Aconteceu Na Casa Espírita - Muito Bom
Aconteceu Na Casa Espírita - Muito Bom
Aconteceu Na Casa Espírita - Muito Bom
Therezinha Oliveira
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Templos
Os estudos antropológicos afirmam que as sociedades mais primitivas já
desenvolviam o culto de adoração às divindades.
Inicialmente, os elementos da natureza foram divinizados; mais tarde, tomando
o efeito pela causa, elevaram os mensageiros espirituais, conclamados por Deus
para cooperarem com o progresso humano, ao grau de deuses.
Depois, edificaram templos para adorar as forças superiores.
Eis que no Oriente os pagodes se multiplicaram; nas terras do Nilo pilonos e
túmulos foram edificados; a Acrópole na Grécia, berço da cultura ocidental, acolhia
inúmeros santuários. Delfos resplandecia com o oráculo erigido em homenagem a
Apolo; Roma regurgitava de deuses de pedra, importados da tradição helênica,
construindo seus altares no seio das famílias romanas.
Entretanto, fora no monte Moriá que os israelitas, representando a idéia
monoteísta, um avanço para a humanidade, fundaram o grande, famoso e faustuoso
templo de Jerusalém. Idealizado por Davi e concretizado por Salomão, representava
toda grandeza espiritual daquele povo.
Nos vários pátios ecoavam orações ao grande Deus de Abraão, Isaac, Jacó.
No átrio dos gentios e dos israelitas, Jesus dera inúmeros ensinamentos. Todavia, a
história registra que todos esses templos mundialmente conhecidos foram ou estão
sendo corroídos por Cronos, flagelo indomável que a tudo devora.
Dos oráculos e santuários gregos, restaram apenas ruínas; nas terras dos
faraós, mausoléus e esfinges aos poucos são devorados pelo tempo. O suntuoso
templo de Jerusalém fora destruído pelas atitudes bélicas, restando apenas o muro
das lamentações. Todos os templos e construções de pedras são perecíveis, pois
que estão sujeitos à transformação da matéria. Todavia, o espírito mais perfeito que
Deus enviou a Terra para nos servir de guia e modelo, Jesus, no inesquecível
diálogo com a mulher samaritana, ensina que Deus é Espírito e importa que o
adoremos em Espírito e Verdade.
Jesus fazia do seu corpo um verdadeiro templo de adoração a Deus, seu
santuário era a própria natureza reveladora da presença divina, seu altar, a própria
consciência que se elevava, em qualquer hora e lugar, para a comunhão com o
Senhor do Universo através da prece.
Vivendo numa época caracterizada por dogmas e crendices, o Cristo
freqüentou as sinagogas e a grande construção no monte Moriá sem, contudo,
apegar-se às fórmulas. Interessava-se pelas almas e precisava ir onde o povo se
reunia, a fim de pregar a sua mensagem. Contudo, procurava a essência dos
ensinos, aproveitando, naturalmente, o espaço físico que deveria ser consagrado às
atividades espirituais.
Dezoito séculos depois, eis que o mais alto nos traz o Consolador, a Doutrina
Espírita que figura na Terra como restauradora do Cristianismo primitivo.
Na atualidade, erguem-se os núcleos espíritas como templos verdadeiros, onde
Jesus deve estar representado não por imagens de barro, altares ornamentados ou
estátuas de bronze, mas pelas atitudes essencialmente cristãs dos seus freqüen-
tadores. Como religião do espírito, a Doutrina dispensa toda e qualquer prática
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exterior, todo e qualquer simbolismo, desenvolvendo, através do estudo
doutrinário, a fé raciocinada.
Entretanto, as Casas Espíritas devem primar pela simplicidade, aplicando em
suas construções e interiores o básico para o estudo, divulgação e prática do
Consolador, pois que não adianta usar tecnologia de ponta na construção das
paredes, móveis finos representando a aristocracia da época, objetos de arte para
ostentação, se não houver um compromisso com aquele que, no mundo, ocupara o
título de filho de carpinteiro. Se agirmos com preocupação exagerada em
oferecermos conforto que leva ao ócio, estaremos fugindo dos objetivos propostos
por Jesus, esquecendo-nos de que a verdadeira fortaleza de uma casa espírita, do
ponto de vista da sua função na Terra, não está nos alicerces de concreto, e sim no
estudo e vivência do aspecto doutrinário, esse sim deverá ser colocado em
evidência, fortalecendo moralmente os adeptos da Terceira Revelação, contribuindo
para o esclarecimento e entendimento do que seja realmente o Espiritismo, o que é
o Centro Espírita, quais as suas responsabilidades e sagrada importância como
representante do Cristo no planeta.
