Manual Dos Pais

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DISTÚRBIO DE HIPERACTIVIDADE E DÉFICE DE ATENÇÃO

MANUAL PARA PAIS


Sónia Pereira *

Introdução

As crianças são normalmente agitadas e desatentas. Correm por todo o lado e nem sempre estão atentas às
solicitações dos adultos. São divertidas, têm um óptimo sentido de humor e falam sem parar. Por vezes, esta
energia é demasiado acentuada e pode ser patológica, dificultando o sucesso escolar, as relações com adultos
e as relações com os pares. Os adultos sentem dificuldade em lidar com estas crianças, fazendo inúmeras
tentativas para mudar o seu comportamento, que falham sistematicamente.

Muitas vezes a linha que separa a agitação normal infantil da patologia é muito ténue, sendo difícil fazer a
distinção. É importante que os adultos considerem que o comportamento desadequado pode ser um sintoma
de um distúrbio. Este distúrbio denomina-se Distúrbio de Hiperactividade e Défice de Atenção (DHDA).

O DHDA afecta 3 a 5% de crianças em idade escolar. É um dos distúrbios psicológicos mais comuns na infância
e afecta maioritariamente crianças do sexo masculino.

O impacto que o DHDA pode causar na vida da criança pode ser muito variável e depende de vários factores. É
muito importante que seja feito o diagnóstico adequado e o mais precocemente possível. O tratamento é
realizado por uma equipa multidisciplinar, onde os pais e os professores são incluídos como elementos
fundamentais. Para que seja possível a distinção entre uma criança saudavelmente irrequieta e uma criança
hiperactiva, é importante que os pais estejam atentos a alguns sinais de alerta.

Sinais de alerta

 A criança parece estar aquém das suas capacidades intelectuais.


 Apresenta um nível inapropriado de atenção, em comparação com outras crianças da mesma idade.
 Tem dificuldade em seguir instruções.
 Aparenta não ouvir o que lhe é dito. Demora muito tempo a fazer algumas tarefas, pois tem
dificuldade em abstrair-se dos barulhos e de outros estímulos.
 Tem tendência para perder objectos importantes (vestuário, material escolar, etc.).
 É impulsiva.
 Tem dificuldade em pôr em prática tarefas que requerem planeamento.
 Corre em locais inapropriados, sobe aos móveis.
 Responde fora do contexto, interrompe os outros quando deveria estar calado e fala demasiado, mas
sem conseguir manter o fio do discurso.
 Tem dificuldade em esperar pela sua vez.
 Não consegue ficar sossegada, custa-lhe ficar sentada.
 Coloca a culpa nos outros.
 Mantém problemas na relação com familiares, amigos e/ou professores.
Se o seu filho apresentar a maior parte dos sinais referidos e se estes comportamentos causam sofrimento no
dia a dia, o primeiro passo que deve dar é procurar que seja realizada uma avaliação, para que o diagnóstico
seja confirmado e para que o tratamento seja iniciado o mais depressa possível.

A hiperactividade não é uma doença fácil de tratar. Mas sabe-se que as crianças que têm pais que lhes dão
apoio, com utilização de estratégias específicas, e que são tratadas por uma equipa multidisciplinar de
técnicos (médicos, psicólogos, etc.,), têm maiores probabilidades de se tornarem adultos ajustados.

Como pode ajudar o seu filho em casa?

Adapte-se ao seu filho...


 Aceite a criança tal como ela é e mostre disponibilidade para a ajudar.
 Seja capaz de modificar as suas estratégias de modo a adaptar-se à criança e às suas necessidades.
 Estabeleça uma relação marcada pelas manifestações de carinho. Mostre ao seu filho que está do lado
dele e fará tudo o que for possível para ajudar.
 Peça-lhe que o seu filho o ensine a ajudá-lo.
 Seja capaz de modificar as suas estratégias de modo a adaptar-se ao seu filho e às suas necessidades.
Mude as recompensas se considerar que não são eficazes na mudança de comportamento.

As Regras...

 Seja firme com as regras, mas mostre-se calmo, positivo e optimista.


