Organização Judiciária Portuguesa

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Antnio Alberto Vieira Cura

ELEMENTOS DE ESTUDO
(ACTUALIZADOS)
DE
ORGANIZAO JUDICIRIA

Coimbra, Outubro de 2013

INTRODUO

1. Conceito e mbito da organizao judiciria


A organizao judiciria, cujo estudo cabe unidade curricular
com a mesma designao, constituda pelo conjunto dos rgos (ou
aparelhos) aos quais, nos termos constitucional e legalmente previstos,
compete administrar a justia, quer em matria constitucional ou
financeira, quer em matria cvel e criminal, quer em matria
administrativa e fiscal, quer em matria militar (ou qualquer outra); o
acervo das normas (constitucionais, legais ou regulamentares) que
disciplinam

tais

rgos

ou

aparelhos

pode

designar-se

como

ordenamento judicirio(1).
Reconduzem-se

ao

mbito

da

organizao

judiciria,

designadamente: a determinao e enumerao das categorias de


tribunais existentes(2), da respectiva sede e da rea onde exercem a
Sobre a noo de organizao judiciria e a sua relao com o de ordenamento
judicirio ou de direito judicirio, vide AFFONSO COSTA, Lies de Organizao
Judiciria. Synthese das prelees do Ex.mo Sr. Dr. Affonso Costa ao 4. anno jurdico
de 1898 a 1899 Mandada imprimir por Jos Marques alumno n. 66 do mesmo curso
(Coimbra,1899). pg. 1; J. J. GOMES CANOTILHO, Direito Constitucional e Teoria da
Constituio, 7. edio (Coimbra, 2003), pg. 660 onde o A. fixa o conceito de
ordenamento judicirio; IGNACIO FLORES PRADA, Los modelos de organizacin
judicial, in Manual de Organizacin Judicial, Dir. por Vctor Moreno Catena, 3. ed.
(Valencia, 2008), pg. 15 em que o A. define a organizao judicial como o conjunto
de decises relativas composio, estrutura e funcionamento da administrao da
justia numa determinada comunidade poltica (reportando-se, pois, s normas
respeitantes a essa matria); e GIULIANO SCARSELLI, Ordinamento giudiziario e
forense, 3. ed. (Milano, 2010), pg. 1 onde o A. define o ordinamento giudiziario
(ordenamento judicirio) com referncia a tal organizao, como conjunto de normas
que disciplinam a organizao dos aparelhos e das pessoas designadas para o
funcionamento da justia, e sustenta que no se pode falar de Direito judicirio, uma
vez que, actualmente, no existe um sistema de institutos que discipline de maneira
orgnica e coordenada a actividade dos juzes.
(2) Na exposio que se segue trataremos somente dos tribunais portugueses, e
no, tambm, dos tribunais internacionais e supranacionais. A respeito desses
tribunais, em particular, do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem e dos rgos
jurisdicionais da Unio Europeia, com destaque para o Tribunal de Justia e o
Tribunal Geral (cfr. art. 19., n. 1, do Tratado da Unio Europeia verso
1
(1)

parcela do poder jurisdicional que lhes reconhecida; a diviso do


territrio em circunscries para efeito do exerccio dessa fatia de
jurisdio; a relao (de independncia, como veremos) que intercede
entre os tribunais, no seu conjunto, e os outros rgos de soberania,
assim como a que existe entre as diferentes categorias de tribunais e
entre os juzes de cada um deles; a hierarquizao dos tribunais para
efeito de recurso; os critrios de repartio da jurisdio e da
competncia entre as diferentes ordens de tribunais e entre os
diferentes

tribunais

integrados

numa

mesma

categoria,

respectivamente; o modo como estes esto organizados e o seu


funcionamento (em plenrio, por seces ou em pleno de seces; como
tribunal singular, como tribunal colectivo, como tribunal do jri); a
identificao dos tribunais, juzos ou seces (consoante a lei aplicvel)
de competncia genrica, de competncia especfica e de competncia
especializada

(com

ponderao

das

vantagens

inerentes

administrao da justia por estes ltimos); o estatuto dos magistrados


que exercem as suas funes nos diferentes tribunais, em especial, as
garantias de que gozam, a forma como so nomeados e por quem; a
consolidada, publicada no Jornal Oficial da Unio Europeia C 83, de 30/03/2010),
vide JNATAS E. M. MACHADO, Direito Internacional. Do paradigma clssico ao ps11 de Setembro, 3. ed. (Coimbra, 2006), pgs. 386-397, 400-402, 412-441, 624-642 e
770-798, e Direito da Unio Europeia (Coimbra, 2010), pgs. 482 e segs.; e RAQUEL
CASTILLEJO MANZANARES, Los tribunales supranacionales, in Manual de
Organizacin Judicial, Dir. por Vctor Moreno Catena, cit., pgs. 101-126.
Saliente-se, no entanto, a importncia de que se reveste, tambm para os
tribunais portugueses, o instituto do reenvio prejudicial, para o Tribunal de Justia
da Unio Europeia (TJUE), previsto no actual art. 267. do Tratado sobre o
Funcionamento da Unio Europeia (verso consolidada, publicada no referido Jornal
Oficial da Unio Europeia C 83), que corresponde ao antigo art. 234. do TCE. O
mencionado reenvio consiste em o rgo jurisdicional nacional de qualquer EstadoMembro, quando seja suscitada uma questo sobre a interpretao dos Trados (al.
a)) ou sobre a validade e a interpretao dos actos adoptados pelas instituies,
rgos ou organismos da Unio (al. b)), solicitar ao TJUE que se pronuncie quanto a
ela, se considerar que uma deciso sobre essa questo necessria ao julgamento da
causa. Esse reenvio facultativo no caso de as decises dos tribunais nacionais
admitirem recurso; mas se obrigatrio se a questo for suscitada em processo
pendente perante um rgo jurisdicional nacional cujas decises no sejam
susceptveis de recurso judicial previsto no direito interno. Em qualquer caso, sendo
a questo reenviada ao TJUE, a instncia fica suspensa at este se pronunciar e a
sentena faz caso julgado no processo, devendo ser aplicada pelo tribunal nacional ao
caso concreto. Para maiores desenvolvimentos sobre este tema, vide JNATAS E. M.
MACHADO, Direito da Unio Europeia, cit., pgs. 572-595.
2

composio e as competncias das secretarias dos tribunais, s quais


cabe assegurar o expediente dos tribunais; as funes que esto
atribudas aos funcionrios que prestam servio nos tribunais.

2. Noes fundamentais
Ao longo do curso iremos lidar com determinadas noes ou
conceitos

particularmente

importantes

para

compreenso

das

matrias leccionadas. Cremos justificar-se, por isso, fornec-los (ou,


melhor, record-los, porque j so conhecidos do processo civil e da
justia administrativa) nesta parte introdutria. Referimo-nos s noes
de tribunais, de jurisdio, de competncia, de instncia e grau de
jurisdio, e de alada, que mencionaremos por esta ordem.

2.1. Tribunais
Conjugando o disposto nos artigos 202., n.1(3), e 203. da
Constituio da Repblica Portuguesa (C.Rep.), parece-nos ser possvel
extrair da nossa lei fundamental a seguinte definio de tribunais (em
sentido

estrito(4)):

so

os

rgos

de

soberania,

dotados

de

independncia, aos quais compete administrar a justia em nome do


povo(5).
(3) Cfr., tambm, o art. 2., n. 1, da Lei de Organizao do Sistema Judicirio
(LOSJ) Lei n. 62/2013, de 26 de agosto.
(4) Esta designao usada por CASTRO MENDES (com base no art. 1508. do
C.P.Civil em vigor na altura em que escrevia, revogado pelo Decreto-Lei n. 38/2003,
de 8 de Maro), para distinguir os tribunais no arbitrais dos tribunais arbitrais. Cfr.
JOO DE CASTRO MENDES, Direito Processual Civil, vol. I (Lisboa, 1980), pgs. 380,
386 e 389.
(5) CASTRO MENDES via no art. 205. da Constituio (na sua primeira verso), a
que agora corresponde o n. 1 do art. 202., uma definio de tribunal. Cfr. JOO DE
CASTRO MENDES, Direito Processual Civil, cit., pg. 132.
Posio diferente a assumida por GOMES CANOTILHO/VITAL MOREIRA,
perante o teor do art. 202., n. 1, resultante da Lei Constitucional n. 1/89, de 8 de
Julho (que reproduziu o anterior art. 205.). Com efeito, sustentam que a Constituio
no define o que so tribunais e que o respectivo conceito tem de ser procurado em
3

A anlise do teor dessa definio permite-nos verificar que so


quatro(6) os elementos caracterizadores da noo de tribunais que
resulta dos mencionados preceitos constitucionais:
a) Em primeiro lugar, trata-se de rgos de soberania, a par do
Presidente da Repblica, da Assembleia da Repblica e do Governo
(arts. 2. e 110., n. 1, da C.Rep.)(7), qualificao que pertence a todos e
a cada um dos tribunais, e no ao seu conjunto(8).
b)

Em

segundo

lugar,

so

rgos

estaduais

dotados

de

independncia, em face dos outros poderes do Estado (que no podem


interferir na administrao da justia) e entre si (em virtude de cada um
conexo com o de funo jurisdicional (n. 2) e com o de juiz (art. 216.). Cfr. J. J.
GOMES CANOTILHO/VITAL MOREIRA, Constituio da Repblica Portuguesa
anotada, vol. II, 4. edio revista (Coimbra, 2010), pg. 506.
Se exceptuarmos o facto de no nos referirmos, como estes ilustres
constitucionalistas, administrao da justia pelos juzes (aos quais est cometida a
funo de julgar), mas pelos tribunais, a definio que apresentamos no se afasta da
fornecida por eles.
(6) Como no inclua a independncia na noo de tribunais, CASTRO MENDES
mencionava somente trs elementos caracterizadores dos mesmos. Cfr. JOO DE
CASTRO MENDES, Direito Processual Civil, vol. I, cit., pgs. 133-134.
(7) Sendo rgos de soberania, os tribunais so rgos estaduais supremos. Assim,
os tribunais arbitrais (cuja existncia est prevista no art. 209., n. 2, C.Rep. mas
no mais do que isso, uma vez que a justia arbitral no objecto directo da
organizao dos tribunais, como salientam J. J. GOMES CANOTILHO/VITAL
MOREIRA, Constituio da Repblica Portuguesa anotada, vol. II, cit., pg. 552 e
agora tambm no art. 29., n. 4, e no art. 150. da LOSJ, sem que se veja qualquer
motivo vlido para tal, em virtude de a Constituio j conter as normas de
enquadramento respeitantes aos tribunais que esta lei tem como objecto, a par da
organizao do sistema judicirio (art. 1.), que os tribunais arbitrais no integram, e
de definir os tribunais como rgos de soberania com competncia para administrar a
justia em nome do povo (art. 2., n. 1), o que, manifestamente, no o caso dos
tribunais arbitrais.
Isto mesmo era afirmado por GOMES CANOTILHO/VITAL MOREIRA, na 3.
edio (Coimbra, 1993) da Constituio da Repblica Portuguesa anotada (pg. 791). O
facto de tal afirmao no ser feita na 4. edio no significa, segundo cremos, que os
AA. tenham mudado de opinio a esse respeito, pois continuam a considerar como
tribunais, somente, os rgos do Estado (rgos de soberania), em que um ou mais
juzes procedem administrao da justia. Cfr. J. J. GOMES CANOTILHO/VITAL
MOREIRA, Constituio da Repblica Portuguesa anotada, vol. II, cit., pgs. 506-507 e
547.
Sobre os tribunais arbitrais e as suas espcies, vide, infra, n. 4.2. e cap. VII.
(8) Cfr. J. J. GOMES CANOTILHO/VITAL MOREIRA, Constituio da Repblica
Portuguesa anotada, vol. II, cit., pgs. 506 e 547; e JORGE MIRANDA/RUI
MEDEIROS, Constituio Portuguesa anotada, tomo III (Coimbra, 2007), pg. 13.
4

dos tribunais ser um rgo de soberania), salvo no que respeita s


decises proferidas em via de recurso por tribunais superiores (como
melhor veremos adiante)(9).
c) Em terceiro lugar, tm a seu cargo a funo jurisdicional (art.
202., epgrafe e n. 1, da C.Rep.(10))(11), cujo exerccio lhes pertence de
modo exclusivo, estando vedado aos restantes rgos de soberania(12) e
a quaisquer outros rgos estaduais(13). O seu exerccio, segundo a
formulao, que se pretende abrangente (embora, porventura, no o
seja suficientemente), contida no n. 2 desse artigo e reproduzida,
quase ipsis verbis, no art. 2. da Lei de Organizao e Funcionamento
dos Tribunais Judiciais (LOFTJ) aprovada pela Lei n. 3/99, de 13 de
Janeiro, no art. 3. da LOFTJ aprovada pela Lei n. 52/2008, de 28 de
Sobre a independncia dos tribunais como elemento essencial da sua prpria
definio, vide J. J. GOMES CANOTILHO/VITAL MOREIRA, Constituio da Repblica
Portuguesa anotada, vol. II, cit., pg. 513.
(10) Cfr., tambm, o art. 2., n. 2, da LOSJ.
(11) Como teremos ocasio de ver, nomeadamente, a propsito do Tribunal
Constitucional e do Tribunal de Contas, a circunstncia de os tribunais
desempenharem a funo jurisdicional no significa que eles no exeram, tambm,
funes de outra natureza. Cfr. J. J. GOMES CANOTILHO/VITAL MOREIRA,
Constituio da Repblica Portuguesa anotada, vol. II, cit., pg. 510.
(12) Se adoptarmos uma perspectiva que tome em considerao o poder soberano
exercido pelos tribunais (como rgos de soberania) o qual tem como objecto a
actividade destes rgos , em vez de aludirmos funo estadual por eles
desempenhada, devemos referir-nos, antes, a poder jurisdicional.
Sobre o conceito de rgos de soberania, assente na atribuio que lhes feita,
pela Constituio, de poderes soberanos (que, alis, no esgotam a organizao do
poder poltico), vide J. J. GOMES CANOTILHO/VITAL MOREIRA, Constituio da
Repblica Portuguesa anotada, vol. II, cit., pgs. 39-41.
(13) A respeito da reserva do exerccio da funo jurisdicional em proveito exclusivo
dos tribunais, e no sentido de que essa exclusividade no significa a negao do
exerccio da funo jurisdicional pelos tribunais arbitrais, vide J. J. GOMES
CANOTILHO/VITAL MOREIRA, Constituio da Repblica Portuguesa anotada, vol. II,
cit., pgs. 506-507; J. J. GOMES CANOTILHO, Direito Constitucional, cit., pgs. 664665; JORGE MIRANDA/RUI MEDEIROS, Constituio Portuguesa anotada, tomo III,
cit., pgs. 24-25; e PEDRO GONALVES, Entidades privadas com poderes pblicos
(Coimbra, 2005), pgs. 561-565 onde o A. sustenta que o art. 202., n. 1, da
Constituio tem como finalidade primordial consagrar uma reserva de jurisdio no
mbito das relaes internas entre os vrios poderes do Estado (referindo-se a reserva
de jurisdio aos tribunais jurisdio enquanto funo do Estado, jurisdio
estadual) e que, por conseguinte, o sentido da norma no o de consagrar o
monoplio estadual da funo jurisdicional ou um sistema de exclusividade da justia
pblica (destacando no mbito da funo jurisdicional exercida por particulares,
precisamente, os tribunais arbitrais).
5
(9)

Agosto, e no art. 2., n. 3, da Lei n. 62/2013, de 26 de agosto (Lei de


Organizao do Sistema Judicirio LOSJ) , pode concretizar-se na
defesa dos direitos e interesses legalmente protegidos dos cidados (ou
seja, em defender os direitos subjectivos dos cidados e os interesses
dos mesmos que a lei protege sem atribuio daqueles direitos), em
reprimir as violaes da legalidade democrtica (isto , sancionar as
condutas que infrinjam as disposies legais em vigor) e em dirimir os
conflitos de interesses pblicos e privados (quer dizer, julgar os litgios
e impor coercivamente o acatamento das decises tomadas). Mas isso
no significa que cada uma das categorias de tribunais estaduais,
adiante referidas, administre a justia com vista prossecuo de todas
essas finalidades, nem que a funo jurisdicional se esgote na
realizao desses fins.
d) Em quarto lugar, os tribunais administram a justia em nome
do povo(14), referncia que encontra a sua justificao no facto de no
serem eles os titulares da soberania (como no o so o Presidente da
Repblica, a Assembleia da Repblica e o Governo) pertencendo esta
ao povo (arts. 2., 3., n. 1, e 108. C.Rep.)(15)-(16).

A esse aspecto referem-se, igualmente, o art. 1. da LOFTJ de 1999, o art. 2.


da LOFTJ de 2008 e o art. 2, n. 1, da LOSJ.
(15) Contra o que sustenta CASTRO MENDES (cfr. JOO DE CASTRO MENDES,
Direito Processual Civil, vol. I, cit., pg. 133), no nos parece que essa referncia se
possa justificar pela necessidade de vincar que os tribunais recebem o poder
jurisdicional directamente do titular da soberania, e no de qualquer outro rgo
supremo do Estado, porquanto isso j resulta da qualificao dos tribunais como
rgos de soberania.
(16) Uma vez que, em geral, falta aos juzes uma legitimao democrtica directa,
pela via de eleies, que lhes assegure uma verdadeira representao do povo
soberano (a excepo constituda, como veremos, pelos juzes do Tribunal
Constitucional), GOMES CANOTILHO/VITAL MOREIRA chegaram a qualificar como
fictio iuris a referncia administrao da justia em nome do povo [cfr. J. J.
GOMES CANOTILHO/VITAL MOREIRA, Constituio da Repblica Portuguesa
anotada, 3. edio revista (Coimbra, 1993), pg. 791]. Mas, entretanto, deixaram de
fazer tal qualificao e sustentam, agora, que [a] justia feita em nome do povo e no
pelo povo significa que a articulao com a soberania popular (povo) no se faz em
termos de imediao popular, atravs do sufrgio, mas sim, de forma mediata ou
indirecta (em nome do povo) (). Cfr. J. J. GOMES CANOTILHO/VITAL MOREIRA,
Constituio da Repblica Portuguesa anotada, vol. II, cit., pgs. 507-508.
6
(14)

A noo apresentada vale, como foi referido, somente para os


tribunais estaduais ou tribunais em sentido estrito. Se quisermos
englobar tambm os tribunais arbitrais, que constituem uma jurisdio
no estadual cuja existncia admitida pela prpria Constituio (art.
209., n. 2), teremos de adoptar um conceito mais amplo. Neste
sentido, poderemos definir os tribunais (lato sensu) como rgos aos
quais compete o exerccio da funo jurisdicional(17).

2.2. Jurisdio
A jurisdio tanto pode ser referida a todos tribunais portugueses
como reportar-se a uma certa categoria ou ordem de tribunais (por
exemplo, os tribunais administrativos e fiscais).
No primeiro caso, a jurisdio designa o poder de julgar,
constitucionalmente atribudo ao conjunto dos tribunais existentes na
Cremos, no entanto, que no deve ser exagerada a falta de poderes de
representao dos tribunais, por ser a prpria Constituio expresso de um poder
constituinte (cujo titular o povo) e de um procedimento constituinte representativo
(sobre este tema, vide J. J. GOMES CANOTILHO, Direito Constitucional, cit., pgs. 6566, 75-76 e 78-79) que lhes atribui esse poder de julgar em nome do povo.
(17) Numa formulao que j foi vista como definio genrica de tribunal,
susceptvel de abranger o tribunal arbitral (cfr. o Acrdo do Tribunal Constitucional
n. 230/86 e PEDRO GONALVES, Entidades privadas com poderes pblicos, cit., pg.
565), MARCELLO CAETANO considerava tribunal o rgo singular ou colegial que, a
requerimento de algum e procedendo com imparcialidade e independncia, segundo
frmulas preestabelecidas, possui autoridade para fixar a verso autntica dos factos
incertos ou controversos de um caso concreto a fim de determinar o direito aplicvel a
esse caso em deciso com fora obrigatria para os interessados. Cfr. MARCELLO
CAETANO, Manual de Cincia Poltica e Direito Constitucional, 6. edio, revista e
ampliada por Miguel Galvo Teles, Tomo II Direito Constitucional Portugus (Lisboa,
1972), pgs. 663-664. Saliente-se, contudo, que MARCELLO CAETANO no
apresentava esse conceito como definio genrica de tribunal (apesar de incluir os
tribunais arbitrais no nmero dos tribunais especiais pg. 668). E tanto assim que,
ao proceder respectiva explicitao, qualificava os tribunais como rgos de
soberania. Acresce que os tribunais arbitrais (salvo nos casos em que a lei no o
permita, como sucede em matria tributria) podem decidir segundo a equidade, e no
apenas segundo o direito constitudo, pelo que a sua finalidade pode no ser a de
determinar o direito aplicvel.
Sobre a natureza jurisdicional dos tribunais arbitrais (reconhecida pelo prprio
Tribunal Constitucional) e as consequncias que advm da afirmao de tal natureza,
vide JORGE MIRANDA/RUI MEDEIROS, Constituio Portuguesa anotada, tomo III,
cit., pgs. 17-18 e 117-120.
7

ordem jurdica portuguesa (art. 202., n.os 1 e 2, da C.Rep.), por


contraposio ao poder dos rgos que exercem as outras funes do
Estado (em especial ao do Governo, enquanto rgo supremo da
Administrao

Pblica(18)).

Equivale,

por

conseguinte,

poder

jurisdicional, que exercido pelos rgos que desempenham a funo


jurisdicional (os tribunais).
Na segunda hiptese, a jurisdio indica o poder de julgar os
conflitos de interesses que a Constituio e a lei pem a cargo de cada
uma das ordens de tribunais, por oposio ao poder reconhecido a outra
categoria de tribunais. Neste sentido, fala-se, nomeadamente, da
jurisdio cvel e criminal (rectius, dos tribunais judiciais) e da
jurisdio administrativa e fiscal.
Estas duas acepes de jurisdio tm acolhimento implcito no
art. 109., n. 1, do novo Cdigo de Processo Civil (C.P.Civil)(19), que
refere as situaes em que se verificam conflitos de jurisdio (por
contraposio aos conflitos de competncia). Ora, eles ocorrem quando
duas ou mais autoridades, pertencentes a diversas atividades do
Estado, ou dois ou mais tribunais, integrados em ordens jurisdicionais
diferentes, se arrogam ou declinam o poder de conhecer da mesma
questo(20).
Cfr. o art. 182. da C.Rep.
O novo Cdigo de Processo Civil foi aprovado pela Lei n. 41/2013, de 26 de
junho (rectificada pela Declarao de Retificao n. 36/2013, in Dirio da Repblica,
1. srie, n, 154, de 12-08-2013), com incio de vigncia em 1 de Setembro de 2013.
esse o C.P.Civil citado, sempre que no haja qualquer outra indicao. Todavia, como
muitos dos seus preceitos provm do C.P.Civil aprovado pelo Decreto-Lei n. 44 129,
de 28 de Dezembro de 1961 (entretanto objecto de sucessivas alteraes), revogado
pelo referido diploma legal (art. 4., al. a)), e apenas se procedeu renumerao dos
artigos, quando houver correspondncia entre normas da nova verso do C.P.Civil e da
anterior, indicam-se tambm os artigos do cdigo que agora deixou de vigorar (na sua
ltima redaco).
O n. 1 do art. 109. do novo C.P.Civil corresponde ao n. 1 do art. 115. do
C.P.Civil de 1961.
(20) Sobre o conceito de jurisdio, vide ALBERTO DOS REIS, Comentrio ao Cdigo
de Processo Civil, vol. 1., 2. edio (Coimbra, 1960), pgs. 103-105; ANTUNES
VARELA/J. MIGUEL BEZERRA/SAMPAIO E NORA, Manual de Processo Civil, 2.
edio (Coimbra, 1985), pg. 196; e J. P. REMDIO MARQUES, A aco declarativa
luz do Cdigo revisto, 3. edio (Coimbra, 2011), pgs. 235-236.
A respeito dos conflitos de jurisdio e da competncia para os resolver, vide,
infra, n.os 35 a 37.
8
(18)
(19)

2.3. Competncia
O poder jurisdicional exercido pelos tribunais dos diferentes
pases (e, tambm, por tribunais internacionais e supranacionais); aos
tribunais portugueses apenas cabe, portanto, a resoluo de uma parte
dos litgios que ocorrem no mundo. De forma imprpria (como decorre
do

conceito

de

jurisdio

acima

fornecido)(21),

designa-se

por

competncia internacional dos tribunais portugueses a parcela do poder


jurisdicional que lhes atribuda, no seu conjunto, por contraposio
que pertence aos tribunais estrangeiros(22).

