Homeostase e Ambiente Interno
Homeostase e Ambiente Interno
Homeostase e Ambiente Interno
Feedback positivo
A manutenção do ambiente interno é mantida pelas acções dos agentes efectores
para compensar as alterações que servem como estímulo de activação, através do
feedback negativo. O oposto ocorre durante o feedback positivo, neste caso, a acção
dos efectores amplifica a alteração que os estimulou. Por exemplo, um termóstato que
trabalhe com um feedback positivo diminui ainda mais a temperatura, em resposta a
uma diminuição da temperatura.
Obviamente, a homeostase deve ser mantida preferencialmente por controlo
negativo e não por feedback positivo. No entanto, a eficácia de alguns mecanismos de
feedback negativo está ligada a mecanismos de feedback positivo para amplificar a
acção das suas respostas. A coagulação sanguínea, por exemplo, ocorre como resultado
de uma activação sequencial de factores de coagulação; a activação de um factor de
activação leva à activação de muitos, numa cascata de feedback positivo. Nesta via, uma
simples alteração é amplificada para formar um coágulo sanguíneo. No entanto,
formação do coágulo previne a perda de sangue, assim representa um complemento do
feedback negativo para restaurar a homeostase.
3
Fig. 11 - Hipófise
Os iões mais importantes para a determinação de potenciais são: K+, Na+ e Cl-.
A Equação de Goldman mede a diferença de potencial:
A isto é chamado Potencial de Repouso, o que significa que a membrana não está
a ser estimulada (≈ -70 mV).
Por exemplo, se fizermos variar o PK ou o PNa, o potencial de membrana varia.
Assim como com a temperatura e com a concentração. A alteração do potencial de
membrana por alteração da permeabilidade é causada por canais eléctricos.
Nos potenciais graduais podem gerar potencial de acção, que vai passar todo o
axónio. Isso depende apenas da intensidade do estímulo, tem de atingir o potencial
limiar.
O potencial de acção só se dá no axónio
porque aí os canais são sensíveis à voltagem,
enquanto que nas dendrites e no corpo celular
os canais são sensíveis a estímulos (químicos e
mecânicos).
Nos canais sensíveis à voltagem há uma
cancela de activação que controla a passagem
de substâncias. A abertura da cancela é
Fig. 24 – Canal iónico sensível à voltagem activada por um sensor de voltagem.
Enquanto que o canal de potássio tem uma cancela, o de sódio tem duas:
activação e inactivação:
No início, é necessário um
estímulo eléctrico que vai fazer com
que a membrana saia do repouso.
1
Esse estímulo vai ser reconhecido
pelo sensor de voltagem que vai
influenciar a cancela de activação que
por sua vez vai activar a cancela que
inactivação (a cancela de inactivação
depende indirectamente da voltagem,
ao contrário da cancela de activação
que depende directamente) – fase de
rastreio. 2Posteriormente, a cancela de
activação também é activada,
deixando que o sódio entre na célula,
Fig. 25 – Regulação das cancelas dos canais iónicos.
gerando despolarização. 3Quando a
cancela de inactivação inactiva, o sódio não pode entrar na célula e, como o potássio
está a sair, há uma repolarização. 4A cancela de activação inactiva (fecha). No entanto,
como ainda há saída de potássio para o espaço extracelular, porque a cancela do
potássio é mais lenta a inactivar, o que vai aumentar o número de cargas negativas na
célula, criando uma hiperpolarização.
A informação dos estímulos tem de passar por várias células para poder chegar
SNC: pode haver uma rede neuronal, em que o neurónio recebe informação de vários
neurónios e/ou passa a informação para vários neurónios; ou então, pode haver um canal
único de neurónios, em que cada neurónio contacta apenas com outro neurónio e assim
sucessivamente.
Até ao princípio do século XX, pensava-se que a informação passava de neurónio
em neurónio apenas por sinapses eléctricas, onde as cargas eléctricas, sob a forma de
potenciais de acção, podem passar directamente de uma célula para outra através de
gap-junctions.
Mas em 1921, Loewi, fez uma experiência com dois
corações colocados em tinas diferentes, mas com contacto de
liquido banhante. Ambos os corações batiam a um determinado
ritmo cardíaco. Loewi estimulou o nervo vargus do coração 1,
que provocou uma diminuição do ritmo cardíaco deste.
