Ve Museus Seus Visitantes 2007

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 27

os museus e seus VISitantes:

uma anáLise do peRfiL dos


pÚBLicos qos museus do
RIO de JaneiRO e de niteRÓI
Luciana Sepúlveda Koptcke
Sibele Cazelli
José Matias de Lima

INTRODUÇÃO

1. Programa de servi-
ço e pesquisa sobre os
museus e sua relação
O presente texto apresenta e descreve os resultados da
Pesquisa Perfil-Opinião 2005, realizada no âmbito do Ob-
servatório de Museus e Centros Culturais. 1 Após relembrar, em linhas
gerais, os marcos conceituais que influenciaram a Pesquisa 2005, serão
com a sociedade.
Éfruto da parceria
descritos os seus primeiros resultados, propondo-se, nas considerações
entre o Museu da
finais, algumas linhas de reflexão sobre a operacionalização dos concei-
Vida, a Casa de
Oswaldo Cruz, a Fun- tos de capital cultural e capital social para analisar as práticas de visita aos
dação Oswaldo Cruz,
o Departamento de museus na sociedade urbana do Rio de janeiro.
Museus e Centros
Culturais do Insti-
tuto do Patrimônio
Artístico e Histórico
Algu ns pressupostos sobre cultura, distinção e inclusão social
Nacional, o Museu É comum aproximar a Cultura (a maiúscula assinalando sua univer-
de Astronomia e
Ciências Afins, o MCT salidade), do ponto de vista da Sociologia, como arbitrário cultural do-
e a Escola Nacional de
Ciências Estatlsticas minante, imposto e reconhecido como cultura legítima em suas relações
do Instituto Brasileiro
de Estatlstica e
com os diferentes segmentos sociais ou frações de classe. A cultura é
Geografia .
sempre atributo de um grupo, reunindo os sistemas simbólicos (arte,
religião, língua, ciência etc.) vigentes em determinado espaço-tempo.
A discussão sobre as desigualdades no acesso à Cultura, presente desde
a década de 1960 no campo da Sociologia, sublinha as funções sociais

68 {museus, coLeções e patRim8mos: naRRativas pouf8mcas}


da arte, como de outros campos do universo simbólico, no âmbito de
uma sociedade diferenciada e hierarquizada. As classes sociais encon-
tram-se, no escopo destes estudos, mais ou menos próximas das obras
e espaços legítimos da cultura, estabelecendo uma hierarquia cultural
e social que classifica homens, objetos, práticas, valores, percepções e
juízo de valor do menos ao mais legítimo.
Os sistemas simbólicos são instrumentos de comunicação e conheci-
mento que exercem um poder estruturante e que são sistemas estrutu-
rados. Os símbolos, ao permitirem a participação do sujeito em um sis-
tema, apresentam uma função política de integração social, tornando
possível um consensus acerca do sentido do mundo social: a integração
lógica (pelo entendimento) é a condição da integração moral (pela ade-
são a valores) (Bourdieu, 1969).
As práticas culturais permeiam a existência humana como situa-
ções de construção da identidade social, como processos de partici-
pação no espaço público, como instância de construção do sujeito e,
assim, como os valores culturais, estão relacionadas a outras esferas
da existência humana. Fazem parte do "capital cultural incorporado"
ativado pelo habitus, mas que, segundo o próprio Bourdieu, não define
um molde rígido e instransponível dos comportamentos e atitudes, da
forma de pensar e agir em sociedade. Lahire (2004), sem abandonar a
herança do sociólogo francês, avança buscando analisar as idiossincra-
sias das práticas individuais que desafiam as homologias propostas na
Distinção (Bourdieu, 1979).
No contexto atual, ganham relevância as questões sobre a relação
entre demanda cultural e inserção na sociedade contemporânea. O que
interessa compreender é a que ponto, objetivamente, a prática e o co-
nhecimento de certos elementos da cultura podem trazer benefícios
para a melhoria de vida de indivíduos ou grupos: Estes aspectos têm
levado muitos autores a observar que a promoção da cultura é desen-
volvida por uma rede de instâncias culturais. Os museus, como am-
bientes que possibilitam intensa interação social, vêm ocupando lugar
de destaque nessa rede.

{LUCiana sepúLveda koptcke, siBeLe cazeLLI e JOSé ma tias de uma I 69


Os museus na cultura
O museu moderno afirmou-se como instituição no cenário europeu
pós-revolucionário no final do século XVIII. Acumulou, desde então,
percepções, expectativas e usos sociais diferenciados: espaço públi-
co produtor e reformulador de conhecimento, locus de construção da
memória coletiva, "tecnologia" de instrução e educação, instância de
afirmação de identidades, espaço e prática de distinção cultural. Nos
séculos XIX e XX, sua natureza se diversificou e multiplicaram-se os
campos dos acervos possíveis. Ele desenvolveu novas tecnologias de co-
municação e, no início do século XXI, permanece presente no universo
das práticas de fruição e produção simbólica, captando investimentos
consideráveis (Koptcke, 2005, p. 189).
Atualmente, os museus compartilham financiamentos públicos e
privados com outras instituições (embora de forma particular, segundo
o tipo de museu) e encontram-se inseridos em duas lógicas diferentes
e nem sempre complementares: uma lógica de mercado, da indústria
cultural, e uma lógica de legitimidade social. A segunda dentre estas
se pauta no alargamento da missão dos museus, que afirmam, por meio
de investimentos em ações voltadas para a educação e a mediação cul-
tural, o compromisso com a popularização das ciências e de distintas
expressões da cultura humana. Os museus buscam promover um espa-
ço de discussão sobre conhecimentos, saberes, fazeres, idéias e valores,
de geração a geração e entre variados segmentos sociais, coexistindo
em um dado momento histórico. Estas instituições almejam contribuir
para o desenvolvimento humano e social das comunidades nas quais se
inserem, além da missão precípua de assegurar a preservação e a trans-
missão de aspectos da cultura.
Não obstante a construção do consenso social e político sobre a im-
portância de democratizar o acesso aos bens da cultura legítima, os
dados sobre visitas aos museus (Bourdieu, 1969; Donnat, 1990; Mironer,
2003; Mortara, 2003) reafirmam que o acesso a estas instituições per-
manece restrito. Na abordagem de Bourdieu (1969), a relação que o vi-
sitante de um museu pode estabelecer com a instituição varia também

