Michel Foucault: Modernidade E Educação
Michel Foucault: Modernidade E Educação
Michel Foucault: Modernidade E Educação
Solange Nonnenmacher *
Vera Lúcia B. Pereira**
Resumo:
Este texto tem como objetivo enfocar, de forma sintética e por isso pretensiosa, o pensamento
de Foucault dentro do projeto da modernidade, onde a razão domina a natureza e é vista
como o meio para garantir ao homem sua felicidade e liberdade.E também, desenvolver
algumas idéias de como Foucault percebia e analisava a formação dos sujeitos modernos, e
desmistificava a expressão “o sujeito desde sempre aí” ao relacionar sujeito, discurso,
identidade, verdade e poder não excluindo a racionalidade, mas questionando a idéia
totalitária de razão. Dentro dessas considerações encontra-se também de modo resumido,
como Foucault percebe a escola na construção desse sujeito moderno.
Introdução
*
Professora da UERGS, com Graduação em Pedagogia, Habilitação em Supervisão Escolar e Especialização em
Administração Escolar. Mestranda em Educação da UFSM.
Endereço eletrônico: [email protected].
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Professora Estadual, com Licenciatura Plena em Matemática com cursos de Especialização em Matemática e
Educação Especial. Mestranda em Educação da UFSM.
Endereço eletrônico: [email protected]
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Caracterizando a Modernidade
Porém, o final do século XX ficou marcado pela angústia e pela decepção, pois a
promessa de felicidade/liberdade construída pelo mito do progresso, percebido como redentor
da humanidade, não se concretizou. Nas palavras de Edgar Morin, “o século XX pareceu dar
razão à fórmula atroz segundo a qual a evolução humana é o crescimento do poderio de
morte”.(Morin, 2003 p.70)
Na pós-modernidade, os fundamentos éticos que o ocidente conhecia foram suplantados
pela razão; muitos vivem uma atitude de resignação, como sendo o estado das coisas corrente,
o destino final da humanidade (o fim da história); há um mal-estar coletivo, em que a
frustração é negada através da ideologia do individualismo; solidifica-se a tensão entre
mundialização e localismo; a felicidade, o bem-estar é concebido apenas em termos de
hedonismo e materialidade; o triunfo da democracia não está assegurado; a ciência revela-se
ambivalente, servindo tanto aos valores da vida como da morte; o progresso danifica
irremediavelmente a natureza e inúmeras culturas; a cultura do mercado exclui populações
inteiras das condições mínimas de dignidade da vida humana. Vivemos “um tempo de
barbárie”, segundo Edgar Morin.
nos deslocando para ele, ele vai mudando de lugar”(Veiga-Neto, 2005, p.30). Ao configurar a
racionalidade moderna no pensamento de Foucault, nota-se sua preocupação em responder à
pergunta: “como nos tornamos o que somos como sujeitos?” Parte, então, da expressão “o
sujeito desde sempre aí” – visto como objeto das influências sociais, culturais, políticas,
econômicas, educacionais – e por isso mesmo, facilmente manipulável. Esta condição seria a
fonte dos maiores problemas sociais, na medida em que ela agiria encobrindo e naturalizando
o seu caráter manipulador, arbitrário e opressor.
Suas pesquisas abordaram três modos de subjetivação que transformam os seres
humanos em sujeitos: a objetivação do sujeito no campo dos saberes (arqueologia); esta tem
um caráter histórico e político, procurando descobrir como os saberes aparecem e se
transformam; a objetivação do sujeito nas práticas do poder que divide e classifica
(genealogia):
Analisando essas formas de subjetivação Foucault identifica três tipos de lutas sociais
sempre ativas, porém variantes em distribuição, combinação e intensidade no decorrer da
História: as lutas contra a dominação – religiosa, de gênero, racial etc; as lutas contra a
exploração do trabalho e as lutas contra as amarras do sujeito em relação a si próprio e aos
outros. Todas essas dimensões e lutas que construíram o homem moderno teriam sua razão de
ser na própria configuração disciplinadora da sociedade moderna, pois, por intermédio da
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As relações sociais são permeadas pelo poder, porém ele não é algo que emana de um
centro, como por exemplo, o Estado; nem mesmo é algo que esteja nas mãos de alguns ou
que algum grupo exerça sobre outro; tampouco resulta de arranjos políticos. Ao contrário, o
poder está distribuído difusamente por todo o tecido social. Foucault entende o poder como
uma ação sobre as ações e considera sua ação insidiosa, microscópica, microfísica,
permanente e penetrante.
