Candomblé

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PONTIFICIA UNIVERSADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

UNIDADE BETIM
CURSO DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO

CULTURA RELIGIOSA I

CANDOMBLÉ – VIVENDO UMA NOVA EXPERIÊNCIA

FERNANDO DE PAULA
GABRIELLA FONSECA RIBEIRO
ÍTALO DIEGO TEOTÔNIO

BETIM
MAIO/2011
FERNANDO DE PAULA
GABRIELLA FONSECA RIBEIRO
ÍTALO DIEGO TEOTÔNIO

CANDOMBLÉ

Trabalho apresentado ao curso de


Sistemas de Informação, disciplina
Cultura Religiosa I.

Orientador Específico :
Prof. Aurino

BETIM
MAIO/2011
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SUMARIO

1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................................6
1.1 VISITAS AO TERREIRO..................................................................................................6
1.2 OBJETIVOS.......................................................................................................................6
2 O CANDOMBLÉ......................................................................................................................8
2.1 A ORIGEM DO MUNDO SEGUNDO O CANDOMBLÉ................................................8
2.2 A ORGANIZAÇÃO DO TERREIRO..............................................................................10
2.3 HIERARQUIA EM UMA CASA DE SANTO.................................................................11
3 OS ORIXÁS............................................................................................................................14
4 AS CERIMÔNIAS – OS TOQUES.........................................................................................20
4.1 PREPARAÇÕES PARA O TOQUE.................................................................................21
4.2 DATAS COMEMORATIVAS..........................................................................................22
4.3 O TOQUE – COMO É CELEBRADO.............................................................................23
4.4 A MÚSICA.......................................................................................................................24
4.5 O SACRIFÍCIO................................................................................................................25
4.6 A OFERENDA..................................................................................................................25
4.7 O PADÊ DE EXU.............................................................................................................25
4.8 OS RITOS DE PASSAGEM.............................................................................................26
5 AS NAÇÕES............................................................................................................................28
5.1 CANDOMBLÉ KETU.....................................................................................................28
5.2 CANDOMBLÉ DE ANGOLA.........................................................................................28
5.3 CANDOMBLÉ JEJE.......................................................................................................29
5.4 CANDOMBLÉ BANTU.................................................................................................29
6 CANDOMLÉ BANTU............................................................................................................30
6.1 O POVO BANTU.............................................................................................................30
6.2 A HISTÓRIA DO POVO BANTU...................................................................................31
6.3 ACONTECIMENTOS COMUNS AO POVO BANTU..................................................32
6.4 CARGOS E FUNÇÕES EM UM TERREIRO DE CANDOMBLÉ BANTU.................32
6.5 OS NKISES E NKISIS.....................................................................................................33
6.6 MAKURIA – COMIDAS TÍPICAS.................................................................................37
7 VISITANDO OTERREIRO.....................................................................................................40
7.1 ENTREVISTA COM O PAI ARABOMI..........................................................................40
7.2 VIVÊNDO UMA NOVA EXPERIÊNCIA – O RELATO INDIVIDUAL.......................43
CONCLUSÃO............................................................................................................................49
REFERÊNCIAS..........................................................................................................................50
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1 INTRODUÇÃO

O Candomblé é uma religião que tem a natureza e o universo como divindade.


Assim sendo, não cultuam nenhum deus, e sim os orixás, que representam as forças
da natureza. Foi trazida ao Brasil pelos negros escravos e hoje conta com um grande
número de seguidores chamados de povo do santo.
Essa pesquisa tem o objetivo de conhecer um pouco mais sobre a cultura
desse povo através de documentos, visitas aos terreiros e participação em toque –
como são chamadas as celebrações do candomblé.

1.1 VISITAS AO TERREIRO

Para o candomblé, o terreiro é local aonde acontecem as comemorações e


também aonde reside o pai de santo e alguns orixás.
O terreiro visitado para pesquisa se encontra em Minas Gerais, na cidade de
Mateus Leme, bairro Atalaia. Está localizado em um bairro rural, em um sítio
atualmente sob os cuidados do Pai de Santo Arabomi.
No dia 6 de Maio de 2011 visitamos o terreiro para conversamos com o Pai de
Santo, que explicou sobre a religião e nos mostrou o lugar. No dia 14 de Maio de
2011 participamos de um toque, aonde tivemos a oportunidade de presenciar a
iniciação de um novo membro e a cerimônia de obrigação dos 21 anos de candomblé,
que é a última obrigação de um filho de santo.

1.2 OBJETIVOS

Por ser uma religião familiar, a maioria das informações e a cultura do povo em
si é transmitida oralmente e através dos ritos. Encontrar documentos que relatem
todos os ritos, comemorações e festas do Candomblé é uma tarefa difícil, pois é uma
religião que se aprende com a vivência.
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Através das visitas realizadas e pesquisas procuramos relatar alguns aspectos


fundamentais da religião, tais como os orixás, ritos de passagem e a relação com os
orixás.
O maior objetivo do trabalho é, contudo, vivenciar uma nova experiência
religiosa e aprender sobre os aspectos culturais que estão a ela interligados, a fim de
fazer uma comparação com outras religiões e crenças estudadas.
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2 O CANDOMBLÉ

O candomblé tem por base a alma da Natureza, cultuando entidades – Orixás,


que regem sobre as os rios, mares, terras, entre outros.
É a principal religião afrodescendente praticada no Brasil atualmente e possui
algumas vertentes como o Candomblé de Angola e o Bantu. Não deve, entretanto, ser
confundida com Umbanda, Macumba ou Omoloko, apesar de todas essas possuírem
origem semelhante.
O candomblé é a religião afro-brasileira que mais fielmente preserva as
tradições dos antepassados e a menos permeável às transformações sincréticas,
embora alguns terreiros também cultuem secundariamente entidades assimiladas,
como os caboclos e os pretos velhos.

2.1
A

ORIGEM DO MUNDO SEGUNDO O CANDOMBLÉ

Conta-se que no início não havia separação entre o Orum, o Céu dos orixás, e
o Aiê, a Terra dos humanos. Homens e divindades iam e vinham, coabitando e
dividindo vidas e aventuras. Quando o Orum fazia limite com o Aiê, um ser humano
tocou o Orum com as mãos sujas.
O céu imaculado do Orixá fora conspurcado. O branco imaculado de Obatalá
se perdera. Oxalá foi reclamar a Olorum.
Olorum, Senhor do Céu, Deus Supremo, irado com a sujeira, o desperdício e a
displicência dos mortais, soprou enfurecido seu sopro divino e separou para sempre o
Céu da Terra.
Assim, o Orum separou-se do mundo dos homens e nenhum homem poderia ir
ao Orum e retornar de lá com vida. E os orixás também não podiam vir à Terra com
seus corpos.
O mundo dos homens e o dos orixás haviam sido então separados.
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Isoladas dos humanos habitantes do Aiê, as divindades se entristeceram. Os


orixás tinham saudades de suas peripécias entre os humanos e andavam tristes e
amuados. Decidiram-se então queixar-se com Olodumare, que acabou consentindo
que os orixás pudessem retornar à Terra esporadicamente. Para isso, entretanto,
teriam que tomar o corpo material de seus devotos.
Oxum, que antes gostava de vir à Terra brincar com as mulheres, dividindo
com elas sua formosura e vaidade, ensinando-lhes feitiços de adorável sedução e
irresistível encanto, recebeu de Olorum um novo encargo: preparar os mortais para
receberem em seus corpos os orixás.
Oxum fez então oferendas a Exu para propiciar sua delicada missão. Veio ao
Aiê e juntou as mulheres à sua volta, banhou seus corpos com ervas preciosas,
cortou seus cabelos, raspou suas cabeças e pintou seus corpos - suas cabeças com
pintinhas brancas, como as penas da galinha-d’angola. Vestiu-as com belíssimos
panos e fartos laços, enfeitando-as com joias e coroas.
O ori, a cabeça, ela adornou ainda com a pena ecodidé, pluma vermelha, rara
e misteriosa do papagaio-da-costa. Nas mãos as fez levar abebés, espadas, cetros, e
nos pulsos, dúzias de dourados indés. O colo cobriu com voltas e voltas de coloridas
contas e múltiplas fieiras de búzios, cerâmicas e corais. Na cabeça pôs um cone feito
de manteiga de ori, finas ervas e obi mascado, com todo condimento de que gostam
os orixás.
As iaôs eram as noivas mais bonitas que a vaidade de Oxum conseguia
imaginar. E estavam prontas para os deuses.
Os orixás agora tinham seus cavalos, podiam retornar com segurança ao Aiê,
podiam cavalgar o corpo das devotas. Os humanos faziam oferendas aos orixás,
convidando-os à Terra, aos corpos das iaôs. Então os orixás vinham e tomavam seus
cavalos.
E, enquanto os homens tocavam seus tambores, vibrando os batás e agogôs,
soando os xequerês e adjás, enquanto os homens cantavam e davam vivas e
aplaudiam, convidando todos os humanos iniciados para a roda do xirê, os orixás
dançavam.
Os orixás podiam de novo conviver com os mortais e ficaram contentes com
isso. Na roda das feitas, no corpo das iaôs, eles dançavam. E até hoje se celebram
as vindas dos orixás à terra nos Toques, em terreiros de Candomblé.
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2.2 A ORGANIZAÇÃO DO TERREIRO

