1 Raciocinio Logico Milton Araujo

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Sumrio

Captulo 0. Introduo Captulo 1. Conceitos Bsicos; Proposies; Conectivos Captulo 2. Operaes Lgicas Captulo 3. Tautologia, Contradio e Contingncia Captulo 4. Implicao Lgica e Equivalncia Lgica Captulo 5. lgebra Proposicional Captulo 6. Argumento Lgico Dedutivo Captulo 7. Proposies Categricas (Quantificadores); Argumento Categrico Captulo 8. Proposies Abertas de Primeira Ordem

Captulo 0. Introduo
"No se pode ensinar coisa alguma a um homem; apenas ajud-lo a encontr-la dentro de si mesmo." [Galileu]

O que Lgica? Certamente, o leitor j deve ter se deparado com uma dzia de definies, e isto pode ter trazido mais confuso do que esclarecimento. A Lgica surgiu como um ramo da Filosofia, mas atualmente suas aplicaes permeiam os limites de todas as reas do pensamento, inclusive os mais simples afazeres cotidianos. Podemos dizer, no de modo conclusivo, que o homem um ser essencialmente lgico. Este livro no tem a pretenso de lhe trazer respostas prontas a respeito das questes relacionadas Lgica. E, por a, j estaremos mostrando o que a lgica pode ser: uma forma de bem pensar e buscar, por si s, concluses fundamentadas em evidncias. Certamente que no estamos dizendo que cada um poder praticar cincia isoladamente, sem qualquer base conceitual. Deixaremos para examinar, mais adiante, os conceitos e definies da Lgica Formal, antecipando apenas que seu objeto principal de estudo o argumento. Enfim, para no nos alongarmos demasiadamente neste ponto, deixaremos para o leitor a tarefa de chegar s suas prprias concluses, desde que consistentemente fundamentadas.

0.1. Recomendaes necessrias


Como estudar Lgica? Pacincia e disciplina so requisitos fundamentais! Muitos alegam que no conseguem aprender lgica, mas um simples diagnstico mostra que a maioria dos que iniciam seus estudos nesse assunto, o fazem buscando respostas prontas, pois pensam que iro aprender raciocnio lgico por meio de questes resolvidas.
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Pense apenas no seguinte: se uma questo de raciocnio lgico j est respondida, no haver aprendizado... Na verdade, nem sequer se tem uma questo. Nosso crebro extremamente poderoso, mas tambm bastante preguioso... Se lanarmos um desafio ao crebro, ele jamais ir parar de trabalhar sobre o problema, at que consiga solucion-lo. Porm, se a soluo apresentada ao crebro, ele imediatamente para de trabalhar na questo, passando a fazer uma simples leitura do raciocnio alheio. A recomendao fundamental, ento, : deixe as questes propostas em segundo plano e se preocupe em assimilar bem os conceitos. Vale dizer: tenha pacincia! Geralmente, as questes de lgica formal requerem o domnio de mais de um conceito para que se possa respond-las. Estude todos os conceitos primeiro, baseando-se apenas nos exemplos solucionados para a assimilao dos conceitos. Deixe os exerccios para a segunda leitura: releia um captulo de cada vez e tente responder a bateria de questes propostas. Tenha disciplina! Estude todos os dias, nem que sejam apenas 30 minutos, e no abandone um captulo enquanto no tiver pelo menos 70% de aproveitamento nas questes propostas.

0.2. Tipos de Argumento


A lgica diferencia duas classes fundamentais de argumentos: os dedutivos e os indutivos.

0.2.1. Argumento Dedutivo Os argumentos dedutivos so aqueles nos quais as premissas fornecem um fundamento definitivo da concluso. Em outras palavras, numa deduo impossvel que as premissas sejam verdadeiras e a concluso falsa. Num raciocnio dedutivo a informao da concluso j est contida nas premissas, de modo que se toda a informao das premissas verdadeira, a informao da concluso tambm dever ser verdadeira. Resumidamente: nos argumentos dedutivos o raciocnio parte de premissas gerais para uma concluso particular.
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Exemplo: Todos os mamferos so mortais. Os ces so mamferos. Logo, os ces so mortais.

0.2.2. Argumento Indutivo Nos argumentos indutivos as premissas proporcionam somente alguma fundamentao da concluso, que contm alguma informao que no est contida nas premissas, ficando em aberto a possibilidade de que essa informao a mais cause a falsidade da concluso apesar das premissas verdadeiras. Resumidamente: Raciocinar indutivamente partir de premissas particulares, na busca de uma concluso geral. Exemplo: Um aluno chega sua escola e, ao passar pela sala 1 percebe que ela foi pintada de azul. Observa que a sala 2 tambm foi pintada de azul. Ao passar pelas salas 3 e 4 percebe que ambas foram pintadas de azul, o mesmo ocorrendo com sua sala, que a 5. Dessa forma, esse aluno conclui que todas as salas de aula da escola foram pintadas de azul. Entretanto, esse aluno no pode ter certeza de que isto est correto, visto que uma generalizao (inferncia) baseada em alguns casos particulares (experincia).