No sentido de que talvez com defeito de tcnica terminolgica que se chama


competncia internacional (dos tribunais portugueses) jurisdio dos tribunais
portugueses em seu conjunto, em confronto com a dos tribunais estrangeiros, vide
JOO DE CASTRO MENDES, Direito Processual Civil, vol. I, cit., pgs. 408-409.
(22) As regras que determinam somente a competncia internacional dos tribunais
portugueses so as contidas nos arts. 62. e 63. do C.P.Civil (anteriores arts. 65. e
65.-A). Todavia, vigoram tambm na ordem jurdica portuguesa os regulamentos
comunitrios que definem a competncia internacional directa dos tribunais de cada
um dos Estados-membros da Unio Europeia o Regulamento (CE) n. 44/2001 do
Conselho, de 22 de Dezembro de 2000, publicado no JOCE L 12/1, de 16.1.2001
(relativo competncia judiciria, ao reconhecimento e execuo de decises em
matria civil e comercial), e o Regulamento (CE) n. 2201/2003 do Conselho, de 27 de
Novembro de 2003, publicado no JOUE L 338/1, de 23.12.2003 (relativo
competncia, ao reconhecimento e execuo de decises em matria matrimonial e
em matria de responsabilidade parental) e prevalecem sobre aquelas regras
(primazia do direito europeu sobre o direito nacional, afirmada pelo Tribunal de
Justia da Unio Europeia, e acolhida pelo art. 8., n. 4, da C.Rep., na medida em
que reconhece a aplicabilidade das normas emanadas das instituies da UE nos
termos definidos pelo Direito da Unio); por esse motivo, as referidas normas do
C.P.Civil aplicam-se somente nos casos no previstos nas aludidas fontes de direito da
UE.
Sobre a competncia internacional dos tribunais portugueses, vide ANTUNES
VARELA/J. MIGUEL BEZERRA/SAMPAIO E NORA, Manual de Processo Civil, cit.,
pgs. 199-206; JOO DE CASTRO MENDES, Direito Processual Civil, vol. I, cit., pgs.
408-432; MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA, Estudos sobre o novo processo civil, 2.
edio (Lisboa, 1997), pgs. 92-106; J. P. REMDIO MARQUES, A aco declarativa,
cit., pgs. 268-300 onde o A. refere o mbito de aplicao de cada um dos referidos
regulamentos comunitrios e analisa os critrios de competncia internacional neles
estabelecidos, assim como as regras consagrados no C.P.Civil (e o respectivo mbito de
aplicao, decorrente do seu carcter residual); e ANTNIO MONTALVO
MACHADO/PAULO PIMENTA, O novo processo civil, 10. edio (Coimbra, 2008), pgs.
87-91.
9
(21)

A competncia interna, que constitui um dos mais importantes


pressupostos processuais(23), tem a ver, unicamente, com a parcela
desse poder que se acha repartido entre os diferentes tribunais
portugueses (judiciais, administrativos e fiscais, etc.) atribuda a cada
um dos tribunais integrados numa certa categoria (por exemplo, a dos
tribunais judiciais). Da resulta a qualificao como conflitos de
competncia, no n. 2 do art. 109. do C.P.Civil(24), daqueles conflitos
que ocorrem quando dois ou mais tribunais da mesma ordem
jurisdicional se consideram competentes ou incompetentes para
conhecer da mesma questo(25).
Mas uma coisa essa competncia abstracta e outra a
competncia concreta do tribunal para julgar determinada aco, de
certo tipo(26). Assim, por exemplo, apesar de os tribunais de famlia (ou
de famlia e menores, porque, como veremos, os que existem so todos
de competncia especializada mista) serem competentes, em abstracto,
para as aces de impugnao da paternidade presumida (art. 82., n.
1, al. j), da LOFTJ aprovada pela Lei n. 3/99), o Tribunal de Famlia e
Menores de Coimbra s competente, em concreto, para uma
determinada aco desse tipo, no caso de ela ser intentada pelo filho
contra o presumido pai e contra a me (art. 1846., n. 1, do C.Civil), se
pelo menos um dos rus tiver o seu domiclio na rea de competncia
territorial desse tribunal (por exemplo, na cidade de Coimbra) arts.
80., n. 1, e 82., n. 1, do C.P.Civil(27) e mapa VI anexo ao Decreto-Lei
n. 186-A/99, de 31 de Maio.

Cfr.
Art. 115., n. 2 do C.P.Civil de 1961.
(25) A respeito dos conflitos de competncia e dos tribunais a que cabe a sua
resoluo, vide, infra, n. 37.2.
(26) Cfr. ANTUNES VARELA/J. MIGUEL BEZERRA/SAMPAIO E NORA, Manual de
Processo Civil, cit., pg. 195.
(27) Arts. 85., n. 1, e 87., n. 1, do C.P.Civil de 1961.
10
(23)
(24)

2.4. Instncia e grau de jurisdio


Para efeito do disposto no Ttulo II do Livro II do C.P.Civil (arts.
259. a 291.)(28), a instncia consiste na relao jurdica processual,
que se estabelece e desenvolve entre cada uma das partes e o tribunal.
Tem incio com a proposio da aco, que se verifica logo que a
respectiva petio inicial seja recebida na secretaria do tribunal (art.
259., n. 1, do C.P.Civil(29))(30), ainda que a relao processual
(triangular) s fique completa com a citao do ru (s produzindo
efeitos em relao a este a partir do momento em que a mesma
realizada art. 259., n. 2, C.P.Civil(31))(32) , que torna estveis os
elementos essenciais da causa (os sujeitos, o pedido e a causa de pedir),
sem prejuzo das modificaes admitidas na lei (arts. 260. e 564., al.
b), do C.P.Civil(33)); e extingue-se por qualquer das causas previstas no
art. 277. do C.P.Civil(34).
Os tribunais onde, nos termos legais, a aco deve ser proposta,
apreciada, julgada (se chegar fase de julgamento) e decidida, por
sentena, pela primeira vez, so denominados tribunais de primeira
instncia em regra, como veremos, os tribunais de comarca.

Captulo II do Ttulo I do Livro III no C.P.Civil de 1961 (arts. 264. a 301.).


Art. 267., n. 1, do C.P.Civil de 1961.
(30) O n. 1 do art. 259. ressalva, no entanto, o disposto no art. 144., em cujo n.
1 se consagra a regra de que os atos processuais que devam ser praticados por
escrito pelas partes so apresentados a juzo por transmisso eletrnica de dados, nos
termos definidos na portaria prevista no n. 1 do artigo 132., valendo como data da
prtica do ato processual a da respetiva expedio; tal regra no , porm, aplicvel
quando se trate de causa que no importe a constituio de mandatrio, e a parte
no esteja patrocinada, hiptese em que os atos processuais referidos no n. 1
tambm podem ser apresentados a juzo, mediante entrega na secretaria judicial,
remessa pelo correio, sob registo ou envio atravs de telecpia (art. 144., n. 7, als.
a), b) e c)), o que vale tambm no caso de a parte estar patrocinada por mandatrio
mas haver justo impedimento para a prtica dos atos processuais nos termos
indicados no n. 1 (art. 144., n. 8).
(31) Art. 267., n. 2, do C.P.Civil de 1961.
(32) Sobre este assunto, vide ALBERTO DOS REIS, Comentrio ao Cdigo de
Processo Civil, vol. 3. (Coimbra, 1946), 20-30; ANTUNES VARELA/J. MIGUEL
BEZERRA/SAMPAIO E NORA, Manual de Processo Civil, cit., pgs. 252-254; e J. P.
REMDIO MARQUES, A aco declarativa, cit., pgs. 229 e 445.
(33) Arts. 268. e 481., al. b), do C.P.Civil de 1961.
(34) Art. 287. do C.P.Civil de 1961.
11
(28)
(29)

Simplesmente, a deciso proferida por qualquer desses tribunais


no tem, necessariamente, carcter definitivo.
Em matria cvel, pode ser impugnada, nos termos legais, em via
ordinria, mediante recurso de apelao, a interpor (em regra) pela
parte principal vencida (ou por qualquer delas, se ambas ficarem
vencidas) arts. 627., n. 1, 629., 631., n. 1, 633., n. 1, e 644. do
C.P.Civil(35). Ora, ainda que a apelao seja considerada como um novo
procedimento, dentro da mesma relao processual (e no uma nova
instncia, no sentido acima referido)(36), os tribunais competentes para
julgar esses recursos ou seja, para conhecer do litgio aps uma
deciso anterior proferida por um tribunal pertencente mesma ordem,
mas hierarquicamente inferior so qualificados como tribunais de
segunda instncia (em regra, como veremos, os tribunais da Relao),
assumindo aqui o termo instncia o sentido de grau de jurisdio (e
no aquele de que se reveste para efeito do disposto nos arts. 259. e
segs.

do

C.P.Civil(37))(38),

que

faz

com

que

esses

tribunais

correspondam ao 2. grau de jurisdio. Existem, assim, nos casos em


que seja admitido esse recurso, duas instncias ou o que vale o
mesmo dois graus de jurisdio, mas um s grau de apelao, uma
vez que o Supremo Tribunal de Justia , em regra, apenas um tribunal
de revista (no podendo apelar-se da deciso da Relao, proferida em
via de recurso, para o Supremo Tribunal de Justia)(39).

Arts. 676., n. 1, 678., 680., n. 1, 682., n. 1, e 691. do C.P.Civil de 1961.


De acordo com a orientao dominante na Frana, ALBERTO DOS REIS
chegou a sustentar que a apelao constitua uma nova instncia (cfr. Organizao
judicial, cit., pg. 167), mas acabou por aderir doutrina oposta (perfilhada, entre
ns, por BARBOSA DE MAGALHES) a de que a interposio e expedio de um
recurso ordinrio no determina a abertura de nova instncia, tomada esta palavra
no sentido que assume no sistema do Cdigo (de Processo Civil), mas, unicamente,
de uma nova fase processual ou de um novo procedimento, dentro da mesma
relao processual. Cfr. ALBERTO DOS REIS, Cdigo de Processo Civil anotado, vol. V,
reimpresso (Coimbra, 1981), pgs. 382-386.
(37) Arts. 264. e segs. do C.P.Civil de 1961.
(38) Cfr. ALBERTO DOS REIS, Cdigo de Processo Civil anotado, vol. V, cit., pg.
384.
(39) Cfr. ALBERTO DOS REIS, Organizao Judicial. Lies feitas ao curso do 4.
anno jurdico de 1908 a 1909 (Coimbra, 1909), pgs. 166-167; AFFONSO COSTA,
12
(35)
(36)

Em matria penal, designa-se igualmente como tribunal de 1.


instncia aquele a que compete julgar o(s) arguido(s) pela primeira vez
(em regra, como adiante se ver, o tribunal de comarca(40)). E, se
exceptuarmos os casos em que h recurso directo para o Supremo
Tribunal de Justia (assim como aqueles em que o tribunal da Relao
profere a deciso em 1. instncia), o tribunal competente para
conhecer do recurso interposto da deciso proferida pelo tribunal de 1.
instncia o da Relao, que assim funciona como 2. instncia (arts.
427., 432., n. 1, als. a) e c), do C.P.Penal)(41).
No que respeita jurisdio administrativa e fiscal, o Estatuto
dos Tribunais Administrativos e Fiscais (ETAF)(42) e o Cdigo de
Processo nos

Tribunais Administrativos (CPTA)(43) tanto utilizam

primeira instncia (ou segunda) como primeiro grau de jurisdio,


com

os

sentidos

Procedimento

acima
Processo

explicitados(44),
Tributrio

enquanto

(CPPT)(45)

Cdigo

de

uniforme

na

terminologia adoptada, empregando sempre instncia(46).


Lies, cit., pg. 309; e MANUEL DE OLIVEIRA CHAVES E CASTRO, A organizao e
competncia dos tribunaes de justia portugueses (Coimbra, 1910), pg. 136.
(40) Cfr. infra, n. 27.
(41) Cfr. infra, n. 26.
(42) Quanto indicao da lei que aprovou o ETAF e dos diplomas legais que
procederam alterao deste, vide, infra, n. 3.2.
(43) O CPTA foi aprovado pela Lei n. 15/2002, de 19 de Fevereiro (rectificada pela
Declarao de Rectificao n. 17/2002, pub. in Dirio da Repblica, I Srie-A, n.
81, de 6-4-2002), e alterado pela Lei n. 4-A/2003, de 19 de Fevereiro, pela Lei n.
59/2008, de 11 de Setembro, e pela Lei n. 63/2011, de 14 de Dezembro.
(44) Cfr. os arts. 6., n. 5, 24., n. 1, al. g), 25., n. 1, al. b), 27., n. 1, al. b),
44., n. 1, do ETAF e os arts. 16., 29., n. 3, 31., n. 2, al. c), 48., n. 5, al. d),
142., 149., n. 2, 150., n. 1, 164., n. 1, e 176. do CPTA.
(45) O CPPT foi aprovado pelo Decreto-Lei n. 433/99, de 26 de Outubro; e,
entretanto, foi alterado pela Lei n. 3-B/2000, de 4 de Abril, pela Lei n. 30-G/2000,
de 29 de Dezembro, pela Lei n. 15/2001, de 5 de Junho (rectificada pela Declarao
de Rectificao n. 15/2001, pub. in Dirio da Repblica, I Srie-A, n. 180, de 4-82001), que republica o CPPT na sua verso actualizada, pela Lei 109-B/2001, de 27
de Dezembro, pela Lei n. 32-B/2002, de 30 de Dezembro, pelo Decreto-Lei n.
38/2003, de 8 de Maro, pelo Decreto-Lei n. 160/2003, de 19 de Julho, pela Lei n.
55-B/2004, de 30 de Dezembro, pela Lei n. 60-A/2005, de 30 de Dezembro, pelo
Decreto-Lei n. 76-A/2006, de 29 de Maro (rectificado pela Declarao de Rectificao
n. 28-A/2006, pub. in Dirio da Repblica, I Srie-A, n. 102, de 26-5-2006), pelo
Decreto-Lei n. 238/2006, de 20 de Dezembro, pela Lei n. 53-A/2006, de 29 de
Dezembro, pela Lei n. 67-A/2007, de 31 de Dezembro, pelo Decreto-Lei n. 34/2008,
de 26 de Fevereiro (rectificado pela Declarao de Rectificao n. 22/2008, pub. in
Dirio da Repblica, 1. Srie, n. 81, de 24-4-2008), pela Lei n. 40/2008, de 11 de
13

2.5. Alada
Os tribunais judiciais, em matria cvel (por no haver alada em
matria criminal)(47), e os tribunais administrativos e fiscais estes s
desde a entrada em vigor do ETAF(48) possuem alada(49).
Entende-se por alada o limite de valor at ao qual o tribunal
decide sem que (em regra) seja admitido recurso ordinrio(50).
A importncia de conhecer tal limite de valor reside no facto de,
em princpio (fora dos casos excepcionais previstos na lei), apenas ser
admitida a interposio de recurso ordinrio de uma deciso judicial
proferida em aco cujo valor seja superior alada do respectivo
tribunal (art. 629., n. 1, do C.P.Civil(51), art. 19., n. 2, da LOFTJ de
1999, art. 27., n. 2, da LOFTJ de 2008, art. 42., n. 2, da LOSJ e art.
142. do CPTA).
Do conceito apresentado resulta que a alada de um tribunal no
se confunde com a sua competncia para conhecer e decidir as aces.
A circunstncia de o valor de uma causa exceder a alada do tribunal
em que instaurada no o torna incompetente para dela conhecer;

Agosto, pela Lei n. 64-A/2008, de 31 de Dezembro, pela Lei n. 3-B/2010, de 28 de


Abril, pela Lei n. 55-A/2010 de 31 de Dezembro, pela Lei n. 64-B/2011, de 30 de
Dezembro, pela Lei n. 66-B/2012, de 31 de dezembro, e pelo Decreto-Lei n. 6/2013,
de 17 de janeiro.
(46) Cfr. os arts. 6., n. 1, 12., n. os 1 e 2, 22., n. 2, 96., n. 2, 97.-A, n. 2,
112., n.os 1 e 2, 138., 141., 143., n. 3, 144., n. 2, 146., n. 3, 146.-B, n. 1,
146.-C, n. 1, 147., n. 3, 151., n. 1, 203., n. 5, 208., n. 1, 243., 245., n. 2,
247., n.os 1 e 2, 276. e 280., n.os 1 e 4, do CPPT.
(47) Cfr. o art. 24., n. os 1 e 2, da LOFTJ de 1999 e art. 31., n. os 1 e 2, da LOFTJ de
2008 e art. 44., n.os 1 e 2, da LOSJ.
(48) Cfr. o art. 6. do ETAF.
(49) Aqui apenas nos interessa o conceito de alada. A indicao da alada dos
tribunais judiciais e da alada dos tribunais administrativos e fiscais encontra-se
infra, n.os 24.4. e 29.
(50) Cfr. ALBERTO DOS REIS, Comentrio ao Cdigo de Processo Civil, vol. 3., cit.,
pg. 584, e Cdigo de Processo Civil anotado, vol. V, cit., pg. 220; e ANTUNES
VARELA/J. MIGUEL BEZERRA/SAMPAIO E NORA, Manual de Processo Civil, cit., pg.
58.
(51) Art. 678., n. 1, do C.P.Civil de 1961.
14

significa, to-s, que a deciso proferida a final susceptvel de recurso


ordinrio, no constituindo, portanto, a resoluo definitiva do caso(52).

3. Fontes de direito respeitantes organizao judiciria


So mltiplas e de diferente natureza as fontes de direito
respeitantes

organizao

judiciria

portuguesa:

normas

da

Constituio, leis e diplomas de natureza regulamentar. Seguidamente,


indicaremos as que se nos afiguram mais importantes e que iro servir
de base ao estudo da matria.

3.1. Constituio da Repblica


Como vimos, os tribunais (em sentido estrito) so rgos de
soberania. Em virtude disso, a prpria Constituio que tem de
proceder definio da sua formao, da sua composio, da sua
competncia e do seu funcionamento (art. 110., n. 2, C.Rep.).
E assim acontece, embora de forma no muito completa, nos arts.
209. e segs. da Constituio, nos quais se acham disciplinados alguns
aspectos fundamentais da organizao dos tribunais portugueses as
categorias de tribunais que devem ou podem existir na ordem jurdica
portuguesa (art. 209., n.os 1 a 3); as circunstncias excepcionais em
que admitida a existncia de tribunais (os militares) com competncia
privativa para o julgamento de certas categorias de crimes, que so os
de natureza estritamente militar (arts. 209., n. 4, e 213.); a
(52) Embora possa parecer suprflua, cremos justificar-se a reproduo da
advertncia h muito feita por ALBERTO DOS REIS a respeito da necessidade de no
confundir a alada com a competncia: Na linguagem vulgar a cada passo se
confunde a alada com a competncia. Do que acabamos de expor se infere o erro desta
noo. Os tribunais tm competncia para julgar causas que excedam a sua alada; o
que sucede isto: se a causa est dentro da alada, o tribunal julga sem recurso
ordinrio; se est fora da alada, mas dentro da competncia que a lei atribui ao
tribunal, este julga legitimamente, cabendo, porm, recurso ordinrio da sua deciso.
Cfr. ALBERTO DOS REIS, Cdigo de Processo Civil anotado, vol. V, cit., pg. 221.
15

organizao hierarquizada dos tribunais judiciais (art. 210.); o carcter


residual da respectiva jurisdio, a possibilidade de, em primeira
instncia, haver tribunais judiciais de competncia especfica e
tribunais de competncia especializada, a possvel existncia de seces
especializadas no Supremo Tribunal de Justia e nos Tribunais da
Relao (art. 211.); a determinao do tribunal considerado como rgo
superior da hierarquia dos tribunais administrativos e fiscais (o
Supremo Tribunal Administrativo) e a delimitao do mbito da
jurisdio

administrativa

fiscal

(art.

212.);

indicao

das

competncias fundamentais do Tribunal de Contas (art. 214.); algumas


normas respeitantes ao estatuto dos juzes dos tribunais judiciais (arts.
215. a 217.) e composio do Conselho Superior da Magistratura
(art. 218.); a enumerao das funes do Ministrio Pblico e a
consagrao da sua autonomia e da existncia de um estatuto prprio
dessa magistratura (art. 219.) e a definio da Procuradoria-Geral da
Repblica

(art.

220.);

referncia

jurisdio

do

Tribunal

Constitucional (art. 221.), sua composio e ao estatuto dos


respectivos juzes (art. 222.), a determinao da sua competncia (art.
223.) e a remisso da sua organizao e funcionamento para a lei
ordinria (art. 224.).

3.2. Diplomas legais e regulamentares


A

escassez

auto-limitao

dos

preceitos

constitucionais

referentes organizao judiciria torna necessria uma disciplina


pormenorizada da matria na legislao ordinria e, num ltimo
patamar normativo, em diplomas de carcter regulamentar.
Merecem destaque os seguintes:

16

A Lei de Organizao, Funcionamento e Processo do Tribunal


Constitucional (LOFPTConst.) Lei n. 28/82, de 15 de
Novembro(53);
A Lei de Organizao e Processo do Tribunal de Contas
(LOPTContas), aprovada pela Lei n. 98/97, de 26 de
Agosto(54);
A Lei de Organizao e Funcionamento dos Tribunais
Judiciais (LOFTJ), aprovada pela Lei n. 3/99, de 13 de
Janeiro(55);
O Decreto-Lei n. 186-A/99, de 31 de Maio, que regulamenta
a LOFTJ aprovada pela Lei n. 3/99(56);
A Lei n. 28/82 foi alterada pela Lei n. 143/85, de 26 de Novembro, pela Lei
n. 85/89, de 7 de Setembro, pela Lei n. 88/95, de 1 de Setembro, pela Lei n. 13A/98, de 26 de Fevereiro (rectificada pela Declarao de Rectificao n. 10/98, pub.
in Dirio da Repblica, I Srie-A, n. 119, de 23-5-1998), e pela Lei Orgnica n.
1/2011, de 30 de Novembro.
(54) A Lei n. 98/97 foi, entretanto, objecto de diversas alteraes, introduzidas
pela Lei n. 87-B/98, de 31 de Dezembro (rectificada pela Declarao de Rectificao
n. 1/99, pub. in Dirio da Repblica, I Srie-A, n. 13, de 16-1-1999), pela Lei n.
1/2001, de 4 de Janeiro, pela Lei n. 55-B/2004, de 30 de Dezembro (rectificada pela
Declarao de Rectificao n. 5/2005, pub. in Dirio da Repblica, I Srie-A, n. 31,
de 14-2-2005), pela Lei n. 48/2006, de 29 de Agosto, que a republica em anexo
(rectificada pela Declarao de Rectificao n. 72/2006, pub. in Dirio da Repblica,
1. Srie, n. 193, de 6-10-2006), pela Lei n. 35/2007, de 13 de Agosto, pela Lei n. 3B/2010, de 28 de Abril, pela Lei n. 61/2011, de 7 de Dezembro, e pela Lei n.
2/2012, de 6 de janeiro.
(55) A Lei n. 3/99 (rectificada pela Declarao de Rectificao n. 7/99, pub. in
Dirio da Repblica, I Srie-A, n. 39, de 16-2-1999) foi alterada pela Lei n. 101/99,
de 26 de Julho, pelo Decreto-Lei n. 323/2001, de 17 de Dezembro, pelo Decreto-Lei
n. 38/2003, de 8 de Maro, pela Lei n. 105/2003, de 10 de Dezembro (que
republicou, em anexo, a LOFTJ, devidamente actualizada), pelo Decreto-Lei n.
53/2004, de 18 de Maro, pela Lei n. 42/2005, de 29 de Agosto, pelo Decreto-Lei n.
76-A/2006, de 29 de Maro, pelo Decreto-Lei n. 8/2007, de 17 de Janeiro, pelo
Decreto-Lei n. 303/2007, de 24 de Agosto (rectificado pela Declarao de Rectificao
n. 99/2007, pub. in Dirio da Repblica, 1. Srie, n. 204, de 23-10-2007), pela Lei
n. 115/2009, de 12 de Outubro, pelo Decreto-Lei n. 295/2009, de 13 de Outubro
(rectificado pela Declarao de Rectificao n. 86/2009, pub. in Dirio da Repblica,
1. Srie, n. 227, de 23-11-2009), pela Lei n. 40/2010, de 3 de Setembro, pela Lei n.
43/2010, de 3 de Setembro, e pela Lei n. 46/2011, de 24 de Junho.
Sobre o alcance da revogao desse diploma legal pela al. d) do art. 186. da Lei
n. 52/2008 e, agora, pela al. b) do art. 187. da Lei n. 62/2013, vide, infra, n.os 18. e
20.
(56) O Decreto-Lei n. 186-A/99 e os mapas anexos ao mesmo sofreram tambm
diversas alteraes, operadas pelo Decreto-Lei n. 290/99, de 30 de Junho, pelo
Decreto-Lei n. 27-B/2000, de 3 de Maro, pelo Decreto-Lei n. 178/2000, de 9 de
Agosto, pelo Decreto-Lei n. 246-A/2001, de 14 de Setembro, pelo Decreto-Lei n.
74/2002, de 26 de Maro, pelo Decreto-Lei n. 148/2004, de 21 de Junho, pelo
17
(53)

O Decreto-Lei n. 339/2001, de 27 de Dezembro, que instala o


Tribunal da Relao de Guimares;
O Decreto-Lei n. 67/2012, de 20 de maro, que institui o
tribunal

da

propriedade

intelectual

tribunal

da

concorrncia, regulao e superviso;


A Portaria n. 84/2012, de 29 de maro, que declarou
instalados o 1. juzo do Tribunal da Propriedade Intelectual e
o 1. Juzo do Tribunal da Concorrncia, Regulao e
Superviso;
A Portaria n. 100/2013, de 6 de maro, que declarou
instalado o 2. juzo do Tribunal da Propriedade Intelectual;
A nova Lei de Organizao e Funcionamento dos Tribunais
Judiciais (LOFTJ), aprovada pela Lei n. 52/2008, de 28 de
Agosto(57);
O Decreto-Lei n. 25/2009, de 26 de Janeiro, que procede
organizao das comarcas piloto do Alentejo Litoral, Baixo
Vouga e Grande Lisboa Noroeste(58);
O

Decreto-Lei

n.

