BIBLIOLOGIA - Apostila Módulo
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BACHARELADO EM TEOLOGIA
DISCIPLINA: BIBLIOLOGIA
PROF. VVIAN NASCIMENTO MORAES DE SANTANA
A INTERPRETAO DA BBLIA
Weldon E. Viertel1
Estudos Teolgicos Programados. 4.ed. Rio de Janeiro, JUERP, 1989. (Esta apostila uma verso digitalizada do livro correspondente, obra no mais editada no Brasil). B I B L I O L O G I A p .1
I. A NATUREZA DA BBLIA
INTRODUO
O que voc sabe sobre a Bblia? Antes de ler as pginas seguintes, faa um avaliao prpria, respondendo as questes seguintes: 1. Quais so algumas boas razes que confirmam a nossa afirmao de que a Bblia o livro mais importante j escrito na face da terra? 2. A Bblia um livro de histria, redeno, psicologia, filosofia, ou de cincia? 3. Quantos livros h no Velho e no Novo Testamento? Pode mencion-los e encontr-los facilmente? 4. Quais livros esto inclusos na Lei, nos Profetas e nas Epstolas? 5. De que maneira o conhecimento dos grupos literrios da Bblia pode auxiliar o estudante da Bblia? 6. Por que razo a Bblia deve ser traduzida?
A IMPORTNCIA DA BBLIA
Para os cristos, a Bblia o livro mais importante que j se escreveu. Ainda que o mundo esteja cheio de literatura sacra, h somente um livro que merece crdito para o conhecimento da Verdade. o nico registro divinamente inspirado da revelao redentora que Deus fez de si mesmo e de sua vontade. O cristo aumenta o seu conhecimento de Deus e de seu plano redentor mediante um conhecimento da Bblia. Ainda que Deus se faa conhecido pelo homem por outras fontes alm da Bblia, Deus e sua vontade podem ser entendidos adequadamente somente luz do registro bblico da aulo-revelao de Deus. A revelao mais completa e final do propsito de Deus veio na pessoa de Jesus Cristo, seu Filho. Deus falou de si mesmo e de seus propsitos ao homem de maneira que o homem pudesse compreender claramente sua revelao. Por meio de Seu Filho, Deus entrou na histria para comunicar-se como uma pessoa fsica com o homem. Visto que Cristo no est mais presente corporalmente na terra, suas palavras e realizaes podem ser conhecidas somente pelo registro bblico desses acontecimentos. De acordo com o plano divino, o homem incapaz de conhecer a revelao de Deus sem o concurso da Bblia. A Bblia importante porque explica a origem do homem e o propsito de sua existncia. Como ser racional, o homem indaga a razo de sua existncia. A questo to persistente que tem fornecido uma contnua fonte de cogitao para a filosofia. A Bblia apresenta a nica resposta satisfatria ao propsito da existncia do homem e a natureza do seu destino. Cientistas e filsofos j propuseram vrias teorias a respeito da origem e destino do homem, mas nenhuma explicao to satisfatria como a verdade bblica de que o homem foi criado por Deus para viver em servio fiel e amoroso a Deus e ao seu prximo e a passar a eternidade em companhia do seu Criador. A felicidade e uma existncia significativa transformam-se num patrimnio real naqueles que se apropriaram desta verdade central em suas vidas. A Bblia importante porque fornece orientao para a vida diria dos cristos. Algumas teorias de psicologia moderna sobre a personalidade propem que a chave para um padro de personalidade encontra-se no aspecto das relaes. A Bblia nos apresenta um plano completo e eficiente para o devido relacionamento com outras pessoas. No somente explica como se relacionar com a prpria famlia, amigos e vizinhos, mas nos ensina como devemos tratar os inimigos. Se os ensinos da Bblia fossem praticados, muitos dos problemas do mundo seriam resolvidos. Talvez os trs maiores problemas do homem contemporneo sejam: sua conscincia de culpa e rejeio, causando um sentimento de alienao e solido; sua incapacidade de relacionamento com seu prximo; e suas frustraes na vida, causadas por suas derrotas, que o levam a concluir que a vida no tem sentido. A Bblia contm a nica resposta adequada a cada um desses problemas. A Bblia importante porque conduz o homem condenado ao Redentor, e o triste e sofredor ao nico Confortador que pode resolver suas necessidades. Somente a Bblia apresenta solues aos dois grandes obstculos do homem: seus erros ou ms aes e a sempre presente possibilidade da morte que o destruir. A Bblia importante como um livro de conhecimento; traz ao alcance do homem o mais completo conhecimento da natureza de Deus e seu propsito redentor. Como livro de filosofia, a Bblia d a nica explicao satisfatria sobre o ser humano e seu destino. Como livro de psicologia, a Bblia proporciona uma explanao verdadeira da personalidade humana e a nica soluo adequada para seus problemas. Como livro de histria, a Bblia antecipa qualquer outro trabalho histrico e contm a nica profecia plausvel do final da histria. Como livro de Cincia, a Bblia fornece a verdadeira explicao da origem do mundo e uma declarao precisa e clara da fonte de operao da natureza.
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A Bblia no tem por escopo, todavia, ser usada como livro de histria, nem disputar ou estabelecer teorias modernas de cincia. A Bblia o livro da redeno que esclarece ao homem como reconciliar-se com Deus atravs de Jesus Cristo. Verdadeiramente o "Livro dos livros", o maior livro do mundo! A importncia da Bblia encontra-se revelada na descrio de sua natureza: A Bblia Sagrada foi escrita por homens divinamente inspirados e o registro da revelao do prprio Deus ao homem. um tesouro perfeito de instruo divina. Tem Deus por seu autor, a Salvao como finalidade, e a verdade, sem qualquer mistura de erro, como seu assunto. Revela os princpios pelos quais Deus nos julga; e, portanto, , e permanecer at o fim do mundo, o verdadeiro centro de unio crist e o padro supremo pelo qual se aferiro toda conduta, credos e opinies religiosas do ser humano. Jesus Cristo o critrio pelo qual a Bblia deve ser interpretada.
OS DOIS TESTAMENTOS
A Bblia uma coleo de 66 livros, divididos entre o Velho e o Novo Testamentos. O sentido do vocbulo Testamento o de "um acordo" ou "pacto". O Velho Testamento menciona vrios pactos ou acordos entre Deus e o homem. O mais significativo pacto do V.T. comeou com uma promessa a Abrao (Gn. 12) e recebeu uma expresso muito mais desenvolvida no Monte Sinai com a recepo dos Dez Mandamentos. Um pacto envolve responsabilidades entre as partes concordantes. Aquele com Abrao difere de outros, visto que as partes eram desiguais em natureza e responsabilidade. Deus prometeu-lhe fazer dele uma grande nao, dando-lhe possesso territorial, e aos seus descendentes. Abrao e seus familiares deveriam adorar e servir somente a Deus. Os Dez Mandamentos descrevem as exigncias envolvidas na adorao e servio a Deus. O Velho Testamento narra o fracasso do homem em corresponder s suas responsabilidades perante Deus, e as atividades do Pai Celeste, no sentido de prover o perdo para os pecados do homem. O fracasso do homem B I B L I O L O G I A p .3
na observncia do pacto foi to grande na poca de Jeremias que a nfase transferiu-se da exigncia, no sentido de o homem viver uma vida de justia, para a misericrdia de Deus em lidar com o homem pecador. As leis do Novo Pacto seriam escritas nos coraes humanos, e o Senhor perdoaria as suas iniqidades e no se lembraria mais dos seus pecados (Jr. 31:31 -34). Os 27 livros do Novo Testamento apresentam o Novo Pacto de Deus com o homem, pelo qual Deus em Cristo trata com seu povo mediante o perdo e a misericrdia.
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H dezessete livros sobre os PROFETAS que so classificados em dois grupos: os PROFETAS MAIORES e os PROFETAS MENORES. Cinco constituem os Profetas Maiores: Isaas, Jeremias, Lamentaes, Ezequiel e Daniel; os autores so quatro, visto que o livro de Lamentaes se atribui a Jeremias. Os judeus no incluram Daniel na literatura proftica em sua Bblia Hebraica. Eles o classificaram em sua terceira seo bblica, com o nome de Escritos, e tambm juntaram os Doze Profetas Menores num livro s, "O Livro dos Doze". A segunda diviso dos Profetas em nossa Bblia, os profetas Menores, contm: Osias Joel Ams Obadias Jonas Miquias Naum Habacuque Sofonias Ageu Zacarias Malaquias.
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livro com o grupo dos Livros Poticos ou de Sabedoria. Esse grupo fica depois dos Histricos e antes dos Profetas. Torna-se mais fcil encontrar Eclesiastes depois que o circunscrevemos aos cinco livros de Poesia. A localizao de uma passagem da Escritura, a escolha de um mtodo correto para interpretar um livro e um sistema de conhecimento organizado no estudo da Bblia so vantagens que redundam do relacionamento dos 66 livros do Velho e Novo Testamentos com os oito grupos.
AS LNGUAS DA BBLIA
Talvez o leitor esteja bem a par das vrias tradues da Bblia para o portugus, tais como a Verso Almeida, antiga; a Verso Almeida, revista, ambas publicadas pela Imprensa Bblica Brasileira e Sociedade Bblica do Brasil e edies mais recentes, como A Bblia na Linguagem de Hoje e a Bblia Viva, ao lado de outras parfrases. Visto que nos referimos a verses e tradues, logo, podemos concluir que as lnguas originais da Bblia eram diferentes da que conhecemos. Se a Bblia permanecesse somente nas lnguas em que foi escrita, poucas pessoas poderiam l-la. O primeiro versculo do livro de Gnesis apareceria no idioma hebraico, portanto, ilegvel pura a grande maioria. O Hebraico a lngua em que foi escrita a maior parte do Velho Testamento. Os pontos e traos embaixo e por cima das letras hebraicas formam as sua vogais, que foram acrescentadas Bblia Hebraica pelos judeus muitos sculos depois do nascimento de Cristo. Desde que o hebraico deixou de ser a lngua comum falada pelos judeus, os sinais das vogais tornaram-se necessrios a fim de preservar os sons corretos das palavras quando se fizesse a leitura da Bblia Hebraica. Muito embora o hebraico permanecesse a lngua sagrada da Bblia, os judeus, depois do cativeiro babilnico, s falavam o aramaico. Poucas passagens no Velho Testamento foram escritas no aramaico. Estas incluem Jeremias 10:11; Daniel 2:4-7:28; e Esdras 4:8; 6:8; 7:12-26. O hebraico pertence ao que se chama de famlia semtica de lnguas. Outras semelhantes so: camita, moabita e fencia. O aramaico da mesma famlia, mas de um ramo semtico diferente. O alfabeto hebraico parece ter sido adotado do fencio. Com a expanso do Imprio Grego, cerca de 325 a.C., promovida, por Alexandre, o Grande, a lngua grega tornou-se dominante em muitas naes conquistadas. Cerca do ano 250 a.C., o V.T. comeou a ser traduzido para o grego. Na Palestina nos tempos de Jesus, o grego era falado amplamente, e a traduo do V.T. para o grego (a Septuagihta) era lida freqentemente ou citada pelos judeus mais liberais. interessante notar que muitas citaes do V.T. originam-se da Septuaginta e no do V.T. hebraico. Nos dias de Jesus, a lngua sagrada dos judeus era o hebraico; a falada, o aramalco; a lngua oflolal era o latim e a universal, o grego. Alguns eruditos afirmam que Mateus escreveu seu Evangelho originalmente em aramaico, mas a maioria dos eruditos concorda que o N.T., em sua inteireza, foi escrito em grego. Talvez grande parte do N.T. tenha sido escrita originalmente em letras "unciais". No incio do sculo 9, o manuscrito foi alterado para letras menores, chamadas minsculas. O texto impresso dos Novos Testamentos modernos em grego sai em letras menores. O alfabeto portugus consta fundamentalmente de 23 letras, porm, trs delas so usadas apenas em casos especiais. Ao todo composto de 26 letras. Nosso alfabeto filho do latino, que tem 23. Este procede do etrusco e do grego. De acordo com a tradio, o alfabeto grego foi recebido dos fencios, portanto, os alfabetos portugus, grego e hebraico esto baseados no fencio. A lngua grega, entretanto, era totalmente diferente da lngua semtica dos fencios. Apesar de os alfabetos portugus, grego e hebraico terem letras semelhantes, as lnguas so de caractersticas diferentes. O hebraico bblico vvido, concreto e de natureza direta e franca. No lida com abstraes, mas com os fatos da experincia. A linguagem bem adequada para descrever a revelao que Deus fez de si mesmo, mediante sua interveno no curso da histria de Israel. A lngua grega tornou-se a mais apropriada para a mensagem do Novo Pacto, visto que a remisso dos pecados deveria se pregada a todas as naes (Lc. 24:47). Era o idioma comum de vrias naes. Tornou-se notvel por sua elegncia, variabilidade de estilo e preciso em suas afirmaes. O grego usado pelos escritores do N.T. chamado de grego "comum" ou "koin". Era o grego comum que se usava difusamente em todo o imprio Romano, e no o grego clssico, empregado pelo filsofo Plato e outros intelectuais do seu tempo. O grego revela em si a influncia semtica. No surpresa, pois os homens que escreveram os livros do N.T. eram versados nas Escrituras judaicas.
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A NECESSIDADE DA REVELAO
Deus Esprito. Informou Jesus Samaritana que os verdadeiros adoradores devem adorar o Pai em esprito e em verdade, porque Deus esprito (Joo 4:23-24). Visto que Deus esprito, torna-se impossvel ao homem v-lo com seus olhos. Joo declara que "nenhum homem j viu a Deus em qualquer ocasio; o Filho unignito, que est no seio do Pai, seno aquele que vindo de Deus; s ele tem visto o Pai" (Joo 6:46). O homem finito e limitado no pode ver a Deus, que invisvel. A revelao a atividade de Deus. No pode o homem, sendo criatura, descobrir a Deus na natureza porque Deus no se corporificou em sua criao, nem se identificou com o mundo (doutrina do Pantesmo). O Criador est fora e alm de sua criao. O homem, que parte da criao, pode descobrir, nos fatos do mundo criado, alguma coisa que revela a natureza de Deus, mas no pode projetar sua mente no reino do Eterno e descobrir sua natureza. Como o homem chega ao conhecimento? Por duas maneiras bsicas: pelos cinco sentidos - viso, olfato, tato, paladar e audio que o habilitam a conhecer a existncia fsica ao seu redor. Possui tambm uma mente, com a qual classifica, correlaciona e percebe o conhecimento que resulta das experincias dos seus sentidos. Emprega tambm sua mente num processo de especulao, pelo qual se esfora em chegar verdade por meio do raciocnio ou da lgica. Quer pelas experincias dos sentidos ou esforos do raciocnio, o homem no atinge o conhecimento de Deus. Deus o Criador do universo material, mas no se torna conhecido pelo homem quando este chega a conhecer a matria atravs dos seus sentidos. Segundo a filosofia materialista, o homem acredita que a natureza material a essncia da realidade. O mundo nada mais seno a operao de foras fsicas, e a alma do homem ou a vida o resultado do trabalho da energia material sob a lei da necessidade mecnica. De acordo com essa filosofia, o homem no pode conhecer a Deus porque no h nada a ser conhecido. O nico objeto de conhecimento para o homem seria o material, que descoberto e entendido por meio de processos cientficos. Numa poca cientfica, o perigo est sempre presente em se exaltar os mtodos dos cientistas na aquisio do conhecimento. Por exemplo, aqueles que aceitaram a filosofia materialista concluem
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que a nica realidade objetiva aquela que pode ser investigada por meio do uso dos sentidos. Tal maneira de pensar elimina a realidade objetiva da existncia espiritual. Na relao de conhecimento do objeto e do sujeito, o homem o sujeito que procura conhecer a Deus. Filsofos e cientistas tm lutado com a questo de como que o homem, que sujeito, conhece um objeto. J se mencionou que os cinco sentidos e a mente do homem so envolvidos no processo de se conhecer a realidade fsica. O problema do homem surge porque ele no pode conhecer a realidade espiritual da mesma maneira como conhece a realidade fsica. Apesar do fato de que o Salmista usou a expresso "provando a Deus", todavia, no quis, com isso nos persuadir que o homem pudesse descobrir a Deus pelo uso dos seus cinco sentidos. Os escritores bblicos expressaram a capacidade de o sujeito conhecer o objeto pela aplicao de conceitos comuns e compreensveis. A revelao envolve o problema de como o homem, como sujeito, pode conhecer e entender um objeto espiritual. Visto que Deus est num nvel mais elevado de existncia, ele revela sua natureza e sua vontade ao homem. O homem incapaz de descobrir a Deus por causa de seus recursos limitados em conhecer a realidade objetiva. Depois que Deus revela sua natureza e vontade ao homem, este, ento, deve correspond-las e express-las em palavras correspondentes ao seu prprio nvel de experincia. Descrevendo a Deus como nosso Pai, j estamos comunicando certas caractersticas da natureza de Deus. Um pai faz a proviso necessria aos membros de sua famlia, protegendo-os, e ministra-lhes orientao. o smbolo da autoridade e da fora no mbito do lar. Usando o termo "pai" para descrever a natureza de Deus, o homem, como sujeito, estar em condies de entender alguma coisa a respeito do objeto: Deus.
O ponto de vista de Paulo sobre a Revelao Geral Referiu-se o apstolo Paulo revelao geral em Romanos, captulos 1 e 2. O homem, que no tem conhecimento de Deus por meio da revelao especial de Jesus Cristo torna-se responsvel perante Deus em face da revelao geral. Apesar do fato de que a natureza no diz nada sobre a misericrdia redentora de Deus, Paulo afirmou que as obras criadas por Deus desvendam seu poder sem limites, sua eterna existncia, sua natureza divina (Rm. 1:20). Por meio da revelao geral, o homem obtm um conhecimento suficiente sobre sua responsabilidade perante Deus, e poder tornar-se culpado quando deliberadamente o desobedece e se recusa a ador-lo. A natureza perversa e pecaminosa do homem o faz desviar-se de sua responsabilidade perante o Senhor. Recusa-se a viver altura do padro de justia que conhece. Em seu orgulho e egosmo, escolhe exaltar e servir aos seus prprios desejos em vez de ao seu Criador. Paulo afirma que a conscincia do homem lhe fornece evidncias de que ele tem certo conhecimento de sua responsabilidade perante Deus (Rom. 2:12 e ss.). Os gentios, que no haviam recebido uma revelao especial da Lei do V.T., mostraram que eles conheciam alguma coisa a respeito das exigncias morais de Deus, porque estabeleceram uma lei para si mesmos. Seu padro moral no era to alto quanto o dos judeus, que tinham a revelao especial do V.T.; porm, sua condenao no se baseava em no terem uma lei moral superior, mas em no cumprirem a lei que tinham.
