A Cavalaria Orlando Fedeli
A Cavalaria Orlando Fedeli
A Cavalaria Orlando Fedeli
Orlando Fedeli
" Agora, quem no tem uma espada, venda o manto e compre uma" (S.Lucas XXII, 36). "Maldito aquele que no ensangentar a sua espada" (Jer. XLVIII, 10). " Por que os inimigos de Deus no so mais os inimigos dos cristos?" (Guilherme de Tiro pregando a 3 cruzada apud Joseph Franois Michaud, Histria. das Cruzadas, Ed.das Amricas, So Paulo, 19 ??, 7 volumes, Vol. IIl, pg.12). Introduo Era um fim de batalha. Foi em Hattin (Tiberades), em 4 de Julho de 1187. Nessa batalha Saladino desbaratou, por castigo, os exrcitos cristos da Palestina liderados pos chefes depravados. Por toda parte os corpos de cruzados cobertos de sangue atestavam sua fidelidade e, desgraadamente, sua derrota. Os maometanos haviam triunfado na batalha de Tiberades. Os principais chefes cristos e at mesmo o rei de Jerusalm caram prisioneiros de Saladino. S um homem continuava a lutar. Coberto do ferro e sangue, montado num cavalo branco espumante e exausto, cercado de infiis, o ltimo cavaleiro resistia. Sua espada descrevia terrveis molinetes e a seu redor estavam mortos os inimigos que haviam ousado aproximar-se dele. Os maometanos o contemplavam, de longe, e no furor de seus olhos brilhava tambm, apesar de tudo, uma centelha de admirao. Que homem era esse que no capitulava? Que tipo de homem era esse que no cedia, nem recuava? Quem gerara um filho de tal porte? Quem forjara essa aIma-couraa e esse corao indomvel? Feridos e exangues cavalo e cavaleiro caem por terra. Imediatamente, ele se reergue e se lana sobre os inimigos. Tudo acaba. Tudo no. S no termina a admirao. A morte do heri at a fizera crescer. E os turcos e os curdos, os semi-brbaros, os maometanos, os inimigos, se aproximam e molham seus albornozes no sangue do cruzado morto, e repartem suas vestes e armas para conservar algo de lembrana do mais valente dos homens. (Cfr. Joseph Franois Michaud, Histria das Cruzadas, Ed.das Amricas- vol.II pp.397/393). Quem era este homem de corao de ferro? Que Me concebera um tal heri? Ele era um filho da Igreja Catlica. Ele era um cavaleiro. Era o Marechal do Templo Jacques de Mailly. Antes da batalha, ele discordara do plano imprudentemente louco que o orgulhoso Gro Mestre do Templo - o pssimo Gerard de Ridefort havia imposto aos cruzados. O Gro Mestre insultou Jacques Mailly, acusando-o publicamente de covardia: Voc gosta demais de sua cabea loira, pois que to bem a quer manter Ao que o Marechal do Templo retrucou: Eu me farei matar como um nobre, e ser voc quem vai fugir. Jacques Mailly partiu ao ataque frente de 150 cavaleiros templrios contra todo o exrcito maometano, com um tal ardor que, escreveu Ibn Al-Athir, que as cabeleiras mais negras teriam embranquecido de pavor (Ren Grousset, Histoire des Croisades, Plon, Paris, 1934, 3 volumes, III Volume, p. 784). Grard de Ridefort escapou vivo da derrota de Tiberades. Foi feito prisioneiro com o Rei Guy de Lusignan e com centenas de cavaleiros das Ordens Militares. Saladino fez massacrar todos os cavaleiros Templrios e Hospitalrios aprisionados em Hattin. Mas, Grard de Ridefort teve a vida poupada... Isto aconteceu nas Cruzadas, num tempo em que havia f, tempo em que se seguia o conselho de Cristo: "agora, quem no tem uma espada, venda o manto e compre uma". Isto aconteceu na Idade Mdia, doce primavera da F, -- primavera na qual podiam acontecer dias de tempestade negra -- quando havia heris e traidores. Luz e trevas. Inquisio e hereges. Mas em que a Luz dominava as trevas. Isto aconteceu no tempo em que "havia escudos brancos, quando havia cruzados francos".
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Origem da Cavalaria
A Cavalaria... Um turbilho de homens, estandartes esvoaantes ao vento da glria, precipitando-se sobre os infiis, numa cavalgada de f e de herosmo. Que era a Cavalaria? Que era o cavaleiro? A Cavalaria era a forma crist da condio militar e o cavaleiro era o soldado cristo na sua plenitude, segundo explica Lon Gautier. (Cfr. Lon Gautier, La Chevalerie, edio resumida da edio original--Arthaud, Paris 1959, p. 27). Mais do que uma instituio, a Cavalaria foi um ideal de vida militar. Foi por meio dela que a Igreja transformou os brbaros em santos. Quando se compara um soldado brbaro, valente, mas ainda cruel, forte, mas grosseiro, com os santos produzidos pela Cavalaria compreende-se o valor dela. So Luis, rei de Franca, So Fernando, rei de Castela, o condestvel de Portugal, Nunlvares Pereira, e Santa Joana D' Arc, foram alguns dos santos gerados pela Cavalaria. Gerados pela Igreja, por meio da Cavalaria. Por isso, ela era admirada at pelos infiis e por incrvel que parea at um comunista como o Padre Joseph Comblin, defensor da Teologia da Libertao, apesar de cair em certa confuso entre nobreza e cavalaria, diz dela o seguinte: "Apesar de todos os defeitos que so bem conhecidos, a Cavalaria medieval deu a Igreja uma coleo de Santos e Santas, como nenhuma, classe social jamais deu, justamente porque eram a verdadeira elite social, a santidade se multiplicou neles pelo herosmo de profisso, pela consagrao de energias magnficas. Bastaria evocar os santos e as santas, reis e rainhas. Desde o sculo XIII nunca mais houve tantos santos entre os chefes dos Estados, chamados catlicos. Houve muito mais hipocrisia, no houve mais santos. Seria preciso citar os santos de Cluny e Citeaux, os santos Papas e bispos que a nobreza deu a Igreja. Ora, o herosmo da nobreza posto a servio da santidade de Cristo marcou profundamente o catolicismo europeu e subsiste ainda como apelo ao herosmo: p.ex: a vocao missionria de tantos jovens europeus (missionrios no sentido de misses estrangeiras) deriva diretamente do esprito de Cavalaria" (Pe. Joseph Comblin, Os sinais dos tempos e a Evangelizao - Ed. Duas Cidades - 1968, So Paulo pg.82)
A Cavalaria foi a transposio do feudalismo para as relaes entre Deus e os homens. O Feudalismo consistia essencialmente numa relao pessoal entre suserano e vassalo pela qual um pertencia ao outro. Eles eram como pai e filho adotivos. O vassalo devia a seu baro honra, servio e obedincia. O suserano devia ao vassalo honra, justia e proteo. Um era do outro. Assim como os vassalos de um baro serviam seu senhor, seguiam sua bandeira e defendiam seu feudo, assim os cavaleiros serviam a Deus. Os cavaleiros eram os vassalos de Deus e os soldados da f. Deus le beau Sire Dieu, o bom senhor feudal, -- era o seu baro.Os cavaleiros seguiam a sua bandeira e queriam reconquistar o seu feudo a Terra invadida pelos infiis e hereges. Para eles, Nossa Senhora era a Dama, a Senhora, a Rainha que eles deviam servir, como os vassalos serviam a sua castel, senhora de um feudo terreno. Esta relao feudal de Deus e de Nossa Senhora com os cavaleiros era to viva, e o modo pelo qual eles se referiam a Deus era to real, que, s vezes, provocava confuso. Quando Santa Joana d' Arc apresentou-se, em Vaucouleurs, ao capito Robert de Beaudricourt, pedindo-lhe soldados para ir salvar a Frana, deixou-o confuso ao dizer-lhe: "A Frana no pertence nem ao Sire da Inglaterra nem ao Sire da Frana, mas a Meu Sire". O capito, espantado, pois j havia dois Reis disputando o trono da Frana, e agora ela lhe anunciava a pretenso de um terceiro, perguntou: E quem teu Sire? E ela, singelamente lhe respondeu: "Messire est Dieu". (Meu Rei Deus). Santa Teresa, que nasceu em "vila de los Reyes", na "vila de los Caballeros", referia-se a Nosso Senhor, chamando-o de Sua Majestade, pois Ele era seu Rei vivo.
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Era assim que os cavaleiros viam a Deus. No como entidade abstrata, mas como ser muito real, que vivia a seu lado, que participava de seus combates. Qual foi a origem da Cavalaria? A Cavalaria teve origem na cristianizao dos costumes brbaros. Em todos os povos, mesmo pagos, se encontra, entre os soldados, a noo de prtica de guerra e das virtudes guerreiras de modo elevado. Entre os japoneses, esse ideal formou o cdigo de honra dos samurais. Essa tendncia natural do homem de praticar as virtudes blicas de modo ideal e perfeito foi cristianizado pela Igreja na Cavalaria. Os brbaros amavam a guerra a tal ponto que ingenuamente imaginavam que no seu cu haveria contnuas batalhas. A Igreja procurou ordenar o ardor blico dos brbaros e regular o seu amor e esprito de luta, dando-lhes um motivo a luta por Deus -- e seu fim: a conquista da Terra Santa. Na Europa, a Cavalaria nasceu dos costumes germnicos cristianizados pela Igreja. Ela no surgiu por um decreto, nem foi fundada por um homem determinado. Desabrochou naturalmente dos costumes germnicos, sobrenaturalmente purificados pelo cristianismo. Os brbaros que invadiram a Europa tinham uma alma herica. A Igreja procurou regrar sua coragem transformando-a em fortaleza crist. J que queriam combater e que amavam a luta, a Igreja lhes deu uma finalidade santa: lutar por Deus. Os tempos pacifistas, relativistas e ecumnicos em que vivemos, em que "h guerras e rumores de guerra", tempos prprios para os falsos profetas chamarem Pax! Pax!, quando no h paz, no admitem a liceidade da guerra, que consideram um ato brbaro e injusto em si, sem possibilidade de ser santificado. Tempos, os nossos, em que se vendem as espadas, para se comprarem mantos. Tempos pacifistas que obrigam a uma explicao: a guerra lcita? No a guerra uma coisa essencialmente contrria, ao esprito cristo? No se deve buscar a paz? A Igreja sempre ensinou que a guerra um mal, mas um mal, s vezes, necessrio, para evitar um mal maior. Ela como uma operao cirrgica, que sempre um mal menor e necessrio para evitar o mal maior da morte. A guerra uma operao cirrgica no mundo, para exterminar o cncer da injustia. Ela visa restabelecer a justia, porque, sem esta, no h paz verdadeira. "Opus justitiae pax. A paz o efeito da justia. Uma paz que consista apenas na inexistncia de lutas armadas comparvel paz do canceroso que no sabe de seu mal, e que, por isso, no se opera, pensando que est bem, enquanto a morte silenciosamente corri suas entranhas. A guerra , pois, lcita quando visa restabelecer a justia. A paz a tranqilidade na ordem, ensinou Santo Agostinho. Quando a desordem e a injustia perturbam a paz, preciso restaurar a justia pela espada. Assim como o mdico restaura a sade com o bisturi. A guerra deve visar a restaurao da ordem, da justia e, por elas, a restaurao da paz. Por isso dizia. Santa Joana D 'Arc: "S se obter a paz, na ponta da lana". Por outro lado, Santo Agostinho mostra que o mal da guerra no nem a morte, nem a destruio, mas o dio. Se a guerra for feita por amor justia, ela ser um ato virtuoso. Por isso, Cristo no condenou o uso da espada, antes pelo contrrio, ordenou que So Pedro a guardasse, para us-la, quando fosse justo e conveniente. A guerra inevitvel, porque sempre haver maus. "No podendo acabar com a guerra, a Igreja cristianizou o soldado", diz Lon Gautier (op. cit. p. 31). "O soldado cristo no homicida, na guerra, e sim um malicida", diz Santo Agostinho, pensamento que ser repetido por So Bernardo ao escrever o seu Elogio da Nova Cavalaria, justificando a existncia do monge guerreiro Templrio. Nesse trabalho, So Bernardo denuncia e lamenta a cavalaria do mundo,e, brincando com as palavras ( militia, malitia) denuncia essa malcia do mundo (non dico militiae sed malitiae) a Milcia Crist contra a Malcia do mundo ( Alain Demurger, Les Templiers, ditions du Seuil, Paris, 2005, p. 61).
