A Influência Da Massagem Terapêutica Na Imagem Corporal

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( D Universidade do Porto
Faculdade de Ciências do
Desporto e de Educação Física

A influência da Massagem
Terapêutica na Imagem
Corporal.

Estudo em idosos do sexo feminino.

Luciano Klostermann
Antunes de Souza

Porto, Outubro de 2003

TM
Universidade do Porto
Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Fisica

A influência da
massagem t e r a p ê u t i c a
na imagem c o r p o r a l .

Estudo em idosos do sexo feminino.

Dissertação apresentada com vista à obtenção do grau de Mestre


(Decreto-Lei N° 216/92, de 13 de Outubro) em Ciências do Desporto na
área de especialização de Desporto de Recreação e Lazer, sob a
Orientação do Professor Doutor Paulo Cunha e Silva e Co-orientação da
Professora Doutora Maria Olga Vasconcelos.

Luciano Klostermann Antunes de Souza


Porto - 2003
SOUZA, Luciano Klostermann Antunes de - A influência da
massagem terapêutica na imagem corporal. Estudo em idosos do
sexo feminino. Porto: Ed. Autor, 2003. 128 p. Dissertação de
Mestrado em Ciências do Desporto na área de Recreação e Lazer
apresentada à Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação
Fisica da Universidade do Porto.

MASSAGEM / TOQUE TERAPÊUTICO / IMAGEM CORPORAL / IDOSO

E-mail do autor:
[email protected]

II
À minha mãe,
por tudo,
dedico.
Agradecimentos

Na realização desta Dissertação, muitos foram os que


directa ou indirectamente contribuíram, e para com todos
sou muito grato.
Ao Professor Doutor Paulo Cunha e Silva, orientador
deste trabalho, por aceitar trabalhar sobre um tema que não
é da sua área especifica de investigação, e pelo exemplo de
intelectual que transita com mestria pelo Corpo e suas
possíveis conexões com a Arte.
À Professora Doutora Olga Vasconcelos, nossa co-
orientadora, pela disponibilidade em trabalhar junto; pelo
empréstimo de material; pela estatística; pela forma de
orientação, que levarei para a minha prática académica, e
pela grande força na recta final.
Ao Conselho Directivo desta Faculdade, na pessoa do
Professor Doutor Jorge Bento, e ao Conselho Cientifico, na
pessoa do Professor Doutor António Marques, pelo apoio que
vêm dando aos professores e alunos do Departamento de
Educação Fisica da Universidade Federal da Paraíba e,
nestes dois anos passados, particularmente a mim, apoio
este fundamental para a concretização deste trabalho.
Ao Professor Doutor Jorge Mota, Coordenador do
Mestrado em Desporto de Recreação e Lazer, pelo apoio dado
a nossa turma.
À Dona Rosa Oliveira que, além de resolver todas as
questões burocráticas, me conduziu por histórias e lugares
dessa gente de cá. Junto à ela, a sempre disponível Susana
Teixeira.
Ao Professor Pedro Sarmento pelo apoio permanente aos
brasileiros.

V
Ao André David, pela disponibilidade em resolver com
extrema eficiência e simpatia todos os problemas
informáticos.
Ao Pedro Novais, pelas sugestões bibliográficas e
dicas na formatação da dissertação.
Ao Paulo Santos, pelo contacto com o Budismo.
À Dona Manuela e a todos do snack, por proporcionarem
alegria na hora do lanche.
Ao Jorge Gentil e à Dra. Assunção por terem
disponibilizado espaço para gue eu pudesse trabalhar com
massagem nesta cidade.
À Dra. Susana Vasconcelos, Directora do Lar da
Associação de São Nicolau, gue nos deu total apoio,
possibilitando a realização da nossa investigação.
À Dra. Carmem Navarro gue, com sua alegria
contagiante, ajudou o trabalho a fluir.
À todas as senhoras gue participaram, com entusiasmo,
dos Grupos Experimental e Controlo, tornando o trabalho
possivel e apaixonante.
À todos os colegas do DEF - UFPB, gue apostaram em
mim, através da liberação para vir estudar no Porto.
Especificamente, guero agradecer à Sandra Barbosa, Everaldo
Torres e João Batista, por terem assumido as Disciplinas
gue estavam sob minha responsabilidade.
Ao Professor Timothy Ireland e à Professora Neide
Miele, por todo o apoio junto à Reitoria da UFPB na minha
liberação, e pelo acompanhamento enguanto cá estive.
Ao amigo António Ramos pela eficiente revisão do
trabalho, e por provocar reflexões sobre o mesmo.
Aos manos Cléo e Lu Chianca, tradutores oficiais.
Ao jornalista Gibson Antunes, meu pai, pela leitura e
sugestões para o trabalho.

VI
Ao Sr. Marinho, pela paciência e pronto-atendimento.
À malta do Mestrado, pela cumplicidade, alegria e
jantaradas!
Aos colegas do Núcleo de Estudantes Brasileiros, pelo
convivio.
Ao Alberto Magno, grande amigo, pelo apoio em tantos
momentos, por me apresentar ao Porto, por todos os
espectáculos, pela cozinha cientifica e pelas meninas.
À Elisa Santos, por me mostrar olhos de paixão pelo
Porto.
Ao Nuno e Bruno Viegas, pai e filho, pelas noites em
"família", para conforto da Revisão.
À Alexandra Pinto pelas "traduções" e por
proporcionar-me a primeira aprazível viagem por este país.
À Tecas Veloso pela leveza e força na recta final.
Ao Jallisson Bérgamo pela confiança, pelas viagens e
pelos "papos profundos".
Ao Rodolfo, por trazer João Pessoa em si.
À Ivone Miranda, pela a paz...
À Miriam Saldanha, gue me deu estímulos convincentes
para vir, e casa e apoio quando cheguei.
Aos primos Guilherme e Carminha, apoio fundamental
para as idas e vindas.
À todas as pessoas que, de várias formas, me deram
força antes de vir, e também durante estes dois anos:
Lourdes, Rossana, Lenita, Roberta, Vitória, Rosilda,
Sérgio, Gisèle, Rodrigo, Ricardo, Ritoca, Narcy, Hilda, Tia
Neuma, Tio Anchieta, Tia Wil, Tia Bete, Fábio, e aos que
por ventura eu tenha esquecido.
Ao Anderson Lima, braço forte nos momentos finais
antes da travessia.
Ao Nildo Silva, pelo presente-sonho de um massagista.

VII
À querida Marluce Maia, a "mão" amiga de todas as
horas.
Ao Nelson Barros, amigo-irmão-procurador, por me fazer
ver o óbvio e pelo apoio incondicional.
À Nevinha Klostermann, por cuidar tão bem de nós.
À minha querida irmã Frida, pela força e pela viagem
que eu não fiz.
Ao meu querido irmão Érico, pelo carinho e pela viagem
que fizemos.
E finalmente, à minha mãe, Dra. Martha Klostermann -
amiga maior, pela vida, pelo amor, pela educação, pelo
exemplo, por todo o apoio de sempre, por descascar os meus
abacaxis, por segurar minha onda enquanto cá estou, por
preparar a minha volta e pelo que virá!
À todos, o meu muitíssimo obrigado.

VIII
índice geral

I - Introdução 1

1.1 Considerações preliminares 3

1.2 Justificação e estrutura do trabalho 4

II - Revisão da literatura 7

2 .1 Massagem 9
2.1.1 Etimologia 9
2.1.2 Definição 10
2.1.3 Enquadramento histórico 11
2.1.4 Classificação: Massagem estética; Massagem
desportiva; Massagem terapêutica 20
2.1.5 Manobras técnicas: Deslizamento (effleurage);
Amassamento (pétrissage); Percussão (tapote-
ment) ; Fricção 22
2.1.6 Efeitos: Efeitos mecânicos; Efeitos reflexos;
Efeitos psicológicos 23
2.1.7 Componentes da massagem: Ritmo; Duração;
Direcção; Pressão; Frequência 25
2.1.8 Indicações 26
2.1.9 Contra-indicações 28

2.2 O Toque manual 29


2.2.1 A pele 29
2.2.2 0 tacto 31
2.2.3 A mão 32
2.2.4 O toque 33

IX
2 .3 Imagem corporal 40
2.3.1 Conceito de imagem corporal 40
2.3.2 Percepção da imagem corporal 45
2.3.3 Satisfação com a imagem corporal 48
2.3.4 Imagem corporal da pessoa idosa 51

2.4 Interacção entre massagem e imagem corporal 54


2.4.1 Massagem e imagem corporal 54
2.4.2 Massagem e percepção da imagem corporal 58
2.4.3 Massagem e satisfação com a imagem corporal.. 61

III - Objectivos e hipóteses 63

3.1 Objectivo geral 65

3 .2 Objectivos específicos 65

3 .3 Hipóteses 65

IV - Metodologia 67

4.1 Caracterização do estudo 69

4.2 Caracterização da amostra 69


4.2.1 Escolha da população 69
4.2.2 Critérios de selecção 69
4.2.3 Selecção da amostra 70

4 .3 Material e métodos 73
4.3.1 Questionário de identificação pessoal, dados
gerais de saúde e de actividade fisica 73

X
4.3.2 Avaliação da percepção da imagem corporal.... 74
4.3.3 Avaliação da satisfação com a imagem corporal 7 6
4.3.4 Protocolo de massagem 77
4.3.5 Programação das actividades 78
4.3.6 Instrumentarium 79

4 .4 Procedimentos estatísticos 79

V - Apresentação e discussão dos resultados 81

5.1 Percepção da imagem corporal 83


5.1.1 Percepção da imagem corporal do Grupo
Experimental e do Grupo Controlo na primeira
avaliação 83
5.1.2 Percepção da imagem corporal do Grupo
Experimental e do Grupo Controlo na segunda
avaliação 85
5.1.3 Percepção da imagem corporal do Grupo
Experimental na primeira e na segunda
avaliações 87
5.1.4 Percepção da imagem corporal do Grupo
Controlo na primeira e na segunda
avaliações 89
5.1.5 Discussão 91

5.2 Satisfação com a imagem corporal 94


5.2.1 Satisfação com a imagem corporal do Grupo
Experimental e do Grupo Controlo na
primeira avaliação 94
5.2.2 Satisfação com a imagem corporal do Grupo
Experimental e do Grupo Controlo na
segunda avaliação 96

XI
5.2.3 Satisfação com a imagem corporal
do Grupo Experimental na primeira e na
segunda avaliações 98
5.2.4 Satisfação com a imagem corporal
do Grupo Controlo na primeira e na
segunda avaliações 100
5.2.5 Discussão 102

5 .3 Dados gerais de saúde 105


5.3.1 Dores no corpo 105
5.3.2 Qualidade do sono 106
5.3.3 Peso corporal 107
5.3.4 Discussão 109

VI - Conclusões 111

VII - Recomendações 115

VIII - Bibliografia 119

Anexos 129

XII
índice de quadros

Quadro IV-1 - Número de indivíduos e respectivas idades


(x±sd, valores minimo e máximo) 71

Quadro IV-2 - Tipo de residência


(número e percentagem de indivíduos) 71

Quadro IV-3 - Relação com o contacto físico (número e


percentagem de indivíduos) 71

Quadro IV-4 - Prática de actividade física e de


fisioterapia (número e percentagem de
indivíduos) 72

Quadro V-l - Percepção da imagem corporal do Grupo


Experimental e do Grupo Controlo na primeira
avaliação (x±sd, valores de z e p) 84

Quadro V-2 - Percepção da imagem corporal do Grupo


Experimental e do Grupo controlo na segunda
avaliação (x±sd, valores de z e p) 86

Quadro V-3 - Percepção da imagem corporal do Grupo


Experimental na primeira e na segunda
avaliações (x±sd, valores de z e p) 88

Quadro V-4 - Percepção da imagem corporal do Grupo


Controlo na primeira e na segunda
avaliações (x±sd, valores de z e p) 90

XIII
Quadro V-5 - Satisfação com a imagem corporal do Grupo
Experimental e do Grupo Controlo na primeira
avaliação (x±sd, valores de z e p) 95

Quadro V-6 - Satisfação com a imagem corporal do Grupo


Experimental e do Grupo Controlo na segunda
avaliação (x±sd, valores de z e p) 97

Quadro V-7 - Satisfação com a imagem corporal do Grupo


Experimental na primeira e na segunda
avaliações (x+sd, valores de z e p) 99

Quadro V-8 - Satisfação com a imagem corporal do Grupo


Controlo na primeira e na segunda
avaliações (x±sd, valores de z e p) 101

Quadro V-9 - Dores no corpo dos indivíduos dos dois Grupos


na primeira e na segunda avaliações (número de
indivíduos e percentagem) 105

Quadro V-10 - Qualidade do sono dos indivíduos dos dois


Grupos na primeira e na segunda avaliações
(número de indivíduos e percentagem) 106

Quadro V-ll - Peso corporal e o nivel de satisfação no item


Peso do Questionário BISQ dos indivíduos do
Grupo Experimental na primeira e na segunda
avaliações (valores de cada individuo).... 107

Quadro V-12 - Peso corporal e o nivel de satisfação no item


Peso do Questionário BISQ dos indivíduos do
Grupo Controlo na primeira e na segunda
avaliações (valores de cada individuo).... 108

XIV
Resumo

0 presente estudo caracteriza-se como longitudinal de concepção quase-


experimental e teve como objectivo analisar o efeito de um protocolo
de massagem na percepção e na satisfação com a imagem corporal.
Foram duas as hipóteses: (i) a experiência de massagem acarreta
mudanças significativas na percepção da imagem corporal; (ii) a
experiência de massagem acarreta mudanças significativas na satisfação
com a imagem corporal.
A amostra foi composta por 15 idosos do sexo feminino, sendo oito do
Grupo Experimental, com idades variando dos 58 aos 81, e sete do Grupo
Controlo, com idades variando entre os 66 e 85. Os indivíduos foram
seleccionados num Lar para Idosos no Concelho do Porto.
Os instrumentos de avaliação utilizados foram: o Body Size Estimation
Method - BSEM de Kreitler e Kreitler (1988), e o Body Image
Satisfaction Questionnaire - BISQ, desenvolvido por Lutter et al.
(1990). Recorreu-se ainda a um questionário de identificação pessoal,
dados gerais de saúde e de actividade fisica.
Utilizamos os seguintes procedimentos estatísticos: para as variáveis
observadas foram calculadas as médias, desvio padrão, máximos, mínimos
e percentagens; usamos o Teste de Wilcoxon para comparação da mesma
amostra em momentos diferentes; e o Teste de Mann-Whitney para
comparação de amostras independentes em cada momento de avaliação.
Através dos resultados desta investigação verificou-se que:
- 0 protocolo de massagem empregue surtiu efeito sobre a percepção da
imagem corporal, confirmando a primeira hipótese.
- A segunda hipótese, a experiência de massagem acarreta mudanças
significativas na satisfação com a imagem corporal, teve plena
confirmação, reforçando as referências da literatura sobre os
benefícios do toque sobre a pele, e da manipulação dos sistemas
orgânicos para o bem-estar e satisfação com o próprio corpo.

Palavras-chave: MASSAGEM / TOQUE TERAPÊUTICO / IMAGEM CORPORAL /


IDOSOS

XV
Abstract

We describe the present study as a longitudinal one, of quasi-


experimental concept, whose purpose was to analyze the effect of a
massage program upon the perception of, and the satisfaction with the
bodily image.
There were two hypotheses: (i) the massage experience unleashes
significant changes in the perception of the body image; (ii) the
massage experience unleashes significant changes in the satisfaction
with the body image.
The survey was made with 15 elderly females. Eight of which, ages from
58 up to 81, belonged to the experimental group, while the other
seven, ages from 66 to 85, constituted the control experiment. The
respondents were selected from a facility for the elderly in the city
of Porto.
The evaluation tools used were: Body Size Estimation Method - BSEM by
Kreitler and Kreitler (1988), and Body Image Satisfaction
Questionnaire - BISQ, developed by Lutter et al. (1990). Furthermore
the survey incorporates data on the respondents' personal
identification, general health information, and physical activity.
We used the following statistical procedures: calculation of averages,
standard deviations, maximums, minimums, and percentages of the
observed variables; The Wilcoxon Test to compare same samples at
different moments; The Mann-Whitney Test to compare independent
samples at any given moment of the evaluation.
This investigation allowed us to determine the following results:
- The massage procedure utilized reflects change upon the perception
of the bodily image, thus confirming the first hypothesis.
- The second hypothesis, the massage experience unleashes significant
changes in the satisfaction with the bodily image, could be entirely
confirmed, which reinforces the existing scientific literature on the
positive responses to the touch on the skin, and to the manipulation
of organic systems in providing well-being, and physical satisfaction.

Keywords: MASSAGE / THERAPEUTIC TOUCH / BODY IMAGE / ELDERSHIP

XVII
Résumé

Cette étude est définie comme longitudinale de conception presque-


expérimentale. Elle a analysé l'effet d'un programme de massage sur la
perception et la satisfaction avec l'image corporelle.
Deux hypothèses ont guidé notre démarche : (i) l'expérience de massage
entraîne à des changements importants dans la perception de l'image
corporelle; (ii) l'expérience de massage entraîne à des changements
importants dans la satisfaction de l'image corporelle.
L'échantillon a été composé de 15 personnes âgées du genre féminin, dont
huit composaient le Groupe Expérimental, âgé de 58 à 81 ans, et sept du
Groupe de Contrôle, âgé de 66 à 85 ans. Les individus ont été choisis parmi
les hôtes d'un Lar para idosos (Résidence de personnes âgées), du Concelho
du Porto.
Les instruments d'évaluation employés ont été: le Body Size Estimation
Method - BSEM de Kreitler e Kreitler (1988), et le Body Image Satisfaction
Questionnaire -BISQ, développé par Lutter et al. (1990). On a eu aussi
recours à une enquête d'identification personnelle, données générales de la
santé et activité physique.
Nous avons employé les procédures statistiques suivantes : pour les
variables observées ont été calculés des moyennes, écart- types, des
maximum, des minimum et pourcentages; nous avons employé le Teste de
Wilcoxon pour comparer les mêmes échantillons à des moments divers; et le
Test de Mann-Whitney pour comparer des échantillons indépendants à chaque
moment de l'évaluation.
Les résultats de cette recherche ont révélé que:
- Le programme de massage employé a eu d'effet sur la perception de l'image
corporelle. La première hypothèse a été confirmée.
- La deuxième hypothèse, l'expérience de massage incite à des changements
importants dans la satisfaction de l'image corporelle, a été largement
confirmée, renforçant ainsi les références de la littérature à propos des
bénéfices du toucher sur la peau, et de la manipulation des systèmes
organiques pour le bien-être et la satisfaction avec son corps à soi.

Mots clés: MASSAGE / TOUCHER THÉRAPEUTIQUE / IMAGE CORPORELLE / PERSONNES


AGEES.

XIX
I - I N T R O D U Ç Ã O
Introdução

I - Introdução

1.1 Considerações preliminares

A massagem e o toque manual confundem-se com a


história da humanidade. Desde os tempos mais remotos,
diferentes registos denotam o uso das mãos como meio para
tratar do próximo (Calvert, 2002) .
A partir do Oriente, berço da massagem, e da cultura
greco-romana, verificam-se sucessivas alterações e
desenvolvimentos, directamente ligadas com a evolução do
conhecimento em diversas áreas. A massagem chega assim até
a época contemporânea com estatuto de prática terapêutica
cientifica, com reconhecimento internacional (Huard e Wong,
1990; Calvert, 2002).
Ocorrendo de forma técnica, através de uma sessão de
massagem, ou de forma espontânea, cuidando de um ente
próximo, por exemplo, o toque vê hoje realçada a sua
importância na saúde do ser humano. Essa importância passa,
entre outros aspectos, pela dinâmica entre a pele, o tacto
e as mãos, que resultam no tocar e ser tocado, com efeitos
conhecidos sobre o organismo.
Desde o nascimento, o toque corporal é fundamental
para a saúde e conforto do bebé. A qualidade deste toque é
determinante na estruturação do ego e na dinâmica entre a
psique e o soma. Contribui para a configuração dos limites,
desenho mental e sentimento que se desenvolve pelo corpo
(Montagu, 1988) . Mas, para além desta fase, em todas as
etapas da existência, da infância até a senescência, o
toque é fundamental para vários aspectos do individuo como,
por exemplo, o fisico, o afectivo ou o sexual.

Ao desenho ou forma que temos mentalmente do nosso


corpo chamamos imagem corporal (Schilder, 1935, citado por

3
Introdução

Vasconcelos, 1995). Numa definição posterior, Cash et ai.


(1991), referidos em Vasconcelos (1995), definem esta como
sendo uma elaboração multifacetada baseada em componentes
perceptivas, relacionadas objectivamente com a aparência
fisica, e de atitude, ligadas aos sentimentos e pensamentos
sobre o corpo.
Ao longo da vida do individuo, a imagem corporal vai
sofrendo mudanças que são determinadas pelas próprias
mudanças ocorridas a nivel fisico, pelas experiências
corporais vividas (e.g., a relação táctil ou a actividade
fisica), pela qualidade das relações afectivas e pelos
valores sociais nos quais se está inserido.
Considerando a característica plástica da imagem
corporal, a mesma encontra-se, a qualquer momento da vida,
com possibilidades de mudanças, seja no aspecto da
percepção ou da satisfação.

A massagem, através da estimulação sobre a pele e


sobre diversos sistemas orgânicos, vai exercer influência
sobre a imagem corporal.
0 toque sobre a pele, através das manobras de
massagem, contribui na sensibilização dos limites
corporais, definindo o self do não-seJf. Através da pele,
esses estímulos atingem o sistema nervoso central, que por
sua vez desencadeia respostas para todo o organismo,
trazendo sensações de prazer e de alivio para os
desconfortos corporais.

1.2 Justificação e estrutura do trabalho

Ao longo da nossa experiência na área de massagem,


seja como professor ou como massagista, temos vindo a
perceber a importância que esta proporciona às pessoas,
seja na prevenção e ou cura de patologias, ou simplesmente
no bem-estar fisico e emocional.

4
Introdução

Apesar de hoje já encontrarmos investigações feitas na


área da massagem, são poucos os trabalhos realizados sobre
a relação entre esta e a imagem corporal. Também não
encontramos nenhum com referência especifica à população do
nosso estudo, a de idosos do sexo feminino. A escolha por
esta população deveu-se ao facto de que são pessoas que não
são muito tocadas corporalmente e têm disponibilidade para
se submeterem ao estudo.

Para desenvolvermos esta investigação, começamos por


elaborar uma revisão bibliografia especifica das áreas do
estudo, ou seja, a massagem e a imagem corporal, o que nos
posicionou com mais clareza e profundidade sobre o tema
(Capitulo II) .

