Manual - Utilização de Produtos Fitofarmaceuticos

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UTILIZAÇÃO

DE PRODUTOS
FITOFARMACÊUTICOS
NA AGRICULTURA

A G R I C U LT U R A E A M B I E N T E
FICHA TÉCNICA

Título UTILIZAÇÃO DE PRODUTOS FITOFARMACÊUTICOS


NA AGRICULTURA

Autor João Santos Simões

Editor © SPI – Sociedade Portuguesa de Inovação


Consultadoria Empresarial e Fomento da Inovação, S.A.
Edifício “Les Palaces”, Rua Júlio Dinis, 242,
Piso 2 – 208, 4050-318 PORTO
Tel.: 226 076 400, Fax: 226 099 164
[email protected]; www.spi.pt
Porto • 2005 • 1.ª edição

Produção Editorial Principia, Publicações Universitárias e Científicas


Av. Marques Leal, 21, 2.º
2775-495 S. João do Estoril
Tel.: 214 678 710; Fax: 214 678 719
[email protected]
www.principia.pt

Revisão Marília Correia de Barros

Projecto Gráfico e Design Mónica Dias

Paginação Xis e Érre, Estúdio Gráfico, Lda.

Impressão SIG – Sociedade Industrial Gráfica, Lda.

ISBN 972-8589-48-4

Depósito Legal 233533/05

Produção apoiada pelo Programa Operacional Agricultura e Desenvolvimento Rural,


co-financiado pelo Estado Português (Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural e das Pescas)
e pela União Europeia através do Fundo Social Europeu.
UTILIZAÇÃO
DE PRODUTOS
FITOFARMACÊUTICOS
NA AGRICULTURA
João Santos Simões

A G R I C U LT U R A E A M B I E N T E
A gradecimento

Ao Engenheiro Agrónomo Rui Delgado, com quem se analisa-


ram alguns temas tratados no manual.
Ao Engenheiro Agrícola Jorge Silva, pela leitura do texto e pelas
sugestões oportunas.
I N T R O D U Ç Ã O

As culturas e os géneros agrícolas são permanen-


temente ameaçados por múltiplos inimigos – ervas in-
UTILIZAÇÃO festantes, pragas e doenças – que, ao desenvolverem-
-se, influenciam negativamente as colheitas, quer
DE PRODUTOS directamente em termos de quantidade e de qualida-
FITOFARMA- de, quer indirectamente tornando mais difíceis e one-
rosas diversas operações culturais.
CÊUTICOS NA Cabe ao agricultor impedir ou, no mínimo, limitar
AGRICULTURA tais ameaças através do recurso a Medidas de Pro-
tecção ou Meios de Luta adequados, cuja missão é
precisamente prevenir ou combater esses inimigos.
São várias as Medidas de Protecção ou Meios de
Luta disponíveis, sobre os quais se falará no Capítulo 3. Adianta-se todavia que, de
entre eles, na fase actual do conhecimento, apenas o recurso à Luta Química torna
possível obter níveis de produção capazes de satisfazer as necessidades globais da
população em produtos agrícolas e derivados (26).
A grande razão universal, mas não única, do desenvolvimento e uso dos Produ-
tos fitofarmacêuticos foi e continua a ser a produção de alimentos.
E, produzir alimentos, capazes de suprir as necessidades de toda a humani-
dade, livres de problemas fitossanitários e isentos de risco para a saúde, é tare-
fa que só se consegue com o uso de moderna tecnologia agrícola, onde eles se
incluem.
Isto respeita a culturas de consumo em fresco como frutas e legumes, ou a
outras do tipo cereais, batata, oleaginosas, que se destinam a ser transformadas.
Produtos agrícolas com lesões ou feridas provocadas por pragas ou doenças
perdem imagem, atractividade e valor comercial e se os mesmos se destinam a ser
armazenados seguramente terão perdas avultadas durante esta fase.
Assegurar a boa sanidade das culturas agrícolas e proteger as colheitas são
assim duas actividades de grande relevo no combate à subnutrição e à fome, nas
quais os Produtos fitofarmacêuticos desempenham um importante papel. Sem eles
não há, de facto, garantia de segurança alimentar para populações de várias zonas
do globo, pelo que o seu uso deve ser defendido.
Como qualquer outro profissional, um agricultor sente-se mais realizado quando
consegue maiores produções e produções de melhor qualidade.
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Isto significa mais rendimento, mas tal só é possível através de uma melhor e
mais racional fertilização, irrigação, amanhos e cuidados fitossanitários, factores
capazes de garantir que as culturas expressem as suas potencialidades, com equi-
líbrio e de forma sustentável. E, é à Agricultura Sustentável que nos referimos,
entendida como um sistema que utilize meios e práticas que permitam e estimulem:
• produzir alimentos com eficiência e rentabilidade;
• viabilizar economicamente a Agricultura;
• preservar os recursos naturais, a paisagem rural e o ambiente no seu todo;
• capacitar as populações para, de forma sustentável e continuada preserva-
rem o seu próprio bem-estar, sem comprometer o das gerações vindouras.
Temos assim uma actividade atractiva, de riscos reduzidos, financeiramente
compensadora, isto é, uma actividade que não agride as pessoas, a paisagem e o
ambiente, economicamente viável e socialmente aceite. Convém aqui lembrar e
reter que há riscos inerentes e presentes em toda e qualquer actividade e que
qualquer profissional, de qualquer ramo, deve saber identificar não só os benefí-
cios, mas também os riscos que a sua actividade comporta, para assim melhor os
poder contornar ou evitar.
Claro está que isto é também válido para quem directa ou indirectamente utiliza
os Produtos fitofarmacêuticos, pelo que toda a análise relativa ao seu uso deve
incidir num balanço entre benefícios e riscos.
De facto, estes produtos, enquanto factores de produção, apresentam, clara-
mente, o grande benefício de contribuírem para o aumento das colheitas através da
redução de perdas, da melhoria de qualidade dos produtos agrícolas e da eficiência
em várias tarefas, mas como produtos químicos que na sua grande maioria também
são, têm inerente a si próprios uma certa carga negativa, consequência da maior ou
menor toxicidade e das características de cada um.
O risco que representam para os seres humanos e/ou para os organismos vivos,
plantas ou animais, está assim dependente da sua toxicidade e da exposição a que
as pessoas ou organismos ficam sujeitos, quando os manipulam ou usam.
Confirma-se pois que, para além dos benefícios associados ao seu uso, podem
existir também perigos para a saúde humana e animal e impacte inaceitável para o
ambiente, factos que importa conhecer e minimizar.
Poder-se-á dizer que estes são os pontos fracos, mas tais questões são suscep-
tíveis de serem geridas através de medidas apropriadas, de não difícil execução.
Eliminar os riscos pode ser tarefa difícil, senão impossível, mas mantê-los abaixo
de certos limites toleráveis está ao alcance de quem manuseia e aplica os Produtos
fitofarmacêuticos.
Esses limites toleráveis são exactamente os que fazem a separação entre a
perigosidade e a não perigosidade.

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INTRODUÇÃO

Na prática da Defesa Fitossanitária das Culturas está muito vulgarizada a Pro-


tecção Integrada, a qual mais não é do que uma peça do grande puzzle Protec-
ção Integrada – Produção Integrada – Agricultura Sustentável –
Desenvolvimento Sustentável.
A Protecção Integrada pode definir-se como sendo «a aplicação racional de uma
combinação de medidas biológicas, biotécnicas, químicas, culturais ou relativas à se-
lecção dos vegetais, em que a utilização de produtos químicos é limitada ao estrita-
mente necessário para manter a presença de organismos nocivos abaixo dos níveis a
partir dos quais surgem prejuízos ou perdas economicamente inaceitáveis» (13).
A limitação preconizada para o uso da Luta Química a que alude a definição
deriva precisamente dos riscos a que atrás se fez referência. Veremos, contudo,
neste manual, que é possível lidar com estes aspectos de forma equilibrada e inteli-
gente trazendo assim os potenciais riscos para níveis toleráveis. Neste aspecto, o
uso da informação disponível no rótulo de cada embalagem é, por si só, uma enorme
e relevante ajuda.
De facto, se usados conforme as condições aprovadas, que são as expressas no
rótulo, os Produtos fitofarmacêuticos não apresentarão efeitos prejudiciais, quer
para a Saúde Humana e animal, quer para o Ambiente.
Estamos a referir grupos de risco concretos e reais, alguns fortemente envolvi-
dos na sua utilização, como são os manipuladores ou operadores, os trabalhadores,
os consumidores, o ambiente (solo, água, ar, fauna selvagem e flora espontânea).
Usados para os fins e nas condições preconizadas, qualquer Produto fitofarma-
cêutico resulta eficaz e não apresenta riscos inaceitáveis nos planos toxicológico,
ecotoxicológico e ambiental.
Convém, no entanto, reter que cada produto deve ser analisado individualmente
e, genericamente falando, os produtos de novas gerações possuem características
muito mais «aceitáveis» nos planos toxicológico e ecotoxicológico, quando compa-
rados com os das antigas gerações.
As décadas de 1960, 1970 e 1980 foram pródigas no surgimento de Produtos
fitofarmacêuticos oriundos de múltiplas famílias químicas. Foram os anos do grande
boom na Europa e logicamente entre nós, cujo início se situa após a Segunda Guer-
ra Mundial.
Até hoje, ao longo destas quase cinco décadas as exigências relativas à homo-
logação dos Produtos fitofarmacêuticos nas áreas eficácia, toxicidade, ecoto-
xicidade e ambiente existiram ou foram-se desenvolvendo, mas nunca tiveram
igual peso.
Globalmente falando, é visível que ao longo destes anos aumentou incomensura-
velmente a consciencialização sobre as questões ambientais e da segurança para o
Homem, diminuiu a tendência para a aceitação de riscos e cresceu a disponibilidade
para a conflitualidade, traduzida em manifestações, queixas e recorrência às mais
altas instâncias arbitrárias.

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Isto, graças ao crescimento explosivo da informação, ao aumento de influência


dos media e de grupos de pressão, à transparência internacional e ao aumento na
velocidade de transmissão das notícias, à mobilidade.
Hoje, as exigências da União Europeia relativas à homologação dos produtos
fitofarmacêuticos estão harmonizadas entre os Estados-membros e são extrema-
mente exigentes e restritivas em áreas como o destino e comportamento no Ambi-
ente, a segurança do utilizador (manipulador, operador, trabalhador), os Limites
Máximos de Resíduos (consumidor) e os efeitos em artrópodes úteis (Organismos
Auxiliares), esta última exigência condicionante de uma eventual recomendação
dos produtos em Protecção Integrada. São também requeridos estudos sobre os
modos de evitar ou gerir possíveis resistências.
E tudo isto, na prática, com «prioridade» sobre a eficácia.
Nos capítulos que se seguem pondera-se sobre o que fazer e como proceder de
modo a serem maximizadas as vantagens inerentes ao uso dos Produtos fitofarma-
cêuticos e minimizados os eventuais riscos.
São assim esclarecidos e tratados vários assuntos, alguns não suficientemente
divulgados, relacionados com a sua utilização segura:
• o conhecimento pormenorizado dos próprios produtos;
• o porquê da homologação e a evolução das suas exigências ao longo dos
anos;
• os vários meios de luta que existem e a importância de cada um;
• os conceitos de Boa Prática e as vantagens do seu cumprimento;
• os balanços risco-benefício e a sua gestão face a múltiplas situações de ex-
posição.
Pretende-se que esta informação possa levar a uma opinião fundamentada so-
bre este vasto tema ou que pelo menos seja um estímulo e um ponto de partida na
procura de mais conhecimentos acerca dele.

JOÃO SANTOS SIMÕES

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C A P Í T U L O 1

O QUE SÃO PRODUTOS


FITOFARMACÊUTICOS

O B J E C T I V O S

Produtos fitofarmacêuticos,
• Definem-se e caracterizam-se os Produ-
pesticidas ou agro-químicos, tos fitofarmacêuticos.
são três modos vulgarmente
• Faz-se a sua classificação com base em
usados para dizer o mesmo. diversos parâmetros.
O que são realmente
• Enumeram-se os benefícios que se lhes as-
estes produtos? sociam, assim como os possíveis riscos.
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E N Q U A D R A M E N T O Apesar da inegável importância de que se re-


vestem, os Produtos fitofarmacêuticos são pouco conhecidos da sociedade.
Justifica-se pois falar deles.

DEFINIÇÃO
Produtos fitofarmacêuticos (Pf) – são as substâncias activas e as pre-
parações contendo uma ou mais substâncias activas que sejam apresentadas
sob a forma em que são fornecidas ao utilizador e se destinem a:
a) proteger os vegetais ou os produtos vegetais de todos os organismos
prejudiciais ou a impedir a sua acção, desde que essas substâncias ou
preparações não estejam a seguir definidas de outro modo;
b) exercer uma acção sobre os processos vitais dos vegetais, com ex-
cepção das substâncias nutritivas (exemplo: os reguladores de cres-
cimento);
c) assegurar a conservação dos produtos vegetais, desde que tais subs-
tâncias ou preparações não sejam objecto de disposições comunitárias
especiais relativas a conservantes;
d) destruir os vegetais indesejáveis;
e) destruir partes de vegetais e reduzir ou impedir o crescimento indese-
jável dos vegetais;
f) serem utilizados como adjuvantes.
Esta definição, abrangente e rigorosa, é adoptada pela Directiva 91/414/
/CEE e assim foi transposta para a legislação nacional (13; 14).
Há, todavia, uma definição de Produto fitofarmacêutico mais práti-
ca e simples e com largo uso: são produtos destinados à defesa das
plantas e da produção agrícola, com excepção de adubos e correc-
tivos; na sua composição entra uma ou mais substâncias activas
responsáveis pela prevenção ou controlo dos inimigos ou organis-
mos nocivos; podem ter várias designações, consoante os inimi-
gos que combatem.
Durante anos foram, e ainda o são hoje, designados Pesticidas, termo
que engloba uma certa carga negativa não compatível com muitos dos produ-
tos da nova geração e até com alguns antigos.

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CAPÍTULO 1 | O Q UE S ÃO P RODUTOS F ITOFARMACÊUTICOS

Este termo continua a ser frequentemente usado nas terminologias das


línguas inglesa e francesa e, entre nós, surge sempre ou quase sempre asso-
ciado aos resíduos. Ao falar-se de resíduos, diz-se normalmente resíduos
de Pesticidas e não resíduos de Produtos fitofarmacêuticos. O Laborató-
rio de Resíduos de Pesticidas, criado em finais de 2003, é outro exemplo
desta preferência terminológica.
Há também quem os designe Agroquímicos, termo impreciso e pouco
rigoroso, uma vez que abrange outros factores de produção como os adubos,
os correctivos agrícolas e as rações.
Há ainda, embora mais raramente, quem os designe Biocidas, terminolo-
gia manifestamente imprecisa e desajustada. Por exemplo, as lixívias usadas
pela dona de casa e múltiplos desinfectantes de uso veterinários ou caseiro,
são biocidas.
No decorrer deste Manual usar-se-ão as designações Produto fito-
farmacêutico e Pesticida, esta segunda apenas em temas ligados a re-
síduos.

COMPOSIÇÃO
Cada Produto fitofarmacêutico tem na sua composição uma ou mais subs-
tâncias activas (sa) e um conjunto variável de outras substâncias generica-
mente designadas formulantes.
Analisemos cada um destes grupos:
A substância activa é a componente do Produto fitofarmacêutico respon-
sável pelo seu comportamento biológico.
Além da(s) substância(s) activa(s) o Produto fitofarmacêutico tem
ainda na sua composição um conjunto variável de outras substâncias de-
nominadas formulantes, as quais não interferem com a substância acti-
va, nem química nem biologicamente, mas imprimem determinadas
características e propriedades que são fundamentais ao conjunto, ou seja,
ao produto formulado (pf), tais como estabilidade e efeito aplicabilidade
(solubilidade, capacidade de suspensão, molhabilidade, poder absorvente,
viscosidade, etc.) (3; 30; 39; 51; 52).

O produto formulado é afinal o Produto fitofarmacêutico.

Exemplos de alguns formulantes constam da quadro 1.1.

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UTILIZAÇÃO DE P R O D U TO S F I TO FA R M A C Ê U T I C O S NA A G R I C U LT U R A

Solventes ou dissolvem as substâncias activas noutras substâncias


diluentes (como regra as substâncias activas não são solúveis)
Tensioactivos têm por função a redução da tensão superficial e cumprir
ou várias funções:
«surfactantes» molhantes – favorecem a adesividade à superfície dos
órgãos vegetais
dispersantes – evitam a aglomeração das partículas
emulsionantes – evitam a separação das fases aquosa
e oleosa no caso das emulsões
anti-espuma e outras – como anti-pó, adesivos, etc.
Cargas inertes reduzem a concentração da substância activa e dão
consistência, volume e forma física ao produto formulado.

Quadro 1.1 • Exemplos de Formulantes

Assim:
Pf = produto formulado = substância activa + formulantes

O QUE É A FORMULAÇÃO?
O termo formulação emprega-se não só para designar o processo
de fabrico de um Produto fitofarmacêutico mas também, mais vulgarmen-
te, para referir o modo como o Produto fitofarmacêutico fisicamente
se apresenta.
O desenvolvimento de uma formulação é um trabalho multidisciplinar, onde
entram conhecimentos de química, de física, de biologia, de toxicologia, de
ecologia, de tecnologia e de marketing, etc.
Especialistas destas múltiplas áreas têm por missão, em conjunto, criar
algo que possa ser fabricado industrialmente com sucesso e que possa inte-
ressar o mercado – o produto formulado.
Na formulação, há que ter em conta aspectos tão variados como a acção
biológica no duplo ponto de vista eficácia e tolerância, as propriedades físico-
químicas (solubilidade, estabilidade, etc.) e toxicológicas, os efeitos ambientais,
as características da aplicação (distribuição), o grau de aceitação por parte dos
utilizadores finais, a disponibilidade dos formulantes (matéria prima), o proces-
so de fabrico, o embalamento e a vertente económica do projecto.
Cada um dos parâmetros por si só e todos no geral terão de ser tão posi-
tivos quanto possível.
Para além das bases científicas inerentes a esta tarefa, ela está também
muito dependente da experiência, havendo quem a apelide de «arte».

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CAPÍTULO 1 | O Q UE S ÃO P RODUTOS F ITOFARMACÊUTICOS

O modo como um produto fisicamente se apresenta, isto é a formulação, pode


ter várias designações, de que se apontam exemplos no quadro 1.2 (26; 28).

FORMULAÇÕES ABRV.* FORMULAÇÕES ABRV.* OUTRAS ABRV.*


SÓLIDAS LÍQUIDAS FORMULAÇÕES

grânulos
concentrado
dispersíveis WG EC microgrânulos MG
para emulsão
em água
emulsão água
grânulos GR EO gel para emulsão GL
em óleo
emulsão óleo
pó molhável WP EW isco concentrado CB
em água
solução
pó polvilhável DP SL pasta PA
concentrada
suspensão
pó solúvel SP SC pastilhas TB
concentrada

Quadro 1.2 • Exemplos de Formulações


* Código Internacional dos tipos de formulação

Uma substância activa pode originar mais de uma formulação, esta é aliás
uma decisão ponderada pelos responsáveis em fase relativamente precoce
do processo de desenvolvimento de um Produto fitofarmacêutico. Nos casos
em que existem duas ou mais formulações duma mesma substância activa,
há entre elas certos parâmetros que são comuns e outros que o não são
conforme se mostra no quadro 1.3.

as propriedades físicas da substância activa


Parâmetros comuns as propriedades químicas da substância activa
o modo de acção biológico

o método de aplicação
o processo de fabrico
a compatibilidade nas misturas
a segurança durante o fabrico
Parâmetros variáveis o manuseamento e a aplicação
a segurança face ao ambiente
a preferência do utilizador final
considerações de natureza comercial
o custo

Quadro 1.3 • Parâmetros de uma Formulação

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Assim, são os parâmetros variáveis que estabelecem as diferenças


entre duas ou mais formulações duma mesma substância activa. É com
base neles que se torna possível criar, para cada uma, um perfil definido por
vantagens e por desvantagens, conforme o quadro 1.4.

VANTAGENS DESVANTAGENS

• baixa toxicidade • facilmente lavado pela chuva


• baixa inflamabilidade • instável a baixas temperaturas
• boa solubilidade e suspensão • processo de fabrico caro
• eficaz para as culturas
• segurança

Quadro 1.4 • Exemplo do perfil de uma formulação (fictícia)

Não há formulações que tenham apenas vantagens, mas há na realidade


algumas com mais vantagens que outras.
Os critérios de opção pelo desenvolvimento de uma formulação têm a ver
com questões fundamentais como:
• o perfil toxicológico e ambiental;
• a estabilidade física e química a longo prazo (condições de armazena-
mento até 2 anos);
• a facilidade da produção e o seu custo;
• eficácia e comportamento biológico consistentes;
• ser fácil de manusear e de aplicar;
• ser compatível com outros produtos em misturas extemporâneas no
tanque.

O QUE SÃO ADJUVANTES?


A maioria dos Produtos fitofarmacêuticos são aplicados em pulverização
sob a forma de calda e, tal como foram descritos atrás, têm capacidade para,
por si só, resolverem, com eficácia e eficiência, os problemas para que foram
desenvolvidos e homologados.
Contudo, no momento da preparação duma calda e com o fim de melhorar
as suas características, pode, por vezes, recorrer-se a determinadas substân-
cias, misturando-as nessa calda.

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CAPÍTULO 1 | O Q UE S ÃO P RODUTOS F ITOFARMACÊUTICOS

Estes agentes extemporâneos são designados adjuvantes, não têm ac-


ção biológica, mas melhoram as características da calda, acentuando ou im-
primindo determinadas características.
Têm designações várias, consoante o fim a que se destinam (30):
agentes anti-drift (espessantes); agentes anti-arrastamento; agentes com-
patibilizantes; agentes penetrantes; agentes aderentes; agentes molhantes;
agentes dispersantes; agentes anti-espuma, etc.

CLASSIFICAÇÃO DOS PRODUTOS


FITOFARMACÊUTICOS
Existem diversos tipos de Produtos fitofarmacêuticos que se designam
de acordo com os inimigos que têm por fim combater e de que o quadro 1.5
dá exemplos (26; 28).

Fungicidas combatem fungos


Insecticidas combatem insectos
Acaricidas combatem ácaros
Herbicidas combatem ervas infestantes
Nematodicidas combatem nemátodos
Moluscicidas combatem lesmas e caracóis
Rodenticidas combatem ratos
Algicidas combatem algas
Bactericidas combatem bactérias
Adjuvantes substâncias que se adicionam às caldas e lhes imprimem
certas propriedades

Quadro 1.5 • Tipos de Produtos fitofarmacêuticos

De facto, cada tipo não passa de uma designação básica que clas-
sifica os Produtos fitofarmacêuticos consoante o objectivo biológico que
se propõem.
Porém, dentro de cada tipo, os produtos são susceptíveis de se agrupar de
diversos modos, tendo por base certos parâmetros comuns.
Analisemos, para cada um dos grandes grupos de Produtos fitofarmacêu-
ticos, algumas formas de se agruparem.