0.3. Interpretaes
Os conceitos da lgica formal so apresentados de modo muito simples, e talvez seja justamente essa simplicidade que gere confuses e interpretaes diversas de um mesmo conceito. Para ilustrar, tomaremos a frase: Eu no disse que ele pegou o dinheiro. Se perguntarmos se o leitor entendeu a frase acima, a resposta certamente ser sim!

Vamos imaginar que essa frase um dos conceitos que estamos tentando interpretar. Faamos, ento, um exerccio, tirando da frase interpretaes diversas: Interpretao 1: Eu no disse que ele pegou o dinheiro. Significado: pode ter sido outra pessoa quem disse isso. Interpretao 2: Eu no disse que ele pegou o dinheiro. Significado: posso ter dito que outra pessoa pegou o dinheiro. Interpretao 3: Eu no disse que ele pegou o dinheiro. Significado: posso ter dito que ele pegou outro objeto. Interpretao 4: Eu no disse que ele pegou o dinheiro... Significado: eu j havia dito isto antes, mas no me deram ouvidos... Como se v, isto no pode acontecer quando se trata de um conceito. preciso haver consenso na interpretao, sob pena de se criar muita confuso.

0.4. Para finalizar


Este livro no foi escrito com a pretenso de fechar a questo em torno do assunto, visto que nem mesmo os mais renomados logicistas alcanaram tal proeza. Entretanto, o consenso algo constantemente buscado nos cursos que ministro, e justamente isto que apresentarei neste livro. Foram os meus alunos que me incentivaram a transformar minhas notas de aulas neste livro. Vrias das recomendaes para estudo e at mesmo formas mais simples de se entender certos conceitos, que esto neste livro, so dos meus alunos, no meus... Posso dizer que este livro tem tantos coautores, que cit-los nominalmente tomaria todas as suas pginas... Fica aqui o meu agradecimento a todos eles. Tiro-lhes o chapu! Espero que o leitor possa ter com este livro o mesmo proveito e alcance os mesmos resultados que os alunos dos nossos cursos presenciais, visto que vrios deles j conseguiram gabaritar provas de Raciocnio Lgico, tanto no Teste ANPAD quanto em Concursos Pblicos.

Em onze anos, o Instituto Integral j preparou mais de 100 turmas (quase 1.000 alunos) para o Teste ANPAD (maioria) e para Concursos Pblicos em geral. Nosso ndice de aprovao j ultrapassou os 75%. Estude com garra e determinao! Depois, envie-nos sua histria de sucesso, para que o seu nome seja inserido em nossa Galeria dos Campees.

O Autor.

Captulo 1. Conceitos Bsicos


A Experincia uma professora difcil, pois ela d o teste primeiro e a lio depois. [Vernon Sanders Law]

1.1. Viso Geral:


Lgica Informal (No clssica) VERDADE (julgamento) Interpretao Textual O que foi dito Exemplo: Na sentena: Se h fumaa, h fogo. fumaa a causa e fogo o efeito. ( ) correto. () incorreto. o que foi dito est incorreto, pois fumaa no causa fogo. Lgica Formal (Clssica) VALIDADE (forma) Estrutura Lgica Como foi dito Exemplo: Na sentena: Se h fumaa, h fogo. fumaa a causa e fogo o efeito. () correto. ( ) incorreto. como foi dito est correto, pois fumaa a proposio antecedente, e fogo a proposio consequente.

Observa-se, no quadro acima, que a Lgica Formal preocupa-se com a estrutura lgica (como foi dito), e no com seu contedo (o que foi dito), a menos que a questo solicite que seja feito um julgamento de valor.
[Nota: Lgica Informal ser tratada em outro livro.]

Veja um exemplo: Premissa 1: Se trs um nmero primo, ento dois no um nmero par. Premissa 2: Mas dois um nmero par. Concluso: Trs no um nmero primo. No argumento acima, tanto a premissa 1 quanto sua concluso so falsas (julgamento), e a premissa 2 verdadeira (julgamento). Entretanto, o argumento acima vlido (estrutura).
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[Nota: Argumentos sero vistos em captulo prprio, assim como a forma correta e segura de valid-los. Neste ponto, suficiente deixar apenas o alerta ao leitor: a lgica formal se baseia na estrutura lgica (como foi dito) e no na interpretao do texto (o que foi dito)].

