Análise Matemática I
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Curso de Matemtica
Introduo a Anlise Matemtica
Prof. Denise Candal
Parte 1 Numeros Reais e Topologia da reta
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Introduo a Anlise Matemtica
Denise Candal
Parte 1
Nmeros Reais e Topologia da Reta
2009
1- INTRODUO........................................................................................................................... 3
1.1. George Cantor...................................................................................................................... 3
1.2. Os Axiomas de Peano.......................................................................................................... 4
1.3. Dedekind.............................................................................................................................. 5
1.4. Os Nmeros Naturais........................................................................................................... 6
1.5. Boa Ordenao e Induo Finita.......................................................................................... 7
1.6. Conjuntos Finitos e Infinitos................................................................................................ 8
1.7. Conjuntos enumerveis e no-enumerveis......................................................................... 9
1.8. Exerccios........................................................................................................................... 10
2- OS NMEROS REAIS.............................................................................................................. 11
2.1. Propriedades Algbricas .................................................................................................... 11
2.2. Alguns Teoremas envolvendo as Propriedades Algebricas ............................................... 11
2.3. Nmeros racionais ............................................................................................................. 12
2.4. Exerccios........................................................................................................................... 13
2.5. Propriedades de Ordem...................................................................................................... 14
2.5.1. Algumas Definies.................................................................................................... 14
2.5.2. As Propriedades de Ordem......................................................................................... 15
2.6. Valor Absoluto................................................................................................................... 15
2.7. Exerccios........................................................................................................................... 16
2.8. Supremos e nfimos ........................................................................................................... 16
2.9. Propriedade Arquimediana ................................................................................................ 18
2.10. Exerccios......................................................................................................................... 19
2.11. Cortes ............................................................................................................................... 20
2.12. Celas e Intervalos............................................................................................................. 21
2.13. Conjunto de Cantor .......................................................................................................... 22
2.13. Exerccios......................................................................................................................... 23
3. A TOPOLOGIA DOS ESPAOS CARTESIANOS................................................................... 24
3.1. Espaos Vetoriais e Cartesianos ........................................................................................ 24
3.1.1. Espaos Vetoriais........................................................................................................ 24
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3.1.2. Podutos Internos e Normas ......................................................................................... 27
3.1.3. O Espao Cartesiano................................................................................................... 28
3.2. Conjuntos abertos e fechados............................................................................................. 29
3.3. Celas encaixantes e o Teorema de Bolzano-Weierstrass................................................... 31
3.4. Teorema de Heine-Borel.................................................................................................... 32
3.5. Conjuntos conexos............................................................................................................. 33
3.6. Exerccios........................................................................................................................... 34
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1- INTRODUO
1.1. George Cantor
Revista Galileu janeiro de 2007 - Alm do infinito
A batalha filsofica de Georg Cantor para ampliar a fronteira da matemtica
Carmen Kawano
Intuitivamente podemos dizer que infinito algo que no tem fim ou algo
que nunca ser atingido. O homem sempre buscou o entendimento sobre essa questo
de alguma maneira. Os pensadores da Antiguidade anteriores a Pitgoras (sculo 5 a.C.) j eram
atormentados por esse tema. Mas foi s no final do sculo 19, na Alemanha, com Georg
Ferdinand Ludwig Philipp Cantor (1845-1918) que a idia de infinito foi realmente consolidada
na matemtica. Sua teoria era revolucionria e, por isso mesmo, acabou gerando embates e
animosidades entre os matemticos da poca.
Filho de imigrantes dinamarqueses nascido na Rssia, Cantor se mudou para a Alemanha
com a famlia ainda menino. L ele estudou teoria dos nmeros para depois se lanar aos estudos
dos conjuntos (inclusive dos nmeros). Seu conhecimento o permitiu mergulhar na idia de
infinito de forma que pudesse ser usada na matemtica. Na poca de Cantor, os matemticos
conservadores desprezavam os estudos sobre os nmeros irracionais -aqueles com infinitas casas
decimais que no se repetem - , o conceito de infinito e tudo o que se relacionava a eles. Em
particular, Leopold Kronecker (1823-1891), que tinha sido professor de Cantor, liderava uma
campanha contra esses estudos e contra seu prprio ex-aluno.
O conflito acadmico tambm chegou esfera pessoal, e a entrada de Cantor em crculos
de mais altos nveis da matemtica foi barrada. Ele chegou at a enfrentar dificuldades para
publicar seus trabalhos em revistas conceituadas.
Pessoalmente, Cantor acreditava que existiam vrios nveis de infinito. O mais alto deles,
o Absoluto e inatingvel, era o prprio Deus. Seu carter mstico e sua mente conturbada devem
t-lo levado a se debruar sobre tal tema to profundo, revolucionrio e ousado na matemtica.
Kronecker aproveitava o lado esotrico de Cantor para acusar suas teorias matemticas de
misticismo ficcional. Segundo o ex-mestre, cientistas no deveriam dar crdito ao seu ex-aluno, e
seus trabalhos 'subversivos' deveriam ser rejeitados pelas revistas cientficas renomadas.
Como resultado, Cantor sempre trabalhou sozinho e fora do centro da comunidade
matemtica. Suas frustraes e as perseguies, somadas ao trabalho estafante e solitrio - e ao
carter explosivo e irritadio do matemtico - , acabaram por minar sua sade mental. Ele foi
internado vrias vezes para se recuperar das depresses, mas, entre uma crise e outra, prosseguia
no trabalho.
Os matemticos j sabiam do carter infinito de alguns conjuntos, como o dos nmeros
inteiros, dos racionais (os que podem ser escritos como frao de dois nmeros inteiros), dos
irracionais e dos reais (que englobam os inteiros, os racionais e os irracionais). Mas ningum
ainda tinha parado para pensar que alguns conjuntos podem ser mais infinitos que os outros.
Estranho? Cantor demonstrou que, embora infinitos, os nmeros racionais podem ser
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enumerados - ou contados - , assim como os inteiros. Mas os irracionais so 'mais infinitos' que
os racionais e no podem ser contados. Ento, a quantidade de infinitos racionais, valor chamado
de 'alef zero', menor que a quantidade de infinitos irracionais, chamada de 'alef 1'.