O terreiro, ou casa-de-santo, é simultaneamente templo e morada. A vida


cotidiana dos mortais mistura-se com os rituais dos orixás. A família-de-santo (a mãe
ou o pai e os filhos-de-santo, não necessariamente parentes de sangue) divide os
cômodos com os deuses.
O cômodo principal em um terreiro é o barracão, o salão onde humanos e
santos se encontram nas festas. Há ainda várias instalações comuns a uma
residência: salas de jantar e de estar, cozinha e quartos, nem todos destinados aos
mortais. No caso do terreiro visitado pelo grupo, existem pequenas casas por todo o
sítio, cada qual destinada à um orixá. Entretanto, na maioria dos terreiros, por
questões de espaço, existem os quartos-de-santo, onde ficam os pejis (altares) e os
assentamentos (objetos e símbolos) dos orixás. Aí são feitas as oferendas.

Vista da Casa de Dandalunda – 06/05/2011 – Sítio Arabomi

O roncó é um quarto especial onde os abiãs (noviços) ficam recolhidos durante


o processo de iniciação. Essa proximidade dos abiãs com os outros membros do
terreiro é fundamental: é assim que os iniciados entram em contato com os
procedimentos rituais da casa. O fiel do candomblé aprende com os olhos e os
ouvidos. Ele deve prestar atenção a tudo e não perguntar nada. Contudo os terreiros
podem ter também uma área externa, onde estão as casas dos outros orixás - o que
acontece no terreiro visitado.
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2.3 HIERARQUIA EM UMA CASA DE SANTO

Abiã
Noviço, primeiro degrau da hierarquia. Após iniciado, será filho-de-santo.

Iaô
Filho-de-santo, segundo degrau na hierarquia. Podem ou não receber santo.

Ebômi
Terceiro degrau. Iaô que cumpriu as obrigações de sete anos. Recebe santo.

Iabassê
Quarto degrau. Não recebe. É a responsável pela cozinha do terreiro.

Agibonã
Mãe criadeira. Também quarto degrau. Cuida dos iaôs durante o ritual de
iniciação. Não recebe santo.

Ialaxé
Quinto degrau. Zela pelas oferendas e objetos de culto aos orixás. Não recebe
santo.

Baba-quequerê e Iaquequerê
Sexto degrau. Pai ou mãe-pequena. Recebe. Ajuda o pai ou mãe-de-santo no
comando do terreiro.

Baba-lorixá e Ialorixá
Pai ou mãe-de-santo, chefe do terreiro, último degrau da hierarquia. Recebe
santo e joga búzios.

Ajudantes sagrados
Pais e mães terrenos dos orixás ficam fora da hierarquia.

Ogã
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Filho-de-santo que não recebe. O Ogã pode ser Axogum ou Alabê, conforme
sua tarefa.

Axogum
Ogã responsável pelo sacrifício de animais a serem ofertados aos orixás. Não
recebe santo.

Alabê
Ogã tocador dos atabaques e instrumentos rituais. Não recebe santo.

Equede
Paralela ao Ogã. Não recebe santo. Cuida dos orixás incorporados e de seus
objetos.
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3 OS ORIXÁS

Os orixás são deuses africanos que correspondem a pontos de força da


Natureza e os seus arquétipos estão relacionados às manifestações dessas forças.
Segundo a tradição, os orixás do candomblé têm origem nos ancestrais dos clãs
africanos, divinizados há mais de 5 000 anos. Acredita-se que tenham sido homens e
mulheres capazes de manipular as forças da natureza, ou que trouxeram para o
grupo os conhecimentos básicos para a sobrevivência, como a caça, o plantio, o uso
de ervas na cura de doenças e a fabricação de ferramentas.

As divindades do candomblé têm características muito humanas: são vaidosos,


temperamentais, briguentos, fortes, maternais ou ciumentos, ou seja, tem
personalidade própria. Cada traço da personalidade é associado a um elemento da
natureza e da sua cultura: o fogo, o ar, a água, a terra, as florestas e os instrumentos
de ferro.
Na África Ocidental, existem mais de 200 orixás. Contudo com a vinda dos
escravos para o Brasil, grande parte dessa tradição se perdeu. Hoje, o número de
orixás cultuados no país está reduzido a dezesseis na maioria dos terreiros.
Os doze orixás mais cultuados no Brasil são:

Exu
Orixá mensageiro entre os homens e os deuses, guardião da porta da rua e
das encruzilhadas. Só através dele é possível invocar os orixás. Elemento: fogo
Personalidade: atrevido e agressivo
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Símbolo: ogó (um bastão adornado com cabaças e búzios)


Dia da semana: segunda-feira
Colar: vermelho e preto
Roupa: vermelha e preta
Sacrifício: bode e galo preto
Oferendas: farofa com dendê, feijão, inhame, água,mel e
aguardente

Ogum
Deus da guerra, do fogo e da tecnologia. No Brasil é
conhecido como deus guerreiro. Sabe trabalhar com metal e, sem
sua proteção, o trabalho não pode ser proveitoso.
Elemento: ferro
Símbolo: espada
Personalidade: impaciente e obstinado
Dia da semana: terça-feira
Colar: azul-marinho
Roupa: azul, verde escuro, vermelho ou amarelo
Sacrifício: galo e bode avermelhados
Oferendas: feijoada, xinxim, inhame

Oxóssi
Deus da caça. É o grande patrono do candomblé
brasileiro.
Elemento: florestas Personalidade: intuitivo e emotivo
Símbolo: rabo de cavalo e chifre de boi
Dia da semana: quinta-feira
Colar: azul claro
Roupa: azul ou verde claro
Sacrifício: galo e bode avermelhados e porco
Oferendas: milho branco e amarelo, peixe de
escamas, arroz, feijão e abóbora
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Obaluaiê
Deus da peste, das doenças da pele e,
atualmente, da AIDS. É o médico dos pobres.
Elemento: terra
Personalidade: tímido e vingativo
Símbolo: xaxará (feixe de palha e búzios)
Dia da semana: segunda-feira
Colar: preto e vermelho, ou vermelho, branco e
preto
Roupa: vermelha e preta, coberta por palha
Sacrifício: galo, pato,bode e porco
Oferendas: pipoca, feijão preto, farofa e milho, com muito dendê

Oxum
Deusa das águas doces (rios, fontes e lagos). É também
deusa do ouro, da fecundidade, do jogo de búzios e do amor.
Elemento: água
Personalidade: maternal e tranqüila
Símbolo: abebê (leque espelhado)
Dia da semana: sábado
Colar: amarelo ouro
Roupa: amarelo ouro
Sacrifício: cabra, galinha, pomba
Oferendas: milho branco, xinxim de galinha, ovos, peixes de água doce

Iansã
Deusa dos ventos e das tempestades.
É a senhora dos raios e dona da alma dos mortos.
Elemento: fogo
Personalidade: Impulsiva e imprevisível
Símbolo: espada e rabo de cavalo (representando a realeza)
Dia da semana: quarta-feira
Colar: vermelho ou marrom escuro
Roupa: vermelha
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Sacrifício: cabra e galinha