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UTILIZAÇÃO DE P R O D U TO S F I TO FA R M A C Ê U T I C O S NA A G R I C U LT U R A

FUNGICIDAS
a) Com base na origem ou no grupo químico
Tendo por base a sua origem, os Fungicidas podem classificar-se em:
• Inorgânicos – onde se incluem os fungicidas com base em:
– arsénio de que é exemplo o arsenito de sódio;
– cobre de que são exemplos o oxicloreto e o sulfato de cobre;
– enxofre nas formulações pó molhável e pó polvilhável.
• Orgânicos (de síntese) – onde está a maioria dos fungicidas homo-
logada no país.

b) Com base no seu posicionamento na superfície vegetal


• de superfície (ou de contacto): aplicados na superfície das plantas,
têm acção preventiva, impedem a germinação dos esporos ou evitam a
contaminação das plantas pelo fungo. Exemplos: produtos à base de
cobre, ditiocarbamatos, ftalimidas.
• penetrantes: aplicados na superfície das plantas, atravessam a epi-
derme mas não são transportados no sistema vascular. Têm acção
translaminar e alguma difusão lateral. Exemplo: produtos à base de
cimoxanil.
• sistémicos: aplicados na superfície das plantas, penetram na planta e
são translocados no sistema vascular. Distribuem-se nos tecidos onde
permanecem durante períodos variáveis e aí actuam sobre certos or-
ganismos. Exemplo: produtos à base de metalaxil.
• mesostémicos: actuam na superfície das plantas, sendo absor-
vidos pela camada cerosa, a que se segue um movimento de re-
deposição por fase de vapor. Penetram nos tecidos e possuem
acção translaminar. Exemplos: produtos à base de trifloxistrobi-
na, zoxamida.

c) Com base na actuação no Patogénio


• preventivos (ou protectores ou profiláticos): impedem a germinação
dos esporos e evitam a contaminação da planta pelo fungo.
• curativos (ou terapêuticos): actuam após se ter dado a contaminação
pelo fungo.
• erradicantes (ou anti-esporulantes): destroem os esporos já forma-
dos e impedem a formação de novos esporos.

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CAPÍTULO 1 | O Q UE S ÃO P RODUTOS F ITOFARMACÊUTICOS

d) Com base no modo de acção.


Diz respeito à actuação fisiológica e bioquímica dos fungicidas no meta-
bolismo celular do patogénio.
O conhecimento destes mecanismos é fundamental para compreender
fenómenos como a resistência e para ajudar a definir estratégias que a evi-
tem. Neste particular haverá que considerar os produtos «multisite» que ofe-
recem maior segurança, por contraste com os específicos «unisite».
Embora não sejam especificadas idades, há aqui produtos de diferentes
épocas, sendo certo que os produtos mais recentes têm perfis toxicológico e
ecotoxicológico mais adequados (3; 37).
Os processos fisiológicos e bioquímicos envolvidos visam alterar:
• a membrana celular – os alvos são certos enzimas e provocam
– perturbação da biossíntese do ergosterol. Exemplos: a morfo-
lina, os triazois e a piperidina.
– alteração da permeabilidade e composição da membrana e
inibição da respiração. Exemplo: a dodina.
• o núcleo – os alvos são certos enzimas ou proteínas. Exemplos: meta-
laxil, ofurace.
• a respiração – os alvos são uma vez mais certos enzimas e provocam:
– inibição do transporte de electrões no mitocôndrio. Exemplos:
azoxistrobina e cresoxime-metilo.
• a indução de resistência das plantas – provoca a:
– inibição da biossíntese da melanina das paredes dos apressó-
rios. Exemplo: triciclazol.
• os modos de acção desconhecidos ou múltiplos – onde se incluem:
– a respiração (multi-site) e a inibição da germinação dos espo-
ros. Exemplos: cobre, enxofre, ditiocarbamatos, ftalimidas.
– a inibição da germinação dos esporos e o alongamento das
hifas do micélio. Exemplos: iprodiona, fludioxinil.
– a inibição da biossíntese dos ácidos nucleicos, lípidos, áci-
dos aminados, modificador da permeabilidade celular e estímulo
das defesas naturais. Exemplo: cimoxanil.
– inibição do alongamento do tubo germinativo das hifas. Exem-
plos: ciprodinil, pirimetanil, fenehexamida.
– inibição da germinação e formação de apressórios. Exemplo:
quinoxifena.
– efeito antifosfato e defesas naturais. Exemplo: fosetil.
Este tema é tratado com mais informação nas referências 3, 37 e 41.

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UTILIZAÇÃO DE P R O D U TO S F I TO FA R M A C Ê U T I C O S NA A G R I C U LT U R A

INSECTICIDAS
a) Com base na origem ou no grupo químico
Tendo por base a sua origem os insecticidas podem classificar-se em:
• Inorgânicos – onde se incluem:
– o ácido cianídrico;
– o fosforeto de alumínio;
– o cianeto de cálcio;
– o fosforeto de magnésio.
• Orgânicos – provenientes:
– de óleo mineral (hidrocarboneto) – exemplo: óleo de verão;
– de vegetal – exemplos: piretrinas e óleo de soja;
– de síntese – onde cabe a maioria dos produtos homologados no
país. São exemplos de insecticidas orgânicos de síntese:
- os organofosforados;
- os carbamatos;
- os piretróides;
- os organoclorados;
- o brometo de metilo;
- os neonicotinóides (imidaclopride, tiaclopride, acetamiprida, tia-
metoxame).

b) Com base na via de penetração


• ingestão: penetram no insecto através da armadura bucal, ao alimen-
tarem-se dos vegetais tratados.
• contacto: aplicados no exterior do insecto, penetram nele através da
cutícula e da traqueia.
• penetrantes: atravessam a cutícula dos insectos.
• sistémicos: translocados no sistema vascular das plantas em que são
aplicados, acumulam-se em diversos órgãos e mostram-se eficazes
sobre insectos com armadura bucal picadora sugadora – afídeos, alei-
rodídeos e tripes.
• fumigantes: penetram no corpo dos insectos através das aberturas do
sistema respiratório (estigmata).
• residual: após a aplicação persistem nas superfícies vegetais tratadas
e a penetração no insecto faz-se através de zonas menos esclerotiza-
das, como o tarso.

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CAPÍTULO 1 | O Q UE S ÃO P RODUTOS F ITOFARMACÊUTICOS

c) Com base na actuação na praga


Por regra actua-se ao início do aparecimento da praga em aplicações
pontuais ou em cadeia.

d) Com base no modo de acção


Diz respeito à actuação fisiológica e bioquímica dos insecticidas no meta-
bolismo da praga.
O Modo de Acção da substância activa, assim como os perfis toxicológico
e ecotoxicológico são factores fundamentais a ter em conta quando se esco-
lhe um Produto fitofarmacêutico.
Em termos genéricos, estes perfis são mais favoráveis nas novas molé-
culas. Parâmetros como persistência biológica e largo espectro tornaram-se
factores críticos porque persistência pode significar poluição do Ambiente ou
estímulo à resistência, enquanto largo espectro pode significar agressividade
ecotoxicológica indiferenciada, ou seja, falta de especificidade.
Os mecanismos fisiológica e bioquímica envolvidos visam perturbar:
• a cutícula (biossíntese da quitina). Exemplos: diflubenzurão, lufenurão.
• o sistema respiratório. Exemplos: óleo vegetal, óleo mineral.
• a acção de hormonas no desenvolvimento do insecto. Exemplos:
fenoxicarbe, tebofenozide, buprofezina.
• o sistema nervoso ou mais especificamente:
– a transmissão no axónio. Exemplo: deltametrina.
– a sinapse colinérgica. Exemplos: diazinão, dimetoato, carbaril,
pirimicarbe, nicotina, imidaclopride.
– a sinapse octopaminérgica. Exemplo: amitraze.
– a sinapse. Exemplo: abamectina.
– a sinapse gabaérgica. Exemplos: endossulfão, lindano.
– fago-inibidor. Exemplo: pimetrozina.
– sistema muscular. Exemplo: riânia.
• a respiração. Exemplos: rotenona, fenepiroximato, piribadena, cihe-
xaestanho, tetradifão.
• desconhecido. Exemplos: propargite, clofentezina.
Este tema é tratado com maior pormenor nas referências 3 e 25.

HERBICIDAS
a) Com base na origem ou no grupo químico
Tendo por base a sua origem os Herbicidas podem classificar-se em:

19
UTILIZAÇÃO DE P R O D U TO S F I TO FA R M A C Ê U T I C O S NA A G R I C U LT U R A

• Inorgânicos – onde se inclui o sulfato de ferro


• Orgânicos – provenientes:
– de óleo mineral (hidrocarboneto) – exemplo: óleo de inverno.
– de síntese – onde cabe a quase totalidade dos produtos homologa-
dos no país.

b) Com base na via de penetração


• contacto: aplicados sobre a superfície externa das plantas e afectam
os tecidos que contactam.
• sistémico: penetram nas plantas por múltiplas vias (folhas, raízes,
gemas, caules, coleóptilo, etc.), são translocados no floema e no
xilema.
• residual: aplicados no solo, são absorvidos pelas plantas e compor-
tam-se como sistémicos.

c) Em relação à cultura
• pré-sementeira (ou pré-plantação): aplicados no solo antes da se-
menteira (ou plantação).
• pós-sementeira (ou pós-plantação): aplicados no solo (pré-emergên-
cia) ou nas plantas (pós-emergência).
• pré-emergência: aplicados no solo antes da emergência das plantas.
• pós-emergência: aplicados nas plantas após a sua emergência.

d) Com base no modo de acção


Diz respeito à actuação fisiológica e bioquímica dos herbicidas no meta-
bolismo das ervas infestantes, havendo também aqui alguns mecanismos de
acção desconhecidos.
Tal como nos anteriores casos, também nos Herbicidas é essencial co-
nhecer os mecanismos de acção, para compreender os fenómenos da Resis-
tência e para definir estratégias que a evitem.

Os processos fisiológicos e bioquímicos envolvidos visam prejudicar:


• a parede celular com inibição da biossíntese da celulose
(exemplo: diclobenil) e da calose (exemplo: isoxafena).
• a divisão celular com perturbação da metafase. Exemplos: alacloro,
metolacloro.

20
CAPÍTULO 1 | O Q UE S ÃO P RODUTOS F ITOFARMACÊUTICOS

• o desenvolvimento celular com efeito semelhante ao provocado


pelo ácido indol-acético. Exemplos: 2,4-D, MCPA, dicamba, triclopir.
• a respiração com perturbação da formação de ATP. Exemplos: bro-
moxinil, ioxinil.
• a fotossíntese verificando-se:
– bloqueio do transporte de electrões. Exemplos: triazinas, ureias,
propanil, bromoxinil.
– desvio de electrões, transferência de oxigénio e produção
de iões superóxido e peróxido. Exemplos: diquato e paraquato.
– a biossíntese da clorofila. Exemplos: oxifluorfena, oxadiazão.
• os cloroplastos, com perturbações a nível da biossíntese dos caro-
tenóides. Exemplos: diflufenicão, sulcotriona, amitrol.
• a biossíntese dos aminoácidos. Exemplos: sulfonilureias, imidazoli-
nas, glifosato, glufosinato de amónio.
• a biossíntese dos lípidos. Exemplos: diclofope-metilo, cicloxidime,
EPTC, molinato, etofumesato.
• desconhecido. Exemplos: isopropilo, dazomete, metame-sódio.
Este tema é tratado com maior desenvolvimento nas referências 3 e 29.

A classificação dos Produtos fitofarmacêuticos de acordo com certos


parâmetros pode ir muito mais além do que as atrás equacionadas.

BENEFÍCIOS ASSOCIADOS
AO SEU USO
São muitas e variadas as fontes que, na sequência de ensaios experimentais,
de simulações, de simples evidências estatísticas ou de estudos de outra nature-
za, asseguram ou ajudam a perceber que os Produtos fitofarmacêuticos são, de
facto, ferramentas eficazes e eficientes no suporte da cada vez menor disponibi-
lidade de mão-de-obra e no controlo eficaz e eficiente dos inimigos das culturas,
e por isso mesmo geradores de mais valias quer directamente de forma visível e
mensurável, quer indirectamente. Eis algumas (15; 16; 23; 27; 33; 46; 48; 55).
Alguns dos estudos incidem sobre simulações relativas a uma restrição do
uso, por razões de desaparecimento futuro de elevado número de Produtos fito-
farmacêuticos, em 50% ou mais.

21
UTILIZAÇÃO DE P R O D U TO S F I TO FA R M A C Ê U T I C O S NA A G R I C U LT U R A

Podem parecer bizarros, mas tais estudos justificaram-se a partir de me-


ados de 1991 devido ao facto, então anunciado com a Directiva 91/414/CEE,
de se equacionar a reavaliação de todas as substâncias activas antigas, à luz
dos novos critérios, mais limitativos, o que implica o desaparecimento de um
avultado número dessas substâncias activas.
Esta medida é hoje, de facto, uma realidade em marcha. Foram dados 12
anos para essa reavaliação, mas face às dificuldades surgidas no processo,
foi agora marcado um novo limite – 2008 – para ultimar tal tarefa. Estima-se
que das cerca de 825 substâncias activas existentes no início (25 de Julho de
1993), cerca de 50% sejam excluídas.
Muitas substâncias activas nem sequer foram submetidas a reavalia-
ção, pelas respectivas empresas detentoras, seguramente porque os seus
perfis toxicológico e ecotoxicológico a isso aconselhavam. Esta realidade
implicará, para a agricultura, num futuro muito próximo, que alguns pro-
blemas fitossanitários, sobretudo os ligados a finalidades não cobertas em
culturas maiores e/ou a culturas completamente a descoberto, resultarão
em prejuízos.
Dos trabalhos publicados seleccionam-se quatro, os quais evidenciam:
• perdas directas de produção relacionadas com o não uso de Produtos
fitofarmacêuticos – figura 1.1
• aumentos de preços dos produtos agrícolas gerados pelo não uso ou
pelo desaparecimento de parte dos Produtos fitofarmacêuticos – figu-
ra 1.2 e figura 1.3
• ser possível compatibilizar a Agricultura e o Ambiente – quadro 1.6 e
figura 1.4 – uma vez que a competitividade e a viabilidade agrícolas
também passam pelo uso dos Produtos fitofarmacêuticos

100%

75%

50%

25%

0%
Trigo Milho Cevada

Figura 1.1 • Europa: Perdas de produção devidas a ausência total de protecção fitossanitária (46)

22
CAPÍTULO 1 | O Q UE S ÃO P RODUTOS F ITOFARMACÊUTICOS

100%

75%

50%

25%

0%
Frutos e Óleo Cereais Carne Carne
vegetais vegetal porco aves
Figura 1.2 • EUA: Impacto teórico da ausência de Produtos fitofarmacêuticos e Fertilizantes
sobre o preço dos alimentos (15)

100%

80%

60%
Retalhista
40% Consumidor

20%

0%
Ausência Redução
Figura 1.3 • Evolução teórica dos preços dos alimentos, no retalhista e no consumidor, em
duas hipóteses simuladas – ausência de protecção fitossanitária e redução dos Produtos
fitofarmacêuticos em 50% (55)

DESAPARECE A PRODU- DESAPARECE TODA A


STATUS
ÇÃO EM TERRA ARÁVEL PRODUÇÃO AGRÍCOLA
QUO
ESPÉCIES % variação
% variação
1999 2010 2010 vs. status quo
vs. status quo
Borboletas 90 90 0 20 -78
Abelhas
130 110 -15 23 -82
e vespas
Aves 109 109 0 85 -22
Formigas 32 29 -9 15 -53
Plantas
330 250 -24 70 -79
superiores
Total 691 588 -15 213 -70
Quadro 1.6 • Estudo sobre a evolução de espécies – animais e plantas – no distrito de Erda,
Mittelhessen, Alemanha, em função do uso do solo (48)

23
UTILIZAÇÃO DE P R O D U TO S F I TO FA R M A C Ê U T I C O S NA A G R I C U LT U R A

100%

75%

50%

25%

0%
Tri Gr Ol Be Ar
go ão ea ter ro
for gin r. s z
rag os ac
eir as ./c
o an
aa
çu
.
Figura 1.4 • % de aumentos de áreas de cultura compensadores de 30% de perda de produção (48)

Da reflexão e análise dos dados citados, resultam as seguintes conclu-


sões, traduzidas em benefícios, para com os Produtos fitofarmacêuticos:
• são suporte para parte da cada vez maior redução da mão-de-obra na
agricultura;
• ajudam as plantas a desenvolver o seu total potencial;
• evitam perdas das colheitas, no campo, através do controlo directo das
doenças, pragas e ervas infestantes, de uma forma eficiente e pouco
onerosa. Tais perdas podem atingir valores superiores a 50%;
• evitam perdas durante o armazenamento;
• melhoram a qualidade dos géneros agrícolas;
• permitem manter a regularidade das produções e fazer previsões rigo-
rosas sobre as colheitas;
• ajudam ao abastecimento dos mercados em contínuo, com produtos de
qualidade, a preços acessíveis;
• contribuem para a manutenção dos preços dos produtos agrícolas den-
tro de níveis aceitáveis;
• asseguram uma produção economicamente rentável, que é, em simul-
tâneo, ambiental e socialmente aceite.
Além de se identificarem com os benefícios mencionados, os Produtos fito-
farmacêuticos, particularmente os das novas gerações, continuarão a ter um
papel fundamental a desempenhar na Agricultura Sustentável, uma vez que:
• as culturas e a produção agrícola são ameaçadas por inúmeros orga-
nismos nocivos;

24
CAPÍTULO 1 | O Q UE S ÃO P RODUTOS F ITOFARMACÊUTICOS

• o crescimento da população mundial e dos seus rendimentos condu-


zem a um aumento da procura de alimentos, quer em termos quantita-
tivos, quer qualitativos;
• não é possível alimentar as populações futuras com as culturas e as
produções unitárias de hoje;
• a urbanização a nível mundial cresce rápida e desordenadamente, ocu-
pando muitas vezes solos de comprovada aptidão agrícola;
• a área agrícola diminui drasticamente e a afectação de novas áreas,
para fins agrícolas, torna-se ambiental e socialmente inaceitável;
• o número de pessoas que trabalham na agricultura é cada vez menor;
• os aumentos da produção terão de ser conseguidos nas áreas cultiva-
das hoje existentes, mas de uma forma ambientalmente sustentada e
socialmente aceite;
• para tal, os agricultores necessitam dispor de processos, de métodos e
de meios mais eficazes e evolutivos;
• aumentando a produtividade da terra cultivada, pode-se retardar ou
até impedir a conversão, para fins agrícolas, de áreas protegidas e
habitats de vida selvagem e assim permitir a preservação dos recursos
naturais para as populações vindouras;
• soluções inovadoras contribuem para práticas agrícolas ecológicas, ren-
díveis e sustentáveis, numa agricultura científica e tecnologicamente
avançada.
No caso específico português, que não será único, haverá a acrescentar a
circunstância de o desenvolvimento dos Produtos fitofarmacêuticos trazer para
o país conhecimentos científicos, tecnologia e know-how de ponta, colocando-
-nos em pé de igualdade com qualquer outro país tido como mais desenvolvido.
É claro que este tema não é fácil, nem susceptível de induzir consensos e
unanimidade. Pelo contrário, é um tema sensível e difícil, gerador de polémi-
cas e até paixões, havendo quem em vez das vantagens e/ou para além delas,
veja nele alguns riscos e inconvenientes.

EVENTUAIS RISCOS
Os Produtos fitofarmacêuticos são deliberadamente introduzidos no Ambien-
te no momento em que são aplicados. Na sua grande maioria trata-se de produtos

25
UTILIZAÇÃO DE P R O D U TO S F I TO FA R M A C Ê U T I C O S NA A G R I C U LT U R A

químicos que têm inerentes a si próprios uma certa toxicidade, sendo inegável que
a exposição mais ou menos prolongada a estes produtos ou seus derivados pode
gerar problemas toxicológicos no Homem, nos seres vivos e no Ambiente.
Ora, sucede que os eventuais riscos potenciais são cuidadosamente in-
vestigados, avaliados e divulgados usando tecnologia de ponta e de acordo
com exigências e normas técnicas e científicas requeridas pelas autoridades
reguladoras e expressas em Directivas comunitárias e Leis nacionais. E exis-
te informação e meios disponíveis, de fácil uso, capazes de os evitar ou limitar
até níveis toleráveis.
As recomendações de uso expressas no rótulo reflectem as consequên-
cias da investigação acima referida e, por isso mesmo, se cumpridas, assegu-
ram que o produto não apresenta riscos inaceitáveis para operadores,
consumidores, seres vivos e Ambiente.
O seguimento dessas recomendações de uso são parte integrante dos prin-
cípios da Boa Prática Fitossanitária ou da Protecção Integrada e o seu cumpri-
mento é um garante de que a aplicação não acarreta riscos inaceitáveis.
Está também a afirmar-se que, de facto, os riscos potenciais existem e
não devem ser menosprezados.
Conforme foi dito, eles dependem das propriedades físico-químicas de
cada Produto fitofarmacêutico, da sua natureza toxicológica e da exposição a
que os organismos ficam sujeitos.
Não existem Produtos fitofarmacêuticos inócuos. Existem, isso sim, Pro-
dutos que quando devidamente manuseados e utilizados poderão ter, e têm,
comportamento sem riscos.
Eis alguns dos potenciais riscos que se lhes associam:
• riscos para a saúde humana e animal (doenças agudas e crónicas, a
nível hormonal e reprodutivo);
• provocação de resíduos nos produtos e géneros agrícolas tratados;
• provocação de resíduos no solo e na água e causa de intoxicação nos
organismos do solo e nos organismos aquáticos;
• poluição do ar;
• persistência e acumulação na cadeia alimentar em resultado da sua
difícil degradação;
• riscos para a biodiversidade;
• provocação de resistências nalguns organismos.
O não seguimento das instruções contidas no rótulo pode acarretar consequên-
cias negativas, de maior ou menor gravidade, para operadores, trabalhadores, con-
sumidores que todos somos, para organismos não visados e para o Ambiente.

26
CAPÍTULO 1 | O Q UE S ÃO P RODUTOS F ITOFARMACÊUTICOS

C A P Í T U L O 2

A HOMOLOGAÇÃO
DOS PRODUTOS
FITOFARMACÊUTICOS

A colocação no mercado e a
utilização de Produtos
fitofarmacêuticos assentam em
princípios de que tais produtos,
se usados de acordo com as
condições aprovadas, não
apresentam efeitos prejudiciais
para pessoas, animais ou
ambiente. Nesta perspectiva O B J E C T I V O S

um Produto fitofarmacêutico
• Esclarece-se o rigor técnico-científico de
só é autorizado após a que se reveste a homologação de um Pro-
concessão de uma Autorização duto fitofarmacêutico.

de Venda baseada na • Fala-se do suporte legislativo nacional e


comunitário da homologação e das impli-
avaliação de um vasto
cações que este processo tem no que res-
conjunto de dados científicos. peita a segurança.