Em outras palavras, Cantor nos disse que os nmeros racionais, assim como os inteiros,
so, de fato, infinitos, mas so contveis. J os irracionais seriam infinitos e incontveis. E o
infinito dos nmeros racionais menor do que o infinito dos nmeros irracionais.
Cantor conseguiu quantificar e dar uma hierarquia aos nveis de infinito. Por incrvel que parea,
apesar de a idia ser totalmente contra nossa intuio, seu trabalho colocou em bases slidas a
anlise de conjuntos, funes e outros elementos que tm carter contnuo na matemtica. A
mesma solidez foi dada s cincias, que no sobrevivem hoje sem os clculos usando nmeros
reais.
S que tudo isso custou ao matemtico perseguies e sua sade mental. Ele morreu de
ataque cardaco, abatido, doente e s, o que no foi muito diferente dos acontecimentos na
Grcia Antiga. A idia de infinitude e a descoberta dos nmeros irracionais j tinham causado
muito tumulto entre os pitagricos que veneravam os nmeros inteiros. Mas isso s at
descobrirem os nmeros irracionais
De forma sucinta e para nossos propsitos, distinguimos, nesse trabalho, trs tipos de
conjuntos quanto ao nmero de elementos.
(1) finitos
(2) enumerveis
(3) no-enumerveis
1.2. Os Axiomas de Peano
Axioma Origem: Wikipdia, a enciclopdia livre.
O termo axioma originrio da palavra grega (axioma), que significa algo que
considerado ajustado ou adequado, ou que tem um significado evidente. A palavra axioma vem
de (axioein), que significa considerar digno. Esta, por sua vez, vem de (axios),
significando digno. Entre os filsofos gregos antigos, um axioma era uma reivindicao que
poderia ser vista como verdadeira sem nenhuma necessidade de prova.
Na epistemologia, um axioma uma verdade auto-evidente, na qual outros conhecimentos se
devem apoiar e a partir da qual outro conhecimento construdo. Contudo, nem todos os
epistemologistas concordam que os axiomas, entendidos neste sentido, existam.
A palavra axioma como usada na Matemtica moderna, no uma proposio auto-evidente.
Mais do que isso, simplesmente significa um ponto de partida num sistema lgico. Por exemplo,
em alguns anis, a operao de multiplicao comutativa, e em alguns no ; tais anis nos
quais so ditos por satisfazerem o "axioma da comutatividade da multiplicao." Outro termo
para axioma postulado. Um axioma uma base elementar num sistema formal de lgica que,
juntamente com as regras de inferncia, definem a lgica.
Peano, em seu livro "Arithmetices Principia Nova Methodo Exposita" de 1889 estabelece
nove axiomas para a aritmtica. Quatro destes so verdades acerca da igualdade, mas os outros
cinco so os postulados especiais seguintes:
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1. Existe um nmero natural 0;
2. Todo nmero n tem um sucessor n' no conjunto dos nmeros naturais ( )
3. No existe nenhum nmero natural que tenha como sucessor o nmero 0;
4. Se nm ento n'm' ;
5. Se 0 tem uma propriedade e esta propriedade tambm possuida pelo sucessor de todos os
nmeros naturais que a possuem, ento ela possuda por todos os nmeros naturais (Este
axioma permite a tcnica de demonstrao conhecida com induo matemtica).
Note que o que foi chamado de "0" por Peano no necessariamente o que normalmente
consideramos o nmero zero. De fato, um modelo para os axiomas de Peano o que conhecemos
por conjunto dos nmeros naturais ( {0,1,2,3,4,5,...} ) com a operao de sucesso definida como
n' = n + 1, mas a definio acima genrica e pode ser aplicada a outros conjuntos (por exemplo,
o conjunto das potncias de 10 {1, 10, 100, ...} com "0" = 1 e o sucessor n' = 10 n)
1.3. Dedekind
Em 1872, o matemtico alemo Richard Dedekind publicou uma obra intitulada
Continuidade e Nmeros Irracionais, dedicado ao estudo do problema:
Todo o ponto da recta produz nela um corte.
E sempre que se considere um corte na recta repartio em duas classes (A) e (B) que
satisfaam as condies:
1 - nenhum ponto escapa repartio
2 - todo o ponto da classe (A) est esquerda de todo o ponto da classe (B) - haver
sempre um ponto P que produza o corte, isto que separe as duas classes?
Nessa obra, o conceito de continuidade tratado, pela primeira vez, de forma rigorosa
"... ns atribumos recta a qualidade de ser completa, sem lacunas, ou seja, contnua.
Mas esta continuidade, em que consiste? A resposta a esta pergunta deve compreender em si
tudo, e somente ela permitir desenvolver em bases cientficas o estudo de todos os campos
contnuos. Naturalmente, no se consegue nada quando, para explicar a continuidade, se fala,
dum modo vago, de uma conexo ininterrupta nas suas partes mais pequenas; o que se procura
formular uma propriedade caracterstica e precisa de continuidade que possa servir de base a
dedues verdadeiras e prprias.
Pensei nisso sem resultado por muito tempo mas, finalmente achei o que procurava. O meu
resultado ser talvez julgado, por vrias pessoas, de vrios modos mas a maior parte, creio,
ser concorde em consider-la bastante banal. Consiste ele na considerao seguinte:
Verificou-se que todo o ponto da recta determina uma decomposio da mesma em duas partes,
de tal natureza que todo o ponto de uma delas est esquerda de todo o ponto da outra. Ora, eu
vejo a essncia da continuidade na inverso desta propriedade e, portanto, no princpio
seguinte: se uma repartio de todos os pontos da recta em duas classes de tal natureza que
todo o ponto de uma das classes est esquerda de todo o ponto da outra, ento existe um e um
s ponto pelo qual produzida esta repartio de todos os pontos em duas classes, ou esta
decomposio da recta em duas partes.
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Como j disse, creio no errar admitindo que toda a gente reconhecer imediatamente a
exactido do princpio enunciado. A maior parte dos meus leitores ter uma grande desiluso ao
aprender que esta banalidade que deve revelar o mistrio da continuidade. A este propsito
observo o que segue. Que cada um ache o princpio enunciado to evidente e to concordante
com a sua prpria representao da recta, isso satisfaz-me ao mximo grau, porque nem a mim
nem a ningum possvel dar deste princpio uma demonstrao qualquer. A propriedade da
recta expressa por este princpio no mais que um axioma, e sob a forma deste axioma que
ns pensamos a continuidade da recta, que reconhecemos recta a sua continuidade
Assim, Dedekind caracteriza a continuidade da reta por esta afirmao que designada
por axioma ou postulado da continuidade de Dedekind todo o corte da reta produzido por um
e um s ponto dela, isto qualquer que seja o corte (A,B) existe sempre um ponto da reta que
separa as duas classes (A) e (B).