28/2009,

de

28

de

Janeiro,

que

regulamenta, com carcter experimental e provisrio, a


LOFTJ de 2008(59);
Decreto-Lei n. 219/2004, de 26 de Outubro, pelo Decreto-Lei n. 250/2007, de 29 de
Junho, pelo Decreto-Lei n. 25/2009, de 26 de Janeiro, pelo Decreto-Lei n. 113A/2011, de 29 de Novembro (que, no art. 1., n. 1, revogou o Decreto-Lei n.
74/2011, de 20 de Junho), e pelo Decreto-Lei n. 67/2012, de 20 de maro.
Quanto ao sentido da revogao do Decreto-Lei n. 186-A/99 pela al. e) do art.
186. da Lei n. 52/2008 e pela al. e) do art. 187. da Lei n. 62/2013, vide, infra, n.
20.
(57) A Lei n. 52/2008 foi alterada pela Lei n. 103/2009, de 11 de Setembro, pela
Lei n. 115/2009, de 12 de Outubro, pelo Decreto-Lei n. 295/2009, de 13 de Outubro
(rectificado pela Declarao de Rectificao n. 86/2009, pub. in Dirio da Repblica,
1. Srie, n. 227, de 23-11-2009), pela Lei n. 3-B/2010, de 28 de Abril (art. 162.),
pela Lei n. 40/2010, de 3 de Setembro, pela Lei n. 43/2010, de 3 de Setembro, e
pela Lei n. 46/2011, de 24 de Junho. E acabou por ser revogada, na parte em que
aprova a Lei de Organizao dos Tribunais Judiciais (arts. 1. a 159.), pela al. a) do
art. 187. da citada Lei n. 62/2013.
Sobre o alcance desta revogao, vide, infra, n. .
(58) Revogado pela al. d) do art. 187. da Lei n. 62/2013 (com efeitos a partir da
entrada em vigor deste diploma legal, diferida para a data de incio da produo de
efeitos do decreto-lei que aprove o Regime de Organizao e Funcionamento dos
Tribunais Judiciais art. 188., n. 1).
18

A Portaria n. 171/2009, de 17 de Fevereiro, que agrega


alguns juzos dos tribunais de comarca do Alentejo Litoral e
do Baixo Vouga;
A Lei de Organizao do Sistema Judicirio (LOSJ) Lei n.
62/2013, de 26 de agosto;
O Decreto-Lei n. ./2013, de .., que regulamenta a LOSJ
(no que respeita aos tribunais judiciais);
O Estatuto dos Tribunais Administrativos e Fiscais (ETAF),
aprovado pela Lei n. 13/2002, de 19 de Fevereiro(60);
O Decreto-Lei n. 325/2003, de 29 de Dezembro, que define a
sede e rea de jurisdio dos tribunais administrativos e
fiscais(61);
A Portaria n. 1418/2003, de 30 de Dezembro, que procede
agregao e instalao dos tribunais administrativos e
fiscais; a Portaria n. 1247/2007, de 20 de Setembro, que
opera a fuso e desagregao de tribunais administrativos e
fiscais; a Portaria n. 874/2008, de 14 de Agosto, que declara
instalado o Tribunal Administrativo e Fiscal de Aveiro,
alterada pela Portaria n. 1553-B/2008, de 31 de Dezembro;
Os arts. 59. a 95., 109. e 110. do Cdigo de Processo Civil,
aprovado pela Lei n. 41/2013, de 26 de junho(62);

Revogado pela al. c) do art. 187. da Lei n. 62/2013 (com efeitos a partir da
entrada em vigor deste diploma legal cfr. a nota anterior).
(60) A Lei n. 13/2002 foi rectificada pela Declarao de Rectificao n. 14/2002,
pub. in Dirio da Repblica, I Srie-A, n. 67, de 20-3-2002, e pela Declarao de
Rectificao n. 18/2002, pub. in Dirio da Repblica, I Srie-A, n. 86, de 12-42002; o ETAF, por ela aprovado, foi alterado pela Lei n. 4-A/2003, de 19 de Fevereiro,
pela Lei n. 107-D/2003, de 31 de Dezembro (que republica, em anexo, o ETAF na sua
verso actualizada, com referncia a essa data), pela Lei n. 1/2008, de 14 de Janeiro,
pela Lei n. 2/2008, de 14 de Janeiro, pela Lei n. 26/2008, de 27 de Junho, pela Lei
n. 52/2008, de 28 de Agosto, pela Lei n. 59/2008, de 11 de Setembro, pelo DecretoLei n. 166/2009, de 31 de Julho, pela Lei n. 55-A/2010, de 31 de Dezembro, e pela
Lei n. 20/2012, de 14 de maio.
(61) O Decreto-Lei n. 325/2003 foi alterado pelo Decreto-Lei n. 182/2007, de 9 de
Maio, e pelo Decreto-Lei n. 190/2009, de 17 de Agosto.
(62) Rectificada pela Declarao de Retificao n. 36/2013 (cfr. supra, nota(19)).
19
(59)

Os arts. 10. a 20. do Cdigo de Processo do Trabalho,


aprovado pelo Decreto-Lei n. 480/99, de 9 de Novembro(63);
Os arts. 10. a 31. e 34. do Cdigo de Processo Penal,
aprovado pelo Decreto-Lei n. 78/87, de 17 de Fevereiro(64);
Os arts. 16. a 22. do Cdigo de Processo nos Tribunais
Administrativos, aprovado pela Lei n. 15/2002, de 22 de
Fevereiro(65);
Os arts. 108. a 117. do Cdigo de Justia Militar, aprovado
pela Lei n. 100/2003, de 15 de Novembro(66);
O Estatuto dos Magistrados Judiciais Lei n. 21/85, de 30
de Julho(67);
O Estatuto do Ministrio Pblico (inicialmente designado por
Lei Orgnica do Ministrio Pblico), aprovado pela Lei n
47/86, de 15 de Outubro(68);

(63) O C.P.Trabalho foi objecto de alteraes introduzidas pelo Decreto-Lei n.


323/2001, de 17 de Dezembro, pelo Decreto-Lei n. 38/2003, de 8 de Maro, pelo
Decreto-Lei n. 295/2009, de 13 de Outubro (rectificado pela Declarao de
Rectificao n. 86/2009, pub. in Dirio da Repblica, 1. Srie, n. 227, de 23-112009), que o republicou em anexo, e pela Lei n. 63/2013, de 27 de agosto.
(64) Entretanto objecto de muitas alteraes, a ltima das quais foi introduzida
pela Lei n. 20/2013, de 21 de Fevereiro (rectificada pela Declarao de Retificao n.
21/2013, pub. in Dirio da Repblica, 1. srie, n. 77, de 19-04-2013).
(65) Rectificada pela Declarao de Rectificao n. 17/2002, pub. in Dirio da
Repblica, I Srie-A, n. 81, de 06-04-2002 e de Abril, e alterado pelas Leis n. 4A/2003, de 19 de Fevereiro, n. 59/2008, de 11 de Setembro, e n. 63/2011, de 14 de
Dezembro.
(66) Rectificada pela Declarao de Rectificao n. 2/2004, pub. in Dirio da
Repblica, I Srie-A, n. 2, de 3-1-2004.
(67) A Lei n. 21/85 foi alterada pelo Decreto-Lei n. 342/88, de 29 de Setembro,
pela Lei n. 2/90, de 20 de Janeiro, pela Lei n. 10/94, de 5 de Maio (rectificada pela
Declarao de Rectificao n. 16/94, pub. in Dirio da Repblica, I Srie-A, n. 279,
de 3-12-1994), pela Lei n. 44/96, de 3 de Setembro, pela Lei n. 81/98, de 3 de
Dezembro, pela Lei n. 143/99 de 31 de Agosto, pela Lei n. 3-B/2000, de 4 de Abril,
pela Lei n. 42/2005, de 29 de Agosto, pela Lei n. 26/2008, de 27 de Junho, pela Lei
n. 52/2008, de 28 de Agosto, pela Lei n. 63/2008, de 18 de Novembro, pela Lei n.
37/2009, de 20 de Julho, pela Lei n. 55-A/2010, de 31 de Dezembro, e pela Lei n.
9/2011, de 12 de Abril.
(68) A Lei n 47/86 sofreu diversas alteraes, introduzidas pela Lei n. 2/90, de 20
de Janeiro, pela Lei n. 23/92, de 20 de Agosto, pela Lei n. 10/94, de 5 de Maio, pela
Lei n. 60/98, de 27 de Agosto (rectificada pela Declarao de Rectificao n. 20/98,
pub. in Dirio da Repblica, I Srie-A, n. 253, de 2-11-1998) que consagrou a
denominao de Estatuto do Ministrio Pblico (art. 2. dessa lei) , pela Lei n.
42/2005, de 29 de Agosto, pela Lei n. 67/2007, de 31 de Dezembro, pela Lei n.
20

O Estatuto dos Juzes Militares e dos Assessores Militares do


Ministrio Pblico, aprovado pela Lei n. 101/2003, de 15 de
Novembro(69);
A Lei n. 78/2001, de 13 de Julho, que regula a organizao,
competncia e funcionamento dos julgados de paz(70);
O Decreto-Lei n. 329/2001, de 20 de Dezembro(71), o DecretoLei n. 9/2004, de 9 de Janeiro, o Decreto-Lei n. 225/2005,
de 28 de Dezembro, o Decreto-Lei n. 22/2008, de 1 de
Fevereiro, o Decreto-Lei n. 60/2009, de 4 de Maro, e o
Decreto-Lei n. 289/2009, de 8 de Outubro, que criam
diversos julgados de paz;
A Portaria n. 44/2002, de 11 de Janeiro, a Portaria n.
72/2002, de 19 de Janeiro, a Portaria n. 92/2002, de 30 de
Janeiro, a Portaria n. 162-A/2002, de 25 de Fevereiro, a
Portaria n. 886/2003, de 25 de Agosto, as Portarias n. os
891/2003 e 892/2003, de 26 de Agosto, as Portarias n.os
192/2004, 193/2004, 194/2004 e 195/2004, de 28 de
Fevereiro, a Portaria n. 289/2004, de 20 de Maro, a Portaria
n. 324/2004, de 29 de Maro, a Portaria n. 375/2004, de 13
de Abril, a Portaria n. 502/2004, de 10 de Maio, as Portarias
n.os 209/2006 e 210/2006, de 3 de Maro, a Portaria n.
304/2006, de 24 de Maro, a Portaria n. 1301/2006, de 23
de Novembro, a Portaria n. 596-A/2008, de 8 de Julho, a
Portaria n. 620/2008, de 16 de Julho, a Portaria n.
710/2008, de 31 de Julho, as Portarias n.os 1417-A/2008 e
1417-B/2008, de 5 de Dezembro, a Portaria n. 334/2009, de
2 de Abril, a Portaria n. 421/2009, de 20 de Abril, a Portaria
n. 557-A/2009, de 26 de Maio, a Portaria n. 571/2009, de
52/2008, de 28 de Agosto, pela Lei n. 37/2009, de 20 de Julho, pela Lei n. 55A/2010, de 31 de Dezembro, e pela Lei n. 9/20011, de 12 de Abril.
(69) Rectificada pela Declarao de Rectificao n. 1/2004, pub. in Dirio da
Repblica, I Srie-A, n. 2, de 3-1-2004.
(70) Alterada e republicada em anexo pela Lei n. 54/2013, de 31 de julho.
(71) Alterado pelo Decreto-Lei n. 140/2003, de 2 de Julho.
21

29 de Maio, a Portaria n. 845/2009, de 5 de Agosto, a


Portaria n. 1427/2009, de 21 de Dezembro, a Portaria n.
300/2010, de 2 de Junho, a Portaria n. 304/2010, de 8 de
Junho, a Portaria n. 497/2010, de 14 de Julho, a Portaria n.
883/2010, de 10 de Setembro, a Portaria n. 1168/2010, de
10 de Novembro, a Portaria n. 1195/2010, de 23 de
Novembro, a Portaria n. 78/2011, de 18 de Fevereiro, a
Portaria n. 90/2011, de 28 de Fevereiro, a Portaria n.
154/2011, de 12 de Abril, e a Portaria n. 299/2013, de 11 de
outubro, que declaram instalados diversos julgados de paz,
aprovam os respectivos regulamentos ou procedem sua
alterao;
A Lei n. 63/2011, de 14 de Dezembro, que aprova a nova Lei
da Arbitragem Voluntria(72);
O Decreto-Lei n. 10/2011, de 20 de Janeiro, que disciplina a
arbitragem como meio alternativo de resoluo jurisdicional
de conflitos em matria tributria(73).

4. Categorias de tribunais previstas na Constituio da Repblica


A Constituio da Repblica prev a existncia de diversas
categorias de tribunais estaduais, assim como de tribunais que no tm
essa natureza. Vejamos quais so, comeando por aqueles, de longe os
mais importantes.

(72) Revogou a Lei n. 31/86, de 29 de Agosto (que havia sido alterada pela Lei n.
38/2003, de 8 de Maro), com excepo do disposto no n. 1 do art. 1., que se
manteve em vigor para a arbitragem de litgios emergentes de ou relativos a contratos
de trabalho (art. 5., n. 1, da Lei n. 63/2011).
(73) O Decreto-Lei n. 10/2011 foi alterado pela Lei n. 64-B/2011, de 30 de
Dezembro, pela Lei n. 20/2012, de 14 de maio, e pela Lei n. 66-B/2012, de 31 de
dezembro.
22

4.1. Tribunais estaduais


A C.Rep., no seu art. 209., alm de prever a possibilidade de
existirem tribunais martimos e julgados de paz (n. 2) que, entretanto,
foram criados (os martimos como tribunais judiciais de competncia
especializada)(74) , e de aludir aos tribunais militares (n. 4) cuja
constituio durante a vigncia do estado de guerra est consagrada no
art. 213. C.Rep.(75) , determina a existncia das seguintes categorias
de tribunais, que acrescem ao Tribunal Constitucional (n. 1)(76): o
Supremo Tribunal de Justia e os tribunais judiciais de primeira e de
segunda instncia; o Supremo Tribunal Administrativo e os demais
tribunais administrativos e fiscais; e o Tribunal de Contas (al.s a), b) e c)
do n. 1)(77). No se consagra, por conseguinte, a existncia de uma
nica jurisdio, mas a de uma pluralidade de jurisdies.
Trataremos de cada uma destas categorias de tribunais, assim
como dos julgados de paz e do tribunal de (dos) conflitos, em captulos
autnomos(78).

Cfr. infra, n. 27.1.2. e cap. VI.


A circunstncia de os tribunais martimos serem tribunais judiciais de
competncia especializada (de 1. instncia) explica que o art. 29. da LOSJ (que
tambm indica as categorias de tribunais) no os mencione autonomamente, no
nmero em que alude aos julgados de paz (o n. 4).
(75) Em tempo de paz, o julgamento de crimes estritamente militares da
competncia dos tribunais judiciais Supremo Tribunal de Justia, Tribunais da
Relao de Lisboa e do Porto, 1. e 2. Varas Criminais da Comarca de Lisboa e 1.
Vara Criminal da Comarca do Porto (consoante a patente do arguido). Cfr. os arts.
109. e 110. do Cdigo de Justia Militar.
(76) A formulao a utilizada (Alm do Tribunal Constitucional) explica-se pelo
facto de o Tribunal Constitucional ser autonomamente disciplinado pela Constituio
(cfr. infra, n. 8.). No se vislumbra, pois, qualquer justificao para que o n. 1 do art.
29. da LOSJ seja redigido nos mesmos termos, pois este diploma legal no disciplina
directamente esse tribunal, limitando-se a remeter para a Constituio e para a lei
(art. 30., n. 2).
(77) Sublinhe-se que no se prev a existncia de um autnomo tribunal de
conflitos (ou de uma categoria de tribunais de conflitos). Como veremos, so tribunais
pertencentes s categorias acima mencionadas que se podem constituir, separada ou
conjuntamente, em tribunais de conflitos (art. 209., n. 3, C.Rep.).
(78) Cfr. infra, caps. I, II, III, IV, V e VI.
23
(74)

4.2. Tribunais arbitrais


Alm dos tribunais estaduais, a Constituio admite, como vimos,
a possibilidade de haver tribunais arbitrais (art. 209., n. 2)(79); e, nos
ltimos anos, a lei tem vindo a promover, cada vez mais, o recurso
arbitragem(80), enquanto meio de resoluo alternativa de litgios(81).
Faculta-se aos interessados um mecanismo de realizao da justia
mais clere e com um processo mais flexvel e menos formalista do que
aquele a que obedece a justia normal(82), a fim de descongestionar os
tribunais (em sentido estrito).
Dada a importncia que assumem apesar de no integrarem o
sistema judicirio(83) , dedicaremos tambm um captulo aos tribunais
arbitrais(84).
So tribunais, mas, como evidente (por no serem do Estado), no rgos de
soberania.
Sobre a previso da existncia dos tribunais arbitrais (tambm) na LOSJ, vide,
supra, nota(7).
(80) D-se a designao de arbitragem interveno do tribunal arbitral. Cfr. JOO
DE CASTRO MENDES, Direito Processual Civil, vol. I, cit., pg. 388.
(81) Cfr. a Resoluo do Conselho de Ministros n. 175/2001, de 28 de Dezembro
(na qual reafirmado o firme propsito de promover e incentivar a resoluo de
litgios por meios alternativos, como a mediao ou a arbitragem, enquanto formas
cleres, informais, econmicas e justas de administrao e realizao da justia n.
1), os programas dos XVII e XVIII Governos Constitucionais, nos quais a promoo dos
referidos meios de resoluo alternativa de litgios foi considerada como uma das
prioridades, no mbito da reforma do sector da justia e tanto assim que, atravs do
Decreto-Lei n. 127/2007, de 27 de Abril, o Governo criou o Gabinete para a
Resoluo Alternativa de Litgios, em cujas atribuies se encontram as de apoiar a
criao e o funcionamento dos meios extrajudiciais de composio de conflitos,
designadamente a mediao, [a] conciliao e a arbitragem (art. 2., n. 2, al. b)) e de
promover a criao e apoiar o funcionamento de centros de arbitragem, julgados de
paz e sistemas de mediao (art. 2., n. 2, al. d)) , a Resoluo do Conselho de
Ministros n. 17/2011, de 4 de Maro, na qual diversas medidas de natureza
legislativa ou regulamentar (algumas das quais respeitantes arbitragem) so
consideradas prioritrias para o reforo da aposta em meios alternativos de resoluo
de litgios (n. 9) e o Programa do XIX Governo Constitucional, que, quanto s
medidas a adoptar no mbito da Justia, refere o propsito de desenvolver a justia
arbitral, acrescentando que [n]os campos da justia civil, comercial, laboral,
administrativa e fiscal, o Estado, os cidados e as empresas daro um passo
importante se tiverem meios alternativos aos Tribunais, podendo entregar a resoluo
dos seus litgios aos Tribunais Arbitrais.
(82)
No sentido de que a preferncia actual pela arbitragem decorre,
nomeadamente, da celeridade e da flexibilidade do processo, evitando-se a morosidade
crescente e a rigidez processual da justia normal, vide JOS CARLOS VIEIRA DE
ANDRADE, A justia administrativa Lies, 12. edio (Coimbra, 2012), pg. 125.
(83) Cfr. supra, nota(7).
24
(79)

5. A independncia dos tribunais e os seus sentidos


A independncia dos tribunais encontra-se consagrada no art.
203. da C.Rep., nos termos do qual os tribunais so independentes e,
alm disso, apenas esto sujeitos lei.
E o mesmo se estabelece no art. 3. da LOFTJ de 1999, no art. 4.
da LOFTJ de 2008 e no art. 22. da LOSJ, com referncia aos tribunais
por elas disciplinados [o]s tribunais judiciais so independentes e
apenas esto sujeitos lei , no art. 2. do ETAF, para esta categoria de
tribunais [o]s tribunais da jurisdio administrativa e fiscal so
independentes e apenas esto sujeitos lei , e no art. 7., n. 1, da
LOPTContas [o] Tribunal de Contas independente.
Ao contrrio do que j foi sustentado entre ns(85), cremos fazer
sentido aludir independncia dos prprios tribunais, embora os juzes,
que neles administram a justia, sejam igualmente independentes; a
independncia destes parece, alis, estar implcita na dos tribunais.
A independncia dos tribunais deve ser entendida, em primeira
linha, como uma concretizao do princpio da separao de poderes
entre os rgos de soberania, consagrado no art. 111., n. 1, da
C.Rep.(86); e, por conseguinte, como ausncia de subordinao do poder
judicial a qualquer outro poder do Estado (independncia externa). Em
Cfr. infra, cap. VII.
CASTRO MENDES entendia, na verdade, que da norma constitucional na qual
se acha plasmada a independncia dos tribunais (na altura em que escreveu, a do art.
208. C.Rep.) e da norma correspondente (art. 3.) da Lei Orgnica dos Tribunais
Judiciais (Lei n. 82/77, de 6 de Dezembro, ento em vigor) resultava ser na
independncia dos juzes que o legislador pensava e tanto assim que o art. 4. do
Estatuto dos Magistrados Judiciais (Lei n. 85/77, de 13 de Dezembro, em vigor na
altura) tratava dessa matria, precisamente, a propsito dos juzes (magistrados
judiciais) , porque a independncia , na verdade, uma caracterstica dos juzes e no
mais propriamente dos tribunais. Cfr. J. CASTRO MENDES, Direito Processual Civil, I,
cit., pgs. 379-380.
(86) No sentido de que o princpio da independncia visa defender os tribunais dos
demais poderes do Estado (nomeadamente do Governo e da administrao), vide J. J.
GOMES CANOTILHO/VITAL MOREIRA, Constituio da Repblica Portuguesa
anotada, vol. II, cit., pg. 513.
25
(84)

(85)

relao aos tribunais no tem, alis, cabimento a interdependncia


referida nessa norma constitucional, na medida em que, nos termos
previstos na Constituio da Repblica (art. 203.), eles apenas esto
sujeitos lei devendo entender-se que esta referncia lei engloba
todas as normas que vigoram na ordem jurdica portuguesa, incluindo
as disposies dos tratados que regem a Unio Europeia, as
emanadas

das

suas

instituies,

no

exerccio

das

suas

competncias(87) e a prpria Constituio (enquanto lei fundamental da


Repblica)(88).
Em segundo lugar, a independncia dos tribunais tem de ser vista
no

plano

das

relaes

entre

eles:

os

tribunais

so,

tambm,

independentes entre si(89) (independncia interna), quer no que respeita


s diferentes categorias ou ordens de tribunais cada uma delas goza
de independncia em relao s outras (assim, por exemplo, os
tribunais administrativos e fiscais so independentes dos tribunais
judiciais) , quer dentro de cada uma dessas ordens de tribunais
quando

mesma

integre

vrios

tribunais,

cada

um

deles

independente dos restantes (nesse sentido, por exemplo, o Tribunal da


Comarca de Cantanhede independente do Tribunal da Relao de
Coimbra; e o Tribunal da Relao do Porto independente do Supremo
Tribunal de Justia). Nenhum tribunal est, pois, sujeito a ordens ou
instrues emitidas por outro, ainda que hierarquicamente superior; as
relaes de hierarquia, adiante analisadas, apenas implicam o dever de

Cfr. o art. 8., n. 4, da C.Rep.


Sobre a relao entre o direito da Unio Europeia e o direito portugus, vide,
supra, nota(22).
(88) No sentido de que o termo lei designa aqui no apenas as leis em si mesmas
() mas tambm todas as demais normas que constituem a ordem jurdica, a comear,
naturalmente, pela Constituio, que a lei fundamental da Repblica, vide J. J.
GOMES CANOTILHO/VITAL MOREIRA, Constituio da Repblica Portuguesa
anotada, vol. II, cit., pg. 514. A respeito do entendimento da subordinao dos
tribunais a lei, vide, tambm, JORGE MIRANDA/RUI MEDEIROS, Constituio
Portuguesa anotada, tomo III, cit., pgs. 38-40 onde os AA., entre outros aspectos,
aludem subordinao dos tribunais ao direito da Unio Europeia.
(89) Cfr. J. J. GOMES CANOTILHO/VITAL MOREIRA, Constituio da Repblica
Portuguesa anotada, vol. II, cit., 513.
26
(87)

acatamento, por parte dos tribunais inferiores, no caso concreto, das


decises proferidas em via de recurso pelos tribunais superiores(90).