27
UTILIZAÇÃO DE P R O D U TO S F I TO FA R M A C Ê U T I C O S NA A G R I C U LT U R A

E N Q U A D R A M E N T O O mercado único europeu estabelece a livre


circulação de mercadorias, pessoas e bens no seu espaço. Os Produtos fito-
farmacêuticos são mercadorias que constituem excepção a esta regra.
Pela sua natureza podem originar problemas de saúde pública e/ou ambi-
ental. Razões que justificam a restrição da sua comercialização e a consequente regula-
mentação desta.

CIRCUITO AQUISIÇÃO → APLICAÇÃO


O circuito mais vulgarizado dos Produtos fitofarmacêuticos em Portugal
é relativamente simples e óbvio e apresenta quatro níveis:
I Importadores e Fabricantes
II Empresas detentoras de Autorização de Venda
III Distribuidores e Revendedores – Postos de venda
IV Utilizadores finais
– agricultores;
– aplicadores simples;
– aplicadores profissionais;
– empresas de aplicação.
Com frequência os dois primeiros níveis confundem-se e formam um úni-
co, sucedendo o mesmo com agricultores e aplicadores simples ao nível dos
utilizadores finais.
Há também, com frequência, ligações de interdependência entre os
elementos dos vários níveis, em particular os dos níveis de maior proximi-
dade – distribuidores, revendedores, alguns utilizadores finais – podendo
ser muito intensas e duradouras e em muitos casos de índole familiar ou
quase. É aliás uma das características identificadoras deste sector onde o
universo demográfico dos componentes dos níveis I a III é extremamente
reduzido.
O mercado português de Produtos fitofarmacêuticos, em 2004, a preços
de fabricante, foi de 116,49 milhões de euros (5). Estima-se, no entanto, que
o valor do mercado nacional se possa situar 5% acima, caso se contabili-
zem os produtos que ilegalmente entraram no país, a maioria vindos de
Espanha.

28
CAPÍTULO 2 | A H OMOLOGAÇÃO DOS P RODUTOS F ITOFARMACÊUTICOS

O circuito atrás referido comporta, como se vê, três áreas distintas com
um esquema de relacionamento apresentado na figura 2.1.
• a homologação;
• a comercialização e
• a aplicação.

Importadores
e fabricantes

Empresas
Postos de
detentoras Distribuidores
venda
da AV

Utilizadores finais:
Agricultores
Aplicadores simples
Aplicadores profissionais
Empresas de aplicação

Figura 2.1 • Circuito aquisição → aplicação de Produtos fitofarmacêuticos

Das três áreas apontadas só a homologação possui suporte jurídico,


pois há muito foram estabelecidas normas técnicas de execução relativas à
homologação, autorização, lançamento ou colocação no mercado, utiliza-
ção, controlo e fiscalização de substâncias activas apresentadas na sua for-
ma comercial, que são afinal os Produtos fitofarmacêuticos (13; 14).
A comercialização e a aplicação não tinham até hoje, qualquer suporte
legal.
Porém, com a publicação do recente Decreto Lei 173/05, de 21 de Outu-
bro, foi finalmente colmatada esta lacuna.
Este diploma vem regular as actividades de distribuição, venda,
prestação de serviços de aplicação de Produtos fitofarmacêuticos e
a sua aplicação pelos utilizadores finais.
Isto passa, de facto, pela melhoria das instalações e pela formação de
técnicos, agricultores e operadores e ainda pela implementação de figuras
jurídicas como:
• autorização específica para o exercício da actividade de distribuição e
venda de Produtos fitofarmacêuticos;

29
UTILIZAÇÃO DE P R O D U TO S F I TO FA R M A C Ê U T I C O S NA A G R I C U LT U R A

• existência de um técnico responsável pelas actividades de distribuição,


venda e prestação de serviços de aplicação destes produtos;
• criação de empresas de aplicação terrestre;
• requalificação de empresas de aplicação aérea;
• identificação clara das orientações e disciplina dos actos de distribui-
ção, venda e aplicação;
• formação profissional de técnicos, agricultores, aplicadores e opera-
dores.
Todas estas medidas visam, claro, implementar condições de segurança nos
circuitos de Distribuição e Comercialização de Produtos fitofarmacêuticos que
preservem o ambiente e protejam em particular os utilizadores, reduzam o risco
para o aplicador, para o ambiente e para a saúde pública na aplicação daqueles
produtos, o reforço da capacidade de monitorização de resíduos e a melhoria
das infra-estruturas do Serviço Nacional de Avisos Agrícolas, para uma utiliza-
ção mais correcta e segura desses mesmos produtos (13; 49).
Esta tarefa envolve vários entidades ministeriais uma vez que para além
da Agricultura estão também envolvidas áreas tão diversas como a Saúde
Pública, o Ambiente, o Comércio, os Transportes e a Indústria e desenvolve-
se ao abrigo de Normas Comunitárias abrangidas pelo Programa AGRO do
III Quadro Comunitário de Apoio.

DEFINIÇÃO E OBJECTIVOS
A homologação de um Produto fitofarmacêutico é o processo pelo qual a
autoridade nacional responsável – a DGPC – aprova a sua colocação no
mercado, com base na avaliação prévia de um conjunto muito amplo de da-
dos científicos, que demonstram que os mesmos são eficazes para as finali-
dades a que se destinam e não apresentam riscos inaceitáveis para a saúde
humana, animal e para o ambiente (13; 53).
Esta aprovação materializa-se numa Autorização de Venda (AV).
Com este mecanismo pretende-se que a agricultura possa dispor de Pro-
dutos fitofarmacêuticos de qualidade em termos de eficácia para os fins a
que se destinam, em termos de formulação, em termos toxicológicos para o
homem enquanto aplicador, trabalhador ou consumidor e para os animais e
em termos ecotoxicológicos e ambientais para as espécies não visadas e para
os compartimentos do ambiente – solo, água e ar (26).

30
CAPÍTULO 2 | A H OMOLOGAÇÃO DOS P RODUTOS F ITOFARMACÊUTICOS

EXIGÊNCIAS LEGAIS
Uma vez que os Produtos fitofarmacêuticos são, geralmente, produtos
químicos com os quais se pretende resolver eficazmente um problema bio-
lógico e têm inerentes a si próprios uma certa toxicidade torna-se necessário
avaliar os riscos associados à sua utilização ao nível dos manuseadores,
aplicadores, consumidores, ambiente, espécies não visadas. Os utilizadores
devem ter acesso a informações de rigor através do rótulo.
A avaliação é um processo burocrático complexo e demorado que com-
preende três fases:
1.ª fase – aceitação de elementos administrativos e de dados técnico-cien-
tíficos relativos às características, propriedades e comportamento do
produto – substância activa e produto formulado – fornecidos pelo
requerente.
2.ª fase – estudo e avaliação dos elementos e dos dados apresentados
3.ª fase – decisão, que pode comportar uma de três atitudes:
– dossiers completos, todos os dados em conformidade com as exi-
gências – autorização;
– dossiers quase completos, algumas falhas (involuntárias) de sig-
nificado menor, o que pode conduzir a uma autorização condicio-
nada ou adiada, até as faltas serem supridas, podendo ser concedido
um prazo para tal;
– dossiers incompletos e/ou dados não conformes com as exigên-
cias – não autorização. Esta hipótese pode pressupor um esgrimir
de razões e de argumentos e levar à criação de novos dados que
permitam reverter a decisão.
Os dados apresentados no pedido de AV comportam assim estudos vá-
rios que, uma vez avaliados pelas Autoridades de Registo, poderão permitir a
concessão da AV para o conjunto
• Produto fitofarmacêutico
• Finalidade (cultura-inimigo)
• Condições de uso
• Precauções toxicológicas, ecotoxicológicas e ambientais
O processo de concessão da AV é longo e passa por diversas fases
administrativas, uma das últimas das quais é a aprovação do Rótulo.
O complexo trabalho inerente à homologação de um Produto fitofarma-
cêutico começa a partir da descoberta da substância activa que entra na sua

31
UTILIZAÇÃO DE P R O D U TO S F I TO FA R M A C Ê U T I C O S NA A G R I C U LT U R A

composição e convém ser conhecido. Entre a síntese química de uma dada


substância activa e a homologação do primeiro Produto fitofarmacêutico, com
base nessa substância activa, decorrem hoje cerca de 8 a 10 anos, por vezes
mais, quando em 1950 eram necessários apenas 3 a 5 anos.
Nesse período, que vai da síntese à homologação, a empresa produtora ou
requerente despende, em estudos de vária natureza, necessários à satisfação
de todas as exigências legais, valores que podem rondar ou mesmo ultrapas-
sar hoje os 150 milhões de Euros.
Fonte citada por Amaro (3), avança os seguintes valores:
1970 – 5,8 milhões de dólares americanos
1990 – 100,0 milhões de dólares americanos
1998 – 200,0 milhões de dólares americanos (60% para estudos de
toxicologia e ecotoxicologia)
Uma outra Fonte (22) afirmava especificando a Europa:
1950 – custo total: cerca de 100 000 francos suíços (eficácia – 80%;
toxicologia – 20%).
1990 – custo total: cerca de 100 milhões francos suíços (eficácia –
17%; toxicologia – 50%; ambiente e ecotoxicidade – 33%)
Apesar das origens serem diferentes os valores são convergentes e con-
firmam os estudos relativos a toxicologia, metabolismo, ecotoxicologia, desti-
no e comportamento no ambiente como os de maior exigência orçamental.
A maioria da despesa ocorre nos primeiros 4-5 anos de vida de uma mo-
lécula, desde a sua descoberta até ao pedido de homologação.
As fases por que passa uma substância activa desde o seu nascimento
podem, de forma sintética, enumerar-se e hierarquizar-se em sete etapas,
muitas delas coincidentes no tempo (3):
a) Síntese química da substância activa;
b) Screening;
Consiste na avaliação das potencialidades biológicas para diversos inimi-
gos através de pequenos ensaios de laboratório, estufa e campo. Nos anos
1950 por cada 5000 moléculas descobertas apenas uma chegava ao merca-
do; nas décadas de 1970 e 1980 apenas uma em cada 15 000 moléculas era
homologada. Hoje, graças ao avanço da ciência e da tecnologia em áreas
como a química quântica, a matemática e a informática, por cada 100 000 a
200 000 moléculas sujeitas a screening, apenas uma é seleccionada.
c) Ensaios de Campo; Estudos de Toxicologia, Metabolismo e Eco-
toxicologia;

32
CAPÍTULO 2 | A H OMOLOGAÇÃO DOS P RODUTOS F ITOFARMACÊUTICOS

d) Processo de Fabrico;
e) Estudos económicos;
f) Patentes;
Uma vez descoberta, identificada e considerada de interesse, uma molé-
cula é patenteada e a Patente, no espaço UE, garante a propriedade por um
período de 20 anos, contados a partir da data do pedido. Porém a Patente não
é o único mecanismo de protecção de um produto. Ela é também conseguida
com a protecção dos estudos e dados técnicos, através de legislação com
origem na Directiva 91/414/CEE.
Os dados da substância activa têm uma protecção de 10 anos a partir da
data da sua inclusão na Lista Positiva. Nos produtos formulados a protecção
é também por 10 anos contados a partir da data de concessão da Autorização
de Venda. Em qualquer dos casos, em condições especiais, é ainda possível
haver um período complementar adicional nunca superior a 5 anos.
Vê-se assim que o horizonte temporal de uma empresa para obter o retor-
no do seu investimento tem limites.
g) Homologação incluindo:
– Ensaios biológicos,
– Ensaios de resíduos,
– Elaboração dos dossiers,
– Avaliação/Decisão e
– Autorização de Venda
Os estudos que acompanham o pedido de homologação, são os se-
guintes:
a) Avaliação Físico-Química, onde constam
– a identidade da substância activa, do produto formulado e de impu-
rezas de fabrico ou decorrentes do armazenamento;
– as propriedades Físico-Químicas da substância activa e do produto
formulado e relacionadas com a segurança (inflamabilidade, explo-
sividade, etc.), com o ambiente, ou com a eficácia da aplicação
(suspensabilidade e tamanho das partículas);
– os métodos de análise;
– as características de adequabilidade das embalagens no transporte,
armazenagem e eliminação após uso.
b) Avaliação biológica, onde se estabelece a eficácia em sentido global
baseada em ensaios de campo, que permitem
– definir a dose ou concentração eficazes;
– assegurar que não provocam fitotoxicidade;

33
UTILIZAÇÃO DE P R O D U TO S F I TO FA R M A C Ê U T I C O S NA A G R I C U LT U R A

– provar que não estimulam resistências e


– não prejudicam as culturas da rotação, adjacentes ou vizinhas.
c) Classificação e precauções toxicológicas, onde se conhecem
– as propriedades toxicológicas e os respectivos símbolos;
– os efeitos na saúde humana e animal.
d) Comportamento e defesa do ambiente, onde se estudam
– os efeitos nos compartimentos do ambiente – solo, água, ar;
– os efeitos sobre as espécies não visadas.
e) Intervalos de Segurança e Limite Máximo de Resíduo.
O uso de Produtos fitofarmacêuticos pode originar resíduos nas cultu-
ras, à data da colheita. Caso tal se verifique, importa que o seu nível
seja aceitável para os consumidores. Esse nível aceitável no qual se
baseia a avaliação de risco tem um valor que não deve ser ultrapassa-
do e designa-se Limite Máximo de Resíduo (LMR). Este garante a
salvaguarda da saúde do consumidor, assegura a comercialização dos
géneros tratados e viabiliza a Boa Prática Fitossanitária autorizada (onde
entram a dose, o número de tratamentos, o Intervalo de Segurança,
etc.), entre outras vantagens.
O modo como os estudos são usados e as relações entre quem solicita a
homologação e as autoridades de registo são resumidamente expressas na
figura 2.2 (26).

EMPRESAS

Pedido de AV Pedido ou envio


de dados e/ou DECISÃO
Pedido de esclarecimentos
Parecer

CATPF DGPC
Parecer

Avaliação Parecer

EQUIPAS
ESPECIALIZADAS
(Avaliação)

Figura 2.2 • Esquema de avaliação dos processos de homologação

34
CAPÍTULO 2 | A H OMOLOGAÇÃO DOS P RODUTOS F ITOFARMACÊUTICOS

Alguns dos inconvenientes que se apontam aos Produtos fitofarmacêuti-


cos, expressam preocupações e estão ligados aos itens c), d), e) atrás referi-
dos. Acontece que, a maioria das vezes, as preocupações não se baseiam em
factos mas na percepção que as pessoas formam deles.
Muitas das críticas apontadas carecem de fundamento, mas é sabido que
uma notícia negativa tem uma capacidade de impressionar e de sugestionar
muito superior a uma notícia positiva. Por tal razão os itens c), d) e e), que
incorporam tecnologia e informação científica muito avançadas, serão de-
senvolvidos no Capítulo 5.

ENQUADRAMENTO LEGAL
E PRINCIPAIS FIGURAS JURÍDICAS
Numa perspectiva histórica, a homologação dos Produtos fitofarmacêuti-
cos em Portugal pode ser lembrada através de datas, algumas nacionais, que
assinalam a criação de mecanismos importantes na sua vida (2; 3; 47).
Assim:
1959 – criação do Laboratório de Fitofarmacologia, embrião da
actual DGPC.
1962 – publicação da primeira Lista de Produtos fitofarmacêuti-
cos comercializados, a qual se mantém com carácter anual.
1963 – 1967 – início dos Processos de Homologação facultativos,
com os quais se visava sensibilizar as empresas e outras entidades e
consolidar os conhecimentos fundamentais para a redução dos ris-
cos dos Produtos fitofarmacêuticos.
1967 – publicação do primeiro suporte jurídico – o Decreto Lei n.º 47802,
de 19 de Julho de 1967 – que estabeleceu o regime de comercialização
dos Produtos fitofarmacêuticos destinados à defesa da produção ve-
getal, com exclusão dos adubos químicos e dos correctivos agrícolas.
1968 – criação da Comissão de Toxicologia dos Pesticidas com com-
petência na ária toxicológica, quando ainda não havia preocupações ambi-
entais ou ecotoxicológicas. Esta Comissão veio a originar a actual Comissão
de Avaliação Toxicológica de Produtos fitofarmacêuticos (CATPF).
Isto significa que se estabeleceu, a nível nacional, a obrigatoriedade de
estes produtos serem comercializados mediante uma autorização específica,

35
UTILIZAÇÃO DE P R O D U TO S F I TO FA R M A C Ê U T I C O S NA A G R I C U LT U R A

concedida após estudo das suas características, verificada a garantia de uma


actividade biológica aceitável e a não existência de inconvenientes para a
saúde pública. A estes propósitos associar-se-ia mais tarde também a defesa
do Meio Ambiente.
De então até hoje, a máquina legislativa deste sector não mais parou e é
vasta a documentação jurídica criada, traduzida em Decretos-Lei, Directi-
vas, Leis, Normas, Portarias, Regulamentos, etc.
Há, no entanto, que salientar a grande alteração surgida na UE a partir de
1991. Uma das pedras base deste edifício jurídico é a Directiva 91/414/
/CEE, de 15 de Julho, relativa à colocação de Produtos fitofarmacêuticos
no mercado, a qual foi transposta para o direito nacional pelo Decreto Lei
n.º 284/94, de 11 de Novembro, e pela Portaria n.º 563/95, de 12 de Junho
e entrou em vigor, em Portugal, em 25 de Julho de 1993.
Esta data de 25 de Julho de 1993 é uma data histórica para Portugal,
uma vez que ela marca a fronteira entre duas eras. Antes de 25 de Julho
de 1993 todo o processo relacionado com a homologação se baseava em
critérios nacionais. Após 25 de Julho de 1993 os critérios passaram a ser
comunitários.
Pela sua importância realça-se também aqui o Decreto Lei 94/98, de 15
de Abril, que adopta as normas técnicas de execução referentes à colocação
dos Produtos fitofarmacêuticos no mercado e o Decreto Lei 341/98, de 4
de Novembro que estabelece os Princípios Uniformes (PU), relativos à
avaliação e autorização dos Produtos fitofarmacêuticos para a sua colocação
no mercado.
Estes documentos provocaram grandes mudanças no sistema que vinha
sendo seguido e imprimiram-lhe mesmo um outro dinamismo e orientação
com a criação de novas exigências e a adopção de novos critérios de avalia-
ção, necessariamente mais limitativos.
Os princípios base do direito comunitário, e agora também nacional,
assentam em algumas figuras jurídicas, as principais das quais se apontam
(12; 13; 14; 53):
Lista Positiva (LP) – Anexo I da Directiva 91/414/CEE.
Nesta lista são incluídas as substâncias activas aprovadas a nível UE
de acordo com critérios comuns.
Autorização de Venda (AV) – concedida pelos Estados-membros,
por um período de 10 anos, renováveis, aos Produtos fitofarmacêuti-
cos com base em substâncias activas constantes da LP.
Princípios Uniformes (PU) – Anexo VI da Directiva 91/414/CEE. Tra-
ta-se da definição dos critérios e princípios a ter em conta por parte de
cada Estado-membro no sentido da unicidade das avaliações e decisões.

36
CAPÍTULO 2 | A H OMOLOGAÇÃO DOS P RODUTOS F ITOFARMACÊUTICOS

Com base nos Princípios Uniformes os critérios a ter em conta na ava-


liação e decisão de cada parâmetro serão os que se mostram no quadro 2.1.

ÁREA COMENTÁRIOS

Eficácia Doses ou quantidades usadas serão o mínimo


necessário para atingir o efeito desejado. Os resultados
são, em regra, avaliados na base de produtos
referência e na resposta da cultura em termos de
produção e qualidade da colheita
Risco para os Avaliação do risco para o Homem baseada nas
operadores considerações das relações dose-resposta, no
mecanismo envolvido, no NSEO e na aplicação
apropriada de Factores de Segurança, que permitem
estimar a IDA e o NAEO (ver Capítulo 5)
Risco para os Limite Máximo de Resíduos na altura da colheita
consumidores sendo os mínimos necessários e consistentes com
o uso autorizado (ver Capítulo 5)
Destino e Avaliação dos níveis dos resíduos encontrados no solo,
comportamento nas águas ou no ar através de estudos, para demonstrar
no Ambiente os riscos para as espécies não visadas (ver Capítulo 5)
Impacte sobre as Avaliação do impacto sobre as espécies não visadas,
espécies não com base na consideração do efeito sobre a abundância
visadas e a diversidade das espécies (ver Capítulo 5)
Aspectos analíticos Apresentação de métodos analíticos consistentes
Propriedades Apresentação de formulações de elevada qualidade e
físico-químicas do seu comportamento em armazém
Gestão do risco A gestão do risco deve ser uma parte integrante do
processo de avaliação e da tomada de decisão.
Eventuais condicionalismos e restrições a impor no uso
deverão ser apropriados à severidade do risco esperado

Quadro 2.1 • Critérios de avaliação e decisão definidos nos PU

Reconhecimento mútuo – para Produtos fitofarmacêuticos já homolo-


gados noutro Estado-membro e desde que as condições agrícolas, fitossani-
tárias e ambientais, incluindo as climáticas e relacionadas com a utilização do
produto, sejam similares.
Autorização Provisória de Venda (APV) – por 3 anos concedida pelos
Estados-membros para Produtos fitofarmacêuticos com base em substâncias
activas que ainda não constem da Lista Positiva e que em 25 de Julho 1993
não se encontravam no mercado nacional.
Autorização de utilização limitada e controlada – não ultrapassando
120 dias, para fazer face a situações urgentes e para as quais não há resposta
no mercado.

