. 770) A partir das experincias destes trs projetos, h de se concordar com Maffesoli (2004) quando diz que ... convm que estejamos mais preocupados com um procedimento de longo curso do que com a pequena prtica universitria, bastante comum, que consiste em adaptar grandes conceitos a pensamentos pequenos. Neste sentido, este procedimento de longo curso s consegue ser construdo a partir de vivncias com as comunidades que constroem junto ao pesquisador o sentido para as realidade sociais. Segundo Maffesoli a experincia comum que constitui o verdadeiro motor das histrias humanas. Estes projetos proporcionaram aos seus integrantes justamente um convvio com sujeitos de diferentes contextos como crianas, camponeses, indgenas, bolivianos, e estes so vistos no como alvos de pesquisa, mas parceiros na construo do conhecimento, que feita de forma conjunta e dialgica, processo muitas vezes incompreendido por quem no participa dele, j que ... a unidimensionalidade do pensamento incapaz de compreender a polidimensionalidade da vivncia (MAFFESOLI, 2004, p. 35). Assim, estas prticas se justificam pela atrao ao outro, ao semelhante a mim, que fala a seu modo a minha lingua, participa a seu modo de minha prpria cultura, e que propicia essa zona de atrao entre o eu e voc. Uma atrao feita nas diferenas culturais. A trajetria junto a esses projetos permitiram e permitem aos membros-participantes a compreenso de que o heterogneo oscila entre a tenso e a conciliao. por existirem, o heterogneo e a tenso entre sistemas diferentes que existe vida. Assim, no h razo para nos surpreendermos com o fato de essa heterogeneidade vital nos remeter a diferenas de interpretao. Mas preciso reconhecer que a sensibilidade intelectual, ao depositar nfase na vida, na experincia (e, acrescentaria eu, no banal e no indiscriminado), que acentua mais a pluralidade das razes e das sensaes. (MAFFESOLI, 2004, p.39) A vivncia com os sujeitos, experimentada por meio das oficinas junto aos movimentos sociais (Magnfica Mundi), a produo de documentrios por meio de metodologias alternativas descentralizadoras (Trombas e Formoso: memrias de uma luta) e a formao de cineastas populares (Jornalimso e Cultura de Fronteiras), possibilita um ambiente de traduo , de sentir com o outro, mesmo que no sinta como ele. De saber colocar-me desde o seu ponto de vista, aceitando-o como , como vive e como pensa e diz a mim de seu ser, de sua vida e de seus sentimentos e pensamentos (BRANDO, 2005).
10O conceito de traduo, proposto por Antnio Souza Ribeiro, aponta para a forma como no apenas lnguas diferentes, mas tambm culturas diferentes e diferentes contextos e prticas polticos e sociais podem ser
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3 DEIxANDO RASTROS E SEGUINDO NOVAS TRILHAS
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As trs experincias citadas aqui so alguns exemplos de como a forma de se construir conhecimento interfere nesse resultado, no s na experincia vivida pelo pesquisador, mas tambm nas mudanas, mesmo que pequenas, provocadas como resultado desse processo. Assim possvel acreditar em uma pesquisa que valorize as subjetividades dos sujeitos e que se proponha ser dinmica e coletiva, recuperando assim ... os sujeitos do processo de pesquisa, tanto o pesquisador como os participantes (GONZLEZ REY, 2005, pg. 83). O foco da prtica de investigao na Comunicao deve estar nos sujeitos que sero pesquisados, nos contextos em que eles atuam e nas interaes que caracterizam o processo da pesquisa, fazendo uso de um metodologia serve como uma orientao durante o processo, mais que uma sequncia rgida de etapas (GONZLEZ REY, 2005, pg. 83), aos procedimentos utilizados, cada um de acordo com as necessidades que surgiro no decorrer de cada pesquisa. Dessa forma, os procedimentos metodolgicos norteadores devem ser baseados na construo conjunta de conhecimento a respeito do tema escolhido. A finalidade, portanto, no encontrar respostas prontas, mas tentar compreender as relaes humanas e as produes de significados no contexto proposto, tornando esta reflexo uma atividade coletiva e dialgica entre sujeitos diferentes, mas no desiguais (BRANDO, 2005). Estas realidades pesquisadas e vivenciadas devem ser entendidas a partir da perspectiva de Paulo Freire (1971), para o qual ... a realidade concreta algo mais que fatos ou dados tomados mais ou menos em si mesmos. Ela todos esses fatos e todos esses dados e mais a percepo que deles esteja tendo a populao neles envolvida. PISTAS BIBLIOGRFICAS BOURDIE, Pierre. Compreender. In BOURDIE, Pierre (org). Misria do mundo. Petrpolis: EditoraVozes,2001. Pp 693-713 BRANDO, Carlos Rodrigues (org.). Pesquisa participante. So Paulo: Editora Brasiliense, 1985. GONZLEZ REY, Fernando. Pesquisa qualitativa e subjetividade Os processos de construo da informao. So Paulo: Pioneira Thomson Leraning, 2005. HAESBAERT, Rogrio. O mito da desterritorializao: do fim dos territrios multiterritorialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009. LEMOS, Maria Alzira Brum et al. Os intelectuais e a cibercultura: alm de apocalpticos e integrados. Revista Espao Acadmico, 33. 2004 http://www.espacoacademico.com.br/033/33clemos.htm MAFFESOLI, Michel. Notas sobre a ps-modernidade o lugar faz o elo. Rio de Janeiro: Atlntica Editora, 2004.
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MORIN, Edgard. Os sete saberes necessrios educao do futuro. So Paulo: Cortez; Braslia, DF: UNESCO, 2004.
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RIBEIRO, Antnio Souza. A Traduo como Metfora da Contemporaneidade. Disponvel em : <http://www.eurozine.com/articles/article_2005-07-18-ribeiro-pt.html>. Acesso em: 07 jul 2010. SOUSA, Ana Lcia Nunes, ET AL. Complexo Magnfica Mundi: uma dcada de comunicao popular e comunitria. Congreso de Comunicacin Alternativa: Medios, Estado y Poltica. Argentina, 2010. VISVANATHAN, Shiv. Convite para uma Guerra da Cincia. In SANTOS, Boaventura de Sousa (org). Conhecimento Prudente para uma Vida Decente um discurso sobre as Cincias revisado. S. Paulo: Cortez Editora. 2004. pp.757-775
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Palavras-chaves: Biblioteca Popular - Shangri-l. Leitura e biblioteca. Conhecimento e cidadania. JUSTIFICATIVA/BASE TERICA O setor Shangri-l, situado a uns 02km ao norte do Campus Samambaia da UFG, existe formal e legalmente como bairro urbano desde 1990. caracterizado como rea de baixa densidade populacional pelo Plano Diretor do Municpio. Cabe destaque s reas de mata nativa preservada, das quais uma pblica com cerca de 86.000m2 e outra com cerca de 6.000m2, destinada a uma praa. Outras reas de mata desse porte pertencem a particulares que se empenham em preserv-las. A maioria da populao de mdia-baixa renda, exercendo atividades profissionais como pequenos comerciantes, pedreiros e serventes, motoristas, servios braais em geral, servios domsticos, diaristas e afins. A presena do poder pblico se d apenas atravs da rede de energia eltrica, 2-3 telefones pblicos em funcionamento, transporte pblico, asfalto na linha de nibus, coleta de lixo, roagem de lotes no ocupados e servio de telefonia fixa. No h rede de gua tratada nem rede de esgotos. No h escola nem posto de sade, servios buscados em outros bairros prximos. Quanto ao lazer, h apenas um campo de futebol em rea pblica. O servio de internet precrio, porm a sala do Projeto teve recentemente um ponto instalado, a partir da Universidade Federal de Gois. H cerca de 10 anos a Facomb desenvolve extenso junto comunidade com o Projeto Pezinho de Jatob, de educao ambiental, com a participao marcadamente de crianas e adolescentes e envolvendo professores e estudantes de vrios cursos da UFG: Comunicao, Biblioteconomia, Pedagogia, Biologia, Artes Cnicas, Artes Plasticas, Msica, dentre outros. De maneira informal, junto ao Projeto, foram recebidos em doao muitos livros, sem uma sistematizao adequada, tanto do acervo como de outros servios de biblioteca. Esse pequeno acervo atende precariamente aos estudantes, e a uns poucos adultos no-estudantes. A implantao do Projeto de Biblioteca Popular busca suprir algumas lacunas, ao menos em parte, no que diz respeito disponibilidade de material de leitura, de um lado, e de um trabalho sistemtico de incentivo ao gosto pela leitura, de outro. Com Paulo Freire acreditamos na necessidade de uma biblioteca popular, que tenha livros e outros materiais de leitura disponveis que possibilitem um entrosamento critico com o texto, procurando apreender a sua significao mais profunda, e ao mesmo tempo vivenciar uma experincia esttica, a partir da riqueza da linguagem popular que j dominam. Busca-se uma forma de atuao de biblioteca popular, com seu acervo desejado e adequado, bem como as atividades que podem ser desenvolvidas no seu interior, desenvolver como que uma poltica cultural no bairro.
1 Resumo revisado pelo Coordenador da Ao de Extenso e Cultura cdigo Facomb-95: Prof. Jos Vanderley Gouveia. 2 Bolsista Probec, Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia, <[email protected]>. 3 Estudante do 4. Perodo do Curso de Biblioteconomia, voluntrio do Projeto.<[email protected]>. 4 Estudante do 4. Perodo de Design de Moda, voluntria do Projeto. <[email protected]>.
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OBJETIVOS Implantar uma Biblioteca Popular no Setor Shangri-l, em Goinia; - Incentivar o gosto pela leitura e aquisio de conhecimentos; - Dispor de um acervo organizado de livros, peridicos e outros materiais para uso corriqueiro da populao do Bairro e outros interessados; - Ampliar a compreenso da leitura e da biblioteca no processo educacional como um todo; - Organizar um espao para que os estudantes tenham um ambiente adequado realizao dos "deveres de casa" solicitados pelas Escolas; - Promover o direito de acesso informao e ao conhecimento universal; - Contribuir para a prtica de uma cidadania consciente e participativa na sociedade. METODOLOGIA Ainda em fase de implantao, essa atividade foi precedida de uma preparao dos estudantes envolvidos, atravs da disciplina de Ncleo Livre "Informao Comunicao e Bibliotecas populares", com 64h/aulas, ministrada pelo Coordenador. O embasamento terico teve carga horria de 30h e a prtica, 34h. Em seus aspectos prticos, foi realizado um Estudo de Comunidade, em duas etapas: uma visita prvia ao Bairro para que os estudantes-entrevistadores se familiarizem com o local, divulgassem o Projeto e sensibilizem possveis colaboradores locais. Num segundo momento, aplicaram um questionrio envolvendo questes de identificao, situao scio-econmica e educacional, interesses de leitura, dentre outras. Tabulados os questionrios, foi concluda a elaborao do Projeto de Biblioteca Popular, do Projeto de Comunicao e do Desenvolvimento do Acervo. RESULTADOS, DISCUSSO Do Estudo de Comunidade realizado no ms de maio 2010, apresentamos alguns resultados: Foram identificados 120 lotes residenciais ocupados (37,5% de um total de 320 que compem o bairro) com algum tipo de construo. Dentre esse 120 lotes, foram visitados 45, o total de questionrios respondidos. Participaram da coleta de dados os 22 estudantes da disciplina mencionada. A maioria dos entrevistados respondeu que prefere ler livro, e que lia em busca de conhecimento. Dentre os 45 entrevistados, 90% respondeu que costuma ler em casa, principalmente para adquirir conhecimento (38,2%), lazer ou diverso, e estar bem informado (17,02%). Porm, neste ano, 46% dos entrevistados ainda no tinha lido nenhum livro, mas que gostariam de ler. Nesse sentido tambm que apiam o funcionamento de uma biblioteca popular. Soma-se a isso o fato de que a maioria (57%) comprou o livro que leu, e lamentou o alto custo dos livros. O meio de comunicao que eles mais utilizam para se manterem informados a televiso, com 44% de respostas, seguida pelo rdio (23%). Os meios que exigem leitura jornal impresso e revistas ficaram como sendo os menos utilizados (7,2% para o primeiro e 2,8% para o segundo). Outro aspecto sondado foi em relao aos tipos de leitura preferenciais. Livros religiosos (25,42%), romances (15,25%) e atualidades em geral (15,25%) esto entre os primeiros interesses. Seguem-se-lhes os temas de aventura (11,86%) e livros tcnicos e profissionais (10,16%). Outros temas de interesse esto nos livros de contos e crnicas, fico cientifica, auto-ajuda e poesia. Apesar de ser uma pesquisa exploratria, com resultados parciais, foi iniciada uma campanha de doao de livros, levando-se em conta as preferncias de leitura e recomen-daes para o acervo de uma biblioteca popular. Foi elaborado um oramento e tambm um projeto para tentar conseguir verba e patrocnio para realizao do projeto. Tambm conseguimos um software gratuito para a biblioteca.
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Neste Segundo Semestre, tem incio um curso de digitao, tambm gratuito, disponvel aos adolescentes. Com o ponto de internet instalado, esse curso ser expandido com capacitao para consulta a fontes de informao em geral. Est em andamento o Projeto de Biblioteca Popular, o Projeto de Comunicao e do Desenvolvimento do Acervo, que ter uma Campanha de Doao de Livros. CONCLUSES O trabalho proposto tem tido boa receptividade no Bairro e, informalmente, j est em circulao o acervo. Como atividade cultural, so oferecidas duas oficinas de bordado, momento em que outros assuntos so tratados com as mulheres participantes. Do ponto de vista dos estudantes envolvidos, nota-se uma gratificao por aplicarem em situao real conhecimentos adquiridos em sala de aula, numa percepo contnua dos vrios aspectos da atividade profissional.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS FOLHETO para a criao de bibliotecas auto-geridas. Belo Horizonte: UFMG/Faculdade de Letras, [s.d.]. Disponvel em: www.letras.ufmg.br/atelaeotexto/folheto_ biblioteca.pdf. Acesso em fev. 2010. FREIRE, Paulo. A importncia do ato de ler. 22.ed. So Paulo: Cortez, 1988. GASCUEL, Jacqueline. Um espao para o livro: como criar, animar ou renovar uma biblioteca. Lisboa: Publ. Dom Quixote, 1987. 301p. il.
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Palavras-chave: Educao ambiental, cidadania, conscientizao, Ecodesign. Justificativa O Pezinho de Jatob um projeto de extenso da UFG, criado desde 2001. Hoje se constitui num programa de extenso que envolve dois outros projetos. Um na rea da fotografia (FACOMB-92) e o outro na rea de biblioteca popular e comunitria (FACOMB- 95). O Pezinho de Jatob nasceu de uma necessidade de prover uma prtica de educao ambiental no setor Shangri-la, onde existe uma reserva verde municipal de 80 mil m, que vem sofrendo fortes ameaas com as constantes queimadas no local. Oficinas so realizadas na sede do projeto quinzenalmente, onde so desenvolvidas atividades de contao de historias, colagem, desenho, pintura, msica com as crianas enquanto as mes recebem orientao de costura, bordado e outros trabalhos artesanais.. A Educao Ambiental conhecida tambm como EA, surgiu em 1948, no Encontro da Unio Internacional para a conservao da Natureza (IUCN) , em Paris com o objetivo de promover uma educao que sintetize as cincias naturais e sociais. Os princpios, objetivos e estratgias da EA foram estabelecidos em Tbilisi na Primeira Conferncia Intergovernamental sobre Educao Ambiental. As premissas bsicas da EA so os aspectos sociais, econmicos, culturais, polticos e ticos. Na Rio 92 foi aprovado o "Tratado de Educao Ambiental para Sociedades Sustentveis e de Responsabilidade Global. O MEC ento lana os Parmetros Curriculares Nacionais que so os PCNs, onde o meio ambiente participa como tema transversal. E em todos os eixos dos PCNs a cidadania um aspecto, visando Educao Ambiental para uma verdadeira cidadania. Ento, novos paradigmas so estabelecidos, novos objetos de estudo, novos marcos de referencias conceituais e mudana de atitude. Por isso a EA considerada uma prtica interdisciplinar e hoje mais ainda transdisciplinar, pois no Pezinho de Jatob fomentamos a Transdisciplinaridade, que em seu Artigo 3 recomenda: A transdisciplinaridade complementar aproximao disciplinar: faz emergir da confrontao das disciplinas dados novos que as articulam entre s; oferece-nos uma viso da natureza e da realidade. A transdisciplinaridade no procura o domnio sobre as vrias outras disciplinas, mas a abertura de todas elas quilo que as atravessa e as ultrapassa (Artigo 3, Carta da Transdisciplinaridade).
1 Trabalho apresentado na V FEICOM: Ressignificar as fronteiras da comunicao e informao, de 08 a 12 de novembro de 2010, em Goinia GO. 2 Aluna do Curso de Design de Moda da UFG. Bolsista POBEC do Projeto Pezinho de Jatob. J realizou minicurso e oficinas no VII Coonpex e no 6 Rdesign BH. Participou da equipe de criao, produo e customizao do III Seminrio de Cultura Visual. Participou da Exposio Quimono Ressignificado [email protected] 3 Atualmente professora do curso de jornalismo da UFG. Coordenadora juntamente com outros porfessores do Programa de extenso Pezinho de jatob . Coordenadora do Nucleo de Pesquisa. projetopezinho@ yahoo.com.br
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A EA tem como objetivo modificar as relaes homem e meio ambiente, tentando estabelecer um equilbrio entre os dois, pois isso contribui para um exerccio mais consciente e efetivo da cidadania. de grande importncia desenvolver uma conscincia rica no cidado, de maneira que ele seja capaz de captar os motivos da evoluo do problema ambiental. Para que a aprendizagem seja efetiva nas praticas de EA, as situaes ambientais devem ser adaptadas a vida real da sociedade, ou da realidade do individuo. Isso necessrio para que ele reconhea e compreenda melhor o meio ambiente, de onde ele faz parte. A partir desse entendimento o individuo desenvolve uma conscientizao individual que consequentemente se torna coletiva mais tarde: Destacar a complexidade dos problemas ambientais , em conseqncia, a necessidade de desenvolver o senso crtico e as habilidades necessrias para resolver tais problemas. (Dias, 1994:61-79) Por isso importante que na Educao Ambiental exista uma orientao para a reformulao do pensamento de tal forma que os cidados sejam capazes de enfrentar os problemas do seu tempo. necessrio mudar o individuo, promover uma mudana de suas atitudes e postura, isso acarretar em uma mudana da sua realidade. A EA permite mudana de atitude de valores. E, quando o sujeito internaliza algumas posturas, muito difcil voltar atrs. Assim, passa a fazer escolhas/ tomar decises ambientalmente corretas quando se trata de aspectos individuais (LEME, apud, 2006:104) importante desenvolver uma EA local, que no Pezinho de Jatob, por exemplo, incentivada a partir da conservao do cerrado, indo alm do discurso comum e preponderante no Brasil, que a preservao da Floresta Amaznica pura e simplesmente, enquanto o cerrado, que um bioma brasileiro que ocupa 25% da nossa vegetao, vem sendo aerificado devido ao uso indiscriminado da agropecuria extensiva, correndo o risco de ser completamente extinto nos prximos anos. Ento, entendemos que de suma importncia a participao comunitria, de forma consciente e articulada, para que um programa de Educao Ambiental atinja seus objetivos. Objetivos Despertar atravs de nossas atividades uma conscincia ambiental na comunidade Shangri-la, tanto nas crianas quanto nos pais; Realizar oficinas que despertem a capacidade de interpretao, criatividade e habilidades manuais, desenvolvendo produtos de Ecodesign a partir de rejeito de industrias goianas; Criar uma possibilidade de renda para os envolvidos da comunidade a partir da produo de produtos de Ecodesign; Desenvolver interesse pela leitura em crianas a partir da contao de historias, pois uma historia bem contada desenvolve no ouvinte a vontade de l-la e reproduzi-la oralmente;
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Mostrar para as crianas elementos da cultura local, atravs da contao de lendas folclricas do centro oeste; Sensibilizar a comunidade para a idia de reduzir as queimadas que prejudicam a Reserva Verde Municipal do Shangri-l; Construir uma sede adequada para o projeto, hoje dependente de uma sala alugada; Oferecer cursos de informtica para as crianas, para que elas tenham acesso informao e ao conhecimento; Metodologia Pensando nos conceitos da EA e na prtica transdisciplinar, os trabalhos manuais de bordado e costura que vm sendo desenvolvido no Pezinho de Jatob, coadunam com uma nova prtica de Educao Ambiental que deve ser fomentada. Ela se baseia dentro de um conceito do Design, chamado Ecodesign. O Ecodesign tem como objetivo preservar o planeta para geraes futuras, que a mesma preocupao que a EA tenta despertar nos indivduos. O Ecodesign busca reduzir o uso dos recursos no renovveis e manter a qualidade de vida, substituir produtos e processos por outro menos nocivos ao meio ambiente. O Ecodesign procura reduzir o lixo e a gerao de lixo do planeta, poupar os recursos e minimizar os resduos. A EA e o Ecodesign so duas linhas de atuao que se assemelham muito nos seus ideais dentro do Pezinho de Jatob. O Ecodesign assim como a Educao Ambiental tentam conhecer os problemas ambientais a partir de uma viso holstica. Isso passa a influir na postura do designer e na postura de prtica Educao ambiental. Na EA a teoria e a prtica andam juntas, uma se alimenta da outra, sendo assim possvel instaurar uma prtica Ambiental atravs da construo de materiais fundamentados nos princpios do Ecodesign. A Educao Ambiental deseja desenvolver nos indivduos a noo de sustentabilidade, que nada mais do que uma gesto responsvel dos recursos do planeta para preservar os interesses de geraes futuras e atendendo as necessidades atuais. Dessa maneira se estabelece mais uma grande relao entre as duas linhas de atuao do Pezinho de Jatob, pois o principal ideal do Ecodesign a sustentabilidade. Promover uma Educao Ambiental atravs da prtica do Ecodesign pode ser algo totalmente vivel e proveitoso. Pois se na EA a prtica e a teoria so totalmente interligadas, na produo Ecodesign, pode se entender os impactos ambientais nas etapas de produo do produto. Agindo assim, mais uma vez e baseado nos princpios da EA, a situao ambiental contextualizada na comunidade-alvo para efetivar a aprendizagem. Para exemplificar a prtica do Ecodesign, podemos usar um retalho de papel. Ao explicar os processos nos quais este pedao de papel foi submetido para se tornar um papel __que ele primeiro era uma rvore, que para ser processado necessitou de mquinas que poluem o meio ambiente, que a poluio auxilia no aquecimento global e etc__ a pessoa pode ser sensibilizada com relao aos problemas ambientais atravs daquele pedao de papel. Assim, ele entende que no deve desperdiar e sim reaproveitar. Dessa maneira se bem articulados a EA e o Ecodesign, podem render bons frutos dentro do Projeto Pezinho de Jatob. No s de conscientizao ambiental, mas tambm, de economia solidria. O projeto Pezinho de Jatob realiza suas praticas de Educao Ambiental e Cidadania atravs de oficinas quinzenais com crianas. As oficinas so sempre direcionadas a uma pratica, que tambm amparada pela reflexo terica. Tudo isso passado de maneira ldica e descontrada para as crianas. Um dos mtodos muito usados esse semestre tem sido a contao de historias, que atravs da dramatizao envolve as crianas com a trama narrada de tal forma, que elas comeam a fazer parte da historia e se identificar com os personagens.
