Desafios Da Cidadania
Desafios Da Cidadania
Desafios Da Cidadania
DESAFIOS DA CIDADANIA
DESAFIOS
DA CIDADANIA
EDITORA
P re s id e n te d a O A B e P re sid e n te H o n o r rio d a O A B E D IT O R A
Sergio Ferraz
E d ito r
Rodrigo Dias Pereira
C a p a e P ro je to G rfico
D ad o Luiz Osti
R e vis o
Aiine Machado Costa Timm
C o n s e lh o E d ito ria l
Sergio Ferraz (P reside n te )
Jefferson Luis Kravchychyn
Alberto de Pauia Machado
Ana Maria Morais
Cesar Luiz Pasold
Hermann Assis Baeta
Oscar Otvio Coimbra Argoiio
Pauio Bonavides
Rubens Approbato Machado
G 25 7d
EDITORA
SA S Q u a d ra 0 5 - Lote 01 B loco M
E difcio S e de d o C on selho Federal da O AB
Braslia, D F - C E P 7007 0-0 50
Tet. (6 1 )3 3 1 6 -9 6 0 0
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e-m ail: oa bed ito ra@ oab .org .br
DEDICATRIA
AGRADECIMENTOS
EPGRAFE
D e v e m o s s e g u ir s e m p r e o c a m in h o q u e c o n d u z ao m a is alto.
(Plato)
PREFACIO
id a d a n ia p a la v ra -c h a v e p a ra r e s u m ir e d e s ig n a r a c o n d i o h u m a n a
n u m co n te x to social d ig n o e civilizado. T o rn o u -se h o je e m b le m a d e p a r
tid o s p o ltico s e e n tid a d e s d a so c ie d a d e civil o r g a n iz a d a , a l m d e p a la
A o c o n tr rio d o q u e in g e n u a m e n te im a g in a v a m m u ito s d o s q u e se e n v o lv e
ra m n a lu ta c o n tra o a rb trio , a re c o n q u ista d e m o c r tic a n o a so lu o p a r a os
d esafio s d e n o sso pas. a p e n a s o p o n to d e p a rtid a p a ra m e lh o r equacion -lo s,
com v ista s ao g ig a n te sc o e m p r e e n d im e n to d e su p e r -lo s. A c id a d a n ia n o u m
b e m q u e se receb e n a b a n d e ja . u m a c o n stru o , lenta e in in te r r u p ta , tarefa de
geraes.
Este "D esafio s d a C id a d a n ia " , e ru d ito e m in u c io so e n sa io d e D irc e u G a ld in o
C a rd in , faz u m a e sp cie d e ra d io g ra fia d esses d esafios. Ele a b o rd a , s e m p r e com
m u ito c o n h e c im e n to d e ca u sa s, te m a s os m ais d iv e rs o s q u e e n v o lv e m o dia-ad ia d o c id a d o b ra sile iro , d e s d e m e io a m b ie n te at os s iste m a s b a n c rio e fiscal,
p a s s a n d o p e la a n lise d o s trs P o d e re s d a R epblica. C o m o b o m ju rista q u e ,
se a t m a o s te m a s q u e e n v o lv e m as relaes d o c o n trib u in te c o m a Justia.
u m livro q u e in stru i, o rie n ta e p ro p e . E isso b a sta p a r a to rn -lo precioso,
s o b r e tu d o a o s q u e m ilita m n a v id a p b lica, o q u e n o se r e s trin g e a p e n a s ao
u n iv e rs o d o s q u e d e t m m a n d a to o u o c u p a m fu n o n o E stado . E a est m ais
u m a lio d a c id a d a n ia : so m o s to d o s h o m e n s p b lic o s, o u , n a v is o aristotlica,
a n im a is polticos, c o m p ro m e tid o s c o m os in te re sse s coletivos.
A m e n ta lid a d e s e g u n d o a qual cada u m d e n s d e v e c u id a r d e si m e sm o e
co b rar o m ais d o E sta d o e d e seus ag en tes resu lta n u m a so c ie d a d e com o a q u e
temos: injusta, d e sig u a l e tirnica. E resulta ta m b m n u m E sta d o insacivel que, a
p retex to d e a te n d e r a cidadar\ia, d ela s u g a o q u e p o d e e d e v o lv e -lh e b e m po u c o ,
e m p recrio s servios. C id a d a n ia militncia. e n v o lv im e n to e m cau sas p b li
cas. ro m p e r com as z o nas pessoais d e conforto p a r a estabelecer direitos.
N o b a sta q u e a lei - n e m m e s m o a m a io r, a C o n stitu i o - p rev eja u m d ire i
to. Ele fre q e n te m e n te s se m a te ria liz a se fo r d e v id a m e n te c o b ra d o . E, p a ra
q u e isso acontea, a so c ie d a d e pre c isa se o rg a n iz a r, se in fo rm a r, agir. N o ba sta
ele g e r - p re c iso a c o m p a n h a r o tra b a lh o d o s eleitos. C id a d a n ia isto: c u m p r i
m e n to d e d e v e re s , d e s fru te d e d ire ito s - u m a coisa re la c io n a d a o u tra , u m a
coisa d e c o rre n te d a o u tra , e n a d a m en os.
E ste livro u m a esp cie d e b u la d a cid a d a n ia . In d ic a a es c o n c re ta s e m sua
d efesa. D ia g n o stic a fra g ilid a d e s e a b s u rd o s d a v id a p b lic a b ra sile ira , d a s re la
es d o c o n trib u in te c o m as in stitu i e s d o E stado . P a ra u m a e n tid a d e c o m o a
O r d e m d o s A d v o g a d o s d o Brasil, q u e te m sido, d e s d e su a fu n d a o , h 75 an os,
u m a trib u n a d a c id a d a n ia brasileira, este tra b a lh o h d e s e rv ir c o m o p re c io sa e
c o n sta n te fo n te d e c o n su lta. D e sd e j o re c o m e n d o a to d o s os q u e t m a r e s p o n
15
SUMRIO
1 PRLOGO
....................................................................................................................................1 9
2 D E S A F I O S D A C I D A D A N I A ................................................................................................. 2 0
2 .1 A L N G U A ..........................................................................................................................2 0
2 . 2 O S I S T E M A L E G I S L A T I V O B R A S I L E I R O .................................................. 2 7
2 . 2 . 1 P r o c e s s o l e g i s l a t i v o ...................................................................................... 3 4
2 . 2 . 2 V o t o a b e r t o .........................................................................................................3 6
2 . 2 . 3 A r e e l e i o ..........................................................................................................3 7
2 . 2 . 4 O s p a r t i d o s p o l t i c o s .................................................................................... 3 8
2 . 2 . 5 A s c a m p a n h a s e l e i t o r a i s ...........................................................................4 0
2 . 3 D O P O D E R E X E C U T I V O ....................................................................................... 4 3
2 . 3 . 1 M e d i d a s p r o v i s r i a s ......................................................................................4 3
2 . 3 . 2 O n e p o t i s m o ..................................................................................................... 4 6
2 . 3 . 3 G e s t o a d m i n i s t r a t i v a ..................................................................................4 7
2 . 3 . 4 R e f o r m a a d m i n i s t r a t i v a ............................................................................. 4 9
2 . 4 S I S T E M A D O P O D E R J U D I C I R I O ............................................................... 5 8
2 . 4 . 1 C o n t r o l e e x t e r n o d o P o d e r J u d i c i r i o .............................................. 6 5
2 . 4 . 2 S m u l a s v i n c u l a n t e s ................................................................................... 6 8
2 . 4 . 3 M e d i d a l i m i n a r ................................................................................................. 7 8
2 . 5 O M I N I S T R I O P B L I C O ...................................................................................... 7 9
2 . 6 O A D V O G A D O .............................................................................................................. 8 8
2 . 6 . 1 E x a m e d e O r d e m .......................................................................................... 9 5
2 . 7 S I S T E M A T R I B U T R I O .......................................................................................... 9 6
2 . 7 . 1 I n t r o d u o ........................................................................................................... 9 6
2 . 7 . 2 I m u n i d a d e s ........................................................................................................ 9 8
2 .7 .3 re a s d e p re s e rv a o p erm a n e n te e d e
r e s e r v a f lo r e s t a l l e g a l ............................................................................................101
2 . 7 . 4 C o o p e r a t i v a s .................................................................................................. 1 0 2
2 . 7 . 5 C o n t r i b u i o p r e v i d e n c i r i a e s e g u r i d a d e s o c i a l ................... 1 0 3
2 . 7 . 6 S i s t e m a trib u t r io e p r i n c p i o s .............................................................1 0 5
2 . 7 . 7 S i s t e m a trib u t rio : a n l i s e p o ltic a ,
j u r d i c a e e c o n m i c a ..............................................................................................1 1 9
2 . 7 . 8 R e f o r m a t r i b u t r i a ................................................................................... 1 2 5
2 . 7 . 9 C o m e n t r i o s f i n a i s ...................................................................................... 1 2 7
2 . 8 C O N S E L H O S D E C O N T R I B U I N T E S ..........................................................1 2 9
2 . 9 T R I B U N A L D E C O N T A S ......................................................................................1 3 3
2 . 1 0 E S P E C T R O S D E M U N I C P I O S ....................................................................1 3 5
2 .1 1 S I S T E M A D E S A D E .......................................................................................... 1 3 8
2 . 1 2 S I S T E M A P E N I T E N C I R I O ............................................................................1 4 2
2 . 1 3 C O O P E R A T I V I S M O .............................................................................................. 1 4 4
2 . 1 4 S I S T E M A F I N A N C E I R O .................................................................................... 1 5 3
2 . 1 4 . 1 A l e g i s l a o a f a v o r d o s b a n c o s .................................................... 1 5 3
2 . 1 4 . 2 J u r o s e c a p i t a l i z a o ............................................................................ 1 5 4
2 . 1 4 . 3 A n a t o c i s m o ...................................................................................................161
2 . 1 4 . 4 D u p l a c o b r a n a d e j u r o s r e m u n e r a t r i o s ................................161
2 . 1 4 . 5 H i e r a r q u i a d o s c r d i t o s ........................................................................1 6 3
2 . 1 4 . 6 B a n c o s c o m o l e g i s l a d o r e s - t a x a s p r p r i a s ............................1 6 3
2 . 1 4 . 7 A c o r r e o m o n e t r i a p e lo n d ic e m a i s e l e v a d o ................ 1 6 4
2 . 1 4 . 8 E x c e s s o d e g a r a n t i a ............................................................................... 1 6 4
2 . 1 4 . 9 C o n t r a t o s d e a n t e c i p a o d e r e c e it a
o r a m e n t r i a ( A R O ) .............................................................................................. 1 6 5
2 . 1 4 . 1 0 P r i s o d o d e v e d o r n a a l i e n a o f i d u c i r i a ............................1 6 6
2 . 1 4 . 1 1 E x e c u o d o s c o n t r a t o s d e f i n a n c i a m e n t o im o b ili r io 1 6 7
2 . 1 4 . 1 2 H o r r i o d e a t e n d i m e n t o ....................................................................1 6 8
2 . 1 4 . 1 3 T r i b u t a o b e n f i c a a o s b a n c o s ................................................. 1 6 8
2 . 1 4 . 1 4 Q u e b r a d o s b a n c o s ............................................................................. 1 6 9
2 . 1 4 . 1 5 I m u n i d a d e f i n a n c e i r a ...........................................................................1 7 2
2 . 1 4 . 1 6 O s b a n c o s e o S u p e r i o r T r ib u n a l d e J u s t i a ...................... 1 7 4
E S T R U T U R A O D A C I D A D A N I A ........................................................................... 1 7 5
3.1 A T R A G D I A N A A D O O ............................................................................... 1 7 5
3 . 2 G R A V I D E Z I N D E S E J A D A ................................................................................... 1 7 8
3 . 3 S I N D I C A L I S M O ............................................................................................................1 7 9
3 . 4 C R T I C A S G E N E R A L I Z A D A S ........................................................................... 1 8 5
3 . 5 F U N D O S P R I V A D O S D E I N V E S T I M E N T O ............................................. 1 8 5
3 . 6 D O M I N G O ....................................................................................................................... 1 8 7
3 . 7 S A N I T R I O S E B A N H E I R O S P B L I C O S ................................................ 1 8 7
3 . 8 T U R I S M O ........................................................................................................................ 1 8 8
3 . 9 P A R O U E S D E D I V E R S O .................................................................................. 1 8 9
3 . 1 0 C E N T R A L D E T E L E F O N E ............................................................................... 1 9 0
3 .1 1 P O N T U A L I D A D E .....................................................................................................191
3 . 1 2 P R O G R A M A E D U C A T I V O ................................................................................191
3 . 1 3 L E G I S L A O T R A B A L H I S T A .......................................................................1 9 2
3 . 1 4 M E I O A M B I E N T E .................................................................................................... 2 0 2
3 . 1 5 C O N T R A T O S A G R R I O S ............................................................................... 211
3 .1 6 O D IR E IT O D E S U P E R F C IE E A R E F O R M A
A G R R I A .................................................................................................................................2 1 4
3 . 1 6 . 1 E m p r e e n d i m e n t o s v i a b i li z a d o s p e lo d ir e ito
d e s u p e r f c i e ............................................................................................................... 2 1 6
3 . 1 6 . 2 C o o p e r a t i v i s m o r u r a l ............................................................................. 2 1 7
3 . 1 6 . 3 C o o p e r a t i v i s m o ru ra l in t e g r a d o i n d u s t r i a l i z a o
217
3 . 1 6 . 4 E m p r e e n d i m e n t o s p a r t i c u l a r e s ...................................................... 2 1 7
3 . 1 6 . 5 E m p r e e n d im e n to s p a rtic u la re s r e a liz a d o s e m
c o n j u n t o c o m o p o d e r p b l i c o .........................................................................2 1 7
3 . 1 7 O P R O T E S T O ......................................................................................................... 2 1 9
3 .1 8 S U S P E N S O D A E X IG IB IL ID A D E D O C R D IT O
T R I B U T R I O ........................................................................................................................2 2 0
3 . 1 9 S O C I A L I Z A O D O S P R E J U Z O S .............................................................2 2 3
3 .1 9 .1 P re ju z o s c a u s a d o s p or a lg u n s m e m b r o s do
M i n is t r io P b l i c o ..................................................................................................... 2 2 3
3 . 1 9 . 2 P r e j u z o s c a u s a d o s p o r p e s s o a s ju r d i c a s d e d ire ito
p b lic o e e q u i p a r a d a s ..........................................................................................2 2 7
3 . 1 9 . 3 P r e j u z o s c a u s a d o s p o r b a n c o s ................................................... 2 2 8
8b
3 . 2 0 D E F E S A D A H O N R A ..........................................................................................2 2 8
3 .2 1 L IB E R D A D E D E E X P R E S S O E O P R I N C P I O
D A I N O C N C I A ..................................................................................................................2 3 0
3 . 2 2 F R I A S F O R E N S E S ...........................................................................................2 3 3
3 . 2 3 P R E F E R N C I A N O T R N S I T O ..................................................................2 3 3
3 . 2 4 V E L O C I D A D E ...........................................................................................................2 3 4
3 . 2 5 P E D G I O .....................................................................................................................2 3 5
3 . 2 6 F I L A S ............................................................................................................................. 2 3 6
3 . 2 7 D I M E N S O D A S C I D A D E S ........................................................................... 2 3 7
3 . 2 8 I N D S T R I A A U T O M O B I L S T I C A ...............................................................2 3 8
3 . 2 9 H I P E R M E R C A D O S ..............................................................................................2 4 1
3 . 3 0 T R A N S P O R T E S .....................................................................................................2 4 2
3 . 3 1 T R O T E .......................................................................................................................... 2 4 3
3 . 3 2 P R O - L C O O L ......................................................................................................... 2 4 4
3 . 3 3 P R I V A T I Z A O ...................................................................................................... 2 4 4
3 . 3 4 I N D I G N A O ...........................................................................................................2 4 6
3 . 3 5 E X R C I T O ..................................................................................................................2 4 7
3 . 3 6 E D U C A O ............................................................................................................... 2 4 8
3 . 3 7 C I V I S M O ...................................................................................................................... 2 5 6
3 . 3 8 G L O B A L I Z A O ....................................................................................................2 5 8
4 M O V IM E N T O E M D E F E S A D A C ID A D A N IA P O S T O
E M P R T IC A
................................................................................................................................ 2 6 9
4 .1 F O R M A O D E G R U P O S D E T R A B A L H O ......................................... 2 6 9
4 . 2 R A C I O N A L I Z A O .................................................................................................2 7 0
4 . 3 P E R S E V E R A N A N A E X E C U O D E P R O J E T O S ....................... 2 7 0
4 . 4 D I V I S O D E T A R E F A S ........................................................................................ 2 7 1
4 . 5 C O N F R A T E R N I Z A O E I N V O C A O A D E U S ...............................2 7 1
4 . 6 P O S S V E I S A T U A E S ......................................................................................2 7 2
5 E P L O G O
................................................................................................................................ 2 7 6
6 R E F E R N C I A S .........................................................................................................................2 7 8
D E S A F IO S DA C ID A D A N IA
1 PRLOGO
A d e m o c ra c ia foi im p la n ta d a e e s tr u tu r a d a , p o r m p re c isa se r u rg e n te m e n te
a p e rfe i o a d a.
Ela o re g im e q u e a ss e g u ra a d ig n id a d e ao se r h u m a n o e p e r m ite q u e social
m e n te o c o rra m a tolern cia, o re sp e ito m tu o , o b e m -e s ta r in d iv id u a l. T odavia,
te m p e s ta d e s e st o d e s a b a n d o so b re ela.
O s alicerces (P o d e re s E xecutivo, Ju dicirio e L egislativo) e sto c o m g ra n d e s
fissuras, e q u a lq u e r tro v o os abala. O sistem a trib u t rio fam lico: d e v o ra a
s o c ie d a d e , in ib e os in v e stim e n to s, c o m p ro m e te o d e s e n v o lv im e n to econm ico,
a sfix ia n d o os se to re s p ro d u tiv o s . C o m p ro m e te ta m b m o p o d e r d e c o n s u m o d o
tr a b a lh a d o r e a in d a p ro v o c a o d e s e m p re g o . O g o v e rn o , e m v ez d e r e d u z ir a
carg a trib u t ria , a u m e n ta -a , la m e n ta v e lm e n te , a c a d a ano. E d e p o is a in d a a tri
b u i a ele v a o d a a rre c a d a o eficincia d o siste m a d e arrecad ao ...
O p r p r io g o v e rn o p o d e r ia r e d u z ir o cu sto d a e s tr u tu r a a d m in is tra tiv a , to r
n a n d o -a eficiente e d in m ic a , m a s to rn a-a c a d a v e z m a is p a q u id r m ic a e a infla,
a t m e s m o c o m in te n e s eleitoreiras.
O siste m a a d o ta d o p ela legislao trab alh ista, q u e n o in c e n tiv a o e m p r e g a
d o r a a ju d a r ao m x im o o e m p re g a d o , cria m e c a n is m o s d e sa n e s financeiras,
e o e m p r e g a d o r , to m a n d o conscincia disso, elim in a o s ben efcios e m p rejuzo
d o tra b a lh a d o r.
A s n o r m a s re la c io n a d a s a o s b a n c o s lh es s o e x tr e m a m e n te b enficas, e m
d e tr im e n to d a so cied ad e.
O c u sto d a d e m o c ra c ia est c o m p r o m e te n d o su a s u s te n ta b ilid a d e d ia n te da
e s tr u tu r a p o ltica q u e foi c riad a, p e r m itin d o q u e haja u m b a n q u e te p blico.
O p o v o est p e r d e n d o su a s referncias. Est d e s a c r e d ita n d o d o s v a lo re s d e
m o crticos, ta n to assim q u e fica g ira n d o e m to rn o d e m ito s polticos, o u c am i
n h a n d o p e r d i d o e m m ira g e n s . N o sab e p a r a o n d e v a i e ta lv e z j n o saiba
a o n d e ir ch eg ar. O ceticism o est c o m e a n d o a d o m in a r a so cied ad e.
20
D IR C E U G A L O IN O C A R D IN
2 DESAFIOS DA CIDADANIA
2.1 A LNGUA
A ln g u a a a lm a d e u m a nao. Esta com ea a se r e s c ra v iz a d a p o r o u tra
q u a n d o o m o d is m o e s tra n g e iro a d o m in a . N o se p o d e ir ao excesso d e im p e d ir
D E S A F IO S D A C ID A D A N IA
nem que
22
D IR C e U G A L D IN O C A R D IN
P a ra o d e v id o re s p e ito n o s s a ln g u a , f u n d a m e n ta l a c o la b o ra o e o e m
p e n h o d o s m e io s d e c o m u n icao . N o a d ia n ta o a lu n o a p r e n d e r o c o rre to na
escola c a m d ia m a ssa c r -lo c o m o u tra fo rm a d e e x p re ss o , p o is o p o d e r d e sta
in d isc u tiv e lm e n te s u p e rio r a o d aq uela:
E d iz M o n te sq u ie u :
C u m p re q u e a e d u c a o , n e s s e s Estados, s e ja servil. S e r u m a v a n t a
g e m ter tido s e m e lh a n te e d u c a o , m e s m o no c o m a n d o , pois a n in g u m
s e r tirano s e m s e r a o m e s m o te m p o e s cravo.
A e x t r e m a o b e d i n c ia s u p e Ig n o r n c ia e m q u e m o b e d e c e ; s u p e - n a
' FRANCO, Herculano Martins. A lngua e a lei. In "0 Dirio do Norte do Paran", 19/12/ 2000, p. 02,
' MONTESQUIEU, Op. C/f., p. 61.
^ RICHELIEU, Armand Jean Du Plessis, Testamento poltico do Cardeal Duque de Richelieu, PrimeiroMinistro de Frana sob o reinado de Luiz XIII. Traduo de David Carneiro. So Paulo: Atena, 1955,
p. 93.
D E S A F I O S D A C ID A D A N IA
m e s m o e m q u e m c o m a n d a ; e s te n a d a te m a deliberar, a duvidar, n e m a
raciocinar; b as ta q u e r e r " /
^ PLATO. 0 banquete.
135.
24
D IR C E U G A L D t N O C A R D IN
Se for feita u m a p e s q u is a c o m p e s so a s q u e se g r a d u a r a m e m u m a u n iv e r s i
d a d e , p e r g u n ta n d o - lh e s q u a n to s liv ro s elas le ra m d e p o is d e fo rm a d a s, c e rta
m e n te se ficar e s ta rre c id o , p o r q u e p o u q u s s im a s t m a m o r p e la leitura.
Pior a in d a d o q u e n o ler a castrao fin anceira im p o s ta p e la s e d ito ra s aos
escritores. P a g a m a p e n a s 10% ao a u to r so b re a cap a, q u a n d o , n o m n im o , d e v e
ria se r 20%; 40% ficam p a r a a e d ito ra (a lg u m a s c h e g a m ficar c o m 60%), e 50%
v o p a r a as d is trib u id o ra s , q u e p a r tilh a m com as liv rarias. A s e d ito r a s g o z a m
a t d e im u n id a d e trib u t ria ; p o r m , c m v ez d e r e d u z ir e m os p re o s, to m a n d o os acessveis ta m b m a o s leitores d e m e n o r p o d e r a q u isitiv o , faz e m d o p re o
d o liv ro u m a rtig o d e luxo. Q u e m sabe u m d ia p o s s a m ra c io c in a r n o s e n tid o d e
re d u z ir o cu sto e a u m e n ta r o v o lu m e d e v e n d a s . H oje, a c h o c a n te re a lid a d e
esta: o liv ro c a ro d e m a is, e quem m enos ganha quem o criou!
A le itu ra a lim e n to d o e sp rito , m a s p o u c o s le v a m isso e m c o n sid e ra o . E
se a escola n o c o n s e g u e fazer c o m q u e o a lu n o a d q u ir a esse h b ito , q u e m u ito
o e n riq u e c e r p a r a a v id a , c o m certeza ela n o c u m p r e su a m isso . p o r isso
q u e h ta n to s p r o g r a m a s m e d o c re s d e televiso. O s p ro fe ss o re s p re c is a m fazer
o a lu n o a p r e n d e r a ler, p o r m a in d a m a is im p o r ta n te p e n s a r e raciocinar. So
e ta p a s d e p ro g re sso . T o d a v ia , se n o h o b sico d a le itu ra , c o m o o a lu n o a p r e n
d e r a racio cinar? a e sc ra v id o d e u m povo.
A escola p re c isa c o m b a te r o im p rio d a televiso, p rin c ip a lm e n te co m a a rm a
d a leitu ra, p o r q u e a r e a lid a d e trgica: a im a g e m est d o m in a n d o a m e n te d a s
p esso as, q u e c a d a v e z m a is se h a b itu a m a n o refletir so b re o s p ro b le m a s q u e
afligem a s o c ie d a d e . E a ssim a im a g e m m a ta o p e n s a m e n to , a reflexo, o e s p ri
to crtico. M u ito s a lu n o s p a g a m p a r a a lg u m fazer se u s tra b a lh o s; e os q u e fa
z em b u s c a m n a In tern et. E nfim , os trab alh os, q u e o u tr o r a c o n s titu a m fo n te d e
c o n h e c im e n to p a r a o a lu n o , hoje p e r d e r a m su a fin a lid a d e . P o r isso, e m p r o v a o
p ro fe ss o r d e v e d a r p ro b le m a s p a r a q u e o a lu n o p o s sa raciocinar. P ro v a d e "d e c o re b a " re g re ss o intelectu al. O a lu n o a p r e n d e u p a r a a p ro v a , n o p a r a a v id a.
P ro v a s c o m p ro b le m a s o in stig a m a p e n sa r.
A escola d e v e te r ta m b m a m iss o d e d e s e n v o lv e r o e sp rito cvico, a fim d e
lib e rta r as p e s so a s n o s d a p o b re z a m a te ria l, m a s ta m b m d a m e n ta l. P ara
isso, p re c iso q u e o a lu n o saiba, p e lo m e n o s, in te r p r e ta r u m texto. M a s n o o
q u e ocorre:
D E S A F IO S D A C ID A D A N IA
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26
D IR C E U G A L D IN O C A R D IN
D e n tr o d o e n f o q u e d a ln g u a , h a lg o q u e ta m b m n o p o d e p a s s a r d e s
p e r c e b id o : o p o d e r d a s p a la v r a s . J c a iu n o ja rg o c o m u m , s e r e m e la s fle
c h a s q u e , q u a n d o n o m a ta m , fe re m . M u ita s v e z e s a s p e s s o a s , p r i n c i p a l
m e n te a s a d u l t a s e m r e la o s c ria n a s, n o p e r c e b e m isso , o u , s e p e r c e
b e m , fa z e m q u e s t o d e jo g a r se u s r e c a lq u e s e f r u s tr a e s n e la s. O u ta lv e z ,
d e f o rm a im a t u r a , q u e r e m m o s t r a r q u e s o in te lig e n te s , e n q u a n t o as c r ia n
as s e r ia m b u r r a s ... E m v e z d e e d u c a r o s filh o s p a r a q u e s e ja m lu ta d o r e s ,
a n iq u ila - s e o p o te n c ia l d e le s c o m c rtic a s fe rin a s , d e s tr u id o r a s . N o se p o d e
d e ix a r d e le m b ra r q u e m u ito s p a is c h e g a m , no m o m e n to d a ra iv a , a
d e s c a r r e g -la n a s c ria n a s, a t m e s m o a s a m a l d i o a n d o , q u a n d o o p r o b le m a
n o e st n e la s , m a s n eles.
E m v e z d e u s a r a e stra t g ia d a m o tiv a o , u s a -s e a d o a n iq u ila m e n to d a
p e rs o n a lid a d e . P o r exem plo:
- V oc p re g u i o so , s fica d o rm in d o ! q u a n d o se p o d e r ia d izer: Filho, voc
b e m q u e p o d ia d a r u m a a ju d a p a ra a m e.
- Voc b u rro ! n o faz n a d a direito! q u a n d o se p o d e r ia d izer: V oc in te li
gente... voc c a p a z d e fazer m elhor!
- V oc egosta] q u a n d o se p o d e ria dizer: voc p o d ia a g ir d e fo rm a legal
p a r a c o m o p a i, e e u a g iria ta m b m d e fo rm a legal p a r a c o m voc.
A p r o p s ito d a s crticas d e s tru id o ra s , le m b ro -m e d o q u e a c o n te c e u c o m o
m a io r te n o r q u e o m u n d o j co nh eceu : C aruzo.
Ele era c ria n a e, n o M xico, fre q e n ta v a a u la s d e m sic a . D e sa fin o u e n
q u a n to c a n ta v a n o coral. A p ro fe sso ra criticou-o m o r d a z m e n te fre n te d a s d e
m a is crianas. Ele foi p a r a casa ch o ra n d o . E, b a lb u c ia n d o , c o n s e g u iu n a r r a r
m e 0 q u e a con tecera. Esta o a b ra o u e lhe disse:
- Filho, ela n o sa b e o p o te n c ia l d a tu a voz...
A q u e la s p a la v r a s d a m e fo ra m o ince n tiv o p a r a q u e ele a fro n ta s se os o b st
c u lo s e co n se g u isse v encer. Se ele n o tivesse o u v id o a s p a la v r a s d e e stm u lo ,
seria u m re c a lc a d o , q u e n o sa b e ria d e sc o b rir su a s p o te n c ia lid a d e s vocais.
Q u a n d o as p a la v r a s ir r a d ia m m o tiv a e s, s o a m c o m o m s ic a e re sso a r o
p a r a s e m p r e n o m a g o , e m b a la n d o so n h o s ; q u a n d o d e s tr u id o r a s , fu lm in a m
co m o raios, e m custica re a lid a d e .
C o m o a re s p o n s a b ilid a d e d o s pais, fam iliares e, p r in c ip a lm e n te , p ro fe sso re s
e le v a r as p e s s o a s p a r a q u e p o s s a m ed ificar u m a so c ie d a d e civ iliz a d a , o p o d e r
D E S A F I O S DA C ID A D A N IA
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D IR C E U G A L D iN O C A R D IN
D e v id o a u s n c ia d c b o n s lideres, j c h e g a ra m a se r d e p u ta d o s fe d e ra is ou
s e n a d o re s m u ito s traficantes, g rileiros, c o rru p to s p b lic o s etc. A a u t n tic a d e
m o cracia d e v e p r im a r p e la q u a lid a d e d o s h o m e n s q u e in te g r a m o P o d e r L egis
lativo, e n o p e la q u a n tid a d e . T o d a v ia , esta tem p re v a le c id o .
