1 Políticas de Saúde Da Mulher

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Saúde Sexual e Reprodutiva UFC

POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE DA


MULHER

Glauberto da Silva Quirino


Professor Adjunto do Departamento de Enfermagem (URCA)
Bolsista Pós-doutorado Júnior (CNPq/UFC)
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EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS PROGRAMAS E DAS POLÍTICAS


PÚBLICAS NA ÁREA DE SAÚDE DA MULHER NO BRASIL

  Política pública refere-se à intervenção estatal nas mais


diferentes dimensões da vida social. Trata-se da
imposição de uma racionalidade específica às várias
ordens de ação do Estado, um rearranjo de coisas,
setores e situações

  Programas referem-se às ações estratégicas em saúde

  As diferentes intervenções estatais sofrem influência dos


modelos econômico-sociais, organização da sociedade
civil e modelo liberal globalizado

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PROGRAMAS DE SAÚDE DA MULHER DA


DÉCADA DE 1970

 Crise financeira do Estado, decorrente do


modelo econômico altamente concentrador
de renda, baseado no endividamento externo
e prejuízos sociais
 Sistema de saúde caracterizado pelo enfoque
médico-hospitalar: prestação de serviços pela
rede privada subsidiada pelo poder público
 Programas de cunho curativista e
assistencialista

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PROGRAMAS DE SAÚDE DA MULHER DA


DÉCADA DE 1970

  Programa Nacional de Saúde Materno-Infantil


(PNSMI – 1974): redução da morbimortalidade
materna e perinatal com enfoque no processo
reprodutivo feminino e crianças menores de 5 anos.
Ações voltadas ao pré-natal, parto e puerpério
  ONU (1975-1985): Década da mulher
  Críticas: caráter vertical do programa e os
instrumentos de operacionalização requeria
informações e recursos inacessíveis às Secretarias
Estaduais de Saúde

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PROGRAMAS DE SAÚDE DA MULHER DA


DÉCADA DE 1970

  Os recursos humanos sem qualificação e a


qualidade variava conforme a classe social
  Rede oficial: assistenciais (sob jurisdição do poder
público) e sociais (órgãos diversos filantrópicos)
  Programas sociais das primeiras-damas
  A participação da enfermagem era limitada à
execução de atividades programadas
  Pesquisa em enfermagem (1978-1979): implantação
de cursos de mestrado no país

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PROGRAMAS DE SAÚDE DA MULHER NA


DÉCADA DE 1980

  Interrupção da recessão econômica e a conquista


de avanços no processo de democracia
  Reforma sanitária defendida pelos movimentos
sociais e sanitaristas e apresentada na VIII
Conferência Nacional de Saúde (março 1986)
  Criação do Sistema Único de Saúde (SUS)
  Visibilidade para as questões de discriminação e
problemas de saúde da mulher nas esferas pública
e privada

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PROGRAMAS DE SAÚDE DA MULHER NA


DÉCADA DE 1980

Plenária da 8ª Conferência
Nacional de Saúde
Sérgio Arouca (Presidente)
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PROGRAMAS DE SAÚDE DA MULHER NA


DÉCADA DE 1980

  As mulheres começam a discutir seus próprios


problemas por meio do movimento de mulheres
  Programa de Atenção Integral de Saúde da Mulher
(PAISM – 1984): desvincula a atenção à saúde da
mulher da saúde da criança. Ações de atenção à
saúde cardiovascular, câncer cérvico-uterino e
mamário, acidentes e causas externas, problemas
respiratórios e infectocontagiosos
  Ênfase nas doenças, parto e maternidade

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PROGRAMAS DE SAÚDE DA MULHER NA


DÉCADA DE 1980

  O PAISM é um exemplo de como a sociedade


organizada pode interferir nas diretrizes do poder
constituído, seja por meio da elaboração ou da
coordenação e controle de medidas adotadas
  Ampliação da cobertura das ações
  Ressente-se de profissionais para as ações,
dificuldade de acesso da população aos serviços e
de ações voltadas para a mulher trabalhadora,
com distúrbios mentais e situação de violência

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PROGRAMAS DE SAÚDE DA MULHER NA


