Religião Candomblé
Religião Candomblé
Religião Candomblé
INTRODUÇÃO
Estratégias que os africanos adotaram para preservar a sua cultura – Realizavam nas
matas e senzalas cultos referentes às tradições africanas com batuques, cantos,
danças, reverenciavam as divindades e provocavam encontros entre os africanos,
fazendo com que se reagrupavam e consequentemente preservavam sua cultura,
hábitos, costumes e religiosidade.
Espaço físico - O ambiente religioso africano, que pode ser a floresta, as águas e o
próprio tempo foi remontado no Brasil para o Terreiro (estando presentes nele a terra
e o espaço transcendental (está além do conhecimento concreto)). Ambiente é
considerado sagrado, pessoas com divindades diferentes, reunidas em torno de uma
específica que representa o Terreiro, assim como na África uma divindade
representava as regiões, cidades ou países africanos. Muitas vezes esta divindade
determina a Nação do terreiro e simboliza que os membros dessa comunidade
religiosa têm uma relação ancestral com a região específica da África de onde está
divindade foi originada (Verger, 2002b).
Referência Bibliográfica:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-29702012000200005
Entrevista:
1 – Sabemos que o Brasil possui muitas religiões, como foi a sua escolha pela religião
Candomblé?
Geralmente as pessoas costumam seguir a religião dos pais. No meu caso não foi
diferente; minha família materna tem como religião o candomblé. No entanto a
decisão de ser iniciado se deu por mim mesmo, após perceber que é uma religião
inclusiva, onde me via inserido.
2 – Quais são os princípios e os fundamentos do candomblé?
É um culto que tem por princípio o equilíbrio do ser através do contato com o mundo
espiritual. O fundamento básico é a harmonia com a natureza, uma vez que as
divindades são seres espirituais, criados para conduzir esse plano terreno, em toda sua
plenitude.
Cremos que nascemos para viver sobre essa terra... então devemos viver da melhor
forma possível, pois esse é o nosso lugar na natureza.
Somos seres sociais e nos relacionamos uns com os outros. Em nossa fé as relações são
livres de quaisquer paradigmas. Amar é sempre bom.
Nossa religião nasce num contexto de senzala... então intolerância não é natural no
candomblé. É clara que, por sermos produto do meio, trazemos preconceitos pessoais
que acabam sobressaindo nas comunidades de terreiro... mas de modo geral não
temos intolerância.
Somos um povo cheio de crenças antigas, com muitos ritos e tabus... é difícil enumerar
o que um iniciado deve praticar. Basicamente frequentar o Axé nas datas
comemorativas, estar em equilíbrio consigo mesmo, fazer suas práticas devocionais.
10 – Como a sua religião ver as outras religiões?
Por sermos uma religião politeísta, encaramos as outras religiões como naturais.
Respeitamos o direito de cada um adorar seus deuses de suas formas.
Uma sociedade predominantemente cristã, costuma olhar para qualquer prática não
cristã, como algo do diabo. No entanto nós nem acreditamos em figuras diabólicas.
Sim... é natural numa sociedade que prega o ódio contra tudo que não é cristão.
Nós somos animais onívoros, faz parte da nossa alimentação a proteína animal. Por
sermos uma religião que traz raízes africanas, trazemos uma forma sacramental no
abate dos animais que iremos nos alimentar. Judeus e muçulmanos também sacrificam
os animais que vão consumir com ritos próprios.
Durante as festividades são oferecidos cabritos, aves e outros animais como presente a
divindade. Esses são abatidos e posteriormente consumidos em festa pública.
Esse rito que você descreve é chamado “esmolar para o santo”. Quando uma pessoa
não tem condições para se iniciar, fica com um cesto contendo pipoca dentro. As
pessoas dão alimentos ou dinheiro, e pegam um pouco dessa pipoca e passa no corpo
como forma de limpeza. Esse rito está quase extinto... é raro de se ver.