Este estudo tem como propósito analisar o efeito de um


programa de massagem na percepção e na satisfação com a
imagem corporal. Nossas hipóteses são de que a experiência
com massagem acarreta mudanças significativas na percepção
e na satisfação com a imagem corporal (Capitulo III).

Como metodologia (Capitulo IV), optámos por um estudo


longitudinal quase-experimental, onde aplicamos um
Protocolo de massagem com doze sessões semanais com uma
hora de duração para cada sessão. Trabalhamos com um grupo
experimental e um grupo controlo.
Para a avaliação nos momentos inicial e final,
utilizamos os seguintes instrumentos:
- 0 Body Size Estimation Method - BSEM de Kreitler e
Kreitler (1988) para a percepção da imagem corporal.
0 Body Image Satisfaction Questionnaire - BISQ,
desenvolvido por Lutter et al. (1990), para a satisfação
com a imagem corporal.
Utilizamos ainda um questionário de identificação
pessoal, dados gerais de saúde e de actividade fisica para

5
Introdução

delinearmos o perfil dos grupos e para a verificação de


alguns dados nos dois momentos de avaliação.
Apesar do apoio recebido pela Direcção do Lar para
Idosos onde desenvolvemos o trabalho, este apresentou
algumas limitações, seja no tocante ao tempo para a
aplicação do protocolo, ou na disponibilidade de material e
de espaço para realizar as sessões de massagem.

Ao final do Protocolo fizemos a apresentação e


discussão dos resultados, analisando as hipóteses por nós
levantadas, o gue nos levou a algumas conclusões e
conseguentes recomendações para novas investigações
(Capítulos V, VI e VII).

6
II - REVISÃO DE LITERATURA
Revisão da literatura

II - Revisão da literatura

2.1 Massagem

2.1.1 Etimologia

A palavra massagem não tem uma origem definida com


precisão, existindo mais de um étimo de onde pode ter
derivado. Um deles é o verbo árabe massf tocar, hipótese
defendida por Savary que, em 1785, fazendo uma reportagem
no Egipto, observou neste pais a prática de massagem. Outra
possibilidade leva-nos à palavra grega massein, que
significa igualmente tocar. Temos também como possível
fonte a palavra makch - bater ou pressionar - do sânscrito
(Calvert, 2002).
Kamenetz (1960) referido em Calvert (2002), sustenta
que, independentemente da sua origem grega ou árabe, houve
uma evolução para as palavras francesas masser (massajar),
massage (massagem), masseur e masseuse (massagista) ,
argumento também usado por Knapp (1994), que lembra terem
sido no século XVIII traduzidos para francês livros
chineses sobre massagem, facto determinante na utilização
da terminologia francesa em textos de massagem. A palavra
massagem como substantivo aparece pela primeira vez no
Dicionário Franco-Alemão em 1812, sustentado por Kamenetz
(1960), citado em Calvert (2002). Um pouco mais tarde,
parece ter-se disseminado internacionalmente. Segundo o
norte-americano Thomas Medical Dictionary, de 1886, citado
por Wood e Becker (1984), massagem, proveniente do grego,
quer dizer amassar.
A lingua portuguesa recebeu o vocábulo do francês
massage, substantivo derivado do verbo masser, segundo

9
Revisão da literatura

informa o Dicionário Houaiss da Lingua Portuguesa, que dá


18 99 como data dos primeiros registos da palavra em
Português.

2.1.2 Definição

Massagem remete-nos para um universo que engloba


diversas técnicas de tratamento através das mãos. Detalhar
este universo implica cruzar diversas definições,
parcelares, que se complementam, trazendo informações sobre
o tipo, sobre as indicações, sobre os sistemas (orgânicos),
sobre as formas de actuação e resultados obtidos,
enriquecendo a nossa compreensão sobre o fenómeno.
Graham (1884), citado por Rechtien et ai. (2002,
p.564), definiu massagem como "um grupo de procedimentos
que usualmente são feitos com as mãos, tais como fricção,
amassamento, rolamento e percussão dos tecidos externos do
corpo de uma variedade de maneiras, com um objectivo
curativo, paliativo ou higiénico em vista". Gertrudes
Beard, em 1952, citada por Marx e Camargo (1986, p.103),
define massagem como "o termo usado para designar
manipulação dos tecidos moles do corpo, com o propósito de
produzir efeitos locais e gerais a nivel do sistema
muscular, nervoso, respiratório e de circulação sanguínea e
linfática".
Battista et ai. (1982) consagram a massagem como o
conjunto de séries organizadas, metódicas e movimentos de
manipulações que se executam sobre uma região do corpo com
fins estéticos, higiénicos, preventivos, terapêuticos e
desportivo.
Wood e Becker (1984) acrescentam que a massagem é uma
das formas mais antigas de tratamento das doenças humanas e
tem como objectivo produzir efeitos terapêuticos nos

10
Revisão da literatura

tecidos nervosos, musculares, sistema respiratório do


organismo, bem como na circulação geral e local de sangue e
linfa.
Knapp (1994, p.419) usa o termo massagem para designar
"um grupo de manipulações sistemáticas e c i e n t i f i c a s dos
t e c i d o s c o r p o r a i s , mais eficazmente executadas com as mãos,
com o propósito de afectar os sistemas nervoso, muscular e
a circulação geral".
Segundo Pinheiro (1998, p.110), a massagem "deve ser
entendida como um conjunto de manobras sistematizadas,
aplicadas sobre os tecidos moles da s u p e r f i c i e corporal,
com motivações t e r a p ê u t i c a s " .
Encontramos mais recentemente em Calvert (2002, p . 11)
uma definição mais abrangente:
"Massagem: Da p a l a v r a grega massein (amassar). E a
manipulação do corpo através de amassamento,
deslizamento, fricção, percussão, vibração e outros
métodos - aplicados com as mãos, pés, cotovelos,
antebraços, ou com materiais como pedra, madeira,
cerâmica, marfim, metal, osso, ou ainda com a p a r e l h o s
que se operam manualmente, por vapor, bateria ou
energia eléctrica, incluindo eventualmente o uso da
água, de ervas, sais e argila - que podem produzir
directa ou i n d i r e c t a m e n t e v á r i o s efeitos terapêuticos,
sensações de p r a z e r ou de dor, um sentimento de ser
cuidado e apoiado, uma e l e v a ç ã o do e s p i r i t o e um g e r a l
bem-estar."

2 . 1 . 3 Enquadramento h i s t ó r i c o

O aparecimento da massagem perde-se num horizonte


de que não se consegue vislumbrar o i n i c i o . Para Calvert
(2002), a h i s t ó r i a da massagem confunde-se com a h i s t ó r i a

11
Revisão da literatura

do toque, ambas entrelaçadas com a história da humanidade.


Ideia reforçada por Pinheiro (1998), que afirma que a
história da massagem se funde com a evolução do Homem e com
as formas de compreensão da doença. Sabemos também que
através de toda a História a prática da massagem, mesmo não
referida como tal, esteve sempre presente no contexto
cultural da medicina, podendo ser vista como uma componente
essencial da medicina tradicional, com a palavra
"tradicional" significando um uso antigo e ou muito comum
(Rechtien et ai., 2002).

O termo concreto massagem só surge no ano de 1812, mas


os investigadores vêm inferindo a existência muito anterior
das práticas nela envolvidas, através de registos
pictóricos e escritos de diferentes épocas. São imagens e
textos que relatam procedimentos terapêuticos envolvendo
gestos feitos com as mãos, com outras partes do corpo ou
com algum instrumento, e que se enquadram no dominio
técnico actual da massagem.

Os registos mais antigos, de 15000 a.C, pinturas


rupestres (encontradas em território chinês), mostram que
as formas de cura pela massagem já eram usadas antes do
desenvolvimento das civilizações conhecidas (Carroll e
Brown, 1999). Segundo estes autores, acredita-se que o
desenvolvimento do contacto como instrumento de cura parte
do instinto primitivo, existente nos humanos e nos animais,
para oferecer conforto a outro ser vulnerável. Esta ideia é
defendida igualmente por Knapp (1994, p.419), ao dizer que
"a massagem é provavelmente o mais antigo de todos os
remédios, já que é instintivo não somente nos humanos mas
também nos animais inferiores"; e por Pinheiro (1998,

12
Revisão da literatura

p.109), que sustenta que "massajar um segmento corporal


representa a primeira resposta instintiva à agressão".
Nos tempos mais remotos acreditava-se que as doenças
eram causadas por demónios, espiritos ou actos pecaminosos
do paciente e o tratamento era feito através de rituais
sagrados aonde, entre os recursos terapêuticos, se incluiam
manobras de massagem (Calvert, 2002).
Brooke (1997), citada em Calvert (2002), conclui
através do estudo de talhas e desenhos que no Egipto, mais
precisamente no periodo da Rainha Isis (4000 a . C ) , já se
fazia uso racional da massagem. Uma outra pintura feita por
volta de 2200 a.C, na tumba do sacerdote egípcio Akhmahor,
evidencia também a prática de formas de massagem (Calvert,
2002). 0 mais antigo tratado médico egípcio, Ebers Papyrus,
de cerca de 1600 a.C, referido em Carroll e Brown (1999) e
em Calvert (2002), faz mesmo alusão textual ao uso de
terapia manual através da fricção.

Na China, o Livro Clássico de Medicina Interna do


Imperador Amarelo, também conhecido como Nei Ching, traz
claras referências à massagem. Não existe uma data precisa
para a origem deste livro, podendo ser de 2500, 1000 ou 100
a.C, como referido por Calvert (2002). Este antiquíssimo
livro, segundo Huard e Wong (1990), já sugere a massagem
para activar a circulação sanguínea. Na época que medeia os
anos de 581 e 907 d.C, os estudiosos chineses organizaram
o Colégio de Massagistas, que era dirigido por um
especialista chamado Doutor em Massagens, sendo a
massoterapia largamente empregada pelos pediatras, segundo
Li citado por Huard e Wong (1990).

0 supremo documento místico da Medicina indiana, o


Ayur Veda (1800 a 1500 a . C ) , traz alguns termos em

13
Revisão da literatura

sânscrito que traduzem a presença da massagem (Calvert,


2002). Por considerar o corpo como instrumento
indispensável da alma, algumas tradições indianas defendem
que é preciso dominá-lo e cuidar dele para atingir a
perfeição moral e a beatitude. Como recurso para alcançar
este fim superior, desenvolveu-se desde os tempos antigos a
prática de balneoterapia e de cinesiterapia, incluindo
nesta algumas técnicas de massagem (Huard e Wong, 1990).

Disseminando-se até à antiga Grécia a partir do


Oriente, a massagem foi praticada para manutenção da saúde,
juntamente com o exercício físico, desde 1000 a.C, sendo
descrita por Homero como parte do regime terapêutico
recomendado para os guerreiros, (Carroll e Brown, 1999).
Hipócrates (460 - 380 a.C), estudioso grego
considerado o pai da medicina moderna, usou a palavra
anatripsis para designar massagem (Wood e Becker, 1984).
Calvert (2002) acrescenta que anatripsis significa
"friccionar para cima", sendo este tipo de procedimento
terapêutico revolucionário, pois antes do aparecimento
deste conceito as fricções eram feitas do centro do corpo
para as extremidades, acreditando-se que assim se moviam os
espíritos do mal ou as doenças invasoras para fora do
corpo. A fricção advogada por Hipócrates, feita para cima,
tinha como objectivo mover os fluidos corporais das
extremidades para o centro do corpo, permitindo eliminar o
material tóxico através do tracto alimentar. O precursor da
medicina deslocou desta forma o foco da abordagem mágica
para a análise científica, abandonando os rituais e a
especulação por uma prática terapêutica marcada por uma
observação apurada, pautada pelo pensamento lógico, e com
princípios de diagnóstico e de tratamento, (Calvert, 2002).
Nos seus documentos sobre massagem, o físico detalhou

14
Revisão da literatura

pormenores sobre o uso da fricção após distensões e


luxações, bem como em caso de constipação (Knapp, 1994).
Apesar das considerações de Hipócrates sobre a
massagem, o seu uso na medicina foi discreto, embora
bastante desenvolvida em ginásios e banhos públicos. No seu
auge, os ginásios gregos eram particularmente devotados ao
exercício, massagem e banhos (Calvert, 2002). Era lá que os
atletas e cidadãos discutiam politica e os jogos do dia,
descansavam e se massajavam, refere Yegul (Calvert, 2002).

Também em Roma a massagem conheceu grande expansão.


Asclepiades (124 - 40 a . C ) , médico grego estabelecido na
capital do Império, não seguia a doutrina hipocrática,
tendo a sua própria forma de conduzir os tratamentos.
Segundo Kamenetz (1960), ele considerava a massagem como o
terceiro recurso terapêutico mais importante, depois da
hidroterapia e do exercício fisico. Kellog (1895) citado em
Calvert (2002), acrescenta que Asclepiades abandonaria
mesmo o uso de medicamentos para fazer uso exclusivo de
massagens. Mas, apesar de a usar para tratar diversos
problemas, enumera também algumas contra-indicações como,
por exemplo, no caso de febre.
A influência das doutrinas gregas confirma-se
posteriormente no seio do Império. Os conhecimentos
hipocráticos irradiam-se até à Idade Média, mas foi antes,
na Roma antiga, que encontram solo fértil (Hauschka, 1985).
Entre os vários romanos seguidores de Hipócrates, dois
houve que se destacaram: Aulus Cornelius Celsus (25 a.C. -
57 d.C.) e Claudius Galenus (130 - 201 d . C ) . 0 primeiro,
mais conhecido pelos seus escritos do que pela prática
médica, enumerou indicações terapêuticas de massagem para
pacientes com problemas pulmonares, estomacais, dores de
cabeça e com sobrepeso. Celsus redigiu também um texto

15
Revisão da literatura

sobre a anatripsis, com detalhes não descritos pelo mentor


grego. Galenus, por seu lado, seria considerado o segundo
maior médico da antiguidade depois de Hipócrates, de quem
foi ardente discípulo. No seu livro, Hygiene, revela uma
profunda dedicação à massagem, com indicações de técnicas
especificas para os períodos da manhã e da noite, detalhes
sobre várias manobras de massagem, e sobre a preparação e
duração de uma sessão. Prescrevia ainda que todo exercício
deveria ser seguido por massagem com óleo (Calvert, 2002).
Na antiguidade greco-romana, a figura da parteira
tinha muita importância nos serviços de saúde. Numa
situação de parto o trabalho do médico só era solicitado
quando havia qualquer complicação. Era frequente a
utilização de massagens no corpo da grávida para aliviar as
dores, e, mais especificamente, nos seios para aliviar os
inchaços (Calvert, 2002).

0 declínio do Império Romano e a ascensão do


Cristianismo marcam o começo da Idade Média, período
durante o qual as actividades voltadas para os cuidados com
a saúde e o bem-estar fisico, como a prática de actividade
fisica e a massagem, caíram em desuso. Os banhos públicos,
aonde era frequente a prática de massagem, foram abolidos
pelos primeiros romanos cristãos porque se tinham tornado
locais onde as práticas sexuais eram mais comuns do que as
curativas. Na Europa, a massagem e outros tratamentos
tradicionais foram associados à magia ou bruxaria, os
curandeiros que a praticavam foram perseguidos (Carroll e
Brown, 1999). Apesar deste panorama, nos paises árabes, na
índia, na China e até mesmo em alguns lugares da Europa,
enquanto se desenrolava a Idade Média, a massagem manteve-
se muito viva (Calvert, 2002) .

16
Revisão da literatura

Avicena (980 - 1037), estudioso árabe que foi médico


chefe no Hospital de Bagdad, escreveu uma enciclopédia
médica, Canon Medicinae, aonde fez referência ao uso de
massagem descrevendo com pormenores algumas manobras e suas
indicações para dispersar os catabólicos formados nos
músculos e não expelidos pelo exercício (Calvert, 2002). A
massagem é descrita em importantes textos persas datados
dos séculos IX e XI, Carroll e Brown (1999), e na China, no
periodo que vai de 1368 a 1644, a massagem separa-se
definitivamente da pediatria e conhece uma renovação. Aqui
surgem os livros clássicos Segredos da massagem e Tratado
das massagens (Huard e Wong, 1990).

O Renascimento resgata a Antiguidade Clássica e ao


mesmo tempo traz um impulso para o novo, características
que marcaram as artes e as ciências deste periodo. Até ao
século XV, as crenças e os tabus religiosos não permitiam o
avanço nos estudos de anatomia. Em 1543, com a obra De
Humani Corporis Fabrica (A Fábrica do Corpo Humano) do
anatomista André Vesálio, "pela primeira vez o corpo humano
é dissecado de forma sistemática e o resultado é dado à
estampa" (Cunha e Silva, 1997, p.109). As universidades
reconhecem a importância deste conhecimento para a evolução
da medicina, e incluem-no nos seus currículos. Este
movimento representa um grande salto para a medicina. O
novo entendimento de anatomia e de fisiologia traz uma nova
compreensão do corpo humano, que se faz reflectir
directamente na forma de o tratar.
A massagem foi revalorizada, sendo referida pelos mais
importantes médicos da época com detalhes, contemplando
manobras, efeitos, forma de tratamento, produtos utilizados
nas sessões. Era indicada para fins diversos como problemas

17
Revisão da literatura

articulares, melhor circulação dos líquidos corporais e


recuperação após certos tipos de cirurgia (Calvert, 2002) .
A partir do inicio do século XIX, regista-se um grande
avanço no desenvolvimento da massagem. Surgiram algumas
escolas pela Europa e Estados Unidos; alguns métodos de
massagem foram sistematizados e lançados trabalhos
científicos sobre o tema.
Peter Henrik Ling (1776 - 1837), sueco, sofria de
dores reumáticas e curou-se através de ginástica e de
massagem. A partir desta experiência, passou a interessar-
se exclusivamente por essas duas áreas. Ling não foi um
criador de novos métodos de massagem, mas um grande
estudioso e divulgador, chegando a fundar em Estocolmo um
instituto de massagem que alcançou fama mundial (Hauschka,
1984).

Na segunda metade do século, Johan Georg Mezger (1838


- 1909), médico holandês, dá um carácter mais cientifico à
massagem, tendo publicado uma dissertação doutoral em 18 68
intitulada "O tratamento das entorses nos pés através de
fricção". Escreveu também um pequeno livro sobre massagem,
fundou a mais antiga associação de massagistas e o mais
antigo periódico da profissão (Calvert, 2002).
Nos Estados Unidos, o Professor Silas Weir Mitchel
(1829 - 1914), neurologista, foi quem primeiro chamou a
atenção da classe para a importância da massagem através de
um artigo publicado num jornal médico. Em 1895, John Harvey
Kellog, M.D., lançou o livro The Art of Massage, Its
Physiological Effects and Therapeutic Applications, que
teve várias reedições e se tornou um clássico, sendo ainda
hoje usado em algumas escolas de massagem, (Calvert, 2002).
Ainda no século XIX, os médicos que utilizavam
massagem como recurso terapêutico defendiam-na no

18
Revisão da literatura

tratamento de vários problemas de saúde como doenças do


sistema circulatório, anemia, doenças dos nervos e dos
músculos, enfisema pulmonar, algumas doenças do coração e
constipação crónica, entre outros (Calvert, 2002).

A partir do século XX, a massagem conhece um grande


desenvolvimento promovido pela Enfermagem, entrando no
currículo de muitas das suas escolas. Foi utilizada como
recurso terapêutico para cuidar dos feridos da I e da II
Guerras Mundiais. Muitos livros sobre massagem foram
editados para a formação dos futuros enfermeiros, (Calvert,
2002) .
Grandes foram os avanços da massagem desde então.
Cunha e Silva (1997, p.105) diz que "a partir dos anos
sessenta se assiste à concretização de um novo imaginário
do corpo. Surge um corpo que perdeu a vergonha de si, que
se expõe de modo algo afrontoso e reivindicativo, em que o
desejo da boa forma se confunde com o culto das boas
formas". Para Carroll e Brown (1999), a década de 60
assistiu a um movimento que colocava maior ênfase em formas
naturais e instintivas de vida, incluindo um revivalismo
das terapias naturais de contacto. Ideia reforçada por
Calvert (2002), assinalando que houve uma proliferação de
técnicas de massagem em conjunção com as transformações dos
anos 60 e 70.

Depois desse momento, vieram as inovações. As técnicas


de massagem que já existiam foram desenvolvidas e outras
dezenas foram criadas. A Massagem passa a ser uma
modalidade terapêutica independente e amplamente utilizada.
Chegamos, portanto, ao século XXI com um panorama
positivo em relação à massagem. Existem hoje, em vários
paises, escolas para formação de massagistas; muitas

19
Revisão da literatura

universidades incluíram nos seus curriculos a disciplina


massagem e passaram a desenvolver pesquisas nesta área;
profissionais de campos distintos, como a medicina,
enfermagem, fisioterapia, psicologia e educação fisica,
entre outras, incorporaram ou passaram a indicar a massagem
como recurso terapêutico. Associações profissionais foram
criadas; periódicos específicos passaram a ser editados e
reportagens sobre massagem começaram a aparecer nos media;
a prática de massagem popularizou-se, passando a ser
realizada em clinicas, hospitais, escolas, clubes
desportivos, centros comerciais e até em praças públicas; e
com o advento da Internet foram criados muitos sites para
informação, discussão e comércio dos produtos de massagem.

2.1.4 Classificação

Inicialmente, citando Rechtien et ai. (2002), a


massagem pode ser classificada, reconhecidamente com
importante superposição, segundo as suas variantes
ocidentais e orientais. Como vimos no enquadramento
histórico, a massagem no Ocidente teve grande
desenvolvimento na Antiguidade Clássica, seguido por um
período de declínio na Idade Média até ao seu resgate no
Renascimento, conhecendo a partir do século XX um grande
desenvolvimento cientifico, que a tornou uma prática
popular nos dias de hoje. No Oriente, além da origem mais
antiga, "os sistemas de massagem evoluíram ao longo de
muitos séculos e estão integrados na cultura do pais aonde
são praticados" (Rechtien et ai., 2002, p. 566).
Incidindo especificamente sobre as massagens
ocidentais, objecto do nosso estudo, a classificação é
feita segundo a sua finalidade: estética, desportiva ou
terapêutica.

20
Revisão da literatura

Massagem estética
A massagem estética pode ser só facial ou abranger o
corpo todo e tem como objectivos, segundo Oliveira (1989),
promover uma renovação da pele retirando as suas impurezas
e células mortas, estimular o fluxo sanguíneo da pele
melhorando a sua nutrição. Na primeira, pretende-se ainda,
de forma direccionada, fortificar os músculos do rosto
combatendo a formação de rugas.