70 {museus, coLeções e patRJmélmos: naRRativas poufélmcas}


em função da proximidade entre este visitante e o campo de referência,
como por exemplo, as artes plásticas para o museu de artes, as ciências
da terra e da vida ou ainda a tecnologia para os museus de ciência etc. O
museu pode desempenhar, em cada um desses campos, um papel parti-
cular. No campo artístico e no campo histórico, ele seleciona o objeto ou
testemunho legítimo da excelência artística e da história, com impacto
tanto no campo da produção como da recepção cultural. Alguns museus
de ciência, engajados na construção de uma cultura científica mínima
comum, difundem a crença na ciência moderna, mas parecem menos
afeitos a disputas internas no campo da produção da ciência. Os museus
universitários, bem como aqueles vinculados a instituições de pesquisa,
podem servir como espaço pedagógico de circulação restrita aos futuros
especialistas do campo em questão. Por isso, é delicado generalizar para
todos os museus as relações entre produção e recepção cultural observa-
das pelo autor ao analisar os públicos dos museus de arte na Europa.
No entanto, para os museus de todos os campos da cultura, conhe-
cer os visitantes, os usuários, os não-visitantes e as formas de visita
torna-se uma ação estratégica para promover um espaço de escuta,
reflexão e auto-avaliação. É importante construir um conhecimento
capaz de subsidiar tanto as decisões cotidianas de gestão institucional
como a compreensão dos processos de apropriação social da cultura e a
elaboração de políticas públicas para o setor. Ademais, a pesquisa sobre
os públicos e as práticas suscitadas pelos museus torna-se uma peça
estratégica para a negociação de fundos e para a conquista de credibi-
lidade perante a sociedade.

A PESQUISA

No Brasil, observa-se a carência de estudos peri6dicos que ofereçam


subsídio para refletir sobre a evolução das práticas culturais e de lazer
nas quais se inserem as visitas aos museus (Almeida, 2003). A análise
preliminar dos Anuários Estatísticos do Brasil (IBGE) revela a existência
de dados relativos à cultura e à visita a museus desde o primeiro exem-

{Luciana sepúLveda koptcke, SIBeLe cazeLu e JOSé mat1as de uma} 71


plar (1908 - 1912) (Koptcke e Pereira, 2002). Tais dados, cujas condições
de produção permanecem obscuras, provinham de fontes diferencia-
das, sem uma preocupação aparente com esse registro (como eram re-
gistradas as visitas quando não se tratava de contagem de bilheteria?),
impedindo um ·estudo diacrônico da evolução das práticas de visita a
museus e instituições afins.

Questões iniciais de pesquisa


A pesquisa sobre o perfil sociocultural dos visitantes dos museus e as
formas distintas de visita pressupõe que a visita ao museu se situa como
prática cultural socialmente contextualizada. Considerando a contri-
buição dos autores citados anteriormente, foram definidas as questões
que orientam este trabalho. A prática da visita decorre do acúmulo do
capital econômico, social e cultural? Qual dos três tipos é mais relevan-
te para a promoção do acesso aos museus? Essa importância pode variar
em circunstâncias particulares? A prática da visita constitui um tipo
de capital? Em que campo a visita como capital pode trazer vantagens?
(profissional? sociocultural?). Resulta na ampliação da rede social? In-
dica uma projeção da boa vontade cultural, demonstrando adesão aos
valores propostos e legitimados pela instituição? Quais indivíduos ou
grupos se beneficiam da visita a museus como um tipo de capital? Como
descrever os processos de mobilização e conversão da visita a museus
como capital cultural?
Capitais cultural e social encontram-se intimamente imbricados.
Nessa construção e leitura das relações de posicionamento social há de
se observar a quantidade de cada tipo de capital, bem como a natureza
da cultura possuída, o sentido atribuído às práticas e as circunstâncias
de realização. Ela considera os públicos dos museus como um grupo em
construção, podendo ser composto por segmentos sociais diferentes,
segundo um dado período, e focaliza a investigação na situação da vi-
sita aos museus como experiência dinâmica do sujeito social. Uma vez
identificadas, as situações de visita possíveis serão analisadas segundo
as características mais ou menos determinantes e determinadas dos

72 {museus, coLeções e patRim8mos: naRRativas pouf8mcas}


sujeitos que as praticam e as características da instituição visitada.
Ao definir o foco deste estudo, compreende-se a visita ao museu como
uma experiência resultante de contextos pessoal, social e físico (Falk e
Dierking, 1992), ancorada em regras e referências mais ou menos com-
partilhadas entre visitantes, curadores, cientistas e diferentes segmen-
tos da sociedade, passíveis de negociação durante a situação observada.
O significado dessa prática não resulta apenas de atributos do sujeito,
mas se constrói na relação complexa entre diversos fatores.
Pretende-se, neste trabalho, descrever os perfis de visita e dos visi-
tantes, bem como avançar elementos para identificar processos de aces-
so às instituições consideradas no estudo e para analisar as possíveis
configurações da relação entre capital cultural escolar e capital social,
decorrente da socialização familiar ou de outras instâncias de sociali-
zação que operam na determinação das práticas de visita. Segundo cada
museu e a cada visita, qual a importância dos tipos de capital (social e
cultural)? Como se imbricam na construção do sentido da situação de
visita? Quais são as margens de intervenção de outras redes sociais, fora
da família e da escola (como associações, clubes etc.), na determinação
da visita? Qual o impacto das ações propostas pelas políticas culturais
(sugestão de políticas tarifárias, campanhas de informação, gestão par-
ticipativa das instituições) e pelos museus (formas diversificadas do aco-
lhimento nos museus, desenvolvimento de ações de mediação pautadas
pela realização de pesquisas de público, produção de materiais de apoio
à visita etc.) na dinâmica do fluxo de acesso a essas instituições?

Objetivos gerais
Identificar os processos e os contextos promotores de acesso aos mu-
seus para os variados segmentos sociais. Dessa forma, espera-se contri-
buir para a reflexão sobre o papel atual dos museus nos grandes centros
urbanos e para a compreensão dos fatores e situações determinantes
de experiências culturalmente inclusivas (democratização do acesso,
representatividade nos processos institucionalizantes do bem cultural,
discussão e apropriação reflexiva da cultura exposta).