DÉCADA DE 1980
  Conferência Internacional:
Tecnologia Apropriada para o
Nascimento (Fortaleza, OMS –
1985): estabeleceu a parturição
como processo fisiológico,
estimulou a autonomia e direito
ao acompanhante e propôs
várias recomendações para
menos intervenção e
medicalização (Programa
Maternidade Segura)

  V Encontro Internacional Mulher


e Saúde (Costa Rica – 1987):
constituição dos Comitês
Nacional e Estadual de
Mortalidade Materna

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PROGRAMAS DE SAÚDE DA MULHER NA


DÉCADA DE 1980

  Conferência: Iniciativa à
Maternidade Segura
(Quênia, OMS – 1987):
pacto pela redução da
mortalidade materna e
perinatal com redução de
até 50% das mortes
maternas até o ano 2000

  Lei do Exercício Profissional


(1986)

  Criação do curso de
doutorado em
Enfermagem (USP, 1982) Criação da Associação Brasileira de
Obstetrizes e Enfermeiros Obstetras
(1989)
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POLÍTICA DE SAÚDE DA MULHER NA DÉCADA


DE 1990

  Iniciativas públicas de intensificaram a partir do


movimento de mulheres, em particular, o enfrentamento
da violência de gênero

  Rede feminista de saúde e direitos reprodutivos (Rede


Saúde – 1991): formalização dos direitos garantidos em
lei
  Assembleia geral da Nações Unidas (1992): Resolução n.
19 sobre a violência contra a mulher

  Assembleia geral da Nações Unidas (1993): Resolução n.


48/104, Declaração sobre a Eliminação da Violência
contra a Mulher

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POLÍTICA DE SAÚDE DA MULHER NA DÉCADA


DE 1990

  Rede Nacional pela


Humanização do Parto e
Nascimento (ReHuNa – 1993):
defesa dos direitos da mulher
como cidadã e como sujeita
ativa da saúde reprodutiva

  Convenção de Belém do Pará


(1994): violência contra as
mulheres é qualquer ação ou
conduta baseada no gênero,
que cause morte, dano ou
sofrimento físico, sexual ou
psicológico à mulher, tanto no
âmbito do público como no
privado
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POLÍTICA DE SAÚDE DA MULHER NA DÉCADA


DE 1990

  Lei n. 8.930 de 06/09/94, inclui o estupro entre os


crimes hediondos, considerados inafiançáveis
  Lei n. 9.029 de 13/04/95, passou a considerar crime
a exigência de atestado de esterilização e de teste
de gravidez para efeitos de admissão e
permanência em emprego
  Conferência Internacional de População e
Desenvolvimento (CIPD, Cairo – 1994): aprovou
plano de ação de 20 anos (2015) e o planejamento
familiar deve estar ao alcance de todos

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POLÍTICA DE SAÚDE DA MULHER NA DÉCADA


DE 1990

  Direitos Reprodutivos e Sexuais


  Entendidos como ampliação dos direitos sociais, civis
e políticos que visam proteger a saúde e as
“escolhas” sexuais e reprodutivas das pessoas
  Conferência Internacional sobre População e
Desenvolvimento (Cairo, 1994) e Conferência Mundial
da Mulher (Pequim, 1995)

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POLÍTICA DE SAÚDE DA MULHER NA DÉCADA


DE 1990

Direitos Reprodutivos

  Garantia do direito ao pleno exercício da reprodução

  Pressupõe:

-  Decidir sobre a reprodução sem discriminação, coerção, violência


ou restrição de filhos e de intervalo entre os nascimentos

-  Ter acesso à informação e aos meios para o exercício saudável e


seguro da reprodução e da sexualidade

-  Ter controle sobre seu próprio corpo

-  Exercer a orientação sexual sem sofrer discriminações ou violência

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POLÍTICA DE SAÚDE DA MULHER NA DÉCADA


DE 1990

Direitos Sexuais
  Tem a ver com o direito à saúde que cada pessoa tem de
ver reconhecidos e respeitados o seu corpo, o seu desejo e
o seu direito de amar