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Assim, at mesmo de forma inconsciente ela associa a historia ao seu cotidiano, carregando aquelas informaes ambientais para o seu dia a dia. Outro mtodo utilizado tem sido a construo de brinquedos, desenhos, colagens priorizando sempre materiais reciclados e explorando outras funes de objetos j usados. As oficinas de plantio tambm so um caminho muito importante na comunidade Shangri-l, quando o Pezinho de Jatob, alm de promover uma ao e sensibilizao ecolgica aumenta a relao entre crianas, adultos e o meio ambiente.
Resultados Parciais Neste 10 ano de existncia, principalmente com a adeso de outros projetos ao Programa de Extenso recentemente cadastrado, o Pezinho de Jatob alcanou alguns resultados, : continuidade das oficinas quinzenais aos domingos para as crianas e adolescentes; continuidade das atividades da sala de leitura e organizao da biblioteca; continuidade das oficinas especficas de fotografia, exibio peridica de filmes e videos de temtica ambiental; horrios monitorados para uso de computadores na comunidade; consolidao da parceria com a CELG, UFG e comunidade possibilitando conexo de internet; desenvolvimento de atividades de economia solidria visando uma alternativa econmica para a comunidade, vinculao dos integrantes do projeto ao Nucleo de Pesquisa em Teoria da Imagem fomentando o tripe extenso-ensino-pesquisa da UFG; participao no VII Conpeex da UFG com posters cientficos, stands, minicursos e oficinas; participao com trabalho acadmico no Congresso de Comunicao Alternativa em La Plata, Argentina.
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Concluso O planeta est sofrendo srias conseqncias causadas pelas atitudes do homem moderno e sua viso imediatista. Existe porm alguns meios de atuao que pensam nas futuras geraes e pretendem preservar o que ainda nos resta. Mais ainda do que somente preservar, esses meios tentam mobilizar as pessoas e ganhar cada vez mais adeptos na preservao do meio ambiente, que inclui claro, o homem. A Educao Ambiental um desses meios e ela busca despertar uma postura ecolgica nas pessoas, atravs de uma prtica transdisciplinar, que pode e deve ser executada de maneira formal ou informal. A EA tenta promover a cidadania que nada mais do que um direito de qualquer cidado. Ela vem sendo muito praticada nos meios informais, aceitando novas formas de ensino. Um deles por exemplo o Ecodesign, que pode ter uma grande atuao na sustentabilidade do planeta. Atravs das etapas de construo de um produto, pode-se conhecer o quanto ele causa impacto na natureza e o quanto isso nos afeta. Por isso importante inserir novos meios de ensino da EA, como por exemplo o Ecodesign, que pode atuar de forma efetiva no aprendizado, gerando alm disso renda comunitria e participando da sustentabilidade ambiental, na reduo dos resduos do planeta e na sua conservao para geraes futuras sem deixar de atender tambm as necessidades das geraes atuais.
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BIBLIOGRAFIA CAPRA, Fritjof e outros. Alfabetizao Ecolgica a educao das crianas para um mundo sustentvel, Michael K. Stone e Zenopbia Barlow (orgs); prlogo David W. Orr; prefcio Fritjof Capra, S. Paulo: Cultrix, 2006. MORIN, Edgar e outros. Carta da Transdisciplinaridade - I Congresso Mundial de Transdisciplinaridade - Convento Arrbida, Portugal, 1994. LEME, N. T. Os conhecimentos prticos dos professores (re)abrindo para a educao ambiental na ecola. So Paulo: Annablume, 2006. CARVALHO, S. V. Educao Ambiental e Desenvolvimento Comunitrio. 2 edio. Rio de Janeiro:Wak, 2006. DIAS, Genebraldo Freire. Educao Ambiental Princpios e Prticas.5 edio. So Paulo:Globla,1998. PELTIER, Fabrice; SAPORTA, Henri. Design Sustentvel: Caminhos Virtuosos. So Paulo: Senac, 2009.
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Foto em Foco 1
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Metodologia Pensando nos conceitos da EA e na prtica transdisciplinar, os trabalhos manuais de bordado e costura que vm sendo desenvolvido no Pezinho de Jatob, coadunam com uma nova prtica de Educao Ambiental que deve ser fomentada. Ela se baseia dentro de um conceito do Design, chamado Ecodesign. O Ecodesign tem como objetivo preservar o planeta para geraes futuras, que a mesma preocupao que a EA tenta despertar nos indivduos. O Ecodesign busca reduzir o uso dos recursos no renovveis e manter a qualidade de vida, substituir produtos e processos por outro menos nocivos ao meio ambiente. O Ecodesign procura reduzir o lixo e a gerao de lixo do planeta, poupar os recursos e minimizar os resduos. A EA e o Ecodesign so duas linhas de atuao que se assemelham muito nos seus ideais dentro do Pezinho de Jatob. O Ecodesign assim como a Educao Ambiental tentam conhecer os problemas ambientais a partir de uma viso holstica. Isso passa a influir na postura do designer e na postura de prtica Educao ambiental. Na EA a teoria e a prtica andam juntas, uma se alimenta da outra, sendo assim possvel instaurar uma prtica Ambiental atravs da construo de materiais fundamentados nos princpios do Ecodesign. A Educao Ambiental deseja desenvolver nos indivduos a noo de sustentabilidade, que nada mais do que uma gesto responsvel dos recursos do planeta para preservar os interesses de geraes futuras e atendendo as necessidades atuais. Dessa maneira se estabelece mais uma grande relao entre as duas linhas de atuao do Pezinho de Jatob, pois o principal ideal do Ecodesign a sustentabilidade. Promover uma Educao Ambiental atravs da prtica do Ecodesign pode ser algo totalmente vivel e proveitoso. Pois se na EA a prtica e a teoria so totalmente interligadas, na produo Ecodesign, pode se entender os impactos ambientais nas etapas de produo do produto. Agindo assim, mais uma vez e baseado nos princpios da EA, a situao ambiental contextualizada na comunidade-alvo para efetivar a aprendizagem. Para exemplificar a prtica do Ecodesign, podemos usar um retalho de papel. Ao explicar os processos nos quais este pedao de papel foi submetido para se tornar um papel __que ele primeiro era uma rvore, que para ser processado necessitou de mquinas que poluem o meio ambiente, que a poluio auxilia no aquecimento global e etc__ a pessoa pode ser sensibilizada com relao aos problemas ambientais atravs daquele pedao de papel. Assim, ele entende que no deve desperdiar e sim reaproveitar. Dessa maneira se bem articulados a EA e o Ecodesign, podem render bons frutos dentro do Projeto Pezinho de Jatob. No s de conscientizao ambiental, mas tambm, de economia solidria. O projeto Pezinho de Jatob realiza suas praticas de Educao Ambiental e Cidadania atravs de oficinas quinzenais com crianas. As oficinas so sempre direcionadas a uma pratica, que tambm amparada pela reflexo terica. Tudo isso passado de maneira ldica e descontrada para as crianas. Um dos mtodos muito usados esse semestre tem sido a contao de historias, que atravs da dramatizao envolve as crianas com a trama narrada de tal forma, que elas comeam a fazer parte da historia e se identificar com os personagens. Assim, at mesmo de forma inconsciente ela associa a historia ao seu cotidiano, carregando aquelas informaes ambientais para o seu dia a dia. Outro mtodo utilizado tem sido a construo de brinquedos, desenhos, colagens priorizando sempre materiais reciclados e explorando outras funes de objetos j usados. As oficinas de plantio tambm so um caminho muito importante na comunidade Shangri-l, quando o Pezinho de Jatob, alm de promover uma ao e sensibilizao ecolgica aumenta a relao entre crianas, adultos e o meio ambiente.
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Foto em Foco 1
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Resultados Parciais Neste 10 ano de existncia, principalmente com a adeso de outros projetos ao Programa de Extenso recentemente cadastrado, o Pezinho de Jatob alcanou alguns resultados, : continuidade das oficinas quinzenais aos domingos para as crianas e adolescentes; continuidade das atividades da sala de leitura e organizao da biblioteca; continuidade das oficinas especficas de fotografia, exibio peridica de filmes e videos de temtica ambiental; horrios monitorados para uso de computadores na comunidade; consolidao da parceria com a CELG, UFG e comunidade possibilitando conexo de internet; desenvolvimento de atividades de economia solidria visando uma alternativa econmica para a comunidade, vinculao dos integrantes do projeto ao Nucleo de Pesquisa em Teoria da Imagem fomentando o tripe extenso-ensino-pesquisa da UFG; participao no VII Conpeex da UFG com posters cientficos, stands, minicursos e oficinas; participao com trabalho acadmico no Congresso de Comunicao Alternativa em La Plata, Argentina. Concluso O planeta est sofrendo srias conseqncias causadas pelas atitudes do homem moderno e sua viso imediatista. Existe porm alguns meios de atuao que pensam nas futuras geraes e pretendem preservar o que ainda nos resta. Mais ainda do que somente preservar, esses meios tentam mobilizar as pessoas e ganhar cada vez mais adeptos na preservao do meio ambiente, que inclui claro, o homem. A Educao Ambiental um desses meios e ela busca despertar uma postura ecolgica BIBLIOGRAFIA CAPRA, Fritjof e outros. Alfabetizao Ecolgica a educao das crianas para um mundo sustentvel, Michael K. Stone e Zenopbia Barlow (orgs); prlogo David W. Orr; prefcio Fritjof Capra, S. Paulo: Cultrix, 2006. MORIN, Edgar e outros. Carta da Transdisciplinaridade - I Congresso Mundial de Transdisciplinaridade - Convento Arrbida, Portugal, 1994. CAPRA, Fritjof e outros. Alfabetizao Ecolgica a educao das crianas para um mundo sustentvel, Michael K. Stone e Zenopbia Barlow (orgs); prlogo David W. Orr; prefcio Fritjof Capra, S. Paulo: Cultrix, 2006. MORIN, Edgar e outros. Carta da Transdisciplinaridade - I Congresso Mundial de Transdisciplinaridade - Convento Arrbida, Portugal, 1994. LEME, N. T. Os conhecimentos prticos dos professores (re)abrindo para a educao ambiental na ecola. So Paulo: Annablume, 2006. CARVALHO, S. V. Educao Ambiental e Desenvolvimento Comunitrio. 2 edio. Rio de Janeiro:Wak, 2006. DIAS, Genebraldo Freire. Educao Ambiental Princpios e Prticas.5 edio. So Paulo:Globla,1998. PELTIER, Fabrice; SAPORTA, Henri. Design Sustentvel: Caminhos Virtuosos. So Paulo: Senac, 2009.
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Foto em Foco 1
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Palavras-chave: Fotografia; Adolescentes, Extenso, Educao Visual Texto sobre a Exposio A exposio Foto em Foco apresenta imagens do processo e resultados do projeto de extenso Foto em Foco: Adolescentes Retratam a Sua Realidade, coordenado pela Prof Ms.Ana Rita Vidica. Dentro deste contexto sero expostos fotografias, vdeos e o material grfico produzido pelo projeto onde se dividir em trs partes: Perfil; Processo e Resultados. No primeira parte, Perfil, ser exposto o perfil de cada participante do projeto utilizando das carteirinhas e o blog ( http :// www . projetofotoemfoco . blogspot . com / ) que foram produzidas para o mesmo. O material grfico foi criado a partir do contato com os responsveis do projeto Foto em Foco: Adolescentes Retratam a Sua Realidade com a Inova Propaganda - Agncia Experimental de Publicidade e Propaganda da Universidade Federal de Gois A relao da agncia com o projeto Foto em Foco foi feito de forma estimulante, pois seria desenvolvido um trabalho que relacionaria a publicidade com a fotografia e a educao. Ao receber as informaes sobre o funcionamento do projeto, e reunir todos os dados, iniciou-se o brainstorm para produzir cadernos, carteirinhas de identificao e uma logomarca. No processo de criao, sempre pensando nos adolescentes que fazem parte do projeto e que iro utilizar os materiais, foi criado algo descontrado utilizando o contraste do colorido com o branco. As carteirinhas levam informaes sobre o projeto e os alunos alm da logomarca. A capa do caderno utiliza o recurso de colagens com uma grande carga de informaes tiradas de revistas de fotografia e o interior do caderno com textos sobre cada lio, alm de espaos para a colocarem suas produes fotogrficas. J a logomarca, apresenta uma dualidade com representao de uma maquina fotogrfica e uma aluso ao nome do projeto. Sero impressas cerca de 10 carteirinhas em tamanho 10X15 cm, plastificadas e dependuradas do teto da sala por linhas de nilon e estaro localizadas no fundo da sala prximo a parede das janelas. Um computador conectado a internet estar na mesma parede, porm ao canto, onde o pblico, atravs dele, ter acesso as informaes do blog, criado pelo estagirio do projeto Jos Jair Bazan. Na segunda etapa, Processo, ser exposto um vdeo, com fotos e gravaes, que demonstra as reaes e retorno das crianas durante o processo de aprendizagem do projeto, alm do caderno de anotaes. O vdeo ser projetado na parede da porta, atravs de um aparelho de data show. O caderno ficar na parede to quadro negro, dando acesso aos visitantes para folhear e conhecer o trabalho. Na terceira e ultima parte, Resultados, sero expostas algumas fotografias, em tamanho 40x60 e emoldurados e papel preto, que so resultado do projeto, todas produzidas pelos prprios adolescentes, alm de demonstrar as suas realidades.
1 Trabalho apresentado na V FEICOM: Ressignificar as fronteiras da comunicao e informao, de 08 a 12 de novembro de 2010, em Goinia GO. 2 Aluno Autor graduando do 4 perodo curso de Comunicao Social Publicidade e Propaganda e bolsista do projeto de extenso Foto em Foco : Adolescentes Retratam a Sua Realidade. 3 Aluno Co- Autor graduando do 4 perodo curso de Comunicao Social Relaes Pblicas e estagirio do projeto de exteno Foto em Foco : Adolescentes Retratam a Sua Realidade. 4 Aluna Co- Autora graduanda do 4 perodo no curso de Comunicao Social Publicidade e Propaganda e integrante da Inova Propaganda 5 Professora Co- Autora coordenadora do projeto de extenso Foto em Foco: Adolescentes Retratam a Sua Realidade
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Foto em Foco 1
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Justificativa / Base Terica A exposio se justifica a fim de divulgar, expor e gerar trocas de conhecimentos a partir dos resultados obtidos pelo projeto de extenso Foto em Foco: Adolescentes Retratam a Sua Realidade. O Projeto, na medida em que prev um estreitamento do relacionamento da universidade com a comunidade, desenvolve atividades de carter social a partir do aprendizado de conhecimentos ligados imagem, promovendo a sua aplicao prtica e a promoo da incluso social atravs da fotografia. As atividades do projeto esto associadas a disciplinas de Fotografia, tendo sido o projeto originado a partir da disciplina de ncleo livre Projetos scio-ambientais e educao visual, promovendo, assim, o envolvimento de discentes com uma comunidade prxima ao Campus da Universidade. Alm disso, o bairro Shangri-l um bairro da periferia de Goinia- GO, em que inexistem espaos de convivncia comunitria (escolas, creches, etc) e de lazer (parques, cinemas, etc) tornando o projeto em questo (associado ao projeto Pezinho de Jatob) em um espao de convivncia e lazer entre os moradores do bairro e tambm o contato com a fotografia, se configurando, futuramente, como uma possibilidade de desenvolvimento profissional, cujo acesso muito limitado aos participantes. Nesse sentido, possvel pensar um processo de incluso a partir da fotografia e da educao visual, com conseqncias futuras, uma vez que o projeto pode contribuir profissionalizao destes adolescentes. E, de uma maneira pontual, promove a construo do mundo e das relaes sociais mediadas por uma mquina de fazer imagem, uma vez que a alfabetizao visual pode ser entendida como a habilidade de as pessoas compreenderem um sistema de representao visual, associada com a capacidade de se expressar por meio dele (Curtis, 1987; Donis, 1991). Somado a estes processos de construo, a leitura de imagens contribuir para pensar o espao em que os adolescentes vivem e criar uma sensibilizao ambiental, atravs de discusses sobre a Reserva ambiental existentes por meio da imagem que se tem dela. Nessa perspectiva, Paulo Freire (1985) expe que quando os alunos lem imagens relacionadas com o seu cotidiano, eles podem desenvolver imaginao e criar discusses, crticas e alfabetizao com a conscincia crtica. E esta leitura cotidiana ser feita com os moradores do setor, especialmente os adolescentes que participaro das oficinas em conjunto com os alunos da universidade. Logo, h uma extenso entre universidade e sociedadepermeada pela incluso por e pela imagem. Assim, a cidadania promovida pela leitura e produo de imagens fotogrficas.
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Foto em Foco 1
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Fonte financiadora: Pr-reitoria de Extenso e Cultura (Bolsa Probec) e PROEXT 2 Imagens que comporo a exposio
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Foto em Foco 1
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Resumo O profissional de Relaes Pblicas tem sido caracterizado fortemente como agente de transformao social atravs do seu trabalho, suas funes e habilidades. O empreendedorismo social e as Relaes Pblicas se destacam em nosso globalizado mundo do sculo XXI, cheio de paradigmas sociais desafiadores. Procuramos neste artigo trazer um novo aspecto para esta caracterizao, apresentando uma reflexo sobre a temtica do empreendedorismo social e quais as interessantes perspectivas que podemos perceber. Esperamos incentivar os profissionais de relaes pblicas a usarem suas habilidades atravs do empreendedorismo social para alavancar o processo de transformao social da sociedade brasileira. Palavras-chave: terceiro setor, empreendedorismo social, relaes pblicas. Abstract The Public Relations professional has been strongly characterized as a social shifter agent through his works, functions and skills. The social entrepreneurship and the Public Relations themselves stand out in our globalized 21st century world which is full of challenging social paradigms. This article has the objective of bringing new aspects to this characterization, raising new reflections about the social entrepreneurship itself and which perspectives are noticeable. We hope to incentive the Public Relations professional to use their skills towards the social entrepreneurship to stand the social changes up in the brazilian society. Keywords: social entrepreneurship, public relations, social changes 1. Introduo Vivemos em uma sociedade em constantes transformaes sociais, econmicas, polticas, ambientais, onde nos deparamos com o desafio de buscar solues concretas e at mesmo emergenciais em prol da sociedade. Nesta perspectiva, vemos a ascenso de uma temtica interessante o empreendedorismo social no terceiro setor e junto a possibilidade de atuao de um profissional mltiplo, o Relaes Pblicas. Ainda h dvidas e equvocos sobre o que o empreendedorismo social, e por que ele est constantemente associado ao terceiro setor. Muitas empresas e profissionais usam da nomenclatura como sinnimo de responsabilidade social, sem realmente saber a sua real essncia desde que foi concebida na mesma viso do terceiro setor. O Relaes Pblicas tem sido caracterizado o principal agente na formao de uma imagem positiva das organizaes diante da sociedade atravs de sua funo social, porm este profissional deve ser mais do que integrante desse processo. Ele pode agir no s incentivando aes de empreendedorismo social, mas sendo o prprio, como catalisador do processo entre o saber formal e o informal, na qualidade de animador sociocultural4 de comunidades, projetando a idia da funo social da atividade de Relaes Pblicas (WENDHAUSEN, 2003, p.46) A facilidade do Relaes Pblicas de adequar-se aos mais variados nichos de mercado, com diversos pblicos, cultura regional e organizacional, alm do perfil inovador, criativo e dinmico, faz deste um profissional com perfil empreendedor e capaz de estimular esse perfil em outras pessoas.