P o d er-se-ia a le g a r q u e n ecessrio esc o lh e r d e p u ta d o s d e to d a s as c a m a d a s
sociais, p a r a q u e , n a d is c u s s o e v o ta o d a s leis, haja a p o n d e r a o d e to d o s os
in te re sse s e m jo g o, vista d o s in te re sse s m a io re s d a n ao. C o n tu d o , a p r e m is
sa falsa, p o r q u e , e m re g ra , c a d a d e p u ta d o se v in c u la a d iv e rs o s s e g m e n to s
sociais e m su a b a s e eleitoral. Q u a lq u e r u m d e le s r e p r e s e n ta v ria s c a m a d a s
sociais, p o r q u e e m to d a s ele p e n e tra , co m m a io r o u m e n o r in te n s id a d e , d e a c o r
d o c o m se u perfil d e atuao.
D isc e rn ir o q u e m e lh o r p a r a a p o p u la o u m a to d e in telig ncia. E se a
in telig n cia d o s c a n d id a to s n o p r io r iz a d a e sco lh em -se p e ss o a s p o u c o o u n a d a
q u a lific a d a s p a r a re g e r o s d e s tin o s d o pas. E n tre g a -se u m c h e q u e e m bra n c o
p a r a esses poltico s, q u e o p r e e n c h e m d e a c o rd o c o m as s u a s lim ita e s o u se u s
in te re sse s p e ss o a is o u p a rtid rio s . T alvez p o r isso ch e g a a s e r in se n sa te z u m
n m e r o to e le v a d o d e d e p u ta d o s e s e n a d o r e s , c o m o se a q u a n t i d a d e fosse
re so lv e r os p ro b le m a s na c io n a is, q u a n d o , ao co n tr rio , p re ju d ic a a soluo. Eles
so, in d isc u tiv e lm e n te , p e s so a s b e m -re la c io n a d a s n a so c ie d a d e , p o r m n e m to
d o s e sto p r e p a r a d o s tica, c u ltu ra l e in te le c tu a lm e n te p a r a tal m ister.
O r e tra to d is so u m a lu v i o legislatrio q u e , s e g u n d o o a d g io latin o , re v e
la a fra q u e z a d a d e m o c ra c ia re p re se n ta tiv a , p o r q u e C orrupta republica plurim ne
legis (O excesso d e leis c a u sa d e c o rru p o d a rep b lica). C o m o n o Brasil h
D E S A F IO S DA C ID A D A N IA
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D IR C E U G A L D IN O C A R D IN
GOMES, Luiz Flvio. F ria legislativa. In " 0 Estado do Paran", caderno Direito e Justia, 21 de abril
de 2002 , p . 1 .
MARIZ, Cristiano. S a iu a 1- re fo rm a: o a u m e n to d o s depu ta d os. In Revista Veja", 12 de maro de
2003. Disponvel em: <http;//veja.abril.com.br> Acesso em 18 de maro de 2003.
D E S A F I O S DA C ID A D A N IA
C o m o te m p o , m e d id a q u e o corresse o fo rta le c im e n to d o s C o n s e lh o s d a C id a
d a n ia , p ro c u ra r-se -ia r e d u z ir a in d a m ais o n m e r o d e le g isla d o re s (na esfera
federal, e s ta d u a l e m u n ic ip a l), p o r q u e s e ria m d im in u d a s s u a s a tiv id a d e s: fica
r ia m lim ita d a s s leg islativ as, v isto q u e as a d m in is tra tiv a s s e ria m ce n tra liz a d a s
n a q u e le s C o n selh o s.
P o u c o s le g isla d o re s b a s ta m p a r a d e c id ir o q u e m e lh o r p a r a a p o p u la o ,
d e s d e q u e c o m p e te n te s e h on esto s. R e d u z in d o -s e a q u a n tid a d e , m e lh o ra -se a
q u a lid a d e , p o r q u e o s m a is c o m p e te n te s e h o n e s to s n a tu r a lm e n te so bressaem .
E nto, te ra m o s o a u t n tic o civism o e o C o n g re sso N a c io n a l seria re v e re n c ia d o
p e la q u a l i d a d e d o s h o m e n s q u e o c o m p o r ia m , e n o m a lv is to c o m o hoje:
c o rru p o , c o n c h a v o s, p re v a l n c ia d e in te re sse s m in o rit rio s , n e g o c ia ta s etc.
MAINARD, Diogo. A p ra g a brasileira. In Veja", ano 36, n- 48. So Paulo: Abril, 3 de dezembro de
2003, p. 135.
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D E S A F IO S DA C ID A D A N IA
P R E F E IT O
VEREADOR
.........15
1 G ra u I n c o m p le t o ..... .......4 4 3
G ra u C o m p le to ...........
.........22
1- G ra u C o m p l e t o ........ .......3 6 5
2-
G ra u Incom pleto........
.........08
G ra u C o m p le to ...........
.........60
2 G ra u C o m p l e t o ....... .......6 0 0
3 G ra u Incom pleto.........
.........08
3 G ra u In c o m p le to .... ....... 1 2 8
3 - G ra u C o m p le to ...........
.........77
3 G ra u C o m p l e t o ....... .......3 5 6
1-
TOTAL .........................
189
T O T A L ................................
2008
33
34
D IR C E U G A L D IN O C A R D IN
D E S A F IO S DA C ID A D A N IA
3"
D I R C E U Q A L D I N O C A R O IN
D E S A F IO S D A C ID A D A N IA
2.2.3 A reeleio
p e r m itid a a reeleio p a r a p re s id e n te d a R e p b lica, g o v e r n a d o r e s d e E sta
d o e d o D istrito F ed eral, b e m c o m o p refeito s (CF, art. 14, 5^).
C o m b a se nisso, m u ito s e s ta tu to s d e e n tid a d e s p b lic a s e p r iv a d a s p re v e m
ta m b m a reeleio d e se u s p re sid e n te s.
T o d a v ia , n o aco n se lh v e l a reeleio, p o r m e lh o r q u e te n h a sid o o tra b a
lho d o p r e te n d e n te a ela, p o rq u e : a) dificulta a e m e rg n c ia d e n o v a s lideran as;
b) d im in u i o d in a m is m o e o r itm o d e tra b a lh o d o reeleito; c) e stratificam -se
g r u p o s n o p o d e r; d) c riam -se q u isto s e vcios n o p o d e r e n a q u e le s lig a d o s a ele;
e) te n d e a h a v e r a b u s o d e p o d e r o u d e a u to r id a d e , in c lu siv e c o m p r o p e n s o
p a r a a m a n u te n o d o p o d e r p o r n o v o s p e ro d o s ; f) c o m o te m p o cria-se certa
a p a tia n o g o v e r n a n te e n o g o v e rn a d o .
C o n tra -a rg u m e n ta -s e q u e , c o m a reeleio, h c o n tin u id a d e d e p la n o s e p r o
jetos re le v a n te s, p o r m n o se p o d e e sq u e c e r q u e to d a s as p r o p o s ta s , m e s m o de
p o ltico s a n ta g n ic o s, d e v e m ser a b so rv id a s, d e s d e q u e a te n d a m ao b e m co
m u m . Essa m u d a n a d e v iso d e v e o c o rre r c o m a c riao d o s C o n selh o s. A s
sim , a q u e le s p la n o s e pro je to s p o d e r o ter c o n tin u id a d e n a g e st o seg uin te.
C o m a reeleio su b jaz algo m ais com plexo: o te m p o d e m a n d a to p a ra
q u e m realiza p a s s a r p id o ; p o r m , p a r a q u e m age d e fo rm a in c o m p e te n te , d e
m o ra. A ssim , o p o v o fica v tim a d e ssa situ a o e p re c isa a g u a r d a r o m a n d a to
p a ra q u e haja m u d a n a . T alvez p u d e s s e se r c ria d o n o B rasil o m e s m o sistem a
d e recall d o s E s ta d o s U n id o s, q u e significa re v o cao d e m a n d a to . R etira-se o
m a n d a to d e q u e m est n o c o m a n d o , im p e d in d o - o d e c o n tin u a r a e x ercer a f u n
o p b lica. A d o ta d a essa a titu d e p e lo p o v o , n o v a p e ss o a seria eleita p a r a o
cargo.
O recall cabvel p a r a d e stitu ir do m a n d a to o p o ltico c o rru p to , o u cujas
MONTESQUIEU,
0 I R C 6 U G A L D IN O C A R D IN
D E S A F I O S D A C ID A D A N IA
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D IR C E U G A L D I N O C A R D IN
DE S A FIO S DA C i d a d a n i a
P o r e s sa s ra z e s, d e v e se r r e p e n s a d a a fo rm a a tu a l d e fin a n c ia m e n to d a s
c a m p a n h a s e leito rais, q u e e sto c o m p r o m e te n d o o p r p r io s iste m a d e m o c r ti
co, c o m o a d m o e s ta C a rlo s H e ito r Cony; " O fin a n c ia m e n to d a s c a m p a n h a s fu n
ciona c o m o u m v r u s q u e infecta to d o o sistem a. P o d e p a re c e r in sig n ific a n te se
c o m p a r a d o a o s g r a n d e s d esafios d a n ao , m a s o e s tra g o q u e faz n o s circuitos
in te rn o s d o c o m p u ta d o r , o u m elh o r, d a m q u in a d o g o v e rn o , to rn a v en al toda
a e s tr u tu r a d o E stado".'^
GUTENBERG, Alex. Polticos querem fazer dinheiro na campanha. V encer e le i o um a histria
41
42
D IR C E U G A L D I N O C A R D IN
D E S A F I O S DA C ID A D A N IA
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D IR C E U G A L D IN O C A R D IN
II:
citstodes? (Q u e m c u s to d ia r os cu st d io s?)
D E S A F I O S DA C ID A D A N IA
O e x -p re s id e n te N ac io n a l d a OAB, R u b e n s A p p r o b a to M a c h a d o , o b se rv o u
a r g u ta m e n te :
"O prprio lder do g o vern o (o d ep u ta d o tu c a n o A rth ur Virglio, do A m a z o
n as) d isse re c e n te m e n te q u e 'o p as fica in g o v e rn v e l s e m a s m e d id a s
p ro vis rias. S e aquilo q u e e ra ex c ep c io n a l virou n orm a l, sinal d e q u e o
n o rm a l virou e x c e o . E s ta m o s , p ortan to , e m um re g im e d e e x c e o .
T e m o s u m a c o n c e n tra o a b s o lu ta d e p o d e re s n a s m o s do Executivo,
q u e fa z u m p a rla m e n ta ris m o s a v e s s a s . 0
E x e c u tiv o d e t m p o d e r de
U n io , Es ta do s
v e r
e a expresso
46
D IR C E U G A L D IN O C A R D IN
2.3.2 O nepotismo
A p a la v ra " n e p o tis m o " v e m d o la tim "n e p o te " (neto, so b rin h o ), e significa
fav oritism o, p ro te o esca n d a lo sa , filhotism o^^ P o d e-se d iz e r q u e n e p o tis m o
o fa v o re c im e n to a p a r e n te s d e m e m b ro s d o s P o d e re s E x ecu tiv o, L egislativo o u
Ju d icirio , p rin c ip a lm e n te p a r e n te s d e polticos, p o r m e io d e n o m e a o p a ra
fu n es p blicas.
MELLO, Marco Aurlio Mendes de Farias. Judicirio: uma viso realista. In In fo rm a tivo A D C O A S . n
31, novembro de 2000, p. 3.
G ra n tie Enciclopdia Larousse Culural. So Paulo; Nova Cultural, 1998. v. 17, p. 4187.
D E S A F IO S D A C ID A D A N IA
48
D IR C E U G A L D IN O C A R O IN
O Executivo, q u a n d o a s s u m e o m a n d a to , d e im e d ia to su b s titu i o s se rv id o re s
q u e est o n o s c a rg o s e m co m isso p o r a q u e le s d e su a estrita confiana. E lev an
d o e sse n m e r o , tra n s f o r m a m esses se rv id o re s e m s o ld a d o s polticos. A a d m i
n istra o fica v isiv e lm e n te v o lta d a p a r a fins polticos, n o r m a lm e n te c o m o bjeti
v os d e reeleio.^'
O s e n a d o r Jorge B o rn h a u se n in fo rm a q u e o g o v e rn o Lula p r e te n d e "a cria
o d e 2.797 n o v o s c a rg o s e m c o m iss o e fu n e s g ra tific a d a s - p a r a se re m
d is trib u d o s a m e m b ro s d o p a rtid o , q u e , n o a to d e n o m e a o , a u to r iz a m o d e s
co n to m e n sa l, e m folha, d e c o n trib u io p a rtid ria p r o p o rc io n a l a o salrio..."^
Faz-se u m q u e stio n a m e n to : os c a rg o s tcnicos d e co n fia n a d e v e m se r p r e
e n c h id o s p o r polticos? A p a re n te m e n te , n o h n e n h u m in c o n v e n ie n te e m tal
situao. T o d a v ia , e n te n d e m o s q u e isso n o seja acon se lh v e l, p o is se cria u m a
situ a o a n m a la d e n tr o d a a d m in istra o : m u ita s v e z e s o o c u p a n te d o cargo
d e ix a d e fazer o q u e d e v e e faz o q u e n o d e v e , c a u s a n d o situ a e s c o n s tr a n g e
d o ra s p a r a a q u e le q u e est g e rin d o o Executivo.
O p r o b le m a se a g ra v a q u a n d o se a p ro x im a m as eleies: o o c u p a n te d o c a r
g o p o d e p r e te n d e r s e r c a n d id a to , e a tra v s d ele a a d m in is tra o n o c o n se g u e
m ais d iz e r no. E m u ita s v ezes a a d m in is tra o te m q u e , p a r a d o x a lm e n te , ser
im p o p u la r, p a ra se r patritica.
A d e m a is, tal p e sso a fica sujeita c o rrup o ; p re c isa a n g a ria r re c u rso s p a r a a
c a m p a n h a , e e n t o as p ro p in a s p ro liferam . E m tal caso p o d e -s e a p lic a r o im p e
ra tiv o c a teg rico k a n tia n o : u m cargo tcnico p o d e se r p r e e n c h id o p o r polticos,
m a s n o deve.
E m te rm o s d e g e st o a d m in is tra tiv a a a d v e rt n c ia d e F ran co S o b rin h o im o rr e d o u r a : " U m a m a d m in is tr a o , o r q u e s tr a d a n a d e s o r d e m , s e m n e n h u m a
d ire triz c o ncreta p o ssv e l, s u b v e rte m u ito m ais o p a s q u e as id ia s d o s id elo go s
rev o lu c io n rio s. C o rr i, n o s alicerces, tan to a se g u ra n a d o re g im e , c o m o a es
ta b ilid a d e d o s governos".^*
Isto aconteceu com o Governador Jaime Lerner, do Estado do Paran que, em 1995, criou 508 cargos de
provimento em comisso e eliminou 92. conforme a Lei n- 11.066, de 01/02/95.
Gafanhoto, o bicho petista. /n Folha de S. Paulo , Tendncias/Debates. So Paulo, 5 letra, 12 de
fevereiro de 2004, p. 3.
D E S A F I O S DA C ID A D A N IA
In ADV- Advocacia Dinmica, Informativo Semanal 32/2004, "A estatizao da sociedade civil, p, 462.
INGENIEROS, Jos. 0
50
O IR C E U G A L D IN O C A R D IN
D E S A F IO S DA C ID A D A N IA
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D IR C E U G A L D I N O C A R D IN
S u gere a q u e le jurista:
U m a f e d e ra o m o d e rn a d e v e ria s e r c o m p o s ta d a U n i o , d e alg u n s E s
tad o s c o m d e n s id a d e d em o g r fic a prpria, tra n s fo rm a n d o -s e , os d e m a is,
e m territrios fed e ra is (a q u e le s q u e no t m c o n d i e s d e s e au to -s u ste n ta r s e m a s tra n s fe r n cia s fed e ra is ), d e tal fo rm a q u e s e elim in ariam ,
n ele s , os P o d e r e s Executivos, Legislativos e Judicirios locais, subordi
n a n d o -s e a o L egislativo fe d e ra l e a o E xecutivo ind icado p e la U n io . A
e c o n o m ia p a r a a N a o s eria fantstica, s o b re re d u zir-s e o nvel d e d e s
perdcio s reais q u e tais e struturas c a u s a m .
E, e v id n c ia , c o m o e n te n d e m a s F e d e ra e s c o n h e c id a s , os M u n ic p i
os n o s e ria m e n tid a d e s fed erativas.
E n q u a n to o Brasil n o to c a r n e s ta v a c a s a g r a d a d o s hindus q u e a
F e d e ra o inflacion ria n o sa ir d a crise
q u a n d o a a tu a o d o ju iz seria sufici-
BASTOS, Celso Ribeiro & MARTINS, Ives Gandra. C om e n t rio s C o n stitu i o d o Brasil. 3 vol., tomo
III. So Paulo: Saraiva, 1993, p. 119,
Idem , p. 120,
D E S A F IO S DA C ID A D A N IA
ente. N e m m e s m o os E s ta d o s U n id o s, a m a io r p o t n c ia e c o n m ic a a tu a l, se d o
a o lu x o d e m a n te r u m m e m b ro d o M in istrio P b lic o a tu a n d o e m d ire ito de
fam lia, n a d efesa p r iv a d a d o s c id a d o s, m e s m o p o r q u e n o d e v e o E s ta d o se r o
fin an ceiro d o s in te re sse s p riv a d o s , sob p e n a d e se d e s v ia r d o e s p rito o n tolgico
p a r a o q u a l existe.
Im a g in e -se o m o m e n to e m q u e se re tira r os m e m b r o s d o M in ist rio P blico
d essa re s p o n s a b ilid a d e , lib e ra n d o -o s p a r a a tu a r c o n tra a c rim in a lid a d e , q u a n to
n o g a n h a r a so c ie d a d e . Enfim , a in stitu io d o M in ist rio P b lico d e v e ser
v o lta d a d efesa d o s in te re sse s p b lic o s, e n o d e in te re sse s p r iv a d o s p a r a q u e
p o s sa , c a d a v e z m a is, se r a d e fe n so ra da so c ie d a d e , ju n ta m e n te c o m a OAB.
A a u s n c ia d e ra c io n a liz a o n o s serv io s p b lic o s s e n o ta at e m sim p le s
p ro c e d im e n to s , q u e se ria m d isp e n s v e is. P ara t u d o n e c e ss rio re c o n h e c im e n
to d e firm a. E m a lg u n s p a se s n o existe essa exigncia, p o r m q u e m falsifica
a s sin a tu ra re a lm e n te p reso . O c id a d o d e v e m e re c e r confiana.
A in d a so b e ssa tica, verifica-se q u e , e m in q u rito s c rim in a is, q u a n d o a le
gislao dete rm in a q u e h av er extino d e p u n ib ilid a d e se h o u v e r o p a g a m e n to do
tributo o u contribuio social, inclusive acessrios, conform e o artig o 34 d a Lei n
9.249, d e 26 d e d e z e m b ro d e 1995, o M P a in d a im p e q u e o a c u s a d o seja o u v id o ,
g a sta n d o te m p o dele, d o escrivo e d o d elegad o. Estes p o d e r ia m e sta r tra b a lh a n
d o e m a s su n to s d e m a io r interesse p a ra a sociedade. Se, c om o p a g a m e n to , ho u v e
a extino d a m a te ria lid a d e d o delito, n o h m n im a r a z o lgica p a r a tal d e p o
im e n to a p s o p a g a m e n to . C o m o diz o ditado; c h o v e r n o m olhado...
Essa p r e o c u p a o c o m o a p ro v e ita m e n to d o te m p o d o s s e rv id o re s p b licos
n o a n a lis a d a d e u m a m a n e ira geral, m e s m o e m relao D elegacia d e P o l
cia. N e sta a p a re c e m reclam a es d e to d a o rd e m , at fam iliares. E o d e le g a d o e
policiais a c a b a m fic a n d o p re s o s a p e q u e n o s d elito s, e m c o n s e q n c ia d a e le v a
d a q u a n tid a d e d e d e n n c ia s o u reclam aes. F icam a b s o rv id o s, e a c a b a m n o
te n d o c o n d i e s d e d e d ic a o a a s su n to s m a is re le v a n te s e q u e e x ig e m m a io r
e m p e n h o . P re c isa ria h a v e r u m J u iz a d o E special p a r a esses p e q u e n o s d elito s p o d e r ia se r m e s m o u m ju iz leigo - c o m o a n tig a m e n te h a v ia o ju iz d e Paz; p o d e
ria a t u s a r-s e e s s a m e sm a d e sig n a o , d e s d e q u e a a u to r id a d e tivesse a u to n o
m ia p a r a im p o r p e n a s a lte rn a tiv a s e re so lv e r p ro b le m a s d e fu rto s d e bicicletas,
toca-fitas, a g re ss e s fam iliares, e m b ria g u e z etc., p e r m itin d o q u e o d e le g a d o e
os policiais c u m p r a m re a lm e n te o p a p e l d e d e fe n so re s d a so c ie d a d e , c u id a n d o
d e a s s u n to s m a is com p lex os.
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O IR C E U G A LO )N O C A R D IN
O u tr a q u e s t o re le v a n te en v o lv e o S u p re m o T rib u n a l F e d e ra l e o S u p e rio r
T rib u n a l d e Justia. O p r e s id e n te d o S u p re m o te m su s te n ta d o , ju n ta m e n te c o m
o u tro s m in istro s, q u e se d e v e m e lim in a r recu rso s, p a r a a ra p id e z p ro c e ssu a l.
so fism a tal su ste n ta o . C o m o j o d e m o n s tra m o s , o m a io r v o lu m e d e p ro c e s
sos p r o v o c a d o p e lo E stado ; logo, n o p o d e ser a so c ie d a d e g u ilh o tin a d a com
a s u p re ss o d e re c u rso s, q u e d ire ito n a tu r a l d o c id a d o . Basta ra c io n a liz a r os
recu rso s, a c o m e a r p e lo re c u rso e x tra o rd in rio , q u e p r iv a tiv o d e a n lise pela
C o rte S u p re m a .
O S u p r e m o T rib u n a l F ed eral tev e c o m o in s p ira o o d ire ito n o rte -a m e ric a
no: a S u p re m a C o rte (L/S S up rem e Court), q u e a p re c ia m a t r ia c o n stitu cio n al.
P o ste rio rm e n te , co m o g r a n d e v o lu m e d e p ro c e sso s, Jos A fo n so d a Silva s u g e
r iu a criao d e u m o u tr o T rib u n a l, p a r a q u e a p re c ia ss e m as n o r m a s infraco nstitu cion ais, q u a n d o e n t o foi c ria d o o S u p e rio r T rib u n a l d e Justia.
D essa fo rm a , cabe aos ju izes d e in stn cias in feriores a n a lis a re m a in c o n stitu c io n a lid a d e incidenter ta n tu m , e ao S u p re m o T rib u n a l F e d e ra l o co n tro le c o n
c e n tr a d o e o difuso. A ssim , n a p rim e ira e s e g u n d a in st n c ia s, o ju iz a p re c ia a
m a t ria c o n stitu c io n a l, m a s su a d ec la ra o ter eficcia a p e n a s com relao s
p a r te s litig antes. H a p e n a s u m a exceo: o T rib u n a l d e 2" in st n c ia , q u a n d o
d e c re ta a in c o n s titu c io n a lid a d e d e lei m u n ic ip a l, q u e ter eficcia ergn omnes,
m a s c o m o re g ra g eral p re v a le c e a p e n a s o efeito e n tre as p a rte s. A ssim , p o d e r
h a v e r r e c u rs o p a r a a m a is a lta C orte. Isso re s u lta e m le n tid o n a a n lis e d a
q u e st o c o n stitu c io n a l, p o r q u e q u e m d ir se e fe tiv a m e n te c o n stitu c io n a l o u
n o a M a g n a C o rte. O q u e ela d iss e r q u e p re v a le c e r. As d e c is e s in ferio res
se to rn a m sim blicas.
E m te rm o s realsticos: p u r a p e r d a d e te m p o . N o a sp e c to fin an ceiro , o c id a
d o te m q u e a rc a r c o m d e s p e s a s d e d o is recursos: u m p a r a o trib u n a l d e sua
ju risd i o c d e s te p a ra a Excelsa Corte.
O S u p r e m o T rib u n a l F e d e ra l e o S u p e rio r T rib u n a l d e Justia t m a n a lisa d o
q u e st e s a p r o x im a d a m e n te cinco a n o s a p s as in st n c ia s in ferio res (1*' e 2), e
sab e-se q u e h p ro c e sso s n esses trib u n a is com m a is te m p o q u e isso. C o m o p o d e
se se n tir s e g u ra u m a so c ie d a d e q ual, c o m o d ire ito fu n d a m e n ta l, a s s e g u ra d a
a s e g u ra n a ju rd ic a (art. 5" d a CF), m a s n a p r tic a isso m e ra u to p ia ? Im ag in ese e x e c u ta r u m a se n te n a a p s d ez, q u in z e anos?
P are c e -n o s m a is eficaz o siste m a alem o. T o d a m a t ria c o n stitu c io n a l d ir e
ta m e n te a p re c ia d a p e la C o rte C o n stitu c io n a l, m e s m o q u a n d o a r g id a e m c o n
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D E S A F IO S OA C I D A D A N I A *
p re sa p r iv a d a p a g a r ia aos se u s e m p r e g a d o s o m e s m o v a lo r q u e o p o d e r p b lico
p a g a ? A n a lise m -se , p o r e x e m p lo , os v e n c im e n to s d o s m o to ris ta s e cabeleireiros
d o L eg islativ o e o u tr a s fu n es, e m relao ao m e rc a d o b rasileiro. n ecessrio
u m r e e s tu d o d e to d a a a d m in is tra o p b lic a e so b a s m a is v a r ia d a s v erte n te s,
p a r a q u e se to rn e eficiente e te n h a o se u cu sto re d u z id o .
A p r o p s ito d a m a t ria . Franco S o b rin ho a d m o e sta :
"A g ra n d e re fo rm a q u e e s p e r a m o s u m a re fo rm a d e c o n s c i n c ia polti
c a , d e m e n ta lid a d e adm inistrativa, d e h o n e s tid a d e nos a to s pblicos. C o m
a tic a e a m o ra l c o m a n d a n d o os a to s d e g o v e r n o . T r a z i d a d e leis
c u m p rv eis , e n o n as c id a d e n e g o c ia e s d e b as tido re s . T en d o o inte
re s s e pblico c o m o fu n d a m e n to e o in te re s s e social c o m o b a s e d e tod as
a s s o lu e s polticas. N o s d a n d o o q u e nosso q u e se re c e b e o que
d o s outros.
N o m oral, n e m jurdico, n e g o c ia r c o m a s a d e pblica, c o m a e d u c a
o e s c o la r ou c o m os servios e s s en c ia is . N e m f a z e r e m p r s tim o s o n e
rosos, t ra n s a n d o votos legislativos. T o p ou co s a n c io n a r n o m e a e s s em
a te n d e r a o princpio d a c a p a c ita o a dm inistrativa. A s s im e s ta m o s hoje.
P a r a o n d e v a m o s ? N o s a b e m o s . P o r m , p o d e m o s adivinhar. Digo: para
u m a c o n f e d e ra o q u e b ra n te d a u n id a d e nacional.
E s ta n o s s a n a o , e s s e nosso Brasil, e s t e m c o n s ta n te perigo. S o b e r a nias e s tr a n h a s c e rc a m n os s a e c o n o m ia , nos d e s v ia m d e c a m in h o s hist
ricos, to m a m p os s e d a s nossas riq u e za s potenciais. T u d o ou q u a s e tudo
q u e t e m o s resulta d e d o a e s internacionais, p a g a s no c o rre r do tem p o
a tr a v s d e g a n h o s c o m e rc ia is e juros c a p ita liza d o s . A t p a r e c e q u e s o
m o s um p a s e m leilo poltico s e m re s g u a rd a s constitucionais.
P o u c o s c o n h e c e m a real s itu a o b ra s ileira n a s re la e s c o m n a e s
m a is p o d e ro s a s . R e la e s q u e e n v o lv e m s o b re tu d o a e c o n o m ia n ativ a e
a fo ra do tra b a lh o social, d eix a n d o na o b s c u rid a d e p a r a o n d e v a m o s e a
fo ra d o tra b a lh o social. D e ix a m o s na o b s c u rid a d e p a r a o n d e v a m o s e
a t o n d e p o d e m o s chegar. J q u e as im p o rta e s s u p e ra m a s e x p o rta
e s , 0 q u e s e o b s e rv a n a prtica q u e n o te m o s a u to n o m ia q u e baste
p a r a c o lo c a r o p a s num p lan o igual a o d o P rim eiro M u n do .
N o con tex to internacional, a ind a so m o s u m a c o l n ia s e m d v id a civiliza
d a , m a s u m a col nia q u e d e p e n d e p a ra viver, c o m o viv e os fa v o re s do
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m e rc a d o exterior. V e ja m o p ro b le m a d a s m a rc a s e p ate n te s . O b s e r v e m a
ind u stria liza o d e s e n v o lv id a p ela s m ultinacionais. T o m e m n ota d a c o n
c o rr n c ia dos produtos es tra ng e iros no m e rc a d o interno. N a tec n o lo g ia e
n a c o m p u ta o , so nfim as as tc n ic as nacionais.
B e m o b s e rv a n d o , n o n en h u m s e g re d o s a b e r o n d e e s ta m o s . O te m o r
e s t e m s a b e r p a ra o n d e v a m o s . O s horizontes c o n tin u am fe c h a d o s , t a n
to p a r a o d e s e n v o lv im e n to n a c io n a l c o m o p a r a a c o n q u is ta d e n ov os
m e rc a d o s . P a r a s o s s e g o histrico nosso, n o nos b a s ta u m a civilizao
d e fa c h a d a . J qu e no q u e re m o s ficar na riq u e za d e u m turism o caribenho,
falso nos resultados, intil n as c o n s e q n c ia s e c o n m ic a s .
D E S A F I O S DA C I D A D A N I A *
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N o s e s ta d o s , os d e s e m b a r g a d o r e s so esc o lh id o s p e lo g o v e r n a d o r . T a m b m
eles n o d e v e ria m se r in d ic a d o s p elo E xecutivo, p e la m e s m a q u e s t o tica.