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O significado da Revelao Geral A revelao geral a base da culpa do homem e a justificao de Deus em condenar todos os homens como pecadores. A revelao geral no conduz a um conhecimento completo de Deus, mas prov ao homem alguma luz pela qual ele viva. O problema que o homem desvia a luz da natureza e justifica seus atos injustos. Lutero e Calvino, lderes da Reforma Protestante, rejeitaram como inadequada uma teologia baseada na revelao geral. Reagiram contra a teologia natural da Igreja Catlica, derivada do pensamento de S. Tomaz de Aquino, e enfatizaram a depravao (a natureza pervertida e corrompida) do homem pecador. Concluram que a mente do homem depravado no inspirava confiana para trazer luz ao conhecimento de Deus. A mente humana deveria ser empregada em compreender a revelao especial que Deus nos proporciona por meio das Sagradas Escrituras.
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cativeiro, e na cruz de Cristo. Revelou Deus sua misericrdia e desejo de perdoar e libertar seu povo mediante acontecimentos como: a libertao do Egito, a proviso para suas viagens pelo deserto, a conquista da terra de Cana, a libertao do cativeiro Babilnico, e a vida, morte e ressurreio de Cristo. A maior revelao de Deus na histria surgiu na pessoa de Jesus Cristo. Na pessoa do Filho, Deus vestiuse de carne humana e entrou na histria de Israel. Revelou Deus sua justia, amor e misericrdia redentora em termos concretos, para que o homem os pudesse entender. Sua natureza e propsitos eternos estavam vestidos da carne humana e habitaram no meio do seu povo. Mediante as grandes experincias histricas da morte e ressurreio de Jesus, tornou Deus compreensvel seu amor e plano para remir o seu povo. O ponto culminante da revelao de Deus na histria cristalizou-se na encarnao, na morte e na ressurreio de Jesus.
A Histria tem que ser interpretada Como Criador e Sustentador do universo, Deus controla toda a histria. Os acontecimentos histricos especiais revelam os propsitos divinos particulares, mas precisam ser interpretados. O Senhor deve, por Sua graa, esclarecer o sentido dos seus atos. Ele o faz pelos profetas e apstolos que escreveram as Escrituras. A Bblia , em grande parte, o relatrio sagrado do que Deus tem feito na histria e a interpretao inspirada desses eventos salvadores. A revelao no se encontra tanto no ensino sobre Deus, como na participao da vida de Deus, vindo ao encontro das necessidades do seu povo.
A Comunicao de Deus com o Homem No se pode compreender plenamente o modo como Deus tem se comunicado com o homem. A Bblia afirma que Deus tem falado ao seu povo atravs dos tempos de maneiras variadas (Heb. 1:1). Os exemplos se encontram em muitas partes da Bblia, ser proveitoso examinar alguns: a) A comunicao de Deus com Ado e Eva. O escritor de Gnesis diz: "Deus ordenou ao homem", "eles ouviram a voz de Deus, passeando pelo jardim" e "o Senhor chamou Ado" (Gn. 2:16; 3:8,9). O estilo vvido do escritor implica numa comunicao direta ente Ado e seu Deus. b) A comunicao de Deus com Abrao. O escritor afirma que "o Senhor falou com Abrao" (Gn.12:1). No explica do que maneira falou sobre o Pacto com Abrao. Noutra ocasio, "a palavra do Senhor veio a Abrao numa viso" (Gn.15:1). O relato marca que o Senhor apareceu a Abrao ao meio-dia. A apario est associada presena de trs homens, que estiveram face a face com Abrao. Nenhuma distino se fez entre os trs homens e a voz do Senhor. (Gn.18:33). O versculo seguinte assevera que "vieram dois anjos a Sodoma" (Gn. 19:1). Os anjos so mensageiros de Deus. O escritor no faz diferena entre a apario do Senhor e de seus mensageiros (homens ou anjos) que trouxeram sua palavra a Abrao. c) A comunicao de Deus com Moiss. Moiss foi atrado pela sara, que ardia, mas no era consumida. O escritor diz que "Deus o chamou de dentro da sara, e disse: Moiss, Moiss. Ele respondeu: Eis-me aqui" (x. 3:4). No Monte Sinai, Deus chamou Moiss e lhe apareceu no meio de uma nuvem escura e densa (x. 19:3,9). d) A comunicao de Deus com Samuel. A afirmativa de que "a palavra do Senhor era preciosa naqueles dias; no havia vises freqentes (I Sam. 3:1) implica em que a revelao da vontade de Deus para com seu povo era usualmente realizada por meio de vises. Samuel estava dormindo quando Deus o chamou (l Sam. 3:3 e versos seguintes). e) A comunicao de Deus com Isaas. Deus revela seus propsitos, freqentemente, ao seu povo em tempos de crise. Ele falou a Isaas na hora crtica da morte do rei Uzias. A comunicao do Senhor relacionou-se com uma viso no cenrio do Templo, que era familiar a Isaas (Is. cap.6).
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embora o processo envolvido na comunicao de Deus ao profeta no seja claramente compreensvel, o profeta tinha certeza de que no falava suas prprias palavras, mas a mensagem que Deus transmitia por seu intermdio. De acordo com l Cor. 2:10,12, Paulo informa que os pensamentos e palavras de Deus devem ser revelados pelo Esprito. Nenhum homem pode, por si mesmo, conhecer a mente de Deus. Somente o Esprito de Deus pode revelar ao esprito do homem a sabedoria e a vontade de Deus. Somente o Esprito de Deus conhece completamente a verdade dos planos e propsitos de Deus. O Esprito usou mtodos diferentes em tornar conhecida a Palavra de Deus ao Apstolo. O Criador do universo no est limitado por qualquer mtodo, quando deseja tornar a sua Palavra conhecida ao homem. A comunicao do Esprito Santo mente ou ao esprito do homem no se d necessariamente de modo audvel, mas real. Ao registrar a revelao, o homem expressa com suas prprias palavras a Palavra que Deus lhe revelou. Por meio desse processo, a Palavra de Deus revelada toma caractersticas da personalidade e do ambiente em que veio tona. As passagens das Escrituras so, no raro, interpretaes dos atos de Deus na histria. As interpretaes no so concluses humanas baseadas em observaes astutas desses atos. O sentido dos atos em si uma revelao divina em si mesma. O Esprito de Deus orienta a pessoa que l a Bblia para entender o significado dos atos e sua interpretao.
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a) Enfatizam a atividade do homem na descoberta de Deus; b) Seu ponto de vista da revelao racionalista e centralizado no homem; c) No bblico; d) Colocam nas mos falveis do homem o poder para determinar quando Deus fala, na verdade. O NEO-ORTODOXO declara que a Bblia torna-se a Palavra de Deus. Crticos liberais do sculo 19 enfatizaram que a Bblia est cheia de erros e imperfeies. Como pode ser a Bblia a Palavra perfeita de Deus quando est cheia de palavras imperfeitas dos homens? Karl Barih respondeu que a Bblia torna-se a Palavra de Deus quando Deus escolhe o canal imperfeito para confrontar o homem com sua Palavra Perfeita. A Bblia revela Deus ao homem, no em proposies sobre Deus, mas unicamente ao servir como um canal atravs do qual se realiza o encontro pessoal de Deus com o homem num ato de revelao. Numa experincia existencial, as palavras das pginas da Bblia tornam-se vivas e falam pessoalmente ao homem. Rudplf Bullmann props a Bblia conter dois nveis histricos: 1) o nvel inferior ou histria natural, que contm elementos da cultura e padres de pensamento do mundo bblico; 2) o nvel superior ou sobrenatural, que contm a verdade de Deus que o homem existencial encontra em seu ambiente. A histria sobrenatural, ou princpio divino, est entrelaada nos relatos bblicos com os conceitos e caractersticas culturais. Conceitos e caractersticas culturais mudam de gerao em gerao. Costumes do ambiente no fazem parte da revelao divina; portanto, a tarefa do intrprete separar a histria sobrenatural ou princpios divinos das expresses culturalmente orientadas. Visto que os povos do primeiro sculo eram limitados em conhecimento e cheios de erros e mitos, as verdades divinas no devem ser confundidas com as palavras culturalmente limitadas com que esto relacionadas. Bultmann concluiu que a crucificao e a ressurreio de Jesus no podiam ser verificadas como acontecimentos histricos; todavia, o fato da realidade da crucificao e ressurreio de Cristo no nvel da histria natural no importante sua realidade e verdade no nvel sobrenatural. A revelao do amor altrusta de Deus em Cristo no depende do fato de uma crucificao natural fora dos muros de Jerusalm. Visto que muitos criminosos morreram crucificados fora de Jerusalm, Bultmann tem ponto vlido em focalizar que o sentido da crucificao mais importante que o prprio ato, mas difcil de se conceber como poderia ter qualquer sentido se o mesmo nunca aconteceu: Bultmann, como Barth, procurou explicar em que sentido a Bblia pode ser revelao e entretanto conter erro humano. A posio do neo-ortodoxo por demais subjetiva. Limita a revelao ao encontro existencial do indivduo com Deus. A Bblia no considerada como a Palavra de Deus, mas se define como o meio pelo qual vem a Palavra de Deus. A fora da posio neo-ortodoxa a nfase sobre a revelao como pessoal, em vez de proposicional. A revelao fundamentalmente um encontro com Deus, que pessoal, em vez da crena num grupo de verdades reveladas. Por outro lado, a revelao no exclui proposies, visto que o conhecimento revelado de Deus deve tomar a forma proposicional para ser comunicado. Os conservadores crem que a Bblia a Palavra de Deus. As objees so: a) A identificao da revelao divina com as palavras humanas depreciativa a Deus. Essa identificao torna Deus responsvel pelas imperfeies embebidas na Bblia e por todas as imperfeies morais, bem como quaisquer conceitos histricos ou cientficos inadequados na Bblia. b) A Bblia como revelao de Deus implica em que essa revelao proposicional. Deus dita as verdades pelas quais o homem tem que viver. Tal posio reduz a devoo religiosa a uma aceitao individual e lealdade impessoal a verdades reveladas, e no a uma pessoa. c) A Escritura personifica a revelao. mais que um relato da revelao que aconteceu na histria h muitos anos. As palavras da Escritura pem em forma tangvel e permanente as verdades divinas conhecidas na histria. Igualmente, o corpo fsico de Jesus pe em expresso concreta a verdade divina. A revelao que Deus fez de Si mesmo em Cristo no para ser igualada com o corpo fsico de Jesus, mas este foi o veculo pelo qual a verdade divina se fez presente na histria e dentro dos limites da percepo do homem. A verdade divina que esteve durante certo tempo circunscrita a um corpo tangvel, agora se encontra presente em palavras tangveis. verdade que em Jesus Cristo a revelao tornou-se pessoal (uma pessoa comunicando a natureza pessoal de Deus a pessoas). Contudo, deve-se reconhecer que Deus no tem limitado a realidade a pessoas, nem a revelao ao conhecimento de sua natureza pessoal. A Bblia foi escrita por homens inspirados, que puseram a revelao de Deus em forma concreta, que poderia ser preservada e comunicada. As palavras da Escritura podem ser lidas sem se tornar revelao a um homem, exatamente como os homens nos tempos de Jesus poderiam olhar para o seu corpo humano sem se aperceberem da verdade divina que era revelada por meio dele. Visto que as palavras da Bblia personificam a revelao, a leitura das palavras se torna o meio da revelao. O Esprito Santo usa declaraes nas Escrituras
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para iluminar o entendimento do leitor. As palavras das Escrituras so o meio pelo qual o Espirito confronta o homem com as exigncias de Deus. As palavras das Escrituras como revelao no tm poder, uma vez que estejam separadas da obra do Esprito Santo. Jesus prometeu que o Esprito Santo guiaria o povo de Deus a toda verdade. A atividade do Esprito seria baseada nas palavras que Jesus proferiu; elas seriam relembradas (Joo 14:26). A palavra grega para "ler"(anaginosko) significa "saber de novo". A leitura das palavras da Escritura traz s nossas mentes as palavras de Jesus e se torna a base da atividade do Esprito Santo em nos guiar verdade divina. As palavras da Bblia podem ser lidas sem que se constituam em revelao para ns. Mas personifica a verdade divina, quer o leitor compreenda ou no a verdade. Vrias nfases do ponto de vista contemporneo da revelao so vlidas: a) A revelao no deve ser considerada como corpo de doutrina ou regras inspiradas pelas quais os homens deveriam viver. b) A revelao no um conjunto de informaes que Deus comunica ao homem, mas o prprio Deus dirigindo-se ao homem em comunho. c) A revelao do prprio Deus por meio de suas atividades na histria tambm uma nfase vlida. O carter de uma pessoa se expressa mediante seus atos. As declaraes que seguem procuram relacionar a Bblia com a revelao: A Bblia, contendo um relato dos atos de Deus na histria e a interpretao desses atos, personifica a revelao de Deus, que vivificada pelo trabalho do Esprito Santo. A Bblia guia para se ter um entendimento mais aprofundado de Deus, mediante um encontro com ele, efetuado por meio do Esprito Santo. A revelao pode ser personificada em declaraes bblicas, bem como em atos divinos, mas nenhum deles se torna verdadeira revelao para o indivduo, a no ser que sejam aprendidos pelo trabalho de mediao do Esprito Santo.
SIGNIFICADO DA INSPIRAO
A inspirao pode referir-se atividade da inspirao ou ao resultado daquela atividade. Baseado na declarao em II Tim. 3:16, B.B.Waarfield descreveu a inspirao como uma influncia sobrenatural exercida
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sobre os escritores sagrados pelo Esprito de Deus (a atividade da inspirao). Por causa da influncia divina, os escritores so autorizados e merecem confiana (o resultado da inspirao). A autoridade das Escrituras depende de sua inspirao. A negao contempornea da autoridade da Bblia se origina no ceticismo concernente sua inspirao.
O VELHO TESTAMENTO
O Senhor instruiu a Moiss para que colocasse palavras na boca de Aro, "... e eu serei com a tua boca... e vos ensinarei o que haveis de fazer. E ele falar por ti ao povo; assim ele te ser por boca, e tu lhe sers por Deus". (x. 4:15-16). Mais tarde, disse Deus: "... Eis que te tenho posto como Deus a Fara, e Aro, teu irmo, ser o teu profeta" (x. 7:1). O conceito nestas Escrituras que o profeta aquele que fala palavras que Deus ps em sua boca. Ams afirmou: "... Falou o Senhor Deus, quem no profetizar?" (Am. 3:8). Quando o profeta falava que a palavra era do Senhor: "... e desse-me o Senhor" (Is. 40:5). Deus disse a Jeremias: "... Eis que ponho as minhas palavras na tua boca" (Jer. 1:9).
O NOVO TESTAMENTO
Trs passagens do Novo Testamento apresentam a doutrina da inspirao: II Tim. 3:16-17: "Toda Escritura divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir e para instruir em justia; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente preparado para toda boa obra". II Ped. 1:20-21 "... sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura de particular interpretao. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade dos homens, mas os homens da parte de Deus falaram movidos pelo Esprito Santo". Heb. 1:1-2: "Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes ltimos dias a ns nos falou pelo Filho..." Estas Escrituras ensinam que: a) Os escritos, em vez de os escritores, so inspirados (II Tim. 3:16: "Toda Escritura divinamente inspirada...") b) A Escritura de origem divina (II Tim. 3:16: "...inspirada por Deus", II Ped. 1:21: "Homens movidos pelo Esprito Santo falaram de Deus"). c) A Escritura tambm resultado do trabalho de escritores humanos (II Ped. 1:21: "... homens movidos pelo Esprito Santo falaram de Deus"). d) A palavra que vinha de Deus era primeiro fatada e depois, escrita (II Ped. 1:20-21; por implicao). A Escritura era falada pelos profetas. II Tim. 3:16 focaliza o resultado da inspirao no registro da Palavra ou Bblia. a Escritura que inspirada. II Pedro 1:21 enfatiza que a atividade dos escritos era dirigida pelo Esprito. Hebreus 1:1 parece incluir o agente e o resultado da inspirao. Essas Escrituras nos afirmam que o homem era guiado pelo Esprito de Deus em receber, comunicar e relatar a Palavra de Deus. O Esprito Santo foi a fonte da inspirao. Nenhum verdadeiro profeta poderia falar "Assim diz o Senhor", a no ser que tivesse um dom especial do Esprito Santo; ele devia ser "movido pelo Esprito Santo" (II Pe.1:21). Sob a direo do Esprito Santo, ele interpretava o sentido daquela revelao e a comunicava aos outros ("...homens ... falavam de Deus"). Em I Cor. 2:11 e versos seguintes, Paulo escreve que nenhum homem conhece os pensamentos de outro, seno o esprito daquele homem. Do mesmo modo, ningum conhece os pensamentos de Deus, seno o Esprito de Deus. O Esprito est capacitado a fazer conhecida a mente de Deus aos homens espirituais. Deveria ser lembrado que as Escrituras do Novo Testamento, ao descrever a inspirao, se referem ao Velho Testamento. Os livros do N.T. estavam, ento, no processo de serem escritos e somente mais tarde que foram reconhecidos como inspirados. O fato de que o N.T. veio a ser reconhecido como a Palavra de Deus, inspirada e autorizada, estabelece a inspirao do V .T.
