Alexandra Kollontai - O Comunismo e A Familia
Alexandra Kollontai - O Comunismo e A Familia
Alexandra Kollontai - O Comunismo e A Familia
O Comunismo e a Famlia
Alexandra Kollontai
1920
Escrito: 1920 Primeira Edio: in Komunistka, No. 2, 1920. Fonte: Editorial Marxista, Barc elona, 1937. Traduo de: Carlos Henrique. Trancrio: Aritz. Esta Edio: Marxists Internet Archive, ano 2002.
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consideram o marido como o "provedor" da famlia, como o nico sustento da vida, a essas mulheres que no compreendem que devem acostumar-se a buscar e a encontrar esse sustento em outro lugar, no na pessoa do homem, mas sim na pessoa da sociedade, do estado.
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A moral a servio do homem atual o autoriza exigir de las jvenes a virgindade at seu casamento legtimo. Porm, no obstante, h tribos em que ocorreo o contrrio: a mulher tem orgulho de ter tido muitos amantes e enfeita braos e pernas com braceletes que indicam o nmero... Diversos costumes, que a ns nos surpreendem, hbitos que podemos, inclusive, qualificar de imorais, outros povos o praticam, como a sano divina, enquanto que, por sua parte, qualificam de "pecaminosos" muitos de nossos costumes e leis. Portanto, no h nenhuma razo para que nos aterrorizemos diante do fato de que a famlia sofra uma mudana, porque gradualmente se descartem vestgios do passado vividos at agora, nem porque se implantam novas relaes entre o homem e a mulher. No temos mais que nos perguntar: "o que morreu em nossos velho sistema familiar e que relaes h entre o homem trabalhador e a mulher trabalhadora, entre o campones e a camponesa?" Quais de seus respectivos direitos e deveres se encaixam melhor nas condies de vida da nova Rssia? Tudo o que seja compatvel com o novo estado de coisas se manter; o restante, toda essa bagagem antiquada que herdamos da maldita poca de servido e dominao, que era a caracterstica dos latifundirios e capitalistas, tudo isso ter que ser varrido juntamente com a mesma classe exploradora, com esses inimigos do proletariado e dos pobres.
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Os costumes e a moral familiar se formam simultaneamente como consequencia das condies gerais da vida que rodeia a famlia. O que mais contribuiu para que se modificassem os costumes familiares de uma maneira radical foi, indiscutivelmente, a enorme expanso que adquiriu por toda parte o trabalho assalariado da mulher. Anteriormente, o homem era a nica possibilidade de sustento da famlia. Porm, desde os ltimos cinquenta ou sessenta anos, temos visto na Rssia (com anterioridade em outros pases) que o regime capitalista obriga as mulheres a buscar trabalho remunerado fora da famlia, fora de casa.
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Portanto, a mulher se esgota como consequncia dessa tripla e insuportvel carga que com frequencia expressa com gritos de dor e lgrimas. Os cuidados e as preocupaes sempre foram o destino da mulher; porm sua vida nunca foi mais desgraada, mais desesperada que sob o sistema capitalista, logo quando a indstria atravessa um perodo de mxima expanso.
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sustento nico da Alexandra Kollontai: O Comunismo e trabalhar, se converteu, famlia. A mulher, que vai nesse sentido, igual a seu marido. Fica todava, no obstante, a funo da famlia de criar e manter seus filhos enquanto so pequenos. Vejamos agora, na realidade, o que sobra dessa obrigao.
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avaliado em dinheiro. Porm no havia nenhum homem, fosse campons ou operrio, que no buscasse como companheira uma mulher com "mos de ouro", frase, todava, proverbial entre o povo. Porque s os recursos do homem, sem o trabalho domstico da mulher, no bastavam para manter o lar. No que diz respeito aos bens do estado, aos interesses da nao, coincidam com os do marido; quanto mais trabalhadora era a mulher no seio da famlia, mais produtos de todos tipos se produzia: telas, couros, l, cuso excedente podia ser vendido no mercado das redondezas; consequentemente, a dona de casa contribua para aumentar em seu conjunto a prosperidade econmica do pas.
