Pablo Stolze Responsabilidade Civil
Pablo Stolze Responsabilidade Civil
Pablo Stolze Responsabilidade Civil
Neste material de apoio, concluindo a srie de apostilas atinentes responsabilidade civil, daremos seqncia escolha de temas especiais, relevantes em sua preparao para concurso, apresentando julgados que reputamos importantes e de inegvel interesse.
Nesse contexto, respeitando a diretriz pedaggica do Intensivo 1, observamos que nem todos os temas constantes nesta apostila fazem parte da grade programtica do Curso. Assim, em sala de aula, devem ser vistas as matrias pertinentes ao nosso contedo, especialmente as hipteses de responsabilidade previstas no Cdigo Civil.
Por outro lado, cientes da importncia do material de apoio para voc, e visando a facilitar o seu estudo em casa e nas outras grades do Curso LFG ns mantivemos referncias jurisprudenciais sobre diversos temas, nesta apostila.
Chamamos a sua ateno para o item 8, Fique por Dentro, em que se vem importantes notcias do STJ, inclusive no que tange responsabilidade civil do mdico. Bom estudo! Um abrao! O amigo, Pablo.
2.
Trata-se, na origem, de ao movida pelo ora recorrente, cnjuge da vtima falecida, contra a clnica, ora recorrida, fornecedora de servios mdico-hospitalares, postulando indenizao por danos materiais e morais. A alegao central na ao, como causa de pedir, a ocorrncia de defeito na prestao de servios consistente em sucessivos erros e omisses dos mdicos prepostos da clnica por um perodo de quase dois meses, no chegando ao diagnstico correto da doena de que era acometida a paciente, o que culminou em seu bito. Em primeiro grau, foi indeferida a denunciao da lide dos mdicos prepostos e deferida a inverso do nus da prova, com base no art. 6, VIII, do CDC. A recorrida interps agravo de instrumento ao qual foi dado parcial provimento pelo tribunal a quo, mantendo o indeferimento da denunciao da lide no caso dos mdicos, mas afastando a inverso do nus da prova com fundamento na regra do 4 do art. 14 do mesmo diploma legal, por reconhecer como subjetiva a responsabilidade civil da demandada. No REsp, o recorrente pretende a aplicao da regra do 3 do mencionado artigo e, consequentemente, o restabelecimento da sentena. Portanto, a questo centra-se em definir o regime jurdico aplicvel responsabilidade civil da clnica recorrida pelos atos praticados pelos seus prepostos que culminaram na morte da paciente, esposa do recorrente. A Turma deu provimento ao recurso por entender que a regra
geral do CDC para a responsabilidade pelo fato do servio, traada pelo caput do seu art. 14, que se trata de responsabilidade objetiva, ou seja, independente de culpa do fornecedor, como consignado no prprio enunciado normativo. Observou-se que a incidncia da regra de exceo do 4 do art. 14 do CDC restringe-se responsabilidade civil dos profissionais liberais, no se estendendo aos demais fornecedores, inclusive aos hospitais e clnicas mdicas, a quem se aplica a regra geral da responsabilidade objetiva, dispensando a comprovao de culpa. Desse modo, na hiptese, o nus da prova da inexistncia de defeito na prestao do servio, por imposio do prprio legislador, da clnica recorrida, que, no entanto, poder excluir a sua responsabilidade civil mediante a comprovao de que inexistiu defeito na prestao de servio, demonstrando ter adimplido corretamente as suas obrigaes em relao paciente falecida. Ressaltou-se que no havia necessidade sequer de ser determinada, como fez o magistrado de primeiro grau, a inverso do nus da prova com base no art. 6, VIII, do CDC, pois essa inverso j fora feita pelo prprio legislador ao estatuir o 3 do art. 14 do mesmo codex. Trata-se da distino respectivamente entre a inverso ope judicis e a operada diretamente pela prpria lei (ope legis). Assim, entendeuse ter o acrdo recorrido violado texto expresso em lei, pois a responsabilidade da clnica objetiva (independentemente da culpa de seus prepostos no evento), sendo dela o nus da prova da inexistncia de defeito na prestao dos servios mdicos. Precedente citado: REsp 696.284-RJ, DJe 18/12/2009. REsp 986.648-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 10/5/2011 (ver Informativo n. 418).
INDENIZAO. ERRO MDICO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. HOSPITAL. Trata-se, na origem, de ao movida pelo ora recorrente, cnjuge da vtima falecida, contra a clnica, ora recorrida, fornecedora de servios mdico-hospitalares, postulando indenizao por danos materiais e morais. A alegao central na ao, como causa de pedir, a ocorrncia de defeito na prestao de servios consistente em sucessivos erros e omisses dos mdicos prepostos da clnica por um perodo de quase dois meses, no chegando ao diagnstico correto da doena de que era acometida a paciente, o que culminou em seu bito. Em primeiro grau, foi indeferida a denunciao da lide dos mdicos prepostos e deferida a inverso do nus da prova, com base no art. 6, VIII, do CDC. A recorrida interps agravo de instrumento ao qual foi dado parcial provimento pelo tribunal a quo, mantendo o indeferimento da denunciao da lide no caso dos mdicos, mas afastando a inverso do nus da prova com fundamento na regra do 4 do art. 14 do mesmo diploma legal, por reconhecer como subjetiva a responsabilidade civil da demandada. No REsp, o recorrente pretende a aplicao da regra do 3 do mencionado artigo e, consequentemente, o restabelecimento da sentena. Portanto, a
questo centra-se em definir o regime jurdico aplicvel responsabilidade civil da clnica recorrida pelos atos praticados pelos seus prepostos que culminaram na morte da paciente, esposa do recorrente. A Turma deu provimento ao recurso por entender que a regra geral do CDC para a responsabilidade pelo fato do servio, traada pelo caput do seu art. 14, que se trata de responsabilidade objetiva, ou seja, independente de culpa do fornecedor, como consignado no prprio enunciado normativo. Observou-se que a incidncia da regra de exceo do 4 do art. 14 do CDC restringe-se responsabilidade civil dos profissionais liberais, no se estendendo aos demais fornecedores, inclusive aos hospitais e clnicas mdicas, a quem se aplica a regra geral da responsabilidade objetiva, dispensando a comprovao de culpa. Desse modo, na hiptese, o nus da prova da inexistncia de defeito na prestao do servio, por imposio do prprio legislador, da clnica recorrida, que, no entanto, poder excluir a sua responsabilidade civil mediante a comprovao de que inexistiu defeito na prestao de servio, demonstrando ter adimplido corretamente as suas obrigaes em relao paciente falecida. Ressaltou-se que no havia necessidade sequer de ser determinada, como fez o magistrado de primeiro grau, a inverso do nus da prova com base no art. 6, VIII, do CDC, pois essa inverso j fora feita pelo prprio legislador ao estatuir o 3 do art. 14 do mesmo codex. Trata-se da distino respectivamente entre a inverso ope judicis e a operada diretamente pela prpria lei (ope legis). Assim, entendeu-se ter o acrdo recorrido violado texto expresso em lei, pois a responsabilidade da clnica objetiva (independentemente da culpa de seus prepostos no evento), sendo dela o nus da prova da inexistncia de defeito na prestao dos servios mdicos. Precedente citado: REsp 696.284-RJ, DJe 18/12/2009. REsp 986.648-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 10/5/2011 (ver Informativo n. 418).
RESPONSABILIDADE CIVIL. ERRO MDICO. INVERSO. NUS. PROVA. Cuida-se de REsp interposto contra acrdo em agravo de instrumento que, em ao de indenizao ajuizada pela ora agravada, manteve a inverso do nus da prova com fulcro no art. 6, VIII, do CDC. Para a ao, alegou a agravada erro mdico em procedimento cirrgico realizado pelo mdico (agravante), arrolado como ru ao lado do hospital onde foi realizada a cirurgia. Ressalta a Min. Relatora que, segundo a jurisprudncia do STJ, a responsabilidade subjetiva do mdico (art. 14, 4, do CDC) no exclui a possibilidade de inverso do nus da prova, se presentes os requisitos do art. 6, VIII, do CDC. Nesse caso, deve o profissional demonstrar ter agido com respeito s orientaes tcnicas aplicveis e ter adotado as devidas cautelas. Igualmente, explica que a inverso do nus da prova no implica procedncia do pedido, mas significa apenas que o juzo de origem, em razo dos elementos de prova j trazidos aos autos e da situao das partes, considerou presentes os requisitos do art. 6, VIII, do CDC (verossimilhana da alegao ou hipossuficincia), os quais no podem ser revistos em recurso especial (Sm n. 7-STJ). Diante do exposto, a Turma negou provimento ao agravo regimental. Precedentes citados: REsp 171.988-RS, DJ 28/6/1999, e REsp 696.284-RJ, DJe 18/12/2009. AgRg no Ag 969.015-SC, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 7/4/2011.
RECURSO ESPECIAL: 1) RESPONSABILIDADE CIVIL - ERRO DE DIAGNSTICO EM PLANTO, POR MDICO INTEGRANTE DO CORPO CLNICO DO HOSPITAL - RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO HOSPITAL; 2) CULPA RECONHECIDA PELO TRIBUNAL DE ORIGEM - 3) TEORIA DA PERDA DA CHANCE - 4) IMPOSSIBILIDADE DE REAPRECIAO DA PROVA PELO STJ - SMULA 7/STJ 1.- A responsabilidade do hospital objetiva quanto atividade de seu profissional plantonista (CDC, art. 14), de modo que dispensada demonstrao da culpa do hospital relativamente a atos lesivos decorrentes de culpa de mdico integrante de seu corpo clnico no atendimento. 2.- A responsabilidade de mdico atendente em hospital subjetiva, a verificao da culpa pelo evento danoso e a aplicao da Teoria da perda da chance demanda necessariamente o revolvimento do conjunto ftico-probatrio da causa, de modo que no pode ser objeto de anlise por este Tribunal (Smula 7/STJ). 3.- Recurso Especial do hospital improvido. (REsp 1184128/MS, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 08/06/2010, DJe 01/07/2010)
CIVIL. INDENIZAO. MORTE. CULPA. MDICOS. AFASTAMENTO. CONDENAO. HOSPITAL. RESPONSABILIDADE. OBJETIVA. IMPOSSIBILIDADE. 1 - A responsabilidade dos hospitais, no que tange atuao tcnico-profissional dos mdicos que neles atuam ou a eles sejam ligados por convnio, subjetiva, ou seja, dependente da comprovao de culpa dos prepostos, presumindo-se a dos preponentes. Nesse sentido so as normas dos arts. 159, 1521, III, e 1545 do Cdigo Civil de 1916 e, atualmente, as dos arts. 186 e 951 do novo Cdigo Civil, bem com a smula 341 - STF ( presumida a culpa do patro ou comitente pelo ato culposo do empregado ou preposto.). 2 - Em razo disso, no se pode dar guarida tese do acrdo de, arrimado nas provas colhidas, excluir, de modo expresso, a culpa dos mdicos e, ao mesmo tempo, admitir a responsabilidade objetiva do hospital, para conden-lo a pagar indenizao por morte de paciente.