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O ponto de vista de Jesus sobre a inspirao e autoridade no tornou Todo o Velho Testamento dominante para todos os sculos. Ele acreditava que Moiss fosse o autor do Pentateuco e Davi, o dos Salmos. Ele no considerava que Moiss tivesse falado a palavra final. Quando interrogado sobre a questo do divrcio (Mat.19:29), Ele citou Gnesis 2:24 e interpretou a Escritura, dizendo que o homem e sua nulher no deviam se divorciar. Os fariseus objetaram sua interpretao e se referiram a Deuteronmio 24:1, que permitia o divrcio, se por hiptese a mulher no fosse mais agradvel, ento, aos olhos do marido. Jesus replicou-lhes: "Pela dureza de vossos coraes, Moiss vos permitiu repudiar vossas mulheres; mas no foi assim desde o princpio" (Mat.19:8). Apesar de Jesus reconhecer o V.T. como inspirado e autorizado, Ele mostra que algumas partes do mesmo j no podiam mais ser recebidas como autorizadas. Mas uma pessoa que no tenha a autoridade de Jesus deveria ser cautelosa em desmerecer qualquer parte do V.T.
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O ponto de vista neo-ortodoxo julga a Bblia como se tornando a Palavra de Deus, oportunamente e subjetivamente, mas no como sendo a Palavra de Deus objetivamente. Nem liberais, nem neo-ortodoxos acreditam que a Bblia seja a Palavra de Deus. Os liberais mantm que a Bblia contm a Palavra de Deus e os neo-ortodoxos, que a Bblia se torna a Palavra de Deus.
A Teoria Dinmica Os neo-evanglicos propem que no so as palavras, mas os pensamentos ou as idias que Deus inspirou. Deus proporcionou os pensamentos aos profetas, os quais tiveram liberdade em relal-los ou transmitilos em suas prprias palavras. Esta teoria explica-nos as diferenas de personalidade e estilos literrios que se refletem evidentemente nas Escrituras. Tambm mantm que a Bblia a Palavra de Deus. O escritor bblico pe as palavras de Deus no estilo de sua prpria palavra humana.
A Teoria da Inspirao Plena Afirmam alguns que esta representa a teoria dos conservadores. De acordo com a mesma, todas as palavras (verbais) foram sopradas por Deus (II Tim. 3:16). Deus deu plena expresso aos seus ensinamentos nas palavras dos relatos bblicos. Deus guiou os escritores em escolher as palavras que eram caractersticas de sua poca e cultura, mas que expressavam, adequadamente, a revelao divina.
todavia, que o autor de Crnicas tenha sido guiado pelo Esprito de Deus na composio dos livros. Ele tirou a informao histrica de fontes conhecidas e foi guiado divinamente na interpretao e sentido da histria. A mensagem divina consiste em ver a mo e os propsitos de Deus na histria de Israel, no na mincia histrica do nmero exato de anos que um rei governou. Os detalhes vieram dos registros da crte. A interpretao foi dada por Deus. Os escritos foram julgados mais tarde pelos lderes de Israel como inspirados por Deus; portanto, foram reconhecidos como cannicos e julgados dignos de uma posio de autoridade. No Novo Testamento, poucas referncias se fazem s fontes, exceto com vistas s palavras e lies de Jesus. Uma exceo se encontra em Lucas, que admitiu, no incio de seu Evangelho, que ele estava coligindo uma narrativa autntica dos eventos relativos a Jesus (Lc. 1:1-4). Fez referncia a um nmero de tradies ou testemunhas oculares sobre a vida e ensinos de Jesus. Ainda que nmero considervel desses tratados estivesse em circulao, Lucas se props a examin-los cuidadosamente e pesquisar as narrativas para transmitir a Tefilo um relatrio lcido e minucioso. De acordo com o prlogo de Lucas, as palavras no Evangelho no vieram diretamente de Deus para ele. Esta informao no desacredita a inspirao do Evangelho de Lucas, mas no corrobora a teoria da inspirao do ditado verbal. Apesar do fato de que eruditos crticos tm tentado desacreditar a fidedignidade da narrativa histrica de Lucas, no o conseguiram, porque as descobertas cientficas recentesda arqueologia confirmam plenamente a obra do historiador.
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A AUTORIDADE DA BBLIA
A autoridade da Bblia baseia-se no fato de que ela a Palavra de Deus. O grau de autoridade atribuda Bblia depende do ponto de vista que se tem da revelao e da inspirao. As igrejas primitivas usaram expresses que atestam grande autoridade ao Velho e Novo Testamentos. Visto que acreditavam que o Esprito Santo preparou os escritores e dirigiu sua mentes para escrever como fizeram, os cristos primitivos classificaram a Bblia como escrituras divinas", "livros sagrados" etc. A Bblia era julgada como possuindo uma autoridade divina.
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O SIGNIFICADO DO CNON
A palavra "cnon" procede do grego, que, por sua vez, recebeu-a da lngua semtica. O sentido da raiz da palavra "junco". O junco ou a cana eram usados como instrumentos para medir, por isso o cnon tomou o significado de uma regra de padro. No uso primitivo cristo, tomou o sentido de "regra de f" ou "escritos normativos" ou "a palavra de Deus autorizada". No ano 350 D.C., o "Cnon da Igreja" foi aplicado por Atansio Bblia, referindo-se aos livros que a Igreja reconhecia oficialmente serem o padro de conduta e de f. Com o reconhecimento oficial de alguns livros que continham inspirao e autoridade divina, a igreja acabava de reconhecer seu guia autorizado em matria de f e de prtica. Canonizao, portanto, significa "ser oficialmente reconhecido como guia ou regra autorizada em matria de f ou de prtica".
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Cnon Palestino
Depois da destruio de Jerusalm e do Templo, no ano 70 D.C., os eruditos judeus mudaram-se para Jmnia, para o estudo e ensino das Escrituras. Um conclio de lderes judeus em 90 d.C. (mais tarde chamado Conclio de Jmnia) discutiu a questo de quais livros deveriam ser inclusos no Cnon do Velho Testamento. O Conclio, aps alguma divergncia, afinal reconheceu oficialmente os 24 livros do Velho Testamento hebraico (os 39 de nossa Bblia em portugus). Esses livros j tinham sido reunidos num processo de seleo baseado no uso e valor popular. Foram reconhecidos como expressando uma autoridade no possuda por outras literaturas. Foi o uso prvio e a seleo prtica de livros inspirados ou a deciso do Conclio que constituiu a canonizao? Alguns eruditos acharam que o Conclio no tinha autoridade para tomar tal deciso. O Concilio poderia expressar o pensamento harmnico dos eruditos, todavia, esses no representavam o judasmo oficialmente. Mas os livros reconhecidos pelo Conclio continuaram a constituir a Bblia hebraica, e a Igreja Evanglica, no sculo 16, foi grandemente influenciada pela deciso do Conclio, em reconhecer os mesmos livros como cannicos.
Cnon de Alexandria
Um grande grupo de judeus que falavam o grego vivia em Alexandria e sua proximidades, no Egito. Tinham tambm um templo e produziam literatura religiosa. Sua seleo de escritos religiosos inclua tratados gregos e hebraicos. Consideravam sagrados todos os livros da Bblia hebraica, mas incluram tambm alguns livros adicionais, que hoje se chamam de apcrifos. A diferena hoje entre o Velho Testamento Catlico e o Protestante o resultado das escolhas diferentes entre os livros da Bblia hebraica da Palestina e os livros da Bblia grega de Alexandria. No se tem certeza se os livros da Bblia grega foram, em qualquer poca, reconhecidos oficialmente como o cnon. Todavia, a atitude para com certos livros e o seu uso prtico, incluindo os livros Apcrifos, colocouos acima de outros escritos religiosos da poca.
Direo divina
Os telogos reconheceram que o processo de canonizao no era apenas um ato oficial humano da Igreja, mas tambm o trabalho providencial do Esprito Santo. Os historiadores podero ajuizar que o cnon no foi dado por Deus, mas foi iniciativa do homem. Os telogos afirmam que a canonizao referente a certos livros resultado da autoridade religiosa falando ao homem a respeito da vontade de Deus.
Atividade humana
A direao divina na seleo dos livros no destri a atividade humana. Os livros que eram mais freqentemente usados na comunidade espiritual e que fizeram uma contribuio vida espiritual do povo foram selecionados. Para serem livros espiritualmente benficos, deveriam conter a voz autntica da autoridade. J se mencionou que a autoridade est baseada na revelao e na inspirao divina. Num perodo de vrias geraes, certos livros de literatura sagrada de Israel foram julgados pelo povo como contendo a Palavra de Deus autorizada. Somente no ano 90 d.C. certos livros foram reconhecidos oficialmente como autorizados. A literatura religiosa que foi rejeitada tornou-se conhecida com o nome de livros apcrifos ou pseudo-epigrficos. No foi fcil a tarefa de determinar quais livros deveriam ser inclusos no Cnon. At a segunda metade do sculo 2 d.C., um bispo cristo, Melito de Sardis, estava perplexo a respeito do nmero e ordem exatos dos livros de Velho Testamento, e assim fez uma viagem, especialmente ao Oriente, para poder determinar precisamente qual seria a verdade nesta matria. Os prprios judeus no concordam, em absoluto, com a coleo que foi afinal objeto da deciso.
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Implicaes bblicas
Apesar de no sabermos em mincias como os livros do Velho Testamento foram selecionados, algumas referncias das Escrituras do V.T. nos informam o seguinte: De acordo com xodo 20:1-24:8, certos cdigos legais ficavam debaixo da sano religiosa. As referidas leis eram guardadas na Arca e eram especialmente veneradas. A prpria Arca era um smbolo da presena de Deus entre o seu povo. As leis tinham vindo do Senhor para guiar o seu povo nas relaes do pacto. Era costume guardar documentos oficiais no santurio (Deut. 31:9 ss; Jos. 24:25-26; I Sam. 10:25). Durante o reinado de Josias, cerca de 621 a.C., o sacerdote Hilquias descobriu um livro da Lei no santurio, durante sua reconstruo (II Reis 22:3 e ss.). Depois que Saf leu o livro para o rei Josias, este rasgou suas vestes e mandou que Hilquias e seus associados pedissem misericrdia a Deus, visto que eles, o rei e o povo estavam desobedecendo s palavras do livro. Apesar de terem passado 700 anos antes que se reconhecesse um Cnon oficial, os atos do rei Josias e do povo revelam que eles reconheceram a autoridade divina expressa no livro sagrado. Depois de sua volta da Babilnia em 458 a.C., Esdras trouxe o livro da Lei ao povo em Jerusalm. A Lei continha a sabedoria de Deus (Esdras 7:25) e deveria ser seguida na organizao oficial dos lderes e Juizes do povo. A Lei continha autoridade sobre a vida dos homens ao ponto de punir, com a pena capital ou banimento, aqueles que a desrespeitassem. A reverncia do povo pela lei se revela pela sua posio (postados de p) ao Esdras ler o Livro (Neem. 8:5 ss.). A Lei era o guia para a vida espiritual e civil da comunidade.
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A Lei
No h certeza quando a Lei foi formalmente ou oficialmente reconhecida como um. documento contendo aulordade divina. Talvez algumas leis tenham sido dadas: as instrues proporcionadas pelos sacerdotes, as palavras de conselhos dadas em regras de conduta, os julgamentos de um juiz ou de um jurisconsulto foram reconhecidos logo como precedentes de Deus e traduzindo a Lei. A Lei estava to profundamente arraigada na antigidade e na santidade da tradio Mosaica, que o termo Torah no era aplicado somente aos primeiros livros do Cnon, que se desenvolvia, mas tambm ao corpo inteiro das Escrituras Hebraicas at a um perodo posterior (Esdras 19:20; Joo 10:34). Uma indicao da reverncia do povo pela lei se encontra em Esdras 7 e Neemias 8. Esdras, persona grata do Rei Artexerxes, rei da Prsia, foi enviado com plenos poderes a Jerusalm. O rei referiuse Lei como "a sabedoria do teu Deus que est em tua mo..." (Esdras 7:25). O rei ordenou que qualquer pessoa que desrespeitasse esta lei ou a lei de Deus fosse condenada morte. Lei era reconhecida como um corpo confeccionado de material que continha autoridade divina. O respeito e a reverncia pela lei se revelam em Neemias 8. Quando a Lei era lida, o povo se postava de p. Depois que ouviram a leitura da Lei, eles choraram. O reconhecimento da autoridade de Deus expresso mediante a lei se encontra em Neemias 13. O Livro era freqentemente referido como o "Livro da Lei de Deus" (Neemias 8:10; 9:3). A canonicidade da lei data, ento, pelo menos, da poca de Esdras.
Os profetas
Semelhantemente Lei, as mensagens dos profetas eram reconhecidas desde tempos antigos como procedentes do Senhor e portadoras de autoridade divina. As palavras dos verdadeiros profetas eram dirigidas pelo Esprito e reconhecidas, quando faladas, como "A Palavra do Senhor". Entretanto, os livros dos profetas no foram colecionados nem reconhecidos como cannicos, seno sculos mais tarde. Referncias coleo proftica surgiram depois do retorno de Esdras. A segunda diviso do Cnon foi mais tarde subdividida em duas partes. Os Primeiros Profetas consistiam de Josu, Juzes, Samuel e Reis. Os Profetas Posteriores consistiam de Isaas, Jeremias, Ezequiel e os Doze Menores. A importncia dos Primeiros Profetas est em sua descrio das provises do pacto ou aliana entre Deus e o seu povo. Alguns reconheceram a importncia dos profetas Posteriores no tempo em que suas mensagens foram proferidas. Ainda outros reconheceram a autoridade das palavras que os profetas enunciaram quando suas profecias de desastre se cumpriram no Exlio. Os profetas mesmos no ligavam para as conseqncias, contanto que falassem "A Palavra do Senhor". Muitas de suas mensagens vieram a lume, em forma escrita, no tempo mesmo de sua existncia.
Os escritos
Os Escritos do V.T. hebraico podem ser divididos ainda em Livros de poesia, abrangendo os Salmos, Provrbios e J; e os Cinco Rolos (Megiiloth) consistindo de Daniel, Esdras-Neemias e Crnicas. Os Escritos so diversos em carter e procedem de vrios autores; contudo, o grupo inteiro pode ter sido mencionado em certas ocasies como "Os Salmos" (Lc. 24:44). Flvio Josefo, importante historiador judeu do primeiro sculo d.C., referiu-se aos quatro livros como "Hinos de Deus e preceitos para a conduta da vida humana" (Contra Apion II.8). Semelhantes aos livros nas duas sees prvias, os desta Seco foram reconhecidos como contendo a Palavra de Deus muito antes de serem colecionados como um corpo de material e oficialmente considerados como parte do Cnon. A canonizaco dos Escritos efetuou-se mais tarde que a dos Profetas. Se o Cntico dos Cnticos, Eclesiastes e Ester deviam ser inclusos ou no, continuou a ser debatido durante e depois da poca de Jesus (Yad. 2:5).
Os Apcrifos
Certo nmero de escritos religiosos que no foram considerados cannicos pelos eruditos reunidos em Jmnia, mas reverenciados e usados por outros grupos so referidos como os Apcrifos e Pseudo-epigrficos (escritos falsos). Apcrifos tem o sentido de "secretos ou escondidos". Talvez a idia fosse que eles seriam disponveis somente aos iniciados, pessoa madura espiritualmente. Deveriam ser excludos do uso pblico. A literatura apcrifa era largamente lida na Palestina. Os autores do Novo Testamento aparentemente conheciam todos os livros apcrifos e muitos dos pseudo-epigrficos. Os livros apcrifos eram to populares entre as pessoas que falavam o grego e o latim que foram inclusos no Cnon do V.T.. Jernimo favoreceu o Cnon adotado pelos judeus da Palestina e distinguiu entre os livros contidos no mesmo e os Apcrifos para o latim e incluiu-os no Cnon Hebraico. Os livros foram usados na Idade Mdia pela Igreja Latina, e em geral no se fazia B I B L I O L O G I A p .24
distino entre o Cnon e os livros apcrifos inclusos. No Conclio de Titnto, em 1546, a Igreja Catlica Romana declarou oficialmente o status cannico dos livros Apcrifos e referiu-se a eles como deuterocannicos. Lutero negou a infalibilidade do Papa e de certas doutrinas da Igreja Catlica que se baseavam nos livros Apcrifos. Desafiou a doutrina do purgatrio, negando o direito de acrescentar ao cnon II Macabeus 12:46. Argumentou que os livros Apcrifos no estavam no Cnon hebraico. Ele acrescentou os livros no final da Bblia alem, em 1534, mas conferiu-lhes um status inferior. Outros grupos protestantes acompanharam a deciso do conclio judaico, a distino feita por Jernimo e a posio de Marinho Lutero em rejeitar os livros Apcrifos como cannicos.
O Pentateuco Samaritano
Durante as reformas religiosas sob a liderana de Esdras e a reconstruo das paredes sob a liderana de Neemias, mais ou menos no ano 450 a.C., foi exigida a separao entre judeus e estrangeiros. Visto que os samaritanos se casaram com estrangeiros, os judeus deixaram de se associar com eles (Neem. 13:23 ss.) Essa atitude forou os samaritanos a estabelecer o seu prprio lugar para adorao. A liderana religiosa para a nova comunidade samaritana foi dada provavelmente por Eliasibe, que era sumo sacerdote e genro de Sambalate. Foi forado a deixar Jerusalm por causa do seu casamento com uma estrangeira (Neem. 13:28). De acordo com Josefo (historiador judeu), existia um templo samaritano no Monte Gerizim no ano 332 a.C. A Bblia samaritana consistia somente de cinco livros da Lei. Muitos eruditos concluram que os samaritanos providenciaram para si um texto da Lei depois que eles cortaram as relaes com os judeus. A realidade de que eles adotaram somente o Pentateuco se infere que somente essa parte do V.T. era reconhecida oficialmente como autorizada na poca do rompimento de relaes. A semelhana do Pentateuco Samaritano com os livros judaicos da Lei indica que o Pentateuco era um escrito no somente reconhecido oficialmente com autorizao, mas j tinha alcanado uma forma fixa. Esta seleo nica do Pentateuco nos fez pensar no alto apreo pelos livros da Lei, O fato de no terem adotado os Profetas poder sugerir que a segunda diviso no fosse ainda muito considerada ou no tivesse sido reconhecida como coleo oficial ou escritos inspirados. preciso que se tenha prudncia, porm, com respeito a critrios baseados nas limitaes do Cnon Samaritano a apenas cinco livros.
