Paisagem Urbana

Palcio dos Viscondes de Balsemo

Mathias Gramoso n5996 Ricardo Nuno Barros n2166 Docente: Jorge Ricardo Pinto

Maio 2013

Introduo
O palacete dos viscondes de Balsemo, tambm conhecido por diversos nomes Palacete da Praa Carlos Alberto, Palcio dos viscondes da Trindade, Antigo Gs e Electricidade, etc. o edifcio situado na Praa de Carlos Alberto, n71, actualmente a sede da Direco Municipal de Cultura e Turismo da Cmara Municipal do Porto. Mandada construir em meados do sculo XVIII por Jos Alvo Brando Coutinho Perestrelo Pereira de Azevedo, a casa veio a entrar na posse da Famlia Balsemo por casamento, em 1800, da filha do fidalgo Jos Alvo, D. Maria Rosa, com seu primo co-irmo Lus Mximo Alfredo Pinto de Sousa Coutinho, mais tarde (1802) 2 Visconde de Balsemo.1 O 2 Visconde de Balsemo foi o primeiro e o mais importante dos proprietrios ou locatrios individuais de que o edifcio obteve, pelo que, se tivermos simultaneamente em conta as caractersticas arquitectnicas e artsticas do seu exterior e do seu interior, julga-se, numa linguagem dos sculos XVIII e XIX, deva o seu nome de palacete dos Viscondes de Balsemo.

1 Lus Cabral - O palcio dos viscondes de Balsemo, 2000, p. 9

O stio
A praa A primeira referncia actual Praa Carlos Alberto data de 1638, num registo paroquial de Sto. Ildefonso. Surge naturalmente da interseco de vrios caminhos que saindo da Porta do Olival, prximo ao que hoje em dia o Instituto Portugus de Fotografia, e se dirigiam para o Norte do Pas - Braga, Viana, Barcelos e para a Galiza. Inicialmente era denominada de Largo dos Ferradores embora Campo e Bairro fosse tambm de uso comum, por ser ali que se colocavam as ferraduras nos cavalos usadas pelos carroas dos viajantes. semelhana dos terminais ferrovirios dos dias de hoje, o Largo albergava tambm uma srie de penses, botequins e casas de pasto para aliviar os viajantes. Era tambm um local de feiras, o que tambm explica o topnimo Praa da Feira das Caixas, pelo qual tambm era conhecida. Embora no existam registos grficos de como seria o Largo antes do Sc. XIX, o facto de a ainda existiram edifcios do sc. XVII, sugere que a forma do Largo se manteve praticamente inalterada desde ento, sendo facilmente constatado pelas plantas e gravuras do sc. XIX. O actual nome da praa uma homenagem a Carlos Alberto, Rei do Piemonte e da Sardenha, que, depois de abdicar do trono em 1849, a favor do seu filho - Vtor Manuel - se mudou para o Porto, tendo ficado alojado na antiga Estalagem do Peixe, actual Palacete dos Viscondes de Balsemo. Veio a falecer meses mais tarde na Quinta da Macieirinha hoje museu romntico nos jardins do palcio de cristal. Com o tempo, e a chegada do comboio ao Porto, a malaposta (diligncia) foi perdendo a sua importncia, e ao desaparecer deixou no seu lugar os botequins e hospedarias a actividade predominante durante todo o sculo XX, e gradualmente recuperada no sculo XXI pelas mos da Porto Vivo SRU, entidade responsvel pela interveno mais recente na Praa Carlos Alberto. de realar tambm que foi desta praa que partiu a 12 de Agosto de 1874, o primeiro carro americano do Porto, antepassado directo do elctrico, em direco Foz do Douro. Para alm do antigo Solar dos Balsemo, tema central deste trabalho, de realar o Hospital da Ordem do Carmo, construdo entre 1791 e 1801. Pertence Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, fundada em 1736, e que ali surge 3