Nesse propósito, amigo leitor, é que te apresentamos esta obra.
“Aconteceu na Casa Espírita” representa a misericórdia divina a todos nós,
eternos aprendizes da arte da convivência fraterna.
Todas as informações encontradas neste livro foram grafadas com a pena da
simplicidade no papel da experiência, consubstanciando a vivência do Espírito de
Nora durante decênios de nobres, relevantes e respeitáveis tarefas, realizadas junto
a diversas instituições dedicadas ao Espiritismo.
Seus personagens foram compostos baseando-se em experiências reais. Cada
personalidade, aqui apresentada, bem como os dramas e testemunhos, as quedas e
vitórias guardam ressonância com companheiros que viveram estas cenas no palco
da vida, nas quais muitos de nós poderemos nos encontrar. Das várias figuras que
desfilaram neste cenário, muitos já retornaram à Terra em expiações, reparações ou
abençoadas missões.
Eis o que te ofertamos!
Esperamos que estas páginas singelas possam falar ao teu coração,
despertando-te para a necessidade e responsabilidade do serviço espírita, a
seriedade absoluta no executar das tarefas, a fim de que possas reconhecer que, se
almas enfermas podem tentar contra a obra do Senhor, aproveitando as fraquezas
humanas, miríades de benfeitores espirituais, arautos dos céus, apóiam, protegem,
incentivam todo aquele que cooperar de maneira honesta e verdadeira, mas, sem
lhes tirar a oportunidade do aprendizado e testemunho.
Cientes das responsabilidades que abraçamos junto a Deus nosso Pai e ao
movimento espírita, desejamos que todos os que executam qualquer função, nas
abençoadas Casas consagradas ao Espiritismo, possam encontrar neste trabalho,
singelo quanto à forma, mas profundo e importante quanto ao fundo,
esclarecimentos e estímulos para a vigilância, a oração, o estudo e o trabalho,
guardando a certeza de que: o que quer que venha a acontecer no Centro Espírita,
fruto da nossa atuação boa ou má, será sempre de nossa inteira responsabilidade.
Independentemente do serviço que executamos, seremos sempre convocados a
comparecer ao tribunal da própria consciência, sob os olhos atentos e severos das
leis divinas convertidas em grande Juiz, prestando contas de nossos atos. Sempre
que o orgulho, a vaidade, a língua viperina e a intolerância adentrarem os Templos
Espíritas, estaremos abrindo brechas aos adversários do amor, tumultuando a obra
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do Cristo.
Rogando a Deus nos abençoe e pedindo a Jesus ajude-nos a conservar a
honestidade, a verdade, a fraternidade em nossas abençoadas Casas Espíritas, e
gratos pela oportunidade de servir, desejamos a todos os irmãos de jornada espírita
paz, seriedade, estudo, prática doutrinária, união fraternal, a fim de que as
infiltrações não tenham lugar nos verdadeiros Centros Espíritas, Templos de amor
que devem representar, de maneira absolutamente fiel, o próprio Cristianismo.
Nora
(Mensagem psicografada pelo médium Emanuel Cristiano em reunião de 10/1/1999
no Centro Espírita “Allan Kardec” de Campinas – São Paulo)
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Infiltração Programada
Em estranha cidade do plano espiritual inferior, congregavam-se espíritos
obsessores com as mais perversas intenções.
Reunidos em sombria praça, traçavam diretrizes de perseguição e destruição
de respeitável Instituição Espírita. Entidades recém-desencarnadas perambulavam,
lunáticas, pela estranha região, semi-escravizadas por mentes maléficas que as
transformavam em verdadeiro material humano de desequilíbrio. Estes infelizes
permaneciam junto aos obsessores por guardarem compromissos espirituais
intensos diante daqueles que se dedicavam à prática do mal.
A psicosfera da cidade bizarra era densa, triste, angustiante e depressiva;
resultado dos pensamentos de seus habitantes.
Júlio César, na condição de chefe, conclamava do centro do largo os
obsessores, que circulavam em torno do jardim de pedras, com as seguintes
argumentações:
Avante, amigos, o trabalho nos espera!