P ela a tu a l fo rm a d e escolha d o s m in istro s d o STF e ST] p e lo p re s id e n te da
R e p b lic a , c o m o se e stiv s se m o s n u m a m o n a r q u ia , p o r q u e o STF e STJ se
to rn a m long m a n u s d o E xecutivo. Em certa po c a , o rei ju lg a v a ; p o s te r io r m e n
te, ele p a s s o u a in d ic a r a q u e le s q u e ju lg a v a m , p o is o s T rib u n a is fa z ia m p a r te da
C orte. A ssim , ta m b m o p r e s id e n te d a R ep b lica c o n tin u a r in d ir e ta m e n te ju l
g a n d o a tra v s d a q u e le s q u e ele n o m e ia c o m o m in is tro s d o STF e d o STJ, q u a n
d o a im p a r c ia lid a d e d e q u e m ju lg a p r im o rd ia l n a e fe tiv id a d e d a justia.
O P o d e r J u d ic i rio d e v e e sta r acim a d o s d e m a is p o d e r e s c o n stitu d o s e d a
so c ie d a d e , p a r a p o d e r ju lg a r c o m total a u to n o m ia e p le n a lib e rd a d e .
P o d e r-se -ia d iz e r q u e h e xag ero n a a sse rtiv a d e q u e o S u p r e m o m u ita s v e
zes ju lg a a fa v o r d o s in te re sse s d o p r e s id e n te d a R e p b lic a , e n o d a nao.
E n t o , a n a lis e m o s d u a s decises recen tes d a q u e le trib u n a l, q u a n d o p o d e r ia m
se r feitas a n lise s d e m u ita s outras...
A CF, n o a rtig o 155, XII, 3 estabelece u m a im u n id a d e :
ca p ut d e s te artigo e
" E M E N T A : P I S E C O F IN S . E M P R E S A S P R E S T A D O R A S D E S E R V I O S
D E T E L E C O M U N IC A E S , IN C ID N C IA . A R T S . 155, 3 ^
E 195,
CAPUT, D A C O N S T I T U I O F E D E R A L . O S u p r e m o T rib u n a l F e d e ra l
(s e s s o do d ia 1 d e julho d e 1 9 9 9 ), concluindo o ju lg a m e n to do R e curso
Extra o rd in rio n- 2 0 5 .3 5 5 , e A g ra v o R e g im e n ta l
2 2 7 ,8 3 2 , 2 3 0 . 3 3 7 e
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O s ju iz e s , d o s q u a is c e rta m e n te e s p e r a r a m o s q u e f o s s e m os lde re s
d o re s ta b e le c im e n to e m a n u te n o d a m o ral, n o p o d e m s e r a v a lia d o s
c o m o u m g ru p o a e s s e resp eito . N a v e r d a d e , a lg u n s s o tu d o a q u ilo q u e
s e p o d e ria e s p e r a r - id e a lis ta s , h u m a n o s , p a c ie n te s , s b io s e d e v is o
a m p la . In fe liz m e n te , o utro s s o m e s q u in h o s , p e tu la n te s , ig n o ra n te s e
s dico s".
O s ju iz e s d e s p r e p a r a d o s p a r a e le v a d a fu n o c o m p r o m e te m o tra b a lh o do s
n te g ro s, e, in fe liz m e n te , hoje, exerce a m a g is tra tu ra m e s m o q u e m n o te m v o
cao. A so c ie d a d e e sp e ra s e m p re d e u m ju iz q u e ele seja sbio.
N o c a m p o trib u t rio o c id a d o b ra sile iro est v iv e n d o v e r d a d e ir o te rro ris
m o, p o is 0 P o d e r Ju d icirio ch e g a a to rn ar-se le g isla d o r p o sitiv o , i m p o n d o a q u ilo
q u e a lei n o d e te r m in o u n e m quis.
A p ro p s ito , o e x -P re sid e n te d o S u p re m o T rib u n a l F e d e ra l, M arco A u rlio
d e M ello, afirm a:
D e s d e q u e m e c o n h e o , o E s ta d o se d efro n ta c o m p ro b le m a s d e caixa.
E a a te n d n c ia , e v id e n te m e n te , a d e p ote n c ia liza r o bjetivos e m detriMENNINGER, Karl. 0 p e c a d o d e n o ssa poca. Traduo de Clarice Lispector. Rio de Janeiro: Jos
Olmpio, 1975, p. 197.
D E S A F I O S DA C ID A D A N IA
im p re sc in d v e l a re fo rm u la o d a m a g is tra tu ra , a c o m e a r p e la fo rm a de
n o m e a o d o STF e STJ, p a r a q u e o c id a d o p o ssa te r se g u ra n a ju rd ica a fim
d e a fa sta r q u a lq u e r in g ern cia g o v e rn a m e n ta l, c o n fe rin d o -se a o P o d e r Ju d ic i
rio p le n a a u to n o m ia e in d e p e n d n c ia .
XXI, p. 156.
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D E S A F I O S DA C i d a d a n i a
"A v is o re p u b lic an a d e E s ta d o no d is p e n s a o a p ro fu n d a m e n to do p ap e l
do juiz p e ra n te o povo, e assusta s a b e r q u e a m e t s ta s e d o c rim e o rg an i
z a d o s e infiltra por tod as as clulas do corpo brasileiro, inclusive atin g in
do 0 P o d e r Judicirio. D iz e r q u e a c orru p o a u m e n ta d e fo rm a a s s u s ta
d o ra t a m b m e n tre os rg o s d a Justia n o constitui o fe n s a a o s juizes.
B e m a o contrrio, isso d e m o n s tra atitude d e ze lo ,., N o fcil, m a s sinto
s e r n e c e s s rio d iz e r que m uita coisa v e m p iorando d e fo rm a a s s u s ta d o
ra; 0 direito v e m s e n d o c a d a v e z m ais m al distribudo, p o r m uitas ra z e s
e x te r n a s a o Judicirio, m a s t a m b m p e la in c o m p e t n c ia , in rc ia b u ro
crtica, falta d e iniciativa, c a p a c id a d e in o v a d o ra ou d e z e lo d e q u e m o
aplica, ou e m ra z o d a corru p o que, c a d a v e z m ais, c o n s p u rc a a o g a .*'^
'2 d ia s , Jos Carlos. A ca ixa -p re ta da Justia. In Folha de S. Paulo", 18 de maio de 2003, p. A-3.
$7
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E p o r e ssa r a z o q u e a O A B p o d e d e fe n d e r c o m h o n ra , e, ao m e s m o te m p o ,
com d e v e r, a so c ie d a d e brasileira.
D E S A F IO S DA C ID A D A N IA
LINS E SILVA, Evandro. Crime de hermenutica e smula vinculante. Texto disponvel na internet,
atravs do site www.imb.org.br. acessado em 19 de junho de 2002.
PRADO, Srgio. Judicirio amplia atuao poltica em 2002. In Gazeta Mercantil", 31 de dezembro
de 2001 a 02 de janeiro de 2002, p. A*7.
70
D I R C E U G A L D IN O C & R D tN
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Verifica-se, e n t o , q u e a b a n d o n a m o s v ir tu d e s p ro c e s s u a is d o p a ssa d o .
A p ro p sito , in fo rm a D o m in g o s Svio B ra n d o Lima:
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(...)
C o n s id e r a -s e c o m o o d o c u m e n to m a is antigo e c o m p le to , re fe re n te te n
tativ a obrig at ria d e conciliao, se gu nd o P e d ro A r a g o n e s e s (P ro c e s o y
d e re c h o procesal, M adrid, Aguilar, 1 9 6 0 , p. 19, 4 4 ), um b an d o bolo nh en se
d e 2 4 - 1 2 - 1 5 7 4 . A instituio d a con ciliao obrig at ria s foi introduzida
por P e n n , n a P e n s ilv n ia, um sculo m a is tarde, e n a P rs s ia , e m 1 7 9 4.
E m Portugal, instituiu-se a v e lh a legislao reincola. As O r d e n a e s Fi
lipinas (Liv. 3, T t. 2 0 , 1), re p ro d u zin d o a s O rd e n a e s M a n u e lin a s
(Liv. 3, T t. 15, 1-), a s s im d ete rm in a v a m : E no c o m e o d a d e m a n d a
dir 0 juiz a a m b a s as p arte s q u e a n te s q u e f a a m d e s p e s a s , e s e sigam
e n tre e le s dios e d is s e n s e s , se d e v e m concordar, e n o g a s ta r sua s
f a z e n d a s por s e g u ire m s ua s v o n tad e s , p o rq u e o v e n c im e n to d a c a u s a
s e m p re duvidoso. E isto, q u e d ize m o s , d e re d u zire m a s p arte s c o n
crdia, n o d e n e c e s s id a d e , m a s s o m e n te d e h o n e s tid a d e nos casos
e m q u e o b e m p u d e re m f a z e r .
A C o nstitu io do Im prio, d e 2 5 - 0 3 - 1 8 2 4 , d e u -lh e u m c a r te r c o m p u ls
rio, q u a n d o e s ta b e le c e u , no art. 1 61: S e m s e fa z e r c o n ta r q u e s e te m
in te n ta d o o m eio d e reconciliao n o se c o m e a r p ro ce s s o a lg u m , e,
s im u lta n e a m e n te , iniciou o declnio do instituto, p a s s a n d o -o a o d e v e r do
ofcio dos ju iz e s d e p a z (art. 1 6 2 ). Su rg ind o d a a d efin i o d e P e re ira e
S o u z a (P rim e ira s linhas sob re o processo civil, Rio d e J a n e iro , H . G arnier,
1 9 0 7 , p. 5 3 , 7 8 ): re conciliao o ato pelo qual o autor, a n te s d e c o m e
a r seu p ro cesso, p re te n d e a m ig a v e lm e n te evit-lo no ju zo d e p a z , ou,
c o m o q u e r P a u la Baptista, o ato judicial q u e p re c e d e a o e x e rc c io d as
a e s cveis e com e rc ia is p ara o fim d e a c o m o d a r a s p a rte s dissid en tes
sob re s e u s direitos' (C o m p n d io d e the o ria e prtica, Lisboa, Liv. C l s s i
c a Ed., 1 9 1 0 , p. 73, 8 2 ).
A Lei d e 2 9 - 1 1 - 1 8 3 2 , a o regular a disp osio provisria d a a d m in is tra o
civil, nos s e u s arts. 1 ^ 6 7 -, p receituou a s regras do p ro c e d im e n to c on c i
liatrio, a s quais e s t o re s u m id as por M o ra e s d e C a rv a lh o , e m s u a P ra x e
B rasileira, e d i o d e 1 8 5 0 , 1 6 2 -7 3 .
P e lo D e c re to d e 1 7 -1 1 - 1 8 5 0 , a co n c ilia o e ra p ra tic a d a por q u a lq u e r
juiz. a in d a q u e n o fos s e juiz d e p az. D e po is , to rn o u -s e u m p ro c e d im e n to
d a c o m p e t n c ia d a q u e le ju zo , a t 1 8 9 0.
O R e g . n - 7 3 7 , d e 2 5 - 1 1 - 1 8 5 0 , nos s e u s a rts . 2 3 a 3 8 , d is c ip lin o u
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m in u c io s a m e n te e s s e p ro ce d im e n to prvio e m to d a s as c a u s a s c o m e rc i
ais. O m e n c io n a d o art. 2 3 p rec e itu av a : N e n h u m a c a u s a c o m e rc ia l s er
p ro po sta e m ju z o con tencioso, s e m q u e p re v ia m e n te s e te n h a ten tad o
m eio d e c on ciliao , ou por ato judicial, ou por c o m p a r e c im e n to v olu nt
rio d a s p a rte s .
A C o n s o lid a o d a s Leis do Proc e s s o Civil, d e a uto ria do C o n s . Antnio
J o a q u im R ib as , c o m fora d e Lei, no art. 18 5 , pre s c re v ia: E m reg ra, n e
n h u m p ro ce s s o pod e c o m e a r s e m q u e s e fa a c o n s ta r q u e se te m te n ta
do 0 m e io d e con ciliao p era n te o juiz d e paz".*'
D e sp re z o u -s e o d i lo g o , e os p ro c e sso s d e ix a m a so c ie d a d e possessa...
G raas a tal c m a ra , h a v e ria re d u o d o n m e r o d e p ro c e sso s, c o m im p o r
ta n te d ife re n a e m relao s s m u la s v in cu lan tes; e sta s p r o c u r a r ia m r e d u z ir o
n m e r o d e p ro c e sso s d e fo rm a c o m p u ls ria e dita to ria l; a q u e la p ro c u ra ria eli
m in a r n a ra iz o e s p rito d e litigncia, a tra v s d e ato e s p o n t n e o , d e fo rm a a m is
tosa.
A s s m u la s v in c u la n te s r e d u z ir ia m o n m e r o d e p ro c e s so s , a c e le ra n d o a
p re sta o d a tu te la ju risd ic io n a l. C o n tu d o , elas tm p o r objetivo p r e c p u o b e n e
ficiar o E sta d o , e m v e z d o c id a d o , e re p re s e n ta m cnpifis d h n in u tio p a r a o s juizes
e tr ib u n a is inferiores. A ssim , m e sm o q u e o S u p r e m o erre, im p e -se u m e n te n
d im e n to q u e p o r certo se m a n te r p o r m u ito tem p o.
E p o r q u e elas v is a m b ene fic ia r o E stado? P o rq u e m u ita s v e z e s o S u p re m o
T rib u n a l F e d e ra l e o S u p e rio r T rib u n a l d e Justia ju lg a m p o litic a m e n te , e no
ju rid ic a m e n te .
Se as s m u la s v in c u la n te s fo ssem re a lm e n te c ria d a s c o m a in te n o d e r e d u
zir o n m e r o d e p ro c e sso s, a c e le ra n d o a tra m ita o p ro c e ss u a l, a legislao ofe
receria v ria s o p e s q u a n d o se tra ta sse d e d ire ito s h o m o g n e o s o u d ifu so s,
c o m o a p o s s ib ilid a d e de, co m a p e n a s u m a ao, re so lv e r o p r o b le m a d e m ilh a
re s d e p esso as.
N o fu tu ro h a v e r o p r e d o m n io d e aes coletivas, q u e a g o ra c o m e a m a ser
p ro p o s ta s , v isto q u e a C o n stitu i o F ed eral as p re stig io u . A ssim , ela possibilita
o m a n d a d o d e se g u ra n a coletivo (art. 5", LXX), a ao p o p u la r (art. 5^, LXXIII)
e o m a n d a d o d e in ju n o coletivo (art. 8 ^ III).
FRANA, R. Limongi (Coordenao). E n ciclo p d ia S a raiva do D ireito, vol. 17. So Paulo: Saraiva,
1977, p, 109-110,
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advocatus. P o s
baillis p a ra
d e fe n d -lo .
O b s e r v a - s e n e s s e d efe n s o r real a m ais c o m u m ind ic a o d e n a s c im e n to
do M inistrio Pblico, c uja certido a O r d e n a n a d e 2 5 d e m a r o de
1 3 0 2 , d e F e lip e IV, o Belo, rei d a F ra n a , o qual e x ig ia d e d ic a o exclu si
v a s c a u s a s reais.
In te re s s a n te p e rc e b e r que a etim ologia d a p a la v ra
v o c b u lo latino
ministrio s e p re n d e ao
p a rq u e t.
de maro de 2004.
D E S A F IO S DA C ID A D A N IA
g ra n d e e s ta rd a lh a o -
com o q u e in d u z e m
a um
p re ju lg a m e n to c o r a m p o p u lo , q u e pod e e s tra g a r im a g e n s e re p u ta e s de
p e s s o a s , d e m odo irreversvel.^'
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tra d it rio .
C o m relao p re te n s o cvel n o se n tid o d e q u e o s e r v id o r re stitu a o salrio
q u e p e rc e b e u , h a v e ria e n riq u e c im e n to ilcito p o r p a r te d o E sta d o , p o is afinal ele
u s u f r u iu o serv io p r e s ta d o p e lo s e rv id o r. A Lei n" 8 .6 6 6 /9 3 , c o m a re d a o
d a d a p ela Lei n 9 .6 4 8 /9 8 , d is p e n o p a r g ra fo n ic o d o art. 59 q u e a n u lid a d e
n o e x o n e ra a A d m in is tra o d o d e v e r d e in d e n iz a r o c o n tr a ta d o p e lo q u e este
h o u v e r e x e c u ta d o at a d a ta e m q u e ela for d e c la ra d a " . O ra, se o s e rv id o r rece
b e u s e u s v e n c im e n to s d e boa-f, m e s m o q u e h o u v e s s e a c u m u la o d e cargos,
ele n o teria q u e d e v o lv e r o resp ectiv o n u m e r r io , p o r q u e o E sta d o se b e n e fi
cio u c o m a p r e s ta o d o s servios e ele la b o ro u d e boa-f. A d e m a is , os v en ci
m e n to s t m c a r te r d e a lim en to s; c o n su m id o s, n o h c o m o se r re stitu d o s. S
se p o d e c o g ita r d e d e v o lu o d e d in h e iro d e p o is q u e se o p o r tu n iz a a o s e rv id o r
a o p o p o r u m d o s c a rg o s a c u m u la d o s e se p r o v a q u e ele a g iu d e m -f. N a
a u s n c ia d e ssa p ro v a , m e s m o p o r q u e a boa-f se p r e s u m e , n o se p o d e r exigir
q u e p r o c e d a d e v o lu o d o n u m e r r io recebid o; a rig o r, e v e n tu a l m -f s o
m e n te p o d e se r a le g a d a a p s se r o u to r g a d o o d ire ito d e o p o pelo s e rv id o r
p b lic o a fim d e q u e ele o p te p o r u m do s cargos.
Frise-se; te c n ic a m e n te , o M P n e m p o d e r ia in g r e s s a r c o m a o p e n a l n e m
c o m ao d e im p r o b id a d e , p o r q u e a Lei F ed eral n" 8.112, d e 11 d e d e z e m b r o de
1990, q u e d is p e so b re o R eg im e Jurdico do s S e rv id o re s P b lico s C ivis d a U nio,
d a s a u ta r q u ia s e d a s fu n d a e s p b lic a s federais, d iz n o a rtig o 133:
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S u s te n ta m a lg u n s q u e n o o M P q u e d e v e se r r e s p o n s a b iliz a d o , e sim o
E sta d o o u a U n i o . L ogo, h a v e ria im u n id a d e fu n c io n a i, o q u e v a i c o n tra os
p rin c p io s d e m o c r tic o s, p o r q u e to d a p e sso a d e v e se r re s p o n s a b iliz a d a p o r seus
atos. N u m re g im e d e m o c r tic o n o se a d m ite tal im u n id a d e , p o r q u e seria liber
tin ag em .
M u ita s vezes, a lg u n s m e m b ro s d o M P q u e r e m fazer su a v o n ta d e p re v a le c e r
so b re a lei. A ssim , f r e q e n te m e n te n o in s ta u r a d o in q u r ito p a r a o ajuizam e n to d e ao civil p b lic a , e q u a n d o isso feito a g e d e fo rm a u n ila te ra l, no
p e r m itin d o q u e o a c u s a d o p r o d u z a p ro v a s o u faa su a d efesa: o u v e m -se as tes
te m u n h a s e sc o lh id a s p e lo M P, e logo a s e g u ir este aju za a ao , sob o b e n e p l
cito d o S u p e rio r T rib u n a l d e Justia, q u e v eio a a d m itir q u e "a d e c is o so b re a
d is p e n sa , o u n o , est re s e rv a d a ao M in istrio P blico, in te r d ita d a a p o ssib ili
d a d e d e lide te m e r ria o u c o m o sin ete d a m -f".'''
A ten te-se: m u ita s d e s s a s a es a c a b a m , a o final, s e n d o ju lg a d a s im p ro c e
d e n te s, p o r q u e fo ra m s u p r im id a s e ta p a s p ro c e d im e n ta is in d is p e n s v e is a p u
rao d a v e r d a d e real. N e m c h e g a ria a h a v e r ao se h o u v e s s e o u tr o s p r o c e d i
m e n to s , im p re sc in d v e is defesa d a h o n r a e d a d ig n i d a d e d o c id a d o . E isso
p o r q u e d e u m fa to p o d e s u r g ir u m a a c u s a o , m a s p o d e - s e c o n tr a p o r u m a
e x c lu d e n te d e c u lp a o u d e re sp o n s a b ilid a d e , d e m o n s tr a n d o - s e q u e o a c u s a d o
inocente, e m face d a in te rp re ta o e rr n e a d a acusao.
O M P e n te n d e q u e n o in q u rito civil n o h exig ncia d e r e s g u a r d a r o p r in
cpio d o c o n tra d it rio e d a a m p la d efesa, b a s ta n d o -lh e o u v ir a p e ss o a q u e est
s e n d o a c u sa d a . E ssa p o s tu r a a fro n ta d ire ta m e n te o d is p o s to n o art. 5, LV, da
C F /8 8 , q u e estabelece: "a o s litig an tes, e m p ro c e sso ju d ic ia l o u a d m in istra tiv o , e
aos a c u s a d o s e m g e ra l so a s se g u ra d o s o c o n tra d it rio e a m p la d efesa, com os
NASSIF, Lus.
Resp 152447 - Rei. Min. Milton Luiz Pereira. DJU de 25 de fevereiro de 2002, p, 0203, Disponvel em:
<http://www.stj.gov.br/webstj> Acesso em 28 de maro de 2003.
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2.6 O ADVOGADO
" O a d v o g a d o in d is p e n s v e l a d m in is tra o d a Justia"=' c " n o h h ie ra r
q u ia n e m s u b o rd in a o e n tre a d v o g a d o s , m a g is tra d o s e m e m b ro s d o M in ist
rio P blico, d e v e n d o to d o s tra ta r-se c o m c o n sid e ra o e re s p e ito re c p ro c o s " ^ ,
m u ito e m b o ra , n a p r tic a , p e n s e m os ju izes e os p r o m o to r e s se re m su p e rio re s
aos a d v o g a d o s . N o o b s e r v a m q u e o a d v o g a d o o p rim e ir o ju iz, o p rim e iro a
fazer o p a p e l d e a c u sao , n o p ro c e sso dialtico, q u a n d o p r o c u r a d o p e lo se u
cliente. Ele q u e m a n a lisa r e d ir as p e rsp e c tiv a s. N o a sp e c to poltico-social, a
figu ra d o a d v o g a d o g a n h a relevo, p o r q u e n o a u fe re n e n h u m a r e m u n e ra o
p a ra d e fe n d e r a so c ie d a d e . M a g istra d o e M P a u fe re m r e m u n e r a o p b lic a p a ra
d efen d -la. O a d v o g a d o tra b a lh a e m p ro l d a s o c ie d a d e p o r id e a lism o . F-lo p o r
a c e n d r a d o h u m a n is m o , n ica e ex c lu siv a m e n te , p a r a a te n d e r a u m im p u ls o de
conscincia; p u g n a r p e lo b e m c o m u m e p e lo s id e a is d e m o c r tic o s, p o r q u e "se m
a d v o g a d o n o h justia, e se m ju stia n o h d e m o c ra c ia ".
P a ra R en D otti, p a s s a d o s 10 a n o s d a p ro m u lg a o d o E s ta tu to d a A d v o c a
cia e d a OAB " m u ltip lic a ra m -s e os pre c o n c e ito s c o n tra o s a d v o g a d o s " . Frisou
ta m b m q u e , m u ita s vezes, o a d v o g a d o tra ta d o p o r ju iz e s " p re c o n c e itu o s a
m e n te e m relao a m e m b ro s d o M inistrio P u blico ", e c o n d e n o u c o m v e e m n
cia as re stri e s a o acesso d e a d v o g a d o s a a u to s d e p ro c e sso s. D o tti criticou
a b u so s d o s v ecu lo s d e co m u n ic a o "n a c h a m a d a r e p o r ta g e m in v e stig a tiv a ",
q u e tra n s fo rm a m e ro s s u sp e ito s e m c u lp ado s.
R essaltou a in d a q u e "d e le g a d o s d e polcia e p ro m o to re s p b lic o s excedem -se
e m declaraes im p re n sa , c o m p ro m e te n d o a necessria im p a rc ia lid a d e ", e que
d e p u ta d o s e s e n a d o re s " u s a m CPIs c o m o p a ssa re la s d e v a id a d e s " , b e m com o
q ue, n o Pas, fo rm am -se v e rd a d e iro s " e s q u a d r e s d e ju sticiam en to sum rio".^'
In R evista da O A B /P R , agosto-2004,
2, p. 3.
^ Art. 44, II, do Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil - OAB.
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Nota do Autor: em Maring foi criado o Grupo de Estudos na gesto 2000/2003, que reunia os advo
gados na 2^ semana do ms. Na 2- feira, Direito Civil, Processo Civil e Direito Comercial; na 3- feira.
Processo Penal e Direito Penal: na 4- feira, Direito Tributrio e Processo Tributrio; na 5- feira, Direito
do Trabalho e Processo do Trabalho; e, na 6^ feira, Direito Constitucional e Direito Administrativo. Em
cada dia h um coordenador e os participantes debatem sobre os mais variados temas, cujo cresci
mento intelectual e aumento de conhecimento favorece a todos.
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Eleies OAB/2003 (matria de capa). In R evista Ju rd ica C onsulex, ano VII, n - 163, Brasilia: Consulex,
31 de outubro de 2003, p. 21.
NA: as denncias contra as autoridades pblicas que desrespeitam as prerrogativas institucionais dos
advogados. Ver em Prerrogativas Profissionais dos Advogados. Anais do Encontro Brasileiro alusivo
aos 10 anos do Estatuto da Advocacia e da OAB. OAB Paran. Coordenao: Ren Ariel Dotti e Elias
Mattar Assad,
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boa
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2.7.2 Imunidades
O s c o m p o n e n te s d a cesta bsica (com o a rro z , feijo, sal, a car, m a r g a r in a e
leo) so tr ib u ta d o s com a lq u o ta m e n o r q u e os d e m a is p r o d u to s , exceto o a
car cristal, a re s p e ito d o q u a l a d ia n te se d isc o rre r p o rm e n o r iz a d a m e n te .
Tais p r o d u t o s d e v e r ia m se r im u n e s trib u ta o - v a le d iz e r, d e v e ria m ser
re tira d o s d a c o m p e t n c ia im p o sitiv a d o s trs e n te s d e p o d e r p o ltico (U nio,
e s ta d o s e m u n ic p io s), e x clu d o s d o c a m p o d e in cid n cia d e q u a lq u e r trib u to , p o r q u e a g r a n d e m a io ria d a n o ssa p o p u la o p o b re , a c o m e a r p e lo N o r d e s
te, o n d e s e q u e r h classe m d ia . O c a r te r r e g re s s iv o d a trib u ta o d e b e n s
essenciais d e c o n s u m o u n iv e rs a lm e n te reco n h ecid o , p o is a b so rv e m a io r p o r
o d e r e n d a e x a ta m e n te d o s m a is n ecessitados. A lis, o salrio m n im o u ltr a
jante, n o a te n d e n d o a o q u e p re sc re v e a C o n stitu i o F ederal, s e g u n d o a q u a l
ele d e v e ser, p a r a o tra b a lh a d o r, "c a p a z d e a te n d e r s s u a s n e c e s sid a d e s vitais
bsicas e s d e s u a fam lia com m o ra d ia , alim e n ta o , e d u c a o , s a d e , lazer,
v e stu rio , h ig ien e, tra n s p o rte e p re v id n c ia social" (cf. art. T \ IV).
C a so se a p liq u e a teoria d o s v alores, p re c o n iz a d a p o r H e sse n , n o s e n tid o de
q u e " n s n o s p o d e m o s co n h e c e r o s v alo res, co m o p o d e m o s realiz-los"^^.
HESSEN, Johannes. F iloso fia d o s Valores. Traduo de L. Cabral de Moncada. Coimbra: Armnio
Amado, 1967, p. 237.
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(...)
I s e r seletivo, e m fun o d a e s s e n c ia lld a d e d o produto(.
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R ic a rd o L o b o T o rre s o b se rv a q u e "... fica sob sria su sp e ita d e incon stitu cio n a lid a d e a n o r m a q u e in tr o d u z a re g re s siv id a d e d a trib u ta o , o u seja, q u e cria
tarifas m e n o re s p a r a os p r o d u to s su p rflu o s, m a io re s p a r a o s essenciais e iguais
p a r a o s d e s ig u a is n a escala d a essencialidade".^*
O ra, o a c a r u m d o s c o m p o n e n te s d a cesta bsica. E n t o , c o m o p o d e ser
tr a ta d o c o m o se fosse p r o d u t o d e luxo o u suprfluo?!
D iva M alerbi, a rg u ta m e n te , observa:
Idem , p. 83.
TORRES, Ricardo Lobo. O I P l e o p rin cp io da se letividade. In R e vista D ia l tica d e D ire ito Tributrio, n18, So Paulo; Dialtica, 1997, p. 99.
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2.7.4 Cooperativas
A C F /8 8 e n fa tiz a o c o o p e ra tiv is m o (art. 174, T ) , a p o ia n d o - o e e s tim u la n
do -o, p o is n ele p r e d o m in a a so lid a rie d a d e , a u x ilia n d o n a p r o d u o , n a v e n d a ,
n o c o n s u m o e n a p re sta o d e servios e m geral, c o m o q u e p r o p o r c io n a m e lh o
re s co n d i e s d e v ida.
C o m o a teo ria d ife re n c ia d a d a p rx is, n o Brasil, c o n tu d o , a b s u r d a m e n te ,
so as c o o p e ra tiv a s a s e m p re s a s q u e m a is s o fre m a trib u ta o d a co n trib u i o
p re v id e n c i ria , d e 7,7% (as d e m a is t m o lim ite m x im o d e 5,8%). E isso p o r q u e
a c u m u la d a a " c o n trib u i o " p a r a o IN C R A com a c o n trib u i o p a r a o SE N AR.
O ra, o re c o lh im e n to a o SE N A R d e v e ria a fa sta r im e d ia ta m e n te o d o IN C R A . A
n o r m a c o n stitu c io n a l p r o c u r a e stim u la r o c o o p e ra tiv ism o , m a s o p r a g m a tis m o
trib u t rio asfixia-o.
Foi p r o m u lg a d a a Lei n" 10.336/01, q u e fez c o m q u e in c id isse a C ID E (C o n
trib u i o d e In te rv e n o n o D o m n io E conm ico) so b re as a tiv id a d e s d a s coo-
PEREIRA, Osny Duarte, D ire ito F lo re sta l B rasileiro. R io d e Ja rie iro: Borsoi, 1950, p. 231.