6. A independncia dos juzes e as suas garantias


independncia dos tribunais, nas dimenses acima referidas,
acresce a independncia dos juzes, que podemos considerar implcita
naquela(91), na medida em que so os juzes que procedem ao
julgamento das questes submetidas apreciao dos tribunais e
determinam a execuo das suas decises; quer dizer, porque so os
juzes que administram a justia (para usarmos a terminologia
consagrada nos arts. 202., n.os 1 e 2, e 221. da C.Rep., bem como no
art. 1. da LOFTJ de 1999, no art. 2. da LOFTJ de 2008, no art. 2., n.
1, da LOSJ, no art. 1., n. 1, do ETAF e no art. 3., n. 1, do EMJ).
A independncia dos juzes, por sobre decorrer da independncia
dos tribunais, encontra-se expressamente consagrada no art. 222., n.
5, da C.Rep., para os juzes do Tribunal Constitucional (em relao aos
quais reafirmada no art. 22. da LOFPTConst.), no art. 4. da LOFTJ
de 1999, no art. 5. da LOFTJ de 2008, no art. 4. da LOSJ (os quais
tm como epgrafe, precisamente, independncia dos juzes) com
autonomia em relao independncia dos tribunais (estabelecida no
Cfr. o art. 4., n. 1, do Estatuto dos Magistrados Judiciais (EMJ) Os
magistrados judiciais () no esto sujeitos a ordens ou instrues, salvo o dever de
acatamento pelos tribunais inferiores das decises proferidas, em via de recurso, pelos
tribunais superiores.
A respeito do carcter imprprio do emprego do termo hierarquia, neste domnio,
e da no vinculao do tribunal a quo (e do juiz que nele tomou a deciso), fora do
caso concreto, ao teor do aresto proferido pelo tribunal de recurso, vide CARLOS
ALBERTO CONDE DA SILVA FRAGA, Sobre a independncia dos juzes e magistrados
(Lisboa, 2003), pgs. 21-23 (e a bibliografia indicada nas respectivas notas de rodap).
(91) Neste sentido, vide J. J. GOMES CANOTILHO/VITAL MOREIRA, Constituio
da Repblica Portuguesa anotada, vol. II, cit., pg. 513 e 586 onde os AA. sustentam,
respectivamente, que, por constituir uma garantia essencial da independncia dos
tribunais, a independncia dos juzes est necessariamente abrangida pela proteco
constitucional daquela, e que o princpio da independncia dos tribunais pressupe
necessariamente a independncia dos juzes; e JORGE MIRANDA/RUI MEDEIROS,
Constituio Portuguesa anotada, tomo III, cit., pg. 42.
27
(90)

artigo anterior de qualquer dessas leis) e no art. 4., n. 1, do EMJ,


para os juzes dos tribunais judiciais, e no art. 3. da Lei n. 101/2003,
de 15 de Novembro, para os juzes militares (que integram o quadro dos
tribunais

judiciais

competentes

para

julgamento

de

crimes

estritamente militares(92))(93).
Da

conjugao

destas

disposies

legais

resulta

que

independncia dos juzes se traduz no facto de eles julgarem apenas


segundo a Constituio e a lei e, por conseguinte, sem estarem
sujeitos a ordens ou instrues salvo, como vimos para os prprios
tribunais, no que toca ao dever de acatamento das decises proferidas
em via de recurso por tribunais superiores(94).
Apesar de a LOFTJ de 1999 (art. 4., n. 2), a LOFTJ de 2008 (art.
5., n. 2), assim como a LOPTContas (art. 8., n. 2), inclurem a no
sujeio dos juzes a quaisquer ordens ou instrues nas garantias de
independncia ao determinarem que a independncia dos juzes
assegurada, inter alia, por essa no sujeio , parece-nos que ela
no reveste tal natureza, representando, antes, o ncleo da prpria
noo de independncia; esta no existe, na verdade, onde e quando a
actuao decisria desses magistrados se encontre exposta, de qualquer
forma, possibilidade de ingerncia de outras entidades (por exemplo,
do Ministro da Justia), designadamente, atravs de ordens ou

Cfr. o art. 12., n. 1, desse diploma legal e, quanto aos tribunais competentes
para o efeito, os arts. 109. e 110. do Cdigo de Justia Militar.
(93) Embora no aluda directamente independncia dos juzes dos tribunais
administrativos e fiscais, o art. 3. do ETAF consagra as garantias de independncia
(cfr. a respectiva epgrafe), que inequivocamente se reportam aos juzes, referidos em
todos os nmeros desse artigo. Como essa disposio legal vem na sequncia da que
estabelece a independncia dos referidos tribunais e a sua sujeio exclusiva lei,
parece-nos que o legislador tomou a independncia dos tribunais como equivalente a
independncia dos juzes.
(94) Cfr. o art. 4., n. 1, da LOFTJ aprovada pela Lei n. 3/99, de 13 de Janeiro, e
art. 5., n. 1, da LOFTJ aprovada pela Lei n. 52/2008, de 28 de Agosto [o]s juzes
julgam apenas segundo a Constituio e a lei; art. 4., n. 1, do EMJ [o]s
magistrados judiciais julgam apenas segundo a Constituio e a lei e no esto sujeitos
a ordens ou instrues (); e art. 22. da LOFPTConst. [o]s juzes do Tribunal
Constitucional so independentes (...).
28
(92)

instrues que os tenham como destinatrios(95). Este entendimento(96)


acaba de ser acolhido no art. 4., n. 1, da LOSJ, preceito no qual a no
sujeio a quaisquer ordens ou instrues aparece plasmada no
conceito de independncia dos juzes(97).
A independncia dos juzes assegurada pela inamovibilidade,
pelo princpio da irresponsabilidade pelas suas decises, pelo
autogoverno e, ainda, pela existncia de um regime de
incompatibilidades.
6.1. A inamovibilidade
Desde a poca liberal (abandonada a concepo proprietarista dos
cargos pblicos(98)), a inamovibilidade est associada ideia de
A definio de independncia da magistratura judicial fornecida pelo art. 111.,
al. a), do Estatuto Judicirio, aprovado pelo Decreto-Lei n. 44 278, de 14 de Abril de
1962, compreendia, alis, esse elemento negativo, ao preceituar que [a]
independncia consiste no facto de o magistrado exercer a funo de julgar segundo a
lei, sem sujeio a ordens ou instrues, salvo dever de acatamento dos tribunais
inferiores em relao s decises dos tribunais superiores, proferidas por via de
recurso.
A este respeito, vide JOAQUIM ROSEIRA FIGUEIREDO/FLVIO PINTO
FERREIRA, O poder judicial e a sua independncia, Lisboa, 1974, pgs. 20-21.
(96) Defendida por ns j na 1. edio desta obra (pg. 33) e mesmo antes, em
apontamentos policopiados fornecidos aos alunos.
(97) Saliente-se que a Proposta de Lei n. 114/XII (que deu origem Lei n.
62/2013), no n. 2 do art. 4., considerava ainda a no sujeio dos juzes a quaisquer
ordens ou instrues como um dos meios destinados a assegurar a sua
independncia. O seu teor era o seguinte: [a] independncia dos juzes assegurada
pela existncia de um rgo privativo de gesto e disciplina da magistratura judicial,
pela inamovibilidade e pela no sujeio a quaisquer ordens ou instrues, salvo o
dever de acatamento das decises proferidas em via de recurso por tribunais
superiores.
O entendimento referido em texto acabou por ser acolhido na sequncia de uma
proposta de alterao apresentada pelos grupos parlamentares do PSD e do CDS/PP,
datada de 27-05-2013 (posterior Pronncia da Faculdade de Direito da Universidade
de Coimbra sobre a referida Proposta de Lei, emitida a pedido do Senhor Presidente da
Comisso de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, cuja
elaborao foi da nossa responsabilidade disponvel em www.partamento.pt , na
qual se propunha a alterao do n. 2 do art. 4. em virtude de esse artigo respeitar
independncia dos juzes em geral e a aluso a um rgo privativo de gesto e
disciplina da magistratura judicial, como garantia da independncia dos juzes, valer
apenas para os juzes dos tribunais judiciais), de que resultou a actual redaco do
art. 4., n. 1: [o]s juzes julgam apenas segundo a Constituio e a lei e no esto
sujeitos a quaisquer ordens ou instrues, salvo o dever de acatamento das decises
proferidas em via de recurso por tribunais superiores.
(98) Em Portugal, logo a Constituio de 1822 estabeleceu que [o]s ofcios pblicos
no so propriedade de pessoa alguma () (art. 13.).
29
(95)

estabilidade no cargo, ainda que no em termos absolutos, uma vez que


os juzes no esto para sempre vinculados ao lugar onde obtm a sua
primeira colocao(99); trata-se, antes, de uma estabilidade relativa,
definida e limitada por lei(100) e, at, pela Constituio (como sucede no
nosso ordenamento jurdico actual).
Assim, nos termos do disposto (para todos os juzes(101)) no art.
216., n. 1, da C.Rep., a inamovibilidade significa que os juzes no
podem (designadamente) ser transferidos, suspensos, aposentados ou
demitidos seno nos casos previstos na lei. Donde decorre, por
conseguinte, que as excepes a esse princpio so somente as previstas
na lei (reserva de lei)(102), no podendo os juzes ser deslocados ou
removidos dos seus cargos fora dos casos nela contemplados (por
exemplo, mediante deciso governamental)(103).
Na legislao ordinria, esse alcance do princpio da
inamovibilidade encontra-se reafirmado, em relao aos magistrados
judiciais, no art. 6. do EMJ o qual acrescenta, no entanto (alm da
referncia ao carcter vitalcio da sua nomeao, a que voltaremos
daqui a pouco), a impossibilidade de serem promovidos ou por
qualquer forma mudados de situao, fora dos casos previstos nesse
estatuto (que, alis, se aplica aos juzes das outras categorias de
tribunais) e, para os juzes dos tribunais administrativos e fiscais, no
art. 3., n. 1, do ETAF. A garantia de inamovibilidade encontra-se
ainda estabelecida no art. 4., n. 2, da LOFTJ de 1999, no art. 5. n.

No sentido de que a inamovibilidade (tal como a irresponsabilidade) no


garantida aos juzes com carcter absoluto, vide J. J. GOMES CANOTILHO/VITAL
MOREIRA, Constituio da Repblica Portuguesa anotada, vol. II, cit., 586.
(100) Cfr. ALBERTO DOS REIS, Organizao judicial, cit., pg. 353.
(101) Cfr. J. J. GOMES CANOTILHO/VITAL MOREIRA, Constituio da Repblica
Portuguesa anotada, vol. II, cit., pg. 585.
Embora seja exacto que todos os juzes so inamovveis, parece-nos que essa
norma constitucional no abrange, pelo menos de forma directa, os do Tribunal
Constitucional, cuja inamovibilidade garantida pelo art. 222., n. 5, da C.Rep.
Reporta-se, segundo cremos, aos juzes das restantes categorias de tribunais,
mencionadas no art. 209. da Constituio.
(102) Cfr. J. J. GOMES CANOTILHO/VITAL MOREIRA, Constituio da Repblica
Portuguesa anotada, vol. II, cit., pg. 586.
(103) Neste sentido, vide ALBERTO DOS REIS, Organizao judicial, cit., pg. 354; e
CARLOS A. CONDE DA SILVA FRAGA, Sobre a independncia dos juzes e
magistrados, cit., pgs. 30-31 onde o A. sustenta no ser suficiente proclamar o
princpio, sendo necessria uma normativao que o torne realmente efectivo.
30
(99)

2, da LOFTJ de 2008, no art. 22. da LOFPTConst. e no art. 7., n. 2,


da LOPTContas(104), mas sem explicitao do respectivo contedo; pelo
contrrio, no art. 5., n. 1, da LOSJ est consagrada, para todos os
juzes, em termos idnticos aos do art. 216., n. 1, da C.Rep., com a
diferena (meramente formal) de os casos em que podem ser
transferidos, suspensos, aposentados ou demitidos so os previstos no
respetivo estatuto (que estabelecido por lei(105)).
Tomada nesse sentido, como sublinhava ALBERTO DOS REIS, a
inamovibilidade nada tem [a ver] com a durao legal do cargo(106), ou
seja, com a natureza vitalcia ou temporria do mesmo. E tanto assim
que o carcter vitalcio da nomeao est garantido para os magistrados
judiciais (art. 6., parte inicial, do EMJ)(107) e para os juzes dos
tribunais administrativos e fiscais (dado ser-lhes aplicvel essa norma,
por fora da remisso contida no art. 3., n. 3, parte final, e no art.
57. do ETAF)(108), mas o mesmo no se verifica quanto aos juzes do
(104) Os juzes militares so igualmente inamovveis, no sentido de que as suas
funes no podem cessar antes do termo da comisso de servio (art. 3. da referida
Lei n. 101/2003), salvo quando se verifique alguma das situaes previstas nas trs
alneas do n. 1 do art. 4. da mesma lei.
(105) Com efeito, a aprovao do estatuto dos titulares dos rgos de soberania
(entre os quais, como foi referido, se encontram os tribunais) constitui matria
abrangida pela reserva absoluta de competncia legislativa da Assembleia da
Repblica (art. 164., al. m), da C.Rep.).
(106) Cfr. ALBERTO DOS REIS, Organizao judicial, cit., pg. 355 onde este
ilustre processualista (reportando-se, naturalmente, situao que existia na poca)
afirma que [t]omada neste sentido a inamovibilidade nada tem com a durao legal do
cargo, e so inamovveis no s os juzes de direito, cujo cargo perptuo, mas tambm
os juzes municipaaes ou de paz, cujo cargo , respectivamente, triennal e biennal, por
isso que, durante o perodo legal da investidura, no podem ser transferidos nem
removidos a arbtrio do governo.
(107) Saliente-se, porm, que nem todos os juzes dos tribunais judiciais so
magistrados judiciais (no sentido que esta designao assume no EMJ); do quadro
de alguns desses tribunais os competentes para o julgamento dos crimes
estritamente militares (nos termos dos arts. 109. e 110. do Cdigo de Justia
Militar) fazem parte juzes militares. Ora, estes no so nomeados de forma vitalcia,
mas em comisso de servio, com a durao de trs anos, renovvel uma vez por igual
perodo (arts. 13., n. 1, e 15., n. 1, da citada Lei n. 101/2003).
(108) Parece ser assim, tambm, com os juzes do Tribunal de Contas, uma vez que,
alm de os juzes com vnculo funo pblica serem providos no cargo a ttulo
definitivo ou em comisso permanente de servio (art. 21., n. 1, da LOPTContas),
parece aplicar-se nessa matria o disposto no EMJ, por fora da remisso contida no
art. 24. LOPTContas. S o mandato do Presidente e do Vice-Presidente que so
temporrios (4 anos e 3 anos, respectivamente, embora renovveis art. 214., n. 2,
da C.Rep. e art. 17., n. 2, da LOPTContas).
31

Tribunal Constitucional cujo mandato tem a durao de 9 anos e no


susceptvel de renovao (art. 222., n. 3, da C.Rep.) , no obstante
gozarem da garantia de inamovibilidade (art. 22. da LOFPTConst.).
Quando os juzes no so nomeados vitaliciamente, a estabilidade
(relativa) inerente ao princpio da inamovibilidade, para garantir a
independncia dos juzes, exige, contudo, que a nomeao ou
designao seja feita por perodos de tempo certo e determinado e sem
possibilidade de renovao (como acontece no caso dos juzes do
Tribunal

Constitucional)(109),

fim

de

evitar

insegurana

inevitavelmente ligada incerteza sobre a renovao da nomeao(110).

6.2. A irresponsabilidade
A irresponsabilidade dos juzes pelas suas decises constitui
igualmente, segundo a Constituio e a lei, uma garantia da sua
independncia. Mas tambm ela no tem carcter absoluto(111): a
Constituio limita-se a consagr-la como princpio, reservando para a
lei a determinao dos casos em que, excepcionalmente, os juzes so
responsveis pelo exerccio da sua actividade decisria (art. 216., n. 2,
da C.Rep.).

A nomeao dos juzes militares, como vimos, feita por um perodo de trs
anos e com possibilidade de renovao. Todavia, a inamovibilidade que lhes
garantida tem um alcance particular (cfr. supra, nota(104)); e o risco que da poder
advir, em termos de independncia, acaba por no ter consequncias prticas, em
virtude de o julgamento dos crimes estritamente militares competir sempre ao tribunal
colectivo (art. 111. do Cdigo de Justia Militar) e de a maioria dos seus membros
no ser constituda por juzes militares (cfr. os art. 116. do citado Cdigo).
(110) Neste sentido, vide J. J. GOMES CANOTILHO/VITAL MOREIRA, Constituio
da Repblica Portuguesa anotada, vol. II, cit., pg. 587.
A impossibilidade de renovao permite afastar o receio manifestado, por
ALBERTO DOS REIS, que considerava a inamovibilidade temporria como uma
frma imperfeita e grosseira, mas, justamente, porque apenas tinha em mente a
nomeao por um certo perodo de tempo com possibilidade de renovao, ao justificar
a sua posio com base em que a esperana de reconduo far dos funcionrios
agentes s ordens do governo. Cfr. ALBERTO DOS REIS, Organizao judicial, cit.,
pg 356.
(111) Cfr. J. J. GOMES CANOTILHO/VITAL MOREIRA, Constituio da Repblica
Portuguesa anotada, vol. II, cit., 586.
32
(109)

Esta consagrao principial da irresponsabilidade dos juzes


aparece-nos ainda no art. 222., n. 5, da Constituio como garantia
de que gozam os juzes do Tribunal Constitucional , nas leis de
organizao das diversas categorias de tribunais e no Estatuto dos
Magistrados Judiciais. Mas ela no , em geral, expressamente
considerada como forma de assegurar a independncia dos juzes. E,
realmente, nos termos em que esse princpio se acha formulado, parece
perfeitamente legtimo duvidar de que possa funcionar como tal.
Assim, o n. 2 do art. 4. da LOFTJ 1999 e o n. 3 do art. 5. da
LOFTJ de 2008 (que surgem aps a indicao, nos nmeros anteriores,
dos

instrumentos

jurdicos

atravs

dos

quais

assegurada

independncia dos juzes) estabelecem que [o]s juzes no podem ser


responsabilizados pelas suas decises, salvo as excepes consignadas
na lei; o n. 2 do art. 3. do ETAF (numa formulao no muito feliz,
que pretende afastar-se da tradicional concepo negativa do princpio,
mas acaba por revelar quo esvaecida fica essa pretensa garantia)
dispe que [o]s juzes da jurisdio administrativa e fiscal podem
incorrer em responsabilidade pelas suas decises exclusivamente nos
casos previstos na lei; o art. 24. da LOFPTConst. contm igualmente
uma mera enunciao desse princpio, ao dizer que os juzes do
Tribunal Constitucional no podem ser responsabilizados pelas suas
decises, remetendo depois, no que tange a excepes, para o que se
acha legalmente estabelecido para os juzes dos tribunais judiciais
(salvo nos termos e limites em que o so os juzes dos tribunais
judiciais), ou seja, para a disciplina contida no EMJ; o art. 5. deste
Estatuto, por sua vez, separa a formulao (negativa) do princpio, que
consta do n. 1 [o]s magistrados judiciais no podem ser
responsabilizados pelas suas decises , da referncia aos casos em
que esses juzes podem incorrer em responsabilidade e natureza da
mesma, que surge no n. 2 [s] nos casos especialmente previstos na
lei os magistrados judiciais podem ser sujeitos, em razo do exerccio
33

das suas funes, a responsabilidade civil, criminal ou disciplinar(112);


em termos idnticos, tambm o art. 7. da LOPTContas, alm de
reafirmar a irresponsabilidade dos juzes do Tribunal de Contas,
includa nas garantias de independncia desse tribunal (n. 2), decalca
o disposto no n. 2 do art. 5. do EMJ, limitando-se a substituir a
referncia a magistrados judiciais por juzes (n. 4); e, por ltimo, o
n. 2 do art. 4. da LOSJ (que vem no seguimento da referncia
prerrogativa que os juzes tm de julgar somente de acordo com a
Constituio e a lei) estatui com carcter geral que [o]s juzes no
podem ser responsabilizados pelas suas decises, salvas as excees
consignadas na lei.
Como resulta da norma contida no citado art. 5., n. 2, do EMJ e
da correspondente norma da LOPTContas, as excepes consagradas na
lei referem-se a trs espcies de responsabilidade: criminal, civil e
disciplinar; e no, tambm, responsabilidade poltica, que est
absolutamente excluda no nosso ordenamento jurdico, uma vez que os
juzes no respondem (em caso algum) perante qualquer rgo de
soberania de carcter representativo, maxime, a Assembleia da
Repblica(113).
Sublinhe-se, por outro lado, que dessas normas parece ser
possvel extrair, a contrario sensu, uma vertente do princpio da
irresponsabilidade que no se encontra no n. 1 (do art. 5. do EMJ),
nem em qualquer dos outros preceitos legais mencionados: a que se
reporta ao exerccio das funes prprias dos juzes e, por
conseguinte, actividade profissional por eles desenvolvida e no,
apenas, ao contedo das decises que proferem(114).
(112) Idntica a formulao contida no art. 5., n. 1, da Lei n. 101/2003, que
consagra o princpio da irresponsabilidade (cfr. a epgrafe) para os juzes militares:
[o]s juzes militares s podem ser responsabilizados civil, criminal ou
disciplinarmente pelas suas decises, nos casos especialmente previstos na lei.
(113) Cfr. J. J. GOMES CANOTILHO, Direito Constitucional, cit., pg. 665.
(114) A distino entre essas duas facetas ou aspectos da irresponsabilidade dos
juzes foi feita com toda a clareza por um eminente jurista, CASTRO MENDES, no
voto de vencido que emitiu no mbito do parecer n. 3/VIII da Cmara Corporativa,
referente base XVII, al. b), da proposta de lei n. 10, sobre a organizao judiciria, a
34

Ainda

assim,

temos

de

convir

que

princpio

da

irresponsabilidade, tal como se acha formulado e, sobretudo, pela


extenso das excepes que comporta , est longe de constituir uma
verdadeira garantia especial dos juzes, que tenha em conta as
especificidades das funes que exercem. Bem vistas as coisas, sendo
responsveis criminal, civil e disciplinarmente, nos casos previstos na
lei, os juzes encontram-se na mesma situao dos magistrados do
Ministrio Pblico considerados responsveis pela Constituio da
Repblica (art. 219., n. 4) e no respectivo Estatuto (art. 76., n. 1, do
EMP(115)) , no que a essas formas de responsabilidade diz respeito, se
ressalvarmos a diferena decorrente do dever de observncia das
directivas ordens e instrues recebidas que sobre estes recai: a
responsabilidade destes consiste em responderem, nos termos da lei,
pelo cumprimento dos seus deveres (art. 76, n. 2, do EMP). At quanto
aos termos em que se opera a efectivao da responsabilidade
exclusivamente civil (extracontratual, delitual ou aquiliana), pelos actos
praticados no exerccio das respectivas funes, no h qualquer
diferena entre os juzes e os magistrados do Ministrio Pblico: em via
de regresso (atravs da aco prevista nos arts. 967. e segs. do
C.P.Civil(116), que so subsidiariamente aplicveis s aes do mesmo
tipo

que

sejam

da

competncia

de

outros

tribunais)

no

directamente; e, tanto uns como os outros, s quando tenham agido


com dolo ou culpa grave (art. 5., n. 3, do EMJ, art. 26. da
LOPTContas, art. 77. do EMP, na redaco que lhe foi dada pela Lei n.
67/2007, de 31 de Dezembro, e art. 14., n. 1, da do Regime da

que vieram a corresponder a 3. alnea da base XVII da Lei n. 2 113, de 11 de Abril de


1962, e o art. 111., al. b), do Estatuto Judicirio (j mencionado), aprovado pelo
Decreto-Lei n. 44 278, de 14 de Abril de 1962. Com efeito, a dado passo, CASTRO
MENDES sustentava: A irresponsabilidade dos juzes apresenta duas facetas ou
aspectos: pelo contedo das suas decises deve ser absoluta; pela actividade que a
essas decises leva (julgamento), deve ser formulada na lei (...).
Cfr. J. ROSEIRA FIGUEIREDO/F. PINTO FERREIRA, O poder judicial, cit., pgs.
72-73.
(115) Cfr. tambm o art. 9., n. 2, da LOSJ.
(116) Arts. 1083. e segs. do C.P.Civil de 1961.
35

responsabilidade civil extracontratual do Estado e demais entidades


pblicas, aprovado pela referida Lei n. 67/2007(117).
Desse modo, em que se distingue, afinal, a irresponsabilidade dos
juzes da responsabilidade dos magistrados do Ministrio Pblico? S
no facto de a organizao interna do Ministrio Pblico assentar na
existncia

de

subordinao

hierrquica,

com

consequente

possibilidade de emanao de directivas, ordens ou instrues e o


correspondente dever de as observar(118)?
No

nos

parece

que

isso

seja

suficiente

para

falar

de

irresponsabilidade num caso e de responsabilidade no outro.


Donde se segue, no que os juzes devam estar isentos dessas
formas de responsabilidade (ainda que se imponha a maior prudncia
na apreciao do grau de culpa com que porventura actuem tendo em
conta o nmero de processos distribudos a cada um dos magistrados,
a respectiva complexidade e, at, a grande dificuldade, que muitas vezes
existe, na determinao das normas legais em vigor, sobretudo quando
se acham dispersas e inseridas em diplomas legais cujo ttulo ou
sumrio em nada contribuem para identificar o contedo das normas
parasitrias(119) neles contidas , dada a extrema relevncia da

Este diploma legal foi entretanto alterado pela Lei n. 31/2008, de 17 de


Julho.
A responsabilidade criminal dos juzes militares efectiva-se em termos
semelhantes aos dos restantes juzes do tribunal judicial em que exeram funes; a
sua responsabilidade civil tambm efectivada mediante aco de regresso; e o regime
disciplinar aplicvel a esses juzes o do EMJ, competindo o exerccio da aco
disciplinar ao Conselho Superior da Magistratura. Cfr. os arts. 5., n. os 2 e 3, 6. e 7.
da citada Lei n. 101/2003.
(118) Cfr. JOS ADRIANO SOUTO DE MOURA, Nota introdutria sobre a
responsabilidade dos magistrados, in Revista do Ministrio Pblico, Ano 22. (2001),
n. 88, pg. 27 onde o A. sustenta, ainda, que a responsabilizao [dos magistrados]
fora de um condicionalismo estrito pode funcionar como o espectro de uma reaco
gravosa para quem tem que proferir a deciso, a ponto de paralisar ou orientar
indevidamente a opo do magistrado.
(119)
So qualificveis como parasitrias, intrusas ou fugitivas as
normas includas no articulado de leis que disciplinam uma determinada matria,
correspondente ao seu objecto imediato, e que se revelam estranhas a tal objecto. O
exemplo paradigmtico dessas normas constitudo pelos chamados cavaleiros
oramentais (cavaliers budgtaires, na terminologia francesa) inseridos na lei que
aprova o Oramento do Estado, como a prpria designao sugere.
36
(117)

distino entre a actuao com culpa grave e com culpa leve)(120), mas
que parece no haver motivo para se aludir a irresponsabilidade dos
juzes. Trata-se de uma pura questo semntica, pois, em bom rigor, os
juzes so responsveis pelos actos praticados no exerccio das suas
funes, salvo no que se refere responsabilidade meramente civil, que
est excluda quando actuem com culpa leve; mas tambm assim no
caso dos magistrados do Ministrio Pblico(121).

