Embutidos Fermentados
Embutidos Fermentados
Embutidos Fermentados
Embutidos fermentados
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Pelotas, 2008.
EMBUTIDOS FERMENTADOS
Pelotas, 2008.
Resumo
MENDONA, Samanta Xavier. Embutidos Fermentados. 2008. 43f. Trabalho
acadmico Bacharelado em Qumica de Alimentos. Disciplina de Seminrio.
Universidade Federal de Pelotas, Pelotas.
culturas
iniciadoras
(culturas
starters). As
culturas
starters
so
Lista de figuras
Figura 1. Ciclo do nitrato.........................................................................................
Figura 2. Fluxograma bsico para o processamento de embutidos fermentados
secos e semi-secos.................................................................................................
22
32
Lista de tabelas
Tabela 1. Composio de alguns embutidos secos e semi-secos.............................
16
17
27
30
Sumrio
1. Introduo........................................................................................................
08
2. Histrico............................................................................................................ 10
3. Definies.........................................................................................................
12
18
18
19
4.3 Carboidratos...................................................................................................
20
21
22
4.6 Tripas..............................................................................................................
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27
5. Processamento................................................................................................
32
33
5.2 Embutimento..................................................................................................
33
5.3 Fermentao...................................................................................................
34
35
5.4 Secagem.........................................................................................................
36
5.5 Maturao.......................................................................................................
37
39
7. Concluso.........................................................................................................
42
8. Referncias.......................................................................................................
43
1. Introduo
As carnes so alimentos perecveis e apresentam vida-de-prateleira varivel
em funo das condies de armazenamento. Desde a antigidade, o homem
sempre buscou preservar as caractersticas de qualidade da carne para manter a
proviso de alimentos, o desenvolvimento e a conservao da espcie, originandose, assim, processos e tecnologias de transformao, inicialmente rudimentares e
atualmente controlveis por padres tecnolgicos que permitem manter a qualidade
do produto (LEMOS, 2002).
A salga e a secagem so mtodos mais antigos de preservao de carnes. As
primeiras civilizaes inicialmente aprenderam que era possvel preservar a carne,
para uso posterior com a adio de sal nas superfcies cortadas, processo capaz de
promover a desidratao do tecido crneo e retardar a deteriorao da carne; logo,
devem ter aprendido que a carne cortada em pedaos, misturada ao sal e
especiarias e colocada em envoltrios flexveis, resultava num processo de
conservao mais efetivo. Esses envoltrios eram inicialmente os intestinos dos
animais que forneciam a carne, e foram a origem dos produtos embutidos em tripas
nos seus vrios tamanhos e formas, que ainda so encontrados atualmente
(LEMOS, 2002).
Embutidos crneos so definidos como "produtos elaborados com carnes ou
outros tecidos animais comestveis, curados ou no, defumados e dessecados ou
no, tendo como envoltrio natural tripas, bexigas ou outras membranas animais ou
envoltrio plstico apropriado" (DUARTE, 2005).
Embutido um alimento que se prepara com carne picada e condimentada,
resultando, normalmente,em uma forma assimtrica. Os embutidos so produzidos
com diversos tipos de carnes (destacando-se a suna) obtidas de carcaas inteiras,
peas ou retalhos congelados (SCHIFFNER, 1996).
As carnes utilizadas devem ser livres de aponevroses (sebos e pelancas), de
vestgios de sangue retido e de sujidades, ainda, devem ser conservadas sob baixa
temperatura, em recipientes adequados, at o momento do uso. Faz-se necessrio
tambm, verificar a procedncia das carnes, para tanto, existem rgos especficos
que fiscalizam a qualidade sanitria, do abate ao consumo, proporcionando maior
segurana ao consumidor (ROCCO, 1996).
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2. Histrico
Muitos dos produtos presentes no mercado devem seus nomes a seus
lugares de procedncia. Em sua maior parte, os produtos embutidos tiveram como
precursores pases do velho mundo. Os embutidos cozidos procedem do norte da
Europa onde o clima suficientemente frio para permitir sua conservao e seu
armazenamento. Os embutidos secos, por outro lado, desenvolveram-se mais
caracteristicamente na Europa Meridional, onde o produto, mais estvel a
temperaturas moderadas, mais apropriado (PRICE, 1994).
As diferenas climticas condicionam as principais caractersticas dos
embutidos e se destacam entre os fatores que contribuem para sua diversificao.
Os produtos frescais tiveram sua origem nos pases frios do norte europeu; produtos
cozidos, defumados e semi-secos so originrios da Alemanha; produtos secos
foram desenvolvidos principalmente nos pases de vero quente do sul da Europa
(PRICE, 1994).