1.2. Proposio
1.2.1. Conceito: Chama-se de proposio uma frase ou sentena declarativa.

1.2.2. Indo alm do conceito

1.2.2.1. Frase: uma palavra ou conjunto de palavras que constitui um enunciado de sentido completo. A frase no vem necessariamente acompanhada por um sujeito, verbo ou predicado. Por exemplo: Ateno. uma frase, pois transmite uma ideia, mas no h verbo, sujeito ou predicado. Ademais, a frase Ateno. No declarativa, e, portanto, no uma proposio.

1.2.2.2. Orao: todo enunciado lingustico que contm um verbo.

1.2.2.3. Perodo: uma frase que possui uma ou mais oraes. O perodo pode ser: a) Simples: Quando constitudo de uma s orao. Exemplo: Mariana foi ao cinema ontem. b) Composto: Quando constitudo de duas ou mais oraes. Exemplo: O aluno foi bem na prova, pois estudou muito.

1.2.2.4. Tipos de frases: a) declarativas. Exemplo: Joo teve cuidado. b) exclamativas. Exemplo: Que dia lindo! c) imperativas. Exemplo: Vire esquerda. d) interrogativas. Exemplo: Ser que vai chover? e) rogativas. Exemplo: Por favor, me liga. H ainda outros tipos de frases, mas no propsito deste estudo discutir essa questo. Lgica formal s interessa o primeiro tipo, ou seja, as frases declarativas. Seguindo-se o conceito acima, pode-se definir proposio como uma orao declarativa. Observe o leitor que, para fazer uma declarao necessita-se fazer uso de um verbo. Redefinindo o conceito: Proposio uma orao declarativa, que pode ser expressa de forma afirmativa ou negativa. Exemplos de proposies: a)Joo funcionrio pblico. (forma afirmativa) Joo no funcionrio pblico. (forma negativa) b) Paulo foi Ministro da Educao. (forma afirmativa) Paulo no foi Ministro da Educao. (forma negativa) c) sin(k) = 0, com k {0, 1, 2, 3}. (forma afirmativa) sin(k) 0, com k {0, 1, 2, 3}. (forma negativa) d) x + 5 = 12. (forma afirmativa) x + 5 12. (forma negativa)

Observe que a proposio d acima est representada em sua forma simblica (simbolismo matemtico). Podemos estabelecer a leitura dessa proposio em linguagem corrente: d) Xis mais cinco igual a doze. (forma afirmativa) Xis mais cinco no igual a doze. ou Xis mais cinco diferente de doze. (forma negativa) e) Este carro azul. (forma afirmativa) Este carro no azul. (forma negativa) f) Todos foram aprovados no exame. (forma afirmativa) Nem todos foram aprovados no exame. (forma negativa)
[Nota: As formas de se estabelecer a negao dos diversos tipos de proposies sero vistas em captulo prprio. Fica o alerta ao leitor para que se preocupe em assimilar um conceito de cada vez!]

g) 2 + 2 = 3. (forma afirmativa) 2 + 2 3. (forma negativa) h) Nenhum aluno compareceu aula hoje. (forma afirmativa) Algum aluno compareceu aula hoje. (forma negativa)

1.2.3. Linguagem corrente e Linguagem simblica:


Uma proposio pode ser representada tanto em linguagem corrente quanto em linguagem simblica.

1.2.3.1. Linguagem corrente: a representao sob a forma de uma frase, no idioma natural do leitor. Exemplo: Joo mdico.

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1.2.3.2. Linguagem simblica: a representao por meio de letras do alfabeto. As proposies simples so representadas por letras minsculas (p, q, r, s, t, etc.), e as proposies compostas so representadas por letras maisculas (P, Q, R, S, T, etc.). Exemplos: a) p: Joo mdico. (proposio simples) b) P: Pedro engenheiro e Maria professora. (proposio composta)
[Nota: os conceitos de proposio simples e proposio composta sero vistos em detalhes mais adiante.]

1.2.4. Aspas:
Quando estiver na linguagem corrente, prudente sempre colocar uma proposio entre aspas. Embora nem todos os autores sigam essa determinao, aconselha-se ao leitor desenvolver esse hbito, a fim de evitar algumas confuses na identificao das proposies simples e compostas. Exemplos: a) Dadas as proposies: Joo mdico. e Pedro engenheiro. Note que, neste exemplo, tm-se duas proposies simples. O e entre ambas no um conectivo lgico. p: Joo mdico. e q: Pedro engenheiro. b) Dada a proposio: Joo mdico e Pedro engenheiro. Note que, neste exemplo, tem-se uma proposio composta, formada por duas proposies simples. O e entre as proposies simples um conectivo lgico. P: Joo mdico e Pedro engenheiro.

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