depois de ordem se ver forada a abandonar o lugar que ocupava no Mosteiro de S. Domingos devido a divergncias eclesisticas. A 9 de Abril de 1928 inaugurou-se o Monumento aos Mortos da Grande Guerra, cujo autor foi Henrique Moreira. Este monumento veio na sequncia de uma esttua anterior que acolheu muitas crticas. Foi tambm nesta praa que se deu o famoso discurso de Humberto Delgado, que muitas dores de cabea causou ao antigo regime e que ficou imortalizado na alma de todos os portuenses. Em 2001, um projecto da autoria do Arq, Virgnio Moutinho que visava alterar radicalmente a Praa foi largamente contestado e finalmente abandonado, garantindo a continuidade da morfologia da Praa ao nvel do solo. Construiu-se, no mbito das obras levadas a cabo pela Sociedade Porto 2001 um grande parque de estacionamento subterrneo, ligado aos das Praas de Gomes Teixeira e de Lisboa, com 1259 lugares de aparcamento. As edificaes situadas na ala norte da praa, que foram classificadas como imvel de interesse pblico pelo IPPAR; - O Caf Luso; - O Hospital da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo; - O Monumento aos Mortos da Grande Guerra; - O Monumento ao General Humberto Delgado, do escultor Jos Rodrigues, inaugurado a 14 de Maio de 2008; - O Palacete dos Viscondes de Balsemo; - O Quiosque no Largo da Ramadinha; - O Teatro Carlos Alberto, TeCA, situado nos arredores da Praa de Carlos Alberto.

O edifcio
O solar dos Viscondes de Balsemo uma construo que data da segunda metade do sculo XVIII, com profundas alteraes sobretudo durante o sculo XIX, mas tambm durante o ltimo sculo. O conjunto arquitectnico constitudo por trs partes principais: o palacete propriamente dito, de planta rectangular, um edifcio mais pequeno, anexo, tambm rectangular, e uma torre, triangular, unindo este dois corpos. As fachadas principais esto orientadas a Sul (Praa Carlos Alberto) e a Nascente (Rua das Oliveiras). A fachada nobre tem, a nvel do rs-do-cho, quatro janelas de cada lado da porta principal com o correspondente ritmo de sucesso de sacadas, a nvel do 1 andar. A fachada Norte d para um ptio que servia de acesso aos jardins e quintais, terrenos onde hoje est o Teatro Nacional Carlos Alberto. O interior do edifcio, mesmo depois das suas variadas alteraes, ceonseguiu conservar o essencial do seu traado primitivo. No rs-do-cho, formado por inmeras reas de servio, destaca-se o amplo trio de pedra, com arcos, do qual parte uma escadaria de um s lano, at ao primeiro patamar, subdividindo-se, ento, em dois lanos paralelos, at ao andar nobre. No tecto, abobadado, destacam-se os estuques com cenas de batalhas referentes aos primrdios da formao da Nacionalidade, sendo o conjunto rematado por uma cpula com vrias janelas. Na parede oposta ao fim da escadaria existe um varandim que acesso a uma sacada que dava sobre os quintais. Nesta e em toda a escadaria existe uma guarda trabalhada, em ferro, que comea a partir de dois drages em madeira, junto com duas bolas de cristal. O andar nobre, pela riqueza da sua ornamentao, contrasta com o piso trreo. De facto, nele encontramos uma sucesso de salas com belos estuques, comeando por uma grande sala virada a Leste, passando depois ao salo de baile, j na ala nobre, ao qual se seguem trs salas unidas por grandes portas de correr, com vitrais coloridos. Na primeira sala, cujos tectos ostentam pinturas a nica sala que as tem enquadradas por rectngulos e medalhes, destaca-se a memoria, em mrmore, da estadia do Rei Carlos Alberto da Sardenha neste edifcio, ento a hospedaria do Pexe (19 de Abril de 1849). Existem, ainda, trs placas datadas de 1853, 1865 e 1862, referentes s visitas, respectivamente, de D. Lus I e de D. Maria Pia, de D. 5

Fernando II, e do Prncipe Humberto de Sabia, neto do Rei Carlos Alberto, estando as duas ltimas placas colocadas na passagem entre salas. O salo de baile possui um belo tecto abobadado com estuques de motivos musicais e nas paredes pode-se observar os medalhes com compositores e painis com cenas de dana. Seguindo, uma sala mais pequena, com tecto plano, decorada com quatro anjos, uma outra com tecto de caixoto em gesso, com rica ornamentao vegetalista e natural junto com variadas cenas mitolgicas explicadas pelo responsvel da visita, assim como outra sala de tecto abobadado simples. J no corpo anexo ao edifcio principal, existe uma sala com tecto em caixoto ricamente decorado com figuras da Mitologia clssica. Merece ainda deste a zona das salas de jantar: duas salas ligadas, a primeira com tecto de decorao simples, com trs grandes armrios embutidos na parede, e a segunda de tecto em caixoto, com temas mitolgicas. Refira-se tambm a cozinha com copeiras.