3 - O art. 14 do CDC, conforme melhor doutrina, no conflita com essa concluso, dado que a responsabilidade objetiva, nele prevista para o prestador de servios, no presente caso, o hospital, circunscreve-se apenas aos servios nica e exclusivamente relacionados com o estabelecimento empresarial propriamente dito, ou seja, aqueles que digam respeito estadia do paciente (internao), instalaes, equipamentos, servios auxiliares (enfermagem, exames, radiologia), etc e no aos servios tcnicos-profissionais dos mdicos que ali atuam, permanecendo estes na relao subjetiva de preposio (culpa). 4 - Recurso especial conhecido e provido para julgar improcedente o pedido. (REsp 258.389/SP, Rel. Ministro 16.06.2005, DJ 22.08.2005 p. 275) FERNANDO GONALVES, QUARTA TURMA, julgado em
RECURSO ESPECIAL. AO DE INDENIZAO. RESPONSABILIDADE CIVIL. ERRO MDICO. NEGLIGNCIA. INDENIZAO. RECURSO ESPECIAL. 1. A doutrina tem afirmado que a responsabilidade mdica empresarial, no caso de hospitais, objetiva, indicando o pargrafo primeiro do artigo 14 do Cdigo de Defesa do Consumidor como a norma sustentadora de tal entendimento. Contudo, a responsabilidade do hospital somente tem espao quando o dano decorrer de falha de servios cuja atribuio afeta nica e exclusivamente ao hospital. Nas hipteses de dano decorrente de falha tcnica restrita ao profissional mdico, mormente quando este no tem nenhum vnculo com o hospital seja de emprego ou de mera preposio , no cabe atribuir ao nosocmio a obrigao de indenizar. 2. Na hiptese de prestao de servios mdicos, o ajuste contratual vnculo estabelecido entre mdico e paciente refere-se ao emprego da melhor tcnica e diligncia entre as possibilidades de que dispe o profissional, no seu meio de atuao, para auxiliar o paciente. Portanto, no pode o mdico assumir compromisso com um resultado especfico, fato que leva ao entendimento de que, se ocorrer dano ao paciente, deve-se averiguar se houve culpa do profissional teoria da responsabilidade subjetiva.
No entanto, se, na ocorrncia de dano impe-se ao hospital que responda objetivamente pelos erros cometidos pelo mdico, estar-se- aceitando que o contrato firmado seja de resultado, pois se o mdico no garante o resultado, o hospital garantir. Isso leva ao seguinte absurdo: na hiptese de interveno cirrgica, ou o paciente sai curado ou ser indenizado da um contrato de resultado firmado s avessas da legislao. 3. O cadastro que os hospitais normalmente mantm de mdicos que utilizam suas instalaes para a realizao de cirurgias no suficiente para caracterizar relao de subordinao entre mdico e hospital. Na verdade, tal procedimento representa um mnimo de organizao empresarial. 4. Recurso especial do Hospital e Maternidade So Loureno Ltda. provido. (REsp 908.359/SC, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, Rel. p/ Acrdo Ministro JOO OTVIO DE NORONHA, SEGUNDA SEO, julgado em 27/08/2008, DJe 17/12/2008)
PROCESSO CIVIL. AO INDENIZATRIA. INFECO HOSPITALAR POR CULPA DOS MDICOS. RESPONSABILIDADE SUBJETIVA. COMPROVAO DE CULPA. IMPOSSIBILIDADE DE REEXAME DE PROVAS. INCIDNCIA DA SMULA 07 DO STJ. DISSDIO JURISPRUDENCIAL NO COMPROVADO. 1. Em casos como o dos autos, esta eg. Corte tem entendimento firmado no sentido de que a responsabilidade do hospital subjetiva. 2. A pretenso recursal objetiva o reconhecimento da responsabilidade do recorrido pelo infortnio, com a conseqente verificao do nexo causal e reverso da concluso exposta no aresto impugnado, o que vedado ao Superior Tribunal de Justia em sede de recurso especial, conforme a orientao da Smula 7/STJ. 3. Para a comprovao e apreciao da divergncia jurisprudencial, devem ser mencionadas e expostas as circunstncias que identificam ou assemelham os casos confrontados, bem como juntadas cpias integrais dos julgados trazidos ou citado repositrio oficial de jurisprudncia. 4. Agravo regimental a que se nega provimento.
RECURSO ESPECIAL: 1) RESPONSABILIDADE CIVIL - HOSPITAL - DANOS MATERIAIS E MORAIS ERRO DE DIAGNSTICO DE SEU PLANTONISTA - OMISSO DE DILIGNCIA DO ATENDENTE APLICABILIDADE DO CDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR; 2) HOSPITAL - RESPONSABILIDADE - CULPA DE PLANTONISTA ATENDENTE, INTEGRANTE DO CORPO CLNICO - RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO HOSPITAL ANTE A CULPA DE SEU PROFISSIONAL; 3) MDICO - ERRO DE DIAGNSTICO EM PLANTO - CULPA SUBJETIVA - INVERSO DO NUS DA PROVA APLICVEL 4) ACRDO QUE RECONHECE CULPA DIANTE DA ANLISE DA PROVA - IMPOSSIBILIDADE DE REAPRECIAO POR ESTE TRIBUNAL - SMULA 7/STJ. 1.- Servios de atendimento mdico-hospitalar em hospital de emergncia so sujeitos ao Cdigo de Defesa do Consumidor. 2.- A responsabilidade do hospital objetiva quanto atividade de seu profissional plantonista (CDC, art. 14), de modo que dispensada demonstrao da culpa do hospital relativamente a atos lesivos decorrentes de culpa de mdico integrante de seu corpo clnico no atendimento. 3.- A responsabilidade de mdico atendente em hospital subjetiva, necessitando de demonstrao pelo lesado, mas aplicvel a regra de inverso do nus da prova (CDC. art. 6, VIII). 4.- A verificao da culpa de mdico demanda necessariamente o revolvimento do conjunto ftico-probatrio da causa, de modo que no pode ser objeto de anlise por este Tribunal (Smula 7/STJ). 5.- Recurso Especial do hospital improvido. (REsp 696284/RJ, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 03/12/2009, DJe 18/12/2009)
CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. CIRURGIA PLSTICA. DANO MORAL. O mdico que deixa de informar o paciente acerca dos riscos da cirurgia incorre em negligncia, e responde civilmente pelos danos resultantes da operao. Agravo regimental no provido. (AgRg no Ag 818.144/SP, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, TERCEIRA TURMA, julgado em 09.10.2007, DJ 05.11.2007 p. 264)
DANO MORAL. CIRURGIA PLSTICA. OBRIGAO. RESULTADO. RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. ERRO MDICO. ART. 14 DO CDC. CIRURGIA PLSTICA. OBRIGAO DE RESULTADO. CASO FORTUITO. EXCLUDENTE DE RESPONSABILIDADE. 1. Os procedimentos cirrgicos de fins meramente estticos caracterizam verdadeira obrigao de resultado, pois neles o cirurgio assume verdadeiro compromisso pelo efeito embelezador prometido. 2. Nas obrigaes de resultado, a responsabilidade do profissional da medicina permanece subjetiva. Cumpre ao mdico, contudo, demonstrar que os eventos danosos decorreram de fatores externos e alheios sua atuao durante a cirurgia. 3. Apesar de no prevista expressamente no CDC, a eximente de caso fortuito possui fora liberatria e exclui a responsabilidade do cirurgio plstico, pois rompe o nexo de causalidade entre o dano apontado pelo paciente e o servio prestado pelo profissional. 4. Age com cautela e conforme os ditames da boa-f objetiva o mdico que colhe a assinatura do paciente em termo de consentimento informado, de maneira a alert-lo acerca de eventuais problemas que possam surgir durante o ps-operatrio.
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RECURSO ESPECIAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. (REsp 1180815/MG, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 19/08/2010, DJe 26/08/2010) Em ao indenizatria por fracasso de procedimento plstico-cirrgico (abdominoplastia e mamoplastia com resultado de cicatrizes, necrose e deformao), o Tribunal a quo reformou a sentena, condenando o mdico a pagar todas as despesas despendidas com sucessivos tratamentos mdicos e verbas honorrias, devendo o quantum ser apurado em sede de liquidao, alm do pagamento de indenizao por dano moral, em razo da obrigao de resultado. Entendeu aquele Tribunal que o cirurgio plstico responde pelo insucesso da cirurgia diante da ausncia de informao de que seria impossvel a obteno do resultado desejado. Isso posto, o Min. Relator destaca que, no REsp, a controvrsia restringe-se exclusivamente em saber se presumida a culpa do cirurgio pelos resultados inversos aos esperados. Explica que a obrigao assumida pelos mdicos normalmente obrigao de meio, no entanto, em caso da cirurgia plstica meramente esttica, obrigao de resultado, o que encontra respaldo na doutrina, embora alguns doutrinadores defendam que seria obrigao de meio. Mas a jurisprudncia deste Superior Tribunal posiciona-se no sentido de que a natureza jurdica da relao estabelecida entre mdico e paciente nas cirurgias plsticas meramente estticas de obrigao de resultado, e no de meio. Observa que, nas obrigaes de meio, incumbe vtima demonstrar o dano e provar que ocorreu por culpa do mdico e, nas obrigaes de resultado, basta que a vtima demonstre, como fez a autora nos autos, o dano, ou seja, demonstrou que o mdico no obteve o resultado prometido e contratado para que a culpa presuma-se, da a inverso da prova. A obrigao de resultado no priva ao mdico a possibilidade de demonstrar, por meio de provas admissveis, que o efeito danoso ocorreu, como, por exemplo: fora maior, caso fortuito, ou mesmo culpa exclusiva da vtima. Concluiu que, no caso dos autos, o dano est configurado e o recorrente no conseguiu desvencilhar-se da culpa presumida. Diante do exposto, a Turma negou provimento ao recurso do cirurgio. Precedentes citados: REsp 326.014-RJ, DJ 29/10/2001; REsp 81.101-PR, DJ 31/5/1999, e REsp
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10.536-RJ, DJ 19/8/1991. REsp 236.708-MG, Rel. Min. Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF da 1 Regio), julgado em 10/2/2009.
ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL. OBRIGAO DE MEIO, E NO DE RESULTADO. ERRO MDICO. REEXAME DE PROVAS. SUMULA 07/STJ. 1. O Superior Tribunal de Justia entende que a relao entre mdico e paciente de meio, e no de fim (exceto nas cirurgias plsticas embelezadoras), o que torna imprescindvel para a responsabilizao do profissional a demonstrao de ele ter agido com culpa e existir o nexo de causalidade entre a sua conduta e o dano causado responsabilidade subjetiva, portanto. 2. Todavia, o acrdo recorrido entendeu que houve responsabilidade da Unio mediante ter ocorrido erro mdico, por meio de seu agente, pericialmente comprovado, o que afasta qualquer dvida sobre a sua responsabilidade em ressarcir os danos materiais e compensar o dano moral. O valor arbitrado pela sentena proferida pelo juzo singular em R$10.000,00 (dez mil reais) foi majorado em razo da gravidade do dano sofrido, que acarretou a incapacidade parcial e permanente do autor, com a perda de parte dos movimentos da perna esquerda, conforme o Tribunal de origem para R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais). 3. Resta ntido que a convico formada pelo Tribunal de origem decorreu dos elementos existentes nos autos. Rever a deciso recorrida importaria necessariamente no reexame de provas, o que defeso nesta fase recursal, nos termos da Smula 07/STJ. 4. Segundo entendimento pacfico do Superior Tribunal de Justia, somente possvel a modificao da indenizao por danos morais, se o valor arbitrado for manifestamente irrisrio ou exorbitante, de modo a causar enriquecimento sem causa e vulnerar os princpios da razoabilidade e da proporcionalidade, o que no ocorre no presente caso. 5. Agravo regimental no provido. (AgRg no Ag 1269116/RJ, Rel. Ministro 06/04/2010, DJe 14/04/2010) CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em
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DIREITO CIVIL. AO DE INDENIZAO. ERRO MDICO. OPERAO GINECOLGICA. MORTE DA PACIENTE. VERIFICAO DE CONDUTA CULPOSA DO MDICO-CIRURGIO. NECESSIDADE DE REEXAME DE PROVA. SUMLA 7/STJ. DANOS MORAIS. CRITRIOS PARA FIXAO. CONTROLE PELO STJ. I Dos elementos trazidos aos autos, concluiu o acrdo recorrido pela responsabilidade exclusiva do anestesista, que liberou, precocemente, a vtima para o quarto, antes de sua total recuperao, vindo ela a sofrer parada crdio-respiratria no corredor do hospital, fato que a levou a bito, aps passar trs anos em coma. A pretenso de responsabilizar, solidariamente, o mdico cirurgio pelo ocorrido importa, necessariamente, em reexame do acervo fticoprobatrio da causa, o que vedado em mbito de especial, a teor do enunciado 7 da Smula desta Corte. II O arbitramento do valor indenizatrio por dano moral sujeita-se ao controle do Superior Tribunal de Justia, podendo ser majorado quando se mostrar incapaz de punir adequadamente o autor do ato ilcito e de indenizar satisfatoriamente os prejuzos extrapatrimoniais sofridos. Recurso especial provido, em parte. (REsp 880.349/MG, Rel. Ministro CASTRO FILHO, TERCEIRA TURMA, julgado em 26.06.2007, DJ 24.09.2007 p. 297)
RESPONSABILIDADE CIVIL. CONSUMIDOR. INFECO HOSPITALAR. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO HOSPITAL. ART. 14 DO CDC. DANO MORAL. QUANTUM INDENIZATRIO. O hospital responde objetivamente pela infeco hospitalar, pois esta decorre do fato da internao e no da atividade mdica em si. O valor arbitrado a ttulo de danos morais pelo Tribunal a quo no se revela exagerado ou desproporcional s peculiaridades da espcie, no justificando a excepcional interveno desta Corte para rev-lo. Recurso especial no conhecido.