A salga e a secagem cuidadosa de carnes e embutidos tornaram-se comum
no sul da Europa nas costas do Mediterrneo, de onde a nomenclatura popular para
embutidos fermentados se origina: salame Gnova, Toscano, Pepperoni, Milano. Os
aougueiros cortavam a carne suna e bovina em pequenos pedaos, adicionavam
sal e condimentos, embalavam a mistura em peles ou intestinos lavados, e os
penduravam em quartos especiais. Logo, aprenderam que a higiene no corte e
formulao da carne, e o controle da temperatura e umidade nos cmodos de
secagem resultavam em produtos mais seguros e consistentes. Contudo,
formulaes e processos eram passados de gerao a gerao oralmente, sem
documentao escrita, para proteger os membros dessa categoria de profissionais
(LEMOS, 2002).
Segundo Lemos (2002), o processo de abate dos animais permite a
contaminao dos tecidos, antes estreis, por microrganismos como: bactrias
gram-negativas, Escherichia coli, Samonella, Pseudomonas e Achromobacter,
associados com o trato intestinal ou meio-ambiente. Como resultado, a deteriorao
da carne fresca geralmente associada com bactrias proteolticas aerbicas gramnegativas.
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3. Definies
12
13
produto
curado,
fermentado,
maturado
dessecado.
- Salame tipo Italiano: entende-se por Salame Tipo Italiano, o produto crneo
industrializado, elaborado de carnes sunas ou sunas e bovinas, toucinho,
adicionado de ingredientes, modos em granulometria mdia entre 6 e 9 mm,
embutido em envoltrios naturais ou artificiais.
Classificao: produto curado, defumado ou no, fermentado, maturado e
dessecado.
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- Salame tipo Milano: entende-se por Salame Tipo Milano, o produto crneo
industrializado, elaborado de carnes sunas ou sunas e bovinas, toucinho,
adicionado de ingredientes, com granulometria mdia entre 3 e 6 mm, embutido em
envoltrios naturais ou artificiais.
Classificao: produto curado, defumado ou no, fermentado, maturado e
dessecado.
- Lingia colonial: entende-se por Lingia Colonial, o produto crneo
industrializado, elaborado exclusivamente a partir de carnes sunas, adicionado de
toucinho, ingredientes, modo em granulometria varivel, embutida em envoltrio
natural.
Classificao: produto curado, que sofre um processo rpido de fermentao,
defumado e dessecado. Embutido em envoltrio natural.
- Pepperoni: entende-se por Pepperoni, o produto crneo industrializado,
elaborado de carnes sunas ou sunas e bovinas, toucinho, adicionado de
ingredientes, com granulometria mdia entre 3 e 6 mm, embutido em envoltrios
naturais ou artificiais. O produto poder sofrer processo de dessecao rpida em
estufas apropriadas at que a temperatura no centro do mesmo atinja 62C,
mantendo-se as caractersticas de um produto maturado e dessecado.
Classificao: produto apimentado curado, fermentado, maturado, defumado
ou no e dessecado, tendo como ingrediente obrigatrio a pprica (pimento
vermelho picante).
Permite-se a adio de protenas no-crneas, no teor mximo de 2%, na
forma de protena agregada.
A grande variedade de embutidos crneos atinge na Alemanha 330 tipos
diferentes, e na Itlia englobam quase mil variedades. Todos esses produtos so
auto-estveis devido fermentao e desidratao, que permite a conservao em
temperatura ambiente, sem necessidade do frio (TERRA, 1998).
O termo salame genrico e corresponde a uma definio primria, pois h
numerosos tipos de salame que se diferenciam pela (PARDI, 1996):
15
Thuringer,
Cervelat,
Genova,
Salami
Pepperoni
Lebanon,
16
Umidade (%)
Gordura (%)
Protena (%)
Sal (%)
Acar (%)
pH
Acidez total (%)
Rendimento (%)
Umidade/proten
a
Summer,
Sausage
50
24
21
3,4
0,8
4,9
1,0
90
2,4
Bologna
36
34
22
4,8
1,0
4,9
0,79
70
1,6
30
39
21
4,2
2,4
5,0
0,4
64
1,4
56
16
22
4,5
4,1
4,7
1,3
93
2,5
17
produo de cido ltico. A qualidade dos produtos no era uniforme, pois dependia
da flora natural (TERRA, 1998).
A partir de 1961, culturas puras de microrganismos teis passaram a ser
disponveis, possibilitando, dessa forma, a obteno de produtos de alta qualidade,
com processos de fabricao reprodutveis.