Nestes tempos de ecumenismo relativista, uma condenao de princpio proclamada -- sem anlise e sem base -contra a guerra, e em particular contra a cruzada, pois estulta e ateisticamente se julga que a guerra mais injusta aquela que visa defender a honra e os direitos de Deus. E isto pede uma resposta questo posta: A Cruzada, isto , a guerra religiosa, permitida ou desejada por Deus? A Cruzada lcita, ou condenvel? Como a Igreja pregou Cruzadas? E estas perguntas revelam a tibieza e o bruxulear de uma f enfermia j moribunda. A Cruzada legtima? Se lcito fazer guerra para combater uma invaso, ou uma agresso injusta ptria, quanto mais justo lutar para defender a f atacada pelos inimigos de Deus. Se justa a legtima defesa de uma cidade atacada por saqueadores,
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muito mais justa a defesa da Cidade de Deus atacada pela Cidade do Homem, assaltada por heresias e erros insinuantes ou agressivos. De todas as guerras, portanto, a guerra religiosa, a Cruzada, a mais legtima e santa, porque visa combater a maior injustia: a que feita contra Deus e sua Igreja. Visa enfrentar o ataque materialmente armado contra a Verdade. Verdade sem a qual no h nem vida, nem liberdade verdadeira. A liberdade necessita de uma convico. A liberdade precisa sempre da verdade (Cfr. Bento XVI, Spe salvi, n .24). S combate, quem tem certezas. E s tem verdadeira certeza, quem tem F. da certeza da F que nasce a Cruzada. Em consonncia com esta doutrina, a Igreja pregou a Cruzada a Guerra Santa visando libertar a Palestina das mos dos muulmanos. So Bernardo, um dos grandes doutores da Igreja, ele mesmo pregou a Segunda Cruzada. Eis suas palavras em Vezlay, quando arrebatou a nobreza francesa para lutar no Oriente: "A terra estremeceu (Sal.17,8) porque o Senhor do cu principiou a perder a terra que muito sua. Muito sua, insisto, porquanto nela, durante mais de trinta anos, a palavra invisvel do Pai se tornou visvel, instruiu o povo, e como um homem conversou entre os homens (Bar. 3,38). Muito sua, por a ter glorificado com os seus milagres, consagrado com o seu sangue, adornado com as primeiras flores de sua gloriosa ressurreio. E agora, devido aos nossos pecados, os inimigos da Cruz ergueram o seu estandarte blasfemo, e destruram com fogo e ferro a Terra Santa, Terra de Promisso! Em breve, a menos que encontrem forte oposio, irrompero na cidade do Deus dos vivos, para destruir os preciosos monumentos de nossa redeno e devastar os lugares sagrados, outrora avermelhados pelo sangue do Cordeiro Imaculado. Ai de ns! Ardem no profano desejo de invadir o prprio santurio da religio crist, e violar o sepulcro, onde Cristo, que a nossa vida (Col.3,4), por ns, dormiu o sono da morte Que fareis, "bravos cavaleiros? Que fareis, soldados cristos? Deverei crer que lanareis aos ces o que sagrado, e as prolas aos porcos? (Mat. 7,6) Oh quantas multides de pecadores, confessando as suas penas com arrependimento, se reconciliam com Deus naquela Terra Santa, desde que as espadas dos guerreiros cristos repeliram de l os loucos pagos! Viu-o o pecador e se indignou; rangeu os dentes e consumiu-se (Sal. CXI,10). Agitou os instrumentos de sua impiedade; e, se alguma vez lograr apoderar-se do Santo dos Santos, (que Deus nunca o permita), no tolereis que permanea vestgio de sua passagem junto dos monumentos e lugares associados com a paixo de Jesus Cristo. Que dizeis, irmos? Se fosse anunciado que o inimigo invadiu as vossas cidades, violou os vossos lares, ultrajou vossas famlias e profanou vossas igrejas, qual de vs no pegaria em armas? Fareis menos pela honra de Jesus Cristo? Todos esses males, e outros ainda piores atingiram a sua famlia, da qual sois membros. O lar do Salvador foi perturbado pela espada dos sarracenos; os brbaros destruram a casa de Deus e dividiram entre si a sua herana. Hesitareis em debelar semelhante mal em vingar tal perversidade? Suportareis que os infiis contemplem em paz a extensa runa que oneraram entre o povo cristo? Recordai que o seu triunfo ser motivo de desgosto inconsolvel para geraes futuras, e de desgraa perptua para ns que o consentimos. E mais do que isso: o Deus dos Vivos encarregou-me de proclamar que se vingar de todos os que se recusem defend-lo de seus inimigos. s armas, pois! Que uma indignao sagrada vos anime ao combate, e que o grito do profeta vibre por toda a cristandade: "Maldito seja aquele que no ensangentar a sua espada" (Jerem. XL VIII, 10). (J.F. Michaud, Histria das Cruzadas, ed. cit., vol.II pp..235/236 e A. Lubby, S. Bernardo) Apesar de tudo, porm, a guerra um mal, e a Igreja, sabiamente, procurou restringi-la. Ela limitou o nmero dos combatentes, ao fazer com que s os nobres fossem obrigados a lutar. Limitou o tempo de guerra, por meio da Trgua de Deus, proibindo combater nos quarenta dias da quaresma, nos quarenta dias do Advento, nos dias santos, como desde a Quinta feira at o fim do Domingo, em homenagem Paixo de Cristo. A trgua de Deus como se chamava, esse armistcio peridico pouco a pouco, foi estendido, ao mesmo tempo que s grandes festas, aos trs dias da semana (desde a noite de Quarta feira) que precediam o domingo e pareciam prepar-lo. Tanto que,no fim das contas, a guerra dispunha de menos tempo que a paz (Marc Bloch, La Socit Fodale, Albin Michel, Paris, 1968, p. 571). Como a Igreja proibiu tambm o emprego de certas armas, julgadas ento por demais mortferas: Desde 1139, a Igreja probe o uso por demais mortfero do arco e da arbaleta em todos os combates entre cristos (Lon Gautier, La Chevalerie, ed. cit., p. 39). Em campo raso o nobre no podia usar o arco, que no exigia coragem maior pois se atacava o inimigo longe dele. Era lcito us-lo apenas em cercos de castelos. Proibiu ainda fazer guerra aos fracos, aos que no podiam normalmente usar armas (clrigos, mulheres, doentes, camponeses):
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Enfim, a Igreja tinha como seu dever particular proteger, com seus membros, todos os fracos, essas Miserabiles personnae das quais o direito cannico lhe confiava a tutela (Marc Bloch,La Socit Fodale, Albin Michel, Paris, 1968, p. 569). No contente com isso, a Igreja atacou o prprio cerne do mal da guerra que o dio. Para isso, Ela criou a Cavalaria, e deu ao soldado o ideal de, at combatendo, obedecer as leis de Deus, e o dever de amar os inimigos. Era a caridade crist que mandava tambm respeitar o inimigo valoroso e leal. Os cavaleiros eram os miles Christi, os soldados de Cristo. A Cavalaria era ento o exrcito de Deus, e seus membros - os cavaleiros tinham entre si uma solidariedade muito grande, que superava as rivalidades feudais e nacionais. Nela, a nica hierarquia existente era a do valor. As desigualdades sociais e polticas eram transcendidas pelo esprito de bravura e de proeza. O rei Francisco I, j no tempo da decadncia da Cavalaria, quis fazer-se armar cavaleiro por Bayard, o famoso "chevalier sans peur et sans reproche", que, na escala feudal, era de pequena nobreza, no final da batalha de Marignano (Cfr. Marc Bloch, La Socit Fodale, ed. Cit., p. 340). Qualquer pessoa podia tornar-se cavaleiro, embora fosse mais comum que os nobres, por serem militares, se tornassem membros da Ordem. Nem todo nobre, nem todo soldado, era cavaleiro. Para isto era preciso:
I) Ter o ideal de praticar todas as leis de Cavalaria e de lutar por Deus. II) Ser recebido na Ordem da Cavalaria Isto se fazia por uma cerimnia que passou por vrias formas, no decorrer dos sculos. Admisso Cavalaria A cerimnia para admisso de um candidato Cavalaria tinha variantes que foram se aperfeioando, para melhor armar-se, ou fazer-se um cavaleiro. A Cavalaria era urna instituio aberta, isto , homens de qualquer classe social podiam ser armados cavaleiros. S eram excludos os doentes, os estropiados, os desonrados. Normalmente, porm, como j salientamos, os cavaleiros eram de origem nobre, porque a funo da nobreza era combater, e a Cavalaria consistia em combater por Deus e pelo bem. O jovem era armado cavaleiro ao atingir uma idade e um desenvolvimento que o tornassem apto ao combate. A cerimnia se realizava antes ou depois das batalhas, ou nas grandes festas religiosas. Festas preferidas para armar cavaleiros eram a de Pentecostes ou a festa da Pscoa, especialmente a primeira, em que se festeja o nascimento da Igreja pela qual o cavaleiro devia lutar. Inicialmente, foi costume armar cavaleiro, no prprio campo de batalha, aquele que se destacava por uma grande proeza. Ento, em meio aos mortos e feridos, entre o sangue, o ferro e o fogo, aos cnticos de guerra, ao som de trombetas e tambores, bandeiras ao vento, um cavaleiro entregava a um heri vitorioso a espada que fazia dele um cavaleiro. Era a consagrao, na glria da vitria. Mais raramente armavam-se cavaleiros antes das batalhas como o Rei D.Joo I de Portugal o fez em Aljubarrota para 60 nobres, mandando-os depois combater, na primeira linha dizendo-lhes: "Belos senhores, eu vos envio no primeiro escalo da batalha. Fazei tanto que a obtenhais honra, porque do contrrio vossas esporas de ouro teriam sido mal colocadas".
Porm, era aps a suprema vitria que os guerreiros preferiam ser armados cavaleiros. Assim, quando sob as muralhas de Antioquia Godofredo de Bouillon, entusiasmado pela valentia e pelas proezas de Gontier d' Are quis arm-lo cavaleiro, incontinente, o jovem heri recusou dizendo - "No, no, nada de armar-se, nada de novos cavaleiros, antes que tenhamos conquistado o Santo Sepulcro E comenta Lon Gautier: "Essa palavra no est longe de ser sublime" (Lon. Gautier, La Chevalerie, p. 253 da edio original, da qual no copiamos a data da edio,
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quando fizemos a primeira redao deste texto h mais de quarenta anos atrs. OF). Quando no era nos campos de batalha, nos primeiros tempos, o cavaleiro era armado na escadaria de entrada do castelo. Alguns foram armados no leito de morte. Todo cavaleiro podia armar outro cavaleiro, assim como todo catlico, em caso de necessidade, pode batizar um pago, ou como um bispo pode sagrar outro bispo. Normalmente o padrinho era o prprio pai, um parente prximo, ou o senhor feudal. Por vezes, o candidato tinha vrios padrinhos, e mais tarde, quando a cavalaria decaiu, at madrinhas. Historicamente houve trs formas ou "ritos" para armar um cavaleiro: I) a forma militar II) a forma religiosa III) a forma litrgica. O ritual militar se relacionava diretamente com os costumes germanos de entregar armas a um novo soldado da tribo. O essencial desse rito militar consistia na entrega das armas ao novo cavaleiro, especialmente a espada, alm de se dar ao candidato um forte golpe com a mo: o adoubement. O doubement (do francs arcaico dubban = bater, golpear) at ento simples rito militar,do qual o gesto essencial era um golpe dado pelo iniciador com a mo ou com a espada, tornava-se assim uma liturgia calcada sobre a da porrection (do latim porrigere= estender, entregar) instrumentos no curso da ordenao sacerdotal (Jean Chlini, Histoire Religieuse de LOccident Medieval, Hachette, Paris 1991, p. 374). Entre os germanos, a cerimnia era imagem de uma civilizao guerreira. Sem negar outros traos tais como o corte dos cabelos, que por vezes se encontra mais tarde na Inglaterra, unido ao adoubement essencialmente cavaleiresco --, elas consistiam essencialmente numa entrega de armas, que Tcito descreveu e cuja persistncia, na poca das invases, foi confirmada por alguns textos. Entre o ritual germnico e o ritual da Cavalaria, a continuidade no duvidosa(Marc Bloch, La Socit Fodale, ed .cit. p. 436). Na Idade Mdia crist, quem pretendia ser armado Cavaleiro, primeiro se banhava, depois era vestido, e lhe punham as esporas nos ps, revestiam-no da cota de malha, cobria-se-lhe a cabea com o elmo, e cingia-se-lhe a espada cintura. Depois disto, o padrinho dava ao novo cavaleiro um grande tapa na nuca, dizendo-lhe algumas palavras, como por exemplo: S verdadeiramente um cavaleiro e corajoso contra todos os teus inimigos. Ou ento: "No esqueas de ser fiel a teu senhor". Ou mais simplesmente ainda: "S valoroso". Estas duas palavras dizem muito. Elas dizem tudo. (L. Gautier, op cit., pg. 285). A seguir, o cavaleiro saltava a cavalo sem usar os estribos, galopava pelo campo, e derrubava um manequim (a quintana) com um grande golpe de lana. E assim ficava encerrada a cerimnia. As canes de gesta narram com estilo saboroso a armao do cavaleiro. Lon Gautier resume uma delas: O incio de Elias de Saint Gilles , sob esse ponto de vista, uma obra prima de exposio selvagem e verdadeira. O pai de Elias, Julien de Saint Gilles, tem a barba toda branca. um altivo baro que nunca se tornou culpado de uma traio, que sempre amou o filho de Santa Maria, que honrou os morteiros e fez construir portas e hospedarias para os pobres viajantes. Mas enfim, h cem anos que ele foi armado cavaleiro, e ele sente a necessidade de repousar e viver bem. Ento, ele faz vir seu filho Elias, ou antes, o faz comparecer diante de si na sala jerrine. Para excitar a clera do jovem, ele o repreende de no ter praticado ainda nenhuma faanha: na tua idade, diz ele, eu havia j conquistado castelos, fortes e cidades, O jovem Elias se irrita sob o aguilho dessas palavras, tanto mais que o ancio se pergunta bem alto se seu filho no seria chamado a viver num claustro e ser monge recluso no Natal ou na Pscoa. Isto j demais, Elias quer partir e deixar para sempre esse castelo no qual ele forado a engolir tais ultrajes: Cala-te, infeliz, cala-te lhe grita seu pai. Imaginas partir assim, sem escolta e sem armas? Mas diriam ao te ver passar nas estradas: Vede esse jovem? o filho de Julien--la-Barbe. Seu pai o expulsou de sua terra. No, no, tu no partirs assim. E eu vou agora mesmo, te fazer cavaleiro. Voltando-se ento para seus homens diz: que preparem uma quintana e que me tragam minhas armas. A cerimnia comea imediatamente. O velho cinge a espada em seu filho; depois, levantando a mo e deixando-a cair como um martelo sobre a nuca do filho, esse terrvel centenrio lhe d um tal golpe, que Elias meio derrubado. O novo cavaleiro sente a clera subir-lhe a cabea e falando baixinho cobre seu pai de ameaas contidas. Ah! diz ele, se fosse um outro! Mas meu pai e meu dever de no me queixar. Ele se acalma, levanta a cabea, monta bruscamente a cavalo e abate com um golpe de mestre todo o aparelho da quintana. Ele ser um valoroso exclama ento o velho encantado (L .Gautier, op. cit, pg. 283/284). A armao de cavaleiro, a de Galien, em rito militar, foi narrada por uma lenda. Ela teria ocorrido em Roncesvalles. Galien era filho de Olivier que morreu na batalha dizendo-lhe "Ama o imperador Carlos e desconfia de Ganelon". Galien
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se lana ento sobre os pagos e faz mil faanhas e proezas e se cobre de sangue e de glria. "Este heri no era ainda cavaleiro, e se assistiu ento a um grande milagre. O corpo inanimado de Roland estava l, sob os olhos do imperador, sob os olhos de Galien. Em meio ao silncio, o brao direito do amigo de Olivier se levantou lentamente e estendeu a Carlos sua espada pela ponta. O rei compreendeu e presenteou Galien com esta incomparvel espada; depois, por uma inspirao sublime: Tu sers cavaleiro, lhe diz. Mas para um tal cavaleiro era preciso um adoubement que no fosse banal. O filho de Pepino se inclina para Roland, toma o brao do morto, e faz dar por esta mo fria o tapa (colle) em Galien. Ora, jamais colle fora dada desse modo, e desde ento jamais o foi. Foi a nica vez, mesmo em nossa lenda, que um cavaleiro vivo foi assim feito e criado por um cavaleiro morto" (Resumo de Viaggio di Cario Magno in Spagna, apud Lon Gautier op. cit - pg. 268/269 e nota 1 da edio original). Porm, muito mais bela que a lenda fantasiosa a realidade. Em 1213, Simon de Montfort tinha cercado de um piedoso brilho, digno de um heri cruzado, o adoubement de seu filho, que dois Bispos, ao canto do Veni Creator, armaram cavaleiro para o servio de Cristo. Ao monge Pierre des Vaux de Cernay, que assistiu a esse ato, essa cerimnia arrancou um grito caracterstico: novo modo da cavalaria! Modo at aqui inaudito! (Marc Bloch, La Socit Fodale, Albin Michel, Paris 1968, p. 340).