Massagem desportiva
É o tipo de massagem utilizada por desportistas,
podendo acontecer dentro do seu programa regular de treino,
em situações de pré-competição, ou para recuperação pós-
competição. A massagem desportiva actua permitindo ao
atleta manter os músculos num melhor estado de relaxamento,
flexibilidade e nutrição, bem como reduzir as dores
musculares e recuperar de uma lesão mais rapidamente
(Kresge, 1988).

Massagem terapêutica
Esse tipo de massagem inclui, tal como os anteriores,
diversas técnicas. Segundo Oliveira (1989), destina-se a
normalizar as funções orgânicas, actuando inclusivamente no
campo da prevenção. A American Massage Therapy Association
(1999), define-a como o recurso no qual o terapeuta aplica
técnicas manuais, podendo também aplicar terapias adjuntas,
com a intenção de afectar positivamente a saúde e o bem-
estar do cliente. Rechtien et ai. (2002) descrevem-na como
a manipulação terapêutica dos tecidos moles do corpo com um
objectivo de normalização daqueles mesmos tecidos.

21
Revisão da literatura

2.1.5 Manobras técnicas

"Provavelmente não há nenhuma outra área da medicina


manual onde se verifique maior confusão de terminologia do
que em massagem" (Rechtien et ai., 2002, p.564). Nesta
confusão, encontramos diversos termos, em lingua
portuguesa, para descrever cada uma das manobras técnicas
utilizadas em massagem. Também encontramos terminologia
francófona em consequência de ter sido para este idioma que
foram feitas as primeiras traduções, no Ocidente, dos
escritos sobre as técnicas de massagem desenvolvidas no
Oriente. Faremos a descrição das quatro manobras básicas
mais comuns, derivadas do sistema sueco de massagem.

Deslizamento (effleurage)
Consiste em deslizar as mãos ou partes delas sobre a
pele. Pode ser superficial ou profundo, sendo o superficial
feito com uma pressão leve e o profundo com uma pressão
mais forte. O superficial pode ser feito em qualquer
sentido, devendo o profundo ser feito na direcção do fluxo
venoso ou linfático, (Rechtien et ai., 2002).

Amassamento (pétrissage)
O movimento de amassamento consiste na compressão de
um grupo muscular, músculo, ou parte de um músculo. Deve-se
aplicar pressão na área a trabalhar, diminuir essa mesma
pressão, progredir para uma área adjacente e repetir o
processo (Wood e Becker, 1984). Este movimento pode ser
feito amassando o segmento a ser tratado com uma mão
apenas, ou entre as duas mãos, ou fazendo pressão contra um
osso.

22
Revisão da literatura

Percussão (tapotement)
Consiste em percutir alternadamente as mãos ou partes
delas sobre a região a ser tratada. Pode ser feito com os
dedos, com a borda ulnal da mão ou com as mãos ora
espalmadas, ora em concha, ou fechadas em punho. Segundo
Atchison et ai. (1996) citados por Rechtien et ai. (2002,
p.565), "ela é feita ritmica, delicada e rapidamente."

Fricção
Alguns autores definem fricção como sendo uma manobra
subtilmente distinta de uma outra, classificada como
vibração. Outros consideram-nas como uma mesma manobra.
Optámos por colocá-las como sendo a variação de uma mesma
manobra e denominá-la genericamente fricção.
Segundo Wood e Becker (1984), a fricção pode ser
realizada com toda ou parte proximal da palma da mão, com a
superficie palmar da falange distai do polegar, ou com os
dedos. Segundo Pinheiro (1998, p.114), "a sua execução é
feita através da transmissão sequencial de pressão e
relaxamento, repetida de forma deslizante, ou num ponto
fixo. Pode ser lenta ou rápida; superficial ou profunda".

2.1.6 Efeitos

A massagem desencadeia efeitos mecânicos, reflexos e


psicológicos. O tipo de efeito vai depender do tipo de
manobra realizada, do momento de sua aplicação e da
condição da pessoa massajada.

Efeitos mecânicos
São os efeitos decorrentes de uma alteração directa no
sistema que está a ser massajado.

23
Revisão da literatura

A nível do sistema circulatório, segundo Pinheiro


(1998, p.110), os efeitos predominam "nas componentes
linfática e venosa, com facilitação de drenagem e
mobilização dos fluidos intersticiais". Esta ideia é
complementada por Rechtien et ai. (2002), dizendo que a
pressão mecânica sobre o tecido mole deslocará quaisquer
líquidos que não estejam quimicamente ligados pelo tecido
ou fisicamente presos por compartimentação.
Ao nível da temperatura, de acordo com Pinheiro (1998,
p.110), acontece um aumento decorrente "do atrito
manipulative e secundariamente da vasodilatação loco-
regional".
"A acção mecânica da massagem promove a libertação de
aderências tissulares (tendão e bainha sinovial; músculo e
aponévrose; fascículos musculares e faseias conjuntivas;
cicatrizes cutâneas e tecidos circundantes) e a resolução
de infiltrados fibromiálgicos" (Pinheiro, 2002)

Efeitos reflexos
Segundo Wakim (1985), citado em Rechtien et ai.
(2002), através da estimulação dos receptores cutâneos e
possivelmente dos receptores dos fusos nos músculos
esqueléticos superficiais produzem-se impulsos que atingem
a medula, provocando uma resposta com efeitos diversos.
Ideia corroborada por Pinheiro (1998), dizendo que os
movimentos da massagem estimulam os mecano-receptores,
sensíveis à deformabilidade tissular, contribuindo para uma
mais completa consciencialização do movimento.
A nível dos dermátomos, a estimulação de diversos
tipos de receptores condiciona a elaboração de arcos
reflexos, com graus de complexidade variável, dando origem
a modificações biológicas de natureza funcional

24
Revisão da literatura

(vasculares, metabólicas, neurofisiológicas) em estruturas


à distância (Pinheiro, 1998).
Já para Knapp (1994), os referidos efeitos reflexos
são produzidos na pele através da estimulação de receptores
periféricos, tendo como consequência a transmissão de
impulsos através da medula espinal para o cérebro e
provocando sensações de prazer ou relaxamento. (...) Esses
efeitos agradáveis provocam o relaxamento do músculo assim
como uma redução da tensão mental.

Efeitos psicológicos
Segundo Pinheiro (1998, p.112), os efeitos
psicológicos são "indissociáveis do contacto interpessoal
estabelecido pela técnica manual. Trata-se de uma forma
simbólica de comunicação, transmitindo também afecto,
confiança e consciencialização da imagem corporal".

2.1.7 Componentes da massagem

Além da técnica da massagem propriamente dita, há


outros elementos, presentes numa sessão de massagem,
importantes para sua eficácia. Passamos a referir alguns
deles.

Ritmo
0 ritmo pode ser lento, quando se objectiva uma
massagem sedativa, calmante, ou rápido, quando se pretende
uma activação.

Duração
Para Rechtien et ai. (2002), a duração de uma sessão
depende da tolerância do individuo a ser massajado, da área
que está a ser tratada e dos objectivos da massagem.

25
Revisão da literatura

0 objectivo pretendido pode levar à necessidade de


definir um programa de massagens, que pode durar de uma
semana a vários meses.

Direcção
A direcção deve ser habitualmente centrípeta, para
respeitar o retorno venoso e linfático. Quando se aplicam
manobras superficiais, como o deslizamento superficial,
pode ser centrífuga pois não irá interferir na circulação.

Pressão
A pressão leve é indicada para sedar, relaxar e ajudar
na diminuição de espasmos, e a pressão pesada é indicada
para activar sistemas e quebrar aderências, de acordo com a
opinião de Rechtien et ai. (2002) e de Pinheiro (1998).

Frequência
Depende do objectivo do tratamento e da técnica
empregue, podendo implicar a aplicação mais de uma vez por
dia ou apenas uma vez por semana.

2.1.8 Indicações

A indicação de massagem é decorrente dos efeitos que


ela provoca no organismo, conforme acima referido. Pode ser
aplicada como forma de cura de problemas específicos, como
coadjuvante a outras modalidades de tratamento ou como
recurso preventivo.
Marx e Camargo (1986) indicam-na para o tratamento dos
edemas linfáticos.
Massada (1989) sugere-a para cãibras e contracturas
musculares, miogeloses e fases subagudas de uma rotura

26
Revisão da literatura

muscular, tendo cada um destes sintomas o seu tratamento


especifico.
Gecsedi (2002), recomenda massagem terapêutica para
pacientes com câncer, considerando as especificidades do
individuo e de sua patologia. Martin e Gamble (1994),
utilizando a massagem como recurso coadjuvante, prescrevem-
na para linfoedema crónico pós-mastectomia, para capsulite
adesiva no ombro e para artrite reumatóide nas mãos, ombros
e joelhos. Cada prescrição precisa de ser individualizada e
actualizada na medida em que a mudança na condição do
paciente requer variações e a progressão da forma do
tratamento.

Em relação ao paciente idoso, Hong e Tobis (1994,


p.1206) indicam a massagem "para aliviar edema, dor e
tumefacção em lesões dos tecidos moles, e reduzir escaras e
aderências."
Em relação ao desporto é dito por Horta (1995) que a
massagem pode ser usada em fases distintas, como a pré-
competitiva, ou logo após a competição, sendo feita nas
massas musculares mais solicitadas; no alivio das dores
musculares difusas, que aparecem mais intensamente 24 horas
após a competição; e nas contracturas musculares pós-
competitivas. Pinheiro (1998) indica-a numa perspectiva
preparatória do exercido fisico, favorecedora da
continuação do exercido e recuperadora no fim da
actividade fisica.
Cady e Jones (1997) sugerem a massagem para a redução
dos indicadores do stress fisiológico. Para pacientes
portadores de fibromialgia a massagem apresenta-se
eficiente na redução da intensidade da dor e melhora da
qualidade de vida (Marques et ai., 2001). Para Rechtien
(2002), a massagem poderá ser indicada para aumentar o

27
Revisão da literatura

fluxo sanguíneo local, diminuir a dor ou rigidez


musculares, prevenir ou eliminar aderências, facilitar o
relaxamento.

2.1.9 Contra-indicações

Com o desenvolvimento científico, confirmam-se as


certezas sobre a variedade de indicações terapêuticas da
massagem. Mas, consequentemente, apuram-se também as noções
sobre as suas contra-indicações, sendo algumas destas
relativas e outras absolutas.
Como contra-indicação relativa, Rechtien et ai. (2002)
incluem o tratamento de tecido cicatricial que não está
completamente curado; o caso de pacientes com medicação
anticoagulante, ou que sofrem de distúrbios de coagulação;
a existência de tecidos moles calcificados; tecido
inflamado; pele atrófica; e tecido susceptível ao
aparecimento de edema adicional se a circulação for
aumentada pela técnica de massagem. Por seu lado, Knapp
(1994) sugere que a massagem seja feita com cuidado em
indivíduos debilitados e em áreas onde a pele tenha sido
lesada por queimaduras ou esteja fina por outras razões.
Entre as contra-indicações absolutas estão as
patologias infecciosas, neoplásicas, cutâneas e vasculares
arteriais, referidas por Hong e Tobis (1994), Pinheiro
(1998), e Rechtien et ai. (2002). Para Horta (1995), quando
numa situação de competição o atleta faz uma lesão músculo-
tendinosa provocando inflamações, roturas ou hematomas, a
massagem não está indicada nos primeiros dias.

28
Revisão da literatura

2.20 toque manual

Para abordar a importância do toque para o ser humano,


precisamos de discorrer sobre algumas questões que dizem
respeito à pele, ao tacto e à mão.

2.2.1 A pele

Segundo Montagu (1988,p.21), a pele "é o mais antigo e


sensível dos nossos órgãos, o nosso primeiro meio de
comunicação, o nosso mais eficiente protector". Recobre a
superficie do corpo e é constituída por duas camadas: a
epiderme, que é superficial, e a derme, mais profunda.
Abaixo e em continuidade com a derme está a hipoderme, que
não faz parte da pele, apenas lhe servindo de suporte e
união com os órgãos subjacentes. No organismo já formado,
"a pele é um dos maiores órgãos atingindo 16% do peso
corporal" (Junqueira e Carneiro, 1995, p.301).

Os estudos sobre embriologia humana feitos por Langman


(1985) mostram que a epiderme, tal como os sistemas nervoso
central e periférico - elos de comunicação com o meio
exterior, tem origem no ectoderma, o mais externo dos três
folhetos embrionários. Percebemos assim que a camada
superficial da pele e o sistema nervoso central têm uma
origem embrionária comum, distanciando-se durante a
formação do feto até se tornarem, respectivamente, a
estrutura mais externa e a mais interna no organismo humano
completo. Apesar dessa distância, continuam conectados e em
permanente comunicação, permitindo que os estímulos
exercidos sobre a pele cheguem automaticamente ao sistema
nervoso central. Essa ideia é clarificada por Montagu
(1988, p.23), quando diz que "o sistema nervoso é uma parte

29
Revisão da literatura

escondida da pele ou, ao contrário, a pele pode ser


considerada como a porção exposta do sistema nervoso".

A pele tem múltiplas funções: protecção do organismo


contra a perda de água por evaporação, contra a invasão
bacteriana, a radiação ultravioleta (UV), a abrasão fisica
dos tecidos subjacentes; colabora na termo-regulação do
corpo; participa na excreção de várias substâncias; é
fundamental na formação da vitamina D e tem importante
papel nas respostas imunitárias do organismo aos alérgenos
que entram em contacto com ela. Apresenta estruturas
anexas, que são os pêlos, unhas, e glândulas sudoríparas,
sebáceas e ceruminosas (Junqueira e Carneiro, 1995;
Tortora, 2000).

Além das funções fisicas, a pele tem também um


importante papel a nivel psíquico. Gieler (1988, p.62)
defende que "a pele não só filtra as influências externas
tornando-as acessíveis ao interior do corpo como também
actua como representante das experiências internas". O
mesmo autor cita Borelli, que diz que a pele como órgão
psíquico de reacção tem cinco importantes funções no
desenvolvimento do self: órgão limite entre a pessoa e o
ambiente; órgão de contacto com o ambiente; órgão
sensorial; órgão de impressão; e órgão de expressão, face
ao ambiente.
Para Shildrick (2002), a pele funciona como uma bolsa
que contém os instrumentos fisico e psíquico, como um
envelope para o self, e ao mesmo tempo como uma barreira
protectora entre o self e as potenciais ameaças externas.

30
Revisão da literatura

2.2.2 O tacto

Na evolução dos sentidos, o tacto foi, sem dúvidas, o


primeiro a surgir. 0 sistema táctil é o primeiro sistema
sensorial a tornar-se funcional em todas as espécies até o
momento pesquisadas - ser humano, mamíferos e aves
(Montagu, 1988). Os corpúsculos tácteis e a derme têm
origem embrionária no folheto mesodérmico, que também dá
origem ao sistema muscular, sistema ósseo, tecidos
conjuntivos e cartilaginosos, entre outros (Langman, 1985).

Informações referentes ao ambiente interno e externo


do organismo são constantemente enviadas ao sistema nervoso
central por meio dos órgãos dos sentidos. Essas informações
são captadas por receptores, que, no caso especifico do
tacto, são sensíveis à pressão e vibração. Esses receptores
são os discos tácteis ou corpúsculos de Merkel, corpúsculos
do tacto ou corpúsculos de Meissner, corpúsculos de
Ruffini, corpúsculos de Vater-Pacini e terminações livres
ao redor dos folículos pilosos (Junqueira e Carneiro, 1995;
Tortora, 2000).

Os sentidos visão, audição, paladar e olfacto estão


confinados a pequenas partes do corpo como olhos, ouvidos,
lingua e nariz, respectivamente, enquanto que o tacto se
distribui por toda a superficie corporal, inclusive sobre
as áreas aonde estão localizados os outros sentidos. O olho
pode ver sem ser visto, o ouvido escuta sem ser ouvido, mas
o tacto é ao mesmo tempo tocado por aquilo que toca, e esse
duplo tocar produz uma reflexão do tocar sobre si próprio
(Brun, 1990).

31
Revisão da literatura

Para Davis (1991), o sentido do tacto reside na nossa


pele e no nosso cérebro e a sensação (táctil) refere-se
tanto ao contacto fisico quanto à emoção.

Durante o processo de envelhecimento registam-se


alterações fisiológicas que afectam esta capacidade:
diminui o número dos corpúsculos de Meissner; no sistema
nervoso há perda de células e de fibras, reflectindo numa
menor acuidade do sentido do tacto, da capacidade de
localizar com exactidão os estímulos, da velocidade de
reacção aos estímulos tácteis; e perda da grande
sensibilidade existente nas superficies palmares das mãos.

2.2.3 A mão

Durante quatro milhões de anos a mão humana evoluiu


até se converter no instrumento mais perfeito que se pode
encontrar na natureza. Elemento fundamental na
sobrevivência e evolução da espécie humana, foi através
dela que o homem pôde construir os primeiros utensílios
para satisfação das suas necessidades, seja para uso
pessoal, defesa contra predadores ou para a caça. Há 2500
anos, o filósofo grego Anaxágoras afirmou que o homem é o
mais razoável dos animais porque possui mãos e Aristóteles
dizia que a mão é a ferramenta das ferramentas (Madeira,
2002).

Proporcionalmente de tamanho pequeno em relação ao


corpo, a mão é composta por mais de 260 elementos, entre
ossos, músculos, ligamentos e nervos. Os seus 27 ossos
garantem um grande número de articulações. A organização
esférica, em conjunto com a oposição do dedo polegar aos

32
Revisão da literatura

outros quatro dedos, possibilita uma infinidade de


movimentos (Piret e Béziers, 1992).
Nos desenhos ou mapas somatópicos do homúnculo
sensorial e motor, denota-se uma extensa área de
representação da mão, especialmente do dedo polegar
(Montagu, 1988), justificando a sua grande sensibilidade e
mobilidade.

0 filósofo Immanuel Kant (1724 - 1804) chamava à mão


cérebro humano externo, acrescentando o psicólogo Revesz
(1959) que a mão é frequentemente mais inteligente e dotada
que a cabeça (Montagu, 1988). A junção de uma versátil
acção mecânica com uma refinada sensibilidade torna a mão o
mais eficiente instrumento para cuidar do ser humano. Para
Ramm-Bonwitt (2002), as mãos são as ferramentas mais
sensíveis e os membros mais expressivos do ser humano, para
além de um importante meio de comunicação.
Sendo o órgão máximo do tacto e do tocar, a mão é ao
mesmo tempo tocante e tocada, e essa relação dialéctica
possibilita-lhe, no exacto momento em que está tocando, ser
informada sobre as respostas a esse mesmo toque, podendo,
quando necessário, modificar a qualidade da sua acção ou
até interrompe-la (Brun, 1990).

2.2.4 O toque

Para Davis (1991, p.43), "o contacto fisico não é


apenas um estimulo agradável, mas uma necessidade
biológica. Pode-se defini-lo também como estimulação
táctil, contacto corporal, sensibilidade táctil ou ânsia
por pele". Esta acepção é reforçada por Chapman (2000),
usando a expressão "fome de tacto".

33
Revisão da literatura

0 feto tem a pele constantemente estimulada durante os


nove meses de gestação, as contracções uterinas
intensificam a experiência táctil e o parto proporciona uma
massagem que vitaliza a criança que nasce (Davis, 1991).
Para Anzieu (1989), citado por Schildrick (2002, p.109),
"ainda antes do nascimento as sensações cutâneas introduzem
o bebé num mundo de grande riqueza e complexidade, um mundo
ainda difuso, mas que desperta o sistema de percepção-
consciência, formando a base para um sentido de existência
e abrindo a possibilidade de um espaço psiquico". Estas
teses são também defendidas por Montagu (1988), lembrando
que o feto é constantemente estimulado pelo fluido
amniótico e pelas crescentes pressões de seu próprio corpo
contra as paredes do útero, garantindo as contracções
uterinas durante o trabalho de parto, além de outras
funções vitais, uma série de maciças estimulações cutâneas
destinadas a activar e assegurar o funcionamento apropriado
dos sistemas de manutenção. O trabalho de parto e o parto
em si preparam o bebé para o funcionamento pós-natal.

A estimulação cutânea desencadeada no momento do parto


envolve o seguinte processo: a contracção do útero sobre o
corpo do feto estimula os nervos periféricos sensoriais
localizados na pele; os impulsos nervosos assim iniciados
são conduzidos para o sistema nervoso central onde, nos
niveis apropriados, são mediados pelo sistema nervoso
vegetativo (autónomo) até chegarem aos diversos órgãos que
inervam. Se a pele não tiver sido adequadamente estimulada,
os sistemas nervosos periférico e autónomo também são
inadequadamente estimulados e ocorre uma deficiência de
activação dos principais sistemas de órgãos (Montagu,
1988) .

34
Revisão da literatura

Segundo Keating (1987, p.368), "a capacidade da


criança para organizar as impressões sensoriais é à
nascença muito reduzida. Durante as primeiras semanas não
existem percepções organizadas, as sensibilidades
propioceptivas, interoceptivas e exteroceptivas não
adquiriram ainda significado". É através das experiências
de prazer/ insatisfação que uma primeira organização começa
a ter lugar: a distinção entre sensações agradáveis -
ligadas aos cuidados maternos - e as desagradáveis -
ligadas à ausência. Spitz (1973), citado em Keating (1987),
por seu lado, reforça o papel do olhar como percepção à
distância oposta à percepção de contacto, a forma
privilegiada de relação nos primeiros anos de vida. Através
do toque, segundo Brun (1990, p.124), podemos "partir à
aventura para sondar a dimensão que separa cada um de nós
do que não é".
Na vida pós-natal, a pele é uma superficie
extraordinariamente sensivel que regista as sensações do
mundo externo e transmite ao bebé informações sobre o seu
estado de ser. Assim, a pele funciona como órgão de
comunicação (Shildrick, 2002). O individuo carente a nivel
táctil sofrerá de uma deficiência de feedback da pele para
o cérebro (Montagu, 1988).

Em pesquisas realizadas com mamíferos, os animais


acariciados respondem com uma maior eficiência funcional na
organização de todos os sistemas do corpo. Os não
acariciados não conseguem atingir a organização que se
expressa na eficiência funcional e, portanto, são em todos
os sentidos menos aptos a enfrentar os ataques e lesões
oriundos do meio ambiente. A estimulação cutânea é uma
importante necessidade biológica tanto para o

35
Revisão da literatura

desenvolvimento fisico como para o comportamental (Montagu,


1988).
Halliday (1948), citada por Montagu (p.103, 1988),
afirma que, podendo "os primeiros meses imediatamente após
o nascimento serem considerados como continuação directa do
estado intra-uterino, há necessidade da manutenção de um
intimo contacto corporal com a mãe, para que sejam
satisfeitas as exigências dos sentidos cinestésico e
muscular".