Oferendas: milho branco, arroz, feijão e acarajé

Ossaim
Deus das folhas e ervas medicinais. Conhece seus
usos e as palavras mágicas (ofós) que despertam seus
poderes.
Elemento: matas
Personalidade: instável e emotivo
Símbolo: lança com pássaros na forma de leque e
feixe de folhas
Dia da semana: quinta-feira
Colar: branco rajado de verde
Roupa: branco e verde claro
Sacrifício: galo e carneiro
Oferendas: feijão, arroz, milho vermelho e farofa de dendê

Nanã
Deusa da lama e do fundo dos rios, associada à fertilidade, à doença e à
morte. É a orixá mais velha de todos e, por isso, muito respeitada.
Elemento: terra
Personalidade: vingativa e mascarada
Símbolo: ibiri (cetro de palha e búzios)
Dia da semana: sábado
Colar: branco, azul e vermelho
Roupa: branca e azul
Sacrifício: cabra e galinha
Oferendas: milho branco, arroz, feijão, mel e dendê

Oxumaré
Deus da chuva e do arco-íris. É, ao mesmo tempo, de natureza masculina e
feminina. Transporta a água entre o céu e a terra.
Elemento: água
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Personalidade: sensível e tranqüilo


Símbolo: cobra de metal
Dia da semana: quinta-feira
Colar: amarelo e verde
Roupa: azul claro e verde claro
Sacrifício: bode, galo e tatu
Oferendas: milho branco, acarajé, coco, mel, inhame e feijão com ovos

Iemanjá
Considerada deusa dos mares e oceanos. É a mãe de todos os orixás e
representada com seios volumosos, simbolizando a maternidade e a fecundidade.
Elemento: água
Personalidade: maternal e tranqüila
Símbolo: leque e espada
Dia da semana: sábado
Colar: transparente, verde ou azul claro
Roupa: branco e azul
Sacrifício: porco, cabra e galinha
Oferendas: peixes do mar, arroz, milho, camarão com
coco

Xangô
Deus do fogo e do trovão. Diz a tradição que foi rei de
Oyó, cidade da Nigéria. É viril, violento e justiceiro. Castiga os
mentirosos e protege advogados e juízes.
Elemento: fogo
Personalidade: atrevido e prepotente
Símbolo: machado duplo (oxé)
Dia da semana: quarta-feira
Colar: branco e vermelho
Roupa: branca e vermelha, com coroa de latão
Sacrifício: galo, pato, carneiro e cágado
Oferendas: amalá (quiabo com camarão seco e dendê)

Oxalá
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Deus da criação. É o orixá que criou os homens. Obstinado e independente, é


representado de duas maneiras: Oxaguiã, jovem, e Oxalufã, velho.
Elemento: ar
Personalidade: equilibrado e tolerante
Símbolo: oparoxó (cajado de alumínio com adornos)
Dia da semana: sexta-feira
Colar: branco
Roupa: branca
Sacrifício: cabra, galinha, pomba, pata e caracol
Oferendas: arroz, milho branco e massa de inhame
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4 AS CERIMÔNIAS – OS TOQUES

Do ponto de vista musical, o candomblé pode ser considerado um oratório


dançado. Cada entidade -- orixá, exu ou erê -- tem suas cantigas e suas danças
específicas. O canto é puxado, em solo, pelo pai ou mãe-de-santo e é seguido por um
coro em uníssono, formado pelos filhos-de-santo.

Vista do barracão aonde é celebrado o toque – 14/05/2011 – Sítio Arabomi

“Festa” ou “Toque” é o nome que se dá à cerimônia pública de candomblé, uma


cerimônia essencialmente comemorativa e musical. Seu objetivo principal é a
presença dos orixás entre os mortais. Sendo a música uma linguagem privilegiada no
diálogo dos orixás, a festa pode ser entendida como um chamado ou uma prece,
pedindo aos deuses que venham estar junto a seus filhos, seja por motivo de alegria
ou de necessidade destes.
Do toque participam três instrumentos básicos: os atabaques, o agogô e o
piano-de-cuia (aguê); a estes se acrescentam um adjá (no candomblé das nações do
grupo jeje-nagô) e um caxixi (nos ritos do grupo angola-congo).
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Tambores Enfeitados para o Toque – 14/05/2011 – Sítio Arabomi

As cerimônias começam sempre à noite, contudo a preparação inicia-se dias


antes. Os tocadores de atabaque, chamados alabês, são postos em seus lugares. Em
algumas nações é comum separar homens e mulheres para evitar o namoro durante
o toque. Cada festa homenageia um ou mais orixás, e há ainda celebrações de
passagem de ritos.
O barracão é decorado com flores, bandeirolas e adornos de acordo com a
personalidade do orixá homenageado. Folhas de palmeiras de dendê também são
muito utilizadas.

4.1 PREPARAÇÕES PARA O TOQUE

O barracão aonde acontecerá a cerimônia é geralmente decorado durante a


tarde. Na madrugada do dia anterior os filhos-de-santo realizam o sacrifício para o
orixá homenageado. Cada orixá pode pedir por um animal específico e geralmente
são ofertadas as partes que não são comestíveis – como cabeças e pés. Além disso,
comidas baianas de origem africana, como o acarajé, são bem comuns.
Todo o alimento que será servido aos irmãos – como são chamados, e também
a oferenda, são preparados pelas filhas-de-santo. Os alimentos que serão ofertados
aos orixás devem ser preparados no fogão de lenha.
Acredita-se que após a oferenda aos deuses, Exu, o mensageiro entre os
homens e os orixás, é então despachado.
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4.2 DATAS COMEMORATIVAS

Geralmente as festas não têm dia certo para acontecer. Normalmente estão
associadas aos dias santos do catolicismo. Isso se deu como resultado do
sincretismo que aconteceu durante o período da escravatura, aonde cada orixá foi
também associado a um santo católico devido à imposição do catolicismo aos negros.
Para manterem os seus deuses vivos, viram-se obrigados a disfarçá-los na roupagem
dos santos católicos, aos quais cultuavam apenas aparentemente.
As datas podem variar de terreiro para terreiro, de acordo com a
disponibilidade e as possibilidades da comunidade, mas de maneira geral, o que
importa é comemorar o orixá na sua época.
As principais festas, ao longo do ano, são as seguintes:

Janeiro: Festa de Oxalá (coincide com a festa do Bonfim, em Salvador), no


segundo domingo depois do dia de Reis, 6 de janeiro.
Quaresma: O encerramento do ano litúrgico acontece durante os quarenta
dias que antecedem a Páscoa, com o Lorogun, em homenagem a Oxalá.
Abril: Feijoada de Ogum e festa de Oxóssi (associado a São Sebastião), em
qualquer dia.
Junho: Fogueiras de Xangô (associados a São João e São Pedro), dias 25 e
29.
Agosto: Festa para Obaluaiê (associado a São Lázaro e São Roque) e festa
de Oxumaré (associado a São Bartolomeu), em qualquer dia.
Setembro: Começa um ciclo de festas chamado Águas de Oxalá, que pode
seguir até dezembro. Festa de Erê, em homenagem aos espíritos infantis (associados
a São Cosme e Damião). Festa das iabás (esposas de orixás) e festa de Xangô
(associado a São Jerônimo), em qualquer dia.
Dezembro: Festas das iabás Iansã (Santa Bárbara), dia 4, Oxum e Iemanjá
(associadas a Nossa Senhora da Conceição), dia 8. Iemanjá também é
homenageada na passagem de ano.
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4.3 O TOQUE – COMO É CELEBRADO

Os atabaques são os primeiros que começam a falar com os deuses. Os orixás


são invocados com cantigas próprias e os filhos-de-santo entram na roda, um a um,
na chamada ordem do xirê: primeiro, o filho de Ogum, seguido pelos filhos de Oxóssi,
Obaluaiê e assim por diante.

Em qualquer terreiro, a entrada dos orixás na festa segue sempre a mesma


sequência da ordem do xirê. Depois de despachar Exu, o primeiro a entrar na roda é
Ogum, seguido de Oxóssi, Obaluaiê, Ossaim, Oxumaré, Xangô, Oxum, Iansã, Nanã,
Iemanjá e Oxalá.