Isto aconteceu na festa de So Joo, em 24 de Junho de 1213, em Castelnaudary, lugar de outra vitria espetacular de Simo de Montfort sobre os ctaros. Amaury de Montfort era o primognito dos sete filhos que Simo de Montfort teve de sua esposa Alix de Montmorency. Simo quis que o adoubement fosse litrgico, o mais solene de todos, no qual um Bispo benze e cinge a espada no neo cavaleiro durante uma missa pontifical. A noite precedente, era passada solitariamente em viglia de oraes pelo candidato a receber o adoubement. A espada era benta pelo Bispo enquanto se cantava o Veni Creator. Simo de Montfort quis que seu filho Amaury fosse armado, no apenas como simples cavaleiro, mas expressamente como Cavaleiro de Cristo (Dominique Paladilhe, Simon de Montfort et le Drame Cathare, Perrin, Paris, 1988, pp.208-209). E esta cena nos leva ao ritual religioso da armao de um cavaleiro. O ritual religioso Todo o ritual militar, to cheio de smbolos e de grandeza, pecava, porm, por omisso de qualquer referncia a Deus. Uma poca to catlica quanto a Idade Media devia logo fazer penetrar o esprito da religio nesse ritual ate ento um tanto brbaro. Foi assim que nasceu o ritual religioso. Ele ainda laico no sentido de que era um leigo que armava o novel cavaleiro. Mas j a alma catlica impregnava a cerimnia como um sopro de Deus. Esse ritual ainda se processava em lngua vulgar, ao contrrio do ritual litrgico, que era todo em latim. O ritual religioso constava de cinco partes: 1 - Viglia de armas 2 - Missa 3 - Deposio das armas no altar 4 - Beno das armas e da espada 5 - Sermo e "colle" (golpe de mo ou de espada) A viglia de armas consistia em passar a noite inteira, de p ou de joelhos, numa capela ou igreja, rezando e meditando na finalidade da cavalaria, isto , na defesa de Cristo e de sua Igreja, pois Deus na Histria tem as mos atadas e suplica que o defendamos. Pela manh, o cavaleiro, tendo se confessado, assistia a Missa e comungava. A seguir, as armas que ser-lhe-iam entregues, eram depositadas sobre o altar para que a pedra de sacrifcio do Deus vivo transmitisse algo da Santidade de Deus espada que, como a Cruz de Cristo era feita de misericrdia e de justia (Discurso de um general brasileiro, ao receber a espada em Braslia, em 1974) O sacerdote, a seguir, benzia todas as armas e especialmente a espada. Quem a cingia porm no recebedor era outro cavaleiro. O sacerdote dizia ento ai guinas palavras: "Que o Deus verdadeiro te d coragem". Ou ento "Se te dou essa espada, sob a condio de que sejas o paladino do Senhor" (L. Gautier ob cit pg. 290). O tapa do adoubement era, por vezes, substitudo j por 3 golpes de prancha de espada, no ombro. E a seguir o cavaleiro saa da Igreja para galopar e dar um golpe de lana, na quintana.
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O ritual litrgico H trs textos para a "Beno do novo cavaleiro": a) o "ordo vulgatus" b) o Pontifical de Guillaume de Briand c) o Pontifical vaticano Conforme o Pontifical de Guillaume de Briand, a "sagrao" do novo cavaleiro se realizava durante a Missa celebrada por um bispo. Logo aps o gradual, que se dava a beno da espada. "Abenoai esta espada, Senhor, afim de que vosso servo possa ser, doravante, contra a crueldade dos hereges e dos pagos, o defensor das igrejas, das vivas, dos rfos e de todos os que servem a Deus".
E o bispo acrescentava: "Abenoai esta espada, Senhor Santo, Pai todo poderoso, Deus eterno; abenoai-a em nome do advento de Jesus Cristo e pelo dom do Esprito Santo consolador. E possa vosso servo, que tem vosso amor por principal armadura, possa espezinhar todos os teus inimigos visveis e, senhor absoluto da vitria, possa permanecer sempre ao abrigo de todo ferimento". E em seguida o bispo recitava uma orao extrada de palavras do Antigo Testamento: "Bendito seja o Senhor Deus que formou minhas mos para o combate e meus dedos para a guerra. Ele minha misericrdia. Ele meu refugio. Ele meu Redentor.
E depois: "Deus santo, Pai onipotente, Deus eterno, que sozinho ordenastes todas as coisas, e as dispusestes como conveniente, para que a justia tenha aqui na terra um apoio, para que o furor dos malditos tenha um freio, por essas duas causas somente que, por urna disposio salutar Vs permitistes aos homens o uso da espada. para a proteo do povo que desejastes a instituio da Cavalaria.A uma criana, a Davi, outrora, Vs destes a vitria sobre Golias. Vs tomastes pela mo Judas Macabeu, e lhe destes triunfo sobre todas as naes brbaras que no invocaram vosso nome. Pois bem, eis vosso servo, que curvou recentemente a fronte sob o jugo da condio militar: envia-lhe do alto do cu as foras e a valentia de que ele precisa para a defesa da justia e da Verdade; dai-lhe o aumento da f, da esperana e da caridade; dai-lhe o temor e o amor, a humildade e a perseverana, a obedincia e a pacincia. Disponde tudo nele ,como preciso, afim de que com esta espada ele jamais golpeie injustamente ningum, e a fim de que ele defenda com ela tudo o que justo, tudo o que reto". Marc Bloch cita outra orao desse ritual: Sem dvida, no por acaso que a poca na qual viveu esse santo adoub [So Luis, Rei] deu nascimento nobre orao que, recolhida no Pontifical de Guillaume Durand, oferece-nos como que o comentrio litrgico dos cavaleiros de pedra, erguidos pelos escultores, no portal de Chartres, ou no reverso da fachada de Reims:Senhor Santssimo, Pai onipotente,... Tu que permitistes, na terra, o emprego da espada para reprimir a malcia dos maus e defender a justia; que, para a proteo do povo quisestes instituir a Ordem da Cavalaria... dispondo seu corao ao bem, faz com que teu servidor, que aqui est, jamais use desta espada, ou a de um outro, para prejudicar injustamente ningum; mas que ele sempre se sirva da espada para defender a Justia e o Direito (Marc Bloch, La Socit Fodale, Albin Michel, Paris 1968, p. 444). O bispo tomava ento a espada que estava sobre o altar e a entregava ao cavaleiro dizendo-lhe: "Recebe esta espada, em Nome do Pai, do Pilho e do Esprito Santo" e, pondo a espada na bainha, cingia com ela o cavaleiro, ajoelhado diante do altar, dizendo: "Se cingido com a espada, poderosssimo". O Cavaleiro, ento, desembainhava a espada e, de p, dava golpes no ar, "enxugava" a espada do sangue dos inimigos, e guardava-a ento em sua bainha. O Bispo e o Cavaleiro trocavam ento o sculo da paz, enquanto o Bispo lhe dizia:
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S um soldado pacfico, corajoso, fiel e devotado a Deus", e batia levemente com a mo no rosto do cavaleiro.
Exclamava ento o bispo em voz alta, "Desperta do mau sono e fica vigilante na honra e na f de Cristo". Ento outros cavaleiros colocavam-lhe as esporas e se fazia a beno solene da bandeira. E o pontifical terminava com estas palavras: "His dictis, novus miles vadit in pace". (Com estas palavras, o novo Cavaleiro v em paz). E o novo guerreiro partia in pace (L. Gautliier, La Chevalerie, pp. 301 a 303). O que no queria dizer que no teria combates. Por isso, o poeta alemo Thomasin, escreveu: "No queira ter o mineter de Cavaleiro quem s quiser viver suavemete (Apud Marc Bloch, La Socit Fodale, ed. Cit., p. 442). No ordo vulgatus romanus, a cerimnia comea com a beno da bandeira. O bispo invoca a Deus, "verdadeira fora dos triunfadores" afim de que este gonfalo seja envolvido pelo nome de Deus, e se torne terrvel para os inimigos do povo cristo. A seguir benzia-se a lana e a espada, invocando-se So Miguel, chefe da Cavalaria celestial, e os santos guerreiros do antigo Testamento. Recebe este gldio cora a beno de Deus e possas pela virtude do Esprito Santo repelir, com a ponta desta espada, todos os teus inimigos e todos os inimigos da Santa Igreja". Benzia-se o escudo e invocava-se para o novo cavaleiro a proteo dos santos guerreiros S. Maurcio, S. Sebastio e S.Jorge. No pontifical vaticano, ao entregar a espada, o consagrante dizia: "Toma esta espada. Exerce com ela o vigor de justia; abate com ela o poder da injustia. Defende com ela a Igreja de Deus e seus fiis. Dispersa com ela os inimigos de Cristo. O que est por terra, levanta-o. O que levantastes, conserva-o. O que injusto aqui na terra, abate-o. O que conforme a ordem, fortifica-o. assim que, glorioso e altivo, unicamente pelo triunfo das virtudes, justitiae cultor egregius, chegars ao Reino dos Cus, onde com Jesus Cristo de que trazes a marca, reinars eternamente". (L. Gautier, La Chevalerie, pp. 304 a 306). Desde o princpio dos adoubemennts ainda semi brbaros, se tinha a idia de que o cavaleiro saa das fileiras dos homens comuns, do vulgo, e entrava num grupo especial. Num ordus novus numa nova ordem, como se dizia na Idade Mdia. (Cfr. Marc Bloch, op. cit., p. 438). S mais tarde que surgiram propriamente as Ordens de Cavalaria, com votos especficos. Aps a conquista de Jerusalm, fundou-se uma primeira Ordem de Cavalaria de carter religioso: a dos Cavaleiros do Santo Sepulcro. Mais tarde, nasceram a Ordem dos Cavaleiros de So Joo, ou do Hospital de Jerusalm, que depois se tornou a Ordem dos Cavaleiros de Rodes, e em seguida dos Cavaleiros de Malta. No sculo XII, com So Bernardo, a pedido de Hugues de Payen, nasceu a famosa Ordem do Templo. Na pennsula ibrica, nasceram as ordens de So Thiago, de Alcntara, de Calatrava, e a Ordem de Cristo, que fez os grandes descobrimentos. Na Alemanha, ganhou renome a Ordem dos Cavaleiros de Santa Maria ou dos Cavaleiros Teutnicos. Todas estas ordens visaram a defesa militar da cristandade atacada pelos infiis e pelos pagos, alm de cuidar dos pobres e necessitados. Estas eram Ordens monsticas militares, pois que seus membros faziam votos de pobreza, obedincia e de castidade, e se sujeitavam a uma regra conventual, prpria a cada ordem. Eram ento monges-soldados. No dessas ordens monsticas que trataremos, mas sim, apenas da Cavalaria, em sentido geral, contando seus costumes, seu herosmo e sua grandeza. O cdigo da Cavalaria Desde que algum se tornasse cavaleiro, ficava obrigado a respeitar certas leis que o costume consagrara, e que formavam o cdigo da cavalaria. Este cdigo jamais foi escrito. Os historiadores o deduziram do exame da vida dos cavaleiros. Constava ele de 10
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mandamentos que todo cavaleiro devia respeitar para ser digno de seu ttulo. 1 Mandamento: Crers em tudo quanto ensina a Igreja. Para ser cavaleiro, era preciso ser catlico. Os cavaleiros eram os soldados da f. Nenhum herege ou infiel podia receber a espada de cavaleiro. Quando So Lus, rei de Frana, estava preso no Egito com todo seu exrcito, morreu o sulto desse pas. O sucessor dele, Turan Sha, que algumas crnicas rabes chamam de Almoadan, era um homem degenerado pelos vcios e incapaz de governar ou de lutar. Os mamelucos do Egito, entretanto, no queriam entregar-lhe o poder e organizaram uma conspirao para mat-lo. Em 2 de maio de 1250, aps um banquete que Turan Sha ofereceu aos emires de seu exrcito, os Bahrides, repentinamente, invadiram sua tenda desabres nas mos. O primeiro que feriu o sulto foi o guerreiro Bibars, o vencedor da batalha de Mansurah, e que depois se tornar bem famoso. O sulto conseguiu aparar os primeiros golpes, sendo ferido apenas na mo. Turan Sha se refugiou ento numa torre, que dominava o Nilo, e nela se trancou. Do alto da torre, ele implorava aos mamelucos, que tentavam forar a porta, que o poupassem e que ele lhes daria tudo o que tinha. Clamava: No quero mais o imprio, deixai-me retornar a Hisn Kafa, Muulmanos. No h entre vos que me defender e me salvar?