Nos termos do disposto no art. 105. da Constituio, o Oramento do Estado


contm a discriminao das receitas e despesas do Estado, incluindo as dos fundos e
dos servios autnomos (n. 1, al. a)), bem como o oramento da segurana social
(n. 1, al. b)). Ora, apesar de o contedo do Oramento do Estado ser esse e, por
conseguinte, o ttulo da lei que o aprova, apenas apontar no sentido de a estarem
includas normas com o referido objecto, muito frequente serem inseridas em tal lei
normas de natureza muito diversa, estranhas quele contedo (e, por isso, intrusas).
Independentemente da questo da eventual inconstitucionalidade dessas normas
parasitrias e da possibilidade ou impossibilidade da sua revogao por uma lei sem
valor reforado, que aqui no nos interessa, importa sublinhar, precisamente, a
grande dificuldade que os destinatrios dessas normas intrusas tm em saber da
sua existncia e, por conseguinte, de as conhecerem (tratando-se, pois, de domnio
onde o princpio geral do direito ignorantia legis non excusat consagrado no art.
6. do C.Civil se pode revelar particularmente injusto e at contraditrio com a
exigncia de segurana jurdica que lhe est associada, na medida em que o princpio
da segurana jurdica tambm exige que, para algum ficar vinculado por uma norma,
seja dada a esta uma publicidade adequada, que torne possvel o seu prvio
conhecimento por parte dos cidados medianamente diligentes e informados, o que
manifestamente no se verifica quando a lei contenha, de forma subreptcia, normas
sobre matria diferente da que, aparentemente, constitui o seu objecto nico), devido
ao facto de (em virtude desse procedimento anmalo) no lhes ser feita qualquer
aluso no ttulo do diploma. No plano das boas regras de legstica (pelo menos), tratase, pois, de uma prtica censurvel.
A respeito das normas parasitrias e de alguns problemas por elas suscitados,
vide CARLOS BLANCO DE MORAIS, Algumas reflexes sobre o valor jurdico de normas
parasitrias presentes em leis reforadas pelo procedimento, in Nos 25 anos da
Constituio da Repblica Portuguesa. Evoluo constitucional e perspectivas
futuras (Lisboa, 2001), 393-460; ANTNIO ALBERTO VIEIRA CURA, Teoria da
Legislao. Sumrios Desenvolvidos das Aulas do Curso de Mestrado da Faculdade de
Direito de Coimbra, disponibilizados aos alunos no ano lectivo de 2005/2006 (Coimbra,
2006), pgs. 175-178; e ALEX HENNEMANN, O problema das normas parasitrias:
uma anlise luso-brasileira, in Direito Pblico, n 18 (Braslia, Out.-Nov.-Dez./2007),
pgs. 5-30.
(120) Se houver prudncia na aplicao do regime de responsabilidade civil
extracontratual dos juzes, cremos que os de reconhecido mrito e competncia s
tero a ganhar com a erradicao do joio que existe na seara de que fazem parte e,
segundo cremos, constituda maioritariamente por trigo.
(121) A este respeito, vide JOS MANUEL M. CARDOSO DA COSTA, Sobre o novo
regime da responsabilidade do Estado por actos da funo judicial, in Estudos em
Homenagem ao Prof. Doutor Manuel Henrique Mesquita, vol I, STVDIA IVRIDICA, 95,
Ad Honorem 4 (Coimbra, 2010), pgs. 501-520 (especialmente, 515-520); e CARLA
AMADO GOMES, ABC da (ir)responsabilidade dos juzes no quadro da Lei n. 67/2007,
37

6.3. O autogoverno
A independncia dos juzes, sobretudo perante o poder executivo,

ainda

assegurada

pelo

denominado

autogoverno(122)

ou

pela

existncia de um rgo privativo de gesto e disciplina.


No caso dos juzes do Tribunal Constitucional e do Tribunal de
Contas pode falar-se de autogoverno, na medida em que cabe a cada
um desses tribunais o exerccio do poder disciplinar sobre os
respectivos juzes(123), ainda que se trate de actos praticados no
exerccio de outras funes (art. 25., n. 1, da LOFPTConst. e art. 7.,
n. 2, 25. e 75., al. e), da LOPTContas, e art. 6., n. 3, da LOSJ), e a
nomeao dos juzes do Tribunal de Contas da competncia do
respectivo Presidente, que, por sua vez, nomeado pelo Presidente da
Repblica, sob proposta do Governo (art. 133, al. m), da C.Rep. e art.
74., n. 1, al. j), da LOPTContas).
O mesmo no pode, no entanto, dizer-se (em bom rigor)
relativamente aos juzes dos tribunais judiciais e aos juzes dos
tribunais administrativos e fiscais. Com efeito, a nomeao, colocao,
transferncia e promoo dos juzes, assim como o exerccio da aco
disciplinar em relao a eles, no pertencem a eles prprios, mas a
rgos

privativos

de

gesto

disciplina,

constitucionalmente

autnomos(124), s em parte constitudos por juzes (e sem que estes


de 31 de Dezembro, in SCIENTIA IVRIDICA, tomo LIX, n. 322 (Abril/Junho, 2010),
pgs. 262-268 e 274-277.
(122) Em vez de autogoverno, GOMES CANOTILHO considera prefervel aludir a
auto-administrao, uma vez que os tribunais auto-administram-se mas no se
autogovernam. Cfr. J. J. GOMES CANOTILHO, Direito Constitucional, cit., pg. 666.
Desde que se tenha em conta o sentido particular que aqui assume a expresso
tradicional autogoverno, parece-nos, no entanto, no haver qualquer inconveniente
na sua utilizao; nem se vislumbra vantagem na sua substituio por autoadministrao.
(123) Quanto a tais juzes esse o aspecto que verdadeiramente releva, excludas
que esto, segundo parece, questes referentes nomeao, colocao, transferncia e
promoo, por se tratar de jurisdies com um nico tribunal.
(124) Cfr. J. J. GOMES CANOTILHO/VITAL MOREIRA, Constituio da Repblica
Portuguesa anotada, vol. II, cit., pgs. 592-593 e 596; e CARLOS A. CONDE DA SILVA
38

representem, por imperativo constitucional ou legal, a maioria) o


Conselho Superior da Magistratura e o Conselho Superior dos Tribunais
Administrativos e Fiscais, respectivamente (art. 217., n. 1 e n. 2, da
C.Rep., art. 4., n. 2, da LOFTJ de 1999, art. 5., n. 2, da LOFTJ de
2008, art. 136. do EMJ, art. 74., n.os 1 e 2, do ETAF e art. 6., n.os 1 e
2, da LOSJ)(125).

6.3.1. O Conselho Superior da Magistratura


A

composio

do

Conselho

Superior

da

Magistratura

directamente estabelecida pela Constituio, no n. 1 do art. 218.(126).


Alm do Presidente do Supremo Tribunal de Justia, que preside ao
rgo, fazem parte dele os seguintes vogais: dois designados pelo
Presidente

da

Repblica(127),

sete

eleitos

pela

Assembleia

da

Repblica(128) e sete juzes eleitos pelos seus pares(129).

FRAGA, Sobre a independncia dos juzes e magistrados, cit., pgs. 42-45 onde o A.
sustenta que, apesar dessa autonomia, o Conselho Superior da Magistratura (a que se
refere) no deixa de ser um rgo do Poder Executivo (o que nos parece ser algo
contraditrio).
(125) A nomeao e a exonerao dos juzes militares competem igualmente ao
Conselho Superior da Magistratura, sob proposta ou com audio do Conselho de
Chefes de Estado-Maior ou do Conselho Geral da GNR, conforme os casos (arts. 14,,
n. 1, e 17. da citada Lei n. 101/2003). Cabe-lhe tambm, como vimos, com carcter
exclusivo, o exerccio da aco disciplinar sobre esses juzes (art. 7. desse diploma
legal).
As restantes competncias do Conselho Superior da Magistratura (CSM)
encontram-se previstas (por enquanto) no art. 149. do EMJ, mas foram agora
consagradas no art. 155. da LOSJ (no mbito do ttulo XI desta lei, respeitante aos
rgos de gesto e disciplina judicirios, cujo captulo I regula o CSM , o que faz
prever a eliminao do EMJ das normas a este respeitantes). E as do Conselho
Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais esto plasmadas (por enquanto,
tambm) no n. 2 do art. 74. do ETAF, mas foram igualmente estabelecidas no art.
162. da LOSJ (no captulo II do ttulo XI dessa lei, que disciplina o CSTAF, fazendo
com que seja previsvel a eliminao das normas do ETAF respeitantes a este rgo).
(126) A composio do CSM igualmente referida (por ora) no n. 1 do art. 137. do
EMJ e acaba de ser consagrada no art. 154., n. 1, da LOSJ.
(127) Cfr., tambm, a 2. parte da al. n) do art. 133. da C.Rep.
(128) Essa eleio exige maioria de dois teros dos Deputados presentes, desde que
superior maioria absoluta dos Deputados em efectividade de funes (art. 163., al.
h), da C.Rep.).
(129) A forma de eleio destes vogais rege-se pelo disposto nos arts. 139., n. 2, e
140. e segs. do EMJ (matria em que o n. 2 da LOSJ remete para esse estatuto).
39

O Conselho Superior da Magistratura , pois, constitudo por


dezassete

membros(130);

maioria

deles

(nove

membros)

designada/eleita pelos rgos de soberania cuja eleio feita por


sufrgio directo(131) o que se traduz num reforo da sua legitimao
democrtica(132). Os juzes dos tribunais judiciais no tm, pois,
assegurada pela Constituio (ou pela lei) uma presena maioritria
nesse rgo, por ter cado (com a Lei Constitucional n. 1/97, de 20 de
Setembro) a exigncia, formulada no art. 223. sado da reviso
constitucional de 1982 (a que agora corresponde o 218.), de que um
dos vogais designados pelo Presidente da Repblica fosse magistrado
judicial; mas no existe qualquer impedimento a que o Presidente da
Repblica e a Assembleia da Repblica procedam, respectivamente,
designao ou eleio de juzes para o Conselho Superior da
Magistratura. Saliente-se que, ao contrrio do que havia sucedido na
designao efectuada pelo Presidente da Repblica em 2006(133),
naquela a que este procedeu em 2011 no foi nomeado como vogal
qualquer juiz(134); assim, porque nesse ano tambm no foi eleito
nenhum juiz pela Assembleia da Repblica(135), o Conselho Superior da
Magistratura hoje composto por oito magistrados judiciais e por nove
membros no oriundos da judicatura(136).

As regras sobre garantias dos juzes so aplicveis a todos os vogais do


Conselho Superior da Magistratura, mesmo aos que no sejam juzes (art. 218., n. 2,
da C.Rep. e art. 148., n. 1, do EMJ para que agora remete o n. 2 da LOSJ).
Relativamente ao Presidente do Conselho Superior da Magistratura no necessrio
que a Constituio e a lei o digam, pois j goza dessas garantias pelo facto de ser
Conselheiro do STJ (de que Presidente).
(131) Cfr. os arts. 113., n. 1, 121., n. 1, e 149., n. 1, da C.Rep.
(132) Cfr. J. J. GOMES CANOTILHO/VITAL MOREIRA, Constituio da Repblica
Portuguesa anotada, vol. II, cit., pg. 597.
(133) Referimo-nos designao de vogais do Conselho Superior da Magistratura
feita atravs do Decreto do Presidente da Repblica n. 44/2006, de 10 de Abril, em
que a escolha de um deles recaiu num Juiz Conselheiro do Supremo Tribunal de
Justia, o que fez com que esse rgo fosse composto por nove juzes e por oito
membros no oriundos da magistratura judicial.
(134) Cfr. o Decreto do Presidente da Repblica n. 54/2011, de 15 de Junho.
(135) Cfr. a Resoluo da Assembleia da Repblica n. 141/2011, de 28 de
Outubro.
(136) A composio do Conselho Superior da Magistratura pode ser consultada na
respectiva pgina da internet (www.conselhosuperiordamagistratura.pt).
40
(130)

Importa

sublinhar,

ainda,

que

Conselho

Superior

da

Magistratura no inclui qualquer membro designado pelo Governo, o


que, em princpio, constitui garantia de no ingerncia daquele no
governo da magistratura judicial(137).

6.3.2. O Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais


O Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais,
cuja composio foi deixada para a lei (limitando-se a Constituio a
atribuir-lhe competncia para a nomeao, colocao, transferncia e
promoo, e para o exerccio da aco disciplinar, em relao aos juzes
dos tribunais administrativos e fiscais art. 217., n. 2), constitudo
por onze membros: o Presidente do Supremo Tribunal Administrativo
ao qual cabe a presidncia do rgo , dois vogais designados pelo
Presidente da Repblica, quatro eleitos pela Assembleia da Repblica e
quatro juzes eleitos pelos seus pares (art. 75., n. 1, do ETAF e art.
161., n. 1, da LOSJ).
Tambm neste caso temos uma maioria de conselheiros cuja
nomeao efectuada pelos rgos de soberania eleitos directamente. E
vale igualmente o que foi dito a respeito da falta de garantia (neste caso,
legal) da existncia de uma maioria de juzes, sem prejuzo de ela poder
verificar-se na hiptese de o Presidente da Repblica designar algum
juiz ou de a Assembleia da Repblica o eleger. Como na ltima eleio
realizada por este rgo foi eleito um juiz-conselheiro (ainda que
jubilado)(138), o Conselho tem, presentemente, uma maioria de juzes,

(137) A este respeito, vide J. J. GOMES CANOTILHO/VITAL MOREIRA, Constituio


da Repblica Portuguesa anotada, vol. II, cit., pg. 597.
(138) O segundo membro efectivo eleito pela Assembleia da Repblica, Lcio Alberto
de Assuno Barbosa, juiz conselheiro jubilado (foi, alis, o Presidente do Supremo
Tribunal Administrativo at tomada de posse do actual), apesar de esse ttulo no
ser mencionado na Resoluo da Assembleia da Repblica n. 29/2013, de 13 de
maro (que se limita a identificar os cidados eleitos pelo seu nome). E, nos termos do
disposto no art. 67., n. 2, do EMJ, aplicvel aos juzes dos tribunais administrativos
e fiscais ex vi do art. 57. do ETAF, os magistrados jubilados continuam vinculados
41

pois composto por seis juzes dos tribunais administrativos e fiscais e


por cinco outros juristas(139).
No Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais no
h, igualmente, qualquer membro designado pelo Governo, com o
significado

apontado

respeito

do

Conselho

Superior

da

Magistratura(140).
Em face do que antecede, parece-nos adequada e perfeitamente
legtima

qualificao

como

autogoverno

mitigado,

tanto

da

magistratura judicial como dos juzes da jurisdio administrativa e


fiscal, dado o temperamento ao carcter puramente profissional da
representao nesses rgos que a legitimao democrtica assegura.

6.4. O regime de incompatibilidades


As incompatibilidades, constitucional e legalmente previstas,
equivalem consagrao da regra da dedicao exclusiva dos juzes
profissionais(141). E parecem no ser postas pela Constituio da
Repblica no mesmo plano das outras garantias de independncia (a
epgrafe

do

art.

216.

da

C.Rep.

menciona

garantias

incompatibilidades, aparecendo as primeiras nos n.os 1 e 2 desse


artigo, enquanto s segundas se referem os n.os 3 a 5), o que se verifica
igualmente

no

Estatuto

dos

Magistrados

Judiciais

(onde

irresponsabilidade e a inamovibilidade esto consagradas nos arts. 5. e


6., logo a seguir ao artigo que trata da independncia dos magistrados
judiciais, enquanto as incompatibilidades esto previstas noutro
captulo, juntamente com os seus deveres, direitos e regalias no art.
13.) e na Lei de Organizao do Sistema Judicirio (art. 5., cuja
aos deveres estatutrios e ligados ao tribunal de que faziam parte e gozam dos ttulos,
honras, regalias e imunidades correspondentes sua categoria.
(139) A composio do Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais
pode ser consultada na respectiva pgina da internet (www.cstaf.pt).
(140) Cfr. supra, n. 6.3.1.
(141) Cfr. J. J. GOMES CANOTILHO/VITAL MOREIRA, Constituio da Repblica
Portuguesa anotada, vol. II, cit., 586.
42

epgrafe tambm garantias e incompatibilidades, que consagra a


garantia de inamovibilidade no n. 1 e as incompatibilidades nos n.os 24).
Relativamente

este

tema,

Constituio

da

Repblica

determina que os juzes em exerccio no podem desempenhar


qualquer outra funo pblica ou privada, exceptuando apenas o
exerccio de funes docentes ou de investigao cientfica de natureza
jurdica, no remuneradas, remetendo a disciplina desse exerccio para
a lei ordinria (art. 216., n. 3, da C.Rep.)(142)-(143). E o art. 222., n. 5,
estabelece a sujeio dos juzes do Tribunal Constitucional s
incompatibilidades dos juzes dos restantes tribunais, a quem se
aplica, de forma imediata, o disposto no art. 216., n. 3(144)-(145).
Quanto aos juzes dos tribunais judiciais, a disciplina legal dos
termos em que se torna possvel o exerccio da mencionada actividade
(docente ou de investigao cientfica) vem a traduzir-se na necessidade
de obter autorizao do Conselho Superior da Magistratura para esse
efeito (art. 13., n. 2, do EMJ); e, no caso dos juzes dos tribunais
administrativos e fiscais, concretiza-se na exigncia de autorizao do
Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais (cfr. o citado
artigo do EMJ, aplicvel ex vi do art. 3., n. 3, e do art. 57. do ETAF,
e o art. 74., n. 2, al. p), deste Estatuto).

Cfr., tambm, o art. 5., n. 2, da LOSJ.


Relativamente aos juzes militares, a Lei n. 101/2003 acrescenta s referidas
funes de natureza jurdica as de natureza militar (art. 8.).
(143) Sobre as razes determinantes da consagrao dessa excepo, vide J. J.
GOMES CANOTILHO/VITAL MOREIRA, Constituio da Repblica Portuguesa
anotada, vol. II, cit., pg. 588.
(144) Em virtude da remisso contida no art. 222., n. 5, da C.Rep., compreende-se
o estatudo pelo art. 27. da LOFPTConst., que, alm de considerar o desempenho do
cargo de juiz desse tribunal incompatvel com o exerccio de funes em rgos de
soberania, das regies autnomas ou do poder local, consagra a incompatibilidade do
respectivo exerccio com o de qualquer outro cargo ou funo de natureza pblica ou
privada (n. 1), com a excepo acima referida exerccio no remunerado de
funes docentes ou de investigao cientfica de natureza jurdica (n. 2).
(145) A aplicao ao Presidente e aos juzes do Tribunal de Contas das
incompatibilidades dos magistrados judiciais , alis, estabelecida no art. 27., n. 1,
da LOPTContas.
43
(142)

O princpio da dedicao exclusiva dos juzes s funes prprias


do seu cargo encontra justificao na necessidade de assegurar a sua
concentrao nessa actividade (evitando a sua disperso por outras
actividades, com prejuzo do estudo e da reflexo exigidos a quem
exerce tal cargo); mas justifica-se, tambm, pela convenincia de evitar
a criao de laos de dependncia profissional ou econmica que
poderiam comprometer a sua independncia(146).
Num plano algo diferente do anteriormente abordado, mas
constituindo ainda uma garantia de independncia dos juzes(147),
encontra-se a impossibilidade de nomeao de juzes para comisses
de servio estranhas actividade dos tribunais sem autorizao do
respectivo conselho superior (art. 216., n. 4, da C.Rep.(148))(149). Na
verdade, nessa hiptese (que nos parece restringir-se comisso de
servio para exercer funes pblicas) no est em causa a acumulao
de outra actividade com o cargo de juiz, pois tal nomeao destina-se a
permitir o exerccio de outras funes a tempo inteiro.

7. O Ministrio Pblico e a sua autonomia


O Ministrio Pblico uma magistratura paralela e independente
da

magistratura

judicial,

que

decorre,

desde

logo,

de

ter

constitucionalmente garantido um estatuto prprio e, alm disso,


expressamente reafirmado nesse estatuto (art. 219., n. 2, da C.Rep.,
(146) Neste sentido, vide J. J. GOMES CANOTILHO/VITAL MOREIRA, Constituio
da Repblica Portuguesa anotada, vol. II, cit., pgs. 587-588.
(147) Cfr. J. J. GOMES CANOTILHO/VITAL MOREIRA, Constituio da Repblica
Portuguesa anotada, vol. II, cit., pg. 588.
(148) Cfr., tambm, o art. 5., n. 3, da LOSJ.
(149) Como apenas existem o Conselho Superior dos Tribunais Judiciais e o
Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais (cfr. supra, n. 6.3.), pe-se
o problema de saber se os juzes das restantes categorias de tribunais podero ser
nomeados para comisses de servio estranhas s respectivas funes. GOMES
CANOTILHO/VITAL MOREIRA (Constituio da Repblica Portuguesa anotada, vol. II,
cit., pg. 588) sustentam que no. Todavia, no assim, pelo menos, no caso do
Tribunal de Contas, pois o art. 23. da LOPTContas admite expressamente a
nomeao de juzes do Tribunal de Contas para outros cargos, em comisso de
servio.
44

art. 75., n. 1, do EMP(150)). Tem como rgo superior a ProcuradoriaGeral da Repblica (art. 220., n. 1, da C.Rep., art. 9., n. 1, do EMP),
que presidida pelo Procurador-Geral da Repblica (art. 220., n. 2, da
C.Rep. e arts. 11. e 12., n. 1, al. a), do EMP(151)), nomeado pelo
Presidente da Repblica, sob proposta do Governo, e cujo mandato tem
a durao de seis anos (arts. 133., al. m), e 220., n. 3, da C.Rep.).
A Constituio da Repblica garante-lhe autonomia, em termos a
definir pela lei (art. 219., n. 2, da C.Rep.). E esta dispe que tal
autonomia existe em relao aos demais rgos do poder central,
regional e local em particular, em relao ao Governo e aos seus
membros, designadamente ao Ministro da Justia (ao contrrio do que
sucedeu na vigncia do Estatuto Judicirio, de 1962(152)) , nos termos
do respectivo estatuto, e que se caracteriza pela sua vinculao a
critrios de legalidade e objectividade e pela exclusiva sujeio dos
magistrados do Ministrio Pblico s directivas, ordens e instrues
previstas na lei (art. 2., n.os 1 e 2, do EMP(153)).

7.1. Funes do Ministrio Pblico


As funes do Ministrio Pblico encontram-se sintetizadas no
art. 219., n. 1, da Constituio da Repblica e no art. 1. do EMP(154).
So elas: a representao do Estado, a defesa dos interesses que a lei
determinar, a participao na execuo da poltica criminal definida
pelos rgos de soberania, o exerccio da aco penal (orientada pelo
princpio da legalidade) e a defesa da legalidade democrtica.

Cfr. tambm os arts. 3., n. 2, e 9., n. 3, da LOSJ.


Cfr. ainda o art. 165., n. 2, da LOSJ.
(152) Sobre essa subordinao do Ministrio Pblico ao Ministro da Justia,
entretanto desaparecida, vide JOS NARCISO DA CUNHA RODRIGUES, Sobre o
modelo de hierarquia na organizao do Ministrio Pblico, in Revista do Ministrio
Pblico, Ano 16. (1995), n. 62, pgs. 16-20.
(153) Cfr. tambm o art. 3., n. os 2 e 3, da LOSJ.
(154)Cfr. ainda o art. 3., n. 1, da LOSJ.
45
(150)
(151)

As suas principais competncias, sem prejuzo de quaisquer


outras que lhe sejam conferidas por lei, so as mencionadas no art. 3.
do EMP. Entre elas contam-se as seguintes:
A representao do Estado, das Regies Autnomas, das
autarquias locais, dos incapazes, dos incertos e dos ausentes
em parte incerta (al. a));
O exerccio da aco penal (al. c))(155);
O patrocnio oficioso dos trabalhadores e suas famlias na
defesa dos seus direitos de carcter social (al. d));
A de promover a execuo das decises dos tribunais para que
tenha legitimidade (al. g));
A direco da investigao criminal (al. h))(156);
A de fiscalizar a constitucionalidade dos actos normativos (al.
j));
A interveno nos processos de insolvncia e em todos os que
envolvam interesse pblico (al. l));
A interposio de recurso sempre que a deciso seja efeito de
conluio das partes no sentido de fraudar a lei ou tenha sido
proferida com violao de lei expressa (al. o)).