Quase na mesma altura o matemtico alemo G. Cantor formulou a caracterizao da
continuidade de uma maneira semelhante, por isso a este enunciado se chama, com maior
propriedade, axioma da continuidade Dedekind-Cantor.
1.4. Os Nmeros Naturais
Considere o conjunto dos nmeros naturais: } , 3 , 2 , 1 {
*
L =
Podemos deduzir a teoria dos nmeros naturais dos trs axiomas de Peano.
Seja uma funo
* *
: s , que a cada numero
*
n associa a um numero
) (n s
, dito
sucessor de n. Esta funo satisfaz aos seguintes axiomas:
P1
* *
: s injetiva i.e., Dados
*
, n m ,
n m n s m s = = ) ( ) (
( dois numeros que tm o mesmo sucessor, so iguais.)
P2
) (
* *
s consta de um
s elemento.
Existe um nico numero natural que no sucessor de
nenhum outro. Chamamos tal numero de um,
representando-o pelo simbolo 1
P3 Principio da Induo:
Se
*
X tal que
X 1
e
(
X n
temos tambm
X n s ) ( ), ento
concluimos que
*
= X
Seja P uma propriedade referente aos numeros naturais. Se 1
satisfizer a propriedade P; e supondo que n satisfaa a P
concluimos que n+1 satisfaz tambm a propriedade P, ento
podemos dizer que todos os nmeros naturais satisfazem a
propriedade P.
Observaes sobre P2:
*
n , temos que
) ( 1 n s
Se
1 n
ento
*
0
! n tal que
n n s = ) (
0 .
Observaes sobre P3:
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Usamos o axioma A3 nas demostraes por induo.
Propriedades formais da adio:
(A1) Comutativa m n n m + = +
(A2) Associativa p n m p n m + + = + + ) ( ) (
(A3) Lei do Corte
p n p m n m = + = +
(A4) Tricotomia
dados
*
, n m , somente uma das trs alternativas pode ocorrer:
m=n ou
*
p tal que
p n m + =
ou
*
q tal que
q m n + =
As provas das propriedades formais da adio podem ser feitas utilizando induo.
Definio 1 Relao de Ordem - Dados dois nmeros naturais m e n, dizemos que m menor
que n (m<n) quando
*
p tal que
p m n + =
Propriedades da relao de ordem <
(O1) Transitividade se m<n e n<p ento m<p
(O2) Tricotomia
dados
*
, n m , somente uma das trs alternativas pode ocorrer:
ou m=n ou m<n ou m>n
(O3) Monotonicidade
da adio
se m<n ento
*
p tem-se m+p<n+p
Propriedades da multiplicao:
(M1) Comutativa m n n m =
(M2) Associativa p n m p n m = ) ( ) (
(M3) Lei do Corte
n m p n p m = =
(M4) Distributividade p m n m p n m + = + ) (
(M5) Monotonicidade
p n p m n m < <
1.5. Boa Ordenao e Induo Finita
Definio 2: Seja X um conjunto de nmeros naturais. Dizemos que
X p
o elemento
mnimo ( menor elemento ) de X se
n p
para todo
X n
Teorema 1: Se p elemento mnimo de X, ento esse elemento nico.
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prova: dado
X
, suponha existirem dois elementos minimos para X:
X p
e
X q
.
Como
X p
elemento minimo de X, por definio, ele menor do que qualquer elemento de
X, e j que
X q
, temos que
q p
. Da mesma forma,
X q
elemento minimo de X, por
definio, ele menor do que qualquer elemento de X, e j que
X p
, temos que
p q
.
Portanto, como temos
q p
e
p q
, ficamos com
q p =
.
Definio 3: Seja X um conjunto de nmeros naturais. Dizemos que
X p
o elemento
mximo ( maior elemento ) de X se para todo
X n
, temos
n p
.
Observao: Nem todo conjunto de numeros naturais tem elemento mximo, no entanto, se o
possuir, este ser unico.
Teorema 2: Princpio da Boa Ordenao: Todo subconjunto no vazio de
A
possui um
elemento minimo.
Do Principio da Boa Ordenao, decorre a proposio conhecida como o Segundo Principio da
Induo.
Teorema 3: Segundo Principio da Induo: Seja P(n) uma proposio associada a cada numero
natural n que satisfaa as condies:
(1) P(1) verdadeira
(2) Para todo inteiro positivo k, se P(k) verdadeira,
ento P(k+1) tambm verdadeira.
Nestas condies, a proposio P(n) verdadeira para todo natural n.
1.6. Conjuntos Finitos e Infinitos
Definio 4: Conjunto dos nmeros naturais desde 1 at n: dado
*
n , } 1 ; {
*
n p p I
n
=
Definio 5: Um conjunto X dito finito quando vazio ou quando existe, para algum
*
n ,
uma bijeo
X I
n
:
.
Definio 6: No caso de X ser vazio, dizemos que ele tem zero elementos. No caso de haver uma
bijeo
X I
n
:
, dizemos que
*
n o nmero de elementos de X, ou ainda, que X possui
n elementos.
Definio 7: Um conjunto X dito infinito quando no finito, ou seja, X infinito quando no
vazio e alm disso, seja qual for
*
n no existe uma bijeo
X I
n
:
.
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Teorema 4: Seja n
I A
. Se existir uma bijeo
A I f
n
:
, ento n
I A =
Corolrio 1: No pode existir uma bijeo
Y X f :
de um conjunto finito X em uma parte
prpria
X Y
.
Teorema 5: Se X um conjunto finito ento todo subconjunto
X Y
finito. O nmero de
elementos de Y no excede o de X e s igual quando Y=X.