No conseguindo arrombar a porta torre, os mamelucos, por fim, incendiaram-na. Turan Sha lanou-se do alto da torre e depois, correndo, se jogou no rio Nilo, na esperana de alcanar uma barca. Seus inimigos lanaram-lhe uma chuva de flechas. Para se salvar delas, o sulto mergulhou at o pescoo, e no suportando mais, voltou margem do rio, e suplicava que o deixassem partir para seu pequeno feudo de Diyarbekir. Bibars, em resposta lhe deu um golpe de sabre que jogou o miservel Turan Sha de novo na gua. Um segundo golpe de sabre lhe arrancou um brao. O cadver do sulto foi tirado do Nilo por meio de um arpo. As crnicas rabes contam que ele foi o sulto que morreu pelo fogo, pela gua e pelo ferro. (Cfr. Ren Grousset, Histoire des Croisades et du Royaume Franc de Jerusalem, Plon, Paris 1936, volume III, p. 487 ; Cfr. Michaud, Histria das Cruzadas, ed. cit., vol.V, pp. 83/84). A seguir os mamelucos, brios de sangue, comearam a matar os cristos prisioneiros. Os gritos de dor e de dio ecoavam por toda parte. Foi ento que o mameluco Oghotai ou Octai, com o sabre ensangentando nas mos, entrou na tenda onde estava preso So Luis. Eis como as crnicas descrevem a cena: Ele veio at o rei, com sua mo toda ensangentada, e lhe disse: Que me dars por ter morto o teu inimigo? E o Rei So Luis nada lhe respondeu.
Oghotai podia pedir o que quisesse: terras, ttulos, os 400.000 bizantinos de ouro fixado para resgate do rei dos francos... Silncio to eloqente de herosmo como os apelos guerreiros de pouco antes, silncio real no qual a majestade do santo monarca esmaga com sua tranqilo desprezo a barbrie das hordas vitoriosas; serenidade diante dos regicidas, pela qual o rei franco se mostra ainda maior do que no campo de batalha (Joinville, Crnicas, 353, apud Ren Grousset, Histoire des Croisades et du Royaume Franc de Jerusalem, Plon, Paris 1936, volume III, p. 489). Outro historiador conta que Octai encostou o sabre no peito do rei e ameaou: Faze-me cavaleiro ou ests morto. Faze-te cristo e eu te farei cavaleiro, contestou-lhe So Luis. Octai, depois de hesitar um instante, baixou o sabre e se retirou. (J. F. Michaud, Histria das Cruzadas, Editora das Amricas, So Paulo, ed. cit., Vol. V, pp. 87/88). Oh! Admirvel prestgio da Cavalaria! Oh! mais admirvel intransigncia de So Luis!
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Tal era a admirao que os infiis tinham pelo ttulo de cavaleiro. Tal era a glria da Cavalaria. Tal era a intransigncia de um cavaleiro-rei. Pois no se concedia o ttulo de cavaleiro a quem no tivesse f catlica. E o que outrora os pagos e infiis admiravam na Igreja, hoje os catlicos esqueceram ou repudiaram. E a intransigncia catlica era uma das causas da admirao dos infiis. "Quando os cavaleiros assistiam Missa e chegava a leitura do Evangelho, em silncio eles desembainhavam as espadas e as mantinham nuas e eretas diante do rosto, enquanto durasse a leitura sagrada. Esta altiva atitude queria dizer: se for preciso defender o Evangelho, ns estamos aqui. Neste gesto estava todo o esprito da Cavalaria. (L. Gautier, La Chevalerie, p.30). Toda a vida do cavaleiro era impregnada pela f. Seus hinos de guerra eram os cantos da Igreja. As tropas de So Luis partiram de Aigues-Mortes, em barcos engalanados, cantando o Veni Creator. E as senhas de guerra eram jaculatrias, e as contra-senhas responsrios litrgicos. A vitria e a derrota vinham de Deus. Ele que assistia os Cavaleiros em suas batalhas. Em 1102, quando da invaso dos rabes fatimitas do Egito, comandados por Al Afdal. Depois de passarem por Ascalon, os maometanos foram em direo de Ramla. O Rei Balduno I, j vencera os fatimitas do Egito na primeira batalha de Ramla, em 7 de Setembro de 1101, quando com 260 cavaleiros e 900 infantes derrotara espetacularmente a 200.000 maometanos. Antes da batalha, ele se dirigiu a seus poucos soldados, dizendo-lhes: "Se fordes mortos, tereis a coroa do martrio. Se fordes vencedores, tereis uma glria imortal. Quanto a querer fugir, ser intil: a Frana est muito longe. E prostrando-se diante da verdadeira Santa Cruz, o Rei Balduno confessou publicamente seus pecados ao Bispo Grard. Ento atacou como um leo. O Bispo Grard o seguia, levando a Santa Cruz. Com a Cruz, o Rei Balduno I venceu. Em pouco tempo, o imenso exrcito fatimita foi completamente desbaratado. Meses depois, em 17 de Maio de 1102, numa segunda batalha, em Ramla, o Rei Balduno cometeu um grande erro por presuno. Confiado excessivamente em sua vitria anterior, tendo apenas 200 Cavaleiros contra s 20.000 maometanos do Vizir Al Afdal, atacou os infiis, sem levar consigo a Cruz de Cristo. Foi um desastre. (Ren Grousset, Histoire des Croisades et du Royaume Franc de Jerusalem, Plon, Paris , 1936, Vol. I, pp. 225 226). Mas as crnicas antigas no atriburam essa derrota desproporo imensa entre os dois exrcitos, mas sim ao fato de que pela primeira vez, depois de terem recuperado a Cruz do Salvador, os cruzados, confiando s em seu valor, tinham ido batalha sem levar consigo a Cruz. Deus e o cavaleiro combatiam juntos, mas Deus quem dava a vitria. Por isso que Santa Joana d'Arc respondeu ao Bispo que lhe perguntava porque queria ela soldados, se dizia que o prprio Deus ia libertar a Frana: Les gendarmes batailleront et Dieu donnera la vicoire" Os soldados combatero, e Deus dar a Vitria.(Lon Gautier, La Chevalerie, Arthaud, Paris , 1959, p.46). Simo de Montfort, o vencedor de uma batalha inacreditvel em Muret, onde com menos de 900 homens venceu 44.000 hereges, matando 15.000 deles em uma hora de combate apenas, e tendo pouqussimas baixas, antes dessa batalha, colocando sua espada sobre o altar-mor da Igreja da Abadia de Boulbonne, rezou a seguinte orao: Meu bom Senhor! O doce Jesus! Tu me escolhestes, apesar de minha indignidade, para teus combates. de teu altar que, hoje, recebo minhas armas, a fim de que no momento de dar batalha, eu receba de Ti os instrumentos do combate (Dominique Paladilhe, Simon de Montfort et le Drame Cathare, Perrin, Paris, 1988, p.214).
Tinha Simo de Montfort tal certeza da vitria sobre os 44.000 ctaros que os Bispos lhe perguntaram de onde tirava ele essa confiana. E Simo de Montfort, mostrando-lhes uma carta do Rei Pedro de Arago a uma meretriz, convidando-a para vir assistir batalha em Muret, disse-lhes: O que quero dizer que Deus ser minha ajuda, tanto que pouco temo um homem que vem, por causa de uma mulher, convulsionar o que Deus quer
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O Rei de Arago ia combater por uma prostituta. Simo de Montfort ia combater por Deus. Os Bispos tremiam e clamavam de medo. Ele tinha certeza da vitria impossvel (Dominique Paladilhe, Simon de Montfort et le Drame Cathare, Perrin, Paris, 1988, p.220). Como outrora, os judeus haviam vencido os madianitas ao grito de "Espada de Deus e de Gedeo" (Jz, VII, 20), os cavaleiros sabiam que a vitria era fruto da graa de Deus com a colaborao do homem. A Igreja vencia com a espada de Deus e da Cavalaria. Eles tinham f na ao do Deus dos Exrcitos, que eles exaltavam na Missa ao repetir o coro das milcias celestes: Sanctus, Sanctus, Sanctus, Dominus Deus Exercituum. E porque tinham f, eram freqentes as aparies de anjos e de santos guerreiros a combater ao lado dos cavaleiros, nas batalhas das Cruzadas. Lendas? Deus no faz tais milagres? Deus no atua na Histria? Isso dizem os materialistas, que, tirando Deus da histria, mutilam-na de seu principal agente. Ento o Deus de Gedeo e de Davi, o Deus que protegeu Judas Macabeu, na batalha, por meio de dois anjos que o cobriam com seus escudos de ouro, esse Deus perdeu o poder? Por acaso se lhe encurtou a mo, como indaga So Luis de Montfort? Os cavaleiros acreditavam que Deus sempre o mesmo, o Deus que os protegia continuamente e que estava com eles, velando providencialmente por seus guerreiros. Esta f viva da presena e de proteo de Deus que levava o Infante D. Henrique de Portugal a responder ao "Quem vem l?" de um sentinela: "Deus, o apstolo Santiago e o Infante D.Henrique. Porque um cavaleiro verdadeiro jamais estava s. Saint Beuve escreveu as seguintes palavras sobre esta f viva, concreta e inocente dos cavaleiros medievais: "O cu estava aberto acima deles, povoado de figuras vivas, de patronos atentos e manifestos. O mais intrpido guerreiro caminhava nessa mistura habitual de temor, de confiana, como uma criancinha. (Saint Beuve, citado por G. Hubault "Sobre o Ensino de Histria da Frana", p..26, apud Lon Gautier - La Chevalerie, p. 34, nota 2, na edio original). Um dia, na cruzada, prisioneiros turcos transportavam aos ombros, numa padiola, ferido, o duque Roberto da Normandia. Na estrada, eles se encontraram com normandos aos quais o duque, depois dos cumprimentos ordenou: " Ide, ide dizer, na Normandia, que nunca se ouviu dizer uma coisa igual: um prncipe cristo levado aos cus por quatro demnios". Era esta f que fazia D. Afonso Henriques gritar para Cristo crucificado que lhe apareceu nos cus, no alvorecer, antes de vencer os mouros na batalha de Ourique: "No a mim, Senhor, no a mim, que creio que podeis. Mas [aparece] a eles Senhor, a eles que no crem". Quando, na primeira cruzada, os cristos conquistaram Jerusalm, enquanto todos corriam para tomar posse dos ricos palcios, Godofredo de Bouillon, Duque de Lorena, descalou suas sandlias para ir buscar o seu tesouro: a Cruz de Jesus Cristo, na Igreja do Santo Sepulcro. Esta era a riqueza para qual ele corria, de ps descalos, e glorioso. Ela o trouxera, no caminho da epopia e da glria, da Lorena sia. (J. F.Michaud, Histria das Cruzadas, ed.. cit. , V.II, p..24) No dia seguinte, quando se tratou de eleger um rei para Jerusalm, o mesmo Godofredo de Bouillon foi o escolhido. Mas ele recusou o ttulo e a coroa porque dizia: "no quero ser coroado de ouro, onde Cristo foi coroado de espinhos. Ele aceitou apenas o ttulo de baro e defensor do Santo Sepulcro. Assim era a f dos cavaleiros, vassalos de Deus. (Pierre Aub, Godefroi de Bouillon, Fayard, Paris, 1985,p. 292 ; J.F. Michaud, Histria das Cruzadas, ed.. cit., V.II, p. 35). Dizia o ditado antigo: "Nul chevalier sans prouesse" (No h cavaleiro sem proeza) e podemos acrescentar: Nul prouesse sans Dieu (No h verdadeira proeza, sem Deus). Como bem notou Lon Gautier, em sua obra sobre a Cavalaria, a epopia exclui o atesmo, e que os homens verdadeiramente picos olham para o cu". (L. Gautier, La Chevalerie, ed. original - p.39). E porque eles olhavam para o cu, eles rezavam muito, muito pediam e muito recebiam. Os cavaleiros normalmente assistiam a Missa todos os dias e comungavam com freqncia. A confisso tambm era freqente, e, quase nunca, os cavaleiros iam batalha sem antes terem se confessado.