  Encontra maior dificuldade de afirmação e


reconhecimento, haja vista as resistências em se admitir a
diversidade sexual, que engloba múltiplas expressões
legítimas da sexualidade
  Estreita associação com o conceito de Saúde Sexual:
reforço do ideal moral, do corpo e espírito sadio e da
medicalização da sexualidade como forma de controle

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POLÍTICA DE SAÚDE DA MULHER NA DÉCADA


DE 1990

 Lei n. 9.263 (1996): planejamento familiar


considerado um direito de todo cidadão e
dever do Estado
 Lei n. 9.455/97, a violência psicológica foi
tipificada dentre os crimes de tortura
 Ministério da Saúde (1998): medidas para a
redução da mortalidade materna e melhoria
da qualidade do atendimento ao pré-natal, ao
parto, a redução do número de cesarianas e
de violência contra a mulher

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POLÍTICA DE SAÚDE DA MULHER A PARTIR DA


DÉCADA DE 2000

  Programa de Humanização do
Pré-Natal e Nascimento (PHPN
– 2000): estabelece princípios
e diretrizes com determinantes
de organização e
funcionamento dos serviços
de saúde da mulher, na
perspectiva de gênero e de
humanização da assistência à
mulher

  Compromisso assumido pelo


Estado brasileiro para o
cumprimento da Declaração
do Milênio (ONU), firmado por
191 países, em setembro de
2000 19
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POLÍTICA DE SAÚDE DA MULHER A PARTIR DA


DÉCADA DE 2000

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POLÍTICA DE SAÚDE DA MULHER A PARTIR DA


DÉCADA DE 2000

 As metas propostas para atingir o objetivo


de melhorar a saúde materna consistem
em reduzir em três quartos (1990-2015) as
taxas de mortalidade materna e aumentar
o acesso universal à saúde reprodutiva
 O Brasil inseriu duas outras metas: promover
a rede do SUS a cobertura universal por
ações de saúde reprodutiva e reduzir o
crescimento da mortalidade por câncer de
mama e colo de útero

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POLÍTICA DE SAÚDE DA MULHER A PARTIR DA


DÉCADA DE 2000

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POLÍTICA DE SAÚDE DA MULHER A PARTIR DA


DÉCADA DE 2000

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POLÍTICA DE SAÚDE DA MULHER A PARTIR DA


DÉCADA DE 2000

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POLÍTICA DE SAÚDE DA MULHER A PARTIR DA


DÉCADA DE 2000

  A razão de morte materna global situa-se em torno de


210 mortes por 100 mil nascidos vivos

  Brasil, a meta para 2030 é reduzir a mortalidade materna


para aproximadamente 20 mortes para cada 100 mil
nascidos vivos, considerando a razão oficial de
mortalidade materna no Brasil para o ano de 2010

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POLÍTICA DE SAÚDE DA MULHER A PARTIR DA


DÉCADA DE 2000

  Lei n. 10.778 de novembro de 2003: estabeleceu a


notificação compulsória da violência contra as mulheres
que forem atendidas nos serviços de saúde

  Lei n. 10.886/04, reconheceu o tipo penal de “violência


doméstica” e Lei n. 11.340/06 (Maria da Penha)
  Ano da mulher em 2004
  Política Nacional de Humanização no SUS (2004):
documento Humaniza SUS, destinado a gestores e
trabalhadores do SUS

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POLÍTICA DE SAÚDE DA MULHER A PARTIR DA


DÉCADA DE 2000
  Política Nacional de Atenção
Integral à Saúde da Mulher
(2004): incorpora o enfoque de
gênero, integralidade,
promoção da saúde, direitos
sexuais e reprodutivos,
planejamento reprodutivo,
atenção ao abortamento,
combate à violência,
prevenção e tratamento de
mulheres com HIV/Aids,
portadoras de doenças crônicas
não transmissíveis e câncer
ginecológico. Ampliaram-se as
ações para mulheres rurais,
deficientes, negras, indígenas,
presidiárias e lésbicas