Para o bebé, e no que toca especificamente à


amamentação ou sua forma substituta, não é somente o tipo
de alimento que importa, mas também o comportamento da mãe
como um todo, durante a situação de alimentação. Esta ideia
é defendida por Davis (1991, p.52), quando diz que "o
contacto fisico proporciona à criança um forte sentimento
de segurança psicológica, confiança, aconchego e bem-estar,
ajudando a superar o medo e a sensação de isolamento". O
contacto fisico em si não é uma emoção, mas os seus
elementos sensoriais induzem alterações neuronais,
glandulares, musculares e mentais que, combinadas,
denominamos emoção (Montagu, 1988).

Sartre (s.d.), citado por Dolto (1978, p.30), diz: "Ao


acariciar alguém, faço nascer a sua carne pela caricia dos
meus dedos. A caricia é o conjunto das cerimónias que
encarnam esse alguém".
Para Pruzinsky (1990), desde os primeiros momentos, a
qualidade emocional da experiência táctil das crianças
começa a influenciar o desenvolvimento da sua identidade,
incluindo o delinear do importante limite entre o self e o
mundo.

36
Revisão da literatura

Várias pesquisas mostraram que bebés prematuros


estimulados tactilmente através de caricias tiveram
respostas positivas no que diz respeito a ganho de peso,
movimentação corporal, respiração, entre outros factores
observados (Montagu, 1988). Prescott (s.d.), citado por
Davis (1991), realizou um estudo sobre práticas de contacto
corporal de 49 culturas primitivas e descobriu uma
correlação entre os baixos niveis de afecto infantil e os
altos niveis de violência.

Apesar de a infância ser o período durante o qual o


toque é mais importante, o ser humano continua a precisar,
para o seu desenvolvimento, de ser tocado ao longo de toda
a vida. No entanto, e geralmente, no processo de
crescimento infantil o contacto fisico vai-se tornando
gradualmente mais restrito. Durante a adolescência, segundo
Davis (1991), a necessidade básica de tocar e ser tocado
torna-se não apenas uma busca pessoal por satisfação
sensorial, mas também uma procura simbólica de amor, de
intimidade, de segurança, aceitação, aconchego e confiança.
Para Brun (1990), o tocar é, com efeito, muito mais do que
um sentido do contacto: é o sentido da presença e leva à
experiência do encontro. Quando, com a sua mão, o homem
toca, tenta emigrar da sua corporeidade para ir ao encontro
de outro, e tal experiência termina com um regresso a si
mesmo, já que pelo tocar, o homem é incessantemente
reenviado ao seu eu.

Através de pesquisas realizadas com adolescentes


grávidas, McAnarney (1984), citada por Montagu (1988),
chegou à conclusão de que a privação do toque leva o jovem
a buscar uma compensação através da prática sexual (e,
consequentemente, à gravidez). Lowen (1969), também citado

37
Revisão da literatura

por Montagu (1988), verificou mesmo que "mulheres afectadas


por falta de estimulação táctil na primeira etapa de suas
vidas se dedicaram posteriormente a actividades sexuais
numa tentativa de conseguir um pouco de contacto com seus
próprios corpos".

Em fases posteriores da vida, as oportunidades de


contacto fisico diminuem ainda mais. Tendencialmente, o
toque nos idosos acontece apenas de forma funcional ou
profissional. A pele apresenta as mais ostensivas
evidências do envelhecimento: enruga, fica manchada, sofre
mudanças na pigmentação, seca, perde a elasticidade.
Havendo na nossa sociedade uma hiper valorização da
juventude e da beleza, não existe incentivo para o toque em
objectos ou pessoas que não se integrem nos cânones do
esteticamente agradável. Muitos idosos ficam portanto
sujeitos a uma crescente ausência de contacto táctil. Em
algumas situações, por exemplo, quando o marido ou a esposa
morre, o contacto fisico para o sobrevivente pode cessar
quase totalmente. Entretanto, as necessidades tácteis não
parecem diminuir com a idade mas sim mudar. Montagu (1988)
sustenta que, com a actividade sexual diminuída na velhice,
a necessidade táctil fica mais forte, pois é a única
experiência sensual que permanece. É nessa época, quando
voltamos a depender mais dos outros, que se evidencia mais
a necessidade de ser abraçado, de ter um braço em volta dos
ombros, de ser levado pela mão - de ser acariciado e ter
oportunidade de corresponder à caricia.

Montagu (1988) faz uma classificação dos tipos de


toques: o toque social, que acontece em situações públicas;
o toque passivo, quando o organismo é tocado; e o toque
activo, no qual o organismo toca.

38
Revisão da literatura

Davis (1991) refere que os aspectos sociais podem


influir na restrição do contacto fisico; a nossa
consciência social limita-o a ocasiões simbólicas e
socialmente aceitáveis como os diversos rituais de
aniversário, casamento, etc., no desporto, nas
demonstrações de hostilidade, no exercício profissional e
na prestação de serviços de cuidados pessoais.
Brun (1990) detalha, por seu lado, que o tocar activo
implica a vontade e o desejo de seguir uma superficie e de
desposar uma forma; o tocar ausculta e exprime a aventura
do eu, para lá das fronteiras e da sua finitude encarnadas
pelo seu organismo.
Para Pruzinsky (1990), o toque é um extremamente
poderoso meio de comunicação. Muitas emoções estão
associadas ao toque, das sensações sexuais até à religião
(e.g., o posicionamento das mãos durante uma oração), como
é afirmado por Riscalla (1975), citado por Pruzinsky
(1990).

Vivendo num sistema económico que privilegia a


propriedade privada, essa mesma relação de delimitação é
transferida para a esfera pessoal, restringindo a troca de
contacto fisico. De acordo com Shildrick (2002), no tipo de
especulação que privilegia a separação, o toque é algo que
sinaliza um potencial perigo. Além disso, algumas religiões
condenam o contacto fisico, associando-o ao prazer e ao
pecado. Em contra-partida, considerando os diversos efeitos
benéficos do toque, diversas abordagens de terapias
corporais e de psicoterapia somatopsiquica (e.g.,
Integração Estrutural, Técnica de Alexander, Análise
Bioenergética) têm usado o toque como elemento facilitador
do desenvolvimento do limite corporal e da imagem corporal
(Pruzinsky, 1990).

39
Revisão da literatura

Pessoas que apresentam enfermidades transmissíveis


através do contacto com os seus corpos ou fluidos
corporais, como os pacientes com SIDA ou VIH-positivo,
demonstraram que, por adoptarem atitudes de protecção de
terceiros ou porque os outros têm medo de lhes tocar,
desenvolvem uma maior fome táctil do que pacientes VIH-
negativo (Chapman, 2000).

Pelas evidências expostas, fica claro que as


experiências tácteis desempenham um papel de fundamental
importância no crescimento e desenvolvimento do ser humano,
constituindo uma necessidade que o acompanha por toda a
vida.

2.3 Imagem corporal

2.3.1 Conceito de imagem corporal.

O conceito de imagem corporal é um processo que muda


ao longo do tempo e com as diversas situações da vida
(Baptista, 1995).
A primeira pessoa a conceituar imagem corporal foi
Paul Schilder em 1935, referido por Vasconcelos (1995). O
autor define-a como sendo o desenho que, na mente, formamos
do próprio corpo; ou seja a forma como vemos o nosso corpo.
Esta imagem corporal altera-se ao longo do tempo e segundo
as situações, sendo influenciada por um variado conjunto de
experiências sensoriais.

40
Revisão da literatura

Percebemos assim, em função da definição apresentada,


que a imagem corporal tem como característica a
possibilidade de adquirir diferentes formas, ideia
defendida por Vasconcelos (1995, p.76), ao afirmar que
"este conceito é plástico, está em constante mudança e
modifica-se continuamente pelo crescimento, trauma ou
declínio corporais, sendo ainda mais significativamente
influenciado pelas interacções com o envolvimento social".
Scheerer (1954), citado por Shontz (1990), diz que a
imagem corporal é uma estrutura central de sinais e traços
de diversos órgãos do sentido, que são integrados num
esquema ou modelo plástico.
Para Fenichel (1945), referido por Pruzinsky (1990), a
imagem corporal é a soma total das representações mentais
do corpo e dos seus órgãos, constituindo a ideia de "Eu" e
sendo de importância básica para a formação do ego. Segundo
Pruzinsky (1990), a separação psicológica entre o mundo e o
individuo, a criação do limite da imagem corporal, é
mediada pela experiência táctil.
Para Dolto (1978, p.22), "a imagem do próprio corpo
forma-se a partir de fragmentos, que se vão constituindo em
zonas privilegiadas". Num dado momento, a criança toma
consciência, nas suas relações com aqueles que a rodeiam,
das partes privilegiadas do seu corpo. Essa consciência
corporal, segundo Montagu (1988), é produzida pela
estimulação do corpo, principalmente através da pele, desde
o nascimento, ou mesmo antes.

Ampliando este conceito, para Keating (1987, p.367),


"a imagem do corpo é algo mais do que resíduos de sensações
e percepções, é algo mais do que um somatório de impressões
cinestésicas. A imagem corporal é, essencialmente, a
consciência de si". Todo o seu desenvolvimento, sujeito a

41
Revisão da literatura

fixações e regressões, traduz a maleabilidade e a


permanente desestruturação / reestruturação a que está
sujeita a imagem corporal. Keating (1987) cita Schontz
(1969) que diz que "a imagem corporal é parte do ego e
também algo ao qual o ego reage; é sujeito e também objecto
da actividade mental; (...) é uma estrutura e também um
processo".
Segundo Dillon (1978) e Mahler e McDevitt (1982),
citados por Pruzinsky (1990), nascemos com um corpo, mas
não com um sentido do self. 0 sentido de self, de ser
distinto e ter uma existência independente dos objectos
inanimados e das outras pessoas, é baseado na experiência
de ser incorporado.
Krueger (1990) sustenta que imagem corporal é
operacionalmente definida como a representação mental do
self corporal. Essas representações não estão limitadas a
imagens visuais, mas abrangem o esquema de todos os dados
sensoriais, internamente e externamente, derivados das
experiências processadas e representadas dentro de um
aparato psíquico maduro.
Para Krueger (1989) e Mahler e McDevitt (1982),
citados por Pruzinsky e Cash (1990), o desenvolvimento da
imagem corporal é baseado nas interacções com as primeiras
pessoas que cuidaram de nós, ideia também defendida e
ampliada por Abrantes (1998, p.58), que cita Lutter et ai.
(1990), referindo que a imagem corporal começa a formar-se
"ao longo da infância e evolui ao longo da vida, a partir
de atitudes dos pais, dos colegas e mais tarde dos
parceiros e companheiros de trabalho. As atitudes destas
pessoas que nos rodeiam, em relação aos nossos corpos,
reflectem normalmente o pensamento dominante, veiculado em
cada sociedade acerca dos vários tipos de figuras
corporais". Pruzinsky e Cash (1990), sublinham que a

42
Revisão da literatura

influência social sobre a imagem corporal continua ao longo


de toda a vida.

Para Mezzette e Pistoletti (1988), a imagem corporal é


a representação que um individuo tem do seu corpo e das
diferentes partes deste. Este conceito implica o
conhecimento da estrutura física, do movimento e das
funções do corpo, e das posições que o corpo adopta quando
entra em relação com outras pessoas ou objectos.
Bruchon-Schweitzer (1987) citado por Garcia (1989,
p.127), acrescenta que o termo imagem corporal se "refere
as atitudes, sentimentos e experiências que o indivíduo
acumulou a propósito do seu corpo e que são integradas numa
percepção global".
Para Pruzinsky e Cash (1990) citados em Cash e
Pruzinsky (1990), a imagem corporal engloba percepções,
pensamentos e sensações do corpo e da vivência corporal.
Resulta por isso numa experiência muito personalizada ou
subjectiva, não havendo necessariamente na imagem corporal
uma correlação entre a impressão (subjectiva) e a realidade
(objectiva). Várias pesquisas indicam claramente que a
experiência do corpo envolve a percepção da aparência,
tamanho, posição espacial, dos seus limites, da
competência, e da questão de género, (Cash e Pruzinsky,
1990). Para Fisher (1990), a atenção do indivíduo pode
mover-se de um para outro desses componentes ou,
simultaneamente, estar em um ou mais planos.

Considerando o desenvolvimento do ser humano como um


processo permanente e dinâmico, podemos dizer que, "de
acordo com as experiências actuais e anteriores, o sujeito
elabora face ao seu corpo uma série de julgamentos,
atitudes, sentimentos, ou seja, uma representação mental do

43
Revisão da literatura

seu corpo, à qual chamamos de imagem corporal", segundo


Serra (1986) citado por Oliveira (1996, p.9).
Para Sobral (1996, p.234), a imagem corporal é "a
representação mental que um individuo possui do seu próprio
corpo, logo, um conceito também ele dinâmico, evoluindo ao
longo da vida segundo a experiência pessoal e a intervenção
de numerosas influências exteriores".
Abrantes (1998, p.77), autor que também investigou
neste domínio, sustenta que "a imagem corporal, além de ser
influenciada por factores intrínsecos ao próprio individuo,
é influenciada, ou até mesmo condicionada, por imposições
sociais, culturais e económicas. Entre estes
condicionamentos estão, por exemplo, os ideais de beleza
veiculados no meio em que cada individuo está inserido".
Para Gardiner et ai. (1998, p.126), "imagem corporal
refere-se assim ao conceito que alguém faz de sua aparência
fisica".
Festas (2002, p.15) acrescenta que "a imagem corporal
está fortemente associada ao aspecto fisico do individuo,
transportando informações básicas a seu respeito, tais como
o sexo, o grupo etário, o estatuto sócio-económico ou a
profissão, determinando a formação de estereótipos
corporais". Entre os atributos fisicos determinantes está a
pele, tão importante para a imagem corporal que muitas
pessoas consomem muito tempo e dinheiro para recuperar uma
aparência mais jovem (Tortora, 2000).

Sendo o carácter plástico e dinâmico da imagem


corporal determinado tanto por estímulos externos como
pelos estímulos internos, o seu balanço é constantemente
alterado. Dolto (1978) exemplifica referindo que no homem
doente ou ferido a imagem do corpo se altera. Aliás, a
imagem corporal está directamente enraizada, segundo

44
Revisão da literatura

Keating (1987), na teia sobre a qual o psiquismo se instala


e organiza, mantendo com o corpo, permanentemente, uma
relação de reciprocidade. Corpo e mente constituem-se como
agentes e objectos de uma unidade somato-psiquica, que,
quando ameaçada, deixa entrever a fragilidade da
organização corporal e da imagem do corpo.

2.3.2 Percepção da imagem corporal

A percepção remete para a maneira como construímos o


nosso mundo a partir de uma variedade infinita de estímulos
disponíveis (Pruzinsky, 1990).
A percepção que temos do próprio corpo nem sempre
corresponde ao corpo real. Para Pruzinsky e Cash (1990), o
modo como percebemos e experienciamos o nosso corpo dá-nos,
significativamente, conta do modo como nos percebemos a nós
mesmos. Por vezes, verifica-se uma sobrestimação, outras
uma subestimação, seja no todo corporal ou relativa a
segmentos específicos. Furlong (1977), citada por Fisher
(1986), encontrou nas suas investigações vários factores
que influenciam esse fenómeno, vivido de forma diferente
segundo o género. No caso feminino, verifica-se que o
estatuto sócio-económico e nivel educacional podem afectar
significativamente a percepção do corpo (os homens
mostraram uma tendência de estabilidade na estimativa do
tamanho dos seus corpos). A mesma autora refere ainda que a
maioria das mulheres sobrestima a largura da cintura, e
isto é evidente tanto em mulheres que querem fazer uma
operação plástica como nas que não pretendem fazer uma
intervenção desse tipo.

Segundo Vasconcelos (1995), citando Kreitler e


Kreitler (1988), na infância formam-se duas imagens

45
Revisão da literatura

distintas, a imagem corporal e a imagem facial. Na idade


adulta o desenvolvimento da imagem corporal continua com
uma tendência para a fusão da imagem corporal e da imagem
facial.
Em relação à percepção de partes do corpo, Fisher
(1986) cita o resultado a que chegaram alguns
investigadores, como Shontz, que verificou a existência de
padrões na sobre / suJbestimação da percepção de áreas
especificas. A largura da cabeça e o comprimento do
antebraço são frequentemente sobrestimados; o comprimento
da mão e do pé são subestimados. Shontz confirma que,
geralmente, as mulheres sobrestimam a largura da cintura
mais do que os homens. Um outro investigador, Nash,
observou que a distância do umbigo aos pés e do entrepernas
para os pés são geralmente subestimadas. Hester refere que
o tamanho do antebraço é usualmente subestimado. Gellert
demonstrou que o tamanho de cabeça é frequentemente
sobrestimado, em todas as idades.

Fisher (1986) registou que vários factores podem levar


o sujeito a sobrestimar o tamanho corporal: a demasiada
importância dada a uma parte do corpo pelo seu valor
funcional; o ser obeso; a gravidez; a ingestão de uma
refeição hiper-calórica; a necessidade de compensar
sentimentos de inferioridade psicológica.
Os dois géneros têm uma atitude contrastante em
relação ao tamanho dos seus corpos. Enquanto os homens
querem ser mais largos, as mulheres querem ser mais
delgadas, Fisher (1970), citado por Fisher (1986).

Hallinan e Schuler (1993) citam algumas investigações


sobre a relação entre prática de actividade fisica e
percepção da imagem corporal: Salusso-Deonier e

46
Revisão da literatura

Schwartzkopf (1991) perceberam que a prática regular de


exercício melhora a percepção corporal em mulheres e
homens. Nos seus estudos feitos com atletas e não atletas,
Rossi e Zoccolotti (1979), citados por Hallinan e Schuler
(1993) e por Fisher (1986), concluíram que os atletas
geralmente eram mais precisos na estimativa do tamanho dos
seus corpos. Ambos os grupos sobrestimaram o tamanho da
cabeça e do antebraço e subestimaram o tamanho do pé e da
mão.

Aspectos psicológicos podem ter influência sobre a


percepção corporal. Fisher (1986) descreve uma correlação
entre o tamanho e o valor atribuído a uma parte do corpo. A
sobrestima que as mulheres evidenciam em relação ao tamanho
da cintura pode ser uma expressão de insatisfação com algum
aspecto específico do self. Cleveland et ai. (1962), e
Furlong (1977), citados em Fisher (1986), verificaram que
as pessoas que têm uma orientação intelectual e por isso
prestam especial atenção à cabeça (como suposto local da
intelectualidade) mostram tendência para sobrestimar o
tamanho da cabeça. Shontz (1969), referido em Fisher
(1986), detectou correlações significativas entre o tamanho
atribuído a uma parte do corpo e sua funcionalidade. Outros
parâmetros também importantes na estimativa do tamanho de
uma parte do corpo são a mobilidade e o grau de musculação,
entre outros (Fisher, 1986). Nesses casos há uma tendência
para sobrestimar o tamanho atribuídos à essas partes
corporais.
Bowerw e Van der Meulen (1970), referidos em Fisher
(1986), verificaram que a hipnose induzida produz vagas
sensações de mudança no tamanho aparente das partes do
corpo, e Barber e DeMoor (1972), também citados em Fisher
(198 6) registaram que o simples estar sentado quieto com os

47
Revisão da literatura

olhos fechados é suficiente para criar sensações de mudança


no tamanho do corpo.

Quando as pessoas obesas passam por uma rápida mudança


nos seus corpos, por exemplo através de uma dieta rigorosa
em que perdem muitos quilos em pouco tempo, têm tendência
para continuar a atribuir ao corpo o tamanho que tinham
antes. Isso pode ser compreendido, segundo Fisher (1986),
pelo facto de terem ficado durante longo tempo acostumados
a uma mesma condição.

2.3.3 Satisfação com a imagem corporal

Para Gardiner et ai. (1998), a satisfação com a imagem


corporal resulta de comparações feitas com um padrão ou
ideal implícito que varia de uma cultura para outra. Fallon
(1990) sugere que a satisfação com a imagem corporal parece
variar em função do estádio de desenvolvimento do individuo
e da sua idade. Entre os vários factores que influenciam a
satisfação com a imagem corporal destacam-se a idade, o
sexo, a prática ou não de actividade fisica, o estado geral
de saúde e o tipo de estimulação táctil que se recebe.

Muitos aspectos da relação das crianças com os pais


passam pela satisfação, excitação ou inibição das sensações
corporais. As crianças constroem o modelo de relação com os
outros fortemente influenciadas pelo vocabulário corporal,
assim como também aprendem a fazer julgamentos em relação a
questões básicas da imagem corporal: boa ou ruim, atractiva
ou ameaçadora (Fisher, 1986).
Como resultado de uma investigação feita com
adolescentes, Jacob (1994) sugeriu que, numa comparação
entre sexos, os rapazes têm uma maior satisfação com a

48
Revisão da literatura

imagem corporal do que as raparigas. Fazendo uma comparação


intra-classe, verifica-se que tanto os rapazes quanto as
raparigas com 13 anos têm maior satisfação do que os seus
semelhantes com 15 anos, evidenciando a tendência para a
diminuição da satisfação com a imagem corporal nos
adolescentes mais velhos.

Entre homens e mulheres adultos, continuamos a


encontrar diferenças em relação à satisfação com a imagem
corporal. Segundo Fisher (1986), há uma consistente e
significativa tendência para as mulheres expressarem menos
satisfação do que os homens, sendo o mesmo confirmado por
Festas (2002) . Ainda para Fisher (1986), nas mulheres a
auto-estima está relacionada com a questão da atracção
exercida pelo seu corpo, que as leva a ter mais preocupação
com a parte externa e a preocuparem-se mais com as roupas,
acessórios corporais e cosméticos. Nos homens, a auto-
estima está mais relacionada com a eficácia, o que os leva
a ter maior preocupação com as áreas internas do corpo e a
preocuparem-se mais do que as mulheres com o
desenvolvimento da força, agilidade e velocidade. Em
relação a partes especificas do corpo, mostra o mesmo autor
que as mulheres apresentam uma maior insatisfação com as
ancas, a cintura e as coxas, e os homens com a região
abdominal.

