DURKHEIM, Émile. As Regras Do Método Sociológico - Resenha Crítica

RESENHA CRTICA DURKHEIM, mile. As regras do mtodo sociolgico. Traduo: Paulo Neves e Eduardo Brando. 3 ed.
So Paulo: Martins Fontes, 2007.
AS REGRAS DO MTODO SOCIOLGICO

Obra escrita em 1895 pelo socilogo e filsofo francs mile Durkheim (1858-1917). Durkheim foi pioneiro no estudo das cincias sociais e considerado como um dos pais da sociologia moderna. Durante sua vida acadmica na Escola Normal Superior de Paris, onde cursava filosofia, Durkheim teve contato com as obras de Comte e Spencer, as quais influenciaram fortemente o seu pensamento. Para o autor, existe grande importncia em fazer saber que um nico indivduo incapaz de produzir por si s fatos que sejam de alguma relevncia para as pesquisas das cincias sociais. Isto porque, para Durkheim, o indivduo que vive em sociedade no age de acordo com seus desejos e anseios, e sim atua de acordo com as regras e doutrinas que lhes foram impostas pela educao e pelo convvio social. Os fenmenos que se passam na sociedade e que tem carter externo ao indivduo so considerados por Durkheim como fatos sociais. Por FATO SOCIAL Durkheim entende que so "maneiras de agir, pensar e sentir que apresentam essa notvel propriedade de existirem fora das conscincias individuais" (p. 2), ou seja, uma ao executada por um indivduo mas que no foi inventada pelo mesmo porque j existia antes do nascimento do indivduo. O fato de um indivduo praticar uma religio, seguir suas doutrinas e dogmas um exemplo claro dado de uma prtica que no interna do indivduo. No nascemos com religio pelo simples fato de que, quando ainda pequenos, no temos a capacidade de questionar a nossa prpria existncia e a prtica da religio no nasceu do indivduo pois esta j existia antes dele. O indivduo ingressa na sociedade desde o seu nascimento, quando j comea a ser moldado pela famlia e pelas outras instituies que compem a sociedade. A partir do convvio social o indivduo assimila ento as atitudes e hbitos que exercer por toda a vida. A construo dos valores individuais em maioria das vezes resultado da agregao das regras e valores morais do grupo do prprio indivduo. Quando isso no acontece, ocorre a marginalizao do indivduo em relao ao seu grupo. A criao da personalidade individual depende em grande parte da referencia moral fornecida pelo grupo e, principalmente ao pais, a quem cabe o papel de doutrinar a criana para o convvio social, afinal a "educao tem justamente por objeto produzir o ser social" (p.6) Por muitas vezes o indivduo sofre de doutrinao passiva, j que seguindo as regras do convvio social nenhuma medida coerciva se far necessria para ajustar a conduta deste
indivduo em particular. Portanto, por poucas vezes realmente o indivduo chega a se questionar porque age como age, apenas age de acordo com as regras de educao e convvio que lhes foram passadas desde quando criana.
Quando no h tanta passividade do indivduo em relao a sua conduta perante a sociedade esta usa de meios coercivos para reajustar a sua conduta, seja atravs de seus representantes legais quando a transgresso social se caracterizar como ilegalidade, seja atravs de segregao social quando no. Sendo assim, o indivduo um ator social, que interpreta no palco social o seu personagem. Este sendo obrigado a reprimir os seus instintos, seja pelo desejo da aceitao social, seja por efeito da coero social que lhe aplicada. " fato social toda maneira de fazer, fixada ou no, suscetvel de exercer sobre o indivduo uma coero exterior; ou ainda, toda maneira de fazer que geral na extenso de uma sociedade dada e, ao mesmo tempo, possui uma existncia prpria, independente de suas manifestaes individuais" (p. 13) Para Durkheim os fatos sociais devem ser tratados como coisas, e no como a ideia que se faz deles. Esta opinio tinha por objetivo credibilizar o estudo das cincias sociais, que at ento sofriam crticas por seu mtodo de estudo ser considerado