{wc1ana sepúLveda koptcke, smeLe cazeLu e JOSé mat1as de uma} 73


Objetivos específicos
Traçar os perfis dos visitantes em cada um dos museus investigados
em relação ao perfil geral do conjunto dos informantes da pesquisa;
identificar diferentes modalidades de visita para cada uma das insti-
tuições, e entre elas.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A Pesquisa Perfil-Opinião 2005 foi um estudo piloto que deverá ser


repetido em outras instituições e de forma periódica. Além da enquete
quantitativa realizada a partir da utilização de um questionário auto-
aplicado, o Observatório de Museus e Centros Culturais prevê, futura-
mente, pesquisas de cunho qualitativo visando aprofundar e investigar
aspectos não contemplados pela pesquisa de tipo survey.

Desenho e validação do questionário da Pesquisa Perfil-Opinião


A primeira fase do trabalho consistiu em validar e aplicar um proto-
colo para a coleta de dados que pudesse ser compartilhado com outras
instituições e que fosse aplicado regularmente, alimentando um banco
de dados comum. A construção do protocolo de pesquisa inspirou-se na
experiência do Observatoire Permanent des Publiques, de Lucien Miro-
ner, pesquisador convidado que participou da oficina de lançamento da
proposta do Observatório, em 2003, na cidade de Petrópolis.
O questionário, composto de questões fechadas ou semi-abertas, foi
escolhido como instrumento de coleta de informações sobre os públi-
cos visitantes de museus. Ele responde à necessidade de se obter infor-
mações dentro de padrões de generalização passíveis de comparabili-
dade sincrônica e diacrônica. Produz dados estatísticos referentes às
práticas reais de visita, ou seja, construídos junto ao público em situ-
ação de visita nos museus considerados no estudo. Tais dados ganham
vigor explicativo quando articulados com outros dados de referência
sobre a população de estudo, bem como com informações oriundas de
outras pesquisas. Procurou-se adequar códigos (para profissões e lo-

74 {museus, coLeções e patRim8mos: naRRativas pouf8mcas}


gradouros, por exemplo) e categorias, utilizando aqueles das pesquisas
desenvolvidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a fim
de dialogar com os dados das pesquisas oficiais sobre a realidade social
da população brasileira.
Ele foi concebido para poder ser preenchido tanto pelo visitante
(auto-aplicado), como por um entrevistador. Nesse sentido, especial
atenção foi acordada à sua diagramação, à clareza e à facilidade de
compreensão das questões, ao tempo médio levado pelo visitante para
preenchê-lo, de forma a intervir por menos tempo na experiência de
visita e facilitar a taxa de retorno dos questionários distribuídos. Fruto
do trabalho do GT Questionário, que reuniu profissionais dos 11 museus
participantes do projeto de implantação do Observatório de Museus e
Centros de Culturais, a partir de novembro de 2003, o questionário foi
estruturado em quatro blocos:

Antecedentes e circunstâncias da visita


Neste bloco é sinalizada a existência ou não de visitas anteriores e
são identificadas as fontes de informação na origem da descoberta so-
bre o museu. Observam-se, ainda, os motivos declarados para aquela
visita e o fato de visitar o museu sozinho ou acompanhado. Conhecer
quem acompanha o visitante durante a visita é também um dos pontos
abordados neste bloco do questionário. Também se investiga o tempo de
duração da visita. Estas questões informam sobre o tipo de sociabilida-
de relacionado à visita. Ademais, o contexto social é fator determinante
para compreender os comportamentos, as atitudes e as estratégias de
visita. A análise dessas informações pode indicar, para os profissionais
dos museus, a necessidade de reconsiderar as estratégias de mediação e
as atividades de acolhimento necessárias Uogos, oficinas de curta dura-
ção, material impresso de apoio direcionado etc).·

Conhecendo a opinião do visitante sobre a visita e sobre o museu


O bloco que trata das questões de opinião traz informações sobre a
satisfação do visitante com relação à visita realizada, sobre a avaliação

!LUCiana sepúLveda koptcke, smeLe cazeLLI e JOSé mat1as de uma} 75


que faz dos serviços oferecidos no museu e sobre a intenção de retorno à
instituição nos próximos 12 meses. As informações obtidas podem indi-
car a necessidade de qValiações mais específicas dos serviços e espaços
de visita para os museus participantes do estudo.

Hábitos de visita a museus e a centros culturais


As questões tratadas nesta parte do questionário fazem referência
às práticas anteriores de visita a outros museus. São igualmente investi-
gados os motivos apontados como empecilho para visitar museus.

Conhecendo você (perfil sociocultural do visitante)


O bloco registra informações sobre sexo, escolaridade, idade, renda
domiciliar mensal, ocupação e tipo de atividade remunerada do visi-
tante. Tais variáveis são tradicionalmente utilizadas para analisar os
padrões de acesso aos museus no âmbito da apropriação socialmente
diferenciada da cultura. A organização do questionário em blocos au-
tônomos permite intercalar parte do instrumento em outros protoco-
los de pesquisa.

Universo do estudo
A pesquisa interroga o visitante com 15 anos ou mais de idade, em
situação de visita a um museu, que não participe de visitas organizadas
por escolas, pagante ou não pagante. Foram excluídos da pesquisa os
grupos escolares com visitas agendadas caracterizadas como visitas es-
colares de todas as idades e séries. Trata da prática real de visita, ao con-
trário das pesquisas realizadas nos domicílios ou em situações diversas
em que a visita ao museu é informada, constituindo prática declarada.
A pesquisa piloto foi realizada durante os meses de junho, julho e
agosto de 2005. Onze museus participaram dessa aplicação. O Quadro 1
a seguir apresenta as instituições, a data de fundação, o tipo de acervo,
a tutela correspondente a cada uma das instituições e o quantitativo de
questionários válidos.

76 {museus, coLeções e patRimÔmos: naRRativas poufômcas)


Quadro 1 - Instituições participantes da Pesquisa Perfil-Opinião 2005 e número de
entrevistas realizadas.