Filha de Santo saudando a terra, no início da celebração – 14/05/2011 – Sítio Arabomi

Ao som do canto e da batida dos atabaques, cada integrante da roda entra em


transe. O corpo estremece em convulsão, às vezes suavemente, outras vezes com
violência. Agora, os filhos incorporam os orixás e dançam até que o pai-de-santo
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autorize, com um aceno, sua saída, para serem arrumados pelas camareiras,
chamadas de equedes. Logo depois, eles voltam ao barracão, vestindo roupas,
colares e enfeites típicos de seu santo. Ao ouvir seu cântico, cada um começa a
dançar, sozinho, uma coreografia que conta a origem do orixá incorporado.

Filhos de santo incorporados, dançando com as roupas de seus orixás – 14/05/2011 – Sítio
Arabomi

Perto do fim da celebração os atabaques tocam as cantigas de Oxalá, o criador


dos homens. Saudado Oxalá, é hora da comunhão com os deuses: os pratos são
servidos aos participantes da festa. O toque chega então ao fim.

4.4 A MÚSICA

Os três atabaques que fazem soar o toque durante o ritual também são
responsáveis pela convocação dos deuses. O rum funciona como solista, marcando
os passos da dança. Os outros dois, o rumpi e o lé, reforçam a marcação,
reproduzindo as modulações da língua africana iorubá uma língua cantada, como o
sotaque baiano. Além dos atabaques, usam-se também o agogô e o xequerê.
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São, ao todo, mais de quinze ritmos diferentes. Cada casa-de-santo tem até
500 cânticos. Segundo a fé dos praticantes, os versos e as frases rítmicas repetidas
incansavelmente, têm o poder de captar o mundo sobrenatural. Essa música sagrada
só sai dos terreiros na época do carnaval, levada por grupos e blocos de rua,
principalmente em Salvador, como Olodum ou Filhos de Gandhi.

4.5 O SACRIFÍCIO

O sacrifício de animais acontece apenas diante dos membros da comunidade


de santo e envolve no mínimo dois animais: um, de duas patas, para Exu, e outro, de
quatro patas, macho ou fêmea, dependendo do sexo do orixá a ser homenageado.
Quem realiza o sacrifício é o ogã axogum, um iniciado no candomblé especialmente
preparado para isso. Os bichos são mortos com um golpe na nuca. Depois, a cabeça
e os membros são cortados fora e o animal sacrificado vai sangrar até a última gota
antes de ser destinado à oferenda.

4.6 A OFERENDA

Depois do sacrifício, a moela, o fígado, o coração, os pés, as asas e a cabeça


são separados e oferecidos ao orixá homenageado num vaso de barro, chamado
alguidar. O sangue, recolhido numa quartinha de cerâmica (espécie de moringa), é
derramado sobre o assentamento do santo, ou seja, o local onde ficam seus objetos e
símbolos. As partes restantes são destinadas ao jantar oferecido aos orixás, ainda à
tarde, e aos participantes, ao final da festa pública, à noite.

4.7 O PADÊ DE EXU

Este é também um ritual fechado ao público. Significa despacho de Exu. É ele


quem faz a ponte entre o mundo natural e o sobrenatural. Portanto, é ele quem
convoca os orixás para a festa dos humanos. Para isso, é preciso agradá-lo,
oferecendo comida (farofa com dendê, feijão ou inhame) e bebida (água, cachaça ou
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mel). As oferendas são levadas para fora do barracão e a porta de entrada é batizada
com a bebida, já que Exu é o guardião da entrada e das encruzilhadas (por isso é
comum ver oferendas em esquinas nas ruas e em encruzilhadas nas estradas).

4.8 OS RITOS DE PASSAGEM

O candomblé possui uma série de ritos de passagem – que vão desde a


iniciação até a ultima obrigação, cumprida após 21 anos de iniciado. Alguns ritos dos
principais ritos do candomblé são:

Bolar no santo
É o mesmo que cair no santo. Este é o sinal que indica a necessidade de
iniciação de uma pessoa no candomblé. Acontece sem previsão, normalmente numa
festa: durante a dança e os cânticos o orixá se manifesta no futuro filho-de-santo, que
é agitado por tremores e sobressaltos violentos. Quem já bolou conta que sentiu
arrepios, calor, fraqueza e sensação de desmaio. Quando acorda no roncó (o quarto
do terreiro reservado à pessoa que bolou), o abiã não consegue se lembrar de nada
do que aconteceu.

O bori
É a cerimônia que reforça a ligação entre o orixá e o iniciado. O abiã se senta
numa esteira, rodeado de alimentos secos, aves, velas e objetos de seu orixá.
Ajudado pelos filhos já feitos, o pai ou a mãe-de-santo sacrifica aves. O sangue é
usado para marcar o corpo do noviço e para banhar as oferendas ao orixá.
A cerimônia só termina quando as aves são servidas aos membros da família-
de-santo. Depois do bori, o futuro filho-de-santo passa a assistir às cerimônias e a
preparar o enxoval (a roupa e os adereços de seu orixá) para terminar a iniciação,
com as saídas de iaô.

Orô
Confinado ao quarto de recolhimento (roncó) por 21 dias, o noviço conhece a
hierarquia da casa, os preceitos, as orações, os cânticos, a dança de seu orixá, os
mitos e suas obrigações. Durante esse tempo ele toma infusões de ervas, que o
deixam num estado de entorpecimento e abrem espaço na sua mente para o orixá. A
27

cabeça é raspada e o crânio marcado com navalha: é por esses cortes que o orixá vai
entrar, quando for incorporado. No final, o iniciado é batizado com sangue de um
animal quadrúpede, sacrificado.
Os iaôs são apresentados à comunidade, como num baile de debutante. Na
primeira saída, os iaôs vestem branco em homenagem a Oxalá, pai de todos.
Saúdam o pai-de-santo, os atabaques e os pontos principais do barracão e vão-se
embora. Na segunda saída, os iaôs voltam com roupas coloridas e a cabeça pintada,
segundo seus orixás. Dançam e deixam o barracão, em seguida.
Na terceira saída, os orixás anunciam oficialmente seus nomes. Os iaôs
entram em transe e se retiram para vestir as roupas do santo incorporado.
Tivemos a oportunidade de presenciar esse acontecimento, no dia 14 de Maio.
O iniciado se mostrou filho de Dandalunda.
28

5 AS NAÇÕES

No Candomblé uma nação é identificada por um corpo de práticas, símbolos e


cultura material herdado dos antepassados, tais como a maneira que realiza seus
rituais, a língua falada na casa, o conjunto de mitos nos quais baseia seus ritos, pela
maneira como toca seus tambores, as cantigas que canta, as cores que usa no
vestuário dos orixás e as folhas sagradas que usa em suas iniciações e magias.
A miscigenação das diferentes nações, que acontecia já na própria África,
acentuou-se com a chegada dos navios negreiros ao Brasil. Com a proximidade de
novos povos e culturas na América, as línguas e costumes dos povos começaram a
misturar-se e cada nação passou a adquirir características próprias.
Todo terreiro de candomblé pertence a uma nação. Foi em virtude das origens
comuns e das associações de grupos de origem semelhante, que os cultos Afro-
brasileiros se dividiram em basicamente quatro nações: Ketu, Angola, Jeje e Bantu.

5.1 CANDOMBLÉ KETU

O candomblé que se autodenomina “de nação Ketu”, é o candomblé


descendente dos cultos religiosos da região Sudanesas, de cultura yorubana. Neste
culto os deuses são chamados de orixás, e representam forças da natureza como o
ar, o vento, o fogo e outros. Sua língua ritual é composta de fragmentos de iorubá
arcaico e de alguns termos de outras línguas com as quais foi se mesclando no
decorrer do tempo. Toda a simbologia do candomblé Ketu como ritmo, cores,
cantigas, comidas, rituais e, fundamentalmente, o rito de iniciação, são marcados
fortemente pelos valores culturais dos negros yorubanos.
Originários desta cultura também são o “batuque” (forma que assumiu no Rio
Grande do Sul, onde é considerado Jeje-Nagô) e o “Xangô” de Pernambuco.