Essa expressão “deitar para o santo” é muito usada por integrantes da umbanda se
referindo ao candomblé. Também ouvia dizer isso quando eu era criança. Mas o que
querem dizer é que a pessoa está no processo iniciático, que é um período de +-1 mês
sem contato com pessoas que não sejam da religião. Como fomos uma religião
perseguida e não oficial até bem pouco tempo, giravam muitas especulações do que
acontecia no período em que a pessoa ficava recolhida sem ver pessoas de fora. Todas
as pessoas que aderem nossa fé, em algum momento passa pela iniciação. E a iniciação
é a forma de se tornar membro efetivo do candomblé.
Não, somente as pessoas que entram em transe com o Vódún / Orixá / Inkise (nomes
das divindades em diversos idiomas)
19 – O que significa o axé? Geralmente a gente escuta ele ser verbalizado com muito
carinho, mas nem todos sabem realmente ou possuem entendimento do que é o
axé.
Axé é um conceito, muito maior que uma palavra... Axé é tudo que existe de bom, belo
e verdadeiro. O Vódún / Orixá / Inkise é o Axé, o que comemos é Axé, o que bebemos
é Axé, o que comunicamos é Axé, nossa vida é Axé... o Axé é tudo! Como palavra no
vocabulário do dia a dia o “axé” é usado para confirmar uma benção, da mesma forma
como os cristãos usam o “amém”, mas não é só isso.
Jeje – candomblé com predominância de povos vindos do Dahomé (hoje Benin), com
idioma Ewe / Fongbê e culto aos Vódún’s. Eu pertenço a esse rito.
21 – Também é do senso comum, as pessoas falam mesmo sem saber o que significa
ou se quer se é verdade, que existem membros do candomblé que não podem comer
determinados alimentos, por quê?
Sim... toda religião tem regras, na nossa existem coisas que não comemos por tradição
e costumes.
22- Qualquer pessoa pode ser membro, pode entrar para se tornar parte de um
terreiro? E como saber se é o lugar dela?
Toda e qualquer pessoa que sentir desejo de pertencer ao candomblé é bem recebida
em nossa fé. É uma religião como as outras, com intuito de acolher e formar
comunidade.
25 – A gente também escuta muito falar que no candomblé não existe distinção de
espécie alguma sobre as pessoas que frequentam ou fazem parte, seria certo dizer
que talvez seja uma das religiões mais tolerantes que nós temos no Brasil?
Eu vivo e posso dizer que não conheço nenhuma religião tão inclusiva como a nossa.
Porém é errado acreditar que não existe critério para aceitação. As pessoas precisam
compreender que existe uma lei natural no mundo... e não devemos mudá-la. Em
qualquer parte, matar é errado, roubar é errado... essas questões também são
abordadas em nosso meio. Creio que a pergunta seja na questão moral-étnico-sexual.
Se for nesse quesito sim... o candomblé não faz distinção de raça, cor ou sexualidade
de ninguém.
Não existe essa concepção... cremos que fomos criados para viver nesse mundo. Então
devemos viver da melhor forma possível.
Cremos em um “lugar” para o período em que não estamos com corpo físico, mas é
longe de ser parecido com conceito de céu ou inferno.
Considerações:
Victória: Ao término das pesquisas e entrevista formulada para este trabalho, ficou
claro a grande diversidade das religiões de matrizes africanas. Pude notar meu pouco
conhecimento sobre as diferentes religiões presentes no Brasil e em todo o mundo,
sendo esta uma experiência de extremo enriquecimento profissional, logo que na
profissão de psicóloga(o), somos transpassados por grande diversidade em muitos
aspectos e a religião é uma delas.
Posso afirmar que este trabalho trouxe uma visão totalmente nova sobre a umbanda,
que não era de meu conhecimento. Após a elaboração da entrevista, pude esclarecer
dúvidas sobre o funcionamento e normas da religião.
Dessa forma, acredito que esse trabalho foi uma experiência muito esclarecedora e de
grande proveito para minha formação.