Data de Questionários
Museus Tipo de acervo Tutela
fundação válidos

JNCAER/

História, técnica, Coml\lndoda
Museu Aeroespacial 1973 349
dência áeronáuttcaJ
; - " ,_ MO

Museu Antônio Parreiras 1941 Arte FUNARJ/S EC 161

Museu de Arte
- 1996
,-
Arte SMC·Niterói 393
Contemporânea

Museu de Astronomia
1985 Ciência, técnica MCT 428
e Ciências Afins
'
Museu Casa de Ruí Barbosa 1930 História MINC 384

Museu Histórico Nacional 1922 História IPHAN 293

Museu do lndío 1952


,-
Etnografia FUNAVMJ
- 95

Etnografia,
Museu Nacional 1818 UFRJ 331
hi stória natural
1-

,.Museu do Primeiro Reinado 327


-
196511979 História FU~RJ/SEC
- I-
Museu do Universo
1970/2005 Ciência SMC/RJ 380
Planetário da Cidade

". Museu da Vida 1999 Ciência


COC-FiocruZ/
266
,,. MS

Total 3407

Fonte: Cadastro preenchido pelos museus participantes do Observatório I Pesquisa Perfil -Opinião 2005, OMCC

Seleção dos informantes


Na grande maioria dos museus parceiros, a seleção dos informantes
foi realizada por meio do método de seleção de amostragem sistemática
dos visitantes, tendo sido especificado, para cada museu, o intervalo de
amostragem (ou de seleção) e o ponto de partida. No dimensionamento

{LUCiana sepúLveda koptcke, SIBeLe cazeLLI e JOSé mat1as de uma} 77


da amostra, foi considerado o número médio de visitantes por mês, a
partir do qual se estima o número médio de visitantes esperado durante
o período da pesquisa. A amostra foi dimensionada, de forma indepen-
dente, para fornecer uma estimativa de proporção de algum atributo de
interesse com erro máximo absoluto no valor de 5% e com um grau de
confiança de 95%.
A fase de coleta de dados foi de grande importância na elaboração
da pesquisa. Foi necessário treinar as pessoas responsáveis e criar uma
supervisão para que fosse observada a aleatoriedade na seleção dos vi-
sitantes e proporcionado o apoio, quando necessário, no entendimen-
to dos quesitos indagados no questionário utilizado. Participaram da
pesquisa 2005 11 museus: Museu da Vida, Museu Aeroespacial, Museu
do Universo - Planetário da Cidade, Museu Nacional, Museu Casa de
Rui Barbosa, Museu do Índio, Museu de Astronomia e Ciências Afins,
Museu Histórico Nacional, Museu de Arte Contemporânea de Niterói,
Museu do Primeiro Reinado e Museu Antônio Parreiras, totalizando
cerca de 3.400 questionários válidos.
Após essa fase, foi realizada uma análise dos dados faltantes, ten-
do sido observado um índice de não resposta inferior a 2% em 48% das
variáveis do questionário; apenas 17% das variáveis apresentaram um
percentual de 10% a 15% de respostas em branco.
Um ponto delicado é a classificação dos museus por tema principal
do acervo em instituições museológicas que guardam acervos de na-
tureza diversa. Nessas instituições, o que determinará a sua natureza
temática será o enfoque, dado pelo museu, nas linhas de pesquisa e nas
formas de apresentar o acervo em suas exposições. Pode-se citar o caso
do Museu Aeroespacial, que reúne acervo de natureza histórica, cien-
tífica e tecnológica. Tradicionalmente a instituição era considerada
pelos seus profissionais como um museu de história. Paulatinamente, a
dimensão tecnocientífica começa a ganhar espaço. Precisamente, com
relação ao Museu Aeroespacial, optou-se por incluí-lo entre os museus
de ciência. Seus visitantes, de fato, se comportam e se assemelham
àqueles dos museus de ciência.

78 {museus, coLeções e patRimÔmos: naRRativas poufôn1cas}


RESULTADOS

O perfil socioeconômico dos visitantes dos museus apresenta signifi-


cado de interesse para analisar o sentido dos museus em nossa sociedade
quando toma como parâmetro a população de referência, cuja definição
afetará, por conseguinte, a essência das análises possíveis. Assim, por
exemplo, o nível de escolaridade e a cor ou raça dos sujeitos da pesquisa
podem variar em função das subpopulações de referência. As estimati-
vas obtidas na Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (PNAD) para
a Região Metropolitana do Rio de janeiro podem diferir dos resultados
de outras pesquisas domiciliares que dependem, essencialmente, do de-
senho amostral e de sua área geográfica de abrangência. Os resultados
desta pesquisa foram comparados, considerando algumas variáveis de
interesse, com as estimativas obtidas no âmbito da Região Metropolita-
na do Rio de janeiro (PNAD 2004).
Os visitantes residem em sua maior parte no município do Rio de
janeiro. O local de residência declarado pelo visitante foi agrupado por
Área de Planejamento, conforme indica a Tabela 1. Na AP2, correspon-
dente às regiões administrativas de Botafogo, Copacabana, Lagoa, Vila
Isabel, Tijuca e Rocinha, residem 38,3% dos visitantes dos museus e
30,4% na AP3, que integra as regiões administrativas de Ramos, Penha,
Inhaúma, Méier, Irajá, Madureira, Ilha do Governador, Anchieta e Pa-
vuna. É importante sinalizar que os visitantes tendem a freqüentar os
museus mais próximos de seu local de residência. Os moradores da AP3
são encontrados em maior número no Museu da Vida (50%), no Museu
de Astronomia e Ciências Afins (41%) e no Museu Aeroespacial (38%).
No caso deste museu, situado na zona oeste da cidade, observa-se a
quase ausência (2%) de visitantes da AP2, sendo a APS (Bangu, Campo
Grande, Santa Cruz, Guaratiba e Realengo) o seg'undo local de proce-
dência dos visitantes (31%).

{Luciana sepúLveda koptcke, SIBeLe cazeLu e JOSé mat1as de uma} 79


Tabela 1- Distribuição percentual dos visitantes residentes no município do
Rio de Janeiro, por Área de Planejamento (AP), segundo os museus considerados
no estudo*.

Área de Planejamento
Museus
AP1 A P2 AP3 AP4 APS

Museu da Vida - 21.2% 50.~% - \3,2%

Museu de A st ro nomia
16.4% 21,0% 41 ,3% - -
e Ci ência s Afins
~ -
1-
Museu do lndio - 7.9,5% 10,3%
-
7,7% -
M useu Casa de Rui Barbosa - 57,8% 18,6% 16,5% -

Museu do Universo
,_ Planetário da Cidade - 58,7% 19,3% 17,8% -
~

M useu Nacional - 32,8% 34,9% - 13.3%


,_ ~

Museu do Primeiro Reinado 20,3% 34,8% 27,5% - -


Muse u Aeroespacial - - 38,8% 19.4% 31,5%
1- - 1--
Museu Histórico Nacionil - 44,2% 32,1% 10,3% -
* Não foram considerados o Museu de Arte Contemporânea e o Museu Antônio Parreiras localizados em Niterói.
Fonte: Pesquisa Perf il-Opinião 2005, OMCC.