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1). O ra , co m o
a s s e g u ra r ig u a ld a d e p a r a a lg u m q u e se m p re ter g r a n d e d ific u ld a d e p a r a c o m
p e tir c o m u m a p e sso a n o rm a l? O q u e o le g isla d o r d e v e ria te r feito n o e ra fixar
u m n m e r o m n im o d e deficien tes a s e re m c o n tra ta d o s p o r e m p re sa , m a s sim
c ria r in c e n tiv o s fiscais p a r a q u e as e m p re s a s c o n tra ta s se m deficientes, a fim d e
q u e estes fo ssem v isto s com sim p a tia , e n o c o m o encargo.
Serve d e e x e m p lo o siste m a d a s e g u r id a d e social d a E s p a n h a , q u e cria b o n i
ficaes n a s c o ta s-p a tro n a is, q u e so d e 70% p o r tr a b a lh a d o r d eficien te m e n o r
d e 45 a n o s e d e 90% p a r a a q u e le s c o m id a d e s u p e r io r a essa, c o m o in fo rm a
M a n u e l A lo n s o Garcia.^^
R essalte-se q u e n a q u e le p a s h e m p re s a s cujo q u a d r o d e e m p r e g a d o s c o m
p o s to e x c lu siv a m e n te d e deficientes.
O u tr o a sp e c to q u e enseja reflexo sob o n g u lo social d iz re s p e ito s e m p r e
sas e stra n g e ira s, p rin c ip a lm e n te a u tom ob ilsticas, q u e im p la n ta m p a r q u e s in
d u s tria is n o Brasil p a r a u s u f r u ir d e m o -d e -o b ra b a ra ta . C a so elas e x p o rte m
to d a a su a p r o d u o , p a g a m s o m e n te o im p o s to d e r e n d a e as c o n trib u i e s
p re v id e n c i ria s re la c io n a d a s com a folha d e p a g a m e n to s , n o p a g a n d o , p o r ta n
to, 0 IC M S (art. 155, X, a, d a CF), n e m o IPI (art. 153, 3", III, d a CF), n e m a
C O F IN S (art. T d a LC n" 7 0 /9 1 e Lei 10.833, d e 29 d e d e z e m b r o d e 2003). S
p a g a r o e sse s trib u to s r e la tiv a m e n te p ro d u o q u e for v e n d id a n o m e rc a d o
in te rn o . A ssim , o Brasil se t o m a s im p le s m e n te p a r q u e in d u s tr ia l d e g ra n d e s
e m p re s a s a u to m o b ilstic a s, se m efetivas v a n ta g e n s sociais.
E m ais: e ssas e m p re s a s t m im u n id a d e d e trib u to s n a s v e n d a s a o ex terior, e
ta m b m d ire ito a o c r d ito d e in s u m o s , com o se d com o ICMS. A ssim , com o
elas n o p a g a m o ICM S n a sa d a d o p r o d u to , ficam c o m c r d ito s v u lto s o s p e
ra n te o E stado . P o rta n to , a l m d e n o p a g a re m , a in d a recebem !... (O m e s m o
fe n m e n o o co rre c o m a C O FIN S, a p s a R efo rm a T rib u t ria , c o n s o a n te a Lei
10.833, d e 29 d e d e z e m b r o d e 2003, p o is te r o cr d ito s p e r a n te a U nio).
P e d ro V ieira M o ta, e m co m e n t rio s in tro d u t rio s o b ra A s causas da grande
za dos rom anos e da sua decadncia, d e M o n te s q u ie u , a p r e s e n ta e x e m p lo histrico,
se m e lh a n te a o caso e m foco:
" Cf. GARCIA, Manuel Alonso. C u rso d e D e re ch o d e i Trabajo. 8. ed. Barcelona: Ariel, 1982, p. 411
D E S A F I O S DA C I D A D A N I A !
"Sob a dinastia dos C o m n en o s. porm (sculos XI e XII), a d es o rd e m poltico-adm inistrativa avultou, d eg eneran d o e m verd a de ira c egu eira suicida n a
cional, C o n c e d e ra m a V e n e za e, depois, ta m b m a G n o v a o direito d e co
m erciar e m Constantinopla livremente, s e m p ag a r nada, p enalizando o co
m e rcian te bizantino. M ais. Aos primorosos a rte s o s bizantinos vilipendia
va m , c h a m a n d o -o s g u a d e clo a ca , e preferiram os m an ufatu rad os importa
dos. D e s ta rte a b a la ra m d uas vigas m estras d a e c o n o m ia bizantina; o co
m rcio e a indstria. 0 em p ob re c im e n to c o m e o u , im p erc e p tiv e lm e n te ,^^
Idem . p. 136.
Que e l siste m a trib u t rio s e a su ficie n te significa, e n sin te sis, q u e io s in g re so s g e n e ra d o s p o r este
La simplicidad, que consiste en obtener la mayor acilidad en Ias leyes tributarias, Io que puede
canalizarse hacia dos objetivos: evitar la multiplicidad, tendiendo a un rgtmen de pocos tributos pero
de una base imponible ancha y general, y simplificar fa administracin de tales tributos, eliminando
trmites engorrosos y otorgando facilidades en base a normas expeditas, sencilias y de facil comprensin
para el contribuyente,
(...)
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SECCO, Alexandre; PATURY, Felipe. Fe ra fam inta. In Veja", 14 de novembro de 2001, p. 116.
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e n c a re c e n d o a pro du o e dificultando o c o n s u m o . E m re a
c o m 08 m e n c io n a d o s tributos. V e n d a s e fa tu ra m e n to s e s t o s e n d o o n e
Conforme declarao de Jorge Bornhausen, na matria Contribuio" quer dizer "mos ao alto". In
Folfia de S. Paulo, 31 de jultio de 2003, p. A-3,
Vide GALDINO, Dirceu; ARZUA, Heron. A Contribuio ao INCRA e a Constituio de 1988. In R evista
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ARZUA, Heron. A s c o n trib u i e s so cia is na C o n stitu i o d e 1988. So Paulo: Revista dos Tribunais,
1989, p. 190,
NA: ainda que haja a possibilidade de crdito, em face do princpio da no-cumulatividade.
NA: aps a Reforma no Governo Lula, at mesmo a prestao de servios, quando essa, pelos efeitos
sociais, deveria ficar margem da tributao da Cofins.
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22 ,0 %
2 ,5 %
C o n trib u i o para
S E S I / S E N A I ou
S E S T /S E N A T o u
S E S C / S E N A C ou
2 ,5 %
I N C R A /S E N A R ou
E n sino a e ro virio ou
Ensino m artim o
C o n trib u i o adicional p a ra o IN C R A
0 ,2 %
C o n trib u i o p ara o S E B R A E
0 ,6 %
C o n trib u i o para o F G T S
8 ,0 %
TOTAL
g)
3 5 ,8 %
a r g u m e n t a - s e q u e e x c e s s iv a a c a r g a in c id e n te s o b re a fo lh a d e
110"
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E o p io r d e tu d o q u e e ssa s c o n trib u i es se a g re g a m a o p re o d o p r o d u to ,
e vo -se a c u m u la n d o . A ssim , a m a io ria d o s c o n s u m id o re s bra sile iro s - d a s clas-
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ses m d ia e b aix a
d o p re o s m u ito e le v a d o s p e lo s p r o d u to s , o q u e a u m e n ta os p ro b le m a s sociais.
O s c o n s u m id o r e s s o s e m p re o s c o n trib u in te s d e fato d e s se s trib u to s in direto s,
e m b o ra a m a io ria d e le s n o te n h a c a p a c id a d e c o n trib u tiv a . E o pior; com a re
p e rc u s s o d o s tr ib u to s in d ire to s so b re o p re o d o s p r o d u to s , p ro v o c a -s e ta m
b m a inflao, q u e a fo rm a d e trib u ta o m a is in sid io sa e in q u a d e q u e se
te m notcia. O Brasil, u m d o s c a m p e e s m u n d ia is d e d e s ig u a ld a d e s e com u m
h ist ric o d e inflaes re c o rre n te s, n o p o d e jo g a r n o lixo o esforo d o s ltim os
d e z a n o s p a r a , c o m o p la n o Real, c o n stru ir u m a m o e d a estvel. O s riscos d e se
ter u m a re b ro ta d a inflao so laten tes, a p e rs istire m o s cclicos p ro c e d im e n to s
d c ele v a o d a c a rg a trib u t ria d o s ltim o s anos.
P o r o u tr o la d o , h u m a in fin id a d e d e tribu tos: fed erais, e s ta d u a is e m u n ic i
p ais. P ara efeito d e trib u ta o , c a d a g o v e rn o p r o c u r a e le v a r as a lq u o ta s d o s
se u s, c o m o se n o e x istisse m o u tro s. A ssim , as e m p r e s a s s o fre m v e r d a d e ir o
m assacre. A s u n id a d e s p r o d u tiv a s so asfixiadas. S o p o d e r p b lic o trib u ta n te
n o o v. A lis, finge n o v e r q u e elas est o n a UTI, ta n to a ss im q u e as in d s tr i
as n o e st o te n d o co n d i e s d e fazer in v e stim e n to s p a r a a u m e n ta r o se u p a r
que, p o is est o lu ta n d o p a r a n o ir b a n c a rro ta . C o m o a m q u in a a d m in is tr a ti
va v e r d a d e ir o p a q u id e r m e , o g ro invisvel, d e q u e n o s fala O t v io Paz, n e c e s
sita d e u m a c a rssim a e s tr u tu r a a d m in is tra tiv a p a r a a rr e c a d a r o s tributos...
O sbio T c h e o u K o n g a d m o e s ta v a : " U m b o m g o v e r n a n te c o m o v e n to so
b re a relva. / U m b o m d irig e n te m a n t m os im p o s to s baixos".^
A so b re c a rg a trib u t ria p ro v o c a a son egao , q u e d e c o rr n c ia d o p r p rio
sistem a:
yApud POUND, Ezra, Os ca ntos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1972, p. 303.
LOPES FILHO, op. d l , p. 6.
112*
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A p u d SOUSA, Rubens Gomes de e t alli. In te rp re ta o n o D ire ito Tributrio. So Paulo: Saraiva, 1975,
p. 106.
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no civ o
n a o p o r q u e as e m p re s a s b ra sile i
- M o d e lo d e Tributao. In Jornal
do Economista" (Informativo
D IR C E U G A L D IN O C A R D IN
D o p o n to d e v i s t a m a is c o n c r e t o , o i n s t r u m e n t o f is c a l n o d e v e
o b s ta c u llz a r o d e s e n v o lv im e n to p o r m otivo d e t c n ic a fiscal irra c io n al. 0
d e s e jo d e a u m e n t a r a a rr e c a d a o d o s tributos s e m c o n s id e r a r os e f e i
tos d o m e s m o , a s c o n fig u ra e s t c n ic a s c o m p le x a s e c a ra s d e s te s ,
p o d e m t e r e fe ito s n e g a tiv o s p a ra o m e rc a d o q u e n o c o m p e n s a m p a rc i
a lm e n te a s v a n ta g e n s d o a u m e n to n a a r r e c a d a o . A lu d e -s e c o m isso a
to d o s os im p ostos q u e o b s ta c u liz a m o m e rc a d o d e c a p ita is , a fo rm a o
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d e n o v a s e m p r e s a s ou a fu s o d a s j e x is te n te s , a tra n s fe r n c ia d e
b e n s etc . E s s a s e s tru tu ra s d e te rm in a m a e x ig n c ia d e c ria r incen tivo s
fiscais q u e re s u lta m m uito m a is o n e ro s o s p a ra o o r a m e n to pb lico q u e
a e lim in a o d e tais inconvenientes".
P recisa-se a v a n a r d a d e m o c ra c ia m e ra m e n te fo rm a l e re p re s e n ta tiv a p a r a a
d e m o c ra c ia e c o n m ic a c p a rtic ip a tiv a , p a r a q u e h aja m e lh o r d istrib u i o d e ri
qu e z a . O siste m a trib u t rio v ig e n te n o Brasil leva c o n c e n tra o d e riq u e z a , p o r
q u e , a p e sa r d a trib u ta o esco rch an te, as g ra n d e s e m p re s a s d is p e m d e re c u rso s
fin anceiros p a r a su p o rt -la e d e t m d o m n io d e m e rc a d o p o r a tu a r e m e m re g im e
d e o lig o p lio o u d e m o n o p lio , al m d e te re m m e lh o re s c o n d i e s p a r a fazer
m a q u in a e s c o n t b e is m ais m eticulosas... certo q u e as e m p r e s a s d e p e q u e n o
p o rte e as m ic ro e m p re s a s so fre m trib u ta o d ife re n c ia d a , o q u e co n stitu i u m b e
nefcio social. A s m d ia s em p re s a s , q u e p o d e r ia m te r m a io r e s ta b ilid a d e e s e g u
ran a q u a n to s u a situ a o financeira, so s u g a d a s p e la trib u ta o , o q u e as
im p e d e d e crescer.
C o m re la o s p e ss o a s fsicas, o siste m a tr ib u t r io v o r a z c o m a classe
m d ia . S e g u n d o re p o rta g e m d e P a u lo H e n riq u e d e S ouza, p u b lic a d a n o jornal
"F o lh a d e S. Paulo"'^^, u m e s tu d o d a e m p re s a E rn est & Y o u n g " d e m o n s tr o u q u e
o c o n trib u in te p a g o u tr s v e z e s m ais im p o sto d o q u e d e v e ria n o s ltim o s q u a
tro a n o s e q u e o tr a b a lh a d o r b ra sile iro q u e receb e salrio m e n sa l d e R$ 2.000,00
d e s d e 1996 p a g o u 51% a m ais d e im p o s to d e r e n d a , e a q u e le q u e g a n h o u R$
3.000,00 p a g o u 33% a m ais. S e g u n d o esse e stu d o , a 'm o r d i d a d o leo ' m a io r
n a faixa sa la ria l d a q u e le s q u e g a n h a m at R$ 1.500,00, os q u a is e sta ria m isentos
d e IR se a tab ela d o im p o s to tivesse sid o co rrig id a".
Del punto de vista ms concreto, el instrumento fiscal no debe obstaculizar el desarollo por razones de
tcnica fiscal irracional, El deseo de aumentar Ia recaudacin de los tributos sin considerar los efecfos
de los mismos, Ias configuraciones tcnicas complejas y costosas de estos, puedem tener efectos
negativos sobre el mercado que no compensa si parcialmente Ias ventajas dei aumento en Ia
recaudacin. Se alude com esto a todos los impuestos que obstaculizam el mercado de capitales, Ia
tormacin de nuevas empresas o Ia fusion de Ias ya existentes, Ia transferencia de bienes, etc. Estas
estructuras determinan ia exigencia de crear incentivos fiscales que resultam mucho ms onerosos
para el presupuesto pblico que Ia eliminacin de tales inconvenientes" (MAZZ, Addy, Sistema tribu
trio. In Revista de Direito Tributrio. So Paulo: Revista dos Tribunais, 1985. v. 31, p. 66).
SOUZA, Paulo Henrique. Congelamento da tabela de IR castiga quem ganha menos. In Folha de S.
Paulo, 16 de abril de 2001, p. B-10.
O m C E U G A L D IN O C A R D IN
CEZARI, Marcos. L e o a fia a s g arra s, e b rasile iro p a g a m a is 126% d e trib u to e m s e is ano s. In Folha
de S. Paulo", 25 de maro de 2001, p. B-4.
^ SANTOS, Antonio Oliveira. Terrorismo tributrio, In C ou ro b u sin e ss n 19, ano IV, nov./dez. 2001. Dis
ponvel em: <http://www.courobusiness.com.br/pvistadez 2001 .htm> Acesso em 21 de junho de 2002.
Conforme divulgado pela agncia "0 Globo", em 27 de outubro de 2000, Disponvel em <http://
www,sintese,com/newsletter/titml061 ,htm> Acesso em 22 jun. 2002.
D E S A F IO S DA C ID A D A N IA
118"
D IR C E U G A L O IN O C A R D IN
D E S A F IO S D A C ID A D A N IA # 1 1 9
"d ire ito s e lib e rd a d e s fu n d a m e n ta is " , a s e g u n d a , n o s " d ire ito s eco nm icos, so
ciais e c u ltu ra is" , e a terceira, no s "d ire ito s d e s o lid a rie d a d e " , d e n tr o d o s q u ais
se e n c o n tra o " d ire ito d o desenvolvim ento".'*^
O siste m a trib u t rio v ig e n te no Brasil, d iv e rs a m e n te d o e s p e ra d o , n o p e r
m ite d e se n v o lv im e n to satisfat rio , seja p ela so b re c a rg a trib u t ria , seja p ela im
p o si o d e u m a rg id a e s tr u tu r a b u ro c r tic a p a r a o rg o a r r e c a d a d o r e p a r a o
c o n trib u in te , seja a in d a p e lo e stm u lo so neg ao , a l m d e n o a te n d e r p le n a
m e n te aos id e a is d o b e m c om u m :
^ COELHO, Sacha Calmon Navarro. 0 novo sistema tributrio, /n Revista de Direito Tributrio, n- 36.
So Paulo: Revista dos Tribunais, 1986, p. 113,
Apud HENDERSON, Enrique Vidal. Poder tributrio y derechos humanos. In Revista de Direito Tribu
trio. n 53. So Paulo: Revista dos Tribunais, 1990, p. 61.
120
D IR C E U G A L D IN O C A R D IN
a ss im c o m o e lim in a a
D E S A F IO S OA C ID A D A N IA
#121
A tu a lm e n te , a m a io r p a r te d a s e m p re s a s n a c io n a is s o m e n te te m "carcaa",
p o r q u e se u s b e n s - e s v e z e s at m e sm o os d o s scios - e s t o re g is tra d o s em
n o m e d e "te s ta s d e ferro".
De fato, o siste m a trib u t rio b rasileiro p ro v o c a a p r o f u s o d e "laranjas"^"' :
p a r a a b e r tu r a d e e m p re s a , p a r a gerenci-la, p a r a o e n c e r r a m e n to dela. A ssim ,
h u m a re la o ju rd ic o -trib u t rio q u e d e sc a m b a p a r a o d e lito o u p a r a a in fo r
m a lid a d e .
Sob o a sp e c to eco n m ic o , o sistem a trib u t rio b ra sile iro u m a a v e s tr u z q u e
enfia a cabea n a te rra p a r a n o v e r ao d e rre d o r; ta n to a ssim q u e , n o s ltim o s 10
a n o s, 26 d a s m a io re s e m p r e s a s b ra s ile ira s fo ra m in c o r p o r a d a s p o r e m p re sa s
e s tra n g e ira s , d e v id o a reflexos d a excessiva c arg a trib u t ria . O E sta d o , p a r a as
e m p re s a s , v e r d a d e ir o scio m a jo rit rio oculto. A q u ilo q u e o s scios, g raas a
e x a u s tiv o lab o r, re c e b e m d u r a n te o d ia , o E s ta d o re tira d u r a n t e a noite. Ele q u e r
receb er a im p o rt n c ia lq u id a se m n e n h u m risco, n e n h u m a p re o c u p a o , e no
d ia a p r a z a d o . E o p io r: v a lo re s q u e ele e stip u la se m s a b e r d a s reais condies
e m p re sa ria is. A v o r a c id a d e a rre c a d a t ria insacivel.
BETTING, Joelmir, R e fo rm a e m p e rra d a . Disponvel em; <http://www2.uol.com.br/JC/_l999/ 2403/
job2403.htm> Acesso em; 27 mar. 2003.
Laranja: indivduo, nem sempre ingnuo, cujo nome utilizado por outro na prtica de diversas
formas de fraudes financeiras e comerciais, com a finalidade de escapar do fisco ou aplicar dinheiro
de origem ilcita; testa-de-ferro (Dicionrio eletrnico Houaiss da lngua portuguesa).
D IR C E U G A L D IN O C A R D IN
In Opinio, 04 de novembro de
D E S A F IO S D A C ID A 0 A N 1 A B
E m re la o com pe titiv id ad e , b as ta le m b ra r a C P M F , im p os to a b s o lu ta
m e n te inc o m p a tv e l c o m a lgica d a fra g m e n ta o d a p ro d u o - quanto
m a is e ta p a s , m a is im posto - e do qual o g o v e rn o n o s e c o n s e g u e livrar,
porqu e p re c isa a rr e c a d a r p a ra m a n te r s e u equilbrio fiscal",
C o m o a C P M F n o d ife re h ip te s e s d e in c id n c ia , fe re a c a p a c id a d e
c o n trib u tiv a :
P o r o u t r o la d o , c o m o d e m o n s tr a a c u r v a d e L a f e r "^, c o m o a u m e n to d e
a lq u o ta , a p a r tir d e c crto n v el a a rre c a d a o cai, p o r d o is m o tiv o s p rincipais:
a) a u m e n to d o s p re o s e c o n se q e n te q u e d a d o c o n s u m o ; b) a u m e n to d a s o n e
ga o , p o is o im p o s to e le v a d o p a s s a a c o m p e n s a r os risco s d e la d eco rren tes.
NBREGA, Mailson da, Involuo tributria. In "0 Estado de S, Paulo, 10 de dezembro de 2000, p,
e-16.
DUPAS, Gilberto. A rm a d ilh a s d a inse r o global. In 0 Estado de S. Paulo", 05 maio 2001, p, A-2,
LOPES FILHO, Osiris, S iste m a trib utrio brasileiro. In Revista Juridica Consulex, ano V, n 117. Bra
silia; Consulex, 2001, p. 8,
Teoria do economista americano Arthur Lafer que analisa a relao entre nivel de tributao e arreca
dao. Ela diz claramente que, acima de determinado ponto, cada percentual a mais de impostos
representam dois a menos de arrecadao.
123
D IR C E U G A L D IN O C A R D IN
D E S A F IO S D A C I D A D A N I A 1 2 5
D IR C E U G A L D IN O C A R D IN
Intensidade da
mo-de-obra
A lv e n a ria e reboco
8 4 ,4
4 2 ,2
S is te m a s d e v e n tila o e d e refrigerao
5 4 ,9
3 3 ,9
E ltricas
5 2 ,9
3 9 ,2
M o n ta g e m d e estruturas
4 9 ,5
4 2 ,3
A lu gu el d e e q u ip a m e n to s d e construo
4 7 ,2
2 7 ,2
4 4 ,4
4 6 ,3
3 9 ,8
3 9 ,2
E s ta e s e re d e s d e distribuio d e en e rg ia
38,1
4 1 ,4
Ed ific a e s
3 7 ,5
2 9 ,7
P e r fu ra e s e e x e c u o d e fu n daes
3 4 ,7
3 1 ,0
P r e v e n o e re c u p e ra o d o m eio a m b ie n te
2 8 ,7
3 4 ,9
E s ta e s e red es d e tele fo n ia e c o m u n ic a o
2 5 ,7
3 7 ,6
Mdia do setor
22,3
32,4
d)
D E S A F IO S DA C I D A D A N I A !
127
128
D IR C E U G A L D IN O C A R D IN
D E S A F IO S D A C ID A D A N IA
130#
D IR C E U G A .D IN O C A R D IN
Idem , p. 342,
D E S A F IO S D A C ID A D A N IA
368).
131
1 32
D IR C E U G A L D IN O C A R D IN
A p ro p s ito , d iz M rcia Q u a d ro s:
N o C o n s e lh o d e C ontribuintes ta m b m h ou ve m u d a n a d e p osio. 0
tribunal adm inistrativo v in h a ju lg a n d o os p ro cessos s is te m a tic a m e n te a
fa v o r dos contribuintes a t c e rc a d e quatro a n o s atr s . P o r m , le m b ra
A n d ra d e , d ep o is q u e o ministro d a F a z e n d a , P e d ro M a la n , a lte rou a c o m
p o s i o d a s c m a ra s d o C o n s e lh o , e q u e m u d o u o s c o n s e lh e iro s q u e
ju lg a v a m os pro cessos, o e n te n d im e n to p as s o u a s e r o c on tr rio ."
R e vista D ia l tica d e D ire ito Tributrio, n 34. So Paulo: Dialtica, julho de 1998, p. 47-51.
QUADROS, Mrcia. S e m e stra lid a d e d o P IS se r ju lg a d a . In Gazeta Mercantil", 19 de maro de 2001,
p. A-10.
D E S A F IO S DA C I D A D A N I A * 1 3 3
...s e 0 Tribu n al d e R e v is o d e C o n ta s , q u e s e p re te n d e e s ta b e le c e r, se
c o n v e rte s s e e m tribunal d e fisc a liza o d a s d e s p e s a s pblicas, a n te s de
Ives Gandra, no volume 4-, t. II, de C om e n t rio s C o n stitu i o d o Brasil, ao tratar do assunto re
ferente ao Tribunal de Contas, defende a possibilidade do Tribunal de Contas se dissociar do Poder
Legislativo e se integrar ao Poder Judicirio, realizando-se por concurso o acesso a seus cargos.
134#
D IR C E U G A L D IN O C A R D IN
A p u d PONTES DE MIRANDA. C om e r)t rios C o n stitu i o de 1967. So Paulo: Revista dos Tribu
nais, 1970, t. Ill, p, 244.
Constituio Federal, art. 71; 0 controle externo, a cargo do Congresso Nacional, ser exercido com
D E S A F IO S DA C ID A D A N IA
1 3 5
1 3 6
D IR C E U Q A L D IN O C A R D IN
U m e s tu d o d o d e p u ta d o fed e ra ! A le x a n d re C a rd o s o ( P S B - R J ) c o n s ta ta
q u e 2 . 9 7 4 ( 5 4 ,0 1 % ) dos 5 .5 0 6 m unicpios brasileiros n o a rr e c a d a m s o
z in h o s 0 s ufic ie nte s e q u e r p a r a s u s te n ta r a s d e s p e s a s d e s u a s p re fe itu
ras e c m a ra s m unicipais. M a s sua s a d m in is tra e s g e r a m R $ 2 , 8 bi
lh e s e m d e s p e s a s a n u a is , b a n c a d a s por re p a s s e s d o F P M (F u n d o de
p a rtic ip a o dos M u n icp ios), q u e fe d e ra l, e do i C M S (Im p o s to s ob re
C irc u la o d e M e rc a d o ria s e S e n /io s ), tributo es ta d ua l.
N a m a io ria dos c a s o s , os m u n icp ios t m a t 1 5 mil h a b ita n te s e a r r e c a
d a m a t R $ 5 . 0 0 0 a n u a is , s o m a d o s e m IP T U (Im p o s to P re d ia l e Territori
al U rb a n o ) e IS S (Im p os to s ob re S e rvio s). E m alg u n s E s ta d o s , o IC M S
t a m b m insignificante.
S o m u n icp ios q u e v iv em d e re p a s s e s do F P M - d is s e o p arla m e n ta r.
S e g u n d o A le x a n d re C a rd o s o , e s s a s c id a d e s, p ra tic a m e n te s e m a r r e c a
d a o p rpria, c o n s o m e m q u a s e tod os os re p a s s e s fe d e ra is no p a g a
m e n to d o s s a lrios d e s e u s prefeitos, s ecretrios, v e re a d o re s e a s s e s s o
res, a l m d e p a g a r d e s p e s a s d e custeio".^
S.
P aulo":
D E S A F IO S DA C ID A D A N IA
1 38
D IR C E U G A L D IN O C A R D IN
D E S A F IO S D A C ID A D A N IA
1 4 0
D IR C E U G A L D IN O C A R D IN
C o m o as d o e n a s m e n ta is so in v isveis e so m e n te se re v e la m e m a titu d e s , e
a p r p r ia so c ie d a d e est e n fe rm a , h in d iferen a social. A q u i m o ra o v e r d a d e i
ro p e rig o , p o r q u e a so c ie d a d e te m e v e r se u la d o so m b rio .
A p r e o c u p a o a u m e n ta p o r q u e m u ito s o c u p a n te s d e c a rg o s p b lic o s o u
p e s so a s q u e g o z a m d e d e s ta q u e social e sto m e n ta lm e n te d o e n te s , in c lu siv e
im p r e g n a d o s d e moral in sa n ity, c o m risco social m u ito g ra n d e . e n o r m e o d a n o
social q u e p o d e s e r c a u sa d o , p o r e x e m p lo , p o r u m m e m b r o d o E x ecu tiv o, u m
juiz, u m p a d r e , u m p a s to r, u m p ro fe s s o r o u u m m e m b r o d o M in ist rio P blico
c o m d e te r m in a d a s psic o p a tia s. C o m o e v ita r essa situao ?
N o r m a lm e n te , p o c a d e c o n c u rs o p b lic o ex ig e -se e x a m e d e s a n id a d e
m en ta l. T o d a v ia , m u ito s d o s q u e n ele so a p r o v a d o s se tra n s f o r m a m a s sim q u e
a s s u m e m o cargo: ficam a u to rit rio s, a rro g a n te s, e fre q e n te m e n te a b u s a m d o
p o d e r . O s s u p e r io r e s t m receio d e ex ig ir n o v a a v a lia o clnica, e " d e ix a m
c o m o est p a r a v e r c o m o q u e fica". S o m e n te d e p o is d e a lg u m fa to b a s ta n te
g ra v e q u e to m a m a lg u m a p ro v id n c ia , n e m s e m p r e eficaz.
D ever-se-ia p e rio d ic a m e n te exigir e x a m e s p sicolgicos p a r a d e te c ta r as d o
enas sociais, p r in c ip a lm e n te as m a is g ra v e s, q u e c o lo c a m e m risco a v id a d e
o u tr a s p e sso a s; p o r exem plo : n o v e stib u la r, a n te s d a o b te n o d o ttu lo a c a d
m ico, e m c o n c u rso p b lic o , d e 5 e m 5 a n o s a p s a lg u m o c u p a r c a rg o pblico...
EY, Henri. Tratado d e P siqu iatria . Barcelona: Toray Masson, 1969, p. 361.
D E S A F IO S DA C ID A D A N IA
A ssim , d e v e m se r re a liz a d o s ex a m e s a o lo n g o d a v id a , e, d e te c ta d a q u a lq u e r
a n o r m a lid a d e , d e v e -se im e d ia ta m e n te iniciar o tra ta m e n to . E m m u ito s casos,
s o m e n t e d e p o i s d e o i n d i v d u o c o m e te r u m d e l i t o q u e se d ia g n o s tic a :
p sicopatia... N a p ris o o tra ta m e n to psicolgico d e v e se r in te n so , c o m o a s s e v e
ra A a rd w e g ;
COSTA E SILVA, Jorge Alberto, Psiquiatria S.A. In Veja", 27 de junho de 2001, p. 15,
141
1 4 2
D IR C E U Q A L D IN O C A R D IN
ram c o m p le ta e p ro fu n d a m e n te a s e m o e s b s ic a s p ertu rb a d a s . C o n s i
d e ra m o s isto c o m o u m a ind icao d a v ia bilidad e d e n os s a te ra p ia radical
p a ra e n fre n ta r o p ro b le m a d a d elin q n c ia .