A Septuagnta
Uma grande comunidade judaica tinha se desenvolvido no Egito, especialmente na vizinhana de Alexandria. Os judeus de Alexandria falavam o idioma grego e precisavam de uma verso grega dos seus escritos religiosos. O livro da Lei foi traduzido no ano 250 a.C. Os outros livros foram traduzidos para o grego no ano 150 a.C. A Bblia grega contm todos os escritos contidos na Bblia hebraica, acrescida de material adicional. Temos atualmente fragmentos da mesma desde a metade do 2 sculo a.C. A semelhana da Septuaginta com a Bblia hebraica sugere que no houve grandes mudanas no contedo depois de feita a traduo para o grego. Ao tempo em que se completou a Bblia grega, o Cnon j tinha assumido forma definitiva. Flvio Josefo registra uma tradio interessante a respeito da origem da Bblia grega (Antigidades XII, 2, 114). Descreve como o rei egpcio, Ptolomeu Filadelfo (285-246 a.C.) desejou possuir os livros da lei judaica em sua biblioteca particular. Seu bibliotecrio, Demtrio, sugeriu que os livros solicitados fossem traduzidos para o grego. Demtrio deu a entender que os livros j tinham sido traduzidos, mas a traduo fora precria e imprecisa. O rei, ento, ordenou que o sumo sacerdote Eleazar mandasse buscar em Jerusalm 72 tradutores (6 de cada
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tribo). Na sua chegada, os tradutores foram banqueteados durante 7 dias consecutivos. Para efetuarem a traduo das Escrituras Judaicas, tiveram o privilgio de ficar isolados na Ilha de Faros. Cumpriram a misso em 72 dias, e a populao judaica e o rei foram convidados para aprovar a traduo. Depois que Sua Majestade ouviu a leitura do livro da Lei, ele ficou deslumbrado com a profunda significao e sabedoria daquele que o escreveu. O rei perguntou a Demtrio por que razo o livro da Lei no fora anteriormente considerado pelos poetas e historiadores. Demtrio respondeu que "ningum ousaria nem sequer tocar de leve na descrio dessas leis, porque eram divinas e venerveis, e porque alguns que o quiseram fazer foram castigados por Deus" (Antigidades XII, 2,14). A histria revela a reverncia judaica pelas Escrituras. Ainda que a autenticidade histrica seja questionvel, no h razo para se duvidar que o Pentateuco tivesse sido traduzido para o grego no ano 250 a.C.
Eclesistico
Jesus, filho de Siraque, escreveu, no ano 190 a.C., um livro de Sabedoria (Eclesistico) que foi traduzido para o grego por seu neto no ano 132 a.C. O neto declarou no Prlogo que seu av tinha estudado diligentemente "a Lei, os Profetas e outros escritos de nossos antepassados". Esta afirmao estabelece que as trs sees do V.T. j tinham se tornado colees definitivas; todavia, provavelmente ainda no tinham sido fixadas ou fechadas. A Lei e os Profetas parecem se referir a corpos definidos da literatura, mas os outros, a menos definidos. Os Escritos eram tidos em alto apreo, mas provavelmente o nmero de livros a ser incluso ainda no estivesse resolvido. O livro de Daniel no havia sido incluso na lista dos Profetas. Nenhum livro conseguiu entrar na segunda seo do Cnon do V.T. depois do ano 200 a C. O autor de Eclesistico fez uma avaliao dos heris nacionais, e significativo que os mencionasse numa ordem particular. Nos captulos 44-45, seguiu o Pentateuco. No captulo 46:1-12 refere-se a Josu e Juizes; no captulo 46:13-47:11 se refere a Samuel. Nos captulos 47:12-48:25, se baseia em Reis e Crnicas. No captulo 49:7-16 faz referncias a Jeremias, Ezequiel, os Doze e Esdras-Neemias. No h meno de Daniel ou Ester, mas se refere aos louvores de Davi (47:8), Cnticos, Provrbios e s parbolas de Salomo (47:17) e profecias de Isaas (48:22ss.). O neto que traduziu o original hebraico para o grego explicou que seu av escrevera o livro para auxiliar os gentios a amar e a se comprometer com "a Lei, os Profetas e os outros livros de nossos pais". A afirmativa revela vrias coisas concernentes Bblia hebraica primitiva: (1) a Bblia hebraica estava dividida em 3 sees: A Lei, os Profetas e os Escritos; (2) a Lei e os Profetas parecem se referir a corpos definidos de literatura, enquanto "os outros livros" a um grupo menos definido; (3) a Lei, os cinco livros de Moiss, h muito tempo j se consideravam como as Escrituras; (4) os Escritos ou "outros livros" eram todos em alto apreo, talvez como Escritura, mas o nmero aceito ainda no estava resolvido.
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II Macabeus
O livro II Macabeus data aproximadamente do ano 100 a.C. O escritor considerou a Lei de Moiss fundamental em toda a vida social e religiosa do seu povo. Afirmou que Judas encorajou seus homens, "desde a Lei os Profetas" (15:9). Em 2:13-15 disse: "As mesmas coisas foram registradas, tambm nos escritos e memrias sobre Neemias, como, na formao de uma biblioteca, ele conseguiu reunir os livros sobre os reis e os profetas, os sobre Davi e cartas de Reis sobre ddivas". A declarao reflete a reminiscncia de um estgio primitivo na formao de um Cnon referente poca de Neemias no sculo 5 a.C. "Os reis e os Profetas" uma referncia aos Profetas Primeiros e aos Posteriores. "Os de Davi" se referem aos Salmos. Na realidade, o objetivo de Neemias era fundar uma biblioteca que resultasse numa coleo, que viesse finalmente preservar a antiga literatura nacional.
Josefo
Josefo afirmou (por volta do ano 100 d.C.) que os judeus s tinham 22 livros, os quais continham o registro de todo o passado, e que eram aceitos como divinos. Mencionou cinco livros de Moiss que encerravam sua leis e as tradies da origem da humanidade at sua morte. Treze continham a histria, desde a morte de Moiss at o reino de Artexerxes, rei da Prsia. Os outros quatro livros continham hinos a Deus e preceitos para a conduta da vida humana (Contra Apion 1.8). Talvez alcanasse o nmero "22" pela unio de Lamentaes com Jeremias, e o livro de Rute com Juizes.
Novo Testamento
O Novo Testamento contm abundante evidncia de que os livros do V.T. eram considerados sagrados. So chamados "Escritos Santos" e considerados como dados por Deus. No h dvida quanto sua autoridade (Mat. 21:42; Rm. 11:2). As primeiras duas sees se referem a Mat. 5:17 e Lc. 16:16. As trs divises, a Luc. 24:44. Em certas ocasies, o vocbulo Lei parece designar todo o V.T.
Livros disputados
Em Mislinah (Yad. 3:5) dvidas so levantadas quanto incluso do Cntico dos Cnticos e Eclesiastes. Os rabinos declaram que "os livros sagrados maculam as mos". O sentido da frase incerto, mas implica num reconhecimento de santidade especial de alguns escritos e no de outros. A santidade especial que "macula as mos" era um marco da canonicidade. Alguns rabinos argumentavam que o livro do Cntico dos Cnticos maculava as mos, enquanto que outros usavam do mesmo argumento, com relao a Eclesiastes. No Conclio de Jmnia, os rabinos concordaram que os dois livros eram Escritura Sagrada. Hanison observa que no tempo de Cristo j existia o V.T. na forma de uma coleo completa. O fato de que a comunidade de Qumran citava a maioria dos livros do V.T., incluindo aqueles mais tarde classificados na terceira seo do Cnon, proporciona fundamento para este ponto de vista. No ocorreu qualquer controvrsia a respeito dos livros apcrifos, porque todos concordaram que no eram cannicos. A ligao dos livros apcrifos s Bblias Gregas e Latinas e seu reconhecimento como cannicos pela igreja Catlica no Conclio de Trento so assuntos que j foram ventilados.
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Clemente de Roma (96 d.C.) Parece que ele conhecia a primeira carta aos Corntios, os ensinos de Cristo (talvez um dos Evangelhos) e a Epstola aos Hebreus; todavia, no se referiu a eles como Escritura. Quando Clemente escreveu sua literatura, alguns dos apstolos ainda estavam vivos. Os guias da Igreja eram nomeados pelos apstolos; portanto, a igreja continuava a sentir o prolongamento da autoridade apostlica e, portanto, no necessitava com urgncia de escritos autorizados.
Incio, Bispo de Antioquia (116 d.C.) Roma e Antioquia j eram centros fortes do cristianismo no comeo do segundo sculo. Os escritos de Incio, que era bispo com prestgio no Oriente, mostram que ele conhecia as epstolas de Paulo e os Evangelhos de Mateus e Joo. Recebeu grande influncia de Joo. Contudo, no fez qualquer referncia aos livros do N.T. como Escritura.
Policarpo, Bispo de Esmirna (69-155 d.C.) Em cerca de 115 d.C., Policarpo escreveu uma epstola aos filipenses. Fez mais referncias aos escritos do N.T. do que qualquer outro trabalho antigo; todavia, raras vezes citou passagens de qualquer livro do N.T. Ele ouviu o apstolo Joo e tornou-se o mestre de Irineu, que, por sua vez, disse que havia aprendido dos apstolos os ensinos que continuavam a ser as tradies da Igreja. Ele se referiu a Efsios 4:26 como Escritura.
Papias, Bispo de Hierpolis (80-155 d.C.) Papias tambm ouviu o apstolo Joo antes da morte deste. Disse ele: "No pensei que pudesse tirar tanto proveito do contedo de livros quanto em ouvir a palavra de uma voz viva e permanente" (Eusbio, Histria Eclesistica 3:39). Esta declarao explica porque os escritos no eram muito prestigiados no comeo do segundo
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sculo. Papias afirmou que Marcos escreveu diligentemente tudo aquilo de que se lembrava dos ensinos e das aes de Cristo. Ainda afirmou Papias que Mateus compusera "os orculos no idioma hebraico, e cada qual os interpretava como pudesse" (Eusbio, Histria Eclesistica 3:39). Eusbio tambm declarou que Papias citava I Joo e l Pedro.
O Evangelho da Verdade (140 d.C.) Este documento provavelmente foi escrito por Valentino, em Roma. Contm tendncias gnsticas. Harrison, analisando a referida obra, conclui que seu uso compreensivo do N.T. permite afirmar que o N.T. que circulava em Roma naquele tempo correspondia precisamente, ou melhor, aproximadamente, com os Evangelhos, os Atos, as Epstolas de Paulo, Hebreus e a Revelao, os quais eram considerados como autorizados.
Justino Mrtir, de Samaria e Roma (140 d.C.) Justino Mrtir havia estudado filosofia grega antes de se tomar cristo. Descobriu no cristianismo a nica filosofia certa e que supre as necessidades do homem. Fundou uma escola em Roma para satisfazer s dvidas dos gregos. Num documento que escreveu ao Imperador, teve a habilidade de mostrar a S. Majestade que as Escrituras eram reconhecidas pela Igreja, e no somente por ele. Referiu-se aos Evangelhos como memrias dos Apstolos. Os Evangelhos eram lidos em cultos pblicos, e as instrues eram baseadas neles. Justino freqentemente pressupunha a autoridade escriturstica dos Evangelhos pelo uso da frmula "est escrito". Sua obra confirma o seu conhecimento de Atos, I Pedro, Romanos, I Corntios, Glatas, Efsios, Colossenses, II Tessalonicenses, Hebreus e Revelao, em acrscimo aos Evangelhos.
Marcio, de Ponto e Roma (140 d.C.) O pai de Marcio, que era Bispo de Ponto (na sia Menor), excomungou-o em face de sua imoralidade e por ter abraado erro doutrinrio. Marcio, ento, foi para Roma, e l foi excomungado novamente pela Igreja porque abraara os ensinos dos gnsticos. Ele ensinava que Deus, que criou e governa o mundo, no o pai de Jesus porque se alegrava com sacrifcios de sangue e com a morte de pessoas, conforme o V.T. Cristo veio para nos livrar do Deus do V.T. Cristo no era um homem real, que veio na carne, com sua natureza humana; do contrrio, ele estaria sob o controle do Deus do V.T. O Deus do N.T. no exigia a guarda da Lei, mas deu nfase f, ao amor e confiana, O Evangelho do Cnon de Marcio era uma reviso de Lucas com numerosas omisses. Aceitou as 10 epstolas de Paulo como autorizadas, mas rejeitou o livro de Atos porque continha a doutrina de Pedro em medida excessiva. Procurou excluir do seu Cnon todos os elementos do judasmo. Em cerca de 150 d.C., a Igreja ainda no tinha o seu Cnon, formalmente expresso; contudo, referncias prvias mostraram que a maioria dos livros do N.T. estava praticamente em uso na Sria, na sia Menor e em Roma. J na metade do segundo sculo, a fora do cristianismo se havia transferido para Roma, a cidade imperial. Os ensinos herticos de Marcio, sua adoo de um Cnon e a popularidade dos seus ensinos poderiam ter forado a Igreja a reconhecer formalmente um Cnon.
Taciano de Roma (170 d.C.) A obra de Taciano, "Diatessaron" (ou Harmonia dos 4 Evangelhos), aparentemente o primeiro reconhecimento dos 4 Evangelhos. Ele entrelaou o material dos 4 Evangelhos numa histria contnua (uma Harmonia dos Evangelhos). Em acrscimo aos Evangelhos, revela ter conhecimento das epstolas de Paulo e do Apocalipse.
O Cnon Muratoriano (170 d.C.) Um documento mutilado, de origem latina, foi descoberto numa biblioteca em Milo. Continha uma lista de livros do N.T., provavelmente alistados ao Cnon do herege Marcio. O comeo do documento foi perdido. Iniciase com as ltimas palavras de uma sentena que provavelmente se referiam a Marcos. O documento afirma que Lucas permanece terceiro em ordem, tendo sido escrito por Lucas, o mdico. O quarto lugar dado ao Evangelho de Joo. A declarao implica que Mateus era o primeiro Evangelho. Menciona Atos, 13 cartas atribudas a Paulo, Judas e as epstolas de Joo e Pedro, e a Revelao. Refere-se a todos os livros do nosso Cnon, exceto 4: Hebreus, Tiago, I Pedro e I Joo. O Apocalipse de Pedro o nico acrescentado que no est em nosso Cnon. O Cnon Muratoriano parece ter sido mais a expresso do ponto de vista da igreja do que de um indivduo. O fragmento Muratoriano representa uma coleo oficial de livros que difere de nosso N.T. apenas pela excluso de quatro e acrscimo de um. B I B L I O L O G I A p .30
Irineu, de Lyon, Glia (177 d.C.) Irineu nasceu provavelmente em Esmirna, provncia da sia Menor. Ele ouviu Policarpo falar sobre seu relacionamento com o apstolo Joo e com vrias outras "testemunhas da Palavra da Vida". Suas associaes deram-lhe elementos para combinar as tradies da sia Menor, Roma e Glia. No forneceu uma lista formal dos eruditos do N.T.; contudo, ele usou definitivamente a maioria dos livros do N.T.
Clemente de Alexandria (215 d.C.) A tradio designa Marcos como iniciante do trabalho cristo no Egito. Uma escola para os "fiis" foi dirigida por Pantenos, que era ouvinte dos Apstolos. Clemente estudava sob a sua direo, e escreveu comentrios sobre todos os livros do N.T., exceto Tiago, II Pedro e III Joo. Orgenes, que sucedeu a Clemente, declarou que os livros do N.T, com a possvel exceo de II Pedro, II e III Joo, foram aceitos pela igreja.
Consistncia doutrinria A Igreja havia lutado contra as heresias dos gnsticos e ebionitas. Os gnsticos procuraram ligar o cristianismo com o helenismo e filosofias pags. Tentaram tornar o cristianismo aceitvel aos intelectuais. Ensinava-se que se conseguia a salvao por meio da comunicao de algum conhecimento escondido ou secreto (gnosis), que poderia ser revelado por uma palavra secreta, ou um ato ritualista, uma doutrina sobre o comeo do mundo, ou pela relao do esprito com a matria. O objetivo do homem era escapar do mundo, que era considerado mau. Visto que toda matria ruim, porque imperfeita, um Deus bom no poderia ter criado o mundo. A criao material procedeu de algum poder inferior, que era hostil a Deus. Eles negaram a encarnao de Cristo, porque a carne, isto , a natureza humana, pecaminosa. Alguns, pois, tomaram a seguinte posio: visto que a natureza humana pecaminosa e inescapvel, ento o cristo est livre para entregar-se a atividades imorais, que no afetam o esprito. O esprito eventualmente escapar da carne. O ebionismo foi um resultado das tendncias judaizantes que se refletiram em Atos 15 e Glatas. Uma questo primitiva confrontando a igreja foi a relao das leis de Moiss e "as tradies dos ancios" com o cristianismo. A deciso da Conferncia de Jerusalm, em Atos 15, libertou a Igreja das tendncias judaicas. Os judaizantes que se opunham a Paulo davam nfase ao absoluto monotesmo (um Deus); portanto, concluram que Jesus no podia ser Deus. Eles se firmaram no conceito de que a Lei sagrada; portanto, mantinham o respeito e a observao dos rituais dos sacrifcios e purificao. Visto que se opunham aos escritos de Paulo, assim, preferiam Mateus e Tiago. Ensinavam que os cristos ]udeus, bem como os gentios, eram obrigados a guardar a lei mosaica, depois da salvao pela f. Consideravam Cristo como sendo um homem inspirado, que foi adotado em seu batismo como filho de Deus, por causa de sua vida digna. Quaisquer livros que tivessem a influncia do gnosticismo ou do ebionismo seriam questionados pela direao da Igreja.
