Joao Pedro Frois As Ideias Nascem Do Real Museus de Arte
Joao Pedro Frois As Ideias Nascem Do Real Museus de Arte
Joao Pedro Frois As Ideias Nascem Do Real Museus de Arte
Resumo Este ensaio tem como objectivo examinar as mediaes educacionais propostas pelos museus.
A reflexo proposta, de modo claro, pretende legitimar a dimenso pedaggica do museu de arte. O texto
organiza-se em duas partes: na primeira, situamos a problemtica em aberto no contexto portugus; na segunda,
dada voz urgncia de inovao neste domnio em anlise. Utilizamos trs conceitos fora da museologia
para a compreenso da experincia esttica dos visitantes de museus de arte.
Palavras-chave museus de arte; experincia esttica; espao potencial; regresso; divertimento;
aprendizagem
Abstract This essay is focused on the educational mediations in art museums. The given examples of
innovation are used for legitimacy of theoretical criticism on the educational mediations. The text is organized
in two main sections: in the first one, the focus will be briefly on the portuguese context; in the second one, we
will discuss on three concepts outside of museology domain for the understanding of art museum visitors
aesthetic experience.
Keywords art museums; aesthetic experience; potential space; regression; entertainment; learning
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Tudo indica que os museus de arte do sculo xxi
vivem um perodo de intensa mudana, com repercusses
na sua identidade herdada do passado. Esta alterao em
curso tem implicaes no desenvolvimento das prticas
de comunicao que os museus hoje estabelecem com
as comunidades de visitantes que os procuram. Na
origem desta alterao, encontramos as premissas do
desenvolvimento cultural globalizado, problemtica hoje
debatida por filsofos e socilogos.1 De facto, coube aos
grandes museus a responsabilidade de marcar, ao nvel
planetrio, uma vontade de visibilidade e de protagonismo
social dirigido, sobretudo, para o envolvimento cultural
dos que habitam as cidades. Esta vontade seguida um
pouco por toda a parte. Um dos elementos que melhor
** Expresso da poetisa Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004). Em novembro de 2010, foi apresentada uma verso deste texto numa conferncia
proferida pelo autor, no Congresso Em Nome das Artes ou em Nome dos Pblicos?, na Culturgest, em Lisboa.
** Doutor em Cincias da Educao pela Universidade de Lisboa (Portugal) e Professor Investigador Auxiliar da Faculdade de Belas Artes da Universidade
de Lisboa. E-mail: <[email protected]>.
Artigo recebido em junho de 2011 e aprovado em agosto de 2011.
Educao, Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 263-270, set./dez. 2011
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Nesta seco, apresentamos algumas reflexes
sobre a inovao nos museus de arte, a experincias
realizadas em vrios lugares. Os museus procuram, sem
reservas, inovar as relaes com os seus pblicos, para
alcanar este objectivo utilizam, como j anuncimos,
um conjunto alargado de estratgias e programas que
amplamente anunciam. A tendncia actual dos museus
de arte contempornea, a Ocidente e a Oriente, a de
alterar radicalmente as prticas de comunicao e
introduzir actividades mais inclusivas e participadas.
Presenciamos a avalanche de tcnicas habilidosas, manhas de marketing e artifcios que pretendem simplificar
o acesso das audincias s coleces, Essas tcnicas,
se bem que sedutoras, visam dar solues fictcias aos
mltiplos problemas que se pem na prtica da educao
em museus. Frequentemente preconizam-se tcnicas de
arregimentao de massas mobilizadas para uma grande
exposio nacional.
Sobre estas tcnicas, sem esquecer a crtica contundente de Jean Clair, no livro Malaise dans les Muses
(2007), no qual descreve a euforia, desencadeada por
interesses de vrio tipo, que paira sobre os museus e as
grandes exposies. Dmos ateno ao que George Ritzer
(2003, 2010) sublinhou ser os quatro mecanismos que
transformam em xito alguns museus contemporneos.2
George Rizer comparou os grandes museus de arte
contempornea s catedrais do consumo e parques de
diverso. Para cativar pblicos, os museus e os parques
de diverso pem em funcionamento quatro mecanismos:
a simulao; a procura de satisfao para o impulso de
consumo de objectos e de experincias; e a manipulao
de duas dimenses o espao e o tempo.
A simulao referida descontextualizao dos
objectos. Simula-se um contexto longnquo para um
objecto que se exibe num espao restrito, deste modo
quando a arte dada a ver no museu, perde autenticidade,
porque tirada do seu contexto natural. O museu cria,
como segundo mecanismo de captao de pblicos, no
seu prprio espao, diferentes lugares para o impulso ao
consumo, por exemplo, restaurantes, lojas de vrios tipos,
etc. O terceiro mecanismo alude manipulao do espao.
Neste caso lembramos, por exemplo, o Louvre ou o Prado,
que se expandiram e remodelaram com o objectivo de
atrarem mais visitantes, enquanto que os novos museus
de arte contempornea como o de Guggenheim Bilbau
ou o Getty Museum criaram um ambiente de espao
sacralizado onde a arquitectura funciona como um engodo
para os visitantes.
Por ltimo, h a manipulao do tempo: os museus
exploram a atemporalidade que deriva da classificao e
exposio dos objectos, criando a sensao e a ideia de
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Agradecimentos
Agradecemos reconhecidamente Art Gallery of
Ontrio (Toronto), pela cedncia da fotografia sobre a
experincia Explore a Painting in Depth; artista Pipilloti
Rist, pela autorizao de uso da imagem da exposio
Elixir realizada no Kiasma (Museum of Contemporary
Art) de Helsnquia; aos Professores George Legrady
e Timo Honkela, pelo uso da imagem da exposio
Pockets Full of Memories realizada em Helsnquia no
Kiasma; ao Servio de Cincia da Fundao Calouste
Gulbenkian, a cedncia do texto, no publicado, de Boris
Groys.
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* As referncias dos artigos estrangeiros foram mantidas de acordo com
o texto original, que, em alguns aspectos, se diferenciam das normas
adotadas pela ABNT, mas que indicam todos os elementos necessrios
ao leitor. (Nota da Editora)
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Notas
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