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continuar com essa pesada carga? Na Rssia Sovitica, a vida da mulher trabalhadora deve estar rodeada das mesmas comodidades, a mesma limpreza, a mesma higiene, a mesma beleza que at agora constitua o ambiente das mulheres pertencentes s classes endinheiradas. Em uma sociedade comunista a mulher trabalhadora no ter que passar suas escassas horas de descanso na cozinha, porque nela existiram restaurantes pblicos e cozinhas centrais nos quais poder comer todo mundo. Est crescendo o nmero de estabelecimentos desse tipo em todos os pases, inclusive os capitalistas. Na realidade, se pode dizer que desde h meio sculo aumentam a cada dia em todas as cidades da Europa; crescem como cogumelos depois da chuva de outono. Porm, enquanto sob o sistema capitalista, somente pessoas com bolsas bem cheias podem permitir-se ao gosto de comer nos restaurantes, em uma cidade comunista estaro ao alcande de todo mundo. O mesmo se pode dizer da lavagem de roupa e demais trabalhos caseiros. A mulher trabalhadora no ter que se sufocar em um oceano de sujeira nem estragar a vista remendando e costurando a roupa noite. No ter mais que lev-la, cada semana, s lavanderias centrais para ir busc-la depois lavada. Desse modo, a mulher trabalhadora ter uma precopao a menos. A organizao de locais especiais para passar e remendar a roupa oferecero mulher trabalhadora a oportunidade de dedicar-se s noites a leituras instrutivas, a distraes saudveis, ao invs de pass-las como at agora em tarefas esgotantes. Por tanto, vemos que as quatro ltimas tarefas domsticas que todava pesam sobre a mulher de nossos tempos desaparecero com o triunfo do comunismo. No ter do que reclamar a mlher operria, porque a sociedade comunista haver acabado com o jugo domstido da mulher para fazer sua vida mais alegre, mais rica, mais livre e mais completa.
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Sob o sistema capitalista, a instruo dos filhos deixou de ser uma obrigao dos pais. O filho aprende na escola. E quando o filho entra na idade escolar, os pais respiram aliviados. Quando chega esse momento, o desenvolvimento intelectual da criana deixa de ser um assunto de sua incumbncia. No obstante, com isso no terminavam todas as obrigaes da famlia a respeito da criana. Todava subsistia a obrigao de alimentar o filho, calar-lhe, vestir-lhe, convert-lo em operrio direito e honesto para que, com o tempo, pude-se sobreviver por contra prpria e ajudar seus pais quando estes se tornassem velhos. Porm o mais comum era, no obstante, que a famlia operria no pudesse quase nunca cumprir inteiramente estas obrigaes relacionadas a seus filhos. O reduzido salrio de que depende a famlia operria no lhe permite nem se quer dar a seus filhos o suficiente para comer, enquanto que o excessivo trabalho que pesa sobre os pais lhes impede de dedicar educao da jovem gerao toda a ateno que exige essa tarefa. Se dava por certo que a famlia se ocupava da criao dos filhos. Porm, o fazia na realidade? Mais justo sera dizer que na rua onde se criam os filhos do proletariado. Os filhos da classe trabalhadora desconhecem as satisfaes da vida familiar, prazeres dos quais participamos ns com nossos pais. Porm, alm do mais, temos que levar em conta que a reduo dos salrios, a insegurana no trabalho e at a fome convertem, frequentemente, o garoto de 10 anos em um operrio independente. Desde este momento, to logo o filho (seja menino ou menina) comea a ganhar um salrio, se considera dono de sua pessoa at o ponto que as palavras e os conselhos de seus pais deixam de causar-lhe a menor impresso, quer dizer, se debilita a autoridade dos pais e termina a obedincia. A medida que vo desaparecendo um a um os trabalhos domsticos da famlia, todas as obrigaes de sustento e criao dos filhos so desempenhadas pela sociedade ao invs de pelos pais. Sob o sistema capitalista, os filhos eram, com demasiada frequncia, na famlia proletria, uma carga pesada e insustentvel.