Não podemos mais perder tempo, é necessário agirmos agora ou, então, o
trabalho de anos será perdido.
— Qual é a missão? Perguntou Gonçalves, um dos comparsas imediatos de
Júlio César.
— A missão, respondeu o sinistro orador, é de infiltração espiritual! Estamos, de
longa data, planejando invasão, domínio e destruição de uma grande Casa Espírita.
Quando o adversário chefe pronunciou estas palavras, extensa turba de
espíritos fanáticos correu para junto do perseguidor mestre, ouvindo-o atentamente,
enquanto a novidade corria, relampejante, entre os habitantes do estranho
“município”.
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E adentrando uma das salas de trabalhos mediúnicos, ligaram-se a dois
participantes bastante receptivos aos pensamentos inferiores.
Sondando-lhes o mundo íntimo, notaram que um dialogador e uma das
médiuns trocavam pensamentos sensuais.
— Senhor, disse Daniel, o discípulo de Mamom, trago a ficha.
Soraia Barreto e Sérgio Queiroz, candidatos ao adultério, o
que diz?
— Excelente, será um escândalo formidável. Para seu primeiro trabalho num
grupo profissional, está ótimo.
Vamos ver, agora, quem é que pode mais! As fofocas sobre o caso da médium
e do dialogador adúlteros explodirão por estes corredores feito pólvora!
Vamos! Vamos! Precisamos nos organizar, ainda temos muito o que fazer para
executar este novo plano.
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Castro chorava sensibilizado. Aquelas palavras firmes e caridosas,
despertaram-no para a tarefa, encheram-no de ânimo e confiança. Considerou que
a função desempenhada por ele era necessária.
E, reconhecendo-se como servo pequenino, administrando um tesouro que
pertence a Jesus, deixou de lado a autopiedade e decidiu-se por continuar
caminhando confiante na providência divina.
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Terminada a orientação, o mentor abraçou carinhosamente os representantes
diretos do Centro Espírita, fazendo, em seguida, prece fervorosa levando-os às
lágrimas, ao mesmo tempo em que fortaleciam os sentimentos em Jesus,
renovando-se fluídica e mentalmente para a continuidade da tarefa.
Quando acordaram no corpo, sentiam-se, de fato, renovados. Embora não
guardassem na memória física as informações detalhadas, traziam o coração
repleto de coragem e desejo de continuar servindo.
A equipe espiritual, porém, trabalhava sem descanso. As mensagens espirituais
continuavam sendo transmitidas com intensidade. Redatores espirituais,
comprometidos com o ideal, interpretavam os pensamentos das entidades sublimes
tutoras daquela Casa, retransmitindo posteriormente, aos médiuns em sintonia com
planos superiores, palavras incentivadoras do trabalho, solicitando vigilância,
oração, reforma íntima, tolerância e discrição nas atividades espíritas, a fim de
ajudá-los a vencer, pela renovação mental, as influências negativas.
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Fascinação
No entanto, Maria Souza, a médium “curadora”, já organizara considerável
movimento. Conclamara companheiros para conversa íntima, com o objetivo de
convencê-los sobre os seus propósitos. Os adversários, contudo, lhe apareciam em
sonhos com propostas extravagantes, prometiam-lhe destaque, publicidade,
aparecimento na mídia, garantiam-lhe verdadeiros prodígios com as suas
“faculdades curativas”. Tendo recebido estas orientações falsas, do plano espiritual
inferior, mas tomadas como verídicas pela própria médium, passava, agora, a
planejar a concretização das “orientações” recebidas.
Em pequena reunião, executada na residência de um dos companheiros
igualmente fanatizados, traçaram diretrizes, ouviram os mentores”, através da
psicofonia, e resolveram conversar com os responsáveis pelo Centro, a fim de con-
vencê-los a autorizar as atividades cirúrgico-mediúnicas de Maria Souza.
Castro e Israel, comunicados mais tarde, aceitaram o convite, dedicando toda
atenção e fraternidade possíveis.
No dia marcado, compareceram os responsáveis pela Casa, a médium
“curadora” e um pequeno grupo, representando as cerca de trinta pessoas
partidárias das idéias da intérprete fanática.
Minutos antes do início da conversação, Elvira, a substituta eventual de Júlio
César, apresentou-se envolvendo de maneira intensa a mente da medianeira.