7.2. A responsabilidade e a subordinao hierrquica dos


magistrados do Ministrio Pblico
J tivemos oportunidade de aludir ao facto de a Constituio e a
lei contraporem irresponsabilidade dos juzes a responsabilidade dos
magistrados do Ministrio Pblico. E vimos, tambm, como a situao
das duas magistraturas, desse ponto de vista, no substancialmente
Relativamente a crimes estritamente militares, o Ministrio Pblico
coadjuvado por assessores militares, que so nomeados pelo Procurador-Geral da
Repblica, sob proposta dos Chefes de Estado-Maior ou do comando-geral da GNR,
consoante os casos (arts. 22., al. a), 23. e 24., n. 1, da citada Lei n. 101/2003).
(156) Na direco da investigao de crimes estritamente militares, o Ministrio
Pblico igualmente coadjuvado por assessores militares (arts. 22., al. c), e 23. da
citada Lei n. 101/2003).
46
(155)

diferente(157), com a ressalva de os magistrados do Ministrio Pblico


responderem, nos termos da lei (), pela observncia das directivas,
ordens e instrues que receberem (art. 76., n. 2, do EMP).
Quanto subordinao hierrquica, que no existe no caso dos
juzes, importa referir que ela se acha consagrada no art. 219., n. 4,
da Constituio e nos arts. 2. e 76., n.os 1 e 3, do EMP(158). Consiste,
de acordo com esta ltima norma, na subordinao dos magistrados
aos de grau superior, nos termos de tal estatuto, e na consequente
obrigao de acatamento por aqueles das directivas, ordens e instrues
recebidas, salvo (nomeadamente) se estas forem reputadas ilegais pelos
magistrados a quem so dirigidas ou (quando no sejam emitidas pelo
Procurador-Geral da Repblica(159)) se forem vistas por eles como uma
grave violao da sua conscincia jurdica (art. 79., n. 2, do
EMP)(160).
No topo dessa hierarquia encontra-se o Procurador-Geral da
Repblica que, como vimos, preside Procuradoria-Geral da
Repblica(161) e coadjuvado e substitudo pelo Vice-Procurador-Geral
da Repblica (art. 13., n. 1, do EMP) e, ainda, no Tribunal
Constitucional, no Tribunal de Contas, no Supremo Tribunal de Justia
e no Supremo Tribunal Administrativo (como veremos a propsito de
cada um destes tribunais), por procuradores-gerais-adjuntos (art. 13.,

A esse respeito, vide ANTNIO ALMEIDA SANTOS, O Ministrio Pblico num


Estado de Direito Democrtico, in Revista do Ministrio Pblico, Ano 19. (1998), n.
76, pg.15 onde o A. afirma que os conceitos de responsabilidade e de
irresponsabilidade so s aparentemente antitticos.
(158) Cfr., tambm, o art. 9., n. 2, da LOSJ.
(159) O cumprimento das directivas, ordens e instrues do Procurador-Geral da
Repblica apenas pode ser recusado com fundamento na sua ilegalidade (art. 79., n.
5, al. b), do EMP).
(160) Ainda de acordo com essa norma, a recusa de cumprimento das directivas,
ordens e instrues com fundamento em ilegalidade constitui um dever, enquanto a
baseada na grave violao da conscincia jurdica do magistrado uma simples
faculdade.
Nos termos do disposto no n. 6 do art. 79. do EMP, [o] exerccio injustificado da
faculdade de recusa constitui falta disciplinar.
(161) Cfr. supra, n. 7.
47
(157)

n. 2, e 4., n.1, al. a), do EMP(162))(163) , ao qual compete,


nomeadamente, [d]irigir,

coordenar

fiscalizar

actividade

do

Ministrio Pblico e emitir as directivas, ordens e instrues a que deve


obedecer a actuao dos respectivos magistrados (art. 12., n. 2, al. b),
do EMP)(164).
Na sede de cada distrito judicial (enquanto se mantiver esta
circunscrio

judicial(165))

existe

uma

procuradoria-geral

distrital,

dirigida por um dos procuradores-gerais-adjuntos que nela exercem


funes, com a designao de procurador-geral distrital (arts. 55., n.os
1 e 2, e 57., n. 1, do EMP); compete a este, no que se refere ao
exerccio do poder hierrquico, a direco e coordenao da actividade
do Ministrio Pblico no distrito judicial e emitir ordens e instrues
(art. 58., n. 1, al. a), do EMP)(166), que tm de ser cumpridas (no
exerccio das respectivas funes) pelos magistrados cujo servio dirige.
Onde ainda se aplique a LOFTJ de 1999(167), existe uma
procuradoria da Repblica na sede de cada crculo judicial e nas
comarcas

sede

de

procuradorias

da

compreendem

distrito
Repblica;

procurador

judicial
essas
ou

pode

haver

uma

procuradorias

procuradores

da

da

ou

mais

Repblica

Repblica

procuradores-adjuntos (art. 60., n.os 1, 2 e 3, do EMP, na verso


anterior que foi introduzida pelo art. 164. da Lei n. 52/2008),
competindo ao procurador da Repblica que a dirige emitir ordens e
instrues (arts. 62., n. 1, e 63., n. 1, al. c), do EMP, na redaco
Cfr., tambm, o art. 10., n. 1, da LOSJ.
Nessa norma igualmente referido o Supremo Tribunal Militar. Todavia, como
dissemos, em tempo de paz no h tribunais militares. Cfr. supra, n. 4.1. e nota(50).
(164) Cfr., tambm, o art. 9., n. 1, do Regulamento Interno da Procuradoria-Geral
da Repblica (n. 1/2002, pub. in Dirio da Repblica, II Srie, n. 50, de 28-22002), nos termos do qual [o] procurador-geral da Repblica pode, no exerccio da
sua competncia directiva da actividade do Ministrio Pblico, determinar a emisso
de circulares.
(165) Os distritos judiciais deixam de existir quando entrar em vigor e tiver plena
aplicao a LOSJ. A este respeito, vide, infra, n. ..
(166) Registe-se que os procuradores-gerais distritais no podem emanar directivas,
mas somente propor a sua adopo pelo Procurador-Geral da Repblica, com o
objectivo de uniformizar os procedimentos do Ministrio Pblico (art. 58., n. 1, al. c),
do EMP).
(167) Sobre a aplicao dessa LOFTJ, vide, infra, n. 20.
48
(162)
(163)

anterior alterao operada pela Lei n. 52/2008). Nas novas


comarcas, criadas ao abrigo do disposto na LOFTJ de 2008(168), existe
uma procuradoria da Repblica na sede de cada uma delas, podendo
haver mais do que uma nas comarcas sede de distrito judicial; tais
procuradorias

da

Repblica

compreendem

procuradores-gerais-

adjuntos, procuradores da Repblica e procuradores-adjuntos (art.


60., n.os 1, 2 e 3, do EMP, na redaco que lhe foi dada pelo art. 164.
da Lei n. 52/2008), cabendo ao procurador-geral-adjunto que dirige os
servios do Ministrio Pblico (ou aos procuradores-gerais-adjuntos
com funes de direco e coordenao, nas comarcas sede de distrito),
dirigir e coordenar a actividade do Ministrio Pblico na comarca,
emitindo ordens e instrues (art. 62., n.os 1, 2 e 5, do EMP, na
redaco resultante da Lei n. 52/2008, e art. 90., n.os 1, 2 e 3, desta
Lei), poder que reconhecido, tambm, aos procuradores da Repblica,
sem

prejuzo

das competncias

do procurador-geral-adjunto

da

comarca e dos procuradores da Repblica coordenadores (art. 63., n.


1, al. c), do EMP, na redaco introduzida pela Lei n. 52/2008).
Os procuradores-adjuntos encontram-se na base da hierarquia
(art. 8., n. 1, al. e), do EMP) e, por isso, tm de observar as directivas,
ordens e instrues emanadas pelos magistrados que gozam do poder
de as emitir.
Refira-se, ainda, que os magistrados do Ministrio Pblico tm
assegurada a estabilidade, em termos idnticos inamovibilidade dos
juzes, pois no podem ser transferidos, suspensos, promovidos,
aposentados, demitidos ou, por qualquer outra forma, mudados de
situao seno nos casos previstos na lei (art. 78. do EMP(169)). E que
tambm para eles se acha previsto um regime de incompatibilidades
(art. 81. do EMP).
A respeito das comarcas em que j tem aplicao a LOFTJ de 2008, vide,
infra, n. 19.
(169) Cfr., tambm, o art. 11., n. 1, da LOSJ.
49
(168)

Por ltimo, saliente-se a existncia de um rgo privativo


incumbido da disciplina e da gesto dos quadros do Ministrio Pblico,
o Conselho Superior do Ministrio Pblico, que est integrado na
Procuradoria-Geral da Repblica (art. 220., n. 2, da C.Rep., art. 9.,
n. 2, do EMP e art. 165., n. 2, da LOSJ) e tem a composio prevista
no art. 15., n. 2, do EMP o Procurador-Geral da Repblica, os
procuradores distritais (enquanto se mantiverem os distritos judiciais),
um procurador-geral adjunto, eleito pelos seus pares, dois procuradores
da Repblica eleitos por estes, quatro procuradores-adjuntos eleitos de
entre eles (um por cada distrito judicial, enquanto subsistir a diviso do
territrio em distritos judiciais, ou seja, at entrada em vigor e
efectiva aplicao da LOSJ), cinco membros eleitos pela Assembleia da
Repblica e duas personalidades de reconhecido mrito designadas pelo
Ministro da Justia(170).

(170) Relativamente nomeao de membros pelo Ministro da Justia, o Presidente


da Repblica chegou a pedir a fiscalizao preventiva da constitucionalidade das
normas do art. 1. do Decreto n. 12/VI da Assembleia da Repblica, que dava nova
redaco aos arts. 14., n. 2, al. g) (que continuava a prever aquela nomeao), e 26.,
n. 2, al. d), da Lei n. 47/86, de 15 de Outubro, e do art. 2., n. 2, do mesmo Decreto
(que viria a ser promulgado como Lei n. 23/92, de de 20 de Agosto). Mas o Tribunal
Constitucional no as considerou inconstitucionais (Acrdo n. 254/92, de 2-7-1992,
pub. in Dirio da Repblica, I Srie-A, n. 175, de 31-7-1992).
A actual composio do Conselho Superior do Ministrio Pblico pode ser
consultada na respectiva pgina da internet (www.csmp.pgr.pt).
50

CAPTULO I
TRIBUNAL CONSTITUCIONAL

8. O Tribunal Constitucional e a sua disciplina autnoma na


Constituio
O Tribunal Constitucional , como vimos, uma das categorias de
tribunais previstas na Constituio (art. 209., n. 1)(171). E assim
desde a Lei Constitucional n. 1/82, de 30 de Setembro, que o criou(172).
Todavia, a lei fundamental portuguesa no lhe dedica qualquer
outra norma no mbito do Captulo II do Ttulo V da Parte III
(respeitante Organizao dos Tribunais). Trata dele de forma
autnoma, quer em relao s restantes ordens de tribunais, quer
relativamente

ao

sistema

de

fiscalizao

da

constitucionalidade

(consagrado no Ttulo I da Parte IV arts. 277. e segs.), no Ttulo VI da


Parte III (arts. 221. e segs.)(173). A aparecem, sucessivamente, a
Sobre a discusso em torno da sua natureza de rgo jurisdicional do
Estado, vide J. J. GOMES CANOTILHO, Direito Constitucional, cit., pgs. 679-680 (e a
bibliografia indicada na nota(22), na ltima dessas pginas).
(172) Cfr. os seguintes artigos da referida Lei Constitucional: 160., n. 1, que deu
nova redaco aos n.os 1 e 2 do (ento) art. 212. da C.Rep., passando a incluir o
Tribunal Constitucional na al. a) do n. 1; art. 211., que alterou a redaco do art.
278. da C.Rep.; art. 212., que inseriu um novo art. 279. da C.Rep.; art. 213., que
introduziu um novo art. 283. da C.Rep.; art. 215., que deu nova redaco ao art.
281. da C.Rep.; art. 216., que inseriu um novo art. 280.; art. 217., que estabeleceu
um novo art. 282. da C.Rep.; art. 218., pelo qual foi determinado que a epgrafe do
captulo II do ttulo I da parte IV da Constituio passasse a ser Tribunal
Constitucional; art. 220., que aditou Constituio o novo art. 284.; e 221., que
aditou Constituio o novo art. 285..
(173) Esse ttulo (com a epgrafe Tribunal Constitucional) foi aditado pela Lei
Constitucional n. 1/89, de 8 de Julho (art. 143.), que aditou igualmente
Constituio os artigos 223., 224., 225. e 226. (cfr., respectivamente, os arts.
144., 145., 146. e 147.). Com a Lei Constitucional n. 1/97, de 20 de Setembro, os
arts. 223., 224., 225. e 226. da Constituio passaram a ser, respectivamente, os
arts. 221., 222., 223. e 224. (cfr. os arts. 145., 146. pelo qual se procedeu,
51
(171)

definio desse Tribunal (art. 221.), a sua composio e o estatuto dos


respectivos juzes (art. 222.), a sua competncia (art. 223.) e a
remisso da disciplina da sua organizao e funcionamento para a lei
ordinria (art. 224.) lei essa que a Lei de Organizao,
Funcionamento e Processo do Tribunal Constitucional (Lei n. 28/82,
de 15 de Novembro, que entretanto foi objecto de diversas alteraes, a
ltima das quais operada pela Lei Orgnica n. 1/2011, de 30 de
Novembro)(174).
Com

referida

autonomizao

ou

separao

no

seu

enquadramento orgnico(175) justificada pela natureza das suas


funes, pela sua ligao imediata lei fundamental e pela posio
especfica que ocupa em relao aos outros tribunais (decorrente do
facto de constituir o tribunal de recurso das decises de todos os
tribunais em matria de constitucionalidade e, tambm, em certas
hipteses, de legalidade)(176) , vantajosa do ponto de vista sistemtico, a
Constituio

sublinha

de

forma

bem

vincada

que

Tribunal

Constitucional no um tribunal como os outros, nem apenas um


tribunal, mas, antes, um rgo constitucional autnomo de regulao
do processo poltico-constitucional(177).

tambm, alterao dos n.os 3 e 6 do art. 222., na numerao resultante dessa LC ,


147. que alterou, igualmente, a al. f) do n. 2 do art. 223., na numerao dada por
essa LC, e aditou a este nmero as als. g) e h) e 148. que modificou, ainda, o n. 2
do art. 224., na numerao derivada dessa LC). A Lei Constitucional n. 1/2004, de
24 de Julho, por sua vez, introduziu uma pequena alterao na al. g) do n. 2 do art.
223. da Constituio (cfr. o art. 28. dessa LC).
(174) A LOSJ limita-se (alis, sem qualquer necessidade) a mencionar o Tribunal
Constitucional como uma das categorias de tribunais (art. 29., n. 1), a reproduzir a
definio que dele dada pelo art. 221. da C.Rep. (art. 30., n. 1) e a referir que [a]
composio, a competncia, a organizao e o funcionamento do Tribunal
Constitucional resultam do previsto na Constituio e na lei (art. 30., n. 2).
(175) Cfr. JOS MANUEL M. CARDOSO DA COSTA, A jurisdio constitucional em
Portugal, 3. edio (Coimbra, 2007), pg. 15.
(176) Cfr. J. J. GOMES CANOTILHO/VITAL MOREIRA, Constituio da Repblica
Portuguesa anotada, vol. II, cit., pg. 548.
(177) A respeito da autonomizao do Tribunal Constitucional em face das outras
categorias de tribunais e do seu significado, vide J. J. GOMES CANOTILHO/VITAL
MOREIRA, Constituio da Repblica Portuguesa anotada, vol. II, cit., pgs. 548-549 e
613; e JOS MANUEL M. CARDOSO DA COSTA, A jurisdio constitucional, cit., pgs.
23-28.
52

E com a separao da disciplina do Tribunal Constitucional da


que se acha consagrada para o controlo da constitucionalidade (e de
certas hipteses de legalidade) pretende-se salientar que o Tribunal
Constitucional no se limita a funcionar como rgo superior da justia
constitucional
verdadeiramente

(embora

essa

seja

caracterizadora

da

sua

sua

funo

jurisdio),

essencial

estando-lhe

igualmente cometidas outras tarefas, a que aludiremos adiante.

9. A composio do Tribunal Constitucional e o mandato dos


respectivos juzes
O Tribunal Constitucional o nico tribunal cuja composio se
encontra estabelecida na prpria Constituio(178). Nos termos do art.
222., n. 1, ele composto por treze juzes (que tm o ttulo de
conselheiro(179) e so, portanto, juzes-conselheiros), dos quais seis so
obrigatoriamente juzes oriundos de outros tribunais, enquanto os
restantes podem ser quaisquer juristas (n. 2 desse artigo)(180). No se
exclui, portanto, a possibilidade de entre estes sete estarem tambm
juzes de outras categorias de tribunais (embora, normalmente sejam
Este ilustre constitucionalista (apesar de reconhecer que, do ponto de vista
funcional, o Tribunal Constitucional integra o conjunto dos tribunais, como sistema)
sustenta que a Constituio, ao autonomizar o Tribunal Constitucional em face das
restantes categorias de tribunais, no o trata simplesmente como uma outra ordem de
jurisdio (), mas como um outro rgo de soberania, a par (ou para alm) dos
classicamente enunciados (o presidente da Repblica, a Assembleia da Repblica, o
Governo e os Tribunais todos e cada um em geral). Parece-nos, contudo, que a
enumerao dos rgos de soberania contida no n. 1 do art. 110. da C.Rep. no
consente que se atribua autonomizao do Tribunal Constitucional o alcance de
fazer dele um rgo de soberania para alm dos indicados nessa norma
constitucional (constituindo, antes, um rgo de soberania como qualquer outro
tribunal estadual, abrangido na qualificao genrica dos tribunais como tal).
(178) No sentido de que, tambm por isso, o Tribunal Constitucional no (...) um
tribunal igual aos outros, vide J. J. GOMES CANOTILHO/VITAL MOREIRA,
Constituio da Repblica Portuguesa anotada, vol. II, cit., pg. 617.
(179) Cfr. art. 20., n. 1, 1. parte, do EMJ (Os juzes do Supremo Tribunal de
Justia tm o ttulo de conselheiro), aplicvel por remisso do n. 1 do art. 30. da
LOFPTConst. Os juzes do Tribunal Constitucional tm honras, direitos, categorias,
tratamento, () iguais aos dos juzes do Supremo Tribunal de Justia.
Sobre a provvel origem da designao, vide, infra, nota(353).
(180) Cfr., tambm, art. 12., n. 1 (1. parte) e n. 2, da LOFPTConst.
53

outros juristas professores universitrios, magistrados do Ministrio


Pblico, advogados)(181). De todo o modo, a Constituio no obriga a
que o Tribunal Constitucional seja maioritariamente constitudo por
juzes provenientes de outros tribunais(182).
Dos treze juzes que compem o Tribunal Constitucional, dez so
directamente designados pela Assembleia da Repblica, enquanto os
restantes trs so cooptados pelos primeiros (art. 222., n. 1, 2. parte,
da C.Rep.)(183). A eleio daqueles exige uma maioria de 2/3 dos
deputados presentes, desde que superior maioria absoluta dos que se

Presentemente o Tribunal Constitucional constitudo por seis juzes


provenientes de outros tribunais (mais concretamente, por seis juzes dos tribunais
judiciais e por um dos tribunais administrativos e fiscais) e por sete outros juristas
(todos eles docentes universitrios, embora um deles fosse tambm advogado data
da sua eleio), como pode ver-se em www.tribunalconstitucional.pt.
(182) A este respeito, vide JOS MANUEL M. CARDOSO DA COSTA, A jurisdio
constitucional, cit., pg. 16; e J. J. GOMES CANOTILHO/VITAL MOREIRA,
Constituio da Repblica Portuguesa anotada, vol. II, cit., pg. 618 onde os AA.
afirmam no se exigir que os juzes dos restantes tribunais sejam juzes dos tribunais
superiores, nem que tenham um determinado tempo de exerccio do cargo, nem sequer
que sejam juristas (pois possvel haver tribunais em que os juzes no tenham de ser
juristas).
Apesar de o Tribunal de Contas ser um dos restantes tribunais (estaduais), alm
do Tribunal Constitucional, existentes em Portugal (art. 209. da C.Rep.) e de nem
todos os seus juzes serem juristas (art. 19., n. 1, al.s b), c), d) e e), da LOPTContas),
temos dvidas quanto a esta ltima afimao de GOMES CANOTILHO/VITAL
MOREIRA. Segundo a letra do n. 2 do art. 222. da C.Rep., parece que qualquer juiz
do Tribunal de Contas (pelo facto de o ser), mesmo que no seja jurista, pode ser eleito
pela A.R. ou cooptado como juiz do Tribunal Constitucional. Simplesmente, os juzes
daquele tribunal (recrutados para o efeito atravs de concurso curricular art. 18. da
LOPTContas), quando no sejam juzes dos tribunais judiciais ou dos tribunais
administrativos e fiscais (art. 19., n. 1, al. a), da LOPTContas), no so juzes de
carreira; e o que se pretende com a exigncia de que (pelo menos) seis juzes do
Tribunal Constitucional sejam juzes dos restantes tribunais como, alis,
reconhecem os citados AA. assegurar que um nmero significativo dos juzes que o
compem tenha a experincia e a postura especfica dos juzes de carreira. Acresce
que as competncias do Tribunal Constitucional (em particular a de fiscalizao da
constitucionalidade e de certas formas de legalidade, que a mais importante)
parecem no ser compatveis com o exerccio das funes de juiz desse tribunal por
quem no possua formao jurdica (ao contrrio do que acontece no caso do Tribunal
de Contas, devido s suas especficas competncias). Idnticas razes valem, segundo
cremos, para excluir a possibilidade de serem eleitos ou cooptados para o Tribunal
Constitucional os juzes militares que (por fora do disposto no art. 211., n. 3, da
C.Rep.) fazem parte da composio dos tribunais (judiciais) que julguem crimes de
natureza estritamente militar, nos termos da lei (cfr. infra, n.os ..).
(183) Cfr., tambm, o art. 12., n. 1 (2. parte) da LOFPTConst.
54
(181)

encontrem em efectividade de funes (art. 163., al. h), da C.Rep. e art.


16., n. 4 da LOFPTConst.)(184).
O mandato dos juzes do Tribunal Constitucional tem a durao
de nove anos e no renovvel (art. 222., n. 3, da C.Rep. e art. 21.,
n. 1 e n. 2, da LOFPTConst.(185))(186). O Presidente e o Vice-Presidente
do Tribunal Constitucional so eleitos pelos respectivos juzes e
exercem funes durante um perodo igual a metade da durao do
mandato de juiz do Tribunal Constitucional (ou seja, um perodo de
quatro anos e meio), com possibilidade de reconduo (art. 222., n. 4,
da C.Rep. e arts. 36., al. a), e 37., n. 1, da LOFPTConst.).

