A Roda Do Renascimento

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Ensinamentos Fundamentais do Budismo Ch'an

Caros Mestres a Amigos no Darma, Hoje, vamos falar sobre um tema de fundamental importncia, mas de difcil elucidao o renascimento. Quando falamos de renascimento, as pessoas acham a idia engraada. Consideram essa crena obsoleta diante do avano tecnolgico do sculo XXI. H quem pense que a questo do renascimento diz respeito exclusivamente aos domnios da religio. Afinal de contas, o que acontece depois da morte algo aparentemente muito distante do nosso dia-a-dia. A frase: "Se no sei nada a respeito da vida, que dir da morte?", reflete o sentimento de alguns. Para esses a questo do renascimento no uma preocupao imediata. De fato, no ambiente desta grande sala de conferncias, o tema "renascimento" pode no parecer o mais apropriado. Num campo de batalha, no entanto, frente a frente com a morte, nos pareceria oportuno abordar e estudar essa questo extremamente sria e importante. comum ouvir os jovens dizer, com ar de desdm, que no acreditam em renascimento. Ao no reconhecer a existncia do renascimento, eles simplesmente limitam sua compreenso da vida. Se no existisse renascimento, no haveria vidas passadas e, mais que isso, no haveria vidas futuras. Sem vidas futuras, a existncia seria breve e sem sentido; a perspectiva de vida seria triste e incerta! Ao passar por uma fase difcil, geralmente tentamos nos encorajar dizendo para ns mesmos: "Tudo vai dar certo. Voc vai ver como estarei daqui a dez anos". Mesmo os "daqui a vinte anos, estarei de volta". Com o renascimento, a existncia humana tem, digamos assim, mais espao para manobras. Com o renascimento, sonhos que no se realizaram podem vir a se concretizar. Com o renascimento sempre haver o prximo trem da vida no qual poderemos embarcar. Nenhum fenmeno deste mundo escapa das voltas da roda do renascimento. por causa dessas voltas que renasceremos num dos seis reinos de existncia; alguns abenoados, outros cheios de sofrimento. Os processos vitais de nascer e morrer so exemplos de renascimento. As mudanas na natureza tambm so manifestaes de renascimentos. H a

mudana das estaes. H o ciclo do tempo passado, presente e futuro. H o ciclo do dia e da noite. H modos temporrios de renascimento. A mudana de direo e a transio de um lugar para outro so tipos espaciais de renascimento. Em resumo, tudo nossa volta resultado do renascimento. O vento sopra e provoca o acmulo de nuvens; as nuvens se transformam em chuva, que cai sobre o solo. A chuva evapora e o vapor sobe em direo ao cu, formando nuvens novamente. Esse processo contnuo do ciclo da gua uma forma de renascimento. Quando um automvel queima gasolina, ele gera energia e produz dixido de carbono. O dixido de carbono absorvido pelas plantas. Quando as plantas morrem, elas se decompem e formam, muitos anos depois, depsitos naturais de petrleo. Essa outra forma de renascimento. Uma luz pode ser acesa, apagada e acesa novamente. Isso renascimento tambm. A roda do renascimento pode ser encontrada no apenas nas transformaes do universo: ela tambm evidente nas muitas experincias pelas quais uma pessoa passa ao longo da vida, desde o momento em que nasce, at que more. De acordo com uma pesquisa cientfica, no existe uma nica clula do nosso corpo que no tenha se transformado num perodo de sete anos. Em outras palavras, nosso corpo se renova totalmente a cada sete anos. A estrutura celular, a percepo e a cognio de todas as criaturas vivas, desde organismos simples at os avanados seres humanos, esto constantemente se movendo, se transformando, vivendo e morrendo. Esse constante estado de fluxo, renovao e mudana metablica por que passamos fisicamente (nascimento, envelhecimento, doena e morte) e mentalmente (formao, existncia, mudana e cessao dos pensamentos) o que chamamos de roda do renascimento. Isso pode ser comparado ao movimento cclico das rodas de um carro. A roda do renascimento tambm age nos relacionamentos familiares; em determinada poca, somos filhos dos nossos pais e, em outra, passamos a ser pais dos nossos filhos. As alteraes na nossa vida financeira e os nossos altos e baixos emocionais so tambm exemplos de renascimento. De todos os exemplos de renascimento mencionados, aquele que devemos entender integralmente no budismo o da roda do renascimento dentro dos seis reinos de existncia. De acordo com os ensinamentos budistas, ns, seres humanos, passamos constantemente por ciclos de renascimento. Quando nos referimos a mudanas lentas e graduais, usamos os termos "formao e cessao" ou "mudana e transformao", e reservamos o termo "ciclo de renascimento" para aquelas mudanas que so mais rpidas e repentinas. Esses ciclos so conseqncias diretas do carma. O carma a fora criada como resultado de nossas aes e pensamentos. A fora do carma o que perpetua o ciclo de causa e efeito, fazendo surgir o fluxo da vida, sem fim nem comeo, em que se manifestam diferentes variaes de formas de vida, como os seres celestiais, os seres humanos, os espritos e os animais. No budismo, isso chamado de "roda do renascimento dentro dos seis reinos de existncia". O Mestre Sheng An, em sua obra Inspiration

to Pledge the Bodhichitta, diz: "Eu e todos os demais seres estamos presos ao ciclo do renascimento do tempo eterno e no podemos nos libertar. Cu e terra, aqui e ali, vivemos sob muitas formas, surgindo e perecendo". Ainda assim, essa profunda e importante lei do renascimento no aceita por muitos que a ignoram. No de surpreender que Mestres Antigos se lamentassem: "S os sutras podem revelar essa verdade; s o Buda pode falar de tais assuntos". O renascimento no uma teoria religiosa; no uma fuga ou um conforto psicolgico quando o momento implacvel da morte desce sobre ns. uma cincia precisa que explica nossa existncia desde o passado at o futuro. Devemos desenvolver uma compreenso clara do renascimento, no porque seja isso o que se espera de ns no budismo, mas porque esse entendimento pode nos ajudar a examinar nossa vida de forma inteligente. Em seguida, tratarei da perspectiva budista sobre o ciclo do renascimento, em quatro itens.