Em relação à actividade fisica e à participação em


programas de exercício, a imagem do corpo assume um
interesse particular pois "o individuo actua mais em função
da imagem do corpo que se representa do que da sua
configuração efectiva" (Sobral, 1996, p.234).
Schilder (1950), citado por Fisher (1986), atribui
grande importância à prática de actividade fisica na

49
Revisão da literatura

determinação da imagem corporal. Reforçando esta ideia,


Fisher (1986) refere algumas pesquisas que utilizaram
técnicas variadas na tentativa de fazer as pessoas
sentirem-se mais positivas em relação aos seus corpos.
Verificando-se que a prática de actividade fisica, como
yoga, movimento exploratório e mimica, por exemplo,
contribuíram para um aumento na satisfação com a imagem
corporal.

A relação entre saúde e imagem corporal é também


objecto de várias pesquisas. Como esperado, pessoas
fisicamente doentes tem uma satisfação com a imagem
corporal relativamente baixa (Fisher, 1986). 0 autor cita
diferentes trabalhos científicos que provam isso mesmo:
esta relação foi mostrada por Kurtz e Hirt (1970) através
de uma comparação entre 40 mulheres hospitalizadas e 20
mulheres não hospitalizadas; Schwab e Harmeling (1968)
encontraram esta mesma relação numa pesquisa feita com 124
pacientes médicos; e Johnson (1956) demonstrou que a
satisfação corporal era significativamente correlacionada
negativamente ao número de queixas corporais.

Factores emocionais também interferem na imagem


corporal. Fisher (1986) refere alguns estudos que mostram
esta relação: Apfeldorf et ai. (1974) observaram uma
correlação positiva entre satisfação com a imagem corporal
e o ajustamento emocional; Jaskar e Reed (1963) observaram
que a satisfação com a imagem corporal era relativamente
baixa em pacientes psiquiátricos hospitalizados; e Goldberg
e Folkins (1974) verificaram que a satisfação com a imagem
corporal estava negativamente correlacionada com
sentimentos como ansiedade e depressão, em estudantes.

50
Revisão da literatura

Garcia (1989) estabelece uma relação entre a


insatisfação com a imagem corporal e baixa auto-estima e
cita Jussin et ai. (1987) que dizem que os indivíduos com
uma auto-estima elevada, tendem a avaliarem-se mais
favoravelmente mesmo quando apresentam uma performance
semelhante ou inferior aos indivíduos com baixa auto-
estima. 0 uso do corpo como um instrumento para realçar o
self, é também um meio para encobrir e negar os próprios
defeitos; o corpo é usado como uma fachada que apresenta
funções de camuflagem, (Fisher, 1986). E, para Cunha e
Silva (1997, p.lll), "a auto-imagem distorcida, a perda do
contorno, da fronteira, é um factor de ansiedade".
Sobral (1996, p.234) salienta que "a imagem corporal
acompanha-se geralmente de um conteúdo afectivo que a liga,
de um modo indissociável, à satisfação com o corpo próprio
e aos sentimentos mais profundos que a pessoa manifesta a
respeito de si mesma, na sua relação com o mundo e com os
outros".

2.3.4 Imagem corporal da pessoa idosa

Com o crescimento e o envelhecimento, os nossos corpos


mudam, e cada estágio do desenvolvimento tem associação com
marcadores da imagem corporal, como é dito por Fisher
(1986) citado em Pruzinsky e Cash (1990).
Durante o desenrolar da meia-idade, há um conflito
entre a negação do processo de envelhecimento e a aceitação
da perda de um corpo antes cheio de juventude. A resolução
deste conflito leva ao redimensionamento da imagem corporal
e a uma avaliação mais realista desta fase da vida, de
acordo com Colarusso e Nemiroff (1981), citados por
Pruzinsky e Cash (1990). Como as alterações vão ocorrendo
ao longo de anos e, em regra, as mudanças corporais

51
Revisão da literatura

graduais são de mais fácil acomodação do que as abruptas, a


maioria dos indivíduos consegue aceitar esta mudança
(Pruzinsky e Cash, 1990).
Apesar das preocupações com as questões somáticas,
incluindo possíveis doenças que possam aparecer, uma
surpresa que as pesquisas revelam é a de que, ao invés do
estereótipo imaginado, não é norma que as pessoas que
chegam à terceira idade venham a ter uma diminuição da
satisfação com o corpo. Isso surpreende porque geralmente
se pensa que, com o avançar da idade e as consequências que
a mesma traz, incluindo um declínio na saúde, o idoso venha
a ver o seu corpo mais e mais negativamente.
Para a cultura ocidental contemporânea, envelhecer
implica uma difícil submissão à deterioração do corpo. O
envelhecimento aparece como uma ameaça para a integridade
da imagem corporal existente, segundo Fisher (1986) . Nesse
quadro, para o senso comum, seria característica dos idosos
terem uma percepção negativa dos seus corpos. A literatura
cientifica mostra que isto não é uma regra.

Fisher (1986) refere várias pesquisas que não


encontraram um elevado número de distúrbios ou disfunções
na imagem corporal dos idosos. Num estudo feito por Schwab
e Harmeling (1968) com 124 sujeitos de ambos os sexos, os
autores verificaram no grupo dos homens apenas uma fraca
correlação positiva entre a idade e a insatisfação com o
corpo, enquanto que no grupo das mulheres houve uma
completa ausência dessa relação. Berscheid et ai. (1973),
analisaram dois mil questionários aplicados a jovens e
idosos, que avaliavam o grau de satisfação relativo a 25
diferentes aspectos corporais e não encontraram diferenças
em função da idade. Numa investigação feita pelo próprio
Fisher sobre o grau de definição do limite corporal,

52
Revisão da literatura

comparando adultos (idade média de 36 anos) e idosos (idade


média de 67 anos), não foi encontrada diferença na
satisfação com a imagem corporal entre os dois grupos.
Gray (1977), citado por Hallinan e Schuller (1993),
chegou à conclusão, a partir de um estudo feito com pessoas
de ambos os sexos, entre 18 e 60 anos, de que há uma
tendência para uma maior satisfação com a forma corporal
com o avançar da idade. Cash et ai. (1986), citados em Cash
(1990), confirmam que a satisfação com a imagem corporal
não diminui com o envelhecimento, uma vez que as pessoas
transferem a sua atenção da aparência para a saúde e para o
bem-estar fisico.

Segundo Hallinan e Schuler (1993), a forma corporal


ideal para as mulheres idosas, como para as mulheres
jovens, é significativamente menor do que suas formas
corporais reais. E, segundo os mesmos autores, existe uma
tendência para a diminuição da diferença entre a forma
corporal ideal e a real no grupo etário entre 80 e 88 anos.
Os autores salientam que com mulheres idosas, as que
praticavam exercido mostraram uma grande diferença na
percepção da forma do corpo real e do corpo ideal em
relação às que não praticavam nenhuma actividade fisica.
Num estudo efectuado por Cash et ai., citados em Alves
(2003, p.76), "a partir de uma amostra de 30.000 elementos
do sexo feminino, com o objectivo de determinar as atitudes
relativas ao próprio corpo e verificar se a idade as
influencia significativamente, os autores concluíram que as
adolescentes e as jovens com 20 anos de idade eram quem
mais se preocupavam com a própria aparência. Dos 30 aos 60
anos, conforme a idade aumentava, ocorria um decréscimo
acentuado. A partir dos 60 anos, o interesse pela aparência
voltava a aumentar".

53
Revisão da literatura

2.4 Interacção entre massagem e imagem corporal

2.4.1 Massagem e imagem corporal

Com a evolução que sofreu ao longo da sua história, e


mais recentemente no século XX, conseguimos hoje discernir
claramente o que é massagem, enquanto recurso técnico para
cuidar do ser humano através de manobras com os seus
componentes, efeitos, indicações e contra-indicações, do
que é o toque feito vulgarmente, nas relações afectivas,
profissionais ou casuais entre as pessoas. Apesar dessa
distinção, nas histórias destes campos houve um
entrelaçamento que se faz presente ainda hoje: o encontro
das mãos com o corpo da outra pessoa, comum aos dois
elementos em estudo (massagem e toque). Na maioria dos
casos, um simples toque é muito diferente do que
compreendemos por massagem, mesmo sabendo que por vezes
funciona como tal, desencadeando respostas semelhantes
(e.g., quando uma mãe dá banho a um filho, acariciando a
sua pele). Para Dolto (1978, p.30), " o tocar e o massajar
têm o mesmo significado. Dito por outras palavras, a
expressão caricia manual, utilizada pelos psicólogos e
pelos filósofos, representa para nós a massagem."

Para analisar o efeito que a massagem terapêutica tem


sobre a imagem corporal, começaremos por ver o efeito que o
toque, elemento fundamental da primeira, tem neste
fenómeno. Como já vimos, ainda antes do nascimento, "a
experiência mais precoce, mais elementar e mais dominante
do bebé é a táctil", Davis (1991, p.35). Nos primeiros
meses após o nascimento continua a ser o tacto a forma mais
eficiente de comunicação do / com o bebé, numa relação

54
Revisão da literatura

dialéctica na qual ao mesmo tempo em que apreende o mundo


vai desenvolvendo a percepção de si, incluindo tudo o que
implica esse ser. 0 toque é sempre reversível, pois uma mão
que toca é também tocada, como refere Merleau-Ponty (1968)
citado por Shildrick (2002, p.lll), e nesse processo o bebé
vai-se também reconhecendo pelo contacto com o corpo do
outro ou através dos objectos que toca.

Tanto o toque recebido por outros quanto o auto-toque


terão influências sobre a construção da imagem corporal.
Para Anna Freud (1965), citada por Montagu (1988, p.203),
no inicio da vida, "ser tocado de leve, aconchegado no colo
e tranquilizado pelo tacto ajuda a consolidar uma imagem
corporal e um ego corporal saudáveis". Para Davis (1991,
p.52), "ao tocar o próprio corpo, uma criança contribui
para sua imagem corporal". Essa auto-exploração liga-se
tanto à sensação do corpo como às reacções dos outros a tal
iniciativa. Keating (1987, p.372) salienta que, a partir do
segundo semestre do primeiro ano de vida, "as regiões do
corpo onde os contactos recíprocos são mais frequentes
através da exploração manual vão ser mais facilmente
identificadas e unificadas numa imagem corporal ainda
bastante fragmentada".
Da evidência tangível do corpo da mãe, da existência
de um universo na ponta dos dedos, em sentido muito real, o
bebé passa para o desenvolvimento da consciência do seu
próprio corpo e do da progenitora. Aquilo que o bebé tiver
aprendido pela exploração do corpo da mãe é usado como
fundamento de aprendizagens subsequentes a respeito de seu
próprio corpo, investigando-o principalmente com suas mãos.
Através desse processo fica claro que a imagem corporal que
fazemos de nós mesmos é, em grande medida, baseada nas
nossas experiências tácteis da infância, subsequentemente

55
Revisão da literatura

reforçadas pelas experiências feitas ao longo da meninice


(Montagu, 1988). Segundo Pruzinsky (1990), no processo de
separação da fusão simbiótica com a mãe e de
individualização em que o bebé assume as suas
características pessoais, há duas influências criticas que
são o toque (mediatizado através da pele) e o movimento
(mediatizado através da propriocepção).

Para Fenichel (1945), citado por Pruzinsky (1990),


devido à ocorrência simultânea da experiência táctil
externa com a dos dados sensoriais internos, o corpo do
individuo torna-se algo separado do resto do mundo e assim
o discernimento entre o self e o não-self" torna-se
possível. Esta ideia foi complementada pelo próprio
Pruzinsky (1990), acrescentando este que o senso inicial de
self é baseado na experiência das sensações tácteis e
cinestésicas.
0 corpo como entidade autónoma "faz-se a si próprio,
mas no estabelecimento de um conjunto de relações e
cumplicidades com o meio" (Cunha e Silva, 1998b, p.35). 0
corpo "organiza-se a partir da construção de um regime de
trocas com o exterior" (Cunha e Silva, 1998b, p.35), e um
dos canais para esta troca é a relação táctil. Para Ong
(1967), citado por Montagu, o tacto atesta a existência de
uma realidade objectiva, de alguma coisa fora, que não eu
mesmo. E, no entanto, pelo próprio facto de atestar o não-
eu mais do que qualquer outro dos sentidos, o tacto implica
também uma maior subjectividade. Quando sinto esta coisa
objectiva "do lado de fora", além dos limites do meu corpo,
também experimento ao mesmo tempo o meu próprio ser. Sinto
o outro e eu mesmo, simultaneamente.

56
Revisão da literatura

Sigmund Freud (1923), citado por Gieler (1988),


defende que o ego é, em última instância, derivado das
sensações corporais, podendo ser considerado como a
projecção mental da superficie do corpo". Ringel (1960) e
Panse (1970) referidos em Gieler (1988, p.63), afirmam que
"o ego humano é formado pela imagem corporal pessoal,
principalmente derivada da percepção da superficie". Para o
próprio Gieler (1988), a pele tem importância biunivoca
para a imagem corporal humana: por um lado, uma mudança na
pele pode ter um efeito secundário na personalidade (...)
e, por outro lado, processos intra-psiquicos podem
manifestar-se através dela. Entender a linguagem da pele
pode-nos ajudar a compreender muito sobre a experiência
corporal do individuo.
A compreensão da imagem corporal como uma estrutura em
processo de mudança é sublinhada por Sobral (1996, p.234),
quando diz que "a imagem do corpo não é apenas a fotografia
subjectiva desse mesmo corpo, a impressão reflectida
passivamente das nossas dimensões e forma, peso e textura,
mas uma construção permanente".

Para Pruzinsky e Cash (1990), a transformação na


imagem corporal pode ocorrer em muitas dimensões: alteração
fisica, mudança na experiência corporal, mudança nas
reacções emocionais para com o corpo, ou mudança nos
aspectos cognitivos e comportamentais da imagem corporal.
Schilder (1950), citado por Fisher (1990), analisou em
profundidade os efeitos das variáveis que exercem impacto
sobre a imagem corporal e, entre elas, faz referência ao
ser tocado como um estimulo que promove mudança na mesma.
Segundo Pruzinsky (1990), a perspectiva somato-
psiquica assume que, se a meta é mudar a percepção e o
sentimento de um individuo em relação ao seu corpo (i.e.,

57
Revisão da literatura

imagem corporal), então trabalhar directamente com o corpo


é o mais eficiente recurso para atingir esta meta. Entre as
abordagens somato-psiquicas, o autor inclui a massagem
terapêutica, dentro do grupo de técnicas de manipulação
corporal orientada. Dolto (1978) complementa esta ideia ,
sugerindo que o trabalho através de manipulação visa
restituir ao corpo a sua unidade, reajustar as peças
soltas, cuja coordenação constitui o conceito de organismo.

Cunha e Silva (1999, p.25) afirma que "o corpo, esta


estrutura que nos habituamos a entender como equilibrada,
harmónica e simétrica, afinal, quando inspeccionada de um
lugar sem preconceitos, revela-se o inverso. (...) Ele só
ganhará se for visto numa perspectiva desconstrutivista,
que o recupera na sua desarmonia, na sua assimetria, no seu
desequilíbrio". A massagem terapêutica é um recurso que
pode interferir nesse processo continuo de construção da
imagem corporal, delineando o contorno deste território,
fazendo a sua "fisiografia" através de estímulos de
impressão sensorial, dando informações ao corpo sobre o seu
lugar.

2.4.2 Massagem e percepção da imagem corporal

A construção da imagem corporal passa, entre outros


aspectos, pela percepção que se tem dos limites deste
corpo, limites estes dados em primeira instância pela pele.
Gieler (1988, p.62-63) diz que "a pele como órgão fisico e
psíquico de contacto, define o limite entre o eu e o
ambiente". Para Dolto (1978, p.36), "as sensações cutâneas
confrontam-nos com os nossos limites exteriores".

58
Revisão da literatura

Falar de pele é falar também de tacto, e este também é


responsável pela percepção da nossa imagem corporal.
Segundo Tayler (1921) citado por Montagu (1988), o maior
sentido do nosso corpo é o tacto, que nos informa sobre a
profundidade, a espessura e a forma. Através deste sentido
somos capazes de discriminar as imagens internalizadas de
nossos segmentos corporais. Esse processo começa muito
cedo, até antes do nascimento e desenvolve-se ao longo da
vida. Como diz Dolto (1978), temos necessidade do contacto
fisico para desenvolver a consciência e a sensibilidade do
corpo. No bebé, em torno da sucção, enquanto composição
cutânea ou táctil de experiências, são organizadas as
primeiras percepções (Montagu, 1988). Para Shildrick
(2002), os processos fisiológico e psicológico vêm juntos,
e neles a pele é menos um limite do que um órgão de
comunicação, uma passagem ou um ponto de cruzamento, tanto
para o self como para o outro (não-self) .
Nem sempre estamos devidamente conscientes da
importância da pele para a imagem corporal. No entanto,
alterações ou anormalidades patológicas nesta superficie
dão conta dessa importância. Gieler (1988, p.66) afirma
mesmo que "na maioria dos casos, as pessoas tomam
consciência da sua pele só quando esta se desvia da norma
em relação a estrutura, forma ou cheiro". Desta maneira "a
pele e suas doenças podem providenciar uma oportunidade
para tornar conscientes os sinais de um self-corporal
inconsciente", continua o autor, citando Teengen (Gieler,
1988, p.67).

Montagu (1988), falando da relação entre contacto e


individuação, diz que a percepção de si mesmo é em grande
medida uma questão de experiências tácteis. Segundo Ortega
y Gasset (1957), citado por Montagu (1988, p.128), "tacto e

59
Revisão da literatura

contacto são necessariamente o factor mais conclusivo na


determinação da estrutura de nosso mundo". Dolto (1978,
p.30) citando Sartre (s.d.) diz que "a caricia não é um
simples afloramento da carne mas sim um modo de lhe dar
forma".
Através do tacto e das diversas técnicas orientadas de
manipulação terapêutica que o envolvem, como a massaqem,
pode-se portanto ajudar a construir a imagem corporal,
interferindo nas suas variáveis físicas e psíquicas.
Pinheiro (1998) salienta que entre os efeitos psicológicos
da massagem há a consciencialização da imagem corporal.
"Nas relações entre o paciente e o massagista, estabelece-
se uma sensibilização progressiva em direcção ao
imperceptível" (Dolto, 1978, p.19). Segundo Fisher (1986),
o interior do corpo representa para muitas pessoas um
mistério, uma região desconhecida com conotações
ameaçadoras. A massagem tenta que o paciente, que já não se
sente pertença de si próprio mas antes sente profundamente
a dispersão da sua unidade, volte a ser ele mesmo (Dolto,
1978)
Esta unidade acontece também, em termos
neurofisiológicos, como refere Ajuriaguerra (1970), citado
por Abrantes (1998, p.50), como resultado da tomada de
consciência do corpo na sua totalidade e respectivas
partes, através da forma como o corpo é sentido e
experimentado.
Para Cunha e Silva (1998a, p.36), "a percepção é já
uma construção subjectiva, é uma significação, logo um
processo activo, e não uma mera atitude contemplativa".
Considerando os efeitos da massagem citados anteriormente,
esta revela-se uma forma activa de interacção, constituindo
um meio privilegiado para a tomada de consciência do corpo

60
Revisão da literatura

e um importante recurso no processo de percepção da imagem


corporal.

2.4.3 Massagem e satisfação com a imagem corporal

A satisfação com a imagem corporal é fruto do balanço


entre questões culturais, a relação parental e o tipo de
contacto fisico que se recebe, com as questões próprias do
corpo, como o tipo étnico, a idade, o peso, a prática de
actividade fisica e condições gerais de saúde. A massagem
terapêutica pode interagir como elemento externo,
contribuindo para o desenvolvimento de relação positiva com
o corpo e com a sua imagem.
Desde os primeiros momentos da vida, essa satisfação
passa pela qualidade do toque que se recebeu. Através desse
meio de comunicação (e.g., através dos cuidados com o
corpo), a mãe pode transmitir aceitação amorosa, carinho e
um sentido de segurança, ou pode transmitir o oposto
(Pruzinsky, 1990). O toque é um componente essencial do
bem-estar do bebé (Shildrick, 2002).

A satisfação com a imagem do corpo está dependente de


aspectos objectivos e de factores subjectivos. Há, por um
lado, uma avaliação (objectiva) que a própria pessoa faz
sobre a aparência externa e sobre a condição interna, a
saúde por exemplo, e, por outro, uma avaliação subjectiva
que envolve algumas questões como a representação que o
corpo tem no meio cultural aonde se está inserido, ou a
auto-estima relativa ao próprio corpo. Para Garcia (1989),
citando Levinson et ai. (1986), a imagem corporal resulta
de uma avaliação subjectiva, podendo ser afectada, entre
outros, por indicadores fisicos e pela posição social.

61
Revisão da literatura

Dolto (1978, p.29) sustenta que "tocar todos os pontos


do corpo é um acto tranquilizador, pois permite,
eventualmente, confirmar a integridade desse mesmo corpo,
quando o individuo, no seu inconsciente, receia que ele
esteja fragmentado".

A massagem, com as suas técnicas variadas do gesto,


opera uma conversão no doente, oferecendo-lhe a mão que o
toca a paz e o repouso (Dolto, 1978) . Numa investigação
feita com três pacientes com mastectomia, Brendin (1999)
verificou que a aplicação de massagens foi útil para
resgatar a satisfação com a imagem corporal.
Reforçando essas afirmações, diversos estudos
desenvolvidos têm chegado à conclusão de que a ausência de
toque contribui para um efeito negativo na imagem corporal.
Numa pesquisa realizada com pacientes VIH-positivo e com
SIDA, por exemplo, Chapman (2000) constatou uma relação
directa entre o não ser tocado suficientemente e a
expressão de uma imagem corporal negativa.
Embora o toque como forma de intervenção tenha um
formidável potencial de apoio, ajudando as pessoas a
sentirem-se mais positivas consigo e com seus corpos,
devemos estar sempre conscientes da possibilidade do seu
emprego incorrecto, como tal, devemos certificarmo-nos de
que ele é bem executado e da abertura do individuo para ser
tocado (Chapman, 2000).
O trabalho desenvolvido sobre os diversos sistemas
fisiológicos deixa o organismo mais saudável e, por
consequência, melhor na sua aparência a nivel estético.
Isso tem reflexos não só em termos pessoais, mas também é
percebido e comentado por terceiros, contribuindo, como
estimulo externo complementar, para uma imagem corporal
global mais positiva.

62
Ill - OBJECTIVOS E HIPÓTESES
Objectivos e hipóteses

III - Objectivos e hipóteses

3.1 Objectivo geral

- Analisar o efeito de um programa de massagem na percepção


e na satisfação com a imagem corporal.

3.2 Objectivos específicos

- Investigar as diferenças na percepção da imagem corporal


entre o Grupo Experimental e o Grupo Controlo, nos dois
momentos da avaliação de um programa de massagem.