Origem dos apstolos Visto que as palavras dos apstolos que tinham estado com Jesus eram muito prestigiadas, espera-se tambm que os escritos associados com os apstolos seriam igualmente apreciados. Marcos no era apstolo, nem seguidor de Jesus, mas seu trabalho est associado com o apstolo Pedro. Paulo era apstolo "nascido fora do tempo". O nome de Paulo estava ligado aos hebreus pelos alexandrinos, idia que espalharam amplamente, mais no Oriente que no Ocidente. Lucas era tambm muito considerado por causa de sua associao com Paulo. Apesar de Paulo no ter tido associao com Jesus em seu ministrio, contudo, era o pai das igrejas gentlicas, e isso aumentou o respeito pelos seus escritos.
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Inspirao A ltima prova para canonizar era a inspirao. Os livros escolhidos davam evidncias de serem divinamente inspirados e autorizados. O Esprito Santo guiou a Igreja para que ela discernisse entre a literatura religiosa genuna e a espria. Houve necessidade de um perodo de tempo antes que a Igreja, em vrias partes do Imprio Romano, chegasse a uma deciso unnime a respeito dos 27 livros. Desde a poca de Irineu atualidade, os livros do N.T. reconhecidos pelo uso prtico na igreja so os mesmos 27 do atual N.T.
OS LIVROS DISPUTADOS
Hebreus, Tiago, II Pedro, II e IIl Joo, Judas e a Revelao foram os ltimos a serem aceitos por unanimidade no Cnon. A autenticidade de II Pedro, que reclamava ser o trabalho de um apstolo, foi questionada. Tiago, Judas e Hebreus estavam associados a apstolos no mesmo sentido como Marcos e Lucas, porm, no eram trabalho de apstolos. Hebreus foi referida por Clemente de Roma e possivelmente por Justino Mrtir, mas no estava inclusa no Cnon de Muratori (o Cnon da Igreja Romana ou do Ocidente) por causa da questo de autoria apostlica. Foi aceita na Igreja Oriental mediante o apoio dos alexandrinos em favor da autoria Paulina. Apesar de Tertuliano, da Igreja Latina na frica, ter mencionado Hebreus, ainda assim a classificou abaixo da autoridade dos trabalhos apostlicos. Tiago foi questionada por causa da incerteza quanto identidade de Tiago. A Segunda de Pedro por causa da grande diferena no vocabulrio e estilo da primeira epstola. Segunda e Terceira de Joo eram breves e de natureza pessoal. Fazem pequena contribuio doutrinria. A falta de relao apostlica da carta de Judas impediu-a de ser aceita. O Apocalipse foi incluso em tempos primitivos, mas no foi aceito no Oriente durante o quarto sculo. Dionsio de Alexandria aludiu s diferenas entre o Apocalipse e o quarto Evangelho, que levantaram questes quanto sua autoria apostlica.
O Cnon do Quarto Sculo Eusbio, Bispo de Cesaria e historiador da Igreja Primitiva (270-340 A.D,), menciona somente Tiago, II Pedro, II e III Joo e Judas como livros disputados. Classificou os escritos que reclamavam autoridade apostlica entre os livros confirmados, disputados e herticos. Declarou que as cinco epstolas gerais eram controvertidas, mas apesar disto eram bem conhecidas e reconhecidas pela maioria. Os livros que clarificou como herticos so: Os atos de Paulo, O Pastor, O Apocalipse de Pedro, Bamab e o Didach (Ensino dos Doze). Agostinho de Hipona, na frica do Norte (354-430 d.C.), aceitou todos os 7 livros que tinham sido questionados em vrias sees da Igreja. Entretanto, fez diferena em vrios graus de valor entre os livros cannicos. Nem todos os livros tinham autoridade igual. No comeo do quarto sculo, o Imperador Diocleciano tentou destruir os escritos da Igreja. Depois que Constantino abraou o cristianismo em 313 d.C., ele alterou a poltica e mandou copiar certo nmero de Bblias. 50 Bblias foram feitas em pergaminho para uso nas igrejas. Pelo ano 325 d.C., as epstolas gerais questionadas j estavam reconhecidas e juntadas numa coleao definitiva.
Conclio de Laodicia (363 d.C.) Trinta e dois lderes cristos se reuniram num snodo (um ajuntamento local), e decretaram, no qinquagsimo nono Conclio, que somente os livros canonizados de ambos Velho e Novo Testamentos fossem lidos nas igrejas. O sexagsimo Cnon apresentou uma lista de 20 livros para o Novo Testamento, excluindo a Revelao. O sexagsimo Cnon, entretanto, tem se revelado como inautntico. No Conclio de Laodicia pareceu que os livros da Bblia eram pela primeira vez submetidos a um estudo especial.
Atansio de Alexandria (298-373 d.C.) Em sua trigsima nona epstola festiva (367), Atansio talvez seja o primeiro a aplicar o termo "cannico" aos 27 livros exatos, como os temos em nosso N.T. na atualidade. Ponderou que o Didach e O Pastor seriam teis para os jovens cristos, mas distinguiu-os dos livros cannicos. Mencionou tanbm os Apcrifos, classificando-os em 3 categoria.
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Terceiro Conclio de Cartago (397 d.C.) Sob a liderana influente de Agostinho, Bispo de Hipona, o Conclio adotou uma lista de livros das Sagradas Escrituras. O Conclio decretou que nada poderia ser lido na igreja sob o ttulo de Escritura divina, a no ser os livros cannicos. A Iista de livros dada para o N.T. se constitua dos seguintes: quatro livros dos Evangelhos, um livro de Atos dos Apstolos, treze epstolas de Paulo, uma epstola do mesmo aos Hebreus, duas epstolas de Tiago e uma de Judas, e um livro do Apocalipse de Joo. A deciso do Conclio de Cartago estabilizou os livros do Cnon, e tem sido reconhecido pelos eruditos como o ponto culminante no processo de canonizao. O apoio de Jernimo e Agostinho tornou o Cnon aceitvel onde quer que se falasse a lngua Latina.
Novo Testamento no Sculo 16 Durante a Idade Mdia, a Igreja Catlica Romana tinha se tornado autoridade suprema em todas as questes eclesisticas. A Bblia oficial da Igreja Romana era a traduo latina feita por Jernimo (a Vulgata). Jernimo fizera distino entre livros cannicos e apcrifos, mas inclura os livros Apcrifos na Vulgata. Durante a Idade Mdia, as doutrinas baseadas nos livros Apcrifos ficaram estabelecidas na Igreja. A hierarquia da Igreja reivindicava autoridade para interpretar a Escrituras. E tambm reclamava o mesmo direito para interpretar a tradio no escrita. Os reformadores transferiram para a Bblia, em sua forma colecionada, a infalibilidade que antes se pressupunha residir na hierarquia da Igreja. Esta deciso teve por efeito a renovao dos debates a respeito do Cnon. Lutero declarou que somente as Escrituras, sem a tradio, eram a fonte nica e completa da doutrina; que somente o Cnon Hebraico do Velho Testamento e os livros reconhecidos do N.T. devem ser admitidos como autorizados. Discutindo e condenando a matria apresentada por Lutero, a Igreja Catlica Romana se dividiu. Alguns queriam incluir a tradio oral como fonte coordenada de doutrina, juntamente com a Escritura. Outros queriam formar trs classes de livros do V.T.: reconhecidos, disputados e apcrifos. Ainda outros desejavam ratificar toda a autoridade divina. Em 8 de Abril de 1546, o decreto foi promulgado nestes termos: "O Santo conclio Geral ecumnico deTrento, ... seguindo os exemplos dos Pais ortodoxos, recebe e venera todos os livros do Velho e do Novo Testamentos... e tambm as tradies pertencentes f e conduta... com um sentimento igual de devoo e reverncia". Lutero concluiu que alguns livros do N.T. so superiores a outros. Mencionou os livros superiores tais como o Evangelho de Joo, as epstolas de Paulo, especialmente Romanos, e I Pedro. Declarou que a epstola de Tiago uma "epstola de palha", comparada com os livros citados acima, porque no apresenta caractersticas do Evangelho. Colocou Hebreus, Tiago, Judas e o Apocalipse no fim de sua traduo, porque sua aceitao no Cnon tinha sido questionada. Chegou concluso de que Tiago contradiz Paulo, porque ensina que a justia se consegue pelas obras. Tiago no faz meno Paixo, Ressurreio e ao Esprito de Cristo. Para que um livro fosse cannico, acreditava Lutero, deveria pregar a Cristo, sua morte e sua ressurreio. Considerava o livro da Revelao como "profecia muda". Na Bblia Luterana, os livros Apcrifos esto inclusos, mas separados das "Escrituras Sagradas". Calvino deixou de lado II e III Joo e o Apocalipse. Aceitou Hebreus como epstola apostlica, mas atribuiu a Pedro, em vez de a Paulo, sua autoria. Considerava II Pedro ser de um discpulo de Pedro. Reconheceu as disputas sobre Tiago e Judas; contudo, aceitou-as. A despeito da oposio de Lutero a Tiago, a Igreja Luterana fez causa comum com as demais igrejas protestantes e aceitou o mesmo Cnon do Novo Testamento.
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O VELHO TESTAMENTO
Traando a transmisso do V.T., 4 fontes de estudo so importantes: o texto hebraico, o texto grego, os textos de Qumran e outras tradues. Antes das descobertas de Qumran em 1948, o mais antigo texto hebraico conhecido era um manuscrito dos Profetas (o Cdice do Cairo) datado cerca do ano 895 d.C.. Apesar de ter mais de 1000 anos, est datado aps muitas geraes depois dos escritos originais dos profetas. As descobertas do Mar Morto so importantes porque produziram fragmentos sobreviventes da bibliografia de uma comunidade judaica nos anos 130 a.C. a 70 d.C. Um rolo do 2 sculo a.C. de Isaas habilitou os eruditos a se aproximarem mais de 1000 anos aos escritos (autgrafos). Visto que todos os livros do V.T, exceto Ester, esto representados nos Rolos do Mar Morto, sua descoberta implica numa grande contribuio no estudo da transmisso do V.T.
A destruio de manuscritos em Antioquia Antes da revolta dos Macabeus em 167 a.C., os srios haviam destrudo a maior parte dos manuscritos existentes do V.T. Antoco Epifnio (rei Srio, 175-163 a.C.) tentou abolir a religio judaica mediante a destruio de seus escritos e de seu culto. A comunidade de Qumran fez uma contribuio de grande mrito, preservando os B I B L I O L O G I A p .34
rolos do V.T. durante esse perodo. parte dos escritos de Qumran, nenhum manuscrito dos livros do V.T. antes do sculo 9 d.C. sobreviveu.
Manuscritos bsicos da Bblia hebraica moderna A edio corrente da Bblia hebraica Bblia Hebraica de Kittel baseada primeiramente nos manuscritos seguintes: o Cdice de Cairo (895) o mais antigo manuscrito Massortico dos Profetas que se conhece; o Cdice de Leningrado dos Profetas Posteriores (916); o Cdice de Allepo (930) uma manuscrito inteiro de todo o V.T. que foi parcialmente queimado numa sinagoga em 1948; o Cdice de Leningrado de todo o Velho Testamento (1008).
Os Fragmentos de Geniza Durante a reconstruo de uma velha sinagoga do Cairo (Egito) em 1890, cerca de 200.000 fragmentos de escritos bblicos, entre outros documentos, foram desenterrados. Paia evitar o uso indevido do um manuscrito que continha o Nome Sagrado, os judeus colocavam os manuscritos estragados em uma "geniza" (esconderijo) at que fossem destrudos pelo enterramento. Esta prtica explica a razo por que velhos manuscritos no sobreviveram. Os fragmentos de Geniza do Cairo so datados dos sculos 6 a 9 d.C.
O Papiro de Nash W.L. Nash, em 1902, comprou no Egito uma folha de Papiro que continha uma cpia dos 10 mandamentos de xodo 20:2 e seg. e Deuteronmio 6:4 e seg. A coleo breve de textos foi provavelmente usada em propsitos litrgicos ou educacionais. Albright datou-a no perodo dos Macabeus. Outros eruditos classificaram-na como sendo de um perodo posterior.
Os rolos do Mar Morto As descobertas do Mar Morto tm produzido fragmentos valiosos de livros do V.T. Somente o manuscrito de Isaas est completo. Um comentrio contendo os dois primeiros captulos de Habacuque fornece um exemplo significativo dos mtodos judaicos de interpretao.
O Texto Massortico Cerca de 100 d.C., lderes judeus produziram uma edio padronizada do texto hebraico, consonantal, do V.T. Geraes sucessivas de editores inseriram um grande nmero de sinais para orientar os leitores nas sinagogas na enunciao correta dos escritos sagrados. Essas edies incluam as marcas de pontuao e os pontos das vogais. Notas eram colocadas s margens, no comeo e no fim dos manuscritos. Os escribas judeus que faziam esse trabalho eram chamados de Masoretas, derivao da palavra Massorah (tradio). O texto que os massoretas estabeleceram tornou-se conhecido como "texto Massortico". Os escribas judeus faziam seu trabalho de modo reverente e cuidadoso. Tinham regras precisas, que determinavam a qualidade e o tamanho dos couros a serem usados, o tamanho das colunas em cada pgina e as letras. Tinham que contar o nmero de vezes que cada letra do alfabeto apareceria em cada livro. Seus clculos minuciosos incluam a determinao da letra do meio do Pentateueo e a letra do meio de toda a Bblia hebraica. Nossa Bblia atual baseada no trabalho desses eruditos judeus. Apesar de o mais antigo manuscrito ser datado de 895 d.C., realmente maravilhoso como sua concordncia quase total com o segundo rolo de Isaas da comunidade de Qumran. As descobertas de Qumran confirmaram que o V.T. tem sido bem preservado.
O Pentateuco Samaritano O Pentateueo Samaritano no uma traduo ou verso do V.T., mas um manuscrito do hebraico antigo, contendo os 5 livros de Moiss. A diviso entre judeus e samaritanos possivelmente ocorreu durante o perodo em que Neemias reconstruiu a cidade de Jerusalm, o que fez os samaritanos adotarem o seu prprio cnon, ocnstando somente dos livros de Moiss. O Pentateuco Samaritano resultou noutra tradio textual para a lei. valioso para a comparao com o texto massortico. Os mansucritos mais antigos em forma de rolos do pentateuco samaritano datam da metade do sculo 11. O mais antigo Cdice leva uma observao sobre sua venda em 1150 d.C., mas o manuscrito muito mais velho. O Pentateuco Samaritano contm aproximadamente 6.000 variaes do texto Massortico, mas
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ocorre que so insignificantes. A leitura do texto Massortico considerada original, a no ser que o Pentateuco Samaritano e a Septuaginta discordem do mesmo.
A Septuanginta Em virtude da grande comunidade de judeus que falavam o grego em vez do hebraico e residiam em Alexandria, o Pentateuco foi traduzido para o grego no ano 250 a.C. A audio de que foi traduzida por 70 judeus eruditos deu origem ao nome Septuaginta (70). A traduo de outros livros do V.T. em grego parece ter sido completada no ano 150 a.C. Geisler e Nix apresentam quatro observaes a respeito da qualidade da Septuaginta: 1) Varia das tradues literais e dependentes do Torah para as tradues livres dos escritos; 2) Foi designada para uso pblico nas sinagogas, em vez do uso erudito dos rabinos; 3) Foi a primeira tentativa de se traduzir o V.T. para outra lngua; 4) geralmente fiel s passagens do texto hebraico, original. A Septuaginta aparentemente foi usada por Jesus e os apstolos. A maioria das citaes do N.T. extrada da mesma. Foi perpetuada pelos cristos, em vez dos judeus, e os mais antigos cdices dela incluem tambm os escritos do N.T. O melhor manuscrito da Septuaginta o Vaticanus (Cdice B), datado de 325 d.C.
Outras tradues gregas Logo que a Septuaginta foi traduzida, a comunidade judaica de Alexandria declarou que era bela, piedosa e exata. Filo falou a respeito da traduo como um trabalho de inspirao divina e dos tradutores como profetas. Todavia, depois que os cristos se serviram muito da Septuaginta nas disputas que tiveram com os judeus, estes rejeitaram-na, apesar de antes a haverem considerado indispensvel e intocvel. Continuaram a necessitar de tradues gregas; portanto, nova traduo foi feita por quila, em 130 d.C. Apesar de ter bom conhecimento do idioma grego, fez uma traduo literal que no parecia ser grego de forma alguma. Outra traduo grega foi realizada por Smaco em 170 d.C. Uma terceira foi feita por Teodsio, em 200 d.C.
A Hexapla de Orgenes O telogo de Alexandria comps uma Bblia com seis colunas paralelas; o texto hebraico, o texto hebraico sem letras gregas (uma transliterao), o texto grego de quila, o texto grego de Smaco, a Septuaginta e o texto grego de Teodsio. O arranjo dos textos feito por Orgenes se baseou no princpio de que o texto hebraico o original, seguido pelos trabalhos de traduo grega literal e a traduo literal de quila. Tradues em outras lnguas Depois do exlio, o judasmo substituiu, a lngua hebraica falada pelo aramaico. Tornou-se, ento, necessrio traduzir as Escrituras hebraicas para o aramaico para o culto nas sinagogas. O ato de traduzir chamou-se targem e a prpria traduo se chamou targum. A traduo podia ser dada oralmente com observaes interpretativas. As tradues eram eventualmente registradas em vrios lugares e uma explicao da mensagem do texto era inclusa. De quando em quando, o texto era reinterpretado. O velho Targum Palestiniano do Pentateuco conhecido mediante os fragmentos que sobreviveram de sete manuscritos do 7 ao 9 sculos. O Targum Onkelos do Pentateuco e o Targum Jonathan dos Profetas tornaram-se oficiais pelo sculo 5 d.C. A Igreja Sria requereu uma traduo simples do V.T. em aramaico srio, que um dialeto aramaico da Palestina. A Bblia sria conhecida com o nome de "Peschitta", que significa "traduo simples". A traduo foi feita provavelmente na metade do Primeiro sculo d.C. Com a difuso da lngua oficial do Imprio Romano, surgiu a necessidade de se traduzir o V.T. para o Latim. Tradues latinas da Septuaglnta j estavam sendo usadas no ano 150 d.C. A traduo de Jernimo, a Vulgata, em 400 d.C. substituiu todas as antigas verses latinas.
