UEPA - Resenha Antropologia Social

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ


CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAIS
CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM FILOSOFIA
CAMPUS XI – SÃO MIGUEL DO GUAMÁ

Alexsandro Bezerra
Diogo Michel de Araújo Medeiros
Elizonete de Jesus S. B. Pereira
Paulo Sérgio Bastos de Almeida
Raymundo Nonato Pereira
Silvia Helena Rodrigues de Carvalho

Resenha

3º capítulo do livro “O Saber Local:


Novos ensaios em antropologia interpretativa.

São Miguel do Guamá – Pará


Março/2011
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ


CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAIS
CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM FILOSOFIA
CAMPUS XI – SÃO MIGUEL DO GUAMÁ

Alexsandro Bezerra
Diogo Michel
Elizonete de Jesus S. B. Pereira
Paulo Sérgio Bastos de Almeida
Raymundo Nonato Pereira
Silvia Helena Rodrigues de Carvalho

Resenha

3º capítulo do livro “O Saber Local:


Novos ensaios em antropologia interpretativa.

Resenha do 3º capítulo do livro O “Saber Local –


Novos ensaios em antropologia interpretativa” de
Clifford Geertz, apresentada ao Curso de
Licenciatura Plena em Filosofia, como requisito
para 2ª avaliação da Disciplina Antropologia Social,
ministrada pela Professora Odaléa Simões.

São Miguel do Guamá – Pará


Março/2011
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1 - Resenha 1
GEERTZ, Clifford. O saber local: novos ensaios em antropologia interpretativa.
Tradução de Vera Mello Joscelyne. 10. Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. Cap. 3.

Alexsandro Bezerra2
Diogo Michel
Elizonete de Jesus S. B. Pereira
Paulo Sérgio Bastos de Almeida
Raymundo Nonato Pereira
Silvia Helena Rodrigues de Carvalho