37
UTILIZAÇÃO DE P R O D U TO S F I TO FA R M A C Ê U T I C O S NA A G R I C U LT U R A

Alargamento de espectro de uso – para cobrir finalidades não cons-


tantes do rótulo homologado.
Programa de reavaliação – por um período de 12 anos, que está a esgo-
tar-se, e que cobre as cerca de 825 substâncias activas, ditas antigas, isto é,
existentes no mercado em 25 de Julho de 1993. Esta reavaliação é feita com
base nas novas exigências, mais selectivas, levando a que parte dos produtos
antigos venham a desaparecer ou a surgir com novas recomendações de uso.
Vários Produtos fitofarmacêuticos antigos nem sequer se candidataram à
reavaliação, por decisão das suas Casas-Mãe.
Face ao atraso desta exigência, a UE criou, em 2003, uma nova data
limite para o seu total cumprimento – 2008.
Garantia de Protecção e confidencialidade dos dados relativos quer
ao Anexo II da Directiva (que contém os dados da substância activa), quer
ao Anexo III (que contém os dados do produto formulado).
Possibilidade de transitoriamente se continuarem a aplicar as dis-
posições nacionais.
Medidas de controlo – envolvendo as características dos Produtos fito-
farmacêuticos e o seu uso de acordo com o rótulo.
Intercâmbio de informação entre EM e a UE.
Aplicação adequada dos Produtos fitofarmacêuticos – de acordo com
os princípios de Boa Prática Fitossanitária e sempre que possível com os
princípios da Protecção Integrada.
Estabelecimento de Limites Máximos de Resíduos – LMR – so-
bre a dupla substância activa – géneros agrícolas tratados.
Estas figuras jurídicas possuem lógica, estão interligadas e assentam em re-
quisitos, procedimentos e dados, que terão obrigatoriamente de ser satisfeitos.
Assim, na criação dos dados técnicos e científicos são elaborados dois
dossiers:
• um para a substância activa – será avaliado/decidido pela UE, de acor-
do com critérios comuns e visa a colocação da substância activa na
Lista Positiva;
• um para o produto formulado – será avaliado/decidido por cada Esta-
do-membro, de acordo com critérios comuns e visa a obtenção de uma
Autorização de Venda.
Em termos práticos, o objectivo primeiro e último de quem solicita a ho-
mologação de um dado Produto fitofarmacêutico, é a obtenção de uma AV
para as finalidades propostas podendo, enquanto se aguarda a AV, ser even-
tualmente concedida uma APV.
As autoridades incumbidas de satisfazer tal solicitação terão como missão
certificar-se de que, de facto, o produto coincide com o caracterizado no

38
CAPÍTULO 2 | A H OMOLOGAÇÃO DOS P RODUTOS F ITOFARMACÊUTICOS

projecto de rótulo, é eficaz na dose proposta, não provoca fitotoxicidade, nem


tem efeitos negativos nas culturas seguintes ou vizinhas, não induz resistên-
cia, e não apresenta riscos inaceitáveis para a saúde dos operadores, dos
trabalhadores, dos consumidores, das espécies não visadas e do ambiente, se
aplicado conforme se propõe.
A legislação existente pode assumir carácter geral ou específico.
Os Documentos atrás mencionados são de carácter geral.
De entre a legislação específica pode indicar-se a referente:
• ao estabelecimento de Limites Máximos de Resíduos – LMR;
• à classificação toxicológica e ambiental, embalagem e rotula-
gem de Pesticidas;
• as áreas referenciadas na Directiva 91/414/CEE e aplicáveis aos Pro-
dutos fitofarmacêuticos (exemplos: protecção das águas; protecção
de animais em Laboratório; classificação toxicológica e ambiental, em-
balagem e rotulagem de substâncias perigosas; Boas Práticas de La-
boratório; segurança dos trabalhadores contra riscos ligados à exposição
a agentes químicos, físicos e biológicos durante o trabalho; protecção
dos trabalhadores contra riscos ligados à exposição a agentes cancerí-
genos durante o trabalho; exportação e importação de determinados
produtos químicos perigosos; gestão de embalagens e resíduos de em-
balagens; transporte de mercadorias perigosas, etc.).

A legislação existente está fundamentalmente orientada para a


colocação no mercado e para a redução do risco inerente ao manuse-
amento e à utilização dos Produtos fitofarmacêuticos.
Em curso, como foi dito, está a clarificação e o condicionalismo das
actividades relacionadas com os circuitos comerciais de distribuição e
venda e com a aplicação dos Produtos fitofarmacêuticos.
Partilhamos também a convicção de que as medidas jurídicas, a escolha
dos meios de luta mais adequados e a certeza de que os produtos da novas
gerações são, do ponto de vista toxicológico, ecotoxicológico e ambiental muito
mais favoráveis quando comparados com os produtos ditos antigos. Também
as medidas de acompanhamento e controlo após a aplicação, são componen-
tes essenciais a uma política global de uso harmonioso e sustentável dos Pro-
dutos fitofarmacêuticos (49).
A figura 2.3 mostra as fases inerentes à homologação de um Produto
fitofarmacêutico – substância activa e produto formulado – e a duração
estimada para cada fase da avaliação/decisão.
Este esquema foi, e é, assumido desde a publicação da Directiva 91/414/
/CEE até 2003 e mostrou-se incapaz de dar cumprimento aos calendários

39
UTILIZAÇÃO DE P R O D U TO S F I TO FA R M A C Ê U T I C O S NA A G R I C U LT U R A

previstos na Directiva. Em 2003 foi criada a Autoridade Europeia de Segu-


rança Alimentar que se propõe ser mais eficiente na condução das reavalia-
ções e assumir a liderança do processo na fase pós-monografia. Face ao
atraso existente, foi entretanto marcada uma nova data limite para a reavali-
ação de todas as substâncias activas – 2008.

EM - APV
Publicação JO

Monografia Lista EM
(draft) Positiva Registo
dos Pf-AV

Submissão EM CFP EMR


dossier Avaliação Novo exame Avaliação
inicial dossier

EM Estado-membro Revisão Avaliação GT com vista


EMR Estado-membro Relator pelo ao ingresso da substância
CFP Comissão Fitossanitária Permanente ECCO activa na LP
JO Jornal Oficial da UE Grupo
ECCO European Community Coordination Group
GT Grupo de Trabalho

Meses 0 6 12 18 24 30 36 42 48

Figura 2.3 • Fases e prazos correntes na homologação (ano 2003)

40
CAPÍTULO 2 | A H OMOLOGAÇÃO DOS P RODUTOS F ITOFARMACÊUTICOS

C A P Í T U L O 3

MÉTODOS DE PROTECÇÃO
OU MEIOS DE LUTA

Há várias maneiras de
interferir com a actividade dos
organismos nocivos.
O B J E C T I V O S
Apontam-se e caracterizam-se
neste Capítulo, de forma • Definem-se e caracterizam-se vários meios
sucinta, os principais Meios de de luta.

Protecção Fitossanitária que • Indicam-se alguns critérios a ter em con-


ta para ajuizar sobre as vantagens e os
se conhecem e susceptíveis
inconvenientes que podem associar-se a
de ser utilizados. cada um.

41
UTILIZAÇÃO DE P R O D U TO S F I TO FA R M A C Ê U T I C O S NA A G R I C U LT U R A

E N Q U A D R A M E N T O O conteúdo deste capítulo é variado, pode en-


contrar-se disperso por várias origens e os dados são extremamente abun-
dantes no que respeita a luta biológica, a luta biotécnica (ou fisiológica) e
logicamente a luta química. Têm particular interesse em Protecção e em
Produção Integrada.
Os meios de luta conhecidos e utilizados podem ordenar-se do seguinte modo (1; 3; 4):

LUTA LEGISLATIVA OU MEDIDAS


DE QUARENTENA FITOSSANITÁRIA
Trata-se de uma medida de luta indirecta que tem por fim impedir a
propagação de organismos prejudiciais a partir das suas áreas de origem.
Pode verificar-se relativamente a material vegetativo importado, ou produzi-
do internamente. Em qualquer caso os Serviços envolvidos neste processo
necessitam ter acesso a informação privilegiada, havendo em todos os países
listas de inimigos sob vigilância e controlo.
Quanto a material vindo de outros países e continentes, tal implica que ele
seja inspeccionado e venha acompanhado por certificados fitossanitários.
Estas acções são feitas nas fronteiras terrestres, marítimas e aéreas e o
resultado de uma inspecção pode originar:
• proibição de entrada;
• submissão a quarentena;
• submissão a tratamento à entrada;
• futura observação em cultura;
• isenção de restrições.
Mas não é suficiente limitar o controlo ao material vegetal – plantas, par-
tes de plantas, estacas, bolbos, sementes – uma vez que os meios de trans-
porte e as embalagens podem também ser meios de infecção ou infestação.
Internamente, há que implementar medidas que levem à localização e
limitação de focos de ataque, com vista à sua eliminação. Em contraponto, há
também, internamente, as chamadas zonas protegidas, que garantem inocui-
dade ao eventual material vegetativo aí produzido. De salientar, que toda a
UE é hoje uma região considerada «interna».

42
CAPÍTULO 3 | M ÉTODOS DE P ROTECÇÃO OU M EIOS DE L UTA

LUTA GENÉTICA
É também um meio de luta indirecta.
Há em Portugal instituições com larga experiência e provas dadas, na
área do melhoramento das plantas (3; 4). Alguns exemplos: Estação Nacio-
nal de Fruticultura Vieira Natividade – Alcobaça; Estação de Melhoramento
de Plantas – Elvas; Núcleo de Melhoramento do Milho – Braga; Estação
Agronómica Nacional – Oeiras; Centro de Investigação das Ferrugens do
Cafeeiro – Oeiras.
Os objectivos foram sempre a criação de linhas de bom potencial produti-
vo e nalguns casos a resistência a determinadas pragas ou patogénios. No
plano nacional, são êxitos conhecidos a criação de linhas de cereais resisten-
tes às ferrugens e variedades de meloeiro resistentes ao oídio. No plano in-
ternacional cita-se a criação de linhas de cafeeiro com elevado potencial
produtivo e resistente à ferrugem (Hemileia vastatrix), doença responsável
pela destruição de plantações de cafeeiro em todo o mundo. As técnicas de
melhoramento evoluíram muito nos últimos anos.
Os antigos métodos de selecção massal, de enxertia e de hibridação, de-
ram lugar a técnicas de biologia celular como a micropropagação ou multipli-
cação vegetativa in vitro, a haploidização, a cultura de embriões e fusão de
protoplastos. As tecnologias praticadas nas culturas in vitro e baseadas nos
conhecimentos da biologia celular não permitem criar entidades que não pos-
sam surgir na natureza (21).
Se exceptuarmos a cultura de protoplastos, a biologia celular faz, ao
nível da célula, aquilo que as técnicas ancestrais de reprodução faziam ao
nível da planta.
Mas hoje enfrenta-se uma nova técnica – a transgenética – que permite a
manipulação dos genes contidos no ADN e a alteração do genoma de um ser
vivo. Trata-se de um grande salto tecnológico e científico, que tem gerado
alguma polémica, uma vez que se apresenta como uma tecnologia de ruptura,
eticamente diferente das tecnologias atrás citadas. Por isso mesmo, merece
ser compreendida, discutida e legislada.

LUTA CULTURAL
Trata-se da adopção de medidas naturais com vista a controlar os inimi-
gos (1; 3; 4). A luta cultural é tão velha quanto a própria agricultura, existindo
desde que o homem começou a cultivar plantas para a sua subsistência. Está

43
UTILIZAÇÃO DE P R O D U TO S F I TO FA R M A C Ê U T I C O S NA A G R I C U LT U R A

para a saúde das plantas tal como a alimentação e a higiene estão para a
saúde do Homem. Assenta na tomada de medidas indirectas tendentes ao
bom desenvolvimento da cultura ou à fuga do inimigo.
São exemplos: selecção das espécies a cultivar; rotações; consociações;
adaptação do solo à cultura; preparação do solo; fertilizações; sementeira e
plantação (escolha das cultivares, uso de sementes certificadas, profundida-
de, densidade, compassos e épocas); amanhos e granjeios; regas e colheita.
A poda e a poda em verde podem também ser aqui integradas.

LUTA FÍSICA
A luta física contempla as acções que envolvem meios mecânicos, tér-
micos, electromagnéticos e sonoros, que têm por fim irradicar ou afastar
os inimigos (1; 3; 4).
• Os meios mecânicos contemplam mobilizações do solo, mondas ma-
nuais de infestantes e de frutos, destruição de restos de culturas infec-
tadas ou infestadas, eliminação de órgãos ou frutos infectados, apanha
de insectos à mão, alagamentos de solo e lavagem de árvores, a colo-
cação de armadilhas contra roedores, etc.
• Os meios térmicos envolvem a termoterapia (ar quente, água quente
e vapor de água) para destruição de vírus e tratamento de órgãos de
propagação vegetal, a solarização do solo contra fungos, nemátodos e
orobancas, a exposição directa de certos organismos à chama, até
níveis térmicos de sensibilidade e o controlo de algumas doenças por
refrigeração.
• Os meios electromagnéticos envolvem radiação electromagnética
– raios x, raios γ e luz UV – para o controlo de doenças.
• Ruídos sonoros incluem os ultra-sons usados para afugentar aves.

LUTA BIOLÓGICA
A luta biológica, simplisticamente falando, consiste no emprego de or-
ganismos vivos para controlar organismos nocivos. Baseia-se na acção de
organismos antagonistas naturais, indígenas ou introduzidos que, actuando
como predadores, parasitóides ou parasitas, reduzem as populações de ini-

44
CAPÍTULO 3 | M ÉTODOS DE P ROTECÇÃO OU M EIOS DE L UTA

migos das culturas. Esta definição contempla apenas certas classes de ar-
trópodes, que são, de facto, o grupo mais relevante, mas pode também ser
devida a patogénios.
Para uma boa compreensão convém definir alguns dos termos que são
aqui usados:
Auxiliar: organismo antagonista, com actividade parasitóide, predadora
ou patogénica, sobre inimigos das culturas.
• Parasitóide: organismo, normalmente da classe Insecta, que se desen-
volve total ou parcialmente à custa de um indivíduo de outra espécie,
acabando por provocar a sua morte e tendo vida livre na forma adulta.
Exemplos:
Encarsia formosa vs mosca branca
Trichograma maidis vs pirale do milho
Aphelinus mali vs afídeos
Cales noacki vs mosca branca dos citrinos
• Predador: organismo que necessita do consumo de mais de um indiví-
duo, normalmente capturado como presa, para completar o seu desen-
volvimento, tendo vida livre em todas as formas móveis.
Exemplos:
Chrysoperla carnea vs afídeos, mosca branca, trips
Coccinella spp. vs afídeos
Adalia bipunctata vs afídeos
Typhlodromus pyri vs aranhiço vermelho
• Patogénio: Fungos, bactérias e vírus responsáveis por provocar doen-
ças específicas em certas pragas
– Fungos: penetram na cutícula do insecto, produzem uma toxina
que o paralisa e acaba por matar.
Exemplos:
Beauveria spp. vs lepidópteros, coleópteros, dípteros
Enthomophtora spp. vs afídeos
– Bactérias e vírus: são ingeridos, provocam uma infecção, segue-
-se a paragem de alimentação e a morte por septicémia
Exemplos:
Bacillus thuringiensis vs vários lepidópteros
(nóctuas, processionária, pirale, traças, etc.)
Baculovírus vs bichado da macieira
Para além dos casos assinalados lembra-se a possibilidade de existência
na natureza de outras espécies que podem também ter uma actividade útil
neste processo. As aves insectívoras são um exemplo.

45
UTILIZAÇÃO DE P R O D U TO S F I TO FA R M A C Ê U T I C O S NA A G R I C U LT U R A

Não se ignoram os casos de luta biológica contra fungos, bactérias e er-


vas infestantes. A investigação e os incentivos à criação de agentes que pos-
sam substituir os convencionais Produtos fitofarmacêuticos, continuam. Houve
até mesmo a criação de alguns produtos de que são exemplo inúmeros bio-
herbidas ou «mico-herbicidas» (Collego, Devine, Biomal, etc.) mas, no plano
prático, as expectativas ficaram aquém do desejável, pelo que a investigação
relativa à criação de promissores «biopesticidas» continua (58).
Assim, sem dúvida a grande actividade deste meio de luta, a que tem
maior visibilidade e significado prático, é a desenvolvida por artrópodes con-
tra artrópodes.
O controlo de pragas é aquele que domina a Luta biológica e, com fre-
quência, essa luta dá-se entre espécies dum mesmo género – espécies en-
tomófagas (auxiliares) contra espécies fitófagas (nocivas).
Conhecendo-se agora a importância que os auxiliares têm no controlo de
certas pragas, sabendo que eles, com frequência, existem naturalmente nas
culturas e/ou podem aí ser introduzidos, fácil é perceber a necessidade de os
saber identificar, para melhor os defender.
A eficácia de um Produto fitofarmacêutico sobre qualquer organismo bioló-
gico resulta da toxicidade do Produto fitofarmacêutico sobre esse organismo,
quando a ele exposto. Neste caso trata-se de organismos biológicos nocivos.
Temos assim que nas culturas podem existir e existem de facto, em simul-
tâneo, organismos nocivos que é necessário combater e organismos úteis que
é necessário proteger.
Se a decisão do controlo do inimigo passa pela aplicação de um dado
Produto fitofarmacêutico, então esse produto deve ser tóxico para o organis-
mo nocivo e tolerado pelo auxiliar. Tolerado significa, neste caso, ser não
tóxico ou ser pouco tóxico.
Tarefa aliciante cujo sucesso passa sempre pela escolha da solução (Pro-
duto fitofarmacêutico) e nalguns casos pelo momento correcto da aplicação.

LUTA BIOTÉCNICA
É uma medida de luta directa que compreende todos os modos susceptí-
veis de alterar negativamente e de forma profunda certas funções vitais, quer
ligadas ao organismo nocivo, quer ao seu habitat e assim provocar a sua morte.
Abrange os Reguladores de Crescimento dos Insectos (RCI), os
semioquímicos e a luta autocida (3; 4; 25; 40).
a) Reguladores de Crescimento dos Insectos (RCI)

46
CAPÍTULO 3 | M ÉTODOS DE P ROTECÇÃO OU M EIOS DE L UTA

Os insectos crescem e desenvolvem-se ao longo da sua vida, passando


por mudas e metamorfoses, em momentos de rigorosa precisão, por influên-
cia de hormonas.
São as hormonas quem age sobre o sistema de regulação endócrina de
mudas e metamorfoses. Ora, diferentes tipos de insecticidas RCI interferem
com o sistema hormonal, perturbando-o. Assim, são conhecidos três grupos
distintos de produtos RCI (que são afinal Produtos fitofarmacêuticos com
modo de acção e características especiais):
• RCI que interferem na cutícula: incluem-se aqui os insecticidas
do grupo químico das benzoilureias cujo modo de acção consiste na
interferência que exercem junto da hormona que regula a síntese da
quitina – o bursicon – e por consequência perturbam a estrutura e a
colocação da cutícula, impossibilitando as mudas, ou seja, a renova-
ção da cutícula do insecto e a consequente formação do novo exoes-
queleto, o que conduz à morte. A cutícula é uma estrutura complexa
composta por uma associação de proteínas e quitina. Por isso estes
produtos também se designam de insecticidas antiquitina.
Exemplos de substâncias activas com este modo de acção: diflubenzu-
rão, flufenoxurão hexaflumurão, lufenurão, teflubenzurão, triflumurão,
etc.), muito utilizados contra os lepidópteros bichado da fruta, e minei-
ras das folhas e traças dos cachos.
Neste subgrupo pode incluir-se a substância activa ciromazina com
acção sobre larvas (mudas) e pupas da ordem Díptera.
A clofentezina e a buprofezina parecem ter modo de acção semelhan-
te às benzoilureias.
• RCI miméticos das hormonas juvenis: incluem-se nesta família
produtos cujo modo de acção interfere com a hormona responsável
pelo desenvolvimento dos insectos (metamorfoses) – a hormona ju-
venil ou neotenina. Esta inibição traduz-se na impossibilidade de o
insecto, nas fases larva ou ninfa, passar à fase seguinte. Ora, o impe-
dimento de um insecto, numa determinada fase do seu desenvolvimen-
to, passar à fase seguinte, provoca-lhe a morte.
Exemplos de substâncias activas com tal modo de acção: fenoxicarbe,
usado nas mesmas finalidades que os anteriormente referidos, o piri-
proxifeno e diofenolão.
• RCI miméticos das hormonas de muda ou MAC (Moulting Ac-
celerating Compounds): como a designação deixa perceber estes pro-
dutos interferem com a hormona de muda – a ecdisona – responsável
pelo crescimento do insecto. Isto leva à antecipação (aceleração) dos

47
UTILIZAÇÃO DE P R O D U TO S F I TO FA R M A C Ê U T I C O S NA A G R I C U LT U R A

primeiros processos de muda, num momento em que o insecto ainda


não está fisiologicamente preparado, o que lhe provoca a morte.
Exemplo de substâncias activas: tebufenozida, metoxifenozida, a halo-
fenozida e a azadiractina (esta substância activa também é fago-inibi-
dora), todas usadas contra lepidópteros.

b) Semioquímicos
Os semioquímicos são substâncias ou mistura de substâncias que, emiti-
das por uma espécie, interferem no comportamento de organismos recepto-
res da mesma espécie ou de outra
Compreendem as feromonas e os aleloquímicos.
Feromonas – são produzidas em glândulas existentes em vários pontos
do corpo dos insectos, são específicas para várias espécies e podem exer-
cer efeitos de vária ordem sobre indivíduos da mesma espécie – efeito
de agregação, de dispersão, de pista, de alarme, de marcação e sexuais.
As de efeito sexual estão muito vulgarizadas entre nós, por exemplo no
bichado da fruta, na traça dos cachos, na traça da oliveira, etc., onde a
captura e contagem de cada uma destas espécies, relacionada com a sua
bioecologia, permite conhecer a sua evolução e decidir o melhor momen-
to dum tratamento.
Também as feromonas de efeito atractivo estão a demonstrar interes-
se ao permitirem não fazer aplicações na totalidade da área de uma
cultura, mas apenas em pequenas manchas, para as quais os insectos
são atraídos e onde foram aplicados insecticidas eficazes em mistura
com a substância atractiva (spot application). Ao contrário, o efeito
de dispersão leva a que os machos não encontrem as fêmeas.
Aleloquímicos – promovem a comunicação entre indivíduos de espé-
cies diferentes.
Compreende as alomonas, as cairomonas e as sinomonas, todas
com elevado interesse científico, mas com limitado interesse prático,
por agora.
Os fago-inibidores ou inibidores da alimentação incluem-se nas alo-
monas.
Exemplos: a substância activa pimetrozina é um exemplo a citar per-
mitindo o controlo de afídeos e moscas brancas em várias culturas e a
azaridactina (esta substância activa é também um RCI).

c) Luta autocida
Como o nome indica este método utiliza artrópodes contra artrópodes.
O uso prático mais conhecido é na mosca da fruta (Ceratitis capitata), e
consiste na largada de machos esterilizados, mas sexualmente competitivos,

48
CAPÍTULO 3 | M ÉTODOS DE P ROTECÇÃO OU M EIOS DE L UTA

em determinados momentos e em determinados locais. Estes machos acasa-


lam com as fêmeas, donde resultam ovos não férteis.
Já foi usado no Algarve onde esta praga chega a ter seis gerações anuais.
É praticada regularmente na Ilha da Madeira, onde existem mais de 40 espé-
cies de frutos hospedeiros e onde existe uma biofábrica destinada à produção
de machos estéreis.

LUTA QUÍMICA
Este método de luta consiste no uso de substâncias naturais ou de sín-
tese na protecção das plantas, no sentido de as proteger da influência de
factores bióticos. A base de suporte é fornecida pelos Produtos fitofarma-
cêuticos. Quando se fala de substâncias naturais, estão, normalmente, a
referir-se produtos de origem vegetal como o Pyretrum (Piretrina) proveni-
ente de uma planta Crysanthemum spp. (pampilho) ou a nicotina provenien-
te do Nicotiana tabacum (tabaco). Podem também ser considerados os
antibióticos, produzidos por fungos e usados contra bactérias. Todavia, o grande
grupo que aqui se inclui é o dos Produtos fitofarmacêuticos de síntese,
obtidos portanto por via química.