Sexo : pod e variar segundo o mu seu


A distribuição do público de visitantes dos museus considerados
no estudo segundo o sexo reflete o comportamento observado para a
população residente na Região Metropolitana do Rio de janeiro, con-
forme indicam os resultados obtidos na PNAD 2004 . Todavia, alguns
museus são mais visitados por mulheres, como o Museu da Vida (75%)
e o Museu Casa de Rui Barbosa (66%), enquanto a presença masculina
prevalece entre os visitantes do Museu Aeroespacial (68%) e do Museu
Nacional (51%).

80 {museus, coteções e patRim8mos: naRRativas pouf8mcas}


A presença masculina ou a feminina acentua-se nos diferentes mu-
seus segundo o tema tratado por cada instituição. Na França, Mironer
revelou nas pesquisas do Observatoire Permanent des Publics (Mironer,
2002), que determinados museus atraem maior percentual de público
feminino, como os de Artes Plásticas, mas também os de História Natu-
ral e Ciências, freqüentados principalmente em família com crianças.
Já os museus temáticos sobre carros, os militares ou sobre aviação são
tipicamente masculinos. Alguns museus, como os históricos ou de sítio,
foram considerados "neutros" por suscitarem um interesse análogo em
homens ou mulheres. Os resultados da pesquisa Perfil-Opinião sugerem
uma relação entre o sexo e temas de interesse definidos social e cultu-
ralmente, como no caso do Museu Aeroespacial, mas também relacio-
nam a presença feminina ao perfil prioritário da visita familiar ou em
grupos organizados, como no caso do Museu da Vida. O Museu Nacional
contradiz ligeiramente o esperado (prevalência feminina em museus de
História Natural), enquanto o Museu Casa de Rui Barbosa, histórico e
biográfico, suscita estudos complementares que esclareçam o sentido
da maioria de visitantes do sexo feminino.

Adultos e jovens de cor branca são a maioria entre os visitantes


dos museus investigados
A população de visitantes dos museus é composta, principalmente,
por adultos, na faixa entre 30 a 39 anos (26,4%) e 40 a 49 anos (22,3%). Os
jovens, na faixa dos 15 aos 29 anos, representam 36,6% dos visitantes,
com distribuição homogênea nas faixas de 15 a 19 (11%); 20 a 24 (12,7%)
e 25 a 29 anos (12,9%). Nota-se a presença, ainda discreta, de visitantes
com idade superior a 50 anos (14,7%), considerando-se a soma dos per-
centuais observados nas faixas 50 a 59 e 60 anos ou mais (valor inferior
ao observado na população residente na Região Metropolitana do Rio de
janeiro (31%), PNAD 2004).
Segundo dados dessa mesma pesquisa, 57,9% da população residen-
te na Região Metropolitana do Rio de Janeiro declara-se de cor branca,

{LUCiana sepúLveda koptcke, SIBeLe cazeLu e JOSé matJas de uma} 81


conforme indicado no Gráfico 1. Nos museus, a presença de brancos é
ainda maior: 67,4% dos visitantes declararam-se de cor branca. O Mu-
seu do Índio (52,7%),, o Museu de Astronomia e Ciências Afins (48%) e
o Museu da Vida (46%) são os que recebem uma maior proporção de
visitantes não brancos.

Gráfico 1: Distribuição dos visitantes por cor ou raça declarada

67,4% • Total 11 PNAD 2004 -RM/RJ

1,5% 0,2% 0,9% 0,1%

Branco Preto Pardo Amarelo Indígena

Um público altamente escolarizado


Os visitantes dos museus possuem nível de escolaridade bastante
elevado. Conforme indicam os resultados do Gráfico 2, 47,5% declara-
ram ter concluído o ensino superior. Cabe lembrar que o nível médio de
anos de estudo da população da Região Metropolitana do Rio de Janei-
ro é de 8,3 anos, correspondendo ao ensino fundamental. Nos museus
considerados no estudo, o maior percentual de visitantes com nível de
escolaridade até o ensino fundamental é de 6,6%, no Museu Aeroespa-
cial. Por outro lado, o maior percentual de visitantes que cursaram o
ensino superior se encontra no Museu do Universo-Planetário da Cidade
(61,3%), seguido pelos Museus de Arte: Museu de Arte Contemporânea
de Niterói (57,3%) e Museu Antônio Parreiras (54,4%).

82 {museus, coLeções e patRimÔmos: naRRativas poufômcasl


Gráfico 2: Distribuição percentual dos visitantes por nível de escolaridade

l c PNAD 2004-RM/RJ • Total

47,5%

31,2%

Até Funda mental Completo Ensino Médio Superior Incompleto Superior em diante

Ocupação e renda média domiciliar


Três quartos dos visitantes dos museus considerados no estudo de-
clararam exercer atividade remunerada. Dentre estes, 62,4% são empre-
gados do setor público ou privado, 13,5% são autônomos ou trabalhado-
res por conta própria e 10,2% são profissionais liberais. Os bolsistas ou
estagiários remunerados (5,7%), assim como os empresários (5,5%), es-
tão pouco presentes nos museus considerados no estudo. Dentre aque-
les que declararam não exercer atividade remunerada, mais da metade
(53,4%) estuda. Os aposentados e pensionistas constituem um público
potencial que merece maior atenção (17,9%).
Com relação à renda mensal domiciliar, cerca da metade dos visitan-
tes (48,8%) participantes da pesquisa declarou renda domiciliar mensal
superior a R$ 2.000,00. Na Região Metropolitana do Rio de janeiro, ape-
nas 7,24% das famílias informaram renda mensal s'uperior R$ 2.000,00.
Por outro lado, 59,09% da população residente na região metropolitana
do Rio de janeiro declarou renda familiar mensal de até R$ 500,00. Nota-
se, entretanto, que a renda declarada varia segundo o museu visitado. O

{LUCiana sepúLveda koptcke, smeLe cazeLLI e JOSé mat1as de uma} 83


Museu da Vida (20,9%) e o Museu de Astronomia e Ciências Afins (15,2%)
são aqueles que mais receberam visitantes com renda domiciliar mensal
de até R$ 500,00, enquanto o Museu do Universo Planetário da Cidade e
o Museu de Arte Contemporânea de Niterói registraram os percentuais
mais elevados de visitantes com renda domiciliar mensal acima de R$
2.000,00, respectivamente 64,8% e 57,5%, conforme indicam os resulta-
dos apresentado no Gráfico 3 subseqüente.