5.2 CANDOMBLÉ DE ANGOLA

Este candomblé é resultado da presença dos negros bantos, da região Congo


– Angolesa da África, cujos deuses que cultuam chamam-se Inkices.
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Também os Inkices são a divinização e personificação da natureza na forma


humanizada. As características rituais do candomblé Angola diferem das
características do candomblé Ketu, mas as formas do ritual e da iniciação se
assemelham muito. Como característica intrínseca da cultura banto, mais propensa à
assimilação de valores estrangeiros, o candomblé Angola é fortemente marcado pelos
valores brasileiros.
Isto pode ser notado na língua ritual, o Kimbundo ou Umbundo, línguas
angolanas, muito mescladas ao português, e pelo culto de entidades “brasileiras”
como os caboclos (índios) e boiadeiros. Outras formas religiosas derivadas deste
grupo são a cabula, a macumba, o candomblé de caboclo, o catimbó, a pagelança e a
cura. Estes últimos mais sincretizados com os valores indígenas brasileiros e
predominando no Norte e Nordeste brasileiros.

5.3 CANDOMBLÉ JEJE

O candomblé Jeje é minoritário no Brasil. Seus deuses são os voduns, nobres


famílias mitológicas a cada qual é associada um elemento da natureza. Seu ritual
difere muito dos dois anteriores em todos os sentidos. Na região do Pará e do
Maranhão este culto tomou uma forma específica, conhecida como “tambor de mina”.
O termo “mina” se refere à origem dos escravos que o trouxeram para o Brasil, que
permaneciam presos no forte português São Jorge da Mina, na África Ocidental, até o
embarque para o país.

5.4 CANDOMBLÉ BANTU

O Bantu é uma das maiores nações do Candomblé. É a cultura dos povos do


centro sul africano, falantes das línguas bantu, dos quais os seus adeptos são
herdeiros culturais e espirituais. São mais de 250 línguas aparentadas, formando uma
grande família linguística.
Essa forma religiosa tem suas raízes plantadas entre alguns povos de cultura
bantu. Entre eles podemos citar os bakongos e os ambundos, sendo a predominância
maior dos bakongos.
30

6 CANDOMLÉ BANTU

O terreiro visitado pelo grupo faz parte da nação Bantu. A fim de entender
melhor essa nação, destacaremos alguns aspectos particulares de sua cultura.
A palavra Bantu compreende Angola e Congo, e é uma das maiores nações do
Candomblé. Desenvolveu-se entre escravos que falavam Quimbundo e Quicongo.
Os mais velhos trouxeram cantigas, rezas, tudo em Kimbundo e Kikongo
(algumas também em Umbundo e outros dialetos). Muita coisa se perdeu até mesmo
por haver a associação com as tradições Jeje Nagô.
O povo bantu tinha um culto primitivo comum, que em virtude do tempo e
distância geográfica foi se modificando e incorporando novos elementos. Acima de
tudo está Nzambi Mpungu (um dos seus títulos), Deus criador de todas as coisas.
Alguns povos bantu chamam Deus de Sukula, outros de Kalunga, mas existem ainda
outras forma de nomeá-lo.
O culto a Nzambi não tem forma nem altar próprio. Só em situações extremas
eles rezam e invocam Nzambi, geralmente fora das aldeias, em beira de rios,
embaixo de árvores, ao redor de fogueiras. Não tem representação física, pois os
Bantus o concebem como o incriado, e representa-lo seria um sacrilégio, uma vez
que o mesmo não tem forma. No final de todo ritual Nzambi é louvado, pois Nzambi é,
para esse povo, o princípio e fim de tudo.

6.1 O POVO BANTU

O termo bantu define um grupo linguístico composto de mais cinquenta


milhões de pessoas divididos em diferentes etnias. Cada etnia possui elementos
culturais e linguísticos comuns a todos, mas também especificidades mais ou menos
características que as distingue das demais.
Os bantus estão espalhados por um terço do continente africano, desde o
Sudão até a cidade do Cabo na África do Sul, do oceano atlântico ao oceano índico, e
totalizam um total de 450 línguas aparentadas.
Devido as mudanças climáticas e as atitudes ancestrais, os bantus saíram de
seu lugar de origem entre o atual Camarões e a Nigéria, em direção ao sul.
31

6.2 A HISTÓRIA DO POVO BANTU

A grande maioria dos 11.000.000 de habitantes que formam a população de


Angola são de origem Bantu. No entanto, outra considerável parte é formada por
misturas que começaram muito cedo: primeiramente entre os diversos grupos que
migraram para o território e, depois, com Europeus (na grande maioria Portuguesa)
durante a colonização. Existem ainda algumas minorias que não são Bantu, como os
Bochimane e um considerável número de Europeus.
Há 3000 ou talvez 4000 anos atrás, os Bantu saíram da selva equatorial (a
região que é hoje ocupada pelos Camarões e pela Nigéria) e dividiram-se em dois
movimentos diferentes: para o Sul e para Oeste, criando a maior migração jamais
vista na África. De causa desconhecida, esta migração continuou até ao século XIX. A
selva equatorial era uma área de passagem impossível. Só o machado ou o cutelo, a
rápida e nutritiva produção de banana e o inhame possibilitaram uma façanha que
durou séculos. O excelente nível de nutrição deu lugar a uma invulgar explosão
demográfica. A exuberância da selva equatorial, os rios e lagos das grandes savanas,
tão bons para a agricultura e a descoberta do ferro – um mineral muito comum na
África – deram força à grande aventura. Caminhando sempre em direção ao Sul, este
vigoroso, armado, organizado e jovem povo, venceu e fez escravos os pigmeus e os
Bochimanes.
O nome Bantu não se refere a uma unidade racial. A sua formação e migração
originou uma enorme variedade de cruzamentos. Existem aproximadamente 500
povos Bantu. Assim, não podemos falar de uma raça Bantu, mas sim de povo Bantu,
o que significa uma comunidade cultural com uma civilização comum e linguagens
similares. Depois de muitos séculos de movimentações, cruzamentos, guerras e
doenças, os grupos Bantu mantiveram as raízes da sua origem comum. A palavra
Bantu aplica-se a uma civilização que manteve a sua unidade e foi desenvolvida por
pessoas de raça negra. O radical ntu, vulgar para a maioria das línguas Bantu,
significa homem, ser humano e ba é o plural. Assim, Bantu significa homens, seres
humanos.
Os dialetos Bantu, e existem centenas, têm tal semelhança que só pode ser
justificada por uma origem comum. Os povos Bantu, além do semelhante nível
linguístico, mantiveram uma base de crenças, rituais e costumes muito similares; uma
32

cultura com características idênticas e específicas que os tornam semelhantes e


agrupados.
Fora da sua identidade social, são caracterizados por uma tecnologia variada,
escultura de grande originalidade estilística, incrível sabedoria empírica e discurso
forte e interessante com sinais de expressão intelectual. As línguas faladas hoje em
Angola são, por ordem de antiguidade: Bochiman, Bantu e Português. Das três, só o
Português tem uma forma escrita. Os dialetos Bantu apresentam uma unidade
genealógica.
Homburger, um eminente estudioso do Bantu diz que o primeiro ponto obtido
no domínio da linguística comparada foi a unidade dos povos Bantu. Também diz,
tendo em conta a história desta unidade, que os primeiros descobridores Portugueses
viram que os Angolanos conseguiam comunicar-se com os povos da costa
Moçambicana.
Os Bantu Angolanos estão divididos em 9 grupos etno-linguísticos: Quicongo,
Quimbundo, Luanda-Quioco (Tchôkwe), Mbundo, Ganguela, Nhaneca-Humbe, Ambó,
Herero e Xindonga, que por seu turno estão subdivididos em cerca de 100 subgrupos,
tradicionalmente chamadas tribos.

6.3 ACONTECIMENTOS COMUNS AO POVO BANTU

8000 ac – períodos de extensão do Saara;


5000 ac – Os grupos humanos falantes das línguas bantu iniciam as migrações;
4000 a 2000 ac – Expansão, ocupação da floresta;
2800 ac – Os povos caçador-coletores vivem ainda no sul do Sudão;
1600 a 500 ac – Ocupação da bacia do Rio Zaire, (bacia do Congo e do Equador);
100 ac – Os povos bantu campeiam por toda a África Central e do Sul. A agricultura
confere aos Bantu uma superioridade numérica sobre os povos caçadores-coletores;
500 ac a 750 dc – Fim das migrações bantu em África austral.