1 Trabalho apresentado na V FEICOM: Ressignificar as fronteiras da comunicao e informao. De 08 a 12 de novembro de 2010, em Goinia GO. 2 Acadmica do 6 perodo de Comunicao Social habilitao em Relaes Pblicas da Universidade Federal de Gois, Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia. Email: [email protected] 3 Orientador do trabalho. Professor do curso de Comunicao Social Relaes Pblicas da Universidade Federal de Gois. [email protected]
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Relaes Pblicas configuram-se, portanto, como um processo de informao, de conhecimento e de educao, com fim social e utilizando-se, para tanto, tcnicas para conseguir a boa vontade e a cooperao de pessoas com as quais uma entidade trata ou depende (ZENONE; BUAIRIDE, 2002, apud DIACUI, 2002, p.8). Queremos abordar aqui a importncia do empreendedorismo social no terceiro setor, e o valor que o profissional de Relaes Pblicas atuando como empreendedor social pode trazer para a sociedade e toda a formao deste processo. 2. Terceiro setor: histrico e conceitos Antes de abordar sobre empreendedorismo social, precisamos entender qual a sua base, e de onde surgiram as primeiras aes. Tudo que relacionado ao social tem se tornado algo de grande relevncia no sculo XXI, e o terceiro setor vem ganhado visibilidade diante da sociedade e da opinio pblica. Diferente do que muitos imaginam este no um setor novo, mas que vem se consolidando de novas maneiras. Antes de continuar, vamos fazer um breve panorama histrico da construo da identidade deste setor. Coelho (2002) nos lembra que pelo fato do terceiro setor ter uma multiplicidade de denominaes, e por nas ltimas dcadas virem surgindo diversas organizaes no seio da sociedade civil (ONGs, organizaes sem fins lucrativos, fundaes, etc), os termos se misturam e tm sido usados indiscriminadamente, mas confirmam que a denominao tem um carter mais ideolgico do que cientfico (COELHO, 2002, p.26). O termo terceiro setor herdeiro de uma tradio anglo-saxnica (FILHO, 2002, p.10), e veio se consolidando no Brasil devido traduo do termo em ingls third sector, que, nos Estados Unidos usado junto com outras expresses, como organizaes sem fins lucrativos (nonprofit organizations) ou setor voluntrio (voluntary sector) (ALBUQUERQUE, 2006, p.18), e que ao longo dos sculos foi passando por diversas transformaes em suas terminologias em diversas partes do mundo, como sociedade civil, organizaes sem fins lucrativos, entre outros. Teoricamente, a idia de um terceiro setor se deve a tradicional diviso de primeiro setor (empresas privadas), segundo setor (Estado) e o terceiro setor (sociedade civil). Portanto importante lembrar que o modelo dos trs setores sugere que o importante no o fato de os servios serem ofertados, mas, principalmente como o so. (COELHO, 2002, p.40) Em cada etapa da histria este setor se mostrou atuante atravs do trabalho de diversas organizaes, como a Igreja, o governo, movimentos populares e demais associaes. Todas as terminologias so frutos destas aes que eram denominadas de caridade, filantropia, entre outras. Frisando a histria na Amrica Latina, inicialmente entre os anos 70 e 80 as aes deste setor eram taxadas de assistencialismo, e somente a partir dos anos 90 se consolidou de maneira a se tornar uma sociedade civil organizada (FERNANDES, 1994, p.64). No sculo XXI, diante de questes sociais mais desafiadoras, o terceiro setor se firma como um importante protagonista. Diante disto cada vez mais h uma necessidade de se entender as aes deste setor. Inicialmente as aes sociais eram exercidas pelo Estado e pela Igreja, e mais frente as empresas privadas passaram tambm a tomar este tipo de iniciativa de diversas maneiras, atravs de doaes, criao de fundaes, entre outras aes denominadas responsabilidade social, que abordaremos com mais detalhes frente.
4 Animao scio cultural consiste num conceito e numa metodologia [...] que diz respeito ao processo mediador da ao de estmulo e mobilizao de indivduos, grupos e coletividades. [...] Tem uma funo polticocultural que se expressa na instrumentao de aes sistemticas capazes de promover atividades e criatividade social [...] (WENDHAUSEN, 2003, p.46)
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3. Empreendedorismo social
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O termo empreendedorismo se encontra em ascenso em nosso mundo globalizado. Comumente associado abertura e desenvolvimento de novos negcios, ele tomou novas formas, e tem uma interessante ramificao: o empreendedorismo social, que [...] se caracteriza como uma nova forma de dinamizao da gesto das organizaes do terceiro setor (OLIVEIRA, 2004, p.13) Segundo a pesquisa GEM5 as atividades empreendedoras impulsionam no s a economia, mas trazem importantes transformaes e crescimentos sociais para uma sociedade. E o empreendedorismo social em especial gera um enfrentamento dos processos de globalizao atravs de aes inovadoras voltadas para o campo social (OLIVEIRA, 2008, p.54) Segundo Oliveira (2008) o empreendedorismo social um processo que possui um ciclo de vida prprio se diferenciando de outros projetos sociais, que se inicia com a observao de uma determinada situao-problema local, em seguida procura-se elaborar uma alternativa para enfrentar esta situao, e que colocada em prtica. Este caminho a percorrer caracterizado por ter uma idia inovadora, ser uma idia realizvel, ser autosustentvel, que envolva vrias pessoas e segmentos da sociedade, e provoque impacto social, e possam ser avaliados seus resultados. (OLIVEIRA, 2008, p.169-170). O empreendedorismo social surge da constatao do crescimento das organizaes do Terceiro Setor, da diminuio do investimento pblico no enfrentamento da questo social e da participao crescente das empresas no campo social" (OLIVEIRA, 2008, p.191). Se apresenta como um novo modelo de gesto social, que substitui a lgica da filantropia, da caridade e do assistencialismo. Alm de apresentar caractersticas inovadoras quando ao modo de ver e ler a realidade (paradigma), de sua metodologia (processo), de sua aplicao e formatao (cincia e arte) e de suas estratgias e impactos (auto-organizao social). Desta maneira o empreendedorismo social se apresenta como uma ao de induo de transformao social (OLIVEIRA, 2008, p.191-192). 3.1 Empreendedorismo x Empreendedorismo Social muito importante entender a diferena entre empreendedorismo e empreendedorismo social, porm sem deixar de lembrar que ambos possuem a mesma base, e que em sua essncia precisam de caractersticas empreendedoras. Filion (1999), o autor mais renomado na rea de empreendedorismo a nvel internacional, com base em vrios estudos sistematiza as principais caractersticas empreendedoras traadas por diversos autores: inovao, liderana, independncia, energia, tenacidade, otimismo, criatividade, necessidade de realizao e poder, flexibilidade, capacidade de assumir riscos moderados, iniciativa, entre outras. Melo Neto e Froes (2002) apresentam um quadro com diferenas bsicas entre o que eles chamam de empreendedorismo privado (ou empreendedorismo empresarial), e o empreendedorismo social, e colocam como medida de sucesso do empreendedor social o impacto social que este provoca.
5 Concebido em 1999, o Global Entrepreneurship Monitor o maior projeto de pesquisa sobre a atividade empreendedora, cobrindo mais de 60 pases consorciados com indiscutvel representatividade em termos econmicos (aproximadamente 95% do PIB mundial) e demogrficos (mais de 2/3 da populao mundial).
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3.1.2 Empreendedorismo e suas origens Vrias pesquisas sobre o assunto tm surgido, alm de livros, artigos, congressos, entre outros que trazem novos olhares para rea do empreendedorismo. Tal temtica mltipla e enriquecida por diversas reas como a administrao, economia, comunicao, psicologia, servio social, entre outras. Para Filion (1999) o empreendedorismo pode ser definido como a rea que estuda os empreendedores. Ela examina suas atividades, caractersticas, efeitos sociais e econmicos e prev o uso de mtodos para facilitar a atividade empreendedora. Empreendedorismo um neologismo derivado da livre traduo da palavra entrepreneurship. Apesar de popularizado a partir do ingls, o empreendedorismo originado da palavra francesa entrepreuner, cujo significado no sculo 12 era quele que incentivava brigas. J em meados do sculo 18, tal palavra passa a indicar pessoa que cria e conduz projetos e empreendimentos. Segundo Bom ngelo (2003): a raiz da palavra tem cerca de 800 anos, derivado do verbo francs entreprendre o qual significa fazer algo ou empreender. O significado etimolgico representado pela soma do entre, do latim inter, que designa espao que vai de um lugar a outro, ao mtua, reciprocidade e interao, alm do pendre, do latim prehendere, que significa tomar posse, utilizar, empregar, tomar atitude (Bom ngelo, 2003, apud MARINO et al, 2007, p.35)
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A conceituao desse termo possui duas correntes bsicas, a dos economistas e a dos comportamentalistas. Os economistas, considerados pioneiros, associam o empreendedor inovao e criao e desenvolvimento de novos negcios, e os comportamentalistas (ou behavioristas) caractersticas como criatividade e intuio, em suma o comportamento empreendedor. No entanto, vamos focar na conceituao dos comportamentalistas. Bom ngelo (apud MARINO et al, 2007, p.35) destaca que o empreendedorismo como o despertar do indivduo para o aproveitamento integral de suas potencialidades. Diante disto, vemos que o comportamento influencia o processo empreendedor. Reforamos esse olhar atravs de Timmons (1994) que coloca o empreendedorismo como um ato comportamental, humano, de criatividade. Timmons considera os empreendedores exmios identificadores de oportunidades, aqueles que so capazes de criar e construir uma viso sem ter uma referncia prvia, isto , so capazes de partir do nada. [...] Eles assumem riscos calculados, tentam entender seu ambiente e controlar o mximo de fatores possveis para que seu empreendimento d certo. Para isso, os empreendedores utilizam sua habilidade de persuaso para formar uma equipede pessoas com conhecimentos complementares, as quais buscaro implementar e gerenciar um [...] projeto para capitalizar a oportunidade identificada. (DORNELAS, 2004, p.82) 3.1.3 Caractersticas empreendedoras O termo empreendedorismo constantemente associado prtica de negcios, criao ou administrao de uma empresa (empreendimento). Mas empreender vai, alm disto. O empreendedor algum que define por si mesmo o que vai fazer e em que contexto ser feito. Ao definir o que vai fazer ele leva em conta seus sonhos, desejos, preferncias [...] (DOLABELA, 1999, p.68). O empreendedor um ser social, produto do meio em que vive (DOLABELA, 1999, p.68). E nesta perspectiva percebemos a formao especfica do empreendedor social, que sabe usar suas caractersticas pessoais e ferramentas gerenciais para gerar impacto social atravs do seu trabalho. Segundo Filion (1999, p.19), um empreendedor uma pessoa que imagina, desenvolve e realiza vises. algum que inova e assume riscos. Para Julien (apud Schmitz, 2009, p.17) o empreendedor aquele que no perde a capacidade de imaginar, tem uma grande confiana em si mesmo, entusiasta, tenaz, ama resolver problemas, ama dirigir, combate a rotina e evita constrangimentos. Essa idia endossada pela citao de Filion (1999): O empreendedor uma pessoa criativa,marcada pela capacidade de estabelecer e atingir objetivos e que mantm alto nvel de conscincia do ambiente em que vive, usando-a para detectar oportunidades [...] (FILION, 1999, p.10)
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O pesquisador Dolabela (1999) frisa que as caractersticas empreendedoras podem ser aprendidas e influenciadas, dentro de um sistema de aprendizagem. Segundo ele este ramo do saber ainda est em fase pr-pragmtica, questes cruciais como se possvel ensinar algum a ser empreendedor, caractersticas empreendedoras determinantes do sucesso e quais so elas no encontraram ainda respostas definitivas, embora a publicao acadmica na rea tenha crescido. Apesar da amplitude, podemos destacar algumas caractersticas tendo como referncia a reviso bibliogrfica de quatro autores: Dolabela (1999), Dornelas (2007), Filion (1999) e Mainieri (2005). Na tabela abaixo algumas dessas caractersticas so apresentadas.
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3.2 Responsabilidade Social x Empreendedorismo Social Outro ponto importante a salientar o equvoco de muitos pesquisadores, empresrios e demais profissionais em apresentar como sinnimos a responsabilidade social e o empreendedorismo social. Oliveira (2008, p.88) destaca que empreendedorismo social no responsabilidade social empresarial, no uma profisso, no uma organizao social e nem um empresrio que investe no campo social. Podemos endossar ainda com Melo Neto e Froes (2002) que destacam que empreendedorismo social no um mero projeto social. Um projeto de empreendedorismo social, o propsito no de solucionar um problema social especfico, mas o de empoderar 6 a comunidade local para que esta se mobilize e se fortalea na busca de solues para os seus problemas prioritrios. Seu escopo de atuao mais amplo do que o dos projetos sociais, e compreende aes de diversas naturezas [...] Sua dinmica no est em seus processos de gesto, mas, principalmente, em suas aes de fomento ao empreendedorismo local e regional. Seu objetivo apoiar processos participativos e integrados de desenvolvimento comunitrio global e sustentados, geridos pela prpria populao (MELO NETO e FROES, 2002, p.129) Para reforar vamos apresentar um quadro comparativo que apresenta os principais pontos que diferem e ao mesmo tempo apresentam certa semelhana com o empreendedorismo social (OLIVEIRA, 2008, p.88)
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4. O profissional de Relaes Pblicas como empreendedor social: perspectivas e reflexes Ao procurarmos livros, artigos e pesquisas relacionando o Relaes Pblicas sua funo social, percebemos que as aes deste profissional so relacionados apenas a parcerias (primeiro-segundo-terceiro setor), o responsvel por investir socialmente e elevar de maneira positiva a imagem de uma organizao, ou apenas como o apoiador de aes sociais no terceiro setor. Queremos incentivar aqui a ao direta do profissional de Relaes Pblicas como principal diretor nessa pea de teatro da vida. [...] [vendo] a nossa prtica profissional fazer diferena, provocar mudana, e, com isso, dar visibilidade ao nosso fazer profissional; abrir novos campos de atuao, formar e preparar profissionais mais qualificados, gerando informao e conhecimento, garantindo oportunidade e possibilidades concretas de gerao de emprego, renda e, sobretudo, esperana de um futuro/presente melhor, mais digno, mais fraterno, mais humano, mais justo (OLIVEIRA, 2008, p.193) Pensar na formao do profissional de Relaes Pblicas como empreendedor social v-lo promovendo aes empreendedoras, inovadoras e transformadoras da realidade humano-social de nosso tempo e momento histrico, e isso em prol do interesse comum, local e global (OLIVEIRA, 2008, p.76), atuando atravs de suas caractersticas e funes profissionais, e principalmente, usando seu carter de cidado comum como toda a populao 4.2 RRPP7: O empreendedor social completo Ao observar dois quadros com conceitos sobre empreendedorismo social apresentados por Oliveira (2008) percebemos muitas vises que se casam com o campo das Relaes Pblicas.
6 Esse termo usado pelos autores Melo Neto e Froes (2002, pg.119, 120, 131) baseado na idia da rede Ashoka para caracterizar o foco da comunidade em levantar demandas e potenciais individuais (empoderamento econmico, social, poltico, mental, psquico e espiritual), propondo aes para desenvolv-los na extenso possvel 7 Terminologia de abreviao para Relaes Pblicas.
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Ao analisar estes quadros percebemos que o empreendedor social uma pessoa inconformada e atravs de suas habilidades procura inovar socialmente, e estas caractersticas se encaixam na rea de Relaes Pblicas que segundo Vieira (2002, p.23) busca absorver conhecimentos da rea de Cincias Sociais e aplic-los no corpo social. As Relaes Pblicas dispem de referenciais que extrapolam os dois objetivos apresentados [...] como ttica e estratgia. Vo alm disso. Buscam um mtodo de motivao para a mudana de mentalidade, no sentido de humanizar relaes de trabalho, minimizar diferenas sociais, transformando a prpria sociedade. Constituem-se no apenas numa necessidade do modo de produo capitalista, como tambm de instituies como sindicatos, universidade, escolas, hospitais, associaes. (VIEIRA, 2002, p. 20) Pode estar a a grande tarefa das Relaes Pblicas: procurar objetivos que conciliem as diversas correntes de idias, buscando, na experimentao de novos discursos, possibilidades para o dilogo e a interao; fazer de seu contedo o catalisador terico para a complementao humanstica, contribuindo como o fator de legitimao do homem para marcar, manter e ampliar seu espao na sociedade. (VIEIRA, 2002, p.60) Muito mais do que saber aplicar todos os seus conhecimentos em planejamento, comunicao, relacionamento com imprensa, relacionamento com primeiro e segundo terceiro setor, e seja l qual atributo deste profissional, ele precisa estar sensvel com os problemas que atingem a sociedade a sua volta. Raramente o mero transporte de tcnicas funciona neste segmento; preciso ser sensvel (QUINTEIRO, 2006, p.60) Dessa forma, surge o empreendedorismo social como um fenmeno que emerge em meio a um contexto paradoxal: por um lado, h mltiplas expresses dos impactos da globalizao; por outro, as aes de enfrentamento da pobreza (OLIVEIRA, 2008, p.2) Peruzzo (apud WENDHAUSEN, 2003) relata a carncia de profissionais de Relaes Pblicas comprometidos com os interesses sociais, o mau aproveitamento das tcnicas de comunicao e relaes pblicas no terceiro setor ou at mesmo a falta de um profissional desta rea. Porm queremos salientar que se este profissional se prepara tanto, se caracterizando at mesmo com profissional mais completo da rea de comunicao, ele pode e deve gerir a sua prpria imagem, se tornando um empreendedor social. Marcamos aqui, que o RRPP pode ser considerado o empreendedor social mais completo, porque capaz de assumir as principais caractersticas empreendedoras e por possuir uma habilitao/formao para suprir com excelncia as atividades empreendedoras sociais. 5. Consideraes Finais A importncia dos profissionais de Relaes Pblicas se posicionarem diante dos paradigmas socioeconmicos de maneira a buscar solues atravs de seus conhecimentos, o torna integrante do processo de construo de uma sociedade sustentvel. E este fator de sustentabilidade s acontece quando os prprios cidados tomam iniciativas para uma sria transformao social.
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Ora, este profissional exerce seu papel cvico em sua ocupao e em sua vida pessoal, fazendo parte da comunidade em que vive. Ento podemos concordar com a afirmao de Melo Neto e Froes (2002) que uma sociedade ser sustentvel s e exclusivamente quando seu desenvolvimento for gerado nela e por ela assumido. Se a prpria Constituio Federal de 1988 diz que todo poder emana do povo, ento legtimo que ele deve ser exercido com ele e para ele, no somente em nome dele (MELO NETO e FROES, 2002, p.04). Esperamos ter incentivado nesta reflexo o fortalecimento do empreendedorismo social ligado s Relaes Pblicas, que a rea que poder alavancar o processo de transformao social em nossa sociedade; fazendo cumprir o que est escrito no IV princpio do cdigo de tica da profisso: O Profissional de Relaes Pblicas, em seu trabalho, procurar sempre promover o bem-estar da pessoa humana e da comunidade em que vive. 8 6. Referncias Bibliogrficas ALBUQUERQUE, A.C. Terceiro setor: histria e gesto de organizaes. So Paulo: Summus, 2006. COELHO, S.C.T. Terceiro setor: um estudo comparado entre Brasil e Estado Unidos. 2. ed. So Paulo: SENAC, 2000. DIACUI, C. Relaes Pblicas: profissional empreendedor. Disponvel em <http://www.portalrp. com.br/bibliotecavirtual/relacoespublicas/ideiasetendencias02/0261. pdf> DOLABELA, F. Oficina do Empreendedor. So Paulo: Cultura Editores Associados, 1999. DORNELAS, J. C. Empreendedorismo Corporativo: conceitos e aplicaes. Revista de Negcios, Blumenau, v.9, n.2, p.81-90, abril/junho 2004 DORNELAS, J. Empreendedorismo na prtica:mitos e verdades do empreendedor de sucesso.Rio de Janeiro: Elsevier, 2007 FERNANDES, R. C. Privado porm pblico: o terceiro setor na Amrica Latina. 3. ed.-. Rio de Janeiro: Relume-Dumara, 2002 FILHO, G.C. F. Terceiro setor, economia social, economia solidria e economia popular: traando fronteiras conceituais. Disponvel em <www.escolanet.com.br/.../6/.../ TercSetor_EcoSocial_EcoSolid_EcoPop.doc > FILION, L.J.. Empreendedorismo: empreendedores e proprietrios-gerentes de pequenos negcios. Revista de Administrao da Universidade de So Paulo. So Paulo, v.34, n.2, p.05-28, abril/junho, 1999
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Resumo O trabalho discute a relao da comunicao com a educao, na perspectiva da utilizao das novas tecnologias da comunicao pelos espaos educativos, em busca de uma educao que vise a transformao social, a formao de criticidade e a emancipao. Palavras-chave: educao; comunicao; novas tecnologias; cultura escolar. Abstract The paper discusses the relationship of communication with education, in view of the use of new communication technologies for the educational spaces, in search of an education aimed at social transformation, the formation of criticism and emancipation. Keywords: education; communication; new technologies; school culture. 1 INTRODUO O presente trabalho tem como objetivo estudar a interrelao da comunicao com a educao, na perspectiva da utilizao das novas tecnologias da comunicao dentro da escola. Apresentando um novo campo de atuao para a comunicao, o trabalho discorre sobre as possibilidades que a introduo das novas tecnologias na cultura escolar trazem para a formao de indivduos crticos, transformadores e conscientes de sua realidade. Considerando a teoria da educao libertria freiriana, a hiptese defendida que, tendo contato com as novas tecnologias no espao educativo, as novas geraes seriam formadas com a conscincia do poder da mdia atual, da importncia de se produzir e no somente consumir comunicao e do papel preponderante do ciberespao na sociedade atual. O artigo v essa interrelao como um novo campo de interveno social para a comunicao, cujos objetivos se encontram com os da educao crtica e emancipatria, fundando assim um novo locus de estudos: a educomunicao. Dentro dessa proposta, o objetivo provar que as novas geraes, atualmente, precisam ter contato com um novo tipo de comunicao, diferente da comunicao hegemnica e manipuladora que predomina hoje nas mdias de massa, mdias essas que hoje se tornam cada vez parte do processo educativo e da formao dos sujeitos. Dito isso, outra hiptese defendida que o espao educativo o local primordial para essa experincia, sendo a ideia bsica, ento, propiciar o contato dos alunos e professores com as novas tecnologias da informao e comunicao dentro do ambiente escolar, fazendo com que o espao educativo e os alunos possam produzir comunicao, e no serem somente consumidores passivos. A importncia que tem essas experincias de produo de comunicao dentro da escola muito grande, para a formao crtica dos sujeitos, principalmente quando direcionada formao da cidadania e dentro do contexto da educao libertria e emancipatria freiriana. Para que essa ideia seja eficientemente posta em prtica, necessrio que as relaes intrnsecas da educao com a cultura sejam cada vez mais levadas em conta. A incluso do trabalho com as tecnologias da informao e comunicao na cultura educacional das escolas pblicas o principal passo para que essa mentalidade e essa conscientizao se espalhe e se torne reconhecida. Vale
1 Trabalho apresentado na V FEICOM: Ressignificar as fronteiras da comunicao e informao. De 08 a 12 de novembro de 2010, em Goinia GO. 2 Graduado em Comunicao Social Relaes Pblicas pela UFG e pesquisador na rea da educomunicao, com nfase em cultura escolar, novas tecnologias da comunicao e ciberespao e cibercultura.