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Direito civil. Suicdio cometido por paciente internado em hospital, para tratamento de cncer. Hiptese em que a vtima havia manifestado a inteno de se suicidar para seus parentes, que avisaram o mdico responsvel dessa circunstncia. Omisso do hospital configurada, medida que nenhum providncia teraputica, como a sedao do paciente ou administrao de anti-depressivos, foi tomada para impedir o desastre que se havia anunciado. - O hospital responsvel pela incolumidade do paciente internado em suas dependncias. Isso implica a obrigao de tratamento de qualquer patologia relevante apresentada por esse paciente, ainda que no relacionada especificamente doena que motivou a internao. - Se o paciente, durante o tratamento de cncer, apresenta quadro depressivo acentuado, com tendncia suicida, obrigao do hospital promover tratamento adequado dessa patologia, ministrando anti-depressivos ou tomando qualquer outra medida que, do ponto de vista mdico, seja cabvel. - Na hiptese de ausncia de qualquer providncia por parte do hospital, possvel responsabiliz-lo pelo suicdio cometido pela vtima dentro de suas dependncias. Recurso especial no conhecido. (REsp 494.206/MG, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Rel. p/ Acrdo Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 16.11.2006, DJ 18.12.2006 p. 361)
AGRAVO REGIMENTAL. RESPONSABILIDADE MDICA. OBRIGAO DE MEIO. REEXAME FTICO-PROBATRIO. SMULA 07/STJ. INCIDNCIA. 1. Segundo doutrina dominante, a relao entre mdico e paciente contratual e encerra, de modo geral (salvo cirurgias plsticas embelezadoras), obrigao de meio e no de resultado. Precedente. 2. Afastada pelo acrdo recorrido a responsabilidade civil do mdico diante da ausncia de culpa e comprovada a pr-disposio do paciente ao descolamento da retina - fato
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ocasionador da cegueira - por ser portador de alta-miopia, a pretenso de modificao do julgado esbarra, inevitavelmente, no bice da smula 07/STJ. 3. Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp 256.174/DF, Rel. Ministro FERNANDO GONALVES, QUARTA TURMA, julgado em 04.11.2004, DJ 22.11.2004 p. 345)
RESPONSABILIDADE CIVIL. MDICO E HOSPITAL. INVERSO DO NUS DA PROVA. RESPONSABILIDADE DOS PROFISSIONAIS LIBERAIS - MATRIA DE FATO E JURISPRUDNCIA DO STJ (REsp. N 122.505-SP). 1. No sistema do Cdigo de Defesa do Consumidor a "responsabilidade pessoal dos
profissionais liberais ser apurada mediante a verificao de culpa" (art. 14, 4). 2. A chamada inverso do nus da prova, no Cdigo de Defesa do Consumidor, est no contexto da facilitao da defesa dos direitos do consumidor, ficando subordinada ao "critrio do juiz, quando for verossmil a alegao ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinrias de experincias" (art. 6, VIII). Isso quer dizer que no automtica a inverso do nus da prova. Ela depende de circunstncias concretas que sero apuradas pelo juiz no contexto da facilitao da defesa" dos direitos do consumidor. E essas circunstncias concretas, nesse caso, no foram consideradas presentes pelas instncias ordinrias. 3. Recurso especial no conhecido. (REsp 171.988/RS, Rel. Ministro 24.05.1999, DJ 28.06.1999 p. 104) WALDEMAR ZVEITER, TERCEIRA TURMA, julgado em
CIVIL E PROCESSUAL - CIRURGIA ESTTICA OU PLSTICA - OBRIGAO DE RESULTADO (RESPONSABILIDADE CONTRATUAL OU OBJETIVA) - INDENIZAO - INVERSO DO NUS DA PROVA.
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I - Contratada a realizao da cirurgia esttica embelezadora, o cirurgio assume obrigao de resultado (Responsabilidade contratual ou objetiva), devendo indenizar pelo no cumprimento da mesma, decorrente de eventual deformidade ou de alguma irregularidade. II - Cabvel a inverso do nus da prova. III - Recurso conhecido e provido. (REsp 81.101/PR, Rel. Ministro WALDEMAR ZVEITER, TERCEIRA TURMA, julgado em 13.04.1999, DJ 31.05.1999 p. 140)
DANO MORAL. VTIMA. TENRA IDADE. In casu, segundo os autos, criana de trs anos deixou de realizar, por recusa da clnica credenciada e pela ineficincia de seu plano de sade, exames radiolgicos prescritos por profissional habilitado com a finalidade de diagnosticar dores. A Turma deu provimento ao recurso da menor, representada por sua me, para reconhecer seu direito indenizao por dano moral. Observou-se que, embora a criana tenha percepo diferente e uma maneira peculiar de se expressar, est sujeita a medos, aflies e angstias, at mais prejudiciais do que as sentidas pelos adultos, pois, sem noo exata, percebe-os ao compartilhar a aflio da me. Ademais, a criana, mesmo de tenra idade, tem direito proteo irrestrita dos direitos da personalidade, entre os quais se inclui o direito integridade mental, o que lhe assegura indenizao por dano moral decorrente de sua violao (arts. 5, X, da CF/1988 e 12 do CC/2002). Mesmo nas hipteses em que o prejuzo ao menor decorra de uma relao de consumo (art. 6, VI, do CDC), -lhe assegurada a efetiva reparao do dano. Portanto, pelo dano moral causado pelas recorridas, h o dever de reparao. Ressaltou-se, ainda, que o plano de sade responsvel pela escolha de seus credenciados para que prestem um servio adequado, sob pena de responder solidariamente, como no caso, pelos danos causados (arts. 7, pargrafo nico, e 25, 1, do CDC). REsp 1.037.759-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 23/2/2010.
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AGRAVO INTERNO - AGRAVO DE INSTRUMENTO RECURSO ESPECIAL - RESPONSABILIDADE CIVIL - ERRO MDICO - EMPRESA PRESTADORA DO PLANO DE ASSISTNCIA SADE LEGITIMIDADE PASSIVA. A empresa prestadora do plano de assistncia sade parte legitimada passivamente para ao indenizatria proposta por associado em decorrncia de erro mdico por profissional por ela credenciado. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no Ag 682.875/RJ, Rel. Ministro PAULO FURTADO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/BA), TERCEIRA TURMA, julgado em 15/09/2009, DJe 15/10/2009)
CIVIL E PROCESSUAL. AO DE REPARAO DE DANOS. PLANO DE SADE. ERRO EM TRATAMENTO ODONTOLGICO. RESPONSABILIDADE CIVIL. LITISCONSRCIO NECESSRIO NO CONFIGURADO. CERCEAMENTO DE DEFESA INOCORRENTE. MATRIA DE PROVA. REEXAME. IMPOSSIBILIDADE. PREQUESTIONAMENTO. AUSNCIA. SMULAS NS. 282 E 356-STF. I. A empresa prestadora do plano de assistncia sade parte legitimada passivamente para a ao indenizatria movida por filiado em face de erro verificado em tratamento odontolgico realizado por dentistas por ela credenciados, ressalvado o direito de regresso contra os profissionais responsveis pelos danos materiais e morais causados. II. Inexistncia, na espcie, de litisconsrcio passivo necessrio. III. Cerceamento de defesa inocorrente, fundado o acrdo em prova tcnica produzida nos autos, tida como satisfatria e esclarecedora, cuja desconstituio, para considerar-se necessria a colheita de testemunhos, exige o reexame do quadro ftico, com bice na Smula n. 7 do STJ. IV. Ausncia de suficiente prequestionamento em relao a tema suscitado. V. Recurso especial no conhecido. (REsp 328.309/RJ, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em 08.10.2002, DJ 17.03.2003 p. 234)
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CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. PRESTAO DE SERVIOS MDICOS. Quem se compromete a prestar assistncia mdica por meio de profissionais que indica, responsvel pelos servios que estes prestam. Recurso especial no conhecido. (REsp 138.059/MG, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, TERCEIRA TURMA, julgado em 13.03.2001, DJ 11.06.2001 p. 197)
SMULA 145, STJ - NO TRANSPORTE DESINTERESSADO, DE SIMPLES CORTESIA, O TRANSPORTADOR SO SERA CIVILMENTE RESPONSAVEL POR DANOS CAUSADOS AO TRANSPORTADO QUANDO INCORRER EM DOLO OU CULPA GRAVE.
RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DE TRNSITO. TRANSPORTE DE SIMPLES CORTESIA OU BENVOLO EM CARROCERIA ABERTA, SEM PROTEO. CULPA GRAVE (MODALIDADE CULPA CONSCIENTE) CONFIGURADA. VALOR DA CONDENAO. REDUO. IMPOSSIBILIDADE. INCIDNCIA DA SMULA 284/STF. 1. Em se tratando de transporte desinteressado, de simples cortesia, s haver possibilidade de condenao do transportador se comprovada a existncia de dolo ou culpa grave (Smula 145/STJ). 2. Resta configurada a culpa grave do condutor de veculo que transporta gratuitamente passageiro, de forma irregular, ou seja, em carroceira aberta, uma vez que previsvel a ocorrncia de graves danos, ainda que haja a crena de que eles no iro acontecer. 3. No possvel o conhecimento da pretenso de reduo da condenao, pois o recorrente no apontou qualquer lei que teria sido vulnerada pelo acrdo recorrido. Aplica-
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se, por analogia, na espcie, o disposto na Smula 284 do STF: inadmissvel o recurso extraordinrio, quando a deficincia na sua fundamentao no permitir a exata compreenso da controvrsia. 4. Recurso especial desprovido. (REsp 685.791/MG, Rel. Ministro VASCO DELLA GIUSTINA (DESEMBARGADOR
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. TRANSPORTE AREO. INDENIZAO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. DISSDIO JURISPRUDENCIAL. 1. Aps o advento do Cdigo de Defesa do Consumidor, a responsabilidade civil do transportador areo pelo extravio de mercadoria subordina-se ao princpio da ampla reparao, afastando-se a indenizao tarifada prevista na Conveno de Varsvia. 2. Em se tratando de danos morais, torna-se incabvel a anlise do recurso com base na divergncia pretoriana, pois, ainda que haja grande semelhana nas caractersticas externas e objetivas, no aspecto subjetivo, os acrdos so sempre distintos. 3. Agravo regimental desprovido. (AgRg no Ag 1230663/RJ, Rel. Ministro JOO OTVIO DE NORONHA, QUARTA TURMA, julgado em 24/08/2010, DJe 03/09/2010)
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL EM EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXTRAVIO DE BAGAGEM. CONVENO DE VARSVIA. INAPLICABILIDADE. DIVERGNCIA JURISPRUDENCIAL NO CONFIGURADA. 1. O acrdo recorrido encontra-se em consonncia com o entendimento preconizado por esta Corte, no sentido de que a responsabilidade do transportador areo, pelo extravio de bagagem ou de carga, rege-se pelo CDC, se o evento deu-se em sua vigncia. Incide, pois, na espcie, a Smula 83/STJ.