Castro sugeriu fosse feita uma prece antes do início das atividades, a fim de
buscar comunhão com os benfeitores da vida maior. Quando o respeitável
presidente pronunciou as primeiras palavras, envoltas em sincera emoção, eis que o
mentor da Instituição se apresentou colocando-se ao lado dos representantes da
Casa, dando demonstração amorosa da promessa que lhes fizera sobre o concurso
superior. O benfeitor, acompanhado de abnegados tarefeiros espirituais, fizeram-se
visíveis para as entidades infelizes, como que lhes demonstrando que a atuação
inferior estava dentro de certos limites.
Quando Elvira viu os espíritos superiores, fitando-a gravemente, e verificando
uma pequena parcela de suas capacidades espirituais, representadas pela intensa
luz que partia deles, pensou em desistir, mas recordou-se das ameaças de Júlio
César. Instantaneamente, anulou os propósitos de abortar a missão, fixando-se
junto à médium, dando prosseguimento ao plano destruidor.
Os responsáveis pelo Centro deram, então, respeitosamente, oportunidade da
palavra a Maria Souza que iniciou a conversa com estas colocações:
— Estou aqui para fazer algumas solicitações. Vocês não desconhecem a
minha produção mediúnica e as orientações dos meus mentores sobre a utilização
de minhas faculdades. Segundo afirmam meus guias, eu tenho uma grande missão
para executar neste Centro e solicito que vocês me permitam trabalhar nesta Casa
com a cirurgia espiritual. Já estamos nos organizando e verificamos que ficaríamos
bem instalados na sala “Allan Kardec”. É um espaço adequado, mesmo porque,
segundo informações dos meus superiores, logo, logo estarei recebendo men-
sagens e receitas do próprio codificador!
Já temos companheiros à disposição, inclusive financeiramente, para fazer
anúncios em jornais conceituados a respeito dos grandiosos trabalhos que se vão
iniciar neste Centro. Nossa Instituição haverá de crescer consideravelmente sob as
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orientações destes novos mentores. Pensem no público, na quantidade de
pessoas beneficiadas, nas grandes campanhas promovidas por nós. Em pouco
tempo, afirmam meus tutores espirituais, estaremos na televisão e aí, já posso ver:
pesquisadores americanos, alemães, russos etc. desejando estudar minhas
faculdades, o reconhecimento público, títulos de cidadã desta e daquela cidade. É
claro que tudo isso eu, pessoalmente, reverterei para a Doutrina Espírita,
edificaremos hospitais, creches e orfanatos.
Castro interrompeu respeitosamente a fala da médium alucinada,
acrescentando com lucidez:
— Minha irmã, entendemos os seus propósitos, acreditamos esteja de fato
desejosa de contribuir com a obra do bem, mas desejamos lhe oferecer um tempo
maior de experimentação da mediunidade, a fim de que possa se estruturar no
campo doutrinário, conhecer melhor a sua faculdade, analisarmos os fenômenos
com rigor. De forma que, antes de pensarmos no grande público, que tal se,
reservadamente, durante um certo período, com alguns enfermos, sob segura
orientação doutrinária, pudéssemos catalogar as enfermidades, verificar se a ação
fluídica realmente produziu efeito, dialogar serenamente com os seus guias, verifi-
cando suas orientações. Assim, continuou o presidente, você terá oportunidade de,
ao longo do tempo, se estruturar num trabalho discreto e des pretensioso.
Nesta hora, Elvira envolveu a médium, fazendo-a retrucar desta maneira:
— Mas o que é isso? Você está com medo de que eu seja considerada mais
importante que a sua pessoa. Não sabe que trago grandes compromissos a realizar,
que esta Casa poderá ser projetada como nunca imaginamos antes!
Israel, num desejo verdadeiro de orientar, não se conteve e interrompeu a
expositora vaidosa com estas lúcidas orientações:
— Minha amiga, parece que você está mais interessada na notoriedade do que
na própria Doutrina Espírita, cuja finalidade é promover a transformação moral das
criaturas humanas. O objetivo precÍpuo do Espiritismo não é curar corpos e sim
almas. Poderemos, certamente, aproveitar os recursos fluídicos que Deus nos
concede, em benefício dos enfermos, e não lhe faltará oportunidade para isso. Terá
toda nossa atenção e dedicação, contudo, pensamos seja melhor estruturar um
pouco mais as suas capacidades medianímicas por meio do estudo doutrinário e do
exercício paciencioso e discreto ao longo dos anos.