Definio 8: Um conjunto
X Y
dito limitado quando
*
p tal que
n p
qualquer que
seja
X n
Teorema 6: Seja
*
X ,
X
, as seguintes afirmaes so equivalentes:
(a) X finito
(b) X limitado
(c) X possui um maior elemento
1.7. Conjuntos enumerveis e no-enumerveis
Definio 9: Um conjunto X dito enumervel quando finito ou quando existe uma bijeo
X f
*
: , nesse caso, dizemos que X um conjunto infinito enumervel.
Teorema 7: Todo conjunto infinito X contm um subconjunto infinito enumervel.
Teorema 8: Todo subconjunto
*
X enumervel.
Corolrio 2: Um subconjunto de um conjunto enumervel enumervel, ou ainda, se
Y X f :
injetiva e Y enumervel, ento X enumervel.
Teorema 9: Seja X um conjunto enumervel. Se
Y X f :
sobrejetiva, ento Y enumervel.
Teorema 10: Sejam
Y X,
conjuntos enumerveis. O produto cartesiano
Y X
enumervel.
Corolrio 3: O conjunto Q dos numeros racionais enumervel.
Corolrio 4:Sejam n
X X X , , ,
2 1
L
conjuntos enumerveis. A reuniao U
=
=
1 n
n
X X
enumervel.
Resultados:
Dois conjuntos X e Y tm o mesmo numero cardinal quando existe uma bijeo
Y X f :
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Dois conjuntos finitos tm o mesmo numero cardinal se e somente se possuem o mesmo
numero de elementos ( card(X)=card(Y)).
Dados dois conjuntos X e Y dizemos que card(X)<card(Y) quando existir umafuno
injetiva
Y X f :
, mas no existir uma funo sobrejetiva
Y X f :
.
Nota: O simbolo
) ; ( Y X
representa o conjunto de todas as funes
Y X f :
Teorema 11: Cantor - Sejam X um conjunto arbitrrio e Y um conjunto contendo pelo menos
dois elementos. Nenhuma funo
) ; ( : Y X X
sobrejetiva
Corolrio 5: Sejam n
X X X , , ,
2 1
L
conjuntos infinitos enumerveis. O produto cartesiano
=
=
1 n
n
X X
no enumervel.
1.8. Exerccios
1. Mostre por induo que
*
n , temos que
n n s ) (
Seja { } n n s n X = ) ( ;
*
(1) a propriedade
n n s ) (
vale para 1: de fato:
X 1
, j que
1 2 ) 1 ( = s
(2) hipotese de induo: seja
*
k e
k k s ) (
(3) provemos a propriedade para k+1:
Temos que se
* *
1 , + k k . Como s injetiva,
)) ( ( ) ( k s s k s
, mas
) 1 ( )) ( ( + = k s k s s
,
assim,
) 1 ( ) ( + k s k s
2. Prove por induo que
2
) 1 (
3 2 1
+
= + + + +
n n
n L
3. Prove por induo que
2
) 1 2 ( 5 3 1 n n = + + + L
4. Determine
0
n e para
0
n n > prove
n
n 2 1 2 < +
5. Prove por induo que
*
), 1 3 ( | 2 n
n
.
6. Prove por induo que
* 2
), 1 5 ( | 24 n
n
Lembrete: aq b tq Z q b a =
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2- OS NMEROS REAIS
Os nmeros reais contituem um corpo no sentido da algebra abstrata. Um corpo um
conjunto munido de duas operaes (adio e multiplicao) que satisfazem a certas condies
(axiomas de corpo: axiomas da adio, da multiplicao e da distributividade).
2.1. Propriedades Algbricas
No conjunto dos nmeros reais existem duas operaes binrias (adio e multiplicao)
que satisfazem as propriedades a seguir:
Axiomas da adio
b a,
(A1) Comutativa a b b a + = +
(A2) Associativa ) ( ) ( c b a c b a + + = + +
(A3) Elemento neutro 0
,
a a a = + = + 0 0
(A4) Simtrico a
,
) ( a
tal que
0 ) ( = + a a
e
0 ) ( = + a a
Axiomas da Multiplicao
(M1) Comutativa a b b a =
(M2) Associativa ) ( ) ( c b a c b a =
(M3) Elemento neutro 1
,
a a a = = 1 1
(M4) Inverso Multiplicativo
0 , a a
,
)
1
(
a
tal que 1
1
=
a
a e 1
1
= a
a
Axioma da Distributividade
(D) Distributiva ) ( ) ( ) ( c a b a c b a + = +
e
) ( ) ( ) ( a c a b a c b + = +
2.2. Alguns Teoremas envolvendo as Propriedades Algebricas
Teorema 12:
(a) Se
a z,
tais que
a a z = +
ento
0 = z
(b) Se
0 , , b b w
tais que
b b w =
ento
1 = w
(c) Se
b a,
e
0 = +b a
ento
a b =
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(d) Se
0 , , a b a
e
1 = b a
ento
a
b
1
=
(e) Sejam elementos arbitrrios
b a,
. Ento a equao
b x a = +
tem a soluo unica
b a x + = ) (
(f) Sejam elementos arbitrrios
b a,
. Ento a equao
b x a =
tem a soluo unica
b
a
x = )
1
(
Sejam elementos arbitrrios
b a,
,ento
(g)
0 0 = a
(h)
a a = ) 1 ( ) (
(i)
) ( ) ( ) ( b a b a + = +
(j)
a a = ) (
(k)
1 ) 1 ( ) 1 ( =
(l) Se
0 , a a
, ento
0
1
a
e
a a = ) 1 ( 1
(m) Se
b a,
e
0 = b a
ento
0 = a
ou
0 = b
(n)
b a b a = ) ( ) (
(o) Se
0 , a a
, ento
a a
1
) (
1
=
2.3. Nmeros racionais
Notao:
b a ab =
a a a =
2
a a a ) (
2 3
=
Definio 10: Se
*
n , definimos
a a a
n n
) (
1
=
+
Resultado 1: Por induo, conclumos que se
n m,
ento
n m n m
a a a =
+
Notao:
Escreveremos Para denotar
2 1+1
3 2+1 (1+1)+1
Escreveremos Para denotar
a b
(-a)+b=b+(-a)
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a
b
)
1
( )
1
(
a
b b
a
=
) 0 ( a
1
a
a
1
) 0 ( a
n
a
n
a
1
) 0 ( a
Podemos estender o resultado 1 dos numeros naturais para os inteiros, utilizando uma
conveno.