Os Proprietrios e os Usos do Edifcio

Pode-se reconhecer que o edifcio, ao longo de mais de duzentos anos de existncia, esteve agregado a trs funes bem distintas: residncia de particulares, hospedaria e sede de servios pblicos. Viscondes de Balsemo Como j foi referido, o Palacete adveio famlia por casamento, em 1800, do 2 Visconde de Balsemo, Lus Mximo Alfredo Pinto de Sousa Coutinho, com D. Maria Rosa Alvo Brando Perestrelo de Azevedo, filha do fidalgo Jos Alvo Brando Coutinho Perestrelo Pereira de Azevedo. Lus Mximo era filho do 1 Visconde de Balsemo, Lus Pinto de Sousa Coutinho, fidalgo cavaleiro da Casa Real, Ministro e Secretrio de Estado dos Negcios do Reino, da Guerra e dos Estrangeiros, 20 Senhor do Morgado de Balsemo, ministro plenipotencirio em Londres e em diversas circunstncias, Capito Geral de Cuib e Mato Grosso, homem muito viajado.. e da Viscondessa de Balsemo, D. Catarina Micaela de Sousa Csar e Lencastre, celebrada poetisa portuense.1
1 Lus Cabral - O palcio dos viscondes de Balsemo, 2000, p. 20

Conhecido pela sua Biblioteca pessoal (que inclua obras que haviam pertencido a seu Pai), o 2 Visconde patenteava-a, nesta casa, ao pblico da Cidade, antes de aqui existir uma verdadeira biblioteca pblica: ... ouvindo este Fidalgo os clamores dos estudiosos, que justamente lamentavao a falta de huma livraria publica, aonde sem embarao podessem aprender o que falta de meios lhes difficultava... tomou a nobre resoluo de franquear quotidianamente ao Publico a sua grande e selecta livraria para auxilio da qual fez ainda vir de Frana huma copiosa colleco de despertador as Comunidades (religiosas) para que franquiem igualmente as suas... .1 A sua biblioteca foi sequestrada em 1832, constituindo um dos primeiros ncleos da Real Biblioteca Pblica do Porto, sendo, mais tarde, adquirida pela Cmara aos herdeiros. Segundo Adrien Balbi. Essai statistique sur le Royaume de Portugal dAlgarve, Paris, 1822, t.2, p.91 essa biblioteca antes da pilhagem que sofreu aquando da primeira invaso dos Franceses, tinha 12000 volumes, e que agora reduzida a 5000. Devido s suas ideias, conforme diz Sousa Reis, viveo o referido Visconde o resto da sua vida isolado e at esquecido dos litteratos e homens instrudos, que sempre nesta caza tiverao recepo franca com singular estima de toda a famlia e principalmente do seu chefe; aos estudiozos patenteva-se-lhes a particular e rica livraria do Visconde.2 O 2 Visconde de Balsemo nassceu em Falmouth, Inglaterra, e a foi baptizado em 30 de Maio de 1774, vindo a falecer em Lamego em 2 de Outubro de 1832. Fidalgo da Casa Real, formado em Filosofia, foi, em 1803, Guarda-mr da Torre do Tombo. Exerceu as funes de Inspector da Agricultura do Reino, sendo oficial do Exrcito, tendo atingido o cargo de tenente coronel de Cavalaria. Em 1808 aderiu ao movimento de resistncia invaso de Junot, tendo sido um dos delegados enviados a Londres pela Junta Provisional do Governo Supremo do Reino.
1 Compendio Histrico e Topographico da Cidade do Porto Ms. 1901/ Lus Cabral - O palcio dos viscondes de Balsemo, 2000 2-Apontamentos para a verdadeira Historia antiga e moderna da cidade do Porto, vol. 5.f.78. / Lus Cabral - O palcio dos viscondes de Balsemo, 2000