ARDWEG, Gerard J. M. van den. A u to p ie d a d e n eu r tica e te ra pia a n tiq u e ixa . So Paulo: Cortez &
Moraes, 1978, p. 215.
D E S A F IO S DA C ID A D A N IA
O nico fato d e q u e p o d e m o s e s ta r s e g u ro s q u e a c o in c id n c ia d a
in v e rs o d e p o s i e s e n tre a a o e a c o n te m p la o c o m a in v e rs o p re
c e d e n te e n tre a vida e o m u n do v eio a s e r o ponto d e p artid a p a ra todo o
d e s e n v o lv im e n to m o d erno . Foi s q u a n d o p erd e u o s e u pon to d e re fe r n
c ia n a v ita c o n t e m p la t iv a q u e a vita a c tiv a p d e to rn a r-s e vid a a tiv a no
sen tid o m a is a m p lo do term o; e foi s o m e n te p o rq u e e s ta vida a tiv a se
m a n te v e lig a d a vida c o m o nico ponto d e re fe r n c ia q u e a vida e m si, o
labo rio so m e ta b o lis m o do h o m e m c o m a n a tu re z a , p d e to rn a r-s e a tiv a e
exibir to d a a sua fertilid a de .'^
144#
D IR C E U G A L D IN O C A R D IN
2.13COOPERATIVISMO
A p rim e ira c o o p e ra tiv a d e q u e se te m notcia s u r g iu e m 1844, e m R ochdale,
n a In g la te rra , e foi f u n d a d a p rin c ip a lm e n te p o r teceles: a S o c ie d a d e d o s P r o
b o s P io n e iro s d e R ochdale. O objetivo e ra e v ita r a in te rm e d ia o n a c o m erciali
D E S A F IO S D A C I D A D A N I A
145
1 4 6
D IR C E U G A L D IN O C A R D IN
COOPERADOS
N M E R O DE EM PR ESA S Q U E C O M P EM MCC;
-IN D S T R IA S ;
119
- C R D IT O ;
- CONSUMO;
- A G R C O L A :
- EDUCAO;
- P E S Q U IS A ;
-S E R V I O S ;
10
-T O T A L
4 P IL A R E S ;
147
- E D U C A C IO N A L ( M O N D R A G N U N I V E R S I D A D )
- F IN A N C E I R O (C A J A L A B O R A L )
- S O C IA L ( L A G U N A R O )
- T E C N O L G I C O (IK E R L A N - S A IO L A N )
D E S A F IO S DA C ID A D A N IA
148
D IR C E U G A L D IN O C A R D IN
d e s c o n h e c im e n to d o negcio;
legislao restritiva;
p o u c o s re c u rso s tecnolgicos;
d e s c o n h e c im e n to d o s p rin c p io s c o o perativistas;
D E S A F IO S DA C ID A D A N IA
Dez./99
DezVOO
Dez./01
Dez./02
Jan./03
Dep. vista
43.872
895,397
2 .4 81,000
3 .9 4 7 ,2 2 0
5.8 55,553
Dep. a prazo
9 5 .6 3 0
1,136,552
3 ,7 48,986
7,8 24.734
9,168,821
Capital social
96.081
255,074
78 9 ,0 2 8
1,779,443
1.876,717
235.583
2.287.023
7.019.614
13.551.397
16.901.091
Total
Oper. crdito
Resultado
64,535
1.933.123
5.20 8 .0 2 4
11.439.478
12.278.716
-2 8 .1 0 6
54,795
231.532
13.501
20 .1 5 0
64
500
1106
2.626
2.802
Associados
Dado/Ms
Pev./03
MarV03
Abr./03
Malo/03
Jun./03
Jul./03
Dep, vista
5,3 88,999
7 .7 64.585
8.404.615
8 ,2 40,700
8 ,2 3 1 ,7 7 0
7.427,931
Dep, prazo
14.916,551
10.968,685
12,642,442
14,085,981
13.889.017
14.634.391
Capital
2 .0 7 2 .2 6 7
2 .3 2 7 .6 0 7
2 ,6 58,744
2,933.571
3 ,1 4 0 ,1 5 4
3,06 1 ,1 6 0
Total
18.429.95
22.734.634
25.149.341
25.063.288
26.006.316
25.405.642
Crdito
12,261.40
10.858,096
17.133,799
18,630,089
2 1 ,1 8 7 .8 6 9
21,30 7 ,3 6 4
Resultado
14.63
2 9 ,9 4 4
99,145
97,337
103,709
79,955
Associado
3.093
3.240
3,394
3.556
3,817
3,647
Recursos
Centro
Colombo
Shopping
Liberdade
Sarandi
Arapongas
Cianorte
Dep, vista
2 ,9 5 0 .0 5 2
2.20 9 .7 3 6
433,320
112.993
179.081
2,254.441
20 9 ,7 8 3
Dep, prazo
7 .2 3 1 .7 4 3
3.18 4 .7 4 8
1.849.681
85.003
7 0 5 .9 5 7
2 .3 8 9 ,7 7 2
286,513
Capital
1.765,394
524.860
253.731
37,577
2 5 1 .2 8 0
268.811
113,040
TOTAL
11.947.189
5.919.344
2.536.732
235.573
1.136.318
4.913.024
609.336
1 5 0 " D IR C E U G A L D IN O C A R D IN
EID J N IO R , W illia m : G ALLO . Fbio. C o o p e ra t iv a s d e c r d ito . D isp o n ve l em: <h ttp ://
(jltimosegundo.ig.com.br> Acesso em 31 mar. 2003,
PINSKEY, Jaime. H is t ria d a cidadania. So Paulo: Contexto, 2003, p. 260.
D E S A F IO S D A C ID A D A N IA
1 51
152
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g u e m n o s s a lv a g u a r d a r os se u s interesses, m a s d a r-lh e s u m a p ro te o c o n s
titucio n al, im p o ssv e l in s ta u r a r o b e m c o m u m . D isso lvem -se, n e ssa p e rs p e c ti
va falsa, as a n tig a s fo rm a s d e s o lid a rie d a d e h u m a n a " .
So a stro n m ic o s o s lucros q u e o s b a n c o s a u fe re m , e m c o m p a ra o com as
d e m a is e m p re s a s b ra s ile ira s , p e lo d o m n io n o rm a tiv o q u e c o n s e g u ira m
escalonar. G r a n d e p a r te d e sta s, n a e sp e ra n a d e salv ar-se re c o rre n d o a e m p r s
tim os e fin an ciam en to s, n a v e r d a d e esto p is a n d o e m te rre n o p a n ta n o s o , e m u ita s
v e z e s a c a b a m e n tr e g a n d o aos b a n c o s o s e u p a trim n io ... P o r essa ra z o , c o n
v m , a in d a q u e sin te tic a m e n te , fazer a lg u m a s p o n d e ra e s so b re a m atria.
H a v ia n a q u e le p a s um jo v e m p o s s e ss o d o esprito im u nd o q u e h a b ita v a
nos s e pu lcro s e q u e n in g u m c o n segu iu subjugar, n e m m e s m o c o m gri
lh es. D e s p e d a o u vrias v e z e s os grilhes e a s a lg e m a s , e c o s tu m a v a
v a g u e a r p ela s m o n ta n h a s e e m re d o r dos sepu lcro s, g ritando e c o n tu n
d in d o -s e n as p ed ra s . J e s u s Cristo a p ro x im o u -s e d e le e disse: - Esprito
im undo, sai d e s te h o m e m . S a in d o do jo v e m , os e sprito s im u nd o s e n tra
ra m n u m a v a ra d e porcos, e os porcos e m n m e ro d e q u a s e dois mil
p re c ip ita ra m -s e no m a r c o m g ra n d e violn cia e no m a r s e a fo g a ra m . V e n d o
Isto, os d on os dos porcos v ie ra m te r c o m J e s u s e v ira m o jo v e m a o lado
d Ele, a g o ra j c u ra d o , b e m vestido e e m p le n a p o s s e d e s u a s fa c u ld a
d es . O s g e ra s e n o s n e n h u m inte re s s e tin h am pelo jo v e m , m a s s pelos
s e u s porcos. P o r isso d is s e ra m a J e s u s p a ra s a ir d e s u a s terras.
V e rte n d o a lin g u a g e m dos g e ra s e n o s e m n os s a lin g u a g e m industrial m o
d e rn a . a re s p o s ta do c apitalism o a o cristianism o fo rm u la -s e c o m o segue:
-
D E S A F IO S DA C I D A D A N I A !
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n a r a s s im a p e rd a d e n ossos lucros; se ju lg a s q u e a re s ta u ra o do h o
m e m e m s u a h u m a n id a d e v a le m a is q u e a p ro p r ie d a d e , e n t o sai de
n o s s a s terras.
E s ta v a m os g e ra s e n o s muito m a is in te re s s a d o s nos porcos d o q u e no
h o m em ; m a is p ertu rb a d o s com a p erd a d e a lg u m a p a rte d e s u a riq u e za
m aterial d o q u e c o m a re s ta u ra o dos direitos e d a d ig n id a d e h u m a n a .
T o rn a ra m -s e a s s im o sm bolo, e m n ossos dias, d a q u e le s p a ra q u e m os
lucros t m m a is a lta significao q u e os direitos h u m a n o s .*''
Art. 2 - v e d a d o , a p re te x to d e c o m is s o , re c e b e r ta x a s m a io re s do q u e
a s p erm itidas por e s ta lei.
(...)
Art. 4 - proibido c o n ta r juros dos juros; e s ta proibio n o c o m p re e n d e
SHEEN, Fulton J.
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D IR C U G A L D IN O C A R D IN
A s d is p o s i es do D e c re to 2 2 . 6 2 6 d e 1 9 3 3 n o s e a p lic a m s ta x a s de
juros e a o s outros e n c a rg o s co b ra d o s n as o p e ra e s re a liz a d a s p o r insti
tuies pblicas ou p rivadas q u e in te g ra m o s is te m a fin a n c e iro n a c io n a l.
d e p e n d e n d o d e lei r e g u la m e n ta d o ra .
au to -a p lic v e l,
D E S A F IO S D A C ID A D A N IA
C o m isso, os b a n c o s e st o lib e ra d o s p a r a a c o b ra n a d e ju ro s v e r d a d e ir a
m e n te extorsivos.
M a is re c e n te m e n te , o p r p r io P o d e r E x e cu tiv o p a s s o u a c o m p a c tu a r com
isso, a tal p o n to q u e foi b a ix a d a a M e d id a P ro v is ria n 1.963-17, d e 3 0 / 0 3 /
2000, cuja ltim a re e d i o d e u -se e m 2 1 /1 2 /2 0 0 0 . A M e d id a P ro v is ria atu a l
q u e re g e a m e s m a m a t ria a d e n" 2.170-36, d e 2 3 /0 8 /2 0 0 1 , n a q u a l consta;
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] R a lp h S a p o z n ik afirm a:
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a rg u m e n to to rn a -s e a in d a m a is surreal q u a n d o o uvido s os c la m o re s d e s
s as m e s m a s instituies financeiras...
p roibido c o n ta r juros d e juros. proibido a c u m u la r juros v e n c id o s ao
principal, salvo c o m p eriod icidade a n u a l. Tal proibio resulta d o d e s e n
v o lv im en to d a civiliza o ocidental. p arte d e se us v a lo re s m a is antigos
e seu c on ceito p e rm e ia a prpria s u s te n ta o d e n o s s a cultura.
U m a s o c ie d a d e cujos recursos s o d re n a d o s por s e to re s d e p u ra inter
m e d ia o , s e m a s s u n o do risco, te n d e a o e s fa c e la m e n to . A fu n o dos
inte rm e di rio s fina nc e iros p ro m o ve r liquidez a o m e rc a d o e a s s u m ir p arte
do risco d a e c o n o m ia .
E s s a a ra c io n a lid a d e q u e os fe z surgir e a nica q u e justifica s u a ex is
tn cia. A b s o lu ta m e n te legtim o o direito d e a u fe rir u m a r e m u n e ra o e
d iversificar o risco a o perm itir q u e recursos flua m d e o n d e e x is te m e m
a b u n d n c ia p a ra o n d e falta m . M a s o a b u s o d e s s e direito e a im p os i o
d e c o n d i e s u ltraja n te s e m fun o d o p o d e r e c o n m ic o d e v e m s e r coibi
dos pelo Estado.
d e v e r d e n osso E s ta d o d em o c r tic o d e direito d e fe n d e r re g ra s p e re n e s
e fa z -la s v a le r in d e p e n d e n te m e n te d e p re s s e s , u m a v e z q u e , s e a nica
re g ra ap lic v e l a lei do m ais forte, n o existe q u a lq u e r n e c e s s id a d e do
Estado".
D E S A F IO S D A C ID A D A N IA
u m a c o n ta e m b a n c o s e m p re um perigo p a ra , a p a r e n te m e n te , c o n s e
guir e s s a p ro te o d a m o e d a c orre n te no p as . O s p re os p a g o s so s e m
pre exto rsivos".
2.14.3 Anatocismo
A n a to c is m o a c o b ra n a d e ju ro s so b re juro s, o u a c a p ita liz a o d e ju ro s de
im p o rt n c ia e m p re s ta d a .
E xem plos; a) o c id a d o te m u m c h e q u e especial, e x tra p o la o lim ite e o b anco
p a s sa a ex ig ir ju ro s d i rio s e n o final d o m s a in d a cob ra so b re o v a lo r d o lim ite
q u e co lo c o u d isp o si o d o c id a d o ; b) e m fin a n c ia m e n to s d e lo n g o p e r o d o as
p re sta e s q u e n o fo ra m p a g a s c o m p o n tu a lid a d e p e lo c id a d o so fre m a inci
d n c ia d o s ju ro s e d e p o is a in d a c o rrig id o o sa ld o d e v e d o r , e m b u tin d o -s e m ais
juros.
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TA/PR - 7 CCv. - Ap. Civ. 0139317-7 - Ac. 9873 - Rei. Juiz Conv. Noeval de Quadros - DJPR 12
nov. 1999.
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d o d o p e ro d o .
T o d a v ia , essa c l u s u la c o n tra tu a l n u la , p o r se r p o te s ta tiv a , s e n d o v e d a d a
"c l u su la e m v ir tu d e d a q u a l o c u m p r im e n to d e o b rig a o fica sujeito v o n ta
d e exclusiva d e u m a d a s p a rte s".
639. So Paulo:
D E S A F IO S DA C ID A D A N IA
q u e m o c o n s u m id o r e m d e s v a n ta g e m e x a g e r a d a , ou s e ja m in c o m p a t
veis c o m a b o a -f ou a e q id a d e .
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Dim C E U G A L D IN O C A R D IN
"... OS p a g a m e n to s d ev id o s p e la F a z e n d a F e d e ra l, E s ta d u a l ou M unicipal,
e m virtude d e s e n te n a judiciria, fa r -s e - o e x c lu s iv a m e n te n a o rd e m c ro
nolgica d e a p r e s e n ta o dos precatrios e c o n ta d o s crd ito s re s p e c
tivos. proibida a d e s ig n a o d e c a s o s ou d e s p e s a s n a s d o ta e s o r a
m e n t ria s e nos crd ito s adicio nais a b e rto s p a ra e s te fim .
D E S A F IO S DA C I D A D A N I A !
7 0 .8 3 6 , In A D V Jurisp., 1 9 9 5 , p. 5 8 8 ) .'^^
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Art. 5, LV: aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral so
assegurados o contraditrio e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.
D E S A F IO S DA C ID A D A N IA
e n tre 1 9 9 6 e 2 0 0 1 , a co le ta d e im postos c re s c e u 4 2 % p a ra as p e s s o as
norm ais. P a r a os b an qu e iro s , o a u m e n to foi d e a p e n a s 11 % . 0 lucro dos
b a n c o s n e s s e s oito, ta lv e z seis ano s , d ob ro u. M a s e s s e s m e s m o s b a n
q ue iro s e s t o p a g a n d o 5 0 % m e n o s d e im posto d e re n da . S e con tin u ar
as s im , e m 2 0 1 0 s o m e n te a s p e s s o as fsicas p a g a r o im posto d e renda.
O s b a n c o s e s ta r o isentos, m e s m o c o m lucros g ig a n te s c o s .'
D IR C E U GA.UOINO C A R D IN
O P r o e r e s t le v a n d o um calote. E m julho d e 1 9 9 8 , a s p a rc e la s a tr a s a
d a s s o m a v a m R $ 1 0 bilhes, A g o ra, d iz a C P I, p a s s a m d o s R $ 15 bi
lhes. N a v e rd a d e , a s d vid as d o p ro g ra m a n o p a s s a m d e u m jo g o de
c o m a d re s . O s se is b a n c o s q u e p e g a ra m d inheiro d o B C e s t o h o je sob
liqu idao, adm in is tra d o s p elo prprio B C . N e s s e a c ordo , os p ra z o s v e n
cidos p ou co im p o rta m p a ra o g o v e rn o . T u d o - d v id a s e g a ra n tia s - s e r
e m p u rra d o p a ra o c a ld e ir o d a m a s s a falida e com isso s e te n ta r reduzir
o ro m b o d a U T I financeira, A e s tra t g ia e s tic a r o p ro c e s s o p a ra e n g o r
d a r 0 re n d im e n to d a s g ara ntia s, q ue, por lei, re c e b e m c o rre o m a is alta
d o q u e a s d v id a s. N e s s a conta, q u e m a m a r g a o p re ju z o o Tesouro,
q u e t a m b m te r d e cobrir o q u e faltar n e s s e e nc o ntro d e c o n tas . S o m a n
do tod os os m ic o s , os s e n a d o re s c o n c lu e m q u e e s te ro m b o p o d e r p a s
s a r d e R $ 2 8 bilhes. P a ra fra s e a n d o o prprio A rm n io F ra g a , e s s a c on ta
v ai m e s m o s o b ra r p a ra o m eu , o se u, o nosso b olso , a ta c a B a rb a lh o .'
R e g u la m e n ta d o p elo g o vern o fe d e ra l no d ia 3 d e n o v e m b ro d e 1 9 9 5 , o
P ro e r e m p re s to u d e s d e e n t o R $ 2 0 ,8 bilhes a oito b a n c o s c o m dificul
d a d e s - R $ 1 3 ,2 bilhes a p e n a s a o E co n m ic o e a o N a c io n a l. A t ago ra ,
p o rm , o g ov e rn o s recu perou R $ 1,2 bilho, e q u iv a le n te a 5 , 7 1 % d e
tu d o q u e foi e m p re s ta d o . A fatia c o r re s p o n d e , b a s ic a m e n te , a o q u e o
B a n c o C e n tral c o n segu iu c o m a v e n d a de a e s d o N a c io n a l, q u e passou
s m o s d o U n ib a n c o . 0 p ro g ram a a in d a te m R $ 9 , 7 bilhes a receber,
dos q ua is R $ 6 ,6 bilhes re fe re m -s e a o principal d a d v id a e os outros R $
3,1 bilhes a o p a g a m e n to dos juros. C o m o o P ro e r a c e ita ttulo p od re,
n atural q u e os p a g a m e n to s e m d inheiro s e ja m m in o ria , a c u s a o d e p u ta
d o fe d e ra l E n io B acci ( P D T -R S ). A b e n e v o l n c ia d o P r o e r c o m os b a n c o s
falidos c o n tra s ta com a falta d e recursos d o g o v e rn o p a ra a s r e a s soc i
a is , a c re s c e n ta .'
D i z J. W . B a u t i s t a V i d a l :
ABDALA, Isabela; FILGUEIRAS, Snia. Nova vtima do Proer. In "Isto ", 1- de d e z e m b ro de 1999,
Disponvel e m : littD ://w w w .te rra .c o m .b r/is to e . a c e s s a d o e m 17 d e maro d e 2003.
Difcil retorno (Proer s recupera R$1,2 bilho). In Isto , 29 de julho de 1998. Disponvel em: http:/
/www.terra.com.br/istoe. acessado em 17 de maro de 2003.
D E S A F IO S D A C ID A D A N IA
A d b c le f in a n c e ir a d e ja n e ir o d e 1 9 9 9 t r a n s fe riu p a r a g ru p o s d e
e s p e c u la d o r e s in te rn acion ais a q ua n tia d e 4 0 b ilh es d e d la re s . A lm
disto fo ra m tra n s fe rid o s p a ra 's a n e a r' b a n c o s falidos, d e p o is e n tre g u e s a
g ru p o s in te rn a c io n a is , outro s 4 0 b ilh e s d e d la re s , A s a n g ria arterial
m o n e t ria n o te m limites! T ra ta -s e d e o rg ia d e s c o n tro la d a ! possvel
s o b re v iv e r n e s s a s sistemticas?"'^
VIDAL, Jos Walter Bautista. Brasil - C iviliza o suicida. Brasilia: Star Print, 2000, p. 53.
1 7 2 #
D IR C E U G A L D IN O C A R D IN
n o a s o c ie d a d e , m a s u m club e fe c h a d o d o g o v e rn a d o r, p o ltico s e
a m ig o s , a o p o s i o c o n d e n a a p riv a tiza o d e s s e s b a n c o s . P re fe re q u e
c o n tin u em to m a n d o dinheiro do pblico e g as ta n d o e m c a m p a n h a s e le i
torais e crd ito s s e m re c u p e ra o .
Pois o P ro e s - P ro g ra m a d e So corro a o s B a n c o s E s ta d u a is - custou p a ra
a p o p u la o brasileira o d obro do Proer. E x a ta m e n te R $ 5 6 bilhes (o
P r o e r e s tim a d o e m R $ 3 0 b ilh es), dos quais R $ 3 6 b ilh e s s e re te re m
a dois b a n c o s d e S o Paulo. R $ 5,1 bilhes d e P a r a n e R $ 4 , 7 bilhes
d e M in a s G e ra is .
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A pessoa abre uma empresa, obtm os talonrios com os bancos, faz um grande volume de compras
a prazo, e, antes do vencimento dos cheques, desaparece com as mercadorias.
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D IR C U G A L D IN O C A R D tN
n" 296);'^^
d) a c o m isso d e p e r m a n n c ia n o in c id e n a s c d u la s d e c r d ito ru ra l, co m e rc i
al e in d u s tr ia l^^ e n o caso d e m o ra d o d e v e d o r, os ju ro s sero elev v eis e m
a p e n a s 1% ao ano'^^ e n esses m e s m o s c o n tra to s, a in d a q u e e x p re s sa m e n te
a c o rd a d a , v e d a d a a c a p italizao m e n sa l d o s juro s, s o m e n te a d m itid a n os
casos p re v is to s e m lei;^
e) n u la a c l u su la c o n tra tu a l q u e sujeita o d e v e d o r a taxa d e ju ro s d iv u lg a d a
Smula n- 297: " 0 C d ig o d e D efesa d o C o n s u m id o r a p lic ve l s in stitu i e s fin a n c e ira ^'. (Prece
dentes; REsp n 106,888-PR,
D E S A F I O S D A C ID A D A N IA #
3 ESTRUTURAO DA CIDADANIA
3.1 A TRAGDIA NA ADOO
N o Brasil, h g r a n d e s d ific u ld a d e s p a r a a a d o o d e filhos. Isso d e c o rre da
legislao e d a a titu d e d e p ro m o to re s e ju izes, inc lu siv e d e v id o a ce rta x e no fo
b ia, e n o d o s p r e te n d e n te s adoo.
R e la tiv a m e n te xenofobia, ela n o d e v e ria existir, p o is s o c o n h e c id o s in
m e r o s caso s d e s u c e ss o n a a d o o p o r e stra n g e iro s. E stes, in c lu siv e , a d o ta m
c rian as q u e os b ra sile iro s e v ita m a d o ta r; p o r ex e m p lo , p o r p r o b le m a d e sa d e
o u d e cor.
Sejam e s tra n g e iro s o u b rasileiro s os q u e p r e te n d e m a d o ta r , c ria m -se in m e
ros o b stcu lo s, o b v ia m e n te n o in teresse d a s crianas, m a s os ex a g e ro s a c a b a m
fa z e n d o c o m q u e elas p e r m a n e a m p o r te m p o excessivo e m rg o s d e a m p a ro
ao m e n o r q u e n o lhes d o o a m o r e a a te n o d e q u e n ec e ssita m . O s p ro cessos
ju d ic ia is re la tiv o s m a t ria se to rn a m v e rd a d e ira s g u e r r a s d e in c id e n te s, e o
p re ju d ic a d o s e m p r e o a d o ta n d o . C ite m o s a p e n a s u m caso.
U m casal - o m a r id o , a d v o g a d o ; a m u lh e r, d o la r - re s o lv e u a d o ta r u m a
criana. H a b ilita ra m -s e e ficaram a g u a r d a n d o . M ais d e u m a n o d e p o is, s o u b e
r a m q u e n u m a co m a rc a d is ta n te h a v ia u m m e n in o q u e p o d e r ia se r a d o ta d o .
C o n v e r s a r a m co m o ju iz s u b s titu to d a q u e la co m a rc a , e este p e d i u o p ro c e sso de
Resp 166444/RS.
Resp 250111/SP,
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O IR C E U G A L O IN O C A R D IN
D E S A F I O S DA C I D A D A N I A * 1 7 7
TJ/SC, AR no MS
97.0072249-0,
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D E S A F I O S DA C I D A D A N I A !
3.3 SINDICALISMO
A m e n ta lid a d e sin d ic a l precisa ev olu ir. O s re p r e s e n ta n te s d o c ap ital e d o
tra b a lh o n o p o d e m ficar c o m a c o rd a e stic a d a , c o m o n a h ist ria d o s a sn o s
a m a r r a d o s u m a o o u tro : u m q u e r e n d o c o m e r o m o n te d e c a p im d a d ire ita , o
o u tr o o d a e s q u e r d a , e a m b o s p a s s a n d o fome. O s sin d ic a to s p re c is a m p r em
p r tic a o fecho d a fbula: d e p o is d e d e s p e n d e r e m m u ito esforo in til, os asn os
fiz e ra m u m a co rdo : a m b o s c o m e ria m p rim e iro o m o n te d ire ita , e d e p o is o d a
e s q u e rd a ; a ssim fizeram , e a m b o s lu craram .
S o m e n te a tra v s d o d i lo g o o s sin d ic a to s d o s tra b a lh a d o r e s e os d o s e m p r e
g a d o re s p o d e r o c o lh e r os b o n s fru to s d o c a p ital e d o trab alh o .
U m c a m in h o fo rm al p a r a isso s e ria m os N c le o s In te rsin d ic a is d e C oncilia
o T ra b a lh is ta '^ ', e m q u e sin d ic a to s d e p a tr e s e d e e m p r e g a d o s d e t m ig u a l
d a d e d e condies. Tais n cleo s, ta n to d e fo rm a p r e v e n tiv a q u a n to re m e d ia d o ra ,
p r o c u r a m , a tra v s d o d i lo g o , so lu c io n a r o s p ro b le m a s q u e afe te m a m b a s as
categ o rias. T ra b a lh a m c o m esse ideal.
O s m a n d a to s d o s d ire to re s so exercid os p o r d e te r m in a d o s p e ro d o s , a lte r
n a n d o -s e a re p re se n ta o . A ssim , se, p o r e x e m p lo , o d ir e to r re p re s e n ta n te d o
S ind icato d o s T ra b a lh a d o re s , n o m a n d a to se g u in te ele d e v e r se r re p re s e n ta n te
d o S in d icato Patron al.
A p r p r ia lei q u e crio u as C o m iss es d e C o nciliao p re s tig io u os N c le o s
Intersin d icais: d e u -lh e s s u p o r te legal e os re c o n h e c e u c o m o fo rm a legtim a de
c o m p o si o n o -e s ta ta l d o s conflitos ao m a n d a r a p lic a r as s u a s d isp o si e s aos
"N c le o s In te rsin d ic a is d e C onciliao T rab a lh ista e m f u n c io n a m e n to o u que
v ie re m a se r c ria d o s " (art. 625-H d a Lei n" 9.958, d e 1 2 /0 1 /2 0 0 0 ).
A ssim , as C o m iss e s d e C onciliao so se m e n te s p a r a a c riao d o s N c le
o s In te rsin d ic a is. C o n tu d o , as v a n ta g e n s d o s N c le o s I n te rs in d ic a is so b re as
C o m iss e s d e C o nciliao s o m anifestas, ta n to e m e x te n s o q u a n to e m p r o f u n
d id a d e : e m extenso, p o r q u e se in se re m e m su a c o m p e t n c ia m a te ria l n o s os
Cf. VASCONCELOS. Antnio Gomes de & GALDINO, Dirceu. N cle o s In te rsin d ica is de C on cilia o
Trabalhista. So Paulo: LTr, 1999.
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1 8 0
D IR C E U Q A L D IN O C A R D IN
primeiro Ncleo Intersindical do Brasil foi criado em Patrocnio (MG), pelo juiz Antnio Gomes de
Vasconcelos, mas vinculado Justia do Trabalho: o segundo, do qual fomos mentor, foi criado em
Maring, com base naquele, mas desvinculado da Justia do Trabalho.
D E S A F I O S DA C ID A D A N IA
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D IR C E U G A L D I N O C A R D IN
v a 0 d e s c o n te n ta m e n to t a m b m dos proprietrios, q u e e m b o r a p a g a s
s e m c o rre ta m e n te os direitos dos safristas, d e ix a v a m p a ra p a g a r s o m e n
te a o trm in o d a s a fra a s fria s e o 13 proporcionais. E o d e s c o n te n ta
m e n to d e le s d ec o rria do fato d e os safristas os d e ix a re m s e m m o -d e o bra, pois iam tra b a lh a r n as f a z e n d a s e m q u e o v a lo r d a d i ria inclusse
a q u e le s d ire ito s ( d i ria c h e ia '). A p s c o n s ta ta re m a in s a tis fa o dos
safristas e dos e m p re g a d o re s , os c o n c iliad ores re a liz a ra m a con ciliao ,
o b te n d o p ro c e d im e n to u niform e p a ra tod a s as f a z e n d a s d a regio, tanto
p a ra a s a fra q u e fin d av a q uanto p a ra as futuras. A p e n a s u m e m p re g a d o r,
q u e tinha uns q u a re n ta trab a lh a d o re s , n o quis f a z e r o p a g a m e n to p a c tu
a d o , d iz e n d o q ue, s e se u s safristas ing re s s a s s em c o m re c la m a o tra b a
lhista, s e ria m pou co s, e e le faria acordo. D a a a lg u m te m p o , c o m o os
safristas s a b ia m d e se us direitos, todos ele s in g re s s a ra m c o m re c la m a
o . S e n o h o u v e s s e o N cle o , p ra tic a m e n te c e n te n a s d e re c la m a e s
explo d iriam nas Jun tas e, m e s m o q u e h o u v e s s e a c ordo , n o s e re s o lv e
ria o conflito social s u b jacen te.