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criar e manter seus filhos. J existem casas para as crianas em fase de amamentao, creches, jardins de infncia, colnias e lares para crianas, enfermaras e postos de sase para os doentes ou que precisam de cuidado especial, restaurantes, refeitrios gratuitos para os estudantes nas escolas, livros de estudo gratuitos, roupas e calado para as crianas dos estabelecimentos de ensino. Tudo isso no demonstra suficientemente que a criana sai do marco estreito da famlia, passando o peso de sua criao e educalao dos pais coletividade? Os cuidados dos pais a respeito dos filhos podem classificar-se em trs grupos: 1, cuidados que os filhos precisam imprescindivelmente nos primeiros tempos de sua vida; 2, os cuidados que exige a criao do filho, e 3, os cuidados que exige a educao do filho. No que diz respeito instruo dos filhos, em escolas primrias, institutos e universidades, j se converteu em uma obrigao do estado, inclusive na sociedade capitalista. Por outro lado, as ocupaes da classe trabalhadora, as condies de vida, obrigam, inclusive na sociedade capitalista, a criao de locais de juego, creches, asilos, etc. Quanto mais conscincia tenha a classe trabalhadora de seus direitos, quanto melhor estiverem organizados em qualquer estado especfico, tanto mais interesse ter a sociedade no problema de aliviar a famlia do cuidado dos filhos. Porm a sociedade burguesa tem medo de ir demasiado longe no que diz respeito a considerar os interesses da classe trabalhadora, e muito mais se contribui para a desintegrao da famlia. Os capitalistas se do conta, perfeitamente, de que o velho tipo de famlia, em que a esposa uma escrava e o homem o responsvel pelo sustento e bem-estar da famlia, de que uma famlia desse tipo a melhor arma para afogar os esforos do proletariado pela sua libertao, para debilitar o esprito revolucionrio do homem e da mulher proletrios. A preocupao pela qual pode passar a sua famlia priva o operrio de toda sua firmeza, lhe obriga a transigir com o capital.-Que nos faro os proletrios quando seus filhos tiverem fome? Contrariamente ao que acontece na sociedade capitalista que no foi capaz de transformar a educao da juventude em uma verdadeira funo social, em uma obrea do Estado, a Sociedade Comunista considerar como base real de suas leis e costumes, como a primeira pedra do novo edifcio, a educao social da gerao nascente. No ser a famlia do passado, mesquinha e estreita, com brigas entre
marxists.org//com_fam.htm 11/16
24/7/2010 No
Alexandra Kollontai: O Comunismo e estreita, com brigas entre ser a famlia do passado, mesquinha e os pais, com seus interesses exclusivistas para os filhos a que moldar o homem da sociedade de amanh.
O homem novo, de nossa nova sociedade, ser modelado pelas organizaes socialistas, jardins infantis, residncias,creches para as crianas, etc, e muitas outras instituies desse tipos nas que a criana passar a maior parte do dia e nas que educadores inteligentes o convertiro em um comunista consciente da magnitude dessa inviolvel divisa: solidariedade, camaradagem, ajuda mltua e devoo vida coletiva.