6.4 CARGOS E FUNÇÕES EM UM TERREIRO DE CANDOMBLÉ BANTU

• Tata Ria Inkice – Zelador / Pai


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• Mameto Ria Inkice – Zeladora / Mãe


• Tata Ndenge – Pai pequeno
• Kixika Ingoma – Tocador
• Tata Kambono – Ogan
• Tatta Kivonda – Aquele que sacrifica os animais
• Kinsaba – O que colhe folhas
• Kikala Mukaxe- Filho de santo
• Tata Utala – Herdeiro da casa
• Macota -Dikota – Ekedi
• Kijingu – Cargo
• Tata Unganga – O que joga búzios
• Zakae Npanzo- Troncos de árvores colocados nas portas dos santos.

6.5 OS NKISES E NKISIS

Na Angola os Nkises são masculinos e Nkisi amês são femininos.


Os Nkises são para os Bantus o mesmo que orixás para os Yorubás. Cada
Nkise, orixá ou vodum possui peculiaridades próprias, tratamento e culto
diferenciados. Pode-se dizer que existem pequenas coincidências, como por
exemplo, o fato de Kabila, Oxósse e Otulu serem caçadores, ou ainda, por usarem as
mesmas cores. Mas não podemos confundi-los já mesmo em suas origens na África
se diferem, sendo Kabila originário do Congo, Oxósse originário das terras Yorubás e
Otulu, do Reino do Dahomé. Desta forma, destacamos abaixo alguns dos principais
Nkises de Angola e Congo, sem fazer qualquer correspondência entre orixá ou
vodum, descrevendo-os brevemente.

• Aluvaiá, Bombojira, Vangira (feminino), Pambu Njila: É o Nkise


responsável pela comunicação entre as divindades e os homens.
Está nas ruas e é a este Nkise que pertencem as “bu dibidika jinjila”
(encruzilhadas). Suas cores são preto e vermelho e sua saudação é:
Kiuá Luvaiá Ngananzila Kiuá (Viva Aluvaiá, Senhor dos Caminhos).
34

• Nkosi Mukumbe, Roxi Mukumbe: É o Nkise da guerra, das


estradas. É a ele que se fazem oferendas com o fim de obter
abertura de caminhos. Sua cor é o azul escuro e sua saudação é:
Luna Kubanga Mueto – Nkosi ê (Aquele que briga por nós – Nkosi ê)

• Kabila, Mutalambô, Burungunzo: Nkise caçador, habita as


florestas ou montanhas. É o responsável pela fartura, pela
abundância de alimentos. Suas cores são verde para Mutalambô,
Kabila e Burungunzo, e verde, azul e amarelo para Gongobira; Sua
saudação é: Kabila Duilu – Kabila (Caçador dos Céus – Kabila)

• Gongobira: É um jovem caçador que obtém seu sustento ora


através da caça, ora através da pesca. Suas características são as
mesmas das dos caçadores (Kabila, Mutambô, Lambaranguange),
unidas às características dos Nkises da água doce (Kisimbe,
Samba). Suas cores são verde cristal, azul cristal e amarelo ouro e
sua saudação é: Mutoni Kamona Gongobira – Muanza ê (Pescador
Menino Gongobira – Rio ê)

• Katendê: Nkise dono dos segredos das ”nsabas” (folhas, ervas).


Sua cor é o verde ou verde e branco e sua saudação é: Kisaba
kiasambuká – Katendê (Folha Sagrada – Katendê)

• Zaze, Luango: Nkise responsável pela distribuição da Justiça entre


os homens. Suas cores são o vermelho e branco e sua saudação é:
A Ku Menekene Usoba Nzaji – Nzaze (Salve o Rei dos Raios -
Grande Raio)

• Kaviungo ou Kavungo, Kafungê e Kingongo: É o Nkise


responsável pela saúde, estando intimamente ligado a morte. Usa
preto, vermelho, branco e marrom e sua saudação é: Tateto Mateba
Sakula Oiza – Dixibe (O Pai da Ráfia Está Chegando – Silêncio)
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• Angorô e Angoroméa: Assim como Njira, auxiliam na comunicação


entre as divindades e os homens. São representados por uma cobra,
sendo Angorô representado pelo sexo masculino e Angoroméa
representada pelo feminino; Sua saudação é: Nganá Kalabasa –
Angorô Le (Senhor do Arco Íris).

• Kitembo ou Tempo: É o responsável pelo tempo de forma geral e,


especificamente, pelas mudanças climáticas (como chuva, sol,
vento), sendo, portanto atribuído a ele o domínio sobre as estações
do ano. É representado por um mastro com uma bandeira branca.
Usa cores fortes como vermelho, azul, verde, marrom e branco e sua
saudação é: Nzara Kitembo – Kitembo Io (Gloria Kitembo – Kitembo
do Tempo). O Tempo ou Kitembo é um Nkise da nação de Angola, e
é o dono da bandeira que podemos ver em qualquer casa de
Candomblé. Perto do assentamento de Tempo há uma grande vara
com uma bandeira branca no topo. Tempo é o Nkise senhor das
estações do ano, regente das mutações climáticas. É ainda
considerado o Pai da Maionga, que é o banho usado pelos
seguidores e iniciados da Nação de Angola, tendo sua maior
vibração justamente ao ar livre, ou seja, no tempo. É exatamente ali,
no tempo, que este banho feito de ervas, água do mar, de cachoeira,
de rio, chuva e outros elementos vai consagrar, através do tempo,
este iniciado. Tempo está associado à escala do crescimento, por
isso sua ferramenta é uma escada com uma lança voltada para
cima, em referência ao próprio tempo.

• Matamba, Bamburussema, Nunvurucemavula: Trata-se de um


Nkise feminino, uma Nkisi amê. É guerreira e está intimamente
ligada a morte, por conseguir dominar os mortos (“Vumbe”). Suas
cores são o vermelho e o marrom avermelhado e sua saudação é:
Nenguá Mavanju – Kiuá Matamba (Senhora dos Ventos – Viva
Matamba).

• Kisimbi, Samba, Dandalunda: Nkise feminino, uma Nkisi amê,


representando a fertilidade; É a grande mãe. Seu domínio é sobre as
36

águas doces. Sua cor é o amarelo ouro e o rosa e sua saudação é:


Mametu Maza Mazenza – Kisimbi ê (Oh, Mãe da Água Doce –
Kisimbi ê)

• Kaitumbá, Mikaiá, Kokueto: Também um Nkise feminino, uma Nkisi


amê, com domínio sobre as águas salgadas (“Kalunga Grande”, o
mar). Sua cor é o branco cristal e sua saudação é: Kiuá Kokueto -
Mametu Ria Amaze Kiuá (Viva Kokueto, Mãe das águas - Viva)

• Zumbarandá: É um Nkise feminino, uma Nkisi amê, representa o


início, já que é a mais velha das mães. Também tem relação estrita
com a morte. Sua cor é azul e sua saudação é: Mametu Ixi Onoká –
Zumbarandá (Mãe da Terra Molhada – Zumbarandá)

• Wunje: É o mais novo dos Nkises. Representa a mocidade, a alegria


da juventude. Durante o toque para este Nkise, a dança se
transforma numa grande brincadeira. Sua saudação é: Wunje
Pafundi – Wunje ê (Wunje Feliz – Bem Vindo)

• Lembá Dilê, Lembarenganga, Jakatamba, Kassuté Lembá,


Gangaiobanda: Nkise da criação, ora apresenta-se como jovem
guerreiro, ora como velho curvado. Está ligado a criação do mundo.
Quando jovem tem como cores o branco e o azul, ou branco e prata,
quando de idade avançada, apenas o branco. Sua saudação é
Kalaepi Sakula Lemba Dilê – Pembele (Quietos, Ai Vem o Senhor da
Paz – Eu te Saudo).

• Zambi, Zambiapongo: Não se trata de um Nkise, mas sim do Deus


Supremo, o grande criador.

• Aluvaiá, Bombo Njila, Pambu Njila: Intermediário entre os seres


humanos e o outros Nkisis (É correspondete ao Exu, quando Orixá).
Na sua manifestação feminina, é chamado Vangira.
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• Nkosi, Roxi Mukumbe: Nkisi de guerra e senhor das estradas de


terra.

• Ngunzu: Engloba as energias dos caçadores de animais, pastores,


criadores de gado e daqueles que vivem embrenhados nas
profundezas das matas, dominando as partes onde o sol não
penetra.

• Kabila: O caçador pastor. O que cuida dos rebanhos da floresta.