A Importncia de se Compreender o Renascimento


Que importncia tem o renascimento para a nossa vida? Que sentido ele acrescenta nossa vida? Com o renascimento, nossa existncia tem continuidade; a vida deixa de se limitar a um breve perodo de tempo de aproximadamente cem anos. Com o renascimento, a vida passa a ter esperana e possibilidades ilimitadas. Com o ciclo do renascimento, a morte passa a ser o incio de outra existncia. Viver e morrer, morrer e viver, a existncia continua ininterrupta, com possibilidades ilimitadas. Pode se comparar esse ciclo a uma tocha. Quando a base de madeira totalmente queimada, ela substituda por outra. Cada base pode ter componentes diferentes; a chama, no entanto, continua a queimar. O renascimento , tambm, como uma lamparina. Quando uma lamparina se extingue, acende-se outra. Essas lamparinas, queimando sucessivamente, servem para anular a escurido do mundo. medida que passamos pelo ciclo de renascimento dentro dos seis reinos, nosso corpo pode assumir muitas formas; podemos ser Joo ou Jos, um ser celestial ou um ser humano preso terra. Embora as formas variem, a chama da vida nunca se extingue e a lamparina da sabedoria nunca para de queimar. O renascimento o que d nossa existncia universalidade; existimos desde tempos imemoriais at os dias de hoje e nossa existncia infinita. O renascimento d sentido nossa existncia. Embora se diga que todos so iguais aos olhos da lei, sabemos que alguns ainda conseguem esquivar-se dela. Em contraposio, o budismo nos ensina que o ciclo do renascimento trata todos da mesma forma. Seja um nobre ou um sujeito comum, todos tm de enfrentar o ciclo do renascimento. O poeta Mu Tu disse bem: "O nico encanto verdadeiro deste mundo so os cabelos grisalhos; no os penteados altos da cabea dos ricos". O tempo o mais objetivo dos juzes. Nascimento, envelhecimento, doena e morte so o mais imparcial de todos os jris.

Causa e efeito, assim como o ciclo do renascimento, no so controlados por um rei Yama (rei dos infernos) nem por um criador divino. Nossas circunstncias de vida, sejam elas boas ou ms, so determinadas pelo que fizemos no passado, ou seja, pelo nosso carma. Nosso carma acumulado interage com condies que amadurecem e se manifesta na forma de vrios tipos de efeitos dolorosos ou abenoados. Por isso, est escrito no sutra: "Milhes de milnios podem passar, mas o carma no se desvanece. Quando as condies adequadas se fazem presentes, a pessoa tem de arcar com as conseqncias de seus atos". Sejamos inteligentes ou tolos, ricos ou pobres, as circunstncias da nossa vida, no ciclo do renascimento dentro dos seis reinos, so todas produzidas por nossas aes passadas. Tomemos o exemplo da criana prodgio de seis anos de idade, Na-Ch'ing Wang. Seu talento para a matemtica supera a capacidade de muitos professores universitrios e de muitos especialistas. Esse talento no foi desenvolvido nesta vida; ele a soma de tudo o que esse menino aprendeu em vidas anteriores. Essa tambm uma forma de renascimento. O renascimento nos tira das mos do poder divino, pois o nosso prprio carma que controla o renascimento. Nem o cu nem os deuses podem nos trazer sorte ou infortnio; somos nossos prprios mestres. Do ponto de vista do renascimento, todo ser livre e igual. A felicidade e o sucesso so produtos da prpria conduta. A infelicidade e a tragdia tambm so produzidas por ns. Um criador no pode nos proteger das conseqncias dos nossos prprios crimes; tampouco os deuses podem nos privar de nossos mritos. Diante do renascimento e da lei de causa e efeito, no existe o que se chama de "sorte". Somos os criadores do nosso prprio futuro. Deveramos viver nossa vida como se ela fosse uma roda sempre em movimento. S assim ela tem frescor. Ao nos arrepender de nossos erros, fazemos a roda girar no sentido contrrio; com o tempo e o arrependimento, podemos afinal nos aperfeioar. O renascimento nos d esperana ilimitada. Embora o inverno seja longo, a clida primavera um dia chegar. O renascimento no um jogo de palavras sobre o qual se possa debater; tampouco algo em que acreditemos ou no. Mesmo que, teimosamente nos recusemos a acreditar no renascimento, podemos ver que ele est em toda parte ao nosso redor. Em todos os fenmenos da sociedade, da natureza, do universo e at entre voc e eu: tudo est inserido na roda do renascimento. Portanto, a atitude mais sbia compreender o renascimento com inteligncia, a fim de nos libertar dele, transcender os trs mundos e, finalmente, transformar a roda do renascimento na roda do Darma dos Budas e bodhisattvas.

Algumas Questes Relativas ao Tema do Renascimento


Embora o renascimento seja um tema de profundo significado e importncia, h quem tenha muitas dvidas em relao sua existncia,

