FALCON, Francisco Jos Calazans, RODRIGUES, Antonio Edmilson Martins. A formao do mundo moderno 2 ed.

. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006 2 reimpresso. a) Francisco Jos Calazans Falcon: Possui graduao em Histria e Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1955). Foi professor da UFRJ, UFF e PUC-RJ. especialista em Histria Moderna e Contempornea com nfase no Mercantilismo e na Ilustrao portuguesa destacando-se no perodo Pombalino. Desenvolve pesquisas nos seguintes temas: Historiografia brasileira, Histria da historiografia, Histria moderna e contempornea, Histria cultural e Histria poltica. b) Antonio Edmilson Martins Rodrigues: Possui graduao em Histria pela Universidade Federal Fluminense (1971) e Livre-Docente em Histria do Brasil pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Atualmente professor assistente da Pontficia Universidade Catlica do Rio de Janeiro e professor adjunto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Tem experincia na rea de Histria, com nfase em Histria do Brasil, atuando principalmente nos seguintes temas: Rio de Janeiro, Cultura Urbana, Modernidade, Cultura Moderna e Cidades. O perodo denominado Idade Moderna apresenta-se com uma fase de transio do sistema feudal para o capitalismo. Os principais elementos dessa transio so as cidades e o surgimento dos burgueses que, como conseqncia da crise do feudalismo, ganharam maior relevncia e importncia mudando dessa maneira as relaes sociais, polticas, econmicas e religiosas. A fora impulsionadora dessas transformaes foi o movimento Renascentista que retornava aos clssicos e valorizava as produes da cincia e da arte. As novas polticas econmicas corroboraram para a concretizao dessa transio do feudal ou do velho para o moderno ou novo, destacando-se os diversos tipos de mercantilismo. O cisma religioso proporcionou o fortalecimento dos Estados e proporcionou aos seguidores dessas novas doutrinas a mudana de viso em relao ao acmulo de capital. Por fim, a derrocada do Antigo Regime que no mais encontrava espao dentro dessas novas relaes sociais.

Iniciando a obra os autores tratam logo de identificar qual ser o caminho adotado por eles para apresentar as idias abordadas nos captulos do livro. E esse caminho fica muito bem delineado quando cravam a passagem da Idade Mdia para a Idade Moderna como um longo perodo de transio do feudalismo para o capitalismo. Avanando para o segundo captulo nos deparamos com as causas e j algumas conseqncias dessa transio. No primeiro momento so delimitados quatro perodos que compreendem a crise do final da Idade Mdia dentro dos sculos XIV e XV, o perodo de expanso econmica que vai do final do sculo XV ao comeo do sculo XVII, o terceiro perodo que o da crise, porm sem crise, do sculo XVII e o quarto que corresponde ao sculo XVIII marcado pelas revolues sociais e econmicas. Essa diviso ajudar muito a compreender os captulos subseqentes. Partindo da mudana nas relaes entre senhores e servos a relao entre o campo e a cidade tambm foi alterada e uma expanso comercial foi iniciada ampliando as relaes de comrcio local e regional. O homem da idade mdia enxergou nas cidades a vlvula de escape das imposies servis. As cidades cresciam e estimulavam a circulao de mercadorias aumentando os circuitos comerciais. Um dos efeitos dessa necessidade de expanso comercial foram as grandes navegaes que por sua vez foraram o aumento da produo agrcola e o aparecimento de invenes que permitiam o aumento da produo. Outra conseqncia dessa expanso o aparecimento do capital comercial precipitando as relaes capitalistas. O grande destaque dessa nova relao comercial foi o mercantilismo. A empresa mercantil era reflexo dos descobrimentos e das grandes navegaes e se apresentou de forma diferente em cada um dos Estados que buscavam o comrcio ou a descoberta de metais preciosos atravs das rotas martimas. Durante todo esse perodo das navegaes os conflitos entre Portugal, Espanha, Holanda, Frana e Inglaterra estabeleciam a alternncia da hegemonia e do poder martimo. O mercantilismo pode ser identificado como o sistema comercial prprio dos