• Mutalambô, Lambaranguange: Caçador, vive em florestas e


montanhas, Nkisi de comida abundante.

• Gongobira ou Gongobila: Caçador jovem e pescador.

• Mutakalambô: Tem o domínio das partes mais profundas e densas


das florestas, onde o Sol não alcança o solo por não penetrar pela
copa das árvores.

• Katendê: Senhor das Jinsaba (folhas). Conhece os segredos das


ervas medicinais.

• Nzazi, Loango: São o próprio raio, entrega justiça aos seres


humanos.

• Kaviungo ou Kavungo, Kafungê ou Kafunjê, Kingongo: Nkisi da


varíola, das doenças de pele, da saúde e da morte.

• Nsumbu: Senhor da terra, também chamado de Ntoto pelo povo de


Kongo.

• Hongolo ou Angorô (masculino) e Angoroméa (feminino): Auxilia


na comunicação entre os seres humanos e as divindades
(representado por uma cobra).
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6.6 MAKURIA – COMIDAS TÍPICAS

• Kangika – milho branco cozido com coco


• Kidobo – milho branco cozido temperado com ndende
• Mukunga – milho branco cozido
• Masambala – milho vermelho cozido enfeitado com rodelas de goiaba
• Masangu – pipoca
• Fumpa – milho vermelho, cozido ou torrado, enfeitado com Kamusoso (cipó-
chumbo)
• Nguba – amendoim torrado
• Kitaba – amendoim torrado e moido, temperado com mel ou ndende
• Makunde – feijão preto temperado com ndende
• Kitande – guisado de feijão fradinho
• Dikende – massa de feijão fradinho embrulhada na folha de bananeira.
• Makanza – bolo de feijão fradinho, frito
• Mukunga – papa de milho branco ou vermelho embrulhada na folha de bananeira
• Kusuangala – pirão de arroz, temperado com azeite
• Loso – arroz
• Muenge – espiga de milho assada
• Mukende – banana da terra frita no dendê
• Kingombo – quiabo
• Dibangulango – guisado de quiabo (Nzazi)
• Kivúdia – guisado de quiabo (Nvunji)
• Ndiba – mingau de farinha de milho branco
• Nguala – aguardente
• Malufo – vinho
• Mazi – azeite
• Menha, maza – água
• Uiki – mel
• Múngua – sal
• Sukidi – açúcar
• Matema – café
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• Masana – leite
• Mateca – banha de carneiro
• Mukolo – alho
• Zalata – alface e chicória
• Kindumba – salsa
• Mumata – tomate
• Lúmbua – cebola
• Kupiri – pimenta da costa
• Ndungu – pimenta
• Xutu – carne
• Mbiji – peixe
• Kavula – couve
• Ritanga – abóbora
• Kikua – batata
• Dihonjo – banana
• Kimbambule – goiaba
40

7 VISITANDO OTERREIRO

Como foi dito, a primeira visita ao terreiro aconteceu no dia 06 de Maio de 2011
e a segunda no dia 14 de Maio de 2011. Entrevistamos o Pai Arabomi, ou tata
Arabomi, cujo nome de registro é Marcos e foi iniciado há 36 anos, na época com 16
anos de idade.

Fotos de todos os pais de santo que já passaram pelo terreiro – Pai Arabomi é da
última foto, na época com 16 anos. – 06/05/2011- Sítio Arabomi

7.1 ENTREVISTA COM O PAI


ARABOMI

Grupo:
Seus pais
praticam o
candomblé?
Pai Arabomi: Não, meus pais eram
católicos, inclusive fui batizado e frequentei a igreja católica
durante anos. Acredito em Jesus e nos demais Santos da igreja
católica como grandes pessoas, que realmente fizeram o bem,
mas que não os vejo como santidades.

Grupo: Como foi que saiu da igreja católica e veio para o candomblé? Como foi essa
iniciação?
Pai Arabomi: Algumas pessoas próximas a mim percebiam que desde novo eu
conversava com santos. Tinha uma vizinha que frequentava o candomblé, que um
dia, sem minha mãe saber, me levou a um terreiro. Já na minha primeira visita ao
terreiro, uma entidade se manifestou em mim.
Então passei a ir escondido a algumas cerimônias nesse terreiro. Às vezes chegava
lá inconscientemente. Estava brincando na rua, quando começava a ouvir o batuque,
saia da brincadeira e chegava ao terreiro, muitas vezes sem saber como.
Depois de certo tempo minha mãe descobriu que estava frequentando o terreiro, pois
durante a noite eu recebia essas entidades e ela via. Eu não me recordava de nada.
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Grupo: Hoje sua mãe encara isso com naturalidade?


Pai Arabomi: Ela ainda não aceita muito, mais já respeita um pouco mais.

Grupo: Como é lidar com esse preconceito das pessoas em geral?


Pai Arabomi: Muitas pessoas não entendem o que de fato é o candomblé, e
costumam associar a religião com macumba, magia negra, dentre outras coisas. Às
vezes acontecem coisas que vocês nem acreditam. Algum tempo atrás, um grupo de
evangélicos comprou o sítio do lado e faziam orações estendendo a mão para o
terreiro, gritando para expulsar o capeta deste lugar. A igreja que fica próxima daqui
também já fez algo do tipo, dentre outras coisas.
Mas as coisas aos poucos estão mudando, o candomblé foi demonizado, depois
marginalizado, hoje a maioria das pessoas já entende que se trata de uma religião
como todas as outras, que deve ser respeitada.

Grupo: Quem são os deuses do candomblé?


Pai Arabomi: Nós cultuamos os orixás, que são as divindades. Nesse terreiro, essas
divindades são chamadas de inksis (forças da natureza), pois nós somos o povo
Bantu.

Grupo: Existe alguma hierarquia entre os Orixás?


Pai Arabomi: Alguns são mais conhecidos, como Oxum e Iemanjá, mas não existe
nenhum mais importante que o outro. Cada um representa algo, que tem o mesmo
valor.

Grupo: Como ocorre a divulgação do candomblé?


Pai Arabomi: Nós não temos o costume de ficar divulgando a religião, não vamos às
casas das pessoas pra isso, não distribuímos panfletos. Faço algumas palestras no
sentido de conscientização, inclusive em outros países.

Grupo: Como o candomblé vê as outras religiões?


Pai Arabomi: Respeitamos todas, independente da crença, respeitamos todas as
pessoas e todas as religiões. Cada um tem suas verdades, não é mesmo?

Grupo: Como ocorre a cerimônia do Candomblé?


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Pai Arabomi: A cerimônia começa dias antes, consulta-se os búzios (oráculo), sabe-
se os procedimentos, depois há a oferenda de acordo com o Orixá e então
normalmente a noite ocorre o toque.

Grupo: O candomblé não possui nenhum livro sagrado, como são passados os
ensinamentos?
Pai Arabomi: Tudo oralmente. O candomblé é uma religião que se aprende com a
vivência, o tempo é o grande senhor de tudo, assim como a convivência.

Grupo: Como vocês enxergar a questão do bem e do mal?


Pai Arabomi: Para o Candomblé não há céu e inferno, não há bem ou mal, todos
tem o bem e mal.

Grupo: As pessoas tem muito preconceito quanto aos sacrifícios que são feitos.
Conte-nos mais sobre.
Pai Arabomi: O sacrifício de animais é sagrado e cultural, uma forma de compartilhar
e homenagear uma divindade. Temos a filosofia que tudo deve ser compartilhado.
Esses animais que são sacrificados são partilhados na cerimônia e as partes que não
são comestíveis (cabeça) são “oferecidas”, preparadas para o santo.

Grupo: Quanto tempo tem esse terreiro? Há algum fato curioso?


Pai Arabomi: Esse terreiro existe há 28 anos, mas antes era em BH, depois viemos
para Mateus Leme. Aqui, temos oficinas para crianças, jogos de capoeira dentre
outras atividades frequentemente. O Candomblé iniciou a caminhada contra a
intolerância, não só religiosa, mas também contra qualquer ato de discriminação em
relação a grupos minoritários. Essa caminhada acontece há três anos, sempre no dia
13 de Maio – dia da abolição da escravatura, em Belo Horizonte.