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Na Chanson de Roland, se conta que antes da batalha de Roncesvalles, assim o arcebispo Turpin absolveu os franceses: D'autre part est l'archevque Turpn; Il pique son cheval, et monte sur une colline; Puis s'adresse aux Francais, et leur fait ce sermon: Seigneurs barons, Charles nous a laissse, ici, c'est notre roi, notre devoir est de mourir pour lui. Chrtienit est en pril, maintenez-l. II est certain que vous aurez bataille; Car, sous vos yeux, voici les sarrasins. Or donc, battez votre coulpe, et demande Dieu merci. Pour gurir vos ames, je' vais vous absoudre. Si vouz mourez, vous seres tous martyrs; Dans le grand Paradis vos places sont toutes prtes . Frranais descendent de cheval, sagenouillent terre, et l'Archevque les bnit de par Dieu: 'Pour votre pnitence, vous frapperez les paiens ". ( Chanson de Roland, XCV). [Do outro lado, est o Arcebispo Turpin. Ele esporeia seu cavalo, depois se dirige aos francos, e lhes faz este sermo: Senhores Bares, Carlos Magno nos deixou aqui. Ele nosso Rei. Nosso dever de morrer por ele. Cristandade est em perigo. Sustentai-a! certo que tereis batalha. Porque a vossos olhos, eis os sarracenos. Ora, pois, batei no peito confessando vossas culpas, e pedi a Deus misericrdia.. Para curar vossas almas, eu vou vos absolver. Se morrerdes, todos vs sereis mrtires. No grande paraso, vossos lugares esto j prontos. Os franceses descem de seus cavalos, ajoelham-se no cho, e o Arcebispo os abenoa em nome de Deus. Por penitncia, golpeareis os pagos] Assim eram os cavaleiros. Nas batalhas, eles se confessavam. Por penitncia, batalhavam. Era essa f capaz de mover montanhas e mandar que elas se atirassem ao mar que lanou Portugal e Espanha s grandes navegaes. Foi a f que lanou as caravelas ao oceano em busca de almas a conquistar. E nas velas douradas das caravelas, enfunadas aos ventos da epopia, havia uma grande cruz de sangue. E bem diz um soneto que no era o vento e sim a Cruz que movia as caravelas. Era essa a mesma F que era o fundamento de todas as demais virtudes dos cavaleiros: a humildade, a magnanimidade, a pureza e o amor cruz. Godofredo de Bouillon, modelo vivo do cavaleiro ideal, tinha uma alma imensamente grande porque humilde. Depois de conquistar a Palestina, manteve turcos e rabes em respeito. Um dia, alguns emires vieram submeter-se a ele e se admiravam de encontrar o grande conquistador do Oriente simplesmente sentado no cho sob sua tenda e no em um grande e rico trono. E Godofredo, Duque de Lorena, lhes explicou: "A terra de onde vim, e para onde hei de voltar, porque no pode ser ela para mim um trono durante a vida? Porque Godofredo de Bouillon no estava sentado no cho, e sim sobre a Terra. O globo terrestre era o seu trono. Houve jamais soberano com um trono maior? (Pierre Aub, Godefroy de Bouillon, Fayard, Paris 1985, p.331 ; J.F. Michaud, Histria das Cruzadas, ed.. cit., ,vol. Ll, p. 95). Noutra ocasio, um emir lhe perguntou se era verdade que com um s golpe de espada ele cortava um homem ao meio, como acontecera em Antioquia (Pierre Aub, Godefroy de bouillon, Fayard, Paris, 1985, p. 226). Godofredo respondeu que sim, e, para comprov-lo cortou a cabea de um camelo, de um s golpe. O emir disse ento que sua espada era encantada e Godofredo ento fez vir outro animal cuja cabea ele decepou com a espada do emir (J. F.Michaud, Histria das Cruzadas, ed.. cit., vol.II, p. 95). E o grande cruzado explicava que, se tinha tanta fora, era porque jamais suas mos haviam pecado contra a pureza. Era a fora de alma que gerava a forca fsica. Era a pureza mais admirvel que a fora. de se estranhar que ao morrer to grande cavaleiro tenha sido sepultado aos ps do Calvrio? Somente to sagrado lugar poderia conter o corpo de to grande homem. Ele jaz ali, sendo fiel, mesmo aps a morte, a seu ttulo de Baro e Defensor do Santo Sepulcro. (J. F. Michaud, Histria das Cruzadas, ed.. cit., vol. ll, p. 103). 2 Mandamento: Defenders a Igreja Chevaliers en ce monde ci Ne peuvent vivre sans souci Ils doivent le peuple dfendre Et leurs sang pour Ia foi rpandre (L.Gautier, La Chevalerie, p.46 da edio original, p. 39 da EdioArtgaud , Paris, 1959). [Cavaleiros neste mundo aqui, no podem viver sem preocupaes. Eles devem defender o povo, e pela F, derramar seu sangue]. O que se propunha aos cavaleiros, neste segundo mandamento do cdigo da Cavalaria, era o martrio. A relao feudal estabelecia uma reciprocidade entre suserano e vassalo, de tal modo que o que um dava, o outro, de certo modo, tambm devia retribuir. Ora, Deus, Baro dos cavaleiros, dera a sua vida pelos homens. Portanto, os cavaleiros, vassalos de Deus, deviam dar
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tambm sua vida por Ele. Dai a orao final de Pierre d' Auvergne ao morrer em combate contra os infiis: "Senhor Jesus, Vs morrestes por mim, e eu, tambm morro por Vs".
Eles estavam, de certo modo, quites, porque ambos tinham feito o mesmo - dado a vida por amor - embora vidas infinitamente desiguais em valor. O cavaleiro aspirava ao martrio. Para isto ele vivia: lutar e morrer por Deus. Depois da batalha de Tiberades (Hattin), Saladino vitorioso foi visitar os chefes cristos prisioneiros, e vendo o Rei de Jerusalm Guy de Lusignan, coberto de p, suor e sangue, deu-lhe um copo d'gua. Entre os maometanos, este era um sinal de hospedagem que garantia a vida do hspede. O Rei tomou um sorvo e passou imediatamente o copo para o cavaleiro mais prximo. Saladino protestou porque a esse cavaleiro, o criminoso e mentiroso Renaud de Chatillon, ele no queria dar hospedagem, porque no o queria manter vivo. Renaud de Chatillon era um ladro e violador de tratados. Saladino tirou-lhe, pois, o copo e perguntou-lhe que faria ele se o tivesse a ele, Saladino, como prisioneiro. Renaud respondeu que Se Deus me tivesse dado essa oportunidade, eu cortaria sua cabea. Diante disso, Saladino foi tomado de terrvel ira, e lhe disse: Porco, voc est em minha priso e me contesta assim orgulhosamente. E, lanando-se sobre ele, com o sabre levantado, cortou-lhe o ombro. Os que estavam assistiam a cena acabaram com Renaud. O corpo decapitado foi arrastado aos ps de Guy de Lusignan (...) Depois da execuo de Renaud, o nico exemplo de severidade de Saladino, se deu a execuo dos cavaleiros do Hospital e dos Templrios. Respeitando a vida dos Bares e cavaleiros leigos, que tratou com notvel generosidade, como adversrios infelizes, o sulto se mostrou impiedoso para com os cavaleiros-monges, que, tendo a guerra santa como regra de fundao, se comportavam como inimigos pessoais do islamismo. Saladino ordenou que massacrassem a todos. Pormenor que indica bem o carter de guerra religiosa, ele confiou a execuo deles aos santos personagens do Islam O relato no O Livro dos Dois Jardins exala um abominvel odor de matadouro devoto: Havia no exrcito muulmano um grupo de voluntrios, pessoas de costumes piedosos e austeros, devotos sufis, homens de leis, sbios e iniciados no ascetismo e na intuio mstica -- [Nota: Isto , na Gnose Shiita. OF]. Cada um deles pediu o favor de executar um prisioneiro, desembainhou seu sabre e arregaou as mangas) (Ren Grousset, Histoire des Croisades et du Royaume Franc de Jrusalem, Plom, Paris, 1936, II volume, p. 798-799). Durante o massacre se viu algo sublime: os cavaleiros, em vez de fugir da morte, disputavam entre si antecipando-se aos golpes, para morrendo antes, entrarem no cu, tambm antes. Como compreensvel que Deus tenha premiado este zelo e herosmo com um milagre: durante trs dias e trs noites, uma lua vinda do Cu iluminou os corpos dos mrtires. (J.F. Michaud, Histria das Cruzadas, ed.. cit., vol.II, p. 411). Iluses lendrias? A luz da glria resplandecer para sempre sobre eles. Et lux perpetua luceat eis. Confessar a f. Esta preocupao que levou os cruzados alemes, perdidos no deserto e morrendo de sede, a estenderem-se no cho, formando uma grande cruz, para que assim seus cadveres indicassem a f pela qual haviam perecido. (J.F.Michaud, Histria das Cruzadas, ed.. cit., vol. VI, p. 307). "Devssemos morrer, ns no seremos feles para com Deus" diziam os francos na Chanson de Roland (CXXIX). Morrendo por Deus, os cavaleiros cumpriam a finalidade primeira de sua vocao. Era essa abnegao total, esse desejo de holocausto pela Igreja que levava o duque Roberto da Normandia a afirmar que dava mais valor aos sofrimentos por Jesus do que a melhor cidade de seu ducado. Era essa mesma abnegao por uma causa que se expressava no lema da esttua de Carlos V no Alcazar: "Se eu cair, levanta primeiro meu estandarte". Talvez no haja exemplo mais belo de sede de martrio do que o dos portugueses de Macau, j na Idade Moderna. No foi o herosmo praticado por cavaleiros, mas sim o de um povo cavaleiro, de tal modo o esprito da cavalaria, que o esprito da f, impregnara o povo lusitano. Nesse caso, sentem-se as ltimas lufadas do esprito pico da Cavalaria. Depois da expulso dos estrangeiros do Japo, houve l uma terrvel perseguio contra os nipnicos catlicos. Dois milhes de mrtires deram seu sangue para confessar que s a Igreja Catlica verdadeira. Para impedir a continuaro da pregao catlica, foi feita uma lei que condenava morte qualquer estrangeiro que desembarcasse no Japo. A morte por causa da f no foi um obstculo, antes foi um incentivo para os sacerdotes portugueses de Macau, que
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continuaram a partir para as terras do Mikado, para fazer misso e para l morrer, se fosse o caso. Tantos partiram, que o governo luso de Macau teve que fazer decretos proibindo severamente partir para o Japo. Quem no temia a morte em meio as piores torturas, no ia temer decretos portugueses. As "fugas de padres para o martrio no Japo no diminuram, nem mesmo colocando-se soldados para guardar os portos. Bons tempos em que era preciso usar a fora militar, para conter o zelo dos padres e sua sede do martrio... Afinal, o governador portugus decidiu enviar uma embaixada ao Japo para entabular negociaes. Chegando s terras do Imprio do Sol Nascente, todos os membros da embaixada foram mortos, exceto um nativo que foi enviado de volta, para anunciar que aconteceria o mesmo a quem quer que desembarcasse no Japo, Ao chegar a notcia do massacre da embaixada em Macau, todos os sinos repicaram festivamente, porque Portugal pensara enviar uma embaixada ao Japo, mas Deus a julgara to digna que a convocara para o Cu. Por isso os sinos repicavam festivos: era preciso honrar a entrada triunfal da embaixada de Portugal no Paraso. J que o cavaleiro devia morrer pela f, na cerimnia de armao de um cavaleiro o Bispo entregava a espada ao cavaleiro dizendo-lhe: Recebe esta espada, em nome do Pai, do Filho e do Esprito Santo, serve-te dela para tua defesa, para a defesa da Santa Igreja de Deus e para a confuso dos inimigos da Cruz de Cristo. Vai e lembra-te que os santos no conquistaram os reinos pelo gldio, mas pela f" (L.Gautier, La Chevalerie, edio original, p.. 47).
E aos cavaleiros dizia o arcebispo de Reims no poema de Garin, le Loherain: "Cavaleiros, no esqueais que Deus vos fez para serdes a muralha da Igreja". (L. Gautier, La Chevalerie, edio original, p.49). Nos portais gigantescos das grandes catedrais gticas comum encontrar a esttua de um cavaleiro que a guarda. Onde estava a Igreja ai estava o cavaleiro para defend-la. Ubi Ecclesia, ibi miles. 3 Mandamento: Respeitars os fracos Eram considerados fracos todos os que no podiam usar armas: mulheres, velhos, crianas, doentes, clrigos. Para os pagos a fora era um grande valor, e, por isso, sempre eles desprezaram os fracos. Foi a Igreja que ensinou o respeito pelos fracos. Foi ela quem criou na Idade Media o Hospital, e suscitou a dedicao para com os doentes. A Idade Media , em certo sentido, a poca dos fracos, a poca do respeito mulher, do respeito aos doentes, e, na vida internacional, do respeito aos estados e feudos minsculos, que ento podiam conviver ao lado dos grandes. Este respeito pelos fracos a Igreja o apresentou gradualmente aos brbaros. No incio se lhes ensinou que no se devia perseguir os mais fracos, e depois que se os devia defender. Carlos Magno ao morrer ordenou a seu filho: "Diante dos pobres preciso que te humilhes, preciso que te faas pequeno. Tu lhes deve ajuda e conselho". (L. Gautier, ob. cit. pg.53 da edio original),
So Luis, rei, lavava os ps de pobres e leprosos e servia mesa a 200 pobres diariamente (J.B. Weiss, Histria Universal, edio La Educacin, Barcelona, vol. VI, p..436). Toda uma Ordem de Cavalaria surgiu para cuidar dos doentes: era a Ordem dos Cavaleiros de So Joo, ou do Hospital. Durante a paz, cuidavam dos feridos e doentes e se preparavam para a luta. Na guerra, combatiam com tal herosmo que seu nome passou para a historia como smbolo de bravura. Quem no ouviu falar das faanhas dos cavaleiros de Rhodes ou dos cavaleiros de Malta? Eram eles os mesmos Cavaleiros do Hospital de Jerusalm, que, aps a perda da Palestina, partiram para Rhodes, e depois para Malta. O gro mestre dessa Ordem tinha o ttulo de guarda dos pobres de Jesus Cristo, e os Cavaleiros do Hospital chamavam os pobres de nossos senhores. (J.F. Michaud, Histria das Cruzadas, ed.. cit., vol.VII, p. 181). O mestre da Ordem de So Lzaro, que tinha por fim cuidar dos leprosos, devia ser escolhido entre os prprios doentes. Assim os cavaleiros dessa ordem serviam aos leprosos, sob voto de obedincia a um leproso. (J.F.Michaud, Histria das Cruzadas, ed.. cit., vol. VII, p. 182). Este o equilbrio da Igreja e do cavaleiro: o mesmo homem que lutava duramente, matava e feria, terminada a luta, se debruava sobre o inimigo ferido, cuidava de suas chagas, talvez feitas com sua espada, e disputava sua alma ao Inferno, procurando convert-lo e batiz-lo, antes que ele morresse. Por isso tudo se dizia ao cavaleiro ao se lhe dar a espada:
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O cavaleiro devia amar o lugar em que nascera e eles amavam a ptria, ao mesmo tempo terna e ingenuamente, rude e poeticamente. No era um amor vago e abstrato por uma ptria desencarnada, mas o amor concreto e vivo por uma ptria real. Amor concreto e potico que jorrava dos lbios dos cavaleiros em exclamaes ingnuas e repassadas de ternura. Como no se comover com as repetidas e preocupadas exclamaes de Roland, com relao honra da Frana? "Ah! Dieu ne plaise que douce France soit deshonor cause de moi! "Ah! Deus no permita que a doce Franca seja desonrada por minha causa" Como no sorrir ao ver o conde de Flandres exclamar que a Palestina era muito feia? Ele quase chega a dizer que Nosso Senhor teria feito bem melhor se tivesse nascido no seu belo feudo de Flandres. Eu me admiro muito que Deus, o filho de Santa Maria, tenha podido morar num tal deserto. Ah! como eu prefiro o grande castelo de meu burgo de Arras!" (L. Gautier, La Chevalerie, edio original, p. 59)
E que dor inocente revela a exclamao de outro cavaleiro ao ser ferido mortalmente: Santa Maria, gloriosa donzela, no reverei jamais S. Quentin, nem Nesle!" (L. Gautier, La Chevalerie, ob. cit., p. 59).