 Utilize linguagem clara, em que as regras são simples, claras e curtas.
 Escreva uma lista com as regras que o seu filho tem que cumprir, explicando claramente, e
também por escrito, quais as consequências do não cumprimento dessas regras.
 Coloque a lista das regras em local bem visível.
 Explique objectivamente quais os comportamentos que considera certos e errados, mostre ao
seu filho o que espera dele e mostre que está contente quando ele se comporta como lhe pediu.
 As regras devem ser negociadas em conjunto. Os pais devem ouvir a criança antes de
determinarem quais serão as regras a cumprir.

A Prevenção...

 Procure prevenir o mau comportamento antes que ele aconteça.


 Procure negociar actividades com a criança, para que ela possa participar activamente na
escolha das tarefas que lhe são propostas e para que não se aborreça permanentemente, saltando de
actividade em actividade.

Planear...

 Estipule um horário semanal de tarefas e coloque-o num local visível (por exemplo, no
quarto e/ou cozinha). Certifique-se que o seu filho o cumpre à risca e ofereça uma recompensa
sempre que isso acontecer. O horário não deverá ser imposto mas sim negociado com a criança.
 O horário das actividades diárias deverá conter a hora de deitar, comer, estudar,
brincar, fazer tarefas (como tirar a mesa, tirar a louça da máquina, etc.), ver televisão, dormir.
Aumente ou diminua as horas de divertimento como recompensa ou castigo.
 Evite alterações de horário. Se tiver que alterar o horário, explique ao seu filho as
razões da alteração da rotina e com a maior antecedência possível.
 As manhãs dos dias de escola podem ser difíceis. Por esta razão, deve pedir ao seu
filho para escolher de véspera a roupa que irá vestir e a mochila da escola. Acorde-o suficientemente
cedo para ter tempo para a sua higiene, para se vestir e para tomar um bom pequeno-almoço.

O Reforço e o Castigo...

 Ofereça recompensas ou castigue de forma imediata, logo após o comportamento da


criança.
 Sempre que a criança fizer algo errado, encontre formas discretas de lhe explicar o
que faz mal e o que deveria ter feito, evitando humilhá-lo em frente de outras pessoas.
 Mostre ao seu filho que espera (e sabe que ele vai conseguir) resultados positivos.
Ofereça recompensas sempre que esses resultados são atingidos. Valorize o sucesso o mais possível,
encorajando e dando elogios frequentemente.
 Evite castigos. Quando for inevitável, procure dar castigos imediatos logo após o
comportamento indesejado da criança. O castigo deve ser justo e consistente.
 Reforce o esforço, oferecendo recompensas mesmo quando a criança não conseguiu a
nota esperada mas fez um esforço visível para melhorar os resultados escolares. Valorize o esforço de
terminar o TPC.
 Seja consistente. Tenha atenção às promessas que faz à criança e cumpra à risca tudo
o que diz (não só castigos mas também as recompensas). Evite repetir avisos e ameaças vezes sem
conta.

Seja optimista...

 Lembre-se que o seu filho passa o dia a ouvir que está errado, mesmo antes de
fazer algo errado.
 Mostre ao seu filho que espera um comportamento adequado. Explique-lhe
claramente o que quer que ele faça e o que proíbe absolutamente.
 Não poupe elogios quando o seu filho se comporta adequadamente. Dê valor às
pequenas coisas e às boas intenções do seu filho.

A amizade...

 Ajude o seu filho a fazer ou manter amigos sugerindo actividades estruturadas,


com tempo limitado, com um só amigo. Ofereça uma recompensa sempre que o comportamento
durante a brincadeira seja aceitável.
 Procure diminuir o tempo que ele passa a jogar no computador, estimulado as
brincadeiras em que exista comunicação com outras crianças da mesma idade. Procure conhecer os
companheiros do seu filho e estimule amizades com crianças que lhe possam servir de modelo.
 Tenha cuidado com a selecção de companheiros de brincadeira para o seu
filho. Procure convidá-los para sua casa para os poder conhecer. Não permita gritos, empurrões ou
agressões.
A Escola...