Grupo: Qual a função dos homens e das mulheres no candomblé? Há algum objeto
especial?
Pai Arabomi: Cada um tem uma função, os homens podem ser, por exemplo: Tatas
(Ogans) que são os Pais de Santo, Sacrificadores, Tocadores, dentre outros.
Mulheres: Chamadas de Macotas (Sacerdotizas auxiliares, cozinheiras). O tambor é
o símbolo máximo de toda religião africana
43

Grupo: Você não trabalha atualmente fora do terreio?


Pai Arabomi: Eu vivo pro meu terreiro, não tenho outra profissão. Cuido do terreiro e
faço palestras.

7.2 VIVÊNDO UMA NOVA EXPERIÊNCIA – O RELATO INDIVIDUAL

Mesmo que duas pessoas sejam de uma mesma religião, enxergarão um


experiência com essa sob diferentes óticas. Partindo desse princípio buscamos
relatar aqui, individualmente, o que sentimos ao presenciar a cerimônia e conhecer
um pouco mais sobre essa cultura.
44

Uma religião “humana”, uma cultura que todos deveriam conhecer.


Por Gabriella Fonseca

Sou bem idealista e contra qualquer forma de preconceito. Frequentei a igreja


católica durante muito tempo e, por ser uma religião que condenas muitas atitudes e
escolhas que colocam em questão a liberdade individual do indivíduo, entre outras
questões, resolvi me desassociar e buscar novas ideias. Quando surgiu a
oportunidade desse trabalho me senti, inicialmente apreensiva. Como a maioria do
conhecimento no Candomblé é transmitido oralmente, é difícil encontrar bons
documentos – principalmente na internet, aonde estou acostumada a realizar
pesquisas. Na primeira visita ao terreiro fiquei encantada com o Pai Arabomi. É uma
pessoa inteligente, receptiva, que nos tratou muito bem. Pude perceber que o grande
diferencial do Candomblé está em ser uma religião que não tem a necessidade de
convencer as pessoas de verdades – para eles não há uma verdade única. Eles
acolhem a todos, respeitam a todos e tratam todos igualmente. Além disso, o fato dos
orixás de assemelharam aos humanos em defeitos e qualidades torna essa religião
mais “humana”. O respeito à natureza é passado adiante e levado a sério. Por ser
vegetariana ainda tenho certo receio em opinar sobre os sacrifícios, mas o praticante
do Candomblé se alimenta da carne da mesma forma que qualquer outra pessoa.
Durante o toque participei de uma celebração musical que me proporcionou uma
experiência única. As pessoas são animadas, educadas e tratam os visitantes muito
bem. O barracão foi enfeitado com flores e a comida era servida a todos da mesma
maneira. Quanto a questões polemicas, com a incorporação, se trata de uma
experiência de fé – compararia ao fato do católico falar em línguas, por exemplo. O
que mais me chamou a atenção, contudo, foi o fato de orixás e humanos conviverem
sob o mesmo teto, reforçando a ideia de igualdade, e encontrar, no
mesmo dia da visita, uma filha-de-santo, cuja filha de sangue é
católica e neta evangélica, participando de uma mesma celebração.

Gabriella Fonseca é ateia, tem 21 anos, trabalha como


desenvolvedora web e cursa Sistemas de Informação.
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Uma quebra de paradigmas, uma quebra de preconceitos.


Por Ítalo Diego
Na maioria das vezes somos ensinados a ser alguém, a pensar sobre as
coisas de uma maneira que nos deixa alienados.
Acredito que a maioria das pessoas, ao falarmos sobre candomblé, logo
associam a religião com bruxaria, macumba, dentre outros. Eu também tinha essa
mesma ideia antes dessa visita ao terreiro.
Porém, ao fazer este trabalho, entrevistando o pai de santo tata Arabomi e
participando da festa do candomblé, o Toque, como pude perceber que não é nada
disso.
No primeiro momento que pisei no terreiro, me senti desconfortável com a
situação, mais o Pai Arabomi com sua sabedoria, logo tratou de me deixar a vontade
esclarecendo pontos importantes sobre o candomblé, desde a origem, filosofia da
religião, até questões mais complexas como as oferendas e a incorporação. Isso me
deixou muito a vontade para poder frequentar a festa que aconteceria semanas
depois.
Participei de uma cerimônia especial – nas palavras do próprio Pai do Terreiro
– onde eram comemoradas duas coisas: a Iniciação de um praticante e o
encerramento de um ciclo de 21 anos de uma mãe de santo. A festa em si é muito
alegre e contagiante, impulsionada pelos tambores pessoas passam a noite
cantando, dançando para homenagear suas divindades.
Achei isso bastante diferente, pois não parece uma “cerimônia” religiosa, e sim
uma festa, que é como os próprios praticantes tratam esse momento.
Durante a cerimônia, alguns momentos me chamara a atenção. Primeiro a
incorporação das entidades e divindades nos praticantes. Mesmo presenciando essa
incorporação, ainda não consigo afirmar se acredito ou não. O que me faz ter essa
dúvida é que não vi o “santo” incorporar em nenhuma pessoa que não era praticante,
em contrapartida, as pessoas ao saírem da incorporação, apresentavam expressões
de quem realmente não sabiam onde estavam.
Algumas dessas pessoas, em alguns momentos incorporavam “crianças de
angola”, o que achei bastante curioso, pois elas agiam e falavam como crianças,
muitas vezes sendo bastante engraçado.
Achei muito bacana as caracterizações de acordo com cada entidade, onde
após as pessoas incorporarem o santo, elas trocavam de roupa e voltavam
caracterizadas de acordo com aquele santo.
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No final da cerimônia, da festa para o Santo, ouve uma confraternização entre


os seguidores, onde participei por algum tempo. Uma confraternização comum, com
muita comida e bebida para finalizar a festa daquele povo, do candomblé!
Resumindo, achei bastante proveitosa e enriquecedora
essa experiência no terreiro, pois foi importante para a quebra
de preconceitos e conhecimento de novas culturas.

Ítalo Diego, não tem religião definida, tem 20 anos,


trabalha como instrutor de informática e cursa Sistemas de
Informação.

Uma Nova Experiência


Por Fernando de Paula
Como sou cristão, sempre ouvia falar que quaisquer religião que não seguisse
os princípios cristãos eram demoníacas.
E foi com esse sentimento que fui ao terreiro de Candomblé para realizar o
trabalho de pesquisa, cheio de receios.
Para minha surpresa foi muito diferente do que eu esperava. Todos foram
muito afáveis e simpáticos.
Em resumo, tenho o Candomblé, hoje, como um culto à natureza e não um
culto ao "demônio" como me foi prescrito por irmãos de Fé.

Fernando de Paula, é cristão protestante, tem 22 anos, trabalha como


bancário e cursa Sistemas de Informação.
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CONCLUSÃO

Quebrando paradigmas – podemos definir assim, em duas palavras, a


conclusão desse trabalho. Conhecer uma cultura que enfrenta tanto preconceito no
Brasil, um país que acumula diferentes povos e tradições, foi um experiência que
agregou pessoal para cada um de nós.
É preciso que retiremos a barreira do pré-julgamento de nossas vidas. A
religião é uma experiência individual e cada pessoa tem todo o direito de praticar as
crenças e rituais em que acredita. Cada religião está baseada em um rico passado
histórico e entender as bases em que está fundamentada é essencial antes de
espalhar ao mundo nossas próprias opiniões sobre o assunto.
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REFERÊNCIAS

_______. Datas Comemorativas do Candomblé. Retirado de


http://guardioesdaluz.sites.uol.com.br/datascandomble.htm . Acessado dia 24 de
Maio de 2011.

HIELO, Mariano. Cultos Afro-brasileiros. Retirado de


http://orbita.starmedia.com/~hyeros/cultosafrobras014.html. Acessado dia 22 de
Maio de 2011.

OBALUIARÊ, Pai. O sincretismo religioso no Brasil. Retirado de


http://ocandomble.wordpress.com/2008/05/11/sincretismo/ . Acessado no dia 22 de
Maio de 2011.

OGUM, Itamar de. O candomblé e seus ritos. Retirado de


http://www.itamardeogum.com/conteudo/ocandomble_ritos.htm . Acessado dia 24 de
Maio de 2011.

REGINALDO, Pai Babalorixá. As Nações. Retirado de


http://www.maemartadeoba.com.br/. Acessado dia 17 de Maio de 2011.
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