Você desconhece os inconvenientes da fama, o quanto os adversários espirituais
podem envolver aqueles que se destacam; e se não estiver preparada para suportá-
los, poderá ser a sua queda. Por que não se estrutura primeiro, trabalhando
anônima e discretamente durante alguns anos? Não estamos lhe negando a
oportunidade de serviço nesta área, mas estamos lhe alertando quanto à
responsabilidade e à necessidade de averiguarmos até onde suas capacidades
magnéticas podem beneficiar as pessoas. E sem contar, continuou Israel inspirado,
que você poderá ser enqüadrada no crime de prática ilegal da medicina ao desejar
cortar corpos. Já pensou nisso?
Assim, trabalhando discretamente, poderá verificar suas potencialidades e
granjear, com trabalho verdadeiro e cristão, a simpatia dos bons espíritos.
Lembre-se de que médiuns respeitáveis do nosso movimento, e que hoje se
destacam pelos trabalhos de verdadeira benemerência, laboraram em silêncio
durante anos, permanecendo no anonimato até que estivessem amadurecidos para
assumirem tarefas maiores.
A fama, minha irmã, tem afastado muitas almas do caminho reto! Você
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desconhece os inconvenientes que a notoriedade traz. Guarda a idéia de que ser
médium é sinônimo de privilégios espirituais. A mediunidade bem equilibrada exige
estudo assíduo e atuação des pretensiosa. O médium, em verdade, quando dispõe
de tarefas maiores, igualmente deve testemunhar na mesma proporção as
informações que recebe, aplicando-as primeiramente a si. Desta maneira, antes de
se lançar à busca frenética pela fama, utilizando-se de recurso sagrado, como é a
mediunidade, trabalhe interiormente, a fim de que os seus sentimentos sublimados
a façam merecedora de uma assistência espiritual superior, compreendendo que, no
campo mediúnico , discrição e humildade são qualidades essenciais para o êxito da
tarefa. E, além disso, prosseguiu Israel de maneira calma e fraterna, não estamos
interessados em projetar a nossa Casa, não desejamos que nosso Centro esteja
lotado de pessoas procurando simplesmente fenômenos. Temos a simples
pretensão de fazer vibrar entre as paredes desta Instituição os ensinos de Jesus e
Kardec.
Para nós, o mais importante é receber fraternalmente os que nos procuram,
socorrê-los quanto possível, oferecer conhecimento doutrinário, despertando as
criaturas para a transformação moral; o resto é conseqüência deste processo bem
realizado. Assim, nos preocupamos com os males morais das criaturas, oferecendo
condições de que, com ajuda do Espiritismo, se processe em cada um de nós uma
autocura sob as bênçãos de Jesus.
Todavia, nós lhe convidamos para continuar exercitando suas capacidades
espirituais ao longo dos anos, e nos comprometemos a acompanhá-la, orientando-a,
como fazemos a todos os médiuns.
Continue trabalhando pacientemente nas reuniões de fluidoterapia, fazendo
com simplicidade de intenção o que estiver ao seu alcance, beneficiando as
criaturas com os seus melhores sentimentos.
Maria Souza, admirada, perguntou:
— Devo entender estas palavras como uma negação aos meus pedidos?
— Deve considerá-las, disse Israel afetuosamente, como incentivo para um
dedicado período de trabalho em benefício do próximo, a fim de que suas
faculdades possam se aprimorar pelo exercício discreto e anônimo.
Se aceitar a proposta de Castro, teremos grande alegria em organizar um
pequeno grupo para, durante algum tempo, lhe permitir o exercício de suas
capacidades curativas, a fim de verificarmos suas condições magnéticas,
analisando as orientações dos espíritos que lhe assistem, ouvindo respeitosamente
quais as orientações que desejam para o trabalho com a mediunidade.
— O quê?! Retrucou Maria Souza espantada. Você acha que eu vou perder
tempo com um grupo pequeno? Já estou pronta para o trabalho, meus guias já me
prepararam muito bem! Um espírito médico, de nome Dr. Júlio César já se
prontificou a me conduzir por caminhos retos. Bem que ele me avisou das dificul-
dades!
Além do mais, qualquer Casa Espírita iria adorar contar com alguém com as
minhas capacidades espirituais, me receberiam de braços abertos!