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a pena salientar que ao propor que o trabalho com as novas tecnologias da comunicao se torne um valor da cultura escolar pblica, est implcito que esse processo s obter resultados satisfatrios se forem orientados numa perspectiva de integrao, entre alunos, funcionrios, professores, administrao escolar e at mesmo o governo e as polticas pblicas. As relaes e as redes que podem ser estabelecidas atravs da utilizao das novas tecnologias da comunicao no processo educativo para os adolescentes de escolas pblicas, numa perspectiva sistmica e integradora, so imensurveis, sendo essa utilizao investigada no mbito da construo de uma cultura escolar diferenciada, baseada nas teorias da educao libertria e transformadora. As novas tecnologias da comunicao cada vez mais propiciam liberdade e integrao, e sendo sua utilizao introduzida na cultura escolar, teremos novas geraes conscientes de sua realidade e de seu poder transformador. Entendo que necessrio que a educao, tendo como principal objetivo a formao de sujeitos, na chamada sociedade da informao em que vivemos hoje, trabalhe cada vezmais de forma conjunta com a comunicao social e com as novas tecnologias que a cada dia que passa ganham mais espao no meio social, tendo como objetivo a formao de sujeitos crticos, livres, conscientes e transformadores da realidade social. Sendo o pblico jovem, segundo Lvy (1999) o mais atingido por esse boom das novas tecnologias e sendo eles tambm os usurios mais vidos desses novos meios de comunicao, devem ser eles o alvo dessa nova forma de utilizao das tecnologias, trazendo para a escola a dinmica da realidade, alm da perspectiva ldica que as novas tecnologias podem ter com esse pblico. 2 DESENVOLVIMENTO EDUCAO, COMUNICAO E NOVAS TECNOLOGIAS: INTERRELAES. A interrelao educao/comunicao atualmente considerada como um novo campo de interveno na sociedade. S o sujeito bem informado pode atuar de forma ntegra na transformao social e na conscientizao popular. A informao hoje quase toda mediada pelos meios de comunicao e pelas novas tecnologias. Sendo o objetivo da educao libertria formar sujeitos transformadores, crticos e atuantes, se faz necessria a atuao da comunicao e das novas tecnologias nos espaos educativos, no contexto de oferecer aos alunos o contato com uma comunicao imparcial e justa, alm de oferecer experincias de produo de comunicao como parte do processo educativo. Diz Gutierrez Martin (1995): (...) vivemos numa sociedade onde a informao e a comunicao adquiriram uma enorme importncia, e a educao no pode permanecer alheia aos novos meios de processamento, elaborao, armazenamento e distribuio de tal informao, base para posteriores aprendizagens e conhecimentos. A incorporao das novas tecnologias multimdia ao ensino inevitvel, mas ter que fazer-se apoiada em postulados educativos, em abordagens didticas, em esquemas comunicativos inovadores e multidirecionais. (...) Uma das principais funes da educao formal, tal como se considera na maior parte dos sistemas educativos, possibilitar a formao integral e permanente do ser humano. evidente que no poderemos formar, como se pretende, cidados responsveis, protagonistas crticos, criadores e transformadores da sociedade, se a educao formal permanecer alheia s novas tecnologias que condicionam a evoluo dessa sociedade, se nas instituies educativas se ignora a importncia do que talvez constitua o principal agente educativo dos dias de hoje: os novos meios de comunicao e difuso da informao. (Gutierrez Martin, 1995).
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O primeiro passo para entender o que a interrelao educao/comunicao assimilar que o referido campo nunca age atravs de aes isoladas, e sim, sempre, com um conjunto de aes e intervenes. De acordo com Soares (2000), essas aes, em conjunto,devem ser destinadas a trs atribuies bsicas: integrar s prticas educativas o estudo sistemtico dos meios de comunicao; criar e fortalecer ecossistemas educativos dentro dos espaos educativos e melhorar o coeficiente expressivo e comunicativo das aes educativas. Tentando destrinchar essas atribuies, o mesmo Soares (2000) prope a existncia de quatro reas definidas como reas de interveno social para o campo, que so caracterizadas como: a) a rea da educao para a comunicao, procurando formar receptores crticos frente aos meios; b) a rea da mediao tecnolgica na educao, que diz respeito ao uso das tecnologias da informao nos processos educativos; c) a rea da gesto da comunicao no espao educativo, na busca da criao de ecossistemas educativos; e d) a rea da reflexo epistemolgica sobre a interrelao educao/comunicao, que busca a reflexo acadmica que faa com que o campo e as prticas da relao entre educao e comunicao evoluam e se legitimem. A introduo das novas tecnologias no processo educativo poderia atuar em todas as reas de atuao descritas pelo autor, sendo acompanhada por uma reflexo terica adequada. O mundo e o contedo informativo noticiados e divulgados pelas mdias, hoje, considerado pelo pblico adolescente e jovem como mais interessante do que o mundo dos livros didticos e das salas de aula. A formao dessa sociedade da informao demanda uma grande mudana no sistema de educao pblica atual, implantando no mesmo o contato e as prticas com as novas tecnologias da comunicao de maneira educativa. extremamente necessrio que as novas geraes tenham o poder de fazer uma leitura crtica dos meios, que tenham experincias de produo e que tenham contato com meios audiovisuais dentro do seu espao educativo. a premissa bsica para renovar e continuar a luta contra-hegemnica e os movimentos realmente organizados da sociedade. Para que essa interrelao seja realmente efetiva, preciso que se aceitem novos padres dos processos de ensino/aprendizagem, instituindo a comunicao, as novas tecnologias e a liberdade tambm como objetos do processo educativo. A educao defendida pela grande parte dos tericos da educao que defendem o uso das tecnologias da comunicao no processo de aprendizagem, e que principalmente Paulo Freire (1975, 1983) to incansavelmente teorizou, a educao libertria. A interrelao educao/comunicao, ento, se mostra como um campo perfeito para indicar as ideias de vrios comunicadores, mas tambm, principalmente, de educadores libertrios como Freire, pois no se trata apenas de uma juno da rea da educao com a comunicao, mas sim de uma defesa prioritria da ao, deixando claro que o principal objetivo da interrelao a prxis, dentro do campo pedaggico. A educao, em sua teoria libertria, deve ser um processo revelador e libertador, uma permanente descoberta. Freire sempre exps suas ideias sobre educao relacionando-a com a comunicao, e, junto com outros tericos, como seu grande parceiro Brando (1995) pensava a educao como uma construo de saberes e principalmente de cultura, e no como uma simples transmisso de conhecimentos. Os espaos educativos formais precisam assimilar essa conscincia da trplice escolar, ou seja, de serem ao mesmo tempo instituies educativas, sociais e polticas. As novas tecnologias da comunicao entram no processo educativo nesse contexto. Oferecendo liberdade para seu pblico se expressar, pensar e conhecer, a escola se torna uma instituio formadora de sujeitos com conscincia social e atuao poltica, sujeitos que formam seu conhecimento junto com a escola e no pela escola, sendo influenciados por suas vidas, suas culturas e suas relaes sociais. Carlos Brando (1995) concorda com esse modelo de pedagogia, reiterando que a educao no pode ser um instrumento de adequao de pessoas a uma ordem social dada de cima para baixo:
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(A educao) um meio de produo do poder da sociedade civil e, atravs dele, um caminho de conquista da participao ativa e consciente, tanto na totalidade da vida comunitria quanto em todas as esferas de vida nacional. O oposto do sujeito consumista (...) o sujeito participativo a quem a educao torna, ou ajuda a tornar, um cidado no sentido pleno da palavra. (Brando, 1995, p. 26). O papel dos espaos educativos formais ento, enquanto geradores de conhecimento, analisar os fatos e interpret-los na dinmica do cotidiano. A escola pode assumir, em nossa sociedade atual, o papel de mediadora da ideologia da transformao, e deixar de lado a valorizao da formao lgica. As novas tecnologias da comunicao e informao esto muito presente na realidade cotidiana do pblico adolescente e jovem. Dito isso, parece lgico que a escola se adeque a essa mudana da realidade e da personalidade de seus educandos, deixando de lado o conservadorismo e o tradicionalismo e se modernize. Em todo esse processo, um ponto se torna fundamental: a formao de criticidade no pblico adolescente. A escola tem como sua funo formar o cidado crtico, e as novas tecnologias podem ajudar muito nesse processo. Freire estabelece como conscincia crtica aquela que: (...) alimenta anseio de profundidade na anlise dos problemas; reconhece que a realidade mutvel; substitui situaes ou explicaes mgicas por princpios autnticos de causalidade; procura verificar ou testar as descobertas (...); faz o possvel para livrar-se de preconceitos; repele posies quietistas e intensamente inquieta; (...) repele toda transferncia de responsabilidade e de autoridade e aceita a delegao das mesmas; indagadora, investiga, fora, choca; ama o dilogo, nutrese dele; e que, face ao novo, no repele o velho por ser velho, nem aceita o novo por ser novo, mas aceita-os na medida em que so vlidos. (Freire, 1983, p.39). Nesse mesmo contexto, Freire analisa:
Na medida em que a condio bsica para a conscientizao que seu agente seja um sujeito, isto , um ser consciente, a conscientizao, como a educao, um processo especifica e exclusivamente humano. como seres conscientes que mulheres e homens esto no apenas no mundo, mas com o mundo. (...) Existir assim um modo de vida que prprio ao ser capaz de transformar, de produzir, de decidir, de criar, de recriar, de comunicar -se. (Freire, 1981, p. 65).
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Schaun (2002) acredita que ao enunciar a palavra comunicar-se, Freire assume o entendimento de uma filosofia educacional necessaria e irrevogavelmente voltada para a comunicao entre os sujeitos. Sendo essa comunicao entre os alunos, hoje, mediadas em boa parte pelas novas tecnologias da comunicao, parece totalmente justo que essas tecnologias venham a fazer parte integrante do processo e do espao educativo. Moran (2009) diz que os usos das novas tecnologias da comunicao podem ser caracterizadas em trs categorias: organizar as informaes, ajudar na pesquisa e servir como instrumento de comunicao e publicao. E reflete tambm sobre o papel do educador frente as novas tecnologias: Do ponto de vista metodolgico, o educador precisa aprender a equilibrar processos de organizao e de provocao na sala de aula. Uma das dimenses fundamentais do ato de educar ajudar a encontrar uma lgica dentro do caos de informaes que temos, organiz-las numa sntese coerente, mesmo que momentnea, compreendlas. (Moran, 2009). Moran tambm destaca algumas entre as diversas ferramentas tecnolgicas, algumas que, na sua opinio, poderiam ter lugar dentro do espao educativo. Ele comenta sobre as tele e videoconferncias, que possibilitam o debate e a discusso desterritorializados, mas em tempo real; destaca tambm muitas das ferramentas pertencentes ao ciberespao, como os chats e batepapos, as listas de discusso, o correio eletrnico e a Internet, que podem criar formas de os alunos se comunicarem entre si com dinamismo e objetividade. Dentro dessas possibilidades no contexto do ciberespao, incluo tambm os blogs e as redes sociais como espaos educativos e comunicativos por excelncia. Vale salientar que esses espaos possibilitam e devem servir como espao de comunicao no s entre alunos, mas tambm integrando professores, funcionrios e a administrao do espao educativo nessa grande rede educativa tecnolgica. Alm dessas ferramentas, Moran destaca tambm a importncia dos softwares educacionais, recursos que disponibilizam informaes e orientaes de trabalho para os usurios mais facilmente. O autor argumenta afirmando que a passagem de informaes e conhecimento deve ser deixada para os livros, os cds, os bancos de dados, os vdeos, o ciberespao, entre outras tecnologias, e que o professor tem, agora, a funo principal de estimular a curiosidade do aluno em querer conhecer, pesquisar, se mobilizar, e atuar na sociedade. Ele afirma que a simples introduo das novas tecnologias no espao educativo no mudar as relaes pedaggicas. As tecnologias podem servir tanto para a ampliao da interao, da liberdade e da cultura interativa e participativa como podem servir tambm para o reforo de uma mentalidade conservadora e individualista. Cabe ento ao professor definir e planejar como essas tecnologias sero utilizadas na sala de aula e tambm fora dela no contexto escolar, e a presente pesquisa objetiva ajudar os educadores nesse planejamento, na perspectiva de uma educao libertria. Gutierrez Martin (2002) outro autor que trata das novas tecnologias na educao, mas com uma nfase maior na informtica, nos chamados ambientes virtuais. A revoluo virtual iniciada na dcada de 90, trouxe a criao de ambientes e comunidades virtuais onde a comunicao se d de maneira direta e limpa, apesar de desterritorializada. Os espaos educativos podem e devem se utilizar desses espaos na perspectiva de integrao do pblico escolar. Uma boa opo que surgiu recentemente, nessa onda tecnolgica em que vivemos, so as redes sociais. As redes sociais so ferramentas que permitem a apresentao pessoal, o acesso a informao e a comunidades virtuais e a comunicao praticamente instantnea. Ao meu ver, as redes sociais vm para serem a principal ferramenta da revoluo virtual.
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Pierre Lvy (1996, 1999) fez a previso da chamada revoluo virtual. Ele se posicionou totalmente a favor das tecnologias avanadas, negando que o ciberespao resolver os principais problemas da sociedade, mas concluindo que as novas tecnologias trazem novas formas de universalidade, de estar juntos e de dilogo. Todo projeto envolvendo a relao educao/comunicao precisa estar atenta e se utilizar dessa nova forma de comunicao, tanto para produzir mais espaos de discusses, quanto para a troca de experincias culturais entre indivduos, grupos, professores, indivduos e escolas. Esse intercmbio cultural um trunfo dessa nova forma de comunicao.Moran (2009) define, de forma direta, como as novas tecnologias da comunicao dentro do ambiente escolar, podem trazer uma nova forma de encanto dos alunos pela escola: As tecnologias permitem um novo encantamento na escola, ao abrir suas paredes e possibilitar que alunos conversem e pesquisem com outros alunos da mesma cidade, pas ou do exterior, no seu prprio ritmo. O mesmo acontece com os professores. Os trabalhos de pesquisa podem ser compartilhados por outros alunos e divulgados instantaneamente na rede para quem quiser. Alunos e professores encontram inmeras bibliotecas eletrnicas, revistas on line, com muitos textos, imagens e sons, que facilitam a tarefa de preparar as aulas, fazer trabalhos de pesquisa e ter materiais atraentes para apresentao. O professor pode estar mais prximo do aluno. Pode receber mensagens com dvidas, pode passar informaes complementares para determinados alunos. (...). Pode procurar ajuda em outros colegas sobre problemas que surgem, novos programas para a sua rea de conhecimento. O processo de ensino-aprendizagem pode ganhar assim um dinamismo, inovao e poder de comunicao inusitados. (Moran, 2009). 3 CONCLUSO Concluindo ento, as novas tecnologias da comunicao, em especial a internet e sua comunicao instantnea no presencial e as novas invenes para produo e exibio de material audiovisual, entre outras tecnologias, no apenas criam um novo mercado na sociedade, mas sim mudam essa sociedade e o mundo. As novas tecnologias de comunicao, dentro da perspectiva da relao da educao com a comunicao, precisa se fazer presente nos espaos educativos, pois, na sociedade contempornea, cada vez mais mediada pela tecnologia em todos os setores, desde o social at o poltico, o indvduo s pode se considerar uma pessoa plena se estiver dentro do mundo tecnolgico. Essa proposta pode parecer simples, mas no . Depende de vrios fatores, como a mudana da mentalidade terica na educao, a adequao dos currculos, a formao de professores preparados para lidar com esses novos meios, a conscientizao do aluno da importncia desse processo, o acesso democrtico aos meios tecnolgicos, entre tantos outros desafios. Mas creio que, amparada por um processo de conscientizao e por polticas pblicas eficientes, essa revoluo educacional pode se tornar realidade.
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Resumo: O Projeto Doutores da Bola trata-se de um laboratrio orientado que tem carter preponderantemente tcnico-prtico, como complementao direta de disciplinas de carter terico-tcnico da rea de Rdio, e indireta das demais disciplinas do curso de jornalismo da Universidade Federal de Gois , e por objetivo a reproduo de um ambiente de produo efetiva de um programa radiofnico especializado na anlise e cobertura ao vivo de eventos e competies esportivas, denominado Doutores da Bola, como atividade que prope o domnio das vrias etapas do trabalho jornalstico e, em especial, do radiojornalismo e do assim chamado jornalismo esportivo, da elaborao da pauta veiculao do produto final, s quartas-feiras (das 20h00 s 22h00), aos sbados, das 16h00 s 18h00 e aos domingos (das 15h00 s 18h00), pela Rdio Universitria da UFG, essa vinculada diretamente Reitoria da referida universidade. Esse ano o projeto completa 10 anos e para comemorar a data foi idealizado um documentrio radiofnico com 17 minutos e 32 segundos. A produo radiofnica ressalta o quanto o projeto mudou a histria do jornalismo esportivo goiano. A inteno apresentar o resultado do trabalho numa exposio que poder ser feita no Laboratrio de Rdio da Facomb ou numa sala, ambos equipados com data-show e sistema de adio. A exposio envolve ainda a apresentaao de depoimentos de ex-integrantes do projeto. Palavras-chave: jornalismo esportivo; Doutores da Bola; Rdio Universitria .
Introduo: Jornalismo esportivo Quando o esporte como competio comeou a ganhar as pginas dos jornais impressos, era uma editoria que ocupava pouco espao e dispunha de pouco prestgio. S em 1922 que os grandes jornais passaram a dedicar fotos de lances de futebol na primeira pgina. O pouco prestgio do qual dispunham os primeiros jornalistas esportivos era uma das caractersticas do gnero nessa poca. A desvalorizao da imprensa e do cronista de esportes perdurou at o incio da dcada de 1940. O desenvolvimento da imprensa esportiva no Brasil deve muito a um esporte que, se no fosse pela importncia que adquiriu no pas, talvez as informaes esportivas at hoje ainda estivessem relegadas a um segundo plano no jornalismo. Esse esporte o futebol, trazido da Inglaterra em fins do sculo XIX pelos filhos das elites brasileiras e, praticado por pouco tempo, nos crculos mais elevados da nossa sociedade(REVAN,1994). Em 1931, foi realizada, em So Paulo, por Nicolau Tuma, na Rdio Sociedade Educadora Paulista, a primeira transmisso de uma partida de futebol. Esse fato foi um marco para a popularizao do esporte e o desenvolvimento do jornalismo esportivo no pas(SOARES,1994). No havia a interatividade entre emissor e ouvinte como h nos programas esportivos da hoje. A postura do ouvinte era apenas de ouvir. Os canais de comunicao se davam por cartas, que no esporte eram recebidas, lidas e guardadas. Anos mais tarde essa participao foi aumentando e hoje o ouvinte participa atravs de e-mail, telefone, chat, dentre outros. O ouvinte no apenas um receptor das transmisses de jogos ou programas esportivos, ele participa, interage com os comentaristas e apresentadores.
1 Trabalho apresentado na V FEICOM: Ressignificar as fronteiras da comunicao e informao, de 08 a 12 de novembro de 2010, em Goinia GO. 2 Alunos que participaram da elaborao desse trabalho: Vinicius Moura, Guilherme Gonalves, Paula Rezende, Luciana Cabral, Joao Paulo Di Medeiros, Rubens Salomo, Lilian Arruda, Igor Pereira.
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Para entender a evoluo do jornalismo esportivo no Brasil importante entender por que o futebol se tornou o esporte mais popular do pas, j que futebol e jornalismo esportivo evoluram juntos nas primeiras dcadas do sculo XX, cuja parceria se mantm at hoje. Breve Histrico da Equipe e da Emissora A Rdio Universitria da UFG, tambm conhecida como Rdio Universitria de Goinia, foi criada nos anos 60 pela Reitoria da Universidade, por intermdio da Resoluo N 14. Sua concesso foi outorgada pela Unio em 16 de setembro de 1965 mediante o Decreto 86.876, mas s em 1972 a emissora deixou de funcionar em carter experimental. Em toda a sua histria, sendo uma instituio de carter pblico, a emissora confirma o seu lugar de meio de promoo da cultura, do conhecimento, da divulgao cientfica e da informao, de forma diferenciada, em relao s emissoras comerciais. A Rdio Universitria trabalha em regime de cooperao mtua com diversas unidades da UFG, entre as quais, de modo especial, a Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia Facomb. A emissora um laboratrio do curso de Jornalismo, sendo um importante campo de estgio tambm para diversos cursos ministrados na Universidade, como Cincias da Computao, Engenharias e Publicidade e Propaganda. Dessa maneira, a rdio um espao acadmico e contribui para as trs funes precpuas da Universidade ensino, pesquisa e extenso. Neste contexto, no ano 2000, num esforo dos alunos de 4o ano do Curso de Comunicao Social, nas habilitaes de Jornalismo e Rdio e Televiso, sob coordenao e orientao do professor Nilton Jos dos Reis Rocha e do radialista Wilmar Ferraz de Souza, foi construdo o Projeto Doutores da Bola, para cobertura esportiva na Rdio Universitria. A experincia dava continuidade a uma experincia anterior da equipe do Programa Acadmicos do Esporte, formada por alunos de Comunicao da Universidade, que resultou no reconhecimento do mercado ao profissionalismo dos acadmicos, rapidamente empregados e com vasta experincia prtica vivida no rdio esportivo ainda quando eram estudantes. Doutores Ao completar neste quase 10 anos no ar, O programa Doutores da Bola tem histria para contar. At hoje, foram mais de 1.500 transmisses, que incluem o futebol amador e o profissional, vlei amador e profissional, futsal e basquete profissionais, alm de eventos como a Copa Interbairros de Futebol e Vlei, Final da Libertadores da Amrica, Copa do Brasil, o Campeonato Brasileiro de Futebol, de Basquetebol e de Futsal e a etapa disputada em Goinia da Liga Mundial de Vlei. Um volume amplo de experincias ricas faz parte do universo de cobertura e debate criado pelo programa. O sucesso e legitimidade alcanados pelo projeto e sua equipe de alunos, que lutam para manter essa experincia frutfera em termos de aprendizado, articulao com movimentos sociais e suas prticas ldico-esportivas e reconhecimento do meio profissional, indica seguramente o acerto dessa proposta pedaggica como caminho na busca do conhecimento e da excelncia profissional. A Universidade, com isto, oferece condies objetivas para a consolidao do aprendizado terico de seus estudantes. Ao considerar a seriedade e a competncia dos alunos, que sob orientao de professores da UFG, pe no ar, ao vivo, um programa de excelente qualidade, fica evidente a concretizao de um espao de visibilidade do profissionalismo de futuros comunicadores, sendo o Doutores da Bola uma vitrine de futuros talentos do mercado.