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OBJETIVOS GERAIS
 Promover a melhoria das condições de vida e
saúde das mulheres brasileiras, mediante a
garantia de direitos legalmente constituídos
 Contribuir para a redução da morbidade e
mortalidade feminina no Brasil, especialmente por
causas evitáveis, em todos os ciclos de vida e nos
diversos grupos populacionais, sem discriminação
de qualquer espécie
 Ampliar, qualificar e humanizar a atenção integral
à saúde da mulher no Sistema Único de Saúde

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PRINCÍPIOS

Integralidade

Promoção da Saúde

Humanização

Qualidade do Atendimento

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PRINCÍPIOS
Integralidade

-  Acolhimento
-  Escuta sensível
-  Valorização das influências de questões de
gênero, cor, classe social no processo saúde e
adoecimento das mulheres
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PRINCÍPIOS
Promoção da Saúde
Iniciativas de promoção à saúde (políticas/
programas) devem ser planejadas e executadas
de acordo com os seguintes princípios:

1- Concepção holística (saúde física, mental, social e


espiritual)
2- Intersetorialidade
3- Empoderamento
4- Participação Social
5- Equidade
6- Ações multiestratégicas
7- Sustentabilidade 31
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PRINCÍPIOS

Humanização Qualidade do Atendimento

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PRINCÍPIOS

Humanização Qualidade do Atendimento

Humanizar e qualificar a atenção em saúde é


aprender a compartilhar saberes e reconhecer
direitos. A atenção humanizada e de boa qualidade
implica no estabelecimento de relações entre sujeitos,
seres semelhantes, ainda que possam apresentar-se
muito distintos conforme suas condições sociais,
raciais, étnicas, culturais e de gênero. Implica em
promover informações às mulheres e possibilitar
escolhas conforme seu contexto de vida

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Como garantir os princípios “Humanização e


Qualidade da atenção”?
1- Acesso das mulheres aos 3 níveis de assistência
2- Definição da estrutura e organização da rede assistencial
3- Captação precoce e busca ativa das usuárias
4- Disponibilidade de recursos tecnológicos e uso apropriado
5- Capacitação técnica dos profissionais de saúde e funcionários dos serviços

6- Disponibilidade de insumos, equipamentos e materiais educativos


7- Acolhimento amigável em todos os níveis da assistência
8- Disponibilidade de informações e orientação da clientela
9- Estabelecimento de mecanismos de avaliação continuada dos serviços

10- Estabelecimento de mecanismos de acompanhamento, controle e


avaliação das ações de saúde
11- Análise de indicadores que permitam aos gestores monitorar o andamento
das ações, o impacto sobre os problemas tratados 34
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DIRETRIZES
1 O SUS deve estar orientado e capacitado para a
atenção integral à saúde da mulher
A Política de Atenção à Saúde da Mulher deverá
2 atingir as mulheres em todos os ciclos de vida,
resguardadas as especificidades das diferentes faixas
etárias e dos distintos grupos
A elaboração, a execução e a avaliação das
3 políticas de saúde da mulher deverão nortear-se pela
perspectiva de gênero, de raça e de etnia, e pela
ampliação do enfoque
A gestão da Política de Atenção à Saúde deverá
4 estabelecer uma dinâmica inclusiva, para atender
às demandas emergentes ou demandas antigas 35
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DIRETRIZES
5 As políticas de saúde da mulher deverão ser
compreendidas em sua dimensão mais ampla,
objetivando a criação e ampliação das condições
necessárias ao exercício dos direitos da mulher
6 A atenção integral à saúde da mulher refere-se ao
conjunto de ações de promoção, proteção, assistência
e recuperação da saúde, executadas nos diferentes
níveis de atenção à saúde
7 O SUS deverá garantir o acesso das mulheres a todos os
níveis de atenção à saúde
A atenção integral à saúde da mulher compreende o
8 atendimento à mulher a partir de uma percepção
ampliada de seu contexto de vida (respeito e direito a
escolhas) 36
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DIRETRIZES
O atendimento deverá nortear-se pelo respeito a todas as
9 diferenças, sem discriminação de qualquer espécie e sem
imposição de valores e crenças pessoais

As práticas devem nortear-se pela humanização,


10 compreendido como atitudes e comportamentos do
profissional de saúde que contribuam para reforçar o caráter
da atenção à saúde como direito
No processo de elaboração, execução e avaliação da
11 Política de Atenção à Saúde da Mulher deverá ser
estimulada e apoiada a participação da sociedade civil
organizada (ONG’s, movimento de mulheres)