NOVO TESTAMENTO
Os manuscritos mais antigos do Novo Testamento que existem na atualidade so em papiro. Depois do quarto sculo d.C., praticamente todos os manuscritos foram escritos em pergaminho. Em 331 d.C., Constantino,
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imperador romano, mandou fazer 50 exemplares da Bblia em pergaminho, para serem usadas nas igrejas de Constantinopla. A transmisso do Novo Testamento em grego se divide em dois perodos, de acordo com o material em que foi escrito: manuscritos em papiro (no segundo e terceiro sculos) e os manuscritos em pergaminho (nos sculos quarto e nono).
Manuscritos em Papiro Um fragmento de papiro, de 6,5 cm por 8,5 cm, contendo poucos versos do quarto Evangelho, o exemplar mais antigo de qualquer poro do Novo Testamento que existe atualmente. Teve sua origem provavelmente entre 117 e 138 d.C. Em 1930 e 1931, Chester Beatty, Londres, comprou importantes papiros bblicos, contendo muita coisa dos Evangelhos e dos Atos, as Epstolas Paulinas e o Apocalipse. Os papiros esto agora no museu de Beatty, prximo de Dublin. Contm 30 folhas de papiro cdice: 2 de Mateus, 2 de Joo, 6 de Marcos, 7 de Lucas e 13 de Atos. Originalmente, o cdice consistia de cerca de 220 folhas (todas um pouco mutiladas) removidas de um original que continha 104 pginas das epstolas de Paulo. As espstolas esto em ordem fora do comum Romanos, Hebreus, I e II Corntios, Efsios, Glatas, Filipenses, Colossenses, I e II Tessalonicenses. datado um pouco antes que o documento P45 (200 d.C.) O P47 consiste de 10 folhas pouco mutiladas de um cdice do livro do Apocalipse. O livro total se calcula ter tido 32 folhas em comprimento. datado de 250-290 d.C. P66, P72, P75. A biblioteca Bodmer, em Genebra, comprou uma grande coleo de papiros, que inclui textos nas lnguas grega e copta (lngua do Egito). O documento P66 contm a maior parte do Evangelho de Joo, e datado de 200 d.C. O P72 contm Judas e as Epstolas de Paulo, e datado do sculo III. Contm tambm vrios livros apcrifos e Salmos. O P75 contm 102 das 144 pginas de um cdice de Lucas e Joo. datado de 175-225 d.C.
Manuscritos de pergaminho Pelo sculo IV, Velho e Novo Testamentos eram transmitidos juntos pela igreja em pergaminho, na forma de cdice. O grego era escrito em letras unciais (letras maisculas). A seguir, os principais documentos em pergaminho: Cdice Vaticano (B). Este cdice datado da 1 parte do sculo IV (325 d.C.) e um dos mais valiosos de todos os manuscritos da Bblia grega. Estaria Biblioteca do Vaticano e tem sido colocado disposio dos eruditos somente desde o sculo XIX, devido relutncia das autoridades da Biblioteca em permitir que os eruditos o estudassem. Faltam ao cdice 46 captulos de Gnesis, uma seo de 30 Salmos, e o resto do Novo Testamento depois do captulo 9 de Hebreus. Alguns eruditos crem que este manuscrito e o Cdice Sinatico estavam entre os 50 exemplares originais das Escrituras que o imperador romano Constantino comissionou a Eusbio para escrever em 331 d.C. Cdice Sinatico. Este cdice foi escrito no sculo IV, um pouco depois do Cdice Vaticano. Foi conseguido no Mosteiro de Santa Catarina, no Monte Sinai, por Tischendorf, em 1859. Enquanto ele visitava o Mosteiro, viu folhas de pergarninho na cesta de papel. Estas eram parte de um exemplar da verso Septuaginta do V.T., escrito na forma antiga oficial (letras gregas maisculas). Ao ele tirar 43 folhas da cesta de papel, um monge casualmente observou que duas cestas de papel, contendo material idntico, j tinham sido queimadas. Em sua terceira viagem ao Mosteiro, conseguiu o cdice contendo o nico exemplar conhecido e completo do N.T. grego e a maior parte do V.T. em escrita uncial (letras maisculas). Persuadiu aos monges a fazer uma ddiva do referido documento ao Czar da Rssia, mais tarde, em 1933, aproximadamente por $500,000 (quinhentos mil dlares). Cdice Alexandrino. Este cdice foi escrito no sculo V e contm o V.T., exceto mutilaes, e a maior parte do N.T. Foi presente do Patriarca de Cosntantinopla ao rei da Inglaterra em 1627. Cdice de Efraim, Reescrito. Este manuscrito do 5 sculo foi apagado no 12 sculo e as folhas usadas por Sto. Efraim para uma traduo grega de sermes. Tischendorf, mediante o uso de elementos qumicos, conseguiu decifrar os originais subscritos deste palimpsesto (manuscrito de pergaminho que foi raspado para receber novo texto). Cdice de Bezae. Bezae era um erudito francs que sucedeu Calvino como lder da Igreja Protestante em Genebra. Apresentou Biblioteca de Cambridge, em 1581, um manuscrito do sculo VI, dos Evangelhos e Atos em grego e latim, confrontando-se as duas lnguas nas pginas. O Cdice contm variaes livres de palavras e sentenas do que se considera ser o texto normal do N.T.
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A BBLIA EM INGLS
Apesar de o cristianismo ter sido levado Inglaterra no comeo do sculo IV, o trabalho missionrio era feito em latim. Alguns poemas e poucos versculos das Escrituras apareceram no ingls antigo no sculo VIII. Alfredo, o Grande (901), ps partes da Bblia em ingls para seu povo. O perodo ingls antigo encerrou-se logo depois da conquista normanda, em 1066. A traduo da Bblia para o ingls da Idade Mdia comeou no sculo XIV. William de Shoreham produziu a primeira traduo em prosa da poro da Bblia em um dialeto sulino da Inglaterra em 1320. Richard Rolle fez uma traduo literal da Vulgata latina para um dialeto do norte da Inglaterra em 1340. Esses trabalhos prepararam o caminho para John Wycliffe (1320-1384).
A traduo de Wycliffe (1383) John Wycliffe esteve associado Universidade de Oxford durante muito tempo. Mais tarde, tornou-se poltico e, finalmente, reformador, pregando contra vrios males do seu dia ao ponto de ser chamado "a estrelaB I B L I O L O G I A p .38
d'alva da Reforma". Wycliffe foi, provavelmente, assessorado na traduo da Bblia; todavia, sua direo erudita e autorizada do trabalho justifica a ele a autoria da empreitada. Sua traduo uma traduo muito literal dos textos inferiores da Vulgata, completada em 1383, um ano antes de sua morte. Os exemplares tinham que ser escritos mo e secretamente. Foram distribudos aos seus seguidores, chamados lollardos, que viajavam por toda a Inglaterra, lendo-os para o povo. A pregao dos lollardos perturbou a Igreja, pelo que a Igreja baniu o uso da traduo inglesa de Wycliffe e proibiu o trabalho dos seus seguidores. Ele morreu antes de lavrar a perseguio, porm o seu corpo foi exumado e queimado em 1428. As cinzas foram lanadas num rio prximo. A despeito de todas as perseguies, a Bblia de Wycliffe continuou a ser usada largamente no sculo XV. Alguns pagavam tanto quanto $400,00 (quatrocentos dlares) por um manuscrito da Bblia.
As escrituras impressas por Tyndale (1526) William Tyndale recebeu o grau de mestre em 1515, em Oxford, antes de ir para Cambridge, onde Erasmo tinha despertado interesse pelo Novo Testamento grego. Sua ambio era fazer pela Inglaterra o que Lutero fizera pela Alemanha. Declarou que dentro em breve ele proporcionaria a um rapaz que usasse o arado condies de possuir mais conhecimentos da Bblia que os lderes da Igreja. Sentiu que o povo tinha o direito de saber o que lhes fora prometido pela Palavra, mas muitos no podiam ler o latim. Visto que o rei e a Igreja da Inglaterra tinham proibido o uso da traduo inglesa de Wycliffe, Tyndale foi Alemanha para imprimir o N.T. Exemplares da traduo apareceram na Inglaterra no princpio de 1526. De 1527 a 1531, Tyndale estava em Marburgo (Alemanha), trabalhando na traduo do V.T. Foi trado em 1535 enquanto trabalhava na traduo do V.T., sendo condenado forca e queimado. Suas ltimas palavras foram: "Senhor, abre os olhos do rei da Inglaterra". Sua traduo do N.T. baseou-se na 2 e 3 edies de Erasmo, na Vulgata e na traduo alem de Lutero. A traduo do V.T. foi baseada no hebraico, mas consultou tambm outras tradues. Muito do trabalho de Tyndale foi usado na prodio da Authorized Version (Verso Autorizada), em 1611. 15.000 exemplares do N.T. foram vendidos at o ano de 1535. O trabalho que Tyndale comeou foi completado por Myles Coverdale, que nasceu em Yorkshire, cerca de 1488. Depois de diplomar-se em Direito Cannico pela Universidade de Cambridge, em 1531, Coverdale deixou o sacerdcio da ordem dos Agostinhos e iniciou uma srie de pregaes contra vrias prticas religiosas. possvel que tenha se encontrado com Tyndale em Hamburgo em 1529. Sua traduo da Bblia foi impressa em 1535, talvez em Marburgo (Alemanha). Coverdale dedicou-a ao rei Henrique VIII, provavelmente na expectativa de alcanar a aprovao do rei para sua circulao na Inglaterra. Coverdale distinguiu sua Bblia da traduo de Tyndale, que fora banida na Inglaterra, e assinou seu nome no Prlogo que foi dirigido ao leitor. Apesar de o rei no ter dado permisso para a sua venda, a verso de Coverdale no foi banida do pas. O trabalho de Coverdale uma traduo secundria (no foi baseada no original hebraico ou grego, mas numa traduo do latim). De acordo com o Bispo Westcott, o N.T. de Coverdale se constitui da 1 Edio da Vulgata e da traduo alem de Lutero. Coverdale continuou e enriqueceu o trabalho do seu predecessor, Tyndale, e sua Bblia significativa porque a primeira impressa em ingls.
A Grande Bblia (1539) A poltica do governo ingls referente Bblia estava evoluindo, mesmo antes da morte de Tyndale. Henrique VIII tinha repudiado a autoridade do Papa em 1535. A Bblia de Mattew fora publicada em 1537. Baseouse no Pentateuco e N.T. de Tyndale, na verso dos livros de Esdras e Malaquias de Coverdale e em uma verso annima, possivelmente de trabalhos de Tyndale que no tinham sido publicados ainda, dos livros de Josu a II Crnicas. De acordo com Bruce, ambas as Bblias, de Coverdale e de Mattew, receberam a permisso real em 1537. Visto que havia duas formas da Bblia inglesa, o rei Henrique Vlll autorizou Cromwell a providenciar uma traduo nova que fosse uniforme, autorizada e livre de interpretaes. Em 1538, Cromwell concordou em unir-se a Richard Grafton na preparao de um novo texto em que o trabalho de outros homens pudesse ser usado em preferncia ao de Coverdale. A "Grande Bblia" (assim chamada por causa do seu tamanho), que apareceu em 1539, era, na verdade, uma reviso da Bblia de Mattew. De acordo com a injunco do rei, um exemplar foi colocado em cada igreja da Inglaterra. A Grande Bblia trazia em sua primeira pgina: "Esta a Bblia indicada para uso das igrejas". Era de fato uma edio revista da verso de Tyndale. Depois do trabalho de Cromwell, a Grande Bblia foi aprovada pelo Bispo de Londres que condenara Tyndale e seu trabalho. Agora, ele oficialmente autorizava uma Bblia que continha a maior parte do trabalho de Tyndale. A distribuio da Grande Bblia foi acompanhada de uma declarao real encorajando todos a ler a Bblia. A resposta foi to grande e os conseqentes argumentos pblicos sobre o significado da Bblia foram to intensos
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que o rei emitiu uma segunda declarao aconselhando aos leitores que a leitura fosse feita ''humilde e reverentemente". Os lderes eclesisticos conservadores reagiram contra a liberdade de interpretao dos leigos. Em 1543 todas as tradues que levavam o nome de Tyndale foram proscritas (denunciadas). Em 1546, a traduo do N.T. de Coverdale foi tambm proscrita. Quando o rei Henrique Vlll morreu, a Grande Bblia foi restaurada ao seu lugar nas igrejas. A rainha Maria suprimiu a impresso de Bblias durante seu reinado, mas a rainha Elizabeth viu a produo de duas verses mais da Bblia Inglesa.
A Bblia de Genebra (1560) O primeiro N.T. ingls com os captulos divididos em versculos de acordo com o Novo Testamento em grego de Estefnio era a Bblia de Genebra, impressa em 1557. Este N.T. era uma correao do texto de Tyndale pelo testamento latino de Beza. Em 1560, a Bblia inteira foi revista e impressa em Genebra. O tipo, o tamanho e as notas deram-lhe grande popularidade entre o povo.
A Verso King James (Rei Tiago) Pelo fim do sculo XVI, os protestantes de fala inglesa tinham duas verses da Bblia: a Grande Bblia, preferida pelos anglicanos, e a Bblia de Genebra, preferida pelos protestantes calvinistas. Em 1604, o rei James (Tiago) convocou uma conferncia para aceitar as diferenas de opinio sobre as verses da Bblia. 54 eruditos foram nomeados para providenciar, ento, uma traduo nova que fosse aprovada por todas as igrejas. O novo trabalho foi baseado num estudo dos manuscritos antigos hebraico e grego, bem como em muitas das tradues posteriores. Foi dada ateno beleza da lngua inglesa e a Bblia King James (1611) foi usada por mais de 300 anos e ainda tida como um exemplar especial de literatura inglesa. Eruditos judeus, bem como catlicos, reconheceram a excelncia da verso.
Edies recentes A verso inglesa revista foi aprovada em 1870 e foi publicada nos anos de 1881-1885. Novos manuscritos tm sido descobertos e os antigos foram melhor compreendidos. O texto estava mais esclarecido, mas o povo ficou desapontado em notar que muitas frases familiares foram abandonadas e palavras mudadas. Outros se sentiram frustrados porque no encontraram mudanas maiores no ingls. Eruditos americanos foram convidados a participar no trabalho da verso inglesa revista. Em 1901, depois de sancionar por 14 anos a edio inglesa revista, a comisso americana preparou uma edio que continha suas preferncias. A palavra "Jehovah" foi substituda por "Senhor" ou "Deus", e a palavra "amor" por "caridade". A verso americana tornou-se conhecida como a verso americana padro (American Standard Version). Esta verso no contm a beleza da verso autorizada ou as expresses modernas das verses recentes, mas a sua clareza se recomenda aos mestres e aos estudantes. O Conclio Internacional de Educao Religiosa autorizou uma comisso para proceder a outra reviso. Esta verso deveria reunir os melhores resultados da erudio moderna e expressar a Escritura na dico inglesa designada para uso em culto pblico e privado. O N.T. foi publicado em 1946 e o V.T. foi completado em 1952. A reviso feita por eruditos americanos estava baseada nas verses de 1611 e 1901. A nova verso tem sido criticada, por obscurecer as passagens tradicionais messinicas. Chama-se Verso Revista Padro (Revised Standard Version). A Assemblia Geral da Igreja da Esccia consultou a Igreja da Inglaterra e as principais igrejas livres a respeito de uma reviso da verso inglesa revista. A verso revista padro feita pelos americanos usou um bom ingls literrio, reconhecido de ambos os lados do Atlntico. Todavia, no reteve a idia de Cambridge de se prestar ateno meticulosa clareza verbal e traduzir to literalmente quanto possvel, sem violncia positiva ao uso do ingls. As igrejas britnicas comearam a reviso da verso inglesa revista em 1947, a fim de preparar uma traduo nova da Bblia em ingls moderno. A Nova Bblia Inglesa (New English Bble), publicada em 1961 e 1970, continua longamente estabelecida segundo a tradio das verses inglesas mais antigas. genuinamente inglesa na lngua, evitando arcasmos e modernismos passageiros, e bastante clara para ser entendida por um povo razoavelmente intelectual. A verso americana padro tem sido revista e publicada pela Fundao Locman sob o ttulo Nova Bblia Americana Padro (New American Standard Bible). O prefcio declara que se props manter a traduo to fiel quanto possvel lngua original das Sagradas Escrituras e faz-la fluente e legvel de acordo com o uso corrente do ingls.