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O Doutores da Bola j faz parte da histria da Rdio Universitria e da Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia da Universidade Federal de Gois, como sujeito do conhecimento e promotor de uma aproximao altamente produtiva entre a Universidade e a comunidade, a partir da divulgao e promoo do esporte amador e profissional. A diferena que o trabalho dos Doutores da Bola estabelece vai muito alm da linguagem ou da simples transmisso dos jogos. A metodologia utilizada, que na sua preocupao inegocivel do participativo, se preocupa em respeitar o atleta, os dirigentes de times e todos envolvidos direta e indiretamente com o esporte. Com o alcance de um raio de 200 km, partindo de sua antena retransmissora, situada na cidade de Goinia, o projeto atinge e, ao mesmo tempo, envolve no processo um universo humano-cultural, a maioria da populao do Estado. Diante das peculiaridades de uma experincia de enorme sucesso em uma emissora pblica e cultural, vinculada s atividades de ensino, pesquisa e extenso da Faculdade de Comunicao de uma Universidade Pblica, nada mais justo do que proporcionar meios de desenvolver o aprofundamento dessa iniciativa. E, como j perfeitamente conhecida no Brasil e no mundo, a capacidade do esporte de promover a integrao, a mobilizao comunitria e a afirmao da cidadania, ganha ainda maior importncia quando acontece na forma de poltica pblica. A natureza e a relevncia do esporte convergem com os objetivos das instituies pblicas e privadas preocupadas com a Comunicao Social, na UFG, cujo interesse fundamentalmente viabilizar uma opo radiofnica e jornalstica de carter pblico, cultural e popular. O Doutores da Bola foge da tradicional busca desenfreada e pouco tica por audincia e lucro que caracteriza o sistema comercial de radiodifuso na cidade e no pas, por isso garante uma fiel credibilidade e respeito da audincia. A equipe Doutores da Bola uma opo segura para contribuir na visibilidade do esporte, em especial do futebol, permitindo ao ouvinte o acesso a uma informao de qualidade, sem a agressividade e a linguagem nervosa e deseducada, clichs e outros vcios comuns no jornalismo esportivo. A equipe Doutores da Bola pautada pelos princpios fundamentais do Jornalismo como a Imparcialidade e a objetividade. Jornalismo jornalismo, seja ele esportivo, poltico, econmico, social. A essncia no muda porque sua natureza nica e est intimamente ligada s regras da tica e ao interesse pblico (BARBEIRO,2006, p 45).
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Palavras-chave: Marketing de Guerrilha; Comunicao Audiovisual; Campanha Publicitria; Telejornalismo; Filme Publicitrio. Texto sobre a Exposio: A exposio consiste na apresentao das fotos do Making Off do VT: Voc sabe o que Magnifica Mundi? e do VT. Sero apresentadas dezoito fotos, nas quais mostram as principais pessoas entrevistadas. Essas fotos sero apresentadas em mobiles, que sero confeccionados com cabide e fio de nylon. Tero dois puffs em frente uma tv com dvd o qual exibir o VT. A exposio pretende demonstrar como foi a produo e como ficou o poduto final, atravs do VT. Sero necessrios 9 m (3x3), com espao livre para circulao de pessoas, uma TV ou projetor, um computador ou DVD player e suporte para pendurar os mobiles. Base Terica No dia 28 de maio de 2010, durante o INTERCOM Regional Centro-Oeste, os alunos que aqui descorrem promoveram uma ao, pelo Laboratrio de Web TV Magnfica Mundi, um Marketing de Guerrilha. Tendo como base a formulao de Jay Conrad Levinson, criador do Marketing de Guerrilha, criamos uma ao que integrasse Jornalismo e Publicidade. O Marketing normalmente tem o objtivo de aproximar a marca do consumidor, esta abordagem sempre fora utilizada por grandes empresas. Porm o Marketing de Guerrilha criado por Jay Conrad Levinson trs uma abordagem alternativa aos pequenos anunciantes em combater as gandes marcas. Tendo isto em mente e entendendo que a Magnifica necessita consolidar a sua marca e nada mais impactante e o Marketing de Guerrilha.
Em virtude dos 10 anos de Magnfica, iniciamos uma campanha institucional, que teve como primeiro passo esta ao, baseada nos seguintes passos: primeiro, dois dos integrantes do projeto se vestiram caracterizados de jornalistas, saram pelo Campus II da UFG, com uma cmera e um microfone; segundo, eles entrevistaram possveis espectadores para saber o que eles sabiam do programa Magnifica 24 horas; terceiro, entregavam um carto com o endereo do site e o twitter da Magnfica. Muitos dos entrevistados eram receptiveis a aproximao e se mostraram interessados.
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Referncias Bibliogrficas: LEVINSON, Jay Conrad. Traduo: Dinah Abreu Azevedo. Excelncia no Marketing de Guerrilha. So Paulo: Saraiva, 1994. LEVINSON, Jay Conrad. Traduo: Jusmar Gomes. Marketing de Guerrilha: tticas e armas para obter grandes lucros com pequenas e mdias empresas. So Paulo. Editora Best Seller, 1990.
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Resumo Este artigo reflete sobre o processo e o resultado de uma campanha publicitria construda durante a Oficina de Publicidade Comunitria do I Encontro de Comunicao Comunitria ComTatos, que aconteceu na Universidade Federal Fluminense, no Rio de Janeiro-RJ, em junho de 2010. Neste encontro alunos e professoes da Universidade Federal de Gois e da Universidade Federal Fluminense discutiram o tema Percorrendo juntos outras ondas da Comunicao para pensar o processo da comunicao comunitria e se a publicidade pode aprender com estes saberes a ponto de ser possvel o termo publicidade comunitria. Palavras-chave: comunicao comunitria; publicidade comunitria; contra-hegemonia
Em junho de 2010, parte da Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia (Facomb), da Universidade Federal de Gois (UFG), um nibus com 47 acadmicos e docentes rumo ao 1 Encontro de Comunicao Comunitria ComTatos, um evento coorganizado pela parceria entre UFG e Universidade Federal Fluminense (UFF), que aconteceu nesta instituio, em Niteri. O Encontro cuja temtica foi Percorrendo juntos outras ondas da Comunicao se distribuiu em mesas-redondas e debates contemplando o tema e oficinas-desafios, que tinham como objetivo lanar um desafio em comunicao para ser resolvido e apresentado no final do evento. A oficina Publicidade Comunitria, como pode ser vista nas Figuras 1 e 2, foi realizada, em parte, nos estdios e laboratrios de edio da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), ministrada pela profa. Dra. Patrcia Saldanha, ser o ponto de partida para uma reflexo inicial sobre a possibilidade de se teorizar e praticar uma publicidade comunitria.
1 Trabalho apresentado na V FEICOM: Ressignificar as fronteiras da comunicao e informao, de 08 a 12 de novembro de 2010, em Goinia GO. 2 Graduada em Comunicao Social Publicidade e Propaganda. Mestre em Filosofia. Professora do Curso de Comunicao Social Publicidade e Propaganda da Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia (Facomb) da Universidade Federal de Gois. E-mail: [email protected] 3 Cursa Comunicao Social com habilitao em Publicidade e Propaganda na Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia da Universidade Federal de Gois. Participou do evento ComTatos de comunicao social, entre a UFG e a UFF, no Rio de Janeiro. E-mail: [email protected]
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Figura 1
Figura 2
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Como objetivos, o texto pretende refletir sobre o termo publicidade comunitria a partir da vivncia da oficina homnima, durante o 1 Encontro de Comunicao Comunitria (ComTatos), na UFF/Niteri, em junho de 2010; objetiva-se tambm compartilhar as vivncias e conhecimentos adquiridos no evento; tendo em vista o tema Percorrendo juntos outras ondas da comunicao do evento, que objetivou discutir a comunicao social em seu vis mais comunitrio, pretende-se analisar as realizaes dos materiais publicitrios produzidos na oficina-desafio, Publicidade Comunitria. Este texto tem como metodologia a pesquisa participativa, pois a reflexo aqui presente fruto da vivncia da oficina Publicidade Comunitria, realizada no 1 Encontro de Comunicao Comunitria ComTatos, na UFF, em junho de 2010. Naturalmente, a oficina foi uma das atividades do encontro, que contou tambm com mesas-redondas, compostas por pesquisadores das temticas Comunicao Comunitria: os limites da Urbanidade e da Ruralidade e Comunicao Comunitria e Virtualidade e por representantes de movimentos sociais que tm experincias com os mencionados temas, de modo que foi possvel um dilogo entre academia e movimentos sociais, uma vez que estes tinham seus prprios representantes no debate. Claro est que a vivncia desta formatao tambm se configura como metodologia para a construo desta reflexo. Ainda sobre este tpico, embora no fosse possvel experienciar todas as oficinas, o espao de apresentao dos resultados de cada uma delas no encerramento do encontro forneceu uma vivncia particular do todo, importante para esta discusso, pois incrementou nosso conhecimento sobre o tema proposto por cada uma. Foram elas:
Fotografia Oficineiro/a: Prof. Ms: Ana Rita Vidica UFG Comunicao Ambiental Oficineiro/a: Profa. Ms. Lisbeth Oliveira (UFG) Mini Curso de Produo Editorial Oficineiro/a: Prof Amauri Fernandes (UFRJ) Produo cultural e Redes Sociais Oficineiro/as: Profa. Ms. Lara Satler (UFG) / Profa. Ms. Ceia Ferreira (UFG) Publicidade Comunitria Oficineiro/a: Dra. Patrcia Saldanha / Juan (Planejamento Publicitrio) Audiovisual Oficineiro/a: Prof. Guilherme Bento / Georges Racz Rdio Comunitria/Podcast Oficineiro/a: Joo Paulo Malerba / Marcello Gabbay
Desse modo, os resultados produzidos ao final do evento foram jornais televisivos, programas de rdio, exposio fotogrfica, comerciais para televiso, spots e mdias impressas. Tudo feito por alunos e oficineiros. Um dos momentos que nos sensibilizou na apresentao dos resultados das oficinas foi a performance que teatralizou a exibio simultnea de fotografias, poemas e msica capela, narrando as impresses subjetivas dos alunos e professores que visitaram, guiados pelo morador e representante do Movimento Social Telecentro Comunitrio Santa Marta - Ismael dos Santos, o Morro Santa Marta, favela do Rio de Janeiro que possui exemplos de aes pioneiras em comunicao comunitria. Especificamente na oficina de Publicidade Comunitria, o desafio era dividir o pblico-alvo da ao a ser divulgada em trs grupos: publicitrios, graduandos de comunicao e empresrios. O desafio era produzir campanhas que fizessem os pblicos refletirem sobre como a publicidade comunitria possvel e como pode ser mais bem trabalhada. Finalmente, e no menos importante, a reviso bibliogrfica compe a metodologia deste texto.
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Santanna (2006, p.75) inicia o captulo Teoria da Publicidade discutindo que publicidade deriva de pblico (do latim publicus) e designa a qualidade do que pblico, por isso afirma que publicidade significa o ato de vulgarizar, de tornar pblico um fato, uma idia. Na pgina seguinte a esta apresentao etimolgica, o autor desenha outras definies, a saber, De todos os conceitos tiramos as seguintes concluses: a) que a publicidade um meio de tornar conhecido um produto, um servio ou uma firma; b) que seu objetivo despertar, na massa consumidora, o desejo pela coisa anunciada, ou criar prestgio ao anunciante; [...] A publicidade , sobretudo, um grande meio de comunicao com a massa. [...] A publicidade uma tcnica de comunicao de massa, paga com a finalidade precpua de fornecer informaes, desenvolver atitudes e provocar aes benficas para os anunciantes, geralmente para vender produtos e servios. [...] A publicidade tem progredido muito no Brasil, estando ligada ao progresso industrial. (SANTANNA, 2006, p.75-76) Gilmar Santos (2005) faz um breve relato histrico sobre experincias publicitrias desde a pr-histria, passando pelos egpcios, gregos e romanos. O autor apresenta que a oralidade era um trao caracterstico destas aes, o que justificaria poucos registros histricos das mesmas. Com o advento da imprensa de Gutenberg, no sculo XV, iniciou-se um processo gradual e conflituoso de insero de anncios publicitrios em jornais. Somente com a Revoluo Industrial, em meados do sculo XVIII, cujas mudanas tecnolgicas promovem um profundo impacto no processo produtivo, em nvel econmico e social, que os jornais comeam a utilizar tcnicas de impresso que possibilitou a publicao em massa. Tal configurao permitiu a profissionalizao dos jornais, aumentando a penetrao em segmentos sociais e o alcance geogrfico. Neste mesmo contexto histrico, as empresas de manufaturas aumentaram sua produo, baixaram seus custos e precisaram gerar um maior volume de vendas para se realizar o ciclo da economia de escala. Estes industriais precisavam divulgar seus produtos e para tal intento os editores dos jornais comearam no apenas acolhlos, como tambm comearam, ento, a incrementar os servios oferecidos aos anunciantes, contratando poetas e artistas grficos para aprimorarem o texto e as ilustraes dos anncios (SANTOS, 2005, p.33). Na medida em que os anunciantes comearam a interferir nos contedos editorais, os jornais preocupados com sua credibilidade junto aos seus leitores optam por empregar agentes que se responsabilizassem pelos contedos das mensagens, de modo que em 1870, os agentes deixaram de ser meros vendedores de espao publicitrio e passaram a representar somente os interesses dos anunciantes, assim foi o nascimento das agncias de publicidade(SANTOS, 2005, p.34). Considerando a relao histrica entre a organizao da agncia de publicidade enquanto espao profissional e um sistema econmico nascente, o capitalismo, bem como a carncia de provas histricas de uma publicidade pr-Revoluo Industrial, natural que a definio do campo observe apenas a utilidade mercadolgica do fenmeno publicidade.
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Afinal, a prtica sistematizada em agncia, tal qual a estudamos nos cursos superiores, inclusive nas universidades pblicas, nasce num contexto moderno, com uma finalidade definida: vender o excedente da produo industrial. Se nos permitirmos um salto do sculo XIX at os dias atuais, vemos uma srie de fatos histricos, dentre eles a criao dos cursos superiores de Comunicao Social, com habilitao de Publicidade e Propaganda, no Brasil, um pas em desenvolvimento e com visveis desigualdades sociais. Neste atual contexto, j no sculo XXI, nos questionamos que contedos um comunicador social, habilitado publicitrio por uma universidade pblica, precisaria ter acesso? Acreditamos que depende. Depende do meu ponto de partida, se concebemos que um curso superior pblico forma um profissional, a resposta ser uma; se concebemos que este curso forma um cidado que deve estar preparado tambm para o trabalho, a resposta completamente diferente. desta resposta que torna possvel o incio da reflexo sobre a publicidade comunitria, ou seja, da concepo de que um comunicador social, habilitado em publicidade e propaganda pode promover transformaes histricas e sociais. Por isso, No momento em que a comunicao est definindo o seu ncleo terico, repensando a gesto e administrao dos fatos e hbitos sociais, em que o pensamento comunicacional pretende a revitalizao da experincia democrtica pluralista a partir de um ser-em-comum, incluindo similaridades e alteridades, de uma tica da intersubjetividade e da sociabilidade, do entendimento mais aprofundado do conceito de vinculao social, a comunicao comunitria me parece representar um campo frtil para repensar uma atividade tcnica to contaminada pela lgica do capitalismo transnacional do lucro a qualquer preo, pelo individualismo, pela seduo, pela tica utilitarista, pelo narcisismo e pela fragmentao da vida social. (LEAL, 2003, p. 152) Desse modo, no bojo da Comunicao Comunitria, termo que afirma as prticas comunicativas populares e no apenas as alternativas aos grandes jornais e meios, mas quelas que concebem uma comunicao dialgica por meio de tecnologias e cujas caractersticas se do pelas atividades de produo e transmisso coletivas, co-planejamento e co-gesto que priorize a autonomia dos sujeitos, na medida em que se reconhecem como protagonistas do processo comunicativo. Para se pensar a comunicao comunitria, ento, tem-se como princpio que o deslocar-se do papel de consumidores de informao para o de produtores de comunicao um direito humano a ser exercido por todas as pessoas, independente de idade, gnero, origem, condio social (LIMA, 2009, p. 28). Uma questo que pode ser levantada neste momento a partir da prtica vivenciada na oficina-desafio em Publicidade Comunitria o fato de que esta foi oferecida aos acadmicos de comunicao social das duas universidades, presentes no evento, de modo que: podemos considerar este um projeto de comunicao comunitria? Peruzzo (2007, p. 109) esclarece que historicamente, a comunidade entendida como portadora de grande unidade de interesses e condies de vida em comum. Todavia, este conceito, segundo a autora, tem sido revisitado, por sugerir a noo de comunidade como perfeitamente unida em torno de ideais e modos pacficos de convivncia (PERUZZO, 2007, p. 109). Alm disso, as tecnologias da informtica configuram a possibilidade de outras formaes de comunidades, sem necessidade de possurem condies de vida em comum, tampouco de territorialidade geogrfica. As atuais reinvenes do conceito permitem compreender comunidade tanto pelas suas aglutinaes territoriais, quanto virtuais, tnicas, culturais, temticas ou mesmo por afinidades de interesses pessoais.
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Nesta perspectiva, Peruzzo (2009) argumenta que comunidade necessita de participao dos seus membros, cooperao, pertencimento, compromisso, interao, compartilhamento de objetivos. Embora, em uma semana no seja possvel estabelecer profundos laos, possvel afirmar que os participantes da oficina j tinham, pelo menos, a escolha do curso e a disposio em pensar outra publicidade como interesses comuns. Se ainda no pudermos chamar de comunidade os membros da oficina, pudemos vivenciar a participao dos membros, a cooperao, o compromisso e a interao para construir processos de produo publicitria. Pode-se dizer que o processo, portanto, teve uma dupla funo pedaggica: ao mesmo tempo em que o grupo vivenciou lapsos do que ser uma comunidade querendo se comunicar aos seus pares experimentou construir uma campanha publicitria, com as tcnicas tradicionais, mas com um tema que poderia ser traduzido por solidariedade. Ou seja, foi possvel num mesmo espao, mesmo que pequena, uma experincia de cidadania e profissionalizao. Afinal, tem-se que considerar o quanto estes acadmicos tambm so sujeitos que carecem de se descobrirem como protagonistas sociais. Nesta perspectiva deve-se ressaltar o quanto os movimentos sociais com suas prticas e metodologias de comunicao comunitrias, bem como sujeitos pesquisadores que se dispuseram a teorizar sobre estas mais difundidas e aceitas em outras habilitaes como o jornalismo, por exemplo auxiliam estes acadmicos de publicidade a um primeiro contato com o tema. Em entrevista ao autor Marcelo Benfica Marinho, o professor Newton Jos afirma que desde 1984, a habilitao de Jornalismo da UFG j tinha uma disciplina de Comunicao Comunitria, Ns temos trs grandes laboratrios de aprendizado nosso, enquanto academia e enquanto profissionais, que so o qu? A FEGIP os posseiros urbanos, na poca no era a FEGIP os posseiros urbanos enquanto prtica comunicativa, a Cooperativa dos Jornalistas (PROJORNAL) que faz esse vnculo profissional com o movimento social e a Rdio Universitria, que foi um grande laboratrio que permitiu o aprendizado dos movimentos sociais... de compreender que a informao no pode ser tratada como muleta, que a informao uma questo estratgica, que sem informao no se constri democracia. No a informao que o poder quer, que um grupo quer. A informao um campo de luta. No basta brigar pela terra. Ento a FEGIP nos ensina isso, quando nos convida como parceiro porque a FEGIP fazia o qu? Ela sabia, como diz o Robinho, da Nova Esperana: preciso travar e ganhar, tambm, a batalha da informao. Ento na Nova Esperana (hoje bairro Nova Esperana) e depois no movimento se trabalhou Rdio de poste. Era Rdio Nova Nicargua, se trabalhava boletins, o teatro, as cantorias, a... aqui... o teatro e as cantorias... a questo da cultura. A poesia cumpriu um papel muito importante, tanto que a Maria de Jesus, que uma menina do teatro, que escreveu peas, que encenou e acabou de lanar seu segundo livro de poesias e tem um que ela conta mesmo da trajetria, dos enfrentamentos feitos com a poltica, com a justia. Ento a cultura cumpriu um papel muito importante nisso, aonde os meios vo entrar como ferramentas. (MARINHO, 2009, p.66-67)
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Para o conceito de publicidade concebido e ensinado nos cursos superiores, inclusive nas instituies pblicas, cujo modelo do fazer e teorizar advm das estruturas e das prticas de uma agncia, que nasce historicamente a servio do excedente de uma Revoluo Industrial, possvel pensar uma publicidade comunitria? Ou seja, a exemplo dos nossos colegas de habilitao, os jornalistas, possvel que os movimentos sociais e comunidades usem a publicidade como batalha de imagem? Em caso de batalha de imagem estas comunidades usariam a mesma tcnica de persuadir seus pblicos, com mensagens ajustadas ao tipo mdio que constitui o grupo consumidor visado pelo anunciante (SANTANNA, 2006, p. 76)? Nestes termos, a publicidade comunitria promoveria relaes entre comunicao e educao, contribuindo para que seus produtores se descubram sujeitos e protagonistas? Ainda nestes termos, a publicidade auxiliaria no exerccio da escuta profunda de si e do outro sentido maior da comunicao (LIMA, 2009, p.36)? Embora, ns ainda no tenhamos respostas a todas estas questes, e saibamos que elas so importantes para este estudo, podemos afirmar que atrelar a definio de publicidade ao formato estrutural das agncias, nascidas a partir do sculo XIX, teorizar sobre um nico modelo de experincia em publicidade: o das grandes indstrias que, posteriormente, transformaram-se em grandes corporaes. Ento estaramos pensando todo um ensino que envolve tcnicas do fazer, teorias sobre a produo e a recepo deste fazer, com base num nico modus operandi de publicidade, criado a partir da experincia da agncia tradicional. como se investssemos todo o nosso esforo para entender um nico modo de tornar pblico. Alm disso, no estaramos a desconsiderar a origem etimolgica da palavra, tornar pblico? O que significa tornar pblico? No seria fazer uso de qualquer instrumento ou prtica a fim de dar visibilidade a algum fato, idia ou comunidade? Isto , voltar etimologia da palavra publicidade no seria uma possvel sada para que comunidades possam praticar suas aes de divulgao, longe da nica perspectiva relacional estudada hoje, que anunciante-agncia-pblico? Desdobramentos finais Ao perceber um novo caminho para se percorrer dentro da publicidade, alguns alunos da Universidade Federal de Gois interessados em discutir o assunto Comunicao Comunitria foram para o Rio de Janeiro, encontrando outros alunos, agora da Universidade Federal Fluminense, de Niteri, com semelhante descoberta e desejo de aprendizado. Juntos participaram e formaram o evento ComTatos, discutindo o tema, j que algo relativamente novo, dentro da habilitao de Publicidade e Propaganda. Ao ser instigado por um tema novo normal que se busque conhecer melhor sobre ele. O evento ComTatos foi uma forma de suprir um pouco da inquietao dos que queriam saber mais sobre o assunto e produzir conhecimentos atravs de sensaes coletivas, sobre a comunicao, tema esse que a fonte em que todos os outros bebem, tal como o marketing, a publicidade tradicional, tambm conhecida como hegemnica, a publicidade para a massa de consumidores, etc. Dentro do tema proposto aconteceu a oficina-desafio de Publicidade Comunitria, que objetivava mostrar como possvel fazer publicidade com e para a comunidade. Ao perceber que o foco hoje nas habilitaes de publicidade estudar e fazer publicidade para grandes massas e a pedido de grandes clientes percebe-se que o carter social da comunicao, que dialgica por natureza, se perde. Tentar revisitar os conceitos de comunicao, que por ser comunicao j social, instigou os autores a produzirem esta reflexo. Alm disso, buscar na histria as origens do conceito de publicidade que temos atualmente um modo compreender seu significado e at pensar em ressignific-lo. Sabemos dos riscos de estudar tal tema. Se o foco dos acadmicos e da graduao formar-se profissionais de agncia, pensar na possibilidade de uma publicidade comunitria correr os riscos de pesquisar um assunto marginalizado. Mas se h a dvida sobre ser ou no possvel fazer uma publicidade numa outra perspectiva daquela que feita para as grandes mdias, ento reivindicamos, pelo menos, o direito de tentar.