Gráfico 3: Distribuição percentual por classes de renda domiciliar mensal

• Total • PNAD 200 4 -RM/RJ


S9,1%

3S,O%

Até SOO reais Mais de SOO a 2.000 MaiS de 2.000 a Acima de 4.000 reais N~o soube informar
reais 4.000 reais

Fontes de informação: o "boca a boca" é a principal fonte de


informação sobre os museus
Com relação às fontes de conhecimento sobre o museu, os visi-
tantes podiam citar várias respostas. No geral, as fontes mais citadas
(53,3%) foram as referentes à recomendação de outras pessoas, con-
forme indicam os resultados apresentados no Gráfico 4. Em seguida
ficaram as mídias de comunicação de massa, como a TV ou os jornais
e revistas (33,9%). Foi registrado um percentual de19% de declarações
referentes à descoberta do museu ao passar em frente a ele (a pé ou
de automóvel). Entre os 11 museus participantes da pesquisa, a fon-
te de informação mais citada variou: no Museu de Arte Contemporâ-
nea, a TV foi a fonte mais citada (43,5%), seguida das mídias impressas
(34,3%). No Museu de Astronomia e Ciências Afins (33,3%) e no Museu

84 (museus, coLeções e patRimÔmos: naRRativas poufômcas}


da Vida (29,1%), a recomendação de professores foi a principal fonte.
No Museu Nacional (33%), a recomendação de familiares prevaleceu e
no Museu Aeroespacial (26,2%) foi a recomendação dos amigos. Cabe
notar que no Museu do Primeiro Reinado (36,9%) e no Museu Histórico
Nacional (35%) mais de um terço dos visitantes declarou ter desco-
berto o museu ao passar em frente à instituição, de carro ou a pé. O
Museu Aeroespacial apresenta o menor percentual de recomendações
feitas por professores (8%). No Museu do Índio, as recomendações de
familiares (12,6%) e de professores (9,5%) expressam valores baixos
se comparados com os demais e, em especial, com o Museu Nacional,
onde a recomendação familiar foi citada por 33% dos visitantes e a
recomendação de professores por 29,4%.

Gráfico 4: Distribuição percentual dos visitantes, por fonte de informação


sobre o museu

19,9% 19,9%
r-- 18,6% ~

- 18,0%
-
15,9%
14,8% -
r-

Professores Amigos Familiares Passando em Jornais e TV


frente Revistas

Para a maioria, é a primeira vez ...


A maioria dos visitantes (64,4%) declarou ser a sua primeira visita
àquele museu. O percentual de primeira visita va~ia entre os museus
considerados no estudo, conforme indicado no Gráfico 5:no Museu Casa
de Rui Barbosa, a taxa chega a 84,4% de novos visitantes, enquanto no
Museu Nacional o resultado se inverte: 64,8% dos visitantes já o haviam
visitado. Pesquisas anteriores, no Brasil e em outros países, também

{LUCJana sepúLveda koptcke, smeLe cazeLLJ e JOSé mat1as de uma} 85


encontraram a prevalência de novos visitantes nos museus, sugerindo
uma relação motivada pelo prazer da novidade, pela "curiosidade", afei-
ta às descobertas e à abertura cultural.

Gráfico 5: Distribuição percentual dos visitantes que declararam visitar os


museus pela primeira vez, segundo os museus considerados no estudo

84,4%
- 79,1%
73,3%
-
r-- 70,2%
64,4%
69,0%
r-- - 65,8%
- 60,8% r--
56,8% - 57,8%
r--
r--
49,5%
-
35,2%
-

Total MV MAST MI FCRB M.U MN MPR MAP MAC MA MH

Há quanto tempo conhece este museu?


A grande maioria dos visitantes entrevistados nos museus conside-
rados no estudo conhecia o museu há mais de um ano (70%). Dentre os
11 museus participantes do estudo, seis receberam mais de 50% de vi-
sitantes com conhecimento prévio do museu superior há mais de cinco
anos. Esta notoriedade antiga varia entre os museus. O Museu Nacional é
conhecido há mais de cinco anos por 82,6% dos seus visitantes, segui-
do pelo Museu do Universo - Planetário da Cidade, com 74%. O Museu
do Índio (17,6%), seguido pelo Museu da Vida (32,3%) e pelo Museu de
Astronomia e Ciências Afins (33,2%) são aqueles com menor percentual
de visitantes que declararam conhecer o museu há mais de cinco anos.
O interesse em identificar a quanto tempo uma instituição é conhecida
pelos seus visitantes se refere à compreensão da relação entre notorie-

86 {museus, coLeções e patRimÔmos: naRRativas poufômcas}


dade e prática de visita. Por outro lado, os museus fazem parte da vida
das cidades onde se situam e a notoriedade indica o conhecimento dos
habitantes sobre o museu antes mesmo de tê-lo visitado.

Visitas para matar a curiosidade e conhecer coisas novas


Quando interrogados sobre os motivos para a visita, 73,7% dos visi-
tantes declararam que visitavam para conhecer o museu, conforme indi-
cam os resultados apresentados no Gráfico 6. Alargar os horizontes, conhe-
cer coisas novas (64,9%), foi o segundo motivo mais citado, seguido pelo
interesse pelos assuntos expostos (62,1%). Cabe ainda sinalizar que para
60,5% dos visitantes a diversão conta entre os motivos para a visita e que
43,3% visitam também para acompanhar outras pessoas. Os motivos para
a visita também variam conforme a instituição. Por exemplo, a diversão
é mais esperada entre os visitantes do Museu do Universo - Planetário
da Cidade (76,6%) e menos presente entre os do Museu de Astronomia e
Ciências Afins (50,5%) e do Museu do Primeiro Reinado (51,4%). Os visi-
tantes declararam mais de um motivo para a visita, indicando que a ida
ao museu resulta de interesses diversificados.

Gráfico 6: Distribuição percentual dos visitantes por motivo


declarado para a visita

73,7%
-
,--
62,1% -64,9% 60,5%

43,3%

Conhecer o Museu Interesse pelos Alargar horizontes Divertir-se Acompanhar outras


assuntos I · pessoas
exposições

{LUCiana sepúLveda koptcke, smeLe cazeLu e JOSé mat1as de uma} 87


Os visitantes vêm acompanhados
Poucos declararam visitar sozinhos (13,5%), sustentando que a visita
a museus é uma prática de sociabilidade. Apenas dois museus, entre os
participantes da pesquisa, apresentaram mais de 20% de visitas desa-
companhas: o Museu Antônio Parreiras (22,5%) e o Museu do Primeiro
Reinado (21,2%), seguidos pelo Museu Casa de Rui Barbosa (19,6%). En-
tre aqueles que não visitaram sozinhos, 43,6% o fizeram exclusivamente
com os familiares. Já, 26,6% visitaram apenas na companhia de amigos
ou namorados. Um outro grupo visitou em conjunto com familiares e
amigos, e ainda 11,4% chegaram aos museus em grupos organizados.
Nota-se, ao considerar as visitas exclusivamente em família e as que
mesclam familiares e amigos, que 61% das visitas acontecem em famí-
lia. O contexto social da saída ao museu varia entre as instituições. O
Museu Nacional e o Museu do Universo são os mais visitados por grupos
exclusivamente familiares, enquanto no Museu da Vida grande parte dos
visitantes declarou vir em grupo organizado (42,3%). As visitas entre ami-
gos foram mais citadas no Museu do Primeiro Reinado (41,3%).