CRITÉRIOS DE ESCOLHA
Os métodos de luta atrás definidos permitem, em teoria, equacionar dois
tipos distintos de intervenção:
• A prevenção – corresponde a medidas indirectas, que se baseiam:
– no uso optimizado dos recursos naturais;
– nas práticas agrícolas sem impacte negativo nos ecossistemas;
– na protecção e aumento de organismos auxiliares.
• O controlo – corresponde a medidas directas, que assentam:
– no uso de medidas que agem exclusivamente sobre os organismos
nocivos a combater;
– na aplicação de medidas menos selectivas.
A decisão e o momento exacto para a intervenção, onde se inclui o uso
dos Produtos fitofarmacêuticos, provêm de dados obtidos em monitorização
e em sistemas e modelos de previsão com capacidade para caracterizar e

49
UTILIZAÇÃO DE P R O D U TO S F I TO FA R M A C Ê U T I C O S NA A G R I C U LT U R A

prever epidemiologias e a ocorrências de riscos ou para definir níveis econó-


micos de ataque (NEA), nos casos em que a estratégia implica recurso à
Protecção Integrada.
Face ao conjunto de soluções apresentadas, qual ou quais deverão ser
adoptadas?
A resposta a esta pergunta não é fácil.
Os inimigos das culturas existem e há necessidade em os combater. Im-
põe-se que esta tarefa seja cumprida em moldes tais que daí não resultem
riscos para as pessoas, os animais ou o ambiente.
Assim, cada caso deve ser analisado de per si, isto é, para cada situação
deverá ser encontrada uma solução. Esta análise prévia de cada problema
necessita ter em conta elementos tão distintos como:
• A cultura – variedades, origem, localização, estado fenológico, área,
tratamentos feitos (com quê, quando, como, etc.).
• O(s) problema(s) – identificação do(s) agente(s) nocivo(s), sua bio-
ecologia e virulência.
• Os auxiliares presentes.
• As condições climáticas (no momento e esperadas no imediato)
– chuva, humidade, temperaturas, vento, etc.
• O sistema de aplicação – volume de calda, aparelhagem de pulveri-
zação, bicos, bombas, filtros, etc.
Assim, é da análise de todas estas questões e tendo em conta as exigências
toxicológicas e ambientais que terá de surgir a opção pela solução para o pro-
blema, o que significa por regra a escolha de um Produto fitofarmacêutico.
Mas, também se diz que o Produto fitofarmacêutico escolhido pode e
deve ser aplicado em combinação com outros meios e ter em conta a exposi-
ção e a diminuição de risco para com o homem, os animais e o ambiente.
Essa forma de uso está reflectida na Protecção Integrada e esta é fun-
damental em Agricultura Sustentável. E, assim, o Produto fitofarmacêuti-
co seleccionado terá de ter um perfil que reflicta:
• baixa toxicidade para o homem e animais;
• parâmetros ecotoxicológicos aceitáveis para auxiliares, organismos vi-
vos e ambiente;
• selectividade para a cultura, as culturas seguintes e as culturas vizinhas;
• ser eficaz.

50
CAPÍTULO 3 | M ÉTODOS DE P ROTECÇÃO OU M EIOS DE L UTA

C A P Í T U L O 4

BOA PRÁTICA
FITOSSANITÁRIA

Com a Boa Prática


Fitossanitária (BPF),
a escolha de uma solução e a
sua utilização para resolver um
dado problema fitossanitário
O B J E C T I V O S
são actos responsáveis que
exigem estudo e ponderação • Cumprir a Boa Prática Fitossanitária sig-
assim como o cumprimento nifica utilizar os Produtos fitofarmacêuti-
cos com segurança.
de algumas regras por forma
• A Protecção Integrada é uma metodologia
a resolver esse problema
muito usada contra os inimigos das cultu-
de forma eficaz e com ras e é também uma metodologia segura.
segurança para o operador,
• Estabelecem-se as principais semelhanças
o consumidor e o ambiente. e diferenças entre estes dois conceitos.

51
UTILIZAÇÃO DE P R O D U TO S F I TO FA R M A C Ê U T I C O S NA A G R I C U LT U R A

E N Q U A D R A M E N T O O Decreto-Lei 94/98, de 15 de Abril, prevê, no


seu artigo 3.º, item 3, que «os Produtos fitofarmacêuticos devem ser objec-
to de uma utilização adequada, que inclui a observância das condições de
autorização fixadas no artigo 4.º (homologação, concessão, revisão e reti-
rada de autorização de Produtos fitofarmacêuticos) e especificadas nos respectivos
rótulos, a aplicação dos princípios da Boa Prática Fitossanitária e, sempre que possí-
vel, dos princípios da Protecção Integrada» (13).
Esta afirmação deixa claramente perceber que os princípios que norteiam a Protecção
Integrada (PI) não são os mesmos que enformam a Boa Prática Fitossanitária (BPF).
O que é afinal a BPF?

DEFINIÇÃO
O respeito pelo cumprimento da BPF traduz-se em:
• Segurança na utilização dos Produtos fitofarmacêuticos;
• LMR viáveis e possibilidade de comercialização da produção agrícola
tratada;
• Protecção fitossanitária das culturas.
O conceito de BPF foi desenvolvido pela Organização Europeia e Medi-
terrânica para a Protecção das Plantas (OEPP) na segunda metade da déca-
da de 1980, e veio somar-se a um outro conceito já existente – o da Boa
Prática Agrícola (BPA) para o uso de Produtos fitofarmacêuticos (45).
O conceito de BPA para os Produtos fitofarmacêuticos era e é adoptado
pelo Comité do Codex Alimentarius e seguido nos ensaios de resíduos.
Houve de início, na fase da criação da BPF, uma tentativa de enquadrar
esta na BPA, mas tal revelou-se impossível uma vez que a BPA:
• se baseava sobre os limites da prática aceitável, tal como definido nas
condições de homologação;
• abrangia apenas os Produtos fitofarmacêuticos individualmente e não
em associação ou num programa de luta;
• não adiantava qualquer critério de escolha para dizer se uma dada
prática é satisfatória fora das condições nacionais da homologação;
• referia-se fundamentalmente a problemas de resíduos.

52
CAPÍTULO 4 | B OA P RÁTICA F ITOSSANITÁRIA

Com a BPF pretendia-se:


• recomendar práticas optimizadas;
• considerar cada uso de Produtos fitofarmacêuticos no quadro de um
programa geral de protecção das culturas;
• estabelecer recomendações que pudessem servir de norma para a
avaliação de uma dada prática;
• ter como objectivos finais a eficácia e a protecção do ambiente, incorpo-
rando a BPA e por conseguinte a segurança dos consumidores (resíduos).
O conceito de BPF não é um conceito vago, mas sim orientado a uma
dada cultura. Exemplos: BPF da vinha, BPF das pomóideas, etc.
O Grupo de Trabalho da OEPP encarregado da criação da BPF deu por
terminada a tarefa em 1987 após ter concluído ser possível, para uma dada
cultura, preparar uma série de recomendações que têm em conta os Produ-
tos fitofarmacêuticos homologados disponíveis, os principais organismos no-
civos e as condições vegetativas da cultura.
Estas recomendações comportarão normas sobre os critérios de escolha
das substâncias activas e dos produtos formulados, das doses (e da neces-
sidade de definir volumes de calda), do número de aplicações, do calendário
de tratamento, do material e dos métodos de aplicação.
No momento da escolha, a decisão será determinada, fundamentalmente,
pela necessidade de uma luta eficaz contra o conjunto das pragas, doenças e
ervas infestantes, usando a mais reduzida quantidade de produto que for pos-
sível. E isto, por sua vez, será influenciado e limitado por parâmetros como os
factores culturais (cultivar, modo de condução, idade, espaçamento, etc.), a
possibilidade de outro meio de luta que não o químico (cultural, biológico,
biotécnico, etc.), as condições de uso homologadas, a rentabilidade dos trata-
mentos, o espectro de organismos nocivos a combater, a compatibilidade en-
tre os produtos, os efeitos secundários dos Produtos fitofarmacêuticos, etc.
As recomendações relativas à BPF podem globalmente ser reduzidas a
um programa geral de tratamentos químicos, determinado em parte pelo ca-
lendário, pelo estado fenológico da cultura e em parte pelo Sistema de Avisos,
e compreendendo, se possível, outros meios de luta tendo em conta igualmen-
te a experiência local e as observações in loco.
Os princípios gerais em que assenta a BPF são, em resumo, os seguintes (45):
• identificação dos organismos nocivos a combater e respectivos limia-
res de intervenção;
• análise e selecção dos meios de luta que podem ser utilizados (luta
cultural, luta biológico, luta química, etc.);

53
UTILIZAÇÃO DE P R O D U TO S F I TO FA R M A C Ê U T I C O S NA A G R I C U LT U R A

• no caso da luta química, escolha em concreto da substância activa e


respectiva formulação, o que conduz a um dado Produto fitofarmacêu-
tico com as inerentes condições de uso preconizadas na homologação
e que constam do respectivo rótulo;
• medidas de segurança para o operador, trabalhadores, utilizadores (so-
ciedade) e ambiente (solo, água, ar);
• medidas de segurança para prevenir ou limitar possíveis efeitos sobre
espécies ou organismos não visadas (artrópodes úteis, aves, micro e
macroorganismos do solo, peixes e organismos aquáticos).
Embora os princípios da BPF se aproximem dos da PI, os dois conceitos
não são idênticos.
As principais diferenças entre BPF e PI são as seguintes (3):
• A BPF não é tão exigente, é mais tolerante, quanto à redução do uso de
Produtos fitofarmacêuticos e não coloca estes como última prioridade;
• A BPF privilegia a resistência dos inimigos e dá menos relevo à ecoto-
xicidade face a organismos aquáticos e aves;
• A PI é regida por normas de maior transparência e rigor do que é a BPF.
Entre nós a PI tem como suporte uma ampla estrutura técnica e cobre
todas as culturas importantes.
Mas os conceitos de Boa Prática não se esgotam na BPA e BPF. Já foi
dito que, antes de ser homologados, os Produtos fitofarmacêuticos são objec-
to de estudos de vária natureza – biológicos, físico-químicos, toxicológicos,
ecotoxicológicos e ambientais.
A experimentação biológica faz-se hoje através de Organismos Oficial-
mente Reconhecidos que cumprem os princípios da Boa Prática Experi-
mental – BPE e as análises laboratoriais são feitas de acordo com as Boas
Práticas de Laboratório – BPL.
Os conceitos de Boa Prática são sinónimo de exigência e rigor em
parâmetros como:
• organização e planeamento;
• execução e condução das tarefas;
• colheita e registo de dados;
• interpretação de resultados.
Em comum todos eles visam:
• garantir a execução de tarefas com elevada qualidade, de acordo com
planos validados por organizações científicas reconhecidas;

54
CAPÍTULO 4 | B OA P RÁTICA F ITOSSANITÁRIA

• possibilitar que os resultados assim obtidos tenham credibilidade e


sejam aceites e utilizados por diversas entidades nacionais ou trans-
nacionais.

A ESCOLHA DOS PRODUTOS


FITOFARMACÊUTICOS COMO SOLUÇÃO
No Capítulo 2 foi afirmado que a homologação de um Produto fitofarma-
cêutico tem como resultado a obtenção de uma Autorização de Venda para o
conjunto
• Produto Fitofarmacêutico;
• Finalidade (cultura e inimigo);
• Condições de uso;
• Precauções toxicológicas, ecotoxicológicas e ambientais.
Ora, é esta a base que deverá presidir à escolha de um dado Produto
fitofarmacêutico como solução para um dado problema, numa certa cul-
tura, num dado estado fenológico e/ou numa certa fase do seu desenvol-
vimento.
Cada cultura tem os seus inimigos, sendo alguns específicos. Para um par
cultura – inimigo(s) pode haver não uma, mas várias soluções. A sua esco-
lha deve ser ponderada. Para a sua selecção deverão ter-se em conta os
seguintes parâmetros:
• que esteja homologado para o fim pretendido;
• que seja eficaz contra o inimigo a combater;
• que não provoque resistências;
• sem problemas para a cultura;
• sem problemas para as culturas seguintes ou vizinhas;
• boa performance toxicológica, ecotoxicológica e ambiental (sem ris-
cos ou com riscos previsíveis toleráveis para o homem, as espécies
não visadas e o ambiente);
• ser fácil de aplicar;
• ter custo não exagerado.

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UTILIZAÇÃO DE P R O D U TO S F I TO FA R M A C Ê U T I C O S NA A G R I C U LT U R A

O RÓTULO DO PRODUTO
FITOFARMACÊUTICO
SUA IMPORTÂNCIA
O rótulo de cada Produto fitofarmacêutico é, sem dúvida, o documento
mais importante para a sua caracterização.
Trata-se de um documento oficialmente aprovado pela Autoridade de
Registo – a DGPC – e sobre o qual inúmeros técnicos especializados em
diversos áreas se debruçaram.
É o «cartão de identidade» do Produto fitofarmacêutico. Sintetiza e
reflecte a generalidade dos estudos feitos, que se distribuem por áreas
como:

Biologia eficácia;
fitotoxicidade;
possíveis efeitos nas culturas seguintes;
eventuais problemas de resistência.

Físico-química identidade da substância activa, produto formulado


e impurezas;
propriedades físico-químicas;
métodos de análise;
adequabilidade das embalagens.

Toxicologia propriedades toxicológicas;


e metabolismo efeitos na saúde humana.

Comportamento dinâmica de comportamento no solo, água, ar;


no ambiente (degradação; persistência; dissipação; acumulação;
mobilidade/lixiviação; volatilização);
precauções ambientais.

Ecotoxicologia estimativa das CAP – avaliação de risco


para espécies não visadas.

Risco para Intervalos de Segurança;


o consumidor Limites Máximos de Resíduos.

56
CAPÍTULO 4 | B OA P RÁTICA F ITOSSANITÁRIA

PRINCIPAIS COMPONENTES
No Rótulo de um produto há a considerar quatro «campos» com quatro
tipos de informação distinta:
a) Identificação do produto e da empresa
– nome comercial;
– designação da substância activa;
– tipo de formulação;
– composição quantitativa e qualitativa;
– conteúdo líquido;
– n.º de Autorização de Venda (AV);
– n.º de lote;
– nome, endereço e contacto do titular da AV;
– Frase: «Manter fora do alcance das crianças»;
– Frases derivadas da Directiva das Preparações Perigosas: «Este pro-
duto destina-se a ser utilizado por agricultores e outros aplicadores de
Produtos fitofarmacêuticos»; «Para evitar riscos para os seres hu-
manos e para o ambiente, respeitar as instruções de utilização».
b) Finalidades e usos
– que tipo de produto: fungicida, insecticida, herbicida, etc.;
– que patogénios, pragas e infestantes controla, sua identidade.
c) Condições de utilização
– modo de preparar a calda;
– doses ou concentrações preconizadas;
– número de aplicações;
– intervalo entre aplicações;
– estados fenológicos aconselhados;
– volume de calda.
d) Precauções toxicológicas, ecotoxicológicas e ambientais
– símbolos toxicológicos (homem e ambiente);
– frases de risco;
– frases de segurança;
– Intervalo de Segurança (IS);
– tratamento de emergência em caso de acidente.

Não haverá tratamentos bem executados caso o operador não tenha lido
e interpretado devidamente o conteúdo do rótulo. Por isso, antes de usar
um Produto fitofarmacêutico, aconselha-se ler o rótulo e cumprir in-
tegralmente o que nele se diz.

57
UTILIZAÇÃO DE P R O D U TO S F I TO FA R M A C Ê U T I C O S NA A G R I C U LT U R A

A APLICAÇÃO DOS PRODUTOS


FITOFARMACÊUTICOS
Na sua grande maioria estes produtos destinam-se a combater os inimigos
das culturas. Para tal necessitam ser aplicados sobre os alvos fitossanitários
a que se destinam – folhas, ramos, troncos, frutos, solo. A aplicação dos
Produtos fitofarmacêuticos tem por objectivo a sua distribuição uniforme e a
preços económicos sobre as superfícies de tais alvos.
As quantidades de Produto fitofarmacêutico a aplicar por unidade de área
– dose – ou de volume – concentração – são normalmente muito baixas.
Daí que, para que a sua distribuição resulte uniforme, se torna necessário, por
vezes, a mistura ou combinação dessas quantidades diminutas com certas
substâncias inertes, de que a água é a mais vulgarizada. Existem contudo
certas formulações que podem ser aplicadas em estreme. Em qualquer dos
casos, a uniformidade da distribuição é um factor relevante.

MÉTODOS DE APLICAÇÃO
Na aplicação dos Produtos fitofarmacêuticos as máquinas desempenham
um papel fundamental. Por melhor que seja um Produto fitofarmacêutico, a
sua aplicação, se irregularmente feita ou mal conduzida, leva certamente a
resultados piores que os esperados.
Os principais métodos de aplicação, por vezes dependentes do tipo de
formulação, podem classificar-se do seguinte modo (42):
Polvilhação – feita por polvilhadores
ou espalhamento
Pulverização – feita por pulverizadores:
· de jacto projectado;
· de jacto transportado;
· pneumáticos;
· centrífugos.
Nebulização – feita por nebulizadores:
· térmicos;
· a frio.
Distribuição – feita por distribuidores de grânulos.
de grânulos
Dos quatro métodos referidos, a pulverização é o de maior importância
prática. A grande excepção, em termos agrícolas, está ligada ao enxofre

58
CAPÍTULO 4 | B OA P RÁTICA F ITOSSANITÁRIA

em pó polvilhável. Cerca de 70-80% dos Produtos fitofarmacêuticos são


aplicados em calda, por pulverização e por isso esta merece ser melhor
caracterizada.
Na pulverização o Produto fitofarmacêutico atinge o alvo fitossanitário
sob a forma de calda e esta é distribuída através de meios:
• mecânicos;
• pneumáticos, atomização ou pulsão;
• mecânicos e pneumáticos combinados, turbo-atomização ou aero-con-
vecção.
No primeiro caso a dimensão das gotas ou gotículas de calda pode variar
de 100 µm a 800 µm, na atomização de 60 µm a 200 µm e na turbo-atomiza-
ção ser ainda ligeiramente inferior.
Na aplicação dos Produto fitofarmacêutico por pulverização é importante
ter presente:
• uma boa identificação dos alvos a tratar;
• uma boa escolha do equipamento (alto, médio, baixo volume, etc.);
• o tipo de bicos a usar;
• o bom estado de manutenção do material;
• a prévia calibração do aparelho.

VOLUMES DE CALDA E DÉBITOS


Os volumes de calda usados são função de vários parâmetros:
• o tipo de aparelho que se usa (mecânico, pneumático, etc.);
• o processo seguido (via terrestre, via aérea);
• o binómio inimigo-hospedeiro;
• as características do Produto fitofarmacêutico e da sua formulação
(limitações para algumas formulações em UBV);
• a maior ou menor disponibilidade do factor água.
Dentro de limites com alguma latitude, o volume de água usado por hecta-
re não interfere nos resultados biológicos. Não há uma classificação estan-
dardizada que classifique a pulverização em função dos volumes de calda,
mas existem propostas – quadro 4.1 (45).

59
UTILIZAÇÃO DE P R O D U TO S F I TO FA R M A C Ê U T I C O S NA A G R I C U LT U R A

MUITO ULTRA
ALTO MÉDIO BAIXO
CULTURAS BAIXO BAIXO
VOLUME VOLUME VOLUME
VOLUME VOLUME

Arbóreas e
Arbustivas
> 1000 500-1000 200-500 5-200 £5

Baixas > 700 200-700 50-200 5-50 £5

Quadro 4.1 • Classificação dos volumes de calda por tipo de cultura (litros)

As aplicações que vão do alto volume ao baixo volume são ainda as mais
vulgarizadas e têm as características que se descrevem (42):
Alto Volume – a calda é distribuída sob efeito de pressão hidráulica dada
por um êmbolo, característico dos pulverizadores de jacto projectado.
Médio e Baixo Volume – a calda é distribuída por uma forte corrente
de ar fornecida por uma ventoinha, como nas turbinas (pulverizadores
de jacto transportado) e dos atomizadores (pulverizadores pneumáti-
cos). Porém, por razões de ordem económica, nas grandes culturas
extensivas, há uma forte tendência para usar o UBV, em especial com
insecticidas. Nestes casos, em contraponto com as razões económicas,
existe o maior drift e os riscos toxicológicos e ambientais inerentes ao
manuseamento e uso de formulações altamente concentradas.
No limite, a aplicação UBV é feita através de rotores, montados em
aviões.
Quando se trabalha com barras de pulverização ou turbinas com vários
pontos de saída de calda, o cálculo do débito faz-se para um bico e este valor
multiplica-se pelo número de saídas presentes. O débito de um bico define-
se como o fluxo de calda que este projecta por unidade de tempo e exprime-
se em litros por minuto (l/min.). O débito é função da abertura dos bicos e
da pressão de trabalho e está expresso em tabelas.
Para que o êxito da pulverização possa ser maximizado, há outros parâ-
metros a ter em conta e que se analisam de seguida.

TAMANHO DAS GOTAS


O espectro de gotas projectadas por um bico não é uniforme, havendo
umas maiores e outras menores. A dimensão das gotas é função do tipo de
bico e da pressão de trabalho e reflecte-se no volume de calda/ha, conforme
o quadro 4.2.

60
CAPÍTULO 4 | B OA P RÁTICA F ITOSSANITÁRIA

VOLUME VMD (mm)

Alto Volume > 300


Médio Volume 201- 300
Baixo Volume 101-200
Muito Baixo Volume 70-100
Ultra Baixo Volume < 70

Quadro 4.2 • Relação entre Volume e VMD

O tamanho das gotas tem reflexos em várias características da pulveriza-


ção, conforme se expressa no quadro 4.3 (35) e no quadro 4.4.

mm USO N.º MÍNIMO


2
DE GOTAS /cm
150-250 Fungicidas 50-70
200-300 Insecticidas 20-30
200-600 Herbicidas 20-40

Quadro 4.3 • Relação entre o tamanho e a densidade das gotas

Quadro 4.4 • Relação entre tamanho de gotas e a qualidade da pulverização

Para qualquer tipo de bico, há uma relação constante entre o VMD


e as gotas maiores ou gotas menores e essa relação é sensivelmen-
te 2,2.
As figuras 4.1 e 4.2 mostram diferentes tipos de cobertura origina-
da por diferentes tamanhos de gota, alguns marcados em papel sensí-
vel (35).

61
UTILIZAÇÃO DE P R O D U TO S F I TO FA R M A C Ê U T I C O S NA A G R I C U LT U R A

Figura 4.1 • Influência do tamanho da gota na cobertura de pulverização

Figura 4.2 • Comparação de quatro diferentes tipos de pulverização

TIPOS DE BICOS
Existem diversos tipos de bicos e em cada tipo há a considerar a abertura,
que a uma dada pressão origina um certo débito. Os tipos de bico mais co-
muns e aconselhados, são os indicados no quadro 4.5.

Quadro 4.5 • Relação entre tipo de bico, seu uso e faixa pulverizada

O Produto fitofarmacêutico a usar e o alvo a tratar dão indi-


cações sobre o tipo de bico e o volume de calda a usar – alto,
médio ou baixo volume. A escolha da abertura dos bicos, da pressão
de trabalho e do andamento (velocidade) concretizam esse volume
de calda.