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DIRETRIZES

Melhorar e qualificar os mecanismos de repasse de


informações sobre as políticas de saúde da mulher e sobre os
12 instrumentos de gestão e regulação do SUS (controle social)

No âmbito do setor Saúde, a execução de ações será


13 pactuada entre todos os níveis hierárquicos

As ações voltadas à melhoria das condições de vida e saúde


14 das mulheres deverão ser executadas de forma articulada
com setores governamentais e não governamentais

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ÁREAS ESTRATÉGICAS OU PROBLEMÁTICAS


COMO PRIORIDADE

TEMAS RELATIVOS A MORBIMORTALIDADE FEMININA


1- Mortalidade materna
2- Precariedade da atenção obstétrica
3- Abortamento em condições de risco
4- Precariedade da assistência em anticoncepção
5- IST, HIV/Aids
6- Doenças crônico degenerativas e câncer ginecológico
TEMAS RELATIVOS À ATENÇÃO À SAÚDE NO CICLO VITAL
7- Saúde das mulheres adolescentes
8- Saúde das mulheres no climatério/menopausa
9- Saúde mental e gênero
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ÁREAS ESTRATÉGICAS OU PROBLEMÁTICAS


COMO PRIORIDADE

TEMAS RELATIVOS A MULHERES EM MINORIAS E/OU VULNERABILIDADE


10- Saúde das mulheres lésbicas
11- Saúde das mulheres negras
12- Saúde das mulheres indígenas
13- Saúde das mulheres residentes e trabalhadoras na área rural
14 – Saúde da mulher em situação de prisão
15- Violência doméstica e sexual

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PRINCIPAIS CRÍTICAS

  Incoerência entre o que se preconiza (integralidade) e o


que se efetiva na atenção à saúde das mulheres. Estudos
apontam para falta de acesso e violação de direitos
fundamentais
  O enfoque de gênero embora claro na PNAISM ainda não
se efetiva em todos os âmbitos da atenção à saúde
(promoção, prevenção, assistência e reabilitação)

  Exclusão de certos grupos de mulheres da sociedade em


situação de vulnerabilidade como as profissionais do sexo

  Fragilidade na proposição prática do que se preconiza no


plano teórico e deficiência quanto à divisão de
responsabilidades entre os entes federativos

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POLÍTICA DE SAÚDE DA MULHER A PARTIR DA


DÉCADA DE 2000

  Política Nacional da
Atenção Básica (2006):
pacto pela vida
(mortalidade materna e
câncer de colo de útero e
mama)

  Rede Cegonha (2011):


estratégia de qualificação
da atenção obstétrica e
infantil

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FORMAÇÃO DE ENFERMEIRAS/OS OBSTETRAS

Parteiras, Enfermeiras obstétricas e Enfermeiras


Obstetras: há diferença?
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FORMAÇÃO DE ENFERMEIRAS/OS OBSTETRAS

  Parteira: título mais antigo, depois denominou-se obstetriz


e enfermeira obstétrica

  Enfermeira obstetra: denominação recente, consolida a


formação de enfermeira adjetivada pela titulação de
especialista

  Traduzem modificações na legislação de ensino e na


concepção quanto à modalidade de formação e da
própria profissão

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Saúde Sexual e Reprodutiva UFC

FORMAÇÃO DE ENFERMEIRAS/OS OBSTETRAS

 As parteiras até meados do século XX eram


formadas por escolas médicas

 Enfermeiras parteiras nos anos de 1920


 Obstetriz (Pará) nos anos de 1922 e 1925

 Em 1955 aparece na legislação a


diferenciação das categorias de enfermagem

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FORMAÇÃO DE ENFERMEIRAS/OS OBSTETRAS

  Enfermeiras obstétricas: diploma de formação em


obstetrícia, sendo o curso denominado de enfermagem
obstétrica, pois a formação em enfermagem não era
exigida e era ministrado por médicos