Geertz (2008), no terceiro capítulo de seu livro “O saber local”, apresenta um


título interessante que nos leva a aproveitá-lo em parte para titular-mos esta
resenha, qual seja o que é a natureza do entendimento antropológico? Já que esta é
uma afirmação em seu trabalho e para nós ressoa melhor, face ao que expõe, como
um belo questionamento, pois, embora tenhamos bons relatos das atividades de
campo deste autor, não temos uma discussão consistente sobre o que é natureza,
ou mesmo entendimento antropológico, conceitos que em muito nos ajudariam na
compreensão das observações oriundas de suas atividades.
O capítulo é começado com o relato de “um pequeno escândalo”, qual seja a
divulgação do diário de Bronislaw Malinowski, por sua esposa após sua morte, que
segundo o autor provocou uma enxurrada de comentários depreciativos quanto à
atividade de campo da antropologia, pois Malinowski “dizia coisas bastante
desagradáveis sobre os nativos com quem vivia” (GEERTZ, 2008, p. 86). Este fato
provocou um desconforto tremendo entre muitos antropólogos, mas obscureceu o
que o autor apresenta como a questão principal do diário que se reporta ao papel do
pesquisador e suas dificuldades em entender este mundo como se estivesse na pele
de um “nativo”.
Para tentar esclarecer esta questão, é elencado a formulação Heinz Kohut e
seus conceitos de “experiência próxima” e “experiência distante”, os quais se
referem, respectivamente, a possibilidade de conceituação que alguém pode fazer
de seu contexto enquanto membro deste e a possibilidade de algum especialista de
qualquer área fazer tal conceituação para atender seus “objetivos científicos,
filosóficos ou práticos” (GEERTZ, 2008, p. 87). No entanto, o autor afirma que não é
1 Trabalho apresentado como requisito para 2ª avaliação da Disciplina Antropologia Social, ministrada
pela Professora Odaléa Simões.
2 Alunos do Curso de Licenciatura Plena em Filosofia da UEPA – turma 2010
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plausível que o antropólogo esteja limitado a apenas uma das duas abordagens,
pois estas podem limitar o alcance de suas de suas análises, ora por se ater aos
pequenos detalhes apenas, ora por divagar em “abstrações” sem levar em conta os
mencionados detalhes.
E prossegue dizendo que “o que é importante é descobrir que diabos eles
acham que estão fazendo” (GEERTZ, 2008, p. 89). Esta afirmação, muito sugestiva,
nos leva a indagar como eu posso adentrar na experiência do outro sem me
“contaminar” com ela ou sem levar meus parâmetros sociais para as analises que a
posteriori farei destas? Este questionamento parece conveniente com os pontos
levantados, pois se eu partir para uma proximidade muito estreita com meu objeto
de estudo terei, de algum modo, estreitamento de laços com ela, sejam agradáveis
ou desagradáveis, e se ficar na superficialidade, pouco saberei para fundamentar
minhas afirmações. Logo, embora acreditemos ser possível uma análise com um
certo grau de imparcialidade, precisamos ter em mente que as avaliações realizadas
terão um pouco de nossos parâmetros e não atingirão, talvez o cerne do tema.
Após este esboço geral da “fisionomia” e do papel do antropólogo e de sua
atividade, por assim dizer, geertz apresenta o conceito de pessoa, como norteador
de suas análises, em seus três pontos de pesquisa, tendo em vista que esta
concepção, segundo ele, “é um fenômeno universal”. Os locais de pesquisa foram
Java, Bali e Marrocos, nos quais este autor analisa a concepção pessoa segundo a
construção dos povos destes locais, as quais, embora diferentes na aparência se
parecem muito na essência e até mesmo poderíamos dizer com a concepção
ocidental.
Em Java, como diz o início do segundo ponto, vislumbramos “uma concepção
bifurcada, sendo uma de suas partes constituída por sentimentos meio sem gestos,
e outra por gestos meio sem sentimentos”. Ou seja, temos uma espécie de disciplina
ou uma busca pela superação tão fortemente imposta e naturalizada que o indivíduo
se abnega de suas emoções e de sua expressão para com o seu grupo, para chegar
a um grau de apuração como o buscado por alguns filósofos. Nesta sociedade, pelo
que vemos e utilizando um termo ocidental, o “controle social” também se manifesta
de modo a interferir na vida das pessoas, como exemplificado no último parágrafo do
texto, no qual o autor narra à postura de um homem que perdeu sua esposa e por
conta das exigências de sua cultura precisa agir com serenidade e simpatia para
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rebeber algumas visitas, mesmo estando abalado com o ocorrido, este precisa
chegar a um estado sublime de superação de suas emoções.
Em Bali, diferentemente de Java, temos a idéia de pessoa atrelada a uma
questão simbólica, na qual, caso um elemento morra o símbolo que ele representava
permanece sendo assumido por outro, pois a própria nomenclatura já cria este efeito
de substituição. Para ratificar esta afirmação, geertz (2008, p. 96) diz que,“tanto em
sua estrutura, como na forma em que operam, os sistemas terminológicos
conduzem a uma visão da pessoa humana como um representante adequado de um
tipo genérico, e não como uma criatura única, com um destino específico”. E tudo
gira em torno desta imagem de pessoa enquanto parte do conjunto social, mas
rejeitada em sua identidade individual, fato que, novamente nos remete a afirmar
que possivelmente temos diferenças na aparência dos fatos, mas muita similaridade
na essência quando tomamos nossos conceitos de individual e coletivo.
Por fim, no terceiro e ultimo local, o Marrocos, apresenta-se a conceituação
de pessoa através do termo nisba, que é uma espécie de forma local de
nomenclatura e caracterização do indivíduo, só que, no entanto bastante relativista.
Como afirma o autor:
A contextualização social das pessoas é difusa, e na sua maneira curiosamente não-
metódica, acaba sendo sistemática. Os homens não
flutuam como entidades psíquicas fechadas, que se destacam de seu contexto e
recebem nomes individuais. Por mais individualistas e até obstinados que sejam os
marroquinos – e na verdade o são – sua identidade é um atributo que tomam
emprestado do cenário que os rodeia. (geertz, 2008, p. 102)

Assim fecha-se o clico de três visões distintas da concepção de pessoa em


diferentes culturas. Contudo a avaliação se mostra por inteiro quando geertz(2008,
p. 104), afirma que “o movimento intelectual característico, e o ritmo conceptual
interno de cada uma dessas análises (...) é um bordejar dialético contínuo, entre o
menor detalhe nos locais menores e a mais global das estruturas globais”. Desse
modo, o autor aprecia sua exposição mostrando de alguma maneira o papel do
antropólogo e o modo como diferentes culturas se organizam em torno de uma
concepção que às vezes parece apenas ocidental.
Mas para nós, como o próprio título sugere, não percebemos inserida na
apresentação do autor, uma discussão pontual acerca do que seja a natureza do
entendimento antropológico, pois cremos que é de suma importância conhecer o
conceito de natureza, que pode ser um do ponto de vista biológico, outro do ponto
de vista psíquico, dentre outras possibilidades para de fato chegarmos também a
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discutir o que seja entendimento antropológico. Não queremos menosprezar o bom


trabalho de geertz, mas pensamos, assim como ele, ao questionar o posicionamento
em relação ao diário de Malinowski, que alguns pontos elementares precisam ser
trabalhados e observados e que no caso da antropologia precisamos avaliar que a
similaridades entre as culturas e mesmo a relativização entre elas, não são motivos
para pensarmos em uma diferenciação tão exagerada.
Também acreditamos que o papel do antropólogo, embora tenha sido apresentada
uma considerável discussão no capítulo em questão, perpassa pelo viés do
pesquisador que consegue “filtrar” de seus parâmetros e dos outros um mecanismo
de análise que explicite sem tantos vícios o objeto de seu estudo. Enfim, precisamos
pensar o outro não a partir dele mesmo ou de nós e sim de um modo em que a
relatividade esteja presente amparada pela objetividade e seriedade.

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