- Investigar as diferenças na satisfação com a imagem


corporal entre o Grupo Experimental e o Grupo Controlo nos
dois momentos da avaliação de um programa de massagem.

3.3 Hipóteses

Hl: A experiência de massagem acarreta mudanças


significativas na percepção da imagem corporal.

H2: A experiência de massagem acarreta mudanças


significativas na satisfação com a imagem corporal.

65
Objectivos e hipóteses

66
IV - M E T O D O L O G I A
Metodologia

IV - Metodologia

4.1 Caracterização do estudo

A presente investigação constitui um estudo


longitudinal de concepção quase-experimental, analisando a
influência da massagem terapêutica sobre a imagem corporal
tendo como amostra o idoso feminino.

4.2 Caracterização da amostra

4.2.1 Escolha da população

A população do nosso estudo é constituída por idosos


residentes ou frequentadores de um Lar. Essa escolha foi
feita por duas ordens de razão: (i) ser um grupo de pessoas
que provavelmente seriam pouco tocadas corporalmente; (ii)
por estes indivíduos apresentarem disponibilidade de tempo
e de local para se submeterem à parte prática do estudo.
Realizamos o trabalho no Lar da Associação de São
Nicolau, na Ribeira do Porto. Esse Lar foi seleccionado
pela grande disponibilidade demonstrada pela Direcção em
contribuir para o estudo, dando autorização verbal e total
apoio, após termos entregue uma cópia do Projecto a ser
desenvolvido.

4.2.2 Critérios de selecção

Inicialmente fizemos uma triagem através das fichas


clinicas dos idosos, para seleccionar os que apresentassem

69
Metodologia

um quadro que possibilitasse a participação no estudo.


Foram excluídos os indivíduos que apresentaram as
seguintes características: impossibilidade fisica e/ou
perturbações mentais clinicamente diagnosticadas; submissão
a terapia medicamentosa que dificultasse ou impedisse a
capacidade de apreensão da proposta e a possibilidade de se
integrarem ao trabalho prático; terem planeado alguma
actividade que interrompesse a participação completa na
programação das actividades.
No âmbito do processo de selecção dos grupos que
fizeram parte do estudo, fomos apresentados pela Direcção
do Lar aos indivíduos que são residentes e aos que o
frequentam como Centro de Dia. Nesse momento fizemos uma
explanação sobre o trabalho a ser desenvolvido, dizendo
inclusive que seriam formados dois grupos, o Grupo
Experimental (GE) e o Grupo Controlo (GC) , no que
consistiria o trabalho e a importância de cada grupo. A
inclusão nos grupos deu-se de forma voluntária.

4.2.3 Selecção da amostra

Como o objectivo de tornar o grupo mais homogéneo


possível, e como só apareceu um único voluntário do sexo
masculino, formamos os dois grupos exclusivamente com
indivíduos do sexo feminino.
A amostra foi composta por um total de 15 indivíduos,
sendo oito do Grupo Experimental, com idades variando dos
58 aos 81, e sete do Grupo Controlo, com idades variando
entre os 66 e 85 (Quadro IV- 1).

70
Metodologia

Quadro I V - 1 - Número de i n d i v í d u o s e r e s p e c t i v a s i d a d e s (x±sd, valores


mínimo e máximo) .

Grupos N x±sd Minimo Máximo


Experimental 8~~ 72,3818,34 58 81
Controlo 7 77,00±5,77 66 85

No Grupo Experimental, apenas um dos indivíduos é


r e s i d e n t e no Lar, o mesmo ocorrendo no Grupo Controlo. Os
demais moram nas suas próprias casas, alguns sós e outros
com familiares (Quadro IV-2).

Quadro I V - 2 - T i p o d e r e s i d ê n c i a (número e p e r c e n t a g e m de i n d i v í d u o s ) .

Em casa
Grupos No Lar Mora só Mora com familiares

Experimental 1(12,5%) 3(37,5%) 4(50%)


Controlo 1(14,3%) 3(42,85%) 3(42,85%)

Em relação à vivência de contacto f i s i c o com outras


pessoas, no Grupo Experimental quatro indivíduos mantinham
algum t i p o de contacto e quatro não. No Grupo Controlo dois
indivíduos mantinham algum t i p o de contacto f i s i c o e cinco
não tinham qualquer forma de contacto (Quadro IV-3).

Quadro I V - 3 - Relação com o contacto fisico (número e percentagem de


indivíduos).

Grupos ~ N Mantêm c o n t a c t o f i s i c o Não mantêm c o n t a c t o fisico


Experimental 8 " " " ' " 4(50%) 4(50%)
Controlo 7 5(71,42%) 2(28,57%:

71
Metodologia

Quanto a actividade fisica sistematizada, nenhum


individuo, quer do Grupo Experimental quer do Grupo
Controlo a praticou durante a aplicação das massagens. Em
relação a fisioterapia, dois indivíduos em cada grupo
estavam sob tratamento (Quadro IV-4).

Quadro IV-4 - Prática de actividade fisica e de fisioterapia (número e


percentagem de indivíduos).

Grupos N Actividade física Fisioterapia


Experimental 8 0(0,0%) 2(25%)
Controlo 7 0(0,0%) 2(28,57%)

Foram dadas individualmente aos membros dos dois grupos,


explicações detalhadas sobre o trabalho a ser desenvolvido.
Para que os sujeitos da pesquisa pudessem dar o seu
consentimento para participarem da mesma e para que
percebessem o seu objectivo e a metodologia, assim como os
seus direitos, foi entregue, tanto no Grupo Experimental como
no Grupo Controlo, o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, com essas explicações (Anexo 1). Este Termo foi
elaborado a partir da Resolução N° 196 de 10 de Outubro de
1996 da Comissão de Ética em Pesquisa do Conselho Nacional De
Saúde do Ministério da Saúde do Brasil (CONEP) . Os Termos
foram assinados em duas vias, ficando uma com o investigador
e a outra com o individuo. Com os indivíduos que não sabiam
1er, foi lido para os mesmos o conteúdo do Termo. Todos
sabiam assinar.
Aos participantes do Grupo Experimental foi pedido que
consultassem os respectivos médicos, o que foi feito, tendo
todos os indivíduos recebido dos clínicos autorização
verbal para participarem no trabalho.

72
Metodologia

4.3 Material e métodos

Cada elemento dos dois grupos foi sujeito a duas


avaliações, uma no inicio e outra no final do trabalho, com
um intervalo de doze semanas entre uma e outra. Na
avaliação inicial, foram aplicados os Questionário de
Identificação Pessoal, Dados Gerais de Saúde e de
Actividade Fisica (Anexo 2); o Body Size Estimation Method
- BSEM de Kreitler e Kreitler (1988), (Anexo 3); e o Body
Image Satisfaction Questionnaire - BISQ de Lutter et al.
(1990), (Anexo 4). Após as doze semanas, foi feita uma
reavaliação dos resultados obtidos anteriormente,
relativamente aos dados gerais de saúde e actividade
fisica, e reaplicados o BSEM e o BISQ.
Considerando a informação da Direcção do Lar de que
alguns dos indivíduos não sabiam 1er, optámos por perguntar
directamente e preenchermos as respostas dos questionários
de todos os indivíduos.

4.3.1 Questionário de identificação pessoal, dados gerais


de saúde e de actividade fisica

Este questionário foi por nós elaborado para obtermos


dados que permitiram efectuar a caracterização geral da
amostra no tocante a: sexo, idade, dados antropométricos
(peso e altura), local de residência, relação com o tocar e
o ser tocado, a prática ou não de actividade fisica, a
qualidade do sono e sobre a saúde geral do paciente e
possíveis tratamentos a que estivessem a ser sujeitos.
Esse questionário teve os seguintes objectivos: colher
dados mais precisos sobre cada individuo, para poder
respeitar as suas especificidades na hora da aplicação das
massagens; sondar a relação com as variáveis toque corporal

73
Metodologia

e prática de actividade fisica, que poderiam interferir na


avaliação final; e para fazer uma análise comparativa ao
final do trabalho no tocante a qualidade de vida dos
indivíduos.
Uma semana após a aplicação da última sessão de
massagem, com objectivo de verificar possíveis alterações,
foram controlados alguns dados deste Questionário como o
peso, local de residência, relação com o tocar e o ser
tocado, a prática ou não de actividade fisica, eventual
tratamento fisioterápico, a qualidade do sono, a saúde
geral e possíveis tratamentos a que os sujeitos estivessem
submetidos.

4.3.2 Avaliação da percepção da imagem corporal

Para a avaliação da percepção da imagem corporal foi


utilizado o Body Size Estimation Method - BSEM,
questionário de Kreitler e Kreitler (1988), já traduzido e
adaptado para esta população especifica por Festas (2002).
O BSEM consiste em pedir ao sujeito uma estimativa do
comprimento e largura de partes corporais com a ajuda das
suas mãos ou dos seus dedos. A proximidade ou o afastamento
das suas mãos ou dedos delimitam o tamanho das várias
estruturas, podendo ser mensuráveis. O objectivo é mostrar
o tamanho das partes corporais percepcionadas.
Todas as medidas foram feitas de pé, com os indivíduos
de olhos fechados, de forma a obter-se as melhores
representações, evitando a comparação com objectos externos
ou com o próprio corpo. Entre as medidas, os sujeitos
puderam abrir os olhos.
Para a estimativa da altura, os sujeitos foram
instruídos a levantar o braço preferido e mostrar a sua

74
Metodologia

altura, definida pela distância que vai da palma da mão ao


chão.
Para a estimativa da largura dos ombros, cintura e
ancas, os sujeitos foram instruídos a, com os cotovelos
flectidos a 90 graus, afastar os antebraços e com as palmas
das mãos mostrar os três tamanhos referidos.
Para a estimativa da mão, do pé e da face, os sujeitos
foram instruídos a sustentar os braços à frente, com os
cotovelos flectidos confortavelmente, fechar os dedos e com
os indicadores esticados mostrar o tamanho da distância
percepcionada.
Para a estimativa da testa, do nariz, da orelha e da
boca, os sujeitos foram instruídos a, com o seu braço
preferido, cotovelo flectido confortavelmente, mostrar a
distância com os dedos polegar e indicador.
A medição foi feita imediatamente após a execução da
demonstração, usando o instrumento mais adequado com
unidades métricas, medindo a distância interna entre as
pontas dos dedos ou entre as palmas das mãos.
Após as medições das estimativas percepcionadas,
utilizando antropómetros, efectuou-se a medição dos
tamanhos reais das partes corporais anteriormente
estudadas.
Para a análise das diferenças percepcionadas e reais,
utilizaremos o indice de percepção corporal (IPC). Este é
calculado da seguinte forma: IPC = (tamanho
percebido/tamanho real) * 100. Com este indice, qualquer
valor igual a 100 corresponde a uma estimativa do tamanho
correcta, valores acima de 100 correspondem a uma
sobrestima do tamanho e valores inferiores a 100
correspondem a uma subestima do tamanho, Ruff e Barrios
(1986), citados por Festas (2002).

75
Metodologia

4.3.3 Avaliação da satisfação com a imagem corporal

Para a avaliação da satisfação com a imagem corporal


utilizamos o Body Image Satisfaction Questionnaire - BISQ,
questionário desenvolvido por Lutter et al. (1990),
referidos por Festas (2002). Este questionário foi
traduzido e adaptado para a população portuguesa por
Abrantes (1998), tendo o estudo de fiabilidade para a
população especifica (idosos na cidade do Porto) sido feito
por Festas (2002).
Partimos para o nosso estudo usando a versão de Festas
(2002). Este questionário é constituído por 22 itens. Para
cada item, existem cinco possibilidades de resposta: 1- Não
gosto nada e desejaria ser diferente; 2- Não gosto mas
tolero; 3- É-me indiferente; 4- Estou satisfeito; 5-
Considero-me favorecido. Quanto mais elevado for o valor
final obtido, maiores serão os indices de satisfação da
imagem corporal que o individuo apresenta.
No item Seios/Peitorais mantivemos apenas Seios, por
ser a nossa amostra exclusivamente feminina.
Considerando a especificidade do nosso estudo, mudamos
o item Dentes para Boca, porque os dentes não são tocados
enquanto que a região bocal sim.
Não utilizamos o item Porte (usado por Festas), devido
à sua semelhança com o item Postura. Acrescentamos um
outro item, Sensação geral, por abranger o corpo no seu
total e estar directamente relacionado com o trabalho de
massagem.
Excluímos o item Nível de energia por considerarmos
que há muita semelhança com o item Resistência.
Incluímos os itens Pescoço, Mãos e Pés, que não
estavam no questionário base e que são importantes no
trabalho de massagem.

76
Metodologia

4.3.4 Protocolo de massagem

A nossa investigação teve uma parte experimental, que


consistiu no Protocolo de massagem, constituído por doze
sessões padronizadas, semanais, com duração aproximada de
uma hora. Este Protocolo foi aplicado entre as duas
avaliações.
Tivemos a preocupação de fazer um programa semelhante
para todos os participantes da amostra, mas consideramos
cada um deles individualmente, pelo seu histórico e
características físicas especificas. Cada sujeito foi
respeitado dentro da sua individualidade em cada uma das
sessões.
As massagens foram aplicadas na sala de enfermagem do
Lar. Foi solicitado a cada um dos indivíduos que
utilizasse, nas sessões, roupas com as quais ficassem à
vontade e permitissem a aplicação da massagem.
Antes de cada sessão, através da Ficha de
Acompanhamento das Sessões de Massagem (Anexo 5), era
perguntado aos sujeitos como se sentiam naquele momento e
como se tinham sentido após a anterior (isto a partir da
segunda sessão). Utilizando a mesma Ficha, era perguntado
no final da sessão como se estavam a sentir naquele
momento, e era registado o procedimento da sessão. Esse
acompanhamento foi feito para podermos avaliar as reacções
decorridas após cada sessão, dirigir o procedimento na
sessão que iria iniciar-se e ir acompanhando a evolução
individual de cada sujeito.
Utilizamos as manobras básicas de massagem:
deslizamento, amassamento, fricção e percussão.
Considerando as limitações dos sujeitos, só foram
utilizadas as posições de decúbito dorsal e lateral.

77
Metodologia

Descrição da sessão:
Os sujeitos eram solicitados a ficarem deitados na
posição de decúbito dorsal.
- Iniciávamos a sessão com a massagem do pé esquerdo e
depois do pé direito;
- em seguida era massajada a perna, o joelho e a coxa
esquerda e depois o mesmo no lado direito;
- depois era massajada a mão, o antebraço e braço esquerdo
e o mesmo no lado direito.
- Com o paciente em decúbito lateral direito, massajávamos
o lado esquerdo da região da bacia, em seguida a zona
lombar e a torácica. 0 mesmo procedimento era aplicado
sobre o lado direito com o sujeito em decúbito lateral
esquerdo;
- Novamente em decúbito dorsal, eram massajados o abdómen,
o tórax, os ombros, o pescoço, a cabeça e o rosto,
finalizando a sessão.

4.3.5 Programação das actividades

Para a realização do protocolo experimental foi


necessário um periodo de 16 semanas. As duas primeiras
semanas foram utilizadas para a avaliação das fichas
clinicas dos sujeitos, apresentação do trabalho às pessoas
do Lar e consequente formação dos grupos. A terceira semana
foi utilizada para a avaliação inicial feita com os dos
dois grupo. Nas doze semanas seguintes foi aplicado o
Protocolo de massagens com Grupo Experimental e, na última
semana, foi feita a segunda avaliação com os dois grupos.

78
Metodologia

4.3.6 Instrumentarium

Para recolha dos dados antropométricos: balança


portátil decimal, fita métrica graduada em milímetros e
antropómetros (pequeno e grande).
Para aplicação das massagens: uma marquesa, lençóis,
mantas e óleo para massagem.

4.4 Procedimentos estatísticos

Após a recolha de dados e obtidas as respostas aos


questionários, procedeu-se à sua organização para o
tratamento estatístico, utilizando o programa SPSS 11.5.
Técnicas estatísticas utilizadas:
- Estatística descritiva: para as variáveis observadas foi
calculada a média, o desvio padrão, os valores máximos e
mínimos e as percentagens.
- Estatística inferencial: usamos o Teste de Wilcoxon para
comparação da mesma amostra em momentos diferentes e o
Teste de Mann-Whitney para comparação de amostras
independentes em cada momento de avaliação.
Os valores de significância para a percepção e
satisfação com a imagem corporal foram considerados
estatisticamente significativos para p^ 0.10, pelo facto de
se tratar de questionários subjectivos e de interpretações
múltiplas (Hill e Hill, 2000).

79
Metodologia

80
V - APRESENTAÇÃO E
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Apresentação e discussão dos resultados

V - Apresentação e discussão dos resultados

Neste capitulo faremos a apresentação e discussão dos


resultados obtidos na nossa investigação.
Teremos três sub-capitulos: Percepção da imagem
corporal; Satisfação com a imagem corporal; e Dados gerais
de saúde e imagem corporal. A discussão será feita ao final
de cada sub-capitulo.

5.1 Percepção da imagem corporal

Os Quadros que iremos apresentar são relativos à


percepção da imagem corporal nos Grupos Experimental e de
Controlo. São resultados das duas avaliações, sendo a
primeira feita antes da aplicação do protocolo experimental
e a segunda após o protocolo.

5.1.1 Percepção da imagem corporal do Grupo Experimental e


do Grupo Controlo na primeira avaliação

Os resultados apresentados neste quadro são referentes


aos dados da percepção da imagem corporal entre os dois
grupos, em relação à primeira avaliação. Apresentamos a
média, o desvio padrão e as medidas z e p.

83
Apresentação e discussão dos resultados

Quadro V-l - Percepção da imagem corporal do Grupo Experimental e do


Grupo Controlo na primeira avaliação (x±sd, valores de z e p ) .

Grupo Grupo
Experimen tal Controlo
x±sd Xlsd 1z P
Altura 99 r61±3, 13 99 ,22+2, 90 -0 ,57 n.s.
Mão 87 ,57±11 r35 87 ,94+7, 40 -0 05 n.s.
Pé 97 ,18112 ,45 78 ,72112 ,09 -2 ,31 ,021
Ombro 123 r79±23 ,37 104 ,52114 ,34 -1 ,73 ,083
Cintura 126, 47±27 40 118 02+20 ,78 -o, 34 n.s.
Anca 138, 78±23, 04 129, 61135 94 -o, 46 n.s.
Tronco 129, 68±20, 65 117, 38+17 95 -1, 04 n.s.
Face 123, 40121, 46 129, 05120, 10 -o, 40 n.s.
Testa 105, 77+37, 10 91, 39127, 13 -o, 57 n.s.
Nariz 93, 87123, 37 72, 51119 55 -1, 85 ,064
Orelha 85, 02115, 07 66, 91126 51 -1, 62 ,104
Boca 99, 18119,59 90, 41+24, 53 -o, 63 n.s.
Cabeça 101, 45+11,71 90, 05+18,21 -1, 15 n.s.
Média total 107,33+10,33 97, 12+12, 45 -1, 38 n.s.

Encontramos aqui quatro itens que apresentam


diferenças estatisticamente significativas: Pé, Ombro,
Nariz e Orelha.
Há uma tendência geral para uma melhor percepção no
Grupo Experimental, pois este apresenta um maior número de
itens (nove) com médias que se aproximam do indice de
percepção corporal exacto (IPC=100), relativamente ao Grupo
controlo (cinco itens).
De uma forma geral, o Grupo Experimental tem tendência
para sobrestimação, com oito itens com indice acima de cem,
enquanto que o Grupo Controlo tem tendência para
subestimação, com nove itens abaixo de cem. Nos itens
Cintura, Anca, Tronco e Face, os dois grupos apresentam
indices que revelam uma sobrestimação elevada.

84
Apresentação e discussão dos resultados

Os indices com estimativas mais próximas do exacto


são apresentados pelos dois Grupos no item Altura, sendo a
diferença entre os dois muito pequena. 0 menor indice
aparece no Grupo Controlo no item Orelha, e o maior no
Grupo Experimental no item Anca.
Os itens que apresentam médias mais próximas são
Altura e Mão, sendo no item Mão aonde está a menor
diferença entre médias nos dois grupos, revelando o Grupo
Controlo o indice mais próximo do exacto. 0 item Nariz é o
que apresenta a maior diferença entre os dois grupos, sendo
subestimado por ambos, com a média que mais se aproxima do
indice exacto do Grupo Experimental.
Na média total, o Grupo Controlo apresenta um valor
mais próximo do indice exacto.

5.1.2 Percepção da imagem corporal do Grupo Experimental e


do Grupo Controlo na segunda avaliação

Os resultados apresentados dizem respeito à comparação


da percepção da imagem corporal entre os dois grupos, em
relação à segunda avaliação. Apresentamos a média, o desvio
padrão e as medidas z e p.

85
Apresentação e discussão dos resultados

Quadro V-2 - Percepção da imagem corporal do Grupo Experimental e do


Grupo Controlo na segunda avaliação (x+sd, valores de z e p).

Grupo Grupo
Experimental Controlo
x±sd x±sd z P
Altura 101,35±2,24 98,4216,79 -0,81 n.s.
Mão 88,34±15,26 88,76118,30 -0,23 n.s.
Pé 93,00±14,37 74,77±10,60 -2,37 ,018
Ombro 112,87±15,50 115,0517,17 -0,69 n.s.
Cintura 124,91+24,84 115,98123,21 -0,81 n.s.
Anca 128,81117,30 120,59115,34 -0,81 n.s.
Tronco 122,20±15,29 117,2119,06 -0,46 n.s.
Face 118,58±23,99 116,85134,68 -0,11 n.s.
Testa 110,52151,48 101,96117,80 -0,35 n.s.
Nariz 103,87113,11 88,49118,08 -1,39 n.s.
Orelha 78,25±6,66 74,01±21,45 -1,86 ,063
Boca 107,96126,28 100,05117,43 -0,40 n.s.
Cabeça 103,83112,74 96,27111,88 -0,92 n.s.
Média total 106,2219,22 99,5417,72 -1,27 n.s.