No entanto, verificou-se que o ritmo do segundo coração
também diminuiu aquando da estimulação do nervo vargus do
coração 1. Como os corações apenas estavam a contactar
através do líquido banhante, concluiu-se que a informação do
estímulo passou através de mensageiros químicos para o
coração 2 e fez com
que este também
diminuísse o ritmo Fig. 29 – Experiência de Loewi.
cardíaco.
A este tipo de passagem de informação
chama-se sinapse química: quando o estímulo
chega à extremidade do axónio de um neurónio,
Tabela 1: Características das sinapses: eléctrica e química.
O facto de um receptor ser excitatório ou inibitório, não quer dizer que cause
apenas despolarização ou hiperpolarização, respectivamente.
Há substâncias, como a nicotina ou a muscarina, que quando se ligam a um
receptor conseguem desencadear a mesma resposta que a Acetilcolina. A estas
substâncias chama-se substâncias agónicas. Pelo contrário, as substâncias
antagónicas (como o curare e a atropina) ligam-se ao receptor e bloqueiam a sua acção.
É muito fácil afectar a transmissão nervosa e quer nós humanos, como os restantes
animais usam substâncias para regular o sistema nervoso (quer seja o seu ou o de outro
animal, predador ou presa). Por exemplo:
A toxina do botulismo (botax) é usada para reduzir as rugas de
expressão. Esta toxina bloqueia a exocitose da acetilcolina, por isso não
permite a contracção dos músculos que causam as rugas.
O curare é uma substância retirada da raiz das árvores e muito usada
pelos Índios para imobilizar as suas presas. Esta toxina bloqueia os
receptores para a acetilcolina, impedindo a contracção muscular, logo as
presas não se mexem.
α-bungarotoxina é uma neurotóxica existente no veneno das cobras, que
vai bloquear os receptores para a acetilcolina das suas presas, causando-
lhes imobilização.
A tetradotoxina existe no fugu (peixe muito comido no Japão), que vai
inibir os canais de sódio dependentes da voltagem nos indivíduos que o
ingerirem. Se os canais de sódio são bloqueados, os estímulos não podem
ser transportados, logo esse indivíduo fica paralisado e morre.
O gás dos nervos foi muito utilizado durante a 2ª Guerra Mundial. Esse
gás inibe a acetilcolinesterase não se permitindo a degradação da
acetilcolina, o que causa uma hiperestimulação, ou seja, os músculos não
consegue relaxar.
Encéfalo Humano
Está sempre a ser produzido e absorvido, por isso se houver perda de líquido, por
exemplo numa anestesia epidoral, ele é rapidamente recuperado.
O facto de o encéfalo estar envolto em líquido retira-lhe algum do seu peso, caso
contrário poderia ser uma estrutura muito pesada em cima da coluna, o que poderia
facilmente causar lesões.
No encéfalo, os capilares estão revestidos por asterócitos e têm uma barreira
hematoencefálica que dificulta a troca de
substâncias. O que pode ser uma vantagem, por
exemplo quando há substâncias tóxicas em
circulação, uma vez que as células nervosas não
toleram grandes alterações no ambiente.
Mas há zonas em que estas barreiras
representam uma desvantagem, e em que ela não
está presente, como é o caso do lóbulo posterior da
hipófise e o centro de vómito, porque precisam de
saber se há determinadas substâncias em circulação
no organismo para reagirem.
Os doentes de Parkinson têm défice de
dopamina, mas esta não pode ser utilizada nos Fig. 37 – Barreira hematoencefálica
tratamentos uma vez que não consegue atravessar a
barreira hematoencefálica. Por isso usa-se um precursor da dopamina (L-DOPA) que
consegue atravessar a barreira e, uma vez no encéfalo, vai formar dopamina.
O Sistema Límbico é constituído por várias zonas do SNC, todas muito primárias,
e controla muitas das nossas emoções e comportamentos. O facto de haver poucas
ligações entre o sistema límbico e o córtex faz com
que haja comportamentos que não controlamos, como
comer, beber e sexo.
Estes comportamentos dão-nos prazer e
queremos repeti-los, porque eles vão activar o sistema
de recompensa, ou sistema mesolímbico
dopaminérgico que faz parte do sistema límbico. É
criada um estímulo na zona VTA que projecta o
estímulo dopaminérgico para o nucleus acumbens e
que depois migra para o córtex.
Este é o sistema que utiliza a dopamina como Fig. 45 – Circuito de recompensa
neurotransmissor e funciona com a libertação deste.