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2. A divergncia jurisprudencial ensejadora da admissibilidade, do prosseguimento e do conhecimento do recurso h de ser especfica, revelando a existncia de teses diversas na interpretao de um mesmo dispositivo legal, embora idnticos os fatos que as ensejaram, o que no ocorre in casu. 3.No se revela admissvel o recurso excepcional, quando a deficincia na sua fundamentao no permitir a exata compreenso da controvrsia. Incidncia, mutatis mutandis, da Smula 284-STF. 4. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no Ag 1089538/RJ, Rel. Ministro HONILDO AMARAL DE MELLO CASTRO
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/AP), QUARTA TURMA, julgado em 25/08/2009, DJe 02/09/2009) Alm deste entendimento sumulado, merece destaque tambm o enfrentamento do transporte aeronutico e a incidncia do Cdigo de Defesa do Consumidor.
AGRAVO REGIMENTAL. TRANSPORTE AREO DE MERCADORIAS. EXTRAVIO OU PERDA. AO DE INDENIZAO. CONVENO DE VARSVIA. CDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. firme a jurisprudncia desta Corte no sentido de que a responsabilidade civil do transportador areo pelo extravio de bagagem ou de carga rege-se pelo Cdigo de Defesa do Consumidor, se o evento se deu em sua vigncia, afastando-se a indenizao tarifada prevista na Conveno de Varsvia. Agravo improvido. (AgRg no Ag 827.374/MG, Rel. Ministro 04/09/2008, DJe 23/09/2008) SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em
CIVIL. TRANSPORTE AREO. BAGAGEM. EXTRAVIO OU PERDA. DANOS. INDENIZAO. CONVENO DE VARSVIA. AFASTAMENTO. CDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. APLICAO.
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1 - A responsabilidade civil do transportador areo pelo extravio ou perda de bagagem regulase pelo Cdigo de Defesa do Consumidor, ficando, pois, elidida a aplicao dos parmetros tarifados da Conveno de Varsvia. Precedente da Segunda Seo. 2 - Recurso especial conhecido em parte e, nesta extenso, provido. (REsp 347.449/RJ, Rel. Ministro 26.10.2004, DJ 29.11.2004 p. 342) FERNANDO GONALVES, QUARTA TURMA, julgado em
CIVIL. RESPONSABILIDADE DO TRANSPORTADOR. Se, contratualmente, o transportador estava obrigado a fazer o seguro facultativo da carga para evitar os prejuzos resultantes do seu desaparecimento, inclusive em decorrncia de roubo, e deixa de faz-lo, caracterizada est sua responsabilidade pelo ressarcimento dos danos resultantes desse evento. Agravo regimental no provido. (AgRg no REsp 439.628/MG, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, TERCEIRA TURMA, julgado em 16.03.2006, DJ 10.04.2006 p. 169)
CIVIL. TRANSPORTE AREO. CARGA. MERCADORIA. EXTRAVIO. TRANSPORTADOR. INDENIZAO INTEGRAL. CDC. APLICAO. CONVENO DE VARSVIA. AFASTAMENTO. 1 - A jurisprudncia pacfica da Segunda Seo no sentido de que o transportador areo, seja em viagem nacional ou internacional, responde (indenizao integral) pelo extravio de bagagens e cargas, ainda que ausente acidente areo, mediante aplicao do Cdigo de Defesa do Consumidor, desde que o evento tenha ocorrido na sua vigncia, conforme sucede na espcie. Fica, portanto, afastada a incidncia da Conveno de Varsvia e, por via de conseqncia, a indenizao tarifada. 2 - Recurso especial conhecido e provido para restabelecer a sentena. (REsp 552.553/RJ, Rel. Ministro 12.12.2005, DJ 01.02.2006 p. 561) FERNANDO GONALVES, QUARTA TURMA, julgado em
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RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. TRANSPORTE FERROVIRIO. 'PINGENTE'. CULPA CONCORRENTE. PRECEDENTES DA CORTE. I - dever da transportadora preservar a integridade fsica do passageiro e transport-lo com segurana at o seu destino. II - A responsabilidade da companhia de transporte ferrovirio no excluda por viajar a vtima como "pingente", podendo ser atenuada se demonstrada a culpa concorrente. Precedentes. Recurso especial parcialmente provido. (REsp 226.348/SP, Rel. Ministro 19/09/2006, DJ 23/10/2006 p. 294) CASTRO FILHO, TERCEIRA TURMA, julgado em
Finalmente, vale consignar jurisprudncia acerca do indesejvel overbooking, prtica antijurdica, que pode ensejar responsabilidade civil da companhia que o pratique:
INDENIZAO. ATRASO. VO. OVERBOOKING. S aps o atraso de cerca de 24 horas os recorridos puderam embarcar em vo internacional, isso devido ao excesso na lotao da aeronave. Anotando que o overbooking prtica condenvel e intolervel, pois s leva em conta o interesse da companhia area, que assume o risco de deixar viajantes em terra por sua mera convenincia administrativa, em franco desrespeito ao consumidor, a Turma entendeu que, nesse caso, a aflio causada aos passageiros excede substancialmente o mero percalo comum na vida das pessoas, gerando o direto indenizao. (STJ, REsp 211.604-SC, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, julgado em 25/3/2003).
E mais recentemente: RECURSO ESPECIAL - AO DE INDENIZAO POR DANO MORAL - NEGATIVA DE PRESTAO JURISDICIONAL - NO OCORRNCIA - INDEVIDA INVERSO DOS NUS PROBATRIOS - NO VERIFICAO - APLICAO DAS REGRAS DE EXPERINCIA SOBRE OS
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ELEMENTOS FTICOS-PROBATRIOS - POSSIBILIDADE - OVERBOOKING - COMPANHIA QUE PERMITE O EMBARQUE DO PASSAGEIRO E O ACOMODA NA CABINE DOS PILOTOS - DANO MORAL - VERIFICAO - QUANTUM - REDUO - NECESSIDADE - JUROS DE MORA APLICAO DO PRINCPIO DO TEMPUS REGIT ACTUM - RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE PROVIDO. I - A concluso do acrdo resultante da aplicao das regras de experincia sobre os elementos fticos-probatrios reunidos nos autos. Procedimento, alis, absolutamente correto e respaldado pelo artigo 131 do Cdigo de Processo Civil; II - O autor logrou xito em comprovar o fato constitutivo de seu direito; III - possvel aferir todo o constrangimento suportado pelo ora recorrido, que se iniciou perante os funcionrios da companhia, para conseguir embarcar na aeronave, prosseguiu, na constatao de que seu assento por outra pessoa estava ocupado, e culminou com sua indevida acomodao na cabine dos pilotos, frustrando, inequivocamente, todas as expectativas naturais que o contrato de transporte pode gerar ao passageiro; IV - A despeito da reprovvel conduta da empresa-area (venda de bilhetes em nmero superior capacidade de assentos na aeronave), culminando com a indevida acomodao do passageiro na cabine de pilotos (procedimento, alis, contrrio s normas mais singelas de segurana), durante as duas horas de seu vo, conforme d conta a sentena, tais fatos no ensejaram maiores conseqncias, a corroborar o elevado arbitramento pelo Tribunal de origem; V - Aos juros moratrios, por referirem-se ao ressarcimento decorrente do inadimplemento da obrigao, a qual se protrai no tempo, deve-se aplicar o princpio tempus regit actum; VI- Recurso Especial parcialmente provido. (REsp 750.128/RS, Rel. Ministro 05/05/2009, DJe 15/05/2009) MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA, julgado em
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Em nosso sentir, o prazo previsto no pargrafo nico deste artigo concerne apenas a eventuais vcios de qualidade que prejudiquem a econimicidade ou a utilizao da obra realizada. Ou seja, o dono da obra ter o prazo decadencial de 180 dias para redibir o contrato, rejeitando a obra, ou, eventualmente, pleitear o abatimento no preo, caso constate qualquer defeito desta natureza. Trata-se, pois, de regra especfica, que prevaleceria em face da prevista no art. 445 do Cdigo Civil, referente aos vcios redibitrios em geral. Registre-se, porm, que o termo inicial de tal prazo no se identifica com a celebrao do negcio jurdico, mas sim com a manifestao do vcio ou defeito1.
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CIVIL E PROCESSUAL CIVIL - RELATRIO QUE NO MENCIONA UM DOS ARGUMENTOS DA CONTESTAO - APRECIAO NA SENTENA - AUSNCIA DE PREJUZO - RECURSO ADESIVO - MATRIA NO APRECIADA PELA SENTENA - AUSNCIA DE EMBARGOS DECLARATRIOS - NO CONHECIMENTO - RESPONSABILIDADE CIVIL DO CONSTRUTOR PRAZO.- 1) NO IMPLICA EM NULIDADE A AUSNCIA DE EXPRESSA MENO NO RELATRIO DE FATO ALEGADO NA DEFESA, DESDE QUE A SENTENA O TENHA APRECIADO. NO SE DECRETA NULIDADE QUANDO NO H PREJUZO. 2) NO SE CONHECE DO RECURSO ATACANDO OMISSO DA SENTENA QUE NO FOI OBJETO DE EMBARGOS DECLARATRIOS. RESPONSABILIDADE CIVIL DO CONSTRUTOR. EDIFCIO QUE APRESENTA RACHADURAS NO MESMO ANO EM QUE FOI ENTREGUE AOS CONDMINOS. REALIZAO DE REPAROS PELO CONSTRUTOR. RESSURGIMENTO DOS PROBLEMAS E ASSUNO FORMAL DE RESPONSABILIDADE PELO MESMO CONSTRUTOR.SE OS CONSERTOS REALIZADOS NO RESOLVEREM O PROBLEMA DE RACHADURAS APARENTES, QUE VOLTAM A RESSURGIR POUCO TEMPO DEPOIS, A INDICAR DEFICINCIA DA ESTRUTURA, RESPONSABILIDADE DO CONSTRUTOR PROCEDER AOS REPAROS, MESMO SE DECORRIDOS MAIS DE CINCO ANOS DESDE A ENTREGA FORMAL DA OBRA. INTELIGNCIA DO ART. 1.245, DO CDIGO CIVIL. (TJDF, APELAO CVEL APC4462497 DF , Acordo Nmero : 112865, Data de
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Se, entretanto, tiver havido dano proveniente de falha na estrutura da obra, por defeito de segurana ou solidez, o direito de pleitear a reparao por perdas e danos (formulando a pretenso em juzo) poder ser postulado no prazo prescricional geral de trs (CC) ou cinco anos (CDC), como visto acima, caso se cuide ou no de relao de consumo. como pensamos.2 Nesse diapaso, vale afirmar que a entrega da chave do imvel no traduz absoluta iseno de responsabilidade.
Civil. Recurso especial. Ao de indenizao por perdas e danos e resciso contratual. Julgamento "extra-petita". Inocorrncia. Responsabilidade do construtor. Defeitos na construo. - No h julgamento 'extra petita' quando acolhida a pretenso do autor, segundo pode-se compreender das afirmativas contidas na petio inicial. - A entrega do imvel ao comprador no corresponde ao exaurimento, por parte do empreiteiro, construtor ou financiador de imvel residencial, de sua obrigao contratual ante a impossibilidade de que haja, neste instante, comprovao plena da segurana e solidez da unidade residencial. Recurso no conhecido. (REsp 590.385/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 05.10.2004, DJ 05.09.2005 p. 399)
Julgamento : 23/11/1998, rgo Julgador : 2 Turma Cvel, Relator : GEORGE LOPES LEITE, Publicao no DJU: 12/05/1999 Pg. : 43) 2 Ver o nosso vol. III Responsabilidade Civil (Novo Curso de Direito Civil), escrito em coautoria com Rodolfo Pamplona Filho, Saraiva.