Os itens Pé e Orelha apresentam diferenças


estatisticamente significativas entre os dois Grupos.
A tendência para uma melhor percepção é do Grupo
Controlo, com um maior número itens (oito) com médias que
se aproximam do indice de percepção corporal exacto,
relativamente ao Grupo Experimental (seis itens).
0 Grupo Experimental apresenta uma elevada tendência
para sobrestimação da percepção da imagem corporal com
médias acima de cem em onze itens. O Grupo Controlo se
apresenta mais equilibrado apresentando seis itens com
sobrestimação, sete itens com subestimação e um item {Boca)
com indice no valor exacto. O Grupo Experimental não
apresenta nenhuma média no indice exacto, estando a mais
próxima no item Altura. Os dois grupos apresentam uma
sobrestimação elevada de indices nos itens Cintura, Anca,

86
Apresentação e discussão dos resultados

Tronco, Face, Ombro e Testa. 0 menor índice é apresentado


pelo Grupo Controlo no item Orelha, e o maior pelo Grupo
Experimental no item Anca.
A menor distância entre os dois Grupos dá-se no item
Mão, sendo no entanto reduzida a diferença entre eles. A
maior distância acontece no item Pé, ficando o Grupo
Experimental mais próximo do item ideal.
Na média total, o Grupo Controlo apresenta um valor
mais próximo do índice exacto.

5.1.3 Percepção da imagem corporal do Grupo Experimental na


primeira e na segunda avaliações

Os resultados apresentados dizem respeito à primeira e


à segunda avaliação da percepção da imagem corporal feita
com o Grupo Experimental. Apresentamos a média, o desvio
padrão e as medidas z e p.

87
Apresentação e discussão dos resultados

Quadro V-3 - Percepção da imagem corporal do Grupo Experimental na


primeira e segunda avaliações (x±sd, valores de z e p ) .

1a avaliação 2 a avaliação
x±sd x±sd z P
Altura 99,61±3,13 101,35+2,24 -1,68 ,093
Mão 87,57±11,35 88,34115,26 -0,28 n.s.
Pé 97,18112,45 93,00114,37 -0,56 n.s.
Ombro 123,79123,37 112,87115,50 -1,54 n.s.
Cintura 126,47127,40 124,91124,84 -0,84 n.s.
Anca 138,78123,04 128,81117,30 -1,12 n.s.
Tronco 129,68120,65 122,20115,29 -1,26 n.s.
Face 123,40121,46 118,58123,99 -0,31 n.s.
Testa 105,77137,10 110,52151,48 -0,67 n.s.
Nariz 93,87123,37 103,87113,11 -0,84 n.s.
Orelha 85,02115,07 78,2516,66 -1,26 n.s.
Boca 99,18119,59 107,96126,28 -1,46 n.s.
Cabeça 101,45111,71 103,83112,74 -0,98 n.s.
Média total 107,33110,33 106,2219,22 -0,28 n.s.

O item que apresenta diferença estatisticamente


significativa é Altura.
A tendência para uma melhor percepção está na segunda
avaliação, que apresenta oito itens que passaram a ter
indices mais próximos do exacto (Mão, Ombro, Cintura, Anca,
Tronco, Face, Nariz e Média total), contra seis que
continuaram a apresentar indices mais próximos do exacto na
primeira avaliação (Altura, Pé, Testa, Orelha, Boca e
Cabeça).
Na primeira avaliação o Grupo mostra uma tendência
para sobrestimação, revelada em oito itens: Ombro, Cintura,
Anca, Tronco, Face, Testa e Cabeça. Na segunda avaliação
essa tendência aumenta aparecendo, além dos itens
anteriores, mais três itens com sobrestimação: Altura,
Nariz e Boca.

88
apresentação e discussão dos resultados

Os itens Altura e Boca são os que apresentam os


indices mais próximos do exacto, ambos na primeira
avaliação. 0 item que mostra o menor indice de percepção
corporal é Orelha, na segunda avaliação. A Anca é o item
que apresenta o maior indice, na primeira avaliação. Não
aparece nenhum indice com o valor exacto.
A menor distância num mesmo item entre as duas
avaliações regista-se no item Mão (sendo na segunda o maior
valor), e a maior distância está no item Tronco (na
primeira maior do que na segunda).
A média total, na segunda avaliação, regista uma
aproximação ao indice de percepção corporal exacto.

5.1.4 Percepção da imagem corporal do Grupo Controlo na


primeira e na segunda avaliações

Os resultados apresentados dizem respeito à primeira e


à segunda avaliação da percepção da imagem corporal feita
com o Grupo Controlo. Apresentamos a média, o desvio padrão
e as medidas z e p.

89
Apresentação e discussão dos resultados

Quadro V-■4 — Percepção da imag em corporal do Grupo Controlo na


primeira e segunda avaliações (x±sd, valores de z e p ) .

Ia avaliação 2* avaliação
x±sd x±sd z P
Altura 99 ,22±2, 90 98 ,4216,79 -o, 10 n.s.
Mão 87 ,94±7, 40 88 ,76118 ,30 -o, 50 n.s.
Pé 78 ,72±12 ,09 74 ,77110 ,60 -o, 10 n.s.
Ombro 104 r52±14 ,34 115 r05±7, 17 -1 99 ,046
Cintura 118, 02±20 ,78 115 98123 ,21 -o, 33 n.s.
Anca 129, 61±35 ,94 120, 59115 ,34 -o, 67 n.s.
Tronco 117, 38±17 95 117, 2119, 36 -1, 01 n.s.
Face 129, 05±20 10 116, 85134 ,68 -1, 18 n.s.
Testa 91, 39±27, 13 101, 96+17 ,80 -1, 10 n.s.
Nariz 72, 51±19 ,55 88 49118 ,08 -2, 02 ,043
Orelha 66, 91126, 51 74, 01121 ,45 -o, 94 n.s.
Boca 90, 41±24, 53 100, 05117 43 -1, 15 n.s.
Cabeça 90, 05118, 21 96, 27+11 88 -1, 35 n.s.
Média total 97, 12112, 45 99, 5417,'72 -o, 84 n.s.

Dois ite ns apre se ntam dife re nças e statisticame nte


significativas: Ombro e Nariz.
A tendência para uma melhor percepção está na segunda
avaliação, com um item que apresenta indice exacto (Boca),
dez ite ns que passaram a te r indice s mais próximos do
exacto (Mão, Cintura, Anca, Tronco, Face, Testa, Nariz,
Orelha, Boca, Cabe
ç a e Média total), contra três que
continuaram a apresentar indices mais próximos do exacto na
primeira avaliação (Altura, Pé e Ombro).
Na prime ira avaliação o Grupo apre se nta te ndência
geral para sube stimação, re ve lado e m nove ite ns (Altura,
Mão, Pé, Testa, Nariz, Orelha, Boca, Cabe
ç a e Média total).
Na se gunda avaliação o Grupo apre se nta e quivalência, com
sete ite ns com sube stimação (Altura, Mão, Pé, Nariz,
Orelha, Cabe
ç a e Média total), e
s is itens com sobrestimação

90
Apresentação e discussão dos resultados

{Ombro, Cintura, Anca, Tronco, Face e Testa), e um item


com indice exacto {Boca).
0 item que mostra o menor indice é Orelha, na primeira
avaliação. Os itens Anca e Face exibem os maiores indices,
verificando-se os dois na primeira avaliação.
0 item Tronco é o que apresenta maior estabilidade
entre as duas avaliações, com uma variação minima. 0 item
Nariz é o que apresenta maior distância entre as duas
avaliações (na primeira mais baixo do que na segunda).
Na segunda avaliação, na média total, há uma melhora
no indice de percepção corporal, aproximando-se esta do
nivel exacto.

5.1.5 Discussão

A imagem corporal é uma estrutura plástica que, na sua


elaboração, sofre a interferência de vários factores. Entre
eles estão a experiência táctil, a actividade fisica, as
relações afectivas e a interacção com o envolvimento social
(Garcia 1989; Pruzinsky 1990; Pruzinsky e Cash, 1990).
A percepção da imagem corporal no idoso, cujo corpo já
se apresenta num patamar de estabilização, continua
passivel de mudanças, podendo ser influenciada por
estímulos internos e externos (e.g., a qualidade da saúde,
a prática de actividade fisica, a relação táctil ou os
valores estéticos socialmente vigentes). Quando submetida a
situações contendo qualquer desse tipo de estímulos,
verifica-se que a percepção da imagem corporal pode
apresentar resultados que oscila entre uma maior ou menor
subestimação ou sobrestimação, ou ainda passar de um nivel
para o outro.
Furlong (1977), citada em Fisher (1986), verificou que
as mulheres idosas têm tendência para subestimar o seu

91
Apresentação e discussão dos resultados

tamanho. Na nossa pesquisa, essa tendência é confirmada


nos dois Grupos no momento da primeira avaliação, tendo o
Grupo Experimental uma média de 99,6113,13, e o Grupo
Controlo uma média de 99,2212,90. Na segunda avaliação,
somente o Grupo Controlo continua com essa tendência,
apresentando a média de 98,42+6,79, enquanto que o Grupo
Experimental passa para uma média, com valor de
sobrestimação, de 101,3512,24. Associamos esse facto aos
efeitos que a massagem produz no corpo, relaxando a
musculatura e, consequentemente, promovendo a liberação das
articulações, sentida pelo individuo como um aumento de
altura. Nos dois momentos da avaliação do Grupo
Experimental esse foi o único item que apresentou uma
diferença estatisticamente significativa (p=, 093).
Segundo Kreitler e Kreitler (1988), citados em Alves
(2003), num estudo efectuado com 240 indivíduos percebeu-se
que com o avançar da idade ocorria uma sobrestimação do
tamanho das partes corporais. No nosso estudo, enquanto
tendência geral, isso só foi verificado no Grupo
Experimental, que apresentou na primeira e na segunda
avaliações, na média total, valores sobrestimados:
107,33110,33 e 106,2219,22, respectivamente. O Grupo
Controlo apresentou médias com subestimação, de 97,12112,45
e 99,5417,72, respectivamente, primeira e segunda
avaliações.
Tal como concluído na investigação realizada por
Festas (2002) com idosos na cidade do Porto, o nosso
estudo, feito com elementos das mesmas faixas etárias mas
exclusivamente do sexo feminino, apresenta também como
resultado a sobrestimação nos itens Cintura, Ancas, Face e
Testa, e a subestimação no item Mãos. Isto ocorrendo tanto
no Grupo Experimental como no Grupo Controlo, e nas duas

92
Apresentação e discussão dos resultados

avaliações. A subestimação das mãos foi verificada também


por Shontz (1969), citado em Fisher (1986).
Após a aplicação das massagens e na segunda avaliação,
o Grupo Experimental apresenta um maior número de itens com
tendência para sobrestimação. Os itens que já eram
sobrestimados aproximaram-se do indice correcto, facto que
associamos à uma maior sensibilização, em consequência da
estimulação feita pelo toque sobre as diversas partes
corporais. Apesar de ser um trabalho no qual os indivíduos
estavam numa posição de passividade, fazemos analogia com
Shontz (1969), citado em Fisher (1986), dizendo que a
percepção do tamanho corporal está relacionada com o seu
uso, verificando-se que a massagem vai proporcionar
estímulos que produzem efeitos semelhantes aos dados pelo
uso (movimento) de uma parte do corpo. Apesar dessa
tendência geral para sobrestimação, observamos que, com
excepção do item Boca, todos os outros com sobrestimação
apresentaram uma aproximação ao indice correcto.

Analisando a hipótese número um deste trabalho - A


experiência de massagem acarreta mudanças significativas na
percepção da imagem corporal, concluímos que a mesma foi
confirmada apenas para o item Altura. A média total
verificada na segunda avaliação apresenta um valor
indicativo de uma melhor precisão da percepção da imagem
corporal. Além disso, nesta avaliação observam-se oito
itens que apresentam indices mais precisos,
comparativamente a seis registados na primeira avaliação.

93
apresentação e discussão dos resultados

5.2 Satisfação com a imagem corporal

5.2.1 Satisfação com a imagem corporal do Grupo


Experimental e do Grupo Controlo na primeira avaliação

Os resultados apresentados dizem respeito à primeira


avaliação da satisfação com a imagem corporal nos dois
grupos. Apresentamos a média, o desvio padrão e as medidas
z e p.

94
Apresentação e discussão dos resultados

Quadro V-5 - S a t i s f a ç ã o com a imagem corporal do Grupo Experimental e


do Grupo Controlo na primeira avaliação (x±sd, v a l o r e s de z e p ) .

Grupo Experimental Grupo Controlo


x±sd xisd z P

Aspecto geral da face 2,50±1,41 3,5711,13 -1,65 ,099


Cabelo 3,50±1,30 4,1410,37 -0,79 n.s.

Pele 3,50±1,60 3,5711,13 -0,41 n.s.

Testa 3,88±0,35 3,8610,37 -0,09 n.s.

Olhos 3,25±1,90 2,7111,60 -0,93 n.s.

Nariz 3,25±1,16 3,5710,78 -0,48 n.s.

Boca 3,5011,30 4,1410,37 -0,96 n.s.


Orelhas 3,7511,16 3,5711,27 -0,41 n.s.
Pescoço 3,0011,41 4,0010,00 -1,74 ,082
Ombros 2,5011,60 3,0011,41 -0,52 n.s.
Braços 3,2511,38 3,0011,41 -0,55 n.s.
Mãos 3,1311,35 4,2910,48 -2,14 ,032
Seios 3,2511,38 3,29+1,60 -0,27 n.s.
Barriga 2,1311,55 3,5711,13 -1,83 ,066

Cintura 2,8811,55 3,0011,41 0,00 n.s.

Ancas 2,1311,55 3,4311,13 -1,56 n.s.


Coxas 2,8811,35 3,5711,13 -1,24 n.s.

Pernas 2,2511,48 2,5711,51 -0,31 n.s.


Pés 3,2511,38 2,8611,77 -0,26 n.s.

Peso 1,7511,38 2,7111,60 -1,22 n.s.


Altura 2,8811,55 3,1411,46 -0,35 n.s.
Postura 2,6311,50 4,1410,37 -2,21 ,027
Resistência física 1,5011,41 3,1411,46 -1,87 ,061
Sensação geral 1,8811,64 3,0011,41 -1,28 n.s.
Média total 2,8410,38 3,4110,38 -2,14 ,032

Encontramos aqui sete i t e n s que apresentam diferenças


estatisticamente significativas: Aspecto geral da face,
Pescoço, Mãos, Barriga, Postura, Resistência física e na
Média total.

95
Apresentação e discussão dos resultados

0 Grupo Controlo mostra tendência para satisfação


mais elevada, registando vinte itens com médias mais altas,
contra cinco do Grupo Experimental.
0 item com maior nivel de satisfação é Mãos, seguido,
com a mesma média, pelos itens Cabelo, Boca e Postura,
sendo os quatro apresentados pelo Grupo Controlo. Com o
menor nivel de satisfação aparece o item Resistência
física, seguido pelo item Peso, sendo os dois apresentados
pelo Grupo Experimental. Em nenhum item há equivalência
entre os dois grupos.
0 item que apresenta uma maior distância na média da
satisfação entre os dois grupos é o de Resistência física,
sendo a média mais elevada no Grupo Controlo. 0 item com
menor distância entre os dois grupos é Testa, sendo
subtilmente mais elevada a satisfação no Grupo
Experimental.
Na média total, o Grupo Controlo apresenta uma maior
satisfação.

5.2.2 Satisfação com a imagem corporal do Grupo


Experimental e do Grupo Controlo na segunda avaliação

Os resultados apresentados dizem respeito à segunda


avaliação da satisfação com a imagem corporal nos dois
grupos. Apresentamos a média, o desvio padrão e as medidas
z e p.

96
Apresentação e discussão dos resultados

Quadro V-6 - Satisfação com a imagem corporal do Grupo Experimental e


do Grupo Controlo na segunda avaliação (x±sd, valores de z e p ) .

Grupo Experimental Grupo Controlo


x±sd X±sd z P
Aspecto geral da face 3,75±0,88 4,0010,00 -0,57 n.s.
Cabelo 4,00±0,92 3,43+1,39 -0,85 n.s.
Pele 3,1311,80 3,1411,46 -0,32 n.s.

Testa 3,8710,35 3,5711,13 -0,19 n.s.

Olhos 3,5011,60 3,1411,46 -0,79 n.s.

Nariz 3,2511,48 3,5710,78 -0,19 n.s.

Boca 3,6310,74 3,7111,25 -0,74 n.s.


Orelhas 3,8710,35 3,7110,75 -0,19 n.s.
Pescoço 2,88±1,55 4,00±0,00 -1,75 ,080

Ombros 3,25+1,38 3,0011,41 -0,55 n.s.


Braços 3,1311,24 3,0011,41 -0,26 n.s.

Mãos 3,38±1,18 4,2910,48 -1,93 ,053


Seios 3,6311,06 4,1410,37 -1,36 n.s.
Barriga 2,2511,38 3,1411,46 -1,39 n.s.
Cintura 3,2511,38 3,4311,13 0,00 n.s.
Ancas 3,2511,38 3,4311,13 0,00 n.s.
Coxas 3,2511,38 3,2911,11 -0,41 n.s.

Pernas 3,2511,38 2,7111,60 -0,70 n.s.


Pés 3,6311,06 3,7111,25 -0,49 n.s.

Peso 2,7511,48 2,2911,60 -0,51 n.s.


Altura 3,2511,38 3,1411,46 -0,15 n.s.
Postura 4,0010,00 4,00+0,00 0,00 n.s.
Resistência física 2,6311,76 3,5711,13 -0,93 n.s.
Sensação geral 3,2511,48 3,5711,13 -0,41 n.s.
Média total 3,3310,53 3,4510,36 -0,46 n.s.

Encontramos dois itens que apresentam diferenças


estatisticamente significativas: Pescoço e Mãos.
0 Grupo Controlo mostra um nivel de satisfação com a
imagem corporal mais elevado, tendo médias mais altas em
quinze itens, contra nove itens do Grupo Experimental. Em
um item {Postura), os grupos apresentam médias iguais.

97
Apresentação e discussão dos resultados

0 item com nivel de satisfação mais alto é Mãos,


seguido pelo item Seios, ambos apresentados pelo Grupo
Controlo. 0 item com nivel de satisfação mais baixo é
Barriga, apresentado pelo Grupo Experimental, seguido pelo
item Peso, apresentado pelo Grupo Controlo.
0 item que apresenta uma maior distância na média da
satisfação entre os dois grupos é Pescoço, sendo a média
mais elevada no Grupo Controlo. 0 item com menor distância
entre os dois grupos é Pele, sendo mais elevada a
satisfação também no Grupo Controlo.
Na média total, o Grupo Controlo apresenta uma maior
satisfação.

5.2.3 Satisfação com a imagem corporal do Grupo


Experimental na primeira e na segunda avaliações

Os resultados apresentados dizem respeito à primeira e


à segunda avaliação da satisfação com a imagem corporal do
Grupo Experimental. Apresentamos a média, o desvio padrão e
as medidas z e p.

98
Apresentação e discussão dos resultados

Quadro V-7 - Satisfação com a imagem corporal do Grupo Experimental


na primeira e segunda avaliações (xisd, valores de z e p) .

Ia avaliação 2"avaliação
x±sd xisd z P
Aspecto geral da face 2,50±1,41 3,7510,88 -1,63 ,102
Cabelo 3,50±1,30 4,0010,92 -1,41 n.s.
Pele 3,50±1,60 3,1311,80 -0,81 n.s.

Testa 3,87±0,35 3,8710,35 0,00 n.s.

Olhos 3,25±1,90 3,5011,60 -0,44 n.s.


Nariz 3,25±1,16 3,2511,48 0,00 n.s.
Boca 3,50±1,30 3,6310,74 -0,44 n.s.
Orelhas 3,75±1,16 3,8710,35 0,00 n.s.
Pescoço 3,0011,41 2,8811,55 -0,27 n.s.
Ombros 2,50±1,60 3,2511,38 -1,41 n.s.
Braços 3,2511,38 3,1311,24 -0,44 n.s.
Mãos 3,1311,35 3,3811,18 -0,44 n.s.
Seios 3,2511,38 3,6311,06 -1,00 n.s.
Barriga 2,1311,55 2,2511,38 -0,18 n.s.
Cintura 2,8811,55 3,2511,38 -1,00 n.s.
Ancas 2,1311,55 3,2511,38 -1,73 ,083
Coxas 2,8811,35 3,2511,38 -0,81 n.s.
Pernas 2,2511,48 3,2511,38 -1,51 n.s.
Pés 3,2511,38 3,6311,06 -1,00 n.s.
Peso 1,7511,38 2,7511,48 -1,63 n.s.
Altura 2,8811,55 3,2511,38 -0,57 n.s.
Postura 2,6311,50 4,001,000 -1,89 ,059
Resistência fisica 1,5011,41 2,6311,76 -1,47 n.s.
Sensação geral 1,8811,64 3,2511,48 -1,89 ,059
Média total 2,8410,38 3,3310,53 -2,38 ,017

Cinco itens apresentam diferenças estatisticamente


significativas: Aspecto geral da face, Ancas, Postura,
Sensação geral e Média total.
0 nivel de satisfação com a imagem corporal é muito
mais elevado na segunda avaliação, que mostra dezanove
itens com médias mais altas, enquanto que na primeira só

99
Apresentação e discussão dos resultados

aparecem quatro. Dois itens (Testa e Nariz) mantêm-se


equivalentes entre as duas avaliações.
Os itens Cabelo e Postura apresentam as médias mais
altas, ambas na segunda avaliação. A menor média está no
item Resistência fisica, seguido por Peso, ambos
apresentados na primeira avaliação.
A maior distância entre médias nas duas avaliações é
apresentada por dois itens, Postura e Sensação geral,
seguidos por Aspecto geral da face e depois por Resistência
física. Em todos esses itens as médias mais altas estão na
segunda avaliação, revelando-os como os que apresentaram
maior aumento na satisfação.
Os itens Pele, Pescoço, Braços e Cintura são os itens
que apresentam, na segunda avaliação, um nivel mais baixo
de satisfação.
Na média total, verifica-se um aumento de satisfação
na segunda avaliação.

5.2.4 Satisfação com a imagem corporal do Grupo Controlo


na primeira e na segunda avaliações

Os resultados apresentados dizem respeito à primeira e


à segunda avaliação da satisfação com a imagem corporal do
Grupo controlo. Apresentamos a média, o desvio padrão e as
medidas z e p.

100
Apresentação e discussão dos resultados

Quadro V-8 - Satisfação com a imagem corporal do Grupo Controlo na


primeira e segunda avaliações (x±sd, valores de z e p) .

1* avaliação 2'avaliação
x±sd xisd z P
Aspecto geral da face 3,57±1,13 4,0010,00 -1,00 n.s.
Cabelo 4,17+0,37 3,4311,39 -1,34 n.s.
Pele 3,57±1,13 3,1411,46 -1,00 n.s.

Testa 3,86±0,37 3,5711,13 -0,44 n.s.

Olhos 2,71±1,60 3,1411,46 -0,57 n.s.

Nariz 3,57±0,78 3,5710,78 0,00 n.s.