62
CAPÍTULO 4 | B OA P RÁTICA F ITOSSANITÁRIA

ALGUNS CONSELHOS BÁSICOS


Antes de se aplicar um Produto fitofarmacêutico (ou uma mistura) há que
ter em atenção alguns cuidados, o primeiro dos quais é, como já foi dito, ler
atentamente o rótulo da embalagem e seguir escrupulosamente as instruções
nele contidas, a fim de apreender:
• como fazer a calda;
• quanto produto usar (dose e/ou concentração);
• quando e como tratar;
• que material de pulverização utilizar;
• que precauções tomar;
• que equipamento de protecção individual (EPI) usar;
• que medidas tomar em caso de acidente.
Relativamente à aparelhagem de pulverização convém saber se está em
bom estado de funcionamento. Os pulverizadores, motorizados ou não, são
máquinas que devem ser cuidadas por forma a garantirem uma boa opera-
cionalidade permanente. Para isso há que cumprir algumas regras simples de
manutenção, onde a limpeza no final das tarefas, a substituição de bicos e
peças gastas, a revisão dos motores e da bomba, figuram como prioritárias.
O quadro 4.6 mostra um exemplo prático de inspecção (36).

Quadro 4.6 • Inspecção a um pulverizador

63
UTILIZAÇÃO DE P R O D U TO S F I TO FA R M A C Ê U T I C O S NA A G R I C U LT U R A

CALIBRAÇÃO DO APARELHO
Cenário prático:
Temos uma cultura com uma dada extensão e com um ou mais inimigos.
Temos um ou mais produtos seleccionados para os combater.
Escolhe-se o método de tratamento (pulverização) e o aparelho a usar
(implícita a escolha aproximada do volume de calda/ha, do tipo de bico e da
sua abertura).
Estamos a trabalhar com herbicidas e pretendemos aplicar um produto na
dose de 4 kg por hectare em pulverização a médio volume.
Tomadas estas decisões, segue-se a calibração, também designada por
ensaio em branco, operação que deve sempre preceder a aplicação real.
Para simplificar trabalhamos com um pulverizador de dorso:
1. Enche-se o depósito do pulverizador com água;
2. Pulveriza-se uniformemente e com um dado andamento (velocidade),
uma área de cultura ou solo previamente marcada (por exemplo
100 m2 = 20 m x 5 m);
3. Mede-se a água consumida voltando a encher o depósito (exemplo 5 litros)
4. Um simples cálculo conduz à calibração, isto é, ao volume/ha:
10000 x 5 : 100 = 500 litros/ha;
5. Repete-se a operação, mantendo o andamento constante, para confir-
mação;
6. Os 4 kg de produto (dose) têm de ser aplicados num volume de calda
de 500 litros, num hectare.
Este exemplo pode extrapolar-se para os casos de equipamento mais com-
plexo, com um ou mais pontos de saída de calda.
No caso de várias saídas (por exemplo: barra de bicos) o débito global é
igual à soma do débito de cada bico, devendo ser assegurado que todos fun-
cionam de idêntico modo.
Quando se trabalha com herbicidas estes são recomendados em doses,
o que significa a quantidade de Produto fitofarmacêutico a usar por
unidade de área (kg/ha ou l/ha).
Mas quando se trabalha com fungicidas e insecticidas a recomendação
de uso pode fazer-se em dose ou em concentração.
Qualquer que seja o Produto fitofarmacêutico, sempre que se recomende
usar em dose, o procedimento da calibração do aparelho de pulverização é
semelhante ao atrás descrito. Quando se trata de concentração o procedi-
mento é diferente.

64
CAPÍTULO 4 | B OA P RÁTICA F ITOSSANITÁRIA

A concentração de um Produto fitofarmacêutico define-se como a quantidade


de produto a usar em 100 litros de água e exprime-se em percentagem (%).
Regra geral, as concentrações indicadas nos rótulos são para usar em
alto volume, o que significa valores da ordem dos 1000 l/ha.
Três exemplos reais do que consta dos rótulos:
a) ... usar este Produto fitofarmacêutico na concentração x, em alto
volume;
b) ... este Produto fitofarmacêutico deve ser usado na concentração x,
em alto volume, por forma a distribuir por hectare y kg;
c) ... este Produto fitofarmacêutico deve ser usado na concentração x,
em alto volume. Se a aplicação for feita com aparelhos de médio
ou baixo volume (turbinas ou atomizadores ) a concentração da
calda deve ser aumentada por forma a que a dose de produto por
hectare seja a mesma que no alto volume.
Como regra, torna-se necessário duplicar ou triplicar a concentração
quando, em vez de alto volume, se opta por médio ou baixo volume.
Entenda-se que o volume da calda pode variar (depende, do tipo de
pulverizador, da abertura dos bicos, da velocidade de marcha, da pressão,
etc.), o que não pode variar é a dose.
Uma vez conhecido o volume de calda/hectare e conhecida a dose,
existem tabelas de conversão, que indicam a concentração.
Os manuais das empresas de Produtos fitofarmacêuticos ou os Serviços
Oficiais podem fornecer tais tabelas.
Recomenda-se também que qualquer aplicador, mesmo convencido das suas
efectivas capacidades práticas, realize pelo menos um ensaio em branco, por
campanha, sob orientação de um técnico experiente. Terá assim oportunidade
para expor e testar a sua real autonomia. A teorização desta matéria torna-a
complexa mas, em termos práticos, ela é extremamente fácil de apreender.

MISTURA DE PRODUTOS
FITOFARMACÊUTICOS
A grande utilização dos Produtos fitofarmacêuticos é feita na protecção
das culturas e dos géneros agrícolas. Cada cultura tem os seus inimigos, que
podem ser específicos ou não, os mais comuns dos quais são as doenças, as
pragas e as infestantes.

65
UTILIZAÇÃO DE P R O D U TO S F I TO FA R M A C Ê U T I C O S NA A G R I C U LT U R A

Tomemos dois exemplos:


Vinha
Principais doenças – escoriose, míldio, oídio, complexo de
doenças do lenho, podridão das raízes.
Principais pragas – traças, cicadela, ácaros, cochonilhas, áltica.
Principais infestantes – ervas anuais, bianuais, vivazes.
Batateira
Principais doenças – míldio, alternariose.
Principais pragas – insectos do solo, escaravelho, afídeos.
Principais infestantes – ervas anuais, bianuais, vivazes.
Ora, cada espécie nociva (inimigo), tem as suas exigências bioecológicas,
mas tais exigências têm um significado muito amplo e por isso é frequente
encontrar na mesma cultura, em simultâneo, não um, mas vários problemas,
que se torna necessário combater.
A combinação míldio – oídio – traça, ou estes três problemas combinados
dois a dois, surgem com frequência nas vinhas do país. Na batateira é tam-
bém frequente a combinação míldio – escaravelho.
Estes exemplos podem multiplicar-se e justificam a razão das misturas de
diferentes Produtos fitofarmacêuticos numa mesma calda. Misturar produ-
tos, isto é, aplicá-los em simultâneo, traduz-se em redução de custos, em
diminuição do calcamento do solo resultante da redução do número de passa-
gens das máquinas e em maior eficiência e produtividade.
Os herbicidas aplicam-se sempre isoladamente, relativamente a outros
tipos de Produtos fitofarmacêuticos.
A mistura de Produtos fitofarmacêuticos é, pois, uma associação de dois,
três ou mais produtos numa mesma calda. Como se viu no Capítulo 1 os
Produtos fitofarmacêuticos são compostos por vários elementos que no mo-
mento da mistura podem interagir.

CARACTERÍSTICAS INDIVIDUAIS
DOS PRODUTOS FITOFARMACÊUTICOS

Nem todos os Produtos fitofarmacêuticos podem ser misturados e, por


vezes, há regras que devem ser seguidas.
Produtos com a mesma origem (da mesma empresa):
• As misturas possíveis constam do rótulo das embalagens;
• As misturas dos produtos, dois a dois, constam de tabelas de compatibilidade.

66
CAPÍTULO 4 | B OA P RÁTICA F ITOSSANITÁRIA

Produtos com origens diferentes:


Constituem uma grande parte dos casos práticos e nada garante que a
compatibilidade seja possível, salvo a experiência ou a percepção visual no
momento da mistura.
Há, todavia, em qualquer das circunstâncias, alguns princípios básicos a
respeitar:
• A preparação da calda varia com o tipo de formulação e para cada
Produto fitofarmacêutico é descrita no rótulo.
• Nas misturas, tratando-se de Produtos fitofarmacêuticos sólidos e lí-
quidos, deve proceder-se primeiro à preparação da calda do produto
líquido, a que de seguida se adiciona o produto sólido.

COMPATIBILIDADES
As compatibilidades das misturas apontadas nas tabelas resultam de aná-
lises físico-químicas que determinam essencialmente a solubilidade e a capa-
cidade de suspensão e são feitas de acordo com métodos laboratoriais
internacionais, recomendados para esses fins e por norma só respondem por
grupos de produtos dois a dois.
Porém, numa mistura podem também ocorrer fenómenos de degrada-
ção e de reacção, entre os vários elementos químicos em presença, e se-
rem gerados fenómenos de sinergismo, potenciação ou antagonismo, de
difícil percepção.
Quando as misturas são aconselhadas no rótulo, elas traduzem, por regra,
além das análises laboratoriais, resultados de experimentação biológica e di-
zem normalmente respeito a Produtos fitofarmacêuticos com a mesma ori-
gem. Pelas razões apontadas, as misturas de Produtos fitofarmacêuticos devem
ser sempre bem fundamentadas e justificadas. Quando houver dúvidas, elas
poderão, em parte, ser resolvidas com uma experimentação elementar, a ní-
vel da exploração agrícola, por parte do agricultor.
Porém, para além das compatibilidades física, química e biológica a
que se fez referência, poderá ainda equacionar-se a compatibilidade agro-
nómica, definindo-se esta com uma simples interrogação, a fazer antes da
tomada de decisão – valerá a pena esta mistura?
É que são conhecidos casos práticos de misturas sem qualquer suporte
técnico que os valide.

67
C A P Í T U L O 5

RISCOS, PRECAUÇÕES
E SEGURANÇA
NA UTILIZAÇÃO
DOS PRODUTOS
FITOFARMACÊUTICOS
Ao serem aplicados, os
Produtos fitofarmacêuticos são
deliberadamente introduzidos
no ambiente e podem causar
contaminações. Face aos
estudos de risco, a Boa Prática
Fitossanitária (BPF) incorpora
as medidas mitigantes e as O B J E C T I V O S
precauções necessárias à sua
• Indicam-se os riscos inerentes ao Produ-
prevenção. Assim, ler e tos fitofarmacêuticos nos planos toxico-
cumprir as instruções do rótulo lógico, ecotoxicológico e ambiental.

significa usar os Produtos • Assinalam-se as precauções a tomar.


fitofarmacêuticos com
• Fala-se, afinal, sobre como utilizar os Pro-
segurança. dutos fitofarmacêuticos em segurança.
UTILIZAÇÃO DE P R O D U TO S F I TO FA R M A C Ê U T I C O S NA A G R I C U LT U R A

E N Q U A D R A M E N T O A aplicação dos Produtos fitofarmacêuticos em


agricultura visa, conforme já referido, como regra, o controlo de certos inimi-
gos e os resultados medem-se pela eficácia em sentido lato.
Cada Produto fitofarmacêutico é caracterizado por uma certa toxicidade e
a eficácia em relação aos seus inimigos, é consequência dessa mesma toxicidade. A toxici-
dade pode, eventualmente, manifestar-se também em relação ao homem, aos comparti-
mentos do ambiente e às espécies não visadas, caso a aplicação não seja feita com segurança.
Os efeitos nocivos que os Produtos fitofarmacêuticos podem causar sobre orga-
nismos vivos são estudados pela Toxicologia. Se os efeitos nocivos se verificam no
solo, na água ou no ar ou sobre as espécies não visadas, o seu estudo cabe também à
Toxicologia, mas nestes casos é comum designar-se Ecotoxicologia.

AVALIAÇÃO TOXICOLÓGICA
Na avaliação toxicológica de cada Produto fitofarmacêutico estão em causa
o estudo e a análise das suas propriedades toxicológicas e os possíveis
efeitos na saúde do Homem.
Os principais estudos toxicológicos incidem sobre a substância activa
e são:
• Toxicidade aguda, em relação a cada via de exposição
– oral;
– dermal;
– inalação.
A toxicidade aguda expressa-se em:
– DL50 (ou LD50), Dose Letal que mata 50% de indivíduos de uma po-
pulação normal. Expressa-se em mg por kg de peso vivo (mg/kg pv);
– CL50 (ou LC50), Concentração Letal em gás, vapor ou água que
mata 50% de uma população normal em dado tempo. Expressa-se
em mg por litro, com indicação do tempo [(x tempo) (mg/l)];
– DAR, Dose Aguda de Referência, que equivale à dose que adminis-
trada uma única vez num dia ou, distribuída por várias tomas ao longo
de 24 horas, não provoca qualquer efeito adverso nos animais. Ex-
pressa-se em mg por kg de peso vivo, por dia (mg/kg pv/dia).
• Toxicidades crónica e subcrónica;
• Carcinogenia;
• Mutagenia;

70
CAPÍTULO 5 | R ISCOS , P RECAUÇÕES E S EGURANÇA NA U TILIZAÇÃO DOS P RODUTOS F ITOFARMACÊUTICOS

• Toxicidade de reprodução e teratogenia;


• Neurotoxicidade;
• Absorção cutânea;
• Metabolismo.
Os estudos são conduzidos sobre diferentes espécies animais – roedores
e não roedores. A toxicidade aguda avalia-se o efeito imediato (24 horas) de
uma dose única do produto. No caso dos estudos de toxicidade subcrónica
avalia-se o efeito resultante da ingestão diária da substância activa durante
um a três meses. Por fim, na toxicidade crónica avalia-se o efeito da ingestão
diária da substância activa durante toda a vida do animal, até dois anos.
Os valores obtidos nestes estudos permitem estabelecer:
• A classificação toxicológica e os respectivos símbolos – quadro 5.1;
• As frases de risco a constar dos rótulos;
• As frases de segurança igualmente a constar dos rótulos.
São estes estudos, de curto, médio e longo prazo e relativos a cada substân-
cia activa que, como factor de segurança, conduzem também à recomenda-
ção do Equipamento de Protecção Individual (EPI), em função da exposição.

CLASSIFICAÇÃO DOS PRODUTOS FITO-


FARMACÊUTICOS E RESPECTIVOS SÍMBOLOS

71
UTILIZAÇÃO DE P R O D U TO S F I TO FA R M A C Ê U T I C O S NA A G R I C U LT U R A

Quadro 5.1 • Classificação dos Produtos fitofarmacêuticos

FRASES DE RISCO
(QUE APONTAM PARA O PERIGO)
• que derivam da toxicidade aguda
Exemplos:
– Irritante para os olhos/para a pele/por inalação;
– Pode causar sensibilização em contacto com a pele/por inala-
ção;
– Muito tóxico por ingestão/em contacto com a pele/por inalação;
– Nocivo por ingestão/em contacto com a pele/por inalação;
– Outras.
• que derivam de outros estudos de toxicidade
Exemplos:
– Perigo de efeitos cumulativos;
– Pode causar cancro por inalação;
– Pode comprometer a fertilidade;
– Outras.

72
CAPÍTULO 5 | R ISCOS , P RECAUÇÕES E S EGURANÇA NA U TILIZAÇÃO DOS P RODUTOS F ITOFARMACÊUTICOS

FRASES DE SEGURANÇA
(QUE DERIVAM DAS FRASES DE RISCO)
Exemplos:
– Ler o rótulo;
– Manter fora do alcance das crianças;
– Guardar fechado à chave;
– Evitar o contacto com os olhos;
– Evitar o contacto com a pele;
– Usar luvas adequadas durante a preparação da calda e aplicação
do produto;
– Usar vestuário de protecção adequado;
– Outras.

PERIGO E RISCO
Para quem utiliza um Produto fitofarmacêutico, o perigo reside na sua
toxicidade, quase sempre associada à substância activa e por vezes a al-
guns formulantes.
O risco define-se como a probabilidade dos efeitos ocorrerem face a
uma dada situação de exposição:
Risco = Toxicidade x Exposição
(do produto) (do utilizador)
Para cada produto, a toxicidade expressa-se pelo símbolo toxicológico
e é um valor fixo. Assim, a redução do risco passa pela redução da expo-
sição – via oral, dermal ou inalação – ou, no limite, através do uso de EPI.

IMPACTE SOBRE A SAÚDE HUMANA


E ANIMAL
RELACIONADO DIRECTAMENTE
COM OS PRODUTOS FITOFARMACÊUTICOS
Abrange quem manipula os Produtos fitofarmacêuticos a nível do fabrico, da
armazenagem e transporte e da aplicação, etc. e que se designam por operadores.
As contaminações podem dar-se através da roupa – exposição dermal
potencial – ou por outra via – exposição sistémica real.

73
UTILIZAÇÃO DE P R O D U TO S F I TO FA R M A C Ê U T I C O S NA A G R I C U LT U R A

AVALIAÇÃO DE RISCO
A avaliação do risco do operador faz-se pela comparação de dois
parâmetros (23):
• um é o Nível Aceitável de Exposição do Operador (NAEO): es-
tudos específicos de toxicidade em animais levam ao estabelecimento
do Nível Sem Efeito Observável (NSEO) e, através de factores
de segurança, ao estabelecimento do NAEO;
• o outro é o Nível de Exposição (NE): cálculos em modelo determi-
nam o pior caso de exposição do operador e se este caso evidenciar
potenciais riscos, segue-se a determinação do NE em experimentação
de campo apropriada, com cenários reais, cobrindo os vários tipos de
operadores. O Produto fitofarmacêutico é usado de acordo com a BPF
e utiliza-se material de aplicação e EPI variados. O quadro 5.2 esque-
matiza o processo. O NE não deve ser superior ao NAEO.

Usos do produto de Estudos de toxicidade


acordo com BPF em Animais

Estudos de exposição
do operador NSEO

Factores de segurança

NE NAEO

Quadro 5.2 • Avaliação de risco do operador

Cenários possíveis:
NE < NAEO => OK
NE = NAEO => OK
NE > NAEO => Risco !!!

GESTÃO DO RISCO
O risco torna-se patente sempre que o NE for superior a NAEO. A sua
gestão faz-se, na sua forma mais simplificada, através da adopção de medi-
das que passam pelo uso do EPI, a constar das precauções do rótulo. Mas
pode também passar por alterações nos modos e sistemas de aplicação, por
adaptação das formulações (substituindo formulantes) ou pelo melhoramento
das embalagens.

74
CAPÍTULO 5 | R ISCOS , P RECAUÇÕES E S EGURANÇA NA U TILIZAÇÃO DOS P RODUTOS F ITOFARMACÊUTICOS

RELACIONADA COM OS RESÍDUOS


DOS PRODUTOS FITOFARMACÊUTICOS
Abrange os consumidores onde de inclui toda a sociedade que se ali-
menta com produtos agrícolas tratados.
É um facto real que todos os géneros agrícolas tratados com Produtos
fitofarmacêuticos, podem conter resíduos, à data da colheita.
Os resíduos definem-se como a substância activa no interior ou à su-
perfície dos produtos agrícolas, resultante da utilização de um Produto fito-
farmacêutico, bem como os respectivos metabolitos e produtos de degradação
ou reacção.

INTERVALO DE SEGURANÇA E LIMITE MÁXIMO


DE RESÍDUO
Tendo em vista a defesa da saúde do consumidor, é estabelecido um In-
tervalo de Segurança (IS) para o par Produto fitofarmacêutico – produ-
to agrícola tratado.
O IS consta das precauções do rótulo do Produto fitofarmacêutico e defi-
ne-se como o espaço mínimo de tempo (expresso em dias) que deve
decorrer entre a última aplicação na cultura e a colheita do corres-
pondente produto agrícola (ou entre a utilização do Produto fitofarmacêu-
tico e a venda ou consumo do género tratado, em certos casos de tratamentos
pós colheita), para que na data da colheita o nível de resíduo não cause
problemas toxicológicos ao consumidor.
Limite Máximo de Resíduo (LMR) é a quantidade máxima de resídu-
os de uma substância activa e dos seus metabolitos, com interesse do ponto
de vista toxicológico, permitido por lei, nos produtos agrícolas.
O estabelecimento do LMR é uma exigência legal e dá indicações sobre:
• Se a prática agrícola foi ou não cumprida (dose, número de aplica-
ções, IS, etc.). O não cumprimento, é considerado uma infracção e
pode ser objecto de sanção.
• A salvaguarda da saúde pública.
• A possibilidade de comercialização dos produtos agrícolas em segu-
rança. Os LMR não estão uniformizados entre países. No caso de
produtos agrícolas destinados a exportação para países onde os LMR
são mais restritivos, há que usar a Prática Agrícola do país de destino.
Em Portugal isto sucede com mais acuidade com a pêra rocha e com
algum vinho, mas também com vegetais. A Organização Mundial do

75
UTILIZAÇÃO DE P R O D U TO S F I TO FA R M A C Ê U T I C O S NA A G R I C U LT U R A

Comércio é informado sobre todos os LMR, estabelecidos e publica-


dos em Lei.
• O LMR é ainda uma referência numérica para cada dupla Produto
fitofarmacêutico – produto agrícola tratado.
Uma vez aplicados, os Produtos fitofarmacêuticos iniciam uma fase con-
tínua de degradação na qual intervêm diversos factores. No momento da
colheita pode haver resíduos, mas a sua presença, por si só, não representa
um risco para o consumidor.
Se os Produtos fitofarmacêuticos forem usados conforme expresso no
rótulo, ou seja de acordo com a BPF, esses resíduos não ultrapassam o LMR
estabelecido e portanto não oferecem risco para o homem e animais. Os
LMR são também estabelecidos para o leite, a carne e os ovos, provenientes
de animais alimentados com produtos agrícolas tratados.
A figura 5.1, evidencia uma curva de degradação de resíduos resultantes de
um Produto fitofarmacêutico directamente aplicado sobre uma cultura e ajuda a
compreender o modo de determinação dos LMR e a relação destes com o IS.

Figura 5.1 • Como se determinam os LMR

AVALIAÇÃO DE RISCO
A avaliação do risco faz-se pela comparação dos valores provenientes
de estudos de toxicidade de longo prazo, com ingestão diária do produto,
que levam ao estabelecimento do Nível Sem Efeito Observável (NSEO)
e através de factores de segurança ao estabelecimento da Ingestão Diária
Aceitável (IDA), por outro lado, e dos valores resultantes da aplicação

76
CAPÍTULO 5 | R ISCOS , P RECAUÇÕES E S EGURANÇA NA U TILIZAÇÃO DOS P RODUTOS F ITOFARMACÊUTICOS

prática do produto conforme a BPF e que levam ao estabelecimento da


Ingestão Diária Máxima Teórica Total – DDMT por outro, conforme o
quadro 5.3 (23).
O DDMT não deve superar a IDA.

Usos do produto de Estudos de Toxicidade


acordo com BPF Crónica

Estudos de resíduos
NSEO
LMR

Dieta alimentar Factores de segurança (10x10)

DDMT IDA
DDME

Quadro 5.3 • Avaliação de risco do consumidor

Cenários possíveis:
DDMT < IDA => OK
DDMT = IDA => OK
DDMT > IDA => Risco !!! Fazem-se cálculos refinados com resíduos
reais, considerando o processamento caseiro ou industrial dos géneros agrí-
colas em causa e estabelece-se a Ingestão Diária Máxima Estimada –
DDME, que passa a substituir a DDMT.
A partir da segunda metade da dácada de 1990 o processo de avaliação
passou a incluir também a Dose Aguda de Referência (DAR) tendo este
parâmetro funções idênticas à IDA.