A sobrevivncia da me assegurada
Vemos agora, uma vez que no se precisa atender criao e educao dos filhos, que o que ficar das obrigaes da famlia com respeito a seus filhos, particularmente depois que haja sido aliviada da maior parte dos cuidados materiais que trazem consigo o nascimento de um filho, ou seja, excepo dos cuidados que exige um filho recm nascido quando todava necessita de ateno de sua me, enquanto aprende a andar, agarrando-se s roupas de sua me. Nisso tambm o Estado Comunista sai em auxlio da me trabalhadora. J no existir a me oprimida com um beb nos braos. O Estado dos Trabalhadores se encarregar da obrigao de assegurar a subsistncia a todas as mes, estejam ou no legitimamente casadas, desde que amamente seu filho; instalar por todas parte casas de maternidade, organizar em todas as cidades e em todos os povos creches e instituies semehantes para que a mulher possa ser til trabalhando para o Estado enquanto, ao mesmo tempo, cumpre suas funes de me.
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Esta a situao real cujas consequncias sofrem igualmente os pais e os filhos. Portanto, a Sociedade Comunista se aproximar do homem e da mulher proletrios para dizer-lhes:"Sois jovens e se amam". Todos tm o direito felicidade. Por isso devem viver vossa vida. No tenham medo do matrimnio, j no mais uma cadeia para o homem e a mulher da classe trabalhadora. E, sobretudo, no tenham medo, sendo jovens e saudveis, de dar a vosso pas novos operrios, novos cidados. A sociedade dos trabalhadores necessita de novas foras de trabalho; sada a chegada de cada recm-nascido ao mundo. To pouco temam pelo futuro de vosso filho; ele no conhecer a fome nem o frio. No ser desgraado, nem ficar abandonado a sua sorte como aconteca na sociedade capitalista. To pronto ele chegue ao mundo, o Estado dos trabalhadores, a Sociedade Comunista, assegurar ao filho e me alimentao e cuidados solcitos. A ptria comunista alimentar, criar e educar o filho. Porm essa ptria no tentar, de modo algum, arrancar o filho dos pais que queiram participar na educao de seus pequenos. A Sociedade Comunista tomar como todas as obrigaes da educao do filho, porm nunca despojar das alegrias paternais, das satisfaes maternais a aqueles que sejam capazes de apreciar e compreender essas alegrias. Se pode, portanto, chamar isso de destruio da famlia por violncia ou separao a fora da me e o filho?
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A mulher, na Sociedade Comunista, no depender de seu marido, seus robustos braos sero o que proporcionar a ela seu sustento. Se acabar com a incerteza sobre a sorte dos filhos. O Estado Comunista assumir todas essas responsabilidades. O matrimnio ficar purificado de todos seus elementos materiais, de todos os clculos de dinheiros que constituem a repugnante mancha da vida familiar de nosso tempo. O matrimio se transformar de agora em diante na unio sublime de duas almas que se amam, que se professem f mtua. Uma unio desse tipo promete a todo operrio, a toda operria, a mais completa felicidade, o mximo de satisfao que pode caber a criaturas consciente de si mesmas e da vida que a rodeia. Esta unio livre, forte no sentimento de camaradagem em que est inspirada, em vez de escravido conjugal do passado, o que a sociedade comunista de amanh oferecer a homens e mulheres. Uma vezes que tenham sido transformadas as condies de trabalho, uma vez que tenha-se aumentado a segurana material da mulher trabalhadora, uma que tenha desaparecido o matrimnio tal como consagrava a Igreja - isso , o chamado matrimnio indissolvel, que no fundo no era mais que uma mera fraude-, uma vez que esse matrimnio seja substitudo pela unio livre e honesta de homens e mulheres que se amam e so camaradas, haver comeado a desaparecer outra calamidade horrorosa que mancha a humanidade e cujo peso recai por inteiro sobre a fome da mulher trabalhadora: a prostituio.
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vizinho. No tenho nada a ver com eles." Desde agora, a me operria que tenha plena conscincia de sua funo social, se elevar ao extremo que chegar a no estabelecer diferenas "os teus e os meus"; ter que recordar sempre que de agora em diante no haverpa mais "nossos" filhos, mas sim os do Estado Comunista, um bem comum a todos os trabalhadores.
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Incio da pgina
marxists.org//com_fam.htm
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