sua manifestao e seu propsito. Vejamos algumas das perguntas mais freqentes com relao a esse tema. A. O fato de existir um ciclo de renascimento positivo ou negativo para ns? Algumas pessoas se sentem angustiadas diante da idia de renascer. Prefeririam que a morte fosse o captulo final da vida. O budismo no v a morte como um ponto final, mas, ao contrrio, como o incio de uma nova vida. Esta vida uma das muitas que j vivemos e deveramos aprender a valoriz-las, para que no as desperdicemos. Com o renascimento, nossa vida no acaba simplesmente aqui; temos a chance de construir novamente um futuro melhor. Sem o renascimento, a morte seria o fim absoluto. No seria trgico ir para o tmulo sem ver realizados nossos sonhos e expectativas? Como pode uma vida sem renascimento ser considerada desejvel? B. Por que no temos conscincia do renascimento? Algum poderia questionar: se o renascimento de fato existe, por que no nos lembramos de nada do que tenha acontecido em nossas vidas passadas? Est escrito nos sutras: "Os seres humanos so desprezveis; o neto se casa com a av". Por que somos to ignorantes? O que nos faz esquecer com tanta facilidade de nossas vidas passadas, a ponto de chagarmos a nos casar com nossa prpria av? O folclore chins diz que, antes de renascermos, tomamos um preparado que apaga todas nossas lembranas de vidas anteriores. Plato, por sua vez, acreditava que a alma, em sua jornada de renascimento, devia primeiro cruzar um deserto extremamente quente e rido, antes de chegar a um rio de gua corrente e fresca. A alma sedenta, ao beber no rio, tinha, sem que se desse conta, a memria de sua vida passada completamente apagada pelas guas. Do mesmo modo, o folclore romano conta uma histria similar que procura explicar a razo pela qual esquecemos nossa vida anterior ao renascer. O budismo ensina que as pessoas perdem totalmente a memria de sua vida passada por causa da "confuso do renascimento". Depois que a pessoa morre, ela passa pelo estgio do "ser intermedirio". O ser intermedirio possui todos os seis sentidos e se parece com uma criana de um metro de altura. Ela tem poderes sobrenaturais, pode atravessar paredes e capaz de cruzar o espao numa velocidade incrvel. Nada fica em seu caminho, a no ser o tero de uma me e o trono de diamante do Buda. Os seres

intermedirios vivem e morrem depois de se desenvolver ao longo de sete dias. Depois que more, ele pode voltar a nascer. Pode viver por dois ou trs perodos de sete dias ou um total de quarenta e nove dias. Alguns s podem viver por dois ou trs perodos de sete dias. No final desse estgio, ele renasce em um dos seis reinos. por causa desse estgio intermedirio que nos esquecemos de nossas vidas passadas, sem sequer nos lembrarmos em que reinos vivemos anteriormente. Alguns de vocs podem dizer: "Que pena! No seria maravilhoso se tivssemos o poder de conhecer nossas vidas passadas e futuras, livres da confuso do renascimento?" Vocs realmente acham que poderes sobrenaturais podem nos fazer felizes? Vocs acham que seria agradvel lembrar que fomos uma vaca ou um porco numa vida passada? Ser que conseguiramos viver despreocupados se conhecssemos o futuro e s nos restasse mais trs anos de vida? Se pudssemos ler a mente das outras pessoas e soubssemos que o sorriso delas est cheio de ms intenes, no ficaramos ressentidos e com raiva? Sem esse poder sobrenatural, todo dia um grande dia e qualquer lugar bom de se estar. Como a vida livre e prazerosa! Assim, existem leis da natureza que regem o universo e a vida. Quando tudo est no seu devido lugar, evoluindo no devido tempo, ento tudo pode ficar de fato mais fcil. Podemos ter esquecido nossas vidas passadas, mas, pelas mesmas razes, temos um novo corpo com todas as experincias desagradveis do passado esquecidas. Isso tambm no maravilhoso? C. As oraes em memria dos mortos influenciam de alguma forma o renascimento deles? Agora que sabemos que o renascimento real, cabe perguntar se as oraes que fazemos e os sutras que recitamos influenciam de alguma maneira o renascimento de nossos entes queridos, quando eles morrem. Essas atitudes os ajudam a se libertar do renascimento? De acordo com o Sutra Kshitigarbha, de dois a trs dcimos do mrito de se recitar sutras pode ser transferido aos mortos, enquanto o resto do mrito fica com aquele que recitou o sutra. Por conseguinte, melhor que ns mesmos recitemos o sutra enquanto estamos vivos; seria como juntar economias para os momentos de dificuldade. Dessa forma, no precisamos impor aos outros a necessidade de recitar o sutra para ns, depois do nosso falecimento. Afinal de contas, o mrito que pode ser transferido para os mortos limitado. Ento, como a leitura dos sutras pode beneficiar os mortos? Fazendo uma comparao, seria como estar sob a proteo e auspcios de um parente abastado. como o passaporte de que a pessoa precisa para empreender uma viagem; o mrito pode ajudar a pessoa a renascer na terra dos Budas. Quando se joga uma pedra no rio, ela vai rapidamente para o fundo. Se a pedra cair num navio, ela consegue chegar na outra margem em segurana. O carma pesado dos nossos erros como a pedra; podemos usar o mrito compassivo da leitura dos sutras como uma balsa que nos impede de afundar no mar do renascimento. Em um campo de trigo cheio de brotos saudveis e fortes, umas poucas ervas daninhas no causaro grandes estragos. O mrito da leitura do sutra pode promover