No adeus de Guilherme de Orange, deixando a Frana se revela o mesmo amor concreto no rude simbolismo de seu gesto: "Em direo doce Frana, ele se volta e um vento de Frana lhe toca o rosto; ele descobre o peito para que nele o vento entre em cheio. Colocado contra o vento, ele se pe de joelhos: "Oh doce sopro que vem da Frana! L esto todos os que amo. Eu te entrego nas mos do Senhor Deus; porque por mim, penso que no te verei mais". (L .Gautier, La Chevalerie, edio original, p 64 - nota 4).
Esse amor concreto pela ptria era retribudo por ela, e era representado vivamente por meio de um simbolismo: a ptria era a esposa do cavaleiro, e quando ele morria a ptria ficava viva. "O Terre de France, vous tes un bien doux pays, mais vous voil veuve aujourd'hui de vos meilleurs barons" "O Terra da Frana, vs sois um bem doce pas, mas eis que hoje sois viva de vossos melhores bares" exclamou Roland ao ver os bares franceses mortos em. Roncesvalles. E quando esse grande cavaleiro morre, toda a Frana que estremece, como a terra tremeu quando morreu Jesus Cristo. "Entretanto na Frana na uma miraculosa tormenta: tempestades, vento e trovo, chuva e granizo desmesuradamente, raios muitas vezes e a mide, e (nada mais verdade) um tremor de terra. Desde S.Michel du Peril at Saintes de Colonia, desde Besanon at o porto de Wissant, no h uma casa cujas paredes no se rachem. Ao meio dia, h grandes trevas; s se faz claro se o cu se abre; todos os que vem estes prodgios se espantam: a consumao do sculo. No, no: eles no sabem, eles se enganam. o luto pela morte de Roland ". (Chanson de Roland, CXIX). 5 Mandamento: No recuars diante do inimigo o grande mandamento da bravura. o mandamento que proibia a covardia, a grande desonra. "Mais vale morrer que covarde ser", tal o lema dos cavaleiros.
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E Roland, na Chanson, amaldioa o covarde, dizendo: "E que para sempre maldito seja, peito em que corao covarde lateja". (Chanson de Roland, XCIII).
Os cavaleiros desprezavam a flecha, porque seu uso no exigia a coragem da espada. E o concilio de Latro proibiu a arbaleta por ser demais homicida. (J.F. Michaud, Histria Das Cruzadas, ed. cit., Vol. ??? p..383). ''Maldito seja o primeiro arqueiro. Ele foi covarde pois no ousava acercar-se do inimigo" (L. Gautier La Chevalerie, p.67 - nota 2 na edio original). Era essa bravura indmita que fazia os cavaleiros sonharem com a batalha e desej-la. Quando Olivier diz a Roland que os sarracenos se aproximam e que haver batalha, Roland responde intrepidamente: "Que Deus no-la d... Dar grandes golpes, eis o dever de cada uma afim de que no se nos ponha em derriso. Os pagos esto errados, o direito dos cristos. No de mim que vir jamais o mau exemplo" (Chanson de Roland, CLXXXV).
E quando ele reparou que o exrcito sarraceno era imenso e quanto eram poucos os cristos, o herico Roland exclamou: "Tanto melhor. Meu ardor com isso aumenta, no permita Deus, nem os seus santos anjos que Frana, por minha causa, perca valor. Antes a morte do que a desonra" (Chanson de Roland, XC,II).
Era para se preparar para tais bravuras que a regra dos Templrios lhes permitia caar. Mas a nica caa permitida a eles era a de lees. E isto diz tudo. O cavaleiro jurava nunca recuar por temor. Ele s podia evitar a luta, se o inimigo fosse quatro vezes mais numeroso, Vivien, armado cavaleiro por Guilherme de Orange, ao receber a espada diz: "Eu fao o voto, bom concle, de nunca recuar um passo diante dos sarracenos (L. Gautier, La Chevalerie, edio original, p..258).
As cruzadas esto repletas de exemplos de lutas de pequenos grupos de cavaleiros contra exrcitos imensamente mais numerosos. At um mau cavaleiro como Renaud de Chatillon, censurando outro cruzado por opinar que se devia evitar a batalha com os muulmanos porque eram mais numerosos, argumentou que a quantidade da madeira no muda a natureza do fogo, assim tambm o nmero de inimigos no modifica a natureza do combate. (J.F. Michaud, Histria das Cruzadas, ed. cit., Vol. II, p. 402). Conta-se ainda a historia do senhor de Edessa, Jocelin de Courtenay, que estando morte, enviou seu filho para enfrentar os maometanos. Quando seu filho, Jocelin, o Jovem, recusou combater, alegando que os infiis eram muito superiores em nmero, Jocelin se faz transportar em padiola at o local do combate. E os maometanos, ao ouvir dizer que o velho baro estava chegando, fugiram sem lutar, permitindo ao nobre cavaleiro uma ltima glria antes da morte. Agonizante, o velho Jocelin fez a seguinte ao de graas a Deus por essa vitria, sem combate, obtida apenas por sua fama: Bieau Sire Dieu, je vous rend grces et merciz teles com je puis de ce que tant mavez onnor encest sicle. Nomement ma fin mavez est si piteus et si larges que vos avez voulu que de moi, qui sui demi morz tous contrez [ impotente] et charogne qui ne se peut aidier ont eu mi ennemi tel peor quil ne msrent atendre en champ, einois sen sont foz por ma venue. Biau Sire Dieu, je connois bien que tout ce vient de vostre bont et de vostre courtoisie Quant il ot ce dit, si secommanda de mout bon cuer Dieu et tantost s en partit l me.Si mourut iluec en milieu de seus genz
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Deixamos em velho francs, esse saboroso texto do qual damos agora a traduo: Bom Senhor Deus, eu vos dou graas e agradecimento tal como posso porque me honrastes neste mundo. Nomeadamente por meu final de vida no qual me fostes to misericordioso e to generoso que quisestes que, de mim, que estou j meio morto e completamente impotente e cadavrico, tal que no posso me ajudar a mim mesmo, meus inimigos tiveram tal medo de mim que eles no ousaram me aguardar no campo de batalha, de tal modo que eles fugiram quando de minha chegada. Bom Senhor Deus, eu sei bem que tudo isso vem de vossa bondade e de vossa cortesia Quando ele terminou de dizer isso, ele se recomendou de todo seu corao a Deus e logo partiu sua alma. Assim morreu aquele no meio de seus vassalos (Guillaume de Tyr, 610, apudRen Grousset, Histoire des Croisades et du Royaume Franc de Jrusalem, Plon, Paris, 1936, vol II , p. 7 e 8).
Os inimigos no se contam, se combatem. Na batalha de Antioquia, a ao de Deus foi to visvel que at os turcos a reconheceram. Foi na primeira cruzada. Os cristos haviam cercado Antioquia desde Outubro de 1097, e, durante sete meses, lutaram sem lograr tom-la. A cidade tinha 12 km de muralhas de 2 metros de espessura, e 360 torres de defesa (Pierre Aub, Godefroy de Bouillon, Fayard , Paris, 1985, p. 214). Os turcos haviam talado os campos e entulhado as cisternas. Quando afinal os cruzados venceram e massacraram os turcos, em Maio de 1098, foi uma cidade faminta e sem recursos que eles conquistaram. Pior ainda. Logo depois, um grande exrcito turco de centenas de milhares de homens, comandado por Kerbog, Emir de Mossul, cercou os cristos em sua prpria conquista. O exrcito da Cruz tentou uma sortida, mas foi vencido e obrigado a retornar ao abrigo das muralhas. Os turcos resolveram venc-los pela fome. Eles no atacaram, esperando apenas os efeitos fatais do longo stio. Em Antioquia, os cristos definhavam. Comeram-se at os cavalos de guerra. Havia cruzados que comiam o couro dos seus escudos e dos cintures. Muitos tentavam fugir, mas eram aprisionados pelos turcos. Outros, desesperados, fechavam-se nas casas, esperando a morte. Milhares de cruzados morreram, assim, de fome e inanio. Finalmente, desesperados nas vsperas da vitria, muitos senhores desertaram. Chamaram-nos de funmbulos. Sempre em todos os grandes combates da Histria, desertores h, na vspera da vitria. Foi ento que um clrigo teve um sonho miraculoso no qual Santo Andr mandava os cruzados cavarem atrs do altar da Igreja de So Pedro de Antioquia e que l encontrariam a ponta de lana que transpassara o Corao Sagrado de Jesus, no Calvrio. Caso venerassem essa lana, os cruzados obteriam perdo e vitria. Quando o monge narrou o sonho que tivera, os cruzados apressaram-se em procurar a lana, numa primeira escavao, nada encontraram. Prosseguiram, porm, sem desnimo, at acharem uma velha lana enferrujada. Mais tarde, como alguns levantassem dvidas sobre a autenticidade da relquia, o monge se prontificou a passar pelo juzo de Deus, atravessando num lance uma imensa fogueira. Ele fez isto e nada lhe aconteceu. (O Papa Bento XIV declarou no autntica essa relquia. Cfr. Pierre Aub, Godefroy de Bouillon, Fayard, Paris,1985, p. 237, nota1). Os cruzados veneraram essa, julgada por eles, lana miraculosa, relquia maravilhosa do Calvrio. Logo o favor de Deus se manifestou a eles, premiando sua f ingnua e sincera: eles encontraram vveres na prpria cidade, o que era verdadeiro milagre, aps tantos meses de fome. Todos se arrependeram e se confessaram. Estavam fracos, mas prontos para a luta. Enviaram logo um embaixador aos turcos intimando-os a se retirarem de Antioquia imediatamente, caso contrrio todos seriam mortos. O generalssimo turco, Kerbog, no sabia se ria ou se se indignava ante aquela audcia, ante aquele "cristo atrevimento" daqueles homens magrrimos, em suas folgadas armaduras. Dias depois, travou-se a batalha. Todos os cristos comungaram naquele dia. Os turcos cobriam os montes esperando-os para o massacre, logo uma chuvinha fina caiu refrescando os cristos, e o vento se lhes tornou favorvel. Viram nisso sinais do favor de Deus. Uma hora depois, os cem mil famintos um exrcito de espectros, diz Ren Grousset (Cfr. Ob cit. p.239) -- haviam feito fugir centenas de milhares de turcos, sem contar que ficaram no terreno cem mil cadveres dos maometanos. A vitria foi to milagrosa que trezentos turcos se entregaram e pediram o batismo. Isso ocorreu em 28 de Junho de 1098. (J.F.Michaud, Histria das Cruzadas, ed.. cit., V.II, p.. 332 e ss.).
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No recuars diante do inimigo... Como cumpriu bem este mandamento Simo de Montfort que, com menos de novecentos homens, dos quais cerca de 250 cavaleiros, enfrentou e venceu 44.000 ctaros (quatro mil cavaleiros e quarenta mil infantes ctaros, e seus aliados), na batalha de Muret, uma das batalhas mais espetaculares da histria. Parece uma batalha de lenda. Foi uma batalha histrica no sentido mais atual da palavra. Isso aconteceu numa quinta-feira, 12 de Setembro de 1213. Antes que os cruzados partissem contra os ctaros, Foulques, o Bispo de Toulouse -- [o antigo trovador Foulques de Marselha] apareceu com a mitra sobre a cabea e o crucifixo na mo, todos ento se apearam de seus cavalos para ir abra-lo. Temendo que eles perdessem um tempo precioso,o Bispo de Comminges, interrompeu a cerimnia, abenoou a todos com um largo gesto dizendo: Ide em nome de Jesus Cristo, quem quer que cair neste glorioso combate, recebera imediatamente a recompensa eterna e a glria do martrio. Contanto que esteja arrependido e confessado seus pecados (Dominique Paladilhe, Simon de Montfort et le Drame Cathare, Perrin, Paris, 1988, p. 222).