Vocês estão desperdiçando uma extraordinária oportunidade!
Levantando-se, Maria Souza saiu da sala com passos firmes sem se despedir
dos respeitáveis tarefeiros encarnados, sentindo-se intimamente insultada. Os
acompanhantes da médium fanática igualmente se retiraram deixando-os sozinhos.
Os nobres tarefeiros, reflexivos, porém, de consciência tranqüila, conversavam
entre si:
— Israel, disse: Castro, é uma pena que isso tenha acontecido!
— Não se preocupe, meu amigo, sem dúvida fizemos o melhor.
Isso me faz pensar que nossa Casa esteja passando por provações! Vários
companheiros de trabalho estão atravessando momentos difíceis, entre eles está
Márcia Boaventura, nossa coordenadora do atendimento fraterno. A propósito,
continuou o responsável pela área doutrinária, estava pensando em fazer uma visita
para nossa irmã no desejo de levar nosso apoio. Segundo me informaram, parece
que o marido a teria proibido de continuar suas tarefas, dizem que ele se entregou a
uma seita fanática.
— Sem dúvida, respondeu Castro, haveremos de visitá-la em momento
oportuno.
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No Auge da Crise
Na casa dos Boaventura, Gonçalves e Daniel, os prepostos das trevas para
aquele caso, dominavam o ambiente espiritual. A porta de entrada era o sr.
Boaventura, que lhes atendia com facilidade às ondas de pensamentos e sentimen-
tos inferiores.
A responsável pelo atendimento fraterno padecia grandes dificuldades!
Sob atuação das trevas, o marido já havia feito grandes doações para a seita
lunática, esperando Deus lhe restituir em dobro todas as suas doações.
A tarefeira já sofria com a falta de recursos para saldar as despesas básicas da
casa. Márcia demonstrava grande testemunho de paciência e fé, suportando
corajosamente os desequilíbrios do esposo fanatizado.
Certa noite, quando os ataques dos adversários estavam no auge e o sr.
Boaventura fazia sua pregação falsa e absurda, Márcia recolheu-se para dormir.
Após prece fervorosa, quando as emoções a conduziram às lágrimas, sentiu-se
envolvida em doces fluidos e, sob ação magnética dos espíritos amigos, adormeceu
tranqüila.
Desdobrada do corpo, no mundo espiritual, eis que lhe aparece o mentor
responsável pelo Centro onde ela trabalhava dedicadamente, endereçando-lhe em
seguida estas carinhosas palavras:
— Márcia, minha irmã! Jesus te abençoe nos testemunhos! Vendo o benfeitor
resplandecente, a tarefeira desdobrada lançou-se de joelhos, rogando a seguir:
— Louvado seja este momento!
Senhor, não o conheço, contudo meu coração o identifica como um mensageiro
de Deus atendendo minhas rogativas.
Ouve por misericórdia minhas súplicas, ajudando-me a suportar meus
problemas.
Não sei o que aconteceu comigo, o porquê de tanto sofrimento. Me tiraram o
que possuía de mais sagrado na vida; nada me tortura tanto, quanto à proibição, por
parte de meu esposo, de executar as tarefas espíritas.
Onde eu errei? Estarei sendo punida?
Bom amigo, já que Deus me concedeu a misericórdia da sua visita,
compreenda o meu coração ferido, desculpe meu desespero e diga-me: o que
aconteceu?
— Márcia, minha filha, disse o mentor aproximando-se e acariciando-lhe
delicadamente os cabelos negros, Deus não te permitiria sofrer, se não julgasse ser
útil para o teu próprio adiantamento espiritual.
Teu marido está, de fato, sob poderosa obsessão. Estes adversários, na
realidade, desejariam te envolver com objetivo de desestruturar o departamento de
atendimento fraterno. Não encontrando brechas em ti, envolveram teu esposo
invigilante, almejando atingir-te por tabela. Contudo, se o Senhor da Vida lhes
permite agir assim, é porque a Terra, um mundo de provas e expiações, enseja para
aqueles que reencarnam aqui experiências, testes de suportação, que farão brotar
naqueles em processo de aprendizado, provas ou expiações, certas virtudes no
campo da compreensão humana.
Encara teu esposo como um doente mental necessitado de nossa piedade.
