Da História Compostelana À Primeira Crónica Portuguesa
Da História Compostelana À Primeira Crónica Portuguesa
Da História Compostelana À Primeira Crónica Portuguesa
Ao longo dos sculos XII e XIII foram produzidos textos de natureza historiogrfica em Leo e Castela, nas quais podemos encontrar as figuras dos fundadores do Reino de Portugal D. Henrique, D. Teresa e D. Afonso Henriques. So do sc. XII a Primeira Crnica de Sahagn, a Historia Compostelana e a Chronica Adefonsi Imperatoris e, do sc. XIII o Liber Regum, Chronicon Mundi e a Primeira Crnica Portuguesa, produzida em Portugal j enquanto reino. At morte de Afonso Henriques existiam alguns relatos pouco elaborados que se foram preservando e acrescentando no Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. As trs crnicas leonesas foram produzidas ao longo do Caminho de Santiago. Nelas podemos encontrar referncias aos condes portucalenses e ao primeiro rei portugus no que respeita sua no que respeita sua presena na Galiza e em Leo e tambm relativamente aos movimentos que levariam independncia do territrio portugus. Os condes so retratados de forma diferente nestas crnicas uma vez que, sendo a Primeira Crnica de Sahagn e a Historia Compostelana de origem monstica e episcopal e a Chronica Adefonsi Imperatoris pertencente longa tradio historiogrfica leonesa, apresentam pontos de vista diferentes tendo em conta os seus interesses. Na Primeira Crnica de Sahagn (cujo cronista, annimo, seria provavelmente monge no mosteiro da regio), os captulos 18 e 19 tratam o tema do casamento de Urraca com Afonso I de Arago. Segundo o cronista, este casamento trouxe uma sria de desgraas, sendo tambm considerado mau pressgio a oposio do arcebispo de Toledo ao casamento e a queda de uma forte geada nesse ano que destruiu a produo vincola. No captulo 20 so relatados os primeiros sete anos do reinado de D. Urraca, sendo marcados pela revolta de Pedro Froilaz na Galiza, a expedio punitiva de Afonso de Arago, construo da muralha de Sahagn e saque da cidade pelos aragoneses. O conde D. Henrique aparece destacado por esta altura, ocasio de uma primeira separao de Urraca e Afonso I, uma vez que aparece como aliado ora de um, ora de outro. O grande valor militar de D. Henrique explica a sua importncia para as duas faces, assim como o havia sido anteriormente para Afonso VI, o que se pode atestar pelo seu casamento com a filha ilegtima deste rei, D. Teresa, e a doao que lhe foi
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MIRANDA, Jos Carlos Ribeiro e OLIVEIRA, Antnio Resende de, Da Histria Compostelana Primeira Crnica Portuguesa: O discurso historiogrfico sobre a formao do Reino de Portugal. feita, pelo mesmo, de Coimbra e Portugal. No entanto, um desentendimento entre o rei e o conde ter levado este ltimo a partir para Frana de modo a reunir um exrcito com o intuito de tomar o Reino de Leo. Os dois ltimos anos da vida de D. Henrique tero sido muito conturbados; o conde ter-se- unido a Afonso de Arago, sendo essa unio muito vantajosa a nvel militar. Afonso de Arago vence o rei mouro de Saragoa e Urraca em Candespina em Outubro de 1110. Depois da batalha de Candespina, D. Henrique aliciado para mudar para o lado de D. Urraca com a promessa da chefia do exrcito e diviso do reino. O conde aceita e, em finais de 1110, inicia-se uma fase nova da vida do conde; o cerco a Afonso no castelo de Peafiel, para onde se tinha retirado quando soube que D. Henrique lhe retirara o apoio, ter sido o ponto de partida para uma unio de onde o conde esperava tirar dividendos pela sua astcia militar. Aps este episdio, D. Henrique e Urraca, pressionados por D. Teresa, renem-se em Palncia com o objectivo de firmar o pacto que haviam feito: a D. Henrique entre todas las otras cosas [] cay amora, que es ciudad mui abastada, e eso mismo el castillo, del nombre del rio, llamado eya, el qual luego fue entregado en mano del conde. Porm, D. Urraca estava em vias de reconciliao com Afonso de Arago e ordenara que no entregassem Zamora ao conde. No final, D. Henrique ir combater contra D. Urraca e Afonso juntamente com todos los condes e nobles de la tierra (nobreza do reino). O conflito d-se em Carrin. Tero sido estes os acontecimentos segundo a Primeira Crnica de Sahagn. Por outro lado, na Historia Compostelana, so poucas as referncias a D. Henrique; aparece apenas uma vez: na Primavera ou Vero de 1111, Pedro Froilaz ia ao encontro de D. Urraca com um exrcito para a ajudar a combater Afonso de Arago, mas fica a saber que os monarcas estavam novamente juntos e procura aconselhamento com D. Henrique. Em termo de concluso, podemos verificar que nestas duas crnicas, D. Henrique destaca-se pela sua fora militar, prudncia e ambio poltica, embora deva dar-se maior relevo s suas capacidades militares da as atenes que recebia quer de D. Urraca, quer de D. Afonso. Mas, no que respeita prudncia, esta ter-lhe- faltado
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MIRANDA, Jos Carlos Ribeiro e OLIVEIRA, Antnio Resende de, Da Histria Compostelana Primeira Crnica Portuguesa: O discurso historiogrfico sobre a formao do Reino de Portugal. um pouco quando, no final do reinado de Afonso VI, se desentenderam devido a ver cair por terra as suas expectativas relativamente ao alargamento das fronteiras do Condado Portucalense: Afonso VI deixava o reino da Galiza Afonso Raimundes, no sendo assim possvel alargar o condado para norte, uma possibilidade acordada no Pacto Sucessrio celebrado entre D. Henrique e D. Raimundo. Quanto s suas ambies polticas, h um exagero do cronista de Sahagn, pois um subalterno no teria autoridade para exigir uma diviso do reino; teria de contentar-se com menos ou, ento, quando o cronista refere que D. Henrique partira para Frana para reunir um exrcito para enfrentar o sogro. H uma contradio de documentos com a qual se deve ter cuidado, assim como com a imagem cronstica do conde, no que respeita ao enquadramento da aco de D. Henrique. Tomando como exemplo o cerco de Carrin, a Primeira Crnica de Sahagn diz que D. Urraca no cumpre o prometido ao conde (diviso do reino); na Historia Compostelana, Urraca rene um exrcito castelhano-leons e cerca Afonso de Arago em Carrin aps um conflito em Astorga; no h referncias a D. Henrique. H poucas posssibilidades de o conde ter participado no cerco a Carrin se este se deu a seguir ao inverno de 1111-1112, pois D. Henrique ter morrido em Astorga na Primavera de 1112 na sequncia dos ferimentos de que foi vtima em combate, durante o cerco cidade. Centremo-nos agora em D. Teresa. Na Primeira Crnica de Sahagn, Teresa aparece no contexto do cerco a Peafiel por D. Henrique e rainha Urraca; ter sido D. Teresa a responsvel pela celeridade da concretizao do pacto entre o marido e a irm: a condessa portucalense insistiu junto de D. Henrique para que se firmasse o pacto antes da investida contra Afonso de Arago.