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AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. RESPONSABILIDADE CIVIL. CONDOMNIO. FURTO EM UNIDADE AUTNOMA. MATRIA DE PROVA. SMULA 7/STJ. ALEGADA EXISTNCIA DE CLUSULA DE RESPONSABILIDADE. SMULA 5/STJ. PREPOSTO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO CONDOMNIO. AUSNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SMULA 211/STJ. PRECEDENTES. 1. A Segunda Seo desta Corte firmou entendimento no sentido de que "O condomnio s responde por furtos ocorridos nas suas reas comuns se isso estiver expressamente previsto na respectiva conveno." (EREsp 268669/SP, Relator o Ministro ARI PARGENDLER, DJ de 26.4.2006) 2. Na hiptese dos autos, o acrdo recorrido est fundamentado no fato de que: (a) o furto ocorreu no interior de uma unidade autnoma do condomnio e no em uma rea comum; (b) o autor no logrou xito em demonstrar a existncia de clusula de responsabilidade do condomnio em indenizar casos de furto e roubo ocorridos em suas dependncias. 3. Para se concluir que o furto ocorreu nas dependncias comuns do edifcio e que tal responsabilidade foi prevista na Conveno do condomnio em questo, como alega a agravante, seria necessrio rever todo o conjunto ftico probatrio dos autos, bem como analisar as clusulas da referida Conveno, medidas, no entanto, incabveis em sede de recurso especial, a teor das Smulas 5 e 7 desta Corte. 4. Impossibilidade de anlise da questo relativa responsabilidade objetiva do condomnio pelos atos praticados por seus prespostos por ausncia de prequestionamento. 5. Agravo regimental a que se nega provimento.
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(AgRg no Ag 1102361/RJ, Rel. Ministro RAUL ARAJO, QUARTA TURMA, julgado em 15/06/2010, DJe 28/06/2010)
RESPONSABILIDADE CIVIL - CONDOMNIO - SUBTRAO DE EQUIPAMENTO DE SOM E DE PERTENCES DEIXADOS NO INTERIOR DE AUTOMVEL ESTACIONADO NA GARAGEM COLETIVA DO PRDIO - INEXISTNCIA DE PREPOSTO, COM A INCUMBNCIA DE GUARDAR E VIGIAR OS VECULOS - ENCARGO DE PROMOVER VIGILNCIA, COMETIDO AO SNDICO, EM CARTER GENRICO, QUE HAVER DE SER EXERCIDO EM SINTONIA COM OS MEIOS POSTOS SUA DISPOSIO, PELO ORAMENTO DE RECEITAS - INEXISTNCIA DE APARATO ESPECFICO DE VIGILNCIA E SEGURANA - SUBTRAO, ADEMAIS, QUE TERIA SIDO COMETIDA, COM AMEAA A MO ARMADA NO CONFIGURAO DE CULPA IN VIGILANDO - RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E PROVIDO. - Ao contrrio da posio adotada pela Corte de origem, mostra-se relevante a necessidade expressa previso na conveno ou, ainda, de deliberao tomada em assemblia no sentido de que o condomnio tenha, especificamente, servio de guarda e vigilncia de veculos. In casu, a circunstncia de existir porteiro ou vigia na guarita no resulta em que o
condomnio estaria a assumir a prefalada guarda e vigilncia dos automveis, que se encontram estacionados na rea comum, a ponto de incidir em responsabilidade por eventuais subtraes ou danos perpetrados. -Em harmonia com os precedentes desta Corte Superior, bem como com lies doutrinrias, merece acolhida o inconformismo, a repercutir na inverso do nus da sucumbncia. - Recurso especial conhecido e provido. (REsp 618.533/SP, Rel. Ministro HLIO QUAGLIA BARBOSA, QUARTA TURMA, julgado em 03/05/2007, DJ 04/06/2007 p. 356)
CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. CONDOMNIO. O condomnio s responde por furtos ocorridos nas suas reas comuns se isso estiver expressamente previsto na respectiva conveno. Embargos de divergncia no conhecidos.
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(EREsp 268.669/SP, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, SEGUNDA SEO, julgado em 08/03/2006, DJ 26/04/2006 p. 198)
Civil. Recursos Especiais. Ao de compensao por danos morais. Agresses fsicas entre condminos. Ausncia de responsabilidade do condomnio. Dissdio jurisprudencial. Cotejo analtico e similitude ftica. Ausncia. - Hiptese em que foi ajuizada ao de compensao por danos morais por condmino, em face do condomnio, decorrente de agresso fsica praticada na garagem do prdio. - O condomnio no responde pelos danos morais sofridos por condmino, em virtude de leso corporal provocada por outro condmino, em suas reas comuns, salvo se o dever jurdico de agir e impedir a ocorrncia do resultado estiver previsto na respectiva conveno condominial. - O dissdio jurisprudencial deve ser comprovado mediante o cotejo analtico entre acrdos que versem sobre situaes fticas idnticas. Recurso especial do condomnio conhecido e provido, e negado provimento ao recurso especial do condmino. (REsp 1036917/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 24/11/2009, DJe 02/12/2009)
Condomnios X moradores - como o STJ tem resolvido esses conflitos 10/05/2009 O morador que nunca teve problemas com um vizinho, sndico ou condomnio residencial uma raridade. As encrencas so muitas: barulho, uso de reas comuns, uso incorreto do dinheiro do condomnio, bichos, garagem, festas... Muitas vezes, os problemas so resolvidos extrajudicialmente: numa boa conversa, num bate-boca acalorado nas reunies de condomnio ou com uma multa. Mas h litgios que s o Poder Judicirio capaz de sanar.
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De acordo com o Sindicato dos Condminos Residenciais e Comerciais do Distrito Federal, 95% dos casos vo parar nos juizados especiais, pois geralmente so pequenos conflitos que envolvem baixos valores. As aes que vo para a justia comum costumam envolver questes mais complexas e altos valores de indenizaes. Algumas delas ultrapassam as instncias ordinrias da Justia e chegam aos tribunais superiores. O Superior Tribunal de Justia (STJ) vem julgando vrios processos envolvendo condomnios residenciais, sndicos e moradores. Conhea, abaixo, qual a posio do Tribunal sobre alguns dos principais assuntos relacionados a esses tipos de conflitos.
Dois moradores de um edifcio no Rio de Janeiro recorreram ao STJ para anular a conveno de condomnio. Eles contestavam a autorizao para uso exclusivo e individual de reas comuns, no caso, pequenos depsitos construdos na garagem, alegando violao da Lei n. 4.591/64, a Lei dos Condomnios. De acordo com o processo, h um depsito para cada condmino e a distribuio foi feita por sorteio. Os depsitos so utilizados h mais de quinze anos, com aprovao dos demais moradores, com exceo dos recorrentes.
O STJ j tem consolidado o entendimento de que possvel a utilizao, em carter exclusivo, de partes comuns do condomnio, desde que aprovada em assemblia. At porque o artigo 3 da Lei n. 4.591/64 determina que a conveno delibere sobre o modo de uso das partes comuns. (Resp 281290)
Furto em garagem
O condomnio s responde por furtos ocorridos nas suas reas comuns se isso estiver expressamente previsto em conveno. Seguindo essa jurisprudncia pacificada no STJ, a Quarta Turma acolheu recurso de um condomnio que havia sido condenado a indenizar um
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morador pelo furto de parte do aparelho som instalado em seu veculo, que estava estacionado na garagem do prdio. Para o STJ, no h fundamento jurdico para responsabilizar o condomnio quando ele no assumiu nenhuma obrigao quanto guarda de veculos perante os condminos.
H um precedente que esclarece bem a situao. No julgamento do Resp 268669, foi decidido que a responsabilidade do condomnio por atos ilcitos contra os moradores ocorridos nas reas comuns s pode ser reconhecida quando estiver expressamente prevista na conveno e claramente assumida. Isso porque a socializao do prejuzo sofrido por um dos condminos onera a todos, e preciso que todos, ou a maioria exigida, estejam conscientes dessa obrigao e a ela tenham aderido. (Resp 618533 e Resp 2688669 ).
Sndico faz uso particular de verba do condomnio No so raros os casos em que o sndico faz uso indevido do dinheiro do condomnio. A Sexta Turma julgou um habeas-corpus impetrado por um sndico condenado por apropriao indbita. Em duas ocasies, ele usou dinheiro do condomnio para pagar despesas pessoais. Ele queria que a ao penal fosse parcialmente trancada, alegando que, em uma das situaes, havia interesse do condomnio. Ele usou o dinheiro no pagamento de advogado para ajuizar uma ao privada contra uma moradora que o havia injuriado. Acrescentou que no sabia estar agindo de forma ilcita contratando esse servio.
A Turma negou o habeas-corpus por considerar que a ofensa supostamente feita contra o sndico no ultrapassou sua prpria pessoa. Alm disso, o valor gasto com o advogado ultrapassou o equivalente a dez salrios mnimos, quantia que precisava de prvia autorizao do condomnio para ser gasta. De acordo com a sentena, o sndico tinha plena conscincia dessa exigncia. (HC 105559 ).
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Prestao de contas O condmino, individualmente, pode pedir prestao de contas ao sndico quando ela no tiver sido feita por falta de convocao de assemblia e diante da impossibilidade de obteno de quorum para realizao de assemblia extraordinria. Em um recurso especial julgado pela Terceira Turma, o sndico contestou a legalidade desse pedido individual de prestao de contas. Alegou que a Lei n. 4.591/64 d essa legitimidade ao condomnio, e no aos condminos de forma direta e individualizada.
A Turma decidiu, por unanimidade, que a lei no atribui exclusividade assemblia nem exclui literalmente a possibilidade de algum condmino pedir prestao de contas ao sndico, ainda mais com a peculiaridade do caso em que as contas no foram prestadas assemblia. A deciso ressaltou que no admitido ao condmino pedir a prestao de contas j aprovadas pela assemblia.
Acidentes e crimes no condomnio O condomnio no civilmente responsvel por todos os fatos que ocorrem no seu interior. o caso de atos dolosos praticados por terceiros. Essa tese foi aplicada no julgamento de um recurso especial em que a famlia de um homem assassinado pelo vigia do prdio pretendia responsabilizar o condomnio. Por unanimidade, a Quarta Turma entendeu que, mesmo estando a administrao do condomnio a cargo do sndico, no se pode concluir que ele seja o responsvel por todos os danos sofridos pelos condminos, notadamente os causados por atos dolosos de terceiros.
Em outro caso, a Quarta Turma condenou um condomnio a indenizar e cobrir o tratamento mdico de uma menina que, em 1998, quando tinha dez de idade, teve os cabelos sugados por um equipamento de limpeza enquanto nadava na piscina. Ela ficou em estado vegetativo em
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consequncia do afogamento. Percia comprou que o equipamento, uma bomba de suco, era excessivamente potente para o tamanho da piscina, alerta que constava no manual, e que ele foi instalado sem acompanhamento tcnico adequado. A me da vtima recorreu ao STJ para responsabilizar o condomnio. Os ministros atenderam esse pedido por considerar que, alm do uso inadequado da bomba de suco, o condomnio no instalou placas de alerta para o perigo nem impediu que a piscina fosse utilizada no momento em que a limpeza dela estava sendo realizada.(Resp 579121 e Resp 1081432). Processos: Resp 281290; Resp 618533; Resp 2688669; Resp 535696; Resp 579121; Resp 1081432; HC 105559
Fonte: http://www.stj.jus.br/portal_stj/objeto/texto/impressao.wsp?tmp.estilo=&tmp.area=398&tmp.texto=91921 acessado em 24 de maio de 2009.
7. Texto Complementar
Segue texto nosso acerca da responsabilidade dos bancos por assalto em terminais eletrnicos.
1 Introduo
Recentemente, o Superior Tribunal de Justia, por ocasio do julgamento do Recurso Especial n 488.310 - RJ (2002/0170598-3), sendo relator o ento Min. Ruy Rosado de Aguiar, e, para o acrdo, o Min. Aldir Passarinho Jnior, enfrentou um dos mais palpitantes temas da atualidade, na seara da Responsabilidade Civil.