Resultado 2: Convencionando
a a a = =
1 0
, 1
, com
) 0 ( a
,temos que se
n m,
ento
n m n m
a a a =
+
Observao: Um inteiro p par se da forma 2n. O inteiro que no par dito mpar e tem a
forma 2n+1, onde
Z n
.
Definio 11: Os elementos reais da forma
a
b
ou
a
b
com
0 , , a b a
, so ditos nmeros
racionais
Notao: O conjunto dos nmeros racionais em
: Q.
Limitaes do conjunto Q: Nem sempre a distncia entre dois pontos do plano pode ser
expressa por um nmero racional. Se considerarmos um tringulo retngulo de base e altura
iguais a 1u., temos que a hipotenusa 2 , que no racional.
Definio 12: Os elementos reais que no so racionais so ditos irracionais.
Teorema 13: 2 no racional.
2.4. Exerccios
7. Prove todos os itens do teorema 13. Note que vc s poder usar o q foi provado antes, ou as
propriedades A, M, D.
8. Se a um nmero inteiro tal que a
2
par, ento a par.
9. Mostre que a soma de 2 numeros pares par.
10. Mostre que a soma de dois numeros mpares par.
11. Mostre que a soma de um numero par com um numero impar um numero mpar.
12. Mostre que se a,b so numeros inteiros, ento ab mpar se e somente se a mpar e b
mpar.
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13. Mostre que se a racional e b irracional ento a+b irracional.
14. Prove o teorema 14: 2 no racional.
2.5. Propriedades de Ordem
2.5.1. Algumas Definies
Definio 13: Chamamos de conjunto dos nmeros reais estritamente positivos o conjunto
P P ,
. Tal conjunto satisfaz as propriedades a seguir:
Se
P b a ,
ento
P b a +
Se
P b a ,
ento
P ab
Se
a
ento somente uma das seguintes relaes se verifica:
P a
,
0 = a
ou
P a
(propriedade da tricotomia)
Definio 14: Dizemos que o conjunto { } P a a N = , o conjunto dos nmeros estritamente
negativos.
Observao: N no tem elementos em comum com P.
Observao: O conjunto dos numeros reais a unio dos 3 conjuntos disjuntos P,N e { } 0
Definio 15:
Dizemos que a um nmero real estritamente positivo se
P a
notao: a > 0
Dizemos que a um nmero real positivo se
P a
ou a=0
notao:
0 a
.
Dizemos que a um nmero real estritamente negativo se
P a
notao: a < 0
Dizemos que a um nmero real negativo se
P a
ou a=0
notao:
0 a
Definio 16:
b a,
Se P b a
escreveremos b a >
Se P b a ) (
escreveremos b a <
Se } 0 { P b a
escreveremos b a
Se } 0 { ) ( P b a
escreveremos b a
Observao: Os sinais podem ser invertidos:
b a a b > < ,
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2.5.2. As Propriedades de Ordem
Teorema 14: Propriedades de Ordem
c b a , ,
(O1) Transitividade
Se
b a >
e
c b >
ento
c a >
(O2) Tricotomia
Somente uma das relaes se verifica
b a b a b a < = > , ,
(O3)
Se
b a
e
a b
ento
b a =
Teorema 15:
(a) Se
a 0
ento 0
2
> a
(b) 1>0
(c) Se
n
ento n>0
Teorema 16: Sejam
d c b a , , ,
(a) Monotonicidade da adio Se
b a >
ento
c b c a + > +
(b) Se
b a >
e
d c >
ento
d b c a + > +
(c) Se
b a >
e
0 > c
ento
bc ac >
(d) Se
b a >
e
0 < c
ento
bc ac <
(e) Se
0 > a
ento
0
1
>
a
(f) Se
0 < a
ento
0
1
<
a
(g) Se
b a >
ento
b b a a > + > ) (
2
1
(h) Se
0 > ab
ento ou
0 > a
e
0 > b
, ou
0 < a
e
0 < b
(i) Corolrio 2.2.6: Se
0 < ab
ento ou
0 > a
e
0 < b
, ou
0 < a
e
0 > b
2.6. Valor Absoluto
Definio 17: Definimos o valor absoluto de
a
como:
<
=
0
0
a se a
a se a
a
Observao: Note que
a
o maior dos elementos a e a. Assim,
{ } a a a = , max
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Teorema 17:
b a,
(a)
a a =
(b)
0 = a
se e somente se
0 = a
(c)
b a ab =
(d) Se
0 c
, ento
c a
se e somente se
c a c
(e)
a a a
Teorema 18:
x a,
. As seguintes afirmaes so equivalentes:
(i)
a x a
(ii)
a x
e
a x
(iii)
a x
Teorema 19: Desigualdade triangular . Se
b a,
ento
(a)
b a b a + +
(b)
b a b a b a
(c)
b c c a b a +
Corolrio 6: Se
n
a a a , , ,
2 1
L
, ento n n
a a a a a a + + + + + + L L
2 1 2 1
2.7. Exerccios
15. Prove o teorema 14 as propriedades de ordem.
16. Prove o teorema 15
17. Prove o teorema 16
18. Prove o teorema 17.
19. Prove o teorema 18.
20. Prove o teorema 19 Desigualdade triangular.
21. Prove o corolrio 6. Sugesto: use induo.
2.8. Supremos e nfimos
A Propriedade de Completeza dos Nmeros Reais garante a existncia de elementos em
R quando so satisfeitas algumas hipteses. A verso desta propriedade que utilizaremos neste
estudo que admitindo que os conjuntos limitados em R tenham supremo.
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Definio 18: Um elemento
u
dito uma cota superior de
S
se
S s u s ,
Definio 19: Um elemento
w
dito uma cota inferior de
S
se
S s s w ,
Observao: Nem sempre um subconjunto
S
possui uma cota superior. ( ex S=R)
Resultado 3: Se um conjunto tem uma cota superior ento admite uma infinidade delas.
De fato, se u cota superior de S, ento,
*
n ,
n u +
tambm cota superior do
conjunto.
Exemplos:
Considere o subconjunto dos reais
{ } 1 0 :
1
< < = x x S
. o elemento 1 cota superior de
S
1
, e qualquer numero maior que 1 tambm o ser.
Considere o conjunto
{ } 1 0 :
2
= x x S
possui as mesmas cotas superiores de S
1
,
porm, S
2
contm a cota superior 1, enquanto que S
1
no contm nenhuma de suas cotas
superiores.