Estados modernos onde identificamos os dois principais motivos: o econmico e social e o poltico social. H uma diviso difundida entre os historiadores que aponta o mercantilismo para quatro tipos que so: o mercantilismo ibrico, o holands, o francs e o ingls. Contudo os autores afirmam que devido a constante transformao das prticas mercantilistas ilusrio imaginar que algumas delas tenham fincado razes definitivas neste ou naquele pas durante trs sculos. p 28 Outro ponto abordado ainda no segundo captulo so as transformaes socioeconmicas ao longo desse perodo de transio. O Antigo Regime detalhado em todos os seus aspectos identificando suas estruturas sociais onde se destaca as Cortes. A monarquia e repblica so discutidas segundo a abordagem de outros autores com Jean Bodin e Weber elucidando os pontos dos estados absolutistas e dos estados republicanos at se chegar ao Reformismo Ilustrado e a crise do Antigo Regime. Falcon e Rodrigues apresentam um conceito de absolutismo diferente do carter tradicional que a maior parte dos historiadores utilizam. O sombrio absolutismo revelado agora com a ilustrao de reis e prncipes que governavam de forma mecenas afirmando a autoridade real sobre o poder eclesistico. O captulo 3 trata da cultura moderna mostrando as ligaes entre a cultura antiga e o novo movimento moderno. Atribuindo s cidades uma grande parte da contribuio para formao do mundo moderno elas so constitudas como centros de referencia e de informao alavancando o comrcio e passando a representar a riqueza e o luxo. So os centros urbanos que geraro o movimento cultural que levaria a descoberta do homem e do mundo: o Renascimento. Relacionando o Humanismo como um dos principais instrumentos para o entendimento do Renascimento fica evidente o aproveitamento que o perodo medieval conservou da tradio greco-romana permitindo ao Renascimento uma leitura crtica dos textos clssicos, o que leva a perceber que a marca do Renascimento a reviso da sabedoria antiga com a inteno de ampliar o conhecimento do homem e da natureza. p 78

O Feudalismo
Baseada na agricultura (vale dizer, o poder poltico se media pela posse de terras) a estrutura econmica feudalera auto-suficiente e predominou na Europa, do V ao sculo XV. Tendo a auto-suficincia econmica (a populao de cada regio feudal produzindo para o prprio consumo) como ponto de partida, lgico notar que as relaes baseavam-se na troca e, portanto, no havia quase nenhuma circulao de circulao de dinheiro. O sistema scio-poltico-econmico feudal caracterizava-se pelas relaes servis de trabalho (ou de produo), pela descentralizao do poder poltico e pela quase imobilidade social (esse termo "quase" apenas uma camuflagem, pois, na verdade, era impossvel, diante de tantos impostos que pagava, o servo tornar-se senhor feudal, isto , autoridade mxima de um feudo). Os senhores feudais eram menbros do clero (preste ateno ao papel histrico da Igreja, estando por muitos sculos tal instituio crist como instrumento do/de poder) e da nobreza. A sociedade era, ainda, estamaentria, isto , dividida em estamentos [camadas sociais prximas as castas, sendo que admitiam mobilidade social (teoricamente)]. Como a Europa era loteada (literalmente) para os soberanos senhores feudais, as centenas de propriedades existentes marcavam-se como palco de uma poca em que a centralizao de renda era a tnica maior e a servido a que era submetida a maioria gerava a sua misria scio-econmica. Quem natural do nordeste brasileiro de hoje, ou nele vive, haver de encontrar algumas "coincidncias" histricas no aspecto suprafocalizado. Agora imaginemos uma reforma agrria propugnada pelos senhores feudais. Haveria reforma? Transformar-se-ia a infra-estrutura agrcola sem se transformar sem se transformar a infra-estrutura de uma sociedade, pode-se renovar ou revolucionar sua superestrura? Mas, o feudalismo no ficaria inclune, ileso, diante das das transformaes e problemas que advinham, a partir do sculo XI, no Velho Mundo. O acelerado e descontroladocrescimento demogrfico (populacional), como fator bsico, implicou a baixa da produo agrcola e artesanal, propiciou a crise do abastecimento, levou misria e marginalizao os excedentes cada (vez maiores) populacionais. Reapareceram e, desta vez, se solidificaram as relaes comerciais. Eram elas uma vuvula de escape, a luta pela sobrevida, a ltima do chance dos marginais sociais e dos que j vislumbraram o cenrio da falncia. Graas as CRUZADAS, no sculo XII, reativaram-se os elos mercantis entre a Europa e o Oriente, ampliando-se os mercados consumidores europeus cujo ncleo capital eram os portos italianos, portos confluentesdas principais rotas martimas ento inauguradas - viabilizando, em fim, o comrcio pelo mediterrneo.

Surgiram os burgos, plos comerciais estratgicamente localizados. Do seu crescimento, provieram as cidades. A locomotiva econmica era o comrcio. Aos arcaicos e demolidos estamentos feudais contrposse uma nova classe: a burguesia. s leis particulares dos feudos, sobrepuseram-se as leis gerais e centralizadoras. Poltica e administrativamente, centralizou-se o poder: surgiu o Estado Nacional, aproximao definitiva (para a poca) entre as realezas e a burguesia comercial. Foi a consolidao do capitalismo. A essa fase de transio entre decadncia do feudalismo, e emergncia do capitalismo d-se convencionalmente o nome de Pr-capitalismo.