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LEAL, Jorge Tadeu Borges. Publicidade & comunidade: os dois pontos de toro para a formulao persuasiva na comunicao comunitria. Revista Comum, Rio de Janeiro. Volume 7, n 20, p. 150 a 164, jan./ jun. 2003. LIMA, Grcia Lopes. Educao pelos meios de comunicao ou produo coletiva de comunicao, na perspectiva da educomunicao. So Paulo: Instituto Gens de Educao e Cultura, 2009. MARINHO, Marcelo Benfica. A imprensa alternativa e a comunicao comunitria em Gois: dcadas de 70/80. Goinia: UCG/ Kelps, 2009. PERUZZO, Cicilia Maria Krohling. Televiso comunitria: dimenso pblica e participao cidad na mdia local. Rio de Janeiro: Mauad X, 2007. SANTANNA, Armando. Propaganda: teoria, tcnica e prtica. So Paulo: Thomson Learning Edies, 2006. SANTOS, Gilmar. Princpios da publicidade. Belo Horizonte: Ed.UFMG, 2005.
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Vamos ir a p
Ana Rita Vidica1 Lisbeth Oliveira2 Universidade Federal de Gois
Palavras-chave: Caminhada; Fotografia, Vale do Gorutuba Texto sobre a Exposio A exposio fotogrfica Vamos ir a p retrata momentos da Caminhada Troca de Saberes, realizada em janeiro de 2010, no Vale do Gorutuba, regio quilombola do norte de Minas Gerais. Esta caminhada acontece h 12 anos, em diferentes regies do Brasil, geralmente no ms de janeiro, reunindo um grupo de pessoas de diversas partes do Pais, que tem interesse em ter contato com a natureza e comunidades de maneira mais prxima, por isso ir caminhando. A exposio, ento, o resultado da ltima caminhada, sendo dividida em 3 momentos: Caminhantes, Oficinas e Comunidades. Caminhantes formado por fotografias, no tamanho 15x21cm, do grupo de pessoas que andam a p at s comunidades e o cotidiano dos dias de caminhada, Oficinas formado por fotografias, no tamanho 20x30cm, das oficinas, atendimentos e visitas realizadas ao longo da caminhada, tais como; massagem, macram, artesanato com jornal e revista, agroecologia, teatro, fotografia e reaproveitamento de alimentos. Comunidades formado por fotografias, no tamanho 40x60cm, de retratos de pessoas e das comunidades visitadas; Taperinha, Pacu II, Vila Sudrio e Canudos. Justificativa / Base Terica Os povos so construdos com os sonhos. Aqueles que partilham sonhos se do as mos e caminham juntos (Rubem Alves) VAMOS IR P refro de um canto que os participantes da Caminhada da Troca de Saberes sempre entoam. O movimento que h mais de 10 anos rene anualmente em janeiro cerca de 70 profissionais das mais diversas reas do conhecimento num trabalho voluntrio de realizao de oficinas, minicursos e atendimentos em comunidades pelo interior do Brasil, visitou em Janeiro de 2010 os quilombolas do Norte de Minas Gerais. Nesta exposio fotogrfica, Ana Rita Vidica Fernandes e Lisbeth Oliveira, integrantes do Coletivo de reprteres de imagens da Caminhada da Troca de Saberes e pesquisadoras do NPTI, revelam o dia-a-dia dos caminhantes, as oficinas realizadas e o cotidiano dos moradores do Vale do Gorutuba. Caminhar uma experincia nica e enriquecedora. Pensam assim os integrantes da Caminhada da Troca de Saberes que num movimento rtmico e prazeiroso de perceber os pulmes, pernas e braos, propem fugir da vida urbana, muitas vezes estressante, voltando-se para uma experincia de contemplao da natureza. Ao rtmo de cada passo e do aprendizado de transportar nas mochilas, o mnimo necessrio para a sobrevivncia diria, quilmetros e quilmetros so percorridos p de comunidade comunidade, onde o intercmbio de saberes acontece. O territrio dos Quilombolas do Vale do Gorutuba vem sendo resgatado, graas aos direitos adquiridos na Constituio de 1988, que j reconheceu mais de um tero das mais de 3 mil comunidades quilombolas que lutam pelo reconhecimento de seus territrios no Brasil. Em Minas Gerais esto 454 delas. A regularizao do territrio dos quilombolas do Vale do Gorutuba prev 47 mil hectares, j identificados e com relatrio publicado no Dirio Oficial da Unio. As 30 comunidades ali organizadas na Associao das Comunidades Quilombolas do Vale do Gorutuba, com sede em Taperinha, tm conscincia de que agora preciso pressionar o INCRA para que suas terras, invadidas pelos fazendeiros, sejam devolvidas.
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unidades ali organizadas na Associao das Comunidades Quilombolas do Vale do suas terras, invadidas pelos fazendeiros, sejam devolvidas.
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Ressignificar as Fronteiras da Comunicao e Informao 8 a 12 de novembro Universidade Federal de Gois Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia
1 Vidica ste sentido este ensaio fotogrfico traduz-se Ana numRita exemplo de como a fotografia, aliada a Lisbeth Oliveira2 rramentas multimdias, pode contribuir para o resgate da memria Universidade Federal de Gois e da diversidade de
Neste sentido este ensaio fotogrfico traduz-se exemplo como a fotografia, aliada a outras ferramentas multimdias, pode contribuir para o resgate da memria e da diverside uma abordagem e uma prtica que desperte para uma num perspectiva dede entendimento
Ressignificar as Fronteiras da Comunicao e Informao 8 a 12 de novembro dade de manifestaes culturais de tais comunidades distribuidas em vrias regies e ecossistemas do Brasil, permitindo a interao entre movimentos sociais e a Universidade. Assim, a o do Brasil e da nossa contribuio para possveis mudanas. A linguagem visual Universidade Federal de Gois fotografia pode ser, ao mesmo tempo, o ponto de partida e o resultado final (GURAN, 1998, p. 90). Este o desafio de uma abordagem e uma prtica que desperte para uma perspectiva ta-nos rever a histria, apontando para novos na perspectiva depara sociedades mais de entendimento da situao do Brasil rumos e da nossa contribuio possveis mudanas. A linguagem visual possibilita-nos rever a histria, apontando para novos rumos na perspectiva Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia
de sociedades mais sustentveis.
, ao mesmo tempo, o ponto de partida e o resultado final (GURAN, 1998, p. 90). Este o
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Ana Rita Vidica1 Lisbeth Oliveira2 Universidade Federal de Gois
Referncias Bibliogrficas ALVES, Rubem. Filosofia da cincia.: introduo ao jogo e suas regras. Editora Loyola : So Paulo, 2007. GURAN, Milton. A fotografia eficiente e as Cincias Sociais. In: Ensaios sobre O Fotogrfico. Achutti, Robson (Org.). Unidade Editorial : Porto Alegre, 1998. Internet http://caminhadadatrocadesaberes.wordpress.com/, acesso em outubro de 2010
NOTAS 1Trabalho apresentado na V Feicom Feira de Informao e Comunicao Facomb/UFG, realizado de 08 a 12 de novembro de 2010, em Goinia GO. 2 Professoras do Curso de Comunicao Social da Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia.
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Palavras-chave: revista, reposicionamento, Inova, pesquisa, ensino, extenso. Texto sobre a Exposio A exposio Manteiga de Garrafa outra maneira de Fritar marcar o lanamento da revista Manteiga de Garrafa, uma iniciativa dos alunos de Publicidade e Propaganda da Universidade Federal de Gois. O primeiro volume ser uma edio especial sobre a Inova Laboratrio de Agncia Experimental em Publicidade e Propaganda que possibilitou tanto a concepo da ideia da revista como tambm sua estrutura fsica, motivo, este, que definiu o contedo prioritariamente como sendo o prprio laboratrio, nesse primeiro momento. A exposio ser composta pelas 26 pginas da revista em imagens, dispostas em 26 painis impressos em formato A3 e distribudas em uma sala de no minmo 25m, em ordem nmerica crescente de forma que o pblico visualize e interaja com as pginas dispostas em sequncia, conforme o projeto grfico da mesma. Pretendemos, dessa maneira, que o frenquentador da exposio ao entrar no espao fsico desta tenha a sensao de estar folheando as pginas da revista. Para isso, a capa da revista ser exposta na porta da sala da exposio, enquanto seu contedo interno na parte interna da sala. Disponibilizaremos, tambm, um exemplar da revista impresso em tamanho real, para livre manuseio do pblico. Justificativa / Base Terica A revista Manteiga de Garrafa um projeto concebido tendo em vista o carter laboratorial e experimental da Inova Laboratrio de Agncia Experimental em Publicidade e Propaganda, que visa integrar, a partir de 2010, na experincia do pensar e fazer publicitrio, o ensino, a pesquisa e a extenso como uma prtica contextualizada e interdisciplinar. A revista vem com intuito de suprir deficincias da graduao que nos oferecida e servir de colaborao para ampliar o repertrio cultural e conceitual dos leitores estudantes de publicidade ou no interessados na rea de comunicao, sejam da UFG ou de outras instituies. Este projeto pretende funcionar como suporte para desenvolver e estimular tanto aspectos tcnicos (refinamento da percepo visual e contato com a crtica e produo de diferentes modalidades de textos verbais e no verbais) quanto conceituais, no exerccio da reflexo, seja dos processos, perspectivas ou ferramentas identificados onde se interpem cultura, sociedade e os interesses de publicizar ou/e de propagandear persuasivamente. A revista pretende se apresentar com uma linguagem despreocupada e criativa, apelo visual desafiador e intrigante, leitura cadente e estimulante e contedo relevante e provocador; tendo um processo de produo colaborativo e pedaggico colaborativo na altura em que o contedo da revista, assim como sua produo, dada atravs de uma linha de colaboraes de agentes internos ou externos revista; e pedaggico na medida em que durante o processo de produo e criao da revista ns, os criadores, estaremos em processo de aprendizagem. Nesse ponto, vale reafirmar que a revista surgiu da ansiedade dos criadores de expressar os ideiais que compartilham, servindo como um suporte de ideologias e pensamentos que criaram ao longo do processo de aprendizagem dentro da academia. Eles compartilham o pensamento de que o ensino extrapola a sala de aula, se estendendo no s na academia como na comunidade e no prprio mercado de trabalho aprender, fazer, refletir o que se fez e tirar disso novos conhecimentos. Um poema de Bertolt Brecht expe claramente essa forma de pensar, e serve de inspirao para os criadores:
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Manteiga de Garrafa: outra maneira fritar academia como na comunidade de e no prprio mercado de trabalho aprender, fazer, refletir o
3 disso novos conhecimentos. Um poema de Bertolt Brecht expe claramente que seOLIVEIRA fez e tirar Rafael WATANABE2, Joo Daniell Ferreira de , 4 5 Luana Thomas COLPO , Mariana do essa Vale forma MOURA de ,pensar, e serve de inspirao para os criadores: Suzany NEWBARTH6, Lara Lima SATLER7 FACOMB
Aprende l nos livros L nos olhos aprende A ler nos jornais: A verdade pensa com a tua cabea. Faa perguntas sem medo No te convenas sozinho Se no descobriu por si Na verdade no descobriu. - Bertolt Brecht8
Aprende l nos livros L nos olhos aprende A ler nos jornais: A verdade pensa com a tua cabea. Faa perguntas sem medo No te convenas sozinho Se no descobriu por si Na verdade no descobriu. - Bertolt Brecht8
Resta deixar claro, com tudo o que foi apresentado, que a Exposio Manteira de Garrafa: Outra Maneira de Fritar, quer mais do que lanar apenas a revista, mas sim, fazendo
uma referncia ao prprio ttulo exposio, novade maneira pensar. Resta deixar claro, com tudo o que foi apresentado, que a Exposio Manteira de da Garrafa: Outrauma Maneira Fritar,de quer mais do que lanar apenas a revista, mas sim, fazendo uma referncia ao prprio ttulo da exposio, uma nova maneira de pensar.
Imagens que comporo a exposio
BRECTH,
B.
Precisamos
de
Voc.
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Antologia Potica de Bertolt Brecth. Disponvel
Referncias BRECTH, B. Precisamos de Voc. Antologia Potica de Bertolt Brecth. Disponvel em<http://www.culturabrasil.pro.br/brechtantologia.htm>. Acesso em: 02.nov.2010.
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Referncias Bibliogrficas BRECTH, B. Precisamos de Voc. Antologia Potica de Bertolt Brecth. Disponvel em<http://www.culturabrasil.pro.br/brechtantologia.htm>. Acesso em: 02.nov.2010.
NOTAS 1 Trabalho apresentado na V FEICOM: Ressignificar as fronteiras da comunicao e informao, de 08 a 12 de novembro de 2010, em Goinia GO. 2 Rafael Watanabe, autor. Graduando do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Federal de Gois, estando cursando o 4 perodo do curso. Integrante snior da Inova Laboratrio de Agncia Experimental, citada no texto. Email: [email protected] 3 Joo Daniell Ferreira de Oliveira, co-autor. Graduando do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Federal de Gois, estando cursando o 4 perodo do curso. Integrante snior da Inova Laboratrio de Agncia Experimental, citada no texto. Email: [email protected] 4 Luana Thomas Colpo, co-autor. Graduanda do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Federal de Gois, estando cursando o 4 perodo do curso. Integrante snior da Inova Laboratrio de Agncia Experimental, citada no texto. Email: [email protected] 5 Mariana do Vale Moura, co-autor. Graduanda do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Federal de Gois, estando cursando o 4 perodo do curso. Integrante snior da Inova Laboratrio de Agncia Experimental, citada no texto. Email: [email protected] 6 Suzany Newbarth, co-autor. Graduanda do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Federal de Gois, estando cursando o 4 perodo do curso. Integrante jnior da Inova Laboratrio de Agncia Experimental, citada no texto. Email: [email protected] 7 Lara Lima Satler, orientadora. Coordenadora da Inova 8 BRECTH, B. Precisamos de Voc. Antologia Potica de Bertolt Brecth. Disponvel em<http://www.culturabrasil.pro.br/brechtantologia.htm>. Acesso em: 02.nov.2010.
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Palavras-chave: Bibliotecas; Leitura; Livro. INTRODUO A biblioteca uma instituio que se constitui num espao de gerao e de fruio das mais diversas representaes simblicas da cultura, de modo a despertar e estimular entre seus freqentadores uma maior proximidade com elas, num permanente processo de ao cultural. Assim, elas tero maior credibilidade junto aos rgos que tomam deciso sobre a liberao de recursos que garantam a sua manuteno, a fim de que as suas funes bsicas, que abrangem dimenses culturais e informacionais, consigam representar modos de democratizao da vida cultural. To importante quanto a eficincia com que prestam seus servios, o modo como elas mostram essa eficincia, ou seja, a imagem que elas desfrutam junto comunidade e que lhes permite atrair um nmero cada vez maior de usurios. Diante disso, este projeto tem como objetivos desenvolver a valorizao e o reconhecimento de determinadas Bibliotecas de Goinia atravs do levantamento de dados histricos e sociais. Tambm pretende se atravs deste, viabilizar meios de comunicaes que atinjam a populao Goiana com intuito de despertar a importncia da cultura das Bibliotecas na sociedade contempornea. As bibliotecas tm como um dos objetivos desenvolver acervos e proporcionar servios para as comunidades para que a os cidados possam ter acesso a informaes e ao conhecimento. Infelizmente na cidade de Goinia ainda no conta com um nmero grande de bibliotecas e uma biblioteca pblica que possa atender toda a comunidade. As bibliotecas escolares infelizmente ainda no esto presentes em todas as escolas sejam estaduais e municipais. Por isto, pretende-se atravs de fotografias, cartazes e folders divulgar a existncia das bibliotecas e informar a populao da cidade de Goinia sobre seus acervos e servios. Buscamos parceria com a Agncia Experimental INOVA da FACOMB para agregarmos competncias e habilidades dos alunos dos Cursos de Biblioteconomia e Publicidade e Propaganda atravs das fotos e a realizao de uma exposio itinerante na cidade de Goinia. Percebe-se se a falta de informao e interesse da populao pelas bibliotecas de sua cidade, alm de que a vida moderna no permite o tempo necessrio para leituras e busca de conhecimentos. O trabalho pretende divulgas as seguintes bibliotecas: Biblioteca Central da UFG, Biblioteca PUC-GOIS, Biblioteca Pio Vargas, Biblioteca Braile, Biblioteca Cora Coralina e Biblioteca Marieta Teles Machado. OBJETIVOS O objetivo deste trabalho, alcanar limites culturais atravs da adoo de estratgias de divulgao de determinadas bibliotecas de Goinia, a fim de mostr-las comunidade e fazer com que sejam mais utilizadas. JUSTIFICATIVA Pesquisas difundidas na rea da Cincia da Informao, afirma que um dos problemas corriqueiros da falta de visibilidade das bibliotecas a falta de mecanismos que mostrem e divulguem seus trabalhos. Alm dessa, outras observaes dessa natureza so constantes. Neste contexto, este projeto justifica-se para a elaborao de estratgias que visam divulgarem o trabalho destas bibliotecas para que a comunidade de Goinia passe a utiliz-las.
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METODOLOGIA Para Kotler(1998, p.529) a imagem um conjunto de crenas, idias e impresses que uma pessoa mantm em relao a um objeto. As atitudes e as aes de uma pessoa em relao a um objeto so altamente condicionadas pela imagem desse objeto. Nesse contexto, optamos pela exposio fotogrfica itinerante das bibliotecas, uma vez que seria uma forma de acesso rpido e prazeroso da populao goianiense conhecer sobre a histricas, os servios e produtos das mesmas. Para a divulgao das bibliotecas identificamos necessidade de realizarmos um levantamento de dados sobre bibliotecas como histrico, estrutura, acervo, servios e horrios de funcionamento. Estamos elaborando cartazes e folders a fim de divulgamos as bibliotecas nas escolas prximas as referidas bibliotecas, nos terminais de nibus e no Banana Shopping. Pretende-se ainda desenvolver aes artsticas nestes locais e realizar sorteios de livros conseguidos na Agncia Goiana de Cultura e divulgar ainda nos principais jornais de circulao da cidade de Goinia, as informaes sobre as bibliotecas. Todas as aes sero desenvolvidas nos seguintes dias: 18, 19, 20, 25, 26 e 27 do ms de Outubro de 2010. RESULTADOS O presente trabalho iniciou com levantamento de dados das bibliotecas e j est concludo. A Agncia Experimental INOVA da FACOMB est elaborando o material grfico e o projeto de apresentao das bibliotecas nos locais selecionados para a divulgao das mesmas. Estamos na fase de contatos com artistas que pretendemos convidar para realizar apresentaes artsticas. J foram conseguidos 100 kits de livros junto a Agncia Goiana de Cultura para a distribuio dos mesmos. CONCLUSO No presente trabalho pode-se concluir que infelizmente as bibliotecas de Goinia so pouco conhecidas em especial as bibliotecas pblicas. O acesso a leitura e ao livro ainda carece de grandes investimentos por parte dos rgos responsveis pela educao e cultura. A Biblioteca Braille, por exemplo, que uma possibilidade para as pessoas deficientes visuais ainda muito pouco conhecida. Nos bairros mais distantes da regio metropolitana de Goinia no possuem bibliotecas pblicas. Mesmo com um nmero muito reduzido de bibliotecas e em locais de acesso as vezes no facilitado para o cidado, pretendemos divulga-las at se possa iniciar um grande movimento de ajuda a estas bibliotecas e incentivar as pessoas para que possam cobrar das autoridades este acesso a informao que o verdadeiro meio de exerccio de cidadania.
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REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS KOTLER, P. Administrao de marketing: anlise, planejamento, implementao e controle. 5a. ed. So Paulo : Atlas. 1998 725 p. AMARAL, Sueli Anglica do. Marketing em unidades de informao: estudos brasileiros. Braslia: SENAI/IBICT, 1992. CUCHE, Denis. A noo de cultura nas cincias sociais. So Paulo: EDUSC, 1999. PIMENTEL, Cla D. P. Tcnicas de marketing aplicadas biblioteca. Trabalho apresentado no Encontro Pernambucano de Biblioteconomia e Cincia da Informao, 1. Recife, 1982. In: SILVEIRA, A; AMARAL, S. A comp. Marketing em unidades de informao: estudos brasileiros. Braslia: IBCT/SENAI, 1993. pp. 177-190, 356. AMARAL, Sueli Angelica do. Marketing e gerncia de biblioteca. In: MARKETING em unidades de informao; estudos brasileiros. Compilado por Amlia Silveira e Sueli Angelica do Amaral. Braslia IBICT , SENAI, 1993. p.315-324.