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Posto no houvesse sido conhecido o recurso, o STJ, neste julgado, descortinou o seu entendimento no que tange a uma das mais lamentveis e freqentes cenas dos grandes centros urbanos brasileiros: o assalto nos caixas bancrios eletrnicos.
CIVIL E PROCESSUAL. ACRDO ESTADUAL. NULIDADE NO CONFIGURADA. AO DE INDENIZAO. RESPONSABILIDADE CIVIL. ASSALTO EM CAIXA ELETRNICO OCORRIDO DENTRO DA AGNCIA BANCRIA. MORTE DA VTIMA. DEVER DE INDENIZAR. I. No h omisso, contradio ou obscuridade no acrdo estadual, eis que o mesmo enfrentou, suficientemente, a matria controvertida, apenas que com concluses desfavorveis parte r. II. Inocorrendo o assalto, em que houve vtima fatal, na via pblica, porm, sim, dentro da agncia bancria onde o cliente sacava valor de caixa eletrnico aps o horrio do expediente, responde a instituio r pela indenizao respectiva, pelo seu dever de proporcionar segurana adequada no local, que est sob a sua responsabilidade exclusiva. III. Recurso especial no conhecido.
Trata-se, em sntese, da trgica morte de correntista, assaltado e fatalmente agredido ao sacar dinheiro em terminal de auto-atendimento, no interior da agncia bancria.
Circunstncia peculiar, alis, que deve ser registrada o fato de o roubo haver ocorrido fora do horrio do expediente.
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Tal entendimento rende ensejo a uma profunda reflexo acerca da responsabilidade civil do banco, luz da teoria da atividade de risco, explicitamente consagrada no art. 927 do Cdigo Civil de 2002.
Neste texto, portanto, cuidaremos de analisar os termos do presente acrdo, passando em revista a responsabilidade civil das instituies financeiras e do Estado, em uma indispensvel perspectiva civil-constitucional. 2 Passando em Revista a Responsabilidade Civil dos Bancos3
Inicialmente, cumpre-nos, por amor preciso cientfica, fazermos um registro de cunho terminolgico.
A palavra banco, nos dias que correm, perdeu espao para a expresso instituio financeira, mais abrangente e precisa, por caracterizar, no apenas os estabelecimentos que gerenciam a guarda e o depsito de valores (bancos, na acepo tradicional), mas, sobretudo, por traduzir a idia de instituio de crdito.
Na realidade, o banco moderno no se restringe a recolher as economias monetrias dos que lhas confiam, para emprest-las, atravs do mtuo de dinheiro, aos seus clientes, como ocorria no passado. Atualmente, o conceito de banco foi substitudo ou complementado pelo de instituio financeira, ou at de conglomerado financeiro, cuja funo no mercado o exerccio do crdito sob as suas novas e sofisticadas formas, das
Sobre o tema, discorremos em nosso Novo Curso de Direito Civil III, Responsabilidade Civil, 2 edio. So Paulo: Saraiva, 2004.
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quais o recebimento de depsitos em dinheiro e sua aplicao uma das mais antigas, mas no a nica.
E conclui o autor:
, portanto, o exerccio tcnico e profissional do crdito, que tanto pode ser de dinheiro, quanto de outra natureza (o de assinatura, p. ex., atravs do aceite cambial ou do aval), que caracteriza a instituio financeira, e o estabelecimento de crdito, hoje intensamente empolgados pelos chamados servios bancrios.4
A par de tais consideraes, corrente na prtica judiciria a utilizao da palavra banco, pelo que empregaremos, neste texto, ambas as expresses como sinnimas.
Posto isso, devemos enfrentar tema mais espinhoso: devem os bancos (ou instituies financeiras) responder por eventuais danos sofridos por seus clientes (consumidores), em virtude de assalto, por ocasio do uso de terminal eletrnico, mesmo fora do horrio de expediente?
Para respondermos adequadamente esta indagao, necessrio analisarmos a responsabilidade civil em uma trplice perspectiva, como veremos abaixo.
3 Planos de Anlise da Responsabilidade Civil dos Bancos: em face de seus prepostos, de terceiros e dos seus clientes (consumidores)
WALD, Arnoldo. O Novo Direito Monetrio. 2. Ed. So Paulo: Malheiros Editores, 2002, pg. 186.
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Pelos danos causados aos seus prepostos (empregados), respondem as instituies na forma da legislao especfica em vigor, segundo os princpios que regem o acidente de trabalho. Imagine-se o exemplo de o caixa do banco acidentar-se na porta automtica, ou sofrer ferimento durante um assalto. Em se tratando de acidente de trabalho, sem prejuzo da verba previdenciria, poder ser ajuizada demanda contra o empregador (ao de responsabilidade civil).
Em face dos seus clientes, por sua vez, no temos dvida de ser, o banco, parte de uma relao de consumo, de maneira que, o seu cliente, reputado consumidor. Por isso, no consideramos to necessrias as Resolues 2878 e 2892/01 do Banco Central do Brasil, referentes ao denominado Cdigo do Cliente Bancrio, as quais, posto no isentas de justas crticas, apenas explicitam, em nosso sentir, mandamentos do Cdigo do Consumidor.
Entendemos, no caso, que se deve aplicar a norma contida no pargrafo nico do art. 927 do CC, que admite responsabilidade civil objetiva, em funo do risco da atividade habitualmente exercida.
Nesse sentido, responsabilizando a instituio financeira por dano causado a terceiros, j h jurisprudncia no prprio Superior Tribunal de Justia (grifos nossos):
RESPONSABILIDADE CIVIL. CHEQUE. TALONARIO SOB A GUARDA DO BANCO. FURTO. LEGITIMIDADE DO BANCO. INOCORRENCIA DE VIOLAO DA LEI FEDERAL. DISSIDIO NO DEMONSTRADO. PRECEDENTES. RECURSO NO CONHECIDO.
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I - PODE A INSTITUIO FINANCEIRA RESPONDER PELOS DANOS SOFRIDOS POR COMERCIANTE, QUANDO ESSE, TOMANDO TODAS AS PRECAUES, RECEBE CHEQUE COMO FORMA DE PAGAMENTO,
POSTERIORMENTE DEVOLVIDO PELA INSTITUIO FINANCEIRA POR SER DE TALONARIO FURTADO DE DENTRO DE UMA DAS SUAS AGENCIAS. II - PARA CARACTERIZAO DO DISSIDIO, NECESSARIO O COTEJO ANALITICO DAS BASES FATICAS QUE SUSTENTAM AS TESES EM CONFLITO. (STJ, Acrdo RESP 56502 / MG ; RECURSO ESPECIAL 1994/0033758-2, Relator Min. SLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, Data da Deciso 04/03/1997 Orgo Julgador QUARTA TURMA)
RESPONSABILIDADE
CIVIL.
BANCO.
ABERTURA
DE
CONTA.
DOCUMENTOS DE TERCEIRO. ENTREGA DE TALONARIO. LEGITIMIDADE ATIVA. GERENTE DE SUPERMERCADO. 1. FALTA DE DILIGENCIA DO BANCO NA ABERTURA DE CONTAS E ENTREGA DE TALONARIO A PESSOA QUE SE APRESENTA COM DOCUMENTOS DE IDENTIDADE DE TERCEIROS, PERDIDOS OU EXTRAVIADOS. RECONHECIDA A CULPA DO ESTABELECIMENTO BANCARIO, RESPONDE ELE PELO PREJUIZO CAUSADO AO COMERCIANTE, PELA UTILIZAO DOS CHEQUES PARA PAGAMENTO DE MERCADORIA. 2. O GERENTE DO SUPERMERCADO, QUE RESPONDE PELOS CHEQUES DEVOLVIDOS, ESTA LEGITIMADO A PROPOR A AO DE INDENIZAO. RECURSO NO CONHECIDO. (STJ, Acrdo RESP 47335 / SP ; RECURSO ESPECIAL 1994/0012062-1, Relator Min. RUY ROSADO DE AGUIAR, Data da Deciso 29/11/1994 Orgo Julgador QUARTA TURMA)
Na mesma linha, o Tribunal de Justia de Minas Gerais foi ainda mais longe, ao j admitir aplicao da teoria do risco, em hiptese congnere:
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INDENIZAO. DOCUMENTO FALSO. ABERTURA DE CONTA CORRENTE. DANO A TERCEIRO NO CLIENTE. RESPONSABILIDADE DO BANCO. TEORIA DO RISCO PROFISSIONAL. CINCIA DO USO INDEVIDO DO DOCUMENTO. MANUTENO DO PROTESTO. RESPONSABILIDADE. QUANTUM
INDENIZATRIO. CRITRIOS PARA FIXAO. 1 - Correm por conta do Banco os riscos inerentes sua atividade, devendo responder pelos danos causados a terceiro pela incluso de seu nome no SERASA e no SPC, em razo da abertura de conta corrente com base em documento falso. 2 - O no-cancelamento do protesto, aps o conhecimento de que o CPF constante do cheque no pertencia ao seu emitente, conduz responsabilidade pelos danos da advindos. 3 - Para a fixao do quantum indenizatrio, o juiz deve pautar-se pelo bom senso, moderao e prudncia, devendo considerar, tambm, os princpios da razoabilidade e proporcionalidade, bem como o componente punitivo e pedaggico da condenao e os constrangimentos por que passou o ofendido. 4 - Preliminar rejeitada, no providos a primeira apelao e o recurso adesivo, segunda apelao provida. (TJMG, Apelao, Nmero do Processo: 0364499-7, Orgo Julgador: Segunda Cmara Cvel, Relator: Pereira da Silva, Data da Julgamento: 10/09/2002)
Por todo o exposto, podemos concluir que, se um terceiro vtima de atividade danosa do banco, a responsabilidade civil deste ltimo independer da aferio de culpa, por estar afeta ao mbito de incidncia do pargrafo nico do art. 927 do CC (atividade de risco).
E se a tal concluso, por esta via de raciocnio, o intrprete no chegar, poder, em nosso sentir, trilhar outra vereda: o art. 17 do Cdigo de Defesa do Consumidor equipara aos
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consumidores todas as vtimas do evento (bystanders), viabilizando, da mesma forma, aplicao dos princpios da responsabilidade civil objetiva.
O culto Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR JR., com habitual sabedoria, ao enfrentar a questo sub judice, no Recurso Especial sob anlise, assevera que:
O critrio da razoabilidade invocado pelo recorrente leva concluso de que o estabelecimento comercial que se beneficia com a instalao de caixas eletrnicos, o que tambm serve para facilitar os seus negcios, angariar clientes e diminuir gastos, deve responder pelo risco que decorre da instalao desses postos, alvo constante da ao dos ladres. Isto , o risco criado pela instalao do caixa e por ele deve responder a empresa. Segundo o novo Cdigo Civil, trata-se at de responsabilidade objetiva (art. 927, nico, do CC)
Nota-se, pois, que o eminente Ministro encarta a explorao dos terminais eletrnicos corretamente, em nosso pensar - no conceito (aberto) de atividade de risco, previsto na segunda parte do pargrafo nico do art. 927 do CC.
De fato, por se tratar de um risco criado (risco-proveito), nada mais razovel do que se sustentar a responsabilidade civil do banco pelos danos causados aos seus clientes, usurios deste tipo de servio.
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Por outro lado, o Ministro ALDIR PASSARINHO Jr., acompanhado pelo Ministro FERNANDO GONALVES, ressalva que os assaltos ocorridos em terminais localizados, no na prpria agncia, mas em via pblica, resultariam na responsabilidade do Estado, e no do banco (REsp. 402.870-SP):
Geralmente, tais caixas eletrnicos esto situados fora das agncias bancrias e no interior de bens pblicos de uso comum (Cdigo Civil, art. 66, I), de modo que sua fiscalizao deve ficar a cargo dos agentes da segurana pblica, nos termos do contido no artigo 144 da Constituio da Repblica e no artigo 139 da Constituio Estadual Paulista'. .................................................................................. . 'Verificado o ato delituoso contra o filho dos autores em plena via pblica, desvincula-se a instituio bancria de qualquer responsabilidade (fl. 183)'.