10. Jurisdio, sede e funcionamento


O Tribunal Constitucional exerce a sua jurisdio no mbito de
toda a ordem jurdica e a sua sede em Lisboa (art. 1. da
LOFPTConst.).
Quanto s matrias compreendidas na sua jurisdio, o art. 221.
da Constituio qualifica-as como de natureza jurdico-constitucional.
Sobre o modo como se opera a escolha dos juzes do Tribunal Constitucional e
a sua razo de ser, vide, por todos, JOS MANUEL M. CARDOSO DA COSTA, A
jurisdio constitucional, cit., pgs. 17-18.
(185) A Constitucional n. 1/82, que (como vimos) criou o Tribunal Constitucional,
fixou a durao do mandato em seis anos (art. 284., n. 3, da C.Rep.) o que foi
igualmente estabelecido na LOFPTConst. (art. 21., n. 1) e no consagrou a
impossibilidade de renovao; com a reviso operada pela Lei Constitucional n. 1/89
essa soluo passou a constar do novo art. 224., n. 3, da Constituio. Na reviso
efectuada atravs da Lei Constitucional n. 1/97, como dissemos, esse artigo passou a
ser o art. 222. e o seu n. 3 foi alterado, estabelecendo a actual durao do mandato,
assim como o seu carcter no renovvel (o que determinou as correspondentes
alteraes no art. 21. da LOFPTConst.
(186) Como dissemos (supra, n. 6.1.), isso corresponde a uma exigncia da
garantia de independncia dos juzes, quando sejam nomeados temporariamente.
Neste sentido, com referncia aos juzes do Tribunal Constitucional, vide JOS
MANUEL M. CARDOSO DA COSTA, A jurisdio constitucional, cit., pgs. 19-20 onde
o A. refere o modo como se obviou recomposio integral do tribunal de nove em
nove anos.
Saliente-se que a referida impossibilidade de renovao deve ter-se por definitiva,
e no apenas para os mandatos seguintes. Cfr. JORGE MIRANDA/RUI MEDEIROS,
Constituio Portuguesa anotada, tomo III, cit., pg. 254.
55
(184)

Trata-se, por conseguinte, daquelas que envolvam a interpretao e


aplicao das normas constitucionais, fazendo destas o ncleo
essencial de uma questo jurdica(187).
Sucede, porm, que o Tribunal Constitucional tambm possui
competncia

em

matrias

que

no

se

reconduzem

ao

ncleo

caracterizador da sua jurisdio, a que alude o art. 223., n. 1, da


Constituio (assim como o art. 6. da LOFPTConst.) ou seja,
apreciao da inconstitucionalidade e de certas formas de ilegalidade (o
controlo normativo(188))(189). Em virtude disso, a definio que dele
fornecida no art. 221. no inteiramente rigorosa(190).
O Tribunal Constitucional funciona em sesses plenrias e por
seces (art. 40., n. 1, da LOFPTConst.). Estas so trs (no
especializadas(191))(192); cada uma delas constituda pelo Presidente ou
Cfr. J. J. GOMES CANOTILHO/VITAL MOREIRA, Constituio da Repblica
Portuguesa anotada, vol. II, cit., pg. 614.
(188) Cfr. JOS MANUEL M. CARDOSO DA COSTA, A jurisdio constitucional, cit.,
pg. 29 e 31.
(189) As outras competncias do Tribunal Constitucional esto mencionadas,
nomeadamente, no art. 223., n. 2, da C.Rep. e nos arts. 7. a 11.-A da LOFPTConst.
Sobre as que tm natureza jurisdicional, vide, infra, n. 12.
(190) No sentido de que tal definio do Tribunal Constitucional algo
incongruente, precisamente, por se ter limitado a apelar para a sua especfica funo
de rgo da justia constitucional (o que constitui a sua tarefa principal, mas est
longe de dar conta da funo constitucional do Tribunal), vide J. J. GOMES
CANOTILHO/VITAL MOREIRA, Constituio da Repblica Portuguesa anotada, vol. II,
cit., pgs. 613-614.
(191) Significa isso que no h uma repartio material de competncias entre as
seces, pelo que a competncia no reservada ao plenrio pode ser exercida por
qualquer delas. Cfr. JOS MANUEL M. CARDOSO DA COSTA, A jurisdio
constitucional, cit., pg. 61.
(192) Em seco, o Tribunal Constitucional conhece dos recursos e das reclamaes
em processos de fiscalizao concreta da constitucionalidade ou da legalidade (arts.
70., n. 1, 76., n. 4, 77., n. 1, e 78.-A, n.os 3 a 5, da LOFPTConst.) excepto se o
Presidente, com a concordncia do tribunal, determinar que o julgamento se faa com
interveno do plenrio, quando o considere necessrio para evitar divergncias
jurisprudenciais ou quando tal se justifique em razo da natureza da questo a
decidir (art. 79.-A, n. 1) , verifica a regularidade dos processos de candidatura
eleio do Presidente da Repblica (art. 93.), exerce as competncias indicadas no n.
2 do art. 103., decide as impugnaes previstas no art. 103.-C (cfr. o n. 6 deste
artigo) e 103.-D (cfr. o n. 3 desse artigo, que remete para o anterior) e as medidas
cautelares que delas sejam preliminar ou incidente (art. 103.-E, n. 2). As restantes
decises so proferidas pelo plenrio (arts. 59., n. 1, 65., n. 2, 67., 79.-D, n. 1,
87., n. 2, 88., n. 2, 89., n. 3, 90., n. 2, 91., n. 2, 91.-A, n. 4, 94., n. 1,
56
(187)

pelo Vice-Presidente do tribunal e por mais quatro juzes (art. 41., n.


1, da LOFPTConst.), de acordo com a distribuio feita pelo tribunal no
incio de cada ano judicial (art. 41., n. 1, da LOFPTConst.). Tanto em
plenrio como em seco, o Tribunal Constitucional s pode funcionar
se estiver presente a maioria dos respectivos membros em efectividade
de funes, incluindo o Presidente ou o Vice-Presidente (art. 42., n. 1,
da LOFPTConst.)(193); por isso, se todos os juzes se encontrarem em
efectividade de funes, o qurum de funcionamento do plenrio de
sete membros, enquanto o de cada uma das seces de trs.

11. A competncia fundamental do Tribunal Constitucional


Embora disponha, como vimos, de outras competncias, o
Tribunal

Constitucional

tem

como

competncia

caracterstica

nuclear(194) a fiscalizao da constitucionalidade e da legalidade (ainda


que apenas de certas formas desta) das normas jurdicas que
constituem a ordem jurdica portuguesa, em geral, de certas normas
jurdicas ou de omisses normativas(195); o Tribunal Constitucional ,
pois, essencialmente, um rgo jurisdicional de controlo normativo(196).
97., n.os 3 e 4, 98., n. 2, 101., n. 1, 102., n. 1, 102.-A, n. 2, 102.-B, n. 5,
102.-C, n. 4, 102.-D, n. 4, 103., n. 3,103.-A, n. 3, 103.-C, n. 8, 107., n. 2,
109., n. 2, e 112., n. 2, da LOFPTConst.).
193 Nas frias dos juzes (entre 15 de Agosto e 14 de Setembro) deve ficar assegurada a
permanente existncia do qurum de funcionamento do plenrio e de cada uma das
seces do Tribunal (art. 43., n. 6 da LOFPTConst.).
(194) Cfr. JOS MANUEL M. CARDOSO DA COSTA, A jurisdio constitucional, cit.,
pg. 29.
(195) Sobre o conceito funcional de norma jurdica, adoptado pelo prprio
Tribunal Constitucional com vista delimitao do seu poder de fiscalizao, vide
JOS MANUEL M. CARDOSO DA COSTA, A jurisdio constitucional, cit., pgs. 34-35;
J. J. GOMES CANOTILHO, Direito Constitucional, cit., 932-934; e J. J. GOMES
CANOTILHO/VITAL MOREIRA, Constituio da Repblica Portuguesa anotada, vol. II,
cit., pgs. 898-899 e 902-903.
(196) Cfr. JOS MANUEL M. CARDOSO DA COSTA, A jurisdio constitucional, cit.,
pg. 29.
Saliente-se, no entanto, que o Tribunal Constitucional no o nico rgo da
justia constitucional, pois a Constituio reconhece a todos os tribunais competncia
para a fiscalizao concreta da constitucionalidade de normas (arts. 204. e 280. da
C.Rep.); tal fiscalizao caracteriza-se por ser um controlo difuso, incidental, oficioso e
concreto dos actos normativos. Neste sentido, vide. J. J. GOMES CANOTILHO, Direito
57

Essa competncia do Tribunal Constitucional abrange:


A fiscalizao preventiva da constitucionalidade (art. 278.,
n.os 1 e 2 da C.Rep.);
A fiscalizao sucessiva abstracta da constitucionalidade ou
da legalidade (art. 281. da C.Rep.);
A fiscalizao concreta da constitucionalidade ou da legalidade
(art. 280. da C.Rep.);
A verificao da existncia de alguma inconstitucionalidade por
omisso das medidas legislativas necessrias para tornar
exequveis as normas constitucionais (art. 283. C.Rep.)(197)(198).

A fiscalizao preventiva tem lugar aps a aprovao do diploma


legal (lei da Assembleia da Repblica, decreto-lei do Governo ou decreto
legislativo regional art. 112, n. 1, da C.Rep.), mas antes da sua
promulgao pelo Presidente da Repblica, ou aps a aprovao de
tratado ou acordo internacional, mas antes da sua ratificao ou
assinatura pelo Presidente da Repblica, respectivamente; a fiscalizao
sucessiva abstracta versa sobre normas contidas em diplomas cujo
processo de formao se encontre concludo, ou seja, que j estejam
publicados (art. 119. da C.Rep.), ainda que no tenham entrado em
Constitucional, cit., pg. 917, 928 e 982-983; J. J. GOMES CANOTILHO/VITAL
MOREIRA, Constituio da Repblica Portuguesa anotada, vol. II, cit., pgs. 519-521 e
940; e JOS MANUEL M. CARDOSO DA COSTA, A jurisdio constitucional, cit., pg.
40.
(197) Saliente-se que, nos termos da Constituio, s a omisso de actos legislativos
pode ser objecto de apreciao da inconstitucionalidade, e no a de outros actos
(como, por ex., os regulamentos). Cfr. J. J. GOMES CANOTILHO, Direito
Constitucional, cit., pgs. 985-987.
(198) Recorde-se que, segundo a classificao tradicional, a inconstitucionalidade
por aco pode ser material, formal e orgnica (referindo-se esta competncia do
rgo). Neste sentido, vide JOS MANUEL M. CARDOSO DA COSTA, A jurisdio
constitucional, cit., pg. 36; e J. J. GOMES CANOTILHO/VITAL MOREIRA,
Constituio da Repblica Portuguesa anotada, vol. II, cit., pg. 910.
Alguns AA., porm, no autonomizam a inconstitucionalidade resultante de um
vcio quanto ao rgo competente e acrescentam uma nova modalidade (autonomizada
mais recentemente pela doutrina): a da inconstitucionalidade originada por vcios
procedimentais. Cfr. J. J. GOMES CANOTILHO, Direito Constitucional, cit., pgs. 959960.
58

vigor, e no depende da existncia de um litgio concreto submetido a


qualquer

outro

tribunal(199);

apreciao

da

ocorrncia

de

inconstitucionalidades por omisso pressupe a falta de legislao num


domnio em que a Constituio imponha um especial dever de a
emitir(200).
Dessas modalidades de controlo normativo no iremos tratar
aqui(201),

por

se

tratar

de

matria

do

mbito

do

Direito

Constitucional(202) e no haver qualquer interveno nesses domnios


das restantes categorias de tribunais. Limitar-nos-emos, por isso, a
tratar de alguns aspectos da fiscalizao concreta.

11.1.

A interveno do Tribunal Constitucional na


fiscalizao concreta da constitucionalidade ou da
legalidade

A fiscalizao concreta da constitucionalidade (ou da legalidade)


cabe a todos os tribunais, que a efectuam de forma incidental, nas
aces

submetidas

sua

apreciao,

relativamente

normas

relevantes para a deciso do caso concreto sub iudice, na medida em


que no podem aplicar normas que infrinjam o disposto na
Constituio ou os princpios nela consagrados (art. 204. da C.Rep.) e,
estando sujeitos lei (art. 203., 2. parte, da C.Rep.), como vimos,
tambm no podem aplicar normas ilegais. Se um tribunal for
Cfr. J. J. GOMES CANOTILHO/VITAL MOREIRA, Constituio da Repblica
Portuguesa anotada, vol. II, cit., pgs. 964-965.
(200) Neste sentido, vide JOS MANUEL M. CARDOSO DA COSTA, A jurisdio
constitucional, cit., pgs. 44-45.
(201) Relativamente fiscalizao sucessiva abstracta, ainda aludiremos, no
entanto, hiptese de a mesma ter lugar na sequncia do julgamento da
inconstitucionalidade ou ilegalidade de uma norma em trs casos concretos. Cfr. infra,
n. 11.3.
(202) A respeito das formas de fiscalizao ou verificao mencionadas em texto, e
da sua caracterizao geral, vide JOS MANUEL M. CARDOSO DA COSTA, A
jurisdio constitucional, cit., pgs. 31-33, 39-40 e 43-45; J. J. GOMES CANOTILHO,
Direito Constitucional, cit., pgs. 917-919, 981-983, 1004-1005, 1025-1026, 10331035 e 1039-1040; e J. J. GOMES CANOTILHO/VITAL MOREIRA, Constituio da
Repblica Portuguesa anotada, vol. II, cit., pgs. 519-520, 885-888, 898, 904, 923,
939-941, 963-965 e 985-987.
59
(199)

confrontado pelas partes com a questo da inconstitucionalidade (ou


ilegalidade)

de

determinada

norma

concluir

pela

sua

inconstitucionalidade (ou ilegalidade), ou se conhecer ex officio da


mesma, limitar-se- a no a aplicar ao caso concreto que lhe compete
julgar; se entender que ela no viola a Constituio ou os princpios
nela consagrados (ou a lei), ento aplic-la- na resoluo desse
caso(203).
Em qualquer das referidas hipteses, a deciso tomada quanto
questo da constitucionalidade ou inconstitucionalidade (e o mesmo
vale para a da legalidade ou ilegalidade) da norma em causa no tem
carcter

definitivo:

pode

haver

(e,

em

alguns

casos,

obrigatoriamente) recurso de constitucionalidade (ou de legalidade) para


o

Tribunal

Constitucional.

Em

regra(204),

este

apenas

intervm,

portanto, mediante recurso interposto de decises proferidas por outros


tribunais (art. 280., n. 1, da C.Rep. e art. 70., n.os 1 e 2, da
LOFPTConst.) maxime, dos tribunais judiciais e dos tribunais
administrativos

fiscais

sobre

questo

incidental

de

inconstitucionalidade (ou de ilegalidade) surgida no decurso de uma


aco; no existe, com efeito, a possibilidade de submeter directamente
ao Tribunal Constitucional a questo da inconstitucionalidade (ou da
ilegalidade) de normas(205).
Nos termos do disposto nas normas que acabmos de referir, as
decises dos restantes tribunais de que cabe recurso para o Tribunal
Constitucional (restrito questo da inconstitucionalidade ou da
ilegalidade art. 280., n. 6, da C.Rep. e art. 71., n. 1, da

(203) Sobre a caracterizao do controlo realizado em sede de fiscalizao concreta


(como difuso, incidental, oficioso e concreto), vide J. J. GOMES CANOTILHO/VITAL
MOREIRA, Constituio da Repblica Portuguesa anotada, vol. II, cit., pg. 940.
(204) S no assim quando o Tribunal Constitucional tem funes jurisdicionais
directas, como sucede, por ex., no contencioso eleitoral (cfr. infra, n. 12.). Neste
sentido, vide J. J. GOMES CANOTILHO/VITAL MOREIRA, Constituio da Repblica
Portuguesa anotada, vol. II, cit., pg. 940.
(205) Cfr. J. J. GOMES CANOTILHO/VITAL MOREIRA, Constituio da Repblica
Portuguesa anotada, vol. II, cit., pgs. 940 e 944-945.
60

LOFPTConst., salvo o disposto no n. 2 deste artigo(206)) so as


seguintes:
As

que

recusem a

aplicao

de

qualquer

norma

com

fundamento na sua inconstitucionalidade (art. 280., n. 1, al.


a), da C.Rep. e art. 70., n. 1, al. a), da LOFPTConst.)(207);
As que apliquem norma cuja inconstitucionalidade haja sido
suscitada durante o processo (art. 280., n. 1, al. b), da
C.Rep. e art. 70., n. 1, al. b), da LOFPTConst.);
As que recusem a aplicao de norma constante de acto
legislativo com fundamento na sua ilegalidade por violao de
lei com valor reforado (art. 280., n. 2, al. a), da C.Rep. e art.
70., n. 1, al. c), da LOFPTConst.)(208)-(209);
Do que se trata , unicamente, de saber se uma determinada norma aplicvel
ao caso concreto, submetido deciso de qualquer outro tribunal, ou no
inconstitucional (ou ilegal); e, por conseguinte, no compete ao Tribunal
Constitucional reapreciar a deciso judicial no seu todo, mas somente a parte da
mesma em que a aplicao de uma norma foi recusada com base na sua
inconstitucionalidade (ou ilegalidade) ou foi aplicada (como ratio decidendi) uma
norma pretensamente inconstitucional (ou ilegal). Ficam, pois, excludos dos poderes
de cognio do Tribunal Constitucional (apesar de frequentemente invocados)
eventuais erros de apreciao da matria de facto relevante para a deciso (e dada
como assente pelas instncias) ou das provas, bem como os alegados erros de
julgamento.
A este respeito, vide J. J. GOMES CANOTILHO/VITAL MOREIRA, Constituio da
Repblica Portuguesa anotada, vol. II, cit., pg. 942; e JOS MANUEL M. CARDOSO
DA COSTA, A jurisdio constitucional, cit., pg. 80.
(207) Quando a norma cuja aplicao tenha sido recusada constar de conveno
internacional, de acto legislativo ou de decreto regulamentar, o recurso destas
decises obrigatrio para o Ministrio Pblico (art. 280., n. 3, da C.Rep. e art. 72.,
n. 3, 1. parte, da LOFPTConst.).
O recurso obrigatrio destina-se a possibilitar a uniformizao de jurisprudncia e
a devolver ao tribunal Constitucional a ltima palavra sobre a questo. Cfr. J. J.
GOMES CANOTILHO/VITAL MOREIRA, Constituio da Repblica Portuguesa
anotada, vol. II, cit., pg. 943.
(208) So leis com valor reforado: as leis orgnicas, as leis para cuja aprovao seja
exigida maioria de dois teros e as leis que (nos termos da Constituio) sejam
pressuposto normativo necessrio de outras leis ou que devam ser respeitadas por
outras leis (art. 112., n. 3, da C.Rep.).
Assumem a forma de lei orgnica os actos legislativos que versem sobre as
matrias (includas na reserva absoluta de competncia legislativa da Assembleia da
Repblica) previstas nas alneas a) a f), h), j), primeira parte da l), q) e t) do art. 164. e
no artigo 255. da C.Rep. (cfr. o art. 166., n. 2). A sua formao est sujeita a um
processo legislativo mais exigente do que o previsto para as outras leis, pois (alm de
terem de ser, quase todas, votadas pelo Plenrio na especialidade art. 168., n. 4,
da C.Rep.) carecem de aprovao, na votao final global, por maioria absoluta dos
deputados em efectividade de funes, devendo as disposies respeitantes
61
(206)

As que recusem a aplicao de norma constante de diploma


regional com fundamento na sua ilegalidade por violao do
estatuto da regio autnoma (art. 280., n. 2, al. b), da
C.Rep. e art. 70., n. 1, al. d), da LOFPTConst.(210));
delimitao territorial das regies administrativas, previstas no art. 255., ser
aprovadas, na especialidade, em Plenrio, por idntica maioria (art. 168., n. 5, da
C.Rep.).
A aprovao por maioria de dois teros dos deputados presentes, desde que
superior maioria absoluta dos deputados em efectividade de funes exigida para
as leis ou normas referidas nas diversas alneas do n. 6 do art. 168. da Constituio.
Constituem pressuposto normativo necessrio de outras leis (art. 112., n. 3, da
C.Rep.) as leis de autorizao legislativa (arts. 165., n.os 1 e 2, 161., al. d), e 166.,
n. 3, da C.Rep.) e as leis de bases (al. i) do 164., als. f), g), n), t), u) e z) do n. 1 do
art. 165., 161., al. c), e 166., n. 3, da C.Rep.); e devem ser respeitadas por outras
leis (art. 112., n. 3, in fine, da C.Rep.), nomeadamente, as leis que aprovam os
estatutos poltico-administrativos das regies autnomas (art. 161., al. b), 166., n.
3, 226., 280., n. 2, als. b), c) e d), e 281., n. 1, als. c) e d), da C.Rep.).
Sobre as leis com valor reforado e a sua caracterizao, vide J. J. GOMES
CANOTILHO, Direito Constitucional, cit., pgs. 781-785; e J. J. GOMES
CANOTILHO/VITAL MOREIRA, Constituio da Repblica Portuguesa anotada, vol. II,
cit., pgs. 56-63, 65, 289-290, 325-327, 343, 358-359 e 646-649.
(209) Tambm se aplica neste caso o que referimos supra, nota(207).
(210) Esta alnea continua a incluir, tambm, a violao de lei geral da repblica.
Todavia, na 6. reviso constitucional, efectuada atravs da Lei Constitucional n.
1/2004, de 24 de Julho (art. 40.), foi eliminada a expresso final da al. b) do n. 2 do
artigo 280. da Constituio que aludia a essa violao (ou de lei geral da Repblica),
em virtude de essa lei constitucional ter modificado de forma substancial o regime
jurdico constitucional do poder legislativo das regies autnomas (cfr. J. J. GOMES
CANOTILHO/VITAL MOREIRA, Constituio da Repblica Portuguesa anotada, vol. II,
cit., pgs. 660-661), alargando tal poder (cfr., por ex., os Acrdos do Tribunal
Constitucional n. 246/2005, de 10 de Maio, n. 258/2006, de 18 de Abril, n.
258/2007, de 17 de Abril, e n. 185/2009, de 21 de Abril), com a alterao
introduzida por essa lei constitucional no art. 227., n. 1, al. a), da C.Rep. segundo
a redaco anterior podiam legislar, com respeito pelos princpios fundamentais das
leis gerais da Repblica, em matrias de interesse especfico para as regies e que no
estivessem reservadas competncia prpria dos rgos de soberania; com a reviso
constitucional de 2004 passaram a poder legislar no mbito regional em matrias
enunciadas no respectivo estatuto poltico-administrativo e que no estejam
reservadas aos rgos de soberania (desaparecendo, assim, os limites decorrentes do
interesse especfico regional e da observncia dos princpios das leis gerais da
repblica) , e de ter sido eliminada a categoria das leis gerais da repblica (cfr. o
art. 112., n. 5, da C.Rep., na redaco anterior introduzida pela Lei Constitucional
n. 1/2004). O decreto legislativo regional (art. 112., n.os 1 e 4) que, porventura, viole
os limites impostos ao poder legislativo das regies autnomas na al. a) do n. 1 do
art. 227. da C.Rep. enferma de inconstitucionalidade (cfr. J. J. GOMES
CANOTILHO/VITAL MOREIRA, Constituio da Repblica Portuguesa anotada, vol. II,
cit., pgs. 660). Em face do exposto, est fora de dvida que a al. d) do n. 1 do art.
70. da LOFPTConst. apenas conserva (na parte final) a referncia violao de lei
geral da repblica por falta de cuidado na adequao da mesma verso do texto
constitucional resultante da reviso nele operada em 2004; essa referncia carece de
objecto, por ter deixado de haver leis gerais da repblica (cfr. JOS MANUEL M.
CARDOSO DA COSTA, A jurisdio constitucional, cit., nota(39)).
62

As que recusem a aplicao de norma constante de diploma


emanado de um rgo de soberania com fundamento na sua
ilegalidade por violao do estatuto de uma regio autnoma
(art. 280., n. 2, al. c), da C.Rep. e art. 70., n. 1, al. e), da
LOFPTConst.);
As que apliquem norma cuja ilegalidade haja sido suscitada
durante o processo com qualquer dos fundamentos referidos
nas als. a), b) e c) do n. 2 do art. 280. da C.Rep. (art. 280.,
n. 2, al. d), da C.Rep. e art. 70., n. 1, al. f), da LOFPTConst.
reportando-se esta alnea s als. c), d) e e) do mesmo
nmero desse artigo);
As

que

apliquem

norma

que

tenha

sido

julgada

inconstitucional ou ilegal pelo prprio Tribunal Constitucional


(art. 280., n. 5, da C.Rep. e art. 70., n. 1, al. g), da
LOFPTConst.)(211);
As

que

apliquem

norma

que

tenha

sido

julgada

inconstitucional pela Comisso Constitucional que existiu,


na vigncia da Constituio de 1976, at criao do Tribunal
Constitucional (art. 70., n. 1, al. h), da LOFPTConst.)(212);
As que recusem a aplicao de norma constante de acto
legislativo com fundamento na sua contrariedade com uma
conveno internacional, ou a apliquem em desconformidade
com o anteriormente decidido sobre a questo pelo Tribunal
Constitucional (art. 70., n. 1, al. i), da LOFPTConst.)(213).

O recurso destas decises , igualmente, obrigatrio para o Ministrio Pblico


(art. 280., n. 5, da C.Rep. e art. 72., n. 3, 2. parte, da LOFPTConst.).
(212) Tambm neste caso vale o que referimos na nota anterior, embora apenas por
fora do disposto no mencionado artigo da LOFPTConst.
(213) Ainda nesta hiptese, tem aplicao o que dissemos na nota (207) (cfr. o art.
72., n. 3, 2. parte, da LOFPTConst., salvo o disposto no n. 4).
63
(211)

11.2. Espcies de recursos e respectivos requisitos


Atendendo ao sentido da deciso proferida pelo tribunal que,
incidentalmente, se ocupou da questo da constitucionalidade (ou
legalidade) de normas aplicveis ao caso concreto submetido a
julgamento, podemos considerar duas espcies de recursos: os relativos
a decises positivas de inconstitucionalidade (ou ilegalidade); e os
respeitantes

decises

negativas

de

inconstitucionalidade

(ou

ilegalidade).
Os primeiros so interpostos de decises de outros tribunais que
tenham recusado a aplicao de uma norma, por a considerarem
inconstitucional (ou ilegal), ou seja, de decises que deram uma
resposta afirmativa (positiva) questo da inconstitucionalidade ou
ilegalidade da norma, discutida no processo (acolhendo a tese da
inconstitucionalidade

ou

ilegalidade).

