Revolução Passiva e Modo de Vida
Revolução Passiva e Modo de Vida
Revolução Passiva e Modo de Vida
Edmundo Fernandes Dias. Destacado especialista em Gramsci, foi autor de relevante livro sobre o perodo prcarcerrio do pensador sardo (Gramsci em Turim. A construo do conceito de hegemonia. So Paulo: Xam, 2000). Militante do movimento docente, Dias foi dirigente do Andes-SN e da Adunicamp. Ajudou a fundar, na dcada de 1980, o PT e a CUT. Nos anos 1990 rompeu com o partido e passou a atuar no PSTU. Foi um dos fundadores da CSPConlutas. Seu ltimo trabalho publicado foi Revoluo passiva e modo de vida: ensaios sobre as classes subalternas, o capitalismo e a hegemonia (Ed. Revoluo Passiva e Modo de Vida 3 Sundermann, 2012).
CAPTULOS
Decifrar o fetichismo, construir a emancipao; A educao na tentativa de construir o consenso; Construir o sentido, o projeto.
Superar o fetichismo significa examinar os discursos como projetos de interveno no real, e como sua duplicao/ocultamento. O discurso sempre e necessariamente, a prtica de um projeto de hegemonia. Consciente ou inconsciente. Todo e qualquer movimento poltico (p. 113). A classe tem que produzir seus intelectuais capazes de pensar os problemas de sua classe e se fundir s experincias concretas das suas bases com o saber j elaborado pelo crescimento intelectual de massa (p. 114).
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Nova weltanschauung capaz de dar-lhe sentido e direo, um novo patamar de interveno poltica. Produo de novas Weltanschauungen, que fecunda e alimenta a cultura de uma idade histrica, bem como produo filosoficamente orientada de acordo com as Weltanschauungen originais. Marx um criador de Weltanschauung (GRAMSCI, p. 114, 1981).
ILUMINISMO
-Nascimento de formas relativamente democrticas. - Reforma intelectual e moral dos franceses porque abraou os camponeses. - Fundo laico destacado. - Tentou substituir religio por uma ideologia completamente laica representada pela ligao nacional e 8 patriota.
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1930 e 1937
VARGAS 1954
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O capitalismo no hegemnico, nem pode s-lo, j que, no momento mesmo de sua esmagadora vitria, ele se revela absolutamente incapaz de resolver os problemas da humanidade associada, o capitalismo no pode ampliar-se organicamente totalidade dos povos do mundo ( a no ser sob a forma da explorao, da expropriao, at a morte de fome), e provoca em suma [...] crises de superproduo e crises de subconsumo, o capitalismo no pode resolver o problema crucial da relao entre o homem e o planeta que hospeda, que tende, portanto, ao desastre ecolgico irreversvel; muito menos o capitalismo pode resolver o problema da paz entre os homens, e pelo contrrio produz continuamente e de modo crescente, das suas prprias vsceras, guerra e terrorismo, guerras terroristas e guerra de extermnio (MORDENTI apud, p. 117).
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Revoluo Passiva
Para Gramsci uma revoluo-restaurao, ou seja, uma transformao feita por cima, pela qual os poderosos modificam lentamente as relaes de fora para neutralizar os seus inimigos de baixo. Pode garantir a passividade das massas dos dominados, suas desagregaes e da incapacidade da parte deles de projetar (KOHAN apud, p. 117).
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Se prope como construtora da racionalidade da ao dos subalternos. Tem duas tarefas: Combater as ideologias modernas na sua forma mais refinada e iluminar as massas populares, cuja cultura era medieval (Gramsci apud, p 119).
MARXISMO
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Os Intelectuais e o Marxismo
A maioria dos intelectuais marxistas, presos a uma leitura oficialista, praticam uma forma de teologia laica e necessidade de repetir seus dogmas, realizaram eles tambm uma ciso em relao s classes trabalhadoras. Esse processo instaurou uma crise de direo a partir da qual no conseguiram capturar os intelectuais do capitalismo, antes tornaram-se prisioneiros destes. [...] Eles se pensavam como os protagonistas de uma histria sem ligao com as classes, como um universal abstrato puro (p. 119).
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Os Intelectuais e o Marxismo(3)
Marx nos ensinou como trabalhar o senso comum e por vezes o bom senso de vrios autores. Examinou as interferncias e depois construiu um discurso transformador preocupado com uma nova forma de existncia social. O discurso produto da totalidade, ao mesmo tempo em que uma forma de apropriar-se dela. Apropriao que destaca do universo ideolgico dominante elementos que o personificaro como um discurso (p. 120).