NOTAS Resumo revisado pelo Coordenador da Ao de Extenso e Cultura: Maria de Ftima Garbelini cdigo: FACOMB-96 Estudante de graduao em Biblioteconomia pela Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia FACOMB UFG. E-mail: [email protected] Professora do Curso de Biblioteconomia na Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia FACOMB UFG. E-mail: [email protected]
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Palavras-chave: blog; dirio de bordo; Bolvia; Texto sobre a Exposio A exposio Blog Brabo 2010 apresenta as produo dos contedos do blog http://www.jornalismobrabo.blogspot.com gerido pelos estudantes da Universidade Federal de Gois que participaram do Colquio Brabo 2010, no blog apresentamos os resultados e experincias do colquio. A exposio se dividir em trs momentos que acontecero concomitantemente. No primeiro momento apresentaremos as produes (as pginas do blog com relatos textuais); no segundo momento fotografias da viagem; e no terceiro momento trabalharemos com as sensaes do pblico ao usar sons (da natureza) e imagens projetadas na parede. As peas sero impressas em tamanho A3 (seguindo o modelo do blog), sero 12 peas, emolduradas em placas de papel preto, e presas ao teto com linha de naylon. Algumas imagens sero projetadas na parede, por meio de um retroprojetor - as fotografias foram tiradas pelos estudantes durante a viagem. As imagens estaro em sincronia com vrios sons, brincando com as sensaes do pblico, que podero se sentir na Bolvia, por exemplo: fotos do Lago Titicaca, sons de passros e gua; fotos da montanha Huayna Potos (parte da Cordilheira dos Andes), sons de ventos fortes. A exposio ser distribuda em uma sala de no minmo 25m. Justificativa / Base Terica Este trabalho tem o intuito de expor o blog criado para divulgar o dia-a-dia do Colquio Brabo, realizado na Bolvia entre os dias 29 de julho a 12 de agosto de 2010. O blog surgiu com a proposta de ser um dirio de bordo digital concebido coletivamente, os alunos tinham a tarefa de postar diariamente suas impresses e sensaes sobre a viagem, sendo que o formato do texto era livre. Haikai, entrevistas, dirio de bordo, webcarta, poema e tantos outros recursos estilsticos foram contemplados no blog. da comunicao que vm as imagens, as informaes, as opinies e por meio desses mecanismos de comunicao que a experincia divulgada e transmitida ao coletivo/na coletividade. Tudo isso se aplica fortemente em nossas sociedades, no seio das quais as redes de comunicao atravessam todos os nveis, do global ao local e do local ao global. (CASTELLS, 2006)10 Acreditando nessa potencialidade das ferramentas da comunicao de transitar entre o global e o local e nas possibilidades que nos oferecem, no sentido de que, permitem que idias, experincias e afins sejam propagadas de maneira eficaz, visualizamos na ferramenta blog uma forma de expresso que de alguma maneira pudesse nos ligar ao Brasil gerando um dialogo com familiares, amigos, atravs dos comentrios e webcartas que permitisse o exerccio dirio de criao de textos, e que fosse resultado instantneo dos produtos tanto textuais quanto multimdia da viagem. O blog foi um grande fomentador da criatividade, do coletivo como um todo, serviu de estimulo durante todo o perodo que estivemos fora, e conseqentemente gerou reflexo, atravs do Colquio, dos textos, deste trabalho e da prpria criao do blog.
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ressignificar as fronteiras da comunicao e informao 08 a 12 de novembro Universidade Federal de Gois Imagens que comporo a exposio Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia coletivo como um todo, serviu que estivemos fora, 2 de estimulo durante todo o Mariana do Vale MOURA , Gabriel Moreira PAIVA3, perodo Joo Daniell Ferreira de e OLIVEIRA4,
conseqentemente gerou reflexo, atravs 5 do Colquio, dos textos, deste PEREIRA trabalho e 6 da prpria Kamylla Katy dos Santos MOREIRA , Thmara Nayara Alves , Ana Clara Gomes 7 8 COSTA criao do blog. , Mariza Fernandes dos SANTOS , Nilton Jos dos Reis ROCHA9 Facomb - UFG com linguagens hbridas, e O resultado foi um blog criativo e interessante, extremamente rico em contedo, onde vrios pontos de vista foram expressos e difundidos sem nenhum tipo de julgamento. Todos estes elementos descritos acima nos levaram a montar a exposio e a acreditar em suas criativo potencialidades. O resultado foi um blog e interessante, com linguagens hbridas, e extremamente rico em contedo, onde vrios pontos de vista foram expressos e difundidos sem ne-
nhum tipo de julgamento. Todos estes elementos descritos acima nos levaram a montar a exposio e a acreditar em suas potencialidades. 08 a 12 de novembro
Imagensque que comporo a exposio Imagens comporo a exposio
ressignificar as fronteiras da comunicao e informao Universidade Federal de Gois Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia
Referncias
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REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS CASTELLS, Manuel. A era da intercomunicao. 2006. Disponivel em: < http://diplomatique.uol.com.br/acervo.php?id=1915&tipo=acervo> Acesso em: novembro de 2010.
NOTAS 1 Trabalho apresentado na V Feicom Feira de Informao e Comunicao Facomb/UFG, realizado de 08 a 12 de novembro de 2010, em Goinia GO. 2 Mariana do Vale MOURA, autora. Graduanda do curso de Comunicao Social habilitao em Publicidade e Propaganda da Universidade Federal de Gois, estando cursando o 4 perodo do curso. Email: [email protected] 3 Gabriel Moreira PAIVA, co-autor. Graduando do curso de Comunicao Social habilitao em Publicidade e Propaganda da Universidade Federal de Gois, estando cursando o 4 perodo do curso. Email: [email protected] 4 Joo Daniell Ferreira de OLIVEIRA, co-autor. Graduando do curso de Comunicao Social habilitao em Publicidade e Propaganda da Universidade Federal de Gois, estando cursando o 4 perodo do curso. Email: [email protected] 5 Kamylla Katy dos Santos MOREIRA, co-autora. Graduanda do curso de Comunicao Social habilitao em Jornalismo, da Universidade Federal de Gois, estando cursando o 4 perodo do curso. Email: [email protected] 6 Thmara Nayara Alves PEREIRA, co-autora. Graduanda do curso de licenciatura em Histria, do Instituto Federal de Gois, estando cursando o 1 perodo do curso. Email: [email protected] 7 Ana Clara Gomes COSTA, co-autora. Graduanda do curso de Comunicao Social habilitao em Jornalismo, da Universidade Federal de Gois, estando cursando o 2 perodo do curso. Email: [email protected] 8 Mariza Fernandes dos SANTOS, co-autora. Graduanda do curso de Comunicao Social habilitao em Jornalismo, da Universidade Federal de Gois, estando cursando o 4 perodo do curso. Email: [email protected] 9 Nilton Jos dos Reis ROCHA, orientador. Professor do curso de Comunicao Social habilitao em jornalismo da Facomb - Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia, na Universidade Federal de Gois. 10 CASTELLS, Manuel. A era da intercomunicao. 2006. Disponivel em: < http://diplomatique.uol.com.br/acervo.php?id=1915&tipo=acervo> Acesso em: novembro de 2010.
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TV UFG: DESAFIOS, CAMINHOS E REFLEXES SOBRE A MAIOR COBERTURA TELEVISIVA DO DIA DA VOTAO NAS ELEIES 2010 EM GOIS
Rosana Maria Ribeiro Borges2, Michael Valim3, Vanessa Bandeira4, Vivian Cndida Maia5, Gisele Pimenta6, Sallisa Vasco7, Thiago Moreira de Oliveira8, Ana Carolina Almeida Machado9 FACOMB/UFG/TV UFG
Palavras-chave: TV UFG; cobertura das eleies 2010; desafios de tv pblica. RESUMO O texto apresenta um case da cobertura do dia da votao do primeiro e do segundo turnos das eleies 2010 realizada pela TV UFG. Mesmo sem as condies tcnicas adequadas, a emissora planejou e executou com sucesso a maior e mais ampla cobertura televisiva de Gois. O processo envolveu uma equipe multidisciplinar de mais de trinta profissionais das reas de comunicao e engenharia, alm de diversos estudantes da Facomb/UFG. No primeiro turno, a cobertura teve 27 flashes ao vivo de Goinia e de outras cidades do interior do estado e no segundo, 24 flashes numa cobertura que, alm de repetir a estratgia utilizada no anterior, inovou ao inserir correspondentes internacionais via software de exibio de udio e vdeo que possibilita a comunicao pela internet por meio de conexes de voz sobre IP (VoIP). Todos os correspondentes so estudantes e egressos da Facomb/UFG. O resultado final demonstra que o compromisso pblico e democrtico, a criatividade, a vontade de fazer televiso e a solidariedade da equipe superaram no s os desafios tcnicos, como tambm as expectativas em relao s metas e aos resultados alcanados. Keywords: TV UFG; 2010 election coverage; challenges of public television. Abstract The article discusses the coverage of election day of the first and second rounds of elections held in 2010 by TV UFG. Even without the appropriate technical conditions, the station has planned - and successfully executed - the largest, most comprehensive television coverage of Goias. The process involved a multidisciplinary team of over thirty professionals in engineering and communications, and many students Facomb/UFG. In the first round, the coverage was 27 flashes live in Goiania and other towns of the state and second, that 24 flashes, and repeat the strategy used in previous innovated to enter international correspondents via viewing software audio and video. All relevant national and international are students and graduates of Facomb/UFG. The final result shows that the public and democratic commitment, creativity, the desire to do television and solidarity of the team not only overcame the technical challenges, but also expectations about the goals and achievements. 1. INTRODUO Esse texto fruto de uma produo e reflexo coletiva sobre princpios, prticas e caminhos de uma emissora de televiso pblica recm inaugurada, a TV UFG. Com menos de um ano de existncia, e sem contar ainda com um programa de telejornalismo, o corpo diretivo do canal se viu diante de um grande desafio relacionado cobertura do dia da votao das eleies 2010. O evento, tanto no primeiro quanto no segundo turno, foi considerado de extrema relevncia. O desafio: como fazer uma cobertura sem equipes de jornalismo formadas e sem os equipamentos necessrios para garantir informao com qualidade tcnica e de contedo. Os caminhos encontrados, bem como os resultados da cobertura realizada, considerada a maior da televiso goiana, sero a seguir explicitados. No entanto, antes disso, o texto contextualiza a TV UFG, focalizando aspectos de sua atual estrutura, programao e princpios.
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TV UFG: DESAFIOS, CAMINHOS E REFLEXES SOBRE A MAIOR COBERTURA TELEVISIVA DO DIA DA VOTAO NAS ELEIES 2010 EM GOIS
Rosana Maria Ribeiro Borges2, Michael Valim3, Vanessa Bandeira4, Vivian Cndida Maia5, Gisele Pimenta6, Sallisa Vasco7, Thiago Moreira de Oliveira8, Ana Carolina Almeida Machado9 FACOMB/UFG/TV UFG
2. CONTEXTUALIZAO DA TV UFG A TV UFG uma concesso da Fundao Rdio e Televiso Educativa e Cultural (Fundao RTVE), inaugurada em 14 de dezembro de 2009. Em menos de um ano de existncia, a TV UFG teve um crescimento fantstico. O quadro de funcionrios passou de um para mais de trinta. Alguns convnios firmados com a prpria UFG possibilitaram o incio das produes, que comportam dois interprogramas e um programa de exibio semanal. Os interprogramas so projetos de extenso da Pr-Reitoria de Extenso e Cultura (PROEC), sendo eles o Conhecendo a UFG, de cunho institucional cujo objetivo divulgar as unidades acadmicas, rgos, pr-reitorias, servios e eventos e o Ei! Se liga na UFG, que discute saberes e conhecimentos diversos que perpassam pelo trip de sustentabilidade da Universidade, ou seja, ensino, pesquisa e extenso. O nico programa que a emissora produziu no seu primeiro ano de vida um projeto de extenso da Pr-Reitoria de Graduao (PROGRAD), de nome Faz o Qu?. Seu pblico alvo so os vestibulandos e os estudantes egressos do Ensino Mdio. A cada semana o programa debate uma profisso, passando pela formao na UFG, mercado de trabalho e dicas para o vestibular. Alm destas produes, a TV UFG elabora e veicula vinhetas de eventos ligados Universidade Federal de Gois e tambm produz vdeos documentrios, a exemplo da produo Desafios da Mobilidade Urbana Sustentvel em Goinia, que foi solicitada pela Agncia Municipal de Trnsito (AMT) para problematizar um seminrio homnimo. No entanto, sem o seu estdio e sem as condies financeiras para custear uma produo de tamanha envergadura, a TV UFG ainda no conta com o telejornalismo. Apesar de produzir matrias jornalsticas, especialmente para a TV Brasil, a emissora necessita adquirir equipamentos e conseguir o financiamento necessrio para colocar o seu telejornalismo no ar. Uma sada para as instalaes fsicas est sendo construda com a FACOMB/UFG. O que se espera que quando as condies de produo do telejornal forem viabilizadas, a redao ser instalada num laboratrio de telejornalismo e audiovisual a ser consolidado na Faculdade, que tambm ceder o estdio de televiso para a coproduo. 3. A COBERTURA DO DIA DA VOTAO DAS ELEIES 2010 Diante do quadro acima exposto, logo que se aproximou o primeiro turno das eleies 2010 um desafio se imps ao corpo diretivo da TV UFG, que considerou o evento de muita relevncia e que, mesmo diante do reconhecimento da ausncia das condies tcnicas e de equipamentos necessrios a uma cobertura de um pleito eleitoral, decidiu construir um caminho possvel para que a emissora conseguisse fazer um trabalho telejornalstico a altura do que se espera de uma televiso pblica, educativa e cultural. Inicialmente, foram realizadas diversas reunies de equipe com jornalistas, radialistas, publicitrios, engenheiros, editores, estagirios e demais profissionais da rea de comunicao que atuam na TV UFG, na inteno de explicitar a problemtica e debater o assunto. A proposta foi muito bem recebida pela equipe de trabalho e, ao final da primeira reunio, o plano da cobertura do primeiro turno das eleies 2010 j estava esboado, sendo posteriormente apenas depurado. Alm da produo prpria, capaz de fazer a cobertura do local e do regional, dediciu-se que a emissora transmitiria todos os flashes dos boletins informativos da TV Brasil, o que garantiria um carter nacional cobertura do dia da votao. A opo que se fez baseou-se em entradas ao vivo do estdio e em externa (flashes) e matrias frias previamente gravadas. Ambos os formatos foram agrupados no Boletim Informativo das Eleies 2010, ancorado pela jornalista Vivian Maia, aluna egressa da Facomb/UFG, que, de acordo com o planejado, entraria no ar a cada meia hora. Das 7h30 s 17h00, seriam transmitidos assuntos relacionados aos processos de votao, intercalados com contedos gravados e entradas ao vivo. A partir das 17h, o boletim manteria sua periodicidade de meia hora, abordando assuntos referentes apurao das eleies, que seriam revezados com ao vivo e gravaes. A periodicidade do Boletim aps as 19h30 no foi definida em virtude do complexo contexto da apurao dos votos, mas pretendia-se manter a participao das reprteres ao vivo a cada fato relevante, alm de informar sobre os
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TV UFG: DESAFIOS, CAMINHOS E REFLEXES SOBRE A MAIOR COBERTURA TELEVISIVA DO DIA DA VOTAO NAS ELEIES 2010 EM GOIS
Rosana Maria Ribeiro Borges2, Michael Valim3, Vanessa Bandeira4, Vivian Cndida Maia5, Gisele Pimenta6, Sallisa Vasco7, Thiago Moreira de Oliveira8, Ana Carolina Almeida Machado9 FACOMB/UFG/TV UFG
nmeros da apurao, por meio de software disponibilizado TV UFG pela TV Brasil, que possua um deley10 de apenas 5 segundos em relao aos dados lanados no sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). ressignificar as fronteiras da comunicao e informao Em virtude das limitaes de equipamentos, decidiu-se que os boletins ao vivo do dia 03 de outubro teriam que ser feitos no prprio prdio da TV UFG. Um set de transmisso 08 ae12 de novembro foi montado na sala que at ento era compartilhada pela Gerncia da emissora pela direo executiva da Fundao RTVE11. O cenrio foi composto apenas por um banner com Universidade Federal Gois e contra-luz. Posicionada em p, em frente ao banner, a apresena identidade visual da cobertura das eleies 2010 pela TV UFG e a iluminao por luz principal, de de preenchimento Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia tadora conduziu 27 entradas ao vivo.
Ilustraes 1 e 2: Cenrio da cobertura das Eleies 2010 e resultado final na telinha da TV UFG.
As equipes de rua foram conduzidas pelas jornalistas Gisele Pimenta e Sallisa Vasco. Por limitaes financeiras, de incio constatou-se que a cobertura no contaria com equiequipes de rua foram conduzidas Gisele Pimenta Sallisae Vasco. pamentos que permitissem a transmisso As ao vivo de sinal de udio e vdeo. Decidiu-sepelas ento jornalistas que as reprteres gravariam as e matrias as fitas seriam buscadas por um motoboy contratado especialmente para a ocasio, pois a sede da TV UFG localiza-se no Cmpus Samambaia da UFG, local distante das pautas do dia. Por limitaes financeiras, de foi incio constatou-se que cobertura no contaria J a participao ao vivo das equipes externas e dos correspondentes garantida via audiotape. Uma a cartela com a identidade visual dacom cobertura, acompanhada de um mapa e foto que localizava o(a) jornalista foi montada para cada reprter ou correspondente. Fazendo rdio TV, ode udio tape e cumpriu importante papel, pois possibilitou entradas equipamentos que permitissem a transmisso ao vivo dena sinal udio vdeo.um Decidiu-se ao vivo com notcias de ltima hora e panoramas do dia da votao em Goinia e em diversas cidades do interior do estado. Estudantes e alunos egressos da Facomb/UFG foram convidados a fazer flashes das cidades doque interior estado onde votam. A transmisso contou flashes de Anpolis, Aparecida de motoboy Goinia, Cidade de Gois e Caldas Novas. ento as do reprteres gravariam as matrias e ascom fitas seriam buscadas por um
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foto que localizava o(a) jornalista foi montada para cada reprter ou correspondente. Fazendo rdio SOBRE na TV, o tape cumpriu um TELEVISIVA importante papel, pois possibilitou entradas ao vivo TV UFG: DESAFIOS, CAMINHOS E REFLEXES A udio MAIOR COBERTURA DO DIA DA VOTAO NAS ELEIES EM GOIS com notcias de2010 ltima hora e panoramas do dia da votao em Goinia e em diversas cidades
4 5 6 Rosana Maria Ribeiro Borges2, Michael Valim3, Vanessa Bandeira , Vivian Cndida Maiae , alunos Gisele Pimenta , da Facomb/UFG foram convidados a fazer do interior do estado. Estudantes egressos 7 8 9 Sallisa Vasco , Thiago Moreira de Oliveira , Ana Carolina Almeida Machado flashes das FACOMB/UFG/TV UFGcidades do interior do estado onde votam. A transmisso contou com flashes de
Mas os flashes no foram as nicas produes das equipes externas da TV UFG, que tambm elaborou diversas matrias de pautas como a inovao da urna biomtrica em Hidrolndia (GO), a votao dos principais candidatos, os detidos por irregularidades no dia da votao, a declarao dos dois candidatos que disputaram o segundo turno em Gois, a poluio ambiental em Goinia e o panorama do dia 03 de outubro, entre outras. Alm do corpo diretivo da TV UFG, a equipe que participou do processo de cobertura do primeiro turno das eleies foi composta por editores, cinegrafistas, auxiliares de cinegrafia, operadores de mesa, engenheiros, jornalistas e radialistas. Neste dia, funes que comumente as pessoas ali desenvolvem foram reordenadas, de modo a possibilitar a execuo do que havia sido planejado. A Gerncia da TV UFG assumiu a direo geral do processo, ao lado do Coordenador de Imagem, que dirigiu o set de gravao; da Coordenadora de Produo, que comandou equipes internas; da equipe de Engenharia, que cuidou das questes tcnicas e do Coordenador de Programao, responsvel por afinar os Boletins da TV UFG com os da TV Brasil. Um roteirista foi para a escuta e elaborou as notas de entradas ao vivo dos Boletins; outra roteirista, que tambm jornalista, assumiu uma equipe de rua e assim, solidariamente, com convico e empenho, a cobertura foi realizada num processo que comeou s 06 horas da manh e foi encerrado s 23h45. O planejamento da cobertura do dia da votao foi totalmente cumprido. Porm, houve alguns acrscimos nas entradas ao vivo, caracterizadas por uma vinheta de planto, em virtude das informaes de ltima hora que, no julgamento da direo da transmisso, deveriam ter prioridade, tal como o incio de incndio no Comit do candidato Marconi Perillo momentos antes da sua chegada no local, por volta das 19 horas. A avaliao feita da cobertura do primeiro turno das Eleies 2010 pela TV UFG surpreendeu, no s pela quantidade de entradas (27 vezes ao vivo) que garantiu o destaque de maior cobertura televisiva deste pleito no Estado de Gois, mas tambm pela qualidade dos contedos elaborados e transmitidos.
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5 ressignificar as Cndida fronteiras comunicao Rosana Maria Ribeiro Borges2, Michael Valim3, Vanessa Bandeira4, Vivian Maiada , Gisele Pimenta6, e informao 9 08 aMachado 12 de novembro Sallisa Vasco7, Thiago Moreira de Oliveira8, Ana Carolina Almeida FACOMB/UFG/TV UFG Universidade Federal de Gois
Ilustrao 4: Notcia publicada no stio da UFG sobre a cobertura televisiva do dia da votao no primeiro turno das eleies 2010 em Gois, considerada a maior do Estado (www.ufg.br).