Definio 20: Se S for cotado superiormente, dizemos que uma cota superior de S o supremo
de S se ela menor do que qualquer outra cota superior de S, ou ainda, um nmero
u
dito
supremo de
S
se
(i)
S s u s ,
( u uma cota superior )
(ii) se
S s v s ,
ento
v u
( u a menor das cotas superiores)
Notao: sup S
Definio 21: Se S for cotado inferiormente, dizemos que uma cota inferior de S o infimo de S
se ela maior do que qualquer outra cota inferior de S. .
Notao: inf S
Lema 1: Um nmero
u
o supremo de um subconjunto no vazio
S
se e somente se
goza das seguintes propriedades:
(i) No ha elementos
S s
com
s u <
(ii) Se
u v <
, ento existe um elemento
S s
v
tal que v
s v <
prova:
() sup (i) e (ii)
Como (i) no ha elementos
S s
com
s u <
temos que u cota superior de S.
Se
u v <
, ento por (ii) existe um elemento
S s
v
tal que v
s v <
e, portanto, v no pode ser cota
superior de S. Logo, u supremo de S.
() Sup u supremo de S.
Como u cota superior de S, temos (i) No ha elementos
S s
com
s u <
.
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Se
u v <
, ento v no cota superior de S. Portanto, existe um elemento
S s
v
tal que v
s v <
.
Resultado 4: Unicidade do supremo: S pode haver um unico supremo para
S
prova: Supor u
1
e u
2
supremos de S. Ento ambos so cotas superiores de S.
Como u
1
supremo de S e u
2
cota superior de S, temos que 2 1
u u
Como u
2
supremo de S e u
1
cota superior de S, temos que 1 2
u u
Logo, temos simultaneamente 2 1
u u
e 1 2
u u
, assim, 2 1
u u =
Observao: Quando se diz que um conjunto possui um supremo, nada se pode afirmar sobre o
supremo estar ou no no conjunto em questo.
Propriedade do Supremo: Todo conjunto no vazio de numeros reais cotado superiormente
possui um supremo.
Propriedade do Infimo: Todo conjunto no vazio de numeros reais cotado inferiormente possui
um infimo.
2.9. Propriedade Arquimediana
Propriedade Arquimediana: Dado um nmero real x, existe um numero natural n que maior
do que x, ou seja, Se
x
, existe um natural
x
n
tal que x
n x <
.
prova:
Sup
x
, sup tambm, por absurdo, que no existe um natural maior que x. Dessa forma, x
ser cota superior de N. Portanto, pela propriedade do supremo, N tem um supremo u.
Como x cota superior de N, segue-se que
x u
.
Como
u u < 1
, temos ( lema) que existe
1
n
tal que 1
1 n u <
.
Assim,
1
1
+ < n u
, mas, como
1
n
, temos que
+1
1
n
, o que contradiz a hipotese de que u
cota superior de N. (Descobrimos alguem (
1
1
+ n
) maior que u e que pertence a N.)
Observao: A Propriedade Arquimediana, na verdade, diz que o conjunto dos numeros naturais
no cotado superiormente nos reais.
Corolrio 7: Sejam y,z reais estritamente positivos.
(a) Existe um numero natural n tal que
z ny >
(b) Existe um numero natural n tal que
z
n
< <
1
0
(c) Existe um numero natural n tal que
n y n < 1
prova:
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(a) Como y,z so estritamente positivos,
y
z
x =
tambm estritamente positivo.
Seja
n
de forma que
n x
y
z
< =
.
Da,
z ny >
.
(b) Seja
n
, de forma que
n
z
< <
1
0
. Da,
z
n
< <
1
0
(c) Pela Propriedade Arquimediana, existem numeros naturais m tais que
m y <
. Seja n o
menor desses numeros naturais. Ento,
n y n < 1
.
Teorema 20: Dado um nmero real x, existe um inteiro k tal que x k x < 1
Definio 22: Dizemos que um conjunto X denso em se todo intervalo aberto
) , ( b a contm pelo menos um ponto de X.
Teorema 21: Q denso em , isto , dados b a, , b a < , ento h Q m , tal que
b m a < < , ou ainda, entre dois numeros reais sempre h um racional.
Existncia de 2
A Propriedade do Supremo nos garante a existncia de alguns numeros reais, como por exemplo,
a existncia de um nmero real cujo quadrado igual a 2, ou seja, a existncia de 2 .
Teorema 22: Existe um nmero positivo x tal que 2
2
= x .
2.10. Exerccios
22. D o supremo e o nfimo dos conjuntos:
(a) (1,3) 3 o menor limite superior ( Sup), 1 maior limite inferior ( Inf)
(b)
)
`
+
= = n
n
n
x x A ,
1
: .
(c)
{ } 8 , 0 , 3 , 7 , 2 = S
. Cotas superiores: 8,10,30; Cotas inferiores: -3,-5,-40; SupS=8;
InfS=-3.
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(d) { } 4 / 2
2
< + = = n e n n x S Assim,
{ } 11 , 6 , 3 , 2 = S
Cotas superiores: 11,27,47; cotas
inferiores: 2,-5; SupS=11; InfS=2
(e)
)
`
< =
4
9
/
2
x x S
dica: Estude o sinal de 0
4
9
2
< x
23. Q Y , Y conjunto das fraes do tipo
n
2
1
,
*
n .
24. Mostre que se
b a,
, com
b a <
ento
b
b a
a <
+
<
2
.
25. Prove que
b SupA b a A = = ) , (
.
26. Mostre que
a InfA b a A = = ) , (
.
27. Seja
)
`
+
= =
*
,
2 3
/ n
n
n
x x S . Encontre o supremo e o infimo e prove que os numeros
encontrados so realmente sup e inf.
28. Sejam A,B conjuntos limitados superiormente. Definindo
{ } B y e A x y x B A + = + /
mostre que (a) A+B limitado superiormente, (b) Sup(A+B)=SupA+SupB
29. Prove que a unio de dois conjuntos cotados cotada.
30. Prove o teorema 21.
31. Prove o Teorema 22.
2.11. Cortes
Definio 23: Diz-se que um par ordenado (A,B) de subconjuntos no-vazios de
constitui um
corte se
= B A
,
= B A
e
b a <
,
A a
e
B b
Exemplo de corte:
Para um elemento fixo
definimos:
{ } = x x A /
,
{ } > = x x B /
Observao: Todo corte em
. Como
cota superior de A,
a
,
A a
.