Numa experiência com ratinho com a estimulação eléctrica de zona VTA ou
nucleus acumbens, ele vai repetir esse comportamento, por ele lhe dá prazer. Deixa
mesmo de comer e beber para estar constantemente a premir a alavanca que fornece o
estímulo.
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Toxicodependência
A cocaína vai actuar na zona de activação do circuito
de recompensa, inibindo a reabsorção de dopamina, o que
vai activar o circuito de recompensa.
O problema é que, um indivíduo sob acção desta
droga vai sofrer a uma redução da actividade do encéfalo.
Nos indivíduos viciados há uma redução, bastante drástica
das zonas activas, se ele estiver 10 dias sem consumir a
droga. Passados 100 dias sem consumo, há uma ligeira
recuperação, mas pode Fig. 46 – Locais de acção da cocaína.
nunca ficar com os
níveis normais.
Sentidos
Há sentidos especiais e sentidos somáticos:
Nos primeiros, há órgãos de captação específicos,
enquanto que, os segundos podem ser captados em todo
o corpo. Também é possível captar estímulos internos
do nosso corpo.
Para gerar uma sensação é necessário que seja
captado um estímulo que
forme potenciais de acção,
que depois são enviados Fig. 56 - Sentidos
para uma determinada zona
do córtex e só aí tomamos consciência desse estímulo e
desencadeamos uma resposta. Se o estímulo não tiver
intensidade suficiente para formar potenciais de acção, a
sua intensidade vai perder-se progressivamente e não chega
Fig. 57 – Mecanismo das sensações. ao córtex, logo não tomamos consciência dele.
Há casos em que podem ocorrer erros durante o
processamento ao nível do córtex.
Pode ainda acontecer que a sensação seja gerada por várias zonas do córtex.
Tacto
Em toda a nossa pele há receptores sensoriais
(uns mais à superfície que outros). Os receptores mais
à superfície são activados por impulsos mais pequenos
que os receptores mais profundos, onde é necessário
que o impulso seja maior.
Visão
Nós, humanos, temos a visão limitada
a uma gama entre os 400 e os 700 nm – luz
visível.
Um estímulo mecânico não pode
gerar uma sensação visual. Mas, se a via de
transdução for activada, esse estímulo pode
ser sentido. Por exemplo: os boxers quando
levam um murro nos olhos têm visões,
apesar de terem os olhos fechados. Isto
acontece porque a energia mecânica
aplicada pelo murro vai activar o nervo
óptico.
Fig. 63 – Anatomia do glóbulo ocular.
25
Na ausência de luz há muito cGMP, que vai abrir os canais de sódio, ou seja, vai
despolarizar a membrana.
Quando chega a luz e a rodopsina é activada, esta activa uma proteína G, que tem
ligada a si, e que por sua vez vai activar uma fotodiesterase que converte cGMP em
GMP, não podendo este activar os canais de sódio, fechando-os, o que causa uma
repolarização da membrana. Controlando os níveis de cGMP, regulamos a polarização
da membrana. Quando isto acontece não há libertação de glutamato (responsável pela
passagem de informação dos fotorreceptores para as células bipolares e para as
ganglionares).
Nos cones acontece mais ou menos o mesmo, excepto o pigmento. Há três tipos
de cones: azul, verde e vermelho. Diferenciados pelos pigmentos que cada um possui.
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Paladar
Os receptores para o paladar são
receptores químicos constituintes do botão
gustativo, que existe em zonas especializadas
da língua chamadas papilas, além do palato,
epiglote e da faringe, onde existem em menor
quantidade. São células epiteliares modificadas
e não neurónios.
Em cada botão gustativo há cerca de 50
células gustativas (receptores) e na extremidade
há umas microvilosidades, chamadas pêlos
gustativos, que se estendem para uma abertura
no epitélio chamada poro gustativo. Fig. 83 – Botão gustativo.
No caso do mecanismo de
transdução do azedo, há entrada de H+, em
vez de sódio. Estas células podem, também,
atingir a despolarização membranar através
da inibição dos canais de potássio (se o
potássio não pode sair, gera-se
despolarização). Depois essa despolarização
vai activar os canais de Cálcio sensíveis à
voltagem, permitindo a libertação de
neurotransmissores (glutamato).
Para o
amargo há mais
do que uma via de
transdução
1. A substância
amarga vai ligar-
se aos receptores
ianotrópicos
existentes nos
canais de
potássio,
inactivando-os, o
que vai originar
uma Fig. 86 – Mecanismo de
despolarização da transdução para o doce.
membrana. Essa
despolarização vai
activar os canais de
cálcio sensíveis à
voltagem,
permitindo a
entrada de cálcio
que vai ajudar a
Fig. 87 – Mecanismos de transdução para o amargo. formar as vesículas
sinápticas, para libertar os neurotransmissores.