o crescimento dos brotos do nosso bom carma e evitar que as sementes enterradas de nossos maus atos germinem. D. O Feng Shui e adivinhaes podem influenciar o renascimento? Na cultura chinesa, comum que as pessoas consultem um adivinho que lhes revele o melhor momento para a realizao de casamentos, funerais e ocasies especiais. Um mestre em feng shui pode lhe dizer que a sua casa no est no alinhamento certo e que isso pode prejudicar seus descendentes. O adivinho pode lhe dizer que os mapas astrolgicos de um casal esto em conflito e que, portanto, essas duas pessoas no deveriam se casar. Quando temos de consultar os astros para saber qual o dia ideal para nos casarmos, ou consultar um adivinho para saber em que hora e lugar devemos enterrar nossos entes queridos, isso significa que nossa vida controlada pela superstio e pela crena no poder divino. Na realidade, dos muitos casamentos que se realizam em dias auspiciosos, alguns podem terminar em divrcio, enquanto outros podem dar certo. Portanto, realizar ou no uma cerimnia de casamento numa determinada data no importante para a felicidade do casal. Em vez disso, aprender a viver bem e a manter o compromisso que eles tm um com o outro o alicerce para uma unio feliz. Na verdade, o fundamento do chamado feng shui e da adivinhao dos dias mais favorveis deveria ser o cultivo dos relacionamentos e das atitudes mentais. Se quisermos um feng shui favorvel e uma data favorvel, precisamos nos dedicar tarefa de ajudar os outros e de cultivar bons relacionamentos causais com eles. Agindo assim, descobriremos que todo lugar o lugar perfeito e todo dia um dia auspicioso. Portanto, se acreditamos em renascimento, faz sentido que cultivemos diligentemente nossas virtudes e acumulemos mritos, pois nossas virtudes e mritos podem renascer conosco. Tambm temos de forjar bons relacionamentos causais com os outros, pois os bons relacionamentos podem renascer conosco. De fato, os mritos e bons relacionamentos causais acumulados so a fonte suprema da felicidade da vida. E. Existem exemplos que possam ilustrar o significado do renascimento? Como no h nenhuma maneira de algum conhecer o passado ou o futuro, existem exemplos na vida real que possam comprovar a existncia do renascimento? Pegue o exemplo da seda que usamos para confeccionar nossas roupas. Ela feita pelo bicho-da-seda. Os bichos-da-seda tecem o casulo de onde sai a mariposa. Ainda que sejam trs entidades diferentes, bichos-da-seda, casulos e mariposas, so o mesmo ser. No seria correto dizer que o bicho-da-seda no mariposa; por outro lado, tampouco seria correto dizer que o bicho-da-seda e a mariposa so a mesma coisa. Assim, no podemos dizer nem que o bicho-da-seda a mariposa nem que o bicho-da-seda no mariposa. Esse no um exemplo vivo de renascimento?

Certa vez, um homem roubou dois cocos. No momento em que se deliciava com os cocos, foi pego em flagrante pelo dono das frutas. O dono ralhou com ele, proferindo gritos: "Como pode roubar meus cocos!?" "Eu no roubei seus cocos!" "Como pode negar? Fui eu quem plantou o coqueiro!" enfureceu-se o outro. Com ar de indignao, o homem argumentou: "Bem, o coqueiro que voc plantou a semente no solo, e eu estou comendo o fruto da rvore. O que ela tem a ver com voc?". Os cocos do coqueiro vm da semente do coqueiro no cho; eles esto ligados pelo renascimento. Assim como o processo de crescimento do coqueiro (a partir da semente), ou o ato de acender uma tocha com outra, a vida avana indefinidamente. A roda gira, gira, sem descanso. F. A idia de renascimento est em conflito com o conceito de ausncia de individualidade? Um dos ensinamentos fundamentais do budismo o de que "nenhum darma tem um eu substancial". Se isso verdade, ento como pode haver renascimento? Esses conceitos se contradizem? A ausncia de individualidade no significa que no exista vida. Significa que nossos corpos fsicos so a combinao ilusria dos cinco agregados (forma, sensao, percepo, atividade mental e conscincia) e dos quatro grandes elementos (terra, gua, fogo e vento). Essa combinao existe na medida em que as causas e condies certas esto presentes. Assim, nosso corpo fsico no tem um eu substancial e isso o que se quer dizer com ausncia de individualidade. A idia de renascimento no est em conflito com o conceito de ausncia de individualidade. Usemos como o exemplo uma barra de ouro. Ela pode ser moldada na forma de anis, de brincos ou de braceletes. As formas podem variar, embora a natureza do ouro no mude. O mesmo acontece com a nossa existncia. Num fluxo infindvel atravs da roda do renascimento, ns vagamos entre o reino celestial e o reino terreno. Podemos ser Joo ou Jos, um asno ou um cavalo. O que na verdade passa pela roda do renascimento no o corpo fsico, mas uma "fora propulsora" que existe dentro de cada um de ns. G. O que est no ncleo do renascimento? Se no o corpo fsico que renasce, ento o que essa "fora propulsora" que est no ncleo do renascimento? No budismo, o mago do renascimento descrito como alaya-vijnana (o armazm da conscincia). Nos sutras, alaya-vijnana descrito da seguinte forma:
O vasto Tripitaka no pode descrever (o alaya-vijnana) por completo. Sob o impacto dos ventos das circunstncias, as sete ondas de profundidade abissal

surgem a partir dele. Pelo efeito do contato, ele guarda as sementes para os rgos dos sentidos, entidades de seres e o mundo do receptculo. Sendo o primeiro a chegar e o ltimo a partir, ele atua como o mestre (da existncia).

Alaya-vijnana a fonte primordial da vida. Ao entrar em contato com diferentes condies e circunstncias, ele d origem a vrios atos e atividades mentais, por conseguinte, ao carma. As sementes do carma (por sua vez) so guardadas no grande armazm do alaya-vijnana. A quantidade de carma positivo e negativo nesse armazm gigante determina os rumos do renascimento seguinte. Quando um ser morre, o alaya-vijnana o ltimo a deixar o corpo fsico. Quando um ser volta a nascer, o alayavijnana o primeiro a chegar no novo corpo fsico. Ele o ncleo do renascimento. H. Qual a relao entre renascimento e a fora do carma positivo e negativo que acumulamos? Se o alaya-vijnana o ncleo do renascimento, o que determina ento as circunstncias dos nossos renascimentos? Todos os dias criamos um carma infinito atravs de aes, palavras e pensamentos. Uma parte desse carma benfica, ou seja, causa felicidade; outra parte malfica, pois causa sofrimento. Essas duas partes do origem a duas foras dominantes que competem entre si, assim como num cabo de guerra. Se a fora do carma benfico for maior, nasceremos em um dos trs reinos superiores: o celestial, o humano ou a existncia ashura. Se a fora do carma malfico predominar, renasceremos em um dos trs reinos de sofrimento: o animal, o dos espritos faminto sou o inferno. Assim, a natureza benfica ou malfica do carma que determina nossos renascimentos futuros. Da podemos concluir que, se quisermos desfrutar bem-estar no futuro, fundamental que faamos o bem e evitemos o mal. I. Qual o objetivo final do renascimento de acordo com as diferentes religies? Quase todas as religies aceitam a idia de renascimento. O que elas dizem acerca do objetivo final do renascimento? Os taostas buscam a vida eterna e a juventude permanente. Os cristos acreditam que o objetivo final ir para o cu, estar com Deus e conquistar salvao eterna. At as religies mais folclricas advogam a vida eterna. Isso no est de acordo com os ensinamentos budistas, segundo os quais o objetivo final do renascimento dar um fim ao ciclo de nascimento e morte. Isso significa que temos de nos empenhar para nos liberar da roda do renascimento. Da perspectiva Budista uma vida longa, uma vida eterna ou uma vida imperecvel no est livre da agonia do renascimento. S o fim do ciclo de nascimento e morte pode nos emancipar do sofrimento da existncia. Essa a delcia essencialmente serena e eterna do puro viver!