2
3
2
3
+ + -
Sup Inf
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Se
B b
ento, pela def de corte,
b a <
,
A a
. Assim, b cota superior de A e assim,
b
.
(unicidade) Seja
tal que
a
,
A a
e
b
,
B b
.
Assim,
+
=
tal que
< <
.
Mas, ou
A
ou
B
.
Se
A
temos uma contradio por conta de
a
,
A a
.
Se
B
temos uma contradio por conta de
b
,
B b
.
Portanto,
=
.
2.12. Celas e Intervalos
Definio 24: Se
a
ento os conjuntos
{ } a x x < /
,
{ } a x x > /
so ditos raios
abertos, definidos por a.
Definio 25: Se
a
ento os conjuntos
{ } a x x /
,
{ } a x x /
so ditos raios
fechados, definidos por a.
Definio 26: O ponto a dito extremidade do raio.
Notao:
{ } a x x < /
) , ( a
{ } a x x > /
) , ( + a
{ } a x x /
] , ( a
{ } a x x /
) , [ + a
Observe que os simbolos
+
e
no so considerados nmeros reais, mas sim meramente
simbolos.
Definio 27: Se
b a,
ento o conjunto
{ } b x a x < < /
dito cela aberta definida por a
e b e denotada por (a,b).
Definio 28: Se
b a,
ento o conjunto
{ } b x a x /
ditos cela fechada definida por
a e b e denotada por [a,b].
Definio 29: Se
b a,
ento os conjuntos
{ } b x a x < /
e
{ } b x a x < /
so ditos
celas semi-abertas ou semi-fechadas definida por a e b e denotada por [a,b) e (a,b].
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Definio 30: Os pontos a e b so ditos pontos extremos das celas.
Definio 31: Um intervalo em
.
Tipos de intervalos (10):
,
) , ( a
,
) , ( + a
,
] , ( a
,
) , [ + a
, (a,b), [a,b], [a,b), (a,b],
Definio 32: Dizemos que o conjunto
{ } 1 0 / ] 1 , 0 [ = = x x I
a cela unitria ou
intervalo unitrio.
Definio 33: Dizemos que uma sequencia de intervalos
n I
n
,
encaixante se as incluses
L L
+1 3 2 1 n n
I I I I I
se verificam.
Observao: Uma sequencia de intervalos encaixantes no tem necessariamente um ponto em
comum.
Teorema 24: Propriedade das celas encaixantes: Se
n
, seja n
I
uma cela no vazia em
e suponha que esta sequencia seja encaixante (
L L
+1 3 2 1 n n
I I I I I
) . Ento, existe
um elemento que pertence a todas essas celas.
Em outras palavras, toda sequencia encaixante de celas fechadas tem pelo menos um ponto
comum.
2.13. Conjunto de Cantor
Introduziremos nesta seo a definio de um subconjunto da cela unitria I muito til na
construo de exemplos e contra-exemplos. Este conjunto ser chamado de Conjunto de Cantor
(ou trada de cantor ou descontnuo de Cantor) e ser notado por F.
Definio 34: O Conjunto de Cantor F a interseo dos conjuntos
n F
n
,
, obtidos atravs
da remoo sucessiva dos teros mdios abertos.
F consiste dos pontos de I que permanecem aps removidos sucessivamente os intervalos teros
mdios.
Removendo o tero mdio aberto de I, obtemos:
] 1 ,
3
2
[ ]
3
1
, 0 [
1
= F
F
1
0 1
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Agora, removendo o tero mdio de cada um dos intervalos fechados de F
1
, obtemos
] 1 ,
9
8
[ ]
9
7
,
3
2
[ ]
3
1
,
9
2
[ ]
9
1
, 0 [
2
= F
Note que F
2
a unio de 4 ( 2
2
) intervalos fechados, todos da forma
(
+
2 2
3
) 1 (
,
3
k k
Removendo o tero mdio de cada intervalo fechado de F
2
, obtemos F
3
Note que F
3
a unio de 8 ( 2
3
) intervalos fechados, todos da forma
(
+
3 3
3
) 1 (
,
3
k k
De maneira geral, construimos n
F
como a unio de 2
n
intervalos da forma
(
+
n n
k k
3
) 1 (
,
3
.
O Conjunto de cantor o que resta aps aplicar este processo para cada
n
.
Observe que nem todos os pontos sero removidos neste processo. Os pontos
1 ,
3
2
,
3
1
, 0
pertencem a todos os conjuntos n
F
,
n
, e, portanto, pertencem ao Conjunto de Cantor.
2.13. Exerccios
32. Coloque na reta real e observe que, sendo
+ = n n I
n
), , (
, a sequencia de intervalos
obtida encaixante, mas no tem ponto comum.
33. Coloque na reta real e observe que, sendo
)
1
, 0 (
n
J
n
=
, a sequencia de intervalos obtida
encaixante, mas no tem ponto comum.
F
2
0 1
F
3
0 1
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3. A TOPOLOGIA DOS ESPAOS CARTESIANOS
Um espao vetorial um conjunto, munido de um par de operaes, que possui uma
estrutura interessante. Nele, podemos somar dois elementos e multiplicar um elemento por um
numero real de forma que algumas propriedades sejam vlidas.
3.1. Espaos Vetoriais e Cartesianos
3.1.1. Espaos Vetoriais
Definio 35: Dizemos que um conjunto
V
um espao vetorial sobre
quando, e
somente quando:
(I) Existe uma adio
( , ) u v u v +
em V, com as seguintes propriedades:
(A1)
, u v v u u v V + = +
( comutativa )
(A2)
( ) ( ) u v w u v w + + = + +
, , u v w V
( associativa )
(A3) existe
V
tal que
u V
,
u u u + = + =
(A4)
u V
existe
( ) u V
tal que
( ) u u + =
(II) Existe uma multiplicao de
V
em V, o que significa que a cada par
( , ) u
de
V
est associado um nico elemento de V que se indica por
u
, e para esta
multiplicao temos as seguintes propriedades:
(M1)
1 1 u u u = =
(M2)
( ) ( ) u u =
u V
(D1)
( )u u u + = +
u V
(D2)
( ) u v u v + = +
, u v V
Para quaisquer
,
.