 Dirija-se, sempre que possível, à escola para falar com a Directora de Turma.
 As crianças hiperactivas têm tendência a ser muito impulsivas. Por isso,
certifique-se que o seu filho é vigiado por adultos durante todo o dia.
 Procure saber quais as actividades do seu filho na sala de aula, no recreio e à
hora das refeições.
 Procure saber qual é o plano das aulas, para poder trabalhar a matéria
previamente com o seu filho.
 Sugira-lhe que divida o TPC em pequenos segmentos para que seja iniciado e
terminado um segmento de cada vez; sugira ainda que escolha primeiro os segmentos mais difíceis e
depois os mais fáceis. Permita que o seu filho faça intervalos entre os segmentos do TPC (ir lanchar, ir
brincar por uns minutos).
 Escolha um local fixo para fazer o TPC onde a criança tenha sossego e consiga
estar em silêncio. Progressivamente, deixe a criança fazer o TPC sozinha, sem a sua ajuda.
 Encoraje o seu filho a ler em voz alta em casa, para que se sinta mais seguro
quando o fizer na escola.

Os Talentos...

 Converse com o seu filho, estimule actividades extra-escolares e procure saber


se ele tem algum talento especial. As crianças hiperactivas têm muita criatividade, espírito lúdico,
espontaneidade e boa disposição.
 Procure desenvolver os talentos do seu filho.

O Exercício Físico...

 Encoraje o seu filho a iniciar uma actividade desportiva, de preferência que


tenha exercícios vigorosos.
 Pergunte ao seu filho se actividade escolhida é divertida e certifique-se que
ele continua motivado para a realizar.

Conclusão

Sem querer substituir a vasta literatura que existe hoje em dia sobre esta temática, esperamos que este guia
possa ser um instrumento útil para os pais, que os ajude a ultrapassar os pequenos obstáculos que vão
surgindo no dia-a-dia com a criança hiperactiva.

É importante referir que este guia se destina apenas a dar alguma ajuda aos pais, com estratégias simples a
colocar em prática. No entanto, este guia não substitui uma consulta de avaliação psicológica com um técnico
de Saúde Mental para confirmação do diagnóstico (Psicólogo Infantil ou Pedopsiquiatra) e as estratégias
apresentadas não substituem o tratamento, que deve ser realizado por uma equipa multidisciplinar.

Bibliografia de Apoio
American Psychiatric Association (1994). Diagnostic and statistical manual of mental disorders (4 th ed.). Washington, DC: Author.Fonseca, A. (1998).

Problemas de Atenção e Hiperactividade na Criança e no Adolescente: Questões e Perspectivas Actuais. Psychologica 19 7-41. Fonseca, A. & Cols.

(1998). Hiperactividade na Comunidade e Hiperactividade em meio clínico: Semelhanças e diferenças. Psychologica, 19 111-122. Hallowell & Cols

(1992). Distúrbios Graves de Atenção (DGA) na Sala de Aula. In Internet for Minessota Schools Project. Phelan, T. (1991)Transtorno de Déficit de

Atenção. In Entrevista Clínica e Diagnóstica (pp. 317-339): Porto Alegre. Artes Médicas. Rebelo, J. (1997). Como ajudar alunos com hiperactividade

nas escolas. Psychologica, 19 165-198. Silva, M. (1997). Avaliação Intervenção em Crianças com Distúrbio Hiperactivo por Défice de Atenção.

Integrar, 13 15-20. Simões, M. (1998). Avaliação Psicológica e Diagnóstico na Perturbação de Hiperactividade com Défice de Atenção- Entrevistas.

Psychologica, 19 43-82. Simões, M. (1998). Avaliação Psicológica e Diagnóstico no Perturbação de Hiperactividade com Défice de Atenção- Escalas

de Avaliação. Psychologica, 19 83-109. Toro, J. (1998). Psiquiatría de la infancia y la adolescencia. In Introducción a la Psicopatología y la

Psiquiatría (pp. 867-894): Barcelona. Masson Wright, J. (1995). ADHD: A School-Based Evaluation Manual [Electronic version].

* Sónia Pereira é psicóloga clínica e trabalha com crianças em consultórios privados.

[email protected]
www.consultorio-psicologia.com

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