  Conselho Federal de Educação na década de 1960


fixou novo currículo com duração de 3 anos para o
curso de obstetrícia e articulação com a enfermagem
por meio de um tronco profissional comum de 2 anos e
um terceiro diversificado

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FORMAÇÃO DE ENFERMEIRAS/OS OBSTETRAS

  Na década de 1970 houve a fusão dos cursos em 3


fases:

-  Pré-profissional

-  Tronco profissional que levava à graduação em


enfermagem

-  Habilitações: obstetrícia, médico-cirúrgica e saúde


pública

  Ocorreu a extinção das habilitações em 1994

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POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO


INTEGRAL À SAÚDE DO HOMEM

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Saúde Sexual e Reprodutiva UFC

A IMAGEM DO HOMEM

Honra
Força
Coragem

Vencedor de Arno Breker (1939)


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CONTRA-TIPOS

Étnicas

Homem,
Gays branco, Mulheres
heterossexual

Negros/as

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RETRATOS DE FAMÍLIA

“Voyage Pittoresque et
Historique au
Brésil” (1834-1839). Debret
chegou ao Brasil como
membro da Missão Artística
de 1816 e voltou para a
Europa 15 anos depois, em
1831. Debret é considerado o
maior cronista visual do Brasil
no século XIX.

Um funcionário a passeio com sua família (Debret)

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RETRATOS DE FAMÍLIA

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RETRATOS DE FAMÍLIA

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ASPECTOS DA SAÚDE

  As mulheres são maioria da população (51,03%) isso


significa 3.941.819 mulheres a mais do que homens

Razão entre o número de


homens e o número de
mulheres em uma
população, expressa
pela relação: (homens/
mulheres)*100, onde a
razão>100 significa um
número maior de homens
e a razão<100 significa
um número maior de
mulheres
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ASPECTOS DA SAÚDE

  48,9% das mulheres são economicamente ativas e 26,7%


são chefes de família

  As mulheres vivem mais do que os homens, devido a


vantagens biológicas e comportamentais

  A probabilidade de um homem falecer com idade entre


15 e 60 anos era de 272/1.000 habitantes em 1990 e
passou a ser de 205/1.000 habitantes em 2009; para o
sexo feminino, as probabilidades foram,
respectivamente, 150 e 102/1.000 habitantes

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Saúde Sexual e Reprodutiva UFC

ASPECTOS DA SAÚDE

  Maior proporção de óbitos entre homens do que entre


mulheres na faixa etária adulta

  As causas externas de mortalidade (acidentes e


violências) são extremamente importantes entre os
adultos, especialmente para homens jovens (15-39 anos)

  Óbitos do sexo masculino (68,2%) e houve uma


concentração de óbitos na faixa etária de 50 a 59 anos
(40,0%)

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Saúde Sexual e Reprodutiva UFC

ASPECTOS DA SAÚDE

A taxa específica
de mortalidade
do sexo masculino
foi de 461,1 óbitos/
100 mil habitantes
(o dobro da taxa
observada para o
sexo feminino)

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CONTEXTO HISTÓRICO E POLÍTICO

  Segunda metade do século XIX: saúde se torna questão


de Estado e as intervenções objetivam sanear ou
aperfeiçoar eugenicamente o corpo

  Sujeitos com visibilidade: criminosos, loucos e


homossexuais (perigo social); mulheres (responsabilidade
pela reprodução); criança ou velhos (frágeis)

  Homens permanecem na penumbra

  Alcoolismo e doença venéreas: construção do perigo


masculino leva a higienizar espaços de sociabilidade
masculinos (bares e bordéis)

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Saúde Sexual e Reprodutiva UFC

CONTEXTO HISTÓRICO E POLÍTICO

  Esse contexto não foi suficiente para formulação de


políticas públicas nem consolidação de uma
especialidade médica

  Medicalização dos corpos masculinos: perda da


posição de representantes universais da espécie
humana e a relativa invisibilidade epistemológica que tal
posição lhes proporcionava; transformação das
estruturas familiares e de padrões de masculinidade
(consumidores de bens e serviços); resolução de graves
problemas de saúde; desenvolvimento de tratamentos
específicos (disfunção erétil)

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Saúde Sexual e Reprodutiva UFC