A ps e s s e fato ficou e v id e n cia d o q u e v a le u a p e n a t e r con stitud o o N
cleo Intersindical d e C o nc ilia o T ra b a lh ista d e M a rin g . A s s im , os p ro
b le m a s dos proprietrios e dos tra b a lh a d o re s n o e s ta v a m s e n d o resolvi
dos a p e n a s p a ra u m a sa fra , m a s ta m b m p a ra a s p os teriore s. C o m a q u e le
a c o rd o , re s o lv e u -s e p ro b le m a dos p roprietrios, q u e p a s s a v a m a te r a
m o -d e -o b ra suficiente, e dos safristas, q u e p a s s a ra m a r e c e b e r integral
m e n te s e u s direitos.
E s s e a p e n a s um e x e m p lo d e p ro b le m a q u e te v e s o lu o satisfat ria
p a ra a s d u a s cate g o rias . A n tes, ja m a is h av ia sido pos s v el s e q u e r o d i
logo e n tre as p artes...
Assim , 0 N c le o Intersindical m o s tra -s e c o m o m o d e lo e fic a z, promissor,
dig n o d e s e r im p lantado e m outros locais, porqu e u m a n o v a id ia de
sindicalism o, q u e s e volta na a n lise dos p ro blem as d a s d u a s categorias.
O utro e xem p lo : u m a destilaria dem itia os cortadores d e c a n a -d e -a c a r ao
trm ino d a safra, porque havia tu rm a e s p e c ia liza d a no plantio. Este era
procedido c o n com itan tem en te com a colheita. C o m o os tra b a lh a d o re s q u e
riam p e rm a n e c e r c o m o vnculo em p reg atcio m u d o u -s e o procedim ento.
D e s lo c o u -s e p a ra a entressafra o plantio e todos os tra b a lh a d o re s p a s s a
ram a plantar e a colher. Assim p u d era m p e rm a n e c e r n a safra e e n tre s s a fra .
D E S A F IO S D A C I D A D A N I A *
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1 8 4 *
D IR C E U G A L D IN O C A R D IN
SILVA, Antnio lvares da. Soluo dos conflitos do trabalho. In Curso de Direito do Trabalho: Estudos
em memria de Clio Goyat. 2- edio - So Paulo: LTr, 1994. vol. II, p, 706.
D E S A F IO S D A C ID A D A N IA
GALDINO, Dirceu. Vantagens das Comisses de Conciliao Prvia e dos Ncleos Intersindicais, In
145, p. 707.
186
D IR C E U G A L D IN O C A R D IN
AZEVEDO, Fabrcio. Tributao dos fundos: quem paga a conta? In Ao - Jornal da ANABB Associao Nacional dos Funcionrios do Banco do Brasil, ano XIV, n - 137, nov./dez. 2000, p. 5.
D E S A F I O S D A C ID A D A N IA
3.6 DOMINGO
A p a la v r a d o m in g o v e m d o latim dojnenicus, d a e x p re s s o dies om enicus,
q u e significa " d ia d o S e n h o r", te n d o o ad je tiv o in c o r p o r a d o o sig n ific a d o d e
to d a a e x p re ss o . A ssim , o d o m in g o u m d ia d e ele v a o e sp iritu a l.
A p a r d o a sp e c to religioso, h o u tro - e f u n d a m e n ta l - a s e r c o n sid e ra d o : ele
ta m b m o d ia d o r e p o u s o se m a n a l, e m q u e r e c u p e r a m o s as e n erg ias. U m a
p e s so a q u e tra b a lh a s se to d o s os dias, se m d e sc a n s o se m a n a l, teria excesso de
fad iga, e a c a b a ria c o n tra in d o d o e n a s e p r o v o c a n d o a c id e n te s, c o m srio s p r e
ju z o s p a r a si, p a r a su a fam lia e p a r a a e m p re s a e m q u e trab a lh a .
A p r e te n s o d e tra b a lh o a o s d o m in g o s rev e la v o r a c id a d e financeira; to d a
v ia, p a r a a p r p r ia so c ie d a d e isso n o s a u d v e l: p r o v o c a u m a n e u r a s te n ia
coletiva. A s p e s s o a s e n tr a m facilm en te e m fadiga. N e rv o s ism o . A g re ssiv id a d e .
O c o rre isso p o r q u e o c o rp o e a m e n te e sto c a n sa d o s. A d e m a is , o q u e tiv e r q u e
se r v e n d id o d u r a n t e a s e m a n a o ser in d e p e n d e n te m e n te d e se r d o m in g o . A
rig o r, se a s o c ie d a d e q u e r m e lh o r q u a lid a d e d e v id a , o c o rre to seria q u e h o u
v esse d e sc a n so n o s b a d o e n o d o m in go .
N o e n ta n to , m u ito s co m ercian tes (s u p e rm e rc a d o s, h ip e rm e rc a d o s , sh o p p in g s)
q u e r e m tr a n s f o r m a r o d o m in g o n u m dia n o rm a l d e tra b a lh o , a fim d e a u m e n ta
re m se u lucro, q u a n d o o tra b a lh o n esse d ia s d e v e o c o rre r se ele for essencial,
in a d i v e l, o u q u a n d o se tra ta r d e p e ro d o especial.
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3.8 TURISMO
O Brasil u m p a s lin d o , m a s ..." - o q u e d iz o tu rista e stra n g e iro .
N o h in fra -e stru tu ra , o a te n d im e n to ru im , a v io ln cia a ss u s ta , e s e m p re
q u e r e m lu d ib r ia r o v isitan te. N o se p r o c u r a co n q u ist-lo , p a r a q u e v o lte e tr a
g a am igo s. E n g a n a m -n o , ju lg a n d o q u e ele n u n c a m a is voltar...
L u iz G o n z a g a G o d o i T rig o , d i r e t o r d a F a c u l d a d e S e n a c d e T u r i s m o e
H o te la ria , sin tetiza: "... in fra -e s tru tu ra in a d e q u a d a , m o -d e -o b ra r u im e p a s
p e r ig o s o " .^
O Rio d e J a n e iro a c id a d e b ra sile ira m a is c o n h e c id a n o e x terior. Ela a
p o rta d e e n tr a d a p a r a o tu ris m o brasileiro. C o n tu d o , s u a s p r a ia s est o e x tre m a
m e n te p o lu d a s... E o q u e d iz e r d a m a la n d r a g e m d e ta n to s d e lin q e n te s e m
relao a o tu rista? D a v iolncia q u e d o m in a a q u e la c id a d e ? Q u a l o e s tra n g e iro
q u e e m s c o n scin cia ir q u e r e r v iajar p a r a u m a c id a d e e m q u e n o ter o
m n im o d e se g u ra n a ? O s E sta d o s d o M a to G ro sso e d o M a to G ro sso d o Sul so
ricos e m locais tursticos, c o n tu d o so p ss im a s as e s tr a d a s q u e le v a m a eles...
N o d e v e m o s e sq u e c e r q u e , e m m a t ria d e tu rism o , e s ta m o s p e r d e n d o p a ra
o U ru g u a i. C aio L u iz d e C a rv a lh o , e x -p re sid e n te d a E m b r a tu r , reconhece: "O
tu ris m o a in d s tr ia d o fu tu ro n o Brasil".
O p ro fe ss o r G rassi M e n d e s acrescenta:
D E S A F I O S DA C I D A D A N I A 1 8 9
N a tu ra lm e n te , a s p e s s o a s q u e n a d a s a b e m d a n a tu re z a s o neurticas,
pois n o e s t o a d a p ta d a s re a lid ad e . S o ain da d e m a s ia d o ingnuas,
c o m o c ria n a s , e t m n e c e s s id a d e d e q u e s e lhes e n s in e q u e s o h u m a
n as c o m o tod a s a s outras. E sse c o n h e c im en to n o b as ta p a ra c u ra r as
neuroses; s reco braro a s a d e se c on s e gu ire m s air d a la m a cotidiana".
MENDES, Grassi. R a z e s p a ra n o c o m e m o ra r os 5 0 0 anos. In Gazeta Mercantil", 20 de abril de
2000, p. 2.
Carl Gustav JUNG, op. c it, p. 155.
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O l H C e U G A L D IN O C A R O N
n e c e ss rio o re to rn o n a tu re z a , p e lo m e n o s e m fins d e se m a n a .
O id e a l seria q u e as p e ss o a s fo ssem m ais p a r a o c a m p o , p a r a a p r a ia , p a r a as
m a ta s, p a r a se re v ig o ra re m fsica e m e n ta lm e n te c o m a e n e rg ia p r o v i n d a d a
n a tu re z a . C o m o isso n e m s e m p r e possvel, o p o d e r p b lic o d e v e ria criar p a r
q u e s n a tu ra is, m e d ia n te d e s a p ro p ria o , a p ro v e ita n d o re a s florestais, e p r o p i
ciar tra n sp o rte , a p re o re d u z id o , p a ra esses locais.
Q u e m n o te m la z e r se to rn a n e u rastnico .
O n m e r o d a FIA T ...
D E S A F IO S DA C ID A D A N IA
A g ra v a o foi liberad a;
- T elefo n e n" 192.
N o v a in d ig n a o : e sse n m e r o o d e p ro n to -so c o rro . S e n tim o s v o n ta d e de
lig a r m ais u m a v e z e d iz e r q u e eles e r a m irre sp o n s v e is , q u e m e re c ia m ir p a ra
a c a d eia. M a s n o s c o n tiv e m o s p o r q u e o u v im o s u m d o s c irc u n sta n te s, c o m o
ce lu la r n a m o , gritar;
- O C o rp o d e B om beiros j est vindo...
D ep o is d e sc o b rim o s q u e o n m e r o p a r a co n ta c to c o m o SIATE o 193.
3.11 PONTUALIDADE
O b ra sile iro n o e d u c a d o p a ra a p o n tu a lid a d e . A re g ra c h e g a r a trasad o .
p re c iso e d u c a r as p e sso a s p a ra o re sp e ito a o p r x im o , e esse re sp e ito inclui
a o b se rv n c ia d e h o r r io c o m b in a d o o u fixado. Se u m a p e ss o a vai c h e g a r a tr a
s a d a a u m c o m p ro m is s o p o r q u e q u e r o u p re c isa re s o lv e r a n te s u m p ro b le m a ,
ela p re c isa s a b e r q u e q u e m est e s p e r a n d o p o d e te r d e ix a d o d e re so lv e r p r o b le
m a s v e z e s a t m a is g ra v e a fim d e n o se a tra s a r a o m e s m o c o m p ro m iss o . Por
c e rto , h im p r e v is to s q u e d e fato im p o s s ib ilita m a p o n tu a li d a d e , m a s g e ra l
m e n te o q u e se v s o m e ro s p re te x to s p a r a a falta d e co n sid erao .
A s v e z e s h p e s s o a s q u e se s e rv e m d a im p o n tu a lid a d e p o r ra z e s prticas.
P o r ex e m p lo , a lg u n s poltico s u s a m a ttica d e c h e g a r a tr a s a d o s a certo s e v e n
tos p a r a q u e o m e stre -d e -c e rim n ia o s in te r r o m p a p a r a a n u n ci-lo s. C o m isso,
e s p e r a m c h a m a r a a te n o so b re si e colher fru to s m a is tard e.
N e s se caso, o p ro c e d im e n to co rre to seria, n a m e d id a d o p o ssv e l, n o in te r
r o m p e r o s e v e n to s p a r a an u nci-los, q u a n d o m u ito c ita n d o -o s n o e n c e rra m e n
to, q u a n d o se a g ra d e c e a o s p re se n te s. Se esse p r o c e d im e n to fosse a d o ta d o , p o r
certo a im p o n tu a lid a d e d im in u iria significativ am en te.
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D E S A F IO S DA C ID A D A N IA
NASCIMENTO, Amauri Mascaro. C om p nd io d e D ire ito d o Trabalho. 2. ed. So Paulo: LTr, 1976, p.
548.
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1 9 4
D IR C E U G A L D IN O C A R D IN
Traduo extrada da obra de Giuseppe La Loggia, P rn cipii D e l D iritto L avoro, Editora Fratelli Rocea
Editor), Milo, 1940, p. 205.
D E S A F IO S DA C ID A D A N IA
T u d o 0 q u e v o c d h oje a um tra b a lh a d o r p o r b e n e v o l n c ia te m um
c a r te r fo rm a l. A n te s v o c p re s e n te a v a um e m p re g a d o c o m um carro e
e le fica v a a g ra d e c id o . A tu a lm e n te e le diz: o p atr o m e d e u p o rq u e eu
p re c is a v a p a ra o trabalh o, e n t o isso t a m b m p a rte d e m e u o rd en a d o '.
Q u a n d o vai e m b o r a d a e m p re s a , a c a b a te p ro c e s s a n d o , e o sa lrio pro
p orcional q u e le c a rro e n tra na conta. S e m p r e vou p a ra a Justia e p ago
tudo, p o rq u e sei q u e n o a d ia n ta discutir. Dei u m c a rro a o m e u c h o fe r e
sei q u e no d ia e m q u e e le nos d e ix a r vai f a z e r s u a s re ivin dicaes. E ssa
le g is la o limita a b o n d a d e, o h u m a n is m o .
A ssim , a n o r m a q u e possibilita a in te g ra o d o salrio in natura o u d o salrio -u tilid a d e in ju sta, n o a tin g in d o fim social. E n to , o e m p r e g a d o r c o b ra d o
e m p r e g a d o a a lim e n ta o q u e lhe forn ece e o a lu g u e l d a re s id n c ia q u e lhe
coloca d isp o si o , p a r a q u e n o haja in te g ra o d e sse s v a lo re s ao salrio, m as
isso re p re s e n ta d e s v a n ta g e m p a ra o e m p re g a d o .
A legislao d e v e ria e s tim u la r o e m p r e g a d o r a m e lh o r a r a q u a lid a d e d e v id a
d o e m p r e g a d o , c o m o se su b stitu sse o E stad o , n u m tra b a lh o social d ire to . U m a
v e z p a g o o salrio p a c tu a d o , tu d o o m a is q u e o e m p r e g a d o r fizesse e m b e n e f
cio d o e m p r e g a d o n o in te g ra ria o salrio.
H a lg u n s e m p r e g a d o r e s q ue, p a ra a ju d a r os e m p r e g a d o s , c o b ra m v alo res
sim blicos, seja d o s p r o d u to s alim entcios, seja d a s u tilid a d e s (e nergia eltrica
etc.). H d ecis es q u e n u lific a m o v a lo r sim blico, p a r a q u e a q u e le s benefcios
1 96
D IR C E U G A L D I N O C A R D IN
DE S A FIO S DA C I D A D A N I A ! 1 9 7
q u e m tra b a lh a ss e e m re g im e d e p a rc e ria o u m e a o , o u e m fo rm a se m e lh a n te
d e p a rtic ip a o n a p r o d u o .
A tu a lm e n te , e m face d o e n te n d im e n to d iv e rg e n te d a ju ris p r u d n c ia , o tra
b a lh a d o r q u e r e m u n e r a d o p o r p r o d u tiv id a d e m u ita s v e z e s p ro ib id o d e tra
b a lh a r a l m d e d e te r m in a d o h o r rio , p a r a q u e a e m p r e s a n o c o rra o risco d e
se r c o n d e n a d a a p a g a r h o ra s e x tra o rd in ria s, d e ix a n d o d e p r o d u z ir m ais e d e
a u fe rir m a io re s re n d im e n to s . N o m b ito ru ra l, o siste m a d e r e m u n e r a o p o r
p r o d u ti v id a d e seria e sp e c ia lm e n te v an tajo so e m p o c a d e p la n tio o u d e colhei
ta; se os e m p r e g a d o s n o tr a b a lh a re m aos d o m in g o s e sta s a tiv id a d e s ficam c o m
p r o m e tid a s , m a s o e m p r e g a d o r o p ta p o r p a g a r salrio fixo, p a r a e v ita r p ro b le
m a s ju rd ic o s, a in d a q u e v e n h a a ter prejuzos.
R e to m a n d o a a n lis e d o sa l rio -u tilid a d e , d e se o b s e r v a r q u e s o b re ele
in c id e a c o n trib u i o p re v id e n c i ria (art. 201, 4", d a CF, c / c art. 11, p a r g ra fo
nico, alnea c, d a Lei n" 8.212/91). A ssim , h e n c a rg o s p re v id e n c i rio s so b re
e n c a rg o s tra b a lh ista s. A in d a re c e n te m e n te , o e g r g io S u p e rio r T rib u n a l d e Ju s
tia e n te n d e u q u e in c id e a co n trib u i o p re v id e n c i ria s o b re o v a lo r d o a lu g u e l
e d o IPTU p a g o s re g u la r m e n te p e lo e m p r e g a d o r re la tiv a m e n te a im v e l o c u p a
d o p e lo e m p r e g a d o .^^
p o r isso q u e o s e m p re s rio s e lim in a m os salrio s in d ire to s, c o m e v id e n te
p re ju z o p a r a o s e m p re g a d o s .
A firm a m o s e m o u tr a obra:
1 9 8
D IR C E U G A L D IN O C A R D IN
GALDINO, Dirceu. R e p e n sa n d o o D ire ito d o Trabalho Rural. 2. ed. Maring: Albatroz, 1996. p. 69 e 76.
D E S A F IO S DA C ID A D A N IA
2 0 0
D IR C E U G A L D I N O C A R D IN
leva o e m p r e g a d o o u o e m p r e g a d o r a s u s te n ta r su a s p r e te n s e s ju d ic ia is com
s u p o rte n a m e n tira ; b) a d m ite q u e o e m p r e g a d o te n h a c o m p o r ta m e n to c o n tra
dit rio : faz a c o rd o c o m o p a tr o e a lg u m te m p o d e p o is p r o c u r a d esfa z -lo p e
r a n te o juiz, a fr o n ta n d o p rin c p io m o ra l e tico: venire contra fa c tiim proprium ; c)
in d u z a q u e o e m p r e g a d o r d eix e d e c o n c e d e r certas v a n ta g e n s ao e m p re g a d o ;
d) n o lev a e m c o n s id e ra o o q u e o e m p r e g a d o p a c tu a c o m o e m p r e g a d o r ; e)
''p u n e " c o m e n c a rg o s tra b a lh ista s e p re v id e n c i rio s o b e m q u e o e m p r e g a d o r
faz a o e m p r e g a d o ; f) faz co m q u e o e m p re g a d o , m u ita s vezes, u tiliz e a re c la m a
o tra b a lh ista c o m o v in g a n a o u c h a n ta g e m e p e r m ite q u e o e m p r e g a d o r d e
se n c a d e ie ao p e n a l c o n tra o e m p r e g a d o c o m o retorso .
A lg u n s e x e m p lo s c o m u n s d e c o n d u ta antitica n a rea tra b a lh ista so:
- q u a n d o d a c o n tra ta o , o e m p r e g a d o r colhe a ss in a tu ra e m b ra n c o d o e m
p r e g a d o , p a r a p o s te r io r m e n te p re e n c h e r o d o c u m e n to o u a fo lh a c o m d a d o s
q u e re s trin ja m d ire ito s d este;
- o e m p r e g a d o r p a g a a tra v s d o "caixa 2", p a r a fu g ir d o s e n c a rg o s sociais;
- e m p r e g a d o s d e m itid o s q u e e s p o ra d ic a m e n te fa z ia m h o ra s e x tra s
c o m p a c tu a m e n tre si e a le g a m q u e as fa z ia m h a b itu a lm e n te ;
- e m p r e g a d a g r v id a com ea a tra b a lh a r s e m q u e o e m p r e g a d o r sa ib a d a
g r a v id e z e d e p o is p ro v o c a a s u a d e m iss o , c o m faltas leves, p o r m co n stan tes;
p o ste rio rm e n te , aleg a esta b ilid a d e ;
- tr a b a lh a d o r e s s o c o n tr a ta d o s c o m o a u t n o m o s , p o r m d e p o is d a resciso
d o c o n tra to a le g a m q u e e r a m e m p re g a d o s .
A ssim , n a re a tra b a lh ista , d is s e m in a m a titu d e s an titicas, q u e fra g iliz a m a
confiana n o se r h u m a n o .
"O Brasil re c o rd ista m u n d ia l d e p ro c e sso s tra b a lh ista s. So a ju iz a d a s m ais
d e 2,2 m ilh e s d e aes p o r a n o , c o n tra 75.000 p ro c e sso s a n u a is n o s E sta d o s
U n id o s e n a Frana"''^"'. N o Brasil, fica a m a io r p ro d u o e d ito ria l n a re a ju r d i
ca tra b a lh ista , e m v ir t u d e d e ta n to s conflitos. A CLT n o c o r r e s p o n d e ao s a n s e i
o s d o s tra b a lh a d o r e s e e m p r e g a d o r e s e re a lid a d e a tu a l, a l m d e s e r e x tre m a
m e n te d e ta lh ista : " A legislao tra b a lh ista m u ito c o m plexa. s vezes, p o r m ais
o r g a n iz a d o q u e seja u m d e p a r ta m e n to p e sso a l d e u m a e m p r e s a , ele c o m e te e r
ros d e v id o m in u c io s id a d e d a le i".^^
Disponvel em: htto://veia-abril.com.br/010502/radar.html. acessado em 05 de maio de 2003.
CARMO, Valrio Augusto do.
de maio de 2003, p. B-3.
D E S A F I O S DA C ID A D A N IA
201
2 0 2
D IR C E U G A L D IN O C A R D IN
p a r a a A u to la tin a e p a r a o d o n o d e u m a q u ita n d a , d e u m a p a d a r ia o u d e u m
p e q u e n o b a r. A s g r a n d e s e m p re s a s p o s s u e m e s tr u tu r a e c o n m ic o -a d m in istra tiva, m a s e o p e q u e n o p ro p rie t rio , q u e s v e z e s to p o b r e q u a n to o e m p r e g a
d o ? O u , se a p r e s e n ta u m a a sc e n s o p o u c o e le v a d a , n o sig n ifica q u e te r c o n d i
es o rg a n iz a c io n a is d e c u m p r im e n to n a n te g ra d a legislao trab alh ista. Por
isso p e r tin e n te a su g e s t o n o s e n tid o d e q u e ta m b m h o u v e s s e , e m a n alo g ia
ao siste m a trib u t rio q u e crio u o ''sim p le s", com o p re c o n iz a a A C P - A ssociao
C o m ercial d o P a ra n , a tra v s d o ilu stre a d v o g a d o Joo C a rlo s Rgis, " p a r a as
e m p re sa s c o m a t 20 e m p r e g a d o s , a d o o d o sim p le s tra b a lh is ta " '^^, r e d u z in d o
e x ig n c ia s ta is c o m o o P C M S O - P r o g r a m a d e C o n t r o le M d ic o , S o cial e
O c u p a c io n a l; P P R A - P ro g r a m a d e P re v e n o d e Riscos A m b ie n ta is, reg istros,
co n tro les, e to d o s o s d e m a is c u m p rim e n to s d e q u e st e s b u ro c r tic a s e d e ro ti
n a s trab alhistas.
Q u a lq u e r u m a d a s a lte rn a tiv a s a q u i e sb o a d a s tra r v a n ta g e n s ao e m p r e g a
d o e a o e m p r e g a d o r , e ta m b m nao. O q u e n o p o d e o c o rre r a p e r m a n n
cia d e u m a legislao q u e d is se m in a u m a g u e rra silenciosa n o a m b ie n te d e tr a
balho . S im p le s m e n te e x p u r g a n d o d a CLT os a rtig o s u ltr a p a s s a d o s e te n ta n d o
a d e q u -la p o c a c o n te m p o r n e a n o se elim in a r a id e o lo g ia fascista d e q u e
ela est im p r e g n a d a . Seis m eses d e p o is d a q u e d a d e M u sso lin i, foi re v o g a d a a
legislao tra b a lh ista q u e ele h a v ia im p o s to n a Itlia e im p la n ta d o o siste m a d a
co n v e n o coletiva. N o Brasil, ela e n ra iz o u e c o n tin u a p r o d u z in d o efeitos n e
fastos a o h u m a n is m o .
D E S A P tO S DA C I D A D A N I A ! 2 0 3
95 JESUS, Damsio E, de. Os erros e o formalismo da justia criminal brasileira, In Revista Sntese, ano
4, n- 43, setembro de 2000, p. 3.
2 0 4
D IR C E U G A L D IN O C A R D IN
D E S A F IO S D A C ID A D A N IA
A s b aleias, p o r e x e m p lo , p a re c e m g o z a r d e m a io r p ro te o d o q u e os m e n o
re s a b a n d o n a d o s p e la s ruas.
N o Brasil, se a ecologia se p re o c u p a s s e m ais c o m o h o m e m , m u ita s p esso as
te ria m m e lh o re s co n d i e s d e v id a . P o r ex em p lo , j foi e x p o sto p e la m d ia q u e
h excesso d e jacars ta n to n o P a n ta n a l q u a n to e m reg ies d o A m a z o n a s; c o n tu
do , n o se u tiliza a caa d e c o ntro le, c o m o a p r o v e ita m e n to d o s a n im a is a b a ti
d o s p a r a a b a ste c im e n to d e m e r e n d a escolar. A d e m a is , h p ir a n h a s e m excesso
n o P a n ta n a l, e ela s ta m b m p o d e r ia m ser a p ro v e ita d a s e m tal m e r e n d a , pois
so ricas e m clcio e p ro te n a s. A o liberar-se a pesca, p o d e r-se -ia ex igir q u e o
p e sc a d o r, q u a n d o d a fiscalizao e p e s a g e m d o s p e ix e s p e s c a d o s , e n tre g a sse
aos fisc a liz a d o re s certa q u a n tid a d e d e q u ilo s d e p ira n h a . E ssas d u a s m e d id a s ,
e n tre o u tra s, c o n trib u iria m p a r a o eq u ilb rio ecolgico, p o r q u e n o P a n ta n a l o
excesso d e jacars e p ir a n h a s te m p r o v o c a d o a e xtino d e p e ix e s n o b re s (p in ta
d os, cach aras, s u r u b in s e outros).
D a m e s m a fo rm a , d ev er-se-ia e s tim u la r os p e s c a d o re s d o litoral b ra sile iro a
d o a r e m p a r a in stitu i e s d e c a rid a d e o u p a r a a m e r e n d a esc o la r o s p eix es p e
q u e n o s, q u e n o r m a lm e n te eles jo g a m fora. D e fato, m u ita s v e z e s, d e p o is d a s
p escarias, ao se c a m in h a r p ela p ra ia , e n c o n tra -se u m a in f in id a d e d e p e q u e n o s
p eix es ao lo n g o dela.
P a rn teses: p io r a in d a a n o -e x p lo ra o d a s r iq u e z a s n a tu r a is d o Brasil,
e n q u a n to m u ita s p e s s o a s p a s s a m fome. u m p a r a d o x o in s u s te n t v e l. E x em p lo
visvel: o Brasil u m p a s riq u ssim o e m b acias h id ro g r fic a s. C o n tu d o , n o h
in c re m e n to n e m e x p lo ra o d a pisc ic u ltu ra . E m q u a n to s rio s n o se p o d e ria m
DERANI, Cristiane. D ire ito A m b ie n ta l E conm ico. So Paulo: Max Limonad, 1997, p. 75-76,
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D tR C E U G A L D IN O C A R D IN
criar p eix es e m gaiolas, trat-lo s com rao, p a r a q u e ficassem m a is sab oro sos,
e d e p o is co m erci-los e in clu sive e x po rt-lo s, a u m e n ta n d o a s divisas. T a m b m
seria v ivel p r o m o v e r a e x p lo ra o d a p isc ic u ltu ra p o r in stitu i e s assistenciais
a fim d e a u x ilia r a s p e s s o a s m a is carentes. M u ita s p e s s o a s id o sa s, q u e e sto
" m o f a n d o " e m asilos, com certeza e n c o n tra ria m u m se n tid o d e v id a i n d o tra ta r
d o s peixes... Se e ssa ex p lo ra o fosse feita a p e n a s n o s E s ta d o s d o P a r a n e d o
M ato G ro sso j d a ria p a r a s u s te n ta r as p e ss o a s p o b re s d o Brasil c o m o m e lh o r
a lim en to...
H p r o f u n d o d e s a le n to q u a n d o se v e m os e sg o to s b o m b a r d e a n d o d e trito s
n o m a r e c o n ta m in a n d o os b a n h ista s, e o p o d e r p b lic o fica inerte. A g resso
n tid a a q u e o co rre n o Rio d e Janeiro: a p o g e u d e b e leza n a tu r a l, c o m b a a s to
p o lu d a s.
T a m b m o co rre a c o n ta m in a o d e rios e riachos, b e m c o m o d a s g u a s s u b
te rr n e a s, co m c h u m b o , m e rc rio , io d o e o u tro s p r o d u to s , p ro v o c a d a p o r p o s
tos d e g aso lin a, e m p r e s a s q u e r e s ta u r a m b a te ria s e o u tra s. A s p e sso a s, se m sa
b e re m d a p o lu i o , b e b e m g u a im p u ra , c o m o se ela fosse vida...
O s e sg o to s a in d a s o a rtig o s d e luxo: n o d o v o to s a o pre fe ito , p o is o q u e
feito fica e n te rra d o , n o aparece.
DE S A FIO S DA C I D A D A N IA * 2 0 7
JABUR, Issa C.; ANDRADE, Airton Delfino de. E stu d o s p a ra a v a lia o d o s n ve is d e p o lu i o das
g u a s d e s u p e rfc ie e d e s u b so lo p ro vo ca d a p o r a g e n te s co n a m in a n te s. Maring; Instituto de Tecno
logia e Cincia Am biental, 1999, p. 21.