Vrios so os microrganismos utilizados como culturas starter. Na Tabela 2,
constata-se a presena de bactrias, leveduras e mofos entre os componentes das
culturas starter. Entre as bactrias, encontram-se representantes das famlias
lactobacillaceae e microccaceae (TERRA, 1998).
TABELA 2. Componentes das culturas starter para fermentao crnea
Grupo
Bactrias cido-lcticas
Microrganismo
Pediococcus pentosaceus
Lactobacillus plantarum
L. sake
L. curvatus
L. pentosus
Micrococcaceae
Micrococcus varians
Staphylococcus carnosus
S. xylosus
Streptomycetes
Streptomyces griseus
Debaromyces hansenii
Cndida famata
Leveduras
Mofos
FONTE: Terra, 1998.
Penicillium nalgiovense
Penicillium crysogenum
18
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4.3 Carboidratos
O teor de glicose da carne bovina e suna in natura da ordem de 4,5 a 7
mol g-1, respectivamente, e seu uso como substrato para a produo de cido
20
lctico no seria suficiente para causar uma reduo significante do pH, como se
deseja em embutidos fermentados. Como conseqncia, carboidratos fermentveis
so adicionados s misturas cruas para o preparo de embutidos (LEMOS, 2002).
O tipo e quantidade de carboidratos adicionados so fundamentais, pois
determinam a extenso da taxa de formao do cido lctico, e a composio da
microbiota presente no embutido. Se grandes quantidades de carboidratos de
metabolizao rpida so adicionados (por ex.: glicose), a reduo de pH pode ser
to rpida que as bactrias sensveis a cidos e que contribuem para caractersticas
desejveis do embutido, so supridas. Por outro lado, a adio de quantidade
suficiente de carboidratos ou escolha de carboidratos que so degradados
lentamente (oligossacardeos) pode resultar no crescimento de microrganismos
indesejveis durante a fermentao, geralmente efetuada alta temperatura. Em
outras palavras, a quantidade e tipo de carboidratos adicionados deve apresentar
equilbrio entre a necessidade de estabelecer uma fermentao lctica efetiva e a
necessidade de se evitar uma queda muito rpida de pH. Para embutidos secos, a
combinao de um carboidrato rapidamente metabolizvel, como a glicose, com
outro de metabolizao lenta, como um oligossacardeo, bastante favorvel. A
formao de cido lctico abaixar o pH para 4,8-5,0, o que assegura a estabilidade
microbiolgica e um rpido aumento na firmeza. Quantidades mais baixas entre 0,20,3% so recomendadas, se nitrato ao invs de nitrito for usado como agente de
cura, como por exemplo, na fabricao de salames Italianos e Hngaros. Em
contraste, at 2% de glicose so adicionados em certos embutidos semi-secos, para
assegurar uma rpida queda de pH (ORDOEZ, 2005).
Em alguns pases, leite em p pode ser adicionado como fonte de lactose e
farinha de batata como fonte de amido. Problemas podem ocorrer durante a etapa
de secagem como resultados da forte capacidade de reteno de gua desses
ingredientes (LEMOS, 2002).
21
Oxigenao (O2)
Mioglobina
Oximioglobina
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(vermelho prpura)
(vermelho brilhante)
Desoxigenao
NO
Oxidao
Reduo
Oxidao
Reduo
Mioglobinanitrosa
Oxidao
(vermelho)
Metamioglobina
(marrom)
calor
Reduo + NO
Nitrosohemocromo
Oxidao
(rosa)
calor
Mioglobina desnaturada
(marrom)
Reduo + NO
Porfirinas oxidadas
(verdes, amarelas, incolores)
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25
26
27
ARTIFICIAIS
Escolha entre permeveis e
Embutimento descontnuo
Condies especiais de
impermeveis
Embutimento contnuo
Armazenamento simples
armazenamento
Caractersticas higinicas desfavorveis
Superfcie oleosa
Calibre desigual
Pior manejo mecnico
Comestvel
Aspecto decorativo
Fcil ruptura
Embutido difcil de automatizar
Fonte: ORDOEZ, 2005.
Micrococcus ou
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BPF e valores
Contagem de microrganismos aerbios no deve exceder a 5
das carnes
30
2. Temperatura das
UFC.g-1
Armazenar as carnes em temperatura em torno de 0C para
carnes
3. pH das carnes
4. Aw* das carnes
5. Adio de nitrito
6. Adio de nitrato
7. Adio de acar
8. Adio de
respectivamente.
Para produtos de rpida fermentao, a adio de 0,3%.
glucona-delta
lactona
9. Adio de cultura
starter
10. Temperatura de
fermentao
11. Umidade relativa
do ar
12. Velocidade do ar
75%.