Evidncias do Renascimento
H muitos registros bem documentados, feitos por estudiosos famosos ao longo da histria, que no deixam dvidas acerca da inegvel existncia do renascimento. Yang-Ming Wang, um renomado estudioso confuciano da Dinastia Ming, visitou uma vez o Templo da Montanha Dourada. Enquanto estava no templo, ele teve um sentimento de dj vu, como se j conhecesse o lugar. Quando passeava pelo templo, deparou-se com uma sala com uma porta trancada e selada. De alguma forma, ele tinha a impresso de que j vivera naquela sala antes. Vencido pela curiosidade, ele acabou pedindo ao monge que o recepcionava para que lhe mostrasse o que havia atrs da porta trancada. O monge desculpou-se educadamente: Sinto muito. Essa sala foi onde um dos nossos quatro mestres fundadores faleceu, cinqenta anos atrs, e seu corpo ainda permanece a dentro. Deram-lhe a palavra de que ningum mais entraria nesta sala. Espero que o senhor compreenda por que no podemos de modo algum abrir esta porta. Mas se a sala tem uma porta, ela no pode ficar simplesmente fechada para sempre. Por favor, seja mais condescendente e deixe-me entrar para dar uma olhada. Depois de Yang-Ming Wang insistir vrias vezes, o monge percebeu que aquele visitante no sairia dali enquanto no pudesse ver o que havia no interior da sala, e deixou-o finalmente entrar. Sob a luz difusa do anoitecer, Yang-Ming Wang viu um velho monge, h muito falecido, sentado numa esteira, com a coluna para sempre ereta. Ao olhar mais de perto, Yang-Ming Wang quase caiu para trs. Como o rosto do mestre podia ser to parecido com o dele prprio? Ao abaixar a cabea, ele viu na parede um poema que dizia:
Yang-Ming Wang, cinqenta anos depois A pessoa que abre a porta a mesma que a fechou. Quando a conscincia que um dia se foi estiver de volta, Ela acreditar no ensinamento Ch'an do ser Indestrutvel.

Como se descobriu ento, o velho monge era ningum mais do que YangMing Wang em sua vida anterior. Assim como fechara a porta no passado, ele voltara para abri-la naquele mesmo dia. Como um testemunho s geraes futuras, Yang-Ming Wang escreveu o seguinte poema:
A Montanha Dourada despertou-me com o golpe de um punho; Vejo atravs do cu sob o lago Weiyang. Enquanto aprecio a lua sobre o balco, O toque da flauta desperta o drago em mim.

Entre os registros pblicos do condado de Hsiushui, na provncia de Kiangsi, est o relato do caso de uma mulher que renasceu como um famoso erudito chamado Shan-Ku Huang. Ele se tornou delegado do condado com apenas

26 anos. Um dia, ele sonhou que havia caminhado at um lugar. Ali, ele viu uma senhora de cabelos grisalhos que preparava e fazia oferendas em frente casa dela. No altar havia uma tigela com macarro e aipo. A tigela de macarro exalava um aroma to apetitoso que, sem nenhuma hesitao, ele pegou a tigela do altar e comeou a comer. Quando acordou, ele ainda podia sentir o gosto do aipo em sua boca. Shan-Ku Huang achou que tudo no passara de um sonho e no ficou pensando muito a esse respeito. No dia seguinte, enquanto dava um cochilo tarde, voltou a ter o mesmo sonho. Aquilo o deixou intrigado e resolveu tentar descobrir que lugar era aquele que vira no sonho. Depois de caminhar um pouco, ele se deparou com uma casa diante da qual estava a mesma senhora que vira no sonho. Com trs palitos de incenso na mo, ela rezava silenciosamente. O mais inacreditvel era o fato de que, no altar, havia uma tigela de macarro recm-preparado. A refeio exalava um aroma delicioso. Muito curioso, Shan-Ku Huang se aproximou da mulher e perguntou: Senhora! O que est fazendo? Ontem foi o vigsimo sexto aniversrio da morte de minha filha. Estou fazendo uma oferenda a ela. Aquelas palavras o surpreenderam, deixando-o absolutamente chocado. Estranho! Pois ele tinha justamente 26 anos. Ento Shan-Ku Huang dez outra pergunta: O que sua filha gostava de fazer? Quando viva, ela era uma budista muito devotada e gostava de recitar os sutras budistas. Ela fez votos de nunca se casar e gostava especialmente de macarro e aipo. Por isso eu preparei essa tigela de macarro especialmente para oferecer a ela. Cheio de indagaes, ele pediu senhora: Ser que eu poderia ver o quarto dela? A senhora concordou e mandou que ele entrasse. O quarto era cheio de livros e sutras que ele j lera um dia. Num canto, havia um grande ba. Shag-Ku Huang perguntou curioso: O que h dentro deste ba? Posso abrir e dar uma olhada? A velha senhora respondeu que no sabia o que havia ali dentro nem onde se encontrava a chave. Shan-Ku Huang se concentrou por um momento. Ento, como se nele despertasse uma lembrana, rapidamente encontrou a chave e abriu o ba. Ficou pasmo ao perceber que ele estava cheio de artigos e textos de cada um dos concursos do governo que ele prestara alguns anos antes. Ele finalmente percebeu que a solitria anci fora sua me na vida anterior. Caindo de joelhos, ele declarou do fundo do corao: Senhora! Eu fui sua filha! Por favor, venha para casa comigo e deixe-me cuidar da senhora. Ele ento convidou aquela mulher para acompanh-lo at a sua casa e

escreveu um poema que marcasse essa reviravolta em sua vida.