O planejamento feito para a cobertura do dia da votao no segundo turno diferenciouse do primeiro por inovaes: ampliao das equipes de reportagem (no primeiro O planejamento feito para a cobertura do dia da votao noalgumas segundo turno diferenciouturno havia duas equipes e no segundo, elas foram ampliadas para quatro); prioridade para entrevistas ao vivo, no set de transmisso; transmisses ao vivo para a TV Brasil via up-link se ao dovivo, primeiro por algumas inovaes: equipes de reportagem primeiro enviado Goinia pela mesma; entrada via software de exibio de udio ampliao e vdeo que das possibilita a comunicao pela(no internet atravs de conexes de voz sobre IP (VoIP), de correspondentes internacionais, alunos egressos da Facomb/UFG que esto em programas de ps-graduao na Argentina e em Portugal; participao da Assessoria de Comunicao turno havia duas equipes e no segundo, elas foram ampliadas para quatro); prioridade para da Fundao RTVE que, fundamentalmente em edies digitais, alimentou as mdias sociais da TV UFG (Orkut, twiter, web site da Fundao RTVE e facebook) e produziu notcias para a Agncia Brasil de Comunicao e integrao dos estagirios e da Assessoria de Comunicao da UFG naBrasil equipevia de trabalho entrevistas ao vivo, da no RedeIFES/UFG set de transmisso; transmisses ao vivo para a TV up-link e de correspondentes do interior.
enviado Goinia pela mesma; entrada ao vivo, via software de exibio de udio e vdeo que
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postadas na plataforma de compartilhamento de contedos audiovisuais da TV Brasil, a fim de que pudessem tambm ser aproveitadas na cobertura realizada por esta. TV UFG: DESAFIOS, CAMINHOS E REFLEXES SOBRE A MAIOR COBERTURA TELEVISIVA Como a transmisso no diaGOIS 31 de outubro contaria com entrevistas ao vivo, um novo DO DIA DA VOTAO NAS ELEIES 2010 EM
3 5 6 banner foi confeccionado para acomodar, cenrio, a apresentadora e a pessoa entrevistada. Rosana Maria Ribeiro Borges2, Michael Valim , Vanessa Bandeira4, Vivian Cndida Maiano , Gisele Pimenta , 7 8 9 de Oliveira , Ana Carolina Almeida Machado Sallisa Vasco , Thiago Moreira A sala, que no primeiro turno comportava a Gerncia da TV UFG e a Direo Executiva da FACOMB/UFG/TV UFG Fundao RTVE, em virtude de uma reforma no prdio, havia sido dividida, o que ocasionou,
nos testes preliminares, um grande problema: sem ar condicionado, a iluminao, que no Optou-se por manter o mesmo esquema de envio das matrias para a UFG, via teria motoboy, bemmais como a participao ao vivo por meio do audiotape. Estabeleceu-se que primeiro turno estava gravadas mais dispersa e TV que agora que ficar condensada, esquentava as equipes de rua dariam prioridade para as cenas de cobertura de notcias que seriam dadas ao vivo, do set de transmisso, pela apresentadora do Boletim Informativo das Eleies tanto que no era possvel falar sequer dois minutos sem que ode rosto da apresentadora contedos ou de 2010. No entanto, diversas matrias foram consolidadas, transmitidas na emissora e postadas na plataforma compartilhamento de audiovisuais da TV Brasil, a fim de que pudessem tambm ser aproveitadas na cobertura por esta. a entrevista ficasse completamente suado. No entanto, no dia da quem realizada estava concedendo Como a transmisso no dia 31 de outubro contaria com entrevistas ao vivo, um novo banner foi confeccionado para acomodar, no cenrio, a apresentadora e a pessoa entrevistada. votao, da uma alterao climtica Goinia RTVE, trouxe uma de chuva contnua A sala, que no primeiro turno comportava a Gerncia TV UFG e a Direo Executivaem da Fundao em virtude uma reforma no e, prdio, havia sido dividida, o que ocasionou, nos testes preliminares, um grande problema: sem ar condicionado, a iluminao, no primeiro estavaque maisantes dispersa e que agora teria que ficar mais condensada, esquentava consequentemente, uma queda na que temperatura. O turno problema, no poderia ser tanto que no era possvel falar sequer dois minutos sem que o rosto da apresentadora ou de quem estava concedendo a entrevista ficasse completamente suado. No entanto, no solucionado, foi, por obra da natureza, resolvido, pois a sala, apesar de mais quente do que as dia da votao, uma alterao climtica em Goinia trouxe uma chuva contnua e, consequentemente, uma queda na temperatura. O problema, que antes no poderia ser solucionado, foi, por obra da natureza, resolvido, pois a sala, apesar de mais quente do que as demais, ficou com uma temperatura agradvel. demais, ficou com uma temperatura agradvel.
Ilustrao 5: Novo set de transmisso ao vivo do segundo turno: espao reduzido pela metade, banner refeito e clima ameno resolvendo o problema do calor gerado pela iluminao.
A produo prvia de matrias frias foi mantida. O perfil dos candidatos, o balano da votao no primeiro turno, os desafios do governador eleito em Gois e a composio das banA produo prvia matrias foi mantida. O perfil dosantes candidatos, o balano da cadas parlamentares na Assemblia Legislativa so alguns exemplos de de pautas cujasfrias matrias foram consolidadas do dia 31 de outubro. votao no primeiro turno, os desafios do governador eleito em Gois e a composio das 481
vista tcnico, quanto de contedo. Ana Lcia Nunes, ex-aluna da Facomb/UFG e mestranda em Buenos Aires, fez uma participao ao vivo no meio da tarde na qual abordou o clima
TV UFG: DESAFIOS, CAMINHOS E REFLEXES SOBRE no A MAIOR COBERTURA TELEVISIVA entre os brasileiros dia da votao do segundo turno e tambm falou da conjuntura poltica DO DIA DA VOTAOeNAS 2010 EMIvo GOIS socialELEIES da Argentina. J Pedro Freire Vieira, que tambm est cursando mestrado em
4 5 6 Rosana Maria Ribeiro Borges2, Michael Valim3, Vanessa Bandeira , Vivian Cndida , Gisele , Coimbra, fez uma participao deMaia manh, na Pimenta qual localizou o contexto da votao 7 8 9 Sallisa Vasco , Thiago Moreira de Oliveira , Ana Carolina Almeida Machado presidencial no pas, e uma no final da tarde, j falando os resultados da votao dos FACOMB/UFG/TV UFG
Os flashes ao vivo dos correspondentes internacionais funcionaram, tanto do ponto de vista tcnico, quanto de contedo. Ana Lcia Nunes, ex-aluna da Facomb/UFG e mestranda tempo entre uma ligao telefnica e outra, j que em todos os boletins havia, ao menos, em Buenos Aires, fez uma participao ao vivo noao meio da tarde na qual abordou o clima entre os brasileiros no dia da votao do segundo turno e tambm falou da conjuntura poltica duas entradas externas. Entre a finalizao de uma ligao ea entrada ao vivo do reprter e social da Argentina. J Pedro Ivo Freire Vieira, que tambm est cursando mestrado em Coimbra, fez uma participao de manh, na qual localizou o contexto da votao presidencial no pas, e uma no final da tarde, j falando os resultados da votao brasileiros residentes em Portugal, maior colgio fora do pas. seguinte, em geral, a dos direo tinha um tempo de trinta segundos, pois da cartelaeleitoral do audiotape Tanto no primeiro quanto no segundo turno, uma particularidade da participao ao vivo das equipes de rua e dos correspondentes do interior do Estado via audiotape diz respeito de quem estava falando, era feito um corte para a apresentadora no set de transmisso, que lia ao tempo entre uma ligao telefnica e outra, j que em todos os boletins havia, ao menos, duas entradas externas. Entre a finalizao de uma ligao e a entrada ao vivo do reprter nota e chamava oda correspondente seguinte. de Apesar deestava arriscado, pois era nemfeito sempre seguinte, em geral, a direo tinha um tempo de uma trinta segundos, pois cartela do audiotape quem falando, um a corte para a apresentadora no set de transmisso, que lia uma nota e chamava o correspondente seguinte. Apesar de arriscado, pois nem sempre a ligao para um celular completada ligao para um celular completada com xito na primeira chamada, no houve nenhum furo com xito na primeira chamada, no houve nenhum furo neste processo.
neste processo.
vivo das equipes de rua e dos correspondentes do interior do Estado via audiotape diz respeito
Ilustraes 6 e 7: Na primeira fotografia, a apresentadora no set de transmisso aguardava a finalizao da participao ao vivo da reprter Gisele Pimenta. Na segunda fotografia, instantes depois, a apresentadora Vivian Maia j estava no ar, enquanto a Gerente da TV UFG Rosana Borges ligava para a correspondente do interior, jornalista Marcela Guimares e torcia para que a mesma atendesse o telefone na primeira tentativa.
A avaliao da cobertura do mais dia da votaoque do segundo turno pela TV foi mais A avaliao da cobertura do dia da votao do segundo turno pela TV UFG foi positiva a primeira. Apesar deUFG ainda ter que manter o audiotape, as cenas de cobertura enviadas pelas equipes de rua melhoraram qualitativamente as a entradas ao vivo no disso, a correspondentes nacionais aumentou consideravelmente com positiva que primeira. Apesar deestdio. ainda terAlm que manter oparticipao audiotape, as dos cenas de cobertura
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Universidade Federal de Gois Faculdade de Comunicao e Biblioteconomia enviadas pelas equipes de rua melhoraram qualitativamente as entradas ao vivo no estdio. TV UFG: DESAFIOS, CAMINHOS E REFLEXES SOBRE A MAIOR COBERTURA TELEVISIVA Alm disso, a participao dos correspondentes DO DIA DA VOTAO NAS ELEIES 2010 EM GOIS nacionais aumentou consideravelmente com a incluso Bandeira de outros 4estudantes da Facomb/UFG no quadro de colaboradores. Alm dos flashes 6 Rosana Maria Ribeiro Borges2, Michael Valim3, Vanessa , Vivian Cndida Maia5, Gisele Pimenta , 8 9 Anpolis, Aparecida de Goinia Machado e da Cidade de Gois, que j haviam ocorrido no primeiro Sallisa Vasco7, Thiago Moreira dede Oliveira , Ana Carolina Almeida FACOMB/UFG/TV turno, no diaUFG 31 de outubro, foram programadas participaes de pessoas que estavam em Braslia, em Rondonpolis e em Goiansia. No entanto, apenas a participao de Goiansia foi concretizada, em virtude de problemas com telefones celulares dos correspondentes das
a incluso de outros estudantes da Facomb/UFG no quadro de colaboradores. Alm dos flashes de Anpolis, Aparecida de Goinia e da Cidade de Gois, que j haviam ocorrido no demais cidades. primeiro turno, no dia 31 de outubro, foram programadas participaes de pessoas que estavam em Braslia, em Rondonpolis e em Goiansia. No entanto, apenas a participao de Assim como ocorreu em 03correspondentes de outubro, a cobertura do dia da votao no segundo Goiansia foi concretizada, em virtude de problemas com telefones celulares dos das demais cidades. Assim como ocorreu em 03 de outubro, a cobertura doeleies dia da votao no segundo turno das eleies realizada pela do TV Estado UFG tambm foi considerada a maior do Estado de Gois, turno das 2010 realizada pela TV UFG tambm foi 2010 considerada a maior de com quinze horas de durao. Gois, com quinze horas de durao.
Ilustrao 8: Notcia publicada no stio da UFG sobre a cobertura televisiva do dia da votao no segundo turno das eleies 2010 em Gois, novamente considerada a maior do Estado.
3.1. Especificaes Tcnicas das Transmisses 3.1. Especificaes Tcnicas das Transmisses Na cobertura do dia da votao do primeiro e segundo turnos, a TV UFG contou com dois stios de operaes: Morro do Mendanha e Estdio (set de transmisso na sede da emissora). O servio de radiodifuso de sons e imagens foi executado conforme a legislao vigente, que exige a disponibilizao de um sinal de alta qualidade de udio e vdeo, sem Na cobertura do dia da votao do primeiro e restrita segundoao turnos, a TV UFG contou com rudos, fantasmas e/ou perturbaes, com fins exclusivamente educativos, cuja ocupao est canal/frequncia 14-E/470-476 MHz, para operar na faixa de UHF (do indois stios de operaes: Morro do Mendanha e Estdio (set de transmisso na sede da emissora). O servio de radiodifuso de sons e imagens foi executado conforme a legislao
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High Frequency)
metropolitana de Goinia/GO. Foi aplicada a tcnica definida como Beam-Tilt13, com o TV UFG: DESAFIOS, CAMINHOS E REFLEXES SOBRE A MAIOR COBERTURA TELEVISIVA objetivo de possibilitar uma maior cobertura da emissora em regies de bloqueio, totalizando DO DIA DA VOTAO NAS ELEIES 2010 EM GOIS uma rea de cobertura 4de aproximadamente 40 km de raio a partir do sistema irradiante 2 3 5 6
Rosana Maria Ribeiro Borges , Michael Valim , Vanessa Bandeira , Vivian Cndida Maia , Gisele Pimenta , 8 9 localizado no stio de operao no Morro do Mendanha, o que vai de encontro com as Sallisa Vasco7, Thiago Moreira de Oliveira , Ana Carolina Almeida Machado FACOMB/UFG/TV UFG
exigncias da referida concesso pelo Cdigo Brasileiro de Telecomunicaes, leis subsequentes e seus regulamentos.
Todo o declarado contedopara televisivo produzido na pela TVmetropolitana UFG foi transmitido ao Morro do a tcnica definida como Beam-Tilt13, gls: Ultra High Frequency)12 no canal 14-E (quatorze, menos, educativo), regio de Goinia/GO. Foi aplicada com o objetivo de possibilitar uma maior cobertura da emissora em regies de bloqueio, totalizando uma rea de cobertura de aproximadamente 40 km de raio a partir do sistema Mendanha por meio de links de microondas. De l, foi irradiado para a regio metropolitana irradiante localizado no stio de operao no Morro do Mendanha, o que vai de encontro com as exigncias da referida concesso pelo Cdigo Brasileiro de Telecomunicaes, leis subsequentes e seus regulamentos. de Goinia, atravs de ondas eletromagnticas que atingem mais de 2 milhes de possveis Todo o contedo televisivo produzido pela TV UFG foi transmitido ao Morro do Mendanha por meio de links de microondas. De l, foi irradiado para a regio metropolitana de telespectadores. Goinia, atravs de ondas eletromagnticas que atingem mais de 2 milhes de possveis telespectadores.
Ilustraes 10 e 11: Antena Parablica para recepo de Sinal via Satlite da TV Brasil e antenas de Transmisso Tx dos dois links de microondas instaladas no Stio de Operao Estdio da TV UFG (Foto: OLIVEIRA, T. M.) e Antena de Transmisso UHF, modelo SLOT 12 fendas, localizada no Morro do Mendanha (Foto: SIQUEIRA, Carlos Ascom/UFG).
Para realizar as transmisses a microondas, TV UFG contou com e dois sistemas de enlaces de redundncia no sistema de transmisPara realizar as transmisses a TV UFG contou com dois sistemas de enlaces de um principal um reserva, capazes de conferir so, que opera na frequncia de 13, 059 GHz e polarizao vertical, enquanto o enlace de microondas opera na frequncia de 13, 115 GHz e polarizao horizontal, respectivamente. microondas, um principal e um reserva, capazes de conferir redundncia no sistema de O objetivo desta configurao garantir a no interrupo do enlace em virtude de chuvas e/ou outros fenmenos, tais como desvanecimentos planos e seletivos. As antenas de transmisso Tx de ambos esto localizadas na sede da opera TV UFG, e as antenas dede recepo Rx tambm de ambos, vertical, esto instaladas no Morro transmisso, que na frequncia 13, 059 GHz e polarizao enquanto o do Mendanha, o que atende ao critrio de visada direta. A redundncia no sistema de transmisso tem a finalidade de evitar interrupes na programao, especialmente no dia da cobertura das eleies, pois caso enlace de h microondas opera na frequncia de 13, 115 GHz e polarizao horizontal, haja algum problema no equipamento principal, uma comutao automtica para o equipamento reserva. respectivamente. O objetivo desta configurao garantir a no interrupo do enlace em
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Rosana Maria Ribeiro Borges2, Michael Valim3, Vanessa Bandeira4, Vivian Cndida Maia5, Gisele Pimenta6, Sallisa Vasco7, Thiago Moreira de Oliveira8, Ana Carolina Almeida Machado9 FACOMB/UFG/TV UFG
A TV UFG contou no apenas com programao prpria relativa cobertura das eleies 2010, como tambm retransmitiu produes advindas da cabea de rede, ou seja, da TV Brasil. Tal programao recebida via satlite, atravs do satlite Star One C2 14 que opera na banda C, cuja posio orbital 70 W, polarizao vertical, frequncia 3,656 kHz, padro DVB-S, Symbol Rate 3931, FEC 3/4, PID de Vdeo 4130, PID de udio 4131, PID de PCR 4130 correspondente a frequncia na banda L de 1,494 kHz. 4. CONSIDERAES FINAIS A experincia que a equipe da TV UFG acumulou na cobertura das eleies 2010 ultrapassa o carter tcnico do fazer jornalstico, que, definitivamente, no s tcnica, mas, sobretudo, formao, convico e paixo, pois engloba aspectos que talvez, em virtude da proximidade dos fatos com a escrita deste artigo, a conscincia ainda no teve tempo suficiente para registrar. O que se pode afirmar neste momento que foi uma experincia nica, singular, que contou no s com o profissionalismo de todos envolvidos, mas que, fundamentalmente, foi movida pelos princpios ticos e pelo compromisso poltico de quem est construindo, cotidianamente, a primeira emissora televisiva realmente pblica, educativa e cultural do Estado de Gois. A TV UFG vem sendo consolidada por meio de um ambiente de trabalho edificado numa outra lgica, diferente da racionalidade do capital, onde a equipe colabora, produz e cria no porque as pessoas so simplesmente adjetivadas como colaboradores, mas porque compreendem que tm um papel a cumprir e entendem que o seu trabalho valorizado, respeitado e sempre bem vindo. No temos nenhum editor que simplesmente edita! Nossos editores so criadores, assim como nossos jornalistas ou engenheiros. O mesmo ocorre com os cinegrafistas, operadores de mesa e todos os profissionais que ali esto e que compreendem a importncia do trabalho solidrio, colaborativo e criativo. Talvez por isso, mesmo diante de tantos desafios alguns sem possibilidades de controle, tal como a temperatura da sala onde o set de transmisso do segundo turno foi montado, que foi amenizada pela chuva do dia 31 de outubro so superados e os resultados vislumbrados, alcanados com tanto sucesso. Se quem chegou at aqui se decepcionou com a falta de referencial terico deste artigo, fica registrado um esclarecimento: a inteno dos autores foi justamente esta e isso no quer dizer que no temos referenciais terico-metodolgicos que guiem nossas aes. Como dito no incio, o que se buscou ao registrar esta experincia na Feicom 2010 foi a construo de um case que pode ser de alguma utilidade no s para a UFG, mas para outras televises pblicas brasileiras. Melhor do que fazer televiso fazer televiso pblica, ainda mais no ambiente de uma Universidade da envergadura desta que nos acolhe.
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Rosana Maria Ribeiro Borges2, Michael Valim3, Vanessa Bandeira4, Vivian Cndida Maia5, Gisele Pimenta6, Sallisa Vasco7, Thiago Moreira de Oliveira8, Ana Carolina Almeida Machado9 FACOMB/UFG/TV UFG
NOTAS 1 Trabalho apresentado na V FEICOM: Ressignificar as fronteiras da comunicao e informao. De 08 a 12 de novembro de 2010, em Goinia GO. 2 Professora do Curso de Jornalismo da Facomb/UFG; Gerente da TV UFG. E-mail: [email protected]. 3 Coordenador de Imagem da TV UFG. E-mail: [email protected]. 4 Coordenadora de Produo da TV UFG. E-mail: [email protected]. 5 Jornalista da TV UFG. E-mai: [email protected] 6 Jornalista da TV UFG. E-mai: [email protected] 7 Jornalista da TV UFG. E-mail: [email protected]. 8 Engenheiro da TV UFG. E-mail: [email protected]. 9 Engenheira da TV UFG. Email: [email protected]. 10 Deley: termo tcnico usado para designar o retardo de sinais, em reverberao, eco, ou em equipamentos eletrnicos em geral, geralmente o atraso de som nas transmisses. 11 No dia 31 de outubro, data em que foi realizado o segundo turno das Eleies 2010 no Brasil, em virtude de uma reforma, esta sala foi dividida ao meio, o que, como se ver mais adiante, alterou completamente a configurao do set de transmisso ao vivo na TV UFG. 12 Ultra High Frequency: Significa Frequncia Ultra Alta. Designa a faixa de radiofrequncias de 300 MHz at 3 GHz. uma frequncia comum para propagaes de sinais de televiso e de canais em HDTV (canais 14 ao 83), rdio e transceptores. 13 Beam-Tilt: Inclinao do lbulo principal no plano vertical da antena transmissora, para adequar o diagrama de radiao ao contorno da rea de cobertura existente. Para tanto, realiza-se um ajuste da posio vertical da antena com o ngulo variando de 0o a 90o, denominado de Tilt Mecnico. 14 Star One C2: S brasileiro que opera em Banda C (Espectro de frequncia segundo o IEEE: 3,9 GHz at 6,2 GHz; Espectro de frequncia comercial utilizado - 3,7 GHz at 6,425 GHz. utilizado um sinal de frequncia 6 GHz para comunicao no sentido Terra ao satlite e 4 GHz no sentido satlite Terra) e Banda Ku (Espectro de frequncia segundo o IEEE: 15,35 GHz at 17,25 GHz; Espectro de frequncia comercial utilizado - 10,7 GHz at 18 GHz. utilizado um sinal de frequncia 14 GHz para comunicao no sentido Terra ao satlite e 12 GHz no sentido satlite Terra) e pertence empresa Star One, possuindo polarizao linear e a capacidade de 28 C transponders. Seu lanamento ocorreu no dia 12 de abril de 2008 e sua vida til de 12 anos.
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conselHo ediTorial:
Luiz Cludio Martino (UnB) Goiamrico Felcio Carneiro dos Santos (UFG) Lisandro Nogueira (UFG) Marli dos Santos(UMESP) Ana Carolina Rocha Pessa Temer (UFG) Magno Medeiros (UFG)
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