Efetivamente, como assentado acima, estou em que no h responsabilidade da instituio bancria se o ato lesivo ocorreu na via pblica, eis que cabe ao Estado e no ao particular a segurana da rea, inexistindo norma legal que estenda, ao ltimo, tal nus. Mas a situao em comento se me afigura distinta daquela que ento identifiquei no precedente acima transcrito, o que me leva a soluo diversa.
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Verifica-se, portanto, que o assalto se desenrolou dentro do estabelecimento bancrio, ainda que fora do horrio do expediente, mas, pelas instalaes internas e segurana dos usurios responde o ru, sem dvida. No foi na via pblica, circunstncia que me levaria, em princpio, salvo alguma peculiaridade, a decidir diferentemente. Por igual restou firmado que no houve culpa concorrente da vtima.
Assalto ocorrido em terminais da prpria agncia, ainda que fora do horrio de expediente bancrio responsabilidade civil do banco.
Assalto ocorrido em terminais localizados em via pblica (postos de auto-atendimento 24 horas) responsabilidade civil do Estado.
5 Nossas Concluses
A despeito dos cultos argumentos expendidos nos referidos julgados, ousamos, ao menos em parte, divergir.
Entendemos que, mesmo em assaltos ocorridos em terminais localizados em via pblica, a responsabilidade civil do banco manifesta, sem prejuzo de poder ingressar com ao regressiva contra o Estado.
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O que no aceitamos o argumento - teoricamente impactante, mas socialmente injusto - de que a segurana pblica toca ao Estado e, por conseguinte, o banco no responde por danos decorrentes de assaltos ocorridos em terminais instalados em via pblica.
Ora, a instalao desses terminais obedece, sem sombra de dvida, a uma estratgia comercial, com vista conquista de mais e mais clientes, que tm, nessa apontada comodidade, um fator decisivo de escolha de uma rede bancria.
Algumas redes bancrias, inclusive, cobram, do usurio, uma taxa de utilizao, muitas vezes pulverizada no prprio extrato, mas que, se multiplicada por milhares ou talvez milhes de clientes, traduzem uma receita colossal com a explorao deste tipo de servio. Isso sem mencionar o pacote de servios que, frequentemente, os clientes bancrios so obrigados a adimplir.
Por tudo isso, foroso concluir que a explorao onerosa desta atividade de risco (rede de terminais eletrnicos) justificaria, por imperativo de justia, a responsabilidade civil do banco em face de danos sofridos por seus usurios, mesmo que o assalto ocorra em via pblica.
de raiz histrica, alis, o princpio de que, no mbito da teoria do risco, aquele que cria o perigo concreto de dano, obrigado a suportar, independentemente de culpa, o prejuzo da resultante.
a teoria do risco no se justifica desde que no haja proveito para o agente causador do dano, porquanto, se o proveito a razo de ser
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justificativa de arcar o agente com os riscos, na sua ausncia deixa de ter fundamento a teoria.5
Com absoluta preciso, e nessa mesma linha, demonstrando a mudana por que passou o tratamento da responsabilidade civil no Direito Brasileiro, conclumos com GUSTAVO TEPEDINO:
Com efeito, os princpios de solidariedade social e da justia distributiva, capitulados no art. 3, incisos I e III, da Constituio, segundo os quais se constituem em objetivos fundamentais da Repblica a construo de uma sociedade livre, justa e solidria, bem como a erradicao da pobreza e da marginalizao e a reduo das desigualdades sociais e regionais, no podem deixar de moldar os novos contornos da responsabilidade civil. Do ponto de vista legislativo e interpretativo, retiram da esfera meramente individual e subjetiva o dever de repartio dos riscos da atividade econmica e da autonomia privada, cada vez mais exacerbados na era da tecnologia. Impem, como linha de tendncia, o caminho da intensificao dos critrios objetivos de reparao e do desenvolvimento de novos mecanismos de seguro social.6
LIMA, Alvino. Culpa e Risco. 2. ed. So Paulo: RT, 1999, pg. 198. TEPEDINO, Gustavo. Temas de Direito Civil. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2001, pgs. 175-176.
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profissional do Mato Grosso do Sul no conseguiu reverter a condenao ao pagamento de cerca de R$ 20 mil como indenizao pelo no cumprimento eficiente de tratamento ortodntico. A ao foi ajuizada por uma paciente que alegou fracasso de procedimentos realizados para correo do desalinhamento de sua arcada dentria e mordida cruzada. Na ao, a paciente pediu o ressarcimento de valores com a alegao de que foi submetida a tratamento inadequado, alm de indenizao por dano moral. A extrao de dois dentes sadios teria lhe causado perda ssea. J o ortodontista no negou que o tratamento no havia conseguido bons resultados. Contudo, sustentou que no poderia ser responsabilizado pela falta de cuidados da prpria paciente, que, segundo ele, no comparecia s consultas de manuteno, alm de ter procurado outros profissionais sem necessidade. O ortodontista argumentava, ainda, que os problemas decorrentes da extrao dos dois dentes necessria para a colocao do aparelho foram causados exclusivamente pela paciente, pois ela no teria seguido as instrues que lhe foram passadas. Para ele, a obrigao dos ortodontistas seria de meio e no de resultado, pois no depende somente desses profissionais a eficincia dos tratamentos ortodnticos. Em primeira instncia, o profissional foi condenado a pagar paciente as seguintes quantias: R$ 800, como indenizao por danos materiais, relativa ao valor que ela pagou pelo aparelho ortodntico; R$ 1.830, referentes s mensalidades do tratamento dentrio; R$ 9.450, valor necessrio para custear os implantes, prteses e tratamento reparador a que ela dever submeter-se; R$ 8.750, como indenizao por danos morais.
Obrigao de resultado O relator do caso, ministro Luis Felipe Salomo, afirmou que, na maioria das vezes, as obrigaes contratuais dos profissionais liberais so consideradas como de meio, sendo suficiente atuar com diligncia e tcnica para satisfazer o contrato; seu objeto um resultado possvel. Mas h hipteses em que necessrio atingir resultados que podem ser previstos para considerar cumprido o contrato, como o caso das cirurgias plsticas embelezadoras. Seguindo posio do relator, a Quarta Turma entendeu que a responsabilidade dos ortodontistas, a par de ser contratual como a dos mdicos, uma obrigao de resultado, a qual, se descumprida, acarreta o dever de indenizar pelo prejuzo eventualmente causado. Sendo assim, uma vez que a paciente demonstrou no ter sido atingida a meta pactuada, h presuno de culpa do profissional, com a consequente inverso do nus da prova. Os ministros consideraram que, por ser obrigao de resultado, cabe ao profissional provar que no agiu com negligncia, imprudncia ou impercia ou, ainda, que o insucesso do tratamento ocorreu por culpa exclusiva da paciente. O ministro Salomo destacou que, mesmo que se tratasse de obrigao de meio no caso em
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anlise, o ru teria "faltado com o dever de cuidado e de emprego da tcnica adequada", impondo igualmente a sua responsabilidade. O tratamento tinha por objetivo a obteno de ocluso ideal, tanto do ponto de vista esttico como funcional. A obrigao de resultado comporta indenizao por dano material e moral sempre que o trabalho for deficiente, ou quando acarretar processo demasiado doloroso e desnecessrio ao paciente, por falta de aptido ou capacidade profissional. De acordo com o artigo 14, pargrafo 4, do Cdigo de Defesa do Consumidor (CDC) e artigo 186 do Cdigo Civil, est presente a responsabilidade quando o profissional atua com dolo ou culpa. A deciso da Quarta Turma, ao negar pretenso do ortodontista, foi unnime. Processos: REsp 1238746 Fonte: http://www.stj.gov.br/portal_stj/objeto/texto/impressao.wsp?tmp.estilo=&tmp.area=398&tmp. texto=103702 acessado em 27 de outubro de 2011.
Segunda Seo aprova smula sobre plano de sade 26/11/2010 A Segunda Seo do Superior Tribunal de Justia (STJ) aprovou a Smula 469, com a seguinte redao: Aplica-se o Cdigo de Defesa do Consumidor aos contratos de plano de sade. O relator do projeto de smula foi o ministro Aldir Passarinho Junior. As referncias da smula so as leis n. 8.078/1990 (Cdigo de Defesa do Consumidor CDC) e 9.656/1998, que dispe sobre planos e seguros privados de assistncia sade. A smula consolida o entendimento, h tempos pacificiado no STJ, de que a operadora de servios de assistncia sade que presta servios remunerados populao tem sua atividade regida pelo Cdigo de Defesa do Consumidor, pouco importando o nome ou a natureza jurdica que adota. (Resp 267.530/SP, Rel. Ministro Ruy Rosado de Aguiar, DJe 12/3/2001). O CDC aplicado aos planos de sade mesmo em contratos firmados anteriormente vigncia do cdigo, mas que so renovados. De acordo com voto da ministra Nancy Andrighi, no precedente, no se trata de retroatividade da lei. Dada a natureza de trato sucessivo do contrato de seguro-sade, o CDC rege as renovaes que se deram sob sua vigncia, no havendo que se falar a em retroao da lei nova, entende. O ministro Luis Felipe Salomo, em outro precedente, tambm j explicou a tese: Tratando-se de contrato de plano de sade de particular, no h dvidas de que a conveno e as alteraes ora analisadas esto submetidas ao regramento do Cdigo de Defesa do Consumidor, ainda que o acordo original tenha sido firmado anteriormente entrada em vigor, em 1991, dessa lei. Isso ocorre no s pelo CDC ser norma de ordem pblica (art. 5, XXXII, da CF), mas tambm pelo fato de o plano de assistncia mdico-hospitalar firmado pelo autor ser um contrato de trato
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sucessivo, que se renova a cada mensalidade. (Resp 418.572/SP. Rel. Ministro Luis Felipe Salomo, DJe 30/3/2009). Tambm esto relacionados nova smula os seguintes processos: Resp 251.024, Resp 986.947, Resp 1.046.355, Resp 1.106.789, AgRg no Ag 1.250.819, Resp 1.106.557, Resp 466.667 e Resp 285.618. Leia tambm: Agora smula: MP no pode propor ao em benefcio de segurado do DPVAT Processos: Resp 267530; Resp 418572; Resp 251024; Resp 986947; Resp 1046355; Resp 1106789; Ag 1250819; Resp 1106557; Resp 466667; Resp 1011331; Resp 285618
Fonte: http://www.stj.gov.br/portal_stj/objeto/texto/impressao.wsp?tmp.estilo=&tmp.area=398&tmp.texto=999 86 acessado em 27 de novembro de 2010.
Companhias seguradoras de sade devem estar inscritas nos conselhos regionais de Medicina e Odontologia 21/05/2010 Para os ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justia (STJ), as operadoras de seguros privados de assistncia sade devem estar inscritas nos conselhos regionais de Medicina e Odontologia para obterem o registro de funcionamento perante a Agncia Nacional de Sade Suplementar (ANS). A Turma, por maioria, seguiu o entendimento da relatora, ministra Eliana Calmon. No caso, a Bradesco Sade S.A. e outras seguradoras recorreram de deciso do Tribunal Regional Federal da 2 Regio que entendeu ser obrigatria a inscrio nos conselhos regionais. Alegaram que as companhias seguradoras de sade no so obrigadas ao registro, pois a atividade bsica que exercem unicamente financeira, baseada no reembolso das despesas mdico-hospitalares dos seus segurados, sem nenhuma relao com o exerccio da medicina ou da odontologia. Em seu voto, a ministra Eliana Calmon destacou que, aps a vigncia da MP n. 2.17744/2001, no resta dvida de que as pessoas jurdicas de direito privado que operam planos de assistncia sade incluindo-se na expresso as operadoras de seguro de sade, seja em que modalidade for esto submetidas s disposies contidas na Lei n. 9.656/1998, entre as quais est prevista que, para obter a autorizao de funcionamento, as operadoras de planos privados de assistncia sade devem se registrar nos conselhos regionais de Medicina e Odontologia. Havendo previso legal especfica acerca da necessidade de registro nos conselhos regionais de Medicina e Odontologia, no h como se furtar ao cumprimento da lei. A remisso feita ao artigo 1 da Lei n. 6.839/1980, que dispe sobre o registro de empresa e de seus profissionais nas entidades fiscalizadoras do exerccio de profisses, no altera essa exigncia, resolvendo-se a
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questo mediante aplicao do princpio da especialidade previsto na Lei de Introduo ao Cdigo Civil, segundo o qual a norma de carter especial deve prevalecer sobre a norma geral, afirmou a relatora. Processos: RESP 1183537
Fonte: http://www.stj.jus.br/portal_stj/objeto/texto/impressao.wsp?tmp.estilo=&tmp.area=398&tmp.texto=973 47 acessado em 22 de maio de 2010.