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Escrita e leitura so produes e requerem, para ser apropriadas pelo leitor-produtor, um processo de construo da racionalidade ali exposta. O significado nunca est dado. Ler perguntar (p. 122). [...] exigncia de uma pesquisa prtico-terica, um pensamento que saiba pensar da parte dos explorados e dos subalternos, que saiba elaborar uma leitura do mundo pelo menos to articulado quanto o so articuladas as formas do domnio, e esteja portanto em condies de dar sentido quilo que ocorre, de tal modo orientando o esforo de libertar-se do capitalismo realizado. Por isto Gramsci e sua lio podem ser utilizadas e continuadas (MORDENTI apud, p. 122).
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Escola e os subalternos
Escola pobre para os pobres. O que se forma nesse sistema educativo? O trabalhador do sculo XXI, despolitizado, sem formao cultural mais ampla e, portanto, uma pea no tabuleiro do desemprego tendencial [...]. Joga sobre ele a culpa do desemprego (p. 332). A educao para o capital, no mais como ascenso social. A educao a distncia: trata-se de ensino e no de educao. Nos defrontamos com a modernizao da educao via mercantilizao.
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Nossos professores se encontram diante dos alunos por dezoito horas sem nenhum preparo (Balbastre). Privatizao das escolas pblicas nos EUA. A necessidade de produzir est levando os professores ao desespero e ao estresse (sndrome de Burnout) e a culpabilidade. Remunerao por mrito. A educao tornou-se, mais do que nunca, uma arma da guerra do capital, nacional e internacionalmente, sobre o trabalho ao mesmo em que se atacam os educadores e suas organizaes (p. 337).
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Educadores
Resistncia
Cabe aos educadores, que se reivindicam dos subalternos, lutar contra esse processo de destruio da universidade e da escola pblica (DIAS, p. 342).
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Gramsci em uma passagem pergunta: Se existe uma contradio entre o discurso que se fala e o que se realiza, qual o verdadeiro? A resposta clara e imediata: o que se realiza efetivamente. Ex-dirigentes sindicais ajudam controlar as massas, impedir que se ponham em movimento. O mito de um Estado para todos uma necessidade para o exerccio do poder na Ordem do Capital.
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O real, para os marxistas, a atualizao permanente das relaes de fora e das conjunturas no interior de uma determinada formao social. Ingrao: A sociedade capitalista, em suas prprias respostas s suas crises, intervm no interior da classe operria, decompe-na, condiciona-a e a influencia. A conscincia de classe no um dado fixo, conquistado de uma vez por toda. um dado histrico, mvel, contestado e contestvel, que se realiza e se verifica sempre sobre novos contedos, ligados s mudanas da sociedade e do choque social (p. 351).
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Os intelectuais do sistema se apresentam desenraizados, quando, na realidade, so classistas, saibam eles ou no. Os intelectuais das classes subalternas so construdos na academia cotidiana da luta. Aqui, no pode haver, sob pena de absoluta neutralizao, a separao, o fosso entre os intelectuais e as classes trabalhadoras. Torna-se imprescindvel romper com as formas positivistas de ler o marxismo, que fossilizaram as prticas das classes subalternas na reificao do conflito capital x trabalho, tomado como uma abstrao vazia que d razo a todo e qualquer movimento das classes, sem a compreenso das mltiplas determinaes.
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Decifra-me ou eu te devoro
Decifrao essa que depender do esforo concreto de todos os sujeitos histricos para superar limitaes e propor-se construir uma unidade real baseada na autonomia e na independncia de classes que no exclua nenhum setor do campo da luta e que vem se constituindo nas vanguardas dos trabalhos e caminha para empolgar amplos setores de massa. A imobilidade, a passividade, na sociedade apenas uma iluso. O conflito est dado. Vem se manifestando nas formas mais diversas e inorgnicas, mas tambm em projetos concretos de Revoluo Passiva e Modo de Vida 35 interveno no real (DIAS, p. 357).
Referncias
DIAS, Edmundo Fernandes. Revoluo Passiva e modo de vida: Ensaios sobre as classes subalternas, o capitalismo e a hegemonia. So Paulo: J.L. E R. Sundermann, 2012 BOTTOMORE, Tom. Dicionrio do Pensamento Marxista. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001 GRAMSCI, Antonio. Concepo Dialtica da Histria. 4 ed. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1981.
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