como falho e incapaz de produzir resultados concretos. "Em toda ordem de pesquisas, com efeito, somente quando a explicao dos fatos est suficientemente avanada que possvel estabelecer que eles tm um objetivo e qual esse objetivo" (p.25). Os fatos se distinguem naqueles que podem ser caracterizados como normais ou patolgicos, porm o estudo da cincia social incapaz de fazer tal julgamento de valor. Resultados so apenas a concluso do raciocnio metodolgico da pesquisa, porm possvel encontrar um critrio objetivo em que a cincia encontre nos fatos algo que permita distinguir a sade da doena. Essa distino mostrada atravs de uma analogia com a dor. A sade a perfeita adaptao do organismo ao meio e a doena como tudo que a perturba. Durkheim classifica os fatos como sendo gerais ou normais aqueles que se aplicam a todos ou a grande maioria dos indivduos de forma duradoura e como excepcionais ou patolgicos aqueles que se aplicam a menor parte dos indivduos e nem sempre de forma duradoura. Sociologia tem por objeto o estudo do tipo normal. Socilogo tem a necessidade de sentir que pode aprender com os fatos que so objetivos. para que a sociologia seja realmente uma cincia de coisas, preciso que a generalidade dos fenmenos seja tomada como critrio de sua normalidade (p.75)
O autor cr que o estudo do mtodo sociolgico requer a utilizao de espcies ou tipos sociais. Segundo Durkheim esses tipos scias encontram-se reunidos de maneira como o estudo cientfico requer em sua metodologia para produzir resultados satisfatrios. preciso, entretanto, desfazer-se dos fatos vulgares que, segundo o autor, so meramente demonstrativos e que podem colocar em xeque a confiabilidade dos resultados obtidos O autor justifica ainda o uso de tipos no estudo das cincias sociais por alegar que estes tipos existem no meio social pelas mesmas razes que as espcies existem no meio biolgico. Para Durkheim, explicar a utilidade de um fato social no o definia e nem a sua origem. Ele prope que o fato social seja explicado pela pesquisa da causa eficiente que este fato produz e a funo que cumpre. Ao invs de buscar a causa dos fatos sociais nos fins ou na funo que ele desempenha, se deve buscar entre os fatos sociais antecedentes. Por outro lado, a funo de um fato social deve sempre ser buscada na relao que ele mantm com algum fim social. Deve-se ter rigor cientfico na explicao causal, dado que do fato social primeiro deve se buscar as causas para depois explicar-lhe as consequncias. Segundo a concepo de causalidade, a um efeito corresponderia sempre uma mesma causa. Assim, se um fato tem mais de uma causa, ento ele no um fato nico. NOSSO POSICIONAMENTO: O autor alm de ter se dedicado na explicao do funcionamento da engrenagem social, dedicou-se tambm na tarefa de tentar consolidar o estudo da sociologia e de outras cincias sociais como efetivo e capaz de produzir resultados cientificamente relevantes. Nos ficou claro que o autor via grande necessidade em uma mudana radical do paradigma do estudo social. Essa necessidade consistia em perceber que a sociedade determinante no comportamento do indivduo assim como o indivduo, devidamente agregado ao seu tipo social, utilizador e construtor de fatos sociais gerais. perceptvel que o pensamento do autor foi influenciado pela ideologia da corrente positivista. Fica claro que, ao definir alguns fatos como normais e outros como patolgicos, o autor compartilha das ideias de pensadores como Comte. Pensamos ainda que Durkheim no se opunha a doutrinao social imposta, mas sim que via no seu estudo a possibilidade da estruturao de uma sociedade capaz de lidar com indivduos com comportamento contrrios ao socialmente aceitvel. Recomendamos ainda a leitura da obra que se destaca como uma das grandes referncias de estudo da sociologia moderna e ainda como um estandarte do pensamento social.
Palmas, 13.07.2013 Victor Guimares Nunes

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