GESTÃO DO RISCO
O risco torna-se patente se a DDME for superior à IDA.
A sua gestão faz-se através da adopção de medidas mitigantes (uma ou
várias), a incidir sobre a limitação dos usos propostos.
As medidas que podem ser tomadas são as seguintes:
• n.º de culturas (redução);
• n.º de tratamentos (redução);
• intervalo entre tratamentos;
• época de tratamentos (timing);
• condições de aplicação (ex. estufa, ar livre);
• estabelecimento de IS (IS mais longo).

77
UTILIZAÇÃO DE P R O D U TO S F I TO FA R M A C Ê U T I C O S NA A G R I C U LT U R A

AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO
E EXPOSIÇÃO NO AMBIENTE
E NAS ESPÉCIES NÃO VISADAS
Uma vez aplicados, os Produtos fitofarmacêuticos são deliberadamente
introduzidos no ambiente e distribuem-se pelo solo, água, ar, sedimento e biota.
Sendo-lhes inerente uma certa perigosidade, são susceptíveis de causar
impacte ambiental, quer ao nível de organismos vivos, quer de populações e
comunidades (2; 13; 47).
Daí que tenha de haver cuidados especiais a cumprir na decisão e na
prática da sua utilização.
O impacte ambiental de cada Produto fitofarmacêutico pressupõe:
• A identificação de perigo – baseada nas propriedades e caracterís-
ticas do Produto fitofarmacêutico e na sua toxicidade;
• A avaliação de perigo – tendo em conta os usos, a exposição e os
efeitos;
• A avaliação de risco – conducentes à aceitação ou não do uso pro-
posto;
• A gestão do risco – que comporta a tomada de medidas que levam à
diminuição do risco, o que passa pela diminuição da exposição da subs-
tância activa no ambiente.
A avaliação do impacte no solo, na água e no ar implica conhecer:
• A dinâmica de cada compartimento, através de estudos sobre:
– propriedades físicas, químicas e de partição;
– distribuição e comportamento em cada compartimento (solo,
água, ar);
O conhecimento da dinâmica baseia-se em estudos de:
– taxa de degradação (TD50, TD90; relevância dos produtos formados);
– taxa de dissipação (TD50, TD90; relevância dos produtos formados);
– persistência (persistente ou não persistente);
– acumulação (nível máximo de resíduos e plateau de acumulação);
– mobilidade-lixiviação (kom, koc, teor no lixiviado);
– volatilização.
• A estimativa das concentrações ambientais previstas (CAP),
através de estudos envolvendo:
– os usos previstos para o Produto fitofarmacêutico;

78
CAPÍTULO 5 | R ISCOS , P RECAUÇÕES E S EGURANÇA NA U TILIZAÇÃO DOS P RODUTOS F ITOFARMACÊUTICOS

– as principais vias de contaminação;


– cenários/modelos apropriados;
– os dados de input derivados do modelo matemático escolhido, que
conduzem a um juízo sobre os riscos possíveis e à sua gestão.
O que acontece aos produtos fitofarmacêuticos, após serem aplicados, é
muito complexo e essa complexidade é evidenciada nas figuras 5.2 e 5.3.

volatilização

Foto-decom- decomposição dispersão global


posição
penetração
drift lavagem
translocação
AR deposição
volatilização

ÁGUA arrastamento

decomposição decomposição
biológica e decomposição biológica
química química

SOLO adsorção dessorção

arrastamento
Figura 5.2 • Destino dos produtos fitofarmacêuticos no ambiente

site de aplicação
volatilidade
fotólise
evapotranspiração factores hidrólise
ambientais lavagem pela chuva
drift
adsorção
factores de penetração
fora distribuição
transporte
do alvo translocação
factores activação
bioquímicos detoxificação

adsorção
site de interacção do
acção receptor

Figura 5.3 • Factores que determinam a concentração da substância activa no local de acção

79
UTILIZAÇÃO DE P R O D U TO S F I TO FA R M A C Ê U T I C O S NA A G R I C U LT U R A

Os efeitos possíveis causados pelos Produtos fitofarmacêuticos no ambi-


ente são também muito complexos e variados, conforme figura 5.4.
É claro que, quer no caso da degradação/dissipação, quer no caso dos
efeitos, os produtos são estudados e caracterizados individualmente.

efeitos em
artrópodos
AR benéficos

efeitos em
bio-acumulação microorganismos
do lodo efeitos em
mamíferos
ÁGUA
efeitos em efeitos em
peixes aves efeitos em
abelhas
efeitos em
invertebrados efeitos em
algas e plantas
efeitos em
microorganismos
SOLO efeitos em
invertebrados do solo

Figura 5.4 • Possíveis efeitos toxicológicos (ecotoxicológicos) no ambiente

SOLO
Visa-se manter os resíduos de Produtos fitofarmacêuticos ao nível mais
baixo possível, de modo a:
• os macro e microorganismos não serem afectados;
• não se verificar fitotoxicidade nas culturas presentes ou que se segui-
rem na rotação;
• não haver resíduos nas culturas;
• não haver contaminação dos lençóis freáticos.
Como proceder para evitar contaminações?
Tendo cuidado na utilização dos Produtos fitofarmacêuticos, nomeada-
mente:
• Escolher o material de aplicação adequado para o uso pretendido;
• Preparar os volumes de calda adequados às áreas a tratar;

80
CAPÍTULO 5 | R ISCOS , P RECAUÇÕES E S EGURANÇA NA U TILIZAÇÃO DOS P RODUTOS F ITOFARMACÊUTICOS

• Reduzir o escorrimento da calda;


• Evitar o arrastamento da calda para fora do alvo fitossanitário o que
tem a ver com:
– material de aplicação (tamanho da gota (VMD), tipo de bico,
pressão, velocidade de andamento, altura do bico/barra em relação
ao alvo fitossanitário, etc.);
– condições atmosféricas (velocidade do vento e humidade relati-
va (HR), etc.);
– realizar aplicações localizadas, sempre que possível;
– aplicar pela manhã, nas horas de menor calor;
– usar bicos anti-arrastamento;
– usar, se possível, sistemas de recuperação de calda no equipa-
mento assistido por ar, em culturas arbustivas/arbóreas;
– usar, se possível, deflectores, que orientam o fluxo de ar e logica-
mente a calda;
– cuidados no manuseamento e armazenamento;
– evitar escorrências e contaminação de solo e água
– armazenar e manusear as embalagens afastado das linhas de água
(mais de 10 m);
– proceder à tripla lavagem da embalagem e utilizar a água de
lavagem na calda;
– evitar excedentes, mas se os houver, distribui-los regular e uni-
formemente pela área tratada.

ÁGUA
Há a considerar as águas subterrâneas e as águas superficiais.
Qualquer delas não deve ser afectada por resíduos de Produtos fitofar-
macêuticos e a sua protecção pressupõe:
• proteger a qualidade das águas destinadas a consumo humano;
• proteger as espécies aquáticas (vertebrados e invertebrados aquá-
ticos e plantas aquáticas);

a) Águas subterrâneas
Em Portugal a maioria da água para consumo humano, cerca de 70%,
provém de águas subterrâneas (38). Assim, ao falar-se de águas subter-
râneas, subentende-se serem águas para consumo humano.
O arrastamento de resíduos de Produtos fitofarmacêuticos através
do perfil do solo é a principal via de contaminação.

81
UTILIZAÇÃO DE P R O D U TO S F I TO FA R M A C Ê U T I C O S NA A G R I C U LT U R A

Como proceder para evitar contaminações?


A via de contaminação mais óbvia está associada ao manuseamento dos
Produtos fitofarmacêuticos devendo-se:
• respeitar as restrições impostas à utilização de Produtos fitofarmacêu-
ticos em locais vulneráveis.
• no caso de Produtos fitofarmacêuticos dirigidos ao solo (herbicidas,
desinfectantes, etc.) usar as doses recomendadas para o caso em pre-
sença (doses menores em solos mais ligeiros ou pobres em matéria
orgânica. Em caso de dúvida optar pela situação de menor risco).
A valorização e a manutenção de qualidade da água são garantidas pela
Directiva-Quadro da Água (DQA), através da Directiva 2000/60/CE,
de 23 de Outubro. Mais de quatro anos decorridos, esta Directiva foi aprova-
da em Conselho de Ministros, em 5 de Junho de 2005.
A Directiva 80/778/CEE, de 17 de Dezembro de 1979, relativa à qualida-
de das águas para consumo humano fixa um valor de resíduo de 0,1 µg/litro
para uma única substância activa e 0,5 µg/litro para o total de substâncias
activas detectadas. Esta Directiva foi transposta para o Direito Nacional pelo
Decreto Lei n.º 74/90, de 7 de Março.
Estes valores designam-se por Concentração Máxima Admissível
(MAC) funcionam como LMR e traduzem uma política de precaução.
O valor 0,1 µg/l corresponde ao limite de detecção analítica, é um valor
imposto e não um valor com suporte científico.
A gestão do risco deriva de resultados de monitorização, análises e uso
de modelos matemáticos e pode levar à modificação da Prática Agrícola, que
passa pela limitação de usos, por precauções a constar do rótulo ou, no limite,
por uma não autorização.

b) Águas superficiais
Também podem servir para consumo humano, mas neste caso têm de
explicitar tal facto dizendo água superficial destinada a consumo huma-
no e então as exigências são as das águas subterrâneas (Decreto Lei n.º 74/
/90, de 7 de Março).
Como proceder para evitar contaminações na águas superficiais?
A principal via de contaminação está associada às práticas culturais,
devendo ser evitado o arrastamento e o escorrimento da calda, a erosão e o
arrastamento de solos tratados e também as operações de limpeza do equipa-
mento de pulverização, pelo que se deve:
• Preparar a calda afastado das linhas de água, poços, furos, nascentes,
(mais de 10 m);

82
CAPÍTULO 5 | R ISCOS , P RECAUÇÕES E S EGURANÇA NA U TILIZAÇÃO DOS P RODUTOS F ITOFARMACÊUTICOS

• Evitar arrastamento da calda para fora do alvo fitossanitário;


• Deixar uma faixa sem tratamento (zona tampão) junto a poços, furos,
linhas de água;
• Em muitos casos esta zona tampão (ou buffer-zone ) consta do rótulo
e varia consoante o Produto fitofarmacêutico.
A existência de impacte inaceitável em espécies não visadas, conduz à
não autorização de uma dada substância activa.

AR
No momento, é o compartimento sobre o qual incide menor regulamentação.
A principal via de contaminação do ar está ligada às técnicas de apli-
cação, particularmente quando se trabalha com gotas de pequena dimensão
(atomização, aplicações UBV, etc.).
Não é de aceitar na atmosfera uma concentração de substância acti-
va, resultante do uso proposto para um Produto fitofarmacêutico, que ultra-
passe o NAEO ou os valores limite de exposição para operadores, assistentes
ou trabalhadores.

ESPÉCIES NÃO VISADAS E AVALIAÇÃO


DE RISCO PARA O AMBIENTE
Deve ser assegurado que o uso de Produtos fitofarmacêuticos não acar-
reta riscos inaceitáveis para as espécies não visadas, para a fauna selvagem
e para o ambiente.
À semelhança do que acontece com o homem, a avaliação do risco,
passa pela identificação e caracterização do perigo e pela avaliação da
exposição e incide sobre espécies sensíveis dos seguintes grupos:
Aves;
Organismos aquáticos (peixes, invertebrados, algas, plantas aquáticas);
Abelhas e outros artrópodes benéficos;
Organismos do solo (macro e microorganismos).

Na avaliação do risco, que é variável consoante a espécie, são exi-


gidos os seguintes dados toxicológicos (47):
Aves: toxicidade aguda oral; toxicidade alimentar a curto prazo; toxicida-
de subcrónica; efeitos na reprodução.

83
UTILIZAÇÃO DE P R O D U TO S F I TO FA R M A C Ê U T I C O S NA A G R I C U LT U R A

Organismos aquáticos: toxicidade aguda e bioconcentração em peixes;


toxicidade aguda e toxicidade crónica em Dafnia magna (invertebrados);
efeitos no crescimento de algas e plantas aquáticas; efeitos nos organismos
dos sedimentos.
Abelhas: toxicidade aguda.
Outros artrópodes úteis: estudos de mortalidade; (eficácia da actividade).
Minhocas (macroorganismo do solo): toxicidade aguda e efeitos sub-
letais.
Microorganismos do solo: (actividade da biomassa microbiana); (efei-
to da persistência).
Efeitos noutros organismos não visados (fauna e flora).

Assim, a avaliação do risco no ambiente passa também pela compa-


ração de dois parâmetros, conforme se mostra o quadro 5.4 (23).
• um é o Nível Sem Efeito Observável (NSEO): estudos de toxi-
cidade de curto e longo prazo em animais e plantas levam ao estabe-
lecimento do NSEO;
• o outro é a Concentração Ambiental Prevista (CAP): estudos
de degradação e distribuição no ambiente, optimizados por modelos
variados, onde o Produto fitofarmacêutico é aplicado de acordo com a
BPF conduzem ao estabelecimento da CAP.
A CAP não deve ultrapassar o NSEO.
Na prática o processo de avaliação assume maior complexidade do que o
descrito e é individualizado para cada grupo de espécies não visadas.

Usos do produto de Estudos de toxicicidade


acordo com BPF em animais e plantas

Estudos de distribuição
e degradação no ambiente

CAP NSEO

Quadro 5.4 • Avaliação de risco do ambiente

Cenários possíveis:
CAP < NSEO => OK
CAP = NSEO => OK
CAP > NSEO => Risco !!!

84
CAPÍTULO 5 | R ISCOS , P RECAUÇÕES E S EGURANÇA NA U TILIZAÇÃO DOS P RODUTOS F ITOFARMACÊUTICOS

GESTÃO DO RISCO
É feita uma avaliação seguida de decisão que tem como consequência
definir se existe ou não risco e caso exista se ele pode ser aceite (tole-
rado) ou não. Um risco inaceitável, pode levar a uma proibição ou pode
tornar-se aceitável mediante a indicação de precauções ecotoxicológicas
a constar do rótulo (12; 13; 43; 44; 47). As precauções ecotoxicológicas
podem contemplar:
• A indicação de símbolo de toxicidade (é uma das mais recentes
medidas de precaução).

Perigoso
para o ambiente

• O estabelecimento de medidas de mitigação do risco, com limi-


tação dos usos propostos (tal como no caso dos LMR)
– dose de aplicação;
– n.º de tratamentos;
– condições de aplicação (estufa, ar livre);
– época de tratamentos (timing);
– zonas tampão.
O Decreto Lei n.º 154-A/ 2002, de 11 de Junho e o Decreto
Lei n.º 82/2003, de 23 de Abril, transpuseram para a legislação
nacional a Directiva UE designada por Directiva das Prepara-
ções Perigosas (DPP) (Directiva 1999/45/CE). Trata-se de uma
Directiva nova, que revoga as anteriores, onde já constavam vários
produtos químicos, mas na qual os Produtos fitofarmacêuticos são
incluídos agora pela primeira vez. Entrou em vigor a de 30 de
Julho de 2004 e obriga a alterações, mais gravosas, das normas
para a classificação, embalagem, rotulagem e das fichas de
dados segurança de todas as preparações perigosas incluin-
do os Produtos fitofarmacêuticos.

Exemplos de precauções toxicológicas, ecotoxicológicas e am-


bientais:
• Não contaminar a água com este produto ou com a sua embalagem;
• Para protecção das águas subterrâneas não aplicar este produto em
solos arenosos e/ou pobres em matéria orgânica;

85
UTILIZAÇÃO DE P R O D U TO S F I TO FA R M A C Ê U T I C O S NA A G R I C U LT U R A

• Muito tóxico para organismos aquáticos podendo causar efeitos nefas-


tos a longo prazo ambiente aquático;
• Para protecção dos organismos aquáticos respeitar uma zona não pul-
verizada de x metros em relação às águas de superfície;
• Extremamente tóxico para abelhas. Não aplicar durante a época de
floração; fazer o corte de outras plantas em floração na parcela a
tratar;
• Ficha de segurança fornecida a pedido de utilizadores profissionais;
A Directiva 1999/45/CE exige que na face principal do rótulo constem
as duas seguintes frases:
«Este produto destina-se a ser utilizado por agricultores e outros apli-
cadores de Produtos fitofarmacêuticos»;
«Para evitar riscos para os seres humanos e para o ambiente, respeitar
as indicações de utilização».

EQUIPAMENTO DE PROTECÇÃO
INDIVIDUAL
Na utilização dos Produtos fitofarmacêuticos há riscos que importa con-
trolar ou diminuir, uma vez que a sua eliminação não é possível.
É sabido que os meios disponíveis não são os mais apropriados, nomea-
damente por falta de um quadro legislativo regulador, semelhante ao exis-
tente para a Homologação. A certificação de aplicadores e de empresas
aplicadoras cuja regulamentação se aguarda para breve, será uma forte
ajuda nesta área.
A estratégia de defesa da saúde e segurança dos utilizadores de Produtos
fitofarmacêuticos, passa pelo uso de Equipamento de Protecção Individual
(EPI), que se tornou obrigatório.
A exposição relaciona-se directamente com a actividade que se desenvol-
ve, no complexo circuito que vai do fabrico à aplicação e até para além dela,
conforme figura 5.5.
Por sua vez o tipo de EPI a usar varia com a fase e a natureza da exposi-
ção e as suas características devem ter em vista as tarefas e os prováveis
riscos inerentes, conforme os quadros 5.5 e 5.6 (20).

86
CAPÍTULO 5 | R ISCOS , P RECAUÇÕES E S EGURANÇA NA U TILIZAÇÃO DOS P RODUTOS F ITOFARMACÊUTICOS

Figura 5.5 • Fases de exposição ao risco

FASES DO TRABALHO Manipulação


de utensílios
Classificação UTILIZAÇÃO e embalagens
toxicológica vazias; contacto
PREPARAÇÃO Fumos e
Líquidos Granulados com o material
Vapores após utilização

MUITO TÓXICO Botas de Botas de Fato de Fato de Fato de


borracha, borracha, protecção, protecção, protecção
fato de fato de capuz, óculos, capuz, óculos, capuz, luvas
protecção, protecção, protecção protecção
capuz, óculos óculos, luvas, respiratória respiratória
de protecção protecção e luvas com e luvas com
respiratória canhão canhão

TÓXICO Fato de Fato de Fato de pro- Fato de Fato de


protecção, protecção, tecção, óculos, protecção, protecção,
capuz, óculos, protecção óculos e luvas
protecção protecção respiratória luvas com
da cara, luvas respiratória e luvas com canhão
canhão
NOCIVO Fato de Fato de Fato de pro- Fato de Fato de
protecção, protecção, tecção, capuz, protecção, protecção,
capuz, capuz, protecção capuz, óculos luvas
protecção protecção respiratória, e luvas com
da cara, luvas da cara luvas com canhão
e luvas canhão
CORROSIVO Fato de Fato de Fato de Fato de Fato de
protecção, protecção, protecção, protecção, protecção,
botas, capuz, botas e luvas óculos, capuz, óculos botas, capuz,
protecção protecção e luvas com luvas
da cara, luvas respiratória canhão

Sem Classificação Os métodos de trabalho correctos exigem a utilização de fatos de protecção, luvas
(isentos) sem forro, máscaras e botas durante a manipulação dos Produtos fitofarmacêuticos

Quadro 5.5 • Utilização de EPI consoante as fases de trabalho

87
UTILIZAÇÃO DE P R O D U TO S F I TO FA R M A C Ê U T I C O S NA A G R I C U LT U R A

EXIGÊNCIAS DE CONFORTO EXIGÊNCIAS DE TAREFAS


Leveza Redução do incómodo no trabalho e nos movimentos
Adaptação à morfologia Comodidade funcional
Permeabilidade ao suor Compatibilidade com outros equipamentos
Conforto térmico Não perturbar as percepções sensoriais
Volume limitado (visão, audição, tacto)
Eficácia da protecção Nível de protecção produzido
Não ultrapassar prazo de validade Limites previsíveis de utilização
Inocuidade Prazos de validade
Ausência de riscos autogéneos Modo de utilização
Robustez Instruções de armazenagem, manutenção, limpeza

Quadro 5.6 • Factores a considerar na escolha de um EPI

TRANSPORTE DE PRODUTOS
FITOFARMACÊUTICOS EM SEGURANÇA
O Decreto Lei n.º 267-A/2003, de 27 de Outubro, aprova a Lei-Quadro
do Transporte Rodoviário de Mercadorias Perigosas e o Regulamento Nacio-
nal do Transporte de Mercadorias Perigosas por Estrada (RPE), o que signifi-
ca a regulamentação do transporte por estrada das mercadorias classificadas
como perigosas. No Transporte Rodoviário Internacional aplica-se o Acordo
Europeu relativo ao Transporte de Mercadorias Perigosas por Estrada (ADR).
Das mercadorias classificadas como perigosas para efeito de transporte,
fazem parte inúmeras substâncias químicas, distribuídas por nove classes,
nas quais se inclui a maioria dos Produtos fitofarmacêuticos. A razão da pe-
rigosidade reside nas propriedades e características de tais mercadorias, sus-
ceptíveis de, em caso de acidente, poderem causar danos em pessoas, animais,
bens e meio Ambiente.
Esta classificação para efeitos de transporte é independente da classifica-
ção toxicológica atrás referida. Para prevenir ou evitar eventuais acidentes
com os produtos transportados, há que cumprir algumas regras básicas ( 8; 18).

Relativamente a viaturas
• Com cabina separada da caixa de carga e esta estar limpa seca e em
bom estado;
• Com caixa de carga fechada ou com cobertura;
• Que cumpram inspecções regulares;
• Equipamentos de sinalização, protecção e segurança;

88
CAPÍTULO 5 | R ISCOS , P RECAUÇÕES E S EGURANÇA NA U TILIZAÇÃO DOS P RODUTOS F ITOFARMACÊUTICOS

• Sinalização do veículo com painéis retro-reflectores à frente e atrás;


• Extintores no exterior da viatura (dois) e um na cabina;
• Dispor de EPI para fazer face a uma eventual situação de risco;
• Dispor de um frasco lavador de olhos com água limpa;
• Dispor de um colete fluorescente;
• Dispor de dois sinais luminosos de aviso, portáteis;
• Dispor de uma lanterna;
• Dispor de uma pá, um recipiente com serradura ou areia e sacos va-
zios para recolha de derrames.