Com relação aos estudos sobre o poder, há ainda o conceito foucaultiano de
governamentalidade, que designa as práticas de governamento que “têm na população seu
objeto, na economia seu saber mais importante e nos dispositivos de segurança seus
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mecanismos básicos”. (Machado apud Veiga-Neto Op.cit. 2005, p.86.) Este conceito refere-
se ao poder disciplinar do Estado, mais especificamente.
Estuda, também, um novo tipo de poder, o biopoder que segundo ele, surgiu no final do
século XVIII. O biopoder trata o corpo coletivamente, num conjunto de corpos – a população.
Toma os corpos naquilo que eles têm em comum: a vida, o pertencimento a uma espécie.
Enquanto o poder disciplinar referia-se ao corpo individual, o biopoder faz uma “biopólítica
da espécie humana”. A população é, então, descrita e quantificada através da Estatística, da
Demografia,da Medicina Sanitária, do Serviço Social, etc. Estas descrições e quantificações
podem ser combinadas, comparadas, cruzadas e assim, produzem-se inúmeros saberes, com o
objetivo de controlar, prever riscos e regulamentar a vida coletiva.
Na educação, e de modo especial no currículo, os professores, a princípio, têm
domínio dos discursos que formam o currículo. Segundo Foucault, os professores tornam-se
locutores anônimos e com autoridade, mas desconhecem as origens do discurso que praticam.
Por outra parte, Foucault desconstrói a idéia de sujeito epistêmico, base da
epistemologia construtivista exaustivamente estudada e proposta como método de trabalho
aos professores, ao propor que “não é a atividade do sujeito do conhecimento que produz um
saber útil ou arredio ao poder, mas o saber-poder, os processos e as lutas que o atravessam e
o constituem, que determinam as formas e os campos possíveis do conhecimento” (Foucault,
2005, p.30)
Ao fazer um esquema imaginário das práticas escolares, desvela como pano de fundo o
disciplinamento, a vigilância, os exames, as autonarrativas e outras práticas de controle e
poder. Tais práticas são adequadas para a construção do sujeito moderno, cidadãos da
sociedade disciplinar e capazes de autogoverno. Assim a escola cria condições para
possibilitar a modernidade. Observa Foucault que as práticas sociais, mais propriamente as
práticas escolares estão envolvidas pela cultura e têm uma dimensão discursiva. E vê o
discurso como uma rede de representações que utiliza textos, imagens, códigos de conduta,
estruturas narrativas que também contribuem para moldar a vida social. Todas estas
tecnologias de poder têm por função impor uma conduta determinada a uma multiplicidade
de indivíduos ou ao indivíduo isoladamente, de forma a que respondam às expectativas das
instituições criadas pela sociedade moderna.
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Considerações finais
não se trata de pensar que ele tem a chave, a solução, a verdade; nem
mesmo pensar que ele chegou mais perto de uma suposta verdade.
Trata-se, tão somente de colocar em movimento uma vontade de
saber. O que importa é, junto com Foucault, tentarmos encontrar
algumas respostas para a famosa questão nietzchiana – que estão (os
outros) e estamos (nós) fazendo de nós mesmos? – para, a partir daí,
nos lançarmos adiante para novas perguntas, num processo infinito
cujo motor é a busca de uma existência diferente para nós mesmos e,
se possível, uma existência melhor”.(Veiga-Neto, Op.cit., p.12)
Referências bibliográficas