Como um monge com cabelo, como um leigo livre da poeira mundana, Num sonho dentro de um sonho, eu vejo a existncia alm da existncia.

O que o poema diz o seguinte: embora fosse leigo, ele aspirava vida monstica. Embora tivesse uma vida secular, ele no sofria com as tentaes mundanas. A vida como um sonho; alm da vida existe outra existncia. Ele certamente se identificaria com a frase "Nos sonhos, vvidos so os seis reinos da existncia. Depois do Despertar, o vazio o universo, sem substncia". O Quinto Patriarca da escola Ch'an, Hung Jen, tambm contava uma histria muito conhecida acerca de seu renascimento. Hung Jen fora um velho jardineiro em sua vida anterior. Ele tinha grande respeito pelo Quarto Patriarca, Tao Hsin, e queria tornar-se seu discpulo. Tao Hsin achava que o jardineiro era muito velho e no seria capaz de enfrentar o rigor das viagens para disseminar o Darma. Tao Hsin ento consolou o jardineiro dizendo: "Se voc renascesse agora eu permaneceria por mais alguns anos e esperaria por voc". O velho jardineiro despediu-se do Quarto Patriarca e foi embora, margeando um riacho, onde viu uma jovem lavando fios de algodo. Senhorita perguntou o jardineiro , ser que eu poderia me hospedar em sua casa por algum tempo? Voc ter de perguntar aos meus pais. No posso decidir sem o consentimento deles. Tenho de ter primeiro o seu consentimento; caso contrrio, no ousarei perguntar a eles. Vendo que j escurecia e que o pobre homem precisava de um abrigo onde passar a noite, a jovem concordou. E uma coisa muito estranha aconteceu. Essa moa solteira ficou grvida assim que voltou para casa. A famlia ficou extremamente desgostosa com o fato e deserdou-a. Meses depois, ela deu luz um lindo e rolio menininho. Sem saber o que fazer, ela atirou o desditoso beb no rio, mas, como que por milagre, ele voltou, flutuando rio acima, seguindo contra a corrente. Sem meios de sobrevivncia, a moa, ento, passou a pedir esmolas para sustentar a ela e ao beb. Como ningum sabia quem era seu pai, o beb era chamado de "Menino sem Nome". Seis anos se passaram e o beb cresceu, tornando-se um garoto adorvel e inteligente. Um dia, quando o Mestre Tao Hsin fazia suas pregaes na regio, o garoto se aproximou dele, puxou com fora sua tnica e no a largou at que conseguiu chamar a ateno do Mestre. Muito srio, o menino ento pediu que o tomasse como seu discpulo. Quando o Mestre viu que ele no passava de um garotinho, deu-lhe uns tapinhas na cabea e disse gentilmente: Voc jovem demais! Como poder renunciar vida em famlia para

tornar-se meu discpulo?. Falando como um adulto, o "Menino sem Nome" respondeu: Mestre, no passado voc me disse que eu era velho demais; agora diz que sou jovem demais. Quando vai me aceitar como seu discpulo? Essas palavras despertaram a lembrana do Mestre Tao Hsin, que no tardou em perguntar: Menino, qual o seu nome? Onde mora? Todos me chamam de "Menino sem Nome". Moro na Travessa das Dez Milhas. Todo mundo tem nome. Como pode mentir e dizer que no tem nome? Vamos, diga-me qual o nome da sua famlia. A natureza bdica o meu nome de famlia, por isso eu no tenho sobrenome. Tao Hsin ficou encantado ao ouvir a resposta expressiva do menino e achou que ele, um dia demonstraria sua grandiosidade e contribuiria muito para a divulgao do Darma. No devido tempo, o Quarto Patriarca acabou passando sua tnica e sua tigela para o "Menino sem Nome", que se tornou ento o Quinto Patriarca da escola Ch'an. O Quinto Patriarca teve muitos discpulos e a escola Ch'an realmente floresceu graas a ele. Em 1942, no condado de Pin, na provncia chinesa de Shensi, vivia um homem chamado San-Niu T'ien. Esse homem morava numa caverna. Durante uma tempestade, a caverna desmoronou e ele foi soterrado. Asfixiado, sentiu que escalava um monte de entulho. Fora da caverna, viu sua famlia reunida, chorando. Ele perguntou aos parentes o que se passara, mas ningum parecia prestar ateno nele. Aborrecido e irritado, se afastou da famlia "caminhando" para longe. Depois de muito andar, chegou s margens do lago Mingyu. Ali, viu uma porta estreita e decidiu esgueirar-se pela exgua passagem. De repente, ouviu uma voz se elevar em meio a uma gritaria: Parabns! Vocs tiveram um lindo menino! Sem saber, San-Niu T'ien tinha renascido como o filho da famlia Chang, que lhe deu o nome de Sheng-Yu Chang. Assim que saiu do tero da me, ele viu que a parteira procurava por todo canto a tesoura. Perguntou ento a ela: No a tesoura que est pendurada na parede? Chocados, todos os presentes emudeceram de espanto. Achando que se tratava de uma espcie de demnio, sugeriram que o recm-nascido fosse atirado ao rio. A me ficou com pena do beb e ele foi poupado. Por sete anos, ele no ousou dizer uma palavra sequer, embora se lembrasse de tudo o que acontecera em sua vida anterior. De alguma forma, a notcia do renascimento de San-Niu Tien como filho da famlia Chang chegou aos ouvidos da famlia T'ien. Certa feita, a famlia T'ien tratava uma disputa de