Cuidados na expedição e transporte


• Isolar os Produtos fitofarmacêuticos de outros produtos, pessoas ou
animais;
• Distribuir a carga consoante as características dos Produtos fitofar-
macêuticos e proteger as embalagens mais frágeis;
• Ter cuidado nas operações de carga e descarga e nesta fase desligar o
motor da viatura;
• Respeitar sinais de trânsito e nunca abandonar a viatura;
• Sempre que possível, optar por estradas fora das povoações, sem pon-
tes e túneis;
• Usar sempre Equipamento de Protecção Individual enquanto manu-
seia Produtos fitofarmacêuticos,

Medidas em caso de acidente


• Afastar o veículo dos centros populacionais;
• Eliminar riscos de incêndio cortando a ignição;
• Alertar bombeiros, autoridades policiais e empresa expedidora;
• Em caso de incêndio, tentar a extinção com extintores, antes da che-
gada dos bombeiros;
• Se houver material derramado, absorver o produto derramado com
terra, areia ou serradura;
• Afastar pessoas curiosas e animais e estabelecer um cordão de segu-
rança no local;
• Actuar a favor do vento;

89
UTILIZAÇÃO DE P R O D U TO S F I TO FA R M A C Ê U T I C O S NA A G R I C U LT U R A

• Em caso de fuga ou derrame sem fogo, absorver igualmente o produto


derramado com terra, areia ou serradura;
• Remover e guardar armazenado o produto derramado, para tratamen-
to posterior;
• No final retirar a carga do local separando a carga danificada da não
danificada;
• Proceder à descontaminação da zona, com uma mistura apropriada.

Documentação a acompanhar o transporte


Documento de transporte ou guia de remessa.
É emitido pelo expedidor, para cada produto ou grupo de produtos, e aí
deve constar a classificação ADR/RPE correspondente:
• Número ONU precedido da sigla UN;
• Designação ADR/RPE das mercadorias (nome dos produtos e das
substâncias activas);
• Número de etiqueta correspondente à classe de perigo (há nove classes);
• Quantidade transportada (quilos ou litros);
• Número e descrição das embalagens;
• Nome e endereço do expedidor e do destinatário.

Fichas de segurança
Emitidas pelo expedidor e destinadas ao condutor, onde consta:
• A designação ADR/RPE das mercadorias;
• Disposições a tomar em caso de acidente (incêndio, derrame ou ou-
tro), ou em caso de ter havido contacto entre pessoas e as mercado-
rias transportadas.

Certificado de formação do condutor ADR/RPE


Concedido por organismo reconhecido pela Direcção-Geral de Viação
(DGV), obrigatório para condutores de viaturas com Peso Bruto superior a
3,5 toneladas e da responsabilidade do proprietário da viatura.

Formação do pessoal envolvido na carga-descarga


Conselheiros de segurança
Conforme determina o Decreto Lei n.º 322/2000, de 19 de Dezembro,
as empresa transportadoras devem dispor destes conselheiros, cuja missão
é supervisionar as condições de realização dos transportes e as respectivas
operações de carga e descarga.

90
CAPÍTULO 5 | R ISCOS , P RECAUÇÕES E S EGURANÇA NA U TILIZAÇÃO DOS P RODUTOS F ITOFARMACÊUTICOS

No transporte dos Produtos fitofarmacêuticos em segurança, pelo que


ficou dito, verifica-se que existem responsabilidades e obrigações distribuídas
por três níveis – expedidor, carregador, transportador.

ARMAZENAMENTO DE PRODUTOS
FITOFARMACÊUTICOS EM SEGURANÇA
Porquê e como se armazenam os Produtos fitofarmacêuticos?
Os Produtos fitofarmacêuticos devem ser convenientemente armazena-
dos a fim de que:
• Os teores em substância activa e as propriedades físico-químicas de
cada um sejam mantidos;
• A contaminação entre si seja evitada.
Como pode ser feito?
• Através de uma arrumação adequada, que possibilite a sua identifica-
ção (leitura do rótulo);
• Em embalagens originais;
• Em quantidades facilmente controláveis;
• Com renovação de stocks.
O Decreto Lei n.º 370/99, de 18 de Setembro, determina que os esta-
belecimentos comerciais e de serviços cujo funcionamento envolva riscos
para a saúde e segurança das pessoas, sejam objecto de um processo de
licenciamento concedido por uma única entidade – a Câmara Municipal.
Uma vez concluída a obra, o interessado requer a concessão da licença
de utilização e este pedido deverá ser acompanhado por um plano de emer-
gência e segurança, que a Câmara Municipal, por sua vez, remete ao Servi-
ço Nacional de Bombeiros.
Assim, tendo em conta as propriedades e as características dos Produtos
fitofarmacêuticos e também a capacidade do armazém, há a considerar os
seguintes principais aspectos (7; 18; 57):

Localização do armazém
• Fora dos aglomerados populacionais e em edifícios próprios;
• Afastado de cursos ou linhas de água;
• Local de fácil acesso.

91
UTILIZAÇÃO DE P R O D U TO S F I TO FA R M A C Ê U T I C O S NA A G R I C U LT U R A

Construção
• Com materiais incombustíveis;
• Com pavimento estanque e com retenção de águas (bacia de retenção);
• Com cobertura e ventilação adequadas;
• Com instalação eléctrica adequada;
• Com paredes corta-fogo;
• Com portas corta-fogo e saídas de emergência;
• Com zonas diferenciadas de armazenagem;
• Com detecção, alarme e combate a incêndios;
• Com tubagens de águas pluviais protegidas;
• Com zonas administrativa e social separadas da zona de armazém;
• Com estação de carregamento de baterias separada do armazém;
• Com instalações sanitárias e chuveiro de emergência, etc.

Cuidados no armazenamento
• Arrumação por famílias de produtos e dentro destas segundo as clas-
ses de perigo;
• Não armazenar directamente sobre o pavimento;
• Armazenar afastado das paredes e lâmpadas;
• Manter a estabilidade do armazenamento em altura;
• Manter corredores e saídas funcionais;
• Não armazenar embalagens abertas ou danificadas;
• Observar a regra primeiro produto a entrar, será o primeiro a sair.

Medidas de higiene e segurança


• Não fumar ou fazer lume;
• Ter instalados extintores;
• Ter as instalações vigiadas e existir um plano de alarme;
• Existir Equipamento de Protecção Individual pronto a usar;
• Existir sinalização adequada;
• Existir material absorvente e equipamento contra derrames;
• Haver procedimento operacional, em caso de derrame;
• Haver procedimento operacional, em caso de incêndio.

92
GLOSSÁRIO

A C
Acção translaminar • Os insecticidas e fungi- Cutícula • É uma estrutura complexa compos-
cidas penetrantes atravessam a cutícula ta em grande parte de uma associação
dos insectos e a epiderme dos vegetais entre proteínas e quitina. Estes materiais
mas não são transportados nos vasos, encontram-se nas camadas superiores
tendo apenas capacidade, nomeadamen- das moléculas epidérmicas em estratos
te na fase de vapor, de atravessar algumas sucessivos com o aspecto de contrapla-
camadas de células, evidenciando a activi- cado o que confere à cutícula proprieda-
dade translaminar ou alguma difusão late- des mecânicas. A componente quitina é
ral em torno do local de penetração (3; 4). um carbohidrato (polissacarido), tem uma
estrutura semelhante à celulose, mas
Adjuvantes • Produtos que se adicionam a um
possui átomos de azoto.
outro Produto fitofarmacêutico na altura da
aplicação, a fim de melhorar a sua activi-
dade específica. São também designados
por adjuvantes de uso extemporâneo (13).
D
Ambiente • O ar, a água, a terra, a fauna selva-
gem e a flora espontânea, bem como as Drift • Deriva.
inter-relações entre estes diversos ele-
mentos e as relações existentes entre eles
e qualquer organismo vivo (13).
Agricultura sustentável • A agricultura sus- E
tentável mantém indefinidamente a sua
Ecotoxicologia • Ciência que estuda os efei-
produtividade e utilidade para a socieda-
tos nocivos dos agentes químicos nos
de recorrendo a sistemas agrícolas que
elementos componentes do ambiente. É
conservem os recursos naturais, protejam
um ramo da Toxicologia.
o ambiente, produzam eficientemente,
compitam comercialmente e melhorem a
qualidade de vida dos agricultores e da
sociedade como um todo (3; 4).
Auxiliar • Organismo antagonista com activi- H
dade predadora, parasitóide, parasita ou Hormonas (insectos) • São substâncias for-
patogénica, de organismos inimigos das madas em glândulas especiais, regula-
culturas (3; 4). doras de fenómenos como as mudas e
as metamorfoses. São transportadas pela
Aviso Agrícola • Conselho de natureza bioló-
hemolinfa.
gica, fenológica, climática e/ou fitiátrica,
dado aos agricultores pelas estações de
avisos no sentido de permitir avaliar os
riscos devidos aos inimigos das suas cul-
turas e de dicidir sobre a necessidade, I
oportunidade e natureza das intervenções
fitiátricas, privilegiando, sempre que pos- Inimigo da cultura • Organismo prejudicial
sível, a protecção integrada (3; 4). para uma cultura.
UTILIZAÇÃO DE P R O D U TO S F I TO FA R M A C Ê U T I C O S NA A G R I C U LT U R A

M R
Medida de protecção • Métodos de combate Regulador de Crescimento das plantas •
contra os inimigos das culturas, envolven- Constituem, no conjunto dos principais
do medidas indirectas de luta ou meios Produto fitofarmacêuticos, o único grupo
directos de luta (3; 4). que não se destina a actuar sobre os ini-
migos das culturas. A maioria dos Regu-
Meio de luta • (ver Medida de protecção).
ladores de Crescimento produz os seus
Multisite (ou multi-site) • Produto fitofarma- efeitos interferindo com o balanço hormo-
cêutico que actua sobre mais de um pro- nal endógeno que controla o processo fi-
cesso fisiológico ou bioquímico do siológico das plantas (28).
organismo a combater.
Regulador de Crescimento (de insectos ou
ácaros) • Produto fitofarmacêutico que ac-
tua sobre o sistema endócrino dos artró-
podos, alterando a normal acção das
O hormonas por ele produzidas.
Organismo prejudicial ou nocivo • Os inimi- Risco • Probabilidade de ocorrência de efei-
gos dos vegetais e dos produtos vegetais tos adversos face a uma situação de ex-
pertencentes aos reinos animal ou vege- posição.
tal, bem como vírus, bactérias e micoplas-
mas ou outros agentes patogénicos (13).

S
Site • Local (de aplicação, de acção, etc.).
P
Substâncias activas • As substâncias ou mi-
Perigo • Características de toxicidade intrín-
croorganismos, incluindo vírus, que exer-
secas das substâncias activas.
çam uma acção geral ou específica sobre
Prejuízo • Redução, com importância econó- os organismos prejudiciais os vegetais,
mica, da produção de uma cultura, quer partes de vegetais ou produtos vegetais. A
em quantidade quer em qualidade, cau- maioria das substâncias activas são pro-
sada por inimigos da cultura (3; 4). dutos químicos de síntese, mas há algu-
mas (poucas) com origem diferente (13).
Preparações • Mistura ou soluções compos-
tas de duas ou mais substâncias, das Substâncias • Os elementos químicos e seus
quais pelo menos uma é substância acti- compostos tal como se apresentam no
va, destinadas a serem utilizadas como estado natural ou tal como são produzi-
Produto fitofarmacêutico (13). dos pela indústria, incluindo qualquer im-
pureza inevitavelmente resultante do
Processo vital • Órgão ou função (fisiológica,
processo de fabrico (13).
metabólica, etc.) essencial à vida de um
organismo.
Produtos vegetais • Os produtos de origem
vegetal não transformados ou que sofre-
ram uma transformação simples, como
T
moagem, secagem ou prensagem, des- Toxicologia • Ciência que estuda os efeitos
de que não se trate de vegetais tal como à nocivos dos agentes químicos em orga-
frente definido (13). nismos vivos.

94
GLOSSÁRIO

U V
Unisite (ou uni-site) • Produto fitofarmacêu- Vegetais • As plantas e as partes vivas de plan-
tico selectivo, que actua sobre um único tas, incluindo as frutas frescas e as se-
processo fisiológico ou bioquímico do or- mentes (13).
ganismo a combater.
Vegetal indesejável • Erva infestante.

95
A B R E V I AT U R A S

Anipla - Associação Nacional da Indústria para a Protecção de Plantas


APV - Autorização Provisória de Venda
AV - Autorização de Venda
BPA - Boa Prática Agrícola
BPF - Boa Prática Fitossanitária
CAP - Concentração Ambiental Prevista
CATPF - Comissão de Avaliação Toxicológica dos Produtos fitofarmacêuticos
CE - Conselho Europeu
CEE - Comissão Económica Europeia
CL50 - Concentração Letal 50% (ou LC50, versão língua inglesa)
COM - Comissão (europeia)
CSEAO - Concentração sem Efeito Adverso Observável
CSEO - Concentração sem Efeito Observável
CTP - Comissão de Toxicologia dos Pesticidas
DAR - Dose Aguda de Referência (ARfD, versão língua inglesa)
DDME - Ingestão (Dose) Diária Máxima Estimada (EMDI, versão língua inglesa)
DDMT - Ingestão (Dose) Diária Máxima Teórica (TMDI, versão língua inglesa)
DGPC - Direcção Geral de Protecção das Culturas
DL50 - Dose Letal 50% (ou LD50, versão língua inglesa)
DPP - Directiva das Preparações Perigosas
DSEAO - Dose sem Efeito Adverso Observável
DSEO - Dose sem Efeito Observável
ECCO - Comissão Europeia de Coordenação (European Commission Co-Ordination )
EM - Estado-membro
EPI - Equipamento de Protecção Individual
EPR - Equipamento de Protecção Respiratória (máscara)
ETE - Exposição Teórica Estimada
HR - Humidade Relativa
IDA - Ingestão (Dose) Diária Aceitável (ADI, versão língua inglesa)
IS - Intervalo de Segurança
JO - Jornal Oficial da UE (ou OJ)
Kco - Coeficiente de adsorção ao carbono orgânico
Kd - Coeficiente de distribuição solo/água
Kom - Coeficiente de adsorção à matéria orgânica
LMR - Limite Máximo de Resíduo
LP - Lista Positiva (Anexo I da Directiva 91/414/CEE)
NAEO - Nível Aceitável de Exposição do Operador
NE - Nível de Exposição
NSEAO - Nível sem Efeito Adverso Observável
NSEO - Nível sem Efeito Observável
Pf - Produto fitofarmacêutico
pf - produto formulado
PI - Protecção Integrada
PU - Princípios Uniformes (Anexo VI da Directiva 91/414/CEE)
Qp - Quociente de perigo
RTE - Relação Toxicidade/Exposição (TER, versão língua inglesa)
sa - substância activa
SCPH - Standing Committee on Plant Health
TD50 - Taxa de Degradação 50%
TD90 - Taxa de Degradação 90%
VMD - Diâmetro Médio das gotas de calda (Volume Median Diameter)
REFERÊNCIAS

Bibliografia
01 Agrios, G. N. - Plant Pathology – 4th Ed. Academic Press, 634 p., 1997
02 Alfarroba, F. - Avaliação do comportamento e exposição no ambiente dos Pro-
dutos fitofarmacêuticos: 101-136. Simp. Protecção das Plantas, Agricultura e
Ambiente. Anipla - Lisboa, 1996
03 Amaro, P. - Protecção integrada. Ed. ISA/Press, 446 pp. Lisboa, 2003
04 Amaro, P. & Baggiolini, M. - Introdução à Protecção Integrada. 280 pp. Lisboa,
1982
05 Anipla - http://www.anipla.com
06 Anipla - Normas para a Utilização Segura e Eficaz dos Produtos fitofarmacêu-
ticos. Lisboa, 2000
07 Anipla - Normas para um Armazenamento Seguro de Produtos fitofarmacêuti-
cos. Lisboa, 1998
08 Anipla - Normas para um Transporte Seguro de Produtos fitofarmacêuticos.
Lisboa, 1998
09 Anónimo - Agricultura sustentável. Anipla - Lisboa, 2001
10 Anónimo - Cholinesterase inhibition – what’s blocking what ? Crop Protection
News, 7: 16. 1995
11 Anónimo - Crop Life International. Integrated Pest Management. Belgium, 2003
12 Anónimo - Decreto-Lei n.º 341/98: estabelece os Princípios Uniformes relati-
vos à avaliação e autorização dos Produtos fitofarmacêuticos para a sua colo-
cação no mercado. Diário da República n.º 255/98, I Série-A, 4. 11.1998
13 Anónimo - Decreto-Lei n.º 94/98: adopta as normas técnicas de execução
referentes à colocação dos Produtos fitifarmacêuticos no mercado. Diário da
República n.º 88/98, I Série-A, 15 .04. 1998
14 Anónimo - Directiva 91/414/CEE do Conselho, de 15 de Julho, relativa à colo-
cação de Produtos fitofarmacêuticos no mercado. Jornal Oficial das Comuni-
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15 Anónimo - Food for Live. Southern Agricultural Chemicals Association, Dawson/
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16 Anónimo - Nações Unidas, 1999 - Prospectivas da população mundial, revi-
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17 Bates, J. A. R. - The role of ECCO teams in the implementation of European
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22 Ciba - Terra e Vita n.º 22. Basel, 1995
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35 Ledson, M. - Pulverizadores - teoria. Formação sobre Aplicação Segura e Efi-
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36 Ledson, M., Laycock, D. & Cochran, A. - Pulverizadores – prática. Formação sobre
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REFERÊNCIAS

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Eficaz de Produtos fitofarmacêuticos - Syngenta, 2004
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51 Smith, A. - Solvent-reduction feature: the ultimate solution. Agrow, 230: 24-26,
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52 Smutz, P. - Introduction to Formulation Produtos Protecção de Plantas (Internal
communication – 40 p.). Ciba-Geigy. Basel, 1986
53 Sobreiro, J. - O sistema de homologação Nacional e Comunitário dos Produ-
tos fitofarmacêuticos. Simp. Protecção das Plantas, Agricultura e Ambiente:
31-45. Anipla - Oeiras, 1996
54 Syngenta Crop Protection - Catálogo 2004. Lisboa, 2004
55 Taylor, C. - Keep food prices at affordable levels. Auburn University, USA, 1994.
In: Ciba-Geigy: Science Based Registration. Basel, 1996
56 Teixeira, M. & Fernandes, E. - Guia dos Produtos fitofarmacêuticos. LMR de
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58 Wall, R. E. - Bioherbicides - promises and prospects. Pesticide Outlook: 29-32.
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Nota: As Referências Ciba e Ciba-Geigy são hoje propriedade de Syngenta Crop Protection

101
ÍNDICE

INTRODUÇÃO ................................................. 05 LUTA FÍSICA .................................................... 44

LUTA BIOLÓGICA ........................................... 44


CAPÍTULO 1
O QUE SÃO PRODUTOS LUTA BIOTÉCNICA ........................................ 46
FITOFARMACÊUTICOS ......................... 09
LUTA QUÍMICA ............................................... 49
DEFINIÇÃO ...................................................... 10
CRITÉRIOS DE ESCOLHA .............................. 49
COMPOSIÇÃO ................................................. 11
CAPÍTULO 4
O QUE É A FORMULAÇÃO? ......................... 12
BOA PRÁTICA FITOSSANITÁRIA ............... 51
O QUE SÃO ADJUVANTES? ........................... 14
DEFINIÇÃO ...................................................... 52
CLASSIFICAÇÃO DOS PRODUTOS
A ESCOLHA DOS PRODUTOS FITO-
FITOFARMACÊUTICOS ................................ 15
FARMACÊUTICOS COMO SOLUÇÃO ........ 55
FUNGICIDAS ............................................. 16
O RÓTULO DO PRODUTO
INSECTICIDAS .......................................... 18
FITOFARMACÊUTICO .................................. 56
HERBICIDAS .............................................. 19
SUA IMPORTÂNCIA ................................. 56
BENEFÍCIOS ASSOCIADOS
PRINCIPAIS COMPONENTES ................. 57
AO SEU USO ..................................................... 21
A APLICAÇÃO DOS PRODUTOS
EVENTUAIS RISCOS ....................................... 25
FITOFARMACÊUTICOS ................................ 58
CAPÍTULO 2 MÉTODOS DE APLICAÇÃO ................... 58
A HOMOLOGAÇÃO DOS PRODUTOS VOLUMES DE CALDA E DÉBITOS ........ 59
FITOFARMACÊUTICOS ......................... 27 TAMANHO DAS GOTAS ......................... 60
TIPOS DE BICOS ....................................... 62
CIRCUITO AQUISIÇÃO – APLICAÇÃO ....... 28
ALGUNS CONSELHOS BÁSICOS ........... 63
DEFINIÇÃO E OBJECTIVOS .......................... 30 CALIBRAÇÃO DO APARELHO .............. 64

EXIGÊNCIAS LEGAIS ..................................... 31 MISTURA DE PRODUTOS


FITOFARMACÊUTICOS ................................ 65
ENQUADRAMENTO LEGAL
E PRINCIPAIS FIGURAS JURÍDICAS ........... 35 CARACTERÍSTICAS
INDIVIDUAIS DOS PRODUTOS
CAPÍTULO 3 FITOFARMACÊUTICOS .......................... 66
MÉTODOS DE PROTECÇÃO OU MEIOS COMPATIBILIDADES .............................. 67
DE LUTA ..................................................... 41
CAPÍTULO 5
LUTA LEGISLATIVA OU MEDIDAS
RISCOS, PRECAUÇÕES E SEGURANÇA
DE QUARENTENA FITOSSANITÁRIA ........ 42
NA UTILIZAÇÃO DOS PRODUTOS
LUTA GENÉTICA ............................................. 43 FITOFARMACÊUTICOS ......................... 69

LUTA CULTURAL ........................................... 43 AVALIAÇÃO TOXICOLÓGICA ..................... 70


UTILIZAÇÃO DE P R O D U TO S F I TO FA R M A C Ê U T I C O S NA A G R I C U LT U R A

CLASSIFICAÇÃO DOS PRODUTOS AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO


FITOFARMACÊUTICOS E RESPECTIVOS E EXPOSIÇÃO NO AMBIENTE
SÍMBOLOS ................................................. 71 E NAS ESPÉCIES NÃO VISADAS .................. 78
FRASES DE RISCO
SOLO ........................................................... 80
(QUE APONTAM PARA O PERIGO) ...... 72
ÁGUA .......................................................... 81
FRASES DE SEGURANÇA
AR ................................................................ 83
(QUE DERIVAM DAS FRASES
ESPÉCIES NÃO VISADAS
DE RISCO) .................................................. 73
E AVALIAÇÃO DE RISCO
PERIGO E RISCO ....................................... 73
PARA O AMBIENTE ................................. 83
IMPACTE SOBRE A SAÚDE HUMANA GESTÃO DO RISCO .................................. 85
E ANIMAL ........................................................ 73
EQUIPAMENTO DE PROTECÇÃO
RELACIONADO DIRECTAMENTE INDIVIDUAL .................................................... 86
COM OS PRODUTOS
TRANSPORTE DE PRODUTOS FITO-
FITOFARMACÊUTICOS .......................... 73
FARMACÊUTICOS EM SEGURANÇA ......... 88
Avaliação de risco ......................................... 74
Gestão do risco ............................................. 74 ARMAZENAMENTO DE PRODUTOS
RELACIONADO COM OS RESÍDUOS DOS FITOFARMACÊUTICOS
PRODUTOS FITOFARMACÊUTICOS ... 75 EM SEGURANÇA ............................................ 91
Intervalo de Segurança e Limite
Máximo de Resíduo ...................................... 75 Glossário .......................................................... 93
Avaliação de risco ......................................... 76 Abreviaturas .................................................... 97
Gestão do risco ............................................. 77 Referências ...................................................... 99

104

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