Fatores que dificultam a visita


Os visitantes participantes da pesquisa, conforme indica o Gráfico
7, foram enfáticos ao afirmar que a falta de divulgação é um fator que
dificulta a visita aos museus (72,4%). O segundo motivo mais citado foi
a violência urbana (53,3%). Custos da visita (39,9%) e dificuldades de
transporte (38,6%) foram mencionados por cerca de 40% dos visitantes.
Os motivos apresentados diferem segundo o tipo de museu. Os custos de
uma visita foram mais citados no Museu da Vida (50,4%), no Museu do
Índio (47,3%) e no Museu de Astronomia e Ciências Afins (43,9%), tanto
nos pagantes como naqueles que não cobram ingresso. A falta de di-
vulgação foi mais deplorada no Museu do Primeiro Reinado (78,9%), no
Museu de Astronomia e Ciências Afins (76,8%) e no Museu Aeroespacial
(74,9%), enquanto entre os visitantes do Museu do Universo - Planetário
da Cidade (43,5%) e do Museu de Arte Contemporânea (42,4%) a dificul-
dade de estacionamento se fez mais presente que nos demais.

88 {museus, coLeções e patRimÔmos: naRRativas poufômcas}


Gráfico 7: Distribuição percentual das citações dos visitantes quanto
aos fatores que dificultam a visita a museus

72.4%
.---

52,3%
r--

39,9% 38,6%
r--- 36,3%
- 34,7%
r--- 32.4%

Falta de Violência Custos de Dificuldade Custo do Dificuldade de Dias e horários de


divulgação/ urbana uma visi ta de tra nsporte/ ingresso estacionamento fu ncionamento
informação acesso

Quase todos pensam em retornar para uma próxima visita nos


próximos 12 meses ...
A grande maioria dos visitantes, 81,8%, declarou ter intenção de retor-
nar àquele museu nos próximos 12 meses. Voltar ao museu para mos-
trar a instituição para outra pessoa foi o motivo partilhado por 74,9% dos
visitantes. Conhecer uma nova exposição foi citado por 70,5%. Rever o que
mais gostou, assistir a um espetáculo, participar de atividade e complementar
ou aprofundar uma visita são motivos considerados por um pouco mais
de 60% dos visitantes. Trazer os filhos é um bom motivo de retorno para
45,3%, e uma visita estudiosa, para pesquisar, poderá trazer 42% de visi-
tantes de volta ao museu nos próximos 12 meses.

CoNSIDERAÇÕES

Lembrando ser este texto um primeiro exercício na construção de


um diálogo com as referências conceituais sobre a dimensão social do
acesso à cultura ou da dimensão simbólica da inclusão/exclusão social,
não se pretendia esgotar as questões de pesquisa lançadas na sua intro-

(Lucrana sepúLveda koptcke, smeLe cazeLu e JOSé matras de uma} 89


dução, mas propor um itinerário ou uma agenda de reflexão a partir de
um espaço de interlocução entre pesquisas similares e seus instrumen-
tos de análise (marcos .conceituais), principalmente com o trabalho de
pierre bourdieu. sobre· os museus de arte europeus, referência para a
discussão sobre a apropriação socialmente estratificada dos museus.
Como primeiro passo na construção desse diálogo, pode-se afirmar
que a leitura preliminar dos resultados da pesquisa piloto perfil-opinião
2005 sugere que o acesso aos museus decorre do acúmulo dos capitais
cultural e social. Na pesquisa sobre os museus de arte na europa, bour-
dieu identificou a escolaridade dos públicos como a variável explicativa
mais determinante do acesso aos museus. Dentre os visitantes então in-
quiridos, 55% possuíam o nível do bacharelado, equivalente, no brasil,
ao certificado de conclusão do ensino médio. Ao analisar o impacto de
outras variáveis, como classe etária, profissão, renda ou local de resi-
dência, o sociólogo encontrava sempre a relação entre estas e o nível de
escolaridade. Os museus franceses recebiam, nos anos 1960, um público
visitante relativamente jovem no seu conjunto, entre o qual37% tinham
entre 15 e 24 anos, enquanto na frança apenas 18% da população se en-
contrava nessa faixa etária.
Encontrou-se, na pesquisa 2005, pouco mais de um terço de visitan-
tes jovens (36,6% entre 15 e 29 anos), a grande maioria (95,2%) concluiu
o ensino médio e pelo menos 71,2% estavam cursando ou concluíram
o ensino superior, resultados inversos aos encontrados na população
da região metropolitana do rio de janeiro, onde apenas 23% estavam
cursando ou já concluíram o ensino superior (pnad, 2004). É interes-
sante perceber, embora se deva considerar o lapso de tempo trans-
corrido entre as pesquisas acima citadas (anos de 1960 e 2005) bem
como a realidade social, cultural e econômica das sociedades estuda-
das (França e Brasil), que os museus da pesquisa atraíram o público
jovem provavelmente em decorrência da proximidade temporal com
os anos de estudo formal. Cabe ainda lembrar que 75% dos visitantes
da pesquisa Perfil-Opinião declararam exercer atividade remunerada
e que mais de 50% daqueles que não exerciam atividade remunerada