terras com um vizinho e no conseguia encontrar a escritura de sua propriedade. Em desespero, pediram ao filho dos Chang para que viesse casa deles e procurasse pelo documento. Espantosamente, o menino mostrou grande familiaridade com os assuntos da famlia. Localizou a escritura sem demora e assim resolveu a contenda. Essa histria foi contada pelo diretor-assistente da Previdncia Social de Taiwan, o Sr. NaiHuang Mou, e foi verificada pelo Ministro Interino das Finanas, o Sr. FuChou Wang. Mesmo nesta era moderna e cientfica, ainda existem muitos casos verdicos inexplicveis de renascimento. Tung-Po Su, o famoso poeta chins, sempre teve um relacionamento prximo e profundo com o budismo. Ele era muito amigo de alguns monges e os visitava com freqncia. Na obra Record of Lamp Passing for Laity, h registros de que, em sua vida anterior, ele fora o Mestre Preceptor do Quinto Patriarca da escola Ch'an. Quando sua me o esperava, ela sonhou com um velho monge franzino e de olhos pequenos. Mais tarde, ela deu luz Tung-Po Su. Muitos anos depois, por intermdio do irmo Ch'e Su, que era oficial do governo em Kaoan, Tung-Po Su.tornou-se amigo de trs monges, Chen ching, Wen Sheng e Shou Ts'ung, com os quais costumava conversar sobre o Ch'an e o Darma. Numa certa ocasio, todos os trs monges sonharam com a visita do falecido Mestre Preceptor do Quinto Patriarca. Quando conversavam sobre o sonho, aconteceu de Tung-Po Su visit-los. Eles contaram a Tung-Po Su sobre o sonho e este, ento, comentou que, com cerca de sete anos de idade, tambm sonhara que era um monge peregrino que difundia os ensinamentos budistas na regio de Shanyu. O Mestre Chen Ching imediatamente acrescentou: O Mestre Preceptor era dessa mesma regio. Ele viajou para Kaoan na maturidade e morreu h cinqenta anos, em Tayu. Os monges vieram ento a saber que Tung-Po Su tinha 49 anos. Compreenderam ento que Tung-Po Su fora o Mestre Preceptor em sua vida anterior. Segundo um famoso provrbio chins, "os relacionamentos esto destinados a durar trs vidas", sendo essa a profundidade e a extenso deles. Na verdade, por trs desse provrbio, existe uma comovente histria de renascimento. Tung-Po Su, em seu livro intitulado The Legend of Monk Yuan Tse, descreveu a amizade entre o Mestre Yuan Tse e o estudioso Yuan Li. Ambos planejaram viajar juntos para a montanha Omei, mas no chegaram a um acordo quanto ao melhor roteiro para se chegar l. Yuan Tse queria viajar por terra, mas Yuan Li insistia em ir de barco pelo rio. Com um suspiro, o Mestre Yuan Tse acabou concordando: Tudo determinado pelas causas e condies, no pelo desejo de uma pessoa. Eles finalmente decidiram tomar a rota fluvial. Quando passavam por

Nanp'u, viram uma mulher grvida nas margens do rio. Yuan Tse deu um longo suspiro e disse: Foi justamente pelo receio de encontrar essa mulher que sugeri que fssemos por terra. Ela pertence famlia Wang e eu devo ser seu filho. Por trs anos venho me escondendo dela. E por isso ela engravidou por trs vezes sem conseguir dar luz. Em trs dias, voc pode passar na casa dela para me visitar.Eu mostrarei que o reconheci dando-lhe um sorriso. Daqui a 13 anos, poderemos voltar a nos encontrar do lado de fora do Templo T'ienchu, em Hangchow. Naquela mesma noite, o Mestre faleceu sem sentir nenhuma dor. Trs dias depois, Yuan Li fez uma visita senhora. O recm-nascido de fato deu a Yuan Li um clido e inocente sorriso assim que o viu. Treze anos mais tarde, ele viajou para o Templo T'ienchu. Ali, viu um jovem pastor montado num boi, cantando uma cano:
Uma antiga apario senta no alto da rocha do passado, do presente e do futuro, Apreciando a paisagem, sem inteno de brigar. Estou feliz, um grande amigo veio de longe me visitar. Este corpo diferente, mas a natureza eternamente a mesma.

Quando Yuan Li ouviu a cano, ele chamou em voz alta: Como vai o Mestre Ch'an Yuan Tse? O jovem pastor acenou de volta e respondeu: O Sr. Li de fato cumpriu a promessa. Ento, ele continuou a tocar sua flauta e se foi, montado no lombo do boi,devagar, at sumir no horizonte.

Como se Pode Transcender o Renascimento?


Agora que j compreendemos o significado e a autenticidade do renascimento, devemos dar um passo adiante e descobrir como transcendlo. A compreenso correta do renascimento apenas um processo, um meio de chegar ao objetivo final de como transcend-lo. Algumas pessoas consideram a doutrina budista do renascimento e da lei de causa e efeito supersticiosa e ridcula. Na verdade, todos os ensinamentos do Buda no passam de mtodos prodigiosos para nos libertarmos dos grilhes do renascimento. Uma vez que o propsito ltimo do budismo transcender o renascimento, o budismo , na verdade, a religio sensvel e digna de crdito que pode estilhaar a roda do renascimento. Se quisermos transcender o renascimento, devemos antes conhecer a razo pela qual renascemos. A razo do renascimento o nosso apego, enquanto a circunstncia do renascimento determinada pela natureza do nosso carma. Uma vez que as foras crmicas de cada um de ns variam de