Infelizmente é assim que ele acabará dentro em breve. Os inimigos do bem
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encontraram tamanha afinidade junto a ele que sua mente começa a sofrer
verdadeiro processo desequilibrante. Terás de ser forte!
Não estarias ligada a ele se não guardassem compromissos profundos. A
propósito, segundo nos dizem os espíritos simpáticos que te assistem, tu firmaste
compromisso, aqui no mundo espiritual, para tentar conduzi-lo no bom caminho,
espiritualizá-lo um pouco mais, e temos acompanhado os teus esforços.
Mesmo diante de tantas dificuldades, segue confiante, tolerando, quanto
possível, as alucinações do teu esposo. A ganância material é que vai fazer com
que ele se perca completamente no caminho.
Quanto a ti, logo, logo estarás de volta às atividades do Centro, pois que este
processo está chegando ao fim. Viemos trazer nossa promessa de que não serás
desamparada. Se suportares resignadamente teu esposo, fazendo o que estiver ao
teu alcance para conduzi-lo ao caminho do bem, te asseguramos que o básico, a
fim de que continues tua caminhada, não te faltará. Quanto a ele, se não souber
aproveitar da tua convivência, restará o pesar de, no mundo espiritual, descobrir que
tinha um instrutor espiritual encarnado para conduzi-lo ao céu das bem-aventuran-
ças, mas que não soube aproveitar, desperdiçando a oportunidade por orgulho,
machismo e ambição. Terá de se preparar a fim de retornar ao planeta e recomeçar,
sem contar, desta vez, com um guia caridoso.
Brevemente, estarás recebendo a visita de Castro e Israel. Eles, representando
a caridade, haverão de te socorrer no que for necessário.
Segue corajosa e confiante, na certeza de que este teu testemunho de agora te
lançará a planos espirituais superiores. Todo sacrifício útil em benefício de alguém é
merecedor de recompensas e o Senhor não te faltará.
Márcia, sentindo-se consolada, abraçou longamente o mentor da Instituição,
acompanhando-o a esferas maiores para o executar de tarefas superiores.
Enquanto isso, na cidade das trevas, Júlio César procurava convocar uma
quantidade maior de servidores a fim de continuar o processo de infiltração.
Entretanto, encontrou a cidade praticamente vazia. Centenas de adversários espi-
rituais haviam abandonado o ideal do mandante das trevas, libertando-se graças ao
trabalho dos amigos espirituais. De forma enlouquecida começou a gritar, exigindo
que os seus comparsas aparecessem para assumirem as tarefas:
— Camaradas! Camaradas!
O responsável por esta cidade é quem os convoca! Apareçam! Agora!
Coragem, estamos quase conseguindo!
Precisamos nos fortalecer para vencermos esta batalha! A maldita Casa
Espírita está quase destruída! A fofoca percorre os corredores qual serpente
venenosa e destruidora, a maledicência segue relampejante, a discórdia grassa em
quase todos os departamentos do Centro, estamos nos últimos dias. Lembrem-se:
haverá promoção para aqueles que se colocarem à disposição do nosso
movimento. Temos compromissos com nossos superiores e eles haverão de pedir
contas de nosso trabalho. Apareçam, agora! Eu ordeno!
*
70
- Chefe! Chefe! Gritava o assessor procurando tirar o superior do “transe” que
lhe petrificara o olhar na direção dos juízes perversos.
— Gonçalves? Perguntou o coordenador desperto, revelando nas palavras
admiração. O que está fazendo aqui? Não lhe disse para tratar do caso Márcia
Boaventura?
— Sim, senhor, este caso já está resolvido, o que venho lhe dizer é muito mais
grave!
Estou vindo do Centro Espírita e a situação não é boa! Realizaram o tal
seminário, exaltando os valores do Cristo e os trabalhadores, envolvidos em íntima
reflexão, renovaram os pensamentos e nosso trabalho está perdendo a estrutura.
- Não acredito! Disse o representante da maldade. Todo nosso trabalho? E você
deixou?
— Senhor, a culpa não é minha, estava cuidando de outro caso, o senhor
mesmo me designou, Elvira é quem cuidava da Casa na sua ausência!
Todo o Centro está modificado, as fofocas diminuíram assustadoramente, a
maledicência permanece controlada por pessoas sérias, recusando-se a enviar para
frente o que ouvem. Centenas dos nossos foram arrebatados, converteram-se.
Precisamos de uma reação imediata!