UMA POLÍTICA DE SAÚDE PARA O HOMEM

  Março de 2008: criada Área Técnica


de Saúde do Homem sob
coordenação de Ricardo
Cavalcanti, médico ginecologista e
um dos fundadores da sexologia
brasileira

  Papel da Sociedade Brasileira de


Urologia (SBU): distúrbio androgênico
do envelhecimento masculino,
infertilidade masculina, disfunções
eréteis e ejaculação precoce

  Desde 2004, a SBU vinha se


dedicando à causa da saúde do
homem e, ao longo de 2008, passa a
exercer forte pressão junto a
diferentes setores do governo e
demais entidades da sociedade civil
para o lançamento da política

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Saúde Sexual e Reprodutiva UFC

UMA POLÍTICA DE SAÚDE PARA O HOMEM

  Estavam em jogo questões coorporativas: valor de


honorários pagos aos urologistas pelo SUS ou a
obrigatoriedade de os urologistas vinculados ao SUS
serem credenciados pela sociedade

  Entre julho e setembro de 2008: Campanha Nacional de


Esclarecimento da Saúde do Homem promovida pela
SBU com apoio do MS (Disfunção erétil)

  Disfunção erétil: 50% dos homens adultos acima dos 40


anos; menos de 10% destes procurariam assistência
médica; associada a outras doenças

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Saúde Sexual e Reprodutiva UFC

UMA POLÍTICA DE SAÚDE PARA O HOMEM

  Em 2007, 16,7 milhões de mulheres consultaram-se com


um ginecologista e 2,7 milhões de homens procuraram
um urologista

  28 de julho de 2008: lançamento da campanha


nacional da SBU em Brasília, num jantar para 130
convidados

  Um dos grandes obstáculos à promoção da saúde dos


homens é a centralidade da ideia de invulnerabilidade
(potência) na construção da masculinidade
hegemônica

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Saúde Sexual e Reprodutiva UFC

UMA POLÍTICA DE SAÚDE PARA O HOMEM

  Ao centrar a felicidade dos homens na potência sexual,


vista como a capacidade de obter uma ereção, a
campanha acaba reforçando a centralidade dos
valores que supostamente quer combater

  SBU trabalha no sentido de garantir sua sustentação


política

  Solicita apoio para políticas públicas voltadas para o


sexo masculino através da distribuição de folhetos no
XXV Congresso Nacional de Secretarias Municipais de
Saúde

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Saúde Sexual e Reprodutiva UFC

UMA POLÍTICA DE SAÚDE PARA O HOMEM

  No folheto distribuído, compara-se a situações de mulheres,


apresentadas como sujeitas que reivindicam seus direitos, e
de homens, apresentados em linguagem um tanto confusa
como sujeitos passivos, cuja saúde tem sido negligenciada

  A nova política foi finalmente lançada em 28 de agosto de


2009: o ministro ressalta a importância da SBU na
construção da nova política

  V Fórum de Políticas Públicas e Saúde do Homem (Câmara


dos Deputados): manter a lembrança e pressão... resgata
uma lacuna e inclui o gênero masculino ainda
secundarizado nas políticas públicas

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POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DO HOMEM


(PRINCÍPIOS E DIRETRIZES)

  O documento é apresentado como fruto da parceria


entre gestores do SUS, sociedades científicas, sociedade
civil organizada, pesquisadores acadêmicos e agências
de cooperação internacional

  “Um longo anseio da sociedade ao reconhecer que os


agravos do sexo masculino constituem verdadeiros
problemas de saúde pública”

  Os homens são mais vulneráveis e morrem mais cedo do


que as mulheres; não são captados pela atenção
primária; entrada no sistema pelo ambulatório e hospital

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POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DO HOMEM


(PRINCÍPIOS E DIRETRIZES)

  Barreiras institucionais: dificuldade de acesso aos


serviços assistenciais

  Barreiras socioculturais: grande desafio mobilizar os


homens para a luta da garantia de seu direito social à
saúde

  Eixos: violência; tendência à exposição a riscos com


consequência nos indicadores de morbi-mortalidade;
saúde sexual e reprodutiva

  Terceiro eixo é enfatizado em detrimento dos demais

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(PRINCÍPIOS E DIRETRIZES)