Acrescente-se tambm, que entre 1834 e 1837, funcionaram provisioriamente, no mesmo palacete, aulas da Academia Politcnica do Porto, cujas instalaes haviam sido ocupadas pelo Hospital Militar, durante as Lutas Liberais. Diz, ainda, Sousa Reis, a p.78 v. E 79: Desde as vesporas do faustozo dia 9 de Julho de 1832, por ser a entrada do Exercito Libertador no Porto, nunca mais este Palcio teve por moradores os membros da famlia suas proprietria, e muitos anos esteve alugado ao Visconde de Guiaens, Jos Teixeira (i.e. Taveira) Pimentel de Carvalho e Menezes, sendo em seguida occupada pela Hospedaria do Pexe, quando se trnsferio de caza do Praizo sita na rua do Bonjardim para aquella parte mais central da Cidade.1 Jos Taveira Pimentel de Carvalho e Menezes, 1 Visconde de Guiaes, era fidalgo da Casa Real, Senhor do Morgado de Gues, coronel de milcias, etc. Hospedaria do Pexe Pelos anos de 1840, Antnio Bernardino Pexe, ou Peixe, transferiu, como se viu, a sua hospedaria da Rua do Bonjardim, ao Paraso, n64, para este Palcio, alugando-o. A Hospedaria aparece anunciada como funcionando na ento ainda chamada Praa dos Ferradores em 1846, aqui se mantendo at 1854, ano em que o edifcio vendido ao 1 Visconde da Trindade. O que celebrizou esta Hospedaria por ento considerada a melhor da Cidade - e a Praa foi, a importancia, da aposentadoria entre 19 e 27 de Abril de 1849, do exilado Rei Carlos Alberto da Sardenha, enquanto aguardava a preparao da casa da Quinta da Macieirinha, Rua de Entrequintas, onde hoje o Museu Romntico. Visconde da Trindade com o 1 Visconde da Trindade que o edifcio sofre profundas alteraes e atinge o maior esplendor que se lhe conhece. Jos Antnio de Sousa Basto, 1 Visconde e, depois, 1 Conde da Trindade, nasceu, no Porto, em 19 de Maro de 1805, era fidalgo-cavaleiro da Casa Real, comendador de vrias ordens, grande proprietrio, etc.
1 Lus Cabral - O palcio dos viscondes de Balsemo, 2000, p. 28

Casou duas vezes, a segunda com a sua cunhada D. Josefa Rosa de Amorim, de quem teve o 2 Visconde, Jos de Sousa Basto Jnior, sem gerao. O filho segundo, Antnio de Sousa Basto, tambm no teve gerao, pelo que a representao do ttulo recaiu sobre a filha mais velha, D. Josefina Henriqueta. Depois de o 1 Visconde ter morrido, a viscondessa viva ficou usufruturia do palacete, at falecer em 7 de Junho de 1895, altura em que a posse do edifcio passou a sua filha, D. Josefina Henriqueta Sousa Basto, casada com o 3 Baro do Valado, Augusto Correia Pinto Tameiro. A Companhia do Gs do Porto, os Servios Municipalizados de Gs e Electricidade e a EDP Serviu por ltimo e at recentemente, o edifcio, com bastantes acrescentos e alteraes, de sede, Companhia de Gs do Porto, a partir de 1907 e at ao fim da Primeira Guerra Mundial, qual sucederam, em 1920, os Servios Municipalizados de Gs e Electricidade. A partir de 1988, a EDP, ocupou as instalaes, que mantiveram a propriedade municipal at 1996, ano em que aqui instalada a Direco Municipal de Cultura e Turismo.

Biliografia
Lus Cabral - O palcio dos viscondes de Balsemo, 2000 Alberto Pimentel O porto por fora e por dentro, livraria Figueirinhas, 1945 J.M. Pereira de Oliveira O espao Urbano do Porto, edies afrontamento, 2007 Biblioteca Municipal do Porto Manuscritos inditos da BPMP II srie A Porto 2001

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