2. A substância amarga liga-se a receptores metabotrópicos,
activando uma proteína G. Esta vai activar uma fosfolipase
C, que vai converter o PIP2 em IP3 que, por sua vez vai actuar
sobre as reservas de cálcio, fazendo com que este se liberte e
vá formar as vesículas sinápticas para libertar os
neurotransmissores.
Olfacto
O epitélio olfactivo existe na parede
superior da cavidade nasal e é constituído por
células de suporte e por neurónios olfactivos
que possuem cílios que estão embebidos em
muco. É o único local do corpo humano em que
os neurónios estão em contacto directo com o
exterior.
O epitélio olfactivo está constantemente a
ser renovado.
Fig. 90 – Epitélio olfactivo
Esse estímulo vai ser enviado pelos axónios dos neurónios olfactivos, que entram
no bolbo olfactivo, onde passam a informação para as células mitrais ou para as células
tufadas. Estas, por sua vez, enviam a informação para o cérebro, através das vias
auditivas, e sinapsam com neurónios de associação no bolbo olfactivo. Os neurónios
de associação recebem também informação vinda do encéfalo, podendo modificar a
informação olfactiva antes de esta abandonar o bolbo olfactivo.
O olfacto é a única sensação que vai directamente para o córtex cerebral sem ter
de passar pelo tálamo. O córtex olfactivo localiza-se junto ao sulco lateral do cérebro e
divide-se em três partes:
Área olfactiva externa, que está envolvida na percepção consciente do
cheiro;
Área olfactiva interna, que é responsável pelas reacções emocionais e
viscerais aos odores. Tem ligação com o sistema límbico, através do qual
se liga ao hipotálamo.
Área olfactiva intermédia, possui neurónios que se estendem ao longo
das vias olfactivas até ao bolbo olfactivo, onde sinapsam com neurónios de
associação. É um mecanismo importante pelo qual a informação é
modulada no bolbo olfactivo.
Audição
O som gera-se com a passagem de ondas
de grande amplitude, seguidas por ondas de
pequena amplitude.
A amplitude e a frequência dessas ondas
influenciam o som:
A frequência da vibração (ciclos/s)
mede o tom, em Hz. Quanto maior for
a frequência, mais alto é o tom do
som. Os sons mais frequentes ocorrem
entre 1000 e 4000 Hz, mas os
humanos conseguem ouvir frequências
Fig.92 – Formação do som.
entre os 20 e os 20000Hz. Mas há
animais com maior capacidade auditiva, por exemplo os cães conseguem ouvir
frequências até 40000 Hz.
A amplitude mede a intensidade (em decibéis
[dB]). O nosso limiar de audição é 0 dB. Uma conversa
normal corresponde a cerca de 50-60 dB e a música alta
corresponde a mais de 130 dB. É importante ter em
conta que uma elevação de 10 dB traduz um aumento de
10 vezes na intensidade, ou seja, um som com 60 dB é
106 mais intenso que outro com apenas 10dB).
No caso de o
movimento se dar do maior
para o mais pequeno há
inactivação dos canais de
potássio, não havendo
despolarização da
membrana.
A endolinfa é muito
diferente dos restantes
Fig. 99 – Despolarização das células ciliares.
líquidos que banham as
nossas células. Neste caso
há uma elevada concentração de H+ e baixa concentração de Na+, por isso a
despolarização é causada pela entrada de K+.
Equilíbrio
Localizam-se nos nossos ouvidos
alguns órgãos responsáveis pelo nosso
equilíbrio, funcionando de uma forma
semelhante ao mecanismo de detecção de
sons.
Os Órgãos Otolíticos – Utrículo e
Sáculo – são capazes de reconhecer
diferentes acelerações.
Os cílios dos órgãos otolíticos estão numa membrana otolítica que tem uma
grande inércia, por isso é muito sensível a acelerações: quando a aceleração aumenta a
membrana desliza para trás, permitindo-nos detectar a aceleração, devido à inibição dos
canais de potássio, uma vez que os cílios se deslocam na direcção do mais pequeno. No
caso de haver desaceleração acontece o oposto, a membrana desloca-se para a frente,
fazendo com que os cílios de desloquem para trás, activando os canais de potássio.