O Capitalismo comercial
Parecia comear a uma vingana histrica.O feitio voltava contra o feiticeiro e o poder mudava das mos de uns poucos (com poderes regionais soberanos) para outors poucos, cuja soberania se fazia centralizada, nacional, absolutista e mercantil. Ao povo, restava apenas a iluso da mobilidade social. Era o capitalismo comercial. Na aliana burguesia-Estado, preponderava a busca incessante do lucro (mercantilismo), atravs: da preocupao de manter a balana comercial superavitria (exportar sempre mais do que importar); do metalismo (acumulao do ouro e prata do tesouro nacional); do totalitarismo poltico-econmico (o estado controlava as atividades econmicas, favorecendo os interesses burgueses, e o poder poltico era centralizado - o rei era o representante-mor da burguesia mercantil); da expano territorial e da explorao colonial (as terras, uma vez descobertas, torna-se-iam fontes geradoras de riquezas s respectivas metrpoles como ocorrerias por exemplo, com o "Pacto Colonial" imposto por Portugal ao BrasilColnia).

O Mercantilismo
O antigo regime constitua um mesmo contexto, no qual todos os elementos se articularam entre si. Assim, o Estado Absolutista, ao mesmo tempo que legitimava a sociedade estratificada em ordens, executava uma poltica econmica (O Mercantilismo) visando o desenvolvimento da economia de mercado , tanto no plano interno como no externo, sendo que o comrcio externo teve como elemento fundamental a explorao ultramarina e colonial. Fiel concepo econmica dominante na poca de que os lucros se geravam no processo de circulao de mercadorias, o mercantilismoteve como princpio bsico a idia metalista, isto , a que identificava o nvel da riqueza de um pas com o montante de metal nobre nele existente. A partir da, os demais princpios foram se concretizando: balana comercial favorvel, que estabelecia a necessidade do supervit, isto , exportar em maior quantidade e importar em menor; protecionismo econmico, que previa para obter-se o supervit,

era necessrio fomentar a exportao e, conseqentemente, diminuir os impostos de exportao e elevar os de importao; intervencionismo estatal, onde o Estado controla preos, impostos, juros, exportaes, importaes, etc; poltica de formento de indstria, que incentivava o produo de artigos que pudessem concorrer vontajosamente no mercado internacional, o que implicava uma baixa de custo na produo interna, mesmo que isso viesse restringir o consumo interno. Fundamentalmente, o mercantilismo, comopoltica econmica do Estado Nacional, possua como objetivos mximos a exportao e o acmulo de metais preciosos. Assim, ele no visava o bem-estar da populao, mas to somente o desenvolvimento do pas e o fortalecimento do estado.

O Pioneirismo Portuges na Expano Comercial

H uma conexo entre a Formao do Estado Moderno e o incio da expanso comercial. De todos os pases europeus, Portugal foi o pioneiro dos dois processos: foi o primeiro a centralizar-se e o primeiro a iniciar a expano ultramarina. O pioneirismo lusitano na expanso comercial explica-se por vrios fatores: formao precoce do Estado Moderno (1139), ausncia de conflitos internos, Escola de Sagres, existncia de uma burguesia comercial interessada na expano, aprimoramento da navegao atravs do desenvimento de inmeras invenes nuticas, inveno da imprensa, etc. Portugal comeou sua expanso em 1415 quando ocorreu a tomada de Ceuta, no Norte da frica, um entreposto das mercadorias de luxo orientais, e dos produtos africanos, como ouro, marfin e pimenta malagueta, que era o domnio dos mouros. A expanso lusitana continuouna conquista e explorao do litoral ocidental da frica e na descoberta da rota martima para as ndias: Ilha da Madeira (1425); Aores (1427); Cabo Bojador (1434); Guin (a partir de 1436), e at 1460 explorou-se a regio entre Senegal e Serra Leoa. Em 1488, a expanso atingia o Cabo da Boa Esperana, sul do continente africano, dez anos Vasco da Gama atingiu Calicute, nas ndias, o grande centro abastecedor das especiarias orientais.

O Descobrimento do Brasil e sua Importncia para Portugal

Com o retorno de Vasco da Gama a Lisboa, com os pores de seu navio abarrotados de especiarias orientais, uma segunda expedio foi organizada, para estabelecer o domnio portugus nas ndias, e seu comando foi confiado ao experiente navegador, Pedro lvares Cabral. A hcegada de Colombo s Amricas, o tratado de tordesilhas, que reconhecia o direito dos protugueses sobre uma parte das terras ocidentais, alm do fato de Vasco da Gama, como registra seu dirio de viagem, ter percebido sinais seguros da existncia

de terras a oeste de sua rota, fazem crer que Cabral tenha recebido ordens para verificar a exatido da informao e, em caso positivo, tomar posse dessas terras. Assim, em meio a uma viagem s ndias, o Brasil foi "descoberto", a 22 de abriu de 1500. Aps uma semana explorando a nova terra, a esquadra seguiu viagem sem saber afinal das riquesas que ela continha nas profundezas de suas matas. Assim, a Terra de Santa Cruz, vista pela tica dos interesses mercantilistas portugueses, ao findar do sculo XV, apareceu mais como um obstculo do que propriamente como uma conquista para o Reino e para os setores mercantis a ele vinculados. Todas as foras ativas do Reino estavam concentradas