Assim, um espao vetorial um conjunto munido de duas operaes binrias: adio vetorial
e multiplicao por escalar, onde o elemento u+v dito vetor soma de u e v, e o elemento
u
chamado produto de
e u.
Exemplo: Seja
2
V =
|
|
\
|
+
+
=
|
|
\
|
+
|
|
\
|
2 2
1 1
2
1
2
1
y x
y x
y
y
x
x
para
2
2
1
2
1
,
|
|
\
|
|
|
\
|
y
y
x
x
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|
|
\
|
=
|
|
\
|
2
1
2
1
x
x
x
x
para
K
2
2
1
|
|
\
|
x
x
Mostre que V, munido das operaes definidas acima, um espao vetorial.
Verificando:
1- provar:
, x y V
x y y x + = +
(comutatividade)
Sejam
2
, y x
, com
|
|
\
|
=
2
1
x
x
x
|
|
\
|
=
2
1
y
y
y
x y
x
x
y
y
x y
x y
y x
y x
y
y
x
x
y x + =
|
|
\
|
+
|
|
\
|
=
|
|
\
|
+
+
=
|
|
\
|
+
+
=
|
|
\
|
+
|
|
\
|
= +
2
1
1
1
2 2
1 1
2 2
1 1
2
1
2
1
vale a comutatividade ou seja, x+y=y+x
2- provar:
, , x y z V
,
) ( ) ( z y x z y x + + = + +
Sejam
2
, , z y x
, com
|
|
\
|
=
2
1
x
x
x
|
|
\
|
=
2
1
y
y
y
|
|
\
|
=
2
1
z
z
z
|
|
\
|
+ +
+ +
=
|
|
\
|
+
|
|
\
|
+
+
=
|
|
\
|
+
(
|
|
\
|
+
|
|
\
|
= + +
2 2 2
1 1 1
2
1
2 2
1 1
2
1
2
1
2
1
) (
z y x
z y x
z
z
y x
y x
z
z
y
y
x
x
z y x
|
|
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|
+ +
+ +
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|
|
\
|
+
+
+
|
|
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|
=
(
|
|
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|
+
|
|
\
|
+
|
|
\
|
= + +
2 2 2
1 1 1
2 2
1 1
2
1
2
1
2
1
2
1
) (
z y x
z y x
z y
z y
x
x
z
z
y
y
x
x
z y x
da,
) ( ) ( z y x z y x + + = + +
3- provar existe
V
tal que
x V
,
x x x = + = +
Sejam
2
x e
2
tal que
x x = +
onde
|
|
\
|
=
2
1
x
x
x
e
|
|
\
|
=
0
0
x
x
x
x
x
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|
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|
+
+
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|
|
\
|
+
|
|
\
|
= +
0
0
0
0
2
1
2
1
4- provar:
x V
existe
( ) x V
tal que
= + ) ( x x
Sejam
2
2
1
,
|
|
\
|
|
|
\
|
b
a
x
x
tal que
|
|
\
|
=
|
|
\
|
+
|
|
\
|
0
0
2
1
b
a
x
x
Ento:
|
|
\
|
=
|
|
\
|
+
+
0
0
2
1
b x
a x
Da,
= +
= +
0
0
2
1
b x
a x
ou ainda
=
=
2
1
x b
x a
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Curso de Matemtica
Introduo a Anlise Matemtica
Prof. Denise Candal
Parte 1 Numeros Reais e Topologia da reta
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Logo,
|
|
\
|
=
|
|
\
|
2
1
x
x
b
a
e vale a comutatividade
Assim,
1 2
2
x
x V
x
| |
= =
|
\
,existe
2
2
1
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|
\
|
x
x
tal que
|
|
\
|
=
|
|
\
|
+
|
|
\
|
0
0
2
1
2
1
x
x
x
x
ou seja
x V
existe
( ) x V
tal que
= + ) ( x x
5- provar:
K ,
,
E x
( ) ( )x x =
Sejam
,
e
2
2
1
|
|
\
|
=
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
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x ) ( ) (
) (
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) (
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2
1
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1
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1
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|
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|
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|
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|
|
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|
|
|
\
|
=
6- provar:
K ,
,
E x
( ) x x x + = +
Sejam
,
e
2
2
1
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|
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x
x
x
x x
x
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x
x
x
x
x
x
x
x
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|
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|
\
|
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|
|
\
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|
|
\
|
+ = +
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1
2
1
2
1
2
1
2
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) ( ) (
7- provar:
K
,
E y x ,
( ) y x y x + = +
Sejam
2
, y x
, com
|
|
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|
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2
1
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x
x
|
|
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2
1
y
y
y
e
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y
x
y
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y x
y x
y x
y x
y x
y x
y
y
x
x
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|
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|
+
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|
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2
2
1
1
2 2
1 1
2 2
1 1
2 2
1 1
2
1
2
1
) (
) (
) (
8- provar:
E x
x x x = = 1 1
,
E 1
Seja
2
2
1
|
|
\
|
=
x
x
x
e
1
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x
x
x
x
x
x
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\
|
=
2
1
2
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2
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1
1
1 1
Assim,
E x
x x x = = 1 1
,
E 1
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3.1.2. Podutos Internos e Normas
Definio 36: Seja V um espao vetorial. Dizemos que um produto interno (produto escalar)
uma funo de
V V
em
, ie,
y x y x a ) , (
, que satisfaz as seguintes propriedades:
(i)
0 x x
,
V x
(ii)
0 0 = = x x x
(iii)
x y y x =
,
V y x ,
(iv)
z x y x z y x + = + ) (
e
z y z x z y x + = + ) (
,
V z y x , ,
(v)
) ( ) ( ) ( ay x y x a y ax = =
,
V y x ,
,
a
Definio 37: Um espao vetorial no qual est definido um produto interno dito espao
vetorial com produto interno.
Exemplos:
Em
, ie,
x x a
, e que satisfaz
(i)
0 x
,
V x
(ii)
0 0 = = x x
(iii)
x a ax =
,
a
,
V x
(iv)
y x y x + +
,
V z y x , ,
Definio 39: Um espao vetorial no qual est definida uma norma dito espao normado.
Exemplos:
Em