Smula da Segunda Seo trata do prazo para pedir o DPVAT na Justia 29/10/2009
Em deciso unnime, a Segunda Seo do Superior Tribunal de Justia aprovou mais uma smula. O verbete de n 405 trata do prazo para entrar com ao judicial cobrando o DPVAT. A nova smula recebeu a seguinte redao: A ao de cobrana do seguro obrigatrio (DPVAT) prescreve em trs anos. No precedente mais recente a embasar a nova smula, os ministros da Seo concluram que o DPVAT (seguro obrigatrio de danos pessoais causados por veculos automotores de vias terrestres) tem carter de seguro de responsabilidade civil, dessa forma a ao de cobrana de beneficirio da cobertura prescreve em trs anos. O relator, ministro Luis Felipe Salomo, votou no sentido que o DPVAT teria finalidade eminentemente social, de garantia de compensao pelos danos pessoais de vtimas de acidentes com veculos automotores. Por isso, diferentemente dos seguros de responsabilidade civil, protegeria o acidentado, e no o segurado. A prescrio a ser aplicada seria, portanto, a da regra geral do Cdigo Civil, de dez anos. O entendimento foi seguido pelos desembargadores convocados Vasco Della Giustina e Paulo Furtado. Mas o voto que prevaleceu foi o do ministro Fernando Gonalves. No seu entender, embora o recebimento da indenizao do seguro obrigatrio independa da demonstrao de culpa do segurado, o DPVAT no deixa de ter carter de seguro de responsabilidade civil. Por essa razo, as aes relacionadas a ele prescreveriam em trs anos. O voto foi acompanhado pelos ministros Aldir Passarinho Junior, Joo Otvio de Noronha e Sidnei Beneti. Esses dois ltimos ressaltaram a tendncia internacional de reduzir os prazos de prescrio nos cdigos civis mais recentes, em favor da segurana jurdica. Leia tambm: Smula trata da indenizao pela publicao no autorizada da imagem de algum Incluso de danos morais no contrato de seguro por danos pessoais, salvo excluso expressa, agora smula
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Nova smula dispensa AR na comunicao ao consumidor sobre negativao de seu nome Processos: REsp 1071861; REsp905210; REsp1057098; AG 1088420; AG 1133073
Fonte: http://www.stj.gov.br/portal_stj/objeto/texto/impressao.wsp?tmp.estilo=&tmp.area=398&tmp.texto=944 27 acessado em 30 de outubro de 2009.
ESPECIAL Processos por erro mdico no STJ aumentaram 155% em seis anos Nem todo mau resultado sinnimo de erro, mas essa uma dvida que assombra mdico e paciente quando algo no esperado acontece no tratamento ou em procedimentos cirrgicos. O erro mdico pode envolver o simples diagnstico errneo de uma doena, como j decidiu o Superior Tribunal de Justia (STJ). Nos ltimos seis anos, a quantidade de processos envolvendo erro mdico que chegaram Corte aumentou 155%. Em 2002, foram 120 processos. Neste ano, at o final do ms de outubro, j eram 360 novos processos autuados por esse motivo, a maioria recursos questionando a responsabilidade civil do profissional.
O STJ tem assegurado a pacientes lesados por erros mdicos trs tipos de indenizaes. Os danos materiais referem-se ao que o paciente gastou no tratamento ineficiente e ao que eventualmente deixou de ganhar por conta do erro mdico (dias de trabalho perdidos, por exemplo). Assegura-se, tambm, o direito de receber os danos morais, valor para compensar a dor moral a que foi submetido (como ocorre com a supresso indevida de um rgo). Por fim, o paciente pode receber por danos estticos, isto , o prejuzo causado sua aparncia, como nas hipteses em que o erro causou cicatrizes e outras deformidades. As indenizaes so cumulveis.
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Relao de consumo
Superar um tratamento mdico mal-sucedido pode levar muito tempo. No raro, as cicatrizes permanecem no corpo por toda a vida, insistindo numa lembrana indesejvel. Mas, ainda que traumatizado pelo episdio, o paciente deve considerar que h prazos legais para se buscar a reparao na Justia.
O STJ entende que deve ser aplicado o Cdigo de Defesa do Consumidor (CDC) aos servios prestados por profissionais liberais, inclusive mdicos. Nestes casos, prescreve em cinco anos a pretenso reparao, contados do conhecimento do dano ou de sua autoria. No entanto, a presidente da Segunda Seo, ministra Nancy Andrighi, ressalta que h uma peculiaridade. A responsabilidade do mdico, ao contrrio do que ocorre no restante das leis consumeristas, continua sendo subjetiva, ou seja, depende da prova da culpa do mdico, explica a ministra.
Em um julgamento ocorrido em 2005 na Terceira Turma, os ministros aplicaram esse entendimento e no atenderam o pedido de um cirurgio plstico de So Paulo para que fosse considerado prescrito o direito de ao de uma paciente. Ele alegava que j teriam transcorrido os trs anos estabelecidos pelo Cdigo Civil para a reparao do dano. A paciente, que ficou com deformidades fsicas aps cirurgias plsticas, conseguiu que o mdico custeasse todo o tratamento para restabelecimento do seu quadro clnico, alm de reparao por dano moral e esttico.
Ainda sob a tica da lei de defesa do consumidor, naquelas hipteses em que o Poder Judicirio identifica a hipossuficincia do paciente, isto , a dependncia econmica ou de informaes, pode haver inverso do nus da prova. Isto , o juiz pode determinar que cabe ao mdico fazer prova da regularidade de sua conduta. De acordo com a
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ministra Nancy Andrighi, a aplicao do CDC facilita muito a defesa dos direitos do consumidor. Com ele, o juiz dispe de meios mais eficazes para detectar prticas comerciais e clusulas contratuais abusivas. Isso certamente um avano em relao legislao comum, analisa a ministra.
Reviso de valores
Atualmente, esto em anlise no STJ 444 processos sobre essa matria. Boa parte dos recursos que chega ao Tribunal contesta os valores das indenizaes por erro mdico arbitrados em instncias ordinrias, ou seja, a Justia estadual ou federal. Mas ser admitido para julgamento no STJ no sinal de causa ganha: a orientao consolidada na Corte de somente revisar o valor quando for exorbitante ou insignificante. A quantia deve ser razovel e proporcional ao dano.
Ao julgar cada caso, os ministros analisam o fato descrito nos autos, sem reexaminar provas. Com base nas circunstncias concretas, nas condies econmicas das partes e na finalidade da reparao, decidem se o valor da indenizao merece reparos. E, por vezes, uma indenizao por dano moral devida por erro mdico pode ser maior do que aquela obtida por parentes pela morte de um familiar.
Foi o que ocorreu na anlise de um recurso do Rio de Janeiro em que a Unio tentava a reduo do valor de uma indenizao de R$ 360 mil por danos morais. A vtima era uma paciente que ficou tetraplgica, em estado vegetativo, em decorrncia do procedimento de anestesia para uma cirurgia a que seria submetida em 1998.
A relatora do recurso, ministra Denise Arruda, da Primeira Turma, afirmou que no se tratava de quantia exorbitante. Ela entende que no foi possvel estabelecer, neste caso, um paralelo com qualquer indenizao devida em caso de morte da vtima. O
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sofrimento e a angstia vividos diariamente pela agravada [paciente] e a irreversibilidade das seqelas sofridas potencializam, no tempo, o dano moral, explicou a ministra.
Co-responsabilidade
Alm do mdico responsvel pelo procedimento, a clnica ou hospital em que se deu o atendimento tambm esto sujeitos responsabilizao pelo erro mdico. O STJ j decidiu, inclusive, que a operadora de plano de sade pode responder, solidariamente, por eventual erro do mdico que indicou ao segurado. Mas cada caso traz peculiaridades que podem levar a um desfecho judicial diferente.
Em setembro passado, a Segunda Seo concluiu o julgamento de um recurso em que um hospital de Santa Catarina contestava a condenao solidria por erro mdico. A Justia estadual havia condenado o hospital e o mdico ao pagamento de danos morais, materiais e penso vitalcia vtima, paciente que se submeteu a uma cirurgia de varizes.
Os ministros entenderam que a entidade no poderia ser responsabilizada solidariamente por erro mdico, pois o cirurgio no prestou quaisquer servios no interesse do hospital ou sob as suas ordens. De acordo com o relator para o acrdo, ministro Joo Otvio de Noronha, o fato de receber remunerao pela locao de espao fsico no torna o hospital solidariamente responsvel por danos causados por impercia mdica.
Entretanto circunstncias diferentes podem levar a uma concluso oposta. H casos em que o hospital responde como fornecedor do servio mdico-hospitalar prestado do qual decorreu o dano. Em 2002, a Quarta Turma do STJ manteve deciso da Justia do Rio de Janeiro que condenou uma instituio mdica a responder solidariamente pela falta de informao por parte de seu mdico sobre os riscos que envolviam uma cirurgia.
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A paciente acabou perdendo completamente a viso e ingressou com pedido de indenizao por danos materiais, fsicos e morais contra o hospital e o mdico. Um ano antes, a mesma Quarta Turma j havia decidido que o mdico-chefe pode vir a responder por fato danoso causado ao paciente pelo terceiro que esteja diretamente sob suas ordens.
Ps-operatrio
A responsabilidade do mdico pelo estado de sade do paciente no se encerra no atendimento em si. Recentemente, a Quarta Turma confirmou o pagamento de indenizao de R$ 300 mil a uma paciente que perdeu o tero, trompas e ovrios devido a complicaes ocorridas aps uma tentativa de fertilizao in vitro, realizada em 2001.
Baseados na anlise dos fatos feita pelo Tribunal de Justia do Rio de Janeiro (TJRJ), os ministros consideraram negligente o atendimento ps-operatrio que acarretou dano paciente, sendo, por isso, passvel de responsabilizao civil. O relator do recurso foi o ministro Joo Otvio de Noronha.
Em processo analisado pelo Conselho Regional de Medicina fluminense, o mdico no foi responsabilizado pela ovrio-histerectomia. A paciente ingressou na Justia contra a clnica e o mdico que realizou o procedimento. Disse que o procurou para atendimento com queixa de dor e febre, mas, aps exame, foi encaminhada por ele a outros profissionais. Passado cerca de um ms, foi constatado por outro mdico um abscesso no tubo ovariano, o que exigiu a interveno radical.
Condenados em primeira instncia, mdico e clnica apelaram, mas o TJRJ descartou a realizao de uma nova percia e manteve a condenao solidria. No STJ, o julgamento
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definiu que o mdico deveria responder pelo dano causado, porque no agiu com a cautela necessria. A negligncia est na falta de assistncia ps-cirrgica paciente, que teve o estado de sade agravado, alegando que a piora no decorreu do ato cirrgico que realizou, mas de outras causas, encaminhando-a a profissionais diversos. Ainda cabe recurso desta deciso.
Fonte:
http://www.stj.gov.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=89920
Fique com Deus! Fora e F, sempre! Que a Luz Divina acompanhe sempre voc! Um abrao! At a prxima aula! O amigo, Pablo.
Revisado.2011.2.OK C.D.S.