No incio da fermentao, usar 0,8-0,5 m.s-1, prximo do final
13. Microflora no
interior do embutido
14. Microrganismos
superficiais
Debaromyces.
desejveis
15. Microrganismos
superficiais
indesejveis
16. Defumao
17. Valor de pH
benzopireno.
Deve cair para 5,0 dentro do 2 dia (fermentao rpida) ou 4
31
32
5. Processamento
As etapas do processo de elaborao de embutidos crneos fermentados so
mostradas no fluxograma da figura 2 a seguir.
NaCl, agente de
cura, etc.
EMBUTIMENTO EM TRIPAS
NATURAIS/ARTIFICIAIS
FERMENTAO
SECAGEM
DEFUMAO
SECAGEM
E
MATURAO
COCO
DISTRIBUIO
FIGURA 2. Fluxograma bsico para o processamento de embutidos fermentados
secos e semi-secos
FONTE: Lemos, 2002.
33
magras,
carnes
gordas
gordura
com
os
outros
ingredientes,
34
35
tm
papel
principal,
particularmente
Pediococcus
espcies
36
37
5.5 Maturao
Fase mais longa na produo de embutidos fermentados secos, durante a
qual j no h mais crescimento bacteriano e as reaes bioqumicas formam a
base da maturao. Pode durar de 15 a 90 dias ou mais. Durante a maturao, a
temperatura mantida entre 10-15C e a umidade relativa entre 80-65%. A umidade
inicial do produto inicialmente a 50-70%, dependendo do tipo de produto, atinge
valores finais de 27-45% (PRICE, 1994).
Nesta fase, produz-se a maior parte da desidratao do produto; por isso
importante o efeito da aerao dos secadores e a distribuio uniforme do ar ao seu
ambiente. Durante a maturao, no apenas o pH e a Aw continuam evoluindo,
como ocorre hidrlise enzimtica das protenas e dos lipdeos (ORDOEZ, 2005).
A primeira mudana observada na frao protica a insolubilizao das
protenas provocada pelo decrscimo do pH, seguido de hidrlise das protenas
preferencialmente miofibrilares, j que a hidrlise das sarcoplasmticas menor.
Durante a fase de fermentao, h aumento da concentrao dos compostos
nitrogenados de baixo peso molecular (peptdeos, aminocidos, amonaco), embora
a principal frao nitrogenada no protica sejam os peptdeos, enquanto os
aminocidos e as fraes de peptdeos pequenos aumentam em etapas posteriores.
Os aminocidos mais abundantes so alanina, leucina, valina, serina, glicina e
prolina. Todos esses compostos tm repercusso importante no sabor dos
embutidos de tal modo que sempre ser necessrio certo grau de protelise para
que se desenvolvam as caractersticas de um embutido (ORDOEZ, 2005).
Os processos proteolticos so de natureza enzimtica. As enzimas so tanto
de origem microbiana (lactobacilos e micrococos) como tissular (calpanas,
catepsinas, carboxipeptidases, dipeptidases e dipeptil-peptidases) (ORDOEZ,
2005).
Alguns aminocidos sofrem fenmenos posteriores de descarboxilao ou
desaminao, dando lugar acumulao de amonaco e aminas que provocam
ligeiro aumento do pH final da maturao. Por outro lado, quando os aminocidos
desaminam, produzem tambm cidos orgnicos que, por sua vez, podem
transformar-se em substncias volteis, como aldedos e lcoois, que contribuem
para o sabor e o aroma desses produtos. A protelise tambm influi na modificao
das propriedades nutritivas dos embutidos, j que aumenta a digestibilidade tanto
das protenas como dos aminocidos considerados isoladamente (PARDI, 1996).
38
39
40
41
desta
fator
decisivo
na
qualificao
do
produto.
Altas
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7. Concluso
Com o presente trabalho pode-se observar que o processo de fabricao de
embutidos fermentados, antes feita de forma artesanal, hoje utiliza alto nvel de
automao. Logo, deve-se ter higiene no corte e formulao da carne, e o controle
da temperatura e umidade nos cmodos de secagem resultando em produtos mais
seguros e consistentes.
Isto ocorre para minimizar os possveis defeitos ocasionados durante o
processo.
Alm de usar matrias-primas de boa qualidade, deve-se ter um cuidado
especial nas etapas de fermentao e embutimento.
O processo de fabricao de embutidos fermentados tornou-se uma
alternativa de conservao da carne in natura, alm do aproveitamento de cortes
menos nobres.
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8. Referncias