acordo com a sua natureza positiva ou negativa ou com seu grau de severidade leve ou pesado -, os respectivos efeitos e resultados so todos diferentes. Est escrito nos sutras que: "Se cortarmos uma rvore sem arrancar-lhe a raiz, a rvore crescer novamente. Se nos libertarmos dos nossos desejos sem erradicar suas causas, teremos de viver vrias vezes a dor do renascimento. como fazer uma seta e finc-la em si mesmo. Com a seta da carne acontece o mesmo; a seta do desejo fere a todos os seres". A sede e o anseio de nossa ganncia e de nossos desejos so a seta. Essa seta nos faz emergir e submergir no mar do renascimento. Como doloroso! Temos de avivar o fogo da diligncia para queimar a floresta dos desejos. Temos de usar a radincia do prajna para atravessar a escurido da ignorncia e do carma negativo. Temos de brandir a espada da sabedoria para cortar as correntes do renascimento. Essa a esperana que temos e a orientao que recebemos. O Buda disse uma vez: "Esse o meu ltimo renascimento". Com os 84 mil mtodos hbeis do Darma, o Buda nos ensinou que certamente poderemos todos romper a roda do renascimento e viver no reino da total liberdade. Depois de compreender o renascimento, e de transcend-lo, o passo seguinte no tem-lo. S assim poderemos renascer sem sermos corrompidos pelo renascimento. Os seres no-iluminados so levados a renascer pela fora de seu carma; sravakas e pratyekabuddhas esperam com entusiasmo libertar-se do renascimento. Em contraposio, os bodhisattvas fazem grandes votos e empenham-se para renascer e ajudar outras pessoas. O Bodhisattva Avalokiteshvara manobrou o barco da compaixo para voltar a este mundo e libertar todos os seres. De forma parecida, o Venervel Tzu Hang prometeu a si mesmo voltar numa certa poca. Nos Anais dos Praticantes da Terra Pura, est registrado que muitos mestres gostariam de renascer na Terra Pura para que pudessem voltar ao nosso mundo e ajudar seus semelhantes. Muitos lamas tibetanos renasceram neste mundo depois de morrer. O Dalai Lama e o Panchen Lama so dois dos exemplos mais conhecidos. Esses Mestres de fato vivem em concordncia com o voto de compaixo do bodhisattva. A frase a seguir capta muito bem o esprito desses Mestres: "Gostaramos que todos os seres se libertassem da dor; no buscamos conforto apenas para ns mesmos". Eles no so desertores da humanidade; esto perfeitamente dispostos a servir como salva-vidas no mar do sofrimento. Eles so comparveis a flores de ltus que, embora brotem da lama, permanecem imaculadas. Mesmo renascendo neste mundo saha de sofrimento, esto livres da dor do renascimento. Sem hesitar por um instante sequer, eles optaram por voltar roda do renascimento e no se afligem com os sofrimentos do renascimento. Esses so atos verdadeiros de compaixo que falam por si mesmos. Trata-se de verdadeiros Mestres Sagrados que transcenderam a roda do renascimento. De fato, se consultarmos os contos Jataka do Buda, descobriremos que o Buda tambm j havia renascido como uma divindade, um animal, um monge e um membro da realeza. Sem se esquivar dos ciclos de

renascimento, o Buda praticou diligentemente o caminho da compaixo e da sabedoria. O Buda est sempre trabalhando para libertar todos os seres sencientes e manifestando o caminho da budeidade. Quando o fundador da escola Wei Yang, o Mestre Ch'an Wei Ling Yu, estava prestes a falecer, seus discpulos se reuniram volta dele e perguntaram: Mestre, com seu nvel de cultivo, onde vai renascer depois da morte? Ah! Renascerei na pele de um bfalo, numa fazenda aqui perto. Chocados e intrigados com a resposta do Mestre, os discpulos perguntaram: Mestre, como possvel que um grande praticante como o senhor possa renascer na pele de um animal? Se no acreditam em mim, quando virem a inscrio "monge Wei Yang Ling Yu" sob a pata esquerda dianteira do bfalo, sabero que sou eu. Os discpulos lamentaram a morte do Mestre. Depois do funeral, eles de fato acharam um filhote de bfalo numa fazenda ali perto. Tambm encontraram no animal o nome do Mestre. Quando viram o bfalo, que um dia fora seu mestre, labutando sob o sol abrasador, eles se apressaram em comprar o animal, para que eles pudessem cuidar dele no Templo. Toda manh eles o alimentavam com capim fresco. Mas, estranhamente, o bfalo se recusava a comer ou beber. Os discpulos no tiveram alternativa seno devolver o bfalo fazenda. L, o animal trabalhava e mastigava alegremente seu feno. O ato de compaixo do Mestre Wei Yang Ling Yu um timo exemplo do ditado, "Quem quiser se tornar um grande sbio do budismo precisa se dispor a servir todos os seres". Esse nvel supremo de compaixo estava alm da compreenso superficial de seus discpulos. Somente quando se capaz de praticar os ensinamentos budistas em meio ao mar do renascimento, sentindo-se vontade dentro dos limites da reencarnao, que se pode entender verdadeiramente o renascimento. Esse praticante do budismo um Bodhisattva que de fato se libertou do renascimento. Hoje falei a vocs a respeito da perspectiva budista sobre a roda do renascimento. Meu principal objetivo tentar fazer com que todos vocs encarem a vida e o futuro com confiana e radincia. Devemos acreditar na indestrutibilidade da vida. A morte como a desintegrao de uma casa em runas; s o que temos a fazer nos mudar para outra mais confortvel e slida. A morte como o desgaste de uma roupa muito usada; temos simplesmente de vestir outra nova e mais bonita. Na espiral sem princpio da vida, todos temos de nos esforar para primeiro concluir o templo majestoso dentro de ns; devemos antes terminar a magnfica veste do

Darma dentro de ns. Fao votos de que todos vocs transcendam o renascimento, libertem-se do renascimento e realizem a vida de sabedoria e bodhi na espiral sem fim do renascimento.

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