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Essa sociedade de Londres, reconhecendo a inconvenincia e a despesa de fazer imprimir a Palavra de Deus na Europa para uso de propaganda na sia, resolveu estabelecer uma oficina tipogrfica em Tranquebar, encarregando-se os missionrios dinamarqueses da direo da mesma. Deus estava certamente cuidando da impresso da Bblia portuguesa, porque no transporte do material houve uma evidncia de sua interveno. O material da tipografia foi embarcado em um navio da Companhia Holandesa, para ser transportado ao seu destino. sada do Rio de Janeiro, onde arribara, foi este navio apossado pela esquadra francesa, que se apoderou de todo o carregamento, voltando o navio ao poder da companhia armadora a troco de avultado resgate. Por circunstncias absolutamente inexplicveis e que muitos tiveram por miraculosas, os volumes que continham o material tipogrfico foram encontrados intactos no fundo do poro, e no mesmo navio continuaram a viagem para Tranquebar. Com a chegada do material, alguns dos missionrios se ocuparam na traduo da Bblia e publicaram periodicamente diversas partes das Escrituras. Pela interveno amigvel de Theodoro van Cloon, um oficial holands da Batvia, receberam eles os originais (Gn.Ez.48:21) de Almeida em 1731. Quando o Sr. Cloon foi nomeado governador de Negapato, interessou-se na obra da traduo pelos missionrios holandeses e prometeu mandar-lhes a verso de Almeida to logo que chegasse Batvia para ocupar o seu novo cargo, o que efetivamente fez no ano seguinte. Com os manuscritos, ele mandou a quantia de oitocentos escudos para ajudar nas despesas da impresso. Ao ouvir que existiam os manuscritos de Almeida, os missionrios apressaram-se em traduzir os profetas menores para que pudessem publicar a Bblia completa: porm, ao receber os originais, repararam que a reviso do mesmo seria muito demorada, razo por que publicaram os Profetas Menores s em 1732. Saiu esta obra, em Tranquebar, com este ttulo: "Os Doze Profetas Menores, convm saber: Osias, Joel, Ams, Jonas, Miquias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias. Com toda diligncia traduzidos na lngua portuguesa pelos padres missionrios da Tranquebar, na oficina da Real Misso Dinamarquesa. Ano de 1732." Foram publicados os demais livros do Velho Testamento na seguinte ordem: os livros histricos Josu e Ester em 1738, revistos de acordo com o texto original pelos missionrios holandeses de Tranquebar. Em 1740, saram os Salmos, revistos e conferidos com os livros histricos de 1738. Quatro anos depois, foram publicados os livros dogmticos J a Cantares de Salomo. Em 1751, saram os quatro profetas maiores Isaas a Daniel. Os trs primeiros, por Almeida, e o quarto, por Cristvo Theodsio Walter. Com a publicao dos profetas maiores deu-se por terminada a primeira impresso do Velho Testamento na lngua portuguesa. Porm o Pentateuco de Joo Ferreira de Almeida ficara por imprimir, o que se fez em 1757. A primeira edio completa do Velho Testamento, segundo a verso de Joo Ferreira de Almeida, saiu na cidade de Batvia, no perodo de 1743-53, em dois volumes. Os livros de Gnesis a Ester compunham o primeiro volume, que foi publicado em 1748. Em 1753, saiu o segundo, com os livros de J a Malaquias. Estes dois volumes tm todas as pginas numeradas e, depois da do ttulo, vem uma folha, dizendo: "Esta primeira impresso do V.T. sai luz s custas da Ilustre Companhia Holandesa da ndia Oriental, por mandado do Ilmo. Sr. Gustavo Guilherme, Baro d'Imhoff, Governador-Geral, e dos Nobilssimos Srs. Conselheiros da ndia..." Deste trabalho escreve o Dr. Tefilo Braga: " esta traduo o maior e mais importante documento para se estudar o estado da lngua portuguesa no sculo XVII: o Padre Joo Ferreira de Almeida, pregador do evangelho em Batvia, pela sua longa residncia no estrangeiro, escapou inclume retrica dos seiscentistas; a sua origem popular e a sua comunicao com o povo levaram-no a empregar formas vulgares, que nenhum escritor cultista do seu tempo ousaria escrever. Muitas vezes o esquecimento das palavras usuais portuguesas leva-o a recordarse de termos equivalentes, e esta uma das causas da riqueza do seu vocabulrio. Alm disto, a traduo completa da Bblia presta-se a um severo estudo comparativo com s tradues do sculo XVI e com a traduo do Padre Figueiredo do sculo XVIII. um magnfico monumento literrio" Para o fim do sculo XVIII e princpio do XIX, a coroa britnica incorporou Tranquebar aos seus domnios, e o idioma portugus foi gradualmente abandonado como a lngua comercial, e conseqentemente banido do uso das igrejas reformadas. Porm, a divina providncia estava preparando outro meio para a evangelizao das terras do velho Portugal, que, at ento mergulhado nas densas trevas da superstio romana, experimentou uma renascena. Isto veio por uma srie de acontecimentos. Pela opresso poltica, umas pessoas refugiaram-se em Plymouth e em outras cidades da Inglaterra. O territrio nacional foi ocupado por tropas inglesas e o exrcito lusitano organizado segundo o gnio disciplinador ingls; as relaes comerciais e polticas foram estreitadas com a Gr-Bretanha, e propagou-se rapidamente por todo o reino o sentimento de tolerncia religiosa. Isso, com as facilidades de comunicao com as ilhas e colnias portuguesas, induziu a Sociedade Bblica Britnica a publicar uma edio do Novo Testamento em portugus da verso de Joo Ferreira de Almeida em 1809. Desde ento, esta sociedade tem publicado muitas edies, e, sob a mo de Deus, tem sido usada maravilhosamente para a disseminao da Bblia em portugus.
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Em 1819, a Bblia completa de Joo Ferreira de Almeida foi publicada em um s volume pela primeira vez, com este ttulo: "A Bblia Sagrada, contendo o Novo e o Velho Testamento, traduzido em portugus pelo Padre Joo Ferreira de Almeida, ministro pregador do Santo Evangelho em Baviera Londres, nas oficinas de R. e A. Taylor, 1819 8 gr. De IV 884 pp., a que se segue, com rosto e numerao o Novo Testamento, contendo IV 279 pginas." Sob os auspcios da Sociedade Britnica, a Bblia de Almeida foi revista e conferida com os textos originais, em 1894, para melhorar a ortografia e corrigir os erros bvios. A Bblia por Joo Ferreira de Almeida que existe atualmente no realmente dele por causa das diversas correes e verses por que tem passado; entretanto, o texto original era dele e as modificaes foram feitas devido s exigncias da lngua e luz dos textos originais, e, sendo o primeiro a dar ao protestantismo portugus as sagradas letras, digno de ser reconhecido como o autor da Bblia que tem o seu nome.
A Verso de Figueiredo Durante o tempo do Papa Benedito XIV, por um decreto da Congregao Do Index, de 13 de Julho de 1757, a Bblia foi reconhecida como til para robustecer a f dos crentes pelas cerebrinas anotaes. Esta nova atitude da Igreja Catlica Romana deu um impulso traduo da Bblia, tomando-se a Vulgata como base. Entre os redatores mais fervorosos est Antnio Ferreira de Figueiredo, nascido em Tomar, perto de Lisboa, em 1725, que se tornou um padre secular, e morreu num convento em Lisboa, em 1797, onde tinha estado por doze anos. Afamado como latinista, historiador e, sobretudo, como telogo com idias liberais, ele estava habilitado para a tarefa da traduo. A sua verso da Bblia foi feita da Vulgata, com referncias aos textos gregos originais. Por dezoito anos ele se ocupou com esta obra, a qual foi submetida a duas revises cuidadosas antes de ser publicada. A primeira edio saiu em 1778 pelo Novo Testamento, em seis volumes, de cerca de 400 pginas, com este ttulo: "O Novo Testamento de Jesus Cristo, traduzido em Portugus segundo a Vulgata, com vrias anotaes, dogmticas e morais, e apontadas as diferenas mais notveis do original grego. Por Antnio Pereira de Figueiredo, deputado ordinrio da Real Mesa Censria." Em 1782, foi publicada a traduo do Saltrio, com uma nota assinada pelo tradutor, que se acha no fim do segundo volume, dando a data em que ele comeou a obra, nestas palavras: "Comecei a traduo do Saltrio a 22 de Outubro de 1779 e acabei-a a 12 de Janeiro de 1780. Seja Deus Bendito para sempre." O Velho Testamento de Figueiredo foi publicado em dezessete tomos seguidamente desde 1783 a 1790, com o seguinte ttulo: "Testamento Velho, traduzido em portugus, segundo a Vulgata latina, ilustrado de prefaes, notas e lies variantes. Por Antnio Pereira de Figueiredo, deputado ordinrio da Real Mesa Censria. Contm, este Velho Testamento, alm dos livros cannicos, geralmente recebidos, todos os livros apcrifos, de que foi esta a primeira impresso regular em lngua portuguesa. Cada livro precedido de uma prefao, em que o talento e a erudio do autor se manifestam a cada passo." A edio de sete volumes, completada em 1819, considerada o padro das verses de Figueiredo e inclui uma prefao importante. O primeiro volume traz o retrato de D. Joo, prncipe do Brasil, que se tornou D. Joo VI, rei de Portugal, em 1799. Eis o seu ttulo: "A Bblia Sagrada, traduzida em portugus segundo a Vulgata latina. Ilustrada com prefaes, notas, lies variantes. Dedicada ao prncipe Nosso Senhor, por Antnio Pereira de Figueiredo, deputado da Real Mesa da Comisso Geral sobre o exame e censura dos livros. Edio nova, pelo texto latino que se ajuntou e pelos muitos lugares que vo retocados na traduo e notas" A Bblia de Figueiredo em um s volume foi publicada pela primeira vez em 1821, com o seguinte ttulo: "A Santa Bblia, contendo o Velho e o Novo Testamento. Traduzidos em portugus pelo Padre Antnio Pereira de Figueiredo Londres: impresso na oficina de Bensley, em Bolt-Coult, Fleet-Street, 1821." H duas coisas notveis na edio de 1828, que foi preparada por Bagster, o grande editor ingls de Bblias, a saber: ela no contm os livros Apcrifos e foi aprovada em 1842 pela rainha D. Maria II, com a consulta do patriarca arcebispo eleito de Lisboa. Em 1840, uma cpia desta Bblia foi oferecida ao governador de Terceira, uma ilha dos Aores, pelo vicecnsul britnico, em nome da Sociedade Bblica Britnica, junto com um pedido para uma licena de distribuir cpias similares a esta ntre os pobres. Este pedido foi transmitido ao governo central em Lisboa, conseqentemente uma ordem real foi obtida para os oficiais da alfndega do porto de Angra do Herosmo, para deixar entrar, livre de impostos, a remessa das Bblias, e que, antes de distribu-las, um exemplar fosse enviado a Lisboa para um exame oficial. Conforme esta ordem, uma cpia da Bblia foi remetida a Lisboa em 1842, a qual foi submetida ao patriarca arcebispo eleito de Lisboa, Francisco de S. Luiz (mais tarde Cardeal Saraiva), que deu um parecer favorvel sobre o livro, como o resultado que em Outubro do mesmo ano uma ordem real foi enviada Terceira, exprimindo a aprovao do livro pela rainha de Portugal, baseada sobre a sano do patriarca e licenciado a distribuio gratuita, que se tornou efetiva antes do fim do mesmo ano com o auxlio dos oficiais e
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para a satisfao geral da populao. A distribuio foi feita aos professores de instruo primria e secundria, uma para cada professor e duas para dois dos seus educandos dos mais pobres. Um apelo foi feito ao vice-cnsul britnico para que ele empregasse os seus esforos para que fosse entregue mais uma remessa de Bblias. Devido a esta ordem real, a sociedade Bblica Britnica tem publicado no frontispcio da Bblia de Figueiredo, desde 1890, estas palavras: "Da edio aprovada em 1842 pela rainha D. Maria II, com a consulta do patriarca arcebispo eleito de Lisboa". Esta frase se encontra nas edies atuais.
A Edio Brasileira Em 1879, uma edio do N.T. foi publicada pela sociedade de Literatura Religiosa e Moral do Rio de Janeiro, que foi anunciada como "A Primeira Edio Brasileira". , contudo, uma verso de Almeida revista pelos sehores Dr. Jos Manoel Garcia, lente do Colgio D. Pedro II, Rev. M.P.B. de Carvalhosa, ministro do evangelho em Campos, e Rev. A L. Blackford, ministro do evangelho no Rio de Janeiro e o primeiro agente da Sociedade Bblica Americana no Brasil. As sociedades bblicas empenhadas na disseminao da Bblia no Brasil reuniram-se, em 1902, para nomear uma comisso para traduzir os textos hebraico e grego em portugus. A comisso tradutora foi composta de trs estrangeiros, missionrios de diversas juntas operando no Brasil, e diversos brasileiros, os quais foram: Dr. W.C. Brown, da Igreja Episcopal; J.R. Smith, da Igreja Presbiteriana Americana (Igreja do Sul); J.M. Kyle, da Igreja Presbiteriana (Igreja do Norte); A.B. Trajano, Eduardo Carlos Pereira e Hiplito de Oliveira Campos. Estes foram auxiliados na sua tarefa por diversos pregadores e leigos das igrejas evanglicas e alguns educadores eminentes do Brasil. Alm do texto grego e de todas as verses portuguesas existentes, a comisso tinha ao seu dispor muitos comentrios e obras crticas que contm os mais novos e mais teis resultados da investigao e estudo moderno do N.T. que em 1904 eram publicadas e, depois de alguma critica e reviso, o Evangelho Segundo Mateus saiu em 1905. Os Evangelhos e o livro dos Atos dos Apstolos foram publicados em 1906, e o N.T. completo, em 1910. A Bblia inteira apareceu em 1917. A Edio Revista e Atualizada da Sociedade Bblica do Brasil teve por base a edio de Joo Ferreira de Almeida (1940). Foi esta que a Comisso Revisora estudou e repassou, com certo reajuste vocabular quanto aos originais e atualizao da linguagem. A Comisso composta de hebrastas e helenistas competentes, e de vernaculistas e seu relator, durante alguns anos processou a obra zelosamente, com vistas na realidade que se impunha: falar a linguagem de hoje, portugus mais nosso do Brasil, j mui diferente do de Portugal, e, por isso mesmo, esperado ao livro por excelncia a Bblia de considervel divulgao em nosso pas. O secretrio da Comisso Revisora foi o Rev. Antnio Campos Gonalves, que, ao lado de seus nobres colegas, redigiu o texto de toda a Bblia.
A Traduo Revisada da Imprensa Bblia Brasileira Na primeira reunio da Imprensa Bblica Brasileira, em 2 de Julho de 1940, a primeira deciso tomada foi de iniciar imediatamente a impresso da Bblia no Brasil. A segunda deciso foi a de iniciar a reviso do texto da traduo de Almeida. Comisses foram nomeadas para iniciar os trabalhos e foi eleito presidente da comisso revisora o Dr. S. L. Watson, diretor do Colgio e Seminrio Batista do Rio de Janeiro, em 1917-18 e 1935-36; diretor do Seminrio Teolgico Batista do Recife, em 1941, diretor da Casa Publicadora Batista, vrias vezes, professor e autoridade na lngua hebraica. O Pastor Manoel Avelino de Souza, o Dr. W. E. Allen, professor de Grego no Semnrio Batista do Sul do Brasil, o Dr. A. R. Crabtree, professor de hebraico, e outros fizeram parte dessas comisses. J havia muitos anos, sentia-se a necessidade de uma reviso na traduo de Almeida. As modificaes naturais do sentido de certas palavras atravs de muitos anos, e, especialmente, o progresso nos estudos do texto grego exigiam modificaes no texto antigo, que tanto havia servido ao povo do idioma portugus. O primeiro resultado do trabalho da comisso apareceu em A Harmonia dos Evangelhos de Watson e Allen, sendo impresso em 1942, com o texto revisado. Um trabalho desta natureza, que implica em tanta responsabilidade, no pode ser feito com pressa. E, assim, os anos passaram com a comisso continuando suas pesquisas, seus estudos, e a reviso prosseguindo com firmeza. A comisso usou os melhores textos gregos pois tm havido milhares de descobertos e grande progresso no estudo crtico desde os dias de Erasmo. Pois a velha traduo de Almeida, na parte do N.T., foi do Textus Receptus, N.T. grego compilado por Erasmo e publicado em 1516, baseado em manuscritos gregos eivados de modificaes, acrscimos e omisses, dependendo da capacidade e do zelo dos copistas daqueles dias. A tendncia de muitos copistas era sempre "melhorar" ou '"revisar" o texto, como muitas "comisses da redao" revisam o texto de estatutos de nossas organizaes hoje em dia. O resultado do zelo destes copistas B I B L I O L O G I A p .44
geralmente foi acrescentar ao texto original uma palavra ou expresso, quando o copista achava por bem harmonizar os textos ou s vezes, e isto raramente, omitir. Outro princpio bsico da reviso da Imprensa Bblica Brasileira o de modificar o mnimo possvel a traduo antiga. Modificaes foram introduzidas somente quando necessrias. A grande comisso de Jesus em Mateus 28:18-20 serve de exemplo. A antiga Almeida diz: "Portanto, ide, ensinai todas as naes, batizando-as em nome do Pai, e do Filho e do Esprito Santo: ensinando-as a guardar..." A reviso diz, com preciso, o que modifica realmente o sentido da expresso, "Portanto, ide, fazei discpulos de todas as naes, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Esprito Santo, ensinando-os..." Como resolver o problema das modificaes textuais quando se deve omitir expresso tradicional? A Imprensa Bblica Brasileira concluiu pelo uso de colchetes para indicar aquelas palavras ou expresses, e a nota ainda na margem, do fato. O ideal ser o texto limpo, sem colchetes, como est na Bblia de Plpito, publicada em 1968, e, naturalmente, chegar o dia quando isto ser possvel para todas as edies. Contudo, por enquanto h muitos que no conhecem os problemas envolvidos numa reviso das Escrituras e no entendem o significado de um acrscimo ao texto. Eles recordam a advertncia de Joo em Apocalipse 22:19, mas esquecem a advertncia do versculo 18. No se pode tirar qualquer palavra da Bblia, mas no se pode acrescentar tambm. preciso confiar nos homens de Deus que tm estudado com tanta dedicao e tanto amor as questes do texto, para que a Palavra de Deus fosse impressa na sua pureza. A Imprensa Bblica Brasileira tinha pronta sua reviso do N.T. em 1949, a qual apareceu em edio especial naquele ano. Essa edio mereceu a consulta de outros, como subsdio para ajudar no trabalho da "Edio Revista e Atualizada no Brasil" da Sociedade Bblica do Brasil. A reviso do V.T. foi muito mais difcil e mais rdua. O texto hebraico era mais difcil, e h trs vezes o volume em pginas. No entanto, o trabalho foi terminado em 1960, justamente na ocasio quando a Sociedade Bblica do Brasil estava lanando a sua reviso. A Imprensa Bblica Brasileira achou que no ficaria muito bem aparecerem as duas revises na mesma ocasio, e resolveu ento aguardar alguns anos. Passados vrios anos desde o aparecimento daquela edio revista e alualizada, a Imprensa Bblica Brasileira julgou oportuno lanar a sua reviso, fruto de 20 anos de trabalho dedicado e cuidadoso. Em 1968, foi publicada a reviso da Imprensa Bblica Brasileira em forma de Bblia de Plpito. No princpio de 1972, apareceu a traduo de Almeida em reviso da Imprensa Bblica Brasileira no formato popular. Esperamos que venha ajudar a todos os crentes a compreenderem melhor a Palavra de Deus, a ser instrumento do Esprito Santo para a edificao dos santos e o crescimento do Reino de Deus na terra.