208
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2 1 0 "
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D E S A F IO S DA C ID A D A N IA
s a d e e a g re ss o fa u n a , o q u e se verifica p rin c ip a lm e n te c o m a m o r ta n d a d e
d e p ssaro s,
p re c iso r e s ta u r a r o re sp e ito p ela n a tu re z a , fa z e n d o co m q u e a p re o c u p a o
c o m a ecologia se tr a d u z a e m p re o c u p a o c o m o se r h u m a n o .
D IR C E U G A L D IN O C A R D IN
tra b a lh o d o p arceiro .
P a ra le la m e n te , d e v e -se p ro c u r a r d e se n v o lv e r n o N o r d e s te o p la n tio d e r
D E S A F IO S DA C ID A D A N IA
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D I R C E U G A L D I N O C A R D IN
Terra/"*
D E S A F IO S D A C ID A D A N IA # 2 1 5
[ 1 6 b D IR C E U G A I D I N O C A R D IN
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e t r io , o s u p e r f i c i r i o e o p o d e r p b l ic o , f a z e n d o - s e v e r d a d e i r a r e f o r m a
a g r r ia .
O p r o p r ie t r io p a rtic ip a c o m a terra e a u fe re lu cro p o c a d a colheita; a d e
m ais, a te rra p a ssa a te r m a io r valor, p o r q u e se to rn a p r o d u tiv a . O su p erficirio
a u fe re lu c ro g raas a o se u tra b a lh o d e ex p lo ra o d a terra. O p o d e r p b lic o d
s u p o r te tcnico e o rie n ta os su perficirio s, p ro p ic ia n d o m a io r p r o d u tiv id a d e e
re n ta b ilid a d e . P ra tic a m e n te e m to d o s os e s ta d o s h in s titu to s v in c u la d o s ao
p o d e r p b lic o q u e c o n ta m c o m tcnicos ag rco las a lta m e n te e sp e cializad o s.
O a tu a l siste m a d e re fo rm a a g r ria te m a p r e s e n ta d o trs in c o n v e n ie n te s b
sicos: a) m u ito s d o s "se m -te rra " v e n d e m su a c o ta -p a rte , e d e v id o a isso m u ito s
a d q u ir e n te s es t o se to r n a n d o g ra n d e s p ro p rie t rio s ; b) e m m u ito s a s s e n ta m e n
tos n o h im p le m e n to s ag rco las n e m o rie n ta o tcnica, o q u e dific u lta a so
b re v iv n c ia d o s n o v o s p ro p rie t rio s ; c) a id eo lo g ia p o ltica d o m in o u a re fo rm a
a g r ria , ta n to a ss im q u e a lg u n s id e lo g o s d o M o v im e n to d o s S em -T erra p r e
te n d e m at c ria r u m e s ta d o -m e m b ro : " C o ro a n d o e ssa n o v a fase d e c u n h o fas
cista, o M ST la n o u a o p a s o m a io r d esafio d e su a h ist ria , ao a n u n c ia r a p r e
te n s o d e e stab elecer u m a c a m p a m e n to g ig a n te n o P o n ta l d o P a ra n a p a n e m a ,
co m 5.000 fam lias d is p o s ta s a resistir at c o n se g u ire m se r a s s e n t a d a s . ... A rea
esc o lh id a p a r a a s s e d ia r o 'n o v o C a n u d o s ' c o rro b o ra u m a o rie n ta o e stratg ica
s e g u id a p e lo M ST d e s d e 1966, q u a n d o R a in h a a n u n c io u a in te n o d e cria r u m a
esp cie d e 're p b lic a in d e p e n d e n te ' n o P o n ta l d o P a r a n a p a n e m a , u m c e n tro d e
co n c e n tra o d e in fra -e s tru tu ra vital, a tra v e s sa d o p o r lin h a s d e tra n sm is s o d e
en erg ia e h id r o v ia T iet-P aran "^ ; d) a d e sa p ro p ria o te m p o r fin a lid a d e to r
n a r a te rra p r o d u tiv a , m a s e m m u ito s casos h o u v e a p e n a s s u b stitu i o d e titu la
rid a d e , q u e p a s s o u p a r a u m g r u p o d e s e m -te rra , p o r q u e a im p r o d u ti v i d a d e
c o n tin u o u c o m ele.
C o m o p o d e r ia se r feita a re fo rm a a g r ria v in c u la d a ao d ire ito d e superfcie?
O p r o p r ie t r io p o s s u i u m a g r a n d e rea d e terras, e n o a e x p lo ra a d e q u a d a
m en te. E n t o , c o n c e d e o d ire ito d e su p erfcie a d iv e rs o s s u p e rfic i rio s, q u e ,
p o c a d a c o lh eita, c o m o r e s u lta d o d a p r o d u o , p a g a r o o e q u iv a le n te a u m
a lu g u e l. O p o d e r p b lic o a rtic u la a n e g o c ia o e c o n tr ib u i p a r a o incio d a s
a t i v i d a d e s p r o d u t i v a s , f i n a n c ia n d o s e m e n te s e i m p l e m e n t o s a g r c o la s . O s
s u p e rfic i rio s p a g a r o e m m d ic a s presta es. M as d e v e r o s e m p r e re ssa rc ir o
In Solidariedade Ibero-americana, 1quinzena de agosto de 2003, p. 6. Publicado pelo M S IA -M o v i
m e n to d e S o lid a rie d a d e Ib e ro-a m e rica n a , Rio de Janeiro.
D E S A F IO S DA C ID A D A N IA
3.17 O PROTESTO
O p ro te sto , a tu a lm e n te , u m a fo rm a d e a b a la r d r a s tic a m e n te o c r d ito do
d e v e d o r, e, c o m o j a p o n ta r a m a d o u tr in a e a ju r is p r u d n c ia , so c o m u n s os
p ro te s to s a b u siv o s. O p r a z o p a r a o p a g a m e n to - d e trs dias, c o n ta d o s a p a rtir
d a d a ta d a e x p e d i o d a notificao p e lo C a rt rio d e P ro te sto , c o n s o a n te o arti-
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a d o ta r p o r id e o lo g ia a p r o te o d o p o d e r p b lic o . A ssim , s e m p r e p r o c u r a m
u m a ra z o p a r a n o a c o lh e r o p e d id o d o c o n trib u in te .
A s lim in a re s p a r a tal in te n to est o se to r n a n d o in c u a s , p rin c ip a lm e n te p o r
que, e m caso d e d v id a , a forte te n d n c ia o in d e fe rim e n to d o p e d id o . T o d a
via, d e v e ria o c o rre r e x a ta m e n te o contrrio: n a d v id a , co n c e d e r. P o r q u ? P o r
q u e , g ra a s c e rtid o n e g a tiv a , h a v e r c o n tin u id a d e d a s a tiv id a d e s sociais da
e m p re sa , h a v e r riq u e z a e m m o v im e n to . E o p o d e r p b lic o n o p e rd e ; se ele
tiver d ire ito , o re c e b im e n to d o trib u to a p e n a s se r p o s te r g a d o . P o r o u tr o la d o , o
c o n trib u in te q u e n o o b tiv e r a ce rtid o n e g a tiv a e q u e , p o r isso, for im p e d id o
d e p a r tic ip a r d e u m a licitao o u d e ix a r d e o b te r u m fin a n c ia m e n to sofrer
d a n o irre p a r v e l. A c id a d a n ia m alferid a.
D ire ito A d m in istra tivo , Rio de Janeiro, 236: 263-273, abr./jun. 2004, p. 264.
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D E S A F IO S D A C ID A D A N IA
p o is ela n o
a nlise m a is a p r o f u n d a d a to d o s os p e d id o s o u p a re c e re s d e le a d v in d o s.
s v e z e s o s r e p r e s e n ta n te s d o M P re v e la m falta d e c o n h e c im e n to jurdico,
e x tra in d o d o s fatos co n c lu s e s q u e a fro n ta m o o r d e n a m e n to , o q u e leva a in d a
g aes com o: e sses re p re s e n ta n te s a g ira m c o m in c o m p e t n c ia (p o rq u e d e sc o
n h e c e m o d ireito ) o u c o m m -f (fazen d o im p u ta o in d e v id a )?
E a s o c ie d a d e c o n tin u a p a g a n d o a re m u n e ra o d o a g e n te m in iste ria l q u e
ag e com a b u s o d e p o d e r , q u e p e r p e tr a ile g a lid a d e s, u s u r p a n d o c o m petn cias,
c a u s a n d o p re ju z o s ta n to s p a rte s q u a n to a terceiros.
2 2 5
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D I R C E U G A L D IN O C A R D IN
O u tr o p r o b le m a q u e e n v o lv e a lg u n s d o s m e m b ro s d o M P d iz re s p e ito s
re a s d e re s e rv a florestal legal. O s a g ric u lto re s t m v e r d a d e ir a a v e rs o p o r tais
reas, p o r q u e a q u e le s a g e n te s m in isteriais, n a p r tic a , e x ig e m q u e eles as d e
m a r q u e m e as d e ix e m e m re g e n e ra o , in to c a d a s, o q u e im p e d e o s e u m an ejo
s u ste n t v e l. O ra , isso re s trin g e ex c e ssiv a m e n te a p r o d u o d o agric u lto r. Se for
a d e q u a d a m e n te o rie n ta d o p e lo M P , ele p o d e , n a q u e la s reas, o b te r re n d im e n to
c o m m a d e ira . N o se c o n fu n d a reserva florestal legal com re a d e p re se rv a o
p e r m a n e n te (ex em plo , m a ta ciliar), cuja fu n o ecolgica b e m c o m p re e n d id a
p e lo a g ric u lto r, q u e d ela c u ida. O q u e ele n o c o m p re e n d e p o r q u e o b rig a d o
a fazer a q u e la re s e rv a e m terra agricultvel.
A lg u n s m e m b ro s d o M P c o n fu n d in d o rea d e p re s e rv a o p e r m a n e n te (que
in te g ra a p o ltica am b ie n ta l) c o m re a d e re se rv a florestal legal (qu e poltica
agrcola), n o le v a m e m co n ta q u e esta p o s s u i fin a lid a d e s ilv ic u ltu ra l e q u e dela,
a tra v s d e p ro je to d e m a n e jo flo restal s u s te n t v e l, o a g ric u lto r p o d e e x tra ir
m a d e ira .
E m v e z d e a p o n ta r essa a lte rn a tiv a d e re n ta b ilid a d e fin an ceira, a lg u n s a g e n
tes m in iste ria is tr a ta m as re a s d e re se rv a florestal legal c o m o se fo sse m reas
d e p re s e rv a o a m b ie n ta l. C o n seq n cia: p e lo d e s m a ta m e n to q u e se verifica e
p e la falta d e o rie n ta o tcnica d esses agen tes, q u e n o in te r p r e ta m a d e q u a d a
m e n te o o r d e n a m e n to ju rd ic o , e m b re v e fa lta r m a d e ira . Q u e m r e s p o n d e r
p o r esses e rro s d e in te rp re ta o e p ela aplicao e rr n e a d a lei?
N in g u m n e g a q u e o M inistrio Pblico d e v e te r o s p o d e r e s q u e a C o n s titu i
o lh e o u to rg o u , a g in d o d e n tr o d a s a trib u i es " q u e a lei lh e c o nfere, se m ile
g a lid a d e , d e s v io o u a b u s o d e p o d e r o u d e finalidade"^*' . O q u e n o se p o d e
a d m itir q u e a lg u n s d e se u s m e m b ro s aja m com o se fo ssem u m " s u p r a p o d e r " ,
acim a d e q u a lq u e r a u to r id a d e , acim a d a lei, e c o m im u n id a d e q u a n to s su a s
ir r e s p o n s a b ilid a d e s fun cion ais, c o m o a in d a se v o c o rre r n o Brasil.
O u tro ra , m u ito s po lticos m a lv e rs a v a m os re c u rso s p b lic o s, in c lu siv e ap ro p r ia n d o -s e d e v a lo re s e x p re ssiv o s, e a s o c ie d a d e d e u to tal a p o io ao M P p a ra
c o m b at-lo s, p o r q u e a c o rru p o e ra a s su sta d o ra . A g ora, a lg u n s m e m b ro s do
M P q u e a g e m irre s p o n sa v e lm e n te , e m d e trim e n to d a p r p r ia in stitu io , p o r
q u e a d e n ig re m .
A s o c ie d a d e d e v e ficar passiva?!
D E S A F I O S D A C ID A D A N IA
E sse d is p o s it iv o e sta b e le c e o p r in c p io d o p o l u i d o r - p a g a d o r ( q u e m p o
lu i u d e v e a r c a r c o m o n u s p e la p o lu i o ), e e le q u e d e v e s e r a p lic a d o ,
a f a s t a n d o a a p lic a o d o a rtig o 37, 6, q u e e s t n o c a p tu lo d a a d m i n i s t r a
o p b lic a . A li s, r e g r a e le m e n ta r d e h e r m e n u ti c a q u e a n o r m a e s p e c fi
ca a fa s ta a g e ra l.
A b s u r d a m e n te - e to d a in te rp re ta o d e v e e v ita r o a b s u r d o {Interpretntio illa
sum endn cst q m e vifeteiir absurduin) - , e m v e z d e se r c o n d e n a d o o p o lu id o r , q u e m
O IR C E U G A L D I N O C A R D IN
D E S A F IO S D A C I D A D A N I A * 2 2 9
ac u sa m , a m b o s ju lg a m , a m b o s c o n d e n a m . E o p rin c p io d a p r e s u n o d e in o
cncia a r r e m e s s a d o a o espao.
F r e q e n te m e n te , m u ito te m p o d e p o is, o P o d e r Ju d ic i rio in o c e n ta o a c u s a
do. M a s p u b lic a m e n te este j e s ta v a c o n d e n a d o . E o c o rre u m a a g ra v a n te : o juiz,
e m b o r a te n h a a p lic a d o a d e q u a d a m e n te a lei, ta m b m a cab a fic a n d o m a c u la d o ,
p o r q u e m u ito s a c h a m q u e o ju lg a m e n to n o foi ju sto , im parcial... P o rta n to , o
a c u s a d o c o n tin u a c o n d e n a d o e o ju iz p a s s a a s-lo, v is to q u e a v e r s o a p r e s e n ta
d a p e lo M P, p o r in te rm d io d a m d ia , h a v ia c ria d o ra z e s n a m e n te d a s pessoas.
P ara to rn a r efetivo o m e n c io n a d o artigo 5", X, d a C o n stitu i o Federal, in d is
p e n s v e l q u e o a c u s a d o ten h a o direito a m p la defesa ta m b m n o p ro c e d im e n to
in v estig at rio e n o p rocesso a d m in istra tiv o civil o u p e n a l q u e c o n tra ele seja ins
ta u ra d o . A l m disso, jam ais se p o d e ria ajuizar u m a ao civil p b lica o u d e im
p r o b id a d e sem q u e a via a d m in istra tiv a tivesse sid o e x a u rid a , e n e m o p ro c e d i
m e n to in v e stig a t rio n e m o p ro c e sso a d m in is tra tiv o p o d e r ia m se r d iv u lg a d o s.
A lg u n s m e m b r o s d o M in istrio P blico, n a n sia d e s e n sa c io n a lism o , assim
q u e c o m e a m a in v e stig a o j le v a m o fa to a o c o n h e c im e n to d a im p r e n s a ,
d e s e n c a d e a n d o o lin c h a m e n to m o ra l d o acu sa d o .
N o se p o d e e sq u e c e r o q u e d iz a Lei d e E xecuo Penal:
2 3 0
D iR C E U G A L D IN O C A R D IN
in a d m iss v e l q u e , a p re te x to d e d e fe n d e r a so c ie d a d e , m u ito s r e p r e s e n ta n
tes d o M P c o m e ta m ta n to s a b u so s, to rn a n d o -s e a lg o z e s d e p e s s o a s h o n ra d a s .
T a n to isso v e r d a d e , q u e a S u b p ro c u ra d o ra d a R e p blica, D elza C u rv e llo R o
cha, c o rro b ora: " O Ju d ic i rio p e r d e u su a funo. H oje, a a c u sa o se faz p o r
m e io d a m d ia , s e m p ro v as".^^
A lei con fe riu atrib u i e s a o s m e m b ro s d o M in ist rio P blico, m a s n o os
im p e d e efic a z m e n te d e c o m e te r a b u so s, ta n to q u e m u ito s d eles ficam a lim e n
ta n d o a m d ia c o m notcias, a in d a q u e n o sejam v e rd a d e ira s . p re c iso corrigir
u r g e n te m e n te tal situao.
A m d ia d e v e c u m p r ir co m eq u ilbrio e re s p o n s a b ilid a d e s e u re le v a n te p a p e l
d e d e n u n c ia r, criticar e a p r e s e n ta r su g e st e s poltico-sociais, p a r a q u e h aja a p r i
m o r a m e n to d o re g im e d e m o c r tic o . M ais q u e isso: p re s e r v a r os v a lo re s h u m a
n o s e d e fe n d e r a lib e rd a d e ten a z m e n te .
2' G uerra n a P ro cura d o ria . In Veja, 16 de agosto de 2000. Disponvel em: http://veia.abril.com.br/
16Q80G/P Q42.html. acessado em 20 de maio de 2003.
MIRANDA, Darcy Arruda. C o m e n t rio s L e i d e Im prensa. 3. ed. So Paulo: Revista dos Tribunais,
1995, p. 508-509.
D E S A F IO S DA C I D A D A N I A 2 3 1
M o n te s q u ie u , re s p a ld a n d o - s e e m A rist teles, d e m o n s tr a q u e m e s m o os p o
v o s a n tig o s s e m p r e p r o c u r a r a m p re s e rv a r o p rin c p io d a inocncia:
232
O IR C E U G A L D IN O C A R D IN
O p r in c p io d a in o c n c ia d e v e se r ir r e s tr ita m e n te o b s e r v a d o , a fim d e se
efetiv ar o re sp e ito d ig n id a d e d o cid ad o .
Apelao Cvel n- 594.155,061. In A D V , B o le tim S e m a n a l n 15, fechamento em 11 de abril de 2001,
p. 234.
D E S A F IO S DA C ID A D A N IA
Acidente de trnsito. Rodovia. Culpa da vitima, O b lig a tio a d d ilig e n tia m exclusiva do pedestre. Em
se tratando de atropelamento em rodovia de trnsito rpido, com velocidade mxima de 80km/h,
ainda que o evento pudesse ter sido evitado se o condutor guiasse seu carro em menor velocidade,
no pode ele ser responsabilizado, pois a oW/ga/o a d d itig e n tiam se transere para o pedestre, a
quem cabe tomar todas as cautelas para a travessia das pistas, (Ap. Cvel 29,461, 1- Cm. do
Tribunal de Alada de Minas Gerais, de 11.10.1985, n RT 614/194),
2 3 4
D IH C E U G A L D IN O C A R D IN
e m p e r m e tr o u r b a n o . C o n tu d o , p a r a d o x a lm e n te , n e s s e m e s m o p e r m e tr o o
p e d e s tr e n o te m a prefe r n c ia q u e d e v e ria ter. P o r exem p lo; o n d e n o h s e m
foro, m a s faixas b ra n c a s , se o p e d e s tre c o m e a r a a tra v e ss a r a ru a , o m o to rista
d e v e p a r a r o vecu lo , p a r a q u e ele te rm in e a travessia. Essa n o r m a rig o ro sa
m e n te o b s e r v a d a e m m u ito s p a s e s d o exterior. N o Brasil, e m tal situ a o , o
p e d e s tr e m u ita s v e z e s a tro p e la d o .
Q u a n d o ser q u e , n a s c id a d e s, o p e d e s tre re a lm e n te ter p re fe r n c ia sobre
os c o n d u to r e s d e veculos?
3.24 VELOCIDADE
N a s c id a d e s g r a n d e s os v eculo s so a rm a s v elozes, e o s m o to ris ta s so sol
d a d o s q u e v iv e m e m c o n tn u a g u e rra . S o m e n te n o sa b e m p a r a o b e m d e q u e
esto g u e rre a n d o ...
C o m m u ita p r o p r ie d a d e , afirm a S a n d ra C avalcanti:
N o s s o motorista, e m geral, e s t s e m p re e m g u e rra . S e o outro piscar a
luz, p ed in d o p a ra entrar, e le n o d eixa. S e o outro s (!) e s t a 8 0 k m e m
p le n a c id a d e , e le cola e m s u a traseira, a c e n d e n d o os faris ou b u z in a n
do, exigin do q u e e le d e s a p a r e a ... S e o outro p ra por a lg u n s instantes,
p a ra d e ix a r e n tra r ou sair u m a p e s s o a idosa, c o m dificuld ades, e le fica
por trs, a z u c rin a n d o . E, s e for possvel, u ltrap a s sa p e la direita, contra
to d a s a s n o rm a s d e s e g u ra n a .
D E S A F IO S DA C ID A D A N IA
3.25 PEDGIO
" O p e d g io ro u b o !" - d iz o c id a d o . O p e d g io a so lu o !" - d iz o
g o v e rn a n te .
"O p ed gio , c o m o re m u n e ra o pelo uso d e rodovia, n o peculiaridade
brasileira, n em e xperin cia de nossos dias. D o latim
pe 0 p, p re n d e -s e a o italiano
pedaticum , ond e se
2 3 5
D IR C E U G A L D IN O C A R D IN
3.26 FILAS
A fila u m a fo rm a d e o rd e n a o social e m q u e , e m locais d e g r a n d e a flu n
cia, se a s se g u ra a q u e m c h e g o u a n te s o d ire ito d e re c e b e r a n te s u m servio. Ela
e v ita priv il g io s, e p o r isso os "fu ra-filas" so visto s c o m a n tip a tia , at m e sm o
c o m in d ig n a o .
A ssim s e n d o , q u a lq u e r estab e le c im e n to te m o d ire ito d e u tiliz a r a fila p a r a o
a te n d im e n to d e s e u s clientes. T o d a v ia , ele n o p o d e a b u s a r d e s s e d ire ito , com
225 No Paran, as estradas oficiais simplesmente passaram a ser exploradas por empresas concession
rias, que passaram a cobrar pedgio mesmo sem grandes investimentos. 0 que deveria ter sido feito
era a construo de estradas alternativas pelas concessionrias. As estradas oficiais continuariam
sendo utilizadas pelo cidado que no quisesse utilizar as pedagiadas. Concluso: o pedgio, que
deveria ser optativo, tornou-se compulsrio, devido inexistncia de estradas alternativas.
" H pedgios em nica pista, contudo o cidado paga o mesmo preo que nos pedgios de duas pistas.
No Paran h pedgios com distncia de apenas aproximadamente 25 quilmetros entre um e outro,
quando, no minimo, deveria ser de 100 quilmetros.
D E S A F IO S D A C I D A D A N I A ! 2 3 7
N o se p o d e e s q u e c e r q u e a p r p r ia C o n stitu i o F e d e ra l se p r e o c u p o u com
a cidada?iia (art. 1", II) e a dignidade da pessoa h u m a n a (art. 1, III).
A s lo n g a s filas, q u e im p lic a m d e m o ra n o a te n d im e n to , v io le n ta m tais p r e
ceitos con stitu cio n ais.
38
D IR C E U G A L D IN O C A R D IN
O s g o v e r n a n te s d e v e m in c e n tiv a r o s u r g im e n to d e d is tr ito s o u p e q u e n a s
c id a d e s a certa d ist n c ia d a s g ra n d e s c id a d e s (p o r e x e m p lo , n u m raio d e 30 a
100 q u il m e tro s), c r ia n d o p lo s in d u stria is. C id a d e s id e a is s o a q u e la s q u e te
D E S A F IO S O A ,C ID A D A N IA
N o h a v ia d e m a n d a q u e justificasse a c o n c e n tra o d e m o n ta d o ra s , e
a in d a m a is , re c e b e n d o e n o rm e s subsdios. O s p rotocolos firm a d o s com
e s ta s fb ricas c o n tin u am s e n d o u m a c a ixa p re ta , p o rq u e o g o v e rn o s e m
pre se recusou a d ivu lgar opinio pblica o m o n ta n te dos recursos p
b licos investidos. C o m o fe c h a m e n to d a C h ry s le r t a m b m os fo rn e c e d o
res d e p e a s , os c o m p ra d o re s de ve cu los e os fun cio n rios s e r o le s a
dos. Q u e m vai p a g a r os m ais d e R $ 1 0 0 m ilhes q u e o g o v e rn o p a ra n a e n s e
d o o u C h ry s le r p a ra q u e e la se in s ta la ss e e m C a m p o Largo?"^^
Essa notcia foi publicada pelo gabinete do senador Osmar Dias, intitulada: O sm ar Dias d iz que
2 3 9
240
D IR C E U G A L D IN O C A R D IN
S e g u n d o esse s e n a d o r, n u n c a h o u v e p o r p a r te d a s m o n ta d o r a s c o m p r o m is
so c o m a p o p u la o p a ra n a e n se :
P a ra o s e n a d o r, to d o s os c o n tra to s c o m as m o n ta d o r a s d e a u to m v e is d e v e
ria m s e r revistos:
Idem.
Idem.
D E S A F IO S D A C ID A D A N IA
3.29 HIPERMERCADOS
N a Itlia, a Lei Bersani re strin g e a instalao d e h ip e rm e rc a d o s. N o tem os
conlnecim ento d e lei se m e lh a n te n o Brasil. P o d e se r q u e a lg u m m u n ic p io te n h a
d e s p e r ta d o p a r a o te m a e e fe tu a d o a n o rm a tiz a o .
A in sta la o d e u m h ip e r m e r c a d o te m efeitos p o sitiv o s e n e g a tiv o s p a r a o
m u n ic p io e m q u e ele se localiza.
D e n tre o s p o sitiv o s, p o d e m ser citados: a tra o d e c o n s u m id o r e s d e c id a d e s
v iz in h a s , a rre c a d a o d e im p o sto s e m benefcio d a c id a d e , p re o s m ais a tra e n
tes p a ra os c o n s u m id o r e s e m a io r c o m o d id a d e p a ra estes.
D e n tre o s n e g a tiv o s, p o d e m se r cita d o s p rin c ip a lm e n te o e n c e rra m e n to das
a tiv id a d e s d e e m p r e s a s d e p e q u e n o p o rte e a c o n s e q e n te r e d u o d e v a g a s de
e m p re g o .
A s g r a n d e s r e d e s so d e s ig n a d a s p o r espec ia lista s e m varejo c o m o category
killers: " m a ta m " d e te r m in a d a s categ o rias d e com rcio, q u e n o c o n s e g u e m c o n
2 41
42
D IR C E U G A L D IN O C A R D IN
3.30 TRANSPORTES
E m a lg u n s p a s e s d a E u ro p a e d a A m rica h o s tren s-b ala, e n a C h in a se
im p la n to u o s iste m a fe rro virio d e lev itao m a g n tic a (M aglev), q u e a in d a
m a is a v a n a d o . E n s a in d a c o n v iv e m o s c o m tre n s a n tiq u a d o s , v e r d a d e ir a s
su catas.
O Brasil p re c isa u r g e n te m e n te d e s p e r ta r p a r a d o is m e io s d e tra n s p o rte ; o
fe rro v i rio e o fluvial. E n o a p e n a s c o m o fonte d e d e s e n v o lv im e n to , m a s ta m
b m c o m o fo rm a d e alocar m o -d e-o b ra.
D E S A F IO S DA C ID A D A N IA
O s p re o s d o s fretes s o ele v a d o s, e n c a re c e n d o os p r o d u to s a o c o n su m id o r.
C o m a q u e le s m e io s d e tra n s p o rte , h a v e r m a io r circ u la o d e riq u e z a s, com
m e n o r cu sto e m a io r r a p id e z , p rin c ip a lm e n te q u a n d o a d ist n c ia for c o n s id e r
vel. Basta im a g in a r o te m p o q u e ga sta u m c a m in h o p a r a ir d o Rio G r a n d e d o
Sul at o Rio G r a n d e d o N o rte , c o m p a ra d o a o q u e g a s ta ria u m trem -bala...
P o r o u tr o la d o , o Brasil, q u e u m d o s p a se s m a is ricos e m rios, n o tra n s
fo rm a os p rin c ip a is e m n a v e g v e is, s e q u e r fa z e n d o a in te rlig a o d e g ra n d e s
rios.
E m d e c o rr n c ia d isso , ficam os na d e p e n d n c ia d e m u ltin a c io n a is p a r a a a q u i
sio d e d iv e rso s p r o d u to s , in clusive veculos, a l m d e d e p e n d e r d o p e tr leo
im p o rta d o .
A po ca d o colo n ia lism o ingls, e ra m e n v ia d a s a o s p a se s d o m in a d o s p e s s o
a s e n c a r r e g a d a s d e e v ita r q u e eles progredissem^--*. A tu a lm e n te , a l m d o s "q u in ta s-c o lu n a s", h a u tiliz a o d a m dia p a r a m a n ip u la r in fo rm a e s e d iv u lg las d e a c o rd o c o m a co nv e n i n c ia d e in teresses alieng en as.
P erceb e-se isso n o Brasil: p ro je to s q u e p r o p ic ia r ia m d e s e n v o lv im e n to so
e n fo c a d o s p ela m d ia sob asp ecto s n e g a tiv o s e fo rte m e n te criticados, at m e s
m o so b p re te x to d e d efesa d o m eio am bien te. Foi o q u e o c o rre u c o m as h id ro v ia s
A ra g u a ia -T o c a n tin s e P a ra n -P aragu ai.^^
T a m b m foi d ito a o p o v o b ra sile iro q u e a floresta a m a z n ic a e sta v a se n d o
d e s tr u d a e q u e era p re c is o fixar em 80% a re s e rv a florestal legal n a q u e la re
gio. C o n tu d o , o n d e h re se rv a legal d eve-se fazer o m a n e jo s u s te n t v e l, p a r a
q u e a floresta s e m p r e se re n o v e , p o is floresta e n v e lh e c id a ta m b m re p re se n ta
a g re ss o ao m e io a m b iente.
3.31 TROTE
O tro te d e v e ria se r u m a m a n ife sta o d e ale g ria , d e p o is d e ta n to esforo
pela a p ro v a o n o v estib u lar.
T o d a v ia , e m g r a n d e n m e r o d e in stituies o b se rv a m -se e xag eros, inclusive
m a n ife sta e s d e s a d ism o , d e q u e ch e g a m a re s u lta r at m e s m o m o rte s, c o m o j
n o tic io u a m d ia.
Veja-se, por exemplo, o romance 0 a m e rica n o tranqilo, de Graham Greene.
^ Ver a denncia Mfia verde; 0 ambienfalismo a s e rv i o do g o v e rn o m u n d ia l Rio de Janeiro: E)R,
2001, escrito por uma equipe de investigadores da revista EXECUTIVE INTELLIGENCE REVIEW
(EIR).