A um cavaleiro que admirado e alegre lhe pedia, antes da batalha, que se contassem quantos eles eram, respondeu Simo de Montfort: "Pas Ia peine. Nous sommes em nombre sufisant, avec Dieu, pour les vaincre". No vale a pena, ns somos em numero suficiente para, com a ajuda de Deus, venc-los"(Dominique Paladilhe, Simon de Montfort et le Drame Cathare, Perrin, Paris, 1988, p. 221). E os venceu. O combate durou apenas uma hora. Logo, morreu o chefe dos hereges, o Rei Pedro II de Arago. Os soldados de Simo de Montfort mataram 15.000 ctaros, e tiveram bem poucos mortos (Michel de Roquebert, Lpope Cathare, 1213- 1216, Muret ou la Dpossession, Privat, Toulouse, Vol.II, p. 222) Em Ascalon, na primeira cruzada, vinte mil cristos venceram trezentos mil muulmanos do Egito com a maior facilidade. (J.F.Michaud, Histria das Cruzadas, ed.. cit., Vol. II, p.50). Talvez nenhuma glria seja maior do que a do Rei Balduno IV, o Rei leproso de Jerusalem, que, com 580 homens, venceu o exrcito de Saladino, cujo contingente foi estimado entre 60 a 100.000 homens. Essa batalha nica entre um punhado de homens chefiados por um Rei leproso contra o enorme exrcito de Saladino, um muito talentoso e valente chefe maometano foi um milagre do cu recompensando um Rei fiel, disposto a morrer pela F. Isso aconteceu em Montgisard (em rabe, Tell el Gzer), na Palestina , em 25 de Novembro de 1177. O combate comeou depois do meio dia, quando a pequena tropa do rei leproso atacou Saladino, surpreendendo-o. O Bispo de Belm ia no meio da pequena tropa erguendo a verdadeira Cruz de Cristo. Vendo o imenso exrcito de Saladino, o punhado de guerreiros francos, liderados por um rei doente esgotado, pediram perdo mutuamente de seus pecados e se deram a paz. O primeiro ataque foi executado por Balduno, senhor de Ramla. Depois o prprio Rei lanou-se ao ataque. O punhado de francos desapareceu em meio a multido dos soldados infiis. Dou a palavra a um historiador moderno insuspeito de fanatismo, pois est sempre pronto a afirmar sua tendncia naturalista: Os cavaleiros francos redobravam de ardor e reencontravam a F que havia animado os Cruzados seus antepassados. Tanto mais que, pela primeira vez desde muito tempo, eles tiveram sinais sensveis da bondade divina. Viu-se a Verdadeira Cruz, smbolo tutelar, elevar-se ao cu e estender seus braos protetores acima da confuso dos guerreiros. H muitos sargentos [soldados que combatiam a p] e cavaleiros que estavam nessa batalha disseram que viram a Santa Cruz, na batalha, estava to alta que ela subia at o cu. So Jorge, patrono dos cavaleiros e da terra na qual eles estavam combatendo, e do qual os francos veneravam o tmulo na cripta da catedral de Lydda profanada pelos soldados de Yvelin, trouxe-lhes seu apoio e terou armas ao lado deles. Alguns cavaleiros sarracenos prisioneiros pediram aos cristos que os haviam capturado quem era esse cavaleiro de armas brancas que matara tantos deles nesse dia, e les respondiam que julgavam que era o santo do qual eles tinham danificado a igreja no dia anterior os prprios elementos da natureza foram favorveis aos cruzados, a se crer no testemunho de Miguel, o srio: Cristo Deus, nosso Rei bendito, suscitou contra os muulmanos um vento violento que os precipitava de seus cavalos, sem socorro de seus braos e lanas. Ento os francos, compreendendo que o Senhor havia aceito o seu arrependimento, tomaram coragem, enquanto os turcos viraram brida e fugiam. Os francos os perseguiram, matando e
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massacrando-os durante todo o dia (Pierre Aub, Baudouin IV, Roi de Jrusalem, Le Roi Lpreux, Perrin, Paris, 1981, pp. 165-166). O desastre de Saladino foi total. Ele s escapou vivo por grande sorte, com poucos soldados, tendo que dar grande volta pelo deserto do norte da Arbia, para conseguir voltar ao Egito. Montgisard foi uma das maiores glrias da Cristandade. H uma quantidade enorme de exemplos de cavaleiros que combateram sozinhos contra um nmero superior de inimigos. Na primeira cruzada, Tancredo, um dia, estando s com seu escudeiro, encontrou-se com vrios maometanos. Os que no fugiram, morreram. Findo o combate, esse cavaleiro herico fez seu escudeiro jurar que no contaria a ningum o seu feito glorioso, enquanto ele estivesse vivo, A Cavalaria praticou uma virtude nova entre os guerreiros: o pudor da glria. (J.F.Michaud, Histria das Cruzadas, ed.. cit., vol. I pg. 262). Esse mesmo Tancredo repetiu essa proeza no cerco de Jerusalm. Ele viera de Belm na vanguarda dos cruzados e perseguira os mulumanos at as muralhas de Jerusalm. Depois, sozinho, retirou-se para o monte das Oliveiras, para orar onde os apstolos haviam dormido. Era um fim de tarde e Jerusalm estava a seus ps. Cinco infiis vendo aquele cavaleiro s saram da cidade santa para atac-lo. Tancredo vigiava e orava, e por isto evitou a luta. Logo trs dos seus atacantes estavam mortos e os outros dois fugiram. "Sem apressar ou diminuir a marcha, Tancredo foi em seguida reunir-se ao grosso do exrcito que, no seu entusiasmo, avanava sem ordem e se aproximava da Cidade Santa, cantando as palavras de Isaas: Jerusalm, ergue os olhos e v o libertador que vem quebrar teus grilhes " (J.F.Michaud, Histria das Cruzadas, ed.. cit., vol. I pg. 383).
Que exemplo melhor pode ser encontrado para ilustrar esse mandamento do que as aes de Corts no Mxico, e de Pizarro no Peru? Contra os astecas, que eram incontveis, Corts tinha cerca de 400 homens. Seus estandartes traziam a Cruz e seu lema era "Com este sinal venceremos, se formos fiis". Quando ele entrou no Mxico aps aprisionar Moctezuma, tendo apenas um punhado de soldados em meio a uma cidade imensa e hostil, ele exigiu que o soberano azteca lhe entregasse a grande pirmide do Mxico, o templo do deus principal dos astecas, Huitzilopotchli, porque no era justo que o Deus verdadeiro fosse louvado ocultamente, enquanto um demnio era venerado publicamente. E os aztecas foram obrigados a ceder. E no alto do grande Teocali, a imagem da Virgem Maria triunfou, pela primeira vez, na Amrica. Esse era o tempo em que ainda havia So Pio V, um facho ardente em Trento, havia So Pedro de Alcntara, Santa Tereza e Torquemada, e l, no grande Teocali, a Virgem triunfante, e Corts com a espada. E como no admirar Pizarro to censurvel em tantas outras aes que com cento e setenta homens enfrentou e venceu vinte mil incas de Ataualpa? Como no admirar sua intransigncia e sua combatividade ao v-lo frente de seus cento e setenta homens, esperando o resultado da tentativa de apostolado de um missionrio junto ao imperador inca. Na mo, Pizarro tinha uma faixa branca. O sacudir a faixa seria o sinal da batalha. O missionrio falou longamente com o inca narrando-lhe a vida de Jesus Cristo. O imperador dos incas afinal cheirou o livro do Evangelho, jogou-o distancia, dizendo que no queria saber de um Deus que morrera crucificado. O padre voltou para Pizarro dizendo-lhe: Ele blasfemou. E Pizarro sacudiu a faixa. E o Peru ficou catlico. (J. B. Weiss, Histria Universal, Vol. IX, pg. 103). 6 Mandamento: Fars ao infiel guerra sem trgua e sem merc Para compreender este mandamento, preciso lembrar que Deus estabeleceu uma guerra total entre os bons e os maus, na Histria. Foi na tarde triste em que Ado e Eva foram expulsos do Paraso Terrestre, que, ao amaldioar a serpente, Deus disse: "Porei inimizades entre ti e a mulher, entre tua raa e a dela. Tu lhe armars ciladas ao calcanhar e Ela mesma te esmagar a cabea", (Gen. III, 15). H, pois, na Histria um dio inquebrantvel entre os filhos do demnio e os filhos de Nossa Senhora, e nessa guerra
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no pode haver trgua nem merc. Nessa guerra toda conciliao equivale traio. A histria, pois, uma Grande Cruzada. natural, ento, que os cavaleiros cruzados tivessem o mandamento de combater todos os inimigos da F. Quando, na primeira cruzada, os cruzados cercaram Antioquia, ocupada pelos turcos, os rabes do Egito vieram oferecer aliana ou a guerra, aos cristos. No conselho dos chefes, chegou a ser debatida a oferta de aliana dos rabes. Foi ento que um cavaleiro, levantando-se, perguntou como era possvel esta aliana. Ento ver-se-ia o estandarte de Cristo misturado com os estandartes infiis? E os guerreiros de Deus lutariam, lado a lado, com os soldados de Lcifer? E conclua dizendo aos embaixadores rabes que os cristos diante de Antioquia fariam guerra aos turcos, e aos rabes tambm, pois os cristos "s se podiam aliar com as potncias que respeitam as leis e a justia das bandeiras de Jesus Cristo (J.F.Michaud, Histria das Cruzadas, ed.. cit.,Vol. I, p. 275). Quando, na terceira cruzada, o sulto de Icnio ofereceu passagem aos cruzados alemes de Frederico Barbarruiva, em troca de trs mil peas de ouro, este lhe mandou dizer: "No tenho o costume de comprar meu caminho com ouro, mas de abri-lo com o ferro, e com o auxlio de N. S. Jesus Cristo, de quem somos soldados", (J.F.Michaud, Histria das Cruzadas, ed.. cit., vol. lII, p. 36).
E diante das muralhas de Jerusalm que pareciam inconquistveis, nos longos dias de stio, nas longas horas de espera, horas de calor, de sede e de tentao, os cruzados se arrastavam at os muros da cidade santa, e, beijando-as, renovavam seu juramento: "Jerusalm, recebe nosso ltimo suspiro, que tuas muralhas caiam sobre ns e que a santa poeira que te rodeia cubra nossos ossos". (J.F.Michaud, Histria das Cruzadas, ed.. cit., Vol.l, p. 391). E quando Maom II exigiu tributo dos cavaleiros de Rhodes, eles lhes responderam: "Devemos a soberania de Rhodes somente a Deus, e s nossas espadas. Nosso dever ser inimigo, e no tributrios dos maometanos". (J.F. Michaud, Histria das Cruzadas, ed.. cit., vol. VI, pp. 133/134).
Tempos to diferentes do ecumenismo do Conclio Vaticano II!... De tal modo os cavaleiros amavam a luta por Deus que se preocupavam com o fato de que os turcos no iriam para o cu, e que assim o cu seria muito montono. E diziam, numa teologia canhestra, que Deus seria bem bom, que deixaria alguns turcos irem para o cu, para que eles pudessem, tambm l, -- at no cu--, combater peIo Deus da glria. At os hindus bem compreenderam este aspecto pico da alma catlica, pois que, quando o grande Afonso dAlbuquerque morreu, comentaram eles que se Deus o convocara, porque devia haver guerra no cu... (Afonso de Albuquerque, Elaine Sanceau - pg. 383). Intransigncia e combatividade e no ecumenismo e pacifismo eram as caractersticas catlicas dos hericos cavaleiros. Durante o cerco de Tolemaida, na terceira cruzada, entre os soldados cristos que procuravam tapar o fosso da cidade com pedras e outros objetos, havia uma mulher. Em meio ao trabalho, ela foi ferida mortalmente por um dardo. Ao marido que a socorreu, ela pediu que seu cadver fosse lanado ao fosso, porque, ainda depois da morte, ela queria participar da luta e da vitria. (J.F.Michaud, Histria das Cruzadas, ed.. cit., vol. VI, p. 329). Quando do cerco de Arsur, por Godofredo de Bouillon, na primeira cruzada, os turcos penduraram num madeiro, no alto das muralhas um cavaleiro chamado Gerard d Avesnes. Caso os cruzados atacassem, as primeiras flechas matariam o cruzado crucificado. No suplcio, esse cavaleiro chorava e implorava que o poupassem. O exrcito cristo parou, ao longe, hesitante. Godofredo de Bouillon aproximou-se, ento, e disse ao crucificado, que ainda que o prprio irmo dele, Godofredo, estivesse na cruz, ele atacaria, porque era preciso recuperar essa cidade para Jesus Cristo. Incitou ento ao cavaleiro que morresse com a grandeza prpria de um soldado de Cristo, e de um heri da f. Gerard dAvesnes, arrependido e fortalecido, se recomps, e respondeu que deixava um cavalo de guerra e uma espada. Que ficassem para o Santo Sepulcro. Assim, mesmo aps a morte, algo dele continuaria a lutar por Nosso Senhor. A batalha comeou e Arsur no caiu. Mas os maometanos, admirados do valor de Godofredo e de Gerard d'Avesnes, pouparam o supliciado e, tempos depois, libertaram esse prisioneiro. At os muulmanos eram capazes de admirar a grandeza catlica. preciso que o sculo XXI esteja bem baixo e bem
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nas trevas, para no ser iluminado ou no ver to grande luz, (J.F. Michaud, Histria das Cruzadas, ed.. cit., Vol. II, p. 93). 7 Mandamento: Cumprirs exatamente teus deveres feudais se no forem contrrios lei de Deus Os historiadores revolucionrios apresentam os vassalos medievais como explorados e esmagados por seus senhores, que eles odiavam. Ora, a luta de classes um mito, e a verdade que senhores e vassalos se amavam mutuamente. So inmeros os casos de dedicao total dos vassalos a seus senhores e vice-versa. A felonia, isto , a traio ao juramento feudal, era considerada ento um dos piores crimes e dos que trazia maior desonra. Quando So Luis foi lutar no Egito, por culpa da audcia do irmo do rei, o Conde Robert de Artois, o exrcito cruzado sofreu uma grande derrota, em Mansurah. Pior ainda, uma epidemia grassou no exrcito em retirada. O Rei So Luis ficou doente, e quase no podia cavalgar. Afinal, estando a ponto de morrer, ele se refugiou na aldeia de Minieh, enquanto um cavaleiro, Gaucher de Chtillon, guardava a rua, sozinho. Quando os infiis se aproximavam, ele galopava para eles, atacando-os com fria tal, que os punha em fuga. Chtillon voltava, ento para a frente da casa onde estava o Rei, e arrancava as flechas que se tinham cravado em sua couraa ou em seu corpo. Retornando os rabes, ele voltava carga, gritando: Chtillon Cavaleiros, Chtillon. Onde esto os meus valentes". Mas s acorriam muulmanos, e no cristos. Chtillon, porm, no fugia. Por fim ele caiu morto, coberto de flechas e transpassado de golpes. Um guerreiro maometano contava que matara o mais bravo dos cristos. E mostrava a espada do heri morto, como prova de sua proeza. (J.F.Michaud, Histria das Cruzadas, ed.. cit., Vol. V, pp.61-62. Ren Grousset, Histoire des Croisades et du Royaume Franc de Jrusalem, Plon, Paris, 1934, Vol. III, p 482). A mesma lealdade feudal pode ser admirada em Guillaurme de Pratelle. Quando, um dia, Ricardo Corao de Leo foi surpreendido com um pequeno nmero de homens pelos muulmanos, e estando prestes a cair prisioneiro, Guillaurme de Pratelle, cavaleiro do squito do rei, gritou, em rabe, que ele era o Rei, para atrair os inimigos sobre si, e possibilitou assim a fuga de seu soberano. Noutra ocasio, foi esse mesmo Rei ingls que deu prova de que a mesma lealdade unia os suseranos aos vassalos. Sabendo ele que um grupo dos templrios com o conde de Leicester cara numa emboscada, correu em seu socorro com um to pequeno nmero de soldados, que quiseram impedi-lo, dizendo-lhe que ia para uma morte certa, mas a eles respondeu o rei: "Quando todos esses guerreiros alistaram-se no exrcito do qual eu sou o chefe, eu lhes prometi jamais abandon-los; se eles encontrarem a morte, por no serem auxiliados, seria eu digno de comand-los, e poderia ainda ter o ttulo de Rei?", (J.F.Michaud, Histria das Cruzadas, ed. cit., Vol.III, p. 139). "No! Eu no seria digno de ser rei, se eu no soubesse desprezar a morte, para defender aqueles que me seguiram na guerra". (J.F.Michaud, Histria das Cruzadas, ed.. cit., Vol. VI, p. 270). E que exemplo melhor de lealdade do que a de Guzman, o bom, governador de Tarifa? Os mouros e traidores haviam aprisionado seu filho e o levaram ante as muralhas de Tarifa, intimando que Guzman entregasse a cidade caso contrrio matariam seu filho. E, fiel a seu dever, Guzman lanou seu punhal para os infiis gritando-lhes: Ento matem-no com este punhal, porque de ao cristo, e leal". Lendas..., dir algum. Pois no foi o mesmo herosmo que se viu no famoso dilogo entre o coronel Moscard e os comunistas, no cerco do Alczar de Toledo em 1936 na guerra civil espanhola? Os comunistas haviam capturado o filho do comandante do Alczar, e telefonaram-lhe propondo-lhe a troca da fortaleza pela vida de seu filho. As palavras trocadas entre o Coronel Moscard e o Comandante comunista, o Coronel Rojo, esto gravadas, no mrmore, nas paredes do Alczar: O senhor responsvel por todos os crimes e tudo o que est acontecendo em Toledo. Dou-lhe dez minutos para se render. Do contrrio, fuzilarei seu filho Lus, que est aqui ao a meu lado. Acredito disse Moscardo. Para que saiba que digo a verdade continuou o comunista ele vai falar! Papai! Gritou Lus ao telefone. Que , meu filho?