Os

segundos

so,

fundamentalmente(214), os interpostos de decises que aplicaram uma


norma

apesar

de

ter

sido

suscitada

questo

da

sua

inconstitucionalidade (ou ilegalidade) no processo (rejeitando a tese da


inconstitucionalidade ou ilegalidade)(215).
Assim,

so

recursos

de

decises

positivas

de

inconstitucionalidade ou de ilegalidade os referidos no art. 280., n. 1,


al. a), e n. 2, als. a), b) e c), da C.Rep. (e no art. 70., n. 1, als. a), c),
d), e) e i) da LOFPTConst.); e so recursos de decises negativas os
mencionados no art. 280., n. 1, al. b), n. 2, al. d), e n. 5 da C.Rep. (e
no art. 70., n. 1, als. b), f), g) e h) da LOFPTConst.).
Quanto aos recursos de decises de no aplicao (ou de
desaplicao)

alguma

norma

com

fundamento

na

sua

inconstitucionalidade ou ilegalidade (decises positivas), importa referir,


So igualmente decises negativas de inconstitucionalidade (ou de ilegalidade)
as que tenham aplicado uma norma anteriormente julgada inconstitucional ou ilegal
pelo Tribunal Constitucional. Cfr. J. J. GOMES CANOTILHO/VITAL MOREIRA,
Constituio da Repblica Portuguesa anotada, vol. II, cit., pgs. 943, 950 e 952.
(215) Cfr. J. J. GOMES CANOTILHO/VITAL MOREIRA, Constituio da Repblica
Portuguesa anotada, vol. II, cit., pgs. 943, 946-949 e 952.
64
(214)

antes de mais, que (ao contrrio do que sucede em relao s decises


negativas) no se exige a prvia exausto dos recursos ordinrios que
delas caibam, podendo recorrer-se logo que se verifique a no aplicao
da norma, com qualquer dos referidos fundamentos(216). Tais recursos
podem ser interpostos pelo Ministrio Pblico(217) ou por quem tenha
legitimidade para o efeito, de acordo com a lei processual que regula o
processo em que foram proferidas (art. 72., n. 1, da LOFPTConst.)(218).
Relativamente aos recursos de decises que apliquem normas
cuja inconstitucionalidade ou ilegalidade haja sido alegada durante o
processo (decises negativas), merecem destaque os pressupostos a que
esto sujeitos os previstos nas alneas b) e f) do n. 1 do art. 70. da
LOFPTConst. (art. 280., n. 1, al. b), e n. 2, al. d), da C.Rep.)(219): por
um lado, preciso que a questo da inconstitucionalidade ou da
ilegalidade tenha sido suscitada durante o processo de modo
(216) A exigncia de que a deciso recorrida no admita recurso ordinrio est
formulada unicamente como pressuposto processual especfico dos recursos
interpostos de decises de aplicao de normas cuja inconstitucionalidade (ou
ilegalidade) tenha sido posta em causa, sem xito, no processo.
No sentido de que, no caso das decises positivas, basta a no aplicao da
norma, com fundamento na sua inconstitucionalidade (ou ilegalidade), para que seja
admissvel a interposio de recurso para o Tribunal Constitucional, vide J. J. GOMES
CANOTILHO, Direito Constitucional, cit., pg. 995; J. J. GOMES CANOTILHO/VITAL
MOREIRA, Constituio da Repblica Portuguesa anotada, vol. II, cit., pg. 944; e
JOS MANUEL M. CARDOSO DA COSTA, A jurisdio constitucional, cit., pg. 75.
(217) O recurso obrigatrio para o Ministrio Pblico nos casos previstos no n. 3
do art. 72. da LOFPTConst.
(218) A interposio do recurso feita no tribunal que proferiu a deciso, por meio
de requerimento em que se identifique a alnea do n. 1 do art. 70. da LOFPTConst.
ao abrigo da qual a mesma efectuada, assim como a norma cuja
inconstitucionalidade ou ilegalidade se pretende ver apreciada pelo Tribunal
Constitucional (arts. 75.-A, n. 1, e 76., n. 1, da LOFPTConst. e art. 637. do
C.P.Civil art. 684.-B do C.P.Civil de 1961 , aplicvel ex vi do art. 69. daquela lei),
ou seja, aquela que o tribunal considerou inconstitucional ou ilegal.
Se o requerente no indicar algum desses elementos, o juiz deve convid-lo a fazer
tal indicao, no prazo de dez dias; mas pode admitir o recurso sem fazer o convite
(at porque a deciso que admita o recurso s pode ser impugnada pelas partes nas
suas alegaes art. 76., n. 3, da LOFPTConst.), competindo, nesse caso, ao relator
do processo no Tribunal Constitucional formular tal convite, sendo o recurso julgado
deserto na falta de resposta ao mesmo (art. 75.-A, n.os 5 a 7).
(219) Como resulta da circunstncia de o n. 2 do art. 70. se referir somente a
esses recursos, os requisitos especficos a seguir mencionados em texto no valem
para as hipteses particulares das alneas g), h) e i), 2. parte, do n. 1 do art. 70. da
LOFPTConst.
65

processualmente adequado perante o tribunal que proferiu a deciso


recorrida, em termos de este estar obrigado a dela conhecer (arts. 70.,
n. 1, als. b) e f), e 72., n. 2, da LOFPTConst.); e, por outro lado,
apenas podem ser interpostos de decises que no admitam recurso
ordinrio, por a lei o no prever ou por j haverem sido esgotados todos
os que no caso cabiam (art. 70., n. 2, da LOFPTConst.(220))(221). Em
virtude do que acaba de ser referido, no possvel, por exemplo,
interpor recurso de inconstitucionalidade ou de ilegalidade para o
Tribunal Constitucional de uma deciso do tribunal de 1. instncia que
tenha aplicado uma norma cuja inconstitucionalidade ou ilegalidade
haja sido suscitada nesse tribunal, se a deciso admitir recurso (de
apelao) para o tribunal da Relao, ou de uma deciso deste tribunal
que aplique norma arguida de inconstitucionalidade ou ilegalidade, se
ela for susceptvel de recurso (de revista) para o Supremo Tribunal de
Justia.
A legitimidade para recorrer cabe somente parte que haja
suscitado a questo da inconstitucionalidade ou da ilegalidade, nos
(220) Essa norma, que (como dizemos em texto) se reporta aos recursos ordinrios,
ressalva (in fine) os recursos destinados a uniformizao de jurisprudncia. Sucede,
porm, que s o CPTA qualifica o recurso para uniformizao de jurisprudncia como
recurso ordinrio (cfr. o art. 152., integrado no Captulo II do Ttulo VII, dedicado aos
recursos ordinrios), enquanto o art. 627., n. 2, do C.P.Civil art. 676., n. 2, do
C.P.Civil de 1961 considera tal recurso (disciplinado nos arts. 688. e segs. do
C.P.Civil arts. 763. e segs. do C.P.Civil de 1961) como extraordinrio, sendo
tambm essa a qualificao atribuda ao recurso para fixao de jurisprudncia no
C.P.Penal (Ttulo II do Livro IX).
O n. 4 desse artigo refere as hipteses em que os recursos ordinrios se
consideram esgotados, para efeito do disposto no n. 2.
Nos termos do n. 5, [n]o admitido recurso para o Tribunal Constitucional de
decises sujeitas a recurso ordinrio obrigatrio, nos termos da respectiva lei
processual. Mas constitui jurisprudncia constante e reiterada do Tribunal
Constitucional que essa norma tambm se aplica ao recurso de deciso proferida
contra jurisprudncia fixada pelo Supremo Tribunal de Justia, previsto no art. 446.
do C.P.Penal, apesar de ser a qualificado como recurso extraordinrio (Ttulo II do
Livro IX), em virtude de a razo que justifica o regime previsto nessa norma a de se
recorrer para o Tribunal Constitucional somente da deciso que constitua a ltima
palavra na ordem dos tribunais que julgaram a causa valer tambm para este
recurso. Cfr., por ex., os Acrdos do TC n. os 281/01, 282/01, 323/01, 334/01,
335/01,
93/02,
470/03
e
57/04,
todos
disponveis
em
www.tribunalconstitucional.pt).
(221) Sobre os requisitos ou pressupostos processuais de que depende o incidente
de inconstitucionalidade (ou ilegalidade) nos tribunais, a fim de que possa, depois, ser
interposto recurso para o Tribunal Constitucional com qualquer desses fundamentos,
vide J. J. GOMES CANOTILHO, Direito Constitucional, cit., pgs. 983-989.
66

termos mencionados (art. 280., n. 4, da C.Rep. e art. 70., n. 2, da


LOFPTConst.)(222).

11.3. Efeitos do julgamento de inconstitucionalidade ou de


ilegalidade
A Constituio no o diz expressamente, mas os efeitos da
deciso

do

Tribunal

Constitucional

que

julgue

uma

norma

inconstitucional ou ilegal, em sede de fiscalizao concreta, restringemse ao caso concreto, repercutindo-se apenas na deciso que havia sido
proferida pelo tribunal a quo. Isso resulta, nomeadamente, da
contraposio entre essa forma de fiscalizao e a fiscalizao
abstracta, em que a declarao da inconstitucionalidade ou da
ilegalidade tem fora obrigatria geral (art. 281., n. 1, da C.Rep.) e da
circunstncia de s depois de uma norma ser julgada inconstitucional
ou ilegal em trs casos concretos se seguir o processo destinado a
declarar

sua

inconstitucionalidade

ou

ilegalidade

com

fora

obrigatria geral (art. 281., n. 3, da C.Rep. e art. 82. da


LOFPTConst.)(223).

12. Outras competncias jurisdicionais do Tribunal Constitucional


A

competncia

materialmente

jurisdicional

do

Tribunal

Constitucional no se esgota no controlo da inconstitucionalidade ou de

(222) Do requerimento de interposio do recurso, alm dos elementos referidos no


n. 1 do art. 75.-A da LOFPTConst. (referidos supra, nota(172)) sendo a norma cuja
inconstitucionalidade ou ilegalidade se pretende ver apreciada pelo Tribunal
Constitucional aquela que foi arguida de inconstitucional ou ilegal sem que o tribunal
acolhesse tal entendimento , deve constar ainda a indicao da norma ou princpio
constitucional ou legal que se considera violado (no bastando, pois, a afirmao
genrica de que a norma em causa viola a Constituio e os princpios nela
consagrados), bem como a pea processual em que o recorrente suscitou a questo
da inconstitucionalidade ou ilegalidade (art. 75.-A, n. 2, da LOFPTConst.).
(223) Cfr. J. J. GOMES CANOTILHO/VITAL MOREIRA, Constituio da Repblica
Portuguesa anotada, vol. II, cit., pgs. 955-956.
67

certas formas de ilegalidade. Alm dessa competncia nuclear, tem


outras competncias jurisdicionais(224).
A Constituio refere, directamente, as seguintes:
A competncia para o julgamento, em ltima instncia(225),
da regularidade e da validade dos actos no processo eleitoral
(art. 223., n. 2, al. c), da C.Rep.);
A competncia para julgar os recursos relativos perda de
mandato e s eleies realizadas na Assembleia da Repblica
e nas Assembleias Legislativas Regionais (art. 223., n. 2, al.
g), da C.Rep.);
A competncia para julgar as aces de impugnao de
eleies e de deliberaes de rgos dos partidos polticos (art.
223., n. 2, al. h), da C.Rep.).
A primeira traduz a concentrao no Tribunal Constitucional de
toda a competncia para o contencioso eleitoral (em sentido amplo), no
que se refere a eleies polticas(226). Compreende, em especial: o
julgamento dos recursos das decises proferidas por esse mesmo
tribunal (em seco) sobre a admisso ou no admisso das
candidaturas apresentadas s eleies para o Presidente da Repblica e
para o Parlamento Europeu (ao abrigo do disposto nos arts. 8., als. a) e
Sobre a distino entre as competncias secundrias do Tribunal
Constitucional que tm natureza jurisdicional e as que no se revestem dessa
natureza, e para uma anlise completa das primeiras, vide, por todos, JOS MANUEL
M. CARDOSO DA COSTA, A jurisdio constitucional, cit., pgs. 46-60.
(225) Apesar desta aluso, que parece pressupor uma interveno anterior de outro
tribunal, com possibilidade de recurso da deciso por ele proferida para o Tribunal
Constitucional, a Constituio no impe que assim seja, limitando-se a reservar a
este tribunal a deciso definitiva sobre a regularidade e a validade dos actos do
processo eleitoral (o que faz com que ele seja o rgo supremo da justia eleitoral e
veculo dinamizador da concretizao do princpio da jurisdicionalizao do
procedimento eleitoral). As disposies legais que prevem a interposio dos recursos
destes actos, directamente, no Tribunal Constitucional no representam, por
conseguinte, uma violao da Constituio.
Neste sentido, vide J. J. GOMES CANOTILHO/VITAL MOREIRA, Constituio da
Repblica Portuguesa anotada, vol. II, cit., pgs. 624-625.
(226) Cfr. JOS MANUEL M. CARDOSO DA COSTA, A jurisdio constitucional, cit.,
pg. 49 onde este ilustre constitucionalista acrescenta que o Tribunal Constitucional
se perfila assim como um rgo jurisdicional especfico tambm para essa matria.
68
(224)

e), 93. e 102.-A, n. 1, da LOFPTConst., e art. 9., n. 1, da Lei n.


14/87, de 29 de Abril(227))(228), que so interpostos para o plenrio (arts.
8., als. d) e e), 94., n. 1, e 102.-A, n. 1, da LOFPTConst., e art. 9.,
n. 2, da citada Lei n. 14/87); o julgamento dos recursos das decises
respeitantes

admisso

de

candidaturas

nas

eleies

para

Assembleia da Repblica, para as Assembleias Legislativas das regies


autnomas(229) e para os orgos das autarquias locais (arts. 8., al. d), e
101. da LOFPTConst.)(230); o julgamento dos recursos das decises
tomadas quanto s reclamaes e protestos apresentados durante a
votao ou o apuramento dos votos, nas referidas eleies (arts. 8., als.
c), d) e e), 98., n. 2, 102., n. 1, e 102.-A, n.os 1 e 2, da LOFPTConst.
e art. 13. da citada Lei n. 14/87)(231); e o julgamento dos recursos
Trata-se da Lei Eleitoral para o Parlamento Europeu. Rectificada pela
Declarao pub. in Supl. ao Dirio da Repblica, I Srie-A, n. 104, de 7-5-1987, foi
alterada pela Lei n. 4/94, de 9 de Maro, pela Lei Orgnica n. 1/99, de 22 de Junho
(art. 2.), pela Lei Orgnica n. 1/2005, de 5 de Janeiro, e pela Lei Orgnica n.
1/2011, de 30 de Novembro (art. 7.).
(228) No sentido de que, designadamente, no caso das decises sobre a admisso
das referidas candidaturas no se trata ainda de uma actividade por sua natureza
jurisdicional, vide JOS MANUEL M. CARDOSO DA COSTA, A jurisdio
constitucional, cit., pg. 47.
(229) At sexta reviso constitucional, aprovada pela Lei Constitucional n.
1/2004, de 24 de Julho, a designao era a de assembleias legislativas regionais,
que se encontra ainda nas normas da LOFPTConst. a seguir indicadas. Atravs dos
arts. 27., 34., n. 4, 35., n. os 1, 2, 3, 4 e 5, 35., n. 5, 36., n. os 3, 4 e 5, e 37., n.
3, da referida Lei Constitucional (que alteram, respectivamente, o n. 7 do art. 178., o
n. 3 do art. 231., a epgrafe e os n. os 2, 3 e 4 do art. 232., os n.os 2, 3 e 4 do art.
233. e o n. 2 do art. 234. da C.Rep.), procedeu-se sua substituio pela utilizada
em texto. A nova denominao foi igualmente adoptada no n. 5 do art. 231. e no n.
3 do art. 234. da C.Rep., aditados, respectivamente, pelo art. 34., n. 6, e pelo art.
37., n. 4, da citada Lei Constitucional.
(230) Cfr., tambm, os arts. 32., n. 1, da Lei Eleitoral da Assembleia da Repblica
(Lei n. 14/79, de 16 Maio, com diversas alteraes, a ltima das quais realizada pela
Lei Orgnica n. 1/2011, de 30 de Novembro), 33., n. 1, da Lei Eleitoral da
Assembleia Legislativa da Regio Autnoma dos Aores (Decreto-Lei 267/80, 8 Agosto,
entretanto alterado por diversos diplomas legais, o ltimo dos quais foi a Lei Orgnica
n. 2/2012, de 14 de junho), 35., n. 1, da Lei Eleitoral da Assembleia Legislativa da
Regio Autnoma da Madeira (Lei Orgnica n.1/2006, de 13 de Fevereiro, alterada
pela Lei Orgnica n. 1/2009, de 19 de Janeiro) e 31., n. 1, da Lei Eleitoral dos
rgos das Autarquias Locais (Lei Orgnica n. 1/2001, de 14 de Agosto, rectificada
pela Declarao de Rectificao n 20-A/2001, pub. in Dirio da Repblica, I Srie-A,
n. 237, de 12-10-2001, e alterada pelas Leis Orgnicas n 5-A/2001, de 26 de
Novembro, n. 3/2005, de 29 de Agosto, n. 3/2010, de 15 de Dezembro, e n.
1/2011, de 30 de Novembro).
(231) Cfr., tambm, os arts. 115., n. 1, da Lei Eleitoral do Presidente da Repblica,
118., n. 1, da Lei Eleitoral da Assembleia da Repblica, 121., n. 1, da Lei Eleitoral
69
(227)

contenciosos

interpostos

de

actos

administrativos

definitivos

executrios praticados pela Comisso Nacional de Eleies ou por


outros rgos da administrao eleitoral (arts. 8., al. f), e 102.-B da
LOFPTConst.(232)).
A segunda abrange, por um lado, o julgamento dos recursos
respeitantes perda de mandato de deputado Assembleia da
Repblica (arts. 7.-A e 91.-A da LOFPTConst.)(233) ou de deputado a
uma das Assembleias Legislativas das regies autnomas (arts. 7.-A e
91.-B da LOFPTConst.), interpostos das deliberaes do plenrio

da Assembleia Legislativa da Regio Autnoma dos Aores, 125., n. 1, da Lei


Eleitoral da Assembleia Legislativa da Regio Autnoma da Madeira e 158. da Lei
Eleitoral dos rgos das Autarquias Locais.
(232) Saliente-se que a terminologia utilizada nestas normas se encontra
desactualizada. Com efeito, a Constituio, na verso do n. 4 do art. 268. resultante
da reviso operada pela Lei Constitucional n. 1/89, de 8 de Julho, deixou de exigir a
definitividade e a executoriedade dos actos administrativos susceptveis de serem
objecto de recurso contencioso (que antes constava do n. 3 desse artigo), passando
a admitir tal recurso relativamente a todos os actos administrativos que lesem
direitos ou interesses legalmente protegidos; e com a nova redaco dada referida
norma pela Lei Constitucional n. 1/97, de 20 de Setembro (que se mantm), deixou
de aludir ao tradicional recurso contencioso e passou a incluir a impugnao de
quaisquer actos administrativos que lesem direitos ou interesses legalmente
protegidos nos meios destinados a garantir a tutela jurisdicional efectiva dos mesmos.
(233) As causas de perda de mandato de deputado Assembleia da Repblica so
as mencionadas no art. 160. da C.Rep., no art. 8. do Estatuto dos Deputados (Lei n.
7/93, de 1 de Maro, com sucessivas alteraes), no art. 3. do Regimento da
Assembleia da Repblica n. 1/2007, de 20 de Agosto (rectificado pela Declarao de
Rectificao n. 96-A/2007, pub. in Dirio da Repblica, 1. Srie, n. 202, de 19-102007), com as alteraes introduzidas pelo Regimento n. 1/2010, de 14 de Outubro, e
no art. 29., al. b), da Lei n. 34/87, de 16 de Julho (entretanto alterada), que prev e
pune os crimes da responsabilidade que titulares de cargos polticos; as que
determinam a perda de mandato de deputado Assembleia Legislativa da Regio
Autnoma dos Aores so as previstas no art. 33., n. 2, do respectivo Estatuto
Poltico-Administrativo (aprovado pela Lei n. 39/80, de 5 de Agosto, e alterado pelas
Leis n.os 9/87, de 26 de Maro, 61/98, de 27 de Agosto, e 2/2009, de 12 de Janeiro) e
no art. 29., al. d), da referida Lei n. 34/87; e as que originam a perda de mandato de
deputado Assembleia Legislativa da Regio Autnoma da Madeira so as
estabelecidas no art. 31., n. 1, do respectivo Estatuto Poltico-Administrativo
(aprovado pela Lei n. 13/91, de 5 de Junho, e alterado pelas Leis n. os 130/99, de 21
de Agosto, e 12/2000, de 21 de Junho) e no art. 29., al. d), da citada Lei n. 34/87.
Saliente-se, contudo, que a perda de mandato de que se pode recorrer para o
Tribunal Constitucional, ao abrigo do disposto na al. g), do n. 2 do art. 223. da
C.Rep. e nos arts. 7.-A, 91.-A e 91.-B da LOFPTConst., somente a confirmada ou
declarada pelo plenrio da respectiva assembleia, como dizemos em texto (e no,
tambm, a decorrente da condenao definitiva pela prtica de algum dos
mencionados crimes).
70

desses rgos que confirmem a declarao de perda do mandato,


determinada pela Mesa, ou a declarem (arts. 3., n.os 3 e 8, e 4., n. 2,
al. p), do Regimento da Assembleia da Repblica, art. 10., n.os 2 e 7, do
Regimento

da

Assembleia

Legislativa

da

Regio

Autnoma

dos

Aores(234) e arts. 5., n.os 1 e 6, e 8., n. 1, al. m), do Regimento da


Assembleia Legislativa da Regio Autnoma da Madeira(235)), e, por
outro, o julgamento dos recursos relativos s eleies realizadas em
qualquer dessas assembleias (arts. 8., al. g), e 91.-B e 102.-D da
LOFPTConst. e art. 8., n. 1, al. n), do Regimento da Assembleia
Legislativa da Regio Autnoma da Madeira).

E a terceira compreende o julgamento das aces de impugnao


de eleies de titulares dos rgos dos partidos polticos (arts. 9., al. d),
e 103.-C da LOFPTConst.) mediante recurso interposto das decises
definitivas proferidas pelo rgo de jurisdio do partido, perante o qual
tm de ser previamente impugnados os actos do procedimento eleitoral
(art. 34., n.os 2 e 3, da Lei dos Partidos Polticos(236)) e o das
deliberaes tomadas por tais rgos (arts. 9., al. d), e 103.-D da
LOFPTConst.) tambm por via de recurso das decises proferidas pelo
competente rgo de jurisdio (perante o qual as deliberaes so
impugnveis com fundamento na infraco de normas estatutrias ou
legais), a interpor pelo filiado lesado ou por qualquer outro rgo
partidrio (art. 30., n.os 1 e 2, da citada Lei dos Partidos Polticos)(237).

(234) Aprovado pela Resoluo da Assembleia Legislativa da Regio Autnoma dos


Aores n. 15/2003/A, de 26 de Novembro, com sucessivas alteraes, a ltima das
quais efectuada atravs da Resoluo n. 3/2009/A, de 14 de Janeiro.
(235) Aprovado pela Resoluo da Assembleia Legislativa da Regio Autnoma da
Madeira n. 1/2000/M, de 12 de Janeiro, com sucessivas alteraes (a ltima das
quais introduzida pela Resoluo n. 5/2012/M, de 17 de janeiro, que republica em
anexo a verso actualizada desse Regimento).
(236) Lei Orgnica n. 2/2003, de 22 de Agosto, alterada pela Lei Orgnica n.
2/2008, de 14 de Maio (republicada e renumerada em anexo a esta cfr. o art. 3.).
(237) Como preliminar ou incidente de qualquer dessas aces, os interessados
podem requerer a suspenso de eficcia das eleies ou das deliberaes impugnveis
ou j impugnadas, nos termos do disposto no art. 103.-E da LOFPTConst.
71

13. Representao do Ministrio Pblico


Nos termos do disposto no art. 44. da LOFPTConst.(238), a
representao do Ministrio Pblico no Tribunal Constitucional cabe ao
Procurador-Geral da Repblica, que, no entanto, pode delegar as suas
funes no Vice-Procurador-Geral ou em um ou mais procuradoresgerais-adjuntos(239). Dada a manifesta impossibilidade de o ProcuradorGeral da Repblica representar pessoalmente o Ministrio Pblico neste
Tribunal (assim como no Tribunal de Contas, no Supremo Tribunal de
Justia e no Supremo Tribunal Administrativo(240)), em virtude das
extensas competncias que lhe esto atribudas, tal representao
assegurada por procuradores-gerais-adjuntos (que presentemente so
dois(241)), os quais substituem o Procurador-Geral da Repblica (art.
13., n. 2, do EMP) e, por isso, no esto hierarquicamente
subordinados a este(242).

Cfr., tambm, os arts. 4., n. 1, al. a), e 12., n. 1, al. b), do EMP.
Como estatui o n. 1 do art. 125. do EMP, os lugares de procurador-geraladjunto nesse tribunal (assim como no Tribunal de Contas, no Supremo Tribunal de
Justia e no Supremo Tribunal Administrativo) so providos no apenas de entre
procuradores-gerais-adjuntos, mas tambm, por promoo, de entre procuradores da
Repblica com a classificao de Muito Bom.
Saliente-se, ainda, que no obstante o art. 44. da LOFPTConst. aludir a um
poder de delegao de funes pelo Procurador-Geral da Repblica a nomeao dos
procuradores-gerais-adjuntos para esse tribunal (e para os outros acima referidos) no
feita pelo prprio PGR, embora lhe caiba apresentar a respectiva proposta, mas pelo
Conselho Superior do Ministrio Pblico, que pode vetar at dois nomes para cada
vaga (arts. 27., al. a), e 125., n. 2, do EMP).
(240) Cfr. infra, n.os 17., 25.5. e 34.4.
(241) A Portaria n. 265/99, de 12 de Abril, fixa em trinta o nmero de
procuradores-gerais-adjuntos que constituem o quadro de magistrados incumbidos de
substituir e coadjuvar o Procurador-Geral da Repblica no Tribunal Constitucional,
no Tribunal de Contas, no Supremo Tribunal de Justia e no Supremo Tribunal
Administrativo, de acordo com o disposto nos arts. 13., n. 2, e 4., n. 1, al. c), do
EMP. Dois deles substituem o Procurador-Geral da Repblica no Tribunal
Constitucional (como pode ver-se em www.tribunalconstitucional.pt).
(242) A LOSJ estabelece que, no Tribunal Constitucional, o Ministrio Pblico
representado pelo Procurador-Geral da Repblica e por procuradores-geraisadjuntos (art. 10., n. 1, al. a)).
72
(238)
(239)

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