2 4 3
!4 4
D IR C E U G A L D IN O C A R D IN
3.32 PRO-LCOOL
U m d o s m e lh o re s p ro je to s b rasileiro s foi o P ro- lcool (P ro g ra m a N ac io n a l
d o lcool).
O e stm u lo fabricao e ao u so d e vecu lo m o v id o e x c lu siv a m e n te a lcool
d e v e ria ter sid o m a n tid o , d e v id o s v a n ta g e n s p a r a o m e io a m b ie n te , projeo
d a in d s tr ia a u to m o b ilstic a b rasile ira n o c en rio in te rn a c io n a l, d u r a b ilid a d e
d o m o to r e a o p re o p a r a o c o n su m id o r.
D ife re n te m e n te d o lcool, a gaso lin a e o leo diesel so a lta m e n te p re ju d ic i
ais ao m e io a m b ie n te . P o r esse m o tiv o , o e m p r e g o d a q u e le c o m b u stv e l g e ro u
ex p e c ta tiv a s o tim ista s n o exterior.
D e p o is d e forte im p u ls o d o g o v e rn o e d e g r a n d e aceitao p e lo s u su rio s , o
p r o g r a m a foi a b a n d o n a d o . M ais u m a vez interesses a lie n g e n a s p re v a le c e ram .
a lta m e n te re le v a n te re a v iv a r tal p r o g r a m a , n o s n o in te re s se d o s c o n s u
m id o re s e d o p as, m a s ta m b m d a p r p r ia " s a d e " d o p la n e ta .
3.33 PRIVATIZAO
A g lo b alizao d a ec o n o m ia est im p o n d o a p riv a tiz a o d a s e m p re s a s p
blicas.
P ara q u e a p riv a tiz a o n o o corra in d is c rim in a d a m e n te , p reciso sa b e r qu ais
s o as a tiv id a d e s e m q u e p re v a le c e o in te re sse p b lic o e q u a is so a q u e la s e m
q u e p re v a le c e o p riv a d o .
Essa a lin h a d e m a rc a n te , q u e d e v e se r o b s e rv a d a p a r a se s a b e r q u a is as
e m p re s a s q u e d e v e m s e r p r iv a tiz a d a s o u no.
N o d e v e m se r p riv a tiz a d a s as e m p re s a s cujas a tiv id a d e s v is a m ao b e m co~
D E S A F IO S DA C ID A D A N IA
m u m , c o m o a q u e la s q u e se d e d ic a m ge ra o d e e n e rg ia eltrica. Se isso o co r
rer, in d ir e ta m e n te se e sta r p r iv a tiz a n d o u m b e m d e m a io r in te re sse p b lico
q u e a e n e rg ia eltrica: a g ua.
O s ro m a n o s tin h a m ra z o q u a n d o d iz ia m ; In medio v irtu s (N o m eio est a
v irtu d e ). D e fato, n o se d e v e p riv a tiz a r to d a s as e m p r e s a s p b lic a s, m a s ta m
b m n o se d e v e tra n s fo rm a r e m p b lic a s to d a s as e m p re s a s cujas a tiv id a d e s
a te n d a m d e a lg u m a fo rm a aos in te re sse s d a so cied ad e.
O q u e se im p e certa sa b e d o ria e m estab elecer o d iv is o r d e g u a s , p a r a q u e
o E s ta d o n o p e rc a to ta lm e n te se u p o d e r d e a u to g o v e r n a n a , n e m fiq u e c o m
p le ta m e n te e s v a z ia d o d e a tiv id a d e s essenciais a o b e m c o m u m . Se os interesses
p r iv a d o s p re v a le c e re m , e sm a e c e r a p r p r ia fin a lid a d e d o E sta d o - o b e m -e sta r
d a c o letiv id ad e.
N o se d e v e im p e d ir q u e e m p re s a s p a rtic u la re s se d e d iq u e m , p o r ex em p lo ,
p r o d u o d e e n e rg ia eltrica, ao fo rn e c im e n to d e g u a tr a ta d a e s te le c o m u
nicaes. A lis, a t m e s m o in te re ssa n te q u e isso oco rra, p o r q u e a c o n c o rr n
cia ev ita o a c o m o d a m e n to d a s e m p re sa s estatais, p ro p ic ia n d o m e lh o re s se rv i
os e m e n o re s preos.
N o s E sta d o s U n id o s a d o ta -s e o operating contract, n o q u a l o g o v e rn o c e d e a
u m a e m p r e s a p r iv a d a a g esto d e u m a d e te r m in a d a u n id a d e o p e ra tiv a , m e d i
a n te r e m u n e r a o e re e m b o ls o prefix ad o s.
N a F ra n a , foi a d o ta d o com su cesso o siste m a d a co-gesto: o p a tr im n io
p b lic o , m a s o s a d m in is tr a d o r e s so p ro fis sio n a is in d e p e n d e n te s , a lta m e n te
q ualificad os. O E s ta d o estabelece m e ta s, p ra z o s, c o m p ro m is so s, objetivo s soci
ais o u econ m ico s, e a e m p re s a g e rid a c o m total a u to n o m ia . C a so n o se c u m
p r a m as c o n d i e s c o n tra tu a is, re v o g a -se o c o n tra to e celeb ra-se u m o u tro , com
n o v o s a d m in is tr a d o r e s . A EDF (lectricit d e F rance), p o r e x e m p lo , g e rid a
p o r c o n tra to d e g e st o e u m a d a s m e lh o re s c o rp o ra e s m u n d ia is d o setor
eltrico.
N o p o d e m o s n o s e s q u e c e r d o q u e o c o rre u n a C alif rnia. E m 1994, a C o m is
so d e U tilid a d e s P b licas d e sse e sta d o a m e ric a n o e n te n d e u q u e os c o n s u m i
d o re s p o d e r i a m e sc o lh e r se u s fo rn e c e d o re s d e e n e rg ia , e c o m isso os p re o s
b a ix a ria m , d e v id o com petio.
O s r e s u lta d o s fo ra m d esastro so s:
2 4 5
246
D IR C E U G A L D IN O C A R D IN
Isso se d e v e u e m p a r te d ra m tic a r e d u o d a m a n u te n o , o q u e a u m e n
to u as falh as n a s u sin as.
O q u e n o se p o d e a fa sta r to ta lm e n te o E sta d o d a g e r n c ia d o in teresse
p b lic o e d o b e m c o m u m .
3.34 INDIGNAO
U m d o s m a is e x p re s s iv o s e x e m p lo s d e in d ig n a o foi a re a o d e C risto
d e c o rre n te d a p ro fa n a o d o tem p lo. Rui B arbosa, n o d isc u rs o Orao aos M o
os, le m b ra o q u e re ssa lto u Pe. M a n o e l B ernardes:
FREEM AN, Marsha. Califrnia reverte desregulamentao eltrica. In B o le tim p u b lic a d o p e la S o lid a
rie d a d e Ib e ro-A m e rican a , 1* quinzena de fevereiro de 2003, p. 14.
D E S A F IO S DA C ID A D A N IA
p o te s t.^^^
3.35 EXRCITO
O E xrcito p o d e r d a r u m g r a n d e c o n trib u to ao m o v im e n to e m d efesa da
c id a d a n ia e a c e le ra r a s u a e stru tu ra o e im p la n ta o p a u la tin a s.
C o m o o Brasil n o se e n v o lv e d ire ta m e n te e m con flitos a r m a d o s in te rn a c io
nais, o E xrcito p o d e r ia se r m a is b e m a p ro v e ita d o , a u x ilia n d o , d e ssa fo rm a, na
c o n stru o d e u m a s o c ie d a d e e m q u e haja re sp e ito c id a d a n ia .
O s m e m b ro s d o E xrcito p o s s u e m c iv ism o s u p e rio r ao d o hom o mediiis. T o
d a v ia , s u a c a p a c id a d e n o est se n d o a p r o v e ita d a p e la s o c ie d a d e . Eles p o d e m
fazer m u ito p o r ela, p e la d is p o n ib ilid a d e d e te m p o e p e lo se n s o p a tri tic o e
cvico. P o s s u e m p le n a s co ndies; ba sta h a v e r u m a c o n v e rg n c ia d e a tu a o
n u m d ire c io n a m e n to s o c ie d a d e , co m o u m to d o , p o r m n o e st o s e n d o d e v i
d a m e n te a p r o v e ita d o s , c o m o se v iv e s s e m n u m a n a o p a r te . im p e ra tiv o
BERNARDES, Manuel. Luz e calor. /4pud BARBOSA, Rui. D iscu rso s, o ra e s e confe r n cias. 4. ed.
So Paulo: Edigraf S.A., 1972, p, 411.
148
D IR C E U G A L D IN O C A R D IN
3.36 EDUCAO
O g o v e rn o b ra sile iro p re c isa , u rg e n te m e n te , p r e o c u p a r-s e m a is c o m a e d u A Estrada de Ferro Paran Oeste S.A. (FERROESTE), no trecho de Guarapuava (PR) a Dourados
(MS), com ramificao para Foz do Iguau (PR), divisa com Paraguai e Argentina, foi executada em
parceria com o Exrcito. Ver maiores informaes sobre obras que tiveram a participao do Exrcito
no s ite <hittp;//vmw.exercito.gov.br/060Ms/Diretori/doc/destaque.htm>.
D E S A F IO S DA C ID A D A N IA
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2 5 0
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in telectual e c u ltu ra lm e n te estril. M u ito s p ro fesso res q u a n d o p r o c u r a r a m e d u clo p o r m e io d a d isc ip lin a so c e n s u ra d o s p ela D ireto ria. O a n a r q u is m o im pera.
O caos instala.
A filosofia, q u e ex e rc e u influncia m a rc a n te n o p e n s a m e n to h u m a n o , d e v e
v o lta r a se r e s tu d a d a , p a ra q u e n o haja a d ita d u r a d a tecnologia:
E n t o , fa z -s e p re m e n te a p e rg u n ta q u e d e s d e o p rin c p io n o s p re o c u p a ;
h , n o m u n d o d e h o je . u m lu g a r p a ra filo s o fia ? e s e h , q u e filo s o fia ,
q u a l s u a ta r e fa ? ^*
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D IR C E U G A L D IN O C A R D IN
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"As g ra n d e s u n iv e rs id a d e s a m e ric a n a s t m m a is d e 8 0 % d o o r a m e n to
c ob erto p elo Tesouro, Afinal, a n a o g e s ta d a d en tro d a u n iv ersidad e.
S o b re v iv e e s e a p e rfe i o a e m g ra n d e p arte a tra v s d a s univ e rs ida d e s .
U m a b o a u n iv e rs id a d e custa caro, m a s g a ra n te re s u lta d o s c o n cretos. Por
e x e m p lo : a te c n o lo g ia d e o f f s h o r e , q u e d e u a lid e r a n a m u n d ia l
P e tro b ra s , surgiu na C o o rd e n a o d e P ro g ra m a s d e P s -G r a d u a o e m
E n g e n h a r ia (C o p p e ), d a U F R J . 0 s is te m a d e s e n s o re a m e n to d e leo,
m o d e la r no m u n do , tam bm ",
Apud RNAI, Paulo. D ic io n rio u r)iversal d e cita e s. So Paulo; Circulo do Livro, 1985, p, 289,
* * CONTREIRAS, Hlio. Q u a se u na n im id a de . In Isto ", 27 de maro de 2002, p. 12.
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D E S A F IO S D A C ID A D A N IA
T a m b m a d e m o c ra c ia poltica -
u m a d e m o c ra c ia c o m p a tv e l c o m um
O s m a is p o b r e s n o c o n s e g u e m acesso s u n iv e r s id a d e s p b lic a s p o r q u e
Z'" ROMANO, Roberto. 0 caldeiro de Medeia: 0 problema da soberania popular, da soberania estatal e
das cincias, fioje. Texto disponvel na internet, a t r a v s do site h ttp : / / w w w . D a e . s p - Q o v . b r /
c e n t r0 d e e s tu d 0 s /re v is ta s p Q e /re v is la 2 /a rtiQ 0 l 1 .h im , acessado em 2 5 de abril de 2 0 0 4 ,
w ARANGUREN, Jos Lus L. tica e poltica. Traduo de Wanda Figueiredo. So Paulo: Duas Cida
des, 1979, p, 207-208.
2 5 6
D IR C E U G A L D IN O C A R D IN
p ra tic a m e n te n o t m te m p o p a ra e s tu d a r, p re c is a n d o tra b a lh a r p a r a so b re v i
ver, e n o p o d e m e s tu d a r n a s p a rtic u la re s, p o r q u e n o p o s s u e m co n d i e s fi
n a n c e ira s p a r a p a g -la s. O u e n t o e n c a m in h a m -s e s p a rtic u la re s p o r q u e nas
fa c u ld a d e s fe d e ra is p b lic a s , in g re s s a m o s u n iv e rs it rio s o r iu n d o s d e m e lh o r
n v el fin an ceiro e in telectual, u m a v e z q u e o nivel d o s p ro fe s so re s c m a is e le v a
do. E v id e n te m e n te q u e os p a is q u e r e m d a r o m e lh o r n v e l e d u c a c io n a l aos fi
lhos, e e n t o o e n s in o q u e d e v e ria se r c o b ra d o d a classe alta g ra tu ito , e o q u e
d e v e ria se r g ra tu ito p a r a a classe baixa p a g o . E sta m o s a g in d o n a c o n tra m o
d a h istria.
O h is to ria d o r n o rte -a m e ric a n o T h o m a s S k id m o re incisivo: " O p a s recorre
a f rm u la s e stra n g e ira s n e m s e m p re boas. O siste m a poltico n o Brasil d istrib u i
d in h e iro p a r a cim a, p a r a as classes m d ia e alta. A s u n iv e r s id a d e s p b lic a s so
u m su b s d io d o s p a g a d o r e s d e im p o sto s p a r a r i c o s " . ^
E n q u a n to se c o m e te m tais ag ress es a o b o m sen so , o s p o b re s e a s m in o ria s
raciais m e n o s fav o recid as, q u e d e v e ria m te r livre acesso s u n iv e r s id a d e s , fi
c am c a d a v e z m a is a b a n d o n a d o s .
In fring e-se fro n ta lm e n te o p rin c p io d e ig u a ld a d e c u n h a d o p o r Aristteles^^*
e le m b ra d o p o r R ui Barbosa:
A reg ra d a ig u a ld a d e n o consiste s e n o e m a q u in h o a r d e s ig u a lm e n te
a o s d es ig u a is , na m e d id a e m q u e s e d e s ig u a la m . N e s ta d e s ig u a ld a d e
social, p ro p o rc io n a d a d e s ig u a ld a d e natural, q u e s e a c h a a v e rd a d e ira
lei d a igualdade".^'
3.37 CIVISMO
R e sp e ita r o s sm b o lo s n a c io n a is n o d e v e r ex clu siv o d o s m e m b r o s d a F o r
as A rm a d a s , m a s d e to d o cidado .
D E S A F IO S D A C I D A D A N I A * 2 5 7
p e n s a m o s q u e re g i e s m a is ricas s e ria m m a is
b e m g o v e rn a d a s d o q u e as pobres. E x a m in a m o s a c o rre la o c o m a e d u
c a o . E m e s m o c o m a te m p e ra tu ra a o m e io -d ia , p a ra v e r s e h av ia re la
o e n tre efic i n cia dos g o v e rn o s e lu g a re s m a is o u m e n o s q u e n te s . C h e
2 5 8
D IR C E U G A L D IN O C A R D IN
A c o rre la o fu n c io n a ig u a lm e n te por e x e m p lo n a nd ia e n a C o r ia . R e
c e n te m e n te um c o le g a m e u fe z um e s tu do c o m p a ra n d o pro jetos d e irri
g a o n a C o r ia e na ndia. E le descobriu q u e n a s re a s c o m m a is c a p i
tal social, m a is a s s o c ia e s locais, m a is e n g a ja m e n to c vico , os s is te
m a s d e irrigao fu n c io n a m m elhor. E les s o m a n tid o s m a is e fic ie n te
m e n te pelos c a m p o n e s e s , e a agricultura m a is produtiva. A o contrrio,
e m re a s d a C o r ia e d a ndia o n d e a estrutura social m a is vertical, a
p ro du tiv ida d e m enor. O n d e a estrutura vertical, a coisa pblica n o
d e m in h a resp on s ab ilid a d e , d e le s - d a q u e le s q u e e s t o e m c im a . P o r
tan to, n o d e v o im p o rtar-m e c o m a irrigao, A p e rc e p o d a coisa pbli
c a c o m o as s u n to d e m tua resp on s ab ilida d e o q u e d istingue u m a r e a
d e alto e n g a ja m e n to cvico d e u m a d e estrutura v e rtical.^^^
3.38 GLOBALIZAO
P la t o d isse q u e era c id a d o d e A ten as, vista d o q u e Scrates afirm o u : Eii
sou cidado do m u n d o . T o d a v ia , a g lo b a liz a o a n i q u i l o u o s e n t i m e n t o d e
c o sm o p o litism o . O h o m e m , q u e d e v e se r c id a d o d o m u n d o , te r s u a d ig n id a d e
r e s p e ita d a e m q u a lq u e r na o , tra n s fo rm o u -s e e m u m se r m e rc a n tiliz a d o . E o
pior: h a e sc ra v iz a o d e to d a s a s naes a u m p o d e r central. F icam o s escrav o s
d e m o d e r n o s faras.
S e m p re h o u v e p o r p a r te d o s in telectu ais o s o n h o d e q u e o m u n d o fosse o lar
"
PUTNAM, Robert D.
D E S A F IO S D A C ID A D A N IA
2 5 9
2 6 0
D iR C E U G A L D IN O C A R D IN
m a is u m viveiro a b e rto , d o ta d o d e a m p lo e a re ja d o
D E S A F IO S DA C ID A D A N IA
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D IR C E U G A L D IN O C A R D IN
U m a u niv e rs id a d e n o e s t a s o m e n te p a ra d ip lo m a r profissionais.
T a m b m n o um o rg an is m o o n d e o p esso al d o c e n te p a g o te n h a a p e
n as o b rig a o d e c o m p a r e c e r s aulas, re p e tin d o v e lh o s tex to s surrad os,
p re e n c h e n d o form ulrios ou a s s in a n d o livro-ponto. U n iv e rs id a d e p ro
d u o c ientfica, intelectual, livro, p e s q u is a e con tribu io c o n s ta n te no
p ro ce s s o d e d es e n v o lv im e n to , convvio a m p lo d e esfo ro s individuais e m
b en e fc io d a cultura e d a coletividade, a q u e p erte n c e .
R e s s a lt a , a s s im , d e im p o r t n c ia , o n d e e s t lo c a liz a d a , a in flu n c ia
g e o e c o n m ic a q u e re c e b e e os resultados d e s s a influncia. E x e m p lo re
petido: u m a u niv e rs id a d e no A m a z o n a s n o d e v e p re s ta r os m e s m o s s e r
vios q u e u m a u niversidad e e m S o Paulo.
E v id e n te q u e e x is te m p on to s c o m u n s b s ic o s, s e m , p o r m , q u e e s te s
pontos a fe te m a n a tu re z a dos estu do s e d a s p e s q u is a s d e c a r te r local,
n acional ou universal, d e s ta c a n d o o h o m e m d o c e n te na e s p e c ia liz a o e
c a p a c ita o .
F o c a n d o o f e n m e n o d a cultura, no to c a n te tc n ic a ou ci nc ia , s se
tra n s m ite o q u e s e possui d e concreto. N o c a m p o d a p e s q u is a te m de
h a v e r c o n tin u id a d e e p ro cu ra d e s o lu es n o v a s . N a s c i n c ia s a p lic a d a s
im p o rtan te o registro m aterial dos es tu d o s re a liza d o s , a tra v s d e e n s a i
os, te s e s ou m o n og ra fia s , fixa n d o -s e um m o m e n to d o a v a n o intelectual.
A u n iv e rs id a d e d e hoje p re p a ra a u niversidad e d o a m a n h , s im p le s m e n te
tra b a lh a p a ra o futuro.
A o con trrio d a u niversidad e brasileira d e a g o ra , transitria nos p ropsi
tos e m al instru m e n ta d a , u m a u niv e rs id a d e t o e te rn a c o m o p o s s a ser
SOBRINHO, Manoel de Oliveira Franco. Op. cit., Universidades Carentes de Racionais Estruturas (II),
p. 47.
D E S A F IO S D A C ID A D A N IA
u m a N a o , t o e s t v e l ou p e rm a n e n te c o m o d e v a s e r a h u m a n id a d e .
E la povo p o rq u e s e rv e o povo, m a s n o fica povo p o rq u e cria v a lo re s de
lid e ra n a . Q u a n d o u m a u niversidad e n o p articip a ou n o te m con di es
d e p articip ao , a s crises internas s e a m p lia m tra n s fo rm a d a s e m outras
crises m uito m a is p erig o s a s p a ra a s o c ie d a d e p o ltica.
Ibidem , p. 14.
"
2 6 4
D IR C E U G A L D tN O C A R D IN
Ibidem , p. 26.
"
" MARTIN, Hans-Petter & SCHUMANN, Harald. A a rm a d ilh a da g lo b a liza o . 6. ed. So Paulo: Globo,
1999, p. 229.
D E S A F IO S D A C I D A D A N I A ! 2 6 5
N s n o lu ta m o s p a ra d e s tru ir, co m o fa z e m a lg u n s p o v o s , m a s d e v e m o s
c o m b a te r p a r a n o s salv ar. C o m isso, e sta re m o s re s p e ita n d o o s d ire ito s alheios,
m a s ta m b m e s ta m o s fa z e n d o c o m q u e re sp e ite m os nossos.
P ara o c o m b a te , in d isp e n s v e l a u n i o . D e v e m o s, e n t o , n o s le m b ra r d a s
grevfleas, q u e, q u a n d o p la n ta d a s e m fileiras e p r x im a s u m a s d a s o u tra s, se r
v e m d e p ro te o a d iv e rso s tip o s d e la v o u ra s, f u n c io n a n d o c o m o q u e b ra -v e n tos. E n tre ta n to , iso lad a s, elas n o re siste m s in te m p rie s. Secam.
P re cisam o s c ria r u m a s o c ie d a d e sa d ia em te rm o s glo b ais, c o m o p re c o n iz a v a
E rich F rom m :
A n te s d e m a is n a d a , u m a s o c ie d a d e n a qual n e n h u m h o m e m s e ja um
Ibidem , p. 239,
SZAJMAN, Abram, A reboque da globalizao, In B a lc o d e N o tcia s F C C E S P . de 22/5/2000 - News
Letter, n 175.
266
D IR C E U G A L D IN O C A R D IN
D E S A F IO S D A C ID A D A N IA
N o p o d e m o s n o s e s q u e c e r d o s p ro b le m a s q u e n o s a n g u s tia m , co m o analisa
F ran co Sobrinho;
268
D IR C E U G A L O IN O C A R D IN
D E S A F IO S OA C ID A D A N IA
riscos c o m o c io n a is . R e s ta , p o r m , a ns b ra s ileiro s , u m a e s p e r a n a ,
e m b o r a d is tante. N o a d e a d m inistrar o c a o s , m a s a d e a d m in is tra r a
e c o n o m ia . A s n a e s sub d e s e n vo lv id a s , p a ra n o t o m b a re m e m con v u l
s e s sociais, p o s s u e m dois cam inhos: um d e c o n s c i n c ia d a s possibili
d a d e s , o utro d e c o n scin cia d a s re s p on s ab ilida d e s.
C o m o v e m o s , o p rim eiro ec on m ic o. O s e g u n d o poltico. S e e n c o n
tra m o s a e n c ru z ilh a d a , tudo b e m . S e c o rre rm o s p a ra le lo s , tu d o certo.
M a s s e fa lh a rm o s no enc o n tro , a s p e rs p e c tiv a s fic a m s o m b ria s . T udo
p o rq u e , p elo m e n o s n e s te m o m e n to , a n a o d e p e n d e m a is d e solues
e c o n m ic a s q u e d e solues polticas.^
O s chefes d a s n a es p re c isa m c o m p re e n d e r q u e o s p o v o s d e to d o o m u n d o
d e v e m c o n stitu ir u m a g ra n d e fam lia, n o d e v e n d o h a v e r im p rio s, m a s esfo r
os c o m u n s, c o o p e ra o e n tre todos.
A h ist ria n o s m o stra u m a lio: to d a s a s n a es q u e se ju lg a v a m su p e rio re s
co m e a ra m a r u ir n o m o m e n to e m q u e p r o c u r a r a m d e m o n s tr a r su a p re te n s a
su p e r io r id a d e .
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4.2 Racionalizao
R ealiza-se u m le v a n ta m e n to d e to d a s as in stitu i es assistenciais. Verificase q u a is so aq u e la s q u e se d e d ic a m m esm a ativ id ad e, e p ro c u ra -se red irec io n a r
o se u tra b a lh o , a fim d e a te n d e r a seto res carentes. A lg u m a s fam lias recebem
m a is d e u m a cesta bsica, p o r q u e h d ifere n te s e n tid a d e s q u e p re s ta m tal assis
tncia, e n q u a n to o u tr a s n o re ce b e m n e n h u m a .
O a ssisten c ia lism o d e v e se r se m p re e n fo c a d o c o m o situ a o tran sit ria. A
rigor, o q u e in d is p e n s v e l p ro p ic ia r s p e sso a s co n d i e s d e e las p r p ria s
re so lv e re m os s e u s p ro b le m a s, re sta u ra n d o -lh e s a d ig n id a d e .
U m p o v o q u e c u ltu a o assisten cialism o est fa d a d o a e n tro n iz a r s e u p r p rio
fracasso, p o r q u e est s e p u lta n d o no p re se n te a g ra n d e z a d e u m fu tu ro . A lm
disso, far co m q u e a s p e sso a s n u n c a te n h a m su a p r p r ia d ig n id a d e , m a s fi
q u e m m erc d a s m ig a lh a s d o E stado. A p e n a s tira n o s u s a m d e ssa fo rm a s r d i
d a d e g o v e rn a r, p o r q u e se p e re n iz a m no p o d e r p elo q u e oferecem m a ssa ignara.
O c id a d o d e v e d e p e n d e r d o E stado, a p e n a s no q u e fo r e s trita m e n te n e c es
srio. O E sta d o e m q u e h m a io r p ro g re sso e d e se n v o lv im e n to e x a ta m e n te
n a q u e le e m q u e o p o v o m e n o s p re c isa e d e p e n d e dele. Este o E sta d o v e rd a d e i
ra m e n te rico.
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5 EPLOGO
A m aio ria d a s p e sso a s te m a v e rs o aos m orceg os. C o n tu d o , q u a n d o eles so
fru g v o ro s, fa z e m a p o lin iz a o d u r a n te a no ite. O a d e n s a m e n to d a floresta
a m a z n ic a se d ev e, e m g ra n d e p a rte , a esse trab alh o .
Eles t m u m c o m p o rta m e n to interessante: os m e m b ro s d o b a n d o c o lh e m os
frutos, le v a m a u m lu g a r coletivo e os colo cam n o solo, c o m o se fosse s o b re u m a
m esa, e se a lim e n ta m ju n to s, com o n u m b a n q u e te .
A ssim c o m o e m relao a tais m orcegos, p re c isa m o s s u p e r a r n o sso s p re c o n
ceitos c o n tra n o sso s irm o s, e com eles a p r e n d e r a p a rtilh a r; e m n o sso caso,
p a rtilh a r o p o d a d e m o c ra cia c o m a u t n tic a c id a d a n ia .
A d e m o c ra c ia - e isso visvel - est se a u to d e s tr u in d o . N o est s e n d o
c o n d u z id a p o r p rin c p io s e v alo res, m a s p o r in teresses m o m e n t n e o s o u d e g r u
po s, sem p ro jeto s e sem v is o d e fu tu ro . C o m a n d a -s e c o n so a n te a v o n ta d e de
q u e m e st n o p o d e r e n o d e a c o rd o c o m o in te resse p b lic o . D ecide-se p a ra
a te n d e r a g r u p o s m in o rit rio s e n o p a r a satisfazer a o b e m c o m u m . As decises
so to m a d a s te n d o p o r b sso la os in teresses d o g o v e rn o e n o o s d a nao.
O g o v e rn o to rn a -se te m p e ra m e n ta l e m su a s a titu d e s , fa lta n d o -lh e m e ta s e
p ro jeto s su b stan ciais, Ele d e v e ria ser a e x te n s o d o q u e deseja a nao ; c o n tu d o ,
fica-se a p e n a s n o c o n tin u s m o d e u m n a v io e m alto -m a r ao s a b o r d a s o n d a s , o u,
q u a n d o o u tro p a r tid o a s s u m e o p o d e r, d e stro e m -se b o n s p ro je to s o u so a r q u i
vados: m u d a m - s e os m sic o s, m a s a m e lo d ia p e rm a n e c e . s v ez e s, a lg u m a s
n o ta s co m u m p o u c o m a is d e colorido. E m d e c o rr n c ia d isso , o p o v o e sq u e c i
d o e m s u a s n e c e ssid a d e s bsicas, no s seus d ire ito s n a tu ra is e f u n d a m e n ta is , a
d em o cra c ia tra n s fo rm a d a e m g o v e rn o d a m in o ria , e a R e p b lica (res publica:
coisa p b lica ) p a ssa a se r p a trim n io d e p o u c o s. Ao p o v o , e m se u ro sto fica o
panes et circus, m a s, s costas, cam ufla-se o letal salve-se q uem puder.
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efetivar. D a m e s m a fo rm a, o m o v im e n to e m defesa d a c id a d a n ia n o se d e v e
v in c u la r a p a r tid o s , p o r q u e to d o s eles n a tu r a lm e n te te r o e ssa converg ncia.
C o m certeza, to d o s q u e re m o a p rim o ra m e n to d a d em o cra c ia e o b e m -e s ta r d o
p o v o , sem d e m a g o g ia .
Q u e m e stiv e r ctico q u a n to p o ss ib ilid a d e d e c o n s tru o d a d e m o c ra c ia
co m a u t n tic a c id a d a n ia d e v e lem b ra r-se d e q u e qiiem quer fa z , quem no quer cria
obstculos, o u co m o d isse m o s n a p o e sia "P rism a":
No so apenas os passos
que nos levam ao caminho,
no apenas o caininho
que nos co nduz ao cimo:
0
segredo est
na fo rm a de caminhar.
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ROBERTO BUSATO
Presidente do Conselho Federal da OAB