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Nada. Eles dizem, que me mataro se o Alczar no se render. Mas no se preocupe comigo. Se for verdade replicou Moscardo encomende sua alma a Deus, grite "Viva a Espanha!" e morra como um heri. Adeus, meu filho. Um beijo. Adeus, pai. Um beijo grande para o senhor tambm. Quando o coronel comunista voltou ao telefone, disse-lhe Moscard: Pode esquecer o prazo que me deu. O Alcazar nunca se render!. E desligou o telefone. 8 Mandamento: No mentirs e sers fiel a palavra dada O cavaleiro, como toda a Idade Media, era extremamente respeitoso da verdade, e tinha horror mentira. Conta-se num poema que Roland dizia a um persa: "Amigo, guarda-te de mentir, porque a mentira um pecado que muito faz chorar."Amis, li dit Roland, gart-toi de mentir. Gar ci est une tache que moult fait repentir". (Lon Gautier, La Chevalerie, pg. 79 da edio original, e p.49 da edio Arthaud de 1959) O horror mentira jorrava na exclamao raivosa contra o mentiroso. Tu as menti par ta gorge" E na orao de Duguesclin ao rei So Luis dizia ele: "Preux, que mantnheis vossa palavra mesmo aos infiis, no permitais que jamais a mentira passe por minha garganta". Os cavaleiros preferiam morte do que a desonra. E esse um verso que se repete na Chanson de Roland. "Plutot Ia mort que le deshoneur.(Antes a morte do que a desonra). "No se podia fazer mais cruel injria a um cavaleiro do que consider-lo suspeito de traio e de mentira (J.F. Michaud, Histria das Cruzadas, ed. Cit.Vol. VlI, p. 178).
Quando eram aprisionados, os cavaleiros no gostavam de dar palavra de honra de que no fugiriam, pois que de prises de ferro era possvel escapar, mas da priso da palavra, jamais. O rei Joo II, o Bom, aprisionado pelos ingleses durante a Guerra dos Cem Anos, s pde voltar Frana, pagando parte de seu resgate e prometendo, sob palavra, outras condies. Mais tarde, porm, no podendo cumpri-las, o Rei de Frana espontaneamente partiu para a Inglaterra, para entregar-se de novo prisioneiro, a fim de que sua palavra fosse mantida. (Lavisse e Rarnbaud, Histoire Generale, vol. III, pg. 99,). (Juan Bautista Weiss, Histria Universal, ed. cit., vol. VII, pg. 523). Quando So Luis prisioneiro chegou a um acordo com os mamelucos para sua libertao e a de seu exrcito, os maometanos propuseram-lhe um juramento indigno e blasfemo, como garantia de sua palavra. So Luis recusou, dizendo que bastava sua palavra, e que um rei jurar que cumpriria um tratado que fizera era indigno da majestade real. Em vo, se tentou demover o santo Rei dessa resoluo. Em vo se lhe fizeram ameaas de morte e de torturas. Ele no cedeu. Afinal os emires se contentaram com sua palavra dizendo que "aquele prncipe franco era o mais altivo cristo que eles jamais haviam visto no Oriente". (J.F. Michaud, Histria das Cruzadas, ed. cit., Vol.V, pp. 93-94). Era esse respeito palavra dada que tornava possvel a trgua de Deus, os acordos de paz, a libertao de prisioneiros, que se comprometiam a no mais participar de hostilidades. Que quadro diferente apresenta o sculo XXI! Tratados no so respeitados, trguas so violadas, e s a fora garantia. dessa falta de honra que nascem os ataques traio, o terrorismo, e os campos de concentrao, em que o arame farpado e as metralhadoras substituem a palavra de honra medieval. Que governante atual faria o que fez So Luis? Ao saber que uma terra no era sua, o santo Rei de Frana mandou devolv-la imediatamente Inglaterra, sua legtima soberana, mandando ainda os documentos comprovantes do direito ingls. Naqueles tempos no havia tantos selos, firmas reconhecidas, garantias e fiadores. Para os velhos portugueses e
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bandeirantes bastava um fio de barba como sinal de compromisso, para obrig-los a cumprir a palavra dada. Tempos de f, tempos de palavra, tempos de honra. Ento se cumpria a palavra de Nosso Senhor no Evangelho: "que vossa palavra seja sim, sim, no, no. E tudo o que fora disto vem do maligno" (So Mateus. V, 37)..
Por isso, quando tomavam a Deus por testemunha, os cavaleiros se referiam comumente veracidade de Deus mais que a qualquer outra de suas virtudes, e diziam: Par Dieu, qui ne mentit. Por Deus que no mente (Lon Gautier, La Chevalerie, p.50 da edio Arthaud de 1959). O cavaleiro devia ser como Deus que no mente. 9 Mandamento: Sers generoso e fars liberalidade a todos Aquele que d a vida pelo prximo d a maior prova de amor por ele. Como poder ele, ao mesmo tempo, ser avarento? O cavaleiro era assim obrigado a dar o que tinha para os pobres e necessitados. Da, nas ordens de cavalaria, o voto de pobreza. Dai o amor pelos pobres. A generosidade era to tpica da Cavalaria, que se tornou to necessria para se pertencer a ela, tanto quanto a proeza. Para se elogiar um cavaleiro, dizia-se que ele era "courtois et sage, et larges pour donner (L. Gautier, La Chevalerie, pg. 84 da edio original, e p.51 na edio adaptada da edio Arthaud de 1959) Corts e sbio, e generoso no dar! Godofredo de Bouillon, prottipo dos cavaleiros, visitava freqentemente os pobres de seu exrcito. E Bohemundo antes de partir para a primeira cruzada, deu tudo que tinha, a ponto de precisar depois pedir ajuda a Tancredo. A preocupao dos cavaleiros devia ser a assistncia aos rfos, aos pobres e s vivas. So Tomas Beckett, chanceler da Inglaterra, aps presidir os banquetes dos grandes da corte, (nos quais ele quase nada comia), quando todos tinham sado, as mesas eram postas de novo. E ento entravam os pobres para comer. E era o Chanceler da Inglaterra que os servia. E So Luis, Rei, fazia o mesmo: lavava os ps dos pobres, e os servia mesa. E era por amor a Deus, e no para ter prestgio que fazia isso. Esse mesmo Rei pessoalmente cuidava dos enfermos nas epidemias, e enterrava os cadveres putrefatos dos cruzados. (J.F. Michaud, Histria das Cruzadas, ed. cit., Vol. V, p.p. 51 e 150). Era o tempo da caridade, e no o da filantropia. 10 Mandamento: Combater o mal e defender o bem Assim formulou a Igreja o 10 mandamento da Cavalaria. interessante observar a ordem em que est formulado este ltimo mandamento: primeiro se manda combater o mal, e, s depois, se fala em defender o bem. Esse amor ativo ao bem, que s se manifesta quando se combate o mal, era bem representado pela seguinte orao do Pontifical para a beno de um novo cavaleiro: Oh Deus, Vs s permitistes aqui na terra o uso da espada para combater a malcia dos maus, e para defender a justia. Fazei, pois, que vosso cavaleiro jamais utilize do gldio para lesar injustamente quem quer que seja; mas que se sirva dele, para defender, aqui na terra, o que justo e reto (L. Gautier, La Chevalerie, pg. 86 da edio original, p. 52 da edio Arthaud).
O cavaleiro levava o amor ao bem sua concluso natural: o dio ao mal. E o mal ele no se limitava a identific-lo, mas ele o combatia efetivamente. Ele exercia assim a virtude da vingana de Deus, e, como Davi, ele podia repetir com propriedade o salmo: "Por ventura no odeio eu, Senhor, os que Te odeiam e no me causam tdio os que se levantam contra ti? Com dio implacvel eu os odeio, tornaram-se meus inimigos". (Salmo CXXXVIII, 21-22) Alegrar-se- o justo ao ver a vingana" (Salmo 5LVIII, 11) E como aos judeus que massacraram os adoradores do bezerro de ouro, Deus podia dizer aos cavaleiros ao voltar de seus combates:
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Porque, como os Macabeus, eles foram tomados pelo "santo" furor da lei, e preferiam "morrer em combate que ver os males de nosso povo e das coisas santas", (I Mac. III, 59). esse dio ao mal e esse amor ao bem que caracteriza o justo. E que maior testemunho e homenagem se podem dar da justia dos cavaleiros do que a prestada pelos indus pagos ao grande Afonso de Albuquerque? Mesmo depois de morto, era a ele que os indus levavam suas queixas e processos, indo a seu tmulo e l reclamando justia. Eles confiavam que, quem nunca lhes faltara com a justia enquanto vivo, no lhes faltaria, mesmo aps a morte. Assim o "Albuquerque terribil" foi juiz mesmo aps a morte. A sede de justia ardia na alma da cavalaria e para ela, no grande dia do Juzo, Nosso Senhor, dir: "Bem aventurado vs que tivestes fome e sede de justia porque sereis fartos"
Assim era a Cavalaria, na defesa da Igreja. A ela cabe o grande elogio que Deus fez da espada e da pessoa de Judas Macabeu e de seu papel, protegendo o povo judeu.
A Cavalaria "(...) dilatou a glria do povo cristo, e se revestiu de couraa como um gigante, cingindo-se com suas armas para combater, e protegia toda a Cristandade com sua espada. Tornou-se semelhante a um leo nas suas aes e a um leozinho que ruge sobre a presa, perseguiu todos os maus, buscando-os por toda a parte; e queimou em chamas os que perturbavam o povo. E os seus inimigos retiraram-se pelo temor que lhe tinham e todos os obreiros da iniqidade se turbaram; e a sua mo conduziu prosperamente a salvao do povo. Exasperava muitos reis e alegrava a Santa Igreja com seus grandes feitos e a sua memria ser eternamente bendita. E percorreu as cidades de Jud e lanou fora delas os mpios e apartou a ira de Deus de cima da Cristandade. Tornou-se clebre at as extremidades da Terra e reuniu os que estavam a ponto de perecer, (l Mac. III,1-10. As palavras sublinhadas no so da Sagrada Escritura, mas postas para a adaptao).
Assim era a Cavalaria. Assim era a Idade Mdia. Assim a Igreja, como Cristo, ontem, hoje e para sempre.
Nota: Este texto foi escrito h vrias dcadas. Recentemente foi revisado para publicao e foram acrescentadas algumas citaes, de memria, de certos livros antigos que no esto mais ao alcance, de modo que pode haver alguma falha na citao de obras mais antigas. Pedimos desculpas por essas possveis falhas.
Para citar este texto: Fedeli, Orlando - "A Cavalaria" MONTFORT Associao Cultural http://www.montfort.org.br/index.php?secao=cadernos&subsecao=religiao&artigo=cavalaria Online, 25/03/2011 s 19:34h
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