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ANEXOS
IN: http://www.monergismo.com/textos/credos/declaracao_chicago.htm. Retirado do apndice do livro O ALICERCE DA AUTORIDADE BBLICA, de James Montgomery Boice, p. 183 a 196. Edies Vida Nova. Edio: 1989; Reimpresso: 1997.
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Qualquer pessoa que veja razes, luz das Escrituras, para fazer emendas s afirmaes desta Declarao sobre as prprias Escrituras (sob cuja autoridade infalvel estamos, enquanto falamos), convidada a faz-lo. No reivindicamos qualquer infalibilidade pessoal para o testemunho que damos, e seremos gratos por qualquer ajuda que nos possibilite fortalecer este testemunho acerca da Palavra de Deus.
A COMISSO DE REDAO
Uma Breve Declarao
Deus, sendo Ele Prprio a Verdade e falando somente a verdade, inspirou as Sagradas Escrituras a fim de, desse modo, revelar-Se humanidade perdida, atravs de Jesus Cristo, como Criador e Senhor, Redentor e Juiz. As Escrituras Sagradas so o testemunho de Deus sobre Si mesmo. As Escrituras Sagradas, sendo apropria Palavra de Deus, escritas por homens preparados e supervisionados por Seu Esprito, possuem autoridade divina infalvel em todos os assuntos que abordam: devem ser cridas, como instruo divina, em tudo o que afirmam; obedecidas, como mandamento divino, em tudo o que determinam; aceitas, como penhor divino, em tudo que prometem. O Esprito Santo, seu divino Autor, ao mesmo tempo no-las confirma atravs de Seu testemunho interior e abre nossas mentes para compreender seu significado. Tendo sido na sua totalidade e verbalmente dadas por Deus, as Escrituras no possuem erro ou falha em tudo o que ensinam, quer naquilo que afirmam a respeito dos atos de Deus na criao e dos acontecimentos da histria mundial, quer na sua prpria origem literria sob a direo de Deus, quer no testemunho que do sobre a graa salvadora de Deus na vida das pessoas. A autoridade das Escrituras fica inevitavelmente prejudicada, caso essa inerrncia divina absoluta seja de alguma forma limitada ou desconsiderada, ou caso dependa de um ponto de vista acerca da verdade que seja contrrio ao prprio ponto de vista da Bblia; e tais desvios provocam srias perdas tanto para o indivduo quanto para a Igreja.
Artigo II.
Afirmamos que as Sagradas Escrituras so a suprema norma escrita, pela qual Deus compele a conscincia, e que a autoridade da Igreja est subordinada das Escrituras. Negamos que os credos, conclios ou declaraes doutrinrias da Igreja tenham uma autoridade igual ou maior do que a autoridade da Bblia.
Artigo III.
Afirmamos que a Palavra escrita , em sua totalidade, revelao dada por Deus. Negamos que a Bblia seja um mero testemunho a respeito da revelao, ou que somente se torne revelao mediante encontro, ou que dependa das reaes dos homens para ter validade.
Artigo IV
Afirmamos que Deus, que fez a humanidade Sua imagem, utilizou a linguagem como um meio de revelao. Negamos que a linguagem humana seja limitada pela condio de sermos criaturas, a tal ponto que se apresente imprpria como veculo de revelao divina. Negamos ainda mais que a corrupo, atravs do pecado, da cultura e linguagem humanas tenha impedido a obra divina de inspirao.
Artigo V
Afirmamos que a revelao de Deus dentro das Sagradas Escrituras foi progressiva. Negamos que revelaes posteriores, que podem completar revelaes mais antigas, tenham alguma vez corrigido ou contrariado tais revelaes. Negamos ainda mais que qualquer revelao normativa tenha sido dada desde o trmino dos escritos do Novo Testamento.
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Artigo VI
Afirmamos que a totalidade das Escrituras e todas as suas partes, chegando s prprias palavras do original, foram por inspirao divina. Negamos que se possa corretamente falar de inspirao das Escrituras, alcanando-se o todo mas no as partes, ou algumas partes mas no o todo.
Artigo VII
Afirmamos que a inspirao foi a obra em que Deus, por Seu Esprito, atravs de escritores humanos, nos deus Sua palavra. A origem das Escrituras divina. O modo como se deu a inspirao permanece em grande parte um mistrio para ns. Negamos que se possa reduzir a inspirao capacidade intuitiva do homem, ou a qualquer tipo de nveis superiores de conscincia.
Artigo VIII
Afirmamos que Deus, em Sua obra de inspirao, empregou as diferentes personalidades e estilos literrios dos escritores que Ele escolheu e preparou. Negamos que Deus, ao fazer esses escritores usarem as prprias palavras que Ele escolheu, tenha passado por cima de suas personalidades.
Artigo IX
Afirmamos que a inspirao, embora no outorgando oniscincia, garantiu uma expresso verdadeira e fidedigna em todas as questes sobre as quais os autores bblicos foram levados a falar e a escrever. Negamos que a finitude ou a condio cada desses escritores tenha, direta ou indiretamente, introduzido distoro ou falsidade na Palavra de Deus.
Artigo X
Afirmamos que, estritamente falando, a inspirao diz respeito somente ao texto autogrfico das Escrituras, o qual, pela providncia de Deus, pode-se determinar com grande exatido a partir de manuscritos disponveis. Afirmamos ainda mais que as cpias e tradues das Escrituras so a Palavra de Deus na medida em que fielmente representam o original. Negamos que qualquer aspecto essencial da f crist seja afetado pela falta dos autgrafos. Negamos ainda mais que essa falta torne invlida ou irrelevante a afirmao da inerrncia da Bblia.
Artigo XI
Afirmamos que as Escrituras, tendo sido dadas por inspirao divina, so infalveis, de modo que, longe de nos desorientar, so verdadeiras e confiveis em todas as questes de que tratam. Negamos que seja possvel a Bblia ser, ao mesmo tempo infalvel e errnea em suas afirmaes. Infalibilidade e inerrncia podem ser distinguidas, mas no separadas.
Artigo XII
Afirmamos que, em sua totalidade, as Escrituras so inerrantes, estando isentas de toda falsidade, fraude ou engano. Negamos que a infalibilidade e a inerrncia da Bblia estejam limitadas a assuntos espirituais, religiosos ou redentores, no alcanando informaes de natureza histrica e cientfica. Negamos ainda mais que hipteses cientficas acerca da histria da terra possam ser corretamente empregadas para desmentir o ensino das Escrituras a respeito da criao e do dilvio.
Artigo XIII
Afirmamos a propriedade do uso de inerrncia como um termo teolgico referente total veracidade das Escrituras. Negamos que seja correto avaliar as Escrituras de acordo com padres de verdade e erro estranhos ao uso ou propsito da Bblia. Negamos ainda mais que a inerrncia seja contestada por fenmenos bblicos, tais como uma falta de preciso tcnica contempornea, irregularidades de gramtica ou ortografia, descries da natureza feitas com base em observao, referncia a falsidades, uso de hiprbole e nmeros arredondados, disposio tpica do material, diferentes selees de material em relatos paralelos ou uso de citaes livres.
Artigo XIV
Afirmamos a unidade e a coerncia interna das Escrituras. Negamos que alegados erros e discrepncias que ainda no tenham sido solucionados invalidem as declaraes da Bblia quanto verdade.
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Artigo XV
Afirmamos que a doutrina da inerrncia est alicerada no ensino da Bblia acerca da inspirao. Negamos que o ensino de Jesus acerca das Escrituras possa ser desconhecido sob o argumento de adaptao ou de qualquer limitao natural decorrente de Sua humanidade.
Artigo XVI
Afirmamos que a doutrina da inerrncia tem sido parte integrante da f da Igreja ao longo de sua histria. Negamos que a inerrncia seja uma doutrina inventada pelo protestantismo escolstico ou que seja uma posio defendida como reao contra a alta crtica negativa.
Artigo XVII
Afirmamos que o Esprito Santo d testemunho acerca das Escrituras, assegurando aos crentes a veracidade da Palavra de Deus escrita. Negamos que esse testemunho do Esprito Santo opere isoladamente das Escrituras ou em oposio a elas.
Artigo XVIII
Afirmamos que o texto das Escrituras deve ser interpretado mediante exegese histrico-gramatical, levando em conta suas formas e recursos literrios, e que as Escrituras devem interpretar as Escrituras. Negamos a legitimidade de qualquer abordagem do texto ou de busca de fontes por trs do texto que conduzam a um revigoramento, desistorizao ou minimizao de seu ensino, ou a uma rejeio de suas afirmaes quanto autoria.
Artigo XIX
Afirmamos que uma confisso da autoridade, infalibilidade e inerrncia plenas das Escrituras vital para uma correta compreenso da totalidade da f crist. Afirmamos ainda mais que tal confisso deve conduzir a uma conformidade cada vez maior imagem de Cristo. Negamos que tal confisso seja necessria para a salvao. Contudo, negamos ainda mais que se possa rejeitar a inerrncia sem graves conseqncias, quer para o indivduo quer para a Igreja.
Explanao
Nossa compreenso da doutrina da inerrncia deve dar-se no contexto mais amplo dos ensinos das Escrituras sobre si mesma. Esta explanao apresenta uma descrio do esboo da doutrina, na qual se baseiam nossa breve declarao e os artigos.
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reveladas. Da por diante, a Igreja devia viver e conhecer a Deus atravs daquilo que Ele j havia dito, e dito para todas as pocas. No Sinai, Deus escreveu os termos de Sua aliana em tbuas de pedra, como Seu testemunho duradouro e para ser permanentemente acessvel, e ao longo do perodo de revelao proftica e apostlica levantou homens para escreverem as mensagens dadas a eles e atravs deles, junto com os registros que celebravam Seu envolvimento com Seu povo, alm de reflexes ticas sobre a vida em aliana e de formas de louvor e orao em que se pede a misericrdia da aliana. A realidade teolgica da inspirao na elaborao de documentos bblicos corresponde das profecias faladas: embora as personalidades dos escritores humanos se manifestassem naquilo que escreveram, as palavras foram divinamente dadas. Assim, aquilo que as Escrituras dizem, Deus diz; a autoridade das Escrituras a autoridade de Deus, pois Ele seu derradeiro Autor, tendo entregue as Escrituras atravs das mentes e palavras dos homens escolhidos e preparados, os quais, livre e fielmente, "falaram da parte de Deus movidos pelo Esprito Santo" (2 Pe 1.21). Deve-se reconhecer as Escrituras Sagradas como a Palavra de Deus em virtude de sua origem divina.
Semelhantemente, inerrante significa a qualidade de estar livre de toda falsidade ou engano e, dessa forma, salvaguarda a verdade de que as Santas Escrituras so totalmente verdicas e fidedignas em todas as suas afirmaes. Afirmamos que as Escrituras cannicas sempre devem ser interpretadas com base no fato de que so infalveis e inerrantes. No entanto, ao determinar o que o escritor ensinado por Deus est afirmando em cada passagem, temos de dedicar a mais cuidadosa ateno s afirmaes e ao carter do texto como sendo uma produo humana. Na inspirao Deus utilizou a cultura e os costumes do ambiente de seus escritores, um ambiente que Deus controla em Sua soberana providncia; interpretao errnea imaginar algo diferente. Assim, deve-se tratar histria como histria, poesia como poesia, e hiprbole e metfora como hiprbole e metfora, generalizao e aproximaes como aquilo que so, e assim por diante. Tambm se deve observar diferenas de prticas literrias entre os perodos bblicos e o nosso: visto que, por exemplo, naqueles dias, narrativas so cronolgicas e citaes imprecisas eram habituais e aceitveis e no violavam quaisquer expectativas, no devemos considerar tais coisas como falhas, quando as encontramos nos autores bblicos. Quando no se esperava nem se buscava algum tipo especfico de preciso absoluta, no constitui erro o fato de ela existir. As Escrituras so inerrantes no no sentido de serem totalmente precisas de acordo com os padres atuais, mas no sentido de que validam suas afirmaes e atingem a medida de verdade que seus autores buscaram alcanar. A veracidade das Escrituras no negada pela apario, no texto, de irregularidades gramaticais ou ortogrficas, de descries fenomenolgicas da natureza, de relatos de afirmaes falsas (por exemplo, as mentiras de Satans), ou as aparentes discrepncias entre uma passagem e outra. No certo jogar os chamados fenmenos das Escrituras contra o ensino da Escritura sobre si mesma. No se devem ignorar aparentes incoerncias. A soluo delas, onde se possa convincentemente alcan-las, estimular nossa f, e, onde no momento no houver uma soluo convincente disponvel, significativamente daremos honra a Deus, por confiar em Sua garantia de que Sua Palavra verdadeira, apesar das aparncias em contrrio, e por manter a confiana de que um dia se ver que elas eram enganos. Na medida em que toda a Escritura o produto de uma s mente divina, a interpretao tem de permanecer dentro dos limites da analogia das Escrituras e abster-se de hipteses que visam corrigir uma passagem bblica por meio de outra, seja em nome da revelao progressiva ou do entendimento imperfeito por parte do escritor inspirado. Embora as Sagradas Escrituras em lugar algum estejam limitadas pela cultura, no sentido de que seus ensinos carecem de validade universal, algumas vezes esto culturalmente condicionadas pelos hbitos e pelas idias aceitas de um perodo em particular, de modo que a aplicao de seus princpios, hoje em dia, requer um tipo diferente de ao (por exemplo, na questo do corte de cabelo e do penteado das mulheres, cf. 1 Co 11).
Ceticismo e Crtica
Desde a Renascena, e mais especificamente desde o Iluminismo, tm-se desenvolvido filosofias que envolvem o ceticismo diante das crenas crists bsicas. o caso do agnosticismo, que nega que Deus seja cognoscvel; do racionalismo, que nega que Ele seja incompreensvel; do idealismo, que nega que Ele seja transcendente; e do existencialismo, que nega a racionalidade de Seus relacionamentos conosco. Quanto esses princpios no bblicos e antibblicos infiltram-se nas teologias do homem a nvel das pressuposies, como freqentemente acontecem hoje em dia, a fiel interpretao das Sagradas Escrituras torna-se impossvel.
Transmisso e Traduo
Uma vez que em nenhum lugar Deus prometeu uma transmisso inerrante da Escritura, necessrio afirmar que somente o texto autogrfico dos documentos originais foi inspirado e manter a necessidade da crtica textual como meio de detectar quaisquer desvios que possam ter se infiltrado no texto durante o processo de sua transmisso. O veredicto dessa cincia , entretanto, que os textos hebraico e grego parecem estar surpreendentemente bem preservados, de modo que tempos amplo apoio para afirmar, junto com a Confisso de Westminster, uma providncia especial de Deus nessa questo e em declarar que de modo algum a autoridade das Escrituras corre perigo devido ao fato de que as cpias que possumos no esto totalmente livres de erros. Semelhantemente, traduo alguma perfeita, nem pode s-lo, e todas as tradues so um passo adicional de distanciamento dos autographa. Porm, o veredicto da lingstica que pelo menos os cristos de lngua inglesa esto muitssimo bem servidos na atualidade com uma infinidade de tradues excelentes e no tm motivo para hesitar em concluir que a Palavra verdadeira de Deus est ao seu alcance. Alis, em vista da freqente repetio, nas Escrituras, dos principais assuntos de que elas tratam e tambm em vista do constante testemunho do Esprito Santo a respeito da Palavra e atravs dela, nenhuma traduo sria das Santas Escrituras chegar a de tal forma destruir seu sentido, a ponto de tornar invivel que elas faam o seu leitor "sbio para a salvao pela f em Cristo Jesus" (2 Tm 3.15).
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Inerrncia e Autoridade
Ao confiarmos que a autoridade das Escrituras envolve a verdade total da Bblia, estamos conscientemente nos posicionando ao lado de Cristo e de Seus apstolos, alis, ao lado da Bblia inteira e da principal vertente da histria da igreja, desde os primeiros dias at bem recentemente. Estamos preocupados com a maneira casual, inadvertida e aparentemente impensada como uma crena de importncia e alcance to vastos foi por tantas pessoas abandonada em nossos dias. Tambm estamos cnscios de que uma grande e grave confuso resultado de parar de afirmar a total veracidade da Bblia, cuja autoridade as pessoas professam conhecer. O resultado de dar esse passo que a Bblia que Deus entregou perde sua autoridade e, no lugar disso, o que tem autoridade uma Bblia com o contedo reduzido de acordo com as exigncias do raciocnio crtico das pessoas, sendo que, a partir do momento em que a pessoa deu incio a essa reduo, esse contedo pode em princpio ser reduzido mais e mais. Isto significa que, no fundo, a razo independente possui atualmente a autoridade, em oposio ao ensino das Escrituras. Se isso no visto e se, por enquanto, ainda so sustentadas as doutrinas evanglicas fundamentais, as pessoas que negam a total veracidade das Escrituras podem reivindicar uma identidade com os evanglicos, ao mesmo tempo em que, metodologicamente, se afastaram da posio evanglica acerca do conhecimento para um subjetivismo instvel, e no acharo difcil ir ainda mais longe. Afirmamos que aquilo que as Escrituras dizem, Deus diz. Que Ele seja glorificado. Amm e amm.
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CNTICO EM GREGO (transliterao) kairet em Kirios Pantot, pantakos, pants Kairet, pantot, Kairet em Kirios 2 vezes 2 vezes
CNTICO EM HEBRAICO (transliterao) Aleluia! La olam Aleluia! Rachid colam Bemil arrat boded Hia alev mal biamon toda Hio ol anhru em c olam nifl Aleluia! In nachim Aleluia! Raion shemerim Aleluia! Hai shimalom Rai shimalom nifl Aleluia!
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