Boca 4,14±0,37 3,7111,25 -1,00 n.s.

Orelhas 3,57±1,27 3,7110,75 0,00 n.s.

Pescoço 4,00±0,00 4,0010,00 0,00 n.s.

Ombros 3,00±1,41 3,0011,41 0,00 n.s.

Braços 3,00+1,41 3,0011,41 0,00 n.s.

Mãos 4,2910,48 4,29+0,48 0,00 n.s.

Seios 3,2911,60 4,1410,37 -1,41 n.s.

Barriga 3,57+1,13 3,1411,46 -1,00 n.s.

Cintura 3,0011,41 3,4311,13 -1,34 n.s.

Ancas 3,4311,13 3,43+1,13 0,00 n.s.

Coxas 3,5711,13 3,2911,11 -1,41 n.s.

Pernas 2,57+1,51 2,7111,60 -1,00 n.s.

Pés 2,8611,77 3,7111,25 -1,41 n.s.

Peso 2,7111,60 2,2911,60 -1,00 n.s.


Altura 3,1411,46 3,1411,46 0,00 n.s.

Postura 4,1410,37 4,0010,00 -1,00 n.s.


Resistência fisica 3,1411,46 3,5711,13 -1,00 n.s.
Sensação geral 3,0011,41 3,5711,13 -1,34 n.s.
Média total 3,4110,38 3,4510,36 -0,63 n.s.

Nenhum item apresenta diferença estatisticamente


significativa.
Na segunda avaliação há um discreto aumento na
satisfação com a imagem corporal, apresentando o grupo dez
itens com médias mais altas, contra oito na primeira

101
Apresentação e discussão dos resultados

avaliação. Sete itens mantêm-se equivalentes entre as duas


avaliações.
0 item Mãos apresenta a média mais alta, sendo igual
nas duas avaliações, seguido por Cabelo, com média mais
alta na primeira avaliação. A menor média aparece no item
Peso, na segunda avaliação e depois Pernas na primeira. Os
itens Nariz, Pescoço, Ombros, Braços, Mãos, Ancas e Altura
apresentam médias iguais nas duas avaliações.
Os itens que apresentam maiores mudanças nas médias
entre a primeira e a segunda avaliações são Seios e Pés,
com mudanças equivalentes e médias mais altas na segunda
avaliação, revelando-os como os maiores aumentos na
satisfação. Em seguida está Cabelo, com média mais alta na
primeira avaliação. Sete itens, Nariz, Pescoço, Ombros,
Braços, Mãos, Ancas e Altura, apresentam médias iguais
entre as duas avaliações.
A maior distância entre médias nas duas avaliações
foi apresentada pelo item Pés, surgindo a média mais
elevada na segunda avaliação.
Na média total há um aumento de satisfação na segunda
avaliação, mas é muito reduzido, podendo ser considerado
irrelevante.

5.2.5 Discussão

Estudos específicos sobre esta área sustentam que os


idosos apresentam uma relação positiva com a sua imagem
corporal. Cash et ai. (1986), citados em Cash (1990),
referem que a satisfação com a imagem corporal não diminui
com a idade, uma vez que a atenção do sujeito é transferida
para a saúde e bem-estar fisico; segundo Lutter, (1990),
citado em Festas (2002), investigações feitas pelo
Melpomene Institute, num estudo efectuado com 111 mulheres,

102
Apresentação e discussão dos resultados

de idades compreendidas entre os 49 e os 83 anos,


mostraram que a maioria delas revelou estar satisfeita com
a sua imagem corporal; e Abrantes (1998) verificou que as
mulheres com idades superiores a 50 anos apresentaram maior
satisfação com a sua imagem corporal do que as mulheres
mais novas, revelando ainda serem menos influenciadas pelas
atitudes socialmente veiculadas acerca do corpo.
Os resultados da nossa investigação estão de acordo
com a literatura supracitada, revelando os dois Grupos da
nossa amostra, na média total das duas avaliações, números
acima do valor médio (2,5).
Analisando especificamente o item Peso, o nosso estudo
condiz com o de Fisher (1986), quando afirma que as
mulheres têm apresentado, neste ponto especifico, os
indices inferiores de satisfação. Os dois Grupos que
investigamos apresentaram niveis de satisfação muito baixo
nesse item, ocorrendo no Grupo Controlo a menor média nos
dois momentos de avaliação.
Sobre a hipótese dois do nosso estudo - A experiência
de massagem acarreta mudanças significativas na satisfação
com a imagem corporal, a mesma é confirmada, o que veremos
por itens específicos.
Nos pontos Aspecto geral da face e Ancas, na avaliação
inicial o Grupo Experimental apresentou um nivel de
satisfação baixo, 2,50±1,41 e 2,13+1,55 respectivamente, o
que está de acordo com a literatura. Com efeito, estudos
comprovam que as mulheres apresentam um nivel de satisfação
mais baixo em relação às partes que acham importantes para
exercer atracção no sexo oposto, quando não se acham dentro
do padrão estético dominante (Fisher, 1986). Na segunda
avaliação, esse Grupo passa a apresentar, nos mesmos itens,
as médias 3,75±,88 e 3,25±1,38 (respectivamente, Aspecto
geral da face e Ancas) . Estas são duas das diferenças

103
Apresentação e discussão dos resultados

significativas na comparação entre os dois momentos de


avaliação do Grupo Experimental.
Em relação à Postura, o mesmo Grupo passa na primeira
avaliação do nivel 2,6311,50 para 4,00±,00 na segunda
avaliação, e no item Sensação geral passa do nivel
1,88+1,64 para 3,2511,48, sendo estas as duas maiores
distâncias entre a satisfação inicial e final, diferenças
também estatisticamente significativas. Atribuímos essas
alterações aos efeitos desencadeados pela massagem que
relaxa os músculos e reduz a tensão mental, provocando
agradáveis sensações de prazer, como refere Knapp (1994) .
Na mesma linha, Pinheiro (1998) refere que os efeitos da
massagem promovem uma mais completa consciencialização do
movimento e da imagem corporal.
Verificamos também na Média total diferenças
estatisticamente significativas, passando de 2,841,38 na
primeira avaliação para 3,331,53 na segunda.
Como se vê, todas os itens com diferenças
estatisticamente significativas apresentaram melhores
resultados na segunda avaliação. Além desses, outros
catorze itens também apresentaram melhor nivel de
satisfação na segunda avaliação comparativamente à
primeira. Quatro itens apresentaram melhor satisfação na
primeira avaliação e dois não apresentaram alteração entre
as duas avaliações.
Considerando o efeito benéfico da massagem sobre a
saúde, e a relação directamente proporcional entre saúde e
imagem corporal (Fisher, 1986), temos aqui mais uma
referência para justificar a alteração positiva ocorrida no
Grupo Experimental.
O Grupo Controlo não apresenta nenhuma diferença
estatisticamente significativa quando confrontamos os dois
momentos da avaliação. Além disso, apenas dez itens revelam

_
Apresentação e discussão dos resultados

maior s a t i s f a ç ã o na segunda avaliação, o i t o na primeira e


s e t e i t e n s não mostram a l t e r a ç ã o entre as duas a v a l i a ç õ e s .
Em r e l a ç ã o à Média total, esse grupo apresenta uma mudança
muito s u b t i l da primeira para a segunda a v a l i a ç õ e s , de
3,41+,38 para 3,45+,36, respectivamente.

5.3 Dados gerais de saúde

5.3.1 Dores no corpo

0 quadro seguinte mostra como os indivíduos dos dois


grupos se apresentam em relação às dores no corpo na
primeira e na segunda avaliação.

Quadro V-9 - D o r e s no c o r p o d o s i n d i v í d u o s dos d o i s Grupos na p r i m e i r a


e segunda a v a l i a ç õ e s (numero de i n d i v í d u o s e p e r c e n t a g e m ) .

Ia avaliação 2a a v a l i a ç ã o
Não s e n t e Não t e v e
dores Sente dores alteração Diminuíram
Grupo
Exper. 0 8(100%) 0 8(100%)
Grupo
Contr. 0 8(100%) 5(71,42%) 2(28,57%)

Na primeira avaliação, v e r i f i c a - s e que todos os


indivíduos dos dois grupos apresentam queixas de dores no
corpo.
Na segunda avaliação, todos os indivíduos do Grupo
Experimental tiveram uma diminuição nas dores, enquanto que

105
Apresentação e discussão dos resultados

no Grupo Controlo apenas dois indivíduos tiveram igual


evolução.

5.3.2 Qualidade do sono

0 próximo quadro mostra a qualidade do sono dos


indivíduos dos dois grupos na primeira e na segunda
avaliação.

Quadro v-10 - Qualidade do sono dos indivíduos dos dois Grupos na


primeira e segunda avaliações (número de indivíduos e percentagem) .

I a avaliação 2 a avaliação
Não Dorme bem Não
dorme bem Dorme bem com medicam. alterou Melhorou
Grupo 7(87,5%) Õ 1(12,5%) 4 (50%) 4 (50%)
Exper.
Grupo 2(28,57%) 3(42,85%) 2(28,57%) 7(100%) 0
Contr.

Na primeira avaliação, o Grupo Experimental


apresentava sete indivíduos que não dormiam bem e um que
dormia bem mas ajudado pelo uso de medicamentos. No Grupo
Controlo, dois elementos não dormiam bem, três dormiam bem
e dois dormiam bem ajudados por medicamentos.
Na segunda avaliação, quatro indivíduos do Grupo
Experimental não apresentaram alterações no sono e quatro
apresentam uma melhoria. No Grupo Controlo nenhum individuo
apresenta qualquer alteração.

106
5 . 3 . 3 Peso corporal

Os próximos quadros apresentam o peso corporal e o


n i v e l de s a t i s f a ç ã o BISQ no item Peso, dos i n d i v í d u o s dos
d o i s grupos na p r i m e i r a e na segunda a v a l i a ç ã o .

Quadro V - l l - Peso corporal e o n i v e l de s a t i s f a ç ã o no item Peso do


Questionário BISQ dos indivíduos do Grupo Experimental na primeira e
segunda a v a l i a ç õ e s (valores de cada i n d i v i d u o ) .

*"" pêsõ Peso ~ "* Nível BISQ Nivel BISQ


Indivíduos corporal(kg) Corporal(kg) no item Peso no item Peso
a a a
I avaliação 2 avaliação I avaliação 2a a v a l i a ç ã o

Não gosto nada Não gosto nada


5 1 0 50,5 e desejaria ser e desejaria ser
diferente diferente

Não gosto nada


87,o 89,0 e desejaria ser Estou
diferente satisfeito

Estou Estou
6i,o 61,0 satisfeito satisfeito

Não gosto nada Não gosto nada


68,0 67,0 e desejaria ser e desejaria ser
diferente diferente

Não gosto nada


6i,o 60,0 e desejaria ser É-me
diferente indiferente

Estou Estou
67,0 67,5 satisfeito Satisfeito

Não gosto nada


77,0 76,0 e desejaria ser Estou
diferente satisfeito

Não gosto nada Não gosto nada


80,0 80,0 e desejaria ser e desejaria ser
diferente diferente

107
Apresentação e discussão dos resultados

No Grupo Experimental, dois indivíduos mantiveram o


peso corporal sem alteração, dois indivíduos aumentaram e
quatro diminuíram.
Em relação ao item Peso, cinco indivíduos não
apresentaram alteração na satisfação e três apresentaram
aumento na satisfação.

Quadro V-12 - Peso corporal e o nivel de satisfação no item Peso do


Questionário BISQ dos indivíduos do Grupo Controlo na primeira e
segunda avaliações (valores de cada individuo) .

Peso Peso Nivel BISQ Nível BISQ


corporal (kg) corporal (kg) no item Peso no item Peso
Indivíduos Ia avaliação 2 a avaliação Ia avaliação 2 a avaliação

Não gosto nada


92,0 92,0 Estou e desejaria ser
satisfeito diferente

Não gosto nada Não gosto nada


60,0 62,0 e desejaria ser e desejaria ser
diferente diferente

Não gosto nada Não gosto nada


46,0 46,0 e desejaria ser e desejaria ser
diferente diferente

Não gosto nada Não gosto nada


47,0 47,0 e desejaria ser e desejaria ser
diferente diferente

Estou Estou
58,0 54,0 satisfeito satisfeito

Estou Estou
58,0 55,0 satisfeito satisfeito

Estou Estou
79,0 79,0 satisfeito satisfeito

No Grupo Controlo, em relação ao peso corporal, quatro


indivíduos mantiveram-se sem alteração, um individuo
aumentou e três diminuíram.

108
Apresentação e discussão dos resultados

Em relação ao item Peso, seis indivíduos não


apresentaram alteração na satisfação e um apresentou
diminuição com a satisfação.

5.3.4 Discussão

Em sintonia com os estudos de Johnson (1956), citado


por Fisher (1986), que demonstram que a satisfação com a
imagem corporal baixa proporcionalmente com o número de
queixas corporais, concluímos através da análise dos
resultados apresentados na segunda avaliação do Grupo
Experimental (no qual 100% dos indivíduos apresenta um
quadro de diminuição nas dores corporais e 50% apresenta
uma melhoria na qualidade do sono) que estes são factores
que contribuíram para o aumento da satisfação com a imagem
nesse Grupo.
Por outro lado, percebemos que, na segunda avaliação,
independente da alteração do peso corporal real, o nivel de
satisfação referente ao item Peso no Grupo Experimental
apresenta um valor mais elevado, enquanto que no Grupo
Controlo não há melhorias. Resultado concordante com os
estudos de Berscheid et ai. (1973), citados em Festas
(2002), que verificaram uma correlação positiva entre
satisfação com o peso e satisfação com a imagem corporal,
relação confirmada no nosso estudo.

109
Apresentação e discussão dos resultados

110
VI - C O N C L U S Õ E S
Conclusões

VI - Conclusões

As conclusões aqui apresentadas devem ser


interpretadas considerando as caracteristicas especificas
do estudo por nós efectuado, nomeadamente, a amostra
considerada, de idosos do sexo feminino do Concelho do
Porto; o seu carácter longitudinal quase-experimental; e as
limitações inerentes à sua metodologia.
0 propósito do nosso trabalho, investigar a influência
da massagem na percepção e na satisfação com a imagem
corporal, foi atingido.

Relativamente à hipótese número um, de que a


experiência de massagem acarreta mudanças significativas na
percepção da imagem corporal, atribuímos a sua confirmação
em apenas um item devido a algumas caracteristicas da
amostra, do protocolo utilizado e da própria variável
percepção. 0 corpo do idoso apresenta-se num estádio com
pouca possibilidade de mudanças nos diversos tecidos, com
estruturas que já se encontram com um nivel de rigidez
elevado e, por isto, acreditamos que seria necessário um
intervalo menor entre as sessões de massagem e também um
maior número de sessões ao longo do protocolo para surtir o
efeito que esperávamos, vendo mudanças significativas num
maior número de segmentos corporais. Consideramos também
que o processo de mudança da percepção da imagem corporal
acontece de uma forma lenta.

A segunda hipótese, a experiência de massagem acarreta


mudanças significativas na satisfação com a imagem
corporal, teve plena confirmação, reforçando as referências
da literatura sobre os benefícios do toque sobre a pele, e

113
Conclusões

da manipulação dos sistemas orgânicos para o bem-estar e


satisfação com o próprio corpo.
A massagem, aumentando a satisfação com a imagem
corporal, pode ajudar a aliviar a crise da cisão entre o
homem e o seu corpo, para que não diga mais "tenho um
corpo", e sim "sou um corpo", e que este corpo não seja
algo que me pertença mas que seja eu, ou que eu o seja.
No mundo contemporâneo é urgente que ousemos resgatar
o tocar no próximo. Recuperar o simples, a mão que toca
cuidando ou acariciando, um gesto tão próximo e cada vez
mais distante. Num mundo de contactos sem tacto, o momento
do ciberespaço, "o táctil converte-se em digital, o teclado
substitui a pele, o rato toma o lugar da mão" (Le Breton,
2001, p.208).

114
VII - RECOMENDAÇÕES
Recomendações

VIII - Recomendações

Considerando a reduzida produção de trabalhos


científicos que associam massagem e imagem corporal, são
muitas as necessidades e possibilidades de investigação
nesta área.
Em relação à amostra do nosso estudo, idosos do sexo
feminino, podem fazer-se confrontações com um grupo de
mulheres de outras faixas etárias; comparar com um grupo de
idosos do sexo masculino; e comparar um grupo que faça só
massagem com um grupo que faça massagem e actividade fisica
paralelamente.
Por outro lado, ainda analisando diferentes
interacções da massagem, poder-se-ia averiguar a sua
relação com factores como auto-conceito e auto-estima,
utilizando como amostra grupos que têm geralmente baixos
niveis nestes aspectos como, por exemplo, toxicodependentes
ou prostitutas.
A nossa variável independente, massagem, pode também
ser confrontada com outras técnicas de manipulação
terapêutica como mobilização articular passiva ou
alongamento passivo. 0 estudo poderia ser feito com ambas
incluídas numa mesma sessão e feita a comparação com um
grupo controlo, ou utilizadas sessões especificas com cada
uma dessas técnicas, aplicadas em grupos distintos.
Quanto à variável dependente percepção da imagem
corporal, sugerimos que a mesma seja investigada através do
trabalho de mobilização articular passiva e ou o trabalho
de percussão suave sobre os ossos, tendo em conta que a
percepção do corpo passa pela propiocepção, e que esta é
viabilizada, entre outros, através dos receptores que se
encontram a nivel articular.

117
Recomendações

118
VIII - BIBLIOGRAFIA
Bibliografia

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128
A N E X O S
Universidade do Porto
Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Fisica
Mestrado em Desporto de Recreação e Lazer

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

A presente pesquisa é a parte experimental do Projecto de


Dissertação de Mestrado na área de Desporto de Recreação e
Lazer e tem como tema A influência de massagem sobre a imagem
corporal.
0 nosso trabalho tem como objectivo geral analisar o
efeito de um programa de massagem sobre a imagem corporal, e
como objectivos específicos investigar se existe diferença na
satisfação e na percepção da imagem corporal entre praticantes
e não praticantes (grupo controlo) de um programa de massagem.
A duração será de 14 (catorze) semanas consecutivas. Na
primeira será feita a aplicação dos questionários de
identificação pessoal, de satisfação com a imagem corporal e a
avaliação da percepção da imagem corporal. Nas outras 12 (doze)
semanas serão aplicadas sessões de massagem com duração de uma
hora cada sessão, sendo uma a cada semana. Na 14a sessão será
reaplicados o questionário de satisfação com a imagem corporal
e a avaliação da percepção da imagem corporal.
Considerando as características especificas do grupo que
vai se submeter às massagens e o objectivo da pesquisa, foi
desenvolvido um programa de massagens que não ponha em risco o
referido grupo, podendo ainda trazer alguns benefícios
inerentes a prática de massagens.
Durante todo o processo de aplicação das massagens o
pesquisador estará disponível a todos os participantes para
qualquer assistência no que diz respeito a questões especificas
do trabalho, sejam a nivel corporal ou para esclarecimentos
metodológicos sobre a pesquisa.
Todos os participantes têm a liberdade de se recusar a
participar ou retirar o seu consentimento em qualquer fase da
pesquisa, sem penalização alguma e sem prejuízo ao seu cuidado.
Será garantido o sigilo assegurando a privacidade dos
sujeitos quanto aos dados confidenciais envolvidos na pesquisa.
Todas as despesas para a viabilização da pesquisa e para
eventuais danos decorrentes da mesma ficarão por conta do
pesquisador responsável.
De acordo com o acima exposto, dou o meu consentimento
para me submeter a referida pesquisa.

Porto, de de
Questionário de identificação pessoal,
dados gerais de saúde e
prática de actividade fisica

N.° Idoso : | | Data:

Nome: Tel. :

Sexo: Data de nascimento: Peso: Idade:

Residente no lar: Não | I Sim

Se não, mora com quem?

Se sim, tempo de residência:

Recebe visitas de familiares e/ou amigos? Não Sim l

Mantém contacto fisico com alguma pessoa? Não Sim I

Que tipo?

Pratica alguma actividade fisica? Não I 1 Sim

Qual:

Há quanto tempo:

Dorme bem? Não I Sim I I

Sente alguma dor no corpo? Não Sim

Descreva:

Faz algum tratamento fisioterápico? Não Dim

Que tipo?

Tem algum problema de saúde? Não I 1 Sim

Qual?

Faz uso de medicamentos? Não I ' Sim

Quais?

Fez alguma cirurgia? Não | | Sim

Qual(is) e há quanto tempo?


Body Size Estimation Method
- BSEM - ( K r e i t l e r e K r e i t l e r , 1988)

N.° i d o s o :

Percepcionada Real

Altura
Largura dos ombros

Largura da cintura
Largura das ancas
Comprimento da mão
Comprimento do pé
Comprimento da face

Altura da testa
Comprimento do nariz
Comprimento da orelha

Largura da boca
Body Image Satisfaction Questionnaire
- BISQ - (Lutter, 1990)

N.° idoso:

1- Não gosto 2- Não 3- É-me 4- Estou 5- Considero-


nada e gosto mas indiferente satisfeito me favorecido
desejaria ser tolero
diferente
l - A s p e c t o g e r a l da face

2-Cabelo

3-Pele

4-Testa

5-Olhos

6-Nariz

7-Boca

8-Orelhas

9-Pescoço

10-Ombros

11-Braços

12-Mãos

13-Seios

14-Barriga

15-Cintura

16-Ancas

17-Coxas

18-Pernas

19-Pés
20-Peso

21-Altura
22-Postura

23-Resistência fisica

24-Sensação g e r a l
T

Ficha de Acompanhamento das s e s s õ e s de massagem

Cliente :

Sessão N°:

Dia: / / Hora:

Relato i n i c i a l :

- Sobre a sessão passada:

- Como s e n t e - s e agora:

Procedimento:

Relato f i n a l :
Errata.

PÁGINA(S) LINHA(S) ONDE LÊ-SE LEIA-SE


XVII 4, 26 bodily body
e 28
XVII 11 control control group
experiment
1 5 9 refere Yegul refere Yegul (s.d)citado em
í
Calvert(2002).
15 14 Kamenetz(1960) Kamenetz(1960) citado em
Calvert (2002)
30 19 Borelli Borelli(1967)
46 7 Shontz Shontz(1969)
53 23 Cash et ai., Cash et ai. (1990)
93 5 Os itens que Seis dos itens que
93 17 do item Boca, dos itens Boca, Testa, Cabeça e
Altura

Porto, 02 de Dezembro de 2003

ÍVU^O^v^ VW^X^^^^. /I . y?U / ll^-^pf-

Luciano Klostermann Antunes de Souza

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