90 {museus, coLeções e patRimÔmos: naimatJvas poufômcas}


eram estudantes. Note-se, ainda, que a maioria das visitas é realiza-
da em grupos, determinando a dimensão social desta prática. Nesse
sentido, a visita a museus pode ser percebida como mais proveitosa
ou significativa para sujeitos que integram algum tipo de rede social
(profissional ou de amizade) ou que, no caso de jovens pais, mobilizam
esforços para a educação de seus filhos, sugerindo uma possível con-
versão da visita, enquanto informação, significado cultural ou adesão
emblemática a determinados valores, em pretexto para estabelecer,
manter ou aprofundar a relação com membros de um dado grupo
social. O caminho inverso (reconversão de capital social em capital
cultural) também pode ocorrer, quando há o alargamento do capital
cultural incorporado (novos conhecimentos, atualização da informa-
ção a partir de fontes consideradas cultas e cultivadas) por intermédio
de relações sociais que valorizam e promovem o hábito de visita ao
museu, por exemplo.
Foram encontradas diferenças, ainda que sutis, entre o perfil dos
visitantes segundo os diversos museus participantes do estudo e alguns
dos aspectos da forma de visita e dos motivos, percepções e intenções decla-
radas. Propõe-se que os dados sejam analisados de forma a afinar a com-
preensão das diferenças no perfil e no comportamento dos visitantes.
Por exemplo, ao considerar o que Bourdieu colocou como proximidade
ou distanciamento do visitante com relação ao campo cultural/temá-
tico do museu, indicador da relação promotora entre capital cultural e
prática de visita, pode-se averiguar a implicação da visita reincidente
(versus "primovisitante"), do percurso escolar, da natureza da profissão
do visitante, da existência do hábito de visitar museus sobre os temas
de visita do museu em questão, no acesso e na forma de visitar o mu-
seu. Os resultados encontrados nesta pesquisa salientaram uma prática
"curiosa", afeita à descoberta de outras instituiçõ'es e exposições, com
motivações voltadas para o desejo de abertura cultural, em que a gran-
de maioria dos visitantes visitava aquele museu pela primeira vez. As
instituições participantes da pesquisa parecem encontrar dificuldades
para fazer retornar o público.

{Luciana sepúLveda koptcke, smeLe cazeLu e JOSé matias de uma} 91


Com relação à localização da instituição, percebe-se o jogo entre
oferta e procura, entre estímulo e possibilidade de acesso, tanto física
e financeira como simbólica, pois a cidade é socialmente segmentada e
apropriada, e a localização da instituição implica a proximidade física
a determinado grupo social ou a sua inclusão em certo "itinerário cul-
tural". Os públicos dos museus cariocas e do Museu de Arte Contempo-
rânea de Niterói declaram residir principalmente nos bairros da Tijuca,
Vila Isabel, Botafogo, Lagoa e Copacabana, bastante próximos de três
dos 11 museus participantes, porém um pouco mais afastados de qua-
tro destes, que se situam na APl (região do Centro do Rio, Portuária,
Santa Teresa, São Cristóvão, por exemplo). Cabe observar que os bairros
da APl vêm diminuindo seu caráter residencial ao longo do século XX.
Assim, os museus do Centro e os da Zona Sul recebem prioritariamente
visitantes da AP2, bairros com alta densidade residencial e nível elevado
de escolaridade e renda, enquanto os museus da Zona Norte (Museu da
Vida, MAST) acolhem, em maior proporção, visitantes que residem em
bairros da Zona Norte (AP3).
Em sua pesquisa sobre os museus de arte, o sociólogo francês suge-
riu que a forma de visitar (com mediação humana ou não) e o contexto
social da visita (em grupo, em família ou sozinho) pareciam se relacio-
nar com a classe social, em que aqueles que visitaram sozinhos eram
os indivíduos com maior nível de escolaridade e renda, relacionado às
profissões das classes superiores. Sem exatamente trabalhar com o con-
ceito de classe social, é interessante aprofundar a análise das relações
entre o contexto social da visita (com quem visita) e o capital cultural
(escolaridade, conhecimento de outros museus, existência de visitas
prévias). Também seguindo indicações da pesquisa dos anos 1960, pode
ser esclarecedor perceber quais visitantes preferem encontrar nos mu-
seus um guia, um conferencista ou contar apenas com painéis e etique-
tas, relacionando perfil de visitante e projeto museográfico, serviços e
estratégias de mediação cultural. Cabe ainda averiguar o impacto dos
investimentos dos museus junto ao sistema formal de ensino, propondo
observar se uma relação privilegiada com as escolas aumenta ou diver-

92 {museus, coLeções e patRimÔmos: naRRativas poufômcas}


sifica socialmente o acesso à instituição. As questões acima levantadas
apresentam perspectivas interessantes de aprofundamento e continui-
dade para esta pesquisa.
Os resultados da pesquisa Perfil-Opinião que vimos sumariamente
descritos, contribuem para estabelecer um espaço de reflexão sobre
a dinâmica de acesso aos museus e revelam a necessidade de pesqui-
sas contínuas, tanto quantitativas como qualitativas, que contribuam
para a compreensão da complexidade dos processos sociais da apro-
priação da cultura.

RefeRênciaS BIBLIOGRáfiCaS

ALMEIDA, A. M. Quem visita nossos museus? Pesquisa de público no


Brasil. Palestra proferida durante a Oficina sobre Avaliação e Estudos
de Público para a implantação do Observatório de Museus e Centros
Culturais, Petrópolis, novembro de 2003.

BOURDIEU, P.; DARBEL, A.; SCHNAPPER, D. L'amour de L'art, les musées


d'art européens et leur public. Paris: Minuit, 1969.

BOURDIEU, P. La Distinction, critique sociale dujugement. Paris:


Minuit, 1979.

DONAT, 0.; COGNEAU, D. Les pratiques culturelles des français,


1973-1989. Paris: La découverte/ La Documentation Française, 1990.

FALK,J.; Dierking, L. The museum experience. Washington DC:


Whalesback Books, 1992.

KOPTCKE, L. S. "Bárbaros, escravos e civilizados: q público dos


museus no Brasil", ln: CHAGAS, Mário (org.) Museus: Antropofagia
da memória e do património. Revista do Patrimônio e Artístico Nacional,
no 31. Rio de janeiro, 2005, pp. 184-205.

(Luciana sepúLveda koptcke, smeLe cazeLu e JOSé ma tias de uma} 93


KOPTCKE, L. S.; CAZELLI, S.; LIMA,]. M. de. Observatório de Museus
e Centros Culturais, Pesquisa Piloto Perfil-Opinião 2005. I Boletim,
ano 01, agosto 2006 . .

LAHIRE, B. La Culture des índívídus, díssonances culturelles et dístínctíon


de saí. La découverte, série "Laboratoires des sciences sociales",
Paris, 2004.

MIRONER, L. Cent Musées à la rencontre du public. Paris : France Édition,


2003.

94 {museus, coteções e patRimÔmos: naRRativas poufômcas)

Você também pode gostar