Diante destas palavras, o perseguidor maior ficou lívido e tomou severas
providências, reunindo os últimos tarefeiros, instigando-os assim:
— Camaradas, este é o momento, a batalha final, vamos usar todas as nossas
forças, todos os nossos recursos a fim de destruirmos aquela Casa maldita.
Caso não me ajudem, seremos todos julgados e condenados pelo tribunal que
hoje nos visitou. Se eu falir, todos vocês igualmente cairão comigo, por isso, avante!
É preciso honrarmos o compromisso que assumimos, destruindo todos os
departamentos daquela Casa. Agora, para nós, é uma questão de vida ou morte,
isto é, de mantermos nossos cargos, de preservarmos nossa imagem, de provarmos
aos nossos coordenadores que somos possuidores de inteligência, determinação e
eficiência.
Agora, meu ódio cresceu cem vezes mais. Dediquem-se o máximo que
puderem, afastando-se radicalmente dos emissários do bem, a fim de que não os
apanhem.
Vamos acionar a bomba armada, se cultivarmos ódio e rancor estaremos
fortalecidos facilitando nosso trabalho. Precisaremos ainda de alguns dias, a fim de
nos prepararmos detalhadamente para o movimento derradeiro.
Aqueles que estiverem comigo gritem: Destruição! Destruição!...
*
87
Nesse instante os céus se abriram, as nuvens espessas foram transpassadas
por jatos intensos de luzes, o ambiente ao redor de Júlio se iluminou por completo.
E, do Mais Alto, entidade respeitável se apresentou. O ser iluminado, de semblante
calmo, aproximou-se emocionado, dirigindo o olhar terno em direção ao
desafortunado, que gritou surpreso ao reconhecê-lo:
— Pai! Afaste-se de mim! Não tem o direito! Veio se comprazer, também, da
minha derrota?
— Não, filho meu. Nunca! Vim para dizer-te do meu amor. Tu sabes, Julinho,
que nunca te faltou o afago amigo, as orientações paternas! Quantas vezes te
incentivamos à prática do bem, a compartilhar conosco do ideal espírita, mas a tua
rebeldia não te permitia ingressar nas tarefas superiores. E por tua própria
imprudência, envolvendo-te com marginais, com o simples pretexto de chamar a
nossa atenção, foi o que te tirou da nossa convivência quando tinhas apenas
dezoito anos. Ah, filho meu! Quanto esperei por esta hora! Neste quase um século
em que te dedicas à prática do mal, meu espírito permanece atormentado. Vim para
dizer-te que a tua felicidade é a minha também e que compartilho igualmente das
tuas dores. Meu coração só encontrará paz no dia em que puder unir-se ao teu, afim
de vivermos juntos a mensagem do Cristo.
Quando te tínhamos junto ao coração, traçávamos planos pensando o quanto
poderias fazer na seara, que levarias adiante o ideal de Jesus. Entretanto,
retornaste inesperadamente para a vida do infinito, criando uma lacuna em nossas
almas, ferindo-nos quase que mortalmente. Tua mãe não suportava a dor, sendo
consolada apenas com a certeza de que continuavas vivo. Orávamos por ti dia e
noite, chorávamos de saudades. E quando, em estado avançado de idade,
retornamos para cá, continuamos pedindo a Jesus nos concedesse a dádiva de te
despertar. Ouve, filho meu, se não por ti, por nós, pelo privilégio da tua companhia,
por ter sido o maior presente que o céu nos concedeu, por muito te amar pedimos:
Desperta, meu querido!
Lembra-te dos dias felizes da tua infância, quando insistias em cooperar
conosco na construção da Casa Espírita, dos teus tropeços nos materiais de
construção, as vezes em que trazias as mãos vermelhas pela insistência de
transportar os tijolos, para serem assentados pela argamassa produzida
amorosamente pelos cooperadores anônimos.
Tu também guardas história com aquela Casa!
Sempre é tempo de recomeçar, desperta, meu filho, amo-te! Já é hora de
retomar o trabalho.
— Minha mãe, onde está? Perguntou o quase converti-do.
— Aqui, Julinho, respondeu uma VOZ doce e meiga, fazendo-se visível ao lado
do filho amado.
— Ouve teu pai, meu querido, pois que minhalma já não agüenta mais de tanta
dor. Não nos negue o privilégio de amar-te, rende-te, liberta-te, o futuro te espera...
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