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(PRINCÍPIOS E DIRETRIZES)

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(PRINCÍPIOS E DIRETRIZES)

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POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DO HOMEM


(PRINCÍPIOS E DIRETRIZES)

  Assegurar aos homens o direito à participação no


planejamento reprodutivo

  É curiosa essa formulação, uma vez que a demanda pela


participação masculina nas decisões reprodutivas é uma
bandeira do movimento feminista, dever que o homem
tende a escapar

  O dever se transforma em direito

  O documento dirige seu foco para as novas temáticas da


saúde sexual e dos direitos sexuais e reprodutivos, tais
temáticas pareciam mais ligadas aos discursos feministas

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Saúde Sexual e Reprodutiva UFC

Algumas conclusões possíveis

  Homens apresentados como vítimas de sua própria


masculinidade

  Para os homens, articular reivindicações a partir de uma


posição generificada e tornar-se visíveis enquanto
“homens” significa colocar-se no mesmo plano que as
mulheres

  Como se os homens precisassem se tornar socialmente


vulneráveis para poder perceber sua vulnerabilidade
biológica

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Saúde Sexual e Reprodutiva UFC

Algumas conclusões possíveis

  Representados pelos médicos, sobretudo urologistas, e


pelos formuladores e executores de uma política que
supostamente se implanta em nome deles, mas sem sua
participação

  Ênfase dada aos direitos sexuais e reprodutivos

  É o tipo de pressão que vem dos especialistas: transformar


a disfunção erétil num problema de saúde pública

  Homem, sem qualquer adjetivo, não parece ser uma


identidade que se precise assumir ou que se deva fortalecer
ou pela qual se precise lutar

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Saúde Sexual e Reprodutiva UFC

REFERÊNCIAS

  BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde.


Departamento de Análise de Situação de Saúde. Saúde Brasil
2011: uma análise da situação de saúde e a vigilância da saúde
da mulher. Brasília: Ministério da Saúde, 2012.

  ______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.


Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Política
Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher: Princípios e
Diretrizes. 1. ed., 2. reimpr. Brasília: Ministério da Saúde, 2011.

  ______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.


Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. Política
Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem: princípios e
diretrizes. Brasília: Ministério da Saúde, 2009.

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Saúde Sexual e Reprodutiva UFC

REFERÊNCIAS

  CARRARA, S; RUSSO, JA; FARO, L. A política de atenção à


saúde do homem no Brasil: os paradoxos da medicalização
do corpo masculino. Physis: Revista de Saúde Coletiva, v.
19, n. 3, p. 659-678, 2009.
  CEARÁ. Secretaria da Saúde. Informe epidemiológico:
mortalidade materna. Disponível em: < ‪http://
www.saude.ce.gov.br/index.php/boletins?
download=1355%3Ainforme-mortalidade-materna> Acesso
em: 14 mar. 2017.
  FARO, L. et al. Homem com “H”: ideiais de masculinidade
(re)construídos no marketing farmacêutico. Cadernos Pagu,
v. 40, p. 287-321, 2013.

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Saúde Sexual e Reprodutiva UFC

REFERÊNCIAS

  RIESGO, M.L.G.; TSUNECHIRO, M.A. Formação profissional de


obstetrizes e enfermeiras obstétricas: velhos problemas ou novas
possibilidades? Estudos feministas, ano 10, 2002, p. 449-459.

  SOUZA, J.P. A mortalidade materna e os novos objetivos de


desenvolvimento sustentável (2016–2030). Revista Brasileira de
Ginecologia Obstetrícia. v. 37, n. 12, p. 549-551, 2015.

  TYRRELL, M.A.R.; SOUZA, M.H.N.; SOUZA, K.V. Políticas de saúde à


mulher no Brasil: marcos evolutivos e implicações para o exercício
profissional do enfermeiro. In: Associação Brasileira de Enfermagem
e Associação Brasileira de Obstetrizes e Enfermeiros Obstetras.
PROENF Saúde Materna e Neonatal. Porto Alegre: Artmed/
Panamericana, 2009. p. 129-164.

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